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Ao encontro da sociologia visual Ligia Ferro! Resumo: A imagem possui significados socioldgicos especificos. Importa com- preender os fendmenos sociais, tendo em conta a linguagem visual. Por um lado, a fotografia € alvo de usos sociais que podem e devem ser estudados metddica sis- teméticamente na sede disciplinar da Sociologia. Por outro, a fotografia é, também, uma técnica cientificamente valida para a recolha de dados na pesquisa social. Palavras-chave: Imagem, Fotografia Social, Sociologia Visual Sociologia e fotografia: Percursos iniciais divergentes ao encontro dos interesses dos seus “campos” Fotografia e sociologia nasceram quase ao mesmo tempo, a Sociologia com o “Discours sur l’esprit positif” de Auguste Comte em 1844 e a Fotografia em 1839 com a exposi¢&o publica de Daguerre sobre 0 modo de fixar uma imagem numa placa metélica!, Pese embora este facto, a fotografia e a sociologia seguiram percursos distintos: a primeira procurou o seu reco- nhecimento no campo da arte (até porque a maioria dos primeiros fotégrafos eram pintores que n&o conseguiram triunfar nos salées e que viram na fotografia um meio alternativo de consagragao artistically, ea segunda trilhou caminhos que a levaram a sua institucionalizacdo como ciéncia positiva, preocu- pada com a elaboracaio de grandes teorias!', apoiando-se para tal em técnicas e metodologias semelhantes as das ciéncias naturais (periodo no qual a obra de Durkheim € paradigmatica). ' Doutoranda no “Programa Internacional de Doutoramento en Antropologia Urbana”, ISCTE - E-mail: ligia_ferro@hotmail.com 373 Ligia Ferro Percursos fotograficos ao encontro do social Contudo, sabe-se como o estatuto artistico da fotografia continua a ser objecto de polémicas discussdes. Desde os seus inicios, a fotografia foi nega- da enquanto arte legitima, mesmo pelos pintores realistas!Y, Por um lado, a fotografia foi, inicialmente, conotada com o empiricismo, com a observacao racional e com a “reprodugio directa do natural”. Por outro, a partir do momento em que se simplificaram os procedimentos que permitiam a qual- quer individuo tirar fotografias, a “aura” que envolvia a fotografia e que Ihe conferia um cardcter elitizado, desvaneceu-seVi, Comegando como meio de auto-representacao e substituindo a pintura de retrato, a fotografia tornou-se uma industria omnipotente e tentacular, em grande parte devido a capacidade de expansao de algumas empresas como a Kodak, que colocaram no mercado os mais diversos produtos necessérios a pratica fotografica, a pregos acessiveis a uma larga camada da populagao¥ii, A fotografia converteu-se rapidamente num instrumento para manipular necessidades, vender mercadorias e modelar pensamentos. Através do seu uso nas mais variadas campanhas publicitarias, a fotografia constituiu uma ferra- menta fundamental de apoio ao processo de expansio das economias moder- nas. O seu poder reprodutor permitiu também democratizar a obra de arte, tor- nando-a acessivel a um leque alargado de faixas sociaisVili, 4 imagem é de facil compreenso: a sua particularidade consiste em apelar 4 emotividade e na sua imediatez reside a sua fora mas também o seu perigoiX, Contudo, a fotografia serviu de ferramenta de andlise social na mao de muitos dos primeiros fotégrafos que construiram a sua historia. Uma boa parte deles dedicou-se 4 explorago de temas caros a Sociologia através da Fotografia. Lee Frielander e Garry Winogrand fotografaram os comporta- mentos no espa¢o publico, abordando algumas das grandes questdes da sociologia tratados nas obras de Georg Simmel ¢ de Erving Goffman*. O surgimento da foto-reportagem ou do foto-ensaio em 1920, género no qual foram percursores Eisenstaedt e Erich Salomon*!, confirmou a fotografia como um instrumento de anilise social. A fotografia deu a conhecer imagens de sociedades longinquas, imagens que despertavam desejos e alargavam horizontes, mas também outras indesejaveis ¢ incémodas. Robert Capa*ii, conhecido fotégrafo da agéncia Magnum, foi um dos primeiros a fotografar a guerraiii e, portanto, foi através das suas fotografias que algumas sociedades viram as imagens da guerra (a distancia). Capa percebeu que a guerra é muito mais do que as batalhas; grande parte das suas melhores fotografias retrata as 374 Ao encontro da sociologia visual periferias dos eventos histéricos*iV: as relagdes e as sociabilidades que se tecem em volta dos cenarios de guerra. A FSA (Farm Security Administration), um organismo estatal norte- americano, financiou inumeros trabalhos fotograficos sobre a vida rural e urbana. Fotégrafos como Dorothea Lange, Margaret Bourke-White, Russel Lee, Walker Evans ou Arthur Rothstein capturaram imagens dos problemas sociais da sociedade norte-americana*¥. O projecto de Lewis Hine, que se declarava um “fotégrafo sociolégico”*¥i, é paradigmatico de uma geragiio que viu na fotografia um excelente meio de intervencdo na realidade social, levando a cabo um projecto que retratava as condigées em que muitas criangas norte-americanas trabalhavam, cujo impacto gerou mudangas legislativas relativamente ao trabalho infantix¥4, Nao querendo alargar-nos nos exemplos, adicionamos a este grupo de fotégrafos, o suigo Robert Frank, cujo projecto de conhecimento da sociedade norte-americana através da sua objectiva (“The Americans? *Vili), contribuiu grandemente para a visdo “fracturada da sociedade americana”*iX, para a qual contribuiram também os trabalhos dos fotégrafos referidos. Frank viajou pela América entre 1955 e 1956, procurando (re)traté-la reflectindo as suas mais profundas contradigdes: as discriminages raciais, as desigualdades sécio- econémicas, contrastando-as com os simbolos do patriotismo americano. O seu trabalho foi muito mal recebido pelos norte-americanos, uma vez que dava a conhecer as imagens mais incomodativas da sua sociedade. Robert Frank reflecte neste projecto as influéncias dos trabalhos de Tocqueville, Margaret Mead e Ruth Benedict®*, De notar, também, o trabalho de August Sander que levou a cabo 0 pro- jecto megalémano de dar a conhecer a sociedade alema através de retratos (Citizen of the twentieth century), Sander condensava nas fotografias os artefactos, poses e cendrios mais caracteristicos das diversas profissdes € classes sociais. As fotografias apresentam-se como uma espécie de tipos- ideais, nas quais os actores sociais mais desfavorecidos eram, geralmente, fotografados sem cenérios ¢ os mais privilegiados apareciam sempre contex- tualizados fisicamente. Mais recentemente, Henri Cartier-Bresson destaca-se como um dos mais notaveis fotografos sociais. Pretendendo “congelar” o “instante decisivo”**4i em cada fotografia que tirava, Bresson retratou comu- nidades na india, as convulsdes politicas comunistas na Russia e na China, assim como ritos e cerimdnias sociais (por exemplo, as dangas de BaliX*iiiy, Apesar da maioria dos fotdgrafos estarem preocupados com o reconheci- 375 Ligia Ferro mento artistico da fotografia, afastando-se de cendrios mais “realistas”, muitos deles dedicaram-se, desde cedo, a fotografar a vida social. Becker tefere que, a partir de 1960, os fotégrafos comegaram a participar em movi- mentos de defesa de direitos civis, explorando comunidades, subculturas e instituigdes, mas somente a titulo ensaistico, através da combinagdo de um estilo etnografico com uma auto-consciéncia e um propésito analitico deli- berados**iv, Alguns trabalhos fotograficos abrangeram temas menos contro- versos, no estilo da etnografia socioldgica; temas e realidades tao diversos como subculturas exéticas, movimentos sociais, novas classes sociais emer- gentes ou grupos sociais esquecidos**V, Os fotégrafos abordaram temas da sociologia classica e contemporanea, embora os seus trabalhos nao tenham sido, geralmente, enformados pela teoria sociolégica. De igual forma, nao existem registos sobre eventuais modos processuais sistematicos de recolha de imagens que tenham sido usados nestes projects. Percursos sociolégicos ao encontro do visual A Sociologia estuda os fenédmenos sociais e os seus protagonistas. Contudo, parece que os socidlogos nao se tém Ppreocupado com a imagem desses fendmenos**¥i. Desde o inicio do século XX que a imagem adquiriu uma importancia impar no quotidiano dos actores sociais. Através da simpli- ficagao técnica, a fotografia tomou-se uma pratica