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Fundamentos de

Cinesiologia Aplicados
à Educação Física
Material Teórico
Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Eric leal Avigo

Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Considerações Cinesiológicas dos
Sistemas Ósseo, Articular e Muscular

• Introdução à Cinesiologia do Sistema Musculoesquelético


• Cinesiologia do Sistema Ósseo
• Cinesiologia do Sistema Articular
• Cinesiologia do Sistema Muscular

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Compreender os principais aspectos relacionados ao sistema
musculoesquelético, relacionando as diferentes cargas mecânicas que
atuam no ser, os diferentes tipos de articulações e de ação muscular,
bem como o papel do musculoesquelético para a realização do
movimento humano.
· Tratar dos principais efeitos da prática de atividade física para cada
um dos sistemas, ósseo, articular e muscular.
· Relacionar o conhecimento à futura atuação profissional.

ORIENTAÇÕES
Seja bem-vindo(a) às nossas discussões sobre crescimento e desenvolvimento
humano aplicados à Educação Física!
Saiba que esta Disciplina tem como propósito o estudo das alterações das
estruturas e funções dos sistemas orgânicos decorrentes do crescimento
e alterações do processo de maturação biológica, bem como os efeitos e
importância da atividade física para promoção destas alterações nas várias
faixas etárias ao longo do ciclo vital, e isso lhe oferecendo contato com as
discussões mais recentes dessa área; além de lhe proporcionar momentos
de leitura – textual e audiovisual – e reflexão sobre os temas que serão aqui
discutidos, contribuindo com sua formação continuada e trajetória profissional.
Esta Disciplina está organizada em seis unidades, cujo eixo principal é as
mudanças que ocorrem no ser desde a concepção até a morte, ou seja, que
dê conta de conceituar a terminologia utilizada; diferenciar idade cronológica
e biológica e sua relação com crescimento; estudar os principais conceitos
e teorias no estudo do desenvolvimento motor; aplicar conhecimentos
adquiridos pensando nas possíveis intervenções do educador físico nas
diferentes fases da vida, seja ainda na primeira infância, na infância,
na adolescência, na vida adulta e no envelhecimento. Isso é o que você
encontrará nas próximas unidades. Está preparado(a) para embarcar nesta
viagem de estudos sobre o ciclo de vida do ser?
UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular

Ademais, perceba que a Disciplina em ensino a distância pode ser realizada


em qualquer lugar que você tenha acesso à internet e em qualquer horário.
Dessa forma, normalmente com a correria do dia a dia não nos organizamos
e deixamos para o último momento o acesso ao estudo, o que implicará no
não aprofundamento do material trabalhado, ou ainda, na perda dos prazos
para o lançamento das atividades solicitadas.
Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina.
Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um
determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o “momento
do estudo”.
No material de cada unidade há videoaulas e leituras indicadas, assim como
sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados
em fóruns de discussão, assim como realize as atividades de sistematização,
estas que lhe ajudarão a verificar o quanto absorveu do conteúdo: são questões
objetivas que lhe pedirão resoluções coerentes ao apresentado no material
da respectiva Unidade para, então, prepará-lo(a) à realização das respectivas
avaliações. Tratando-se de atividades avaliativas, se houver dúvidas sobre
a correta resposta, volte a consultar as videoaulas e leituras indicadas para
sanar tais incertezas.
Lembre-se: você é responsável pelo seu processo de estudo. Por isso,
aproveite ao máximo esta vivência digital!

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Contextualização
Já parou para pensar nessa fantástica máquina que é o organismo humano?
Ossos, articulações, músculos, todos atuando em conjunto para realização do
movimento humano, todos comandados por neurônios que fazem parte de um
sistema superior, nosso cérebro, além, é claro, de outros sistemas importantes.
Na verdade, a comparação a uma máquina supertecnológica ainda é singela, o
organismo humano vai muito além disso, afinal, o ser é pensante, autônomo,
crítico, algo que as máquinas poderão nunca conseguir superar.

Fonte: iStock/Getty Images

Será que conhecer os sistemas corporais diretamente envolvidos com o


movimento humano favorece a atuação de profissionais que lidam justamente com
o movimento? Sem sombra de dúvida! Esse deve ser seu foco, seu objetivo principal
ao iniciar o estudo desta Unidade.

Aproveite a oportunidade para conhecer melhor o organismo humano e,


consequentemente, melhorar sua formação quanto profissional que lida com o
movimento humano.

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UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular

Introdução à Cinesiologia do
Sistema Musculoesquelético
Comumente, denomina-se sistema musculoesquelético o conjunto dos sistemas
ósseo (ou esquelético), articular (também podendo ser referido como parte do sistema
esquelético) e muscular. Logo, pode-se dizer, simplificadamente, que o sistema mus-
culoesquelético é formado pelos sistemas esquelético e muscular. O sistema esquelé-
tico, formado por cerca de 206 ossos, é interligado pelo sistema articular, formado
por cartilagens e ligamentos, dentre os outros tecidos específicos das articulações
do corpo humano. Já o sistema muscular leva em consideração os diferentes teci-
dos musculares, inclusive os tendões, responsáveis principalmente por conectar os
músculos aos diversos ossos corporais. Perceba que esses sistemas são interligados
e, obviamente, apesar de muitas vezes serem estudados separados, devem sempre
ser relacionados como integrantes de um mesmo sistema complexo que, inclusive,
comunica-se com outros sistemas importantes, como o sistema nervoso.

Apesar de difíceis de serem separados, os sistemas ósseo, articular e muscular


serão abordados separadamente, em seus principais aspectos, os quais devem
ser suficientes para fornecer subsídios a você, futuro(a) profissional de Educação
Física, para o entendimento básico do funcionamento do ser humano enquanto se
movimenta. O conhecimento da anatomia básica desses sistemas é fundamental, já
que nos ateremos à funcionalidade desses sistemas no movimento humano. Assim,
é importante que você tenha fácil acesso a um bom atlas de anatomia, para que
seja possível sanar eventuais dúvidas comuns que possam existir relacionadas à
localização e função de alguns tecidos corporais.

Trocando ideias...Importante!
Já parou para pensar o quão fascinante e específico é o movimento humano? Apesar
disso, você acredita que mesmo assim é possível estudá-lo, compreendê-lo, bem
como propor intervenções utilizando do entendimento do mesmo? Por que nem todos
os segmentos corporais podem ser movimentados da mesma forma? Por que, de
alguma forma, somos restritos à realização de uns ou outros movimentos em certas
articulações? Qual o papel muscular nesse ou naquele movimento? Como você poderá
utilizar de seu conhecimento em cinesiologia para propor aprendizagem do movimento
e pelo movimento humano? Como poderá evitar fatores negativos comuns à pratica de
atividade física, como dificuldades na realização da prática, dores ou até mesmo lesões
nos diferentes tecidos ósseo, articular e muscular?
O estudo em cinesiologia por si não lhe garantirá o entendimento completo em todos
esses aspectos, entretanto, trará grande conhecimento que certamente contribuirá para
a sua formação e futura atuação profissional.

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Cinesiologia do Sistema Ósseo
Podemos iniciar nosso diálogo sobre o sistema ósseo respondendo a uma
questão central acerca da funcionalidade desse sistema: quais as principais funções
do esqueleto humano? Simplificando a pergunta, para que servem os ossos?
Certamente você não duvida da importância desse sistema, se fosse questionado(a)
sobre se acha que o mesmo é importante, provavelmente você responderia que sim,
com certeza ele é importante! Mas por que importante? Primeiramente, podemos
citar a função mecânica de sustentar estruturalmente o ser humano, o esqueleto é
uma estrutura rígida que nos garante sustentação para, por exemplo, colocarmo-
nos de pé, realizarmos movimentos diversos no ambiente, garante-nos suporte
para manutenção de diferentes posturas. O arcabouço rígido do corpo humano dá
apoio e forma ao corpo e, além disso, tal estrutura rígida que garante a proteção
dos órgãos vitais, como o cérebro protegido no crânio, a medula espinal protegia
pela coluna vertebral, o coração e os pulmões protegidos pelo tórax.

