Professional Documents
Culture Documents
Eduardo Loureno
JL
17 Junho 2009
Carta melanclica aos leitores jovens do nosso Pas
As horas mais vulgares, o tdio de cada dia, o amor que desejaria ser
gritado e no pode ser dito, so to separadores como o tempo e a
morte.
E no entanto, queridos leitores, nesse crculo rarefeito da solido,
que cada um pode descobrir o trao inconfundvel da sua figura
desenhada contra o fundo mvel do tempo. esse espao essencial
que necessrio cercar de altos muros como pedia Pessoa, porque
a que ns somos o que somos, a que somos tais que no nos
podemos vender, nem ningum nos pode comprar. Ou se quisermos
rasgar os ltimos vus de sis e ser humildes, l que habita alguma
coisa que, em ns mesmos melhor do que ns.
Jovens a inteligncia e a carne atravessadas dos apelos inumerveis
depostos pela beleza e pela luz nas salincias de tudo o que existe,
esta apologia da solido e do silncio, deve aparecer-nos uma
diminuio da disponibilidade absoluta do homem.
Todo o homem possesso de uma verdade encontra razo para
sacrificar o mundo verdade que possui.
Mais humildes, visemos o verdadeiro sem descanso mas no lhe
demos nenhuma base mais slida que a da nossa absoluta
sinceridade. H sinceridades que se opem, bem sabemos, mas s
legitimamos...
..............
(...) toda a nossa esperana vem de vs. Conhecemos o vosso
desamparo num mundo onde vos oferecem ou uma ordem que
apresenta razes duma s face e um niilismo que as dispensa. Foi
tambm a nossa. Ajudai-nos a criar um reino do esprito que
ultrapasse o aqurio e o caos. Visitai connosco aqueles mortos do
cemitrio, os criadores da beleza e verdade, que Charles du Bos
chamava o cu das estrelas fixas.
No temos, irmos nossos apenas um pouco mais vivos do que ns,
nenhum partido nem servimos ningum. Por isso todos os partidos
sero contra ns. No temais. Tudo o que vale a pena nasce duma
solido fecunda e os que no suportam a inevitvel solido humana
no so os que procuramos. Lede uma das mais comoventes
passagens dum livro que o hbito tornou obscuro. a hora da
partida.
Em certas horas descr-se do deus que se tem em frente. Os
discpulos tm sombras no corao e a realidade da carne ameaada
do Mestre mais forte do que o testemunho da palavra. Mas o
Mestre acredita que as aparncias morrem e que certas mortes so o
comeo da vida: Eis (que) vem a hora, ela j chegou, em que sereis