Professional Documents
Culture Documents
Cinesiologia Aplicados
à Educação Física
Material Teórico
Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Considerações Cinesiológicas dos
Sistemas Ósseo, Articular e Muscular
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Compreender os principais aspectos relacionados ao sistema
musculoesquelético, relacionando as diferentes cargas mecânicas que
atuam no ser, os diferentes tipos de articulações e de ação muscular,
bem como o papel do musculoesquelético para a realização do
movimento humano.
· Tratar dos principais efeitos da prática de atividade física para cada
um dos sistemas, ósseo, articular e muscular.
· Relacionar o conhecimento à futura atuação profissional.
ORIENTAÇÕES
Seja bem-vindo(a) às nossas discussões sobre crescimento e desenvolvimento
humano aplicados à Educação Física!
Saiba que esta Disciplina tem como propósito o estudo das alterações das
estruturas e funções dos sistemas orgânicos decorrentes do crescimento
e alterações do processo de maturação biológica, bem como os efeitos e
importância da atividade física para promoção destas alterações nas várias
faixas etárias ao longo do ciclo vital, e isso lhe oferecendo contato com as
discussões mais recentes dessa área; além de lhe proporcionar momentos
de leitura – textual e audiovisual – e reflexão sobre os temas que serão aqui
discutidos, contribuindo com sua formação continuada e trajetória profissional.
Esta Disciplina está organizada em seis unidades, cujo eixo principal é as
mudanças que ocorrem no ser desde a concepção até a morte, ou seja, que
dê conta de conceituar a terminologia utilizada; diferenciar idade cronológica
e biológica e sua relação com crescimento; estudar os principais conceitos
e teorias no estudo do desenvolvimento motor; aplicar conhecimentos
adquiridos pensando nas possíveis intervenções do educador físico nas
diferentes fases da vida, seja ainda na primeira infância, na infância,
na adolescência, na vida adulta e no envelhecimento. Isso é o que você
encontrará nas próximas unidades. Está preparado(a) para embarcar nesta
viagem de estudos sobre o ciclo de vida do ser?
UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular
6
Contextualização
Já parou para pensar nessa fantástica máquina que é o organismo humano?
Ossos, articulações, músculos, todos atuando em conjunto para realização do
movimento humano, todos comandados por neurônios que fazem parte de um
sistema superior, nosso cérebro, além, é claro, de outros sistemas importantes.
Na verdade, a comparação a uma máquina supertecnológica ainda é singela, o
organismo humano vai muito além disso, afinal, o ser é pensante, autônomo,
crítico, algo que as máquinas poderão nunca conseguir superar.
7
7
UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular
Introdução à Cinesiologia do
Sistema Musculoesquelético
Comumente, denomina-se sistema musculoesquelético o conjunto dos sistemas
ósseo (ou esquelético), articular (também podendo ser referido como parte do sistema
esquelético) e muscular. Logo, pode-se dizer, simplificadamente, que o sistema mus-
culoesquelético é formado pelos sistemas esquelético e muscular. O sistema esquelé-
tico, formado por cerca de 206 ossos, é interligado pelo sistema articular, formado
por cartilagens e ligamentos, dentre os outros tecidos específicos das articulações
do corpo humano. Já o sistema muscular leva em consideração os diferentes teci-
dos musculares, inclusive os tendões, responsáveis principalmente por conectar os
músculos aos diversos ossos corporais. Perceba que esses sistemas são interligados
e, obviamente, apesar de muitas vezes serem estudados separados, devem sempre
ser relacionados como integrantes de um mesmo sistema complexo que, inclusive,
comunica-se com outros sistemas importantes, como o sistema nervoso.
Trocando ideias...Importante!
Já parou para pensar o quão fascinante e específico é o movimento humano? Apesar
disso, você acredita que mesmo assim é possível estudá-lo, compreendê-lo, bem
como propor intervenções utilizando do entendimento do mesmo? Por que nem todos
os segmentos corporais podem ser movimentados da mesma forma? Por que, de
alguma forma, somos restritos à realização de uns ou outros movimentos em certas
articulações? Qual o papel muscular nesse ou naquele movimento? Como você poderá
utilizar de seu conhecimento em cinesiologia para propor aprendizagem do movimento
e pelo movimento humano? Como poderá evitar fatores negativos comuns à pratica de
atividade física, como dificuldades na realização da prática, dores ou até mesmo lesões
nos diferentes tecidos ósseo, articular e muscular?
