You are on page 1of 30

CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA

- MÓDULO B -

ANGELOLOGIA – Estudo sobre seres especiais


1. Quem são os anjos?
1.1. A origem dos anjos
1.2. Sua natureza espiritual
1.3. O caráter dos anjos
1.4. A classificação dos anjos
1.5. O “anjo da guarda”
1.6. Os anjos e a Nova Era

2. Satanás
2.1. A origem de satanás
2.2. O caráter de satanás
2.3. Suas atividades

3. Os espíritos maus
3.1. Quem são e de onde vem
3.2. Qual o seu caráter
3.3. Sua classificação
3.4. O destino dos anjos
3.5. Jesus e os demônios
3.6. O cristão e os demônios

Os anjos existem, e são seres que cuidam de nós. Isso é uma doutrina bíblica.
Mas, como várias outras doutrinas bíblicas, a Angelologia tem sido propositadamente distorcida, com o
fim de levar às pessoas sinceras e ingênuas, a adorarem deuses estranhos, pensando que são “anjos de luz”.
Por outro lado, o esoterismo, em função das heresias sobre os anjos, parece que tem afastado a igreja
de Cristo a ensinar sobre o tema. Parece que todos crêem, mas ninguém sabe ao certo como crer, e talvez não
seja melhor falar sobre isso. Parece ser este o espírito de certos grupos.
Mas certamente não é este o perfil da Bíblia. Toda ela é útil. Toda a Escritura é útil, sendo assim, o
ensino sobre anjos também é extremamente útil.
Creio, oro e espero que você, ao estudar sobre os anjos de Deus (que também são usados por Ele para
ministrar a nós), glorifique mais ainda o seu Deus, e reconheça que Ele criou uma estrutura, não só física, mas
também espiritual para cuidar de você.
Conheça, a partir de hoje, os motivos para amá-Lo ainda mais.

Deus nos abençoe ricamente!

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a
correção, para a educação na justiça”. II Timóteo 3:16

1
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -

1 – Quem são os anjos?


A doutrina da Angelologia sempre tem sido negligenciada pela igreja, embora seja de extrema
importância. Desde a antiguidade, os gnósticos (os que tentam traçar uma universalidade do pensamento sobre a
divindade) prestavam adoração aos anjos (Cl 2:18); depois então, na Idade Média, com as crenças absurdas dos
rituais de bruxarias, com culto aos anjos; e agora em nossos dias, os estudos cabalísticos personalizados no meio
esotérico e místico de um movimento chamado “Nova Era”, ensinam novamente o culto aos anjos, por meio de
bruxos sofisticados e modernos, sabendo, antes de tudo, a existência e ministério dos anjos são fartamente
ensinados nas Escrituras, que certamente é a melhor fonte de estudos sobre os anjos. Por isso, não podemos
negligenciar os ensinamentos sagrados.
O maior e mais antigo tratado sobre anjos é a Bíblia. No AT, cujos escritos vão do segundo milênio aos
anos quatrocentos antes de Cristo, temos 109 referências a anjos. A palavra hebraica para anjo é “mal’akh”, cuja
idéia básica é de um mensageiro sagrado, humano ou sobrenatural. Já no NT, cujos escritos vão dos ano 49 a 100
depois de Cristo, temos 186 referências a anjos. Em grego, a palavra usada é “ângelus”, que também tem o
sentido de mensageiro, de intermediário.
É importante dizer que a natureza dos anjos tanto se manifesta nos anjos fiéis quanto infiéis. A diferença
se traduz no resultado das ações. Por exemplo: todos os anjos são imortais, mas os infiéis serão condenados à
prisão eterna, enquanto que os fiéis adorarão a Deus eternamente.

1.1 – A origem dos anjos

Os anjos não existem desde a eternidade. Eles foram criados por Deus no momento de Sua criação (Ne
9:6; Sl 148:2; Cl 1:16).
A Bíblia não indica com precisão em que parte foram criados, mas podemos entender que isso deve ter
acontecido imediatamente após ter criado os céus e antes de ter criado a terra, segundo podemos ver em Jó
38:4-7; Gn 1:1; 2:1. Não podemos também definir número, mas sabemos quem “exército” compreende grande
quantidade; uma “legião” (Dn 7:10; Mt 26:53; Hb 12:22) compreende um número grandioso (uma legião romana
geralmente era composta por 6.000 integrantes). Deus certamente criou todos de uma só vez, pois os anjos não
tem capacidade de propagar-se como o homem (Mt 22:30).
A palavra original correspondente no grego é “aggeloz=ângelus”. É usado tanto para mensageiros
humanos (I Rs 19:2; Lc 9:52) quanto divinos (Lc 1:28).
Os anjos são seres espirituais criados para ministrarem a Deus, seja na adoração ou no serviço de Deus
em favor dos que hão de herdar a eterna salvação, ou até mesmo para anunciar e executar o juízo de Deus.
Dentre os anjos, há os que foram confirmados em santidade, os bons, e os que foram confirmados em iniqüidade,
os maus; estes, ao contrário dos bons, em rebeldia tentam impedir a obra de Deus (I Rs 19:2; Lc 9:52; Lc 2:28).
Os anjos foram criados para cumprirem os propósitos de Deus:

Foram criados para darem glória, honra e ações de graças à Deus. Eles adoram a Deus (Is 6:1-3; Mt 18:10);
Foram criados para adorarem a Cristo (Hb 1:6);
São ministradores em favor dos que hão de herdar a salvação (Hb 1:4; Sl 91:11; Hb 1:14; Dn 6:22; Mt 4:11; Lc
22:43);
Defendem e livram os servos de Deus (Gn 19:10-11; At 5:19-20);
São mensageiros de Deus – o próprio nome já diz isso (Mt 1:20);
Executam juízo divino (Gn 18:13);
Acompanharão a Cristo por ocasião das últimas coisas (Mt 13:49; Mt 25:31; I Ts 4:16);
Guardam os eleitos que já morreram (Lc 16:22; Lc 24:22-23; Jd 1:9);
Cooperam na separação entre justos e ímpios (Mt 13:49; Mt 25:31);
Cooperam no castigo imposto aos ímpios (2 Ts 1:7-8).

2
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -
Em várias passagens bíblicas os anjos são referidos por pessoas com testemunho visual

Por Jesus Cristo (Jo 1:51);


Pelo Apóstolo Paulo (Gl 1:8);
Por satanás (Mt 4:6);
Pelo Apóstolo João, que falou mais de 60 vezes no livro de Apocalipse (Ap. 1:1).

1.2 – Sua natureza espiritual

Sendo seres com personalidade, eles tem características próprias:

São seres criados – isso significa que não são eternos e auto-suficientes, mas limitados e serviçais de Deus,
sendo porém imortais (Sl 148:2; Lc 20:34-35; Cl 1:16);
São seres espirituais – são incorpóreos, não tem corpo físico, mas isso não nega a possibilidade de se
materializarem (At 1:10; Hb 1:13; Ef 6:12; Hb 12:22-23);
São seres pessoais – eles possuem identidade própria, prova disso é o uso de nomes como “Miguel” (Jd 1:9);
“Gabriel” (Dn 8:16; 9:21; Lc 1:19-26), e também por serem dotados de sabedoria (II Sm14:20) e por falarem;
Não procriam – são uma companhia e não uma raça. As escrituras em parte alguma ensinam que os anjos são
seres assexuados. Encontramos referências aos anjos com o uso de pronomes do gênero masculino e nenhuma
com o gênero feminino, mas, certamente, o casamento e a reprodução não é um dos propósitos de Deus para
eles (Mc 12:25; Mt 22:30; Dn 8:16-17; Lc 1:12 ; 29-30; Ap 12:7; Ap 20:1; Ap 22:8-9);
São seres imortais – os anjos não estão sujeitos à dissolução: nunca morrem. A imortalidade dos anjos foi
estabelecida por Deus e depende de Sua vontade. Os anjos são isentos da morte porque Deus assim os fez (Lc
20:35-36);

1.3 – o caráter dos anjos

Sendo seres com personalidade, eles possuem características de caráter. Eles são dotados:

de poder – mas não são onipotentes (II Pe 2:11; Sl 103:20; I Ts 1:7; Dn 10:13);
de velocidade – mas não são onipresentes (Dn 9:21; Mt 26:53; Lc 2:13; Hb 12:22);
de glória – mas não são divindades (Is 6:1-2; Lc 24:4; II Co 11:14; Lc 9:26);
de organização – são divididos em hostes (Ef 6:12; Cl 1:16);
de superioridade – são superiores em relação aos seres humanos (Sl 8:5; Hb 2:7);
de emoções – o próprio Jesus fala da alegria dos anjos (Jó 38:7; Lc 15:10);
de vontade – mas não são autônomos. Eles tem direito de escolha e sentimentos, e isso fica claro quando se
refere a satanás, um anjo rebelado (Is 14:13-14; Ez 28:16-17).

Outras características:

São obedientes – eles cumprem os seus encargos sem questionar o vacilar, por isso oramos “seja feita a tua
vontade, assim na terra como no céu” (Sl 103:20; Mt 6:10; Jd 1:6; I Pe 3:22);
São reverentes – sua atividade mais elevada é adorar a Deus (Ne 9:6; Fp 2:11; Hb 1:6);
São mansos – não abrigam ressentimentos pessoais nem injuriam os seus opositores (II Pe 2:11; Jd 1:9);
São santos – são separados por Deus e para Deus; são “santos anjos” (Ap 14:10);
São mensageiros – eles trazem importantes notícias, instruem e guiam os filhos de Deus. Segundo o escritor da
carta aos Hebreus, os mandamentos foram entregue a Moisés por anjos (Hb 2:2);
Não estão sujeitos às nossas ordens e vontades – ao contrário do que a vulgarização sobre angelologia prega,
eles não estão debaixo da nossa vontade, mas agem de acordo com a justiça de Deus nos julgamentos divinos e
cumprindo as missão a eles designadas por Deus (Sl 91:10-11).

3
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -

1.4 – A classificação dos anjos

A Bíblia identifica nitidamente classes distintas de anjos. Vamos estudá-las para melhor entender sua
organização.

O Anjo do Senhor – a maneira como é descrito distingue-o de qualquer outro anjo. Também chamado “Anjo da
Presença” ou “da face de Yahweh”. É o único que aparece com a inicial maiúscula. Quando isso acontece,
certamente fala de Jesus, o Senhor. Em relação ao Anjo do Senhor, ele tem poder de perdoar ou reter pecados
(Ex 23:20-23); ele mesmo confirma ser a Sua presença (Ex 33:14); tem o poder de salvar (Is 63:9); Jacó o
identificou com o próprio Deus (Gn 32:30; Gn 48:16).
O arcanjo, o anjo principal – A palavra “arcanjo” aparece 2 vezes na Bíblia (Jd 1:9; I Ts 4:16). Por sua vez,
“Miguel” está 5 vezes nas Escrituras (Dn 10:13; 12:1; Jd 1:9; Ap 12:7). A Bíblia fala de “arcanjo” no singular e
quer dizer “o maior dos anjos”, “chefe dos anjos”, “príncipe dos anjos”. “Miguel” segnifica “quem é como
Deus?”. O prefixo “arca” em “arcanjo” sugere um anjo-chefe, principal e poderoso. Só se aplica a “Miguel”. Ele
é uma espécie de administrador angélico de Deus para o juízo. De acordo com Dn 12:1, ele é o “defensor” do
povo de Israel. Ele está diante da presença de Deus (Lc 1:19) e a ele são confiadas mensagens de mais elevada
importância com relação ao reino de Deus (Dn 8:16; 9:21). De acordo com Enoque, o autor do livro apócrifo (da
bíblia católica), que tem o mesmo nome, são sete os que assistem diante do Senhor e estão a frente do Seu
exércitos de anjos: “Uriel”, “Rafael”, “Raquel”, “Miguel”, “Sariel”, “Gabriel” e “Jeremiel”. Nada que mereça
crédito, mas apenas aqui mencionado (I Ts 4:16; Jd 1:9; Dn 10:13; 21; 12:1; 7; Ap 12:7).
Os anjos eleitos – Provavelmente identifica aqueles que permaneceram fiéis à Deus durante a rebelião de
satanás, não sendo portanto uma classe específica, mas uma identificação genérica (I Tm 5:21; Mt 25:1);
Os anjos das nações – Em Dn 10:13-20, parece ensinar que cada nação tem seu “anjo protetor”, o qual se
interessa pelo bem-estar dela. A palavra “principados”, no NT, pode referir-se a esses príncipes angélicos das
nações. Esse termo também é usado tanto para anjos bons como para os maus (Ef 3:10; Cl 2:15; Ef 6:12). A
oração de Daniel e a luta nas regiões celestes mostram um pouco da obra desses anjos (Dn 10:13; 20-21; Dn
9:1-2);
Os querubins – Guardam o trono de Deus (Ez 10:1-4; Gn 3:24; Ex 25:18-22). O título “querubim” fala de sua
posição elevada e santa e sua responsabilidade está intimamente relacionada com o Trono de Deus, como
defensores do Seu caráter e presença santa. A palavra aparece 81 vezes na Bíblia, apesar de pouco se dizer a
respeito deles. Eles aparecem principalmente na cultura israelita antiga, nas poesias hebraicas, nas visões
apocalípticas e nas descrições dos móveis e ornamentos da Arca, do Tabernáculo e do Templo. A palavra
“queburim” é de origem hebraica. Embora incerto, o significado da palavra quer dizer “aquele que ora”, “aquele
que abençoa”, do hebraico “karub”, que significa “bendizer” ou “orar”. Os querubins são guardiões. A primeira
vez que aparece sua menção na Bíblia é para guardar o caminho da Árvore da Vida. Na Arca da Aliança, também
tem o sentido de estar guardando. A cortina do Tabernáculo, que separava a presença divina do povo ímpio
tinha bordados de figuras de querubins (Ex 26:1). Eles estão mais diretamente relacionados a Deus do que aos
homens. O anjo Gabriel atuou em momentos importantes: explicou a Daniel suas visões e anunciou os
nascimentos de João Batista e de Jesus. Ele assim se revelou: “Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus” (Lc
1:19; Dn 8:16). Veja outros textos bíblicos sobre como são apresentados os querubins: Como guardas (Gn 3:24;
Ez 28; Ex 25:18-22; 37:7-9; I Rs 8:6-7; II Cr 5:7-8); Como ornamento (Ex 25:18-22; Ex 37:7-9; 26:1 ; 31; 36:8 ; 35);
Como ornamento do templo de Salomão (I Rs 6:29; 32; 35; I Rs 6:23-28; 29; 32; 35. 7:29; 36; I Cr 28:18; II Cr
3:7; 10-13; e:14); Como demonstração da presença de Deus (I Sm 4:4; II Sm 6:2; Nm 7:89; I Cr 13:6); Como
demonstração do domínio, glória, majestade e poder do Senhor (II Sm 22:11; Sl 80:1; Sl 18:10; 99:1; Is 37:16;
Ez 9:3; 10:1-20; 11:22; 41:18-25); Como ornamento do templo de Ezequiel (Ez 41:18-20). Eles são descritos
como tendo “rostos de leão”, “de boi” e de “águia”, e isso sugere que sejam uma perfeição de criaturas – força
de leão, de homem, rapidez de águia e serviço semelhante ao que o boi presta.
Os serafins – Se ocupam com a adoração a Deus diante do Seu Trono (Is 6:2-7). O título “serafim” fala de
adoração incessante, do seu ministério de purificação e de sua humildade. A palavra “serafim” significa “arder”,
“queimar”. Os querubins estão sob “Yahweh”, e os serafins estão ao seu redor, voando sobre Ele, adorando-O.
São relacionados com o ato de purificação pelo fogo. Eles são os guardiões da Santidade de Deus, que conserva
o impuro à distância e aquilo que se aproxima d’Ele é purificado. Os querubins se relacionam, podemos dizer,
com o altar; os serafins com a pia. São mencionados apenas em Isaías, que os apresenta como possuidores de
mãos, asas, rosto e pés (Is 6:2-7).

4
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -
Os anjos especialmente nomeados – Certos anjos só ficaram conhecidos pelo serviço que prestaram. Destes,
temos aqueles que serviram como “anjos de juízo” (Gn 19:13; II Sm 24:16; II Rs 19:35; Ez 9:1; 5; 7; Sl 78:49);
“anjo vigilante” (Dn 4:13; 23); “anjo do abismo” (Ap 9:11); “aquele que tem autoridade sobre o fogo” (Ap
14:18); “anjo das águas” (Ap 16:5); os “sete anjos” (Ap 8:2). Outros são conhecidos, mas tem missões especiais,
como mensageiros (Dn 8:16; 9:21-22; Lc 1:19; 26).

1.5 – O “anjo da guarda”

Será que existe um anjo acompanhando o crente o tempo todo? Esse anjo é pessoal? Para cada crente
há um anjo? Para essas perguntas há dois tipos de interpretação no Cristianismo:

Os que acreditam haver um anjo da guarda permanentemente ao lado de cada crente para dar proteção –
estes levam em conta que “o anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra”. Outros textos: Sl
91:11-12; Mt 18:10; At 12:14-15.
Os que acreditam que os anjos são enviados por Deus para nos socorrer – estes argumentam que sempre há
uma emergência ou situação que exija maiores cuidados, e que “acampar-se ao redor dos que o temem” não
significa dizer que permaneçam o tempo todo ao nosso lado, mas que se encontram dispostos a intervir quando
necessário. No caso de Mt 18:10, pode haver uma classe de anjos dedicados às crianças, mas esses anjos estão
no céu, pois eles “vêem a face de Deus”. Com relação ao livramento de Pedro, nota-se que o anjo, tão logo
terminou sua missão, apartou-se dele (At 12:10). Conforta-nos saber que os exércitos angelicais estão de
prontidão para nos defender. São exemplos o caso de Daniel na cova dos leões (Dn 6:22), de Pedro na prisão (At
12:7); de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego na fornalha ardente (Dn 3:28) e de Paulo e Silas na prisão (At
16:26). Cremos que não exista um anjo pessoal, chamado popularmente de “anjo da guarda”, pois não há
nenhuma evidência disso. O que sempre haverá são anjos a nosso favor. Quem está “escalado” para o serviço
naquele dia não faz diferença. O importante é saber da competência dos seres angelicais, e mais, no poder
d’Aquele que os envia a nós. Não devemos contatar nosso “anjo da guarda” para obter instrução constante e
direção espiritual. Nossa oração deve ser dirigida somente a Deus. Convém lembrar que os anjos do Senhor não
aceitam qualquer tipo de adoração (Ap 22:8-9). Os anjos recebem ordens de Deus; são todos eles “espíritos
ministradores” enviados para servir daqueles que hão de herdar a salvação (Hb 1:14; Ap 22:8).

1.6 – Os anjos e a Nova Era

A partir de 1994, o Brasil começou a viver uma moda mística, a febre dos anjos. Sem dúvida, quem eu
início a essa moda foi uma jovem senha que antes trabalhava com orixás e depois, através da Fraternidade
Branca, com gnomos, duendes silfos, ondinas, fadas e salamandras. O nome dela é Mônica Buonfiglio. Seus dois
sucessos foram “Anjos Cabalísticos” e a “Magia dos Anjos Cabalísticos”.
Mas, apesar de seu aspecto bombástico, essa moda teve um lado positivo; colocar em pauta a discussão
sobra a existência ou não dos anjos, e é sobre isso que desejamos falar.
Muitas pessoas, em nome da racionalidade, lançam fora a água e a criança. Negam não somente o
misticismo eclético da Nova Era, mas também a realidade do mundo espiritual. Criticam um erro, a superstição, e
despencam em outro, o agnosticismo racionalista.
É interessante que, na Bíblia, os anjos não tem nada a ver com a angelologia proposta pela Nova Era.
Segundo Mônica, por exemplo, os anjos são “entidades etéreas que não tem memória e nunca julgam; são como
bebês... nus, com asas, bochechudos e com um sorriso maroto de criança arteira” (Mônica Buonfiglio – Anjos
Cabalísticos, São Paulo, Oficina Cultural Esotérica, 1993, p. 64).
É interessante que a angelologia mística da Nova Era propõe um relacionamento com os anjos através
de práticas esotéricas, via astrologia, numerologia e ancoragem (magia branca). São utilizados dezenas de
invocações, velas, incensos e talismãs; tudo para manipular os anjos. Estamos, de fato, diante de uma cosmovisão
gnóstica e espírita. Conforme explica o teólogo Scott Horrell, “esta é uma angelologia sem Deus definido, sem
estrutura moram e sem explicação sobre o porquê da própria existência dos anjos” (J. Scott Horrell, Anjos
Cabalísticos, in Vox Scripturae, São Paulo, AETAl, 1995, p. 245).
Diante das modas místicas, todos aqueles que se aproximam de Deus devem se lembrar do que disse o
5
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -
apóstolo Paulo: “Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens; um homem, Cristo Jesus, que se
deu em resgate por todos” (I Tm 2:5).

2 – Satanás
Alguns afirmam que o diabo não existe; outros o consideram um ser com chifres, tridentes e face
distorcida, o que tem muito mais a ver com características de sua personalidade do que com sua aparência. Mas
será que ele existe? Sim, claro que existe!
Certo pregador uma vez afirmou, com muita sabedoria, que as três maiores mentiras que satanás
divulga são: 1ª – Que todos os caminhos levam à Deus; 2ª – Que todos são filhos de Deus, e; 3ª – Que ele
(satanás) não existe.
Mas ele existe. E como será que foi criado? Um dia alguém me perguntou exatamente isso e,
propositalmente para despertar sua curiosidade e verificar seu espanto, respondi parcialmente. Disse que Deus o
havia criado. Diante de dois olhos arregalados, expliquei depois totalmente o assunto para que ela não
entendesse errado. Como será que você responderia a uma pergunta assim?

2.1 – A origem de Satanás

Satanás, do grego “satan” (que significa “adversário”), foi, antes, um elevado anjo chamado Lúcifer, que
ocupava um lugar especial entre os querubins (Ez 28:14). Foi criado “perfeito e bom”. Foi designado como
ministro junto ao trono de Deus, porém num certo tempo, antes de o mundo existir, rebelou-se e tornou-se o
principal adversário de Deus e dos homens (Ez 28:11-19).

2.1.1 – A queda de Lúcifer e seus anjos

Os anjos, incluindo Lúcifer, que mais tarde se tornaria Satanás, foram criados em estado de perfeição.
No relato bíblico da criação (Gn 1), lemos seis vezes que o que Deus fizera era bom, e em especial no verso 31
encontramos as palavras “Viu Deus que tudo quanto fizera, e eis que era muito bom”. Não há a menor
possibilidade de algo que Deus faz não ser “muito bom”. Os anjos também se encontram nesse adjetivo, de ser
uma criação “muito boa” de Deus, mesmo que na época da criação do mundo e do homem, certamente já tinham
sido criados. A Bíblia não afirma claramente quando eles foram criados, mas não os inclui na criação. Não há
dúvidas, portanto, que os anjos foram criados perfeitos (Ez 28:15) e parte destes deixaram seu próprio principado
e habitação original perfeita (Jd 1:6; II Pe 2:4), para criar raízes do mal (Sl 78:49; Mt 25:41; Ap 9:11; 12:7-9). Não
podemos ter dúvidas que Satanás foi o “chefe dessa rebelião” (Is 14:12; Ez 28:15-17). Satanás não caiu sozinho.
Quando houve a rebelião no céu, ele “arrastou” consigo 1/3 dos anjos (Ap 12:4).

2.1.2 – A causa de sua queda

Este é um dos profundos mistérios da Teologia. Mostramos que os anjos foram criados perfeitos; então,
como pode tais serem pecarem?
É aqui que podemos ver a perfeição e liberdade de toda a criação. Os teólogos latinos são autores de
6
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -
uma frase que diz: “Posse pecare ET posse non pecare (posso pecar e posso não pecar)”. Isso traduz a capacidade
de pecar e a de não pecar. É a posição de poder fazer qualquer uma das duas coisas sem ser constrangido a fazer
uma ou outra coisa. Em outras palavras, havia e há liberdade de escolha, o chamado “livre arbítrio”.

Deus não coagiu nenhuma de Suas criaturas, nem mesmo os anjos. Se indagarmos então por qual
motivo pode ter estado por trás dessa rebelião, podemos obter algumas respostas na Bíblia.
Há alguns tipos que mostram as características de Satanás: grande prosperidade e beleza (Rz 28:11-19); I
Tm 13:14); cada um dos passos que levaram à sua queda (Is 14:13-14). Satanás queria a posição ao lado de Deus
no céu, lugar este reservado a Cristo. Ele queria seu trono sobre todo principado, potestade e domínio, também
lugar prometido a Cristo; também queria reinar sobre o povo de Deus (também privilégio de Cristo

2.1.3 – O resultado de sua queda

O resultado de rebelião será sempre um tipo de rebelião. Satanás, na sua rebelião contra Deus, arrastou
consigo uma grande multidão de anjos das ordens inferiores (Ap 12:4), que talvez possam ser identificados, após
sua queda, com os demônios ou espíritos malignos. Satanás e muito desses anjos inferiores decaídos foram
banidos para a terra e sua atmosfera circundante (regiões celestiais), onde operam limitados, segundo a vontade
permissiva de Deus.
Tanto Satanás quanto os anjos que o acompanharam perderam sua santidade original e se tornaram
corrompidos em natureza e conduta (Mt 10:1; Ef 6:11-12; Ap 12:4; 12:9).
Alguns deles foram lançados imediatamente no “inferno-tártaro”, e acorrentados até o dia do
julgamento (II Pe 2:4); outros estão em liberdade e trabalham em definida oposição à obra de Deus e dos anjos
bons (Ap 12:7-9; Dn 10:12-13; 20:21; Jd 1:9).
Satanás, também chamado de “a serpente”, foi o provocador da queda da raça humana (Gn 3:1-6; I Jo
5:19). A terra foi amaldiçoada por causa do pecado de Adão (Gn 3:17-19) e a criação está gemendo por causa da
queda (Rm 8:19-22), tanto de Adão como dos anjos caídos.

2.2 – O caráter de Satanás

O império do mal sobre o qual Satanás reina (Mt 12:26) é altamente organizado e exerce autoridade
sobre as regiões do mundo inferior, os anjos caídos (Mt 25:41; Ap 12:7), os homens perdidos (Jo 12:31; Ef 2:2) e o
mundo em geral (Lc 4:5-6; II Co 4:4; I Jo 5:19). Satanás não é onipresente, onipotente nem onisciente, por isso, a
maior parte de sua atividade é delegada a seus inumeráveis demônios (Mt 8:28; Ap 16:13-14, Jó 1:12).

Vejamos alguns nomes dado a Satanás:

diabo (Mt 13:39; Ef 6:11; Ap 20:2);


dragão (Ez 29:3; 32:2);
serpente (Gn 3:1; Ap 12:9; 20:2);
belzebu (Mt 10:25; 12:24-27);
belial (II Co 6:15);
lúcifer (Is 14:12);
maligno (Mt 13:19; 28; Ef 6:16);
tentador (Mt 4:3; I Ts 3:5);
deus deste século (II Co 4:4);
sedutor (Ap 12:9; 20:10);
abadom (Ap 9:11);
apoliom (Ap 9:11);
adversário (I Pe 5:8);
acusador (Ap 12:10);
homicida (Ap 12:10);

7
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -
príncipe da potestade do ar (Ef 2:2; 6:12);
caluniador;
pai da mentira (Jo 8:44).

Destes nomes, alguns merecem comentários especiais:

O nome “Satanás” significa, literalmente, “adversário” e descreve sua posição às decisões, criação e a igreja
de Deus, o criador;
O nome “Diabo” significa, literalmente, “caluniador”. Ele procede assim tanto em relação ao homem
quanto à Deus;
O nome “Tentador” mostra o seu principal meio de ação em relação ao homem;
O nome “Príncipe” e “deus deste mundo” mostra sua influência sobre a sociedade, que por várias vezes
utiliza parâmetros satânicos para estabelecer diretrizes e premiar erros, ao invés de acertos. A competição
extrema, a luxúria, o prazer egoísta e hedonista, o amor ao dinheiro etc. e tal, são características que
mostram a influência de conceitos satânicos sobre o mundo.

Esse ser sobre-humano é mencionado expressamente no AT (Gn 3:1-15; Jó 1:6-12; 2:1-7; Zc 3:1-2).

2.3 – Suas atividades

Satanás e o seu exército de anjos decaídos estão organizados e preparados para grandes batalhas do mal.
Sendo assim, podemos concluir então que existem duas forças invisíveis e poderosas – uma dirigida por Deus e
Seus anjos, e a outra por Satanás e seus anjos, onde a vitória final será de Deus (Ap 20:7-10; Mt 25:41).

3 – Os espíritos maus

3.1 – Quem são e de onde vem?

Os espíritos maus (também chamados anjos maus ou demônios) são originados na queda de Lúcifer.
Também eram anjos, assim como ele. Também tem organização hierárquica assim como os anjos obedientes que
ficaram ao lado de Deus.

3.2 – Qual o seu caráter?

Se opõem ao plano de Deus (Zc 3:1);


Se apossam de corpos e afligem vidas (Mt 8:28-33; At 16:16-18);
Tentam e impedem os servos de Deus (I Co 7:5; II Co 12:7; Ef 6:11-12; I Ts 2:18);
Causam moléstias (Mt 9:32; Lc 13:11; 16);
Disseminam doutrinas falsas (I Tm 4:1);
Ao que parece, são destituídos de sua capacidade de se materializar (Mt 12:43-44)

3.3 – Sua classificação

Da mesma forma que os anjos são hierarquizados, com líderes de grupos formando algo idêntico a um
exército, com oficiais e soldados distribuídos em pelotões, os demônios também são assim.

8
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -
Anjos aprisionados – São aqueles que desde sua queda estão confinados no abismo de trevas e preso por
algemas eternas, reservados para o juízo do grande dia (I Pe 2:4; Jd 1:6);
Anjos libertos – Estão incluídos em “todo principado, potestade, poder e domínio”. São normalmente
mencionados em conexão com Satanás, seu líder. Não deixam de ser demônios, mas parte deles parecem
ser demônios com maior hierarquia (Ef 1:21; Ef 6:12; Cl 2:15; Ap 12:7-9; Ap 9:14);
Demônios – Esta expressão aparece três vezes no AT (Dt 32:17; Sl 106:37; Lv 17:7). O NT menciona muitas
vezes pessoas sofrendo de opressão ou influência maligna de Satanás devido a um espírito maligno que
neles habita. Menciona também o conflito de Jesus com os demônios, descritos principalmente no livro de
Marcos (Mc 1:32-34; Mc 3:11-15; Mc 5:13; Mc 6:7; 13; Mc 7:25-30; Mc 9:17-29; Mc 16:17). Os demônios
são seres espirituais com personalidade e inteligência. Como súditos de Satanás, são inimigos de Deus e dos
seres humanos (Mt 12:43-45), são malignos, destrutivos e estão sob a autoridade de Satanás (Mt 4:10). Os
demônios são a força motriz que está por trás da idolatria, de modo que adorar falsos deuses é
praticamente o mesmo que adorar demônios (I Co 10:18-21). O NT mostra que o mundo está alienado de
Deus e controlado por Satanás. Os demônios são parte das potestades malignas; o cristão tem de lutar
continuamente contra eles (Jo 12:31; II Co 4:4; Ef 6:10-12). Os demônios podem habitar no corpo dos
incrédulos e, constantemente, o fazem e falam através das vozes dessas pessoas. Escravizam tais indivíduos
e os induzem à iniqüidade, à imoralidade e a destruição. Um único demônio pode possuir um indivíduo, ou
vários deles, incluindo legiões (Mc 5:15; Lc 4:41; Lc 8:27-28; At 16:18; Mc 5:9). Eles podem causar doenças
físicas, embora nem toda sãs doenças e enfermidades procedam de espíritos maus (Mt 9:32-33; Mt 12:22;
Mt 17:14-18; Mc 9:17-27; Lc 13:11; 16; Mt 4:24; Lc 5:12). Aqueles que se envolvem com espiritismo e magia
(isto é, feitiçaria), estão lidando com espíritos malignos, o que facilmente leva à possessão demoníaca. Mas
nem todos os pocessos “manifestam” demônios. Há casos em que a libertação ocorre sem manifestação
visível (At 13:8-10; At 19:19; Gl 5:20; Ap 9:20-21). Os espíritos malignos estarão grandemente ativos nos
últimos dias dessa era, na difusão do ocultismo, imoralidade, violência e crueldade; atacarão a Palavra de
Deus e a sã doutrina. O maior surto de atividade demoníaca ocorrerá através do Anticristo e seus
seguidores (Mt 24:24; II Co 11:14; I Tm 4:1; II Ts 2:9; Ap 13:2-8; Ap 16:13-14). Eles também trazem a
tentação mental (Ef 6:11-12; I Jo 4:1). Os demônios não são as “almas dos homens maus”, muito menos são
os “espíritos desincorporados de uma raça pré-Adâmica” (Sl 9:17; Lc 16:26; Ap 12:7-9).

3.4 – O destino dos anjos maus

Jesus veio à terra a fim de destruir as obras de Satanás (I Jo 3:8), de estabelecer o reino de Deus e de livrar
o homem do domínio de Satanás (Lc 4:19; 13:16; At 26:18). Cristo, pela sua morte e ressurreição, derrotou
Satanás e ganhou a vitória final de Deus sobre ele (Hb 2:14). No fim da presente era, Satanás será confinado ao
abismo durante mil anos (Ap 20:1-3), depois disso será solto e fará uma derradeira tentativa de derrotar a Deus,
seguindo-se de sua ruína final, que será o seu lançamento (e de seus anjos) no lago de fogo (Ap 20:1-3; Ap 20:7-
10). Terão a sua parte no lago de fogo (“Gehenna” Mt 25:41). Quando Cristo voltar, os crentes terão parte no
julgamento, ou condenação dos anjos maus (I Co 6:3).
Mas Satanás e seus anjos ainda não estão presos. Atualmente guerreiam contra Deus e Seu povo (Ef 6:11-
18), procurando desviar os fiéis da sua lealdade à Cristo (II Co 11:3) e fazê-los pecar e viver segundo o sistema do
mundo (II Co 11:3; I Tm 5:15; I Jo 5:19).

O cristão deve sempre orar por livramento do poder de Satanás (Ef 6:13), para manter-se alerta contra
seus ardis e tentações (Ef 6:11), e resistir-lhe no combate espiritual, permanecendo firme na fé (Ef 6:10-18; I Pe
5:8-9; Mc 3:27).
Veja algumas definições e diferenças entre as palavras bíblicas traduzidas para o português como
“inferno”:

Inferno – Lugar destinado ao suplício das almas dos perdidos. Existem quatro definições a partir do original
para esta palavra: “sheol” (hebraico) – o mundo dos mortos (Dt 32:22; II Sm 22:6; Sl 18:5); “hades” (grego)
– correspondente a “sheol” – lugar das almas que partiram desse mundo (Mt 11:23; 16:18; Lc 16:23; At
2:27); “gehenna” (grego) – vale de Hinom – um vale de Jerusalém onde se fazia sacrifícios humanos. Termo
usado para designar um lugar de suplício eterno (Mt 5:22; 29:30; 10:28; 18:9; 23:15; 33; Lc 12:5; Tg 3:6; Ap
20:10; 14); “tartaro" – derivado de “tartaros" (o mais profundo abismo do “hades” (I Pe 2:4; Ap 20:3).
9
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -

3.5 – Jesus e os demônios

O maior número de milagres que Jesus produziu se refere à libertação e expulsão de demônios, mesmo
associados a enfermidades. Em seus milagres, Jesus frequentemente ataca o poder de Satanás e o demonismo
(Mc 1:25-26; 34; 39; 3:10-11; 5:1-20; 9:17-29; Lc 13:11-12; 16). Um dos seus propósitos, ao vir à terra, foi subjugar
Satanás e libertar seus escravos (Mt 12:29; Mc 1:27; Lc 4:18).
Jesus derrotou Satanás em parte pela expulsão de demônios, porque mostrou e ensinou aos homens que
era possível expulsar os demônios e impedir as ações do diabo e, de modo pleno, através da Sua morte e
ressurreição (Jo 12:31; 16:17, Cl 2:15; Hb 2:14). Deste modo, Ele aniquilou o domínio de Satanás e restaurou o
poder do reino de Deus.
O inferno “gehenna”, o lugar de tormento, está preparado para o diabo e seus demônios (Mt 8:29;
25:41), mas ele e seus anjos (excetos os já aprisionados) hoje não habitam este inferno, e sim as regiões celestiais
(Ef 2:2; 6:12; Dn 10:12-15).

3.6 – O cristão e os demônios

A Bíblia afirma que o diabo está ao nosso derredor, como um leão a quem devorar (I Pe 5:8), mas ela
também afirma que há uma proteção de Deus a nosso favor (Sl 34:7).
As Escrituras ensinam que nenhum verdadeiro crente, em quem habita o Espírito Santo, pode ficar
endemoniado, isto é, o Espírito Santo e os demônios nunca poderão habitar o mesmo corpo (II Co 6:15-16). Os
demônios podem, no entanto, influenciar os pensamentos, emoções e atos dos crentes que não obedecem aos
ditames (conselhos, avisos, preceitos) do Espírito Santo (Mt 16:23; II Co 11:3; 14).
Jesus prometeu autoridade aos genuínos crentes sobre o poder de Satanás e de suas hostes. Ao nos
depararmos com eles, devemos aniquilar o poder que eles querem exercer sobre nós e sobre outras pessoas,
confrontando-os sem trégua, pelo poder do Espírito Santo (Lc 4:14-19). Desta maneira, poderemos nos livrar dos
poderes das trevas.
Em Mc 3:27, vemos três aspectos que envolve o conflito espiritual contra Satanás:
Declarar guerra contra Satanás segundo o propósito de Deus (Lc 4:14-19);
Ir aonde Satanás está (qualquer lugar onde ele tenha uma fortaleza), atacá-lo e vencê-lo pela oração e pela
proclamação da Palavra, e destruir suas armas de engano e tentação demoníacas (Lc 11:20-22);
Apoderar-se de bens ou posses, isto é, libertando os cativos do inimigo e entregando-os a Deus para que
recebam perdão e santificação mediante a fé em Cristo (Lc 11:22; At 26:18).

ESPECIAL – Ministrando libertação aos cativos

Libertação de demônios é uma obra que só Jesus Cristo pode fazer, e Ele usa os Seus filhos. Ninguém mais
pode produzir libertação a não ser um servo de Deus, em nome de Jesus. O resto é emocionalismo, teatro, troca
de demônios ou algo assim.
Libertação é algo muito sério. Lidamos com vidas humanas e também com o sobrenatural maligno. Por
isso, seriedade, ética, vida santificada e amor pelas pessoas são atributos fundamentais para que o ministro seja
bem sucedido e a pessoa completamente liberta. Conhecer sobre libertação é importante para que não se fique
“dando voltas em círculos” ao ministrar sobre uma pessoa (II Co 2:11).
Vamos ver então alguns itens muito importantes e que todos precisam saber ao ministrar libertação sobre
uma pessoa.

10
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -

1 – Quem pode ministrar libertação?

Resposta: TODOS. Libertação não é dom e nem ministério. É uma ordenança bíblica. Dons e ministérios
são específicos para algumas pessoas, mas ordenanças bíblicas são para todos. Expulsar demônios (Mc 16:17) é
uma ordem, uma capacitação a todos os filhos de Deus assim como o evangelismo. Mas é evidente que uma
pessoa preparada em oração, conhecimento e santificação exercerá com mais facilidade qualquer ordenança ou
ministério, especialmente esse tão difícil (Mc 6:13; 16:17; Lc 9:1).
A capacidade de alguma pessoa libertar alguém do poder dos demônios está unicamente na aplicação do
nome de Jesus e na Palavra de Deus. Não existem os mais capazes ou menos capazes. Tempo de casa também
não é referencial de capacidade. Procure orar mentalmente por perdão dos seus pecados antes de começar a
ordenar ao demônio e depois, use a “chave” que o Senhor Jesus Cristo deu aos Seus filhos, ligando ou desligando
(Lc 10:17; Mc 3:14-15; Mt 4:4).

2 – Como uma pessoa fica endemoniada e em que parte do ser isso


ocorre?

Possessões demoníacas acontecem primeiro na mente e depois no corpo do indivíduo; estas podem ser
parciais ou totais, inconsciente ou semi-consciente. Os demônios não “baixam” nas pessoas como se diz
usualmente. Eles já estão dentro da pessoa e entraram por alguma brecha produzida pelo pecado crônico, ou
seja, não confessado. Perceba que a Bíblia fala doze vezes de endemoniados, dando interpretação de “ninhos de
demônios”. Um ninho não se faz instantaneamente; leva algum tempo (Mt 4:24; 8:16; 8:28; 8:33; 9:32; 12:22; Mc
1:32; 5:15-18; Lc 8:36; Jo 10:21).

3 – Por que um demônio se manifesta?

Um demônio não manifesta na igreja ou diante de um servo de Deus porque quer. Para ele é “prejuízo”.
Ele se manifesta porque não suporta a glória de Deus na vida do servo d’Ele ou na igreja. Nem por isso, todas as
pessoas endemoniadas que se aproximarem de um servo de Deus manifestarão demônios.
É preciso que você perceba e ensine que, embora seja constrangedor, sempre que um demônio manifesta
na vida de uma pessoa e é expulso, é algo positivo para a vida daquela pessoa. Isso diminui o constrangimento e
dá glória a Deus (Lc 4:41; 8:27; At 16:16-17).

4 – O que você precisa para expulsar demônios?

Veja alguns “detalhes e cuidados” que você precisa ter:

4.1 – Você precisa amar a pessoa

Pessoas endemoniadas são pessoas que sofrem. Fazem muitas coisas que não querem fazer por que não se
possuem, mas são possuídas. Por isso, ao ministrar, você precisa demonstrar e praticar amor a uma alma.

Alguns cuidados:

Não permita que a pessoa se machuque – os demônios são rápidos e surpreendentes. Procure colocar a
pessoa sentada sempre que possível e utilize a autoridade que Jesus lhe deu para não permitir que ela se
machuque;

11
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -
Não a exponha em público – se existirem pessoas por perto, peça para se retirarem ou leve a pessoa
endemoniada, se possível, a um lugar discreto. Chame algumas poucas pessoas com você, se achar que irão
ajudá-lo. Evite ficar sozinho com a pessoa endemoniada;
Se a manifestação prolongar muito – se demorar muito, interrompa, somente amarrando o demônio;
Os demônios gostam de envergonhar a pessoa – não permita isso. Ordene, em nome de Jesus, que se
calem;
Quando a pessoa voltar ao normal – quando tudo se normalizar, faça-a sentir-se o menos constrangida
possível. Converse com ela, a acompanhe e oriente as pessoas que estão perto para que a ajudem. Carinho
e compreensão sempre ajudam.

4.2 – Entenda que você vai ministrar e não orar

Quando estamos expulsando um demônio não estamos orando a Deus; estamos dando uma ordem a demônios ou
ministrando, sempre em nome de Jesus, e baseados na Palavra de Deus. Não se esqueça disso! Um erro comum que não
deve ser cometido é tentar expulsar demônios “orando em línguas” (Mc 1:27).

4.3 – Amarre o(s) demônio(s)

Há uma ferramenta importante que o Senhor Jesus nos deu: a autoridade para “amarrar o valente”. Amarrar é uma
premissa antes de se expulsar, porque torna o “valente” menos resistente. Também é algo a ser feito quando já conhecemos
a pessoa manifestada e sabemos da sua falta de compromisso ou quando há uma demora muito grande (por qualquer
motivo) do demônio sair (Lc 11:21-22).

4.4 – Mantenha a atenção total

Nunca ministre libertação de olhos fechados. Você não sabe o que pode acontecer e precisa ficar alerta. Cuidado
com os ataques físicos como socos, arranhões e também com suas roupas (Ex: gravatas).

4.5 – Não entreviste o demônio

Demônios gostam de dar show. Não há nenhuma produtividade em se “entrevistar” demônios. Só há um relato
bíblico de Jesus conversando com eles; mas em cima de um só texto bíblico não se forma uma doutrina. Nsse texto
(endemoniado gadareno), o diálogo foi curto, rápido e objetivo, em nada parecendo com o que vemos hoje, inclusive na TV.
Você e ninguém precisa de informações do tipo: “o que você ia fazer com a pessoa?”; “o que você ganhou para estar aí?”;
“qual o seu nome?” para expulsá-lo(s). você só precisa do nome de Jesus.

4.6 – Não aceite sugestões do(s) demônio(s)

Ele(s) não tem nenhuma informação que já ajudar você a expulsá-lo(s); certamente ele nunca vai querer ajudar. O
diabo, seu chefe, é o pai da mentira e sempre será (Jo 8:44);

4.7 – Avaliação – “carne” ou demônio?

Algumas pessoas não estão endemoniadas, mas sim estão com algum tipo de surto psicótico ou simplesmente
querendo chamar a atenção para elas. É hora de usar o discernimento que Deus dá a você. Se mesmo assim não conseguir
discernir, um bom método (não bíblico, mas prático), é o “beliscão”. Pessoas endemoniadas não sentem dor, mas pessoas
“em crise” sentem. Discretamente, dê um beliscão (que não machuque, mas que seja suficiente para a pessoa reclamar) para
ter uma posição prática.

12
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -

4.8 – Não se preocupe com os nomes dos demônios

Existem milhares, talvez milhões de nomes de demônios. Você não precisa saber todos os nomes. Aliás, nenhum
nome sequer. Há pessoas que se preocupam em descobrir o nome dos demônios; há outros que catalogam; outros, só
iniciam a libertação após meses de “entrevistas” com as pessoas, tentando traçar o seu perfil histórico-espiritual. Não é
necessário, nem recomendado saber e falar o nome do demônio (Sl 16:4).
Há pessoas que pensam que o demônio só sairá se o ministrador “acertar” o nome. Aí, por exemplo, estão diante de
uma pessoa cujo problema evidenciado é embriaguez, só que o demônio mais “provável” é o “Zé Pilintra”. Mas existem “n”
tipos desse demônio. Como então acertar o tipo? Será que é assim? Isso no Brasil. E se você for ao exterior, não poderá
expulsar demônios? Afinal, os nomes mudam...
Amados, fujam do sincretismo! Se você quiser falar algo, faça como Jesus, que identificava o tipo de espírito:
“espírito de enfermidade”, “espírito de surdez”, “espírito de embriaguez”, “espírito de prostituição”, etc. . O(s) demônio(s)
tem que atender ao nome de Jesus. Aleluia! (Mc 9:25; Fl 2:10).

4.9 – Elimine os vínculos físicos

É aconselhável que a própria pessoa elimine de seu ambiente os vínculos que tinha com qualquer entidade maligna
(livros, patuás, imagens...) ou permita que um servo de Deus faça isso. Se a pessoa ministrada identificou que os objetos são
relacionados com a possessão, não há mais porque mantê-los (At 19:18-20).

4.10 – Feche “portas”

Ordene sempre que os demônios expulsos não voltem mais. É óbvio que se a pessoa não “tampar” as brechas por
onde os demônios expulsos entraram, eles mais cedo ou mais tarde voltarão. Mas se você der a ordem de não mais
voltarem, certamente ficará mais fácil (Mc 9:25).

4.11 – Jamais jogue “pérolas aos porcos”

Não adianta ministrar libertação em quem não quer realmente ser liberto. Em algumas pessoas (que não querem se
acertar), ministrar libertação pode até ser nocivo a ela. A Bíblia afirma que se a pessoa não mantiver sua casa limpa, o
demônio expulso volta com mais sete, totalizando oito demônios. O que acontecerá se esses oito foram expulsos e a pessoa
não se cuidar? Voltam os oito, cada um trazendo mais sete, totalizando 64 demônios...
Quando isso acontece, forma-se então “legiões”. A solução para isso é ministrar libertação e discipular. Lembre-se
que a Palavra de Deus mantém a pessoa limpa. Não perca tempo com quem não quer compromisso com Jesus (Jo 15:3; Mt
7:6; 12:43-45).

4.12 – Duração de uma ministração

Uma ministração pode demorar bastante tempo. Há demônios que custam mais a sair do que outros, variando em
função dos vínculos, do tipo de demônio, da hierarquia, etc. Algumas ministrações demoram vários dias, que devem ser
intercalados; outras, exigem um preparo especial, com jejum, oração e principalmente santificação. Mas não é porque você
não está em jejum que você não vai ministrar a alguém (Mc 9:17-29).

13
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -

5 – Conclusão

Libertação é algo apaixonante! Não é a toa que Jesus libertou muitos cativos e oprimidos do diabo. Por outro lado,
devemos vigiar muito para que não entremos por caminhos sensacionalistas, místicos ou carnais. Certa feita, seus discípulos
se alegraram muito porque haviam ministrado libertação a pessoas e os demônios se submetiam à suas ordens (Lc 10:17-20).
Jesus foi “seco” e objetivo: “tenham um motivo correto para se alegrarem. Alegrem-se porque os seus nomes estão escritos
no Livro da Vida”.
Que Deus nos abençoe a sermos corajosos, intrépidos, obedientes e equilibrados.

14
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -

O HOMEM – Que ser é esse?


