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a a INTRODUCAO c A CRITICA TEXTUAL c . ¢ A C César Nardelli Cambraia ° ite C Rope c a o a C o c 0 Martins Fontes Sao Paulo 2005 oy ony 020, Live Mri Res ai. 7 Gotoinponeprene cio. relia compandanet a te Gute Bree "ser re “ils ee rca es “Gerd ine Pogue Suis 3 Deine Etre ads Ite Cats Peabo (I) "camara rca coarse ‘Cini Cara Tere ts tal [Cr Nal ans ~ to ae: Marin Foes, 2s ~(Ceiemae ct) iicgna San 20864 ei el Tt Se. coosce Trace or aig Hato Trenton bese 8 “os dies dea dita par angen porngpte revered Toles ‘Livrarie Martins Fontes Bditora Lide. na Cesc Raato 30/2500 So Polo SP Bras ‘(ip sage7 Fst! SI011082 emai ino@ranoues con linovenantnontescom ir INDICE Prfico Lista de abreviaturas 1. Introdugio. . 1.1. Definigdo de critica textual 1.2. A mobilidade dos textos 1.3. Critica textual, ecdética e flologia 1.4. Contribuigdes 1.5. Transdisciplinaridade Paleogratia Diplomatica Codicologia Bibliogcafia material. Lingiiistica. 2. Breve histérico da critica textual 2.1, Da Antiguidade & Idade Média 2.2, Do Renascimento ao século XIX 2.3. Epoca moderna 2.4. A critica textual em Portugal ¢ no Brasil 3.A transmissio dos textos. 3.1. Conceitos bisicos 3.2. A produgio do livro manuscrito 3.3. A produgio do livro impresso. 3.4. Tipologia dos erros 4, Tipos de edigéo. 4.1. Tipos gerais de edigio 4.2. Tipos fundamentais de edigao. Edigées monotestemunhais Edigdes politescemunhais 5. Normas de edigio 5.1. Principios norteadores 5.2. Procedimentos bésicos 5.3. Propostas de normas gerais. Edigao diplomitica Edigio paleogrifica... Edigio interpretativa 6. Edigio critica 6.1, Estabelecimento do texto cxitice. Recensio. Reconstituicao 6.2. Apresentagio do texto critico 7. Critica textual & informatica 7.1. A transmissio dos textos na era digital 7.2. A edigio de textos na era digital A informatica no estabelecimento do texto ‘A informitica na apresentacio do texto 8. Critica textual & ensino 8.1. Livros didaticos 8.2. A escolha de edicSes Referencias bibliogrdficas. 109 an 126 128 129 131 133 133 133 148 161 175 175 181 181 184 191 191 194 19 “Cada estagio da vide & uma edigio, que corrige a anterior, € que sex corrigida também, até a ediga0 defintiva, que o editor di de graga aos vermes” Mactiabo DE Ass Memras Péstumas de Brés Colas, 1977: 152. PREFACIO Niio deixa de ser surpreendente que a critica textual, ten- do mais de dois milénios de existéncia,seja tio pouco difun- dida no Brasil. Ratos sio os cursos de Letras, Bibliotecono- mia, Histéria, ComunicacZo Social, dentre outros afins a ela, que 2 tém como disciplina na sua grade curricular. Certamente um fato que muito contribui para sua pouca difusio no Brasil é 2 limitago bibliogséfica em Iingua por- ‘tuguesa: raras sfo as obras da especialidade, e poucos os ma- nuzis introdutérios, que, por sua vez, se encontram jé hé tem- pos esgotados ~ eis, pois, o principal motivo pars a elaboragio da presente obra. Concebida para ser utilizada em cursos universitirios de graduacio (mas, naturalmente, de utilizago vidvel em cursos congéneres), esta introdugo tem como objetivo fundamental levar 20 conhecimento de leitores sem formacio prévia em critica textual temas essenciais dessa 4rea,a fim de estimular a teflexio e a busca por informagoes mais ricas e diversifica~ das, Em fiangio desse objetivo, procurou-se expor os temas de forma direta com uma linguagem simples, atual e objetiva Embora se tenha tentado avancer na abordagem do assunto ry ) - rp Xe INrwoDUCAO A CRITICA TEETUAL com a inclusio de tépicos mais recentes (como, p. ex., critica genética e informitica),a presente obra nio escapou da ine~ vitével limitago bibliogrifica: por isso, deve ser entendida como uma sintese critica sobre o conjunto de informacdes disponiveis a0 autor duzante sua elaboragio. Adaptagdes criagées terminolégicas foram realizadas sempre que se fze- ram necessirias para dar 4 matéria tratada uma organizagio mais coerente. © autor nfo poderia encerrar este breve preficio sem externar seu agradecimento a duas pessoas em especial, que tornaram esta obra possivel: Heitor Megele, responsivel pela iniciagdo do autor no mundo da critica textual; e Haquica Osakabe, autor do coavite para a publica¢io desta obra. Ao colega José Américo de Miranda Barros, agradece 0 autor pelos inestimaveis coraentérios & primeira versio desta obra LISTA DE ABREVIATURAS brew. ~ abceviada alc, aleobacense prox, ~ aproximadamente staal. ~ auabizado(e) au. ~ avmentado(a) age. ~ angmentie Bibl. ~ Biblioteca €— cerca de, eanto cf ~ conferir 08d. cbdice collab. ~ elaboration e.~ excole £4(9).~ edigio/edivores) let ~eletrnica ‘exp. ~ espanhol) ll). - Bio() f~ fancés(es) ee Brego Len isto 8 ingl. ~ inglés(ea) Jat.— tim (9. nba) LC lgar-ctico melhor ~ melhorsdo(2) sms). — manwseritog) 16). ~ niimero(s) ‘Nac. ~ Nacional NT~ Nave Tstmento ‘of. -oficina ‘orge). ~ organizador(es) corig.— original p-pigina pen por exemple por. = portugués(ess) pub. ~ publicadofa) z= recto reed, ~ reeditsdo seimpr.~ reimpressio eu revista) sha = rue sist ristampa séeb), —século(s) sep. separa test ~ testemunho tend. tadugio ver, — verseulo voll) = volume(s) CAPITULO 1 INTRODUGAO 1.1, DEFINIGAO DE CRITICA TEXTUAL Um dado fundamental para compreender 0 escopo da cri tica textual € 0 fato de que um texto softe modifagies ao longo do processo de sua transmissio. Para perceber de forma descontraida essa questio, basta levar-se em conta a tradicional brincadeira chamada telefone- senrcfio:20 pé do ouvido de quem esti ao seu lado, uma pes- soa passa oralmente uma mensagem, a qual é repassada para a pessoa seguinte do circulo em que se encontram, e assim su- cessivamente — mas, como todos sabem, a0 retornat a0 pri- meiro emissor, a mensagem nunca chega come foi. Pode-se dizer que se passa, mutatis mutandi,a mesma coisz na transmis~ sio de textos escritos.A cada copia que se faz de um texto, a constituigig deste muda ~ seja por ato involuntirio, seja por ato voluntério de quem o copia. E justaménte por causa desse fato empirico incontestivel que a critica textual se constituiu: seu objetivo primordial € a restituigdo da forma genulna dos textos, Co 2 w inReDUGAO A CRITICA TEXTUAL 1.2. A MOBILIDADE DOS TEXTOS ‘As modificagdes que os textos podem softer ac longo do processo de sua transmusstio podem ser distribuidas em duas categorias: exégenas e endégenas. ‘As modificagies exdgenas derivam fandamentalmente da comupge do material utilizado para registrar um texto: tanto da matéria subjetiva (papiro, pergaminho, papel, etc.) quan- to da matéria aparente (grafite, tinta, etc) Isto significa que, mesmo que nenhuma cépia fosse feita de um registro origi- nal de punho do préprio autor, ainda assim a transmissio des- se registro poderia softer modificardes, pois furos no suporte podem criar lacunas que exigirio o trabalho do critico tex- tual para serem preenchidas, A corrupgio do material di-se por varios motivos: umidade, sol, fogo, insetos, vandalismo (cazio pela qual, aliés, documentos originais demandam con- digdes especiais de conservacdo, de que, via de regra, apenas grandes bibliotecas ¢ axquivos dispéem). No dominio da Kngua portuguesa, hd casos muito curio~ sos relacionados 2 essa questo da corrupg0 do material: po- dem-se citar, em especia,os chamados Pergaminho Vindel e Per- sgaminho Sharer. Em 1914, 0 livreiro espanhol Pedro Vindel deu noticia da descoberta de um pergiminho contendo nio apenas o texto de seve cantigas de amigo atribuidas 20 trovador medieval Martin Codax mas também a partitura de seis delas (cf. Vin del, 1914). Esse pergaminho, datével do séc. XIII, servia até entio de forro a um cédice do séc. XIV, contendo uma cépia do De Offs de Cicero. O pergaminho, que se encontra des- de 1977 na Pierpont Morgan Library de Nova Iorque, tornou posstvel, pela primeira vez, conhecer a miisica de cantigas de amigo, pois até entio sé se conhecia 2 misica de cantigas ga~ lego-portuguesas de cariter religioso — mais especificamente inrRopucho #3 as famosas Cantigas de Santa Maria, compiladas na corte de Afonso X, 0 Sabio (1221-1284)'. Se, por um lado, os furos que existiam no pergaminho nao impediram de todo 0 conhecimento do texto das can- tigas pelo fato de elas também se encontrarem registradas no Cancioneiro da Biblioteca Nacional (ns. 1278 a 1284) € no Can- cioneito da Vaticana (ps. 884 2 890), por outro, o conhecimen- to da miisica no escapou 4 necessidade de conjecturas, pois ‘um dos faros encontra-se justamenre na parte final de duas pautas da terceira cantiga.A propésito do texto em si, veja-se, na figura 1, como o furo na matérie subjetiva eliminou par te da quinta cantiga (na primeira coluna, 20 centro), Histéria semelhante aconteceu décadas depois: em 1991, © extudioso americano Harvey Sharrer noticiou a descoberta de um pergaminho que possufa nao somente o texto de sete cantigas de amor de autoria do rei D, Dinis (1261-1325) mas também a sua partitura (of, Sharrer, 1991). Esse pergaminho, dativel de fins do séc. XIM ou principios do XIV, fazia parte da capa de um livro do Cartério Notarial de Lisboa copiado em 1571, Novamente houve um grande achado, pois o per- gaminho, que se encontra no Arquivo Nacional da Torre do ‘Tombo, em Lisboa, evelou pela primeira vez a misica de can tigas de amor (as de Codax eram de amigo). ‘Também no caso das cantigas de D. Dini, o conhecimen- to do texto dessas composigdes liricas que se tem atualmente é menos lacunoso do que seria se constassem apenas do refe- ido pergaminho (muito mais fragmentatio que o localizado por Vindel), pois elas encontram-se registradas no Cancioneiro LA mica dat Contias de Sonte Mari recebeu ji duas proposts de incerpetagao ‘quanto 8 parca original: a de Ribera (1922) ea de Anglés (1945-1964). de Martin Codax fo esudsda por Manuel Fedo Ferrers (1986). 4 vrncoucho A crinica PoRTUAL Figura 1 — Folio 2x do Pergaminho Vindet (Foote: Ferri, 1986: 74-5) 1 j a mwrRopUghO § da Biblioteca Nacional (ns. 524 a 529 ¢ 5202) © no Cancio- neiro da Vaticana (ns. 107 a 113).De maneira igual, porém, a restituigio das notagdes musicais demandou conjecturas. Como se vé, em ambos os casos os estragos no pergami- nho impedizam a continuidade da transmissio das notagdes musicais em sua integridade, No que se refere 20s textos, em- bora haja outros registros das referidas composig6es, ainda as- sim pode-se considerar existir uma perda, pois, do ponto de vista de autoridade, os dois referidos pexgaminkos, porque sio 1 registros mais antigos, tm mais valor no processo de re~ constituigdo da forma genuina dos textos do que os dois can Cioneiros citados, que parecem datar do séc. XVI. Certamente um caso que pode ser considerado exemplar em termos de perda por corrupgio do material € 0 da versio medieval portuguesa do Merlin. Em 1979, 0 pesquisador catalio Amadew-J.Soberanas trou- xe a conhecimento a descoberta de um ffagmento do Merlin em portugués medieval (cf. Soberanas, 1979). Como nio se sabe de nenhum outro registro em lingua portuguesa desse texto, sua reconstituigao integral é simplesmente impossivel ¢ a propria reconstituigo apenas do texto portugués do frag- mento é certamente bastante limitada. Veja-se abaixo, atra~ vés de um dos trechos transcritos por Soberanas (1979: 191), como 0 texto apresenta lacunas ora passiveis de conjectura (entre colchetes), ora praticamente irrecuperiveis (trés pon= tos entre colchetes): Qvado eles chegard a abadya e os firades uird os caua[leifros chagados, fford contra eles [..] ¢ fiez[e]r6 [...] a hia camara ¢ {..] flezerlhys todo a{quel servigo} que poderé. Manhaa [..Joy manhaa espediusse a donzela[...] 08 caualeitos ffolgars (...] E quando uirs [...}tya caualgar [...Jes e forom [...Js come [..] (ms. 2434 da Bibl. da Cataluna, f6l, 122v-b). o > 6 = TRODUGAO A CRITICA TEXTUAL Nos trés exemplos acima citados, uma e6pia com corrup- cio material chegou até o presente, entretanto certamente muitas outras cépias corrompidas de textos, as quais desapa~ receram no curso do tempo, terio circulado no passado e ser~ vido de modelo para outras cépias, o que teri interferido na transmissio integral de muitos textos. ‘Ja as modificagSes endégenas sio aquelas que derivam do ato de reprodusdo do texto em si, ou seja, do processo de reali- zagio de sua cépia em um novo suporte material. As exoge- nas diferem das endégenas porque a origem destas é interna 20 ato de cépia (depende de seu responsivel), enquanto 2 da- quelas é externa, na medida em que nio depende do seu rea lizador, pois, mesmo cue este executasse a cépia com 100% de precisio,o resultadc ainda assim estaria comprometido, poz defeito no proprio modelo. As modificagdes endégenas po- dem ainda ser subdivididas em duas outras categorias: autorais ¢ ndo-autorais. ‘As modificagées autorais sio realizadas pelo préprio autor in- telectual da obra. Durante 0 processo de preparacio da edigao impresse de uma obra,é comum o autor receber as provas ti- pogrificas (impressio da primeira composi¢io tipogrifica fei- taa partir de um original manuscrito ou datilografido): nesse ‘momento, s6i acontecer nfo apenas de o autor retificar aqui- Jo que o tipégrafo tinka alterado por desatengio mas também de ele proprio, o autor, fazer novas intervenges na forma do texto anteriormente enviado 3 editora, Em um passado mais remoto era possivel ainda que um autor divulgasse sua obra através de cpias manuscritas em um primeiro momento, mas, posteriormente, tendo realizado modificagdes na sua obta, di- vulgaria novas cépias,jé com alteragées de sua autoria. "Um exemplo de modificagao autoral € 0 que aconteceu com a obra Os Sertées,de Euclides da Cunha (1866-1909). Se- gundo esclarece Walnice Galvio (cf. Cunha, 2003: 520-9), mwrnoDugio # 7 essa obra foi publicada pela primeira ver em 1902 pela edito- ra Laemmert, tendo sido reeditada em 1903 ¢ 1905 pela mes- ‘ma casa editorial. Foi, porém, apenas apés publicada a 4? ed., em 1911, jé sob a responsabilidade da editora Francisco Alves, que se descobriu um exemplar da 3 ed. com emendas de pré- prio punho do autor (cf. figura a seguir), alteracdes estas que foram integradas a0 texto apenas a partir da 5? ed.,saida em 1914. Atualmente o exemplar com emendas autografas est’, no entanto, desaparecido, mas ainda existe um exemplar com a reprodugio dessas emendas realizada por Fernando Nery (cepositado na Academia Brasileira de Letras). Apés ter com- parado as érés primeiras edigSes e 0 exemplar com reprodu- lo apégrafa das emendas euclidianas, Galvio apurou a exis- téncia de nada menos que em torno de 6.000 variantes (sem se incluirem nessa cifta as corregées geificas ortogriticas). Ter conscincia de que os autores modificam suzs obras de uma edigio para outra é especialmente importante, pois a diversidade formal dos textos tem origem nio apenas em lapsos de cépia mas também na mudanga de vontade do au- tor (que dé origem as chamadas variantes de autor):a dificulda~ de, entretanto, esta justamente em se estabelecer com certeza quando se trata de um caso € quando de outro, especialmen- te em relagio a textos muito antigos. Modificagées nfo-automais sio as que ocorrem sem a auto- rizagio nem 0 conhecimento do autor, ou seja, sio fruto da atividade de terceres. Bssas modificazdes podem ser subdividi- das em voluntérias ¢ involuntéria, Sio modificagdes voluntérias aquelas que ocorrem por ato Aeliberado de quem reproduz 0 texto.A azo principal para esse tipo de modificagio costuma ser 2 discordancia ideol6gica, que se manifesta, via de regra, através de censura (politica, re- ligiosa, etc.). 4 # tyrmopucKO A CRITICA TEXTUAL Figura 2 - Pigina 140 da 3! ed. d'Or Sevées com alterages autégrafis de ‘Faclides da Cunha (Fonte: Cunha, 1946: VI) a = Mo = de ria oepe@ 4 eo mtd 6 vane rea aro ves ots beige esata rend pcaria oa 1 lebiomens van em ekg oeleagy Lot 28 Oak, eombraenton ata a3 tere do malice 98 abs = ene vngio enuaro Js rains ‘cits relied ervey en ens bosagiados x S. Cone cau i pare fleece va rani ar he reo u dexerta de ojosoi percent inenure Ste i cons en exe a ee toda. He, dn ah aie papain, toes prox ‘iui sndroaln 26 etc lesa 8a emt ioe Aiea 6 an blader: a Peedi. las ot mest ‘ink compass de fligicrdoe Indl, se enfin“ ‘Mf ela fil grater eoB6 una mesicagea de congas All eid, frt0os, 0 enthréplime do iebnges, 0 arpa 14 asinine do fren 6 © git ami 0 props tad tonal da raga superior, ua épnen do decaiineni © de catia. Te ulti ¢ un cap vive do atavno, onadeanta as stats rl sioner ¢ oeniee agznen, pss rah rn deal poragues, «parr ecu XVI quando, depo caver por mowen's cz ae‘ tna «aia naracat os povs eatin 4 eubia, tex decompesisio pln tat dirt pee bts erecta BrasiTersg, tear, en Odeo 1, iio de completo evequitole oral, ad todos os terores do Rdede-Modie Unda enue ‘ono eathoiense geaarlar. Para exemplificar censura, pode-se mencionar a primeira edigio que Augusto Magne fez do texto medieval portugués da Demanda do Santo Graal em 1944. Certamente por achar que certas passagens do texto poderiam chocar o publico, o mTRODUGAO #9 editor suprimiu-as do corpo do texto, transferindo-as para uma segio final intitulada aditamento. Tendo sido criticado por essa atitude, Magne preparou uma segunda edicio, publicada em 1955-1970, em que nio somente recolocou no devido Iu- gar todas as passagens anteriormente deslocadas mas também incluiu reprodugio fac-similar do manuscrito para tornar evi dente sua fidelidade a ele. Veja-se, a seguir, a reprodugio de um excerto censurado na 1 ed. e de sua forma integral na 2° {0 excerto, do cap. LIl, § 357, narra 0 encontro do jovem rei Artur com uma donzela): ¢ dés i, foi-se contra a donzela e salvou-a;e ela se ergueu con- tra dle e salvou-o muito apdsto; e elrei se assentou e cla ou- trossis € comegatom a falar de-suii, ¢ achou-a el-rei tam si- suda e de tam booa palavra, que marivilha era, ¢ foi em tam pagado, que a quis levar consigo; ¢ entom aque-vos uu cava~ leiro j6 quanto de idade, que saiu da foresta asi desarmado como rei Artur (Magne, 1944, vol. Il 3, itilicos de Magne). ¢ dés i, foliJ-se contra a donzela e salvou-a; ¢ ela se ergueu contra éle e salvou-(0] muito apésto; ¢ el-rei se assentou e ela ‘ontrossi; e comegarom a falar de-sui,e achou-a el-rei tam si- suda € de tam booa palavra, que marivilha [era], foi tam pa gado, que jouve com ela per fora. B ela, que era menina ainda nom sabia de tal cousa, comesou a braadar mente ele jazia com ela, mais nom the houve prot ca toda via fez el-rei 0 que quis,e fez entomt em cla uit filko.E depois que howe feito seu prazer ea quis levar con~ sigo aque-vos ui cavaleiro jé [quanto] de idade, que saiu da foresta assi desarmado como rei Arcar (Magne, 1970: 89, it lico nosso). ‘Trata-se obviamente de uma cena forte, pois narra-se um estupro, Entretanto, no é possivel fazer uma andlise adequada do texto portugués da Demanda do Santo Graal levando-se em conta a edi¢io com censuras: s6 se pode ter uma visio global IDNA 195 10 4 termopUcho A cRiTicn TEXTUAL aprofizndada do texto medieval portugués considerando to- das as suas partes. Constituem modificagées involuntérias aquelas que ocor- rem por lapso de quent reproduz 0 texto, Esse tipo de modifica¢io, conhecido tradicionalmente como erro de cbpia, foi j6 obje- to de diversos estudos, que procuraram descrever ¢ classifi- car cada categoria: tal empenho decorre da consciéncia de que a identificago da origem de um erro explica a nature za da distorgio e evidencia como deve ser sanada na restitui- Gio da forma genuina dos textos. Como no capitulo 3 esse tema ser abordado detalhadamente, apresenta-se aqui apenas um exemplo: 0 sallo-bordae. Quando hé no modelo utilizado para a cépia duas palavras iguais em pontos diferentes de uma ‘mesma pagina de um manuscrito ou impresso, nfo raramente costuma-se saltar o texto que hd entre essas duas palavras. [sto di-se porque o copistando percebe que, o retornar os olhos para o modelo, apés ter registrado na sua cépia a primeira ocorréncia da palavra em questio, seus olhos se fixam em uma palavra igual, mas em um ponto situado adiante no mo- delo, Vasconcelos (1943: 97), comparando dois incundbulos coevos da Histéria de Vespasiano — urn-com © texto castelhano Gevilha: Pedro Brun, 1499) outro com o texto portugués (Lisboa: Valentim Fernandes, 1496) —, verificou varios casos de salto-bordio. Confira-se abaixo a reprodugio de um ex- certo do capitulo VII em ambas as linguas: ¢ Gays el senescal se scordo dixo a Jacob: Yo quero fablar con Pilato; Jacob te dizo:wYo je con vos»; e amos a dos varse a Pilata} T fablaron le delante del templo de Salamon (Foulchi bose 1909: 14, itdlico de Vasconcelos). Eo mestre-slla acordou-se e disse a Jacob: Eu quero fallar com . E fallaron lhe diante do templo de Salamom (Perei- 1a, 1905: 47). 4 weraoDUCiO #1 Percebe-se que, no texto portugués, houve a supressio da seqiiéncia preservada no texto castelhano (cf. trecho em iti- lico): essa omissio den-se justamente porque 2 seqii@ncia es- tava entre as duas ocorréncias do nome Pilatos. Em se tratando da lirica medieval, no entanto, as modifi- cages nos textos podem ter uma origem mais complexa do que simplesmente um lapso. Como zssinala Cunha (1985b: 36), as modificages eram motivadas ainda por dois fatores: 4) a indiferenge dos escritores medievais pela propriedade pela originalidade da obra, que estimavam ver alterada ou acrescida (..); 8) a transmisséo oral, com a “*falsa reiterabilidade” que a ca- racteriza, ‘A atuagio desses fatores, a que Zumthor (1981) chamou cde movencia, vem naturalmente implicagSes para o processo de estabelecimento de textos dessa época, pois, como jé alertou Cunha (1985b: 36), é preciso levar em conta nfo apenas a existéncia de variantes (imputéveis 20s copistas) mas também de variagio, isto é, modificagdes decorrentes das diversas per- formances de uma poesia difundida por um século e meio sob a forma cantada, Segundo Azevedo Filho (1998: 268), também em textos da lirica camoniana é possivel perceber casos de“interferéncia da meméria em caso possivel de trans missio oral”, Modificagées nao-autorais em am texto podem, por ve~ es, irapor-se de tal maneira que acabam obtendo uma sorte mais afortunada do que a da forma genuina, Um caso muito interessante & o do texto da Carta de Achamento do Brasil, re= digida por Pero Vaz. de Caminha ¢ datada de 1500: Mattos ¢ Silva (1999: 134) chama a atengio para 0 fato de como um dado trecho da referida Carta, que tem circulado atualmen- 12» wrTnopUGKO A critica TEXTUAL te de uma forma quase cristalizada, simplesmente nio existe no original, pelo menos dessa forma. Nao haveri um falante culto de portugués que nio conhega a expressio “em se plantando, tudo da” (ou ainda “aqui tudo, em se plantando, di”), tradicionalmente considerads parte da Carta de Cami- nha. No texto genuino (f61. 13v, k. 19 a 21), porém, o que ha 6“em tal maneira he graciosa que querendoa aproucitar darsea necla tudo per bem das agoas que tem” (Caminha, 2001: 79). Segundo a referida pesquisadora, é bem provivel que essa forma derive de alguma leitura atualizada do texto original. De qualquer maneira, nio deixa de ser impressio- ante como esse bordio paraftistico acabou por se enraizar profandamente na cultura luséfona. (Os exemplos apresentados acima poderiam induzir 0 lei tor a achar que as modificagdes ocorrem fundamentalmente em relagio a textos de épocas muito pretéritas, mas nio é ver~ dade:a mobilidade do texto manifésta-se em qualquer €poca Exemplos bastante curiosos da mobilidade do texto no mun- do moderno sio apresentados por Garcia (2002:92-3) no que diz respeito & misica popular brasileira: flagraram-se jé diver- sos casos em que intérpretes modificaram o texto genuine. ‘Um caso muito interessante é o relativo 4 cangio Ultimo De- sejo, de Noel Rosa: na estrofe “E as pessoas que eu detesto/ Diga sempre que eu nfo presto/ Que o meu lar é 0 bote- quim” (cf. Chediak, 1991, vol. 2:124 e 128), muitos cantores alteram a tiltima frase para “Que o meu lar é um botequim”, subvertendo o sentido do texto, Se, no texto original, o can- tor considera que o seu lar é fora de casa, & 0 botequim:; no texto modificado a idéia suscitada parece ser a de que o seu lar é a sua propria casa, mas ela assemelha-se a unt botequim. Enfim, de diversas ordens sio a: razdes pelas quais os tex- tos se modificam; ¢ certamente varias razSes entrecruzam-se weTRoDugho = 13 no processo de transmissio de cada texto. Justamente por isso, quanto mais ciente o critico textual estiver dessas possibilida- des, tanto mais preparado estard para desvendar os mistérios da histéria da transmissio de cada texto. 1.3. CRITICA TEXTUAL, ECDOTICA E FILOLOGIA Quando se fala em atca textual, no raramente despon tam dois outros termos: exdéticae filologia. Nao ha atualmente consenso* sobre o campo de conhecimento que cada um des- ses trés termos designaria: ora sGo tratados como sinénimos, ota como denominagio de campos de conhecimento distin tos ainda que intimamente relacionados, No que se refere 4 expressio artica textual, costuma-se empregi-la em lingua portuguesa como designadora do cam~ po do comhecimento que trata basicamente dz restituigao da Jorma genuina dos textos, i. é, de sua fexagio ou estabelecimento (cf Houaiss, 1967, vol. I: 204; Azevedo Filho, 1987: 15; Spi- na, 1994: 82). Jo termo ecdética? tem sido utilizado para nomear 0 cam= po de conhecimento que engloba o estabelecimento de textos € 2 sua apresentagao, i. &, sua edigio (cf. Azevedo Filho, 1987: 2 Ente problema termincligico, de que ade pedece ca de que nto pdece apenas gua poragues, eamentedictdo por Carahoe iva (002 53:70), Seguao dle papas oo Foun, ums dingo ene ia texte abn dain, pelo maton de Reich (188531), onde "A Cita dow Texts és inca dn aenges oao ‘exoseti nets, dor meie de econhect-las ede remediation by sre de publeat os tet” (endo nous) 3. Cicala também, apenas em portopus forma edt 2 forma ets, orignsmente utd pot Bueno (1946: 14) e eommads por Spine (1977 1994) 4-4 gro dns o trmor ef «ple navn o pro dasa 0 exabelecinento ea apresenagto de um texto sopndo designs compris tipogrifica/eleténica e impressio. = = Pon 2 Ge ‘ 3 yor SNA 14» merecpucdo A eRITICA TEXTUAL 15; Spina, 1994: 82): nessa acepgo, 0 termo abarca nfo ape- nas 0 processo de restituigao da forma genuina de um tex- to mas também os procedimentos técnicos para apresentar © texto ao piblico. Se, para os dois vermos acima discutidos, hi um certo li- mite nas oscilagdes de sua definicio, pois, ainda que even- tualmente sejam empregados como sindnimos (cf., p. ex., Houziss, 1967, vol. I: 204), referem-se sempre ao processo de edigio de textos;o mesmo nio se verifica, porém, em relagio 20 termo filologia, para c qual circulam definigdes muito dis~ tintas, No Diciondrio Houaiss (2001: verbete filologia) regis tram-se quatro significados para essa palavra: ‘.estudo das sociedades e civilizagbes antigas através de do- cumentos ¢ textos legados por elas, privilegiando a lingua escrita e literdtia como fonte de estudos 2. estudo rigoroso do: documentos escritos antigos e de sua transmissio, para estabelecer, interpretar e editar esses textos 3.0 estudo cientifico do desenvolvimento de uma lingua ou de familias de Lingaas, em especial a pesquisa de sua his- téria morfologica e fonolégica baseada em documentos escritos e na critics dos textos redigidos nessas inguas (p. ex, filologia lating, filologia germinica etc.); gramtica hist6rica 4. estudo cientifico de textos (no obrigatoriamente antigos) ¢ estabelecimento de sua autenticidade através da compa- ragio de manuscritos © edigdes, utilizando-se de técnicas auxiliares (paleograia, estatistica para datagio, histéria lite riria, econdmica etc.), esp. para a edigio de textos Como se pode ver, os conceitos acima ora apresentam, grande afinidade com 2 defini¢io de ortica textual adotada nesta obra (cf significados 2 e 4), ora identificam-se ao estudo IteTRODUGAO « 15 de histéria da lingua (cf. significado 3). Numa concepgio ‘mais abrangente, relacionar-se-ia 2inda 20 estudo de civiliza- ‘ses, a partir de textos (cf. significado 1). A polissemia do termo filolagia nio é, porém, fendmeno modemo, pois, 20 que parece, na Grécia antiga, periodo em que teria sido cunhado, jé apresentava sentidos diversos. Do ponto de vista etimol6gico, a palavra filolagia origina~ se, em diltima instincia, do vocibulo grego @iAohoytar, com- posto de um radical vinculado ao verbo quis (“amar”) e de um radical relacionado do substantivo A630 (“palavra”): as- sim sendo, a idéia bésica originalmente expressa pelo temo em questio seria “amor palavra”. Esse valor semfntico bisico no escaparia de softer deslo- camentos, pois verifica-se o emprego do referido termo com ‘outros significados j4 em autores gregos dos sécs, IV-III a.C, Bailly (1950: 2076) lista os seguintes: 1."“desejo de falar, pala~ vrério” em Licénio, Ath. 548a; 2."‘gosto pela dialética” em Platio, Thaet. 146a; 3. “gosto pela literatura ou pela erudi- cao” em Aristételes, Probl. 18, Plutarco M. 645¢~ por exten- so, “dissertacao sobze um assunto literdrio ou de erudigi0” em Isécrates, Antid. O deslocamento por trés do sentido cons- tatado em Aristételes parece ser metonimico: suporia um trajeto como “palavra” > “sentenca” > “discurso” > “‘conheci- mento” > “erudi¢io”. A idéia de filologia como “erudi¢io” parece ser a que esti na base do uso que Eratéstenes de Ci- rene (¢. 276-196 a.C.), um dos responsiveis pela Biblioteca da Alexandria no Bgito, fez 20 se auto-intitular fildlogo. Segun- do 0 historiador romano Sueténio (c, 69-140 d.C.}, ao tra~ tar de Liicio Ateio Pretextato no texto De Grammaticis et Rhetoribus, Bratéstenes teria sido o primeiro a adotar a refe- ida denominagio no mundo helénico, enquanto Ateio o te- ria feito no mundo romano: 16 « wTRODUGAO A cAINICA THXTUAL Philologi adpellationem adsumpsisse videtur, quia sic ut Eratos- thenes, qui primus hoc cognomen sibi vindicavit, multipli va- riaque doctrina censebater (Tranquillus, 1960 (1991]:§10.4-5).. Jano mundo moderno, o terme filologia assurmiria, acade~ micamente, um significado mais restrito: testemunho disso é © fato de o alemio Friedrich August Wolf ter-se matricula- do na Universidade de Géttingen, em 1777, com o titulo Studiosus Philologiae. Segundo Herrero (1988: 17), Wolf teria definido filologia como o “estudo do que é necessério para conhecer a correta interpretagio de um texto literério”. No dominio lus6fono, o terme fiologia ainda no sée. XVII, parecia continuar polissémico, pois em Bluteau (1712 [2000], L.VI: 482) apresentam-se duas definigdes, uma mais ampla e outra mais restrita (nas trés linhas finais a seguir): PHILOLOGIA. He palavra Grega composta de Philos, Amigo, & Logos, discurso; & Philologia val o mesmo que Estudo das le- tras humanas, comecando da Grammatica, (que antigamente era a parte principal da Philologia,’ & proseguindo com a elo- quencia Oratoria, & Poetica, com as noticias da Historia an- tiga, & moderna, com a intelligencia, interpretagio, & Critica dos Authores, com a erudicio sagrada, & profana, & géralmen- te com a comprehensa6, &¢ applicegio de todas as cousas, que podem ornar 0 engenho, & discurso humano. Rigorosamente fallando, Philologia he a parte das sciencias, que tem por ob- Jjecto as palavras, & propriedades éellas. Um século depois 0 termo nio deixaria de designar aquele conceito amplo, relacionado & interpretagao de tex- 5. "Vests [Atco] ter asumido a denominagio de flélogo, porque asim como Era~ \éstenes, que primeio reivindicou este epiteta paras, era estado por seu co- shecimento rasiplae variada ivrxopugho «17 to, Isto € © que se infere da definigio apresentada por Sil- va (1813 [1922), t. 2: 446): PHILOLOGIA, s.f.A arte, que trata da intelligencia, e interpre- taglo critica grammatical, ow rhetorica dos Autores, das anti- guidades, historias, &c E possivel constatar, porém, que em principios do sé. XX esse termo poderia ser utilizado enfocando-se especial mente o estudo da lingua, ficando a interpretagio dos tex- tos como parte acesséria — isto depreende-se ce como Lei- te de Vasconcelos (1911 [1959: 9}) definia filologia portuguesa: (-) 0 estudo da nossa Engua em toda a sua amplitude, no tempo ¢ no espago, ¢ acessériamente da literatura, olhada sébre tudo como documento formal da mesma lingua. Essa concepgio perduraria ainda pelo mencs até meados daquele século, pois Silva Neto (1956a: 15) reiterou, décadas depois, uma definicio de filologia portuguesa, bastante seme- Uhante Aquela, mas apresentada por Carolina Michaélis em suas prelegSes de 1911/1913 (cE Vasconcelos, s.d.: 156) fo ex- certo a seguir aparece de forma idéntica nessas duas obras} (..) 0 estado cientifico, histérico e comparado da lingua nacio~ nal em téda a sua amplitude, no s6 quanto a gramitica (foné- tica, morfologia, sintaxe) e quanto & etimologia, semasiologia, etc., mas também como Srgio da literatura e como manifesta ¢i0 do espfrito nacional Por volta dessa mesma época, porém, a definigio de fi- lologia como estudo do texto também existia, pois Melo (1952: 54-5) defendia ser a filolgia portuguesa: (..) 0 estudo largo e profiindo dos textos de nossa lingua para atin- gir em cheio a mensagem intelectual ou artistica néles contida, COCO EOES Ok > 18 inTRODUGHO A CRITICA TEXTUAL Alguns anos antes, no entanto, também circulava uma definiggo bem mais ampla de filologia, pois Bueno (1946 [1959: 22}) assim a delimitava: © comhecimento da civilizagio de um povo, num dado mo- mento da sua histéria, através dos seus monumentos liter 0s (..) Contemporaneamente, o termo filolagia, como ja se viu mais acima pelo verbetz do Diciondrio Houaiss, continua a ser empregado de forma polissémica, mas hi uma tendén- cia a se associar esse termo ao estudo do texto, reservando- se 0 termo lingifstica para identificar o estudo cientifico da linguagem humana, Seguindo essa tendéncia, emprega-se aqui © termo filologia para designar o estudo global de um texto, ou seja,a explorago exaustiva e conjunta dos mais variados as- pectos de um texto: lingiistico, lterario, critico-textual, so- cio-histérico, etc Para finalizar esta segio seri de grande proveito conhecer tum pouco mais quais seriam as tarefas do critico textual, Uma visio expandida dessas tarefas foi exposta de forma bastante instrutiva por Carvalho ¢ Silva (1994: 59-60): * A definigio do conceito, do objeto, do método e das f- nalidades da ciéncia e das diferentes épocas da sua evolugio. + O estudo ¢ clasificacio dos textos ¢ das edigdes,¢, nos casos de diivida, a aveciguagio da sua antenticidade e a fan- damentada identificagio de textos apécrifos € de edigtes frau dulentas (contrafagdes, +O exame da tradigio textual e da fidelidade das transeri- $8es, cOpias e edicdes. + A pesquisa da génese dos textos,sem deixar de lado qual- quer elemento (inclusive frégmentos textuais) que possa con- tribuir para as conclusées sobre o labor autoral. ietnopucho «19 + A fixagdo de principios que devem orientar 0 trabalho da reprodugio e da elaboragio de tedos os tipos de edigées de textos. « A aplicagio de tais principios e normas gerais a diferen- tes tipos de textos, tendo em vista os contextos histérico-cul- turais em que estio integrados. + O estabelecimento de normas gerais e de normas espe- cificas para a conversio dos textos orais em textos escritos. * A indicagio dos pressupostos fiol6gicos para a boa rea~ lizagio da tradugio dos textos. * A organizagio dos planos de publicagZo das obras avulsas ou das obras completas de determinado autor, apoiada em ri ‘goroso levantamento de dados histérico-culturais e biobiblio~ grificos; e a formulaggo de normas editoriais para cada caso em exame. + A preparagio de edigdes fidedignas ow de edigSes criti- «as, enriquecidas, sempre que recomendivel, de estudos pré- vvios, notas explicativas ou exegéticas destinadas a valorizar 0 labor autora. 