O estudo em cinesiologia por si não lhe garantirá o entendimento completo em todos
esses aspectos, entretanto, trará grande conhecimento que certamente contribuirá para
a sua formação e futura atuação profissional.
8
Cinesiologia do Sistema Ósseo
Podemos iniciar nosso diálogo sobre o sistema ósseo respondendo a uma
questão central acerca da funcionalidade desse sistema: quais as principais funções
do esqueleto humano? Simplificando a pergunta, para que servem os ossos?
Certamente você não duvida da importância desse sistema, se fosse questionado(a)
sobre se acha que o mesmo é importante, provavelmente você responderia que sim,
com certeza ele é importante! Mas por que importante? Primeiramente, podemos
citar a função mecânica de sustentar estruturalmente o ser humano, o esqueleto é
uma estrutura rígida que nos garante sustentação para, por exemplo, colocarmo-
nos de pé, realizarmos movimentos diversos no ambiente, garante-nos suporte
para manutenção de diferentes posturas. O arcabouço rígido do corpo humano dá
apoio e forma ao corpo e, além disso, tal estrutura rígida que garante a proteção
dos órgãos vitais, como o cérebro protegido no crânio, a medula espinal protegia
pela coluna vertebral, o coração e os pulmões protegidos pelo tórax.
Importante! Importante!
Alavanca pode ser definida como uma haste relativamente rígida que pode girar
ao redor de um eixo de rotação por meio da aplicação de força, por exemplo, ao
arremessar uma bola, seu sistema como um todo produz uma alavanca, seu mem-
bro superior que, por meio da contração muscular (que gera força) gira ao redor de
um eixo e produz força suficiente sobre a bola para alcançar determinada distância.
Explor
9
9
UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular
Você deve se lembrar que possuímos ossos de tipos diferentes quanto aos seus
formatos. Ossos longos possuem o comprimento maior que a largura e fazem
parte, principalmente, do esqueleto apendicular. Esses ossos são muito importantes
para o movimento humano, pois servem como alavancas. Ossos curtos possuem
suas 3 dimensões, comprimento, largura e espessura quase que iguais, como os
ossos carpais e tarsais, tendo como uma das suas funções a absorção de choques
recebidos pelo corpo. Ossos planos possuem uma superfície ampla, como a
escápula, o esterno, as costelas e alguns ossos do crânio, sendo importantes não
só para fornecer proteção ao corpo, mas também como ponto de inserção para
tendões e ligamentos. Além desses tipos, tem-se os ossos irregulares (como as
vertebras) que possuem diferentes funções no corpo humano, e do tipo sesamoide,
como a patela, que é um importante osso da região do joelho que melhora a
situação de alavanca e permite certo ajuste nos movimentos dessa articulação.
10
aumenta em seu formato se a atividade osteoblástica for predominante, ou seja, se
mais tecido ósseo novo for produzido pelo processo de modelagem. Ao contrário,
o osso diminui em seu formato se a atividade osteoclástica por predominante, ou
seja, se ocorrer mais reabsorção de tecido ósseo pelo processo de remodelagem.
Se os processos de modelagem e remodelagem óssea forem equivalentes, ou seja,
sem predominância de um sobre o outro, o formato do osso é mantido.
Importante! Importante!
Hipertrofia óssea é o nome dado quando um osso aumenta sua massa óssea por resultado
da predominância de atividade das células osteoblásticas. Pode-se dizer que hipertrofia
óssea é uma modelagem óssea em resposta à prática de atividade física regular, pois
as forças de impacto que atuam sobre os ossos durante práticas como caminhada,
corrida e ginástica aeróbica desencadeiam um aumento de atividade osteoblástica. Em
contrapartida, atrofia óssea é o nome dado quando um osso diminui sua massa óssea
por resultado da predominância de atividade das células osteoclásticas. Atrofia óssea é
uma remodelagem óssea em resposta à inatividade física, ou seja, ausência de forças
de impacto por conta do desuso comum em idosos sedentários e pacientes acamados
desencadeiam um aumento de atividade osteoclástica. Quando a atrofia óssea ocorre,
a quantidade de cálcio contida no osso diminui e tanto o peso quanto a resistência do
osso também diminuem.
Pode-se dizer que a conhecida doença chamada osteoporose nada mais é do que uma
atrofia. Essa doença é um distúrbio relacionado à diminuição da massa e da resistência
óssea, que resulta em uma ou mais fraturas, algo mais comum de ser encontrado em
idosos e mais precocemente em mulheres.
