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e Apostolado
Revisão: Fausto De Vito
Projeto Gráfico:
E-mail: edvitoria@mednet.com.br
Baccelli, Carlos A.
ISBN 85-86423-24-6
Evidentemente, não nos moveu, e nem nos move, outra intenção que não seja a de lhe
sermos útil na aquisição de um conhecimento mais amplo, ofertando-lhe, da
mediunidade, a visão de quem, agora, pode apreciá-la dos Dois Lados da Vida.
Odilon Fernandes
1 Coríntios, cap. 3 - v. 3
Médiuns existem que, inspirados pelo ciúme, atacam uns aos outros, qual se não
estivessem se batendo pela mesma causa.
A rigor, não existe médium que seja maior ou menor, mais ou menos importante no
contexto doutrinário. Todos os companheiros que se devotam à mediunidade
cumprem com finalidade específica e cada um deles desempenha preponderante
papel no contexto geral.
Esses companheiros da mediunidade aos quais nos referimos não raro assumem
graves compromissos com as almas que os idolatram, respondendo, mais tarde, pela
sua deformação psicológica, posto que para estas quase que assumem o papel dos
deuses mitológicos.
É imprescindível que todos compreendam a falibilidade do médium e que os auxiliem
no cumprimento penoso de seus deveres, mas que, a pretexto de contato com o
Invisível, não os entronizem.
O médium que não combate nos outros os elogios que lhe são dirigidos, termina por
"intoxicar-se", passando a crer que seja o que ainda está muito longe de ser.
De uma maneira geral, os irmãos menos avisados na Doutrina têm cooperado para que
médiuns tenham o seu séquito de bajuladores, de vez que eles próprios igualmente se
alimentam com os favores que lhes são dispensados - favores que, na maioria dos
casos, escondem intenções escusas.
Paulo combatia com veemência os que, no exercício do seu dom de profetizar, agiam
em causa própria e faziam nascer a cizânia na comunidade dos cristãos,
enfraquecendo-os do ponto de vista doutrinário e da tarefa a que deviam dar cabal
cumprimento. Entre eles já existiam os que mistificavam nos interesses que lhes
diziam respeito, forjavam comunicações, feito os medianeiros que, na atualidade,
falam de supostas ligações suas do pretérito com este ou aquele, visivelmente
interessados no presente em tirar partido das referidas ligações, que, a bem da
verdade, nunca existiram.
Que ninguém veja no medianeiro a presença do espírito benfeitor que lhe tutela o
empreendimento. Porque se retrata na superfície do lago, a estrela não se abala do
céu para vir engastar-se na lama...
1 Coríntios, cap. 3 - v. 13
O joio cresce ao lado do trigo... A princípio confunde-se com o bom grão, mas, depois,
termina por revelar-se, traído pela sua própria condição.
O fogo a que o apóstolo se refere, neste trecho de sua epístola, é o fogo cerrado das
lutas em que tantos sucumbem, perdendo, não raro, a própria originalidade.
É muito comum que as pessoas procurem os médiuns para, através deles, obterem os
favores do Mundo Espiritual... Ledo engano! Os médiuns não podem concedê-los,
posto que, na maioria das vezes, não os têm nem para si mesmos!...
A única vez em que os apóstolos tentaram agradar Jesus com palavras melífluas,
chamando-o "bom", foram por ele advertidos severamente.
O médium que se permite envolver nas teias do elogio fácil, terminará por exaurir-se
em suas forças, debatendo-se em vão para delas desprender-se... É que lhe faltará
vontade firme para assumir-se em sua condição de fragilidade, habituado que se
tornou em escutar inverdades a seu próprio respeito.
Que não imitem ninguém, a não ser na conduta reta e no total desinteresse dos que a
vida inteira se imolaram na cruz do Senhor.
Que cada irmão da mediunidade siga as suas características, porquanto em cada qual a
mediunidade se manifesta com as suas peculiaridades.
Por deixarem de ser eles mesmos para serem os outros, muitos medianeiros perdem-
se na caminhada.
Médium algum, portanto, nada além aspire do que ser mais que simples instrumento
na orquestra que se compõe de milhares e milhares de outros, todos certamente,
substituíveis nas suas funções.
Não há erva daninha mais difícil de ser erradicada da personalidade do médium do que
a da vaidade... Sorrateira, ela se alastra e cria raízes que, periodicamente, a fazem
brotar.
É importante que cada médium siga o seu estilo de trabalho, sem preocupar-se em
fazer escola ou mesmo ser identificado com este ou aquele modo deste ou daquele
medianeiro, seja no expressar-se ou até mesmo no trajar-se.
Infelizmente, são raros os médiuns que, na Doutrina, não têm deixado se vencer pela
tentação do dinheiro, que, para muitos, transformou o exercício de mediunidade em
profissionalismo religioso.
Acautelem-se, pois, os médiuns contra esse cadinho esfogueante das tentações que
visam sempre colocá-lo em evidência. "O primeiro será o último", da palavra de Jesus,
não é simples força de expressão. Quem, de fato, cultivar a evidência vaidosa, em
prejuízo da humildade até anónima, em suas atividades medianímicas será
rapidamente esquecido, e tão mais rapidamente esquecido quanto mais depressa
tenha sido lembrado.
3 - O SELO DO APOSTOLADO
"Se não sou apóstolo para outrem; certamente o sou para vós outros, porque vós sois o
selo do meu apostolado no Senhor."
1 Coríntios, cap. 9 - v. 2
Os médiuns não podem ignorar que, se a mensagem que intermediam é de autoria dos
espíritos, a demonstração prática desta mesma mensagem é de sua responsabilidade.
O seu devotamente à causa era de tal maneira sincero, que obteve o aval daqueles
mesmos que perseguira outrora.
Não importa, porém. Paulo viu-se abandonado pela família e pelos amigos mais caros
e, ao que consta, conseguindo ele importantes conversões para o Senhor, nunca
logrou a adesão daqueles que certamente não creram em sua mudança.
Não se entristeçam os medianeiros que não consigam junto aos seus a consideração e
o acatamento que os estranhos lhes dedicam. Que perseverem no trabalho, porquanto
o que outrora plasmamos nas almas a nosso respeito, apenas o tempo pode mudar.
Mas que o médium não se preocupe com a aprovação dos homens, e nem a busque, e
nem espere por ela. Antes, interesse-se pela aprovação de sua consciência em tudo
quanto esteja fazendo. Não contemporize com os erros, aceitando em si o que não
aceita nos outros!
De uma maneira geral, os médiuns ainda ignoram que a alegria íntima no atendimento
às suas obrigações espirituais é o único salário a que devem aspirar. Por isto, o
apostolado mediúnico é de tão poucos!... Quando percebem que mediunidade é um
convite à ascese, na trilha dos heróis da renúncia e do sacrifício, os médiuns deliberam
encostá-la, continuando médiuns sem vínculo com este ou aquele compromisso. Não
querem deixar de ser médiuns, mas não ousam avançar na direção dos Cimos.
1 Coríntios, cap. 12 - v. 5
A água do mar não cumpre com a finalidade do diminuto filete que, deslizando
humilde entre as pedras, atende à sede do peregrino.
As mãos que escrevem livros sob a inspiração do Alto talvez não sejam dotadas do
dom de curar, e a palavra que arrebata multidões pode não ser aquela que toca as
almas em profundidade.
Não existe médium que seja insubstituível e nenhuma tarefa que se interrompa por
falta de obreiro. Os que cuidam na Terra dos interesses do Senhor revezam-se no
corpo e, quando um chega ao termo da jornada, outro logo desponta no caminho...
Ninguém saberia dizer dos que, anonimamente, tombaram nos circos do martírio...
Muitos que a memória da Cristandade reverencia na condição de santos não passaram
de espíritos comuns que praticamente foram constrangidos ao sacrifício que não
puderam evitar.
A história do Espiritismo, apesar de recente, também está repleta de heróis anónimos
da mediunidade e de espíritos que, não se identificando, cooperam com Allan Kardec
na obra ciclópica da Codificação.
Quem mais se aproxima daquele que mais sabe é justamente aquele que tem
consciência de sua ignorância.
Médiuns que vivem em ambiente que não lhes facilite o aprimoramento das
faculdades não conseguem deslanchar na tarefa. E, depois, há ainda o egoísmo dos
médiuns veteranos que, enciumados, não orientam a contento os que estejam se
iniciando, qual se fossem detentores de um segredo que guardassem só para si,
reeditando, no mundo, as antigas escolas de iniciação existentes no Egito e na índia.
1 Coríntios, cap. 12 - v. 7
Mediunidade útil é aquela que cumpre com a sua finalidade na edificação espiritual
das criaturas.
Mediunidade não é uma aventura que se empreende nos caminhos do psiquismo, nem
um dom para ser ostentado qual se fosse privilégio concedido a poucos. Mediunidade
é instrumento de serviço, semelhante à enxada nas mãos do lavrador... Quem o
possui, deve dispor-se a servir em prol da comunidade, sem preocupar-se somente em
auferir-lhe os benefícios.
O médium que não se preocupa em ser útil no exercício de suas funções é candidato
ao desequilíbrio, atraindo para si as forças de caráter negativo que, então, passam a
vampirizá-los. Os sanatórios e hospitais psiquiátricos estão repletos de médiuns que
preferiram a internação ao trabalho perseverante.
Quando o médium deseja, dificilmente alguém poderá ser mais útil do que ele junto
àqueles que sofrem sem esperança. Polarizando as expectativas espirituais da criatura
em torno de sua sobrevivência à morte do corpo, o médium poderá contribuir
decisivamente para que ela dê à sua vida um sentido novo, concentrando-se no
trabalho da construção íntima.
Em meio à escuridão da descrença que impera no mundo, o médium é farol que
norteia quantos se interessam pelo rumo certo, livrando-os do naufrágio definitivo no
oceano revolto das paixões.
A dúvida faz, e durante um bom tempo ainda fará, parte do quadro cármico do homem
na Terra.
Os médiuns não têm a obrigação de convencer quem quer que seja; têm, isto sim, o
dever de ser úteis à espiritualização que cada um deverá empreender por si mesmo, à
custa das dores de parto que antecedem o nascimento do homem novo.
O medianeiro que se preza não deve insular-se, fugindo à casa espírita onde, com mais
propriedade, é chamado ao exercício de suas funções. Ao grupo que se formar ao
redor dele, necessita ser constante inspiração ao trabalho, porquanto os frutos da
mediunidade são avaliados sempre pelo que ela consegue materializar no campo das
boas obras.
O médium não deve se prestar ao entretenimento dos que anseiam manter longas
conversações com os desencarnados... Os Espíritos Superiores identificam-se pela sua
capacidade de síntese com as palavras e pela sua objetividade na concretização do
Bem.
O médium que não encontrar meio de ser útil através da mediunidade deve procurar
sê-lo de outra forma, nem que, para tanto, deva renunciar ao seu exercício, porquanto
mais importante do que ser médium é ser homem de bem.
1 Coríntios, cap. 12 - v. 9
Precisamos, aqui, ressaltar o valor do médium que assoma à tribuna da casa espírita,
detendo-se, com os seus frequentadores, na interpretação da Palavra Divina. A rigor, é
ele que, com suas colocações judiciosas, abre as mentes, tornando-as mais receptivas
à Verdade.
Ainda, não se define o valor do medianeiro que aplica os seus talentos na orientação
dos jovens, sem que, para tanto, necessite recorrer a nenhuma forma ostensiva de
mediunidade, procurando unicamente influenciá-los com os seus exemplos de caráter
na vivência dos postulados espíritas.
Cooperemos com o medianeiro em luta, porque, para ele, não é nada fácil perseverar
apesar de si mesmo, tendo que exercer um ministério sagrado com os pés atolados na
lama... Saibamos auxiliá-lo, porquanto, sem apoio, de fato ele pouco conseguirá
produzir, mas não o cerquemos com deferências que terminem por fazê-lo crer-se o
que efetivamente ele não é.
As nossas palavras não objetivam senão alertar para o estado de indigência espiritual
em que os homens vivem na Terra, orbe, sem dúvida, onde se congregam espíritos que
somente agora abandonam a sua condição larvária, lentamente ascendendo na
direção da Luz...
1 Coríntios, cap. 12 - v. 25
Infelizmente, é muito comum que determinado medianeiro torça pela queda do outro
— do outro que considera um obstáculo em sua trajetória. Temos visto companheiros
espíritas acusarem os demais confrades, expondo-lhes publicamente as feridas, sem a
iniciativa caridosa de socorrê-los em suas dificuldades.
Conforme o verbo lúcido do Apóstolo dos Gentios, que os médiuns cooperem, "com
igual cuidado, em favor uns dos outros", compreendendo que são parte vital do
Movimento Espírita que lhes compete incentivar em toda iniciativa nobre.
Medianeiro que disputa a preferência do público espírita na atividade que exerce, seja
ela de que natureza for, é medianeiro personalista a serviço da cizânia, da discórdia e
da perturbação.
O Espiritismo, codificado por Allan Kardec, não é uma doutrina de múltiplas facções.
Médium algum poderá "fazer" um Espiritismo à sua maneira... Basicamente, todos os
grupos espíritas têm a mesma orientação, aplicável de acordo com as suas
peculiaridades, mas sem afastar-se das diretrizes kardecianas.
Médiuns personalistas, a serviço de espíritos personalistas, interessados em lançar a
confusão entre os espíritas, têm se responsabilizado por inovações perigosas e, não
satisfeitos, por métodos de trabalho que cada vez mais se distanciam da pureza
primitiva da Doutrina. Caciques reencarnados ou sacerdotes numa nova roupagem
física, esses medianeiros sentem-se os donos da "tribo" à qual desejam agregar
outras... Donos de uma falsa humildade, afirmam que nada são, mas, no fundo,
estimam ouvir os aplausos com os quais a multidão menos esclarecida costuma louvá-
los, reforçando neles falsa concepção acerca de si mesmos.
Será, ainda, uma voz sempre conciliadora, capaz de emudecer, se preciso for, para
colocar termo à polémica insensata, defendendo a unidade da Doutrina em seu tríplice
aspecto: científico, filosófico e religioso.
"Com igual cuidado" significa: com igual interesse, com igual dedicação, com igual
entusiasmo... O medianeiro que, mais do que ser médium, não procurar ser cristão na
mais legítima acepção da palavra não fará de sua vida um apostolado com Jesus,
intermediando junto da Humanidade a mais sublime de todas as mensagens — a
vivência do Evangelho!
8 - MEDIUNIDADE E CONHECIMENTO
"... porque em parte conhecemos e em parte profetizamos."
1 Coríntios, cap. 13 - v. 9
O médium necessita estudar, informar-se, criar condições para que o espírito encontre
nele o instrumento adequado.
Quando o medianeiro revela aptidão para este ou aquele tipo de mediunidade, ele
carece de aprimorar-se, oferecer campo de atuação para o espírito.
Quase sempre, o médium de mais ampla produção literária é médium que lê muito —
diz que não lê, imaginando assim dar maior credibilidade ao fenómeno que se
processa por seu intermédio, esquecendo-se de que acaba por transformar-se em
agente da mentira...
Escrevendo aos coríntios, Paulo foi taxativo: "...em parte conhecemos e em parte
profetizamos". Isto quer dizer que todo medianeiro, desde os tempos apostólicos,
quando então denominados profetas, interfere, positiva ou negativamente, na
qualidade do fenómeno que se produz por seu intermédio.
O médium, ainda, para escrever ou falar, pintar ou ouvir, ver ou atuar sob a ação de
um espírito não precisa comportar-se de maneira febricitante. Aquele que escreve
pode perfeitamente escrever como quem escreve uma carta, sem necessidade alguma
de ter os olhos sempre fechados... Aquele que fala não necessita falar como quem
abre a boca sem coordenação das ideias que expresse... Aquele que pinta não carece
de gesticular além dos movimentos indispensáveis a quem conduz cuidadosamente a
paleta...
Observemos as águas do rio: quanto mais desimpedido o leito por onde correm, mais
tranquilamente haverão de deslizar... Assim deve ser o médium — uma espécie de
leito sem incidentes, por onde se canalize com a naturalidade possível a linfa da
inspiração.
Portanto que o médium quebre de vez o tabu de que ele não tem necessidade alguma
de preparar-se para o espírito. Aliás, é justamente isto que os espíritos das trevas
querem que ele continue pensando, pois, assim, continuará indefinidamente
marcando passo na mediunidade — na mediunidade que, por falta de aprimoramento
dos médiuns, não deslancha.
9 - COM ZELO E DISCERNIMENTO
"Segui o amor e procurai com zelo os dons espirituais..."
1 Coríntios, cap. 14 - v. 1
Na assertiva de Paulo, procurar com zelo os dons espirituais é interessar-se por eles e
cultivá-los.
Médiuns existem que não se interessam pelo aprimoramento dos próprios dons
mediúnicos e não têm a mínima disposição para a disciplina que qualquer atividade
espiritual requisita.
Sem dúvida, a faculdade mediúnica é também fruto de uma maturação psíquica que, a
rigor, nada tem a ver com maturidade moral. Mas, assim como o fruto verde pode ser
amadurecido na estufa, em muitos o processo de desenvolvimento mediúnico pode
ser antecipado. Como pode ser isto?! É simples...
Quantos revelam tendência natural para esta ou aquela profissão, exercendo outras
completamente diferentes?! Quantos contrariam a própria vocação, por interesses
económicos ou sociais?!...
Há, sem dúvida, quem reencarne com determinada predisposição orgânica para a
mediunidade, mas, em contrapartida, não tem interesse no cultivo dos dons
espirituais. Já outros, por vezes carecem remover pesados obstáculos para se
tornarem médiuns, e isto é perfeitamente compreensível.
Quem não zela dos olhos acaba por comprometer ao, quem não cuida dos ouvidos
termina na surdez... O médium que, no dizer de Paulo, não segue o amor, procurando
com zelo os dons espirituais, desequilibra-se; aparentemente, pode estar tudo bem
com ele, mas, no íntimo, acha-se em situação deplorável...
Se Allan Kardec não tivesse se interessado pelos espíritos, os espíritos não haveriam de
interessar-se por ele. Outro certamente lhe tomaria o lugar na tarefa da Codificação.
Que quem não queira ser médium procure, pois, ser útil de outra forma. Ninguém
carece de ser médium à força. Não existe isso de médium ter que ser médium ou, caso
contrário, vai parar no sanatório... É outro tabu que precisa cair. Quem não desejar
exercer a mediunidade ostensiva, que a exerça nas múltiplas atividades espirituais nas
quais igualmente estará cuidando da própria iluminação.
Que os médiuns, portanto, cuidem de ser médiuns, mas sobretudo com zelo e
discernimento.
10 - TRÍPLICE INCUMBÊNCIA
1 Coríntios, cap. 14 - v. 3
Paulo define com clareza a tarefa daquele que profetiza, ou seja, daquele que exerce a
mediunidade: Edificar, exortar e consolar. A rigor, o médium não tem outra obrigação.
Longe dele a pretensão de convencer, pelo fenómeno, a quem quer que seja.
Allan Kardec não se convenceu da imortalidade, senão pelos diálogos que entabulava
com os supostos mortos. Não foram os olhos que o fizeram enxergar a lógica da vida
imperecível, mas, sim, a razão.
Edificar espiritualmente os homens já não constitui, por si só, tarefa acessível a todos.
É um desafio constante para o tarefeiro bem intencionado que, não raro, se aflige por
aqueles que Deus lhe colocou sob a tutela...
Temos, sem dúvida, o médium em mandato sobre a Terra, aquele que vem cumprindo
elevada missão de caráter geral entre os homens, mas o médium de atuação discreta,
junto a este ou àquele grupo, é de suma importância, porquanto, não raro, graças a ele
é que o trabalho dos companheiros se mantém.
No início do Cristianismo, a de Paulo era uma voz que ecoava aos quatro cantos, mas
cada comunidade cristã contava com o seu "profeta", através do qual o "Espírito
Santo" a ela se dirigia em particular, incentivando os cristãos ao testemunho.
Nas celas das prisões, antecipando os martírios a que eram publicamente submetidos,
vários sensitivos, tomados pelas vozes do Além, exortavam os companheiros prestes a
dar a vida pelo Evangelho...
Porém que ninguém se esqueça: quem edifique, exorte e console aos outros, console,
exorte e edifique primeiro a si.
Bendito o médium que, falando aos homens, edifica, exorta e consola em nome de
Jesus!
11 - XENOGLOSSIA INÚTIL
"...pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar
para que a igreja receba edificação."
1 Coríntios, cap. 14 - v. 5
Paulo falou de modo a não deixar evasivas: "Quem profetiza é superior ao que fala em
outras línguas", ou seja, quem interpreta a mensagem ou quem decodifica a palavra,
explicando-a em espírito e verdade, é profeta do esclarecimento, medianeiro da
instrução, apóstolo da Verdade acessível a todos.
O estudo das Escrituras era incentivado por Paulo junto às comunidades cristãs, o qual,
em suas cartas, primava pela interpretação da Palavra Divina, de modo que todos
pudessem acolhê-la e vivenciá-la. Combatia com veemência, qual igualmente Jesus
havia combatido, os doutores da lei que ludibriavam o povo, distorcendo o significado
das profecias.
Em nossos templos espíritas, que, de fato, são escolas da alma, a função do expositor
da Doutrina é de suma importância, mais até, em muitos casos, que a do próprio
medianeiro, não nos esquecendo de que o orador espírita é médium por excelência,
encarregado de despertar consciências adormecidas. Preferível, em nossa casas de fé,
uma reunião de estudos a uma reunião mediúnica, caso nos víssemos na iminência de
escolher entre uma e outra.
Atentemos também para o fato de que todo comunicado de Além-Túmulo deve ser
submetido ao crivo da razão.
1 Coríntios, cap. 14 - v. 12
O medianeiro que não sabe ousar além dos primeiros passos estaciona por longo
tempo nos degraus de sua ascensão de início, tornando-se improdutivo e frustrando
nos amigos espirituais a expectativa pelo seu crescimento.
Todo médium que aparece na Terra representa motivo de júbilo para os espíritos que,
então, passam a contar com mais uma "estação repetidora" no mundo... Acontece,
porém, que, na maioria das vezes, a referida "estação" revela fraco sinal, ou seja,
reduzido poder de alcance na abrangência da mensagem que os desencarnados
pretendem transmitir por seu intermédio...
Quantos, aflitos, não arremessam ao Alto a indagação paulina quando se vêem
agraciados pelos dons mediúnicos: "Que farei, pois?". Rogavam aos Céus o talento que
prometiam multiplicar em benefício dos semelhantes, mas, ao tê-lo nas mãos,
recuam... Temem a responsabilidade do serviço, sentem-se por demais expostos aos
olhares públicos, receiam atrapalhos em sua vida particular.
Por este motivo e outros que não convém relacionar agora, é que não devemos
incentivar demasiadamente companheiros a ingressarem na mediunidade. Precisamos
orientá-los e deixar que decidam por si o melhor caminho. Isto, aliás, vale também
para outros setores vocacionais das múltiplas atividades humanas.
O médium que não possui vocação para a mediunidade deve ser aconselhado a
desistir, procurando realizar-se espiritualmente em tarefa que concorde em executar
com alegria. Repetimos: para o médium no qual a mediunidade é motivo de
sofrimento, de angústia, existem outras opções para que ele se harmonize
interiormente. Ninguém deve ser médium por imposição.
Mediunidade é uma prova (para a grande maioria ela o é) que precisa ser cumprida
com alegria.
Médium algum deve ter receio de renunciar à mediunidade e perturbar-se. O que ele
não pode é desertar do cultivo de si mesmo, através da vigilância de seus pensamentos
e da prática sistemática do Bem... O que não lhe é aconselhável é que, deixando a
mediunidade, ele corte o fio de sintonia com os Planos Superiores...
Portanto aos médiuns que estejam ainda na fase da indagação — "Que farei, pois?" —
solicitamos permissão para responder-lhes inspirados em Paulo: — Orem e cantem,
trabalhando sempre!...
13 - MÉDIUNS MALEDICENTES
"Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malicia, sim, sede crianças; quanto ao juízo,
sede homens amadurecidos."
1 Coríntios, cap. 14 - v. 20
Porque Jesus recomendou que os seus seguidores fossem mansos qual as pombas e
prudentes feito as serpentes, há quem procure justificar-se na malícia que adota em
seu relacionamento com o próximo.
É claro que os medianeiros carecem de precaver--se e saber que estão lidando com
todos os tipos de interesse, inclusive aqueles afetos ao personalismo, à inveja, ao
ciúme... Muitos dos que combatem a mediunidade não o fazem por idealismo sincero
e, não raro, combatendo a mediunidade, ao médium é que desejam combater.
O médium demasiadamente malicioso e que se gaba de ser ladino acaba por iniciar-se
na maledicência, não mais imprimindo confiança naquilo que faz e representa. Se
dialoga com alguém, está sempre atormentado pelas possíveis intenções escusas do
interlocutor e, o que pior, quase sempre está articulando ideias que objetivam
exclusivamente o atendimento de suas aspirações de caráter pessoal.
Quando o médium perde o vínculo com a simplicidade e ele próprio passa a descrer de
sua sinceridade na tarefa, é tempo de indispensável pausa para que ele repense as
suas atitudes.
O juízo que Paulo recomenda aos cristãos de Corinto, não se refere exclusivamente ao
fato de se ter cabeça... O ex-rabino também os advertia quanto ao julgamento
precipitado das atitudes alheias, aconselhando-lhes a ponderação que é apanágio
apenas dos homens amadurecidos.
No apostolado mediúnico, o médium que sabe mais é aquele que sabe que quem age
com o coração sempre triunfa, embora transitoriamente possa expor--se a inúmeros
dissabores.
O médium que age com total isenção de ânimo, que nada malícia, que prefere ser
enganado a enganar, que não abusa da confiança alheia e não subtrai a fé de ninguém
através dos desmandos cujo direito de converter arroga para si, sob o beneplácito do
tempo, sai vencedor de todo e qualquer embate.
1 Coríntios, cap. 14 - v. 22
Os argumentos dos cépticos são inesgotáveis e, para o que não crê, sempre se fará
possível os questionamentos, mesmo diante das mais claras evidências.
Tomé não se contentou com a visão do Cristo redivivo: pediu-lhe permissão para
tocar-lhe as chagas a fim de convencer-se da realidade.
Para que Sir William Crookes aceitasse o fato da sobrevivência da alma, foi preciso que
o espírito Katie King, através da médium Florence Cook, se materializasse diante de
seus olhos de investigador, durante três anos consecutivos.
Paulo, alcançando semelhante realidade, escreveu aos cristãos de Corinto que "a
profecia não é para os incrédulos, e, sim, para os que crêem". Portanto que eles não
perdessem tempo tentando incutir a fé nas almas cristalizadas na descrença... Para
elas, a profecia, ou seja, a mediunidade não deveria passar de subsídio para que se
rendessem aos alvitres da razão.
Os Espíritos Superiores sabem que a convicção é processo afeto a cada alma e o que
para uma é motivo de crença, para outra é de negação.
Que os medianeiros não se desalentem perante os que, a princípio, não aceitem a sua
atuação-, que perseverem em suas atividades medianímicas, sem buscarem aprovação
outra que não seja a da consciência tranquila pelo cumprimento do dever.
Se a dúvida parte dos próprios companheiros de ideal, é uma razão a mais para que os
médiuns questionados não desertem de suas obrigações, fornecendo-lhes, com o aval
do tempo, um atestado de convicção pessoal naquilo que o Mundo Maior produz por
seu intermédio, na tentativa de acordar os homens para as realidades do espírito.
Segundo Paulo, a "profecia" ainda não é para os "profetas" incrédulos, o que significa
dizer: a mediunidade não é para os médiuns descrentes!
O médium que não atuar com a mínima convicção necessária não conseguirá incutir fé
em ninguém; ao contrário, terminará, inclusive, por destruir o embrião da crença nos
corações...
Se o médium não confia, se questiona em excesso à ação dos espíritos através de si, se
vacila com frequência, se se sente incapaz de servir na edificação das almas, é melhor
que desista de ser médium.
É evidente que não se espera do médium uma fé cega, mas também nem uma
descrença sistemática. Para utilizarem o médium como instrumento, os espíritos
necessitam de sua colaboração consciente, lúcida, consentida...
1 Coríntios, cap. 14 - v. 26
"Um tem salmo, outro doutrina, este traz revelação, aquele outro língua e ainda outro
interpretação"...
Será suficiente que a vaidade fale mais alto naquele que anseia por concentrar
atenções, reclamando para si todos os olhares e aplausos, para que a obra, como um
todo, sofra as consequências.
A multidão dos espíritos que povoa as regiões espirituais próximas ao planeta não sabe
o que nele se passa, não tem acesso a informações, é, por assim dizer, acometida de
um esquecimento semelhante àquele que acomete os espíritos quando reencarnam. É
por este motivo, entre tantos outros, que o contato com os espíritos desencarnados,
mormente com aqueles que deixaram o corpo há mais tempo, não é tarefa fácil para
os homens. Torna-se, por vezes, extremamente penoso localizar-lhes o paradeiro na
Vida Espiritual, levando-se ainda em conta que a maioria se vinculou a novas situações
afetivas e morais.
Porém, qual nos recomenda o grande Converso de Damasco, seja como for, tudo seja
feito para a edificação de todos.
Que os médiuns sopesem o seu poder de influência no ânimo dos companheiros para,
de certa forma, interferirem positivamente na condução das tarefas nas quais são
chamados a participar com a força de seu idealismo.
Muitos sensitivos, com o passar do tempo, perdem a espontaneidade que precisa ser
cultivada como um dos atributos essenciais da mediunidade. Não raro, o medianeiro
enquadra-se excessivamente nas concepções que assimila, fechando "ramais" de
sintonia com o Plano Superior... Quando os espíritos carecem de falar do que
habitualmente não falam, recorrem a médiuns que tiram do anonimato, quase sempre
provocando a ciumeira dos médiuns que não foram escolhidos como instrumentos das
referidas revelações.
Quando o medianeiro cumpre a sua tarefa, permitindo-se envaidecer pelo que teve
oportunidade de realizar, a Espiritualidade o desativa; ele continua médium e, pelos
bons serviços prestados, prossegue na divulgação dos postulados que auxiliou a
impulsionar, mas os espíritos que cuidam do progresso da Humanidade transferem-se
de "domicílio mediúnico", passando a residir com o sensitivo que temporariamente
lhes atenda os propósitos de, gradativamente, fazer luz sobre as trevas da ignorância
humana.
Médiuns existem que, sorrateiramente, fazem campanhas contra outros que
despontam, na falsa ilusão de que seriam eles os eternos eleitos da Espiritualidade.
Aos médiuns que cooperaram com Kardec na Codificação, outros se sucederam e vêm
cumprindo admiravelmente o seu papel, mas, dentro do dinamismo natural da
Doutrina, novos médiuns surgirão no próximo milénio e, dentro desse engenhoso
processo de revezamento, haverão de descortinar novos rumos à Terceira Revelação.
Entre os médiuns, qual também entre os espíritos, existem aqueles que furtam ideias
uns dos outros, assumindo a paternidade ilícita dos "filhos" que não foram gerados em
suas entranhas.
17 - TAL O MÉDIUM, TAL A MEDIUNIDADE
"Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas."
1 Coríntios, cap. 14 - v. 32
Sem rodeios, o Apóstolo quis dizer que o médium atrai os espíritos com os quais se
afiniza e que, de certa forma, os espíritos que por ele se expressam se lhe submetem...
É claro que os espíritos que não aceitam tal ou qual médium, procuram outro e... se
lhe submetem. A recíproca igualmente é válida: o médium também está sujeito aos
espíritos que por ele se expressam... Sujeito às suas intenções, sujeito aos seus
anseios, sujeito à sua condição espiritual...
É comum que médiuns, a fim de verem acatadas as opiniões que lhes são próprias, as
atribuam aos espíritos, transferindo-lhes a paternidade de suas ideias.
Sabendo que "os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas", notemos
que a personalidade do médium retrata a personalidade dos espíritos que com ele se
dispõem a trabalhar, porquanto espíritos humildes não se sujeitarão a médiuns
arrogantes... Embora a sua humildade, deixarão que os medianeiros arrogantes se lhe
tornem instrumentos menos presunçosos e, portanto, um tanto mais maleáveis ao
espírito da mensagem que desejam transmitir.
Portanto, para os espíritos, é preferível um médium que seja menos médium do que
um que o seja em excesso mas sem o mínimo discernimento.
Nem sempre o que um espírito diz através de um médium é como ele gostaria de tê-lo
dito e, quase sempre, é necessário que ele se contente com a "filtragem psíquica" que
obteve. É preciso cautela com o médium que, à miúde, afirma que tal ou qual espírito
está dizendo isto ou aquilo e cuidado redobrado com o "espírito" que,
frequentemente, se imiscui nos comezinhos assuntos do cotidiano das pessoas.
Sintetizando: a alma do médium atrai o espírito com o qual se compraz e por ele deixa-
se empolgar nos interesses que lhes são comuns. Tal o médium, tal a mediunidade...
18 - MEDIUNIDADE EM VÃO
"Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e a sua graça, que me foi concedida, não se
tornou vã; antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça
de Deus comigo."
1 Coríntios, cap. 15 - v. 10
É evidente que nada existe ou acontece em vão. Tudo obedece a um propósito, que
muita vez nos escapa à análise imediata.
Paulo, escrevendo aos coríntios, afirma que a graça que lhe foi concedida "não se
tornou vã", ou seja, nele, a visão do Cristo redivivo, antecendo-lhe os méritos que mais
tarde conquistaria, frutificou de maneira prodigiosa, induzindo-o a trabalhar "muito
mais do que todos eles", os cristãos dos primeiros dias, muitos dos quais, apesar de
seu contato direto com o Senhor, quase nada operaram pela causa do Evangelho.
No entanto Paulo não se atribui qualquer mérito pelo esforço valioso que empreendia;
antes, debitava à graça de Deus consigo tudo quanto realizava no bem...
Contam-se aos milhares os que clamam aos Céus por determinadas concessões que,
quando alcançadas, se lhes revelam não serem exatamente o que esperavam.
Quantos médiuns não sabem ser úteis, vendo enormes obstáculos em diminutos
entraves do cotidiano?!
Visitado pela revelação divina às portas de Damasco, o futuro Apóstolo dos Gentios
colocou-se, de imediato, a serviço do Mestre, trabalhando a vida inteira, "mais do que
todos", para valorizar a bênção que lhe fora outorgada. Certamente, reconhecendo-se
esmagado pela sublimidade do fenómeno que protagonizara, Paulo lutou para
superar-se e não permitir que os Céus nele investissem inutilmente.
O médium que não age é comparável ao homem da parábola que enterrou o seu
talento...
Quem se sentir apreciado por este ou aquele dom mediúnico deixe de vez tanta dúvida
e tanto questionamento que, na maioria, é o disfarce da má vontade e da falta do
desejo sincero de servir.
Em circunstância nenhuma acredite ser o que não é. Paulo, que era o que era, pela
graça de Deus foi o que foi, ou seja: apesar de suas limitações humanas, fez-se
apóstolo do Evangelho, sendo ele mesmo um dos maiores exemplos do poder
transformador da Boa-Nova sobre as criaturas.
Que quem não se sinta digno de ser médium, esforce-se para sê-lo, invés de preferir
renunciar ao exercício da mediunidade a ter que abrir mão de alguns dos seus
caprichos... Se a mediunidade procura o homem e o encontra na condição em que ele
se apresenta, é porque o aceita sem exigências de qualquer espécie.
Para que, no médium, a mediunidade não se torne vã, ele necessita trabalhar "muito
mais do que todos eles", os críticos, os que nele não acreditam, os invejosos, os
ciumentos... Trabalhar, é bom que se diga, sem espírito de competição. Trabalhar à
feição de alguém que recebeu régio salário antes do serviço executado e que, por isso
mesmo, se sente na obrigação de não falhar.
Que ninguém amargue, mais tarde, a dura decepção de ter sido um médium que
frustrou as expectativas da Vida a seu respeito, uma espécie de semente que não
floresceu...
19 - OS MAIS INFELIZES
"Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes
de todos os homens."
1 Coríntios, cap. 15 - v. 19
De todos os homens, os mais infelizes são, sem dúvida, aqueles que descrêem;
todavia, entre os que descrêem das realidades da Vida Imperecível, os mais desditosos
são os que lidam com ela, qual os religiosos de todas as procedências que demonstram
uma fé fragilizada.
Pode parecer que não, mas medianeiros existem que vivem em permanente clima de
dúvida quanto às verdades que eles próprios anunciam no que diz respeito à
imortalidade.
São eles os medianeiros que possuem suficiente fé para os outros, mas não a têm para
consumo próprio nas lutas que faceiam no mundo.
São muitos assim os médiuns que se dividem entre a crença e a descrença, o esplendor
e a sombra. Caso possuíssem a fé do tamanho de um grão de mostarda, seriam
capazes de prodígios muito maiores do que aqueles que, eventualmente conseguem
produzir. Mas, porque vacilam, porque não possuem a necessária determinação,
conseguem tão somente ser os intérpretes deste ou daquele pequeno lampejo da
fantástica luminosidade do Mais Alto... Não raro, ao longo de todo o seu exercício,
logram apenas um ou outro feito mediúnico de vulto, fato isolado que, infelizmente,
não mais se repete por seu intermédio, mas o suficiente para incentivá-los a prosseguir
na jornada.
Infeliz do médium que não crê! Qual pássaro que não acredita na força das próprias
asas, não conseguirá voar além das adjacências do ninho para respirar o ar puro das
alturas...
O médium bem intencionado enfrentará os mais diversos obstáculos para cumprir com
a tarefa que lhe foi confiada, desde aqueles que dizem respeito às suas próprias
mazelas aos que encontre, propositadamente ou não, colocados no caminho que
percorre.
Na jornada que empreende, não é de admirar que as forcas do mal conspirem contra
as suas atividades, planejando com meticulosidade a sua queda.
Farão surgir em sua vida instrumentos de perdição, almas que, sem que igualmente
percebam, agem por intérpretes das trevas, insinuando-se desta ou daquela forma
junto a ele...
É natural, portanto, que a sua estrada esteja crivada de espinhos — espinhos que
inutilmente tentará afastar, porquanto um haverá de se suceder ao outro, como
sempre a lembrá-lo de sua insignificância e fragilidade.
Abençoado o medianeiro que se vale de tantas lutas e conflitos para não se permitir
envaidecer e, de cerviz curvada, prosseguir trabalhando pela elevação espiritual das
criaturas!...
Que o médium, portanto, não espere facilidades. Esteja sempre preparado para
receber os ataques que o experimentarão em todos os flancos de sua personalidade,
como se estivesse a descobrir-lhe o ponto vulnerável.
Quantos médiuns, meu Deus, vivem e servem atados à cruz do dever, vertendo
lágrimas que ninguém conhece! Quantos se consomem na fogueira das próprias
aflições, imolando-se devagarinho pela vitória do ideal, transformando-se em tochas
vivas do amor com que se consagram a Jesus!...
E não é de admirar que, para eles próprios, a sua vida seja um mistério, pois,
conhecendo-se qual se conhecem, não sabem dizer como foram e como são capazes
de fazer o que fazem — sombras humanas refletindo na Terra a luz sublime da
imortalidade!
21 - ESPÍRITO DE COMPETIÇÃO
"Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente: a preocupação com
todas as igrejas. Quem enfraquece, que também eu não enfraqueça? Quem se
escandaliza, que eu não me inflame?"
Lendo e refletindo sobre as palavras de Paulo aos coríntios, não há como não se
emocionar, observando o carinhoso zelo do Apóstolo para com os núcleos do
Cristianismo nascente.
Todavia o espírito de competição que impera entre os militantes espíritas que ainda
não conseguiram assimilar o verdadeiro espírito da Doutrina é tão arraigado e
negativo, que muitos, inconscientemente, chegam a torcer pela ruína das tarefas que
não lhes nasceram do cérebro ou nas quais não estejam diretamente envolvidos.
É necessário que entre os médiuns haja uma ética que lhes possibilite preservar intacta
a imagem da Doutrina acima daquela que lhes reflete a face...
Medianeiros existem que não hesitam em comprometer o Espiritismo perante a
opinião pública, desde que os seus rivais sejam enlameados. Esses equivocados
confrades assemelham-se a quantos somente conseguem se promover à custa da
infelicidade alheia, já que lhes falecem méritos pessoais para tanto. Apontam erros na
ânsia de desviarem atenções de sobre si...
Cada núcleo espírita é uma célula importante no organismo da Doutrina e não há uma
só que adoecendo não lhe comprometa o equilíbrio.
Cada cristão que negava a fé arrastava outros consigo em sua derrocada moral...
Todo médium que de uma forma ou de outra se exponha ao sarcasmo dos inimigos do
ideal espírita, carece ser socorrido, amparado, fortalecido, e não vilipendiado e
esquecido pelos que simplesmente proclamam, citando a lei do carma, que ele está
tendo o que faz por merecer, quando, desde épocas imemoriais, está escrito:
"Misericórdia quero, e não sacrifício"...
Francamente, fica muito difícil entender tanto contraste entre os que trazem o
Evangelho em uma mão e o azorrague na outra, repartindo pão com os famintos e
palavras maledicentes com os confrades que trazem à mostra as suas feridas.
Exaustivamente, Paulo escrevia aos grupos do Cristianismo primitivo, muitos dos quais
ele próprio fundara, exortando-os ao congraçamento e à união. Percorria as cidades,
falando de paz e indulgência, compreensão e apoio recíproco aos adeptos da Boa-Nova
que, por si sós, já tinham problemas de sobra para enfrentar com os que moviam
sangrentas perseguições contra os seguidores do Caminho.
"Além das coisas exteriores — escreve Paulo —, há o que pesa sobre mim
diariamente"... Será que algum médium invés de preocupar-se com a sua
mediunidade, tem se preocupado com a Doutrina em si, perguntando-se de que forma
lhe ser mais útil?!...
2 Coríntios, cap. 12 - v. 5
O Apóstolo, segundo suas palavras, permitia-se tão somente glorificar-se pelo fato de
que, apesar de suas imperfeições, conseguia ser útil aos propósitos divinos. A
autoglorificação a que se refere é a alegria interior que naturalmente experimenta
quem se sente admitido nos serviços do Senhor, é o júbilo espiritual que toma conta
da alma do pecador que não se vê desprezado em suas fraquezas.
Essa alegria interior do médium é, por assim dizer, a alma de sua tarefa. Nada de
tristeza estampada na face, qual se o exercício da mediunidade lhe fosse inarredável
dever que se sentisse constrangido a cumprir.
O médium sem alegria não comunica esperança aos corações desalentados e transmite
aos outros a falsa impressão de que a lida espiritual da mediunidade é incompatível
com a espontaneidade das emoções.
Paulo padecia dificuldades indefiníveis e muitas vezes o pranto lhe banhava as faces
marcadas pela dor, mas para ele igualmente existiam os momentos de sadia
descontração, porque, acima de tudo, a mensagem do Evangelho é de otimismo e não
de abatimento.
Não foram e não são fiéis os historiadores que conceberam para os cristãos dos
tempos apostólicos uma vida plena de amarguras e aflições. É evidente que, durante
trezentos anos, os adeptos da Boa-Nova experimentaram no corpo e na alma os
tormentos mais cruéis, mas, quando falavam do Cristo, o semblante se lhes iluminava
e suas almas entoavam hinos diante da morte por condenação...
Ser médium não é ser sinónimo de alma depressiva, incapaz de sorrir com os amigos
ou de ser hilário diante do próprio sofrimento. Os Espíritos Superiores vivem num
clima de êxtase espiritual onde a melancolia não tem lugar e sabem tratar os assuntos
sérios com humor elevado.
A Natureza é o retrato da face feliz do Criador! Deus não é Deus da tristeza, mas da
alegria que nada tem a ver com a alegria transitória que se motiva nas coisas
perecíveis.
É claro que a alegria a que nos referimos não é a alegria oriunda do prazer, tão fugaz
quanto a causa que a motivou. Reportamo-nos à alegria que se entranhe na alma,
àquela que perdura mesmo quando não mais exista o seu móvel. Essa alegria não se
identifica com o sorriso de ironia e de sarcasmo, tão ao gosto dos espíritos que se
habituaram a trocar dos semelhantes.
Que o médium saiba ser alegre, que saiba sorrir, ser espontâneo, ser descontraído
quando oportuno e necessário, porquanto intermediar alegria entre os homens é
prerrogativa de poucos.
Até pouco tempo, a imagem que possuíamos do Céu era quase tão triste quanto a do
Inferno...
Se a prece deve ser recolhimento, não deve ser tristeza. O filho quando conversa com
o pai nem sempre o faz com lágrimas nos olhos...
Que, em sua fraqueza, o médium louve a Misericórdia Infinita do Criador que lhe
oferece a bendita oportunidade de crescer, colocando-lhe nas mãos a charrua com
que, resolvendo a terra de si mesmo, faz com que nela desabrochem as sementes do
homem novo em primavera eterna!
23 - ESPINHO NA CARNE
"E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um
espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me
exalte."
2 Coríntios, cap. 12 - v. 7
Seja qual for a natureza do "espinho" que interpretava por "mensageiro de Satanás", a
realidade é que o ex-doutor de Tarso reconhecia a sua conveniência, admitindo que,
graças a ele, é que não se permitia exaltar pela sua condição de vaso escolhido pelo
Senhor.
Felizes, assim, os medianeiros que trabalham sob a permanente ação de "um espinho
na carne", incentivando-os à exaustiva procura da paz no dever corretamente
cumprido...
Felizes os médiuns que servem movidos por dores desconhecidas do grande público,
suportando sozinhos o guante da provação que não lhes permite afastar-se da tarefa,
sob pena de dores maiores ainda...
Felizes os sensitivos que são "esbofeteados" no cotidiano pela crítica e pela calúnia,
pelo escárnio e pela maledicência, que para eles funcionam à semelhança de
anticorpos contra o desequilíbrio que lhes poderia advir, em face da grandeza das
revelações que intermediam...
Felizes os intérpretes da Vida Maior que, conscientes de sua insignificância, se
preservam contra o personalismo, exortando-se através do próprio sofrimento íntimo
a prosseguirem na condição de simples instrumentos da Vontade de Deus...
Quem lida com o que é divino, sem o necessário discernimento, corre o risco de
deslumbrar-se e, consequentemente, de enlouquecer.
Extasiada pelo fogo, a falena não hesita em incinerar as próprias asas em suas chamas.
Quem não esteja preparado para a mediunidade pode imaginar que tenha à sua
disposição um parque de diversões.
Por isto, a Espiritualidade age sempre com prudência no que tange às revelações
destinadas aos homens.
Esses "espinhos" parecem, não são "mensageiros de Satanás" como acreditava Paulo.
Antes, são enviados de Deus para que os médiuns não se esqueçam de sua condição
de espíritos devedores, distantes de quaisquer privilégios.
Médium algum, em tarefa apostolar na Terra, vive sem o benefício de "um espinho na
carne", invisível força propulsora do seu trabalho, oculta vergasta que o faz seguir
adiante, anónimo pelourinho que não lhe permite a deserção dos compromissos
assumidos...
Paulo é incisivo: "... foi-me posto um espinho..." Isto significa dizer que Deus, em
muitos casos, manda cravar um espinho na carne do médium, espinho que haverá de
acompanhá-lo por toda a vida, à feição de um calvário particular, norteando-o na
afanosa busca de sua libertação.
2 Coríntios, cap. 13 - v. 5
A indagação de Paulo em sua segunda carta aos coríntios é contundente: "Ou não
reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados".
Se realmente estão a serviço da Causa ou são meros parasitas do ideal que abraçaram
por conveniência...
De que maneira o médium reconhecerá Jesus Cristo em si?! Ele saberá. Esta questão
não poderá ser respondida por ninguém, a não ser pelo medianeiro, o qual não
conseguirá iludir-se a seu próprio respeito...
Nada fala melhor e mais alto do medianeiro do que o trabalho que ele executa, da
forma com que ele o executa, porque, em mediunidade não basta trabalhar: é
indispensável servir!
Sobretudo, vigie-se para não perder a fé no emaranhado das ambições nas quais, não
raro, pode passar a movimentar-se, mormente das ambições de ordem afetiva,
porque, por incrível que pareça, muitos médiuns chegam a usar a mediunidade para,
inclusive, efetivar conquistas amorosas!
Vigie-se para não ser pedra-de-tropeço quando deveria ser degrau no caminho de
quantos anseiam por ascender aos Paramos de Luz.
25 - MÉDIUM POR QUÊ?
"Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor, e a nós
mesmos como vossos servos por amor a Jesus."
2 Coríntios, cap. 4 - v. 5
Foi principalmente para combater a síndrome de povo escolhido, que Paulo pregou o
Evangelho aos gentios, mostrando a universalidade dos ensinos de Jesus.
Ser cristão, à época do Cristianismo nascente, era expor a vida, renunciar à uma
existência pacata no aconchego da família, posto que os adeptos do Nazareno eram
caçados à semelhança de animais que, quando encontrados, eram sumariamente
executados. Neles, no entanto, o ideal falava mais alto e não hesitavam em perder a
vida por amor a Jesus Cristo.
Médium por quê?!... Por que a Vida o tenha agraciado com um dom que negou a
outros?! Por que teve o privilégio de renascer dentro de uma conjuntura biológica e
psíquica que lhe facilitou o desenvolvimento da sensibilidade que, em milhares,
permanece embotada?! Ou por que algo deva construir com as prerrogativas de que
dispõe, cooperando para que continue a ecoar no mundo o grito da imortalidade,
despertando as consciências que dormem o sono milenar da indiferença quanto ao seu
futuro espiritual?!...
Médium por quê?!... Para receber elogios, comendas, títulos e ovações, alimentando a
própria vaidade no desastre que é a ilusão que o homem sustenta a respeito de si?!
Para ser um ente diferenciado ou para tentar fazer a diferença em favor do Evangelho
do Cristo, que luta há vinte séculos contra os interesses imediatistas da
Humanidade?!...
Bem-aventurado o médium que não se prega a si mesmo, ou seja, que não se promove
às custas do que deve promover em seu trabalho, que se coloca na condição de servo
do Senhor, apagando-se para que, finalmente, Ele resplandeça.
Pregando a Jesus Cristo, por outro lado o médium não tem nada a temer, porque,
propagandista da Luz, estabelece contato com os Planos Superiores e, embora não
consiga se desvencilhar de imediato das próprias sombras, transforme-se em "espelho
refletor" das claridades celestes.
O serviço do médium que prega a Jesus identifica-se pela luz espiritual que emana, ao
passo que o médium interessado em pregar-se a si mesmo, por mais faça, através do
"espelho" embaçado pelo personalismo, anulará toda a luminosidade e todo o brilho
da tarefa que é a usina geradora de toda a luz.
1 Coríntios, 14 - v. 12
Segundo Paulo, os dons espirituais, e entre eles a mediunidade, podem ser desejados,
ou seja, podem ser buscados com um propósito definido.
A prática nos ensina que a conquista dos dons espirituais é possível àquele que a isto
se consagra com determinação.
Muitos que, digamos, nascem médiuns feitos, não valorizam os seus talentos
espirituais quanto aqueles que necessitam se esforçar para adquiri-los.
Paulo é incisivo: "... visto que desejais dons espirituais, procurai progredir..."
Para muitos, a hora da mediunidade pode ser agora, desde que, evidentemente, não
extrapolem o que se refere à espontaneidade, forçando em excesso as portas que lhes
conferirão acesso aos dons espirituais. Estamos nos referindo, em nossas colocações
neste capítulo, à importância de o candidato ao desenvolvimento mediúnico se
devotar para consegui-lo e não pretendendo induzir à mediunidade quem não esteja
preparando para tanto.
Por outro lado, não se pode ignorar a grave responsabilidade que assume quem logra a
conquista do que Paulo chama "dons espirituais"... Às vezes, quer--se, sem saber o que
se quer e para que se quer!... A mediunidade, sempre, deve ser um instrumento de
trabalho colocado a serviço dos semelhantes, atuando na gleba das almas para o
plantio do Senhor...
Agradeça o medianeiro a realidade dura de suas lutas, que não lhe permitem afastar-
se da Verdade no caminho dos dons espirituais que persegue, com o propósito de
ascender e redimir-se.
27 - CAMINHO EXCELENTE
"E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente."
1 Coríntios, 13 - v. 1
Em sua carta aos coríntios, Paulo coloca o amor acima do dom de profetizar, da língua
dos homens e dos anjos, de toda a ciência... Ele enfatiza o valor espiritual do homem,
do que ele vale por si mesmo, intrinsecamente, sem depender deste ou daquele dom
que, em última análise, é neutro, quanto neutro é, por exemplo, o sentido da fala.
A mediunidade pode ser utilizada para objetivos escusos, qual a observamos no campo
da curiosidade doentia ou da especulação sem proveito. Quantos medianeiros são
passivos instrumentos das sombras?! Quantos formam, com os desencarnados,
verdadeiras quadrilhas no comércio da fé?!...
Paulo, certamente inspirado por Jesus, através de seus intérpretes junto dos homens,
destacou a excelência do amor, qual se quisesse dizer que era preferível nenhuma
mediunidade ostensiva a uma única atitude de amor na prática da solidariedade... Ou
seja, tornando o nosso raciocínio mais claro: preferível que o homem não exerça a
mediunidade, mas que exerça a caridade, porque, sem dúvida, não há faculdade mais
sublime do que intermediar o Bem entre as criaturas. Aliás, a mediunidade, seja ela
qual for, só existe, repetimos, em função do bem que pode fazer!
A mão que auxilia com os parcos recursos que estende de si mesma ao necessitado é
mais pródiga do que aquela que mais não faz senão canalizar donativos provindos de
outrem...
Antes, pois, de aspirarem à mediunidade, devem os médiuns ansiar pela bondade que
os haverá de converter em apóstolos.
Mediunidade sem bondade é flor sem perfume, dia sem sol, festa sem alegria...
Infelizmente, são inúmeros os medianeiros que, da casa espírita, nada mais conhecem
além da sala de reuniões mediúnicas... Não participam de outras atividades que lhes
fujam ao interesse pessoal, não sabem, inclusive, das dificuldades financeiras da
instituição, não se envolvem nas tarefas assistenciais... Estão sempre questionando,
discordando, polemizando... Querem, se possível fora, ser médiuns sem ser espíritas
ou, por outra, ser espíritas sem ser cristãos!
O Sermão da Montanha foi seguido pelo episódio da multiplicação dos pães com que
Jesus atendeu à fome do povo — teoria e prática que se aliaram, sublimes, para que a
Luz brilhasse para sempre.
28 - AUTOCRÍTICA
"Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados."
Sem dúvida, o médium desprovido de autocrítica sempre estará mais exposto à crítica
alheia.
A não ser o Amor e a Verdade, nada é definitivo entre os homens no mundo. Tudo se
condiciona ao processo de aperfeiçoamento que lhe diz respeito.
Se o Espiritismo não é uma filosofia estanque, a mediunidade igualmente não deve sê-
lo, e o médium conscientizado de seus deveres procura se preparar para que a
Espiritualidade sempre encontre nele melhor Instrumento. Dificilmente, por exemplo,
Einstein se expressaria, para falar de Física, através de médium inculto; a lógica nos
ensina — e, em mediunidade, a lógica é fundamental — que ele haveria de procurar o
sensitivo que se afinizasse com as suas ideias e teorias...
Médium algum, por mais experimentado, consegue ser médium de todo e qualquer
espírito. Um literato desencarnado, se não conseguir sintonia com um médium que
algo conheça de literatura, correrá o risco de ser chamado "embusteiro"... Por um
Instrumento inabilitado, o espírito de exímio cirurgião parecerá um neófito com o
bisturi nas mãos... Artistas do pincel domiciliados no Mais Além não conseguirão mais
que primitivos traços de pintura na tela, através de sensitivos que não se esmeram no
estudo da arte de manejar os pincéis e do estilo que lhes seja peculiar...
Infelizmente, muito do que os médiuns obtêm, os espíritos, seus supostos autores, não
assinariam... O que acontece, não raro, é uma apropriação indébita por parte do
médium ao nome dos espíritos que, no máximo, podem envolver o medianeiro,
inspirando-o na consecução desta ou daquela obra, na expectativa de que ele tome a
iniciativa de buscar, com o tempo, uma sintonia mais apurada.
O "se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados", da palavra de Paulo aos
coríntios, significa: se atentássemos mais para nós do que para os outros, corrigiríamos
em nós o que não está correto, antes que os outros tivessem tempo de observar-nos
em nossas deficiências.
Quem, por outro lado, não quiser ser alvo de crítica, não faça nada, cruze os braços e
entregue-se de vez ao comodismo. Até os dias de hoje, o próprio Cristo submete-se às
severas críticas dos opositores de suas ideias... O medianeiro que esteja atrás de
unanimidade está atrás de uma utopia!
2 Coríntios, 11 -v. 9
Existem médiuns que efetivamente nada cobram, mas acabam por ser pesados aos
companheiros...
Paulo foi claro quando escreveu afirmando aos coríntios que não era pesado a
ninguém, ou seja, que vivia às suas próprias expensas, do seu trabalho, do seu suor, e
que não mercadejava com os dons espirituais.
O "dai de graça" deve ser aplicado num sentido muito mais amplo... Não se refere
exclusivamente a dinheiro...
O apostolado mediúnico não se coaduna com qualquer tipo de imposição por parte do
médium que, em tudo, procura facilitar a tarefa dos confrades que, por exemplo, o
recepcionam para esta ou aquela atividade.
Alguns sensitivos, inclusive, carecem ser "vigiados" para que não cometam asneiras...
Por onde passam, acabam deixando uma impressão mais negativa que positiva.
Estas nossas considerações poderão soar estranhas aos ouvidos deste ou daquele, mas
não poderíamos deixar de efetuá-las, pois o desastre que se prenuncia para quem
abuse da mediunidade, explorando os semelhantes, é terrível.
Que o médium se guarde de ser pesado, não só ao bolso, como também à alma dos
companheiros, não os aborrecendo e nem os entristecendo... Não imponham outras
condições para atuar na mediunidade, que não sejam as prescritas pelo bom senso,
dentro das reais necessidades para que a tarefa seja uma luz para todos!
30 - COM PERSISTÊNCIA
"Pois as credenciais do apostolado foram apresentadas no meio de vós, com toda a
persistência, por sinais, prodígios e poderes miraculosos."
2 Coríntios, 12-v. 12
Nem todo apóstolo nasce apóstolo, nem todo médium nasce com tarefa definida.
Paulo não fora apóstolo, mas, "com toda a persistência, por sinais, prodígios e poderes
miraculosos", tornou-se um dos maiores dentre os que se destacaram no apostolado
cristão.
Digamos que, escolhido pelo Senhor, Paulo não fez ouvidos moucos ao divino convite,
mas não se isentou do calvário que o esperava nos testemunhos em que deveria se
fazer cada vez mais digno das expectativas do Mestre.
Assim como muitos médiuns, conforme no-lo diz Allan Kardec, podem ter as suas
atividades suspensas, não mais contando, temporária ou definitivamente, com a
retaguarda do Mundo Espiritual, outros podem tê-las referendadas ou, ainda,
outorgadas, desde, é claro, que façam jus.
Paulo teve que provar à comunidade dos cristãos que realmente havia mudado... Para
que fosse aceito, as credenciais do apostolado tiveram que por ele ser apresentadas
por seus feitos e por sinais que, inclusive, passou a exibir no próprio corpo pelas
inúmeras flagelações sofridas. Enquanto tal não aconteceu, os cristãos não lhe
conferiram à palavra qualquer autoridade moral, apesar de seu vasto conhecimento da
lei.
Maria de Magdala, por exemplo, era um espírito comum, uma irmã cativa da obsessão
e, com certeza, do seu próprio carma; todavia, em tendo a oportunidade que obteve
junto ao Cristo, modificou-se completamente, transformando-se, de fato, num dos
mais belos exemplos de apostolado... Quantos, em contato com Jesus, não souberam
aproveitar o sublime ensejo, qual os nove leprosos que, uma vez curados, sequer
voltaram para agradecer-lhe?!
Médiuns comuns, espíritos comuns que são, podem fazer de seu singelo trabalho um
apostolado de amor aos semelhantes, crescendo por seus méritos e, não raro, em uma
única existência lograr avançar o que não avançaram em muitas outras.
Fim do Livro