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A ENGENHARIA DA ARCA DE NOÉ

The Noah´s Ark Engineering

Leonardo Pedro Wichert Neto.1

Resumo

O presente artigo pretende fazer uma abordagem do


relato bíblico de Gênesis 6:11-8:3, a partir da ótica da moderna
engenharia, levantando dados e compilando análises que mostrem
quais eram as reais características da embarcação de Noé, bem
como seu desempenho esperado para as condições de maré que
possivelmente ocorreram durante o dilúvio. Com esse trabalho
espera-se trazer uma imagem mais real dos acontecimentos da
grande inundação relatada em gênesis. É importante destacar
que esse trabalho não tem a intenção de tentar provar ou não a
existência da arca ou do dilúvio. Parte-se do princípio de que o
dilúvio e a arca incontestavelmente aconteceram.

Palavras-chave: Arca de Noé; Dilúvio; Engenharia Naval; Gênesis.

Abstract

This article intends to approach the biblical story of


Genesis 6:11-8:3 from the perspective of modern engineering,
collecting data and compiling analysis that show what were
the actual characteristics of Noah’s vessel, as well as its desired

1 Engenheiro Civil graduado pela Universidade Federal do Paraná e aluno do curso


de Bacharelado em Teologia da Faculdade Teológica Batista do Paraná. E-mail:
leonardowichert@gmx.net.

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performance in the sea conditions that possibly occurred during
the flood. With this work it is expected to bring a truer picture of
the events of the great flood described in Genesis. It is important
to highlight that this work has no intention of trying to prove or
disprove the existence of the ark and the flood. It starts from the
principle that the flood and the ark undeniably happened.
Keywords: Noah’s Ark; Flood; Marine Engineering; Genesis.

Introdução

Quando se pensa na Arca de Noé, a primeira imagem que


vem a cabeça de muitos é a de um barco de madeira, com a forma
semelhante a uma banheira, com um telhado em cima e cheia
de animais. Bem provavelmente também estarão presentes na
cena um casal de elefantes e um de girafas olhando pelas janelas
e Noé e sua família parados sobre o convés, acenando. Essa é a
imagem típica da Arca, com a qual estamos familiarizados desde
que éramos crianças.
Contudo, ao estudarmos os relatos apresentados na bíblia,
logo percebemos que essa imagem usual não é fiel à realidade.
Apesar do relato bíblico não conter informações detalhadas
sobre o projeto da Arca, podemos utilizar as informações de
Gênesis como base para inúmeros cálculos e testes sobre a Arca.
No decorrer desse artigo, pretende-se mostrar, com base
nas Escrituras, e sob a luz da engenharia moderna, através de
cálculos, testes e comparações com embarcações modernas, quais
eram as características de forma, tamanho e navegabilidade da
Arca de Noé, trazendo assim uma imagem mais real dos fatos do
dilúvio, de forma a criar para o leitor uma imagem verossímil dos

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acontecimentos da grande inundação relatada em Gênesis.

1 O projeto

Numa referência bíblica, podemos ler:


A terra, porém, estava corrompida diante da face de Deus;
e encheu-se a terra de violência. E viu Deus a terra, e eis que
estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido
o seu caminho sobre a terra. Então disse Deus a Noé: O fim
de toda a carne é vindo perante a minha face; porque a terra
está cheia de violência; e eis que os desfarei com a terra. Faze
para ti uma arca da madeira de gofer; farás compartimentos na
arca e a betumarás por dentro e por fora com betume. E desta
maneira a farás: De trezentos côvados o comprimento da arca,
e de cinqüenta côvados a sua largura, e de trinta côvados a sua
altura. Farás na arca uma janela, e de um côvado a acabarás em
cima; e a porta da arca porás ao seu lado; far-lhe-ás andares,
baixo, segundo e terceiro. Porque eis que eu trago um dilúvio de
águas sobre a terra, para desfazer toda a carne em que há espírito
de vida debaixo dos céus; tudo o que há na terra expirará. Mas
contigo estabelecerei a minha aliança; e entrarás na arca, tu e os
teus filhos, tua mulher e as mulheres de teus filhos contigo. E
de tudo o que vive, de toda a carne, dois de cada espécie, farás
entrar na arca, para os conservar vivos contigo; macho e fêmea
serão. Das aves conforme a sua espécie, e dos animais conforme
a sua espécie, de todo o réptil da terra conforme a sua espécie,
dois de cada espécie virão a ti, para os conservar em vida.2

A narrativa nos mostra como Noé, sua família e todas as


espécies de animais da terra foram salvos quando Deus decidiu
destruir o mundo por conta da maldade humana.
Deus deu a Noé instruções para a construção da Arca.
Deveria ser feita de madeira, com três “decks” e com medidas

2 ALMEIDA, João Ferreira (Trad.). Bíblia Apologética de Estudo. 2. ed.


Jundiaí: ICP, 2005. Gênesis 6:11-20, pag. 13-14.

