fenômenos mediúnicos sob a égide do Espiritismo não pas- sam de fatos exclusivos da esfera da “psicanálise” de Freud. Que dizeis? RAMATIS: — Não há dúvida de que a maioria dos fenô- menos mediúnicos se enquadram, em sua aparência, na psicologia individual e profunda do inconsciente, investiga- do por Sigmund Freud e generalizada sob o termo “Psica- nálise”. Mas é óbvio que as comunicações de espíritos desen- carnados, embora guardem certas semelhanças com as manifestações assinaladas por Freud, não pertencem ao médium. Este é apenas um transmissor do psiquismo do espírito desencarnado. Em conseqüência, o espírito comu- nicante é que deveria ser psicanalisado e não o médium, simples intérprete da vontade alheia.
PERGUNTA: — Quais os espíritos desencarnados que
seriam passíveis de uma investigação ou pesquisa freudia- na? RAMATIS: — Sem dúvida, os espíritos sofredores, pri- mários, desajustados ou perseguidores, que se comunicam nas sessões espíritas de tratamento espiritual, pois consti- tuem farto material de identificação de recalques e demais tendências mórbidas freudianas.
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PERGUNTA: — Conforme preceitua a Psicanálise,
quando esses complexos, tendências ou recalques mórbidos do inconsciente emergem à luz da consciência em vigília, através do método de Freud, o paciente livra-se da pertur- bação ou conflito psíquico. Não é assim? RAMATIS: — Sim; pelo menos é assim que Freud pro- pôs o seu método e lograva suas curas.
PERGUNTA: — Desde que os espíritas aplicassem o
mesmo método de investigação e terapêutica freudiana nos espíritos sofredores e enfermiços, que se comunicam pelos médiuns, isso não seria mais fácil para curá-los ou livrá-los das perturbações que ocorrem após a morte corporal? RAMATIS: — O problema do espírito desencarnado é muitíssimo mais complexo e difícil de solução, se o com- pararmos com o mesmo método psicanalítico aplicado aos encarnados. Os homens enfermos da mente e passíveis de êxito na terapêutica freudiana são criaturas desajustadas ou complexadas com o “meio” ou existência em que vivem. Após a correção mental e identificada a libido, a causa mór- bida, a frustração enfermiça da infância ou juventude que os atormenta, os pacientes liberam-se de suas algemas ou estímulos inconscientes e perturbadores. Depois de extinta no inconsciente a atividade da causa determinante de uma conduta indisciplinada, neurótica ou contraditória, a mente do enfermo passa a funcionar livre de impulsos incontroláveis ou direções indesejáveis. Isso melhora o seu contato com o ambiente e harmoniza suas relações com as pessoas do mundo, integrando-o numa existência normal livre de inibições ocultas, tornando mais afetivo e conciliador entre a família, amigos e estranhos. Mas não adianta aplicar o método de investigação freu- diana no espírito desencarnado e enfermo, que se manifes- ta através do médium, nem perquirir-lhe o inconsciente, exumando as raízes mórbidas de complexos e recalques culposos. Em verdade, as causas mórbidas não podem ser
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removidas do espírito desencarnado, porque elas estão
ligadas ao mundo material na forma de crimes, calúnias, traições, rapinagens, perversidades, avarezas, luxúrias ou tirania! São dívidas ou “pecados” que praticou contra o pró- ximo, e não produto de choques, conflitos ou desajustes da infância ou juventude, que depois passaram a ferir-lhe a mente desgovernada! Não se trata de causas desconhecidas na vivência secreta do inconsciente, mas de acontecimentos positivos e degradantes, que foram estigmatizados na consciência sob a forma de remorsos, temores ou desesperos. Em tal caso, o espírito sofredor não vive através dos médiuns uma condição contraditória e forjada por causas ignoradas no seu consciente; mas ele sofre os efeitos das mazelas praticadas com conhecimento de causa! O psicana- lista poderia apenas identificar-lhe os quadros mórbidos, mas não poderia devolver o paciente para a vida física onde praticou os seus delitos! Ninguém poderá libertá-lo da lembrança dos atos censuráveis e conscientes que praticou no mundo material. Só através de novas existências se apa- garão de sua memória esses efeitos daninhos. Aliás, tam- bém não seria possível livrá-lo da região do astral inferior, onde se aloja todo delinqüente espiritual, por força do seu magnetismo muito denso. O espírito enfermo pode amenizar suas angústias e afli- ções pelo tratamento “evangélico” preceituado pelo Mestre Jesus, o médico das almas, enquanto será inócuo à cura pelo método freudiano.
PERGUNTA: — Considerando que os espíritos, tanto
encarnados como desencarnados, são entidades imortais que já viveram “outras vidas”, isso não justifica o fato de também possuírem recalques, complexos ou tendências enfermiças passíveis do tratamento freudiano? RAMATIS: — Atualmente os próprios psicanalistas e diversos psicólogos atenuaram bastante a cobertura da ter-