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(reprodução permitida para fins não-comerciais)
Luís Dufaur
O Livro Negro do Comunismo, há pouco editado no Brasil (1), pôs em foco a magnitude dos crimes
gerados
por esses erros. Desde que foi publicado na França, em 1997, ele suscita apaixonadas polêmicas.
Numerosos
simpatizantes do comunismo saíram da moita em defesa do partido. No Parlamento francês, o Primeiro-
ministro
socialista Lionel Jospin correu em socorro de seus aliados do Partido Comunista, denunciados por
deputados da
direita com base no referido Livro Negro (2). Apareceu até um volume criticando essa obra, ironicamente
intitulado
Livro Negro do Capitalismo, aliás tão pífio que a revista “Veja” o qualificou de “obra idiota e estapafúrdia”
(3).
O Livro Negro caracteriza o comunismo como intrinsecamente criminoso, genocida, muito mais nocivo
à
humanidade que o nazismo ou qualquer totalitarismo do século XX, enquadrando-o no gênero de crime
contra a
humanidade. Teses que deixam em maus lençóis as esquerdas, inspiradas,
todas elas, no mesmo sonho igualitário.
Na Rússia – como em geral nos países que caem nas garras do comunismo -- tudo começou pela
Reforma
Agrária. Sob o tzarismo, os agitadores incitavam à partilha negra de terras invadidas. Era a luta de classes
dos
sem-propriedade contra os proprietários rurais, grandes ou pequenos.
O desastroso desenlace da I Guerra Mundial deixou a Rússia numa situação caótica. O tzar abdicou e foi
substituído por políticos centristas, concessivos à esquerda. Em face disso, a minoria
comunista ousou o inconcebível e apoderou-se do governo quase sem resistência.
Tendo confiscado o alimento, o governo reduziu o povo pela fome. Só comia quem possuísse o cartão
de
racionamento distribuído pelo partido... Havia seis categorias de estômagos excomungados. Os burgueses,
os
contra-revolucionários, os proprietários rurais, os comerciantes, os ex-militares, os ex-policiais foram
condenados ao desaparecimento.
A Reforma Agrária prometeu terra aos que não a possuíam. Mas na verdade o comunismo desejava
implantar
os kholkhozes, isto é, granjas comunitárias pertencentes ao Estado, onde os camponeses obedecem como
servos à
planificação socialista.
Como nas granjas coletivas os assentados desenvolviam resistência passiva às normas, Stalin decidiu
submetê-los pela fome. As reservas de alimentos, sementes e ferramentas foram confiscadas. Carentes de
tudo, os
camponeses abandonavam os filhos na cidade próxima. Em Jarkov, crianças famintas lotavam as ruas. As
que ainda
não haviam inchado foram conduzidas a um galpão, onde agonizaram aproximadamente 8 mil crianças. As
outras
foram despejadas num local longínquo para morrerem sem serem vistas. Esta fase final da Reforma Agrária
provocou 6 milhões de mortes.
Stalin excogitou também o Grande Expurgo nas fileiras do partido e da administração pública.
Universidades, academias e institutos diversos foram quase esvaziados. Até Tupolev, inventor do tipo de
avião que
leva seu nome, foi vítima. A alta oficialidade do Exército foi expurgada
numa porcentagem de 90%. A mortandade causada pelo Grande Expurgo
atingiu mais de 6 milhões de pessoas, embora oficialmente só tenha havido
681.692 execuções.
Na Europa do Leste, ocupada pelos russos, reproduziu-se o mesmo drama. Em alguns países, o
comunismo
requintou a perversidade. Na prisão romena de Pitesti os estudantes religiosos eram batizados todos os dias,
enfiando-se-lhes a cabeça em baldes cheios de fezes, enquanto era rezada a fórmula batismal. Os
seminaristas
deviam oficiar missas negras, especialmente na Semana Santa. O texto litúrgico era “pornográfico e
parafraseava
de forma demoníaca o original” (p. 495).