Importante! Importante!

O esqueleto apresenta outra importante função mecânica que, diga-se de passagem,


é também muito importante para o movimento humano: forma um sistema de ala-
vancas rígidas que podem ser movimentadas pela força dos músculos inseridos em
sua estrutura.

Alavanca pode ser definida como uma haste relativamente rígida que pode girar
ao redor de um eixo de rotação por meio da aplicação de força, por exemplo, ao
arremessar uma bola, seu sistema como um todo produz uma alavanca, seu mem-
bro superior que, por meio da contração muscular (que gera força) gira ao redor de
um eixo e produz força suficiente sobre a bola para alcançar determinada distância.
Explor

Para mais detalhes e informações sobre alavancas. Disponível em: https://goo.gl/f0FC9C

Você receberá mais informações sobre alavancas em unidades posteriores.


Retomando nosso questionamento, quais mais funções importantes o esqueleto
possui? Com certeza você já deve saber que o sistema ósseo não possui apenas
funções mecânicas, mas também fisiológicas, como o armazenamento de minerais
e a importante produção de células sanguíneas.

As informações até aqui apontadas já nos dão condições de superar aquela


imagem comum que temos dos ossos, como pedaços de minerais rígidos, secos,
estruturas “sem vida” que um cachorro sem dúvida adoraria receber para mastigar.
O osso é um tecido extremamente dinâmico que passa por constantes modificações
internas, não somente durante a fase de crescimento, mas ao longo de toda a vida
do ser, portanto, sim, o osso é vivo!

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UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular

Você deve se lembrar da composição óssea estudada em Anatomia, ou do


crescimento longitudinal ósseo que acontece principalmente em suas extremidades,
nas epífises abertas que se fecham com o fim do processo de crescimento na
segunda década de vida. Caso não se lembre totalmente, o osso é composto dos
minerais carbonato de cálcio e fosfato de cálcio, responsáveis pela rigidez óssea,
pelo colágeno que permite certa flexibilidade ao tecido ósseo, bem como água que
hidrata o osso, garantindo sua resistência. Os percentuais desses componentes
variam com a idade e o estado de saúde do osso.

Dentre os 206 ossos que, normalmente, um esqueleto adulto possui, 74


compõem o esqueleto axial (ossos do crânio, vertebras, costelas etc.) e 126 o
esqueleto apendicular (os diferentes ossos dos membros superiores inferiores).
Além desses, possuímos 6 ossículos auditivos, os quais suas funções não são tão
importantes para nosso estudo em cinesiologia.

Você deve se lembrar que possuímos ossos de tipos diferentes quanto aos seus
formatos. Ossos longos possuem o comprimento maior que a largura e fazem
parte, principalmente, do esqueleto apendicular. Esses ossos são muito importantes
para o movimento humano, pois servem como alavancas. Ossos curtos possuem
suas 3 dimensões, comprimento, largura e espessura quase que iguais, como os
ossos carpais e tarsais, tendo como uma das suas funções a absorção de choques
recebidos pelo corpo. Ossos planos possuem uma superfície ampla, como a
escápula, o esterno, as costelas e alguns ossos do crânio, sendo importantes não
só para fornecer proteção ao corpo, mas também como ponto de inserção para
tendões e ligamentos. Além desses tipos, tem-se os ossos irregulares (como as
vertebras) que possuem diferentes funções no corpo humano, e do tipo sesamoide,
como a patela, que é um importante osso da região do joelho que melhora a
situação de alavanca e permite certo ajuste nos movimentos dessa articulação.

Os ossos não crescem somente longitudinalmente, mas também de forma


circunferencial. Esse crescimento em “largura” se dá como resultado do trabalho
de células especializadas chamadas de osteócitos. Essas células se dividem em
dois tipos: osteoblastos e osteoclastos. Enquanto os osteoblastos são responsáveis
por produzir tecido ósseo novo, processo denominado modelagem óssea, os
osteoclastos são células que reabsorvem o tecido ósseo antigo, processo esse
denominado remodelagem óssea. Diferentemente do crescimento longitudinal que
ocorre nas placas epifisárias, modelagem e remodelagem óssea são processos que
ocorrem constantemente, ou seja, a vida inteira. Obviamente, antes da fase adulta,
o processo de modelagem se sobressai sobre o processo de remodelagem óssea,
por conta do crescimento natural do indivíduo em direção a atingir a maturidade,
como no alcance da estatura adulta. Entretanto, a estrutura óssea é modificada em
seu tamanho, formato e densidade, em reposta às forças que atuam sobre ela.

O fisiologista alemão Julius Wolff, em 1892, já afirmava que o osso é um tecido


dinâmico e que responde dinamicamente à presença e/ou ausência de forças.
Assim, o osso se modifica conforme as forças atuam sobre ele e, portanto, o
tecido ósseo é adaptável, algo que ficou conhecido como a Lei de Wolff. O osso

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aumenta em seu formato se a atividade osteoblástica for predominante, ou seja, se
mais tecido ósseo novo for produzido pelo processo de modelagem. Ao contrário,
o osso diminui em seu formato se a atividade osteoclástica por predominante, ou
seja, se ocorrer mais reabsorção de tecido ósseo pelo processo de remodelagem.
Se os processos de modelagem e remodelagem óssea forem equivalentes, ou seja,
sem predominância de um sobre o outro, o formato do osso é mantido.

Importante! Importante!

Hipertrofia óssea é o nome dado quando um osso aumenta sua massa óssea por resultado
da predominância de atividade das células osteoblásticas. Pode-se dizer que hipertrofia
óssea é uma modelagem óssea em resposta à prática de atividade física regular, pois
as forças de impacto que atuam sobre os ossos durante práticas como caminhada,
corrida e ginástica aeróbica desencadeiam um aumento de atividade osteoblástica. Em
contrapartida, atrofia óssea é o nome dado quando um osso diminui sua massa óssea
por resultado da predominância de atividade das células osteoclásticas. Atrofia óssea é
uma remodelagem óssea em resposta à inatividade física, ou seja, ausência de forças
de impacto por conta do desuso comum em idosos sedentários e pacientes acamados
desencadeiam um aumento de atividade osteoclástica. Quando a atrofia óssea ocorre,
a quantidade de cálcio contida no osso diminui e tanto o peso quanto a resistência do
osso também diminuem.

Você Sabia? Importante!

Pode-se dizer que a conhecida doença chamada osteoporose nada mais é do que uma
atrofia. Essa doença é um distúrbio relacionado à diminuição da massa e da resistência
óssea, que resulta em uma ou mais fraturas, algo mais comum de ser encontrado em
idosos e mais precocemente em mulheres.

De maneira geral, por conta do processo natural de envelhecimento, os ossos


tendem a enfraquecer em seus tecidos, a atividade osteoblástica tende a diminuir
naturalmente com os anos, favorecendo a atrofia óssea. Isso pode ser acentuado
por hábitos sedentários comuns em idosos que reduzem sua mobilidade por conta
do próprio envelhecimento.

Com a fragilidade óssea por conta da osteoporose, a massa mineral e a resistência


do osso ficam comprometidas de forma tão severa que a simples realização das
atividades cotidianas já podem ser suficientes para ocasionar em pequenas fraturas
ósseas e consequente dor, algo comum de ser observado com o esmagamento das
vertebras trazendo muita dor nas costas (coluna). A instabilidade e fragilidade óssea
resultam em quedas por conta de fraturas em ossos longos (como no fêmur e na
fíbula), ou a queda em si seja por qualquer motivo pode resultar fraturas (como
no rádio, na ulna, ou nos ossos do punho ao tentar se apoiar em uma queda). A
pergunta comum que surge muitas vezes acerca de idosos com osteoporose é: caiu
por que fraturou o osso, ou fraturou por conta da queda?

