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COMO CHEGAMOS A SER

DESSE JEITO
Você não faz idéia da opinião desprezível
que tenho de mim mesmo e como não mereço isso.
- W.S. Gilbert

Stanley, um ministro simpático, nos seus quarenta anos, relatou este incidente em um retiro da
Yokefellow:

Era o seu primeiro dia na escola, e ele estava muito orgulhoso pelo fato de saber escrever o
seu nome. A professora convidou-o a fazer uma demonstração. Ele escreveu com letras de
forma: STANLEY. Ela disse: "Você escreveu errado. Deve escrever Standley." Ele replicou:
"Não senhora, meu nome não tem d." Ela disse severamente: "Escreva de novo, e desta vez
escreva corretamente!"

Stanley escreveu certo outra vez, sem o d. Ela agarrou o papel, levantou-o diante da classe e
disse: "Olhe, turma; aqui está um menino tão burro, que nem mesmo sabe escrever seu próprio
nome. Agora. Stanley, escreva seu nome outra vez e coloque um d, ouviu bem?"

E ele o fez, furioso por dentro enquanto escrevia.

"Aquela cena ficou gravada em minha mente para sempre", disse ele. "Eu me encolho de medo
e sinto doer por dentro toda vez que me lembro dela, pois a classe riu quando ela disse que eu
era burro; e por algum motivo eu aceitei sua avaliação. Por isso, até hoje eu me acho burro. A
minha cabeça diz que eu não sou, mas eu me sinto burro. Não faz muito tempo eu estava
aconselhando um homem portador de um grau de doutor. Ele pareceu satisfeito com os
resultados de nossa entrevista e disse: 'Sabe, eu sempre achei que o senhor era uma pessoa que
entendia de tudo; agora estou convencido.' Minha reação imediata foi: 'O Senhor deve ser
muito tolo para não ver como eu sou, na verdade burro e inadequado.'"

Assim são formadas ou mal formadas as nossas personalidades.

Rivalidade Fraterna

Marilyn, uma senhora casada, de seus trinta e tantos anos, tinha vindo a mim com seu marido
para discutir seu relacionamento conjugal. Eu pressenti que havia nela mais ansiedade do que
se podia imaginar por sua situação presente. Quando ela teve sua primeira entrevista
individual comigo, eu a encorajei a tentar uma experiência primal, para ver o que poderíamos
descobrir.

Ela estava tão bloqueada emocionalmente, que foi difícil levá-la, de início, a algo bem
profundo, mas a certa altura ela tornou-se bastante agitada. Finalmente abriu os olhos e disse,
apavorada: "Por que ela tentou matar-me?! Minha própria irmã?"

O que ela havia experimentado foi um evento da infância, uma parte do qual seus pais lhe
haviam relatado. Conforme sua mãe havia descrito, Marilyn estava andando de triciclo na
varanda da frente, sob os cuidados de sua irmã mais velha. Sua mãe ouviu um ruído de freios,

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correu à porta e viu a criança no seu triciclo, no meio de uma rua movimentada, com carros
enfileirados em ambas as direções. Ela correu para fora e recolheu-a. Marilyn não estava
consciente dessa experiência.

Em sua primeira sessão primal ela havia voltado atrás e revivido aquele evento em sua
inteireza. O evento não foi relembrado, mas revivido, com toda a intensidade da ocorrência
original.

"Eu a vi empurrando-me escada abaixo e senti os salavancos do triciclo quando saltava pelos
degraus, descia o meio-fio e ia para o meio da rua. Revivi todo o acontecimento. Ela tentou
matar-me! Eu sabia que ela sempre me odiou, e ainda odeia, mas eu não tinha idéia de que ela
havia feito isso." Reviver a experiência e descobrir que havia de fato acontecido ajudou-a a
entender muita coisa referente à sua infância.

