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Organizadores

Jeanine Maria Felfili (in memoriam)


Pedro Vasconcellos Eisenlohr
Maria Margarida da Rocha Fiuza de Melo
Leonaldo Alves de Andrade
João Augusto Alves MeiraNeto

FITOSSOCIOLOGIA NO BRASIL:
Métodos e Estudos de Casos
Volume I
Comissão de Especialistas em Fitossociologia/Sociedade Botânica do Brasil

~
EdiTORA

UFV
Universidade Federal de Viçosa
2011
Métodos de Levantamento do
Componente Arbóreo-Arbustivo

Marcelo Freire Moro'é e Fernando Roberto Martins?

Introdução
A vegetação é o elemento mais evidente de urna paisagem, conferindo a fisionornia
típica aos diferentes ecossistemas terrestres e oferecendo suporte à sobrevivência da fauna.
Os primeiros estudos de vegetação se valiam de descrições escritas, desenhos e listas de
espécies para caracterizar as diferentes vegetações e biomas do mundo e eram essencialmente
qualitativos. Com o tempo, surgiu a necessidade de informações quantitativas sobre a estrutura
de cada tipo de vegetação da Terra para permitir comparações de melhor qualidade. Nesse
contexto foi que se desenvolveu a fitossociologia, que é o estudo das causas e efeitos da co-
habitação de plantas em dado ambiente, do surgimento, constituição e estrutura dos agrupamentos
vegetais e dos processos que implicam sua continuidade ou em sua mudança ao longo do tempo
(MARTINS, 2003). Métodos qualitativos de estudo da vegetação ainda hoje são aplicados,
mas atualmente estão também disponíveis vários métodos quantitativos, que fornecem dados
numéricos das variáveis estruturais, permitindo caracterizar trechos da vegetação e compará-
los com trechos de outros locais, ou em diferentes momentos.

Este capítulo ocupa-se dos métodos qualitativos e quantitativos mais usuais para estudar
e descrever 6 componente arbóreo-arbustivo de diferentes tipos de vegetação lenhosa.

1 Universidade Estadual de Campinas - UNICAMp, Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, Caixa


Postal 6109, 13083-970 Campinas, Sp, Brasil.
2 Universidade Estadual de Campinas - UNICAMp, Instituto de Biologia, Departamento de Biologia Vegetal, Caixa
Postal 6109, 13083-970 Campinas, Sl; Brasil.
3 Autor para correspondência: bio_moro@yahoo.com.br
Métodos de levantamento do componente arbóreo-arbustivo

Métodos Qualitativos

Levantamentos florísticos
As amostragens qualitativas de flora (check listsi são úteis para registrar quais espécies
de plantas ocorrem em dado local. A necessidade de publicação de listas de espécies não deve
ser subestimada, existindo periódicos (e.g. Check List - http://www.checklist.org.br) dedicados
à publicação desse tipo de dado. A existência de listas florísticas de diversos locais é condição
necessária para que se possa compreender a biogeografia de um bioma (e.g. RATTER et al.,
2003; CARDOSO et al., 2009), e a compilação de um número grande de listas florísticas
publica das permite a realização de estudos de meta-análise de grande valor para a botânica e
a ecologia (e.g. CASTRO et al., 1999; RATTER et al., 2003).
Uma lista florística geralmente é fruto de coletas assistemáticas, nas quais número variável
de pesquisadores coleta plantas utilizando diferentes esforços amostrais (em dias, horas por dia
etct). É esperado que mais pesquisadores dedicando mais horas por dia durante período maior
de tempo produzam uma florística mais bem amostrada do que coletas com menos pessoas por
um tempo curto. Em geral, esforços de coleta realizados por um, dois ou três pesquisadores
pelo menos uma vez por mês, ao longo de um ano inteiro (o que permite amostrar a flora em
todas as estações), são considerados adequados para publicação (e.g. COSTA et al., 2004) e
certamente mostram as espécies principais da área estudada, com proporção variável das
espécies mais raras sendo registradas.
Uma opção para decidir se a coleta deve ser encerrada é construir uma curva do coletor
(MAGURRAN, 1988, 2003), também chamada de curva de acumulação de espécies, que
pode sugerir se ainda é esperado aumento considerável no número de espécies com a elevação
do esforço de coleta. A curva do coletor não está relacionada com a suficiência amostral nem
com a representatividade florística, mas permite que o pesquisador registre o incremento da
riqueza de espécies com o aumento do esforço de coleta e decida se já é conveniente parar de
coletar em dado local. Depois de construída a curva do coletor, é possível ajustar um modelo
matemático e calcular qual seria o ganho, em número de espécies, com mais coletas. Se o
ganho de espécies em relação ao esforço for pequeno, então não é conveniente (devido aos
custos de tempo, financeiro, mão de obra etc.) investir em mais esforço.
. Para domínios muito ricos em espécies, como o amazônico e o atlântico, é improvável
que um ou dois anos de coleta (geralmente o tempo máximo possível em trabalhos de campo)
ou, mesmo, um pouco mais de tempo, gere uma lista de espécies cujo número seja próximo ao
da riqueza real de espécies da área. Mesmo assim, a publicação desse tipo de dado é importante
por registrar a presença das espécies mais comuns em certo local (e pelo menos uma parcela
das espécies mais raras), o que pode subsidiar estudos fitogeográficos futuros sobre a distribuição
de espécies individuais ou em associação. Além disso, listas florísticas de dada microrregião
podem subsidiar a escolha de espécies para recuperação de áreas degradadas, por registrar as
espécies que ocorrem em dado ambiente ou local.
176 Moro e Martins

Para estudos qualitativos, um método eficiente e sistemático de levantamento rápido de


espécies foi desenvolvido por Ratter et al. (2001,2003) e refinado por Walter e Guarino (2006),
a partir da técnica de "caminhamento" (FILGUEIRAS et al., 1994). Esses autores inseriram
um tempo padronizado no caminhamento (wide-patrolling), de modo que uma curva de "novas
espécies registradas" por "unidade de tempo despendida" pode ser elaborada. Nessa técnica,
os botânicos estabelecem linhas de caminhada em meio à vegetação e registram as espécies
inéditas de plantas que são observadas ao longo dos intervalos predeterminados de tempo.
Quando, em um dos intervalos de tempo, nenhuma espécie diferente é observada, considera-se
que não é eficiente continuar procurando mais espécies na mesma linha. Se o objetivo do
pesquisador for a obtenção de listas florísticas (como os levantamentos florísticos para permitir
o estudo biogeográfico de Ratter et al., 2003), a técnica é bastante vantajosa. Walter e Guarino
(2006), por exemplo, demoraram oito horas e 17 minutos para registrar 58 espécies em 1,1 ha
de Cerrado pelo método de parcelas e apenas 110 minutos para cadastrar 67 espécies pelo
levantamento rápido. Essa técnica, entretanto, não fornece dados de estrutura da vegetação.
Embora o levantamento rápido possa ser executado por apenas um pesquisador e
originalmente não preveja coletas, quando um levantamento visar a uma publicação é altamente
recomendável que ele seja executado por uma equipe e preveja coletas para depósito em
herbário. Enquanto um pesquisador registra as espécies da área, outro deve coletar as plantas
visualizadas, pois, mesmo em observações realizadas por botânicos experientes em áreas cuja
flora é bem conhecida (e.g. WALTER; GUARINO, 2006) pode haver erros.
Listas florísticas podem ser elaboradas contendo tanto espécies herbáceas quanto lenhosas,
pertencentes a várias formas de vida e hábitos de crescimento, ou, dependendo do interesse do
pesquisador, se restringir a espécies de apenas um hábito, táxon ou forma de vida. Ratter et al.
(2003), por exemplo, se preocuparam apenas com espécies lenhosas; Silva et al. (2009), apenas
com herbáceas; e Cardoso e Queiroz (2007), com espécies de Leguminosae de todos os hábitos
em seus estudos biogeográficos. Quando se amostram apenas espécies de dado hábito (somente
as herbáceas ou somente as arbóreo-arbustivas) ou as pertencentes a dado táxon (uma família
ou gênero), um número bastante limitado de espécies do conjunto total existente na área
geralmente será registrado.
Adicionar às tabelas fitossociológicas (amostragem quantitativa) uma lista de espécies
com outros hábitos (amostragem qualitativa) dá uma ideia mais clara da flora local e da
contribuição que cada hábito de crescimento dá à riqueza total. Assim, é recomendável que,
ao se realizarem trabalhos de fitossociologia voltados para o componente lenhoso, seja
adicionada à publicação uma lista de espécies, pertencentes a todos os hábitos e formas de
vida, que co?correm no local do levantamento quantitativo.
Pelo menos um exemplar, de preferência fértil, de cada espécie encontrada no trecho de
vegetação estudado deve ser coletado segundo as técnicas botânicas usuais (MORI et al.,
1985; FIDALGO; BONONI, 1989; BRIDSON; FORMAN, 1998), prensado e depositado em
um herbário de referência. O trabalho a ser publicado deve indicar o material-testemunho de
cada espécie e o herbário onde ele foi depositado.
Uma questão que tem sido tratada de modo inconsistente nos trabalhos de florística/
taxonomia se.refere ao tratamento dado às espécies exóticas presentes no sítio de estudos (ver
Métodos de levantamento do componente arbóreo-arbustivo 177

PYSEK et al., 2004). Embora grande parte das espécies exóticas cultivadas necessite de
cuidados humanos para persistir e não tenha muito significado para o estudo da flora local,
plantas que se tornam naturalizadas ou invasoras (sensu RICHARDSON et al., 2000; PYSEK
et al., 2004) passam a se integrar à flora regional e, portanto, devem ser incluídas nas listas
florísticas. É importante indicar quais espécies invasoras estão presentes em dado local, e
levantamentos florísticos podem contribuir com os estudos sobre bioinvasão por meio dessa
informação.
O pesquisador deve indicar claramente quais espécies da lista são exóticas. Colocar um
asterisco ou a palavra "exótica" ao lado dos nomes das espécies não indígenas é de grande
ajuda para informar aos outros pesquisadores quais espécies não são nativas. Devido à confusão
terrninológica em torno do tópico de bioinvasões, recomenda-se fortemente utilizar a nomenclatura
proposta por Richardson et al. (2000) e Pysek et al. (2004) e incluir nas listas florísticas apenas
espécies com "status" de naturalizada e invasora.

Diagramas de perfil
Em toda vegetação existem diferentes graus de estratificação, níveis de dossel e variações
no porte de cada um dos indivíduos que não podem ser informados pelo valor médio dos descritores
quantitativos. Descrições verbais do porte da vegetação, do número de camadas do dossel e
das variações de porte dos indivíduos podem ser feitas na tentativa de sanar esse problema.
Entretanto, quando se tenta descrever qualitativamente uma fisionomia, pode-se lançar mão,
além das descrições verbais, da técnica de diagrama de perfil (DAVIS; RICHARDS, 1933,
1934) como instrumento menos subjetivo na descrição da vegetação.
Essa técnica consiste em estabelecer uma parcela retangular estreita na vegetação,
cujas dimensões variam de acordo com a fisionomia da área. Em florestas densas, por exemplo,
geralmente se adotam as dimensões de 60 x 8 m (RICHARDS, 1957). Nessa parcela, as
plantas de interesse (árvores, ou arbustos ou ervas etc.) são medidas e desenhadas em escala,
não sendo consideradas as demais plantas. O desenho deve representar cada planta, considerando
seu formato, seus acidentes próprios e sua posição em relação às demais plantas representadas.
No perfil, a identidade de cada indivíduo representado também deve ser fomecida na legenda
da figura. Apesar da recomendação de Richards (1957), parcelas com largura de 5 m e
comprimento de 30 m ou mais vêm sendo usadas no Brasil (DURIGAN, 2003).
A comparação visual entre diagramas de perfil permite rápida assimilação das
características e diferenças estruturais de cada trecho comparado, tornando a descrição
qualitativa da vegetação mais informativa do que a simples descrição verbal.