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UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular

A maioria dos indivíduos afetados pela osteoporose corresponde a mulheres


após o período de menopausa. Cerca de 40% das mulheres após os 50 anos de
idade apresentam osteoporose, nesse caso, algo que está relacionado não só aos
fatores já citados como a perda natural de massa óssea e o desuso pelo envelhe-
cimento, mas principalmente por um desequilíbrio hormonal relacionado à baixa
concentração de estrogênio, algo que facilita essa perda mineral óssea. Seja rela-
cionado à idade e/ou ao desequilíbrio hormonal, osteoporose é tida como uma das
principais causas de morte na população idosa, sendo que 90% das fraturas nessa
idade são decorrentes dessa doença. O alto índice de óbitos também está relacio-
nado à intensificação da perda óssea que ocorre nos idosos acamados que se re-
cuperam de fraturas que, nessa condição de desuso por conta da inatividade física,
acentuam o processo de atrofia óssea, piorando ainda mais seu estado de saúde.

Tendo em vista que a osteoporose pode ser entendida como o resultado de


uma vida inteira de hábitos destrutivos para o sistema esquelético, como no
caso das fraturas que levam à perda irreversível da estrutura esponjosa, pode-se
afirmar que é muito mais fácil prevenir do que curar essa doença. Medicamentos
auxiliam a evitar o descontrole hormonal e, consequentemente, a perda de massa
óssea associada a esse fator. Entretanto, um hábito de vida ativa, com práticas
que exerçam quantidades mínimas de forças de impacto são providenciais para se
evitar um quadro crítico e irreversível de osteoporose. O que seriam essas forças de
impacto atuando em nosso sistema esquelético? Qualquer prática que exerça uma
quantidade de impacto suficiente para a manutenção da saúde óssea? Para tais
discussões, cabe-nos abordar alguns aspectos relevantes relacionados às forças ou
cargas mecânicas que atuam no corpo humano.

Cargas Mecânicas que Agem Sobre o Corpo Humano


O corpo humano está em constante interação com forças internas e externas.
As forças musculares que agem sobre os ossos e, consequentemente, sobre as
articulações (bem como nos outros diversos tecidos corporais) são os melhores
exemplos de forças internas. A força externa mais comum que age 24 por dia sobre
nosso corpo é a força da gravidade, a qual será melhor explorada em capítulos
posteriores. Cargas mecânicas diversas podem atuar sobre o nosso corpo e, ao
mesmo tempo, a resultante dessas forças podem ou não ocasionar lesões não só
nos tecidos ósseos, mas também nos diversos tecidos corporais (muscular, articular,
epitelial etc.).

Pense nas diversas situações do esporte, do exercício, ou de uma simples


atividade física como caminhar. Enquanto uma pessoa caminha pela rua, forças
internas de contração muscular são geradas para produzir os movimentos nas
articulações (exemplos, tornozelo, joelho e quadril), ao mesmo tempo em que a força
da gravidade atua na vertical e para baixo contra o corpo, que recebe uma força
contrária de reação do solo sobre a sola de seu tênis. Dois jogadores que dividem
uma disputa de bola no futebol podem efetuar cargas contrárias no conhecido
“jogo de corpo”, ao mesmo tempo em que outras cargas como as já descritas na

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caminhada também agem sobre eles. Desnecessário apresentar mais exemplos,
afinal, existem forças ou cargas mecânicas atuando constantemente sobre o corpo
em diferentes atividades. O estudo das forças que agem no movimento humano, ou
seja, a cinética do movimento, será melhor explorado em outra unidade. Por já é
importante conhecermos alguns dos tipos de cargas mecânicas comuns que agem
sobre o corpo humano.

Compressão é a carga mecânica que comprime ou “esmaga” os tecidos a partir


de suas extremidades, como se buscasse, por exemplo, diminuir o comprimento
de um osso. Contrária à carga compressiva se tem a carga de tensão ou tração.
Tração é a carga mecânica que alonga ou “estica” os tecidos a partir de suas extre-
midades, como se buscasse, por exemplo, aumentar o comprimento de um osso.
Curvamento é carga mecânica que atua como se buscasse aproximar as extremi-
dades de um osso em uma das suas laterais, como o próprio nome sugere, refere-se
à carga que busca curvar, por exemplo, um osso. Na verdade, no curvamento ocor-
re simultaneamente compressão e tração, sendo o lado que é curvado comprimido
e o lado oposto, tracionado. Cisalhamento é uma carga mecânica que atua nas
extremidades transversalmente, em sentido oposto. Diferente das cargas compres-
sivas e tensivas que agem longitudinalmente, cisalhamento é uma carga paralela e
transversal, que age como se buscasse, por exemplo, inclinar ou deslizar um osso,
pois existem forças opostas atuando lateralmente em suas extremidades. Uma últi-
ma carga aqui a ser descrita é a torção. Torção é uma carga mecânica que, como o
próprio nome sugere, busca torcer ou girar um corpo pelas extremidades ao longo
de seu eixo longitudinal, como ao girar um osso em suas extremidades em sentidos
opostos. Tais cargas são representadas na figura a seguir:

Sem carga Tração Compressão Curvamento Cisalhamento Torção

Figura 1 – Cargas mecânicas que agem sobre o corpo humano.

Basta você estar de pé para cargas compressivas atuarem sobre seu corpo,
afinal, a força da gravidade age de forma constante ao mesmo tempo em que há
uma força contrária de reação agindo em seus pés. Quando você anda, corre,
ou salta obviamente essas cargas compressivas aumentam à medida que você
empurra ainda mais o chão com os pés, onde seus ossos, por exemplo, são
comprimidos como se buscasse diminuí-los de tamanho. Uma pessoa que carrega
uma mala pesada ou uma simples sacola de mercado exemplifica uma carga de
tração alongando seu membro superior que carrega o peso pelas extremidades.

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UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular

Um jogador de futebol que tem seu pé “preso” ao solo pelos cravos de sua chuteira
ao receber um “carrinho” de outro jogador exemplifica uma carga mecânica
de cisalhamento. Golpes comuns no jiu-jitsu, judô ou outras artes marciais que
envolvem “chaves de braço” também exemplificam cargas de cisalhamento, bem
como torção e curvamento. Uma rebatida em uma bola com a raquete de tênis
também exemplifica a torção do membro que rebate. As imagens a seguir ilustram
esses exemplos:
Compressão Torção

Cisalhamento Curvamento Tração

Figura 2 – Exemplos de práticas corporais com as diferentes cargas mecânicas atuando sobre o
corpo – na maioria dos exemplos existe mais de uma carga mecânica agindo sobre o corpo.
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

Importante! Importante!

Pode-se dizer que o ser humano é mais resistente, tolera mais cargas de compressão,
uma vez que as mesmas são as que mais atuam nos tecidos corporais. Toda vez que
uma carga mecânica é maior que o limiar de tolerância de uma pessoa, ocorre uma
lesão. Entenda esse limiar como o máximo que seu tecido corporal, seja ósseo, ar-
ticular ou muscular resiste a uma força que atua sobre ele sem que ocorra alguma
deformação do mesmo.

Obviamente, esse limiar de tolerância varia de pessoa para pessoa, sendo as


propriedades particulares dos tecidos como, por exemplo, o estado de saúde de um
osso, que definirá esse limiar, ou o quanto o mesmo resiste a uma carga excessiva
que atua sobre ele. Cargas excessivas nos tecidos ósseos podem resultar em lesões
e/ou fraturas, assunto a ser abordado no tópico a seguir.

Lesões Ósseas Comuns


A lesão óssea mais comum é a fratura, muitas vezes, inclusive, sendo abordados
como sinônimos. Fratura é uma interrupção na continuidade de um osso. Essa
perda de continuidade do osso pode ser resultado de diferentes forças e/ou

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cargas mecânicas atuando conjuntamente, algo que pode desencadear em uma
interrupção completa ou incompleta (parcial) do tecido ósseo. A natureza de uma
lesão depende da direção, magnitude (quantidade), intensidade e duração da carga
da mecânica, além, é claro, do estágio de saúde e/ou maturidade do osso. Fraturas
podem ser classificadas como simples, quando as extremidades ósseas se mantêm
dentro dos tecidos moles circundantes; e como expostas, quando as extremidades
ósseas fazem protrusão através dos tecidos moles circundantes, ou seja, perfuram
a pele e tornam-se visíveis a olho nu.

