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CONCLUSAO =CLS= SENTENCA 1, RELATORIO Nestes autos de acco declarativa, com processo comum e forma suméria, 3 @ esposa ambos residentes a) Declare o direito de propriedade dos autores sobre o prédio identificado no art. 1.2 da peticao inicial (pi) b) Declare que 0 espaco referido nos arts. 21.8, 23.2 e 28.° da pi faz parte integrante desse prédio e que o mesmo se estende na sua confrontagao poente até 20 prédio de c) Condene os réus a respeitarem esse direito e absterem-se de o violar; d) Condene os réus a demolirem o muro referido no art. 21.2 da pi, bem como a cabine referida no art. 23.° da pi restituindo o prédio a situacdo que se encontrava antes dessa construgéo: Subsidiariamente, para a hipdtese, de nao proceder o pedido da al. b). deve 0 tribunal: @) Condenar 0 réu pagar aos autores @ quantia de est acrescida de juros 4 taxa legal, desde a citagao, alé integral pagamento. Para tanto apresentou os fundamentos constantes de fis. 1 ss.. Regularmente citados, os réus contestaram a ac¢ao nos termos constantes de fis. 26 e ss.. conciuindo pela sua absolvicdo do pedido. Caso assim se nao entenda € seja reconhecido que o limite do prédio dos autores a poente se estende na sua configuracéo até a0 prédio de deduzem pedido reconvencional, devendo o tribunal condenar os autores a: a) Reconhecerem que o prédio identificado no artigo 2° da contestacdo/reconvencao pertence em propriedade plena e exclusiva aos segundos réus: b) Declararse que o espaco referido nos arts. 412 a 442 da contestacao/reconvencao faz parte integrante do prédio referido na alinea anterior: ©) Restituirem aos segundos réus a faixa de terreno referida na alinea anterior livre de pessoas, objectos e construgdes, demolindo as que nela tiverem efectuado; 4) no mais para o futuro perturbarem, diminuirem ou dificuitarem o exercicio do direito de propriedade dos segundos réus sobre o aludido terreno. e) Pagarem aos segundos réus a quantia de ¢ “7 pelo ingresso na sua propriedade, do pogo, cobertura. © += motor, referidos. na contestacSo/reconvencao. Notificados da contestagao/reconvengo, os autores responderam-the a fis. 62 ss., concluindo pela sua absolvicao do pedido reconvencional. Foi proferido despacho saneador, onde se afirmou a validade e regularidade da instancia, organizando-se em seguida a Matéria de Facto Provada e a Base Instrutéria, que foram objecto de reclamagao 2 (fis. 418/419), decidide por despacho de fis. 419/420. Procedeu-se a julgamento com observancia de todo o formalismo legal, tendo-se respondido @ Base Instrutéria por despacho (fis. 459 a 462) que nao mereceu qualquer censura. Mantém-se os pressupostos que presidiram a prolagdo do despacho saneador, nada ocorrendo posteriormente que influa na validade e regularidade da instancia e obste ao conhecimento do mérito da causa 2. QUESTOES A RESOLVER 12 Se os autores sao titulares do direito de propriedade sobre o prédio identificado no art. 1.2da Peti¢ao Inicial (PI) 28 Se o espaco referenciado nos arts. 21.2, 23.2 e 28.° da PI integra aquele prédio e, consequentemente, os réus devem respeitar o direito de propriedade dos autores. 32 Se deve ser ordenada a demolicao do muro referido no art. 21.2 da Ple da cabine referida no art. 23.2 do mesmo atticulado. 42 Caso a 2.* questdo mereca resposta negativa, importa saber se ¢ devida aos autores qualquer quantia a titulo de indemnizacao. 52 Caso a 2? questéo mereca resposta afirmativa, em sede de pedido reconvencional impde-se apurar se os segundos réus so proprietdrios do prédio identificado no artigo 2.2 da contestagao/reconvengao, se a faixa de terreno referida nos arts. 41.2 a 44.2 da contestacao/reconvencao integra esse prédio e os autores esto obrigados a restitui-la aos segundos réus, livre de pessoas, objectos e construgées, se os autores esto obrigados a no perturbar ou dificultar 0 exercicio do direito de propriedade dos segundos réus sobre tal terreno e devem pagar a estes a quantia de € cortespondente a0 valor do pogo, motor e cobertura efectuados pelos réus no espaco referido na 2.