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Mas o espírito de Siddhartha era inquieto e pesquisador. Ele era dotado de uma
inteligência aguda e de uma hipersensibilidade. Refletia sobre o significado da vida e do
mundo, procurando a verdade por trás das coisas. Aos sete anos, o Príncipe acompanhou o pai
a um passeio. Não era comum os habitantes do palácio saírem além das fronteiras,
demarcadas pelos altos muros. Foi quando o Príncipe deteve-se na frente de um campo sendo
preparado para a semeadura. De repente, viu no solo revolvido um verme ser devorado por
um pássaro que lá descansava. Alçando vôo, este pássaro foi atacado em pleno ar por uma ave
de rapina. Com o pássaro nas garras, a ave voou alto em velocidade. Mas uma flecha com
ponta de metal foi disparada, cortando o azul do céu para atingir o peito da ave de rapina.
Siddhartha manteve-se por algum momento em transe, sem entender. Depois, ficou chocado
pelo que acabara de assistir, enquanto procurava uma resposta plausível para a indagação: "O
que leva os seres vivos a se matarem entre si?".
Este fato o fez lembrar que sua mãe morrera quando ele nasceu. Não conseguia
entender a tragédia que assolava a vida de todos os seres. "Ninguém estava livre do
sofrimento", pensou.
Sendo príncipe de uma casta guerreira, era também um bom atleta. Foi assim que, aos
16 anos, ganhou a mão de sua prima, Yasodhara, (com quem se casou e teve um filho) em um
tipo de jogo da época, que correspondia aos jogos olímpicos de hoje (Consistindo de luta,
arremesso de lanças, pedras, etc).
Sentindo que seu filho crescia insatisfeito com uma vida luxuosa, e temendo que a
profecia sobre ser Buda pudesse se realizar (o que conseqüentemente terminaria com a
linhagem real), o Rei ordenara que ele vivesse uma vida em total isolamento, sem poder
jamais deixar as dependências do palácio.
Um dia resolveu sair sem avisar ao pai, sem as pompas de costume, acompanhado somente
com o seu fiel escudeiro, Channa, pelas ruas estreitas de Kapila. Então ele conheceu a cidade
como realmente era, sem os enfeites e as festas. Estavam vestidos com roupas simples e
ninguém os reconheceu. Então viram um homem andando com dificuldades, apoiado num
bastão, cabelos brancos e ralos, a pele toda enrugada. Este homem estava sendo ultrajado por
um mais jovem. Siddhartha ficou impressionado e perguntou ao fiel escudeiro:
- É um velho, senhor. - Respondeu o servo - Todos nós um dia também seremos assim, se
vivermos muito. As pessoas idosas são descartadas do convívio social. Acham que elas não têm
mais valor. Pode ser injusto, mas é desta forma que sempre aconteceu.
Continuando a excursão, ele viu a procissão de um enterro. Era tão grande o pesar das
pessoas, todos tão tristes, muitos choravam, e uma pessoa inerte ia sendo carregada pelos
demais.
- É a morte.
Sem tempo para ordenar as idéias, Siddhartha quis abandonar o local, quando, de
maneira abrupta, uma nova cena saltou aos olhos. Viu um homem esfarrapado e esquelético
que, apesar de pedir esmolas com uma tigela, mostrava o olhar sereno de um vencedor.
- Aquele é um homem santo. Não se deixa mais arrastar pelas paixões mundanas. Ele
parece ter entendido o significado da vida. - Disse Channa.
O monge mendicante tinha a cabeça raspada e vestia apenas um manto amarelo. Foi
na serenidade desse monge que Siddhartha percebeu que existia uma saída que conduzia ao
despertar.
Ele refletiu que os ignorantes, embora fadados a ficarem velhos, doentes e morrerem,
desprezam e abominam aqueles que estão passando por esta situação. Se todos nós
passaremos por tudo isso, não é correto que tenhamos repulsa ou desprezo pela velhice, pela
doença ou morte de outrem. Quando passou a pensar desse modo, desapareceu de
Siddhartha todo o orgulho que sentia pela sua juventude, saúde e vida.
Aos 29 anos, decidiu abandonar de vez o palácio e partir para o mundo em busca do
conhecimento que o libertasse do sofrimento e conduzisse à serenidade. Beijou de leve - para
não acordá-los - a sua esposa Yasodhara e seu filho Rahula, que havia acabado de nascer. E,
mais uma vez, parte com o seu fiel escudeiro, montado no seu cavalo Kantacha. Na fronteira
da cidade, o príncipe se despojou de sua roupa, de seu turbante real e de sua espada - cujo
punho era adornado de pedras preciosas - entregando estes objetos ao fiel cocheiro e
pedindo-lhe para que os devolvesse ao seu pai. Siddhartha raspou a cabeça, cobriu seu corpo
com um manto amarelo (como convinha a um monge mendicante que pretendia ser), e então
despediu-se de seu escudeiro e do seu cavalo, e partindo a pé em busca de uma resposta para
as aflições do mundo.
Iniciando sua vida religiosa, ele viajou em direção ao sul e ficou em Rajagriha, capital
do reino de Magadha, onde se dedicou à prática com o seu primeiro mestre, Alara Kalama, que
havia atingido "os domínios do nada" através da meditação. Siddhartha atingiu logo o mesmo
estágio porém não ficou satisfeito pois não encontrou a resposta que procurava. Seguiu um
outro mestre, Uddaka Ramaputta, que havia atingido "os domínios além do pensamento".
Sakyamuni tornou-se mestre desta forma de meditação, mas continuava insatisfeito. Esses
dois primeiros mestres não conseguiram auxiliá-lo a encontrar o que procurava.
Passando por lá, uma jovem pastora de nome Sujata ofereceu-lhe uma tigela de leite
coalhado. Com gosto, Siddhartha aceitou, quebrando o seu jejum. Seus 5 companheiros
acharam então que ele era um fraco, por entenderem que ele já não estava mais resistindo à
tentação, e retiraram-se então do seu convívio. Mas antes, ouviram de Siddhartha uma
explicação: Apontando o dedo para o rio Nairanjana, disse "Veja aquele rio. Sua correnteza
corre em ritmo normal. Ela nunca se adianta e nem se atrasa. Ela apenas corre. Nós temos que
ser como aquele rio."
Abandonado à própria sorte, Siddhartha resolveu iniciar um novo período de
meditação, sem se deixar abater pelo desânimo: "Mesmo que o sangue se esgote, mesmo que
a carne se decomponha, mesmo que os ossos caiam em pedaços, não arredarei os pés daqui,
até que encontre o caminho da iluminação".
Diz a lenda que Siddhartha permaneceu assim por vários dias, sob a sombra de uma figueira,
nas margens do rio. Então, uma luz começa a brilhar no meio de sua testa.
Mara, o Grande Tentador, estremeceu: ele sabia que seu poder para desvirtuar a
humanidade estava ameaçado. Durante a noite, muitas distrações surgiram para Sakyamuni:
"Existe uma esfera onde não é terra, nem água, nem fogo, nem ar... que não é nem este
mundo e nem outro, nem sol e nem lua. Eu nego que esteja vindo ou indo, que permanece e
que seja morte ou nascimento. É simplesmente o fim do sofrimento. Essencialmente todos
os seres vivos são Budas, dotados de sabedoria e virtude, mas como a mente humana se
inverteu através do pensamento ilusório, não o conseguem perceber".
Todos os seres humanos, sejam eles inteligentes ou estúpidos, masculinos ou
femininos, feios ou bonitos, são perfeitos e completos tal qual são. Isto significa que a natureza
de cada ser é intrinsecamente sem defeito, perfeita, sem diferença de qualquer outro Buda ou
Mestre Cósmico. Entretanto o homem, inquieto e ansioso, vive uma existência conturbada por
causa de sua mente, que traz uma pesada camada de ilusão, o que gera o estado de confusão.
Temos, portanto, de voltar à nossa perfeição original e ver o TODO, o Cosmo, através do
prisma da nossa pureza e santidade primordiais. Afinal, "o homem nasce em perfeição de
alma, porém em ignorância mortal, e somente dessa ignorância deve o homem ser redimido e
salvo". E é exatamente isso que todos os budistas procuram alcançar - nesta vida e em outras.
"Por meio de esforço e método, é possível alcançar a iluminação nesta vida" afirma o lama
nepalês Dzawa Rimpoche (o atual Dalai Lama). "Mas, se você não conseguir fazê-lo, a morte
não é o fim. Você terá, ao renascer, todas as sementes plantadas na vida anterior".
