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Macunafma ~ her6i entre méquinas e imagens p6s-modernas Mauro Luciano Souza de Aratijo PESAR DA CRITICA PEITA DE ANTEMAO pela pesquisadora Guiomar Ramos! (2002), achamos ainda relevante o estudo tanto dessa obra lite- de Mario de Andrade, € a composigZo de um tipo nacional sob os simbolos de um arcaismo indigena ¢ de um futurismo modemnista. Nisso, o dilema desse tipo proposto por setores progressistas ainda persiste em debate, princi- palmente em seu uso em obras artisticas. A observagio ripida que se propo ‘aizes, ou Seja, um personagem fugaz que aparece em obras das mais diversas como um espectro. Isso porque Macunaima surge no Brasil com o olhar de ). Theodor Koch Grunberg, sobre lendas indigenas, vira um perso- nagem de uma obra do modernismo de Mario, em 1928, e mais adiante, no um alemd quim Pedro de Andrade, Importante que se guande essa informagio: de que a tentativa naquele momento do grupo do cinema novo era atingir um amplo piiblico, e fazer com que 0 cinema nacional fosse assistido nas telas. Nis que, pulando virios passos de uma observago detalhada e obcecada desse ‘momento decisivo do cinema modemo ~vimos que o personagem Macunaima volta inserido na tentativa de industrializacdo do cinema no pais, ainda que ‘numa chave irdnica. Mas aqui, é visto principalmente como um molde artis- tico do malandro ~ vindo do que discorreu Antonio Candido, por conseguinte, onge do hibridismo desterritorializado, globalizado, como uma commodity internacional a ser importada. Ao menos de inicio. O viés escolhido é o de uma andlise que nao tira 0 centro da panoramica do territ6rio brasileiro suas expresses culturais. O fundamento, portanto, ™ Wandlixeagui Feta posterirmente de Macunaima pode sr lida como um adendo 8 aber ‘ura Keita por esa profesora. Cf. RAMOS, Guiomar. Um cinema brasileiro anvopotigico? (1970-1974). Sao Paulo: Annablume, 2008. Cinema em Portugués, 21-37 22 Mauro Luciano Souza de Araiijo uma tentativa de mergulho no personagem que se possa chamar de nacional, € a midia, ou os processos de construgio do imaginério de uma localidade, de uma nagio contemporas Deste modo, Macunaima tipo que volta e meia se v jjecas, de um brasileiro preguigoso ¢ inativo, inapto diante de sua realidade que passa aos olhos como passa a estrutura narrativa de uma obra cinematogré- sndo esse territério algo imaginétio. ainda ndo é expressamente, em discursos miditicos de nuances interioranas, é de forma latente um ou sutura. Ainda que. tia, por exemplo, ser associado 4 transformag: cm uma esfera global, 6 tipo Macunaima pode- Gtnica de negro a branco, de numa estilizagdo fashion, mas preocupada & maneira fetichista com problemas “mundiais”. Ou em uma aculturagdo da modernidade, agora transformada em pés-modernidade critica e avant garde de novidades comunicativas enviesada 2007, 57), 0, apesar das analogias a localidades es- pela democracia liberal, mesmo em situagdes irdnicas (ROTRY, O Macunai sobretudo, brasilei parsas, abertas, de horizontes globais, globalizados. Nesta base territorial, ca € movimento modernista em que o Macunaima fora criado na literatura, ¢ recriado no cinema, levantar a discussdo, ou debate entre o qu pelo qual o foco da andlise deve se ater. Usando a critica ainda em discussio de Benedict Anderson (1991) sobre a falta de uma nacionalidade, a ndo ser como imaginagdes constituidas ainda ainda devendo ao nacionalismo cultural da ¢ é regional e o que é global tomna-se 0 objeto no inicio da modernidade na Europa, ou pelas recepgdes de novas idéias que wsando ainda mais 0 previa a globalizagdo que hoje administra o planeta; ¢ olhar de uma ideologia que se perpetuou ha muito tempo como sendo “da cul- tura brasileira” (MOTA, 1977), observagio do personagem possui, portanto, cul- turalista, ou cultural das décadas de 60 e 70. Outro aspecto que deve ser levantado, pri {palmente na relago que vird danzky, Andrea Tonacci, Rogério Sganzerla, Jlio Bressane, expoentes de uma juventude que praticamente elaborou o cinema moderno no pais com imagens regionais, ou regionalistas, é a contribuigao de pesquisadores in- ‘Macunaima ~ her6i entre méquinas ¢ imagens p6s-modernas 23 seridos na disciplina da antropologia. No caso de Macunaima, um indio- negro-branco, misto da etnia latino-americana e brasileira (por exceléncia), 0 ‘mundos completamente distintos que se complementam hoje, mas, como citou Michael Taussig (1983, 49-64), é parte de uma hist6ria de terror e guerras sem novo tipo de utopia inserida no jogo da indiistria cultural como uma espé- cie de cura perduram, tanto no contexto regional como no global. Aqui, a histéria é para encarar o mundo que vive com cinismo. Outro caminho, ou trilha, alids, é a da preguiga do personagem como um aspecto lafarguiano, bem tragado pelo pesquisador Célio Turino (2005). 0 di reito a preguica, ou ao 6cio, tanto discutidos por Domenico de Masi, Bertrand Russel, vindo da matriz militante de Paul Lafar, desse personagem malandro ~ que, tanto em ie, etoma com a discussio (© Paulo (livro) quanto no a0 modus operandi da sociedade em constante movimento rumo ao progresso senvolvimento humano numa imposicao, e ndo na sua fungdo prazerosa, entra também como tema das obras onde o piearo c®mico se aventura. Faces de Macunaima Macunaima é 0 “heréi sem cardter” da comédia modemnista, ou seja, um per- sonagem sem caracteristic , sem forma delineada, sem rosto, sem persona- dade do estudo do personagem isolado, da personalidade, do sujeito na era do “anti-sujei contorno da persone’ - ou do “nio-sujeito”, pés-humano, ou da subjetividade acima do. ?. Principalmente no cinema, a face do sujeito, ator em Persona moderna, permitindo entio essa perpectiva na coméiia de Macunaima, Sendo o cinema algo

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