11
11
UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular
12
caminhada também agem sobre eles. Desnecessário apresentar mais exemplos,
afinal, existem forças ou cargas mecânicas atuando constantemente sobre o corpo
em diferentes atividades. O estudo das forças que agem no movimento humano, ou
seja, a cinética do movimento, será melhor explorado em outra unidade. Por já é
importante conhecermos alguns dos tipos de cargas mecânicas comuns que agem
sobre o corpo humano.
Basta você estar de pé para cargas compressivas atuarem sobre seu corpo,
afinal, a força da gravidade age de forma constante ao mesmo tempo em que há
uma força contrária de reação agindo em seus pés. Quando você anda, corre,
ou salta obviamente essas cargas compressivas aumentam à medida que você
empurra ainda mais o chão com os pés, onde seus ossos, por exemplo, são
comprimidos como se buscasse diminuí-los de tamanho. Uma pessoa que carrega
uma mala pesada ou uma simples sacola de mercado exemplifica uma carga de
tração alongando seu membro superior que carrega o peso pelas extremidades.
13
13
UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular
Um jogador de futebol que tem seu pé “preso” ao solo pelos cravos de sua chuteira
ao receber um “carrinho” de outro jogador exemplifica uma carga mecânica
de cisalhamento. Golpes comuns no jiu-jitsu, judô ou outras artes marciais que
envolvem “chaves de braço” também exemplificam cargas de cisalhamento, bem
como torção e curvamento. Uma rebatida em uma bola com a raquete de tênis
também exemplifica a torção do membro que rebate. As imagens a seguir ilustram
esses exemplos:
Compressão Torção
Figura 2 – Exemplos de práticas corporais com as diferentes cargas mecânicas atuando sobre o
corpo – na maioria dos exemplos existe mais de uma carga mecânica agindo sobre o corpo.
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images
Importante! Importante!
Pode-se dizer que o ser humano é mais resistente, tolera mais cargas de compressão,
uma vez que as mesmas são as que mais atuam nos tecidos corporais. Toda vez que
uma carga mecânica é maior que o limiar de tolerância de uma pessoa, ocorre uma
lesão. Entenda esse limiar como o máximo que seu tecido corporal, seja ósseo, ar-
ticular ou muscular resiste a uma força que atua sobre ele sem que ocorra alguma
deformação do mesmo.
14
cargas mecânicas atuando conjuntamente, algo que pode desencadear em uma
interrupção completa ou incompleta (parcial) do tecido ósseo. A natureza de uma
lesão depende da direção, magnitude (quantidade), intensidade e duração da carga
da mecânica, além, é claro, do estágio de saúde e/ou maturidade do osso. Fraturas
podem ser classificadas como simples, quando as extremidades ósseas se mantêm
dentro dos tecidos moles circundantes; e como expostas, quando as extremidades
ósseas fazem protrusão através dos tecidos moles circundantes, ou seja, perfuram
a pele e tornam-se visíveis a olho nu.
Uma fratura pode ser decorrente de um trauma (força de alta magnitude e curto
período de tempo) ou por estresse e/ou fadiga (pequenas cargas contínuas ou
repetitivas). Os músculos exercem forças a partir de sua ativação muscular que
resultam em cargas em diferentes direções e sentidos, magnitudes, velocidades e
intensidades sobre os ossos. Por conta disso, diferentes tipos de fraturas podem
ocorrer. Fratura transversa é aquela que é completa e sua fenda é perpendicular
ao eixo do osso. Uma fratura oblíqua também é completa, contudo, sua fenda
não é perpendicular ao eixo do osso. Cargas excessivas de tração e cisalhamento
costumam causar fraturas transversas e oblíquas. Outro exemplo de fratura
completa é a fratura espiralada, causada principalmente pela rotação excessiva
de um osso, provocando uma fenda irregular. Uma fratura cominutiva também é
completa, ocorrendo fragmentação do osso, principalmente por cargas excessivas
de compressão.
15
15
UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular
16
sínfise púbica e os discos intervertebrais são exemplos dessas articulações formadas
por lâminas finas de cartilagem hialina que separam um disco fibrocartilaginoso
dos ossos adjacentes. Esses discos intervertebrais têm um importante papel de
ajuste, proteção e absorção de impactos na coluna, bem como permitem pequenos
movimentos entre a maioria das vertebras.
