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1. Introdução
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assumir que o próprio país é único, quando não é, e assumir que o próprio país é igual
aos restantes, quando não é” (Hasebrink et al., 2008: 5).
O contributo que aqui trazemos para reflexão diz respeito apenas a uma
pequena parcela do trabalho realizado. Mais concretamente, com esta reflexão
pretendemos, em primeiro lugar, propor e discutir o modelo adoptado pelo presente
projecto para o estudo comparado dos usos da Internet e dos media digitais,
contribuindo, desta forma, para delinear as coordenadas possíveis do campo de
investigação que se tem vindo a constituir em torno do tema em apreço. Em segundo
lugar, propomo-nos ilustrar, ainda que brevemente, o modelo apresentado, tomando
como base alguns dos resultados do estudo comparado realizado nos 21 países
europeus que integram o projecto, dando particular destaque ao caso português.
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Acesso Idade
Género
Riscos e
oportunidades
Estatuto
socioeconómico/
Usos Atitudes e desigualdades
competências
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amplas que atravessam os vários países e que se reflectem em distintos níveis de acesso e
penetração da tecnologia (ver Hasebrink et al., 2008)ix.
Islândia* 67 97 66 54
Finlândia 66 97 57 46
Suécia 66 98 61 53
Bélgica 65 80 52 36
Reino Unido 65 67 45 58
Luxemburgo 60 83 54 35
República Checa 57 66 35 45
Malta 57 39 40 45
Eslovénia 57 71 47 35
França 54 68 35 33
Grupo 2
Letónia 53 53 28 34
Lituânia 53 48 22 35
Áustria 51 75 35 35
Alemanha 47 78 39 26
Polónia 47 42 22 33
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República Eslovaca 45 55 14 39
Hungria 43 40 17 32
Irlanda 42 59 28 28
Portugal 38 32 16 27
Espanha 37 50 22 16
Itália 36 55 22 15
Grupo 3
Chipre 33 37 20 19
Bulgária 29 35 8 12
Roménia 28 34 8 13
Grécia 26 30 12 15
Fonte: Hasebrink et al. (2008), baseado no Eurobarometer 64.4 – Special No. 250: Safer
Internet, 2006; base: pais ou responsáveis por crianças com menos de 18 anos.
Em itálico, encontram-se os países não pertencentes ao projecto EU Kids Online.
* Valor estimado com base nos inquéritos SAFT de 2003 e 2007.
** Valor estimado com base no inquérito SAFT aos pais em 2005.
1)
Todas as crianças cujos pais afirmam que os seus filhos utilizam a Internet,
independentemente do lugar.
2)
Apenas são considerados os lugares mais frequentes; as categorias não são
mutuamente exclusivas.
Em Portugal, todavia, estudos recentes realizados junto das próprias
crianças/jovens revelam valores mais elevados de penetração da Internetx. Por exemplo,
no final de 2008 o Instituto Nacional de Estatística (INE, 2009) realizou um estudo que
anuncia valores de penetração da internet na ordem dos 93% para as crianças entre os
10 e os 15 anos, colocando Portugal entre os países com uma das taxas mais elevadas
da Europa. Não dispomos de dados comparáveis que nos permitam avaliar estes valores
para os restantes países europeus. De qualquer modo, os vários estudos realizados ao
longo dos últimos anos parecem confirmar que o uso da Internet tem vindo a aumentar
(cf., por exemplo, os dados Eurobarómetro de 2008).
Uma forma específica de olharmos para estas diferenças geracionais será
comparando os usos dos filhos com os dos pais. Observando o Quadro 1, podemos
constatar que, de um modo geral, os pais usam mais a Internet do que os filhos. Portugal
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implicações que poderá acarretar) é o tipo de “risco” que apresenta um peso menor
(cerca de 9% em termos gerais). As restantes categorias apresentam uma importância
residual ou encontram-se ausentes dos estudos examinados. A recolha efectuada sugere
que é necessária mais pesquisa na área, sobretudo que permitisse apreciar de forma
comparada os diferentes tipos de “riscos” aqui identificados.