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totais de 300 côvados de comprimento, 50 côvados de largura e
30 côvados de altura. Também deveria ter um telhado (janela) em
cima, de um côvado.

1.1 A forma da Arca

O relato bíblico não nos dá uma descrição exata da forma


da Arca.
Ao longo da história muitos artistas ao redor do
mundo representaram a embarcação de Noé em pinturas e
desenhos diversos. Apesar de diferenças existirem entre essas
representações, a grande maioria delas tende a adotar uma
forma similar para a Arca.
Em grande parte das representações que encontramos da
história do dilúvio, a Arca aparece como um grande barco de
madeira, com casco bastante curvo e com uma proporção entre
comprimento e altura muito menor do que o descrito na bíblia.
Outra diferença marcante presente em muitas representações é
o telhado, que sempre se parece com uma casa colocada sobre
a Arca.

Figura 1 - Ilustração da Arca de Noé


clássica (worldwideflood, 2012)

No texto original hebraico, a palavra usada para se referir

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à embarcação é tbat=Ii3 (tebat), a qual ocorre apenas duas vezes em
toda a bíblia: na narrativa do dilúvio e no livro de Êxodo, quando
é usada para descrever o cesto em que Moisés foi colocado por
sua mãe.
A enorme diferença entre os dois objetos torna difícil a
tarefa de determinar o significado dessa palavra.
Algumas fontes indicam que essa palavra não seria de
origem hebraica, mas sim derivada da palavra egípcia db’at, que
significa caixa, baú ou arca, sugerindo uma forma quadrangular.
Contudo, quando o texto original faz referência à Arca
da Aliança, a palavra utilizada não é tebat, mas sim NwOr)j4 (aron).
A primeira tradução a utilizar a mesma palavra para se referir à
Arca de Noé e à Arca da Aliança é o texto grego da septuaginta5,
onde ambas são chamadas de kibotój (kibotos). Nessa tradução,
diferentemente do texto hebraico, a palavra utilizada para
descrever a Arca de Noé não é a mesma usada para o cesto de
Moisés, que aqui é chamado de qibin (thibin).
Outra hipótese com relação á tradução da palavra tebat
é que essa signifique “salva-vidas”, o que daria uma explicação
cabível tanto no relato do dilúvio quanto no relato de Moisés.
O que fica claro é que a palavra tebat não pode significar
especificamente nem barco (em hebraico hyf@ni)f6  – oniyah), nem

3 KITTEL, Rudolf (Org.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche


Bibelgesellschaft, 1997. Gênesis 6:14, pag. 8.
4 KITTEL, Rudolf (Org.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 1997. Êxodo 25:10, pag. 126.
5 The Septuagint Version of the Old Testament. 8. ed. Grand Rapids: Zondervan
Publishing House, 1976.
6 KITTEL, Rudolf (Org.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart:
Deutsche Bibelgesellschaft, 1997. Jonas 1:3, pag. 930.

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cesto (em hebraico lsa7 – sal, ou dw@d8@ – dud), como a maioria das
traduções nos traz. Isso faz com que a forma da Arca seja ainda
um mistério. Talvez tebat nem mesmo faça menção a uma forma
específica, e sim à função da Arca (se usarmos a interpretação de
salva-vidas).
Com a aparente falta de pistas sobre o texto bíblico,
precisamos investigar outros fatores para tentar chegar a uma
forma mais próxima a da Arca real.
Levando-se em conta a tecnologia disponível na época da
construção da Arca, as condições de navegação às quais ela foi
exposta e a finalidade à qual ela se propunha, podemos chegar
a algumas conclusões que nos ajudam a definir uma possível
forma preferível.
Primeiramente, pensando-se nas tecnologias e ferramentas
disponíveis na época da construção deve-se ter em mente que
quanto mais simples a forma da embarcação, mais fácil seria a
sua execução. Sabemos que formas quadradas e ângulos retos são
muito mais fáceis de construir do que curvas e formas complexas.
Outro fator importante é o fim a que se destinava a Arca.
Como deveria funcionar apenas como uma balsa flutuante e sem
propulsão, viajando a deriva, e não como um navio propulsionado,
a melhora do desempenho do casco através de formas mais
complexas, tais como extremidades afiladas ou arredondadas, que
visam diminuir o arrasto e melhorar o deslocamento, seriam de
pouca importância, ainda mais se considerarmos o aumento da

7 KITTEL, Rudolf (Org.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche


Bibelgesellschaft, 1997. Levítico 8:26, pag. 155.
8 KITTEL, Rudolf (Org.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 1997. Jeremias 24:2, pag. 749.