Importante! Importante!
A cartilagem articular (ou hialina) que cobre a superfície óssea que é articulada é
formada por um tecido conjuntivo fibroso denso que ao mesmo tempo que é firme,
suportando muita pressão e tensão, possui também certa flexibilidade, difundindo e
reduzindo as cargas (impactos) na articulação. Essa cartilagem possui uma espessura
que geralmente varia de 1 a 7 mm, com um tecido até certo ponto poroso e com
elevada quantidade de água, muito importante na redução do atrito e desgaste entre
os ossos articulados. Por não possuir suprimento sanguíneo nem ligação nervosa, a
cartilagem é nutrida pelo líquido sinovial. Com o processo natural de envelhecimen-
to, ocorre uma perda natural de água, bem como certo desgaste dos tecidos, algo
irreversível uma vez que, por não ser vascularizada, a cartilagem não se regenera.
17
17
UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular
Graus de Liberdade (GL) se referem ao número de planos e eixos que são possíveis
de ocorrer movimento.
18
II. Gínglimo (dobradiça): possuindo apenas 1 GL (uniaxial), esse tipo de
articulação lembra uma dobradiça, ocorrendo movimentos somente no
plano sagital (eixo médio-lateral), como flexão e extensão. Por exemplo, as
articulações interfalângicas (tanto do pé, quanto da mão), as articulações do
cotovelo (úmeroulnar e úmeroradial) e do joelho (tibiofemural);
III. Trocóidea (em pivô): possuindo apenas 1 GL (uniaxial), esse tipo de
articulação tem seu formato em pivô (como um parafuso que gira), ocorrendo
movimentos somente no plano transverso (eixo longitudinal), como rotação
(direita/esquerda), pronação e supinação. Por exemplo, na articulação
radioulnar proximal (região do cotovelo) ocorre pronação e supinação, na
articulação atlantoaxial (entre a primeira e a segunda vértebras cervicais)
ocorre rotação para a direita e para a esquerda;
IV. Elipsóidea: possuindo 2 GL (biaxial), este tipo de articulação geralmente
combina uma superfície côncava e outra convexa, ocorrendo movimentos
no plano sagital (eixo médio-lateral), como flexão e extensão, e no plano
frontal (eixo anteroposterior), como abdução e adução. Por exemplo, as
articulações do punho (radiocárpica) e metacarpofalângicas;
V. Selar: possuindo 2 GL (biaxial), este tipo de articulação lembra a sela do
cavalo com um cavaleiro sentado em cima, ocorrendo movimentos no plano
sagital (eixo médio-lateral), como flexão e extensão, e no plano frontal (eixo
anteroposterior), como abdução e adução. Um exemplo é a articulação
carpometacárpica do polegar;
VI. Esferóidea: possuindo 3 GL (triaxial), este tipo de articulação também combi-
na uma superfície côncava e outra convexa a partir de um encaixe quase que
perfeito de bola e soquete. Ocorre movimentos nos três planos: sagital (eixo
médio-lateral) como flexão e extensão; frontal (eixo anteroposterior) como abdu-
ção e adução; e transverso (eixo longitudinal) como rotação lateral e medial. O
ombro (articulação glenoumeral) e o quadril são exemplos dessas articulações.
Importante! Importante!
Podemos dizer que uma articulação com maior estabilidade ou mais estável
permite pouco movimento, diferentemente de uma articulação com menos
estabilidade ou menos estável, permitindo grande quantidade de movimento.
Múltiplos fatores podem afetar a estabilidade articular, dentre eles podemos destacar
dois principais: o formato das superfícies ósseas articuladas e a organização dos
ligamentos e músculos que atuam em uma articulação.
19
19
UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular
Importante! Importante!
20
flexibilidade extrema em determinada articulação não garante o mesmo grau de
flexibilidade nas demais articulações do corpo.
Podemos então dizer que os principais fatores que influenciam a estabilidade
articular são as restrições dos tecidos ósseo, articular e muscular. Como restrição
óssea basta pensar no formato das extremidades ósseas que são articuladas,
algo já previamente discutido, onde um melhor encaixe entre as superfícies
dessas extremidades resulta em maior estabilidade e, consequentemente, menor
flexibilidade. Por exemplo, quando o cotovelo está na extensão máxima (nessa
articulação denominado por alguns como hiperextensão), o contato do olecrano da
ulna com a fossa do olecrano do úmero restringe qualquer movimento adicional na
mesma direção. As articulações do quadril e do ombro são ótimos exemplos de como
a estabilidade e a flexibilidade são afetadas pelo formato das extremidades ósseas.