Uma fratura pode ser decorrente de um trauma (força de alta magnitude e curto
período de tempo) ou por estresse e/ou fadiga (pequenas cargas contínuas ou
repetitivas). Os músculos exercem forças a partir de sua ativação muscular que
resultam em cargas em diferentes direções e sentidos, magnitudes, velocidades e
intensidades sobre os ossos. Por conta disso, diferentes tipos de fraturas podem
ocorrer. Fratura transversa é aquela que é completa e sua fenda é perpendicular
ao eixo do osso. Uma fratura oblíqua também é completa, contudo, sua fenda
não é perpendicular ao eixo do osso. Cargas excessivas de tração e cisalhamento
costumam causar fraturas transversas e oblíquas. Outro exemplo de fratura
completa é a fratura espiralada, causada principalmente pela rotação excessiva
de um osso, provocando uma fenda irregular. Uma fratura cominutiva também é
completa, ocorrendo fragmentação do osso, principalmente por cargas excessivas
de compressão.

São exemplos de fraturas incompletas, a fratura em galho verde e a fratura


fissurada. A fratura em galho verde é comum em crianças (por características
próprias de um osso em crescimento, por exemplo, com mais colágeno e
consequentemente mais flexível), e seu nome faz referência justamente a um galho
verde quando é quebrado, ficando ainda preso e sem perder toda a sua continuidade.
Cargas de torção e curvamento costumam causar esse tipo de fratura. A fratura
fissurada é uma fenda (fissura) longitudinal incompleta que ocorre principalmente
por cargas de compressão onde, através de uma radiografia do osso, pode-se
observar uma linha mais clara que nada mais é do que uma fissura no osso. As
figuras a seguir ilustram os tipos de fraturas abordados até então:

Transversa Oblíqua Espiralada Cominutiva Fissurada Em galho verde

Figura 3 – Tipos de fraturas.

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UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular

Cinesiologia do Sistema Articular


Simplificadamente, articulação é uma conexão entre dois ossos. Também pode-
se dizer que uma articulação é onde dois ossos se encontram e/ou se unem. Uma
pergunta parecida à aquela feita anteriormente sobre o sistema ósseo pode ser aqui
realizada: qual as principais funções das articulações? Ou, simplificando, para que
servem as articulações? Apesar de parecer óbvia, a resposta merece ser destacada.

A principal função de uma articulação é tornar o movimento possível.

A capacidade de os segmentos corporais realizarem movimentos orientados


é controlada principalmente pelas articulações. Além dessa função central, as
articulações também contribuem para a absorção de cargas e/ou impactos que
são gerados sobre o corpo, funcionando em alguns casos como uma espécie de
“mola”, ajudando inclusive a sustentar o próprio peso corporal. Também pode ser
destacada a importância das articulações, possibilitando o encaixe perfeito entre
os ossos que nem sempre possuem extremidades regulares e/ou compatíveis,
promovendo estabilidade entre os mesmos.
As articulações podem ser classificadas a partir de sua estrutura ou composição
física, como também a partir de sua função articular. Como o foco de nossos estudos
é o movimento humano, abordaremos uma classificação pautada na capacidade
das articulações em realizar movimentos. Obviamente, será dada maior ênfase às
principais articulações que contribuem para o movimento humano.
Articulações do tipo sinartrodial ou também denominadas imóveis (estruturalmente
denominadas articulações fibrosas) são aquelas que não permitem nenhum ou,
em alguns casos, pouco movimento dos ossos que por elas são articulados, suas
funções estão mais ligadas à atenuação (absorção) de choques ou impactos que
são produzidos nos tecidos circundantes. Essas articulações podem ser subdividas
em sinartrose, gonfose e sindesmose. As suturas do crânio e dos ossos nasais são
exemplos dessas articulações do tipo sinartrose, permitindo um encaixe entre os
ossos por um tecido conjuntivo fibroso e que não realizam nenhum movimento.
Entre a raiz do dente e o alvéolo dental se tem o exemplo de uma articulação
gonfose, mais uma vez, importante para garantir o encaixe, facilitando na absorção
de choques gerados nessas estruturas. Uma articulação sindesmose até permite
mínimos movimentos entre as estruturas, por exemplo, a membrana interóssea
une o rádio e a ulna por faixas de tecido conjuntivo fibroso (na região medial),
permitindo o movimento mínimo de encaixe por decorrência do movimento nas
articulações vizinhas. Algo parecido pode ser observado entre a tíbia e a fíbula
(região medial e distal).
Articulações do tipo anfiartrodial ou também denominadas semimóveis ou
levemente móveis (estruturalmente denominadas articulações cartilaginosas)
são aquelas que até permitem um pouco mais de movimento se comparadas
às sinartrodiais, entretanto, o movimento ainda é reduzido, sendo também suas
funções atenuar choques ou impactos que são produzidos nos tecidos corporais. A

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sínfise púbica e os discos intervertebrais são exemplos dessas articulações formadas
por lâminas finas de cartilagem hialina que separam um disco fibrocartilaginoso
dos ossos adjacentes. Esses discos intervertebrais têm um importante papel de
ajuste, proteção e absorção de impactos na coluna, bem como permitem pequenos
movimentos entre a maioria das vertebras.

Importante! Importante!

Articulações do tipo diartrodial ou também denominadas móveis (estruturalmente


denominadas articulações sinoviais) são aquelas que permitem movimento livre
entre os ossos que são articulados. Nessas articulações as extremidades ósseas são
cobertas por cartilagem articular e envolvidas por uma cápsula articular que contém
um líquido sinovial.

A cartilagem articular (ou hialina) que cobre a superfície óssea que é articulada é
formada por um tecido conjuntivo fibroso denso que ao mesmo tempo que é firme,
suportando muita pressão e tensão, possui também certa flexibilidade, difundindo e
reduzindo as cargas (impactos) na articulação. Essa cartilagem possui uma espessura
que geralmente varia de 1 a 7 mm, com um tecido até certo ponto poroso e com
elevada quantidade de água, muito importante na redução do atrito e desgaste entre
os ossos articulados. Por não possuir suprimento sanguíneo nem ligação nervosa, a
cartilagem é nutrida pelo líquido sinovial. Com o processo natural de envelhecimen-
to, ocorre uma perda natural de água, bem como certo desgaste dos tecidos, algo
irreversível uma vez que, por não ser vascularizada, a cartilagem não se regenera.

Figura 4 – Componentes comuns das articulações diartrodiais (sinoviais)


Fonte: Acervo do conteudista

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UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular

Em algumas articulações móveis, a fibrocartilagem também está presente, por


exemplo, nos meniscos que fazem parte da articulação do joelho. Tais meniscos são
discos parciais de fibrocartilagem, muito parecidos com os discos intervertebrais.
Tanto os discos intervertebrais quantos os meniscos são muito importantes em suas
respectivas articulações, assumindo diferentes funções, das quais podemos destacar:
distribuição das cargas sobre as superfícies articulares; melhora do encaixe entre as
superfícies que se articulam; limitação do movimento linear (deslizamento) de um
osso em relação ao outro; proteção da região periférica da articulação; lubrificação e
absorção de choques (funcionam como “molas” ou “almofadas” no amortecimento
de impactos); dentre outras funções que também poderiam ser destacadas.
A cápsula articular possui uma membrana altamente vascularizada com dupla
camada. A camada externa é formada por uma membrana fibrosa rica em coláge-
no que envolve, fixa e protege a articulação, promovendo seu isolamento dentro
do corpo. Já a camada interna da cápsula articular é formada por uma membrana
sinovial altamente vascularizada que secreta o líquido sinovial. Esse líquido é viscoso
e claro (lembra a clara de ovo), além de muito importante, pois nutre e lubrifica
(como graxa entre engrenagens) a cartilagem articular, diminuindo o atrito e faci-
litando o movimento livre da articulação. Muitas articulações possuem ligamentos
que são faixas de tecido conjuntivo fibroso flexíveis, mas não elásticas, que conec-
tam (ou auxiliam na conexão) um osso ao outro através das articulações. As princi-
pais funções dos ligamentos são: permitir a mobilidade articular (flexíveis); manter
os ossos próximos e proteger as articulações (não elástico); restringir o movimento
articular excessivo, atuando como uma espécie de “sensor” para as articulações.
Existem, pelo menos, 6 tipos de articulações sinoviais que se diferenciam em sua
estrutura articular e pelos movimentos que são permitidos por elas. Os movimentos
possíveis e cada tipo de articulação são representados por graus de liberdade.