Métodos Quantitativos
Levantamentos florísticos são um recurso útil à pesquisa botânica e ecológica, permitindo,
por exemplo, qualificar a fito diversidade local e desenvolver meta-análises para estudos
178 Moro e Marfins

biogeográficos. Porém, são limitados por não informarem dados quantitativos a respeito da
estrutura ou fisionomia da comunidade vegetal. Duas áreas com o mesmo conjunto de espécies
podem diferir consideravelmente se o porte dos indivíduos em uma área for muito maior que na
outra, ou se houver variações na estrutura, com uma espécie fortemente dominante em um
local e uma distribuição de abundâncias mais equitativa entre as espécies no outro. A supressão
de incêndios em áreas de Cerrado geralmente permite adensamento e maior crescimento do
componente lenhoso, de modo que, mesmo que não ocorresse absolutamente nenhuma mudança
na composição florística em uma área de Cerrado protegida do fogo (o que, na realidade,
dificilmente aconteceria - e.g. FIEDLER et al., 2004; MEDEIROS; MIRANDA, 2008),
mudanças na estrutura da vegetação seriam óbvias (e.g. PINHEIRO; DURIGAN, 2009), com
variação na densidade, área basal e porte dos indivíduos.
Para lidar com essas questões e permitir comparações padronizadas entre diferentes
áreas, levantamentos fitossociológicos vêm sendo realizados, fornecendo informações
quantitativas sobre porte, área basal, biomassa e estrutura de diferentes biomas do Brasil e do
mundo. Como são levantamentos quantitativos, o esforço amostral de cada trabalho (por área
ou por número de pontos-quadrante ou indivíduos) é claramente definido. Quando diferentes
trabalhos utilizam esforços amostrais e critérios de inclusão semelhantes, eles se tornam
comparáveis, o que leva a um melhor entendimento das características de cada bioma e de
diferentes comunidades presentes nos biomas.

Esforço amostral
Duas questões são críticas para comparar as informações disponíveis nos diferentes
trabalhos de fitossociologia: o esforço amostral e o critério de inclusão adotado. O esforço
amostral pode ser definido mediante a área, o comprimento total amostrado pelo método de
linhas, o número de pontos-quadrante ou o número de indivíduos, dependendo do método de
levantamento usado. Quando se expressa o esforço amostral em área, somente resultados
obtidos com o método de parcelas podem ser comparados. Quando se expressa o esforço
amostral em número de pontos-quadrante, apenas resultados obtidos com o método de quadrantes
podem ser comparados. Da mesma forma, quando se expressa o esforço amostral mediante o
comprimento total das linhas amostradas, somente resultados obtidos com o método de linhas
podem ser comparados. Porém, quando se transforma o esforço amostral para número de
indivíduos, resultados obtidos com todos esses métodos podem ser comparados, desde que
certos cuidados sejam tomados (CAIAFA; MARTINS, 2007).
Em uma situação ideal, com o aumento do esforço amostral todas as espécies de uma
área sob estudo seriam registradas, e a abundância relativa de cada uma delas poderia ser
calculada. Entretanto, em situações reais, principalmente quando são considerados os
ecos sistemas tropicais, muito ricos em espécies, tal situação não ocorre. Quanto maior o esforço
amostral, mais espécies são sempre registradas, de modo que nem a riqueza total de espécies
nem os descritores fitossociológicos da comunidade completa podem ser determinados, nem
mesmo com esforços amostrais tão grandes quanto 50 hectares (HUBBELL, 2001).
Métodos de levantamento do componente arbóreo-arbustivo 179

De um ponto de vista realista, o esforço amostral deve ser aquele possível de ser
trabalhado em tempo razoável (geralmente um ano ou dois em trabalhos de graduação/mestrado/
doutorado) e suficiente para descrever aproximadamente a estrutura da vegetação (altura
média, densidade, dominância), além de mostrar as espécies mais comuns e pelo menos parte
das espécies mais raras (já que, em ecossistemas muito ricos, com o aumento do esforço
amostral a curva de acumulação de espécies sempre sofrerá a adição de mais espécies raras).
Na prática, esforço amostral de 1 ha no método de parcelas e 1.000 indivíduos no método de
pontos-quadrante têm sido considerados aceitáveis para publicação (ver também CAIAFA;
MARTINS, 2007, e o Capítulo 5).
Existem, entretanto, casos em que uma pesquisa é realizada em áreas maiores que 1 ha,
assim como existem casos em que, por motivos de limitação prática ou devido aos objetivos do
trabalho, menos de 1 ha é amostrado. Quando se deseja comparar o número de espécies entre
dois ou mais levantamentos feitos com diferentes esforços amostrais, é necessário fazer
rarefação. O resultado de um inventário de 2 ha de Caatinga que mostre a existência de 30%
mais espécies que outro inventário de 1 ha tanto pode decorrer de riqueza local realmente
maior na área de 2 ha quanto de artefato resultante do maior esforço amostral. A técnica de
rarefação calcula quantas espécies seriam esperadas na amostra maior se ela tivesse o mesmo
tamanho da amostra menor (MAGURRAN, 1988,2003), permitindo comparação mais equitativa.
Embora possibilite comparar amostras de tamanhos diferentes, a rarefação implica na perda de
muita informação, de modo que a técnica não está livre de críticas (MAGURRAN, 1988).
A rarefação pode ser feita considerando tanto a menor área quanto o menor número de
indivíduos entre as amostras, e a escolha de como a rarefação será feita depende dos objetivos
do pesquisador. Para avaliar a riqueza de espécies entre duas ou mais amostras com níveis
comparáveis de esforço amostral, é mais conveniente rarefazer a amostra considerando o
número de indivíduos (GOTELLI; COLWELL, 2001). Usar o número de indivíduos em vez de
área para fazer a rarefação é mais conveniente porque, por exemplo, uma floresta secundária
em recuperação possui grande densidade de árvores de menor tamanho, ao passo que florestas
maduras têm árvores maiores e em menor número por unidade de área. Ao comparar diretamente
a riqueza de um hectare de floresta secundária com um hectare de floresta madura, pode-se
concluir que haja maior riqueza de espécies na floresta secundária simplesmente porque número
maior de indivíduos (de pequeno porte) foi amostrado naquele hectare do que na floresta madura,
onde as árvores são maiores (GOTELLI; COLWELL, 2001). Aplicando a técnica de rarefação
nesses dados, poder-se-ia, por exemplo, obter resultado diferente, mostrando que para um
mesmo número de indivíduos a floresta madura é mais rica em espécies que a secundária.

Critérios de inclusão
O uso de critérios de inclusão padronizados é outro fator fundamental para permitir
comparação de melhor qualidade entre diferentes trabalhos (CAIAFA; MARTINS, 2007). Os
critérios de inclusão são as condições mínimas que um indivíduo deve atingir para ser incluído
em uma amostragem. Devido à heterogeneidade de fisionomias das diferentes vegetações
(desde cerrados ralos até florestas de grande porte), não seria adequado adotar um único
180 Moro e Martins

critério de inclusão para todas as áreas. Inventariar indivíduos a partir de um porte muito
pequeno em uma floresta tropical seria muito trabalhoso e demandaria esforço imenso (embora
isso já tenha sido feito - e.g. HUBBELL et al., 2001). Amostrar apenas indivíduos muito
grandes excluiria quase todos ou, pelo menos, uma proporção muito grande de indivíduos em
áreas de Cerrado ou Caatinga.
Mesmo dentro de um domínio como o Cerrado, onde as fisionomias são muito variáveis
(RIBEIRO; WALTER, 2008), um único critério de inclusão não é adequado a todas as situações.
Do mesmo modo, um estudo de regeneração que precisa incluir indivíduos de pequeno tamanho
não pode utilizar os mesmos critérios de inclusão que outro estudo que visa descrever a estrutura
geral da vegetação, focando nos indivíduos adultos. Por isso, diferentes critérios de inclusão
são realmente necessários para diferentes fisionomias e objetivos de pesquisa. Entretanto, em
situações semelhantes os pesquisadores deveriam usar critérios semelhantes para permitir a
comparação direta das informações (MARTINS; SANTOS, 1999; CAIAFA; MARTINS, 2007).
A padronização do esforço amostral e dos critérios de inclusão em grande número de
trabalhos é algo necessário e benéfico, que ampliará a utilidade de cada trabalho por integrá-lo
em um esforço maior de compreensão dos diferentes biomas. Para o componente lenhoso, três
critérios básicos de inclusão vêm sendo predominantemente adotados no Brasil: incluem-se na
amostragem apenas indivíduos lenhosos, cujo tronco atinja dado perímetro ou diâmetro mínimo
na altura do peito, ou seja, a 130 em do solo (PAP e DAP, respectivamente); diâmetro do tronco
no nível do solo (DAS) e diâmetro do tronco a 30 em do solo (D3o). Outros critérios, como
diâmetro do tronco a 10 em do solo (DiO)ou, mesmo, perímetro ou diâmetro do tronco no nível
do joelho (PAJ ou DAJ, respectivamente) também têm sido utilizados. Porém, é desejável
utilizar os mesmos critérios de inclusão e a mesma altura de medição para vegetações semelhantes
em todos os trabalhos.