Como pode alguém ter certeza de que estas coisas não são fantasias da infância? A resposta é
que aquele que revive tais experiências sabe; e, o que é significativo, muitas lembranças
reprimidas que têm sido revividas por indivíduos em sessões primais têm sido confirmadas por
parentes ou outras pessoas que estão na posição de conhecer os fatos.

Nem todas as crianças reagem da mesma forma por ocasião do nascimento de um irmão, ou
irmã, mais novo. Alguns irmãos mais velhos parecem alegrar-se genuinamente, enquanto
outros dão mostra de uma hostilidade inacreditável. Isso pode ser entendido se nós olharmos
desta maneira: Mariazinha é filha única. Ela é tida como a princesa, o único objeto de afeição
dos pais. Então. um dia o anúncio é feito: "Você vai ganhar uma irmãzinha ou irmãozinho.
Não é maravilhoso?"

Os pais estão excitados e felizes. A pequena princesa deixa-se insinuar pelo sentimento dos
pais, e decide que também vai tentar ser feliz. O irmãozinho/ irmãzinha é trazido para casa.
Agora a situação é dividida (e dividida não muito igualmente). Aquele pequeno intruso, aquele
pretendente à coroa torna-se o foco da atenção dos pais. A princesa é destronada.

Uma situação paralela a esta seria se o esposo anunciasse para a sua esposa: "Querida, eu vou
trazer para casa uma amante maravilhosa. Ela é um pouco mais nova do que você e muito
bonita. Vocês duas vão viver juntas em nossa casa, e você deverá gostar dela. Eu vou amar
vocês duas igualmente, se bem que a principio eu deverei dar maior atenção a ela." O que a
esposa sentiria com relação a tal acontecimento é precisamente o que muitas crianças sentem
quando um novo bebê é trazido para casa.

Uma senhora assegurou-me que o nascimento de seu irmãozinho não lhe havia trazido
qualquer problema. "Eu amava o pequeno Bobby genuinamente", ela disse.

Em uma sessão primal ela reviveu uma experiência de quando tinha três anos - o nascimento
de seu irmão Bobby. Ela foi tomada por um acesso de raiva que durou mais de uma hora.
Depois chorou. O pouco amor que vinha recebendo passara agora para o Bobby.
Pela primeira vez ela entendeu por que sempre era tomada de uma raiva irracional e
incontrolável quando seu esposo demonstrava afeição para com a filha dele, de um casamento
anterior. Esta filha representava Bobby, que havia arrancado o amor de que ela necessitava
desesperadamente na idade de três anos.

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"Eu nunca senti algo parecido quando meu irmãozinho/irmãzinha foi trazido para casa" é uma
resposta comum. Eu nem creio nisso nem deixo de crer. As crianças aprendem bem cedo que,
a fim de sobreviver, precisam renegar sentimentos que possam suscitar o desprazer dos pais. A
criança depende totalmente do favor dos pais e ainda não sabe que tem perfeito direito a
qualquer sentimento.

Não são apenas as humilhações da parte dos pais, a rivalidade fraterna, ou o abuso e zombarias
de figuras de autoridade que deixam suas marcas. Existem milhares de forças sutis chocando-
se contra o tecido delicado e sensível da estrutura emocional da criança pequena.

"Não Coloque a Mão Aí"

Um jovem que eu conheci por quase toda a sua vida veio conversar comigo sobre uma grande
crise que estava enfrentando. Sua esposa queria divorciar-se, e ele, em conseqüência, estava
sentindo-se arrasado. Eles estavam casados apenas alguns anos, e ele era apaixonado por ela.

Uma grande queixa que sua esposa havia apresentado é que ele era sexualmente impotente.
Havia outros fatores, mas este era o que mais se avultava. Ele queria saber se sua impotência
era física ou inteiramente psicológica. Eu disse-lhe que, numa idade como a sua, o problema
era quase sempre psicológico.

