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São Paulo, quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

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PAULO RABELLO DE CASTRO

O discurso da oposição, se houver,


tem que ser para a frente, nunca
para trás; só o futuro interessa ao
eleitor

O PRÉ-CANDIDATO José Serra está numa sinuca de bico


para afinar seu discurso de oposição. Após elevações
praticamente ininterruptas do nível do emprego e da renda
assalariada, marcando os oito anos de gestão Lula, fica difícil
tentar contestar a avaliação positiva que a grande maioria dos
eleitores faz do atual governo.
Na sua argúcia, o gênio político de Lula tenta atrair a
oposição para o confronto que lhe interessa e onde é
imbatível, na comparação entre os feitos da gestão FHC e a
sua, cujo saldo positivo emprestará à campanha de Dilma.
Não há como contrariar a primazia dos oito anos de Lula, até
pelo fato de ser ele o período mais recente, de memória mais
viva para o público. Além disso, as gestões de FHC e Lula se
deram numa sequência em que o último não interrompeu as
políticas mais eficazes do primeiro.
Pelo contrário, absorveu-as e as reempacotou como suas, do
qual o melhor exemplo é o Bolsa Escola, que virou Bolsa
Família.
O discurso da oposição, se houver, tem que ser para a frente,
nunca para trás. O futuro é o único ponto de vista que
interessa ao eleitor. Na prática, o cidadão quererá mudar o
menos possível daquilo que aparenta -e ele sente na pele-
estar dando certo, não importando os motivos ou as possíveis
consequências desse bem-estar.
É quase inevitável a sensação do "já perdeu" quando se ouve
argumento oposicionista que tenta só cotejar números da
gestão FHC com as de Lula. Cá entre nós, são situações
incomparáveis. Dou três exemplos na economia. Primeiro, o
comércio mundial, cujo valor em dólar cresceu mais lento
nos anos FHC, numa média de 5% ao ano, mas explodiu na

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Folha de S.Paulo - Paulo Rabello de Castro: Sem medo do futuro - 10/0... http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1002201006.htm

era Lula (8,5% ao ano), mesmo com o choque negativo de


2009.
Aqui não trabalho com projeções de 2010. Ou seja, a ajuda
de fora foi descomunal no período Lula.
Mais ainda. Olhando o mercado interno, vemos a base do
crédito sair da estagnação na era FHC para dar um salto
histórico da ordem de 12,3% de crescimento anual (!) no
período Lula. O crédito é a alavanca mais poderosa do
consumo e da satisfação pessoal, que vincula o eleitor, queira
ou não queira. Por último, para ficar só nos
macroindicadores, comparem-se os juros, pelo patamar do
encargo financeiro básico em cada período. A diferença é
chocante a favor do atual governo.
Caiu de 14,6% para 7,7% de juro real, na média. E qual o
resultado desse cotejo? A conclusão é paradoxal e
politicamente incorretíssima. Lula ficou "devendo" mais PIB,
ou seja, mais produção, do que FHC. Como? É pela
intensidade dos fatores favoráveis de empuxo do período
Lula.
Foram tamanhos os empurrões do comércio externo e do
crédito na era Lula que cabe a pergunta de onde está o resto
do PIB, além da diferença positiva do magro 1,2 ponto
percentual a favor deste. Por modelos estatísticos de
comparação, ficou faltando mais desempenho na diferença
entre o PIB médio de 2,5% para FHC e o de cerca de 3,7%
para Lula. Era para a expansão média do PIB brasileiro estar
encostando em 5% ao ano. Quem comeu parte desse PIB
certamente foram o alto custeio da máquina pública, a
burocracia em excesso, a falta de investimentos (apesar do
PAC) e o nenhum fomento à poupança. Falta um Brasil bem
mais eficiente, e isso não é ideologia.
A candidata Dilma poderá até escolher não mexer em time
que está ganhando. Ficará abaixo do potencial do país, mas
poucos notarão. Mas a oposição só sairá do papel se olhar
para a frente e convencer o eleitor de que há um futuro de
sonho e prosperidade que a grande massa dos brasileiros
jamais experimentou. E que esse Brasil ainda maior e mais
generoso é possível.

PAULO RABELLO DE CASTRO, 61, doutor em economia pela


Universidade de Chicago (Estados Unidos), é vice-presidente do Instituto
Atlântico e chairman da SR Rating, classificadora de riscos. Preside
também a RC Consultores, consultoria econômica, e o Conselho de
Planejamento Estratégico da Fecomercio SP. Escreve às quartas-feiras, a
cada 15 dias, nesta coluna.

paulo@rcconsultores.com.br

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