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PONTIFÍCIA OBRA PARA AS VOCAÇÕES ECLESIÁSTICAS

NOVAS VOCAÇÕES PARA UMA NOVA EUROPA

(In verbo tuo...)

Documento final do Congresso 
sobre Vocações para o Sacerdócio 
e a Vida Consagrada na Europa

Roma, 5­10 maio 1997

Preparado pelas Congregações para a Educação Católica,
para as Igrejas Orientais,
para os Institutos de Vida Consagrada,
e as Sociedades de Vida Apostólica

INTRODUÇÃO

Demos graças a Deus

1. Bendito seja Deus Onipotente que abençoou a terra da Europa com toda a bênção  
espiritual, em Cristo e no seu Santo Espírito (Ef 1,3).

Nós Lhe damos graças porque, desde os inícios da era cristã, chamou este Continente a ser 
centro de irradiação da boa nova da fé, e a manifestar no mundo a sua universal paternidade. 
Damos graças, porque abençoou este solo com o sangue dos mártires e o dom de inumeráveis 
vocações para o sacerdócio, o diaconato, a vida consagrada nas suas várias formas, da vida 
monástica aos institutos seculares. Damos graças porque, ainda hoje, o seu Santo Espírito não 
cessa de chamar os filhos desta Igreja a se fazerem anunciadores da mensagem de salvação em 
todas as partes do mundo, e ainda outros a testemunhar, na vida matrimonial e profissional, na 
cultura e na política, na arte e no esporte, nas relações humanas e de trabalho, a verdade do 
Evangelho que salva, cada qual segundo o dom e a missão que recebeu. Damos­lhe graças, 
porque Ele é a voz que chama e infunde a coragem da resposta, é o pastor que guia e sustenta a 
fidelidade de cada dia, é caminho, verdade e vida para todos aqueles que são chamados a 
realizar em si o projeto do Pai.

O Congresso Vocacional Europeu

2. Reunidos em Roma, de 05 a 10 de maio de 1997, para o Congresso sobre as Vocações para o 
Sacerdócio e a Vida Consagrada na Europa,(1) colocamos nas mãos do Dono da messe os 
trabalhos do Congresso mas, sobretudo, a ansiedade da Igreja que está na Europa, neste tempo 
difícil porém formidável, juntamente com a gratidão para com Deus, fonte de toda consolação 
e autor de toda vocação.

Reunidos em Roma, entregamos a Maria, imagem perfeita da criatura chamada pelo Criador, 
aqueles que ainda hoje Deus continua a chamar. Agora entregamos este documento aos santos 
Pedro e Paulo e a todos os santos e mártires desta e de cada cidade e Igreja européia, do 
passado e do presente. Que, como no passado os mártires e os santos deram testemunho do 
Eterno, assim hoje ele consiga expressar e compartilhar a riqueza que nos foi dada nos dias da 
assembléia romana.

De fato, o Congresso foi um evento de graça: a partilha fraterna, o aprofundamento doutrinal, 
o encontro dos vários carismas, o intercâmbio das diversas experiências e esforços que estão 
sendo feitos nas Igrejas do Leste e do Ocidente, enriqueceram a todos e a cada um. 
Confirmaram, em cada participante, a vontade de continuar a trabalhar com paixão no campo 
vocacional, não obstante a exigüidade dos resultados em algumas Igrejas do Velho Continente.

A força da esperança

3. Do Documento de trabalho do Congresso às Proposições conclusivas, do Discurso do Santo 
Padre aos participantes à Mensagem para as comunidades eclesiais, das intervenções em 
plenário às discussões nos grupos de estudo, das trocas informais aos testemunhos, houve uma 
espécie de fio vermelho que uniu entre si todos os atos e todos os momentos desse encontro: a 
esperança. Uma esperança mais forte do que todo temor e toda dúvida, aquela esperança que 
sustentou a fé dos nossos irmãos das Igrejas do Leste, em tempos em que crer e esperar era 
duro e arriscado, e que agora está sendo premiada por uma renovada floração de vocações, 
conforme foi testemunhado no congresso.

Somos profundamente gratos a esses irmãos, bem como a todos os crentes que continuam a 
testemunhar que a « esperança é o segredo da vida cristã. Ela é o respiro absolutamente 
necessário na linha de frente da missão da Igreja, em particular da pastoral vocacional [...]. 
Portanto, é preciso recriá­la nos presbíteros, nos educadores, nas famílias cristãs, nas famílias 
religiosas, nos Institutos Seculares. Em suma, em todos aqueles que devem servir à vida junto 
às novas gerações ». (2)

Escrevemos a vós, meninos, adolescentes e jovens...

4. Fortes dessa esperança nos dirigimos a vós, meninos, adolescentes e jovens; antes de tudo 
para que, na escolha do vosso futuro, saibais acolher o projeto que Deus tem sobre vós: só 
sereis felizes e plenamente realizados, se vos dispuserdes a realizar o sonho do Criador sobre a 
criatura. Como gostaríamos de que este escrito fosse como uma carta endereçada a cada um de 
vós, em que, com a ajuda de vossos educadores, possais sentir a solicitude da mãe­Igreja por 
cada um de seus filhos, aquela solicitude toda especial que uma mãe tem por seus filhos mais 
novos. Uma carta em que possais reconhecer os vossos problemas, as interrogações que 
povoam o vosso jovem coração, e a as respostas que vêm daquele que é o amigo perenemente 
jovem das vossas almas, o único que pode dizer­vos a verdade! Ficai sabendo, queridos jovens, 
a Igreja acompanha trépida os vossos passos e as vossas escolhas. E como seria lindo se esta 
carta suscitasse em vós alguma resposta, para um diálogo que continuasse com quem vos 
orienta...

... a vós, pais e educadores...

5. Ricos da mesma esperança, nos dirigimos a vós, pais, chamados por Deus a colaborar com a 
sua vontade de dar a vida, e a vós, educadores, professores, catequistas e animadores, 
chamados por Deus a colaborar de muitas maneiras com o seu projeto de formar para a vida. 
Gostaríamos de dizer­vos quanto a Igreja valoriza a vossa vocação, e quanto confia nela para 
promover a vocação dos vossos filhos e uma verdadeira cultura vocacional.

Vós, pais, sois também os primeiros naturais educadores vocacionais, enquanto vós, 
formadores, não sois apenas instrutores que introduzem nas escolhas existenciais: vós também 
sois chamados a gerar a vida nas jovens existências que abris para o futuro. A vossa fidelidade 
ao chamado de Deus é mediação preciosa e insubstituível, para que os vossos filhos e alunos 
possam descobrir a sua vocação pessoal, para que « tenham a vida e a tenham em abundância 
» (Jo 10,10).

...a vós, pastores e presbíteros, consagrados e consagradas...

6. Sempre com a esperança no coração, nos dirigimos a vós, presbíteros, e a vós, consagrados 
e consagradas, na vida religiosa e nos institutos seculares. Vós que ouvistes um chamado 
especial para seguir o Senhor numa vida toda dedicada a Ele, sois também chamados 
especialmente, todos sem qualquer exceção, a testemunhar a beleza do seguimento.

Sabemos o quanto hoje é difícil esse anúncio e quanto é fácil a tentação do desânimo quando o 
esforço parece inútil. « A pastoral vocacional constitui o ministério mais difícil e delicado ».(3) 
Mas gostaríamos também de lembrar que não existe nada mais estimulante do que um 
testemunho tão apaixonado da própria vocação, capaz de tornar­se contagioso. Nada é mais 
lógico e coerente do que uma vocação que gera outras vocações e, com todo direito, vos torna 
« pais » e « mães ». Com este escrito, gostaríamos de nos dirigir, de modo especial, não só a 
quem tem um encargo explícito na promoção vocacional, mas também àqueles que entre vós 
não estão empenhados diretamente nela, ou a quem acha que não tem nenhuma obrigação 
nessa linha.

A esses gostaríamos de lembrar que somente um testemunho coral torna eficaz a animação 
vocacional, e que, antes de tudo, a assim chamada crise vocacional depende do ?escondimento' 
de algumas testemunhas, o que enfraquece a mensagem. Numa Igreja toda vocacional, todos  
são animadores vocacionais. Então, felizes de vós se souberdes dizer, com a vossa vida, que é 
belo e gratificante servir a Deus, e revelar que nele, o Vivente, se esconde a identidade de cada 
vivente (cf Col 3,3).

... a todo o povo de Deus que está na Europa

7. Por fim, gostaríamos de ser « samaritanos da esperança » para aqueles irmãos e irmãs com 
os quais compartilhamos as dificuldades do caminho. Quereríamos dirigir a mesma mensagem 
de esperança a todo o povo de Deus, peregrinante nesta terra antiga e abençoada, nas Igrejas 
do Leste e do Ocidente. Daqui, há muito tempo, graças à coragem de muitos evangelizadores 
que pagaram até com o próprio sangue o seu testemunho, se difundiu o anúncio da boa notícia. 
Nós queremos acreditar que, ainda hoje, o Espírito do Pai chama.

Ele envia pelas estradas do mundo os filhos desta terra generosa de raízes cristãs, mas ela 
mesma necessitada de nova evangelização e de novos evangelizadores. Então, também nós nos 
apresentamos ao Senhor, como os Apóstolos, com a consciência da nossa pobreza e das 
necessidades desta Igreja: « Mestre, trabalhamos a noite inteira e não apanhamos nada » (Lc 
5,5). Mas, sobretudo « por causa da sua palavra », queremos crer e esperar que, como então, 
ainda hoje o Senhor pode encher as barcas de seus apóstolos com uma pesca milagrosa, e 
transformar cada crente num pescador de homens.

Do Congresso à vida

8. Portanto, o escopo do presente documento é compartilhar com todos vós o evento de graça 
que foi o Congresso. Sem a pretensão de fazer dele uma síntese acurada, nem presumir de 
expor um tratado sistemático sobre a vocação, fraternalmente quereríamos colocar à disposição 
de toda a Igreja que está na Europa e fora da Europa, nas suas várias denominações cristãs, os 
frutos mais significativos do Congresso.

O estilo procurará exprimir, da melhor forma possível, a vontade de fazer­nos entender por 
todos, porque todos, indistintamente, são chamados a realizar a própria vocação e a promover a 
de quem está próximo deles.

Sobretudo, terá como empenho conjugar entre si reflexão teológica e práxis pastoral, proposta 
teórica e indicação pedagógica, para oferecer, a quantos atuam na animação vocacional, uma 
ajuda concreta e prática.

Não temos nenhuma pretensão de dizer tudo, não só para não repetir o que outros documentos 
já disseram de forma excelente a esse respeito,(4) mas para permanecer abertos ao mistério, 
àquele mistério que envolve a vida e o chamado de todo ser humano, àquele mistério que é 
também o caminho de discernimento vocacional e que se completará somente no momento da 
morte. A pastoral vocacional é mistagógica e, portanto, parte do Mistério (de Deus) para  
reconduzir ao mistério (do homem), ou não existe.
As partes do documento

9. Concretamente este texto segue a lógica que orientou os trabalhos do Congresso: do 
concreto da existência à reflexão, para voltar ainda ao concreto existencial. É com a realidade 
de cada dia que a pastoral vocacional deve se medir, precisamente porque é pastoral em função 
e a serviço da vida. Por conseguinte, partiremos com uma tentativa de levantamento da 
situação, para depois analisar o tema da vocação do ponto de vista teológico, e, portanto, dar 
uma fundamentação, uma indispensável estrutura a todo o discurso que se segue.

Nesse ponto, começa a parte mais aplicativa: antes de tudo, de tipo pastoral, ou de grandes 
estratégias de atuação, e depois, de tipo mais pedagógico. Será útil para identificar ao menos 
algumas pistas orientadoras no nível do método e da práxis quotidiana. E talvez seja 
justamente esse aspecto o mais carente e o mais esperado pelos agentes de pastoral.

PRIMEIRA PARTE

A SITUAÇÃO VOCACIONAL EUROPÉIA, HOJE

«A Messe é grande
mas os operários são poucos » (Mt 9,37)

Esta primeira parte constitui um olhar sapiencial sobre a Europa, na consciência da sua  
complexidade cultural, em que parece predominar um modelo antropológico de « homem sem  
vocação ». A nova evangelização deve reanunciar o sentido forte da vida como « vocação »,  
no seu fundamental apelo à santidade, recriando uma cultura favorável às diversas vocações e  
apta a promover na pastoral vocacional um verdadeiro salto de qualidade.

« Novas vocações para uma nova Europa »

10. O tema do Congresso (« Novas vocações para uma nova Europa ») vai diretamente ao 
coração do problema: hoje, numa Europa nova em relação ao passado, são necessárias 
vocações « novas » também. É preciso justificar a afirmação para que se entenda o sentido 
dessa novidade, e perceber a relação com a pastoral « tradicional » das vocações para o 
sacerdócio e a vida consagrada. Por isso, não nos contentaremos com fotografar a situação e 
enumerar dados, mas procuraremos perceber em que direção vai a novidade e a necessidade de 
vocações que provém dela.

Ao mesmo tempo, leremos a situação que se configura no presente, a partir da expressão de 
Jesus diante da missão que o esperava: « A messe é grande, mas os operários são poucos » (Mt 
9,37). Essas palavras continuam sendo verdadeiras e constituem uma preciosa chave de leitura 
da atualidade. De certo modo, encontramos nelas a medida certa da nossa ação e a justa 
proporção (ou desproporção) entre uma messe que será sempre excedente e as nossas forças. 
Longe de toda interpretação pessimista do hoje, como também de toda pretensão de auto­
suficiência para o amanhã.

Nova Europa

11. O Documento de Trabalho já havia oferecido um quadro da situação européia, no que diz 
respeito à problemática vocacional, fortemente marcado por elementos de novidade. Aqui, nós 
apenas os reassumimos, segundo a análise que o mesmo Congresso fez deles, procurando 
colher os mais significativos, destinados a condicionar nos tempos longos mentalidade e 
sensibilidade juvenis e, portanto, também práxis pastorais e estratégias vocacionais.

a) Uma Europa diversificada e complexa

Antes de tudo, aparece um dado incontestável: é praticamente impossível definir de modo 
unívoco e estático a situação européia, no que concerne à condição juvenil e os inevitáveis 
reflexos vocacionais. Estamos diante de uma Europa diversificada, que se tornou assim devido 
às diversas vicissitudes histórico­políticas (ex. a diferença entre Leste e Ocidente), mas 
também pela pluralidade de tradições e culturas (greco­latina, anglo­saxônica e eslava).

Todavia, elas constituem também a sua riqueza e tornam significativas, em diferentes 
contextos, experiências e escolhas. Assim, se nos países da vertente oriental se percebe o 
problema de como administrar a liberdade recuperada, nos do ocidente as pessoas se 
questionam sobre como viver a liberdade autêntica.

Tal heterogeneidade se confirma também pelo andamento das vocações ao sacerdócio e à vida 
consagrada, não apenas pela diferença evidente entre o florescimento vocacional da Europa 
oriental e a crise geral que perpassa o Ocidente, mas porque, dentro de tal crise, também há 
sinais de retomada vocacional, particularmente naquelas Igrejas em que o trabalho pós­
conciliar assíduo e constante abriu um sulco profundo e eficaz. (5)

Portanto, se no Oriente é preciso iniciar uma verdadeira pastoral orgânica a serviço da 
promoção vocacional, sobretudo da animação à formação das vocações, no Ocidente é 
indispensável uma atenção diferente. É preciso questionar a real consistência teológica e a 
linearidade aplicativa de certos projetos vocacionais, o conceito de vocação que está na base 
deles, e o tipo de vocações que daí derivam. No Congresso perguntou­se, insistentemente: « 
Por que determinadas teologias ou práxis pastorais não produzem vocações, enquanto outras 
produzem? ». (6)

Um outro aspecto caracteriza a atualidade sócio­cultural européia: o excesso de possibilidades, 
de ocasiões, de solicitações, perante a carência de enfoques, de propositividade, de 
projetualidade. É como um contraste ulterior que aumenta o grau de complexidade desta época 
histórica, com repercussões negativas no plano vocacional. Como a Roma antiga, a Europa 
moderna parece semelhante a um pantheon, a um grande « templo » em que todas as « 
divindades » estão presentes, ou em que todo « valor » tem seu lugar e seu nicho.
« Valores » diversos e contrastantes estão copresentes e coexistentes, sem uma hierarquização 
exata; códigos de leitura e de avaliação, de orientação e de comportamento completamente 
desiguais entre si.

Em tal contexto, fica difícil ter uma concepção ou uma visão unitária do mundo, e portanto, 
também se torna fraca a capacidade projetual da vida. De fato, quando uma cultura não define 
mais as supremas possibilidades de significado, ou não consegue criar convergência em torno 
de alguns valores como particularmente capazes de dar sentido à vida, mas coloca tudo no 
mesmo plano, cai toda a possibilidade de escolha projetual, e tudo se torna indiferente e 
nivelado.

b) Os jovens e a Europa

Os jovens europeus vivem nesta cultura pluralista e ambivalente, « politeísta » e neutra. Por um 
lado, procuram apaixonadamente autenticidade, afeto, relacionamentos pessoais, vastidão de 
horizontes; por outro, estão fundamentalmente sozinhos, « feridos » pelo bem­estar, 
desiludidos das ideologias, confusos por causa da desorientação ética.

E mais: « em várias partes do mundo juvenil emerge uma clara simpatia pela vida, entendida 
como valor absoluto, sagrado... »; (7) mas freqüentemente, em muitos locais da Europa, tal 
abertura em relação à existência é desmentida por políticas não respeitosas do próprio direito à 
vida, sobretudo dos mais fracos. Políticas que correm o risco de tornar o « Velho Continente » 
sempre mais velho. Portanto, se por um lado esses jovens são um capital notável para a Europa 
de hoje, que investe fortemente para construir o futuro deles, do outro nem sempre as 
expectativas juvenis são coerentemente atendidas pelo mundo dos adultos ou dos responsáveis 
pela sociedade civil.

De qualquer modo, para entender a atitude juvenil hodierna, dois aspectos nos parecem 
centrais: a reivindicação da subjetividade e o desejo de liberdade. São duas instâncias dignas 
de atenção e tipicamente humanas. Todavia, muitas vezes numa cultura frágil e complexa 
como a atual, — se se encontram — dão lugar a combinações que lhes deformam o sentido: a 
subjetividade se torna subjetivismo, enquanto a liberdade degenera em arbítrio.

Num tal contexto, merece atenção a relação que os jovens europeus mantêm com a Igreja. Em 
uma das suas Proposições conclusivas, o Congresso destaca, com realismo e coragem: « Com 
freqüência os jovens não vêem na Igreja o objeto da sua busca e o lugar de resposta às suas 
perguntas e expectativas. Releva­se que o problema não é Deus, mas a Igreja. A Igreja tem 
consciência da dificuldade de se comunicar com os jovens, da carência de verdadeiros projetos 
pastorais..., da fragilidade teológico­antropológica de certas catequeses. Da parte de muitos 
jovens perdura o temor de que uma experiência na Igreja limite a sua liberdade », (8) ao passo 
que da parte de muitos outros, a Igreja continua sendo, ou está se tornando o ponto de 
referência mais respeitável.
c) « Homem sem vocação »

Esse jogo de contrastes se reflete, inevitavelmente no plano da projetação do futuro que — por 
parte dos jovens — é visto numa ótica conseqüente, limitada à própria visão, em função de 
interesses estritamente pessoais (a auto­realização).

É uma lógica que reduz o futuro à escolha de uma profissão, à garantia econômica, ou à 
satisfação sentimental­emotiva, dentro de horizontes que, de fato, reduzem o desejo de 
liberdade e a possibilidade do sujeito a projetos limitados, na ilusão de ser livre.

São escolhas sem nenhuma abertura ao mistério e ao transcendente e, talvez, também com 
escassa sensibilidade em relação à vida, própria e dos outros, da vida recebida como dom e a 
ser gerada nos outros. Em outras palavras, é uma sensibilidade e mentalidade que corre o risco 
de delinear um tipo de cultura antivocacional. Equivale a dizer que, na Europa culturalmente 
complexa e sem pontos de referência bem precisos, semelhante a um grande pantheon, o 
modelo antropológico que prevalece parece ser o do « homem sem vocação ».

Esta seria uma descrição possível: « Uma cultura pluralista e complexa tende a produzir jovens 
com uma identidade incompleta e fraca, com a conseqüente indecisão crônica diante da 
escolha vocacional. Muitos jovens não dominam nem mesmo a « gramática elementar » da 
existência; são nômades: circulam, sem se firmar em nível geográfico, afetivo, cultural, 
religioso, eles « vão tentando »! Em meio à grande quantidade e diversidade das informações, 
mas com pobreza de formação, mostram­se dispersos, com poucas referências e poucos 
referenciais. Por isso têm medo do futuro, sentem­se ansiosos diante de compromissos 
definitivos, e se questionam a respeito do seu ser. Se, por um lado, a qualquer custo buscam 
autonomia e independência, por outro, como refúgio, tendem a ser muito dependentes do 
ambiente sócio­cultural e a procurar a satisfação imediata dos sentidos: daquilo que « me 
agrada », daquilo que « faz com que eu me sinta bem », num mundo afetivo feito sob medida 
». (9)

É uma tristeza encontrar jovens, embora inteligentes e bem dotados, nos quais parece apagada 
a vontade de viver, de acreditar em alguma coisa, de tender para grandes objetivos, de esperar 
num mundo que, graças a seus esforços, pode se tornar melhor. São jovens que parecem sentir­
se supérfluos no jogo ou no drama da vida, quase demissionários em relação a ela, meio 
perdidos ao longo de caminhos interrompidos, e reduzidos aos níveis mínimos da tensão vital. 
Sem vocação, mas também sem futuro, ou com um futuro que, no máximo, será uma fotocópia 
do presente.

d) A vocação da Europa

No entanto, esta Europa de muitas almas e de cultura tão fraca (mas que, todavia, muitas vezes 
se impõe pela força) mostra ter energias insuspeitadas, está mais viva do que nunca, e chamada 
a desempenhar um papel importante no contexto mundial.
Jamais como neste tempo, o Velho Continente, embora mostrando ainda as feridas de conflitos 
recentes e de contraposições internas, inclusive violentas, percebeu o forte chamado à  
unidade. Uma unidade que ainda precisa ser construída, embora certos muros tenham caído, e 
que deverá estender­se a toda a Europa e a quem lhe pede hospitalidade e acolhimento. 
Unidade que não poderá ser apenas política ou econômica, mas também, e antes de tudo, 
espiritual e moral. Unidade, ainda, que terá de superar velhos rancores e antigas desconfianças 
e que, justamente nas raízes primitivas, poderia encontrar um motivo de convergência e uma 
garantia de entendimento. Unidade que caberá especialmente à atual geração juvenil realizar e 
tornar sólida e completa, do Ocidente a Leste, de Norte a Sul, defendendo­a de toda tentação 
contrária de isolamento e de fechamento em seus próprios interesses, e propondo­a ao mundo 
inteiro como exemplo de serena convivência na diversidade.

Esses jovens serão capazes de assumir tal responsabilidade?

Se é verdade que o jovem de hoje corre o risco de estar desorientado e de se encontrar sem um 
ponto exato de referência, a « nova Europa » que está nascendo talvez pudesse se tornar uma 
meta, e oferecer um estímulo adequado a jovens que, na realidade, « sentem a nostalgia da 
liberdade e buscam a verdade, a espiritualidade, a autenticidade, a própria originalidade 
pessoal e a transparência, que têm desejo de amizade e de reciprocidade », que buscam « 
companhia » e querem « construir uma nova sociedade, fundada sobre valores como a paz, a 
justiça, o respeito ao ambiente, a atenção à diversidade, a solidariedade, o voluntariado e a 
igual dignidade da mulher ». (10)

Em última análise, as pesquisas mais recentes descrevem os jovens europeus como meio 
perdidos, mas não desesperados; impregnados de relativismo ético, mas também desejosos de 
viver uma « vida boa »; conscientes da própria necessidade de salvação, embora não saibam 
onde encontrá­la.

Provavelmente, o problema mais grave deles é a sociedade eticamente neutra na qual lhes 
calhou viver; mas os recursos não se apagaram neles. Especialmente num tempo, como o 
nosso, de transição para novas metas. Prova disso são os muitos jovens animados por uma 
sincera busca de espiritualidade e corajosamente empenhados no social, confiantes em si 
mesmos e nos outros, e distribuidores de esperança e de otimismo.

Nós acreditamos que, apesar das contradições e do « peso » de um certo ambiente cultural, 
esses jovens possam construir essa nova Europa. Na vocação de sua mãe­terra se vislumbra 
também a vocação pessoal deles.

Nova evangelização

12. Tudo isso abre novos caminhos e pede novo impulso ao processo de evangelização da velha 
e nova Europa. Faz tempo que a Igreja e o atual Pontífice vêm pedindo uma profunda 
renovação dos conteúdos e dos métodos do anúncio do Evangelho, « para tornar a Igreja do 
século XX sempre mais idônea para anunciar o evangelho à humanidade do século XXI ». (11) 
E, como o Congresso nos lembrou, « não se deve ter medo de estar num período de passagem 
de uma margem para outra ». (12)

a) O « semper » e o « novum »

Trata­se de conjugar o « semper » e o « novum » do evangelho, para oferecê­lo às novas 
interrogações e condições do homem e da mulher de hoje. Portanto, é urgente repropor o 
coração ou o centro do querigma como « notícia perenemente boa », rica de vida e de sentido 
para o jovem que vive na Europa, como anúncio capaz de responder às suas expectativas e de 
iluminar a sua busca.

Especialmente em torno desses pontos concentram­se a tensão e o desafio. Daqui dependem a 
imagem de homem que se quer realizar, e as grandes decisões da vida, do futuro da pessoa e da 
humanidade: do significado da liberdade, da relação entre subjetividade e objetividade, do 
mistério da vida e da morte, do amar e do sofrer, do trabalho e da festa.

É preciso esclarecer a relação entre práxis e verdade, entre instante histórico pessoal e futuro 
definitivo universal, ou entre bem recebido e bem doado, entre consciência do dom e escolha 
de vida. Nós sabemos que é precisamente ao redor desses pontos que se concentra também 
uma certa crise de significado, da qual derivam uma cultura antivocacional e uma imagem de 
homem sem vocação.

Portanto, daqui deve partir ou deve vir dar aqui o caminho da nova evangelização, para 
evangelizar a vida e o significado da vida, a exigência de liberdade e de subjetividade, o 
sentido da própria presença no mundo e do relacionamento com os outros.

