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ue bich,o

Elaatravessou
todasaseras,dostempos
dascavernas
atéosnossosdias,
Hoje,
encontra -
eco ealgum -
respaldonamodernapsicologia,
Éaciência
descobrindo
o mundo mágico
PORLUISPELLEGRINI

eu primeiro encontrocom o que de- Dois dias depois,como se fossea coisamais


pois soubechamar-semagiaocorreu natural do mundo, minhas verrugas começa-
quandoeu tinha sete ou oito anos e ram a murchar. Foram secando,até se trans.
não era mais que um molequearteiro formarem em pequenos apêndicesescuros
a espalharo terror no quinüalda minha casa. e descarnados. E aí, um a um, todos eles se
Como castigo por tanta taquinagem - jtrava a desprenderame caíram.
empregadaTerezinha- nasceram-menos dedos O caso fez furor entre vizinhos e parentes.
dasmãosuma porçãode verrugas.Minha mãe Mas, ao saber da história, uma tia solteirona
levou-mea uma velha benzedeiraque morava metida a filósofa, e que definia a si própria
na periferia.lcmbro-me bem da cena:minhas "racionalistacartesiana",não conteve um ce
duasmãosespalmadas sobrea mesa;juntodelas mentário arrasador:"Isso é pura autossugesüio.
um copod'águacobertopor um pires,uma vela Convenceramo menino de que as verrugas iam
acesa,uma rosa branca num pequenovaso de cair e, com o poder da suamente inconscienle,
vidro, um ramo de arruda que exalavacheiro ele fez elascaírem."
forte, A benzedeirarezayaa meia-voze de vez Bravo, titia! Se você hoje fosse üva, certa-
em quandocolocavaas suasmãossobre as mi- mente seria professorade sucessonum curso
nhas.No final, informou:"O meninoestavacom de controle mental. Se o seu remate era certo
quebranto,mas já tirei." E concluiu com ar de não sei, mas naqueleinstantevocê me fez um
vitória definitiva:"As verrugasvão cair." duplo favor: aguçou minha curiosidade de

MAro2o'ro. Plücta f3
iritualidade

rihral, com vela acesa,flor branca,copo d'água


Aquitoqueosreligiosos chamarn"Deu!'s",e arruda, coloquei minha mão sobre o seu nariz
"preceitos",e rezei todasas rezasque sabiade cor: um pai'
osiientistas,"leis",osfi,\ósofos,.
e uma salverainha quase
osrnagoschamarn"conhecimento"nosso,uma avemaria poder, o da memória infanül até
completa.Que
hoje, tantasdécadaspassadas,quandolembro
precoce como benzedeiro,
conhecer o real segredo do desaparecimento da minha iniciação
Não! latejando sob a
das verrugas; despertouem minha cabecinha sinto a grande verruga do
inquieta a ideia de que a mente, conscienteou ponta dos meus dedos.Sim, o benzimentodeu
- danação-' a ver-
inconsciente,escondemaismistériose poderes certo. Paraminha sorte ou
. do que até então suPunha. ruga logo depoiscomeçoua secar.Virou uma
Poucodepois,avida me apresentoumaisuma espéciede horrenda uva-passapenduradano
ocasiãopara incrementar meus conhecimentos nat'rzdo cachorro e depoiscaiu,paranuncamais
em matéria de eliminaçãomágica de verrugas' voltar. Como nunca mais voltou a minha inocên-

!. +Ì . Meu cachorro, um viralata preto chamado Não! cia, definitivamenteperdida naquelaaventurada


(com ponto de exclamação), desenvolveu sobre descobertados meus "poderesocultos"'
, onanzumaverrugatão grande quanto uma azei- Entãoé verdade:existemmétodosestanhos
tona. O nome dele devia-seao fato de que, desde de resolver problemas' Metodos que a gente
* +
" .+ ,
pequenino,o não eta a palawa que mais ouvia' não consegueentendernem acÌarar,mas que
+ ' - funcionam. Existem coisas misteriosas que
+ s Praticavaseusdivertimentosfavoritos