No que respeita às “oportunidades” (apresentadas normalmente como sinónimo
do próprio uso), a ordem de relevância é a que se segue: o entretenimento, os jogos e a
diversão, as redes sociais e a troca de experiências são vistas como as principais
“oportunidades” on-line; tal como a obtenção de informação e a utilização da Internet
enquanto recurso educativo (Hasebrink et al., 2008: 25-26). Outras utilizações, como a
criação de conteúdos e a participação cívica, parecem ser menos comuns (ibid.). Este
conjunto de actividades indica-nos, acima de tudo, determinadas prioridades nos usos
da Internet por crianças e jovens Tal como sugerem Livingstone e Helsper (2007), parece
existir uma espécie de “escada de oportunidades” que vai sendo subida da procura
básica de informação à geração de conteúdos interactivos, passando pelos jogos, a
utilização de e-mail, o instant messaging e o download de música. Esta “escada” parece
estar correlacionada com a idade. Na verdade, os usos diversificam-se porque os
interesses e as competênciasxiv também se alargam com a própria idadexv.
Com base na recolha efectuada, foi possível proceder a uma classificação
(provisória) dos países de acordo com a respectiva percepção dos “riscos” (Quadro 3).
Note-se que a mesma deve ser entendida de forma hipotética, dado que, como temos
vindo a sublinhar, a base empírica analisada comporta uma grande heterogeneidade de
estudos. Fica, em todo o caso, essa classificação, onde se pode ver o cruzamento do
nível de utilização com a percepção do “risco” em cada país.
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Como o quadro anterior sugere, parece existir uma correlação positiva entre a
intensidade dos “riscos” e a intensidade da utilização da Internet. Com efeito, a
combinação entre utilização elevada e “risco” baixo não se verificouxvi. Deste modo,
podemos constatar que os países onde os “riscos” parecem ser mais elevados são, de
uma maneira geral, aqueles que estão associados à Europa do Norte, ao passo que os
países do Sul da Europa se encontram associados (também de um modo geral) a “riscos”
aparentemente mais baixos.
Considerações finais
No final deste breve circuito teórico e empírico, duas conclusões parecem impor-
se: primeiro, é necessário continuar a desenvolver dispositivos teóricos que permitam
interpretar e analisar o que pode ser entendido como “riscos” e “oportunidades” on-line;
segundo, é necessária pesquisa empírica comparável (a nível europeu ou outro), que
permita considerar de forma sistemática as diferenças (e as semelhanças) entre países.
Com efeito, a discussão aqui desenvolvida não permitiu ilustrar completamente o
modelo apresentado. Por um lado, pela complexidade que envolveria a exposição
completa dos dados sugeridos na Figura 1. Por outro lado, pelas lacunas detectadas
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sempre que se pretendeu dar uma resposta a várias das explicações sugeridas pelo
modelo.
Uma parte dos dados aqui analisados, principalmente aqueles que permitem a
comparação entre países, teve por base o olhar dos pais sobre as actividades dos filhos.
Se é verdade que a percepção dos pais acerca dos usos dos filhos é fundamental, não
corresponderá certamente àquilo que os primeiros fazem em todas as ocasiões em que
estão on-line. As prioridades dos adultos não são seguramente as das crianças, e mesmo
entre estas poderá não haver também consenso. É, pois, igualmente necessária mais
investigação que forneça dados que tenham em conta diferentes percepções sobre os
“riscos” e as “oportunidades” de utilização dos meios digitais.
Um dos principais objectivos do projecto EU Kids On-line foi dar um contributo
para a discussão e análise dos usos de meios digitais por crianças e jovens, construindo
um modelo que permitisse interpretar tanto a informação existente como aquela que
vier a ser recolhida. Caberá à pesquisa futura dar resposta a várias das questões que
ficaram em aberto, tanto do ponto de vista das propostas teóricas como do ponto de
vista da recolha empírica.
Bibliografia
ALMEIDA, A. N.. DELICADO, A. e ALVES, N. A. (2008): Crianças e Internet: usos e
representações, a família e a escola. Lisboa, ICS/FCG.
BUCKINGHAM, D. (2000): After the Death of Childhood: Growing Up in the Age of
Electronic Media. Cambridge, Polity Press.
BUCKINGHAM, D. (2007): Beyond Technology: Children’s learning in the age of digital
culture. Cambridge, Polity Press.
EUROBAROMETER (2006): Safer Internet, Special Eurobarometer 250/ Wave 64.4,
Brussels
<http://ec.europa.eu/information_society/activities/sip/docs/eurobarometer/eurobarom
eter_2005_25_ms.pdf>
EUROBAROMETER (2008): Towards a Safer Use of the Internet for Children in the EU: A
Parents’ Perspective. Luxembourg: European Commission.