Alturas para a medição do perímetro ou


diâmetro do tronco
A altura do peito é estabelecida por definição como a altura a 1,3 m acima do nível do
solo, pois essa altura corresponde aproximadamente à altura do peito na maioria dos adultos.
Obviamente, pesquisadores consideravelmente mais altos ou mais baixos devem medir as plantas
na altura de 1,3 m, uma vez que o nome altura do peito é apenas referência a um adulto-padrão.
A altura do peito geralmente é a posição mais confortável de se mensurarem árvores,
pois permite que o pesquisador permaneça ereto durante as medições, o que agiliza o processo.
Entretanto, para fisionomias com predominância de árvores baixas e arbustos, como a Caatinga
e o cerrado sensu stricto, a medição no nível do peito pode ser inadequada, pois pode não
haver tronco a 1,3 m de altura, sendo essa altura correspondente à copa da planta.
Nesses casos, torna-se necessário medir o diâmetro ou perímetro do tronco no nível do
solo (DAS), para evitar a ramificação excessiva que muitos exemplares arbustivos já terão
desenvolvido à1,3 m de altura. Mas há situações, especialmente no Cerrado, em que no nível
Métodos de levantamento do componente arbôreo-arbustivo 181

do solo um exemplar possui um xilopódio, acúmulo excessivo de cortiça, expansões radiculares


ou uma base muito espessa, que não corresponde ao porte real do indivíduo. Nesses casos,
alguns pesquisadores têm proposto medir o diâmetro de plantas do Cerrado a 30 em de altura
(D3o)' a fim de evitar a base dos indivíduos (e.g. FELFILI et al., 1994, 2005, 2007), a qual
poderia possuir uma estrutura aberrante que superestimaria o diâmetro do indivíduo.
O uso do D30 como altura de medição de plantas lenhosas em Cerrado tomou-se corrente,
e essa é provavelmente a altura de medição mais usada em levantamentos fitossociológicos
dos cerrados (e.g. MARIMON JUNIOR; HARIDASAN, 2005; LIBANO; FELFILI, 2006;
MEDEIROS; MIRANDA, 2008). Entretanto, padronizar a altura de medição como PAP para
fisionornias estruturalmente fechadas (florestas) e DAS para fisionornias estruturalmente abertas
(Cerrado e Caatinga) tornaria os procedimentos mais consistentes. Além disso, ao medir no
nível do solo, o pesquisador encontrará um único tronco para cada indivíduo (já que todo ramo
individualizado no nível do solo é considerado um indivíduo), com apenas um diâmetro a ser
registrado, ao passo que a 30 em do solo o indivíduo já pode ter-se ramificado e irá exigir o
registro de vários diâmetros e áreas basais, o que adiciona dificuldade extra ao trabalho de
campo. Mesmo o D30 sendo a altura mais utilizada em cerrados, vários pesquisadores vêm
utiliz.ando com sucesso O DAS (e.g. COSTA; ARAÚJO, 2007; FELFILletal., 2002; MIRANDA
et al., 2006; GOMES et al., 2004). Desse modo, recomenda-se que trabalhos fitossociológicos
em florestas façam uso do DAP ou PAP, ao passo que levantamentos em caatingas, cerrados
ou outras áreas de aspecto savânico usem o DAS ou o PAS.

Medindo o perímetro ou diâmetro do tronco


A escolha do critério de inclusão (perímetro ou diâmetro mínimo que uma planta deve
possuir para ser amostrada) é fundamental, pois descritores fitos sociológicos são fortemente
influenciados por ele (CAIAFA; MARTINS, 2007; DURIGAN, 2009). Mais importante é que,
quanto maior o número de indivíduos amostrados, maior a probabilidade de amostrar mais
espécies. Assim, critérios de inclusão menos restritivos (i.e. que admitem plantas de porte
pequeno) incluirão maior número de indivíduos e, portanto, têm maiores chances de incluir mais
espécies. Desse modo, é desejável que vários trabalhos, especialmente se realizados no mesmo
bioma, utilizem os mesmos critérios para permitir comparação adequada entre os múltiplos
levantamentos. Critérios de inclusão pouco usuais, como PAS de 13 em (SILVA et al., 2002),
por exemplo, devem ser evitados .
. Tanto faz medir o diâmetro (D) ou o perímetro (P), pois o valor do perímetro pode ser
facilmente convertido em diâmetro pela fórmula:
D = P/TI:
Geralmente, a variável medida em campo é o perímetro. Utiliza-se fita métrica graduada
em centímetros e milímetros que é colocada ao redor do tronco, e o valor do perímetro é
anotado na ficha de campo (ver modelos de ficha nos anexos). No laboratório, os valores dos
perímetros de todas as plantas podem ser rapidamente convertidos para diâmetro, raio ou área
basal 'da planta utilizando um software de planilha eletrônica como o OpenOffice Cale ou o
182 Moro e Martins

Microsoft Excel para automatizar essa tarefa e obter rapidamente as conversões para todas as
plantas mensuradas.
O diâmetro também pode ser obtido diretamente em campo com o uso de sutas graduadas,
as quais já vêm graduadas de fábrica para fornecer o diâmetro da planta. Existem sutas para
árvores de diferentes tamanhos, e seu uso em campo pode ser bastante prático. Outra
possibilidade é usar fita métrica com conversão, que já traz a conversão do perímetro medido
em diâmetro.
Quando se deseja medir o diâmetro do caule de espécies lenhos as ainda jovens (como é
o caso de estudos sobre regeneração), o uso de fita métrica não é adequado devido ao pequeno
tamanho das plantas. Nesse caso, o uso de um paquímetro é a melhor opção. Plantas muito
jovens podem ter seus diâmetros determinados pelo paquímetro e plantas maiores (a partir de
3 em de diâmetro em savanas e 5 em florestas, por exemplo), pela fita métrica.

Troncos múltiplos
Uma dificuldade prática que o pesquisador eventualmente encontra é sobre o que fazer
quando uma árvore ou arbusto possui troncos múltiplos. O problema não é trivial, pois uma
planta pode se ramificar abaixo do solo, e suas ramificações emergirem, assemelhando-se a
plantas distintas. Definir o que é um indivíduo por vezes é complicado em organismos modulares
como as plantas (HARPER, 1977; BEGON et al., 2007). Por isso, Harper (1977) sugeriu os
termos rameta e geneta, sendo este um indivíduo geneticamente distinto, oriundo do
desenvolvimento de um zigoto, e o rameta é um módulo individualizado do organismo modular.
A rigor, cada ramo de uma árvore pode ser considerado um rameta. A incerteza sobre se dois
eixos da mesma espécie que emergem do solo próximos são ou não genetas distintos vem
acompanhando a fitos sociologia há tempos. Isso é especialmente crítico no caso de árvores
subterrâneas como Anacardium humile A. St.-Hil. e Andira laurifolia Benth., em que um
único geneta pode possuir número grande de rametas emergindo do solo em uma área
considerável. Em termos práticos, a fitossociologia adotou o critério de indivíduo como unidade
reprodutora espacialmente isolada, considerando o nível do solo como referência. Se um eixo
emerge do solo e, no nível do solo, não está ligado a nenhum outro eixo, ele é considerado um
indivíduo, um deme no sentido de Harper (1977) (Figuras 1 e 2).
Se, no nível do solo, dois eixos aparecem conspicuamente ligados, tendo uma base comum,
ambos são considerados como um único indivíduo (Figura 1). Já, quando cada eixo emerge
separadamente no nível do solo, eles são considerados como indivíduos distintos e devem ser
medidos separadamente (Figura 2).
Quando se mede o PAP, é relativamente comum encontrar indivíduos com mais de um
ramo vindos de uma base comum no nível do solo. Nessa situação, é necessário medir o
perímetro de cada eixo separadamente e considerar a soma das áreas basais de todos os ramos
do mesmo indivíduo como um descritor do indivíduo. Nesses casos, é preciso ter atenção, pois
somar os perímetros ou diâmetros de cada um dos eixos resultará em erro grave no cálculo da
área basal.
Métodos de levantamento do componente arbôreo-arbustivo 183

1,3 m I PAP

DAS

Nível
do solo

Figura 1 - Quando um exemplar se ramifica acima ou no nível do solo, ele é considerado um único
indivíduo. No caso ilustrado nesta figura, tem-se apenas um DAS. Se for utilizado o PAP (ou
o DAP), será necessário registrar no campo os dois perímetros ou diâmetros desse indivíduo.
Em laboratório, a área basal de cada ramificação deve ser calculada e somada, já que se trata
de apenas um indivíduo, com base comum no nível do solo.

PAP--------~ --~----T_ PAP

DAS DAS

Nível
do solo

Figura 2 - Quando um exemplar se ramifica abaixo do nível do solo e cada eixo emerge separado dos
demais, cada eixo é considerado um indivíduo distinto. Nesse caso, há dois indivíduos, cada
um com seu próprio DASIPAS ou DAPIPAP, os quais devem ser anotados separadamente
para cada indivíduo no campo.
184 Moro e Marfins

Uma planta que a 1,3 m do solo tenha três eixos, cada um com 10 em de perímetro,
possui uma área de 7,96 em? em cada eixo e uma área total de 23,87 em? nos três eixos juntos.
Isso corresponderia a um perímetro de 17,32 em caso os três eixos formassem um único de
23,87 em". Somar os perímetros dos três eixos (30 em) levaria ao cálculo de uma área de 71,62
em", o que superestimaria a área basal do indivíduo e tornaria errôneo um cálculo de biomassa,
por exemplo. Somar os diâmetros de cada eixo e calcular a área basal a partir da soma dos
diâmetros também é incorreto e também superestima a área. Quando se está medindo à altura
do peito e se encontram troncos múltiplos, pertencentes ao mesmo indivíduo, o procedimento
correto é sempre calcular a área basal de cada ramificação e somá-Ias. No entanto, quando se
mede à altura do solo, cada indivíduo terá apenas um diâmetro ou perímetro, pois um indivíduo
é definido como um eixo emergindo do solo sem conexão com qualquer outro eixo no nível do
solo.

A área basal do indivíduo (Gi) pode ser calculada de acordo com as fórmulas abaixo,
caso se meça o perímetro (P) ou o diâmetro (D) das plantas, respectivamente.

Gi = p2/4n
Ou

Critérios de inclusão em diferentes tipos de


vegetação
Devido à heterogeneidade de fitofisionomias existentes no Brasil e no mundo, um único
critério de inclusão não seria adequado a todas as realidades (Tabela 1). Mas, dentro de um
mesmo tipo de vegetação, o máximo de padronização permitirá obter dados mais confiáveis e
fazer comparações de melhor qualidade.

Tabela 1 - Critérios de inclusão e altura de medição do perímetro/diâmetro sugeridos para a amostragem


do componente arbóreo-arbustivo nos diferentes domínios do Brasil
Domínio Critério de Inclusão Sugerido Altura de Medição Sugerida
Mata Atlântica Perímetro de lS em Perímetro no nível do peito (pAP - 1,3 m de altura)
Amazônia Perímetro de 1S em Perímetro no nível do peito (pAP - 1,3 m de altura)
Caatinga Diâmetro de 3 em Diâmetro no nível do solo (DAS)
Cerrado Diâmetro de 3 em Diâmetro no nível do solo (DAS)
Pantanal Perímetro de 1S em para Perímetro no nível do peito (pAP - 1,3 m de altura)
fisionornias florestais; diâmetro para fisionornias florestais; diâmetro no nível do
de 3 em para fisionornias savânicas solo (DAS) para fisionornias savânicas
Métodos de levantamento do componente arbôreo-arbustivo 185

Florestas
Segundo a UNESCO (1973), florestas são fitofisionomias conspicuamente dominadas
por árvores com pelo menos 5 m de altura, cujas copas se tocam no caso de florestas fechadas
(também chamadas de densas), ou cujas copas não se tocam, mas cobrem pelo menos 40% do
terreno no caso de florestas abertas. Quando o objetivo é descrever a estrutura geral de uma
floresta, a maioria dos trabalhos amostra os indivíduos lenhosos com PAP igualou superior a 15
em, mas alguns trabalhos optam pelo DAP de 5 em, que equivale a um perímetro de 15,7 em
(CAIAFA; MARTINS, 2007). Vários trabalhos, entretanto, lidam com florestas baixas, como
cerradão, Caatinga Arbórea ou florestas altimontanas. Nesses casos, um PAP menor, 10 em ou
até menos, dependendo da estrutura da vegetação estudada, costuma ser aplicado.
Florestas ripícolas (florestas que ocorrem na margem de corpos d'água) podem ser
estudadas utilizando os mesmos critérios de inclusão descritos anteriormente para as outras
florestas. Caso o porte das árvores seja pequeno, geralmente se usa um PAP de 10 em ou
menos. Florestas ripícolas no domínio do Cerrado, por exemplo, são estruturalmente tão diferentes
da vegetação circundante que o diâmetro das plantas nessa fisionomia tem sido medido a 1,3 m
(DAP) do solo (FELFILI et al., 2005, 2007) como em outras florestas do Brasil.
Em estudos de regeneração ou em florestas de altitude, com árvores de pequeno porte,
critérios de inclusão menores serão necessariamente requeridos. Já em levantamentos de grandes
unidades de manejo florestal que visam à exploração madeireira podem interessar apenas
critérios de inclusão maiores. Porém, trabalhos fitos sociológicos corriqueiros se beneficiariam
se adotassem os mesmos critérios em todas as florestas.
Nas florestas brasileiras em geral, a maioria dos trabalhos tem usado um critério de
inclusão correspondente a um PAP mínimo de 15 em (CAIAFA; MARTINS, 2007), o que
também é recomendado neste livro.

