You are on page 1of 12

Alfred North Whitehead

A Ciência
eo

Mundo Moderno
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CI)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Whitehead, Alfred North, 1861-1947


A ciência e o mundo moderno / Alfred North
Whitehead ; [tradução Hermann Herbert Watzlawick]. —
São Paulo : Paulus, 2006. — (Coleção philosophica)

Título original : Science and the Modern World.


Bibliografia.
ISBN 85-349-2451-1

1. Ciência - Filosofia - História 2. Ciência e


civilização 3. Cosmologia 4. Estética 5. Ética
6. Religião I. título. II. Série.

05-9274 CDD-501

Índices para catálogo sistemático:


1. Ciência : Filosofia : História 501

Título original
Science and the Modern World
© The Syndicate of the Press of the University of Cambridge, 1953

Direção editorial
Paulo Bazaglia

Tradução
Hermann Herbert Watzlawick

Editoração
PAULUS

Impressão e acabamento
PAULUS

© PAULUS – 2006
Rua Francisco Cruz, 229 • 04117-091 • São Paulo (Brasil)
Fax (11) 5579-3627 • Tel. (11) 5084-3066
www.paulus.com.br • editorial@paulus.com.br

ISBN 85-349-2451-1
A meus colegas,
de outrora e de hoje,
cuja amizade é inspiração
| A ciência e o mundo moderno |

Sumário

9 Prefácio
Capítulo I
13 As origens da ciência moderna
Capítulo II
35 A matemática como um elemento na história
do pensamento
Capítulo III
57 O século do gênio
Capítulo IV
77 O século XVIII
Capítulo V
99 A reação romântica
Capítulo VI
123 O século XIX
Capítulo VII
145 A relatividade
Capítulo VIII
163 A teoria do quantum
Capítulo IX
173 Ciência e filosofia

||
| Alfred North Whitehead |

Capítulo X
195 A abstração
Capítulo XI
215 Deus
Capítulo XII
223 Religião e ciência
Capítulo XIII
237 Requisitos para o progresso social
257 Índice remissivo

||
| A ciência e o mundo moderno |

Prefácio

O presente livro contém um estudo acerca de alguns as-


pectos da cultura ocidental ao longo dos últimos três séculos, à
medida que foi influenciada pelo desenvolvimento da ciência.
Este estudo guiou-se pela convicção de que a mentalidade de
uma época nasce da visão de mundo que, de fato, predomina
nos setores instruídos das comunidades em questão. Há, pro-
vavelmente, mais que um esquema, de acordo com as divisões
culturais. Os diversos campos do interesse humano que suge-
rem cosmologias, e que também são influenciados por elas, são
a ciência, a estética, a ética e a religião. Em todas as épocas, cada
um desses assuntos evoca uma visão de mundo. Uma vez que
o mesmo grupo de pessoas é influenciado por todos esses inte-
resses, ou por mais do que um deles, seu ponto de vista efetivo
será o produto total dessas fontes. Cada época, porém, tem sua
preocupação principal; durante os três séculos em questão, a
cosmologia derivada da ciência tem-se auto-afirmado à custa
de antigos pontos de vista cuja origem encontra-se alhures. O
ser humano pode ser provinciano tanto no tempo como no
espaço. Podemos perguntar-nos se a mentalidade científica do
mundo moderno no passado recente não é um exemplo bem-
sucedido dessa limitação provinciana.
A filosofia, em uma de suas funções, é a crítica das cos-
mologias. É sua função harmonizar, remodelar e justificar in-
tuições divergentes em relação à natureza das coisas. Deve
insistir tanto na análise minuciosa das últimas idéias como

||
| Alfred North Whitehead |

na retenção de todas as evidências que modelam nosso es-


quema cosmológico. Seu trabalho é tornar explícito e — na
medida do possível — eficiente um processo que, de outra
maneira, seria realizado inconscientemente, sem testes ra-
cionais.
Tendo isso em mente, evitei a introdução de uma série de
detalhes obscuros sobre avanços científicos. O que se espera, e
nisso me empenhei em seguida, é um simpático estudo de idéias
importantes vistas a partir de dentro. Se minha visão da função
da filosofia está correta, ela é a mais eficaz de todos os esforços
intelectuais. Constrói catedrais antes que o operário mova uma
pedra, e as destrói antes que os elementos (terra, ar, água e
fogo) desgastem os arcos delas. É o arquiteto das construções
do espírito, e é também o destruidor delas: o espiritual precede
ao material. A filosofia trabalha devagar. Os pensamentos ficam
dormentes por períodos; e, então, quase repentinamente, a hu-
manidade percebe que eles, os pensamentos, incorporaram-se
em instituições.
Este livro consiste primordialmente em um conjunto de
oito conferências em Lowell proferidas em fevereiro de 1925.
Essas conferências — com alguns poucos acréscimos e a sub-
divisão de uma conferência entre os capítulos VII e VIII — es-
tão aqui publicadas conforme proferidas. Alguns conteúdos
adicionais, porém, foram acrescentados, a fim de completar o
pensamento do livro em uma seqüência que não pode ser in-
cluída no andamento daquelas conferências. Desse novo as-
sunto, o capítulo II — “A matemática como um elemento na
história do pensamento” — foi proferido como conferência
diante da Sociedade Matemática da Universidade de Brown,
Providence (Rhode Island, USA); e o capítulo XII — “Reli-
gião e ciência” — foi um comunicado proferido na Phillips
Brooks House em Harvard, e será publicado no número de
agosto da Atlantic Monthly deste ano (1925). Os capítulos X e
XI — “Abstração” e “Deus” — são adições que agora aparecem
pela primeira vez. Contudo, o livro descreve uma seqüência de