*"# ,
*Quando
'r*t
pes de mesase cadeiras, puxar roupas do nem semprepodem ser explicadaspela autos-
,u. "
'l-
varal, arrancar as penasdos rabos das galinhas sugestão,,como queria minha tia. Pois até ela,
s gri- "racionalistacartesiana"convicta,teria dificul-
I & Xd. ë, havia sempre alguém ralhando com ele e
'*q
& & tandoï"itTao,não,não!"Acabouse acostumando dadeem admitir
que a autossugestiioÍazparte
"nãol" peremptório, dos atributos dos cachorros, Então, a magia
rd +4fu4a'rier.que ouvia um
ry ,papsavífratgnder,de raboabanando. existe, de verdade.
' ppecfftesiaffirinhas capacidadesde benzedei- A um imenso conjunto de fenômenose práti'
' cas que o ser humano pode produzir,mas que
ro'spbrdFariertuga do Não!.Prepareio mesmo

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.ry &"
*'$."'
'-+
"
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" &

MAGIA DOCINEMA
Aocriarumarealidade
viÍtual,naqualtutloPode
acontecer,o cinema
toÍnou-se umaarte
mágica porexcelência.
A sérieHarryPoüer' da
qualvemosumacena
naÍotoaolado,tema
magiacomotemacentral
e iá seduziumilhõesde
espectadoÍes em
todoo mundo.

4 4 P l i l e t a . N / A l o2 0 1 o
Oor.

não podem ser explicadospela autossugestão


nem por qualquerlei da ciênciae da psicologia
oficiais,dá-seo nome genéricode magia.Pala-
lra que vem do substantivolnagi, nome que os
antigosgregosdavamaossacerdotespersasdo
culto de Zoroasko. Cabeaí uma primeira defi-
nição,a do historiadorfrancêsl"ouis Chochod,
paraquem "magiaé uma arte especial,baseada
na edstência de forças naturais,pouco ou mal
conhecidas,e ordinariamentefora do alcance
do poder do homem. Conheceressasforças,
canalizá-las,
orientiílas e, até certo ponto, utilizá-
las, esseé o objetivoda magia".
A definiçãode Chochodtem espectromuito
amplo. Mas, se existe um assunto que em
materiade definiçõesé terra de ninguém,esse
assuntoé a magia.Há definiçõespara todos os
gostos.Algumasfrancamentepreconceifirosas e
cheiasde superstição:"Magia é a arte de conju-
rar demôniose espíritosparaobrigá-losa servir
aos interessesdo mago." Oukas são pueris e
inocentes,como a do ocultistafrancêsGeorges
Muchery: "Magiae a arte de tornar-sefeliz."Há
definiçõescomplicadascomo a do respeitado
alquimista contemporâneoEugene Canseliet:
"Magia é, antesde tudo, a arte divina que con-
siste em travar contato com a alma universal é sempre o mesmo: estudar o microcosmo MAGIA DOTEAÏRO
e, atraves dela, dominar as forças espirituais (homem)para desvelaros segredosdo macro- Antesdocinema, as
invisíveisno espaçoe na substância."E aindaa cosmo(universo), váriasformasdeteatro
exploraramasmile uma
do ocultistafrancêsEliphas[eü, pai da magia A prática da magiaé, sem dúvida,tão antiga possibilidades
criativas
moderna,para quem "magia é a ciênciatradi- quantoo própriohomem.Nos temposdascaver- douniversomágico.
cionalque nosvem dos magos...Por meio dessa nas,quandoanimaiseram pintadosnasparedes NaÍotoacima, cenada
ciência,o adeptosevê investidode uma espécie óperaA FlautaMágica,
de pedra, o que se pretendia era estabelecer
deMozart.
de poder superiorrelaüvoe pode agir de modo uma relaçãomágicacom o "espírito" daqueles
sobre-humano,isto é, de uma maneiraque não animaisparaque,no momentoda caça,elefosse
estáao alcancedo comumdos homens". favorávelaoscaçadores.Desdeentão,essencial-
Para os magos,aquelesque praticam a ma- mente,poucascoisasmudaramno domínio da
gia, "viver é conhecer".Desdeque o homem magia. Suastécnicassão muito parecidasnas
existe como tal, ele tenta desvendaros segre- diferentesculturasque apareceramno mundo,
dos da natureza,levantaro véu de mistério que e sofreramrelativamentepoucasmudançasno
encobreas origense as finalidadesdo mundo, transcorrerdo tempo.
da vida e da existência humana.Através das Sugere-semuitasvezesque a magiae precur-
eras,paraconquistarconhecimento, o homem sora da religião, mas estudosmais profundos
pensantecriou diversosmétodosde trabalhoe mostram ser mais provávelque ambastenham
desenvolveudiferentesposturasparamanipular sempreexistido, uma ao lado da outra. Magia
o desconhecidoe dele extrair respostas.Aquilo e religião possuemem comum a crença num
que os religiososchamam"Deus",os cientistas poder transcendentalque existe no homem e
chamam "leis", os filósofos, "preceitos",os no mundo.A grande diferençaentre ambasre-
sábios, "a natureza",os magos chamam "co- side nas suasatitudesem relaçãoa essepoder.
nhecimento".Mas, paratodoseles,o princípio A magia preocupa-seem comandar,controlar