Ele disse-me que se sentia vagamente reservado quanto ao sexo, como se houvesse "alguma
coisa de errada, má, ou suja" em relação a ele. Eu disse-lhe que, em muitos casos, a mãe fica
perturbada quando uma criança toca na parte genital. Uma reação típica é a mãe puxar a mão
da criança, dar um tapa, e dizer: "Pare com isso! lsso é feio! Não coloque a mão aí!"

Ele abriu a boca, surpreso. - Eu tenho visto minha mãe fazer isso várias vezes com minha
irmãzinha, e ela deve ter feito o mesmo comigo!

E eu disse: - Assim, a criança é condicionada a sentir que há alguma coisa errada com os
órgãos genitais. Não é um sentimento vago e persistente. Algumas pessoas são capazes de
superar isso, enquanto outras são seriamente afetadas!

Eu perguntei-lhe o que ele achava da masturbação, quando garoto. - Terrível - ele disse. - É
algo apavorante. Eu não sei precisamente como ou quando ou onde recebi a informação, mas
eu achava que a masturbação é algo proibido, errado, um pecado contra Deus.

- Você ainda sente assim?

- Sim, eu acho que sim. Tenho uma vaga impressão de que é algo mau. É errado, não é?
Eu expliquei que a maioria dos médicos, ministros, psiquiatras e psicólogos ilustres concorda
que não há absolutamente nada de errado na masturbação. Ela é, como Charlie Shedd expressa
em seu excelente livro, The Stork is Dead (A Cegonha Está Morta), "o dom de Deus para o
jovem" e, poder-se-ia acrescentar, para o solteiro. Ele ficou surpreso com essa informação
totalmente nova.

Durante séculos as crianças eram selvagemente punidas quando se suspeitava que haviam
cometido o que foi denominado "o vicio solitário do auto-abuso". A origem desse tabu se
perde na antigüidade, mas sabe-se que remonta a milhares de anos atrás. The Egyptian Book
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of the Dead (O Livro Egípcio dos Mortos) (1550 a 950 a-C) refere-se á masturbação em
termos negativos.

Autoridades religiosas e médicos cooperam na tentativa de extinguir a masturbação. Alguns


médicos, até a primeira parte deste século, pensavam que ela fosse a causa de doença mental.

Ninguém sabe quantas mulheres têm-se achado sexualmente frias, ou parcialmente frias, como
resultado de má informação desse gênero, aliada a uma admoestação apreensiva, calculada,
para evitar uma gravidez não desejada. Após repetidas advertências para "não colocar a mão
aí" (a maioria delas antes da idade da memória consciente), ao lado da angústia transmitida
pelos pais quanto a "meter-se em problemas", muitas mulheres sentem grande ansiedade e
confusão em relação ao sexo.

Alguns minutos no altar não são suficientes para apagar o condicionamento mental e
emocional, que pode começar na infância e continuar durante anos.

E grande parte do condicionamento não é verbal. Nos lares onde raramente ou nunca o sexo é
mencionado, freqüentemente as crianças crescem com um vago sentimento de que algum
segredo monumental está sendo escondido delas. Se elas procuram sondar o mistério por si
mesmas, são quase sempre punidas ou levadas a sentirem-se culpadas.

Podemos gostar mais de nós mesmos e nos relacionarmos melhor com as pessoas quando
entendemos a nós mesmos e os fatores que nos fizeram aquilo que somos. Quando vemos as
maneiras diferentes pelas quais as personalidades
podem ser deformadas e danificadas, torna-se mais fácil vermos a nos mesmos e os outros com
uma tolerância divertida e amigável.

Ninguém É culpado

A esta altura, uma palavra amável precisa ser dita sobre os pais. Há um pequeno esforço
organizado no sentido de ensinar os pais a criarem os filhos. É possível obter crédito por meio
de um curso de tiro de arco e flecha em inúmeras faculdades e universidades. Uma faculdade
estadual de Nova lorque ofereceu um curso sobre vantagem, isto é, como estudar formulários
de corrida de cavalos e chegar a uma conclusão sobre que cavalo tem mais probabilidade de
ganhar determinada corrida. Pode-se aprender sobre tonelagem de arroz na Indochina, as
correntes marítimas adjacentes ao Cabo da Boa Esperança, arte chinesa do quarto século
a.C., os nomes de diversos reis e centenas de guerras. Mas relativamente poucos cursos são
oferecidos, quer no segundo grau ou nas faculdades, visando preparar o indivíduo para o
casamento e a criação de filhos, duas das tarefas mais complexas que um ser humano tem de
enfrentar.