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dificuldade na construção que essas formas acarretariam.
Muitos estudos modernos apontam para a Arca tendo
uma forma de paralelepípedo, com uma claraboia longitudinal
no centro do convés, não tendo nenhuma curva em suas
extremidades, conforme se pode ver na Figura 2. Essa é uma
forma que facilitaria a construção e maximizaria o espaço interno,
algo que também era importante para Noé.

Figura 2 - Arca de Noé nas proporções


bíblicas (modelwarships, 2012)

Neste trabalho, estudaremos mais a fundo esta forma de


paralelepípedo. Explicações mais detalhadas com relação à forma
do casco, sua estabilidade e resistência, bem como as condições
de navegabilidade a que a Arca foi exposta, serão abordadas na
sequência do trabalho, dando maior embasamento a essa teoria.

1.2 O material

É fato incontestável que a Arca era feita de madeira, já que


o texto bíblico nos diz que a arca deveria ser feita com madeira
de gofer9.
9 ALMEIDA, João Ferreira (Trad.). Bíblia Apologética de Estudo. 2. ed. Jundiaí:
ICP, 2005. Gênesis 6:14, pag. 13.

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Contudo, não se sabe com certeza o que significa gofer. Não
se conhece nenhuma madeira chamada de gofer, nem atualmente
e nem na antiguidade.
A palavra utilizada no texto original é rpego10 (gofer). Essa
palavra aparece apenas nesse texto, não se repetindo mais durante
toda a bíblia.
Alguns dizem que essa palavra seria resultado de um erro
de grafia da palavra rpek11o% (kofer), que pode ser traduzida como
betume ou resina. Isso faria com que a tradução da passagem fosse
madeira de betume ou madeira resinosa, referindo-se ao tipo da
madeira ou ao tratamento dado a ela, mais do que à sua espécie.
Visto que na sequência do mesmo versículo Deus faz referência
novamente a esse processo de tratamento da madeira, a teoria tem
grande probabilidade de ser correta.
Já Kidner12 considera “cipreste” uma conjectura mais
plausível para essa passagem. Essa hipótese foi a utilizada na
tradução da NVI13, onde o texto de Gênesis 6:14 diz que a Arca
deve ser feita com madeira de cipreste.
De todas as maneiras, o texto bíblico não é claro com relação
ao tipo de madeira que foi utilizado na Arca.
Para esse trabalho, adotou-se como referência de cálculo
valores de densidade da madeira de 600 kg/m3, como no estudo

10 KITTEL, Rudolf (Org.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart:


Deutsche Bibelgesellschaft, 1997. Gênesis 6:14, pag. 8.
11 KITTEL, Rudolf (Org.). Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart:
Deutsche Bibelgesellschaft, 1997. Gênesis 6:14, pag. 8.
12 KIDNER, Derek. Gênesis: Introdução e Comentário. 2 ed. São Paulo: Editora
Mundo Cristão, 1981, pag. 83.
13 BARKER, Kenneth (Org.). Bíblia de Estudo NVI. 1. ed. São Paulo: Editora Vida,
2003. Gênesis 6:14, pag. 16.

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de Hong14. Isso equivaleria aproximadamente à densidade da
madeira de cedro ou cerejeira.

1.3 As dimensões

As dimensões da Arca, dadas por Deus, estão descritas no


texto bíblico da seguinte forma:
E desta maneira a farás: De trezentos côvados o comprimento da
arca, e de cinqüenta côvados a sua largura, e de trinta côvados a
sua altura. Farás na arca uma janela, e de um côvado a acabarás
em cima; e a porta da arca porás ao seu lado; far-lhe-ás andares,
baixo, segundo e terceiro. 15

Nesse ponto nos deparamos com outra incerteza. O texto


bíblico original traz suas medidas em côvados, mas qual é a
medida do côvado em unidades modernas?
O côvado é determinado como a distância entre o cotovelo e
a ponta dos dedos da mão aberta, ou seja, o tamanho do antebraço
somado ao tamanho da mão, conforme mostra a Figura 3.

Figura 3 - O côvado (worldwideflood, 2012)

Nas civilizações antigas, o côvado era uma medida


corrente, porém existiam diferenças entre as medidas adotadas
por cada civilização.