* questao. 3. EUNDAMENTACAO DE FACTO Emergentes dos Factos Assentes: 3.1 Situa-se a s C._-... prédio riistico composto de: “Terra de vinha com 7 oliveiras, a confrontar do nascente com o caminho piiblico, do norte com res e do sul com, —wueu vwvy®, inscrite na matriz sob o artigo descrito na Conservatéria do Registo Predial sob 0 na 00879 Penaiva do Castelo, a favor dos autores.” 3.2 Por escritura publica de 22 de Agosto de 1996, que aqui se da por inteiramente reproduzida, 0 réu ou vender e os autores declararam comprar ao prédio descrito em 3.1 3.3 Por si e antecessores de quem o houveram, vém os autores possuindo o prédio referido em 3.1, com excepcao da drea de 1? e-confina a poente com cultivando-o, tratando da vinha e das oliveiras, colhendo os respectivos frutos, suportando os respectivos encargos, continuadamente por muito mais de 15 e 20 anos. 3.4 A vista de toda a gente, sem oposic¢ao de ninguém, com a consciéncia de no lesarem direitos de outras pessoas, ¢ animo de exercerem um direito proprio de proprietérios. descrito em 3.9, 3.5 O prédio descrito em 3.1 faz parte do primitivo prédi sendo 0 residual apés destaque aprovado pela Camara Municipal de 3.6 Na parcela desanexada o 1. réu construiu uma moradia 3.7 Quando os autores outorgaram a escritura de compra e venda com primeiro réu, j@ se encontrava parcialmente construido um muro divisério entre 0 prédio que the foi vendido e a area destacada pelo réu José 3.8 Esse muro encontrava-se quase construido no sentido nascente-poente e quase até ao seu extremo poente 3.9 O identificado prédio dos segundos Réus e 0 prédio descrito em 3.1 fizeram parte de um mesmo prédio que se encontrava assim descrito e registado: “Uma terra de vinha com oliveiras, sita:. | _ limite do lugar e freguesia de 12. a confrontar de norte @ nascente com caminho piblico, sul com # go e poente . inscrito na matriz predial rastica da dita frequesia sob o artigo descrito na Conservatéria do Registo Predial de Penalva do Castelo sob 0 n.2 3.10 Ao prédio atrds descrito foi desanexado o prédio dos segundos Réus. 3.11 Na desanexagao ficou @ constar que o prédio dos segundos Réus tinha a drea de 1.350 m2 @ o prédio descrito em 3.1 de 1.000 m2. 3.12 Por escritura lavrada de 24 de Julho de 1996, no Cartério Nota de ada a fis. 77 verso a 78 do livro 2-E, os segundos Réus deciararam comprar e o primeiro Réu declarou vender o prédio onde fora construida uma casa de habitago, prédio esse actualmente inscrito na matriz com o art 3.13 Logo apés a escritura de compra e venda os autores procederam & colheita das uvas das videiras, que integrevam todo esse prédio em toda a sua extensdo até & extrema com 3.14 Os réus 3 construiram um cabine no trato de terreno definido pelas dimensées 7.5 x 26 metros no local onde se encontravam um furo de exploracdo de agua. 3.15 E colocou na cabine uma porta, impedindo 0 acesso dos autores ao furo artesiano. Emergentes da Base Instrutéria: 3.16 O primitive prédio referido em 3.9 tinha @ area declarada em documentos oficiais, designadamente na matriz predial das Financas, de —. do qual foi desanexado pelo vendedor uma parcela de terreno com a area declarada de = 3.17 Através do destaque foi retirado ao prédio vendido aos autores a area declarada de * 3.18 Os autores adquiriram ao primeiro réu um prédio com a area declarada de pelo preco declarado de “4, que dividido pela drea declarada perfaz esc. 3.19 Quando os autores se encontravam no estrangeiro, 0 réu construiu um muro no sentido norte-sul, muro esse distanciado para nascente da confinancia com o prédio com | 2 cerca de netros em média. 3.20 Muro esse, com extensao de cerca de retros. 3.21 O destaque efectuado peio réu . ra, @ autorizado peia Municipal de tinha a area deciarada de nos termos da planta de localizacao junta a fls. 14 dos autos. 3.22 © que acontece é que o réu zedeu & Junta de Freguesia uma parcela de terreno para alargamento da rua publica, ficando por isso 0 seu prédio reduzido na respectiva érea 3.23 Os autores mandaram efectuar um levantamento topografico do prédio identificado em 3.1, pelo mesmo se vé que o prédio, sem a Area situada @ poente do muro referido nos factos 3.19 e 3.20, tem a superficie de quando declararam comprar ao réu Ferreira uma érea de 3.24 O prédio descrito em 3.1 confina com o seguinte prédio: "Prédio urbano composto de uma casa de habitagdo de rés-da-chdo e primeiro andar, sito na freguesia de concelho' dc inscrito na matriz predial urbana sob o artige com a superficie coberta declarada de adouro com a area declarada de 2a confrontar de norte e nascente com caminho piiblico, sul com . 5 ' 2, Com 0 autor) e poente com ~--+ {hoje Anténio de 3), descrito na Conservatéria do Registo Predial ¢ sobon’ — 3da freguesia de 3.25 Nao obstante constar que o prédio anteriormente inscrito na matriz tinha adrea de no tinha este tal area, tendo drea menor. 3.26 Area essa que jd constava na escritura quando o primeiro Réu a adquiriu tal prédio a e ficou @ constar na escritura de compra e venda respectiva 3.27 A planta apresentada junto da Camara Municipal de reproduz tal erro referenciando a area constante na matriz e registo predial sem que esta realmente existisse na totalidade. 3.28 Antes de ser efectuada a escritura referida em 3.2 foi entre estes (autores e réu ) acordada a respectiva delimitagéo, que do corresponde a area referenciada no pedido de desanexacao. 3.29 Foi entéo acordado que o limite poente seria constituido por uma linha recta, que passaria a nascente do furo artesian sobre o qual, mais tarde, foi construida uma cabine e placa que serve de cobertura ao mesmo. que assim ficaria no prédio agora dos segundos Réus sendo, por isso, sua propriedade. 3.30 A nascente o limite do prédio seria 0 caminho piblico e @ zona confinante com tal caminho teria a extensdode — metrosemvezdos metros que constam no processo de desanexacdo apresentado na Camara Municipal de 3.31 Na conta do réu aberta na Caixa Geral de Depésitos, S.A foi lancada a crédito, no dia 27 de Julho de 1995, a quantia de 3.32 No seguimento de tal acordo, o réu entre Setembro e Dezembro de construiu o muro referido em 3.19. 3.33 Construgo essa que ndo mereceu qualquer oposi¢ao dos Autores e foi do conhecimento destes. 3.34 Bem como, foi do conhecimento dos pais da Autora que moram e so proprietarios do prédio situado a poente do prédio agora dos segundos réus, podendo através das janelas da sua casa de habitacdo ver 0 muro e 2 construgdo deste. 3.35 Em resultado das aludides correcgbes de area, cedéncia para o caminho € acordo, 0 prédio ocupado pelos Autores tem a area total de 3.36 O prédio presentemente ocupado pelos segundos Réus tem a 4rea total de cerca de @ 0s limites e configuracdo constantes da rea lapisada a vermetho da planta topogréfica junta com a contestagao como doc. n.° 5 (fis. 41 dos autos). 3.37 Coma salvaguarda do constante de 3.13, nunca os autores ocuparam a area de assinalada no documento de fis. 17 dos autos, antes sempre foi ocupada pelos segundos Réus, apés a compra, antes deles pelos primeiros Réus e Por quem thes antecedeu na posse. 3.38 Os Autores sabiam que adquiriam ao primeiro Réu unicamente a area que presentemente ocupam. com as delimitacdes hoje existentes, bem sabendo que © prédio adquirido tinha apenas a area total de endo superior. 