Enquanto para o quadril pode-se dizer que existe um encaixe quase que perfeito
entre a cabeça do fêmur e o acetábulo e, por consequência, maior estabilidade
e menor flexibilidade articular (pelo menos quando comparado ao ombro); no
ombro, o encaixe entre o úmero e a cavidade glenoidal não é tão perfeito assim e,
consequentemente, tem-se menor estabilidade e maior flexibilidade articular.
Importante! Importante!
Você já deve ter notado que ao tentar levantar um dos membros inferiores (flexio-
nar o quadril com joelho estendido) sem nenhum tipo de apoio, somente por meio
de contração muscular, você alcança uma ADM relativamente inferior ao realizar
essa mesma tarefa apoiando os pés em uma barra ou qualquer outro apoio. Outro
exemplo é na tentativa de alongar o quadríceps (dentre outros músculos) flexionando
21
21
UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular
o joelho buscando a maior ADM, você inicia o movimento por meio de contração
muscular, mas para aumentar a ADM e se manter por alguns segundos na posição
você, com uma das mãos, segura o pé do membro que é alongado, aumentando o
grau de flexão dessa articulação. Desnecessário apresentar mais exemplos, nitida-
mente por conta da maior flexibilidade estática (passiva) do que dinâmica (ativa).
22
Luxação é o deslocamento completo ou parcial (subluxação) dos ossos em
uma articulação, é repentino e duradouro, sucedendo quando uma força atua
diretamente ou indiretamente em uma articulação, empurrando o osso para uma
posição anormal. Os sintomas são deformidade articular visível, dor intensa, edema,
dormência ou formigamento e alguma perda de mobilidade articular. É importante
reposicionar adequadamente, por um médico treinado, uma articulação que sofreu
(sub)luxação o quanto antes para aliviar a dor e para evitar comprometimento da
irrigação sanguínea da articulação.
23
23
UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular
Mais uma vez, uma pergunta parecida às outras feitas anteriormente (para os
sistemas ósseo e articular) pode ser aqui realizada: quais as principais funções dos
músculos esqueléticos? Ou, simplificadamente, para que servem esses músculos?
24
A principais funções do musculoesquelético são produzir movimento, bem como
manter as posturas e/ou posições estabilizando as articulações.
Músculos que possuem suas fibras orientadas paralelamente e, por conta disso,
têm as mesmas mais longas, tendem a apresentar maior potencial de extensibili-
dade, maior velocidade de contratilidade e menos potencial de força. Já músculos
que possuem suas fibras orientadas de forma oblíqua e, por conta disso, têm as
mesmas mais curtas e mais numerosas por área, tendem a apresentar menor po-
tencial de extensibilidade, menor velocidade de contratilidade, entretanto, maior
potencial de força.
Como você já sabe, os músculos são inseridos aos ossos por tendões. As
inserções musculares são os locais onde a força é aplicada ao osso. Os músculos
se prendem aos ossos pelas duas extremidades e, anatomicamente, a inserção
proximal ou origem é a conexão do músculo ao osso mais próxima da linha média
do corpo e a inserção distal, ou podendo ser simplesmente denominada inserção,
que é a conexão do músculo ao osso mais distante da linha média do corpo. A
relação de proximidade entre as inserções (proximal e distal) pode ser utilizada
para compreensão de qual tipo de ação (ou contração muscular) o músculo está
desempenhado em determinado movimento. Por exemplo, quando o músculo
contrai, mas a distância entre as inserções é mantida, a ação desse músculo é
isométrica. Quando o músculo contrai, mas a distância entre as inserções é diminuída,
ou seja, origem e inserção se aproximam, a ação desse músculo é concêntrica. Já
quando o músculo contrai, mas a distância entre as inserções é aumentada, ou
seja, origem e inserção se afastam, a ação desse músculo é excêntrica. Dada a
importância dos tipos de ações que um músculo pode exercer e, consequentemente,
influenciar o movimento humano, a descrição sobre as mesmas precisa ser um
pouco mais detalhada.
25
25
UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular
Por exemplo, se você mantém parado seu cotovelo flexionado a 90 graus (ou
qualquer outro ângulo de flexão), enquanto segura com a mão um halter (peso),
apesar de não estar ocorrendo movimento entre seu braço e o antebraço, seus
músculos bíceps braquial, braquial e braquiorradial estão ativados isometricamente.
