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MEMÓRIA HISTÓRICA DO
COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO

1837 - 1937
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Fernando Henrique Cardoso

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO


Paulo Renato Souza

SECRETARIA-EXECUTIVA DO MEC
Luciano Oliva Patrício

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS


Maria Helena Guimarães de Castro
Escragnolle Dória

MEMÓRIA HISTÓRICA DO
COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO

1837 - 1937

Brasília
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
1997
COLÉGIO PEDRO II
Wilson Choeri
Diretor-Geral

COMISSÃO DE ATUALIZAÇÃO DA M E M Ó R I A HISTÓRICA DO COLÉGIO PEDRO II


Roberto Bandeira Accioli
Presidente
Afonso Bensabat Pinto Vieira, Aloysio Jorge do Rio Barbosa
António Nunes Malveira, Demóstheres Vieira Machado
Gastão Nogueira Gorrese, Marílio Pires Domingues
Noemi Pacheco Dias Gonçalves

EDIÇÃO ORIGINAL: 1937

FOTOGRAFIA E REPRODUÇÕES
Alexandre Souza Lima

NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Regina Helena Azevedo de Mello, Rejane Dias Ferreira Ribeiro

PROJETO GRÁFICO
Danilo Barbosa, Marisa Maass, Matheus Gorovitz

REVISÃO
José Adelmo Guimarães

PUBLICAÇÃO REALIZADA DENTRO DO ACORDO MEC - UNESCO

TIRAGEM: 2.000 exemplares

INEP - SGAS, Quadra 607, Lote 50, 70200-670 Brasília - DF


Fone: (061) 244-2612 - Fax: (061) 244-4712

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)


Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Dória, Escragnolle.
Memória histórica do Colégio de Pedro Segundo / Escragnolle Dória;
Comissão de Atualização da Memória Histórica do Colégio Pedro II,
Roberto Bandeira Accioli... et ai. - Brasília: Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais, 1997.
XXVIII, 302 p.; il. ; color. ; retrs.

ISBN 85-86260-70-X

1. Ensino secundário - Colégio de Pedro Segundo - Brasil. I. Accioli,


R o b e r t o Bandeira. II. I n s t i t u t o Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais. III. Projeto de Atualização da Memória Histórica do Colégio
Pedro II. III. Título.
CDU 37.057
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Sumário

Prefácio vii
Apresentação ix
Projeto de Atualização da M e m ó r i a Histórica do Colégio Pedro II xi
Luiz Gastão D'Escragnolle Dória: Apontamentos Biobibliográficos XV
Bibliografia de Escragnolle Dória xxiii
Texto da publicação original de 1937 1
índice onomástico 285
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Prefácio

Em 1990, o professor António José Chediak, então diretor-geral,


nomeou uma Comissão, sob a presidência do professor emérito
Roberto Bandeira Accioli, para atualizar a Memória Histórica do Colégio
Pedro II, reeditando a Memória Histórica do Colégio de Pedro Segundo
- 1837-1937, de Luis Gastão d'Escragnolle Dória, de longa data
esgotada. Houve por bem a Comissão assim proceder, para, numa
segunda etapa, dar continuidade ao período que decorre de 1938 até a
época presente.
Ao assumirmos a Direção-Geral, tornou-se. também, nosso
empenho a realização desse empreedimerito.
Conhecedor dos nossos propósitos, e do papel que o Colégio
Pedro II vem desempenhando no desenvolvimento educacional,
pedagógico e cultural do Brasil, o Intituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais (INEP), pelo zelo de sua presidente, professora
Maria Helena Guimarães de Castro, acolheu nossa proposta, como
uma das edições comemorativas dos 60 anos dessa consagrada
instituição.

Wilson Choeri
Diretor-Geral
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Igreja de São Joaquim (1758) posteriormente demolida


para o prolongamento da atual Avenida Marechal Floriano,
ao lado da qual existiu o Seminário de São Joaquim,
transformado em Colégio Pedro II.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937

Apresentação

A atualização da memória histórica do Colégio A participação nas reformas de ensino se objetiva


Pedro II tem sentido bastante significativo. com o intuito de oferecer a solidariedade de propósitos
A republicação de edição comemorativa do para aperfeiçoamento dos princípios basilares, quais
Centenário, acrescida do texto referente ao transcurso, cânones a serem devidamente assegurados em benéfico
daquela data em diante, traduz a experiência vivida, rendimento ao progredir da coletividade.
evocando quadro da nossa evolução politica e cultural. O diploma de Bacharel em Letras ao aluno que tiver
Nos mais variados setores da vida nacional, completado todo o curso é galardão conferido a ostentar
qualitativa e quantitativamente, a contribuição do Colégio não importa a profissão escolhida, em que geralmente seu
Pedro II se fez valer de modo expressivo. portador se destaca.
A condição democrática que o anima alicerça sua Compartilhando dos grandes momentos da
atividade, desde seus primórdios, a impor um proceder
nacionalidade, o Colégio Pedro II, através de seus mestres,
que se vê consagrado por mais de século e meio e
discípulos e servidores, prega a Liberdade e o amor à
festejado por parte de todo o Brasil que pensa e ama as
Pátria, sem qualquer restrição, o que constitui apanágio
belas realidades.
habitual.
Assinalado no Colégio o ano letivo de 1881 pela
O pessimismo inoperante e o otimismo
conversão do Conselho Colegialem Congregação, constitui
inconsequente cedem lugar ao equilíbrio. Nota-se, ainda,
norma o provimento das cátedras por via de concurso de
títulos e provas. o esvanecimento da velha querela entre antigos e
A relação dos professores recai em personalidades modernos, reunindo os mais e menos idosos nos menores
das mais representativas, no que diz respeito às funções empreendimentos, e, assim mantendo o adquirido,
docentes. harmonizado com a inspiração inovadora.
À frente da administração do Colégio se acharam Fim precípuo da civilização que ora se elabora é
figuras das mais dedicadas e eficientes, cujo procedimento conciliar em uma cultura e uma educação reais os
se torna apreciável. conhecimentos que afluem, numerosos e indispensáveis,
ESCRAGNOLLE DÓRIA

para definir os valores fundamentais e justificar os dias e contribuir para um futuro promissor a ser obtido em bom
que correm e os vindouros. prazo...
Na cultura geral, a pesquisa do essencial faz-se Eis o grande ensinamento do Colégio Pedro II.
imprescindível. Já foi dito "não se compreende o elogio da árvore
Na cultura especializada ao indivíduo cumpre
sem o apreço pela raiz".
preservar o saber, não só acolhendo-o como simples
Viver exclusivamente do passado seria truncar a
herdeiro, mas fiel depositário de um património a ser
existência, que é considerada como renovação contínua
ampliado. Incumbe partir do passado para colocar as
de que participam simultaneamente , além do passado, o
vinculações que conduzem ao presente e permitam definir
sua originalidade. É a esse preço que se libera. Fazendo presente, o futuro.
bom uso do passado, alimenta-se o êxito. Roberto Bandeira Accioli
Distante do derrotismo peninsular de outrora não há Professor Emérito do Colégio Pedro II
por que deixarmos de considerar a validade dos dias atuais Presidente da Comissão de Atualização da Memória
Histórica.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937

Projeto de Atualização da Memória Histórica


do Colégio Pedro II

I - Justificativa instituições. Seus professores irão participar da criação


do Instituto de Educação, do Colégio Militar e vieram a
0 Colégio Pedro II é um marco educacional brasileiro influenciar outros estabelecimentos académicos, como a
que atravessou, com a mesma excelência de trabalho, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
dois momentos maiores da vida do país: o tempo do Em seus bancos escolares se educaram
Império e o surgimento da República. personalidades ilustres em diversas áreas da cultura
Em 1739, foi fundado o Colégio dos Órfãos de São brasileira. Do mundo das letras ao universo da política
Pedro, origem do Seminário de São Joaquim que, por brilham nomes como Álvares de Azevedo, Joaquim
decreto de 1837 levado para assinatura do Regente Pedro Nabuco, Barão do Rio Branco, Visconde de Taunay, Antenor
de Araújo Lima pelo eminente Ministro Bernardo Pereira Nascentes, Manuel Bandeira, Souza da Silveira, Afonso
de Vasconcellos, veio a transformar-se no Colégio Pedro Arinos de Melo Franco, dentre muitos outros. Contam-se
II. Homem de sólida formação humanística de irradiação
também os três presidentes da República: Rodrigues
francesa, Bernardo Pereira de Vasconcellos tinha como
Alves, Hermes da Fonseca e Washington Luís.
objetivo criar no Brasil um estabelecimento nacional de
Se os alunos atestam o alto padrão da qualidade de
ensino que recordasse a grandeza do Colégio de França,
ensino do Colégio Pedro II, ele se justifica por um quadro
considerado o maior monumento cultural da Europa.
docente memorável, onde se destacam Joaquim Manuel
Não se veja aqui nenhum traço de cópia servil a
de Macedo, Araújo Porto Alegre, Gonçalves Dias,
modelos estrangeiros, mas a vontade de dar passos em
Gonçalves de Magalhães, Barão de Planitz, Barão
caminhos já trilhados, na certeza de um resultado positivo
quanto à educação de um povo. Tautphoeus, Barão Homem de Melo, Barão do Rio Branco,
Capistrano de Abreu, Euclides da Cunha, Fausto Barreto,
Os mais de cento e cinquenta anos de existência
do Colégio Pedro II respondem afirmativamente aos Carlos de Laet, Sylvio Romero, João Ribeiro, Manuel Said
anseios de seu idealizador. Durante esse período ele tem Ali, José Veríssimo, Antenor Nascentes, Manuel Bandeira,
sido a centelha viva a iluminar o aparecimento de novas Celso Cunha em lista numerosa e exaustiva.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Nascentes e Bandeira foram alunos que voltaram O Colégio Pedro II, reverente a seu património
ao Colégio como professores, somando dois casos em histórico cujos fios se entrelaçam a tecer a vida cultural
lista não menos numerosa e exaustiva. Esse contínuo ir- brasileira, como atestam a obra literária de Pedro Nava e
a dramaturgia tão moderna de Dias Gomes e de Gilberto
e-vir, essa dinâmica amorosa que só uma grande
Braga, deve permanecer como exemplo de uma instituição
instituição pode ostentar, é a marca do Colégio Pedro II.
escolar que cultua a liberdade e o conhecimento alicerçado
Não esmoreceu no tempo. Hauriu forças sempre em valores a firmar raízes em sua tradição
novas de sua comunidade, atenta às mudanças e pronta sesquicentenária.
a mudar. Tantas vezes emprestou seus talentos a reformas
educacionais, quantas vezes o Brasil necessitou de sua II - Proposta
presença estelar. Contribuir para o desenvolvimento da
Educação nacional foi, é e será o compromisso maior do A história dessa singular instituição federal de ensino
Colégio Pedro II, entendendo tal meta como a disposição não pode ser perdida, com o risco de se perder também a
memória nacional.
perseverante na preparação de um futuro melhor para o
É urgente que se alinhem no tempo os fatos
país. Educar não é informar, mas formar verdadeiros
importantes que tiveram lugar no Colégio Pedro II.
cidadãos do mundo a experimentar a vida ao compasso
Escragnolle Dória registrou, em páginas lapidares, a
de um coração brasileiro em que repousem indeléveis os trajetória do Colégio desde sua fundação até 1937. A
valores de nosso povo. Memória histórica é parada obrigatória para qualquer
Estamos a postos, trabalhando, como fizemos nas estudioso que pretenda penetrar no universo cultural
Reformas Rocha Vaz e Francisco Campos, através da brasileiro quer na política, quer nas artes, quer na ciência,
presença, entre outros, dos Professores Catedráticos quer na Educação. De tudo participou, emprestando sua
experiência e seu engenho.
Floriano de Brito e Delgado de Carvalho.
Em branco está sua história pós-centenária a pedir
O Colégio Pedro II representa a tradição gloriosa de
prelo que a imortalize na alma do leitor brasileiro,
uma instituição que cresceu, multiplicando espaço físico,
desenhando o perfil de uma gente assinalada pela fé no
corpo docente, administrativo e discente, a partir do processo da Educação como o caminho transformador da
"Casarão"da Rua Larga de São Joaquim (hoje Av. Marechal sociedade.
Floriano), onde se encontra a Unidade Escolar Centro. Em Eis por que se reedita, com ortografia atualizada, a
nossos dias, compreende um grande complexo obra de Dória e a ela se dará continuidade, traçando a
educacional desdobrado em nove casas de ensino que se linha histórica que liga o Colégio Pedro II de 1937 aos dias
estendem por diferentes bairros da cidade do Rio de Janeiro: atuais.
quatro Unidades Escolares atendem a crianças da Classe
de Alfabetização até a 4a série do Ensino Fundamental e
III - Objetivos
as cinco restantes a adolescentes no prosseguimento dos
III.I Geral
estudos até a 3a série do Ensino Médio, totalizando 15.000
(quinze mil) alunos com índice de aprovação e permanência Manter viva a memória do Colégio Pedro II, através
escolar que fazem inveja até a estatísticas de países no da organização de documentos existentes nos arquivos
mundo desenvolvido. das diversas Unidades Escolares e Administrativas.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

III.II Específicos Com os originais prontos, a Comissão passou a


tratar da segunda fase do projeto: a elaboração de uma
Atualizar a ortografia da Memória histórica de obra a dar continuidade à Memória histórica que deverá
Escragnolle Dória, tanto quanto for possível, corrigir gralhas conter a evolução do Colégio Pedro II compreendida entre
e erros óbvios, reconhecíveis ou identificáveis. 2 de dezembro de 1937 e os dias atuais. Focalizando
Escrever a continuação dessa obra. eventos importantes e suas imediatas repercussões, a
linha narrativa obedecerá a duas partes gerais:
IV - Estratégias
1a parte: A evolução estrutural
Nessa busca pelo desenho de uma fisionomia 2a parte: A evolução didático-pedagógica.
completa do Colégio Pedro II, desde suas origens até o
presente momento, foi criada uma comissão, presidida Na Primeira Parte, haverá uma abordagem sobre a
pelo Catedrático Emérito e Decano Professor Roberto estrutura física, os bens patrimoniais que foram acrescidos
Bandeira Accioli, que vem colhendo material, já tendo à Casa, a ampliação de suas instalações, expandindo a
formado um acervo de pesquisas de grande importância área de atuação do Externato, no Centro da cidade, e do
para a confecção da obra pretendida. Internato, no bairro de São Cristóvão, nas proximidades
Nomeada em 1990, pelo Professor António José do Palácio Imperial, para outros distritos administrativos,
Chediak, então Diretor-Geral, mantida pela administração como Humaitá e Engenho Novo, em 1952, e Tijuca, em
da Professora Maria Amélia Amaral Palladino, a Comissão 1957. Destaque-se ainda a reconstrução do complexo
de Atualização da Memória Histórica do Colégio Pedro II, arquitetônico de São Cristóvão, a partir dos anos 60, por
presidida pelo Professor Roberto Bandeira Accioli, é força de um incêndio que o destruiu.
formada pelos Professores Aloysio Jorge do Rio Barbosa, Na Segunda Parte, o foco da obra centrar-se-á no
António Nunes Malveira Demósthenes Vieira Machado, desdobramento didático-pedagógico, relacionando planos
Gastão Nogueira Gorrese, Marílio Pires Domingues, Noemi e programas de ensino, o paulatino aumento de matrículas
Pacheco Dias Gonçalves e o Museólogo Alfonso Bensabat e o crescimento dos corpos docente, paradocente e
Pinto Vieira. técnico-administrativo.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

Luiz Gastão DEscragnolle Dória


Apontamentos Biobibliográficos

"Relativamente velho em um país tão novo, o Colégio de Pedro


II pode justamente se ufanar de sua existência e pode dizer às
gerações futuras que as passadas souberam cumprir nobremente o
seu dever".

Escragnolle Dória (Memória, 1937, p. 228)


MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Luiz Gastão DEscragnolle Dória

Na cidade do Rio de Janeiro, em 1869, no número 25 Pública, da Pedagogia, da Educação e da Cultura no Brasil
da Rua Visconde de Itaúna, hoje desaparecida para - fonte bibliográfica inestimável, raríssima e hoje muito
a abertura da Avenida Presidente Vargas, nascia o nosso procurada - razão da presente reedição. Em justa
historiador e literato arqueólogo. Em 1948, na mesma apreciação desse trabalho escreveu Noronha Santos:
cidade faleceu. "Obra de inestimável valor histórico, minuciosa e
Filho de Luiz Manoel das Chagas Dória, General de excelentemente documentada, com testemunhos
Divisão reformado, Bacharel em Ciências Físicas e fidedignos sobre a história daquele notável estabelecimento
Matemáticas, professor da Escola Superior de Guerra, e de educação secundária, acompanhando o progresso e
autor celebrado da obra Estradas de ferro em tempo de desenvolvimento conquistados numa centúria em prol da
guerra (Rio, 1883), que mereceu ser traduzida para o instrução pública no Brasil. Trabalho de raro mérito que
alemão e o francês por oficiais daqueles exércitos; exemplifica a capacidade produtiva de Escragnolle Dória,
escreveu, também, uma conceituada memória sobre a o seu esforço beneditino na consulta de documentos
estabilidade das abóbadas circulares. arquivais, e, sobretudo na probidade, por todos reconhecido
Dona Adelaide d'Escragnolle Taunay Dória, sua mãe, como homem de bem a toda prova". (Revista da Semana,
como se evidencia por seu sobrenome, era uma 10jan. 1948.).
Escragnolle Taunay. Eram tios do menino o Barão de Itaipu Escragnolle Dória, efetivamente engajado, bem
e o Visconde de Taunay, ilustre ex-aluno do imperial colégio. cumpriu a tarefa que lhe fora atribuída - missão arduamente
Pela Portaria de dois de abril de 1934, por decisão beneditina de compulsar nas tradições do passado as
da Colenda Congregação, Escragnolle Dória foi incumbido presenças infindas das forças de continuidade do futuro.
de elaborar a história dos cem primeiros anos do Colégio Com desvelo da sua operosidade, competência e
fundado por Bernardo Pereira de Vasconcelos em 1837. obstinação, foi coadjuvado pela ajuda reverente de dois
No tempo aprazado, em 1937, terminou ele a auxiliares, dois contínuos, Domingos e Leite, escribas
Memória Histórica do Colégio de Pedro II, obra que se copistas e contritos, e que também passavam a conhecer
recomenda àqueles que estudam a evolução da Instrução e eram parte da memória que ajudavam a recuperar.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Entregue a sua preciosa Memória, jubilou-se, por Passou parte da sua infância no Alto da Boa Vista,
imperativo legal, do magistério do Colégio. A Congregação bem pertinho da Cascatinha da Tijuca, desfrutando da
Colenda, com sabedoria, justiça e alto espírito de beleza e da quietude daquele sítio privilegiado.
reconhecimento de seus serviços e proficiência, prestância Terminados os estudos primários, Luiz Gastão foi
pedagógica e educacional singular, foi buscá-lo para, por estudar no Colégio Aquino e no Colégio Amorim. O Pedro
unanimidade, conferir-lhe solenemente o título de Professor II era passagem obrigatória, e, assim o confirma Jônatas
Emérito. O Professor Jônatas Serrano, educador Serrano: "Desta Casa já éreis desde os tempos de aluno
excepcional, saudou-o em nome de seus pares daquela e ainda o quero redizer, a ela tornastes como bom filho...".
Congregação a qual o agraciado pertencia desde 1906. Ainda com onze anos já demonstrava a sua
Não era só o Colégio Pedro II que se rejubilava com precocidade literária ao traduzir do francês uma novela
a outorga da emerência concedida. José Piragibe, citado jocosa de Méry, O sábio e o crocodilo, que foi publicada
por Serrano, em comentário no Jornal do Brasil, naquela na Revista da Escola Militar, em 1880.
oportunidade, assim se manifestou: "Só como professor Em 1886 matriculou-se na Faculdade de Direito de
do Colégio Pedro II é que Escragnolle Dória está São Paulo, onde se diplomou em Ciências Jurídicas e
aposentado. No sentido figurado da palavra emérito a Sociais, em 1890. Foram seus condiscípulos Wenceslau
Congregação do Ginásio Nacional apenas confirmou a Braz e Delfim Moreira. Dois futuros presidentes da
opinião de quantos, mesmo sem o conhecerem, República.
aprenderam e continuarão a aprender com ele muito da Durante algum tempo, exerceu brilhantemente a
nossa História, muitas minúcias, grandes coisas aos olhos advocacia, mas foi, sobretudo, no magistério e nas letras
dele, pelo mundo de maravilhas que encerram e que ele que desenvolveria com maior proficiência, produtividade
nos desvenda, e que nos educam, tomando-nos melhores". e empenho as suas atividades, sem esquecer a sua
Jônatas Serrano, no seu discurso, glosando texto importante contribuição para a arquivística brasileira.
do próprio Dória, sobre o papel do mestre como informador Desde 1887, talvez antes, já escrevia contos, mais
e educador, visto não serem educação e instrução "coisas tarde, em 1902, enfeixados em volume com o título Dor,
nem sempre gémeas", acentuou: "E a segunda sem a nome do primeiro, e louvados pela crítica da época.
primeira - que pobreza moral e que perigo! Oxalá jamais No magistério cedo ingressara como professor a
o olvidem os reformadores do ensino. Programas, partir de 1890. Entre 1896 e 1898 foi Redator de Debates
currículos, métodos renovados facilitam a tarefa. O do velho Senado Federal, que funcionava onde hoje está a
essencial no prodígio da formação de uma personalidade, Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro.
só o realiza o verdadeiro mestre, pelo que sabe, e, De 1902 a 1909 ministrou aulas no Ginásio Nacional,
sobretudo, pelo que é. Esta solenidade vos exalça pelo regendo interinamente as cadeiras de Francês, Inglês,
que sabeis e pelo que sois". Lógica e Geografia. Entre os anos de 1908 e 1909, suas
Coroava-se, naquela sessão magna de 26 de agosto atividades docentes se distribuíram, ainda, pelo
de 1937, no Salão Nobre que ele tanto admirava e exaltara Pedagogium Municipal, Colégio Paula Freitas, Ginásio
em artigo especial, a carreira de um professor autêntico e Fluminense, Escola Normal, Ginásio Pio Americano,
predestinado. Vocação que cedo se delineara. Instituto Comercial, bem como outras instituições de
Vejamos a formação de Escragnolle Dória. ensino.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Em 1906, em concurso ao qual concorreram José comportamento ético e social, cultural e cívico é que se
Veríssimo, Felisbelo Freire, Joaquim Osório Duque Estrada, mantém viva a memória nacional. E isto ele o viu bem.
Armando Dias e Pedro Coutto, obtém, com brilhantismo, Era-lhe um sentimento inato.
em primeiro lugar, a cátedra de História Universal e As suas atividades de labor incansável, intelectual
especialmente da América e do Brasil do Colégio Pedro II, e artístico, não o impediam de colaborar com outras que
então denominado Ginásio Nacional. Nomeado pelo eram pauta de seu espírito humanitário da verdadeira
presidente Rodrigues Alves, bacharel do Colégio, caridade. Como Irmão da Santa Casa de Misericórdia ,
Escragnolle Dória tomou posse em sete de novembro foi procurador da então Casa dos Expostos, depois
daquele ano, sendo saudado pelo professor Dr. Fortunato Fundação Romão de Matos Duarte, sobre a qual, registre-
Duarte, decano da Congregação. se, deu à publicidade um opúsculo histórico que revela,
Em 1909/1910, justo um ano. encontra-se na Europa dentro da isenção do historiador, a sensibilidade de um
a serviço do Governo Brasileiro, o que irá ocorrer, coração generoso. Depois de observar que "pouquíssimo
novamente, nos anos de 1911 e 1912, quando, por ordem se sabe da vida de Matos Duarte", que viveu no Rio de
Janeiro no século XVIII, lembra que "a biografia deste
do Barão do Rio Branco, ficou à disposição do Ministério
continuará tão árida quão fecundo foi o seu coração,
das Relações Exteriores, para pesquisar e recolher nos
reduzido sacrário humano das infinitas bênçãos de Deus".
arquivos europeus documentos que pudessem interessar
Uma instituição surgiu do mesmo espírito que fez nascer,
à História do Brasil. E note-se, somente com os
em 1739, um seminário para órfãos, que, mais tarde,
vencimentos de professor do Colégio!...
reformado e renovado, encontraria o seu historiador naquele
O pai de Herbert Moses, sabendo em que condições
procurador da Misericórdia.
seria a sua estada na Europa, fez questão de entregar-lhe
Não abandonou a liça. Como procurador, militara de
uma carta de crédito de vinte mil francos, jamais utilizada
1912 até 1920. Novas atribuições o esperam de 1920 a
pelo professor, mas cujo gesto, de todo o coração,
1921. É investido como Quinto Mordomo dos Prédios, e
também, jamais foi esquecido por Escragnolle Dória (cf.
passa a gerir o património do Hospital Geral. Como não
AGRA.Alexandrino, O Globo de 2 fev. 1948.).
poderia deixar de ser, escreveu a História da quinta
Max Fleiuss, em 1911, encabeça proposta que o mordomia, onde, num passo, exprimiu um pensamento
torna, em 1912, sócio do Instituto Histórico e Geográfico lapidar, principalmente, para as instituições: "Inútil tentar
Brasileiro. entender, ainda menos explicar presente ou prever futuro,
Nomeado para a direção do Arquivo Nacional, sua sem recurso do passado. A ordem intelectual ou moral é
gestão profícua desenvolveu-se de 1917 a 1922. Foi um cadeia, tem elos, forçosamente".
dos mais dignos e operosos diretores, cuja administração Foi um missionário militante. E assim o
caracterizou-se, principalmente, por grande atividade encontraremos nos registros das Irmandades da Glória do
arquivológica, à qual se juntava um acentuado culto às Outeiro, na Cruz dos Militares ou da Lapa dos Mercadores.
mais genuínas tradições brasileiras, de que foi prova o Pertenceu a muitas instituições científicas, dentre
desenvolvimento dado ao Museu Histórico do Arquivo, outras, ao Instituto histórico e Geográfico Brasileiro,
primitivo núcleo do outro que o sucedeu, ampliou-se, e Instituto de Bacharéis em Letras, ao Instituto Genealógico
que hoje tanto se recomenda. Escragnolle Dória sabia que de São Paulo, e sócio correspondente da Sociedade de
só a preservação consciente desses valores, como Geografia de Lisboa.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

A campanha da Assistência Dentária Infantil bel-canto. Apaixonado pela psicologia das emoções,
encontrou nele um grande incentivador participante e só retrata nos seus contos as causas da dor ou da alegria, os
atingiu os seus objetivos porque foi apoiada por Escragnolle estados da alma e os desencontros, e as situações
Dória, Irineu Marinho, Eurides de Matos, Costa Rego e conflitivas da vida na sua variada e cambiante
Elmano Gomes Cardim. complexidade.
Eo mestre! Biografias e perfis, como os do Visconde de Souza
Ele mesmo, antologicamente, se gizou no prefácio Franco, de Salles Torres Homem ou do Conde de Porto
do Epítome de história universal (1917), de Jônatas Serrano: Alegre, pontilham luminosamente os seus artigos, quer
"Ser mestre não é dar aula mecanicamente, a
pela reversão de momentos vividos quer pela análise dos
namorar o relógio, mastigando noções e deglutindo
documentos. Das suas lembranças da ópera e do Bel-
enfados, chamando quatro ideias para manter palavra
Canto bem as evoca na série de artistas de outros tempos,
durante sessenta minutos.
numa galeria que inclui, dentre outros, Juliana Bejeau,
Ser mestre é um pouco mais, é espreitar com
Rosina Laborde, Gottschalk, SigismundoThalberg, Rosina
alvoroço o progresso do aluno, afagando-o no impulso do
esforço, corrigindo-o no tatear do erro. Stoltz, Enrico Caruso, Eleanora Duse e Adelaide Ristori.
O aluno aproveitável, brioso de futuro, não se Conhecedor de várias línguas, e, principalmente da
desampara com o prazer à porta da escola, perdendo-o de francesa, de que é exemplo precoce a tradução da novela
vista, para sempre, no reboliço da turba humana. de Méry e, em especial, a que fez, mais tarde, do célebre
Cultivando-o para bem da comunidade, o mestre soneto de D'Arvers. Traduziu também O corvo, de Edgar
continua a segui-lo pelo enleio sinuoso da vida, desviando- Allan Poe.
o do perigo pelo conselho, pelo apoio material se for Parece ter sido o único brasileiro a ser mencionado,
preciso, fixando-o no bem e no trabalho pelo aplauso, com aplauso, no Journal des Goncourts. Correspondia-se
sóbrio, mas cordial." com François Coppée, Edmond de Goncourt, Júlio Verne,
O depoimento de Heitor Beltrão, seu ex-aluno, atesta Pierre Loti, Mistral, Massenet, Mallarmé, Maeterlinck,
que o mestre espelhara-se em si mesmo: "Se os discípulos Edmond Rostand, Saint-Saens, Émile Zola, dentre outros
aproveitáveis precisavam, depois da aula, do seu concurso, grandes vultos consagrados da literatura e das artes da
de seu conselho, e mesmo de seu auxílio material, França. Nomes representativos de uma "Belle Époque".
ressurgia-lhes Escragnolle Dória, como nume benfazejo
Professor e publicista, exerceu, com êxito, o conto,
do Colégio, emissário espiritual das aulas idas, projetando-
a poesia, a crítica artística e literária. Outra atividade
se, amparador e discreto, até as lides ásperas cá de fora..."
querida, simultaneamente, o acompanhou em todo o curso
(Jornal do Brasil, 18/11/1937).
de sua vida - o jornalismo.
Não fora outra a razão da homenagem que lhe
Iniciou-se no jornalismo em São Paulo. De julho de
prestaram, em 24 de dezembro de 1933, seus alunos da
Quinta série - Turma B, que o tiveram como professor de 1891 a 18 de fevereiro de 1893 colaborou na Folha da Tarde,
Francês, História do Brasil e História Universal, no de Santos. Participou da segunda fase de A Semana de
Externato, de 1929 a 1933. A sua efígie modelada em Valentim Magalhães e Max Fleiuss, de 1892 a 1895. Passou
bronze exorna a Sala 18, denominada, daí então, Sala pelas redações do Jornal do Commercio (1891 -1922); Rua
Escragnolle Dória. do Ouvidor (1896), Gazeta de Notícias (1908), Capital
Espírito polimórfico de invulgar sensibilidade, desde Paulista (1900), Anais (1905) etc. Colaborou nas revistas
cedo empolgou-se pela literatura, artes, teatro, ópera e Eu Sei Tudo, Renascença, Kosmos, A Semana, Arquivo
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Público Mineiro, Século XX e Sul América. Longa é a lista. da empatia que tornava o leitor presa das suas intenções
Cumpre ressaltar que foi, sobretudo, na Revista da éticas, cívicas, artísticas e educacionais. Pela linguagem
Semana, onde, desde 1921 até 1948, escreveu cerca de dos periodistas e como um sacerdócio, escrevia um
1320 artigos, tendo sido o último postumamente publicado: mestre das nossas antiqualhas, da sua cidade e do Brasil.
"Três Cartas de Euclides da Cunha". Labutou ali durante Vinha Escragnolle Dória juntar-se a outros nomes
vinte e seis anos, com pequenas interrupções redigindo inesquecíveis do Colégio Pedro II: Joaquim Manoel de
artigos que fizeram época. Eram de ampla aceitação pelo Macedo (seu primeiro historiador) e Moreira de Azevedo,
seu teor verdadeiramente documental e iconográfico. professores, e Vieira Fazenda, ex-aluno, todos mestres de
Trabalhos honestos, pautados exclusivamente na verdade antiqualhas.
histórica. O seu primeiro artigo na revista (01/01/1921) Merece citada o elogio fúnebre que dele fez Pedro
intitulava-se Exposição de arte e história dos três reinados, Calmon, Professor Catedrático do Colégio no 110°
1808-1889. Aniversário da fundação do Instituto Histórico e Geográfico
Escreveu libretos para óperas e poemas sinfónicos Brasileiro a 21 de outubro de 1948:
para: Jupira, Marabá e Insónia de Francisco Braga; Navio "Biógrafo, ensaísta, historiador admiravelmente
Negreiro de Assis Nepomuceno; Anchieta de Newton instruído acerca dos grandes e dos miúdos
Pádua; Independência de Elza Cármen; e como não poderia acontecimentos, manteve até o final de laboriosa
deixar de ser para a composição de Villa Lobos, A Guerra. existência a preocupação do patriotismo. O que de
De 1913 a 1931 comentou os programas da panegírico houvesse na sua literatura, o que nela vibrasse
Sociedade de Concertos Sinfónicos. de tradicionalismo polémico, até o seu recorte vetusto de
Usou vários pseudónimos: Vegex, D. Demetrius, evocação repassado de contrastes com a medíocre
Branca de Miramar, Ulisses de Aguiar, Mac Nemo, Nemo, atualidade, correspondiam à energia um tanto intratável
José Belém, Dornelas, Um Abelhudo, Álvaro Guedes, Jacy desse patriotismo intransigente. Dava aos moços que o
Belém e E.D. viam de longe no isolamento austero, de seus assuntos e
Nos artigos que escrevia na Revista da Semana de sua idade, a impressão de um desterrado - não na sua
predominavam estudos sobre temas da História da terra, senão no seu tempo, pois conservava intacta a alma
Civilização e, notadamente, assuntos brasileiros. Foram dos vinte anos e, o que era mais, a recordação e a
crónicas de micro-história , mas necessárias, de sensibilidade de sua literatura espoliada de acessórios
memorialista sublime, em estilo cativante, talvez, barroco verbais que dispensava, para dar à frase uma suposta
para nossa atualidade, onde o passado era visualizado pela elegância, torcendo-a a seu jeito. Que suprimia
oportunidade da revalorização das instituições, dos sistematicamente os artigos e abusava do jogo de
homens, dos monumentos e acontecimentos, com a palavras... mas não se negava a sua arte de recompor as
preciosidade do realce correspondente à sua fama imagens, a engenhosa invocação dos cenários, a galanteria
redimensionada. e o virtuosismo das descrições de que ressaltava o perfil
O seu arquivo arqueológico de recuperação do vigoroso do seu personagem.
passado era excepcional em todos os sentidos, tanto dos Possuía o segredo desse género literário e a seu
recursos documentais de que dispunha, quanto da sua serviço punha o insondável acervo de sua erudição, espécie
extraordinária memória. Entretanto, nada disto valeria se de gaveta de feiticeiro donde, infalivelmente, o mago
não tivesse uma sensibilidade criadora - pedra de toque solitário retirava, sem esforço o chiste, a raridade, a figura
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Ou o esplendor dos episódios que contava. Contava-os Sua cidade soube homenageá-lo, dando o seu nome
com o veio de ensinar. E ensinou honradamente até o a uma Rua de Santa Tereza, e a uma escola na Estrada do
fim, artífice modesto agarrado a vida toda às ferramentas Acaraí, em Costa Barros. Em maio de 1957, seu busto foi
do ofício e que só as deixou quando enregelado pela morte erigido na Rua Conde de Bonfim, na Praça Pinheiro
já não podia suster a máo laboriosa." Guimarães, defronte do Hospital da Penitência, na Tijuca.
O Colégio Pedro II jamais o esqueceu.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

Bibliografia de Escragnolle Dória

I - Obras publicadas em livros ou opúsculos: Biografias do Visconde de Souza


DÓRIA, Escragnolle. As Semivirgens. Tradução do Franco e de Sales Torres Homem
romance de Mareei Presvot. Com (Inhomirim). Figuras do passado:
prefácio do tradutor. Rio de Janeiro: Conde de Porto-Alegre.
[S.I.], 1896. Ubique Patriae Memor. Rio de
Dor: contos variados. [S.l.l: Liv. Janeiro, 1913. Separata do Tomo
Garnier.1904. LXXVI da Revista do Instituto
Coisas do passado. Rio de Janeiro, Histórico e Geográfico Brasileiro.
1909. Separata do Tomo LXXI, 2" Três conferências Europeias sobre
parte da Revista do Instituto o Brasil. Da conveniência de um
Histórico e Geográfico Brasileiro. Acordo Luso-Brasileiro (Lisboa,
Obs. Trabalho assim dividido: 1909).
Artistas de outros tempos: Rosina A significação da obra de Anchieta
Stoltz, Sigismundo Thalberg, na História do Brasil (Roma, 1910);
Henrique Tamberlick, Julianne Un coup d'oeil sur 1'Histoire du
Dejean, Rosina Laborde, Emilio fírés/1 (Roma. 1910)
Wrobleski, Gottshalk, Adelaide Romão de Matos Duarte, o benfeitor
Ristori, Carlota Patti, Ritter Sarasate, da Casa dos Expostos. Rio de
Julião Gayarre, Domingos Santinelli Janeiro: [S.I.], 1916.
e Eleanora Duse. O Teatro na Publicações do Arquivo Nacional.
exposição; - O noviço; As doutoras. Rio de Janeiro, 1917. v. 17.
Deus e natureza. Os Irmãos das D. Pedro II, infância e educação.
almas. As Asas de um anjo; Notas biográficas da família
História de uma moça rica. Notas imperial. Rio de Janeiro: Arquivo
de história financeira. Nacional, 1917. v. 17.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Publicações do Arquivo Nacional. Bacharel em Letras pelo Colégio Pedro II, na turma de
Rio de Janeiro. 1922. v. 20. Edição 1847.
c o m e m o r a t i v a do Centenário da . Álvares de Azevedo no Colégio Pedro II. Jornal do
Independência. Commercio, Rio de Janeiro, 2 abr. 1914. Miscelânea.
Terra Fluminense. Descrição de Aspectos da vida colegial do poeta.
todos os municípios do Estado do . Antigos colégios cariocas: Pedro II, Marinho, Vitorio,
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: [S.I.], Abílio, S. Pedro de Alcântara, Menezes Vieira, Aquino.
1929. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 39, n. 40, set.
Memória histórica do Colégio de 1938.
Pedro II. Publicação oficial do . Ao pé da letra: uma anedota atribuída ao 1 o Marquez
Ministério de Educação e Saúde, de Paranaguá. Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v.
comemorativa do Primeiro 1, n. 2, ago. 1926.
Centenário (2 de dezembro de 1837 . O Barão de Tautphoeus (Jacob José Hermann).
- 2 de dezembro de 1937). Rio de Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 23, n. 10, mar.
Janeiro: MEC, 1937. 1922.
. Bernardo de Vasconcellos. Jornal do Commercio, Rio
de Janeiro, 1 maio 1914. Vultos históricos. Estadista,
II - T í t u l o s de t e m a s ou assuntos publicados em ministro, fundador do Colégio Pedro II.
revistas ou periódicos que fazem referência ao Colégio . . Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 39, n. 1,
Pedro II, direta ou indiretamente, levantados, dez. 1937. A propósito do 1 o centenário da fundação
principalmente, a partir do Códice que registra a produção do Colégio Pedro II.
intelectual de Escragnolle Dória, incorporado ao arquivo . Bertholdo Goldschmidt. Revista da Semana, Rio de
desse professor, e que se encontra sob a guarda da Seção Janeiro, v. 34, n. 33, jul. 1933. Professor do Colégio
de Arquivos Particulares da Divisão de Documentação Pedro II.
Escrita do Arquivo Nacional, no qual se podem contar quase . O Bispo de Areópolis. Revista da Semana. Rio de
três mil títulos, talvez mais. Janeiro, v. 47, n. 42, out. 1946. D. João de Seixas
Fonseca e Borges, beneditino.
III - Artigos de Periódicos . Bom Retiro, professor. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 34, n. 42, nov. 1933. Luiz Pedreira do Couto
DÓRIA, Escragnolle. Um alunno histórico do Collegio Pedro Ferraz, Visconde do Bom Retiro.
II. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 21 nov. 1916. . A cadeira de história do Collegio Pedro II. Revista da
Sobre Carlos Vieira Ferreira, que socorreu o Barão do Semana, Rio de Janeiro, v. 35, n. 20, abr. 1934.
Ladário, ferido no dia 15 de novembro do 1889. Histórico da cátedra no Colégio e seus principais
. Um alunno do Pedro II. Boletim Oficial da Casa do ocupantes.
Estudante, v. 1, n. 10, maio 1937. Transcrito t a m b é m . Carlos de Laet. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
na Revista Ciências e Letras, dos alunos do Colégio v. 4 1 , n. 4, jan. 1940. Professor e diretor do Colégio
Pedro II. Pedro II.
. Álvares de Azevedo, bacharel em Letras. Revista da . Carlos de Laet: notícia b i o g r á f i c a . Bibliotheca
Semana, Rio de J a n e i r o , v. 32, n. 30, jul. 1 9 3 1 . Internacional de Obras Célebres, n. 11, p. 6330-1,119?].
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Transcrito também em Bii (Boletim Oficial da Casa do Jerónimo José Teixeira Júnior e António Ferreira Vianna,
Estudante do Brasil). depois figuras políticas eminentes do Segundo Reinado.
. Centenário de Carlos de Laet. Revista da Semana, . A exposição de História do Brasil, em 2 de dezembro
Rio de Janeiro, v. 48, n. 40, out. 1947. Professor e de 1881, na Biblioteca Nacional, diretor Ramiz Galvão.
jornalista, 1847-1947. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 44, n. 51, dez.
. O centenário de Tautphoeus. Escola Primária, Rio de 1943.
Janeiro, v 2, n. 5, fev. 1918. O 100° aniversário natalício . Farias Brito. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro,
de Tautphoeus. 22 jan. 1917. Poetas e prosadores. Raymundo Farias
. O centenário de Vieira Fazenda. Revista da Semana, Brito, filósofo brasileiro.
Rio de Janeiro, v. 48, n. 18, maio 1947. Bacharel em . Fausto Barreto. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro,
Letras pelo Colégio Pedro II, médico pela Faculdade 5 set. 1915. Professor do Colégio Pedro II.
de Medicina do Rio de Janeiro, bibliotecário do Instituto . Ferreira Vianna, estudante. Revista da Semana, v.
Histórico e Geográfico Brasileiro, 1847-1947. 33, n. 22, maio 1932. António Ferreira Vianna, notável
. O Chácara do Mata. Revista da Semana, Rio de jurisconsulto.
. Frei Camilo de Monserrate. Revista da Semana, Rio
Janeiro, v. 36, n. 19, abr. 1935. Edifício do antigo
de Janeiro, v. 44, n. 5, jan. 1943. Professor do Colégio
Internato do Colégio Pedro II, ora Colégio da
Pedro e o bibliotecário da Biblioteca Nacional da Corte.
Companhia Tereza de Jesus, na rua S. Francisco Xavier.
. Garcindo. Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v. 1, n.
. O Collegio Pedro II. Revista da Semana, Rio de
5, nov. 1926. Aurélio Garcindo Fernandes de Sá, antigo
Janeiro, v. 38, n. 52, dez. 1937. A propósito do 1o
aluno do Colégio Pedro II e herói de Riachuelo.
centenário da fundação do Colégio.
. . Pronome, Rio de Janeiro, v. 1, n. 25, jun. 1933.
. O Collegio de Pedro II em Riachuelo. Jornal do
. Gonçalves Dias. Pronome, Rio de Janeiro, v. 5, n. 26,
Commercio, Rio de Janeiro, 11 jun. 1917. Vultos
jul. 1933. António Gonçalves Dias, poeta.
históricos. A participação do Colégio na batalha,
. Gymnasio Nacional. Rua do Ouvidor, v. 1, n. 31, dez.
através da presença de seu antigo aluno Aurélio 1898. Sem assinatura.
Garcindo Fernandes de Sá. . A história e a anedota: relação entre ambas. O
. Dantes (D. Duarte da Costa, 2o governador geral do NacionaL Rio de Janeiro, v.1, n. 2-3, out. 1924. Revista
Brasil). Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v. 2, n. 6, do Colégio Pedro II.
jun. 1927. . Homem de Mello. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
. De Simoni: o médico, o professor, o literato. Revista v. 46, n. 26, jun. 1945. Barão Francisco Inácio
da Semana, Rio de Janeiro, v. 30, n. 25, jun. 1929. Marcondes, professor de história do Colégio Pedro II e
. A dívida do estudante. Sciencias e Letras, Rio de do Colégio Militar, 1837-1918.
Janeiro, v. 1, n. 3, set. 1926. Sobre a resistência dos . Homem de Mello: o erudito, o político, o professor.
estudantes na invasão de Duclerc. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 13 jan. 1918.
. Em demanda do Preste Johan. Pantheon, Rio de . Joaquim Caetano. Jornal do Commercio, Rio de
Janeiro, v. 1, n. 3, set. 1916. Transcrição. Janeiro, 28 fev. 1913. Poetas e prosadores. Joaquim
. O Escudo de Minerva. Revista da Semana, Rio de Caetano da Silva, o sábio.
Janeiro, v. 23, n. 11, mar. 1922. Jornal manuscrito e . Joaquim, médico. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
desenhado por alunos do Colégio Pedro II, entre eles v. 42, n. 42, out. 1941. Joaquim Caetano da Silva,
ESCRAGNOLLE DÓRIA

recordações de sua vida, sobretudo do seu curso Joaquim, hoje Marechal Floriano, demolida por ordem
médico na Faculdade de Montpellier. do prefeito Passos, na presidência Rodrigues Alves.
. Jonathas Serrano. Revista da Semana, Rio de Janeiro, . O p r i m e i r o livro de Raul Pompeia: "Tragédia no
v. 45, n. 45, nov. 1944. Professor de história do Colégio Amazonas", livro escrito quando o autor ainda era aluno
Pedro II e do Instituto de Educação. do Colégio Pedro II. Jornal do Commercio, Rio de
. Justiniano da Rocha. Revista da Semana, Rio de Janeiro, 21 abr. 1915.
Janeiro, v. 42, n. 4, jan. 1941. Justiniano José da Rocha, . O 1 o reitor do Collegio de Pedro II: frei António de
jornalista e professor. Arrábida, Bispo de Anemuria. Jornal do Commercio,
. Magistério. Revista d. Semana, Rio de Janeiro, v. Rio de Janeiro, 31 out. 1915. Vultos históricos.
4 2 , n. 5, fev. 1 9 4 1 . A p r o p ó s i t o da m o r t e dos . Ramiz Galvão. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
professores José Piragibe e Caetano de Azeredo v. 47, n. 29, jul. 1946. Bacharel em Letras pelo Colégio
Coutinho. Pedro II; médico e professor de Botânica, por concurso,
. Manuel Artur Ferreira. Revista da Semana, Rio de da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro; diretor
Janeiro, v. 42, n. 43, jun. 1941. Pintor e professor do da Biblioteca Nacional: preceptor dos príncipes; diretor
Colégio Pedro II. da Instrução Pública Municipal.
. Marabá. Pantheon: Revista dos alunos do Colégio
. Rio Branco: a sua 1 a função pública: professor do
Pedro II. , Rio de J a n e i r o , v. 1, n. 2, jul. 1916.
Colégio Pedro II. Revista Americana, Rio de Janeiro,
Transcrição.
v. 2, n. 1. abr. 1913.
. Um mas: a propósito de palavras curtas. Sciencias e
. Rio Branco no Collegio Pedro II. Jornal do Commercio,
Letras, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, jul. 1926.
Rio de Janeiro, 20 abr. 1909. Artigo publicado no dia
. Um ministro e um decreto: o cónego Januário da
de grande manifestação popular por seu natalício.
Cunha Barbosa e o ministro Manoel António Galvão.
. A rua Larga. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v.
Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v. 2, n. 8, nov. 1927.
28, n. 17, abr. 1927. A rua Larga de S. Joaquim, ora
. Na véspera do exílio: o último dia do Imperador no
Marechal Floriano.
Colégio Pedro II. Ateneu: Revista dos alunos do Colégio
. Salão de Pedro II: a sala nobre do Externato do Collegio
Pedro II. Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, nov. 1933.
de Pedro II. Revista da Semana. Rio de Janeiro, v. 26,
. Palavras da nossa história: " L i b e r t a s quae será
n. 49, nov. 1925. Edição do centenário.
t a m e m " . Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v. 1, n. 4,
. Salas magnas: a da Alfândega, a do Senado do Império
out. 1926.
e a do Colégio Pedro II. Revista da Semana, Rio de
. Posta r e s t a n t e : correspondência entre J o a q u i m
Janeiro, v. 47, n. 12. mar. 1946.
Caetano da Silva com Porto Alegre e Eusébio de
. Saldanha da Gama. Jornal do Commercio, Rio de
Queiroz. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 48, n.
1, maio 1947. Janeiro, 24 jun. 1914. Vultos históricos. O almirante
. O presente de dois de dezembro: a fundação do Luiz Felippe Saldanha da Gama.
Colégio Pedro II. Ateneu, Rio de Janeiro, v. 1, n. 3, . Saldanha no Pedro II. Revista da Semana, Rio de
dez. 1933. Janeiro, v. 27, n. 27, jun. 1926. Luiz Felippe Saldanha
. A primeira Igreja de S. Joaquim. Revista da Semana, da Gama.
Rio de Janeiro, v. 36, n. 45, out. 1935. Igreja contígua . Salvador de Mendonça, professor. Revista da Semana:
ao Externato do Colégio Pedro II, na rua Larga de S. Rio de Janeiro, v. 42, n. 32, ago. 1941. Salvador Furtado
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

de Mendonça e Menezes, escritor, diplomata e . Discurso de paraninfo, no Externato do Gymnasio


professor interino do Colégio Pedro II. Nacional, na colação de grau de Bacharéis em Letras,
. Seminário de Bispos: recordação dos sacerdotes em em 2 de fevereiro de 1908. S.n.t.
exercício no Colégio de Pedro II e depois bispos. . Discurso, no Gymnasio Nacional, pelo 71° aniversário
Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 42, n. 14, abr. da fundação do Colégio Pedro II, em 2 de dezembro
1941. de 1908. S.n.t.
. O Serão: jornal dos alunos do Colégio Pedro II. O . Discurso de paraninfo, no Externato do Gymnasio
Serão, Rio de Janeiro, v. 1, n. 21, ago. 1934. Nacional, na colação de grau de Bacharéis em Letras,
. Um 7 de setembro no Pedro II: recordações de uma em 28 de fevereiro de 1909. S.n.t.
festa no Collegio em 1857. Jornal do Commercio, Rio . Discurso em nome da Congregação do Gymnasio
de Janeiro, 7 set. 1916. Nacional, no cemitério de S. João Batista, à beira do
. Sinos e história. Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, túmulo do Dr. Alfredo Coelho Barreto, em 20 de março
v. 2, n. 7, jul. 1927. Transcrição da palestra sobre a
de 1909. S.n.t.
Batalha do Riachuelo, pela Radio Club do Brasil.
. Discurso de posse no Instituto de Bacharéis em Letras,
. A supressão do Gymnasio Nacional. Rua do Ouvidor,
em 28 de julho de 1909. S.n.t.
v. 1, n. 30, dez. 1898. Sem assinatura.
. Palavras ditas junto ao túmulo de Euclydes da Cunha,
. Tautphoeus educador. Revista da Semana, Rio de
no cemitério de S. João Batista, em 15 de agosto de
Janeiro, v. 40, n. 54, dez. 1939. O magistério do Barão
1916. S.n.t.
de Tautphoeus e a fundação do seu colégio no Rio de
. Discurso, no Externato do Colégio Pedro II, em nome
Janeiro.
da Congregação, na sessão solene comemorativa do
. Tomaz Alves Nogueira: histórico da vida desse
centenário natalício de D. Pedro II, em 2 de dezembro
professor do Colégio Pedro II. Revista da Semana, Rio
de 1925. S.n.t.
de Janeiro, v. 41, n. 13, mar. 1940.
. Discurso de paraninfo, no Externato do Colégio Pedro
. Último concurso. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
v. 41, n. 32, ago. 1940. O último concurso no Colégio II, na colação de grau dos Bacharéis em Letras, em
Pedro II no Império, em novembro de 1889. 2 de dezembro de 1928. S.n.t.
. Vésperas de centenário. Revista da Semana, Rio de . Discurso de paraninfo dos 5°anistas do Colégio Pedro
Janeiro, v. 35, n. 1, dez. 1933. A propósito do 1o II. em 29 de dezembro de 1928. S.n.t.
centenário de fundação do Colégio Pedro II. . Discurso de paraninfo dos 5°anistas do Colégio Pedro
II, em 8 de setembro de 1929. S.n.t.
IV - Discursos . Discurso de agradecimento no ato da inauguração,
em 24 de dezembro de 1933, de um medalhão numa
DÓRIA, Escragnolle. Discurso de saudação ao Dr. Fortunato sala do Colégio Pedro II, designada com seu nome.
Duarte, no Internato do Gymnasio Nacional, em 26 de S.n.t.
outubro de 1907. S.n.t. . Discurso de agradecimento na sessão solene da
. Discurso, no Externato do Gymnasio Nacional, pelo Congregação do Colégio Pedro II, em 25 de agosto
70° aniversário da fundação do Colégio Pedro II, em de 1937, ao lhe ser entregue o título de Professor
2 de dezembro de 1907. S.n.t. Emérito do mesmo Colégio. S.n.t.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

. Discurso de agradecimento na sessão realizada no . Prefácio. In: SERRANO, Jonathas. Epítome de história
Colégio Pedro II, em 7 de novembro de 1937, por universal. Rio de Janeiro: F. Alves, 1917. p. 16
iniciativa de antigos alunos e amigos, por motivo de . . In: CHEDIAK, António José. Carlos de Laet, o
sua jubilação. S.n.t.
polemista. São Paulo: Anchieta, 1942, v. 1
.Discurso, no Colégio Pedro II, na sessão comemorativa
. O systema métrico decimal. In: THIRÉ, Cecil, SOUZA,
do centenário natalício de Salvador de Mendonça, em
Mello e. Mathematica, Ioanno. 4.ed. Rio de Janeiro:
1 de agosto de 1941. Sn.t.
F.Alves, 1933. p. 2 3 1 .
V - Diversos
VI - Bibliografia sobre Escragnolle Dória
DÓRIA, Escragnolle. Alocução radiofónica, em
agradecimento, na sessão lítero-musical promovida Boletim Mensal da Seção Guanabarina da Biblioteca
por alunos do Colégio Pedro II, por motivo de sua
Municipal do Rio de Janeiro, v. 1, n. 22, fev. 1959.
jubilação, realizada na Rádio do Ministério da
ESCRAGNOLLE Dória, "In Memoriam". Rio de Janeiro:
Educação, em 3 de dezembro de 1937. S.n.t.
. Conferência sobre um episódio da Inconfidência Liv. F. Bastos, 1959.

Mineira. Promovida pela Academia de História do FROTA, Guilherme de Andréa. O Rio de Janeiro na imprensa
Colégio, realizada no salão nobre do Externato do periódica. Registros de número 1175 a 1682. Rio de
Colégio Pedro II, em 20 de abril de 1934. S.n.t. Janeiro: [S.n.], 1966.
Escragnolle Dória

MEMORIA HISTÓRICA
DO
COLLEGIO DE PEDRO SEGUNDO

1837-1937

Rio de Janeiro
* Reprodução da capa da edição original
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Colégio Pedro II. Vista atual do Externato, na Avenida Marechal


Floria no (antiga Rua Larga de São Joaquim), esquina com a Rua
Camerino (antiga Rua do Valongo, depois Rua da Imperatriz).
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Escragnolle Dória
Professor Emérito do Colégio de Pedro Segundo

Memória Histórica
Comemorativa do 1o Centenário do
Colégio de Pedro Segundo
(2 de dezembro de 1837 - 2 de dezembro de 1937)

Publicação oficial sob os auspícios do


Ministério da Educação

Rio de Janeiro

Presidente da República
Sua Excelência o Senhor Doutor
Getúlio Domelles Vargas

Ministro de Estado da
Educação e Saúde
Sua Excelência o Senhor Doutor
Gustavo Capanema

Presidente da Congregação
Professor Doutor
Fernando António Raja Gabaglia

Secretário
Dr. Octacilio Álvares Pereira
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Corpo docente do Imperial Colégio de Pedro Segundo


na Época de sua Fundação e Organização
1837-1838

Dr. Joaquim Caetano da Silva


Gramática Portuguesa e Língua Grega

José da Silva Pinheiro Freire

Gramática Nacional e Latina

Jorge Furtado de Mendonça

Gabriel de Medeiros Gomes

João de Castro e Silva


Latim
Dr. Justiniano José da Rocha
Geografia, História Antiga e Romana

Dr. Emílio Joaquim da Silva M a i a


Aritmética e Ciências Naturais

Dr. Domingos José Gonçalves de Magalhães


Manoel de Araújo Porto Alegre
Desenho

Januário da Silva Arvellos


Música

Padre Joaquim de Oliveira Durão


Padre Leandro Rebello Peixoto e Castro
Religião
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Antiga sala de Geografia, mantida em sua estrutura original.


MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

Corpo Docente do Colégio de Pedro Segundo -1937 21 - Hahnemann Guimarães


2 2 - Q u i n t i n o do Valle
Congregação 23 - João Baptista de Mello e Souza
24 - Jonathas Archanjo de Silveira Serrano
1 - Francisco Pinheiro Guimarães 2 5 - G e o r g e Sumner
2 - Joaquim Ignácio de Almeida Lisboa 26 - Benedicto Raimundo da Silva
3 - José Cavalcante de Barros e Accioli 27 - Enoch da Rocha Lima
4 - Henrique César de Oliveira Costa 28 - José de Sá Roriz
5 - Agliberto Xavier 29 - Haroldo Lisboa da Cunha
6 - José Philadelpho de Barros Azevedo 30 - Ciro Romano Farina
7 - Augusto Xavier Oliveira de Menezes 31 - Nelson Roméro
8 - Fernando António Raja Gabáglia
32 - Clóvis do Rêgo Monteiro
9 - Lafayette Rodrigues Pereira
10 - Honório de Souza Silvestre
Professores Catedráticos Jubilados
11 - Euclides de Medeiros Guimarães Roxo
12 -Antenor Nascentes
Adrien Delpech
13 - Guilherme Augusto de Moura
Luiz Gastão de Escragnolle Dória
14 - Cecil Thiré
Manoel Said Ali Ida
1 5 - P e d r o do Couto
16 - J o s é Rodrigues Leite e Oiticica Rodolpho Paula Lopes

17 - Waldemiro Alves Potsch


18 - Othello de Sousa Reis Professor de Desenho Jubilado
19 - Henrique de Toledo Dodsworth Filho
20 - Carlos Miguel Delgado de Carvalho Manoel Arthur Ferreira
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Professores Catedráticos Interinos Docentes Livres

Francisco Figueira de Almeida


Gildásio A m a d o
Francisco Venâncio Filho
Jacques Raimundo da Silva
Luiz Pinheiro Guimarães
Jayme Coelho
Jurandir Paes Leme
Professor de Ginástica Jubilado Mozart do Rêgo Monteiro
Mecenas Pereira Dourado
Guilherme Herculano de Abreu Milton Barboza
Murilo Araújo
Oscar Przewodowski
Professor de Ginástica
Paulo Ferreira

Mário Belleti Professores

Professores Assistentes Israel França


Octávio de Castro
Oswaldo Ferreira Mendonça
Aldimir S. Paulo

Arlindo Fróes Professores Dirigentes de Línguas Vivas


Ernesto de Paiva Marreca
Henrique Feio Galvão António Carneiro Leão
João Capistrano Raja Gabáglia Augusto Rocha Vianna
Júlio Nogueira
João De Lamare S. Paulo
Nuno Lopo Smith de Vasconcelos
José Curvello de Mendonça
Osvaldo Serpa
Luiz do Nascimento Gurgel Tristão da Cunha
Walter Gomes Cardim
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

índice

Intróito 13 Cap. IV 57
O Colégio de 1844 a 1851 - Solicitude de D. Pedro II para
Cap. 1 15 com o Colégio - Vigilância do Governo - Pequenos sucessos
A instrução secundária anterior à fundação do Colégio de e curiosas providências - Joaquim Caetano e Frei Rodrigo
Pedro Segundo - Os seminários de São Pedro e São de São José - Retirada de Joaquim Caetano
Joaquim - A fundação do Colégio - D. Pedro II no dia da
fundação - Adaptação do Seminário São Joaquim - O zelo Cap. V 75
de Bernardo de Vasconcellos pela recente fundação O Colégio de 1851 a 1855 - Terceira reitoria do Colégio -
Relatório do Dr. Justiniano José da Rocha - Administração
Souza Corrêa - Reforma Pedreira - Retirada de Souza Corrêa
Cap. II 29
O Colégio até 1839 - Primeiro reitor - Primeiros funcionários
Cap. VI 83
- Primeiros professores efetivos e interinos - Primeiro livro
O Colégio de 1855 a 1858- Início da reitoria Pacheco da
de matrícula - Primeiros alunos - Ainda os órfãos de São
Silva - Reforma Pedreira - Património do Colégio -
Joaquim - Ação conjunta do Governo e da Reitoria do Gonçalves da Silva e Joaquim Manoel de Macedo - Divisão
Colégio - Retirada de Bernardo de Vasconcellos do Governo do Colégio em Externato e Internato - Instalação deste -
- Seus sucessores - Novo reitor, novo vice-reitor - O Colégio Seu primeiro reitor - Paula Menezes - Sete de setembro de
até 1839 - A sessão do Senado do Império em 1839 1857 - Novos professores - Imprensa colegial - Colação
de grau de 1858 - Incidentes colegiais
Cap. Ill 49
O Colégio de 1840 a 1843 - Novos Ministros do Império - Cap. VII 97
Alteração dos estatutos - Modificação no corpo docente - O Colégio de 1859 a 1865 - O Colégio de 1859 a 1860 -
O decreto Silva Maya e a colação de grau de Bacharel em Confraternização do Externato e Internato - Ensino de
letras - A primeira colação de grau em 1843 ginástica - Professores e repetidores em 1859 - Bacharéis
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de 1859 - Ministros do Império de 1859 - Aulas em relação ao Colégio - Mudanças de nomes do mesmo -
suplementares - Aula de dança - Finanças do Colégio - Reformas Benjamin Constant e João Barbalho - O Código
Ano letivo de 1860 - Novos professores - Morte do Bacharel de Ensino de 1892 - Fusão do Externato e Internato - O
Gonçalves - O Colégio de 1861 a 1865 restabelecimento de ambos - Reforma do Código de Ensino
de 1892 - A primeira equiparação do Ginásio Nacional -
Cap. VIII 111 Regulamento Amaro Cavalcanti - Reforma Epitácio Pessoa
O Colégio de 1866 a 1875- Nova reitoria do Internato - O - Novos diretores e novos lentes - Código de Ensino de
Colégio e a guerra do Paraguai - Novos professores - 1901 - Concursos - Reforma Tavares Lyra - O património
Introdução do sistema métrico decimal - Nova reitoria do do Colégio - Relatório Esmeraldino Bandeira - Novos lentes
Externato - Professoras de ensino - O bacharelando Teixeira - Reforma Rivadavia Corrêa - Eleições para diretor e
Mendes - Reitoria interina do Internato - Matrícula do
representante do Colégio, já de novo de Pedro Segundo,
príncipe D. Pedro Augusto - Nova Reitoria interina do
junto ao Conselho Superior de Ensino - Extinção do
Internato - Bethencourt da Silva e o Salão Nobre do
bacharelado pela reforma Rivadavia - O Anuário do Colégio
Externato - A colação de grau de 1875
- Reforma Carlos Maximiliano - Nomeação de diretores
pelo Governo - Restabelecimento do bacharelado e do
Cap. IX 125
concurso de provas
O Colégio de 1876 a 1881 - Adiamento das aulas em 1876
- Desocupação da Igreja de São Joaquim - Caso Schieffler/
Cap. XII 199
Thomaz Alves - Novos professores de Filosofia - Reforma
O Colégio de 1917a 1925- Diretoria interina e efetiva Laet
Leôncio de Carvalho - O ensino livre - Novos reitores - O
Conselho Colegial, suas sessões em 1880-1881 - A - Batalhão escolar - A cadeira de Espanhol - Ampliação do
conversão do Conselho Colegial em Congregação - A curso do Colégio - Arquivo e Biblioteca do Colégio - Obras
primeira sessão da Congregação - A turma de bacharéis no Externato - Exames parcelados - Óbitos - Concursos
de 1881 para substitutos - Novos óbitos - A gripe de 1918 e suas
consequências para o ensino - Reformas de gabinetes -
Cap. X 149 Restabelecimento da cadeira de Italiano - Novos lentes -
O Colégio de 1882 a 1889- Morte de Joaquim Manoel de Óbitos - Concursos - O prémio Nerval de Gouvêa -
Macedo - Reforma Rodolpho Dantas - Parecer Ruy Barbosa Platonismo da restauração do bacharelado em letras -
- Primeiras alunas no Colégio - Introdução do telefone - Serviços dos exames parcelados e suas dificuldades -
Providências administrativas - Novo reitor do Internato - Trasladação dos restos mortais de Porto Alegre - O Colégio
Extinção de meio-pensionistas colegiais - Retiradas das nas comemorações do Centenário da Independência e na
alunas do Colégio - Supressão de periódicos colegiais - volta dos restos mortais de D. Pedro II e D. Thereza
Fiscalização do Colégio - Dádivas ao mesmo - Christina - Óbitos e moções de pesar - Diversas ocorrências
Transferência do Internato - Novos reitores do Internato e - Projeto de reforma do ensino - O Colégio como Faculdade
do Externato - Fim da Monarquia e do Imperial Colégio - de Letras - Novos lentes - Disponibilidade de professores -
No dia da Proclamação da República Retirada do Diretor Laet

Cap. XI 171 Cap. XIII 223


O Colégio de 1890 a 1917 - os primeiros atos da República O Colégio de 1925 a 1931 - Reforma Rocha Vaz - Extinção
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

da cadeira de Espanhol - Diretoria Euclides Roxo - biblioteca do Externato - Obras no Colégio - A galeria dos
Disponibilidade de professores - D e s m e m b r a m e n t o das reitores e diretores - O gabinete de Educação - Serviço de
cadeiras de Física e Química, Latim e Português - Novos refeições - Disciplina colegial - O Clube pela Paz - A
professores - Ressurgimento da cadeira de História do celebração do centenário do Colégio - Homenagem ao
Brasil -Turmas suplementarei Instruçào Militar e Esporte professor Frontin - Criação do curso noturno - O professor
- Sobrecarga da secretaria do Externato - Centenário Garric - Curso livre de Grego - Cursos de aperfeiçoamento
Natalício de D. Pedro II - Nomeação efetiva do diretor e do de História Natural e Química - Cursos livres de Canto
vice-diretor do Externato - 1926, ano dos concursos - Novos Orfeònico - Concertos musicais educativos - Concursos e
piofessores - Óbitos - Modificações no Corpo Docente - cursos estranhos ao Colégio - Óbitos - Inauguração do busto
Solenidades escolares - Diretoria Pedro do C o u t t o - de Augusto Comte - Obras, reformas e novas instalações
Introdução dos testes no ensino do Colégio - - Diretoria Raja Gabaglia - H o m e n a g e m ao professor
Melhoramentos materiais no Externato e no Internato - Escragnolle Dória - A Emenda n.° 1.845 - Projeto de
Exames parcelados - Transferência da cadeira de Instrução Associação Brasileira de Cultura - Jubilação de antigos
Moral e Cívica - Proposta de supressão da livre docência professores - A u m e n t o das disciplinas da 6 1 série - Cursos
Inauguração do retrato de D. Pedro II - Sessão solene em complementares - Novos professores - Óbitos -
m e m ó r i a de Carlos de Laet - Vacância de cadeiras e Homenagens - Propostas - Restauração das cadeiras de
modificações no Corpo Docente - Melhoramentos materiais Historia do Brasil, Instrução Moral e Cívica e Direito Usual
no Externato em 1929 - Medidas de disciplina propostas - Concurso - Novos Óbitos - Centenário Coqueiro - O
em Congregação - Óbitos Conselho Nacional de Educação e seu plano pedagógico -
Admissão de professores contratados no Colégio e a
Cap. XIV 245 maneira de regulá-la - A Circular 1.200 de 1 o de junho de
O Colégio de 1932 a 1937 - Gastão Ruch, professor 1937 - Escragnolle Dória, professor emérito - Óbito do
emérito - Dn etoria Dodswoi 1 h - Homenagem ao professor professor Badaró - O professor Dodsworth Interventor no
Nascentes - Projeto de Instituto Brasileiro de Filologia - Distrito Federal - A celebração do I" Centenário do Colégio
Reforma Francisco Campos - Extinção da cadeira de
I n s t r u ç ã o M o r a l e Cívica - Ensino de línguas vivas Cap. XV 271
estrangeiras - Auxiliares de ensino e provas parciais - O Instituto dos Bacharéis em Letras - Sua fundação - Seu
Imprensa e clubes colegiais - Intercâmbio pedagógico - reconhecimento oficial - Sua vida e seus trabalhos - A
Embaixadas intelectuais ao estrangeiro - Curso livre de solenidade de 2 de dezembro de 1902 - A equiparação ao
Italiano - M o v i m e n t o da secretaria, da tesouraria e da Colégio e o Instituto - Seu eclipse.
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Bernardo Pereira de Vasconcelos, Ministro do Império. Idealizador e


fundador do Colégio (1837).
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Festejou-se, condignamente, a 2 de dezembro de 1937, primeiro


centenário de fundação do Colégio de Pedro Segundo. Associou-se
às comemorações a pátria inteira, avaliando-lhe alcance no render
preito ao passado, a esforços e sacrifícios de maiores.

Comemorações, mesmo ruidosas e brilhantes, acabam indo a


meio ou completo olvido ao correr do tempo roaz, na substituição de
sucessos, no transformar de gerações.

Para ciência e juízo dos pósteros convém apresentar-lhes


testemunhos fidedignos da vida das instituições. Tal em brevidade o
intuito das memórias históricas, de prefácio e subsídio a obras de
tomo, tal o propósito da presente Memória, resumo do essencial na
história da primeira centúria do Colégio de Pedro Segundo.

História completa e documentada dele dentro de século — 1837-


1937 — é em diuturnidade matéria para não poucos volumes,
resultantes de pesquisas exaustivas, algumas infrutíferas,
acompanhando o desenvolvimento da instrução pública nacional.
sobretudo secundária. Sem estudar o Colégio de Pedro Segundo não
se compreende aquela.

Memória histórica não é quadro acabado, sim esboço em leve


tinta. No futuro, de tantos mistérios quantas surpresas, talvez do
próprio Colégio surja autor do quadro acabado: Avalie ao menos ele,
no desconto de naturais e humanas imperfeições, às quais se não
forrará, todo o amor com o qual foi traçado o atual esboço por quem
ao executá-lo sempre se lembrou do avisado conselho de Terêncio:

Quoniam non potest id fieri quod vis, id velis quod potuit.

2 de dezembro de 1937

E.D.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Imperador D. Pedro II, na data da fundação do Colégio (1837).


Verdadeira raridade, essa pintura a óleo encontra-se
exposta no Salão Nobre.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

A Instrução Secundária Anterior à Fundação do Colégio de Pedro Segundo •


Os Seminários de São Pedro e São Joaquim • A Fundação do Colégio • D. Pedro II
no Dia da Fundação • Adaptação do Seminário de São Joaquim • O Zelo de
Bernardo de Vasconcellos pela Recente Fundação.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Na a história da pedagogia brasileira escreveram os Atacou a Sociedade quem lhe fora adstrito e por ela
jesuítas capítulo notável. Inútil suprimi-lo. Lançou- socorrido: Pombal. Dias de claros benefícios iluminam
nos a Companhia de Jesus sementes de religião e cultura. quase sempre vésperas de negra ingratidão.
Outros semeadores, donatários, governadores-gerais, Segundo Moreira de Azevedo, estudando instrução
lançar-nos-iam germens de organização administrativa. pública em nossos tempos coloniais, mantiveram os
Brasil afora os Colégios jesuíticos abriram e jesuítas aulas únicas no antanho do Brasil.
alhanaram caminho a ensino secundário, preocupação da "Nas capitanias onde situavam Colégios ensinavam
Companhia no decorrer do tempo. Viveiro de capacidades, g r a t u i t a m e n t e gramática latina, filosofia, teologia
confiava a Sociedade de Jesus seus Colégios a professores d o g m á t i c a e moral, primeiras letras e matemática
escolhidos. Gente capaz de formar gente. elementar. Tais disciplinas eram exercidas por professores
Ninguém versado em História ignora quanto à de verdadeiro merecimento. Conferiam os colégios graus
perseguição adere, benditamente, porque alenta e apura científicos, literários e teológicos entre outros o de mestres
ao flanco da Companhia. Século a século acossam-na em artes — título então mais estimado do que é hoje o de
inimigos para os quais fins de destruição justificam meios doutor por qualquer academia" (Moreira de Azevedo
de barbaridade. Absurdos monstruosos, fábulas irrisórias escreveu isto em 1892). No Colégio da Bahia, além das
com sobreteima são empregados para aniquilamento da citadas aulas, criaram os jesuítas aula de retórica; meio
Companhia atirada à sepultura, rediviva porém. de bem ordenar pensamentos e palavras.
Parece a Ordem de Jesus participar das amarguras No Colégio de Piratininga, depois de S. Paulo,
do Divino Pastor, da flagelação à cruz. No Brasil recebeu ostentou Anchieta zelo inteiro sobre dedicação evangélica.
vinditas em paga de serviços. Pombal não apagou Encarregado de ensino dos neófitos, escrevia, na falta de
Anchieta. Perseguida pelo Ministro de D. José I, o livros, nos cadernos de cada aluno. Aprendiam jovens
onipotente e depois o omnisubjugado, a Companhia catecúmenos e filhos de colonos princípios das línguas
suspendeu esforços na catequese. Resposta silenciosa portuguesa, espanhola e brasileira ou tupi, indispensável
à injustiça, tanto mais expressiva quanto até hoje secular. esta no trato com indígenas. Para ensinarem tupi os jesuítas
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

abriam escolas por eles frequentadas chamando estudos criados pelos franciscanos no Rio de Janeiro.
graciosamente, lá entre si, a língua indígena de grega. Obedeciam ao espírito dos estatutos pombalinos e
Informa Varnhagen. coimbrões, figurando nas aulas franciscanas o ensino da
Constituiram-se os jesuítas mestres de distintos retórica, do grego, da filosofia e da história eclesiástica.
brasileiros, cujos trabalhos formam literatura nossa nos Secularizado quanto possível o ensino, faltava dar-
séculos XVII e XVIII. Entre outros, se assinalam Eusébio Ihe recursos pecuniários. Criou-se para tanto o subsídio
e Gregório de Mattos, Manoel Botelho, Rocha Pitta, Basílio literário, imposto cobrado sobre vinhos e outras bebidas
da Gama, Santa Rita Durão, Cláudio Manoel da Costa, Silva alcoólicas.
Alvarenga e Alvarenga Peixoto. Coube aos vice-reis no Rio de Janeiro a arrecadação
Expulsos os jesuítas, dentre nós, ficaram os estudos do subsídio. Nem aos governos do Marquês do Lavradio,
confiados a escolas regidas por três ordens religiosas, a de Luiz de Vasconcellos, do conde de Rezende foi alheia a
beneditina, a carmelita e a franciscana. preocupação do ensino embora decadente.
Ainda segundo Moreira de Azevedo "Se a supressão Reconheceu-o Carta Régia de 9 de setembro de
do instituto dos jesuítas não causou tanto abalo na 1799 impondo aos governadores e capitáes-gerais a
capitania do Rio de Janeiro como em outras foi isto devido obrigação de informar a coroa acerca do aumento do
ao Bispo D. José Joaquim Justiniano". Trata-se de D. José subsidio literário. Caberia àquelas autoridades a inspeção
Joaquim Justiniano Mascarenhas Castello Branco, sétimo das escolas, de acordo com o Bispo quanto à nomeação
Bispo do Rio de Janeiro, carioca de berço, por nascido na de professores no caso de dúvida, enviada a proposta à
freguesia da Candelária, prelado no Rio de 1774 a 1805. metrópole para decisão final.
Por muito tempo houve na cidade o Largo da Mãe do Bispo. Pouco antes de expedir a Carta Régia de 9 de
Era praça existente nas vizinhanças da Rua da Ajuda, via setembro de 1799, a coroa lusa ordenara o
pública quase desaparecida com a construção da Avenida restabelecimento no Rio de Janeiro das cadeiras de grego,
Central, hoje Rio Branco, e da Rua Evaristo da Veiga, esta latim, retórica, filosofia e matemática.
nas proximidades da Igreja anglicana. Teve o Largo da Com o tempo, as aulas destas três disciplinas foram
Mãe do Bispo tal nome por morar nele a progenitora legítima estabelecidas em outros pontos do país. Em Pernambuco.
de D. José Joaquim Justiniano. por exemplo, uma carta régia instituiu aulas de aritmética,
Cassando aos jesuítas o direito de ensinar no Brasil, geometria e trigonometria. No Rio de Janeiro, outra carta
Pombal, pelo Alvará de 28 de junho de 1759, declarou régia, a de 20 de novembro de 1800, estabeleceu aula de
abolida a memória das classes-escolas regidas pelos desenho. Deu-lhe titular brasileiro. Foi Manoel Dias de
padres, "como se nunca houvessem existido no Reino e Oliveira, com direito a ordenado equiparado ao dos
nas colónias, onde haviam causado tantos prejuízos e professores de filosofia. Manoel Dias, por alcunha o
escândalos". Abolida a memória jesuítica, Pombal "Romano", devido a estudos em Roma, abriu aula de
esquecera a História vigilante, fossem quais fossem as desenho em casa, em frente à Igreja do Hospício, na atual
maldições de alvo à Companhia. A história registra, julga Rua Buenos Aires.
e avisa. Pertencem-lhe passado, presente e futuro. Na era colonial conheceria o Rio de Janeiro duradoura
Que as acusações de Pombal eram levantadas só instituição de ensino. Foi chamada o Colégio dos Órfãos
para ferir fundo a Companhia parece prová-lo de sobra o de São Pedro. Fundou-a a Provisão de 8 de junho de 1739,
Alvará de 11 de junho de 1776. Aprova este estatuto para do quarto Bispo do Rio de Janeiro desde 1725, D. Frei
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António de Guadalupe, português de Amarante, professo Em terras empregou sobras, senão haveres ou
na ordem franciscana. legado, Manoel de Campos Dias. Possuía terrenos no
Duas criações assinalaram o múnus pastoral de D. Valongo, região da cidade na atual Rua Camerino, lados
Frei António na futurosa cidade carioca, o estabelecimento da Saúde.
do Seminário de São José e do Colégio de São Pedro, para Por impulso filantrópico, mais digno supô-lo, ou
meninos órfãos de pais pobres. Foi posto Colégio. talvez pela convicção filosófica de ninguém levar nada do
seminário chamava-o a voz popular, nas costas da igreja mundo, preferível julgou Campos Dias aplicar bem a legar
do Príncipe dos Apóstolos. a terceiros para mau ou péssimo destino de cabedais.
Anos após a criação do Colégio dos Órfãos de São Campos Dias resolveu doar. Senhor de terras no Valongo
Pedro, retírou-se o Bispo Guadalupe para Portugal, presenteou com elas os seminaristas de São Pedro. A
transferido para mitra de Viseu, falecendo pouco depois dádiva abrangia capela, terrenos adjacentes, tudo logo
em Lisboa. aproveitado pelos reitores, o padre Jacintho Pereira da
De inicio tomara o Colégio ou Seminário de São Costa, antecedido pelo padre Sebastião de Motta Leitão.
Pedro feição de convento. Funcionava em sobradinho da o Cónego Manoel Pereira e o padre Pedro Luiz de Carvalho.
rua de São Pedro, sujeito a reitores responsáveis pela Resolveu o padre Costa erigir no sítio um Colégio
educação de meninos fadados a perdição. Pela experiência
mais proveitoso aos seminaristas, pela localidade, silêncio
da cidade e seus contornos, afirmara o prelado fundador.
mui necessário às aplicações estudiosas e pelos cómodos
Com o tempo e a boa administração de reitorias, o
precisos, não só aos indivíduos da sociedade como às
Colégio de São Pedro obteve património para sustento e
oficinas de casa e seus arranjamentos.
educação de órfãos. Desses, o número em aumento
Ao findar reitorado o padre Costa deixava edifício
tornava sobremaneira insuficiente o sobrado-asilo. Era de
semi-erguido. Devia rematá-lo sucessor o Cónego António
três andares, o térreo com portão, o segundo e o terceiro
Lopes Xavier, com prática de mandar construir. Deve-lhe
com duas janelas, a imagem de São Pedro em nicho entre
o Rio de Janeiro uma igreja, a de N.S. da Conceição, na
as janelas do último pavimento.
Rua General Câmara, posta ao alto a expensas do Cónego
A estreiteza das acomodações, de inconvenientes
Xavier.
para a disciplina e a higiene de coletividade, ajuntava-se,
conforme Monsenhor Pizarro, "o tumulto do centro da Coube a este, quando reitor, transferir os
cidade impedindo todo o sossego a qualquer estudo". seminaristas de São Pedro para a nova casa, em dezembro
Tumulto carioca de 1758 provoca sorrir de hoje. de 1766, aproveitando a doação Campos Dias. Ao fundar
Alguém remediaria o mal; um "homem bom" da o Bispo Guadalupe o Colégio onde os órfãos não tivessem
cidade, Manoel de Campos Dias, pessoa de recursos infância pervertida, "com o leite dos maus costumes
sobejantes. No Rio de Janeiro pequeno de então, embora relaxada, inepta, adversa aos séquitos das virtudes" —
nele todas as distâncias dobradas por vencidas expressões do Bispo — reinava em Portugal e dai sobre o
pedestremente, a propriedade territorial constituía a riqueza Brasil D. João V. Exercia por ele autoridade suprema na
maior. Afluíam para ela as economias de quantos América Portuguesa, de sede na Bahia, André de Mello e
amealhavam cruzados no chamado pé de meia. Preferiam Castro, Conde das Gaiveas.
outros ocultá-los em soalhos e vãos de portas, não raro Ao transportar o Cónego Xavier os colégios de São
para lucro de futuros e imprevistos herdeiros, os Pedro para o Valongo, D. João V ausentara-se da vida
demolidores de casas velhas. presente, após quarenta e quatro anos de reinado em
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

sessenta e um de existência. D. João V, Magnífico até valia 320 réis), em três meses de aluguel, a m e s m a
em prole, de onze filhos, tivera pompa de cadáver no propriedade devoluta na data da petição para venda.
mosteiro de S. Vicente de Fora. Ponderava o reitor Rocha a conveniência de vender
Obedeceria o Brasil de 1766 ao filho e sucessor de a casa dos órfãos de São Pedro com o m e s m o ónus da
D. João V, D. José I. O dia 31 de julho de 1750 fizera-o capela de missas. Era útil à Irmandade de São Pedro
perder pai ganhando coroa, os herdeiros presuntivos quase comprar o imóvel com o dito ónus por estar a propriedade
sempre entrando na majestade do poder após a da morte. e n c o s t a d a às paredes de sua igreja. A s s i m q u a n t o
A doação de Campos Dias aos órfãos de São Pedro pertencesse ao Príncipe dos Apóstolos a ele tornaria.
abrangia capela sob o orago de São Joaquim. Instalados Realizou-se a venda, batidos por ela cinco mil
a q u e l e s ó r f ã o s no s í t i o foi o p o v o s u b s t i t u i n d o a cruzados (20:000$000), dando mil cruzados de lucro sobre
denominação de órfãos de São Pedro pela de órfãos e o custo primitivo.
depois seminaristas de São Joaquim. Por muito que se tenham esforçado os reitores do
Ficou a cidade c o m dois seminários, o de São Seminário de São Joaquim poucos excederam, em zelo e
Joaquim e o de São José, fundado este, c o m o o Colégio utilidade, o padre Plácido Mendes Carneiro. Ficou-lhe
dos Órfãos de São Pedro, pelo m e s m o Bispo, D. Frei devendo a casa obras de importância e o t e m p l o de São
António de Guadalupe, pois de filantrópica lembrança. Joaquim a conclusão de torres.
Conforme declarou o prelado em provisão, ao criar Com maior ou m e n o r regularidade, d e s t i n o de
o Seminário de São José, "logo que principiara a servir o qualquer instituição, f o i vivendo o Seminário de São
bispado trouxera ele sempre no coração um ardente desejo Joaquim no seu canto do Valongo. Nas três grandes
de que na cidade houvesse seminário para formação de solenidades de São Joaquim, N. S. das Dores e São José
clero idóneo para a direção das almas." afluía o povo devoto de sempre do seminário. Ao púlpito
Segundo Balthazar Lisboa, os seminaristas de São aí subiam os seminaristas pelo reitor julgados mais de
Joaquim eram preferidos nas contínuas festas religiosas habilitações para honrar na tribuna sagrada a palavra do
cariocas para mestres de cerimónias, coristas e cantores Evangelho.
remunerados. Acompanhavam enterros de categoria, neles Em 1807, porém, ia mudar por c o m p l e t o a vida do
participando de tudo quanto exigiam pompas fúnebres. seminário. Transmigrou para o Brasil a Família Real
Em 1771, desaparecia a lembrança material da casa Portuguesa pondo-se a salvo da invasão napoleônica, esta
de São Pedro o n d e deu raiz a instituição do Bispo por terras de Portugal até alcançar Lisboa.
Guadalupe. O reitor do Seminário de São Joaquim, padre A presença do Príncipe Regente e da Corte lusitana
Alexandre Ferreira da Rocha, antes vice-reitor, com licença assinalando progresso para a colónia, a ponto de adiantar-
do ordinário, vendia o Colégio Velho, de tal nome por nele Ihe independência, foi entretanto motivo do abater rápido
t e r e m assistidos os órfãos antes da transferência para o do Seminário de São Joaquim. Não deixa tal de causar
de São Joaquim. Justificando venda, o padre reitor alegou espanto, dada a religiosidade de D. João e consequente
"a n e n h u m a u t i l i d a d e " que o colégio recebia da amparo a instituição da ordem do seminário.
propriedade. Dava até prejuízo "pela obrigação de mandar Tudo dependeu da substituição de ó t i m o reitor,
dizer capela de missas anuais por alma da instituidora D. sucedido por outro sem sorte, sendo inepto. Servia a
Bernarda Castello Branco". Para satisfação do encargo a c o n t e n t o geral o padre M e n d e s Carneiro. Bons
propriedade rendera apenas dez patacas por mês (a pataca administradores a muitos molestam e não raro por simples
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ações de presença. Infelizmente, Deus sabe levado por até enterrá-lo. Nem teve o Abade de Alverca apoio
que diabólicas sugestões, o Príncipe Regente entendeu eclesiástico sequer. Melindrara-se o Bispo diocesano com
dispensar da reitoria o padre Carneiro. Ainda mais, o ato do Príncipe Regente. Entendia, e bem, D. José
infelizmente lhe deu sucessor desastrado, José dos Santos Caetano da Silva Coutinho ter sido menoscabada a
Salgueiro, Abade de Alverca, um da leva transmigratória. autoridade prelatícia. Competia-lhe a direção dos
O padre Mendes Carneiro saiu do cargo aspergido. seminários, logo lhe pertencia a nomeação dos por eles
Recebeu o que os franceses chamam "eau bénite de cour". principais responsáveis.
São fingidos protestos de amizade ou recompensas de Em fins de 1817 era o Bispo o primeiro a pugnar
consolação. A água benta da corte, para o padre Mendes pela extinção do seminário entregue ao Abade de Alverca.
Carneiro, foi a promoção a Cónego da Capela Real. Circunstância e ocasião veio favorecer o desaparecimento
Começava a decadência do Seminário de São desejado, a chegada de tropas portuguesas.
Joaquim, posto sob o orago do Pai da Virgem, este na Desta vez ouvindo o Bispo, o Príncipe Regente, a
casa substituindo o patrocínio de Simão, pela palavra de bem de militança, extinguiu o seminário, a 5 de janeiro de
Jesus, na cena de Cesaréia, tornado Pedro para pedra 1818.
angular da Igreja. Dizia o Príncipe Regente no decreto de extinção:
Caíra, entretanto, o Seminário de São Joaquim nas "Fazendo-se necessário determinar o local em que deve
simpatias da cidade. Dádivas sucessivas acresceram-lhe estabelecer o conveniente aquartelamento, assim para um
património. O "vil metal", a indicar tantos vilões, serve dos batalhões de divisão de tropas, que mandei ir
não só de nervo à guerra, assim o proclamava Frederico ultimamente do exército de Portugal, como para o corpo
o Grande, como na paz prospera muito obra útil. de artífices, engenheiros ,que acompanhou a mesma
Populares, de longa data, eram os seminaristas de divisão e reconhecendo-se que o edifício do seminário de
São Pedro, depois de São Joaquim. Alcunhavam-nos de São Joaquim reúne as mais adequadas proporções para
"carneiros", pelo uso público de túnica marrom e barrete aquele fim, ao mesmo tempo que sem inconveniente se
de baetilha branca. Algumas vezes não escapavam os podem acomodar, com aproveitamento e maior vantagem,
seminaristas à perseguição da garotada, balindo, a puxar- tanto pública como particular , os atuais seminaristas
Ihes túnicas com ressalva de fuga. De onde a alcunha? deste colégio, ou seja, no Seminário de São José aqueles
Na opinião de Raja Gabaglia Sénior referia-se ao tempo de que, pelo seu adiantamento nos estudos e vocação, se
instalação do seminário na Rua de São Pedro, antes da julguem prósperos para o estado eclesiástico, ficando
construção da igreja da mesma invocação, contemporâneo adidos ao sobredito corpo de artífices de ofícios mecânicos
da Casa dos Órfãos de São Pedro. Durante algum tempo nelas estabelecidos aqueles que não estiverem no mesmo
a rua de São Pedro se chamou do Carneiro, em homenagem caso e circunstâncias. Hei por bem ordenar o seguinte:
à distinta senhora residente na rua. Que o referido edifício do Seminário de São Joaquim e
Segundo Noronha Santos a denominação de rua do suas dependências, passando a ser incorporado nos
Carneiro substituiu a de António Viçoso, a partir de 1602, próprios da coroa, seja destinado para aquartelamento da
tradicionalmente carioca pois a referida via pública. tropa e artífices supra mencionados".
Para mal de seminário, antes bem andado, por A tropa tomou conta do Seminário, o templo
ordem do Príncipe Regente ficou fingindo dirigir o de São adjacente servindo-lhe de casa de oração. As rendas do
Joaquim o padre Salgueiro, nome de árvore aliás tumular, estabelecimento desaparecido, para diversos fins, ficaram
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incorporadas às do Seminário de São José, acudindo, dizia Não desaparecia porém o Seminário de São
o Príncipe Regente, "não só a manutenção e tratamento Joaquim sem se recomendar à estima da gente culta da
dos alunos do extinto seminário de São Joaquim, cidade, por vários títulos, um deles o seguinte, assinalado
escolhidos pelo Bispo capeláo-mor por mais próprios e por José Silvestre Ribeiro.
aptos para a vida eclesiástica". Tais alunos seriam " No dia 20 de abril do ano de 1813 foi aberto na sala
admitidos e tratado no seminário de São José, "onde para do Real Colégio de São Joaquim, no Rio de Janeiro, um
o futuro se admirariam e tratariam do mesmo modo, curso de preleções filosóficas, que tinham por objeto:
rapazes órfãos e pobres, que pudessem com 1o) A teoria do Discurso e da Linguagem; devendo
aproveitamento destinar-se à vida eclesiástica, sendo ser expostos os princípios da lógica da gramática geral e
empregados utilmente, com vantagem do serviço de Deus da retórica;
e da coroa". 2o) O tratado das paixões; primeiramente
Não ficou esquecido — diz Raja Gabaglia Sénior — consideradas como simples sensações, e versando sobre
"o ex-reitor Abade de Alverca pelos desserviços feitos", matérias de gosto, donde se viam deduzidas as regras da
continuando a receber regularmente ordenado anual de estética, ou a teoria da eloquência da poesia e das belas
artes, depois considerando-as como artes morais,
200$000 como aposentação.
compreendidas nas ideias de virtude, ou de vício,
Fechado o Seminário, disperso o seu mui minguado
desenvolvidas as máximas ou Diceósyna que abrange a
património, lá se foi o arquivo da casa. Mais tarde, por
ética e o direito natural;
incumbência ministerial do Conde dos Arcos, Silva Lisboa,
3o) O sistema do mundo: em que, depois de se tratar
ainda não Visconde de Cayru, conseguiu reunir alguns
das propriedades gerais dos entes, ou da ontologia e da
documentos do arquivo quase todo posto fora. Mas a
nomenclatura das ciências físicas e matemáticas, seriam
coleção deles necessária ao estudo da origem e do
expendidas as noções elementares da cosmologia, e
progresso da instituição ficou perdida para sempre, salvo
destas seriam deduzidas as relações dos entes criados
alguma ressurreição de documentos, pouco provável.
com o Criador, nos princípios da teologia natural.
Católica, a antiga população do Rio de Janeiro atribuía
Afora a exposição da teoria, era do plano do curso
a castigos divinos os males de certas instituições
ler e analisar, em cada uma das preleções, alguma obra
causados por atos desacertados de governos. escolhida dos principais filósofos, oradores e poetas, assim
Ao tempo do Seminário de São Joaquim o estado antigos como modernos, sagrados e profanos".
sanitário da casa fora sempre bom, gozando saúde os Anunciavam por esta forma o curso de filosofia do
seminaristas. Transformando o São Joaquim em quartel Real Colégio de São Joaquim, tanto o Investigador
por ele entraram enfermidades, de casos fatais, algumas Portuguezem Inglaterra, de agosto de 1813, como a Gazeta
de caráter epidêmico como a zamperini, enfermidade a do Rio de Janeiro em seu número de 30 do mesmo ano.
lembrar o nome de afamada cantora do tempo. ambas as publicações hoje raridades bibliográficas.
Castigo! — murmurava o povo, como havia de As preleções filosóficas do Seminário de São
murmurar — quando pedras de inconstruída sé catedral, Joaquim, tachado de Real Colégio, não foram confiadas a
no Largo de São Francisco de Paula, foram dar alicerce ao qualquer. Tomou-as a cargo Silvestre Pinheiro Ferreira,
hoje desaparecido Teatro São Pedro de Alcântara, presa espírito tão culto quanto caráter íntegro, aliança pouco
de sucessivos incêndios. frequente. Estadista, filósofo, mereceu Silvestre Pinheiro,
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este louvor: " m u i t o seria necessário para elogiá-lo, visto deste então regente o Príncipe D. Pedro. A requerimento
a dificuldade de pintar gigantes em pequenas tábuas, como de vários m o r a d o r e s do Rio de Janeiro, o novo Príncipe
tão imaginosamente diz frei Luiz de Souza". Regente r e s t a b e l e c e u o Seminário de São Joaquim tal
Quando em Paris, por volta de 1839, Silvestre como este se e n c o n t r a v a no m o m e n t o da extinção em
Ferreira realizou quanto prometera na introdução das 1818. R e v e r t e u de n o v o tudo à instituição, imóveis,
Prelecções no Real Colégio de São Joaquim, publicadas cabedais, t e m p l o . A t é o antigo reitor Cónego Carneiro foi
no Rio de Janeiro, isto é, o projeto de compor compêndio r e c o n d u z i d o a c a r g o " p e l a s provas de i n t e l i g ê n c i a ,
de f i l o s o f i a . E s t a m p o u - o c o m o t í t u l o de Noções prudência e virtudes exigidas pelo importante e m p r e g o " .
Elementares de Philoscphia, Geral e Applicada às Sciencias Nada c o m o um dia d e p o i s do outro, devia pensar sob a
Moraes e Politicas, Antologia, Psycologia e Ideologia. batina o Cónego Plácido M e n d e s Carneiro, dispensado de
Mais tarde, Spix e Martius, os ilustres cientistas obrigações na Capela Real e mandado morar quanto antes
vindos ao Brasil a mando de Maximiliano José I, rei da na casa do m e s m o s e m i n á r i o .
Baviera, em viagem realizada e descrita de 1817 a 1820, Apesar de toda a boa vontade do Cónego Carneiro e
de relação publicada em Munich em 1823, referiram-se à seu digno sucessor, frei Pedro Nolasco da Sacra Família,
instrução secundária no Rio de Janeiro, nos seguintes não pôde reerguer-se o seminário. Certos homens são
termos: funestos para s e m p r e . Tal o padre Salgueiro.
"A educação da juventude é cuidada na capital por N e m valeu, para mascarar ruína, o título de Imperial
vários colégios privilegiados. Os abastados confiam a concedido ao Seminário após a Independência. Todos os
professores particulares o preparo de seus filhos, a fim de agitados sucessos do f é r v i d o Primeiro Reinado, desde o
frequentarem a Universidade de Coimbra. Isso é muito r e c o n h e c i m e n t o do I m p é r i o , não davam m a r g e m à
custoso por falta de professores competentes. A maioria regularidade de q u a l q u e r organização pedagógica.
deles pertence ao clero, atualmente de influência muito Estudava q u e m queria, não quem devia ou podia.
menor, no que diz respeito à educação popular, do que Da Abdicação p a s s o u o Brasil à Regência, república
outrora e principalmente no t e m p o dos jesuítas. de fato sob f o r m a i m p e r i a l de direito. No tempo regencial
No Seminário de São Joaquim são ensinados os encontrou r e f o r m a d o r o periclitante Seminário de São
rudimentos de estudo e cantochão. O melhor colégio, Joaquim. Foi José Lino Coutinho, Ministro do Império de
porém, é o Liceu do Seminário São José, onde, a par do julho de 1831 a janeiro de 1832.
Latim, do Grego, do Francês, do Inglês, da Retórica, da Para execução de reforma obteve o seminário do
Geografia e da Matemática t a m b é m se ensinam Filosofia Ministro novos e s t a t u t o s , regendo curso de seis anos. De
e Teologia". minudência se m o s t r a v a m os estatutos. Assim na lista
Obra de piedade sobre beneficência não podia das culpas e dos c a s t i g o s de discentes figuravam dois
perecer de vez o Real Colégio. Estava escrito, ressurgiria pecados m o r t a i s . Punia-se a gula diminuindo alimento; a
o Seminário de São Joaquim metamorfoseado, dando preguiça com trabalho braçal em serviço útil ao seminário.
ensejo à criação de colégio novo, o de Pedro Segundo. Decadente e s t e , a d o t o u a Regência medida m u i t o
Questão de tempo dentro do qual o destino tantas surpresas vulgar, no horror da responsabilidade, descartou-se do
guarda. seminário, e n t r e g a n d o - o à Câmara Municipal.
O Príncipe Regente de 1807, D. João VI, em 1821 Confiou esta a direção leiga ao vereador Felippe
saiu do Brasil soberano, a antiga colónia subida a reino, Ribeiro da C u n h a . A d m i n i s t r a d o r e não p e d a g o g o ,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

