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ISBN : 1989 - 6514

Siranda. Revista de Estudios Culturales, Teoría de los Medios e Innovación Tecnológica


Número 3
http://grupo.us.es/grupoinnovacion/
Año 2010

COMPARANDO OS USOS DA INTERNET POR CRIANÇAS E JOVENS NA EUROPA.


CONSIDERAÇÕES A PARTIR DO PROJECTO EU KIDS ONLINE
COMPARING THE USES OF THE INTERNET FOR CHILDREN AND YOUNG PEOPLE IN
EUROPE. CONSIDERATIONS FROM THE DRAFT KIDS ONLINE

José Alberto Vasconcelos Simões


Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
Universidade Nova de Lisboa
joseav.simoes@fcsh.unl.pt

1. Introdução

A história dos media, como outras, tende a repetir-se. O surgimento de um meio


de comunicação é quase sempre acompanhado tanto por discursos optimistas, que
proclamam as vantagens infindáveis da sua adopção nas mais diversas esferas de
actividade, como por discursos pessimistas, que defendem justamente o oposto,
traçando um cenário forçosamente calamitoso para esse mesmo acolhimento;
apontando unicamente aspectos nocivos onde outros apenas vêem vantagens (Webster
e Robins, 1999; Simões, 2008). Podemos encontrar uma formulação específica deste
problema mais geral nas discussões sobre os media digitais, sobretudo quando está em
causa a sua utilização por audiências potencialmente vulneráveis, como seria o caso das
crianças e dos jovens (Buckingham, 2000, 2007). Entre os discursos hiperbólicos de uns
e os de outros, resta-nos a pesquisa empírica, cujas prioridades, todavia, tendem a ser
moldadas pela forma como os problemas emergem no discurso público (Buckingham,
2000; Lobe, Simões e Zaman, 2009).
O presente artigo tem por base o projecto EU Kids On-linei, cujo propósito é
(entre outrosii) inventariar, analisar e comparar dados produzidos por estudos realizados
sobre crianças e jovens e os seus usos da Internet (e de outros media digitais), em 21
países europeusiii. A importância de realizar um estudo comparado revela-se crucial por
vários motivos. O principal, em nosso entender, consiste em evitar os equívocos
associados ao que seria uma interpretação dos resultados obtidos para cada país
ignorando a sua posição num contexto mais alargado. Com efeito, “sem uma
perspectiva comparada, os estudos nacionais correm o risco de cair em duas falácias –

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assumir que o próprio país é único, quando não é, e assumir que o próprio país é igual
aos restantes, quando não é” (Hasebrink et al., 2008: 5).
O contributo que aqui trazemos para reflexão diz respeito apenas a uma
pequena parcela do trabalho realizado. Mais concretamente, com esta reflexão
pretendemos, em primeiro lugar, propor e discutir o modelo adoptado pelo presente
projecto para o estudo comparado dos usos da Internet e dos media digitais,
contribuindo, desta forma, para delinear as coordenadas possíveis do campo de
investigação que se tem vindo a constituir em torno do tema em apreço. Em segundo
lugar, propomo-nos ilustrar, ainda que brevemente, o modelo apresentado, tomando
como base alguns dos resultados do estudo comparado realizado nos 21 países
europeus que integram o projecto, dando particular destaque ao caso português.