M A r o 2 0 ro . P l ü Ë t a 4 5
iritualidade

MAGIA DANAïUREZA
Nadamaismágico do
queo mundo natural.
Maiore maisPoderosa
detodasasÍorças -#'
criadoras,a natureza ,.0'*i'
nãoconhece limitesao
soltaÍa suaimaginação'
Atal pontoque
costuma-se dizer:a
criação naturalsuPera
qualquer imaginaçã0.

'il

e compelir esse poder para a satisfaçãodos da existência do que todas as equações da


seusprópriosobjetivos;a religião,por seulado, matemática,as maquinaçõesda política,ou as
preocupa-seem adorar essepoder, suplicando espertezasdo mercadofinanceiro.
a sua ajudae aceitandoresignadamenteaquilo O magoé um ser complexo,uma criaturaem
que ele dá, A primeira é ativa, "masculina".A geral ousadae até mesmotemerária.Nos tem-
segundae passiva,"feminina"' pos em que a SantaInquisiçãoesbanjavapoder,
O rnago, portanto, é um aventureiro que muitas centenasdelesforam assadosvivos nas
mergulhano misterioda vida e do mundo e não fogueiras, condenadospor suas heresias' O
se contentaapenasem observarpassivamente venezianoGiordanoBruno e um exemplo.Foi
esse mistério. Quer tambeni eompreendê-lo, queimadoporque teimou em afirmar até o fim
conhecer suas leis, processose finalidades, que era a Terra a girar ao redor do Sol, e não o
'quer contrário. Naquelestemposisso contrariavaas
interferir voluntariamentenele e' numa
'.certa "leis" da ciênciaconhecida,e era portanto "he-
medida,aprendera manipulá-lo.O mago
e entendido como um ser de sensibilidade resiade mago",punidacom a morte.
especial.Vê o universo como urna coisa viva, E mais fácil. contudo,entendero que e um
cuja aparênciavisível mascara a natureza teal mago do que e magia."Magra"e hoje uma pala-
dos poderesque o controlam'E vê a si mèsmÒ wa problemática,pois mais de um sentidoelhe
como participante da natttteza da divindade' e atribuído.Existea magiado prestidigitadorque
por isso gosta de afirmar; "Não existeparte de tira coelhosda cartola ou dos truques de alta
mim que não seja parte dos deuses'"O mago tecnologiade David Copperfield'Existea magia
consideraque todos nós, membros da espécie comoé entendidapelosanfopólogos- supersti-
humana,somos"deusesem potencial."A magia çõesingênuas,ritos primitivosde fertilidadeou
é a ciência-arteque nos ajudaa abrir e desenvol- herançascuriosasdo folclore' E existe,finalmen-
ver essepotencial. te, a verdadeiramagia,aquelaque nos interessa:
Sonhose üsões, símbolose alegorias,ima- um sofisticadosistemade conhecimentocujas
ginaçãoe fantasia,as viagensvertiginosasdos origens não serãoencontradasna lenda ou no
gênios da música,da pintura, da poesiadizem folclore, mas sim na antiga fadição chamada
mais ao mago sobre as realidadesúltimas "hermetica",de Hermes,o deusgrego da inteli-