Graus de Liberdade (GL) se referem ao número de planos e eixos que são possíveis
de ocorrer movimento.

Por exemplo, a articulação do cotovelo (formada pelas articulações úmeroulnar


e úmeroradial) possui apenas um grau de liberdade (1 GL), podendo ser chamada
de uniaxial, pois nessa articulação só ocorrem movimentos no plano sagital
(flexão e extensão). Já a articulação do ombro (articulação glenoumeral) permite
movimentos nos três planos: sagital (flexão, extensão e hiperextensão), frontal
(abdução e adução) e transverso (rotação medial e lateral), possuindo três graus de
liberdade (3 GL), podendo ser chamada de triaxial. A seguir serão descritos os 6
tipos de articulação, bem como suas possibilidades de movimentos:
I. Plana (deslizante): neste tipo de articulação somente não ocorrem movimentos
angulares (não axiais), apenas movimentos lineares de deslizamento de um
osso sobre outro, geralmente de forma secundária ao movimento de alguma
outra articulação. Por exemplo, nas articulações intercarpais e intertarsais,
ou nas intermetacarpais ou intermetatarsais, ocorrem movimentos de deslize
entre os ossos do carpo e do tarso por conta de movimentos em articulações
próximas (como do punho e do tornozelo);

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II. Gínglimo (dobradiça): possuindo apenas 1 GL (uniaxial), esse tipo de
articulação lembra uma dobradiça, ocorrendo movimentos somente no
plano sagital (eixo médio-lateral), como flexão e extensão. Por exemplo, as
articulações interfalângicas (tanto do pé, quanto da mão), as articulações do
cotovelo (úmeroulnar e úmeroradial) e do joelho (tibiofemural);
III. Trocóidea (em pivô): possuindo apenas 1 GL (uniaxial), esse tipo de
articulação tem seu formato em pivô (como um parafuso que gira), ocorrendo
movimentos somente no plano transverso (eixo longitudinal), como rotação
(direita/esquerda), pronação e supinação. Por exemplo, na articulação
radioulnar proximal (região do cotovelo) ocorre pronação e supinação, na
articulação atlantoaxial (entre a primeira e a segunda vértebras cervicais)
ocorre rotação para a direita e para a esquerda;
IV. Elipsóidea: possuindo 2 GL (biaxial), este tipo de articulação geralmente
combina uma superfície côncava e outra convexa, ocorrendo movimentos
no plano sagital (eixo médio-lateral), como flexão e extensão, e no plano
frontal (eixo anteroposterior), como abdução e adução. Por exemplo, as
articulações do punho (radiocárpica) e metacarpofalângicas;
V. Selar: possuindo 2 GL (biaxial), este tipo de articulação lembra a sela do
cavalo com um cavaleiro sentado em cima, ocorrendo movimentos no plano
sagital (eixo médio-lateral), como flexão e extensão, e no plano frontal (eixo
anteroposterior), como abdução e adução. Um exemplo é a articulação
carpometacárpica do polegar;
VI. Esferóidea: possuindo 3 GL (triaxial), este tipo de articulação também combi-
na uma superfície côncava e outra convexa a partir de um encaixe quase que
perfeito de bola e soquete. Ocorre movimentos nos três planos: sagital (eixo
médio-lateral) como flexão e extensão; frontal (eixo anteroposterior) como abdu-
ção e adução; e transverso (eixo longitudinal) como rotação lateral e medial. O
ombro (articulação glenoumeral) e o quadril são exemplos dessas articulações.

Estabilidade e Flexibilidade Articular


Os diferentes tipos de articulações do corpo humano podem apresentar maior
estabilidade ou flexibilidade articular.

Importante! Importante!

A estabilidade de uma articulação está relacionada à capacidade que a mesma tem de


resistir ao deslocamento de uma extremidade óssea em relação à outra, sem que ocorra
lesão aos ligamentos, músculos e tendões circundantes.

Podemos dizer que uma articulação com maior estabilidade ou mais estável
permite pouco movimento, diferentemente de uma articulação com menos
estabilidade ou menos estável, permitindo grande quantidade de movimento.
Múltiplos fatores podem afetar a estabilidade articular, dentre eles podemos destacar
dois principais: o formato das superfícies ósseas articuladas e a organização dos
ligamentos e músculos que atuam em uma articulação.

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19
UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular

Os ossos que são articulados nem sempre apresentam extremidades compatíveis


que se encaixam perfeitamente. Na verdade, como já citado, também é papel da
articulação criar uma condição de encaixe para as extremidades ósseas, junções
que garantam que durante o movimento os ossos permaneçam conectados. É
bem verdade que a maioria das extremidades dos ossos que se articulam possui
superfícies com formatos côncavos e convexos, algo que facilita o encaixe.
Entretanto, essas superfícies não simétricas, ou seja, existe certas irregularidades
nessas extremidades ósseas que fazem com que sempre exista uma posição melhor
de encaixe na qual a área de contato entre as superfícies seja máxima. Essa
posição de melhor encaixe recebe o nome de posição de travamento (ou posição
de coaptação fechada), onde por consequência de um melhor encaixe se tem a
posição que garante maior estabilidade articular, por exemplo, quando o joelho
está totalmente estendido. Qualquer movimento saindo da posição de travamento
diminui a superfície de contato entre as extremidades ósseas, algo denominado
posição destravada (ou posição de coaptação aberta) que, consequentemente,
resulta em menos estabilidade articular, por exemplo, qualquer movimento do
joelho saindo de sua total extensão.

A organização dos ligamentos e músculos que atuam em uma articulação


também afetam sua estabilidade. De forma simplificada, ligamentos e músculos
mais tensionados ajudam a manter unidas as extremidades ósseas, ao contrário
de situações em que os tecidos muscular e ligamentar estejam fracos por desuso
ou frouxos por terem sofrido algum tipo de estiramento, algo que contribui para
uma menor estabilidade articular. Por exemplo, através de exercícios o quadríceps
e os isquiotibiais podem ser fortalecidos para aumentar a estabilidade do joelho,
algo muito importante na prevenção de lesões nas estruturas dessa articulação
que, por conta do encaixe não tão perfeito entre as extremidades do fêmur e
da tíbia, é considerada uma articulação instável e, consequentemente, mais
propícia à ocorrência de lesões. Músculos fatigados após o exercício encontram-
se momentaneamente mais fracos, algo que também contribui para uma menor
estabilidade articular.

Importante! Importante!

Flexibilidade (ou mobilidade) articular é o termo utilizado para descrever a quantidade


de movimento articular possível e permitida em cada um dos planos de movimento da
articulação. A quantidade total de movimento articular é denominada Amplitude de
Movimento (ADM), geralmente medida em graus. Assim, flexibilidade pode também ser
entendida como o termo utilizado para descrever a ADM possível em uma articulação.