2. Crianças e jovens online: definindo um campo de investigação

As crianças e os jovens utilizam a Internet num contexto amplo (doméstico,


familiar, social, cultural, político, económico, etc.) e de forma diversificada. Por esta razão,
devemos começar por admitir que são vários os factores que podem influenciar
potencialmente o seu uso da Internet, em geral, e os riscos com os quais se podem
deparar, em particular. De modo a estabelecer alguma ordem analítica nesta
multiplicidade de factores, organizou-se a investigação atribuindo um estatuto
diferenciado a cada um dos elementos que inteiram o modelo proposto (cf. Figura 1).
A Figura 1 pode ser explicada do seu interior (a cinzento escuro) para o exterior.
O núcleo central corresponde àquilo que pretendemos conhecer, as actividades on-line
das crianças e dos jovens. O on-line define-se aqui sobretudo (mas não sóiv) através das
actividades associadas à internet. As definições de criança e de jovem, enquanto
construções social e historicamente variáveis, exigiriam uma discussão suplementar,
muito para além do âmbito do presente texto (cf. Buckingam, 2000, 2006; Pais, 1993).
Em todo o caso, e por razões pragmáticas, considerou-se os 17 anos de idade como
limite superior de um intervalo necessariamente arbitrário. Define um momento que
antecede a transição para a maioridade e, como tal, identifica um possível critério de
demarcação da população em questão.

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Figura 1 - Perspectiva geral do campo de investigação

Actividades online das crianças/jovens

Acesso Idade

Género
Riscos e
oportunidades
Estatuto
socioeconómico/
Usos Atitudes e desigualdades
competências

Mediação por pais, professores e pares

Indivíduo enquanto nível de análise

Ambiente Regulação TIC Discurso Atitudes e Sistema


Mediático Público Valores Educativo

País enquanto nível de análise

Fonte: Hasebrink, Livingstone e Haddon (2008).

O projecto de investigação realizado foi motivado por uma preocupação


específica: o exame dos riscos e das oportunidades associadas aos usos do online. O
núcleo central do esquema é por isso formado por riscos e oportunidades enquanto
resultado da confluência do acesso, dos usos e das atitudes e competências dos
utilizadores. Não existe uma definição consensual, clara e objectiva, de riscos e
oportunidades, nem a sua observação tem sido idêntica nos vários estudos realizados.
Podemos no entanto dizer, de forma simplificada, que “riscos” e “oportunidades” são,
respectivamente, experiências negativas e positivas que podem acorrer sempre que se
utilizam determinados conteúdos on-line (Hasebrink et al., 2008). Deste modo, a questão
poderá ser colocada nos seguintes termos: que processos conduzem a diferentes “riscos”
(ou “oportunidades”)? Esta questão pressupõe que riscos (e oportunidades) não existem
por si próprios mas enquanto transacção entre determinadas motivações comunicativas
e o papel desempenhado pela criança/jovem quando utiliza a Internet (ver, mais à
frente, Quadro 2)

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Na parte exterior do primeiro nível de análise considerado no esquema (a


cinzento mais claro), encontram-se, por um lado, as variáveis explicativas clássicas
(género, idade e estatuto socioeconómico dos pais)v, por outro lado, variáveis que
desempenham um estatuto intermédio na explicação do fenómeno em questão,
designadamente as que decorrem da mediação dos outros (pais, pares, professores). Se
as primeiras correspondem a explicações prováveis para os usos da Internet e dos media
digitais em geral, as segundas parecem-nos igualmente indispensáveis, na medida em
que a utilização dos media em geral e da Internet em particular, ainda que individual, é
igualmente colectiva, grupal. A mediação dos outros é assim uma dimensão
incontornável dos usos da internet, tanto mais que esta pode assumir uma configuração
mais ou menos explícita e acentuada, revelando diferentes práticas, padrões e regras,
associadas a contextos de utilização e grupos de utilizadores distintos.
Finalmente, num segundo nível (“país enquanto nível de análise”vi) podemos
considerar um conjunto de factores contextuais variados. Como se poderá constatar,
estes factores contextuais são bastante heterogéneos (indo do ambiente mediático ao
sistema educativo) para que as suas consequências possam ser avaliadas de forma
completa. Pretende-se, em vez disso, considerá-los como elementos adicionais na
compreensão de cada país considerado, de modo a permitirem tecer um quadro
explicativo mais amplo para as tendências observadas no nível anteriorvii.

3. Usos da Internet por crianças e jovens: Portugal no contexto de outros países


europeus

Analisar os usos da Internet é, a vários níveis, estudar um alvo em movimento.