comum, “mundana”, de tal forma que Pierre Bourdieu a chamou de “arte média”*X¥ii, A Sociologia despertou tardiamente para a imagem; os socidlogos classi- cos confiaram demasiado na palavra**Vili, 4 Antropologia usou mais preco- cemente os meios audiovisuais nas suas pesquisas de terreno**iX, Contudo, a fotografia e 0 cinema etnografico e documental foram usados como técnicas complementares, para comparar, ordenar 0 registo cultural, completar as notas de campo e ilustrar o texto verbalXXX, Alguns socidlogos dedicaram-se a inves- tigagdes que envolviam a fotografia, quer analisando os seus usos sociais, quer usando a camara como ferramenta de anilise social. Pierre Bourdieu interessou-se pela andlise dos usos sociais da fotografia. Esta cumpre “fungdes_ sociais especificas” nomeadamente “solenizar” ¢ “eternizar” determinados acontecimentos de relevo social: ceriménias e ritos sociais*** como os nascimentos, os casamentos, as primeiras comunhées, etc. A fotografia é um instrumento para guardar memorias. Nos nossos dias, aumen- 376 Ao encontro da sociologia visual tam as hipoteses de dispersdo geografica e social. Por isso, a “fixacio dos grandes momentos da familia através da fotografia”, constitui um “elo de li- gaciio e resisténcia da grande familia patriarcal”X*Xli_ Através de toda uma pandplia de praticas sociais que se estabelecem em torno da fotografia, como trocar fotografias entre familiares ou dar fotografias 4 “madrinha”, ela desem- penha um poderoso papel no processo de fortalecimento dos lacgos fami- liares**Xiii_ 4 prética fotogrifica esté subordinada a uma “regra colectiva”, de forma que “a fotografia mais insignificante” expressa “o sistema dos esquemas de percepgao, de pensamento e de apreciagdio comum a todo um grupo”*XXiV, Os usos sociais da fotografia séo construidos culturalmente***V. Neste sentido, como pratica social significanteX*XVi, a fotografia e os seus usos sao susceptiveis de andlise sociolégica. Também em determinadas (sub)culturas como aquela que ficou conhecida como a “geraco beat”, se verifica um culto da fotografia como meio para “registar as mudangas de aparéncias dos amigos, os momentos de encontro”, mas também como uma “forma de permanéncia de algo teatral”, que permite a “exibicdo de rituais préprios e pessoais”*XXVii_ Nas sociedades contempordneas, a imagem responde a necessidade cada vez mais premente dos actores sociais em dar uma expresso a sua individua- lidadeX*XVili, 4 quantidade de papéis sociais que o individuo assume diaria- mente conduz a processos de fragmentacao do eu. A fotografia é um meio que permite a captura da auto ¢ da hetero-imagem, elementos que confluem para a construcao da identidade social do actor social. Podemos também considerar a andlise fotografica na investigacao dos processos de construgao de identidades colectivas. Anne Maxwell analisou as formas de representagdo (fotografica) dos povos colonizados, como uma estratégia de estudo da construgdo das iden- tidades europeias***iX, A imagem provoca um grande fascinio. O poder que tem nas nossas sociedades comprova-se pelos processos de mudanga social e politica que despoletou. A imagem adquire grande importancia na criagao de necessidades (no meio publicitario), e na forma¢ao da opiniao publica (marketing politico). O seu estudo ganhou relevancia com os desenvolvimentos das teorias prove- nientes da linguistica, que ofereceram contributos para o nascimento de novos ramos do saber: a semiologia*! ¢ a semistica. O pressuposto fundamental apresentado por Barthes é o de que embora, as imagens tenham um significado, nunca significam autonomamente, ja que “todo o sistema semiolégico possui uma mistura linguistica”*!i, Alguns sociélogos mais interessados no estudo do discurso visual utilizaram enfoques tedricos e procedimentos metodolégicos provenientes da semiologia e da 377 Ligia Ferro semidtica. Goffman organizou um estudo no qual se analisa a Tepresentagao da mulher na fotografia publicitaria, demonstrando como a mulher é usual- mente representada numa posi¢ao inferior, subalterna e fragilXlii, Aanalise da fotografia publicitaria pode abrir portas 4 descoberta de esteredtipos sociais. A imagem é polissémica; os signos aparecem nela de forma simultinea e nao sequencial, por isso as suas relagdes sdo sintagmaticas e nao temporais. A andlise dos documentos visuais constitui uma tarefa complicada, uma vez que requer a descodificagao da mensagem denotativa (normalmente naturalizada na imagem publicitdria). Analisar a imagem implica a explicagfio da natureza construida da mesma, através da identificago dos conhecimentos culturais que estdo implicitamente referidos nela, contrastando os signos seleccionados com outros elementos paradigmaticos*!iii, Existem diversos métodos de andlise da imagem, todos eles fortemente criticados*!iV, Nao pretendemos alongar-nos demasiado na discussio da andlise semiolégica. Pretendemos antes chamar a atengdo para a importancia do “visual” no processo de conhecimento da realidade social. Assim, focamo- -nos especificamente no uso da fotografia como técnica de recolha de dados na pesquisa sociolégica. Becker defendeu em 1974 uma atitude de interdisciplinaridade tanto por parte dos socidlogos como dos fotégrafos: os primeiros deveriam conhecer melhor os documentos sociais dos fotégrafos, aproveitando para usar as técni- cas mais comuns da fotografia nas suas investigagdes; os segundos deveriam estudar as teorias sociolégicas para enformar os seus projectos fotograficos*!V, No entanto, as preocupagdes de Becker parecem nao ter tido uma difusao pro- fusa no meio dos fotégrafos e dos socidlogos. “As imagens estfio por todo o lado”, interrelacionadas intrinsecamente com as nossas identidades, narrativas, estilos de vida, culturas e sociedades assim como nas “definigdes da historia, do espaco e da verdade”*!Vi, Também € importante aprender a ver em Sociologia. Consideramos que 0 uso da fotografia se revela proficuo na investigagio social. Nao a perspectivamos como técnica auxiliar e complementar das restantes técnicas, mas como uma ferramenta que permite aceder a dimensées da realidade social que queda- riam por explorar, caso a Sociologia ignorasse a imagem e os meios audiovisuais. Se nos confinamos a linguagem verbal, ignoramos os restantes cédigos que regem sistemas de comunica¢ao especificos. O socidlogo deve aprender a ler, a escrever, mas também a vertlvii, a ouvir, etc, Jesus de Miguel fala no “otho sociolégico”*!viii propésito da aprendizagem da observagao visual em Sociologia. 378 ‘Ao encontro da sociologia visual Becker sugere que devemos pensar na maquina fotografica como um instrumento que nos permite no so registar mas também comunicar muito mais do que uma maquina de escrever¥lix, Mas sera que a camara reflecte a realidade social? A fotografia é um “fragmento que faz parte do mundo”, constitui uma “experiéncia capturada”!, Mas é também verdade que todas as imagens, incluindo as fotograficas, corporizam um modo de verli, Quando fotografamos nfo nos limitamos a accionar um processo mecanico de registo; seleccionamos um enquadramento entre uma infinidade de outros enquadra- mentos possiveis. Contudo, por um lado, o problema da inexisténcia da neu- tralidade axiolégica pde-se, do mesmo modo, relativamente as restantes metodologias utilizadas para a recolha de dados nas ciéncias sociais. Por outro lado, convém sublinhar que a fotografia “sub-ministra informagao”, “evidén- cia"lii, Qualquer fotografia oferece-nos uma imagem de algo que existiu, ainda que de modo efémeroliii, A fotografia viveu sempre na tensdo entre os limites da ciéncia, da tec- nologia e da magialiV, De facto, a fotografia pode constituir um meio artisti- co de expressdo, pois ela captura um pedago da realidade, interpretando-a. Neste sentido, “as fotografias sao uma interpretagao do mundo tanto como as pinturas”!V, Nao obstante, uma fotografia pode “tratar-se como uma transparéncia selectiva” e nado como uma pintura, por exemplo, que somente pode ser alvo de uma “interpretagdo estritamente selectiva”!Vi, Roland Barthes faz uma distin¢4o entre uma excelente fotografia (artisti- ca) e uma boa fotografia (ndo-artistica). Para o filésofo, existe sempre um punctum na fotografia artistica, algo que nao se consegue nomear ou explicar. Na fotografia nao-artistica existira sempre um studium: aquilo que se pode nomear, interpretar, descrever