Daqui poderá emergir uma cultura vocacional e um modelo de homem aberto ao chamado. 
Para que, a uma Europa que vai redesenhando em profundidade a sua fisionomia, não venha a 
faltar a boa nova da páscoa do Senhor, em cujo sangue os povos dispersos se reuniram e os 
distantes se tornaram próximos, abatendo o muro de inimizade que os separava » (Ef 2,14). Ou 
melhor, podemos dizer que a vocação é o próprio coração da nova evangelização, no limiar  
do terceiro milênio, é o apelo de Deus ao homem para uma nova fase de vida e liberdade, e 
para uma refundação ética da cultura e da sociedade européia.

b) Nova santidade

Nesse processo de inculturação da boa nova, a Palavra de Deus se torna companheira de 
viagem do homem e cruza com ele ao longo dos caminhos para revelar­lhe o projeto do Pai, 
como condição de sua felicidade. E é exatamente a Palavra tirada da carta de Paulo aos cristãos 
da Igreja de Éfeso que hoje nos conduz também a nós, povo de Deus na Europa, a descobrir o 
que talvez não seja imediatamente visível, mas que é evento, é dom, é vida nova: « Portanto, 
vós não sois mais estrangeiros nem hóspedes, mas sois concidadãos dos santos e membros da 
família de Deus » (Ef 2,19).
Evidentemente, não é palavra nova, mas é palavra que nos faz olhar de modo novo a realidade 
da Igreja do Velho Continente, que nada tem a ver com « igreja velha ». Ela é comunidade de 
crentes chamados à « juventude da santidade », à vocação universal à santidade, sublinhada 
com força pelo Concílio (13) e repetida em várias circunstâncias pelo Magistério sucessivo.

Agora é tempo de que aquele apelo retome força e atinja cada crente, para que cada qual tenha 
« condição de compreender com todos os santos, qual seja a largura, o comprimento, a altura e 
a profundidade » (Ef 3,18) do mistério de graça confiado à própria vida.

Já é tempo de que aquele apelo suscite novos projetos de santidade, porque a Europa precisa 
sobretudo daquela santidade especial que o momento presente exige, por isso original e, de 
certo modo, sem precedentes.

São necessárias pessoas capazes de « lançar pontes » para unir sempre mais as Igrejas e os 
povos da Europa, e para reconciliar os ânimos.

São necessários « pais » e « mães » abertos à vida e ao dom da vida; esposos e esposas que 
testemunhem e celebrem a beleza do amor humano abençoado por Deus; pessoas capazes de  
diálogo e de « caridade cultural », para a transmissão da mensagem cristã, mediante as 
linguagens da nossa sociedade; profissionais e pessoas simples, capazes de imprimir a 
transparência da verdade e a intensidade da caridade cristã ao compromisso na vida civil e às 
relações de trabalho e de amizade; mulheres que redescubram na fé cristã a possibilidade de 
viver plenamente o seu gênio feminino; presbíteros de coração grande, como o do Bom Pastor; 
diáconos permanentes que anunciem a Palavra e a liberdade do serviço aos mais pobres; 
apóstolos consagrados capazes de se imergirem no mundo e na história com coração 
contemplativo, e místicos tão familiarizados com o mistério de Deus, que saibam celebrar a 
experiência do divino e apontar Deus presente no vivo da ação.

A Europa precisa de novos confessores da fé e da beleza de crer, de testemunhas que sejam 
crentes credíveis, corajosos até o sangue, de virgens que não sejam tais apenas para si mesmos, 
mas que saibam indicar a todos aquela virgindade que está no coração de cada um e que leva 
imediatamente ao Eterno, fonte de todo amor.

A nossa terra é ávida não só de pessoas santas, mas de comunidades santas, tão enamoradas da 
Igreja e do mundo, que saibam apresentar ao próprio mundo uma Igreja livre, aberta, 
dinâmica, presente na história hodierna, próxima dos sofrimentos do povo, acolhedora para 
com todos, promotora da justiça, atenta aos pobres, não preocupada com sua minoria numérica 
nem em colocar marcos divisórios à própria ação, não apavorada pelo clima de 
descristianização social (real, mas talvez não tão radical e geral), nem pela escassez (muitas 
vezes só aparente) dos resultados.

Será essa a nova santidade capaz de reevangelizar a Europa e de construir a nova Europa!
Novas vocações

13. Então se impõe um discurso novo sobre a vocação e as vocações, sobre a cultura e sobre a 
pastoral vocacional. O Congresso entendeu assumir uma certa sensibilidade, a esta altura 
amplamente difundida a respeito desses temas, propondo no entanto, ao mesmo tempo, um ?
estremecimento' capaz de abrir novas estações nas nossas Igrejas ».(14)

a) Vocação e vocações

Como a santidade é para todos os baptizados em Cristo, assim existe uma vocação específica 
para cada vivente; e, como a primeira tem suas raízes no Baptismo, assim a segunda se liga ao 
simples fato de existir. A vocação é o pensamento providente do Criador sobre cada criatura, é 
a sua idéia­projecto, como um sonho muito querido por Deus, porque a criatura é muito 
querida por Ele. Deus­Pai o quer diferente e específico para cada vivente.

De fato, o ser humano é « chamado » à vida e, como vem à vida, traz e encontra em si a 
imagem daquele que o chamou.

Vocação é a proposta divina de realizar­se segundo essa imagem, e é única­singular­irrepetível, 
justamente porque tal imagem é inexaurível. Cada criatura diz e é chamada a exprimir um 
aspecto particular do pensamento de Deus. Ali encontra seu nome e sua identidade; afirma e 
coloca em segurança a sua liberdade e originalidade.

Portanto, se todo ser humano, desde o nascimento, tem a própria vocação, existem na Igreja e 
no mundo várias vocações que, enquanto num plano teológico exprimem a semelhança divina 
impressa no homem, em nível pastoral­eclesial respondem às várias exigências da nova 
evangelização, enriquecendo a dinâmica e a comunhão eclesial: « A Igreja particular é como 
um jardim florido, com grande variedade de dons e carismas, movimentos e ministérios. Daqui 
a importância do testemunho de comunhão entre si, abandonando todo espírito de « 
concorrência ».(15)

Antes, foi dito explicitamente no Congresso « Há necessidade de abertura a novos carismas e 
ministérios, talvez diferentes dos costumeiros. A valorização e o lugar do laicato é um sinal 
dos tempos que em parte ainda está por se descobrir. Ele está se revelando sempre mais 
frutuoso ». (16)

b) Cultura da vocação

Esses elementos estão penetrando progressivamente na consciência dos crentes, mas não ainda 
a ponto de criar uma verdadeira cultura vocacional, (17) capaz de ultrapassar os limites da 
comunidade crente. Por isso, no seu Discurso aos participantes do Congresso, o Santo Padre 
faz votos de que a constante e paciente atenção da comunidade cristã ao mistério do divino 
chamado promova uma « nova cultura vocacional » nos jovens e nas famílias ». (18)
Ela é uma componente da nova evangelização. É cultura da vida e da abertura para a vida, do 
significado do viver, mas também do morrer.

Refere­se, em particular, a valores talvez um pouco esquecidos por certa mentalidade 
emergente (segundo alguns « cultura de morte »), como a gratidão, o acolhimento do mistério, 
o sentido da incompletitude do homem e, junto, da sua abertura ao transcendente, a 
disponibilidade a se deixar chamar por um outro (ou por um Outro) e interpelar pela vida, a 
confiança em si e no próximo, a liberdade de se comover diante do dom recebido, diante do 
afecto, da compreensão, do perdão, descobrindo que aquilo que se recebeu é sempre imerecido 
e excede à própria medida, e fonte de responsabilidade para com a vida.

Também faz parte dessa cultura vocacional a capacidade de sonhar e desejar grande, aquela 
admiração embevecida que permite apreciar a beleza e escolhê­la pelo seu valor intrínseco, 
porque torna a vida bonita e verdadeira, aquele altruísmo que não é somente solidariedade de 
emergência, mas que nasce da descoberta da dignidade de qualquer irmão.

É preciso que à cultura da distração, que corre o risco de perder de vista e de anular os sérios 
questionamentos no acúmulo das palavras, se oponha uma cultura capaz de encontrar coragem 
e gosto pelas grandes perguntas, aquelas relativas ao próprio futuro: de fato, são as grandes  
perguntas que tornam grandes até as pequenas respostas. Mas, depois, são as respostas 
pequenas e quotidianas que provocam as grandes decisões, como a da fé; ou que criam cultura, 
como a da vocação.

Em todo caso, a cultura vocacional, enquanto complexo de valores, deve passar da consciência 
eclesial à consciência civil, da conscientização do indivíduo ou da comunidade crente à 
convicção universal de não poder construir sobre um modelo de homem sem vocação, nenhum 
futuro para a Europa dos anos dois mil. O Papa continua: « A difícil situação que atravessa o 
mundo juvenil revela, também nas novas gerações, insistentes perguntas sobre o significado da 
existência, confirmando o fato de que nada e ninguém pode sufocar no homem a busca de  
sentido e o desejo de verdade. Para muitos, é esse o terreno em que se coloca a busca 
vocacional ». (19)

Essa pergunta e esse desejo fazem nascer uma autêntica cultura da vocação; e, se pergunta e 
desejo estão no coração de todo homem, inclusive de quem nega isso, então essa cultura 
poderia se tornar uma espécie de terreno comum, onde a consciência crente encontra a 
consciência laica e com ela se confunde. A ela dará, com generosidade e transparência, aquela 
sabedoria que recebeu do Alto.

Assim, essa nova cultura passaria a ser verdadeiro terreno de nova evangelização, onde poderia 
nascer um novo modelo de homem e poderiam florescer também nova santidade e novas 
vocações para a Europa do ano dois mil. De fato, a penúria das vocações específicas — as 
vocações no plural — é sobretudo ausência de cultura da vocação.

Provavelmente, hoje essa cultura se torna o primeiro objetivo da pastoral vocacional, (20) ou 
talvez, da pastoral em geral. Realmente, que tipo de pastoral é aquela que não cultiva a 
liberdade de sentir­se chamados por Deus, nem faz nascer novidade de vida?

c) Pastoral das vocações: o « salto de qualidade »

Há um outro elemento que liga entre si a reflexão pré­congressual e a análise congressual. É a 
conscientização de que a pastoral das vocações se encontra diante da exigência de uma 
mudança radical, de um « sobressalto idôneo », segundo o documento preparatório (21) ou de 
« um salto de qualidade », como o Papa recomendou na sua Mensagem no encerramento do 
Congresso. (22)

Mais uma vez nos vemos diante de uma convergência evidente e que deve ser entendida no seu 
autêntico significado, nesta análise da situação que estamos propondo.

Não se trata apenas de um convite a reagir a uma sensação de cansaço ou de desânimo por 
causa dos poucos resultados; nem se entende com essas palavras levar a renovar simplesmente 
certos métodos ou a recuperar energia e entusiasmo, mas em substância, se deseja indicar que 
a pastoral vocacional na Europa chegou a um desdobramento histórico, a uma passagem 
decisiva. Houve uma história, com uma pré­história e depois algumas fases que se sucederam 
lentamente, ao longo destes anos, como estações naturais, e que agora devem necessariamente 
caminhar para o estado « adulto » e maduro da pastoral vocacional.

Portanto, não se trata nem de menosprezar o sentido dessa passagem, nem de culpar alguém 
por aquilo que não teria sido feito no passado; antes, o nosso sentimento e o de toda a Igreja é 
de sincero reconhecimento para com aqueles irmãos e irmãs que, em condições de notável 
dificuldade, ajudaram generosamente muitos meninosas e jovens e procurar e encontrar a 
própria vocação. Mas, em todo caso, trata­se de compreender mais uma vez a direção que 
Deus, o Senhor da História, está imprimindo à nossa história, como também à rica história das 
vocações na Europa, que está hoje diante de uma encruzilhada decisiva.

– Se a pastoral das vocações nasceu como emergência ligada a uma situação de crise e de 
indigência vocacional, hoje não se pode mais ser pensada com a mesma precariedade e 
motivada por uma conjuntura negativa, mas — pelo contrário — aparece como expressão 
estável e coerente da maternidade da Igreja, aberta ao irrefreável plano de Deus, que nela 
sempre gera vida;

– se em certa época a promoção vocacional se referia somente ou sobretudo a algumas 
vocações, agora deveria tender sempre mais para a promoção de todas as vocações, porque na 
Igreja do Senhor, ou se cresce junto ou ninguém cresce;

– se, nos seus inícios, a pastoral vocacional cuidava de circunscrever seu campo de atuação a 
algumas categorias de pessoas (« os nossos », aqueles mais chegados aos ambientes de Igreja, 
ou aqueles que logo se mostravam interessados, os melhores e merecedores, aqueles que já 
haviam feito uma opção de fé, e assim por diante), agora cada vez mais se percebe a 
necessidade de, pelo menos em teoria, estender corajosamente a todos o anúncio e a proposta 
vocacional, em nome daquele Deus que não tem preferências pessoais, que escolhe pecadores 
num povo de pecadores, que faz de Amós, que não era filho de profetas, mas somente coletor 
de sicômoros, um profeta, que chama Levi e vai à casa de Zaqueu, e é capaz de fazer surgir até 
das pedras filhos de Abraão (cf Mt 3,9);

– se antes a atividade vocacional em boa parte nascia do medo (da extinção ou de menor valia) 
e da pretensão de manter determinados níveis de presenças ou de obras, agora o medo, que é 
sempre péssimo conselheiro, cede lugar à esperança cristã, que nasce da fé e se projeta rumo à 
novidade e ao futuro de Deus;

– se uma certa animação vocacional é, ou era, perenemente incerta e tímida, de forma a 
parecer quase em condição de inferioridade em relação a uma cultura antivocacional, hoje só 
faz verdadeira promoção vocacional quem é animado pela certeza de que em toda pessoa, sem 
exclusão de ninguém, existe um dom de Deus que espera ser descoberto;

– se, no passado, o objetivo parecia ser o recrutamento, e a propaganda o método, muitas vezes 
com resultados forçados sobre a liberdade do indivíduo, ou com episódios de « concorrência », 
agora deve ficar sempre mais claro que o escopo é o serviço a prestar à pessoa, para que saiba 
discernir o projeto de Deus na sua vida para a edificação da Igreja, e nele reconheça e realize a 
sua própria verdade; (23)

– se, numa época não muito distante, havia quem se iludia de resolver a crise vocacional com 
escolhas discutíveis, por exemplo « importando vocações » de outros lugares (muitas vezes 
desenraizando­as do seu ambiente), hoje ninguém deve se iludir de resolver assim a crise 
vocacional, porque o Senhor continua a chamar em toda Igreja e em todo lugar;

– e assim, na mesma linha, o « cireneu vocacional », cheio de boa vontade e muitas vezes 
solitário improvisador, deveria sempre mais passar de uma animação feita de iniciativas 
episódicas a uma educação vocacional que se inspire na sabedoria de um método comprovado  
de acompanhamento, para poder dar uma ajuda apropriada a quem está em busca;

– conseqüentemente, o mesmo animador vocacional deveria se tornar sempre mais educador  
para a fé e formador de vocações, e a animação vocacional se tornar sempre mais ação coral, 
(24) de toda a comunidade, religiosa ou paroquial, de todo o instituto ou de toda a diocese, de 
cada presbítero ou consagradoa ou crente, e para todas as vocações em cada fase da vida;

– por fim, é hora de passar decididamente da « patologia do cansaço » (25) e do conformismo, 
que se justifica atribuindo à actual geração juvenil a causa única da crise vocacional, à 
coragem de fazer os questionamentos certos, para entender os eventuais erros e falhas, para 
chegar a um novo impulso criativo, fervente de testemunho.

d) Pequeno rebanho e grande missão (26)
Será a coerência com que se vai adiante nessa linha que irá ajudar sempre mais a descobrir a 
dignidade da pastoral vocacional e a sua natural posição de centralidade e síntese no âmbito 
pastoral.

Aqui também vimos de experiências e concepções que correram o risco de, no passado, 
marginalizar de certa forma a mesma pastoral das vocações, considerando­a como menos 
importante. Às vezes ela apresenta uma fisionomia não vitoriosa da Igreja atual, ou é 
considerada como um setor da pastoral menos fundado teologicamente em relação a outros, 
produto recente de uma situação crítica e contingente.

Talvez a pastoral vocacional esteja ainda vivendo numa situação de inferioridade, que de um 
lado pode prejudicar a sua imagem e, indiretamente, a eficácia da sua ação, mas por outro pode 
também se tornar um contexto favorável para identificar e experimentar, com criatividade e 
liberdade — inclusive liberdade de errar — novos caminhos pastorais.

Sobretudo, tal situação pode recordar aquela outra « inferioridade » ou pobreza de que falava 
Jesus, ao observar as multidões que o seguiam: « A messe é grande, mas os operários são 
poucos » (Mt 9,37). Diante da messe do reino de Deus, diante da messe da nova Europa e da 
nova evangelização, os « operários » são e sempre serão poucos, « pequeno rebanho e grande 
missão », para que se evidencie melhor que a vocação é iniciativa de Deus, dom do Pai, Filho e 
Espírito Santo.

SEGUNDA PARTE

TEOLOGIA DA VOCAÇÃO

« Há diversidades de dons, mas um só Espírito ... » (1 Cor 12,4)

O escopo fundamental desta parte teológica é fazer perceber o sentido da vida humana em  
relação a Deus, comunhão trinitária. O mistério do Pai, do Filho e do Espírito Santo  
fundamenta a existência plena do homem, como chamado ao amor no dom de si e na  
santidade; como dom na Igreja, para o mundo. Toda antropologia desligada de Deus é  
ilusória.

Trata­se agora de captar os elementos estruturais da vocação cristã, a sua arquitetura essencial 
que, evidentemente, não pode deixar de ser teológica. Essa realidade, que já foi objeto de 
muitas análises também do Magistério, é rica de uma tradição espiritual, bíblico­teológica, que 
não só formou gerações de chamados, mas também uma espiritualidade do chamado.

A busca de sentido para a vida

14. Na escola da Palavra de Deus, a comunidade cristã acolhe a resposta mais alta à busca de 
sentido que, mais ou menos claramente, surge no coração do homem. É uma resposta que não 
vem da razão humana, embora sempre dramaticamente provocada pelo problema do existir e 
do seu destino, mas vem de Deus. É Ele mesmo que entrega ao homem a chave de leitura, para 
esclarecer e resolver os grandes questionamentos que fazem do homem um sujeito 
interrogador: « Por que estamos no mundo? O que é a vida? Qual é o ponto de chegada, além 
do mistério da morte? ».

Porém não se deve esquecer que, na cultura da distração em que se acham mergulhados 
sobretudo os jovens deste tempo, as perguntas fundamentais correm o risco de serem sufocadas 
ou removidas. Hoje, o sentido da vida, mais do que procurado, é imposto: ou por aquilo que se 
vive no imediato ou por aquilo que gratifica as necessidades; satisfeitos esses, a consciência se 
torna sempre mais obtusa e os questionamentos mais verdadeiros ficam frustrados.(27)

Por isso, é dever da teologia pastoral e do acompanhamento espiritual ajudar os jovens a 
interrogar a vida, para chegarem a formular, no diálogo decisivo com Deus, a mesma pergunta 
de Maria de Nazaré: « Como é possível? » (Lc 1,34).

O ícone trinitário

15. Na escuta da Palavra, descobrimos — estupefatos — que a categoria bíblico­teológica mais 
compreensível e mais adequada para exprimir o mistério da vida, à luz de Cristo, é a da « 
vocação ». (28) « Cristo, que é o novo Adão, justamente ao revelar o mistério do Pai e do seu 
Amor, revela também plenamente o homem ao homem, e lhe faz conhecer a sua altíssima 
vocação ». (29)

Por isso, a figura bíblica da comunidade de Corinto apresenta os dons do Espírito, na Igreja, 
subordinados ao reconhecimento de Jesus como o Senhor. Realmente a cristologia é 
fundamento de toda antropologia e eclesiologia. Cristo é o projeto do homem. Só depois que o 
crente, « sob a ação do Espírito Santo » (1 Cor 12,4­6), reconheceu que Jesus é o Senhor, pode 
aceitar o estatuto da nova comunidade dos crentes: « Os carismas são diferentes, mas um só 
Espírito; ha diversidade de ministérios, mas um só é o Senhor. Há diversidade de operações, 
mas um só é Deus que realiza tudo em todos » (1 Cor 12,4­6).

A imagem paulina coloca em clara evidência três aspectos fundamentais dos dons vocacionais 
na Igreja, estreitamente conexos com a sua origem do seio da comunhão trinitária, e com 
referência específica a cada uma das Pessoas.

À luz do Espírito, os dons são expressão da sua infinita gratuidade. Ele mesmo é carisma 
(Atos 2,38), fonte de todo dom, e expressão da irreprimível criatividade divina.

À luz de Cristo, os dons vocacionais são « ministérios », exprimem a multiforme diversidade 
do serviço que o Filho viveu, até o fim da sua vida. De fato, Ele « Não veio para ser servido, 
mas para servir e dar a sua vida... » (Mt 20,28). Portanto, Jesus é o modelo de todo ministério.

À luz do Pai, os dons são « operações », porque dele, fonte da vida, todo ser desprende o 
próprio dinamismo criatural.

Por isso, a Igreja reflete, como ícone, o mistério de Deus Pai, de Deus Filho e de Deus Espírito 
Santo; e toda vocação traz em si os traços característicos das três Pessoas da comunhão 
trinitária. As Pessoas divinas são fonte e modelo de todo chamado. Aliás, em si mesma, a 
Trindade é um misterioso entrelaçado de chamados e respostas. Somente ali, dentro daquele 
diálogo ininterrupto, cada vivente descobre não apenas as suas raízes, mas também o seu 
destino e o seu futuro, o que é chamado a ser e a se tornar, na verdade e na liberdade, na 
concretude da sua história.

De fato, no estatuto eclesiológico da 1 Coríntios, os dons têm uma destinação histórica e 
concreta: « A cada um é dada uma manifestação particular do Espírito, para a utilidade de 
todos » (1 Cor 12,7). Há um bem superior que está regularmente acima do dom pessoal: 
construir na unidade o Corpo de Cristo; tornar epifânica a sua presença na História, « para que 
o mundo creia » (Jo 17,21).

Portanto, por um lado a comunidade eclesial está aferrada ao mistério de Deus, de que é ícone 
visível; e por outro, é totalmente envolvida com a história do homem no mundo, em estado de 
êxodo, rumo « aos novos céus ».

A Igreja, e nela, toda vocação, exprimem um dinamismo idêntico: ser chamados para uma 
missão.

O Pai chama para a vida

16. A existência de cada um é fruto do amor criativo do Pai, do seu desejo eficaz, da sua 
palavra geradora.

O ato criador do Pai tem a dinâmica de um apelo, de um chamado para a vida. O homem vem 
à vida porque amado, pensado e querido por uma Vontade boa que o preferiu à não existência, 
que o amou antes mesmo que fosse, que o conheceu antes de formá­lo no seio materno, que o 
consagrou antes que fosse dado à luz (cf Jr 1,5; Is 49,1.5; Gl 1,15).

Então, é a vocação que na raiz explica o mistério da vida do homem, e ela mesma é um 
mistério de predilecção e de absoluta gratuidade.

a) « ... à sua imagem »

No « chamado criativo », o homem aparece logo com toda a sua carga de dignidade, como 
sujeito chamado à relação com Deus, a estar diante dele, com os outros, no mundo, com uma 
face que reflete os mesmos traços divinos: « Façamos o homem à nossa imagem e semelhança 
» (Gn 1,26). Essa tríplice relação pertence ao projeto original, porque nele — em Cristo — o 
Pai nos escolheu antes da criação do mundo, para sermos santos e imaculados diante dele, na 
caridade » (Ef 1,4).

Reconhecer o Pai significa que nós existimos à sua maneira, tendo­nos criado à sua imagem 
(Sab 2,23). Nisso, portanto, está contida a vocação fundamental do homem: a vocação à vida e 
a uma vida imediatamente concebida à semelhança da vida divina. Se o Pai é o eterno 
manancial, a total gratuidade, a fonte perene da existência e do amor, na medida pequena e 
limitada do seu existir, o homem é chamado a ser como Ele; portanto, a « dar a vida », a 
assumir o peso da vida de um outro.

Então, o ato criador do Pai é que provoca a conscientização de que a vida é uma entrega à 
liberdade do homem, chamado a dar uma resposta personalíssima e original, responsável e 
repleta de gratidão.

b) O amor, sentido pleno da vida

Nessa perspectiva do chamado à vida, uma coisa deve ser excluída: que o homem possa 
considerar a existência como uma coisa óbvia, natural, casual.

Talvez não seja fácil, na cultura hodierna, alguém sentir­se extasiado diante do dom da vida. 
(30)

Enquanto é fácil perceber o sentido de uma vida doada, que redunda em benefício dos outros, é 
preciso ao invés, uma consciência mais amadurecida, alguma formação espiritual, para 
perceber que a vida de cada um, em todo caso e antes de qualquer escolha, é amor recebido, e 
que em tal amor já está escondido um conseqüente projeto vocacional.

O simples fato de estarmos no mundo deveria, antes de tudo, encher a todos de maravilha e de 
gratidão imensa para com Aquele que, de forma totalmente gratuita, pronunciando o nosso 
nome, nos tirou do nada.

E então, a percepção de que a vida é um dom, não deveria suscitar apenas uma atitude 
reconhecida, mas lentamente deveria sugerir a primeira grande resposta à pergunta 
fundamental de sentido: a vida é a obra de arte do amor criativo de Deus e, em si mesma, é  
um chamado a amar. Dom recebido que, por sua natureza, tende a se tornar bem doado.

c) O amor, vocação de todo homem

O amor é o sentido pleno da vida. Deus amou tanto o homem a ponto de dar­lhe a sua própria 
vida e torná­lo capaz de viver e de querer bem, à maneira divina. Nesse excesso de amor, o 
amor dos inícios, o homem encontra a sua vocação radical, que é « vocação santa » (2 Tm 1,9), 
e descobre a própria inconfundível identidade, que o torna logo semelhante a Deus, « a 
imagem do Santo » que o chamou (1 Pd 1,15). João Paulo II comenta: « Criando­o à sua 
imagem e conservando­o continuamente no ser, Deus inscreve na humanidade do homem e da 
mulher a vocação e, por isso, a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão. 
Portanto, o amor é a vocação fundamental e nativa de todo ser humano». (31)

d) O Pai educador

Graças àquele amor que o criou, ninguém pode se sentir «supérfluo», já que é chamado a 
responder a um projeto que Deus fez sob medida para ele.

Então, o homem será feliz e plenamente realizado, estando no seu lugar, acolhendo a proposta 
educativa divina, com todo o temor e tremor que semelhante pretensão suscita num coração de 
carne. Deus criador que dá a vida é também o Pai que « educa » , tira do nada aquilo que ainda 
não é, para fazê­lo ser; tira do coração do homem o que Ele colocou ali dentro, para que seja 
plenamente ele mesmo e aquilo que Ele o chamou a ser, à Sua maneira.

Daqui a nostalgia de infinito que Deus colocou no mundo interior de cada um. Como um 
timbre divino.

e) O chamado do Batismo

Essa vocação à vida e à vida divina é celebrada no Batismo. Nesse sacramento, o Pai se inclina 
com terna solicitude sobre a criatura, filho ou filha do amor de um homem e de uma mulher, 
para abençoar o fruto desse amor e torná­lo plenamente seu filho. A partir daquele momento, a 
criatura é chamada à santidade dos filhos de Deus. Nada e ninguém jamais poderá cancelar 
essa vocação.