Na posição anatômica as articulações são consideradas como em zero grau de


ADM. Por exemplo, o cotovelo saindo da posição anatômica pode ser flexionado
a 45 graus, 90 graus, 120 graus etc. A ADM permitida em cada articulação é
específica, ou seja, algumas articulações apresentam maiores ou menores graus
de flexão, extensão, abdução, adução etc., sendo que isso é determinado pelas
propriedades específicas da estrutura articular e dos tecidos circundantes. Ter

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flexibilidade extrema em determinada articulação não garante o mesmo grau de
flexibilidade nas demais articulações do corpo.
Podemos então dizer que os principais fatores que influenciam a estabilidade
articular são as restrições dos tecidos ósseo, articular e muscular. Como restrição
óssea basta pensar no formato das extremidades ósseas que são articuladas,
algo já previamente discutido, onde um melhor encaixe entre as superfícies
dessas extremidades resulta em maior estabilidade e, consequentemente, menor
flexibilidade. Por exemplo, quando o cotovelo está na extensão máxima (nessa
articulação denominado por alguns como hiperextensão), o contato do olecrano da
ulna com a fossa do olecrano do úmero restringe qualquer movimento adicional na
mesma direção. As articulações do quadril e do ombro são ótimos exemplos de como
a estabilidade e a flexibilidade são afetadas pelo formato das extremidades ósseas.
Enquanto para o quadril pode-se dizer que existe um encaixe quase que perfeito
entre a cabeça do fêmur e o acetábulo e, por consequência, maior estabilidade
e menor flexibilidade articular (pelo menos quando comparado ao ombro); no
ombro, o encaixe entre o úmero e a cavidade glenoidal não é tão perfeito assim e,
consequentemente, tem-se menor estabilidade e maior flexibilidade articular.

Consulte o atlas de anatomia para sanar eventuais dúvidas.


Explor

Disponível em: https://goo.gl/2lo1Z9

A flexibilidade articular está diretamente relacionada à frouxidão e/ou


extensibilidade dos tecidos que cruzam a articulação, seja os ligamentos, tendões ou
músculos. Ligamentos e músculos tensos e/ou com extensibilidade limitada são os
principais fatores que restringem a ADM de uma articulação. Músculos grandes e
volumosos também podem impedir maior ADM articular, como no caso do bíceps
braquial, que limita a quantidade de flexão do cotovelo.

Importante! Importante!

Quando se fala de flexibilidade articular, duas situações podem ser destacadas: a


flexibilidade estática e a flexibilidade dinâmica. Flexibilidade estática (ou passiva)
está relacionada à ADM presente quando um segmento corporal é movimentado
passivamente, por exemplo, quando uma pessoa utiliza algum apoio para realizar
alongamentos, seja uma barra de apoio, a parede, o chão, ou até mesmo uma pessoa
que auxilia aumentando a ADM de uma articulação. Já a flexibilidade dinâmica (ou
ativa) está relacionada à ADM obtida por meio da movimentação ativa do segmento
corporal por meio de contração muscular.

Você já deve ter notado que ao tentar levantar um dos membros inferiores (flexio-
nar o quadril com joelho estendido) sem nenhum tipo de apoio, somente por meio
de contração muscular, você alcança uma ADM relativamente inferior ao realizar
essa mesma tarefa apoiando os pés em uma barra ou qualquer outro apoio. Outro
exemplo é na tentativa de alongar o quadríceps (dentre outros músculos) flexionando

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21
UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular

o joelho buscando a maior ADM, você inicia o movimento por meio de contração
muscular, mas para aumentar a ADM e se manter por alguns segundos na posição
você, com uma das mãos, segura o pé do membro que é alongado, aumentando o
grau de flexão dessa articulação. Desnecessário apresentar mais exemplos, nitida-
mente por conta da maior flexibilidade estática (passiva) do que dinâmica (ativa).

Lesões Articulares Comuns


Conforme citado, toda vez que uma carga mecânica é maior que o limiar de
tolerância de uma pessoa, ocorre lesão. Nos tecidos articulares as lesões podem
ser decorrentes não somente de sobrecarga, mas também pelo uso excessivo,
infecções e/ou doenças degenerativas. As lesões nas articulações podem causar
consequências como o estiramento ou ruptura de ligamentos, rupturas ou lesões
das cartilagens articulares.
Entorses são lesões causadas pelo deslocamento ou torção anormal dos ossos
próximos à articulação, resultando no estiramento ou ruptura dos ligamentos,
tendões e tecidos conectivos que cruzam a articulação. Entorses podem ser
classificadas como de primeiro, segundo ou terceiro grau, conforme a gravidade
da lesão. De primeiro grau são mais leves e os sintomas são desconforto com
pequeno edema e perda mínima de ADM da articulação. Entorses de segundo
grau apresentam mais danos nos tecidos e os sintomas são dor moderada e certa
perda de ADM da articulação. De terceiro grau apresentam ruptura parcial ou
completa dos ligamentos, com edema, dor e instabilidade articular. O tratamento
mais comum e na fase aguda para entorses envolve repouso, compressas de gelo
e elevação do membro afetado.

Figura 5 – Representação de uma entorse


Fonte: anatomy-body.us

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Luxação é o deslocamento completo ou parcial (subluxação) dos ossos em
uma articulação, é repentino e duradouro, sucedendo quando uma força atua
diretamente ou indiretamente em uma articulação, empurrando o osso para uma
posição anormal. Os sintomas são deformidade articular visível, dor intensa, edema,
dormência ou formigamento e alguma perda de mobilidade articular. É importante
reposicionar adequadamente, por um médico treinado, uma articulação que sofreu
(sub)luxação o quanto antes para aliviar a dor e para evitar comprometimento da
irrigação sanguínea da articulação.

Bursite é a inflamação de uma ou mais bolsas sinoviais e é causada pelo uso


excessivo, repetitivo e/ou pequenos impactos de uma articulação, levando a uma
irritação tecidual por atrito e inflamação da bolsa circundante. Os sintomas são dor
e, possivelmente, edema. O tratamento envolve repouso, compressas de gelo e
medicamentos anti-inflamatórios.

Figura 6 – Representação de uma luxação (a) e bursite (b)


Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

Artrite é a inflamação das articulações associada a dor e edema, é muito comum


com o envelhecimento. Está relacionada a um conjunto de sintomas e sinais que
resultam em lesões articulares. Até o momento, mais de 100 tipos de artrite já foram
identificados, entre os quais apenas os tipos mais comuns serão aqui destacados.
Artrites traumáticas são decorrentes de traumatismos pequenos e repetidos que
provocam lesões das cartilagens articulares. Artrites infecciosas são decorrentes de
infecções por bactérias ou parasitas que provocam lesões das articulações. Artrite
reumatoide é uma artrite crônica infecciosa ou por pequenos traumatismos repetidos.
Em indivíduos jovens é mais frequente o reumatismo infeccioso ou febre reumática.
Em idosos são mais comuns as artrites por traumatismos e atingem principalmente
as vértebras. Os traumatismos também podem provocar a hérnia de disco, que é o
resultado do esmagamento do disco de cartilagem fibrosa que existe entre os corpos
vertebrais. É o tipo de artrite mais incapacitante e doloroso e é caracterizado por
inflamação e espessamento das membranas sinoviais, deterioração da cartilagem
articular. Consequentemente, há limitação do movimento e eventual ossificação ou
fusão dos ossos que se articulam.

Osteoartrite é uma doença articular degenerativa e é a forma mais comum de


artrite. É provável que essa doença seja resultante de degeneração progressiva
das propriedades biomecânicas da cartilagem articular, sendo que inicialmente a

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UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular

cartilagem articular se torna áspera e irregular. Posteriormente, a cartilagem pode


se desgastar completamente, deixando as superfícies ósseas expostas. Os sintomas
incluem dor, edema, restrição da amplitude de movimento e rigidez. A dor pode ser
aliviada com repouso e a rigidez pode ser melhorada com a prática de atividades
físicas. E importante destacar que artrose não é uma lesão, mas sim um desgaste
natural da cartilagem que reveste as articulações.
Articulação Artrite Osteoartrite
Normal reumatóide Cartilagem
Desgastada

Membrana sinovial Ossos em


inflamada e edemaciada atrito

Figura 7 – Tipos mais comuns de artrite


Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

Cinesiologia do Sistema Muscular


Os músculos são os componentes ativos do sistema musculoesquelético que
permitem movimentar as alavancas de nosso esqueleto. Existem diferentes tecidos
musculares no corpo humano. O músculo liso reveste as paredes dos órgãos
internos. O músculo cardíaco, obviamente, reveste as paredes do coração. O
tecido muscular que mais se aplica em nossos estudos é o do musculoesquelético,
justamente responsável pelo movimento humano. O sistema muscular possui
aproximadamente 650 músculos no total, sendo que desses, cerca de 434 músculos
fazem parte do sistema voluntário, ou seja, são possíveis de serem controlados pelo
sistema nervoso de forma voluntária. Esses músculos geralmente correspondem
entre 40 e 45% do peso corporal e são distribuídos em pares nos lados direito
e esquerdo do corpo. Cerca de 75 pares são responsáveis pelos movimentos e
manutenção da postura do corpo humano, os demais músculos, em geral, são
responsáveis pelo controle ocular, controle da voz e pela deglutição.