Perfeccionismo Neurótico

Não é só o abuso verbal, ou a negligência, que traumatiza as crianças. Elas podem ser
prejudicadas pelo excesso de proteção, pelo perfeccionismo e pelo elogio irreal.

Jean eslava morrendo de câncer, com pouco mais de trinta anos, quando eu a encontrei pela
primeira vez. Demorou um longo tempo até que ela morresse, e durante aqueles trágicos anos
ela teve bastante tempo para pensar. Um dia ela me disse: "É claro que não posso provar que
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exista alguma conexão entre minha doença e a atitude de minha mãe, mas sinto profundamente
dentro de mim que há alguma relação definida. Minha mãe sempre insistia em dizer que seus
filhos eram perfeitos. Ainda posso ouvi-la falar aos amigos e parentes, com um sorriso,
assegurando confiantemente: 'Todos os meus filhos são perfeitos.' Todos nós tentamos fazer
jus a isso. Nós sabíamos que não éramos perfeitos, naturalmente, e eu penso que isso criou um
terrível conflito entre o conhecimento de que nós éramos crianças imperfeitas como todas as
outras, e o alvo de perfeição que nossa mãe determinou para nós.

"Tem sido um fardo intolerável toda a minha vida. Sinto que este conflito em que tenho vivido
durante tanto tempo está de algum modo relacionado com o meu câncer."

Sua mãe estava tentando acentuar o aspecto positivo a um grau absurdo, ou então ela estava
cega para a possibilidade de que seus filhos pudessem ser outra coisa a não ser perfeitos, do
contrário, ela não poderia receber o crédito de ser uma mãe perfeita.

Gwen sentia de modo diferente com relação à sua infância e seus pais. Ela é uma jovem
simpática, com pouco mais de trinta anos, inteligente, mas emocionalmente rígida. Disse-me,
em uma sessão de aconselhamento: "Eu sei, intelectualmente, que não é verdade, mas sinto de
modo bem forte que meus pais são perfeitos. Eu sei que eles não são, mas eles parecem
perfeitos." Eles não haviam tentado convencê-la de que ela era perfeita; longe disso. Mas eles
lograram transmitir-lhe que eles estavam completamente acima de qualquer dúvida e que,
como pais, eram perfeitos.

Não houve qualquer esforço para tentar desiludi-la, pois os sentimentos não são alcançáveis
diretamente pela lógica. Quando seus pais tornaram-se alcoólatras incorrigíveis e começaram a
telefonar para ela repetidamente, no meio da noite, para acalmar alguma discussão, o mito
começou a se dissipar de sua natureza emocional. E quando seu pai cometeu suicídio na
presença da mãe, a antiga ilusão infantil da perfeição dos pais finalmente se desfez; mas o dano
já tinha sido feito.

Nosso propósito, a esta altura, é parar de culpar a nós mesmos por aquilo que somos e evitar
qualquer tendência de culpar nossos pais. Quaisquer que tenham sido suas faltas, eles, pelo
menos, foram parcialmente bem sucedidos. Pode ser que tenham feito o melhor ao seu
alcance. De nada adianta culpá-los ou a nós mesmos pelo que aconteceu. Nos somos
responsáveis apenas pelo que fizermos com a nossa vida de agora em diante.

