Professional Documents
Culture Documents
SISIFO
Thiago Félix
O absurdo em Camus não é um conceito abstrato, não é algo sobre o qual
especulasse em salas vazias e empoeiradas dos becos filosóficos; a própria existência é
absurda e não é errado admitir que esta é uma experiência cotidiana. Todos os dias,
como Sisifo, que é obrigado a exercer um trabalho inútil, assim também o homem é
lançado numa existência que se demonstra esvaziada de sentido.
Neste aspecto, apesar de não haver em Cioran o termo, suas falas em Nos
Cumes do Desespero parece-nos suscitar o mesmo sentimento; “Solitários na vida, nós
perguntamo-nos se a solidão da agonia não é o próprio símbolo da existência humana.”,
2
ele nos diz logo no inicio de seu livro, em “como tudo é longe!”; o sentimento da
experiência do absurdo pode ser lido em cada uma de suas páginas, seu relato é o relato
de alguém que encontra diante de si a inexorabilidade da morte, a ineficácia da crença
no destino e a impotência humana diante do universo paradoxal, que nos esmaga ao
mesmo tempo em que nos permitiu viver.
3
espécie de tendência suicida, se não tanto, uma espécie de flerte com o estado da
angustia suicida. Um sentimento de abandono de si que corrói toda a obra.
4
e o silêncio do mundo. O suicídio significaria o fim
desse confronto, e o raciocínio absurdo considera
que ele não poderia endossá-lo sem negar suas
próprias premissas. Tal conclusão, segundo ele, uma
fuga ou liberação. Mas fica claro que ao mesmo
tempo, esse raciocínio admite a vida como único
bem necessário porque permite justamente esse
confronto, sem o qual a aposta não encontraria
respaldo. Para dizer que a vida é absurda, a
consciência precisa estar viva.”
(CAMUS, O homem revoltado)
A atitude de Cioran ante a absurdidade da vida não é enxergar esta como algo
no qual devemos derramarmo-nos, mas ainda assim é uma atitude de revolva ante o
absurdo que o mantém vivo. É o asco da morte que o mantem na vida. Cioran parece-
nos gritar que não é preciso imaginar Sisifo feliz, ao menos, não trazer para si esta carga
de otimismo. Sisifo vive e isso nos basta.
5
BIBLIOGRAFIA: