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Na prpria viso que temos dele sobressai, pois, de incio, o contraste das trevas
espancadas pela luz, para destacar a sua mscula energia de poeta humanitrio; da mesma
maneira que Gonalves Dias para o ndio, ele ficou sendo o cantor do negro escravo; e, por
extenso dos oprimidos, que amou realmente com sentimento de justia mais imperioso
que o de Varela. Esta simplificao da personalidade potica pela opinio corresponde ao
seu trao mais saliente, pois a sua novidade e fora decorrem, em boa parte, duma superao
do drama da segunda gerao romntica. O conflito interior que, originando forte con
tradio psicolgica, dobra o escritor sobre si mesmo, projetado, por ele, do eu sobre o
mundo. E a parte mais caracterstica de sua obra devida a esta projeo.
Assim enquanto Junqueira Freire e lvares de Azevedo, depois de Gonalves Dias,
viam a desarmonia como fruto das lutas interiores, ele a v sobretudo como resultante
de lutas externas: do homem contra a sociedade, do oprimido contra o opressor - outra
maneira de sentir o conflito, caro aos romnticos, entre bem e mal. A dialtica da sua
poesia implica menos a viso do escravo (ou do oprimido em geral) como realidade
presente, do que como episdio de um drama mais amplo e abstrato: o do prprio destino
humano, em presa aos desajustamentos da histria. Por isso ela encarna as tendncias
messinicas do Romantismo, transformando-se no maior episdio de literatura partici
pante que o seu tempo conheceu.
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Sob este ponto de vista, poderamos dizer que, nela, o principal fator o complexo
de Ahasverus -
o precito,
O msero judeu que tinha escrito
Na fronte o selo atroz/
("Ahasverus e o Gnio")
7. Jimil Almansur Haddad, Revisdo de Castro Alves. vol. 3' pgs. 24-25.
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