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USO DE DOCUMENTO FALSO

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76.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO


CRIME

O art. 304 do Código Penal contém o tipo penal: “fazer uso de qualquer dos papéis
falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302”. A pena é a mesma
cominada à falsificação.

O bem jurídico protegido é a fé pública, a confiança das pessoas nos documentos


públicos e particulares.

Sujeito ativo é qualquer pessoa que usar documento falsificado, salvo o falsificador.
Sujeito passivo é o Estado e, se for o caso, a pessoa lesada.

76.2 TIPICIDADE

76.2.1 Conduta e elementos do tipo

Fazer uso é usar. É utilizar um documento que tenha sido falsificado nos termos do
que dispõem os arts. 297 a 302, ou seja, um documento que tenha sido objeto do crime de
falsificação de documento público ou de documento particular, de falsidade ideológica, de
um falso reconhecimento de firma ou letra, de certidão ou atestado falso, material ou
ideológica, ou do atestado médico falso.

O agente não pode ser o agente ou partícipe do crime do qual resultou o documento
falso, pois o uso será post factum impunível do delito de falso.

A utilização deverá ser do próprio documento falsificado anteriormente,


empregando-o na finalidade a que se destina, isto é, fazendo, com ele, prova de fato
2 – Direito Penal III – Ney Moura Teles

juridicamente relevante, em juízo ou fora dele, como se fosse verdadeiro. Em outras


palavras, usar o documento falso é dar a ele a destinação para a qual foi falsificado.

A mera guarda ou posse de documento falso não realiza o tipo, a não ser quando
sua finalidade é, exatamente, a de ser portado, como o é a carteira de habilitação para
dirigir veículo automotor ou a autorização para portar arma de fogo.

O documento deve ser produto de crime de falsificação e, como tal, deve ter
idoneidade para ludibriar a quem for apresentado, não havendo crime quando o agente faz
uso de documento grosseiramente forjado.

A utilização de mais de um documento falso no mesmo contexto é crime único, mas


a utilização reiterada, no tempo ou no espaço, do mesmo documento autoriza o
reconhecimento de crime continuado.

O uso de documento falso é absorvido pelo estelionato, quando é meio para a


obtenção da vantagem ilícita em prejuízo de outrem.

Deve o agente atuar com dolo. Com plena consciência de que utiliza um documento
falsificado, produto, pois, de um dos crimes dos arts. 297 a 302 e com vontade livre de
empregá-lo fazendo prova do fato a que se presta provar. Se o agente desconhece a
falsidade, o fato será atípico.

76.2.2 Consumação e tentativa

A consumação coincide com a utilização, com o emprego do documento falso,


independentemente da obtenção, pelo agente, de qualquer proveito ou vantagem
decorrente da utilização. Não é possível a tentativa, pois o primeiro ato ou a tentativa de
sua utilização já é dele fazer uso.

76.3 AÇÃO PENAL

A ação penal é, em qualquer caso, de iniciativa pública incondicionada.

Tratando-se de uso de certidão ou atestado ideologicamente falso ou de atestado


médico falso, a competência é do juizado especial criminal, possível a suspensão
condicional do processo penal, que somente não será possível na hipótese de uso de
documento público materialmente falso.

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