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Plano de trabalho:
- Análise do poema:
1. Título
2. Epígrafe
3. ‘The Burial of the Dead’
4. ‘A Game of Chess’
Análise
Epígrafe
Eliot manifesta o seu tributo à cooperação de Ezra Pound, vincando que desejava honrar o
domínio técnico e a capacidade crítica apresentados no seu próprio trabalho, dedicando-lhe o
poema e nomeando-o: ‘il miglior fabbro’(ver fot.1, pag 11).
‘Il miglior fabbro’ – the better craftsman; tributo de Dante ao poeta Arnaut Daniel,
enfatizando a sua superioridade sobre todos os seus rivais Proveçais. Eliot: ‘I wished at that
moment to honour the technical mastery and critical ability manifest in his own work, which
had aldo done so much to turn twl from a jumble of good and bad passages into a poem.’
A epígrafe sibilina coloca a experiência no contexto da vida urbana da cidade antiga, uma vez
que a sibila era essencialmente consultada no que dizia respeito à vida pública.
As palavras são proferidas por Trimalquio em ‘Satyricon’, uma sátira da autoria de Petronius.
A sibila é uma figura mítica detentora de experiência em vários domínios do conhecimento
da existência. Na mitologia grega, a sibila surge como uma mulher com poderes proféticos e
com uma sabedoria oracular, sendo a de Cumas a mais famosa. Por seu desejo, ela foi
prometida uma vida longa por Apolo: tantos anos quantos grãos de areia coubessem na sua
mão. Descuidadamente esqueceu-se de pedir juventude eterna, envelhecendo e perdendo toda
a sua autoridade profética.
Eliot apresenta o passo de ‘Satyricon’ com o intuito de estabelecer a componente mítica e
epistemológica, mas, também, com o objectivo de chamar a atenção para as multiplas
perspectivas do poema. Considera-se a epígrafe como uma primeira investida básica com o
intuito de preparar o leitor face ao poema a descobrir: a sibila opera como uma afiguração
que anticipa a situação do poema e da existência humana e adianta a intensa angústia do
poema. A sibila pode ser vista como simbolo da morte na vida e da vida na morte, orientando
para a apresentação paradigmática contemporânea e sugerindo ainda que a extinção traz
alívio face à vida moribunda da sibila.
1ª estrofe
Começa com um desejo de ansiedade de mudança, crescimento e sexualidade simbolizados
por Abril e pelas chuvas primaveris. Os participios ‘breeding’, ‘mixing, ‘strirring’ parecem
congelar e controlar o movimento nas primeiras sete linhas. A voz de abertura é universal e
deslocada; não é uma narrativa, nem fala para o leitor. A claridade e autoridade desta voz
marca-o como a voz de propriedade, querendo manter fronteiras claras e regras e , no seu
extremo, esperando parar possíveis movimentos e parar a proliferação de possibilidades na
vida ou linguagem.
Num primeiro momento são comentados os ciclos da natureza.
Verso 1-2 – o sexo aqui é estéril, gerando não luz e realização mas repugnância/aversão,
accidia, e questões irrespondíveis. Não é facil hoje em dia de aceitar a perpectuação e multiplicação
da vida como fins ultimos.
Verso 1-7 – introdução do tema da vegetação, associando-o com a agitação de ‘memory and
desire’. A transição é simples: ‘april’, ‘spring’,‘winter’ – logo ‘summer surprised(..)’.
- passo com profunda importãncia na atribuição dos tormentos do poema. De
facto, os versos advertem o leitor para os paradoxos de morte e de vida que ocorrem ao longo do
poema.
- A visão tradicional da primavera contrasta de forma nítida com a triste e
ameaçadora secura primaveril aqui declarada, denegando a sensualidade geralmente qualificadora
desta estação
- A voz so poeta-protagonista assinala uma disposição tumultuosa face ao
renascer da primavera
- Abril sugere uma representação entusiástica e sensual à qual é
manifestadaresistência. Inverno é desejado como factor de tranquilização, alívio e libertação
relativamente ao ciclo da vida: as sequências das estações marca o ritmo da vida, as fases de um
desenvolvimento, e simboliza a alternância cíclica e o perpétuo começo.