e explicar. O studium est4 sempre, definitiva- mente, “codificado” e o punctum nao!Vii, Uma fotografia artistica inquieta, pois tem sempre um punctum e nao um studium, e “o que posso nomear nao pode realmente inquietar-me”!viii, Nao pretendemos entrar no plano estético da discussao conceptual do belo e do feio, apenas pretendemos defender que o melhor resultado na pesquisa sociolégica seria conseguir obter o studium, do qual fala Roland Barthes. Contudo, convém sublinhar que, na nossa perspectiva, a linguagem visual ndo adquire sentido unicamente quando explicitada pela linguagem verbal, ponto de vista defendido por Barthes. John Berger refere que “existem coisas que as fotografias néo podem dizer”, mas também existem outras “que as fotografias dizem muito melhor do que as palavras”1ix, Nés diriamos antes que existem coisas que as fotografias 379 Ligia Ferro (as imagens) dizem, que as palavras nao podem dizer. A Sociologia deve tam- bém explorar analiticamente outras linguagens ¢ outros cédigos, uma vez que 0s quotidianos dos actores sociais esto repletos deles. Se aspiramos conhecer a realidade, devemos usar ndo sé a metodologia fotografica, mas também as técnicas provenientes do video e do cinema. As imagens recolhidas, sejam estaticas ou em movimento, nao devem ser uma mera ilustragao do texto, caso contrario ndo acrescentam nada a andlise socioldgica. E verdade que a fotografia aufere de uma credibilidade que lhe confere poder, uma vez que existem muitas maneiras de modificar uma fotografia de maneira a que diga, inclusivamente, o contrario do que originalmente repre- sentavalX, Mas nao existem os mesmos perigos e possibilidades no uso de outras técnicas e metodologias? Pensamos claramente que sim. A construgao do guido de uma entrevista ou de um inquérito sera diferenciada consoante os enfoques tedrico-epistemoldgico e cientifico abragados em cada pesquisa. Poderao pér-se outras questées pertinentes quanto ao uso da fotografia na pesquisa socioldgica. Sera que a fotografia permite aceder a dados relevantes do ponto de vista sociolégico? Solomon-Godeau considera que a fotografia sé pode captar a “realidade da aparéncia”, isto é, o “aspecto” da pobreza, da toxi- codependéncia, da festa, etc., e nunca nos poderd dizer nada sobre as suas ori- gens sociais, psiquicas, econdmicas ou politicas!Xi, De facto, a fotografia nada poderd dizer das origens dos fendmenos sociais tratados. A fastamo-nos de qual- quer concepeao essencialista dos fendmenos sociais; nao pretendemos com a fotografia, ou com qualquer outra metodologia, captar a origem das realidades sociais, operacdo que a autora parece defender ser necessaria A actividade das ciéncias sociais. Do nosso ponto de vista, os socidlogos poderao observar, descrever, compreender e operar generalizagées acerca dos fenémenos sociais numa determinada fatia temporal. A fotografia regista imagens efémeras que podem repetir-se, nao exactamente da mesma maneira, mas condensando elementos comuns que se repetem e que permitem chegar a conclusdes. Por outro lado, tirando fotografias podemos captar o que vem antes ou depois de determina- do acontecimento e proceder a uma (re)construgdo dos fendmenos sociais. As notas de rodapé das fotografias, elemento fulcral no uso da técnica fotografi- ca, servirao para fazer um trabalho de articulagaio das fotografias com as teo- Tias e os problemas da pesquisa. A maquina fotografica pode ser um instrumento de anilise social: ao dis- parar, a camara permite “congelar um instante, o momento decisivo, o que permite depois ser visto, revisto, interpretado”!Xii, 380 Ao encontro da sociologia visual Encontros possiveis entre Sociologia e Fotografia ‘Vimos como existiram ao longo da histéria da fotografia, um leque con- sideravel de fotégrafos que se dedicaram a explorar a sociedade com a sua maquina. Contudo, Becker referia ha trés décadas (e podemos continuar a dar- Ihe razao), que surpreendia o reduzido nimero de trabalhos que apresentavam uma linha condutora entre as fotografias e as questdes teoréticas que susci- tavam. A maior parte dos livros de fotografia nao possuem texto e noutros as fotografias so acompanhadas de um breve rodapé (muitas vezes especifican- do 0 local e a data em que a fotografia foi tirada)!Xiii, Antes de fotografar a realidade social no 4mbito de uma pesquisa, é fundamental compreender o papel da teoria em todo 0 processo investigativolxiv, ela deve exercer uma fungao de comando. Antes de mais, é necessdrio consciencializar-mo-nos acerca das limi- tagdes do uso da fotografia em ciéncias sociais. O fotografo exerce um “enorme controlo sobre a imagem, a informagao e a mensagem que con- tém”!XV, Os investigadores devem ter em conta as suas limitagées, decor- rentes do facto de serem, eles proprios, actores sociais. O(a) investigador(a) é também um actor social 0 que, s6 por si, implica a assun¢do dos valores, nor- mas € experiéncias que transporta consigo e que nao deixam de influenciar a sua pesquisa. A neutralidade axioldgica é uma ilusdo de alguns que pretendem fazer as ciéncias sociais segundo os moldes das ciéncias naturais. A técnica fotografica pode revelar-se heuristica se for utilizada no 4mbito de uma investiga¢4o teoricamente enformada. Antes de comegar a disparar (a maquina fotografica), devemos percorrer todas as etapas tradicionais de uma investigag4o sociolégica. Queremos com isto dizer que é necessario formular a pergunta de partida, definir rigorosamente o objecto de estudo, trabalhar a problematica teérica, desenhar o modelo de andlise, etc., antes de fotografar. Nao obstante, a fotografia pode também auxiliar os momentos exploratérios da pesquisa. A fotografia pode mesmo assumir um papel fulcral no periodo explo- ratério da pesquisa. Explicaremos adiante como se revelou decisiva na fase exploratéria de uma pequena investigacio que levamos a termo. As fotografias sao preciosas, inclusivamente, para a definicdo das hipdteses da pesquisa, através da sua articulagao com as teoria(s) socioldégica(s), que deve(m) enformar toda a pesquisa, desde o primeiro ao ultimo momento. No momento da recolha de dados propriamente dita, a metodologia fotografica requer um “vai-vém tedrico-empirico”XVi; nao devem tirar-se 381 Ligia Ferro fotografias num determinado periodo de tempo (durante semanas ou meses) analis4-las exclusivamente numa fase temporal posterior e diferenciada do periodo de recolha de imagens. No final de cada jornada de trabalho devem rever-se as fotografias, analis4-las e sistematizar toda a informagao em fichas analiticas. Existiréo inimeras formas de investigar com fotografia, atendendo ao objecto de estudo, 4 moldura tedrica adoptada e aos objectivos da pesquisa. A nossa proposta tenta apenas dar as linhas gerais com que se podera coser 0 processo de pesquisa com fotografia. Em primeiro lugar, deve referir-se que é preciso tirar muitas fotografias; de entre muitas delas, existirao bastantes que nao tém um significado real- mente sociolégico. Nao devemos esquecer que sera sempre a teoria que nos diré se determinada fotografia possui informagao relevante do ponto de vista sociolégico. O trabalho de campo usando fotografia nao pode dispensar um bloco de notas (ou um didrio de campo!XVii no caso da pesquisa etnografica), no qual serao anotadas diversas informagdes como, por exemplo, o local, a data e a hora em que foi tirada a fotografia, anotagdes pertinentes sobre os comporta- mentos sociais dos actores sociais fotografados e, eventualmente, de outros agentes nao incluidos na fotografia, os acontecimentos sucedidos antes e depois da fotografia, uma pequena reflexdo do investigador sobre os motivos que o levaram a tirar a fotografia, etc. As notas sio uma muleta preciosa para contextualizar as fotografias e registar as pistas que adivinhamos no momen- to da fotografia. Existe o problema da imersao do investigador no fendmeno social estu- dado. Se, por um lado, é aconselhavel que exista um tempo consideravel de permanéncia no terreno para conhecer por dentro o fenémeno, por outro, 0 simples facto de usar a maquina fotografica provoca interferéncias no proces- so de pesquisa. Por vezes, a maquina legitima a presenga do investigador e os actores sio condicionados a agir de determinada maneira porque est&o a ser fotografados. Por outro lado, ha também situacdes em que a utilizagdo da maquina fotografica pode provocar