Caatinga
A Caatinga é um complexo vegetacional caracterizado por árvores e arbustos tropofilos
e xerófilos juntamente com plantas suculentas sob climas semiáridos dominados por uma
estação seca rigorosa (ANDRADE-LIMA, 1981; PRADO, 2003). Embora haja formas de
Caatinga que atinjam o porte florestal, atualmente na sua maior parte ela é dominada por
árvores baixas e arbustos. Para grande parte da Caatinga, adotar o PAP como altura de
medição resultaria no encontro de grande número de ramos finos (muitos dos quais não
atingiriam o critério de inclusão), em vez do tronco da árvore ou arbusto. Assim, medidas de
diâmetro do tronco no nível do solo são mais adequadas. Embora para algumas formas de
Caatinga Arbórea fosse apropriado utilizar o PAP, usar um critério diferente prejudicaria a
comparação com outras áreas de Caatinga, de modo que para esse domínio é recomendável
registrar sempre o DAS.
Rodal et al. (1992) propuseram procedimentos padronizados para estudos fitossociológicos
na Caatinga, os quais são adotados aqui: recomenda-se a amostragem de todos os indivíduos
lenhosos com DAS igualou superior a 3 em. Outros critérios de inclusão (DAS maiores que 3 em
186 Moro e Martins

e mesmo DAP) eventualmente são utilizados na Caatinga, mas isso prejudica desnecessariamente
as comparações entre as áreas.
Rodal et al. (1992) recomendaram excluir da amostragem indivíduos que, mesmo atingindo
o diâmetro mínimo de inclusão, sejam menores que 1 m de altura. Para a Caatinga, isso evita
amostrar cactos globosos (e.g. Melocactus spp.) e bromeliáceas.
Para medir a altura das plantas na Caatinga, pode-se usar um telêmetro (existem desde
ópticos até a laser), mas, na ausência de um, é possível utilizar varas graduadas ou canos
encaixáveis. Nessa técnica, canos de 1 ou 1,5 m de altura são encaixados e colocados próximos
da planta a ser mensurada, de modo que se pode estimar a altura da planta a partir da altura
conhecida dos canos. Os canos podem receber uma marcação a cada 10, 25 ou 50 em para dar
uma ideia mais clara da altura da planta. Os canos podem ser de PVC, ligados por conectores,
fáceis de achar em lojas de construção, ou ser feitos de alumínio ou outro material disponível.
As marcações podem ser feitas diretamente na vara do podão, no suporte onde a tesoura de
poda fica acoplada. Assim, mede-se a altura da planta ao mesmo tempo em que se coleta
material para a identificação taxonômica .

.'

Cerrado
O Cerrado é um complexo de fisionomias que variam desde áreas campestres, como o
campo limpo e o campo sujo, passando por fisionomias savânicas, como o cerrado ralo, o
cerrado sensu stricto e o cerrado denso até a fisionomia florestal, como o cerradão
(COUTINHO, 1978; GOTTSBERGER; SILBERBAUER-GOTTSBERGER, 2006; RIBEIRO;
WALTER,2008).
Devido à presença de xilopódios e estruturas que podem prejudicar a medida do diâmetro
ao nível do solo, muitos trabalhos em Cerrado preferem medir os diâmetros a 10, 30 ou,
mesmo, 50 em de altura. O diâmetro mínimo considerado na maioria dos trabalhos é de 3 ou
5 em. Felfili et al. (2005) propuseram procedimento padronizado para várias fisionomias do
Cerrado e do Pantanal, indicando que as medidas fossem tomadas a 30 em do solo (D30) a
partir de D30 ~ 5 cm.
Medir as plantas a 30 em do solo, em vez de no nível do solo, insere variação metodológica
na fitos sociologia, que deve ser avaliada com cuidado. Medições fitossociológicas deveriam
ser aplicadas seguindo o máximo de padronização possível, para tomar os dados mais consistentes
e úteis para comparações. Embora, seguindo as recomendações de Felfili et al. (1994,2005,
2007), o D30seja de fato muito utilizado em estudos no Cerrado, o DAS também é aplicado sem
maiores problemas em grande número de áreas desse domínio (e.g. COSTA; ARAÚJO, 2007;
FELFILI et al., 2002; GOMES et al., 2004; MIRANDA et al., 2006). Assim, sugere-se que o
DAS seja utilizado como altura de medição em Cerrado, padronizando-a com a metodologia
usualmente aplicada a levantamentos em outras vegetações abertas como a Caatinga. Embora
o cerradão possua fisionornia florestal, na qual seria possível medir o PAP, é recomendável
utilizar o DAS (à semelhança do proposto acima das caatingas arbóreas), a fim de padronizar
os procedimentos de levantamentos em cerradão com os aplicados aos cerrados em geral.
Métodos de levantamento do componente arbóreo-arbustivo 187

Embora o critério de inclusão de 5 cm seja comum para o Cerrado, medir todos os


indivíduos com DAS a partir dos 3 em é um esforço viável e que resulta amostra mais rica,
além de ser padronizado com o adotado para o domínio da Caatinga (RODAL et al., 1992).
Assim, recomenda-se para estudos fitossociológicos no Cerrado a amostragem de todos os
indivíduos lenhosos com DAS superior ou igual a 3 em, Já em estudos nas fisionomias campestres
do Cerrado é necessário adotar procedimento próprio para o estrato herbáceo (Capítulo 7).
Devido ao tamanho reduzido da maior parte das plantas lenhosas no Cerrado, a medição
de altura das plantas pode ser feita tanto por um telêmetro quanto por varas graduadas,
procedimento igual ao aplicado à Caatinga.

Pantanal
o Pantanal, assim como o Cerrado, também é um mosaico de diferentes fisionomias,
mas a flora é oriunda de diferentes domínios, e a vegetação é influenciada pelo regime hídrico
de sequências de enchente-cheia-vazante-seca, dotando-o de grande complexidade no nível de
paisagem. Dentro do Pantanal há várias fisionomias, incluindo floresta e cerrados. Critérios de
inc1usão diferentes têm sido utilizados no Pantanal, mesmo para fisionomias semelhantes (ver
Capítulo 10 deste livro), o que não é desejável. Para florestas, um PAP de 10 ou 15 em em geral
é adequado, bem como um DAS de 3 em para cerrados.

Métodos Usuais para Levantamentos


Fitossoci o Ióg icos

Método de parcelas
o método de parcelas é o mais utilizado em trabalhos de fitossociologia, podendo ser
aplicado a estudos com espécies herbáceas (Capítulo 7) ou lenhosas. Parcela geralmente é um
quadrado ou retângulo (embora parcelas de outras formas também possam ser utilizadas) com
uma área conhecida que é estabelecido na vegetação, restringindo a área de coleta de dados, e
que contém as propriedades que se querem estudar. De acordo com Daubenrnire (1968), é
possível usar uma só parcela grande (método de parcela única) ou várias parcelas menores
(método de parcelas múltiplas).
A primeira decisão a ser tomada pelo pesquisador é a respeito de usar uma ou várias
parcelas para o levantamento. Um dos preceitos estatísticos sobre amostragem, entretanto, diz
que se deve usar o maior número possível de unidades amostrais (ver Capítulo 3). As parcelas
podem ser colocadas de modo seletivo, sistemático ou aleatório. No modo seletivo, o pesquisador
seleciona, a partir de um critério definido previamente, em qual posição da vegetação (encosta,
tipode solo etc.) colocará as parcelas. É possível utilizar um mapa ou imagens de satélite para
188 Moro e Martins

reconhecer subunidades dentro da vegetação e escolher os lugares onde serão colocadas as


parcelas. No modo sistemático, as parcelas são interespaçadas de uma distância definida
previamente, e são interdependentes. No modo aleatório, as parcelas são colocadas de acordo
com alguma técnica de aleatorização, como, por exemplo, a aleatorização irrestrita (GREIG-
SMITH, 1983), e cada parcela é considerada independente das demais (mas veja FORTIN et
al., 1989; FORTIN; DALE, 2005). A amostragem aleatória é usada quando se considera que o
trecho da vegetação a ser amostrado é homogêneo. No exemplo da imagem de satélite, se
cada subunidade reconhecida da vegetação for suficientemente homogêneas, as parcelas
poderão ser instaladas aleatoriamente.
Ressalta-se que, antes de fazer o sorteio da posição das parcelas, é necessário delimitar
a unidade de paisagem que é de interesse para a pesquisa. Sem isso, a aleatorização do
posicionamento de parcelas não seria adequada porque poderia incluir na amostra unidades de
paisagem diferentes daquela em estudo. Por exemplo, se o interesse é amostrar a vegetação
ripícola, parcelas não devem ser posicionadas dentro da calha do rio, onde não há vegetação,
nem na vegetação fora da área ripícola. Do mesmo modo, se o interesse é estudar o cerrado
sensu stricto, as matas ripícolas ou um trecho da vegetação que foi desmatado para agricultura
devem ser excluídos da amostragem. Nesse caso, um mapa ou imagens de satélite devem ser
usados paradelimitar as unidades vegetacionais de interesse.
Em um estudo fitossociológico, a área de cada parcela deve ser conhecida pelo
pesquisador para possibilitar a medição dos atributos fitos sociológicos que dependem da área
(densidade, dominância etc.). Todos os indivíduos lenhosos dentro da parcela que atingirem o
critério de inclusão devem ser registrados na ficha de campo e suas medidas tomadas (ver
modelo de ficha de campo nos anexos).
Eventualmente, algum indivíduo estará posicionado sobre a linha que traça os limites da
parcela. Qualquer planta que toque a linha, por dentro ou por fora da parcela, deve ser considerada
como indivíduo limítrofe. Antes de iniciar a amostragem, o pesquisador deve escolher dois
lados da parcela para incluir os indivíduos limítrofes e dois lados para excluí-los. Por exemplo,
os indivíduos que tocam os lados voltados para norte e oeste das parcelas podem ser escolhidos
para serem incluídos na amostragem e os que tocam os lados voltados para o sul e leste, para
serem excluídos. Nesse caso, um indivíduo quase fora da parcela, mas que apenas toque, pelo
lado de fora, a linha do lado norte seria contado, ao passo que outro quase dentro da parcela,
mas que apenas toque a linha pelo lado sul, seria ignorado.
Quanto maior a relação área/perímetro da parcela, menores os problemas de incluir ou
excluir indivíduos nos seus limites. A maior relação área/perímetro é obtida no círculo, mas,
como fazer parcelas circulares é muito difícil em campo, a relação área/perímetro mais
conveniente é obtida em parcelas quadradas.
Quando se deseja estudar gradientes na vegetação, as parcelas podem ser colocadas
sistematicamente ao longo de uma ou mais linhas paralelas cortando o gradiente. Parcelas
retangulares, nas quais o comprimento é bem maior que a largura (e.g. 10 x 100 m), constituem
o que os autores de língua inglesa chamam de belt transect (BROWER et al., 1997) ou, em
português, parcelas em transecção. As parcelas em transecção podem ser dispostas
contiguamente ou espaçadas em distâncias predeterminadas cortando o gradiente. Alguma
Métodos de levantamento do componente arbáreo-arbustivo 189