Durante os sete dias (outra versão diz ter sido cinco semanas) após sua iluminação,
Sakyamuni permaneceu sentado no mesmo local, gozando as alegrias de sua libertação. Foi
onde meditou sobre a Lei da Organização Dependente:
"Havendo isto, há aquilo; quando isto se origina, aquilo se origina. Sendo assim,
havendo a ignorância, há o nome-e-forma. Havendo o nome-e-forma, há os seis órgãos de
percepção, há o contato; havendo o contato, há a percepção; havendo a percepção, há o
apego; havendo o apego, há o desejo; havendo o desejo, há a existência; havendo a
existência, há o nascimento, há a velhice, a morte, a preocupação, a tristeza, o sofrimento, o
pesar e o desespero. Assim, pois, surge o sofrimento".
Ele entendeu que todas as coisas estão inter-relacionadas e interagindo, e uma coisa
dá origem à outra, e essas coisas estão sempre mudando, nada permanece para sempre. Tudo
é impermanente e, se as pessoas se apegarem demais às coisas vão sofrer, porque essas coisas
vão mudar, passar e se acabar. A causa do sofrimento é o apego, seja a um objeto, a um
pensamento ou idéia, a uma condição social, à fama, etc. E isto é uma lei universal; a esse
encadeamento, esse conjunto de leis cósmicas que estão entrelaçadas e formam um fluxo pelo
qual seguimos, os hindus chamam de Dharma (Dhamma, na língua Pali). É seu Dharma morrer,
pois você nasceu. O que você veio fazer é chamado de Artha, sua meta de vida, o que você
deve fazer.
E Karma (Kamma) é a ação que você faz.
Após compreender todas essas coisas, resolveu ensinar o que aprendeu a outras
pessoas que vivem buscando a iluminação. Seus primeiros discípulos foram seus cinco
companheiros de ascetismo. Ensinou-os o óctuplo caminho, o caminho dos oito ramos,
composto de: Visão correta, Pensamento correto, Palavra correta, Ação correta, Vida correta,
Esforço correto, Intenção correta e meditação correta.
Quando Buda chegou no Parque das Gazelas, para encontrar seus companheiros, estes
fingiram indiferença. Haviam combinado não se levantar para cumprimentá-lo e só falar com
ele no caso de serem interpelados. Interpretavam a renúncia de Siddhartha ao ascetismo
como um sinal de fraqueza e agora só lembravam dele com desprezo. Mas o semblante do
iluminado estava em uma paz profunda, sem o menor sinal de arrependimento ou frustração,
que automaticamente os cinco se levantaram e o saudaram. Buda então lhes perguntou:
- Por que vos levantastes para me cumprimentar? Não tínheis combinado ficar
indiferentes?
- De agora em diante, não me chameis mais pelo nome. Eu agora sou o Buda, o
Desperto, o Pai de todos os seres.
- Kyojinnyo, não podes julgar minha iluminação com espírito acanhado. O sofrimento
físico traz perturbação à mente. O conforto físico traz apego às paixões. Nem o ascetismo, nem
o prazer permitem realizar o Caminho. É preciso abandonar esses dois extremos e seguir o
caminho do meio. Este é o Óctuplo caminho. Aquele que praticá-lo alcançará a paz espiritual e
se livrará dos tormentos do nascimento, da velhice e da morte. Eu pratiquei o Caminho do
Meio e obtive a iluminação.
As palavras de Buda encheram os cinco de grande alegria. Vendo que eles já estavam
preparados para a verdade, prosseguiu:
Após ouvir estas palavras, os cinco decidiram tornar-se discípulos de Buda. Mas Buda
não pretendia formar nenhuma religião, nem ter seguidores adorando ele. Até porque ele
pregava a libertação de todas as coisas. Ele mesmo dizia: "O verdadeiro culto não consiste em
oferecer incenso, flores e outros objetos materiais, mas em esforçar-se para seguir o mesmo
caminho daquele que se venera".
Dizia também: “O eu é o mestre do eu; que outro mestre poderia existir? Puro ou
impuro cada um o é por si mesmo; ninguém pode purificar outrem. Sede vós mesmos vossa
bandeira e vosso próprio refúgio. Não vos confieis a nenhum refúgio exterior a vós. Apegai-
vos fortemente à verdade. Que ela seja vossa bandeira e vosso refúgio. Aqueles que assim o
fizerem atingirão a meta suprema.”