4 6 P l i l e t a . M A I O2 0 1 0
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gênciae da sabedoria.As origens arcaicasdessa
badição perdem-sena noite dos tempos,mas
O mago,colnotodoser criador,é uma
sabe-seque ela se desenvolveuno antigo Egito, pessoa
corn|letca,
o(,macriatura emgeral
passandodepoispor Gréciae por Roma,e por
toda a Idade Media e o Renascimentoeuropeu.
ousadae até rnesrno
temerá,ria
Após um periodo de relativa obscuridade- devi- ::.
d(
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do certamenteao implacávelcombaüeque lhe foi As ideias de Eliphas lrvi constitue-] ü*u ": f- t*-
desfechadopelaInquisição-, a magiaressurgiu obra-primade intuição psicológicae científica. -' , a" :t1-vl
em sua forma modeina no contextoda grande EIas antecipammuito do arcabouçobásico de ,.J
" .ì:'..
renascençaocultista que foi uma das caracterís-
ticasda segundametadedo século19.
viírias psicologiascontemporâneas, pois expli
cam a açãomágicacomoum fenômenobaseado
-" ,w *1
"Jl{
-.+
Ressurgirdasprópriascinzasnos momentos principalmentenas capacidadesnaturais- em- " -!ït Ì"iì.

mais impensáveis,como a fênix mitológica,é bora ainda pouco conhecidas- da mente e da ,t]


uma das característicasda magia. Basta ver psique humanas.É u partir da escolade l.evi 4_1
o que acontecenos dias de hoje. Nas últimas que se passoua afirmar: "O fenômenomágico ri*
três décadas- épocadas mais exkaordinrír.ias começana cabeçado mago."
conquistas da ciência tecnológica moderna, Levi afirma que na magia existem três leis
quandoo homem foi à Lua, os bisturis de raio fundamentais.A primeira é a lei da vontade
laserinvadiramos hospitaise os computadores, humana,que, do seu ponto de vista, não era sim-
os lares e escritórios- observou-seum descon- plesmenteuma ideia abstrata,e sim uma força
certantereflorescimentoda magiae de discipli- material "tão real", para usar as suas próprias
nascorrelatas,como a astrologiae o ocultismo. palawas,"quantoo vapor de águaou a corrente
Um reflorescimento,portanto, de modos de galvânica". Essa ideia, na verdade, não era MAGIA DAROUPA
concebero mundo diametralmenteopostosaos exclusivade tevi. Vários intelectuaisda época Denteasvárias
da ciênciaracionalista. a desposaram,entre eles EdgarAllan Poe,que atividadeshumanas,
umadasmaismágicas
CaÃavezqre a magiaressurgena história, ela no seu conto "O Casodo SenhorValdemar"faz é a cÌiaçãodasÍoupas.
o faz com novasroupag€ns.O corpo essencial o personagemGlanvill dizer'."8lá que repousa Umestillsta detalenb
de seus conhecimentose sempre o mesmo, a vonüadeque nãomorre jamais.Quemconhece podesercapazde
mas a linguagempor ela utilizadapara operar os mistérios da vontadee todo o seu vigor? O criarumunlveruo
inteiroa partir
e se comunicarpode mudar compleüamente de próprio Deus é uma imensaVontadeque reina daslndumontárias
acordocom o tempo histórico e o lugar da sua sobretodasas coisas." queinventa.
maniÍesüação.
A ünguagemda magiaantiga era complicadís-
sima e inacessívelaos não iniciados. Envolvia
códigose símbolosda alquimia,da cabala,da
asffologiae de outas ciênciasherméticas.A ma-
gia contemporâneapassoupor uma verdadeira
revoluçãoem sualinguagemÍormal, que é agora
bem mais simples.Essenovo enÍoquecomeçoua
ser difundido em meadosdo séculopassadoatra-
vésda obrade váriosautores.Um dosexpoenües
máximosdessageraçãode magosmodernosfoi
o francêsEliphasLevi (pseudônimodeAlphonse
Louis Constant),um ex-seminaristacatólico.
Em seu lïwo Dogma e Ritual da Alta Magia,
publicadoem 1856e disponívelem português,
I*vi apresentauma teoria sobre o modo pelo
qual atua a magia. É esta sua concepçãoque,
um pouco modificada,domina o pensamento
dos magoscontemporâneos.

