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Apresentação do Módulo
Para que o policial responsável possa fazer um bom relatório de local de crime, é fundamental
que ele saiba quais são os tipos de provas levantadas e como elas podem colaborar para o
conjunto de informações preliminares da investigação. Assim, o conhecimento do processo de
levantamento das provas objetivas é necessário para que o investigador possa dialogar com o
perito criminal sobre os achados na cena do crime, visando conjugar tais achados com as
informações levantadas na etapa de investigação de provas subjetivas. Ademais, a urgência da
investigação criminal faz com que o fluxo de informações entre os responsáveis pelo
levantamento das provas objetivas e subjetivas também ocorra de maneira célere. Não se pode
admitir um local de crime onde um perito não conversa com um investigador e vice-versa!
Para o sucesso da investigação, é necessário que todos aqueles que trabalham na cena do
crime integrem os seus trabalhos para que, a partir dessa união, novas diretrizes e ações
possam ser tomadas. Por exemplo, uma informação repassada pela perícia no local do crime
pode, imediatamente, determinar novas diligências dos investigadores. De outro giro, uma
informação subjetiva colhida pelos investigadores pode ensejar novas análises no campo
pericial. Observe que não se trata de invasão de competências, uma vez que quem repassa a
informação é sempre o responsável pelo seu levantamento. Assim, atinge-se, no próprio local
do crime, um conjunto probatório muito maior do que se o trabalho tivesse sido desenvolvido
separadamente.
Neste módulo você irá estudar como se dá o trabalho do perito criminal no local de crime e
como as informações colhidas por esse profissional podem colaborar com as investigações
preliminares e, consequentemente, ajudá-lo a fazer um bom relatório de local de crime.
Obviamente o objetivo não é fazer com que o relatório se torne uma cópia do laudo pericial;
entretanto, para que as informações repassadas pela perícia sejam bem aproveitadas, é
fundamental que você tenha uma noção básica dos conceitos e elementos do exame de local.
Boa leitura!
Objetivos do Módulo
Estrutura do Módulo
Saiba mais
O Código de Processo Penal1 possui um título específico que trata da prova, o qual se inicia
no artigo 155 e estende-se até o artigo 250.
A investigação policial começa, na grande maioria das vezes, no local de crime. Sob essa
ótica, a busca de provas objetivas e subjetivas depende da qualidade do trabalho logo após a
chegada ao local. Ao chegar à cena do crime, o perito inicia a sua análise antes mesmo de
adentrar no local, examinando a qualidade e o método de isolamento para verificar se está
adequado. Um bom isolamento de local terá como consequência a correta preservação da
prova objetiva.
Pensando na importância da preservação da prova, o legislador dedicou a ela o artigo 169 do
Código de Processo Penal Brasileiro (Brasil, Código de Processo Penal Brasileiro, 1941), que
dá o respaldo necessário para o isolamento e preservação da cena do crime:
Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a
autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas
até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias,
desenhos ou esquemas elucidativos.
Parágrafo único – Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas
e discutirão, no relatório, as consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos.
1
Veja no link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm
É necessário entender que o isolamento e a preservação da cena do crime não são um
processo único. Há uma sutil diferença entre isolamento e preservação.
Isolamento é o ato de impedir o acesso de QUALQUER pessoa à cena do crime, a não ser
daquela responsável pela coleta e análise dos vestígios. É importante ressaltar que o único
profissional que PRECISA adentrar no local do crime é o perito criminal, pois é o único que
sabe interpretar os tênues vestígios deixados na cena do crime. Como exemplo, pode-se citar
o formato de uma mancha de sangue como um vestígio complexo, que demanda
conhecimentos específicos, trazendo diversas informações sobre a dinâmica do fato,
entretanto sendo extremamente efêmero e de fácil destruição.
Nesse contexto, a preservação é consequência do isolamento. O objetivo da preservação do
local é manter os vestígios intactos até o momento em que eles serão coletados e perpetuados
pelos peritos criminais, evitando alterações dessas marcas. Tais alterações poderiam interferir
e/ou destruir vestígios tais como impressões papilares, posições de estojos ou projéteis,
localização de objetos, assim como as já citadas manchas de sangue, peças de um quebra-
cabeça que não pode ser montado se forem destruídas. Segundo as palavras de Tocchetto &
Espíndula (2005), “o isolamento da cena do crime deve ser realizado de forma efetiva para
que o menor número de pessoas tenha acesso ao local, evitando-se que evidências sejam
modificadas de suas posições e até destruídas antes mesmo de seu reconhecimento”. Outros
autores, tais como Kehdy (1959) e Dorea, Stumvoll & Quintela (2010) também fazem
referência à importância da preservação do local de crime para o sucesso da investigação
policial.
Infelizmente, por diversos motivos e conforme apontado na pesquisa apresentada por Silvino
Jr (2010), o isolamento dos locais de crime no Brasil é, na grande maioria das vezes,
inadequado. Não é raro encontrar locais como mostrado na Figura 3, a seguir.
Todo elemento coletado no local de crime, mesmo que não haja a certeza da sua relação com
o fato, é um VESTÍGIO. Se o vestígio comprovadamente tem correlação com o fato ocorrido
e fornece elementos para determinação da dinâmica do fato, é então chamado de INDÍCIO.
Este pode demonstrar movimentações e paradas, posições e alterações ocorridas durante e
depois da ocorrência do crime. Toda informação relevante para a investigação policial, seja
ela objetiva ou subjetiva, é uma EVIDÊNCIA. Para que você possa compreender a
conjugação dos vestígios determinada pelo perito criminal, é fundamental possuir
conhecimentos básicos de quais são os elementos analisados, apresentados a seguir.
Manchas de esperma
São geralmente encontradas em locais de crime de natureza sexual,
sendo pesquisadas com maior incidência nas roupas de cama, nas
vestes da vítima ou do suspeito, no ambiente vaginal, no reto, em
preservativos abandonados ou em outros pontos ou objetos, de
acordo com a tipicidade da área.
Manchas de fezes
São encontradas geralmente nos locais onde ocorre morte por asfixia
ou em casos em que a vítima já entrou na fase gasosa da putrefação.
Também podem ser encontradas em locais de envenenamento. Não
oferecem muitos elementos pesquisáveis.
Manchas de urina
A exemplo das manchas de fezes, são comumente verificadas nos locais de morte por asfixia
e em outros tipos de morte violenta.
Manchas de vômito
São muito comuns e oferecem especial interesse nos casos de
envenenamento porque podem indicar a natureza do veneno
ingerido.
Manchas de saliva
Podem oferecer algum interesse quando estiverem embebendo tampões que tenham sido
utilizados para sufocar a vítima. Também podem ser encontradas nos locais de morte por
asfixia.
Além dos vestígios encontrados no local de crime, nos locais de morte violenta diversas
informações também são extraídas do(s) cadáver(es). Tais informações podem ser decisivas,
ajudando o perito a estabelecer a dinâmica do crime. A seguir você conhecerá os elementos
pesquisados com maior frequência no cadáver.
4.2. Vestes
As vestes da vítima trazem importantes informações para a investigação policial. A
incompatibilidade com as condições climáticas, ambientais e sociais podem indicar transporte
do corpo, intenções da vítima, tentativas de ocultação de crime, etc. O perito deve fazer a
análise pormenorizada das vestes usadas pela vítima, principalmente quando forem de
cadáveres de desconhecidos. Nesse caso, devem ser mencionados quaisquer descrição ou
desenhos existentes nelas, inclusive etiquetas do fabricante.
4.3. Buscas
As buscas no corpo e nas vestes são de extrema importância e devem ser feitas pelos peritos
no local do crime, uma vez que podem trazer informações que poderão alterar a dinâmica do
fato ou os trabalhos periciais no local. Durante as buscas podem ser encontradas armas,
drogas, pertences da vítima ou de outras pessoas, documentos, dinheiro, joias, etc.