3.39 O prédio descrito em 3.1, na zona de confinancia 2 nascente com o caminho ptblico, medido no sentido sul/norte, com inicio no prédio de tem 0 comprimento de 3.40 0 limite norte do prédio descrito em 3.1 € constituido por uma linha recta, no sentido nascente/poente. 3.41 O furo artesiano tem valor nao apurado. 3.42 Sobre tal furo artesiano os segundos RR, para cobertura deste, construiram uma cabine, coberta com placa, na qual despenderam a importancia de, pelo menos. 3.43 A demolicao da cabine prejudicaria a utilizacao do furo artesiano para 0 fim que foi construido. 3.44 Os 2.8s réus construiram a cabine no convencimento de 0 espaco onde se situam ser sua propriedade, 3.45 Foram alargados os caminhos publicos confinantes, em toda a extenso da confrontagao nascente e norte, com o prédio descrito em 3.9. 3.46 Tal alargamento foi efectuado pela cedéncia de rea do prédio descrito em 3.9 pare o dominio publico e que passou a ser ocupada por caminhos piiblicos, encontrando-se a mesma calcetada com cubos de granito e afecta ao tnsito de pessoas e veiculos automéveis. 3.47 Na estrema norte foi cedida para o caminho uma faixa de terreno com dimensées nao apuradas 3.48 Na estrema nascente foi cedida para o caminho uma faixa de terreno com dimensdes nao apuradas. 3.49 A aludida cedéncia de area para o caminho publica na estrema nascente @ na estrema norte ocorreu antes de os Autores e segundos Réus terem adquirido 08 seus prédios e foi do conhecimento e aceite pelos compradores. 4, FUNDAMENTACAO DE DIREITO Apresentada a matéria de facto apurada, cabe agora interpretar e aplicar 0 Direito pertinente aos factos. 1.2 Se os autores sao titulares do direito de propriedade sobre o prédio identificado no art. 1.2 da Petigao Inicial (PI). O prédio identificado no ant. 1. da Pi é aquele a que se reporta o facto 3.1 Como resulta desse mesmo facto (3.1), os autores beneficiam da inscricdo no registo predial da aquisicéo desse imével a seu favor. Trata-se da inscrigo G21 (ver fis. 12 e 13), pelo que gozam da presuncao emergente do art. 7.2 do Cédigo do Registo Predial (CRP). Tal presuncdo legal nao se mostra elidida, pelo que demonstra o direito de propriedade dos autores sobre o dito prédio - art. 344.2 do Cédigo Civil (CC) 2.8 Se o espaco referenciado nos arts. 21.2, 23.2 e 28.2da PI integra aquele prédio e, consequentemente, os réus devem respeitar o direito de propriedade dos autores. Todavia, na presente accdo discute-se a titularidade de uma faixa de terreno que esta assinalada no levantamento topografico de fis. 42 (a zona delimitada com traco vermelho). Neste tipo de acgdes, a presuncao emergente do art. 7.2 do Cédigo do Registo Predial (CRP) nao cobre a descricao fisica do prédio. (designadamente as confrontagées, composigao, rea e localizacdo). pelo que o registo predial em nada nos auxilia quanto a definicao da titularidade da faixa de terreno em questo. A faixa de terreno a que aludem os arts. 21.2, 23. e 28.2 da Pl coresponde aquela que esta delimitada, na sua face nascente, pelo muro erigido pelo réu José Ferreira nos termos aludidos nos factos 3.19 e 3.20 e na sua face poente pela confinancia com Trata-se ainda da faixa de terreno assinalada nos factos 3.14 e 3.15. Na verdade, o réu deciarou vender e os autores declararam comprar um prédio riistico, cuja confrontaco poente declarada é com prédio de tendo a area deciarada de 1.000 m2 (ver factos 3.1¢ 3.2¢ escritura de compra e venda de fis. 7 2 10) Tal prédio corresponde @ parte sobrante, apds desanexacdo da area declarada de 1.350 m2 (que deu origem ao prédio dos segundos réus, referido em 3.12-- ver facto 3.10) do “prédio me” identificado em 3.9 - ver facto 3.5. Todavia, antes de ser efectuada tal escritura de compra e venda. entre autores e réu foi acordada a delimitacdo do prédio a vender, ou seja. que o limite poente seria constituido por uma linha recta, que passaria a nascente do furo artesiano sobre o qual, mais tarde, foi construida uma cabine e placa que serve de cobertura ao mesmo, que assim ficaria no prédio agora dos segundos Réus sendo, por isso, sua propriedade. A nascente, 0 limite do prédio seria 0 caminho pilblico € a zona confinante com tai caminho teria a extensdo de 34 metros em vez dos 25 metros que constam no proceso de desanexacao apresentado na Camara Municipal de (factos 3.28 a 3.30). Alias, no seguimento de tal acordo, o réu construiu 0 muro referido em 3.19, 0 que ndo mereceu qualquer oposicao dos autores ou dos pais da autora, que residem na vizinhanga (factos 3.33 e 3.34). Por outro lado, os autores sabiam que adquiriam ao primeiro Réu unicamente a rea que presentemente ocupam, com as delimitagdes hoje existentes, bem sabendo que o prédio adquirido tinha apenas a area total de e nao superior (facto 3.38). Com a salvaguarda do constante de 3.13, nunca os autores ocuparam a area de assinalada no documento de fis. 17 dos autos, antes sempre foi ocupada pelos segundos Réus, apés a compra, antes deles pelo primeiro réu e por quem Ihes antecedeu na posse (facto 3.37) Ou seja, embora na escritura de compra e venda tenha ficado a constar que 0 prédio vendido aos autores confinava, a poente, como etinha a area de m2, era do conhecimento e desejado por ambas as partes que a venda tivesse por abjecto um prédio que, @ poente, confinava com os segundos réus (que haviam efectuado a compra do seu imovel cerca de dois meses antes da venda efectuada aos autores - ver factos 3.2 € 3.12) e tinha a area de ‘72. Esta divergéncia entre o realmente querido @ o declarado pelas partes esta em jinha directa com o destaque autorizado pela Camara Municipal de (ver fis. 14 € 15; note-se ainda como o prédio dos autores, que na planta de fis. 14 tem sensivelmente a mesma extensdo junto a via piblica e nas traseiras, tem na implantago no local uma extensdo bem maior junto a via publica que nas traseiras, como se pode ver a fls. 17). ou seja, as confrontagdes e a area acompanharam o que consta desse acto administrativo e ndo 0 que as partes realmente quiseram. As divergéncias do conjunto das areas dos prédios vendidos aos autores e aos segundos réus (divergéncia ente areas reais e éreas declaradas) encontra a ‘sua explicagdo no seguinte: as areas constantes do “artigo matricial mae” esto exageradas em relagdo a situagdo real (factos 3.25 a 3.27): a esse desfasamento junta-se o terreno cedido ao dominio piblico (factos 3.35 e 3.36) A razo prético-econdmica para que 0 prédio vendido aos autores nao se estendesse até a confindncia, a poente, com reside. como explicamos na motivagao da decisao da matéria de facto, na existéncia de um furo artesiano no local assinalado com um X a fis. 40, destinado a fornecer agua a propriedade vendida aos segundos réus, sendo que a propriedade vendida eos autores ja dispunha de um poco. E certo que. por si e antecessores de quem o houveram. vém os autores possuindo o prédio referido em 3.1, com excepcao da area de que confina a_poente com_ cultivando-o, tratando da vinha e das oliveiras, colhendo os respectivos frutos, suportando os respectivos encargos, continuadamente por muito mais de 15 ¢ 20 anos, o que fizeram e fazem a vista de toda a gente, sem oposicéo de ninguém. com a consciéncia de nao lesarem direitos de outras pessoas. e animo de exercerem um direito préprio de \s (factos 3.3 e 3.4). propre A posse € 0 poder que se manifesta quando alguém actua por forma correspondente ao exercicio do direito de propriedade ou de outro direito real - art. 1251.2 do Cédigo Civil (CC) Assim, 0 instituto analisa-se num elemento empitico, correspondente ao exercicio de determinados poderes de facto - 0 que geralmente se denomina por ‘corpus da posse” - e um elemente psicolégico-juridico, consistente na intencdo de agir em termos de beneficidério de um direito real - aquilo que a doutrina apelida de “animus da posse” A posse é sempre exercida segundo certas caracteristicas, delas dependendo a usucapiao - posse pacifica e publica -, ou o prazo de posse conducente a usucapiao - posse titulada e de boa fé. Diz-se titulada se fundada ‘em qualquer modo legitimo de adquirir independentemente, quer do direito do transmitente, quer da validade substancial - mas no ja da validade formal, ou forma de exteriorizacao da vontade negocial-, conforme dispée 0 art. 1259.2, n.° 1 do CC. De boa fé se, ao adquirir a posse, o possuidor ignorava que lesava 0 direito de outrem - art. 1260.2, n.© 1 do CC. Pacifica se adquirida sem violéncia - art. 12612, n° 1 do CC e, finalmente, piblica se exercida em termos tais que pode ser conhecida pelos interessados - art. 1262 do CC. A posse do direito de propriedade de um imével, quando pacifica, publica e de boa fé, prolongando-se por prazos variéveis de quinze a vinte anos, faculta ao possuidor a aquisicSo do direito de propriedade por usucapido - arts. 1287.2, 12962 e 13162, todos do CC. No caso vertente, os autores lograram fazer prova de que possuem, de forma publica, pacifica, com animo de proprietérios ¢ hd mais de 20 anos, o prédio referido em 3.1, dele se excluindo no entanto a area de 185 m2 que confina a poente com: (com excepgao de um acto isolado de colheita de uvas - ver factos 3.13 e parte inicial do facto 3.37), que é justamente a area disputada por autores e réus. Ou seja. atenta a matéria factual, podemos concluir que os autores sdo proprietarios do prédio referido em 3.1 (conclusdo a que jd se havia chegado através da presungéo emergente do registo predial), mas ndo da faixa de terreno Iitigiosa. Antes, tal faixa de terreno tem sido ocupada pelos segundos réus e antes deles pelo primeiro réu e seus antecessores (ver facto 3.37). Como facto constitutive do seu direito de propriedade, cabia aos autores fazer prova da posse conducente & usucapiao da faixa de terreno - art. 342.2, n2 1 do Cédigo Civil -, 0 que nao lograram, tendo agora de sofrer a consequéncia desvantajosa de ver naufragar a acco nesta parte. Nao tendo os autores demonstrado que so proprietérios da faixa de terreno, © que Ihes conferiria 0 direito de uso e fruigdo pieno e exciusivo da mesma (art 1305.2, n.2 1 do Cédigo Civil), nao podem exigir dos réus que respeitem tal direito, podendo exigir no entanto o respeito de tal direito quanto ao seu prédio, identificado em 3.1, mas com a correcgéo da confrontacdo poente que, pelas razées explicitadas, é com o réu nao com 3.2 Se deve ser ordenada a demolicao do muro referido no art. 212 da Pie da cabine referida no art. 23.8 do mesmo articulado. Ainda como decorréncia da nao demonstracao pelos autores de que sao proprietérios da faixa de terreno, o que thes conferiria o direito de uso e fruicao pleno e exclusivo da mesma (art. 1305.%, n.2 1 do Cédigo Civil), nao podem exigir 2 demolicéo do muro referido nos factos 3.19 e 3.20, erigida imediatamente apés o fim da propriedade dos autores. 