1,4. CONTRIBUICOES: Com certeza a contribui¢io mais evidente ¢ importante da exitica textual & a recuperasao do patriménio cultural escrito de uma dada cultura, Assim como se restauram pinturas, escul- tras, igrejas € diversos outros bens culturais da humanida- de,a fim de que mantenham a forma dada por sett autor in- telectual, igualmente restauram-se os livros em termos tan- to fisicos (recuperagio da folha, da encadernagio, da capa, etc.) quanto de seu contetido (recuperagio dos textos). Considerando que, apés se ter restituido a forma genui- na de um texto escrito, ele &, via de regra, publicado nova~ mente, contribui-se também, assim, para a fransmissao e pre- servagio desse patriménio: colabora-se para 2 transtnissio dos 20 + iwrnopucko A calrica TexTUAL textos, porque, a0 se publicar um texto, este torna-se nova mente acessivel a0 pablico leitor; e contribui-se para a sua preservaso, porque se assegura sua subsist8ncia através de re- gistro ern novos e modernos suportes materiais, que aumen- tardo sua longevidade. Nio é necessério muito esforgo para se perceber a vasta, extensfo do dominio do conhecimento humano que se be- neficia do exercicio da critica textual: basta dizer simplesmen- te que tem impacto sobre ‘oda atividade que se utiliza do texto escrito como fonte, Exemplificar cada uma dessas atividades, sa~ lientando 2 importincia da utiliza¢io de textos fidedignos em cada caso, é uma tarefa praticamente infindavel, dada a vas- tidio dessas atividades. Nao se pode, porém, deixar de men- cionar duas delas: os estudos lingiisticos ¢ literdrios. No dominio dos estudos lingistcos, os textos escritos, no raramente, si0 utilizados como corpus, isto é, fonte de dados para o conhecimento da lingua. Uma descri¢ao lingiifstica s6 tem validade se, de fato, os textos adotados como fonte de da- dos espelharem 0 emprego efetivo da lingua (ainda que ape- nas na sua modalidade escrita): textos com deturpagées levam ‘um lingitista a considerar, como atestagio de uma palavra ou de uma estrutura lingiistica, algo que é simplesmente erro de cépia € que, portanto, nio reflete o uso real da lingua. ‘Um caso digno de mengio «m lingua portuguesa 6 0 da palavra cofe: Machado (1995, vol. I:177) registra no verbete espectivo a ocorréncia dessa palavra jé no séc. XIV, mais es- pecificamente na Demanda do Santo Graal. Entretanto, sabe~ se, desde a resenha dessa edicZo feita por Piel (1945), que se tuata de um erro do editor: assim, embora tenha lido em sua primeira edi¢do “Pois asi disse Galvam, eu irei buscar, preto ou longe unt cofte(..)” (cap. XLI, § 271; Magne, 1944, vol. I: 354, itilico nosso), jé na segunda edigo leu correta~ eTRODUGAO # 2t mente “Pois assi é, disse Galvam, eu irei buscar, preto ou lon- ge wo soterre(...)” (Magne, 1970: 5, itdlico nosso). Ou seja, © que havia sido lido como um cafre era, na verdade, u 0 50- terre (i 6,“onde o enterze”), pois 0 cavaleiro Galvio estava procurando lugar para enterrar o rei Bandemaguz, que aca- bara de morrer. Ja no dominio dos estudos literdrios, os textos escritos so ainda mais essenciais, ja que sio a principal forma de expressio da literatura — principal, mas certamente nio a ‘inica, pois nfo se pode esquecer da literatura oral, em que, alias, se fandamenta a produgio poética primitiva no apenas grega na Antiguidade mas também vernacular na Idade Média. Considerando, porém, particularmente a li- teratura escrita, a contribuigio da critica textual esté em assegurar que © critico literério possa exercer sua fungao com base em um testemunho que efetivamente reproduz 2 forma do texto que © autor Ihe deu, ou seja, sua forma genuina, Ainda que se argumente que € legitimo realizar uma and~ lise literdria voltada para a forma como o pitblico-leitor per cebe um dado texto independentemente de sua forma ser genuina ou nio, tal axgumento nao invalida o fato de que é igualmente legitimo realizar outros tipos de anilise, como aquelas voltadas para 0 texto como ato de cria¢io literitia so- cio-historicamente contextualizado, caso em que é fundamen- tal saber se o testernunho do texto em estudo é ou nio fiel 3 forma que o autor Ihe deu Como exemplo ilustrativo para essa questio, pode-se citar, a anilise literiria do poema “Aporo”, de Carlos Drummond. de Andrade (1902-1987), realizada por Lima (1968: 188-9) ‘Apés apresentar uma transcrigao desse poema, da qual se re- ptoduz abaixo a primeira estrofe 22 « ierxgpucio A calrica textual Um inseto cava cava sem alarme perfiamando a terra sem achar escape. comenta © critico:““A escavagio do inseto perfuma a terra, ‘mas a escava sem perfurar, sem achar escape” (italico de Lima). Considerando a estro tal qual acima reproduzida, nio hé absolutamente nada que se possa objetar em relagio a0 co- mentérjo do eritico.C problema est, porém, no fato de que ssa estrofe apresenta um erro, pois a forma que Drummond (cf. Andrade, 1945: 54) havia lhe dado, como se verifica na primeira edigio da obra em que veio a lume (A Rosa do Pov), tinha como terceiro verso 0 trecho “perfurando a ter 12”. Como se vé, dianze do texto genuino, 0 comentirio do ctitico deixa de ter validade: 0 choque de idéias assinzlado, i. &,"escava sem perfurar”, simplesmente no existe naquela cestrofe — ha, na verdade, um refor¢o, pois 0 inseto cava ¢, por conseqiiéncia, perfura Como nio consta em Lima (1968) a edigio utilizada como modelo para a transcrigo que reali- zou, nio é possivel verificar a origem da forma nio-genui- na. Independentemente da origem, é fato que a forma “per~ famando” nio parece ser atribuivel 2 Drummond, o que significa que nio pode ser considerada em uma anilise de abordagem s6cio-histérica, em que se leva em conta a von- tade autoral. 1,5. TRANSDISCIPLINARIDADE ‘Unna das caracteristicas mais instigantes da critica textual sua transdisciplinaridade. Para o efetivo exercicio da fixagio de textos sempre nezessirio um conjunto muito diversifi- cado de conhecimentos, o que obriga o trinsito por diversas reas do conhecimento. raopugho «28 Hi algumas reas em especial que tém impacto direto so- bre 2 atividade do critico textual: a paleagrafia, a diplomatia, a codicologia, a bibliografia material e a lingilstica. 1.5.1, Paleografia A paleograia pode ser definida, de uma forma bastante bi- sica, como o estudo das exeritas antigas. Modernamente, apre- senta finalidade tanto teGrica quanto pragmitica.A finalida- de teSrica manifesta-se na preocupacio em se entender como se constituiram sécio-historicamente os sistemas de escrita; jf a finalidade pragmitica evidencia-se na capacitacio de lei tores modernos para avaliarem a autenticidade de um do- cumento, com base na sua escria, e de interpretarem ade- \ guadamente as esctitas do passado. Sua constiuigio como campo de conhecimento sistema- tizado costuma ser situada no século XVII. Em viagem pela Europa, o jesuita Daniel van Papenbrocck (1628-1714) teria constatado a existéncia de muitos documentos falsos, o que 0 teria levado a escrever a obra Propylaeum Antiquarium circa Ver ae Palsi Discrimen in Vetustis Membranis (Antuérpia, 1675), onde apresenta critérios pata discernir documentos falsos de verdadeiros: como subsidio a esse julgamento, Papenbroeck apresenta uma classficagio das dife-entes escrtas, Tentando responder is criticas deste 2s documentos da Abadia de Saint- Denis, o monge beneditino Jean Mabillon (1632-1707) redi- git a obra De Re Diplomatica Libri IV (Pacis, 1681),em que avanga ainda mais na investigagio dos tipos de escrita. O termo que nomeia esse campo de estudo s6 apareceria com a obra Palacographia Graeca Sive de Ortw et Procesu Litterarum Graecarum Patis, 1708), escrita pelo também beneditino Ber- nard de Montéaucon (1655-1741). ‘A relevincia da paleografia para o critico textual é bas- ( evidente: para se fixar a forma genuina de um texto, 24 « mwrmonucho A enitica TexTUAL € necessério ser capaz de decodiicar a escrita em que seus testemunhos estio lavrados. £ muito comum, aliés, existirem edigdes de texto que apresentam falhas decorrentes de equi- voco na leitura do modelo por parte do editor. Dada 2 importincia das informnagdes de natureza paleo gréfica para a compreensio da leivara das fontes tealizada pelo ctitico textual, pode-se inchuir em edigdes de texto mais exu- ditas uma breve segio dedicada a comentirios dessa natureza, Nessa sego costuma-se abordar aspectos como os seguintes: 2) classificagéo da escrita, localizagio e datagio; b) descricio sucinta de caracteristicas da escrita, a saber: 2 morfologia das letras (sua forma), 9 seu trasado ow ductus (or~ dem de sucessio e sentido dos tragos de uma letra), 0 éngulo (telagio entre os tragos verticais das letras e a pauta horizontal da escrita), 0 médulo (dimensio des letras em termos de pau- ta) € 0 peso (relagio entre tragos finos e grossos das letras); ©) descrigao sucinta do sistema de sinais abreviativos em- pregado na referida escrita; 4d) descrigo dos outros elementos nio-alfabéticos exis tentes e de seu valor geral: nfamercs, diactiticos,sinais de pon- tuagio, separagio vocabular intralinear ¢ translinear, paragra~ fagdo, etc; ) descrigo de pontos de dificuldade na leitura e as so- lugdes adotadas. ‘Embora haja hoje em dia disponivel no mercado biblio- grafia introdutéria em paleografia relativamente variada (p. ex., Batelli, 1999; Stiennon, 1999; Cencetti, 1997; Bischoff, 1997; Terrero, 1999), obras em lingua portuguesa ou voltadas para a escrita latina no mundo luséfono sio muito raras: den- tre 0s textos mais gerais, podem-se citar Cruz (1987), Santos (1994, 2000) ¢ Berwanger & Leal (1995). Sua leitura, porém, deve ser complementada com a pritica efetiva de contato com textos lavrados nas mais diferentes escritas, o que pode ser neraopucno « 25 feito utilizando-se as reprodugdes fac-similares presentes nos Albuns de paleografiat voltados para documentos portugue~ ses e/ou brasileitos, tais como Burnam (1912-1925); Costa (1997);Valente (1983); Nunes (1984); Dias, Marques & Ro- drigues (1987); ¢ Acioli (1994) ~ infelizmente quase todos ‘esgotados, mas encontréveis em bibliotecas académicas.. 1.5.2. Diplomatica Pode-se definir basicamente a diplomatica como o estudo de documentos (em especial, os juridicos). Deve-se entender aqui por documento, em um sentido estrito, toda notlia escrita de algun acontecimento. ‘As origens da diplomitica estio fortemente entrelagadas, com as da paleografia, jf que os tratados mais antigos visavam a orientar a avaliagdo da autenticidade de documentos legais, tanto através de sua escrita quando de sua formae de seu con tedido. Seu estabelecimento como campo de conhecimento sistematizado remonta, assim, 3 j4 mencionada disputa entre Papenbroeck e Mabillon (podendo ser atribuida a este, em sua Jf teferida obra de 1681, cunhagem do nome desse campo). Os comhecimentos diplomiticos so especialmente rele~ ‘vantes para 0 critico textual que edita documentos.A decifra- io © a reproducio de um documento podem ser realizadas ‘com mais seguranga e propriedade quando se tem conscién- cia de como eram produzidos os documentos, em que clas- ses se distribufam e como se estruturavam inte:namente, so- bretudo porque apresentavam constantes formais em termos tanto estruturais quanto lingiisticos. 16.De mule usldade sto timbém os dicionirios de abrevatra: para abrevacuras latinas, pode-se consltar Coppell (1995)je pas portogucrs, Nunes (1981) e Fle- chor (1991). ice. fompilagas ole maniucrites, [kagistin ove Be leva. ole nist « Bigg anhiar/Oi« antign oe aulov a dice Forma Coratbouiticn, elo Marustrite tun prqaminke, himetiow a cle Livve motores 4 Tr ctaneminach. fier Trcalercany, om LIA 5 mm 26 « mwetnopucko A entrica T=xTUAL ‘Tratados introdutéios modernos de diplomitica aplica~ dos especificamente a documentos portugueses parecer ine~ xistir, mas podem-se obter informages relevantes em Mat~ ques (1963-1971, vol. 1: 823-8), Berwanger & Leal (1995) Cruz (1987); uma visio histérica recente dessa disciplina em Portugal aparece em Coelho (1991). Dada essa escassez no dominio luséfono, pode-se recorrer & leitura de obras basea das especialmente no dominio hispinico, o que permite ain- da que se tenha uma visio ibero-roménica do tema: atual- mente encontram-se disponiveis manuais espanhéis como 0 de Tamayo (1996) e Terrero (1999). 15.3. Codicologia A codicologia consiste basicamente no estudo da thnica do livro manuscrito (ji. &, dc ebdice). Esse termo, que tem sua pa~ ternidade reivindicada por Dain (1975: 76), é empregado atualmente, porém, em um sentido mais estrito do que aque- le postulado por quem o cunhou. Dain (1975:77) conside- ava como misses ¢ dominio da codicolagia a historia do ma~ nuscrito,a historia das colegdes de manuscritos, investigagses sobre a localizacio atual dos manuscritos, problemas de cata- logacao, repertérios de catdlogos, 0 comércio dos manuscritos, sua utilizagio, etc.,sendo do escopo da paleografia o estudo da escrita e da matéria esctiptéria, da confecrio do livro e de sua ilustragZo, ¢ 0 exame de sua “arquitetura”;mas obras mais re~ centes tendem a redistribuir as tarefas dos dois campos do co- nhecimento mencionados: Lemaire (1989: 3) postula dever a codicologia fixar-se sobretudo em compreender os diversos aspectos da confeccio material primitiva do cédice. Para o critico textual, a codicologia é de grande relevin- cia, pois fornece informacées que permitem compreender al- gumas das razGes pelas quais os textos se modificam no pro- INTRODUGAO « 27 cesso de sua transmissio. Saber, p. ex., que nos antigos recin- tos em que se realizavam as cépias (chamados scriptoria) havia © babito de se desmembrar um cédice para que suas partes (0s cadernos) pudessem ser reproduzidas simultaneamente por diferentes copistas permite ao critico textual elaborar hi- péteses sobre por que certas c6pias tém seu texto em ordem diferente de outras: possivelmente porque, a0 se recompor 0 cédice utilizado como modelo, teriam ocorrido equivocos | na ordenagZo de suas partes, ‘Além de permitir uma compreensio mais profunda do processo de transmisséo dos textos, os conhecimentos codico- Jégicos também sio utilizados mais pragmaticamente na des- crigdo de cédices,a qual deve constar na edigio de textos pre- servados em manuscritos. Como orientago para essa descri- Gio codicolégica, apresenta-se na pigina seguinte um guia bisico’ (outros modelos podem ser consultados em Bohigas, Mundé & Soberanas, 1973-1974, e em Ruiz, 1988: 316-40). S/O guia de descricao apresentado a seguir cobre aspectos es- senciais de um cédice, mas pode naturalmente ser estendido com a inclusio de detalhes que a tomem mais abrangente: po e-se, p.ex.,incluir um diagrama com a composicio dos ca dernos, identificando a natureza das faces dos pergaminhos (carne x pélo), rebarbas de flios sem sua parte solidétia, ir- regularidades, etc.; podem-se ainda acrescentar © incipit € 0 explicit de cada texto, aspecto importante para textos até en- to desconhecidos; ¢ diversos outros aspectos. Por outro lado, & possivel, em nome da concisio, suprimir alguns dados ¢ eli- minar os titulos dos itens de descrisio, organizando assim as informagdes em um parégrafo bastante compacto (sistema cortente em grandes catilogos de manuscritos). 7. Certamente muitos dos tsemos empregades neste guia no so de dominio ger, smas grande parte deles sed expicada ma segic 3.2, mais adlante 28 « wwTRODUGKO A cAITICA rexTUAL Guia Basico de Descrigio Codicolégica 1. Cota: cidade em que se encontra 0 cédice; nome da insti- tuigio; colegio de que faz parte; e nimero ou sigla de identificagio. 2. Datagdo: explicita (transcrever, informando folio ¢ linha em que consta) ou inferids (apcesentar justificativa). 3. Lugar de origem: explicito (xanscrever, informando f6- lio ¢ Tinka em que consta) ou inferido (apresentar justifi- cativa). 4, Folha de rosto: transcrigio. 5. Colofio: transcrigio. 6. Suporte material: papiro (pavrdceo), pergaminho (mem- bra-ndceo) ou papel (cartéceo) ~ sendo membransceo, infor- ‘mat animal, espessura, cor e obediéncia & Lei de Gregory; sendo carticeo, informar tipo, Inhas-d’agua (directo e dis- tncia entre pontusais e vergaturas),filigrana (descri¢do da figura). 7. Composigao: niimero de folios mimero ¢ estrutara dos a derrios (bina, emi, quaterno, ex.) formato (in-flio,n-A',in-83, etc) € dimensio dos flios (altuna x laxgura, em milimetre). 8. Organizagio da pagina: dimensio da mancha; ntimero de colunas; nfimero de linhas; gautado; numeragio (fllagao [namero s6 no recto do folio) ox paginagéo [nimero no ree to € no vers)); reclamos (auséncia ou presenga, localizacio na pégina e feeqiiéncia); assinataras (presenga ou auséncia, sistema) 9, Particularidades: miniaturas ‘capitulares ornamentadas); ilumimuras; marcas especiais (carimbos, ex-lbrs, assinaturas, pessoais, ec). 10. Encadernagao: tipo (original ou nio-original); dimensio; material; natureza e cor da cobertura; decoracio; texto na capa; nervos no lombo. 11. Contedido: identificagio dos textos do cddice por flio(s), informando autor e obra. 12. Descrigdes prévias: bibliograia. InetnoDUGAO « 29 Como sugestio bibliogrifica introdutéria sobre codi- cologia, podem-se citar Dain (1975), Petrucci (1984), Ruiz (1988) e Lemaire (1989), além dos ricos vocabulirios da area preparados por Muzerelle (1985), em francés, mas ja com traduedo para 0 espanol datada de 1997, e por Arnall i Juan (2002), em catalio, porém com indice de correspondéncia para o espanhol, francés ¢ italiano, No dominio luséfono, o Gnico volume publicado com dados afins parece ser 0 de Nas- cimento & Diogo (1984). 1.5.4. Bibliogratia material Um campo de conhecimento anilogo 2o da codicologia & a bibliografia material, que consiste no estuido da téenica do li- ro impresso, Embora os estudos sobre imprensa em si nfo sejam tio 1e- centes, data de pouco a constituigio de uma abordagem des- se tema diretamente ligada aos problemas de transmissio dos textos. Muitos dos trabalhos que contribuiram para essa nova abordagem derivam especialmente da experiéncia de estudio- 408 de lingua inglesa na pratica de edi¢ao ¢ anilise de textos literrios dos sécs. XVI e XVII. Dente esses estudos, certa- mente destacam-se trabalhos como Greg (1914), McKerrow (1927), Bowers (1949, 1959, 1964) e Gaskell (1972). Como jé disse metaforicamente Greg (1914 [1967: 47)), € apenas através da aplicagio de um métode bibliogréfico rigoroso que a dltima gota de informagio pode ser extraida de um documento literério. Dentre os instrumentos desse método, incluem-se naturalmente as técnicas de descri¢io Dibliogréfica, as quais jé foram minuciosamente tratadas por [Bowers (1949). Embora no haja aqui espaco pata discutir de- {talhadamente os diversos aspectos a que se deve dar especial 30 w IWrkoDUCKo A cAITICA TexTUAL tengo na investigacio do livro impresso, nfo se pode deixar de listar itens que devem ser observados em sua descrica Guia Basico de Descrigao Bibliogréfica @ Identificagao: nome do autor; titulo da obra; nome do edi- tor;local de publicagio; nome da editora e data de publicacio. 2. Folha de rosto: transcrigio. 3. Colofiio: transcrigio, 4. Suporte material: tipo de papel; linhas-d’gua; filigrana. 5. Composigo: niimeros de folios ou de piginas; nimero e estrutura dos cademnos; formato ¢ dimensio dos folios, Tipografia: dimersio da mancha; nimero de colunas; ni- mero de linhas; espécie e dimensio dos tipos; capitulares; numeragio; reclamos,assinaturas, 7. Particularidades:decoracdes;dustracdes; marcas especiais. 8. Encadernagio: tipo; dimensio; material, natureza e cor da cobertura; decoragio; texto na capa; nervos no lombo. 9. Contefido: identificacio das partes do texto por pigina, (@ Exemplar examinado: cota ¢ nome da instituigio de- tentora, (texto critico uma minuciosa descrig! 11. Descrigdes prévias: bibliografia, ‘Apesar de o livro manuscrito se constituir por um pro- cesso distinto do impresso, hé inegavelmente diversos aspec~ tos comuns a ambos, como se pode verificar através da com- parago deste diltimo guia e do exposto na segio anterior. Para exemplo interessante de descrigéo de livro manuscrito e de impresso de uma mesma tradigio em Iingua portuguesa, po- de-se consular 0 primeiro volume da edigio das Vidas e Pai- 8, Como orientagio pars a realzagio de uma descrigio biblogeifica,podemse ain ‘ha consular Diss (1994) os dicionrios de expecalidade de Faia & PerieZo (1988) fe de Sousa (1989). ivtRopucho # 31 -xées dos Apéstolos, de responsabilidade de Cepeda (1982-198! como sua edi¢io se baseia no texte presente no cédice alco- bacense CCXXXII/280 ¢ no impresso de 1505, precede 0 de ambos Naturalmente uma descri¢o bibliogréfica bem executa- da pressupSe familiaridade com a sva terminologia, ainda que esta nio seja totalmente consensual. Para se ter uma idéia dos, termos empregados na identificagio das partes principais de ‘um livro impresso, pode-se consultar a descrigio figurativa a seguir (figura 3), adaptada para 0 portugués por Nascimento & Diogo (1984). As seis obras citadas logo no inicio desta seo sio suf cientes para suprir 0 interessado de informagio sobre a bi bliografia material, mas baseiam-se fundamentalmente no livro impresso em lingua inglesa; para os livros impressos em lingua portuguesa, nfo parece haver até 0 momento nenhu- ‘ma obra introdutéria que siga a abordagem preconizada por aqueles autores. Existem, no entanto, bons titulos traduzidos para o portugués sobre o livro impresso, Cf, p. ex., McMur- trie (1982) ¢ Febvre & Martin (1992). Especificamente sobre a histéria da imprensa em Portugal, pode-se consultar, p ex, Anselmo (1981, 1991); e,no Brasil, Martins (1996), Sodré (1966), Hallewell (1985) ¢ Paixio (1996). 1.5.5, Linglistica A lingifstica, entendida como estudo cientifico da linguagem humana, tem, de todas as areas j6 citadas, a relagio mais ébvia € essencial com a critica textual, pois os textos tém como pi- lar a Kngua, Certamente primeiro aspecto que deve ficar evidente & 0 fato de que a adogio de uma mentalidade purista ou nor- maativista quanto a lingua no exercfcio da critica textual tem 32 + INTRODUGKO A GRIT CA TEXTUAL Figura 3 — Patter principais do livro (Fonte: Nascimento & Diogo, 1984: 98) saras de essinatore 2 escola (Gbiide ‘com fleres ae madin 1) edema os 25, tra de cantina (flso lmbo) ronda 27. tale 7 corte de diantsce, gocin 28. acho ). corte de pe 29. genta meio lombo 30. gravure . Tomko 31, ugem interior ou medians 5. entrenertos 32. endel (aio coafundir com forse ‘stereeito) 5. séalo 33. natgem de exer a 34. coluna de texto scieas 35. tranco de cepargio de texto cute 36, rargem de corte i plano (prime ou anteior gs 37. sbrecapa, sobrecobert, camisa ‘segunda eu posteiot) 38. boo 29, damnit, Bisa 39. sarstm de pe ‘efeitos nefastos.A confusio de perspectivas (cientifica x pu- rista/normativista) compromete seriamente o resultado no estabelecimento da forma genuina de um texto, pois 0 criti- nuTRODUGAO «33 ‘co incauto acaba por fixar uma forma do texto em perfeita consonincia com os padrées preconizados pelas gramticas normativas, mas completamente dissonante dos padres ge- nuinamente empregados pelo autor do texto em edicao. Na realidade, é verificadamente comum esse tipo de adul- ‘eragio de textos no processo de edigZo, pois com freqiiéncia procura-se fazer com que o texto editado se encaixe nas nor~ mas das graméticas tradicionais. Melo (1988: 18) cita como exemplo de “correcio” de formas genuinas o fato de muitos editores modificarem, no texto de Iraema, de José de Alen- cat, a seqiiéncia genuina “Onde vai” (no cap. I) por “Aonde vai” ~ certamente para subordinar 0 uso do advérbio 4 nor ‘ma tradicional de que onde se utiliza para “sienagio” e aonde para “diregio™. Dentre os varios ramos da lingiiistica,pode-se dizer que aquele que tem mais impacto sobre a edigio de textos & 2 lingitsticahistbrica, pois a critica textual debruca-se amitide so bre textos do passado, O desenvolvimento dos estudos diacré- nicos tem contribuido para a formagio de uma visio mais realista e abrangente da histérie das linguas: atualmente os es tudos diacrénicos dialogam com diversas éreas, permitindo fama percepgio mais agugada dos fenémenos lingiifsticos — Jcomo exemplo, pode-se citar a importincia dos estudos so ciolingiiisticos na compreensio da vatiacio lingiistica e, em especial, no reconhecimento da heterogeneidade como ca~ racterfstica constitutiva da linguagem (cf., p. ex., Weinreich, Labov & Herzog, 1968; e Labov, 1972). Embora todo critico textual deva necessariamente ter uma formagio lingtifstica ampla e variada, para a edigio de textos 9. Norms, ais, em desacordo com a propria hstria do advérbio anade, que desde sua origem no sc. XIV expresiia os valores de"stuagio”e dieqio" (cf, Cam- brs, 20023 VIA y 34 « wtRopucho A CRITICA TEXTUAL do passado deve ainda possuir conhecimento aprofundado da lingua da época. A aquisicio desse conhecimento dé-se efe- tivamente, em especial, pela leivura continuada de textos da época, fidedignamente estabelecidos.A esse propésito, diz Melo (1952: 53): Urge que 0 fildlogo e o lingtiista procurem conhecer @ lingua, isto & 05 textos, € no os gramiticos, muito menos os gramati- ‘queiros: conhecer a ingua, estudando-2 com olhos de técnico ¢ com olhos de artista, Sem divida @ muito mais ficil conhecer meia diizia de compéndios rangosos ¢ sonolentos do que conhe= cer a lingua diretamente, pelos seus documentos e monumen- 105,— 0 que demanda uma vida inteira de devogio,— mas é éte 0 sinico e verdadeiro caminko do filélogo (itélico de Melo). Embora nfo se posa deixar de admitir que as graméti- cas tradicionsis sejam relevantes no estudo de lingua” (pois registram padrdes que atua{rajm de forma coercitiva sobre ela), nio se pode pensar que seu conhecimento 6 suficiente para se saber como a lingua efetivamente foi ou é usada: h, na verdade, nessas gramiticas uma mescla de descrigio de fa tos reais de lingua e de padrdes preconizados, mas nao neces- sariamente adotados pelos autores de textos. Modernamente, no antanto, além da leitura de textos do passado, o conhecimento da Kingua de épocas pretéritas pode ser complementado com a consulta a obras da especialidade, como maniais introdutéros (p. ex., Bueno, 1955; Silva Neto, 1957b; Melo, 1971; Camara Jr., 1976; Teyssier, 1982; Fon- seca, 1985; Castro et al.,1991)" ¢ gramaticas histdricas (p.ex., 10, Para o conhecimento de grarcica da lingua portuguesa de 1500 2 1920, pode- se consular a extensa list prparada por Cardoso (1994: 19-139) [L. Também de itersse sio volumes da Hlstris de gue pertiguta,coordena- dos por Segismand Spina: Sine (1987) Paiva (1988), Morel Pino (1988), Mar- sins (1988), Pinto (1988) e Hlauy (3965). Intaopucko « 55 Nunes, 1919; Said Ali, 1931; Coutinho, 1938; Williams, 1961; Huber, 1986). Aos titulos listados, poderiam ser natu- ralmente acrescentados nao apenas outros relevantes mas tam- bém estudos de tema particular, aqui omitidos em nome da concisio, Nio se pode, no entanto, deixar de fazer mengio aos diciondrios, instrumentos de grande importincia: ha os especi- ficamente etimol6gicos (p. ex., Machado, 1952; Cunha, 1982; Corominas & Pacual, 1980-1991) e aqueles nio necessaria- mente etimolégicos mas de intereste histérico (p. ex., Blu- teau, 1712-1721, 1727-1728; Silva, 1789; Viterbo, 1798; Sil- va, 1813): Como os dicionarios tém sempre suas limitagdes, a consulta a glossizios (que eventualmente acompanham a edi- ‘gio de um texto) costuma ser de grande auxilio: além dos vo- lumes da colegio Diciondrio da Lingua Portuguesa: Textos e Voca- ‘uldrios (Berardinelli, 1963; Gomes Filho, 1963-1964; Pereira, 1964; Rossi, Mota, Matos & Sampaio, 1965; Pereira Filho, 1965; Cunha, 1966; Grillo, 1966; Cunha et al., 1966; e Be- ardinelli & Menegaz, 1968), ha amplos glossérios como do Cancioneiro da Ajuda (Vasconcelos, 1920), das Poesias de Sé de Miranda (Carvalho, 1953), das Cantigas de Santa Maria (Mettmann, 1972), da Vida e Feites de Jilio César (Mateus, 1974-1992) } capiTuLo 2 BREVE HISTORICO DA CRITICA TEXTUAL A historia da critica textual 6 bastante complexa, ¢ no apenas porque suas origens remontam para mais de dois mil anos atrés: seu progresso deu-se através de um conjunto de agées que ora a tangenciavam, ora a abordavam diretamente, além de ter sido exercida historicamente sobre fontes de na- tureza distinta — primeiramente sobre textos pagios gregos e, em seguida, latinos; depois sobre textos religiosos (em espe- ial, o Novo Testamento); , pot fim, textos em verniculo (i.&, em linguas no-cléssicas). Foi, enfim, desse conjunto hetero- génco de atividades que se constisuiram técnicas, se sedimen- taram priticas, se consolidaram métodos ¢, inevitavelmente, se formaram polémicas. Justamente por ser tio complexa, essa historia nio po- deri ser exposta aqui de forma minuciose, restando como al ternativa abordé-la através de algumas de suas figuras mais ‘marcantes. Para falar dessas figuras, serdo retomados aqui al- guns dos dados ricamente coligidos e comentados, em espe- cial mas nio apenas, pot Pffeifer (1998, 1999) e por Reynolds & Wilson (1995). ( ( CeCe’ 38 « usTRODUGHO A calricA TEXTUAL 2.1. DA ANTIGUIDADE A iDADE MEDIA O primeizo grande momento da critica textual, pelo me- nos no Ocidente', situa-se na époce dos primeiros diretores da Biblioteca de Alexendria (sécs. Ill aT a.C) Por ordem de Ptolomeu I, rei do Egito (de 306 2 283 a.C.),se teria constituido na cidade de Alexandria, situada no delta do Nilo, um centro de estudos, oficialmente chamado de Museum (um templo em honra das Musas, portanto), onde se reuniamn estudiosos de diversas areas. Em sua biblioteca, ha- veria jé na primeira metade do séc. IIL a.C. por volta de cen- tenas de milhares de rolos de papiro, aos quais se agregariam posteriormente outros tantos mais em um anexo conhecido como Serapeum. Como nio se sabe quantos volumes seriam parte de apenas uma obra, nem quantos seriam cépias de uma mesma obra, 0 néimeto de titulos existentes na biblioteca constitui um mistério.A destruigdo da biblioteca deu-se em 47 a.C., em um incéndio ocorrido durante a guerra de Jélio ‘César contra o Egito, Dentre 0s diretores dessa biblioteca, destacam-se, no cam- po da critica textual, Zenddoto de Bfeso (c. 325-234 a.C.), Arist6fanes de Bizincio (c. 258-180 a.C.) e Aristarco de Sa- motricia (¢. 216-144 2.) ‘Una das contribuigdes desses alexandrinos, que se dedi- caram em especial 3 obra de Homero, mas nfio apenas, esti na constituigéo de um sistema de critica (gr. BLdpOwarG, i. & “corre¢io”) baseado ra utilizagio de sinais com a finalidade 1 volts de 2800 a.C, a fos enorlteritios) em table- 4, Pfeifer (1998: 18) asinala ue jira antiga Sum vera esponsives pela preseswagdo de textes ice tes de aegil, of quis corrigriam erres de eseibas. 