Verso 8 – a partir daqui deixa-se o medo e o mundo simbólico dos primeiros versos e entra-se
numa narrativa com várias referências culturais e alegadamente familiares. A voz de abertura faz
uma afirmação sobre a terra em causa e surge, entretanto, uma voz individual identificada como de
Marie.
- a lembrança é do Verão de Marie e insere-se como um momento ilustrativo
dos factores que parecem ser causadores de sofrimento: ‘memory and desire’ – termos associados a
uma melancolia romantica. O discurso é de alguma forma banal.
- O desejo de ‘stasis’ trz/provoca mudança. Esteverso começa como se a
continuar o ritmo e tom dos versos precedentes, mas depois a sintaxe transforma-o numa narrativa
conversacional e incidental.
Verso 8 e 10 – as menções a ‘Starbergersee’ (lago) e a ‘Hofgarten’ (parque público)
introduzem locais da zona de Munique.
- Não só o café no Hofgarten, como também o verso em alemão, a constipação
da Madame Sosostris, os dentes de Lil, tudo parece funcionar como aspectos metonímicos da cultura
deste tempo, e geram um contexto e uma cadeia de associações que tendem a dispersar significados
claros.
Verso 12 – invoca a ideia da geração depois da Primeira Guerra Mundial, uma geração sem
raízes que vageia pela Europa, sem rumo; ‘I am not Russian at all; I come from Lithuania; I am a real
German’.
Verso 13 – este verso remete para o passado. Na continuação, é fornecida uma imagem da
vida social europeia e o discorrer de uma aristocrata nostálgica sobre a infância e aspectos da vida
adulta. O mundo que Eliot apresenta como alternativa à vda dos tubérculos secos é conduzido por
desejos, mas quase nunca de modo feliz.
Verso 13-18 – o falantes das ultimas linhas parece mais particularizado do que o da abertura e
aqui a voz com género de Marie quebra a expectativa de universalidade. A sua história também
ignora as metáforas concebidas na abertura. Agora a neve é associada com memória e desejo ao
relembrar uma corrida de trenós com o seu primo
- Marie, assim como muitas outras personagens femininas do poema, é
associada de uma forma ftradicional com o desejo sexual, a fertilidade, e a geração. Mas de maneira
original (não tradicional) o poema debruça-se não só em mulheres como objectos de desejos, mas
também como sujeitos com desejos. Marie, Madame Sosostris, as duas senhoras do pub, as filhas de
Thames da III parte, todas trazem as suas próprias ansiedades para o poema; a perpectiva feminina,
particular e sexualmente divergente da voz metafórica assexuada, insiste na continuação do desejo
mas também mostra o quão frequente o desejo leva á frustação, ‘ennui’, e violência.
- O mundo narrativo que Eliot nos oferece como uma alternativa à pequena vida
dos ‘dried tubers’ é guiado por desejos, mas não frequentemente felizes. A cena bastante neutra no
Hofgarten move metonimicamente para a hitória emocionoalmente carregada de Marie que acba
abruptamente numa cena de solidão e routina de morte. Uma vez que entramos no mundo do dia-a-
dia, também entramos no mundo de perda, desejo irrealizado e, inevbitalmente, morte.
Verso 17 – há uma expressão romântica alemã, um tanto cliché, que tem precisamente o
mesmo significado.
Verso 17-18 – há uma transição, indicada pela mudança de movimento. É-nos dado uma
‘memory’ particular, e uma representativa. Introduz a marca cosmopolita, uma marca de sofisticação
vazia.
Verso 18 – o cenário do inicio do poema altera-se, vindo a terminar abruptamente numa
perspectiva e solidão e rotina.
2ª estrofe
A introdução da história impessoal e culturalmente ressoante de amores ‘starcrossed’ leva o
falante para uma memória de amor e de perda mais pessoal e, por isso, mais e mais
insuportável na secção da rapariga dos jacintos. Mas mesmo aqui o trauma inssuportável,
representado como silencio e paralesia, é espalhado por outra alusão a ‘Tristão e Isolda’.
‘Oed’ und leer das Meer’ (linha 42). A imagem do mar vazio é um correlativo objectivo para
o sil~encio desolado do falante. Mas como alusão a uma ópera alemã, a linha contrapõe o
sentido de vazio do falante com a plenitde cultural, conduzindo o poema e o leitor para uma
interpretação (tradução) e longe do silêncio. Posto desta forma, a alusão a Wagner parece
alcançar duas direcções de uma só vez: ambos sustentam ambos os temasdo poema nas suas
imagens de água e história de amores trágicos, e também dispersa a atenção de temas claros
para intrepertação desordenada.
3ª estrofe
Segue-se a Madame Sosostris, famosa vidente, oferecendo um contraste com as ultimas
linhas e introduzindo o tarot. Ela desempenha o papel de uma sibila moderna, apresentando
avisos oraculares e visões num tom pouco sincero. Ela parece oferecer um mio de predizer e,
consequentemente, de dominar o futuro.
A função imediata da passagem que introduz o baralho de tarot é evocar, em contraste com o
que precedeu, ‘high life’ cosmopolita e charlatanismo.
O significado das cartas de tarot aqui referidas, segundo as notas do próprio autor, encontra-
se presente no próprio poema e não no Tarot em si.
4ª estrofe
A estrutura dos últimos versos de ‘The Burial of the Dead’ é gerada através da associações e
referências, e orientada para a aridez espiritual de wl, vista como ‘Unreal City’ que é, ao
mesmo tempo, uma imagem de Londres e um símbolo da sociedade da época.
Londres aparece-nos como um inferno sofucante, mas aqui a cerca simbólica é quebrada pela
narrativa ao dirigir-se a Stetson e ao leitor. A energia destas linhas finais transgridem a uma
variedade de fronteiras na sua mistura histórica, pela violação horrenda da sepultura, e alusão
densa.
Na nota de Eliot relativa a Unreal City, este nomeia a abertura de Baudelaire em ‘Les Sept
Vieillards’, um poema incluido em ‘Les Fleurs du Mal’. Baudelaire encaminha Eliot na
indagaçã de uma estrutura poética pertinente: um painel sórdido e negro do quadro
civilizacional funciona como paradigmático transportando a dimensão infernal na obra de
Baudelaire para Londres em ‘The Burial of the Dead’ – Eliot compara a cidade do quotidino
com o Inferno de Dante e com a cidade de Paris de Baudelaire.
O episódio é centrado na vida citadina contemporânea, tendo em conta o núcleo comercial e
económico que a cidade de Londres constitui, um quadro ilustrativo da indústrialização. Ora
as massas de gente são deploráveis porque a rotina limita a visão, impedindo as pessoas de
encontrarem significado para a vida. Na verdade, elas desejam qualquer coisa melhor, ao
examinarem a própria morte e a exclusão da vida.
O final do episódio que completa o estádio introdutório regista um encontro enigmático com
um dos fantas mas que atravessa London Bridge a caminho do seu destino infernal.
A Game of Chess
A segunda parte do poema apresenta a temática da sexualidade inserida num painel mítico e
histórico de fundo trágico. Por outras palavras, isto significa que através de referências
sugeridas por figuras da Arte, História, Mitologia desenvolve construções culturais da
sexualidade feminina que retratam a exploração emocional e sexual das mulheres (como
sendo meros objectos decorativos e sexuais).
Trata fundamentalmente das experiências de duas mulheres em dois episódios paralelos de
aborrecimento e vazio que englobam comportamentos neuróticos e a falta de comunicação
entre cônjuges.
A nota de Eliot alude a duas obras de Thomas Middleton: ‘A Game at Chesse’ e ‘Women
Beware Women’ que estabelecem o contexto para atemática da manipulação e da violação
das mulheres. Esta referência de Eliot a Middleton meramente enfatiza o jogo de xadrez
como capa/cobertura para a sedução – George Williamson.
‘A Game of Chess’ parece estar temáticamente centrada numa visão estéril da vida moderna,
especialmente nas linhas 135-38. mas esta visão é contrariada pela animação narrativa das
cenas: o movimento sensual dos objectos no ‘boudoir’, a insistência questionadora da mulher
histérica, a mutação divertida de Shakespeare para ‘Shakespeherian Rag’, a conversa
animada das senhoras no pub – tudo sugere continuação de desejo sob superfícies estáticas.
Mas o desejo é também particularmente trágico para as mlheres desta secção.
1ª parte
Os primeiros versos apresentam uma imagem de uma mulher sentada em frente ao espelho a
pentear-se, rodeada por um cenário de opolência e esplendor, onde está impliada a
sensualidade.
O aspecto mais digno de nota é a forma como surge criada uma percepção forte da mulher
sem ela ser descrita (sabe-se através do pronome e adjectivos), cingindo-se as referências aos
pormenores do quarto em que se encontra e aos ecos literárioa persistentes e relevantes.
A mulher é defenida apenas pelo seu estatuto social, como objecto, mais um dos objectos de
arte qure ocupam o quarto.
A sua presença é ambígua: não sabemos se é jovem, de meia idade ou velha, não sabemos se
é bonita ou feia.
Esta figura feminina, em agonia e aprisionada no seu próprio aposento, mostra-se associada a
episódios de sofrimento, violência e tragédias passionais: Cleópatra (1º versos – numa
viagem pelo rio Nilo), Ofélia (últimos versos – no seu caminho para a ‘morte pela àgua), Eva
(de ‘Paradise Lost’) e Filomela (da autoria de Ovídio). Algumas das mulheres foram
violadas, traídas ou exploradas pelos homens de forma que sofreram um infortúnio
irreversível.
2ª parte
Neste episódio evidencia-se a figura de Lil, situaso também num espaço interior, mas, desta
feita, em público – num ‘pub’.
Não estando presente, Lil torna-se vísivel pelo retrato vivo e enfático que faz outra mulher
sobre uma conversa entre as duas. Lil é apresentada frontalmente: tem trinta e um anos,
aparentando ser mais velha, com desntes estragados, quase morrera ao abortar, é mãe de
cinco filhos, o mais novo dos quais com o nome de George. É casada com Albert que acabou
de completar quatro anos de serviço no exército.
O segmento do poema proporciona a recordação de uma conversa entre figuras cujo discurso
indica pertencerem a uma classe social baixa.
A temática deste segundo episódio continua a tratar da vida conjugal, constituindo mais um
painel desolador na segunda parte de twl.
É interessante o contraste que desde logo se estabelece com o episódio anterior: a partir da
descrição de um espaço interior repleto de elementos decorativos, observa-se uma melher e
um homem para se deparar, num segundo passo, com uma descrição física construída pela
informação pessoal sobre Lil.
Logo, nesta secção, evidienciam-se perspectivas pispares de duas mulheres: a primeira não
surge fisicamente caracterizada, mas apresenta a sua interioridade marcada pela solidão e pela
desesperança. A monotonia da sua vida conjugal vence-a, o que se traduz em
nervosoconformismo. A segunda mulher existe alusivamente no poema, sem voz directa. Lil
está ausente do episódio, mas é retratada quanto a fraquezas e sinais negativos do seu corpo, o
qual arrasta penosa responsabilidade. Lil é destruída pela sua fertilidade e fica sujeita sujeita a
perder a sua fonte de segurança, o marido Albert, que é também fonte de sofrimento.
Há, efectivamente, muitos pontos de contacto entre esta estrutura assente sobre as mulhetres e
a estrutura mítica. Cleópatra, Dido, Eva, Filomela e Ofélia, todas estas mulheres condenadas
existem como acessórios ao poder masculino e, ao mesmo tempo, como vítimas dele –
aspectos de todas elas são distribuídoas ao longo de ‘A Game of Chess’. Desta forma, as
mulheres desta segunda parte estão diminuidas psicologica e fisicamente pela acção directa
ou indirecta dos homens, pelo que se encontram presas nas malhas a que não conseguem
escapar.
Nesta parte do poema, cada painel retrata uma convivência sexual perturbada. A introversão
da sexualidade atinge o extremo em wl (poema onde são abundantes as manifestações de
repulsa e/ou repressão face ao sexo), na obra poética de Eliot.
O sexo é , de forma insistente, identificado com o mal, e nesta secção o sexo até surge como
força causadora de desperecimento – a figura de Lil insere-se nesta condição.
Este poema consiste um exemplo claro da índole pecadora conferida às mulheres, o que se
passa o episódio de Fresca incluído na versão original de twl.
Nesta parte são mostradas facetas da vida conjugal.
BIBLIOGRAFIA
Primária:
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Secundária:
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