Com a graça do Batismo, Deus Pai intervém para manifestar que Ele, e somente Ele é autor do 
plano de salvação, dentro do qual cada ser humano encontra o seu papel pessoal. O seu ato é 
sempre prévio, anterior, não espera pela iniciativa do homem, não depende de seus méritos, 
nem se configura a partir das suas capacidades ou disposições. É o Pai que conhece, designa, 
dá um impulso, coloca um timbre, chama « antes mesmo da criação do mundo » (Ef 1,4). E 
depois dá força, caminha lado a lado, sustenta o esforço, é Pai e Mãe para sempre...

A vida cristã adquire assim o significado de uma experiência responsorial: torna­se resposta 
responsável em fazer crescer um relacionamento filial com o Pai, e um relacionamento 
fraterno na grande família dos filhos de Deus. O cristão é chamado a facilitar, através do amor, 
aquele processo de semelhança com o Pai que se chama vida teologal.

Portanto, a fidelidade ao Baptismo impele a fazer à vida, e a si mesmos, perguntas sempre 
mais precisas; sobretudo para dispor­se a viver a existência não somente com base em atitudes 
humanas, que também são dons de Deus, mas com base na Sua vontade; não segundo 
perspectivas mundanas, quase sempre de pequena cabotagem, mas segundo os desejos e 
projectos de Deus.

A fidelidade ao Baptismo significa então olhar para cima, como filhos, para discernir a Sua 
vontade sobre a própria vida e o próprio futuro.

O Filho chama ao seguimento

17. « Senhor, mostra­nos o Pai e isso nos basta » (Jo 14,8).

É o pedido de Filipe a Jesus, na vigília da paixão. É a angustiante saudade de Deus, presente 
no coração de todo homem: conhecer as próprias raízes, conhecer a Deus. O homem não é 
infinito, está mergulhado na finitude; mas o seu desejo gravita ao redor do infinito.

E a resposta de Jesus surpreende os discípulos: « Há tanto tempo estou no meio de vós, e tu 
ainda não me conheces, Filipe? Quem me viu, viu o Pai » (Jo 14,9).

a) Mandado pelo Pai para chamar o homem

O Pai nos criou no Filho « que é irradiação da sua glória e marca da sua substância » (Hb 1,3), 
predestinando­nos a ser conformes à Sua imagem (cf Rm 8,29). O Verbo é imagem perfeita do 
Pai. É Aquele em quem o Pai se tornou visível, o Logos por meio do qual « falou a nós » (Hb  
1,2). Todo o seu ser é de « ser enviado », para tornar Deus, enquanto Pai, próximo dos homens, 
para desvelar a Sua Face e o Seu Nome aos homens (Jo 17,6).

Se o homem é chamado a ser filho de Deus, conseqüentemente ninguém melhor do que o 
Verbo Encarnado pode « falar » de Deus ao homem, e fazer ver a imagem perfeita de Filho. 
Por isso, o Filho de Deus, vindo a esta terra, chamou a segui­lo, a ser como Ele, a compartilhar 
a sua vida, a sua Palavra, a sua páscoa de morte e ressurreição; até mesmo os seus sentimentos.

O Filho, o enviado de Deus, se fez homem para chamar o homem: O enviado do Pai é o 
chamador dos homens.

Por isso não existe um trecho do evangelho, um encontro, ou um diálogo que não tenha um 
significado vocacional, que não exprima, direta ou indiretamente, um chamado por parte de 
Jesus. É como se seus encontros humanos, provocados pelas mais diversas circunstâncias, 
fossem para ele uma ocasião para, de qualquer modo, colocar a pessoa diante da pergunta 
estratégica: « O que fazer da minha vida?, « Qual é a minha estrada? ».

b) O maior amor: dar a vida

Para que Jesus chama? Para segui­Lo e agir como ele. Mais particularmente, para viver a sua 
mesma relação com o Pai e com os homens: para acolher a vida como dom das mãos do Pai, 
para « perder » e derramar esse dom sobre aqueles que o Pai lhe confiou. (32)

Existe na identidade de Jesus um traço unificador que constitui o sentido pleno do amor: a 
missão. Essa exprime a oblatividade, que sobre a cruz atinge a sua suprema epifania: « 
Ninguém tem maior amor do que este: dar a vida pelos próprios amigos » (Jo 15,13).

Portanto, cada discípulo é chamado a repetir e reviver os sentimentos do Filho, que encontram 
uma síntese no amor, motivação decisiva de todo chamado. Mas, acima de tudo, cada discípulo 
é chamado a tornar visível a missão de Jesus, é chamado para a missão: « Como o Pai me 
enviou, assim também eu vos envio » (Jo 20,21). A estrutura de toda vocação, ou melhor, a sua 
maturidade consiste em continuar Jesus no mundo e, como ele, fazer da vida um dom. O 
envio­missão é a entrega da tarde da Páscoa (Jo 20,21), e é a última palavra antes de subir para 
o Pai (Mt 28,16­20).

c) Jesus, o formador

Todo chamado é um sinal de Jesus: de certa maneira o seu coração e as suas mãos continuam a 
abraçar as crianças, a curar os doentes, a reconciliar os pecadores e a deixar­se pregar na cruz 
por amor de todos. Ser para os outros, com o coração de Cristo, é a fisionomia madura de toda 
vocação. Por isso, o Senhor Jesus é o formador daqueles que chama, o único que pode plasmar 
neles seus mesmos sentimentos.

Todo discípulo, respondendo ao seu chamado e deixando­se formar por ele, exprime os traços 
mais verdadeiros da própria escolha. Por isso, « o reconhecimento dele como o Senhor da vida 
e da História comporta o auto­reconhecimento do discípulo [...]. O ato de fé necessariamente 
conjuga o reconhecimento cristológico com o auto­reconhecimento antropológico ». (33)

Daqui a pedagogia da experiência vocacional cristã, evocada pela Palavra de Deus: « Jesus 
constituiu doze para que ficassem com ele e também para mandá­los pregar » (Mc 3,14). Para 
ser vivida em plenitude, na dimensão do dom e da missão, a vida cristã precisa de motivações 
fortes e, sobretudo, de comunhão profunda com o Senhor: na escuta, no diálogo, na oração, na 
interiorização dos sentimentos, em deixar­se formar todos os dias por ele e, sobretudo, no 
desejo ardente de comunicar ao mundo a vida do Pai.

d) A Eucaristia: a entrega para a missão

Em todas as catequeses da comunidade cristã das origens é clara a centralidade do mistério 
pascal: anunciar Cristo, morto e ressuscitado. No mistério do pão partido e do sangue 
derramado pela vida do mundo, a comunidade crente contempla a epifania suprema do amor, a 
vida doada do Filho de Deus.

Por isso, na celebração da Eucaristia, « cume e fonte » (34) da vida cristã, é celebrada a 
máxima revelação da missão de Jesus Cristo no mundo; mas ao mesmo tempo se celebra 
também a identidade da comunidade eclesial convocada para ser enviada, chamada para a 
missão.

Na comunidade que celebra o mistério pascal, todo cristão toma parte e entra no estilo do dom 
de Jesus tornando­se como ele pão repartido para a oferta ao Pai e para a vida do mundo.

Assim a Eucaristia se torna fonte de toda vocação cristã; nela todo crente é chamado a 
conformar­se ao Cristo Ressuscitado, totalmente oferecido e doado. Torna­se ícone de toda 
resposta vocacional; como em Jesus, em toda vida e em toda vocação, existe uma difícil 
fidelidade a ser vivida até a medida da cruz.

Aquele que toma parte nela acolhe o convite­chamado de Jesus a « fazer memória » dele, no 
sacramento e na vida, a viver « recordando » na verdade e na liberdade das escolhas 
quotidianas, o memorial da cruz, a preencher a existência de gratidão e de gratuidade, a 
repartir o próprio corpo e a derramar o próprio sangue. Como o Filho.

Por fim, a Eucaristia gera o testemunho, prepara para a missão: « Ide em paz ». Do encontro 
com Cristo no sinal do Pão, se passa ao encontro com Cristo no sinal de cada homem. O 
compromisso do crente não se esgota na entrada, mas na saída do templo. A resposta ao 
chamado encontra a história da missão. A fidelidade à própria vocação é haurida nas fontes da 
Eucaristia e se mede na Eucaristia da vida.

O Espírito chama para o testemunho

18. Todo crente, iluminado pela inteligência da fé, é chamado a conhecer e reconhecer Jesus 
como o Senhor; e nele a reconhecer a si mesmo. Mas isso não é fruto apenas de um desejo 
humano ou da boa vontade do homem. Mesmo depois de terem vivido a experiência 
prolongada com o Senhor, os discípulos têm sempre necessidade de Deus. Na vigília da 
paixão, eles experimentam um certo turbamento (Jo 14,1), têm medo da solidão; e Jesus os 
encoraja com uma promessa inaudita: « Não vos deixarei órfãos » (Jo 14,18). Os primeiros 
chamados do evangelho não ficarão sozinhos: Jesus lhes garante a vigilante companhia do 
Espírito.

a) Consolador e amigo, guia e memória

« Ele é o Consolador », o Espírito de bondade que o Pai mandará em nome do Filho, dom do 
Senhor Ressuscitado », (35) « para que permaneça sempre convosco » (Jo 14,16).

Assim o Espírito se torna o amigo de cada discípulo, o guia de olhar zeloso sobre Jesus e sobre 
os chamados, para fazer deles testemunhas contracorrente do evento mais perturbador do 
mundo: o Cristo morto e ressuscitado. De fato, ele é « memória » de Jesus e da sua Palavra: « 
Ele vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar tudo aquilo que eu vos disse » (Jo 14,26); 
mais ainda, « há de levar­vos à verdade completa » (Jo 16,13).

A permanente novidade do Espírito consiste em guiar na direção de uma inteligência 
progressiva e profunda da verdade, daquela verdade que não é noção abstrata, mas o projeto de 
Deus na vida de cada discípulo. É a transformação da Palavra em vida e da vida segundo a 
Palavra.

b) Animador e acompanhador vocacional

Dessa forma o Espírito se torna o grande animador de toda vocação, Aquele que acompanha o  
caminho para que chegue à meta, o iconógrafo interior que plasma com fantasia a face de cada 
um, segundo Jesus.

A sua presença é permanente ao lado de todo homem e mulher, para conduzir todos ao 
discernimento da própria identidade de crentes e de chamados, para plasmar e modelar tal 
identidade exatamente segundo o modelo do amor divino. Como artesão paciente das nossas 
almas e « consolador perfeito », o Espírito santificador procura reproduzir em cada um esse « 
molde divino ».

Mas, acima de tudo, o Espírito habilita os chamados para o « testemunho ». « Ele dará 
testemunho de mim e vós também me dareis testemunho » (Jo 15,26­27). Esse modo de ser de 
cada chamado constitui a palavra convincente, o conteúdo mesmo da missão. O testemunho 
não consiste apenas em sugerir as palavras do anúncio, como no evangelho de Mateus (Mt  
10,20), mas sim em guardar Jesus no coração e em anunciá­lo como vida do mundo.

c) A santidade, vocação de todos

E então a pergunta a respeito do salto de qualidade a ser dado hoje à pastoral vocacional se 
torna um questionamento que, sem dúvida, empenha na escuta do Espírito: porque ele é o 
anunciador das « coisas futuras » (Jo 16,13), é ele que dá uma nova inteligência espiritual para 
entender a história e a vida a partir da Páscoa do Senhor, em cuja vitória está o futuro de cada 
homem.

Assim é legítimo perguntar: onde está o chamado do Espírito Santo para estes anos que 
estamos vivendo? Onde é que devemos corrigir os caminhos da pastoral vocacional?

Mas a resposta só virá se acolhermos o grande apelo à conversão, dirigido à comunidade 
eclesial e, nela, a cada um, como um verdadeiro itinerário de ascética e de renascimento 
interior, para que cada um recupere a fidelidade à própria vocação.

Existe um primado da vida no Espírito, que está na base de toda pastoral vocacional. Isso 
requer a superação de um difuso pragmatismo e daquele exteriorismo estéril que leva a 
esquecer a vida teologal da fé, da esperança e da caridade. A escuta profunda do Espírito é o 
novo respiro de toda ação pastoral da comunidade eclesial.

O primado da vida espiritual é a premissa para responder àquela nostalgia de santidade que, 
como já recordamos, perpassa também este tempo da Igreja na Europa. A santidade é a 
vocação universal de todo homem, (36) é a via mestra em que convergem os muitos caminhos 
das vocações particulares. Portanto o grande encontro marcado do Espírito para esta curva da 
história pós­conciliar é a santidade dos chamados.

d) As vocações a serviço da vocação da Igreja

Mas, tender eficazmente em direção a essa meta significa aderir à ação misteriosa do Espírito 
em algumas direções bem determinadas, que preparam e constituem o segredo de uma 
verdadeira vitalidade da Igreja dos anos 2.000.

Ao Espírito Santo condiz, antes de tudo, o eterno protagonismo da comunhão que se reflete no 
ícone da comunidade eclesial, visível através da pluralidade dos dons e dos ministérios. (37) É 
precisamente no Espírito que cada cristão descobre a sua absoluta originalidade, a unicidade 
do seu chamado e, ao mesmo tempo, a sua natural e indelével tendência à unidade. É no 
Espírito que as vocações na Igreja são tantas e, juntas, são uma mesma única vocação à 
unidade do amor e do testemunho. É ainda a ação do Espírito que torna possível a pluralidade 
das vocações na unidade da estrutura eclesial: as vocações na Igreja são necessárias na sua  
variedade para realizar a vocação da Igreja; e, por sua vez, a vocação da Igreja é tornar  
possíveis e factíveis as vocações da e na Igreja. Todas as vocações, portanto, propendem para o 
testemunho do ágape, para o anúncio de Cristo, único salvador do mundo.

É justamente essa a originalidade da vocação cristã: fazer coincidir a realização da pessoa com 
a realização da comunidade; mais uma vez, isso quer dizer fazer prevalecer a lógica do amor 
sobre a dos interesses pessoais, a lógica da partilha sobre a da apropriação narcisista dos 
talentos (cf 1 Cor 12­14).

Portanto, a santidade se torna a verdadeira epifania do Espírito Santo na História. Se cada 
Pessoa da Comunhão Trinitária tem a sua fisionomia, e se é verdade que as fisionomias do Pai 
e do Filho são bastante familiares, porque, fazendo­se homem como nós, Jesus revelou a face 
do Pai os santos se tornam o ícone mais eloqüente do mistério do Espírito. Assim também, na 
própria vocação particular e no chamado universal à santidade, todo crente fiel ao evangelho 
esconde e revela a fisionomia do Espírito Santo.

e) O « sim » ao Espírito na Crisma

O sacramento da Crisma é o momento que exprime de maneira mais evidente e consciente o 
dom e o encontro com o Espírito Santo.

Perante Deus e o seu gesto de amor (« Recebe a marca do Espírito Santo que te é dado como 
dom » (38), mas também diante da própria consciência e da comunidade cristã, o crismando 
responde « amém ». Em nível formativo e catequístico é importante recuperar o sentido forte 
desse « amém ». (39)

Antes de tudo ele quer significar o « sim » ao Espírito Santo e, com ele, a Jesus. Eis por que a 
celebração do sacramento da Crisma prevê a renovação das promessas batismais, e pede ao 
crismando o compromisso de renunciar ao pecado e às obras do maligno, sempre de 
emboscada para desfigurar a imagem cristã; e sobretudo o compromisso de viver o evangelho 
de Jesus, especialmente o grande preceito do amor. Trata­se de confirmar e renovar a 
fidelidade vocacional à própria identidade de filhos de Deus.

O « amém » é também um « sim » à Igreja. Na Crisma o jovem declara assumir a missão de 
Jesus continuada pela comunidade. Empenhando­se em duas direções, para dar concretude ao 
seu « amém »: o testemunho e a missão. O crismado sabe que a fé é um talento que é preciso 
multiplicar; é uma mensagem a ser transmitida aos outros com a vida, com o testemunho 
coerente de todo o seu ser; e com a palavra, com a coragem missionária de difundir a boa 
nova.

E, por fim, o « amém » exprime a docilidade ao Espírito Santo e o pensar e decidir o futuro 
segundo o projeto de Deus. Não apenas segundo as próprias aspirações e capacidades; não 
apenas nos espaços que o mundo coloca à disposição; mas sobretudo em sintonia com o 
projeto, sempre inédito e imprevisível, que Deus tem para cada um.

Da Trindade à Igreja no mundo

19. Toda vocação cristã é « particular » porque interpela a liberdade de cada homem e gera 
uma resposta personalíssima numa história original e irrepetível. Por isso, na própria 
experiência vocacional cada pessoa encontra uma vivência que não pode ser reduzida a 
esquemas gerais; a história de cada homem é uma pequena história, mas sempre parte — 
inconfundível e única — de uma grande história. Na relação entre essas duas histórias, entre o 
seu pequeno projeto? e aquele grande que lhe pertence e que o supera, o ser humano joga a sua 
liberdade.

a) Na Igreja e no mundo, para a Igreja e para o mundo

Toda vocação nasce num lugar determinado, num contexto concreto e limitado, mas não se 
volta para si mesma, não tende para a própria perfeição ou auto­realização psicológica ou 
espiritual do chamado, mas floresce na Igreja, naquela Igreja que caminha no mundo, rumo ao 
mundo completo, rumo à realização de uma história que é grande porque é de salvação. A 
mesma comunidade eclesial tem uma estrutura profundamente vocacional: ela é chamada para 
a missão; é sinal de Cristo, missionário do Pai. Como diz a Lumen Gentium: « é em Cristo 
como um sacramento, isto é, sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de 
todo o gênero humano ». (40)

Por um lado, a Igreja é sinal que reflete o mistério de Deus; é ícone que evoca a comunhão 
trinitária no sinal da comunidade visível, e ao mistério de Cristo no dinamismo da missão 
universal. Por outro lado, a Igreja está imersa no tempo dos homens, vive na história em 
condição de êxodo, está em missão a serviço do Reino para transformar a humanidade na 
comunidade dos filhos de Deus.

Portanto, a atenção à história pede à comunidade cristã que se coloque à escuta das 
expectativas dos homens, que leia aqueles sinais dos tempos que constituem código e 
linguagem do Espírito Santo, que entre em diálogo crítico e fecundo com o mundo 
contemporâneo, acolhendo com benevolência tradições e culturas, para revelar nelas o projeto 
do Reino, e lançar aí o fermento do evangelho.

Assim a pequena grande história de toda vocação se entrelaça com a história da Igreja no 
mundo. Como nasceu na Igreja e no mundo, assim todo chamado está a serviço da Igreja e do 
mundo.

b) A Igreja, comunidade e comunhão de vocações

Na Igreja, comunidade de dons para a única missão, se realiza para o crente inserido em Cristo 
através do Batismo, aquela passagem da condição em que se encontra à sua vocação « 
particular », como resposta ao dom específico do Espírito. Em tal comunidade toda vocação é 
« particular », e se especifica num projeto de vida; não existem vocações genéricas.

E na sua particularidade, toda vocação é a um tempo « necessária » e « relativa ». « Necessária 
» porque Cristo vive e se torna visível no seu corpo que é a Igreja e no discípulo que é parte 
essencial dela.

« Relativa », porque nenhuma vocação exaure o sinal testemunhal do mistério de Cristo, mas 
exprime apenas um aspecto dele. Somente o conjunto dos dons torna epifânico o inteiro corpo 
do Senhor. No edifício cada pedra precisa da outra (1 Pd 2,5); no corpo, cada membro precisa 
do outro para fazer crescer o organismo inteiro e cooperar para a utilidade comum (1 Cor 
12,7).

Isso exige que a vida de cada um seja projetada a partir de Deus que é a única fonte e provê 
tudo para o bem do todo; exige que a vida seja redescoberta como verdadeiramente 
significativa somente quando se abre ao seguimento de Jesus.

Mas, é também importante que exista uma comunidade eclesial que ajude de fato cada 
chamado a descobrir a própria vocação. O clima de fé, de oração, de comunhão no amor, de 
maturidade espiritual, de coragem do anúncio, de intensidade da vida sacramental faz da 
comunidade crente um terreno adequado não apenas ao desabrochar de vocações particulares, 
mas à criação de uma cultura vocacional e de uma disponibilidade nos indivíduos a receber seu 
chamado pessoal. Quando um jovem percebe o chamado e decide no seu coração a santa 
viagem para realizá­la, ali, normalmente, existe uma comunidade que criou as premissas para 
essa disponibilidade obediencial. (41)

Ou seja: a fidelidade vocacional de uma comunidade crente é a primeira e fundamental 
condição para o florescimento da vocação dos indivíduos crentes, especialmente os mais 
jovens.
c) Sinal, ministério, missão

Portanto, como forma estável e definitiva de vida, toda vocação se abre numa tríplice 
dimensão: em relação a Cristo, todo chamado é « sinal; em relação à Igreja, é « ministério »; 
em relação ao mundo é « missão » e testemunho do Reino.

Se a Igreja está « em Cristo como um sacramento », toda vocação revela a dinâmica profunda 
da comunhão trinitária, a ação do Pai, do Filho e do Espírito, como evento que faz ser em  
Cristo criaturas novas e modeladas sobre ele.

Então, toda vocação é sinal, é um modo especial de revelar a face do Senhor Jesus. « O amor 
de Cristo nos impele » (2 Cor 5,14). Assim, Jesus se torna movente e modelo decisivo de toda 
resposta aos apelos de Deus.

Em relação à Igreja, toda vocação é ministério, radicado na pura gratuidade do dom. O 
chamado de Deus é um dom para a comunidade, para a utilidade comum, no dinamismo dos 
muitos serviços ministeriais. Isso é possível em docilidade ao Espírito que faz a Igreja ser 
como «comunidade de diferentes faces », (42) e gera no coração do cristão o ágape, não só 
como ética do amor, mas também como estrutura profunda da pessoa, chamada e habilitada a 
viver em relação com os outros, na atitude do serviço, segundo a liberdade do Espírito.

Por fim, em relação ao mundo, toda vocação é missão. É vida vivida em plenitude porque 
vivida para os outros, como a de Jesus e, por isso, geradora de vida: « a vida gera a vida ». (43) 
Daqui a intrínseca participação de toda vocação ao apostolado e à missão da Igreja, germe do 
Reino. Vocação e missão constituem duas faces do mesmo prisma. Definem o dom e o con­
tributo de cada um para o projeto de Deus, à imagem e semelhança de Jesus.

d) A Igreja, mãe de vocações

A Igreja é mãe de vocações porque as faz nascer, com a força do Espírito, protege­as, nutre­as 
e sustenta. De modo especial, é mãe porque exerce uma preciosa função mediadora e  
pedagógica.

« A Igreja, chamada por Deus, constituída no mundo como comunidade de chamados, é por 
sua vez, instrumento do chamado de Deus. A Igreja é apelo vivente, por vontade do Pai, pelos 
méritos do Senhor Jesus, pela força do Espírito Santo [...]. A comunidade que toma 
consciência de ser chamada, ao mesmo tempo toma consciência de que deve chamar 
continuamente ». (44) Através e ao longo desse chamado, nas suas várias formas, flui também 
o apelo que vem de Deus.

A Igreja exerce essa função mediadora quando ajuda e estimula cada crente a tomar 
consciência do dom recebido e da responsabilidade que o dom traz consigo.

Exerce­a ainda quando se faz intérprete autorizada do apelo vocacional explícito, e ela mesma 
chama, apresentando as necessidades ligadas à sua missão e às exigências do povo de Deus, e 
convidando a responder generosamente.

Exerce­a, também, quando pede ao Pai o dom do Espirito que suscita o assentimento no 
coração dos chamados, e quando os acolhe e reconhece neles o chamado, dando explicitamente 
e entregando — com confiança e trepidação, ao mesmo tempo — uma missão concreta e 
sempre difícil entre os homens.

Por fim, poderíamos acrescentar que a Igreja manifesta a sua maternidade quando, além de 
chamar e reconhecer a idoneidade dos chamados, provê para que eles tenham uma adequada 
formação inicial e permanente, e para que sejam realmente acompanhados ao longo do 
caminho de uma resposta sempre mais fiel e radical. De certo, a maternidade eclesial não pode 
se exaurir no tempo do apelo inicial. Nem pode ser chamada de mãe a comunidade de crentes 
que simplesmente « aguarda », entregando totalmente à ação divina a responsabilidade do 
chamado, quase temerosa de fazer apelos; ou que dá como garantido que os meninos e, 
especialmente, os jovens sabem receber imediatamente o apelo vocacional; ou que não oferece 
percursos bem escolhidos para a proposta e o acolhimento da proposta.

A crise vocacional dos chamados, hoje, é também crise dos que chamam, às vezes escondidos 
e pouco corajosos. Se não há ninguém que chame, como poderia haver quem responda?

A dimensão ecumênica

20. A Europa hodierna precisa de novos santos e de novas vocações, de crentes capazes de « 
lançar pontes » para unir sempre mais as Igrejas. É um típico aspecto de novidade, este, um 
sinal dos tempos da pastoral vocacional de fim de milênio. Num Continente marcado por uma 
profunda aspiração unitária, as Igrejas devem ser as primeiras a dar o exemplo de uma 
fraternidade mais forte do que qualquer divisão, e no entanto sempre em construção e 
reconstrução. « Hoje, na Europa, a pastoral vocacional deve ter uma dimensão ecumênica. 
Todas as vocações presentes em cada Igreja da Europa, se comprometem juntas a assumir o 
grande desafio da evangelização no limiar do terceiro milênio, dando um testemunho de 
comunhão e de fé em Jesus Cristo, único salvador do mundo ». (45)

Nesse espírito de unidade eclesial devem ser promovidas e facilitadas: a partilha dos bens que 
o Espírito de Deus semeou em toda parte, e a ajuda recíproca entre as Igrejas.

As Igrejas Católicas do Oriente

21. Uma maior atenção, por parte das Igrejas da Europa ocidental, deve ser dada aos percursos 
espirituais e formativos das Igrejas Católicas Orientais; isso não pode deixar de exercer um 
benéfico influxo sobre a pastoral vocacional de todas as Igrejas.

Para as Igrejas do Oriente, a santa Liturgia tem uma importância singular no que se refere à 
formação das vocações. Ela é o lugar onde se faz a proclamação e a adoração do Mistério da 
salvação, e onde nasce a comunhão e se constrói a fraternidade entre os crentes, a ponto de se 
tornar verdadeira formadora de vida cristã, a síntese mais completa dos seus vários aspectos. 
Na liturgia, a jubilosa confissão de pertencer à tradição das Igrejas do Oriente é unida à plena 
comunhão com a Igreja de Roma.

Não é possível ser suscitadores de vocações para o sacerdócio e a vida monástica, se não se 
volta às fontes das próprias tradições originárias, em sintonia com os Santos Padres e com o 
seu profundo sentido da Igreja. Esse processo de grande amplitude requer tempo, paciência, 
respeito à sensibilidade dos fiéis, mas também determinação.

Para isso, os Bispos, os Superiores religiosos e os Agentes de pastoral das Igrejas Católicas 
Orientais da Europa, são solicitados a sentir a urgência para todas as suas Igrejas, recuperando 
e custodiando íntegro o respectivo patrimônio litúrgico, que contribui, de forma insubstituível, 
para o nascimento e o desenvolvimento da teologia e da catequese. A exemplo do método 
mistagógico dos Padres, ele abre para a experiência do chamado e da vida espiritual, e matura 
um firme e forte espírito ecumênico. (46)

Nas experiências eclesiais diversificadas, e através de estudos que apresentam o patrimônio 
histórico, teológico, jurídico e espiritual das próprias Igrejas de pertença, os jovens orientais 
podem oportunamente encontrar ambientes educativos adequados para maturar o sentido 
universal de sua dedicação a Cristo e à Igreja.