2. Entre Zenddoto e Ariane, também teiam divigido instivigfo os n menos fimnoses Apolinio de Redes Sé.tI.G) e Bratésenes de Cirene (¢ 276-196 a). BREVE HISTORICO DA CRITIZA TEXTUAL # 39 de explicitar seu julgamento quanto A genuinidade do texto, Desde Zenddoto (introdutor do primeiro dos sinais, o ébelo), cese sistema foi cada vez mais se ampliando e, com o passar do tempo, adotavam-se no apenas novos usos para antigos sinais como também novos sinais’. Para se ter uma idéia desse sis- tema, apresenta-se abaixo uma descrigio dele com base no uso que faria Aristarco, extraida de dados fornecidos por Gayo (1979-1980: 21-3), com algumas retificages aqui: 4) bbelo (—): verso apécrifo; ) anti-sigma ( > ): verso deslocado; ©) asterisco (3X): verso incorreto repetido em outro lugar; 4) diple (>): remissio a comertério; €) diple periestigmene ( >: ): verso distinto em relago ao tex- to de Zenédoto e em desacordo com outros comentadores; £) estigma ( * ): verso duvidoso ou suspeito; g) estigma com anti-sigma (x >): verso apés 0 qual se ha- via dado a0 texto nova disposigio; ¢ h) sigma pontuado (C +): verso(s) transferido(s) para outro ponto do texto. Além desses, podem-se citar ainda outros aparentemen- te nfo empregados por Aristarco: 0 cerdunio (I), utilizado por Arist6fanes para assinalar seqiiéncia de versos apéctifos; © anti-sigma com estignsa (> +), enapregado por outro alexan- Grino, AristOhico, para marcar alterag0 na ordem de versos; © anti-sigma periestigmene (+> +), presente em dois manuscri- tos dos sécs. IX-X com a Iitada (Venetus A e Cdice Ve), mar- cando conjunto de versos com mesmo sentido, mas com di- versas formas ¢ de dificil escolha; o dbelo periestigmeno (+), presente no referido Venetus A, indicando correcSes consi- 3. Isidoto de Seviha (570-636 d.C) dedica, em suas Eximolis, uma seco espe- cial (0 cap. XX, intiulado Das sigs das seengas)& desceigio dees snas ¢ de feu valores, 40 « wwrnopuczo A calica rexTUAL deradas acertadas; 0 dbelo com astersco (— x), também no Venetus A, identificando palavras cujo lugar no se acha; e, por fim, 0 asterisco com Sbelo (X—). existente no jé mencio- nado Cédice Ve, marcando supressic de asterisco. Entre os principios que Aristarco pregava no exercicio da exftica, consta 0 de que cada autor & seu melhor intérprete, ou seja, deve-se esclarecer uma passagern com outras passagens do mesmo autor — aspecto este que, de certa forma, anteciparia © tradicional critério do usus sibendi (tratado mais adiante na pp. 156), jf que também era empregado na discussio da genui- nidade de certas formas lingiiisticas dos textos, especialmente homéricos. Como assinalam Reynolds & Wilson (1995: 15-25), deve- se reconhecer que a atuacio dos alexandrinos teve impacto significative sobre a tradicdo dos textos gregos clissicos: no apenas fixaram a forma dos textos de autores comumente li- dos, como também se empenharam na imposigdo dessa for ma como fonte para c6pias posteriores; além disso, criaram auxilios 20 leitor, através de transliteragio de textos em outros alfabetos para o utilizado na época, do melhoramento do sis- tema de pontuacio e da eriagZo de um sistema de acentuagio (este, atribuido a Aristéfanes). As dificuldades na fixagio de textos fidedignos levaram-nos ainda a elaboragio de comen- trios para discutie problemas e propor interpretages: por isso, mesmo que certos estudiosos nio tenham produzido edigdes cxiticas a0 longo de sua vida, podem-se ver suas contribui- ‘Ges para a critica textual, em alguns casos,na discussio de va- riantes textuais em seus comenticios, Convém lembrar ainda que 0 sistema alexandrino, bascado em sinais e em comenti- rios, fol importante para assegurar a -ransmissio 4 posteridade do que existia (mesmo do que nfo fosse tido na época como genuino), pois, em vez de suprimirem ou modificarem 0 que considerassem nio-genuino, apenas o assinalavam. DREVE HISTORICO DA CRitIcA TEXTUAE « 41 Rivalizaria com 5 alexandrinos o estdico Crates de Ma- los (c 200-140 a.C.), diretor da Biblioteca de Pérgamo (ci- dade da antiga Asia Menor, atualmente territério turco), pro- vavelmente fundada por ordem do rei Eumenes If (197-159 4.C.). Comentador de textos de Homero, Crates diferiria de Aristarco em suas leituras e interpretagdes. Sua oposicio, alis, se consubstanciaria em uma das grandes controvérsias lingiiisticas da Antiguidade (cf. Robins, 1983: _5-7): 0s ale~ xandrinos defendiam 0 principio da analogia (organizacao re- gular da lingua), enquanto os estéicos sustentavara o principio da anomalia (organizacio suscetivel a irregularidades). Natu ralmente essas concep¢Ges refletiam-se no estabelecimento dos textos do passado: Gayo (1979-1980: 20) assinala que Aristarco tera preferido as formas analégicas no estabeleci- mento do texto homérico, regularizando a forma dos lexe- mas e das desinéncias nominais e verbais. No mundo romano, merecem especial atencio Marco Te- rincio Vartio (116-27 a.C.) M. Valério Probo (20-105 4.C.), embora L. Elio Estilio (sécs, II-T a.C.), que teria realizado es tudos sobre Plauto nos moldes alexandrinos, patega ter sido © primeiro dos latinos a empregar os sinais criticos alexandri- nos. Varrio, dentre cujas contribuigées esti o estabelecimento do canon das pegas de Plauto tidas como genuiras, reservava em seu paradigma de estudo do texto um espaco proprio para © exercicio da critica:é o que se depreende de sua divisio des- se estudo, de acordo com Elia (1995: 83), em lectio (leitura ex- pressiva), enamatio (explicagio das passagens obscuras), emen- datio (revisio € corregio) e iudicium (comentitio litersrio), sendo que a emendatio era especificamente definida, segundo Reynolds & Wilson (1995:30), como recorrectio ertonum qui per scripturam dictionemve fiunt (i. 8, \corregio dos etres que se fa- zem pela escrita e pela digo”). 42 w INTREDUGKO A ERITICATEXTUAL Avangando no tempo, deve-se citar Origenes (185-253, .C):€ de sua autoria uma adaptacio do Antigo Testament, chamada de Hexapla, na qual empregou sinais como os dos alexandrinos ao comparar excertos gregos € hebraicos. Se- gundo Reynolds & Wilson (1995: 54), seu trabalho anteci- paria, de certa forma, o sistema de aparato critico atualmen- te empregado, pois apresentava 0s textos e suas tradugSes em colunas paralelas. Ainda considerando 0 texto biblico, nio se pode deixar de mencionar Sao Jerdnimo (c. 347-420 d.C.), ‘0 qual,a pedido do Papa Damaso («. 305-384 d.C)) por volta do ano de 382, preparou uma versio latina revista da Biblia baseada em antigos manuscritos gregos, a qual, conhecida como Vilgata (vulgata editio = edicao popular), foi conside- rada o texto legitimo pela Igreja Catélica a partir do Con cilio de Trento (1545-63), Segundo Metager (1992: 153), Jeronimo seria um critico textual mais sagaz do que Ori- genes, estando realmente ciente das variedades de erros que surgiam na transcrigo de manuscritos, o que se verifica atra~ vvés de sua mengio 4 poxsibilidade de confusio de letras simi- lares, confusGo de abreviaturas, ditografias ¢ haplogratias (res pectivamente, repeticio e supressio de partes iguais em uma seqiiéncia), troca de lugar de letras, asimilacSes, transposigdes ¢ emendas deliberadas de escribas*. Mas € 0 bizantino Demétrio Triclinio, que viveu em Tessalénica entre 1305-1320, quem deveria, na opiniio de Reynolds & Wilson (1995: 79), ser considerado o precursor dos editores modernos, pois executou busca de novos ma~ nuscritos para melhorar 0s textos com que lidava, registran— do em notas as diferentes leituras dos testemunhos que con- 4. Uni rea desergio a tdenicad livro segundo So JerOnime,incuindo-se 0 pro- eto de corres, apresentada por Aros (1993) BRAVE HISTORICO DA CRITICATEXTUAL « 43 sultara e acrescentando de préprio punho uma boa quanti- dade de aiteragées. 2.2, DO RENASCIMENTO AO SECULO XIX Segundo Pfeifer (1999: 42), teria existido na Itilia renas- centista uma cadeia de cinco geracdes de estudiosos, compa~ ravel & dos alexandrinos. Na primeira geragio, encontra-se Francesco Petrarca (1304-74), que teria aberto caminho para © ressurgimento da critica textual: sua especial admiragio por autores latinos levou-o no apenas a localizar e transcrever textos, mas também a tentar restituiclos onde achasse estarem, corrompidos; nos casos em que teve z oportunidade de com- parar dois manuscritos de um texto, registrou variantes € emendou passagens. A essa mesma geracio, pertenceu Boc- caccio (1313-75), que nio chegaria a exercer a critica textual com a mesmia sofisticagio de seu contemporaneo, restringin- do-se 3 recuperagio e & tradugio de obras de autores latinos. ‘Na segunda geragio, insere-se Coluccio Salutati (1331-1406), que, além de ter sido um colecionador ativo de manuscritos, mostrou notivel conhecimento das formas como os textos se haviam corrompido e realizou contribuigdes para a criti~ ca textual (como, p. ex., através de corregdes de textos). Na terceira geragio, encaixam-se Niccold Niccoli (1363-1437), infatigivel na coleta e cépia de manuscritos realizada de pro- prio punho, que os comparava ¢ organizava em pargrafos com adigio de titulos; e Poggio Bracciolini (1380-1459), avi- do cagador de manuscritos, que tentava, em suas c6pizs, pro- duzir um texto legivel, corrigindo os erros dbvios dos copis- tas, Na quarta geragio acha-se Lorenzo Valla (1407-57), res~ ponsavel por um passo decisivo na reintrodugao da critica textual: criticou ferozmente os esforgos de seus contempor’- neos em restaurar textos corrompidos,e realizou, ele proprio, 44 w INrRODUGHO A cRITICA TEXTUAL suas emendas; tendo comparado 0 texto do Novo Testamiento da Vulgata de Sao Jerénimo com ¢ texto grego e com textos patristicos, assinalou-Ihe os erros. No final dessa cadeia,jé na guinta geragio, situa-se Angelo Ambrosini (1454-94), tam- bém chamado Poliziano. Este, que se dedicou no apenas a0 mundo latino mas também ao grego, ter sido 0 primeiro a realizar comparagdes integrais de manuscritos, registrando cuidadosamente notas na sua c6pia, Insstia na importincia do comhecitento dos melhores manuscritos como defesa contra as conjecturas precipitadas de seus contemporaneos: segun- do ele, devia-se partir do estado mais antigo recuperével de uma tradigio. Antecipou o principio da eliminatio codicum des- criptorum (cf. explicagio na p. 146) através do estudo da rela- ¢do de manuscritos com a obra de Cicero, ¢ igualmente com a de Valério Flaco. Reynolds & Wilson (1995: 138) assinalam que, assim como houve estudiosos escrupulosos nesse tempo (em especial, no séc. XV), existiram também aficionados cujos limites de for- magio devem ter propiciado deturpagdes nio-intencionais no processo de corre¢io dos textos: haveria a tentagao de os embelezar, de produzir textos legiveis e elegantes —razio pela qual se devem utilizar com precaugio testemunhos des- sa época. A pattit de fins do séc. XV, dif nde-se a imprensa de tipos miéveis, © que certamente teve impacto sobre o processo de transmissio dos textos. Mas, segundo Pffeifer (1999: 50), nam primeiro momento nio teria gerado progresso real no esta belecimento de textos, jf que freqtientemente se publicava tum texto extraido de um manuscrito ~ nio necessariamen- te o melhor— sem o editar:se, por um lado, possibilitava a cir- culacio e a integracio de textos aas acervos particulares em constituigo, por outro, estaria difundindo textos ruins. A im- pressio de textos latinos foi no principio mais intensa do que a de gregos: deve-se a Aldo Manurio (1449-1515), admira- dor ¢ impressor de obras de Poliziano, uma considerével par- te de primeiras edigdes em grego (de texto em latim, apenas uma primeira edigio) em sua oficina na cidade de Veneza. Um dos colaboradores de Manuzio foi o cretense Marco Musuzo (1470-1517): em sua atividade de editor, teria com- parado manuscritos, organizando seus diferentes tipos de ¢s~ COlios através de selegdes e combinag&es para cue pudessem ser impressos; ademais teria realizado correges, eventual men- te se excedendo, ja que, na edicio de um poema de Mosco, teria incluido seis versos de sua propria autoria para sanar uma lacuna, Enquanto, no passado, a critica alexandrina se centrara principalmente em textos homéricos, a partir ce Desiderius Erasmus (¢, 1469-1536), de Rotterdam, passa a receber espe- cial atengio a critica neotestamentétia, embora a critica bibli~ a ji tivesse sido abordada com especial rigor anteriormente por Valla. Erasmus, que também se ocupou da edicio de varios textos gregos ¢ latinos, publicow sua edicio do texto grego do Novo Testanento cm 1516, na oficina de Froben na\cidade da Busiléia, Nao tendo conseguido nenhum manuscrito com 0 texto grego completo do NT, teri empregado mais devum tes- temunho para certas partes, mas a base tera sido dois manus- cxitos da biblioteca monistica da Basiléia, dative's do séc. XII (pertencentes & chamada Tradigio Bizantina, considerada 2 mais recente e mais pobre (cf. Aland & Aland, 1995: 4). Como o testemunho com 0 Livro da Revelagio (i. é, 0 Apocalipse) esta va mutilado, traduziu o trecho final (cap. 22, vets. 16-21) para 5. Segundo lembra Meter (1992:98),a primeira imprestio do Nav Teament,er- teeinto, inka acorrido como parte da Biblio Paligta (com texto hebraio,ate- ‘maico, grego elatine)realzads em 1514,na cidade espanhole de Alalé de Hema see at. Compt). a - ) 46» inTRODUGAO A CRETICA TEXTUAL © grego a partir da versio latina da Vilgata. O texto de Eras- mus tornou-se a base das edicSes que se sucederam, de for ma tal que acabou serdo considerado, por muito tempo, 0 texto padrio do Novo ‘Tistamento ~ especialmente a edigo pu- blicada em 1550 por Robert Etienne (1503-59) —, a0 qual se costuma referir como textus receptus. Essa designagio, de acordo com Metzger (1992: 105-6), derivaria de uma passa- gem, dirigida ao leitor, presente na segunda (de 1633) das edigdes do NT realizadas pelos irmios Elzevir na cidade de Leiden: Textum ergo haves, nunc ab omnibus receptum: in quo ni- Ail immutatum aut comuptum damus (. 6,°"Tens entio um tex- to, agora por todos recebido, no qual nada apresentamos de alterado ou corrompico”). ‘Ao que parece, seria do italiano Francesco Robortello (1516-67) a primeira tentativa de se redigir um breve manual de critica textual: sua dissertagdo De Aste Sive Ratione Corri- _gendi Antiquorum Libros Disputatio (Padua, 1557) trata de ques- tes como o valor dos manuscritos antigos, prineipios que regem a arte da conjectura, classificagio das emendas. ‘Na Franga do séc. XVI, destacaram-se no campo da criti- ca textual figuras como Henri Etienne (} 1598), Adrien Tur- ndbe (1512-65), Denis Lambin (1520-72) e Joseph-Juste Scaliger (1540-1609). Henri, filho do ja mencionado Robert, foi um fecundo editor, tendo publicado 74 textos gregos (18 deles, pela primeira vez), 58 latinos e ainda 3 hebraicos. Se- gundo Pfeifer (1999: .09), diversas edigdes suas tornaram-se textos bisicos por dois séculos ou mais, sem necessariamente terem constituido uma vantagem para os estudos clissicos, pois nio seria um editor verdadeiramente critico ¢ cuidado- so. Jé Tarnabe foi diretor da Imprensa Real e publicou di- versos textos gregos ¢ latinos, sendo uma de suas mais im- portantes obras de crisica a misceldnia Adversarionum (Paris, 1564-1565), em que corrigiu e explicou diversas passagens REVE HISTORICO DA ERITICATEXTUAL de autores antigos. De acordo com Reynolds & Wilson (1995: 168), mesmo tendo seguido o método de corrigir tex- tos com base em outros testemunhes da sua época, Tarnébe viv a necessidade de se utilizarem manuscritos mais antigos e melhores que os geralmente empregados nas primeiras im- ptessGes; ademais, é admirado por sua intuicao, bom jufzo talento para a conjectura. Lambin, por sua ver, publicou uma grande colegio de textos latinos, tendo produzido edigoes, como a de Lucrécio, que se tornaram referéncia até a de Lachmann (no séc. XIX). Scaliger, que preparon importante edigio de autores como Festo ¢ Marilio, aplicou-se especial- mente na edicio da crdnica de Eusédio, baseando-se em ex- certos bizantinos ¢ em Sio Jerénimo, cujos erros corrigiu: déncias posteriores (em especial, a publicagao de uma versio arménia quinhentista de Eusébio em 1818) viriam a confir- mar o trabalho de Scaliger. De acordo com Reynolds & Wil- son (1995: 170-1), Scaliger teria, em sua edicio de Catulo, tentado provar que, pela natureza das corrupgdes nos manus- critos, todos eles descenderiam de um mesmo, antecipando assim a tradicional nogio de arguétipo; entretanto, sua atitu- de critica acentuada levou-o a equivocos e excessivas liberda- des em relagio aos textos transmitidos. Embora nfo tenha deixado legido tio marcante como 08 quatro acima citados, Isaac Casaubon (1559-1614) seria também digno de mengio, pois contribuiu especialmente para 0 progresso do conhecimento da obra Os Caracteres, de Teofiasto, através de sua segunda edisZo, publicada em 1599, na qual acrescenton cinco outros caracteres até ento des- conhecidos. Segundo Pffeifer (1999: 122), seria bastante con servador no exercicio da critica textual, insistindo sobretudo na autoridade dos manuscritos, sem, entretanto, temer con- Jjecturas mais ousadas, 48 » wrnopucho A ca Tica TexTUAL Nos sécs. XVI e XVII, na Holanda, destacar-se-iam outros estudiosos: tal é 0 caso de Wilhelm Canter (1542-75), Joest Lips (1547-1606), Frangois de Maulde (1536-97), Huig de Groot (1583-1645), Gerard Johann Vo8 (1577-1649) e seu fi- lho Isaac VoB (1618-89), Daniel Heins (1580-1655) e sen filho Nicolaas Heins (1620-81), Johann Friedrich Gronov (1611- 71) e seu filho Jakob Gronov (1645-1716). Destes merecem especial mengio os quatro primeitos, pois, segundo Pfeifer (1999: 129), os outros teriam contribuido mais em termos de ampliagao e de consolidagao do cenhecimento jé constituido até entio do que em termos de originalidade. De Canter, editor de textos, em especial, gregos, tera sido a segunda ini- ciativa de redago de um manual de critica textual: trata-se do ensaio De Ratione Emendandi Scriptores Graecos Syntagma Basiléia, 1566), no qual apresenta classificagao sistemética dos diferentes tipos de erro em textos gregos, distribuidos em classes como confusio de letras, divisio equivocada de pa- lavras, omissdes, adigdes, transposicdes, assimilacio ou m4 compreensio de abreviaturas. Segundo Reynolds & Wilson (1995: 173), esse tratado, apesar de sistematizar os erros, apre~ sentaria pouca coisa nova para os grandes criticos de sua épo~ ca. Ja Lips realizou importantes edigdes de autores gregos (como Euripides, Séfocles e Esquilo) e latinos (como Séneca, Técito, Lucano e Claudio), destaccndo-se ainda por ter con- centrado seus estudos na postura politica desses Gltimos au- vores. De Maulde, tendo se dedicado & edigo de textos lati- 1s, insistia em ser a conjectura sozinha inatil e perigosa, em dever haver um equilibrio adequado entre a autoridade do manuscrito e a correcio ¢ ainda em ser a recensio uma tare- fa preliminar essencial para a edicio, De Groot editou Luca 10 € Silio Itélico, ¢ publicou conjecturas sobre obras de Sé- neca eTicito. Ainda no séc. XVI, viria a lume outra obra que também discutia questées de critica eextual: trata-se do tex- [BREVE HISTORICO DA CRITICA TEXTUAL # 49 to De Arte Critica (Nuremberg, 1597), de autoria do alemao Kaspar Schoppe (1576-1649) Em fins do séc. XVII foram publicadas as obras do fran- cfs Richard Simon (1638-1712), considerado por Metzger (1992: 155) o responsivel pela fiandamentagio cientifica da critica sobre 0 Novo Testamento: uma de suas mais importantes obras foi a sua Histoire Critique du Texte duu Nouveau Testament (Rotterdam, 1689) ¢ dentre suas contribuigdes estava a con- vicgdo de que o rastreamento da historia de textos antigos de- veria ser a base para a avaliago dos manuscritos e para a cons- tituigdo de um texto verdadeiramente critico. Airda nesse pe- iodo, deve-se mencionar o suico Jean Le Clerc (1657-1736), © qual formulou, na sua obra Ars Critica (Amsterdam, 1697), uma primeira versio do principio a que se chama atualmen- te de lecto diffcilior (cE. explicacio na p. 154). CCertamente constitui figura de destaque em principios do séc. XVIII o inglés Richard Bentley (1662-1742), cuja pro~ dugio editorial foi rica, abarcando autores como Calimaco, Horicio, Teréncio Manilio, Segundo Pffeifer (1999: 155), no haveria paralelo para Bentley em termos de critica con- jectural na histéria da critica textual. Um exemplo de sua ousadia conjectural esti, como informa Reynolds & Wilson (1995: 179), na fibula da raposa, de Horacio (Epistolas, 1.7.29): insistindo que a raposa (lat. vulpecula) nlio come gris, propu- nha como leitura esquilo (lat. nitedula), desconsiderando que a raposa teria sido escolhida por ser animal representativo de avidez, independentemente de suas caracteristicas natu- rais. Dentre suas contribuicdes esti a elucidagio do sistema métrico de autores latinos de drama, o que teve conseqiién- cias revolucionirias para o estabelecimento de seus textos. Embora tivesse projeto de realizar uma nova edigao do Novo ‘Tstamento, nio através de reproducio do textus receptus com 50 « uvrkopuGhe A caitIcA TExrUAL modificagdes, mas sim através de reconstrugio baseada nos ‘mais antigos manuscritos gregos, no conseguiu concluf-lo e publicé-la, A tarefa de realizar outra edigdo do Novo Testamento, indo além do textus receptus, foi retomada sucessivamente por tr8s alemies: Johann Albrecht Bengel (1687-1752);Johann Jakob ‘Wetistein (1693-1754) 2 Johann Jakob Griesbach (1745-1812). Suas edigdes do Novo Testamento foram publicadas, respecti- vamente, em 1734 (Tébingen), em 1751 (Amsterdam) ¢ em 1775-1777 (Halle). Extre suas contribuigdes esto os textos em que apresentaram e defenderam 0s principios a serem adotados na edigio do Novo Testamento: de Bengel, ha o Guo mon Novi Testamenti (Tiibingen, 1742); de Wettstein, os Pro~ legomena ad Testamenti Graeci Editionem (Amsterdam, 1730); € de Griesbach, © Prefico 4 sua segunda edigo do Novo Testa- mento (Londres/Halle, 1796-1806). Em fins do séc. XVIII, uma das figuras de destaque na edi- Glo de textos clissicos foi o alemio Friedrich August Wolf (1759-1824), Tendo se concentrado especialmente nas obras de Homero ¢ Platio, pablicou Prolegomena ad Homerum (Flal- le, 1795), obra em que se encontra a primeira tentativa metd- dica e seguramente embasada de reconstrugio da hist6ria de um texto antigo. Seguado assinala Pfeifer (1999: 174), Wolf, pretendia fornecer a base para um julgamento sobre o valor dos manuscritos com 0 texto de Homero ¢ para a constitui- 40 do texto que intencionava publicar, mas chegou & con- clusio de que seria impossivel reconstituir o texto tal qual te- 6. A primeisa tentative de organinar os peincpios em forma de lista sntxca parece re ‘montar ao preficio ds edigSo n0 Neve Tesomento (Amsterdam, 1711), de Gerhard vor Maestriche, onde we aprezen:ma 43 regrat Litas moderns de pinelpios ds extica ‘eetual neotszamentiis podem ser consltadss ern Merger (1992: 205-11) e And {a Aland (1995: 280-2), xempos serio apresentados ma segio 6.1.2.1 mais aan, DREVE HISTORICO DA CRITICATERTUAL w SI tia saido das mios do seu autor, sendo, porém, possivel tentar reconstituir o texto alexandrino, ou seja, 0 texto que os ale xandrinos haviam fixado no sée. Ill a.C. 2.3. EPOCA MODERNA, Certamente apenas apés as experigncias editorais que se realizaram ao longo de tantos séculos, foi possivel a consti- tuigdo de métodos mais rigorosos para a fixacdo de textos. Deve-se ao aleméo Karl Lachmann (1793-1851) a apre- sentagio de uma sintese dessas experiéncias passadas, is quais também se agregaram suas proprias contribpicdes. Essa sin- tese, um marco na hist6rie da critica textual, constitui 0 que se passou a chamar de método lachmanniano, no, qual a exitica do texto estaria dividida em duas partes: recensao (lat. recen- sie) © a emenda (lat. emendatio). Seus principais trabalhos foram a edigio do Novo Testamento (Berlim, 1831) ¢ a do De Natura Renum (Berlim, 1850}, de Lucrécio, em cujo preficio externa~ liza sua doutrina. De acordo com Timpanaro (2002: 77-8), 0 método de Lachmann engloba um conjunto de critérios especificos para a recensfo: 1) 0 reptidio da vulgata’ e a exigtncia de nio se recorrer irregularmente aos cédices, mas de os empregar como fun damento da edigao; 2) a desconfianga em relagio aos cédices da época hu- manistas 3) a reconstrugio da histéria do texto e, particularmente, das relagdes genealégicas que ocorrerem entre o$ manuscri- tos que subsistiram; &,da forma do exto que pasiow 2 ser reprodusida sucessvamente desde at primeins edigSes (Timpanaro, 2002: 3). 52 inropucho A cAiTica TEXTURE 4) a formulagao de critérios para determinar mecanica- mente, sem se recorrer a0 juizo (lat. iudicium) do editor, qual, dentre varias ligdes, remonta 20 arquétipo. Embora quase todos esses critérios jé tivessem, de algu- ma forma, sido antecipados pelos seus predecessores, seria © quarto acima listado a sua contribuigdo mais pessoal, na opiniio de Timpanaro (loc. ct.).A orientagio proposta por Lachmann foi objeto de refinamentos e retificagdes por dois outros grandes estudiosos: Paull Maas (1880-1964), na sua ‘Texthritk (Leipzig, 1927);e Giorgio Pasquali (1885-1952), em sua Storia della Tradizione e Critica del Texto (Florenga, 1934) © modelo lachmanianno de critica textual foi especial- mente ctiticado, quase meio século depois, pelo francés Jo~ seph Bédier (1864-1938). Embora tenha seguido 0 método de Lachmann em sua primeira édi¢io (de 1890) do poema medieval de Jean Renard, Lai de I’ Ombre, Bédier rejeitou-o 20 realizar a segunda (de 1913), convencido de que o méto- do anteriormente seguide conduzia quase sempre 4 distribui- ‘io do conjunto de manuscritos a uma tradi¢ao de ramos bi- fidos, o que praticamente inviabilizava a escola mecinica de variantes (bascada na prevaléncia numérica).Tendo retomado a classificagio dos manuscritos para sua segunda edigio, de~ monstrou ser hipétese plausive] nfo apenas a classificagio dos manuuscritos jé anteriormente proposta por ele, mas ainda outras tantas clasificagdes. Em fungdo disso, defendeu o mé- todo de se editar um texto com base em um “bom manus- crito”, publicado quase sem retoques ¢ acompanhado de no~ tas que marcam, segundo afirma o >r6prio Bédier (1928: 177), um retorno na dire¢io da técnic: dos antigos humanistas. ‘© método proposto por Bédier no escapou, porém, de severas criticas, tendo sido particularmente contestado por Henri Quentin (1872-1935) em seus Essais de Critique Tex- elle (Paris, 1926), mas foi reiterado logo em seguida pelo BREVE HISTORICO DA CRITICA TEXTUAL « 53 préprio Bédier em seu famoso La Tiadition Manuscrite du Lai de LOmbre: Réflexions sur l'Art d’Eaditer les Anciens Textes (Pais, 1928). Quentin, que se ocupou especialmente do texto da Vulgata de Sio JerOnimo, acentuaria ainda mais o aspecto me- cinico da selegdo de variantes a0 fandamentar sua proposta em dados estatisticos, enfitizando ainda a distingo entre ori- ginal e arquétipo, Nas palavras do proprio Quentin (1926: 37) Empenho-me, entio, em retirar a critica editorial do terreno do original para a levar ao do arquétipo dos manuscritos con servados. Rejeito, desde o primeiro minuto, todo olhar dire- cionado & ligio primitiva. Nao reconhego nem erros nem fal- tas comuns, nem boas nem mids lig&es, mas somente formas diversas do texto, bascado nas quais, por um método que se apéia em estatisticas rigorosas, delimito inicialmente as fam{- lias, depois classifico os manuscritos no interior de cada uma delas € finalmente as familias entte si. Dessa clasificagio re- sulta um canon critico que impée, para o estabelecimento do texto, uma regra de ferro ¢ assim logro reconstituir 0 arqué- tipo que, em suma, éa forma do texto a mais préxima do ori- ginal A qual se pode chegar por meio dos manusc:itos conser- vvados (traducio nossa). Embora a critica textual moderna tenha acabado por se polarizar fundamentalmente entre 0 método de Lachmann © o de Bédier,a investiga¢io na 4rea nio tem cessado desde entio e uma extensa e fecunda bibliografia de orieatacdo cada vez mais teérica tem sido publicada. Pode-se dizer, no entan- to, que uma das caracteristicas mais marcantes da critica tex- tual moderna é a especial atenglo dedicada a tex:os em lin- guas vernaculares, jé que, pelo menos até fins do séc. XIX, havia énfase senio exclusividade — em relagZo a textos pro fanos e sagrados em linguas classicas. Dentro dessa orientacio de buscar a especificidade metodoldgica da edicdo de textos y yey \ S$ « tneRODUGKO A CRITICA TEXTUAL em Iinguas modernas, encaixa-se, p. ex.,a chamada Teoria do ‘Txto-Base (ing. Copy- Ted) apresentada por Greg (1950-1951), cujo impacto na edigdo de textos de autores americanos foi discutido por Tanselle (1987). 2.4, A CRITICA TEXTUAL EM PORTUGAL E NO BRASIL Pouco se sabe ainda sobre a pritica de edigio de textos, em lingua portuguese anterior a fins do séc. XIX, data a par tir da qual essa atividade passa a ser realizada de forma mais rigorosa, Num sentido mais ato, pode-se dizer que mesmo 0s co- pistas medievais ensaiavam um certo tipo de edi¢o, porque eventualmente faziara, p. ex., comparagio de fontes para a realizagio de novas cSpias, ainda que seja bem provavel que utilizassem critérios de escolha de variantes bastante subje- tivos, sendo arbitrérios.A utilizagio de mais de um modelo para a cépia (fendmeno tradicionalmente chamado de con- taminagio) verifica-se, p. ex., na tradi¢ao da versio medieval portuguesa da Vida de Santa Maria Egipclaca: segundo Sobral (1993: 672-3), a cép.a existente no céd. ale. CCLXX/461 Gerivaria da cépia em portugnés do céd. ale, CCLXVI/462 corrigida com base na versio latina presente no c6d. ale. CCLXXXII/454. Com o advento da imprensa, textos em lingua portu- guesa passaram 2 vir 1 lume impressos. Segundo Silva Neto (1957a: 281-8), 0s impressores erarn pouco féis is suas fontes. ‘Tendo comparado a cbpia" subsistente da tadugio portugue- sa do Vita Christi, otra composta por Ludolfo da Saxénia, 8, Sve Neto devera ear se efrindo ses cis ol, CCLACLIX/451, CCLAXX/452 © CCEXXXI/453:0 primi datado de 1445, ¢ os outos dois dative do mesmo ano ou de 1446 (€f Lorenso, 1993: 685). BREVE NISTORICO DA CRITICA TEXTUAL « 5§ com a versio impressa de 1495, verificou, além de inevitiveis saltos e transposigées, o propésito de se modernizar o texto. Bis alguns exemplos de variago ertre a cépia de 1445 ¢ 0 impresso de 1495, respectivamente: carega x carga; gram x gram~ de; poroétas x peronhétas. Tal situagio persistiria, de forma ge- ral, nos sécs. XVI, XVII ¢ XVII. Nio seria exagero dizer, portanto, que a realizagio de edig&es rigorosas de textos em lingua portuguesa comecaria em fins do séc. XIX: & nessa época que parece fazer-se pre- sente o impacto da consolidacio dos métodos modernos de digo; além disso, havia pouco a filologia portuguesa tinha passado a seguir uma abordagem ciensifica mais estabelecida: Vasconcelos (1929: 886) considera como inauguragio des se periodo cientifico a publicagZo, em 1868, de A Lingua Por- tugueza: Phonologia, Etymolagia, Morphologia e Syntax, de Fran- cisco Adolfo Coelho (1847-1919), Mesmo que se tente descrever a pritica editorial de textos ‘em lingua pormguesa somente a partir desta época, ainda as sim nio é possivel delinear um quadro suficientemente ni- tido,e por uma razio em especial: natureza difusa dessa pré- tica. Parece ser quase norma, pelo menos no dominio lus6~ fono, que a pritica editorial tenha sido exercida —e ainda 0 seja~ por um conjunto fortemente heterogéneo de pessoas afeitas a0 mundo das letras, cuja atuagiio nfo raramente se res tringe & edigio de somente uma obra, Naturalmente 0 tra- balho de edigio é suficientemente complexo ¢ extenuante para justificar restrigdes quantitativas,mas o que salta aos olhos & a descontinuidade: nio se trata apenas do problema de se editar um nimero restrito de obras, mas sim de nao haver produgio sistemitica e, além disso, sob a responsabilidade de especialistas. Se, nos primérdios da abordagem mais cientifi- ca dos estudos lingiiisticos e critico-textuais no ambito lus6- fono, essa heterogeneidade era fruto inevitivel da delimitagio 156 « metnoDugho A enitica TExTUAL de novos campos ¢ da constituigao de novas abordagens, jé em pleno séc. XI sua permanéncia é surpreendente e segu- ramente néo constitui beneficio para o progresso na rea. A propésito da referida heterogencidade em fins do séc. XIX, interessante o comentario de Prista & Albino (1996: x4), a0 justificarem o método de organizacio de seu catélogo sobre fildlogos portugueses entre 1868 ¢ 1943: Por vezes é forgado falar de filbloges; seria melhor, por exem- plo,‘poligrafo que publicou sobre lingua’; ou ‘etndgrafo que coligiu dados com interesse para a linguistica’; ou ‘historiador que fez publicagies fdveis de texios medievais'; na cronologia procurimos deixar representados esses contributos, muitos de~ les obras filologicas tnicas do seu autor. Disso resulta que nio parece ser possivel filar-se em gran- des “escolas” em termos de pritica de edigdo de textos em Iingua portuguesa no mundo lus6fono. De forma geral, pode- se considerar, porém, que a atividade de critica textual tanto em Portugal como no Brasil apresenta, no minimo, dois gran- des perfodos: um primeiro, que vai de fins do séc. XIX até aproximadamente meados da década de cingiienta do século seguinte; e um segundo, dessa época em diante. O que per- mite estabelecer essa divisio € 0 fito de, até por volta dessa época, a atividade editorial ter sido quase sempre fruto de ages individuais, enquanto, apés 2ssa data, comecou a se ¢s- truturar em equipes/projetos e a se institucionalizar. Na faixa de tempo do primeiro periodo (aprox. de 1870 a 1955), vieram a lume edigdes ce estudiosos como Epifé- nio Augusto da Silva Dias (1841-1916), Carolina Michaélis de Vasconcelos (1851-1925), José Leite de Vasconcelos (1858- 1941), José Joaquim Nunes (1859-1932) e Joseph-Maria Piel (1903-1992) em terras portuguesas; ¢ como Jodo Ribeiro DREVE HISTORICO DA-ERIFICA TEXTUAL # 57 (1860-1934), Manuel Said Ali (1861-1953), Oskar Nobiling (1865-1912), Alvaro Ferdinando Sousa da Silveira (1883- 1967), Augusto Magne (1887-1966), Aurélio Buarque de Holanda (1910-1989), Carlos Henrique da Rocha Lima (1915-1991), Serafim da Silva Neto (1917-1960), Gladstone Chaves de Melo (1917-2001) ¢ Olmar Guterres da Silveira (1922-1999), em terras brasileiras ‘A passagem de um perfodo para o outro nfo se dew cer tamente de forma abrupta, pois ha estudiosos cuja produgio editorial j4 havia se iniciado antes de meados da década de cingiienta ainda se estendeu a depois dessa data, constituin- do assim um elo de ligagdo entre esses perfodos: encaixam-se nese caso, em Portugal, Manuel Rodrigues Lapa (1897-1989) ¢ Luis Filipe Lindley Cintra (1925-1991); e no Brasil, Celso Cunha (1917-1989), Dos que publicaram suas edigdes apenas apds meados da década de cingiienta, convém apenas citar aqueles aos quais se deve prestar homenagem péstuma (ji que a produgio dos ‘especialistas em atividade é facilmente localizével): deixaram especial contribuigao, em Portugal, José de Azevedo Ferrei- za (1942-1995); e no Brasil, Silvio Elia (1913-1998), Anté~ nio Houaiss (1915-1999), Darcy Damasceno (1922-1988) ¢ Emanuel Pereira Filho (1924-1968). ‘Apés meados da década de cingiienta, passaram a existir iniciativas mais sistematicas de edigio de textos dos dois lados do Atlintico. Em Portugal, destaca-se a atividade editorial do Centro de Estudos Filolégicos, que j& havia sido fimndado em 1932 € que passou a se chamar Centro de Lingilistica da Universida- de de Lisboa a partir de 1976; foram publicadas por esse centro diversas edigdes de textos medievais (cf., p. ex.,a edigio dos Foros de Castelo Rodrigo por Cintra, 1959), Como fruto da atuagio de Lindley Cintra, formaram-se, direta e indireta- mente, pesquisadores que atualmente realizam edigées em di- aD > NmODUGO A CRITICA TEXTUAL ferentes campos, abarcando textos medievais e modernos,li- terdrios e nio-literdrios (neste diltimo caso, com énfase em fontes para o estudo da histéria da lingua portuguesa). Natu ralmente a atividade editorial portuguesa nio esteve restrita 20 referido Centro de Lingistica, havendo também impor- tante produgao na 4rea em outras instituigdes, em especial a Universidade de Coimbra e a Universidade Nova de Lisboa. ‘Jano Brasil, 6 a partir de meados da década de cingiienta que comeca a se institucionalizar efetivamente, nos centros de ensino superior, a ativ.dade editorial: embora historicamente a producio estivesse concentrada em instituigdes dos estados do Rio de Janeiro (UERJ, UFF e UERY), de Sio Paulo (USP) eda Bahia (UFBa), aps meados da década de oitenta expan- diu-se também para cutras instituigGes, tais como PUC-SR, UEP e UFMG. Particularmente produtiva no Brasil foi a década de ses senta: datam dessa épcca duas grandes iniciativas editoriais — 2 Comissao Machado de Assis e a colegio Dicionério da Lingua Portuguesa: Tectos e Vocabulérios. A Comissio Machado de Assis foi institutda em 19 de se~ tembro de 1958 ¢ 0 seu primeizo fruto foi a edigio critica de Memérias Péstumas de Brds Cubas, publicada pelo Instituto Na- cional do Livro em 1950, tendo outros titulos sido publicados mais tarde pela Civilizagao Brasileira em 1975. O trabalho realizado pela referida Comisséo atingiu um tal grau de ex- celéncia que sua orientagio passon a ser paradigmatica para a edicio de autores brasileiros (para conhecer 0 método se~ guido, pode-se consultar a introdugio ao texto