Não só porque a complexidade de tais práticas é apenas parcialmente fixada pelas
nossas grelhas de mensuração, mas também porque o território específico que nos
propomos explorar se encontra em constante mutação.
Os dados que aqui iremos examinar brevemente resultam do projecto EU Kids
Online e tiveram por base, por um lado, a informação obtida a partir dos estudos sobre
crianças/jovens e as suas actividades on-line recolhidos nos 21 países europeus que
integram o projecto, por outro lado, os resultados fornecidos pelo Eurobarómetro de

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2005/06, realizado especialmente com o intuito de analisar os usos da Internet por


crianças e jovens com idades inferiores a 18 anos. Na medida em que este último
constitui o único questionário que nos fornece uma base comparável entre os vários
países europeus estudados, será maioritariamente usado nesta breve exposição. Impõe-
se, contudo, uma advertência a respeito destes dados. Apesar de o objectivo do
inquérito ter sido conhecer os usos das crianças e jovens, tal informação foi obtida junto
dos seus paisviii. Este facto levanta problemas epistemológicos, que apenas são superados
porque tais dados constituem uma fonte de informação única.
A exposição que se segue não é exaustiva (nem poderia ser) dos usos da Internet
por crianças e jovens, nem permite dar resposta a todas as questões levantadas pelo
modelo anteriormente discutido. Pretende-se, em vez disso, discutir alguns dados
comparativos que permitam situar os usos das crianças portuguesas no contexto
europeu, apontando igualmente algumas das lacunas detectadas na informação
disponível.
A primeira questão que nos ocorre quando pensamos nos media digitais diz
respeito ao acesso, sem o qual, de resto, as restantes reflexões não fariam sentido. Um
exame elementar dos dados obtidos revela algumas disparidades entre os países
europeus.
Com efeito, com base nos dados do Eurobarómetro de 2005/6, podemos
classificar os países Europeus em três grupos (ver Quadro 1): um primeiro grupo,
engloba um conjunto de países onde a penetração da internet entre as crianças se situa
acima dos 65% (em média 68% dos países deste grupo usam a Internet), um segundo
grupo situa-se entre os 40% e os 65% e, finalmente, um terceiro grupo, onde o uso da
Internet por crianças é inferior a 40%. Esta divisória, não sendo rígida, fornece-nos uma
possibilidade de interpretação dos dados observados, que será útil, como veremos, no
cruzamento com outras variáveis.
Um exame um pouco mais atento revela-nos que existe uma dicotomia mais ou
menos evidente entre o sul da Europa (e alguns países do Leste europeu) e os países do
norte, sobretudo da Escandinávia, onde o uso da Internet parece ser mais elevado. As
explicações para este facto podem ser ancoradas em diferenças socioeconómicas mais

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amplas que atravessam os vários países e que se reflectem em distintos níveis de acesso e
penetração da tecnologia (ver Hasebrink et al., 2008)ix.

Quadro 1 – Utilização da Internet (crianças e pais) e locais de utilização (casa e/ou


escola) (%)
Crianças Pais que Local onde as
que usam a crianças utilizam a
usam a Internet Internet2)
País Internet1)
Em casa Na
escola
UE 25 50 65 34 33
Holanda 72 97 69 57
Dinamarca 70 95 64 53
Estónia 68 83 47 45
Noruega** 68 100 67 55
Grupo 1

Islândia* 67 97 66 54
Finlândia 66 97 57 46
Suécia 66 98 61 53
Bélgica 65 80 52 36
Reino Unido 65 67 45 58
Luxemburgo 60 83 54 35
República Checa 57 66 35 45
Malta 57 39 40 45
Eslovénia 57 71 47 35
França 54 68 35 33
Grupo 2

Letónia 53 53 28 34
Lituânia 53 48 22 35
Áustria 51 75 35 35
Alemanha 47 78 39 26
Polónia 47 42 22 33

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República Eslovaca 45 55 14 39
Hungria 43 40 17 32
Irlanda 42 59 28 28
Portugal 38 32 16 27
Espanha 37 50 22 16
Itália 36 55 22 15
Grupo 3