forma de aleatorização também pode ser aplicada à escolha das posições das parcelas em
transecção, mas, como elas devem atravessar determinado gradiente, a aleatorização irrestrita
não é adequada. Parcelas retangulares implicam maior perímetro em relação à área, gerando
mais problemas de incluir ou excluir indivíduos em seus limites. Os pesquisadores devem sempre
escolher dois lados da parcela (neste caso um lado longitudinal e o outro transversal) para
incluir os indivíduos limítrofes e os outros dois para excluí-los, conforme já ressaltado.
Geralmente, estudos fitossociológicos com espécies lenhosas utilizam 1 ha da vegetação
como área de amostragem. Para ecossistemas muito ricos em espécies, entretanto, essa área
geralmente é suficiente para fornecer boa estimativa dos atributos fitossociológicos, mas dará
apenas uma ideia superficial da riqueza de espécies do local (BLACK et al., 1950; HUBBELL,
2001; CAIAFA; MARTINS, 2007). Para estudos fitossociológicos voltados para o componente
lenhoso da vegetação, recomenda-se fortemente 1 ha como área mínima de amostragem,
exceto em casos excepcionais devidamente justificados.

Parcelas
.,
permanentes
Existem estudos nos quais se deseja conhecer a dinâmica da comunidade vegetal (quantas
plantas morrem, quantas ingressam na menor classe de tamanho etc.). Nesses casos, inventários
fitossociológicos são realizados periodicamente nas mesmas parcelas para captar as mudanças
na comunidade ao longo do tempo. Após a realização de algumas reamostragens sucessivas, o
monitoramento de parcelas permanentes permite melhor compreensão da dinâmica da
comunidade (e.g. LIBANO; FELFILI, 2006). Quando associados à coleta de informações
climáticas e de solo, permitem estabelecer correlações entre as dinâmicas das espécies e da
comunidade com o clima local, eventos climáticos atípicos (como o El Nino) e até sugerir que
alterações seriam esperadas no caso de oscilações climáticas globais.
Para acompanhar o destino de cada indivíduo da comunidade ao longo dos anos, todos os
exemplares lenhosos que atingem o critério de inclusão são medidos e etiquetados com plaquetas
numeradas para acompanhamento futuro. As plaquetas são pequenos pedaços de metal
resistentes à corrosão (e.g.alumínio) ou plástico, que são numeradas sequencialmente e afixadas
em cada indivíduo da parcela em estudo. Plaquetas plásticas, entretanto, são problemáticas em
áreas sujeitas a incêndios, pois elas poderiam ser destruídas pelo fogo. É importante que os
números nas plaquetas nunca se repitam, pois o número da plaqueta é a identidade daquela
planta.A partir desse número único será possível saber quando aquele indivíduo foi recrutado,
quanto cresceu de uma medição para outra, quando ele foi encontrado morto etc.
Com o prosseguimento da amostragem em anos distintos, novos indivíduos germinarão e
eventualmente vão atingir o critério de inclusão. Uma vez que alguma planta atinja o critério de
inclusão será considerado que ela "ingressou na comunidade", ou seja, que foi recrutada. Com
o tempo, o balanço entre os indivíduos ingressantes e aqueles que morrem e saem da comunidade
fornece informações sobre a dinâmica de morte/recrutamento, flutuações populacionais,
extinções locais e imigrações de espécies raras, além de muitas outras informações valiosas.
190 Moro e Marfins

Subparcelas para estudos de regeneração


Como nas amostragens fitos sociológicas só são incluídos os exemplares que atingem o
critério mínimo de inclusão, os indivíduos que estão na fase de muda ou juvenil em geral não são
amostrados, pois incluir mudas e juvenis em amostragens de parcelas de 1 ha ou mais resultaria
em aumento muito grande no esforço de trabalho. Por isso, em geral, perde-se a informação
sobre a estrutura da comunidade lenhosa nas fases iniciais de vida das plantas. Nos projetos de
parcelas permanentes, infere-se a dinâmica da comunidade considerando que um indivíduo
"surge" apenas quando ele atinge o critério de inclusão, o que faz que o recrutamento de um
exemplar só seja computado quando ele já tem alguns anos de idade.
Quantas mudas precisam nascer para permitir que um exemplar tenha tamanho suficiente
para ser amostrado? Para responder a esse tipo de questão, pode-se lançar mão de amostragens
em subparcelas dentro das parcelas maiores. No interior das subparcelas, todas as mudas, ou
apenas aquelas de uma espécie de interesse, são inventariadas. Nesse caso, o pesquisador
deve ser capaz de distinguir as plântulas das diferentes espécies, e guias especializados (e.g.
CAMARGO et al., 2008) são de grande auxílio. Como nas subparcelas são medidas plantas de
tamanho muito pequeno, a altura delas pode ser determinada com uma régua ou fita métrica e
o diâmetro, com paquímetro. Juvenis que já tenham atingido tamanhos consideráveis podem
ser medidos com uma vara graduada e fita métrica.
O tamanho da subparcela a ser amostrada depende de quanto esforço o pesquisador
será capaz de investir. Subparcelas de 10m2 têm sido utilizadas nesse tipo de estudo (DURIGAN
et al., 2002). Por vezes, dentro da subparcela estabelecida para o estudo da regeneração se
estabelece outra subparcela de 1 m? para realizar amostragem fitossociológica do componente
herbáceo (Capítulo 7).

Método de quadrantes
O método de quadrantes (COTTAM; CURTIS, 1956), também chamado de pontos-
quadrante, é uma técnica bastante utilizada em estudos fitossociológicos no Brasil (e.g.
MARTINS, 1991; RODALetal., 1998; KURTZ;ARAÚJO,2000; LOPES etal., 2002; COSTA;
ARAÚJO, 2007), embora não tão popular como a técnica de parcelas (CAIAFA; MARTINS,
2007). Ela consiste em usar uma vara para marcar um ponto no meio da vegetação. Uma vez
estabelecido o ponto, divide-se a área ao redor dele em quatro quadrantes, e mede-se a distância
do centro doponto até a árvore ou arbusto mais próximo em cada quadrante, registrando os
atributos desse indivíduo mais próximo (Figura 3).
Os pontos geralmente são estabelecidos sistematicamente ao longo de linhas de
caminhada, a cada 10 metros, por exemplo, ou a um intervalo qualquer preestabelecido pelo
pesquisador (Figura 4). Uma condição que deve ser observada no método de quadrantes é que
o mesmo indivíduo não pode ser amostrado duas vezes. Em fisionomias fechadas, cinco metros
entre um ponto e outro podem ser uma distância suficiente para garantir que nenhum indivíduo
amostrado num ponto será amostrado no próximo ponto. Entretanto, em fisionomias abertas o
Métodos de levantamento do componente arbôreo-arbustivo 191

pesquisador pode ter que utilizar pontos mais afastados para garantir que nenhum exemplar
seja contado duas vezes. Em geral, a distância de 10 m entre um ponto e outro é suficiente.
Uma opção é estabelecer alguns pontos na vegetação, verificar qual é a maior distância planta-
ponto obtida e utilizar como distância entre os diferentes pontos o dobro da maior distância
ponto-planta auferida.
Cada linha de caminhada pode ter número variável de pontos, a critério do pesquisador.
Como em cada ponto são amostrados quatro indivíduos (um em cada quadrante), o esforço
amostral pode ser precisamente definido como o número de indivíduos que se pretende registrar,
ao contrário da amostragem por parcelas, que depende da densidade (a qual é um valor
desconhecido antes do inventário) e da área da parcela para registrar dado número de indivíduos.
Assim, 100 pontos-quadrante resultam em 400 indivíduos amostrados e 1.000 pontos em 4.000
indivíduos.
Além de permitir tamanho amostral com número definido de indivíduos, o método de
quadrantes dispensa o trabalho de estabelecer parcelas nas áreas de estudo e possibilita
amostragem relativamente rápida, de modo que levantamentos com essa técnica são uma boa
opção em estudos fitossociológicos.


• d2

•••••••••••••••••
d3

d4

Direção da caminhada

Figura 3 - Uma vez estabelecido um ponto no meio da vegetação, divide-se a área ao redor dele em
quadrantes. Em cada um dos quadrantes, mede-se apenas o indivíduo mais próximo do ponto
central que atinge o critério de inclusão, anotando a sua distância até o centro do quadrante,
diâmetro, altura e outras características que forem de interesse para a pesquisa (e.g. fenologia).
192 Moro e Martins

Linha da
caminhada

• Centro dos
quadrantes

Figura 4 - Os pontos geralmente são estabelecidos sistematicamente ao longo da linha de caminhada, a


intervalos regulares de distância.

Embora não seja uma técnica baseada em área, é possível calcular a densidade da
vegetação amostrada com quadrantes. A densidade baseia-se na relação entre a distância
média das plantas ao ponto central dos quadrantes e a área média do polígono que se obteriam
se fossem conectados os pontos das posições das árvores (MARTINS, 1991). Em uma floresta
idealizada, onde as árvores fossem regularmente espaçadas 3 m entre si, cada árvore poderia
ser colocada no vértice de um quadrado, que teria 3 m de lado. Se todas as árvores distassem
3 m entre si, o polígono, nesse caso um quadrado, teria 9 m? de área. A distância média entre as
árvores seria, então, a raiz quadrada da área média ocupada pelas plantas.
Para calcular a distância média das plantas, basta somar todas as distâncias das plantas
individuais aos pontos centrais dos quadrantes e dividir pelo número de plantas amostradas:
d m = Ld/n
I

em que dm é a distância média de um indivíduo ao ponto central do quadrante, em metros; Ed,


é o somatório da distância, em metros, de todos os indivíduos amostrados até o ponto central do
quadrante; e!l é o número total de indivíduos amostrados.
Métodos de levantamento do componente arbóreo-arbustivo 193

Sabendo a distância média, é possível calcular a área média que cada planta ocupa, pois
a área média será o quadrado da distância média:

Ã=d m
2

em que à é a área média ocupada por uma planta, em metros quadrados; e dm é a distância
média das plantas ao centro do quadrante, em metros.

A área média de cada planta é exatamente o inverso da densidade. Se, em uma parcela
de 10.000 rrr', há 1.000 indivíduos, então cada um destes ocupa, em média, 10 m". O mesmo
princípio se aplica à distância média obtida pelos .quadrantes, Se, utilizando a técnica de
quadrantes, for obtida a distância média dos indivíduos ao ponto, pode-se calcular a área média
de cada indivíduo e extrapolar esse dado para calcular a área total ocupada pela comunidade,
bastando multiplicar O valor da área média pelo número total de indivíduos.

Para obter a densidade por hectare, basta dividir 10.000 m? (um hectare) pela área
média dos indivíduos, em metros quadrados:

Densidade = 10.000/ Ã
Assim, se a distância média em uma comunidade amostrada por quadrantes for de 3 m,
a área média ocupada por uma planta qualquer será:

à = 32 = 9 m?
e a densidade será:

Densidade = 10.000/9 = 1.111 plantas por hectare


Um detalhe a ser observado quando se usa a técnica de quadrantes é em relação ao
valor correto da distância do centro do quadrante ao centro geométrico do tronco de cada
planta. Embora o que se meça em campo seja a distância do ponto central dos quadrantes à
superfície da planta, o que importa na medição é a distância do ponto no centro dos quadrantes
ao centro da planta. Para corrigir isso, é necessário somar o raio de cada indivíduo à distância
ponto-planta (Figura 5). O pesquisador deve se certificar de que o software de análises
fitos sociológicas que ele utiliza faz a correção automaticamente e, se não for o caso, ele deve
somar o raio a todas as distâncias ponto-planta. Por meio de fórmulas inseridas em softwares
de planilhas eletrônicas é possível, a partir do perímetro, obter o raio das plantas e fazer essa
som~ rapidamente.

Distância real ponto-planta = distância ponto-superfície da planta + raio da planta

Caso o raio de cada planta seja ignorado no cálculo da distância ponto-planta, ocorrerá
um erro sistemático superestimando a densidade da comunidade (ASHBY, 1972; MARTINS,
1991).

Para uma revisão aprofundada sobre a técnica de quadrantes, recomenda-se a leitura de


Martins (1991).
194 Moro e Martins

Distância do ponto ao centro da planta

Raio do
tronco
_______Distância do ponto à
superfície da planta

••••••••••••••••••••••••••••••••••
••
••
••
••
Figura 5 - Para obter a distância correta do ponto central do quadrante ao centro da planta, é necessário
somar o raio da planta com a distância do ponto até a superfície da planta.

Método de interceptação de linhas


o método de interceptação de linha é uma técnica de amostragem sem área, na qual
uma linha é estendida na vegetação, e todos os indivíduos que tocarem a linha ou se posicionarem
sobre ela são amostrados. Para lenhosas, podem-se considerar na amostragem apenas os
exemplares que atingirem critério mínimo de inclusão. A técnica é mais aplicada a estudos com
espécies herbáceas (Capítulo 7), mas também pode ser empregada para amostrar espécies
lenhosas (e.g. CANFIELD, 1941; PEREIRA et al., 2001).

A interceptação de linhas também pode ser usada apenas para obter a estimativa de
porcentagem de cobertura de copas de uma comunidade (e.g. CANFIELD, 1941; HANLEY,
1978; mas veja uma crítica emFLOYD; ANDERSON, 1987), mesmo quando as outras variáveis
fitossociológicas forem obtidas pelo método de parcelas (e.g. DURIGAN et al., 2002). Para
uma explicação sobre como calcular a cobertura de copas pelo método de linhas, consulte o
tópico "cobertura de copas" mais adiante.
Métodos de levantamento do componente arbáreo-arbustivo 195

Descritores e Informações Importantes


que Devem Constar em Tabelas
Fitossociológ icas

Estrutura de uma tabela fitossociológica


A tabela fitossociológica informa sobre a estrutura da comunidade vegetal. Geralmente,
essas tabelas trazem as espécies organizadas em ordem decrescente do Índice de Valor de
Importância (IVI). Ao lado de cada espécie, informam-se a família a que a planta pertence, o
número de indivíduos amostrados, as densidades absoluta e relativa, as frequências absoluta e
relativa, as dominâncias absoluta e relativa e o índice de valor de importância. Todas as espécies
amostradas em um levantamento fitossociológico devem estar presentes na tabela de estrutura.
A prática adotada por alguns autores (e.g. OLIVEIRA; AMARAL, 2004; OLIVEIRA et al.,
2008; MALHEIROS et al., 2009) de informar nas tabelas apenas as espécies com maior
importância fitos sociológica e omitir as espécies de menor IV! resulta em grande e desnecessária
perda de informações. Espécies não identificadas podem constar nas tabelas com o rótulo de
indeterminada 1, indeterminada 2 etc. ou, caso apenas a família seja conhecida, ordenadas
pela família (e.g. Myrtaceae sp1; Myrtaceae sp2 etc.). Recomenda-se que os trabalhos
fitossociológicos informem o herbário onde as exsicatas das espécies estão depositadas e que,
ao lado de cada espécie da tabela, seja colocado o número do coletor, para permitir a confirmação
futura das identificações, o que oferece um ganho de confiabilidade à informação relatada.
Os descritores quantitativos incluídos em uma tabela fitos sociológica variam de um trabalho
para outro e dependem do método utilizado. De acordo com os objetivos de um pesquisador e
do método de amostragem escolhido, descritores fitossociológicos distintos podem ser obtidos.
Por exemplo, o método de interceptação de linha, por não ter área, não pode fornecer a área
basal ou biomassa por hectare, embora uma estimativa de densidade possa ser obtida (BROWER
et al., 1997; PEREIRA et al., 2001). Porém, a maioria dos trabalhos fitossociológicos é realizada
com os métodos de parcela ou quadrantes. A variedade de descritores registrados em cada
levantamento leva a dúvidas sobre quais dados devem ou não ser apresentados nas tabelas
fitossociológicas. Recomenda-se que, pelo menos o número de indivíduos amostrados, as
densidades absoluta e relativa, as frequências absoluta e relativa, as dominâncias (área basal)
absoluta e relativa e o índice de valor de importância sejam fornecidos. Ressalta-se que trabalhos
que utilizem outros métodos que não os de parcela ou quadrantes poderão fornecer um conjunto
de descritores diferentes.
Cada espécie discriminada em uma lista florística (e.g. WEISER; GODOY, 2001; COSTA
etal., 2004; MENDONÇAetal., 2007; SILVAetal., 2008; CARDOSO et al., 2009; RIBEIRO-
FILHO et al., 2009) ou tabela fitossociológica deve vir acompanhada do número de registro no
herbário ou número do coletor, e o trabalho deve informar claramente em qual herbário as
exsicatas estão depositadas. A não citação explícita do número de coletor ou tombo da exsicata
de cada espécie na tabela de flora/fitos sociologia (e.g. ABREU et al., 2006; CAMPOS et al.,
196 Moro e Martins

2006; GONÇALVES; SANTOS, 2008) gera uma perda desnecessária de informações e dificulta
a verificação das informações relatadas pelos referidos autores.
Com a digitalização progressiva das coleções científicas e sua disponibilização pela internet,
já é possível averiguar se uma coleta não identificada ou com identificação duvidosa em um
trabalho foi revisada por algum especialista ou, mesmo, se os autores cometeram algum engano
taxonômico, que foi corrigido posteriormente à publicação do trabalho. O sistema speciesl.ink,
do Centro de Referência em Informação Ambiental (http://splink.cria.org.brl),já integra grande
número de coleções científicas no Brasil, disponibilizando os dados das coleções por meio da
internet. Com a continuidade do processo de digitalização de coleções científicas, mesmo imagens
de alta resolução de exsicatas poderão ser facilmente acessadas por pesquisadores de todo o
mundo. Portanto, depositar uma exsicata para cada espécie e informar o herbário e o número
do coletor no trabalho permitirão visualizar e analisar as exsicatas e acessar on-line correções
feitas por especialistas depois da publicação. Isso potencializará a verificabilidade de dados
botânicos em um novo patamar, à medida que os dados de vários herbários localizados em
diversas regiões geográficas poderão ser rapidamente consultados a partir da internet.
São apresentados a seguir os principais descritores que podem ser obtidos pelos métodos
mais comuns de levantamento do componente arbustivo-arbóreo (métodos de parcelas e de
quadrantes). Para elaborar um trabalho fitossociológico adequado, deve-se trabalhar com uma
amostra mínima de um hectare (no método de parcelas) ou mil indivíduos (no método de
quadrantes). Amostras menores que essas não oferecem dados confiáveis.

Abundância ou número de indivíduos (n)


É o número de indivíduos amostrados. Refere-se tanto ao número de indivíduos registrados
para dada espécie quanto para a comunidade como um todo. Obviamente, a abundância depende
do esforço amostral. Geralmente, algumas poucas espécies têm grande número de indivíduos
(grande abundância), e muitas espécies são amostradas com pequeno número de indivíduos
(espécies raras, com baixa abundância). Intuitivamente se esperaria que, ao aumentar o esforço
amostral, mais indivíduos das espécies raras fossem registrados e o número de espécies raras
diminuísse. Entretanto, o que comumente acontece é que, mesmo aumentando muito o tamanho
da amostra, novas espécies raras são sempre registradas e continua-se a ter um pequeno
número de espécies muito abundantes e muitas espécies raras.

Densidade Absoluta (DA)


A densidade se refere ao número de indivíduos por unidade de área ou volume. Para
espécies lenhosas, a densidade deve ser expressa por hectare, dividindo o número de indivíduos
registrados pela área amostrada em hectare. Pelo método de parcelas:
Densidade absoluta total da comunidade: DAt = N/A
Densidade absoluta de uma espécie: DAe = n/A
em que DAt é a densidade absoluta total da comunidade; N é o número total de indivíduos
amostrados da comunidade; DAe é a densidade absoluta de uma espécie e; ne é o número de
indivíduos amostrados da espécie e; e A é área amostrada, em hectares ou fração de hectare .

....
Métodos de levantamento do componente arbáreo-arbustivo 197

Assim, se 10 indivíduos foram registrados em 0,5 ha, a densidade absoluta será: 1010,5 =
20 indivíduos por hectare. Do mesmo modo, se a área amostrada for de dois hectares e estiverem
presentes 40 indivíduos, a densidade será 40/2 = 20 indivíduos por hectare.
Para calcular a densidade a partir do método de quadrantes, basta usar as fórmulas:
Densidade absoluta total da comunidade: DAt = 1O.000/Ã
Densidade absoluta de uma espécie: DAe = DAt.n eIN
em que DAt é a densidade absoluta total da comunidade; Ã é a área média ocupada por um
indivíduo da comunidade em metros quadrados; DAe é a densidade absoluta de dada espécie e;
ne é o número de indivíduos amostrados da espécie e;
e N é o número total de indivíduos
amostrados da comunidade.

Densidade Relativa (DR)·


A densidade relativa é a porcentagem de indivíduos amostrados que pertencem a uma
mesma espécie. Assim, se, entre 1.000 indivíduos, 250 pertencem à espécie Tapirira guianensis,
então a densidade relativa da espécie será 250/1000 = 0,25 ou 25%:
DRe= 100nIN
e

em que DRe é a densidade relativa de dada espécie e; ne é o número de indivíduos amostrados


da espécie e; e N é o número total de indivíduos amostrados da comunidade.