das Memérias publicada em Houaiss, 1959). A colegio Dicionénio da Lingua Portuguesa: Textas e Vocabu- lérios, organizada ¢ ditigida por Anténio Geraldo da Cunha (1924-1999), tinha como objetivo “promover a publicaga0 de textos portuguéses pouco conhecidos em edges fis, ¢, bem DBREVE HISTORICO OA CRITICA TEXTURL « 59 assim, de vocabulétios das obras de autores de iingua portu- guése” (Berardinelli, 1963: 9). Embora nio se tenha seguido, a0 longo dos nove volumes publicados de 1963 a 1968 (cf. lista na p. 35 deste livro), um padrio uniforme de edigao,a presenga de fac-similes propiciava ao leitor um instramento precioso de consulta ‘Também foi partir da décad: de sessenta que aparece- ram, no Brasil, os trés Gnicos manuais introdutérios & critica textual publicados em lingua portuguesa’ e voltados para seus problemas: os Elementos de Bibliologia (1967), de Houaiss; In- todurio a Edbica: Crftica Textual (1977), de Spina; e a Iniiagio em Critica Textual (1987), de Azevedo Filho. Como precurso- ra desses mannais, havia sido publicada a obra TExtos Medievais Portuguéses e seus Problemas (1956), de Silva Neto. A partir de meados da décadz de oitenta, duas grandes reas passam a estimular a atividade editorial tanto em Portu- gal quanto no Brasil:a lingiiistica historia e a critica genética A retomada dos estudos diacrénicos fomentou uma ati- vidade editorial voltada para uma abordagem mais conser~ vadora, justificada pela necessidade de edigdes adequadas 20 eseudo lingiistico. Como fruto dessa corrente tém-se editado especialmente textos nao-literdrios tanto em Portugal (cf., p-ex., Maia, 1986; Martins, 1994; ¢ Emiliano, 1996) quan- to no Brasil (cf., p. ex., a edigdo de cartas baianas do séc. XVIII, Lobo, 2001) Paralelamente, difandiu-se nos dois lados do Adlintico a chamada oftca genética, que se ocupa da génese dos textos lite- rarios com base na documentacio deixada pelos autores. Essa abordagem tem impulsionado particularmente o estudo da 9. Hi jf, porém, raduaidor para o portugués 0 manual de Laufer (1980), baseado em. textos em lingua Bances,¢ 0 de West (2002), volado para textos em grego €lt~ ‘im ~ ambotoriginalmente produsidos no inicio da década de setents, (60 « wwTRODUGKO A CRITICA TEXTUAL tradi¢ao de obras literérias, bern como a realizagio de edigdes genéticas, ou seja, com registro de variantes textuais de res~ ponsabilidade do préprio autor. Dentre as atividades relacio- nadas a esse campo, destacam-se, ro Brasil, a constituigao da Associagio dos Pesquisadores do Manuscrito Literario em 1985, os diversos encontros que serviram como forum de dis- cussio para pesquisadores em edigio de textos (anais publica~ dos em Encontro, 1986, 1990, 1993, 1995, 2000a, 2000b, 2002) e ainda a criagdo da revista Manusentica, da referida associagiio. Em Portugal, por volta dessa mesma época, constitui-se a chamada Equipa Pessoa (em junho de 1988), 2 qual se res- ponsabilizaria pela edi¢ao das obras de Fernando Pessoa (1888-1935). Segundo informa Cistro (1990:31), adotou-se como modelo editorial o da edigio artico-genttca (... enquanto artica esta edigio procura fixar um texto mais autorizado (isto é, mais préximo da vontade reconstituivel do autor); enquanto genética, procuras documentar © percurso se- guido pelo autor na construgio ¢e cada texto. Por iniciativa da Association Archivos de la Littératuze Latino-Américaine, des Caraibes e: Afvicaine du XX@ Sidcle Amis de Miguel Angel Asturias, sediada na Universidade de Paris X (Nanterre) e vinculada 4 Unesco, tém sido publicadas edigdes criticas de obras em lingua portuguesa, na sua Co- lego Archivos: até o presente momento jé foram publicados sete titulos", mas no plano geral atual consta a previsio de um 10, Auores braileitos: Manan, de Mécio de Andrade (yl. 6, 1988) A Pano = indo C: H., de Clarice Lispecioe (vol. 13,1988); rice do Care Auassneda, de Scio Cardoso (vol. 18, 1991}: Tse Fon de Polar Quarima de Lima Barreto (Gol. 30, 1997); Libewinagem: Escwle da Masha, de Manel Bandera (vl. 33, 1998); Cese-Grande & Senzels, de Gilberto Freyre (vol. 55,2002), Autor porta- sgude: Menage: Poona: Exotics, de Fetnando Pessoa (ol 28, 1993). DREVE HISTORICO DA CRITICA TEXTUAL # 61 total de dezenove titulos. Discussdes de pesquisadores en- volvidos nessa colecio, realizadas em seminiio no ano de 1984, foram publicadas em Segala & Tavani (1988). Para concluir, nfo se pode deixar de mencionar duas gran- des fontes de contribui¢io para a constituigio do patriménio ecdético em lingua portuguesa: os historiadores € os pesqui- sadores estrangeiros. Tanto em Portugal quanto no Brasil, houve um signifi- cante niimero de historiadores que se ocuparam da edi¢io de textos: em Portugal, podem-se citar nomies como Jodo Pedro Ribeiro (1758-1839), Alexandre Herculano (1810-1877), Pe- dio de Azevedo (1869-1928), Rui de Azevedo (1889-1976), Joao Martins da Silva Marques (1894-192?) ¢ Avelino de Je~ sus da Costa (1908-2000); no Brasil, Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878), Joaquim Norberto de Sousa Silva (1820-1891), Joo Capistrano de Abreu (1853-1927), Eugé- nio de Castro (1869-1944), Rodolfo Gatcia (1873-1949) e José Honério Rodrigues (1913-1987). Jano caso de estrangeiros, cuja contribuigio se refere ge- ralmente a textos medievais, podem-se citar nomes de italia- nos como Ernesto Monaci (1844-1918), Giuseppe Tavani, Luciana Stegagno Picchio, Giuliano Macchi, Giulia Lancia- ni, Valeria Bertolucci, Aurélio Roncaglia; de alemies, como ‘Walter Mettman; de americanos, como John M, Burnam (1864-1921), Henry H. Carter, Richard D. Abraham, Joseph H.D.Allen Jr; ainda do suigo Henry R. Lang (1853-1934) Obviamente os dados acima arrolados dio apenas uma vvaga imagem de experiéncias editoriais em lingua portugue- sa, j4 que uma lista completa seria demasiado longa, pois, come jase disse aqui antes,a produgio editorial tem sido nor- smalmente bastante difusa. Considerando, no entanto, ser de grande utilidade para aqueles que se interessam pela critica textual conhecer mais r o > A - co a 62 w INTRDDUCKO A eRETICA TEXTUAL detalhadamente a pritica de edigdo de textos em lingua por- cuguesa, lista-se aqui uma selego de textos que historiogra- faram os estudos filolégicos do portugués e/ou que tratam da edigdo de textos: Vasconcelos (1929: 839-919; 1959: 223-6), Veiga (1955: 63-76), Silva Neto (19572), Elia (1963: 157-232), Naro (1976: 77-9), Hoaiss (1980: 12-5), Pinto (1982: 175- 87), Lima (1992: 144-58), Spina (1994: 77-80), Azevedo Fi- tho (1998: 19-44), Bittencourt (1998: 171-84), Telles (1998: 39-58) e Megale & Cambraia (1999: 1-22). CAPITULO 3 A TRANSMISSAO DOS TEXTOS 3.1. CONCEITOS BASICOS Considerando como é complexa a histéria que um tex- to pode ter no processo de sua transmissio ao longo dos tem- pos, convém apresentar e definir alguns termos que permitam tratar desse tema com maior precisio. ‘Chama-se aqui de obra qualquer produto do engenho hu- mano, com finalidade pragmética ou artistica, Dentre os tipos possiveis de obra, interessa aqui o texto: obra fundada na lin guagem verbal, podendo existir em forma sonora (exo oral) e/ou grifica (texto escrita). Cada registro de um texto escrito constitui um festemu- nnho, que pode ter sido fixado pelo proprio autor (¢estemunho autdgrafe), por outra pessoa mas com supervisio do autor (tes- temunho idiégrafe) ou ainda por outra pessoa sem supervisio do autor (testemuutho apégraf'). Nos dois primeiros casos, pode- se dizer ainda que se trata dos originais, pois registram efetiva- 1.18 equdionor que chamam de apps spent a princi ceprodufonfo-aut- ad um teemnho agro, defini eta nfo adotadn 29 64» meracDUGAO A cAITICA TexTUAL mente a vontade do autor em fiungio do controle exercido pelo proprio de forma direta (test. ant6grafo) ou indireta (test. idiégrafo); j& no terceiro caso, diz-se que se trata apenas de uma dépia?.Ao testemunho utilizado como fonte na producdo de uma cépia, chama-se de modelo ou antigrafo. Levando-se em conta a natureza do processo de registo dos. textos, 0s testemunhos sio tradicionalmente classifica~ dos em manuscritos (registrados por meio de instrumentos de escrita tradicionais como pena, lépis, caneta, etc.) € impressos (registrados por meio de algum tipo de sistema mecinico de impressio). Modernamente devem-se reconhecer duas no~ ‘vas categorias de testemunhos: os detiloscritos (registrados por meio de maquina de escrever) e 05 digitoscritos (registrados por meio de computador). Embora tanto os datiloscritos como os digitoscritos sejam lavrados através de um teclado, © proceso dé-se de maneiza distinta: um datiloscrito preser- via, sobre 0 papel, as marcas de intervencio na sua elaborago (rasuras e corzeges), enquanto 0 digitoscrito geralmente nio (normalmente nao aparecem na tela do computador as mo- dificagdes realizadas no processo de constituicdo do arquivo com 0 texto) — razdio pela qual convém diferencié-los. Esses testemunhos podem, porém, ser novamente registrados atra- vvés de mecanismos distintos dos que lhe deram origem: en tretanto, mesmo que um datiloscrito seja digitalizado, p. ex., ‘como imagem, continuaria sendo um datiloscrito (ainda que ‘em formato digital), pois o sistema de registro originalmen- te utilizado foi datilogrifico; da mesma maneira, umn digi- toscrito, cujo suporte original & digital, pode ser registrado em papel através de impressoras, mas sua origem primitiva como digitoscrito nio muda. 2. Sabe-te qe, eventuslmente, um sutor pode reproduzie de préprio punhosem ale ‘ergdesintencianais um original su: casos como este so chamados aqui de or- ae cnn. ATRANSUISSKO DOSTEXTOS « 65 3.2. A PRODUCAO DO LIVRO MANUSCRITO Como jf se esclareceu, um manuscrito constitui um dos tipos de registro escrito de um texto. Os manuscritos podem Circular em folhas avulsas, mas podem também se apresentar na forma de um conjunto organizado e unido de folhas, a0 qual se pode chamar de liv, Para se entender melhor como se faz. um livro manuscrito, convém conhecer os materiais empregados, suas formas tradicionzis de organizagio ¢ ainda os procedimentos seguidos no ato de cépia em si do texto, a) Materiais Na produgio de um livro manuscrito, constituem elemen- tos basicos as matérias subjetiva, aparente e instrumental. + Matéria subjetiva ‘A matéria subjetiva constitui o suporte material para a escri- ta, Pode-se dizer que, de forma geral os livros manuscritos tém como suporte uma (ou mais) das trés seguintes matérias sub Jetivas: papiro, pergaminho e papel? O papi era produzido através da unio de finas léminas extraidas do talo de uma espécie vegetal (Cyperus papyrus) co- mum as margens do Nilo, Sobre uma tabua tamida, essas lami- nas eram colocadas umas ao lado das outras em uma dada di- regio € em seguida, em cima dessa camada, colocava-se outta camada no sentido perpendicular, formando um retingulo, Apés ter sido prensada e secada ao sol, essa folha retangular era polida para se obter uma superficie mais lise. A data de sua invengio parece ser bem recuada, pois encontrou-se ji '3. Eras no so, prém, 2 Gnicas matérias empregadas como supocte a0 longo de histvia sabecse da wilaagio de pedras, meta, sto, marfim, ebuae de madeira {encereds), agi, dente virias outs. 66 INTRODUGHO A cRITiCA TEXTUAL um rolo de papiro em branco na tumba de um dignitirio egipcio da I Dinastia ‘c. 3000 a.C.). Os fagmentos de papi- ro com texto em grego mais antigos de que se tem noticia sio attibuiveis ao séc. IV a.C. Teria sido empregado no mi- nimo até o séc. XI, pois subsiste ainda documento, nesse su- porte, do Papa Leio IX, datado de 1051 pergaminho consiste de pele animal, da qual se elimi- nam a parte mais externa (a epiderme) e 2 mais interna (a hi- poder), restando, assim, a parte intermedisria, que é fibrosa (@ denne), Sua claboracio seguiria,grosso modo, as seguintes eta- pas: molho em Agua corrente, liberagio da epiderme através de cal, eliminagio dessa camada, raspagem da hipoderme, ten sionamento da pele, aisamento para a tornar mais fine, po- limento com pedra-pome ¢ operagdes de acabamento. Em fangio da diferente natureza das partes em contato com a derme, os pergaminhos apresentam a face pélo (originalmen- te em contato com a epiderme) e 2 face came (originalmente em contato com a hipoderme). Os animais de que se extraia a pele era normalmente bezerro, cabra e carneiro/ovelha: 0 tipo de pergaminho segundo o animal chama-se, respectiva- mente, charta vitelina, caprina © montonina/ovina, O emprego desse suporte também é bastante recuado no tempo, jé que hé mengio a ele desde a [V Dinastia (c. 2700-2500 a.C), sendo © exemplar com texto grego mais antigo datavel de II a.C. Segundo Plinio (Hist Nat., XIII, 21), 0 termo pergaminho Gerivaria do nome da cidade de Pérgamo: 0 rei Eumenes II teria inventado esse stporte para solucionar a falta de papi- ro resultante da proibicio de sua exportagio por Ptolomeu Epifinio, que invejarie a Biblioteca daquela cidade. O papel constitui um suporte de natureza vegetal: sua fa= bricagio dava-se no passado através de um processo de ma- ceramento de elemento vegetal (como, p, ex.,trapos de linho) colocado em agua até a obtengio de uma pasta fina, 3 qual ATRANEMISSAO DOS TEXTOS « 67 podem ser acrescentadas substincias aglutinantes e branquea doras, Uma porgio dessa pasta era colocada sobre uma tela formada de moldura de madeira com trangado de fios de metal mais grostos e distantes uns dos outros na diregio ver- tical (os pontusais) ¢ de outros mais finos e proximos entre si na dirego horizontal (as vergaturas). Escorrida a 4gua, a limi- na de pasta que se formava era posta sobre um feltro para se~ car; uma pilha de liminas sobre o feltro poderia ser colocada ‘em uma prensa para serem alisadas. Por volta de 1280, passou- se a entrelagar no trangado da mencionada tela fios em forma de figuras (mio, estrela, ancora, etc:),0s quais deixavam sobre a limina de papel sua marca, perceptivel contra a luz: a cha- mada marca-d’dgua ou fiigrana’.A invengio do papel costama ser atribuida a um oficial do imperador da dinastia Han, cha- mado Tsi Lun, no ano 105 4.C. (os testermunhos mais anti gos conhecidos, porém, datam de 137 d.C.). O papel teria sido introduzido na Europa através dos érabes e, desde 1151, {ja baveria uma oficina de papel na cidade de Jitiva, 20 sul da Espanha. Em se tratando de manuscritos lavrados em Iingua portu- guesa (que comecam a aparecer por volta dos sécs. XII-X1M), as matérias subjetivas bésicas so 0 pergaminho e © papel. Segundo informa Dias (1994: 29), mais antigo documnen- to portugués em papel, conservado, é uma atesta¢io notarial do tabelido da cidade de Seda, escrita em 23 de margo de 1268, a qual se encontra no Arquivo Nacional da Torre do ‘Tombo (Mosteiro de Aleobesa, maso 44, n. 117 (4]) em Lisboa. Esse dado relativiza a proposta de Peixoto (1982: 92), segundo 2 qual 0 uso do papel em Portugal remontaria ao reinado 4. A ligram, elemento de grande iportinca na datapio ¢ localiacio de eesteme ‘hos em papel, foi eatalogada por Briquet (1907). 68 w inrRouGho A cRITICA TExTUAL de D. Dinis (periodo de 1279 a 1325): sua afirmagio deveria se basear no mais antigo documento em papel conhecido até entio, que era uma folha de inquirigSes datada da Era (His- pinica) de 1326 (ou seja, 1288 da Era Cristi) mantida no Ar- quivo Nacional da Torre do Tombo (Casa da Coroa, gaveta 20, ‘mao 10, n. 5).De qualquer maneirz, foi determinacio do re- ferido rei, promulgada em 1305, que 0s tabelifes escrevessem suas notas em papel e no em pergaminho, como se fazie até entio. O primeiro moinho de papel em Portugal teria sido instalado em Leiria no ano de 1441, embora se saiba da con- cessio de autorizagio real, em 1411, para sua construgio jun- to a0 rio Lis. Em fungdo da escassez de papel em terras lusita- nas, recorria-se em especial a produto proveniente da Franga. A transformagio da indastria do papel, de artesanal em ma- nufetureira, se daria apenas na pastagem do séc. XVIT para o XVIIP. + Matéria aparente ‘A matéria aparente consiste propriamente na finta. Esta compe-se basicamente de elementos com as seguintes pro- priedades: corante (responsivel pela cor do pigmento), solven~ te (responsivel pela liberagio do pigmento em uma solugio liquida), aglutinante (esponsivel pelo ligamento homogéneo dos componentes da solugio liquida) e fixador (responsivel pela adesio da solugio sobre o suporte). (Os elementos que faziam parte da tinta poderiam ser de origem vegetal (p. ex., noz-de-galra, azeite de oliva, vinho bbranco, goma-ardbica), mineral (p. ex.,sulfato de ferro) e ani- mal (p.ex., mel, clara de ovo). Havia no passado dois tipos bé- sicos de tinta:a de carbon e a ferro-gdica; mas era também pos- 5. InformagSas mais sstemivicas sabre © papel em Porcogal podem ser obtidas ain h em Ataide ¢ Melo (1926) ATRANSMUSSAO DOS TIKTOS # 69 sive] um tipo misto, composto de elementos comuns a essas duzs.A tinta de carbono tinha base orginica, por isso nfo so- fia oxidagio nem redugio, mas, pelo fato de nio reagir nem penetrar profandamente no suporte material, borrava com fi~ cllidade. J4 a tinta ferro-gélica, que parece ter predominado 1na Europa ocidental na Idade Média, compunha-se geralmen- te de elementos como noz-de-galha (resina liberada por cer- tas arvores), Viteiolo (sulfato de cobre ou ferro) € oma. Esse segundo tipo de tinta, por apresentar propriedade céustica, sola corroer a matéria subjetiva, o que era ainda favorecido pela sua oxidagio. ara secar a tinta depois de utilizada em um texto, empre- gava-se pé de madcira, limalha de cobre ou areia fina. De acor~ do com Santos (1994: 55), 0 uso de areia fina é ainda visivel em cédices portugueses do séc. XVI em diante. Sua ago so- bre o suporte material costuma ser desastrosa, provocando, es- pecialmente no papel, danos grandes ¢ irreversiveis, + Matéria instrumental ‘A matéria instrumental consiste no instnumento que registra «a escrita sobre o suporte. Sobre suporte duro, que era o caso da argila ou da tébula encerada, utilizou-se o estilo (pequena has- te de metal ou 0:80). Sobre o suporte brando, que é 0 caso do papiro, do pergaminho e do papel, empregaram-se 0 pincel (formado originalmente por um talo de junco com as fibras esgarcadas na ponta), 0 célamo (talo de cana seca) ¢a pena de ave (preferencialmente de ganso) para distribuir a tinta, Segundo Santos (1994:37),a pena de ave teria sido o instrumento pre~ dominante na época medieval no Ocidente peninsular, em- bora haja indicios do uso de célamo nos sécs. VIN-XI. $6 a partir do séc. XIX é que se difundem novos instrumentos como a pena de aso, a caneta-tinteiro, a caneta esferogrs- fica, 0 lapis, dentre outros. YI y d 4 70 # iwtRoDUcAO A cRITICATEXTUAL ‘Além dos trés elementos bisicos acima descritos, deve-se Jevar em conta também o emprego de outros elementos au- xliates na confecgio do livro manuscrito, tais como tinteiro, raspador, esponja, régua, compasso, grafite, pungZo, et. 6) Tipologia do livro manuserito Os livros manuscritos apresentaram-se historicamente em duas formas principais: © volume e 0 cbdice. © volume (at. volumer) consistia em um rolo composto de folhas, normalmente de papiro, coladas umas 3s outras pelas Jaterais, formando uma longa seqiiéncia em cujas extremida- des se colocavam bastdes que serviam para, simultaneamente, desenrolar e enrolar com cada uma das mios. Com a substituigo da matéria subjetiva de papiro para pergaminho, visbilizou-ce uma nova forma de livro, imple- mentada entre os sécs. Il ¢ IV d.C.: 0 ebdice (lat. codex). Em ver de serem coladas pelas extremidades como antes, as folhas eram dobradas 20 meio, formando um bifli,e colocadas umas dentro das outras, constizuindo assim um conjunto a que se cchama de cademo. Os cadernos eram costurados pelo vinco da dobra, unindo-se uns aos outros e também a uma capa cons- tituida de um material mais firme, como, p.ex., placas de ma- deira. O formato do cédice decorria do sistema de dobragem utilizado para se obterem os bifélios: quando se dobrava a fo- tha de pergaminho ou papel uma vez, obtinha-se um bifélio no formato in-folio; dobrando duas vezes, obtinham-se dois Difdlios no formato in-guarto; trés vezes, quatro bifélios no formato in-octavo;¢ assim por diante. Um caderno poderia ser formado de apenas um bifélio, constituindo assim um singu- lério; com dois bifélios, um binio; trés, témio; quatro, quaterno; cinco, quinio; seis, sénio; etc. ATRANSAISSHO DOS TEKTOS # 71 Procedimentos no ato de cépia (O elemento-chave da produgio do livro manuscrito é cer- tamente o copista, embora participem de sua confecgio outros agentes, como 0 chefe de ateli8,o revisor, 0 rubricador, o ilu- minador (ou miniaturista) e 0 encadernador. copista normalmente realizava sua tarefa com base em um testemunho jf existente, a que se pode chamar de mode- bb, Segundo esclarece Dain (1975: 21-2), as cépias por ditado seriam casos excepcionais, pois 2 iconografia do passado (p, ex.,a3 miniaturas) retrata, via de regra, um testemunho escri- to ante 0 copista ¢, além disso, apenas a existéncia do mode- lo permitiria 0 exercfcio da caligrafa. Apesar de se constatarem registros visuais em que 0 co- pista faz uso de mesa para apoiar a matéria sobre que escreve (cf. figura 4 na pigina seguinte), geralmente escreveria sobre a face de um bifblio (ainda nio encadernado) posicionado so- bre uma tébua por cima de seus joelhos. Percebe-se assim que © ato de cépia seria muito fatigante, no apenas pela atengio que demandaria mas certamente também pela propria posi- io de execugio do trabalho —algo que se confirma por no- tas como a seguinte, registrada por um escriba do séc. VIII: © quam’gravis est scriptura: oculos gravat, tenes fragt, sinnul et omnia membra contristat. Tria digita scribunt, totus corpus laborat* (Wattenbach, 1958: 283). O inicio do trabalho do copista dava-se com a obtengio de um modelo, provavelmente escolhido pelo chefe do ate- lig e passivel de mudanga mesmo depois de iniciado 0 pro~ 6." Oh, quo frduo & excrever:incomods os elhos,quebra os ins de igual maneic aba ‘te todos os membros Tits deo eereven todo o corpo trabalha”(raduglo nos) 72 wiwTRoDUGAO A GRITICA TEXTUAL Figura 4 ~ Detathe da letra inicial iluminsda do f6l, 1r do mas. 621, da Biblioteca Municipal do Porto, com a Biblia (Fonte: Miranda eo, 1999; 263) cesso de cépia. O copista ficava a caigo da reprodugio de um ‘ou mais textos presentes no exemplar que servia de modelo ou ainda de textos distintos provementes de diferentes mo- delos. Sendo fiel 20 modelo, o copis:a reproduz todos os ele- mentos nele presentes, até mesmo a subscrigio ¢ a assinatura daquele que havia exarado © proprio modelo. A origem he- terogénea de um cédice, porém, é passivel de ser destrincha- da;segundo Dain (1975: 29), um filélogo profissional deve se esforcar para identificar,em um manuscrito de textos mescla- dos, as partes distintas que constituiam primitivamente um mesmo modelo. Mais de um copists poderia realizar 0 pro- cesso de reprodugio de um modelo, consecutivamente ou pa~ ralelamente. Neste diltimo caso, chamado de cépia 4 peria, os cadernos de um mesmo modelo eram distribuidos para dife- rentes copistas 0 reproduzirem ao mesmo tempo. Depois de estabelecido o pautado da pagina, determinan- do a extensio da mancha, o nimero previsto de linhas e de colunas, o copista reproduzia o texto do modelo, deixando es- 1pagos para os outzos agentes do processo: 0 mubricador, que in- seriria com tinta vermelhe titulos e letras capitulares, e 0 ilu ATRANSMISSAO DOS TEXTOS « 75 minador, que acrescentaria imagens as letras capitulares e/ou 40s espagos reservados para as miniaturas (representag&es pic téricas, geralmente relacionadas a0 contecido do texto). Es- pecial aten¢io merecem as letras de espera (pequenas letras dei xadas junto a grandes espagos a serem preenchidos com as capitulares): a desatengio em relagio 3 sua forma ou mesmo a sua auséncia poderiam confndir 0 rubricador ou o ilumina~ dor, resultando na insereio de uma letra distinta da presente no modelo, ou seja, na alteragio do proprio texto, Nao rara- mente agia ainda nesse processo o revisor, assegurando a fide lidade da c6pia, Considerando que a cépia, via de regra, era feta em bifé— lios (folhas dobradas) que seriam unidos posteriormente em cadernos, utilizava-se um. conjunto de recursos para se assegu- rar a corregio na ordem de cépia das paginas ¢ na ordena~ Gio dos bifdlios e dos cadernos. O reclamo consistia na parte de uma palavra, em uma palavra inteira ou ainda em um gra- po de palavras que se colocava, fora da mancha, direita da margem de pé da pagina, repetindo o que deveria estar no inicio da coluna, pagina ou caderno que se seguiria. Para in~ dicar a ordem dos cadernos, empregava-se 2 astinatura, que consistia de elemento de natureza alfabética ou numérica. 3.3. A PRODUGAO DO LIVRO IMPRESSO Um segundo tipo de registro de um texto escrito € 0 impresso. Tradicionalmente costuma-se utilizar termo edi- go pata nomear o conjunto de impressos obtides através de sistema de reprodugio mecanica (geralmente em série). A cada um dos impressos produzidos em uma mesma leva de reprodugio mecfnica (ou seja, uma mesma tiragem) di-se 0 nome de exemplar. Quando 2 mesma matriz usada para im- primir uma leva é reutilizada em uma nova leva, esse novo 74 WwIRODUCAO A cAITICA TEXTUAL Figura 5 ~ Fé 42r do mu, Hum. 123 da Biblioteca Nacional de Lisboa, ‘com a Crinia de D. Fernendo, de Pernio Lopes (Fonte: Biblioreco, 1988) oral efor ‘eae ghefern it nicer nen fees es Shion comopumspespainas Saco ieee eee erect a ATRANSMSSAG DOS THXTOS » 75 conjunto de exemplares 6 chamado de reimpressio ou nova firagem. Se, no entanto, a matriz empregada anteriormente & desmanchada e uma nova matriz é composta para a im- pressio de um novo conjunto de exemplares, tem-se assim uma nova edigio ou reedigéo. Embora tecnicamente 0s termos reimpressio e reedigao se refiram a realidades distintas, verifi- ca-se que, na pritica, costumam ser utilizados indevidamen- te de forma intercambiavel: para a critica textual, porém, & capital diferenciar quando dois exemplares impressos per- tencem a uma mesma edigdo (sendo frutos de uma mesma ‘matriz) ow a edigdes diferentes (derivando de matrizes distin- tas). Sabe-se ainda, entretanto, que, durante o processo de im- pressio, eventualmente se faziam modificagdes na propria ma trig, sem, no entanto, se destruirem os exemplares jé impres- s0s antes das referidas alteragSes: disso resulta a produgio de exemplares, em uma mesma leva, que nio sio idénticos uns aos outros, caso em que se diz haver diferentes estados de uma mesma edigao. Um caso interessante de edigio com mais de um esta- do para texto em lingua portuguese é o relatado por Sousa (1955: 103). Na 2! ed. da obra Poesias completas, de Machado de Assis, impressa na Franga a mando da Livraria Garnier, 0 tipégrafo substituiu um e por a no trecho “cegara 0 juiz0”, presente no preficio, Para sanar 0 erzo, um funcionério da casa editorial raspou o a € escreveu ananquim o e nos exem- plares disponiveis ¢, além disso, a editore providenciou a im- pressio de nova folha, jé com texto retificado, a qual foi subs- tituéda nos exemplares ainda em produ¢io; entretanto, antes de se verificar 0 erro, exemplares j haviam sido vendidos. Desta forma, percebe-se que a 2* ed. circulou em trés esta- dos: um com 0 erro, outro com o erro raspado ¢ retificado a nanguim, e ainda um terceiro ja sem o erro (devido & subs- tituigo da folha). 76 » wrnopugho A.calrica TexTuAL No sistema artesanal de produgio do livro impresso,a pri- meira fase era a composigdo: tratava-se do processo em que © compositor, com base em um modelo (manusctito ou impres~ so), montava tipograficamente as réginas. Seu trabalho con- sistia em pegar, no caixotim (estrutara dividida em segdes), cada uum dos tipos necessétios para former uma linha de texto € em 08 colocar no componedor, utensilic formado de lamina com rebordo em Angulo reto. Um tipo era um bloco, de base de madeira e frente de metal ou todo de metal, em cuja fren- te havia, em alto-relevo, o desenhc (invertido) de uma letra. Depois de composta, cada seqtiéncia de tipos era transferida para a galé (bandeja retangular de tés rebordos), sendo cada linha separada pela intermediacdo da entrelinha (uma limi- na fina, mais baixa que os tipos, que servia de alinhador para a seqiiéncia de tipos) ¢ todas conjentamente amarradas, for- mando assim uma chapa. As chapas eram engradadas em uma moldura retangular, a rama, constituindo dessa maneira uma forma ow matriz, Figura 6 ~ Matriz é montada (Fonte: Gaskell, 1995:79) ATRANSMISSHO DOS TEXTOS « 77 ‘A segunda fase era a impressio, processo em que se marca, sobre uma folha (geralmente de papel), 2 imagem da matriz. Sobre 0 ménmore (mesa de superficie lisa de pedra ou madeira), era colocada uma forma, a qual se entintava com a bala, instru mento de madeira em forma de funil invertido, Em seguida, colocava-se uma folha sobre essa forma entintada ¢ descia-se a latina (pega plana de ferro revestida de almofada), fzenco com. que a folha ficasse com a marca dos tipos da matriz, Para se im- pprimir 0 verso das folhas era necessério esperar que secassern. Na figura 7, representando uma oficina de impressio se- gundo Estradano (Antuérpia, 1600), é possivel ver, & esquer~ dz, 05 compositores diante de caixotins e, 4 direita, a prensa manual, com a platina jé abaixada. No processo de composi¢io da pagina, muitos dos recur- sos empregados no sistema de copia manuscrita foram man- Figura 7 ~ Oficina de impressio (c, 1600) (Fonte: MeMureie, 1982: 248-5) O 78 inrRoDUGhO A CRITICA TEXTURE tidos, de forma tal que é possivel reconhecer, mesmo em tex tos impressos, element2s como capitulares, reclamos ¢ assina turas. Confira-se a figura 8, na pigina seguinte, na qual se re- prodixz 0 recto do folio 20 da primeira edi¢ao da Peregrinagio de Fernio Mendes Pinto, publicada em 1614 (na décima linha da primeira coluna hé a capitular ornada P; na margem de pé da segunda coluna, hé a assinatura C4 — ou seja, terceiro caderno (C), quarto bifolio (4) -; mais para a direita vé-se © reclamo cas, silaba com que comega 0 verso desse félio). 3.4, TIPOLOGIA DOS ERROS No processo de traasmissio dos textos é inevitavel a ocor- réncia do err, entendido aqui como modificagéo nio-autoral do texto. Considerands que o objetivo fandamental da criti- ca textual é 0 de restituir a forma genuina de um texto, ou seja, o de eliminar todos os erros que foram paulatinamente incorporados a um dado texto, é de grande valia compreen- der sua natureza, Segundo lembra Blecua (1990: 19-20), os erros tém si- do classificados no processo de cépia de varias formas. Hi, ex, classifica baseada nas categorias modificativas aris- totélicas, segundo a qual existiriam quatro tipos possiveis: por adigao (lat. adiectio}, por omissdo (lat. detractatio), por alte~ ragéo da ordem (lat, ransmutatio) ou por substtuigo (lat. immu tatio). Outra distribui os erros em categorias como: visuais, mnemdnicos, pscolégicos ou mecdnicos; proposta esta recatego- rizada por Roncaglia (1975:104) em erros de leitura, de me- morizagao, de ditado inierior ou de execugao manual. Esta alti- ma categorizagio tem nitida rela¢io com a forma como se analisa 0 processo de cépia em si: Dain (1975: 41) descreve~ © como composto de quatro operacSes fiandamentais (conco- ATRANSMISSAO DOSTEXTOS «79 Figura 8 ~ Fél. 20¢ da Percrinasio de Ferno Mendes Pinto Fonte: Pino, 1995) Fen Mee, Pins 1 spormimploprcieredo,e if gem, te ney mindawntedo RUE pene Eeisimewo dan as fo pours bors. or novarvene sure ha me et Ripare do mr Mee ‘iterate comm do Ose, da CAP. XX. ogminte dora emcee igtiaterenens icketcaee meg ted rogecraiet te Seta maine Pee greta inbeaince: Ricken peers ssoeeheie emai Reeeenomlte Tee coeiigeate Gereemc Suniay Sciebeee: Gurwen Re eed eens Geet tien conmetiisrene amen tetas Sigpaisomes aaechoorra ineincbes Latinas mica Goer Sohne Evecueesne mitaaeer Eiieeemeoes poomumore tee lke ities Hmaer anna Fabcrmanite Nehsseact EEISeee BEbeeaiiam pee mitantes na pritica), a saber, leitura do modelo, retengio do texto, ditado interior € manejo da mao. Dentee os erros que teriam origem na primeira das quatro operagées fiindamentais mencionadas (letura do modele), encai- xam-se aqueles que podem ser chamados de paleogrdficos: estes 80 inrRODUGHO A cRIT-cA TEXTUAL derivam de dificuldades encontradas pelo copista na decifra- ‘gio do modelo. Segundo Roncaglia (1975: 106-7), esses eros sio particularmente comuns quande se transcreve um mode- Jo cuja escrita difere daquela a que o copista esta habituado. Para 0 referido estudioso, casos de substituigio de grafe- ‘mas/fonemas nio constituiriam, na verdade, simples mé leitu- 1a de um dado grafema por outro, mas sim de uma palavra por outra, jf que o copista realizaria conjectura sobre qual deveria sera palavra cuja decifracio lhe estacia escapando, baseando- se, p.ex., em palavras que lhe sio familiares. Em razio disto, erros de simples troca de um grafema por outro ocorreriam de fato em nomes préprios, onde 2 conjectura ¢ mais dificil Interferéncias oriundas de idiosincrasias dos copistas ve- rificam-se nio apenas na leitura do modelo, mas também na propria etapa de retengio do texto (ou seja, de sua memoriza~ ‘¢40)-De acordo com Dain (1975: 44), & durante essa operagio gue ocorreria uma boa parte de modificagSes em que inter vém conceitos familiares 20 copista. Seria atribuivel a0 momento do ditado interior a maior parte dos exros de cépia, segundo Dain (1975: 44): 0 copista dita para si internamente o texto que vai escrever, mias 0 faz segundo sua propria forma de o pronunciar, Neste caso de vern-se incluir as modificagées corso as devidas & alaglossia (copista que fala uma lingua ¢ transcreve texto em outra — como parece ter sido 0 caso dos copistas do Cancioneiro da Va- cana © da Biblioteca Nacional, possizelmente italianos) ou & diacronia (copista que fala uma dada lingua e transcreve tex- to, da mesma lingua, mas de época distinta). Por fim, também na quarta das operagdes mencionadas ~ a execugio manual ~ & possivel ocorrerem erros: no traga~ do das letras, um copista pode se equivocar, p. ex., omitindo algum trago ou deslocando-o para outro ponto semelhante da palavra. ATRANEMISSKO DOS THXTOS « 81 © exame minucioso dos erros mostra que é possivel perceber certos padres por tris dos quatro tipos bisicos de alteragio (adigao, omissao, alteacao da ordem € substituigao). Vi rios desses padres so explicitados por Blecua (1990: 20-30) ‘em sua extensa anilise de erros baseada em testemunhos es~ panhéis, da qual aqui se apresentam as categoria: tratadas: 8) Por adicat i, adigéo de um fonema por atragio de outro anterior ‘0u posterior da mesma palavra ou da palavra contigua; ii, adigdo de uma silaba por repetigio; iii, adigo por repetigio de uma palavra ou uma frase breve's © iv. adigio de um sinénimo. b) Por omissio: i, omissio de um fonema ou de uma letra; ii, omissio de uma silaba ou palavra idéntica ou muito si- niilar & contigua’ fii, omissdo de uma palavra por exto de ditado interior; jv. omissio de uma frase ou de um verso por homeote~ leuto, ©) Por alteragio da ordem: i, alteragio da ordem de fonemas; ii, alteragdo da ordem de palavras;€ ii, alterago da ordem de versos € de estrofes. 