É dever dos Bispos promover, aproximar­se com simpatia e acompanhar com atenção paterna 
os jovens que, individualmente ou em grupo, desejam se dedicar à vida monástica, valorizando 
o carisma das comunidades monásticas, ricas de formadores e de guias espirituais.

O ministério ordenado e as vocações na reciprocidade da comunhão

22. « Em muitas Igrejas particulares, a pastoral vocacional ainda precisa de esclarecer a 
relação entre ministério ordenado, vocação de especial consagração, e todas as outras 
vocações. A pastoral vocacional unitária se fundamenta na vocacionalidade da Igreja e de toda 
vida humana, como chamado e resposta. Isso está na base do empenho unitário de toda a Igreja 
por todas as vocações e, em particular, pelas vocações de especial consagração ». (47)

a) O ministério ordenado

Dentro dessa sensibilidade geral, parece que hoje se deva dar uma atenção especial ao 
ministério ordenado, que representa a primeira modalidade específica de anúncio do 
evangelho. Ele representa « a garantia permanente da presença sacramental de Cristo Redentor 
nos diversos tempos e lugares », (48) e exprime justamente a dependência direta da Igreja de 
Cristo, que continua a enviar o seu Espírito para que essa não fique fechada em si mesma, no 
seu cenáculo, mas caminhe pelas estradas do mundo para anunciar a boa notícia.

Essa modalidade vocacional pode ser expressa segundo três graus: episcopal (a que está ligada 
a garantia da sucessão apostólica), presbiteral (que é a « representação sacramental de Cristo 
como pastor » (49) e diaconal (sinal sacramental de Cristo servo. (50) Aos Bispos é confiado o 
ministério do chamado em relação àqueles que aspiram às Ordens sagradas, para se tornarem 
seus cooperadores na tarefa apostólica.

O ministério ordenado faz com que, sobretudo através da celebração da Eucaristia, a Igreja 
seja « culmen et fons » (51) da vida cristã e da comunidade chamada a fazer memória do 
Ressuscitado. Todas as outras vocações nascem na Igreja e fazem parte da sua vida. Portanto, o 
ministério ordenado tem um serviço de comunhão na comunidade e, em força dele, tem o  
imprescindível dever de promover todas as vocações.

Daqui, a tradução pastoral: o ministério ordenado para todas as vocações, e todas as vocações 
para o ministério ordenado, na reciprocidade da comunhão. Por isso, o bispo, com o seu 
presbitério, é chamado a discernir e a cultivar todos os dons do Espírito. Mas, em particular, o 
cuidado com o seminário deve se tornar preocupação de toda a Igreja diocesana, para garantir 
a formação dos futuros presbíteros e a constituição de comunidades eucarísticas como plena 
expressão da experiência cristã.

b) A atenção a todas as vocações

O discernimento e o cuidado da comunidade cristã devem ser dirigidos a todas as vocações, 
tanto as que entraram a fazer parte da Igreja, quanto aos novos dons do Espírito: a consagração 
religiosa na vida monástica e na vida apostólica, a vocação laical, o carisma dos institutos 
seculares, as sociedades da vida apostólica, as vocações ao matrimônio, as várias formas 
laicais de agregação­associação coligadas aos institutos religiosos, as vocações missionárias, 
as novas formas de vida consagrada.

Esses diversos dons do Espírito estão presentes de vários modos nas Igrejas da Europa; mas 
todas essas Igrejas, em qualquer caso, são chamadas a dar testemunho de acolhimento e de 
cuidado de todas as vocações. Uma Igreja é viva, quanto mais nela é rica e variada a expressão 
das diversas vocações. E mais, num tempo como o nosso, necessitado de profecia, é coisa 
sábia promover aquelas vocações que são um sinal particular « daquilo que seremos e ainda 
não nos foi revelado » (1 Jo 3,2), como as vocações de especial consagração; mas é também 
coisa sábia favorecer o aspecto profético típico de toda vocação cristã, inclusiva a laical para 
que, diante do mundo, a Igreja seja sempre mais sinal das coisas futuras, daquele Reino que « 
já é e ainda não ».

Maria, mãe e modelo de toda vocação

23. Existe uma criatura na qual o diálogo entre a liberdade de Deus e a liberdade do homem se 
dá de modo perfeito, de forma que as duas liberdades possam interagir, realizando plenamente 
o projeto vocacional; uma criatura que nos foi dada para que nela possamos contemplar um 
projeto vocacional perfeito, aquele que deveria realizar­se em cada um de nós.
É Maria, a imagem perfeita do sonho de Deus sobre a criatura! Na verdade, ela é criatura, 
como nós, pequeno fragmento em que Deus pôde derramar a plenitude do seu amor divino; 
esperança que nos foi dada, para que, vendo­a, nós também possamos acolher a Palavra, a fim 
de que se cumpra em nós.

Maria é a mulher em que a Trindade Santíssima pode manifestar plenamente a sua liberdade  
de escolha. Como diz São Bernardo, comentando a mensagem do anjo Gabriel, na anunciação: 
« Esta não é uma Virgem encontrada no último momento, nem por acaso, mas foi escolhida 
antes dos séculos; o Altíssimo a predestinou e a preparou para si ». (52) Faz­lhe eco Santo 
Agostinho: « Antes que o Verbo nascesse da Virgem, Ele já a havia predestinado como sua 
mãe ». (53)

Maria é a imagem da escolha divina de cada criatura, escolhida que é desde a eternidade e 
soberanamente livre, misteriosa e amante. Escolha que normalmente vai muito além do que a 
criatura pode pensar de si: que requer dela o impossível e só lhe pede uma coisa, a coragem de 
se entregar.

Mas a Virgem Maria é também o modelo da liberdade humana na resposta a essa escolha. Ela 
é o sinal daquilo que Deus pode fazer quando encontra uma criatura livre para acolher a sua 
proposta. Livre para dizer o seu « sim », livre para se encaminhar para a peregrinação da fé, 
que será também a peregrinação da sua vocação de mulher chamada a ser Mãe do Salvador e 
Mãe da Igreja. Essa longa viagem se completará aos pés da cruz, através de um « sim » ainda 
mais misterioso e doloroso que a tornará plenamente mãe; e ainda mais no cenáculo, onde gera 
e ainda hoje continua a gerar, com o Espírito, a Igreja e toda vocação.

Por fim, Maria é a imagem perfeitamente realizada da Mulher, perfeita síntese da genialidade 
feminina e da fantasia do Espírito, que nela encontra e escolhe a esposa, virgem mãe de Deus e 
do homem, filha do Altíssimo e mãe de todos os viventes. Nela, toda mulher encontra a sua 
vocação de virgem, de esposa, de mãe!

TERCEIRA PARTE

PASTORAL DAS VOCAÇÕES

« ...Cada um os ouvia falar na sua própria língua » (At 2,6)

As orientações concretas da pastoral vocacional não partem somente de uma correta teologia  
da vocação, mas atravessam alguns princípios operativos, em que a perspectiva vocacional é  
a alma e o critério unificador de toda a pastoral.
Indicam­se a seguir os itinerários de fé e os lugares concretos em que a proposta vocacional  
deve se tornar empenho quotidiano de todo pastor e educador.

Na primeira parte, a análise da situação nos fez ver o quadro atual da realidade vocacional 
européia; a segunda parte nos propôs uma reflexão teológica sobre o significado e o mistério 
da vocação, a partir da realidade da Trindade, até captar o seu sentido na vida da Igreja.

É justamente esse segundo aspecto que quereríamos aprofundar agora, especialmente do ponto 
de vista da aplicação pastoral.

Na audiência concedida aos participantes do Congresso, João Paulo II afirmou: « As novas 
condições históricas e culturais exigem que a pastoral das vocações seja percebida como um  
dos objetivos primários de toda a Comunidade cristã ». (54)

O ícone da Igreja primitiva

24. As situações históricas mudam, mas continua idêntico o ponto de referência na vida do 
crente e da comunidade crente, aquele ponto de referência que é representado pela Palavra de 
Deus, especialmente onde narra as vicissitudes da Igreja das origens. Tais situações e o modo 
como a comunidade primitiva as vivia, constituem para nós o exemplum, o modelo de ser 
Igreja. Também no que concerne à pastoral vocacional. Colhamos apenas alguns elementos 
essenciais e particularmente exemplares, assim como no­los propõe o livro dos Atos dos  
Apóstolos, no momento em que a Igreja dos inícios era numericamente muito pobre e fraca.

A pastoral vocacional tem a mesma idade da Igreja; nasceu naquela ocasião, junto com ela, 
naquela pobreza repentinamente habitada pelo Espírito.

Nos albores dessa história singular, que afinal é de todos nós, está a promessa do Espírito  
Santo, feita por Jesus, antes de subir para o Pai. « Não cabe a vós conhecer os tempos e os 
momentos que o Pai reservou à sua escolha, mas recebereis a força do Espírito Santo que 
descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e a Samaria, e 
até os confins da terra » (At 1,7­8). Os Apóstolos estão reunidos no cenáculo, « assíduos e  
concordes na oração... com Maria, a mãe de Jesus » (1,14), e logo tratam de preencher o lugar 
deixado vago por Judas, com um outro escolhido entre eles que desde o início estiveram com 
Jesus: para que « junto conosco se torne testemunha da sua ressurreição ». E a promessa se 
cumpre: o Espírito desce, com efeitos fragorosos, e enche a casa e a vida daqueles que antes 
eram tímidos e medrosos, como um trovão, um vento, um fogo... « E começaram a falar em 
outras línguas..., e cada um os ouvia falar na sua própria língua » (2, 4­6). E Pedro proclama 
o discurso no qual narra a história da salvação, « de pé... e com voz forte » (2,14), um discurso 
que « transpassa o coração » de quem o ouve e provoca a pergunta decisiva da vida: « O que 
devemos fazer? » (2,37).

A esse ponto os Atos descrevem a vida da primeira comunidade, marcada por alguns 
elementos essenciais como a assiduidade na escuta do ensinamento dos Apóstolos, a união 
fraterna, a fração do pão, a oração, a partilha dos bens materiais; mas, juntamente, os afetos e 
os bens do Espírito (cf 2,42­48).

Entretanto, Pedro e os Apóstolos continuam a fazer prodígios no nome de Jesus, e a anunciar o 
querigma da salvação, sempre arriscando a vida, mas sempre sustentados pela comunidade, na 
qual os crentes são « um só coração e uma só alma » (4,32). Nela começam também a 
aumentar e a se diversificarem as exigências, e assim são constituídos os diáconos para atender 
também às necessidades materiais da comunidade, especialmente dos mais fracos (cf 6,1­7).

O testemunho, forte e corajoso, não pode deixar de provocar a rejeição das autoridades, e 
assim surge o primeiro mártir, Estêvão, para sublinhar que a causa do Evangelho exige tudo do 
homem, inclusive a vida (cf 6,8 7,70). Também dá seu assentimento à sentença que condena 
Estêvão, Paulo, o perseguidor dos cristãos, aquele que, dali a pouco, será escolhido por Deus 
para anunciar aos pagãos o mistério escondido nos séculos e agora revelado.

E a história continua, sempre mais como história sacra: história de Deus que escolhe e chama 
os homens à salvação, também de formas imprevisíveis, e história de homens que se deixam 
chamar e escolher por Deus.

Para nós podem ser suficientes essas notas para captar, na comunidade das origens, os traços 
fundamentais da pastoral de uma Igreja toda vocacional: no nível dos métodos e dos 
conteúdos, dos princípios gerais, dos itinerários a percorrer e das estratégias específicas para 
realizá­la.

Aspectos teológicos da pastoral vocacional

25. Mas, que teologia fundamenta, inspira e motiva a pastoral vocacional enquanto tal?

A resposta é importante no nosso contexto, porque serve como elemento mediador entre a 
teologia da vocação e uma práxis pastoral coerente com ela, que nasça dessa teologia e a ela 
retorne. Com efeito, sobre esse questionamento, o Congresso manifestou a exigência de uma 
reflexão ulterior, no intuito de descobrir os motivos que ligam intrinsecamente pessoas e 
comunidades à ação vocacional, e para evidenciar uma melhor relação entre teologia da 
vocação, teologia da pastoral vocacional e práxis pedagógico­pastoral.

« A pastoral das vocações nasce do mistério da Igreja e se coloca a serviço dela ». (55) Por 
isso, o fundamento teológico da pastoral das vocações « só pode brotar da leitura do mistério 
da Igreja como mysterium vocationis ». (56)

João Paulo II recorda claramente, a respeito disso, que a « dimensão vocacional é conatural e  
essencial à pastoral da Igreja », isto é, à sua vida e à sua missão. (57) Portanto, de certo modo, 
antes de definir o seu operar, a vocação define o ser profundo da Igreja. No próprio nome « 
Ecclesia », está indicada a sua fisionomia vocacional, porque ela é realmente assembléia de  
chamados. (58) Então, muito justamente o Instrumentum laboris do Congresso nota que « a 
pastoral unitária se funda na vocacionalidade da Igreja ». (59)

Por conseguinte, por sua natureza, a pastoral das vocações é uma atividade que tem por fim o 
anúncio de Cristo e a evangelização dos crentes em Cristo. Eis a resposta à nossa pergunta: 
precisamente no chamado da Igreja a comunicar a fé se radica a teologia da pastoral  
vocacional. Isso diz respeito à Igreja universal, mas se atribui de modo especial a cada 
comunidade cristã, (60) especialmente no atual momento histórico do Velho Continente. « 
Para esta sublime missão de fazer florir uma nova idade de evangelização na Europa, hoje se 
requerem evangelizadores especialmente preparados ». (61)

A propósito, convém lembrar alguns pontos firmes, indicados pelo atual magistério pontifício, 
para que se tornem pontos de partida da práxis pastoral das Igrejas particulares.

a) Uma vez evidenciada a dimensão vocacional da Igreja, compreende­se que a pastoral 
vocacional não é um elemento acessório ou secundário, com o único objetivo de recrutamento 
de agentes pastorais, nem um movimento isolado ou setorial, determinado por uma situação 
eclesial de emergência, mas uma atividade ligada ao ser da Igreja e, portanto, também 
intimamente inserida na pastoral geral de cada Igreja. (62)

b) Toda vocação cristã vem de Deus, mas chega à Igreja e passa sempre através da sua 
mediação. A Igreja (« Ecclesia »), que por constituição natural é vocação, é ao mesmo tempo 
geradora e educadora de vocações. (63) Por conseguinte, « a pastoral vocacional tem como 
sujeito activo, como protagonista, a comunidade eclesial como tal, nas suas diversas 
expressões: da Igreja universal à Igreja particular e, analogamente, desta à paróquia e a todos 
os componentes do Povo de Deus ». (64)

c) Todos os membros da Igreja, sem exclusão de nenhum, têm a graça e a responsabilidade de  
cuidar das vocações. É um dever que entra no dinamismo vital da Igreja e no processo do seu 
desenvolvimento. Somente com base nessa convicção, a pastoral vocacional poderá manifestar 
sua fisionomia verdadeiramente eclesial, e desenvolver uma ação concorde, servindo­se 
também de organismos específicos e de instrumentos adequados de comunhão e 
corresponsabilidade. (65)

d) A Igreja particular descobre a própria dimensão existencial e terrena na vocação de todos os 
seus membros à comunhão, ao testemunho, à missão, ao serviço de Deus e dos irmãos... Por 
isso, respeitará e promoverá a variedade dos carismas e dos ministérios, portanto das diversas  
vocações, todas elas manifestações do único Espírito

e) Base de toda a pastoral vocacional é a oração ordenada pelo Salvador (Mt 9,38). Ela 
empenha não apenas os indivíduos, mas também as inteiras comunidades eclesiais. (66) « 
Devemos dirigir ao Dono da messe nossa oração incessante, para que envie operários à sua 
Igreja, a fim de enfrentar as urgências da nova evangelização ». (67)

Mas, vale a pena recordar, a autêntica oração vocacional só merece esse nome e se torna 
eficaz, quando cria coerência de vida, antes de tudo no próprio orante; e se associa, no resto da 
comunidade crente, com o anúncio explícito e a catequese adequada, para facilitar, nos 
chamados ao sacerdócio e à vida consagrada, como a qualquer outra vocação cristã, aquela 
resposta livre, pronta e generosa, que torna operante a graça da vocação. (68)
Princípios gerais da pastoral vocacional

26. Em diversos lugares se percebe a necessidade de dar à pastoral um claro timbre vocacional. 
Para atingir esse objetivo programático, procuremos delinear alguns princípios teórico­práticos 
que deduzimos da teologia da pastoral e, em particular, dos « pontos firmes » a ela coligados. 
Concentremos esses princípios em torno de algumas afirmações temáticas.

a) A pastoral vocacional é a perspectiva originária da pastoral geral

O Instrumentum laboris do Congresso sobre as vocações o afirma de forma explícita: « Toda a 
pastoral, e em particular a juvenil, é por natureza vocacional »; (69) em outras palavras, dizer 
vocação equivale a dizer dimensão constitutiva e essencial da mesma pastoral ordinária, 
porque a pastoral, desde os inícios é, por natureza, orientada para o discernimento vocacional. 
Esse é um serviço prestado a toda pessoa, a fim de que possa descobrir o caminho para a 
realização de um projeto de vida como Deus quer, segundo as necessidades da Igreja e do 
mundo de hoje. (70)

Assim já foi dito no Congresso latino­americano sobre as vocações, de 1994.

Mas a perspectiva se alarga: vocação não é só o projeto existencial, mas o são todos e cada um 
dos chamados de Deus, evidentemente sempre correlacionados com um plano fundamental de 
vida, de qualquer modo disseminados ao longo de todo o arco da existência. A autêntica 
pastoral torna o crente vigilante, atento aos muitíssimos chamados do Senhor, pronto a captar a 
sua voz e a responder­Lhe.

É justamente a fidelidade a esse tipo de chamados quotidianos que hoje torna o jovem capaz de 
reconhecer e acolher « o chamado » da sua vida; e, amanhã, o adulto não apenas capaz de ser 
fiel a ele, mas de descobrir sempre mais o seu frescor e a sua beleza. Toda vocação, de fato, é « 
matutina », é a resposta de cada manhã a um apelo novo a cada dia.

Por isso, a pastoral será perpassada de atenção vocacional, para despertá­la em todo crente; 
partirá do intento explícito de colocar o crente diante da proposta de Deus; fará o possível para 
provocar no sujeito a assunção de responsabilidades em relação ao dom recebido ou à Palavra 
de Deus ouvida; de fato, procurará levar o crente a se comprometer perante esse Deus. (71)

b) A pastoral vocacional é a vocação da pastoral hoje

Nesse sentido, pode­se muito bem dizer que se deve « vocacionalizar » toda a pastoral, ou 
fazer com que toda expressão da pastoral manifeste, de modo claro e inequívoco, um projeto ou 
um dom de Deus feito à pessoa, e estimule nessa uma vontade de resposta e de envolvimento 
pessoal. Ou a pastoral cristã conduz a esse confronto com Deus, com tudo o que isso implica 
em termos de tensão, de luta, às vezes de fuga ou de rejeição, mas também de paz e alegria 
ligadas ao acolhimento do dom, ou não merece tal nome.
Hoje isso se manifesta de uma maneira toda especial, a ponto de se poder afirmar que a 
pastoral vocacional é a vocação da pastoral: constitui talvez o seu principal objetivo, uma 
espécie de desafio à fé das Igrejas da Europa. A vocação é o caso mais sério da pastoral  
hodierna.

E então, se a pastoral em geral é « chamado » e espera, hoje, a esse desafio, provavelmente ela 
deve ser mais corajosa e franca, mais explícita em ir ao centro e ao coração da mensagem­
proposta, mais dirigida à pessoa e não apenas ao grupo, mais feita de envolvimento concreto e 
não de vagos apelos a uma fé abstrata e distante da vida.

Talvez deva ser também uma pastoral mais provocadora do que consoladora; de qualquer 
forma, capaz de transmitir o sentido dramático da vida do homem, chamado a fazer alguma 
coisa que ninguém pode fazer em lugar dele.

No trecho que citamos, essa atenção e tensão vocacional é evidente: na escolha de Matias, no 
discurso corajoso (« de pé e com voz forte ») de Pedro à multidão, no modo como a mensagem 
cristã é anunciada e recebida (« sentiram o coração transpassado »).

Sobretudo aparece claramente na sua capacidade de mudar a vida daqueles que aderem a ela, 
como se percebe nas conversões e no tipo de vida da comunidade dos Atos.

c) A pastoral vocacional é gradual e convergente

Já vimos implicitamente que no homem, e ao longo de sua vida, existem vários tipos de 
chamado: antes de tudo à vida, e depois, ao amor; à responsabilidade do dom, por isso, da fé; 
ao seguimento de Jesus; ao testemunho peculiar da própria fé; a ser pai ou mãe, e a um serviço 
especial à Igreja ou à sociedade.

Faz animação vocacional quem, em primeiro lugar, tem presente aquele rico complexo de 
valores e significados humanos e cristãos, do qual nasce o sentido vocacional da vida e de todo 
vivente. Eles permitem abrir a mesma vida a numerosas possibilidades vocacionais, 
convergindo depois na direção da definitiva escolha pessoal.

Em outras palavras, para uma correta pastoral vocacional, é necessário respeitar uma certa 
gradualidade, e partir dos valores fundamentais e universais (o bem extraordinário da vida) e 
das verdades que são tais para todos (a vida é um bem recebido que, por sua natureza, tende a 
ser um bem doado), para passar depois a uma especificação progressiva do chamado, sempre 
mais pessoal e concreta, crente e revelada.

No plano propriamente pedagógico, é importante formar primeiro para o sentido da vida e a 
gratidão por ela; depois, transmitir aquela atitude fundamental de responsabilidade em relação 
à existência, que por sua natureza pede uma resposta conseqüente por parte de cada um, na 
linha da gratuidade. Daqui se passa à transcendência de Deus, Criador e Pai.
Somente a esse ponto é possível e convincente uma proposta forte e radical (como sempre 
deveria ser a vocação cristã), como a de dedicação a Deus na vida sacerdotal ou consagrada.

d) A pastoral vocacional é genérica e específica

Em suma, a pastoral vocacional parte necessariamente de uma idéia ampla de vocação (e de 
conseqüente apelo dirigido a todos), para depois se restringir e especificar de acordo com o 
chamado de cada um. Nesse sentido, a pastoral vocacional é primeiro genérica, e depois,  
específica, dentro de uma ordem que não parece razoável inverter, e que, em geral, 
desaconselha a proposta imediata de uma vocação especial, sem alguma catequese progressiva.

Por outro lado, sempre em força dessa ordem, a pastoral vocacional não se limita a sublinhar 
de forma genérica o significado da existência, mas impele a um envolvimento pessoal, numa 
escolha específica. Não existe separação, e muito menos contraste, entre um apelo que 
sublinha os valores comuns e fundantes da existência, e um apelo a servir o Senhor « de 
acordo com a medida da graça recebida ».

O animador vocacional — todo educador na fé — não deve ter medo de propor escolhas 
corajosas e de total doação, embora difíceis e não conformes à mentalidade do século.

Portanto, se todo educador é animador vocacional, todo animador vocacional é educador, e 
educador de toda vocação, respeitando o seu carisma específico.

Cada chamado se liga a outro, na verdade o supõe e o solicita, enquanto que todos juntos 
conduzem à mesma fonte e ao mesmo objetivo, que é a história da salvação. Mas, cada um tem 
a sua modalidade particular.

O autêntico educador vocacional não apenas indica as diferenças entre um chamado e outro, 
respeitando as diversas tendências nos chamados individuais, mas deixa entrever e lembra 
aquelas « supremas possibilidades » de radicalidade e dedicação, que são abertas à vocação de 
cada um e nela inseridas.

Educar em profundidade para os valores da vida, por exemplo, significa propor (e aprender a 
propor) um caminho que naturalmente desemboque no seguimento de Cristo e que pode 
conduzir à escolha do seguimento típico do apóstolo, do presbítero ou doa religiosoa, do 
monge que abandona o mundo, como do leigo consagrado no mundo.

Por outro lado, propor tal seguimento qualificado como objetivo de vida exige, por sua 
natureza, uma atenção e formação prévia para os valores elementares da vida, da fé, da 
gratidão­gratuidade, da imitação de Cristo, requeridos de todo cristão.

Disso resulta uma estratégia vocacional teologicamente mais bem fundada e também mais 
eficaz no plano pedagógico. Há quem receie que o alargamento da idéia de vocação possa 
prejudicar a específica promoção das vocações ao sacerdócio e à vida consagrada; na 
realidade, é exatamente o contrário.

A gradualidade no anúncio vocacional permite passar do objetivo ao subjetivo, do genérico ao 
específico, sem antecipar nem queimar as propostas, mas fazendo com que convirjam entre si e 
na direção da proposta decisiva para a pessoa, a ser indicada na hora certa e calibrada com 
cuidado, segundo um ritmo que considere o destinatário em situação.

A ordem harmônica e progressiva torna muito mais provocadora e acessível a proposta 
decisiva à pessoa. Concretamente, quanto mais o jovem é formado a passar com naturalidade 
da gratidão pelo dom da vida recebido à gratuidade do bem doado, tanto mais será possível 
propor­lhe o dom total de si a Deus como resultado natural e inevitável para alguns.

e) A pastoral vocacional é universal e permanente

Trata­se de uma dupla universalidade: com referência às pessoas às quais é dirigida, e com 
referência à idade da vida em que é feita.

Antes de tudo, a pastoral vocacional não conhece fronteiras. Como foi dito acima, ela não se 
dirige apenas a algumas pessoas privilegiadas, ou que já fizeram uma opção de fé; nem 
unicamente àqueles de quem parece lícito esperar um assentimento positivo, mas se dirige a 
todos, precisamente porque é fundada sobre valores elementares da existência. Não é pastoral 
de elite, mas de povo; não é um prêmio para os mais merecedores, mas graça e dom de Deus 
para toda pessoa, porque todo vivente é chamado por Deus. Nem deve ser entendida como 
alguma coisa que só alguns poderiam compreender ou considerar interessante para a própria 
vida, porque todo ser humano é inevitavelmente desejoso de se conhecer e de conhecer o 
sentido da vida e seu próprio lugar na história.

Além disso, não é proposta feita apenas uma vez na vida (de tipo « pegar ou largar ») e que na 
prática, depois de uma recusa por parte do destinatário, è retirada. Ao invés, ela deve ser como 
uma solicitação contínua, feita de formas diversas e com inteligência propositiva, que não 
desiste diante de um desinteresse inicial, que muitas vezes é apenas aparente ou defensivo.

Deve ser corrigida também a idéia de que a pastoral vocacional seja exclusivamente juvenil, 
pois em cada idade da vida ressoa um convite do Senhor a segui­lo, e somente em ponto de 
morte uma vocação pode se dizer completamente realizada. Aliás, a morte é o chamado por 
excelência, assim como existe um chamado na velhice, na passagem de uma para outra fase da 
vida, nas situações de crise.