Importante! Importante!
Por exemplo, ação concêntrica ocorre quando os músculos flexores estão ativos
e ocorre flexão; extensores estão ativos e ocorre extensão; abdutores estão ativos
e ocorre abdução; adutores estão ativos e ocorre adução; rotadores mediais estão
ativos e ocorre rotação medial; rotadores laterais estão ativos e ocorre rotação late-
ral. Já a ação excêntrica ocorre quando os músculos flexores estão ativos e ocorre
extensão; extensores estão ativos e ocorre flexão; abdutores estão ativos e ocorre
adução; adutores estão ativos e ocorre abdução; rotadores mediais estão ativos e
ocorre rotação lateral; rotadores laterais estão ativos e ocorre rotação medial.
Importante! Importante!
Um terceiro tipo de ação muscular possível é a ação isocinética (contração). Esse tipo de
ação muscular ocorre se a resistência aplicada sobre o músculo é variável de maneira a
tornar o movimento da articulação com uma velocidade constante. Esse tipo de resistência
só é possível de ser criada por equipamentos especiais, projetados para tal fim.
26
controlada, sempre se mantendo constante. Tais equipamentos são mais utilizados
na avaliação, treinamento, reabilitação e prevenção de lesões de atletas. Pode-
se utilizar a avaliação isocinética para estimar riscos de lesão por desequilíbrios
ou fraquezas musculares quando comparamos a outros indivíduos, potência e
velocidade de contração, assim como resistência à fadiga.
Importante! Importante!
Os termos “agonista” e “antagonista” são indefinidos, a não ser que uma ação
articular seja referida em relação a eles. Por exemplo, durante a flexão do cotovelo,
o bíceps braquial é agonista e o tríceps braquial é antagonista. Já durante a extensão
do cotovelo, o tríceps braquial que é agonista e o bíceps braquial que é antagonista.
Pode-se então dizer que os músculos concentricamente ativos são agonistas e que
os músculos excentricamente ativos são antagonistas. É Importante ressaltar que o
antagonista se opõe ao agonista, porém, normalmente o mesmo está “relaxado”,
enquanto o agonista se contrai. Lembre-se que um músculo excentricamente ativo
permite que suas inserções se afastem, ou seja, apesar de ativo, permite que seja
alongado para além de seu comprimento normal, gerando apenas certa oposição ou
resistência, freando o movimento que é realizado na articulação. Quando o antagonista
se contrai ao mesmo tempo que o agonista, o resultado é uma co-contração que,
simplificadamente, refere-se a uma ativação muscular simultânea indesejada e que
resulta em menor quantidade de força para produzir o movimento desejado por
conta de uma força oposta gerada pelo antagonista contra o sentido de movimento.
27
27
UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular
Por exemplo, o músculo bíceps braquial tem papel agonista na flexão de cotovelo
e na supinação do antebraço, se apenas o movimento de flexão do cotovelo é
desejado, o músculo pronador redondo atua justamente como neutralizador da
supinação do antebraço para que somente o movimento (desejado) de flexão do
cotovelo aconteça. Um outro exemplo ocorre quando se deseja realizar o movimento
de extensão do quadril. O músculo glúteo máximo tem papel agonista na extensão
e rotação lateral do quadril apenas se o movimento de extensão é desejado, de
modo que o músculo glúteo mínimo atua como neutralizador da rotação lateral.
28
e inserção óssea (por exemplo, esternocleiodomastóideo, isquiotibiais); tamanho,
outros são nomeados por conta do seu tamanho em relação a algum outro músculo
(por exemplo, peitoral maior/menor).
Contrações
musculáres
29
29
UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular
30
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Atlas Fotográfico de Anatomia
COLICIGNO, P. R. C. et al. Atlas fotográfico de anatomia. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2009.
https://goo.gl/iVSesn
Livros
Cinesiologia Clínica e Anatomia
LIPPERT, L. S. Cinesiologia Clínica e Anatomia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2013.
Leitura
O Organismo Humano em Movimento
ALVES, M. C. O organismo humano em movimento. Revista Pré-Univesp, 2015.
https://goo.gl/QO4naF
31
31
UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular
Referências
HALL, S. J. Biomecânica básica. 5. ed. São Paulo: Manole, 2009.
32