14 Hong, S. W. [et al]. Safety Investigation of Noah’s Ark in a Seaway. Creation Ex


Nihilo Technical Journal 8, 1994, pag. 26-35.
15 ALMEIDA, João Ferreira (Trad.). Bíblia Apologética de Estudo. 2. ed. Jundiaí:
ICP, 2005. Gênesis 6:15-16, pag. 14.

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A Tabela 1 mostra uma lista com algumas das medidas
mais prováveis para o côvado.
GRUPO CÔVADO mm
Hebraico curto 445 mm
Côvados Curtos 447 mm
Egípcio curto
Comum 457 mm
Babilônico real 503 mm
Côvados Longos Hebraico longo 518 mm
Egípcio real 524 mm
Côvado Extra Longo Babilônico longo 610 mm

Tabela 1 - Referências para a medida do côvado (Morris, 1971)

Utilizando a referência de cada um dos côvados, a Arca


teria seu tamanho de acordo com a Tabela 2.

GRUPO CÔVADO mm Comp. da Arca % Acréscimo


Hebraico curto 445 133m 100%
Côvados Curtos Egípcio curto 447 134m 102%
Comum 457 137m 109%
Babilônico real 503 151m 145%
Côvados Longos Hebraico longo 518 155m 158%
Egípcio real 524 157m 164%
Côvado Extra
Babilônico longo 610 183m 258%
Longo

Tabela 2 - Comprimento da Arca de Noé com


relação a cada côvado (Morris, 1971)

Adotando-se como referência o côvado Comum, o qual


mede 45,7 cm, a Arca mediria 137 m de comprimento, 22,85 m
de largura e 13,7m de altura.

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1.4 As proporções
O modo como as embarcações reagem ao vento e às ondas é
chamado de “comportamento no mar” e, entre outras coisas, está
relacionado com suas proporções.
Um navio proporcionalmente mais comprido é mais
confortável, porém mais vulnerável a alquebrar, ou seja, quando
suspenso a partir do centro por uma onda, as extremidades da
embarcação tendem a flexionar, criando o risco de partir o casco
ao meio. – Figura 4.

Figura 4 - Aumento do conforto (Lovett, 2006)

Para se evitar o problema do alquebramento e construir


um casco mais resistente, pode-se optar por um formato
proporcionalmente mais alto. Esse casco é mais resistente, porém
mais vulnerável ao emborcamento, ou seja, à rolagem do barco
em torno de seu eixo longitudinal, fazendo com que o mesmo vire
de boca para baixo – Figura 5.

Figura 5 - Aumento da resistência (Lovett, 2006)

Para que um casco seja mais estável ao emborcamento é

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possível aumentar sua largura. Um navio proporcionalmente mais
largo é mais estável ao emborcamento, porém menos confortável
e mais vulnerável ao movimento das ondas. – Figura 6.

Figura 6 - Aumento da estabilidade (Lovett, 2006)

É possível notar que esses três parâmetros de conforto,


resistência e estabilidade estão competindo um com o outro,
sendo impossível se atingir o máximo dos três parâmetros em um
mesmo caso. É como se os três estivessem dispostos graficamente
em um triângulo, onde cada uma das três dimensões ocuparia um
dos vértices, conforme a Figura 7.

Figura 7 - Parâmetros de Conforto, Resistência e Estabilidade


dispostos graficamente (Lovett, 2006)

Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 159
No ano de 1992, um time de nove pesquisadores do Instituto
Coreano de Pesquisas Navais e Engenharia Oceânica (Korean
Research Institute of Ships and Ocean Engineering-KRISO) em
Daejeon, Coréia, liderados pelo Dr. Seon W. Hong16, a pedidos de
um grupo de criacionistas coreanos, iniciou um extensivo estudo17
partindo de uma análise detalhada das proporções bíblicas da
Arca e comparando-a com diversos formatos de cascos diferentes.
Durante esse estudo, a Arca de Noé18 foi analisada através da
comparação com 12 diferentes proporções de casco19, todos com
o mesmo volume, conforme nos mostra a Tabela 3. Diferentes
comprimentos, alturas e larguras foram sendo combinados para
criar os 12 cascos fictícios.
Os resultados desse estudo definiram parâmetros ótimos de
estabilidade, resistência e conforto para uma embarcação.
Comp. Larg. Alt. Elevação frontal e lateral do casco Resultado
135 22,5 13,5 OK
Instável ao
135 15 20,3
emborcamento
135 18,8 16,2 Pouco estável
Mais fraco e
135 27 11,25
menos suave
Muito fraco e
baixo
135 33,8 9,0
(risco de
inundação)

16 Dr. Hong era o cientista chefe da pesquisa que investigou a de Arca de Noé. É
licenciado em arquitetura naval pela Universidede Nacional de Seoul e PhD em
mecânica aplicada pela Universidade de Michigan.
17 Esse estudo resultou no artigo Safety Investigation of Noah’s Ark in a Seaway.
18 O trabalho desenvolvido pelo KRISO considerou um formato de paralelepípedo
para a Arca.
19 O trabalho desenvolvido pelo KRISO levou em conta um côvado de 45 cm.