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EU Kids Online – European Research on Cultural, Contextual and Risk Issues in Children's Safe Use of the
Internet and New Media (2006-2009), projecto coordenado por Sonia Livingstone, London School of
Economics and Political Science (contract number: SIP-2005-MD-038229).
ii
Fazem igualmente parte dos objectivos do projecto em curso contribuir para a reflexão metodológica em
torno da pesquisa que envolve actividades on-line, bem como produzir recomendações com vista a
fundamentar políticas públicas no sector. Ver, para o primeiro caso, Lobe, Livingstone e Haddon (2007) e
Lobe, Livingstone, Olafsson e Simões (2008).
iii
Ver http//www.eukidsonline.net.
iv
Inclui também telemóveis e consolas de jogos.
v
Vários estudos têm revelado a importância destas variáveis para compreender diferenças significativas entre
as diversas populações estudadas (cf., por exemplo, Livingstone e Lemish, 2001; Livingstone, 2002), cuja
comparação internacional, de resto, é possível na maior parte dos casos (cf., por exemplo, Livingstone,
d’Haenens e Hasebrink, 2001).
vi
Na perspectiva de uma análise comparada entre países, como a que nos propusemos levar a cabo neste
projecto, o anterior modelo pode ser pensado (e utilizado) de diversas formas. Com efeito, podemos
considerar o país sob, pelo menos, três perspectivas de análise (Kohn, 1989; Livingstone, 2003): em primeiro
lugar, como “objecto de estudo”; em segundo lugar, como “contexto” para contemplar hipóteses gerais; por
último, como “unidade de análise”. Cf., para um desenvolvimento, Lobe, Livingstone e Haddon (2007) e
Lobe, Livingstone, Ólafsson e Simões (2008).
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A discussão pormenorizada destes factores pode ser encontrada em Hasebrink et al. (2008).
viii
Ou quem tinha, na ocasião do inquérito, a criança ao seu cuidado.
ix
Se tivermos em conta, todavia, dados mais recentes, provenientes do Eurobarómetro realizado em 2008 aos
pais europeus, constatamos que os valores subiram significativamente em todos os países (média de 75%
contra 50% em 2005). Não obstante, a posição relativa dos países, salvo algumas excepções, permanece
idêntica. Continuam a ser os países do sul da Europa a apresentar aparentemente um uso mais baixo; tal como
a continua a ser no norte da Europa e em alguns países do Leste que se verificam as taxas de acesso mais
elevadas. No caso português, a diferença é bastante significativa: passou-se de um valor de 38% para um
valor de 68%.
x
Com efeito, várias fontes e metodologias, produzem diferentes resultados, o que torna difícil encontrar
algum consenso na interpretação das tendências.
xi
Estas diferenças geracionais reflectem-se na própria mediação parental e na percepção dos “riscos” (e das
“oportunidades”) por parte dos pais. Por uma questão de espaço, não tratamos esta questão neste texto. Ver,
para uma apreciação da mediação parental no acesso e nos usos da internet, Hasebrink et al. (2008).
xii
Dados mais recentes (INE, 2009) confirmam esta tendência, embora a diferença esteja a diminuir: em 2005
a casa representava 43% dos acessos e a escola 83%, em 2008 os valores são, respectivamente, de 64% e de
83%.
xiii
A este respeito, dois estudos portugueses, realizados pelo CIES-ISCTE, em 2006, e pelo CIES-
ISCTE/Obercom, em 2008, revelam a tendência para uma diminuição das idades à medida que a taxa de
penetração da Internet aumenta (cf. Cardoso et al. 2007 e Cardoso et al., 2009).
xiv
O aumento das competências, como sugerimos a propósito da Figura 1, poderá aumentar a auto-protecção
aos “riscos”, todavia os dados disponíveis não são conclusivos a este respeito. Na verdade, não só a
investigação é rara como a conceptualização e medição das competências tem sido pouco elaborada, sem
explicitar se se referem a competências para desempenhar tarefas, competências técnicas, literacia digital ou
competências que permitam a auto-protecção.
xv
Para além de variações com a idade, detectaram-se algumas diferenças significativas nos usos de acordo
com o sexo, sobretudo no que respeita à exposição aos “riscos”: os rapazes parecem procurar mais conteúdos
violentos, aceder mais frequentemente a pornografia, encontrar-se com alguém off-line que conheceram on-
line e fornecer informação pessoal; as raparigas, por seu lado, parecem ficar mais incomodadas com conteúdo
violentos e pornografia, falam mais frequentemente on-line com estranhos, recebem comentários sexuais
indesejados e é-lhes solicitada igualmente mais informação de carácter pessoal (cf. Hasebrink et al., 2008:
35).
xvi
No entanto, como se pode constatar no caso da Bulgária, usos baixos podem estar associados a riscos
elevados.
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