1. A origem do homem
1.1. Teorias errôneas sobre a origem do homem
1.1.1.Teoria da Geração Espontânea
1.1.2.Teoria do Evolucionismo
1.2. A criação: mais que uma teoria, a ação do Criador
1.2.1. A Reunião Divina
1.2.2. Um ato direto de Deus
1.2.3. O homem, um tipo divino
1.2.4. Uma posição de dominador para o homem
1.2.5. Diferenças significativas entre evolução e criação
1.3. A pessoa de Adão
1.4. O tempo da Criação
1.5. A criação da Mulher

2. A Constituição do homem
2.1. A Teologia Dicotimista
2.2. A Teologia Tricotimista
2.2.1. O Corpo e a Alma
2.2.1.1. A origem da alma
2.2.1.2. A teoria da criação imediata
2.2.1.3. A teoria do traducionismo
2.3. O Espírito

3. A imagem de Deus no homem


3.1. Parentesco
3.2. Caráter Moral
3.3. Razão
3.4. Imortalidade
3.5. Domínio sobre a terra

Afinal, você se conhece enquanto ser humano, homem ou mulher? Conhece suas origens, os detalhes
do plano de Deus na elaboração do ápice da Sua criação – o ser humano, que nós tanto gostamos de citar, e aqui
também falaremos sobre, de que somos os únicos “à imagem e semelhança” d’Ele?
Realmente, espelhar o Pai é algo muito singular, importante e representativo. Estamos no topo da
“cadeia” da criação, mas isso importa em muitas coisas, que só poderemos implementar se nos conhecermos,
segundo os planos de Deus para nós.
Em uma época onde o assunto criacionista é a “clonagem”, que tal estudarmos a origem do homem e
termos reforçada em nossas mentes (que também foi criada por Ele), a certeza de que a criação é impar,
individual, e não pode nem deve ser “duplicada”. É como um CD “pirata”... parece igual, mas é bem diferente de
um original... não tem o selo de qualidade do Criador!
Mas o homem realmente é um ser interessante. Perceba quantas áreas da ciência existem para estudar
especificamente o homem: a medicina (com suas infinitas vertentes), a antropologia, a psicologia, a sociologia,
entre tantas outras. Poucos temas tem suas questões encerradas e concluídas plenamente, porque o homem é
um ser inesgotável, assim como Deus; afinal, somos um pouco menores do que Deus (Sl 8:5) e Ele é inesgotável.
Mergulhe nesse estudo, se identifique com o que Deus criou – você – e procure assemelhar-se à visão
sobre esse projeto: o projeto do 6º dia: o homem. Você vai descobrir que Deus foi extremamente caprichoso.

15
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -

1 – A origem do homem
Já há milhares de anos discute-se qual a origem do ser humano. E parece que quanto mais a
humanidade avança em modernidade e tecnologia, mas fria, insensível e incrédula ela se torna. Isso é um fato,
porém, a aculturação não pode – ou não deve – tornar nossa alma incrédula. Isso é um erro.
Vale lembrar que todas as opiniões sobre o aparecimento do homem são teorias. Nenhuma delas foi
comprovada cientificamente. Para nós, o relato bíblico vale mais do que uma teoria, mas por outro lado, para os
cientistas, ela vale ainda menos do que uma.
Mas quais são essas teorias sobre a criação humana e o que elas dizem?

1.1 – Teorias errôneas sobre a origem do homem

1.1.1. Teoria da Geração Espontânea – Segundo essa teoria, a matéria tem poder de
desenvolver novas formas de vida, se estiver em situações favoráveis, então, o ser humano teria
sido “gerado” através da reação química de algum tipo de material não determinado. Essa teoria
não é moderna; já vem de longa data, mas ainda é sustentada por alguns, porém, essa é a menos
valorizada inclusive no meio científico.
1.1.2. Teoria do Evolucionismo – Essa é a teoria mais defendida no meio acadêmico-científico.
Ela traduz o pensamento de que o ser humano descende de animais inferiores, tendo
“tranformado” ou “evoluído” através de um processo completamente natural. É uma teoria
totalmente ateísta, que afasta qualquer referência ao Criador e contra ela existem várias
objeções. Ela defende a evolução biologia não somente do ser humano, mas de todos os seres.
Assim, um caramujo se tornou em peixe; um peixe num réptil e por aí vai.
Embora não seja só Darwin o defensor (ou autor da teoria), é a sua vertente mais propagada. Vale
lembrar, contudo, que suas teses também são as mais combalidas. Diversos cientistas já
contestaram seus pensamentos. Veja alguns motivos para não concordar com a Teoria
Evolucionista:

Ela é contrária aos ensinamentos das Escrituras – a Bíblia afirma que o ser humano é produto de um
ato criativo específico de Deus e não de um processo de desenvolvimento evolutivo dos animais.
Segundo as Escrituras, o ser humano foi imediatamente elevado acima dos animais inferiores, de
maneira intelectual, moral e religiosa, exercendo sobre eles poder, autoridade e domínio (Gn 1:27-27;
2:19-20; Sl 8:5-7).
Ela não tem base em fatos claros – a teoria evolucionista, até a presente data, não passa de uma
hipótese não comprovada. Até os cientistas renomados rejeitam essa teoria, e ela, durante séculos,
tem sido a tese mais “trabalhada” para ser justificada nos meios acadêmicos, buscando ser sempre
utilizada como algo óbvio e definitivo, mas não passa de uma teoria.

1.2 – A Criação, mais que uma teoria... a ação do Criador

O relato bíblico da criação do ser humano é apaixonante (Gn 1:26-27; 2:7; 2:21-22). A criação do ser
humano é atípica e singular, se comparada a todos os outros itens da criação.

1.2.1. A reunião Divina – a criação do ser humano foi precedida por uma reunião nos céus, que atesta a
Trindade. O verbo “fazer” conjugado como “façamos” traduz uma presença divina que é múltipla;
não de múltiplos deuses, mas de um Deus trino, conforme já estudados. Essa atitude não é
descrita na criação de nenhum outro ser, porque o ser humano é especial.
1.2.2. Um ato direto de Deus – A técnica empregada por Deus foi diferente. Para toda a criação
diferente do ser humano, Ele usou simplesmente a palavra, e tudo foi se criando, sob as ordens
16
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -
de Deus... “produza a terra...” (Gn 1:11; 24), “produzam as águas...” (Gn 1:20), “Haja luzeiros no
firmamento do céu...” (Gn 1:14). Mas com o ser humano foi diferente; houve uma participação
mais direta de Deus.
Deus manipulou, formou o ser humano do pó da terra, e até hoje os elementos químicos do pó da
terra fazem parte do nosso organismo, tais como: oxigênio, carbono, hidrogênio, nitrogênio,
cálcio, fósforo, potássio, enxofre, sódio, cloro, iodo, ferro, cobre, zinco e outros elementos em
proporções menores. Porém, se não houvesse mais uma “atitude” de Deus, nada mais seríamos
do que bonecos de barro. Houve um “sopro de vida” (Gn 2:7), tornando o ser humano uma “alma
vivente”, e esse sopro permanece até hoje.
1.2.3. O homem, um tipo divino – a criação dos peixes, da vegetação e dos animais foi “segundo a sua
espécie”, de acordo com a ordem de Deus (Gn 1:21-25). Mas com o homem não foi assim. Ele foi
criado “segundo à imagem e semelhança de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo”, ou seja,
somos a “cara” do nosso Pai. O ser humano é uma categoria distinta de todos os seres vivos e
mais adiante estudaremos o significado dessa expressão “à imagem e semelhança”.
1.2.4. Uma posição de dominador para o homem – esse ser humano, criado à imagem e semelhança de
Deus, está no topo da criação e foi estabelecido para dominar e sujeitar toda a criação em função
dele. Perceba que Deus termina de criar todas as coisas para depois criar o ser humano, quando
tudo já estava preparado para ele (Gn 1:27-30). Cabe ao ser humano saber dominar. Quando ele
agride ou violenta a natureza que foi criada para ele dominar “desfrutando dela”, certamente ela
irá voltar-se contra ele.
1.2.5. Diferenças significativas entre evolução e criação – a evolução afirma que o homem é o resultado
de “pura sorte” e/ou mera coincidência. Também afirma que o homem não tem motivo para a
sua existência, a não ser viver o seu dia a dia e inventar coisa e que no final dessa vida “não existe
vida além da morte” – o homem morre e depois dessa morte não tem simplesmente mais nada.
Diz também que o homem é simplesmente um animal e que a moral é um absurdo, então, sendo
nós simples animais, por que não seguir os nossos instintos de só satisfazer os desejos carnais?
Mas a criação mostra que o homem é obra-prima da criação, que foi cuidadosamente desenhada;
que o homem foi criado para consumar as intenções traçadas pelo Criador; que foi criado para
passar uma eternidade com o Deus que o criou e que, principalmente, foi criado à imagem e
semelhança de Deus. Foi-lhe dado consciência e um desejo da verdade e justiça.

1.3 – A pessoa de Adão

Quem foi Adão? Quando e como foi criado? Como era, física e emocionalmente? Qual era a sua
linguagem? Essas e tantas outras são perguntas que não temos respostas totais e talvez nunca as teremos.
Adão espiritualmente tipifica Cristo (Rm 5:12; I Co 15:21-22) e além disso, ele foi colocado no Éden
como administrador da criação de Deus (Gn 2:15), encarregado de nomear todos os animais, peixes, plantas, rios
e tudo o mais e também desfrutar de tudo isso.
Como seria Adão fisicamente? Alto ou baixo? Feio ou bonito? Certamente ele não tinha os nossos
critérios de beleza e elegância dos dias de hoje. Ele andava nu (Gn 2:25); tinha intimo relacionamento com Deus
pois Ele passeava no jardim do Éden (Gn 3:8-10) e conversava com ele, portanto, Adão tinha uma linguagem clara
e este é um embaraço para os defensores do Evolucionismo, pois afinal, macacos não falam.
Embora nenhuma dessas afirmações contribua para alicerçar a teoria antibíblica da Evolução, é certo
que Adão tinha uma fisiologia bem diferente da nossa. Sua alimentação era basicamente vegetariana; a sua
estatura não é definida bem como não é definida a quantidade de pêlos no corpo (Gn 1:9).
O fato é que Adão tinha uma qualidade de vida extremamente superior e diferente da nossa. Isso foi
perdido não somente pela queda produzida pelo pecado mas também por modificações da estrutura alimentar,
poluição, aditivos químicos e biológicos alimentares; enfim, um padrão de vida completo. Isso é evidenciado, por
exemplo, mesmo após a queda, pela longevidade dos primeiros seres humanos (Gn 5:5; 8; 11; 14; 17; 20; 27; 31;
9:29).

17
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -
Você conhece alguém com “novecentos e poucos anos”?. Certamente que não, mas estes acima não
cometiam contra seus corpos uma série de erros que cometemos hoje contra os nossos... e pensar que a isso
chamamos de “modernidade”.

1.4 – O tempo da criação

Qual a idade do homem? A ciência debate em torno dessa questão há muito tempo. Há relatos
científicos aparentemente verdadeiros, de achados de ossos do “homem de Neandertal” de 100 mil anos atrás.
Além destes, vários outros, como o “homo-sapiens” (30 mil anos), o “homo-faber” e o “homo erecturs” (250 mil
anos). Mas em Gn 4 (Abel e Caim) tem-se a descrição de uma civilicação de aproximadamente 10 mil anos. Afinal,
quem tem razão?
Uma das possíveis explicações para discordar dessa tese é de que estes outros seres não eram homens,
embora mamíferos e com semelhanças fisiológicas. Os evolucionistas, ao pensarem que o homem é uma
evolução do maçado, deixaram de perceber que há diferenças marcantes, como o sentimento, a linguagem e o
raciocínio diferenciado. Na realidade, as ossadas identificadas como pré-humanas são nada mais do que raças
diferenciadas de animais, da mesma espécie, podem de fisiologia distinta. Então, se não são efetivamente
homens, são animais; e os animais foram criados, realmente, antes do ser humano.
Mas como justificar e entender a diferença da quantidade de anos? Em cada etapa da criação, ou em
cada “dia”, ela não aconteceu em 24 horas, como em um dia convencional. Cada “dia” representa uma “era” e
estas “eras” podem conter 1 dia, 100 dias, 100 anos, 10 mil anos, ou milhões de anos. É algo incalculável. Os
animais terrestres e o ser humano foram criados no mesmo “dia”, o sexto, só que o homem foi criado “somente
depois de todos os animais”; foi o último a ser criado. Mas uma pergunta fica para ser respondida: quanto tempo
passou entre a criação dos animais e a do homem? Pode ter sido também 1 dia, 100 dias, 10 mil anos ou milhões
de anos. Só Deus sabe. A única referência que a cronologia bíblica nos traz é que a história de Abel e Caim refere-
se a 10 mil anos, e portanto Adão viveu pouco tempo Adão viveu pouco tempo antes do que isso. Por essas e
outras questões, a versão bíblica sobre a criação humana não é apagada nem ofuscada pelas evidências
científicas, como alguns tentam afirmar. Glória a Deus!