O evangelho não nos condena pela fraqueza e falhas resultantes de um meio-ambiente


defeituoso. Não somos responsáveis por isso. Nós somos responsáveis apenas pelo que
fazemos, daqui para a frente, com as nossas vidas embaraçadas e imperfeitas, considerando
que todos nós somos pessoas defeituosas. O brado de Jesus na cruz: "Pai, perdoa-lhes porque
não sabem o que fazem" (Luc. 23:34) traz consigo a implicação de que as personalidades e
reações deles foram formadas por milhares de fatores. Só Deus pode determinar a culpa ou
fixar a responsabilidade.

Após milhares de horas de aconselhamento, percebo que eu nunca sou levado a criticar um
indivíduo após ter conseguido todos os fatos disponíveis acerca dos primeiros anos de vida
dele. Tudo o que posso sentir é compaixão. lsso é o que a Cruz está a nos dizer!

Os Três "A"
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Nós não podemos gostar de nos mesmos nem amar a nos mesmos nem nos relacionar-mos
criativamente com outros, se não entendermos o que é que motiva os seres humanos.
Basicamente, a força diretiva é a necessidade de:

Aceitação
Aprovação
Afeição/Amor

Ser aceito significa ser bem recebido na família, tribo, clã ou grupo social. O oposto a isso é a
rejeição, uma das experiências mais dolorosas. Não ser aceito é ser um proscrito, um rejeitado.
O sentimento é: "Eu não sou digno, eu não sou bom; existe algo de errado comigo." É um
sentimento de grande solidão, Muitas crianças, por uma ou outra razão, têm sentido essa
solidão. Os adultos que, quando eram crianças, não aprenderam a se relacionar facilmente com
seus companheiros, encaram isso como uma provação incessante, devastadora e deprimente.

Experimentar aprovação é conquistar a afirmação de "outros significativos". Para a criança,


isto significa aprovação por parte da família e amigos achegados. A atuação na escola,
indicada pelas notas, é um modo pelo qual a
criança recebe - ou deixa de receber - aprovação. A criança costumeiramente procura
aprovação em termos de atuação, e não pelo que ela é como pessoa. É mais fácil demonstrar
valor com um boletim de notas ou pela atuação nos esportes, nas atividades sociais, na música,
em alguma coisa que fazemos, do que esperar que as pessoas reconheçam nosso valor como
indivíduos.

Afeição/Amor refere-se à necessidade que temos de que as pessoas expressem calor e afeição
para conosco, não por causa do que fazemos, mas porque elas têm cuidado de nós como
pessoas. No íntimo de cada ser humano há uma necessidade de ser amado. Cedo na vida
alguns têm descoberto que o "amor dói", e têm fechado a porta para essa terna emoção. Tais
pessoas geralmente tornam-se cínicas. Outras, para compensar, dirigem suas energias para
algum esforço no qual possam ser admiradas, ou pelo menos notadas, se não amadas. Em
última instância, alguns se tornam criminosos num esforço por conquistar autoridade, em lugar
de aceitação ou amor. Dessa forma eles são pelo menos "notados".
Começando na infância, o indivíduo vai fazer todo o possível para conquistar aprovação,
aceitação e/ou afeição. Falando nisso, algumas pessoas tornam-se deprimidas e apáticas;
outras representam sua dor agressivamente, enquanto ainda outras ficam doentes, num
esforço inconsciente por conquistar simpatia ou por receber algum cuidado.

O indivíduo que fala incessantemente sobre sua enfermidade mais recente está, sem dúvida,
buscando atenção, parenta próxima da aprovação. Uma criança, no seio da família, pode
ganhar amor e aprovação sendo submissa e obediente. Um irmão, encontrando a vaga de
submissão já preenchida, pode tornar-se agressivo e desobediente, num esforço inconsciente
de receber, pelo menos, alguma atenção.

"Notem-me!" - é o grito universal que sai de cada um - "se não por eu ser obediente, ou
bonito, ou amável, pelo menos porque tiro boas notas, ou porque sou bom nos esportes, ou
outra coisa qualquer."