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Pior
90 22,5 20,3
navegabilidade
2ª pior
112,5 22,5 16,2
navegabilidade
162 22,5 11,3 3º mais fraco
O mais fraco de
202,5 22,5 9,0
todos
Navegabilidade
90 33,8 13,5
difícil
Navegabilidade
112,5 27 13,5
difícil
Fraco e pouco
162 18,8 13,5
estável
2º mais fraco,
instável,
202,5 15 13,5
boa
navegabilidade
Tabela 3 - Análise da estabilidade de 13
diferentes formatos de casco (Hong, S. W. et al, 1994)

A Figura 8 mostra as proporções de conforto, estabilidade e


resistência para um navio nas proporções da Arca de Noé obtidas
a partir dos resultados dos testes feitos pelo KRISO.

Figura 8 - Gráfico de equilíbrio para um casco com


as proporções da Arca (Lovett, 2006)

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Como já foi dito, as dimensões da Arca eram 300 côvados
de comprimento, 50 de largura e 30 de altura. É incrível que,
levando-se em conta os três parâmetros da pesquisa, a Arca de Noé
enquadra-se exatamente no ponto médio do gráfico, apresentando
um balanço perfeito entre as três dimensões.
As proporções da Arca se mostraram excelentes para a
estabilidade de um navio, além de proporcionar um comportamento
no mar muito satisfatório, proporcionando resistência e conforto.
Em outras palavras, as dimensões da Arca são próximas ao ideal,
não sendo possível, segundo os pesquisadores, fazer mudanças
significativas para a melhoria do desempenho.
Muitos pesquisadores tendem a dizer que as proporções da
Arca eram as mais estáveis possíveis, O estudo do KRISO mostra
que isso não é verdade, porém a forma da Arca é a que melhor
combina resistência, estabilidade e conforto para as condições de
mar enfrentadas por Noé e sua família
Os resultados desse estudo também nos ajudam a entender
o porquê de Deus ter mandado Noé construir um navio tão
longo. Se Deus estivesse planejando intervir durante a viagem e
miraculosamente livrar a Arca dos efeitos das ondas, a melhor
forma para a embarcação de Noé seria um cubo, pois é a forma que
demanda menos material para sua construção. Adicionalmente a
isso, quanto mais longo é o casco, mais resistente precisa ser sua
construção para resistir às forças de alquebramento que tendem a
flexionar o casco.

1.4.1 A Arca e os Navios Modernos

A grande revolução na engenharia náutica moderna

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ocorreu com o início dos navios fabricados com casco de aço.
Na segunda metade do século 19, a necessidade por navios
maiores e com a redução do custo do aço, os grandes navios
deixaram de ser construídos com madeira.
Contudo, algumas características dos navios se
mantiveram, mesmo com a introdução do aço. Entre elas estão
a proporção comprimento x altura e a proporção comprimento
x largura.
Deus disse a Noé que usasse uma proporção entre
comprimento e altura de 10 por 1. Só mais tarde os construtores
de navios aprenderiam a muito custo que essa relação permite
suportar grandes pressões em mares agitados.
Já o comprimento da Arca de Noé era seis vezes a sua
largura, uma relação comprimento x largura = 6.
Muitos navios modernos têm proporções semelhantes,
embora hoje em dia a escolha da relação comprimento x
largura seja feita levando-se em conta a potência necessária
para navegação. Um típico navio de transporte moderno
possui uma relação entre 6 e 8. Essa relação pode chegar a
10 para navios de alta velocidade. Como a Arca só precisava
flutuar, a propulsão não era fator importante para ela.
A Figura 9 mostra a comparação em escala real da Arca
de Noé ao lado do navio de cruzeiro P&O Pacific Sky. O
navio de cruzeiro tem aproximadamente as dimensões do
Titanic, com capacidade para 1550 passageiros, 11 “decks” e
240 m de comprimento.