1.5 – A criação da mulher

Deus criou homem e mulher com sexualidade, características e algumas funções diferentes. Qual é o
propósito divino para a nossa sexualidade? A reprodução certamente é uma das finalidades, mas não é somente
este o desígnio de Deus para o homem e mulher. A este, somam-se certamente o companheirismo, a ajuda
mútua, o relacionamento, a reprodução, o prazer em simplesmente conviver um com o outro e também o prazer
sexual (Gn 1:28).
O homem e a mulher são iguais em valor e posição diante de Deus. Em função de Adão, Eva foi criada (e
por extensão, todas as mulheres) para ser “auxiliadora idônea” (Gn 2:18), ou como expresso na NVI (Nova Versão
Internacional), “...alguém que o auxilie e lhe compreenda”. Na ótica de Adão, Eva foi alguém tão agradável que ele
identificou como “osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2:23).
O processo de Deus para a criação da mulher foi diferente do resto da criação, inclusive do homem.
Deus criou a mulher “a partir de” (Gn 2:21-22). Isso evidencia claramente que a posição da mulher, em relação ao
homem é de “lateralidade”, de “apoio”, de “auxiliadora” como Deus adjetivou e não como um ser desprezível ou
inferiorizado. Se Deus desejasse que a mulher fosse alguém inferiorizado certamente utilizaria outra parte do
corpo de Adão para produzir a mulher; mas Deus criou a mulher para estar lado a lado com o homem. Submissa
(Ef 5:24), mas não inferiorizada; frágil (I Pe 3:7), mas não inoperante.
As diferenças entre o homem e a mulher são complementares. Para alguns, as únicas diferenças são
biológicas ou anatômicas, com fins de reprodução, mas na realidade, elas vão muito mais além. Algumas
diferenças são de ordem cultural, de acordo com a região do planeta, ou seja, oriundas da criação. Mas outras são
de fato características natas do homem e da mulher; na mulher, por exemplo, podemos citar a sensibilidade, a

18
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -
observação detalhada e o senso materno. Vale também ressaltar que as diferenças criadas por Deus são
complementares.
Na ótica teológica, a mulher também é vista como um “tipo” da igreja de Cristo. A “noiva” que Jesus irá
buscar é a igreja, para a festas das bodas: a salvação eterna (Ef 5:24-32).

2 – A constituição do homem
Quais os elementos essenciais que constituem o ser humano, homem ou mulher? Nesse aspecto, os
teólogos dividem-se em dois grupos: os “dicotomistas” e os “tricotomistas”. Os prefixos “di” e “tri” já começam a
indicar os pensamentos. Uns pensam que o ser humano é divido em duas partes: corpo e alma (do hebraico
“nephesph” e do grego “psyque”). Já outros pensam que o ser humano compreende de três partes distintas:
corpo (do hebraico “nidhneh” e do grego “soma”, alma (do hebraico “nephesph” e do grego “psyque”) e espírito
(do hebraico “ruah” e do grego “pneuma”). Perceba que a unidade está na evidência do corpo e a diferença está
na discussão acerca de alma e espírito.

2.1 – A teologia dicotomista

Os dicotomistas afirmam ser o homem a junção composta de um elemento material, chamado corpo, e
de um imaterial, chamado alma. O raciocínio baseia-se na tese de que a palavra “alma” subentende o espírito;
assim, para os dicotomistas, na alma estão inseridas todas as características abstratas do ser humano (emoções,
raciocínio, inteligência, pensamento, etc), inclusive o espírito humano. Justificam seu modo de pensar com textos
bíblicos como Tg 2:26.
A teologia dicotomista não consegue ser plenamente eficaz para justificar alguns textos bíblicos e a
interpretação bíblica da concepção do homem em si.

2.2 – A teologia tricotomista

Os textos de I Ts 5:24 e Hb 4:12 trazem à nossa mente uma idéia um pouco diferente. A Bíblia afirma
quem existe corpo, alma e espírito. Cremos então que o homem é um espírito, que habita num corpo e que
possui uma alma. Então surge a primeira pergunta: qual a diferença entre alma e espírito, se é que existe alguma
diferença?

2.2.1. O corpo – este é parte material do ser humano. Foi constituído de modo praticamente que
“artesanal” por Deus (Gn 2:7), mas com ricos detalhes. O corpo humano tem um funcionamento
extraordinário. Sistemas circulatório, digestivo, nervoso e reprodutor funcionando em plena
harmonia. Um código genético para cara ser diferente. Detalhes como unhas, cartilagens,
nervos, medulas; sentidos como olfato, paladar, tato... como nosso Deus é criativo e rico em
detalhes. Esse corpo foi criado entre outras coisas, porém antes de tudo, para glorificar a Deus,
porque é um “santuário andante” (Gn 2:7; 3:19; Ec 3:20; I Co 6:19-20). O fato da Bíblia nos
lembrar de que “somos pó e ao pó tornaremos” nos leva a compreender que o nosso corpo
humano é mortal e será destruído, como sabemos. Mas a mesma Bíblia não fala em ressurreição
de mortos? Então, cabe-nos a pergunta que foi suscitada por Paulo e respondida de maneira
extremamente clara por ele também (I Co 15:35-54).
2.2.2. A alma – a alma, abstrata, é o princípio inteligente e vivificante que anima o ser humano,
usando os sentidos físicos como seus agentes na exploração das coisas materiais e os órgãos do
corpo para se expressar e se comunicar com o mundo exterior. Originalmente, a alma veio a
existir no sopro de vida que Deus efetuou sobre Adão, o primeiro homem (Gn 2:7). A alma
19
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -
humana é um poço sem fim; é a morada das emoções, da inteligência, do raciocínio, das
decisões, da formação do caráter, personalidade e temperamento; em alguns, é a sede do
pecado ou da retidão, da bondade ou da maldade. Davi sabia e reconhecia isso (Sl 139). Outro
que bem reconhecia a abstração e as dificuldades em se lidar com a alma era Paulo (Rm 7:15-
23). A alma humana é sinônimo de “mente” e “coração”. Na tradução da Bíblia brasileira,
algumas vezes a mesma palavra no original é traduzida por alma; outras vezes por mente ou
coração (hebraico: “nephesph” e no grego: “psyque”). O fato é que se refere ao abstrato interior
que está dentro de um corpo humano, ou seja, a alma. Nossa alma é diferente da dos outros
animais, embora haja algumas similaridades, como a interpretação do olfato, instinto ou dor,
por exemplo, mas a diferença do destino está em Ec 3:21. Nesse texto está expressa a idéia de
que a alma dos “irracionais” é substancialmente diferente da dos humanos “racionais”.
2.2.2.1. A origem da alma – Existem três correntes que tentam explicar a origem da alma: a teoria da
preexistência, a teoria da criação imediata e a teoria do traducionismo. A primeira afirma que
Deus criou todas as almas de uma só vez e que há almas disponíveis para serem incorporadas
em algum ser logo que nasce. Essa teoria é mais filosófica do que teológica (e pouco provável). A
segunda afirma que cada alma/espírito é criada por Deus imediatamente para cada indivíduo.
Os defensores dessa idéia utilizam alguns textos bíblicos (Ec 12:7; Is 57:16). E a terceira teoria
afirma que cada alma/espírito estava potencialmente em Adão, assim como cada corpo, e dele
todas as almas vieram, transmitidas de pais para filhos. Essa idéia foi apoiada por diversos
teólogos e pensadores cristãos. Ela explica melhor alguns aspectos relacionados com a questão;
explica a existência de traços ou características hereditárias em nossa constituição mental e
moral, assim com a transmissão da natureza pecaminosa de Adão a toda a posteridade.
Portanto, os pais geram os filhos dotados de uma “semente” de corpo e alma; todo os dois irão
crescer, desenvolver e maturar.
2.2.3. O espírito – o espírito humano é a fonte da vida humana, capaz de renovação e
desenvolvimento. A alma possui e utiliza essa vida e lhe dá expressão através do corpo. Assim, a
alma “interpreta” um espírito humano que recebe expressão mediante o corpo. O espírito é
aquilo que faz o homem plenamente diferente de todas as demais coisas criadas. Os irracionais
até possuem uma alma, diferente da humana, mas não tem espírito. Diferentemente dos
homens, os irracionais não podem ter relacionamento pessoal. O espírito do homem, quando se
torna morada do Espírito de Deus é centro de adoração, de oração e louvor (Rm 8:16; Jo 4:23-
24; I Co 14;15). É o espírito do homem que é o alvo da comunicação e das inspirações de Deus,
inclusive para o batismo no Espírito Santo, sendo que há reflexos claros na alma e talvez até no
corpo, como por exemplo uma mudança de comportamento.

3 – A imagem de Deus no homem


O homem é uma criação especial de Deus. Ele é uma criatura do mundo físico e do mundo espiritual,
porque traz em si parte de ambos os reinos.
Deus declarou a respeito do homem uma particularidade que faz toda a diferença (Gn 1:26). Portanto, o
homem foi criado “à imagem e semelhança de Deus”, do Criador. Quanta honra!
Agora, o que significa isso? Ser a imagem e semelhança de Deus significa ter atributos da imagem de
Deus.
Ser “à imagem” de Deus é ter alma. A nossa alma retrata a imagem de Deus. Ser “semelhante” a Deus é
ser ou ter um espírito (Jo 4:24). Deus é Espírito, portanto você pode entender assim:
Além dessa correlação, podemos evidenciar mais detalhes da afinidade de Deus com o homem:

20
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -

3.1 – Parentesco

Por causa da imagem divina, todos os homens são, por criação, filhos de Deus. Mas desde que essa
imagem foi manchada pelo pecado, os homens devem ser recriados ou nascidos de novo (Ef 4:24), para que
sejam na realidade filhos de Deus. A palavra grega que se traduz por homem é “anthropos”, que essencialmente
significa “aquele que olha para cima”; isso é uma alusão clara ao fato de que o homem foi criado para viver em
função do alto, de Deus. (Jo 1:12; Rm 8:14; Gl 3:26).

3.2 – Caráter moral

O reconhecimento do bem e do mal pertence somente ao homem. A um animal pode-se ensinar a não
fazer certas coisas, mas não por vontade própria; é puro instinto. Mas o homem tem discernimento, ética, livre
arbítrio, produzido pelo seu caráter e personalidade (I Jo 3:10).

3.3 – Razão

O animal é meramente uma criatura da natureza; o homem é senhor da natureza. Ele é capaz de refletir
sobre si próprio e pensar a respeito das coisas. É capaz de inventar e argumentar.

3.4 – Imortalidade

A existência da árvore da vida no Jardim do Éden indica que o homem jamais teria fisicamente morrido
se não houvesse desobedecido a Deus. Mesmo assim, com nosso corpo morrendo, possuímos um espírito e uma
alma que não morrerão, mas viverão eternamente, diferentemente dos outros animais. Aleluia!

21
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -

3.5 – Domínio sobre a terra

O homem foi designado para gerenciar toda as demais criações de Deus. Deus lhe deu tanto um império
como um povo (Gn 1:28).
A queda do homem resultou na perda e na desfiguração da imagem divina, incluindo a capacidade plena
de dominar a criação, incluindo a si mesmo. Portanto, o homem é absolutamente incapaz de salvar-se a si
próprio, a não ser que Jesus Cristo restaure nele a imagem divina.

22
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -

Hamartiologia – A doutrina acerca do pecado


1. O fato do pecado 3.1.5. Transgressão
1.1. O ateísmo 3.1.6. Queda
1.2. O determinismo 3.1.7. Derrota
1.3. O hedonismo 3.1.8. Impiedade
1.4. Ciência Cristã 3.1.9. O erro
1.5. A Teoria da Evolução 3.2. O AT descreve o pecado como...
3.2.1. Na esfera moral
2. A origem do pecado 3.2.2. Na esfera da conduta fraternal
2.1. A tentação 3.2.3. Na esfera da santidade
2.1.1. A possibilidade de ser tentado 3.2.4. Na esfera da verdade
2.1.2. A origem da tentação 3.2.5. Na esfera da sabedoria
2.1.3. A tentação é sempre sutil 3.3. Pecados diferentes tem tratamento
2.2. A culpa diferente?
2.3. O Juizo
2.3.1. Consequência para a serpente 4. As conseqüências do pecado
2.3.2. Consequência para a mulher 4.1. Consequências Espirituais
2.3.3. Consequência para o homem 4.1.1. Morte espiritual
2.4. A Redenção 4.1.2. Perda da semelhança moral com Deus
2.4.1. Prometida 4.1.3. Incompatibilidade com a vontade de
2.4.2. Prefigurada Deus
4.1.4. Escravidão ao pecado e ao diabo
3. A natureza do pecado 4.1.5. Pecado original
3.1. O NT descreve o pecado como... 4.2. Consequências físicas
3.1.1. Errar o alvo 4.2.1. Existência física reduzida
3.1.2. Dívida 4.2.2. Corrupção dos poderes do homem
3.1.3. Desordem 4.2.3. Enfermidades
3.1.4. Desobediência 4.3. Consequências sobre a natureza

23
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -

1 – O fato do pecado
O pecado existe, isso é um fato inegável. Os únicos que ainda intentam negar isso são exatamente
aqueles que precisam “justificar” seus atos dolosos e fracassos, que o tornam cego e com a consciência
cauterizada em função do plano de Deus para a vida humana.
Existem muitas doutrinas em que estas pessoas se apóiam para firmar suas teses contra as
determinações do Criador. São elas:

1.1 – O ateísmo

Ao negar Deus, evidentemente negam também todas as suas orientações, determinações e plano,
incluindo-se aí o fator pecado. O pecado em essência, de qualquer ordem, só pode ser contra Deus. Podemos
errar (pecar) contra qualquer semelhante; podemos errar (pecar) contra nós mesmos, mas em última análise, o
verdadeiro sentido da palavra “pecar” só se aplica a Deus, portanto, se os ateístas não acreditam na existência de
Deus tampouco crêem na existência do pecado.