A perseguição tornou-se encarniçada contra o clero católico. Um Bispo greco-católico escreveu este
testemunho comovedor: “Durante longos anos, suportamos, em nome de São Pedro, a tortura, os
espancamentos, a
fome, o frio, o confisco de todos os nossos bens, o escárnio e o desprezo. Beijávamos as algemas, as
correntes e as
grades de ferro das nossas celas como se fossem objetos de culto, sagrados; e a nossa farda de prisioneiros
era o
nosso hábito de religiosos. Nós havíamos escolhido carregar a cruz, apesar de nos proporem sem cessar uma
vida
fácil em troca da renúncia a Roma. .... Hoje, apesar de todas as vítimas, a nossa Igreja possui o mesmo
número de
Bispos que havia na época em que Stalin e o Patriarca ortodoxo Justiniano triunfalmente a declararam
morta” (p.
486).
A China de Mao-Tsé-Tung seguiu as pegadas da Rússia com aspectos surpreendentes. Assim que se
apossava de uma região, o comunismo chinês empreendia a Reforma Agrária. Mas antes de eliminar os
proprietários, desmoralizava-os o quanto podia. Eles eram por exemplo submetidos ao “comício da acidez”:
os
parentes e empregados deviam acusá-los das piores infâmias até que “entregassem os pontos”, sendo então
executados pelos presentes. Um proprietário teve que puxar um arado sob as chibatadas de colonos, até
perecer.
Chegou-se a obrigar membros da família de um fazendeiro a comer pedaços da carne dele, na sua presença,
ainda
vivo! A Reforma Agrária chinesa extinguiu de 2 a 5 milhões de vidas, sem contar aqueles que nunca
voltaram entre
os 4 a 6 milhões enviados aos campos de concentração.
Em 1959, Mao propôs o “grande salto para a frente”, que consistiu em reagrupar os chineses em
comunas
populares, sob pretexto de um acelerado progresso. Foi proibido abandonar a comuna, as portas das casas
foram
queimadas nos altos fornos, e os utensílios familiares transformados em
aço. Iniciaram-se construções delirantes. Os responsáveis comemoravam
resultados fulgurantes e colheitas astronômicas. Mas logo começou a
faltar o alimento básico. Barragens e canais viraram pesadelo para seus
construtores escravos. A indústria parou. A fome mais mortífera da
História da humanidade sacrificou então 43 milhões de vidas! Era
proibido recolher as crianças órfãs ou abandonadas. O regime reprimia
os famintos, entes não previstos na planificação socialista...
Os chefes comunistas Cambojaanos haviam estudado na França, onde militaram no Partido Comunista
Francês, tendo então conhecido as novas doutrinas ecológicas... Sua meta: eliminar o senso da própria
individualidade, todo sentimento de piedade ou amizade, qualquer idéia de superioridade. Assim, queriam
forjar o
“homem novo”, integrado na natureza, espontaneamente socialista, detentor de um saber meramente
material, de um
pensamento que não pensa.
Resultado: diminuição demográfica de 3,8 milhões de pessoas; 5,2 milhões de sobreviventes; 64% dos
adolescentes órfãos; e um povo psiquicamente arrasado.
O Livro Negro do Comunismo ocupa-se muito pouco – e mal – da América Latina. Ignora inteiramente
guerrilhas como as havidas no Brasil, Argentina, Chile e Uruguai. Por quê?
Após tal leitura, densa e documentada, um mundo de interrogações permanece na cabeça do leitor. O
que foi
feito na Rússia dos campos de concentração? Eles existem ainda? Ou foram extintos? Se existem, por que
ninguém
fala deles? Se foram extintos, que mistério explica o fato de os grandes órgãos de imprensa do Ocidente não
enviarem jornalistas para entrevistar as vítimas ou filmar os locais de tortura e morte?
Por que as ONGs humanitárias não procuraram na Sibéria ou alhures eventuais sobreviventes? E por
que a
coorte de defensores dos “direitos humanos” não se interessou pelo destino final desses milhões de vítimas?
E
como explicar ainda seu silêncio sobre os atuais cárceres-fábricas chineses?
Nada! Nada é feito! E quando vozes se levantaram para pedir uma Nüremberg para julgar os crimes do
comunismo, um pesado véu baixado pela mídia afogou a iniciativa. O que ocorreu?
Os autores marxistas do Livro Negro do Comunismo alegam tê-lo escrito porque “não se pode deixar a
uma
extrema direita cada vez mais presente o privilégio de dizer a verdade” (p. 45). Porém, no ideário da
extrema
direita ocidental, o que existe de consistente nesse sentido? O grande lance anticomunista de repercussão
mundial
sobre o assunto foi o lúcido e brilhante manifesto de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, intitulado
Comunismo e anticomunismo na orla da última década deste milênio (7), amplamente divulgado pelas TFPs
e
entidades afins dos cinco continentes.
São as TFPs e suas congêneres que esses autores tiveram em vista? Por que suscitam elas essa
inquietação
na esquerda, notadamente a francesa? Se o comunismo de fato estivesse morto, para que tanto dispêndio de
tempo e
esforços? Para cortar o caminho ao anticomunismo, que se diria igualmente morto? Por que, então, essa
preocupação
com o anticomunismo? Alguma razão deve haver, e por certo não deve ser desprezível. – Qual é ela?
Seja como for, uma coisa é inquestionável: Os dados publicados nesse Livro Negro confirmam uma vez
mais
o acerto da oposição cerrada contra o comunismo levada a cabo pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira,
durante todo o
tempo de sua longa atuação pública. Oposição essa que seus fiéis seguidores – hoje reunidos em diversas
TFPs e
associações afins – mantêm acesa, num mundo que procura não ver o perigo representado pelo comunismo
chinês,
cubano, vietnamita, norte-coreano. Para não falar em regimes socialistas implantados em numerosos países
que –
sobretudo através da Revolução Cultural (homossexualismo, aborto, amor livre etc.) – vão empurrando as
mentalidades para o pantanal comunista.
Ao final de sua leitura, o Livro Negro do Comunismo deixa um vasto leque de incógnitas a desafiar a
perspicácia de qualquer um, além de abundante matéria de reflexão para o atilado e inteligente leitor
brasileiro.
NOTAS
1) Stéphane Courtois, Nicolas Werth, Jean-Louis Panné, Andrzej Paczkowski, Karel Bartosek, Jean-
Louis
Margolin, O livro negro do comunismo. Crimes, terror e repressão, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 1999,
917
págs.
6) Zenit, 2-9-1999.
7) “Folha de São Paulo”, 14/2/90. Publicado ademais em numerosos jornais e revistas de todo o mundo.
Enlouquecimento? Ou possessão diabólica coletiva?
Em plena Revolução bolchevista, a famosa revista francesa “L'Illustration”, publicou matéria inédita.
Tratou-se de mórbida fotografia do cadáver de um oficial polonês empalado, contemplado pela
soldadesca
comunista. A revista quis ilustrar com essa fotografia a inexplicável e antinatural ausência de reflexos
humanos, bem
como a indiferença absoluta dos soldados vermelhos. O que teria anestesiado as reações instintivas
daqueles
homens?
“L'Illustration” acrescenta que o crime foi ordenado por uma pessoa que, na frívola Paris da época,
distinguia-se como um gozador, cético em matéria de religião, mas bom rapaz, engraçado, grande jogador
de bridge
e freqüentador de bailes. Que fator misterioso transformou-o, subitamente, em feroz comissário
bolchevista?
* * *
Uma alta autoridade eclesiástica parece oferecer-nos uma explicação indireta para o fato. Trata-se de
Mons.
André Sheptyskyj, Arcebispo de Lvov e Patriarca de Halich, líder da Igreja Católica na Ucrânia durante
as
perseguições de Lenine e Stalin. No início da II Guerra Mundial, escreveu ele à Santa Sé: “Este regime só
pode se
explicar como um caso de possessão diabólica coletiva”. E pediu ao Papa que sugerisse a todos os
sacerdotes e
religiosos do mundo que “exorcizassem a Rússia soviética” *. Mons. Sheptyskyj faleceu em 1944. Seu
processo de
beatificação está em andamento.
* Pe. Alfredo Sáenz S.J., De la Rusia de Vladimir al hombre nuevo soviético, Ediciones Gladius, Buenos
Aires,
1989, pp. 438-439.