Depois de muito tempo de pregação, vendo que a ordem dos monges (Sangha) estava
muito grande, Siddhartha instruiu seus seguidores a pregarem a verdade em suas próprias
terras. Ele próprio visitou a sua terra e seu povo, os Sákyas:
Seu pai sofreu muito ao vê-lo, pelas janelas do palácio que havia abandonado, pedindo
esmolas. Mas Siddhartha beijou os pés do pai em um gesto de extrema humildade. "O senhor
pertence a uma linhagem de reis, mas eu pertenço a uma de Budas, que também viveram de
esmolas", disse. O rei se lembrou da profecia que foi feita no nascimento do filho e se
reconciliou com ele.
Reza a tradição que, ao encontrar sua família, Yasodhara (sua ex-esposa) fez com que
Rahula (o filho) exigisse uma herança de seu pai. Silenciosamente Siddhartha entregou-lhe um
manto e uma escudela (cuia ou tigela), fazendo-o assim um membro da ordem. Com esse
gesto, o Bem-aventurado demonstrou que a melhor herança que ele podia conceder a seu
filho eram os tesouros da senda que leva a mais alta felicidade.
2. Eu me comprometo a não tomar nada que não seja dado voluntariamente por
outrem.
Aos 80 anos de idade, Buda pressentiu que morreria de intoxicação, após ingerir um
alimento estragado. Com o auxílio de fiéis discípulos, viajou até Kushinagara, deitando-se sob
uma árvore no bosque local, onde então Buda fez seu último discurso:
“Ó discípulos; Após a minha morte, deveis vos guiar pelos Preceitos. Eles devem ser
como a Luz no meio das trevas, como um tesouro encontrado por um pobre. Isso porque os
Preceitos são vosso mestre. Guiar-se por eles é o mesmo que se guiar por mim.
Vós que guardais os Preceitos disciplinai vosso corpo, tomai as refeições nas horas
certas, vivei em estado de pureza. Não tomeis parte nos negócios mundanos, não recorrais a
fórmulas mágicas, não fabriqueis elixires miraculosos, não vos aproximeis de nobres e não
tomeis atitudes para com outrem condicionadas por sua riqueza ou pobreza.
Guardai uma mente correta, tende pensamentos corretos e sede comedidos. Não
recorrais a prodígios para seduzir as pessoas. Quando receberdes presentes, observai sempre
o comedimento.
Ó monges, vós permaneceis na prática dos Preceitos. Por isso, devem disciplinar seus
cinco sentidos, jamais permitindo o surgimento dos cinco desejos (desejo de se alimentar, de
dormir, desejo sexual, desejo de obter fortuna e desejo de conseguir honrarias e fama).
Assim como um pastor domina o rebanho com seu cajado, não permitindo que os
animais invadam as plantações, deveis guardar a máxima vigilância. Abandonar os cinco
sentidos ao sabor de seus caprichos é como deixar um cavalo indômito sem rédeas. Tal cavalo
arrasta as pessoas e as derruba dentro de buracos. O prejuízo causado por um cavalo indômito
atinge apenas o presente, mas o causado pelos cinco sentidos atinge inclusive o futuro. Por
isso deveis evitá-lo. O sábio vigia seus cinco sentidos como a um ladrão. Jamais se descuida
deles. Mesmo que se descuide por um instante, logo readquire o controle.
A mente é senhora dos cincos sentidos. Por isso, deveis disciplinar vossa mente. A
mente é mais perigosa que uma cobra venenosa, uma fera ou um salteador. É como uma
pessoa que, entretida com o mel que transporta em suas mãos, não enxerga um buraco e cai
nele. Se deixardes vossa mente entregue a si mesma, perdereis as boas coisas. Se a vigiardes,
tudo correrá bem. Por isso, ó monges, deveis vos esforçar e dominar a vossa mente.
Ó monges, deveis tomar vossas refeições como se elas fossem remédios. Quer quando
comeis coisas deliciosas, quer quando comeis coisas desagradáveis, jamais deveis sair da
proporção certa. Comei o suficiente para vos manterdes.
Ó monges, ainda que alguém vos fira, sedes pacientes, não tenham cólera nem ódio.
Guarde vossa boca para não proferir palavras ferinas. Abandonar a cólera ao sabor dos
caprichos prejudica o trilhamento do Caminho e destrói os méritos. Imensa é a virtude da
paciência, muito superior à da observância dos Preceitos. Aquele que bem pratica a paciência
merece ser chamado de forte, aquele que se alegra com os venenos do cavalo indômito e não
sabe praticar a paciência como quem bebe néctar, não pode ser considerado um detentor da
Sabedoria dos Praticantes do Caminho.