Chipre 33 37 20 19
Bulgária 29 35 8 12
Roménia 28 34 8 13
Grécia 26 30 12 15
Fonte: Hasebrink et al. (2008), baseado no Eurobarometer 64.4 – Special No. 250: Safer
Internet, 2006; base: pais ou responsáveis por crianças com menos de 18 anos.
Em itálico, encontram-se os países não pertencentes ao projecto EU Kids Online.
* Valor estimado com base nos inquéritos SAFT de 2003 e 2007.
** Valor estimado com base no inquérito SAFT aos pais em 2005.
1)
Todas as crianças cujos pais afirmam que os seus filhos utilizam a Internet,
independentemente do lugar.
2)
Apenas são considerados os lugares mais frequentes; as categorias não são
mutuamente exclusivas.
Em Portugal, todavia, estudos recentes realizados junto das próprias
crianças/jovens revelam valores mais elevados de penetração da Internetx. Por exemplo,
no final de 2008 o Instituto Nacional de Estatística (INE, 2009) realizou um estudo que
anuncia valores de penetração da internet na ordem dos 93% para as crianças entre os
10 e os 15 anos, colocando Portugal entre os países com uma das taxas mais elevadas
da Europa. Não dispomos de dados comparáveis que nos permitam avaliar estes valores
para os restantes países europeus. De qualquer modo, os vários estudos realizados ao
longo dos últimos anos parecem confirmar que o uso da Internet tem vindo a aumentar
(cf., por exemplo, os dados Eurobarómetro de 2008).
Uma forma específica de olharmos para estas diferenças geracionais será
comparando os usos dos filhos com os dos pais. Observando o Quadro 1, podemos
constatar que, de um modo geral, os pais usam mais a Internet do que os filhos. Portugal

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e a Polónia (dentro do EU Kids Online) são as excepções (a que podemos acrescentar, a


nível europeu alargado, Malta e a Lituânia). Esta constatação contraria a noção do senso
comum que tende a colocar as crianças na vanguarda da utilização da tecnologia,
como se estas possuíssem aptidões “naturais” para o fazer (Buckingham, 2000, 2007).
No que respeita a Portugal, e de acordo novamente com o INE, existe um claro
desfasamento no acesso entre gerações: se os mais novos apresentam valores acima dos
90%, os mais velhos (mais de 55 anos) não chegam aos 20% (sendo que para aqueles
com 65 e mais anos este valor decresce para os 5%). Há, portanto, uma clara
discrepância geracional, que no caso português se pode correlacionar com o baixo nível
de literacia da população mais velha (cf. Hasebrink et al., 2008)xi.
O lugar onde a Internet é utilizada é outro indicador geral contemplado no
Quadro 1. Nos países onde o uso é mais elevado, de um modo geral, a casa é o local de
eleição, nos restantes a escola parece desempenhar esse papel. O que corresponde,
inversamente aos países onde o uso é mais baixo. No caso português, a função da
escola é bastante significativa (representa 27%, contra 16% em casa)xii.
Se relacionarmos estes dados de acesso com algumas das variáveis explicativas
propostas, podemos avançar um pouco nesta interpretação. Considerando, em primeiro
lugar, a idade, concluímos que à medida que esta aumenta, a percentagem de
utilizadores também aumenta. O acesso parece atingir o seu ponto mais elevado aos 12-
13 anos, dado que a partir desta idade os valores mantêm-se constantes (Hasebrink et
al., 2008). Um dado significativo diz respeito à idade em que se começa a usar a internet.
Mais concretamente, podemos detectar uma relação entre a idade de acesso e o grau
de penetração da internet num dado país. Com efeito, se cruzarmos a idade com os
grupos de países de acordo com o nível de acesso, constatamos que é entre os países
que têm maior número de utilizadores que as idades de acesso são mais baixas (cf.
Hasebrink et al., 2008: 21). O que pode ser ilustrado com os seguintes dados: cerca de
80% dos utilizadores com 8-9 anos encontram-se no grupo 1 (“utilização elevada”), ao
passo que pouco mais de 20% pertencem ao grupo 3 (“baixa utilização”). Portanto,
podemos comprovar que existem diferenças de acesso correlacionadas com a própria
difusão da internet em diferentes paísesxiii.

