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Sobre Gnosis

Tau Parousia
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Sobre Gnosis

Existe um fenômeno que devo salientar: a transposição sistemática de conceitos antropológicos,


sociológicos, históricos, filosóficos, e literários como suporte analítico de dissecação do Esoterismo e
da Magia, num acumular de argumentos dedutivos até á exaustão, e que dizem basicamente o mesmo.
Isto denota uma visão meramente exterior do tema e uma falta de compreensão na carne do que está
realmente em jogo. Denota igualmente inexistência de uma Iniciação, e o tempo ocupado em simula-
cros, ensaios de realidade como poderia dizer Spare, muitas vezes citado mas quase nunca lido. Tudo
o que é assim mencionado não é mais do que um desbastar prévio do campo de experiência onde
ocorre o Segredo, ou seja, o microcosmos conscientede si de um modo vago aspirando a libertar-se
dos seus condicionamentos. Trata-se da criação e preservação de um simulacro de Espiritualidade,
algo que o ego faz muito bem e nisso se deleita, envolvido na separação infantil entre um suposto
sagrado e um suposto profano, uma vida suposta e uma morte suposta, história em cima de história,
uma horizontalidade sem sentido, quantificada e somada ab infinitum.

II

A verdadeira iniciação, ou começo, ocorre muito para lá de tudo isto, para lá do septenário,
e o Conhecimento (Gnosis ou, se quiserem, Daath) é o seu ponto primário de detonação. Até este
momento falamos apenas de tudo o que o Esoterismo não é e aplainamos o campo de experiência
numa errância à deriva. Este Conhecimento que menciono começa a pressentir-se à distância com um
Olhar, o Olhar prolonga-se até um Abraço, o Abraço sela-se com um choque emocional que acorda o
Ser: algo é Recebido e algo é igualmente Oferecido, o Milagre desceu e aflorou-nos a face. Percebe-
se sem duvidas de nenhuma espécie que tudo o anteriormente mencionado e supostamente vivido em
supostas relatitivizações e simulacros nunca existiu e não existe de facto. Após o Milagre, não uma
aparência do mesmo ou um simulacro ocultistado mesmo entre visões e rituais e dificuldades e pro-
cessos e biologias e psiques e isto o iniciado e aquilo o iniciado (que pobreza e que miséria), após o
Milagre verdadeiro, o Abraço pode provocar um Beijo na Boca, e o Beijo uma União Total em todos
os sentidos do termo, em que os corpos, porque os corpos são vários, estão nus num só corpo que não
é corpóreo (maithuna = geminar) e cuja Natureza é a de um Fogo que se comporta como Água Viva
geminando, queimando, humedecendo, evaporando entre Êxtase e Êxtase.

III

Esta osmose crua entre Iniciador e Iniciado é tripla em Auto-Amor, em União com o Outro e em
União com o Semelhante, banindo todas as distinções no Gozo da Luz que brota do Negro Absoluto e
moldando-se na Carne. A Revelação é apenas algo que se Vê, o Despertar algo que se Ouve, o Espíri-
to algo que se Come e Mastiga e Respira e Toca, e se dá a Comer e a Mastigar e a Respirar e a Tocar.
Há um agente que metamorfoseia as matérias secundárias e terciárias (pele, cabelos, ossos, sangue e
carne, pedras, rios, àgua) em matéria prima, esse agente é exteriormente perceptível como Amor, não
o fingido mas o espontaneamente verdadeiro e sentido, não o que se discute entre sociologias e pro-
cessos e conceitos antropológicos mas o que nos abrasa e ferve em ebulição. O Amor que nos rasga e
dissolve e enraivece porque é demasiado, sempre demasiado, sempre em excesso, solvente universal

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Sobre Gnosis

e se não for isso, não é agente de Luz. O Caminho Tortuoso são as circunvoluções espiraladas deste
Amor em direcção à Sabedoria em que Céu e Terra são Um, o Criativo o Iniciador-Iniciadora e o
Receptivo o Iniciado ou a Iniciada: um filho ou filha nascido, criado, alimentado, nutrido, e incestu-
osamente unido na carne, saliento, e no espírito com o Pai e a Mãe, Mistério da Trindade Sagrada e
Missa do Espirito Santo, (Daath), Binah, Chockmah e Kether. Nada há que morra mas há sim algo
que nunca existiu. Quem, mencionando a Iniciação, descreve o mundo, descreve apenas o seu próprio
vazio, e merece piedade.

IV

A Iniciação é o Mistério da Vida, o Deus Vivo, um Iniciado Vive. Não morre, apenas o Ego, para
usar o termo, morre uma e outra vez e uma e outra vez repete a sua morte: o que morre nunca Viveu, o
que Vive nunca morre. Um não iniciado está morto, um hílico não sabe que o está, um psíquico pode
ter uma vaga ideia de que está em reminiscências, memórias e sonhos onde a sua condição de morto
se revela. Sem a Iniciação um psíquico repetirá à exaustão no esoterismo e na magia os processos da
única coisa que verdadeiramente conhece e pode conhecer e de que tem medo: a morte. O seu proces-
so será uma constante missa de finados, uma celebração da morte do ego, uma celebração de si e da
sua transitoriedade. A morte virá porque não há para ele mais do que a morte, virá mais cedo ou mais
tarde, mas virá. Sempre virá porque o que morre não está Vivo e nunca Vive. A Vida não provém da
morte, a Vida mostra a morte, só o que não Vive morre. A Iniciação eclode em Vida. A tradição pri-
mordial não é a rúnica, a caldaica, ou a egípcia. A tradição primordial é a Vida que habita nos livros
de carne e tintas de sangue que são os corpos dos hierofantes Iniciados Vivos. E o Mistério e Presença
da Vida e os seus Mistérios na Vida do Segredo que faz o Vivo Viver. A Iniciação dá a Vida, e isso
mostra a morte. Que a língua dos pássaros nos inunde, exprimindo o Indizível, através do não dito.

Tau Parousia

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