Substitutos Para o Amor


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Alguns modelos de compensações para a necessidade de ser importante, amado e aceito são
estes: o alcance de poder; riqueza, fama (ou notoriedade), graus, títulos, distintivos,
referências, fitas de campeão na exposição municipal, placas na parede, certificados - qualquer
coisa que prove que se é importante e digno.

A fim de receber tais distinções, homens e mulheres têm combatido, sacrificado, lutado,
esquematizado, mentido, traído, e têm até tentado atos de heroísmo e bravura. Outros têm-se
tornado "santos"; quando muito, alguém pode tornar-se mais piedoso ou mais humilde, mais
alguma coisa do que outros. O eterno grito silencioso se eleva: "Notem-me; digam-me que eu
sou importante."

Mas quando uma criança foi amada adequadamente - acariciada, tocada, reassegurada e
nutrida por pais emocionalmente maduros, não há necessidade para ela manipular ou
compensar. Ela não é demasiadamente submissa nem demasiadamente agressiva. Ela não tem
que provar coisa alguma, a fim de conquistar amor. Ela se sente amada e segura.

Eu não reprovaria a luta humana para conquistar e obter algum objetivo digno. Ninguém
deseja jogar água fria em cima de um esforço humano honesto. Mas o importante na luta é
reconhecer a motivação. Precisamos ser honestos com nós mesmos. O auto-engano é
terrivelmente devastador e prejudicial à personalidade.

Mania de Reuniões

Por muitos anos estive absorvido, participando de reuniões e convenções da Denominação.


Raramente se passava um mês em que eu não assistisse a diversas reuniões de juntas locais,
estaduais e nacionais. O sentimento predominante era que eu estava tomando parte em alguma
coisa importante e presumivelmente fazendo algo de bom; mas, no fundo da minha mente,
estava a noção parcialmente sepultada de que eu gostava de estar sentado em todas aquelas
reuniões de juntas porque isso fazia sentir-me importante.

Durante vinte anos fiz duas viagens por ano, da costa ocidental para o centro-oeste, ou para a
costa oriental, a fim de assistir a reuniões de juntas nacionais ou convenções, e, após muitas
delas, eu voltava para casa com fortes sintomas de febre do feno, mesmo no inverno.
Finalmente me deixei conscientizar de que, embora adorasse ser solicitado a servir naquelas
juntas, na realidade eu detestava o processo. Parecia-me que eles muitas vezes debatiam
interminavelmente assuntos insignificantes que eu teria liquidado com um memorando ditado
para a secretária; ou então eles eram apressados com assuntos de imensa importância, sem lhes
dedicar reflexão adequada. Eu simplesmente não estava em sintonia com eles nem eles comigo.

Em conseqüência, num ímpeto de honestidade própria, renunciei à minha posição na junta


nacional, depois na estadual e juntas e comissões locais. Afinal, eu havia dedicado muitos anos
àquele tipo de coisa e havia dado o meu tempo de serviço. Meus sintomas físicos
desapareceram quando apresentei meu pedido de renúncia. Meu organismo físico-emocional
tinha sido mais sábio do que meu intelecto. Tão logo pude reconhecer minha verdadeira
motivação, que era a necessidade de me sentir importante, senti-me livre para atuar apenas
em áreas onde me sentisse satisfeito. Honestidade para consigo mesmo, para com Deus e para
com o próximo é o primeiro e mais importante passo para o crescimento espiritual e
emocional.
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"Função" Não É "Identidade"

Se uma mãe, cujos filhos deixaram o "ninho", puder ser totalmente honesta para consigo
mesma, ela não irá intrometer-se em suas vidas. Ela cumpriu sua missão, bem ou mal,
conforme o caso, e deve cortar o cordão umbilical. Ela não é mais uma "mamãe", e, sim,
idealmente, uma amiga de suas "ex-crianças".

