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Ìbejì – A Divinização dos Gêmeos em

terras Iorubás
Ìbejì (Ibedí), termo que em yorùbá (dialeto africano falado na Nigéria) literalmente quer
dizer “Nascimento Duplo”, é como são chamados os gêmeos em terras iorubá (Nigéria).
Grande confusão existe em relação a este tema no Brasil. E com a ajuda do sin-cretismo
religioso afro-católico, mais confuso se tornou...

O que são Ìbejì?


Quem são os Ìbejì?
Divindade protetora das crianças?
Divindade protetora dos Gêmeos?

Ìbejì e Erê (espíritos infantis cultuados na Umbanda) são as mesmas coisas?


Essas e inúmeras outras perguntas são feitas pelos adeptos de religiões africanas, como o
Èsìn Yorùbá ou religiões afro-brasileiras, como o Candomblé e o Batuque, ou até mesmo
dentro da Umbanda, por adeptos que ainda não conhecem com mais profundidade “este
culto”.

Começamos dizendo que, Ìbejì não é um Òrìsà (divindade primordial), não são os
espíritos (Erês) infantis que incorporam e são cultuados na Umbanda, muito menos o es-
tado de transe infantil, pelo qual passam alguns adeptos do Candomblé. Não são santos...
Ìbejì é a Divinização dos Gêmeos em terras iorubás. Não é um orixá (divindade) que
entra em transe, não possui filhos (omorìsà) e nem é “raspado” na cabeça de nin-guém, ou
seja, não há Igbèrè (iniciação) em Ìbejì. Ìbejì são seres espirituais que vivem em uma
sociedade espiritual no Céu e também em alguns bosques na Terra. Nos primórdios da
Terra, também se reuniam em sociedades, assim como as Ìyámi Eleyé (feiticeiras), os
Abíkú (espíritos natimortos) e outras sociedades nigerianas... 5
Acredita-se que a ori-gem do Culto a Ìbejì, seja Ìsòkún, cidade que hoje está agrupada a
cidade de Òyó – Estado de Òyó na Nigéria. Foi nessa cidade, que Ìbejì veio a Terra
(Àiyé) pela pri-meira vez, uns dizem que foi através da mulher de um fa-zendeiro pobre
de Ìsòkún, outros dizem que foi através da mulher de um Rei de Ìsòkún.
O Iorubás acreditam que cada pessoa que nasce na Terra, deixa um duplo no Céu –
Enikéjì, que fica na espera daquele que veio a Terra voltar. E é por este mo-tivo, que por
muito tempo acreditaram que o nascimen-to de gêmeos não era algo bom, já que, os dois
(a pes-soa e o duplo) vinham do Céu para a Terra. Era algo negativo, desequilibrado, etc.
E por esse motivo, os gêmeos passaram a serem sacrificados, inicialmente os dois, depois
apenas um, com a crença de que mandariam de volta para o Òrun (Céu) aquele que veio
pra Àiyé (Terra), mas deveria ter fica-do por lá.

Conta um Ìtàn (História Sagrada do Corpo Oral de Ifá), que na época em que os ìbejì
(gêmeos) e-ram sacrificados, em Ìsòkún, um casal dá a luz a gêmeos (Ìbejì), mas por
amarem muito suas crianças e não desejarem sacrificá-las, bus-cam então Ifá (oráculo sa-
grado), para darem um me-lhor caminho aos seus filhos, que não a morte, o sacrifício. O
Sábio Òrúnmìlà, Divinda-de que é a Testemunha de todos os Destinos, declara que as
crianças não deveri-am ser sacrificadas, nem elas e mais nem um outro Ìbejì que viesse a
nascer no Mun-do, declarando então, que o duplo nascimento, ou seja, o nascimento de
gêmeos, não deveria ser um motivo de tristeza e de má sorte, pelo contrário, deveria ser
um or-gulho, uma honra e uma e-norme alegria para os pais dos gêmeos e para seus fa-
miliares, pois, significava a vinda de seres de muita sor-te, bom axé – Ejìre (Duas
alegrias, alegria dupla) para o âmbito familiar. E determi-nou que os pais dos gêmeos
devessem festejar o nasci-mento deles por toda a cida-de, tratá-los muito bem, com muito
amor, carinho e mi-mos e toda pessoa que cru-zasse com os Ìbejì (gêmeos) deveriam
presentear-lhes. E assim nasce o CULTO A ÌBEJÌ/EJÌRE (Gêmeos), em terras iorubás.
Acreditando que uma pessoa que nasce duplamen-te, é dona de grande força - axé, os
Ìbejì passaram a ser considerados pelos iorubas como DIVINDADES VI-VAS, que
merecem todo cul-to e respeito.