aumentou património, melhorando materialmente o em estabelecimento modelo de letras secundárias. No


seminário e igreja anexa. Mas a instrução ia de mal a requiescat in pace da velha Instituição eclesiástica, feliz
pior, na casa de ensino cada vez mais doutrinando a espaços, havia o renascer à fénix de nova instituição.
ignorância. Chegou a fechar oficinas, diz Joaquim Manoel Não quiseram contudo Regente e Ministro escolher
de Macedo, ignoradas as provas de asserção. Inútil, sofria para data da fundação do colégio dia insignificativo.
o Seminário de São Joaquim derradeira transformação em Elegeram um natalício, o do menino mais de vista no
1837. Império: D. Pedro II.
Renasceria das próprias cinzas, tendo em áureos Completava ele doze anos a 2 de dezembro de 1837.
tempos dado instrução a futuras glórias nacionais. No Tinha aniversário de berço entre pompas e tristezas,
Seminário de São Joaquim, entre outros, aprendeu Joaquim aquelas conferidas por uma nação ao seu Imperador, estas
José Ignacio, o vindouro almirante Visconde de Inhaúma, impostas pelo destino a órfão de mãe com um ano de
cuja carreira de mar nossas últimas vitórias na Guerra do idade, de pai aos nove.
Paraguai se encerraram em tanta glória para ele e para Vejamos como transcorreu para D. Pedro II a data
nós, glória própria e nacional. da fundação do Colégio de seu nome. Di-lo oficio inédito
Lembrado da mitologia, apesar do caráter religioso do encarregado de negócios da França no Rio de Janeiro
do Seminário de São Joaquim, alguns amigos das letras dirigido a 3 de dezembro de 1837 — no calor portanto do
clássicas talvez lhe atribuam a recordação da fénix grande natalício da véspera — ao Ministério dos
fabulosa. Após cinco séculos de existência a ave ainda Estrangeiros de sua nação regida na época por Luiz Felippe,
achava forças para formar ninho de plantas aromáticas rei dos franceses, não de todos porque alguns tentavam
nele se deixando consumir por ardentes raios solares para assassiná-lo.
nova vida tirada de si mesma. Às quatro e meia da tarde de 2 de dezembro de
Politicamente, de excepcional importância para o 1837, dia da fundação do colégio, chegava o jovem
Brasil foi o ano de 1837. Não o seria menos para o Imperador de doze anos ao paço da cidade. Sem anúncio
Seminário de São Joaquim. Pela renúncia do Regente Feijó prévio havia sido modificado o itinerário do cortejo imperial
entrou a exercer, constitucional e interinamente, a regência de São Cristóvão para o largo do Paço. Em vez de tomar,
do Império o Senador Pedro de Araújo Lima. como de hábito, pela rua do Ouvidor, passou o cortejo
No dia imediato da renúncia de Feijó, chamava pelas ruas de São Pedro e Direita. Não faltou quem
Araújo Lima o governo novo ministério, o de 19 de setembro quisesse ver na mudança do itinerário, aliás explicável de
de 1837. Compunham-no Maciel Monteiro, Calmon, modo muito simples, espécie de tendência para favorecer
Rodrigues Torres e Bernardo de Vasconcellos, este Ministro e lisonjear o amor próprio dos portugueses domiciliados
da Justiça e interino do Império, pasta acabada de deixar no quarteirão distinguido. Para reforço de suposição vieram
por Araújo Lima. Dava este a Bernardo o que recebera de à baila nomeações recentes recaindo em alguns lusitanos.
Feijó. Recebeu o Imperador naquela parte da cidade —
Regente e Ministro, Araújo Lima e Bernardo, ambos Ruas de São Pedro e Direita — uma ovação no meio de
por coincidência interinos, voltaram vistas para o Seminário fervoroso acolhimento. Na passagem de D. Pedro II
de São Joaquim. Avaliaram-lhe decadência, deliberando crianças vestidas de anjo espalharam profusão de rosas e
encampá-lo. Chamaram-no ao Estado, absorveram-lhe o poesias análogas ao dia. Sem levar em linha de conta
património de origem colonial, transformaram o seminário qualquer tendência lusitana, a mudança de itinerário fora
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provavelmente devida a simples sugestão de Paulo soldados estavam carregadas, as patronas cheias de
Barbosa, mordomo da casa Imperial, cioso de fazer admirar cartuchos. Espalhou-se o boato que o comandante dos
novas e magníficas carruagens de obra inglesa. Pela Permanentes resolvera mandar atirar sobre a plateia do
primeira vez saíram à rua, desejo de Paulo Barbosa pô-las teatro no espetáculo de gala à menor manifestação hostil
a rodar em vias públicas assaz largas e menos mal ao governo.
calçadas da cidade. Assim mais a gosto poderia o povo Nada porém justificou surpresas. Pôde o soberano
contemplar os veículos do que se estes descessem pela regressar a São Cristóvão sem o menor incidente
angusta rua do Ouvidor. desagradável a assinalar o seu primeiro dia de protetor do
Embora atrapalhasse um pouco a Paulo Barbosa o Colégio de Pedro Segundo.
pagamento imediato dos carros, a 2 de dezembro de 1837, O decreto de fundação do estabelecimento era
ignorava ainda o público que os veículos tinham custado conciso, abrangia treze artigos. Copioso, porém, seria o
200.000 francos. Só os arreios valiam 80.000, arreios tão decreto de 31 de janeiro de 1838 aprovando estatutos
pesados que, gracejando, dizia D. Pedro II ao mordomo colegiais, discriminando em duzentos e tantos e dois as
não poderem encontrar cavalos capazes de suportá-los. regras atinentes à formação e desenvolvimento da Casa.
Após o Te Deum na Capela Imperial, D. Pedro II, Apenas expedido o decreto de criação do Colégio,
loiramente ameninado, chegava à janela do palácio dando ocupou-se Bernardo de Vasconcellos em conceder-lhe
para a praça. Mandou então o general comandante das instalação material. Procurou melhorar a do antigo
armas desfilar, do melhor modo possível, infantaria e Seminário de São Joaquim, dando a muitas das velhas
cavalaria da guarda nacional. dependências, espaço, ar e luz.
Finda a revista, entrou o corpo diplomático na sala Valeu-se para tanto da competência do arquiteto
do trono. Cercado pelo Regente Araújo Lima, pelo tutor, consagrado na Europa, Grandjean de Montigny, um dos
Marquês de Itanhaem, pelos Ministros de Estado e pela componentes da Missão Francesa atraída ao Rio de Janeiro
chusma de pessoas da corte, muito mais numerosa do sob os auspícios de D. João VI pelo conde da Barca para
que no anterior, recebeu o imperador os cumprimentos fundação da Escola das Belas Artes.
congratulatórios pela data natalícia. D. Pedro II ostentava Arranjou Grandjean, no como pôde das pressas e
vistosa farda, trazida com graça e desembaraço. A todos das adaptações, o antigo Seminário. Animava-o a presença
acolhia de pé, tendo à esquerda a irmã mais nova, a constante do Ministro, Bernardo de Vasconcellos,
Princesa D. Francisca, notável pela compostura como encorajador tanto mais de louvar quanto por paralisia de
pelos atrativos de rosto. Quantos concorreram ao cortejo membros inferiores, não tinha movimento próprio, obrigado
reparavam no ar de saúde e viço da fisionomia do jovem a mover-se à triste sujeição do préstimo alheio.
Imperador. Trabalharam, de acordo e rápido, Bernardo de
Mas como nem tudo quanto brilha ouro é, a cidade Vasconcellos e Grandjean de Montigny. Fora este
estava cheia de boatos. Rumorejava-se que a solenidade ordenador dos monumentos de Cassei, capital do reino
e as cerimónias do dia seriam perturbadas por motins e de Westphalia ao tempo de Jeronymo Bonaparte, soberano
gritos de viva a República e viva o Imperador emancipado. de uma das realezas efémeras criadas através da Europa
Nada porém deslustrou o 2 de dezembro de 1837. Aliás o pelo génio e pela espada de Napoleão. No Brasil de 1837,
comandante do Corpo de Permanentes, homem de por voltas do destino, Grandjean de Montigny, bem longe
coragem e decisão, tomou precauções. As armas dos de Cassei aprontava para inauguração o Colégio de Pedro
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Segundo, em rua aberta nos terrenos da antiga chácara do Quarenta e oito horas depois estava o reitor
Carneiro ou do Julião. A pedido do Ministro da Justiça, o preparado para receber a augusta visita de D. Pedro II na
próprio Bernardo de Vasconcellos mandava o Ministro inauguração do Colégio de seu nome, a 25 de março de
interino do Império, ainda o mesmo Bernardo, recolher ao 1838.
Colégio "porção de prata da Igreja dos extintos Jesuítas, Não veio só o Imperador, acompanhavam-no duas
sob a guarda do capelão do Colégio, visto não oferecer a irmãs, as Princesas D. Januária e D. Francisca, a segunda
necessária segurança a Igreja do dito Colégio dos já tendo tido ensejo de conhecer futuro esposo, o Príncipe
Jesuítas". Tudo conforme aviso de 21 de março de 1838, de Joinville, filho de Luiz Felippe, de passagem pela capital
quatro dias antes da abertura oficial do Colégio de Pedro do Império em 1838.
Segundo. Na abertura do Colégio, dizia o "Jornal do
Fixaram-lhe data de abertura relacionada com a Commercio": "Quase todo o Rio de Janeiro intelectual se
história pátria, 25 de março de 1838. Memorava o achava, para ouvir da boca do Exmo. Sr. Vasconcellos, o
aniversário do juramento da Constituição do Império que discurso que ele dirigia, em nome do Regente, ao Exmo.
custara vida à Constituinte de 1823, a morte da qual nem Reitor (o Bispo de Anemúria)".
faltou, à humana noite da de Agonia, a da véspera da Não se moveu em vão o Rio de Janeiro intelectual.
dissolução da Assembleia pela força armada contrariando Aplaudiu discurso lapidar, mais do que isso profético.
o cedant arma togaeciceroniano. Relida a oração, verifica-se não ter o tempo lhe feito
Na época, o dia 25 de março tinha suma importância perder valor. Constitui ainda programa. Afirmava Bernardo
para a Igreja e o Estado, unia-se aquela a este na famosa de Vasconcellos: "O Colégio é o Reitor, nele principiando
aliança histórica de trono e altar, nem sempre através dos e acabando a beleza e a utilidade do estabelecimento,
séculos isenta de lutas e contrariedades, inclusive no Brasil respeitando a mor parte das disposições do regulamento
onde vara e báculo contenderam desde Duarte da Costa. do Colégio mais aos professores e inspetores de que aos
A 25 de março celebrava a Igreja a Anunciação de alunos, a severidade da disciplina devendo passar mais
N. Senhora em Nazareth e o Estado, por meio de dia de sobre tais empregados do que sobre os discentes, fáceis
grande gala, assinalava o aniversário do juramento da de conduzir quando a vigilância e o respeito lhes assinala
Constituição. a estrada".
Dois dias antes da dupla celebração e da abertura Quando errassem deveriam os alunos conhecer os
do Colégio de Pedro Segundo, seu primeiro reitor, figura castigos desvanecendo-se o Governo que as penas
primacial na diocese do Rio de Janeiro, frei António de impostas "arraigassem desde cedo na mocidade o horror
Arrábida, Bispo titular de Anemúria, recebia Aviso do ao crime, a aversão à indolência, o cuidado dessem
Ministro Bernardo de Vasconcellos. deveres, o necessário hábito de mandar sem despotismo
Aviso de alta prudência sobre subida cortesia, o e obedecer sem servilismo".
seguinte: "Bernardo Pereira de Vasconcellos envia ao Ao concluir sucinto e imortal discurso, declarava
Exmo. E Rvmo. Sr. Bispo de Anemúria cópia do Discurso Bernardo de Vasconcelos ser mister repetir ao Bispo de
que tem de recitar na ocasião da abertura do Colégio de Anemúria "que o intento do Regente interino ao criar o
Pedro Segundo, no dia 25 do corrente, a fim de que S. Colégio era oferecer um exemplo ou norma aos que já se
Exa. Revma. tenha dele prévio conhecimento". achavam instituídos nesta Capital por alguns particulares,
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convencido como estava que a educação colegial era aprouvesse a Deus não lhe dar a sorte de todas a:
preferível à educação privada. instituições fundadas com muito calor no Brasil, oxalá nã(
"Nenhum cálculo de interesse pecuniário, frisava o fosse o Colégio presa da guerra de individualidades, de
Ministro, nenhum motivo menos nobre, e menos patriótico sistema desmoronador de ministro para o outro".
que o desejo de ver a boa educação da mocidade, e o Cessadas as festas, começava labor. Um séculc
estabelecimento de proveitosos estudos influíra na ainda não o interrompeu. Inaugurado o Colégio, no di<
deliberação do Governo. Relevava pois, ser fiel a este seguinte da abertura, recebia o Bispo-reitor Aviso de
princípio, manter e unicamente adotar os bons métodos, Ministro Bernardo Vasconcellos.
resistir a inovação que não tivesse a sanção do tempo e o Comunicava "haver sido indicado ao Marquês tuto
abono de felizes resultados, prescrever e fazer abortar todas do Imperador (o Marquês de Itanhaem) poder ser realizad.
as espertezas de especuladores astutos, ilaqueavam a a entrega ao tesoureiro interino do Colégio da quantia d(
credulidade dos pais de família com promessas de fáceis 400S000 como princípio da subscrição de 2:000$000
e rápidos resultados na educação dos filhos, repelir os dádiva do Imperador ao Colégio".
charlatães que aspiravam à celebridade inculcando Em seguida, autorizado por Aviso de 30 de marçc
princípios e métodos que a razão desconhecia e muitas de 1838, o Bispo-reitor recebia "mandada recolher a<
Colégio, a prata pertencente ao Colégio dos extinto:
vezes assustada reprovava."
Jesuítas por cuidados do Juiz de Paz da Freguezia d<
"Pouco importava — adiantava Bernardo de
Jacarepaguá, dita prata encontrada entre o espólio do padn
Vasconcellos — que a severidade da disciplina do Colégio,
José de Amor Divino".
que a prudência e a salutar tendência no proceder a
Aberto o Colégio, Bernardo de Vasconcellos não (
reformas afastassem do Colégio muitos alunos. O tempo,
pós à margem de preocupações de governo e atormentad(
sempre o condutor da verdade, e o destrutor da impostura
como o da Regência. Dedicou à Casa cuidados <
faria conhecer o seu erro. O Governo só fitava a perfeita
providências de toda ordem visando futuro.
educação da mocidade, deixando (não sem pequeno pesar)
Em constante relação com o Bispo-reitor, ora lh<
as novidades e a celebridade aos especuladores, que
comunicava a oferta de 50 exemplares do compêndio d<
faziam do ensino da mocidade um tráfico mercantil, nada
Aritmética do bacharel Francisco de Paula Leal, ora lh<
lhes interessando a moral e felicidade dos alunos. Ao participava o pedido ao Ministério da Guerra, do qua
Governo só cabia sanear para colher os frutos". Ministro Sebastião do Rego Barros, para que o Arsenal d<
A Bernardo Vasconcellos respondeu o Bispo-reitor, Guerra aprontasse tábuas para as demonstrações d<
oferecendo ao Governo a sua colaboração, sem que, cálculo nas aulas do Colégio.
infelizmente, se encontre registrado o seu discurso, a Preocupava-se Bernardo de Vasconcellos com <
contrapor ao do diligente Ministro. É grande pena. fornecimento de água para a nova instituição
Finda a inauguração, o Imperador e as irmãs, determinando, por Aviso de 11 de junho de 1838, que <
seguidos pela Corte, percorreram o plano superior do dito fornecimento, feito pela administração das obras di
Colégio. Abertas portas, logo escadas, corredores e salas Casa de Correção, fosse substituído pelo fornecimentt
encheram-se de povo em burburinhos. pelas carroças empregadas em vender água na cidade.
A 27 de março de 1838, o "Jornal do Commercio", Velava Bernardo de Vasconcellos pela higiene <
noticiando a inauguração, observava estar "o Colégio em saúde da coletividade proibindo admissão de aluno:
embrião, necessitando de auxílios para prosperar, internos portadores de doenças contagiosas.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Comunicava o Ministro ao reitor "ter o Governo disse o Ministro do Império, que servisse de tipo as outras
resolvido que das máquinas, instrumentos e dos produtos que se acham em atividade no país.
dos três reinos naturais existentes no Museu Nacional da O pai de família folgará de receber em sua casa um
Corte se emprestassem ao Colégio aqueles que não novo filho, modesto, laborioso, instruído e apto para penetrar
fizessem falta alguma ao mesmo Museu, fazendo aprontar no santuário de qualquer missão civil que seus
a casa, as estantes e armários convenientes onde compatriotas lhe encarreguem, um homem que tudo
devessem ser conservados os referidos produtos" Dirigia apreciará porque ali ele aprenderá a tudo respeitar, enfim
o Museu o sábio frei Custódio Alves Serrão. um filho que respeitará o saber, a idade e não levará a
Multiplicava avisos Bernardo de Vasconcellos imprudência e o escárnio até o altar de Deus".
completando a fundação do Colégio. Num dia ampliava o
O Governo imperial querendo realizar esta grande
enxoval dos alunos internos, noutro autorizava a reitoria a
ideia lançou mão dos homens que lhe pareceram mais
gratificar com 20S000 os professores que lecionassem
hábeis para o desempenho de tão árdua tarefa e a escolha
durante férias. Mereciam-lhe cuidados a adoção de
do arquiteto, do reitor e dos professores, é de certo lisonjeira
compêndios, aprovado para o ensino de História Universal
para o Brasil.
a tradução do compêndio de Poisson e Cayx para História
Antiga e o compêndio de De Rozoir e Dumont para História Mr. Grandjean é um artista de cunho, um homem
Romana. de arte que sabe o que faz, reunindo ao útil o agradável, e
No ensino de Física era mandado adotar pelo zeloso a grande atividade que ele empregou na restauração do
Ministro o compêndio de Barruel, reduzido a quadros pelo Seminário antigo, assim como o bem acabado da obra,
Cónego Francisco Vieira Goulart, sendo adotado o prova em seu abono as qualidades que deve possuir um
compêndio de Lacroix para estudo de Geometria. arquiteto.
Caberia ainda a Bernardo Vasconcellos expedir aviso O Exmo. Sr. Bispo de Anemúria é um homem moral,
revogando o artigo 46 dos Estatutos do Colégio na parte de caráter firme, instruído e que já suportou sobre seus
em que facultava precedendo licença especial do Governo, ombros um peso maior que o do Colégio, o da educação
admissão de alunos menores de 12 anos. de dois príncipes (D. Pedro e D. Miguel): o seu nome sem
Apreciando a fundação do novo Colégio, assim se nódoa é a maior garantia para os pais de família e para a
exprimia o "Jornal do Commercio": "Qual será o coração prosperidade do Colégio de Pedro II. Dos professores
entusiasta pela prosperidade do Brasil que não sentirá
nomeados tais como os Srs. Magalhães, Silva, Maia, etc,
palpitações movidas por um interesse tão grande qual o
etc. são muito conhecidos por seus talentos e todos
da fundação do Colégio de Pedro II, de um estabelecimento
laboriosos, o que não deixa a duvidar ser um belo
que tende a preparar a nova geração que há de se reger os
complemento à formação do corpo de ensino do Colégio".
futuros destinos do país de uma maneira mais ampla já
nos princípios adquiridos em prática, um dos dogmas da Não foram vãos os esforços de Bernardo de
religião, já pelo certames científicos que aí colherá em Vasconcellos na fundação do Colégio, granjeando aplauso
sucessão de estudos clássicos e progressísticos. geral. Incansável o grande paralítico, deu exemplo a tantos
Faltava ao Brasil um semelhante estabelecimento, validos. Tolhido de passos, pôs entretanto o Colégio a
uma escola progressiva de educação à mocidade, como andar célere em caminho glorioso.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Frei D. António de Arrábida, Bispo de Anemúria, primeiro Reitor.


MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937

II
O Colégio até 1839

Primeiro Reitor • Primeiros Funcionários • Primeiros Professores Efetivos e


Interinos • Primeiro Livro de Matrícula • Primeiros Alunos • Ainda os Órfãos de São
Joaquim • Ação Conjunta do Governo e da Reitoria do Colégio • Retirada de
Bernardo de Vasconcellos do Governo • Seus Sucessores • Novo Reitor, Novo
Vice-Reitor • O Colégio até 1839 • A Sessão do Senado do Império em 1839.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Descrita seja, a largos traços, a vida nacional do ano província, Presidente do Conselho de Ministros,
de 1838, primeiro do funcionamento regular do Conselheiro do Estado na monarquia, sobre tipo original
Colégio de Pedro Segundo. de inveterado oposicionista parlamentar.
Cessaria a interinidade regencial do Senador Araújo Começava o Brasil a preocupar-se em ter
Lima, Regente efetivo por eleição para o cargo procedida comunicações rápidas com o mundo por meio da
em todo o Império, alcançando nela o regente interino 4.308 navegação a vapor. Pretendia a organização de companha
votos. nacional, começada a estudar a possibilidade da abertura
Acudindo embora à debelação de guerras civis, quais do istmo de Panamá, quando no Rio de Janeiro se estudava
a Sabinada baiana, a Balaiada maranhense, a luta dos outra possibilidade, a do desmonte do Morro do Castelo.
Farrapos sul-riograndense, a Regência Araújo Lima, em Não se preocupava somente Bernardo de
1838, procurava administrar, criava serviços de vulto, Vasconcellos, Ministro da Justiça e interino do Império,
reformava outros, favorecia instituições úteis, estimulava com a transformação e bom estabelecimento do Colégio
iniciativas individuais, tentava conduzir o país à paz, de Pedro Segundo. Merecera-lhe cuidados, por exemplo.
favorecido no intuito já pelo abrandamento de paixões e o Jardim Botânico da Lagoa de Rodrigo de Freitas, dera-
linguagem da imprensa partidária, já pelo apreço público Ihe regulamento, "de maneira que as pessoas que o
votado a obras da inteligência em vários departamentos visitassem pudessem utilizar-se do que ele oferecia ao
do saber humano. recreio, à curiosidade e às investigações científicas, sem
Assim, em 1838 formavam-se nove primeiros contudo lhe causarem prejuízo, nem ofenderem a decência
doutorandos saídos da nossa Escola de Medicina instituída que se deve guardar em um lugar de pública concorrência".
pela lei de 3 de outubro de 1832, três cirurgiões pela antiga A 21 de outubro de 1838, surgia no Rio de Janeiro,
Escola Médica Cirúrgica reformada pela mesma lei. no seio da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, o
Dos nove doutorandos de 1838 mais se assinalaria, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Com esta
na vida nacional, Martinho Álvares da Silva Campos, agremiação o protetor do Colégio de Pedro Segundo
deputado-geral, Senador do Império, presidente de repartiria desvelos vida inteira.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

Começava a presidir a nova sociedade, do passado do Governo imperial de escolher reitor à altura da criação.
vinda e agora no primeiro centenário, o Visconde de Sâo "O Colégio é o reitor", declarava o Ministro inaugurante.
Leopoldo, auxiliado pelo Cónego Januário da Cunha Na transição do Seminário de São Joaquim para
Barbosa e pelo Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia, professor Colégio de Pedro Segundo, Bernardo de Vasconcellos
do Colégio de Pedro Segundo. convidou um bispo para primeiro reitor do novo Instituto.
Em 1838, outro professor do Colégio, Gonçalves de Escolheu o franciscano frei António de Arrábida, Bispo in
Magalhães, atraía atenção pública no Rio de Janeiro, partibus de Anemúria. Trazia no nome religioso bastante
oferecia-lhe famosa primeira representação, a de António pátria: António lembrava o santo que Pádua reclamou;
José ou o Poeta e a Inquisição, peça escrita em Bruxelas, Arrábida, o convento luso da serra transtagana onde fez
levada à cena no Theatro Constitucional Fluminense, depois pouso São Pedro de Alcântara.
São Pedro de Alcântara, hoje João Caetano, e interpretada Frei António de Arrábida transmigrara com o Príncipe
pelo até hoje tido como primeiro ator nacional e proclamado Regente tendo na pátria ocupado cargos na sua Ordem.
pelo próprio Gonçalves de Magalhães, " s e m p r e mestre e
Escapara de vir ao Brasil antes da Corte lusitana. Em 1807,
discípulo de si m e s m o " .
o Príncipe Regente quase mandara ao Rio de Janeiro o
A necrologia de 1838 registrava os nomes de vários
filho D. Pedro, duplamente infante, na idade, e na hierarquia
prestantes cidadãos brasileiros, entre eles, até na morte
dinástica com o título de condestável. Acompanhá-lo-ia
primus inter pares, José Bonifácio de Andrada e Silva,
um aio: Frei António. Em vez de o franciscano viajar só,
falecido às três horas da tarde de 5 de abril de 1838 em
ou com o príncipe da Beira, chegou ao Brasil de roldão
São Domingos de Niterói e sepultado no Rio de Janeiro na
com a corte portuguesa e milhares de compatriotas.
Igreja dos Terceiros do Carmo na atual Rua 1 o de Março.
Frei António, no Rio de Janeiro, alusitanado do dia
Mal desceram os restos mortais de José Bonifácio
para a noite, foi preceptor de D. Pedro e D. Miguel, para
à catacumba do Carmo levantava-se na capital do Império
muitos preceptor in partibus, dada a índole rebelde dos
a ideia de consagrar monumento em memória dele e outro
dois irmãos príncipes.
à do soberano ao qual José Bonifácio tanto servira, D.
Pedro I do Brasil e IV de Portugal. Começando a operar a Independência, em 1823, foi

Eis fugidiamente descrito o maior fato do ambiente frei António despachado 1 o bibliotecário da Biblioteca

social de 1838, primeiro ano do viver pedagógico do Colégio Pública do Rio de Janeiro. Exerceu o cargo até a Regência

de Pedro Segundo. Provisória Trina, afinal esta o pondo na rua, lugar pouco
O decreto de criação do Colégio chamava Reitor a grato a empregados.
autoridade maior do estabelecimento. Corria a palavra na Ficou em penúria frei António, a observar pobreza
época, de tradição coimbrã. Ainda não caíra em desuso, além do voto franciscano. Amigos o remediaram c o m
aplicada a quantos em cargo ou negócios de certas s u b s c r i ç ã o , a c u d i n d o m a i s t a r d e D. P e d r o II c o m
corporações, mais particularmente escolares ou religiosas. mensalidade servida ao pensionista até a m o r t e para
Designando o chefe do Colégio, m e s m o quando dividido manter decoro de bispo.
este, a palavra seria por longo tempo mantida no trato Ao assumir a reitoria do Colégio de Pedro Segundo,
oficial. era frei António de Arrábida quase septuagenário. A última
No discurso de inauguração do Colégio, da lavra de Regência de Araújo Lima reparava nos últimos dias de frei
Bernardo de Vasconcellos, bem patente estava o desejo António a demissão imposta pela Regência Provisória Trina,
ESCRAGNOLLE DÓRIA

talvez ao calor de paixões políticas e jacobinas, quiçá pela Montpellier, vemacularmente Monpilhér. Desde estudante
necessidade de colocar apaniguados, coisa comum na se anunciara mestre para ser depois mentor da mocidade
inversão de partidos. brasileira.
Além do reitor, compunham o corpo administrativo Justiniano José da Rocha foi designado professor
do Colégio um síndico, um vice-reitor e um tesoureiro; no de Geografia, História Antiga e Romana, não muito
corpo subalterno, o número de serventes necessários. perceptível a exclusividade pedagógica da última disciplina.
Ajuntou-se-lhes mais tarde um secretário interino, Era outro professor moço e já notório. Carioca, de educação
José Tavares de Mello. Eram reitor e funcionários literária em Paris, no célebre Colégio Henrique IV, contava
destinados a assegurar o regime do estabelecimento. 26 anos. Formado em Direito em S. Paulo, tornar-se-ia
Mantendo-lhe instrução e vigilância, achou-se figura política notável e mestre completo do jornalismo
congregado corpo de professores e inspetores; entre os político, representando a nação na Câmara dos Deputados.
primeiros o professor de Religião tendo também a seu cargo A facilidade de composição de Justiniano era quase
a Capelania do Colégio. Para cuidar da saúde física dos miraculosa, atestou-a alguém que passou pelo magistério
alunos foram designados um médico e um cirurgião de do Colégio, embora por breve t e m p o : Salvador de
partido. Tanto o médico como o cirurgião tinham estipêndio Mendonça. Disse-nos: "Justiniano escrevia em todo e
certo por serviço determinado. Condecorava ambos o qualquer lugar, a toda e qualquer hora do dia ou da noite,
expressivo título de Professores de Saúde. em casa, na Câmara dos Deputados, no teatro, sobre as
Sucinto fora o decreto de criação do Colégio. costas de uma cadeira, sobre a perna, em um peitoril de
Extenso, porém, veio a ser o decreto de 31 de janeiro de janela, no silêncio do gabinete, na sua varanda, no meio
1838, aprovando os Estatutos do Colégio, opondo 232 do chilrear dos pássaros e das correrias e barulho das
artigos aos 13 do decreto de criação. Segundo a cópia dos crianças".
artigos, da ação harmónica do corpo docente e Dizia Octaviano que Justiniano, ao acordar de
administrativo resultaria a prosperidade do Colégio, bem manhã, a primeira coisa que fazia era ver onde havia
justa em toda a parte a divisa das armas belgas: a União deixado a pena na véspera e não garantia que não
faz a Força. escrevesse quando dormia.
Aos professores primeiros do Pedro Segundo Logrou nomeação de professor de Ciências Naturais
lembrava o poder público, para exemplo de sucessores, e interino de Aritmética Emílio Joaquim da Silva Maia.
a necessidade de ensinar aos alunos letras e ciências, Brasileiro dos mais ilustrados, natural da Bahia, como
sem contudo descurar imprescindíveis deveres para com Joaquim Caetano e Justiniano o recebera cultura europeia.
Deus, Pais, Pátria e Governo. Graduou-se em Filosofia em Coimbra, em Medicina em
Eis os primeiros professores do Colégio nomeados Paris. Na época do nascer do Colégio figurava entre os
a 29 de abril de 1838 pelo ministro Bernardo de membros fundadores do Instituto Histórico e Geográfico
Vasconcellos: Brasileiro e da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional.
Coube a Joaquim Caetano da Silva a cadeira de Contava trinta anos de idade em 1838 o jovem professor
Retórica, ele interinamente encarregado de lecionar Dr. Silva Maia, cuja vida seria das mais profícuas à ciência
Gramática Portuguesa e Grego. Rio-grandense-do-sul, de e à pátria.
Jaguarão, o jovem professor de 28 anos, precocemente A Domingos José Gonçalves de Magalhães foi
se graduara em Medicina na Faculdade francesa de entregue, em 1838, a aula de Desenho. Outro jovem
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

professor de 27 anos, carioca de 1811 e poeta já anunciador Disto faz fé o ofício da mesa examinadora em ofício
do Romantismo nos Suspiros Poéticos e Saudades, obra redigido por Joaquim Caetano, ofício dirigido ao Exmo. e
publicada pouco antes da nomeação do autor para o Revmo. Sr. Bispo-reitor, peça na qual se insere o seguinte
Colégio. tópico:
Ao grupo dos primeiros nomeados para lecionar no "Quando nós procedemos a exames de que até
estabelecimento pertenceu por último Januário da Silva agora temos sido encarregados, bem sabe V. Exa.
Arvellos, professor de Música e como tal conhecido na Revdma. o melindroso escrúpulo com que nos louvamos:
idade, mérito adquirido, mérito ingênito, tudo isto
época. Ainda hoje, vez e outra, surge composição sua em
averiguamos em cada menino, e nisso foi que fundamos
festividades religiosas.
cada uma das notas. Facilmente poderíamos então
Que Arvellos, no seu tempo, teve notoriedade não
expender por miúdo os motivos da significação por nós
padece dúvida, à vista dos versos de Porto Alegre
estabelecida unanimemente. Hoje, porém, no-lo veda o
exaltando o Brasil e colocando Arvellos na linha de
decurso do tempo e o grande número de examinados que
compositores de arte, a principiar por José Maurício. a esta mesa se tem apresentado. Só podemos, portanto,
Augurando ao Brasil só brilhante futuro, Porto Alegre remeter agora essa mesma classificação rogando a V.Exa.
apostrofava: Revdma. se sirva lembrar-se de ponderação com que
assentarmos a organização da adjunta tabela, resultado
Em teus templos se animam, se engrandecem do nome consciencioso dos examinados que nela se
Os cânticos sublimes que um Garcia, contém".
Um Rosa, um Portugal, e um Arvellos Do ofício resulta a prova de o nascente Colégio
Anotaram co'a dextra sapiente. selecionar quanto possível, tomando por lema pedagógico
o lema pauca sed bona, observado nas matrículas dos
Às primeiras nomeações efetivas seguiram-se futuros discentes da nova instituição.
outras, a título interino, para o ensino de várias disciplinas. No começo de longa existência, certo não lhe
Dos nomeados, mais notório era quem substituiu no ensino faltariam livros de matrículas, o primeiro digno de especial
do Desenho o professor Gonçalves de Magalhães. menção. Conserva-se no arquivo do Colégio o curioso livro,
Chamava-se Manoel de Araújo Porto Alegre, a grafar com solidamente encadernado em escuro, com 354 páginas
de excelente papel. Tinta de primeira ordem, com nitides
minúscula o último apelido, para lembrar terra natal sul-
apresenta assentamentos. Representando tradição
rio-grandense, ele de berço em Rio Pardo.
venerável, o 1o livro de matrícula do Pedro Segundo
Em 1838, o futuro barão de Santo Ângelo já cursava
também retrata época aos olhos do observador arguto e
a Academia das Belas Artes, onde foi discípulo de Debret,
de comércio com a História.
vindo depois a percorrer a Europa em aperfeiçoamento de
Escriturado o livro minudentemente, dele na primeira
estudos artísticos.
folha se lê:
À designação dos primeiros professores devia
corresponder matrícula dos primeiros alunos. Livro Primeiro de Matrfcula-Geral dos Alunos deste
Cumpria, porém, selecioná-los e depois, com o maior Imperial Colégio de Pedro Segundo, no qual se nota para
escrúpulo, realizavam-se os exames de admissão ao 1o os Internos o dia em que entraram para o Colégio, e, para
ano do 1 ° ano letivo do Colégio, o de 1838. os Externos, aquele em que principiaram a cursaras aulas.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Mais abaixo: António Marianno de Azevedo, que, alcançando


renome na armada nacional, atingiu o posto de capitão de
Vão marcadas com umas entrelinhas os alunos que mar-e-guerra, devendo-lhe especiais serviços a Biblioteca
saíram do Colégio sem ultimarem os seus estudos e com da Marinha.
duas, os Bacharéis. Segundo se depreende de ofício do Bispo-reitor a
Bernardo de Vasconcellos, a 8 de março de 1838, tentativas
A 27 de abril de 1838, único no dia, matriculou-se o houve logo no início do Colégio de perturbar-lhe a seriação,
aluno de 16 anos, Pedro de Alcântara Lisboa, filho do afinal mantida. Pedindo a Deus que guardasse o Ministro
Conselheiro António Lisboa, nascido nesta Corte em 1822. por muitos anos, consoante fecho de redação oficial da
Interno. Tinha sido aprovado para a quinta classe, época, dizia o Bispo-reitor:
mas, por falta de companheiros matriculou-se na sexta. "Tendo afluído inumeráveis pretendentes a
Passou para externo no 1o de agosto do mesmo ano. Em matricular-se táo-somente em diversas e singulares aulas
dezembro foi aprovado unanimemente para a sétima classe cujos requerimentos alguns no princípio foram admitidos,
e obteve o primeiro prémio em Geografia, o segundo prémio
como porém duvide qual seja o pensar de V. Exa. a este
em Latim, Aritmética, História e Grego, e Menção Honrosa
respeito, rogo a V.Exa. mui particularmente uma declaração
em Francês e Desenho. Retirado do Colégio em 31 de
que me sirva de regra geral para tais pretensões,
março de 1839.
consideradas tão-somente as aulas em atual exercício ou
Iniciada a matrícula em abril de 1838, ficou em aberto
a qualquer outras que se abrirem, o bem do serviço me
o ano inteiro, a 20 de novembro, sob n.° 91, ainda se
obriga a rogar isto".
matriculando último aluno, João da Silva Mondeiro.
Opôs-se Bernardo de Vasconcellos à pretensão dos
O primeiro matriculado do Colégio, Pedro de
alunos sem regra, providenciando também sobre outra
Alcântara Lisboa, seguiria estudos de engenharia em Paris.
pretensão, a de quatro alunos do antigo Seminário de São
Aí serviu à pátria adido de 1a classe à legação imperial
Joaquim, até então sob os cuidados do professor primário
brasileira, e depois longamente professando matemática.
Silva Moraes. Pretendiam os antigos órfãos do Seminário
cuidando de agricultura e finanças.
matrícula no incipiente Colégio de Pedro Segundo; ordenava
Alguns dos primeiros alunos do Colégio distinguir-
se-iam na vida pública do Império. Assim, João José de porém o Ministro que se os mandassem examinar a ver,
Andrade Pinto seria Ministro do Supremo Tribunal de se em condições de admissão a seguir Letras ou se, por
Justiça; Luiz Affonso de Escragnolle morreria em flor da falta de talento e aplicação, conviria antes preferível destiná-
idade, 30 anos, capitão do exército e lente da Escola los para as Artes. Nada de pesos mortos no corpo discente,
Central, emulando em concurso com os seus amigos frequentasse o Colégio quem merecesse e aproveitasse.
Joaquim Gomes de Souza, o Souzinha, de tanta celebridade Ministro enérgico, Bernardo de Vasconcellos cortou abusos,
matemática, e Ignacio da Cunha Galvão, a cabo de carreira os quais, segundo máxima do Marquês de Maricá, como
diretorda Escola Politécnica. os dentes, nunca se arrancam sem dores.
Outros dos primeiros alunos do Colégio: Sabendo do interesse de Bernardo de Vasconcellos
António Pedro de Carvalho Borges, Barão de pelo Colégio, em ofício de 27 de maio de 1838, o Bispo-
Carvalho Borges, Ministro Plenipotenciário, representando reitor prestava-lhe informações sobre o andamento do^
o Brasil na Áustria, na Holanda e em Portugal. serviço público no incipiente Colégio sub báculo.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Atestava o Bispo-reitor: O estado do edifício é o de incompleto para o seu


"Dando conta hoje a V.Exa. do estado do Colégio de destino. Não há aposento para o vice-reitor nem para o
Pedro Segundo para ser presente ao Regente interino em Capelão. Esta obra é urgente. Não há onde se recolham
nome do Imperador, devo declarar que julguei necessário os serventes, nem mesmo os pretos."
esse espaço de tempo para que não fossem simples "Na quadra do pátio há três casas inúteis porque
participações de alguns dias e dias de primeiros arranjos ficaram por acabar", dizia o Bispo-reitor ao ministro,
e nem os dos passos dados no andamento da vida pugnando por diversos melhoramentos.
colegial". Com espírito cristão sobre-sacerdotal, o Bispo-reitor
São dignas de menção as informações do Bispo- chamava a atenção do ministro Bernardo de Vasconcellos
reitor fora "dos dias de primeiros arranjos". para a falta de conforto dos quatro negros incumbidos de
Dizia o Bispo de Anemúria em 1838, para ciência serviços grosseiros.
de vindouros, que, a 27 de abril de 1838, tinham começado "Para conhecer o peso do trabalho na limpeza e
a entrar no Colégio os primeiros alunos internos, faltando asseio basta lembrar a grandeza do Edifício, de que ele
só 6 dos 30 aceitos, no número dos 30 incluídos 7 pobres.
não tem esgoto algum e do número de gente que o habita".
"Só admitia o edifício 65 alunos internos", declarado que
Com franqueza expunha o Bispo-reitor "o estado
o espaço de leito a leito era menos do que aquele designado
deste tão excelente quão útil Estabelecimento, que
nos estatutos.
reunindo em um ponto as Ciências secundárias para encher
Avisava também o reitor ao ministro que nos
a lacuna que havia entre as grandes Escolas da Ciência e
primeiros dias de aula haviam ocorrido algumas
as destacadas aulas de princípios. O Estabelecimento a
irregularidades, sobretudo na aula de Ginástica, e na de
todas as respostas é digno do Século e da época em que
Latim, nesta por falta do compêndio. Quanto à salubridade
acaba de ser instituído, e para cujo aperfeiçoamento
do Colégio, afora incómodos de saúde de certos alunos, 4
nenhuns esforços serão excessivos".
graciosamente curados pelo Dr. Silva Maia, o estado
Honrando-se em dirigir "um estabelecimento a todos
sanitário não oferecia perigo algum.
os respeitos digno do século", cientificava o Bispo-reitor
"O andamento económico — informava o Bispo-
reitor — enquanto a alimentos está frugalmente ao ministro "ter convocado professores para saber os que
estabelecido, e marcha variado e bem feito. Não tem este se dispunham a aceitar a regência interina de várias
sido assim, nem é quanto ao serviço de 2 únicos serventes disciplinas, pronunciando-se pela aceitação os professores
para uma casa de tão grande família e de tantos ministérios Silva Maia, Justiniano José da Rocha, Joaquim Caetano
e que tais bem eles têm sido. Hoje resta um só deles, o da Silva e Jorge Furtado de Mendonça. Abrira exceção o
qual havia procurado para me servir interna e externamente professor de Filosofia, Magalhães, que declarava não se
em coisas do Colégio. Hoje acaba de entrar um terceiro achar em circunstâncias de encarregar-se da cadeira de
apesar de não saber o que havia de prometer. Este objeto Desenho e que havendo de encarregar-se de alguma outra
é vital para o estabelecimento. O estudo em que tem diversa da sua (a de Filosofia) seria a dos primeiros anos
estado é violento e irregular, eu não sei o que sucederia se de História".
esses zelosos empregados, inclusive os inspetores de Segundo o Bispo-reitor "pela urgência das
alunos, e o Capelão não se dedicassem com toda boa circunstâncias se haviam aberto aulas sem designação
vontade e com grande zelo a todo serviço, até braçal e de compêndios e mais objetos necessários ao andamento
grosseiro. da instrução". Mas o reitor "solicitara dos professores as
ESCRAGNOLLE DÓRIA

novas ideias a respeito de compêndios e mais coisas inspiradas pelos louváveis desejos de aperfeiçoamento
necessárias e sobre as instruções deles formaria lista social, ainda quando não se lhe desse assenso".
oferecida à designação de S. Exa.". Levava também o Ministro Bernardo de Vasconcellos
Louvando os esforços do Bispo-reitor, Bernardo de a solicitude a ponto de amparar docentes como sabia
Vasconcellos obtemperava: "É do concurso de todas as adverti-los. Punha presente à reitoria do Colégio a
vontades, do sacrifício de muitos cómodos, do zelo e existência da "presumpção infundada", de ser certo
atividade da parte do reitor e de todos os demais professor "homem debochado para que talvez contribuísse
empregados que pode resultar o progressivo o seu modo de andar". Informado, entretanto, Bernardo
aperfeiçoamento da classe. Em tal coadjuvação contava de Vasconcellos "de suas boas qualidades, sobriedade e
o governo, como até então, achar em todos, especialmente bastante inteligência na sua arte, julgava conveniente que
no reitor". o reitor procurasse desvanecer quanto fosse possível tão
Para maiores ou menores providências entrava desfavorável quão imerecida opinião a seu respeito".
sempre o Ministro em contacto com o reitor. Tendo este Aliás, tanto Ministro como reitoria procuraram
lhe representado que a capacidade de dois dormitórios melhorar retribuição pecuniária do corpo docente, por um
apenas permitia admissão de 65 alunos, retorquia Bernardo decreto, fixados provisoriamente parcos ordenados anuais
de Vasconcellos, dizendo "que o regente Araújo Lima se a professores e empregados do Colégio. Venceria o Capelão
persuadia que a capacidade dos dormitórios podia ser 700$000. Os professores de Latim, Grego, Aritmética e
aumentada. Cumpria mudar a posição das camas Geografia teriam 500S000, os de Desenho e Música
colocando-as em quatro linhas ao comprido. Entre a 400$000. Enquanto desse lição única semanal o professor
cabeceira de um leito e os pés do imediato ficaria apenas de Francês receberia 200$000, tanto quanto os inspetores
espaço para a passagem de um homem. No momento, e caso estes pelo seu preparo servissem de substituto se
fazer qualquer mudança nos dormitórios seria lhes abonaria mais 100S000.
desnecessária, visto o diminuto número de alunos". Em continuação dos serviços de estreia do Colégio
De olhos abertos sobre abusos, Bernardo de ordenava o Regente que, em livro à parte, com o título de
Vasconcellos advertia o próprio reitor. Recomendava-lhe Anais do Colégio de Pedro Segundo, se lançassem os
providências para que uns professores não estivessem principais acontecimentos ocorridos ano por ano. Ter-se-
lecionando matéria estranha à sua aula quando o professor ia especial cuidado pelos assuntos de interesse para a
gozando da substituição nenhum impedimento tinha que o instrução pública. Principiaria o 1o ano dos Anais a 2 de
privasse de dar as lições de sua obrigação". dezembro de 1837 e acabaria a 31 de dezembro de 1838.
Nem à reitoria, para exato cumprimento de Estatutos, Incumbia também ao reitor apresentação do relatório
faltavam avisos deste teor: "Fique a reitoria na inteligência dos alunos internos conforme o disposto nos Estatutos,
de que o Regente só quer a execução de ordens quando Título e Capítulo 1 o , Artigo 4 o . Pelo mesmo relatório muitas
não possam prejudicar os interesses do Colégio ou quando informações seriam ministradas sobre os alunos, sobre a
a direção dele não tenha concebido outro plano e sistema filiação, a residência, o aproveitamento e a conduta deles.
julgado preferível". Neste caso, daria parte do plano e Até meados de outubro de 1838 esteve o Bispo-reitor
sistema com o necessário desenvolvimento, a fim de ser em exercício ativo de cargo, assaz pesado para o seu
resolvido o mais conveniente. Ficasse certa a reitoria "que avanço de idade e saúde precária. No meio de um Brasil
o Regente ouvia sempre com satisfação as reflexões conturbado por lutas civis e dificuldades já políticas, já
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

financeiras, o Regente e o Ministro tinham auxiliado o "Tenho a honra de informar a V. Exa. para fazer subir
Bispo-reitor na organização do Colégio-modelo, cujo ao conhecimento do Exmo. Regente que este pretendente
augusto patrono crescia em anos para lhes dedicar vida já pelo Governo foi atendido para frequentar as aulas do
inteira. Colégio na qualidade de aluno externo gratuito; o seu
Na inatividade do Bispo-reitor passou a dirigir o comportamento tem sido louvável, e tem mostrado sempre
Colégio o vice-reitor, padre Leandro Rabello Peixoto e aplicação e aproveitamento, ele mora na rua da Alfândega
Castro, de 13 de outubro de 1838 em diante a entender-se n.° 215 em companhia de sua avó, Catharina Margarida
com Bernardo de Vasconcellos, o Ministro minudente. Salinas, mas como esta se muda para fora da terra, a
Tudo do Ministro merecia atenção, reclamações do procurar uma subsistência mais cómoda a suas
reitor, número e divisão de aulas, saúde dos alunos à circunstâncias por isso é que o pretendente procura este
inspeção do Dr. Silva Maia, andamento económico da asilo, para poder desenvolver os talentos de que parece a
Casa. Cumpria nesta atender, dizia Bernardo de Providência o dotara. Por outra parte, o Colégio sustenta
Vasconcellos, à necessária economia, à abundância e sete alunos gratuitos, e mais dois que pagam a terça parte
salubridade tão recomendadas nos Estatutos. e sustenta além desses mais quatro que no principio deste
O serviço diário e interno da Casa ficava a cargo de Colégio foram daqui removidos para um Colégio particular
dois serventes, para a limpeza, de três empregados
no Largo de Santa Rita. À vista do que pode V. Exa. tomar
especiais para a cozinha, quatro africanos incumbidos das
a resolução que melhor convenha às circunstâncias
tarefas mais grosseiras. Até neste particular atendia o
expostas".
Governo à reitoria, autorizando-a humanitariamente a
Em outubro de 1838 também a reitoria informava
melhorar a condição dos africanos.
ao Ministro no tocante à marcha dos serviços de instrução
Representando a reitoria sobre a conveniência de
no Colégio: "Em observação do título e Capítulo 1 o , Artigo
obras no Colégio, respondia o Governo que só obras novas
4o dos Estatutos deste Imperial Colégio, remeto a V.Exa.
autorizaria quando estivesse "tudo em andamento e se
os inclusos Relatórios, nos quais se vê o grau de
soubesse por meio de contas quais os recursos do
aproveitamento de cada um dos alunos. Afirmando a
Colégio".
V.Exa. que o estado quer físico, quer moral do Colégio
Estavam as contas de remessas atrasadas, mas
tem com pouca atenção sido satisfatório e lisonjeiro."
declarava Bernardo de Vasconcellos a reitoria pela omissão,
o Governo não a incriminava, nem aos empregados. Para tanto, concorria o zelo do professor de Saúde
Reconhecia o Governo que nos primeiros tempos ou Dr. Emilio Joaquim da Silva Maia, assistindo aos enfermos
fundação de Estabelecimento da ordem do Colégio, "tudo com aquela atitude que o caracteriza, pelo que o Bispo-
eram embaraços e tropeços". Não era igualmente o reitor pedia-lhe fosse concedida justa gratificação.
governo alheio às dificuldades com as quais "lutava o reitor Que os desvelos profissionais do Dr. Silva Maia
e com quantos haveria de lutar". eram os de verdadeiro "professor de Saúde" ficou prova
Sabendo que Bernardo de Vasconcellos fiscalizava em favor dele, da caridade do Bispo e reitor, da atenção
pessoalmente, meio único de bem dirigir, a reitoria do do Ministro a quanto se passava no Colégio. A 3 de
Colégio tudo lhe relatava. Dizia-lhe, por exemplo, dezembro de 1838 dirigia o Bispo e reitor o seguinte ofício
atendendo a pedido ministerial de informações sobre o a Bernardo de Vasconcellos, peça característica de época
requerimento do aluno Luiz de Almeida Brandão: e de seus homens até da linguagem deles:
ESCRAGNOLLE DÓRIA

"Levo ao conhecimento de V.Exa. que o aluno dito requerimento exarava a reitoria na seguinte declaração:
Manoel Moreira de Figueiredo Mascarenhas, apresentando "Tenho a informar a V.Exa. que eu nomeei o dito
há três dias uma pontada em um dos lados, acaba de Dourado interinamente, em virtude do Artigo 1 o dos
desenvolver um furioso pleuriz que tem merecido a mim e Estatutos, para poder firmar o meu juízo sobre suas
ao professor de Saúde o maior cuidado e atenção. Dei qualidades pessoais. Parece-me um moço de juízo, bem
logo parte deste incidente ao Dr. António Ildefonso que é instruído em Gramática Latina. Teve estudos completos
seu parente, o qual aqui o veio visitar e juntamente com o no Colégio de Jacuecanga na Ilha Grande, por isso,
professor de Saúde do Colégio dirigiram o curativo que as Aritmética, a Álgebra e a Geometria, a Língua Francesa, e
circunstâncias exigiam. Tenho a satisfação de poder a Filosofia não lhe são desconhecidas, ainda que confessa
informar a V. Exa. que o enfermo tem apresentado hoje estar nestas últimas faculdades algum tanto esquecido
notáveis melhoras, cedendo visivelmente a enfermidade por ter sido por seu pai aplicado por alguns tempos na
às sangrias que ontem se lhe aplicaram". administração de sua roça. Pelo que me parece nas
0 médico, ao qual se referia o reitor a propósito da circunstâncias de poder ser aproveitado". (Ofício de 3 de
enfermidade do aluno Figueiredo Mascarenhas, era o Dr. novembro de 1838).
António Ildefonso Gomes. Gozava na época fama de ótimo Por todos os meios procurava a direção do Colégio
clinico, homem de notável cultura, muito dedicado aos ministrar a instrução dos alunos, buscando também formar-
estudos de ciências naturais, incansável perlustrador de Ihes o caráter, ensinando-lhes gratidão.
terras brasileiras. Em medicina era o Dr. António Ildefonso A 2 de dezembro de 1838 completava D. Pedro II
Gomes partidário da hidroterapia, antecessor, em 1848, treze anos de idade. Longo ofício do padre Leandro Rebello
dos métodos curativos em momento tão em voga pela Peixoto de Castro, vice-reitor do Colégio. Do natalício do
propaganda de Monsenhor Kneipp. Com o Dr. Gomes, as soberano conservou-se a memória na manifestação de
teorias tinham prática, pois andava quase sempre de pés reconhecimento da instituição incipiente ao memorado dia
no chão, antecipando-se a conselhos kneippistas. do imperador menor.
Não se limitava o Dr. António Ildefonso Gomes a Associou-se o Colégio à data de berço celebrada
estudos nos livros, tinha-os em lição constante em em todo o Império com o monarquismo então
vastíssima chácara de sua propriedade, em Catumbi onde característico no Brasil. Génio frio e melancólico, a frieza
vicejavam as mais variadas espécies, tanto nossas como provinda da raça germânica, a melancolia de orfandade
alienígenas. completa, da infância a verdes anos, D. Pedro II receberia
Mostrava-se o Dr. António Ildefonso Gomes dedicado talvez com mais carinho, entre homenagens palacianas e
ao Colégio onde, além do parente ao qual acudira, para oficiais, o preito do seu Imperial Colégio.
aliviá-lo de "furioso pleuriz", contava um neto António Na benemerência dos papéis velhos, no remoçar
Ildefonso Nascentes Burnier, bacharel em letras, falecido passado, ofício do vice-reitor do Colégio, padre Leandro
em esperançosa adolescência. Rebello Peixoto de Castro, felizmente permite saber, e por
A nomeação de inspetores para o Colégio merecia miúdo, quanto para o Colégio ocorreu a 2 de dezembro de
também vigilante cuidado da reitoria. Tendo esta, exercida 1838, informado Bernardo de Vasconcellos dos sucessos
pelo vice-reitor por exoneração do Bispo-reitor, de informar do dia.
ao Ministro acerca do requerimento de José Ferraz de Não convém resumi-los, sim transcrever na íntegra
Oliveira Dourado pedindo o lugar de inspetor de alunos, no o ofício do vice-reitor de há século:
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

"limo. Exmo. Sr. — Tenho a honra e a satisfação de mais nos penhorou e nos fez ver a ternura de um coração
levar ao conhecimento de V.Exa. a maneira satisfatória que nos ama e estima mesmo sem reservas nem
com que os alunos deste Colégio de Pedro 2o celebraram cerimónias.
o dia natalício de S.M. seu Augusto Protetor. Na manha Na volta de São Cristóvão nos dirigimos ao Palácio
deste dia dirigiu-se todo o Coletivo à Imperial Quinta da da Câmara Municipal cujo Presidente nos tinha com
Boa Vista onde chegou às oito horas da manhã, depois de antecipação franqueado as janelas de dois salões para que
ter feito felizmente a viagem por mar desde o Saco do os alunos dali observassem o cortejo que trazia S. M. I. e
Alferes até o porto de São Cristóvão. Às 8 e meia horas o desfilamento das bravas e asseadas tropas que, no
depois que ali se chegou foi o Colégio introduzido à Campo de Santana, estavam postadas em respeito.
presença de S.M. pelo Exmo. Tutor (na época o Marquês Pela volta do meio-dia, chegaram os alunos do
de Itanhaem) e S. Majestade recebeu com especial Colégio e em seguida nos foi servido o jantar, que as
benevolência a todos e a cada um em particular circunstâncias do dia exigiram que excedesse alguma
mostrando-se agradecido às felicitações que eu por me
coisa os termos do ordinário. Em atenção às mesmas
achar à frente do Colégio tive a honra de lhe dirigir por
circunstâncias, permiti aos alunos que tivessem mais
esta forma:
liberdade (estando eu sempre presente) e, por isso, que
"Senhor
tiveram lugar as saúdes ao S. M. I., ao Exmo. Regente,
As felizes recordações que o dia de hoje nos inspira
ao seu Governo, ao ilustre Ministro que imediatamente
são as que trazem diante de V. M. os alunos do Imperial
vela sobre os destinos do Colégio etc, etc. Foi este ato
Colégio de Pedro 2o para terem a distinta honra de tributar
celebrado com a maior alegria e satisfação e me lisonjeio
a seu Augusto e Imperial Patrono a homenagem do respeito
que com a mais atenta e circunspecta civilidade.
e do reconhecimento. Nós todos fazemos votos pela saúde
À noite se iluminou o Colégio de modo que pôde
e prosperidade de V. M. I. e das Augustas Princesas com
ser, no entretanto permita-me V. Exa. descer a notar a
que o Brasil tanto se enobrece, mas com impaciência
minuciosidade que para cima de seiscentas luzes
esperamos a hora em que V. M. I. assumindo as rédeas
de um governo, que por tantos títulos lhe é devido, brilharam nas torres e frontispício da Igreja e frente do
possamos então contar com a firmeza e a estabilidade Colégio, o que junto com frequentes repiques de sinos da
deste grande Império, sobre que a Providência tem velado Igreja tornavam esta festividade bastantemente airosa para
de um modo tão maravilhoso". os alunos que se honraram de habitar o Colégio de Pedro
S. M. que com muita atenção ouviu o breve discurso 2o e de serem por S. M. I. tão benignamente acolhidos e
houve por bem responder que — Agradecia e se lisonjeava honrados".
com as felicitações que o Colégio acabava de lhe desejar. O curioso sobre o precioso ofício do vice-reitor, reitor
Em seguida o Colégio se retirou fazendo a S. M. e interino, padre Leandro, merece alguns comentários. Nele
aos assistentes as vénias de costume. encontramos boleios de frases características da época e
Cumpre-me manifestar a V. Exa. que Sua Majestade também prova dos costumes desta. Assinala a predileção
nos recebeu em o seu Gabinete particular e somente e o interesse de D. Pedro II pelo Colégio, recebendo os
rodeado do Exmo. Tutor e outros, creio que os professores alunos dele em gabinete particular, sem etiqueta, rodeado
dos estudos a que S. M. se aplica, acolhimento este que pelos professores aos quais incumbia instruir o jovem
foi franco, singelo e sem as etiquetas da Corte, mais e monarca. Sem alongar comentários ponhamos reparo ao
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937

de prover com urgência os calçados deles, bem como o dele exigem uma fiança eu lhe marcaria oitocentos mil
corte dos cabelos que acham bastante crescidos, podendo réis anuais, o que lhe daria neste ano por considerar que,
mesmo V. S. tratar algum cabeleireiro que se incumba nas obras precedentes à abertura do Colégio, ele
deste último objeto. B. R de Vasconcellos". empregaria mais cuidados, mas como depois daquela
As férias do primeiro ano letivo do Colégio, o de época ele vem aqui apenas de passagem e se demora
1838, foram bem aproveitadas pelo vice-reitor, padre uma hora e mais, quando muito, e somente se emprega
Leandro, para melhorar materialmente o Colégio. Posta a em cobrar as rendas do Colégio, eu não lhe daria mais
vestiaria, hoje se diz rouparia, na sala inferior detrás da que quatrocentos mil réis por ano, se ele assim houver de
Igreja foi mandada pintar a óleo, pela posição oferecendo continuar.
a mesma vestiaria a vantagem de ser melhor guardada à No entretanto, permita-me V. Exa. a observação de
disposição dos Estatutos que proibia a entrada de alunos que me persuado que o tesoureiro deve estar neste Colégio
na repartição, onde custosa de executar quando a vestiaria desde pela manhã até a noite, pelo assim exigir as
se achava encravada no dormitório. Além de melhoria da contínuas ocorrências que pelo dia adiante se oferecem;
são necessárias compras e tirar dinheiro do cofre, como
vestiaria, procurou o vice-reitor dotar o Colégio com outras
também recolher a ele as quantias que se recebem".
reformas de utilidade das quais sempre dava conta a
Considerando o tesoureiro, conforme os Estatutos,
Bernardo de Vasconcellos, cujo zelo pela instituição que
"o braço direito do reitor no que tocava à administração
ajudara a criar, os padecimentos físicos não conseguiram
temporal", o vice-reitor, padre Leandro, concluía longo
diminuir, admirável resistência, não de estranhar no
ofício de 31 de dezembro de 1838 dizendo ao ministro:
Bernardo de Vasconcellos, chefe do governo de Minas em
"Pelo que repito que a continuar o Tesoureiro neste
1833. Segundo o Conde de Castelnau, o grande explorador
modo de procurar os negócios do Colégio me persuado
científico do Brasil, ao reger Bernardo de Vasconcellos a
que com 400S000 ficaria pago e bem pago: e a morar aqui
província natal, em 1833, fora alvo de motim popular
todo o dia, como convém, então venceria com justiça
quando em palácio estudava papéis. Chegando-lhe a
800S000 anuais. V. Exa. porém determinará o que melhor
ouvidos o clamor público, Bernardo de Vasconcellos
convier".
determinou que o seu ajudante-de-ordens fosse saber do
Assim se exprimia, no resguardo dos dinheiros
que se tratava. De volta o oficial declarou: "O povo pede
públicos, o vice-reitor do Colégio, onde, segundo ele no
a cabeça de V. Exa.". "Só isto?" obtemperou o
mencionado ofício, o tesoureiro fazia "visitas de médico",
desdenhoso ameaçado e antes de recomeçar exame de obrigando o padre Leandro a fazer-lhe às vezes para que
papéis, ajuntou irónico: "Volte e indague se em vez de não periclitasse o serviço e os interesses das partes, "pelos
minha cabeça querem a sua". muitos afazeres do Tesoureiro de que se achava incumbido
A ministro de ordem tal devia corresponder zelo de na Carioca e no comando dos Guardas Nacionais".
vice-reitor como o padre Leandro. Consultando-o Bernardo O tesoureiro acumulador pagava um amanuense para
de Vasconcellos acerca de remuneração que conviria a lhe fazer o serviço, mas como dizia o padre Leandro a
conceder ao tesoureiro do Colégio, o padre Leandro assim Bernardo de Vasconcellos "o amanuense se pode dizer
se externou sobre a pretensão: que só está enquanto o Tesoureiro aqui se conserva e
"Tenho a honra de fazer subir ao conhecimento de saindo um, o outro sai também".
V. Exa. que em atenção ao artigo 155 e seguintes dos Não só às voltas com o tesoureiro se amofinava o
Estatutos que marcaram as obrigações do tesoureiro, e vice-reitor, também tinha de acudir à vadiação de
ESCRAGNOLLE DÓRIA

discurso do vice-reitor saudando D. Pedro II, oração fiel "A benefício de um passadiço, alvitrava o vice-reitor,
ao esto brevis et placebis tão pouco obedecido por oradores se poderia arranjar um quintal para recreio dos alunos, o
espraiados. qual se poderia aumentar pelo tempo adiante com outras
No momento do discurso, a ideia da antecipação da propriedades anexas, onde se poderia formar jardim
Maioridade já andava nos espíritos e dela um sacerdote, botânico que servisse para esclarecimento da História
José Martiniano de Alencar, se tornara arauto fora do Natural".
púlpito, trocando-o pela tribuna parlamentar. A avaliação do prédio mencionado pelo vice-reitor
Em 1838 não eram poucos os sacerdotes políticos subia a 12:400$000, não parecendo ao padre Leandro "fora
ou politicantes. Ignoramos s i ao grupo pertencia o padre de razão".
vice-reitor do Pedro Segundo, que saudando D. Pedro II, Logo depois de oficiar no sentido do aumento do
de treze anos, declarava: "com impaciência esperamos o Colégio, no mesmo dia, 13 de dezembro de 1838, o vice-
dia em que V. M. I., assumindo as rédeas de um governo reitor pedia a Bernardo de Vasconcellos deliberação
que por tantos títulos lhe é devido, possamos então contar conveniente a respeito de quatro antigos seminaristas de
com a firmeza e a estabilidade deste grande Império sobre São Joaquim, matriculados no colégio particular de
que a Providência t e m velado de um modo tão Felizardo Joaquim da Silva Moraes, no Largo de Santa Rita.
maravilhoso". Pagava por aqueles seminaristas o Colégio e por
A ler nas entrelinhas do discurso transcrito no ofício 12$000 cada um os recebia o professor Moraes. "Mas
dirigido a Bernardo de Vasconcellos, justamente o ministro como houvessem no ato de remoção manifestado desejo
cabeça da reação anti-maiorista de 1840, parece possível de seguir a profissão de alguma arte", entendia o vice-
acreditar que o vice-reitor do Colégio de longe, senão de reitor do Colégio necessárias providências, pois é certo,
perto, acompanhava os maioristas abatinados. dizia o padre Leandro, "que estão absorvendo o que poderia
Sem julgar intenções, impossíveis de apreciar tanto sustentar três ou dois gratuitos neste Colégio de Pedro
no presente quanto no passado, "a impaciência" I I " . Insurgia-se o vice-reitor contra aluno peso morto,
manifestada pelo vice-reitor do Colégio, o anelo de poder eterna praga colegial.
"contar com a firmeza e a estabilidade deste grande Afinal resolveu o Governo que os órfãos
Império sobre que a Providência tem velado de um modo aprendessem a arte de fundir tipos, exigindo-se-lhes
tão maravilhoso", pode parecer hoje alusão aos governos presença diária na oficina da Tipografia Nacional onde se
regenciais tão trabalhados pelas guerras civis. ensinava a arte, provendo-os a reitoria do Colégio, como
No fim do ano letivo de 1838, o vice-reitor padre melhor lhe parecesse, ao sustento e vestuário.
Leandro, reitor em exercício, pugnava junto a Bernardo de Caso proposto pela reitoria a Bernardo de
Vasconcellos pelo aumento do edifício do Colégio. Levava Vasconcellos, caso resolvido. Não consultado o ministro,
ao conhecimento do Ministro a avaliação de três prédios providenciava por conta própria.
paralelos ao Colégio da parte do Morro da Conceição, n.° Para prova o seguinte aviso:
58, 60 e 62, de numeração correspondente a várias partes, "limo. Sr. Padre Leandro de Castro Rabello.
contíguos os prédios pela Rua do Aljube (mais tarde da Tendo-se finalizado os exames que nesse colégio
Prainha) oferecendo em globo quase 13 braças de frente e tiveram lugar, convirá que V. S. mande quanto antes passar
28 de fundo e quintal maior que o quadrado interno do as camas dos meninos para a sala competente. Por esta
Colégio. ocasião não posso deixar de mostrar a V. S. a necessidade
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

de prover com urgência os calçados deles, bem c o m o o dele exigem uma fiança eu lhe marcaria oitocentos mil
corte dos cabelos que acham bastante crescidos, podendo réis anuais, o que lhe daria neste ano por considerar que,
m e s m o V. S. tratar algum cabeleireiro que se incumba nas o b r a s p r e c e d e n t e s à a b e r t u r a do C o l é g i o , ele
deste último objeto. B. P. de Vasconcellos". empregaria mais cuidados, mas como depois daquela
As férias do primeiro ano letivo do Colégio, o de época ele vem aqui apenas de passagem e se demora
1838, f o r a m bem aproveitadas pelo vice-reitor, padre uma hora e mais, quando muito, e somente se emprega
Leandro, para melhorar materialmente o Colégio. Posta a em cobrar as rendas do Colégio, eu não lhe daria mais
vestiaria, hoje se diz rouparia, na sala inferior detrás da que quatrocentos mil réis por ano, se ele assim houver de
Igreja foi mandada pintar a óleo. pela posição oferecendo continuar.
a mesma vestiaria a vantagem de ser melhor guardada à No entretanto, permita-me V. Exa. a observação de
disposição dos Estatutos que proibia a entrada de alunos que me persuado que o tesoureiro deve estar neste Colégio

na repartição, onde custosa de executar quando a vestiaria desde pela manhã até a noite, pelo assim exigir as
contínuas ocorrências que pelo dia adiante se o f e r e c e m ;
se achava encravada no dormitório. Além de melhoria da
são necessárias compras e tirar dinheiro do cofre, como
vestiaria, procurou o vice-reitor dotar o Colégio com outras
t a m b é m recolher a ele as quantias que se r e c e b e m " .
reformas de utilidade das quais sempre dava conta a
Considerando o tesoureiro, conforme os Estatutos,
Bernardo de Vasconcellos, cujo zelo pela instituição que
"o braço direito do reitor no que tocava à administração
ajudara a criar, os padecimentos físicos não conseguiram
t e m p o r a l " , o vice-reitor, padre Leandro, concluía longo
diminuir, admirável resistência, não de estranhar no
ofício de 31 de dezembro de 1838 dizendo ao ministro:
Bernardo de Vasconcellos, chefe do governo de Minas em
"Pelo que repito que a continuar o Tesoureiro neste
1833. Segundo o Conde de Castelnau, o grande explorador
modo de procurar os negócios do Colégio me persuado
científico do Brasil, ao reger Bernardo de Vasconcellos a
que com 400$000 ficaria pago e bem pago: e a morar aqui
província natal, em 1833, fora alvo de m o t i m popular
todo o dia, c o m o c o n v é m , então venceria com justiça
quando em palácio estudava papéis. Chegando-lhe a
800$000 anuais. V. Exa. porém determinará o que melhor
ouvidos o clamor público, Bernardo de Vasconcellos
convier".
determinou que o seu ajudante-de-ordens fosse saber do
A s s i m se exprimia, no resguardo dos dinheiros
que se tratava. De volta o oficial declarou: "O povo pede
públicos, o vice-reitor do Colégio, onde, segundo ele no
a c a b e ç a de V. E x a . " . "Só isto?" obtemperou o
mencionado ofício, o tesoureiro fazia "visitas de médico",
desdenhoso ameaçado e antes de recomeçar exame de obrigando o padre Leandro a fazer-lhe às vezes para que
papéis, ajuntou irónico: "Volte e indague se em vez de não periclitasse o serviço e os interesses das partes, "pelos
minha cabeça querem a s u a " . muitos afazeres do Tesoureiro de que se achava incumbido
A ministro de ordem tal devia corresponder zelo de na Carioca e no comando dos Guardas Nacionais".
vice-reitor como o padre Leandro. Consultando-o Bernardo O tesoureiro acumulador pagava um amanuense para
de Vasconcellos acerca de remuneração que conviria a lhe fazer o serviço, mas como dizia o padre Leandro a
conceder ao tesoureiro do Colégio, o padre Leandro assim Bernardo de Vasconcellos "o amanuense se pode dizer
se externou sobre a pretensão: que só está enquanto o Tesoureiro aqui se conserva e
"Tenho a honra de fazer subir ao conhecimento de saindo u m , o outro sai t a m b é m " .
V. Exa. que em atenção ao artigo 155 e seguintes dos Não só às voltas com o tesoureiro se amofinava o
Estatutos que marcaram as obrigações do tesoureiro, e v i c e - r e i t o r , t a m b é m t i n h a de acudir à vadiação de
ESCRAGNOLLE DÓRIA

escolares. Remetia-lhe Bernardo de Vasconcellos o Os professores do Colégio lembravam "que se devia


requerimento do pai de aluno externo pedindo passagem ter todo o cuidado em conservar o professor Magalhães,
do filho para interno, desejando, para decidir, que o padre (o futuro Visconde de Araguaia) o Génio da Filosofia, que
Leandro o esclarecesse sobre a pretensão. não sendo ocupado, em 1839, podia ser que se desviasse
Assim o fez o vice-reitor nestes curiosos termos: da ocupação para que tinha sido nomeado".
"Tenho a honra de levar ao conhecimento de V. Exa. Observavam os professores do Colégio que, na
que, segundo as informações a que procedi, achei que o Corte, se conhecia e era bem patente o desejo das duas
dito aluno externo era notavelmente remisso na frequência mencionadas aulas.
das aulas: e apesar de parecer de conduta sossegada ele Entretanto, o vice-reitor julgava dever ponderar ao
pouco desenvolvimento apresentou nos exames gerais; e ministro que "dentro do Colégio ainda não havia alunos
por isto ficou esperando para fevereiro; e esta é a causa prontos a cursar tais aulas de 2a classe, somente por
que move o pai do dito aluno para solicitar o ingresso de externos avulsos podendo ser frequentadas, necessário,
seu filho para ver se o obrigava a estudar, ainda que seja porém, dispensar a portaria ministerial proibindo a
à custa de meios coercitivos; no entretanto posso afiançar frequência de externos avulsos. Acrescia igualmente para
a V. Exa. que se o mandar entrar para o Colégio, o mesmo o bom andamento das aulas a criar a carência absoluta de
há de estudar e dar o que tem".
compêndios das disciplinas nelas lecionáveis.
Com estes propósitos contra a vadiação abria o vice-
Fazia igualmente o vice-reitor chegar ao
reitor segundo ano letivo do Colégio, o de 1839, a 4 de
conhecimento do Governo a necessidade de quanto antes
janeiro deste ano. Mas também buscando amparar a quem
serem fixados os ordenados dos professores e dos
trabalhava, em ofício de 31 de janeiro de 1839, o vice-
principais empregados do Colégio.
reitor propunha ao ministro o pagamento de gratificação a
Com instância pugnava o padre Leandro por aquelas
professores pelo trabalho extraordinário de lecionarem no
fixações, dirigindo-se a superior:
tempo de férias, gratificação aquela hoje a parecer por
demais módica se não atentarmos nas condições de vida "Permita-me V. Exa. a observação de que se exige
da época e no valor aquisitivo da moeda. Propunha o vice- fixarem-se quanto antes os ordenados dos professores e
reitor pelo serviço extraordinário a gratificação de vinte dos principais empregados do Colégio porque se até julho
mil réis a todos, "apesar de se contarem a uns mais lições eles não tiverem sido fixados o Colégio vem a perder um
que a outros". de seus mais acreditados professores — o Dr. Joaquim
No exercício da reitoria o vice-reitor de vez em Caetano da Silva, o qual é convidado para ir no Colégio de
quando, antecipando Congregação, reunia professores para Jacuecanga na Ilha Grande ocupar duas cadeiras,
ouvi-los sobre interesses do ensino no Colégio; de tais vencendo por uma 800SOOO, e por outra 400$000, com
reuniões dando conta a Bernardo de Vasconcellos. Dizia- jubilação passados 20 anos de ensino".
Ihe, por exemplo, a 14 de fevereiro de 1839, que os A 16 de abril de 1839, no início do segundo ano letivo
professores do Colégio desejavam ver em andamento as do Colégio, deixava Bernardo Pereira de Vasconcellos o
aulas de Filosofia e Retórica. "Reflexionavam que seria exercício cumulativo de duas pastas, a da Justiça e a do
muito honroso ao Colégio que ao número das aulas se Império, no 1o Gabinete da Regência Araújo Lima, ode 19
ajuntasse de fato a de Filosofia, que no resto da cidade de setembro de 1837. Tinham sido bem empregados os
eram pouco frequentadas e a de Retórica, de que na cidade 574 dias dos ministérios de Bernardo de Vasconcellos, tão
nenhuma aula havia". úteis ao Colégio, onde deixava nome imortal.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

O ano letivo de 1839 seria assinalado pela Porto Alegre, nas Brasilianas, à pintor esfumou
exoneração do reitor-Bispo, exoneração concedida, à vista retrato de Joaquim Caetano, aludindo ao seu saber, ao
de representação do prelado, pelo governo "muito louvado seu trato da História, e sobretudo ao de Grego. Disse-nos
o distinto zelo com que desempenhara funções". de um professor do Colégio outro professor deste:
Reitor afastado, reitor posto. Saía do corpo docente
a nova cabeça da Casa. Recebeu a designação e a honra Meu nobre Silva, meu patrício caro,
o Dr. Joaquim Caetano da Silva, reitor de 29 anos de idade, Que a passos graves triunfante marchas
no qual verdor de idade não tolhia mérito, nem fama. Por entre legiões de augustas larvas!...
Doutor em medicina pela Faculdade de Montpellier, Silva que eu amo, e a quem meu canto oferto,
Joaquim Caetano aí foi estudante hors ligne, já que se Deixa os sepulcros dos helenios astros,
trata de França, prenunciando quem, no decurso de 1861, E o reino da morte a lousa fecha,
escreveria UOyapoc et 1'Amazone. questions brésilienne Os doutos solilóquios suspendendo
et française. Obra magna, para D. Pedro II valendo Teus ouvidos afeitos a magia
200.000 baionetas na fronteira, obra de tal importância que Da voz de Homero, dos antigos vates.
dela se utilizaria Rio Branco 2o para base e defesa de
Pouco depois de nomeado Joaquim Caetano,
nossos direitos territoriais e alcançar do laudo de Berna, a
deixava governo quem o nomeara, o Senador Almeida e
confirmá-los na chamada questão do Amapá.
Albuquerque, magistrado, substituído por outro magistrado
Vinha Joaquim Caetano reitor encontrar o Colégio
na Pasta do Império no Gabinete de 1o de setembro de
sob a direção do vice-reitor, padre Leandro. Havia pouco
1839 organizado por Alves Branco.
haviam sido "despedidos", palavra mais amena que
Conheceria o Colégio novo Ministro, na pessoa do
expulsados, dois alunos "pelo fato de brigarem à saída
Conselheiro Manoel António Galvão. Podia dar valor a quem
das aulas", providência logo aplaudida pelo governo, por
ensinava ou a quem estudava. Nascido na Cidade do
entender que sem prémio e castigo não se anima nem
Salvador, fora Galvão caixeiro em Lisboa e Londres,
contém mocidade, pronta sempre a aproveitar abusos e
conseguindo, esforço a esforço, graduar-se em leis em
falhas de superiores
Coimbra, de bom exemplo, pois, a jovens estudantes.
Entregava o vice-reitor a reitoria a Joaquim Caetano, Figurara na Constituinte de 1823, representando a
pela conservação do qual no corpo docente, o padre nativa Bahia e o Brasil, na Corte de Saint James, nessa
Leandro pugnara. A um Príncipe da Igreja o governo mesma Londres onde labutara no balcão.
regencial dava por substituto no Colégio também um Era o Conselheiro Galvão apto para compreender o
Príncipe no saber, este de futuro alicerce na defesa de valor de Joaquim Caetano, nomeado por decreto que o
direitos nossos levantados contra a França, ã qual apontava para reitoria "em atenção às luzes e mais partes
entretanto Joaquim Caetano devia cultura e até esposa. que lhe concorrerem na pessoa".
Tornou-se, porém, o esplêndido prefaciador da obra de De acordo com o reitor nomeou o Ministro Galvão,
reivindicação pátria que teria por último capítulo o laudo em outubro de 1839, comissão encarregada de examinar
de Berna, dando-nos na justiça o que por tantos anos os Estatutos do Colégio "tendo em vista os inconvenientes
outros, de boa fé ou de má-fé, a França retivera como demonstrados pela experiência na sua execução, propondo
bem próprio. as alterações convenientes".
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Compuseram a comissão dois Bispos, o de Governava a Regência exercida por Araújo Lima, presidia
Anemúria, com a experiência de reitor, e o Bispo eleito do o Senado Regente de havia pouco, Feijó.
Rio de Janeiro D. Manoel do Monte Rodrigues de Araújo, Na sessão do Senado de 8 de outubro de 1839,
pouco depois confirmado por bula de Gregório XVI. Aos entrou em 1a e 2a discussão o orçamento do Ministério do
dois bispos ajuntou o ministro Galvão, como membro da Império.
comissão revisora de estatutos, o Senador José Saturnino Rompeu debate na assembleia o Marquês de
da Costa Pereira. Barbacena. Declarava ter visitado o Colégio de Pedro
O Bispo Monte, pernambucano como o Regente Segundo, o qual lhe pareceu "um monumento de glória do
Araújo Lima, não era estranho ao magistério, professara seu fundador". Entretanto, afirmava não estar o
no Seminário de Olinda. O Senador Costa Pereira também estabelecimento nas condições desejáveis de disciplina e
conhecia ensino. Nascido na Colónia do Sacramento, como moralidade. Reconhecia o Ministro do Império, Conselheiro
o irmão Hypolyto, o memorado redator do Correio Manoel António Galvão, a procedência das censuras de
Braziliense, lecionava Matemática, ciência na qual o Barbacena, embora em consequência de desacatos,
alunos mais insubordinados houvessem sido expulsos. A
graduara Coimbra, lente na Academia Militar do Rio de
seu ver, contribuía para afrouxar da disciplina admissão
Janeiro.
de alunos maiores de 15 anos.
Nenhum, pois, dos membros da comissão revisora
Não foi Barbacena o único a observar. Acompanhou-
dos Estatutos do Colégio de Pedro Segundo andaria às
o o Marquês de Paranaguá quanto à ineficiência de certos
cegas no assunto, deliberando com ciência e causa.
compêndios adaptados no Colégio. Entendia depois o
Pouco depois da vice-reitoria do Colégio, se retirava
Senador padre Ferreira de Mello ter o governo violado a
o padre Leandro Rabello Peixoto de Castro, no exercício
Constituição, transformando o Seminário de São Joaquim
do cargo e na reitoria interina, tendo prestado reconhecidos
em Colégio de Pedro Segundo, desviado aquele do fim
serviços de excelência.
almejado por seus instituidores, fins justos e filantrópicos.
Como se ao Colégio houvesse deixado signo de cruz Ignorava Ferreira de Mello porque, sem autorização
o Seminário de São Joaquim, ao padre Rabello sucederia legislativa, havia julgado o Governo ter autoridade para fazer
em breve um frade. Era beneditino frei Rodrigo de São tal mudança.
José, cuja presença no Colégio em nada deslustraria o Acudia ao debate Bernardo de Vasconcellos,
antecessor, propondo-se a seguir-lhe, quanto à disciplina, declarando, mostrar depois, achar-se o Ministro do Império
o lema do suaviter in modo fortiter in re. mal informado sobre sucessos do Colégio.
Abrindo arquivos do Vaticano a pesquisas de Ponderava o Marquês de Barbacena não haver no
eruditos, declarou Leão XIII fazê-lo desassombrado, a orçamento artigo expresso para o Colégio de Pedro II,
Igreja, não receando a verdade. No exemplo, o Colégio pedindo informações sobre ele por considerá-lo debaixo
não foge daquela, ocultando. Daí consignar aqui ter sofrido, da rubrica Obras Públicas. Esperava ocasião mais própria
em segundo ano de existência, impugnações para tratar dele, dizendo a sua opinião sobre o Colégio, no
parlamentares, defensores ou acusadores entre prós e seu sentir "o estabelecimento mais importante e mais útil
contras, sorte de tudo quanto acompanha obra humana, fundado pelo Gabinete de 19 de setembro".
mesmo a que se tenha por duradoura, nenhuma impecável. Na sessão do Senado de 9 de outubro de 1839, na
No fim da sessão parlamentar de 1839, discutiu o discussão do orçamento do Império, tomou a palavra Feijó,
Senado o orçamento do Ministério do Império para 1840. para combater a criação do Colégio, taxando de escândalo
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

que um Ministro desviasse, arbitrariamente, o Seminário sua fundação era Colégio de São J o a q u i m . Salva a
do destino dado por particulares apoiados na lei, criando o redação".
Governo, além disso, empregos e ordenados para depois O Ministro combateu a emenda; julgando que só
vir ao Senado pedir dinheiro para criação toda por t e r e m sido notadas no Colégio coisas defeituosas,
governamental. emendáveis, não parecia bem suprimir o estabelecimento.
Rogava, pois, Feijó ao Ministro do Império que, por Declarava o M i n i s t r o dever o Colégio 7:200$000 de
honra do Senado e dever seu, não consentisse no progresso m a t e r i a i s c o m p r a d o s para o b r a s , a r r u i n a d a s c a s o
do i l e g a l m e n t e c r i a d o , r e s t i t u i n d o ao S e m i n á r i o o suspensas. Declarava ainda o Ministro que os ordenados
verdadeiro destino. Não bastava a Feijó acusar ao Ministro dos p r o f e s s o r e s não e r a m p a g o s pela n a ç ã o , s i m
que, segundo ele arbitrariamente desmanchara obras gratificados com o produto de matrículas.
feitas, dando nova forma ao edifício, aplicando-o a fim Barbacena veio à t r i b u n a d i z e n d o r e q u e r e r o
diverso do próprio. Ainda no dizer de Feijó, passava o adiamento da discussão para que nela interviesse Bernardo
Senado pela vergonha de aprovar despesas de criação de Vasconcellos, que então se havia retirado. "E não
arbitrária, Feijó a c r e s c e n t a v a : — " Q u e m criou o admira que o fizesse — observava Barbacena — porque
e s t a b e l e c i m e n t o que o d o t e e faça as despesas. A ele sofre muito em sua s a ú d e " .
assembleia não teve parte nisso". Desejava Barbacena requerer o adiamento do debate
Roborou conceitos de Feijó o Senador Ferreira de para a sessão seguinte, pelo motivo exposto. Entretanto
Mello. Declarou afinal mandar à mesa emenda suprimindo tais haviam sido as razões expostas pelo Ministro do
despesas c o m o Colégio de Pedro Segundo, " p o r q u e Império que Barbacena acreditava não deixar Senador
palavras s e m ser acompanhadas com e x e m p l o s não algum de aprovar a consignação de 18:000$000 para o
valem nada". Colégio Pedro II até o ano de 1840. Referindo-se ao Pedro
Na sessão de 9 de outubro de 1839 o Marquês de II disse Barbacena: — " E u sentirei m u i t o que esta
Paranaguá (Villela Barbosa) discutiu os Estatutos do instituição pereça".
Colégio, por implicarem revogação de leis, referindo-se Voltou à carga o Senador Ferreira de Mello. Padre,
aos artigos 234 e 235 dos m e s m o s estatutos. O primeiro não concordava com a transformação do antigo Seminário.
conferia o diploma de bacharel em letras ao aluno aprovado A c u s a v a de e r r o o G o v e r n o de tê-la o p e r a d o para
em todas as matérias ensinadas no curso; o segundo artigo "acomodar afilhados", censurando até o título do Colégio,
conferia o direito de entrar nas academias do Império " a p a r a t o s o , para fascinar a p o p u l a ç ã o " , referindo-se
mediante a apresentação daquele diploma. t a m b é m à demissão do reitor-Bispo de Anemúria. Ouvira
Declarava Galvão, Ministro do Império, não julgar Ferreira de Mello dizer que o Bispo se demitira por não
conveniente submeter logo os Estatutos do Colégio ao concordar c o m a reversão ao Colégio de aluno dele
C o r p o Legislador. N o m e a r a c o m i s s ã o para e x a m e despedido.
daqueles estatutos, exame que concluído permitiria ao Na sessão de 10 de outubro de 1839, continuando
M i n i s t r o dar d e s t i n o ao r e s u l t a d o dos t r a b a l h o s da no Senado a d i s c u s s ã o do o r ç a m e n t o do I m p é r i o ,
comissão. p r o n u n c i o u - s e Vergueiro contra a t r a n s f o r m a ç ã o do
Lida, apoiada, entrou em discussão a seguinte Seminário de São Joaquim em Colégio de Pedro II.
emenda do Senador Ferreira de Mello. "Suprima-se a Votava pela emenda Ferreira de Mello, fazendo-a
quantia de 18:000$000 com o colégio de Pedro II, que na sua. Sem desaprovar a i n s t i t u i ç ã o do Colégio,
ESCRAGNOLLE DÓRIA

manifestava, como em outras ocasiões, a dor que lhe na sessão de 17 de outubro de 1839, o Senador Ferreira
causava ver que para se procurar um bem se destruía um de Mello requeria que se perguntasse ao Governo quantos
bem maior, alterando-se instituição estabelecida pela estudantes pobres havia no Colégio, qual o seu tempo de
caridade dos fiéis para fim diverso qual o do Colégio de entrada, acompanhadas as informações pela relação
Pedro II. nominal dos alunos e dos nomes dos pais dos meninos.
Conveio o Senado na retirada da emenda Ferreira A discussão senatorial de 1839 acerca do Colégio
de Mello, renovando-a Vergueiro, insistindo nas mostra zelo por ele e pela causa pública. Não é impossível,
ponderações do discurso anterior. porém, que a tudo isso se misturasse também um tanto
Pediu então a palavra Bernardo de Vasconcellos, para de oposição política. Feijó, renunciante da Regência em,
defender o Colégio. 1835, cedera-a a Araújo Lima, seu adversário. Presidindo
Não duvidava votar pela emenda supressiva da Senado em 1839, a propósito da subvenção ao Colégio de
consignação de 18:000$000. Para a sua manutenção e Pedro Segundo, descia da cadeira presidencial e vinha ao
despesas ordinárias, o Colégio dispensava graças recinto, à tribuna combater o Governo, formando ao lado
orçamentárias. Feito minudente histórico do Colégio e de de impugnadores entre os quais o padre Ferreira de Mello
seus rendimentos, passou Bernardo de Vasconcellos a tão impressionado com a transformação do Seminário de
referir-se aos estatutos do estabelecimento. Organizador São Joaquim.
deles em não pequena parte, consultara os estatutos do Os senadores empenhados na discussão do
Colégio da Prússia, Alemanha e Holanda e o sistema de orçamento do Ministério do Império são grandes figuras
educação adotado por Napoleão I e de todos aproveitara o na história pátria. Avivemos, porém, a figura do padre José
que lhe parecera mais adaptável às circunstâncias Bento Leite Ferreira de Mello, nascido em 1875 na hoje
nacionais. Não desanimava com desordens havidas e por cidade mineira de Campanha. Cónego honorário da Sé de
haver no Colégio. "Os mais bem administrados Colégios São Paulo, vigário colado de Pouso Alegre, membro de
e que vivem há séculos sofrem estes choques, a coisa governo provisório em Minas, deputado-geral, Senador do
está em saber atalhar o progresso dos males". Lembrou Império em 1834. Atirado à politica seria um dos ardentes
Vasconcellos caso idêntico no Seminário de Coimbra, não
pugnadores da Maioridade como parte menos ardente na
se tendo por isto argumentado contra ele, nem se entender
revolta de Minas em 1842. Declarou-o Xavier da Veiga
que morria por sofrer desar. Durante o seu ministério não
"homem de vontade forte, inteligente, ativíssimo, partidista
tinha havido desordens, nem Vasconcellos usava de
extremado, não fugia à responsabilidade de sua posição
severidade para conter meninos.
leal e franca em quaisquer circunstâncias". Teria fim
Longa e viva foi a defesa de Vasconcellos em prol trágico. Na tarde de 8 de fevereiro de 1844, ao regressar
do Colégio de sua criação. Sucederam-lhe na tribuna a sua fazenda, próxima de Pouso Alegre, morria
Galvão, Ministro do Império, Barbacena e Paranaguá, este assassinado, por questões de terras, autores do crime
criticando compêndio do Colégio, apontando-lhe erros de antigos protegidos da vítima, um deles dela afilhado.
Geometria e Geografia. Replicava-lhes Vasconcellos, Defendendo o Colégio, no Senado, em 1839,
sucedendo-lhe o Senador maranhense Costa Ferreira, Bernardo de Vasconcellos merece mais um grande título
voltando à tribuna Galvão e Vergueiro não raro repisando de gratidão do estabelecimento. Desconte-se no discurso
argumentos. de defesa a parte do amor-próprio de criador, sobre ainda
Concluída a discussão do orçamento do Império, assim motivo de reconhecimento do Colégio para com
não passou a emenda supressora Vergueiro. Entretanto, Bernardo Pereira de Vasconcellos.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Uma coisa é trabalhar em condições de validez, licença ao Senado para falar sentado, não só agora como
outra em estado de enfermidade persistente e sempre, porque o meu estado de saúde não permite fazê-
imobilizadora. Assim acontecia a Bernardo de lo de outro modo". Ouviu-se então Feijó declarar no alto
Vasconcellos. hemiplégico e achacado. Não exagerava da cadeira da presidência: — "O Sr. Senador pode falar
Barbacena quando declarava que Bernardo "sofria muito sentado".
em sua saúde". Em tais condições de saúde, a defesa do Colégio
A tal ponto ia sofrer que, na sessão do Senado, em por Bernardo de Vasconcellos sobe de ponto. Honra ao
1839, Bernardo se dirigira à assembleia dizendo: "Peço vencedor de males e dores a bem do Pedro Segundo.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Vista Parcial do Colégio, em meados do século XIX.