Mas se lhe falta verdadeira auto-aceitação e se ela confundiu o papel de mãe com sua
identidade, então terá necessidade de aconselhar os seus filhos, visitá-los, corrigi-los e aos
filhos deles, num esforço para sentir-se importante. Mães intrometidas em geral são aquelas
que nunca tiveram qualquer outra identidade a não ser a de esposa e mãe. Quando destituídas
dessas funções, elas tendem a sentir-se inúteis e abandonadas, e freqüentemente chafurdam-se
em autocomiseração.

Nosso filho crescido escreveu-me um dia: "Eu decidi promovê-lo. Você não é mais meu papai,
mas meu amigo." Eu senti uma onda de profunda satisfação quando li isso.

O homem de negócios que tem sido valioso para a sua firma - e, portanto, sente-se importante
- fará bem em planejar sua aposentadoria com dez anos de antecedência. O tempo virá
quando ele não mais será necessário em sua firma. Como um homem aposentado ele perde a
importância, a não ser que tenha descoberto mais significado para a vida do que trabalhar para
a Companhia de Ferramentas e Moldes Almagamados, o que, afinal de contas,
não é uma identidade.

As pessoas que conheço que realmente gostam de si mesmas como pessoas, independentes de
suas funções na vida, como esposo, esposa, pai, mãe, ou empregado, são aquelas que
aprenderam a ser honestas para consigo mesmas e que, em certa medida, entendem a si
mesmas. Elas são capazes de se relacionar bem com outros porque gostam de si mesmas e não
projetam seu ódio próprio sepultado sobre aqueles que estão ao seu redor. Aqueles que
aprenderam a amar a si mesmos apropriadamente têm a tendência de amar os outros.

Uma senhora com pouco mais de quarenta anos, com uma aparência muito tensa, vinha ao
nosso centro de aconselhamento diariamente para sessões primais de duas horas, programadas
para durar três semanas Ela respondeu tão bem às sessões, que foi liberada após duas semanas.
Depois de alguns meses, ela me escreveu:

"Eu estou me achando muito mais espontânea no relacionamento com as pessoas. Alguns
meses atrás tomei o propósito de me relacionar diariamente com alguém fora da minha família
e do meu trabalho, quer através de uma visita quer por telefone ou carta. Estou admirada pela
maneira como as pessoas me têm respondido com incrível cordialidade. Cheguei à conclusão
de que, como adulta, realmente jamais conheci rejeição. Qualquer rejeição que se tenha
verificado em minha vida aconteceu na infância. Levou muito tempo para eu entender que é
somente através do relacionamento com outras pessoas que o amor de Deus brilha através de
nós.

Meu relacionamento com os membros de minha família parece estar crescendo a passos largos
e sem limite. Tenho descoberto que, quanto mais dou, mais amor recebo. Antes eu jamais

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experimentei tamanha paz interior. Descobri que tenho muitas qualidades dadas por Deus, às
quais as pessoas respondem, e que eu gosto de mim mesma."

Ela foi capaz de alcançar essa brecha para uma auto-estima apropriada em vinte e cinco horas
de sessões primais intensivas. Algumas pessoas demoram mais tempo. Durante esse período
ela reviveu os incríveis anos dolorosos de sua primeira infância, cuja memória havia sido
completamente sepultada.

O abandono de sua mãe na infância, as exigências neuróticas de seu pai, sua própria solidão
como criança - tudo isso ela reviveu hora por hora, cena por cena. E, assim fazendo, encontrou
as origens da depressão que a acompanhara por toda a vida e da auto-rejeição que havia
projetado sobre outras pessoas.

Quando ela foi capaz de aceitar sua Dor, revivendo-a completamente, não mais teve que gastar
metade ou mais de sua energia psíquica controlando as dores primais que a tinham bloqueado
por tantos anos.

Não há almoços grátis nem curas maravilhosas. Há uma etiqueta com preço em cada item. Diz
um velho provérbio espanhol: "E disse Deus: 'Tome o que você quiser e pague o Preço.' " E a
Bíblia expressa o mesmo, nestas palavras: "Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes
de todo o vosso coração" (Jer. 29:13).

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