Existe uma juventude do espírito que permanece no tempo, na medida em que o indivíduo se 
sente continuamente chamado e, em cada ciclo vital, procura e encontra uma tarefa diferente a 
desempenhar, um modo específico de ser, de servir e de amar, uma novidade de vida e de 
missão a desempenhar. (72) Nesse sentido, a pastoral vocacional está ligada à formação  
permanente da pessoa e é, ela mesma, permanente. « Toda a vida e toda vida é uma resposta ». 
(73)

Nos Atos, Pedro e os Apóstolos não fazem absolutamente distinção de pessoas, falam a todos, 
jovens e velhos, hebreus e estrangeiros: Partos, Medos, Elamitas indicam justamente a grande 
massa sem diferenças nem exclusões, às quais são dirigidos o anúncio e a pro­vocação, com a 
arte de falar a cada um « na sua própria língua », de acordo com as suas exigências, problemas, 
expectativas, defesas, idade ou fase da vida.

É o milagre de Pentecostes e, portanto, dom extraordinário do Espírito. Mas o Espírito está 
sempre conosco...

f) A pastoral vocacional é pessoal e comunitária

Pode parecer uma contradição, mas na realidade esse princípio fala da natureza, em certo 
sentido ambivalente, da pastoral vocacional, capaz — quando autêntica — de compor as duas 
polaridades do sujeito e da comunidade. Do ponto de vista do animador vocacional, é urgente 
passar de uma pastoral vocacional administrada por um agente isolado, a uma pastoral cada 
vez mais entendida como ação comunitária, de toda a comunidade nas suas diversas 
expressões: grupos, movimentos, paróquias, dioceses, institutos religiosos e seculares...

Hoje a Igreja é sempre mais chamada a ser toda vocacional: nela, « todo evangelizador deve 
tomar consciência de se tornar uma « lâmpada » vocacional, capaz de suscitar uma experiência 
religiosa que leve as crianças, os adolescentes, os jovens e os adultos ao contato pessoal com 
Cristo. Nesse encontro se revelam as vocações específicas ». (74)

Do mesmo modo, o destinatário da pastoral vocacional é toda a Igreja. Se é toda a 
comunidade eclesial que chama, é ainda toda a comunidade eclesial, sem qualquer exceção, 
que é chamada. Polo emissor e receptor de certa forma se identificam, dentro das diversas 
articulações ministeriais do tecido eclesial. Mas o princípio é importante; é o reflexo daquela 
misteriosa identificação entre chamador e chamado dentro da realidade trinitária.

Nesse sentido, a pastoral vocacional é comunitária. E, sempre nesse sentido, é bonito que, no 
dia de Pentecostes, sejam todos os Apóstolos a se dirigirem à multidão, e que depois Pedro 
tome a palavra em nome dos doze. Também quando se trata de escolher tanto Matias quanto 
Estêvão, e depois Barnabé e Saulo, toda a comunidade participa do discernimento com a 
oração, o jejum, a imposição das mãos.

Porém, ao mesmo tempo, é o indivíduo que deve se fazer intérprete da proposta vocacional, é o 
crente que, em força da sua fé, deve de certo modo tomar sobre si a vocação do outro.

Portanto não cabe apenas aos presbíteros ou aos consagradosas o ministério do apelo 
vocacional, mas a todo crente, aos pais, aos catequistas, aos educadores.

Se é verdade que o apelo deve ser dirigido a todos, é igualmente verdadeiro que o mesmo apelo 
deve ser personalizado, dirigido a uma pessoa determinada, à sua consciência, dentro de uma 
relação inteiramente pessoal.

Na dinâmica vocacional há um momento em que a proposta vai de pessoa a pessoa, e tem 
necessidade de todo aquele clima especial que só a relação individual pode garantir. Então, é 
verdade que Pedro e Estêvão falam à multidão; mas depois Saulo precisa de Ananias para 
discernir o que Deus quer dele (9, 13­17), como também o eunuco com Filipe (8, 26­39).

g) A pastoral vocacional é a perspectiva unitário­sintética da pastoral

Como é o ponto de partida, assim também é o ponto de chegada. Enquanto tal, a pastoral 
vocacional se situa como a categoria unificante da pastoral em geral, como a destinação 
natural de todo esforço, o ancoradouro das várias dimensões, uma espécie de elemento de 
avaliação da pastoral autêntica.

Repetimos: se a pastoral não chega a « transpassar o coração » e a colocar o ouvinte diante da 
pergunta estratégica (« o que devo fazer? »), não é pastoral cristã, mas hipótese inócua de 
trabalho.

Conseqüentemente, a pastoral vocacional está e deve estar em relação com todas as outras 
dimensões, por exemplo a familiar e cultural, litúrgica e sacramental, com a catequese e o 
caminho de fé no catecumenato; com os vários grupos de animação e formação cristã (não 
apenas com os meninos e jovens, mas também com os pais, com os noivos, com os doentes e 
os idosos...) e de movimentos (do movimento pela vida às diversas iniciativas de solidariedade 
social). (75)

Sobretudo, a pastoral vocacional é a perspectiva unificante da pastoral juvenil.

Não se pode esquecer que a idade evolutiva é fortemente projetual; e uma autêntica pastoral 
juvenil não pode deixar de lado a dimensão vocacional; pelo contrário, deve assumi­la, porque 
propor Jesus Cristo significa propor um específico projeto de vida.

Daqui uma fecunda colaboração pastoral, embora na distinção dos dois âmbitos: seja porque a 
pastoral juvenil abraça outras problemáticas além da vocacional, seja porque a pastoral 
vocacional não diz respeito apenas ao mundo juvenil, mas tem um horizonte mais amplo e com 
problemáticas específicas.

Além disso, pensamos o quanto poderia ser importante uma pastoral vocacional­familiar que 
eduque progressivamente os pais a serem os primeiros animadores­educadores vocacionais; o 
quanto seria preciosa uma pastoral vocacional entre os doentes, que não convidasse 
simplesmente os enfermos a oferecer os próprios sofrimentos pelas vocações sacerdotais, mas 
que os ajudasse a viver a situação da doença com toda a carga de mistério que ela contém, 
como vocação pessoal, que o doente que tem fé tem o « dever » de viver para e na Igreja, e o « 
direito » de ser ajudado pela Igreja a viver.

Essa ligação facilita o dinamismo pastoral, porque de fato lhe é conatural: como os carismas, 
as vocações se procuram entre si, se iluminam mutuamente, são complementares umas às 
outras. Ao invés, isoladas se tornam incompreensíveis; nem faz pastoral de Igreja quem 
permanece fechado no próprio setor especializado.

Naturalmente este discurso vale em duplo sentido: é a pastoral em geral que deve confluir na 
animação vocacional para promover a opção vocacional; mas é a pastoral vocacional que, por 
sua vez, deve estar aberta às outras dimensões, inserindo­se e procurando saídas naquelas 
direções.

Ela é o ponto terminal que sintetiza as várias pro­vocações pastorais e permite fazê­las 
frutificar na história existencial de cada crente. Definitivamente, a pastoral das vocações requer 
atenção, mas em troca oferece uma dimensão destinada a tornar verdadeira e autêntica a 
iniciativa pastoral de cada setor. A vocação é o coração pulsante da pastoral unitária! (76)

Itinerários pastorais vocacionais

27. O ícone bíblico em torno do qual articulamos a nossa reflexão permite­nos dar um passo à 
frente, procedendo dos princípios teóricos à identificação de alguns itinerários pastorais 
vocacionais.

Eles são caminhos comunitários de fé, correspondentes a funções eclesiais bem precisas, e a 
dimensões clássicas do ser crente, ao longo dos quais a fé matura e se torna mais manifesta ou 
se confirma progressivamente a vocação do indivíduo, a serviço da comunidade eclesial.

A reflexão e a tradição da Igreja indicam que, normalmente, o discernimento vocacional se dá 
ao longo de alguns caminhos comunitários bem definidos: a liturgia e a oração, a comunhão 
eclesial, o serviço da caridade, a experiência do amor de Deus recebido e oferecido no 
testemunho. Graças a eles, na comunidade descrita nos Atos, « multiplicava­se grandemente o 
número dos discípulos em Jerusalém » (At 6,7).

Também hoje, a pastoral deveria palmilhar essas estradas para estimular e acompanhar a 
caminhada vocacional dos crentes. Uma experiência pessoal e comunitária, sistemática e 
empenhativa nessas direções, poderia e deveria ajudar o indivíduo crente a descobrir o apelo 
vocacional.

E isso tornaria a pastoral realmente vocacional.

a) A liturgia e a oração

A liturgia significa e indica ao mesmo tempo a expressão, a origem e o alimento de toda 
vocação e ministério na Igreja. Nas celebrações litúrgicas se faz memória do agir de Deus no 
Espírito, a que se ligam todas as dinâmicas vitais do cristão. Na liturgia, que culmina com a 
Eucaristia, se exprime em toda a sua plenitude, a vocação­missão da Igreja e de todo crente.

Da liturgia vem sempre um apelo vocacional para quem participa. (77) Toda celebração é um 
evento vocacional. No mistério celebrado o crente não pode deixar de reconhecer a própria 
vocação pessoal, não pode deixar de ouvir a voz do Pai que, no Filho, pela força do Espírito, o 
chama a se doar igualmente pela salvação do mundo.

A oração também se torna caminho para o discernimento vocacional, não só porque Jesus 
mesmo convidou a rogar ao dono da messe, mas porque é somente na escuta de Deus que o 
crente pode chegar a descobrir o projeto que Deus mesmo traçou: no mistério contemplado, o 
crente descobre a própria identidade, « escondida com Cristo em Deus » (Cl 3,3).

E mais, a oração é a ?única que pode acionar aquelas atitudes de confiança e de abandono, 
indispensáveis para pronunciar o próprio « sim» e superar medos e incertezas. Toda vocação  
nasce da in­vocação.

Mas a experiência pessoal da oração, como diálogo com Deus, também pertence a essa 
dimensão: mesmo quando é « celebrada » na intimidade da própria « cela », é relação com 
aquela paternidade da qual deriva toda vocação. Tal dimensão é mais evidente do que nunca na 
experiência da Igreja das origens, cujos membros eram assíduos « na fração do pão e na oração 
» (At 2,42). Em tal comunidade, toda decisão era precedida pela oração; toda escolha, 
sobretudo para a missão, se dava num contexto litúrgico (At 6,1­7; 13,1­5).

É a lógica orante que a comunidade havia aprendido com Jesus quando, diante das « multidões 
cansadas e combalidas como rebanho sem pastor, ele havia dito: « A messe é grande mas os 
operários são poucos. Por isso, rogai ao Dono da messe, para que mande operários à sua messe 
» « (Mt 9, 36­38; Lc 10,2).

Nestes últimos anos, as comunidades cristãs da Europa têm desenvolvido múltiplas iniciativas 
de oração pelas vocações, que encontraram grande ressonância no Congresso. Em muitos 
casos, nas comunidades diocesanas e paroquiais, a oração que se tornou « incessante », dia e 
noite, é uma das estradas mais percorridas para criar nova sensibilidade e nova cultura 
vocacional favorável ao sacerdócio e à vida consagrada.

O ícone evangélico do « Dono da messe » conduz ao coração da pastoral das vocações: a 
oração. Oração que sabe « olhar » com sabedoria evangélica o mundo e cada homem na 
realidade de suas necessidades de vida e de salvação. Oração que exprime a caridade e a « 
compaixão » (Mt 9,36) de Cristo para com a humanidade, que hoje também se mostra como « 
um rebanho sem pastor » (Mt 9,36). Oração que exprime a fé na voz poderosa do Pai, o único 
que pode chamar e enviar para trabalhar na sua vinha. Oração que exprime a viva esperança 
em Deus, que jamais deixará faltar à Igreja os « operários » (Mt 2,38) necessários para levar a 
bom termo a sua missão.
No Congresso, suscitaram muito interesse os testemunhos sobre a experiência de lectio divina 
em perspectiva vocacional. Em algumas dioceses, são muito difundidas as « escolas de oração 
» ou « escolas da Palavra ». O princípio em que se inspiram é aquele, já clássico, contido na 
Dei Verbum: « Todos os fiéis adquiram a sublime ciência de Jesus Cristo, com a leitura 
freqüente da Divina Escritura, acompanhada pela oração ». (78)

Quando tal ciência se torna sabedoria que se nutre de freqüentação habitual, os olhos e os 
ouvidos do crente se abrem ao reconhecer a Palavra que chama sem cessar. Então o coração e a 
mente estão em condição de acolhê­la e de vivê­la sem medo.

b) A comunidade eclesial

A primeira função vital que brota da liturgia é a manifestação da comunhão que se vive dentro 
da Igreja, como povo reunido em Cristo através da sua cruz, como comunidade em que toda 
divisão foi superada para sempre, no Espírito de Deus que é espírito de unidade (Ef 2,11­22; 
Gal 3,26; Jo 17, 9­26)

A Igreja se propõe como o espaço humano de fraternidade em que todo crente pode e deve 
fazer experiência daquela união entre os homens e com Deus que é dom do Alto. Dessa 
dimensão eclesial são um esplêndido exemplo os Atos dos Apóstolos, onde é descrita uma 
comunidade de crentes profundamente marcada pela união fraterna, pela partilha dos bens 
materiais e espirituais, dos afetos e dos sentimentos (At 4,32), a ponto de ser « um só coração e 
uma só alma » (At 4,32).

Se toda vocação na Igreja é um dom a ser vivido para os outros, como serviço de caridade na 
liberdade, então é também um dom a ser vivido com os outros. Por isso, só se descobre quando 
se vive em fraternidade.

A fraternidade eclesial não é apenas virtude comportamental, mas itinerário vocacional. Só 
vivendo é possível escolhê­la como componente fundamental de um projeto vocacional, ou só 
saboreando­a é possível abrir­se a uma vocação que, em qualquer caso, será sempre vocação à 
fraternidade.(79)

Pelo contrário, não pode sentir nenhum atrativo vocacional quem não experimenta alguma 
fraternidade e se fecha ao relacionamento com os outros, ou interpreta a vocação apenas como 
perfeição privada e pessoal.

Vocação é relação; é manifestação do homem que Deus criou aberto à relação; e mesmo no 
caso de uma vocação à intimidade com Deus, na vocação claustral, implica uma capacidade de 
abertura e de partilha que só pode ser adquirida com a experiência de uma fraternidade real. « 
A superação de uma visão individualista do ministério e da consagração, da vida nas 
comunidades cristãs isoladas, é uma decisiva contribuição histórica ». (80)

A vocação é diálogo, é sentir­se chamado por um Outro, e ter a coragem de responder­Lhe. 
Como essa capacidade de diálogo pode amadurecer em quem não aprendeu, na vida de todos 
os dias e nas relações quotidianas, a deixar­se chamar, a responder, a reconhecer o eu no tu? 
Como pode se fazer chamar pelo Pai quem não se preocupa de responder ao irmão?

A partilha com o irmão e com a comunidade dos crentes se torna, então, estrada ao longo da 
qual se aprende a tornar os outros participantes dos próprios projetos, para acolher em si o 
plano traçado por Deus. Plano que será, sempre e de qualquer forma, projeto de fraternidade.

Uma experiência de partilha da Palavra, apontada por algumas Igrejas européias, é constituída 
por centros de escuta, isto é, grupos de crentes que se encontram periodicamente em suas 
casas, para redescobrir a mensagem cristã e trocar as próprias experiências e os dons de 
interpretação da mesma Palavra.

Para os jovens, esses centros têm uma conotação vocacional na escuta da Palavra que chama, 
na catequese e na oração vividas de modo mais pessoal e envolvente, mais livre e criativo. 
Assim, o centro de escuta se torna estímulo à corresponsabilidade eclesial, porque ali se 
podem descobrir os diversos modos de servir à comunidade e, muitas vezes, maturar vocações 
específicas.

Outra experiência positiva de itinerário vocacional nas Igrejas particulares e nos vários 
Institutos de vida consagrada é a comunidade de acolhimento que realiza o convite de Jesus: « 
Vinde e vereis ». O Sumo Pontífice a definiu como « a regra de ouro da pastoral vocacional ». 
(81)

Nessas comunidades ou centros de orientação vocacional, graças a uma experiência muito 
específica e imediata, os jovens podem fazer um verdadeiro e gradual caminho de 
discernimento. São acompanhados, para que, no momento certo, tenham condição não só de 
identificar o projeto de Deus sobre eles, mas de decidir a escolhê­lo como própria identidade.

c) O serviço da caridade

É uma das funções mais típicas da comunidade eclesial. Consiste em viver a experiência da 
liberdade em Cristo, naquele supremo vértice que é constituído pelo serviço. « Todo aquele 
que quiser tornar­se grande entre vós, se faça vosso servo » (Mt 20,26), « quem quiser ser o 
primeiro, seja o servo de todos » (Mc 9,35). Na Igreja primitiva essa lição parece ter sido 
aprendida muito depressa, uma vez que o serviço aparece como um dos componentes 
estruturais dela, a ponto de serem instituídos os diáconos, justamente para « o serviço das 
mesas ».

Justamente porque o crente vive por graça a experiência de liberdade em Cristo, ele é chamado 
a ser testemunha de liberdade e agente de libertação para os homens. Daquela libertação que se 
realiza não com a violência e o domínio, mas com o perdão e o amor, com o dom de si e o 
serviço, a exemplo de Cristo Servo. É o serviço da caridade, cujas possibilidades de expressão 
não têm limite.

É talvez, a estrada real, num itinerário vocacional, para discernir a própria vocação, para que a 
experiência de serviço, especialmente onde é bem preparada, guiada e penetrada no seu 
significado mais verdadeiro, é experiência de grande humanidade, que leva a conhecer melhor 
a si mesmo e a dignidade dos outros, além da beleza de se dedicar aos outros.

O autêntico servo na Igreja é aquele que aprendeu a saborear como um privilégio poder lavar 
os pés dos irmãos mais pobres; é aquele que conquistou a liberdade de perder o próprio tempo 
com as necessidades alheias. A experiência do serviço é uma experiência de grande liberdade 
em Cristo.

Quem serve o irmão, inevitavelmente encontra Deus, e entra em sintonia especial com Ele. 
Não lhe será difícil descobrir a sua Vontade sobre si e, sobretudo, sentir­se atraído a cumpri­la. 
E, em qualquer caso, será uma vocação de serviço à Igreja e ao mundo.

Foi assim para muitíssimas vocações nestas últimas décadas. A animação vocacional do pós­
Concílio passou progressivamente da « pastoral da propaganda » à « pastoral do serviço », de 
modo especial aos mais pobres e necessitados.

Muitos jovens realmente encontraram Deus e a si mesmos, a finalidade da vida e a verdadeira 
felicidade, doando tempo e atenções aos irmãos, a ponto de dedicar a eles, não uma parte da 
vida, mas a existência inteira.

De fato, a vocação cristã é existência para os outros.

d) O testemunho­anúncio do Evangelho

Ele é a proclamação da proximidade de Deus junto do homem, ao longo de toda a história da 
salvação, de modo especial, em Cristo e, portanto, também das entranhas de misericórdia do 
Pai pelo homem, para que tenha a vida em abundância. Tal anúncio está na origem do caminho 
de fé de todo crente. De fato, a fé é um dom recebido de Deus e testemunhado com o exemplo 
da comunidade crente e, nela, de tantos irmãos e irmãs, bem como através da instrução 
catequística sobre as verdades do evangelho.

Mas a fé precisa ser transmitida, e chega o tempo em que todo testemunho se torna dom ativo: 
o dom recebido se torna dom doado através do testemunho pessoal e do anúncio pessoal.

O testemunho da fé envolve o homem todo e só pode ser dado com a totalidade da existência e 
da própria humanidade, com todo o coração, com toda a mente, com todas as forças, até o dom 
da vida, inclusive cruento.

É interessante esse crescendo de significados do termo, um crescendo que, no fundo, 
encontramos no trecho bíblico que nos vem servindo de guia: vejam o testemunho­catequese 
de Pedro e dos Apóstolos no dia de Pentecostes e, sucessivamente, a corajosa catequese de 
Estêvão que culminou no seu martírio (At 6,8; 7,60), e dos Apóstolos « contentes de terem sido 
ultrajados por amor do nome de Jesus » (At 5,41).

Mais interessante ainda é descobrir como esse testemunho­anúncio evangélico pode tornar­se 
específico itinerário vocacional.

A consciência grata por ter recebido o dom da fé deveria se traduzir regularmente em desejo e 
vontade de transmitir aos outros o que se recebeu, seja através do exemplo da própria vida, seja 
através do ministério da catequese. Depois, essa « é destinada a iluminar as múltiplas situações 
da vida, ensinando cada um a viver a própria vocação cristã no mundo ». (82) E, se o 
catequista é também, antes de tudo, uma testemunha, tal dimensão vocacional aparecerá ainda 
mais evidente. (83)

O Congresso confirmou a importância da catequese em perspectiva vocacional, e indicou na 
celebração do sacramento da Confirmação um extraordinário itinerário vocacional para pré­
adolescentes e adolescentes.

A idade da Crisma poderia ser justamente « a idade da vocação », fase da orientação teológica 
e pedagogicamente qualificada pela descoberta e realização do dom recebido, e também pelo 
testemunho dele.

A ação catequística deveria suscitar a capacidade de reconhecer e de manifestar o dom do 
Espírito. (84)

O encontro direto de crentes que vivem com fidelidade e coragem a própria vocação, de 
testemunhas credíveis que oferecem experiências concretas de vocações realizadas, pode ser 
decisivo para ajudar os crismandos a descobrir e acolher o chamado de Deus.

Em qualquer caso, a vocação sempre tem origem na consciência de um dom, e de uma 
consciência tão grata que acha inteiramente lógico colocar a serviço dos outros a própria 
experiência, para se encarregar do seu crescimento na fé.

Quem vive com atenção e generosidade o testemunho da fé, não tardará a captar o projeto de 
Deus a seu respeito, para dedicar à sua realização todas as energias de que dispõe.

Dos itinerários pastorais ao chamado pessoal

28. Em síntese, poderíamos dizer que nas dimensões da liturgia, da comunhão eclesial, do 
serviço da caridade e do testemunho do evangelho se condensa a condição existencial de todo 
crente. Essa é a sua dignidade e a sua vocação fundamental, mas é também a condição para 
que cada qual possa descobrir a sua identidade peculiar.

Portanto, todo crente deve viver o comum evento da liturgia, da comunhão fraterna, do serviço 
caritativo e do anúncio do evangelho, porque só através de tal experiência global poderá 
identificar o seu modo particular de viver essas mesmas dimensões do ser cristão. Por 
conseguinte, esses itinerários eclesiais devem ser privilegiados, representam de certo modo a 
estrada­mestra da pastoral vocacional, graças à qual o mistério da vocação de cada um pode se 
revelar.

Afinal, são itinerários clássicos, que pertencem à própria vida de cada comunidade que 
pretenda dizer­se cristã, e ao mesmo tempo revelam a sua solidez ou precariedade. Justamente 
por isso, não somente representam um caminho obrigatório, mas sobretudo dão garantia à 
autenticidade da busca e do discernimento.

Por um lado, essas quatro dimensões e funções provocam um envolvimento global da pessoa; 
por outro lado conduzem ao limiar de uma experiência muito pessoal, de um forte confronto, 
de um apelo impossível de se ignorar, de uma decisão a ser tomada e que não pode ser adiada 
indefinidamente. Por isso, a pastoral vocacional deverá expressamente ajudar a fazer obra de 
identificação, através de uma experiência profunda e globalmente eclesial, que leve cada crente 
« à descoberta e assunção da própria responsabilidade na Igreja ». (85)

As vocações que não nascem dessa experiência e dessa inserção na ação comunitária eclesial 
correm o risco de ser viciadas na raiz, e de autenticidade duvidosa.

Obviamente, tais dimensões devem estar todas presentes, harmoniosamente coordenadas por 
uma experiência que só poderá ser decisiva se for totalizante.

Na verdade, muitas vezes há jovens que espontaneamente privilegiam uma ou outra dessas 
funções (ou empenhados unicamente no voluntariado, ou demasiado atraídos pela dimensão 
litúrgica, ou grandes teóricos um tanto idealistas). Então será importante que o educador 
vocacional provoque no sentido de um compromisso que não seja feito segundo a medida dos 
gostos do jovem, mas na medida objetiva da experiência de fé, a qual, por definição, não pode 
ser algo de domesticável. Somente o respeito a essa medida objetiva pode deixar entrever a 
própria medida subjetiva.

Nesse sentido, a objetividade precede a subjetividade, e o jovem deve aprender a dar­lhe 
precedência, se realmente quiser descobrir a si mesmo e aquilo que é chamado a ser. Ou 
melhor, se faz questão de ser ele mesmo, deve realizar primeiro aquilo que é pedido a todos.

Não só, mas aquilo que é objetivo, regulado em base a uma norma e uma tradição, e tendo em 
mira um objetivo determinado que transcende a subjetividade, tem uma notável força de 
atração e de tração vocacional. Naturalmente a experiência objetiva deverá se tornar também 
subjetiva, ou ser reconhecida pelo indivíduo como sua. No entanto, sempre a partir de uma 
fonte ou de uma verdade que não cabe ao sujeito determinar, e que se vale da rica tradição da 
fé cristã. Em última análise, « a pastoral vocacional tem as etapas fundamentais de um 
itinerário de fé ».(86) Isso também demonstra a gradualidade e depois a convergência da 
pastoral vocacional.

Dos itinerários às comunidades cristãs

a) A comunidade paroquial

29. O Congresso europeu teve, entre outros, um objetivo: levar a pastoral vocacional ao vivo 
das comunidades cristãs paroquiais, lá onde as pessoas vivem e onde os jovens, de modo 
especial, são mais ou menos significativamente envolvidos numa experiência de fé.

Trata­se de fazer a pastoral vocacional sair do círculo dos encarregados do trabalho, para 
chegar aos sulcos periféricos da Igreja particular.

Mas, ao mesmo tempo, é urgente superar a fase experiencialista, vigente em muitas Igrejas da 
Europa, para passar a verdadeiros caminhos pastorais, enxertados no tecido das comunidades 
cristãs, valorizando o que já é vocacionalmente eloqüente.

Uma atenção especial deve ser dada ao ano litúrgico, que é uma escola permanente de fé, na 
qual todo crente, ajudado pelo Espírito Santo, é chamado a crescer segundo Jesus. Do advento, 
tempo da esperança, a pentecostes e ao tempo comum, o caminho ciclicamente recorrente do 
ano litúrgico celebra e prospecta um modelo de homem chamado a se medir com o mistério de 
Jesus, o « primogênito entre muitos irmãos » (Rm 8,29).

A antropologia que o ano litúrgico leva a explorar é um plano autenticamente vocacional, que 
solicita cada cristão a responder sempre mais ao chamado, para uma missão precisa e pessoal 
na história. Daqui a atenção aos itinerários quotidianos em que cada comunidade cristã é 
envolvida. A sabedoria pastoral requer dos pastores, de modo especial guias das comunidades 
cristãs, um cuidado constante e um atento discernimento para fazer falarem os sinais litúrgicos, 
as vivências da experiência de fé; porque é da presença de Cristo nos tempos ordinários do 
homem que vêm os apelos vocacionais do Espírito.