| 10 |
| A ciência e o mundo moderno |

pensamento, e a utilização anterior de parte de seu conteúdo é


algo secundário.
Não houve ocasião no texto de fazer uma referência par-
ticular às obras Emergent Evolution, de Lloyd Morgan, e Space,
Time and Deity, de Alexander . Ficará claro para os leitores que
as considerei muito sugestivas. Estou em débito especialmente
com o formidável trabalho de Alexander. O grande objetivo
do presente livro torna impossível agradecer com detalhe às
diversas fontes tanto de informação como de idéia. O livro é
produto de antigas meditações e leituras que foram empreendi-
das sem nenhuma previsão de utilização para o atual propósito.
Desse modo, agora talvez seja impossível para mim fornecer as
referências detalhadas de minhas fontes, mesmo quando seria
desejável fazê-lo. Contudo, não há necessidade: os fatos sobre
os quais me baseio são simples e bem conhecidos. Quanto à fi-
losofia, qualquer consideração de epistemologia foi inteiramen-
te excluída. Seria impossível discutir esse assunto sem arruinar
toda a estabilidade do trabalho. A chave do livro é a percepção
da importância avassaladora de uma filosofia prevalente.
Meu mais sincero agradecimento a meu colega Sr. Rapha-
el Demos, pela leitura das provas e pelas sugestões que melho-
raram muito a expressividade do texto.

UNIVERSIDADE DE HARVARD
29 de junho de 1925

| 11 |
| Alfred North Whitehead |

| 12 |
| A ciência e o mundo moderno |

| Capítulo I |

As origens da ciência moderna

O progresso da civilização não é de todo uma tendên-


cia uniforme rumo a coisas melhores. Pode talvez ser essa a
impressão se o mapeamos com uma escala que seja suficien-
temente grande. Contudo, certas visões gerais obscurecem os
detalhes sobre os quais se assenta todo o nosso processo de
entendimento. Épocas novas emergem com relativa rapidez se
considerarmos os milhares de anos ao longo dos quais a história
toda se estende. Povos separados tomam de repente seus luga-
res na torrente principal dos eventos; descobertas tecnológicas
transformam o mecanismo da vida humana; uma arte primitiva
rapidamente desabrocha em completa satisfação de algum de-
sejo estético; grandes religiões, em sua jovem cruzada, expan-
dem pelas nações a paz do céu e a espada do Senhor.
O século XVI de nossa era assistiu à ruptura do cristianis-
mo ocidental e à ascensão da ciência moderna. Foi um período
agitado. Nada se achava estabelecido, entretanto muito se des-
cortinava — novos mundos e novas idéias. Na ciência, Copérni-
co e Vesálio podem ser escolhidos como figuras representativas:
tipificam a nova cosmologia e a ênfase científica na observação
direta. Giordano Bruno foi o mártir; embora tenha padecido
por causa não da ciência e sim da livre especulação imaginati-
va. Sua morte no ano 1600 inaugura o primeiro século da ci-
ência moderna no sentido estrito do termo. Em sua execução
havia um simbolismo inconsciente, pois o tom subseqüente do
pensamento científico desconfiou do tipo de especulação geral

| 13 |
| Alfred North Whitehead |

dele. A Reforma, em razão de toda a sua importância, pode ser


considerada uma tarefa interna dos povos europeus. Também o
cristianismo oriental viu-a com profunda indiferença. Contudo,
tais rompimentos não são fenômenos novos na história do cris-
tianismo ou de outras religiões. Quando projetamos essa grande
revolução na história completa da Igreja cristã, não podemos
considerá-la como uma introdução de um novo princípio na
vida humana. Para bem ou para mal, foi uma grande transfor-
mação religiosa; mas não foi o advento da religião. A Reforma
não reivindicou isso para si. Os reformadores afirmavam que
estavam apenas restaurando o que havia sido esquecido.
Ocorre algo completamente diferente com relação à as-
censão da ciência moderna. De todas as formas ela contrasta
com o movimento religioso da época. A Reforma foi uma in-
surreição popular e por um século e meio encheu a Europa
de sangue. O início do movimento científico ficou reservado
a uma minoria entre a elite intelectual. Em uma geração que
viu a Guerra dos Trinta Anos e lembrou o Duque de Alba,* na
Holanda, o que aconteceu de pior para os homens da ciência
foi Galileu ter sofrido uma prisão decente e uma censura bran-
da, antes de morrer serenamente em sua cama. A forma como
a perseguição de Galileu tem sido lembrada é um tributo ao
começo tranqüilo da mais profunda mudança de perspectiva
que o gênero humano já experimentou. Desde que uma crian-
ça nasceu em uma manjedoura, pode-se duvidar se algo tão
grande aconteceu com tão pouca agitação.
A tese que estes capítulos ilustrarão é a de que esse cres-
cimento tranqüilo da ciência praticamente deu nova cor à nos-
sa mentalidade, de modo que formas de pensamento que até
então eram excepcionais são agora amplamente difundidas por

* Fernando Álvarez de Toledo, fidalgo espanhol (Piedrahita, 1508 – Lisboa,


1582). General espanhol conhecido por sua tirania e crueldade. Em 1567, o rei
Filipe II tornou-o governante dos Países Baixos, que se haviam revoltado contra a
Espanha. O tribunal do Duque de Alba condenou à morte milhares de pessoas e
ficou conhecido como Conselho de Sangue. (N. T.)

| 14 |

You might also like