1.2 – O determinismo

Afirma que o conceito de livre-arbítrio é uma ilusão e não uma realidade. Para estes, uma pessoa não
pode deixar de fazer o que faz e por isso não deve ser digna de elogios ou críticas. O homem se torna, então, um
simples escravo das circunstâncias.
É óbvio que a Bíblia se opõe francamente a isso, mostrando de Gênesis a Apocalipse que ao homem
sempre foi dada a oportunidade de escolha, seja ela correta ou não aos olhos de Deus, portanto, o homem é o
condutor do seu destino, e o destino da pessoa não está previamente “escrito” por Deus ou simplesmente “pela
vida” como alguns deterministas afirmam.

1.3 – O hedonismo

O termo deriva de uma palavra grega que se traduz por “prazer”. Assim sendo, é o conceito da busca de
prazer intenso em todas as áreas da vida humana. Ensina-se através dele que o melhor que pode haver sobre a
face da terra para a vida humana é a busca incessante do prazer e a fuga obstinada de todo tipo de dor. Esse
conceito obviamente se põe acima de toda moral, fazendo com que o hedonista deixe de perguntar-se: “isso é
correto?” para se perguntar: “isso me trará prazer?”. Os hedonistas via de regra são pessoas imediatistas e
egoístas. Suas frases mais costumeiras para justificar suas leviandades e disfarçar os seus pecados são como
estas: “isso é uma fraqueza inofensiva; é um pequeno desvio, afinal, errar é humano!”. Outras frases do tipo: “o
que é natural é belo; o que é belo é correto e o que é bonito é para se ver”, são comuns entre eles.
No fundo dessa idéia está o desejo de diminuir a gravidade do pecado, fazendo com que as pessoas
percam a noção da diferença entre o bem e o mal. Não deixa de ser uma variação moderna do antigo caso da fala
da serpente com Eva (Gn 3:4).

1.4 – Ciência Cristã

Esses declaram que o pecado é, na realidade, a ausência do bem e que portanto, não existe em si
mesmo.

24
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -

1.5 – A Teoria da Evolução

Como vimos anteriormente, a teoria da Evolução é antibíblica e incorreta. Como os evolucionistas


afirmam que a moral é um absurdo, também afirmam que o conceito de pecado inexiste. Eles valorizam
sumamente o instinto animal do ser humano e não o conceito de certo ou errado mediante parâmetros morais do
de fé.

2 – A origem do pecado
Existem quatro pontos chaves que caracterizam a história espiritual do ser humano, que são: a
tentação, a culpa, o juízo e a redenção.
O melhor lugar para se conhecer, na Bíblia, a origem deste mal está em Gn 3:1-8

2.1 – A tentação

Vale a pena ressaltar que a tentação em si não é pecado. O pecado é resultante de uma tentação que
não foi vencida, e sim que prevaleceu.

2.1.1. A possibilidade de ser tentado – Por que será que Deus plantou uma árvore no meio do jardim
e que exatamente essa era a única parte da criação que não poderia ser “desfrutada”, mas só
observada? E por que será que exatamente essa árvore foi o ponto que fez a diferença? (Gn
2:16-17). Foi para ser um teste pelo qual o homem pudesse, espontaneamente, escolher
obedecer e servir a Deus e dessa maneira desenvolver seu caráter e uma vida de
relacionamento com Deus. A tentação nada mais é do que uma escolha. Os seres humanos,
desde Adão, são colocados e se colocam frente a frente com situações onde tem que optar por
Deus ou por algo contrário a Deus; por fazer o que a Palavra de Deus (verbalizada, inspirada ao
coração ou escrita) diz, ou o que as emoções, o mundo e as pessoas que nos cercam dizem. Se
não houvesse condições de escolha, para Adão ou para nós, seríamos meras máquinas; mas
Deus não criou máquinas, e sim pessoas. Aleluia!
2.1.2. A origem da tentação – Certamente a origem da tentação é maligna. Adão e Eva não pecaram
antes do diabo proceder condições de serem tentados. Mas se você é um filho de Deus e o
diabo não lhe toca enquanto estiver em comunhão com Ele (I Jo 5:18), e se o diabo é o
responsável pelas tentações, como então podemos ser tentados? O diabo usa “agentes” para a
tentação. No caso do Éden, foi a serpente, que naquele tempo não era um animal considerado
nocivo como hoje, e sim um belo animal. No caso de Jesus, por exemplo, foi através de Pedro
(Mt 16:22-23) que Satanás trabalhou. Normalmente ele nos tenta por meio de agentes de que
não desconfiamos.
2.1.3. A tentação é sempre sutil – A sutileza é descrita como uma das características principais da
serpente (Mt 10:16) e tal como a serpente, a tentação normalmente é muito sutil. No caso
específico do Éden, perceba como a serpente agiu. Ela esperou até que Eva estivesse só e
começou oferecendo sugestões para a mulher, que não fora a pessoa que tinha ouvido
diretamente a ordem divina, embora estivesse sob ela também; ela (a serpente) distorce as
palavras de Deus (Gn 3:1; Gn 2:16-17) e finge estar surpresa por estarem assim distorcidas, por
isso, semeia dúvidas e suspeitas, ao mesmo tempo que se mostra apta para julgar sobre tal
proibição ser certa ou errada. Através da pergunta do versículo 1, há três insinuações da
serpente: 1. Dúvida sobre a bondade de Deus: ela insinua: “Deus está retendo alguma bênção
de você!”; 2. Dúvida sobre a retidão de Deus: “Certamente não morrereis”, ou seja, “Deus não
25
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -
quis dizer exatamente isso”; “não é bem assim”, ou “Deus mentiu”. 3. Dúvida sobre a santidade
de Deus: “Deus não quer que vocês sejam tão sábios quanto Ele. Ele quer vocês ignorantes”.

2.2 – A culpa

Se a tentação prevaleceu então se consumou um pecado. Todo pecado cometido por um individuo que
conhece a Deus e que tem nele a marca do Espírito Santo, produz “culpa”, quando isso ocorre (Gn 3:7-13). Lendo
o texto vemos que “abriram-se, então, os olhos de ambos”. A palavra da serpente cumpriu-se, porém o
conhecimento adquirido e almejado foi diferente do proposto e do que eles esperavam. Ao invés do
conhecimento fazê-los semelhantes à Deus, poderosos, os tornou experimentadores de uma culpa que os fez ter
medo de Deus e esconder-se. A nudez física retrata uma consciência nua ou culpada (v. 7). Procurar cobrir a
nudez representa o ato geral do homem procurar esconder suas culpas com a roupa do esquecimento ou o
avental das desculpas. Ainda hoje a humanidade age assim.

O instinto do homem culpado o leva a fugir de Deus. A diferença é que, enquanto Adão e sua
companheira escondiam-se entre as árvores, os homens contemporâneos escondem-se entre os prazeres, o
comunismo, o liberalismo e outras atividades (v. 8).
Existem ainda os que sofrem da “Síndrome de Eva”, que é sintetizada pelo “Eu não!”. Quando Deus
cobra responsabilidades, há os que culpam todos os que estão ao seu redor, cúmplices ou não, mas se isentam de
sua própria responsabilidade. Só que a nossa responsabilidade diante de Deus é plenamente pessoal porque Deus
conhece exatamente o nosso nível de envolvimento em cada fato.

2.3 – O juízo

Em todas as ocasiões de culpa e erro e, portanto, de pecado, há punição e conseqüências para todos os
envolvidos. Na situação do Éden não foi diferente.

2.3.1. Consequências para a serpente – (Gn 3:14-15) - As palavras descritas aqui mostram que a
serpente do Éden não era este animal pernicioso dos dias de hoje. Era um animal formoso e
honrado, que, após participar dessa “maracutaia” contra o criador, perdeu a sua condição
original e tornou-se alguém repugnante. Talvez você pergunte: “Mas a serpente tem
consciência? Ela pecou?”. Certamente não tinha, nem tem. O diabo tem consciência mas a
serpente não. Ela se tornou um símbolo, um tipo, uma profecia da maldição sobre o diabo e
sobre todos os poderes malignos (Rm 16:20; Ap 20:10).

2.3.2. Consequências para a mulher – (Gn 3:16) - Sobre a mulher também houveram conseqüências.
Se já havia dor ou sofrimento no parto, estes foram extremamente multiplicados. Em paralelo, a
autonomia e a manifestação dos desejos femininos tornou-se dominada pelo sexo masculino.
Em algumas culturas orientais essa conseqüência foi levada ao extremo, onde as mulheres são,
não somente submetidas mas sim totalmente desvalorizadas e até mesmo escravizadas.
2.3.3. Consequências para o homem – (Gn 3:17-19; Ec 3:10) – Sobre o homem, já havia uma
determinação de trabalho no cultivo da terra (Gn 2:15). A consequência, portanto, não é
exatamente o trabalho, mas a “fadiga” com que trabalharia. Além disso, há uma condenação à
morte, intrínseca no verso 19. Ali Deus afirma que em função do pecado da desobediência, o
homem, que fora criado para viver fisicamente por tempo indefinido, porém longo, passara a
obrigatoriamente ter que experimentar a morte, tanto física, quanto espiritual. A morte
espiritual pode ser suplantada pela comunhão com Deus e a conseqüente salvação, mas a morte
física tornou-se inevitável a todos os homens. A exceção a essa regra manifestou-se

26
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -
biblicamente a respeito de Enoque e Elias (Gn 5:24; II Rs 2:11).

2.4 – A Redenção

Diante de uma criação tão rapidamente corrompida, se Deus não houvesse providenciado formas para
que nós pudéssemos nos redimir, estaria toda a criação exposta, dominada e vencida pelo maligno. Mas logo
após a queda Deus estabeleceu promessas de redenção.
2.4.1. Prometida – (Gn 3:15) – O diabo, personificado na serpente, tentou estabelecer uma aliança
com Eva, mas Deus já deixa bem claro que porá fim a essa aliança, estabelecendo eternamente
uma luta constante entre o homem e o diabo. Além disso, o “descendente da mulher”, o Cristo,
feriria a cabeça do diabo. Ferimentos na cabeça geralmente são mortais e isso que a passagem
significa: que o “Filho do homem, descendente da mulher, Jesus Cristo viria para ferir
mortalmente o diabo e seus planos e estabelecer um novo relacionamento do homem com seu
Criador” (Gl 4:4; Rm 16:20; Cl 2:15; Hb 2:14). Porém, essa vitória viria com sofrimento. O
“calcanhar” seria atingido, ou seja, o sofrimento que Jesus passou no monte Calvário é
representado pelo ferimento no calcanhar, porém, até esse “revés” resultou em glória para
Cristo e bênçãos para a humanidade (Hb 2:18; Is 53:3-5; 10).
2.4.2. Prefigurada – Deus matou um animal, uma criatura inocente, para poder vestir os que se
sentiam nus por causa do pecado. Isso tipifica que o Criador entregaria um “inocente” à morte
para providenciar redenção para os homens (Gn 3:21; Jo 3:16).

3 – A Natureza do pecado
Afinal, o que é pecado? O que significa essa palavra, ou esse conceito? A partir de agora iremos nos
aprofundar um pouco mais nessa área.

3.1 – O NT descreve o Pecado como...