Não se pode esquecer que o pastor, sobretudo o presbítero, responsável por uma comunidade 
cristã, é o « cultivador direto » de todas as vocações.

Na verdade, não é em todos os lugares que se reconhece a plena titularidade vocacional da 
comunidade paroquial; enquanto são justamente « os Conselhos Pastorais diocesanos e 
paroquiais, em relação com os centros vocacionais nacionais, ... os órgãos competentes em 
todas as comunidades e em todos os setores da pastoral ordinária ». (87)

Portanto, deve ser encorajada a iniciativa daqueles párocos que constituíram no próprio âmbito 
grupos de responsáveis pela animação vocacional e das várias atividades para resolver « um 
problema que se coloca no próprio coração da Igreja » (88) (grupos de oração, dias e semanas 
vocacionais, catequese e testemunhos, e tudo mais que possa contribuir para manter elevada a 
tensão vocacional). (89)

b) Os « lugares­sinal » da vida­vocação

Nessa passagem urgente e delicada, de uma pastoral vocacional das experiências a uma 
pastoral vocacional de caminhos, é preciso fazer falar não só de apelos vocacionais 
provenientes dos itinerários que atravessam a vida ferial da comunidade cristã, mas é coisa 
sábia tornar significativos os lugares­sinal da vida como vocação e os lugares pedagógicos da  
fé. Uma Igreja é viva se, com os dons do Espírito, sabe perceber e valorizar tais lugares.

Os lugares­sinal da vocacionalidade da existência numa Igreja particular são as comunidades 
monásticas, testemunhas da face orante da comunidade eclesial; as comunidades religiosas 
apostólicas e as fraternidades de vida consagrada dos institutos seculares.

Num contexto cultural fortemente voltado para as coisas penúltimas e imediatas, atravessado 
pelo vento gélido do individualismo, as comunidades orantes e apostólicas abrem dimensões 
verdadeiras de vida autenticamente cristã, sobretudo para as últimas gerações claramente mais 
atentas aos sinais do que às palavras.

Sinal particular da vocacionalidade da vida é a comunidade do seminário diocesano ou 
interdiocesano. Em nossas Igrejas, ele passa por uma situação singular. Por um lado é um sinal  
forte, porque constitui uma promessa de futuro. Os jovens que vão ali, filhos desta geração, 
serão os padres de amanhã. Não só: o seminário relembra continuamente a vocacionalidade da 
vida e a urgência do ministério ordenado para a existência de uma comunidade cristã. Por 
outro lado, o seminário é um sinal fraco: porque exige uma atenção constante da Igreja 
particular; solicita uma séria pastoral vocacional para recomeçar a cada ano com novos 
candidatos. E também a solidariedade econômica pode ser uma solicitação pedagógica, para 
educar o povo de Deus à oração por todas as vocações.

c) Os lugares pedagógicos da fé

Além dos lugares­sinal são preciosos os lugares pedagógicos da pastoral vocacional 
constituídos pelos grupos, pelos movimentos, pelas associações e pela escola.

Para além da diferente configuração sociológica de tais formas de agregação, sobretudo em 
nível juvenil, merece apreço a sua validade pedagógica, como lugares em que as pessoas 
podem ser sabiamente ajudadas a atingir uma verdadeira maturação de fé.

Isso pode ser eficazmente perseguido se não forem descuidadas três dimensões da experiência 
cristã: a vocação de cada um, a comunhão da Igreja e a missão com a Igreja.

d) Figuras de formadores e de formadoras

Uma outra atenção pedagógica pastoral é proposta com insistência especial neste exato 
momento histórico: a formação de figuras educativas.

De fato, um pouco em toda parte, é mais do que conhecida a fraqueza e a problematicidade dos 
lugares pedagógicos da fé, colocados a dura prova pela cultura do individualismo, do 
agregacionismo espontâneo, ou pela crise das instituições.

Por outro lado emerge, sobretudo nos jovens, a necessidade de confronto, de diálogo, de pontos 
de referência. São muitos os sinais a respeito disso. Em suma, existe uma urgência de mestres 
de vida espiritual, de figuras significativas, capazes de evocar o mistério de Deus, e dispostos à 
escuta para ajudar as pessoas a entrar em sério diálogo com o Senhor.

As personalidades espirituais fortes não são apenas algumas pessoas particularmente dotadas 
de carisma, mas são o resultado de uma formação particularmente atenta ao primado absoluto 
do Espírito.

No cuidado das figuras educativas das nossas comunidades, duas atenções devem estar 
sabiamente presentes: de um lado se trata de tornar explícita e vigilante a consciência 
educativa vocacional em todas aquelas pessoas que já são chamadas a atuar na comunidade, 
junto aos adolescentes e aos jovens (sacerdotes, religiososas e leigos).

Por outro lado, deve ser cuidadosamente encorajada e formada a ministerialidade educativa da  
mulher, para que — sobretudo junto às jovens — seja uma figura de referência e guia sapiente. 
De fato, a mulher está muito presente nas comunidades cristãs, e são mais que conhecidas as 
capacidades intuitivas do « gênio feminino » e a vasta experiência da mulher no campo 
educativo (família, escola, grupos, comunidades).

O aporte da mulher deve ser considerado muito precioso, para não dizer decisivo, sobretudo no 
âmbito do mundo juvenil feminino, não redutível ao masculino, porque requer uma reflexão 
mais atenta e específica, sobretudo no terreno vocacional.

Talvez isso também faça parte daquela virada que caracteriza a pastoral vocacional. Enquanto 
no passado também as vocações femininas brotavam de figuras significativas de pais 
espirituais, autênticos guias de pessoas e de comunidades, hoje as vocações femininas têm 
necessidade de ter como ponto de referência figuras femininas, pessoais e comunitárias, 
capazes de dar concretude às propostas de modelos, além das de valores.

e) Os organismos de pastoral vocacional

Para se propor como perspectiva unitária e sintética da pastoral em geral, a pastoral vocacional 
primeiro deve exprimir, dentro do próprio âmbito, a síntese e a comunhão dos carismas e dos 
ministérios.

Faz tempo que na Igreja se percebeu a necessidade dessa coordenação (90) que, graças a Deus, 
já tem produzido frutos notáveis: Organismos paroquiais, Centros vocacionais diocesanos e 
nacionais em funcionamento há vários anos e com grande vantagem.

Porém, não acontece o mesmo em toda parte. O Congresso agora celebrado lamentou em 
certos casos a ausência, ou a pouca incidência dessas estruturas em algumas nações européias, 
(91) e faz votos de que, o mais depressa possível, elas sejam regularmente instituídas ou 
adequadamente potencializadas.

Em vários lugares ainda se observa que, enquanto os Centros nacionais parecem garantir um 
notável aporte de estímulos construtivos para a pastoral vocacional de conjunto, nem todos os 
Centros diocesanos parecem animados da mesma vontade de trabalhar e de colaborar 
realmente pelas vocações de todos. Existe um certo projeto geral de pastoral unitária, que ainda 
tem bastante dificuldade para se transformar em práxis de Igreja local e, de certo modo, parece 
tropeçar quando se passa das propostas gerais à tradução capilar na realidade diocesana ou 
paroquial. Aqui, de fato, ainda não desapareçam de todo perspectivas e práxis particularistas e 
menos eclesiais. (92)

No que diz respeito aos Centros diocesanos e nacionais, mais do que insistir aqui sobre o que 
vários documentos já sublinham de maneira exem­plar a respeito da função deles, parece 
necessário lembrar que não se trata simplesmente de uma questão de organização prática, mas 
de coerência com um espírito novo que deve permear a pastoral vocacional da Igreja e, em 
particular, nas Igrejas da Europa. A crise vocacional é também crise de co­munhão em 
promover e fazer crescer as vocações. Onde não se vive um espírito autenticamente eclesial, 
não podem nascer vocações.

Além de recomendar uma retomada de empenho nesse campo, e uma ligação mais estreita 
entre Centro nacional, Centros diocesanos e organismos paroquiais, o Congresso e este 
Documento fazem votos de que tais organis­mos assumam com todo o coração duas questões: 
a promoção de uma autêntica cultura vocacional na sociedade civil e eclesial, e a formação dos 
educadores­formadores vocacionais, verdadeiro elemento central e estratégico da atual pastoral 
vocacional. (93)

Além disso, o Congresso pede que se tome em séria consideração para a Europa a constituição 
de um organismo ou Centro unitário de pastoral vocacional supranacional, como sinal e 
expressão concretade comunhão e condivisão, de coordenação e intercâmbio de experiências e 
pessoas entre as várias Igrejas nacionais, (94) salvaguardando as peculiaridades de cada uma.

QUARTA PARTE

PEDAGOGIA DAS VOCAÇÕES

« Não se nos abrasava o coração...? » (Lc 24,32)

Esta parte pedagógica deve ser entendida no contexto do evangelho, a exemplo daquele  
extraordinário animador­educador vocacional que é Jesus, e em vista de uma animação  
vocacional marcada por preciosas atitudes pedagógicas evangélicas: semear, acompanhar,  
educar, formar, discernir.

Chegamos à última seção, aquela que, na lógica do documento, deveria representar a parte 
metodológico aplicativa. De fato, partimos da análise da situação concreta, para definir os 
elementos teológicos fundamentais do tema da vocação, e depois procuramos voltar ao 
caminho concreto das nossas comunidades crentes, para delinear o sentido e a direção da 
pastoral das vocações.

Agora resta­nos ver a dimensão pedagógica da pastoral vocacional.

Crise vocacional e crise educativa

30. Muitas vezes, nas nossas Igrejas, os objetivos são claros e também as estratégias de fundo, 
mas ficam um pouco indefinidos os passos a serem dados para suscitar nos nossos jovens a 
disponibilidade vocacional; e isso porque, antes, é um pouco fraca uma certa estrutura 
educativa, dentro e fora da Igreja, aquela estrutura que depois deveria apresentar, juntamente 
com a exatidão do objetivo a ser alcançado, também os percursos pedagógicos que a ele 
conduzem. Com o realismo habitual, o diz ainda o Instrumentum laboris: « Estamos notando... 
a inconsistência de muitos lugares­pedagógicos (grupo, comunidade orante, escola e, 
sobretudo, família) ». (95) A crise vocacional certamente é também crise de proposta 
pedagógica e de caminho educativo.

Procuraremos então, sempre a partir da Palavra de Deus, indicar justamente essa convergência 
entre finalidade e método, na convicção de que uma boa teologia normalmente se traduz em 
prática, torna­se pedagogia, faz entrever percursos, com o sincero desejo de oferecer uma ajuda 
aos vários agentes pastorais, um instrumento útil a todos.

O evangelho da vocação

31. Todo encontro ou diálogo no evangelho tem um significado vocacional: quando Jesus 
caminha pelas estradas da Galiléia, é sempre enviado pelo Pai para chamar o homem à 
salvação e revelar­lhe o projeto do Pai. A boa notícia, o evangelho, é justamente esta: o Pai 
chamou o homem através do Filho, no Espírito; chamou­o não somente à vida, mas à 
redenção, e não só uma redenção merecida por outros, mas a uma redenção que o envolve 
pessoalmente, tornando­o responsável pela salvação de outros.

A pedagogia da vocação

32. Procuramos dentro desse evangelho uma pedagogia correspondente, que é a de Jesus, 
autêntica pedagogia da vocação. É a pedagogia que todo animador vocacional ou todo 
evangelizador deveria aplicar sempre, a fim de conduzir o jovem a reconhecer o Senhor que o 
chama e a responder­lhe.
Se o ponto de referência da pedagogia vocacional é o mistério de Cristo, o Filho de Deus feito 
homem, no seu agir « vocacional » há muitos aspectos e significativas dimensões.

Antes de tudo, nos evangelhos Jesus nos é apresentado muito mais como formador do que 
como animador, justamente porque age sempre em estreitíssima união com o Pai, que espalha  
a semente da Palavra e educa (tirando do nada), e com o Espírito que acompanha no caminho 
de santi­ficação.

Tais aspectos abrem importantes perspectivas para quem trabalha na pastoral das vocações e, 
por isso mesmo, é chamado a ser não só animador vocacional mas, antes ainda, semeador da 
boa semente da vocação, e depois acompanhador no caminho que leva o coração a « arder », 
educador para a fé e a escuta do Deus que chama, formador de atitudes humanas e cristãs de 
resposta ao apelo de Deus; (96) e, por fim, é chamado a discernir a presença do dom que vem 
do Alto.

São as cinco características centrais do ministério vocacional, ou as cinco dimensões do 
mistério do chamado que vem de Deus e chega ao homem através da mediação de um irmão 
ou irmã, ou de uma comunidade.

Semear

33. « Saiu o semeador a semear. E, enquanto semeava, parte da semente caiu na estrada e 
vieram os passarinhos e a devoraram. Uma outra parte caiu em solo pedregoso, onde havia 
pouca terra; logo brotou, porque o terreno não era profundo. Mas, quando o sol despontou, 
ficou queimada, por falta de raízes. Uma outra parte caiu entre espinheiros; os espinhos 
cresceram e a sufocaram. Outra parte, enfim, caiu em terra boa e produziu fruto, cem por um, 
sessenta por um, trinta por um » (Mt 13, 3­8).

De certo modo, esse trecho indica o primeiro passo de um caminho pedagógico, a primeira 
atitude por parte daquele que se coloca como mediador entre Deus que chama e o homem que 
é chamado, e que se inspira necessariamente no agir de Deus. O semeador é Deus­Pai; a Igreja 
e o mundo são os lugares onde ele continua a espalhar abundantemente a sua semente, com 
liberdade absoluta e sem qualquer tipo de exclusão, uma liberdade que respeita aquela do 
terreno onde a semente cai.

a) Duas liberdades em diálogo

A parábola do semeador mostra que a vocação cristã é um diálogo entre Deus e a pessoa 
humana. O principal interlocutor é Deus, que chama quem quer, quando quer e como quer, « 
segundo o seu propósito e a sua graça » (2 Tm 1,9); que chama todos à salvação, sem se deixar 
limitar pelas disposições do receptor. Mas a liberdade de Deus se encontra com a liberdade do 
homem, num diálogo misterioso e fascinante, feito de palavras e de silêncios, de mensagens e 
de atos, de olhares e de gestos, uma liberdade que é perfeita, a de Deus, e outra imperfeita, a 
humana. Portanto, a vocação é totalmente atividade de Deus, mas é também realmente 
atividade do homem: trabalho e penetração de Deus no coração da liberdade humana, mas 
também esforço e luta do homem para ser livre para acolher o dom.

Quem se coloca ao lado de um irmão, no caminho de discernimento vocacional, entra no 
mistério da liberdade, e sabe que só poderá dar uma ajuda se respeitar tal mistério. Mesmo 
quando isso devesse representar, pelo menos aparentemente, um menor resultado.

Como para o semeador do evangelho.

b) A coragem de semear em qualquer lugar

Justamente o respeito a ambas as liberdades significa, antes de tudo, a coragem de semear a 
boa semente do evangelho, da Páscoa do Senhor, da fé e, por fim, do seguimento. Essa é a 
condição prévia; não se faz nenhuma pastoral se falta essa coragem. Não só, mas é preciso 
semear por toda parte, no coração de qualquer pessoa, sem nenhum tipo de preferência ou de 
exceção. Se todo ser humano é criatura de Deus, é também portador de um dom, de uma 
vocação especial que espera ser reconhecida.

Muitas vezes na Igreja se lamenta a escassez de respostas vocacionais, e não se percebe que, 
muitas vezes também, a proposta é feita dentro de um círculo restrito de pessoas, e talvez 
retirada logo após uma primeira recusa. Vale a pena lembrar aqui a advertência de Paulo VI: « 
Que ninguém, por culpa nossa, ignore o que deve saber, para orientar a própria vida num 
sentido diferente e melhor ». (97) No entanto, quantos jovens nunca receberam alguma 
proposta cristã acerca da sua vida e do seu futuro!

É singular observar o semeador da parábola no gesto amplo da mão que semeia « por toda 
parte »; é comovente reconhecer nessa imagem o coração de Deus­Pai. É a imagem de Deus 
que semeia no coração de cada vivente um plano de salvação; ou se preferirmos, é a imagem 
do « desperdício » da generosidade divina, que se efunde sobre todos, porque a todos quer 
salvar e chamar a si.

É essa mesma imagem do Pai que se torna evidente no modo de agir de Jesus, que chama a si 
os pecadores, escolhe construir a sua Igreja com gente aparentemente inadequada para essa 
missão, não conhece barreiras e não faz distinção de pessoas.

É espelhando­se nessa imagem que, por sua vez, o operador vocacional anuncia, propõe, 
sacode, com idêntica generosidade; e é justamente a certeza da semente colocada pelo Pai no 
coração de toda criatura, que lhe dá força para ir por toda parte e semear de todas as formas a 
boa semente vocacional, para não ficar dentro dos espaços costumeiros e enfrentar ambientes 
novos, para tentar abordagens insólitas e dirigir­se a todas as pessoas.

c) A semeadura no tempo certo

Faz parte da sabedoria do semeador espalhar a boa semente da vocação, no momento propício. 
O que não significa, de forma alguma apressar os tempos da escolha, ou pretender que um pré­
adolescente tenha a maturidade de decisão de um jovem, mas entender e respeitar o sentido 
vocacional da vida humana.

Cada fase da existência tem um significado vocacional, a começar do momento em que oa 
meninoa se abre à vida e sente necessidade de entender o sentido dela, e começa a se 
questionar sobre o seu papel na vida. Deixar passar tal pergunta no momento certo, poderia 
prejudicar a germinação da semente: « a experiência pastoral mostra que, na maioria dos casos, 
a primeira manifestação da vocação nasce na infância e na adolescência. Por isso, parece 
importante recuperar ou propor fórmulas que possam suscitar, sustentar e acompanhar essa 
primeira manifestação vocacional ». (98) Sem, no entanto, limitar­se a essa. Cada pessoa tem 
os seus ritmos e seus tempos de maturação. O importante é que tenha a seu lado um bom 
semeador.

d) A menor de todas as sementes

Sem dúvida, hoje não é uma tarefa simples a do « semeador vocacional ». Pelos motivos que 
conhecemos: propriamente falando, não existe uma cultura vocacional; o modelo 
antropológico que prevalece parece ser o do « homem sem vocação »; o contexto social é 
eticamente neutro e falho de esperança e de modelos projetuais. Todos elementos que parecem 
concorrer para enfraquecer a proposta vocacional e, talvez, nos permitem aplicar a ela o que 
Jesus disse a propósito do reino de Deus (cf Mt 13,31 ss.): a semente da vocação é como o 
grãozinho de mostarda que, quando semeado, ou quando é proposto ou indicado como 
presente, é a menor de todas as sementes; não suscita muitas vezes nenhum consenso imediato; 
antes, é negado e desmentido, de certa forma sufocado por outras expectativas e projetos, 
como se fosse uma semente de infelicidade.

E então, o jovem rejeita, declara­se não interessado, já comprometeu o seu futuro (ou outros já 
o fizeram por ele); ou talvez lhe agradaria e lhe interessa, mas não tem muita certeza, e depois, 
é difícil demais e lhe causa medo... Nada de estranho e absurdo nessa reação temerosa e 
negativa; no fundo o Senhor já o havia dito. A semente da vocação é a menor de todas as 
sementes, é frágil e não se impõe, justamente por ser expressão da liberdade de Deus que 
entende respeitar totalmente a liberdade do homem.

Então é necessária também a liberdade de quem orienta o caminho do homem: uma liberdade 
de coração que permita continuar e não retroceder diante da recusa ou desinteresse inicial.

Jesus diz, na mesma parábola do grão de mostarda, que, « uma vez crescida é a maior de todas 
as hortaliças » (Mt 13, 32); portanto é uma semente que tem sua força, mesmo que não seja 
logo evidente e explosiva e, precisa de muito cuidado para maturar. Existe uma espécie de 
segredo elementar que faz parte da sabedoria camponesa: para garantir qualquer colheita na 
estação certa, é preciso cuidar de tudo, de tudo mesmo, do terreno à semente; ficar atento a 
tudo, daquilo que faz crescer a quanto pode impedir o crescimento. Inclusive contra as 
imponderáveis intempéries das estações. No campo vocacional acontece algo parecido. A 
semeadura é apenas o primeiro passo, mas deve ser seguido por outras atenções bem precisas, 
para que as duas liberdades entrem no mistério do diálogo vocacional.

Acompanhar

34. « Eis que naquele mesmo dia dois deles estavam a caminho de uma aldeia distante sete 
milhas de Jerusalém, de nome Emaús, e conversavam a respeito de tudo aquilo que havia 
acontecido. Enquanto discorriam e discutiam, Jesus em pessoa se aproximou e caminhava com 
eles. Mas os olhos deles eram incapazes de reconhecê­lo » (Lc 24, 13­16).

Escolhemos, o episódio dos dois discípulos de Emaús, para descrever as articulações 
pedagógicas do acompanhar, educar e formar. É um trecho significativo, porque, além da 
sabedoria do conteúdo e do método pedagógico seguido por Jesus, parece­nos ver nos dois 
discípulos a imagem de tantos jovens de hoje, um pouco tristes e desanimados, que parecem 
ter perdido o gosto de procurar a própria vocação.

O primeiro passo, ou a primeira atenção nesse caminho é ficar ao lado: o semeador, ou aquele 
que despertou no jovem a consciência da semente semeada no terreno do seu coração, agora se 
torna acompanhador.

Na parte teológica desta reflexão, foi indicado como típico do Espírito o ministério do 
acompanhamento; de fato, é o Espírito do Pai e do Filho que permanece ao lado do homem 
para recordar­lhe a Palavra do Mestre; é ainda o Espírito que habita no homem para suscitar 
nele a consciência de ser filho do Pai. Portanto, o Espírito é o modelo em que deve se inspirar 
aquele irmão ou aquela irmã maior que acompanha um irmão ou uma irmã menor, em busca.

a) Itinerário vocacional

Definido o itinerário vocacional pastoral, agora nos perguntamos: o que é um itinerário 
vocacional em nível pedagógico?

O itinerário pedagógico vocacional é uma viagem rumo à maturidade da fé, como uma 
peregrinação rumo ao estado adulto do ser crente, chamado a decidir sobre si e sobre a própria 
vida, com liberdade e responsabilidade, segundo a verdade do misterioso projeto feito por  
Deus para ele. Tal viagem procede por etapas, em companhia de um irmão ou uma irmã mais 
crescida na fé e no discipulado, que conhece a estrada, a voz e os passos de Deus, que ajuda a 
reconhecer o Senhor que chama e a discernir o caminho por onde ir a Ele e responder­lhe.

Então, um itinerário vocacional é, antes de tudo, caminho com Ele, o Senhor da vida, aquele « 
Jesus em pessoa », como nota Lucas, com precisão, que se aproxima do homem a caminho, 
anda pela mesma estrada e entra na história dele. Mas os olhos de carne muitas vezes não 
sabem reconhecê­lo; então o andar humano fica solitário, e inútil a conversa, enquanto que a 
busca tende a perpetuar­se, num interminável e narcisista « fazer experiências », até 
vocacionais, sem nenhum resultado decisório. Talvez o primeiro dever do acompanhador 
vocacional seja o de indicar a presença de um Outro, ou de confessar a natureza relativa da 
própria proximidade ou acompanhamento, para ser mediação de tal presença, ou itinerário 
rumo à descoberta do Deus que chama e se faz próximo a cada homem.

Como os dois de Emaús, ou como Samuel no meio da noite, muitas vezes os nossos jovens não 
têm olhos para ver, nem ouvidos para ouvir Aquele que caminha perto de cada um e, com 
insistência e, ao mesmo tempo, com delicadeza, pronuncia o seu nome. O irmão que 
acompanha é sinal daquela insistência e delicadeza; sua tarefa é ajudar a reconhecer a 
proveniência da voz misteriosa; como João Batista, não fala de si, mas anuncia um Outro que, 
porém, já está presente.

O ministério do acompanhamento vocacional é ministério humilde, daquela humildade serena 
e inteligente que nasce da liberdade no Espírito, e se expressa « com a coragem da escuta e do 
diálogo ». Graças a essa liberdade, a voz daquele que chama ressoa com maior clareza e força 
incisiva. E o jovem se vê diante de Deus, descobre com surpresa que é o Eterno que caminha 
no tempo ao lado dele, e o chama a fazer uma escolha, para sempre!

b) Os poços de água viva

« Jesus, cansado da viagem, sentou­se à beira do poço... » (Jo 4,6): é o começo do que 
poderíamos chamar um inédito colóquio vocacional: o encontro de Jesus com a samaritana. De 
fato, através desse encontro, a mulher cumpre um itinerário rumo à descoberta de si mesma e 
do Messias, inclusive tornando­se, de certo modo, anunciadora dele.

Também nesse trecho transparece a soberana liberdade de Jesus em procurar os seus 
mensageiros em toda parte e em qualquer pessoa; mas é também singular, por parte daquele 
que é o caminho do homem rumo ao Pai, o cuidado de cruzar com a criatura ao longo de seus 
caminhos, ou de esperar por ela onde é mais evidente e intensa a sua expectativa. É o que se 
pode deduzir da imagem simbólica do « poço ». Na antiga sociedade judaica, os poços eram 
fonte de vida, condição básica de sobrevivência para um povo sempre às voltas com a penúria 
de água; e é justamente ao redor desse símbolo, a água para e da vida que, com finíssima 
pedagogia, Jesus constrói a sua abordagem com a mulher.

Acompanhar um jovem quer dizer saber identificar « os poços » de hoje: todos os lugares e 
momentos, provocações e expectativas onde mais cedo ou mais tarde os jovens devem passar 
com suas jarras vazias, com seus questionamentos não expressos, com a sua suficiência 
ostensiva e muitas vezes só aparente, com seu profundo desejo de autenticidade e de futuro.

A pastoral vocacional não pode ser « contemporizadora », mas ação de quem procura e não se 
dá por vencido enquanto não acha, e se faz encontrar no lugar ou no poço certo, lá onde o 
jovem marca encontro com a vida e com o futuro.

Desse ponto de vista, o acompanhador vocacional deve ser « inteligente »; um que não impõe 
necessariamente as suas perguntas, mas parte daquelas, de qualquer tipo, do próprio jovem; ou 
— se for preciso — é capaz de « suscitar e descobrir a pergunta vocacional que ocupa o 
coração de todo jovem, mas que espera ser escavada por verdadeiros formadores vocacionais 
».(99)

c) Condivisão e con­vocação

Fazer acompanhamento vocacional significa, antes de tudo, compartilhar: o pão da fé, da 
experiência de Deus, do esforço da busca, até compartilhar também a vocação: não para impô­
la, evidentemente, mas para confessar a beleza de uma vida que se realiza segundo o projeto de 
Deus.

O registro comunicativo típico do acompanhamento vocacional não é o didático ou exortativo, 
e nem o amistoso, de um lado, ou do diretor espiritual, do outro (como quem dá logo uma 
direção à vida do outro), mas é o registro da confessio fidei.

Quem faz acompanhamento vocacional testemunha a própria escolha, ou melhor, o fato de ter 
sido escolhido por Deus; conta — não necessariamente com palavras — o seu caminho 
vocacional e a descoberta contínua da própria identidade no carisma vocacional e, com isso, 
também conta ou deixa entender o esforço, a novidade, o risco, a surpresa, a beleza.

Disso vem uma catequese vocacional de pessoa a pessoa, de coração a coração, rica de 
humanidade e originalidade, de paixão e força convincente, uma animação vocacional 
sapiencial e experiencial. Mais ou menos como a experiência dos primeiros discípulos de 
Jesus, que « foram e viram onde morava e, naquele dia, ficaram com ele » (Jo 1,39); e foi 
experiência profundamente tocante se, depois de muitos anos, João ainda se lembra de que « 
eram cerca de quatro horas da tarde ».

Só se faz animação vocacional por contágio, por contato direto, porque o coração está cheio e 
a experiência da beleza continua a atrair. « Os jovens se interessam muito pelo testemunho de 
vida das pessoas que já estão num caminho espiritual. Sacerdotes e religiososas devem ter a 
coragem de oferecer sinais concretos no seu caminho espiritual. Por isso, é importante gastar 
tempo com os jovens, caminhar no nível deles, lá onde eles estão, ouvi­los e responder às 
questões que surgem no encontro ». (100)

Justamente por isso, o acompanhador vocacional é também um entusiasta da sua vocação e da 
possibilidade de transmiti­la a outros; é testemunha não apenas convicto, mas contente e, por 
isso convincente e credível. Só assim a mensagem atinge a pessoa em sua totalidade espiritual 
— coração­mente­vontade, propondo­lhe algo que é verdadeiro­belo­bom.

É o sentido da con­vocação: ninguém pode passar ao lado do anunciador de uma tão « boa 
notícia » sem se sentir tocado, « totalmente » chamado, em todos os níveis da sua 
personalidade, e continuamente chamado, por Deus, sem dúvida; mas também por tantas 
pessoas, ideais, situações inéditas, provocações diversas, mediações humanas do chamado 
divino.

Então, o sinal vocacional pode ser mais bem percebido.

Educar

35. « Perguntou­lhes então: « De que estais falando pelo caminho, e por que estais tristes? » 
Um deles, chamado Cléofas, respondeu­lhe: « És tu, acaso, o único forasteiro em Jerusalém 
que não sabes o que nela aconteceu estes dias? » Perguntou­lhes ele: « Que foi? » Disseram: « 
A respeito de Jesus de Nazaré... Era um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e 
de todo o povo. Jesus lhes disse: « Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para 
crerdes tudo o que anunciaram os profetas! Porventura não era necessário que Cristo sofresse 
estas coisas e assim entrasse na sua glória? ». E, começando por Moisés, percorrendo todos os 
profetas, explicava­lhes o que dele se achava dito em todas as Escrituras. Aproximaram­se da 
aldeia para onde iam e ele fez como se quisesse passar adiante. Mas eles forçaram­no a parar: « 
Fica conosco, já é tarde e já declinou o dia ». Entrou então com eles. (Lc 24,17­29).

Após a semeadura, ao longo do caminho do acompanhamento, trata­se de educar o jovem. 
Educar no sentido etimológico da palavra, ou seja como tirar de dentro (e­ducere) dele a sua 
verdade, aquilo que tem no coração, também aquilo que não sabe e não conhece de si: 
fragilidades e aspirações, para facilitar a liberdade da resposta vocacional.

a) Educar para o conhecimento de si

Jesus se aproxima dos dois e pergunta­lhes de que estão falando. Ele o sabe, mas quer que 
ambos se manifestem a si mesmos e, verbalizando a sua tristeza e as esperanças frustradas, 
ajuda­os a tomar consciência do próprio problema, e do motivo real de sua perturbação. 
Assim, os dois praticamente são forçados a reler a história recente, fazendo transparecer o 
verdadeiro motivo de sua tristeza.

« Nós esperávamos... »; mas a história parece ter tomado um rumo diferente em relação às 
suas expectativas. Aliás, eles fizeram todas as experiências significativas em contato com 
Jesus « poderoso em obras e em palavras »; mas é como se de improviso esse caminho de fé se 
tivesse interrompido diante de um evento incompreensível como a paixão e morte daquele que 
deveria libertar Israel.

« Nós esperávamos, mas... »: como não reconhecer nessa história incompleta a vivência de 
tantos jovens que parecem interessados no discurso vocacional, que se deixam provocar e 
mostram boa predisposição, mas depois param diante da escolha a ser feita? De certo modo 
Jesus obriga os dois a admitir a diferença entre as suas esperanças e o plano de Deus, da forma 
como se concretizou em Jesus, entre o modo como entendiam o Messias e a sua morte na cruz, 
entre as suas expectativas tão humanas e interesseiras, e o sentido de uma salvação que vem do 
Alto.
Do mesmo modo, é importante e decisivo ajudar os jovens a fazer emergir o equívoco de 
fundo: aquela interpretação demasiado terrena e centrada em torno do eu, que torna difícil e 
até mesmo impossível a escolha vocacional, ou faz achar excessivas as exigências do chamado, 
como se o projeto de Deus fosse inimigo dos anseios de felicidade do homem.

Quantos jovens não acolheram o apelo vocacional, não porque fossem pouco generosos ou 
indiferentes, mas simplesmente porque não foram ajudados a se conhecerem, a descobrir a raiz 
ambivalente e pagã de certos esquemas mentais e afetivos; e porque não foram ajudados a se  
libertarem dos próprios medos e defesas, conscientes ou não, em relação à vocação. Quantos 
abortos vocacionais devidos a esse vazio educativo!

Educar significa, antes de tudo, fazer emergir a realidade do eu, tal como é, se se deseja depois 
levá­lo a ser como deve ser: a sinceridade é um passo fundamental para chegar à verdade, mas 
é sempre necessária uma ajuda de fora para ver bem o interior. Então, o educador vocacional 
deve conhecer os subterrâneos do coração humano, para acompanhar o jovem na construção do 
verdadeiro eu.

b) Educar para o mistério

Aqui nasce o paradoxo. Quando o jovem é conduzido às origens de si, e pode encarar também 
as suas fraquezas e os seus temores, tem a sensação de entender melhor o motivo de certas 
atitudes e reações suas e, ao mesmo tempo, capta sempre mais a realidade do mistério como 
chave de leitura da vida e da sua pessoa.

É indispensável que o jovem aceite que não sabe, que não pode se conhecer plenamente.

A vida não está inteiramente nas suas mãos, porque a vida é mistério e, por outro lado, o  
mistério é vida; ou seja, o mistério é aquela parte do eu que ainda não foi descoberta, ainda 
não vivida e que espera ser decifrada e realizada; mistério é aquela realidade pessoal que ainda 
precisa crescer, rica de vida e de possibilidades existenciais ainda intactas, é a parte 
germinativa do eu.

Então, aceitar o mistério é sinal de inteligência, de liberdade interior, de desejo de futuro e de 
novidade, de recusa de uma concepção repetitiva e passiva, tediosa e banal da vida. Por isso 
dissemos no início que a pastoral vocacional deve ser mistagógica, e portanto, partir e tornar a 
sair do mistério de Deus para reconduzir ao mistério do homem.

A perda do sentido do mistério é uma das maiores causas da crise vocacional.

Ao mesmo tempo, a categoria do mistério se torna categoria propedêutica para a fé. É possível, 
e de certa maneira natural, que a esse ponto o jovem sinta nascer dentro de si uma espécie de 
necessidade de revelação, isto é, o desejo de que o próprio Autor da vida lhe desvende o 
sentido e o lugar que deve ocupar nela. Quem mais, a não ser o Pai, pode realizar tal 
desvendamento?

Por outro lado, é importante que o jovem descubra logo (ou que o guia intua imediatamente) a 
estrada que deve seguir: o que interessa é que ele descubra e decida colocar fora de si, em Deus 
Pai, a procura do fundamento da sua existência. Um autêntico caminho vocacional leva sempre 
e de qualquer modo à descoberta da paternidade­maternidade de Deus!

c) Educar a ler a vida

No evangelho, Jesus de certa forma convida os dois de Emaús a retornarem à vida, àqueles 
eventos que haviam causado a sua tristeza, através de um sapiente método de leitura: capaz não 
só de recompor os eventos entre si, ao redor de um significado central, mas de decifrar, no 
tecido misterioso da existência humana, o fio vermelho de um projeto divino. É o método que 
se poderia chamar de genético­histórico, que faz procurar e encontrar, na própria biografia, os 
passos e as marcas da passagem de Deus e, portanto, também a sua voz que chama. Tal método 
é ao mesmo tempo, dedutivo e indutivo, ou histórico­bíblico: de fato, parte da verdade revelada 
e juntamente da realidade histórica, e assim permite o diálogo ininterrupto entre vivido 
subjetivo (os fatos citados pelos dois discípulos) e referência à Palavra (« E, começando por 
Moisés e percorrendo todos os profetas, explicava­lhes o que dele se achava dito em todas as 
Escrituras » (Lc 24,27); na normatividade da Palavra e na centralidade do mistério pascal do  
Cristo morto e ressuscitado, indica um ponto preciso de interpretação dos eventos existenciais, 
sem rejeitar nenhum acontecimento, especialmente os mais difíceis e dolorosos (« Não era  
preciso que o Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse na sua glória? » (Lc 24,26).

A leitura da vida se torna com isso uma operação altamente espiritual, não apenas psicológica, 
porque leva a reconhecer nela a presença luminosa e misteriosa de Deus e da sua Palavra. (101) 
E, dentro desse mistério, permite conhecer, devagarzinho, a semente da vocação que o mesmo 
Pai­semeador depositou nos sulcos da vida. Aquela semente, embora pequena, agora começa a 
ficar visível e a crescer.

d) Educar a in­vocar

Se a leitura da vida é operação espiritual, essa necessariamente leva a pessoa não somente a 
reconhecer o seu desejo de revelação, mas a celebrá­lo, com a oração de invocação. Educar 
quer dizer e­vocar a verdade do eu. Tal evocação nasce exatamente da in­vocação orante, de 
uma oração que é mais de confiança do que de pedido, oração como surpresa e gratidão; mas 
também como luta e tensão, como sofrida « escavação » das próprias ambições para acolher 
expectativas, pedidos, desejos do Outro: do Pai que, no Filho, pode dizer, àquele que procura, 
qual o caminho a seguir.

Mas, então a oração se torna o lugar do discernimento vocacional, da educação para a escuta  
do Deus que chama, porque qualquer vocação tem origem nos espaços de uma oração 
invocativa, paciente e confiante; sustentada não pela pretensão de uma resposta imediata, mas 
pela certeza ou pela esperança de que a invocação não pode deixar de ser acolhida, e, no tempo 
certo, fará com que aquele que invoca descubra a sua vocação.

No episódio de Emaús, tudo isso é revelado com uma expressão essencial, talvez a oração mais 
linda que um coração humano já rezou: « Fica conosco, já é tarde e o dia já declinou » (Lc 
24,29). É a súplica de quem sabe que, sem o Senhor, a noite desce depressa na vida, sem a sua 
Palavra existe a obscuridade da incompreensão ou da confusão de identidade; a vida parece 
não ter sentido e nem vocação. É a invocação de quem talvez ainda não descobriu a sua 
estrada, mas intui que, estando com Ele, encontra­se a si mesmo, porque só Ele tem « palavras 
de vida eterna » (Jo 6,67­68).

Esse tipo de oração in­vocativa não se aprende espontaneamente, mas precisa de um longo 
aprendizado; e não se aprende sozinho, mas com a ajuda de quem aprendeu a escutar os 
silêncios de Deus. Nem qualquer pessoa pode ensinar tal oração, mas somente quem é fiel à 
sua vocação.

Então, se a oração é a via natural da busca vocacional, hoje como ontem, ou mais do que 
ontem, são necessários educadores vocacionais que rezem, que ensinem a rezar, que eduquem 
para a in­vocação.

Formar

36. « Aconteceu que, estando sentado com eles à mesa, tomou o pão, abençoou­o, partiu­o e 
serviu­lhes. Então se lhes abriram os olhos e o reconheceram... mas ele desapareceu. Diziam 
então um para o outro: « Não se nos abrasava o coração, quando ele nos falava pelo caminho e 
nos explicava as Escrituras? ».

A formação é de certo modo o momento culminante do processo pedagógico, porque é o 
momento em que é proposta ao jovem uma forma, um modo de ser, no qual ele mesmo 
reconhece a sua identidade, a sua vocação, a sua norma.

É o Filho, Aquele que é a marca do Pai, o formador dos homens, porque representa a imagem 
segundo a qual o Pai criou os homens. Por isso Ele convida aquele que chama a ter os seus 
mesmos sentimentos e a compartilhar a sua vida, a ter a sua « forma ». É Ele, ao mesmo 
tempo, o formador e a forma.

O formador vocacional é tal, enquanto mediador desta ação divina, e se coloca ao lado do 
jovem para ajudá­lo a « reconhecer » nela o seu chamado, e a se deixar formar por ela.

a) Reconhecimento de Jesus

Sem dúvida, o momento decisivo do episódio de Emaús é aquele em que Jesus toma o pão, 
parte­o e o dá a cada um deles: « Então se lhes abriram os olhos e o reconheceram ». Há aqui 
uma série de « reconhecimentos » coligados entre si.

Antes de tudo, os dois reconhecem Jesus, descobrem a verdadeira identidade do viandante que 
se juntou a eles, exatamente porque, como os dois sabiam muito bem, somente Ele podia fazer 
aquele gesto. 

Em perspectiva vocacional, isso está a dizer a importância de colocar em ato gestos fortes, 
sinais inequívocos, propostas altas, projetos de seguimento total. (102)

O jovem precisa ser estimulado por grandes ideais, em vista de algo que o supera e está acima 
das suas capacidades, pelo qual vale a pena dar a própria vida. Lembra isso também a análise 
psicológica: pedir a um jovem alguma coisa que esteja abaixo de suas possibilidades, significa 
ofender a sua dignidade e impedir a sua plena realização; dito de forma positiva, ao jovem se 
deve propor o máximo daquilo que ele pode dar, para que se torne e seja ele mesmo.

E, se Jesus é reconhecido « ao partir do pão », a dimensão eucarística deveria subentender todo 
caminho vocacional: como « lugar » típico da solicitação vocacional, como mistério que 
manifesta o sentido geral da existência humana, como objetivo final de qualquer pastoral 
vocacional que queira ser cristã.

b) Reconhecimento da verdade da vida

Mas, num autêntico processo de formação para a escolha vocacional, a este ponto surge um 
segundo « reconhecimento »: oreconhecimento­descoberta, dentro do sinal eucarístico, do  
significado da vida. Se a Eucaristia é sacrifício de Cristo que salva a humanidade, e se tal 
sacrifício é corpo partido e sangue derramado para a salvação da humanidade, também a vida 
do crente é chamada a modelar­se sobre a mesma correlação de significados: também a vida é  
bem recebido que, por natureza, tende a se tornar bem doado, como a vida do Verbo. É a 
verdade da vida, de toda vida.

As conseqüências em nível vocacional são evidentes. Se no início da existência do homem há 
um dom que o constitui no ser, então a vida tem uma estrada marcada: se é dom, ele só será 
plenamente ele mesmo se se realiza na perspectiva do doar­se; será feliz com a condição de 
respeitar esta sua natureza. Poderá fazer a escolha que quiser, mas sempre na lógica do dom; 
de outro modo, se tornará um ser em contradição consigo mesmo, uma realidade « monstruosa 
»; será livre de decidir a orientação específica, mas não será livre de imaginar­se fora da  
lógica do dom.

Toda a pastoral vocacional é construída sobre essa catequese elementar do significado da vida. 
Se essa verdade antropológica passa, então se pode fazer qualquer proposta vocacional. Então, 
também a vocação ao ministério ordenado ou à consagração religiosa ou secular, com toda a 
sua carga de mistério e mortificação, se torna a plena realização do humano e do dom que todo 
homem tem e é, no mais profundo de si.
c) A vocação como reconhecimento­gratidão

Mas, se é no gesto eucarístico que os dois de Emaús « reconhecem » o Senhor, e todo crente o 
sentido da vida, então a vocação nasce do « reconhecimento ». Nasce no terreno fecundo da 
gratidão, porque a vocação é resposta, não iniciativa do indivíduo: é ser escolhido, não 
escolher.

A leitura de toda a vida passada deveria justamente levar a essa atitude interior de gratidão. A 
descoberta de ter recebido, de modo imerecido e excedente, deveria « obrigar » 
psicologicamente o jovem a conceber a oferta de si, na opção vocacional, como uma 
conseqüência inevitável, como um ato certamente livre, porque determinado pelo amor; mas, 
num certo sentido, também devido, porque, diante do amor recebido de Deus, ele sente que 
não pode fazer a menos do que doar­se. É lindo e inteiramente lógico que seja assim; em si não 
é uma coisa extraordinária.

A pastoral vocacional é orientada a formar para essa lógica do reconhecimento­gratidão; muito 
mais sadia e convincente, no plano humano, e mais teologicamente fundada do que a chamada 
« lógica do herói » daquele que não amadureceu suficientemente a consciência de ter recebido, 
e se sente, ele mesmo, autor do dom e da escolha. Tal lógica tem pouquíssima força sobre a 
sensibilidade juvenil hodierna, porque subverte a verdade da vida como bem recebido que 
tende naturalmente a se tornar bem doado.

É a sapiência evangélica do « recebestes de graça, dai gratuitamente » (Mt 10,8), (103) dirigido 
por Jesus aos discípulos­anunciadores da sua palavra, que mostra a verdade de todo ser 
humano: ninguém poderia deixar de se reconhecer nele.

É dessa verdade que a vida deriva a forma que depois é chamada a assumir, ou é dessa figura 
única da fé que depois nascem as diversas figuras vocacionais da mesma fé.

Então é possível também pedir escolhas igualmente fortes e radicais, como um chamado de 
especial consagração, ao sacerdócio e à vida consagrada. Por isso, por difícil e singular que 
possa parecer (e, na realidade, é), a proposta de Deus se torna também uma impensada 
promoção das autênticas aspirações humanas e garante o máximo da felicidade. A felicidade 
cheia de gratidão, que Maria canta no « Magnificat ».

d) Reconhecimento de Jesus e auto­reconhecimento do discípulo

Os olhos dos discípulos de Emaús se abrem diante do gesto eucarístico de Jesus.

É diante desse gesto que Cléofas e o companheiro percebem também o sentido do seu 
caminho, como uma viagem não só rumo ao reconhecimento de Jesus, mas também rumo ao 
próprio reconhecimento « Não se nos abrasava o coração, quando ele nos falava pelo caminho 
e nos explicava as Escrituras? ».
Não há simplesmente uma certa comoção nos dois peregrinos que escutam a explicação do 
Mestre, mas a sensação de que a sua vida, a sua Eucaristia, a sua Páscoa, o seu mistério serão 
sempre mais a sua própria vida, eucaristia, páscoa, mistério.

No coração que se abrasa, existe a descoberta da vocação e a história de toda vocação. Sempre 
ligada a uma experiência de Deus, em que a pessoa descobre também a si mesma e a própria 
identidade.

Formar para a escolha vocacional quer dizer mostrar sempre mais a ligação entre experiência 
de Deus e descoberta do eu, entre teofania e auto­identidade. É muito verdadeiro o que afirma 
o Instrumentum laboris: « O reconhecimento dele como Senhor da vida e da história comporta 
o auto­reconhecimento do discípulo ». (104) E quando o ato de fé consegue conjugar o « 
reconhecimento cristológico » com o « auto­reconhecimento antropológico », a semente da 
vocação já está madura, ou melhor, está florescendo.

Discernir

37. « Levantaram­se na mesma hora e voltaram a Jerusalém. Aí acharam reunidos os onze e os 
que com eles se detinham. Todos diziam: "O Senhor ressuscitou verdadeiramente e apareceu a 
Simão", Eles, por sua parte, contaram o que lhes havia acontecido no caminho, e como o 
tinham reconhecido ao partir do pão » (Lc 24, 33­35).

Para que o caminho de Emaús se torne itinerário vocacional, é necessária uma passagem 
conclusiva depois da série de « reconhecimentos » e « auto­reconhecimentos »: a escolha  
definitiva, por parte do jovem, à qual corresponde, por parte daquele que o acompanhou ao 
longo do caminho vocacional, o processo de discernimento. Um discernimento que certamente 
não se encerrará no tempo da orientação vocacional, masdeverá continuar depois até a 
maturação de uma decisão definitiva, « para toda a vida ». (105)

a) A escolha definitiva do que foi chamado

Capacidade de decisão

No episódio evangélico que traçou o caminho da nossa reflexão, a escolha é bem expressa no 
versículo 33: « Levantaram­se na mesma hora... ».

A anotação temporal (« na mesma hora ») exprime com eficácia a determinação dos dois, 
provocada pela palavra e pela pessoa de Jesus, pelo encontro com ele, e corajosamente 
colocada em prática numa escolha que significa ruptura com aquilo que eram ou faziam antes, 
e indica novidade de vida.

É justamente essa decisão que muitas vezes falta aos jovens de hoje.

Por esse motivo, com o fim de « ajudar os jovens a superar a indecisão diante dos 
compromissos definitivos, parece útil prepará­los progressivamente para assumir 
responsabilidades pessoais [...], confiar tarefas adequadas às capacidades e à idade deles [...], 
facilitar uma educação progressiva para as pequenas escolhas quotidianas diante dos valores 
(gratuidade, constância, sobriedade, honestidade...). (106)

Por outro lado, é necessário lembrar que, muitas vezes, esses e outros temores e indecisões 
indicam a fragilidade não somente da estrutura psicológica da pessoa, mas também da 
experiência espiritual e, de modo especial, da experiência da vocação como escolha que vem 
de Deus.

Quando essa certeza é pobre, o sujeito se entrega inevitavelmente a si mesmo e aos próprios 
recursos; e quando constata a sua precariedade, não é de admirar que se deixe dominar pelo 
medo de fazer uma escolha definitiva.

A incapacidade decisória não é necessariamente característica da atual geração juvenil: não 
raro é conseqüência de um acompanhamento vocacional que não sublinhou suficientemente o 
primado de Deus na escolha, ou que não formou para se deixar escolher por Ele. (107)

« Volta para casa »

A escolha vocacional indica novidade de vida, mas na realidade é também sinal de uma 
recuperação da própria identidade, uma espécie de « volta para casa », para as raízes do eu. No 
trecho de Emaús, é simbolizado pela expressão: « ...e voltaram a Jerusalém ».

Na formação para a escolha vocacional, é muito importante insistir na idéia de que ela é 
condição para que o jovem seja ele mesmo, e se realize segundo o único projeto que pode dar 
felicidade. Muitos jovens ainda pensam o contrário a respeito da vocação cristã, vêem­na com 
desconfiança e receiam que ela não possa fazê­los felizes; mas depois acabam sendo infelizes, 
como o jovem triste do evangelho (cf Mc 10,22).

Quantas vezes também as atitudes dos adultos, inclusive dos pais, têm contribuído para criar 
uma imagem negativa da vocação, especialmente ao sacerdócio e à vida consagrada, criando 
obstáculos para a sua realização e desencorajando quem se sentia chamado a isso! (108)

Ademais, não se resolve esse problema com uma banal propaganda contrária, que enfatizaria 
os aspectos positivos e gratificantes da vocação, mas, sobretudo sublinhando a idéia de que a 
vocação é o pensamento de Deus sobre a criatura, é o nome dado por Ele à pessoa.

Descobrir a vocação e responder como crentes, quer dizer encontrar aquela pedra na qual está 
escrito o próprio nome (cf Ap 2,17­18), ou voltar às nascentes do eu.

Testemunho pessoal

Em Jerusalém os dois « acharam reunidos os onze e os que com eles se detinham. Todos 
diziam: « O Senhor ressuscitou verdadeiramente, e apareceu a Simão ». Eles, por sua parte, 
contaram o que lhes havia acontecido no caminho, e como o tinham reconhecido ao partir do 
pão » (Lc 24,33­35).

Em relação à escolha vocacional, o elemento mais significativo desse trecho é o testemunho 
dos dois, um testemunho especial, porque acontece num contexto comunitário e tem um 
sentido vocacional muito preciso.

Quando os dois chegam, a assembléia está proclamando a sua fé com uma fórmula (« O 
Senhor ressuscitou verdadeiramente, e apareceu a Simão »), que sabemos estar entre os 
testemunhos mais antigos da fé objetiva. De certa forma, Cléofas e o companheiro acrescentam 
a sua experiência subjetiva, que confirma o que a comunidade estava proclamando, e confirma 
também o caminho pessoal crente e vocacional deles.

É como se aquele testemunho fosse o primeiro fruto da vocação descoberta e reencontrada que, 
como é próprio da natureza da vocação cristã, imediatamente é colocada a serviço da 
comunidade eclesial.

Volta, portanto, o que já foi dito acerca da relação entre itinerários eclesiais objetivos e 
itinerário pessoal subjetivo, num relacionamento de sinergia e complementariedade: o 
testemunho individual ajuda e faz crescer a fé da Igreja; a fé e o testemunho da Igreja suscitam 
e encorajam a escolha vocacional do indivíduo.

b) O discernimento por parte de quem guia

Na Exortação Apostólica pós­sinodal Pastores dabo vobis, João Paulo II afirma: « O 
conhecimento da natureza e da missão do sacerdócio ministerial é o pressuposto irrenunciável 
e, ao mesmo tempo o guia mais seguro e o estímulo mais incisivo para desenvolver na Igreja a 
ação pastoral de promoção e de discernimento das vocações sacerdotais e de formação dos 
chamados ao ministério ordenado ». (109)

O mesmo poderia ser dito, por analogia, quando se trata de qualquer vocação à vida 
consagrada. Pressuposto irrenunciável para discernir tais vocações é, antes de tudo, ter 
presente a natureza e a missão desse estado de vida na Igreja. (110)

Tal pressuposto deriva diretamente da certeza de que é Deus que chama e, portanto, da busca 
daqueles sinais que apontam o chamado divino.

Indicam­se, agora, alguns critérios de discernimento, distinguíveis em quatro áreas.

A abertura ao mistério

Se o fechamento ao mistério, característico de certa mentalidade moderna, inibe qualquer 
disponibilidade vocacional, o seu oposto, ou seja a abertura ao mistério não somente é 
condição positiva para a descoberta da própria vocação, mas indício de uma sadia opção 
vocacional.

a) A autêntica certeza objetiva vocacional é aquela que abre espaço para o mistério, e a 
sensação de que a própria decisão, embora firme, deverá permanecer aberta a uma contínua 
sondagem do mesmo mistério.