Foto em exposição no Museu do Colégio.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

Ill
O Colégio de 1840 a 1843

Novos Ministros do Império • Alteração dos Estatutos • Modificação do Corpo


Docente • O Decreto Silva Maya e a Colação de Grau de Bacharel em Letras •
A Primeira Colação de Grau em 1843.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

A ssinalaria o terceiro ano letivo do Colégio um Alvorecida esta, naturalmente o primeiro ministério
sucesso magno: a Maioridade. Trabalhado o Brasil do incipiente reinado no Brasil de terceiro Bragança,
por lutas civis e por sedições militares na constância da maternalmente Habsburgo, seria composto de maioristas,
Regência, havia em 1840 no país inteiro ânsia de paz, adeptos do sucesso de 23 de julho tão de vulto quanto o 7
embora na míngua de completa harmonia nunca dos de abril de nove anos transatos. Fora a Abdicação obra
nuncas atingida pela humanidade, desde obscuros tempos
do ímpeto próprio de D. Pedro I, almejando coroar filho de
da pré-história, a mostrar minuto a minuto quanto é o
Portugal. Cedeu o pai à vontade do Exército e de fração
homem lobo para o semelhante, consoante lição de Plauto
de povo no Rio de Janeiro, esta cidade, então, como
na Asinaria.
depois, arrogando-se poderes de procuradora do país.
Mal começou D. Pedro II a adolescer, partidários
Resultara a Maioridade, ainda na mesma procuração,
políticos de sua maioridade prematura entraram a surgir e
do movimento de um partido servindo-se do povo cansado
congregar-se, sobretudo, parlamentarmente. Frustraram-
se a princípio desígnios dos maioristas, afinal triunfantes, de discórdias. A abdicação tirara cetro ao pai, encostado
a 23 de julho de 1840, vencida a Regência, exaltado ao o cetro na Regência, a Maioridade colocou-o nas mãos do
trono D. Pedro II aos quinze anos de idade incompletos, filho "para bem de todos e felicidade geral da nação",
quando o devia ser aos dezoito inteiros. Soubera o Partido assim diziam muitos na época, parodiando o "Fico".
Liberal, hostilizando o Conservador, conjugar política No dia seguinte da Maioridade, o jovem soberano
partidária e vontade popular, esta a exprimir-se na chamava a Governo o primeiro dos 36 gabinetes do seu
conhecida quadrinha em 1840 tão de boca em boca. reinado, que também findaria em exílio como o primeiro.
No Ministério de 24 de julho de 1840 coube a Pasta do
Queremos Pedro Segundo Império, da qual na Monarquia sempre dependeu o Colégio
Embora não tenha idade; de Pedro Segundo, ao deputado de voz mais eloquente,
A nação dispensa a lei, sobreardorosa no movimento liberal da Maioridade;. —
E viva a maioridade! António Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Era o Ministro mais vistoso e mais facundo do Segundo o Ministro, cumpria a cada professor da
Gabinete. Tonitroava parlamentarmente desde as Cortes Casa expor inconvenientes e defeitos demonstrados pela
de Lisboa, sustentando tradição de tribuno. Apostrofava experiência na parte do ensino a seu cargo. Alvitraria o
com facilidade e frequência, c o m o orador tinha a expositor providências para removê-los acrescentadas à
veemência, senão o coração nos lábios. exposição de cada professor as reflexões do reitor sobre
Tornara-se A n t ó n i o Carlos f i g u r a p r i m e i r a da o assunto. Remeter-se-ia tudo à Secretaria do Império a
Maioridade desde quando na Câmara dos Deputados fora f i m de ser possível providenciar " c o m clareza e perfeito
lido decreto regencial adiando de julho para novembro de conhecimento sobre tão importante o b j e t o " , dizia António
1840 a Assembléia-Geral. Subscrevera o ato o benfeitor Carlos.
do Colégio de Pedro Segundo, Bernardo de Vasconcellos, Certo, as exposições do reitor e do corpo docente
na Pasta do Império por nove horas, as mais honrosas de não foram estranhas à primeira reforma dos estatutos do
sua vida pública, conforme confissão de interessado em Colégio. Obteve-a pelo regulamento de 1 o de fevereiro de
célebre "Exposição" recolhida pela História. 1841 da responsabilidade de António Carlos, auxiliado por
Ao maiorismo, aos maioristas serviu então António Joaquim Caetano em o novo plano de ensino.
Carlos, levantando-se no meio do tumulto provocado pela Elevou o regulamento de 6 para 7 anos o curso de
leitura do decreto regencial. Soube exclamar: — " Q u e m bacharelado, julgado necessário mais um ano de estudos
for brasileiro siga-me para o Senado". A História é tecida para perfeição de curso secundário, exigidos antes a alunos
por aproximações e repetições. Em dezembro de I868, de anos mais baixos da série escolar conhecimentos para
Caxias na ponte de Itororó, atirando-se à peleja, diria a cuja aquisição lhes faltava ainda memória e raciocínio.
batalhões seus retrocedentes — "Sigam-me os que forem Modificou o Regulamento António Carlos o número
brasileiros". de lições semanais — 25 até o 5 o ano, 30 no 6 o e 7 o —
Não teria longa duração o Gabinete da Maioridade, fixada uma hora para cada aula. Ao p r o f e s s o r de
t a m b é m um pouco o dos parentes, Ministros António Matemática incumbiria o ensino da disciplina e mais o de
Carlos e M a r t i m Francisco, ao lado de dois fraternos Geografia e Cronologia.
Cavalcantis de A l b u q u e r q u e , um f u t u r o Visconde de O Regulamento António Carlos, a ser executado no
Albuquerque, e outro de Suassuna. Colégio, vinha encontrar o corpo docente e administrativo
A n t ó n i o Carlos, na Câmara dos D e p u t a d o s , já um tanto modificado desde 1840.
Ministro, dissera "ter cabelos até então embranquecidos Recebera o Colégio novo secretário, o Dr. Fernando
nos caminhos da verdade". Com experiência e cãs voltar- Francisco Lessa, substituto do secretário interino José
se-ia para o Colégio de Pedro Segundo, reitorado por Tavares de Mello
Joaquim Caetano da Silva com auxílio do vice-reitor frei A maior novidade na corporação d o c e n t e era o
Rodrigo de São José, s u b s t i t u t o do esforçado padre aparecimento da cadeira de Alemão, primeira da língua no
Leandro Rebello e Castro. Brasil, tendo por titular Carlos Roberto, Barão de Planitz.
Em dezembro de 1840, dirigindo-se ao reitor Joaquim Inaugurava no Colégio o que se poderia chamar nele a
Caetano, António Carlos declarava-lhe "ter o Imperador série germânica continuada porTautphoeus, Goldschimidt,
em particular consideração o adiantamento da mocidade Gade, Schieffler, Meschick e Hans Heilborn.
educada no Colégio", palavras jamais desmentidas pelo Teria o Colégio outras séries de m a g i s t é r i o , a
tempo e pelo patrono. nacional representada pela maioria dos professores do
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Colégio em extenso rol, a série francesa de Piquet , "... e nâo prescindo


Halbout, Gastão Ruch, a série inglesa de Maze, de Que o nome a todos chegue de Garcindo".
Cumberworth, de Alfredo Alexander, a série italiana de De Retribuía assim em 1865 o aluno sergipano do
Simoni, Lipparoni e Gervais, além da unidade grega de Colégio a gratuidade de seus estudos.
Calógeras. António Carlos, sem saber, não só concedia
Em 1840, começou a lecionar no Colégio, a título gratuidades proveitosas, mais tarde como a de Garcindo
interino o professor de Aritmética, o Dr. Emilio Joaquim pagas na glória. Procurava, também, aperfeiçoar o ensino
da Silva Maia, a prestar à Casa importantes serviços do Colégio pela nomeação de bons professores,
médicos e de magistério. recomendáveis pelo saber, tanto quanto pela compostura,
Além de Planitz, era em 1849 nomeado Tiburcio indispensável a quem se propõe a dirigir, sobretudo moços,
António Craveiro, professor de Latinidade, Retórica e sempre a lançar descréditos e ridículos sobre mestres
Poética, com o vencimento anual de um conto de réis, nominais.
para aumento da série de professores acrescidos aos Referendava António Carlos a nomeação do Dr.
primeiros de 1838. Marcellino José da Ribeira Silva Bueno, Cónego
Ao assumir a Pasta do Império, António Carlos penitenciário da Capela Imperial. Seria professor de História
encontrou estabelecido no Colégio o regime das matrículas Geral, Pátria, Geografia e Cronologia, "em consideração
gratuitas de internos e externos. Fixadas pela primeira aos importantes serviços prestados no magistério e em
vez pelo Ministro interino do Império, efetivo da Justiça, outros lugares de Letras". Assim o disse, expressa e
Conselheiro Assis Coelho, numa interinidade proveitosa a expressivamente, o Decreto de 23 de setembro de 1840.
desvalidos, suposta bem aplicada a mercê em distribuição O novo professor era sacerdote secular, antes frade
de justiça. franciscano, gozava, na Ordem do "poverello" de Assis,
Um dos primeiros a solicitar o favor da gratuidade fama de bom pregador. Pouco lecionaria, falecido a 21 de
foi Mathias José Fernandes de Sá, procurador de causas janeiro de 1842.
litigiosas, subadvocacia exercida pelos solicitadores. A António Carlos, Ministro do Império, deveria o
Dirigiu-se Sá ao reitor Joaquim Caetano para Colégio a primeira nomeação de Comissário do Governo
obtenção da graça em benefício do filho, Aurélio Garcindo para inspecionar o estabelecimento e sobretudo interferir
Fernandes de Sá, informada favoravelmente por Joaquim nos exames.
Caetano a petição paterna. Recaiu o cargo no Dr. Joaquim Cândido Soares de
Atendeu o Governo à súplica, em nome de sua Meirelles, médico diplomado no Rio de Janeiro e em Paris,
Majestade o Imperador, mandando admitir como aluno um dos fundadores da Academia Imperial de Medicina,
externo gratuito Aurélio Garcindo Fernandes de Sá. amigo de Evaristo da Veiga, muito ligado aos sucessos
Roda o tempo, o menino é homem, e de guerra, políticos da Independência, do Primeiro Reinado e da
oficial da armada. Em 1865, vamos encontrá-lo de pé na Regência, cirurgião militar de vulto na armada e no exército.
história pátria, em dia de morte e glória sobre águas, o dia Vinte e cinco anos após o comissariado pedagógico
de Riachuelo, Garcindo secundando Barroso no arrebatar no Pedro Segundo, em 1840, ainda assistiria à Rendição
vitória no imortal tombadilho da Amazonas, Garcindo a de Uruguaiana.
comandar a Parahyba, com o denodo celebrado no poema À nomeação de Soares de Meirelles, na gestão
épico Riachuelo, de Pereira da Silva, dizendo o poeta: ministerial de António Carlos, recebeu o Colégio novo
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

tesoureiro, Manoel Raymundo Galvão, por exoneração de não convir", diz o oficio de Araújo Viana a Joaquim Caetano,
José Teixeira de Abreu Silveira. a 3 de junho de 1841.
Sobretudo para a época, eram de vulto os bens Provavelmente a peça Abade de VEpée exaltaria
patrimoniais do Colégio, inventariados em 1838 e serviço à humanidade prestado pelo sacerdote francês
constantes de dois prédios, uma morada de casas de fundador em Paris da escola dos surdos-mudos, a estes
sobrado na Rua das Violas, ora Theophilo Ottoni, uma permitindo, por sinais de convenção, comunicarem-se com
morada de casas térreas, na Rua da Alfândega, uma os semelhantes.
morada de casas de sobrado na Rua Estreita de São
Em todo o caso se O Ambicioso ou O Ministro
Joaquim, desaparecida na República e na Prefeitura
Demitido falava demais, o Abade de 1'Épée, guia de surdos-
Passos. No património do Colégio figuravam 163 apólices
mudos, seria mais discreto.
de conto de réis, além de duas no valor de 400S000.
Maior incómodo do que a censura teatral daria ao
Em março de 1841, o Partido Conservador vencia o
Ministro Araújo Viana e ao reitor Joaquim Caetano, novo
Liberal da Maioridade, apeado de governo o ministério por
ele constituído e do qual era ministro António Carlos. tesoureiro do Colégio, suspenso de funções mal as
Organizando o Marquês de Paranaguá o Gabinete de 23 de começava a desempenhar, substituído interinamente pelo
março de 1841, chamou o sucessor de fogo Andrada um Dr. Silva Maia.
calmo, Cândido José de Araújo Viana, futuro Visconde e Intimado o funcionário a prestar imediatas contas
Marquês de Sapucaí, já Senador do Império. de gestão, Araújo Viana mandava pagar contas ao
Ministro, pela última vez em 1841, Araújo Viana — professor de História, Justiniano José da Rocha, metade
assim grafava segundo nome patronímico — interveio em das despesas pela tradução e impressão de compêndios.
pequeno sucesso característico da época. Devia o Pouco antes havia o Ministro António Carlos
património do Colégio aumento a récitas promovidas em autorizado a adoção no Colégio de "Resumo de História
seu benefício pela Sociedade Dramática do Teatro de São do Brasil" de Niemeyer Bellegarde e dos "Elementos de
Januário, bandas da rua D. Manoel. Dirigiu-se o diretor da Cronologia" do Senador José Saturnino da Costa Pereira.
referida Sociedade ao reitor Joaquim Caetano. Propôs para Não bastava cultivar a inteligência do aluno, cumpria
a 5o representação em benefício do Colégio levar à cena
robustecer-lhe o corpo. Daí a nomeação de Guilherme
intitulada O Ambicioso ou O Ministro Demitido.
Augusto de Taube para primeiro mestre de Ginástica do
Declarava o diretor ao reitor ser esta a única peça
Colégio. Por quatrocentos mil réis anuais robusteceria,
com brevidade capaz de subir à cena ou então qualquer
corrigindo falhas de calipedia.
de sete peças já vistas cuja relação acompanhava o ofício
Além de Taube, nomearia Araújo Viana novo
do diretor da Sociedade Dramática.
Intervindo o governo, atendendo a consulta do reitor, comissário do Governo para o Colégio, substituindo Soares
respondeu-lhe Araújo Viana. Mandava Sua Majestade o de Meirelles, chamado a outras funções. Em outubro de
Imperador declarar-lhe que "a não ser possível representar- 1841 investia-se no cargo o Desembargador Rodrigo de
se peça nova, visto a indicada não convir, havia por bem Souza da Silva Pontes, homem de luzes, caráter e probidade
permitir, por esta vez, a representação da intitulada Abade jamais desmentidos em vida inteira. Magistrado,
de UEpée. parlamentar, presidente de três províncias , quando colhido
Conteria O Ambicioso ou O Ministro Demitido pela morte, em 1855, seria representante nosso
alusões a António Carlos exonerado? "Visto a indicação diplomático em Buenos Aires.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

A 7 de dezembro de 1842, presidia Araújo Viana à Em 1847, novo Ministro do Império, substituto de
solene distribuição de prémios aos alunos do Colégio. Dele Araújo Viana, superintendeu o Colégio oficialmente, que o
se ausentava o professor de Filosofia, Domingos José seu superintendente de coração se chamava D. Pedro II.
Gonçalves de Magalhães. Autorizava ausência da cadeira, Para o Colégio os ministros passavam, o soberano, amigo
partida para o Rio Grande do Sul em c o m p a n h i a do e patrono, permanecia, e ficou até o seu exílio.
Presidente da Província de São Pedro. Era este o Barão Veio à Pasta do Império o Conselheiro de Estado
de Caxias a opor-se à luta farroupilha, guerra civil pelo Silva Maia, no Gabinete de 20 de janeiro de 1843, Gabinete
Segundo Reinado da Regência t r i s t e m e n t e herdada. de São Sebastião, organizado no dia do padroeiro carioca,
Gonçalves de Magalhães já servira de secretário de Caxias por Honório Hermeto Carneiro Leão, vindouro Marquês de
na repressão da Balaiada. Paraná.
Prestava o Governo a maior atenção à disciplina da Na gestão ministerial de Silva Maia, em 1843,
Casa. Demonstrava-o o Decreto de 7 de novembro de ocorreriam modificações no corpo docente do Colégio. Em
1842, referendado por Araújo Viana, revogando o artigo 135
março o Barão de Planitz era designado para a cadeira de
dos Estatutos vigentes. Tais Estatutos, pelo citado artigo,
Geografia Descritiva e História; em julho frei Rodrigo de
permitiam com a presença do Ministro, do Comissário do
São José, vice-reitor, nomeado professor de Religião, em
Governo ou do reitor, reunião em banquete, dos alunos
agosto o Cónego honorário Sebastião Pinto do Rego, futuro
contemplados com recompensas, livros, coroas de ramos
Bispo de São Paulo, provido no cargo de Capelão do
de café ou de flores. A distribuição de prémios, seguir-se-
Colégio. Deste se despedia o mestre de ginástica Guilherme
ia o banquete aos alunos distinguidos. Entre os jovens
LuizdeTaube.
uniformizados, de casaca e calça verde e chapéu alto de
Continuava Joaquim Caetano na reitoria, a esta
pelo, houve quem se excedesse por atos e palavras, talvez
anexada então, o que o Aviso de 3 de abril de 1843
procurando demais conhecer a exatidão do "in vino
chamava concessão do sustento. Residindo e
veritas".
alimentando-se no Colégio, Joaquim Caetano, em agosto
Não concordou o Governo com a pesquisa, suprimiu
o banquete "por não ser acompanhado de vantagem de 1843, foi chamado a providenciar para a realização de

alguma, mas antes de graves inconvenientes", declarava festa extra-escolar na Casa sob sua digna direção.
o ministro Araújo Viana ao reitor Joaquim Caetano. A 9 de setembro de 1843, à Sala Nobre — dizia-se
O Colégio não podia, entendia-se no alto, viver sem então grande — do Colégio acolhia seleto auditório para
austeridade. Não costuma esta presidir banquetes nos sessão instaladora do Instituto dos Advogados do Rio de
quais não raro inteligências se anuviam e línguas por Janeiro.
demais se soltam. Nem os alunos ficaram sem festa em 1843. O
Estabelecimento de tradição honrosa, o Colégio Ministro Silva Maia autorizou o reitor a conceder-lhes férias
participava do empenho do Governo em moralizar-lhe os extraordinárias, tanto mais gostosas quanto inesperadas.
exames. Assim, para presidi-los especialmente convidava Férias no decurso do ano letivo? A razão era grata
pessoa das mais notórias do Império, Fernandes Pinheiro, sobre nupcial: — o casamento de D. Pedro II e D. Thereza
Visconde de São Leopoldo. Era personagem já tanto em Christina.
história pátria quanto nos fastos da instrução pública Não se acharam os alunos do Pedro Segundo
nacional, referendador do Decreto de 1827 instituindo privados de participar do regozijo público pelo fausto
Cursos Jurídicos em São Paulo e Olinda. sucesso conjugalmente assegurador de dinastia.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

A terceira Imperatriz do Brasil chegou de Nápoles a expedição de diplomas. Pela carta de lei de 30 de agosto
3 de setembro de 1843, desembarcando no Valongo, zona de 1843, já bastava apresentação de diploma do Colégio
carioca entre Gamboa e Saúde, assim conhecida do período para matricula imediata nas academias do Império.
colonial ao início do Segundo Reinado, nome ainda hoje Segundo o Decreto Silva Maia o bacharel em letras
lembrado por uma ladeira em morro na citada zona. prestaria juramento sobre os Santos Evangelhos, ligados
Para entrar no Rio de Janeiro passou a nova a Igreja e Estado, nem sempre em paz, o espiritual
Imperatriz, nascida no ano de nossa independência, pela incomodado pelo temporal e vice-versa.
Rua do Valongo, depois da Imperatriz em honra da soberana Devia o bacharel, por juramento, respeitar e defender
e hoje Camerino. Os alunos do Colégio podiam ver pois constantemente instituições pátrias, concorrendo, quanto
de casa a primeira festa, a do desembarque. possível para a prosperidade do Império, satisfazendo com
Seguiram-se para eles e para todos, outras lealdade as obrigações a ele incumbidas.
manifestações de regozijo, entre elas numerosos bailes já Após o juramento, o Ministro do Império ou o
oficiais, já familiares. Comissário do Governo imporia ao bacharel barrete branco
Cessados os festejos, outra vez vieram os alunos franjado, proferindo solenemente estas palavras: — "Dou-
do Pedro Segundo a aulas e sabatinas precedendo exames vos o grau de bacharel em letras, que espero honreis
sob a inspeção do Ministro do Império de havia pouco, sempre tanto como o haveis sabido merecer".
Araújo Viana, nomeado Comissário de Governo a 6 de Em ato solene ou não recebia diploma o novo
novembro. bacharel, diploma em pergaminho, subscrito pelo Ministro
No exercício do cargo teria ensejo de aplicar Araújo do Império, pelo reitor e pelo vice-reitor.
Viana providência sua quando governo. Na segunda-feira 21 de dezembro de 1843, o Colégio
Todo e qualquer aluno chamado a exame deveria de Pedro Segundo engalanou-se para a cerimónia, o da
prestá-lo no dia marcado. Para evitar repetição de recusa, estreia da colação de grau à primeira turma de bacharéis,
Araújo Viana, então Ministro, declarara ao reitor haver o cerimónia honrada com a presença do Imperador.
Imperador determinado que se algum aluno se abstivesse De acordo com os estatutos, deu princípio à
de provas em dia para elas fixado "fosse considerado com solenidade, obtida vénia imperial, o professor de Retórica,
o ano perdido, como se tivesse sido reprovado". Salvo se Dr. Santiago Nunes Ribeiro, lendo discurso de cunho
alegasse e provasse "que para tal procedimento houvesse filosófico, desejando demonstrar a necessidade de unir
causa convincentemente j u s t i f i c a d a " . Dada a religião à mocidade para esta produzir bons frutos.
circunstância poderia ser admitido, por ordem do governo, Ao discurso de Santiago Ribeiro seguiu-se a
a exame na abertura das aulas do ano letivo seguinte. distribuição de prémios. Aos primeiros premiados dignou-
Findos os exames em 1843, o Colégio preparou-se se D. Pedro II entregar recompensas, os demais atendidos
para a solenidade habitual da distribuição de prémios, desta pelo reitor, com expressões de benignidade. A Sala Grande
vez realçada com a primeira colação de grau de bacharel da Casa, senão a maior do Brasil, estava repleta de público.
em letras. Na véspera do ato Silva Maia expediu decreto Dele boa parte, por má colocação de cadeiras, ficou privada
a ele relativo. de presenciar o ato da colação e o cortejo dos alunos
Ouvido o Conselho de Estado, o Ministro referendou premiados.
o Decreto de 20 de dezembro de 1843, dizendo respeito à Ao cortejo seguiu-se a colação de grau conferido
colação do grau de bacharel em letras e respectiva aos seguintes alunos: — Agostinho Marques Perdigão
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Malheiro, de Minas Gerais, António Manoel Loureiro, da dezembro de 1838. Pela primeira vez assistira também o
província do Rio de Janeiro, Carlos Arthur Busch Varella, Rio de Janeiro a solenidade do género em estabelecimento
do Município Neutro; Francisco de Salles Rosa, Joaquim nacional, "esplêndida e aparatosa cerimónia quanto podia
Fernandes da Silva, José Carlos de Almeida Arêas, ser", registrou-a imprensa da época , em sala ricamente
também da citada província, José Alexandrino Dias de adornada, dossel e estrados preparados para o Jovem D.
Moura, de Matto Grosso, Paulino de Souza Brito, de Pedro e o Regente Araújo Lima, tendo aos lados os
Moçambique. Ministros e grande número de pessoas gradas. A
Finda a colação de grau o bacharel Busch Varella solenidade da primeira distribuição de prémios do Colégio
leu discurso de agradecimento e despedida, a produzir no tivera novidade e importância alvoroçando alunos
auditório grata impressão. premiados, incitando colegas a merecerem recompensas
"Este pequeno trabalho que foi ouvido com muita idênticas entre alegrias de família. A solenidade da primeira
atenção, causou no auditório bastante abalo, tanto pelo colação de grau de bacharéis em letras também novidade,
garbo e entusiasmo com que foi recitado, como pelas flores
subia de importância. Dignificava jovens que, uns mais,
de retórica de que se achava adornado".
outros menos, teriam elevação social, destacados,
Disse-o Joaquim Manoel de Macedo, nas páginas
sobretudo. Perdigão Malheiro, o jurisconsulto, Busch
da Minerva Brasiliense, acrescentando: — "A criação e
Varella, o grande orador forense, Arêas o diplomata,
existência do Colégio de Pedro Segundo é um dos
quarenta e seis anos depois do seu bacharelado em letras
a c o n t e c i m e n t o s que mais honram aos nossos
Visconde de Ourém. A Busch Varella reservava o destino
contemporâneos; é o feito que mais deve concorrer para
a dita de celebrar, em discurso e ato solene, o jubileu do
o progresso e orgulho das letras Brasileiras".
Colégio, substituída pelas cãs a alvura passageira do
Alguns dos novos bacharéis haviam participado da
barrete imposto ao jovem bacharel de 1843.
primeira distribuição de prémios no Colégio a 13 de
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937

IV
O Colégio de 1844 a 1851

Solicitude de D. Pedro II para com o Colégio • Vigilância do Governo • Pequenos


Sucessos e Curiosas Providências • Joaquim Caetano e Frei Rodrigo de São José •
Retirada de Joaquim Caetano.
ESCBAGNOLLE DÓRIA

Em 1844, entrava o Colégio em sétimo ano de labor. costume de algumas Repartições Públicas mandarem
Dezenove anos de idade contava o dele augusto imprimir papéis de expediente em tipografia particular, com
patrono. Começava já a mostrar Bernardo de Vasconcellos grave prejuízo da Fazenda Nacional, houve então por bem
profético no discurso de inauguração do Colégio. "O culto Sua Majestade o Imperador que o reitor do Colégio fizesse
das letras e das ciências seria um dos principais títulos imprimir naquela Tipographia tudo quanto pertencesse ao
de glória de seu reinado" afirmara o estadista. Em 1844, expediente do estabelecimento a seu cargo.
principiava D. Pedro II a ter por sacrário de tal culto o Quando o Ministro do Império autorizava despesas
Colégio sob sua proteção e seu nome. recomendava logo ao reitor parcimônia nos gastos. "Haja
A solicitude do amigo do Colégio só cresceria com a maior economia", dizia o Secretário do Estado a propósito
o tempo que tanto diminui ou suprime cuidados. Obrigava- da iluminação do Colégio em noites de festa oficial.
se o Ministro do Império, fosse qual fosse, a zelar pelo Nem sempre corriam amenas as relações entre
Colégio, mesmo quando pessoalmente lhe não merecesse ministro e reitor, não hesitando aquele em censurar este.
especial atenção. Havendo Joaquim Caetano despedido um servidor modesto
Assim reinando no Rio de Janeiro a escarlatina, do Colégio, o despenseiro Manoel Pereira, em funções
deliberara o facultativo do Colégio aplicar a alunos internos desde 1838, foi ele queixar-se ao ministro. "Não me
a tintura de beladona, como preservativo. Logo veio ofício havendo V. Mce. — dizia o ministro ao reitor — participado
do Ministro ao reitor Joaquim Caetano, aliás médico, este seu ato com razões que o compeliram a praticá-lo;
advertindo-o de não fazer uso da tintura, "convindo que ocorrendo além disto o parecer tal ato contraditório, e
fosse mais geralmente experimentado e aprovado o infundado, pois que na mesma ocasião em que V. Mce.
indicado preservativo, para que com prudência e segurança despede aquele empregado dessa casa lhe passa uma
fosse admitido no Colégio". Atestação em que afirma ter ele servido sempre muito
Não era de rosas o cargo de reitor, mesmo exercido bem a todos os respeitos: manda Sua Majestade o
por homem qual Joaquim Caetano. Representando certa Imperador que V. Mce. informe circunstanciadamente sobre
vez o administrador da Tipographia Nacional contra o este objeto, para se resolver como for conveniente".
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937

Tendo informado o reitor, mandou-lhe declarar o Ao reitor prestava o ministro contas do favor que
Governo, sempre falando em o nome imperial, que embora dispensava àquele jovem "atentas as circunstâncias da
usasse o reitor da faculdade de demitir serventes longitude em que morava sua família, e da pobreza dele,
contratados do Colégio devia ficar em inteligência que uma além das circunstâncias do bom comportamento e da
vez contratados tais serventes entravam no número dos aplicação do aluno". Favor justo é exemplo sobre estímulo.
empregados da Casa e pois só podiam ser demitidos por Nem deixava o Ministro Almeida Torres de atender
faltas ou transgressões cometidas. ao requerimento de Joaquim Peixoto, índio da Aldeia de
"Estando, acrescentava o ministro, o Colégio São Pedro, pedindo admissão do filho de nome Joaquim
debaixo da imediata Inspeção do Ministro e Secretário de como aluno interno gratuito do Colégio.
Estado dos Negócios do Império, e devendo-lhe por isso A petição do índio fluminense, das cercanias de
ser presente tudo quanto é relativo à disciplina, estudo, e Cabo Frio, apresenta-se sugestiva. Longe já havia chegado
estado moral do mesmo Colégio, como à sua o renome do Colégio.
administração em geral, preciso que o Reitor lhe Em 1844, também recebia o reitor, para informar, o
participasse o que ocorresse a respeito de tais objetos". requerimento do major Manoel Mendes da Fonseca pedindo
A respeito do atestado passado ao despenseiro fossem admitidos no Colégio, como alunos gratuitos
demitido o ministro censurava o reitor, em termos externos, quatro dos seus filhos. O major Fonseca era pai
energicamente corteses que não deviam ter doído pouco de Deodoro, este em 1844 aluno da Escola Militar. Os filhos
ao subordinado ilustre. para os quais o major Fonseca pedia gratuidade de
A vigilância do governo, tanto a censurar o forte matrícula eram Pedro Paulino, na República governador
como a ouvir o fraco, não escapava à equidade. O Ministro de Alagoas e Senador federal por esse Estado; Hypólito
do Império, Almeida Torres, organizador do Gabinete Liberal Mendes da Fonseca, capitão do exército; Eduardo Emiliano
de 2 de fevereiro de 1844 e sucessor do Ministro Silva da Fonseca, major do exército, mortos ambos na guerra
Maia, mandara oficialmente de modo especial, fossem do Paraguai e João Severiano da Fonseca, médico, futuro
fornecidos alimentos ao vice-reitor, frei Rodrigo de São chefe do Corpo de Saúde do Exército.
José. "Por suas enfermidades e em razão das ocupações Às vezes, em nome do ministro dirigia-se ao reitor
dos seus lugares, não podia e não convinha que o vice- o oficial-maior da Secretaria do Império então na Rua da
reitor tomasse os seus alimentos no refeitório. Deviam Guarda Velha, hoje 13 de Maio, António José de Paiva
estes ser mandados ao seu cubículo não em géneros, mas Guedes de Andrade, poeta elegante, tradutor fiel de
preparados da mesma maneira por que iam para o refeitório clássicos latinos c de não terminada versão da Jerusalém
na quantidade razoavelmente conveniente para a frugal de Tasso.
sustentação de uma pessoa". Por ofício, solicitava Guedes Andrade a Joaquim
Frei Rodrigo, monge beneditino, não devia estranhar Caetano informação sobre a maneira de contar faltas aos
nem "cubículo, nem frugal sustentação", tudo na professores do Colégio. Convinha não mais fosse enviado
observância do regime de sua ordem. à Secretaria simples extrato, um mapa circunstanciado
Mais ainda, sempre em atenção ao grande e ao das faltas, "de forma que se conhecesse se o Professor
pequeno, ordenava o Ministro Almeida Torres que "se faltava logo à primeira das lições ou a qual delas".
continuasse o alimento como até então ao aluno José Grande era a preocupação do Governo quanto às
Teixeira de Souza". faltas dos professores. Assim o Ministro Almeida Torres
ESCRAGNOLLE DÓRIA

se julgava na obrigação de justificar ao reitor, o motivo de pela leitura do ofício do reitor, de haver sido entregue a
certas faltas de seus administrados. correspondente na corte, em presença do desembargador
Dizia-lhe por exemplo, no Aviso de 11 de abril de Chefe de Polícia, um ex-aluno do Colégio, afim de embarcar
1844 que "tendo sido designados os professores do Colégio na escuna Ligeira com destino ao Rio Grande".
Carlos Roberto, Barão de Planitz e Francisco Maria Piquet Nem se podiam queixar alunos de objeto único de
para servirem de examinadores da língua francesa no advertências em punições. Presentes ao Imperador, por
concurso dos opositores à Cadeira da língua no dia 18 do intermédio do Ministro do Império, os mapas das faltas
corrente, e não podendo por isso comparecerem nesse dos professores no trimestre de fevereiro a abril de 1845,
dia para dar aulas aos seus alunos, fazia isto chegar ao ordenava Sua Majestade que o reitor estranhasse àqueles
conhecimento do reitor". professores a falta de cumprimento de deveres.
Incessantes e de minudente ordem eram as Deixando Almeida Torres a Pasta do Império foi nela
providências do governo com relação ao Colégio. Delas a substituído pelo deputado Joaquim Marcelino de Brito,
variedade testemunha quanto os poderes públicos se membro do Gabinete Liberal de 2 de maio de 1846,
interessavam pela sorte e boa marcha do estabelecimento, organizado pelo senador Hollanda Cavalcanti.
procurando acertar, deferindo ou indeferindo pretensões. Entre as punições infligidas aos alunos do Colégio
Mandava o Ministro do Império, à vista de figurava a pena de reclusão em quarto preparado para tal
representação do interessado e de informação do reitor, fim. Conheciam-no os alunos pelo nome de cafua.
restituir ao recém-bacharel Reginaldo Netto Caldeira a Declarava o Ministro Marcelino de Brito ao reitor constar
quantia de 25S000 por ele pagos ao Tesouro Público do na Augusta Presença de Sua Majestade o Imperador que
selo da respectiva carta. As despesas com os diplomas o quarto para reclusão dos alunos do colégio, por faltas
dos bacharéis em letras alunos gratuitos do Colégio — merecedoras de tal castigo, era inteiramente impróprio
acrescentava o ministro — deviam ser feitas por conta para semelhante uso, tanto pela insuficiência da
dos cofres do estabelecimento. capacidade dele como pela falta de luz e de circulação do
Por outro lado tendo conhecimento da nomeação, ar e pela prejudicial proximidade do lugar dos despejos do
embora a título interino, de um inspetor dos internos do Colégio. Assim mandava o Imperador, em nome de quem
Colégio, o Governo cientificara ao reitor não confirmar tal falavam sempre os ministros do Império, que, com
nomeação. E por quê? Fora o Ministro Almeida Torres urgência, se preparasse outro local sem as inconveniências
informado de haver sido o mesmo inspetor despedido do apontadas.
noviciado do Convento do Carmo da Corte, por Certo não seria a cafua, mesmo melhorada, do
irregularidade de comportamento. Declarava o Governo agrado dos alunos punidos. Mas quanto a todos, gratos
ao reitor que "não podendo ser confirmada a nomeação, pareceria o aviso ministerial aprovando a prática de serem
fazia-se por isso desnecessário continuar o inspetor a servir feriados no Colégio, além dos dias marcados nos Estatutos,
cargo interino para se conhecer da sua capacidade e a 2a e a 3a feira do Entrudo. Do Entrudo e não do Carnaval,
morigeração". o segundo nascido bastante depois no Rio de Janeiro, em
Mais significativo ainda é o ofício do Ministro 1854.
Almeida Torres, oficio registrado no Colégio sob n.° 788 e Ao Entrudo deviam os alunos do Colégio férias
expedido a 11 de setembro de 1845. Declara o ministro extraordinárias a serem aproveitadas estúrdia e c
ao reitor que "ficava Sua Majestade o Imperador inteirado hidroterapicamente, com dano às vezes para saúde.
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Segundo os Estatutos, férias grandes eram as de 2 internos contribuíam com 100$000 trimestrais a troco do
de dezembro a 1o de fevereiro, data esta de início do ano ensino, alimentação e asseio, enxoval à custa dos pais
letivo, aquela do seu encerramento. Era permitido a ou representantes. Caso da manutenção do enxoval, pela
interinos passar férias no Colégio. Mas aí teriam 2 horas lavagem e costura, se incumbissem os pais ou
de aula e 4 de estudo, aulas às quais podiam comparecer responsáveis dos internos só deviam satisfazer o
externos, remunerados os professores com gratificação pagamento anual de 300$000.
especial. Além de aulas e horas de estudo, os alunos de A admissão no Colégio era precedida de exame do
férias no Colégio dariam passeios longos e instrutivos, candidato por professor designado pelo reitor. Joaquim
sobretudo úteis ao ensino da História Natural. Caetano costumava lançar despacho nos requerimentos
Além das férias grandes e do Entrudo lá vez ou outra pedindo admissão, incumbindo o dito professor não só de
surgiam imprevistos feriados. Gozaram os alunos do examinar como de classificar o pretendente, subscrevendo
Colégio três dias de sueto por ocasião do batizado do o despacho com um bem conhecido Dr. Sa. R. (Doutor
Príncipe imperial D. Afonso, nascido na Corte a 23 de Silva Reitor).
fevereiro de 1845, primogénito de D. Pedro II, e D.Thereza O professor designado aprovava ou não o candidato,
Christina. A botão de flor mal despontada fenecida, no primeiro caso designando-lhe ano de estudos conforme
passava o príncipe pela vida, desaparecido infante, em capacidade revelada no exame vestibular.
junho de 1847, com mágoa natural sobre dinástica dos Prestigiando sempre examinadores, mandava o reitor
pais ao entregarem à morte filho e sucessor, esperança fosse o candidato matriculado no ano designado pelo juiz
de lar e de nação. da admissão. Levava escrúpulo o reitor a ponto de lançar
De 1844 a 1845 conheceu o Colégio duas figuras no requerimento de admissão notas como esta em relação
novas, no corpo docente e no administrativo. Em 1844 o a matriculados:
professor de Inglês, Diogo Maze, declarava ao Governo "Entrou como interno com o ónus do vestuário em
não lhe convir mais lecionar por quinhentos mil réis anuais. 1o de junho de 1845, às 5 da tarde. Dr. Sa. R.".
Aceitou-lhe o Governo a demissão e designou-lhe Reitor e vice-reitor, Joaquim Caetano e frei Rodrigo
substituto, interino, José Luiz Alves, já professor público de São José, dividiam encargos da direção do Colégio.
de língua inglesa, efetivado no princípio de 1844. Na época Joaquim Caetano, sempre metido entre livros, ocupava-
recebia a cadeira de Francês professor substituto, o Dr. se mais das relações administrativas da casa com o
Fernando Francisco Lessa, já secretário do Colégio, ao qual Governo, relações nem sempre amenas, afora obrigações
se proporcionava novo tesoureiro, Firmino José Soares da de lente de Grego.
Nóbrega. Frei Rodrigo de São José, o vice-reitor, zelava a
Diogo Maze deixara o Colégio por insuficiência de disciplina. Frade, só Deus e ele sabiam quão difícil é manter
remuneração, na tabela de estudos, fixada desde 1841, ordem em casa de moços e meninos, assegurando-a entre
figurando o ensino de Inglês, do 2o ao 7o ano, e Francês severidade e jeito, conforme ocorrências.
ensinado do 1o ao 7o ano. Os alunos viam mais frei Rodrigo que Joaquim
Módicas as retribuições dos professores, em época Caetano. A cultura clássica do vice-reitor porém não
de moeda valorizada e vida fácil, não eram também destoava junto a do doutíssimo reitor. Frei Rodrigo, baiano
elevadas as contribuições dos alunos. Pagavam os do arraial de São Pedro de Muritiba, município de Cachoeira,
externos 24S000 trimestrais, só recebendo instrução; os era por sua vez um erudito. Amigo dos livros ainda mais
ESCRAGNOLLE DÓRIA

se lhes afeiçoara depois de muitos desgostos como abade conhecimento. Piquet, o professor de Francês, exigia a
de S. Bento, no mosteiro da Corte. bacharelandos a tradução dos melhores passos do teatro
Poliglota, filósofo, dedicou-se à musa e manejava a clássico do século XVII já na "Athalia" de furores no verso
latina com amor, abeberado de lição humanística, adjecto de Racine, já no "Misanthropo", de rir amargo em Molière.
a outras muitas lições de variados conhecimentos Qualquer dos componentes da segunda e reduzida
humanos. turma de bacharéis em letras, a de 1844, formada apenas
Dele disse professor do Colégio, Paula Menezes: por 5 sétimoanistas, devia mostrar-se habilitado no último
" Entusiasta da poesia latina, lia Horácio por gosto, e quase ano do curso. Passaria a vernáculo alguns 400 primeiros
por costume, e no seu género escreveu ele inúmeras odes versos do canto 1 o do "Paraíso Perdido", enquanto
da mais acabada perfeição. Excelente poeta, feliz em tudo Medeiros Gomes, o professor de Latim, lhes exigia
quanto escrevia, cultivou a sátira, e o espírito fino e os interpretação sem silabadas das odes e sátiras de Horácio,
delicados conceitos da maior parte de suas poesias o amigo de Augusto, o protegido de Mecenas, o poeta a
deixam sentir o fundo de moralidade do coração de quem dar glória a ambos junto a renovados vindouros.
as traçou. Inflamado do Espírito de David, imitou psalmos Joaquim Caetano pedia ao setimoanista de 1844 a
e neste estilo nos deixou bem feitas traduções.
tradução do Canto 1 ° da "Miada" onde Homero, por conta
Frei Rodrigo foi um homem póstumo, pode-se assim
própria ou resumindo dados, situou vingança grega contra
dizer: e condenado pela timidez de seu caráter a fugir da
Tróia.
sociedade, sepultava no fundo de uma gaveta todos os
Desembaraçados de exames, aos setimanistas de
seus preciosos trabalhos, que dificilmente mostrava aos
1844 — entre eles José Teixeira de Souza - o aluno
mais íntimos dos seus amigos".
beneficiado quanto ao sustento por aviso de 22 de março
A timidez de caráter de frei Rodrigo, assinalada por
de 1844, restava esperar a distribuição de prémios e a
Paula Menezes, deve ser interpretada simplesmente em
colação de grau.
relação à sociedade. Nesta o monge não se comprazia,
No momento de imposição do barrete branco, ante
sem dúvida conhecendo o fundo falso de tantos caracteres
humanos de sedutoras aparências. numerosa e seleta assistência, o olhar de cada bacharel
Na vice-reitoria do Colégio a ação de frei Rodrigo nela buscava de preferência os seus, jubilosos com ele.
mostrava-se enérgica e severa. O próprio Paula Menezes Primeira figura do auditório havia de ser o imperador, já
encarregou-se de prová-la. Disse do frei: "Alma cândida, esposo em verdes anos, já primeiro magistrado de Império
coração sincero, vontade de ferro, juntava a este montão imenso, já encarregado da tríplice responsabilidade perante
de qualidades superiores, uma modéstia que, degenerando a consciência junto ao presente da nação, ante o futuro da
em timidez, punha em conflito quotidianamente sua História.
reputação com este desejo inqualificável de fugir a toda Não sem humana pontinha de inveja, nas
publicidade". solenidades de grau, acompanhariam condiscípulos a
Joaquim Caetano e frei Rodrigo, completando-se na partida dos novos bacharéis em letras, consolados os 6o
ilustração, estavam nas condições de tomar parte na anistas pela proximidade da ventura. Nas escolas, de
fiscalização do ensino do Colégio cujo proveito os exames grau em grau do ensino, os alunos contam os dias que os
evidenciavam. avizinham de diplomas, ansiando pela vida prática, de
Assim os setimanistas de 1844, na seção de línguas tantos meses de labuta e anos nas decepções, na virilidade
vivas e mortas, podiam ter das mesmas suficiente ou na velhice tornados saudosos os dias da adolescência.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937

Sempre sob a direção reitoral e vice-reitoral de aplicação em onze aulas, em disciplinas variadas, da
Joaquim Caetano e frei Rodrigo abriu-se no Colégio o ano s i n t a x e latina exigida por Falletti aos s u s t e n i d o s e
letivo de 1845. Inauguração de ano letivo trazia à casa bequadros de mestre Luz Pinto, do dizer história de Planitz
mais juventudes, mormente para o 1 ° ano do curso. Alguns ao explicar ciências naturais do Dr. Silva Maia.
jovens, por exceção, mediante exame, matriculavam-se Em 1917, no Anuário do Colégio, foi minuciosamente
logo em anos a d i a n t a d o s . A ousadia e o s u c e s s o recordada, por professor da casa, a vida escolar de Álvares
impressionavam pela raridade. de Azevedo.
Em 1845 e s t u d a v a m e b r i l h a v a m nas aulas e Já por certa altivez, já pelo pendor para a caricatura,
recreios do Colégio adolescentes que, não muitos anos Álvares de Azevedo sofreu bastante. Provou a cafua
depois, ocupariam no Império altas posições em várias colegial. Os chefes da disciplina reconhecendo que não
carreiras. Contraíam nos bancos escolares amizades quebravam génio, nem lápis, por fim o deixaram em paz.
duradouras vida inteira pela lembrança de felizes dias na A saúde s e m p r e débil de Álvares de A z e v e d o não
alegria e na despreocupação. consentia, sem maldade, castigos rigorosos.
Teixeira Júnior, Eduardo de Andrade Pinto, Castrioto, Naturalmente o alvo principal das caricaturas de
Costa Pereira Júnior, não adivinhavam ainda, sob fardetas Álvares de Azevedo foram os inspetores. Em todos os
colegiais, a farda bordada de Ministros de Estado. Eduardo colégios do mundo inspetores e alunos nem sempre se
Callado não pressentia carreira de diplomata e de ministro entrestimam.
p l e n i p o t e n c i á r i o , n e m o irmão Dário a sina do seu Em França, a gíria colegial atribui a inspetores de
desaparecimento misterioso, inesperado, como chefe de alunos a alcunha de pion. Quando, porém, o tempo já
polícia da Corte. Anastácio do Bonsuccesso não cogitava envelheceu os antigos alunos outrora lourinhos, voltam-
em tomar-se um dos nossos raros fabulistas. se eles para as reminiscências de antanho e estas nas
Na época o estro já alvorecia em rapazola que s o m b r a s d i v i s a m p r o f e s s o r e s e i n s p e t o r e s já s e m
entrado no Colégio como veterano, escapou ao calourado, exigências ou impertinências.
quase sempre de ingratas recordações morais quando não Todo glória, Edmond Rostand, lembrando colégio,
físicas pelo sarcasmo ou brutalidade dos mais adiantados. recordou antigos inspetores , consagrou versos àquele que
Chamava-se o rapazola Manoel António Álvares de a irreverência juvenil alcunhava de Pif Luisant — Vieux
Azevedo. Nascido em São Paulo, a 12 de setembro de pion qu'on railluit, ô si doux philosophe.
1831, matriculava-se como aluno interno a 2 de junho de Pif Luisant escrevia versos. Também os fazia
1845, c o m 14 anos por fazer. Prestadas provas de Rostand, ambos às escondidas, cada qual na sua idade e
habilitação entrou logo Álvares de Azevedo para o 5 o ano posição.
do curso de bacharelado. Revelaram-se mutuamente, o inspetor encontrando
Outro matriculado, Honório Hermeto Carneiro Leão versos na carteira do inspecionado.
Filho, imitou-o, classificado porém no 4 o ano. Célebre do dia para a noite, pelo Cyrano de Bergerac,
Ingressaram ambos no Colégio com a obrigação de Rostand pensava no antigo inspetor do colégio de província.
estudar mais que os outros colegas, pois começaram a Dedicou-lhe longa poesia, Le Vieux Pion, dizendo:
frequentar aulas em junho em ano letivo começado em Pif Luisant je t'aimais. Quelque fois je suis triste
fevereiro. En repensant à toi. Qu'es tu donc devenu?
A 5 a série do curso de bacharelado em letras não Cest toi qui m 'as prédit que je será is artiste
era, como se dizia na gíria escolar, "brincadeira". Pedia E c'est toi le premier rimeur que j'ai connu.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Célebre, Rostand indagava de si próprio porque quatro anos sem possibilidade de achar mestre daquela
cargas de sorte o inspetor poeta fora ter ao colégio de arte". Anuiu o Governo e Hoppe começou funções de
província. E na longa poesia, "Le Vieux Pion", disse ao setembro de 1846 em diante, preenchendo longa vacância,
desaparecido toda sua saudade. substituindo Guilherme Augusto de Taube.
Não encontrou Álvares de Azevedo um rimador entre Não eram raras então as doações para o Colégio.
os inspetores do Colégio em 1845. Três tinham os internos, O Dr. Joaquim Vicente Torres Homem, pai do grande clínico
um os externos, aqueles distribuídos por divisões, de de igual nome, enriquecia a biblioteca do Colégio com a
maiores, médios e menores. oferta de 34 volumes de Walter Scott, as obras do
Os inspetores, à parte relações e quizílias com romancista escocês traduzidas em alemão.
certos alunos, eram pessoas estimáveis, aturando muito. Entre as ofertas ao Colégio era de assinalar a do
Alguns inspetores até se recomendavam por instrução professor Barão de Planitz oferecendo amostra lavrada de
superior ao cargo. José da Silva Pinheiro Freire, a princípio mármores branco de Carrara em que se esculpiria estátua
inspetor, fora professor substituto interino de Português e de D. Pedro I.
Latim na reitoria do Bispo de Anemúria. Qualquer estabelecimento de ensino obedece
Desde tal reitoria, rapidamente firmara opinião sempre ao mesmo ritmo de vida. Abre-se o ano letivo,
pública honroso conceito do Colégio, de estreia prestigiada chegam à casa alunos antigos e novos, começam as aulas,
pelo Imperador e pelo Governo avantajava-se por isto a encerram-se, realizam-se exames, graduam-se os
quantos estabelecimentos de instrução secundária contava terminantes de curso, premiam-se quantos mais se
a Corte. Não eram poucos na época, tanto para instrução distinguiram, estimulando-os para maiores esforços a bem
do sexo masculino como do feminino, sem nenhuma do cultivo espiritual.
tentativa de coeducação. Cabeça do ensino secundário, o Colégio de Pedro
Acreditado o Colégio via-se alvo de doações, em Segundo não podia fugir à regra geral, antes a pondo mais
moeda, ou de outras espécies. No último trimestre de de exemplo.
1845, de transporte para o ano seguinte, donativos no valor No fim do ano letivo de 1845, anunciava o Colégio
de 3:320$000 tinham sido entregues ao tesoureiro Firmo terceira colação de grau, bacharelando onze setimanistas,
José da Nóbrega para aumento do património. um, João António Gonçalves da Silva, fadado a professor
No mesmo trimestre foi a receita de 24:844$822, a da Casa. Começava o Colégio a encontrar para a regência
despesa de 10:373$256, com saldo de 14:471$556. de cadeiras os próprios filhos espirituais, ufanos de o
Permitia a folga orçamentária certas larguezas de serem.
administração qual a proposta de criação do cargo de A cerimónia de 1845, no salão grande da Casa,
preparador de Química, largueza de 200S000 anuais de trouxe a esta o imperador, a imperatriz e por conseguinte
ordenado. após ambos o Rio de Janeiro de escol.
Animava-se então o coronel Frederico Hoppe, súdito Era o dia da alegria no Colégio. Juncavam-no de
espanhol, entretanto de nome a indicar ascendência flores e folhas odoríferas fornecidas pelo Jardim Botânico
germânica, a pedir nomeação para mestre de Ginástica à requisição do reitor.
com o vencimento anual de 800S000. Vinham logo depois as férias, de transcorrer
Informava o reitor ao Governo sobre tal proposta que aproveitado para limpeza geral e reparos mais urgentes
dizia "de sumo proveito por se encontrar o Colégio havia na Casa. Não podia ficar esta a mercê de incêndio,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

segurando-a o Governo como bem nacional, para a que de vós solicitou no antecedente relatório. O ordenado
operação escolhida a Companhia Argos Fluminense. do tesoureiro foi elevado a 800S000, por decreto de 8 de
Assumia esta a responsabilidade de indenização de sinistro setembro do ano passado".
pelo prémio anual de 411 $745, prémio a prazo, renovável Bacharelaram-se, no fim do curso letivo de 1846,
pelas partes. cinco bacharéis, dois dos quais mais notáveis, um José
Entrou em 1846 o Colégio em novo ano letivo sempre Carlos Pereira de Almeida Torres, fadado a professor do
debaixo das vistas do imperador, e superintendido naquele Colégio, e José Pedro Werneck Ribeiro de Aguilar, da alta
ano pelo Ministro do Império, Conselheiro Marcelino de representação nossa diplomática no estrangeiro.
Britto. Curiosa seria lista dos bacharéis em letras pelo
Atos oficiais presentes ao corpo legislativo ajudam- Colégio de serviços distribuídos de diversas classes
nos a acompanhar progressos nas modificações do sociais nossas e diversos interesses pátrios.
Colégio. Enquanto graduava jovens, continuava o Colégio a
Assim em 1846 o Ministro do Império, Conselheiro firmar conceito na opinião pública, cujo favor e cujos
Marcelino de Britto, dava contas administrativas aos aplausos se evidenciavam já no crescer de matrículas, já
Augustos e Digníssimos Senhores Representantes da no ambicionar por parte de professores o ter assento no
Nação e em relatório os informava quanto ao Colégio de corpo docente da instituição.
Pedro Segundo nos seguintes termos: Eis a prova. Em 1847, cinco candidatos, por
"No Colégio de Pedro Segundo tem continuado os concurso de títulos, pediam a cadeira de História e
estudos com a costumada regularidade; cumpre-me nesta Geografia Descritiva. Eram Francisco José Borges, o padre
ocasião chamar a vossa atenção para o pedido, que se Patrício Muniz, Luiz Joaquim de Almeida e Arnizaut,
fez no antecedente relatório, de um legislativo que absolva Ludgero da Rocha Ferreira Lapa e João Baptista Calogeras.
o Colégio da dívida em que está para com a Fazenda Até então o ingresso no corpo docente fora feito
Pública, proveniente da décima de prédios do mesmo mediante livre nomeação do governo. O concurso de 1847
Colégio, e o isente para o futuro do lançamento do imposto tornou-se no Colégio o primeiro indício de concurso,
indicado. embora de títulos, o governo imperial acostumado ao ad
Este Colégio foi ultimamente provido de uma boa libitum das designações desde 1838.
coleção de clássicos gregos, e de alguns produtos de Qualquer dos candidatos de 1847 não era
história natural; um chafariz ali construído lhe fornece a desconhecido ou professor improvisado.
água necessária para seu uso; havendo ele obtido em Francisco José Borges dirigia estabelecimentos de
prémios que tirou na décima sexta loteria do Teatro de educação, ensinava língua vernácula, História e Geografia
São Pedro de Alcântara a quantia de Rs. 18:440$000, foi e gozava de conceito público.
esta convertida em apólices da dívida pública, em cujo O padre Patrício Muniz, ilhéu da Madeira, chegara
produto se tornará menos sensível o decrescimento e ao Brasil com oito anos de idade. Formara-se em letras
cessação de alguma de suas rendas. O reitor tem proposto em Paris, em teologia em Roma, ali se ordenando
a conversão dos prédios que o Colégio possui em apólices presbítero secular. Bom pregador, lia História Sagrada no
daquela dívida; mas o governo ainda não resolveu sobre Seminário de São José.
este objeto. O conserto da igreja é a obra de mais urgência Luiz Joaquim de Almeida e Arnizaut era médico,
necessidade, e para ela conta o governo com o auxílio baiano, com tirocínio de professor. Também médico,
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Ludgero da Rocha Ferreira Lapa, exercia o cargo de e proveito ao estudo da História. Pelo que o considero
bibliotecário da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. capaz de reger a cadeira com indisputável superioridade.
Joáo Baptista Calogeras, grego de Corfu, tinha grande Esteve dois anos em Bolonha e nove em Paris.
trato de coisas de cátedra e ensino. O governo concordou com a preferência de Joaquim
Dirigiram-se os cinco candidatos à cadeira de Caetano pela cabeça filosófica. Foi Calogeras provido na
História e Geografia do Colégio ao Ministro do Império de cadeira de História e Geografia Descritiva. Mas uma vez
1847, o Senador Alves Branco. Encaminhou este os se verificara que o Evangelho tinha razão, último tornado
requerimentos ao reitor Joaquim Caetano pedindo-lhe primeiro. No 5o lugar da lista dos candidatos, Calogeras
informações sobre o mérito dos requerentes. saía vencedor.
Sempre foi e será de suma delicadeza pronunciar- Em 1847, como sempre, a vencidos em qualquer
se em qualquer espécie de concurso da inteligência ou da prélio caberia exalar ou remoer queixas, por espaço de
própria beleza. Haja vista a sentença de Paris no Monte quarenta e oito horas, alguns vida inteira.
Ida, simples maçã aniquilando um povo. Professor novo, Calogeras participava da cerimónia
Os escolhidos principiam indiferentes ao eleitor, os da colação de grau de bacharel em letras em 1847. Mal
excluídos a ele logo infensos. Não saberemos jamais o tivera tempo de lecionar à turma do 7o ano, sem dúvida
que sucedeu a Joaquim Caetano. Sabemos certo ter com a facilidade de elocução, reconhecida por Joaquim
informado as petições dos candidatos à cadeira de História Caetano.
e Geografia Descritiva. Compunha-se a turma de 1847 de sete alunos, todos
Parece valer a pena, ao menos pelo inédito, destinados a futuro. A estrela da turma fulgia em Manoel
transcrição das informações do eminente reitor de 1847. António Álvares de Azevedo. Deste o génio seria luz breve,
1o) Francisco José Borges — Sabe Francês. Não tanto quanto haviam de ser imortais seus versos, sua
tem estudos de História. posição nas letras patrícias.
2o) Padre Patricio Muniz. É doutor em Teologia pela Pela preeminência em literatura nacional merece
Universidade de Roma e bacharel em letras pela Faculdade transcrição o seguinte documento inédito relativo à
de Paris; sabe Latim, Francês e Italiano. Esteve quatro admissão de Álvares de Azevedo ao Colégio. Não só lhe
anos em Paris e dois em Roma. Não tem estudos atesta invulgar capacidade prematura como revela bastante
especiais de História. usos do estabelecimento na época, não se esquecendo
3o) Luiz Joaquim de Almeida e Arnizaut é formado sequer o reitor, Dr. Joaquim Caetano da Silva, de notar a
em medicina pela Faculdade desta Corte; sabe Latim e hora de entrada do aluno admitido.
Francês, não tem estudos de História. "limo. Sr. Reitor do Imperial Colégio de Pedro 2o.
4o) Ludgero da Rocha Ferreira Lapa — É formado Diz Ignacio Manoel Álvares DAzevedo residente na
em medicina pela Faculdade desta Corte; sabe Latim e cidade de Niterói na rua da Cadeia n.° 23, onde tem o seu
Francês; tem muito talento, mas não me consta que o escritório de advocacia que desejando admitir no Colégio
tenha empregado no estudo de História. o seu filho Manoel António Álvares dAzevedo, nascido na
5o) João Baptista Calogeras — Possui bem as línguas cidade de São Paulo no dia 12 de agosto de 1831, do que
e as literaturas Grega, Latina, Francesa. Italiana e Inglesa; não pode agora apresentar a respectiva certidão, mas se
é dotado de raro talento, de uma cabeça filosófica e grande obriga a apresentar em um termo razoável, pretende que
facilidade de elocução e tem se aplicado com muito mérito V. S.a se digne mandar admiti-lo a exame a fim de que
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sendo aprovado possa entrar no Colégio como aluno premiados, quer distinguidos com menção honrosa, eram
interno, obrigando-se porém o suplicante a fornecer-lhe a irremissivelmente obrigados a comparecer ao ato de
roupa necessária para seu vestuário por tanto. distribuição, a fim de serem proclamados e receberem os
R a V.S. seja servido deferir-lhe na forma requerida. prémios. O comparecimento pessoal constituía condição
RR. Mcê. essencial para a efetiva e real aquisição dos mesmos
Ignacio Manoel Álvares d'Azevedo prémios e honras, salvo provado impedimento legitimo e
reconhecido pelo Reitor do Colégio.
Despachos: No fim do ano letivo de 1847 perdia o corpo docente
Peço ao Sr. Barão de Planitz queira examiná-lo e do Colégio o professor de Inglês, José Luiz Alves, falecido
classificá-lo. — Dr. Sa. R. na véspera do Natal daquele ano. Enfermara gravemente
Aprovado para o quinto ano de estudos. — Rio de outro professor, o de Retórica, Santiago Nunes Ribeiro,
Janeiro, 15 de maio de 1845. substituído no impedimento pelo médico Dr. Francisco de
Matricule-se no quinto ano — 15 de maio 45 — Dr. Paula Menezes.
Sa. R. O ano letivo de 1848 abriu-se com a falta de Santiago
Tem boas cicatrizes de vacina e nenhum sinal de Nunes Ribeiro, falecido a 21 de janeiro de 1848. Pertencia
doença contagiosa. Rio de Janeiro 1 de junho de 1845. Santiago ao grupo dos professores estrangeiros da Casa,
Dr. Maia grupo renovado no decurso do tempo.
Entrou para o Colégio como interno com o ónus do Santiago, chileno de origem, emigrara para o Rio de
vestuário do quinto ano, em 2 de junho de 1845, ao meio- Janeiro, com um tio frade. Morrendo este ficou o sobrinho
dia. desvalido. A princípio caixeiro, depois taquígrafo, tornou-
Dr. Sa. R." se em seguida professor ilustrado, como Macedo disse
A colação de grau de 1847 daria ensejo a pedido de ser Santiago, excessivamente modesto, triste de rosto,
providências ao Governo por parte da reitoria do Colégio, de voz muito débil, de timidez depressiva, mas de mérito
no momento às ordens do vice-reitor frei Rodrigo de São real e incontestável. Morreu ainda muito moço, "quem
José. passara na vida inteira, esperando, sofrendo e por isto
Solicitava este ao Ministro do Império, Alves Branco, sempre infeliz". Era poeta, fundador e último redator da
medidas "que obstassem a continuação do escandaloso celebrada revista literária do tempo, a "Minerva Brasileira".
abuso introduzido no Colégio de não comparecerem os O Ministro do Império Almeida Torres, Visconde de
alunos com prémios ou menções honrosas ao ato solene Macaé, nomeou, para a vaga de Santiago Ribeiro, o Dr.
da distribuição de recompensas sem darem justificação Paula Menezes, professor público de Retórica desde 1844,
da falta". portanto nada hóspede na cadeira lecionada a disciplina já
Respondia Alves Branco ao vice-reitor, logo após o por ele, bem como Filosofia, professada no Colégio, a título
ato solene de 1847. Explicou, em nome de Sua Majestade interino.
o Imperador, que os Estatutos do Colégio exigiam a O princípio do ano letivo de 1848 foi quadra de
presença dos premiados. Não ficava portanto dependente nomeações. Além de Paula Menezes entravam para o
do mero arbítrio o cumprimento da exigência. Mister se corpo docente do Colégio, José Manoel Garcia Ximenes e
fazia, pois, de futuro tornar público, com antecedência, para o ensino da língua inglesa, Guilherme Fairfax Norris,
que na conformidade dos Estatutos os alunos quer nomeado na mesma data de Paula Menezes, 17 de março
ESCRAGNOLLE DÓRIA

de 1848 e o Dr. Joaquim Pinto Brasil, designado para reger Rodrigo de São José, por sua energia e severidade o
interinamente a cadeira de Filosofia a 15 de maio de 1848. verdadeiro diretor do Colégio"
O Governo imperial nomeava e fiscalizava. A um E, reportando-se à meninice da ancianidade,
mestre do Colégio, à vista de representação do reitor acrescentou epistolarmente o Conselheiro Duarte de
acusando-o de "ter constantemente faltado aos seus Azevedo menção de sucesso que lhe dizendo respeito não
deveres", o Ministro Visconde de Macaé repreendia a 14 é displicente para a história do Colégio.
de abril de 1848. Comunicava ao reitor que ao mestre "Releve-me uma nota de falta de modéstia que
incriminado deveria ser "estranhado o irregular lançará em conta das saudosas recordações de minha vida
procedimento, suspendendo-se-lhe pagamento do de colégio, no 6o ano retardaram-me o exame, para que,
ordenado, fazendo-lhe saber que seria demitido do fosse feito em presença do Imperador, e fui dispensado
Emprego, no caso de reincidência". de fazer exame em várias matérias, porque os professores
No dia seguinte da reprimenda, o mesmo Ministro declararam-se satisfeitos com o do ano, com exceção da
Macaé aprovava a expulsão, sumária, ordenada pelo reitor, aula de Desenho, em que tinha o segundo lugar, havia
de aluno externo do 4o ano, "visto ter ele obstinadamente obtido o primeiro nos concursos mensais de todas as aulas.
se recusado ao castigo de que não devia ser relevado". Perdoe-me esta recordação".
A justiça do Governo não queria nem devia ter dois Pouco mais de vinte anos depois, o sextanista de
pesos e duas medidas, recairia sobre grandes e pequenos 1848, cujo exame fora retardado para ser realizado em
ou não seria justiça. presença de Sua Majestade, encontrava-se com ele nos
Quase trimestre esteve o mestre culposo fora do despachos ministeriais de São Cristóvão, Ministro do
cargo, nele reintegrado com a obrigação de dar aulas Gabinete Rio Branco, o 7 de março tão assinalado pela
dobradas. O perdão levava castigo. Nem era para admirar Lei do Ventre Livre.
a determinação. A minudência fiscalizadora do governo Releva notar que os exames de 1848 tinham a
baixava a conceder ao reitor permissão, à vista de razão presença efetiva do Comissário do Governo, o Visconde
justa, para que aluno externo do 2o ano do Colégio nele de Abrantes, já dos mais altos personagens do Império.
passasse o dia e jantasse. As concessões não iam a Antes de iniciar o ano letivo de 1849 pedia demissão
granel, o alto queria saber como e a quem eram dadas. Bernardo José Falleti de professor de Latim. Para lecionar
Em 1908, desejoso de estudar a história do Colégio, Geografia e História Antiga era nomeado, a 3 de abril de
o professor Escragnolle Dória pedia informações ao antigo 1849, com o ordenado anual de 800$000 um homem de
Conselheiro de Estado, ex-Ministro da Marinha e da letras, já bem destacado, o Dr. Joaquim Manoel de
Justiça, Manoel Duarte de Azevedo, irmão do professor Macedo, tão beletrista que a sua tese inaugural médica
do Pedro Segundo Dr. Manuel Duarte Moreira de Azevedo. versara "A Nostalgia", tese cheia de fundo científico e
Cursara o Conselheiro Duarte de Azevedo o Colégio forma literária.
de 1848 a 1851, do 4o ao 7o ano, tendo tido, dizia ele, "a Não era Macedo o único professor ilustre novo no
felicidade de merecer o 1o prémio em todos os anos de Colégio, nem o único de fora para dentro a trazer láurea.
estudo", o que com ufania relembrava apesar "da carga De poeta insigne a conquistara o professor de Latim do 2o
de 77 anos de idade". e 3o ano: António Gonçalves Dias, de latinista a trazia outro
"Nesse tempo — em 1848 — era o reitor o Dr. professor de latinidade, o Dr. António de Castro Lopes,„
Joaquim Caetano da Silva e vice-reitor o Revmo. frei lecionando o 4o ao 7o ano.
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Para substituir o professor de Filosofia Pinto Brasil tribunal, o de julgamento, seria constituído pelo Comissário
era designado douto monge beneditino frei José de Santa do Governo, pelo reitor, pelo vice-reitor e por dois
Maria Amaral, ornamento de corpo docente. Nele já professores, um da classe de ciências e outro da de letras,
figurava, com foros de sábio, pela universalidade da designados pelo Ministro do Império no dia da abertura
cultura, o Barão de Tautphoeus ensinando alemão depois dos exames.
de Planitz. A unanimidade de votos aprovava plenamente; a
Além de novos professores, de vencimento taxado minoria a favor aprovava simplesmente, a maioria contrária
em um conto de réis anual, o Colégio no ano letivo de reprovava.
1849 recebia alterações nos Estatutos, alterações O julgamento se realizaria no fim de cada exame.
mandadas executar na conformidade do Decreto de 25 de O reitor proclamaria logo o resultado do escrutínio ante
março de 1849, referendado pelo Ministro do Império, alunos e assistência.
Visconde de Monte Alegre (este grafava MonfAlegre). No dia da abertura dos exames, para uso particular
O decreto era justificado pela "urgente necessidade do Comissário do Governo, o Colégio fornecer-lhe-ia o
de providenciar sobre o julgamento dos exames do Colégio apanhamento das notas dos bancos de honra obtidos pelos
de Pedro Segundo, a fim de que houvesse em aquele ato alunos no transcorrer do ano letivo.
a maior garantia de imparcialidade e retidão, bem como O Decreto Monte Alegre, de 25 de março de 1849,
necessidade de distribuir melhor as matérias de ensino de dividia a cadeira de História e Geografia. A 3 de abril o
algumas Cadeiras então oneradas de excessivo número Ministro Monte Alegre comunicou à reitoria do Colégio ter
de lições". Sua Majestade o Imperador havido a bem da 1a cadeira de
Atendia também o decreto Monte Alegre "à precisão História e Geografia, desligar o ensino da História do Brasil.
de melhorar a sorte dos professores, fazendo desaparecer Ficava provisoriamente o ensino da disciplina a cargo do
a desigualdade e mesquinhez no vencimento de alguns, professor da 2a cadeira de Latim, Dr. António Gonçalves
bem assim à conveniência de regular a hora de entrada Dias, devendo este em vez de dez lições dar doze
dos professores, de modo a fiscalizar e punir qualquer semanais, as duas últimas destinadas ao ensino da
impontualidade da parte deles". História Pátria.
O decreto Monte Alegre bipartiu a cadeira de Venceria pelo acréscimo de trabalho a gratificação
Geografia e História, lecionadas na 1a cadeira Geografia, anual de 200S000 contada do dia da entrada em exercício.
História Média e Moderna e do Brasil, posta a cargo da 2a Distribuído o ensino de História e Geografia no
cadeira a História Antiga. Subdividiu o decreto a 2a cadeira Colégio, lecionaria Calogeras a 1a cadeira, Macedo a
de Latim, suprimiu a prática do quarto de hora de tolerância segunda, a História Pátria a cargo de Gonçalves Dias, escol
para entrada de professores em aula, havidos por faltosos de docentes pois.
aqueles que "ao toque preciso na hora não se achasse à A título de atividade, e também de prova de
porta da aula, descontando-se no vencimento a parte meticulosidade da época, aqui se consigne Aviso do
equivalente à hora perdida". Ministro Monte Alegre à reitoria do Colégio:
Na parte relativa a exames o Decreto Monte Alegre "Rio de Janeiro — Ministério dos Negócios do
introduziu modificações sensíveis nos Estatutos de 1838. Império em 27 de abril de 1849.
O tribunal de exame continuaria a compor-se na Participando o Ajudante de Bibliotecário da Biblioteca
forma do artigo 132 do regulamento de 1838. Segundo Pública desta Corte que existe em poder do Professor da
ESCRAGNOLLE DÓRIA

1a cadeira de História e Geografia desse Colégio, João ordenava fossem abertas "quanto antes" as aulas do
Baptista Calogeras, a História de Southey que o Professor estabelecimento. Restabelecida a normalidade, e para
da 2a cadeira de Latim do mesmo Colégio, o Bacharel coibir abusos, o Ministro Monte Alegre tomava
António Gonçalves Dias, deseja consultar para o providências.
desempenho de trabalhos que tem a seu cargo: Há Sua Para obstar impontualidades no desempenho de
Majestade o Imperador por bem que a referida História de cargos propôs o reitor ao governo a necessidade de dirigir
Southey seja entregue ao dito bacharel Gonçalves Dias, aos professores menos pontuais, uma circular participando-
debaixo de sua responsabilidade. O que comunica a V. Ihes que a falta de um professor à sua aula seria justificada,
Mcê. Para seu conhecimento e execução. não excedendo a falta a mais de três dias, e caso o faltoso
Deus Guarde a V. Mcê. com antecedência dirigisse parte oficial ao reitor
Visconde de Mont'Alegre". declarando-se enfermo. Excedesse a falta três dias, por
Prosseguia o Colégio em missão educativa retriz enfermidade, deveria ainda o faltoso dirigir ao reitor certidão
quando, em 1850, veio perturbá-lo sucesso de maior de médico, selada e com firma reconhecida. Todos estes
gravidade para o Rio de Janeiro em peso, a irrupção de alvitres do reitor, participava-lhe o Ministro Visconde de
violenta epidemia de febre amarela, uma das mais
Monte Alegre, haviam merecido aprovação imperial.
dizimadoras da população da capital do Império. Havia de
Pouco depois, a 1 ° de junho de 1850, comunicava o
trazer consequência, a supressão de enterramentos nas
mesmo Ministro ao reitor não poder ser chamado a lecionar
catacumbas das igrejas, datando daí a criação das grandes
o Dr. Joaquim Manoel de Macedo por se achar com assento
necrópoles cariocas.
na Assembleia Provincial Fluminense, não podendo ele
Em fevereiro de 1850, à vista de ponderações do
enquanto impedido receber vencimento algum pelo
reitor do Colégio, no resguardo da saúde dos alunos, o
Colégio, vencimento aplicado a substituto interino.
Ministro Monte Alegre recomendava ao reitor que os
Também comunicava o ministro ao reitor, para
internos porventura afetados de moléstias contagiosas ou
conhecimento e execução, referindo-se ao professor
epidemias graves não fossem tratados no
estabelecimento, mas imediatamente entregues a pais ou Calogeras, não ser lícito a professor algum residir fora da
correspondentes. cidade sem permissão para tanto, mesmo enfermo, salvo
A 13 de março de 1850, por Aviso ao reitor a este se no gozo de licença enfermasse ao findar esta. Neste
comunicava o ministro "fizesse parar as aulas do Colégio caso, justificada a enfermidade, devia ser impetrada
até depois da Páscoa, mandando os alunos para a casa prorrogação de licença.
de seus pais ou correspondentes, a fim de prevenir que aí Antes do início do ano letivo de 1851, perdia o
se desenvolva a epidemia que está grassando". Colégio professor eminente. A 18 de janeiro era concedida
A 31 de março de 1850, o Ministro Monte Alegre, à demissão de emprego de professor de Alemão a Hermann
vista de novas ponderações do reitor, participando-lhe de Tautphoeus, à vista de representação dele atendida pelo
haverem sido atacados de febre amarela quase todos os imperador.
criados do Colégio, autorizava a continuação do Cargos oficiais são sempre objeto de esperança ou
fechamento das aulas até segunda ordem. cobiça. Não adiantemos que suba esta a ponto de haver
A 6 de maio de 1850, o mesmo Ministro, atendendo quem deseje a morte ou o afastamento do ocupante,
a ofício do reitor, sobre o estado sanitário do Colégio, tornando-se a saúde ou os revezes da sorte dele objeto de
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preocupação de noite e dia de candidatos à vaga, De tudo ficou prova na solicitude com que procedeu
preocupação que o otimismo manda crer carinhosa. na ocasião da epidemia de febre amarela de 1850,
Vaga a cadeira de Alemão, pelo pedido de demissão arrebatadora de tantas vidas, entre as quais a de Bernardo
de Tautphoeus, logo se apresentaram dois candidatos, Luiz de Vasconcellos, o ministro fundador de 1837.
de Azevedo Júnior e Bertholdo Goldschmidt, sobre cuja Dentre os alunos do Colégio alcançados pela
idoneidade para o emprego o governo desejava informação epidemia, dois teriam futuro mais notório, José Fernandes
do reitor. da Costa Pereira Júnior, transportado para a casa de
Nenhum dos dois candidatos alcançaria nomeação. correspondentes, e Henrique Francisco dÁvila, não levado
Por decreto de 3 de fevereiro de 1851 era nomeado a casa por ser tempo chuvoso quando adoeceu.
professor de Alemão o Dr. Jorge Gade, brasileiro Restabeleceram-se ambos, bacharelaram-se em
naturalizado. Sacramento Blake adianta ter ele sido letras, e em direito, entraram na política. Costa Pereira no
professor de línguas modernas na escola prussiana de Partido Conservador. Ávila no Liberal, aquele deputado geral
Eiderferd. pelo Espírito Santo, presidente de cinco províncias, Ceará,
Do início até hoje inscreveu sempre o Colégio no rol Pernambuco, Espírito Santo, São Paulo e Rio Grande do
de professores personalidades estrangeiras ou Sul, Ministro da Agricultura no Ministério Rio Branco de
descendentes de alienígenas. 1871 e do Império no Gabinete João Alfredo de 1888.
Calogeras, o grego, tendo solicitado demissão de O aluno de 1850, Henrique Francisco d'Ávila, como
professor da 1a cadeira de História foi nesta provido o Dr. o condiscípulo Costa Pereira, teria feliz carreira politica.
Joaquim Manoel de Macedo. Logrou nomeação para a 2a Presidiria o Ceará e a província natal, o Rio Grande do Sul.
o monge beneditino frei Camillo de Montserrate, expedindo- Seria ministro da Agricultura no Ministério Paranaguá de
se aviso ao abade do mosteiro do Rio de Janeiro, para frei 1882, deputado geral pelo Rio Grande e finalmente por este
Camillo poder exercer o magistério no Colégio. Senador do Império, com a honra de preencher a vaga do
Frei Camillo, no século Camillo Cléon, trazia nome Duque de Caxias.
dos pais adotivos. Na verdade era Bourbon, filho natural Dois afastamentos importantes assinalariam o ano
do Duque de Berry, gênito do conde de Artois, depois rei letivo de 1851, o primeiro no princípio dela, o segundo no
de França, dinasticamente Carlos X. seu termo.
Ano antes da nomeação para o Colégio professara Em março de 1851, ausentava-se do Colégio o
Camillo Cléon na Ordem Beneditina no Rio de Janeiro. professor Gonçalves Dias. Encarregava-o o Governo de
Tinha 32 anos, nascido em Paris a 14 de novembro de correr quase todas as províncias do Norte em busca de
1818. Humanista, erudito, helenista e latinista por amor e documentos para enriquecimento do Arquivo Público do
ofício, o jovem monge professor vinha honrar no mais alto Império, na época dirigido pelo seu primeiro diretor Cyro
grau o magistério do Colégio a cuja frente encontrava outro Cândido Martins de Brito.
helenista, Joaquim Caetano, cujos anos de saber já se Verificaria também Gonçalves Dias, na constância
iam contando dobrados no estudo. da comissão arquivista itinerante, o estado da instrução
Embora frei Rodrigo de São José, outro beneditino, pública no Norte, recebendo durante a dita comissão
como vice-reitor do Colégio fosse o fiscal supremo da vencimentos integrais de professor do Colégio.
disciplina dos discentes, por estes muito se interessava Macedo substituiu Gonçalves Dias em regência da
Joaquim Caetano. cadeira de História do Brasil, o douto poeta sucedido na
ESCRAGNOLLE DÓRIA

cadeira de Latim do 2o e 3o ano por Jorge Furtado de O principal atrativo escolar da solenidade consistia
Mendonça. na colação de grau, termo em geral de septênio de estudos,
Estendia-se o escrúpulo nas nomeações até o corpo permitido, entretanto, mediante sérias provas de
de inspetores, buscando o Governo não fossem somente habilitação, matricular-se diretamente até o 5o ano do
manequins para manutenção de disciplinas, sim homens curso.
de certa ou boa capacidade mental e até pedagógica. Cabia imposição do barrete branco ao Ministro do
No corpo de inspetores do Colégio figurava Felippe Império, em 1851 o ex-regente Visconde de Monte Alegre,
Hypollito Ache, futuro e competentíssimo lente da Escola Presidente do Conselho.
de Marinha, após brilhante curso. A turma de bacharéis de 1850 havia contado em
Em 1851, como sempre, o governo imperial nomeou seu grémio estudantes dos mais distintos aos quais, o
comissário para os exames do Colégio. Como sempre futuro e posições elevadas no país dariam ensejo de
também recaiu nomeação em pessoa de notoriedade confirmar créditos iniciados na juventude.
social, em 1851, o Conselheiro de Estado Visconde de Da turma de vinte bacharéis de 1850 mais notáveis
Abrantes. no porvir seriam Paulino de Souza, Henrique d'Ávila,
Ministros e Senadores do Império, Ferreira Viana, Ministro
A 27 de novembro de 1851 encerrava-se o ano letivo
e deputado-geral, António Carlos 2o, lente de Direito em
com a costumeira solenidade da colação de grau de
São Paulo, João Ribeiro de Almeida, Barão de seu nome e
bacharel em letras, solenidade invariável.
chefe do Corpo de Saúde da Armada, Caetano José de
Por cuidados da Diretoria do Jardim Botânico da
Andrade Pinto, magistrado na Relação da Corte, Felisberto
Lagoa de Rodrigo de Freitas, as salas do Colégio ficavam
Pereira da Silva, deputado-geral e presidente da terra natal,
juncadas de folhas de cravo e canela em dias festivos.
o Rio Grande do Sul, em 1879.
Joaquim Caetano e frei Rodrigo de São José
Luzida era também a turma de bacharéis de 1851,
aformoseavam-nas, dando últimas ordens a alunos e
cuja imposição de grau se realizava na augusta presença
empregados. À porta do estabelecimento formava guarda
de S.S.M.M. Imperiais, como se dizia no tempo.
de honra.
Compunham a turma vinte bacharéis, nela os rostos
Súbito rodar de carruagem, quadrupedar de cavalaria, juvenis de três futuros ministros de Estado de outro ministro
vozes do capitão comandante da guarda, apresentar armas, de Estado a receberem o barrete branco. Eram aqueles
som de Hino Nacional. bacharelandos de 1851, Manoel António Duarte de
Chegava o Imperador, recebido à porta pelo reitor, Azevedo, Carlos Frederico Castrioto e José Fernandes da
vice-reitor e lentes, conduzido ao Salão Nobre, Sua Costa Pereira, os quais da Câmara dos Deputados
Majestade cumprimentado e cumprimentando. passariam aos Conselhos da Coroa.
Tomava assento no trono, ao lado da Imperatriz, e o As solenidades de grau eram rematadas pelo
ato principiava pelos coros de alunos entoando o Hino da discurso de professor de Retórica, não sem propriedade
Independência. portanto. Em 1851 lecionava a disciplina um médico, o
Procedia-se à chamada dos premiados, do primeiro Dr. Francisco de Paula Menezes, amigo de letras e de
ao sétimo ano. Iam buscar recompensas nas mãos do pendor para a tribuna académica, na qual tão a gosto se
Imperador e da Imperatriz, a ambos apresentados os sentia outro professor do Colégio, Joaquim Manoel de
prémios em salvas de prata trabalhada. Macedo.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