Mas deixamos claro que, Ìbejì não é uma divin-dade que re-encarna, ou seja, que teve
(tem) passagens na Terra como Obàtálá, Òsun, Sàngó, Èsù, etc. E sim, espí-ritos que
habitam em dois corpos e se completam, pos-suindo pleno equilíbrio. Em-bora, há
pessoas que acredi-tam que são dois espíritos que vivem juntos no céu (Òrun) e vem para
a terra (Àiyé), outros, acreditam que é a vinda da pessoa e de seu enikéjì (seu duplo) para
a Terra.

Mas o importante mesmo é a família que é a-bençoada com o nascimento de gêmeos


buscarem a ma-neira correta de cultuá-los, 6
para que possam receber todas as dádivas que esses
espíritos são capazes de propor-cionar a família que
escolhem nascer.

No Brasil, nas casas de Candomblé, Ìbejì passou a ser


considerado uma Divinda-de, assim como as outras,
filho de Sàngó com Oya, outras vezes filho de Sàngó
com Òsun. Tendo seu sincretismo afro-católico (por
necessidade, na época da escravatura) com os Santos
Cosme e Damião e também passou a ser sincretizado
com o Nkisi Wun-je (Divindade bem distinta dos
Gêmeos). Na Umbanda, Ìbejì passou a ser sinônimo de
Erê (espírito infantil, ou que assume essa forma). No
Batuque tornou-se uma “qualidade” de Sàngó = Xangô
Ibeje. Até pessoas iniciadas (raspadas, feitas) de Ìbejì
podemos encontrar no Brasil, mesmo res-peitando as
tradições de cada casa, digo que isso é algo errado, já
que, o Culto a Ìbejì não tem Igbèrè – Iniciações.

O culto a Ìbejì é realizado através de pactos (imulè)


com Èsù (Ìdòwú) e com a Egbé Òrun Ìbejì (a
Comunidade Espiritual dos Gêmeos), montamos Ojúbo
(altar) aos mesmos, com representações feitas através
de estatuetas de madeira e outros símbolos.

É costume ioruba, quando no decor-rer da Vida um dos


gêmeos vem a falecer - “vai ao mercado”, o gêmeo
sobrevivente e até mesmo a família deste, continuar
cultu-ando-o através de uma estatueta – Ère Ìbejì,
dando parte do que recebe ao mesmo. 7
Os iorubas também possuem o hábito de dar nomes específicos aos
gêmeos, por exemplo:
- Táíwò para o primeiro dos gêmeos a nascer, que literalmente quer dizer
“Vai experimen-tar a Vida”, é considerado o espírito mais novo, que chega
primeiro a Terra, para abrir ca-minho para seu irmão mais velho, que nasce
como o caçula dos gêmeos. Táíwò é saudado com a expressão Táyé Lólú
Ejìre.
- Kéhìndé para o segundo dos gêmeos ao nascer, que literalmente quer
dizer “O ultimo a chegar”, considerado o espírito mais velho.
Ter filhos gêmeos é algo tão maravilhoso para os iorubas, que eles
utilizam-se da expressão Ejìre Òkín, referindo-se que a beleza de possuir
gêmeos é tão qual a de um Pa-vão (Òkín)
Mas não podemos falar de Ìbejì sem falar de Ìdòwú, o tão conhecido
DOUM, que muitos vêem entre São Cosme e São Damião, mas nem sabe
quem é. Ìdòwú é como os iorubas chamam a criança que nasce logo após os
gêmeos (Ìbejì), que literalmente quer dizer “Aquele que equilibra os
gêmeos”, Ìdòwú nada mais é do que um aspecto de Èsù, que é cultuado
para que as bênçãos de Ìbejì recaiam sobre aquela família. Não tem como
cultuar Ìbejì, sem cultuar Ìdòwú (Èsù). Na época da escravatura no Brasil,
com o sincre-tismo afro-católico, os nigerianos escravos que cultuavam
Ìbejì, cultuavam também Ìdòwú, como o passar do tempo, surgiu então
Doum (Ìdòwú) e ficou São Cosme, São Da-mião e Doum, podemos ver
claramente, que Doum é menor que Cosme e Damião, ou se-ja, representa a
criança que nasce após os gêmeos. Sabemos também que, a Igreja Católi-ca
e a História não conhece Doum e assim podemos ter total certeza que
Doum é o Sin-cretismo Católico de Ìdòwú. O mesmo não é e nunca foi
irmão de Cosme e Damião.
E para finalizar esta matéria, falarei um pouco sobre os Edun Oròòkun
(Colobo polykomos), o Colobo Real, macacos africanos de pelagem preta
com detalhes brancos, animais associados aos Ìbejì, já que, foram os
primeiros animais a gerar gêmeos (ìbejì). Seres completamente admiráveis,
pelo hábito que possuem de ao amanhecer ficarem em silêncio na copa das
árvores em orações. São considerados mensageiros dos Deuses e es-
cutados por Eles. A fêmea Colobo, ao parir afasta-se do bando, retornando
no dia seguinte com sua cria. Cria esta, considerada re-encarnação de
espíritos Ìbejì que ficam vagando pelas florestas. São animais sagrados
dentro do Culto Ìbejì.

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