Frequência Absoluta (FA)


A frequência absoluta é a proporção do número de unidades amostrais com presença de
uma dada espécie em relação ao número total de unidades amostrais. Ela dá uma ideia de
como cada espécie ocupa o espaço da comunidade. Uma espécie com alta frequência geralmente
está espalhada por todo o espaço da comunidade, ao passo que uma espécie com baixa frequência
tende a ocorrer apenas em uma porção localizada do espaço da comunidade, ou seja, tem
distribuição mais agregada. Assim, a frequência é um estimador da probabilidade de encontrar
dada espécie numa unidade amostral lançada ao acaso no espaço da comunidade.
A frequência tem a desvantagem de ser muito dependente do tamanho, forma, número e
distribuição espacial das unidades amostrais. Se for utilizada na amostragem uma única parcela
de 100 x 100 m (área total de 1 ha), todas as espécies registradas terão frequência de 100%. Se
forem empregadas quatro parcelas de 50 x 50 m (área total de 1 ha), as espécies terão
frequências entre 25% e 100%. Utilizando-se 100 parcelas de 10 x 10 m (área total de 1 ha), as
frequências absolutas das espécies variarão entre 1% e 100%. Se forem utilizados 200 pontos
no método de quadrantes, as espécies amostradas poderão ter frequências entre 0,5% e 100%.
À medida que o número de unidades amostrais tende ao infinito, o valor da menor frequência
tende a zero. Dizer que uma espécie tem frequência absoluta de 1% significa que ela vai
ocorrerem uma de cada 100 unidades amostrais lançadas ao acaso no espaço da comunidade.
198 Moro e Martins

A frequência absoluta da espécie é calculada por:


FAe = 100(Pe/Pt)
em que FAe é a frequência absoluta de dada espécie e; Pe é o número de unidades amostrais
em que a espécie e ocorre; e Pt é o número total de unidades amostrais utilizadas no trabalho.

Frequência Relativa (FR)


A frequência relativa é a proporção da frequência absoluta da comunidade que dada
espécie possui. Ou seja, é a relação entre a frequência absoluta de uma espécie em relação à
soma das frequências absolutas de todas as espécies somadas:
FRe = 100(FAeIFAt)
em que FRe é a frequência relativa de dada espécie e; FAe é a frequência absoluta da espécie
e; e FAt é o somatório da frequência absoluta de todas as espécies.

A frequência relativa mostra na tabela fitos sociológica, de modo mais evidente que a
frequência absoluta, quais são as espécies mais e menos frequentes. Nesse sentido, a frequência
relativa complementa a frequência absoluta, tomando mais rápida a interpretação da referida
tabela.

Dominância Absoluta (DoA)


A área basal de uma espécie ou comunidade também é conhecida na literatura
fitossociológica como dominância ou cobertura. Os termos dominância e cobertura têm muitos
significados em ecologia, mas usa-se aqui o termo dominância como sinônimo da área basal de
uma espécie ou de uma comunidade por hectare. A dominância absoluta é a soma das áreas
basais dos caules de todos os indivíduos de uma mesma espécie (DoAe) ou da comunidade
toda (DoAt), em que a área basal de um indivíduo é a área da seção transversal do seu tronco
no nível do peito, do solo ou de qualquer altura de medição escolhida pelo pesquisador.
A dominância é um bom descritor de comunidades vegetais lenhos as porque sofre poucas
modificações quando se altera o critério de inclusão, enquanto a densidade é muito suscetível a
variações nesses casos (MARTINS; SANTOS, 1999; DURIGAN, 2009). Isso ocorre porque,
ao amostrar indivíduos de menor porte (critérios de inclusão menos restritivos), mais plantas
passam a fazer parte do estudo, afetando muito o valor da densidade. Entretanto, esses indivíduos
incluídos na amostra, por serem de pequeno porte, contribuem pouco para a área basal total da
comunidade (DURIGAN, 2009).
A dominãncia de cada espécie deve ser informada nas tabelas fitossociológicas e, ao fim
da tabela, deve estar presente a dorninância absoluta total da comunidade, que corresponde à
soma das dominâncias absolutas de todas as espécies. Apesar de a dominância ser usualmente
expressa em mvha (embora possa se usar cm//ha quando a área basal das espécies não
dominantes for muito pequena), os perímetros ou diâmetros são normalmente registrados em
centímetros, no campo. Deve-se estar atento para o fato de que a dominância calculada a
partir do diâmetro, em centímetros, estará em em". Caso se deseje transformar as áreas basais
Métodos de levantamento do componente arbóreo-arbustivo 199

de em' para m", é necessário dividi-Ias por 10.000. O pesquisador deve estar atento às
transformações de unidade ao preparar uma tabela fitossociológica, e a unidade métrica utilizada
(m? ou em") deve estar claramente indicada nessa tabela. A transformação de em? (escala em
que geralmente se registram as medidas das plantas em campo) para m? pode ser feita por:
DoAm2 = DoAcm2/10.000
em que a DoAm2 é a dominância absoluta em metros quadrados, e a DoAcm2 é a dominância
absoluta em centímetros quadrados.
Como a dominância deve ser expressa por hectare, amostragens com mais ou com
menos de 1 ha devem corrigir a área basal total obtida para a esperada em 1 ha, por meio da
regra de 3. A dominância absoluta é calculada por:
DoAe = r.Ge/A
em que DoAe é a dominância absoluta da espécie e; r.Ge é o somatório da área basal de todos
os indivíduos da espécie e; e A é a área total amostrada, em hectare. A área basal de cada um
dos indivíduos de uma espécie é calculada pelas fórmulas expostas anteriormente no item
"troncos múltiplos".
A soma das dorninâncias absolutas de todas as espécies fornece a dorninância absoluta
total da comunidade (DoAt), em hectare. Alternativamente, a DoAt pode ser obtida pela soma
das áreas basais de todos os indivíduos da comunidade (Gi) divididos pela área total amostrada,
em hectare.

Dominância Relativa (DoR)


A dorninância relativa é a proporção da área basal total da comunidade que dada espécie
possui. Espécies com grande dominância relativa são aquelas que detêm porcentagem
considerável da área basal total da comunidade, seja por possuírem muitos indivíduos, seja por
possuírem indivíduos muito volumosos, ou uma combinação de ambas as variáveis.
DoRe = 100(Ge/Gt)
em que a Ge é a área basal da espécie e (obtida pela soma das áreas basais de todos os
indivíduos da espécie e); e Gt é a área basal total (obtida pela soma das áreas basais de todos
os indivíduos amostrados de todas as espécies).

Cobertura de Copas (CC)


A cobertura de copas é a proporção do solo ocupada pela projeção vertical da copa das
plantas em dada área. Esse índice é pouco usado no Brasil, mas também pode ser utilizado
como indicador de dominância de cada espécie. Brower et al. (1997) chamaram a atenção de
que tanto a cobertura de copas (joliage cover) quanto a área basal (basal coverage) podem
ser chamadas simplesmente de cobertura. Entretanto, esse duplo uso do nome cobertura
pode gerar dúvidas sobre qual definição de cobertura foi adotada no trabalho, de modo que se
recomenda aqui o termo cobertura de copas, evitando, assim, inconsistências de terminologia.
200 Moro e Martins

A cobertura de copas pode ser determinada por meio de diversos métodos. O mais
prático é o método de interceptação de linhas (CANFIELD, 1941), que é de fácil execução e
exige apenas material simples. É um método apropriado para estimar a cobertura de copas em
vegetações mais abertas e com plantas de pequeno porte (e.g. PEREIRA et al., 2001;
DURIGAN et al., 2002). Em florestas com porte elevado, dossel fechado e composto por
vários estratos, esse método é problemático, pois ficaria difícil individualizar a copa de cada
árvore e, mesmo, visualizar as copas de árvores mais altas. No método de interceptação de
linhas, uma trena ou uma linha de comprimento conhecido é estabelecida na vegetação e se
registra o segmento da linha que fica sob a projeção da copa de cada indivíduo. Somando-se os
segmentos cobertos pelas copas de todos os indivíduos de dada espécie e dividindo essa soma
pelo comprimento total das linhas, obtém-se o valor da cobertura de copas para cada espécie.
A soma dos valores de cobertura de copa dos indivíduos de todas as espécies juntas dividida
pelo comprimento total das linhas estabelecidas na vegetação fornece a cobertura de copas da
comunidade. A cobertura de copas de uma espécie é dada por:
CCe = 100(Le/Lt)
em que CCe é a cobertura de copas de dada espécie e; Le é a soma dos segmentos das linhas
cobertos pela projeção das copas de todos os indivíduos da espécie e, em metros; eLt é a soma
do comprimento total das linhas usadas na amostragem, em metros.
A cobertura de copa também pode ser estimada, visualmente, pelo método de mensuração
da projeção da área da copa, quando o pesquisador determina a área da projeção vertical da
copa de cada árvore ou arbusto, por meio de seu diâmetro:
CCe = 100(Ce/A)
em que CCe é a cobertura de copas de dada espécie e; Ce é a soma das áreas ocupadas pela
projeção das copas de todos os indivíduos da espécie e, em metros quadrados; eA é a área total
amostrada, em metros quadrados.
A cobertura de copas total da comunidade pode ser obtida pelo somatório da cobertura
de copas de todos os indivíduos da comunidade:
Pelo método de interceptação de linhas: CCt = 100(LilLt)
ou
Pelo método de mensuração da projeção das copas: CCt = 100(CilA)
em que CCt é a cobertura de copas total da comunidade; Li é a soma dos segmentos das linhas em que
cobertos pela projeção das copas de todos os indivíduos amostrados, em metros; Lt é a soma do da esp'
comprimentõ total das linhas usadas na amostragem, em metros; Ci é a soma das áreas ocupadas espécie
pela projeção das copas de todos os indivíduos amostrados; eA é a área total amostrada, em metros.
Para muitos estudos (como aqueles sobre abertura do dossel em áreas com regimes de somar as
distúrbios diferenciados ou em estudos de efeito de borda), o que importa é a cobertura/abertura deseje, p
de copas da comunidade como um todo. Nesses casos, em que a contribuição individual de a um má
cada espécie para a cobertura de copas não importa, o uso de fotografias hemisféricas ou de meio do.
um densiômetro esférico pode ser alternativa melhor. Ambas as técnicas permitem boa estimativa estrutura
da abertura do dossel da vegetação, mesmo em florestas tropicais. (baixo I'i
Métodos de levantamento do componente arbôreo-arbustivo 201

As fotografias hemisféricas consistem no uso de uma câmera fotográfica full frame


com lente 8 mm (lente "olho de peixe"), que registra o dossel da floresta em um ângulo de 180Q•
As fotos são, então, analisadas por softwares que fornecem a estimativa de abertura/cobertura
do dossel da floresta. Esse método, entretanto, tem a desvantagem de depender de equipamentos
caros e do domínio dos softwares específicos para fazer a análise (SUGANUMA et al., 2008).
O uso do densiômetro esférico é uma técnica de boa precisão que utiliza equipamentos
mais baratos e é mais simples que as fotografias hemisféricas (SUGANUMA et al., 2008). Ela
consiste no uso de um espelho côncavo que é posicionado pelo pesquisador sob a vegetação. A
partir da quantidade de áreas luminosas visualizadas no espelho, como reflexo da abertura da
copa acima do ponto de observação, faz-se a estimativa de abertura/cobertura do dossel,

Cobertura Relativa de Copas (CRC)


A cobertura relativa de copas é a porcentagem de cobertura que dada espécie detém em
relação à cobertura total da comunidade. Pode ser obtida dividindo-se a cobertura da espécie
pela da comunidade:
CRCe = 100(CCe/CCt)
em que CRCe é a cobertura relativa de copas de dada espécie e; CCe é a cobertura de copas
da espécie e; e CCt é a cobertura de copas total da comunidade.