Não eram as solenidades de grau no Pedro Segundo estávamos sem representante junto à Holanda, último
assinaladas apenas pela presença dos soberanos e de encarregado nosso no país, em 1841, Felisberto Caldeira
membros da família imperial, pela satisfação de lentes ao Brant de Oliveira e Horta, 2o Visconde de Barbacena, fadado
verem premiados discípulos diletos, pela alegria ainda não a morrer centenário.
contaminada de mundo dos alunos recompensados. Afastado Joaquim Caetano da Silva da longa reitoria
Participavam das festas de grau quantos de coração, do Pedro Segundo, o Governo Imperial honrava o douto e
por parentesco ou estima, se achavam ligados a a Casa. Retirava-se Joaquim Caetano para estabelecer
bacharelandos ou a premiados, sobrelevando-se a todos na Holanda negociações com o fito de solver a questão de
alegria de progenitores. limites entre o Brasil e a Guiana Holandesa. A questão só
Pouco depois de graduar a turma de 1851,a 14 de seria resolvida a 5 de março de 1906 pelo tratado Rio
dezembro deste ano, o Dr. Joaquim Caetano da Silva Branco, subscrito em nome da Holanda pelo seu Ministro
deixava o exercício cumulativo de reitor e professor de residente no Rio de Janeiro, Frederico Palm.
Grego do Colégio.
Não parou nas negociações de Haia a glória, ainda
Dirigira Joaquim Caetano o Colégio por espaço de
não devidamente recompensada pela altura dos serviços
doze anos, cinco meses e dias. Deixava a casa em boas
patrióticos do ex-reitor do Pedro Segundo, Joaquim
condições administrativas e financeiras e nem sempre lhe
Caetano. Seria ainda o paladino de direitos nossos nos
fora fácil atender aos interesses do ensino. Os interesses
monumentais volumes do "L'Oyapoc et TAmazone"
financeiros do Colégio, na reitoria Joaquim Caetano, foram
escritos em francês pelo antigo estudante de Montpellier,
até auxiliados pela sorte, premiado com 20:000$000 o
defendendo direitos do Brasil sobre as fronteiras do Oyapoc
bilhete n.° 3859 da 23a loteria do teatro São Pedro de
e da serra de Tumucumaque contra pretensões francesas,
Alcântara contempladas na época com bilhetes lotéricos
levando a Guiana Francesa até o Araguari e o Rio Branco.
instituições de ensino ou caridade.
Terminada a questão, a 1 ° de dezembro de 1900, na
Não alheio às ciências físicas e naturais, Joaquim
Caetano nos últimos tempos de reitoria, bastante se presidência Campos Salles, pelo laudo de Berna, a favor
esforçara para melhorar o estudo daquelas ciências, do Brasil. Amparando-lhe causa, nosso representante em
propondo a criação do cargo de preparador de Química. missão especial, o Barão do Rio Branco, sobremaneira se
Venceria 200S000 anuais, indicado para o cargo o boticário valeu da obra de Joaquim Caetano. Tornou-se indispensável
José Caetano da Silva Costa, estabelecido na rua Larga para redação da primeira e segunda memória nossa
de São Joaquim 116. Inassíduo, não poderia invocar apresentadas ao árbitro, o presidente da Confederação
distância do Colégio. Helvética, junto à qual, para adversário, a França deputara
Desamparando esta, o reitor Joaquim Caetano o embaixador Pierre Bihourd.
mudava de carreira, trocava o magistério e a administração Na defesa de nossos direitos territoriais assinalaram-
pública pela carreira diplomática, nomeado nosso se, pois, dois professores do Colégio: Joaquim Caetano e
Encarregado de Negócios em Haia. Aliás havia dez anos, Rio Branco.
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Uniformes de gala em 1855. O desenho original pertence ao acervo


do Museu do Colégio.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

V
O Colégio de 1851 a 1855

Terceira Reitoria do Colégio • Relatório do Dr. Justiniano José da Rocha •


Administração Souza Corrêa • Reforma Pedreira • Retirada Souza Corrêa.
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Deixando Joaquim Caetano a reitoria do Pedro Academia de Marinha, em 1844, lente proprietário, hoje
Segundo, a 14 de dezembro de 1851, mister foi se diria catedrático, da mesma Academia. Ano antes fora
escolher-lhe condigno substituto. Escolha e substituição reformado, galões de capitão-de-mar-e-guerra aos punhos.
a cargo do Ministro do Império, o Visconde de Monte Após sete anos de reforma e vida privada via-se
Alegre, não demoraram. Recaíram sobre o Capitão-de- Souza Corrêa terceiro reitor do Colégio de Pedro Segundo.
mar-e-guerra José de Souza Corrêa, do qual foi traçada Encontrava a Casa organizada, em pleno funcionar, com
biografia no 2o volume do Anuário do Colégio em 1915.
movimento pedagógico adquirido. Lente jubilado de ensino
O primeiro reitor fora um frade, o segundo um sábio, superior, não era, pois, estranho ao magistério, ao lado
o terceiro seria um homem do mar. Contraste frisante.
dos professores do Colégio não um intruso, sim um par.
Do burel e da cruz ao livro, do livro e da pena à espada e à
É tradição, porém, ter Souza Corrêa conservado na
âncora.
reitoria do Pedro Segundo, locuções de velho marujo.
Quem era o capitão-de-mar-e-guerra designado para
Chamava, talvez por graça, às salas de aulas "beliches",
comandar o Colégio?
à portaria "portaló". "tombadilho " era a sala da diretoria.
Quantos tratam do Pedro Segundo mencionam
A reitoria Souza Corrêa assinalar-se-ia por movimento
apenas o nome e o cargo de Souza Corrêa, as datas de
sua nomeação e demissão. Documentos do Arquivo e da notável de reforma do ensino secundário e primário. Tal
Biblioteca de Marinha auxiliam, porém, a mostrar a figura movimento fora determinado pela inspeção de professor
de Souza Corrêa com traço firme e real. do Colégio aos institutos de ensino da Corte por
O terceiro reitor do Pedro Segundo era português incumbência do Governo.
como o primeiro. Nascera em Santarém, onde na igreja A 5 de abril de 1851, o Dr. Justiniano José da Rocha
do convento da Graça foi sepultado Cabral, nosso apresentava relatório ao Governo. Fez época, pelo
descobridor. desassombro. Nenhum mal do ensino deixou de ser
Aos 17 anos Souza Corrêa assentava praça na apontado pelo professor do Pedro Segundo. Multiplicação
Brigada Real de Marinha, vindo ao Brasil com o Príncipe de colégios sem necessárias garantias, improvisação de
Regente. Em 1820 nomearam-no lente substituto da educadores da mocidade, açodamento de pais em formar
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937

filhos a trouxe-mouxe de saber, diretores de colégios pouco As provas do concurso geral conferiria aos
escrupulosos no desejo de náo perder clientela, tudo aprovados o diploma de bacharel em letras.
Justiniano pôs a nu. O Dr. Justiniano José da Rocha estudara
Como providência de reação lembrava ao Governo humanidades em França, no Liceu Henrique IV. Imbuíra,
o professor do Pedro Segundo a criação de inspetoria de pois, o seu Relatório de 1851 muita pedagogia francesa,
aulas públicas e particulares, instituição de colégio de assim a do concours general seguido em ponto menor pelo
externos com um reitor e um censor de estudos, com palmarés ou lista de prémios concedidos em uma escola
professores nomeados por concurso, a este concorrendo a cabo de ano letivo.
os professores de estabelecimentos particulares, Profundamente nacionalista, o Dr. Justiniano da
"recompensando e prometendo futuro aos que se Rocha chamava a atenção do Governo para a nacionalidade
dedicavam ao triste lidar do magistério". de estrangeiros, muitos diretores de colégios tidos por
Extenso o estudo do Dr. Justiniano, publicado em brasileiros.
anexo no Relatório do Ministério do Império de 1851. Da "Parece-me isto de suma gravidade, dizia um dos
longa exposição convém reter algumas providências
cardeais objetos da educação da mocidade deve ser infundir
propostas ao governo imperial.
o culto da pátria, o conhecimento de suas glórias, o amor
Uma: — quando estrangeiro o diretor de qualquer
às suas tradições, o respeito aos seus monumentos
estabelecimento de educação ser-lhe-ia exigido que pelo
artísticos e literários, nobre aspiração torná-la mais bela e
menos metade do corpo docente fosse brasileiro, e sendo
mais gloriosa. Esse sentimento de religiosa piedade para
brasileiro o diretor pelo menos um terço.
com a nossa mãe comum não se ensina com preleçôes
Outra providência: — no fim de cada ano letivo todos
catedráticas, comunica-se, porém, nas mil ocasiões em
os alunos dados por prontos em quaisquer
que se apresentam no correr da vida e das lições colegiais,
estabelecimentos de instrução secundária nas matérias
mas para comunicá-lo é necessário tê-lo".
de ensino do externato (inclusive os do Pedro Segundo)
apresentar-se-iam em concurso geral. Constaria o concurso Enquanto o Governo e Justiniano José da Rocha se
de tantas provas escritas, feitas em dias sucessivos, entendiam a respeito de reformas de ensino, o reitor Souza
quantas fossem as matérias do externato. Amparariam Corrêa buscava administrar economizando.
os concursos todas as seguranças contra a injustiça e o Ao assumir cargo inventariara o estabelecimento.
patronato, coisa facílima, admitida a prática dos colégios Parecera-lhe excessivo ter encontrado na vestiaria 828
franceses. lençóis e 711, tudo de bom linho. Propôs ao governo
Propunha o Dr. Justiniano que os cinco melhores fossem uns reservados à enfermaria, vendendo-se o
alunos distinguidos pelo concurso geral f o s s e m excesso de roupa. Aplicar-se-ia o produto da operação na
matriculados gratuitamente nas Academias, recebendo compra de camas de ferro para dormitórios. Opinava
coleção de compêndios adotados nas que quisessem igualmente Souza Corrêa pelo aluguel das lojas da casa
frequentar. da reitoria, visto não oferecerem cómodos para família.
Ainda mais, se todos os cinco premiados fossem Comunicava Souza Corrêa ao Ministro do Império,
alunos do mesmo estabelecimento, o diretor deste seria Visconde de Monte Alegre, ter achado excessiva a lavagem
condecorado, igualmente agraciado o diretor que em três de roupas da casa por 90, 100 e 130S000, providenciando
anos consecutivos apresentasse alunos premiados, não nesta e noutras despesas no sentido da economia. Nas
premiado o aluno maior de 18 anos. pequenas despesas do Colégio figuravam remunerações
ESCRAGNOLLE DÓRIA

a subalternos cuja menção não deixa de ser curiosa por o ordenado do reitor, agradecendo a oferta, em nome de
evidenciar o custo da vida naquela época, os criados do Sua Majestade o Imperador.
Colégio vencendo 14$000 mensais, o despenseiro e o Acrescentava, porém, o ministro: — "Louvo o zelo
cozinheiro 30S000. que manifesta pela prosperidade do Estabelecimento
Contra algumas medidas do reitor representou o confiado à sua direção sem que porém anua ao sacrifício
que quer fazer da ténue retribuição que lhe dá o Colégio
tesoureiro do Colégio, por ver nelas invasão de suas
para aplicá-la àquela despesa, que aliás deverá ser paga
atribuições. Sem apurar o caso, era o eterno conflito entre
pelos fundos do Colégio".
subordinado, não raro no hábito de abusos, contra o
Em maio de 1852 cumpria a Souza Corrêa prestar
superior desejoso de modificar corrigindo, a bem da causa atenção ao provimento interino da cadeira de Grego. Jorge
pública. Gade, professor para ela nomeado em março, partia para
Apoiou, porém, o Governo, in totum, o reitor, a Europa no gozo de licença de um ano, sem vencimento
autorizando-o a tomar todas as providências necessárias algum.
à economia e regularização de despesas. Mal saía do Rio de Janeiro, requeria Alexandre Audret
Não se estendeu só ao administrar o zelo de Souza a regência interina da cadeira. O Governo decidiu ouvir o
Corrêa. No impedimento do professor de Matemática Lino reitor sobre a pretensão e o pretendente. Opinava Souza
António Rabello lecionou a cadeira aos alunos do 5o e 6o Corrêa pela nomeação interina de Tautphoeus, substituído
este na cadeira de Alemão.
ano, louvado por isto pelo governo imperial.
Pouco depois deixava Pasta do Império o Visconde
Na reitoria Souza Corrêa em 1852, em março,
de M o n f A l e g r e , sempre assim se assinava
entravam a lecionar Grego o Dr. Jorge Gade, transferido
nobiliarquicamente José da Costa Carvalho, antigo
da cadeira de Alemão e Tautphoeus renomeado para ela. Regente do Império.
Enquanto estudava o relatório de Justiniano José Substituiu-o na Pasta Gonçalves Martins, futuro
da Rocha, nomeava o Governo o Barão de Kulner para Visconde de São Lourenço, um dos vultos mais notáveis
substituto interino da cadeira de Inglês, exonerado a pedido e operosos da terra natal, a Bahia, sobre prestimoso
o tesoureiro Firmo José Soares da Nóbrega, entregando servidor do Brasil.
ele cargo a sucessor, Graciano Leopoldino dos Santos Recomendava o novo ministro a maior atenção
Pereira. quanto à assiduidade dos professores, providenciando o
Souza Corrêa continuava administrando e reitor em relação aos faltosos, tornando-se "indispensável
prover-lhes a substituição, por não ser do interesse da
providenciando. Assim mandava pintar a capela do Colégio,
instrução que as lições deixassem de ser dadas aos
à própria custa. Homem de mar estava acostumado a
respectivos alunos".
respeitar Deus no infinito do oceano.
Completava Gonçalves Martins a instante
Mandou pintar a capela do Colégio e o corredor que
recomendação concedendo trimestre de licença ao
a ela conduzia "pelo estado de indecência em que se professor de Latim, Castro Lopes, devendo este indicar e
achavam", pedindo que o governo aceitasse como pequena pagar à sua custa substituto idóneo.
oferta ao Colégio a quantia de 3245000, em que importara Quinzena de licença era também concedida a
a respectiva despesa. Gonçalves Dias, este sem prejuízo de vencimentos, para
Por Aviso de 29 de abril de 1852, o ministro Monte escrever sumário da instrução pública nas províncias do,
Alegre agradeceu as despesas da pintura satisfeitas com Norte.
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Só em julho de 1852 uma portaria de Gonçalves só mais tarde Moreira de Azevedo, futuro professor da
Martins preenchia interinamente a cadeira de Alemão, Casa; Anastácio Luiz do Bonsuccesso, de tantos serviços
Tautphoeus além da de Grego. Entrava para o corpo à vindoura instituição, ao Instituto dos Bacharéis em Letras.
docente do colégio, Bertholdo Goldschmidt. enquanto No período de férias do Colégio continuava
daquele desaparecia o professor de Inglês, Guilherme Gonçalves Martins a ocupar-se incessantemente com o
Fairfax Norris, falecido a 23 de julho de 1852. estabelecimento, no zelo pelo interesso público. Inspirava
Outro professor também se retirava do Colégio, este determinação do ministro de mandar o Colégio
exonerado a pedido, a 5 de agosto de 1852, Gonçalves executar obras de encadernação nas oficinas da Casa de
Dias, o proprietário da 2a Cadeira de Latim. Oferecia-se, Correção, preferindo-as a qualquer outra para a feitura de
porém, o demissionário para lecionar, gratuitamente, a livros em branco. O Estado protegia o Estado.
cadeira de História do Brasil até o fim do ano letivo. Também antes de iniciar-se o ano letivo de 1853, na
Recebia então o Colégio Ernesto Ferreira França Júnior para reitoria Souza Corrêa, iluminava-se a gás o Colégio.
a regência interina da cadeira de Inglês, vaga pelo óbito Beneficiava de pronto pelo melhoramento havia pouco
de Norris. introduzido no Rio de Janeiro, cujas ruas mais centrais
Pouco depois, em setembro de 1852, perdia o reitor conheceram clarear de gás a 25 de março de 1852,
prestimoso auxiliar, no Colégio figura venerável e útil, o solenizada em progresso mais uma data do juramento da
vice-reitor frei Rodrigo de São José. Constituição do Império, o Brasil sempre na vanguarda
Nascera a 9 de agosto de 1789, na Bahia, filho do da aplicação das grandes ou pequenas conquistas da
intendente do Ouro, Dr. Marcellino da Silva Pereira. Monge civilização.
beneditino aos 18 anos, viera ao Rio de Janeiro, em 1820. O ano letivo de 1853 principiava com o Colégio todo
Aí mais tarde exerceria dignidade abacial no mosteiro de iluminado a gás e pintado de novo, por 870S000, informação
sua Ordem, dignidade amargurada por desgostos não para quantos estudam o custo da antiga vida nacional.
poucos. Desaparecia frei Rodrigo em 1852,aos 63 anos De fevereiro a março de 1853, o corpo docente do
de idade, dos quais os últimos consagrados ao Pedro Colégio sofria alteração.
Segundo, não tendo a idade conseguido vencer-lhe férrea Gonçalves Dias deixava de reger grátis a cadeira de
vontade. História do Brasil, transferido provisoriamente para ela
Outro monge, outro beneditino, substituiria frei Joaquim Manoel de Macedo, professor de Geografia e
Rodrigo, frei Luiz da Conceição Saraiva, irmão do político História Moderna.
do Império, o Conselheiro Saraiva, e futuro Bispo do Castro Lopes saía da cadeira de Latim do 4o ao 7o
Maranhão. ano , exonerado por pouca assiduidade. Vinha ocupar,
Com estes principais sucessos findava o ano letivo cátedra, a título interino, outro médico, o Dr. António José
de 1852, marcados nele os exames para 8 de novembro de Souza.
de 1852, com a presença e fiscalização do Comissário do Novo elemento para o corpo docente era, proposto
Governo, o Visconde de Abrantes. pelo reitor Souza Corrêa, o Dr. Valdez y Palácios,
Findos os exames, sempre com a presença do substituindo interinamente na cadeira de Inglês o professor,
Imperador, bacharelava-se a turma dos setimanistas de também interino, Ernesto Ferreira França Júnior.
1852. Figuravam entre eles dois que muito amor No meio do ano letivo retirara-se de vez do Colégio
demonstrariam sempre ao Colégio, Manoel Duarte Moreira, o professor de Grego, Jorge Gade, substituído por
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Tautphoeus, vigilante sempre o Governo quanto à neste ensaio da vida do Pedro Segundo. Com os latinistas
assiduidade dos professores. Pelo Aviso de 6 de junho de dele diremos non erat his locus.
1853, o Ministro Gonçalves Martins pedia ao reitor que Do Ministério Paraná cumpre, porém, apartar o
"ouvisse Joaquim Manoel de Macedo se havia Ministro do Império, não só por ele ser administrativamente
probabilidade de continuar enfermidade sua para o superintendente supremo do Colégio como de envolta
providenciar-se sobre imediata substituição". com os interesses daquele ser também um grande
Só uma vez ministro, e do Império, foi, entretanto, remodelador da instrução pública brasileira.
Gonçalves Martins dos mais operosos e diligentes Conhecia-a bem, lente s u b s t i t u t o e depois
ocupantes daquela pasta dos negócios públicos, pasta catedrático da Faculdade de Direito de São Paulo.
política na monarquia brasileira. Remodelara-a, presidente de província, no Espírito Santo
No ministério único de Gonçalves Martins, gestão em 1846, do Rio de Janeiro em 1848.
de 483 dias, teriam início muitos melhoramentos no Brasil Está nomeado Conselheiro Luiz Pedreira do Couto
e sobretudo no Rio de Janeiro, melhoramentos aqueles à Ferraz duplicando ele o " t " em o nome de família. Futuro
testa dos quais se encontrou sempre Mauá, ainda somente Barão e Visconde de Bom Retiro, o Conselheiro Pedreira
na época Irineu Evangelista de Souza. gozava de excepcional estima de D. Pedro II, deste amigo
Seria, porém, coisa mais rara do que se pensa, o de infância, respeitosa e discretamente fiel até o túmulo.
operoso Gonçalves Martins substituído por outro operoso, Também o imperador, ao visitá-lo no leito de morte, havia
tanto ou mais do que o antecessor. de declará-lo "a consciência mais pura que conhecera".
Em setembro de 1853, nas vésperas de memória Não era dizer pouco. Valia muito tal conceito de soberano
da Independência, organizava o Visconde, depois Marquês
que, em reinado semi-secular, avaliara tantos homens da
de Paraná, famoso Ministério entre os numerosos
mais variada espécie na zoologia social e política.
Gabinetes Monárquicos, dez no Primeiro Reinado, doze
Nascido no Rio de Janeiro, em 1818, o Ministro do
na Regência e onze no Segundo Reinado até a ascensão
Império, Pedreira, em 1853 contava 35 anos. No vigor da
de Paraná.
idade, no continuar brilhante carreira política a afastá-lo
Presidente do Conselho de Ministros de fato em
do magistério superior, pretendia fazer muito, e muito fez
1843, e de direito em 1853, — a Presidência do Conselho
na gestão da Pasta para a qual o designara a clarividência
de Ministros criada a 20 de julho de 1847, pela
de Paraná.
conveniência de dar a ministérios organização mais
Em 1851, o Poder Legislativo entregara ao Governo
adaptada às condições do sistema representativo, — seria
Paraná o 6o Presidente do Conselho após a criação do cargo autorização para reforma do ensino primário e secundário
no Ministério Alves Branco. do Município da Corte ou Neutro. Lançando mão da
Ficaria o Gabinete Paraná marcado para a História medida legislativa, Pedreira realizou a projetada e adiada
com o nome da ideia principal de sua formação. Paraná reforma por um Regulamento aprovado pelo decreto de 17
chamou a governo membros dos dois partidos políticos, o de fevereiro de 1854.
Conservador, ao qual ele pertencia, e o Liberal, abrigando- De tal regulamento disse justiça alheia, assim se
Ihes representantes no Ministério conhecido por isto pelo exprimindo:
da Conciliação. "Este regulamento se não foi obra completa,
Apreciar os intuitos e os serviços do organizador e encerrava todos os gérmens preciosos sobre a educação .
bem assim os do gabinete por ele composto não cabe de que tanto se ufanam hoje as nações civilizadas, sendo
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

para lamentar que disposições importantes nunca fossem Os exames do Colégio deveriam ser prestados sobre
postas em prática, e outras só mui tardiamente e sob pontos tirados à sorte dentre os formulados pelo Conselho
vistas diversas. Estão nesse caso as que se referem ao Diretor de Instrução Primária e Secundária. Tais pontos
ensino obrigatório, ao estabelecimento das conferências abrangeriam para os exames do 4o ano as matérias dos
pedagógicas e ao das escolas do 2o grau". cursos de estudos da 1" classe, para os exames do 7o ano
Na Reforma Pedreira, de 1854, foram incluídas as matérias do curso de estudos da 2a classe e para os
algumas medidas propostas pelo professor do Colégio de outros anos apenas as matérias ensinadas em cada um
Pedro Segundo, Justiniano José da Rocha, no referente deles.
ao ensino particular primário e secundário. A Reforma Pedreira teve início de cumprimento na
Estatuía a reforma estímulo para este. Anualmente, reitoria Souza Corrêa, o capitão-de-mar-e-guerra não alheio
em novembro, os alunos de colégio particulares seriam às causas do ensino por ele ministrado aos alunos da
admitidos a exames escritos de todas as matérias exigidas Academia de Marinha, como já foi dito.
como preparatórios para entrada no ensino superior. Em breve, porém cessaria a sua ação no Colégio
Os alunos distintos em tais provas gozariam de de Pedro Segundo de onde, a 24 de outubro de 1854, já
isenção de matrícula para receber grau de bacharel em desaparecia, por falecimento, o professor de Inglês Dr.
letras no Pedro Segundo, gozariam da mesma isenção no José Manoel Valdez y Palácios.
ensino superior e finalmente no Colégio teriam preferência Peruano de nascimento, advogado, teve de deixar a
na nomeação para repetidores. pátria por motivo de perseguições políticas. Para salvar a
"Estabelecendo este regime de concursos — foi por vida e a de um filho atravessou os Andes, foi ter ao Pará,
outrem ponderado — não quis o reformador, divergindo daí se transferindo para o Rio de Janeiro, mal refeito de
nesse ponto da proposta do Dr. Justiniano da Rocha, penosa viagem de Cuzco a Belém, varando rios, avaliados
estendê-lo ao bacharelado em letras. Contentou-se em os transes da vida do Dr. Valdez na fuga repentina, na
declarar que de futuro poder-se-iam ampliar os concursos passagem de abismos e desertos, com um menino que
a todas as matérias constitutivas do curso do Colégio de mal movia os passos. Viagem de contemplações e
Pedro Segundo". horrores, de termo em Cocabambilla, onde Valdez se veria
Ajudado pelo Inspetor-Geral do Ensino Primário e a salvo de inimigos. Mas até certeza de vida, quantos
Secundário, figura notável, a do Visconde de Itaboraí, o obstáculos ante pai e filho: atravessar de rochedos,
Ministro Pedreira em 1855, por meio de instruções sotoposição de montes debaixo dos pés, frio insuportável,
expedidas a 5 de janeiro, completava a reforma de 1854. vento furioso, abrigo em cavernas, passagem por um
De acordo com esta e com as instruções anexas vulcão, num espaço de 10 ou 12 milhas de circunferência
ficou o Colégio de Pedro Segundo dividido em duas classes a dois mil pés aproximadamente de profundidade,
de estudos. Consideravam-se estudos de 1a classe os do contendo em tal superfície mais de sessenta crateras
1o ao 4o do curso, de 2a classe os do 5o ao 7o ano. No cónicas já apagadas, em aspecto ondeante de superfície
ensino de línguas vivas da 1a classe estava compreendida inconsistente. Tudo dito pelo Dr. Valdez, em livro publicado
a conversação nas mesmas línguas entre professor e no Rio de Janeiro em 1844.
discípulos. Segundo Porto Alegre, "no meio destes magníficos
A dança e a ginástica preencheriam horas de recreio, episódios do grande livro da terra, no meio do ansiar aflitivo
as aulas de Música e Desenho dadas às quintas-feiras. do leitor, Valdez fazia alguma vez rir quando se pintava
ESCRAGNOLLE DÓRIA

ironicamente, e se considerava com o seu escudeiro (o Não tinha Souza Corrêa o mérito intelectual, nem a
filho) como dignos da musa humorística de Cervantes". erudição do antecessor. Contudo, soube sempre conduzir-
Após provações sobre provações, o Dr. Valdez, se de modo digno no exercício do cargo, em boas relações
embora sempre pobre, devia ter o Rio de Janeiro pelo com os ministros do Império dos quais dependia.
paraíso terrestre. Naturalizou-se, lecionando no Colégio Deram-lhe apoio e robusteceram força moral,
de Pedro Segundo e no Liceu de Niterói, um dos redatores condições indispensáveis a quem dirigindo se vê
de Minerva Brasiliense, colaborando no Correio Mercantil dependente de aprovação e auxílio superior.
e fundando A Nova Minerva, periódico científico, moral, Deixando a reitoria do Pedro Segundo, exercida por
artístico e literário. Lutou sempre tanto com a sorte o Dr. três anos e meses, Souza Corrêa passou cargo ao vice-
Valdez y Palácios que, ao ser sepultado, um orador resumiu reitor interino Jorge Furtado de Mendonça, professor de
adeus dizendo: — "Vai começar tua primeira hora de Latim desde a fundação do Colégio.
felicidade". Retirava-se com honra o terceiro reitor, afastando-
Em junho de 1855, retirou-se do Colégio o capitão- se do posto com sossego de consciência. Tal o confere
de-mar-e-guerra José de Souza Corrêa, nomeado em 1851, dentro de si próprio o bem intencionado, à espera da justiça
em substituição ao segundo reitor Dr. Joaquim Caetano divina, tantas vezes suprindo a humana, falível ou ratinhada
da Silva. pela inveja.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

VI
O Colégio de 1855 a 1858

Início da Reitoria Pacheco da Silva • Reforma Pedreira • Património do Colégio •


Gonçalves da Silva e Joaquim Manoel de Macedo • Divisão do Colégio em
Externato e Internato • Instalação Deste • Seu Primeiro Reitor • Paula Menezes •
Sete de Setembro de 1857 • Novos Professores • Imprensa Colegial •
Colação de Grau de 1858 • Incidentes Colegiais.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Exonerado Souza Corrêa de reitor do Colégio em junho No início da administração Pacheco, existiam no
de 1855, teve o Governo imperial de prover Colégio quatro classes de alunos: — pensionistas de 1a
substituição. classe, com direito a repetidores em horas de estudo,
Empenhou-se, sobretudo, no intento o principal médico, botica, não se dizia ainda farmácia, refeitório,
responsável ante o Imperador, pelo acerto da escolha, nas banhos, roupa lavada e engomadas; pensionistas de 2a
questões relativas ao Colégio indispensável ouvir o classe com as mesmas vantagens, salvo lavagem e
Imperador. engomado de roupa; meio-pensionistas e externos. A
Era aquele responsável o Ministro do Império, matrícula anual para todos custava 12S000, a pensão
Conselheiro Pedreira. Nem deixaria Pedreira de consultar
trimestral, de acordo com as classes, 100S000, 75S000,
o soberano seu amigo, nem tão pouco ao Presidente do
37S000 e 24S000. A aula de Italiano, criada em 1855, e
Conselho, Paraná, Visconde elevado a Marquês a 2 de
regida pelo Dr. Luiz Vicente De Simoni, também professor
dezembro de 1854, natalício de D. Pedro II.
Recaiu afinal a escolha para quarto reitor do Colégio de Latim, era considerada avulsa, com pagamento à parte.
no Dr. Manoel Pacheco da Silva, em exercício a 10 de Qualquer sociedade humana baseia manutenção
setembro de 1855. Encontrava a Casa não mais dirigida no prémio e no castigo, ideias derivadas de princípios
pelo vice-reitor interino Jorge Furtado de Mendonça, eternos, o bem e o mal. Para premiar dispunha o reitor de
substituído pelo monge beneditino José da Purificação meios, de outros para castigar. Tinham estes a seguinte
Franco. ordem: — repreensão, trabalhos nas horas de recreio,
Nascera Pacheco da Silva, o novo reitor, no Rio de
prisão com trabalho na cafua, comunicação aos pais para
Janeiro, em 1812, do consórcio de pai baiano e mãe
elevação de punições, expulsão do Colégio, com vénia do
andaluza. Doutorara-se em Medicina no Rio de Janeiro
Inspetor-Geral da Instrução Pública.
em 1839.
Caber-lhe-ia continuar aplicação da Reforma Para auxílio de estudos, mormente dos pensionistas
Pedreira no Colégio a cuja reitoria fora chamado não sem de 1 e 2a classes, haviam sido criados seis lugares de'
a

haver já mostrado interesse por questões pedagógicas. repetidores. Um para Grego e Alemão; um para Francês e
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

Inglês; um para Matemática; um para Filosofia e Retórica; A desunião entre reitor e corpo docente não podia
um para Latim; um para Ciências Naturais com encargos deixar de trazer consequência, indisciplina colegial
de preparador e conservador. resultante da falta de harmonia dos encarregados de mantê-
Morariam os repetidores no Colégio, com direito a la nas aulas sem apoio da primeira autoridade da casa.
sustento. Venceriam 4005000 por ano; o repetidor de Releva-se em jovens a turbulência, a insolência não.
Ciências Naturais, por acumular funções, teria 600$000, Traquinadas dos alunos, algumas sem atenção a
ordenado dos demais repetidores, enquanto não residissem professores ilustres quais frei Camillo e Tautphoeus, não
no Colégio. Deveriam obter nomeação mediante concurso encontravam imediato corretivo, e não lhes teria faltado
e no decorrer de aulas serviriam como inspetores de no tempo do vice-reitor frei Rodrigo de São José.
alunos. A fiscalização do ensino no Colégio cabia ao Compreende-se, pois, que jovens se atrevessem a
Inspetor-Geral da Instrução Pública, reservada ao reitor a alcunhar professores, o de Física e Química tido pelo
inspeção direta das aulas e a direção económica da casa. Besouro, "por causa do modo monótono e igual de expor
lição".
Assumindo reitoria, em meados de 1855, o Dr.
Ao iniciar-se o ano letivo de 1856, aviso do Ministro
Pacheco presidiria ao bacharelado da turma de 7o ano
do Império, o reformador Pedreira, aprovou provisoriamente
composta de oito jovens um dos quais se distinguiria no
os primeiros programas de ensino do Colégio, organizados
professorado do Colégio, Evaristo Nunes Pires.
pelo Conselho Diretor da Instrução Pública.
Em 1855, prestando diretamente exames par o 5o
Conforme fonte oficial "foram um progresso para a
ano, matriculava-se na casa, menino de doze anos
instrução secundária, não só porque estabeleciam a
chamado Alfredo Maria Adriano d' Escragnolle Taunay,
orientação dos estudos de um modo analítico, mas também
futuro Senador do Império e autor de duas obras imortais,
porque traziam as indicações dos livros didáticos".
na literatura pátria e fora dela, a primeira pelo número de
Desde 1851 conhecia o Imperial Colégio programa
traduções, Inocência e A Retirada da Laguna.
impresso para exames. Nele se mencionavam o tribunal
Deixar-nos-ia, em 1890, notas sobre pregressa vida de exame, por ordem de antiguidade dos professores, o
escolar e nelas muitas impressões de várias espécies, tribunal de julgamento, o nome dos alunos ano a ano, por
sobre o Colégio e seu funcionamento. ordem de antiguidade, e a lista dos pontos para exame,
Declarava Taunay não ter sido nos anais do Colégio disciplina por disciplina.
dos mais felizes o ano letivo de 1856, desavindos o reitor Em 1856 terminaria a independência económica do
e quase todo o corpo docente. Por quê? Não nos foi dito. Colégio, oficializado apenas pedagógica e
O professor de subida força moral na época era João administrativamente desde Bernardo de Vasconcellos.
António Gonçalves da Silva, mais conhecido por Bacharel Pela lei orçamentária do exercício financeiro de 1852-
Gonçalves, graduado em letras pelo Colégio em 1845. Em 1853, fora concedido ao governo a faculdade de levar à
1855, substituía frei Camillo de Montserrate nomeado hasta pública os prédios do património do Colégio, outrora
diretor da Biblioteca Nacional. O bacharel Gonçalves, constituído por legados e doações com fins expressos,
dispondo de muita audácia e pretensão, tinha reais aptidões convertendo em apólices inalienáveis o produto da venda
para o professorado. Conhecia de pronto os bons dos imóveis.
estudantes, sabia estimulá-los e encaminhá-los, à maneira Daí serem leiloados oito dos prédios do Colégio, três
dos espartanos em relação aos ilotas, aproveitando vadios não encontrando adquirentes. Eram imóveis bem situados,
e madraços, para exemplo e contraste. na parte central e comercial da cidade. O último dos três
ESCRAGNOLLE DÓRIA

prédios inalienados em 1856 foi o da Rua Estreita de São A 4 de maio de 1857, pela segunda vez Presidente
Joaquim, n.° 66 à ilharga do Colégio, utilizado para serviços do Conselho, antigo Regente do Império, o Marquês de
deste. Arrematou-o na República a Prefeitura Passos, por Olinda organizava ministério. Reservou-se nele a Pasta
34:000$000, quando do alargamento da Rua Larga de São do Império na qual acabavam de revelar tanta operosidade
Joaquim, hoje Avenida Marechal Floriano. próximos antecessores. Gonçalves Martins e Pedreira.
O ano de 1856, malaventurado na disciplina, Por inspiração de Olinda foi baixado o Decreto de
encerrou-se com sombrios vaticínios para os alunos. 24 de outubro de 1857 cujo Regulamento secionou a
Tinham culpas e não se lembravam do destino das cordas fundação de 1837, em dois estabelecimentos distintos —
até nos patíbulos arrebentando pelo lado mais fraco. O Externato e Internado do Imperial Colégio de Pedro
lente de Latim, Dr. António José de Souza, anunciou a Segundo.
catástrofe com solenes palavras na aula de despedida. Não se limitou o Regulamento à separação,
"Meus amiguinhos, breve chegará para vocês, odies illa, reformou, substituindo a divisão de estudos do Colégio,
dies irae." Veio o dies irae em novembro de 1856; com da Reforma Pedreira, em 1a e 2a classes. Estabeleceu
os exames, presente o Imperador, os alunos todos curso geral de sete anos, a cabo do qual o aluno seria
encasacados. Houve rigores e injustiças, quando bacharel em letras.
reprovação doía ao reprovado, a ponto de levar ele tempos Formou curso especial de cinco anos, ao termo
e tempos sem sair à rua por vexame, certos pais deste entregue ao aluno apenas um certificado de estudos.
mandando fechar janelas dando para a rua em sinal de No dito curso eram dispensados os estudos de Desenho,
pesar. Música, Dança, Ginástica e Italiano, exigidos para o
Deu bom resultado o dies irae de 1856, embora bacharelado em letras. O curso especial representava mais
alguns justos pagassem por chusma de pecadores. Trouxe ou menos o curso do bacharelado até o 5o ano.
calma e regularidade ao ano letivo de 1857, honradas as A Reforma Olinda, segundo explicação do relatório
aulas do Colégio, vez ou outra com a presença de do Ministério do Império em 1858, "tinha unicamente por
personagens. Um: Eusébio de Queiroz. fim organizar o plano dos estudos do Colégio de Pedro
"Que homem tão simpático este! Anotou Taunay. Segundo de modo que se restringisse algumas matérias
Ainda me lembro da atração que sentia ao vê-lo, cujo excessivo desenvolvimento prejudicava o ensino de
admirando-lhe os olhos tão grandes, tão serenos e de azul outras disciplinas mais indispensáveis e tornar assim
puro!". A impressão da meninice persistia viva na possível melhor distribuição das matérias pelos diversos
memória de Taunay, afinal Senador do Império como o anos do curso, com maior aproveitamento do tempo".
fora Eusébio. Na reitoria Pacheco, em julho de 1857, dava-se
Foi 1857 ano típico para o Colégio, até então execução à divisão do Colégio prescrita pela Reforma
conjuntamente internato, semi-internato e externato. A 3 Olinda. Descongestionando o Externato, pretendia
de maio de 1857 deixava o governo o Ministério da contribuir para melhorar a disciplina da Casa. Até as
Conciliação. Falecera a 3 de setembro de 1856 o seu tormentas aumentam pelo tamanho das naus.
organizador, o Marquês de Paraná, fora o gabinete Distinto ia ficar o novo Internato do antigo Externato,
continuado, por algum tempo, na Presidência do Conselho instalado, aquele por aluguel, em casarão do Engenho Velho
pelo Ministro da Guerra, o Marquês de Caxias, já de tanta na chamada chácara do Matta, nome do proprietário, o Dr.
luz como general e pacificador. Nascimento Matta.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

Ir da cidade ao Largo da Segunda-Feira, com o qual qualquer das duas. Para o do Internato seguiriam os
fazia esquina a chácara do Internato, coisa penosa em inspetores de alunos mais antigos, fornecido para a
1858. Não dispunha o Rio de Janeiro de fáceis meios de instalação da nova casa material pedagógico do Externato".
transportes públicos. Recentemente, Noronha Santos Teve em 1858 o Internato, por primeiro reitor, o Dr.
compendiou-os em dois ótimos sobre alentados volumes, Joaquim Marcos de Almeida Rego, médico carioca, clínico
"Meios de transporte no Rio de Janeiro", ricos de seguras dos mais abalizados, irmão do Dr. José Pereira Rego, Barão
informações. do Lavradio.
Em 1858, localizado o Internado do Pedro Segundo Presidente do Ceará em 1851, o Dr. Almeida Rego
na chácara do Matta, no bairro do Engenho Velho, cabiam fora benemérito na província pelo procedimento como
seis viagens diárias de ônibus até o Largo da Segunda- homem de bem e de ciência. Quis a província, por
Feira. Daí regressavam os veículos à Praça da gratidão, elegê-lo deputado geral, declinando ele da oferta.
Constituição, hoje Tiradentes, ponto inicial dos ônibus, até Instalando o Internato, logrou Almeida Rego um bom
1859 transferido depois para o Largo de São Francisco. auxiliar, transferido do cargo de vice-reitor do Externato,
A criação do Internato ocasionou muitas frei José da Purificação Franco. Contrabalançava no
modificações na vida do Colégio. Passou o reitor do Externato a bondade do reitor. Era disciplinador, atestou-o
Externato a ter por substituto um vice-reitor, nomeado por em 1914, antigo bacharel do Internato, Vieira Fazenda,
decreto, e tirado do corpo docente, não acontecendo o dizendo-nos pitorescamente na habitual bonomia de grande
mesmo ao vice-reitor do Internato, de simples escolha do sabedor da história do berço carioca.
governo. "Trazia-nos de canto chorado o tal vice-reitor, o
Viram-se melhorados materialmente os repetidores. beneditino Frei José da Purificação Franco. Não deixava
Houve autorização para criação reitoral de turmas passar camarão por malha. Parecia até sogra ranzinza".
suplementares conforme o número de alunos em cada Assim em 1865, com maioria de razão, mais moço em
aula. A divisão das turmas, a nomeação de professores, 1857, devia ser disciplinador às direitas. Nem sempre se
dependeriam porém da aprovação governamental. achava coadjuvado frei José da Purificação. Muitos
Além do vencimento, o professor do Internato teria inspetores não tinham precisa força moral, daí abusos dos
gratificação para transporte, arbitrada segundo alunos, contidos os meio-pensionistas por inspetor de real
necessidade de presença no Colégio. Os vencimentos prestígio, o Viegas, muito afeiçoado ao professor
dos funcionários do Internato sobrelevariam um pouco os Gonçalves.
do Externato. Perceberia o reitor do Internato 4:000$000 Com o Viegas as brincadeiras saíam bem caras,
anuais, o colega de Externato receberia 3:000$000. daí evitadas. Aliás os meio-pensionistas, sob a guarda
Descendo na escala administrativa, o capelão do do Viegas, vinham de casa almoçados, a entrada no
Internato venceria 800S000, o do Externato 400$000, Colégio, quando ainda não dividido, marcada para as oito
estabelecida proporção para todos os cargos de uma e e quarenta e cinco da manhã. Jantavam no
outra seção do Colégio. estabelecimento e dele saíam às quatro e meia ou cinco
Instalado o Internato, informava ao Governo o reitor, da tarde.
Dr. Pacheco. "Os professores do Externato, dizia ele, No ano letivo de 1857, tão assinalado na criação do
exceto os docentes de Grego e de Latim do 5o ano, que Internato, morria professor bastante querido dos alunos o
propunham condições, estavam prontos a servir em Dr. Francisco de Paula Menezes, dono da cadeira de
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Retórica e Poética, "falador a valer e figura indispensável do sábio escritor e do estabelecimento onde se instruiu e
ao Instituto Histórico, bom coração e cheio de meiguices", lecionou mereciam ser bem mais conhecidas do que são.
diz Taunay. Após alegrias da distribuição de prémios e da
Acrescenta este: — "Reuniram-se, quando ao colação de grau de bacharel, seriam as férias de 1857
Colégio chegou a notícia do seu falecimento, os alunos assinaladas tristemente pelo desaparecimento do estimado
que ele lecionara e tratou-se, por meio de uma discussão, professor Bacharel Gonçalves. Seguia para o túmulo
que tomou logo feição de sessão, do modo de melhor acompanhado pela fidelidade de afeição do inspetor Viegas.
manifestarmos nossos sentimentos". Valeram-se para isto Segundo Taunay, 6o anista em 1857, era grande o
de associação colegial a "Sociedade Recreativa". entusiasmo entre alunos, despertado pelo bacharel
Nela costumavam os alunos, como hoje nos grémios Gonçalves.
congéneres, discutir, absolver ou condenar personagens Nas aulas, admiração lhes inspiravam os menores
em júris históricos. Em associações tais o essencial é ditos e gestos do mestre, tal ideia formavam os discípulos
falar, sem nenhum abalo do mundo universo, nem o menor das habilitações do lente, da sua elevada posição, da
influência exercida ou por exercer na sociedade brasileira,
desarranjo das biografias dos personagens históricos
que o falecimento de Gonçalves sinceramente pareceu aos
louvados ou incriminados.
escolares verdadeira calamidade pública.
A turma de 1857 seria a última das quinze turmas
Diziam o bacharel Gonçalves versado em grego.
que, desde 1843, graduara o Colégio indiviso. Contava
Atesta também Taunay ter o seu professor muito jeito para
cinco bacharéis em letras.
o teatro, aquele cómico por natureza. Em representação
Na vida pública se distinguiriam Manoel de Queiroz
particular no Ginásio Dramático desempenhara o principal
Mattoso Ribeiro, filho de Eusébio de Queiroz, formado em
papel no António José ou O Poeta e a Inquisição, a
Direto em São Paulo, em 1863, deputado provincial na
celebrada peça de Gonçalves de Magalhães. Saiu-se
monarquia, Senador federal na República pelo Estado do
Gonçalves da Silva da empresa com muito talento,
Rio de Janeiro e vice-presidente do Senado; José António
recebendo calorosos aplausos.
de Azevedo Castro, formado em Direito em São Paulo,
O Bacharel Gonçalves aproximara-se dos alunos
em 1862, alto funcionário do Tesouro agraciado com o título
auxiliando-os na celebração patriótica do dia 6 de setembro
de Conselheiro e por longos anos até a morte, em 1911, de 1857.
delegado do Tesouro em Londres, aí gozando da maior Mercê das lembranças de escolar coeva, Rego
confiança e apreço, presidente do Rio Grande do Sul em César, o nonagenário em 1935, no 3o volume do Annuario
1875; António Rodrigues Monteiro de Azevedo, formado do Colégio foi pelo professor Escragnolle Dória descrita a
em Direito em São Paulo, em 1862, chefe de polícia na festa de 7 de setembro de 1857.
província do Rio de Janeiro e magistrado na Corte; Gervásio Nessa noite, em palco improvisado, representavam-
Mancebo, promotor público na Corte e finalmente Manoel se a comédia Brancas o Distraído, o drama O Judeu e a
Thomaz Alves Nogueira, formado em Filosofia na farsa Aviso à Gazeta.
Alemanha, país do qual foi sempre admirador e longo Na comédia defenderam papéis os alunos Manoel
tempo habitante. de Queiroz, Gervásio Mancebo, Monteiro de Azevedo e
Doutíssimo, regeria Thomaz Alves a cadeira de Azevedo Castro, todos setimanistas, Jorge João
Grego do Colégio, autor de obras substanciosas. Para glória Dodsworth, Rego César e Gomensoro, quintanistas.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

No drama O Judeu apresentaram-se duas damas de Álvares de Azevedo, o poeta impedido pela morte de
sob cujas saias se ocultavam os alunos Gomensoro e Luiz pagar à vida todas as promessas de talento genial pela
da Cunha Feijó, o futuro lente de medicina. precocidade.
O Aviso à Gazeta pedia no palco a presença de duas, Malheiros substituía Gonçalves da Silva, substituição
Andreza, o aluno Gomensoro, e Ludovina, o calourinho difícil, não só pela distinção com a qual o antecessor regera
Possolo. a cadeira de História Geral como pela simpatia por ele
Findo o espetáculo, bem depois da meia-noite, após desfrutada entre alunos.

a saída do Imperador e da Imperatriz, o Colégio continuou Tinha, porém, Malheiros prática de magistério, e isto
em festa. m u i t o vale a docente novo em qualquer estabelecimento
de ensino. Conhece os segredos do ofício, as manhas
Em pleno 7 de setembro, foi servida ceia, primeiro
dos alunos de audácia ou de fingida ingenuidade se
às senhoras, a ele conduzidas pelo braço de jovens alunos,
servindo para experimentara força do professor. Não era
na preocupação própria da idade a de parecerem homens
Malheiros pedagogo fácil de ludibriar. Conhecia a Casa e
fortes.
a sua presença nela poderia aplicar, mudada a quarta
Em seguida, a meninada t o m o u conta da mesa,
palavra, o:
erguendo brindes ao ex-Ministro do Império Pedreira, ao
"Nourri dans le sérail j ' e n connais les d é t o u r s " .
Marquês de Olinda, Ministro da Pasta e Regente do Império
Enérgico e mordaz, sabia Malheiros impor t o d o
na criação do Colégio, a Eusébio de Queiroz, inspetor da
respeito a adolescentes propensos à familiaridade, geradora
Instrução Pública, à Independência.
da confiança, no mau sentido.
"Houve — disse depois o Diário do Rio de Janeiro
Havia adquirido Malheiros, no Colégio, boa cultura
— em todo esse festejo um entusiasmo cheio de inocência
de humanidades, a ponto de novel bacharel em letras e
que o h o m e m não pode sentir em qualquer outra idade da
académico na Faculdade de Direito de São Paulo ser
vida". Na festa o mais velho dos alunos contava dezesseis convidado, conforme Almeida Nogueira, pelo diretor da
anos. Faculdade para, em substituição, lecionar e examinar
Da importância do Colégio na época fornece notícia Geografia e História no Curso Anexo.
obra de Kidder e Fletcher, Braziland the Brazilians, editada Nada neófito no magistério. Malheiros assumia,
em Nova York, justo em 1857. c o m garbo e segurança, a cadeira de História no Colégio,
Dizem aqueles autores "que a instituição pedagógica cadeira honrada por ilustres antecessores.
a despertar mais interesse do que congéneres na capital Outro professor efetivo de 1858 foi o de Geografia,
do Brasil fora organizada em fins de 1837 com o nome de Pedro José de Abreu, a reger cadeira por longos anos até
Colégio de D. Pedro I I " . fins do Império. Era baiano, de estudos na província natal.
Acrescentam Kidder e Fletcher: — "em M a i s t a r d e , em 1867, seria autor de c o m p ê n d i o da
desenvolvimento e proteção primava o Colégio em relação disciplina com edições sucessivas, em muita voga nos
aos liceus provinciais". colégios da época imperial.
O ano letivo de 1858 foi, principalmente no 7 o ano, Com Malheiros e Abreu entrara para o Colégio quem
de estudos severos sobre aperto de disciplina. nele deveria permanecer anos e anos, morrendo no cargo:
Assinalou-o também a entrada de vários professores — José Francisco Halbout.
efetivos, um deles Bacharel do Colégio, Joaquim Mendes De progénie francesa, pelo atavismo bem
Malheiros, graduado em letras em 1847, colega de turma familiarizado com a língua a ensinar, aos poucos foi-se
ESCRAGNOLLE DÓRIA

tornando Halbout temido pela severidade, pela minúcia com pedagogia nacional. Também os alunos procuravam apurar
a qual ensinava ou exigia a partir, sobretudo, da publicação cultivo intelectual. Ensaiavam-no em associações e
de sua gramática teórica e prática da língua francesa, em jornaizinhos destinados a primícias de inteligência e
dois volumes. mostras de pendores literários.
Português de origem, José Ventura Boscoli Antes de 1858 já se conheciam no Colégio o que
transferiu-se em 1858 de cargo na Biblioteca Nacional para alunos com a enfatuação própria dos estreantes,
a cadeira de Matemática do Colégio. chamavam pomposamente "órgãos de imprensa".
Não era estranho a este o professor efetivo de
Dez anos antes de surgir O Tamoyo, no qual pela
Filosofia Frei José de Santa Maria Amaral, tendo lecionado
primeira vez viu impresso composição sua, o futuro
a matéria como substituto. Monge beneditino, professo
Visconde de Taunay, e o relembraria com emoção no
na Bahia, terra nativa, era Santa Maria Amaral considerado
declínio da idade, aparecia no Colégio o Escudo de Minerva,
por saber e virtudes, sobre douradas por modéstia, levando-
órgão da associação do mesmo nome.
oa recusar a mitra de Diamantina.
Compunham-na, em 1848, um presidente, dois
Para completar série de professores efetivos de
1858, seja mencionado o lente de Grego, Guilherme secretários e vinte e um sócios, entre eles Teixeira Júnior,
Henrique Theodoro Schieffler, hanoveriano, formado em Ferreira Vianna, André Fleury e Duarte de Azevedo, futuros
Direito em Goettingen, servindo cargos de magistratura ministros de Estado.
na pátria. O Escudo de Minerva era manuscrito. Cada sócio
Chegara ao Brasil em 1853, dedicando-se ao concorria com quarenta réis mensais para compra de
magistério particular lecionando línguas vivas e mortas. papel, capas, lápis para desenhos e fitas. O jornalzinho
Naturalizando-se, concorreu à cadeira de Grego, obtendo feito com muita ordem e limpeza, com ortografia e
também por concurso cadeira de Alemão no Instituto caligrafia, proporcionava também aos leitores alguns
Comercial. desenhos a lápis ou a bico de pena. Apresentava, por
Halbout e Schieffler tinham lecionado no Colégio a exemplo, um dos números do Escudo de Minerva, a célebre
título interino no próprio ano letivo de 1858. Madona na Cadeira de Rafael, jóia do florentino Palácio
Por ocasião da abertura deste o reitor Pacheco Pitti. Muito bem desenhada figurava a obra-prima de Sanzio
comunicara à Inspetoria do Ensino Primário e Secundário nas páginas do colegial Escudo de Minerva, que num de
do Município da Corte, tornar-se necessária substituição seus números, a bico de pena, trazia a vista de São Paulo.
de alguns professores por não pretenderem exercer
Não é despiciendo conservar aqui uma ou outra
funções nas duas casas do Colégio.
amostra dos escritos dos juvenis colaboradores do Escudo
Na leva dos interinos de 1858 haviam figurado
de Minerva, dada, sobretudo, a notoriedade adquirida pelos
Halbout, Schieffler, colegas de alguém que não prosseguiria
mesmos.
no magistério, para se notabilizar na cultura nacional:
Assim em escorço intitulado Do Brazil— Ferreira
Baptista Caetano de Almeida Nogueira, o insigne cultor da
língua tupi. Dele, em relação a esta, foi dito: — Nenhum Vianna, o futuro panfletário da Conferência dos Divinos,
brasileiro em tal estudo se lhe avantajou, ele excedeu a referia-se a D. Pedro I nos seguintes termos: —
todos. "Revolvei, desfolhai com toda a atenção as páginas
Então pelo professorado, seleto tanto quanto de uma história, que talvez achareis quem o iguale, mas
possível, se distinguia o Colégio, vanguardeiro na quem o exceda não.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937

D. Pedro s u s t e n t a v a duas coroas, abdicou-as, o setimanista de então Alfredo d E s c r a g n o l l e Taunay,


chamando a si unicamente o título de Duque de Bragança, dizendo: — "estudávamos seriamente esse 7 o ano e não
e nas duas campanhas contra seus próprios súditos; ele faltaram provas do nosso aproveitamento".
c o m a destra empunhava a espada e c o m a sinistra Também, em ofício a Eusébio de Queiroz, Inspetor
enxugava os prantos, corria com seus soldados, partilhador da Instrução Pública, Pacheco da Silva, então mais
de suas desgraças, enfim seu fiel companheiro. sof ridamente aproximado do corpo docente do que no início
O Brasil é uma planta ainda nascente, mas que da reitoria, afirmava "severidade na disciplina e polícia da
brotará galhos em cuja sombra acolherá todas as nações.
casa".
Finalmente o Amazonas, o Xingu, o Tocantins e o
M a s c o m o nos m i n ú s c u l o s jornais de a l u n o s
Prata não foram criados pela mão do Onipotente para serem
houvesse abuso de liberdade de imprensa, apressava-se
habitados por um povo bárbaro, mas sim por um povo que
o reitor em pedir à Inspetoria de Instrução licença para
tenha um monarca que do alto de seu trono radiante,
censura prévia de publicações colegiais.
conferencia com as nações e até, traça-lhes a rota dos
seus d e s t i n o s " . Zelava P a c h e c o da Silva o r e n o m e da Casa.

Outro colaborador do Escudo de Minerva, Jeronymo Publicação no Jornal do Commercio levantara acusação
José Teixeira Júnior, o vindouro Senador do Império, ao porteiro do Colégio, a de maltratar alunos.
ministro, Conselheiro do Estado e Visconde de Cruzeiro, Dava-se pressa o reitor, h o m e m de ponto, em
na Oração Fúnebre do Barão de Planitz, professor do sindicar providência. Dirigiu-se pessoalmente à redação
Colégio, revelava em uma produção tristeza e educação do Jornal, comunicou-lhe o resultado do inquérito, o porteiro
clássica. chamando à responsabilidade aquele órgão de imprensa.
"Quão frágil é a vida humana!. Um só dia... um só Pacheco informa-se do n ú m e r o exato de aulas
instante, mais rápido que o pensamento, bastou para dadas. Apresentava-se nas mesmas. Quando nalgumas
roubar-lhe todos os encantos da vida/ Omnia admitum notava atraso de alunos oficiava à Inspetoria de Instrução,
dies infesta sibi proemiae vitae". externando com franqueza seu modo de pensar: —
Teixeira Júnior conservaria até a morte, com carinho, A bem do ensino consultava o reitor Pacheco a
quase com religião, cinco números do manuscrito Escudo
Inspetoria a cargo do Barão de São Félix, o professor de
de Minerva.
medicina Dr. António Félix Martins. Dizia-lhe:
Ofereceu-os, ao Arquivo Nacional, quando o dirigia
"Deve um professor ocupar-se unicamente dos que
o professor Escragnolle Dória, o Dr. Henrique Carneiro Leão
podem dar boas lições deixando entregues a si sós os
Teixeira, digno filho do Visconde do Cruzeiro. Na primeira
outros que por sua idade ou compreensão menos feliz o
página do Escudo de Minerva, circundando efígie da deusa
não podem fazer contentando-se em chamá-los à lição de
sapiente a divisa: — Vita sine Litteris Mors Est.
Em 1858, O Tamoyo, indigenamente procurou imitar q u a n d o em q u a n d o , e x p l i c a n d o as lições em f o r m a
o Escudo de Minerva, com vantagem de impressão. Do académica sem se importar que todos entendam ou não?
O Tamoyo dá-nos lembrança um dos colaboradores, o Nunca pensarei assim. O Governo colocou-me à
futuro Visconde de Taunay, como a respeito do Escudo de testa deste estabelecimento para velar pela execução das
Minerva nos informa o vindouro Visconde do Cruzeiro. leis que o regulam, eu faltaria a deveres se carecesse de
Apesar das preocupações jornalísticas o ano letivo zelo e atividade no desempenho do honroso cargo que me
de 1858 correu com regularidade. Atestou-o, mais tarde, foi conferido".
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Mais um ano de reitoria venceu Pacheco em 1858. verdadeiros pais a partilharem a alegria de um filho, que
Chegou a época dos exames, prestados os do 7o ano, por medi, desde então, a verdadeira afeição que me dedicavam
processo diferente do até então adotado. como primogénito de quem lhes era bom e leal amigo: —
Houve dia marcado para as provas escritas e orais Félix Emílio Taunay".
de cada disciplina. A votação seria final, matéria por Fora este, mestre de Grego, História Universal e das
matéria, em geral os exames presenciados pelo Imperador, Artes, de Desenho, do Imperador e o discípulo o
das 11 da manhã às 5 da tarde e além, já escuro. recompensou dizendo ao primogénito, o bacharel de 1858:
Findas as provas, aprovados uns, reprovados outros, — "Por mais distante que eu olhe para meu passado,
raiava suspirado dia, o da distribuição de prémios e colação sempre me recordo de haver visto o seu bom Pai e com
de grau a 24 de dezembro de 1858, dia bem próprio, pelo ele estado a conversar".
Natal, para santas alegrias. Mais tarde, no exílio, em Cannes, conversando com
A Sala Nobre do Colégio, muito comprida, tinha Ferreira Viana, sobre os guias de sua educação, dir-lhe-ia
numa das extremidades uns quartinhos onde se alojava a D. Pedro II, referindo-se no momento a seu preceptor frei
música. Na ponta oposta erguia-se o trono, com duas
Pedro de Santa Mariana, Bispo do Crisópolis: — "Era
cadeiras douradas, para o Imperador e a Imperatriz. Não
matemático, mas a quem tudo devo é ao velho Taunay.
longe dos sólios, alçados sobre estrados, havia extensa
Espírito vasto, versado em quase todos os ramos dos
mesa coberta com pano verde. Sentavam-se à mesa o
conhecimentos humanos, este, sim, foi meu verdadeiro
Ministro do Império, os reitores do Externato e do Internato
mestre".
e os professores.
A presença, constante do Imperador e da sua família,
Dois trechos musicais soavam, infalíveis na
de Ministros de Estado, das pessoas mais gradas do Rio
cerimónia: — O Hino da Independência e um trecho da
de Janeiro, imprimiam à colação de grau dos bacharéis
"Stabat Mater" rossiniano.
em letras pelo Pedro Segundo a maior importância e
Acolhia o Imperador e a Imperatriz o Hino Nacional
solenidade ao ato anual.
executado à porta do Colégio pela banda de música da
guarda de honra. Não duvidemos: alguns a ele sem dúvida só
Começava a distribuição de prémios, estes, livros compareciam para que o Imperador os visse.
ricos, apropriados à idade do recompensado. Conduziam Aos bacharelandos a cerimónia impunha gastos para
os prémios dois alunos menores até o Imperador e a os quais muitos se preparavam com antecedência, quando
imperatriz que para entregá-los, tomavam-nos de bandejas favorecidos de pecúnia.
de prata, bandejas com pé. Muitos dos bacharelandos O alfaiate da moda era o Raunier, ao qual se dirigiam
viam-se premiados, com obras de latinidade ou de filosofia. os bacharelandos mais endinheirados, para uma casaca,
A entrega dos prémios era feita pelo Imperador e um colete e uma calça desejados a primor.
pela Imperatriz, bondosos para com todos os laureados, Segundo a praxe, o bacharelando devia ir de casa
mormente para aqueles cujas famílias mantinham ao Pedro Segundo de coupé. puxado por parelha de cavalos
conhecimento mais próximo com o par imperial. brancos e cujo aluguel por horas custava muito caro, pelo
Assim, premiado em 1858, disse o futuro Visconde menos cem mil réis, despesa fabulosa no tempo. Daí
de Taunay: — "Ao chegar diante dos Imperantes, deles alguns bacharelandos repartirem gastos, dois no mesma
recebi um olhar tão bom, tão meigo, tão enternecedor, de carro.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

Aquelas despesas nào se limitavam ao graduado, Constituiu representante para tomar grau por ele. O
abrangiam a família dele. em todo o tempo senhoras se procurador "sui generis" foi bacharel do ano anterior, Costa
apresentando de ponto em branco, faceirando-se jovens. Ferraz, depois bem conhecido médico, e espírito sempre
Dez bacharéis contou a turma de 1858, da qual mais original.
notório se tornou o Visconde de Taunay, tendo por êmulos Dando dela prova precoce, intentou Costa Ferraz,
Agostinho José de Souza Lima, lente de Medicina, dizendo-se já bacharel, ficar com o gorro branco à cabeça
autoridade em Medicina Legal, e José Viriato de Freitas, durante o ato e na presença do Imperador.
lente de Direito e mestre também na matéria. Proibido de tal, Costa Ferraz, representando Burnier,
Aos dez bacharelandos do Externato ajuntaram-se que faleceria pouco depois, não se eximiu de beijar como
dois do Internato. Deste se tinham transferido para o os demais colegas, a mão de D. Pedro Segundo e de D.
Externato, quando dividido administrativamente o Colégio Thereza Christina, bondosa a ponto de merecer o cognome
e reformado seu plano de estudos. de Mãe dos Brasileiros.
Foram aqueles bacharéis, os primeiros do Internato, Nas colações de grau, como de estilo, discursava o
Cândido José Rodrigues Torres e João José de Moura professor de Retórica, lendo peça cheia de considerações
Magalhães. Torres, parente do Visconde de Itaboraí seria históricas ou literárias de conselhos e advertências aos
deputado geral, depois Ministro do Brasil em Haia, em bacharelandos.
1873, agraciado pelo governo português com o título de Em 1858 orou o lente de Retórica, Cónego Fernandes
Visconde de Torres, nosso último ministro-residente em Pinheiro, desfavorecido de voz, mas muito querido de
Haia, onde não tivemos representante diplomático de 1878 alunos.
a 1893. O discurso do professor, como se dizia então, de
Possuía Cândido Torres veleidades literárias, Poética e Eloquência nacional rematava colação de grau.
extraindo do Sul, Olinda e Recife, os gloriosos cursos Despediam-se o Imperador e a Imperatriz, ao som
jurídicos do Norte. Cândido Torres, em 1868, teria a do Hino Nacional, invariavelmente seguidos até à porta da
coragem de combater Itaboraí, Presidente do Conselho e rua, atapetada de folhagens, pelo reitor e pelos professores
tio do oposicionista, exigindo dele nada mais nada menos incorporados.
do que proposta de paz a Solano Lopes. Os novos bacharéis dirigiam-se para casa, no
Tinha Cândido Torres veleidades literárias, extraindo famoso coupé de cavalos brancos, não sem se demorar
de D. Quixote um drama, aproveitando na obra de alguns na entrada do Colégio para serem melhor
Cervantes, entre imaginação e sátira, o episódio de contemplados.
Cardênio. O Imperador e a Imperatriz rumo de São Cristóvão,
Em 1858, um dos primeiros bacharelandos do afastava-se a guarda de honra ao som de dobrado de sua
Internato, longe estava Cândido Torres, ainda de brilhar na banda de música.
vida. Entre os bacharelandos de 24 de dezembro de 1858, Voltava a Rua Larga de São Joaquim ao sossego,
completa a distribuição de prémios, viera Cândido Torres da cerimónia restando na via pública folhas de mangueira
prestar juramento aos Santos Evangelhos para receber o e canela e requisitadas com antecedência, e fornecidas
barrete branco. pelo Horto Botânico da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Refere um dos bacharéis do dia, Taunay, ter ocorrido Cada qual no seu bairro, eram os bacharéis
curioso incidente na solenidade. Por enfermo não pôde esperados pela vizinhança, aglomerada às portas e janelas
acudir a esta António Ildefonso Nascentes Burnier. para observar a chegada do recente triunfador.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Vinham visitas cumprimentá-lo, enchia-se a casa Acendrados, declaravam-se igualmente,


de amigos e parentes, e não raro opíparo jantar ou animado sentimentos de solidariedade entre colegas e
baile acabavam dia inolvidável. condiscípulos. Colega da turma de 1858, revivendo
Os próprios professores, os mais folgazões, não se aqueles sentimentos, conservou-nos memória, no fim da
dedignavam de presidir jantares oferecidos por colegas a vida, o Visconde de Taunay.
colegas. Salvou um pouco do olvido aquele Burnier,
Robora afirmação testemunho de Taunay, bacharel representado na colação de grau pelo excêntrico Costa
de 1858: Ferraz, fazendo tanta questão do barrete à cabeça, diante
— "Disse-nos: do Imperador.
Desfrutava eu o começo das férias quando em casa Nascentes Burnier, faleceria em 1860, dois anos
apareceu comissão de bacharéis, três dos meus colegas após o bacharelado por procuração, morrendo em Juiz de
e mais o Dr. Souza (Dr. António José de Souza, professor Fora, minado pela tuberculose assassina de tantas
de Latim no Colégio), a fim de pedir a meus pais juventudes, antes dos 18 anos de idade, e cursando
consentissem fosse eu assistir ao jantar que um rapaz de estudos jurídicos.
nossa turma nos dava. O primeiro movimento de meu pai Versejava Burnier, com extrema elegância e adorável
foi recusa... naturalidade desde os 12 anos — atesta-nos o condiscípulo
— Vai ser um bródio formidável e Alfredo é capaz Taunay — e reunia poesias, repassadas de melancolia e
de perder-se! Mas enfim, ponderava minha mãe, vendo o profunda tristeza, num livrinho intitulado Cantos dos Quinze
desejo louco que eu tinha de ir, já não é mais um fedelho, Annos, tomando por epígrafe, dolorosa previdência,
precisamos conceder-lhe alguma liberdade". significativo e bem adequado verso — Poete, il n'a vécu
Aí usaram meus pais ardilzinho, que prometi que la saison des roses.
confirmar pela minha atitude durante aquele banquete e Além de ter deixado no Colégio fama de espírito
com efeito confirmei por escrúpulo de consciência. superior sobre excelente estudante, irmanou-se um tanto
"Alfredo irá, concordou meu pai, mas como está bastante na precocidade poética com Álvares de Azevedo, também
adoentado, não comerá nada que lhe possa fazer mal, e da Casa Ilustre. São aproximáveis os Cantos dos Quinze
torno o Dr. Souza responsável de qualquer transgressão Annos da Lyra dos Vinte Annos, falecidos Álvares de
na meia-dieta em que se acha". Azevedo e Nascentes Burnier, quando cursavam estudos
Todos prometeram vigiar-me e lá partimos de carro. jurídicos, aquele no 5o ano em São Paulo, e este no 1 ° em
De fato o jantar foi opíparo; mas mantive boa a palavra Recife.
dada a meu pai, e voltei bem cedo para casa, enquanto os Tudo mostra tendência para o cultivo das letras nos
outros convivas faziam mil diabruras". estudantes do Colégio, também propensos a pilhérias, nem
Tudo a demonstrar época, costumes e de envolto sempre de bom gosto, mas reprimidas por quem de direito.
com estes sentimentos de família. Eram levados a ponto Certa vez, no Jornal do Commercio, apareceu
de mandar esta fechar a casa quando algum dos seus anúncio em aviso de feriado na véspera de São Pedro.
jovens habitantes sofria reprovação. Deu-se pressa o reitor Pacheco em contravisar professores
Privava-se, espontaneamente, o desditoso de sair e alunos, muitos dos quais entretanto compareceram no
à rua dias e dias, evitando qualquer pergunta indiscreta ou Externato no dia anunciado de féria. Reclamando o,
amarga. autógrafo da publicação na tipografia, teve razões o reitor
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

Pacheco em atribuí-la a aluno do Internato. Disto deu logo Não há notícia de o haver sido. Riu-se à socapa na
ciência ao reitor do Internato, para devida sindicância e ocasião para mais tarde talvez sentir peso de consciência.
Dunicão do culpado se descoberto.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Alunos em aula de ginástica sueca, no Internato - 1908.


Foto em exposição no Museu do Colégio
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937

VII
O Colégio de 1859 a 1865

O Colégio de 1859 a 1860 • Confraternização do Externato e Internato • Ensino de


Ginástica • Professores e Repetidores em 1859 • Bacharéis de 1859 • Ministros do
Império de 1859 • Aulas Suplementares • Aula de Dança • Finanças do Colégio
Ano Letivo de 1860 • Novos Professores • Morte do Bacharel Gonçalves •
O Colégio de 1861 a 1865.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Em 1859 entrava o Colégio em 21° ano letivo, à frente A regra geral conheceu exceção, a bem do professor
ainda do Externato o Dr. Pacheco da Silva, em 3 o de Italiano, o Dr. De Simoni, de aula facultativa pouco
ano de reitorado. Regia o Internato o Dr. Joaquim Marcos frequentada.
de Almeida Rego, duas vezes colega de Pacheco, no cargo Beleza suprema da justiça é tocar a todos. Abriam-
administrativo e na profissão médica. se, p o r é m , exceções em favor de alunos quando
Confundiam-se a vida de Externato e Internato, circunstâncias especiais justificavam um pouco de
embora separados por distância, na época considerável, transgressão ao regime do Internato. Ainda assim só o
Rua Larga de São Joaquim de um lado, chácara do Matta Ministro do Império podia ser juiz da exceção.
na Rua de S. Francisco Xavier, do outro e oposto. Em 1859, o Ministro Sérgio de Macedo autorizava
Reitores e vice-reitores do Colégio, professores e uma. O reitor do Internato permitia que aluno de 11 anos,
funcionários das duas seções do estabelecimento viviam filho do Barão de Muritiba, o Senador Manoel Vieira Tosta,
em constante comunicação. Carecedor de qualquer auxílio " e m atenção ao seu estado de saúde pudesse ir todos os
material, o Internato recorria logo ao Externato. Tal fora no domingos à casa paterna". Mas acrescentava o ministro
m o m e n t o da instalação do primeiro, assim depois, uma " m e n o s que não deva ser retido por castigo ou que não
seção procurando rivalizar com a outra. haja outro motivo inconveniente à sua s a ú d e " . Favor não
A s s i m , inaugurada aula de Ginástica, construído invalida disciplina.
pórtico no Internato para a disciplina e seus exercícios, Guarda o arquivo do Internato, na correspondência
em breve o Dr. Pacheco pedia ao governo levantamento do Ministério do Império com a respectiva reitoria, curioso
de pórtico de madeira para o m e s m o fim no Externato. documento favorável a pai de família chamado Marquês
No ano letivo de 1859 seria alvitrada e posta em de Caxias.
execução medida vedando aos professores do Colégio "Sua Majestade o Imperador, atendendo ao que
ensinar em colégios e casas particulares as matérias das representou o Marquês de Caxias, há por bem permitir
quais p u d e s s e m ser e x a m i n a d o r e s , no I n t e r n a t o ou que Luiz Alves de Lima, filho do suplicante, e aluno desse
Externato. Internato, possa depois do toque de recolher, sair desse
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

Estabelecimento para ir dormir na casa paterna, enquanto deputado Sérgio Teixeira de Macedo, ao Senador Ferraz,
estiver d o e n t e . O que c o m u n i c o a V.Mce. para seu interinamente, e ao deputado João de Almeida Pereira Filho.
conhecimento e execução. Em fevereiro de 1860 abriam-se as aulas do Colégio,
Deus Guarde a V.Mce. presentes às nove horas da manhã, no Externato, 148
Marquês de Olinda". alunos, 11 gratuitos meio pensionistas e 34 externos, num
O favor não era gracioso. Há disso prova terrível, a total de 45 gratuitos para 103 alunos contribuintes. No
da morte. O segundo Luiz Alves de Lima, varão único na Internato a abertura das aulas sempre sofria um pouco
descendência de Caxias, desaparecia adolescente e quem mais demora para espera de colegiais, muitos regressando
sabe quantos sonhos alimentava para o filho, sempre de lares longínquos.
l e m b r a d o , o g l o r i o s o pai, s o l i c i t a n t e de 1859. Não Propôs então ao governo, o reitor do Internato,
continuara Caxias, altivamente, a carreira magna do pai, aumento anual de 20S000 nas pensões dos alunos e
o brigadeiro Lima e Silva, o Regente do Império? extinção dos pensionistas de 2 a classe. Ouvida a seçào
Q u e m concedia graças t a m b é m as retirava. O
do Império do Conselho de Estado, respondeu o Ministro
ministro Ferraz mandava declarar ao reitor do Internato
Almeida Pereira ao reitor, não poder ser aceita a proposta
importar a reprovação do aluno gratuito em duas matérias
"nas circunstâncias da vida de então, não convindo
perda imediata da gratuidade.
dificultar os meios de instrução".
Em 1859 começaram os dirigentes do Externato e
Insistiam m u i t o os reitores na conveniência de
do Internato a cogitar das desvantagens dos repetidores
possuir cada seção do Colégio repetidores privativos,
em exercício a c u m u l a r e m cargos nas duas casas do
assim como na vantagem da criação de aulas, cadeiras
Colégio, fiéis os reitores ao preceito de ninguém poder
dizia-se na época, suplementares para desafogo das lições
bem servir a dois senhores.
de professores efetivos. Chegaram os reitores a alvitrar
Sem maiores tropeços decorreu o ano letivo de 1859,
t a m b é m a criação de professores substitutos, transitório
ao f i m do qual se graduaram somente seis bacharéis do
o caráter dos suplementares.
Externato, três dos quais mais notórios em subsequente
Autorizada cadeira suplementar de M a t e m á t i c a
vida pública: — Francisco Belfort Duarte, deputado geral
pelo Maranhão e orador parlamentar apreciado; João entraram a requerê-la Benjamin Constant Botelho de

Joaquim Pizarro, facundo lente de Botânica da Faculdade Magalhães, José Arthur de Murinelly, Jorge Eugênio de
de Medicina do Rio de Janeiro, e o Dr. João Pinto do Rego Lossio, e Seiblitz e Joaquim Inácio do Couto.
César, médico de muita reputação no Rio de Janeiro, A presença de 100 alunos no 1 o ano determinava a
tornando-se nele figura da cidade, decano dos bacharéis criação de cadeiras suplementares qual a de Matemática.
em letras até 1 de janeiro de 1935, data do seu falecimento, Foi a cadeira suplementar de Português confiada ao
nascido Rego César em Porto Alegre a 14 de dezembro de repetidor Dr. João da Cruz Santos, a de Francês ao repetidor
1839. Era h o m e m de bem na maior extensão da palavra, Simeão Pereira de Moraes, a de Geografia ao professor
digno de saudade do Colégio. efetivo Gonçalves da Silva, a de Matemática,
Dependia este de duas entidades administrativas, o interinamente, a Benjamin Constant, a de Doutrina Cristã
Ministério do Império e a Inspetoria-Geral de Instrução a José Manoel Garcia.
Pública Primária e Secundária do Município da Corte. Seria este, mais tarde, secretário e professor efetivo
Em 1859 as reitorias do Externato e do Internato do Colégio, autorizado por Eusébio de Queiroz, Inspetor
tiveram de subordinar-se a três Ministros do Império, ao da Instrução Pública, a lecionar Doutrina Cristã, por clérigo
ESCRAGNOLLE DÓRIA

"in minoribus". A tanto ninguém podia ascender sem Ambas as seções da Casa graduaram bacharéis em
aprovação do respectivo diocesano nas matérias teológicas 1860, o Externato 6, o Internato 4; formando estes a
exigidas pelos cânones. Tais matérias tinham sido segunda turma de bacharelandos do Internato. A do
estudadas por José Manoel Garcia no Seminário Episcopal Externato forneceria à Faculdade de Medicina dois lentes:
de Santo António, em São Luís do Maranhão, terra natal — Domingos José Freire e António Caetano de Almeida.
de Garcia, mestre em artes pela Universidade norte- Desde a criação em 1837, a vida do Colégio ia a par
americana da Pensilvânia.
da vida nacional, expressa sobretudo no Rio de Janeiro,
O ano letivo de 1860 assinalar-se-ia no Colégio pela
passado para este, em 1763, o vice-reinado do Brasil antes
criação da aula de Dança ante o desejo manifestado por
na Bahia. A influência do centro sobre a periferia cada
muitos pais de alunos de iniciarem os filhos nos passos e
vez mais se acentuaria.
meneios da coreografia comedida da época, arte de recreio
Dos sucessos sociais também participava o Colégio.
e salão sem apelo à voluptuosidade disfarçada em
Viera da quarta Regência, presenciara a Maioridade, o
diversão, no respeito mútuo de dois sexos instruídos pelo
lar. encerrar em 1848 do ciclo fratricida das lutas civis do
Dirigida por Júlio Toussaint, inaugurava-se no Império. Conheceu Segundo Reinado para receber de quem
Externato a aula de Dança, na tarde de 29 de setembro de o representava, D. Pedro Segundo, a mais decidida e
1860. Servia de complemento à instrução fornecida pelo desvelada proteção desdobrada em amor e vigilância. Era
Colégio, compreendendo a aula conhecimento das regras o Colégio a menina dos olhos azuis do Imperador, desde a
de civilidade social então apurada. inauguração presente às solenidades do estabelecimento,
Em fins de 1860 um decreto estatuía novo regime depois às suas aulas nas quais, inspetor escolar coroado,
de matrículas, declarando o Governo a renda do Colégio observava professores estimulando alunos.
arrecadável pela Recebedoria do Município Neutro, com Sempre sob tais auspícios, pregressos e presentes,
escrituração especial. Em consequência foram recolhidas inaugurou-se no todo do Colégio, Externato e Internato, o
ao erário público as apólices patrimoniais do Colégio. ano letivo de 1861.
Satisfaria o Tesouro os compromissos pecuniários do
Nele, recebia o Colégio, a título efetivo, professores
estabelecimento, suprimido o cargo de tesoureiro,
já nele conhecidos. Designado para reger a cadeira de
transferidas atribuições dele aos escrivães do Externato e
Ciências Naturais, honrada no mais alto grau pelo Dr. Emílio
do Internato.
Joaquim da Silva Maia, um dos novos catedráticos, Sá e
Não cuidava, porém, só o Ministro do Império dos
Benevides, era filho da Casa, por ela bacharelado em
dinheiros públicos, também da presteza no serviço ainda
numerosa turma de setimanista, os de 1853. De tal turma
público, expedindo-o as atribuições dele aos escrivães do
haviam participado Henrique Pereira de Lucena e José
Externato e do Internato.
"Havendo muitas vezes demora nas informações Ladislau Terra, uruguaio. Lucena desempenharia papel
que se exigem das Autoridades, Repartições e Empregados político notório no Império e na República, presidente de
sujeitos a este ministério, do que resulta inconvenientes Pernambuco no momento da Questão Religiosa movida
para o serviço público: — cumpre que V.S., quando lhe for pelo Bispo D. Vital, partícipe na República do golpe de
exigida alguma informação, dê toda pressa em satisfazê-la. Estado de 3 de novembro de 1891 dissolvendo o Congresso,
O que lhe hei por muito recomendado". Nacional. José Ladislau Terra atuaria na política do Uruguai,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937

aí senador, e mais tarde o filho, em visita oficial ao Brasil, Exmo. Sr., a entrar em minuciosas referências para
relembraria o bacharelando paterno no Colégio de Pedro esclarecer V. Ex.a de tudo que há a esse respeito, para
Segundo. que nem a V. Ex.a, em coisas que são importantes, nem a
Oito anos depois de bacharelado o colega de Lucena mim, caiba a pecha do — não cuidar — nem a maldição
e Terra, António Maria Corrêa de Sá e Benevides, a lecionar dos pais. Quanto a falta de dinheiro nada posso dizer a
então Matemática no Colégio, passava nele a proprietário não ser onde não há el-rei o perde"..
da cadeira de Ciências Naturais, também por ele Como em 1861 recebia o Colégio novos professores,
professada no Seminário de São José. a 18 de junho de 1861,perdia um dos seus bons sobre
Benevides era campista, nascido fluminense em estimados docentes, o bacharel em letras João António
1836. Moço, de trinta e cinco anos, tinha amor à Casa Gonçalves da Silva, cuja perda acentuava a reitoria.
onde se instruíra e procurava honrá-la. Entrava para o Não só a reitoria também o corpo discente
corpo docente com o Cónego Félix Maria de Freitas manifestou consternação grande pela morte do esforçado
Albuquerque e o Dr. Felipe da Mota Azevedo Correia, professor.
nomeados professores efetivos de Religião e Inglês. Outro afastamento, com causa bem diversa,
O Cónego, depois Monsenhor, Félix Maria de Freitas ocorreria em 1861, o de um professor do Externato, sob
Albuquerque, era português, de Coimbra, beneditino ação criminal por injúrias. Convidou o reitor Pacheco um
professo no mosteiro da Bahia. Secularizado exerceria no bacharel em letras dos mais distintos da classe, Manoel
ofício eclesiástico cargos importantes, 8o pároco colado Thomaz Alves Nogueira, para substituição do professor
da freguesia de N. S. da Apresentação de Irajá, inspetor afastado de funções. Recusou-se Thomaz Alves alegando
da Capela Imperial, confessor de D. Pedro Segundo e D. necessidades de ultimar "trabalhos académicos".
Thereza Christina, finalmente vigário capitular por morte Empregando frase feita, a chave de ouro de todos
do bispo Monte, de 1863 a 1866, vigário geral até morte, os anos letivos do Colégio era a solenidade da distribuição
em 1883. de prémios e da colação de grau.
Fortalecido o corpo docente com a nomeação de Diminuta foi a turma de bacharelandos do Externato
bons professores efetivos, para maior regularidade do em 1861, formada apenas por cinco bacharéis, menor ainda
ensino, os reitores Pacheco e Almeida Rego, responsáveis a do Internato de sextanista único. Entre os setimanistas
pelas duas casas do Colégio, continuaram atentos aos do Externato, figurava Benjamin Franklin Ramiz Galvão,
interesses pedagógicos das respectivas seções. Em geral cuja individualidade se iria afirmando no decurso do tempo
as providências tomadas para uma seção logo na outra e na cultura do país, sobretudo na pedagogia, no magistério
se refletiam. superior de medicina, na direção do ensino, sem lhe
No Externato, naturalmente de frequência superior esquecer serviços prestantíssimos como diretor da
à do Internato, a reitoria Pacheco, em junho de 1861, Biblioteca Nacional.
pugnava pela divisão das aulas em três turmas, e na A 3 de fevereiro de 1862, abriam-se as aulas do
verdade em turmas numerosas só há ensino em bolo. Colégio, afluindo 215 alunos no Externato. Dois dias antes,
Consentia a Inspetoria de Instrução na divisão referendado pelo Ministro do Império, José Ildefonso de
proposta, reduzindo as turmas de três a duas. Em longo Souza Ramos, membro do Ministério Caxias de 1861, um
sobre expressivo ofício respondia Pacheco ao Inspetor Félix decreto alterava o ensino no Colégio. Reduzia-lhe
Martins, dizendo com independência: — "Sou obrigado, disciplinas, tornando facultativo o estudo do Alemão, do
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Italiano e das Artes. Tornar facultativo é meio fácil de 25° aniversário da fundação do Colégio. Ainda vivia o
suprimir estudos. Acabava o Decreto Souza Ramos com Marquês de Olinda, dela criador como Regente do Império,
o curso especial de 5 anos, os exames de T ano prestados morto o seu insigne colaborador, Bernardo de Vasconcellos,
somente quanto às matérias do ano. Para cada matéria arrebatado pela febre amarela em 1850.
de exame final haveria duas provas, a escrita e a oral, A turma de bacharelandos do Externato, em 1862,
para as matérias de promoção unicamente se exigiriam compunha-se de oito alunos, a do Internato de seis.
provas orais. Salientou-se na primeira José Pereira Rego Filho, que,
Antes de inaugurar-se o ano letivo de 1862, o Ministro médico, prestou muitos serviços ao país, notadamente à
do Império, ainda Souza Ramos, tratava do aumento do Academia Imperial de Medicina, da qual anos e anos, foi
edifício do Internato, ouvindo previamente dois professores alma como secretário geral. Daí merecer, por ocasião do
da Academia Imperial das Belas Artes. jubileu como membro da associação, o colocar de seu
Sem incidentes de monta, decorreu o ano letivo de busto em bronze, obra do emérito escultor Pinto do Couto,
1862. Nele passaria a secretário do Externato, o professor na sala das sessões da Academia.
José Manoel Garcia, e começaria a lecionar História Na turma do Internato, em 1862, figuraram João
Universal o Dr. Francisco Inácio Marcondes Homem de José de São Paulo e Galdino Fernandes Pinheiro, o qual
Mello, em 1877 Barão Homem de Mello. dedicado à vida agrícola, continuou trato de letras. Com o
Entrava a lecionar, após concurso, disputando pseudónimo de Galpi, tirado do próprio nome, escreveu
cátedra a valente contendor, o Dr. Cortines Laxe. Era Narrativas Brasileiras e romance de costumes nacionais,
Homem de Mello aquisição de proveito para o Colégio, O Flor.
privado do professor Malheiros. Decorreu em calma o ano letivo de 1863. O
Assim Martim Francisco 3o definiu Homem de Mello: Externato era dirigido por Pacheco da Silva, o Internato
— "foi, era e ainda depois de morto continuava a ser: o por Almeida Rego, sempre fiscalizado o ensino pela
homem que sabia História". imperial instância superior, a ponto de exigir esta lhe fosse
E sabia mesmo. Por baixo da farda do Conselheiro presente, em separado, a relação dos professores menos
da coroa (Ministro do Império, Homem de Mello, em 1881) assíduos, pois o Imperador desejava conhecê-los. No
sentia-se a beca do professor; tal foi por concurso que momento da celebração no Colégio do centenário natalício
teve data nos fastos intelectuais do país, sobejando para do patrono, em 1925, o orador oficial do Colégio proclamou
isso a circunstância de ter como contendor o talento sem exagero, D. Pedro II o maior inspetor escolar do
brilhante de Cortines Laxe, foi professor ainda aos oitenta Segundo Reinado.
anos, trôpego, cego. Vigiados pelo soberano, os Ministros do Império
No Pedro Segundo de 1862, como antes, o faziam igualmente muita questão, senão real. aparente,
ensinamento literário ia a par do religioso. Nas duas seções da assiduidade dos professores do Colégio. Tendo, em
do Colégio celebrava-se missa aos domingos, com homilia 1863, o professor de Latim do Internato, Gabriel de
para compreensão do Evangelho do dia, prática suspensa Medeiros Gomes, requerido continuação no magistério,
por algum tempo no Externato, não autorizado o reitor a com aumento de 5a parte de ordenado, o Ministro. Marquês
despesas com a capela. de Olinda, pedia ao reitor do Internato informação do
Domingo a domingo, com ou sem missa, chegou a "número de faltas dadas pelo professor, desde início do ,
termo o ano letivo de 1862, assinalando, a 2 de dezembro, exercício no Colégio".
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937

Na turma de bacharelandos de 1863, no Externato. de 1864, para desempenhar cargo que deixaria em outubro
teriam subsequente relevo intelectual, científico e social do m e s m o ano.
os médicos Santos Titara, Rocha Lima e na turma do Em setembro de 1864, já não era t a m b é m mais
Internato, os médicos Furquim Werneck, prefeito do Distrito Ministro do Império José Bonifácio, substituído por outro
Federal na República, e Pedro Afonso de Carvalho Franco, lente de Direito, José Liberato Barroso.
lente de medicina e operador de nota. A 9 de novembro de 1864, falecia Jorge Furtado de
Seria o ano letivo de 1864 assinalado por nomeação, Mendonça, lente de Latim no Colégio desde a fundação,
de certo, grata ao Colégio, designado o antigo segundo em 1864 a lecionar a disciplina no Internato. O reitor deste,
reitor, Dr. Joaquim Caetano da Silva, Inspetor da Instrução Dr. Almeida Rego, t o m o u a deliberação de suspender as
Pública. aulas do dia, em sinal de pesar; c o m u n i c a n d o - o ao
Na turma de bacharéis de 1864, contavam-se, por ministro, pela Inspetoria de Instrução. Em aviso entendeu
parte do Externato, Alfredo Piragibe, futuro diretor do o superior respondendo a consulta sobre o procedimento
Internato, e por parte deste, João Baptista de Lacerda, a adotar em caso de óbito de professores, que só o reitor
m é d i c o c o m o Piragibe, diretor do M u s e u Nacional e podia julgar da conveniência do seu ato, não reconhecido
presidente da Academia Imperial de Medicina, pelo governo como disposição genérica.

recomendando-se por trabalhos de ordem científica, assim Nos anais do C o l é g i o , o ano de 1864, ficaria
assinalado pela aprovação dos Estatutos do Instituto dos
a aplicação do permanganato como antídoto ofídico.
Bacharéis em Letras, por Decreto de 16 de maio de 1864.
Da severidade e minúcia com os quais o Governo
Ato governamental reconhecia instituição pela qual jovens
Imperial participava da vida do Colégio, não f a l t a m
bacharéis em letras continuavam a recomendar por ensaios
exemplos, m e s m o porque, o Ministro do Império, nos
literários a instrução ministrada pelo Colégio.
despachos semanais, presididos pelo Imperador, em São
Em seu nome a Associação dos Amigos do Pedro
Cristóvão ou no Paço da Cidade, era obrigado a estar ao
Segundo, que no valor da própria individualidade reconhecia
corrente de quanto sucedia no Colégio, para de pronto
os serviços do estabelecimento a bem da cultura nacional.
responder por ele ante D. Pedro II.
Daí merecer a instituição referência particular nesta
Em 1864,perdeu o Colégio bom professor, H o m e m
memória, por viver muitos anos, celebrando regularmente
de Mello, pouco antes provido na cátedra de História, após
sessões, até magnas, animando vocações literárias, em
provas de concurso. Nomeado Presidente da Província
viva tradição do Colégio, onde s e m p r e funcionaria o
natal, São Paulo, para aceitar nomeação teve de renunciar
Instituto dos Bacharéis em Letras. Muitos destes, mal
a cátedra. Era Ministro do Império José Bonifácio, o Moço,
graduados, p l e i t e a v a m logo a d m i s s ã o no I n s t i t u t o ,
lente de Direito. Obtemperou a D. Pedro II não existir continuando assim a frequentar a casa de ensino de onde
incompatibilidade entre o cargo de professor e o de haviam saído laureados.
presidente de província, de natureza transitória este, Foi 1864 tempo de guerra para o Brasil, empenhado
d e p e n d e n d o de confiança de g o v e r n o s por sua vez em luta contra o Uruguai. Ano seguinte, o de 1865, não
substituíveis. seria de paz. À campanha do Uruguai, seguiu-se a do
O Imperador discordou do ministro, observando: "Eu Paraguai, movida por três nações sulamericanas, Brasil,
só governo duas coisas no Brasil: a minha Casa e o Colégio Argentina e Uruguai, contra o governo tirânico de Francisco
de Pedro Segundo". H o m e m de Mello, exonerado de Solano Lopez e não contra o Paraguai, segundo declaração
professor, foi presidir São Paulo, nomeado a 8 de março oficial constante.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