4) Por substituicao: i, substituigdo de um fonema por atragdo de outro pré- ximo; ii, substituigo por atragio de uma palavra igual na mes ma pericope’, 7. FenBmeno + que se chama de degra 8. Fendaieno 2 que se chama de heplagra 9, Seqilénea do texto lids no modelo, que seri copings Cc a 5 ) 82 arRoDUGAG A cRITICA TEXTURE iti, substituigo dz uma palavra ou fiase por outra da pe- Ficope seguinte ou préxima; i, substitui¢ao de fonemas por desconhecimento histé- rico do copista; ¥. substituigao de uma palavra por outra de freqiiéncia similar no uso e com grafemas quase idénticos; vi, substituigio de uma palavra ou frase por outra a0 se estabelecer mil o recorte sintatico; vii, substituigio de uma palavra por outra por atragio do contexto (de uma passagem ou de toda a obra); viii. substituigio por sinonsmiz; ix, substituicéo por confisio de uma abreviatura com uma palavra sem abreviar; € x, substituiga0 por trivializago (lt. letio feilion). Para tornar mais claros os tipos de erros, convém anali- sar alguns exemplos concretos extrafdos da tradigo de tex- tos em lingua portuguesa”. Dentre os chamados errs paleogrificos (ou seja, produzides no ato de leitura do modelo), podem-se citar aqui casos de substituiga0 relacionados 4 ma compreensio de letras e de abreviaturas, coletados por Silva Neto (1956b). Constituem exemplos do primeiro caso as freqtientes substituigdes entre ce tou fe s (na sua forma longa) em textos medievais: no incundbulo do Vita Christi, de 1495, onde se lé“e o amargor da casta se cOpasa com a dogura do miollo”, dever-se-ia ler “casca”” no lugar de "casta”, j4 que no texto se estava refe- indo a uma noz; na ed. do Livro de Falcoaria (de Pero Meni- no) executada por Pereira (1909), onde se Ié “refeitos”, 0 edi- 10. Alguns dos dads apresentaos a seguir foram retrads de uss coleness bas ‘ante dustathas: encontram-se em Sika Neto (1956b: 27-36) e Spina (1994: 120-8)-Os principss ertos ne Catone de Vena haviam sido eoligides era tum lista por Monae (1875a, pend. I: XXV-000). A-TRANSMISSKO DOS TEXTOS « 83 tor deveria ter lido “reseitos”. Do segundo caso, ha exemplo na edigio do Foro Real, de Afonso X, realizada por Pimenta (1946): na seqiiéncia(..) 0 acusado disser que nd deue a res- poder por que ha outro pente mays prouinco (...)” (p. 161), len-se pente onde se deveria ter lido parente, pois é provavel que houvesse no testemunho consultado um p com sua cau~ da cortada por trago horizontal, sinal abreviativo de par— a exist8ncia do erro fica ainda mais evidente lendo-se 0 tre- cho imediatamente anterior ao citado:“Quado alguu acusar outro sobre cousa que fezesse alguu seu paréte (..)”. Como se vé,a prerrogativa do erro no se restringe simplesmente aos copistas e 20s compositores mas também 20s préprios edito~ res modernos. ‘Ainda tratando de substituiges, pode-se citar um caso bas- tante famoso desse tipo motivado por recorte sintitico equi- vocado na historia da edi¢ao de textos em lingua portuguesa. Silva Neto (1956b: 32-3), a0 tratar desse equivoco, apontado originalmente por Vasconcelos (1893-1895), assinala que na ed. princeps (de 1554) da obra Crisfl, geralmente atribuida a Cristovio FaleZo, haveria um erro de segmentacio no ter- ceiro verso da estrofe 42: onde consta “cantar cantou de ledi- no”, deveria estar “cantar cantou dele dino” (ou seja,“can- tou cantar digno dele”). Tal erro teria passado desapercebido a Braga (1871), 0 qual manteve, na sua edigio, a segmentacio Ga ed. princeps, e essa forma ledino pasaria a ser usada como designagio de um género poético: Monaci (1875b), p. ex., publicou um estudo intitulado Cantos de Ledino Tratti dal Gran- de Canzoniere Portoghese della Biblioteca Vaticana. 11, Savers (1971: 81) afirma,no entnto, que na ed. de Ferrara, de 1954, consta"can~ tareanto de ledino” mats forma"canto" corresponds, de fio, forena de pre teria “canto”, 84 « wwTRoDUCKO A cRiTicA TEXTUAL Dentre as omissdes possiveis, hi aquela de uma frase ou de um verso por homeoteleuto, i. é, pola utilizago sucessiva de palavras com terminacZo igual ou semelhante: trata-se do tra~ dicionalmente chamado salto-bordao, ja exemplificado na se- go 1.2 deste livro (nas pp. 10-1), Como assinala Cunha (19852: 418), eventualmente 0 erro em um texto pode nio ter tido origem em copistas: pode re- montat ao proprio original, sendo, portanto, de responsabi- lidade do seu autor. Neste caso a licio genuina ou autntica (a que reproduz o original do autor) nip & a exata ou cometa (a que no se presta 4 objegio nem quanto a forma nem quanto a0 fando). Os erros do préprio autor sio classificados por ele se- gundo cinco categorias: 4) erros causados por distracio; ») erros causados por defeito de memséria; €) erros causados por limites de caltura; 4) exros de tradugao: 2) erros de citagio. Como exemplo de erro por distragio, Cunha (1985a: 419) cita uma passagem do poema “Septenirio do Amor”, de Ed~ gard Mata, em cujo verso 12 se lé, no manuscrito D: “Nas soliddes do Averno um Caronte que corte” (ef, Souza, 1979). De acordo com Cunha (loc. cit), neste caso 0 poeta teria con fandido Caronte, nome do encarregado de transportar as al- mas através dos pantanos fumegantes do rio do Inferno para a sua outra margem, e Aqueronte, nome desse rio. Ciinha (1985a: 419-20), baseando-se em Nascentes (1980: 185-95), apresenta como erro de sneméria a seguinte frase colhida por Machado de Assis no Larousse.“ Aristote dit oui et Galien dit non”, embora constasse da referida enciclopédia “Hippocrate dit oui, mais Galien dit non” (parece tratar-se da ATRANSMISSHO DOS TERTOS « 85 fase final da crénica machadiana de 16 de dezembro de 1892, publicada no periédico A Semana) Erro de citagio hi, segundo Cunha (1985a:420-1),na RE plica (1904), de Rui Barbosa, Este teria abonado 0 emprego de até seguido da preposicdo a com citagdes extraidas de di- vversas obras, mas aquelas anteriores ao séc. XIX teriam sido consultadas em edigdes modernizadas, onde nio haveria fi- dedignidade em relagdo 4s formas genuinas dos textos: assim, as citagSes extraidas, p. ex., da Crénica de D. Pedro ¢ da Créni- ca de D. Joao 1, de Fernio Lopes, bem como a tirada do Auto das Bercas, de Gil Vicente, documentam, na verdade, apenas até (escrita ataa) seguida de artigo (e nio de preposigio, estru- tura esta surgida somente no portugués moderno, com pri- meira abonagio no séc. XVII). Diante desses casos de erros do proprio autor, deve 0 edi- tor manter a ligo genulna, ainda que nao seja a cont, infor- mando a0 leitor sobre 0 equivoco. Nas palavras de Cunha (1985a: 419): O editor (..) pode e deve cortigir os descuidos da pena do autor, mas nfo plo}de ¢ nfo deve em nenhuma hipdtese subs- tituir a cultura do autor pela sua. Se um autor fornece dados objetivamente inexatos,se comete exros de histéria ou de geo~ graf, se nfo se recorda bem de um nome ou de uma data, se se engana num céleulo, se se confande numa tradugio, se é im- preciso ou infiel numa citagio, o editor advertira em nota 20 leitor, mas no cortigird 0 texto. a caPtTULo 4 TIPOS DE EDIGAO Hi diversas formas de tornar acesivel 20 piiblico um tex to:sua edigZo pode ser em formato de bolso, comentada, fac similar, abreviada, etc. A grande diversidade de tipos de edigio, porém, pode ser organizada em um restrito mimero de catego- ras, de acordo com o critério que subjaz & sua caracterizacio. 4,1, TIPOS GERAIS DE EDIGAO Uma primeira categoria de tipos de edigio baseia-se no material utilizado, em termos de dimensio e de qualidade do suporte. Na subcategoria dimensio do liono, encaixam-se edigdes como a de bolso, a compacta e a diamante /liliputiana/microcépica (estas trés, formas sindnimas).As edigdes de bolso geralmente possuem um tamanho menor que o formato atualmente cor rente de livro (aproximadamente 210 x 150 mm): sua dimen- sio gira em torno de 180 x 110 mm’. Uma edigio compacta 1. Dimensio proxima a de famons colepSer exengeita: of da colegio expanola (Clsis Casali kn spre. 180 100 man; os és eatalé Eons 62, aprox. 185 x 115 ram; op das fancesas Hache e Sel prox. 180 x 110 ram, 188 « inTRODUCKO A cRITICA TEXTUAL no tem dimensio previamente definida a rigor, mas caracte- riza-se pela composicio cerrada cas linhas, com 0 objetivo de se economizar material. Uma edicéo diamante apresenta ta~ manho bastante reduzido (bem menor que de bolso) ¢ cos- tuma, atualmente, ser instrumento de promoio/divalgacio. ‘Na subcategoria qualidade do suporte, enquadram-se edi- ges como a popular e a de luxe. 2digdes populares normal- mente sio feitas com material de baixo custo e qualidade (p. ex. papel-jornal, encadernagao por cola, capa de papel-cartio monocromitica, sem ilustragdes). OpGem-se nitidamente 3s de luxo, porque nestas se utiliza material de alta qualidade (p. ex.: papel cuché, encadernagio por costura, capa de prancha policromada, com ilustragdes). ‘Uma segunda categoria diz respeito ao sistema de regis- tro ¢ inclui a edigao impress’ e a digital/eletrbnica/vitual:a pri meira é registrada por tipo mével;jé a segunda por sistema digital, legivel apenas através de programa de computador (0 formato digital apresenta-se, por sua vez, em varios tipos: ft, doc, ft, pf html, xml, sem, etc.). ‘Unna terceira categoria fandamenta-se na publicagfo da edi- io.Tem-se uma edigao princeps/pdacipe, quando se publica um texto pela primeira vez. Uma edicdo limitada ¢ aquela que foi feita em ndmero menor que o habitual (em casos especiais, costuma ainda ser numerada por exemplar e assinada pelo au- tor). Uma edicio extra/extmordindria & a que & publicada fora da periodicidade regular (expressio mais propriamente apli- civel a jornais,revistas, etc.). Entende-se por edi¢io comemo- rativa aquela cuja publicagao esti relacionada & celebragio de alguma data, normalmente ligada 4 vida do autor (p. ex.,nas- cimento, morte) ou da obra (p. ex., primeira publicagio). 2. No pussdo,a expresfo digo inprese seria redundant, pos ocecmo eo suge= tia ida de impresio: Modernamente« eferida expresso & nocesiia para evi- tarde s confuso enire uma edigio impresa ¢ ums digital. ‘105 DE EDICKO » 89 ‘Una quarta categoria baseia-se na questo da permisséo. ‘Uma edigio autorizada é aquela publicada com permissio do autor ou do detentor dos direitos autorais; jé uma edi¢i0 landestina /espiria fraudulenta/pirata no possui areferida per- ‘missa0. Uma quinta categoria diz respeito & integralidade do tex- ‘fo. Quando ha a reprodugio por inteiro de um texto, tem-se uma edigZo integral. Esta opde-se 4 edigio abreviada, em que se suprimem partes de um dado texto, geralmense longo, para se atingir um piblico em fase inicial de formagio (p. ex., es- tudantes do ensino batico.e médio). Se se fazem supressbes 2 um texto sem se explicitar, a edigio pode ser considerada expurgada:tais supressOes coscumam acorrer por Censura po- Iitica, religiosa, moral, ete. Uma edigio com supressbes, ge~ ralmente para ser empregada como material didatico, é cha~ mada de ad usum delphini, ‘Uma sexta categoria baseia-se na reelaborao do texto. Uma edicio pode ser revista, porque foi reificada pelo autor ou edi- tor; atualizada, porque se substituiram dados ultrapassados por novos; ou ainda ampliada/aumentada, porque se acrescentaram novas partes ~ todos esses adjetivos costumam ser emprega- dos apenas na reedigo de textos cientificos. Nessa categoria deve entrar também a chamada edi¢ao modemizada: trata-se geralmente de uma edi¢o em que se realizam moderniza~ ‘66es, sobretudo lingiifsticas, em textos antigos — se se conside- rar que a identidade de um texto esté diretamente ligada 3 sua forma lingiistica (principalmente no caso de textos literirios), deve-se admitir que uma edigio modernizada é, na verdade, uma pardfiase, um novo texto baseado/inspirado no primiti- vo. Como exemplo de edigZo modernizada, pode-se citar a da Demanda do Santo Graal, realizada por Megale (1988). Além das categorias de edicdes listadas acima, ha ainda uma de valor especial para a critica textual: tram-se da cate- ) 90 w INTRODUGHO A CRITICATEXTUAL goria de edigdes que se baseia na forma de estabelecimento do texto, que compreende o que se pode chamar de tipos funda- mentais de edigao. 4.2, TIPOS FUNDAMENTAIS DE EDIGAO A escolha de um dos tipos fundamentais de edigo para ser aplicado a um texto exige especial reflexio do critico textual, pois cada tipo tem caracteristicas muito proprias ¢ distintas. Por isso, dois aspectos, em especial, devem ser necessariamen- te observados: 0 piblicc-alvo almejado e a existéncia de edi- ges anteriores. A importincia de se pensar no piblico-alvo esti no fato. de que dificilmente umz mesma edigo adequada para todo tipo de piiblico, pois diferentes sio seus interesses. Assim, uma edigio que reproduza particularidades gréficas de um texto quinhentista pode interessar a um lingtiista, mas nio seria ade- quada a um piblico juvenil interessado especialmente no con- tetido do texto, ou seja,na historia ali contada £ igualmente importante saber se 0-texto em questio ji foi editado antes, a fim de se evitarem edigdes redundantes, ou seja, que simplesmente repetem a abordagem das edigdes ainda disponiveis no mercado. Pode-se dizer que fanda- mental conhecer e analisar previamente 0 campo bibliogréfico de um dado texto, conceito este assim definido por Castro & Ramos (1986: 112), seus proponentes: Campo bibliogrifce € a desigmacio que propomos para um con- Junto estruturado de unidades bibliogrificas (livos impressos), organizadas em torno de detcrminado texto: 0 campo de um texto € 0 grupo formado pela edides existentes desse texto. (...) © campo bibliogrifico ideal € aquele em que, de um tex- ‘Pos DE BDICKO + 91 to, existem no mercado, ou sdo facilmente acessiveis, exem- plares de todos os tipos de edigio capazes de satisfazer as ne- cessidades de todos os tipos de leitor potencial, Os tipos de edico baseados na forma de estabelecimen- to do texto podem ser distribuidos em duas grandes classes: as edigdes monotestemunais (baseadas em apenas um testernu- nho de um texto) ¢ as edigdes politstemunhais (baseadas no confionto de dois ou mais testemunhos de um mesmo texto). 4.2.1. Edig6es monotestemunh ‘As edigdes monotestemunhais podem ser divididas essen cialmente em quatro tipos, diferenciados com base no grau de mediasio realizada pelo critico textual na fixagio da forma do texto: so elas fe-similar, diplomética, paleogrdfca e interpretative 4.2.1.1, Edig8o facsimilar ‘A edicio facsimilar (também chamada de facestmile, facsi- milada ow mecdnica) baseia-se, em principio, no grau zero de mediagao, porque, neste tipo, apenas se reproduz a imagem de um testemunho através de meios mecinicos, como fotogra- fia, xerografia, escanerizagio, ete. Este tipo de edigo tem como ventagem permitir 0 aces- s0 20 texto de forma praticamente direta, © que confere 20 consulente grande autonomia ¢ liberdade na interpretagio do testermunho. Por outro lado, tem a desvantagem de poder ser consultada apenas por especialistas, porque pressupde a capa- 3. Hina literatura especilizada, uma cera osclagio ma defini destes quatro t= sot tenieos:2sdefinigbes aqui apesentads io uma centativa de diferencia com tis claresa 0: por em questo. 92 inrRopUGKO A CRIFICA TEXTUAL cidade de se ler um texto na escrita original (quanto mais an- tiga, mais esse conhecimento se fiz necessério); além disso, costuma ser muito cara, ‘Vérias obras de grande importincia para o mundo das le~ tras lus6fonas ja receberam edicdes fac-similares impres- sas:algumas reproduzindo testemunhos manuscritos, como © Cancionein da Ajuda (Cancioneiro, 1994), da Vaticana (Can- cioneiro, 1973), da Biblioteca Nacional (Cancioneiro, 1982), as Cantigas de Santa Maria, de Afonso X (Serrano et al., 1979); outras reproduzindo testemunhos impressos, como a Gramd= tica da Linguagem Portuguesa, de Femio de Oliveira (Oliveira, 1988),a Compilagamt das obras de Gil Vicente (Vicente, 1928), Os Lusiadas (CamBes, 1982)', a Pergrinagio, de Fernio Men- des Pinto Pinto, 1995) Para que uma edigZo fac-similar cumpra, de fato, sua fun gio de possibilitar 0 acesso quase direto 20 testemunho de interesse (p. ex.,a um manuscrito medieval ou a um impresso renascentista), & necessitio que tenha sido realizada com 0 maximo de rigor e respeito a0 modelo, fato que nem sempre se verifica Reckert (1983: 201-23), apés ter comparado & edigio fac-similar da Compilagam de Gil Vicente, de 1928, com o conjunto dos sete exemplares conhecidos da edicdo princeps de 1562, constatou a existéncia de diversas divergéncias, tais como supressdes € omissSes (+ 200); erratas, falsas lei- turas e falsas pontuagdes por obra de retoque (+ 90) e “cor regio” de erratas do original (+ 12). Vejam-se, a seguir, al- guns exemplos: 4. Nesta edigdo Gc-similar d'Or Luuledar tems a reprodgio mecinica parlela de ambas at edigdesdatadas de 1572 uma tem o pelicano no ato da porta vir ddo pera 2 esquerda eoutr par a dtcta. Quando se tem a reproducio simultines de tais de um tetemunl, dizte que se tats de edigio initia ow alain, ‘ripos De EDICKO # 99 Ed. princeps Bd. foc-similar eternidade: ((51. 222.42) eternidade? ‘imigos (fl. 242.13) imigos ser ((61. 284.38) ler Jfidcelhos ((51.37241) ——trcethos lembranga? (§61.51d.25) —_ lembranca. fino (f61, 63.17) sino nosso (fl. 64.25) ioss0 Reckert (1983: 221) informa ainda quanto & edigio fac~ similar que no s6 nfo hé nela indicag3o do exemplar uti~ izado como fonte nem da responsabilidade editorial como ainda parece derivar de um exemplar hibrido, cuja fonte se ria, em parte, o exemplar da Biblioteca Nacional de Lisboa e, ‘em parte, o da Universidade de Harvard. ‘A inadequagao dessa edigdo fac-similar acabou por com- prometer os trabalhos feitos partir dela: Reckert (1983: 206) assinala que, por estar na edi¢io fac-similar a forma auco (fol. 22a.16) onde havia na princeps a forma auto, Sa~ raiva (1959: 363) teria sido induzido a ler anco ¢ proposto a emenda anjo, intervengio esta que desvirtuou a forma genuina do texto. 4.2.1.2. Edigao diplomstica Na edigio diplomdtica tem-se a primeira forma de me~ diagio efetivamente feita pelo eritico textual, sendo esta, po- +m, bastante Limitada: trata-se, portanto, de um gran baixo de mediagdo, Neste tipo de edigio, faz-se uma transcrigéo rigo- rosamente conservadora de todos os elementas presentes no modelo, tais como sinais abreviativos, sinais de pontuacio, paragrafado, translineagio, separagio vocabular, etc. Cee ~ 94 INTRODUCAO A CRITICATEXTUAL ‘Como vantagem deste tipo de edigZo, pode-se citar a fa~ cilitagao de leitura que propicia, pois dispensa o leitor da ér- dua tarefa de decifrar as formas grificas da escrita original do modelo, particularmente dificeis em testemunhos manuscri- tos. Por outro lado, tem como desvantagem o fato de também poder ser consultada fundamentalmente por especialistas, ois, apesar da facilitagio j4 mencionada, a manntengio de certas caracteristicas — em especial, os sinais abreviativos — exi- ge certamente conhecimento especializado, nao dominado pelo grande piiblico. Nao se pode deixar de lembrar ainda que, mesmo sendo bastante rigorosa, uma edicio diplométi- ca jf constitui uma interpretacio subjetiva, pois deriva da le tura que um especialista faz do modelo. No passado, este tipo de edigo tinha uma fungio muito importante: suprir a falta do contato direto com o modelo, algo particularmente importante quando se estava trabalhan- do com diversos testerunhos de um dado texto, espalhados pelas bibliotecas de diferentes paises. Certamente exerceria essa fingio, p.ex.,a edigio diplomitica do Cancioneiro da Aju- di, realizada por Carter (1941). Modernamente, porém, com 0 desenvolvimento das sécnicas de reproducio mecanica (fo- tografia, microfilmagem:, escanerizagio), essa fungo pratica~ mente deixou de existt, pois 0 especialista pode agora traba- Thar quase diretamente com um testemumho através das diver sas formas possiveis de sua reprodugio mecénica, deixando de depender da intermediagio de um outro especialista, fato que ‘jd havia assinalado Silva Neto (1956b: 21) ha mais tempo: Hoje, em virtude dos progressos técnicos da fotografia ¢ da re~ produgao fac-similada, a transcrigio puramente diplomatica & ‘um atras0, pois com ea ficamos sempre na estrita dependéncia do critério e da pericis do editor, que,no entanto, pode ler mal € ndo compreender a'gumas palavras ‘ios DF EDICHO + 95 Persiste ainda hoje, no entanto, outro motivo para a rea~ lizacdo de edigdes diplomiticas: a disponibilizagao de dados para o estudo de historia da Kingua, especialmente dos siste- mas gréficos de representagao lingiistica. Como instrumento para a tealizagdo de edicdes dessa natureza, tém-se criado re- cursos eletronicos especificos, tais como conjunto de carac- teres para computador (chamados fortes) que permite uma reprodugio bastante rigorosa das caracteristicas de escritas do passado: como exemplo, pode-se citar a fonte para trans- crigdo de textos medievais adotada por Emiliano (2002).Atra~ vés de ediges com esses recursos seri possivel construir gran- des bases de dados digitais que permitirio, p. ex., um estudo, com sélida base empitica, da evolugio dos sistemas grificos empregados. 4 1.3, Edigdo paleograi ‘Um passo adiante em termos de mediagio verifica-se na edigio paleogrifica (também chamada eventualmente de se- ‘midiplomética, paradiplomdtica ou diplomtico-interpretativa). Po- de-se dizer que hi, neste tipo, um gran médio de mediago, pois, no processo de reprodugio do modelo, realizam-se modificagdes para o tornar mais apreensivel por um pabli- co que no seria capaz de decodificar certas caracteristicas originais, tais como os sinais abreviativos. Enquanto na edi~ cdo diplomitica a mediagio do editor se restringe 4 repro- dugio dos elementos do modelo, jé na paleografica o editor atua de forma mais interventiva, através de operagdes como desenvolvimento de sinais abreviativos, insergio ou supres- sio de elementos por conjectura, dentre outras (embora qual- quer uma dessas operages fique explicitamente assinalada na reprodugio): os principais objetivos de todas essas opera- 96 « muTaoDUGhO A oRitica TeXTUAL Bes sio (1) o de facilitar ainda mais a leitura do texto torné-lo acessivel a um piiblico menos especializado e, por- tanto, mais amplo que o da diplomitica; e (2) o de tentar re- tificar falhas ébvias no processo de cépia do texto, tais como supresso ou repetiglo de letras, etc. As ediges paleogrificas sio especialmente comuns quan- do se trata de documentos juridicas: em albuns de paleogra~ fa, costuma-se apresentar uma edicio desse tipo para os do- cumentos reproduzidos fac-similarmente ~ como exemplo, pode-se citar o dlbum de Dias, Marques & Rodrigues (1987). “Textos literarios também sio objeto de edi¢ao paleogrifica: editores americanos de textos medievais portugueses dedi- caram-se especialmente 2 edigées desse tipo, tais como a da Regra de Sao Bento, por Burnam (1911); do Dislago de Robim € un Tedlogo, por Carter (1938); 2 do Barlaao ¢ Josafi, por Abra- hham (1938); a da Regra de Sao Berrardo, por Carter (1940); a das duas verses da Vida de Santo Aleixo, por Allen Jr. (1953); ©. do Livwo de José de Avimattia, por Carter (1967). Moderna- mente, este tipo de edigio tem side particularmente adotado na edigio de documentos para 0 estudo da hist6ria da lingua portuguesa: como exemplo em Portugal, podem-se citar a edi¢io de documentos notariais medievais da regiio do no~ roeste da Peninsula Ibérica por Maa (1986) e da regio cen- tro-sul do territério portugués por Martins (1994); jé no Brasil podem-se mencionar a edigo de cartas baianas do séc. XVIII em Lobo (2001) e a edigo de amincios de jornais do séc. XIX em Guedes & Berlinck (2000). 4.2.1.4, Edigéo intepretativa © passo mais a frente que se pode dar no processo de es- tabelecimento de um texto a partir de apenas um modelo ‘1IP0S DE EDIGAO # 97 acha-se na edigio interpretativa, a que se pode atcibuir © grau médximo de mediagio admisstvel. Assim como na paleogrifica,fa- zem-se operagdes como desenvolvimento de abreviaturas e conjecturas, mas, além disso, o texto passa por um forte pro~ cesso de uniformizacio grifica e as conjecturas vio além de falhas Obvias, compreendendo intervengdes que aproximem o texto do que teria sido sua forma genuina. Esses procedimen- tos permitem, em primeiro lugar, apresentar o texto em uma forma acessivel a um piiblico amplo (ji que dificuldades gri- ficas desaparecem cori a uniformiza¢io); ademais, oferecem 20 pablico um texto mais apurado, na medida em que os ele ‘mentos estranhos 8 sua presumivel forma genuina vém clara ‘mente assinalados. io se pode deixar de esclarecer que, neste tipo de edi- ¢4o, a uniformizacao é essencialmente grifica: nio se uni- formizam variantes fonolégicas, morfolégicas, sintéticas ¢ lexicais (0 que geralmente ocorre na chamada edi¢ao moder- nizada). B evidente, porém, que certas uniformizagées (de pontuagio, paragrafi¢Zo, etc.) acabam por fixar apenas uma das leivuras possiveis do testemunho, razio pela qual esse tipo recebe justamente o nome de interpretativa, Como se vé, sua maior qualidade ~ a acessibilidade — determina igualmente seu maior defeito — a subjetividade. Embora nio raramente se utilize 0 termo eritea para no~ mear este tipo de edicZo (i. é baseada apenas em um teste- ‘munho), tal pritica merece ser revista, pois o método aplicado € 05 resultados obtidos neste caso sdo radicalmente distintos dos relativos a uma edigZo baseada no confronto de teste munhos (como ficaré bastante claro através da exposigo a sex feita no cap. 6 desta obra): nio hé, portanto, nenhum benefi- cio em se utilizar um mesmo termo, tio importante na area, para nomear produtos tio diferentes C COC” DYDIO ) ) ) J JDO) > 98 « inrrRODUGAO A CRITICA TEXTURE Via de regra, faz-se uma edigdo interpretativa de textos reservados em testemunho iinico (lat. codex unieus), como & © caso, nas letras luséfonas, da Demanda do Santo Graal (cf Magne, 1944, 1955-1979),da Gramética da Linguagem Portugue- sa‘ de Fernio de Oliveira (Oliveira, 1975) e de varios outros textos. Eventualmente faz-se também edicZo interpretativa de um texto que possui diversos testemunhos com os quais 0 cxitico textual ndo quis ou no péde trabalhar por razdes di- versas: nesse caS0, 0 ctitico textual edita interpretativamente apenas um testemunho, algo que se justifica para se tornar dispontvel no mercado uma edigio de um texto, geralmen te inédito ~ tal edigio, porém, perde valor tio logo uma edi- fo critica (baseada em todos os testemmunhos existentes) seja realizada, pois, na edigio critica, possibilidade de diferenciar formas genuinas de nio-genuinas € maior, em fangio do con- traste entre os testemunhos, possibilidade esta restrita & conjec- tura (muito subjetiva) no caso de uma edigio interpretativa, Para que se possa te: uma idéia melhor da diferenga entre os quatro tipos de edi¢o monotestemunhal descritos acima, edita-se a seguir 0 verso de um mesmo félio da Carta de Pero Vaz de Caminha’ seguado os quatro'tipos de ediggo ante riormente descritos: 5.1No ceeminologia eadicional htna em erica textual, uliza-e como cefertneia © termo coder (= c6dice), mas a2 laptgio para 0 portugués feta nesta obra ern prege-se como referdncia © termo teiemuihe, ume vee que normalmente at questes se aplicim tanto 2 ebtices quanto a livres impress. 6. Um exempla interesante par a reflendo sobre as diftrengas entre os pos de edi lo & desea Cumbia, reainds por Amadeu Torre ¢ Carts Azsangio (ef OF- ‘ite, 2000): nel edigo anaes (6 2e-similt), semidiplomaica (6 paleo- aria) e cea ~ apesar de a obra ter sido preservada em apenss uma edigfo (de 1520), os edtores comparam sua préprialetura com ss das edigBes eeaiadas i ro sfc. 2OX, registrando as divegéncias em nota 7. s normas adoxadas ras edigdes diploma, paleogrificaeintespetaiva da Cam ‘a baseiamete nas sprosentaasespecivamente, nat segdet53.1,5,3.2 5.3.3 mis diate ‘nos DE Epicho « 99 Figura 9 ~ Edisto fac-similar((L 11v do ms, Givers Bemayo 2? 8 {do Arquivo Nacional da Torse do Tembo de Lisboa) (Fonte: Biblioteca Viral 998) 100 « wvrRopucho A CRIFICA TEXTUAL Figura 10 ~ EdigSo dplombtica ‘rpos Dz EDICAO «101 Figura 11 ~ Edigho paleogrifica fil 117] nho que lhes quiferem dar* logo Ihes noffo S* dew boos corpos boos Rostros comaaboos homes * pele que ns paquy troune creo que rom foy Jem caufa (pp* tanto vofa alteza pois tamto defeja acreentar 5 na fanta fe catolicar deue emtender em Jua falua am Pprazera ads que com pouco trabalho fera aly / eles nf Tauram nem eriam nem 2a aquy boy nen vaca nem cabra nem ovelha nem g? nem out nha alimarea que cuftumada feja aoviuer dos homees 10 n& come (e n& dele jnhame que aquy ha mujto deJa Jemente fruit, que atera as aruores de ly Iangam: com jjto andam taaestam Rijose mr nedeos* queo n& Jomonos tamto com quanto trjgo legumes comemos*/ em quanto aly efte dia am 15 daram Jenpre ao {ao dhitu tanbory noffo dangart PhailharT 5 os nofos 4 F maneira que ‘i Jam muito mais nofos amj gos que nos feus * / Je thes home acenaua [e querjr vijr aas naaos fazianfe logo preftes pa j{fo & tal 20 maneira que Jeos hom todos quip a comujdars, todos vieram * porem nB trouuemos efta noute as naaos fe nd iiij ou b *{+ ocapitT moor dous (lima de miranda hit que trazia ja po paje ‘Paices gomer out" aly paje +/ 08 queo capita 25 trouue era hutt deles hutt dos feus ofpedes que sa pimeira quando aquy chegamos Ihe trouuerz* ogual veo oje aquy veftido na fua camjjar p co ele hut Jeu jrmaad os quazes form efta noute muy bem agalalhados aly devianda como deca 30 ma de colchodés lencooes polos mais amanfar+ Boje que he Jefta feira pimeiro dia de mayo pola manhaa Jaymos em wea cofe nolfa bandeira p fom, delenborese acjma do Rio contra oful (al. 110) ho que Ihes quiserem dar + ¢ logo lhes nosso Senhor deu boos corpos ¢ boos Rostros comaaboos homéés* e ele que nos per aguy trowue creo que nom foy sem causa € por tanto vosa alteza pois tamto deseja acregentar 5 na santa fe catolica * deue emtender em sua salua ‘gam € prazera adeus que com pouco trabalho sera asy / eles né lauram nem criam nem ha aquy boy nen vaca nem cabra nem ovelha nem galinka nem outra nid alimarea que custumada soja aoviuer dos homes 10 né comé se nd dese jnhame que aquy ha mujo ¢ desa semente ¢ frnitos que atera e as aruores d= sy langam + ¢ com jsto andam taaes ¢ tam Rijos ¢ ti nedeos * queo n6 somonos tanto com quanto trjgo legumes comemos*/ em quanto aly este dia am 15 daram senpre ao s68 dhiii tanbory nosso dangari ¢ bailhard c6 os nosos # € maneira que { {scos home todos quisera comujdar}} sam muito mais nosos amj {gos que nos seus+/ se Ihes homé acenaua se quetja ‘Vr aas naaos fazianse logo prestes pera jsso & tal 20 maneira que seos homé todos quisea comujda todos vieram* porem né trouuemos esta noute as naaos se né iilj ou b scilicet* ocapiti moor dous ¢ simi de miranda hab que trazia ja por paje ¢ aires gomez outro asy paje*/ os queo capitan 25 trouue era hui deles huii dos seus ospedes que ‘a primeira quando aquy chegamos Ihe trouueri* ogual veo oje aquy vestido na sua camjsa® e cb cele hud seu jrmaa6 os quases fori esta noute | _ muy bem agasalhados asy devianda como deca 30 ma de colch6dés e lengooes polos mais amansar* / Eoje que he sesta feira primeiro dia de mayo pola ‘manbii saymos em terra c6{ {sa} nossa bandeira ¢ fomas desenbarcar acjma do Rio contra osul CeCe 102 « mrRopuGio'A calrica TexTUAL Figura 12 ~ Edigio interpretation (fl. 11v]/ ~nho que thes quiserem dar e logo Ihes Nosso Se~ thor deu boos corpos boos rostros coma a boos homens; e Ele,que nos per aqui trouve, creo que nom foi sem causa ¢, portanto, Vossa Alteza, pois tanto de- 5 seja acrescentar na santa f& catélica, deve entendet em sua salvagam e prazeri a Deus que com pouco traba~ Iho serd ass Eles nom lavram nem criam nem bé agui boi, nem vaca, nem cabré, nem ovelha, nem galinha, nem ou | 10 tra nia alimérea que custumada seja ao viver dos homens;nem comem senom desse inhame que aqui ha miuito e dessa semente ¢ fruitos que a terra ¢ as érvores de si langam, e com isto andam taes ¢ tam rijos e tam. nedeos que 0 nem somo’nés tanto com quanto trigo 15 legumes comemos. Enguanto all este dia ham, darém sempre ao som ium tambori nosso, dangardm e bailharim com os nos- sosjem maneira que sam muito mais nossos amigos que 20 _nés seus. Se Thes homem acenava se queriam viinr aas nnaos, faziam-se ‘ogo prestes pera isso, em tal maneira ‘que, se 05 homem todos quisera Convidar, todos vie~ ram, Porém nom: trouveros esta noute aas naos senom_ ‘ou ¥,cilicet, 0 capitam-moor, dous;e Simam de Mi- 25 randa,Gum que traziajé por paje; e Aires Gomez, outro assi paje, Os que o capitam trouve, era uum deles uum. dos seus héspedes que 22 primeira, quando aqui che- gamos, Ihe trouveram, 0 qual veo hoje aqui vestido na sua camisa ¢, com ele, uum seu irmid, os quaes foram 30 esta noute mui bem agasalhados assi de vianda como de cama, de colchdes ¢ lengées polos mais amansar. E hoje, que é sesta-feita, primeiro dia de maio, pola manhi safmos em terra com nossa bandeira ¢ fo- mos desembarcar acima do rio contra 0 sul, ‘IPOS DE EDIGKO « 103 Como é comum confundir-se uma edigio interpretativa com uma modernizada, apresenta-se abaixo o mesmo folio da Carta editado nas paginas anteriores, mas, agora, em uma edi¢io modernizada (i. 6, com modernizagio lingiiistica): Figura 13 ~ Euigfo moderaizada (fl. 110] -nho que lhes quiserem dar e, entio, Nosso Senhor Ihes dew bons corpos e bons rostos como a bons homens; ¢ Ele, | que nos trouxe para cé, creio que nao foi sem razio: portanto, ‘Vossa Alteza, porque tanto deseja acrescentar & santa fé catéli- ca, deve cuidar da salvagio deles e agradari a Deus que, com pouco trabalho, seré assim. Eles nio lavram nem criam: nfo hé aqui boi, vaca, cabra, ovelha, galinha nem neahum outro animal que esteja acostu- ‘mado 2 conviver com os homens; nfo comem senio desse inha~ me de que hé muito aqui c dessa semente ¢ desses frutos que a terra € as arvores langam de si, € por isto andam de tal forma tho rijos € tio vistosos que nem mesmo nds nfo 0 somos tan- to com a quantidade de trigo e de legumes que comemos. Enguanto for dia ali, permanecetio sempre 20 som de um tamborim nosso, dancario e bailario com os nossos; de tal maneira que sio muito mais nossos amigos que nés seus. Se al- guém Ihes acenava se queriam vir 3s naus, aproncavam-se logo para isso, de tal maneira que, se se quisesse convidé-los a todos, todos viriam, Por isso, nao trouxemos nesta noite as naus senao quatro ou cinco, a saber: 0 capitio-mor, dois; Simo de Mi- randa, um que j4 trazia por pajem; ¢ Aires Gomes, outro igualmente pajem. Dos que 0 capitio trouxe, um deles era um dos seus héspedes que no inicio, quando chegamos aqui, lhe trouxeram, 0 qual veio hoje aqui vestido com sua camisa e, com ele, um itmo seu, os quais foram muito bem acolhidos nesta noite tanto de comida como de cama, de colchées ¢ de Jengéis para amansi-los mais. E hoje, que é sexta-feira, primeiro dia de maio, pela manh& saimos em terra com nossa bandeira e fornos desembarcar aci~ ma do rio contra o sul. 104 # iNTRODUCAG A cRITICA TEXTUAL 4.2.2, Edig6es politestamunh: ‘As ediges politestemunhais podem ser divididas em dois tipos:a aftca e a genética. 4.2.2.1, Edigdo critica Umma edigio critica caracteriza-se pelo confionto de mais de ‘unt testemsuanho, geralmente apdgrafos, no processo de estabelecimento do texto, com 0 objetivo de se reconstituir a tiltima forma que seu autor Ihe havia dado. ‘A consulta a mais de um testerunho permite 20 ctitico textual identificar e separar, na medida do possivel, os elernen- tos de um texto que nio seriam genuinos, pois, como 0s co- pistas no erram sempre no mesino ponto do texto que re- produzem, uma forma genuina pods ser adulterada em um ‘0 em outro testemunho, mas geralmente mantém-se intacta em outros, Nesse aspecto, uma edigfo critica & muito superior a. uma edicdo interpretativa, pois nesta s6 se pode recorrer 4 conjectura (cuposigdo baseada no ‘uizo do critico textual) como instrumento de restituigio da forma genuina do texto, ou seja, toda interven¢io fundamenta-se apenas em uma de- cisio subjetiva do critico. Dada a complexidade e a importincia de uma edigio cri- tica, ha neste livro um capitulo inteiramente dedicado a ela: © capitulo 6, mais adiante. 4.2.2.2. Edigao genética Tal como em uma edigio critica, faz-se uma genética também através da comparacio de mais de um testemunho, 36 que geralmente aut6grafos ¢/ou idiégrafos (os chamados originals), ¢ almeja-se registrar todas is diferencas entre as re~ ‘POS DB KDICKO « 105 dages preliminares de um texto ¢ a forma final dada pelo seu autor. A edigao genética é fruto do desenvolvimento de uma abordagem de critica do texto litersrio baseada no estudo da sua génese, abordagem a que se chama de artica genética". Se- gundo Salles (1992: 17), essa abordagem fandamenta-se em uma constatagio basica: a de que (.) 0 texto definitive de uma obra, publicado ou publicével, é, com raras excegdes, resultado de um trabalho que se carac~ teriza por uma transformacéo progressiva Para delinear o percurso criativo de um texto, critico ge- nético utiliza uma gama heterogénea de fontes: de acordo com Hay (1991: 23), elas podem ser as marcas dos impulsos iniciais (p-ex.,,notas, cadernos, didrios), os documentos das operagdes, preliminares (p. ex., projetos, planos, roteiros) e ainda os ins- trumentos do trabatho redacional (p. ex., esboges, primeiras redagGes, rascunhos). Uma edigio genétice deve, portanto, apresentar a forma final de um dado texto (ou seja,a forma que o autor con siderou como definitiva) acompanhada do registro das in- formagbes relativas 4 sua genese obtidas através das ja refe- ridas fontes. Porque se trata de uma abordagem relativamente nova (sua repercussio nas letras lus6fonas teve inicio em meados da dé- cada de 80), os procedimentos técnicos para a realizagio des- te tipo de edicZo estio ainda em franco desenvolvimento: & necessirio refletir nfio apenas sobre o que deve ser registra do mas também sobre como o fazer. 8. Ns Lei, € comum usiarse a expres flblagiadautore pars aboedagery sae (GE... lel, 1987). y 106 w iTRODUGAG A GRITICA TEKTUAL ‘Um exemplo bastante fecundo deste tipo de edicio & a que foi publicada por Mendes (1998) sobre o texto d’As Tiés Marias, de Raquel de Queiroz (1910-2003). Sua edico, a que chama de'“edigo critica em uma perspectiva genética”, registra as variantes presentes em cinco* testemunhos: ~ A: manuscrito, Arquivo Mério de Andrade do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, meados de 1938; = B: datiloscrito, Arquivo de Literatura Brasileira da Fandagio Casa de Rui Barbosa, datado de 07.01.1939; = Dzimpresso, 1? ed. (1939); ~ Ec impresso, 2! ed. (1943); € ~ Frimpresso, 3? ed. (1956) [iltima edigéo revista pela autora da obra e testemunhe utilizado como texto-base]. ‘Veja-se, na pagina seguinte, a reprodugio de uma pégina da referida edi¢ao genética (3 esquerda, encontra-se 0 texto~ base; A direita, 0 aparato genético com as variantes dos tes- temunhos jd mencionados). Dentre os simbolos utilizados no aparato genético, veri- ficam-se 0s seguintes no excerto reproduzido a seguir: uuséncia de pardgrafo no testemunko citado fl = entrelinha superior <= = margem esquerda (= acréscimo ‘<> = supressio de um segmento apagado ou riscado <> [] = substituigio de um segmento apagado ou riscado <> {} = substituigdo por superposigio 9. A sighs C fi aeribuids 2 um tenemunho pesdido,euja daalimice msima seria agosto de 1938, ‘Ti90S Ds EDIGHO «107 Figura 14 — Edigho genética d’As Tits Merias, de Raquel de Queiroz (once: Mendes, 1998: 129) * {Depeis" do modon 16 om casa Noga Non ino ta or tooo ded ea cl pe water te “tint af ota eee ak ce Gearon ioe cas Ewvaponcescimpsomerensoa — Sorawatige Nonecva {ttn Comece ir cocole Ningaeen vis ‘Stet geetsaier Avena wep ‘cori anaes aS ‘Erosna magenta Sateen pane 2. Paps enon dps aco mene de «uA nn stein oe vivo, com sina pins eo qpe ssa ‘itarerunp ans deseo on kmh tte) 9. put por ram Uso una leucopenia que ote ltent st ie Mine ‘Somoum sbado,Matngo tla cols poy paclicosereflores ante efor, procurrs ert porue ‘eogrinba ec antmicy,Untom'ss Samrat SSS ‘Semmens, Depa we ea orp te ie Depolseammccaviveu en poscor anos mi wepe een. sens ie plsas cr guands —atuow Bluetec mio eae tromee, papi mii sm eta ro AE ogame! oa ee fre Tome ose acagi ane, core Siren manera indo deeper oe Fito ecomsqenc cum 44, Logo comesaram 4 nascer onto ‘Toning, meninon gordos'e sludnion, "mura uncetn argent Sd eee estan ieueaneohermatin Seekers ca i te eee cereees Seca cretes Beaumont iaihabe near Seseas ‘este mco, empe presente ta mish ‘Scerdago com cus cobslon ston btendo ‘ev omfsos, tas vetdos bancoe sheer Ge rena, Seu lindo Mo caja embana sida me aquceocompso. CAPITULO 5 NORMAS DE EDIGAO Em todo processo de edigéo de um texto, ha sempre uma série de procedimentos que sio seguidos: a esses procedi- ‘mentos costuma-se chamar de normas (ou crittrios) de edicao. 5.1. PRINCI 10S NORTEADORES Considerando que cada tipo de edicio atende 2 uma fi nalidade, nfo se pode dizer simplesmente que um dado con- junto de normas pode e deve ser aplicado em qualquer caso: ‘normas para uma edi¢go diplomatica sfo muito distintas das para uma edigio interpretativa. Por outro lado, nio é desejivel que, para um mesmo tipo de edigo, se utilize um conjunto de normas ao se editar um texto mas outro con Junto diferente para outro texto: é de esperar que um dado tipo de edicdo seja realizado seguindo-se sempre as mesmas normas. Antes de analisar os procedimentos bisicos em uma edi- ¢4o, convém refletir sobre alguns principios que devem reger a constitui¢do de um conjunto de normas adequado: as nor- mas devem ser (a) apropriadas ao tipo de edigao e, por conse~ Caer o 110 « weTLODUGAO A cRITICA TEXTURL giéncia, & sua finalidade; (b} intersamente coerentes; (c) explt- ‘itas; e (A) rigorosamente aplicadas. Como cada tipo de edigio atende a uma finalidade, as normas devens possibilitar a satisfagto de inalidade da edigéo: nox mas conservadoras nao sio compativeis com edigdes desti- nadas a0 pablico em geral, pois, se se admitir que 0 obje- tivo desse piiblico é ¢ fruicio pura e simples do texto, a manutengio de caracteristicas originais, como variagdes pu- ramente grificas ou aiada o sistema de pontuacio original, s6 dificulta a sua leitura e, portanto, a frui¢0; por outro la~ do, normas atualizado:as no sio adequadas a edigdes para certos especialistas, como, p. ex., para lingiiistas, pois, con siderando ser o seu objetivo 2 andlise da linguagem do tex- to nos mais variados nfveis, o apagamento de caracterist cas originais de valor lingiistico torna impraticivel sua in vestigagio. Nio se pode deixar de atentar ainda para o fato de que as rnormas devem apresentar coeréncia interna: isto significa que fa tos iguais deve receber tratamento igual. Nao faz sentido, p.ex., optar-se pelo desenvolvimento de algumas categorias de abreviatura, mas néo de outras, nem tampouco pela mar- cagio do desenvolvimento de algumas categorias de abrevia- tura, mas no de outras: normas incoerentes acabam por in validar a edigio como um todo, pois impedem que o leitor exigente possa fazer uso adequado do texto. ‘Outra questéo de grande importincia é 0 fato de que as normas deve ser expliaitas: nio se pode exigir de um consu- lente adivinhar quais foram os procedimentos adotados em cada situago, porque apenas quem viu o modelo é capaz de sabé-los. Por fim, convém esclarecer ainda que as normas devem ser aplicadas rigorosamente, ou scja, em todas as situagdes em que a norma for aplicivel, deve-se aplicé-la NORMAS DK EDICAO # 111 5,2. PROCEDIMENTOS BASICOS ‘Um dos procedimentos bisicos para a realizagio de uma edigio € a transcrigio (exceto, naturalmente, no caso da edi¢io fac-simnilan: ranscrever significa aqui reproduzir um dado texto em um novo suporte material’ Diversas so, porém, as formas de se realizar uma trans~ crigio e as diferengas dizem respeito, via de regra, a0 grau de ‘fidelidade ao modelo. A escala de fideiidade estende-se entre dois pélos opostos: 0 da conservago € 0 da uniformizarao?. Em ‘uma transcrigo conservadora, procura-se reproduzir, na medi- da do possivel, cada caracteristica do modelo; ja na wniformi zadora, certas caracteristicas do modelo sio apagadas através de um processo de uniformizagio de variagdes (gréficas) Para realizar qualquer uma das possiveis formas de trans ctigGo, sempre € necessério determinar como serio transcri- tos 0s elementos de um modelo, razio pela qual convém co~ nhecé-los mais detalhadamente. 2) Caracteres alfabeticos Cada registro escrito de um texto compée-se basicamen- te de um conjunto de unidades grificas minimas encadeadas, 8 caracteres. Estes sio a realiza¢io material de um sistema abstrato de representagio lingiifstica, cujos elementos so 0s _grafemas. Assim, os caracteres < z > ¢ < 3 > constituem rea~ lizagdes materiais de uma mesma unidade abstrata a que se da 1. Como se vé, nfo constinem sinBnimos 0s trmos di € tamer: eta signi fie realizar om conjunto complexo de opersgSes das quais fier parte no ape~ nae 3 trascrigio mat tembém a proposicio de conjectors a selecio de varantes (em ums ed, cites), s apresentagio do text, et: 2, Castro & Ramos (1986: 103) descrevem exes pSles como couemay ¢ moderizaio, ras este segundo cermo & wizado aqui cont wn significado mais expeciBco: para ddesignar a moderniaco lingisiea do texto, que gers assim uma espécie de pac Fite dele, 00 sj, uma edicio moderniada (cf expicic20 ma p85), PRODUCKO A ERIFICA TEXTUAL tradicionalmente o nome de 2é e que é identificada aqui por 2° (aos caracteres que sio realizacdes de um mesmo grafema, dé-se 0 nome de aldgrafos). Os grafemas ¢, conseqtientemen- te, os caracteres podem ser alfabétiees, quando fazern parte de um conjunto fixo de unidades que geralmente representam fonemas, como no caso das letras, 2u nio-alfabétices, quando tém fiungio distinta, como no caso dos nimeros, dos sinais de pontuacio, dos sinais abreviativos, etc. Os grafemas alfabéri~ cos formam um conjunto coeso de formas numericamente restritas: 0 affabeto, Esse conjunto nio é universal, pois algumas comunida- des lingiisticas adotam um dado conjunto;¢ outzas, um outro, que se pode diferenciar, p.ex., em termos de forma dos grafe- ‘mas, do seu niimero e/ou do fonerra que cada graferna repre senta. Modernamente existem alfabetos como o latino (usili- zado para representar quase todas 2s linguas do ocidente), 0 _grego(cestrito atualmente & lingua groga),o abe (restrito 4 in- gua érabe),o hebraico (empregado para a lingua hebraica, para © iidiche e para o judeu-espanhol), dentre outros. Vejam-se a seguir caracteres de cada um desses quatro alfabetos citados: Latinos abedefghijkimnopqrstuvwxyz Grogos apydetnoixanveonpatvexwa Aral G2 OrDEG AE CBE Re HIE LESS Hobraicos UapyssvoinoDD°UNT ya3an 3. Apenas por convencio,representam-se aqui osgrafemas por caracteresitilicos mi- culos isto no significa, porém, que caret misculos miniseulos cons ttuar grafemas distnto, como se explicaré nai adiance. Carters. ages materns dos grafermas, sto represents aqui entre paréntesesuncinados. NORMAS DF FDIGAG # 113 Raros so os casos em que textos em lingua portugue- sa foram registrados em alfabetos distintos do latino ~ apa rentemente s6 0 foram no 4rabe e no hebraico, e durante a [dade Média: em caracteres arabes, hé os textos jA estu- dados pelo arabista portugués David Lopes (1867-1942) e publicados no seu Textos em Aljania Portuguesa (1897); em caracteres hebraicos, ha a obra De Magia, preservada no ms. quatrocentista Laud. Or. 282, da Bodleian Library de Ox- ford, e estudada por Llubera (1953). Em casos como estes, pode-se transcrever 9 texto segundo 0 alfabeto do mode- lo (Stabe ou hebraico) ou ainda converté-lo para outro al- fabeto (como do arabe para o latino), processo a que se chama de transliterazao. Os grafemas de um mesmo alfabeto, no entanto, podem realizar-se materialmente em formas distintas: podem variar em termos de fipo e de médulo, 3 tipos sao 0s estilos graficos em que os grafemas se con- cretizam em caracteres (manuscritos, impressos ou digitais): hd, -€X., 05 tipos romanos redondos, romanos itélicos, goticos, etc. Romanos redondos abedefghijkImnopqrstuvwxyz Romanos it abedefghijkimnopqrstuvwny? ‘Géticos abcbefghijklmmoparstubwxps Os médulos sio fruto da relagio entre 0 caractere e sta pauta subjacentet: sio mintisculos os caracteres que se esten- dem conjuntamente por uma pauta tetralinear; e maitisculos, yt 4. Embora, via de rea, caracteres maidsculs sejam maiores que or miniscule, no G esencalmente esta careteritica que os diferencia, C ‘ uo oO d AI» netRooUGA A CRITICA TEXTUAL 95 que se limitam conjentamente a uma pauta trilinear’, di- ferenga esta que se pode perceber claramente pela figura a seguir ‘Vejam-se abaixo carecteres latinos romanos redondos nos dois médulos possiveis: Minds abedefghijkimnopqrstuvwxyz Maitisculos ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ Em alguns poucos casos, um mesmo grafema pode reali zar-se como duas diferentes formas (dois caractezes distintos) de um mesmo alfabeto, de um mesmo tipo e de um mesmo médulo: trata-se, nesse caso, dos alégrafos contextuais. No pas sado era muito comum 0 grafema s realizar-se em médulo minéisculo como uma forma de dupla curva, o , ou como uma forma longa, o < J >:a primeira ocorria geral- mente em posigio final de uma seqiiéncia gréfica (equivalen- te a uma palavra); enquanto a segunda, em posigio inicial ou medial: p. ex,, < Jeftas >. Como se vé, 0s caracteres alfabéticos apresentam uma sé- tie de disting&es que pocem ou nio ser reproduzidas em uma transcrigio. Para melhor perceber essa diferenca de procedi- ‘mentos, convém analisar um exemplo: consultem-se a seguir a reprodugio fac-similar de urna estrofe (12 do canto I) da 5. lschoft (1997: 65-9) basen a iferenga de médulo na oposigio ene om sistem ‘qualia bilinear, mas devs reconhecerque,no c3sa dat maidsculs, 0§t- 0% das letras leva em conta também uma pana inermedira: cp. ex.,0 c2- factere < B >, cujos arcos xo dividides pela pauea intermedia ORMAS DE EDIGAO « 115 cedigo princeps (1572), com 0 pelicado da portada virado para 2 esquerda, d’ Os Lucadas de Luis de Camées (1524-1580) as respectivas transcrigées conservadora e uniformizadora. Figura 15 ~ Fac-simile d’Os Lasiadas (Fonte: Camées, 1982:38) [Por eftes vos davey bum Nunc Fero, Que fex a0 Reiyez a0 Reina tal feruivo, Hum Egas,tz bit dom Fras ,j de Hlonere) ‘A (tara parelles fo cobige: Pois polos doze pares daruor qaero, Os doze de Inglaterraex3 Jeu Magric, Danwostambem aqueleillaltre Gama, Que pars fide Eneastoma efama. Figure 16 ~Tranterigio conservadors d’O+ Lusiadas Por eftes vos darey hum Nuns fero, Que fez ao Rei, & ao Reine tal fervio, Flu Egas, & hit dom Puas,j de Homero A Citara parelles fo cobigo: ais polos doze pares danios quero, Os doze de Inglaterra, & o Jeu Magrigo. Douues tamer aguelle illustre Gama, Que para Ji de Eneas toma ¢ fama. Figura 17 ~ Transerigio uniformizadora @’Os Lusadas Por estes vos darei umm Nuno fero, que fez a0 Rei ¢ 20 Reino tal servico, uum Bgas ¢ um Dom Fuas, que de Homero a chtara par'eles 86 cobigo, pois polos Doze Pares dar-vos quero 0s Doze de Inglaterra € 0 seu Magrigo. Dou-vos também aquele ilustre Gama, que para si de Enéas toma a fama, 116 « nvrnopugio A enivica rexrunt Comparando as duas transcrigdes € possivel perceber como 0 tipo itélico foi mantido na primeira, mas substitufdo por redondo na segunda; como os alégrafos contextuais <> foram mantidos na primeira, mas uniformizados em <5 > na segunda; como os alégrafos € < v > foram mantidos como no modelo na primeira, mas uniformizados em , para representagio de fonema vocilico ¢ semivo- cilico, e em < v >, para representacZo de fonema consonan- tal na segunda; dentre outras diferengas*, ‘A teanscrigio dos caracteres alfabéticos é uma das fortes mais importantes de erros em edigdes: cf..0 que jé se disse aqui sobre os chamados enos paleogrifco: (nas pp. 82-3). ‘Um aspecto especialmente complexo & 0 das diferengas de médulo, seja quanto ao seu reconhecimento seja quanto a sua uniformizagio. No que se refere ao reconhecimento, a dificuldade existe quando a diferenga entre maitiscula e minéscula se baseia pra- ticamente na dimensfo: para grafemis como o g,a diferenga de médulo baseia-se na dimensio e no tragado (¢f. x ), mas, em casos como 0 do 9; diferenca reduz-se quase total- mente a dimensio (cf. x ).Em casos como este tl- timo, o problema est no fato de existir, em textos manus- critos, uma escala gradiente de formas, sendo as formas inter- medidrias ambiguas: no é possivel saber claramente quando se trata de maidiscula ou de miméscula. Naturalmente esse pro- bblema tem conseqiiéncias: como a pontuagio de textos mui- to antigos era restrita em termos de formas (sendo a principal, © ponte), um dos critérios para se determinar o limite de um. 6. Argos apatentemente apenas uma carcetes do moteo ao tr sido epre- senda neta mnserigioconserador signa de com <> em < dt >, Cide com <1 cm © ste > presen na impress de 1572. NORMAS DE EDICKO © 117 perfodo é justamente a presenga on auséncia de maitisculas; rio sendo possivel estabelecer essa diferenca, nfo se pode, em muitos casos, reconhecer o limite de periodos, ‘Ja quanto a uniformizagio da diferenga de médulo, o pro- bblema est em saber quando ela seria signiicativa em termos textuais: se, em textos medievais, essa diferenga parece reger principalmente os limites de periodos, jé em textas de épocas posteriores outros valores parecem ter sido agregados, pois & muito comum, em textos do séc. XVIII, escreverem-se subs~ tantivos abstratos iniciados por maitisculas, nfo importando sua posigio no periodo ~ tal uso parece revelar uma concep- io estética em que os conceitos expressos pelo substantivo sofiessem uma espécie de animizacZo, tornando-se entidades independentes do ser humano. Levando em conta essa questio, Rosiello (1966:72) pro- pés 0 estabelecimento da diferenca entre aldgraos denotatives e «conotativos. os primeitos sio aqueles cujo elemento de varia io relativo & unidade (o grafema) nfo acrescenta nenhum valor atribuivel de relevancia cultural ou estilistica ao signifi~ cado da propria unidade, enquanto os segundos so aqueles em que hi a atribuigio de relevincia cultural, estilistica, de gos to literério ou de caracterizagio regional. Segundo essa con cepgao, dever-se-ia, em uma edi¢io interpretativa cu critica de um texto literdrio, p.ex., do séc. XVIII, manter as diferengas de médulo originais, pois tinham um significado especial na época. Tal critério também poderia ser levado em conta 20 se editar texto com as grafias latinizantes do séc. XVI (com abundincia de ¢h, ch, y, etc.) pois tinham um valor cultural es- pecifico dentro do contexto do Renascimento. 6) Abreviaturas No passado era muito comum 0 emprego de abreviaturas, 1.6, de formas reduzidas de se escrever uma palavra, as quais ¢ eoec c 6 ye Ys IIIS 2 118 w wwTRooUGAO A GRiTICA TEXTUAL se poderiam compor de grafemas alfabéticos (as letras) ¢ no alfabéticos (os sinais akzeviativos). Tomando como ponto de partida a proposta de Cruz (1987:81-101), podem-se classifi- car as abreviaturas, segundo a natureza do sinal abreviativo, em: 4) abreviatura por sinal gral, composta por um trago sobre~ posto que apenas indica tratar-se de abreviatura, sem se assi- nalar quantas e quais letras foram suprimidas: p. ex., agle aquele. Esta pode ainda ser subdividida em (i) abreviatura por suspensdo, caracterizada pela manutengio de apenas a primei- ra letra da palavra (caso de sigld) ou pela supressio de parte final da palavra (caso de apdcope):p.ex.,A.= Autor e &h = endey (ii) abreviatura por contagio, definida pela supressio de uma seqiiéncia no interior ca palavra:p.ex., dF = deus;e (ti) abre~ viatura mista, quando em uma mesma palavra se verificam contragio ¢ apécope: p. ex., soni = somente, ii) abreviatura por sinal especial, caracterizada pela pre- senga de um sinal que indica quais seriam as letras elimina- das: p.ex.,ct0 = certo (o sinal "é normalmente utilizado para abreviar seqtiéncias com e ¢ r, como er € re). Esta pode ser ainda subdividida em (i) abreviatura com significado préprio ¢ absoluto, i 6,0 sinal abreviativo sempte refere-se a urna mes ma seqiiéncia: p. ex., p' = por; e (ii) abreviatura com significa- do relativo, ou seja, 0 sinal abreviativo refere-se a diferentes seqiiéncias, dependendo da posi¢io em que ocorre: p. ¢x., Stra = contra, mas auj9 = cujos. ii) abreviatura por tra sobreposta, constituida da sobrepo- sigo de uma ou duas das letras que fazern parte da seqiiéncia suprimida: p. ex., 010° = outro. Umm tipo especial de abreviaturas sio os chamados no nna sacra, Sua forma em textos em lingua portuguesa, com- posta efetivamente de caracteres latinos, s6 se entende em sua historia: tendo sido transmitidos de textos gregos cristios para tradugSes latinas, mantém ainda marcas de sua origem, NORMAS DH EDIGAO w 118 pois, em casos como ao (= christo) e ihu (= iesu), tem-se reflexo da abreviacura original em caracteres gregos: x lati- no = x grego ¢ p latino = p grego, no primeiro caso; ht la~ tino = 7) grego, no segundo. No passado um dos problemas de transcri¢io de abrevia~ turas estava na dificuldade de se reproduzirem tipografica- mente os sinais abreviativos em transcrigdes conservadoras; hoje, porém, com os recursos da informatica (mais especifica~ mente, dos editores de fontes para computador), pode-se re- produzir qualquer forma de sinal abreviativo, algo necessirio em uma edigio diplomitica. Em transcrig6es uniformizadoras, 0 problema esti em como desenvolver as abreviaturas, ou seja, como substituir os sinais abreviativos por caracteres alfibéticos. Como em qual- guer um dos tipos fundamentais de edigao jé citados ha sem- pre o respeito & lingua do texto, costuma-se adotar certos cri- térios no desenvolvimento de abreviaturas. Para se evitarem, projecdes anacténicas da lingua do editor (do presente) sobre a lingua do texto (geralmente do passado), costuma-se de- senvolver uma abreviatura de acordo com as formas por ex- tenso da palavra er questio presentes no modelo: assim, abreviatura p’gunia, que a rigor poderia ser desenvolvida como pregunta ou pegunta, é deseavolvida de acordo com aquela dessas duas formas que estiver registrada por extenso em alguma passagem do modelo. Na existéncia das duas no modelo, elege-se a mais freqiiente; em havendo a mesa freqiiéncia para ambas, escolhe-se @ mais comum em textos do mesmo autor (quando conhecido), da mesma regio ou ainda da mesma época. ©) Separagao vocabular (intra- @ interlinear) Nos primérdios da escrita, utilizava-se a chamada scripta continua, em que nio se inseria espago em branco na cadeia 120 « iwrRopUGiO A CRiTICA TEXTUAL de caracteres Com o passar dos tempos, esse recurso come- ou a ser utilizado, certamente para facilitar a leitura. Em tex- tos portagueses medievais, o espagc ocorria entre seqiiéncias que geralmente correspondiam a 1m voetbulo fonolégico, ou seja,a uma unidade acentual organizada em torno de uma silaba tonica, que se pode compor de um ou mais vocabu- los morfoldgicos:p. ex., artigo + substantivo, preposigio mo- nossilébica + substantivo, ete, Posteriormente comegou-se a separar as seqiiéncias levando em conta basicamente 0 vocd- bulo morfolégico (artigo, substantivo, adjetivo, verbo, etc.) Em se tratando dessa questo, 0: problemas aparecem se ja quando se reproduz fielmente a separagio do modelo seja quando se adota © sistema atual (paseado no vocébulo mor- foldgico) Quando se mantém a separagio vocabular do modelo, a dificuldade est em determinar com precisio e seguranga 0 que esté junto ¢ 0 que esté separado: isto dé-se porque, em fangio da manualidade de escrita de testemunhos manuscri- tos, a extensio do espago em branco varia consideravelmente, sobretudo na segunda metade de cada linha, quando a mar- gem direita come¢a a se aproximar e o copista tenddea com- primir o texto para respeitar a margem ~ em textos impressos, essa dificuldade, existente, costuma ser menos fieqiience. Por outro lado, quando se adota o siscema atual de separagio, nem sempre é ficil reconhecer se uma seqiiéncia representa ape- nas uma palavra ou mais de uma. Assim, em uma seqiiéncia como devealevantar, pocler-se-ia estar representando uma ca- deia composta de dois verbos deve + alevantar (variante proté- tica do verbo) ou de verbo deve + preposi¢io ou pronome obliquo a + verbo levantar. Por volta do séc. XVI, a necessi- dade de se escrever mais rapidamente tornou a escrita cada vvea mais cursiva e, paralelamente, mais encadeada: assim, em textos manuscritos (geralmente de cunho juridico) posterio- NORMAS DE EDICAO « 121 res a essa época é comum encontrar quase linhas inteiras de caracteres ligados uns aos outros, mesmo repreentando vo- cibulos morfolégicos. Nesses casos, 0 reconhecimento de fronteira de palavra (necessirio para uma edi¢do interpreta tiva ou critica, p. ex.) também é igualmente problemitico, d) Diacriticos ‘Aos caracteres alfabéticos era comum acrescentarem-se sinais para thes conferir valores especificos: so os diaortcos ‘Modernamente compreendem sinais grificos como cedilha <.>ytil <>, acento agude <‘ >, ponto < + >, acento grave <*>, acento ciraunflexo < "> © trema <" >, Em textos medie- vais portugueses, j4 se constata a presenga de, pelo menos, os quatro primeiros (cf. Cambraia, 2003), embora seus usos fos- sem distintos do sistema atual. Para sua transcrigZo fiel, topa-se principalmente com 0 problema da deteccio de sua presenga: por serem sinais bas- tante discretos graficamente, sua presenga pode ser ofuscada pelo desaparecimento da tinta (0 que, no caso de caracteres alfabéticos, fica evidente, no'entanto, pela lacuna na cadeia gré- fica); além disso, pontos e tragos finos podem ser confiandidos com manchas deixadas no processo de registro com tinta, Mas hé certamente um problema ainda mais complexo em relagio aos diacriticos: quando se opta por substitu‘-los pelas formas e usos atuais, é necessério primeiramente deter minar seu valor no modelo, tarefa nem sempre possivel de se fazer com seguranga. Como exemplo, podem-se citar 0s ca- sos do acento agudo e do til analisados por Cambraia (2003) 7. Atsalments © ponto, mbém chamado de ping, apresenta-teertalizado no alé- twat minésculo do grafema mas em textos mediewis nfo ocorria sobre cle © ‘78 opetomal abe 0 y. ce CECE > SOA 122 w INTRODUGAO A ERITICA TEXTUAL no testemunho do Livro de Isaac presente no céd, ale. 461 (da Biblioteca Nacional de Lisboa). © acento agudo (cu simplesmente o inazo oblique) podia cocorter duplicado sobre caracteres contiguos em textos anti~ 05: quando representavam wogais etimol6gicas,o acento mar- caria hiato entre vogais orais decorzente de sincope de con soante intervocilica nio-nasal (cf. mii, do lat. NUDU-) ou hiato entre vogal nasal e oral decorrente de sincope de con soante intervocilica nasil (cf. vifde, do lat. VENITE); quando re~ presentavam vogais nio-etimolégicas, 0 acento marcaria hiato entre a vogal representada pelos dois grafemas contiguos € 2 ‘vogal seguinte (ambas orais) decorrente de sincope de con- soante intervocélica nio-nasal (cf. principddes, do lat, PRINCI- PALES); ou abertura da vogal (cf. 04, interjei¢io de vocativo). Em certos casos, porém, seu valor niio é claro, pois em dados como vffr 0 traco obliquo duplicado poderia estar marcan- do vogais geminadas etimol6gicas nasais ou orais, ambas op- «es possiveis nfo apenas de acordo com o que se sabe da evo- luglio fonética desea palevra: uéitie > vir > viir > vir (Williams, 1991: 248) mas também pelo fato de ocorrerem no mesmo testemunho as formas vijnr (com marca evidente de nasali- dade) e vijr (sem marcz evidente de nasalidade). Isto signifi- ca que, se em uma edigo interpretativa se converter a for- sma original vffr em viinr ou viir,em qualquer um dos dois c2~ 508 a opedo sera sempre subjetiva, pois ambas sio igualmen- te possiveis, ainda que muito distintas. Caso ainda mais complicado € o do til (ou simplesmente 0 traso horizontal). Originalmente, esse traco consistia em um sinal abreviativo utilizado em abreviatura por sinal geral (ou seja, que substituia qualquer tipo de seqiiéncia suprimida em ‘uma abreviatura), Em Sango de um fenémeno fonolégico muito proprio da lingua portuguesa ~ a sincope de consoan- te nasal alveolar intervocilica, ocorrida por volta do séc. XI ORMAS DE EDIGAO # 123 (Teyssier, 1993: 15-6) —, esse sinal abreviativo adquiriu um novo significado: em ver. de marcar supressio grifica de um ow mais grafemas, passou a marcar a nasalidade adquirida pela vogal que precedia a referida consoante nasal antes desta so- fier sincope ¢ mantida, em certos casos, apés a sincope. As- sim a seqiiéncia grfica lia representaria foneticamente algo como [rluna] em textos latinos, mas provavelmente [lia] em textos portugueses. Um dos problemas esti no faro de que esse diacritico, em textos manuscritos, costuma apresen- tar oscilago em sua extensio, o que suscita divides sobre de ‘quais vogais estaria marcando nasalidade. As diferentes inter- pretacées para esse problema tém gerado diferentes atitudes de editores: assim, para 2 forma portuguesa medieval derivada do lat. UNU- & possivel achar transcrigSes como as seguintes: itu, hit, ht e/ou huit (no caso de edigdes interpretativas € criticas, é comum suprimir-se 0 h,ndo-etimolégico). Ainda em relacdo ao artigo indefinido, costuma haver problemas em relagZo 3 forma hija: como em certs época se desenvolve uma consoante bilabial no meio do hiato, nem sempre é claro se 6 til est como marca de nasalidade ou como sinal abrevia- tivo de m. Segundo Bechara (1985: 68), ¢ apenas a partir do séc. XVIII que se fixa a grafia uma (prova irrefutavel da con- solidacdo da epéntese) — mas deve-se levar em conta que 0 re- gistro sistemético de um dado fato na escrita é geralmente precedido por um considerivel periodo desde seu apareci- mento na fala, 0 que significa qu? muito provavelmente a epéntese jé teria comesado a ocorter antes do séc, XVII, so- bretudo porque um caso similar, a epéntese na passagem de ina para minha, i € registrado desde o séc. XIII (cf. a forma ‘minna, em que O digrafo nn representa o fonema / pi /, pre- sente na Cantiga de Santa Maria 135 (Mettmann, 1972: 196). Melo (1988: 18), no entanto, considera errénea a pratica de se substituir a forma fla por uma em textos do sé. XVI (Os 124 « iTRopugho A cxltics TEXTURAL Lusiadas, de Camées) e do XVII (Vida do Venerdvel Padve José de Anchieta, de Simo Vasconcelos, 1597-1671). @) Pontuacéo ‘Além dos sinais abreviativos e dos diacriticos, outra clas se de caracteres nio-alfabéticos sio os sinais de pontuagao. ‘Também estes elementos passaram por mudangas ao lon- go da historia: em termos nao aperas de inventério mas tam- bém de uso, Em textos medievais portugueses, os sinais mais comuns so 0 ponto e a barra inclinada, mas acham-se tam- bém, em certos testemumhos, sinais como 0 ponto-e-virgula invertido, 0 ponto-de-interrogacio e o hifen, além de dife- rentes combinagSes entre sinais. No séc, XVI, Joo de Barros apresenta como sinais, em sua Gramética da Lingua Portuguesa (de 1540), a coma <:>,0 clon <. >, a viigula < , >, 08 pa- sénteses < () > e a interrogagio <2 > (cf. Barros, 1971:154); no séc. XVII, Duarte Nunes Leo, em sua Ortogiafa da Lingua Portuguesa (de 1604), refere-se inicalmente a vigula <, >,3 coma <> e a0 cblon < . > ~ mas cepois amplia a lista com o interogativo , 0 admirativo <>, 0 parigrafo , os parénteses <() >,0 meio-ciratlo <)>, 08 dpices <.. >, 0 hifon <->, 0 asterico <* >, 0 obelisco <— >, a brachia <~>,a divisio <-> © 0 Angulo < V > (cf. Leo, 1983: 177 e 180). A transcrigao fiel dos sinais de pontuacio, independente- mente da época, é hoje em dia perfeitamente vidvel, pois os editores de fontes permitem a criagio de caracteres com qualquer forma. O problema da pontuagio no proceso de edigio manifesta-se quando se prope a uniformizé-la segun- Go 05 sinais € os usos atuais,Talvez 9 exemplo mais significa- tivo deste problema seja a oposi¢io entre oracdes adjetivas restritivas e explicativas: como poderiam, ambas, no passado vir separadas por algumn sinal (p. ex., 0 ponto), a op¢io por NORMAS DE EDIGKO w 125, substituir o sinal do testemunho em edigdo por virgula (para a explicativa) ou por espago branco (para a restritiva) tern im— pacto direto sobre o sentido do texto, ou seja, repontuar um texto, mesmo adotando um sistema parcimonioso e forte- mente baseado nas ocorréncias originais, significa necessaria~ mente fixar-lhe uma interpretagio. Jastamente por isso & necessirio ao critico textual familia~ rizar-se com os sistemas antigos de pontuagio em lingua por- tuguesa, o que pode ser feito através