Ao contrário, a certeza não autêntica, não somente aquela frágil e incapaz de dar lugar a uma 
decisão, mas também o seu oposto, isto é a pretensão de já ter entendido tudo, de ter esgotado 
as profundidades do mistério pessoal, não pode deixar de criar endurecimentos e uma certeza 
que muitas vezes é desmentida no decurso da vida.

b) A atitude tipicamente vocacional é expressão da virtude da prudência, mais do que 
ostensiva capacidade pessoal. Justamente por isso, a segurança dessa leitura do próprio futuro 
é a da esperança e da entrega confiante que nasce da confiança depositada num Outro, em 
quem se pode confiar; não é deduzida da garantia das próprias capacidades percebidas como 
correspondentes às exigências do papel escolhido.

c) É ainda um bom indício vocacional a capacidade de acolher e integrar aquelas polaridades 
contrapostas que constituem a dialética natural do eu e da vida humana. Por exemplo, possui 
tal capacidade um jovem que é suficientemente consciente de seus aspectos tanto positivos 
como negativos, da parte sadia e da menos sadia do seu próprio projeto vocacional e que não 
presuma nem desespere diante do negativo que há em si mesmo.

d) Tem uma boa familiaridade com o mistério da vida, como lugar onde perceber uma 
presença e um apelo, o jovem que descobre os sinais do seu chamado por parte de Deus, não 
só nos eventos extraordinários, mas na sua história; nos eventos que, como crente, aprendeu a 
ler, nas suas perguntas, ansiedades, aspirações.

e) Entra nessa categoria de abertura ao mistério uma outra característica fundamental do 
autêntico chamado: a da gratidão. A vocação nasce no terreno fecundo da gratidão; e deve ser 
interpretada com ímpeto de generosidade e radicalidade, justamente porque nasce da 
consciência do amor recebido.

A identidade da vocação

A segunda ordem de critérios gira em torno do conceito de « identidade ». A opção vocacional 
indica e implica exatamente a definição da própria identidade; é escolha e realização do eu 
ideal, mais do que do eu atual, e deveria levar a pessoa a ter um conceito substancialmente 
positivo e estável do próprio eu.

a) A primeira condição é que a pessoa mostre estar à altura de afastar­se da lógica da 
identificação nos níveis corporal (=o corpo como fonte de identidade positiva) e psíquico (=os 
próprios dotes como única e preeminente garantia de autoestima), e ao invés, descobre a 
própria positividade radical ligada estavelmente ao ser, recebido de Deus como dom (é o nível 
ontológico), não à precariedade do ter e do parecer. A vocação cristã é o que leva a termo tal 
positividade, realizando ao máximo grau as possibilidades do sujeito, mas segundo um projeto 
que regularmente o supera, porque pensado por Deus.

b) « Vocação » fundamentalmente quer dizer « chamado »: portanto, há um sujeito externo, 
um apelo objetivo, e uma disponibilidade interior a se deixar chamar e a reconhecer­se num 
modelo que não foi o chamado quem criou.

c) A respeito da motivação ou da modalidade da escolha vocacional, o critério fundamental é o 
da totalidade (ou lei da totalidade); isto é, que a decisão seja expressão de um envolvimento 
total das funções psíquicas (coração­mente­vontade), e seja decisão ao mesmo tempo mental 
ética­emotiva.

d) Mais precisamente, existe maturidade vocacional quando a vocação é vivida e interpretada 
como um dom, mas também como apelo exigente: a ser vivido pelos outros, não só para a 
própria perfeição, e com os outros, na Igreja mãe de todas as vocações, numa específica « 
sequela Christi ».

Um projeto vocacional rico de memória crente

A terceira área na qual se concentraria a atenção de quem discerne uma vocação é a que diz 
respeito à qualidade da relação entre passado e presente, entre memória e projeto.

a) Antes de tudo, é importante que o jovem esteja substancialmente reconciliado com o seu  
passado: com o inevitável negativo, de qualquer espécie, que faz parte dele, e também com o 
seu positivo, que deveria estar em condição de reconhecer com gratidão; reconciliado também 
com as figuras significativas do seu passado, com suas riquezas e fragilidades.

b) Então deve ser atentamente considerado o tipo de memória que o jovem tem da própria 
história, que interpretação dá da própria vida: em chave de graça ou de lamento? Sente­se, 
consciente ou inconscientemente, em crédito, e por isso ainda à espera de receber, ou aberto 
para dar?

c) Particularmente significativa é a atitude do jovem diante dos traumas mais ou menos graves, 
da vida passada. Ter um projeto de consagrar­se a Deus quer dizer sempre reapropriar­se da 
vida que se quer doar, em todos os seus aspectos; tender a integrar esses componentes menos 
positivos, reconhecendo­os com realismo e assumindo uma atitude responsável, não 
simplesmente de comiseração diante deles. Jovem « responsável » è aquele que se empenha em 
assumir uma atitude ativa e criativa a respeito do evento negativo, ou procura usufruir de  
modo inteligente a experiência pessoal negativa.

É preciso prestar muita atenção às vocações que nascem do sofrimento, desilusão ou incidentes 
diversos ainda não bem integrados. Em tal caso, é necessário um discernimento mais atento, 
inclusive recorrendo a consultas com especialistas, para não colocar pesos impossíveis sobre 
ombros frágeis.

A « docibilitas » vocacional

A última fase do itinerário vocacional é a da decisão. Com referência a tal fase, parecem ser 
estes os critérios de maturidade vocacional:

a) O requisito fundamental é o grau de docibilitas da pessoa, ou seja a liberdade interior de se 
deixar guiar por um irmão ou irmã maior; em particular, nas fases estratégicas da reelaboração 
e reapropriação do próprio passado, especialmente o mais problemático, e a conseqüente 
liberdade de aprender e saber mudar.

b) No fundo, o requisito da docibilitas é o requisito do ser jovem, não tanto como dado do 
registro civil quanto como atitude global existencial. É importante que quem pede admissão ao 
seminário ou à vida consagrada seja verdadeiramente « jovem », com as virtudes e 
vulnerabilidades típicas dessa fase da vida, com a vontade de fazer e o desejo de dar o máximo 
de si, capaz de socializar e de apreciar a beleza da vida, consciente dos próprios defeitos e das 
próprias potencialidades, consciente do dom de ter sido escolhido.

c) Hoje, mais do que ontem, uma área particularmente merecedora de atenção, é a afetivo­
sexual. (111) É importante que o jovem demonstre poder adquirir as duas certezas que tornam 
a pessoa afectivamente livre, ou seja a certeza que vem da experiência de já ter sido amado e a 
certeza, sempre experiencial, de saber amar. Concretamente, o jovem deveria demonstrar 
aquele equilíbrio humano que lhe permite manter­se de pé sozinho, deveria possuir aquela 
segurança e autonomia que facilitam seu relacionamento social e uma cordial amizade, e 
aquele senso de responsabilidade que lhe permite viver, como adulto, esse mesmo 
relacionamento social, livre para dar e receber.

d) No que diz respeito às inconsistências, sempre na área afectivo­sexual, um discernimento 
perspicaz deveria considerar a centralidade dessa área na evolução geral do jovem e na cultura 
(ou subcultura) atual. Não é muito estranho ou raro que o jovem revele fragilidades específicas 
nesse sector.

Com que condições se pode prudentemente acolher o pedido vocacional de jovens com esse 
tipo de problemas? A condição é que se verifiquem juntamente estes três requisitos:

1° que o jovem esteja consciente da raiz do seu problema que, muitas vezes, não é 
originariamente sexual.

2° a segunda condição é que o jovem sinta a sua fragilidade como um corpo estranho à própria 
personalidade, alguma coisa que não quereria e que se choca com o seu ideal, e contra a qual 
luta com todo o seu ser.
3° Por fim, é importante verificar se o sujeito tem condição de controlar essas fraquezas, em 
vista de uma superação, seja porque de fato caia menos, seja porque tais inclinações perturbam 
sempre menos a sua vida (também psíquica) e lhe permitem desempenhar seus deveres 
normais sem criar nele demasiada tensão, nem ocupar indevidamente a sua atenção. (112) 
Esses três critérios devem estar todos presentes, para permitir um discernimento positivo.

e) Por fim, a maturidade vocacional é decidida por um elemento essencial que, 
verdadeiramente, dá sentido a todo o resto: o ato de fé. Para todos os efeitos, a autêntica opção 
vocacional é expressão da adesão crente, e é tanto mais generosa quanto mais é parte e epílogo 
de um caminho de formação para a maturidade da fé. Dentro de uma lógica que abre espaço 
para o mistério, o ato de fé é exactamente aquele ponto central que permite manter juntas as 
polaridades às vezes contrapostas da vida, perenemente tensa entre a certeza do chamado e a 
consciência da própria incapacidade, entre a sensação de perder­se e de reencontrar­se, entre a 
grandeza das aspirações e o peso dos próprios limites, entre a graça e a natureza, entre Deus 
que chama e o homem que responde. Precisamente mantendo juntas essas polaridades, o jovem 
autenticamente chamado deveria demonstrar a firmeza do seu ato de fé.

CONCLUSÃO

Rumo ao Jubileu

38. Este documento é destinado às Igrejas da Europa, no momento em que o povo de Deus está 
se preparando para celebrar um tempo de graça e de misericórdia, de conversão e renovação no 
Jubileu do ano 2.000. O Congresso vocacional faz parte dessa caminhada de preparação e, de 
certo modo, contribui para orientá­la. Em duas direcções.

A primeira é um convite à conversão. A crise vocacional que vivemos e ainda estamos vivendo 
não pode deixar de fazer­nos reflectir também sobre nossas responsabilidades, enquanto 
crentes e chamados a difundir o dom da fé e a promover, em cada irmão, a disponibilidade ao 
chamado.

De modos diferentes, todos nós devemos admitir que não respondemos plenamente a esse 
chamado, de ter tornado a Igreja, a igreja das nossas famílias e dos ambientes de trabalho, das 
nossas paróquias e dioceses, das nossas congregações religiosas e institutos seculares, menos 
fiel ao dever de mediar a voz do Pai que chama a seguir o Filho no Espírito. Só sairemos dessa 
crise vocacional se esse processo de conversão for sincero e produzir frutos de novidade de 
vida.

A segunda direcção que este documento quereria contribuir para imprimir à peregrinação da 
Igreja rumo ao Jubileu, é um convite à esperança. Convite que emerge de todo o Congresso e 
que agora quereríamos repetir com toda a força da nossa fé. Talvez não exista um sector na 
vida da Igreja que tenha tanta necessidade de se abrir à esperança, como a pastoral vocacional, 
especialmente lá onde a crise se faz sentir mais pungente.
Por isso, ao término desta reflexão, nós reafirmamos a nossa certeza de que o Senhor da messe 
não deixará faltar à Igreja operários para a sua messe. Antes, se a esperança é fundada não nas 
nossas previsões e nos nossos cálculos, que muitas vezes a história passada se encarregou de 
desmentir, mas « na Tua Palavra », então podemos e queremos acreditar numa renovada 
floração vocacional para as Igrejas da Europa.

Este documento quer ser como um hino ao optimismo da fé, repleta de esperança, para 
despertá­lo nos meninos, adolescentes e jovens, nos pais e nos educadores, nos pastores e nos 
presbíteros, nos consagrados e consagradas, em todos aqueles que servem à vida ao lado das 
novas gerações, em todo o povo de Deus que está na Europa.

Roguemos ao Dono da messe

39. O nosso documento, que se abriu com a ação de graças ao Senhor Deus, não pode se 
encerrar sem uma prece à Santíssima Trindade, fonte e destino de toda vocação.

« Deus Pai, fonte do amor, que desde toda a eternidade chamas à vida e a dás em abundância, 
volve o teu olhar sobre esta terra da Europa. Chama­a ainda, como a chamaste um tempo; mas 
sobretudo faze que seja consciente do teu chamado, das suas raízes cristãs, da responsabilidade 
que disso deriva. Torna­a consciente da sua vocação a promover uma cultura da vida, ao 
respeito pela existência de cada homem em todas as suas formas e a cada instante dela, à 
unidade entre os povos, ao acolhimento do estrangeiro, à promoção de formas civilizadas e 
democráticas de vida social, para que seja sempre mais uma Europa unida na paz e na 
fraternidade.

Verbo eterno, que desde toda a eternidade acolhes o amor do Pai e respondes ao seu chamado, 
abre o coração e a mente dos jovens desta terra, para que aprendam a se deixarem amar por 
Aquele que os pensou à imagem do seu Filho e, deixando­se amar, tenham a coragem de 
realizar essa imagem, que é a tua. Torna­os fortes e generosos, capazes de arriscar na tua 
Palavra, livres para voar alto, fascinados pela beleza do teu seguimento. Suscita no meio deles 
anunciadores do teu evangelho: presbíteros, diáconos, consagrados e consagradas, religiosos e 
leigos, missionários e missionárias, monges e monjas, que, com a própria vida saibam, por sua 
vez, chamar e propor o seguimento do Cristo Salvador.

Espírito Santo, amor sempre jovem de Deus, voz do Eterno que não cessa de ressoar e de 
chamar, livra o Velho Continente de todo espírito de suficiência, da cultura do « homem sem 
vocação », daquele medo que impede de arriscar e torna a vida banal e sem sabor, daquele 
minimalismo que habitua à mediocridade e mata qualquer impulso interior e o autêntico 
espírito juvenil na Igreja. Faze com que os nossos jovens redescubram o sentido pleno do 
seguimento como chamado a serem plenamente eles mesmos, plenamente e para sempre 
jovens, cada qual segundo um projeto pensado precisamente para ele, único­singular 
irrepetível. Numa Europa que corre o risco de se tornar sempre mais velha, concede o dom de 
novas vocações que saibam testemunhar a « juventude » de Deus e da Igreja, universal e local, 
do Leste ao Ocidente, e saibam promover projetos de nova santidade, para o nascimento de 
uma nova Europa.

Virgem Santa, jovem filha de Israel, que o Pai escolheu como esposa do Espírito para gerar o 
Filho na terra, gera nos jovens da Europa a tua mesma coragem audaz; aquela coragem que um 
dia te tornou livre para acreditar num projeto maior do que tu mesma, livre para esperar que 
Deus iria realizá­lo. A ti, que és a mãe do Eterno Sacerdote, confiamos aqueles jovens 
chamados ao presbiterato; a ti, que és a primeira consagrada do Pai, confiamos aqueles e 
aquelas jovens que escolhem pertencer totalmente ao Senhor, único tesouro e bem sumamente 
amado, na vida religiosa e consagrada; a ti, que viveste como ninguém a solidão de uma 
intimidade mais perfeita com o Senhor Jesus, confiamos quem deixa o mundo para dedicar 
toda a sua vida à oração, na vida monástica; a ti, que geraste e assististe com materno amor a 
Igreja nascente, confiamos todas as vocações desta Igreja, para que, hoje como antes, 
anunciem a todas as gentes que Jesus Cristo é o Senhor, no Espírito Santo, para a glória de 
Deus Pai. Amén! ».

Roma, 06 de janeiro de 1998, Epifania de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Pio Card. Laghi

Presidente

José Saraiva Martins

Arcebispo Titular de Tuburnica

Vice­Presidente

(1) Participaram do Congresso 253 delegados provenientes de 37 nações européias, e 
representantes das várias categorias vocacionais (leigos, consagrados as, sacerdotes, bispos), 
com a presença inclusive de alguns expoentes das Igrejas irmãs (Protestantes, Ortodoxos e 
Anglicanos).

(2) Pontifícia Obra para as Vocações Eclesiásticas, A pastoral das vocações nas Igrejas  
particulares da Europa. Documento de trabalho do Congresso sobre as vocações ao  
Sacerdócio e à Vida Consagrada na Europa, Roma 1996, n. 88. De agora em diante esse texto 
será citado como IT (Instrumento de Trabalho).

(3) Ibid., 15.

(4) Ver, entre outros, Desenvolvimento da pastoral das vocações nas Igrejas particulares,  
experiências do passado e programas para o futuro, Documento conclusivo do II Congreso  
internacional de Bispos e outros responsáveis pelas vocações eclesiásticas (sob os auspicios 
das SS. Congregaçoes: para as Igrejas Orientais, para as Religiosas e as Institutos Seculares, 
para a Evangelização dos povos, para a Educação Catolica) Roma, 10­16 de maio de 1981; 
Pontifícia Obra das Vocações Eclesiásticas, Desenvolvimento da pastoral das vocações nas  
Igrejas particulares (preparadopelas Congregações da Educação Católica e dos Institutos de 
Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica, Roma 1992; Declaração final do I  
Congresso Continental latino­americano sobre Vocações, Itaici 1994 (publicada em « 
Seminarium », 34 (1994)

(5) Cf IT, 18.

(6) Cf Proposições Conclusivas do Congresso Europeu sobre as Vocações ao Sacerdócio e à  
Vida Consagrada, 8. De agora em diante esse texto será citado como Proposições.

(7) 3 IT, 32.

(8) Proposições, 7.

(9) Proposições, 3.

(10) Proposições, 4.

(11) Paulo VI, Evangelii nuntiandi, 2. Ver também sobre o argumento, de João Paulo II, 
Christifidelis laici, 33­34, e Redemptoris Missio, 33­34.

(12) Proposições, 19.

(13) 3 Lumen Gentium 32; 39­42 (cap. V).

(14) IT, 6.

(15) Proposições 16.

(16) Proposições, 19.

(17) A « cultura vocacional » foi o tema da Mensagem Pontifícia para o XXX Dia mundial de  
oração pelas vocações, celebrado no dia 0251993 (cf « L'Osservatore Romano » 18121992; cf 
também Congregação para a Educação Católica, P.O.V.E., Messaggi Pontifici per la Giornata  
mondiale di preghiera per le vocazioni, Roma 1994, pp. 241­245).

(18) João Paulo II, Discurso aos participantes do Congresso sobre as vocações na Europa, in « 
L'Osservatore Romano », 1151997, 4.

(19) Ibid.

(20) Cf Proposições, 12.
(21) 3 IT, 6.

(22) Discurso do S. Padre, in « L'Osservatore Romano », 11 de maio de 1997, n. 107.

(23) 3 Cf Proposições, 20.

(24) Cf João Paulo II, Vita consacrata, 64.

(25) 3 IT, 85.

(26) 3 Uma expressão análoga foi usada no Documento conclusivo do II Congresso 
internacional de Bispos e outros responsáveis pelas vocações eclesiásticas, cf Sviluppi, 3. De 
agora em diante o citaremos com a sigla DC (documento conclusivo).

(27) Proposições, 3.

(28) Paulo VI, Populorum progressio, 15.

(29) Gaudium et spes, 22.

(30) A propósito disso, assim se expressou uma tese final do Congresso: « No contexto 
europeu, é importante fazer emergir o primeiro momento vocacional, o do nascimento. O 
acolhimento da vida mostra que se crê naquele Deus que « vê » e « chama » desde o seio 
materno (Proposições, 34).

(31) João Paulo II, Familiaris consortio, 11

(32) Por isso, como lembra uma tese do Congresso, « somente no contato vivo com Jesus 
Cristo Salvador, os jovens podem desenvolver a capacidade de comunhão, maturar a própria 
personalidade e decidir­se por Ele (Proposições, 13).

(33) IT, 55.

(34) 3 Sacrosanctum Concilium, 10.

(35) Cf Veritatis splendor, 23­24.

(36) Cf Lumen gentium, cap. V.

(37) Cf Proposições, 16.

(38) Rito da Crisma.

(39) Cf Proposições, 35.
(40) Lumen gentium, 1.

(41) Cf Proposições, 21.

(42) II Epiclesi.

(43) DC, 18.

(44) DC, 13.

(45) Proposições, 28.

(46) Isso faz parte do ensinamento insistentemente lembrado por João Paulo II nas Cartas 
Encíclicas « Slavorum Apostoli » (1985) e « Ut umum sint » (1995), como na Exortação 
Apostólica « Orientale lumen » (1995).

(47) IT, 58.

(48) João Paulo II, Christifidelis laici, 55

(49) 3 João Paulo II, Pastores dabo vobis, 15.

(50) Na pastoral específica das vocações seja dado um lugar à vocação ao diaconato 
permanente. Os diáconos permanentes já são uma presença preciosa em diversas paróquias, e 
seria redutivo se eles não fossem incluídos como novas vocações da nova Europa 
» (Proposições, 18)

(51) 3 Sacrosanctum Concilium, 10.

(52) « In laudibus Virginis Matris », Homilia II, 4; Sancti Bernardi opera, IV, Romae, 
Editiones Cistercenses, 1966, p. 23.

(53) « In Iohannis Evangelium Tractatus », VIII, 9: CCL 36, p. 87.

(54) Discurso de João Paulo II aos participantes do Congresso sobre o tema: « Novas vocações 
para uma nova Europa » in « L'Osservatore Romano », 11­5­1997, n. 107.

(55) DC, 5.

(56) A expressão se encontra na Exortação Apostólica de João Paulo II Pastores dabo vobis, n. 
34. No mesmo documento estão bem delineados os motivos fundantes que ligam 
intrinsecamente a pastoral vocacional à Igreja.

(57) Ibidem.
(58) Ibidem.

(59) IT, 58.

(60) A expressão « comunidade cristã » é, por si mesma, expressão genérica que indica uma 
Igreja particular ou local, como também uma paróquia. É equivalente a um grupo de cristãos 
residentes num lugar e representa a Igreja de maneira atual, quando se reúne para orar e servir, 
para dar testemunho do amor e da presença de Cristo no meio deles. Ao invés, a expressão « 
Comunidade eclesial » tem um significado mais específico, porque evidencia a presença dos 
elementos que constituem a Igreja, a partir da centralidade do mistério eucarístico; de modo 
próprio se aplica à diocese e às paróquias, que são comunidades eclesiais eucarísticas, graças à 
presença do ministério ordenado; as outras o são por extensão do significado. Cf a respeito 
DC, 13­16.

(61) Joao Paulo II, Discorso al VI Simposio delle Conferenze Episcopali Europee, 11.10.1985.

(62) Pastores dabo vobis, 34.

(63) Ibidem, 35.

(64) Ibidem, 41.

(65) Cf Ibidem, 41.

(66) Ibidem, 38.

(67) Vita consecrata, 64.

(68) Ibidem.

(69) 3 IT, 59.

(70) Cf Dichiarazione, 26.

(71) Cf Proposições, 25.

(72) Cf Vita consecrata, n. 70.

(73) Proposições, 4.

(74) Proposições, 13.

(75) Cf Proposições, 10.
(76) 3 Cf Proposições, 10.

(77) Por si mesma a liturgia é um apelo. Ela é o lugar privilegiado onde todo o povo de Deus 
se encontra de modo visível e se realiza o mistério da fé » (Proposições, 13).

(78) Dei Verbum, 25.

(79) O primeiro lugar de testemunho é a vida de uma Igreja que se descobre como « comunhão 
», e onde as paróquias e as realidades associativas são vividas como comunhão de 
comunidades (Proposições, 14).

(80) Proposições, 21.

(81) Vita consecrata, 64.

(82) Cf Lumen gentium, 12; 35; 40­42.

(83) Cf Catechesi tradendae, 186.

(84) Proposições, 35, onde se recorda mais uma vez ao Bispos a grande oportunidade a eles 
oferecida pela celebração da Crisma, de « chamar » os jovens que recebem esse sacramento.

(85) Proposições, 10.

(86) Proposições, 11.

(87) Proposições, 10.

(88) 3 Pastores dabo vobis, 41.

(89) Cf as sábias indicações sobre o assunto no Documento Conclusivo do II Congresso 
Internacional de 1981, DC, 40.

(90) 3 Cf Optatum totius, 2; DC, 57­59; cf também Sviluppi della pastorale, 89­91.

(91) Cf Proposições, 10.

(92) « Às vezes — observou­se no Congresso — nota­se uma certa dificuldade no 
relacionamento entre Igreja local e vida religiosa. Embora depois do Sínodo sobre a vida 
consagrada já se entrevejam sinais de novas orientações, é importante abandonar uma leitura 
funcional da vida religiosa em si mesma. O mesmo vale para os Institutos Seculares 
» (Proposições, 16).

(93) « Numa situação religiosa e cultural que está mudando rapidamente, torna­se 
indispensável formar os animadores de base: catequistas, párocos, diáconos, consagrados, 
bispos... e cuidar da formação permanente deles » (Proposições, 17).

(94) Cf Proposições, 29 onde, falando desse centro vocacional europeu, se exprime o desejo de 
que, como gesto de caridade e de intercâmbio de dons, « proveja um « banco » de pessoas 
qualificadas para colaborar na formação dos formadores ». Acerca da constituição de tal 
organismo, existe uma solicitação nesse sentido também no Instrumentum laboris, 83 e 90h. 
Uma experiência positiva já em ato existe há vários anos na América Latina. Em Bogotá 
(Colômbia), junto à sede do Conselho Epis­

copal Latino­Americano (CELAM), funciona de forma estável o « Departamento de Vocações 
e Ministérios » (DEVYM). Esse organismo foi também o ponto de referência para a 
preparação e a celebração do Primeiro Congresso Continental, realizado para a América Latina 
em Itaici (São Paulo Brasil, de 23 a 27 de maio de 1994.

(95) IT, 86.

(96) 3 Cf Proposições, 9.

(97) Paulo VI, Guardate a Cristo e alla Chiesa, Mensagem para o XV Dia mundial de oração 
pelas vocações (1641978), em Insegnamenti di Paolo VI, XVI, 1978, pp. 256­260 (cf também 
Congregação para a Educação Católica, P.O.V.E., Messaggi Pontifici, 127).

(98) Proposições, 15.

(99) Proposições, 9.

(100) Proposições, 22. E ainda: o despertar do interesse pelo evangelho e por uma vida 
radicalmente dedicada a ele na consagração, depende, em grande parte, do testemunho pessoal 
de sacerdotes e religiososas felizes com a própria condição. A maioria dos candidatos à vida 
consagrada e ao sacerdócio declara atribuir a própria vocação a um encontro com um 
sacerdote ou consagradoa » (Ibidem, 11).

(101) Proposições, 12.

(102) Assim a Proposição 23: « É importante sublinhar que os jovens são abertos aos desafios 
e às propostas fortes (que sejam « superiores à média », isto é, que tenham alguma coisa "a 
mais!") ».

(103) Que retorna sob forma de provocação, nas palavras de Paulo aos Coríntios: « E que tens 
tu, que não recebeste? » (1 Cor 4,7).

(104) IT, 55.
(105) Proposições, 27.

(106) Cf Proposições, 25.

(107) Cf Proposições, 25.

(108) 3 Cf Proposições, 14.

(109) Pastores dabo vobis, 11.

(110) Cf Jurado, Il discernimento, 262. Cf também L. R. Moran, Orientaciones doctrinales  
para una pastoral eclesial de las vocaciones », in Seminarium, 4 (1991), 697­725.

(111) Falamos aqui de uma maturidade afetivo­sexual de base, como condição prévia para a 
admissão aos votos religiosos e o ministério ordenado, segundo as duas vias das Igrejas 
católicas da Europa, ao ministério celibatário (Igreja ocidental) e ao ministério não celibatário 
(Igrejas orientais). É importante que, da pastoral vocacional à formação propriamente dita, os 
programas pedagógicos sejam coerentes e bem elaborados, porque, num e noutro caso, a 
preparação para o ministério ordenado seja adequada, especialmente no nível da solidez 
afetiva, e assim o exercício do próprio ministério possa atingir o objetivo do anúncio do amor 
de Deus como origem e fim do amor humano.

(112) Nesse sentido, ver a recomendação do Potissimum Institutioni de descartar, a respeito da 
homossexualidade, não aqueles que têm tal tendência, mas « aqueles que não chegarão a 
dominar tais tendências » (39) embora aquele « dominar » deva ser entendido — assim cremos 
— em seu sentido pleno, não só como esforço volitivo, mas como liberdade progressiva em 
relação às mesmas tendências, no coração e na mente, na vontade e nos desejos.

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