Mais uma vez, uma pergunta parecida às outras feitas anteriormente (para os
sistemas ósseo e articular) pode ser aqui realizada: quais as principais funções dos
músculos esqueléticos? Ou, simplificadamente, para que servem esses músculos?

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A principais funções do musculoesquelético são produzir movimento, bem como
manter as posturas e/ou posições estabilizando as articulações.

Além disso, os músculos são importantes para manter a temperatura corporal


pela produção de calor, alterar e controlar pressões dentro das cavidades (como
“bombear” o sangue pelas artérias), bem como sustentar e proteger os órgãos
viscerais e os demais tecidos internos (dentre outras funções que também podem
ser consideradas importantes).

O musculoesquelético possui quatro propriedades funcionais que são importantes


de serem abordadas: i) Irritabilidade é capacidade de um músculo de responder
a estímulos, sejam internos por estimulação nervosa (efeito eletroquímico) ou
externos por estimulação mecânica (efeito de um golpe a uma porção muscular);
ii) Contratilidade é a capacidade de um músculo desenvolver tensão e contrair,
diminuindo em comprimento. Ao contrário disso, iii) extensibilidade é justamente
a capacidade de um músculo estender/aumentar seu comprimento (fazer um
músculo “alongar”). Já iv) elasticidade é a capacidade de um músculo voltar ao
comprimento normal após ter sido alongado.

Músculos que possuem suas fibras orientadas paralelamente e, por conta disso,
têm as mesmas mais longas, tendem a apresentar maior potencial de extensibili-
dade, maior velocidade de contratilidade e menos potencial de força. Já músculos
que possuem suas fibras orientadas de forma oblíqua e, por conta disso, têm as
mesmas mais curtas e mais numerosas por área, tendem a apresentar menor po-
tencial de extensibilidade, menor velocidade de contratilidade, entretanto, maior
potencial de força.

Como você já sabe, os músculos são inseridos aos ossos por tendões. As
inserções musculares são os locais onde a força é aplicada ao osso. Os músculos
se prendem aos ossos pelas duas extremidades e, anatomicamente, a inserção
proximal ou origem é a conexão do músculo ao osso mais próxima da linha média
do corpo e a inserção distal, ou podendo ser simplesmente denominada inserção,
que é a conexão do músculo ao osso mais distante da linha média do corpo. A
relação de proximidade entre as inserções (proximal e distal) pode ser utilizada
para compreensão de qual tipo de ação (ou contração muscular) o músculo está
desempenhado em determinado movimento. Por exemplo, quando o músculo
contrai, mas a distância entre as inserções é mantida, a ação desse músculo é
isométrica. Quando o músculo contrai, mas a distância entre as inserções é diminuída,
ou seja, origem e inserção se aproximam, a ação desse músculo é concêntrica. Já
quando o músculo contrai, mas a distância entre as inserções é aumentada, ou
seja, origem e inserção se afastam, a ação desse músculo é excêntrica. Dada a
importância dos tipos de ações que um músculo pode exercer e, consequentemente,
influenciar o movimento humano, a descrição sobre as mesmas precisa ser um
pouco mais detalhada.

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UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular

Ação ou contração muscular isométrica (“mesmo comprimento”) ocorre quando


o músculo gera força sem alterar seu comprimento, ou seja, a distância entre
a origem e a inserção muscular é mantida, não ocorrendo, assim, nenhum
movimento articular.

Por exemplo, se você mantém parado seu cotovelo flexionado a 90 graus (ou
qualquer outro ângulo de flexão), enquanto segura com a mão um halter (peso),
apesar de não estar ocorrendo movimento entre seu braço e o antebraço, seus
músculos bíceps braquial, braquial e braquiorradial estão ativados isometricamente.

Importante! Importante!

Ação ou contração muscular isotônica (“mesmo tônus”) ocorre quando o músculo


gera força, diminuindo ou aumentando seu comprimento, ou seja, origem e inserção
muscular se aproximam ou se afastam, ocorrendo, assim, movimento articular. Quando
o músculo diminui seu comprimento, a ação é concêntrica. Quando o músculo aumenta
seu comprimento, a ação é excêntrica.

Por exemplo, ação concêntrica ocorre quando os músculos flexores estão ativos
e ocorre flexão; extensores estão ativos e ocorre extensão; abdutores estão ativos
e ocorre abdução; adutores estão ativos e ocorre adução; rotadores mediais estão
ativos e ocorre rotação medial; rotadores laterais estão ativos e ocorre rotação late-
ral. Já a ação excêntrica ocorre quando os músculos flexores estão ativos e ocorre
extensão; extensores estão ativos e ocorre flexão; abdutores estão ativos e ocorre
adução; adutores estão ativos e ocorre abdução; rotadores mediais estão ativos e
ocorre rotação lateral; rotadores laterais estão ativos e ocorre rotação medial.

Importante! Importante!

Um terceiro tipo de ação muscular possível é a ação isocinética (contração). Esse tipo de
ação muscular ocorre se a resistência aplicada sobre o músculo é variável de maneira a
tornar o movimento da articulação com uma velocidade constante. Esse tipo de resistência
só é possível de ser criada por equipamentos especiais, projetados para tal fim.

Em uma ação muscular isocinética a velocidade de movimento é então


predeterminada, sem variação durante a execução do movimento. Para compreender
o funcionamento de um equipamento isocinético, imagine um aparelho de
musculação comumente encontrado em uma academia, por exemplo, uma cadeira
extensora, onde você, sentado, deve exercer força com os músculos extensores
do joelho contra uma carga predefinida. Diferentemente de um equipamento
comum de musculação, o equipamento isocinético possui um sistema de variação
de resistência. Se o executante aplica mais força muscular, o equipamento oferece
mais resistência; se o executante aplica menos força, o equipamento oferece menos
resistência. Consequentemente, nesse equipamento a velocidade de movimento é

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controlada, sempre se mantendo constante. Tais equipamentos são mais utilizados
na avaliação, treinamento, reabilitação e prevenção de lesões de atletas. Pode-
se utilizar a avaliação isocinética para estimar riscos de lesão por desequilíbrios
ou fraquezas musculares quando comparamos a outros indivíduos, potência e
velocidade de contração, assim como resistência à fadiga.

Se em uma mesma articulação, o tipo de ação muscular pode desencadear


diferentes respostas de movimento, pode-se dizer então que um mesmo músculo,
quando ativado, pode hora desempenhar um papel nessa articulação, hora
desempenhar outro, ou seja, um mesmo músculo pode exercer diferentes funções
no movimento humano. Os papéis dos músculos esqueléticos podem ser resumidos
em dois: i) gerar movimentos desejados; ii) eliminar movimentos indesejados.
Obviamente, o papel que um músculo exercerá em determinada articulação
dependerá da intenção de movimento, ou seja, do movimento que uma pessoa
queira realizar. Assim, dentro das duas possibilidades descritas, gerar ou eliminar
movimentos, os papéis (funções) possíveis de serem realizados por um músculo
são: agonista, antagonista, estabilizador e neutralizador.

Importante! Importante!