dos estudos atualmente disponiveis a esse respeito, tais como Ferreira (1986), Martins (1986), Rosa (1994), Machado Filho (1999, 2002) e Santos (2002); para visio paronmica da pontuagio no Ocidente, 0 trabalho mais completo é o de Parkes (1993). f) Paragratacéo Assim como nao se separavam na escrita os vocdbulos por ‘espaco branco, também nio costumavam ser marcadas as uni dades textuais intermedisrias entre 0 periodo € 0 capitulo, ou seja, os pardgrafos. Em textos medievais portugueses, os limites de tais unidades eram eventualmente marcados atra~ vvés do caldeitio (forma que se assemelha a0 sinal atual < >), fregiientemente escrito com tinta vermelha, ou ainda atra~ vvés da palavra Item (ou de sua forma abreviada: I). Outra for ma de marcar unidades textuais eram as letras iniciais, que po- deriam assumir dimensio bem superior & da média e vir ri- camente ornadas (as capitulares iJuminadas) ou apenas vir na dimensio de uma maiiscula regular, nas em cor distinta da do texto. Com os livros impressos, tal sistema comegou pau latinamente a se modificar, embora nos primeitos tempos 0 uso de caldeirao e capitulares ornadas fosse predominante (Cha esse respeito a figura 5,na p.74,¢ a figura 8, na p. 79) Caso se opte por introduzir paragrafos ao se realizarem edigdes mais uniformizadoras, é preciso avaliar de que for- Counc: - YAW 126 w iwrnopugho A cntrica TEXTUAL ma tal agio poder modificar 0 sentido do texto, através de fragmentagio de unidedes harménicas ou de fusio de uni- dades independentes, 9) Sinais especiais Com 0 objetivo de informar ao consulente sobre certos procedimentos adotades, costuma-se utilizar um conjunto de simbolos, tais como parénteses redondos, parénteses uncina~ dos, colchetes, chaves, etc. Infelizmente 0 patriménio ecdético em lingua portugue- sa apresenta uma grande diversidade de praticas quanto a esse aspecto. Essa diversidade parece decorrer nao apenas do de- senvolvimento das técricas de edigio, que acaba impondo a necessidade de mudangas nos sistemas tradicionais, mas tam~ bém do fato de textos de épocas distintas apresentarem parti cularidades que inviabilizam sistemas universais. Como exem- plo, pode-se citar 0 fato de que é comum utilizarem-se 0s colchetes para se assinalarem acréscimos a umm texto realizados pelo editor: se tal pratica é perfeitamente viével em relagio a textos medievais, ndo o é em relagio a textos modernos, pois nestes 0 emprego de calchetes pode ficar ambiguo, ja que 0 proprio autor do texto os pode ter utilizado (na escrita me- dieval nio h4 0 uso de colchetes) 5.3. PROPOSTAS DE NORMAS GERAIS. ‘Varias propostas pata se uniformizar 0 conjunto de nor mas empregadas na edigio de textos antigos (em especial, me- dievais) em lingua por-uguese jé foram realizadas'. Dentre 8, No dominio ibero-rominico zchamseiguslmente proposta pita o espanholyela~ bborads pelo Escuela de Esuios Medievsles (Norm, 1944), « para 0 galege de sutorin de Lorenzo (1988: 76-85}. MORMAS DE EDIGAD « 127 essas, podem-se citar a do Centro de Estudos Filologicos de Lisboa (Castzo et al., 1973) e a do Instituto de Paleografia de Coimbra (Costa, 1977). A essas podem-se ajuntar ainda a pro~ posta estabelecida durante o II Encontro Nacional de Nor- matizagio Paleogrifica e de Ensino de Paleografia, realizado em Sio Paulo no ano de 1993 (reproduzida em Berwanger & Leal, 1995: 67-70), € a proposta elaborada durante o II Se- mindrio para a Hist6ria do Portugués do Brasil, realizado na cidade de Campos do Jordio em 1997 (publicada em Mattos ¢ Silva, 2001, vol. If, t. Il: 553-5), estas duas visando prinei- palmente'a manuscritos brasileiro: ‘Apesar dessas tentativas de uniformizacio, as normas de edigio de textos em lingua portuguesa continuam padecen- do de grande diversidade’, o que, nesse caso, nao constitui ne- nhum beneficio. Nio parece haver uma causa ‘nica para a dificuldade de se uniformizarem as normas para 2 edigio de textos em por- tugués: 0 exercicio da critica textual no mundo lus6fono historicamente bastante timido, o que certamente tem tor- nado o avango das técnicas mais lento; 0 progresso nos es tudos lingiifsticos ¢ literdrios tem imposto a necessidade de revisio € modificagio de priticas passadas; a concentracio do exercicio de edicio, no mundo académico, sobre textos medievais em detrimento de textos de perfodos posteriores (p.ex., renascentistas ou barrocos) impede a busca de nor- mas mais abrangentes, transtemporais; 2 falta de diglogo sis- temitico entre profissionais de diferentes especialidades que atuam efetivamente na execugio de edigio de textos — cri- cicos textuais, paledgrafos, historiadores, lingiiistas, criticos 9. Exsmpos dessa diversidade de pritias podem ser verificados na didtica anise de orsnas de edigdo relizada por Diss, Marques &¢ Rodrigues (1987: V-XILI):com- ptaantse 15 eonjuntes de normasaplicadasna edigie de documentos htéricas 128 « wwTRODUGKO A CRITICA TEXTUAL literdrios — dificulta a cizculagao do saber continuamente cons- tituido a cada experiéncia, o que propicia a adogio de pré ticas cujas insuficiéncias ja haviam sido percebidas em traba- Ihos de uma dada especialidade ~ enfim, hi a concorréncia de varias condigdes determinando a dificuldade de se alcan- carem priticas convergentes. Para servir de referéncia aqueles que se propuserem a f2- zer edigdes (sobretudo de textos medievais), apresenta-se a seguir um conjunto bisico de normas para cada tipo de edi- Go: excetnam-se aqui a fac-similar,cujos problemas sio mais propriamente de ordem tecnolégica, ¢ a genética, por se tra- tar de urna abordagem ainda recente, o que dificulta a iden- tificago das questées técnicas mais centrais € recorrentes. , que representa 2 conjuncio aditiva e) com base nas formas por extenso presentes no modelo, trans- crevendo em itélico os caracteres acrescentados em subs- tituigao ao sinal abreviativo. 10. Pan exemplo de aplicagio dass normas para edicio paleogrfics, ef Cambr (200, 2002), Cambraa er al. (2001) e Carnbraia& Alkimin (2004) 130 « wwtRODUGAO A extrica TEXTUAL ©) Diartcos: tanscrever uniformizando os sinais segundo sua forma atual (mas mantendo seu uso tal qual no modelo). 4d) Sinais de pontuaséo: ‘ranscrever Gelmente segundo as for- mas presentes no modelo. ©) Caracteres de leitura duvidosa: transcrever entre parénteses redondos simples (). £) Caracteres de leitura imposstvel: transcrever como pontos dentro de colchetes precedidos pela cruz + (0 nfimero de pontos é 0 de caracteres nio legiveis estimado).. @) Caracteres riscados: tanscrever entre chaves duplas {{ }}. h) Caracteres apagados: nformar em nota quais seriam. 4) Caracteres modificados: informar em nota a forma primitiva 4) Caracteres nas entreliahas: transcrever, j& no ponto do tex to pertinente, entre parénteses uncinados duplos << >>. 1) Caracteres nas margers: transcrever, no ponto do texto per- tinente, entre parénteses uncinados simples seguidos de chave simples <{ }>; quando nio fizer parte do texto,in- formar em nota m) Separagio vocabular (intra e interlinea’: reproduzir fielmente. n) Paragrafagao: reproduzir fielmente. “ ©) Insengdes conjecturas: inserir elementos por forca do con- texto entre parénteses uncinados simples < > e por des- gaste do suporte entre colchetes simples { ] p) Supressdes conjecturas: transcrever ertos por repetigo en~ tre colchetes duplos [[ ]j; transcrever erros de outra na- tureza entre chaves simples { }. ) Mudanga de fli, face e coluna: informar na margem de ca~ beca, em itdlico e entre colchetes simples: [ ]. 1) Mudangas de punko: informar em nota. 8) Mudanas de tinte: informa em nota. ) Qualquer outra partiaularidade: informar em nota. uu) Numeragéo de linka: inserir na margem externa, contando de 5 em 5, de forma continua em todo o texto. NORMAS DE EOIGAO # 131 5.3.3. Edigdo interpretativa a) Caractere alfabétcos: wranscrever como caracteres romanos redondos. Uniformizar as diferencas de médulo segundo o sistema atual de uso de maidscula ¢ mintisculas. Unifor- mizar os alografos contextuais segundo sua forma atual. ‘Uniformizar a representagdo grifica segundo o sistema atual, com especial atengo 0s seguintes casos: ~ simplificar caracteres de valor vocilico duplos, quando nGo-etimologicos; ~ simpllficar caracteres de valor consonantal duplos, eti~ mologicos ou nio (exceto rr 5); ~ uniformizar a representagio de nasalidade; — uniformizar a representagio de consoantes palatais com Ihe nh, = uniformizar 0 uso de ce ¢ para represeritago de con- soantes sibilantes; = uniformizar 0 uso de ce qu para representacio de con- soantes velares; —uniformizar 0 uso de g ej para a representagao de con- soantes palatais ou velares; ~ uniformizar 0 uso de h, segundo a etimologia ) Sinais abreviativos: desenvolver todos (inclusive a nota ti- roniana) com base nas formas por extenso presentes no modelo, transcrevendo em tipos redondos 0s caracteres acrescentados em substituigio 2o sinal abreviativo, ©) Diacrticos: uniformizar as formas e as fangées de acordo com o sistema atual, respeitando as oscilagées do origi- rnal quanto & marca de nasalidade, @) Sinais de pontuagio: uniformizar as formas e as fungdes de acordo com o sistema atual (baseado fandamentalmente em critérios sintéticos), suprimindo ¢ inserindo quando necessério. 132 « intRopUGho A eRiTIcA TExTUAL ©) Cancteres de leitura duvidosa: informar em nota. £) Cavacteres de leitara impossivel:informar em nota © niime- 10 estimado. 8) Caracteres riscados: no transcrever, h) Caracteres apagados: nfo, transcrever. 4) Caracteres modificados: transcreve: segundo a forma final. 5) Caraceres nas entrelinhas e/ou nas margens: transcrever, no ponto pertinente do texto; quando ni fizer parte do tex- to, nio transcrever. 1) Separagao vocabular(inta- ¢ interinear): uniformizar segundo © sistema atual, baseado no vocibulo morfologico. Marcar lisdes com apéstrofo; ¢ mes6clses e énclises, com hifen, 1m) Paragrafagio: estabelecer segundo o sentido do texto, 1) Insergdesconjecturais:inserir elementos por forga do contex- to e por desgaste do suporte, informando ambos 0s casos em nota, ©) Supressies conjecturais: suprimir qualquer tipo de erro, in formando em nota P) Mudanga de fio, face e coluna: informar, na margem exter na (colocando uma barra inclirada no ponto de transi- Gao no préprio texto), em caracteres itélicos e entre col- chetes simples [ ]. @) Mudangas de punto: informar em nota, 1) Mudangas de tinta: nao informar em nota, 8) Qualquer outra particularidade: informar em nota sempre que pertinente ao texto. *) Numeragzo de linha: inserir na mergem externa, contando de 5 em 5,de forma continua em todo 0 texto. CAPITULO 6 EDIGAO CRITICA Como ja se esclareceu na segio 4.2.2.1, a edigio cxitica caracteriza-se fundamentalmente pelo contraste de dois ou mais testemunhos (geralmente apégrafos). Pode-se dizer que a edigio critica é o objeto por exceléncia da critica textual, pois é em sua elaboracio que a técnica de estabelecimento do texto exige maior sofisticacio. O processo de realizagio de uma edigZo critica pode ser dividido em duas grandes etapas:a do estabelecimento do tex- to ctitico e a de sua apresentagio (a primeira constitu domi- nio da critica textual propriamente dita, enquanto a segunda se encaixa na parte especifica da ecdética). 6.1, ESTABELECIMENTO DO TEXTO CRITICO O processo de estabelecimento do texto pods por sua vez, ser dividido em duas fases: a recensdo e a reconstituyzo do texto. 6.1.1. Recensdo A recenséo (lat. recensio) constitui-se basicamente do estudo das foutes, com 0 objetivo de se compreender a tradigao de um dado texto. G COCK YINIIMIYVD: - 134 w wTRODUGAG A CRITICA TEXTUAL © conjunto das fontes de um texto constitui sua tradigao, ‘que se divide em direta ¢ indireta.A tradigio dreta compreende todos os testemunhos de um dado texto, de forma geral com- posta basicamente de testemunhos manuscritos (tradigio ma- nuscrita) e impressos (tradigo impressa)'J& a tradi indireta compée-se de todos aqueles testemunhos que nio so propria- mente registro literal de um dado texto, mas estio intimamen- te ligados a ele, tais como tradugées, parifiases, citagdes, etc. 6.1.1.1. Localizagao e coleta das fontes Uma ver escolhido 0 texto que seri objeto de estudo, deve o critico textual identificar e coletar todos os testemu- hos da sua tradigao direta e indireta, No passado, o princpal instrumento para localizacio de testemmunhos eram os catilogos impressos, que foram organi- zados segundo critérios diversos, Fé catélogos que tratam de colegies:0 fundo alcobacznse, p. ex., aparece inventariado em Ataide e Melo (1930-1932) e Amos (1988-1990). Existem ca- tilogos que se organizam segundo a época dos textos: textos medievais foram inventariados por Cintra (1951), Silva Neto (19566), Cepeda (1995) ¢ Askins, Faulhaber & Sharrer (2004). ‘Acham-se ainda catilogos que se baseiam na época de impres- sio: Haebler (1903) e Nerton (1978). De especial interesse io os diversos catdlogos das bibliotecas nacionais, no apenas de Portugal e do Brasil mas também de paises com que tinham relages mais proximas: Espanha, Inglaterra, Franca, Itilia, etc. Outra fonte ainda importante para localizagio de teste munhos sio os manuais de histéria da literatura (no caso de textos literdrios) e os ensaios criticos, pois nfo raramente um 1. Ems eatndo de textor mais modernas, devem-aelevar em conta sinds 3 tragic ho duileseriese» digi EDICKO eRITICA « 135 dado pesquisador menciona fontes « que teve acesso mas que no constam nos referidos catéloges. ‘Apos se ter identificado quais so os testemunhos existen- tes de um dado texto, deve-se obter uma cépia de cada tes- temunho. Em se tratando de manuscritos, geralmente enco- menda-se 2 institui¢io que os possui c6pia microfilmada, em papel ou, como é possivel atualmente, em formato digital (nestes dois dtimos casos, a reprodugio costuma ser feta, via de regra, a partir de cépia microfilmada). Quando se trata de testemunho impresso, pode-se obter copia da maneira aci- ma descrita ou ainda através de aquisigio de um exemplar de cada edigdo, no caso de ainda existir dispontvel no mercado. 6.1.1.2. Colao ‘Terminadas.a localizagio e a coleta das fontes, pode-* passar a uma subfase bastante ardua: a da colagéo (lat. collatio), etapa em que se comparam os diversos testemunhos de um texto para se localizarem Iugares-criticos. Um lugar-rftico (la. locus criteus) constitui um ponto do texto em que os testemu- hos divergem. As diferengas podem estar em diversos ele- mentos do texto: capitulos, periodos, palavras, morfemas € fo- nemas (representados por diferentes grafemas). Esses elemen- tos podem diferir pela sua auséncia em um testemunho & presenga em outro; pela sua ordenaio diferenciada entre os testemunhos; pela sua equivaléncia a outro elemento en ou- tos testemunhos, etc. A cada palavra ou grupo de palavras de um testemunho costuma-se chamar de ligao (lat, lectio); en do a ligo de um testemunho distinta da de outro(s), podem elas entio ser rotuladas de variantes Para a realizacdo dessa subfase, costuma-se eleger, dentre os componentes da tradigio direta, um festenuunho de colagio Esse testemunho serd utilizado para se efetuar a comparagio com os demais componentes da tradicZo direta. Entretanto, 136 « nerRoUGHO A CRITI TEXTUAL caso as informagdes obtidas nessa primeira comparagio nio sejam suficientes, faz-se naturalmence a compatagio de ou- tos testemunhos entre si, segundo a necessidade. A escolha do testemunho de colagio geralmente baseia-se na sua qualida- de: escolhe-se o mais completo ¢ em melhores condigées. A selecio de um néimero significativo de lugares-criticos constitui tarefa fundamental para a realizacio da subfase se- guinte: a estemética. 6.1:1.3. Estematica A estemética constitai a subfase era que se determina a re~ lagio genealégica entre os testemurihos de um texto. Na visio tradicional, que se bascia no método sistemati- zado por Maas (1927), 0 elemento bisico do processo sfio os ens signifiativas (lat. errores significatui). Para que o método seja aplicado com seguranca é necessitio, primeiramente, que se tena certeza sobre qual das variantes existentes em cada lugar-critico é um erro, ou seja, uma forma nio-genuina. Em segundo lugar, é preciso que esse erro seja to particular € ‘diossineritico que no possa ter sido cometido simultinea e independentemente por dois copistas;além disso, sua condi- gio de erro nio pode ser ébvia, pos, em sendo, os copistas poderiam intervir conjecturalmente s, dependendo da obvie- dade do erro, poderiam acabar por fazer modificagdes que resultassem no restabelecimento da propria forma genufna, sem a terem visto, Como assinala Prieto (1997: 58), hé indi cios que apontam para a possibilidade de-uma ligo consti tuir erro: p. ex., palavras ¢/ou express6es sem sentido. ou es- 2, Besar que #6 podem ter sido cometides por um copits so chamados de meu _enbear 08 que podem te sido gerdosindependontemente por diferentes copie- "as slo nomeados polgenttes, EDIGAO CRITICA w 1ST tranhas, jd que um autor néo escreveria passagens ilégicas ou contririas 20 sentido do texto; ¢ palavras e/ou estruturas gra- ‘maticais que transgridam os padres lingiisticos ou estilisticos do autor (tais como formas dialetais ou modernas estranhas & lingua do autor). ‘Os exros podem ser conjuntivos (lat. coniuncti#) ow separa tivos (lat. separatiu).Um erro & conjuntive quando sua presen ga em dois ou mais cestemunhos indica haver uma relaggo de dependéncia entre eles; é separative quando sua presenga em um testemunho assinala haver uma relagio de indepen- déncia deste em relagio a outro(s). Antes de se tentar tornar mais claros esses conceitos através de uma situacio hipotética, convém explicitar certas conven- ¢6es utilizadas no estabelecimento de um estema (lat. sterama), ou seja, da drvore genealdgica que se constréi graficamente para representar a rela¢o entre os testemunhos de um dado texto: letras latinas maidsculas* representam testemunhos exis- tentes; letras gregas mindisculas representam testemunhos néo ‘mais existentes mas que se supe terem existido;¢ 0 O, quan- do colocado na parte mais alta da arvore, representa o teste~ maunho autégrafo (0 original). Consulte-se 0 quadro que se segue, onde LC = lugar- exitico;e X = forma nio-genufna (ou seja, erro) /¥ ma genuina: . Quadro t A I B [tea x x 1G. ¥ x ‘3. Dentee os eritxios paca escolha da letra latina que identifica cad teremunbo ‘existent, hi, em especial, 0 aouligie (A = 0 1mis antigo, B= segundo mai n= igo. etc) € 6 ropa (L = Lisboa, P= Pari, M = Mace, et) CoCo 138 » ivTRoDUGHO A cRITICA TEXTUAL / Nese quadro percede-se um caso em que ha dois teste- munhos (A e B), sendo que, em LC-I, A apresenta um ero le B apresenta a forma genuina e,em LC-II, 0 inverso ~ por lapresentarem erros, supde-se que nenhum deles seja o origi- Inal. Antes mesmo de se avaliar © que dizem os erros identifi- Icados, é possivel aventar trés tipos de relacio entre A e B, su- lpondo que no é possivel saber a data de cada testemunho: ‘Estema 1 ‘Estema 2 Estema 3 ° ° ° | { A A B AB | i B A ” Os dados do quadre acima, no entanto, mostram que hi ‘um erro separativo de A contra B (cf. LC-I), 0 que significa que A nio pode ter sido o modelo para B: como B poderia ter a forma genuina se tivesse tido como modelo A, um tes- temunho com a forma nio-genuina? Assim sendo, os dados de LC-I permitem eliminar o estema 1. Os dados de LC-II também apresentam um erro separativo, mas agora de B con- tsa A: isto quer dizer que B no pode ter sido modelo para |A, pois como A poderia ter a forma genuina se tivesse tido omo modelo B, um testemunho com a forma nio-genui- ? Pode-se, portanto, eliminar também o estema 2 com base m LC-II. A tinica op¢io possivel, baseando-se nos dados presentados, é 0 estema 3: A e B foram copiados de um lmesmo modelo (teoricamente, 0 original), mas cada copista Icometeu um erro em um lugar diferente; justamente porque sses er10s estio restritos a cada um dos testemunhos, perce- e-se serem independentes. Se, no entanto, se acrescentasse 10 quadro acima o seguinte dado: A B LC-Ill x l x fo esterna 3 deixaria de ser adequado, pois no explica como Ae B tém exatamente 0 mesmo erro, Diante do referido exro conjuntivo de A e B, necessirio admitir que ambos provém 4 lde um mesmo modelo, que no é o original (testemunho au- ItGgrafo ou ididgrafo): isto significa que entre o original e as cépias subsistentes terd existido uma copia (que ja tinha o ex10 [presente em LC-IIl) ~ ao testemunho apégrafo perdido que se interpde entre o original e os testernunhos subsistentes cha- ma-se de interposto (lat. intempsitus). Quando esse testemunho interposto consticai a copia que deu origem a todos os tes temunhos subsistentes, é chamado especificamente de arguéti- po, geralmente representado no estema pelo @ (6mega mintis- culo). © esvema adequado para dar conta dos dados de LC-I, \{C-Il ¢ LC-I deve, portant, tra seguinte forma: Estema 4 | ° | ® ‘\ AB A anilise de uma outra situagio hipotética certamente contribuird para esclarecer melhor como funciona 0 méto- do.Veja-se um novo quadro abaixo,com dados de tr8s teste- munhas que sio cépias: Quadro 2 A B c LOT x ¥ ¥ LCi ¥ ¥ x LC-II x x ¥ 140 w inTRopUGAO A cRITICA TEXTOAL Se dois testemunhos permitem, a priori ts possibilidades de estema, trés testemunhos permitem muito mais possibili- dades: a) os trés podem estar em uma linha tinica de tansmissio: Estema 1 ‘Estema 2 Estema 3 ° ° ° | | [ A A B I | | B c A I | I c B c Estema 4 Estema 5 Estema 6 ° ° ° | I | B | c c | | 1 c A B I | | A B A b).um pode ser o modelo para os outros dois: Estema7 | _Estema 8 Estema 9 ° | ° ° ! | | | A | B c A i A A BC \ AC AB sDIGhO CRITICA « 141 ©) dois podem estar em uma linha de transmissio e 0 ter- ceiro em outra linha: Estema 10 Estema 11 ° ° 3 A A A Ac AB BC | I I B ste A Estema 13 Estema 14 Estema 15 ° ° ° A A A BA cB cA | ! | c A B 4) 0s teés podem estar em linhas distintas de transmissio: Estema 16 ° ZIN ABC Retomando os dados do segundo quacro (na p. 139), per- cebe-se que, em LC-I, ha um erro separativo de.A contra B © C,o que quer dizer que A nio pode ter sido modelo para B ou C: climinam-se, assim, os estemas 1,2,3,7, 10 e 11.Jé ‘em LC-II, verifica-se a presenga de um erro separativo de C contra A ¢ B, ou seja, C nio pode ter sido modelo para A ou B: deixam de ser vélidos, portanto, os estemas 2, 4, 5, 6, 9, 14 e 15. Continuam possiveis, até este ponto, os estemas 8, 12, 13 € 16. Por fim, nota-se, em LC-III, a existéncia de onan 142 w iwTnopUGHO A enitica TEXTUAL / um erro conjuntivo de A ¢ B, ausente em C: isto significa que A ¢ B no podem ter sido modelo para C, fato que eli~ mina os estemas 8 e 13, em que B é modelo para C, Restam, portanto, os estemas 12 ¢ 16, mas justamente a existéncia de um erro conjuntivo ente A e B elimina a possibilidade de 16 set 0 correto, pois como é possivel existir © mesmo erro no mesmo ponto do texte em dois testemunhos distintos re~ gistrados por copistas distintos? O erro existe em A B por- que B foi modelo para A. Em sintese, 0 estema adequado para explicitar a relagio genética entre os testemunhos 4, B € C do segundo quadrc é 0 estema 12. Se, no entanto, se acrescentassem ao segundo quadro, na LP. 138, os seguintes das: [tev ("tev PA 4 [pd] p<] © estema 12 deixaria de dar conta dos dados, pois em LC- IV percebe-se que ha um erro separativo de B contra Ae C, ou seja, B nao poderia ser modelo para A ou C (no es- tema 12, B é modelo para A); além disso, em LC-V, hé um erro conjuntivo entre todos os testemunhos Para dar conta conjuntamente dos erros de LC-I, LC-II, LC-II, LC-IV e LC-V, é necessirio, em primeiro lugar, postular 2 existéncia de um testemunho interposto (a ser representado por @), do qual derivariam A e C~ apenas assim se explicaria 0 fito de ambos terem o mesmo erro, Em segundo lugar, imp3e-se postular a existéncia de outro testemunho interposto, de que se originariam todos os testemunhos subsistentes, pois todos apresentam um mesmo stro (cf. LC-V) — neste aso, trata-se do chamado arquétipo, a ser representado por ©. Em sinte- \ se estema adequado para ese sepundo caso disctido & 4 rucho cainca #18 4 q i ‘Quanto maior o niimero de testemunhos, tanto mais com- plexa se torna a operagZo de se determina a relagio entre eles. Hii, porém, dados que contribuem para limitar as possibilida- des, como, p.ex., 0 conhecimento da data exata ou aproxima- da dos testemunhos. ‘No segundo caso hipotético discutido, trabalhou-se com, ° pressuposto de que cada testemunho derivou apenas de um. modelo (situagio a que se chama de transmissdo vertical). En= tretanto, sabe-se que um copista podia consultar mais de um modelo na execugio de set trabalho, sobretudo nos grandes seriptoria, onde mais de um modelo estariam dispontveis: nes- se caso, diz-se que houve contaminagio (lat. contaminatio) 0 tipo de transmisso passa a ser chamado de horizontal; repre- senta-se essa relago no esteria com uma linha pontilhada li- gando o segundo modelo 20 testemunho contaminado. Se, no segundo caso discutido, o erro conjuntivo de A ¢ B (cf. LC-IIl) fosse, na verdade, uma ocorréncia de contamina¢io (B teria @ como principal modelo, mas teria também con- sultado A), 0 estema ficaria da seguinte maneira: ” \ para concluir ests sego, certamente seri de grande-pro- veito apresentar um exemplo real ce estema: o da tradigao da lirica profana galego-portuguesa. Consultando os dados for- necidos por Tavani (1988: 53-178), Oliveira (1994; 15-30) e Gongalves (1995: 36-51), percebe-se existirem atualmente dez testemunhos pertencentes 3 tradi¢zo manuscrita desse patri- ménio lirico, mas os conjuntos mais extensos estio registra- dos essencialmente em apenas trés: 14 « wwTRODUCKO A CRITICA TEXTUAL = Ai Cancioneiro da Biblioteca da Ajuda, datavel de fins do sée. XIII ou de principios do XIV; — B: Cancioneiro da Biblioteca Nacional também chamado Coloc- «i-Brancut, por ter sido lavrado « mando do italiano Angelo Colocci) ou céd. 10991 da Biblioteca Nacional de Lisboa, dativel de fins do séc, XV ou psincipios do XVI; ¢ = Vi Cancioneiro da Biblioteca Vaticana ou c6d. Vat. Lat. 4803, dativel de fins do séc. XV ou principios do XVI. Consultando a proposta de Goncalves (1995: 42), perce- be-se que esses trés testemunhos apresentariam a seguinte relagio': Estema da lirica profana galego-portuguesa © A AG A BV wn (198: 2) apres por su vez uo exema ss complexe, compa de lversostetemuntos inerpests ens, wprimindone ete, «rie te propbe par, Be Vases de Goole (195: 2). No etna ape fenado aqui nose ine @ Oma pate mula pogu, endo o& enone Compagnie devem rents 50 ld cont, win origina ce, DIGAO GRITICA # 145, ‘A justificativa para esse estema pode ser sintetizada da se~ guinte maneira: 2) B nfo deriva de V porque este possui lacunas em rela cio aquele (cf. cantigas 446-450, 454-477, 611, 1294, 1501- 1561 ¢ 1572-1578 de BY); b) V nio deriva de B porque este também apresenta la- cunas em relagio Aguele (ef. cantigas 1000-1040 de V); ©) Be V devem derivar de um mesmo testemunho, iden tificado no estema por @,, porque tém Jacunas comuns em comparacio a A (cf. cantigas 281, 284, 299, 302-303 e varias outras de A) e,além disso, possuem os mesmos textos (descon- tadas as Jacunas privativas de cada um), a mesma ordem, atri- bbuidos, exceto em poucos casos, 208 mesmos poetas; & 4) A nfo pode ter sido modelo para 0. porque A tem la- ccunas ausentes em Be V (cf., p.ex., cantigas 391, 394, 397- 400, 403-417 de B correspondentes is de n. 1, 4, 7-10, 13- 28 de V; dentre varias outras). io se pode encerrar esta sego sem se salientar que método aqui descrito & apenas um dos jé propostos para 0 es tabelecimento de estemas. Além deste, baseado fandamental- ‘mente na nogio de erro, ha ainda outros, que se fundamentam em aspectos estatisticos, tal como os propostos por Quentin (1926) e por Greg (1927). / Kescolha do método depende certamente da tridigio com «que se esté trabalhando ~ Reynolds & Wilson (1995: 205-7) chamam a atengio para trés circunstincias em que 0 método sistematizado por Maas teria sérias limitagdes: quando houve a chamada contaminagio no processo de transmissio; quando 6s testemunhos subsistentes de uma dada tradigo remontam a dois ramos independentes, no derivando, portanto, de um nico arquétipo; e quando um texto original circulou em di- 5. A numeragio das candgas uta aqui segue a proposta por Tava’ (1988:68-71) a sus lua since com 3 cantigascomuns privates de-A, Be V. 46 w inrRoDUGAO A cRITICA TexTUAL ferentes versbes, todas e'as genuinas (aa medida em que as al- teragdes foram introduzidas pelo proprio autor). 6.1.1.4, Eliminagao de testemunhos descritos Uma vez estabelecido 0 estema de uma dada tradicio, pode-se efetuar a eliminagio de testemunhos descritos (lat. elimi nuatio codicums descriptorun). 1 Um testemunho é considerado descrito (at. deseiptus) quan do deriva de um modelo que ainda subsiste. Veja-se abaixo © seguinte estema hiporético: // rode-se considers que os testemunhos E ¢ F sio des- critos, pois E deriva de A, ainda existente (por isso, est em letra latina maidscula no estema), ¢ F deriva de D, com con taminagio de C, ambos subsistentes. E e F sio, do ponto de vista tradicional, desnecessirios para a reconstitui¢io da for- ma genuina do texto cuja tradigZo esté representada no este~ ma acima porque qualquer elemento qué constar deles e nio estiver em A (no caso de E) e em D e/ou C (no caso de F) 36 pode ser interpolagio dos copistas, formas nio-genuinas portanto. Em situagio ciferente encontram-se, p. ex., 05 ou tros quatro testemunhos (4, B, Ce D),pois o que houver de diferente em um diante dos outzos trés pode ser uma forma oicho cninica « 147 ‘genuiina nio preservada nos outros: assim, uma forma genui- na pode ter sido preservada em A (transmitida corretamente pelo copista de 0 ¢ A), mas adulterada diferentemente pe- los copistas de B, C e D (estando o erro de forma igual nes~ tes dois dltimos, certamente tera sido ce responsabilidade do copista de B) - sendo assim, o testemunho A é de capital importincia para o restabelecimento da forma genuina, > ‘Diz-se acima que esse procedimento & 0 que se faz tradi- cionalmente porque novas concepgées do que deve ser uma edigio critica tém-se constituido nos tltimos tempos. Por mais rigoroso gue seja 0 método de se realizar uma edicio critica, Ho se pode pensar que tal atividade produza resultados irre fitaveis: sio, no melhor dos cas0s, aproximativos, rigorosos, nas ainda assim aproximativos. Justamente por isso, mesmo depois de se ter, por diversos mecanismos, escolhido uma va~ riante por se considerar que é a forma genuina mais provavel, registram-se ainda assim as outras no chamado [iparao artco O registro de variantes no aparato critico serve a rigor par que leitor saiba quais eram as op¢des em termos de varian- tes € qual foi a decisio tomada pelo editor: de qualquer ma- neira, tradicionalmente s6 se levam em conta as variantes que efetivamente poderiam ser genufnas. ‘Modernamente, porém, tem-se avaliado que em uma edi- gfo critica se deveriam registrar nfo apenas as variantes que poderiam ser genuinas mas também aquelas que, mesmo sa~ bidamente nao podendo ser genuinas,circularam entre 0 pit- blico-leitor. Retomando-se o estema acima, em uma edi¢io ctitica ortodoxa s6 entrariam no aparato critico as variantes de A, B, C ou D; enquanto em uma perspectiva menos o:~ todoxa se levariam em conta também as variantes de Ee F (que, por serem particulares a esses testemunhos descritos, nao podem ser genuinas, como jé se explicou anteriormente). b [Naturalmente a questio que surge de imediato € por que s .e registtarem variantes que sabidamente no podem ser ge~ Be © Lond Kagios as A us INTRODUGAG A CRITICA TEXTUAL ‘nufnas? A resposta & simples: porque elas circularam entie 0 piiblico-leitor. Nessa perspectiva, edigio critica no tem ape- nas a fungio de informar ao leitor quais slo as variantes possi- velmente genuinas, mas também aquelas que, mesmo sabi- damente nio-genuinas, foram lidas ¢ tiveram impacto sobre a cultura, Nio se trata mais apenas de restituir a forma ge- nujina de um texto, mas também de historiar sua tradigo. Um, exemplo de edigio que permite 2 anslise dessa fortuna é a do poema“Tragédia no mat” (O Navio Negreio), de Castro Alves (1847-1871), realizada por Anténio José Chediak (cf. Alves, 2000). O referido editor analisou no apenas © manuscrito autégrafo com o poema (atualmente no Instituto Histérico e Geogrifico da Bahia) e as edi¢des em vida do autor, mas tam- bém as subseqiientes, cujas modificagSes certamente no po- deriam ser atribuidas 20 antor: tal abordagem, segundo es- clarece (cf.Alves,2000: 11), deve-te a0 fato de ter tido em vis~ ta expor como o poema foi trataio desde a primeira edigio, em 1869, até a de 1997. Para cumprir seu propésito, cotejou nada menos que 63 textos integrais e 5 parciais, no total de 15.998 versos. O frato de seu trabalho é de grande valia, pois oferece material para diversos tipos de investigago: interessa aos criticos literarios, porque tém agora a oportunidade de consultar 0 poema em sua forma genufna, além de poderem estudar como foi recebido pelo piblico-leitor nas diversas formas em que circulou (ora mais ora menos préximas da ge- ‘ousna); mas interessa também aos criticos textuais, pois ha la rico material para a reflexio sobre processo de transmissio de textos em lingua portuguesa. 