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As diferenças de género são pequenas (ligeiramente superiores nos rapazes),


parecendo estar a diminuir igualmente à medida que o acesso se generaliza. Mais uma
vez, podemos comprovar esta tese, cruzando os grupos de países classificados por nível
de acesso com as diferenças de género (valores, respectivamente, para rapazes e
raparigas): no grupo 1 (“utilização elevada”) temos 68,6% contra 68%, no grupo 2
(“utilização intermédia”) temos 52% contra 48,2% e, finalmente, no grupo 3 (“baixa
utilização”) temos 52% contra 49%.
Embora não disponhamos de dados comparáveis a nível europeu, estudos
parcelares de vários dos países que integram o projecto confirmam a correlação entre o
acesso (e a frequência do uso) e o estatuto socioeconómico das famílias (cf. Hasebrink et
al., 2008). Esta lacuna é particularmente limitativa se pensarmos que nos impede de
comparar diferenças dentro dos países e de responder de forma conclusiva a algumas
das hipóteses levantadas. São sobretudo os dados de contextualização socioeconómica,
referidos no segundo nível de análise (cf. Figura 1) a fornecer informação que nos
permite sugerir hipóteses, evidenciando assim diferenças entre países. É, deste modo, por
exemplo, que podemos sugerir a relação entre o baixo nível de escolaridade da
população portuguesa e o baixo acesso dos pais portugueses à Internet, confirmada, de
resto, por estudos nacionais mais recentes (cf., por exemplo, Almeida et al., 2009).
Se a discussão em torno do acesso é fundamental para compreender diferentes
padrões que espelham diferenças mais profundas entre países, é igualmente
fundamental debruçarmo-nos sobre os usos efectivos. A disponibilidade de dados
comparáveis é, todavia, ainda menor neste caso, sobretudo se pensarmos na
classificação proposta no esquema inicial. Existe um corpo razoável de investigação
sobre usos em cada um dos países individualmente, mas sem uma distinção explícita
acerca do que seriam as “oportunidades” e os “riscos”. Em todo o caso, apesar das
dificuldades analíticas de definição do que são “riscos” e “oportunidades”, e não obstante
a eventual sobreposição temática, propôs-se uma classificação que funciona
simultaneamente como tentativa de conceptualização e recurso heurístico para a
pesquisa empírica na área (cf. Quadro 2):

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Quadro 2 – Classificação de “riscos” e “oportunidades” de acordo com diferentes áreas


temáticas e papéis comunicacionais

Áreas temáticas Conteúdo Contacto Conduta


Criança como Criança como Criança como actor
receptor participante

Aprendizagem Recursos educativos Contacto com outras Auto-aprendizagem


educativa e pessoas que partilham os ou aprendizagem
literacia digital mesmos interesses colaborativa

Participação e Informação global Troca entre grupos de Formas concretas de


OPORTUNIDADES

empenhamento interesses empenhamento


cívico cívico

Criatividade e Diversidade de Ser convidado ou Criação de conteúdo


auto-expressão recursos inspirado a criar ou gerado pelo utilizador
participar

Identidade e Conselhos Redes sociais, partilha de Expressão da


ligações sociais (pessoais/saúde/ experiências com os identidade
sexuais, etc.) outros

Comerciais Publicidade, spam, Localização, recolha de Jogar, downloads


patrocínio informação pessoal ilegais, hacking

Agressivos Conteúdo Ser importunado, Importunar ou


violento/assustador/ assediado ou perseguido perseguir os outros
desprezível
RISCOS

Sexuais Conteúdo Encontrar-se com Criar ou fazer upload


pornográfico/prejudi estranhos, ser aliciado de material
cial/ pornográfico
sexual

Valores Conselhos/informaç Lesões auto-infligidas, Fornecer conselhos

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ões racistas, persuasão não desejada e.g. suicídio ou pro-


distorcidas (e.g. anorexia
sobre drogas)
Fonte: adaptado de Hasebrink et al. (2008).