No sobressalto geral da naçáo, ajuntado ao dos lares, de vexame de pouco antes. Transformavam calças e
direta ou indiretamente atingidos pela guerra, transcorreria mangas das jaquetas dos calouros em verdadeiras roscas,
para o Colégio o ano letivo de 1865. obrigando o 1o anista, com os dentes, a desatar nós da
Dela, no início, entravam em exercício na regência roupa.
da cadeira de História e Corografia do Brasil, no Às seis da manhã, os alunos do Internato entravam
impedimento de Joaquim Manoel de Macedo, conterrâneo na capela. Sobre o altar, diz Vieira Fazenda, havia velho
deste, itaboraíense como ele, Salvador Furtado de livro de orações, impresso em Lisboa, no qual se pedia
Mendonça e Menezes Drumond. pela saúde do Rei, do Vigário e do povo da paróquia. Caso
Crescer-lhe-ia fama nas letras na vida pública em o estudante menos prevenido não substituísse tais
carreira consular e diplomática, com bastante luzimento e palavras pelas do Imperador, Reitor e Colégio, era alvo de
labor, já na América, nos Estados Unidos, já na Europa, risota. Acontecia tal quando o aluno, à míngua de prática
em Portugal. Cegando nos últimos anos de vida, até ou por descuido, lia automaticamente.
derradeiros momentos manteve na inteligência e na Da capela iam os internos para o silêncio, leia-se
memória a luz que nos olhos lhe faltava. para o estudo, até oito horas. Às oito e meia, a meninada
Cursava, em 1865, o Internato, o setimanista José conhecia o refeitório, seguindo-se recreio até às nove.
Vieira Fazenda. Muito e muito conheceria a história da Principiavam então as aulas até uma da tarde.
terra carioca, concorrendo despretensiosamente para Meia hora depois nova ida ao refeitório, para o jantar,
divulgação de usos, costumes e sítios do torrão natal, deste "farto e bem feito", atesta Vieira Fazenda: — O menu não
benemérito cronista. trazia surpresas, mas em 1915 provocava ainda
O setimanista de 1865, muitos anos depois, em "saudades" no setimanista de 1865.
1915, em Anuário do Colégio, daria testemunho da vida Tudo comida bem brasileira, às quintas-feiras,
daquele no período de 1860 a 1865. feijoada completa, às sextas, peixe frito, aos sábados,
Por Vieira Fazenda, possível é conhecer a existência picadinho com batatas e azeitonas, "cozido suculento",
colegial do tempo, no Internato, abrigado no Engenho Velho, nos domingos sem saída.
na chácara do Matta. Vamos evocá-la acrescentando Recreios das duas às três, das cinco às seis, das
talvez. oito e meia às nove da noite, silêncio ou sala de estudos
Os internos despertavam às cinco e meia da manhã. das três às cinco, das seis às oito; e assim decorria a
No verão o sono é encurtável sem dificuldade; no inverno, vida dos internos de 1865.
embora doce a estação no Rio de Janeiro, sair cedo da Tinham, pois, quatro aulas diárias, quatro recreios,
cama representa não pequeno sacrifício do sonolento do/ce três horas de sala de estudo.
farniente. "Estudávamos a valer", declara Vieira Fazenda.
Mas às cinco e meia da manhã, sol em raios ou Havia rigor na disciplina, força moral no reitor Almeida
neblina a cobrir a serra da Tijuca, o porteiro do Internato Rego, "distinto médico provou-o quando caridoso prestou
agarrava-se à corda da sineta, enchendo o casarão do serviços ao Ceará, por ele presidido em 1851, numa
Matta de um nunca acabar de badaladas. epidemia amarílica, profundo latinista e ótimo
No princípio do ano o despertar dos calouros era administrador".
desagradável. Judiavam com eles os veteranos, os do 2o Em 1915, Vieira Fazenda, ao dizê-lo, ainda se
ano sobretudo, sequiosos de vingança nas recordações lembrava de Almeida Rego, inspecionando o Internato,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

precedido por um cachorrinho de estimação. "Podia-se de anos anteriores, baile de convites disputados por
ouvir voar uma m o s c a " . Nas aulas quando as moscas famílias da cidade e das redondezas. Danças até duas da
voam o ensino e a disciplina andam. madrugada, no tempo sucesso quase orgíaco. Subscrição
Dia de sabatina, dia de pavor, sobretudo, na aula de entre alunos aprovisionaram o buffet de doces, sorvetes e
Grego, mais temidas as de verbos irregulares helénicos. refrescos. Orquestra alemã, a quarenta mil réis por noite,
"Davam cólicas". E acrescenta Vieira Fazenda: pôs a girar os pares.
"Schieffler não concedia quartel, três notas más, só Mostra-nos tudo isto não só vida transata do Colégio
conquistando um sofrível no t r i m e s t r e " . Três notas más como época, vida recordada por Vieira Fazenda, às vezes
em trimestre equivaliam, no máximo, a simplesmente em linguagem bem pitoresca. Em que dia o memorava o
pelo amor de Deus ou, mais certo, a bomba. grande cronista carioca? A 8 de dezembro de 1914. Havia,
Não só o professor de Grego obrigava alunos a então ele, quarenta e nove anos antes, recebido o grau de
aoristos bem sabidos. Na lista dos exigentes, Vieira bacharel em letras, em ato solene, presidido pelo Marquês
Fazenda colocou os p r o f e s s o r e s de Francês, L a t i m , de Olinda, presentes o Imperador e a Imperatriz, no salão
Geografia, História Natural, Matemática, Inglês, Física e de honra do Colégio.
Química, a saber, Halbout, Jorge Furtado de Mendonça, A o s u b i r das r e c o r d a ç õ e s c o n f e s s a v a Vieira
Abreu, Benevides, Bôscoli, Mota e Silva Lisboa. Fazenda, em nome da juventude desvanecida: " Q u e m não
No rol dos benévolos figuravam os professores de terá saudades desses tempos que jamais voltarão? Dessa
Retórica, História e Corografia do Brasil, Latim, nomeados vida de mocidade na qual tudo é visto pelo prisma da
Fernandes Pinheiro, Macedo e Lucindo dos Passos. esperança, embora esta muitas vezes se transforme em
Ao rigor da disciplina do reitor Almeida Rego, com enganadora m i r a g e m " .
propriedade dizia amen o monge beneditino frei José da Lembrava-se t a m b é m Fazenda da grata notícia da
P u r i f i c a ç ã o F r a n c o , v i c e - r e i t o r , l e v a n d o à risca a rendição de Uruguaiana, recebida no Rio de Janeiro, nos
manutenção da ordem. Os colegiais comparavam o vice- primeiros dias de outubro de 1865, desafrontado o solo
reitor à " s o g r a " . brasileiro e sul-riograndense, da invasão paraguaia no
Fumar constituía crime passível de prisão simples, período da guerra ofensiva de Lopez contra a Tríplice
privação de recreio por três dias, na reincidência recolhidos Aliança.
os delinquentes à cafua, sob uma escada. Aí o estudante Aos alunos do Internato acarretou a nova da rendição
de História Natural podia solitariamente recordar a matéria, ordem de saída geral. Em liberdade ensaiaram arengas
à passagens rápida de rato ou ao voejar de baratas, patrióticas, deram vivas a D. Pedro II, ao duque de Saxe,
sobretudo em tarde calmosa, quando se assanham. ao Conde d'Eu, aos Voluntários da Pátria. Acrescentaram
Isto era, contudo, tristeza evitável. Nem faltavam ao júbilo algumas amabilidades dirigidas a Solano Lopez,
alegrias no Internato, sobretudo na festa de São Joaquim, tirano do seu povo no ensanguentar América do Sul.
padroeiro do Colégio todo. Celebrava-se missa festiva nas Efémero, porém, o feriado de Uruguaiana. Cumpria,
duas seções, a da chácara do Matta e a da rua Larga. depois dele, aos internos regresso à Chácara do Matta, a
Em 1865, a festa de São Joaquim teve, no Internato, cujo portão estava, tomando nota dos retardatários, o
brilho especial, divino e profano. Na capela executou-se porteiro Cordovil, outrora soldado, no cumprir ordens
missa de Santos Pinto, professor de Música da Casa. No continuando antigo ofício. De pena em punho, não tinha
edifício do Colégio realizou-se baile mais concorrido que o misericórdia para lançar nomes na lista dos atrasados.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Quem não estivesse à hora marcada, podia contar com a pelo escultor francês Luiz Rochet. A cidade ficou devendo
mais desagradável das penalidades: — quinzena de o monumento à iniciativa da sua Ilustríssima Câmara
privação de saída. Nenhum empenho livrava do castigo. Municipal, na sessão extraordinária de 7 de setembro de
Cordovil sabia os superiores inflexíveis. Depois de 1854, por proposta do vereador Haddock Lobo. O Senado
Cordovil, de soldado a porteiro, passou a receber alunos, da Câmara, de onde proviera a Ilustríssima em 1825, já
no Internato, o inspetor José Romualdo de Noronha, ex- havia aventado a ideia de erigir estátua ao fundador do
ator. Participara da companhia de João Caetano, dele amigo Império, posto o monumento na Praça da Aclamação ou
e frequentador da Petalógica, centro de reunião de literatos Rocio, apresentando Granjean de Montigny dois planos para
na loja de Paula Brito, no Rocio, ora praça Tlradentes. levantamento da estátua, um plano para cada praça.
De bela cabeça, um tanto calvo, sorriso a mostrar Não foi adiante o projeto, renovado em 1838, em
lindeza de dentes, cara sempre escanhoada, o inspetor 1844, em 1852, neste ano, na Câmara Municipal, por
Romualdo, compadre de Paula Brito, tinha maneiras à proposta do vereador, Dr. Domingos de Azevedo Coutinho
fidalga. Abrandar-lhe rigores era citá-lo como ator que Duque Estrada, em 1854, na Câmara dos Deputados e
figurara no palco do São Pedro, ao lado de João Caetano. outra vez na edilidade.
Tal o meio único de torná-lo menos perseguidor de Finalmente, a 30 de março de 1862, inaugurava-se
fumantes. Entretanto, como o homem, desde pequeno, a estátua, em presença do Imperador, da Imperatriz, das
é eterno fraudador de leis e disciplina, os fumantes Princesas, da Corte, do Ministério presidido pelo Marquês
procuravam burlar a severidade do Romualdo, usando de Caxias, da Câmara Municipal e com o concurso da
fósforos especiais em tirazinhas de couro. população carioca apinhada no Rocio e no Morro de Santo
Houve expansões patrióticas da meninada do António.
Colégio, por motivo do feriado extraordinário pela rendição Após a bênção da estátua, seguiu-se, ao ar livre, a
de Uruguaiana, presenciada por D. Pedro II, a declarar-se execução do Te Deum, de Segismundo Neukom, presente
o primeiro Voluntário da Pátria. no Rio de Janeiro, no governo de D. João VI. Neukom
Não se olvidem porém, expansões cívicas de outro recebera lições de Haydn, por seu turno mestre de
género dos alunos do Colégio, anos antes requisitados para contraponto de D. Pedro I e de Francisco Manoel.
participar da inauguração da estátua de D. Pedro I. Dirigiu este o Te Deum executado por orquestra de
Haviam sido, então, os discentes do Colégio, 242 músicos e 653 cantores, entre eles os alunos do
incluídos orfeonicamente no Te Deum entoado por ocasião Colégio, bem ensaiados, do Engenho Velho ao quartel do
da estreia do monumento. Principiaram ensaios colegiais Campo.
na chácara do Internato. Seguiram-se ensaios gerais, no Alguns de tais alunos, um deles Vieira Fazenda,
Quartel General da então Praça da Aclamação, atualmente chegados à virilidade ou à velhice se jactavam de saber
da República. Francisco Manoel dirigia os ensaios gerais, de cor a sua parte no Te Deum de Neukom.
substituindo a batuta por uma bengala, atento aos coros Não muito longe da inauguração da estátua de D.
juvenis. Pedro I, a turma de bacharelandos de 1865, recebia grau.
Presenciou o Colégio a inauguração da estátua de Coisa invulgar, foi a turma do Internato bem mais numerosa
D. Pedro I, no Rio de Janeiro, um dos mais belos que a do Externato, 17 bacharéis do Internato, 7 do
monumentos do mundo universo. Concebido pelo artista Externato. A esta pertencia António Mendes Limoeiro,
nacional João Maximiano Mafra, fora modificado e prefeito futuro professor do Colégio, depois de médico. Na turma
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

do Internato figuravam vindouro professor substituto da na empresa científica de Agassiz. Eram um desenhista,
Casa, o Dr. Afonso Carlos Moreira, e futuro catedrático, o um conchiologista, um ornitologista, um preparador e dois
Dr. Custódio Américo dos Santos. Tiveram para colegas, geólogos, estes Frederico Carlos Hartt e Orestes Saint
entre outros, José Vieira Fazenda, o cronista carioca, e o John. Canadense de berço, Hartt consagraria existência
foi em ponto pequeno do Colégio, e Joaquim Aurélio Barreto ao Brasil onde falecera, no Rio de Janeiro, em 1878, vítima
Nabuco de Araújo, a subir na vida nacional. da febre amarela. Morrendo, como desaparecem todos
Em 1865, porém, cursava no Internato último ano os homens de trabalho e da ciência, pobre e desanimado
de estudos secundários, um paulistazinho de deixava ao desamparo esposa dedicada, e na orfandade
Pindamonhangaba, discípulo conceituado por aplicação e dois inocentes filhinhos, as mais doces esperanças de
procedimento. Chamava-se Francisco de Paula Rodrigues sua vida, vivida para o labor, para o estudo e para a ciência.
Alves. O Ministro do Império que, em fins de 1865, lhe Assim disse o Dr. Carlos Alberto de Menezes, traçando
impôs o barrete branco do bacharelado, o Marquês de biografia de Hartt.
Olinda, certo nem por sombras poderia suspeitar tudo Com Agassiz, em 1865, conheceu-o o Colégio de
quanto o destino reservava ao jovem bacharel do Internato. Pedro Segundo, justa pois, homenagem à sua memória.
Dados a D. Pedro II e ao antigo Regente do Império Demorando-se no Rio de Janeiro e a ele tornando
dons divinatórios, serviriam a ambos para desvendar até após viagem ao Amazonas, ao Pará e ao Ceará, Agassiz,
onde chegaria o bacharelando de 8 de dezembro de 1865. amparado pela proteçáo do Imperador e pela estima do
Trinta e sete anos depois, Francisco de Paula reitor Dr. Pacheco da Silva, realizou duas séries de
Rodrigues Alves, a 15 de Novembro de 1902, Presidente conferências no salão nobre do Externato. De tais
da República, ocuparia o lugar de D. Pedro II, como primeiro conferências, da novidade delas, vai dizer o mesmo
magistrado da nação, nomeador de ministros quem das Agassiz, na alentada obra ilustrada de sua lavra Viagem
mãos do Marquês de Olinda recebera o barrete branco. ao Brazil, de mais de 500 páginas, com 54 gravuras e 5
Em 1865 viagem de cientista célebre se assinalaria mapas, obra traduzida do inglês para o francês por Félix
não só na vida intelectual do Rio de Janeiro, como mais Vogeli, recebendo também a obra colaboração da senhora
particularmente na existência do Colégio. Agassiz.
Veio ao Brasil, em 1865, Luiz Agassiz, afamado Referindo-se às conferências no Colégio, a obra de
paleontogista e geólogo suíço. Nascido em 1807, no cantão Agassiz consigna o seguinte trecho a transcrever na
de Friburgo, ainda estudante fora encarregado, por Martius, íntegra.
da descrição de peixes recolhidos no Brasil por Spix e Representa atestado não só de cultura, como de
Martius. Transferindo-se para os Estados Unidos, aí fundou importância do Colégio no qual o Imperador, sempre por
Agassiz grande museu zoológico em Cambridge. Atraído ele desvelado, fez questão fossem ouvidas lições de honra
ao Brasil, antecipadamente aí contando com a viva para a Casa, quais as de um sábio.
simpatia pessoal de D. Pedro II, este levando a mesma Disse Agassiz: — "Estas conferências , a dar crédito
simpatia a todos os empreendimentos científicos, no dizer aos próprios brasileiros, foram para eles novidade
do próprio Agassiz. O célebre geólogo chegou ao Rio de desconhecida e até certo ponto revolução de hábitos.
Janeiro em fins de abril de 1865, acompanhado pela Trabalho científico ou literário é apresentado ao público
esposa, sua colaboradora, e por vários companheiros de do Rio em condições especiais e diante de seleto auditório,
excursão, alguns dos quais sócios de diferentes préstimos na presença do Imperador, ante o qual o autor procede
ESCRAGNOLLE DÓRIA

solenemente à leitura do seu trabalho. O ensino popular, "O Sr. Agassiz terminou esta semana outra série
consistindo em admitir livremente, todos quantos querem de conferências no Colégio D. Pedro II, sobre a formação
ouvir e aprender, foi causa até aqui desconhecida. A ideia do vale amazônico e suas produções. A presença de
partiu do Dr. Pacheco, diretor do Colégio D. Pedro II, homem senhoras nestas tardes científicas não provoca mais
de cultura, de espírito verdadeiramente liberal e de grande comentários, havia-as em muito maior número no auditório
inteligência ao qual a instrução pública no Rio deve mais do que nas primeiras conferências, nas quais a presença
de um progresso. A ideia encontrou acolhimento junto ao feminina constituía novidade. Nada há mais simpático de
Imperador, sempre bem disposto quando se trata de
que um auditório brasileiro e, isto porque o público do Brasil
estimular o gosto pelo estudo no seu povo. A pedido do
se assemelha mais ao da Europa do que o norte-americano
Imperador, o Sr. Agassiz deu, em francês, uma série de
sempre frio e impassível. Há ligeiro movimento, espécie
lições familiares sobre diversos assuntos científicos.
de comunicação entre orador e ouvintes e se alguma coisa
Julgou-se muito feliz por poder assim introduzir neste país,
lhes apraz manifestam, não raro palavra de elogio ou de
um meio de educação popular cuja influência o Sr. Agassiz
crítica".
julgou das mais salutares. A princípio a presença das
senhoras foi tida por impossível como inovação demasiado Bem antes de Agassiz, dois viajantes, os reverendos
grande nos costumes nacionais; mas o preconceito em pastores Kidder e Fletcher em volumosa e mínudente obra,
breve foi vencido e as portas ficaram abertas para todos, O Brasil e os Brasileiros, publicada nos Estados Unidos
à verdadeira moda da Nova Inglaterra. Se a atenção a em 1857, haviam se referido em termos lisonjeiros ao
mais seguida é da parte de auditório prova de inteligência, Colégio, termos completados pelas expressões de
manda dizer a verdade que nenhum orador pode almejar Agassiz.
auditório mais inteligente ou melhor dotado do que aquele Segundo Kidder e Fletcher: "Na cidade do Rio a
ao qual o Sr. Agassiz teve o prazer de dirigir-se no Rio de instrução podia ser dividida nas seguintes classes: — a
Janeiro. Foi, aliás, para ele, gozo, após ensino de mais
primária, a secundária, e a dos colégios. O Colégio de
de vinte anos por meio da língua inglesa, libertar-se dos
Pedro Segundo, a academia Militar e a de Marinha, o
entraves de idioma estrangeiro e de exprimir-se de novo
Colégio Médico, e o Seminário Teológico de São José estão
em francês. Seja como for, salvo raras exceções, a língua
sob a direção do Estado. Nos colégios particulares há
materna de um homem torna-se sempre para ele o idioma
aproximadamente 500 alunos.
preferível como o ar ao pássaro, a água ao peixe, o
elemento no qual se move à vontade. O Imperador e a Nesses estabelecimentos de ensino a mocidade
família imperial assistiram a estas reuniões e coisa digna brasileira ascende à montanha do saber. Uma instituição
de nota, a testemunhar bem a simplicidade dos hábitos a despertar maior interesse do que qualquer outra na capital
imperiais, em vez de ocupar o estrado erguido para ele, a do Brasil, foi organizada no fim de 1837, com o nome de
Imperatriz e as Princesas, D. Pedro fez colocar as poltronas Colégio de Pedro Segundo. É destinada a dar educação
destinadas a ele e aos seus, no mesmo plano das demais, escolar completa e corresponde, em plano geral, aos liceus
como se tivesse querido mostrar que ao menos ante a estabelecidos em muitas províncias, embora em progresso
ciência todas as hierarquias se apagam". e proteção, o Colégio de Pedro Segundo se avantaje a
Tornado de viagem ao Norte, Agassiz voltou a qualquer outra instituição da mesma espécie.
conferenciar no Colégio. Do êxito das mesmas disse a A afluência de alunos foi considerável, desde a'
obra do professor Agassiz com mostras de conhecimento. primeira organização das aulas do Colégio. Ponto de grande
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

interesse, relativo à instituição, é a circunstância de ser apreciadas depois do exemplo do Colégio do


expressamente determinarem os estatutos do Colégio a Imperador".
leitura e o estudo das Escrituras Sagradas em língua Não se contentava D. Pedro II em prezar o Colégio,
vernácula. Por algum tempo antes da criação do Colégio, queria-o benquisto no conceito público, eliminando quanto
exemplares das Escrituras se achavam em uso em outras possível o que naquele o prejudicasse. Amar é sobretudo
escolas e seminários da cidade, nos quais começaram a resguardar.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Salão Nobre, após a reforma de Bethencourt da Silva, em 1875.


Local de reunião da Congregação e das solenidades magnas.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

VIM
O Colégio de 1866 a 1875

Nova Reitoria do Internato • O Colégio e a Guerra do Paraguai • Novos Professores •


Introdução do Sistema Métrico Decimal • Nova Reitoria do Externato •
Professoras de Ensino • O Bacharelando Teixeira Mendes • Reitoria Interina do
Internato • Matrícula do Príncipe D. Pedro Augusto • Nova Reitoria Interina do
Internato • Bethencourt da Silva e o Salão Nobre do Externato •
A Colação de Grau de 1875.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

A no letivo de 1866 transcorreria no Colégio dentro em do professor de dança", concedendo 360S000 anuais à
mais um ano da luta externa na qual o Brasil, v e r b a para o d e n t i s t a e para c a b e l e i r e i r o do
aliado à Argentina e ao Uruguai, se empenhava contra o estabelecimento.
g o v e r n o de Solano Lopez. E n t r e t a n t o , a e s t e o pai, Concorriam os alunos com gosto às aulas de Dança,
antecessor na presidência da República do Paraguai, Carlos naturalmente por facultativas menos frequentadas as de
António Lopez, instantemente recomendara não combater Alemão e Italiano, s e m p r e de d i m i n u t o auditório.
o Brasil com a espada, sim com a pena. Goldschmidt lecionava um aluno, De Simoni, onze.

Os colegiais do Externato e do Internato, pelo lar, Dia houve, porém, de ficar o Colégio deserto e
danificado por memorada chuva de pedras, da qual muito
pelas agitações públicas ao anunciar de vitórias,
t e m p o se falou no Rio de Janeiro, bombardeado pelo céu.
forçosamente participariam da guerra, por muito que a
Só no Colégio a chuva partiu 317 vidros, cuja reparação
adolescência seja versátil. Um tudo nada de curiosidade
nos caixilhos, determinando suspensão de aulas, custou
sempre lhe fica.
bem mais de 600S000, atingida a Sala do Retrato, assim
Viam escolares um professor, o alferes Pedro
chamada por figurar nela retrato em ponto grande de D.
G u i l h e r m e Meyer, iniciador dos alunos nas v o l t a s e Pedro II.
destrezas da Ginástica, de partida para o Paraguai, a
Para o Externato isto, para o Internato o ano de 1866
combater no Exército já em plena campanha. seria assinalado pela retirada do primeiro reitor, o Dr.
Coisa não belicosa era a exoneração do mestre de Almeida Rego.
dança, Júlio Toussaint, valente auxiliar coreográfico das Substituiu-o frei José de Santa Maria Amaral, nome
companhias de João Caetano. Voltava às dançarinas e pessoa das mais distintas do Colégio, nomeado vice-
deixando para s u b s t i t u t o de r i t m o s e mesuras José reitor o padre Sá e Benevides, professor da Casa. Ao Dr.
Lourenço de Paiva. Almeida Rego, médico, sucedia Santa Maria Amaral, frade,
Nem ao internato t a m b é m faltavam ritmos e a religião t a m b é m medicina de alma.
mesuras. O Ministro Marquês de Olinda autorizava ao A o n o v o r e i t o r p r e s t a r i a m o b e d i ê n c i a dez'
Internato o pagamento de 2405000 "ao rabequista auxiliar setimanistas de 1866, em breve bacharéis, entre eles
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

futuro lente de medicina, Chaves Faria. Nove eram os Imaculada Conceição, Leuzinger e Taulois. Em alguns
bacharelandos do Externato, dois vindouros lentes de desses estabelecimentos de instrução lecionavam
medicina, Augusto Ferreira dos Santos e Kossuth de Vinelli, professores do Colégio, antigos ou futuros, como por
acrescidos de futuro jurisconsulto, Carlos de Carvalho. exemplo, no Colégio Pinheiro, os Drs. Joaquim Mendes
Sem dúvida a colação de grau de 1866 passaria com Malheiros e Luiz Pedro Drago.
sombras de tristeza, como as demais até encerrar a Guerra Em 1868, o Colégio seria atingido, por providência
do Paraguai. Muita gente morria, muita sofria, ao longe
do governo imperial, visando a recompensar bravura extinta
ou de perto. Tudo dor no coração do Rio de Janeiro.
na vida eterna da caridade. Decreto de 1o de fevereiro de
Nas mesmas disposições de ânimo público, a
1868, referendado pelo Ministro do Império, Senador
refletirem-se nos lares, entrou no Colégio o ano de 1867.
Fernandes Torres, provisoriamente elevava o número de
Recebeu novo mestre de Ginástica, Valeriano Ramos da
pensionistas gratuitos. Tal o meio de admitir no Internato,
Fonseca, substituto de Meyer, no Paraguai.
alguns filhos dos militares falecidos no Paraguai ou
Da turma de bacharéis de 1867, no Externato,
incontestavelmente, o nome de mais brilho seria o de invalidados na campanha.
Carlos de Laet, aliás, sempre ufano, vida inteira, do título Premiava também o Governo a longa reitoria de
de bacharel em letras. À turma do Internato pertencia Pacheco da Silva, outorgando-lhe o título de Conselheiro.
Guilherme Afonso de Carvalho, depois professor do Com ele, de 22 de abril de 1868 em diante, começou a
Colégio, aumentando a lista dos docentes filhos da Casa. subscrever correspondência oficial.
No relatório do Ministério do Império, em 1867, pelo Avultando em guerra o ano de 1868, o Colégio, deu
Ministro da Pasta, Senador José Joaquim Fernandes Torres, poucos bacharéis, três no Externato, quatro no Internato.
foi apresentada à Assembleia Geral, Senado e Câmara, Destacar-se-ia da turma do Externato, José Pedro da Silva
estatística referente ao Colégio, à vista de informação da Maia, filho do Dr. Silva Maia, lente do Colégio, o bacharel
Inspetoria de Instrução Pública, a cargo de antigo reitor e de 1868, não só vindouro funcionário da Secretaria da
professor do Colégio, o Dr. Joaquim Caetano da Silva. Guerra como distinto ocupante interino da cadeira de
Em 1867 haviam se matriculado no Externato 65 Literatura do Colégio.
alunos contribuintes, totalmente externos e 14 meio
Os bacharéis do Externato, na ausência do
pensionistas, 67 alunos gratuitos, totalmente externos e
catedrático de História e Corografia do Brasil, Joaquim
13 meio pensionistas, total 159.
Manoel de Macedo, não raro no Parlamento, ouviram lições
No Internato tinham permanecido 95 alunos
de substituto interino. Chamava-se José Maria da Silva
contribuintes e 20 gratuitos, total 115. Trezentos e quatro
Paranhos, seria o Barão do Rio Branco.
alunos contava o Colégio, para que deles prestassem
exames 8 1 , 74 aprovados com diversos graus e 7 Não só no Brasil o Colégio de Pedro II gozava fama
reprovados. 10 concluindo curso e recebendo o diploma crescente, a notícia do seu progresso despertava interesse
de bacharéis em letras. Achavam-se matriculados 2.000 em patrícios nossos no estrangeiro, prova-o fato seguinte.
alunos em diversos estabelecimentos de ensino particular, Em 26 de outubro de 1869, a Legação Imperial em
alguns dos quais de maior fama, como os colégios Marinho Bruxelas, a cargo do Ministro Thomaz Fortunato de Brito,
e Victorio, São Pedro de Alcântara, para o sexo masculino, depois Barão de Arinos, avisava ao reitor Pacheco da Silva,
assinalados entre colégios para o sexo feminino os de da partida de Antuérpia com destino ao Colégio de oferta
ESCRAGNOLLE DÓRIA

do referido ministro qual a de coleção de modelos de Erven, lente da Escola de Minas, e João Henrique Braune,
figuras geométricas em arame, de invenção do professor lente do Colégio, os dois graduados no Internato.
Stressner. Seria 1870 ano de júbilo e desafogo para o Brasil.
"As vantagens que para o ensino oferece o novo Terminou nele, a guerra do Paraguai, expiando Solano
sistema — dizia o ofertante — me parecem Lopez, com coragem, de espada em punho, vida
exuberantemente provadas, não só pelo fato de ter sido sanguinosa, bem característica de tirano divinamente
ele adotado por considerável número de estabelecimentos elevado a El Supremo.
de instrução pública deste país, como também pelas No ano letivo de 1870, passado o reitor do Internato,
razões que V.S. encontrará exaradas em parecer incluso". frei Santa Maria Amaral a Inspetor Interino da Instrução
Aberto o ano letivo de 1869, por licença de três Pública, voltaria a lecionar Retórica, no impedimento do
meses, concedidos a Schieffler, lente de Grego, era catedrático, Fernandes Pinheiro, o havia pouco substituto
interinamente chamado a lecionar a cadeira o Dr. Benjamin interino de Grego, Ramiz Galvão.
Franklin Ramiz Galvão, do qual a nomeada o tempo só iria Embora a título interino, substituindo o catedrático
acrescentando. Silva Lisboa, teria ingresso no corpo docente do Colégio,
Entram uns, saem outros, tal a lei da vida, bem de para lecionar Física, o bacharel Agostinho José de Souza
extremidades em berço e túmulo. Da existência saía o Lima, futuro lente de Medicina.
mestre de Dança do Colégio, Paiva, entrava no cargo Matéria lecionada no Colégio, sofreria modificação
Francisco de Paula Paiva, daquele filho. no programa de estudos com a introdução do Sistema
Ficava também em cátedra da Casa, por concurso, Métrico Decimal no Império.
o professor de História Média e Moderna, o Dr. Domingos A Lei n.° 1157, de 26 de junho de 1862, referendada
Ramos Mello. Não só então se dedicaria à cadeira como por Sinimbu, Ministro da Agricultura do 3o Gabinete Olinda,
estimaria a disciplina publicando, já jubilado, em 1923, substituiu, em todo Brasil, o sistema de pesos e medidas
Lições de História Universal. Antiguidade, Vinte e Um anos vigente e complicado pelo Sistema Métrico Francês.
de Magistério no Tempo do Imperador. Obra na qual o Nada fácil a mudança e até motivou, no Norte, a
autor revela um erudito, a par de todos os adiantamentos revolta dos Quebra Quilos. No Colégio também se operou
da História, e por vezes apreciável pensador. Pena foi a lenta a introdução do ensino do Sistema Métrico Decimal.
morte não deixar Ramos Mello concluir obra valiosa. No programa pedagógico da Casa, em 1865, ainda se
Bastantes anos de magistério lograria Ramos Mello, mencionava, logo após o estudo das operações relativas
a jubilação pelo Império concedida aos professores de às frações ordinárias, o dos números complexos e
qualquer grau por cinco lustros de exercício. Em 1869, operações sobre eles, tudo pela Aritmética de Ottoni.
estava no caso o mestre de Desenho do Colégio, Faria Desde 1868, o professor de Matemática, João
Pardal, a pedir conservação no magistério, também Bernardo de Azevedo Coimbra, pedira ao reitor Pacheco,
permitida a juízo do governo, mostrando Pardal "necessária cessão de sala para ensinar o novo sistema, opusera-se o
atividade e robustez para desempenho de cargo". reitor à concessão, a bem da disciplina, a seu ver já
A turma de bacharéis de 1869 daria mais tarde ao prejudicada pela presença de preparatorianos em exames
ensino superior e secundário, quatro lentes: Domingos Jacy no Colégio.
Monteiro Júnior, lente de Medicina; Viriato Belfort Duarte, Mas pouco a pouco, sem embargo de resistência^
lente da Politécnica, ambos do Externato; Francisco van da Inglaterra ao sistema métrico francês, Albion, fiel às
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

jardas, o Brasil e nele o Colégio, foi aceitando a morte dos Minas. Reorganizando cursos primário e secundário do
complexos, sepultados o alqueire, a vara, o arrátel. município da Corte ou Neutro, criava o Ministro uma Escola
Substituir o antigo sistema de pesos e medidas pelo Normal.
novo sistema, não foi única preocupação da reitoria O projeto Paulino de Souza, discutido no Senado,
Pacheco. Felizmente o Colégio nunca onerado com dívidas, encontrou contradições.
sem credor de espaço, desejava aumentar-se no Externato, Partiram de dois membros conspícuos daquela
o Internato à folga no Engenho Velho. Para alargar-se e Câmara, versados em assuntos de instrução pública, os
alojar-se, cumpria ao Externato desalojar dois hóspedes, Senadores Zacarias de Góes e Vasconcellos e o padre
a irmandade de N. S. da Batalha e o Liceu de Artes e Thomaz Pompeu de Souza Brazil.
Ofícios. Funcionava aquela na igreja de São Joaquim, Retirando-se Paulino de Souza do governo, com a
anexa ao Colégio, este desde a inauguração, a 1o de queda do Gabinete 16 de julho de 1868 e formação do
fevereiro de 1859, também ocupava cada vez mais o Ministério de 29 de setembro de 1870, o projeto morreu no
templo, não cessando o reitor Pacheco de pugnar por nascedouro.
desalojamento. Contudo Paulino de Souza teve ensejo, pelo Decreto
Pacheco e o próprio governo sofriam obstáculos nas de 1o de fevereiro de 1870, de alterar regulamentos do
pretensões. Quem dirige pode aborrecer muitos, mas se Colégio pelo qual se graduara em letras vinte anos antes.
aborrece muito. Estejam certos disso, os mais incrédulos As alterações visavam apenas à distribuição de disciplinas,
ou os mais desejosos de proventos e se persistirem na passando a obrigatórias aulas facultativas: Desenho,
dúvida tentem experiência. Música e Ginástica. Nos exames de admissão os
Experiência , de outro género, porém, houve no candidatos deveriam mostrar-se habilitados em doutrina
Colégio, em setembro de 1868, pelo Chefe de Polícia, cristã, leitura e escrita, em noções elementares de
Francisco Augusto Xavier de Brito, solicitada ao reitor gramática portuguesa, nas quatro operações aritméticas
Pacheco devida permissão para no Externato ser feita fundamentais e no Sistema Métrico Decimal.
colocação provisória de telégrafo elétrico, no lugar indicado Os exames seriam de suficiência ou finais, estes
pela reitoria. realizados no Externato, a aprovação nos exames finais
Desde 1868, era Ministro do Império o Conselheiro conferindo os direitos dos exames prestados na Instrução
Paulino de Souza, bacharel em letras. Tendo sugerido ao Pública ou de preparatórios. Desapareciam do Colégio a
Parlamento, em 1869, medidas úteis à elevação e cadeira de Italiano e o ensino de Dança.
fiscalização do ensino, em agosto de 1870 formulou projeto O Decreto Paulino de Souza mandava continuar
pedagógico. facultativa a aula de Alemão, designava duas classes de
Projeto de amplitude. Criava universidade professores, a dos comuns ao Externato e ao Internato,
abrangendo Faculdades de Direito, Medicina, Ciências assim, por exemplo, o de Francês e Retórica, a dos
Naturais e Matemáticas e Teologia. Suprimia Cursos professores privativos de cada seçáo, verbi gratia o de
Anexos nas Faculdades de São Paulo e Recife. Dando o Ciências Naturais. Para o ensino de Música e Ginástica
Colégio de Pedro Segundo por Padrão ao ensino secundário, os reitores contratariam mestres.
Paulino de Souza desejava abrir externatos em São Paulo, Escapando, por setimanistas, às modificações do
Recife e Salvador. Transferia o internato do Colégio para Decreto Paulino de Souza, seis foram, em 1870, os
cidade do interior, da província do Rio de Janeiro ou de bacharéis do externato, em igual número os do Internato.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Da turma do externato, mais destacados se tornariam, no decurso do tempo que lhes fora dado lecionar, não raro
transcurso do tempo, António Felizardo Cupertino do perturbado o ano letivo por efeito de reformas pedagógicas.
Amaral, alto funcionário da Secretaria do Império e do O zelo do Imperador pelo Colégio era de todas as
Interior, na República, e Domingos Sérgio de Sabóia e Silva, horas. Mudassem os ministros, o grande inspetor escolar
engenheiro de boa nota e deputado federal pelo Ceará, dele lá estava em São Cristóvão. Nada se passava no Colégio
berço. sem ciência dele e certo não lhe seria estranha a proposta
É corrente a imagem do "pâo do e s p í r i t o " que, em 1871, fazia o reitor Pacheco do aumento de
significando cultura intelectual. A par deste pão, defeso a remuneração do pessoal administrativo do Colégio,
padeiros, os alunos do Internato, incluídos no número elevados, por exemplo, os do secretário a 1:800$000
destes os bacharéis de 1870, recebiam outro, o fabricado anuais. Favorecia-se, assim, o ocupante do cargo, José
por aqueles, na masseira e no forno, onde cumprindo à Manoel Garcia, não só clérigo de ordens menores como
risca preceito bíblico, os amassadores ganham a vida com mestre em artes pelo Trinity College, estabelecimento de
o suor do rosto, acrescentando-lhes outras transpirações, instrução norte-americano com privilégio universitário.
para que quantos obtêm o pão nosso de cada dia o achem
A proposta de aumento monetário descia aos cargos
alvo e saboroso.
mais modestos da casa. Beneficiava Inspetores com
Também o Externato em 1870 fornecia dois pães a
1:000$000 anuais, o porteiro com 600S000 anuais. Na
alunos meio pensionistas, o pão da mesa a par do "pão
proposta o aumento dos reitores expressivamente ficava
do espírito" este devorado ou rejeitado nas aulas. Para
em branco.
fornecimento do primeiro dos dois pães abria-se
Procurava-se também associar a mocidade a
concorrência de padeiros, minúcias não despiciendas na
demonstrações patrióticas. Assim ao reitor do Internato
pintura de épocas. Em 1870, havia padeiro para propor
enviava o Ministro do Império o programa organizado pelo
"ao Imperial Externato de Pedro Segundo, durante
Ministério da Guerra para recepção dos contingentes do
semestre, fornecer pão ao preço de 29 réis cada pão de 4
nosso exército de regresso da campanha do Paraguai, "a
onças". Logo acudia outro fornecedor de carnes verdes
fim de ter o programa a devida execução na parte que
para propor abastecer o mesmo Externato, por seis meses,
de carnes a 160 réis a libra. competia ao Internato".
Além das funções de regedor supremo da direção Sem maiores tropeços escoou-se o ano letivo de
do ensino do Colégio, da disciplina, das relações com o 1871, assinalado pela entrada do novo catedrático de
governo, cabia ao reitor o fiscalizar da alimentação, de Matemática, Dr. Luiz Pedro Drago, de tão famosa rispidez
cuidados maiores no Internato pelas naturezas do para com discentes.
estabelecimento. Cumpria estar atento, pois a solicitude Foi de doze a turma de bacharéis de 1871 do Colégio,
do Imperador pela Casa se estendia à fiscalização da boa sete no Externato, cinco no Internato. Entre os sete
qualidade dos géneros fornecidos às duas seções do bacharéis do Externato, dois engenheiros civis se
Colégio, mormente o Internato. destacariam em profissão, Luiz Goffredo d' Escragnolle
Não tratava o Colégio apenas do sustento material Taunay e Ezequiel Corrêa dos Santos, enquanto bacharel
de alunos, preocupava-o sobremaneira o alimento espiritual do Internato, Martinho Álvares da Silva Campos, ocuparia
dos mesmos. posições políticas elevadas.
No fim de ano letivo costumavam professores A vida do Colégio tinha ritmo habitual, rarg
apresentar aos reitores súmula dos trabalhos de aula no modificado. Os anos letivos seguiam curso marcado por
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

sucessos de data fixa, abertura de aulas, lições, sabatinas, de Instrução em 1872 pelo Conselheiro José Bento da
exames, encerramento de aulas, distribuição de prémios, Cunha e Figueiredo, ponderava o reitor Pacheco. Ponderava
colação de grau. Só perturbavam o curso dos anos letivos, que em consequência da alteração de horário vigente desde
reformas de ensino e substituições de reitores, vice-reitores 1870 para execução do Decreto 4468, de 1o de fevereiro
e professores. Menos sensíveis para alunos eram daquele ano, precisava a reitoria do Colégio de algum
substituições no corpo administrativo com o qual só por tempo para acompanhar a marcha do ensino antes de emitir
acidente lidavam; zelados de perto os interesses dos juízo seguro. Daí demora em atender a ordens superiores.
alunos por pais ou responsáveis. Estudante de então só Frutos e reformas carecem de sazão. Não deixaria o reitor
tinha uma coisa a fazer: estudar, apontados os estudantes Pacheco de expor ao Inspetor José Bento, em longo ofício,
honorários. os resultados de sua observação.
Duas modificações sofreria o Colégio em 1872, a Verificada a demissão de Pacheco, nomeou o
retirada do reitor do Externato e uma reforma do ensino. governo reitor do Externado um sacerdote, sucedendo a
Cerca de dezesseis anos desempenhava a reitoria um bispo, a um marinheiro, a um médico, tais os três
do Externato o Dr. Manoel Pacheco da Silva, em 1855 primeiros reitores do Colégio.
substituto do Capitão-de-mar-e-guerra Souza Corrêa. O novo reitor, o Cónego da Capela Imperial, José
Datando último ofício de reitoria a 6 de agosto de Joaquim da Fonseca Lima, tomava posse da reitoria a 26
1872, o Dr. Pacheco deixava superintendência do Colégio, de agosto de 1872.
para ocupar outro cargo atinente à instrução. Fora Fonseca Lima, natural da Bahia, pertencia ao cabido
escolhido preceptor dos príncipes D. Pedro Augusto e D. da Catedral, desde 1864, protonotário ad/'r>sfar, governador
Augusto Leopoldo, netos de D. Pedro Segundo, filhos da interino do Bispado do Rio de Janeiro. Gozava fama de
princesa D. Leopoldina e do Duque de Saxe. Morrera-lhes bom pregador, chamado a missão em atos oficiais solenes.
a mãe em Viena d' Áustria e o avô materno, D. Pedro II, Logo ao entrar no Colégio, apresentava o novo reitor
trouxera-os ao Brasil para educá-los sob suas vistas. pormenorizado ofício sobre o estado da Casa, ele, no
Passara o Dr. Pacheco a acompanhar-lhes a vida diária e Externato, executor de ordens do Ministro do Império, o
nela as lições que fossem recebendo, de contínuo Conselheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira Andrade, o
fiscalizados pelo Imperador, chegado havia pouco de qual, em 1872, já suprimira último nome, acabando por
primeira viagem à Europa, ausente do Império desde 24 ser depois geral e mais tarde historicamente conhecido
de maio de 1871. Ao regresso imperial associou-se o por João Alfredo.
Colégio. Em abril de 1872 apresentava-se ao soberano e Com este ocorrera fato raríssimo no Brasil, de até
protetor para felicitá-lo por volta à pátria. Precedido pela então e de futuro, no regime monárquico nosso Ministro
banda de música do 1o Batalhão de Artilharia a pé, do Império no Gabinete São Vicente de 29 de setembro de
aquartelado no largo do Moura, no bairro da Misericórdia, 1870 continuou, João Alfredo a ocupar o mesmo cargo no
dirigiu-se o Colégio, incorporado, à presença do Imperador Gabinete subsequente, o de 7 de março de 1871, organizado
e da Imperatriz, por ambos afavelmente acolhido, timbrando pelo Visconde do Rio Branco e fadado a decretar, para os
sempre D. Pedro II em dar ao Colégio mostras de pública anais da Nação, e tábuas de ouro da História, a lei
consideração. Argêntea. Áurea a de 13 de maio, Argêntea seria a lei de
A obrigação da reitoria era dirigir, observando e 28 de setembro de 1871, libertando os nascituros da
ponderando. Antes de passar reitoria, dirigida a Inspetoria escrava.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Expediu o Ministro João Alfredo o Decreto de 24 de no mal, praticando sem conhecer o vídeo meliora proboque
outubro de 1872, tornando obrigatória a residência do vice- deteriora sequor das palavras de Medeia no verso ovidiano.
reitor no Internato. Atendia também o Decreto ao aumento Justo é ainda hoje mencionar o ótimo proceder de
de inspetores da Casa. Cada uma das duas seções teria alguns alunos de 1872, louvados então; calando os nomes
cinco inspetores, vencendo anualmente 1:000$000, daqueles que na idade de turbulências insopitáveis,
conforme proposta do ex-reitor Pacheco. incidiam em falta e castigo, aquela de vária ordem, este
Venceriam os reitores 4:800$000 ou 4005000 de vários graus.
mensais, os vice-reitores 300S000 mensais, os secretários Algumas notas do livro:
100S000, os escrivães, substitutos dos antigos tesoureiros, Raymundo Teixeira Mendes— Irrepreensível.
2:000$000 por ano, os bedéis 9005000, os porteiros Luiz Cândido Paranhos de Macedo— Irrepreensível.
700S000, os repetidores 1:200$000, o médico do Internato José Thomaz da Porciúncula— Irrepreensível.
8005000. Era este o Dr. Carlos Luiz de Saules, cultor das Qualquer destes discentes não desmentiu na vida o
letras, autor do drama original brasileiro em cinco atos, proceder da juventude. Teixeira Mendes foi o apóstolo do
Manoel Beckman representado por João Caetano. Positivismo no Brasil, ao lado de Miguel Lemos. É possível
A decretação da residência efetiva do vice-reitor do discordar das ideias filosóficas de Teixeira Mendes, do
Internato já encontrava morando no estabelecimento o seu caráter ninguém duvidou. Paranhos de Macedo dirigiu
reitor frei Santa Maria Amaral e o vice-reitor padre-mestre, o Internato e professou no Colégio, distinguindo-se como
bacharel em letras, Corrêa de Sá e Benevides. Nos fundos administrador pela energia sob aparências de bonomia,
do Externato morava também o respectivo reitor Cónego pelo espírito de disciplina, que empreendera como aluno
Fonseca Lima. e, portanto, em perfeita paz de consciência podia exigir de
Para eles e para os funcionários do Colégio, grato discípulos. O terceiro "irrepreensível", José Thomaz da
seria o ano letivo de 1872, pelo aumento de vencimentos, Porciúncula, seria na República, governador do Estado do
e na época nosso câmbio oscilava entre 24 e 25 14. Rio de Janeiro, Senador, Ministro do Brasil no Uruguai.
Funcionário bem remunerado e digno redobra
Alguns discentes de 1872 mereciam quanto o
esforços em bem da causa pública. Aumentados de
procedimento a nota — sofrivelmente — Um aluno recebia
vencimentos, os funcionários do Colégio, em 1872, certo
" 1 o castigo por conversar no silêncio, segundo informava
apurariam zelo pela disciplina, sempre mais fácil de manter
o inspetor Vaz Pinto". O mesmo aluno foi Ministro do Brasil
no Externato pela não permanência de discentes.
em cortes europeias e na carreira diplomática, na qual não
A vida disciplinar do Internato, em 1872, pode ser
raro nas negociações a habilidade consiste em "conversar
avaliada por curioso documento recolhido à seção de
no silêncio", vingou-se o diplomata da parte do inspetor
manuscritos da Biblioteca Nacional. Em livro bem
de 1872. Mostrado o céu e o purgatório da disciplina, baixa
encadernado acham-se lançados os nomes de todos os
o livro do Internato de 1872 a indicar o inferno com o seu
internos de 1872 e considerados os seus procedimentos
círculo de incorrigidos. Um era posto no índex colegial
no ano letivo.
com a menção "castigado várias vezes, mau no último
Encontram-se no referido livro notas favoráveis e
semestre", outro aluno acompanhado por menção pior:
desfavoráveis a discentes de há mais de meio século;
"no último semestre tem procedido mal e deixa graves
mostrando a irrepreensibilidade do proceder de uns, o
suspeitas por escritos que lhe atribuem e sem assinatura".
propósito de emenda de outros, ou a vontade de persistir
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

A menção é tanto mais curiosa quanto o aluno, uma O ano letivo de 1873 assinalar-se-ia por duas
vez homem, se caracterizou como polemista temido de providências governamentais, relativas ao Colégio, o Aviso
adversários, violento, satírico em prosa e verso, de 18 de março e o Decreto de 6 de agosto de 1873. O
escrevendo com elegância reveladora de cultura clássica. citado Aviso isentava o aluno aprovado em exame final
Não só pelo lado psicológico, tão considerado hoje de qualquer disciplina, do estudo da mesma, embora
pela ciência moderna, como atestado do zelo pela reprovado noutras matérias do respectivo ano. O Decreto
disciplina, e bastante curioso o livro guardado na Biblioteca de 6 e agosto, inspirado pelos reitores do Externato e do
Nacional, expressiva minima pars na história do Colégio. Internato, ambos sacerdotes, mandava fazer no Colégio,
Fique também registrada na história do Colégio, em dominicalmente, o comentário do Evangelho do dia. Além
1872, a distinção dispensada ao Internato, pelo governo disto, o Decreto, a pedido dos reitores do Externato e do
Imperial, comissionando pelo Ministério da Agricultura, o Internato, tornava obrigatório o estudo do Alemão e
secretário João Barbosa Rodrigues para explorações ordenava distribuição de aulas por todos os dias úteis da
botânicas no vale amazônico, sem vencimento algum pelo semana, cessando a prática do ensino de religião e de
Colégio. artes em dia único da semana.
A primeira solenidade de distribuição de prémios e No ano letivo de 1873 tomava posse, após concurso,
colação de grau das quais o novo reitor, Fonseca Lima, do cargo de professor de Português, Geografia e Aritmética
participaria, seriam as do ano de 1872, graduando-se cinco do primeiro ano do Internato, quem no Colégio deveria
bacharéis no Externato, três no Internato. percorrer longa e notável carreira, bacharel em Letras,
Em obras a Sala Nobre do Colégio, a cerimónia da bacharel em Ciências Físicas e Matemática pela Escola
colação de grau à turma conjunta de 1872 não se pôde Central, mais tarde Politécnica. Chamava-se o novo
realizar na Casa, sim na pinacoteca da Academia Imperial professor de 1873, Carlos Maximiliano Pimenta de Laet,
das Belas Artes, esta então nos fundos da atual rua Barbara cuja causticidade famosa um de seus sobrenomes já
de Alvarenga, antiga Leopoldina. exprimia.
No dia de Ano Bom de 1873, passava a morar no Findo o ano letivo de 1873, tomaram grau três
Colégio novo vice-reitor, o padre João Pires de Amorim, bacharéis do Externato, um deles futuro professor do
nomeado a 28 de dezembro de 1872, Cónego em 1877, Colégio, Carlos Ferreira França, e três bacharéis do
Monsenhor em 1875, por motivos de consciência Internato. Um bacharelando deixou de receber grau,
recusando, em 1893, recém-criada diocese de Curitiba. Raymundo Teixeira Mendes, recusando-se ao juramento
De cátedra ou emprego no Colégio, gente sacerdotal do estilo, de manter a religião do Estado, obedecer e
tornou-se um tanto o estabelecimento viveiro de prelados. respeitar ao Imperador e às instituições vigentes,
Bispo fora o primeiro reitor, frei António de Arrábida, Bispo concorrendo quanto possível para a prosperidade do
de São Paulo tinha sido de 1861 a 1868 Monsenhor Império e satisfazendo com lealdade as obrigações que
Sebastião Pinto do Rego, antigo capelão do Externato, lhe fossem impostas.
Bispos ainda de Mariana e do Maranhão foram o padre Raymundo Teixeira Mendes estudara no Internato,
Benevides e frei Luiz da Conceição Saraiva, aquele bacharel desde o 2o ano, aluno gratuito, como faz fé o seguinte
em letras e professor da Casa, este também ai tendo termo extraído do livro competente do Internato:"Matrícula
lecionado. Mais tarde, reitor do Colégio, Monsenhor Brito, 385. Aos trinta e um dias de janeiro de mil oitocentos e
seria Bispo de Olinda. sessenta e oito, matricula-se no 2o ano do Internato de
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Pedro Segundo, como aluno gratuito por aviso de 20 de conforme a seção, cuja cadeira fosse provida a concurso,
setembro de 1867, o senhor Raymundo Teixeira Mendes, do inspetor de Instrução e de um membro do Conselho
filho do Dr. Raymundo Teixeira Mendes, natural do Diretor desta. Caso a cadeira a concurso abrangesse mais
Maranhão, nascido em 5 de janeiro de 1856. Para constar de uma disciplina, os candidatos sorteariam ponto para
lavrei o presente termo que assino como Secretário. João cada disciplina. Constaria o concurso de duas provas, a
Barbosa Rodrigues. de preleção e a complementar para confirmar o juízo do
Frei José de Santa Maria Amaral". examinador, defeso debate entre este e o candidato.
Antes da abertura das aulas de 1874, o Ministro João Em 1874 deixava a reitoria do Internato frei José de
Alfredo dividiu em duas cadeiras, comuns ao Externato e Santa Maria Amaral, Monsenhor Félix Maria de Freitas e
ao Internato, o ensino das Ciências Naturais. Por seu lado Albuquerque nomeado substituto Interino.
antes da abertura das aulas de 1874, por ofício de 5 de A turma de bacharéis do Externato de 1874, oito,
janeiro, pedia o reitor Fonseca Lima a nomeação de mais forneceria mais tarde, ao Colégio, um professor, António
dois inspetores de alunos. No Externato só havia 5, Henrique de Noronha, e ao jornalismo carioca Fernando
contendo 258 escolares, lidando o dia inteiro, sem um Mendes de Almeida. Dos quatro bacharéis do Internato,
momento de folga. Qual o resultado? Respondia o reitor: em 1874, um lecionaria na Escola Normal, já na República,
"Falta de paciência para resistir à tendência tão natural da Ugolino Ayres de Freitas e Albuquerque.
mocidade de ir ao encontro às leis disciplinares, e daí a Aos setimanistas, de 1874, estaria, porém,
prepotência e um rigor de inspeção ditado pela cólera e reservado grata distinção a coroar-lhe esforços. Com a
pela vingança do que pelo amor do bem no regime escolar". turma de bacharéis de 1874, começou a entrega do anel
Logo depois, em fevereiro de 1874, o Ministro João simbólico do bacharelado em letras, anel ostentando opala
Alfredo firmava doutrina quanto a gratificações adicionais cercada de brilhantes. Aplaudia Fonseca Lima a inovação
resolvendo o caso do professor jubilado do Colégio, Gabriel da entrega da jóia no ato da colação de grau. Entendia o
de Medeiros Gomes. Declarava o ministro que ao dito reitor do Externato ser aquela entrega, naquele ato,
professor, nomeado para a cadeira de Português, em 1838, "incentivo para maior concorrência ao grau de bacharel
competiam não só o ordenado e a gratificação do cargo, em letras".
como a gratificação extraordinária correspondente à quinta Opinava também, oficialmente, Fonseca Lima, no
parte do vencimento. Eram 960S000 concedidos em sentido de usarem os professores do Colégio, anel igual
recompensa de serviços distintos no magistério. ao dos bacharéis, bem como de outra insígnia no ato da
Já bem antes do caso Medeiros Gomes, em distribuição dos prémios e nas solenidades em que
novembro de 1854, fora declarado ser a gratificação tivessem de aparecer em corporação, convindo cercar a
adicional prémio de serviços e não pro-labore permanente classe dos professores de todas as considerações
e cabendo a todos os professores jubilados. possíveis e, para isso, não pouco concorriam distintivos
O ano letivo de 1874 findava por nova providência oficiais, tanto mais quanto outras corporações do país os
governamental em relação à Casa. Determinava o poder possuíam.
público o provimento de cadeiras por concurso, dispondo Em 1874, declarava à Assembleia Geral o Ministro
sobre a composição das mesas de exame e sobre o do Império, Conselheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira,
tribunal de julgamento de tais certames, tribunal composto reconhecer "os serviços do Imperial Colégio de Pedro II èu
de examinadores, do reitor do Externato ou do Internato, instrução pública em consequência de sua regular
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

organização e pelos hábeis e zelosos reitores e professores Conserve-se aqui, a titulo de curiosidade, a prova
que tinha". Anteriormente, em 1872, o mesmo ministro escrita de ditado e aritmética do exame de admissão do
aventava a conveniência de algumas modificações no imperial externo contribuinte de 1875, de residência na
regulamento do Colégio, no intuito de melhor ordenar o Quinta da Boa Vista.
ensino de certas matérias, desenvolvendo o de outras, " Externato do Imperial Colégio de Pedro 2o — 1 ° de
instituindo-se a classe dos substitutos, de falta sensível, fevereiro de 1875.
ao menos para algumas aulas, aumentando-se o número Ditado — As primeiras criaturas que com suas vozes
de explicadores e dos inspetores de alunos. De acordo nos injuriam e envergonham entre aquelas que o mesmo
com tais ideias anunciava o ministro João Alfredo estar Senhor criou, mas não remiu são as aves. A sociedade
preparando projeto sujeito à ilustrada consideração do Corpo nos trabalhos aligeira o peso deles como a singularidade
Legislativo. os agrava.
Abria-se o ano letivo de 1875 por distinção especial
do augusto patrono do Colégio. D. Pedro II mandava 368105
estudar nele um neto, o príncipe D. Pedro Augusto, filho
48
dos duques de Saxe, órfão de mãe, a princesa D.
2944840
Leopoldina, o pai de residência na Europa.
1472420
Confiada a primeira educação do príncipe ao antigo
17669040
reitor do colégio, Dr. Manoel Pacheco da Silva, era D. Pedro
Augusto, em 1875, levado a estudos secundários regulares
D. Pedro.
no primeiro estabelecimento de instrução secundária do
Prova escrita e oral muito boas.
país.
M. O. R. Costa.
Para a matrícula do príncipe expediu o reitor do
Prova de Doutrina ótima.
Externato, Cónego Fonseca Lima, a seguinte ordem:
Monsenhor Félix d'Albuquerque."
"O Senhor secretário matricule como aluno externo
O ano letivo de 1875 assinalou-se, pois, no
deste Externato no primeiro ano, depois de feitos os
competentes exames de habilitação e independente de Externato, pela matrícula do príncipe D. Pedro.
qualquer outro documento a S. Alteza o Senhor D. Pedro Seguia o avô, D. Pedro II, exemplo do rei Luiz
de Alcântara. Externato do Imperial Colégio de Pedro II, Felippe, este matriculando os filhos em colégios afamados
1o de fevereiro de 1875. O Cónego José Joaquim da em Paris. Assinalar-se-ia também o ano letivo de 1875,
Fonseca Lima — Reitor." no Internato pela nomeação interina de novo reitor, o Dr.
Obedeceu o secretário, ao tempo José Manoel César Augusto Marques, ao qual Monsenhor Félix
Garcia, e nas matrículas de 1875 figurou esta: entregaria cargo.
"N." 181 — S. A. o Príncipe D. Pedro de Alcântara. César Marques, nascido em 1826, ia completar
Ano do curso— 1. cinquenta anos. Nascido no Maranhão, matriculado na
Naturalidade — Rio de Janeiro. Universidade de Coimbra, a estudos matemáticos, viu-se
Anos de idade — 9. privado de continuá-los pela revolução conhecida na história
Classe — Externo contribuinte. lusitana pela da Maria da Fonte.
Moradia — Imperial Quinta da Boa Vista. Veio, então, César Marques, filho de pai
Filiação — S. A . o Duque de Saxe." farmacêutico, estudar medicina na Bahia, aí graduando
ESCRAGNOLLE DOR

em 1846, depois médico militar, servindo vários cargos Rio de Janeiro, reeditada em 1877 e dedicada a colega do
administrativos no Amazonas, no Piauí e no Maranhão. corpo docente, o Dr. Joaquim Manoel de Macedo, legou-
Era um estudioso, mormente de coisas pátrias, nos enumeração dos serviços prestados ao Colégio pelo
avultando entre escritos seus até a entrada para a reitoria talento artístico de Francisco Joaquim Bethencourt da Silva,
do Internato, o "Almanaque Histórico de Lembranças filho de portugueses e nascido em alto mar, a bordo do
Brasileiras", em 3 volumes, as traduções das obras de Novo Commerciante, a 8 de maio de 1831.
Cláudio d' Abeville e Ives d' Evreux, relativas ao norte do Após carreira artística notável, Bethencourt da Silva,
Brasil, e o "Dicionário Histórico Geográfico do Maranhão", a 27 de fevereiro de 1875, na arte ainda uma vez se
obra publicada em 1870, cabendo ao autor várias ordens afirmava com a inauguração do Salão do Grau do
honoríficas, entre elas, o Oficialato da Rosa, e a admissão Externato, dando o maior realce à distribuição de prémios
em diversas associações científicas. e à colação de grau aos bacharéis cujo curso findara em
Começadas as aulas do ano letivo de 1875, a 11 de 1874.
fevereiro, a 27 de fevereiro o Colégio abria as portas para Recebeu a obra de Bethencourt da Silva apoio
a colação de grau à turma de bacharéis de 1874, no amplo constante do Ministro João Alfredo, mas sobretudo, quase
Salão Nobre da Casa, inaugurado com júbilo da instituição. escusa dizê-lo, a de D. Pedro II. Reproduzia-se sem cessar
Havia de exprimi-lo o reitor Fonseca Lima ao Inspetor a profecia de Bernardo de Vasconcellos em 1838, ao
José Bento, dizendo: — "Seja-me licito felicitar o Governo inaugurar o Colégio, asseverando que ele animava
Imperial pela glória de realizar obra tão suntuosa, que é "sobretudo a certeza da poderosa proteção do Príncipe,
neste género a primeira do Império e um monumento de cujo nome honrava a instituição, e cuja generosidade para
gosto e primor de arte que honra o País e com razão tem com ela e aplicação, afiançavam que o culto das letras e
merecido os louvores de Nacionais e Estrangeiros". das ciências seria um dos principais títulos de glória de
"Seja-me ainda permitido agradecer ao mesmo seu reinado".
Governo por parte deste Estabelecimento, imerecidamente O Segundo Reinado, em 1875, já ia em quarenta e
confiado aos meus cuidados, mais este assinalado quatro anos, a datar da Abdicação e em parte alguma mais
benefício, com que ele, na sua solicitude pela Instrução o do que no Colégio com tanto amor se assinalaria.
enriqueceu, tomando-o com esta majestosa obra, mais O Imperador e todos os participantes ou
digno do fim a que é destinado e do Augusto nome que espectadores da inauguração do Salão do Bacharelado do
tem". Externato puderam, a 27 de fevereiro de 1875, com
Devia o Colégio "a obra tão suntuosa, à fecundidade satisfação, admirar quanto a proficiência de Bethencourt
de iniciativas do Ministro do Império, João Alfredo. Ainda da Silva havia se esmerado na grandiosa Sala Nobre do
incompleto o Externato do Colégio, encarregou o ministro Externato.
a Bethencourt da Silva o acabamento do edifício e a reforma Tivera Bethencourt da Silva de dar forma ao teto e
da parte construída. Entendeu o arquiteto, discípulo de ao soalho de molde a disfarçar defeitos de construção,
Granjean de Montigny, este o adaptador do Seminário de corrigindo excesso de comprimento em desacordo com a
São Joaquim, transformado em Colégio, convir na largura. Mereceu-lhe especiais cuidados o soalho,
empreitada um plano geral de reedificação. substituído o antigo e comum por novo e precioso.
Professor do Colégio, bacharel em letras, o Dr. Formava este mosaico obtido pela combinação das
Moreira de Azevedo, no 2o volume de importante obra O nossas mais escolhidas madeiras. Segundo Moreira de
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937

Azevedo, "constituindo florões e festões de cores vivas e Cuidado pelos reitores correu o ano letivo para o
variadas e delicados arabescos, era o soalho um lindo Colégio e para os alunos, sempre em maior número no
mosaico de preciosas madeiras do país, constituindo Externato, 212 em 1875, entre eles, como dizia o reitor
florões de cores vivas e variadas, e delicados arabescos; Fonseca Lima ao Inspetor da Instrução, "S. A. o Príncipe
soalho lindo e rico espécimen da opulenta flora brasileira". D. Pedro, honra com que S. M. o Imperador dignou-se de
O teto do salão não destoava do conjunto. Cinco distinguir o estabelecimento".
painéis o enchiam, cheios de enfeites de folhas de carvalho Ano letivo concluído, exames feitos, distribuição de
e louro, de flores e folhas, ali rosas, aqui acantos, nos prémios, colação de grau, de novo reaberto para ela o Salão
ângulos do painel central, relevos simbólicos, lembrando Nobre, em dia de recompensar e despedir.
letras, artes, ciências físicas e matemáticas. Em 1875, novo público vinha admirar o Salão Nobre
Tal, em traços gerais, o Salão Nobre do Externato do Externato, na solenidade da colação de grau aos
onde, a 27 de fevereiro de 1875, recebia grau a turma de bacharéis em letras. À espera do Imperador, sempre tão
bacharéis de 1874, salão principiado a modificar em março pontual, tendo talvez meditado a advertência de ser a
de 1873. pontualidade a suprema cortesia dos reis, muita gente
Acabada a festa recomeçou o ano letivo de 1875, passava olhos e admirações na obra recente de
numa casa em parte nova, devido ao esforço e à Bethencourt da Silva.
inteligência de Bethencourt da Silva. Nas partes Contemplavam os espectadores as paredes do
reconstruídas o arquiteto levantara o madeiramento mais salão, revestidas de estuque-lustre, formando apainelados
de metro, arejara e iluminara salas, melhorando, coroados de rosas e louros com filetes dourados.
substituindo, ornando. Apresentava o saláo do século XIX, alguma coisa graciosa,
Uma das partes principais do edifício era o pátio do faceiro estilo Pompadour.
central, onde dispostos aparelhos ginásticos. Sombreavam- Enquanto aguardavam a chegada do soberano, mais,
no amendoeiras, nas quais ao abrasar do verão se ouvia o do amigo indefectivel da Casa, os bacharéis de 1875
si-si alistridente das cigarras. Outrora, vindo sem dúvida podiam relancear vistas nas sobreportas do salão, nada
do tempo do seminário de São Joaquim, no centro do pátio, menos de vinte três, nelas, entre adornos esculturais,
erguia-se um poço mandado tapar pelo reitor Souza Corrêa. gravados nomes que para os bacharéis constituíam
No correr do ano letivo de 1875, o Ministro do Império verdadeiro ementário das matérias do curso de bacharelado
e os reitores do Externato e do Internato zelavam interesses em letras.
do Colégio, sabendo quanto por ele se desvelara o Em cada sobreporta um vulto gravado: Euler
Imperador. simbolizando a matemática, Demóstenes, a retórica,
Opunha-se, por exemplo, o reitor do Externato, Horácio, a poesia, Lucena, a literatura portuguesa, Basílio
Cónego Fonseca Lima, que para matrícula no Colégio fosse da Gama, a brasileira, Xenofonte, a língua grega, César, a
dispensado de repetir provas o estudante aprovado em latina, Bossuet a francesa, Goethe, a alemã, Milton, a
qualquer disciplina, nos exames prestados na Instrução inglesa, Rossini a música, Rafael o desenho, Clias, a
Pública. ginástica, Anchieta, a doutrina cristã, Calmet a história
Mostrava-se o reitor infenso à isenção, abrindo sagrada, Temístocles, a antiga, Gibbon, a média, Guizot,
precedente do qual se pretendia valer "Jean Gustave de a moderna, Gândavo, a do Brasil, Platão, a filosofia, Cuvier,
Frontin" matricular, no 5o ano do Colégio, seu filho André as ciências naturais, Kepler, a cosmografia, Estrabão, a
Gustavo Paulo de Frontin. geografia.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Interromperam, contudo, os bacharéis de 1875, o cortinas de veludo verde, dragões ao lado, o dragão símbolo
exame das sobreporias, cujos símbolos diziam aos haviam da Casa de Bragança.
pouco setimanistas, todo o curso do bacharelado. Ouvíu- O Imperador e a Imperatriz ocupavam lugar
se o Hino Nacional. Subiram da rua vozes de comando à privilegiado. Sentava toda a assistência , de pé desde a
guarda de honra. Reitores, corpo docente desceram a entrada dos imperantes, começava a cerimónia.
escada, chegavam o Imperador e a Imperatriz. Não Distribuídos os prémios, ouvia-se o discurso do
tardavam muito a entrar no salão. professor de retórica, uma vez conferido grau a treze
bacharéis, 6 do Externato e 7 do Internato. Três teriam
Cumprimentando à direita e à esquerda,
vida de magistério no Colégio: Alfredo Augusto Gomes,
correspondidos com inclinações de cortesia por parte da
professor interino da Casa; Samuel Castrioto de Oliveira
assistência, dirigiram-se o Imperador e a Imperatriz ao
Coutinho, substituto no Colégio; Luiz Cândido Paranhos
trono, enquanto, na tribuna da música, alunos do 1o e 2o
de Macedo, vice-reitor da Casa, e nela catedrático em 1911.
anos do Colégio entoavam o Hino da Independência.
Alguém, num prefácio à obra didática do professor
Ao fundo do salão erguiam-se duas enormes
da Casa, Jonathas Serrano, pôde expender os seguintes
cariátides , ornato arquitetônico a ressaltar de superfície
conceitos: —
quase sempre vertical, para sustentação de figura ou
"Mercê de Deus, nunca houve míngua no Colégio
objeto. de Pedro II, de professores distintos e de alunos
Tinham as cariátides do salão do Colégio significação distinguidos".
especial, simbolizavam a capital do Império, cingidas de Do Colégio têm saído as mais belas flores para as
coroas douradas sustentavam cimalha, esta com escudos exposições de nossa cultura intelectual".
das armas imperiais e as setas de São Sebastião, padroeiro Daí o famoso estabelecimento, em tão boa hora
da cidade carioca. fundado pela Regência, possuir, pelo menos, um
Ao fundo do salão assim ornamentado erguia-se representante conspícuo em cada província de saber no
todos os anos, no dia de grau, o trono imperial , entre reino do engenho humano.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937

IX
O Colégio de 1876 a 1881

Adiamento das Aulas em 1876 • Desocupação da Igreja de São Joaquim •


Caso Schieffler/Thomaz Alves • Novos Professores de Filosofia • Reforma Leôncio
de Carvalho • O Ensino Livre • Novos Reitores • O Conselho Colegial, suas
Sessões em 1880-1881 • A Conversão do Conselho Colegial em Congregação •
A Primeira Sessão da Congregação • A Turma de Bacharéis de 1881.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Ao iniciar-se o ano letivo de 1876, propunha o reitor anexa ao Colégio. Segundo o Cónego Fonseca Lima "dar-
do Externato, Fonseca Lima, o adiamento da se-ia a Deus o que pertencia a Deus", evangelicamente
abertura das aulas para 15 de fevereiro, de acordo com de acordo com a decisão de Jesus no dever do tributo a
César Marques, reitor interino do internato. O Externato César. Achava-se também a igreja ocupada pelo Liceu de
achava-se em obras, entendendo o Cónego Fonseca Lima, Artes e Ofícios, mal acomodado, no perigo constante de
necessário aquele adiamento, e justificava-o "por náo ser incêndio no templo pelo número excessivo de luzes acesas
higiénico respirarem os alunos, em quadra de excessivo nos diversos andares de madeira, levantados no recinto
calor, a exalação de substâncias mais ou menos tóxicas sagrado. Tudo ponderado pelo reitor do Externato. Dentro
de que se compõem as tintas".
em breve era satisfeito o desejo do Cónego Fonseca Lima.
Anuiu o Governo, pelo Ministro do Império, José Restituiu o Ministro José Bento, ao Colégio, a igreja
Bento da Cunha e Figueiredo, abrindo-se as aulas do e as acomodações das quais tivera privado havia anos.
Colégio a 15 e não 1o de fevereiro. A 22 de dezembro de 1876, graduava-se a turma de
Logo após, em abril, era o Colégio distinguido , com bacharelandos do ano, importando a solenidade da colação
a nomeação de um de seus professores, o Dr. Azevedo de grau e distribuição de prémios na despesa de
Corrêa, para Comissário do Ministério do Império, na
1:267$000, metade da despesa por conta do Internato.
Exposição de Filosofia, comemorativa do 1o Centenário
Bacharelavam-se, em 1876, nove jovens no
da Independência Norte-americana, na qual Washington
Externato, entre eles futuro lente da Escola Politécnica,
alcançara imortalidade, modelo humano na História.
Francisco Manoel das Chagas Dória, e sete jovens no
Outro professor do Colégio, o Dr. Joaquim Manoel
Internato, um deles Manoel Edwiges de Queiroz Vieira,
de Macedo funcionava como Secretário-Geral da
Exposição Nacional, dispensado de aulas no futuro chefe de polícia e Ministro da Agricultura em a
estabelecimento. Tudo distinções a refletirem sobre o República.
Colégio. No correr do ano letivo de 1877, avultaria no Colégio,
No meio do ano letivo, pedia o reitor do Externato uma dessas questões não raras nas casas de ensino^
restituição ao culto religioso da Igreja de São Joaquim, provocando atrito entre docentes.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

No Externato lecionava Grego o professor Schieffler, Passou a reger a cadeira o substituto, Dr. Joaquim
no Internato o professor Manoel Thomaz Alves Nogueira, Jerônymo Fernandes da Cunha Filho. Transferido logo após
bacharel em letras de 1857. Constando a Schieffler que para o Internato ocupou a cadeira do Externato, Frei
alunos do Internato estavam a traduzir a Ilíada, reclamou Saturnino de Santa Clara Antunes de Abreu. Monge
o professor do Externato, junto ao reitor Fonseca Lima, beneditino como o antecessor, Santa Maria Amaral, era o
pedindo providências. Cumpria fazer cessar "a imensa substituto deste dele continuador na cátedra.
disparidade resultante do atraso para os alunos do Ensinaria pelo compêndio de Barbe, professando
Externato aos quais fora categoricamente proibida a Lógica e Metafísica no 6o ano, Ética e História da Filosofia,
tradução da Ilíada, reservado o poema homérico para os detida esta em Descartes, Malebranche, Spinoza e Leibniz,
exames". no 7o ano.
Urgido por Schieffler, o reitor Fonseca Lima pedia O professor de Filosofia do Internato era moço lido
explicações ao reitor do Internato, César Marques. em filosofia mais moderna. Chamava-se Joaquim
Agradeceu este a Fonseca Lima "a prova de intimidade e Jerônymo Fernandes da Cunha Filho, formado em Direito
bom coleguismo, enviando-lhe a reclamação" de Schieffler. pela Faculdade de São Paulo, ledor infatigável, dotado de
Ponderou, porém, que não havendo subordinação entre as ótimas humanidades, possuía palavra fluente, presença
duas seções do Colégio, alvitrava o encaminhamento do agradável, físico desgracioso, jamais favorecendo
protesto à Inspetoria de Instrução. Tudo por "desejar professor. Manifestaria depois o professor do Colégio dotes
corresponder à atenção que lhe merecia a pessoa de oratórios na Câmara dos Deputados, dotes por assim dizer
Fonseca Lima", afiançava César Marques. Ele "reputava de família, Fernandes da Cunha Pai um dos maiores
nulo e impertinente" o protesto do professor do Externato. oradores que têm honrado a tribuna parlamentar pátria,
Entretanto, submetia-o à consideração do incriminado cognominado o "Cícero Brasileiro".
Thomaz Alves. É de assinalar na reitoria do Cónego Fonseca Lima
Expendendo defesa surgia o professor do Internato: ofício de 31 de outubro de 1877, ofício de maior extensão.
"Prescrevo aos alunos do T ano leituras de Homero, porque Nele o reitor expunha ao Ministro do Império, Costa Pinto
ignoro haver artigo ao Regulamento vigente que proíba aos e Silva, as necessidades do estabelecimento posto à
alunos exercitarem-se nas formas poéticas e de guarda do nome Imperial. É documento completo e digno
metrificação que constituem matéria de e x a m e " . de leitura por parte de quantos amam o passado do Colégio.
Acrescentava a Schieffler: "A respeito da disparidade de Findo o ano letivo de 1877 ocorria, a 23 de dezembro,
circunstâncias que deste fato possa resultar para os que distribuição de prémios e colação de grau. Para a
não são alunos deste Internato, não é da minha atribuição solenidade, à porta do Externato, achavam-se a guarda
cogitar". de honra habitual no ato, pela primeira vez, porém, a Guarda
Não nos informam documentos do Colégio como dos Arqueiros. Só acompanhava esta o Imperador nas
terminou o caso Schieffler-Thomaz Alves e logo a propósito sessões de abertura ou encerramento da Assembleia Geral
da belicosa Ilíada. No poema homérico às vezes no Paço do Senado.
intervinham nas pelejas deusas ocultas em nuvens, em Na lista dos premiados em 1877, entre outros
1877, a mitologia já sem poder de auxílio. nomes, liam-se o do 1 o anista Argemiro Gabriel de
Em meados de 1877, jubilava-se o professor de Figueiredo Coimbra, futuro comediógrafo, o do 3o anista
Filosofia do Externato, frei José de Santa Maria Amaral. Príncipe D. Pedro Augusto, o de Pardal Mallet, o de José
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Cândido de Albuquerque, depois de Albuquerque, Mello Antes de tudo tornou-se livre a frequência no
Mattos, vindouro diretor do Colégio, e do setimanista Externato. O bedel passou a figura nula. Ficou o ensino
António Jansen do Paço, futuramente funcionário ilustrado religioso sem caráter obrigatório, modificando o juramento
da Biblioteca Nacional e do Ministério das Relações para concessão do grau de bacharel em letras.
Exteriores. Restabeleceu a reforma as aulas avulsas, permitindo a
Quando sextoanista, em 1876, tivera Jansen do qualquer, fosse qual fosse a idade, frequência nas aulas
Paço necessidade de recorrer a concessão especial do do Externato. Reduziu o número dos substitutos,
Ministro do Império, o Conselheiro José Bento da Cunha designando-os, bem como os professores do Colégio, para
Figueiredo. Autorizara este ao reitor do Internato a deixar examinadores gratuitos de preparatórios, melhorados os
sair da Casa, por horas, a Jansen do Paço, a fim de seus vencimentos de magistério. A Reforma Leôncio de
presenciar casamento em sua família. O sucesso e dos Carvalho restabeleceu a cadeira de Italiano, conservou o
menores, dele, porém, é possível tirar conclusão maior, a septenato de curso.
do rigor e exemplo nas saídas extraordinárias. Malgrado inconvenientes, tornou, porém, mais
Com mais dezesseis colegas do Externato, e do
aligeirado o ensino por melhor distribuição de disciplinas.
Internato, recebia Jansen do Paço o grau de bacharel em
No Internato, uma vez por semana, funcionaria aula
letras, toda a turma jurando aos Santos Evangelhos, honrar
de Latim para turma grande composta dos alunos do 4 o ,
o grau conferido, pelo Ministro do Império, Conselheiro
5o, 6o e 7o anos, uma aula de Inglês conjunta para os 5o, 6o
António da Costa Pinto e Silva, ministro desde 15 de
e setimanistas, uma vez por semana. Nestas aulas
fevereiro de 1877.
especiais seriam lidas, vertidas, obras clássicas latinas e
No ano letivo de 1878, o Colégio sofreria perturbação.
inglesas, acompanhadas de temas e análises.
A institutos de instrução sempre as acarretam reformas
Em outubro de 1878, Leôncio de Carvalho ainda
de ensino. Logo no Ano Bom de 1878, ascendeu ao
aprovaria instruções para provimento dos cargos de
Governo, o Partido Liberal em ostracismo havia quase
professor catedrático e substituto do Colégio, neste as
decénio. Organizado o primeiro gabinete da nova situação,
o de 5 de janeiro de 1878, nele coube a Pasta do Império a reformas do ministro inovador, nem por todos bem aceitas.
professor da Faculdade de Direito de São Paulo, o Dr. Carlos A reforma do regulamento do Colégio fora primeiro
Leôncio de Carvalho, recusada a pasta pelo Senador José passo do reformador. Passo maior seria em breve o do
Bonifácio. Decreto de 19 de abril de 1878, reformando o ensino
Leôncio de Carvalho, imbuído de ideias pedagógicas superior em todo o Brasil, o ensino primário e secundário
norte-americanas de liberdade do ensino, sem pesar bem no Município Neutro, declarado tal ensino inteiramente
o perigo das adaptações, tanto a desajeitar sociedades livre.
como roupas, entrou para o ministério disposto a reformar No momento de 1878, a Reforma Leôncio de
o ensino superior do Império e o secundário e primário da Carvalho não podia deixar de perturbar o curso do ano letivo
Corte. do Colégio, em menor grau para os setimanistas a saírem
Começou pelo Colégio de Pedro Segundo, alterando- da casa em número de cinco, três no Externato e dois no
Ihe, ou antes, golpeando-lhe o regulamento, pelo Decreto Internato.
de 20 de abril de 1878. A simples enumeração das Propugnador do ensino livre, entretanto, o Ministro
providências nada previdentes do Decreto mostra quanto Leôncio de Carvalho, a João Severiano da Fonseca,
o velho Colégio de chofre virava pelo avesso. Hermes, bacharel pelo Internato, em 1878, e a Hemeterio
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937

José dos Santos, negava permissão "para, por convite de Não se lhe dando a devida atenção nos ditos
alguns pais, explicarem a alunos as matérias que tinham colégios, com dificuldade a educação física se propagaria
de estudar no Internato". ao Brasil, apesar dos esforços que cidadãos beneméritos
De modo diferente, a quem estudava ou não, os t ê m feito procurando em vários escritos e várias
professores do Colégio prestavam atenção, louvando ou conferências demonstrar a sua utilidade.
reclamando, premiando estudiosos, incriminando Poderia transcrever um número considerável de
desidiosos. pareceres de homens competentes, apóstolos benévolos
A 25 de outubro de 1878, o professor Goldschmidt de tudo o que o progresso ordena a favor da mocidade,
pedia providências ao reitor Fonseca Lima contra a falta futuro do país, cujo fraco trabalho apresento a V. Ex.a
de aplicação de dois alunos do 5o ano, cujos nomes esperando merecer a vossa sábia e justa aprovação."
declinava, "alunos estes que nunca estudam a lição, O ofício de Paulo Vidal é prova de atenção por saúde
confiados nos seus colegas dos quais procuram obter e desenvolvimento físico de discentes.
cola". Desejava o professor fossem punidos, rogando a Foram atendidas as ponderações do professor de
S. Ex.a o reitor que o ajudasse não só para o progresso Ginástica, construído em centro de pátio, como alvitrava
dos alunos, mas ainda para a moralidade do Colégio".
Paulo Vidal, um pavilhão onde em dias chuvosos se não
Zeloso pelo cargo, no ano letivo de 1878, o professor
interrompiam exercícios de educação física, hoje, tão
de Ginástica, Paulo Vidal, representava ao reitor Fonseca
preconizada a ponto de não raro entre alunos a mens sana
Lima acerca da frequência dos discentes, à hora da aula,
ser prejudicada pelo corpore sano; o pavilhão de ginástica
muitos pais alegando motivos para o não comparecimento
do Externato subsistindo até reconstrução do edifício.
dos filhos às aulas da tarde.
Ao abrir-se o ano letivo de 1879, verificou-se não
"Mudada a hora — dizia Paulo Vidal — esses
haver nenhum aluno matriculado no 7o ano do Externato.
inconvenientes todos haviam de desaparecer. Teríamos
No Internato, vigoravam novidades, a dispensa da
aula proveitosa para todos. Teríamos o desenvolvimento
aula de Religião para os alunos acatólicos, reformado até
físico considerado como elemento especial na educação
e como auxiliar indispensável na vida intelectual, ou se o juramento de grau de modo a poder ser proferido por
fosse possível, os exercícios físicos entremeados com bacharelandos acatólicos, a elevação de exigências para
as aulas fanam uma feliz diversão à posição forçada, à o exame de admissão só podendo ser realizada matrícula
imobilidade e quietação das aulas, servindo também, de de maiores de onze anos e menores de quinze.
descanso ao espírito. A 20 de março de 1879, declarava o Ministro Leôncio
Dispondo dum lugar livre das intempéries do tempo, de Carvalho às reitorias do Colégio as condições para
não haveria inconveniente que fosse adotada qualquer hora, concessão de gratuidades escolares.
conquanto fosse respeitada a digestão. Caberiam a órfãos reconhecidamente pobres, a
Apresento a V. Ex.a o risco de um pavilhão, podendo filhos de militares falecidos na Guerra do Paraguai, a filhos
ser levantado no centro do pátio, pavilhão cuja capacidade de professores com dez anos de bons serviços no
permite exercitar os alunos por turmas e que em nada magistério, a alunos pobres que se houvessem distinguido
prejudicam as condições higiénicas do estabelecimento. no ensino primário.
Das escolas do Governo e do Imperial Colégio de A 19 de abril de 1879, referendava Leôncio de
Pedro Segundo devia partir a iniciativa em tudo que diz Carvalho, o Decreto chamado do Ensino Livre, livre em
respeito à educação. todos os graus de instrução.
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O Decreto tornava extensíveis as prerrogativas do Apresentavam-se em concurso oito candidatos: —


Colégio de Pedro Segundo aos colégios que pelo programa Monsenhor Gregório Lipparoni, o Cónego José Gomes de
de estudos dele se moldassem, funcionando com Azambuja Meirelles, os Drs. Sylvio Romero, Rozendo
regularidade por espaço de sete anos, apresentando no Muniz Barreto, António Luiz de Mello Vieira, Joaquim
mínimo 60 alunos ao grau de bacharel em letras. Jerônymo Fernandes da Cunha Filho e os Srs. Boaventura
O Decreto de 19 de abril, entre protestos e aplausos, Plácido Loureiro de Andrade e Franklin da Silva Lima e
coisa humana, acabou influindo para a demissão de André Gustavo Paulo de Frontin.
Leôncio de Carvalho, substituído pelo Conselheiro Para julgá-los constituiu-se comissão examinadora
Francisco Maria Sodré Pereira, executor da Reforma composta do Conselheiro José Bento da Cunha Figueiredo,
Leôncio. Inspetor da Instrução Pública, dos reitores do Externato e
No ano por esta assinalado, 1879, pela primeira vez, do Internato, Cónego Fonseca Lima e Dr. César Marques
não se graduou ninguém no Externato, cabendo ao e do professor do Colégio, Pedro José de Abreu. Serviriam
Internato a colação de grau inteiro, à qual compareceram de examinadores os Drs. Nuno de Andrade e Joaquim José
quatro bacharéis. do Carmo.
Em 1879, o Externato não apresentava
Logo no início do concurso ocorreram dois casos.
pesarosamente setimanista algum para receber grau. No
O candidato Silva Lima, alegando enfermidade, pediu
meado do ano, lamentava a perda do vice-reitor interino
adiamento por um mês, tendo o mesmo candidato
— Cónego Pedro da Silva Corrêa —, substituído pelo padre
participado de concurso anterior da matéria, aliás anulado.
Álvaro Soares de Andréa, admitido como inspetor de alunos
Resolveu a comissão examinadora não espaçar o certame.
quem mais tarde dirigiria o Internato: Luiz Cândido Paranhos
Logo após, o candidato Paulo de Frontin, ainda menor,
de Macedo.
requereu à comissão julgadora lhe fosse facultado tirar
Não teve o Ministro Sodré Pereira tempo de ocupar-
ponto para tese, ao menos condicionalmente.
se com o Colégio, poucos meses à testa da Pasta do
Respondeu-lhe a comissão julgadora ter consultado
Império.
Apenas alterou o regime dos exames de o Ministro do Império "o Conselheiro Sodré Pereira"
preparatórios na Corte, determinando fossem prestados expondo a dúvida de admitir o candidato à concurso, por
perante mesas presididas pelo reitor do Externato. não ter a idade legal de 21 anos.
Comporiam as mesas três membros indicados pelo reitor Sem solução da consulta, entendia a comissão não
e tirados dos corpos docentes do Colégio e da Escola lhe ser lícito dar ponto ao candidato Frontin, nem
Normal. Só pelo Decreto de 4 de setembro de 1877 condicionalmente, podendo ele ter ciência do ponto
haviam tido validade, em qualquer tempo, os exames de sorteado, dissertando sobre o mesmo por sua conta e risco
preparatórios, anteriormente de validade limitada a prazo até resolução do Governo.
certo. Comunicada esta resolução ao candidato Frontin,
Encerrava-se o ano letivo de 1879 com um concurso procedeu-se ao sorteio do ponto para tese, tirando
de Filosofia, para preenchimento do cargo de substituto Monsenhor Lipparoni da urna o ponto n.° 8: Da interpretação
da cadeira. filosófica na evolução dos fatos históricos.
Tal concurso merece especial menção, não só por Frontin recusou-se a copiar o ponto sorteado,
ter sido muito disputado, como por ter aberto ensejo a protestando em grau de recurso para o Conselho de Estada
curioso incidente. se o Ministro do Império o desatendesse.
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Nas férias de 1879. prosseguiria o concurso de s e g u n d o lugar, c a b e n d o o p r i m e i r o a M e l l o Vieira,