6.1.2. Reconstituiggo ‘Tradicionalmente chama-se a esta fase de emendatio, mas, como jé assinalou Blecua (1990: 123), sua forma reflete uma Epigho eRiTICA «149 /antiga abordagem de critica textual baseada no textus receptus, ‘que era “corrigido” através de outros testemunhos. Em uma abordagem mais moderna, convém chamar a esta fase de re constituigao, pois © processo de estabelecimento do texto nio sais se pauta simplesmente pela “emenda” de um testemu- ho, mas sim pela anilise de toda a tradigio. (© processo de reconstituigao propriamente dita de um, texto realiza-se através de dois procedimentos*: por meio dos testemunhos subsistentes e/ou por meio de conjectura, 6.1.2. - Reconstituigéo por testemunhos Na reconstitwigdo por testemunhos,seleciona-se uma das variantes necessatiamente presentes em um ou mais dos tes~ temunhos subsistentes, Com o progresso dos estudes de critica textual, sobretudo dos que trataram da transmissio de textos da Antiguidade Classica e do Novo Testamtento, estabeleceram— se prindipios (também chamados de regras ou cdnones) que tem servido de referéncia para a selegZo (lat. select) de variants. Vejam-se a seguir alguns dos mais importantes: CAyone + A ligio do maior nlimero de testemunhos é prefe- rrivel (lat lectio plurium codicum potior) Este princfpio, que pode ser considerado 0 mais objetivo de todos’, é também chamado de lei da maioria.A idéia que 6. Traicionalmente caamadss, em latin, de emendato ape colicun e omendai ope ge respectvarente +7. Bor nig se basea em uma excathasubjetiva, ete principio eneate-se na cham a sero mecinee, por opasigao a todos outos, que dependent fundamenralmen- te do juizo (nt ini) do ect sobre um dado fo, responsive, portant, pela sel -mecinise de variants. PIINANVO? yey 180 » uvrnoDUCAO A catTicA TEXTUAL subjaz a ele é a de que uma variante dnica (lat. lecto singus laris) deriva de erro de copista, pois ¢ pouco plausivel que Copistas distintos, em lugares distintos, em épocas distintas, tenham errado justamente no mesmo ponto de um texto, substituindo a ligéo geaufna pela outra, nio-genuina, idén- tica em cada uma dessas novas cépias. Enfim, é mais prov vel que um tenha errado e vérios outros tenham mantido a forma genuina do que um tenha mantido a forma genufna e varios outros tenham errado exatamente da mesma manei- ra eno mesmo ponto, independentemente.A aplicagio ade- guada desse critério, porém, pressupée necessariamente 0 €5- tabelecimento do estema que representa a tradigdo do texto em questio:jsto dé-se porque essa lei no leva em conta sim- plesmente o ntimero de testemunhos que apresentam uma dada variante (como se fazia no passado), mas sobretudo de que forma os testemunhos que veiculam as variantes se rela~ cionam genealogicamente. Para esclarecer essa questo, con- vém analisar alguns estemas. Vejam-se os estemas abaixo: Se, na tradigio expressa pelo estema 1 acima, se encon- trasse a variante W em A e B, mas a variante Z em C,a va- riante que deveria ser considerada genufna 6, segundo a lei da maioria, W:nesse caso, supde-se que apenas 0 copista de C te- nha cometido um erro, jé que as vatiantes de A ¢ de B devern ser iguais porque os seus copistas simplesmente mantiveram 0 que viram no seu mode’o (teoricamente, a forma genuina). sIgdo eninica « 15t Se, por outro lado, na tradigio representada pelo estema 2, houvesse a variante W em A e E,mas a variante Z em B, Ce D,a variante que deveria ser considerada genuina é, segundo a lei da maioria, ainda assim W. A primeira vista, pode-se pensar que a relagio numérica seria de dois (A e E) contra trés (B, C ¢ D),0 que exigiria que se considerasse ge~ nuina a variante Z; entretanto, a relagio numérica é de dois (4. B) contra um (a): uma vez que B, C e D apresentam a mesma variante, ela s6 pode derivar da mesma fonte, ou seja, ot (caso contrario seria necessério admitir que B, C e D erraram no mésmo ponto do texto e da mesma maneira, algo implausivel). Neste caso, oposi¢ao esti na atuagio de um co- pista (0 de 0) contra a de dois (de Ae B), sendo mais pro- vavel que apenas aquele tenha errado. Este principio, porém, nio é aplicivel em duas circunstin- cias especiais: quando ha empate em termos numéticos en- tre as variantes ou quando as variantes sio distintas em cada tum dos testemunhos (neste dltimo caso, poder-se-ia tratar do que Contini [1992: 29] chamou de difraio, fonémeno de cria- Glo de variantes que podia ocorrer pela existéncia, no mo- delo, de uma ligio dificil de ser entendida pelos copistas). + A liso mais antiga & preferivel (ht. leo antguior potion) Hii, na verdade, duas maneiras de se entender este prin- cipio: pode-se referir 4 antiguidade do testemunho que veicula uma dada variante, mas pode ainda se referir 8 va~ riante em si No primeiro caso (relativo 20 testemunho), a sua vali- dade justifica-se pela idéia de que um testemunho mais an- tigo tem mais probabilidades de apresentar a variante ge- auina, pois teoricamente distancia-se menos do arquétipo 132 « INTRODUCAO A cAITICA TeXTUAL que um testemunho mais recente, ou seja, em teoria have- ria menos cépias intermediérias entre um testemunho mais antigo € 0 arquétipo do que etre este ¢ um testemunho muais recente. Este principio, no entanto, deve ser interpre- tado sempre com as devidas reservas porque, como jf assi- rnalou Pasquali (1988: 46), 0 preparo do copista determina- ria a qualidade do seu trabalho, de forma tal que, p. ex., uma cépia direta do séc. XVIII pode conservar melhor a ligio genuina do que um do séc. XIII ou XY, razio pela qual o referido estudioso defendeu o principio ponderador recen- tiores, non deteriores (os testemunhos mais recentes nio estio necessariamente mais corrompicos). ‘Jano segundo caso (relativo 4 variante em si), pertinén- cia do principio findamenta-se no fato de que os escribas tendiam a atualizar lingitisticamente os textos, substicuindo, portanto, formas antigas por contempordneas. Para exemplifi- car esse fato, basta citar um caso relacionado 4 vogal temitica do participio passado de verbos da 2* conjugagio: segundo informa Mattos e Silva (1971, vol I: 99-100), no testemunho A dos Didlogos de Sao Gregério, dativel de antes de 1375, ocor- re apenas a vogal temitica / u /, enquanto, no testemunho C desse mesmo texto, datado de 1416, predomina o emprego da vvogal temitica / i /,a qual, como’se sabe, substituiu aquela no contexto em questio (no test. A ocorre, p.ex.,a forma conho- sudo, mas sua correspondente no testemunho C é conhocido (Mattos e Silva, 1971, vol. I: 12, e vol. I1l:8):a forma genui- na, nesse caso, seria, portanto, a com a vogal temética /'u /. + A ligo do melhor testemunho é preferivel (lat. lectio melioris codicis potior) Este principio baseia-se na idéia de que o testemunho de melhor qualidade (lat. codex optim), do ponto de vista tanto EDIGAO CRITICA « 153, ‘material quanto de execucio, tem mais probabilidade de apre~ sentar lipdes genuinas que outros de qualidade inferior, pois esmero na elaboragio daquele deveria estender-se ao proprio ato de cépia. Em sua primeira edigio das Cantigas de Santa Maria, as quais foram conjuntamente preservadas em quatro testemu- nthos (céds. To, da Bibl. da Igreja de Toledo; E, da Bibl. do Escorial; T, também da Bibl. do Escorial; e F, da Bibl. Na- cional de Florenga), Mettmann (1959-1972) slegeu como texto-base justamente o cédice E, pois é o mais completo e mais bem elaborado (razo pela qual este & chamado tam- bém de cédice ric). Novamente, no entanto, convém alertar para o fato de que esté critério no é absoluto, pois qualquer cépia apresenta falhas: 0 proprio abdice rico aqui mencionado possui lacunas e, além disso, seu peso na escola das varian~ tes foi reavaliado na segunda edicio das referidas Cantigas ~ Mettmann (1986: 47) esclarece, na nota prévia a essa nova edigio, que nio se ateve com a mesma fidelidade de antes a0 texto-base E. Este prinefpio, porém, tem sido reinterpretado moder- namente: segundo Reynolds & Wilson (1995: 208), 0 me- Ihor testemunho seria aquele que oferece o maior niimero de ligdes corretas nas passagens em que hé motivos racio- nais (i 6, lingtifsticos, literérios, histricos, ete) para as re~ conhecer como tal, Trata-se, portanto, de uma questio de probabilidade: se um dado testemunho possui o maior néi- meto de ligdes corretas (i, ¢, consideradas gemuinas) dentre 6s testemunhos existentes, é aceit4vel que, diarte de impas- se (ou seja, da auséncia de motivos evidentes para a escolha de uma variante dentre diversas), outras ligdes suas sejam igualmente acolhidas. COCa: PINE oT a NID INIAAYN yO YAQ9INA YON +) a) 154 « uerRoDugho A eRtrica TEXTUAL + A ligdo mais dificil é preferivel (lat. ectio diffcilio potior) De acordo com este principio, deve-se eleger a variante ‘mais dificil (.é, mais rara, mais obscura, de compreensio mais custosa). Isto se justifica pelo fato de ser mais provavel que uum copista trivialize o que tem dificuldade de compreender do que o contrério. Este principio, embora seja tradicionalmente tido como essencial, esti sujeito naturalmente & interpretagio do proprio editor. Cunha (1985: 424) contesta a ligio do quinto verso da sétima das cantigas de Martim Codax proposta por Spageiari (1980), argumentando que a invocagio de uma lectio difii- lior, feita pela estudiosa italiana, nfo se justificaria ali, Assim, © quinto verso deveria ficar como “Ay ondas, que eu vin mi- rar”,em que o verbo final, cuja forma esté presente no jé men cionado Pergaminho Vindel, se relacionaria semanticamente com 0 do primeiro verso “Ay ondas, que eu vin veer”, rela¢ao esta normal em cantigas paralelisticas: a referida editora havia Proposto, no entanto, a forma “virar” para o final do quinto ‘verso, depreendida do Cancioneiro da Vaticana, + A ligo mais breve & preferivel (Jat. lectio brevior potior) Este prinefpio consttui, de certa forma, um complemen- to 20 precedente: como estratégia para tornar compreensivel aquilo cujo significado ‘he escapa, o copista poderia ampliar um dado trecho, acrescentando-lhe os elementos (natural- mente, ndo-genuinos) que julgasse necessirios. + A ligo que explica a origem de outra é preferivel (at. lectio quae alterius sriginem explicat potion) Segundo este principio, deve-se escolher, dentre duas va- riantes, aquela que permite explicar a origem da outra, EDIGAO ERITICA «155 Cunha (1985: 425-6) ilustra a aplicago deste principio com base em um trecho do Auto das Barcas, de GilVicente. Comparem-se a seguir dois registros de um mesmo trecho (versos 567-571) da referida obra: Fotha volante (1518): Compitasam (1562) ex aqui quatro testodes Eis aqui quatro tostbes © mais se os pagara mais se vos pagaraa por vida de semifara por via de se me faraa que me passeys ho cabram que mie passeis 0 cabrio, quezeis mais outro tostio, __quereis mais outro tostam. Ley (1946) e Révah (1951: 28) consideraram como ge- nuina a variante do terceiro verso presente no testemunho de 1518 (“cemifara”), a qual constituiria um nome proprio que o editor da Compilasam, filho de Gil Vicente, nfo teria compreendido e a teria decomposto em unidades menores que pudessem, segundo seu julgamento, fazer sentido. + Métrica (lat. res metrca) Em se tratando de texto em verso, pode-se ainda contar, na selego de variantes, com um principio de natureza for- mal:a métrica (e, naturalmente, também a rima e o ritmo). A aplicagio desse principio pode ser exemplificada com. dados da edigio da segunda das cantigas de Joam Nunez Ca ‘manez, realizada por Tavani (1988: 250-4). Vejam-se abaixo ‘0s quatro primeiros versos da ‘iltima estrofe da segunda can- tiga do referido trovador: Fazede-mi, e gracir-vo-l'-ei, bem mentr’ando vivo; ca nom mi-o faredes, eu bem o sei, pois eu morter, por tal razom: (Tavani, 1988: 251) 156 « ueTRoDUGAO A CR THA TEXTUAL Dentre a variante do primeiro verso presente no Cant- dioneiro da Ajuda (“Fazede mi é gracir uolei | ben mentran- do”) © a do Cancioneiro da Biblioteca Nacional (“Fazedemj bene gragir uolei | mentrando”),a escolha da primeira é le gitimada pela propria métrica da cantiga, j6 que apenas aque- ha variante € compativel com o sistema octossilabo empre- gado a0 longo de todo o poema: vé-se, a propésito, que 0 erro ma variante do Cancioneito da Biblioteca Nacional decorre do deslocamento da palavra “ben” do segundo para 0 pri- meiro verso. + Estilo (lat. usus seribend) ‘Outro principio que pode ser invocado na escolha de va- riantes € o estilo, ou seja, os padrdes lingiiisticos e estéticos proprios a obra, ao autor e & época, Como exemplo da aplicagio desse principio, pode-se ci- tar a discussio das variantes no texto d’Os Lusiadas nas duzs edigdes de 1572 ~ a que tem o pelicano da portada virado pata a esquerda (A) e a que o tem virado para a diteita (B) — realizada por Elia (1973: 53-67). Comparando o verso 6 da estrofe 103 do canto Il nas duas edigdes (dados transcritos da ed. fac-similar: of, Camées, 1982): A:O menos que 0s de Luso merecerio: B:O menos que de Luso mereceram: Elia (1973: 55) argumenta em favor da variante em A por ser justamente a expresso “os de Luso” a utilizada a0 longo do poema para designar os lusitanos, como se po- de ver por estes outros versos do mesmo texto (extraidos de A): BDIGO CRITICA « 157 cll,e. 17, «6: Que os de Luso de todo destruissem cll, e. 95, v. 8:Na terra que 20s de Luso coubs em sorte CVI, €.26, ¥.7: So por dat aos de Luso triste morte A aplicacéo deste principio exige bastante cautela, pois pode induzir o critico a tentar uniformizar a linguagem de ‘uma obra, apagando, assim, variagSes genuinas, ou seja, atri- buiveis 20 préprio autor. Um caso bastante polémico é 0 da lirica camoniana, quase que inteiramente preservada em tes temunhos péstumos e apégrafos: segundo esclarece Azeve- do Filho (1998: 191-204), dada a referida circunstincia, a solugio possivel para tentar eliminar formas teoricamente aio atribuiveis ao autor é a de comparar sua linguagem com a presente no texto d’Os Lusiadas, vindo a lume estando Ca- mies vivo ¢ presente no local de publicagio. Tal postura ressup6e, no entanto, que o autor teria utilizado a mesma linguagem na poesia épica e na lirica, pressuposto esse para © qual nio parece haver argumento irrefutivel seja para 0 confirmar seja para o negar. + Contexto (lat. conformatio textus) Certamente no se pode ignorar que as variantes se en- contram inseridas em um contexto, razo pela qual este tam- béma constitui um principio a ser considerado na opcao por ‘uma das variantes existentes. Novamente retomando a discussio de Elia (1973), pode se exemplificar esse principio através das variantes do verso 7 da estrofe 58 do cantoV ’Os Lusiadas: A: Comecey a sentir do fado imigo B: Comecey a sentir do fado amigo PIIOBIODIYDs: ) yey 158 « wrRODUGAO A ERITICA TEXTUAL Nesse caso, a diferenga baseia-se em nada menos que ant6nimos: imigo [forma antiga de inimigo] x amigo! Segun- do Blia (1973: 60), seria genuina também a primeira delas, pois assim o pede 0 coatexto: trata-se do episédio em que © gigante Adamastor amenta seu destino ao se desiludir quanto 4s suas pretensdes ao amor de Tétis, lamento este claro através do grupo de versos (5-8, ed. A) em que esta inserida a variante: E como contra 0 Ceo nio valem mios, Eu que chorando ancaua meus desgostos, Comecey a sentir do fado imigo Por meus atreuimentos 0 castigo. Se, em teoria, os diferentes princfpios arzolados aqui po- dem parecer bastante evidentes e resolutivos, verifica-se na pritica, porém, que sua aplicago esté longe de ser simples ou incontroversa, Come exemplificacio das dificuldades ope- racionais, pode-se citar 0 fito de que nem sempre os prin cipios se sobrepdem na escolha de uma variante, ou seja, a aplicagao de um pode 186 « wwtnopucio A calTica TExTUAL complexa: hé varios riscos de deturpago, como jé se expli- cou anteriormente, ao se falar da reprodusio com mudanga do sistema de registro, ‘A funcionalidade deriva do fato de um texto em forma- to digital permitir usos especiais. Os programas para sua lei- tura (Como o Word ou o Acrobat Reader) permitem, de forma rapida e eficiente, buscas de palavras, sua contagem, marcago no texto, extragio para outro arquivo — enfim, uma série de uusos que possibilitam o aproveitamento maximo do texto. Naturalmente 0 formato digital apresenta também suas, limitagées: ~ certamente a limitac3o mais notivel de uma edigio di- gital é sua dependéncia absoluta de equipamento eletrnico ¢ de programas: sua auséncia em um dado local, a inexistén- cia de programa adequado para 0 formato do arquivo' ou sua configuragio inadequada so suficientes para impedir o aces- s0 20 texto; — nao se pode negligenciar ainda o desconforto da leitu- 1a em tela de computador: se, para textos curtos, no parece haver tanto problema, para textos longos a leitura continuada € bastante exaustiva (h4 que se verificar ainda se nio pode- ria causar danos aos olhos, em fungo da exposi¢go continua 4 luz emitida pela tela); ~ uma grave desvantagem de um texto em formato digi- tal € a jé referida modificabilidade: enquanto o papel dé (re lativa) estabilidade 20 texto, o formato digital nfo di nenhu- ma, pois qualquer arquivo pode ser adulterado com grande facilidade e sem deixar rastro; ~ igualmente grave é a instabilidade do suporte que vei- cula o texto em formato digital: discos flexiveis e rigidos, 4. A questio dos programas & bosante sila jf que se tornam obeoletese stem do mercado com nosivel ipides, CCRITICA FEXTUAL a INFORMATICA 187 CD-ROM e DVD-ROM sio extremamente sensiveis e, por iss0, picos de tensio na rede elétrica ou mesmo simples ar- ranhes na sua superficie sio suficientes para os destruir com- pleta ¢ irreversivelmente; — hi ainda a questio do diteito autoral: as leis brasileiras (mais especificamente a Lei n. 9,610, de 19 de fevereiro de 1998) consideram como de dominio piiblico os textos de au tores mortos h4 mais de setenta anos (cap. IIL art. 41), 0 que significa que qualquer editor pode publicar um texto desses autores sem depender de autorizacZo de terceitos; 0 proble- ma esti no fato de que, como um texto em formato digital pode ser facilmente copiado, nfo hi nada que impega editores de reproduzirem ~ e comercializarem — um texto estabeleci- do por um dado critico textual (j4 que este tem direito au- oral sobre os complementos que acompanham a edigio de uma obra literiria, mas nfo o tem sobre o texto da obra em si), fato que gera prejuizo financeiro a quem passou anos a fio fxando a forma genuina do texto de uma dada obra, Esse tiltimo problema, als, j4 se constata atualmente: & possivel encontrar diversas piginas eletrénicas na intemet onde se pode reproduzir 0 texto em formato digital de centenas de autores de lingua portuguesa. Essa situago apresenta duas fa- cetas a serem consideradas: por um lado, o fato de esses tex- tos em formato digital estarem disponiveis gratuitamente (na maioria absoluta dos casos) significa uma democratiza¢io da leitura sem precendentes,j& que qualquer interessado que pos- sua computador tem acesso praticamente sem custos a qua- se toda obra literdria em dominio piblico; por outro lado, os textos disponibilizados sio profiundamente omissos quanto 4 sua origem (no se sabe de que testemunho foram reprodu- zidos), fato que coloca em xeque sua fidedignidade ~ além disso apresentam no apenas erros ébvios (geralmente esses 188 « mrnopUcho A CRITICA TEXTUAL textos sio fruto de escanerizagio de alguma edigio impressa, apés 2 qual nio se fez revisio adequada) mas também erros imperceptiveis 20 leitor comum.A razio de haver tanta omis- so sobte a origem dos textos disponiveis na internet certa~ mente esti relacionada 4 questio dos direitos autorais: vei- cular 0 nome do responsivel pelo estabelecimento do texto pode gerar disputa sobre o direito de publicagio desse tex- to, Trata-se, portanto, de uma questio complexa, pois de que adianta existirem disponiveis na internet milhares de textos de forma gratuita se nio hi informagio sobre sua fidedignidade? No que se refere 3 organizagio do texto, certamente a van- tagem mais especifica da informatica esti na possibilidade de © apresentar como hipertexcto, ou seja, como um texto cujas unidades remetem, através de ligacSes (ingl. links), a outros textos, permitindo assim um percuiso no-linear e, eventual- mente, simuleineo (através da abertura de diferentes janelas ~ ingl. windows — sobre a tela do computador), recuzsos estes gue conferem grande dinamicidade 2o ato de leitura. Uma edigéo critica em hipertexto — ou uma hiperedigao, segundo Faulhaber (1991: 130) ~ permite que se explore quase que in- definidamente o texto, pois, a partir do texto critico, pode-se passat, p. ex., edicio fac-similar e/ou paleogrifica dos tes temunhos, a0 aparato critico com variantes, is notas criticas sobre 0 texto, a concordancias exaustivas das palavras do tex- to,a verbetes de um glossério com informagdes de cunho et molégico ¢ semintico, a estudos lingtifsticos e literirios — tudo através da simples pressfo sobre a tecla do mouse, Uma ex- periéncia interessante nesse mbito em relagio a textos em lingua portuguesa foi a produgio de Biblioteca Virtual de Auto- res Portugueses, pela Biblioteca Nacional de Lisboa em 1998: trata-se de uma base de dados de dois CD-ROM a qual inclui informages biogréficas (com texto ¢ imagem) e uma obra de CRITICA TEXTUAL & INFORMATICA « 189 cada umn dos dezessete autores contemplados, do séc. XIII ao XX; cada obra em formato digital him! vem acompanhada de fac-simile do testemunho utilizado como fonte, manuscrito ow impresso. Apesar de a informética ter-se infiltrado definitivamente no processo de edicio de textos, nfo seria um exagero dizer que seus recursos nio tém sido efetivamente explorados em toda sua potencialidade no campo da critica textual aplicada a textos em lingua portuguesa. As razdes para a subutiliza- ¢40 da informitica apresentadas por Morris (1999: 189-210) verificam-se com certeza também no dominio lus6fono — so clas: falta de capacitagio especifica relativa & informatica no processo de formagio dos filélogos; publicagdes pertinen- tes restritas 2 revistas muito especializadas e de leitura pouco acessivel a consulentes de outras éreas; defasamento entre os projetos e suas realizagées (muitos projetos anunciados néo se concretizam); e escassez de resultados tangiveis. JYOQIONIDO: capiTULo 5 CRITICA TEXTUAL & ENSINO Embora ji se tenha explicitado aqui que a critica textual & relevante para qualquer atividade fiindada sobre o texto escri- to, convém tratar mais detidamente de suas relages com 0 en- sino, pois raras tém sido atualmente 2s abordagens de ensino que levam em conta os problemas da transmissao dos textos. 8.1. LIVROS DIDATICOS. Considerando que, no sistema de ensino de forma ge- ral, livro didético — um texto escrito, portanto ~ é o prin- cipal instrumento de trabalho, era de esperar que houvesse grande rigor em sua elaboracio, pois atinge milhdes de lei- tores. A realidade, no entanto, parece nio condizer com esse pressuposto Mendes (1986: 163-74), tendo analisado diversos livros didéticos de comunicagio e expressio, verificou problemas dos mais variados tipos. Veja-se, a seguir, uma pequena sin- tese desses tipos: 2) Nio-identificagio da natureza da transctigio: nfo fica claro se se trata do texto integral ou de fragmento. 192 « INTRODUGKO A CRITICA TEXTUAL bb) Destespeito a estrutura dos poemas, geralmente em fungio de problemas relativos 4 sua disposicio gréfica. En- caixam-se nesse caso as alterag&es da estrutura de versos ¢/ou de estrofes (Fasio de dois em um, ox fragmentacio de um em dois), e ainda 0 acréscimo e/ou a supressio de verses. ©) Alteragio ou substituigdo de titulo original da obra. 4) Adulteracio do texto original, através de actéscimos, supressbes ¢/ou substituigdes de trechos, palavras, estruturas gramaticais, etc. ¢) Auséncia de referéncias bibliogrificas adequadas: nfo se especificam de forma completa os éados das fontes; no se es- clarece se 0 texto transcrito ¢ adaptagio; informam-—se refe- réncias erradas. Se a lista acima, por si s6, j4 seria suficiente para deixar bastante surpreso qualquer profesior, uma breve anilise de exemplos coletados por Mendes (1986) por certo hi de o dei- xar ainda mais aténito. Um exemplo interessante de modificagio da estrutura de uma obra em verso é 0 que se fez em relago 20 poema “A bailarina”, de Cecilia Meireles. Em um dos livros diditicos examinados, ts versos desse poema foram transctitos como apenas um:“Esta menina/ tio pequenina/ quer ser bailarina””. Tal modificago tem impacto clare sobre a avaliag3o dos re~ cursos posticos empregados na criagZo da obra, pois a repe- tigo de -ina constitui, na forma criginal, rima, mas, tendo sido fundidos os versos, passa a ter valor de aliteraglo. Mudou- se completamente a natureza do recurso poético: 0 que era uma espécie de imposigio formal (rima) tornou-se um efei- to que, em principio, € opcional (dliteragio). ‘Um outro caso que chama a atencio & o que diz respeito ao poema “Trem de ferro”, de Manuel Bandeira, Em outro livro didatico, a forma original vrge foi alterada para virgen no quarto verso:"“Virge Maria gue foi isto maquinista?”. Essa al- CORITICA TEXTUAL & ENSINO = 193 teragio, detectada por Mendes (1986: 167), modifica totalmen- te o valor conotativo da palavra em questio: apagou-se por completo a atmosfera informal e popular que a forma origi- nal instaurava, ara terminar ~ estes comentérios, porque sio ainda mui- tos os exemplos coletados por Mendes (op. ci) -, pode-se mencionar uma alteragio de titulo. Em um terceiro tivro di- ditico,o titulo original de um texto de Monteiro Lobato — “O burro sabio” — é substitufdo por“O burro ¢ o elefante” Desaparece, assim, 0 paradoxo latente no original: justamente um burro, cuja imagem é usada metaforicamente como sind- nimo de incapacidade, é caracterizado como sibio. Enfim, anélises superficiais de textos podem dar a impres- sio de que alteracSes em’ pequenos pontos nao tém impacto sobre o texto de forma geral, mas a reflexio aprofundada so- ‘bre uma obra mostra, de maneira evidente, como as modifi- cages na forma de um texto interferem claramente na sua interpretagio. Se, por um lado, nfo se pode negar que o erro é inerente a0 processo de transmissio dos textos (a critica textual existe justamente em angio dessa realidade incontestivel), por ou- tro lado, dada a amplitude do pablico que se utiliza de livros diditicos e dado ainda seu cariter formative, 0 rigor na elabo- ragio de textos dessa natureza é seguramente um imperativo a0 qual nio se pode furtar. Como salienta Mendes (1986: 169), é preciso interrogar~ se sobre a origem dos problemas listados aqui, que pode es- tar tanto na falta de bons revisores como na falta de critério na escolha das edigdes utilizadas como fonte na elaboragio dos livros didéticos. Considerando o modesto espago ~ quan- do ha! — que a critica textual ocupa na formagio académica dos estudantes de Letras, Comunicacio, Biblioteconomia, His- téria, dentre outros, nio seri de surpreender que a origem. 194 » nernopugao A cRITICA TexTUAL desses problemas esteja em grande parte no total desconhe- cimento dos problemas relativos transmissio dos textos. 8.2. A ESCOLHA DE EDICOES A rigor, s6 se pode saber com seguranga se a edig&o de um dado texto é adequada ou nio através de seu confionto com a(:) fonte(s). Entretanto, & dbvio que nem o leitor co- mum nem o leitor mais exigente tém oportunidade, dispo~ sigdo ou preparagio para realizar tal tarefa antes da Ieitura de cada texto, Sendo assim, como proceder para adquirir ou es- colher em uma biblioteca uma edicéo que seja digna de f adequada 20 seu interese? Certamente um instrumento de grande valia nesse mo- mento sio as resenhas. Consultar criticas reslizadas por espe- cialistas, que se detiveram minuciosamente na anilise de uma dada edigio, mune o leitor de informagées importantes para identificar que edigio seria adequada aos seus interesses. O problema esté, entretanto, no fato de que sio muito raras as resenhas de edigdes , se nio bastasse isso, hé ainda o fato de nio existir um vefculo consensual para esse tipo de trabalho, 0 que resulta na sua pulverizacio em diversos jornais ¢ revistas especializadas, Enfim, mesmo sendo esse um instrumento de grande valia,é muito difcil encontré-lo (quando de fato exis- te...) Als, a consciéncia da importincia desse instrumento ¢ ainda da auséncia de vefculo préprio para ele ha de,em algum momento, estimular pesquisadores a suprirem essa caréncia. Na inacessibilidade on inexisténcia de resenhas, resta a0 leitor a tarefa de criar juizo sobre a qualidade de uma dada edigéo no préprio momento da aquisigio do exemplar ou de sua escolha em uma biblioteca. Sendo assim, convém ao lei- tor atentar para um conjanto muito importante de informa- ges que permitem a formacdo de um juizo provisério. CCRITICA FRKTUAL & ENSINO # 195, ‘Um primeiro dado, que é 0 minimo que se pode adm: tir, & a identificagio da(s)fonte(s). Na edigio em anilise o lei- tor deve verificar se hia explicitagio da fonte, ou seja, qual edigo foi utilizada como modelo (p. ex.: princeps, tiltima em vida, dltima sabidamente revisada pelo autor, etc.). A identificagio da edi¢Zo utilizada como fonte é simplesmen- te o minimo do minimo:a auséncia dessa informagio levan- ta obrigatoriamente suspeitas sobre a qualidade da edigio em anillise, pois © leitor nfo poders avaliar, p.ex., se se trata da edigo baseada naquela que efetivamente registra a von- tade iltinia-do autor, objeto por exceléncia da critica textual tradicional, Tanto melhor seri se constar ainda qual exemplar da edigao adotads foi utilizado (p. ex.: da Biblioteca Nacional, do acervo particular de um dado especialista, etc), pois sabe- se da possibilidade de existirem diferentes estados de uma mesma edigio. Um segundo dado, igualmente de grande importincia, sio as normas de edigio, Conhecer as normas de uma edigio & muito importante, pois s6 assim se pode ter a medida certa de quais sGo 0s usos possiveis dessa edigio, Por exemplo, uma edi io com uniformizagio grifica nio pode, obviamente, ser ut lizada para se analisar 0 sistema grético de uma dada época. Acexplicitude das normas auxilia ainda o leitor a avaliar se hi coeréncia entre os procedimentos adotados e a finalidade que © proprio editor atribui a sua edigio. Em se tratando de uma edigio que se denomina aitica, & preciso sempre avaliar o sentido em que esse termo esti sen- do utilizado. Como jé se disse antes, uma edigao arftica &, ri- gorosamente falando, aquela que foi estabelecida com base no confronto de mais de um testemunho. Dada a impressio positiva que 0 termo affica suscita nos leitores, nfo raramente 6 utilizado para valorizar comercialmente uma edigio, ainda que ela no tenha sido estabelecida através de confronto de testernunhos. 496» uvrnooucho A cnInICA TEXTUAL ‘Além das duas informagSes precedentes, consideradas bi- sicas, é de grande importincia 0 estudo da tradigéo do texto. In- formagSes dessa natureza costumam constituir uma espécie de separador de aguas entre as edigdes de baixa qualidade e as de alta qualidade. Para um estudo aprofundado de uma dada obra, ou seja, para uma andlise propriamente filol6gica, € es- sencial saber a histéria do texto: quando foi escrito, quantos testemunhos existem, quais sio autégrafos e quais apégrafos, ‘quantas ediges foram publicadas estando vivo 0 autor e quan- tas apés sua morte, de que vicissitudes a obra foi objeto (po~ pularidade, censura, etc.) ‘Um quatto critério é a identifcazio do responsével pela edi- ¢o.B natural que estudiosos com larga experiéncia na area da cctitica textual sejam capazes de produzir edicdes melhores do que editores eventuais; a sblida formagio académica via de re- gra prové o especialista de conhecimentos indispensaveis a0 seu trabalho, tais como paleografia, codicologia, bibliografia material, lingiiistica hist6rica, histéria, etc. Alids, saber justa~ mente sobre a formagio do responsivel permite ainda avaliar 0 tipo de abordagem que terd sido adotada nos j referidos procedimentos, dado relevante para se determinarem’as fina- lidades possiveis da edigZo. (Os critérios listados sio naturalmente apenas referéncias, para orientagio do leitor, pois o ideal é sempre realizar uma pesquisa prévia sobre as edig&es existentes de um texto an- tes de fazer sua escolha. Deixar para escolher na frente das prateleiras certamente nfo é a opgio mais adequada. Um salto qualitativo considervel seria dado neste ambi- to se houvesse uma espécie de observatério permanente da produgio editorial em lingua portuguesa: essa instincia, que ‘concretamente se encaixaria com perfei¢io em algum nticleo de estudos universitério, monitoraria a produgio editorial de ‘um niimezo limitado (mas expansivel com o tempo) de titu- ei anni CRITICATEETUAL & ENSING « 197 los de autores de lingua portuguesa, fim de que, sempre que uum professor quisesse utilizar uma obra em aula, padesse com rapidez — pela internet, p. ex.— obter a informagio de qual(is) edigio(6es), considerada(s) fidedigna(s), poderia fazer uso. Por outro lado, nfo se pode deixar de levar em conta aqui a realidade do Brasil: ainda que esteja de posse da informa- ‘io sobre qual(is) edic4o(6es) considerada(s)fidedigna(s) pode fazer uso, nem sempre o professor pode efetivamente contar com ela(), pois, em muitos casos, 0s alunos utiliza as edigGes {ff existentes nas bibliotecas de seu centro de ensino (publica ‘Ges geralmente de casas editoriais diferentes) 2, atualmente, nna intemet. A possibilidade de comprar somente a edigio que for indicada pelo professor & ainda para poucos, pois os limi- tes orcamentirios so evidentes no ensino brasileiro. A dura realidade brasileira ndo pode, porém, servir de in- centivo para a negligéncia quanto a adogio de edigdes fidedig- nas: ha estratégias enriquecedoras para, justamente com base nessas questées, fazer avangar 0 conhecimento dos alunos. ‘Una estratégia possivel & utilizar justamente as diferengas, que aparecezem na discussio dos textos para tratar dos pro- Dlemas de transmissio e suas conseqtiéncias. O professor pode, aligs, chamar atengdo para essas questdes promovendo a com- paracio de diferentes ediges de um mesmo texto na propria sala de aula, com as edigdes que os alunos tiverem em mios. Para textos mais longos, tal pode ser feito através de leitura em voz alta, acompanhada por todos ¢ interrompida sem- pre que o texto lido silenciosamente por cada aluno em seu exemplar apresentar diferengas em relagio a0 lido em voz alta; para textos curtos, pode-se fazer a transcricfo no quadro negro e solicitar aos alunos que confiram com a versio cons tante no exemplar que possuem em mios. Apés identificadas as diferengas, devem-se discutir as possiveis causas de sua ori- gem 0 impacto que tém na interpretagio do texto. OO € 198 « INTRODUGAO A CRITICA TEXTUAL A total desobservancia dos problemas de transmissio dos textos pode criar situagées inusitadas e até injustas na sala de aula. Por exemplo, se, em um teste, o professor solicita a ané~ lise de um poema, mas nio o transcreve na folha do teste, deixando para o aluno « responsabilidade de o consultar no exemplar da obra que tem em mios, é perfeitamente possi- vvel que as andlises divirjam radicalmente, no por despreparo dos alunos, mas simplesmente porque eles possufam versdes distintas (com deturpagées, como falta de verso ou de estro- fe) do poema em questio, ou seja, estavam consultando edi ges distintas, com textos distintos — dai as anilises distintas. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS “Apnatiaa, Richard D.A portuguese version ofthe if of Balam and Josaphat:po- Teogrphizl edition and linguists study. Philadelphia: University of Peasy vania, 1938 (Series in Romanic Languages and Literatures, 29). ‘Actout Vera Lacia Costa. A ezrita no Brasil elénia: um guia para letra de do- ‘aimentos maanseitos. Recife: UFPe/Masangana, 1994. Atanp, Kurt é& ALAND, Barbara. 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