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Casimiro
Paula
Como é que surgiu o conceito de identidade? As mãos que aparecem como assinatura de
algumas pinturas rupestres, o nome que é dado aos bebés logo que nascem, a cultura a que
pertencemos e a função que assumimos na sociedade, mas principalmente o nosso corpo,
marcam a nossa identidade. Para além da identidade psicológica, identificamo-nos com os que
nos rodeiam, por isso possuímos uma identidade social, cultural e até nacional. Sem estas
identidades aceitaríamos melhor os outros, seríamos menos preconceituosos, não existiriam
machismos, bairrismos, patriotismos, e até as guerras perderiam as recônditas justificações a que
se continuam a agarrar. Mas sem todas essas identidades o que restaria da nossa própria
identidade?
A Identidade do Avatar
Eu, no Second Life, chamo-me PaulaJ Galicia, o primeiro nome é o da minha vida real, o
segundo foi escolhido por mim entre os vários disponibilizados pela Lindeln Lab. No meu caso o
sobrenome que adoptei tem a ver com a proximidade cultural entre o litoral do Norte de
Portugal e a Galiza. Mas podia ter sido um sobrenome escolhido ao acaso, assim como o
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ISBN : 1989 - 6514
Siranda. Revista de Estudios Culturales, Teoría de los Medios e Innovación Tecnológica
Número 3
http://grupo.us.es/grupoinnovacion/
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primeiro nome poderia não ter nada a ver com o meu. A escolha dos nomes é o processo de
procura da identidade no Second Life, por isso normalmente escolhem-se nomes que
apresentem determinada característica que se pretende realçar, como Afrodite, Jazz, Zeus, WC,
etc.
O que se mantém no avatar, desde que nasce até desaparecer do Second Life, é apenas o
nome e o sobrenome, que não podem de forma alguma ser modificados ou escondidos na
presença dos outros avatares. Pode também manter-se a identidade do avatar enquanto pessoa
ou enquanto personagem construída pela pessoa que o criou, ou seja, a sua personalidade, o
seu carácter e temperamento, os valores que defende e as atitudes que tem, a sua história de
vida. Porque aqui cada um pode ser o que quiser, muitas pessoas criam mais do que um avatar,
de forma a poderem experimentar ser tudo aquilo que desejarem.
A pessoa que existe por trás do avatar pode manifestar-se através dele, transformá-lo
naquilo que ela é ou pensa ser na vida real, mas também pode transformar-se através dele
naquilo que não pode ou não quer ser na vida real. De uma forma ou de outra, o avatar pode
contribuir para a consciência da identidade da pessoa ou então para a criação de uma nova
identidade. Mesmo aqueles que se identificam com os seus próprios avatares, através das
experiências no mundo virtual aprendem a ser diferentes do que eram ou a mudar as suas
atitudes na vida real, identificando-se cada vez mais com as que aprenderam a ter no mundo
virtual.
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A Identidade do Grupo
É fácil ter amigos no SL, porque os avatares não se olham nos olhos, porque não existem as
barreiras físicas nem as regras sociais a impedirem que conversem com desconhecidos, porque a
maioria começa por comunicar por escrito e transmitir sem dificuldades o que pensa, o que
sente, as suas emoções e até os seus segredos. Sendo a comunicação usualmente muito informal
e não existindo regras sociais que imponham a cada um os limites para a sua sociabilidade, a
rapidez com que se passa a afazer parte de um grupo ou a ser aceite por ele, a ter amigos, mais
ou menos íntimos, põe em causa as personagens que representamos na vida real e as normas a
que voluntariamente nos submetemos. Desde que se faz parte de um grupo ou se é aceite por
ele, é natural que se frequente os mesmos locais, que se tenha os mesmos gostos musicais, que
se participe nas mesmas actividades lúdicas e até educativas.
Tal como para os adolescentes, que ainda estão à procura da sua identidade, a qualidade
de membro de um grupo é o bem maior, principalmente quando se é reconhecido pelos outros,
pois quem está dentro tem acesso a todos os privilégios e quem não está ou cede para poder
entrar ou então é rejeitado pelos restantes membros. No SL podemos pertencer formalmente a
vinte e cinco grupos, mas essa pertença é apenas fictícia, escrita, a pertença real implica
reconhecimento por parte dos outros membros, implica reciprocidade, implica aceitação e
cedências de parte a parte. Os grupos de amigos podem funcionar como uma segunda família,
em que as relações de parentesco se podem ir complicando à medida que aumentam as
vivências no Second Life.
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Eu no Second Life
Entrei no Second Life para assistir a conferências e ver exposições a que não posso ter
acesso na vida real. Nos primeiros dias fiquei chocada por tudo me parecer demasiado
semelhante à vida quotidiana, principalmente o comércio, pois os sítios mais habitados pareciam
enormes centros comerciais. Resolvi fazer como os outros, ganhar dinheiro, normalmente a
dançar, em locais apropriados que pagam no máximo um Lindeln por minuto. Depois aprendi
que posso ir ao Multibanco e levantar Lindelns em vez de euros, ou seja, que posso comprar
Lindelns com euros. E o mesmo acontece se pretender ganhar dinheiro no Second Life, pois
posso trocar os meus Lindelns por Euros.
Como é fácil fazer amigos num ambiente virtual em que os avatares comunicam de forma
informal com quase todos os seus interlocutores, desde cedo comecei a comunicar com pessoas
de outros países, e só mais tarde encontrei portugueses e passei a frequentar os locais onde a
comunidade portuguesa habita, vive, trabalha e se diverte. A maioria dos que frequentam os
locais portugueses só conhecem bem o sítio onde costumam estar, tal como na vida real, os
outros locais são de passagem e regressa-se sempre a casa.
Um espaço virtual não devia ser uma simulação do mundo real, mas é isso que atrai a
maioria das pessoas, o que imita a realidade e a melhora, as cópias de monumentos portugueses
e de praças publicas, a igreja do Senhor da Pedra. Assim, podemos compreender o espaço físico
do Second Life como um espaço real, apesar de ser difícil dominá-lo completamente, pois está
em constante mudança. Mesmo que não aumentasse e os continente sou ilhas se mantivessem
do mesmo tamanho, o Second Life continuaria em mudança, pois de um momento para o outro
posso criar o paraíso no inferno que era a minha casa, posso colocar uma cascata no fundo do
jardim, a toalha onde me deito a apanhar sol pode flutuar e o meu namorado virtual pode
tr4ansportar-me aos ombros para o telhado do meu paraíso.
As pessoas gostam dos espaços criados pelos seus avatares, identificam-se com eles, assim
como com os espaços que frequentam, e apesar de não terem de reconhecer sinais familiares
neles, reconhecê-los dá-lhes mais segurança. É também por isso que namoram, criam laços de
parentesco, casam-se, têm filhos, tomam conta dos filhos, constituem famílias. Mas como não
precisam constantemente de se sentir seguros, podem também explorar novos mundos,
encontrar novos amigos, mudar toda a vida que tinham de um momento para o outro e sem as
consequências que isso possa ter na RL. O que cada um é no Second Life, a sua identidade,
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depende dessa capacidade de mudança, da sua criatividade, dos seus objectivos, do que
pretende ser e da forma como se comporta dentro dos grupos em que se insere. Mas também
não é isso que acontece na vida real?
Bibliografia
BOELLSTORFF, T. (2008): Coming of age in Second Life: and anthropologist explores the
virtually human, Princeton University Press.
LÉVY, P (1998): Becoming Virtual: reality in the Digital Age, Plenum Trade.
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