Filosofia. particularmente recomendado ao Governo pelo diretor da
A 12 de janeiro de 1880, realizava-se. na presença Faculdade, Paula Baptista, em ofício reservado, segundo
de D. Pedro II, a defesa de teses de cinco candidatos dos Clóvis Bevilacqua.
o i t o d a i n s c r i ç ã o : S y l v i o R o m e r o , Rozendo M u n i z , Sylvio — diz o m e s m o Clóvis — não se conformou
F e r n a n d e s da Cunha F i l h o . M e l l o Vieira e C ó n e g o c o m esta classificação, que, realmente não era de justiça
Azambuja, submetidos todos à prova escrita a 16 de absoluta, dados os seus méritos excepcionais de
janeiro, versando a prova sobre o ponto número 3. — Da inteligência e preparo, além do julgamento do concurso de
ideia de um Ente Supremo. 1875, anterior à defesa de teses.
Lidas as provas escritas dos candidatos, a 17 de Mas devemos reconhecer que se não afastou muito
janeiro, procedeu-se à classificação daqueles, dado o da justiça c o m o c o s t u m a m praticá-la os homens. Nem
primeiro lugar a Sylvio Romero, com as seguintes notas sempre t e m ela olhos vendados.
da comissão examinadora (Nuno de Andrade e Carmo — No ano anterior, dera-se o escândalo, da defesa de
Tese oficial — Provas escrita e oral, ótimas). teses do futuro grande brasileiro e já escritor notável.
Rozendo Muniz e Mello Vieira foram classificados A Congregação fora injuriada, a mágoa era muito
o o
ex aequo em 2 lugar, cabendo o 3 ao Cónego Azambuja recente, e os julgadores não tiveram a isenção de ânimo
e o 4 o a Fernandes da Cunha Filho. preciso para esquecer o desrespeito e ver o mérito em
S y l v i o R o m e r o , o s e r g i p a n o , vinha do N o r t e sua límpida afirmação.
precedido pela fama não só do mérito próprio como pelo Ao Ministério Sinimbu de 1878 sucedia em 1880 o
incidente de famoso concurso na Faculdade de Direito de Primeiro Gabinete Saraiva. Nele ocuparia a Pasta do
Recife, em março de 1875. Império antigo professor do Colégio, o Barão H o m e m de
No curso da arguição de Sylvio, pelo lente Coelho Mello, nomeado Ministro, em março de 1880, quando o
Rodrigues, tendo este declarado que a lógica não excluía Colégio em 42° ano letivo.
a metafísica, replicou Sylvio Romero, dizendo esta é morta. Francisco Ignácio Marcondes H o m e m de Mello,
"Foi O senhor que a matou?..." perguntou Coelho Barão H o m e m de Mello, regressava indiretamente ao
Rodrigues. "Foi o progresso, foi a civilização", retorquiu Colégio, onde, por concurso, lecionara a cadeira de História
o c a n d i d a t o , r e t i r a n d o - s e da sala c o m e x p r e s s õ e s Universal, dela se demitindo para exercer a Presidência
indignadas. de São Paulo, em 1864.
Exposto o incidente ao Governo pela Congregação Alguns lustros depois, Ministro do Império, entrava
da Faculdade deu em nada. a superintender o Colégio e logo para lhe reformar estudos
No concurso do Pedro Segundo, em 1879, veio Sylvio no ano seguinte da nomeação ministerial.
Romero encontrar, entre contendores, o Dr. Mello Vieira, Ao ministro novo, sucedia reitor novo no Externato.
que com ele concorrera, em 1876, por provimento da Deixava a reitoria deste, exercida desde 1872, o Cónego
cadeira de Filosofia do Curso de Preparatórios anexo à Fonseca Lima, o baiano da ilha de Itaparica, cheio de cargos
Faculdade de Direito de Recife. e encargos na vida, entre aqueles o de Coronel-chefe do
Concorrendo pela segunda vez — da primeira em Corpo Eclesiástico do Exército e seu organizador.
concurso anulado fora Sylvio classificado em primeiro lugar Na tribuna sagrada tivera sempre preferência para
— à cadeira do Curso Anexo se viu Sylvio colocado em grandes solenidades, famosa na Bahia, a oração fúnebre
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de Fonseca Lima nas exéquias de Labatut, de ossos aí residiu muitos anos, tornado ao Rio de Janeiro para dirigir,
trasladados para a matriz de Pirajá, onde combatera pela interinamente, o Diário Oficial, deixando o cargo para
Independência, tão doente o pregador que o tinham levado exercer a reitoria do Internato.
do leito ao púlpito. Na Bahia ainda orara nas exéquias por Era António Henriques Leal, homem de muitas boas
D. Maria II, em 1854, por D. Pedro I, em 1859 e 1860, letras, espírito de trabalhador servido por sólida cultura,
chamando-o então o repentista Muniz Barreto de "sagrado vencendo no bem o mal físico resultante do insulto de
poeta do Evangelho". 1868. Polígrafo, dedicava amor à terra natal e ao assumir
Vindo ao Rio de Janeiro, Fonseca Lima ainda a reitoria do Internato já havia publicado, em Lisboa, em 4
continuara carreira feliz de pregador apreciado, produzindo volumes, o Pantheon Maranhense, tentando ensaios
orações fúnebres quais as dos Bispos Conde de Irajá e de biográficos de falecidos maranhenses ilustres.
Crysopolis, quais a da Imperatriz D. Amélia e da Princesa É trabalho ainda hoje lido e consultado assim como
D. Leopoldina, qual a oração fúnebre nas exéquias da a Notícia acerca da vida e das obras de João Francisco
Capela Imperial pelos mortos na Guerra do Paraguai, oração Lisboa, da estimada lavra do mesmo António Henriques
que lhe valeu elogio do Ministério da Guerra. Leal.
Na fecundidade das obras impressas do Cónego Entrou este em exercício no Internato, justo, quando
Fonseca Lima destacava-se, para o Colégio, a José Joaquim do Carmo tomava posse da reitoria do
"Consolidação de todas as disposições relativas ao Externato, onde, a exemplo de antecessores, deu
Externato do Imperial Colégio de Pedro Segundo", trabalho oficialmente balanço no estabelecimento, cuja direçáo lhe
publicado em 1874. haviam confiado.
Com a exoneração do Cónego Fonseca Lima, Logo de princípio opôs-se o novo reitor ao
homem público ilustre, respeitável e respeitado, assumiu provimento da vaga de preparador de Física, por um
reitoria do Externato, o Dr. José Joaquim do Carmo, natural requerente reprovado em concurso, em maio de 1880.
do Rio de Janeiro, bacharelado em direito pela Faculdade Novo reitor no Externato, recebeu este novo vice-
de São Paulo. reitor, muito de Casa. Era José Manoel Garcia o "Canário",
Sobre versado em matéria de instrução pública, assim o tratavam os alunos, em ausência, bem se vê, ele
antigo diretor de colégio particular, tinha o Dr. Carmo prática muito louro. Chegava à vice-reitoria quase no fim do ano,
de administração. Antes de reitor do Externato presidira nomeado a 9 de novembro de 1880, de posse a 12,
três províncias do Império, a do Paraná, em 1861, a do substituto do padre Álvaro Soares de Andréa.
Espírito Santo, em 1865, a do Pará, em 1878. Tomou posse Encerrava-se o ano letivo de 1880 com a colação
da reitoria do Externato a 26 de julho de 1880. Quando o de grau à turma de bacharéis. Compunha-se de oito 7o
Externato recebia novo reitor, Carmo em substituição a anistas, quatro do Externato e quatro do Internato. Entre
Fonseca Lima, dispensava o Governo o reitor do Internato, os bacharelandos do Externato figuravam António
César Marques, dando-lhe por sucessor, a 25 de julho de Fernandes Figueira, depois médico pediatra notável e cultor
1880, o Dr. António Henriques Leal, maranhense como o de letras sob o pseudónimo de Alcides Flávio, e Raul de
antecessor. Ávila Pompeia, o futuro romancista do Atheneu, já se
Médico pela Faculdade do Rio de Janeiro, clinicara ensaiando no Colégio com a publicação da novela Uma
Leal em S. Luís até 1868, quando de insulto cerebral lhe Tragédia no Amazonas, célebre na Casa o seu dissídio
resultou hemiplegia do lado esquerdo. Passando a Lisboa entre Pompeia e Schieffler, o professor de Grego.
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No primeiro ano da reitoria Carmo, o de 1880, fazer para remediar esse estado de coisas? — 3 o — Que
reviveria aquela disposição caída em desuso, embora medidas adotar quanto à conveniência dos estudos do
consignada no regulamento primitivo do Colégio, o de 31 estabelecimento?
de janeiro de 1838. Por tal disposição o reitor deveria ser L o n g a m e n t e , vários p r o f e s s o r e s d i s c u t i r a m o
assistido pela reunião de professores da Casa, formando assunto da consulta reitoral, cada um não só do ponto de
Conselho Colegial. vista geral como visando interesses da sua cadeira.
A 2 de agosto de 1880, o reitor Carmo presidia Tornou a reunir-se o Conselho Colegial a 6 de
primeira sessão do Conselho Colegial, presentes o vice- setembro, de cinco da tarde às oito da noite, sem nenhum
reitor do Externato e os seguintes professores catedráticos: prejuízo de aulas. Na sessão, o professor Lucindo dos
— G o l d s c h m i d t , Monsenhor Félix, Pedro José de Abreu, Passos, condenava o ensino do Latim pela Artinha do padre
Halbout, Schieffler, Silva Lisboa, Lucindo, Ramos Mello, Pereira, preconizando tal ensino pelo método de Clintock.
Drago, Pacheco da Silva Júnior, Araújo Góes, João José Assim justificava opinião: — "Chegando a esta
Moreira, e Rozendo Muniz Barreto. Corte, tive a ventura de ter às minhas ordens a boa livraria
Achavam-se t a m b é m p r e s e n t e s à reunião, t r ê s latina do m e u pranteado amigo Dr. Almeida Rego, então
professores substitutos regendo cadeiras interinamente, estimadíssimo reitor do Internato, cujo nome olvidado pelo
Berquó, Carlos França e João Rodrigues de Macedo, bem G o v e r n o , terá s e m p r e gratas recordações nos seus
c o m o os m e s t r e s de M ú s i c a , D e s e n h o e Ginástica, discípulos, amigos, colegas e clientes.
Mathias Teixeira, Poluceno Manoel e Paulo Vidal. Foi nessa biblioteca despertada minha curiosidade
Abrindo sessão inaugural do Conselho Colegial, o para as pesquisas do Latim, e foi por essa curiosidade
reitor Carmo mostrou rapidamente a conveniência da sua que ao ler um anúncio de se achar esgotada em 10 anos a
o
nova reunião, revivida assim a prática do artigo 2 do 8 a edição da gramática de Clintock, eu a mandei buscar.
Regulamento de 31 de janeiro de 1838, " e m desuso de O que fiz com ela, máxime no Internato é mais que sabido,
tempo imemorial". Em seguida o reitor convidou os e para minha glória basta dizer que o Barão de Tautphoeus
presentes a expenderem parecer sobre pontos para os assim que ela apareceu a admitiu no seu Colégio, e o
quais previamente lhes chamara atenção. m e s m o fez o Sr. Dr. Abilio (Dr. Abílio César Borges, depois
Coube a Goldschmidt, professor de Alemão, em Barão de Macaúbas): — haverá alguém mais competente
n o m e de colegas e no próprio, agradecer a prova de que estes dois Senhores?
atenção e apreço do reitor, procurando ouvir, o que nunca Muitos outros a t e m admitido principalmente nas
acontecera, o corpo docente do Colégio. províncias.
Discutiu o Conselho, logo em primeira sessão, Esgotada a 2 a edição e a necessidade próxima de
numerosos assuntos relativos ao ensino e indicados aos 3 a , provam que muito acertei acomodando t a m b é m para o
professores e mestres pelo reitor Carmo em ofício de 27 Brasil essa excelente obra, que só t e m um grande defeito:
de julho de 1880. Começada às cinco horas da tarde — dá muito trabalho ao professor".
prolongou-se a sessão até às oito da noite, lavrando-se A 4 de outubro de 1880, nova reunião do Conselho
dela minuciosa ata. Coíegial, iniciada pela proposta para a concessão de
Apresentara o reitor Carmo ao Conselho Colegial as bancos de honra aos alunos do Colégio, por proposta dos
o
seguintes perguntas: — 1 — Quais as causas da baixa respectivos professores, notando-se entre os distinguidos
de matrícula do Colégio em 1880? — 2 o — Que convém no 5 o ano João da Costa Lima Drumond, bancos de honra
ESCRAGNOLLE DÓRIA

em História, Física e Cosmografia, no 6o ano o príncipe alunos a seu cargo naquelas línguas representando o papel
D. Pedro Augusto e João Carlos Pardal de Medeiros Mallet, de professores meramente práticos".
bancos de honra em Retórica, no 7o ano e Raul de Ávila Apoiou a ideia o Dr. Moreira, professor de Italiano,
Pompeia, bancos de honra em Italiano, História e Corografia achando-a excelente, desejando-a estendida ao Italiano.
do Brasil. O professor de Inglês, João Rodrigues Macedo,
Em seguimento ocupou-se o Conselho Colegial de defendia os monitores, "não podendo tolerar se dissesse
responder a quesitos formulados pelo reitor Carmo, tratando o monitor um delator, quando o seu papel era de confiança,
de estabelecer bases para a distribuição de notas, da habilitando alunos à prática da justiça".
conveniência de monitores nas aulas e da presença nestas Quanto à polícia das aulas entendia o professor
do inspetor da turma. Macedo "absolutamente desnecessária a presença de
Na marcha da discussão colhiam-se opiniões quem quer que fosse além do professor para manter a
diversas, não fosse o Conselho assembleia humana, ordem. Tal coisa, a seu ver, "redundaria em menoscabo
sempre propensa à multiplicidade de sentenças pela das do professor que conscienciosamente cumpria dever".
cabeças. Acentuava Macedo a "que por mais numerosa que fosse
Declarava o professor Schieffler "achar impossível a classe, quem não sabia manter disciplina, não merecia
outras bases para as notas que não os sentimentos de o nome de professor ipso facto desmoralizado". "O aluno
justiça e equidade do professor", esposada a opinião do — dizia Macedo — tateia o pulso do professor e de achá-
professor pelos demais docentes. lo forte ou fraco torna-se bom ou mau".
Mais agitada foi a discussão quanto à necessidade "A manutenção da ordem em uma classe está tão-
de monitores nas aulas. somente no critério do professor e nenhum há que o não
Schieffler declarou-os "nocivos ao ensino, nada do tendo, possa, jamais por meio de inspetores, conseguir a
que foi estudado ficando senão o obtido pelos próprios ordem e o respeito que lhe são devidos".
esforços do estudante". A 8 de novembro de 1880, o reitor Carmo, sempre
Halbout entendia convenientes os monitores em às horas do costume, das cinco da tarde às oito da noite,
aulas numerosas, na opinião acompanhado pelo professor reunia o Conselho Colegial, com a presença de quatorze
Ramos Mello. professores.
Drago declarava "abominável à instituição, Tratou-se na sessão de concessão dos bancos de
mormente quando se poderia lançar mão de professores honra e de notas em aulas, até nas de Halbout. Até hoje
suplementares, cada aula no máximo com 40 alunos". há muito quem represente o professor Halbout como
O substituto Berquó não aceitava os monitores, distribuidor feroz de notas más, reprovador-mór, sem
segundo ele "nesse cargo os alunos se tornam servis". atenção a quaisquer méritos. Tal apreciação do seu
Tinha a propor, em relação à presença de inspetores procedimento proveio de alunos jamais esquecidos da
nas aulas, "medida que poderia parecer estranha, mas severidade justa do docente.
nem por isto menos profícua". Na sessão do Conselho Colegial de 8 de novembro
Reconhecia o bom desempenho dado a deveres de 1880, propunha, entretanto, Halbout, medida destoante
pelos inspetores do Colégio, mas desejaria que nele da sua proclamada ferocidade. Achava "que as notas de
houvesse um inspetor "manejando bem francês, outro aula deviam ter toda a importância nos exames, garantindo-.
inglês, outro alemão, a fim de se dirigirem sempre aos lhes os resultados. Prestasse o aluno mau exame, desde
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que f o s s e m boas as suas contas de ano, deveria ser José Teixeira, a 8 de novembro de 1880, — "Penso que
aprovado, embora com grau inferior". os alunos merecedores durante o ano letivo de 9 notas
Tais as ideias do impiedoso Halbout. boas de aplicação e de exemplar procedimento, poderão
Roborou-as L u c i n d o , o p r o f e s s o r de L a t i m , ter distinção; os que obtiverem 6 notas boas de aplicação,
lembrando o caso de dois alunos seus, de notas más em tendo bom procedimento — plenamente — os que tiverem
aplicação, contudo prestando bons exames. 3 n o t a s b o a s de a p l i c a ç ã o , bem procedendo —
Ramos Mello, o professor de História, entendia simplesmente.
" d e v e r e m ser tidas em muita consideração nos exames Quanto a punições por ser o reitor "chefe e versado
as contas do ano e os bancos de honra. No sentir de em dirigir estabelecimento de instrução, era o competente
Ramos Mello, quando o exame fosse bom, embora más para decretar castigo com o maior critério".
as notas de aulas, o aluno devia ser aprovado. Só deveria ser concedido, no sentir de Mathias
O professor Drago, outro feroz, opinava haver três
Teixeira, banco de honra ao aluno apresentando 3 notas
elementos a atender no julgamento de exames finais: —
boas no trimestre, além de exemplar procedimento.
prova escrita, prova oral e conta de ano, aprovado o aluno
"Notas de aplicação, bancos de honra pesariam a
quando reunisse ao menos dois desses elementos.
favor do aluno nos e x a m e s de suficiência ou finais,
Na sessão do Conselho Colegial de 8 de novembro
elevando-os de um grau se as provas fossem
de 1880, o Dr. João José Moreira, professor de Italiano,
desfavoráveis ao aluno".
entrou " e m largas considerações sobre a necessidade de
De grande importância são prémio e castigo, num
ter a corporação docente do Colégio a autonomia de
e s t a b e l e c i m e n t o de instrução, s o b r e t u d o secundária,
Congregação para decidir de tudo quanto dissesse respeito
frequentado por adolescentes encalorados pela puberdade,
ao ensino e até ao provimento dos lugares de magistério,
na inexperiência de m u i t o s ou na audácia de alguns,
mediante concurso".
julgando permitido ou tolerado justamente o defeso.
Isto encartado na discussão do valor de notas e
Prémio e punição, como dispensá-los na
b a n c o s de honra em relação a e x a m e s f i n a i s e de
manutenção da sociedade humana, se até o céu reclama
suficiência, empenhados naquela discussão muitos dos
professores presentes. paraíso, purgatório, inferno. Viver às claras, sim, às soltas,

Cabe, pois, ao Dr. João José Moreira a ideia da não.

t r a n s f o r m a ç ã o do C o n s e l h o Colegial do Colégio em Pedida a opinião do professor de Desenho, Poluceno


Congregação. Pereira da Silva Manoel, acerca de prémios e punições,
Opinavam também os professores de Arte propunha ela o s i s t e m a de graus para os alunos de
consultados pelo reitor sobre assuntos pedagógicos, progresso, graus de 1 a 10, conferido graus 10 ao aluno de
funcionando qualquer estabelecimento de instrução por constantes notas boas. Os graus de 9 a 6 caberiam ao
engrenagem, na harmonia de vistas entre professores de aluno de notas entremeadas boas e sofríveis; os graus de
todas as disciplinas lecionadas, sem distinção pueril de 5 a 1 seriam conferidos ao aluno só de notas sofríveis.
cadeiras maiores e menores tendentes no conjunto a bem Quanto a punições, Poluceno entendia não ter que
instruir os que se supõem vir à escola educados. opinar.
Consultado sobre o s i s t e m a de r e c o m p e n s a e A respeito de bancos de honra, julgava não ser
punições a alunos, respondia o professor de Música Mathias conveniente tal recompensa na aula de Desenho: — "O
ESCRAGNOLLE DÓRIA

aluno mudando de banco para ser prejudicado quanto ao Praticamente com o método clintockiano colhera
bom lugar", dizia o professor, interessado na justiça de grandes resultados, não só no Colégio, como no Colégio
julgamento. de Santa Cândida, os alunos do Externato, dando quinaus
Em vez de banco de honra na sua aula, seria nos do Internato.
preferível a escolha dos melhores desenhos. Figurariam Dezoito edições contava a gramática de Clintock nos
em quadro, num quadro os nomes dos autores dos Estados Unidos, "só podendo ser repelida por aqueles
desenhos. que não a conheciam bem".
A 6 de dezembro de 1880, nova sessão do Conselho O professor Rozendo Muniz Barreto, concordava
Colegial muito concorrida, la o Conselho tratar do ensino com Halbout.
de Línguas e da conveniência da adoção do método de No ensino das Línguas Vivas a teoria devia preceder
Clintock para o estudo do Latim. à prática sob pena de tomarem-se os alunos "papagaios".
Segundo o professor Schieffler, no ensino das Informava ter conhecido e conhecer na Bahia
eminentes professores de Latim alheios, na sua formação
Línguas Vivas a prática devia ser associada à teoria, esta
e no seu ensino, ao método Clintock.
precedendo aquela, vicioso o processo contrário, dele
Lastimava o professor Ferreira França, a ausência
provindo a incapacidade de reduzir, estendendo a todos os
do colega Pacheco da Silva Júnior, "que reunia
alunos.
conhecimento para tratar proficientemente dos assuntos
Contrariava Goldschmidt a opinião de Schieffler,
sujeitos à discussão", combatendo, França, como o colega
entendendo dever a parte prática preceder a teórica, em
Rodrigues de Macedo, o método Clintock. Às quatro da
cursos distintos ambas, por corresponder o método e
tarde findava a agitada sessão do Conselho Colegial,
ensino das Línguas Vivas ao modo como o menino aprende
iniciada às duas horas.
a língua materna, só servindo a acumulação de prática e
Afora as sessões do Conselho Colegial,
teoria para sobrecarregar o estudante e distrair-lhe a
manifestavam-se os professores sobre a orientação
atenção.
pedagógica do Colégio.
A discussão sobre a gramática de Clintock, tão
Assim dirigia o professor Goldschmidt ofício ao reitor
preconizado pelo professor Lucindo, levou Schieffler a Carmo, a 11 de novembro de 1880, dizendo-lhe: —
discordar. " Permita V.Ex.a que aqui apresente por escrito uma
Goldschmidt acreditava o livro de Clintock útil ideia que expus na última Conferência Colegial, e, segundo
apenas nas aulas dos primeiros anos de Latim. me parece, passou desapercebida, isto é, que na reforma
Declarava Halbout não conhecer o método de que se tem de fazer, se acabe com os exames de
Clintock, sabendo-o, porém, inspirado no de Jacotot. já suficiência, servindo o último concurso trimestral, que pode
condenado pela prática. ser assistido ou mesmo presidido por V. Ex.a, como prova
Com tal método o aluno progredia nos primeiros dias do exame, e aos alunos que nele passarem, serem
ou meses, estacionava depois. aprovados conforme os seus merecimentos.
Lucindo não podia deixar Clintock indefeso. Deste modo o exame tornar-se-á de certo modo mais
Declarou-lhe o sistema meia modificação do de rigoroso e ao mesmo tempo mais agradável aos alunos e
Ollendorf. Preferia o livro de Clintock depois de ter lido e aos professores, mais rigoroso por constar de uma prova
relido vinte e seis gramáticas. escrita, mais agradável aos alunos, porque não terão de
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

fazer exames de prova ostentação e mais agradável aos do Regulamento n.° 8, de 31 de janeiro, reunindo o Conselho
professores porque poderão empregar o tempo gasto por Colegial nos dias ai determinados.
eles em exames em pura perda, porque já conhecem o Afigurava-se a Carmo que para certo declínio do
merecimento de cada um de seus discípulos. Colégio contribuiu o isolamento em que se haviam mantido
Se V. Ex.a achar esta minha ideia plausível, digne- largo tempo os membros do corpo docente, cada um deles
se de aceitá-la, se não, desculpe o haver eu ocupado o concentrado na esfera relativamente estrita de sua aula,
p r e c i o s o t e m p o d e V.Ex. a c o m o b j e t o t ã o p o u c o fato sem dúvida a dificultar senão impedir direção técnica,
importante". geral e harmoniosa de ensino.

O ofício de Goldschmidt em 1880 é curioso por Em fevereiro de 1 8 8 1 , novo encargo vinha pesar
despertar reflexões. A proposta dele precede de muito o sobre a reitoria do Externato, transferidos da Inspetoria da
Instrução Pública para aquela reitoria superintendência dos
regime atual das aprovações por média, tanto o novo é
exames gerais de preparatórios.
quase sempre muito velho.
Entendia, p o r é m , o reitor Carmo conveniente a
À espera do início do ano letivo de 1 8 8 1 , por ofício
extinção das delegacias e das mesas de e x a m e s de
de 16 de fevereiro, declarava o reitor Carmo a superiores
preparatórios em algumas províncias.
hierárquicos, o M i n i s t r o do Império e o Inspetor de
"— Sei — dizia Carmo — de que ordem são as
Instrução Pública, " q u e o Imperial Colégio de Pedro
objeções que se o p õ e m a este desideratum; mas não
Segundo não preparava alunos para os cursos superiores
recuo diante da ideia que sugiro (ao Ministro H o m e m de
tais quais se achavam constituídos entre nós, preparava-
Mello), porque estou certo que nenhuma objeçào assenta
os para c o n h e c i m e n t o mais amplo das matérias que
em considerações de interesse público.
c o n s t i t u e m o seu programa, f o r n e c e n d o - l h e s os
Não basta por diante a palavra descentralização para
i n d i s p e n s á v e i s e l e m e n t o s para e s s e r e s u l t a d o , e
ocultar os inconvenientes que derivam da conservação das
preparava-os para as condições de cidadãos nas múltiplas
escolas a que aludo, que não c u m p r e m , que não podem
e complexas relações da sociedade em que tinham que cumprir, a missão que lhes é confiada."
viver, f o s s e m ou não os alunos do Colégio bacharéis em
Carmo procurava c u m p r i r a p r o m e s s a , não há
Direito, doutores em Medicina ou M a t e m á t i c a " . dúvida, no grande e no pequeno. Assim tendo os alunos
Em abril de 1 8 8 1 , declararia o reitor Carmo "que do 7 o ano pedido feriado nos dias 25, 27 e 28 de junho, por
Externato e Internato não eram dois estabelecimentos de serem dias intercalados entre os feriados de São João e
instrução distintos e separados senão duas seções de um São Pedro, ponderava Carmo ao Ministro Homem de Mello,
só e s t a b e l e c i m e n t o " , frisando assim a imperiosa que os feriados legais não constituíam razão para converter
necessidade da i n d e f e c t i v e l harmonia entre as duas em feriados dias úteis a estes próximos. Além disso o
seções de Casa única. ano letivo de 1881 iniciara-se a 2 de abril e não a 16 de
Ponderava Carmo a vantagem da harmonia entre março, diferença de 16 dias nos trabalhos letivos.
as reitorias do Externato e do Internato. "Ponho, dizia, Trabalhando com afinco na direção do Externato, em
todo o empenho em conservar tal harmonia, bem certo de janeiro de 1 8 8 1 , havia o reitor Carmo remetido ao Ministro
que da rivalidade e da luta entre essas duas seções só H o m e m de Mello projeto de reforma do Imperial Colégio,
poderiam resultar prejuízos para a m b a s " . ponderando a conveniência de qualquer modificação ao
Observava o reitor Carmo que tomando posse do plano de estudos da Casa era útil antes de iniciar o ano
cargo cogitara em restabelecer a disposição do artigo 2 letivo.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Querendo expedir reforma do ensino no Colégio, o Inglês — No 4o e 5o ano.


Ministro Homem de Mello desejou que fossem ouvidos Francês — No 1 o , 2o e 3o ano.
os professores da Casa sobre o projeto de reforma em Alemão — N o 6o e 7o ano.
elaboração. Português — No 1 o , 2 o . 3o, 4o e 5o ano.
O reitor Carmo reuniu o Conselho Colegial às cinco Italiano — No 7o ano.
horas da tarde de 8 de fevereiro e abrindo sessão, declarou História Geral — No 5o e 6o ano.
"que os Srs. Professores estavam habilitadíssimos para Corografia do Brasil — No 7o ano.
dar, de momento, seus pareceres sobre a reforma, não só Geografia Geral — No 1 o , 3o e 4o ano.
pela sua experiência no magistério, como porque já sobre Matemática — No 1 o , 2o, 3o e 4o ano.
o assunto também detida atenção, ao responderem aos Filosofia — N o 6o e 7o ano.
quesitos formulados na primeira reunião do Conselho História Natural — No 6o ano.
Colegial (a 2 de agosto de 1880). Dispensava a Reforma Homem de Mello para a
Então o secretário interino do Externato, João Alves obtenção de grau de bacharel em letras, aprovações em
Mendes da Sylva, sem interrupção procederia à leitura de Desenho, e Música e Ginástica, sem dispensa contudo
todo o projeto de reforma e seu plano geral. Seguir-se-ia das respectivas aulas. Não seria obrigado o acatólico à
leitura espaçada de cada artigo, de modo a permitir frequência ou exame da aula de Religião.
observações por parte de professores. Fixava a reforma horária das aulas. Iniciadas às 9
Das cinco da tarde às dez da noite, o Conselho da manhã, nos dias úteis, findariam às 3 da tarde.
Colegial discutiu a matéria, oferecida à sua consideração Programas de ensino, adoção de livros, horários ficariam
pela do Ministro; conforme atas do Conselho Colegial. a cargo de reitores, consultados professores e mestres,
A 24 de março de 1881, um Decreto referendado submetendo o Inspetor Geral da Instrução ao Ministro do
pelo ex-professor do Colégio, o Ministro Homem de Mello, Império as providências das reitorias. Mantinha a reforma
modificava bastante os regulamentos da instituição. a classe dos meio-pensionistas e no Externato frequência
A reforma não alterava a duração do curso de de aulas avulsas, habilitado o candidato a elas a seguir-
bacharelado, continuava a ser septenato. Dezoito Ihes o ensino, prestados exames vagos de qualquer ou de
professores leriam no Externato, outros tantos no Internato. todas as matérias do curso. Visando acatólicos, a reforma
Treze substitutos, comuns às duas seções do Colégio, substituía verbo no juramento do grau. Deveria o acatólico
auxiliariam os catedráticos no curso de bacharelado. O jurar respeitar e não manterá religião do Estado.
estudo da língua vernácula prosseguiria até o 5o ano. Anualmente, no Diário Oficial, seria publicada, por
Prosseguiria também no 6o ano o estudo da Retórica, indicação dos competentes mestres, a lista dos alunos
da Poesia e da Literatura Nacional. No 7o ano far-se-ia o mais destacados nas aulas de Música, Desenho e
estudo comparativo do Português e das Línguas Ginástica.
Românicas, dos principais períodos literários da Língua Em vigor no Colégio a Reforma Homem de Mello, o
Portuguesa, analisadas as diversas fases da Literatura de reitor Carmo convocava o Conselho Colegial a 2 de maio
Portugal. de 1881.
Pela reforma de 1881 seriam assim estudadas as Aberta a sessão, às cinco e meia da tarde, o reitor
disciplinas no Colégio: — pôs em discussão vários pontos já submetidos em circular
Latim — N o 2o, 3o, 4o e 5o ano. ao exame dos professores, a circular expedida a 23 de
Grego — N o 6o e 7o ano. abril.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

Os pontos sujeitos à consideração do Conselho eram pondo em jogo recursos intelectuais próprios. Condenando
os seguintes: — a prova oral, o professor Lisboa encarecia, em parte, o
1o — relação entre o ensino e os exames. Meios valor da escrita. Recuava o mesmo professor ante a ideia
práticos de evitar prejudicial antagonismo entre a da conversão do Conselho Colegial em Congregação. Não
preocupação destes e o fim daquele, atendendo-se, não podia combinar os interesses dos professores com a
só ao que respeitava os exames do Colégio como o que utilidade e proveito do Colégio, deixando a competentes a
entendia com os exames gerais de preparatórios. solução do problema.
2o — Condições que deviam reunir os professores O professor Olímpio da Costa declarava não
e se suficientes as até então exigidas para admissão ao compreender bem o que fosse antagonismo entre ensino
professorado do Imperial Colégio de Pedro Segundo. e exames, parecendo-lhe que se antagonismo havia entre
3o — Possibilidade de converter-se, desde logo, o o Colégio e o que fora dele se passava, evitá-lo-ia
Conselho Colegial em Congregação, em que condições, uniformização dos programas.
consideradas as duas seções — Externato e Internato. Referindo-se aos concursos, dizia o professor
Abriu discussão o professor Goldschmidt dizendo Olímpio da Costa "não acompanhar os que queriam
que por mais que procurasse não achara possível o quebrar os andaimes por onde haviam subido" ao
antagonismo enunciado no primeiro quesito da circular. professorado do Colégio.
Quanto ao segundo, entendia suficientes, senão Parecia-lhe preferível arguição recíproca entre
excessivas, as condições em vigor para admissão ao candidatos, julgando necessária a conversão do Conselho
professorado do Colégio. Colegial em Congregação útil, caso realizada sobre a base
Nunca compreendera a vantagem da divisão do da distinção entre administração e economia.
Colégio em duas seções, parecendo-lhe que deveria a Casa Declarava o professor estar de acordo quanto ao 1o
ser dirigida por um só reitor, dois vice-reitores servindo- quesito com o professor Goldschmidt, quanto ao 2o com o
Ihe de auxiliares. professor Lisboa, quanto ao 3o com Monsenhor Félix.
Opinava ainda Goldschmidt pela conveniência da Parecia-lhe, entretanto, que o candidato à cadeira
conversão do Conselho Colegial em Congregação, de uma ciência deveria mostrar-se habilitado em todas as
mantendo-se a reitoria em esfera elevada, concedida ao ciências lecionadas no Colégio, o mesmo se dando com o
corpo docente mais direta e eficiente influência na direção aspirante a cadeira de qualquer língua. Não parecesse o
do ensino. seu juízo exigência rigorosa, pois pelas disposições em
Schieffler e Halbout declaravam-se de inteiro acordo vigor ao bacharel pelo Colégio cabia preferência na
com Goldschmidt, cujas, ideias também Monsenhor Félix nomeação para professor.
aceitava. Mas este não confiava muito nos corpos O professor Rozendo Muniz Barreto entendia dever
coletivos parecendo-lhe necessária alteração dos o programa de exames estar de acordo com o do ensino,
regulamentos em vigor para conversão do Conselho o mesmo programa vigorando para os exames do Imperial
Colegial em Congregação real e não nominal. Colégio e os de preparatórios. Aludindo aos "andaimes"
O professor Silva Lisboa reputava insuficientes as citados pelo professor Olímpio, asseverava o professor
provas de concurso da época, mau o sistema de teses, Rozendo "não se arrecear de quebrar a escada por onde
podendo elas ser escritas por terceiros, preparando-se o subira, ainda que fácil a ascensão, o que para ele não se
candidato para prova de efeito, simuladora de habilitação, dera".
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Focalizando a questão apenas no interesse público, especulação que preparava por pontos ad hoc os jovens
julgava Rozendo o pergaminho, presunção da habilitação, preparatorianos".
suficientes as provas de concurso, confirmadoras da Quanto a concursos entendia Garcia que dos
presunção derivada do pergaminho, "colocando o candidato candidatos se deveria exigir, além do perfeito conhecimento
em condições de não ser equiparado a qualquer da matéria, provas de habilitação e metodologia,
aventureiro". especialmente da matéria a ensinar. Não era inovação em
Dava toda importância à apresentação de tese, face das instruções de 5 de janeiro de 1855, considerando
insuficiente, porém, o prazo de quinzena para sua Garcia insuficiente a prova oral estabelecida pelas
apresentação. Era pela arguição mútua dos candidatos, instruções de 24 de outubro de 1878.
substituída a da mesa examinadora, mormente o Conselho Nenhuma importância ligava à prova de tese, pois
Colegial convertido em Congregação apreciadora das esta podia ser feita por terceiro, dando-se o caso de ser o
provas. Quanto à conversão cumpria distinguir entre candidato ensaiado para brilhante defesa. Não via
matérias permanentes, administrativas e outras de
inconveniente na arguição mútua de candidatos, autorizado
natureza pedagógica ou de natureza mista. Caberiam
o presidente do ato excluir dele quem não se portasse
exclusivamente as primeiras à reitoria, as segundas ao
com devida urbanidade e circunspeção.
professor, as terceiras à Congregação presidida pelo reitor
Tratando da transformação do Conselho Colegial em
com voto de qualidade, conveniente reitoria única para as
Congregação, opinava Garcia haver duas espécies de
duas seções do Colégio.
Congregação: — as autónomas e as dependentes de
Manifestou-se o professor Rodrigues de Macedo,
quem as custeia. A primeira espécie não lhe parecia
em substância, de acordo com o professor Goldschmidt,
aplicável ao Imperial Colégio, porquanto o "self
julgando possível "o compadresco na arguição pelos
government" só pertencia às corporações de ensino livre
examinadores", embora o mal encontrasse corretivo na
administradoras do próprio património.
suprema inspeção do Governo.
Supunha a segunda espécie, a da Congregação
O professor Arthur de Oliveira pediu vénia para
abster-se no momento de participar da discussão, visto dependente, o mesmo pé de igualdade de seus membros
ser "homem novo na casa". quanto à ilustração, consideração e importância pessoal.
Lamentava o mestre de Ginástica, Paulo Vidal, não De outro modo, dizia Garcia a seus pares, o interesse
se achar a sua classe em pé de igualdade com a dos individual, a inveja inconfessável, os ódios reencontrados,
professores. Para as aulas de Ginástica não se exigiam as pretensões contrariadas acharão meios de formar
habilitações, todavia indispensáveis provas do maiorias caprichosas, para levar de vencida os adversários,
conhecimento do corpo humano, de osteologia, da e daí o prejuízo do ensino, o declínio da instrução, sem ser
miologia, da diferenciação dos grandes centros nervosos. possível descobrir o verdadeiro responsável.
O mais longo dos pareceres foi o de José Manoel Com estas e outras muitas considerações severas
Garcia, professor de Português do 2o e 5o ano do Externato opunha-se Garcia à transformação do Conselho Colegial.
e dele vice-reitor. Como lhe lembrassem existência de Congregação
Disse que estabelecer programas de pontos para na Escola Normal da Corte, "filha de Garcia" diziam
exames gerais, de molde a conhecer se o examinando lembradores, o impugnador retorquia ser a Escola Normal
sabia a matéria inteira era "descarregar golpe de morte na ainda muito jovem, mal se podendo prever o que produziria
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

no futuro. Nâo lhe cabia responsabilidade na criação da manifestada nas conferências, onde não raro apareciam
Congregação da Normal. Já existia quando para ela pigmeus, como nas da Glória a que a gargalhada pública
entrara. fazia justiça".
Caso ao Governo aprouvesse transformar em Monsenhor Félix acrescentava que preleções e
Congregação o Conselho Colegial, julgava Garcia que, dos conferências figuravam entre causas da queda do Império
males preferido o menor, mais consentâneo seria a índole Romano. Silva Lisboa pendia para a utilidade das
da Instituição, estabelecer-se reitor único para as duas conferências, "uma vez não feitas a esmo, embora
seções do Colégio, uma só Congregação formada pelos onerassem professores". Lucindo aplaudia as conferências,
professores das duas seções da Casa dirigida por aquele mas constituindo cursos. Era Carlos França favorável à
reitor. Teria a Congregação esfera de ação determinada, ideia das conferências.
sujeitos os seus atos à aprovação do Governo. "Produziriam excelentes resultados para os ouvintes
Assim, às 7Vè da noite de 2 de maio de 1881 e dariam medida da importância do Colégio".
terminava mais uma sessão de Conselho Colegial. Às 5 Conferências públicas, inscrições voluntárias e
M? da tarde de 6 de junho de 1881 nova sessão para discutir pontos de discussão escolhidos pelos professores nos
limites da matéria do programa do ensino, seriam de
quesitos propostos pela reitoria do Externato aos
incontestável utilidade. E França terminava oração, com
professores por circular de 19 de maio.
uma seta do parta. "Talvez me exprimo assim porque
Desejou consultá-los a reitoria para saber se os
não falto". Difícil, se não impossível, saber hoje quem
compêndios e manuais de ensino usados no Colégio
recebeu a seta.
satisfaziam necessidades da instituição e dado que não
O professor Rodrigues de Macedo, a propósito do
satisfizessem quais os susceptíveis de revisão, correção
melhoramento da Biblioteca do Externato, dizia saber "que
ou organização.
as obras pedagógicas eram úteis, embora já tivesse
Desejava mais a reitoria dissesse o Conselho que
passado o tempo em que cada erro, cada bolo. Ao
obras literárias, pedagógicas ou científicas conviria adquirir
professor que não soubesse tocar a corda sensível do
para engrandecimento da Biblioteca do Externato, como
estudante pouco poderiam aproveitar tais obras".
ordenava o plano de estudos do Colégio.
Era adverso às conferências porque o público ficaria
Pronunciar-se-ia, também, o Conselho Colegial formando mau conceito do professor que não pudesse falar
sobre a utilidade de preleções ou conferências públicas e por acanhamento e, demais, não podendo as preleções
periódicas feitas pelos professores do Externato, apontando versar sobre matéria inteiramente nova ninguém lhes
o Conselho, no caso afirmativo, quem se achava em prestaria atenção e qualquer aranha distrairia o público.
condições de realizar aquelas conferências. O professor de Ginástica, Paulo Vidal, lembrando
O professor Schieffler julgava-as, com franqueza conveniência de organização de compêndio de educação
rude, "inconvenientes, porquanto em geral só se animava física nacional, entendia úteis as preleções se
a tomar nelas a palavra quem não entendia da matéria". consistissem na exposição de métodos de ensino.
Acompanhou-o na franqueza germânica a franqueza O mestre de Desenho Poluceno Manoel achava as
de Halbout, no bom sangue francês polvilhando-a de ironia. preleções úteis relativamente à arte de sua aula.
"Parece-me, disse, que o Colégio deve resistir ao Terminou a sessão do Conselho Colegial às 7 % da
prurido de falar, moléstia crónica ou enfermidade da moda, noite por longa exposição do professor José Manoel Garcia.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Entre muitas considerações disse pugnar "para que o Línguas Vivas eram a regra, o exemplo, a aplicação, mais
público ficasse conhecendo que no Imperial Colégio de profícuas do que guias de conversação e repetidas
Pedro Segundo havia professores que mereciam tal nome, composições."
dissipando a má impressão causada pela acusação de Pensava o professor Lisboa haver utilidade no
plágio e o ridículo que em publicações a pedido nos jornais preparo de gramática geral, achando ao mesmo tempo
da Corte se tinham lançado sobre algumas teses de difícil "harmonizar tantas cabeças divergentes".
concurso." Declarou-se o professor Lucindo de acordo com os
preopinantes, seguindo-se o professor Olímpio da Costa,
Entendia, mais uma vez, o professor Garcia que o
entre várias considerações, declarando insuficiente o
concurso provava apenas habilitação em tal ou tal disciplina
tempo para que os alunos pudessem bem falar uma língua
e não que o professor escolhido tivesse variada ilustração
estrangeira. Com a franqueza e independência reveladas
e tino pedagógico.
nas discussões do Conselho, o professor Olímpio da Costa
Amiudava o reitor Carmo as sessões do Conselho
opinava "que o Governo não tinha meios de satisfazer o
Colegial, a eles chamados os professores e mestres do luxo de fazer o aluno, dada a premência do tempo,
Externato e do Internato. expressar-se bem no idioma alienígena para ingressar na
A 4 de julho de 1881 reunia o Conselho, sujeitando- sociedade, ele Governo não tendo podido cumprir as suas
Ihe à apreciação três quesitos mandados a estudo prévio promessas relativamente ao ensino primário".
a 27 de julho. Com a mesma franqueza do professor Olímpio da
Desejava o reitor que o Conselho lhe dissesse: Costa, perguntava o professor Carlos França "porque os
1o — Atento o fim da instituição, cuja resolução Srs. Ministros que para resoluções procuravam auxílio de
depende do trabalho harmonioso de todos os senhores simples empregados de secretarias não consentiam ao
professores, em que condições e dentro de que limites professor habilitado opinar sobre o ensino das diversas
podia cada um opinar e influir sobre a direção das aulas aulas".
dos outros. Desejava França nomeação de comissão que
2o — Em que bases convinha assentar com as assentasse as bases das noções de gramática geral,
noções de gramática geral recomendadas pelas instruções convocados os professores de línguas para juízo do plano,
resolvida finalmente em assembleia geral.
em vigor para uso de todas as aulas de línguas no
No ensino de Línguas Vivas entendia indispensável
estabelecimento.
prática, muita prática, ao lado da teoria. Deviam, no seu
3o — Qual o melhor método para o ensino de Línguas
entender, ser feitas traduções e versões em alta escala,
Vivas.
vertendo e compondo os alunos frases de uso quotidiano,
Rompeu discussão o professor Halbout. Julgou ao arbítrio do professor, quais as encontradas nas contas,
competir à administração e não professores a inspeção artigos de jornais, até em rótulos de garrafas.
das aulas, tendo como certo não ser possível tal inspeção Sugeria a ideia da criação de três censores falando
por destacadas as matérias do ensino. bem francês, inglês e alemão, com eles praticando os
Não via necessidade de gramática geral, "cuja alunos. Nos colégios das irmãs de caridade as meninas
consequência seria modificarem-se compêndios de não falavam francês?
colegas que, no seu entender, continham ideias A necessidade de exprimir-se em línguas
extravagantes. Quanto ao melhor método do ensino de estrangeiras parecia ao professor França incontestável,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

"até porque tínhamos corpo diplomático ao qual convinha 2 o — Nos Externatos de instituição oficial a ação do
mostrar-se habilitado a exprimir-se em línguas Estado deve limitar-se à instrução, isto é, ao fornecimento
estrangeiras." de certa ordem de conhecimentos ou estender-se a direção
Segundo o professor Macedo qualquer professor moral, à educação propriamente dita.
podia influir e opinar sobre aulas alheias, mas só por meio Ao primeiro quesito — Qual o melhor sistema para
de colóquios e conversações particulares. Podia "parecer formação dos professores de ensino secundário — assim
carranca", mas entendia que no ensino de Línguas Vivas responderam vários docentes na sessão do Conselho
a teoria ia a par da prática, facilmente o aluno chegando a Colegial de 2 de agosto de 1 8 8 1 :
esta uma vez senhor do mecanismo da língua. "Ainda
Monsenhor Félix: — Mostrar-se o professor
assim o aluno devia dar graças a Deus se conseguisse
habilitado na matéria que leciona e capaz de ensiná-la.
verter da língua estranha para a nacional e vice-versa,
Abreu: — Possuir a índole e o génio do professorado,
condição essencial o conhecimento da língua vernácula,
escolhido quem revelasse mais prática de ensino.
bastão e a r r i m o " .
Schieffler. — Mandar estudar na Europa desde oito
O professor José Manoel Garcia discutiu longamente
anos de idade quantos se d e s t i n a s s e m à carreira do
os q u e s i t o s p r o p o s t o s pela reitoria, considerando o
magistério, evitando-se assim professores curiosos ou
Conselho Colegial, c o n s e l h o de família, necessárias
providências para atingir o ensino o grau de perfeição amadores e o preenchimento de cadeiras por bacharéis

desejável em Colégio modelo qual o de Pedro Segundo; apenas três meses após bacharelado.
evitando-se que os professores de certas aulas pudessem Silva Lisboa: — Exigir do professorado conhecimento
queixar-se do mau progresso de alunos em outras aulas. especial da matéria a lecionar e das disciplinas mais
Acudia Lucindo declarando que não duvidaria intimamente relacionadas com aquela, além de
ensinar português (Garcia era professor da língua), aos conhecimentos de pedagogia.
alunos de Latim que mal o soubessem. Respondia-lhe Lucindo: — De inteiro acordo com Monsenhor Félix.
Garcia que "pagando o Governo professor para certa Ramos Mello: — De acordo com o professor Abreu,
disciplina não era justo encarregar outrem do trabalho que não parecendo indispensável ir à Europa para aprender
não lhe c o m p e t i a " . alguma coisa, bastando como aperfeiçoamento pedagógico
No curso secundário, Garcia conforme no ensino de prémio de viagem "ad instar" do praticado com alunos da
Línguas Vivas era "preferível o m é t o d o universitário, isto Academia das Belas Artes.
é, regra, e x e m p l o e prática, e não aquele dando ao
Rozendo Muniz: — Adquirir antes de tudo,
professor o papel de ama de l e i t e " .
indispensavelmente, a arte comunicativa de transmitir os
As sessões do Conselho Colegial, correspondentes
fatos do pensamento, a educação literária do professor,
à futura novidade dos Conselhos Técnicos, demonstravam
devendo favorecer o estilo na eloquência didática, não
interesse pelo "grau de perfeição" desejado pelo professor
sendo menos útil penetrar as origens e os verdadeiros
Garcia para o colégio modelo, depois padrão. Modelo ou
elementos da vida nacional, nem sendo para desdenhar
padrão o essencial é o ser.
os exercícios corpóreos por aspirante a professores, sendo
A 27 de julho de 1881 propunha o reitor Carmo ao
até bom que possuíssem o que se denominava academia
corpo docente os seguintes quesitos:
da antiga nobreza, por formar o ensino médio a nata social,
1o — Qual o melhor sistema para formação dos
a aristocracia intelectual do país.
professores de ensino secundário.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Olímpio da Costa: — Fundar estabelecimento normal também esta se não pode separar da educação religiosa,
secundário ou, atentas circunstâncias do país, dividir os inconveniente em Externato oficial, firmar o princípio da
estudos do Imperial Colégio em seções, com uma seção educação religiosa, essencialmente católica ou não. No
pedagógica para formação de professorado. primeiro caso por ir de encontro à liberdade de cultos, no
Carlos França: — Impedir o sistema proposto pelo segundo por afrontar o pensamento da maioria consagrado
professor Schieffler de preparar para o magistério na religião do Estado, não inspecionável a educação dada
estudantes desde oito anos de idade, idade de propensões pela família, podendo afrontar a oficialmente dita e em
e tendências não bem definidas, impossível verificar então prejuízo desta.
vocações para o professorado. Rodrigues de Macedo : — A felicidade do homem
Rodrigues de Macedo: — Estabelecer-se liceu ou está no cumprimento do dever.
academia para verificação de aptidões para o magistério, Paulo Vidal: — Instrução sem educação é
contratados professores hábeis em pedagogia. instrumento de ruína.
Garcia: — Criar seminários pedagógicos para Indagava o reitor Carmo do Conselho Colegial qual
preparação de professorado. o melhor regime disciplinar aplicável ao Colégio.
Ao segundo quesito formulado pelo reitor Carmo — Assim vários professores respondiam:
Nos Externatos de instituição oficial a ação do Estado deve Monsenhor Félix: — No regulamento vigente está
limitar-se à instrução, isto é, fornecimento de certa ordem exarado o melhor regime.
de conhecimentos ou estender-se à direção moral da Abreu: — De modo absoluto não se pode determinar
educação propriamente dita — assim se manifestaram qual o melhor regime, variável conforme o caráter do
vários membros do Conselho Colegial. professor e as circunstâncias do país e só pelos resultados,
Monsenhor Félix: — Instrução sem educação, avaliável o mentor de regime disciplinar qualquer.
principalmente religiosa, nada vale. Schieffler. — O regime depende da índole, do caráter
Abreu: — Cumpre aproveitar todo o ensejo para e de outras circunstâncias.
inocular no ânimo dos alunos princípios de boa educação. Lucindo: — De acordo com o Monsenhor Félix.
Schieffler: — Ensino sem educação é quadro sem Ramos Mello : — Nada acrescentaria ao juízo dos
moldura. colegas.
Lucindo: — De acordo com Monsenhor Félix. Rozendo Muniz : — Sem impugnar o regime
Ramos Mello: — A educação pertence à sociedade, disciplinar vigente no Colégio, só lhe restava dizer não
a família é a verdadeira escola para formação do coração haver regime disciplinar capaz de manter a ordem,
e do caráter. despertar a emulação e corrigir delinquentes ; por falta de
Rozendo Muniz: — Não é possível ser homem e ensinamentos ou por vícios e firmeza de inteligência
cidadão sem princípios de moralidade. Assim sendo, não próprios da índole, quando o professor, personificação da
há pretexto para que o Estado se possa subtrair à missão lei que prefere impedir a falta a castigá-la improficuamente,
de exercer, pelo professor e pelo ensino, influxo moral nos deixa de ser vivo transunto da mansuetude, da paciência
alunos. Opinião antecedida por muitas e eruditas eda equidade.
considerações. Olímpio da Costa: — A verdadeira moral consiste
Olímpio da Costa: — A instrução não pode na aplicação das regras da disciplina, em estabelecimento,
absolutamente ser separada da educação moral, como disciplinado, cada professor na sua aula incumbido de
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

manter disciplina de apoio na força moral dada pelos Havia o Conselho Colegial durado justo um ano, de
administradores. 2 de agosto de 1880 a 2 de agosto de 1881, no espaço de
José Manoel Garcia: — Posto em prática com o ano de vida, celebrando dez sessões prolongadas,
devido critério o regime disciplinar vigente no Colégio nada estendendo-se da tarde à noite, cinco sessões em 1880 e
deixa a desejar. outras tantas em 1881.
Tal a última das sessões do Conselho Colegial, As atas do Conselho Colegial são dignas de leitura
objeto do artigo 2o do Regulamento de 31 de janeiro de e demonstram o interesse do corpo docente por questões
1838, e ressuscitado pela reitoria Carmo. pedagógicas, esclarecidas com conhecimento de causa.
Pelo Decreto de 24 de agosto de 1881, atendendo O Decreto n.° 8227 de 24 de agosto de 1881
às representações dos professores e substitutos do convertera em Congregação o Conselho Colegial do
Imperial Colégio, o Ministro Homem de Mello convertia Imperial Colégio de Pedro Segundo.
em Congregação o Conselho Colegial, cuja breve Quase mês depois celebrava a nova assembleia
existência ficou assinalada por discussões minudentes e primeira sessão numa das salas do Externato, sob
interessantes, entendendo de perto com a vida da presidência do Inspetor Geral de Instrução Primária e
instituição, discussões nas quais se observou a maior Secundária, Conselheiro José Bento da Cunha e Figueiredo,
liberdade de juízos, alguns repassados de expressões presentes os reitores do Externato e Internato, Carmo e
felizes e até de ironias. Leal, vinte e nove catedráticos, e treze substitutos, faltando
O Decreto instituidor da Congregação traçava-lhes apenas três membros da Congregação.
direitos e deveres. Os substitutos só tomariam parte no Às cinco e meia da tarde de 24 de setembro de 1881,
corpo congregado, quando ocorresse matéria de concurso, o Conselheiro José Bento, abrindo sessão primeira da
os mestres nele presentes se ocorressem assuntos Congregação explicava o fim da reunião. Tratava-se de
relativos às suas aulas. dar execução ao Decreto criador da Congregação, convindo
Organização anual de programas de ensino, de desde logo que ela cogitasse de regimento interno.
horários, de adoção de obras e compêndios, mediante Após algum debate resolveu a Congregação em
aprovação do Ministro do Império, formação dos pontos definitivo e por votação nominal, que ela se limitasse a
dos exames finais e de suficiência, isto é, de promoção, nomear comissão para redigir projeto de regimento sujeito
julgamento de expulsão de alunos com efeitos devolutivos a ulterior discussão.
para o Governo, eleição de mesas examinadoras de Assentou votação nominal que a comissão fosse
concursos, julgamento destes, apresentação ao Governo composta de cinco membros.
de lista de candidatos classificados por ordem de Saíram eleitos os professores Carlos de Laet, por
merecimento, além de regimento especial de provas e 37 votos, Caminhoá por 35, Frontin por 33, Goldschmidt
processos dos concursos e programas dos pontos a serem por 21, Abreu por 19, encerrando-se em seguida a sessão
utilizados nestes, eleição de professor para elaborar a por nada mais caber na ordem do dia, conforme ata redigida
memória histórica do ano letivo findo, tudo o Decreto e subscrita pelo secretário do Externato — João Alves
Homem de Mello entregava à Congregação do Colégio, Mendes da Sylva, o qual fazia aliás muita questão do y
providenciando também sobre formação das mesas de em vez do /no apelido último.
exames finais e de suficiência, sempre presididas pelo A 3 de novembro de 1881 reunia-se de novo a
reitor. Congregação para eleger duas comissões, uma incumbida
ESCRAGNOLLE DÓRIA

de alunos e do regimento do Colégio, outra de elaborar ver laureado neto pelo qual se desvelava. No ato o chefe
regimento especial de provas e processos de concurso. de família sobrelevava-se ao soberano, o coração à coroa.
Procedeu-se a eleição por listas de dez nomes cada Encerrando o histórico do ano letivo do Colégio em
uma, presentes 35 votantes. 1881, cumpre frisar uma das principais preocupações de
Para a primeira comissão foram eleitos, por ordem Carmo, como reitor do Externato, a fiscalização dos
de votação, Goldschmidt, Frontin, Tautphoeus, Drago e exames gerais de preparatórios, realizados, por força do
Garcia, para a segunda comissão mais votados Decreto de 5 de fevereiro de 1881, perante mesas
Tautphoeus, Drago, Caminhoá, Thomaz Alves e Ramos presididas pelo reitor do Externato e formadas por três
Mello. examinadores designados pelo reitor e tirados do corpo
Instituindo a Congregação do Imperial Colégio, o docente do Colégio ou da Escola Normal.
Governo procurava prestigiá-lo. Assim, na sessão de 31 Não só o reitor Carmo influíra para as disposições
de dezembro de 1881, o Inspetor da Instrução Pública, do referido Decreto, referendado pelo Ministro Sodré
presidente da assembleia, declarava-lhe, de ordem do Pereira, como tomava parte ativa nos exames de
Ministro do Império, então interinamente na Pasta o preparatórios presente, ora em uma mesa, ora em outra,
Senador Dantas, poder a Congregação do Colégio dar correndo todas. Os professores do Colégio haviam
parecer sobre projeto de Universidade nas vistas do coadjuvado o reitor no impedir que alunos do Pedro
Governo, parecer sobre todo projeto e não só sobre Segundo prestassem exames entre preparatorianos.
instrução primária e secundária. Em 1880, o professor substituto João Rodrigues de
Assinalado no Colégio o ano letivo de 1881 pela Macedo, "fazendo as vezes de catedrático", como se
conversão do Conselho Colegial em Congregação também dizia na época, ou catedrático interino, como hoje se diz,
o termo do referido ano letivo assinalaria turma de protestava junto à reitoria contra aquele fato.
bacharéis. Referindo-se às aprovações de alunos do Colégio
Compunha-se de doze setimanistas, seis do na Instrução Pública, declarava Rodrigues de Macedo, ao
Externato, seis do Internato. Na turma, pela posição social, reitor Carmo, que tais aprovações "desmoralizavam o
primava o príncipe D. Pedro, neto do Imperador pelo lado aluno aprovado aos olhos de alguns colegas que, sensatos,
materno, colega no Externato de João Carlos Pardal de lhes conheciam a força; ao mesmo tempo que espantavam
Medeiros Mallet, que mosqueteiro, desde moço, deveria outros que, ignorantes, não sabiam a quem dar crédito —
destacar-se nas letras, e de Alexandre Soares de Mello, se ao professor da cadeira que lhes assegurava que não
mais tarde secretário do Externato, por fim, diretor geral sabia e que lhes cumpria estudar muito se à mesa
de uma seçâo do Ministério da Justiça e Negócios examinadora que os aprovava acoroçoando-lhes a estulta
Interiores. Na turma do Internato figurava Aureliano Vieira crença de que conheciam a matéria trazendo, como
Werneck Machado, conhecido depois como consequência, o desamparo dos livros, da aplicação, a
dermatologista. indolência enfim".
Distinguia-se D. Pedro II, pela presença nas Vários professores do Colégio, em 1881, reclamavam
solenidades de grau do Colégio e só ausência motivada contra o abuso da prestação de exames de preparatórios
delas o privava. por alunos da Casa obtendo boas notas, quando não se
À satisfação habitual de presidir colações de grau mostravam habilitados nas disciplinas nas quais haviam
no Colégio, juntou-se em 1881, o grande prazer de saber e sido aprovados.
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O professor de Filosofia, Rozendo Muniz Barreto, gerais de preparatórios 278 candidatos, aprovados 229,
dizia o reitor Carmo, entre considerações, que "se por um nenhum com a nota de distinção, reprovados 49.
lado era honroso para o Colégio, que os seus piores alunos Em 1880, apareceram 1.329 candidatos ao exame
ombreassem com os melhores dos colégios particulares, de Aritmética, 992 aprovados, 337 reprovados. Em 1881,
por outro lado não se fariam esperar funestas os inscritos eram 1.118, 670 aprovados, 448 reprovados.
consequências de tantas disparidades". Incumbido de fiscalizar exames de preparatórios não
Halbout, professor de Francês, reclamava também foi pequeno, em 1881, o trabalho do reitor Carmo, nele
incluído a regência do Colégio para o qual, a 30 de maio
contra prestação de exames de alunos do Colégio na
de 1881, entrava em exercício, coadjuvante contratado de
Instrução Pública, citando casos ocorridos em suas aulas,
Desenho, quem depois seria professor efetivo da arte,
concluindo por dizer ao reitor Carmo:
Manoel Arthur Ferreira, de assinalados serviços à
"Aproveito a oportunidade que se me oferece,
instituição pela perícia no ensino, formador de muitas
chamando a ilustrada atenção de V.Ex.a , para tão
vocações pelo rigor de disciplina em aula modelar no
clamoroso abuso que reclama providências muito silêncio e no respeito.
enérgicas, a fim de impedir que se reproduza como
Tinha então o provecto Manoel Arthur Ferreira como
efetivamente se tem repetido de alguns anos a esta parte, colega, Quintino José de Faria, coadjuvante também
com grave prejuízo da disciplina do Externato." contratado, outro nome benquisto na arte nacional,
Assim, no ano de 1880, em Latim, exame constante a preocupação de Colégio em escolher para
considerado mais difícil, se haviam inscrito nos exames docentes os melhores elementos do magistério nacional.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Francisco de Paula Rodrigues Alves, Presidente da República


(1902 - 1906). Ex-aluno, bacharelando de 8 de dezembro de 1865.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937

X
O Colégio de 1882 a 1889

Morte de Joaquim Manoel de Macedo • Reforma Rodolpho Dantas • Parecer Ruy


Barbosa • Primeiras Alunas no Colégio • Introdução do Telefone • Providências
Administrativas • Novo Reitor do Internato • Extinção de Meio-Pensionistas •
Retiradas das Alunas do Colégio • Supressão de Periódicos Colegiais • Fiscalização
do Colégio • Dádivas ao Mesmo • Transferência do Internato • Novos Reitores do
Internato e do Externato • Fim da Monarquia e do Imperial Colégio •
No Dia da Proclamação da República.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

A 1 ° de março de 1882 abriam-se as aulas do 44° ano Por ocasião da morte de Macedo pôde dizer dele
letivo do Colégio, pouco antes, a 18 de dezembro Franklin Távora, sem receio de contestação: — "O romance
de 1881, a lamentar a perda do professor de Italiano, Dr. nacional perdeu seu fundador, o drama um dos seus mais
João José Moreira. devotados cultores, a poesia, uma de suas inspirações, a
Logo ao iniciar-se o ano letivo o reitor Carmo dirigiu- história pátria uma de suas autoridades, a política, um
se a autoridade superior para saber se devia continuar no nome puro, a família, um esposo exemplar e um irmão
Externato a prática de alunos avulsos deixarem de capaz de sacrifício".
comparecer às aulas subsequentes às outras nas quais À voz de Franklin Távora, orador do Instituto
matriculados, aulas que funcionavam em primeiro lugar Histórico, ajuntou a pena de alguém do Colégio, Carlos de
em cada dia útil, com a justificativa apresentada pelos Laet, sentenciando: "Macedo exerceu o magistério no
alunos avulsos de receberem lições em outros Colégio de Pedro II e para seus alunos escreveu tratado
estabelecimentos de ensino.
de corografia e história do Brasil, muito criticados, mas
Consultando, a quem de direito, Carmo obtemperava geralmente copiados pelos que o censuram".
que "a experiência demonstrava prejuízo da medida quanto
Outro homem de letras, Rozendo Muniz, ao ser
à boa ordem e disciplina do Colégio".
proposto voto de pesar na Congregação do Colégio pelo
Logo após a consulta Carmo, recebia o Colégio
falecimento de Macedo, professor da Casa desde 1849,
lutuosíssima notícia, a da perda de um dos luminares do
assim se expressou: — "O vulto humano de tão ilustre
corpo docente, o Dr. Joaquim Manoel de Macedo, falecido
colega atravessou esta vida em honra do magistério, da
a 12 de abril de 1882, na terra natal, tão recordada em
suas obras São João de Itaboraí. família e da pátria.
Fecunda fora a vida de Macedo. A síntese de sua gloriosa carreira pode-se exprimir
Dela boa parte se escoara em cátedra do Colégio. nestas três palavras: — talento, trabalho e probidade".
Neste, por lições e livros, ensinava discípulos a amar o "Homem de bem"— Macedo —, declarava um
Brasil, a recordar-lhe feitos de maiores em glorioso antigo discípulo dele, Alfredo d' Escragnolle Taunay, ao
passado nacional. dedicar-lhe romance de estreia "A Mocidade deTrajano".
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Prova a dedicatória quanto o professor vivia na As notas atribuídas pela comissão julgadora seriam:
memória de alunos agradecidos, grupo à parte na massa ótima, boa, sofrível e má. Julgar-se-ia inabilitado o
dos estudantes. candidato que não alcançasse para habilitação maioria de
Provido na cátedra de Macedo, de História e votos. Logo depois a comissão passaria a classificar os
Corografia do Brasil, o professor substituto Joáo Maria da habilitados por ordem de merecimento. A Congregação
Gama Berquó, a vida no Colégio retomou imperiosos apreciaria o parecer da Comissão e apresentaria ao
direitos. Governo o candidato que julgasse digno de preencher a
Nele o Decreto de 24 de agosto de 1881, referendado vaga.
por Homem de Mello, antigo professor da Casa, convertera Não se contentou o Ministro do Império, Rodolpho
o Conselho Colegial em Congregação: "Aspiração dos Dantas, com o Decreto de 23 de junho de 1882. Sujeitou
professores", dizia o reitor Carmo ao Ministro do Império à apreciação da Câmara dos Deputados, projeto
Rodolpho Dantas. remodelador da instrução pública.
Observava porém o reitor ter sido dada a presidência Partidário das universidades, quanto ao ensino
da Congregação à Inspetoria de Instrução, colocados à superior, em relação ao primário pugnava Rodolpho Dantas
margem, à maneira de simples membros da corporação,
pela urgência de criação dos jardins de infância e
os reitores aos quais incumbia a direção do Colégio.
acreditando preponderante o papel feminino no ensino
Ao Ministro Rodolpho Dantas, deveu o Colégio, o
primário defendia a ideia da instituição de Internatos
Decreto de 23 de junho de 1882 mandando observar o
normais para formação de professoras.
regimento especial das provas e processos de concurso
Dominado por teorias norte-americanas acerca de
para provimento dos lugares de catedráticos e substitutos.
instrução, entendia o Ministro Dantas, indispensável a
Segundo o regimento e o Decreto os concursos
supressão dos exames de preparatórios descidos a muita
seriam realizados no Externato.
desmoralização nas províncias.
Constaria de defesa de tese, de provas escrita e
No ensino secundário prevaleceria o bacharelado em
oral e de provas práticas, estas nos concursos de Física,
Química e História Natural. ciências e letras, não concedido a estabelecimentos
A tese seria apresentada dentro de 40 dias contados particulares independente de fiscalização.
do sorteio do ponto. O Inspetor Geral de Instrução presidiria O projeto Dantas foi distribuído na Câmara dos
a mesa examinadora composta pelo reitor do Externato Deputados à comissão respectiva, relator do projeto o
ou do Internato, conforme ocorresse a vaga nesta ou Deputado Ruy Barbosa.
naquela seção, de um juiz e de dois examinadores eleitos Apresentou este extenso parecer cujos pontos
pela Congregação; cada examinador arguindo o candidato principais eram: — a criação de um Ministério de Instrução
por espaço de meia hora. Pública, a liberdade do ensino, a laicidade e a frequência
A prova escrita, comum a todos os candidatos, da escola pública, a divisão do ensino, a divisão do ensino
realizar-se-ia no prazo de quatro horas sobre ponto tirado à primário no Município Neutro, em quatro categorias (jardins
sorte. de infância, escolas primárias elementares, médias e
A prova oral duraria uma hora, sorteado para superiores), além de escolas mistas, dirigidas somente
preleção um ponto, com vinte e quatro horas, de por professoras, escolas normais uma de arte aplicada,
antecedência. A prova prática efetuar-se-ia três dias após com museu anexo, tipo Inglês, constituição de fundo
a oral. escolar.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Isto q u a n t o ao ensino primário, em relação ao da disciplina comportaria a história da evolução filosófica


secundário, o Externato do Colégio de Pedro Segundo, das i d e i a s , e s c o l a s e s i s t e m a s de f i l o s o f i a c o m a
recebendo o nome de Liceu, manteria os seguintes cursos: a p r e c i a ç ã o c r í t i c a da i n f l u ê n c i a de cada e s c o l a , o
— ciências e letras, finanças, comércio, agrimensura e conhecimento da apologia das bases de cada sistema, a
direção de obras agrícolas, m a q u i n i s t a s , i n d u s t r i a l , separação entre a parte dessas ideias confirmadas pela
relojoaria e instrumentos de precisão. verificação experimental e a parte pertencente ao domínio
O curso de ciências e letras compreenderia seis extra-científico da metafísica e dos sentimentos pessoais
anos, conferindo o diploma de bacharel. A criação dos do sistemático ou c r e n t e " .
outros cursos do futuro Liceu era justificada pelo autor do Justificando opinião, adiantava Ruy Barbosa: —
parecer. Entendia este, por exemplo, " d e manifestar "Ensina-se hoje a provar como de certeza absoluta, como
conveniência o curso de relojoaria e i n s t r u m e n t o s de de exatidão verificada, certas e determinadas maneiras
precisão". de ver, a respeito da natureza da alma, da origem do
A classe dos relojoeiros era entre nós numerosa em mundo, das coisas finais da o r d e m do universo. Mas
toda a parte, balda da instrução indispensável para que acerca de cada um desses imensos problemas quantas
dela fosse possível surgirem artistas capazes de alargar e opiniões diversas, contrárias, opostas, não t ê m existido e
fecundar tal indústria. disputado a palma da verdade?"
A classe de fabricantes de instrumentos de precisão, Dizia Ruy Barbosa: "Porventura o Estado há de
limitada em toda parte, tendia a assumir importância escolher, t e m o d i r e i t o de escolher, nessa luta de
c r e s c e n t e m e n t e avultada pela d i f u s ã o d o s e s t u d o s afirmações e negações p r o f u n d a s , bandear-se a um
m a t e m á t i c o s , d o s t r a b a l h o s d e alta c i ê n c i a , das sistema, militar numa escola, impor aos que frequentam
investigações experimentais. os seus institutos docentes o ensino do credo, de uma
O país lucraria consideravelmente em abrir ensino filosofia especial ou de uma seita religiosa? Com que
a esta espécie de vocações, a cujos produtos nunca direito ordenais ao examinando, ao aspirante ao currículo
faltariam procura e copiosa retribuição. das Faculdades: — Provai-me a imaterialidade da alma
No curso de ciências e letras do Imperial Liceu de ou as portas do ensino superior não se vos abrirão? Não,
Pedro Segundo o parecer de Ruy Barbosa incluía disciplinas este não é o papel do Estado; entre as filosofias, entre as
novas, E s t e n o g r a f i a , A g r i c u l t u r a , E c o n o m i a Política, r e l i g i õ e s , não é a e l e q u e i n c u m b e eleger, m a s a
Sociologia e Direito Constitucional em noções elementares, consciência individual".
a estenografia em exercício. Aparatoso o Projeto de Reforma da Instrução Ruy
Dando suma importância ao ensino de Línguas Vivas Barbosa, ficou onde repousam tantos projetos, no papel
no Imperial Liceu, baseada no princípio capital de não saber impresso.
Línguas Vivas sem as saber falar, o parecer Ruy Barbosa Findo o ano letivo de 1882, g r a d u a r a m - s e no
aconselhava que no Imperial Liceu o A l e m ã o f o s s e Externato 8 bacharéis e igual n ú m e r o no I n t e r n a t o ,
estudado durante quatro anos, o Francês e o Inglês durante sobrelevando-se na turma João da Costa Lima Drummond,
três, o Italiano durante dois, condenado como improdutivo futuro e notável juiz, e Roberto Nunes Lindsay, engenheiro
o ensino por temas e versões. civil e professor da Escola Normal.
Em relação ao ensino da Filosofia no programa do A abertura do ano letivo de 1883 no Externato seria #

bacharelado, entendia Ruy Barbosa que "o programa oficial assinalado por novidade. O Dr. Cândido Barata Ribeiro,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

lente de medicina, requerera matrícula no 1 ° ano para suas Ao ato concorreu, para bacharelado, reduzida turma,
filhas Cândida e Leonor Borges Ribeiro. de 4 bacharelandos, 2 do Externato, 2 do Internato, um
Ocupava a Pasta do Império, no Gabinete daqueles Tito Lívio de Castro, futuro médico cuja perda as
Paranaguá, o Senador Pedro Leão Velloso, o qual por aviso letras e a ciência lamentaram prematuramente.
de 22 de fevereiro de 1883 autorizou o reitor Carmo a admitir Dois bacharéis em 1883, num Externato frequentado
no Externato alunos do sexo feminino, por não existir por 236 alunos, atestava que não se ia facilmente ao 7o
disposição legal proibitiva. ano do curso.
Aproveitaram-se da concessão Cândida e Leonor Seria este assinalado, em 1883, pelo meio jubileu
Borges Ribeiro, Maria Júlia Picanço da Costa, depois de magistério de dois assíduos professores, o Dr. José da
professora municipal, Maria Olympia e Zulmira de Moraes Silva Lisboa e Monsenhor Félix de Freitas Albuquerque,
Kohn, também depois professoras municipais. como também em 1884 completaria o professor Schieffler
Ainda Leão Velloso na Pasta do Império veio lecionar vinte e cinco anos de cátedra.
interinamente Latim, no Externato, o Dr. Amaro Cavalcanti, Em junho de 1884 passou a Ministro do Império, no
futuramente de altos postos na República, inclusive os Gabinete Dantas, Felippe Franco de Sá, homem de grande
de Prefeito do Distrito Federal e Ministro da Justiça.
cultura e sabedor do vernáculo conforme hábito da terra
Zelando pelo Internato, o ministro Leão Velloso
natal, o Maranhão, cognominada Atenas Brasileira.
designava ali o bedel António Alves Carneiro para substituto
Qual antecessores, Franco de Sá velava pelo Colégio,
do secretário no impedimento deste.
querendo saber o que nele se passava, a exemplo do
Talvez cortando algum abuso, o Ministro
"Homem de São Cristóvão". Assim, na intimidade, os
recomendava ao reitor vigilância quanto à distribuição de
políticos do Império, temendo-o soíam tratar o Imperador.
passes gratuitos das companhias de carris, destinados
Abrindo exemplo, pela presença e pela fiscalização,
segundo o Ministro "para auxiliar o serviço do Estado e
o "Homem" queria que os ministros olhassem para o
não em benefício de funcionários ou pessoas de suas
Colégio, fossem quais fossem suas ocupações.
famílias".
Em maio de 1883 era o Senador Leão Velloso À menor acusação pública contra a instituição era
substituído na Pasta do Império pelo deputado sul- mister imediata resposta do Governo, para confundir ou
riograndense Francisco Antunes Maciel, membro do punir. Um exemplo: — Em 1884, apareceu artiguete nas
Ministério Lafayete. colunas, assaz oposicionistas e com tinta republicana,
Caber-lhe-ia autorizar, em novembro de 1883, o da Gazeta da Tarde, acusando o Externato de manter portas
assentamento de linhas telefónicas no Colégio pela abertas, alta noite.
Empresa Telefónica do Brasil, sabido quanto a presença e Apressou-se o reitor daquele em informar logo ao
a animação do D. Pedro II na Exposição de Filadélfia em ministro e publicamente declarar ao jornal que o articulista
1876 contribuiu para chamar atenção para Graham Bell e só se podia referir ao Instituto Farmacêutico cujo edifício
o seu invento. contíguo ao Externato fora entregue ao mesmo Instituto
Encerrou o ano letivo de 1883 a respectiva colação sob cuja guarda se achava.
degrau. Viviam os reitores do Externato e do Internato em
Para realce desta o reitor Carmo pedia a guarda de constante correspondência, já com o Ministro do Império,
honra do estilo, "por isso que, frisava no pedido, SS. MM. já com o Inspetor da Instrução Pública, cargo para o qual
II, têm de assistir, como sempre, à solenidade. se escolhiam pessoas notórias e quanto possível versadas
ESCRAGNOLLE DÓRIA

em assuntos pedagógicos. Ao Ministro do Império subiam variando entre 14 e 10 anos. Só 1 aluna frequentava o 3 o
com frequência consultas e pedidos das reitorias do ano, as outras matriculadas no 2 o e 1 o ano.
Colégio. Na gestão da Pasta do Império, o Senador Meira de
Em 1884, o Ministro Franco de Sá tanto tinha de Vasconcellos continuou exemplo de antecessores zelando
receber o pedido dos alunos do Internato, representados pelo bom nome do Colégio, para mantê-lo, não hesitando,
pelo reitor, para ser feriado a véspera de São João, como embora reservadamente, em advertir.
consulta do m e s m o reitor do Internato acrescida de Assim tendo o vice-reitor do Internato publicado na
pretensão do vice-reitor do Internato e do s u b s t i t u t o imprensa ofício do reitor sobre caso ocorrido no
Almeida Torres à regência de turmas suplementares. estabelecimento com um aluno do m e s m o , ofício dirigido
Decidia o ministro d e t e r m i n a n d o que idênticos à Inspetoria de Instrução Pública, o Ministro declarava ao
pedidos fossem acompanhados de informação do reitor reitor "que, sem permissão do Governo, não podia nenhum
sobre a idoneidade moral e pedagógica dos pretendentes. funcionário dar à publicidade, ofício dirigido às autoridades
As t u r m a s s u p l e m e n t a r e s eram quase s e m p r e superiores".
o
destinadas a subdividir o ensino no 1 ano, turmas únicas A 20 de agosto de 1885, saia Meira de Vasconcellos
e reduzidas, as dos anos superiores do Colégio. da Pasta do Império, pouco antes da perda do reitor do
Em 1884 o 7 o ano graduava 2 bacharéis, e o Internato, Dr. António Henrique Leal, falecido a 29 de
Internato 1. setembro de 1885; substituído interinamente pelo vice-
Assinalava-se lutuosamente o ano letivo de 1885, reitor, o bacharel em letras Luiz Cândido Paranhos de
pelo falecimento do professor, e antigo secretário do Macedo.
Externato, José Manoel Garcia, desaparecido a 14 de julho As mutações de Governo para o Colégio, eram
de 1885. Deixando família em condições de pobreza, as s e n s í v e i s na Pasta do I m p é r i o , da q u a l e l e t ã o
dos servidores do Império, o Governo procurou suavizá-la. estreitamente dependia.
Adquiriu a biblioteca de Garcia, assaz numerosa e dividiu Fora do poder o Gabinete Saraiva, organizado o
livros entre o Colégio e a Biblioteca Nacional, no t e m p o Gabinete Cotegipe. de 20 de agosto de 1885, teria dele a
dirigida pelo Dr. João Saldanha da Gama. Pasta do Império o Senador Ambrósio Leitão da Cunha,
Deixara a Pasta o Senador Franco de Sá, pela Barão de Mamoré.
retirada do Gabinete Dantas, substituído pelo Senador Meira Caber-lhe-ia referendar o Decreto de nomeação de
de Vasconcellos, membro do Segundo Gabinete Saraiva. novo reitor do Internato, o professor do Colégio Aureliano
Ministro novo, o Senador Meira de Vasconcellos, Corrêa Pereira Pimentel, entrado em exercício em outubro
recebeu ofício do reitor do Externato, comunicando-lhe a de 1885.
existência no estabelecimento de 15 alunas matriculadas Merece referência especial o ingresso de Aureliano
e 5 ouvintes. Pimentel no corpo docente do Colégio. Nascido no mineiro
Pedia ao m e s m o t e m p o a nomeação de inspetora, São João d'EI Rey a 26 de novembro de 1830, distinguiu-
ponderando contudo a conveniência de serem as alunas se Aureliano Pimentel na cidade natal como escritor e
do Externato encaminhadas para a Escola Normal ou para jornalista, cultor da prosa e do verso, por obra volumosa
o Liceu de Artes e Ofícios. cuja parte inédita dava para publicação de alguns volumes.
Das alunas do Externato no ano letivo de 1885 uma Sabedor emérito da língua vernácula e de Latim, vivia
contava 22 anos de idade, outra 16, a idade das demais Aureliano Pimentel na sombra provinciana, à luz apenas
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

dos estudos de gabinete. D. Pedro II visitou, porém, Minas, Extinto o meio-pensionato, a reitoria do Externato
e teve ensejo de conversar com o modesto douto, deu destino à sobra dos géneros alimentícios da despensa
induzindo-o logo à cadeira do Colégio. Transferiu-se do estabelecimento, remeteu-os ao Asilo de Meninos
Aureliano Pimentel para o Rio de Janeiro, obtendo por Desvalidos, ora Instituto Profissional João Alfredo,
concurso, e notável, a cadeira de Português cuja posse procedendo-se à venda dos fogões e da bateria de cozinha.
lhe vaticinara o soberano. Certo não foi alheia a O reitor, em mão de distribuir e remover, removeu
benevolência deste na elevação de Aureliano Pimentel à vários objetos da igreja do Externato para a Capela
reitoria do Internato. Imperial.
Pouco antes da designação de Aureliano Pimentel, Procurava o reitor Carmo manter a casa em ordem
o Ministro Barão de Mamoré, pelo Aviso de 26 de setembro e asseio, este mais aliviado com a extinção do meio-
de 1885, extinguia o meio-pensionato no Colégio. pensionato.
Dava este ensejo ao reitor Carmo de pedir aumento Visitado o Colégio pelo presidente da Junta de Higiene
de vencimentos dos funcionários do Externato à vista da Pública, o Barão de Ibituruna, e mais dois membros da
cessação de alimentos aos mesmos. Junta, autorizou aquele ao reitor a participar ao ministro
Aproveitando ocasião, propugnava pelos interesses as boas condições higiénicas em que as autoridades
dos serventes, dizendo ao ministro fazê-lo "embora não
sanitárias tinham encontrado o Colégio.
tendo podido requererem eles pelo seu direito".
Quando necessário cedia este, mediante autorização
Finalizava o ano letivo de 1885, com a providência
superior, o Salão Nobre para solenidades, assim em 1886
do Ministro Mamoré no sentido de não mais serem
o cedeu para instalação da Associação Geral de Auxílios
admitidas alunas no Externato.
Mútuos da Estrada de Ferro D. Pedro Segundo.
"O orçamento vigente não facultava verba para
Na época, o Ministro Mamoré ordenou que das
inspetora de alunas, sendo o Colégio destinado somente
gratificações adicionais concedidas por merecimento aos
ao ensino de pessoas do sexo masculino. Mas como
professores do Colégio se não deviam descontar faltas
seria injusto deixar as alunas do Externato ao desamparo
justificadas ou licenças com vencimentos.
de instrução convinha encaminhá-las para a Escola
Normal, para o Liceu de Artes e Ofícios ou mesmo para o De fiscalização ao Internato, por Aviso de 9 de junho
curso noturno secundário da fundação do professor José de 1886, o Ministro Mamoré pedia ao reitor Aureliano
Manoel Garcia". Pimentel informações sobre a publicação de jornal colegial
A 30 de dezembro de 1885 recebia grau a mais que intitulado A Discussão.
reduzida turma dos 7°anistas do ano, 1 do Externato, 1 do Desejava que, ao informá-lo, o reitor considerasse
Internato. Pouco antes de iniciar-se o ano letivo de 1886 o não só as ideias expendidas no periódico, mas também o
Governo deu ciência aos reitores que só com autorização prejuízo que pudesse advir para os estudos dos trabalhos
dele Governo, seria lícito prorrogar trabalhos de qualquer a que se dedicassem alunos para levar a efeito a
aula dos estabelecimentos. publicação. Informou o reitor "que os trabalhos de redação
Não tardou também providência equitativa , a do do periódico A Discussão concorriam para que os alunos
aumento de vencimentos de funcionários do Externato desamassem estudos". Logo após declarava o Ministro
prejudicados pela falta de alimentação, suprimido o meio- ao reitor "não convir a continuação do periódico".
pensionato dos alunos, aumento pecuniário de 50S000, No fim do ano letivo de 1886 verificou-se ausência
30$000 e 20S000 segundo categorias. absoluta de bacharéis em letras a graduar.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Não se limitava o Ministro do Império a fiscalizar o contra insuficiência de tempo para bem julgar alunos em
Colégio por dentro, queria-o defendido fora. Um caso. exame, considerado este, dizia o professor de Latim, Dr.
O órgão conservador e do partido do Ministro — O Lucindo Pereira dos Passos, "pesado encargo para os que
Rio de Janeiro — no seu número de 15 de abril de 1887, não examinassem com os olhos no chapéu".
inseriu local, sob a epígrafe Colégio de Pedro II— acusando Vivia o Colégio em círculo de fiscalizações, a do
o professor de Religião do Externato de considerar Imperador, a do Ministro, a do reitor, a de professores.
acatólicos 7 ou 8 alunos ouvintes, obrigados pelo professor Não era de estranhar, pois, que Mamoré expedisse aviso
a se retirarem da aula. ao reitor do Internato pedindo informações sobre os
"Para queé pago o professor?" perguntava o jornal. motivos da saída de alunos em desacordo com as
No mesmo dia da acusação, 15 de abril de 1887, o prescrições do regulamento n.° 8 de 31 de janeiro de 1838.
Ministro do Império, Barão de Mamoré, pedia informações Mandava este limitar a saída de internos, duas
ao reitor do Externato, Dr. José Joaquim do Carmo, vezes por mês, os colegiais acompanhados pelos
encarregando este da respectiva sindicância o vice-reitor
progenitores ou por pessoas expressamente autorizadas.
Dr. Urbano Burlamaqui Castello Branco.
Não recebia, porém, só o Internato pedido de
Informou o segundo sem demora:
informações, também dádivas.
"O fato narrado no referido jornal é o seguinte: O Sr.
Em junho de 1887, o professor Dr. Manoel Thomaz
Fr. Saturnino, professor de Religião da 1a seção, disse em
Alves Nogueira oferecia ao Internato quadros e livros de
aula que, geralmente, os alunos ouvintes eram oriundos
valor.
dos reprovados no exame de admissão, portanto sem o
Pedia a colocação daqueles na sala de aula de
necessário preparo para serem estudantes deste Colégio,
História do Brasil. Entre as telas oferecidas havia uma
que o professor tendo de empregar toda a sua atenção
pequena de Kiesser, obra de 1618, representando São
com os matriculados, e não sendo pelo regulamento
Sebastião e também uma vista do Rio de Janeiro.
obrigado a chamar os ouvintes à lição os mesmos se
aproveitavam dessa circunstância para descurarem de Entre as dádivas de Thomaz Alves à biblioteca do
seus deveres escolares. Não fez intimação aos ouvintes Internato figurava a obra de Villegaignon sobre a expedição
para se retirarem de sua aula, mas os aconselhou a de Carlos V a Alger em 1541, tradução de Menrad no fim
aproveitarem melhor o tempo". do livro de Schomburgle.
O jornal deu-se por satisfeito. "Obra raríssima, declarava o doador, com o
No ano letivo de 1887, sempre fiscalizando, o merecimento de ser de Villegaignon e apreciada como o
Ministro Mamoré expedia aviso indeferindo pedido do melhor livro que se conhece sobre aquela expedição
escrivão do Internato quanto à alimentação, fundado em imperial".
dispositivo legal e em tabelas orçamentárias. Em 21 de julho de 1887 deixava a Pasta do Império
Declarou mais o Ministro que, de acordo com o Barão de Mamoré, substituído pelo Conselheiro Manoel
prescrição regulamentar, o escrivão poderia participar de do Nascimento Machado Portella, lente da Faculdade de
refeição, no Internato, pagando, professores e empregados Direito de Recife.
sem direito à alimentação. Com a saída de Mamoré do Ministério Cotegipe,
A fiscalização não era só governamental, exerciam- coincidia o pedido de demissão do reitor Aureliano Pimentel,-
na também, professores, reclamando à reitoria do Externato substituído pelo vice-reitor Paranhos de Macedo.
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Pouco se demorou o Conselheiro Machado Portella Representavam a Irmandade o vice-provedor Dr.


na Pasta do Império, não reeleito deputado pelo 1o distrito António Ferreira Viana, aliás bacharel em letras, e outros
eleitoral de Pernambuco, de sede principal no Recife. irmãos de mesa, em figura da Fazenda Nacional o
Chamou a si a Pasta o Presidente do Conselho e procurador fiscal Dr. Carlos de Menezes.
Ministro da Fazenda, Barão de Cotegipe. Vendia a Irmandade ao Governo o prédio da praça
Apesar de interino, até demissão do Gabinete de 20 D. Pedro I, mais conhecida por Campo de São Cristóvão.
de agosto de 1885, caber-lhe-ia na qualidade de Ministro Fora o prédio construído em terreno onde haviam existido
do Império impor o barrete branco aos bacharelandos de dois imóveis, n.° 9 e 11; comprados ao Banco do Brasil.
1887, em número de doze, sete do Externato e cinco do Receberia a Irmandade 200:000$000, dependente o
Internato. pagamento da concessão de crédito pelo poder legislativo.
Em 9 de março de 1888 alterava o Barão de Cotegipe Entretanto, a chave do prédio fora entregue ao
várias disposições do regulamento do Colégio, mandando Governo desde fevereiro de 1888, pagando ele 10:000$000
abrir-lhe as aulas a 15 de março e fechá-las a 30 de de aluguel anual até poder dispor do crédito.
novembro. Caso não fosse este concedido para pagamento
Fixava o número de alunos no Internato à vista da total, o prédio seria ocupado por arrendamento, durante 9
tabela orçamentária e no Externato atendendo aos recursos anos, vencendo 10:000$000 de aluguel por ano.
do pessoal docente e de inspeção. O poder legislativo votou o crédito e o prédio ficou
O Internato admitiria 25 alunos gratuitos, e o definitivamente em poder do Património Nacional para nova
Externato 100, aqueles favorecidos com enxoval e livros. instalação do Internato.
Deviam obter matrícula gratuita menores de Ao prazer da mudança, vinha ensombrar o suicídio
atestada pobreza, preferidos em igualdade de méritos os de um aluno gratuito, participando-o o reitor do Internato,
órfãos, os filhos de professores públicos com dez anos de ao Ministro José Fernandes da Costa Pereira Júnior,
bons serviços, os filhos de oficiais subalternos da armada bacharel em letras.
e do exército e os filhos de empregados públicos com Substituía o Conselheiro Costa Pereira o Barão de
mais de dez anos de função. Cotegipe, na Pasta do Império, no Ministério João Alfredo.
Caberia também ao Barão de Cotegipe providência Recomendava então Costa Pereira ao reitor "o
de maior relevância quanto ao Colégio, a de transferência emprego de todos os esforços para que fossem os alunos
do Internato. convenientemente doutrinados no sentido de fortificar-se
Desde 1858, funcionava este na chácara do Matta, a sua instrução moral e religiosa", à vista do lamentável
na rua de São Francisco Xavier, a dois passos do largo da sucesso ocorrido fora da Casa.
Segunda-Feira. Deliberou mudá-lo o Governo, mandando Desde fevereiro de 1888 assumira a reitoria do
para bairro bem diferente, o de São Cristóvão. Para tanto, Internato o Conselheiro João Capistrano Bandeira de Mello
a 24 de novembro de 1888, compareciam na Diretoria-Geral Filho, recebendo a administração do vice-reitor Paranhos
do Contencioso do Tesouro Nacional como outorgante de Macedo.
vendedora a Irmandade do Santíssimo Sacramento da Bandeira de Mello antigo professor como o pai, da
Candelária, e como outorgada compradora a Fazenda Faculdade de Direito de Recife, presidira províncias do
Nacional. Império, cinco, enquanto o pai regera três.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