Índice de Valor de Importância (IVI)


O índice de valor de importância é um índice composto que agrega as variáveis densidade
relativa, frequência relativa e dominância relativa, indicando quais espécies têm maior
contribuição para a comunidade. Algumas espécies têm muitos indivíduos na comunidade, outras
têm indivíduos muito grandes, algumas espécies têm distribuição agregada e restrita a poucos
locais, outras são amplamente distribuídas na vegetação. Quando se deseja determinar quais
espécies são mais "importantes" na estrutura da comunidade, o IVI é uma tentativa de equalizar
a contribuição de espécies mais dispersas ou menos dispersas e entre espécies mais abundantes
ou espécies com indivíduos de maior porte. É calculado pela fórmula:
IVIe = DRe + FRe + DoRe

em que IVIe é o índice de valor de importância de dada espécie e; DRe é a densidade relativa
da espécie e; FRe é a frequência relativa da espécie e; e DoRe é a dominância relativa da
espécie e.
Cada variável relativa totaliza 100% se forem somadas todas as espécies. Entretanto, ao
somar as três variáveis, cada uma totalizando 100%, tem-se um IVI total de 300%. Caso se
deseje, pode-se dividir o valor do IVI por 3 [IVI = (DR + DoR + FR)/3], a fim de limitar o IVI
a um máximo de 100 %. Tal procedimento permite ler o IVI diretamente em porcentagem. Por
meio do IVI, é possível distinguir algumas poucas espécies que são socialmente importantes na
estrutura da vegetação (alto IVI) e muitas outras de pequena importância social na comunidade
(baixo IVI). O IVI permite distinguir dois grupos de espécies na comunidade: as espécies com
202 Moro e Marfins

maior IVI, de grande importância social na comunidade, e as espécies com pequeno IVI, de
menor importância fitos sociológica. Geralmente, as espécies de maior importância social têm
maior amplitude geográfica (BROWN, 1984; SCUDELLER et al., 2001) e constituem um núcleo
de espécies com dinâmica mais lenta na comunidade (MAGURRAN, 2007). A ordenação de
espécies dentro de cada grupo não é de fato possível, pois qualquer uma delas poderia mudar de
posição caso nova amostragem fosse realizada (CIELO FILHO et al., dados não publicados).

Cálculo de biomassa
A biomassa de uma população ou comunidade de plantas lenhosas pode ser obtida pelo
meio direto ou indireto. O meio direto é um procedimento complicado e destrutivo, sendo
necessário cortar diversas plantas, calcular o seu volume e pesá-Ias. Por isso, o cálculo de
biomassa de uma comunidade ou população geralmente é feito pelo método indireto, mediante
estimativa baseada em equações de regressão. A estimativa de biomassa a partir de equações
de regressão já publicadas (e.g. SAMPAIO; SILVA, 2005; DELITTI et al., 2006; VIEIRA et
al., 2008) é bem mais simples e exige apenas medições alométricas usuais (DAS, PAP, altura ...)
das plantas, sem maiores prejuízos para a vegetação.
Para descobrir quais as melhores equações de regressão para dada vegetação ou espécie,
pesquisadores necessitam apelar para os protocolos mais demorados e agressivos do método
direto, que consiste em cortar vários indivíduos, mensurá-los, pesá-los e buscar equações com
boa regressão entre os resultados observados e os esperados. Entretanto, uma vez que esse
procedimento tenha sido feito e seus resultados tenham sido publicados, pesquisadores
subsequentes passam a se beneficiar das equações disponibilizadas na literatura, pois um modo
fácil de obter estimativas de biomassa (pelo método indireto) torna-se acessível.
Na ausência de tal informação, o pesquisador pode descobrir qual a equação mais
apropriada para a espécie desejada pelo método direto e publicar essas informações ou apelar
para equações disponíveis para espécies semelhantes, avaliando cuidadosamente os resultados
e correndo os riscos associados a essa decisão. O mesmo vale para a ausência de equações
publicadas para um tipo específico de vegetação.

Considerações Finais
Os levantamentos florísticos ou fitossociológicos já realizados permitiram conhecer, em
parte, a distribuição das espécies do planeta, bem como as diferenças de estrutura entre os
diferentes biomas e a dinâmica de algumas comunidades. Analogias estruturais e ecológicas
entre as florestas e savanas do mundo também ressaltaram as semelhanças no funcionamento
desses ecossistemas, embora sua flora seja completamente (ou, para biomas no mesmo
continente, pelo menos em grande parte) diferente.
A disponibilidade prévia de inventários florísticos e trabalhos fitos sociológicos publicados,
mesmo quando realizados sem buscar responder a perguntas científicas, tem sido a base de
trabalhos biogeográficos. Do mesmo modo, a existência prévia de levantamentos florísticos
Métodos de levantamento do componente arbóreo-arbustivo 203

tem permitido a compreensão de temas tão atuais como as taxas de extinção de espécies e a
modificação de ecossistemas (ver DRAYTON; PRIMACK, 1996; Van der VEKEN et al.,
2004, para exemplos de como um levantamento florístico prévio, associado a levantamentos
recentes, foi útil para determinar as taxas de extinção ao longo do século XX).
O uso de critérios de inclusão padronizados em diferentes levantamentos fitos sociológicos
certamente acrescenta muito mais consistência às informações coletadas e insere os dados de
levantamentos individuais em um esforço coletivo de amostragem dos ecossistemas do planeta.
Assim, sempre que possível, os pesquisadores devem adotar os critérios de inclusão já
consagrados para cada fisionomia. Critérios de inclusão diferentes serão, com justiça, requeridos
em diversos casos (estudos sobre regeneração, em sub-bosque etc.), o que não afeta a
recomendação de padronização, a qual deve ser adotada nos estudos corriqueiros.
O acúmulo de levantamentos florísticos ou fitossociológicos pontuais também serve de
base para determinar padrões de distribuição de espécies ou associações em meta-análises,
além de subsidiar hipóteses de relação entre as plantas e as condições ambientais, as quais não
seriam possíveis sem a soma de vários levantamentos já publicados. Por isso, embora o teste
de hipóteses científicas em trabalhos com vegetação seja extremamente importante
.' (DURIGAN, 2009), o valor de levantamentos florísticos e fitossociológicos isolados também
não deve ser menosprezado.

Agradecimentos
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pelas bolsas de doutorado concedidas
ao primeiro autor.

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Métodos de levantamento do componente arbóreo-arbustivo 209

Anexo I - Fórmulas Uteis

Para transformações das medidas do caule


Legenda: D é o diâmetro do caule, r o raio do caule, P o perímetro do caule, Gi a área da
seção transversal do caule de um indivíduo, Vo volume do caule; h a altura da planta; e n o
número pi, equivalente a aproximadamente 3,1416.
Diâmetro para raio
D = 2r
Perímetro para raio
P=2nr

Perímetro para diâmetro


P = nD
Área
Gi = nr2
ou

ou
Gi = p2/4n

Volume
V=Gi.h

Para cálculo das variáveis fitossociológicas


Legenda: N é o número total de indivíduos amostrados (abundância total), DAe a densidade
absoluta de dada espécie e, ne a abundância da espécie e, A a área total amostrada (em
hectare), Ã a área média ocupada por um indivíduo (em metros quadrados), DAt a densidade
absoluta total da comunidade, DRe a densidade relativa da espécie e; FAe a frequência absoluta
da espécie e, Pe o número de unidades amostrais em que a espécie e ocorre, Pt o número total
de unidades amos trais utilizadas no trabalho, FAe a frequência absoluta da espécie e; FAt a
frequência absoluta total da comunidade, LFA spp a soma das frequências absolutas de todas as
espécies, FRe é a frequência relativa da espécie e, DoAe a dorninância absoluta da espécie e,
DoRe a dorninância relativa da espécie e, Ge a área basal da espécie e (obtida pela soma das
áreas basais de todos os indivíduos da espécie e), Gi a área basal do indivíduo (a soma de todas
as Gi divididas pela área total amostrada fornece a dorninância absoluta total da comunidade),
Gt a área basal total (obtida pela soma das áreas basais de todos os indivíduos amostrados de
todas as espécies), DoAt a dorninância absoluta total da comunidade, DoA spp a dorninância
210 Moro e Martins

absoluta de todas as espécies, IV/e o índice de valor de importância da espécie e, CCe a


cobertura de copas da espécie e, Le o comprimento da linha sob a projeção das copas de todos
os indivíduos da espécie e, Li o comprimento da linha sob a projeção das copas de todos os
indivíduos da comunidade, Lt é o comprimento total da linha usada na medição da cobertura de
copas, Ce a soma das áreas ocupadas pela projeção das copas de todos os indivíduos da
espécie e, Ci a soma das áreas ocupadas pela projeção das copas de todos os indivíduos da
comunidade, e CCt a cobertura de copas total da comunidade.

Abundância
Abundância =N
Densidade Absoluta da Espécie (DAe)
Método de parcelas: DAe = n/A
Método de quadrantes: DAe = DAt.n/N
Densidade Absoluta Total da Comunidade (DAt)
Método de parcelas: DAt = N/A
Método de quadrantes: DAt = 1O.000/Ã
Densidade Relativa da Espécie (DRe)
DRe = 100n /N e

Frequência Absoluta da Espécie (FAe)


FAe = 100(PelPt)

Frequência Absoluta Total da Comunidade (FAt)


FAt = I,FA spp

Frequência Relativa da Espécie (FRe)


FRe = (FAeIFAt).100
Dominância Absoluta da Espécie (DoAe)
DoAe = I,Ge/A
Dominância Relativa da Espécie (DoRe)
DoRe = 100(Ge/Gt)
Dominância Absoluta Total da Comunidade (DoAt)
DoAt = I,Gi/A
ou
DoAt '= I,DoA spp
Métodos de levantamento do componente arbóreo-arbustivo 211

Índice de Valor de Importância (IVI)


IVle = DRe + FRe + DoRe

Cobertura de Copas da Espécie (CCe)


Pelo método de interceptação de linhas: Cce = lOO(LelLt)
ou
Pelos métodos de mensuração da projeção da área da copa: Cce = lOO(Ce/A)

Cobertura de Copas Total da Comunidade (CCt)


Pelo método de interceptação de linhas: CCt = (I,LilLt).lOO
Pelos métodos de mensuração da projeção da área da copa: CCt= (I,CilA).lOO

Cobertura Relativa de Copas da Espécie (CRC)


CRCe = lOO(CCe/CCt)

Anexo 11 - Modelo de Ficha de Campo


para Levantamentos Fitossociológicos
pelo Método de Parcelas

Local: Data: _/_/ __ Parcela N°


Perímetro do Altura da Diâmetro da
N' Espécie Caule (em) I Planta (m) Copa (m)

1 I
2 I
3 I
4 I
5 I
6 I
7 I
8 I
9 I
10 I
I
Observações:
212 Moro e Martins

Anexo 111 - Modelo de Ficha de Campo


para Levantamentos Fitossociológicos
pelo Método de Quadrante

Distância ponto-I Perímetro do Caule


Ponto Quadrante Espécie Altura da Planta (m) Diâmetro da Copa (m)
Planta (em)
I
1 I
I
I
I
2
I I
I
I
I
3 I
I I
I
4

Observaçoes.

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