42 Caso a 22 questo mereca resposta negativa, importa saber se 6 devida aos autores qualquer quantia a titulo de compensacao. Sendo certo que. segundo se declarou na escritura de compra e venda, 0 imével que o primeiro réu vendeu aos autores tinha a area de (facto 32 escritura de fis. 7 2 10), mas tem efectivamente a area de (ver facto 3.36 e planta de fis. 17), assistira aos autores algum direito de indemnizacao? A venda de coisa defeituosa que a desvalorize segue o regime da venda de bens onerados, com as modificagdes constantes do art. 914.2 e ss. do Cédigo Civil (art. $13.2 do Cédigo Civil - CC), ou seja, confere ao comprador, em caso de dolo do vendedor (ver sobre nogao de dolo o art. 253.2, n.2 1 do CC), a anulacao do contrato {art. 9052 do CC) e, em caso de simples erro (ver sobre a nogdo de erro os arts. 247.2, 251.2 e 2522, todos do CC), mero direito de indemnizacao (art. 909.2 do CC). Todavia, no caso dos autos, néo existiu qualquer erro na declaracdo (divergéncia ndo intencional entre a vontade real e a vontade declarada - art. 247.2 do CC) ou erro-vicio (conformidade entre a vontade real a vontade real, mas em que esta se formou em consequéncia de erro sofrido pelo declarante, seja quanto a Pessoa ou objecto do negécio - art. 251.2 do CC -, seja quanto a outros motivos determinantes da vontade - art. 252.2 do CC). Muito menos existe dolo da parte do vendedor. Antes, vendedor e comprador tinham consciéncia que o prédio a alienar nao confrontava, a poente, com e ndo tinha a area de declarada, mas a area de m2 (factos 3.28 a 3.30 e 3.38 a 3.40). Ou seja existiu uma divergéncia entre a vontade declarada e a vontade real das partes, mas esse desfasamento era conhecido de ambas as partes e 0 prego da transacgao foi fixado tendo em vista essa desconiormidade. Nao existe, pois, qualquer erro relevante. A situaco vertente partiha com a simulacdo da caracteristica da divergéncia conhecida entre a vontade real e a vontade dectarada, embora sem qualquer intuito fraude a lei Em suma, nao assiste aos autores qualquer direito de indemnizagao. 5.2 Caso a 2 questéo mereca resposta afirmativa, em sede de pedido reconvencional impée-se apurar se os segundos réus sao proprietarios do prédio identificado no artigo 2.2 da contestacao/reconvengao, se a faixa de terreno referida nos arts. 41.2 a 44.2 da contestagao/reconvengao integra esse prédio e os autores estéo obrigados a restitui-la aos segundos réus, live de pessoas, objectos e construgées, se os autores esto obrigados a ndo perturbar ou dificultar 0 exercicio do direito de propriedade dos segundos réus sobre tal terreno e devem pagar a estes a quantia de correspondente ao valor do pogo, motor e cobertura efectuados pelos réus no espago referido na 2.2 questao. Esta questo ou conjunto de questées corresponde ao pedido reconvencional e a sua afericao ficou dependente da procedéncia do pedido contido na al. b). Trata-se de um pedido reconvencional condicional. sendo que a condica0 da sua apreciacao nao se verificou. 0 pedido contido na al. b) 6 improcedente, pelo que no cumpre analisar 0 pedido reconvencional. A parte do pedido inicial que o tribunal vai acolher nao foi contestada pelos réus - ver art. 1.2 da contestacdo -, pelo que as correspondentes custas também thes sdo imputaveis - art. 449°, n.2 1 e 2, al. a) do CPC. ‘Também cabe aos autores suportar as custas do pedido reconvencional na medida em que. nao tendo logrado obter vencimento quanto a al. b) do seu pedido. impediram dessa forma, a apreciacdo da reconvencao. 5. DECISAO Atento 0 exposto, julgo a acco parcialmente procedente e, em consequéncia: a) Declaro 0 direito de propriedade dos autores sobre o seguinte prédio: “Terra de vinha com 7 oliveiras, a confrontar do nascente com 0 caminho pblico, do norte e poente com e do sul com inscrito na matriz sob 0 artigo e descrito na Conservatéria do Registo Predial sobon? b) Condeno os réus e a respeitarem esse direito e absterem-se de o violar. No mais, absolvo os réus do pedido efectuado pelos autores. Nao se conhece, porquanto deduzido sob condigo que nao se verificou, do pedido reconvencional. Custas da acco (pedido inicial e reconvencional) a cargo dos autores. Registe e notifique.

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