a repulsa por parte dos agentes sociais. O uso da fotografia revela-se particularmente dificil em pesquisas sobre realidades sociais marginais ou ilegais, uma vez que a recolha e a divulgagao das imagens s&o indesejadas e temidas por parte dos actores sociais envolvi- dos. Nestas situagGes especificas de investigag4o, temos sempre a hipotese de tornar as fotografias anonimas, isto é, tratando-as de forma a ocultar a identi- 382 Ao encontro da sociologia visual dade dos actores sociais, ou tentando captar planos mais afastados, se possi- vel. Tudo depende dos contornos da pesquisa: dos objectivos estabelecidos, das inquietagSes investigativas e do enquadramento tedrico do estudo. ‘Na nossa perspectiva, o investigador deve permanecer algum tempo no terreno, o suficiente para permitir o estabelecimento de uma relacao de confi- anga € para que os actores sociais se habituem a presenga da maquina fotogra- fica. Sabemos que poderao existir alguns fendmenos nos quais este requisito perde o seu sentido. E 0 caso das manifestagdes no espago publico e de todo 0 tipo de acontecimentos espontaneos e curtos. De qualquer forma, devemos pesar com algum cuidado as vantagens do uso da metodologia fotografica em contextos sociais como estes, porque facilmente podemos atingir um resulta- do préximo do foto-jornalismo, tratando as realidades sociais de forma super- ficial, facto ao qual acresce o perigo de conseguir apenas meras ilustragdes visuais da pesquisa. A preocupagio estética ou técnica relativamente 4 “qualidade” da fotografia nado adquire grande pertinéncia, pois pensamos com Becker que para usar a fotografia na analise social, é menos frutifero ter um mau desem- penho como socidélogo do que como fotégrafo. Para este autor, “ mudar e me- lhorar as imagens fotograficas esta menos dependente de questdes técnicas do que do melhoramento da compreenstio do que se fotografa — a teoria”!XViii, Por outro lado, devemos sublinhar o particular relevo que adquire 0 esfor¢o de afastamento relativamente aos pré-conceitos e ao senso-comum, também no dominio da investigag4o com fotografia. Peter Galassy defendeu que a virtude de Henri Cartier-Bresson, enquan- to fotégrafo social, consistia no facto de fotografar a realidade social “sem jul- gar os factos ou os acontecimentos” xix, Apesar da sua constante preocupagao social, patente nos temas mais abordados nos seus trabalhos fotograficos, Bresson usava a maquina como um instrumento para responder as suas curiosidades e néo como um meio para reforgar os seus pré-conceitos relati- vamente aos fendmenos fotografados. As fotografias constituem evidéncia empirica, tal como as entrevistas ou os inquéritos, desde que a sua aplicagao seja dotada de um caracter sistemati- co e que se privilegie o papel da teoria. A andlise posterior das fotografias devera obedecer a categorias bem definidas, resultantes da construgio da moldura de andlise e do trabalho exploratério da pesquisa. Convém explicitar que existem duas maneiras distintas de ver fotografias: a rapida e a lenta. Quando vemos fotografias de familiares e de amigos, por 383 Ligia Ferro exemplo, vemos rapidamente uma foto atras da outra, explicamos 0 seu con- tetido de forma imediata, apropriamo-nos do significado da fotografia e, por isso, somos arrebatados por uma certa sensagiio de possessdo da mesma. Na Pesquisa sociolégica recomenda-se um modo mais lento de observagao da fotografia: devemos olhar com atengdo (seguindo um método universal de perguntar), tentar descobrir outros significados presentes implicitamente nela que no o mais imediato, mudar a ordem das fotografias e tentar descobrir contradi¢ées, comparar a fotografia com outras que perten¢am a um contexto social similar ou com fotografias de outras épocas histéricas, procurar padrdes de interacgdo e de apresentagdo de si, tentar compreender o processo de construgo social da realidade através das fotografias, sistematizando as observagdes que se vao fazendo!XX, Othar lentamente & perder o poder sobre a fotografia!XXi_ Em ultima analise, a aplicagéo da metodologia fotografica deve permitir a generalizagao dos resultados a um espaco social bem definido ao longo da pesquisa. A “imaginagao sociolégica” assume uma relevancia sin- gular na operagdo de generalizagao dos dados da pesquisa. Assim, subli- nhamos uma vez mais que a investigaco com fotografia deve obedecer a critérios de representatividade dos dados recolhidos. Uma das maiores dificuldades do uso da fotografia na pesquisa sociolé- gica, prende-se com a jungdo do texto e das fotografias. Muitas vezes nao sabemos como articular o texto verbal com o visual, porque os dados sao obti- dos em registos diferenciados e dizem respeito a dimensoes distintas do fend- meno em estudo. Se a teoria assumiu a sua devida fungdo de comando do processo de pesquisa e de andlise dos seus resultados, este problema pode ser evitado ou superado. Uma construgao sistematica das fichas de andlise das fotografias poderé também ajudar na tarefa da juncdo de texto com fotografia. As fotografias assim como as observagées registadas, depois de tratadas e analisadas, devem ser incorporadas no texto da pesquisa em articulacao estreita com a teoria. Um outro problema que se costuma apontar relativamente ao uso da fotografia, diz respeito 4 sua susceptibilidade para ser manipulada. Como referimos atras, a fotografia no diz toda a verdade, mas a maquina é um exce- lente instrumento para recolher dados de forma sistematica e teoricamente dirigida. A fotografia nao descreve somente a realidade social, mas também a constréil**ii, ta como as outras técnicas. O caracter sistematico da recolha de imagens, a articulagao das fotografias com as teorias da investigagio e a honestidade intelectual que deve caracterizar 0 Processo de pesquisa, con- Stituem garantias da genuinidade das fotografias. 384 Ao encontro da sociologia visual Frisamos, de novo, a importancia da imagem na investigagao social, quer através dos usos sociais que a mesma adquire nos quotidianos dos actores, quer por meio da andlise das representagdes imagéticas veiculadas pelas instancias sociais de poder, ou ainda usando a maquina fotogrdfica como instrumento para a recolha de dados (evidéncia) nas pesquisas sociolégicas. A Sociologia Visual constitui-se, assim, como um campo disciplinar no qual a imagem € fonte de dados para a investigagao. No Ambito da Sociologia Visual é necessario o cultivo de um enfoque critico apoiado em métodos sistematicos de estudo. Poder-se-4 argumentar que a defesa de um novo campo de investigagao responde a interesses pes- soais € grupais. Contudo, subscrevemos as consideragdes que Bauer e Gaskell fazem relativamente 4s mesmas criticas proferidas relativamente a semiolo- gia; se o enfoque critico fosse concretizado, “a disciplina académica se torna- ria desnecesséria” xxiii, A Sociologia Visual é constituida por um conjunto de técnicas sistematicas de andlise e de recolha de imagens, assim como por um conjunto de teorias sociolégicas sobre a imagem e a Tepresentagdo visual. Defende-se a construgao de teorias baseadas em imagens. Vejamos alguns exemplos de contextos de investigagao nos quais a Sociologia Visual pode adquirir um papel fundamental. No dominio dos estudos de género, para além da andlise da fotografia publicitaria, a Sociologia Visual permite o estudo do desempenho diferencia- do de papéis sociais, das actividades e quotidianos de mulheres e homens, assim como de formas distintas de apresentacao de si!XXiV_ Em Portugal, exis- tem alguns livros de fotografia sobre a comunidade cigana. Contudo, a maior parte destes trabalhos sao apenas ensaios fotograficos, nos quais ndo ha uma articulagao das imagens com as teorias sociolégicas!XXV, A fotografia pode também ser utilizada no estudo de tipos-sociais!XXVi, de praticas sociais, de relagées, sociabilidades e peculiaridades sociais, de esteredtipos, normas e padres sociais, de classes sociais e estilos de vida, de comunidades, de orga- nizagées, etc. Poderiamos referir muitos mais exemplos de temas que poderio ser abordados na sede disciplinar da Sociologia Visual. Salientamos apenas o relevo especifico que a fotografia assume no dominio do estudo do espago, ao qual esté votada a “sociologia do espago”IXxvii, pois a maquina permite captar “as cirurgias arquitecténicas que se praticam no espago publico, assim como os processos econdmicos