Os prejuízos causados pela cólera destroem as boas leis. São prejuízos maiores que os
causados por um incêndio devastador. Nem os ladrões que nos roubam os méritos são tão
terríveis como a cólera. Os próprios leigos devem se abster da cólera. Com muito mais razão,
portanto, os monges, aqueles que não tem desejos, deverão se abster da cólera.
Ó monges, a lisonja está fora do Caminho, por isso deveis ser sempre sinceros.
Ó monges, aquele que tem muitos desejos busca muitas vantagens e, por isso, tem
muitos sofrimentos. Aquele que tem poucos desejos nada busca e, por isso, não tem
preocupações. Por esse motivo, aquele que tem poucos desejos atinge o Nirvana.
Ó monges, todo aquele que tem uma intenção firme conserva sua mente em estado de
concentração. Por isso, ele sabe os Dharmas do nascimento e da dissolução do mundo. Por
isso, deveis vos esforçar e praticar as diversas concentrações. Aquele que consegue praticar a
concentração não tem uma mente dispersiva. É como aquele que economiza água e guarda
com cuidado. O praticante exercita-se na concentração a fim de bem guardar a água da
sabedoria.
Ó monges, se tiverdes a sabedoria, não tereis apego. Examinai bem todas as coisas.
Dentro da minha Lei, obtereis a Libertação. Quem não tiver a Sabedoria, não poderá ser
considerado um realizador do Caminho, nem mesmo um fiel leigo. A Sabedoria é um navio
seguro para a travessia do oceano da velhice, da doença e da morte. É uma luz no meio das
trevas, é um elixir que cura todas as doenças, é um machado que corta as árvores das paixões.
Por isso, deveis vos esforçar para a obtenção do desenvolvimento da Sabedoria.
Ó monges, deveis vos afastar de toda negligência, como aquele que se afasta dos
salteadores. Eu ensino a Lei como o médico que reconhece a doença e recomenda um
remédio. O fato de o doente tomar ou deixar de tomar o remédio já não depende do médico.
Também sou como aquele que ensina um caminho às pessoas. Se houver pessoas que, embora
ouvindo os ensinamentos, não seguirem o caminho, a culpa não é daquele que o ensinou.
Ó monges, não vos entristeçais. Ainda que permanecesse no mundo durante milhares
de anos, isso não me livraria da morte. Nada do que se reúne escapa à separação. Já foram
ensinados todos os Dharmas que trazem proveito a quem os pratica e todos os que trazem
proveito a outrem. Ainda que eu permanecesse vivo, nada mais teria que fazer. Todas as
pessoas que eu devia ensinar já foram ensinadas. Quanto às que eu ainda não ensinei, já criei
condições para que elas sejam ensinadas. Se vós, meus discípulos, persistirdes na prática da Lei
após minha morte, meu Corpo de Lei continuará eternamente vivo.
Deveis saber que, no mundo, nada existe de permanente, tudo o que se reúne está
sujeito à separação. Não vos entristeçais, pois assim é o mundo. Esforçai-vos por obter a
libertação. Eliminai as trevas da ignorância com a Luz da Sabedoria. O mundo é algo perigoso e
incerto, sem nada de estável. Eu agora alcançarei a extinção como aquele que se livra de uma
moléstia maléfica. Vou deitar fora o pior dos males, aquilo que se chama corpo e se encontra
mergulhado no oceano da doença, da velhice e da morte. O sábio que destrói isso é
semelhante àquele que mata um salteador. Essa destruição deve ser motivo de alegria.
Esforçai-vos sem cessar na prática que leve à libertação. Todas as leis imutáveis e
mutáveis deste mundo são isentas de garantia de estabilidade.
"Ó, monges! Estas são minhas últimas palavras. Tudo o que foi criado está sujeito à
decadência e à morte. Tudo é impermanente. Trabalhem duro pela própria salvação com
atenção plena, esforço e disciplina"
Escrito originalmente para a Escola de Artes Marciais Sol Alado, por Jaaziel Correia
Campos e complementado por AcidZero. Trechos de vários sites foram usados para compor
algumas partes, entre eles o SotoZen, Puntsog e Enlightenment and the brain.
Bibliografia: