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Alexandre Rangel1
Apresentação
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Educador Popular, assessor do CEBI Planalto Central e assessor do Movimento
Sem Terra.
HIV?”, respondi de imediato que sim, mas depois fiquei pensando na
pergunta e no sentimento que passou por mim, e dei-me conta do
tamanho que é o abismo provocado pelo vírus chamado: medo e
discriminação.
Descobri diversos processos de cura nessa experiência, perdi
muitos dos preconceitos com rituais como: as missas de cura, cessões
mediúnicas, curandeirismo, macumbaria; mantenho minha visão
crítica, mas consigo perceber o valor de cada uma das experiências e
como elas podem gerar vida. Nesse contexto, a minha visão foi
definitivamente transformada com a experiência que fizemos
acompanhando a Afonso em sua fase terminal.
O Afonso era uma das pessoas mais materialistas do grupo, em
“nada” acreditava, tinha uma visão sobre a morte como fim e nada
mais; ele geralmente me afrontava nas reflexões que eu conduzia
sobre a morte e o sentido da vida. Ele entrou em um processo de fase
terminal, mas não morria, percebi em uma das minhas visitas que ele
estava com medo de morrer, pois queria viver ao máximo, já que a
morte é o fim. Um dia ele nos pediu para ir procurar um médium que
reside na cidade de Abadiânia – GO. Muitas pessoas vão procurar cura
com esse médium. Um casal que coordenava o grupo levou o Afonso.
Chegando lá ele falou “aqui sinto uma paz, e se alguém pode fazer
algo por mim é esse homem”, ele fez a consulta com o médium e
voltou. Na mesma semana ele chamou a ex-mulher e pediu para ela
escrever orientações, depois entrou em coma e, assim que os filhos
chegaram ao hospital, ele morreu. De alguma forma ele fez uma
experiência sagrada com o médium, e nem tanto pelo médium, mas
pelo espaço de experiência do sagrado. Acho que como Buda eu
descobriu uma nobre verdade: temos que procurar criar espaços de
cura, de experiências do sagrado, espaços terapêuticos. É nesse
sentido que as missas de cura, terreiros, centros mediúnicos “podem”
ser espaços de experiências do sagrado.
O caminho reflexivo que vou trilhar parte dessas experiências
que vivi com o tema da cura e saúde, é uma reflexão organizada
pelos/as mestres e doutores/as da vida, da resistência e da luta pela
“cura”, em busca do sentido e qualidade de vida. Entendo como
processo de cura 3 elementos: A Consciência das Doenças, A
Busca pela Cura e a Descoberta da Saúde. Uma profunda
vivencia desses elementos pode conduzir à experiência de superar a
fragmentação em direção à integração do ser.
3
Vide sermão, das Bem Aventuranças, MT 5, 2-11
repentina, se tal pessoa se concentra apenas em tomar remédio para
retirar a pedra do caminho (doença), e não reflete sobre o motivo da
doença, essa pessoa pode não encontrar a cura. Muitas doenças são
as vozes do corpo gritando para dizer que existe alguma coisa errada
no modo de viver.
Na vida de curandeiro de Jesus, narrado nos evangelhos, a
penas uma cura foi feita com a pessoa parada, em que Jesus toma a
iniciativa, é o caso da cura do cego de nascença em João 9, como
esse texto é apenas uma narrativa feita no evangelho de João não é
possível averiguar a historicidade do mesmo, já as demais curas
aconteceram em um movimento de busca da pessoa doente/possuída
ou a busca feita por um dos familiares, veja alguns exemplos:
A Descoberta da Saúde
Pedro lhe disse: " Já que nos explicaste tudo, dize-nos isso
também: o que é o pecado do mundo?"
Jesus disse: "Não há pecado ; sois vós que os criais, quando
fazeis coisas da mesma espécie que o adultério, que é
chamado 'pecado'. Por isso a Saúde veio para o meio de vós,
para a essência de cada espécie, para conduzi-la a sua
origem."
Em seguida disse: "Por isso adoeceis e morreis [...]. Aquele
que compreende minhas palavras, que as coloque em prática.
A matéria produziu uma paixão sem igual, que se originou de
algo contrário à Natureza Divina. A partir daí, todo o corpo se
desequilibra. Essa é a razão por que vos digo: tende coragem,
e se estiverdes desanimados, procurais força das diferentes
manifestações da natureza. Quem tem ouvidos para ouvir que
ouça." (LELOUP, ANO 1998: p.5-9)
“25
Aconteceu que certa mulher, que, havia doze anos, vinha
sofrendo de uma hemorragia 26 e muito padecera à mão de
vários médicos, tendo gastado tudo o que possuía, sem,
contudo, nada aproveitar, antes, pelo contrário, ficando pior,”
“27
tendo ouvido a fama de Jesus, vindo por trás dele, por entre
a multidão, tocou-lhe a veste. 28 Porque, dizia consigo mesma:
Se eu apenas lhe tocar as vestes, ficarei serei salva.”
29
E logo se lhe estancou a hemorragia, e sentiu no corpo estar
curada do seu flagelo. 30 Jesus, reconhecendo imediatamente
que dele saíra poder, virando-se no meio da multidão,
perguntou: Quem me tocou nas vestes? 31 Responderam-lhe
seus discípulos: Vês que a multidão te aperta e dizes: Quem
5
IHWH – Javé – pode ser traduzido como EU SOU ou AQUELE QUE É.
me tocou? 32
Ele, porém, olhava ao redor para ver quem fizera
isto.
33
Então, a mulher, atemorizada e tremendo, cônscia do que
nela se operara, veio, prostrou-se diante dele e declarou-lhe
toda a verdade. 34 E ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai-
te em paz e fica livre do teu mal.
Da fragmentação a integração
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Alexandre Rangel
perei@terra.com.br