finis- seculares de transformacao das novas cidades”!XXviii_ 4. imagens das recon- figuragées espaciais dos meios urbanos sao fundamentais para perceber os 385 Ligia Ferro processos de mudanga que atingem as cidades contempordneas. Existem mesmo bastantes projectos fotograficos que documentam “a nogao de cidade eas suas multiplas fic¢des, a rela¢ao entre o privado e 0 publico, que se tocam em fase de redefinigao”!XXix, A fotografia documental assumiu desde 0 seu comego um papel impor- tante na dentncia das desigualdades sociais. A imagem cativa, por isso tem um grande poder quando se trata de denunciar problemas sociais. Assim, a fotografia constitui uma estratégia metodolégica extremamente virtuosa no Ambito da investigacao-acgao. Ao estudar determinados fenémenos como a pobreza e a exclusao social, esta metodologia permite captar a imagem dos mesmos e, desta forma, interpelar as instancias de poder e a opinido publica. Nao obstante, devemos precaver-nos relativamente a atitudes voyeuristas, que usam a fotografia de forma sensacionalista para divulgar os fendmenos mais impressionantes da realidade social. Walter Benjamin referia que “até a mi- séria fotografada pode ser hoje convertida em objecto de gozo” XxX, Depois de apresentar os fundamentos tedrico-espistemoldgicos que justi- ficam a existéncia da Sociologia Visual, passamos a relatar duas experiéncias de investigacdo, nas quais se desenvolveu um metodologia fotografica. Com estas reflexdes nado pretendemos apresentar as referidas pesquisas de modo exaustivo, mas antes dar uma ideia panorémica dos modos de aplicagao da fotografia em contextos especificos de investigag4o, assim como partilhar as notas metodologicas decorrentes da experiéncia de pesquisa. Percursos investigativos ao encontro de “Les Naus”: a mAquina navegante A pequena reflexdo que fazemos ¢ o resultado de um estudo realizado no centro social “okupado” “Les Naus”, localizado no bairro de Joanic, na cidade de Barcelona. Os “okupas” podem inserir-se nas denominadas “micro-culturas juvenis de cardcter transnacional e que veiculam novas formas de participagao social”XXXi_ Na verdade, apesar da intervencao civica dos okupas se carac- terizar por uma intensa participagio e actividade sociais, eles nado possuem espa¢o nem projec¢ao nos grandes debates sobre a cidadania. O conceito de cidadania tem sido extremamente discutido nos nossos dias. Contudo, a par- ticipagao social na rua e as “representagdes ordinarias” da cidadaniaX*X1i nao foram tidas em conta no debate. Interessou-nos estudar o fendmeno social da “okupagao”, tendo por base 386 Ao encontro da sociologia visual © conceito de “aproximagao interactiva” 4 nogdo de cidadania, que tem por objecto “o jogo de olhares reciprocos e muitas vezes contraditérios que se estabelecem entre poderes piiblicos e movimentos sociais”!*Xxiii, No ambito do trabalho de pesquisa na “okupa”, combinou-se 0 trabalho de campo com a observagdo-participante e a metodologia fotografica; 0 didrio de campo foi um instrumento fundamental de articulagao dos dados e das teo- rias da pesquisa, servindo outrossim para 0 registo dos discursos dos actores sociais em cena na “okupa”. Como refere Becker, para além de fotografar interessa também perguntar!Xxxiv com 0 intuito de alcangar a compreensao sociolégica do fenémeno que se fotografa. A combinacao da fotografia com outras técnicas de investigaco revela-se proficua. Enfrentémos bastantes dificuldades na realizagao do trabalho de pesquisa. Conseguir autorizagao para fotografar nao foi facil; implicou enfrentar uma assembleia geral da “okupa”, que se pautou pela discuss4o e conflitos de opinides relativamente 4 nossa presenga na “okupa” para realizar o trabalho. Contudo, atingiu-se 0 consenso e conseguimos prosseguir a pesquisa. O Centro Social situava-se num edificio que foi, em tempos recuados, uma fabrica de brinquedos. Quando a fabrica faliu, 0 edificio ficou abando- nado e foi posteriormente “okupado” por actores estrangeiros, que se deslo- cavam A cidade para “fazer estatuas” nas Ramblas e conseguir ganhar algum dinheiro. Mais tarde um grupo de jovens amigos, simpatizantes da ideologia anarquista “okuparam” 0 edificio com o intuito de organizar uma série de actividades culturais, nomeadamente com a intengdo de constituir um grupo de teatro. Até a data do desalojamento, o Centro Social desenvolveu varias activi- dades como oficinas de confecgao de roupa, de reparagao de bicicletas, aulas de piano, de danga do ventre, de pintura, etc., mas o teatro!XXXV foi a activi- dade que se desenvolveu ao longo de todo o tempo de okupago (7 anos). O espaco de “Les Naus” era somente usado para desenvolver actividades soci- ais e culturais ¢ no como espaco habitacional. Todos os elementos do Centro tinham a sua casa, alguns deles trabalhavam e “Les Naus” era um espago cul- tural onde podiam desenvolver as suas actividades. Todas as actividades eram abertas 4 comunidade e a participacao era gratis. Participamos das varias actividades do Centro Social como os pequenos- almogos comunitarios, as assembleias gerais, as aulas e oficinas e os ensaios do grupo de teatro, durante as quais tiramos muitas fotografias. A proximi- dade com as pessoas foi uma constante e, muitas vezes, deixamos a camara de lado para ajudar a arrumar uma sala ou para colaborar em tarefas impor- 387 Ligia Ferro tantes para a organizagdo da “okupa”xxvi, Fotografamos, por um lado, os espagos fisicos do Centro Social (as pare- des graffitadas com mensagens politicas) e, por outro, as actividades e as si- tuagGes de interac¢ao entre os actores de “Les Naus”. A fotografia revelou-se uma ferramenta poderosa para captar contextos de sociabilidade e “modos de fazer” dos protagonistas do Centro. As fotografias foram organizadas em fichas analiticas e 0 processo de andlise das mesmas revelou dados impor- tantes para a pesquisa. De facto, quando usamos a metodologia fotografica “nao vemos para fotografar, mas fotografamos para ver”[XXXVii_ 4 fotografia permite ver, inclusivamente, 0 que nunca se tinha visto. Para além de captarmos os quotidianos dos “okupas”, pudemos fotogra- far o desalojamento de “Les Naus”. Através da fotografia acedemos as pos- turas dos moradores de Joanic, que se insurgiram contra 0 desalojamento. De facto, o Centro Social oferecia uma série de actividades culturais gratis a comunidade e mantinha uma relagdo muito proxima com os moradores. As festas, as projecgdes de filmes, as pegas de teatro e mesmo os pequenos- almogos eram muito participados pela comunidade. Fotografamos também os conflitos com a policia, os gestos provocadores dos okupas e dos moradores A policia. A linguagem ndo-verbal possui um significado socioldgico, tal como a linguagem verbal, e foi captada pela maquina fotografica, permitindo a sua posterior andlise. Perante 0 desalojamento de “Les Naus”, os “okupas” sentiram-se revolta- dos e desarmados. Nao existem palavras que possam descrever o seu desani- mo. “Ha olhos que falam”!XXxviii, 2 95 olhares dos okupas falam nas fotografias. Durante o trabalho de campo encontramos alguns obstaculos que tive- mos de ultrapassar. A pesquisa constréi-se na pratica e, por mais que se planeiem as jornadas, existem sempre problemas que suscitam a adaptagao a situagdo de pesquisa. No trabalho de campo “ o principal instrumento de pesquisa é 0 investigador”!Xxxix, Por um lado, a aplicagao das técnicas nio dispensa a presenga directa do mesmo. Por outro, deve ter-se em conta que, devido a situagdes inesperadas que surgem “quase sempre com escasso con- trolo por parte do investigador”, este “é obrigado a reagir em plena situacio de observagao”*°, Existe necessidade de adequar a metodologia em fun¢aio do objecto de estudo da pesquisa. As resisténcias 4 nossa presenga, juntaram-se as dificuldades técnicas decorrentes do material que usdmos. Dispinhamos de uma maquina digital sem flash e, tendo em linha de conta que as actividades da “okupa” decor- 388 Ao encontro da sociologia visual riam a noite e que o edificio possuia uma fraca iluminagao, tivemos de nos socorrer dos focos existentes na “okupa” para fotografar. Em situacdo de pesquisa com fotografia, consideramos 0 uso do flash nao aconselhavel, prin- cipalmente em ambientes intimistas, pautados pela proximidade com os actores sociais. O flash pode perturbar facilmente o desenrolar dos aconteci- mentos € causar repulsa por parte dos agentes sociais. O fim de “Les Naus” despoletou na nossa mente reflexdes sobre 0 carac- ter testemunhal do trabalho que desenvolvemos. Para além de podermos inter- Pretar e compreender sociologicamente as dindmicas e os Processos sociais desenvolvidos no Centro, fixamos a imagem do quotidiano de “Les Naus” e do seu ponto final. Essas imagens poderio ser (re)vistas e (re)interpretadas, mas permanecerao sempre como o testemunho de algo que, de facto, aconteceu. Percursos investigativos ao encontro do graffiti Desenvolvemos a metodologia fotografica no estudo sobre a pratica s6cio-cultural do graffiti nos espacos sociais do Porto e de Barcelona. O graf- fiti € uma prdtica ancestralX°i, No entanto, adquiriu uma nova configuragao enquanto fenédmeno no final dos anos 60, em Nova Torque. Ancorado no quadro da cultura hip hop, o graffiti constituiu um meio de expresso dos actores sociais que povoavam os guetos nova-iorquinos e que construiam quotidianamente a cultura hip hop com Propésitos de contestago aos valores da maioria branca dominanteX“i!, Esta nova forma de expressao adquiriu os contornos de uma (sub)cultura juvenil pautada pelas suas regras, normas valores sociais. A exportagio do graffiti para a Europa fez-se primeiramente enquanto bem de consumo simbélico, através da organizagao de exposigdes dos artistas nova-iorquinos mais reconhecidos nas galerias de arte. Suscitou 0 interesse dos apreciadores da pop art, que comegaram a investir na compra de pegas de graffiti em suporte de tela*iii_ A pratica do graffiti perdeu o seu cardcter étnico no contexto europeu, assim como a varidvel classe social deixou de fazer sentido na sua andlise. O graffiti tornou-se progressivamente uma pratica inter-classista, inter-étnica e trans-nacional. No ambito do nosso trabalho comparativo de pesquisa, inte- Tessou-nos ndo sé compreender os sentidos da pratica do graffiti no contexto do espaco da produgo cultural nao-legitimada, mas também perceber as estratégias de legitimagao que a afectam e que tendem a consagra-la como. 389 Ligia Ferro pratica cultural legitimada. Ainda que o graffiti comece a penetrar nas galerias de arte na cidade de Barcelona, a verdade é que o espaco piblico permanece, por exceléncia, o lugar de expressio dos writers. Conseguir 0 prestigio e o reconhecimento social no meio dos escritores implica pintar muito na rua, 0 que acaba por oferecer oportunidades para catapultar a obra dos writers para as galerias. Considera-se premente o estudo do graffiti com o uso da metodologia fotogra- fica, ndo sé porque é necessério captar as imagens das pegas para perceber as dinamicas sociais relevantes na sua (re)construgao e desenvolvimento, mas também para capturar os contextos de sociabilidade em que se desenrola a sua pratica. O trabalho de campo foi iniciado no espago barcelonés, 0 que implicou um esforgo acrescido, uma vez que a cidade nos era desconhecida e que ndo tinhamos informantes privilegiados no meio. A maquina fotografica revelou- -se um excelente instrumento na fase exploratoria. Permitiu-nos submergir na realidade do graffiti, através da recolha de imagens das pegas plasmadas no espago publico. As primeiras jornadas destinaram-se a fotografar as pecas de graffiti e a anotar as localizagdes das mesmas na malha urbana do bairro do RavalX¢iv, Posteriormente foram construidos itinerarios das pegas de alguns escritores, assim como itinerarios estilisticos (as pegas foram agrupadas em 3 categorias: graffiti hip hop, graffiti cémic e graffiti social e politico). A andlise das fotografias permitiu-nos compreender apropriagdes diferenciadas do espago e identificar pistas de relevo para a construgdo da moldura de andlise do trabalho. Sarah Pink refere que a ponderagao do uso da fotografia numa pesquisa deve ter em conta a aceitagdio que esta tera por parte dos actores sociais*°Y. De facto, a pratica do graffiti encontra-se extremamente entrelagada com a pratica fotografica. Os writers usam-na sempre para conservar as suas pecas de graf- fiti. Estas sdio efémeras e a fotografia permite conserva-las e eterniza-las. Uma vez detectados os pontos de encontro dos writers (normalmente locais de venda de street-wear e de latas de tinta), passamos a frequenta-los com regularidade. Nesta fase, as fotografias das pecas conferiram-nos legi- timidade para interagir com os escritores. Ainda que tenhamos explicado claramente os nossos propésitos e explicitado o projecto de investigacao, a inserc4o no campo revelou-se dificil; os writers manifestaram muitas resistén- cias 4 nossa presenca. A fotografia adquire um uso social muito importante no meio dos escritores, pois, para muitos deles assume contornos de uma prova de co- 390 Ao encontro da sociologia visual nhecimentos (vendo as fotografias, eles podem argumentar acerca da autoria e da localizagéo das pegas, etc.). Mostrar e trocar fotografias foram activi- dades extremamente importantes para a nossa aceitagio por parte dos escritores e, por conseguinte, para a legitimagao da nossa presenca no campo. Para estudar o graffiti e as légicas sociais que encerra, é necessdrio dis- por de muito tempo para estar na rua, fotografar e “ler” as paredes. Assim, podemos perceber 0 aparecimento de novos escritores estar atentos a novas dinamicas emergentes no campo. Apesar de estarmos familiarizados com as tematicas de debate mais frequentes entre os writers, a verdade é que é necessario dominar informagao localXC¥i ¢ a metodologia fotografica permi- tiu-nos aceder a esse tipo de informagao. A metodologia fotografica foi também utilizada na fase da recolha de dados. O graffiti constitui uma pratica ilegal, por isso 0 uso da metodologia fotografica revela-se particularmente delicado para o seu estudo. Foi-nos dito muitas vezes pelos escritores que os seus rostos nao podiam ser fotografados, uma vez que temiam represalias por parte da policia. Conscientes das dificul- dades da aplicacao desta estratégia metodoldgica, apostamos na criag3o de uma relagdo de confianga e de empatia com os(as) escritores(as), 0 que nos facilitou toda a pesquisa em geral e 0 uso da fotografia em particular. A insergao no campo da pesquisa barcelonés revelou-se particularmente dificil nao sé pelos obstaculos decorrentes da ilegalidade da pratica mas tam- bém porque, segundo os writers, o graffiti “esta na moda” em Barcelona e, por isso, constitui objecto de trabalhos cientfficos e de inameras reportagens jor- nalisticas. Os escritores sentem que o direito 4 sua imagem (individual mas também das suas pegas) lhes é usurpado, principalmente pelos jomalistas que tratam, muitas vezes de forma sensacionalista, o graffiti e os seus protago- nistas sociais. A metodologia fotografica aplicada 4 pesquisa socioldgica pode ajudar- nos a conhecer e a mostrar aquilo que, muitas vezes, nao se quer ver. Os meios de comunicagao, por exemplo, passam (ou “fabricam”) uma determinada imagem da pratica social do graffiti, usualmente conotada com violéncia e com a relac3o conflitual com a policia ou com os segurangas do metro. A fotografia pode constituir uma técnica de investigago poderosa para poder iluminar a analise destes fendmenos mediatizados pela comunicacao social e, portanto, para desconstruir as imagens com mais repercussdo na opinido publica. Pudemos captar posturas e formas de apresentago de si dos escritores no quotidiano, através da andlise da indumentaria, dos aderegos estilisticos e das expressdes corporais em situagdes de co-presenga. Os dados que obtivemos 391 Ligia Ferro através desta técnica foram cruzados com os provenientes das outras técnicas utilizadas, proporcionando resultados surpreendentes; permitiu uma maior compreensao das légicas de competicao patentes na pratica cultural do graffi- ti, Riscar uma pega de outro escritor (“crossar”) constitui para alguns um ver- dadeiro desafio, despoletando, por vezes, auténticas batalhas virtuais entre writers que nunca se conheceram. Estes cédigos simbélicos sao caracteristi- cos da pratica do graffiti hip hop e foi somente através da fotografia que pudemos compreender as légicas de competigao e gerir 0 processo de pesquisa de modo mais proficuo, uma vez que através dela pudemos conhecer “por dentro” a pratica sécio-cultural do graffiti. Percursos metodolégicos da Sociologia Visual Pretendemos com este texto fundamentar teérica e empiricamente a necessidade do uso de