Na primeira coluna propõe-se uma classificação de “riscos” e de “oportunidades”


de acordo com quatro áreas temáticas, que tanto podem ser encaradas como uma
forma de classificar diferentes usos da internet, como enquanto forma de classificar a
investigação realizada (cf. Stald e Haddon, 2008). O eixo horizontal, formado pela
primeira linha, define três modos de comunicação on-line: “um para vários” (i.e. a criança
como receptor de conteúdo distribuído em massa); “entre adulto e criança” (i.e. criança
como participante numa situação interactiva predominantemente conduzida pelos
adultos); e “entre pares” (i.e. criança como actor numa interacção na qual ele/a pode ter
a iniciativa).
Do conjunto de “oportunidades” e “riscos” identificados analiticamente, nem
todos apresentam a mesma relevância nas pesquisas realizadas (Staksrud et al., 2007;
Stald e Haddon, 2008). Disso mesmo nos pudemos aperceber através da recolha
efectuada nos vários países. Em termos gerais, e incorrendo numa certa simplificação,
podemos ordenar os “riscos” e as “oportunidades” de acordo com a sua importância
relativa.
Comecemos pelos “riscos”. Fornecer informação pessoal é, de longe, o “risco”
mais frequente em todos os estudos recolhidos, estimando-se que metade das
crianças/jovens já o tenha feito (Hasebrink et al., 2008: 31). O segundo tipo de “risco”
mais comum é ver pornografia: 4 em 10 países europeus referem-no, com uma
oscilação entre os 25% e os 80% (ibid.). Ver conteúdo violento/desprezível ou assustador
é o terceiro “risco” mais frequente: cerca de 1/3 dos adolescentes parece já se ter
confrontado com este tipo de conteúdos. Ser importunado, assediado ou perseguido é
referido por cerca de 1 em cada 5 ou 6 crianças/ jovens que estão online. Receber
comentários sexuais indesejados constitui o quinto tipo de “risco” na ordem de
relevância, com alguma variação entre países (Ibid.). Finalmente, encontrar-se off-line
com pessoas que se conheceram on-line (não obstante a gravidade do mesmo pelas

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implicações que poderá acarretar) é o tipo de “risco” que apresenta um peso menor
(cerca de 9% em termos gerais). As restantes categorias apresentam uma importância
residual ou encontram-se ausentes dos estudos examinados. A recolha efectuada sugere
que é necessária mais pesquisa na área, sobretudo que permitisse apreciar de forma
comparada os diferentes tipos de “riscos” aqui identificados.
No que respeita às “oportunidades” (apresentadas normalmente como sinónimo
do próprio uso), a ordem de relevância é a que se segue: o entretenimento, os jogos e a
diversão, as redes sociais e a troca de experiências são vistas como as principais
“oportunidades” on-line; tal como a obtenção de informação e a utilização da Internet
enquanto recurso educativo (Hasebrink et al., 2008: 25-26). Outras utilizações, como a
criação de conteúdos e a participação cívica, parecem ser menos comuns (ibid.). Este
conjunto de actividades indica-nos, acima de tudo, determinadas prioridades nos usos
da Internet por crianças e jovens Tal como sugerem Livingstone e Helsper (2007), parece
existir uma espécie de “escada de oportunidades” que vai sendo subida da procura
básica de informação à geração de conteúdos interactivos, passando pelos jogos, a
utilização de e-mail, o instant messaging e o download de música. Esta “escada” parece
estar correlacionada com a idade. Na verdade, os usos diversificam-se porque os
interesses e as competênciasxiv também se alargam com a própria idadexv.
Com base na recolha efectuada, foi possível proceder a uma classificação
(provisória) dos países de acordo com a respectiva percepção dos “riscos” (Quadro 3).
Note-se que a mesma deve ser entendida de forma hipotética, dado que, como temos
vindo a sublinhar, a base empírica analisada comporta uma grande heterogeneidade de
estudos. Fica, em todo o caso, essa classificação, onde se pode ver o cruzamento do
nível de utilização com a percepção do “risco” em cada país.