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Figura 9 - Replica em escala real da Arca ao lado
de um navio de cruzeiros (Lovett, 2004)

1.4.2 A Arca e Outras Histórias Antigas de


Dilúvios

Histórias de dilúvio podem ser encontradas na mitologia


de vários povos do Pacífico, das Américas, do sul da Ásia e do
Oriente Próximo.
Existem diversas narrativas mesopotâmicas antigas que
descrevem a grande inundação, todas com muitos pontos em
comum com o relato bíblico.
A mais próxima da narrativa bíblica é o Épico de Gilgamesh,
que data de cerca de 1600 a.C., e chegou até nós através de 12
tabletes de argila encontrados nas escavações da livraria palaciana
da antiga capital assíria, Nínive, em 1853.
O tablete de número 1120 nos conta a história desse dilúvio
da seguinte forma:
Oh! homem de Shuruppak, filho de Ubartutu: Demolí a casa
e construí um barco! Abandona a fartura e procura seres vivos!
Despreza possessões e mantém vivos esses seres! Faz todos os
seres vivos entrarem no barco. O barco que constróis, suas

20 The Epic of Gilgamesh, Tablete XI.

164 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica
dimensões devem ser iguais umas às outras: seu comprimento
deve corresponder à sua largura,”
Utnapishtim obedeceu: “Um acre (inteiro) era o espaço do
seu chão. Dez dúzias de côvados a altura de cada uma de suas
paredes, dez dúzias de côvados cada canto do convés quadrado,
Eu sulquei a forma de seus lados e os juntei, dei a ela seis
conveses, dividindo-a (assim) em sete partes,”…

Apesar das inúmeras semelhanças com a narrativa bíblica


do dilúvio, existe no épico de Gilgamesh uma sutil diferença, que
diz respeito às dimensões das arcas.
Segundo o relato do tablete 11, a arca de Utnapishtim,
grande herói do dilúvio, era um cubo com os lados medindo
aproximadamente 55m cada.
Diferentemente da Arca de Noé, que mostrou ter proporções
extremamente estáveis, mesmo contra ondas muito grandes, a
arca cúbica teria girado em torno do seu próprio eixo ao menor
distúrbio das ondas, ficando sem controle e fazendo com que os
animais e tripulantes passassem mal.

2 O DESEMPENHO da Arca

2.1 Estabilidade

O emborcamento é um dos acidentes mais comuns que um


barco pode sofrer. De acordo com estatísticas da Comissão de
Investigação e Prevenção de Acidentes de Navegação – Cipanave
– da Diretoria de Portos e Costas da Marinha Brasileira, o
emborcamento é a forma mais comum de acidente em águas
brasileiras. O emborcamento é especialmente perigoso para uma
embarcação que está viajando de lado para as ondas e, entre
outras coisas, pode ocorrer devido a ondas altas ou ventos fortes.

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Com certeza, a estabilidade ao emborcamento era uma
característica fundamental para o bom desempenho da Arca.
Levando-se em conta mais uma vez as dimensões geométricas
da Arca, a Figura 10 nos mostra que ela poderia sofrer uma
rotação de até 31º em torno do seu eixo longitudinal sem que
a água atingisse a altura do convés superior, gerando o risco de
inundação.
Esses valores são obtidos através da interpretação de Gênesis
7:2021, que diz que quinze côvados acima prevaleceram as águas;
e os montes foram cobertos. Acredita-se que quinze côvados era
o calado da Arca, ou seja, o quanto dela ficou submerso depois
de carregada. Assim, como ela não tocava mais no solo após as
chuvas, havia ao menos quinze côvados de água acima da terra
mais alta. Caso contrário, o seu fundo tocaria em algo.

Figura 10 - Estabilidade ao emborcamento sem inundação (Morris, 2002)

21 ALMEIDA, João Ferreira (Trad.). Bíblia Apologética de Estudo. 2. ed. Jundiaí:


ICP, 2005. Gênesis 7:20, pag. 15.

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Como mostrado na Figura 11, oriundo dos estudos de
emborcamento realizados pelo KRISO, a Arca poderia resistir
a ondas de até 47,5 m sem ser rotacionada a 31º. Ondas desse
tamanho jamais foram registradas nos oceanos atuais, onde a
onda mais alta já medida chegou a 26m, no Atlântico Norte.
Mesmo ondas de Tsunamis não chegam a essa grandeza. A onda de
Tsunami mais alta já registrada ocorreu em Hokkaido, no Japão,
e chegou a 30m, provocada por um terremoto de magnitude 7,6
na escala Richter. Contudo, os tsunamis não são perigosos para
embarcações em alto mar, pois são perceptíveis apenas próximo
à costa.

Figura 11 - Gráfico de resposta ao emborcamento


da Arca (Hong, S. W. et al, 1994)

Caso não levemos em conta o nível de inundação,

Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 167
considerando que a água poderia atingir o nível do convés superior
da embarcação sem inundá-la, o ângulo de emborcamento sobe
para 60º (Figura 12).