M A r o2 a ' 3 . P E r u | n
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i r i t u a l iod B
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"*
cÍrpazesde produzir tais fenômenos,seriamuma
*oËo, cadfsernlmino=é um
Na ui,sã,0-d,a espéciede "magosnahrrais",dotadosde uma ca'
, "'microcosmy r':Itrn.pc'Queuo
uniaerslque pacidadeinata de moldar a luz astal e provocam

0 ma,crocusrnl,
refletta o grand,eunianrsa dessemodo fenômenoscÍlpazesde impressionar
os sentidosdos espectadores.
.{[ ry
'* t* *
* '
A originalidade de Levi estava na aplicação
A terceira lei de Levi é a lei das correspon-
dências,ou das analogias.Trata'se na verdade
# dessaideia à magiaritual. Paraele, como para a de uma versão atuelizadada antiga douhina
; . + i'. maioriados magosmodernos,toda a parafernália hermética do macrocosmoe do microcosmo'
segundo a qual todo elemento do primeiro -
*." + dos acessóriosdo cerimonial mágico,tais como
, + +' incensos,velas,uso de figuras geométicas e de o universo - teria o seu correspondenteno
{ paramentos,é apenassuporte auxiliare,ponüode segundo - o ser humano consideradoindivi-
*
apoio e de referênciadestinadoa ajudar o mago dualmente.Por exemplo, as constelaçõesdo
*4t IF zodlacoque influenciamcertaszonasdo corpo
a concenfar a suavontade.
õ' humano.Assim, a constelaçãode Capricórnio
* ' + A segundalei de levi é a lei da luz asfal, o

.*1 t

* ' "éter" dos antigos glegos e da fisica prêeinstei' corresponde aos joelhos; a de Gêmeos, aos
- f * niana,o "prana'' dos hindus: um fluido imponde braços e pulmões;a de Escorpião,aos órgãos
* ?
- . ^{t ** rável que preencheüodosos espaçosdo universo genitais. Para Levi, tais correspondências
' . E r * ' { .
" *'s e gïaças ao qual o mago pode agir a distância.A existiam realmente,mas sob uma forma menos
.ry
$, "
* & , luz askal, dizia kvi, é invisível e destituída de grosseiramenteffsica.Era menoso corpofisico
,"*4 forma, porém permeiaa totalidadeda naturezae e muito mais a almahumanaque ele considera-
+ '
pode ser moldada pelavontade humana,produ' va como um "espelhomágico do universo", para
MAOIA OAPTATEIA zindo formas visíveis. Isso o<plicaria, segundo empregaruma ercpressão que os magosÍÌmam'
Ouando asgrandes levi dizia que todo elemento presenteno uni'
aglomerações populares ele, a maior parte dos fenômenoschamados
concentÍam suaatenção paranormaisou mediúnicosque a ciência oficial verso também poderia ser encontrado na alma
nummesmo objeto, constatamas não explica,como aquelesde maüÈ humana:assim,a força cósmica que os romanos
goÍamumpoderoso personificavamna deusaVênus correspondia
Ãaltnçáo de espíritos,matenaltzaçãode objetos'
Íenômeno mágico: a
produção paranormalde sons,odores,etc. Para à sexualidade física, e aquela representada
criação coletiva de
umanovarealidade. kvi. os médiuns de efeitosfisicos, indivíduos pelo deus Mercúrio, à inteligênciahumana.Os
modernos magosrifualistas açreditamque o co-
nhecimentodessalei dascorrespondências lhes
permite "fazer descer" (invocar)nelestodasas
forças cósmicasdas quais querem obter alguma
coisa, ou, ao contrário, "fazer subir" (evocar)
essasmesmasforçaslatentesem sua almae as
projetarno mundo extérior.
Levi, contudo,poucorevelouem seusliwos da
existência de uma quarta lei fundamental para
que qualqueraçãomágicatenha bom êxito: a lei
da imaginação.Falouda importânciadessesegre
do fundamentalapenasa algunsde seusdiscípu'
los mais queridos,e foram elesque,maistarde,o
ensinarampublicamenüe. O poder da imaginação
é o verdadeiro"pulo do gato" da magia-
A força da vontade é praticamenteineficaz se
não for dirigida por uma imaginaçãopoderosa-
e úceversa "Parase praticar a magia",escreveu
Edward Berridge, discípulo inglês de Levi, "é
necessário colocar em ação a imaginação e a
vontade:elasagemem partesiguais.Ou, melhor