Quadro 3 – Classificação geral dos países de acordo com a utilização da Internet e a


percepção dos “riscos” on-line

Utilização da Internet pelas crianças


Risco online
Baixa (< 40%) Média (40%-65%) Elevada (> 65%)

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Baixo Chipre França


Itália Alemanha
Médio Grécia Áustria Bélgica
Portugal Irlanda Dinamarca
Espanha Suécia

Elevado Bulgária Republica Checa Estónia


Polónia Holanda
Eslovénia Noruega
Reino Unido
Fonte: Hasebrink et al., (2008: 75).

Como o quadro anterior sugere, parece existir uma correlação positiva entre a
intensidade dos “riscos” e a intensidade da utilização da Internet. Com efeito, a
combinação entre utilização elevada e “risco” baixo não se verificouxvi. Deste modo,
podemos constatar que os países onde os “riscos” parecem ser mais elevados são, de
uma maneira geral, aqueles que estão associados à Europa do Norte, ao passo que os
países do Sul da Europa se encontram associados (também de um modo geral) a “riscos”
aparentemente mais baixos.

Considerações finais

No final deste breve circuito teórico e empírico, duas conclusões parecem impor-
se: primeiro, é necessário continuar a desenvolver dispositivos teóricos que permitam
interpretar e analisar o que pode ser entendido como “riscos” e “oportunidades” on-line;
segundo, é necessária pesquisa empírica comparável (a nível europeu ou outro), que
permita considerar de forma sistemática as diferenças (e as semelhanças) entre países.
Com efeito, a discussão aqui desenvolvida não permitiu ilustrar completamente o
modelo apresentado. Por um lado, pela complexidade que envolveria a exposição
completa dos dados sugeridos na Figura 1. Por outro lado, pelas lacunas detectadas

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sempre que se pretendeu dar uma resposta a várias das explicações sugeridas pelo
modelo.
Uma parte dos dados aqui analisados, principalmente aqueles que permitem a
comparação entre países, teve por base o olhar dos pais sobre as actividades dos filhos.
Se é verdade que a percepção dos pais acerca dos usos dos filhos é fundamental, não
corresponderá certamente àquilo que os primeiros fazem em todas as ocasiões em que
estão on-line. As prioridades dos adultos não são seguramente as das crianças, e mesmo
entre estas poderá não haver também consenso. É, pois, igualmente necessária mais
investigação que forneça dados que tenham em conta diferentes percepções sobre os
“riscos” e as “oportunidades” de utilização dos meios digitais.
Um dos principais objectivos do projecto EU Kids On-line foi dar um contributo
para a discussão e análise dos usos de meios digitais por crianças e jovens, construindo
um modelo que permitisse interpretar tanto a informação existente como aquela que
vier a ser recolhida. Caberá à pesquisa futura dar resposta a várias das questões que
ficaram em aberto, tanto do ponto de vista das propostas teóricas como do ponto de
vista da recolha empírica.

Bibliografia
ALMEIDA, A. N.. DELICADO, A. e ALVES, N. A. (2008): Crianças e Internet: usos e
representações, a família e a escola. Lisboa, ICS/FCG.
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ISBN : 1989 - 6514
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i
EU Kids Online – European Research on Cultural, Contextual and Risk Issues in Children's Safe Use of the
Internet and New Media (2006-2009), projecto coordenado por Sonia Livingstone, London School of
Economics and Political Science (contract number: SIP-2005-MD-038229).
ii
Fazem igualmente parte dos objectivos do projecto em curso contribuir para a reflexão metodológica em
torno da pesquisa que envolve actividades on-line, bem como produzir recomendações com vista a
fundamentar políticas públicas no sector. Ver, para o primeiro caso, Lobe, Livingstone e Haddon (2007) e
Lobe, Livingstone, Olafsson e Simões (2008).
iii
Ver http//www.eukidsonline.net.
iv
Inclui também telemóveis e consolas de jogos.
v
Vários estudos têm revelado a importância destas variáveis para compreender diferenças significativas entre
as diversas populações estudadas (cf., por exemplo, Livingstone e Lemish, 2001; Livingstone, 2002), cuja
comparação internacional, de resto, é possível na maior parte dos casos (cf., por exemplo, Livingstone,
d’Haenens e Hasebrink, 2001).
vi
Na perspectiva de uma análise comparada entre países, como a que nos propusemos levar a cabo neste
projecto, o anterior modelo pode ser pensado (e utilizado) de diversas formas. Com efeito, podemos
considerar o país sob, pelo menos, três perspectivas de análise (Kohn, 1989; Livingstone, 2003): em primeiro
lugar, como “objecto de estudo”; em segundo lugar, como “contexto” para contemplar hipóteses gerais; por
último, como “unidade de análise”. Cf., para um desenvolvimento, Lobe, Livingstone e Haddon (2007) e
Lobe, Livingstone, Ólafsson e Simões (2008).

