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SEGUNDA-FEIRA
– O desprendimento do cristão.
E para que a sua doutrina ficasse bem clara, expôs-lhes uma parábola. As
terras de um homem rico produziram uma grande colheita, a tal ponto que o
celeiro se tornou insuficiente. Então o proprietário achou que os seus dias
maus tinham acabado e que a sua existência estava garantida. Decidiu deitar
abaixo o celeiro e edificar outro maior, que pudesse armazenar a colheita. O
seu horizonte terminava ali; reduzia-se a comer, beber, descansar, já que a
vida se tinha mostrado generosa com ele. Esqueceu-se – como tantos homens!
– de uns dados fundamentais: a insegurança desta vida na terra e a sua
brevidade. Pôs a sua esperança nessas coisas passageiras e não considerou
que todos estamos de passagem, a caminho do único destino que vale a pena:
o Céu.
Deus apresentou-se de improviso na vida desse rico lavrador que parecia ter
tudo assegurado, e disse-lhe: Néscio, esta noite virão demandar a tua alma; e
as coisas que juntaste, para quem serão? Assim é o que entesoura para si e
não é rico para Deus.
“Assim, pois, o ter mais, tanto para as nações como para as pessoas, não é
o fim último. Todo o crescimento tem dois sentidos bem diferentes. Se é
necessário para permitir que o homem seja mais homem, por outro lado
encerra-o numa prisão se se converte em bem supremo, que impede de olhar
mais além. Então os corações se endurecem e os espíritos se fecham; os
homens já não se unem pela amizade, mas pelo interesse, que em breve os
faz opor-se uns aos outros e desunir-se. A busca exclusiva da posse dos bens
converte-se num obstáculo para o crescimento do ser, e opõe-se à sua
verdadeira grandeza. Tanto para as nações como para as pessoas, a avareza
é a forma mais evidente de um subdesenvolvimento moral”2.
A Igreja continua a recordar o mesmo nos nossos dias: “Que todos, portanto,
atendam a isso e orientem rectamente os seus afectos, não seja que o uso das
coisas do mundo e um apego às riquezas contrário ao espírito de pobreza
evangélica os impeçam de buscar a caridade perfeita, segundo admoesta o
Apóstolo: Os que usam deste mundo não se fixem nele, pois a aparência deste
mundo passa (cfr. 1 Cor 7, 31)”6.
“No dia seguinte pela manhã, muito cedo, estava à sua espera um soldado
com o seu cavalo e com outra montaria para carregar as malas. O tenente
montou, mas, pelos vistos, o cavalo notou imediatamente que era a primeira
vez que o fazia, porque, sem mais aquelas, lançou-se num pequeno galope;
depois parou e começou a pastar num dos lados da estrada..., por mais que o
tenente puxasse das rédeas. Quando achou oportuno, continuou a caminhar
pela estrada e, de vez em quando, parava; depois começava a trotar, enquanto
o cavaleiro olhava para os lados, com cara de susto. Nessa situação, cruzou-se
com ele uma equipe de engenheiros que estava instalando um cabo de alta
tensão. Um deles perguntou-lhe:
– “Eu? Eu ia para Jaurrieta; o que não sei é para onde vai este cavalo... [...].
“Se nos perguntassem de repente: «Para onde é que você vai?», talvez nós
também tivéssemos que dizer: «Eu? Eu ia para o amor, para a verdade, para a
alegria; mas não sei para onde a vida me está levando»”8.
Como seria bom podermos dizer a quem nos perguntasse para onde vamos:
“Eu vou para Deus, com o meu trabalho, com as dificuldades da vida, com a
doença talvez!...” Este é o objectivo, o lugar para onde devem levar-nos os
bens da terra, a profissão..., tudo! Que pena se convertêssemos em bens
absolutos aquilo que deve ser apenas meio!
(1) Lc 12, 13-21; (2) Paulo VI, Carta Encíclica Populorum progressio, 26.03.67, 19; (3) 1 Pe 1,
13; (4) 1 Tim 6, 17; (5) 1 Tim 6, 10; (6) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 42;
(7) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 118; (8) A. G. Dorronsoro, Tiempo
para creer, págs. 111-112; (9) Mt 6, 19; (10) 1 Tim 1, 1.