metodologias distintas daquelas que se tém usado até agora na pesquisa social, pois a sua utilizagao enriquecera 0 didlogo com as teorias, assim como com os resultados do trabalho empirico. A imagem, seja ela fixa ou em movimento, permite-nos obter informagdo distinta daquela a que acederiamos através dos discursos, das palavras. E importante aprender a ver nas Ciéncias Sociais. Nao defendemos que as metodologias visuais sao melhores ou superiores em termos tedricos e/ou pragmaticos, simplesmente Ppensamos que nos abrem caminhos ainda por desbravar pela Sociologia. Aescolha das metodologias nao obedece a formulas nem a receitas uni- versais; nao existem formas dptimas de obtengao de conhecimento. No decur- so dos processos investigativos, confrontamo-nos com uma pandplia de metodologias e de técnicas de recolha de dados. Deste modo, as opgdes metodoldgicas devem obedecer a Iégica da reflexdio constante acerca do objecto de estudo e das condigdes (tedricas e sociais) da investigacao. A fotografia é uma ferramenta valida de recolha de dados. Contudo, a ponderacao sobre o seu uso em contextos especificos de pesquisa, deve ter por base uma defini¢ao rigorosa das perguntas e dos objectivos da investigacao. O problema dita o método segundo o dictum de Trow, isto é teoria e metodologia nao sao divisiveis em contextos investigativos. Fazemos 0 “elogio do ecletismo metodolégico”*°¥ii com Joao Teixeira Lopes, pois consideramos que a complexidade dos fenémenos sociais con- temporaneos, exige a multiplicagao das estratégias metodolégicas. Como re- fere Teixeira Fernandes, actualmente encontramo-nos perante “um novo tipo 392 Ao encontro da sociologia visual de social”XCVili, em constante mudanga, que exige novas construgdes tedri- cas e metodolégicas. Devem negar-se modelos metodolégicos unidimensio- nais*“X, pois revelam-se, Progressivamente, insuficientes para uma com- Preens4o aprofundada e holistica dos fenémenos sociais. A metodologia fotografica deve também ser utilizada conjuntamente com outras estratégias de pesquisa empirica. As imagens do fenémeno social, recolhidas com a fotografia (ou com o video), nado devem substituir a voz dos seus protagonistas sociais e vice-versa. A articulagdo de metodologias quantitativas e qualitativas possui toda a pert- inéncia na investigagao sociolégica, por permitir captar dados de natureza dis- tinta, e poderd ainda ser mais valiosa, se optarmos pelo cruzamento dos dados obtidos através da aplicagao das diferentes metodologias. A fotografia pode perfeitamente ser combinada com 0 inquérito, tudo depende dos propésitos da pesquisa. A polémica discussio acerca das potencialidades das metodologias qua- litativas e das metodologias quantitativas repousa na dicotomia teérica entre a explicagao e a compreensdo. Na linha da Perspectiva durkheimiana, defende-se a explicagao dos factos sociais (como coisas) e no quadro teérico weberiano falamos na compreensdo dos fenémenos sociais, Acontece que “a factualidade néo se exprime apenas em dimensdes numéricas, nem 0 qualita- tivo é inquantificavel”°, As técnicas nfo valem por si mesmas. Sé adquirem sentido quando orquestradas por um método, isto é, por uma “estratégia integrada de pesquisa que «organiza criticamente as praticas de investigagaon“i, incidindo (...) sobre a seleceao e articulagao das técnicas de recolha e andlise da informagao”¢ii, Cada técnica pode trazer um determinado tipo de dados rico na sua especifi- cidade, e para a integragao da pluralidade das técnicas usadas, deve concorrer uma visdo una da estratégia metodolégica adoptada. Como implicam proce- dimentos especificos, as técnicas levantam problemas e desafios particulares. Neste sentido, tentamos apresentar nao sé os fundamentos tedricos da apli- ca¢ao da fotografia na pesquisa sociolégica, mas também os modos que sub- jazem ao seu uso e€ a discussdo dos problemas mais usuais que podemos enfrentar quando fazemos essa op¢ao metodoldgica. Argumenta-se contra 0 uso da fotografia referindo que se trata de uma técnica muito dependente de quem a usa. Mas nao o sao todas as. técnicas? Poderemos focar uma determinada dimensao que nos suscitou mais interesse em detrimento de outras, no dominio de uma pesquisa teoricamente enforma- da, mas nao seguimos exactamente 0 mesmo procedimento quando elabo- 393 Ligia Ferro ramos um guido para uma entrevista ou para um inquérito? A fotografia sofre de uma multiplicidade de desconfiangas enquanto técnica cientificamente valida para a recolha de dados, principalmente porque vive nas fronteiras entre a arte ¢ o registo memorial quotidiano dos actores sociais. Os fotdgrafos (que se dedicam a fotografia artistica) como os socidlo- gos (que a utilizam como técnica de investigacao), s4o “socialmente definidos por uma independéncia maior relativamente as condi¢des que determinam a pratica [fotografica] da maioria [dos actores sociais] "il, Os usos sociais da fotografia prendem-se com a conservacao e eterniza- Go das memérias e sdo, por si sé, um obstaculo legitimacao tanto da fotografia artistica, como da fotografia como técnica de investigagao social. Nao se compreende que uma mdquina fotografica, cujos procedimentos técnicos sio dominados por todos os agentes sociais, possa transformar-se num meio artistico ou cientifico. Por muitas razées, devemos admitir que “fotografar a realidade social nao &é nada facil”“1V, Para enfrentar todas as duvidas e desconfiangas fazemos uma proposta simples mas aliciante: experimentar a técnica fotografica nos estu- dos sociais. Becker langou em 1974 um novo repto aos socidlogos mais insa- tisfeitos e inconformados com as técnicas ¢ as metodologias utilizadas: usar a fotografia nas suas investigacdes°Y. Respondamos com ousadia, perseveranga e paixdo ao scu desafio! A teoria constrdi-se na pratica € vice-versa. Como técnica, a teoria precisa de ser experimentada e aperfeigoada. Porque nao focar agora a realidade social? 394 Ao encontro da sociologia visual ' Ver Howard 8. Becker, Doing Things Together, Evanston, Illinois, Northwestern University Press, 1986 (1* ed. 1974), p. 223; Jesiis de Miguel, Fotografia in Maria Jests Buxé, Jesus de Miguel (eds.), “De la investigacin audiovisual: Fotografia, cine, video, television”, Barcelona, Proyecto A Ediciones, 1999, p. 23. " Cf. Giséle Freund, La fotografia como documento social, Barcelona, Editorial Gustavo Gili, 1993, pp. 67-76. Ul Ver Howard S. Becker, Op. Cit, p.223. iV Giséle Freund, Op. Cit, p.69. ¥ Cf. Lalvani Suren apud W.J.T-Mitchell in Photography, vision, and the production of mod- ern bodies, Nova lorque, State University of New York, 1996, p.13. Vi Giséle Freund, Op. Cit, pp. 79-83. vil Idem, ibidem, p.177. Vill Walter Benjamin, The work of art in the age of mechanical reproduction (pp.211-244) in “Illuminations”, Londres, Fontana Press, 1992, p.212. IX Cf. Gisdle Freund, Op. Cit. X Ver Howard 8, Becker, Op. Cit, P.236. XI Giséle Freund, Op. Cit, pp. 102 e 123. Xi Ver Robert Capa, Robert Capa: Photographies (textos de Whelan Richard, Henri Cartier-Bresson ¢ Cornell Capa), Paris, Nathan, 1996, XIll Fotografou 5 guerras, comegando na Guerra Civil Espanhola e terminando na guerra da Indo-Cina. *IV Cf. John Szarkowski, Looking at photographs: 100 pictures from the collection of the M useum of Modern Art, Nova lorque, The Museum of Modern Art, 1973, p.146. XV Ver Clarke Graham, The photograph, Oxford, Oxford University Press, 1997, p.148. xvi [dem, Ibidem, p.147. xvii Podem ver-se as fotografias resultantes deste projecto em Vicki Goldberg, Lewis W. Hine: Children at work, Prestel Publishing, Nova Iorque, 1999. xvili Robert Frank, The Americans, Zurique, Berlin, Nova Torque, Scalo, 2000 ( I* ed. 1959). XIX Clarke Graham, Op. Cit, p.15S. XX Howard S. Becker, Op. Cit, p. 237. xxi Ulrich Keller, August Sander: hommes du XX siécle, Paris, Chéne Achette, 1980. xxii Howard S, Becker, Op. Cit., p.237. xxiii Ver Henri Cartier-Bresson, Les Danses a Bali, Paris, Delpire, 1954. Aconselha-se viva- mente a consulta deste livro, pela beleza das suas fotografias mas também pelos textos que as acompanham, XxIV Howard 8. Becker, Op. Cit. XXV Idem, ibidem, pp. 235-236. xxi Cf, Jesus de Miguel, £1 ojo sociolégico, Barcelona, Universidade de Barcelona, man- uscrito 25 pp., 2000, p.6. xxvii A expressio € de Pierre Bourdieu et al, Un arte medio: ensayo sobre los usos sociales de la fotografia, Barcelona, Gustavo Gili, 2003. XxVIil Jesus de Miguel, Op. Cit., p.1. XxX Margaret Mead combinou a epistolografia com a fotografia no trabalho de campo, no seu estudo da infancia em Bali. *XXVer Maria de Jesis Buxé, ... Qué mil palabras in Maria de Jests Bux, Jesus de Miguel (eds.), “De la investigacién audiovisual: cine video, televisién”, Barcelona, Proyecto A Ediciones, 1999. xxx Pierre Bourdieu, Op. Cit, p.44. 