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Número 3
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vii
A discussão pormenorizada destes factores pode ser encontrada em Hasebrink et al. (2008).
viii
Ou quem tinha, na ocasião do inquérito, a criança ao seu cuidado.
ix
Se tivermos em conta, todavia, dados mais recentes, provenientes do Eurobarómetro realizado em 2008 aos
pais europeus, constatamos que os valores subiram significativamente em todos os países (média de 75%
contra 50% em 2005). Não obstante, a posição relativa dos países, salvo algumas excepções, permanece
idêntica. Continuam a ser os países do sul da Europa a apresentar aparentemente um uso mais baixo; tal como
a continua a ser no norte da Europa e em alguns países do Leste que se verificam as taxas de acesso mais
elevadas. No caso português, a diferença é bastante significativa: passou-se de um valor de 38% para um
valor de 68%.
x
Com efeito, várias fontes e metodologias, produzem diferentes resultados, o que torna difícil encontrar
algum consenso na interpretação das tendências.
xi
Estas diferenças geracionais reflectem-se na própria mediação parental e na percepção dos “riscos” (e das
“oportunidades”) por parte dos pais. Por uma questão de espaço, não tratamos esta questão neste texto. Ver,
para uma apreciação da mediação parental no acesso e nos usos da internet, Hasebrink et al. (2008).
xii
Dados mais recentes (INE, 2009) confirmam esta tendência, embora a diferença esteja a diminuir: em 2005
a casa representava 43% dos acessos e a escola 83%, em 2008 os valores são, respectivamente, de 64% e de
83%.
xiii
A este respeito, dois estudos portugueses, realizados pelo CIES-ISCTE, em 2006, e pelo CIES-
ISCTE/Obercom, em 2008, revelam a tendência para uma diminuição das idades à medida que a taxa de
penetração da Internet aumenta (cf. Cardoso et al. 2007 e Cardoso et al., 2009).
xiv
O aumento das competências, como sugerimos a propósito da Figura 1, poderá aumentar a auto-protecção
aos “riscos”, todavia os dados disponíveis não são conclusivos a este respeito. Na verdade, não só a
investigação é rara como a conceptualização e medição das competências tem sido pouco elaborada, sem
explicitar se se referem a competências para desempenhar tarefas, competências técnicas, literacia digital ou
competências que permitam a auto-protecção.
xv
Para além de variações com a idade, detectaram-se algumas diferenças significativas nos usos de acordo
com o sexo, sobretudo no que respeita à exposição aos “riscos”: os rapazes parecem procurar mais conteúdos
violentos, aceder mais frequentemente a pornografia, encontrar-se com alguém off-line que conheceram on-
line e fornecer informação pessoal; as raparigas, por seu lado, parecem ficar mais incomodadas com conteúdo
violentos e pornografia, falam mais frequentemente on-line com estranhos, recebem comentários sexuais
indesejados e é-lhes solicitada igualmente mais informação de carácter pessoal (cf. Hasebrink et al., 2008:
35).
xvi
No entanto, como se pode constatar no caso da Bulgária, usos baixos podem estar associados a riscos
elevados.

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