O novo reitor de 1888 achara-se à testa do Rio Grande entender e como espero de seu amor por este
do Norte em 1873, de Santa Catarina em 1875, do Pará, estabelecimento que se orgulha de o contar entre seus
do Maranhão em 1885 e da Bahia em 1866. filhos (era Ministro o Conselheiro Costa Pereira, bacharel
Não só o Internato recebeu novo reitor, sucesso em letras de 1851) e pelo respeito que lhe inspiravam pelo
idêntico ocorreu no Externato aí substituído em março de templo os seus sentimentos religiosos".
1888, o reitor Dr. José Joaquim do Carmo por Monsenhor Conseguido afinal o templo foi nele reorganizada a
Luiz Raymundo da Silva Brito, voltando-se assim à tradição irmandade de São Joaquim, realizado afinal o desejo do
de sacerdotes à frente de destinos do Imperial Colégio. antigo reitor do Colégio, Monsenhor Fonseca Lima, o da
Nascido em 1840, na vila maranhense de São Bento, restauração do culto na vetusta igreja.
monsenhor Brito na província natal paroquiara freguesias, Nomearam para ela um cura, restabelecidas as
exerceu a reitoria do seminário, nele regendo cadeiras. solenidades religiosas, sempre ameaçado porém o templo
Transferindo-se para a capital do Império fora vigário pelo projeto de alargamento da Rua Larga de São Joaquim.
em Niterói, vigário geral do bispado do Rio de Janeiro, Assim os bacharéis de 1888 puderam ouvir a missa
professor de Religião da Escola Normal. do Espírito Santo na velha igreja, daqueles bacharéis, 6
Orador sagrado dos mais solicitados e ouvidos, saídos do Externato e 5 do Internato.
Monsenhor Brito, de futuro, encerraria como Bispo de A colação de grau dos bacharéis em letras da turma
Olinda a lista dos bispos de vida no Colégio de Pedro de 1888 tem hoje significação especial, derradeira
Segundo, aí tendo por antecessores de mitra, Arrábida, solenidade do Colégio no regime monárquico.
Saraiva, Pinto do Rego e Benevides. Foi solenidade na qual, pela última vez, no Salão
Apenas assumia a reitoria do Externato. Monsenhor Nobre se ouviu a voz de quem conferia o grau repetir a
Brito pedia ao Governo desocupação do prédio contíguo cada bacharel em letras a bela fórmula, subsequente ao
ao estabelecimento onde funcionava o Instituto juramento: — "a lei vos declara bacharel em letras cujo
Farmacêutico. grau espero honreis tanto quanto o haveis sabido merecer".
Protestava também o novo reitor contra a utilização Pela última vez encheu-se de povo a Rua Larga de
da igreja de São Joaquim anexa ao Colégio. São Joaquim para assistir à chegada de quantos acudiam
Dizia ser "profanação dolorosa a continuar um à festa do Colégio.
templo antigo, objeto de veneração de maiores, Mais curiosidade despertava a vinda das pessoas
transformado em laboratório farmacêutico, como se a imperiais e a estas a guarda de honra prestava continências
cidade não possuísse lugar mais próprio para ser despojada ao som do Hino Nacional.
do que a Casa de Deus e não igreja interdita, que nunca o Até simples visitas do Imperador ao Externato
fora, e sim aberta à profanação". despertavam atenção popular, o modesto carro do
Dirigindo-se ao Ministro do Império alegava ainda o soberano, tão avaro consigo mesmo quão pródigo na
reitor Brito: — "a restituição da parte ocupada pelo Instituto caridade, precedido por bulhentos cadetes batedores e
Farmacêutico trazia a vantagem de alargar e regularizar seguido por piquete do 1 o Regimento de Cavalaria
as propriedades dos serviços internos do Colégio, reabrindo estacionado em São Cristóvão.
um templo à piedade cristã". O ano letivo de 1889 seria o último do Imperial
Reforçando opinião, observava ainda o reitor Brito Colégio, tendo este à sua testa no Externato Monsenhor,
ao Ministro do Império: — "V. Ex.a resolverá como melhor Brito e no Internato o Conselheiro Bandeira de Mello.
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Apesar de envelhecido e enfermiço, gasto no serviço Aquela sineta que despertava com reticência sonora
da pátria, escapo à morte em 1888 quando em Milão, o o silêncio da hora de aula, que soava álacre, acelerava
Imperador não cessava visitas ao Colégio, a cujos igualmente o ritmo cardíaco dos Colegiais. Aí vinha o
concursos jamais negou presença. Imperador! A que aula vai chegar? E se aqui vier, a esta
Era regra para admissão no corpo docente de Latim, quem apresentará como decurião o nosso
catedrático da Casa em 1886, como assegurava o reitor Mestre? Isso perguntávamos nós, os da classe de Lucindo
do Externato, prestando informação num requerimento em certo dia do ano de 1888.
sujeito à sua apreciação: — "Não consta até esta data Eu me considerava um dos papáveis, por ter assento
que se tenham efetuado nomeações de professor em banco de honra, mas desejava que o destino me
catedrático independente de concurso, exceto da cadeira poupasse o sobressalto, o enleio, a confusão de chamada
de Religião em que este nunca foi exigido". imperial. De nada, porém, me valeram os votos íntimos.
E como aqui se versam aspectos intelectuais e Lucindo segredou ao Imperador o meu nome. O Imperador
morais da vida do Colégio no seu último ano letivo
chamou-me à lição. Traduzia-se naquele tempo a Vita
transcorrido, na Monarquia, em 1889, não vem fora de
Agricolae de Tácito.
molde ajuntar, àqueles aspectos, outras feições até
D. Pedro II abriu o livro, que lhe passou Lucindo,
materiais da Casa no referido ano quando tudo ia mudar
convidou-me a ler e traduzir certa extensão daquele trecho
na instituição e mormente no Brasil.
que assim começa: — Nunc demum redit animus; sed
Nunca os aspectos da vida do Colégio foram
quamquam, primo statim...
recordados com tanta significação como no centenário do
Entalado em naturais apertos, li paulatinamente o
nascimento de D. Pedro II, celebrado pelo Colégio em
texto corrido, como quem mede alturas, fiz segunda leitura
presença do neto do Imperador, o príncipe D. Pedro.
na ordem direta. O Imperador acompanhava solícito a
Recordou muitos daqueles aspectos, como orador
leitura, com o seu pencenê de tartaruga a meio do nariz.
oficial, o professor Escragnolle Dória.
Eu arriscava de instante a instante uns furtivos
Relembrou-os o professor de medicina Dr. José
António de Abreu Fialho, bacharel em letras, em nome de olhares, como se quisesse avaliar os efeitos dos meus
antigos alunos do Colégio. recursos no ânimo do Imperador, que se mantinha
A formosa oração justiceira do Dr. Abreu Fialho indiferente à minha proeza, mas sempre atento ao livro.
presta-nos de preferência subsídios para caracterizar as Já agora mais quietado o meu ânimo daquela
visitas, a assistência moral indefectível do Imperador ao responsabilidade de que me sentia salteado, e com meio
Colégio do seu mecenato. caminho andado, iniciei a tradução, que os meneios da
Eis aqui o depoimento de Abreu Fialho e muitos cabeça do Imperador anunciavam aprovar. Sobre duas
bacharéis do Colégio do tempo do Império poderiam prestar outras palavras latinas deu-me um correspondente
depoimentos idênticos. português, a seu ver mais preciso que a minha tradução.
"O Imperador, (e este é já lugar comum) visitava A respeito de certo vocábulo apontou como as edições
amiúde o Colégio, não por formalidade ou cortesia, como divergiam.
turista, mas como visita interessada, de dever e de E na sua galanteria de homem culto e polido e sua
amizade e de estudo, de quem quer se inteirar por si próprio bondade e candidez de Imperante, premiou-me a lição com
das coisas, vê-las e examiná-las com o coração. alguns amáveis e lisonjeiros conceitos.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Depois trocou com Lucindo impressões sobre aquela Julgava Abreu Fialho Sénior, de bom conselho fazer
obra de Tácito — a biografia de Júlio Agrícola — escrita com que o descendente honrasse a primeira página do
em estilo enxuto, sentencioso, elegante, embora austero, Diário com a narrativa já para ele história aula de latinidade,
à altura de seu valor de filósofo e de moralista. "grande , porém, foi a decepção paterna quando viu no
A propósito da passagem traduzida, ora fitando limiar do livro, e precedido de algumas palavras políticas
Lucindo, ora olhando-me por sobre o pencenê, falou com e colegialmente ingénuas, um excerto de gazeta
admiração viva do amor de Tácito à liberdade, liberdade republicana da época, com uma tirada demagógica contra
que os tiranos tornam ainda mais apetecida e cobiçada.
o trono, que, dizia o jornal, "amordaçava a opinião e
Pôs Tácito entre as duas épocas, a de Domiciano e
sufocava a liberdade".
a de Nerva e Trajano.
Abreu Fialho Pai, "depois de alguns instantes, teve
Eu ouvia maravilhado aquelas coisas, aqueles
o sorriso satisfeito de quem dialoga com os próprios
comentários, aquelas erudições atraentes, raros pratos
pensamentos, e deles tem assentimento íntimo, concluiu
que não costumavam figurar na tradução trivial de cada
dia. que nunca tão de molde viria ali aquela narrativa que lhe
Depois de breve pausa perscrutadora, e voltando- havia feito o filho, e onde o acaso tinha posto a defesa
se para mim com certa curiosidade, o Imperador indagou filial do Imperador e de sua política liberal".
de qualquer parentesco meu com os Fialho do Rio Grande Aplicava o método filosófico do confronto, de
do Sul, eu, nada versado ainda naquela idade em comparar para julgar.
genealogias, não pude satisfazer à pergunta de D. Pedro. Iluminado o espírito pela experiência, já mais
Limitei-me a dizer, com certo entono orgulhoso, que amadurecido e emancipado nas ideias, Abreu Fialho
descendia de tronco genuinamente nortista, e era eu próprio escreveria comentários à margem do livro doado pela
do Norte. bondade paterna. E dizia, entre outras coisas, "Honrar
Com isto levantou-se o Imperador, não sem me com entusiasmo a Tácito nos seus ódios à tirania é louvar
recomendar que quando sobrassem folgas lesse uma alma republicana e livre. Falar em amor à Liberdade
empenhadamente toda a obra de Tácito, talvez que nesta é mostrar-se liberal. Que diferença haverá entre um
ordem, Vida de Júlio Agrícola, Costumes dos Germanos, Imperador democrata e liberal, fazendo provança de suas
História, Anais." virtudes, e um verdadeiro estadista republicano".
Depois de narrar com tanta singeleza, na qual se
O contato moral com D. Pedro II, "com quem tratara
obriga a elegância no dizer, conta-nos Abreu Fialho à
frente a frente, que o interrogara em lições e, camarada e
chegada ao lar onde se deu pressa em contar ao pai todo
familiarmente, conversara com um rapazinho de 14 anos,
o sucedido no Pedro Segundo, junto ao progenitor,
começou a esmaecer os fumos de republicanozinho, que
"monarquista fiel, e político do partido liberal, capitão da
lia gazetas republicanas e decorava tiradas demagógicas
velha guarda nacional, Conselheiro da Ordem da Rosa".
Não pôde o pai ocultar ao filho a satisfação do seu contra o trono".
ânimo. Em 1925, pôde o antigo colegial consagrar a D. Pedro
Ao filho sempre falava o pai "da vantagem que II seu examinador adhoc, a aula em que o examinara fora
tinha todo homem em escrever e possuir o seu Diário, no a de Latim, as seguintes palavras: — "Pela primeira vez
curso da vida, presenteando com vistoso livro àquele fim depois de fitar o semblante sereno do Imperador, e pelos
destinado". tempos afora muitas vezes e a outros propósitos, repito e'
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937

tenho repetido a justeza deste princípio: — "Quantos avaliava a influência moral que dá a presença do Chefe da
murmuram de nossas coisas, sem que nos conheçam de Nação no exato funcionamento da complexa máquina
rosto!" governamental".
Não só a D. Pedro II prestou justiça Abreu Fialho, Além da oração do Dr. Abreu Fialho, várias foram
também ao Imperial Colégio, denominando-o escola de as homenagens prestadas no Colégio ao ínclito protetor
civismo, "ensinando pais e mestres a respeitar a lei como de outrora por ocasião do seu primeiro centenário natalício.
o melhor exemplo de educação cívica". Entre aquelas homenagens, mostrando ainda o
Formava o Colégio pequenino Estado, com a sua Colégio até 1889, roborando o testemunho de Abreu Fialho,
lei, os seus chefes supremos e os auxiliares destes, outro depoimento prestou em discurso o Dr. Luiz
mestres ou não, desenvolvendo tudo quanto requer a vida Cantanhede de Carvalho e Almeida, o professor da Escola
coletiva: —a cidadania, a união, a solidariedade, o espírito Politécnica e bacharel em letras do Externato na turma de
de disciplina social, o hábito de convivência em 1893.
comunidade, a consciência dos deveres e dos direitos. Mostrou o professor Cantanhede "no Colégio um
Conforme Abreu Fialho, sabia o aluno que grupo a cuja frente, vagaroso caminhava um velho,
implicitamente na lei do Colégio a obrigação era estudar, cercado pelas atenções de pequeno séquito. O velho era
o Imperador, acompanhado de grande servidor do Brasil
estudando para saber, voltando o escolar a repetir ano se
velhinho de passo ainda firme e cabeça branca, aureolada
não bem saldadas e rigorosas as contas de aproveitamento,
de glória, que foi o orgulho do Brasil e se chamava
julgado cada um segundo obras e méritos.
Tamandaré; aos dois grandes velhos acompanhavam o
Para contas bem saldadas em fim de ano o aluno
Reitor e o vice-Reitor, Monsenhor Brito e o Dr. Epiphanio
do Colégio levava, informa Fialho, ordenadas para o dia
José dos Reis".
seguinte, as obrigações, os exercícios, os temas, as
Entrou o Imperador na aula de Francês regida por
lições, tudo fiscalizado pelas chamadas de presenças,
Halbout.
pelas chamadas à lição, pela verificação dos "deveres",
Estava um estudante a terminar lição, pouco antes
pelas notas, pelas médias de trimestre, pelos exames.
do fim da aula. "Ajudado o estudante que traduzia, pela
Ninguém se dizia escravo! E escravo do dever "era titulo
atenção maior que Halbout dava ao Imperador, não
de honra sublinhando ainda mais o de bacharel".
percebendo ou desculpando algumas faltas que em dias
A perda do ano por faltas convidava à assiduidade. normais seriam notáveis a sineta anunciou fim de aula.
As notas em público, em face dos examinadores, De pé a turma, o Imperador e comitiva se retiraram; mas
dos colegas, e do auditório, valiam por aplicação prática antes de descer os três degraus que ligavam a sala ao
da justiça. corredor o velho Imperador faz voltar Tamandaré, para dar
Completava-a, durante o ano e na ocasião dos atos, ao aluno que acabara de receber uma nota boa, as
o Imperador, "chamando, interrogando, explicando, felicitações do Imperador, felicitações de um grande avô
animando paternalmente os estudantes, fossem aplicados que o Herói transmitia ao estudante, quando este e os
ou obstinados, contumazes na vadiação, presidindo a colegas comentavam os riscos da aventura bem
chamadas, banca de exames e aos atos solenes do sucedida".
bacharelando, o Imperador trazia a todos enleados em Grandemente apoiados por Cantanhede Almeida,
doce e confortante atmosfera, e ensinava civismo, unia bacharel de 1893, e pelas recordações do bacharel Raul
os interesses do Estado aos da instrução pública, porque Paranhos Pederneiras, da turma de 1892, e do bacharel
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Júlio Adolpho da Fontoura Guedes, da turma de 1901, além Em qualquer colégio há sempre um funcionário
das recordações próprias, busquemos fixar ainda mais um conhecido de todos os alunos, o porteiro.
pouco o aspecto do Colégio quando a mudança de regime Conhecê-lo é sabê-lo preposto à sineta, outrora a
ia afastar para sempre o patrono da Casa. do Externato confiada ao velho Babo, à memória do qual
Assim os atuais alunos e os vindouros poderão Joaquim Manoel de Macedo não desdenhou consagrar
evocar antecessores e deles os modos de vida, assaz referências ao passear em livro pela cidade do Rio de
diferentes, pela natureza das duas seções do Colégio, no Janeiro.
Externato e no Internato. Nos fins do Império portaria e sineta do Externato
Comecemos pelo primeiro, o decano e a princípio estavam a cargo de Carlos Gonçalves Mattos, primeiro
também Internato. fiscal de quem entrava ou saía.
De manhã cedo chegavam os alunos ao Colégio, os Eram então familiares as figura dos seis inspetores
calouros canhestros, com medo dos veteranos, os segundo da época de Alexandre Mondaini, Manoel Silveira,
anistas todos anchos pela perda do calourado, dando-se Domingos Lima, o segundo capitão, o terceiro tenente da
ares de veteranos ante os primeiro anistas. Mostravam- Guarda Nacional, de Joaquim Alves, depois escrivão do
se os demais alunos, do 3o ao 5o ano familiarizados com Externato, de Pedro Baptista, depois bedel, finalmente do
a Casa , os do 6o ano procurando imitar os setimanistas
Pereira Santos, madrugando para vir ao Colégio, por morar
compenetrados de posição especial, a dar-lhes próximo
na Pavuna.
ingresso em cursos superiores, embora aí de novo
Todos terríveis inspetores, "que ameaçavam
baixassem à calouros.
sempre", disse Cantanhede. No fundo excelentes
Livros em bolsa ou empacotados e presos por
criaturas.
pegador, merenda no bolso depois da extinção do meio-
Quando por efeito da repreensão ou castigo se lhes
pensionato, lá se apresentavam no Colégio os alunos de
queria mal era por pouco tempo. Sabiam os alunos, os
farda verde com botões dourados onde em relevo RH.
inspetores prestigiados pelas reitorias, vez por outra a
Chegavam alguns mais cedo, sem dúvida
corrigir-lhes demasias, mas em surdina, longe de
moradores de arrabalde ou longínquo subúrbio, aqueles
discentes, de modo a nem abater autoridade de subalternos
trazidos ao centro da cidade pelas linhas ferro-carris, estes
pelas composições da Estrada de Ferro D. Pedro II, ou nem proporcionar reincidências a discentes animados
Central do Brasil. Desembarcavam na Estação Central nelas por fraquejar de disciplina, tocando a todos. Um
ou popularmente do Campo, estação terminal de via férrea exemplo.
com perto de mais de 700 quilómetros em tráfego e de Durante o seu curso de bacharelado foi sempre o
penetração em três províncias, Rio de Janeiro, São Paulo príncipe D. Pedro Augusto de bom procedimento. "Uma
e Minas, estendida a linha suburbana da Corte ao Realengo. dama", dizia dele o seu inspetor Pereira dos Santos.
Os alunos de chegada mais cedo costumavam ficar Mostrando lhaneza e gravidade natural era D. Pedro muito
pelas imediações do Colégio, pelas Rua da Imperatriz, hoje estimado pelos inspetores. Quando andava de "coupé"
Camerino, pela Rua Estreita de São Joaquim, ao flanco da debruçava-se à portinhola do veículo para saudá-los fosse
igreja da mesma invocação. onde fosse.
Permaneciam alguns na porta sempre fechada do Entretanto, um dia, ao correr no pátio do Externato,
templo, que o povo dizia interdita por ter sido nela morto em ocasião indevida, excedeu-se o príncipe aluno, privadç
um padre! Tudo imaginação, fértil sempre a do vulgo. do recreio pelo inspetor Santos.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Nisto chega ao Colégio, em visita, o Imperador. "Os veteranos já lhe conheciam as manhas e
Detendo-se na sala do vice-reitor, perguntou D. Pedro II: sabiam que dentro daquele velho brigador e rabugento,
"Onde está o Pedrinho?". "De castigo", foi-lhe respondido. havia uma criatura bonachona e mansa que era preciso
"Muito bem, muito bem, redarguiu o Imperador, nada de saber levar com jeito, dentro das páginas do livro de Ottoni
exceções, é aluno como outro qualquer". onde se achavam todas as chaves que abriam as portas
Anos muitos depois, decaído o Império, comprazia- do curso de matemática elementar".
se o inspetor Santos em narrar o incidente a quantos se O livro de Ottoni, leia-se os compêndios do então
interessavam pela vida do Colégio e não se esqueciam de Senador Christiano Benedicto Ottoni, outrora lente da
ir registrando particularmente o que no passado lhe dizia Academia de Marinha.
respeito. Autor de compêndio qual Halbout, era Pedro José
Retomado fio de narração, diga-se que estabelecida de Abreu, professor de Geografia, "sempre bem apurado
forma, às badaladas da sineta da portaria, cada turma no traje, de fino trato, tipo de avô tolerante", muito
seguia corredores afora, em marcha cadenciada, em busca preconizador das excelências da sua habilitação no morro
das salas de aula sobre cujas mesas dos professores o das Dores, na estação de Todos os Santos e aí tido por
inspetor respectivo estendia a lista caligrafada pelo bedel, espécie de patriarca.
José Pinto da Silva Leal, baixo, barbado, superintendendo, Tão calmo era Abreu quão impaciente o professor
à cérbero amável no cumprimento do dever, as presenças Lucindo Pereira dos Passos, enraivecido e impacientado
e faltas de professores e alunos. se não conseguia incutir a alunos gosto pela latinidade,
Depois da chamada à aula, nesta recebido de pé os para ele só aprendível pelo método de Clintock.
lentes, alguns bem recordados por Cantanhede. Inolvidável Corpulento, não era qualquer cadeira que lhe servia
era Halbout, de sobrecasaca negra, mento e lábios e devia estar bem limpa para não lhe macular as habituais
raspados entre "suíças" bastas; usando rapé sem um só calças brancas. Sabia Latim e queria que o soubessem,
salpico, ao invés dos tabaqueadores descuidados olhos a fuzilarem atrás dos óculos de ouro se o aluno dava
procurando esconder desmazelos nasais em grandes silabadas, ou gaguejava quando César mostrava como
lenços policrômicos de Alcobaça. vencera Vercingetorix ou Horácio em ode indicava quão
Em contrário ao depoimento de muito vadio, jamais fugidia é a vida humana, quão preciso aproveitá-la ao ritmo
esquecido das notas más ou das reprovações ou "raposas" da ampulheta que a todos mede existência.
de Halbout, Cantanhede diz-nos este tipo íntegro de juiz, Dois sacerdotes ensinavam Religião, regular um,
igual nas exigências da repetição das páginas de sua secular o outro. Do mosteiro de São Bento descia frei
gramática. E que pontualidade a de José Francisco Saturnino Santa Clara Antunes de Abreu, pregador imperial,
Halbout! "Velho mestre cuja falta à aula nunca foi teólogo da Nunciatura Apostólica, ao tempo no convento
prevista, porque nunca acontecera e aconteceria, dele a do Carmo no largo da Lapa, e vinha explicar História
falta escapava ao cálculo das probabilidades; a presença Sagrada aos meninos do Externato, com a gravidade dum
de Halbout era certeza. Faltou dois dias no Colégio para abade titular de São João Gualberto. "Alma de erudito —
morrer no terceiro dia". declara Cantanhede — em cujo olhar se percebia uma
Na aula de Matemática "aparecia a velhice esguia faísca de convicção do próprio valor, que a humildade da
de Drago, magro, alto, secarrão, nervoso, um tanto sotaina não conseguira apagar de todo, contrapondo-se à
agitado, gritando sempre, metendo muito medo aos figura simples do velho sacerdote, Monsenhor Amorim,
calouros". seu substituto".
ESCRAGNOLLE DÓRIA

À galeria dos professores do Externato dos quais distraídos e vadios "memória de abóbora", coisa que na
nos deu até agora muitos traços Cantanhede de Almeida, cucurbitácea jamais a botânica descobriu.
a j u n t e m o s o u t r o s t i p o s : — Ramos M e l l o , professor Aureliano Pimentel dirigia a aula de Português, língua
estimado, culto, cuja modéstia bem mostrava quanto sabia ainda não diferenciada da brasileira, do 2 o ao 5 o ano. A
que o tudo do saber humano é afinal nada; Rozendo Muniz, calourada ficava a cargo de Manoel Olympio Rodrigues
poeta emaranhado no ensino de Filosofia; Nerval de da Costa, e s f o r ç a d o no entregar bons discípulos a
Gouvêa, baixinho, rotundo, calvo, organização intelectual Aureliano Pimentel. Este " e r u d i t o abalizado, seguro,
de primeira ordem que tornava a Física e a Química quase f r e q u e n t e m e n t e consultado pelos paredros do idioma,
s o r r i d e n t e s por l i ç õ e s e n t r e saber e a m a b i l i d a d e ; primava pelas lições de redação e de estilo, possuindo
Goldschmidt, maciçamente germânico e c o m o tal não caderno onde averbava as cincadas e os cochilos dos
desdenhando cachimbo, de fumaças no intervalo das professores e letrados da época". Muito havia aproveitado
aulas, numa pausa entre Schiller e Goethe. O mais esquivo no recolhimento de longos anos em Minas, no nativo São

dos lentes era o de Retórica, Poética e Literatura, Franklin João d'El Rey de onde o havia retirado D. Pedro II ao passar
pela cidade.
Dória, já Barão de Loreto, ora Ministro, ora deputado geral.
Diz-nos Fontoura G u e d e s dos p r o f e s s o r e s do
Cada um desses e cada um dos mais lentes do
Colégio, ainda do tempo do Império, cujas lições recebeu
Colégio que longos estudos de personalidades merecem,
no Externato de 1895 a 1901: — "Cada professor possuía
cada qual com seu jeito de ensinar, com seus cacoetes,
uma psicologia própria, um modo particular, especial na
com seus tiques observados pelos alunos, inspetores
forma de lecionar; bondosos ou rigorosos eram todos
mudos ou traquinas dos mestres no decurso das aulas,
acatados, respeitados por seus discípulos, incapazes de
entre bater de sineta para entrar ou sair delas.
manifestações h o s t i s " .
Em artigo — com o título O Velho Colégio e subtítulo
N e m e s c a p a r a m aos c r o n i s t a s da saudade do
Um Pouco de Saudade — Raul Pederneiras e Fontoura
Colégio os tipos dos inspetores, os dois Lima, o Leal Pai,
Guedes concorreram para lembrar sob diversos aspectos
o Baptista Pai. o Santos, o Perrayon, bondoso como a
professores do Colégio no fim de Império.
bondade, chamando o estudante desobediente "de quinta
Apresentam-se-nos em 1889: — Halbout "para os roda de carro". Quando a aula estava quieta o inspetor
vadios e r e l a p s o s " t e m e r o s o , usando de a m e a ç a s ficava a ler clássicos franceses.
cumpridas para chamá-los ao cumprimento do dever, de Do a s p e c t o i n t e l e c t u a l e m o r a l p a s s e m o s ao
estribilho no fim do ano há de contar com minha bolinha material do Externato no fim do Império, aspecto
preta; Alexander que ensinando Inglês "pouco faltava para conservado até bem adiante na República.
ser Berlitz, desenhando quadros explicativos da aplicação Recorda-o Raul Pederneiras descrevendo o Externato
das palavras invariáveis por meio de pássaros em torno "no amplo edifício do antigo seminário, de arquitetura
de uma gaiola", quando não arrastava alunos, e até o reitor monástica, com enormes arcarias circundando o vasto
Monsenhor Brito à Quinta da Boa Vista, toda silêncio, pátio central, transformado em campo de recreio e da
despovoada e vegetações, para exercícios de cultura física, g i n á s t i c a , salas a m p l a s , a r e j a d a s , c h e i a s d e luz,
nisto Alexander bem Inglês. destinavam-se às aulas, em dois pavimentos".
Ramos Mello ensinava História Universal servido por A entrada das aulas era ao lado da Igreja de São
invejável m e m ó r i a , Pedro J o s é de A b r e u explicava Joaquim, aquela de feitio severo, entre colunas de granito
Geografia p e r s o n i f i c a n d o a bondade, a t r i b u i n d o aos e capitéis de bronze.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937

Notável pela extensão a sala de estudo onde em O dia era de ouro na colação de grau e na distribuição
torno das paredes corriam os cabides numerados para de prémios. Quão melodiosos aos ouvidos dos
guarda de chapéus. recompensados soavam as vozes de colegas orfeonizados
Havia dois lugares reservados na Casa. Um era a pelos ensaios e esforços do Mathias Teixeira e do seu
secretaria onde no fim do Império trabalhavam o Secretário, coadjuvante Balduíno Rodrigues de Carvalho, morador em
António Joaquim Rodrigues Júnior, substituído nos Niterói, no largo da Memória, a gravar na dos alunos os
impedimentos pelo inspetor Carneiro Vidal, e o escrivão exercícios de solfejo de Garandé.
João Bernardo de Brito. O aluno conhecia a secretaria por O dia da colação de grau assinalava o do descanso
tradição, e mesmo no princípio da República, atesta Raul temporário para o Mathias, zangado se o tratavam por
Pederneiras, "nenhum aluno subiu as escadas rumo da doutor, lisonjeado se o chamavam de maestro, e para o
Secretaria". Quem falava aí por ele e pelos seus interesses Balduíno, a declarar aos recalcitrantes de solfejo que "os
eram pais ou responsáveis. desafinados afinam-se", enquanto eles se vingavam
O segundo lugar reservado do Colégio, onde o aluno alcunhando o zeloso professor de "suplemento musical",
só entrava uma vez por ano, era o Salão Nobre. Mas para aludindo ao cargo de coadjuvante do Mathias.
Certo não faltava malícia aos alunos do Externato,
o dia de contemplá-lo haviam primeiro de chegar os dias
como ao dizerem ser possível acertar relógios pelos
dos exames finais.
espirros infalíveis do professor Goldschmidt ao soar do
"Solenes, realizados no salão de estudo,
meio-dia, anunciado à cidade pela badalada de numerosos
enormíssimo e repleto, à mesa os reitores, os vice-reitores,
sinos. O anedotário do Colégio é vasto, abrange no decurso
os professores da matéria, do Externato e do Internato,
do tempo muito e muitos, para ele contribuindo uns mais,
muita vez sob a presidência do Imperador", segundo Raul
outros menos na Casa onde o estudo era vigiado por todos
Pederneiras.
os lados, do Imperador e dos ministros, aos reitores e
Para os setimanistas, o termo dos exames finais
vice-reitores, aos inspetores.
era anúncio da colação de grau. Patenteava-se então a
Assim pôde Raul Pederneiras asseverar, "que o
solenidade a entrada nobre do edifício no ângulo da Rua
vadio, o amigo de 'gazetas' não escapava; os pais
da Imperatriz, ora Camerino, da Imperatriz em lembrança
recebiam, no dia seguinte ao 'fato', um bilhete participando
da chegada de D. Thereza Christina ao Rio de Janeiro em que o estudante não comparecera às aulas".
1843, desembarcada no antigo Valongo. O ajuste de contas era feito em casa, da
Na entrada nobre da Casa pompeava "imponente admoestação ao puxão de orelhas, e às vezes de
escadaria artística de madeira lavrada, ostentando no limiar consequências piores para o reincidente, sem nenhuma
admiráveis esculturas de grifos, símbolos alados da atenuante, nem mesmo o da privação de sentidos
previdência, obra de arte substituída (depois do Império) inadmissível na vadiação sobretudo crónica, coisa na
por escada angulosa, inestética, de ferro batido e mármore época assaz rara, o aluno de passos da casa para o Colégio
vulgar". e vice-versa, os menores acompanhados pelos pais ou
No dia da colação de grau os setimanistas e os por pagens.
premiados em vários anos do curso esqueciam por No ano de 1889, último do Império de 1822, último
momentos os sustos de fim de ano, os terríveis exames, do Segundo Reinado, o Internato do Imperial Colégio de
no verão já bem de rigor, anunciado pelas cigarras nas Pedro Segundo deixara havia pouco a chácara do Matta,
amendoeiras do pátio central. no Engenho Velho, onde funcionava desde instalação.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Passava-se para bairro bem oposto, o de Sâo antigo oficial do exército, ensinando Francês sem os
Cristóvão. extremos de rigor de Halbout; Fortunato Duarte, lendo Latim,
Desamparava solar, boscarejamente entre árvores, explicando com a maior vida a língua morta.
leões de gesso ao portào, para abrigar-se em ponto Desvendava o Idioma Vernáculo ao 1 ° ano quem do
elevado, dominador de paisagem, sobranceiro a vasta idioma se servia a primor, Carlos de Laet, cuja ironia
praça, o Campo de São Cristóvão, então praça Pedro I, enfrentara impávida o sarcasmo de Camillo. Do 2o ao 5o
sem nenhum ajardinamento, teatro de frequentes revistas ano a Língua Portuguesa era explicada por Fausto Barreto,
de tropa pela amplitude do logradouro sobremaneira que abandonando o curso médico se tornara
favorecidas. exclusivamente professor e dos melhores.
A mudança do Internato, posto em prédio destinado A cadeira de Italiano, qual a de Grego, vagara.
a asilo, constituía, pois, novidade para os alunos do Preenchia-a o substituto, Monsenhor João Onofre de Souza
estabelecimento. A quem podem ser mais gratas as Breves, sacerdote de físico imponente, douto e viajado.
novidades senão à juventude no deslumbramento de viver. O Inglês, tão oposto ao Italiano, ensinava-o o Dr.
Quem em 1889, dia e noite, velava pelo Internato? Custódio Américo dos Santos, médico e bacharel em letras;
O vice-reitor Luiz Cândido Paranhos de Macedo, residente o Dr. Joaquim Gonçalves Guillon dirigia alunos na
na Casa, como a maioria dos inspetores. Tinha-os, pois, Matemática; Oliveira de Menezes Pai, na Física e na
Paranhos de Macedo, à mão para manter a ordem no Química; Caminhoá na História Natural; António Limoeiro,
respeito. bacharel em letras e médico na História Literária. Sylvio
O reitor, Conselheiro Bandeira de Mello, salvo caso Romero na Filosofia, examinando de acordo com a cadeira,
excepcional, vinha só ao expediente diário. Secundava filosoficamente, disposto a perdoar as inteligências
porém o auxiliar mantendo-lhe as determinações negativas.
sobretudo no tocante à disciplina, nem sempre fácil de Entusiasta no ensino da Retórica, Poética e Literatura
assegurar, pelas diferenças de idades e índoles em alunos, Nacional era o professor da cadeira, o médico Dr. José
uns nascidos e criados para compreendê-la, outros para Maria Velho da Silva, loquaz como convinha a professor
contrariá-la por interioridades de temperamento ou de meio de Retórica, arroubado como quem cultivava poesia,
social. literato, como quem às letras pátrias entregara Gabriella,
Como o reitor, só vinham também a São Cristóvão romance histórico a competir com as Memórias de um
e ao Internato para desempenho de funções os professores Sargento de Milícias de Manoel António de Almeida, outro
do Colégio, catedráticos ou substitutos. Traziam-nos os médico como Velho da Silva.
bondes da Companhia de São Cristóvão, de lenta quando Os alunos, sobretudo, os menos aplicados,
não acidentada tração animal, bondes aqueles, à subida esperavam sempre que nos exames, ao interrogá-los,
ou à descida, passando pela Praça D. Pedro I de onde Velho da Silva, tomasse a palavra, permitindo-lhes delicioso
irradiavam nada menos de sete vias públicas. Serviam-se silêncio. Passava não raro o examinador a prestar o
os professores do Internato das linhas ferro-carris do exame, enquanto a areia ia passando da superior para a
Pedregulho, São Januário, Ponta do Caju e Alegria, uma inferior da ampulheta...
os deixando mais perto, outras mais longe. Frei Bento da Trindade Cortez, monge da abadia
Em a nova casa do Internato lecionavam carioca de N. S. de Montserrat, vinha do Mosteiro de São
Tautphoeus, regendo as cadeiras de Alemão e Grego, de Bento doutrinar Instrução Religiosa e dizer missa, Capelão,
Schiller se transportando a Homero; Oliveira Fernandes, da Casa.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

Além dos catedráticos no Internato, aí funcionavam Era frequente reduzirem os professores do Pedro
mestres de Música, Desenho, Ginástica e Esgrima. Segundo lições a compêndios, declarando-os para uso dos
Também serviam ao ensino os substitutos comuns alunos do Imperial Colégio. Não impedia isso de serem
ao Externato e ao Internato, Carlos Jansen lecionando aqueles compêndios adotados em outros
Alemão, João Henrique Braune, Grego; Vicente de Souza, estabelecimentos de instrução secundária. Consideravam
Latim, Magalhães Couto, Francês, Almeida Torres, Inglês, o Pedro Segundo Colégio tipo, sabiam-no sujeito à
Frontin, Filosofia, Carlos França, Retórica, Raja Gabaglia, fiscalização suprema do Imperador, jamais nela
Matemática, Gama Berquó, Geografia e Cosmografia. esmorecido. O exemplo sempre desce do alto. Modela-
Em 1889, regia Berquó a cadeira de História do Brasil se fatalmente o subalterno pelo superior. Tal um, tal outro.
no Externato por impedimento do titular, ou do proprietário Antigo aluno do Internato, o Dr. Everardo Vallim
como se dizia outrora, da cadeira, João Capistrano de Pereira de Souza, a honrar na vida pública o nome paterno
Abreu. do Conselheiro Pedro Luiz, forneceu ao professor
Escragnolle Dória subsídios para dizer algo da vida do
Ficara no Internato a cátedra de Geografia a cargo
Internato, "intra muros", no fim do Império.
exclusivo do professor efetivo, o Dr. Francisco José Xavier,
Atestou a impressionante frequência das visitas do
médico e diretor do Hospício de Nossa Senhora das Dores,
Imperador ao Internato. "Chegava sempre de surpresa,
em Cascadura, estabelecimento da Santa Casa da
sem avisos prévios, com o mesmo traje preto, não
Misericórdia, então dirigido pelo Barão de Cotegipe.
dispensando cartola. De preferência entrava pela cozinha,
Geografia e História irmanam-se. No Internato, em
dizia qualquer coisa ao chefe da mesma. Passava à
1889, História Universal chegava a alunos por intermédio
despensa, examinando géneros e ao despenseiro solicitava
do Dr. Moreira de Azevedo, pela bondade para os alunos o
informações. Na copa observava o estado de limpeza do
Vovô, médico e bacharel em letras, ao qual a crónica do
respectivo material. Percorrendo o refeitório fazia
Rio de Janeiro ficou devendo grandes serviços.
observações sobre quaisquer irregularidades.
Professava História e Corografia do Brasil outro
Sucedia o mesmo quanto aos dormitórios. Na
médico, o Dr. Mattoso Maia, de préstimos da profissão na enfermaria, se nela havia doentes, inquiria do estado de
Guerra do Paraguai. cada um, desejando sempre melhoras a todos. Quando
Dele disse Raul Pederneiras mostrando-o "jovial, na rouparia não raro fazia descer roupas dos gavetões, a
comunicativo, amigo até o sabugo da alma, condimentando fim de verificar-lhes o asseio. As dependências sanitárias
a aridez dos assuntos com episódios anedóticos". não ficavam esquecidas e triste do chefe da faxina se
Sempre de preto, de longas barbas brancas em qualquer coisa deixasse a desejar!
contraste, pausado no andar e rápido da palavra, Mattoso Ao entrar em diferentes aulas, assistia às lições e
Maia era dos mais estimados professores do Colégio. comumente interrogava os alunos. Quando na Biblioteca
Continuando a tradição de muitos colegas, quais por lá confabulava com alguns lentes, nunca deixando de dizer
exemplo Justiniano da Rocha, Calógeras, Gonçalves da duas palavras ao velho Barão de Tautphoeus, quase sempre
Silva, Tautphoeus, Macedo, Ramos Mello, Thomaz Alves em alemão.
Nogueira, Moreira de Azevedo, autores de compêndios de Ao despedir-se do reitor, D. Pedro II manifestava
História, Mattoso Maia também os escreveu versando as impressões da visita. Em todas as festas solenes
história universal e pátria. pontualmente comparecia. Ao passar pelos recreios, não
ESCRAGNOLLE DÓRIA

raro mandava chamar alguns alunos, filhos de pessoas Prova-o de sobejo a dedicação ininterrupta de D.
suas conhecidas, e com eles ligeiramente confabulava". Pedro II pelo Colégio de seu nome, dedicação à qual o
A missa dominical era obrigatória para quantos não destino apôs fundo selo.
saíam aos sábados e, às vezes, havia confissões e O último dia do Imperador seria vivido no Externato,
comunhões gerais. onde se processava concurso para preenchimento da
Tais práticas eram com ânsia disputadas e sempre cadeira de Inglês.
que possível repetidas, porquanto os que caíam em graça Uma das provas do certame foi realizada a 14 de
ganhavam goiabada ao jantar, servidas bananas aos infiéis. novembro de 1889, e Abreu Fialho fixou a lembrança do
A alimentação dos alunos era da melhor qualidade, involuntário adeus de D. Pedro II ao Colégio, que se honrava
muito farta e bem feita... tendo-o D. Pedro II por protetor.
Estado sanitário ótimo. "Parecia — refere Abreu Fialho — que do alto de
Do zelo de D. Pedro II, diga-nos, apoiado no seu trono tinha a visão sinóptica das necessidades do
testemunho do apoio paterno, o Dr. João Marques, filho Estado, e a elas acudia com amor, e, no particular do
do antigo reitor do Internato, Dr. César Augusto Marques. ensino, nunca se afastou no curso do seu patriótico mister,
"O Imperador dando aos Ministros plena liberdade antes persistiu nesta louvável porfia, porque ainda nas
de ação no Governo, fazia exceção para o Colégio de Pedro vésperas da revolução que lhe derribou a potestade, às 5
II, Internato e Externato. O Colégio, todos o sabiam, vivia horas, mais ou menos, da tarde de 14 de novembro de
sob a direção imediata e pessoal do Imperador. Havia 1889, na porta do Externato, acabava de assistir à prova
exageros na acusação de poder pessoal tão falado pelos do concurso de Inglês, e ao tomar o carro que o levaria à
políticos da época... quando o seu partido deixava o Estrada de Ferro para Petrópolis, virou-se para Tautphoeus,
Governo. o divino Tautphoeus, como o chama o nosso Sylvio
Ah! Não... Quanto ao Colégio, o poder pessoal do Romero, lembrando-lhe jocoso, que trouxesse bem
Imperador era verdade incontestável e cuja existência não estudada a lição de grego do dia seguinte, cadeira de que
se podia negar. era detentor aquele inolvidável sábio e mestre".
Acompanhava os concursos, exame por exame, Cinco da tarde, mais ou menos, de 14 de novembro
passo por passo, tomando notas, conversando com os de 1889. Poucas horas depois graves sucessos
examinadores e com os concorrentes, e no fim verificava- terminados pela Proclamação da República.
se não lhe ter escapado qualquer minuciosidade e qualquer Depoimento de bacharel do Colégio, em 1889 a
circunstância. cursar o 1o ano do Externato, vai dizer de 15 de Novembro
Quase todas as semanas aparecia inopinadamente, de 1889. Disse-nos:
com tal insistência que sempre se contava com a visita "Desci a Ladeira do Senado, atravessei a rua do
do Imperador. Não se limitava a assistir às aulas, percorria Riachuelo, a do Senado, a travessa do Senado , o Campo
a chácara, os dormitórios, a biblioteca, a cozinha e mais de Santa Ana, saindo pelo portão do parque fronteiro ao
de uma vez sentava-se à mesa e provava a comida. Quartel General em direção à Rua Larga.
Constantemente, o Imperador mandava recados ao Movimento de tropas em frente ao grande quartel.
reitor, relativos ao Colégio, numa tira de papel, a lápis azul, Virei-me para o colega que me acompanhava e observei:
sem endereço, com rabisco já conhecido como assinatura — Hoje não há aula. Vamos ver a parada. E ficamos
imperial". vendo a parada. E fomos ficando. Não me lembro bem
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

do que vi, nem do que fiz. Atravessei a tropa e subo, lado Na deposição do D. Pedro II aprouve ao destino dar
da rua Larga. Chego ao Pedro II. O Imperador estava papel histórico a aluno do Colégio.
demorando e cansamos de esperá-lo. Na noite de 14 para 15 de Novembro de 1889,
Lá dentro grande vozeria, para as bandas do 6o ano. inteirado do movimento militar, reuniu-se o ministério
Tomei o corredor à esquerda e dirigi-me à sala do 1o ano presidido pelo Visconde de Ouro Preto na Chefatura de
onde o inspetor naquele dia era impotente para manter Polícia, na Rua do Lavradio, no Arsenal de Guerra e no de
ordem. O vice-reitor entrou e soltou um berro: Marinha onde o Governo viu clarear o dia, acabando o
— Todos de pé e de braços cruzados. Ministério por se congregar no Quartel General do Exército,
Mas a voz tremeu. O homem estava fulo. Sentou- exceto o Ministro da Marinha, o chefe de esquadra José
se na cadeira do professor. Mão no queixo e pôs-se a da Costa Azevedo, Barão do Ladário.
meditar. Ao dirigir-se de carro para o Campo, ajuntando-se a
Assim ficamos por algum tempo, depois tivemos colegas, ao descer de "coupê", intimado por um tenente,
ordem de sentar e a de saída, ao meio-dia, quando nos teve ordem de prisão. Sem palavra, com o silêncio que
retirávamos de ordinário à hora e meia. nas ocasiões supremas fala tão alto, Ladário alvejou o
Dirigi-me para a cidade, em companhia de colega.
tenente intimador. O tenente atirou e Deodoro acudiu ao
Quando íamos dobrar uma esquina, surge papai, muito
estampido. Ladário alvejou-o também, sem atingi-lo, a bala
pálido. Aparece também o aio do colega. Papai vinha de
passou pela cabeça de Deodoro. Já se retirava Ladário,
tílburi. Entrei neste.
quando o piquete de Deodoro, desfechando tiros, atingiu o
— Por que não voltou para casa? Perguntou meu
Ministro com quatro ferimentos.
pai, em caminho.
Ladário apressou o passo e caiu na calçada, junto
Indaguei o que havia de novo.
ao armazém de secos e molhados da Rua Larga de São
— Proclamaram a República. O ditador é o Deodoro.
Joaquim, com uma porta para a Rua de São Lourenço,
Ignorava o que vinha a ser república, nunca ouvira
hoje Visconde da Gávea. O armazém fechou-se, às
pronunciar o nome de Deodoro, não sabia o que era ser
pressas. Ladário ficou estendido sobre o lajedo.
ditador. Para admissão no Pedro II bastava saber ler,
escrever, cantar e doutrina Cristã. Acercou-se então do ferido um moço. Chamava-se
E, no tílburi, perguntei a papai se Deodoro ficava Carlos Vieira Ferreira, aluno sextanista do Externato do
então sendo Imperador. Colégio de Pedro II. Com certeza aí tinha se fartado, como
Meu pai não teve tempo de entrar em explicações, o calouro cujo depoimento citamos, de esperar o
já estávamos em casa, onde, no portão, mamãe me Imperador, de visita anunciada.
esperava toda chorosa". Acercou-se Vieira Ferreira de Ladário. Então alguns
Assim, descrita por um calourozinho de 10 anos, homens do povo acabaram se aproximando, curiosos,
hoje glória do magistério nacional, transcorreu no Externato humildes.
a manhã de 15 de Novembro de 1889. É de crer que no A mocidade generosa pediu-lhes auxílio para socorro
Internato, pela proximidade de quartéis de cavalaria e do ferido. Não podia ficar assim no meio da rua, talvez
artilharia, chegassem logo notícias do movimento militar morrer, sem alívio, ou pelo menos sem piedade.
encabeçado pelo Marechal Deodoro. O apelo foi correspondido. O grupinho dos
Não nos ficou, porém, depoimento algum de aluno, populares, aquecido pela chama de caridade de Vieira
mesmo calouro, do Internato. Ferreira, levantou Ladário.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Acrescidos de um comissário da armada, os amparando homem idoso, tinto de sangue a jorrar de


enfermeiros improvisados do momento trágico conduziram ferimentos em honra de causa vencida.
Ladário ao saguão do Palácio Itamarati. No edifício achava- Justifica-se, pois, o apontar de alguns dados
se o Dr. João Pinto do Rego César, bacharel em letras, à biográficos de Carlos Vieira Ferreira, dado o seu papel,
cabeceira de enfermo, um genro da Marquesa de Itamarati, honrando-se e honrando o Colégio, no dia 15 de Novembro
o Comendador Monteiro. Segundo depoimento inédito do de 1889.
Dr. Rego César, mandou este pedir à família Itamarati um Carlos Vieira Ferreira pertenceu à turma dos
lençol de linho para fazer ataduras. Pensado de urgência bacharéis em letras do Externato em 1890. Descendia do
Ladário, o Dr. Rego César pediu a presença de outro Dr. Miguel Vieira Ferreira, maranhense ilustrado, amigo e
médico, indicando o Dr. João Câncio Nunes de Mattos, colega dileto de Benjamin Constant. Homem
cirurgião militar, que julgava dever encontrar-se na farmácia desinteressado, de variadas aptidões, no fim da vida
São Joaquim, na Rua Larga, próximo à do Costa. fundou, no Rio de Janeiro, igreja protestante.
Realmente, o Dr. Câncio de Mattos permanecia na Formado em Direito, Carlos Vieira Ferreira iniciou
farmácia, ponto de encontro de vários facultativos vida pública por magistério no Colégio Militar. Mais tarde
conhecidos e empório de diversos preparados de muita entrando para a carreira diplomática, serviu o cargo de 2o
vulgarização no mercado de droga da época, procurada secretário (1898). Por efeito de medidas de economia
sobretudo por gente da roça em busca de anti-sezônicos. governamental, retirou-se do corpo diplomático. Muito
O Dr. João Câncio seguiu Vieira Ferreira, o aluno do jovem, faleceu a 3 de junho de 1900, deixando viúva D.
Imperial Colégio, e o fulgor do ato do escolar iluminava Albertina Gusmão Vieira.
em chefe o Colégio inteiro. Provou-o para a posteridade, Honra à memória de Carlos Vieira Ferreira.
à bíblica, o bom samaritanozinho compassivo do Pedro II Bem merece no Colégio homenagem especial.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

XI
O Colégio de 1890 a 1917

Os Primeiros Atos da República em Relação ao Colégio • Mudanças de Nomes do


Mesmo • Reformas Benjamin Constant e João Barbalho • O Código de Ensino de
1892 • Fusão do Externato e Internato • O Restabelecimento de Ambos •
Reforma do Código do Ensino de 1892 • A Primeira Equiparação do Ginásio
Nacional • Regulamento Amaro Cavalcanti • Reforma Epitácio Pessoa •
Novos Diretores e Novos Lentes • Código de Ensino de 1901 • Concursos •
Reforma Tavares Lyra • O Património do Colégio • Relatório Esmeraldino Bandeira •
Novos Lentes • Reforma Rivadávia Corrêa • Eleições para Diretor e Representante
do Colégio, já de Novo de Pedro Segundo, junto ao Conselho Superior do Ensino •
Extinção do Bacharelado pela Reforma Rivadávia • O Anuário do Colégio •
Reforma Carlos Maximiliano • Nomeção de Diretores pelo Governo •
Restabelecimento do Bacharelado e do Concurso de Provas.
ESCRAGNOLLE DORIA

Proclamada a República, instituído nela primeiro Ministro da Instrução, na Pasta criada a 19 de abril
Governo Provisório, presidido por Deodoro da de 1890, Benjamin Constant, em julho do mesmo ano,
Fonseca, foi o Ministério do Império, a cuja jurisdição modificava o processo de concurso do antigo Imperial
pertencia o Colégio de Pedro Segundo, transformado em Colégio de Pedro Segundo.
Ministério do Interior. Havia este passado a Instituto Nacional de Instrução
Nele serviu como primeiro ministro o Dr. Aristides Secundária quando Ministro Aristides Lobo.
da Silveira Lobo, antigo político da monarquia. Por Decreto de 14 de julho de 1890, dos concursos
Quanto à instrução a breve passagem daquele do Instituto desaparecia a defesa de tese, arguidos os
Ministro, pela Pasta, apenas se assinalava por um Aviso, candidatos por dois examinadores sobre provas escritas
determinando que continuassem a regular-se pelas e orais.
disposições vigentes os institutos de ensino superior ou A arguição das primeiras seria feita no dia seguinte
secundário criados ou dirigidos por leis de caráter geral. ao da leitura pública das provas, a arguição das provas
No Governo Provisório o sucessor de Aristides Lobo, orais, logo após a sua realização.
Cesário Alvim, nomeado em fevereiro de 1890, Julgariam o concurso a comissão examinadora e a
presenciaria a separação dos negócios relativos à instrução Congregação, logo depois da arguição do último candidato.
pública dos negócios políticos da Pasta do Interior. Não tardaria Benjamin Constant a reformar a
Solvendo crise violenta no Governo Provisório, surgiu instrução pública primária e secundária do antigo Município
nova Pasta, a da Instrução Pública, Correios e Telégrafos Neutro ou da Corte, rotulado pelo novo regime como —
para ela transferido Benjamin Constant, Ministro da Guerra. Distrito Federal.
Lente da Escola Militar e pouco antes da República. No regulamento anexo ao Decreto de 8 de novembro
da Escola Superior de Guerra, Benjamim Constant, de 1890 enfeixou Benjamin Constant a reforma do ensino
assumindo nova Pasta, encontrou como ato único da de inspiração e lavra própria.
administração Alvim, um Aviso riscando dos programas Principiou mudando o nome de Instituto Nacional.
de ensino a instrução religiosa.. de Instrução Secundária, substituto do Imperial Colégio
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

de Pedro Segundo, para Ginásio Nacional, mantendo-lhe No Conselho Diretor da Instrução figuraria um lente
provisoriamente a velha divisão em Internato e Externato. do Ginásio.
Antigo professor das duas seções da Casa, a título No Internato e no Externato haveria em sala de honra
suplementar, Benjamin Constant conservou no Ginásio o um Panteão.
curso septenal. Destinava-se aos retratos de alunos distintos pelo
T o r n a v a , p o r é m , i n d e p e n d e n t e s por i n t e i r o , talento, amor ao trabalho, procedimento exemplar e mais
administrativamente, Externato e Internato. Reger-se-iam virtudes, a recompensa do Panteão dependendo do juízo
pela mesma lei, com identidade de programas, sujeitos à da Congregação.
Inspetoria Geral do Ensino e a Conselho Diretor desta. Extinguia a Reforma Benjamin Constant a classe
Todas as matérias do curso seriam obrigatórias, dos substitutos, o reformador tendo pertencido a esta
facultado porém ao aluno escolher a aula de Inglês ou a classe, com o titulo de repetidor, na antiga Escola Militar
de Alemão. da Praia Vermelha, aí lente interino por longos anos, provido
Doze anos de idade, pelo menos, seriam exigidos a f i n a l e m c á t e d r a n a Escola S u p e r i o r d e G u e r r a ,
o
para a d m i s s ã o ao 1 ano, a l é m da apresentação do estabelecimento de ensino militar criado no fim do Império.
atestado de vacina e de diploma de exame final primário Pela Reforma Benjamin Constant, o corpo docente
ou certificado do grau primário, mediante exame procedido do Ginásio Nacional compor-se-ia de 12 lentes privativos
no Ginásio. de cada estabelecimento, Externato e Internato e de 6
Os exames de suficiência ou de promoção lentes comuns a ambas as seções, cada uma servida por
constariam de provas orais, os finais de provas escritas, professores de Ginástica, Evoluções Militares e Esgrima.
orais e práticas, os exames de madureza prestados no A 22 de novembro de 1890, Benjamin Constant
fim do curso para verificação da cultura individual. completava a reforma expedindo regulamento especial
Aos exames de madureza só concorreriam os alunos para o Ginásio Nacional. Abrangia plano de estudo e sua
do Ginásio aprovados em todos os exames finais. distribuição por curso de 7 anos, condições de admissão
Aos aprovados em tal exame, pelo menos com 2/3 de alunos no Internato e Externato, organização do corpo
de notas plenas seria atribuído o título de bacharel em docente, aulas e exames, processo de concursos, jogos
ciências e letras. escolares, distribuição de prémios, não se descuidando o
Poderiam ser a d m i t i d o s a exame de madureza regulamento do pessoal administrativo e docente.
candidatos estranhos, munidos de atestados fornecidos Teria o reitor 6:000$000 de vencimento anual, e cada
pelos diretores de colégios ou pelos professores lente 5:400$000, o secretário 3:000$000. Em novembro
particulares que os houvessem habilitado, informando dos de 1890, estendia-se aos funcionários de nomeação efetiva
precedentes intelectuais e morais dos discípulos. e aposentáveis do Ministério do Instrução, o montepio
Pela Reforma Benjamin Constant, o corpo docente obrigatório criado em 31 de outubro de 1890.
do Ginásio procedia de concurso, dirigida a Congregação Não abrangia o benefício o amparo das famílias, do
da Casa pelos reitores, por alternativa de presidência. A pessoal subalterno do Ministério do Instrução e do Colégio,
Congregação elaboraria os programas de ensino, confiando- bem necessitadas de tal amparo.
Ihes a elaboração a comissão por ela eleita. Os porteiros do Colégio venceriam 850S000 anuais,
Apresentados os programas sofreriam exame do os serventes 720S000.
Conselho Diretor de Instrução acompanhado de parecer No momento em que a Reforma Benjamin Constant
da Congregação e do Reitor Presidente. assinalava no Colégio a primeira reforma de ensino do
ESCRAGNOLLE DÓRIA

regime republicano, perdia o estabelecimento, por morte, Cinco anos depois recebia designação efetiva,
um dos seus mais antigos e conceituados professores: assumindo interinamente a diretoria da Escola Normal, no
Halbout, — filho de pais franceses, tido por muitos por impedimento do diretor Dr. João Pedro de Aquino, por
francês, nasceu José Francisco Halbout, no Rio de Janeiro. portaria de 23 de dezembro de 1887, expedida pelo Ministro
Educou-se em meio pedagógico, a mãe, M m e . Luiza do Império, Barão de Cotegipe.
Halbout mantendo acreditado Colégio de meninas no centro Além das funções docentes, Halbout exercia outras,
da cidade, na Rua do Hospício, ora Buenos Aires, esquina sem sair do magistério, quais os encargos de examinador
da Rua São Jorge, ora Gonçalves Ledo. de concursos no Colégio e no Instituto Comercial.
Adolescente, dedicou-se Halbout à profissão de Pôs a pena a serviço de traduções de monografias,
relojoeiro, desamparada pelo magistério. destinadas a exposições universais das quais o Brasil

C o m e ç o u a lecionar b e m j o v e m , aos 22 anos, participava.


Assim traduziu Halbout para francês as Noções de
iniciando carreira para a vida inteira.
Corographia do Brasil, do colega Joaquim Manoel de
Após c o n c u r s o , Halbout o c u p o u no magistério
Macedo.
secundário oficial posição digna de seus méritos.
Para se avaliar a monta da tradução basta dizer que
Por Decreto de 5 de junho de 1858, referendado pelo
constou de livro de 504 páginas, com vários mapas, livro
Marquês de Olinda, foi Halbout nomeado professor de
impresso em 1873 pela tipografia Brockhaus de Leipzig.
Francês do Internato e Externato do Imperial Colégio de
Ficou a cargo dos p r o f e s s o r e s T h o m a z A l v e s
P e d r o S e g u n d o , p e r c e b e n d o o o r d e n a d o anual de
Nogueira e Guilherme Schieffler a tradução da mesma obra
1:600$000.
para o Alemão.
Autorizado o diretor do Instituto Comercial, o reitor
Após decénio de magistério na Escola Normal da
do Colégio de Pedro Segundo, o Dr. Pacheco, por Aviso
Corte, dela se retirava Halbout, jubilado por Decreto de 4
ministerial, a convidar os professores do Imperial Colégio
de março de 1889, percebendo pela jubilação 1:600$000
que q u i s e s s e m lecionar no I n s t i t u t o , n e s t e Halbout
anuais.
ocupando a cadeira de Francês por Decreto de 7 de outubro C o n t i n u o u , p o r é m , a lecionar no Externato do
de 1863, com o vencimento anual de 1:200$000. Imperial Colégio, até pouco depois da República.
Na folha de serviços de Halbout ao magistério Nos últimos tempos de magistério, escusava-se de
nacional ainda se registrariam os de lições de Francês, na examinar, o que fizera longos anos, a seu ver o programa
Escola Normal da Corte. de estudos vigente só favorecendo reprovações.
Antes, porém de ter nela ingresso, Halbout passou Lembrado para diretor da Escola Normal, já na
no Colégio a reger unicamente a cadeira de Francês do República, Halbout não aceitou o cargo.
Externato, por opção feita nos t e r m o s do art. 56 do Noticiando o óbito de Halbout, dizia a Gazeta de
regulamento anexo do Decreto 61.30, de 1 o de março de Notícias, então um dos maiores órgãos da imprensa
1876, expedido na 2 a Regência Imperial de D. Isabel. carioca:
Por Decreto de 2 de outubro de 1885, era Halbout "O vulto que acaba de desaparecer há de ser sempre
nomeado professor da Escola Normal da Corte, a funcionar lembrado c o m o t i p o da mais alta honestidade e do
provisoriamente oito anos na Escola Politécnica, já tendo cumprimento mais rigoroso do dever.
Halbout na Escola Normal regido para ela a cadeira de Seus m u i t o s discípulos podem ter se queixado,
Francês em 1880. alguma vez, da severidade de seus juízos, mas é difícil
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

que os tenham acoimado de injustiças, porque de fato ele Dela Ministro, a 22 de janeiro de 1891, m e m b r o do
pôs o mais meticuloso cuidado em não cometê-las." segundo Gabinete do Governo Provisório, o do Barão de
Para acréscimo do ligeiro esboço da personalidade Lucena, Barbalho, logo em fevereiro de 1891 mandou
de Halbout fiquem destacadas as seguintes linhas de entrarem em vigor, provisoriamente, os regulamentos
Evaristo Nunes Pires, professor no Colégio, inscritos na anteriores ao regulamento expedido pelo antecessor
o
Revista Didáctica de 1 de janeiro de 1906. Benjamin Constant. Isto a 6 de fevereiro de 1891 e no dia
"Quando Halbout completou 25 anos de carreira s e g u i n t e um Decreto golpeava a Reforma Benjamin
pública, tratou de justificar faltas, então se apurando que p e r m i t i n d o , s e m c o n c u r s o , primeira n o m e a ç ã o para
só 5 vezes deixara de dar aula. cadeiras vagas ou recém-criadas.
Também de Halbout foi dito que, primando sempre Em março de 1891, o Inspetor da Instrução Pública,
pela e x e c u ç ã o de d e v e r e s , n i n g u é m o e x c e d i a no Dr. Ramiz Galvão, bacharel em letras, propunha ao ministro
desempenho das funções do magistério, assim t a m b é m Barbalho várias medidas em relação ao Colégio.
na banca de examinador, n i n g u é m se mostrava mais Entre elas a de vigorar o antigo plano de estudos
honestamente rígido e altaneiro às importunações do com algumas modificações de pequena monta, atendendo
empenho. a próxima apresentação de projeto reformador do plano do
Não só na sociedade brasileira, vinda de berço, era Ginásio Nacional.
Halbout tido em subida conta como no seio da colónia Promulgada a primeira Constituição da República, a
francesa à qual o ligava o a t a v i s m o que honrava por 24 de fevereiro de 1891, entrou a nação em regime regular,
c o s t u m e s puros de excelente chefe de família, c o m o eleito Presidente da República, pelo Congresso Nacional,
professor considerando o ensino "o mais santo dos o marechal Deodoro da Fonseca para o primeiro quadriénio
deveres". legal, de 25 de fevereiro a 15 de novembro de 1894.
Tanto era a estima da colónia francesa do Rio de Nomeou Deodoro Ministério do qual continuou chefe
Janeiro por Halbout que pessoas i n f l u e n t e s dela se o Barão de Lucena, passando João Barbalho da Pasta da
interessavam junto ao Ministro da França no Brasil, Conde Instrução Pública para a da Justiça, substituído naquela
Amelot de Chaillot, para ser concedido a Halbout o grau pelo Desembargador António Luiz Affonso de Carvalho.
de cavaleiro da Legião de Honra, em curso o pedido quando Tomaria este alguma providência de ordem secundária
a morte de Halbout veio tristemente cancelá-lo. quanto ao ensino público.
A Benjamin Constant sucedeu na Pasta da Instrução Em dezembro de 1891, em virtude da
Pública o Dr. João Barbalho Uchôa Cavalcanti constitucionalização do r e g i m e , surgia a primeira lei
Aluno assinalado do Ginásio Pernambucano, aí orçamentária da República atribuindo dotação de
recebendo primeiro prémio em 1859 e prémio entregue por 175:530$000 ao Externato, igual soma destinada ao
D. Pedro II, em viagem pelo Norte, Barbalho por espaço Internato.
de 17 anos dirigira a instrução pública em Pernambuco. Autorizado pela referida lei orçamentária, o Governo
Sempre a par do movimento pedagógico universal, equipararia as vantagens dos lentes e professores do
procurando adaptá-lo na província de berço, Barbalho, futuro Ginásio Nacional às dos lentes e professores de ensino
e douto comentador da Constituição de 1891, dera a lume superior.
várias obras versando pedagogia. Não era, pois. um No ano letivo de 1891 receberiam grau 19 bacharéis
deslocado na Pasta da Instrução. da turma de futuros cargos no Colégio, Francisco Pinheiro
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Guimarães, lente de Português e Literatura, e Sylvio Alfredo Justiça e Negócios Interiores, para o qual foi nomeado, na
Bevilacqua, secretário do Internato. Presidência Floriano Peixoto, o Dr. Fernando Lobo Leite
Com a proclamação da República, havia coincidido Pereira.
a entrada de novos lentes para o Colégio, os seguintes: — A passagem do Dr. Fernando Lobo pela Pasta da
Alonso Garcia Adjunto, lente de Grego, Manoel Said Ali Justiça e Negócios Interiores assinalou-se pela elaboração
Ida e Augusto Guilherme Meschick, lentes de Alemão, e aplicação de um Código de Ensino precedido de
Rodolpho de Paula Lopes e João Ribeiro, lentes de História autorização legislativa.
Natural e de História Universal, Guilherme Affonso de Encerrou o Código disposições tendentes a garantir
Carvalho, de Inglês, Alfredo Coelho Barreto e Agostinho e premiar corpos docentes e discentes.
Luiz da Gama, lentes de Matemática, e João Gonçalves Determinou que a Congregação de cada instituto de
Coelho Lisboa, lente de Geografia. ensino superior bienalmente indicasse catedrático ou
O ano letivo de 1892 seria inaugurado com reformas substituto para em viagem ao estrangeiro estudar métodos
para o Colégio. de ensino ou proceder a investigações científicas.
De posse de autorização competente, qual a da Ao aluno anualmente classificado primeiro de cada
primeira lei orçamentária da República, o Governo ia mais estabelecimento de curso superior teria direito a prémio
uma vez modificar o Ginásio Nacional. de viagem na Europa ou na própria América.
Renunciante da Presidência da República, a 23 de O Código de 1892 permitia que os estabelecimentos
novembro de 1891, o Marechal Deodoro da Fonseca de ensino formassem património, recebendo doações,
entregou governo ao Vice-presidente, Marechal Floriano legados e subscrições, livre ao Governo a concessão do
Peixoto; o qual confiou o Ministério do Instrução Pública título de Faculdades ou Escolas, equiparando-as às
ao Dr. José Hygino Duarte Pereira. federais, as Faculdades ou Escolas de fundação particular,
Professor de humanidades na juventude, lente de mediante condições.
Direito no Recife, como João Barbalho, seu conterrâneo, O ano de 1892 foi de reformas no ensino.
José Hygino não era também um deslocado na Pasta da Transformado em Distrito Federal o antigo município
Instrução. Neutro ou da Corte, pela Lei Orgânica do mesmo Distrito,
A exemplo do antecessor e comprovinciano numa de 20 de setembro de 1892, a instrução primária do Distrito
época de transição, a da Monarquia para a República, José ficou a cargo da Prefeitura Municipal, à expensas da União
Hygino pouco podia fazer pelo ensino. a instrução secundária.
Apôs, entretanto, referendo ao Decreto de 2 de Em novembro de 1892, Ministro ainda o Dr. Fernando
fevereiro de 1892 a alterar profundamente a estrutura do Lobo, a lei orçamentária do citado ano autorizou o Governo
antigo Colégio de Pedro Segundo de 1837. O citado Decreto a fundir o 1o Externato, o do centro da cidade, e o 2o
extinguiu o Internato, substituindo-o por 2o Externato, Externato do Ginásio Nacional, o antigo Internato do Campo
sujeito às disposições do 1o e funcionando no edifício do de São Cristóvão.
extinto Internato sem modificação de pessoal docente ou Desaparecida a divisão, em dezembro de 1892, o
administrativo. Ministro Fernando Lobo aprovava novo regulamento para
Extinto por sua vez o Ministério da Instrução Pública, o Ginásio.
Correios e Telégrafos, os assuntos e interesses do ensino Tal regulamento extinguia as denominações de reitor
ficaram subordinados a novo Ministério, denominado da e vice-reitor no alto do corpo administrativo, substituía-os'
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937

pelas de diretor e vice-diretor, delegados de confiança A 14 de junho de 1892, para tal fim, acharam-se
governamental, fixados em 6:000$000 anuais os reunidos na sala da Biblioteca do então 1o Externato do
vencimentos dos lentes, pelo Regulamento Fernando Lobo. Ginásio, a convite do capitão Domingos da Silva Lima, os
A Proclamação da República encontrara dois Srs. António Joaquim Rodrigues Júnior, António Manoel
reitores, um no Externato do Imperial Colégio, Monsenhor Pereira dos Santos, Carlos Galdino Leal, Domingos da
Luiz Raymundo da Silva Brito, outro no Internato, o Silva Lima, Joaquim José de Oliveira Alves, João Francisco
Conselheiro Joáo Capistrano Bandeira de Mello, de Góes, Marcellino Sampaio Castello Branco, Pedro Pinto
substituído o primeiro em janeiro de 1892, por José Baptista e Pedro Felippe Perrayon.
Veríssimo Dias de Mattos, até dezembro com o título de Pelo capitão Silva Lima foram expostas as bases
Reitor, e o segundo em 1890 e 1891 por Paranhos de da fundação da Caixa Beneficente de Socorros Mútuos do
Macedo, este em 1891 substituído o primeiro em janeiro Ginásio Nacional, eleita comissão para redação de
de 1892, por José Veríssimo Dias de Mattos, até dezembro estatutos, escolhidos os Srs. Oliveira Alves, Rodrigues
com o título de reitor, e o segundo em 1890 e 1891 por Júnior e João de Góes.
Paranhos de Macedo, este em 1891 substituído pelo Dr.
Com vária sorte progrediu a Caixa, que ainda há
Alfredo Piragibe, médico e bacharel em letras da turma de
pouco se tratou de reformar.
1864, o segundo bacharel da Casa a exercer-lhe reitoria,
O ano de 1893 transcorreria entre perturbação da
sendo o primeiro Paranhos de Macedo.
vida nacional, agitada pela revolta da armada, de início a
No ano de 1892, de tantas modificações para o
6 de setembro de 1893, e chefiada pelo Contra-almirante
Ginásio Nacional, por ele se graduavam em ciências e
Custódio José de Mello.
letras duas turmas de setimanistas, a do Externato
Pouco antes de explodir a revolta na baía do Rio de
composta de 13 jovens e a do Internato de 9. Haviam
Janeiro, para mais tarde conjugar-se com a Revolta
estudado no Externato diversos bacharéis votados ao
Federalista estendendo-se ao sul do país, o vice-presidente
ensino superior ou secundário.
do Senado o Dr. Prudente José de Moraes e Barros
No ensino superior figurariam Raul Paranhos
promulgava Decreto, a 5 de julho de 1893.
Pederneiras, professor de Direito e da Escola Nacional das
Belas Artes, e João Marinho de Azevedo, professor de Criava em Minas Gerais, na cidade de Campanha,
Medicina. Da turma do Externato em 1892 passaria para um Externato ou Ginásio Nacional, servindo nele o pessoal
o corpo docente do Ginásio Nacional, Gastão Mathias Ruch docente ou administrativo que a isto se dispusesse, dirigido
Sturzenecker, pela competência e assiduidade um dos para o estabelecimento a criar o material das duas seções
ornamentos da Congregação e do ensino público. do Ginásio Nacional, material inaproveitado na fusão.
Professor interino, seria ainda o bacharel Carlos Conforme Raja Gabaglia, tal Decreto ficou letra
Leopoldo Jorge Sallaberry, da turma do Externato, morta, a legislação também necrópole.
pertencendo à do Internato José Bernardino Paranhos da Lei orçamentária para o exercício financeiro de 1894,
Silva, servidor da instrução pública em vários cargos, em breve restabeleceria o Internato, convertido até então
inclusive o de Diretor do Internato. em 2o Externato com o pessoal docente e administrativo
No ano letivo de 1892 foi aventada a ideia da correspondente.
fundação de associação de socorros mútuos destinada a Findo o ano letivo de 1893, através de sucessos de
auxiliar funcionários do Ginásio Nacional, por várias formas ordem pública, quais os oriundos das revoltas naval e
beneficentes. federalista e das mudanças no regime do Colégio,
ESCRAGNOLLE DÓRIA

bacharelaram-se no Externato dez setimanistas e no Ferreira, pernambucano de longa prática na magistratura


Internato quatro. Dos bacharéis do Externato dois se e na administração da sua província, deputado geral por
encaminhariam para o ensino superior, Fernando Augusto ela, presidente de Minas, na monarquia, lente de Direito
Ribeiro de Magalhães, professando na Faculdade de no Recife.
Medicina e Luiz Cantanhede de Carvalho e Almeida na Coube-lhe referendar, mal na Pasta da Justiça, o
Escola Politécnica. Decreto de 7 de dezembro de 1894, aprovando, para
Em dezembro de 1893. deixava a Pasta da Justiça modificá-lo ou acrescentá-lo, o Código de Ensino de 1892.
e Negócios Interiores o Dr. Fernando Lobo, republicano Modificou-o o novo Decreto sobretudo na parte
histórico, desde a formatura jurídica em São Paulo em 1876. financeira, aumentando ou diminuindo ordenados e
Homem sempre respeitado pela integridade de caráter. gratificações, gratificando porém o pessoal do Ginásio a
Levá-lo-ia este a renunciar mandato de senador por serviço de exames de preparatórios.
Minas por ter sido apresentado pelo Partido Republicano Findou o ano letivo de 1894, ainda de bastante
Federal, para a Vice-Presidência da República. agitações políticas, quais as posteriores à transição da
Vencido nas eleições, pobre e desprendido, entendeu Presidência Floriano Peixoto para a de Prudente de Moraes.
renunciar ao mandato legislativo, nunca mais tornando à Tais agitações, perduraram por bastante tempo culminando
política. Um homem e um exemplo. na tentativa de assassínio de Prudente de Moraes no antigo
Foi o Dr. Fernando Lobo substituído pelo Dr. Alexandre Arsenal de Guerra, pelo anspeçada do exército do 10°
Cassiano do Nascimento, riograndense do sul. Batalhão de Infantaria, Marcellino Bispo dos Santos.
Na Presidência, Floriano Peixoto acumularia o No fim do ano letivo de 1894 haviam de bacharelar-
exercício de várias Pastas, Ministro efetivo do Exterior e se dez alunos do Externato e três do Internato.
interino da Justiça e da Fazenda. Assinalou também o referido ano letivo a admissão
Longa seria a interinidade de Cassiano do no corpo docente de lentes novos, o Dr. Francisco Pinheiro
Nascimento na Pasta da Justiça, de 8 de dezembro de Guimarães, provido na cadeira de Português do Internato,
1893 a 15 de novembro de 1894, termo da Presidência de o Dr. Augusto Daniel de Araújo Lima na de Geografia, o
Floriano Peixoto. Dr. José Dias Delgado de Carvalho na de Francês do
Ministro interino da Justiça, Cassiano do Nascimento Externato e Timotheo Pereira na de Matemática, o último,
apôs referenda ao Decreto de 15 de janeiro de 1894, exemplo da força de vontade, pois se elevara de humilde
aprovando regulamento para o revivido Internato. empregado no comércio a professor acatado e bem
Pelo citado Decreto, militarizados, os alunos do autodidata.
Internato formariam batalhão escolar, de quatro Em 1895, ainda na Pasta da Justiça, o Dr. Gonçalves
companhias, a instrução militar ministrada por oficiais Ferreira referendava o Decreto de 22 de abril de 1895
subalternos do exército. concedendo ao Instituto Kopke, equiparação ao Ginásio
O batalhão escolar do Internato, no qual os alunos Nacional.
tinham graduações militares, teria ensejo de exibir-se A concessão alargar-se-ia, não raro com grave dano
publicamente e com garbo, comandante do batalhão o para a regularidade e moralidade do ensino.
aluno considerado mais distinto do estabelecimento. No sentir de Raja Gabaglia, o Decreto de 22 de abril
A 15 de novembro de 1894, tomava posse da de 1895 "foi a fonte de onde emanou a desmoralização e
Presidência da República o Dr. Prudente de Moraes, o declínio da instrução secundária". Outras fontes viriam
nomeando Ministro da Justiça o Dr. António Gonçalves e de abundante jorro.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

No ano letivo de 1895, o Externato do Ginásio Deixou estudos académicos no 4 o ano da Faculdade
Nacional graduou seis bacharéis no Externato, cinco no para dedicar-se ao cultivo de línguas, cultivo para o qual
Internato. sentia irresistível pendor, dedicando-se também à Filosofia.
Dos bacharéis do Externato dois consagrar-se-iam A cópia de estudos linguísticos e filosóficos não
ao ensino: — Henrique César de Oliveira Costa, lente do privou Garcia Adjunto de bacharelar-se em direito e com
Ginásio e da Escola Politécnica, e Heitor Lyra da Silva, brilho.
lente da Escola das Belas Artes. Concorrendo à cadeira de Grego do Internato do
Em 1896, por lei orçamentária, foram transferidos Ginásio Nacional, obteve-a revelando invulgares
para os diretores de e s t a b e l e c i m e n t o s de instrução conhecimentos l i n g u í s t i c o s , t a m b é m por c o n c u r s o
atribuições das Congregações, não referente conquistando a cadeira de Inglês no Liceu de Humanidades
e x c l u s i v a m e n t e ao e n s i n o , a d i s c i p l i n a escolar, a de Niterói.
programas, a exames, a prémios ou concursos. A p r o p ó s i t o d o s c o n c u r s o s de Garcia A d j u n t o
Graduaram-se no ano letivo de 1896 sete bacharéis consigna conterrâneo dele, o professor Olympio Gonzaga,
no Externato e onze no Internato. Da turma do Externato
dois sucessos assinalados.
menos numerosa que a do Internato, coisa não muito
Diz o professor Gonzaga:
c o m u m , serviria o ensino Everardo Adolpho Backeurser,
"Descobrindo no Morro de Santo António, no Rio de
lente distinto da Escola Politécnica. Da turma do Internato
Janeiro, um professor de Grego, em Alemão aprendeu essa
se destacaria para o ensino José Ferreira da Costa Piragibe,
língua, tão bem que em 3 meses derrotou o seu professor
lente interino do Colégio, diretor do Instituto Ferreira Vianna
em concurso para ocupar cadeira de Grego no Ginásio
e do Instituto Profissional João Alfredo, figura de relevo
Nacional, onde lecionava com proficiência.
no magistério secundário.
Segundo e s t a m o s i n f o r m a d o s , a nomeação do
O ano l e t i v o de 1 8 9 7 , no G i n á s i o N a c i o n a l ,
saudoso conterrâneo para a cadeira de Inglês do Liceu de
transcorreria como o de 1886, no antigo Imperial Colégio
Niterói, foi feita após concurso admirável, "sendo preciso
de Pedro S e g u n d o . N e n h u m a das seções da casa
que se criasse nota acima de distinção para qualificação
tradicional graduaria bacharéis.
Lutuoso sucesso assinalaria o f i m do ano letivo de de provas".

1897. Tal foi o Dr. Alonso Garcia Adjunto, tal o professor


Três dias após o aniversário da fundação do Colégio que a Congregação do Ginásio Nacional viu desaparecer
de Pedro Segundo, falecia no Rio de Janeiro, a 5 de e m 1897.
dezembro, o Dr. Alonso Garcia Adjunto, lente de Grego no Tinha 34 n o s de i d a d e o m e s t r e q u e , c o m o
Ginásio Nacional e de Inglês no Liceu de Humanidades de adivinhando morte prematura, tanto na vida se anteciparia.
Niterói. Ficou o Governo em 1897, a r m a d o de lei
Nascera em Paracatu, Minas, em 1863. Iniciando orçamentária. Permitia-lhe reforma, na sua parte relativa
estudos na cidade natal completou-os no Seminário de ao ensino secundário, do regulamento baixado com o
Diamantina. Decreto de 4 de novembro de 1890, isto é, o da Reforma
Prestados exames preparatórios, de uma só vez, Benjamin Constant.
e m O u r o P r e t o , v e i o A d j u n t o a o Rio d e J a n e i r o , Tratava logo o Governo de valer-se da autorização,
frequentando um ano a Escola Politécnica e quatro anos a sendo Ministro da Justiça o Dr. Amaro Bezerra Cavalcanti,
Faculdade de Medicina. inspetor da Instrução Pública e diretor do Liceu do Ceará
ESCRAGNOLLE DÓRIA

de 1881 a 1883, tendo exercido interinamente o cargo de Primeira a constituição do exame de madureza,
professor de Latim no Imperial Colégio. depois o aproveitamento de professores dos extintos
Referendou o antigo docente, quando Ministro, o Cursos Anexos às Faculdades Jurídicas de São Paulo e
Decreto de 30 de março de 1898, com o qual se abriu o Recife, para preenchimento no Ginásio Nacional de
ano letivo de 1898, aprovando novo regulamento, não só segundas cadeiras de Línguas Vivas e Matemática.
a vigorar no Ginásio Nacional como no ensino secundário Para apressar nulificação da Reforma Amaro
a cargo dos Estados. Cavalcanti breve viria, em lei orçamentária, autorização
Foi mantida a divisão do Ginásio Nacional em ao Governo para reformar de novo.
Externato e Internato, regidos pela mesma lei, Em meio, porém, de tanta incerteza de vistas e
independentes quanto a administração, unidos os seus propósitos, como em 1897, em 1898 nem o Externato,
professores em congregação única, presidida um ano pelo nem o Internato graduariam bacharéis em letras, sucesso
diretor do Externato, no seguinte pelo do Internato. único nos cinquenta e dois anos de existência do Pedro
Abrangeria o ensino dois cursos simultâneos, um Segundo no Império, sucesso duas vezes ocorrido nos
propedêutico ou realista, de seis anos, outro humanista seus nove anos de vida na República.
O ano letivo de 1899 iniciar-se-ia no Ginásio Nacional
ou clássico, de sete anos.
com aplicação de reforma, a do Decreto de 8 de abril de
As disciplinas de ambos os cursos seriam as
1899, referendado pelo Ministro da Justiça da presidência
mesmas, não estudando porém Latim e Grego os alunos
Campos Salles, Dr. Epitácio Lindolpho da Silva Pessoa.
chamados propedêuticos, permitido a todos os alunos a
Pelo citado Decreto, o curso do Ginásio abrangeria
escolha de aulas de Inglês ou Alemão. Constituiria sétimo
seis anos, os exames seriam de promoções sucessivas
ano curso de revisão acrescido do estudo de Literatura
e de madureza, mantido o curso propedêutico, a nomeação
Geral e Nacional, bem como do estudo da História da
dos diretores recaindo sobre lentes do Ginásio ou cidadãos
Filosofia. Os exames seriam substituídos por promoções
brasileiros de notória competência.
de ano. No fim do curso propedêutico receberia o aluno
Tais as disposições de maior relevo num texto de
certificado de conclusão de curso secundário, dando-lhe o
lei de 166 artigos.
direito de requerer exame de madureza mediante
Além de regulamento novo recebeu o Ginásio
condições. Nacional em 1899 novo lente, o de História Natural do
Tal exame realizar-se-ia ante a Congregação, Internato, o Dr. Wenceslau Leite Alves de Oliveira Bello,
formando prova geral de habilitação, exame aquele também provido mediante concurso.
facultado ao candidato inscrito nas matérias dos dois Findo o aludido ano letivo graduaram-se no Externato
cursos. quatro bacharéis, não dando o Internato bacharel algum,
A habilitação nos exames de madureza conferiria dois setimanistas da seção transferidos para o Externato
ao aprovado o grau de bacharel em ciências e letras. em meio do curso.
O Decreto de 30 de março de 1898 minudentemente No ano letivo de 1900, em setembro, achou-se o
tratou dos exames de madureza, dos de admissão, dos Externato privado de vice-diretor, extinto o cargo.
concursos para lentes, do pessoal administrativo, da Dirigia então o Externato o Dr. Francisco Carlos da
colação de grau. Silva Cabrita, nomeado a 15 de setembro de 1898, em
Duas seriam as causas principais da oposição à substituição de José Veríssimo Dias de Mattos, exonerado
Reforma Amaro Cavalcanti, dificultando-lhe aplicação. a pedido.
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Desde 1897 o Internato estava sob a direçáo do Dr. Por autorização legislativa e orçamentária ficou o
José de Souza da Silveira, substituto do Dr. Alfredo Governo autorizado a rever o Código de Ensino baixado
Piragibe, falecido no cargo. com o Decreto de 2 de dezembro de 1892 ao tempo do
O Dr. Cabrita havia muito militava no magistério, já ministro Fernando Lobo.
na Escola Normal, já na Politécnica servindo a causa do Findo o ano letivo de 1900, haviam se habilitado ao
ensino popular gratuito no liceu de Artes e Ofícios, além grau de bacharel em letras, oito setimanistas, só no
de autor de compêndios de matemática. Internato, o Externato sem bacharelandos.
Tanto Cabrita como o diretor do Internato, D. José Havia também o Internato mudado de diretor,
da Silveira, que não dispensava o uso e o tratamento de nomeado para o cargo o Dr. Alexandre Camillo, por motivo
dom, tornaram-se bastante conhecidos pelo espírito de óbito repentino do Dr. D. José de Souza da Silveira.
disciplinador, procurando ambos trazerem os seus A 1o de janeiro de 1901 o Governo da República,
estabelecimentos como um brinco, conforme expressão presidido por Campos Salles, utilizava autorização
familiar ao povo. legislativa expedindo o Decreto aprovando o Código dos
Vaga a cadeira de Francês, pela renúncia do Dr. José Institutos Oficiais de Ensino Superior e Secundário,
Dias Delgado de Carvalho, foi em 1900 provida por dependentes do Ministério da Justiça.
concurso, pouco depois dele aberta segunda vaga, por
Não terminara janeiro de 1901 e já em Decreto
falecimento do lente de Francês do Internato, Dr. Manoel
referendado pelo Ministro da Justiça, Epitácio Pessoa,
de Magalhães Couto, antigo diretor do Instituto dos Surdos-
aprovava regulamento para o Ginásio Nacional.
Mudos, principiado o ensino destes no Rio de Janeiro, em
Dele disse Raja Gabaglia: — "Pouco diferia do
1856 pelo surdo-mudo francês Huet, no Colégio Vassimon,
anterior, mas teve uma originalidade, extinguiu a cadeira
na Rua Municipal n.° 8.
de História do Brasil quando se comemorava o 4 o
Iniciara-se com dois alunos, um menino e uma
Centenário do Descobrimento".
menina, mediante a pensão anual de 500S000 para cada
Desaparecia em 1901 a cadeira inaugurada em 1849
um, pensão paga por D. Pedro II.
por Joaquim Manoel de Macedo e ocupada na época por
O Governo imperial mandou o Dr. Magalhães Couto
à Europa para habilitar-se no Instituto dos Surdos-Mudos Capistrano de Abreu no Externato e Mattoso Maia no
de Paris, regressando ele em 1862, para dirigir o Instituto Internato.
do Rio de Janeiro até 1868. Ficou o Ginásio Nacional com a cadeira de História
Falecido o Dr. Magalhães Couto, a 23 de março de Universal especialmente do Brasil, pelo Decreto de 26 de
1900, a 10 de abril eram nomeados para as cadeiras vagas janeiro de 1901, o qual por disposição transitória, enquanto
do Externato e do Internato o Dr. Henrique Monat, médico, não vigorasse o exame de madureza, mandava conferir
e Gastão Mathias Ruch Sturnezecker, bacharel em letras. aos sextanistas, de curso completo o grau de bacharel
Ambos em breve escreveriam um método para o em letras. Conferido em 1901 a turma de 16 alunos do
ensino da língua francesa, rivais classificados no mesmo Externato e 11 do Internato.
concurso, Monat em 1o lugar, Ruch em 2o. O Dr. Alexandre Camillo deixando a diretoria foi
Não passou o ano letivo de 1900, também assinalado substituído pelo Dr. João António Coqueiro. Desprovido
pela nomeação de Hans Heilborn, por concurso, para a de cabedais, rico porém, de força de vontade, o Dr.
cadeira de Grego, sem alteração na vida do Ginásio Coqueiro estudara em Paris, dedicando-se aí a altos
Nacional. estudos de ciências físicas e matemáticas, graduando-se
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nelas, praticando astronomia no Observatório de Bruxelas, No Colégio também, de 1878 a 1890, professara
doutorando-se na Universidade da capital belga. literatura outro médico, o Dr. José Maria Velho da Silva,
Aos 18 anos, ainda estudante em Paris, publicou nascido em 1831, e falecido a 1o de junho de 1901.
tratado de Aritmética, alvo de elogios de cientistas Cultor assíduo das letras, vangloriava-se de havê-
eminentes. Numerosas e sempre bem aceitas foram as las bem tratado no romance histórico Gabriella, memorativo
obras do Dr. Coqueiro no domínio da Matemática, de tempos coloniais.
professada por ele em diversos cargos do magistério no Em 5 de novembro de 1901 perdia o Ginásio Nacional
Maranhão, contribuindo com estudos e planos para a o professor Thimoteo Pereira, nele e na Escola Naval, lente
transformação no Rio de Janeiro da Escola Central em de Matemática, de nascimento e principio de vida humilde,
Politécnica. Na província natal o Dr. Coqueiro prestou elevado socialmente pelo próprio esforço, sem auxílio da
serviços relevantes à indústria de açúcar. Transferindo-se sorte, tantas vezes se negando a prestá-la ao mérito.
para o Rio de Janeiro, aí exerceu o Dr. Coqueiro vários Em 1902 apenas alguns avisos do Ministro da
cargos, na Repartição de Telégrafos e na Prefeitura Justiça, José Joaquim Seabra, lente de direito no Recife,
Municipal, até ser diretor do Internato do Ginásio Nacional. cuja Faculdade dirigira, atingiram o Ginásio Nacional, para
Sucesso eclesiástico para honra do Colégio e motivo o corpo docente do qual entrava, após concurso, o Dr.
de sua satisfação, ocorreu em Roma, no consistório público Joaquim Ignacio de Almeida Lisboa, nomeado a 21 de
de 18 de abril de 1901, nomeado Bispo de Olinda o último junho de 1902.
reitor do Externato no regime monárquico, Monsenhor Luiz Numerosa seria a turma de bacharéis do Externato
Raymundo da Silva Brito. em 1902, de dezenove setimanistas, a turma do Internato
Com assistência do Colégio, seria sagrado, a 5 de apresentando três bacharelandos.
maio de 1901, na Catedral do Rio de Janeiro, sagrantes D. Na turma do Externato figurava quem deveria honrar
Joaquim Arcoverde, Arcebispo da Diocese, D. Silvério altamente o magistério no Colégio. Antenor Nascentes.
Gomes Pimenta, Bispo de Mariana e D. João Braga, Bispo Dois alunos da turma dedicar-se-iam ao ensino normal e
de Petrópolis. particular, Aloysio Ferdinando de Souza da Silveira e
Ao sair o novo Bispo da Catedral, o povo desatrelou Washington Garcia.
os animais do carro de Monsenhor Brito e à mão conduziu O ano letivo de 1903 abrir-se-ia para o Externato
o veículo aos altos do Palácio do Morro da Conceição. com a nomeação de diretor, substituto de Cabrita, o Dr.
Após o prazer ou à elevação a dor e a queda, tal a José Gil Castello Branco, nomeado a 23 de março de 1903.
vida em qualquer de seus múltiplos setores. Na diretoria Castelo Branco, o Ministro da Justiça,
No ano letivo de 1901, a 11 de maio, falecia no Rio Seabra, referendava o Decreto legislativo de 24 de agosto
de Janeiro, onde nascera a 5 de janeiro de 1827, o Dr. de 1903, tornando privativas duas cadeiras até então
António de Castro Lopes, latinista eminente e antigo comuns ao Externato e ao Internato, as de Lógica e
professor de latinidade no Colégio. Literatura.
Pouco depois, a 25 de junho de 1901, desaparecia Por Decreto de 31 de agosto de 1903 foi o lente de
no Rio de Janeiro, nascido em 1828, o Dr. José da Silva Português do Internato, Dr. Francisco Pinheiro Guimarães
Lisboa, médico como Castro Lopes, por muitos anos transferido para a cadeira de Literatura do mesmo Internato,
professor de Física e Química no Imperial Colégio. Era substituindo-o interinamente na cadeira de Português, o
filho do Visconde de Cayru. Dr. José Júlio da Silva Ramos.
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Lecionava este disciplina no estabelecimento, cinco Capistrano Bandeira de Mello, último reitor do Imperial
anos a titulo suplementar, professor e diretor no Estado do Colégio de Pedro Segundo, a exercer o cargo quando
Rio do Ginásio Fluminense. proclamada a República.
Para a cadeira de Lógica do Externato foi transferido Graduar-se-iam em 1905, onze bacharéis em letras,
o lente de Latim, Dr. Vicente de Souza, a cadeira de um dos quais, João Baptista de Mello e Souza fadado a
latinidade provida interinamente pelo Dr. José Cavalcanti professor da Casa e Carlos Leoni Werneck fadado ao
de Barros Accioli. magistério e à diretoria da Escola Normal.
Assinalado o ano letivo de 1903 pela nomeação para No ano letivo de 1906, obtinham os professores
diretor do Externato do Dr. José Gil Castello Branco, catedráticos elevação de vencimentos, promovida pelo Dr.
assinalado também ficaria pela revogação de quatro artigos Victorino de Paula Ramos, deputado federal por Santa
do Código de Ensino de 1 9 0 1 . Catarina, beneficiado t a m b é m na elevação o magistério
Referiam-se à impressão e prémios de trabalhos superior.
elaborados por professores e bem assim ao prémio de Dois concursos preencheriam as vagas no corpo
viagem concedido, de dois em dois anos, a d o c e n t e de 1906, as da cadeira de História Geral,
estabelecimento de ensino para investigações cientificas especialmente do Brasil e da América, no Externato, vaga
no estrangeiro. pelo transferência para o Internato do respectivo lente, João
Dezesseis bacharéis graduaram-se no Externato em Ribeiro, e a cadeira de Latim, ainda do Externato, vaga
1903, dois no Internato. Daqueles, dois se dedicariam ao pela remoção do Dr. Vicente de Souza para a cadeira de
ensino superior na Escola Politécnica, Carlos Américo Lógica do Externato.
Barbosa de Oliveira e Cipriano Amoroso Costa. Após concurso empossavam-se como catedráticos
No corpo docente do Ginásio Nacional, em 1903, de História Geral e de Latim, Luiz Gastão d'Escragnolle
tomou assento antigo e ótimo professor suplementar de Dória, nomeado a 5 de novembro de 1906, no m o m e n t o
Português, Francês e Matemática, Floriano Corrêa de Britto, professor suplementar de Inglês no Internato, e José
de sólida cultura de humanidades. Cavalcanti de Barros Aciolli, nomeado a 27 de novembro
Obteve em segundo concurso a cadeira de Francês de 1906 e interino desde 1903.
e nomeação para catedrático a 4 de agosto de 1903. Do exercício interino da cadeira de História Geral do
Tomou posse da cadeira do Internato, transferido Externato, retirava-se o bacharel em letras Joaquim Osório
para o Externato o professor Gastão Ruch, a 23 de março Duque Estrada.
de 1903. Em 1907, Decreto referendado na presidência de
Ficavam assim ambas as cadeiras de Francês da Affonso Penna pelo Dr. Tavares de Lyra, Ministro da Justiça,
Casa ocupadas por bacharéis em letras. elevava a gratificação dos diretores do ensino superior e
Breve seria a administração do Dr. José Gil Castello t a m b é m a dos diretores do Ginásio Nacional.
Branco, no Externato, falecido a 14 de fevereiro de 1905. No ano letivo de 1907, deixava a direção do Internato
A pedido, foi o Dr. Coqueiro transferido da diretoria o Dr. Leôncio Correia para assumi-lo o Dr. José Bernardino
do Internato para a do Externato a 29 de maio de 1905, Paranhos da Silva, bacharel em letras.
nomeado para dirigir o Internato o Dr. Leôncio Correia. No m e s m o ano, outro bacharel em letras, após
Também funebremente assinalaria o ano letivo de concurso, entrava para o corpo docente da Casa, o Dr.
1905 o falecimento, a 18 de outubro, do Conselheiro João Henrique César de Oliveira Costa, nomeado para a cadeira
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de Matemática do Internato a 20 de junho de 1907, dois bacharel em letras de 1847. Recitou duas poesias de
anos preparador do gabinete de Física e Química do Álvares de Azevedo o mesmo sextanista Jacques
Externato, tendo regido interinamente as cadeiras de Raymundo.
Matemática do Externato e Internato. Mas tarde ocuparia À parte literária seguiu-se variada parte musical
cátedra de Geometria Descritiva da Escola Politécnica, por desempenhada pelas pianistas senhoritas Guiomar de
onde o fizeram engenheiro civil. Nóbrega Beltrão, Cármen Casado Lima, pelos professores
No ano letivo de 1907, o professor de História Amaro Barreto e Eurico Costa, pelo violinista Orlando
Universal, da América e do Brasil, Escragnolle Dória, Frederico, e pelo Sr. Quirino de Oliveira.
lecionando História Pátria no 6o ano do curso ginasial, Com o Ginásio Nacional ainda em férias escolares,
inaugurou a prática de visitas a sítios ou instituições, lições recebiam grau os bacharelandos da turma de 1907.
com caráter objetivo, assim, por exemplo, a visita pela Designado para a festiva solenidade do costume o
turma de sextanistas de 1907 ao morro do Castelo, para dia 2 de fevereiro de 1908, por circunstância imprevista
explicação dos primórdios do Rio de Janeiro. perdeu todo caráter festivo.
A 1o de fevereiro de 1908, chegaram ao Rio de
No curso de visitas foram professor e alunos
Janeiro notícias de regicídio em Lisboa, vítimas de atentado
recebidos nas seções de manuscritos e medalhas da
el-rei D. Carlos e seu filho, herdeiro presuntivo da coroa,
Biblioteca Nacional, nas diversas seções, histórica,
D. Luiz Felippe, ferido o infante D. Manoel.
administrativa e judiciária, do Arquivo Nacional.
Na impossibilidade de ser transferida a solenidade
No Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
do Ginásio, a 2 de fevereiro, uma comissão de
acharam-se os visitantes amavelmente acolhidos pelo
bacharelandos dirigiu-se à legação de Portugal para
bacharel em letras Dr. Vieira Fazenda, bibliotecário do
apresentar pêsames ao Encarregado de Negócios,
Instituto solícito em patentear a futuros colegas livros e
explicando-lhe a impossibilidade de adiar a colação de grau.
manuscritos referentes aos estudos de História Pátria.
Abrindo a sessão no Ginásio, o diretor do Internato,
Findo o ano letivo de 1907, achavam-se prontos para
Dr. Paranhos da Silva, presidente da Congregação, declarou
recebimento de grau oito bacharéis em letras, sete do ao auditório ter infelizmente a cerimónia perdido toda
Externato e um do Internato. alegria ante o atentado de Lisboa.
Não quiseram os bacharelandos de 1907 deixar para Procedeu-se apenas à distribuição de prémios e à
sempre o Colégio sem honrá-lo de modo especial. colação de grau, suprimidas as bandas de música e as
Coadjuvados pelo professor Escragnolle Dória, danças subsequentes à festa.
celebraram os bacharelandos do Ginásio Nacional o Feita a chamada dos alunos premiados — Euclides
septuagésimo aniversário da fundação do antigo Colégio de Medeiros Guimarães Roxo, João Baptista Guimarães
de Pedro Segundo. Roxo e Jairo Maciel de Aquino Penteado — entregues aos
Na noite de 2 de dezembro de 1907, iluminou-se o recompensados, livros de rica encadernação, o Dr.
Ginásio para sessão solene presidida pelo professor e Paranhos da Silva conferiu o grau aos bacharelandos da
diretor interino Nerval de Gouvêa. turma de 1907, tendo estes por paraninfo o professor
Proferiu discurso oficial o professor Escragnolle Escragnolle Dória e por orador o bacharelando Heitor da
Dória, recitando poesias o Sr. Adriano Delpech, seguindo- Nóbrega Beltrão.
se palestra do sextanista propedêutico Jacques Raymundo A turma de bacharéis de 1907, privada das festas,
Ferreira da Silva sobre Álvares de Azevedo, o glorioso de colação de grau, foi distinguida com um almoço de
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honra, oferecido no Internato pelo respectivo diretor Dr. No discurso da festa teve o professor Escragnolle
Paranhos da Silva. Do almoço participaram em Dória o grato ensejo de caracterizar a festividade como a
confraternização, lentes do Externato e do Internato e os da tradição.
bacharéis do Externato em geral e neste vários 6o anistas "Sem respeito pela tradição — disse — nada
antigos alunos do curso do Internato. subsiste, no progresso dos povos, nas instituições e
Delegaram os bacharéis do Externato ao professor baixando o vôo nos institutos de ensino".
Escragnolle Dória a incumbência de agradecer a Pela tradição, os alunos do Ginásio em 1908 entram
homenagem, pedindo o Dr. Paranhos da Silva que em íntima correspondência com os colegas de 1838, os
trabalhassem os novos graduados continuamente pelo primeiros alunos do Colégio Pedro Segundo, de ninguém
progresso do Ginásio. Fora o Dr. Paranhos da Silva o foram calouros.
presidente da colação de grau da turma de 1907. No discurso de 1908 referiu-se o orador ao Decreto
Enquanto o Ginásio esperava abertura do ano letivo, do Governo de Minas Gerais, em data de 26 de novembro
no Externato se realizavam exames de preparatórios com de 1908, subscrito pelo então Secretário do Interior da
mesas examinadoras constituídas de conformidade com presidência João Pinheiro, Dr. Estevão Leite de Magalhães
Pinto.
as instruções anexas ao Decreto 4.247 de 23 de novembro
Fora o Decreto precedido de várias considerações
de 1901, aproveitados os serviços de muitos professores
de alto valor moral, educativo e patriótico, entre aquelas
do Ginásio nas referidas mesas examinadoras.
considerações as seguintes demonstrativas da solicitude
Assinalar-se-ia lutuosamente o ano de 1908 pela
de Pedro Segundo pela instrução pública nacional.
morte do professor da cadeira de Lógica do Externato Dr.
"Considerando que D. Pedro Segundo sempre
Vicente de Souza, falecido a 18 de setembro de 1908.
revelou acendrado amor e dedicação à causa da instrução
Durante muitos anos, como substituto e depois
pública no Brasil e que essa virtude se traduziu por
catedrático, regera no Externato a cadeira de Latim, tendo
múltiplos atos positivos e dentre eles pela aquisição de
aí concorrido a vaga de lente de Filosofia.
prédio em Ouro Preto para escolas públicas primárias.
Encerrado, porém, o ano letivo de 1908, o corpo
Considerando que este prédio adotado para nele
discente do Ginásio Nacional celebrou de modo condigno funcionar o grupo escolar dessa cidade, resolve o Governo
o septuagésimo primeiro aniversário de fundação, de Minas dar o nome do grupo escolar D. Pedro II ao
encontrando para tanto o professor Escragnolle Dória o estabelecimento recentemente criado em Ouro Preto."
mais decidido apoio, na turma de bacharéis de 1908, apoio Ao discurso do professor Escragnolle Dona seguiu-
ao qual se ajuntou o dos colegas de outros anos tomando se oração do bacharelando Ignácio dos Reis Netto, dizendo
a peito continuar tradição, festejando a data insigne da este, em nome dos discentes:
instituição, por meio de subscrição entre os próprios "Queremos instituir tradição que entre futuro a
discentes. Nem a celebração de 2 de dezembro, já em dentro, conservando a memória do dia 2 de dezembro de
1907, já em 1908 custou um real aos cofres do Ginásio. 1837, viva e perene como o fogo sagrado que ardia nas
Começou a solenidade de 2 de dezembro de 1908, aras do tempo.
realizada à noite no Salão Nobre da Casa, por parte literária A tradição é a história viva do passado. É corrente
com discursos do professor Escragnolle Dória e do mas cujo último elo temos na mão. É tão venerável como
bacharelando Olympio dos Reis Netto. o tempo, porque do tempo é irmã."
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Finda a parte literária da solenidade de 1908 deu-se O primeiro consagraria vida à Casa, nela chefe de
início a parte concertante. disciplina do Internato em 1915, de 1909 a 1915 tendo
Dela participaram a consagrada violinista Paulina lecionado, já no Internato já no Externato várias disciplinas,
D'Ambrásio. o Dr. António Carlos de Arruda Beltrão, Português, Francês e Latim, afinal e por concurso lente
aplaudido cultor do canto. catedrático do Colégio.
Secundaram-nos a professora Maria dos Santos Dois bacharéis da turma do Externato em 1908 se
Mello, laureada pelo Instituto Nacional de Música, o Dr. dedicaram ao magistério e ao ensino, Mário Paulo de Britto,
Roberto Gomes e o Sr. Ernani Braga acompanhando estes lente da Escola Politécnica, acatado diretor de ensino
últimos executantes.
municipal e federal, e João Baptista Ferreira Pedreira,
A terceira parte do programa da festa de dois de
íntegro magistrado, no ensino secundário se especializando
dezembro de 1908 apresentou nota de originalidade, por
no cultivo e na propaganda da língua latina.
constar da representação da comédia em um ato "Os
Dirigida a República pelo Presidente Affonso Penna,
Viúvos", subida à cena em palco improvisado no fundo do
antigo deputado geral e ministro três vezes na monarquia,
Salão Nobre.
Era a comédia da lavra do segundanista Horácio o Governo usando de autorização orçamentária, no último
Mendes Campos, intérpretes da peça os segundanistas dia do ano de 1908, mandava observar o regulamento
Vicente Trotte, Nelson Alves de Oliveira, Olindo Pinto subscrito pelo Dr. Tavares de Lyra.
Coelho, Sebastião Pereira Brazil e António Coelho Providenciava a respeito da administração dos
Bittencourt. patrimónios dos vários estabelecimentos subordinados ao
Todos os jovens atores desempenhavam papéis com Ministério da Justiça, entre eles o Ginásio Nacional.
naturalidade e graça, provocando gostosas gargalhadas, Superintendidos pelo Ministro, confiados à direção
no fim da comédia muito aplaudidos autor e atores. de Conselho Administrativo, de caráter gratuito, ficariam
Na peça figurava apenas um papel feminino, o da os patrimónios dos ditos estabelecimentos.
criada Miquelina, confiada ao aluno António Coelho No Conselho Administrativo, de dez membros,
Bittencourt, cujo desempenho do papel e cujo perfeito figurariam os diretores dos institutos cujos bens
travesti foram muito apreciados. patrimoniais convinha zelar, possivelmente acrescidos por
Infelizmente trágica seria a sorte de António Coelho doações, legados, dotações, subvenções e quotas
Bittencourt, falecido na flor da idade, académico de
lotéricas.
medicina na Faculdade do Rio de Janeiro da qual era lente
A verba orçamentária fixada para o Ginásio Nacional
o pai o Dr. Nascimento Bittencourt inconsolável pela perda
era então de quantia superior a 700 contos, suspensa a
do esperançoso filho, vítima de desastre em via férrea.
admissão de matrículas gratuitas por excesso de alunos
Remataram a festa de 1908 danças animadas, para
extraordinários.
satisfação de muitas e muitos dos numerosos convidados.
Em 1908, graduaram-se no Internato cinco No ano letivo de 1908, fora o Ginásio Nacional alvo
bacharéis, um dos quais Cecílio de Carvalho, futuro da atenção do Ministro da Justiça, Dr. Tavares de Lyra, o
bibliotecário do Ginásio e Leonidas Ribeiro de Rezende, qual pretendeu reformar o Ginásio mediante autorização
vindouro lente de Direito da Universidade do Rio de Janeiro. legislativa.
Quatorze foram os bacharéis de 1908. Figuravam Expôs o Ministro oficialmente as suas ideias
na turma, Quintino do Valle, João Baptista Ferreira Pedreira esperando reduzi-las a lei. Segundo o plano Tavares de
e Mário Paulo de Britto. Lyra o ensino secundário seria reformado nas seguintes
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