O músculo ou grupo muscular responsável pela realização de um movimento que é desejado


desempenha um papel agonista. Nessa condição, os músculos que atuam diretamente
no movimento são chamados de agonistas primários, enquanto aqueles que atuam
no movimento apenas auxiliando a realização do mesmo, ou seja, não são os principais
responsáveis pelo movimento, são chamados de agonistas secundários. O músculo ou
grupo muscular responsável por frear e/ou tornar o movimento mais lento desempenha
um papel antagonista. Pode-se dizer também que um músculo responsável por realizar
o movimento oposto ao do agonista (o qual está realizando o movimento desejado) atua
ou tem função antagonista, ou seja, os antagonistas atuam excentricamente ao mesmo
tempo em que os agonistas causam o movimento.

Os termos “agonista” e “antagonista” são indefinidos, a não ser que uma ação
articular seja referida em relação a eles. Por exemplo, durante a flexão do cotovelo,
o bíceps braquial é agonista e o tríceps braquial é antagonista. Já durante a extensão
do cotovelo, o tríceps braquial que é agonista e o bíceps braquial que é antagonista.
Pode-se então dizer que os músculos concentricamente ativos são agonistas e que
os músculos excentricamente ativos são antagonistas. É Importante ressaltar que o
antagonista se opõe ao agonista, porém, normalmente o mesmo está “relaxado”,
enquanto o agonista se contrai. Lembre-se que um músculo excentricamente ativo
permite que suas inserções se afastem, ou seja, apesar de ativo, permite que seja
alongado para além de seu comprimento normal, gerando apenas certa oposição ou
resistência, freando o movimento que é realizado na articulação. Quando o antagonista
se contrai ao mesmo tempo que o agonista, o resultado é uma co-contração que,
simplificadamente, refere-se a uma ativação muscular simultânea indesejada e que
resulta em menor quantidade de força para produzir o movimento desejado por
conta de uma força oposta gerada pelo antagonista contra o sentido de movimento.

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UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular

Quando um músculo atua estabilizando as partes do corpo que não estão


diretamente envolvidas no movimento, seu papel é estabilizador.

Músculos que atuam como estabilizadores estão ativos isometricamente, tendo o


importante papel de estabilizar um segmento corporal enquanto outros segmentos
corporais estão se movimentando. Por exemplo, uma pessoa na posição anatômica
que realiza uma abdução do ombro direito, tem diferentes músculos ativados
isometricamente no membro esquerdo, na cabeça, no tronco, nos membros
inferiores, atuando como estabilizadores, mantendo o corpo “parado” (na verdade,
estabilizado) na postura em pé. Portanto, no próprio membro direito diferentes
músculos estão ativados, não apenas aqueles que não interferem na articulação
do ombro, mas também músculos que cruzam essa articulação. Lembre-se que a
articulação do ombro possui três Graus de Liberdade (GL), ou seja, realiza movimentos
nos três planos (sagital, frontal e transversal). Assim, se apenas o movimento
de abdução que ocorre no plano frontal é desejado, músculos responsáveis por
movimentos nos planos sagital e longitudinal (como os músculos peitoral maior e
latíssimo do dorso) também estão desempenhando um papel estabilizador.

Quando um músculo atua inibindo a ação e/ou movimento indesejado produzido


por um músculo agonista, seu papel é neutralizador.

Por exemplo, o músculo bíceps braquial tem papel agonista na flexão de cotovelo
e na supinação do antebraço, se apenas o movimento de flexão do cotovelo é
desejado, o músculo pronador redondo atua justamente como neutralizador da
supinação do antebraço para que somente o movimento (desejado) de flexão do
cotovelo aconteça. Um outro exemplo ocorre quando se deseja realizar o movimento
de extensão do quadril. O músculo glúteo máximo tem papel agonista na extensão
e rotação lateral do quadril apenas se o movimento de extensão é desejado, de
modo que o músculo glúteo mínimo atua como neutralizador da rotação lateral.

Você pode até se assustar com a quantidade de músculos e funções específicas


que cada um deles possuem no movimento humano, mas lembre-se que por estarem
em pares (lados direito e esquerdo do corpo) você já reduz consideravelmente o
número de possibilidades. Ademais, muitas informações sobre os músculos podem
ser obtidas apenas pelo seu nome, que tende a se enquadrar em uma ou mais
das seguintes categorias: localização, alguns músculos são nomeados por conta
de onde se encontram no corpo humano (por exemplo, tibial anterior); formato,
outros são nomeados pelo desenho geométrico que possuem (por exemplo,
trapézio); ação, há ainda aqueles que são nomeados pelo papel que desempenham
(por exemplo, extensor ulnar do carpo); número de cabeças/divisões, alguns são
nomeados pela quantidade de divisões (por exemplo, bíceps braquial/femoral –
duas cabeças; tríceps braquial/sural – três cabeças); direção das fibras, há também
os que são nomeados por conta de como estão orientados no corpo (por exemplo,
oblíquo interno/externo); inserções, alguns são nomeados pelo ponto de origem

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e inserção óssea (por exemplo, esternocleiodomastóideo, isquiotibiais); tamanho,
outros são nomeados por conta do seu tamanho em relação a algum outro músculo
(por exemplo, peitoral maior/menor).

Lesões Musculares Comuns


Mais uma vez, se uma carga mecânica é maior que o limiar de tolerância de uma
pessoa, ocorre lesão. No tecido muscular algo comum de ocorrer é dor muscular
tardia, aparece por volta de 24 a 72 horas após a realização de exercícios longos
ou extenuantes. Apesar de poder não ser considerada necessariamente uma
lesão, a dor muscular tardia ocorre porque há microrruptura do tecido muscular
e, por conta disso, aparecem os sintomas de dor, bem como rigidez muscular e
consequente limitação da amplitude de movimento.

Pode-se também manifestar câimbras, as quais envolvem espasmos musculares


moderados ou severos associados a níveis de dor proporcionais ao grau de
severidade. Até o momento não há explicações para as causas de câimbras, mas
há indícios de que sejam decorrentes de fatores causais envolvendo falta de cálcio
e magnésio, desidratação e/ou desequilíbrios eletrolíticos.

Contrações
musculáres

Figura 8 – Representação de uma câimbra


Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

Distensões são lesões resultantes do estiramento excessivo do tecido muscular,


podendo ser de três tipos: leves, que apresentam a sensação de rigidez ou tensão
no músculo, uma vez que a lesão estrutural é mínima; moderadas (ou de segundo
grau), que apresentam sintomas de dor, fraqueza e alguma perda funcional, uma
vez que abrangem ruptura parcial do tecido muscular; e severas (ou de terceiro
grau), que apresentam hemorragia, edemas associados e perda funcional, uma vez
que abrangem uma ruptura grave no tecido muscular.

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UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular

Contusões se referem a hematomas no interior do tecido muscular e ocorrem


em decorrência de forças compressivas que surgem ou que são aplicadas durante
determinado impacto. Uma contusão pode ser decorrente de impacto repetitivo
no tecido muscular, podendo levar à miosite ossificante (uma massa calcificada que
surge no interior do músculo).

Figura 9 – Representação de uma distensão (a) e contusão (b)


Fonte: Acervo do conteudista

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Atlas Fotográfico de Anatomia
COLICIGNO, P. R. C. et al. Atlas fotográfico de anatomia. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2009.
https://goo.gl/iVSesn

Manual de Cinesiologia Estrutural


FLOYD, R. T. Manual de cinesiologia estrutural. 16. ed. Barueri, SP: Manole, 2011.
https://goo.gl/iVSesn

Livros
Cinesiologia Clínica e Anatomia
LIPPERT, L. S. Cinesiologia Clínica e Anatomia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2013.

Leitura
O Organismo Humano em Movimento
ALVES, M. C. O organismo humano em movimento. Revista Pré-Univesp, 2015.
https://goo.gl/QO4naF

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UNIDADE Considerações Cinesiológicas dos Sistemas Ósseo,
Articular e Muscular

Referências
HALL, S. J. Biomecânica básica. 5. ed. São Paulo: Manole, 2009.

HAMILL, J.; KNUTZEN, K. Bases biomecânicas do movimento humano. 2. ed.


Barueri, SP: Manole, 2008.

MCGINNIS, P. M. Biomecânica do esporte e do exercício. Porto Alegre, RS:


Artmed, 2015.

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