Figura 12 - Estabilidade ao emborcamento total (Morris, 2002)

Segundo Collins22, mesmo ventos de 210 nós, o que representa


três vezes a força de um furacão, não poderiam inclinar a Arca
muito além de 3º.

2.2 Conforto

A Arfagem, movimento extremo gerado quando as ondas


fazem uma extremidade da embarcação subir e depois descer
abruptamente, seria muito desconfortável para as pessoas e os
animais a bordo da Arca.
A medida do nível de conforto de uma embarcação com
relação à arfagem é calculada levando-se em conta a aceleração

22 Collins, D,H. Was Noah’s Ark stable? Creation Research Society Quarterly 14.
1977, pag. 83.

168 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica
vertical em suas extremidades.
A Figura 13 nos mostra o gráfico do cálculo de aceleração
vertical nas extremidades para a Arca de Noé. Considerando-se o
limite de aceleração vertical para um navio de passageiros como
sendo 0,34 a aceleração da gravidade, vemos que a Arca poderia
enfrentar ondas de até 43 metros sem extrapolar os limites de
conforto para os passageiros.

Figura 13 - Gráfico de aceleração vertical


para a Arca (Hong, S. W. et al, 1994)

2.3 Resistência

Para suportar vários meses em mar aberto, o casco de


madeira da Arca de Noé deveria ter uma resistência mínima.
Fatores como a distribuição de cargas móveis no interior da
embarcação, grande comprimento e forma de bloco acentuam a
necessidade de um casco forte.

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Para uma embarcação longa, como a Arca de Noé, o maior
perigo para a resistência da estrutura ocorre quando se viaja na
direção das ondas, tentando cortá-las. No momento em que o
barco encontra-se no topo da onda, o casco é suspenso pela sua
parte central, deixando as extremidades suspensas (Figura 14).
Esse esforço é o alquebramento e, como já foi dito, gera o risco do
casco se partir ao meio.

Figura 14 - Movimento de Alquebramento (worldwideflood, 2012)

Para calcular o limite da Arca a partir do ponto de vista da


estrutura, o grupo de pesquisadores do KRISO plotou a espessura
necessária da madeira para diferentes alturas de onda.
A Figura 15 mostra que o limite estrutural da Arca era de
mais de 30 metros se a espessura da madeira fosse de 30 cm, o que
é uma suposição bastante razoável.

170 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica
Figura 15 - Limite estrutural para a Arca (Hong, S. W. et al, 1994)

2.3.1 As ondas do dilúvio

A Bíblia diz que o aguaceiro que originou o Dilúvio foi muito


grande e também diz que Deus, mais tarde, fez com que soprasse um
vento para secar as águas.
O relato bíblico fala de um vento enviado por Deus para secar
a terra. O texto nos diz:
E lembrou-se Deus de Noé, e de todos os seres viventes, e de todo
o gado que estavam com ele na arca; e Deus fez passar um vento
sobre a terra, e aquietaram-se as águas. Cerraram-se também as
fontes do abismo e as janelas dos céus, e a chuva dos céus deteve-
se. E as águas iam-se escoando continuamente de sobre a terra, e
ao fim de cento e cinqüenta dias minguaram. 23

Quanto mais o vento sopra e quanto maior é a sua força, maior

23 ALMEIDA, João Ferreira (Trad.). Bíblia Apologética de Estudo. 2. ed. Jundiaí:


ICP, 2005. Gênesis 8:1-3, pag. 15.

Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 171
é a altura e a força das ondas. As Escrituras não especificam a força
do vento e das ondas, mas é provável que devido à falta de obstáculos
naturais, tais como montanhas e árvores, eles fossem muito fortes.
Embora as informações sobre o dilúvio não sejam suficientes para
prever com precisão a forma e a altura máxima das ondas, podemos
utilizar as dimensões da Arca e as suas especificações comparadas a
um navio de passageiros moderno para inferir as características das
águas em que Noé deve ter navegado.
Se as águas fossem calmas, a Arca poderia ter sido construída
mais baixa, empregando-se menos madeira e menos tempo para
construção. Caso as ondas fossem confusas, vindo de todos os lados,
a Arca deveria ser mais curta. De acordo com os resultados obtidos
pelos pesquisadores do KRISO24, a Arca de Noé parece ter sido
projetada para grandes ondas geradas por um vento unidirecional,
porém com uma estabilidade suficiente para lidar com um mar
ligeiramente confuso e ondas em outras direções.
Um vento constante e sem barreiras naturais geraria ondas
maduras, com comprimentos de onda longos e, provavelmente,
todas na mesma direção. Para essas condições de vento e ondas,
as proporções da Arca são as melhores possíveis, aliando conforto,
estabilidade e resistência.

2.4 A capacidade de carga

2.4.1 Análise Volumétrica

Os pesquisadores da Arca são unânimes em assumir que as


medidas dadas por Deus referem-se à parte externa da Arca. Dessa

24 Hong, S. W. [et al]. Safety Investigation of Noah’s Ark in a Seaway. Creation Ex


Nihilo Technical Journal 8, 1994, pag. 26-35.

172 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica
forma, o espaço líquido no interior da embarcação, aquele que
efetivamente poderia ser utilizado, fica reduzido devido à dimensão
das paredes e estruturas.
Levando-se em conta a descrição de Gênesis, a Arca teria um
volume bruto de: 300 x 50 x 30 = 450 000 côvados cúbicos
Em metros, esse volume seria: 137 x 22,85 x 13,7 =
42.887,17 m3
Para conhecer o volume líquido da Arca, devemos subtrair
das dimensões a espessura de suas paredes e “decks”. Considerando-
se quatro paredes laterais, três “decks” e o teto e assumindo uma
espessura de paredes e decks de 30 cm25, temos as seguintes medidas
para a arca: (137 - 0,6) x (22,85 - 0,6) x (13,7 - 1,2) = 37936,25 m3
(perda de 11,5%)
Na Figura 16, vemos uma réplica da arca de Noé ao lado de um
vagão de trem e da caravela Pinta, utilizada por Cristóvão Colombo
quando descobriu a América, todos na mesma escala.

Figura 16 - Arca de Noé, caravela Pinta e vagão de trem em modelo


reduzido. (biblestudy, 2012)

25 De acordo com o estudo do KRISO – Abordado no item 2.3 deste trabalho.

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O volume real do vagão de trem mostrado na figura é cerca
de 75,6 m3. Um vagão como esse é capaz de transportar em torno
de 240 ovelhas. Considerando-se que o volume líquido da arca
é mais de 422 vezes maior do que o do vagão de trem, pode-
se concluir que seria possível carregar muito mais de 100.000
animais do tamanho de uma ovelha.
Utilizando-se outro critério de referência, podemos dizer
que a arca poderia transportar 2 aviões Boeing-747, com espaço
de sobra (Figura 17).

Figura 17 - Arca comparada a um Boeing 747 e a


diversos animais (fonte: considere a possibilidade)
2.4.2  Análise de carga

Considerando-se o calado da arca em 15 côvados,


conforme interpretação de Gênesis 7:20 abordada no item 2.1, e
uma densidade de 600 Kg/m3 a equipe do KRISO calculou que
o peso total que da Arca seria de 21.016 toneladas. Com base na
mesma referência de densidade da madeira e as dimensões do
côvado já descritas anteriormente, chegou-se a um peso próprio
do casco de 4000 toneladas. Isso daria uma carga útil para a
Arca de 17.016 toneladas.
Utilizando-se como referência o avião Boeing-747 citado

174 Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 | Via Teológica
anteriormente, o mesmo pode ter peso máximo na decolagem
de 396 toneladas, considerando-se tanque cheio, passageiros,
tripulação e carga.
Isso quer dizer que seria preciso empilhar mais de 42 aviões
Boeing-747 sobre a Arca para se atingir o calado de 15 côvados
descritos no relato bíblico.
Adotando-se outro critério de comparação, sabe-se que um
elefante africano adulto pesa em média 7 toneladas. Assim, seria
possível colocar o peso de mais de 2430 elefantes africanos no
interior da Arca.

Conclusão

Ao estudarmos a Arca de Noé sob a ótica da engenharia


moderna, percebemos que a visão tradicional que temos dela
muitas vezes não condiz à realidade. Quando levamos em conta as
informações do relato bíblico, vemos que a Arca é bem diferente
das ilustrações que estamos acostumados a ver em livros e revistas.
Analisando-se as informações contidas na história bíblica
do dilúvio, vemos que o projeto entregue a Noé é perfeitamente
possível de ser realizado. Na verdade, ele segue padrões de proporção
e desenho muito próximos ao ideal para as condições do dilúvio.
Estudos realizados comprovaram que a arca era extremamente
resistente, estável e confortável para seus ocupantes, possuindo a
melhor relação possível entre esses três indicadores. Suas proporções
mostram que seria muito difícil virá-la ou quebrá-la, mesmo se
fosse submetida a ondas superiores a 30 m de altura. Além disso, a
capacidade de carga da Arca também seria suficiente para carregar
uma quantidade muito grande de animais e suprimentos.

Via Teológica | Leonardo Pedro Wichert Neto, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 148 - 178 175
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