48 Büeta. MAro2o1o
dizendo,a imaginaçãodeveprecedera vontade
parase obter o melhor resultadopossível".
Sozinha,a vontadepode,segundoessateoria,
emitir uma corrente de energiaque se propaga
akavés da luz astral,mas seu efeito serávago,
imprecisoe até mesmoinoperante,pois, sem a
criaçáoimaginária de um objetivo bem definido
a ser alcançadoa energiada vontadecorre o ris-
co de perder-seno vazio.Por seu lado, sozinha,
a imaginaçãopodeatécriar uma imagem,e essa
imagemterá uma duraçãovariável;mas ela não
poderáproduzir nada de importantese não for
vrtalizadae dirigida pela vontade."Quando as
duasse conjugam,isto é, quandoa imaginação
cria uma imagem e quandoa vontadedirige e
utiliza essaimagem, é possívela obtençãode
maravilhososefeitosmágicos",compleüa Berrid-
ge. Ele pareceum modernopsicólogojunguiano
falandoda técnicada imaginaçãoativa!
Recapitulando:na visão da magia, cada ser
humano é um microcosmo- um pequenoun!
versoque reflete,em miniatura,o macrocosmo,
o grandeuniversodo qual fazemosparte. Cada
fenômenodo universotem seu reflexo corres- poderemosesperarque elasretornemparanós MAGIA DAARÏE
pondente nas partes que compõem a pessoa amplificadase fortalecidas.Se,ao conkário,pro- Griaçãoaffsticae
humana- corpofísico,psique,mentepensante. jetarmosaçõesnefastas... só poderemosesperar criaçãomágica são
quase sinônimos.
Com práticasmágicas,o mago podefansformar retornospéssimos. Trabalhadopelasmãos
o mundo exterior por meio de intervençõesno A censurado mago derivade outra lei funda- deumverdadeiro artista,
pequeno mundo interior. A ligação entre as mental da magia:a lei do choquede retorno, atéo grotescopode
duas esferas- a interior e a exterior - e feita que e o regresso de uma carga malefica para setransÍormarem
pelaluz astral,um fluido universalinvisível.A algosuhlime,
o mago que a remeteu,em casode fracassode
manipulaçãoda luz astral atraves da vontade sua operação,ou casosua magiasejadesfeita
e da imaginaçãohumanaspermite ao mago in- por outro mago mais forte. Na magia - como
fluenciartanto o universofisico (moverobjetos na física-, toda força tem de ser descarregada,
a distância,promover curas como no casodos sejasobreo alvo assinalado, seja,por erro co-
benzedoresde verrugas,etc.)comotambemin- metido,sobreo magoque a desencadeou, não
fluenciaras sensações e os modosde percepção importaqual o valor "moral"dessaforça.
de outrosindivíduos. Por tais razõesê que, para todo mago sério
Mas o mago esta longe de ser onipotentee e honesto,a observânciade rígidos princípios
seu trabalho é cheio de perigos. Pois a via de eticosé preocupação fundamental.Essae a úni-
comunicação entre o microcosmoe o macrocos- ca diferençaentre magiabrancae magianegra.
mo, o interior e o exterior, e obrigatoriamente Magiae semprea mesma.E brancaquandosua
uma via de mão dupla. Da mesma forma que intençãofor voltadaparao bem; e negraquando
o sangueentra e sai do coração,e o ar, dos for voltadaparao mal.
pulmões,a forçamágicasaide nós,passeiapelo Forçada vontade,imaginação,luz astral,lei
mundo desencadeando efeitose tendea regres- das correspondências, leis da natureza,leis
sar ao lugar de ondesaiu.Assim aquiloquevem cósmicase criatividadesãotodostermosbási-
de fora circulaem nós e tendea voltar à origem. cos e correntesdo vocabutárioda magia.São
Portanto, se projetarmos no mundo ações tambem,e importantenotar. termos básicos
mágicasboas,positivas,uÌmorosas, certamente e correntes,taiitoda físicaquâhticaquantoda

r ! 1 A l o2 0 1 0 . P L n e t à 4 9
iritualidadb'

j+ 'r
S. &áí k*i "
Magia não é, portanto, um conjunto de es
Magiaé umieitodeconhecer a si tanhas cerimônias realizadas atrás de portas
?nesrnT e deagir ert,cazvvlente
a a,0rnund,o, fechadas,com objetivosobscuros e geralmente
sobresi mesmo esabreo rnundo incorúesúveis. Masia e um jeito de conhecera si

r . ' & " mesmoe ao mundo, e de agir eficazmentesobre


si mesmo e sobre o mundo. Seja para eliminar
'
'i;rlï - :.
stu{ verrugas, seja para tirar alguem dos buracos
i1 a

" È moderna psicologia.E onde estarãoos anjos, sem fundo das neuroses,seja para adivinhar os
' , M caminhosdo nossofuturo. Ela e, em última anali-
À t t demônios, espíritos benignos e malignos, ín-
s cubos e súcubds,silfos, salamandras,gnomos se,um modo de trabalharcom as "entidades"da
e fadas, e tantos outros entes sobrenaturais nossapsique, de entendèlas e dominá-las,para
. F
ì]ì que desdesemprepovoarama imaginaçãodas que elassejamnossasfiéis servidoras,e não nos
.
pessoasquando elas mergulhavam no universo sasopressivassenhoras.Magia é uma escolaque
gìliç
ìÌi'Ì
g .' t r , fascinanteda magia e da sua prima pobre, a nos ensinaa coúecer e a controlar nossasforças
s ' r y"feiüçaria?Todas essascriaturas existem sim, e impulsosnegativos,e a reverter suacapacidade
MAGIA DAMEMORIA *. afirmam os magos. Mas não na forma visual destutiva em constutiv4 que nos ensinaa des
mt"rrloaoiJíó '*u como são habitualmente representadas.Elas cobrir nosso potencial criador e a incrementar
passado permanecen suaspossibilidadesate os níveismáximos.
são,muito mais, forças,princípios,arquétipos
vlvasnopresenbatavós
dostestemunhos que que compõemo intrincado universoda psique A magiaverdadeirae conhecimentoque bus
chogaÍam atónós,Éa humana. Existem certamente dentro de nós. ca o autoconhecimentoe a autorrealização.Seu
magladamemóÍia. Esse E, possivelmente,existemde algum modo mis- objetivo último é transformar cada um de nós
ó o casodoscélebres terioso também no mundo fora de nós. Caso no pequeno deus que todos, potencialmente,
,rroarq,
osculfuÍas da
alúgacMllzação dallha contrário, não teria fundamento a lei mágica somos.E que ele sejaum deus sábio,compas-
dePáscoa, noPaclÍico. dascorrespondências... sivo,criativo, saudávele felu. o

l0 Plürt . MAro2o1o

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