2e0cll Cf, Gaspar Martins Pereira, Photographia Guedes: 1900 A fotografia, a familia e 0 tempo em “Encontros de Fotografia”, Coimbra, Associagio Académica de Coimbra, 1992, xxiii Ver Pierre Bourdieu, Op. Cit., pp. 56-69. 395 Ligia Ferro XXXIV Idem, Ibidem, p.44. XXXY Antes existia, inclusivamente, o costume de fotografar os mortos. Actualmente este ritual desapareceu; fotografam-se essencialmente os momentos de alegria. Ver Jesiis de Miguel, Fotografia in Maria de Jesiis Buxd, Jesiis de Miguel (eds.), Op. Cit. 2xvi Cf. Victor Burgin, Introduction in Victor Burgin (ed.), “Thinking Photography”, Houndmills, Macmillan Press, 1982, p.2. xxxvil Ver “Brian Graham: Absurdity is king — twiligt of beats”, Lisboa, Camara Municipal de Lisboa / Casa Fernando Pessoa, 2005. vill Gisdle Freund, Op. Cit., p.8. XXXIX Ver Anne Maxwell, Colonial Photography & Exhibitions: Representations of the “Native” and the making of European Identities, Londres, Leicester University Press, 1999. x1 4 semiologia estuda os sentidos ¢ significados simbélicos; nfo se restringe ao estudo da imagem. xli Roland Barthes, Elements of Semiology, Nova lorque, NY: Hill and Young, 1967, p.11. xlii Exving Goffman, Os momentos ¢ os seus homens, Lisboa, Relogio D’ Agua, 1999, p.166; veja-se também os estudos sobre a publicidade de género em Idem, Gender Advertisements, Nova lorque, Harper Colophon Books, 1979. xliii Ver Martin W. Bauer, George Gaskell, Pesquisa Qualitativa com texto, imagem e som: um manual pratico, Petropolis, Editora Vozes, 2003 (2* ed.), p.325. xIlV © livro de Martin W. Bauer e George Gaskell, Op. Cit., possui uma proposta sistemati- zada de andlise de documentos visuais que pode ser muito util. As fragilidades do método semi- oldgico so também discutidas pelos autores com algum cuidado. xlv Howard S. Becker, Op. Cit. xIvi Sarah Pink, Doing visual ethnography research: images, media and representation in research, Londres, Sage Publications, 2001, p.17. xIVli Um excelente livro que pode servir para “comecar a ver” de outros modos menos mediatos ¢ 0 de John Berger, Modos de ver, Lisboa, Edigées 70, s.d. xviii Expressdo de Jestis de Miguel, EY ojo sociolégico, Barcelona, Universidade de Barcelona, manuscrito 25 pp., 2000. xlix Howard S. Becker, Op. Cit., p. 224. | Susan Sontag, Sobre la fotografia, Barcelona, EDHASA, 1981, p.14. i A expresso é de John Berger, Op. Cit. Ti Cf, Susan Sontag, Op. Cit, pp. 15 € 31. lil Ver Rosa Olivares, Os limites da fotografia: cartografias da fotografia contemportinea in Humberto Von Ameluxen et al, “Alén dos limites: a fotografia contempordnea” (ciclo de con- feréncias), Santiago de Compostela, Xunta de Galicia / Centro Galego de Arte Contemporénea, 2003, p.49. LW Cf. Rosa Olivares, Op. Cit., p.46. 'V Susan Sontag, Op. Cit, p.17. vi Idem, ibidem, p. 16. Wii Ver Roland Barthes, La cdmara hicida: Nota sobre la fotografia, Buenos Aires, Ediciones Paidés, 1990, p.100. Will Tdem, ibidem, p.100. ix John Berger em entrevista a Paul Willis, The Authentic Image (1979 — 80): an interview with John Berger and Jean Mohr in Manuel Alvarado, Edward Buscombe, Edward Collins (eds.), “Representation & photography: a screen education reader”, Houndmills, Palgrave, 2001, p. 173. X Giséle Freund, Op. Cit., pp. 141-149. xi Cf, Abigail Solomon-Godeau, Restaurando o realismo no fin do século: novas encar- naciéns do documental in Humbertom Von Ameluxen et al, Op. Cit., p.90. Jesiis de Miguel, Carmelo Pinto, Sociologia Visual, Madrid, Centro de Investigaciones Socioldgicas: Siglo XXI de Espafta, 2002, p.26. Ixiti Howard 8. Becker, Op. Cit 396 Ao encontro da sociologia visual Ixiv Idem, ibidem, p.241. IXv Idem, ibidem, p.241. Ixvi Cf, Jofio Teixeira Lopes, A cidade e a cultura: um estudo sobre préticas culturais urbanas, Porto, Afrontamento, 2000; veja-se também José Machado Pais, Culturas juvenis, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, s.d., p.52. {xvii Uma boa alternativa é, também, incorporar as fotografias no proprio diario de campo. Ixvili Howard S. Becker, Op. Cit, p.243. xix Palavras proferidas por Peter Galassy numa conferéncia na Fundagio Cultural Caixa Férum, em 22 de Outubro de 2003, Barcelona. 1% As explicagdes sobre o método ripido e lento de ver fotografias so de Jesus de Miguel, Fotografia in Maria de Jesis Buxd, Jestis de Miguel (eds.), Op. Cit., pp.30-33. IxXi Idem, Ibidem, p.31 lodi Ver Maria de Jestis Buxé, ... Qué mil palabras in Maria de Jestis Bux6, Jesis de Miguel (eds.), “De la investigacién audiovisual: cine video, television”, Barcelona, Proyecto A Ediciones, 1999. }xxill Martin W. Bauer, George Gaskell, Op. Cit, p.338. Ixxiv No sentido que Ihe deu Erving Goffinan, Op. Cit. xxv Veja-se, por exemplo, o trabalho de Alberto Viegas, José Jodo de S4, Ciganos: Album de fotografias, Lisboa, Ediges Colibri, 1993. Ixxvi_O Museu de Arte Moderna de Nova lorque, organizou uma exposigao sobre a “familia dos homens”, que, embora tenha resultado dos trabalhos de fot6grafos sem articulagiio teérica das imagens, dé boas pistas para 0 estudo de tipos-ideais com fotografia. Veja-se The Family of Man, The Museum of Modem Art, New York, s.d. Ixxvit John Urry, Sociologia do tempo e do espago em Bryan S. Tuer (ed.), “Teoria Social”, Algés, Difel, 1996, p.377. Ixxvill Cf. José Lebrero Stals, Riias cruzadas in Humberto Von Ameluxen et al, Op. Cit, pl. boxix [dem, ibidem, p.41. Ixxx Idem, ibidem apud Walter Benjamin, p.40. Ixxxi J, Pallarés, C. Costa, C. Feixa, Okupas, makineros, skinheads. Ciudadania y micro- culturas juveniles en Catalufa in C. Feixa, C. Costa, J. Pallarés (eds.), “Movimientos Juveniles en la Peninsula Ibérica: graffitis, grifotas, okupas”, Barcelona, Ariel Social, 2002, p.81. boxxit Idem, ibidem apud Duchesne, p.89. Ixxxiti [dem, ibidem, p.90. lxxxiv Howard S. Becker, Op. Cit., p.247. hoxxv Também o teatro de rua constituia um dos interesses dos okupas de “Les Naus”. boxxvi Mohr também refere que, muitas vezes, deixou de fotografar para ajudar os agricul- tores a limpar os estabulos; a proximidade e a colaborago com as pessoas sio consideradas muito importantes para conseguir boas fotografias. Veja-se Jean Mohr em entrevista a Paul Willis, Op. Cit., em Manuel Alvarado, Edward Buscombe, Edward Collins (eds.), Op. Cit., p,168, hexxvii CF Jesiis de Miguel, £! ojo socioldgico, Barcelona, Universidade de Barcelona, manuscrito 25 pp., 2000, p.30. Ixxxvilil [dem, ibidem, p.21. Ixxxix Antonio Firmino da Costa, 4 pesquisa de terreno in Augusto Santos Silva, José Madureira Pinto (org.), “Metodologia das ciéncias sociais”, Porto, Afrontamento, 1999, p.132. XC Idem, ibidem, pp. 133-134. xcl Joan Gari, La conversacién mural: ensayo para una lectura del graffiti, Madrid; Fundesco; 1995, p. 121. XCll Jesus de Diego, Graffiti, La palabra y la imagen, Barcelona, Los libros de la frontera, 2000, p. 152. XCill Idem, ibidem, p.174. xciV Inicialmente a pesquisa confinou-se a este bairro por razdes de exequibilidade. A esco- Tha prendeu-se com a grande quantidade de peas existentes neste bairro central de Barcelona. 397 Ligia Ferro XV Sarah Pink, Doing visual ethnography research: images, media and representation in research, Londres, Sage Publications, 2001. XeVl Ver Nancy Macdonald, The graffiti subcultural: Youth, masculinity and identity in London and New York, London, Ed. Palgrafe, 2001, p.53. XVII Jogo Teixeira Lopes, Tristes Escolas: praticas culturais estudantis no espaco escolar urbano, Porto, Afrontamento, 1996, p.81; A cidade e a cultura: um estudo sobre praticas cultu- rais urbanas, Porto, Afrontamento, 2000, p.189. Xevill Antonio Teixeira Fernandes in Antonio Joaquim Esteves, José Azevedo, Metodologias Qualitativas para as Ciéncias Sociais, Porto, FLUP — Instituto de Sociologia, 1998, XCIX Jodo Teixeira Lopes, A cidade e a cultura: um estudo sobre priiticas culturais urbanas, Porto, Afrontamento, 20000, p.190. © Antonio Joaquim Esteves, José Azevedo, Op. Cit., p.23.

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