3.1.1. Errar o alvo – Como o arqueiro que atira a flecha e erra; errar o caminho; como um viajante que
sai do caminho certo.
3.1.2. Dívida – O homem deve a Deus a guarda de seus mandamentos; todo pecado cometido é
contração de uma dívida. Incapaz de pagá-la, a única esperança do homem é ser perdoado, ou
obter remissão da dívida (Mt 6:12).
3.1.3. Desordem – “O pecado é iniquidade”, literalmente uma desordem (I Jo 3:4). O pecador é um
rebelde e um idólatra, porque deliberadamente quebra um mandamento ao escolher a sua
própria vontade ao invés de escolher a vontade de Deus; pior ainda, está se convertendo em Lei
para si mesmo e desta maneira fazendo do “eu” uma divindade. O pecado começou no coração
de Lúcifer que disse: “Eu serei”, em oposição à vontade de Deus (Is 14:13-14). O anticristo é o
“sem-lei” (tradução literal de “iníquo”), porque se exalta sobre tudo que é adorado ou que é
chamado Deus (II Ts 2:4-9). O pecado é essencialmente obstinação, e isso é pecado. O pecado
destronaria a Deus na vida do indivíduo; na cruz de Jesus poderiam ter sido escritas essas
palavras: “o pecado fez isso” (I Rs 17:14; I Sm 15:23).
3.1.4. Desobediência – Literalmente, ouvir mal; ouvir com falta de atenção e decidir não cumprir o que
se ouve (Hb 4:2; Lc 8:18).

27
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -
3.1.5. Transgressão – Literalmente, ir além do limite. Os mandamentos de Deus são cercas que
impedem o homem de entrar em território perigoso e dessa maneira, de sofrer prejuízo para
sua alma (Rm 4:15).
3.1.6. Queda – Falta, ou cair para um lado (no grego), de onde vem a expressão “cair no pecado”.
Pecar é cair num padrão de conduta errada (Ef 4:17).
3.1.7. Derrota – É o significado da palavra “queda” ou “transgressão” (Rm 11:12). Ao rejeitar a Cristo,
a nação judaica sofreu uma derrota e perdeu o propósito de Deus.
3.1.8. Impiedade – Significa “sem adoração”, ou “reverência”. O homem ímpio é o que dá pouca ou
nenhuma importância à Deus e as coisas sagradas. Essas não produzem nele nenhum
sentimento de temor ou reverência; ele está sem Deus porque não quer saber de Deus (Rm
1:18; II Tm 2:16).
3.1.9. O Erro – Descreve aqueles pecados cometidos como “fruto da ignorância”, e desta maneira,
diferenciam-se daqueles pecados cometidos presunçosamente, apesar da Luz esclarecedora. O
homem que, desafiadoramente, decide fazer o mal, incorre em maior grau de culpa do que
aquele que é apanhado em falta, a que foi levado por sua debilidade (Hb 9:7).

3.2 – O AT descreve o pecado como...

O pecado não é algo que só passou a ocorrer e a ser reconhecido no NT, após a vinda de Jesus. O pecado
vem desde Adão e o AT já mostrava conceitos sobre o pecado. Esses conceitos classificam o pecado por áreas de
atuação.
A Lei Mosaica era uma lei espiritual, mas também uma norma de conduta social para o povo de Deus. Isso
abrangia relacionamentos, saúde (como a proibição de comer carne de porco), conduta pessoal, justiça (“olho por
olho, dente por dente”, etc). Portanto, quando se cometia um pecado, as conseqüências não eram só espirituais,
mas muito mais abrangentes. Vamos ver algumas dessas esferas:

3.2.1. Na esfera moral – Nessa esfera, a palavra mais comumente usada para o pecado significa “errar
o alvo”. Em Gn 4:7, onde a palavra é mencionada pela primeira vez, o pecado é personificado
como um animal feroz, pronto para atacar quem lhe der oportunidade. Outra palavra usada é
“tortuosidade”, ou “perversidade”. Traduz exatamente a idéia contrária à retidão, significando
alteração de rota, ou saída da retidão. Uma outra palavra se traduz exatamente por “mal”,
exprimindo o pensamento de que o homem violentou, ou infringiu, a Lei de Deus.
3.2.2. Na esfera da conduta fraternal – A palavra comumente usada significa “conduta injuriosa” (Gn
6:11; Ez 7:23; Pv 16:29). Ao menosprezar a Lei, o homem além de pecar contra Deus peca contra
seu próprio irmão, maltratando e oprimindo seu próximo.
3.2.3. Na esfera da Santidade – As palavras utilizadas para falar sobre o pecado nesta área traduzem a
idéia da ação de alguém que já usufruiu relacionamento próximo de Deus. Quem praticava algo
contrário à Lei era considerado “imundo” ou “contaminado” (Lv 11:24; 27; 31; 33; 39). Se
persistisse na prática, era considerada uma pessoa “irreligiosa” ou “profana” (Lv 21:14; Hb
12:16). Em casos extremos de rebeldia, era considerado “transgressor” (Sl 37:38; 51:13; Is
53:12).
3.2.4. Na esfera da Verdade – Essa área identifica que o pecado envolve e produz mentira e que,
portanto, os pecadores falam e tratam falsamente (Sl 58>3; Is 28:15). O primeiro pecador foi um
mentiroso (Jo 8:44); o primeiro pecado começou com uma mentira (Gn 3:4) e todo pecado
contém o elemento “engano” (Hb 3:13).
3.2.2. Na esfera da Sabedoria – Os homens pecam porque não pensam ou não querem,
deliberadamente, pensar corretamente, sabiamente. Muitas exortações são dirigidas aos
“simples” (Pv 1:4; 22; 8:5). Estes são os homens naturais, que não se desenvolveram tanto no
seu relacionamento com Deus quanto no conhecimento de si próprio. Falta-lhe firmeza e
fundamento moral; ele ouve, mas esquece, portanto, é facilmente conduzido ao pecado (Mt

28
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -
7:26). Há os “faltos de entendimento” (Pv 7:7; 9:4). Estes são vitimados pelo pecado mais por
falta de entendimento do que por propensão pecaminosa. Tanto estes quanto aos simples são
indesculpáveis, porque as Escrituras está sempre oferecendo gratuitamente aquilo que os fará
sábios. Há também os “insensatos” (Pv 15:20), que se caracterizam por serem pessoas capazes
de fazer o bem, porém estão presas às coisas da carne e facilmente são conduzidas ao pecado. E
finalmente, há os “escarnecedores” (Sl 1:1; Pv 14:6), que são os caracterizados por
argumentarem racionalmente contra a existência ou a Lei de Deus, com o fim de justificarem
seus procedimentos ímpios. Ou seja, optam por negarem a Deus, contrariarem com raciocínios
deturpados tudo aquilo que mostra ou fala sobre Deus, a fim de justificarem seus atos errados.
Além dos textos citados acima, o Salmo 51 apresenta a distinção do uso de três palavras
diferentes relacionadas com o pecado, porém com um mesmo objetivo: o de apresentar a
pecaminosidade humana. A primeira palavra é “hatah”, tendo como significado “errar, pecar,
tornar-se culpado”, e é encontrada nos versículos 2, 3, 5 e 9. A segunda palavra é “awon”, que
significa “iniqüidade” e ocorre nos verículos 2, 5 e 9. A terceira e última palavra é “pesha”, que
tem por significado “infração, transgressão”. Essa palavra se encontra nos versículos 1 e 3.

3.3 – Pecados diferentes tem tratamento diferente?

A resposta a esse questionamento é: ABSOLUTAMENTE NÃO”. Na ótica de um ser humano, nos padrões
de justiça de qualquer sociedade existente em nosso planeta há diferentes “penas” e “sanções” em função de
delitos, pecados e crimes, mais ou menos hediondos.
Porém, você precisa lembrar que aprendeu no capítulo sobre Salvação, onde foi ensinado que uma das
coisas que se processa na salvação do homem, quando ele aceita a Jesus como seu único Salvador, é um ato de
Deus chamado “justificação”. Isso nivela a todos, “zerando” a sua culpa e tornando a todos justos e retos. “Isso é
a manifestação da justiça de Deus e, portanto, ela é muito diferente da nossa”. Graças a Ele por isso.
Vale lembrar, também, que a conseqüência do pecado é a morte (Rm 6:23). Isso aconteceu a Adão e Eva
e ainda acontece hoje, a nós; portanto, todo pecado não confessado e não justificado, tem a mesma
conseqüência eterna, ou punição. Por isso, diante de Deus não há pecados “mais ou menos graves”. Não existe
essa de “pecado, pecadinho, pecadão”. Para Deus, pecado é pecado.
Para nós, homens, há diferenciação entre bebedores e assassinos; ladrões e mentirosos; adúlteros e
idólatras; mas para Deus isso não existe (I Co 6:8-11; Ap 21:8; 22:15; Sl 103:10; Rm 5:12).
Portanto, Deus ama, trata e derrama Graça sobre um ladrão e homicida que se converte hoje, da mesma
maneira que ama, trata e derrama Graça sobre a pessoa nascida e criada dentro da igreja, mas na verdade, fora
da igreja espiritual, que “simplesmente” tem uma vida mentirosa. Deus olha diferente do que pensamos. Aleluia!

4 – As conseqüências do Pecado
O pecado é tanto um ato como um estado. Como rebelião contra a Lei de Deus é um ato da vontade do
homem; como separação de Deus é um estado pecaminoso. As Escrituras descrevem dois efeitos do pecado
sobre o culpado: o primeiro é seguindo por conseqüências desastrosas para sua alma e o segundo trará, da parte
de Deus, o positivo decreto de condenação.

4.1 – Consequências Espirituais

Como resultado da queda do homem, o seu relacionamento com Deus foi sensivelmente alterado.
Destacam-se como conseqüência espirituais do pecado:

29
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa
CURSO DE TEOLOGIA SISTEMÁTICA
- MÓDULO B -
4.1.1. Morte Espiritual – O termo “morte” é usado na Palavra de Deus para falar da separação entre o
homem e Deus por causa da queda do homem no princípio. Esse é o estado em que se
encontram todos os homens, até que permitam que Cristo lhes toque, vivificando-os (Rm
5:12).
4.1.2. Perda da semelhança moral com Deus – O homem foi criado para ser perfeito e para viver em
perfeita comunhão com o seu “Criador”; contudo, esse privilégio foi interrompido com a queda,
levando o homem tantas vezes a níveis morais tão baixos, a ponto de identificar-se melhor com
os irracionais do que com Deus que os criou (Gn 1:26-27). Apesar de não estar inteiramente
perdida, a imagem divina no homem encontra-se muito desfigurada. Jesus Cristo veio ao mundo
para tornar possível ao homem a recuperação completa da semelhança divina por ser recriado à
imagem de Deus (Gl 3:10).
4.1.3. Incompatibilidade com a vontade de Deus – Após a queda, a mente do homem ficou bloqueada
para a revelação da vontade Deus e condicionada à prática do pecado (Rm 8:7-8).
4.1.4. Escravidão ao pecado e ao diabo – Negligenciando o mandado de Deus e aceitando as
insinuações do diabo, o homem tornou-se escravo do pecado e do maligno (Jo 8:33-34).
4.1.5. Pecado original – O efeito da queda foi tão profundo na natureza humana que é transmitido,
desde Adão, a todos os seus descendentes (Sl 51:5). Esse impedimento espiritual e moral é
conhecido como “pecado original”.

4.2 – Consequências Físicas

Além dos problemas ambientais e espirituais, a que da do homem trouxe conseqüências físicas de
grandes proporções:

4.2.1. Existência física reduzida – Destinado a viver eternamente, o homem teve reduzida a sua
existência física (Gn 6:3).
4.2.2. Corrupção dos poderes do homem – Um dos propósitos de Deus para o homem era de que ele
exercesse domínio sobre todas as coisas criadas; porém, na queda, além de perder a
semelhança moral que tinha com Deus todos os seus poderes se perverteram; todos os seus
pensamentos e desejos se corromperam (Gn 1:26).
4.2.3. Enfermidades – Ainda que nem toda enfermidade seja causada pelo pecado, todas as
enfermidades existem em consequência do pecado de Adão. “A transgressão do homem foi
como crime, a pior enormidade. Quanto à sua natureza, não foi mera desobediência à Lei Divina;
foi a mais crassa infidelidade, o de dar crédito antes ao diabo do que a Deus. Foi
descontentamento e inveja, ao pensar que Deus lhe havia negado aquilo que era essencial para
sua felicidade. Foi um orgulho imenso, ao desejar ser igual a Deus; foi furto, ao intrometer-se
naquilo que Deus havia reservado para Si, como sinal de Sua soberania. Foi suicídio e homicídio,
ao trazer a morte contra si e contra toda a sua posteridade” (Emery H. Bancroft).

4.3 – Consequências sobre a natureza

Deus criou o Éden em toda sua beleza e formosura para o homem desfrutar eternamente, mas que,
após a queda, a própria natureza foi “modificada” pelo fato do pecado, trazendo conseqüências desastrosas (Gn
3:17-18).

30
Escola Bíblica - Igreja Nova Vida de Piedade
Pr. Marcelo Costa

You might also like