bases: — a) — divisão do ensino em dois ciclos, o primeiro Dispondo embora de escassas informações, a
propedêutico e simplificado, o segundo, o do bacharelado comissão do Ministério da Justiça apurou de princípio ser
em letras de conhecimentos mais aprofundados; — b) — o património do ex-seminário de São Joaquim, ex-Colégio
exigência de provas escritas e orais só para exames finais, de Pedro Segundo, então Ginásio Nacional, composto de
os de promoção dependentes de notas e provas parciais 163 apólices da dívida pública de 1:000$000, juros de 6%
no curso do ano letivo; — c) — organização de programas e de 2 apólices de 400S000, do edifício do Externato, da
de noções essenciais; — d) — desdobramento de cadeiras igreja de São Joaquim, e de 30 prédios, cabendo ao
para evitar turmas numerosas confiadas a professor único; património em 10 deles só a quarta parte.
— e) — fundação de escolas normais superiores ou Verificou a comissão a venda da maior parte dos
admissão no professorado por concurso de títulos, o imóveis, transformando o produto da venda em apólices e
tirocínio no magistério condição preponderante para na conservação dos prédios restantes.
escolha do candidato; — f) — extinção da vitaliciedade Tais prédios eram situados na zona mais central da
imediata de professores, concedida aquela após estágio cidade, Rua 1o de Março, Candelária, Mercado, e na
e no caso de recondução; — g) — verificação de provas Travessa do Comércio.
de capacidade, assiduidade, gosto e dedicação no
Apurou-se que, em 1908, na Presidência Campos
magistério para assegurar a professores proporcionalidade
Salles, Ministro da Fazenda o Dr. Joaquim Murtinho, fora
de vantagens; — h) — concessão de disponibilidade aos
lavrado na Diretoria do Contencioso do Tesouro Federal
professores em limite máximo de idade ou de tempo de
uma escritura de sub-rogação da quarta parte dos prédios
serviço; — i) — extinção definitiva dos exames de
do Ginásio à Ordem Terceira de S. Francisco da Penitência.
preparatórios e restrições de equiparações ao Ginásio
Na transação não se ouvira o Ministério da Justiça, não
Nacional.
cientificado da transação uma vez realizada.
O plano Tavares de Lyra ficou para as calendas mais
À Ordem da Penitência, a troca da sub-rogação
famosas, as gregas, embora encerrasse medidas postas
entregou ao Tesouro 260 apólices de 1:000$000, das quais
depois em prática e outras inexecutadas, mas dignas de
os juros, por inadvertência de inscrição na Caixa de
atenção.
Coube contudo ao Dr. Tavares de Lyra ensejo de Amortização, passaram a recebimento pelo Tesouro. Este,
mandar apurar pelo Ministério a seu cargo o património do até 1905, recebeu não só tais juros como os de todas as
Ginásio Nacional, Externato e Internato, este em 1908 apólices do património do Ginásio.
tendo passado por grande remodelação material na diretoria Enfim, em 1908, a comissão do Ministério da
Paranhos da Silva, remodelação da qual ficou lembrança Justiça, designada pelo Ministro Tavares de Lyra, pôde
em opúsculo ilustrado. fixar o total do património do Ginásio. Computou-o em
Incumbiu o Ministro o Sr. Pedro Guedes de Carvalho 4.496:457$427, excluindo do cálculo o edifício do
e o Dr. Luiz Augusto Drumond Alves de estabelecer Externato, avaliado na época em 580:000$000 e o do
positivamente o valor do património da Casa, não Internato em 200:000$000.
administrado desde 1860, quando extinto o cargo de O ano letivo de 1909 seria assinalado já pela entrada
tesoureiro do Colégio, então as apólices e os imóveis dele de novos professores, já pelo falecimento do Dr. Affonso
passadas à guarda da Recebedoria do Tesouro Nacional e Penna, Presidente da República. Dois concursos
posteriormente à Diretoria de Rendas Públicas do mesmo memorariam o citado ano letivo, rumoroso o de provas
Tesouro. para obtenção da cadeira de Lógica do Externato, vaga
ESCRAGNOLLE DÓRIA

pelo falecimento do Dr. Vicente de Souza e interinamente Exonerado a pedido o Ministro da Justiça, Dr. Tavares
regida pelo professor Escragnolle Dória. de Lyra, teve por substituto na Pasta o Dr. Esmeraldino
Apresentaria novidade, o da reprodução pela Olympio Torres Bandeira, formado em Direito no Recife,
taquigrafia, para publicação na imprensa, da prova oral do no ano da Proclamação da República, pertencendo portanto
candidato Euclydes da Cunha. à última turma de bacharéis do Império na Faculdade
Este, embora classificado em 2o lugar, o 1o cabendo Pernambucana.
ao Dr. Farias Brito, logrou nomeação, facultada então a Mais tarde Esmeraldino Bandeira participaria do
nomeação do primeiro ou do segundo candidato ensino, lente de Direito Penal em Faculdade jurídica do
classificado em concurso. Rio de Janeiro, membro do Conselho Superior de Ensino.
A 21 de julho de 1909, dava Euclydes da Cunha Ao assumir Pasta encontrou Esmeraldino Bandeira
primeira aula no Ginásio e pouco depois última, a 15 de o Senado Federal a discutir reforma do ensino superior e
agosto, tragicamente arrebatado à vida. secundário de alçada da União.
Vaga a cadeira de Latim do Internato, pelo
Teve ensejo o novo Ministro de apresentar relatório
falecimento do Dr. Fortunato da Fonseca Duarte, abriu-se
no qual expendeu juízo sobre a aludida reforma, pugnando
concurso para o provimento da cátedra, nela afinal
pelo preparo pedagógico de professores, pela cultura
empossado o Dr. Eduardo Gê Badaró, classificado em 2o
generalizada e não especializada em relação a alunos, pela
lugar.
simplificação de programas acarretando a inutilização da
Coubera o 1o a Joaquim Luiz Mendes de Aguiar,
sobrecarga dos mesmos, por boa forma de exames,
graduado em humanidades, filosofia, teologia, e direito
criticando a existente c terminando por condenar a
canónico pelo seminário arquiepiscopal de São Salvador
colocação do Externato em edifício sem as condições mais
da Bahia.
comuns de higiene pedagógica.
Mendes de Aguiar, emérito latinista, tinha longo
A 14 de julho de 1909, um Decreto dava duplo nome
tirocínio no magistério ao qual também pertencia seu
competidor, o Dr. Badaró, onze anos catedrático de Latim ao antigo e unificado Imperial Colégio de Pedro Segundo,
no Ginásio de Campinas, no Estado de São Paulo. nas duas seções, Externato e Internato.
A 14 de junho de 1909, falecia no Palácio do Catete, O Externato do Ginásio Nacional passou a Colégio
o Dr. Affonso Penna, Presidente da República, ocasionando de Pedro Segundo e o Internato a Colégio Bernardo de
o triste sucesso reviravolta política de sucessão. Vasconcellos.
Coube esta, na forma constitucional, por não haver Medida pouco feliz. Não só golpeava a fundo a
o Presidente Penna exercido dois anos de mandato, ao tradição como a bacharéis em letras formados pelo mesmo
Vice-Presidente da República, Dr. Nilo Peçanha. instituto de ensino concedia diplomas parecendo expedidas
Tal ascensão à suprema magistratura determinou por estabelecimentos diferentes.
logo modificação ministerial. Nem é talvez demasia pensar que à memória do
Do Ministério da Presidência Affonso Penna, formado próprio Bernardo de Vasconcellos não parecia consentânea
a 15 de novembro de 1906, dois Ministros entenderam a homenagem, dela excluído o Regente do Império, Araújo
servir a Presidência Nilo Peçanha, o Barão do Rio Branco Lima, com Bernardo de Vasconcellos, em nome do
na Pasta das Relações Exteriores e o Contra-almirante imperador menor, criador do Colégio de Pedro Segundo
Alexandrino Faria de Alencar na da Marinha. em 1837.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

No relatório do Ministério da Justiça, subscrito por Lógica, Euclydes da Cunha, assassinado na estação da
Esmeraldino Bandeira, a par das ideias deste relativas à Piedade, quando havia imenso a esperar do talento de quem
reforma do ensino superior e secundário, encontram-se estreara nas letras com a publicação de "Os Sertões".
resumidamente informações sobre a reforma do Colégio A 9 de dezembro de 1909 perdia o Colégio antigo
Bernardo de Vasconcellos, destacado do de Pedro Segundo, professor de Física e Química, o Conselheiro Saturnino
informações prestadas pelo diretor do primeiro Soares de Meirelles, também lente da Escola de Marinha
estabelecimento, Paranhos da Silva. e fervoroso propagandista das doutrinas homeopáticas.
Simplificação de programas, criação do antigo cargo Eleito Presidente da República, para o quadriénio de
de substitutos, modificações no processo de concursos, 1910a 1914, o Marechal Hermes da Fonseca, dois antigos
distribuição de disciplinas por seções, vitaliciedade de alunos do Colégio, os Drs. José Moreira Pacheco e João
professores após um lustro de exercício, instituição de Maria Portugal tomavam a iniciativa de reunir os
jubilação compulsória para os professores com mais de condiscípulos do novo chefe da nação em almoço íntimo.
três décadas de exercício, elevação de matrículas Foi escolhida para tanto a casa de um deles, na
gratuitas, aumento do quadro de funcionários cujos praia de Botafogo n.° 290.
vencimentos eram os mesmos havia vinte anos, exceto Reuniram-se aí 35 antigos colegas do Marechal
quanto a diretores, tais as bases apresentadas pelo Diretor Hermes participantes de refeição durante a qual uns e
do Colégio Bernardo de Vasconcellos, ex-lnternato do outros relembravam episódios de vida colegial comum.
Ginásio Nacional, para reforma do estabelecimento. Na sala do almoço, em delicada homenagem,
No antigo Internato, em 1909, bacharelavam-se dois achavam-se dois retratos bem significativos para os
alunos, um deles Euclides de Medeiros Guimarães Roxo, convivas, um representando o Conselheiro Manoel
laureado com o prémio Panteão, futuro diretor e professor Pacheco da Silva e outro o professor José Manoel Garcia,
da Casa. o primeiro reitor e o segundo secretário a tempo de estudos
No antigo Externato bacharelavam-se nove alunos, dos convivas (1868-1869).
dois dos quais se consagrariam a magistério, Maurício 0 próprio "menu" do almoço recordava aquele
Joppert da Silva, vindouro professor da Escola Politécnica, tempo.
e Pandiá Hermann de Tautphoeus Castello Branco, Ei-lo como alegre lembrança do Colégio:
professor da Escola de Comércio. "Menu do almoço oferecido a Hermes da Fonseca
A vida é tecido de escassos fios no prazer, de pelos jovens condiscípulos de 1868-1869 no Imperial
espessos na dor. Assim, à alegria dos bacharelandos de Colégio de Pedro Segundo. Em 6 de janeiro de 1910
1909 se opunha o necrológio do Colégio no mesmo ano.
A 9 de março de 1909 falecia José Barbosa CARDÁPIO
Rodrigues, diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 1 — Uma porção de coisas esquisitas para abrir o
antigo secretário do Internato e nele professor de Desenho. apetite.
Para recomendá-lo, como naturalista, basta a sua 2 — Mistura de coisas do mar, com produtos de
"Iconografia das Orquídeas do Brasil", em 17 grandes terra, vegetais e animais, como gostava o nosso velho
volumes com 1.000 estampas. Reitor, Conselheiro Pacheco.
A 15 de agosto de 1909, era o Colégio surpreendido 3 — Arranjos de galinha, pelo sistema do secretário
pela morte brutal e imprevista do recém-professor de Garcia, amante de canários do reino.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

4 — Badejo com molho, cuja receita o velho latinista as arguições de José Ventura Bóscoli, professor de
Souza aceitaria. Matemática, seguindo com a flecha em roletes
5 — Língua com gelatina, mais quente que a do demonstrações na pedra, já nas extrações de raiz cúbica,
inspetor Aguiar, que não tinha papas na mesma. já no desenvolvimento do problema dos correios, já no
6 — Neve artificial, com o respectivo álcool, para teorema do quadrado da hipotenusa.
ficar a gente gelada, tal como quando o Halbout exigia as As frutas daqui e dalém mar, para adoçamento de
regras de cor. boca, resumiam pomiferamente as lições de geografia do
7 — Peru, um pouco mais gordo de que era o Bóscoli, bondoso Pedro José de Abreu, em antonimia com Halbout,
mesmo com a flecha em roletes. Isto vai com presunto, ríspido e justo.
conforme o costume, e o "visto" do Brito escrivão, O fecho do cardápio dos convivas do almoço de 6
meticuloso o Francisco Bernardo de Brito, como bom de janeiro de 1910, com vinhos velhos e alguns moços
custódio da Fazenda Nacional. era chistoso resumo de horas sobressaltadas.
Daí constar a sobremesa "de uma série de
Para adoçar a boca, uma fruta daqui e dalém mar,
complicações, piores que os exames com aquele pessoal
conforme a geografia do Abreu.
todo".
Para sobremesa uma série de complicações, piores
Estas quatro últimas palavras punham em
que os exames com aquele pessoal todo.
reminiscência o fim dos anos letivos, o fechar de contas
Apesar de jovens, há vinhos velhos e águas moças,
de aplicação prestadas a examinadores, contas de relativa
licores e preciosa rubiácea, para que vejam que somos
tranquilidade para estudiosos, de susto e remorso para
todos brasileiros".
quem preferira nas aulas e em casa livro fechado a aberto.
Tal cardápio, evocativo sobre espirituoso, relembrava
Num almoço entre antigos condiscípulos, reunidos
muito aos convivas do almoço de 1910, condiscípulos de
para saudades, a oratória aparece, mas sem ênfase, entre
1868-1869. Era resumo gastronómico de vida colegial,
fraternidade e risos, cada qual conhecendo de longa data
nela destacando figuras magnas ou modestas, do corpo
docente ou do administrativo. os vizinhos de mesa.
Avultava na evocação o reitor, Conselheiro Pacheco, No repasto íntimo de 6 de janeiro de 1910 houve
seguindo-se-lhe o secretário José Manoel Garcia, por discursos fora da retórica, um pouco baralhados talvez
alcunha o canário do reino, visto ser muito louro, ao exórdio, narração, confirmação e peroração.
Marquês de Abrantes, por orador dulçuroso dada também Oraram, de acordo com o caráter da festa diversos
a alcunha de canário do Senado. convivas.
O badejo com molho trazia à lembrança o professor Mendes de Almeida, bacharel da turma do Externato
de Latim, Dr. António José de Souza, ao que diziam em 1874, respondeu agradecendo sem demora ao Marechal
gastrônomo na pausa dos gerúndios. Hermes, sem dúvida com a "imperatoria brevitas" marcial.
A língua com gelatina, "mais quente que a do Em seguida, o Dr. Alfredo Gomes, bacharel do
inspetor Aguiar", aludia a veemências de voz ou palavras Externato em 1875 saudou o antigo condiscípulo como
de Carlos Augusto da Costa Aguiar, zelando disciplina. homem de coração, secundado pelo coronel Augusto
A neve artificial era de lembrete, ao treme-treme Goldschmidt, acentuando quanto a festa alegrava os
das sabatinas gramaticais de Halbout, com o peru recordava presentes elevando-lhes as almas.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937

De novo orava o Dr. Fernando Mendes de Almeida, Outro professor de 1910 era o Dr. Agliberto Xavier,
secundado pelo Dr. Fonseca Hermes, bacharel do Internato nomeado lente de Lógica do Colégio Bernardo de
em 1877. Vasconcellos, ou melhor do Internato, à vista do parecer
Correspondidos todos os brindes com entusiasmo, da Congregação e nos termos do parágrafo único do artigo
mais o foi o brinde de honra erguido pelo Dr. Fernandes 52 do Código de Ensino de 1901. Em maio de 1909 fora o
Mendes: à Amizade. Dr. Agliberto Xavier unanimemente habilitado no concurso
Em 1910, o ano letivo no Pedro Segundo assinalava para provimento da cadeira de Lógica.
luto, o da perda do diretor do Externato, Dr. João António Dedicado ao ensino, professor na Escola de Estado
Coqueiro, que em 1908 apresentara ao Governo minucioso Maior do Exército, docente na Escola Normal do Distrito
projeto de reforma do ensino secundário, mandado publicar Federal, ora Instituto de Educação, preparador de Química
na íntegra no Diário Oficial. Orgânica na Escola Politécnica, o Dr. Agliberto Xavier vinha
Passou a dirigir o Externato o Dr. José Cândido de ser ornamento do magistério no Pedro Segundo.
Albuquerque Mello Mattos, ex-aluno do Colégio, antigo Aí, em 1910, graduavam-se em ciências e letras
promotor público de renome no foro do Rio de Janeiro, ex- quinze alunos do Externato e dois do Internato. Da turma
de 1910 destinar-se-iam a futuro magistério Arnaldo de
deputado do Congresso Nacional pelo Distrito Federal.
Moraes, professor de medicina, Ciro Romano Farina,
Além do diretor Mello M a t t o s , dois novos
professor do Colégio, Guilherme José Jorge, professor da
professores recebia o Colégio, o Dr. Arthur Thiré e o Dr.
Escola Wenceslau Braz e José Philadelpho de Barros
Agliberto Xavier, nomeados para as cadeiras de
Azevedo, professor do Colégio, um dos alunos mais
Matemática e Filosofia. O Dr. Thiré, nascido em Caen,
distintos do Internato, merecedor do prémio denominado
antiga capital da Baixa Normandia, continuava no Pedro
Panteão conferindo colocação de retrato em sala nobre.
Segundo a tradição dos professores dele de berço ou de
A 15 de novembro de 1910 assumira a Presidência
origem francesa, Piquet, Halbout, Ruch, Escragnollle Dória.
da República o Marechal Hermes da Fonseca, antigo aluno
Aluno da Escola de Minas de Paris, por ela formado,
do Internato, chamando à Pasta da Justiça o Dr. Rivadávia
fora o Dr. Thiré convidado por D. Pedro II, constante
da Cunha Corrêa.
selecionador de competências, para secundar o professor
A 5 de abril de 1911, o Dr. Rivadávia Corrêa,
Gorceix na organização e início da escola de Minas de utilizando autorização legislativa, referendava Decreto
Ouro Preto. modificando completamente a orientação pedagógica do
Aí lente de várias cadeiras e diretor interino da Escola ensino. Estabelecia a medida governamental a Lei
até 1885, Dr. Thiré dirigiu a mineração de ouro em Sabará, Orgânica do Ensino Superior e do Fundamental na
para mais tarde ocupar cargos de administração nos República.
Estados de Minas e do Rio de Janeiro para afinal, a 14 de Compreendia a Lei Orgânica 137 artigos. Logo no
abril de 1910, ser professor efetivo de Matemática no primeiro declarava não gozarem de privilégio de qualquer
Internato do Pedro Segundo, então Colégio Bernardo de espécie a instrução superior e a fundamental difundidas
Vasconcellos. Não se limitou o Dr. Thiré a professar, a pelos institutos criados pela União.
literatura didática ficou-lhe devendo compêndios úteis e A Lei Orgânica, entre disposições mais importantes
despretensiosos, no molde do caráter e da vida de Arthur declarava corporações autónomas, didática e
Thiré. administrativamente, os institutos até então subordinados
ESCRAGNOLLE DÓRIA

ao Ministério da Justiça; dando-se-lhes personalidade Eleito em dezembro, o novo diretor tomaria posse
jurídica. Criava ainda a Lei Orgânica o Conselho Superior no primeiro dia útil de janeiro.
do Ensino para substituir a funçào fiscal do Estado. Cada instituto de ensino teria corpo docente formado
Estabeleceria o Conselho as necessárias e por professores ordinários, extraordinários efetivos ou
imprescindíveis ligações no regime de transição, partindo honorários, mestres e livres-docentes, o corpo docente do
da oficialização completa do ensino, vigente na época, para Colégio de Pedro Segundo composto apenas por
total independência futura, entre a União e os professores ordinários e mestres.
estabelecimentos educativos.
Inspirando-se nos processos de ensino alemães, a
Cabendo a estes, em virtude de inteira autonomia
Lei Orgânica suprimiu o concurso de provas para o
didática, a organização dos programas de seus cursos,
provimento de cátedras.
revestir-se-iam os do Colégio de Pedro Segundo de caráter
Estabeleceu o de títulos e obras, exigido estágio no
prático, libertando-se da condição subalterna de mero curso
magistério superior, proibindo admissão em cátedra, a
preparatório para as Academias.
qualquer, sem o exercício de auxiliar de ensino.
Mandou a Lei Orgânica, no artigo 11, que o Conselho
Superior de Ensino tivesse sede na capital da República, Os professores extraordinários efetivos seriam
funcionando num dos institutos aos quais se referia a Lei nomeados pelo Governo em lista tríplice apresentada pela
Orgânica, escolhido para sede do Conselho parte do edifício Congregação em votação uninominal, mediante concursos
do Externato. de títulos e obras. A Congregação , em casos especiais,
Providenciara a Lei Orgânica sobre a composição indicaria nome único, tal nome devendo ser indicado por
do Conselho. Nele deveriam figurar o diretor do Colégio unanimidade de votos.
de Pedro Segundo e um docente deste, eleito pela sua No Colégio de Pedro Segundo a nomeação de
Congregação para mandato bienal; duas vezes por ano, professor ordinário seria feita pelo Governo. Escolheria
em fevereiro e agosto, convocado o Conselho. este um nome tirado da lista tríplice apresentada pela
Cada instituto de ensino, prescrevia a Lei Orgânica Congregação e formada por eleição nos termos de
de 1911, seria dirigido por diretor eleitor pela respectiva regulamento especial.
Congregação, por dois anos; o diretor substituído nos Um dos pontos capitais da Lei Orgânica era a criação
impedimentos pelo vice-diretor, este sempre o diretor do da livre-docência; estabelecidas as condições da sua
período anterior. obtenção e de seu exercício, "da instituição da livre-
A Lei Orgânica , aplicando tais disposições ao docência esperando o legislador os melhores resultados,
Colégio de Pedro Segundo nele incumbiu ao vice-diretor confiando-lhe a correção dos abusos e transformando-a
simples dever, o de substituir o diretor em exercício nos
no viveiro ou estágio dos futuros professores". Com tal
impedimentos. Para manutenção da ordem interna do
intuito a Reforma Rivadávia Corrêa estabelecia minudentes
Colégio, antes a cargo do vice-diretor, a Lei Orgânica criou
normas para a habilitação à livre-docência, assegurando-
lugares de chefe de disciplina, uma para o Externato e
Ihe elementos para o seu magistério.
outro para o Internato, funcionários de livre escolha e
nomeação do diretor. Tratava também a Reforma Rivadávia das
Só os professores ordinários, antes catedráticos, Congregações, traçando-lhes composição, marcando-lhes
poderiam ser eleitos diretores, inelegível o diretor saído fins, atribuições e normas gerais para as sessões.
0

de funções. Concedia apenas aos mestres dos institutos de ensino


MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

superior e do Pedro Segundo o direito de participar das advertência particular feita pelo diretor, mais pesada a de
reuniões quando se tratasse de assunto referente aos seus exclusão de estudos em todas as Faculdades nacionais,
cursos. sem e m b a r g o das penas do C ó d i g o Penal para
O artigo 60 da Reforma, fixando atribuições das delinquentes.
C o n g r e g a ç õ e s foi declarado "o f u l c r o da r e f o r m a " , No Pedro Segundo, dirigidos pelo Chefe de disciplina,
acrescentado que "a autonomia didática, a independência seriam os inspetores de alunos encarregados de manter a
administrativa, a representação no Conselho Superior e ordem interna.
tudo mais que decorria desses grandes princípios estava O artigo 124 da Reforma Rivadávia Corrêa suprimia,
respeitado no artigo e em suas letras". de acordo com o seu artigo 1 o , a concessão de títulos
Achou-se o regime escolar superior e secundário académicos. Determinou o artigo 124 que, ao terminar o
profundamente modificado pela Reforma de 1911. Dividia aluno provas escolares, mediante pagamento da taxa
o ano l e t i v o e m dois períodos, de 1 o de abril a 31 de julho, r e s p e c t i v a , f o s s e e x p e d i d o o c e r t i f i c a d o que lhe
de 15 de agosto a 31 de dezembro, fechadas as aulas a competisse, de acordo com os regulamentos especiais.
30 de novembro. Na defesa e na explicação da Reforma Rivadávia
Entre aqueles dois períodos escolares mediaria
Corrêa salientou-se na imprensa o professor do Colégio,
quinzena de férias. Proceder-se-ia a exames em todo o
Dr. Francisco Pinheiro Guimarães, nas colunas do Jornal
mês de dezembro, seguindo-se janeiro, fevereiro e março
do Commercio e em editoriais da Gazeta de Notícias.
para gozo de férias dos docentes e discentes.
recolhidos os seus artigos em opúsculos para retirá-los
Para a matrícula de internos no Pedro Segundo a
da publicidade efémera do jornalismo.
Reforma exigia no máximo14 anos, para a matrícula de
Assinalado pela Reforma Rivadávia Corrêa, o ano
externos 12 no mínimo.
letivo de 1911, para todo o Colégio, t a m b é m se assinalou
Destacada da Reforma a parte relativa aos exames
na seção do Internato pela utilização de vasto terreno
no Pedro Segundo proibia aquela, exames finais, ou
contíguo ao estabelecimento e adquirido em 1910 por
promoção, ao estudante que em cada período letivo
50:000$000 por indicação do diretor do Internato, Dr.
houvesse dado 20 faltas.
Paranhos da Silva e resolução do Conselho Administrativo
As médias bimensais de aproveitamento e as notas
dos Patrimónios do Ministério da Justiça e Negócios
de conduta garantiriam promoção e nos exames finais
Interiores.
influiriam no julgamento.
Posteriormente, um Regulamento do Colégio de De acordo com a Lei Orgânica do Ensino, em 1911,
Pedro Segundo auxiliaria o espírito da reforma. Segundo o Colégio passou a obedecer a direção única das suas
aquele regulamento a promoção seria feita em reunião do duas s e ç õ e s , deixando a reitoria do Internato o Dr.
diretor e dos professores de cada série, aprovada ou não Paranhos da Silva, visto determinar a Lei Orgânica, no seu
a promoção por votação, à vista do confronto das notas artigo 2 1 , que cada instituto de ensino fosse dirigido por
obtidas pelo aluno nos períodos escolares. um diretor eleito pela Congregação para período bienal.
Declarava a R e f o r m a , no a r t i g o 82, a polícia Não sendo o Dr. Paranhos da Silva m e m b r o do corpo
académica destinada a manter, no seio da corporação docente, não podia continuar a dirigir o Internato por força
académica, a ordem e a moral. de lei.
No caso de infrações cominar-se-iam penas O b e d e c e n d o a e s t a , a Congregação do Pedro
disciplinares a docentes e discentes, mais leve a pena de Segundo, em sessão de 20 de abril de 1911, elegeu diretor
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do Externato e do Internato o Dr. José Cândido de ao tesoureiro Dr. Mário Bevilacqua, nomeado para o cargo
Albuquerque Mello Mattos, diretor do Externato desde a 24 de abril de 1912 e antes subsecretário. Ao diretor e
1910, na vaga por falecimento do Dr. João António ao tesoureiro foram entregues os imóveis pertencentes
Coqueiro, de saudosa memória. ao Colégio e 479 apólices gerais nominativas.
Em 22 de abril de 1911 elegia a Congregação, ainda Coadjuvou o M i n i s t r o Rivadávia Corrêa o
em obediência à Lei Orgânica, o seu representante no reerguimento do património do Colégio e bem assim
Conselho Superior do Ensino, escolhendo o Dr. Augusto auxiliou a remodelação material do Externato, de tanto
Daniel de Araújo Lima. monta que o obrigou a pedir asilo a instituição de ensino.
O diretor eleito, Mello Mattos, havia sido aluno do Com a maior boa vontade, foi-lhe concedido pela
Externato do Imperial Colégio de Pedro Segundo e em 1911, Sociedade Propagadora das Belas Artes, benemérito nela
independente de concurso, à vista de disposição da Lei o nome de Bittencourt da Silva, lembrada a sociedade do
Orgânica, artigo 136, fora nomeado professor ordinário de abrigo que durante tantos anos tiveram no Externato do
Instrução Cívica e Noções Gerais de Direito. Pedro Segundo as aulas noturnas do Liceu de Artes e
O primeiro representante do Colégio no Conselho Ofícios.
Superior de Ensino foi o Dr. Araújo Lima, também professor Em fins de 1912 expirava o mandato do diretor Mello
do Colégio Militar, e professor ordinário de Geografia no Mattos, eleito para o cargo, pelo voto da Congregação, o
Internato. Dr. Eugênio de Barros Raja Gabaglia, a 21 de novembro de
A Lei Orgânica de 1911, em todo o seu texto, sempre 1912. Professor antigo do Colégio, nele professor substituto
se referia ao Colégio de Pedro Segundo, desaparecendo, e em 1890 catedrático de Matemática, além de professor
pois o nome de Colégio Bernardo de Vasconcellos atribuído da Escola Politécnica e da Escola Naval, dispunha Raja
ao Internato em 1909, regressando-se pois à tradição do Gabaglia de vasta cultura demonstrada em várias provas
Colégio, a de conservar o nome do imperial patrono. públicas.
Interpretando a Lei Orgânica endereçou o Ministro Do seu amor ao Colégio, ficou indestrutível prova
da Justiça ao da Fazenda um Aviso declarando-lhe que os na criação do Anuário da instituição. Dizia da obra o
vencimentos dos estranhos ao antigo quadro do pessoal fundador no prefácio do 1o volume do Anuário:
do Colégio, isto é, os novos nomeados, deveriam ser pagos "Na qualidade de Diretor do Colégio de Pedro
na tesouraria do respectivo instituto, continuando os demais Segundo resolvi publicar um Anuário, onde, além das
a receber vencimentos no Tesouro Nacional. informações úteis para os que necessitam manter relações
Mais tarde, em 1911. outro Aviso do Ministro da com o mesmo Colégio, se conserve a tradição dos que
Justiça declararia que os professores, auxiliares e novos nele trabalharam em prol do florescimento de nossa Pátria.
empregados dos institutos de ensino superior ou secundário Relativamente velho em um país tão novo, o Colégio
não eram considerados funcionários públicos federais. de Pedro II, pode justamente se ufanar de sua existência
Em 1911, ano de tantas modificações no ensino, e pode dizer às gerações futuras que as passadas
não houve bacharéis no Pedro Segundo, Lei Orgânica souberam cumprir nobremente o seu dever.
havendo extinto o bacharelado em letras, iniciado em A princípio pobre Seminário de Órfãos, criado pela
1843. clarividência e pela caridade de um elevado e santo prelado,
Pouco depois, o património do Colégio era destacado o Colégio, depois de quase um século (Gabaglia escrevia
de direção alheia e confiado ao diretor Dr. Mello Mattos e isto em 1913) de glorioso trabalho, lutando dia a dia, foi
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

radicalmente transformado pelo profundo saber de um março de 1915, reformando o ensino a cargo da União,
grande estadista, que o colocou sob a proteçâo do ilustre ouvidas pelo Ministro autoridades pedagógicas de várias
brasileiro que, por Gladstone, mereceu ser julgado "o espécies.
modelo dos soberanos". No Decreto 11.530 larga parte foi reservada ao
Colégio de Pedro Segundo. Considerando-o de alto, em
"O Bispo D. António de Guadalupe, o Ministro
relação ao Colégio, encontram-se no Decreto 11.530 as
Bernardo de Vasconcellos e o Imperador Pedro II são as
seguintes disposições principais:
figuras eminentes que dominam a evolução histórica do
Colégio até o advento da República."
a) — fixação do período letivo, de 1 ° de abril a 15 de
Não se contentou Raja Gabaglia em criar oAnnuário novembro (artigo 73 do Decreto), compreendendo o ano
do Colégio, logo no 1 o volume deste se encontrava escolar 80 lições, suprimidas férias de meio de ano;
substanciosa memória de sua lavra, fruto de aturada b) — modificação dos exames de admissão no
pesquisa, memória de 130 páginas aclarando o passado sentido de simplificá-los;
da instituição, dos primórdios de 1739, data da criação do c) — modificação do processo de exames;
Seminário dos Órfãos de São Pedro depois de São Joaquim, d) — instituição de exames parciais, precedência
até 1812. Não se cifrou o autor em historiar, retificou pontos do exame de certas disciplinas, assim o de Português
controversos, restabelecendo a verdade. antecedendo o de qualquer outra língua, o de Geografia
antes do de História;
Na vigência da diretoria Raja Gabaglia, a
e) — nomeação dos diretores dos institutos de
Congregação, a 26 de abril de 1913, elegeria segundo
ensino, e portanto do Pedro Segundo, por nomeação do
representante no Conselho Superior do Ensino, recaindo a
Presidente da República, considerados aqueles diretores
escolha no professor de Geografia do Externato, João demissíveis ad nutum, escolhidos porém dentre os
Gonçalves Coelho Lisboa. professores catedráticos ou jubilados de cada instituto de
Terminado o prazo da diretoria Raja Gabaglia, na ensino, vice-diretor o decano dos catedráticos;
constância da qual entrara o Colégio novo professor de f) — restabelecimento do concurso de provas,
Inglês, no Externato, Carlos Américo dos Santos, foi eleito eliminando dele a prova escrita, limitando o concurso ao
diretor por escolha da Congregação o Dr. Augusto Daniel provimento das vagas de substituto, dispensado do
de Araújo Lima, professor de Geografia do Internato, concurso, pelo voto de 2/3 da Congregação e voto
escolhido por seus pares, a 21 de dezembro de 1914, para confirmativo do Conselho Superior do Ensino o autor de
obra verdadeiramente notável sobre o assunto de qualquer
nortear as duas seções da Casa.
das cadeiras de uma seção. No concurso de provas seria
Pouco antes sucedera ao Marechal Hermes da
nomeado o candidato classificado pela Congregação em
Fonseca na Presidência da República o Dr. Wenceslau Braz
primeiro lugar, não recaindo nomeação em candidato
Pereira Gomes, o qual nomeou Ministro da Justiça o Dr. classificado nos dois primeiros lugares como
Carlos Maximiano Pereira dos Santos, antigo deputado anteriormente;
federal pelo Rio Grande do Sul, jurista e constitucionalista g) — fortificação da constituição, do funcionamento
reputado. das atribuições das Congregações;
Pouco depois de Ministro da Justiça o Dr. Carlos h) — restabelecimento integral das solenidades de
Maximiliano referendava o Decreto n.° 11.538 de 18 de colação de grau, de distribuição de prémios e da entrega
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dos certificados de conclusão de curso, na solenidade do Só os alunos das quatro primeiras séries receberiam
Colégio de Pedro Segundo, inaugurado o retrato ou os lições de Ginástica e Desenho, cada aula teórica de
retratos, na sala chamada de Panteão, dos alunos que cinquenta minutos, tanto quanto possível prático o ensino
terminando curso nele se houvessem distinguido por das Línguas Vivas, não podendo receber mais de quatro
inteligência, excepcional aproveitamento e exemplar aulas diárias os alunos de cada ano.
procedimento. Ao diretor do Colégio, Araújo Lima, caberia começar
Contariam os laureados pelo menos dois terços de a aplicação da Reforma Carlos Maximiliano no instituto à
distinções sem nenhuma aprovação simples. sua guarda, assinalando Araújo Lima "a excelência do
A colação de grau nos institutos de ensino, antes Decreto reformador".
tão festiva e solene, descera no Colégio de Pedro Segundo Ao diretor do Colégio parecia "o ensino secundário
a ponto de ser presidida por um representante de ministro passar por uma fase de verdadeiro renascimento".
apenas preparatoriano. Logo em início de administração , o diretor Araújo
O Decreto 11.530 fora precedido de parecer sobre a Lima introduziu no Colégio a prática do canto de hinos
reforma de ensino apresentado ao Governo da República patrióticos, composto e musicado especialmente para o
pelo Conselho Superior do Ensino, parecer da lavra de estabelecimento a Canção da Marcha, útil sobretudo à
professor do Colégio de Pedro Segundo, o Dr. André instrução militar obrigatória administrada nas duas seções
Gustavo Paulo de Frontin, em sessão de 23 de fevereiro do Colégio após o regulamento anexo ao Decreto de 8 de
de 1915; existindo no parecer Frontin muitas referências maio de 1908; criando batalhões escolares no Externato
ao Colégio no qual Frontin se iniciara no magistério como e no Internato, concorrendo ambos a solenidades cívicas.
substituto de Filosofia no tempo do Império, nomeado por Em campeonato promovido pela Confederação do Tiro
concurso a 10 de agosto de 1886. Brasileiro 3o anista do Colégio, Astor Ramos Quitito,
Expressamente declarou a Reforma Carlos alcançou primeiro lugar nas provas de fuzil Mauser.
Maximiliano o Colégio de Pedro Segundo "difusor do ensino Na vigência da diretoria Araújo Lima, por efeito da
das ciências e letras (artigo 30), nas duas antigas seções, Reforma Carlos Maximiliano. passou a ser restabelecida
Externato e Internato, feito em ambas as seções um curso no Internato a cadeira de Física e Química, suprimida pela
ginasial de cinco anos com caráter literário e científico Lei Orgânica Rivadávia.
suficiente para ministrar a estudantes sólida instrução Fora então transferido para a cadeira de Física e
fundamental de modo a prepará-los para o exame vestibular Química do Externato o catedrático das disciplinas no
exigido para ingresso em qualquer academia. Internato, Dr. Francisco Xavier Oliveira de Menezes,
Os alunos que se destinassem aos cursos de substituindo o Dr. Oscar Nerval de Gouvêa, falecido.
odontologia, farmácia ou obstetrícia seriam dispensados Restabelecida a cadeira no Internato serviram-na o próprio
do estudo de Inglês, de Alemão, de Latim, de Álgebra, diretor Araújo Lima, professor de Física e Química no
Geometria e Trigonometria retilínea e de História Universal Colégio Militar, e o substituto Dr. Augusto Xavier Oliveira
e Pátria. de Menezes.
O aluno escolheria o estudo do Alemão ou do Inglês, Desejou porém e obteve o catedrático Oliveira de
podendo frequentar o curso facultativo de Psicologia, Menezes volta à cadeira do Internato, passando para a do
Lógica e História da Filosofia funcionando no Externato e Externato o substituto Dr. Augusto Xavier Oliveira de
no Internato. Menezes.
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Na a d m i n i s t r a ç ã o Araújo Lima, perdia o corpo Maximiliano, o qual mandava excluir dentre os alunos
docente do Colégio membro distinto, o Dr. Hans Heilborn, gratuitos do Internato os filhos de homens conhecidos
catedrático de Grego do Internato, falecido a 21 de dezembro como abastados, dando preferência aos órfãos pobres no
de 1916. preenchimento das vagas anuais dos dispensados do
Continuava o Colégio a ser preterido para instrução pagamento de mensalidades.
de alunas e a apresentar boa situação financeira, conforme Com a reversão rigorosa ao património do Colégio
as disposições da Reforma Carlos Maximiliano, cabendo das taxas exigidas dos alunos, pôde o Ministro Carlos
à C o n g r e g a ç ã o elaborar, por m e i o de c o m i s s ã o , o Maximiliano ultimar obras no edifício do Externato.
o r ç a m e n t o da receita e despesa do Colégio sujeito à Em meados de 1917, cessava a administração
aprovação do Conselho Superior do Ensino e homologado Araújo Lima. Deixando cargo, o diretor comunicava em
pelo ministro. S o m e n t e 7 t u r m a s s u p l e m e n t a r e s no carta oficial a sua demissão, a pedido, ao decano da
Externato, 1 no Internato, cuja despesa ficava fora de Congregação, Dr. Carlos de Laet, convidando-o a substitui-
previsão orçamentária, exigiam abertura de crédito. lo no governo da Casa, na forma das disposições vigentes.
Para melhoria dos gabinetes de Física e Química, Entendeu-se Laet c o m o Ministro, a confirmar a
nas duas seções do Colégio, incluía a Congregação elevada comunicação Araújo L i m a , s e m maior f o r m a l i d a d e
verba orçamentária, a deficiência daqueles gabinetes assumindo a diretoria do Colégio o decano da Congregação,
representando a maior lacuna do Colégio modelo, lacuna decanato conferido por longos anos de prática e utilidade
que a Conflagração impediria de tornar desaparecida com no magistério, reconhecido Laet decano do Corpo Docente
prontidão, perturbando ela a vida dos povos europeus e o por decisão do Conselho Superior do Ensino a 14 de
intercâmbio comercial no mundo universo. fevereiro de 1917.
Na remodelação dos gabinetes de Física e Química, Sete meses após tal decisão, assumiria Laet a
coadjuvando os respectivos lentes das disciplinas e a direçào efetiva do Colégio ao qual serviria no relevo de
Congregação do Colégio, empenhava-se o Ministro Carlos inconfundível personalidade.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca,


Presidente da República (1910- 1914). Ex-aluno.
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XIII
O Colégio de 1925 a 1931

Reforma Rocha Vaz • Extinção da Cadeira de Espanhol • Diretoria Euclides Roxo •


Disponibilidade de Professores • Desmembramento das Cadeiras de Física e
Química, Latim e Português • Novos Professores • Ressurgimento da Cadeira de
História do Brasil • Turmas Suplementares • Instrução Militar e Esporte •
Sobrecarga da Secretaria do Externato • Centenário Natalício de D. Pedro II •
Nomeação Efetiva do Diretor e do Vice-Diretor do Externato • 1926, Ano dos
Concursos • Novos Professores • Óbitos • Modificações no Corpo Docente •
Solenidades Escolares • Diretoria Pedro do Coutto • Introdução dos Testes no
Ensino do Colégio • Melhoramentos Materiais no Externato e no Internato •
Exames Parcelados • Transferência da Cadeira de Instrução Moral e Cívica •
Proposta de Supressão da Livre Docência • Inauguração do Retrato de D. Pedro II •
Sessão Solene em Memória de Carlos de Laet • Vacância de Cadeiras e
Modificações no Corpo Docente • Melhoramentos Materiais no Externato em
1929 • Medidas de Disciplina Propostas em Congregação • Óbitos.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Em 1925, o Colégio de Pedro Segundo conheceria Comporiam o Conselho três seções: — a do Ensino
mais uma reforma de ensino. Estabeleceu-a o Superior e Secundário, a do Ensino Artístico, a do Ensino
Decreto 16.782-A , de 13 de janeiro do citado ano. Primário e Profissional.
Expedido na Presidência Arthur Bernardes, Ministro Na primeira seção figurariam os diretores do Pedro
da Justiça o Dr. João Luiz Alves, o Decreto 16.782-A, Segundo, um catedrático deste instituto, anualmente eleito
conhecido vulgarmente como Reforma Rocha Vaz, pela Congregação, bem como um docente-livre,
estabelecia o concurso da União no sentido de difundir o anualmente designado pelo Ministro da Justiça.
ensino primário, organizava Departamento de Ensino, Fixou o Decreto 16.782-A a competência do
reformava este no grau superior e secundário. Conselho de Ensino Superior e Secundário, mantendo-o
Criava o Decreto um Departamento Nacional do oficialmente no Externato e no Internato de Pedro Segundo.
Ensino, subordinando-o diretamente ao Ministério da Destinava-se o ensino secundário, prolongamento
Justiça e Negócios Interiores. do primário, a fornecer a cultura média geral do país.
Compreenderia seis anos de estudos, providenciou o
Teria o novo Departamento a seu cargo assuntos
Decreto sobre o número de disciplinas do curso, programas
referentes ao ensino, bem como o estudo e a aplicação
dele, exames de promoção e finais, conferindo o
dos meios tendentes à difusão e ao progresso das ciências,
bacharelado ao sextanista aprovado em todas as matérias
letras e artes no país.
da última série.
Sena o Departamento presidido por um Diretor-Geral.
A idade mínima para matrícula no Pedro Segundo
também Presidente do Conselho Nacional do Ensino, criado
seria a de dez anos. Livres-docentes, e na falta deles
em substituição do Conselho Superior do Ensino.
pessoa idónea, substituiriam catedráticos, autorizados
O Conselho Nacional discutiria, proporia e opinaria
estes, em caso de desdobramento de turmas, a regerem
sobre questões do ensino público submetidas à sua
duas turmas suplementares além das efetivas próprias.
deliberação pelo Governo, pelo Presidente do Conselho ou
Providenciava o Decreto 16.782-A sobre constituição, ,
por qualquer dos membros deste.
direitos e deveres do corpo docente do ensino superior e
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secundário, constituído no Pedro Segundo por catedráticos, estabelecidas para o concursos de catedráticos. Constaria
docentes-livres, professores honorários e professores de o concurso da docência-livre da defesa de tese de livre
Desenho e Ginástica. Os catedráticos seriam escolhidos escolha, de prova oral de 50 minutos, com 24 horas de
por concurso, nomeados por Decreto e vitalícios desde a antecedência, versando sobre ponto sorteado entre os
data da posse. Para a inscrição em concurso no Colégio, pontos de lista aprovada pela Congregação, e de prova
cumpriria ao candidato provar curso completo de prática segundo a natureza da disciplina. Ao candidato à
humanidades ou diploma de escola superior. docência-livre que houvesse obtido média final inferior a 7
As provas do concurso para catedráticos não seria conferido o título , só admitindo a novo concurso
c o m p r e e n d e r i a m a defesa de duas t e s e s perante a passado biénio, durante este defeso ao candidato recusado
Congregação, uma prova oral de caráter didático por inscrição para catedrático.
espaço de 50 minutos, sobre ponto sorteado com 24 horas Condições para nomeação de professores honorários
de antecedência entre dez pontos constantes de lista e privativos, para obtenção de disponibilidade, composição
aprovada pela Congregação. e competência de congregações, foram reguladas pelo
Das duas teses, uma versaria assunto escolhido pelo Decreto 16.782-A. Na presidência da Congregação do
candidato, a outro assunto sorteado entre os dez pontos Pedro Segundo revezar-se-ia, em anos alternados, os
aprovados pela Congregação. Discorreriam assim todos
diretores do Externato e do Internato, auxiliados por três
os candidatos sobre ponto c o m u m , anunciado na abertura
comissões eleitas pela Congregação, a saber, a de Ensino,
da inscrição para o concurso.
a de Docência e a de Redação de Publicações.
Constaria este t a m b é m de prova prática, quando o
No Colégio, segundo o citado Decreto, o Externato
caso, sobre assunto sorteado de m o m e n t o . A inscrição
e o Internato teriam cada um o seu diretor, o seu vice-
para c o n c u r s o s e s t a r i a a b e r t a d u r a n t e s e m e s t r e .
diretor e o seu secretário. Dois seriam os períodos do ano
Determinou o Decreto 16.782-A o modo de proceder às
escolar, de 1 ° de abril a 15 de julho, de I o de agosto a 15
provas, atribuindo-lhes notas por grau de 0 a 10, públicas
de novembro, considerados de férias escolares os períodos
todas as provas.
de 15 a 31 de julho, e de 1 o de janeiro a 1 o de março.
Achar-se-ia unicamente habilitado para o provimento
Matrículas, e x a m e s , r e g i m e escolar eram objeto de
do cargo de catedrático o candidato que alcançasse média
providências no Decreto 16.782-A. No Pedro Segundo as
final superior a 7, nomeado livre-docente o candidato
transferências de alunos ou de remoção de funcionários
merecedor de média superior a 5.
do Externato para o Internato e vice-versa ficariam a cargo
Terminado o concurso, o diretor do Colégio, por
do Diretor-Geral do Departamento Nacional do Ensino, de
intermédio do Conselho Nacional do Ensino, comunicaria
cuja aprovação dependeria o horário das aulas do Colégio.
ao Governo o nome do candidato de maior média a f i m de
Concedia o Decreto 16.782-A equiparação ao Pedro
nomeação. No caso de empate de médias, a Congregação
enviaria ao Governo os nomes dos candidatos em igualdade Segundo, mediante condições, aos estabelecimentos de

de média, para escolha do Governo. Na hipótese do ensino secundário oficialmente mantidos pelos Estados.
empate de média, a preferência para nomeação caberia O Decreto cassava a equiparação aos institutos de ensino,
ao bacharel diplomado pelo Colégio. por qualquer forma equiparados aos oficiais, se no prazo
A docência-livre poderia ser obtida na segunda de ano, salvo q u a n t o a p a t r i m ó n i o , o do t e m p o da
quinzena de outubro, sujeito o concurso para docentes e o equiparação, não se houvessem revigorizado na forma do
respectivo julgamento, no que fosse aplicável às regras Decreto 16.782-A.
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A estabelecimentos de ensino particular, de qualquer na cadeira de Física provido o respectivo substituto Dr.
sede, poderia ser concedida a faculdade da obtenção de Henrique de Toledo Dodsworth e professor de Química ficou
juntas examinadoras para os diferentes anos do curso sendo o antigo catedrático de Física e Química Dr. Augusto
secundário. Entre as condições para a concessão se Xavier Oliveira de Menezes.
enumerava a de provar o estabelecimento manter corpo Empossou-se na cadeira de História Natural o
docente idóneo, observando nos seus cursos programa substituto Dr. Waldemiro Alves Potsch, assumindo a
igual ao do Pedro Segundo. cadeira nova de Cosmografia o substituto de Geografia,
Os exames de cada aluno se cingiriam às matérias Dr. Othelo de Souza Reis.
de cada ano do curso, rigorosamente observada a seriação Desdobradas as cadeiras de Latim e de Português
do Pedro Segundo. do Externato e do Internato foram providos na nova cadeira
Determinava o Decreto 16.782-A que o professor da de Latim o professor substituto da disciplina, Joaquim Luiz
cadeira de Espanhol poderia ser, como foi, transferido para Mendes de Aguiar, e na cadeira nova de Português o
a 2a cadeira de Português, extinta a cadeira de Espanhol,
substituto Dr. José Oiticica.
continuando facultativo no 4o ano o ensino de Italiano.
Ressurgida a cadeira especial de História do Brasil,
A Reforma Rocha Vaz, a do Decreto 17.782-A, de
foi nela provido o professor Escragnolle Dória, desde 1906
13 de janeiro de 1925, aboliu no Colégio a unidade de
catedrático por concurso de História Universal, da América
direção das duas seções.
e do Brasil, ocupada a cadeira vaga de História Universal
Voltava-se à divisão de diretorias, uma para o
por provecto professor catedrático interino, o Dr. Marcos
Externato, outra para o Internato, este desde maio de 1925
Baptista dos Santos, nomeado catedrático de História do
exercida pelo bacharel em letras Quintino do Valle.
Brasil no Internato o Doutor Pedro do Coutto.
Convidado o professor Escragnolle Dória para diretor
Preencheram também interinamente as cadeiras de
do Externato, agradecendo declinou o convite, nomeado
Instrução Moral e Cívica, Alemão e Literatura o Cónego
então interinamente para dirigir o Externato o professor
Euclides Roxo, bacharel em letras como o antecessor Laet, Francisco Mac Dowell e os Drs. Tristão da Cunha e Júlio
por Decreto de 19 de agosto de 1925, saudado o novo Nogueira.
diretor em nome da Congregação pelo professor Gastão O professor Adriano Delpech, único dos substitutos
Ruch e também pelo ex-diretor Laet. do Colégio a não ter acesso a catedrático, passou a reger
De 1925 em diante começaram de novo Externato e a cadeira de Sociologia, interinamente, criada a cadeira
Internato vida administrativa independente, continuando por disposição do Decreto 16.782-A, de 13 de janeiro de
vida pedagógica entrelaçada. 1925.
No Externato, a reforma do Decreto 16.782-A trouxe Novos lugares de professores de Desenho ficaram
modificações sensíveis ao corpo docente. Em virtude do sendo exercidos, interinamente, pelos professores José
citado Decreto, obtiveram disponibilidade, de golpe, quatro Paula Ferreira e Araripe Macedo.
professores: — Said Ali, Paula Lopes, Manoel Arthur Assegurada pelo Decreto 16.782-A a unidade
Ferreira e Arthur Higgins, professores de Alemão, História didática do Colégio e a indivisão do seu corpo docente,
Natural, Desenho e Ginástica. portanto a da sua Congregação, decorreu o ano letivo no
Desmembrada em duas cadeiras, uma de Física, a Externato, em 1925, sem incidentes de maior monta, na^
outra de Química a antiga cátedra de Física e Química, foi constância da direção interina do professor Euclides Roxo.
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O maior inconveniente para o ensino em 1925, como segurança não haver em todo o país nenhuma repartição
em anos anteriores, provinha da grande quantidade de que conseguisse tanto com o triplo de empregados.
alunos em cada turma. Muitas compreendiam 55 Só pelo protocolo da Secretaria passaram, em 1925,
discentes quando além de 20, no máximo 25, não pode 21.899 papéis de diversas classificações.
haver ensino completo, embora a pouca frequência de Sobrecarga de trabalho sobre responsabilidade para
alguns alunos faça baixar um tanto nas turmas o número a Secretaria continuou a ser em 1925 o serviço dos exames
diário de presentes. seriados de candidatos estranhos, ajuntado ao serviço dos
Pugnava o diretor Roxo, sem possibilidade de exames de preparatórios.
aumentar turmas suplementares, dada a míngua Procurou o diretor Roxo, por várias medidas, aligeirar
pecuniária, pela homogeneidade na composição das o trabalho e a responsabilidade da Secretaria, de modo a
turmas, reunidos os repetentes em turmas para o ensino não se prolongar o expediente até alta madrugada, não
das quais os professores lançariam mão dos recursos raro até o clarear da manhã, chegando funcionários a se
pedagógicos próprios para os menos aplicados ou alimentarem às pressas ou a mal dormirem no Externato.
retardados de natureza. A 2 de dezembro de 1925, transcorreu o primeiro
Apontava também o diretor Roxo, em 1925, diversas centenário natalício de D. Pedro II. Não podia o Colégio
causas geradoras da pouca eficiência do ensino em geral do qual era patrono desde origem, desde 1837, conservar-
se alheio à celebração de semelhante data. Não via mais
e em particular no Colégio. Entre elas, mencionava a
a instituição o soberano de cetro de quase meio século na
insuficiência de preparo dos candidatos ao exame de
pátria, sim o desvelado amigo e protetor do Colégio, deste
admissão, a falta de disciplina moral, de amor ao estudo,
lembrado a toda a hora, chegando a adiantar haver para
de entusiasmo pela nobre curiosidade de saber, pela falta
ele no Brasil só duas posições invejáveis, a de senador
de impulso inicial dado pelo lar e pela insuficiência de curso
do Império e a de professor do Colégio que lhe consagrava
primário.
o nome.
Continuou a ser ministrada, no ano letivo de 1925, a
Coube ao diretor Roxo dispor a celebração do
instrução militar no Externato, com a frequência média de
centenário natalício de D. Pedro II. Associou-se o Colégio
80 a 100 alunos e encerrado o período de instrução a 15
às manifestações tributadas à memória e aos serviços do
de novembro, de acordo com os regulamentos dos Tiros
antigo imperador, manifestações do Amazonas ao Prata,
de Guerra. Nos exames para obtenção da Carteira de
para utilizar expressão de D. Pedro I em proclamação
Reservista de 2a classe foram aprovados 66 candidatos,
célebre.
quantos se apresentaram; deles provada resistência em
A 2 de dezembro de 1925, no Salão Nobre do Colégio,
duas marchas de 12 quilómetros e uma de 24.
onde tantas vezes comparecera D. Pedro II para a
Participou também o Externato do campeonato de solenidade da colação de grau de bacharel em letras e
atletismo instituído pelo Colégio Militar do Rio de Janeiro para distribuição de prémios, realizava-se sessão magna.
e do campeonato de basquetebol organizado pelo Clube Presidiu-a Ministro da Justiça, Dr. Affonso Penna Júnior,
de Regatas Flamengo. filho de quem no Império, fora Ministro de Estado dos
Continuou a Secretaria do Externato, em 1925, a Negócios da Guerra, na Justiça e da Agricultura, o Dr.
carecer do auxílio de inspetores pelo aumento anual de Affonso Augusto Moreira Penna, ex-Presidente da
serviços. Declarava o diretor Roxo poder afirmar com República.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Na mesa da solenidade figurava neto materno de D. Findou a solenidade com a execução do Hino
Pedro II, ex-aluno do Colégio, o Príncipe D. Pedro de Nacional, cantado por alunos. Em seguida, no pavimento
Orleans e Bragança, e sua esposa, a Princesa Elisabeth, térreo do Colégio, logo no saguão de entrada, foi inaugurada
Condessa Dobrenzenky de Dobrzenicz, na Bohemia. placa de bronze com a efígie de D. Pedro II, singela, mas
Em bancada especial, na extremidade do salão, onde expressiva homenagem promovida e realizada por um
outrora erguido trono imperial armado para as solenidades grupo de 86 bacharéis em letras. Ao ser inaugurada a
de colação de grau, tomaram assento a Congregação do placa, o professor Mendes de Aguiar recitou poesia em
Colégio, o secretário do Externato e o decano dos bacharéis latim, de sua lavra, em honra a D. Pedro II.
em letras, Dr. José António de Magalhães Castro, graduado Na placa a este memorou inscrição de antigos
na turma de 1856. alunos:
Em face da mesa de honra ficaram, em lugares
reservados, numerosos bacharéis em letras, alguns destes A Pedro II
figurando na Congregação os bacharéis Laet, Ruch, Patrono deste Collegio
Nascentes, Philadelpho Azevedo, José Piragibe, Quintino Os que aqui estudaram
do Valle e João Baptista de Mello e Souza. 1825-2-XII — 1837-XII-2-1925
Abriu a sessão o diretor Roxo, mostrando que "o
próprio nome do Instituto justificava sobejamente a atitude Antes de inaugurar-se o ano letivo de 1926, eram
de seus diretores, lentes e alunos ao promoverem a nomeados, por Decreto de 3 de março, diretor efetivo o
solenidade, a que em boa hora se tinham associado os interino, Professor Roxo e vice-diretor, o professor Othelo
bacharéis e discípulos em formoso e espontâneo gesto Reis.
que revelava nobilitantes sentimentos de solidariedade e Em consequência da Lei 16.782-A, 1926 seria o ano
gratidão". dos concursos. Iniciou-o o de Latim, para provimento de
Oraram na solenidade o professor Escragnolle Dória, vaga proveniente do desdobramento de cadeira no
em nome da Congregação, logo após o diretor Roxo, o Internato.
professor Abreu Fialho, catedrático da Faculdade de Concorreu à vaga em maio de 1926, candidato único,
Medicina, em nome de antigos alunos do Colégio. antigo aluno do Externato, o Dr. Hahnemann Guimarães .
Em nome dos bacharéis em letras discursou o Foi o 1o candidato a concurso no Colégio a submeter-se
professor Cantanhede e Almeida, catedrático da Escola às quatro provas exigidas pelas disposições vigentes do
Politécnica, recitando o professor Adriano Delpech poesia Decreto 16.782-A, isto é, defesa de tese sobre ponto
de sua lavra "São Vicente de Fora", alusiva ao túmulo de sorteado, defesa de tese de livre escolha, prova prática e
D. Pedro II em Lisboa. prova oral.
Além da senhorita Zita Coelho Netto, filha do Habilitado unanimemente pela comissão
professor do Colégio Henrique Coelho Netto, e da senhorita examinadora e pelos votos da Congregação na 1 a , 2a e 4a
Edla da Costa Lima, participaram da parte literária da das mencionadas provas e com grau 8 na 3a, foi o Dr.
solenidade os seguintes alunos do Externato — Mário de Hahnemann Guimarães nomeado catedrático de Latim do
Oliveira e Silva, do 5o ano, Fahim Pedro e Nelson Internato por Decreto de 4 de junho de 1926.
Rodarte Machado, ambos do 3o ano, recitando sonetos Ao concurso de Latim, para cadeira do Internato,.
de D. Pedro II. seguiu-se o de Português para a mesma seção do Colégio,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

em virtude do desdobramento de cadeira por efeito do Interposto recurso, por um dos candidatos, contra o
Decreto 16.782-A. Suscitaram-se, por parte da julgamento do c o n c u r s o não l o g r o u p r o v i m e n t o a
Congregação, dúvidas sobre a interpretação do artigo 164 reclamação.
do Decreto 16.782-A, dúvidas resolvidas pelo Diretor-Geral Tratando-se ainda no ano letivo de 1926 do
do Departamento do Ensino, autorizada a Congregação a provimento da cadeira de Química do Internato, após vários
convidar pessoas estranhas ao corpo docente do Colégio incidentes, processado o concurso em setembro de 1926,
para membros das comissões examinadoras de concurso, à vista do resultado geral do certame e de acordo com a
podendo nelas ser admitida a presença de professores d i s p o s i ç ã o do a r t i g o 170 do D e c r e t o 1 6 . 7 8 2 - A , a
interinos, de outras cadeiras, não sujeita a concurso. Congregação, a 29 de outubro, indicou ao Governo o nome
Processou-se o concurso de Português de 10 de do professor Correggio de Castro para catedrático e os
junho a 9 de julho de 1926, classificados respectivamente nomes dos professores Arlindo Fróes, Luiz Pedreira de
os candidatos Quintino do Valle, bacharel em letras de Castro Pinheiro Guimarães, Rubens Descartes e Júlio
curso no Internato e no Externato, Jacques Raymundo Hauher para livres-docentes por tempo de dez anos. Foi,
Ferreira da Silva, antigo aluno do Externato onde concluíra porém, nulo o concurso por decisão do Dr. Affonso Penna
curso propedêutico, e Clóvis do Rego Monteiro, acatado Júnior, Ministro da Justiça, apreciando razões de recurso
professor de língua vernácula. de um dos candidatos.
Por Decreto de 4 de agosto de 1926, foi nomeado Em setembro de 1926, logo após o concurso anulado
catedrático o bacharel Quintino do Valle, não tendo obtido de Química, procedia-se no Colégio ao concurso para
provimento um recurso contra o resultado do concurso. provimento de cadeira de História Universal no Externato
Por ato do Diretor-Geral do Departamento do Ensino, na e outra no Internato, a primeira vaga pela transferência do
forma das disposições vigentes, foram nomeados livres- professor Escragnolle Dória para a cadeira de História do
docentes da cadeira de Português, por dez anos, os Drs. Brasil no Internato, pelo professor Pedro do Coutto,
Jacques Raymundo Ferreira da Silva e Clóvis do Rego nomeado para a cadeira de História do Brasil na seção do
Monteiro. Internato.
Em princípio de agosto de 1926, ocupava-se a Após quatro provas de concurso, tendo antes, este
Congregação do Colégio com o provimento de três lugares sofrido prorrogação de prazo, acabou a Congregação
de professor de Desenho, um vago pela disponibilidade do indicando, a 30 de outubro de 1926, os Drs. Jonathas
professor Arthur Ferreira e dois novamente criados. Archanjo da Silveira Serrano e João Baptista de Mello e
Processado o concurso, a Congregação indicou ao Souza, classificados em 1 o e 2 o lugares para catedráticos,
Governo os nomes dos candidatos classificados nos três r e s p e c t i v a m e n t e do E x t e r n a t o e do I n t e r n a t o . A
primeiros lugares, os Drs. Enoch da Rocha Lima, José de Congregação habilitou para a livre-docência os Drs.
Sá Roriz e Alcino José Chavantes, o primeiro para a seção Francisco Mozart do Rego Monteiro, bacharel em direito e
do Internato, os dois outros para a do Externato. docente da Escola Normal, Jayme Coelho, M e c e n a s
À vista das médias obtidas, a Congregação indicou Pereira Dourado, bacharel em direito, Mário Guedes Naylor,
para a livre-docência de Desenho os Srs. Jurandyr dos bacharel em letras, António Figueira de Almeida, bacharel
Reis Paes Leme, diplomado pela Escola Nacional de Belas em direito e Milton Pires Barbosa, bacharel em direito e
Artes, José Paulo Ferreira, bacharel em letras e Murillo Oscar Przewodowski, bacharel em direito e candidato
Araújo, t a m b é m bacharel em direito. classificado em anterior concurso no Colégio, o de Inglês,
ESCRAGNOLLE DÓRIA

um candidato, deixando de ser proposto para a livre- A Congregação escolhera s i m p l e s m e n t e quantos lhe
docência, visto não haver obtido média superior à exigida pareceram merecer valioso prémio de esforços.
pelas disposições do Decreto 16.782-A. S a l i e n t o u i g u a l m e n t e o p r o f e s s o r Sá Roriz a
Não logrou provimento recurso interposto contra o cordialidade existente entre os candidatos do concurso de
julgamento do concurso de História Universal por um dos Desenho na constância das provas do m e s m o certame.
candidatos classificado como livre-docente, nomeados Ninguém, afirmou o concorrente primeiro classificado, "ao
catedrático do Externato o classificado em 1 o lugar Dr. vê-los juntos trabalhando diria que jogavam reciprocamente
Jonathas Archanjo da Silveira Serrano, antigo aluno do futuro. Pena que, para concorrentes legais e cavalheiros,
Externato, e catedrático do Internato o classificado em 2 o não e x i s t i s s e m o u t r o s t a n t o s l u g a r e s para g e r a l
lugar — Dr. João Baptista de Mello e Souza, bacharel em aproveitamento".
letras, nomeados por Decretos de 10 e 12 de novembro Agradecendo, por sua vez, a saudação do professor
de 1926. Raja Gabaglia, um dos examinadores do concurso de
A posse dos novos professores do Colégio, os Drs. História, o novo catedrático, Dr. Jonathas Serrano, recordou
José de Sá Roriz, Enoch da Rocha Lima, Alcino José ter sido aluno no Colégio, d e p o i s p r e p a r a t o r i a n o e
Chavantes, Jonathas Archanjo da Silveira Serrano e João académico ao tempo em que a Faculdade de Ciências
Baptista de Mello e Souza, deu ensejo a sessão solene, a Sociais e Jurídicas funcionava no edifício do Externato, à
18 de novembro de 1926, como belo fecho do ano letivo. tarde, findas aulas do Colégio. Na Faculdade, o novo
De improviso, o professor Raja Gabaglia saudou os professor recebera grau jurídico acrescido de prémio
novos colegas, reconhecendo nos três professores de especial por distinção de curso, o Prémio Manoel Portella.
Desenho, Roriz, Rocha Lima e Chavantes qualidades para Acabando de prestar no Colégio renhido concurso,
i m p r i m i r ao e n s i n o do D e s e n h o t o d a a e f i c i ê n c i a julgava o professor Serrano ser o concurso, "apesar das
obedecendo à pedagogia moderna. múltiplas objeções e dos reais inconvenientes deparados
Referindo-se às cadeiras de História Universal, na prática, capaz de dar bons frutos e corresponder
declarou o professor Gabaglia que cadeiras havia no Colégio cabalmente ao que dele se espera quando cercadas as
tão cheias de tradições gloriosas como as que vinham provas de todas as indispensáveis garantias".
ocupar os Drs. Serrano e Mello e Souza, professores de Referindo-se o professor Serrano às gloriosas
nomeada no magistério público e particular. tradições do Colégio, às qualidades necessárias aos
Às saudações do professor Raja Gabaglia mestres de História, não arma de partido, privilégio de
responderam os novos professores Sá Roriz e Jonathas escola, pseudo-demonstraçào de teses, sim a mais alta,
Serrano. a mais e d u c a t i v a , a mais g e n u i n a m e n t e cristã das
Salientou o professor Roriz que ao candidatar-se ao homenagens porventura prestadas à Verdade.
concurso de Desenho, desconhecido e completamente E, afirmado credo católico, lembrava o professor
estranho ao meio, apresentara-se confiante na justiça dos Serrano o gesto de Leão XIII, abrindo arquivos do Vaticano
homens, cônscio, porém, do pouco valimento de forças a pesquisadores de qualquer doutrina, roborando o pontífice
próprias. Aquela justiça, afirmou o novo professor, surgiu, o gesto pela declaração de não ter a Igreja m e d o da
pois imparciais e retos tinham sido os juizes, esquecendo Verdade.
antigas amizades, compromissos e simpatias, e direitos N e m deixou o professor Serrano, na alegria do
em parte adquiridos por outros já na cátedra interinamente. triunfo, de recordar antigos mestres cujas lições recebera
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

no Colégio, Fausto Barreto a iniciá-lo nas belezas e Mendes de Aguiar falava e escrevia em Latim.
sutilezas do vernáculo, Alexandre Monat a mostrar-lhe toda Familiarizado no idioma nele poetava com elegância e
a disciplina e brilho do Francês, Alfredo Alexander, senhor facilidade, buscando introduzir o metro poético moderno
e transmissor dos tesouros do Inglês, finalmente Raja da língua morta.
Gabaglia Sénior, consagrado cultor da ciência matemática. Professor assíduo até últimos dias, resistindo a
Não só a posse de cinco distintos professores morte prematura com resignação de católico convicto,
encerraria jubilosamente o ano letivo de 1926, e tanto mais Mendes de Aguiar deixou memória de colega sem refolhos.
jubilosamente quanto aquela posse derivava apenas da Não só o nigro notando lapillo do óbito de Mendes
criação dos desmembramentos de cadeiras e não de de Aguiar assinalaria o ano letivo de 1927 no Colégio. A
sucessões por falecimentos. 13 de agosto de 1927, desaparecia no Rio de Janeiro, João
Também em relação ao corpo discente seria Capistrano de Abreu, professor em disponibilidade de
encerrado com prazer o ano letivo de 1926. Corografia e História do Brasil, afastado do ensino desde
1899 por absurda extinção de cadeira.
Restabelecido o curso de bacharelado frequentou
Na necrologia de Capistrano de Abreu feita no
6°ano aluno único, Mário de Oliveira e Silva. Aprovado
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro pelo orador da
em exames de primeira época, recebeu diploma de
associação, Dr. Ramiz Galvão, bacharel em letras, declarou
bacharel em ciências e letras. Coube-lhe ser o primeiro
este, ter Capistrano "regido com amor a sua cadeira, até
aluno do Externato laureado em Ciências e Letras,
o ano em que uma reforma infeliz a suprimiu no programa
restabelecido prémio de curso completo, abolido havia
de estudos do grande instituto oficial de ensino secundário
quinze anos.
"reduzida a obra grandiosa de História Pátria a simples
A Mário de Oliveira e Silva, dos mais esperançosos
capítulo da História Universal".
alunos da fase moderna do Colégio, parecia fadado
Passou Capistrano a dedicar-se com mais afinco a
brilhante futuro. Decidiu a sorte o contrário. Destinando-
estudos históricos e linguísticos, figurando entre suas obras
se à carreira militar, nela dedicado à aviação, foi Oliveira
notáveis "A Língua dos Caxinauás", tribo indígena dos
e Silva vítima de desastre aviatório, perecendo confins de Mato Grosso, produto de três anos de trabalho
instantaneamente a 8 de maio de 1931. e resultado da convivência de Capistrano e de dois jovens
Não raro começam os anos letivos por lutos no corpo selvagens caxinauás.
docente ou administrativo, até no corpo discente. Antes Também estudou Capistrano, pelo mesmo processo
da abertura das aulas, falecia, a 26 de fevereiro de 1927, o de convivência, a língua de outra tribo indígena, a dos
catedrático de Latim, provecto e bom, Joaquim Mendes Bacaeris.
de Aguiar, classificado em 1o lugar num concurso para a Os trabalhos de Capistrano em matéria de história
cadeira em 1909, nomeado porém o 2o classificado, como pátria têm peso e autoridade, fruto de pacientes pesquisas.
permitia a legislação vigente Professor suplementar no Posto em disponibilidade em 1899, por efeito de
Colégio, já de Latim, já de Português, Mendes de Aguiar, reforma, ao vagar no Externato em 1909 a cadeira de
por voto da Congregação, foi escolhido para substituto de História Universal, da América e do Brasil, pela
Latim, cargo exercido de 1915 a 1925, enfim catedrático transferência do professor João Ribeiro para a cadeira da
pelo desdobramento da cadeira em virtude da Reforma disciplina no Internato, escusou-se Capistrano de reger a
Rocha Vaz. cadeira vaga.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Participou, entretanto, da comissão examinadora do Regesse aulas de turmas efetivas de obrigação,


concurso para o preenchimento da vaga da cadeira de suplementares, foi sempre Floriano de Britto um desses
História Universal, da América e do Brasil do Externato, professores tão assíduos que a menor de suas faltas de
concurso terminado pela nomeação, a 5 de novembro de presença constitui acontecimento para o estabelecimento
1906, do professor Escragnolle Dória, classificado em onde lecionava. Onde havia 82 aulas a dar 82, eram dadas
primeiro lugar. por Floriano de Britto.
Abria-se o ano letivo de 1927, com dois lutos, deveria A atividade dele no Colégio foi sempre exercida no
encerrar-se com outros. Internato. Por ocasião do seu falecimento, tanto a diretoria
Um seria a perda do catedrático de Francês do do Internato, exercida pelo Dr. Pedro do Coutto, como a
Internato, o bacharel em letras Floriano Corrêa de Britto, do Externato, pelo Dr. Euclides Roxo, timbraram em
falecido a 27 de outubro de 1927, outro luto o da perda do prestar-lhe homenagens, inclusive a de armar câmara
catedrático de Português do Externato e deste ex-diretor, mortuária no Salão Nobre do Internato, de onde partiu o
Carlos de Laet, bacharel em letras. enterro de quem tanto nele estudara, vivera e labutara.
Foi em relação a lutos particularmente doloroso ao
Floriano de Britto sempre tivera em mira obter
Colégio o ano de 1927. Mal a terra pátria em necrópoles
cátedra no Colégio, por onde se graduara, e para tanto se
do Rio de Janeiro havia coberto os despojos mortais de
empenhara em dois concursos de Francês, em ambos
Mendes Aguiar e de Floriano de Britto, a mesma terra se
bem classificado, da segunda vez em 1o lugar, nomeado
abria para leito último dos restos terrenos de outro notável
catedrático a 4 de agosto de 1903. De então, até a morte,
professor e dirigente da Casa, Carlos de Laet, falecido a 7
salvo interrupções pelo exercício do mandato de deputado
de dezembro de 1927.
federal em duas legislaturas, de 1912 a 1917,
Historiar a vida intelectual de Laet nas letras
representando o Distrito Federal, consagrou-se Floriano de
nacionais, no magistério, no jornalismo, na administração
Britto ao ensino de humanidades e, sobretudo, ao da língua
pública, com escala breve pela política, na tribuna
francesa, autor de gramática deste idioma. Na Câmara
académica, é matéria para obra ainda não composta.
dos Deputados apresentou Floriano de Britto parecer sobre
Cumpre ser escrita, tanto melhor se emanar de professor
reforma de instrução pública. Militou na imprensa e em
ou ex-aluno do Colégio, bacharel em letras ou não.
serviços técnicos da Prefeitura Municipal. Dotado de
No Colégio professou Laet por mais de meio século.
grande cultura humanística, salientava-se em qualquer
Teve jubileu de ouro no magistério, consagrado por sessão
discussão pelo ardor de convicções, pela veemência das especial e solene, dando ensejo para lhe serem tributadas
afirmações, fiel a compromisso, dedicado ao extremo às grandes homenagens. Diretor do Colégio, de 1917 a 1926,
causas que abraçava, prometia para cumprir. Carlos de Laet mereceu do sucessor Euclides Roxo este
De Floriano de Britto, bacharel em letras, disse com juízo: — "Como diretor, manteve sempre linha impecável
razão o diretor Roxo: — "Era um dos atestados mais de administrador honesto, justiceiro e zeloso de suas
brilhantes da eficiência do ensino clássico do Colégio, de atribuições, tendo durante a sua administração aumentado
que fora aluno dos mais distintos e onde formara a sua muito o prestígio do Colégio, graças à austeridade, ao brilho
profunda cultura humanística". intelectual e à integridade moral de sua pessoa. Era
Atestou ainda o diretor Roxo a assiduidade modelar incontestável a grande ascendência que tinha sobre os
do extinto em largos anos de magistério. colegas, resultante não só das suas qualidades pessoais,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

como da sua aureolada anciania, que lhe permitia, quando os subscritores desta manifestação, sem embargo de não
necessário, tratar a alguns como filhos ou mesmo como partilharem todos inteiramente às vossas opiniões
netos". políticas. É que lá, no seio daquele povo altivo, ainda os
Assim disse o diretor do Externato. No Internato, que sentem diversamente de vosso modo de sentir vos
de 1873 a 1890, lecionara Laet, professor por concurso de respeitam e admiram."
Português, Geografia e Aritmética do 1o ano. Voltou a Em seguida ao Dr. Rodrigo Lobato, orou o aluno do
lecionar no Colégio, mas no Externato, de 1915 a 1927. Internato, Amarilio Hermes de Vasconcellos, para declarar:
Exonerado por ato ditatorial em 1890, por haver protestado — "Nós que fazemos parte da mocidade, nós que
em Congregação, contra a mudança de nome do Colégio, representamos o futuro, viemos em nome da mocidade
privado de ser de Pedro Segundo, jubilado e posto em brasileira, que não é ingrata, em nome do futuro, que nos
disponibilidade, só assim se afastou Laet do Colégio de não intimida, comissionados pelo corpo de alunos do
1890 a 1915. Internato do Instituto Nacional de Instrução Secundária,
Exerceu, porém, neste lapso de tempo o magistério trazer ao nosso querido ex-professor Dr. Laet a homenagem
de nossa saudade".
particular, notadamente no Ginásio São Bento e no
Respondendo aos manifestantes, de coragem e
Seminário Arquiepiscopal de São José, tendo ao tempo
coração, disse Laet, "considerar-se viajante perdido em
do Império lecionado na Escola Normal da Corte.
meio de gelos polares, quase sem esperança de atingir
Demitido do cargo vitalício de professor do Colégio,
desejada meta, por toda a parte, rodeado pela escuridão e
recebeu Laet, por parte de conspícuos cidadãos e alunos
pelo frio. Banidos muitos de seus melhores amigos,
do Internato, manifestação de apreço promovida em
dissolvido ao sopro da revolução o partido a que pertencia
reunião nos salões de Derby Club, a 5 de maio de 1890, e
(o liberal) bem sabia trancado para a sua pessoa todo o
levada a efeito na própria residência de Laet.
futuro político na pátria. Acontece, porém, que nas gélidas
À frente da comissão estavam os Drs. Rodrigo
regiões do pólo basta um raio de sol para fazer um prisma
Lobato, Amarílio de Vasconcellos e Domingos José da Silva
de cada fragmento de neve e iriar a paisagem com
Cunha.
surpreendentes e mágicos reflexos."
Representavam o Internato os Srs. Bandeira de Este raio de sol traziam-nos os amigos ao orador e
Mello, Pinheiro Guimarães, Cantão, Jayme de Miranda, de coração ele o agradecia".
Arthur Cunha, Francisco Passos, Torquato Vieira de Associados à manifestação a esposa e os filhos de
Mesquita, João Roberto d'Escragnolle e Amarílio Hermes Laet, foi-lhe entregue a representação dirigida ao Chefe do
de Vasconcellos. Governo Provisório, Marechal Deodoro da Fonseca,
Entregou a comissão a Laet mimo de alto valor, reclamando contra o Decreto de demissão de Laet,
custoso relógio e corrente em cuja medalha, na qual, entre professor vitalício do Colégio, "dizendo-se e parecendo que
cintilar de brilhantes e azular de safiras, havia sido gravada determinou o ato do Governo a proposta daquele professa
divisa horaciana: "Impavidum ferient ruinae". na respectiva Congregação, indicando que se pedisse ao
Por parte dos admiradores de Laet, orou o Dr. Rodrigo Governo para aquela instituição de ensino se
Lobato, destacando-se no discurso expressivo trecho, o restabelecesse a anterior denominação de Colégio de Pedro
seguinte: Segundo".
"Na minha província (o então Estado de São Paulo), Ponderava a representação ao chefe do Governo
os melhores cidadãos apressaram-se a alistar-se entre Provisório:
ESCRAGNOLLE DORIA

"Não há na proposta, Sr. General, nada de ofensivo nas seções do Externato e do Internato. Presidia a
ao Governo, como nada há de inconvenientes à ordem Congregação o diretor do Internato, na forma das
social, em seus termos e nas razões que lhe serviram de disposições vigentes, alternando-se direção do Corpo
fundamento e foram publicados pela imprensa. O Congregado cada um dos diretores da Casa.
proponente relembrou os serviços prestados pelo Sr. D. No decurso do ano letivo de 1927 seria preenchida a
Pedro II ao instituto e disse que se devia conservar para vaga de professor de Física do Internato, mediante
este o nome de seu fundador. concurso, processado de 18 de agosto a 10 de setembro,
Começai, Sr. General, vossa obra de patriotismo, afinal indicado para catedrático o engenheiro civil Dr.
restituindo ao magistério da República o digno e talentoso George Sumner e para livre docente o engenheiro civil Dr.
professor. Esse ato honrará o vosso Governo e nós vô-lo Francisco Venâncio Filho. O Dr. Sumner, desde junho de
pedimos no interesse da educação superior e em nome 1926, exercia no Internato funções de repetidor interino de
dos nossos concidadãos." Ciências Físicas. Tomou posse da cadeira de Física a 5
Só, porém, em 1915, o poder executivo do pais anuiu de outubro de 1927, proferindo discurso, correspondido
em nome da Congregação pelo professor Accioli. Em
ao voto de 1890, tendo o poder judiciário reparado outro
oração inaugural, o novo catedrático evocou grandes
ato do Governo ditatorial Deodoro, demitindo professor
mestres de sua juventude na terra natal, o Pará, e fora da
vitalício do Colégio, o Barão de Loreto, companheiro de
mesma. Agradeceu ao lar e a amigos, "obreiros do
exílio de D. Pedro II, reintegrado Loreto em funções
coração e do afeto, a dedicação do seu carinho, o apoio
docentes, não mais exercidas. Bem mais tarde, a justiça
da sua afeição desinteressada". Evocou dois ilustres
dos homens na voz da História, restituiria ao Colégio
antecessores na cadeira de Física e Química — Nerval de
primitiva denominação. O episódio da vida de Laet
Gouvêa e Oliveira de Menezes. Declarou não deslustrar a
também é testemunho de coragem cívica de discentes na
memória desses grandes mestres associando à sua
existência do Colégio.
evocação a lembrança da passagem pelo Internato de
Por ocasião do falecimento de Laet e interpretando
professor ilustre, que o glorioso instituto se honrava de
particularmente pensamento do Internato, o diretor do
contar entre os seus catedráticos. Referia-se ao Dr. José
mesmo, o Dr. Pedro do Coutto, entre louvores, declarava Ferreira da Costa Piragibe, filho de antigo diretor do
que, "professor por mais de meio século no Colégio de Internato, ele próprio bacharel em letras por esta seção do
Pedro Segundo, Laet formara gerações que o admiraram Colégio. Frisou o novo catedrático ter-se imposto o
e que lhe aclamavam o nome, do Colégio irradiado professor José Piragibe entre os que militavam na
brilhantemente para o país inteiro, através de colaboração espinhosa carreira do magistério, "como educador de escol,
assídua nos jornais, onde em estilo pessoal, elegante e mestre inexcedível, cujo lugar ao professorado era indicado
correto lhe dava relevo em meio às nossas letras. pelo consenso unânime de sucessivas gerações de
Professor de várias matérias do curso secundário, discípulos".
nelas se revelou sempre mestre culto, mas especialmente Além do provimento da cadeira de Física do
Laet se destacava pelo vigor, pelo brilho e pela argúcia da Internato, no ano letivo de 1927, sofreu o corpo docente
inteligência, pronta e impressionante. Um talento catedrático do Colégio algumas modificações de
fulgurante forrado de cultura bem cuidado." relevância.
Memorados os mortos de 1927 pelo Colégio, A 21 de novembro de 1927, o Dr. Carlos Delgado de
apresentou este no ano letivo a vida operosa de sempre Carvalho, ocupante da cadeira de Inglês do Externato, era'
Ml MÓRIAHISTÓRH ADOCOI I GlO DF PEDRO SEGUNDO 1837 1937

t r a n s f e r i d o para a c a d e i r a de S o c i o l o g i a , r e g i d a realizou-se a solenidade da entrega de certificados de


interinamente pelo substituto Adriano Delpech. conclusão de curso a alunos de 1925 e 1926. Foi conferido
A 5 de dezembro de 1927, via-se o referido substituto o Prémio Nerval de Gouvêa, instituído em 1921, para
promovido a catedrático de Francês no Internato, na vaga recompensar os estudantes mais distintos no estudo da
aberta pela morte do professor Floriano de Britto. Física e da Química. Coube o prémio de 1925 a aluno do
Saudado em nome da Congregação pelo mais novo Externato, Eurico António da Costa, obtendo-o t a m b é m
dos p r o f e s s o r e s desta, o Dr. Sumner, respondeu o alunos do Internato, Albino Silva e Henrique Vaz Corrêa, o
p r o f e s s o r D e l p e c h e x a l t a n d o a m e m ó r i a e a obra primeiro em 1925, o segundo em 1926.
pedagógica do antecessor. "Unicamente com as lições Uma das constantes preocupações das diretorias
recebidas no Colégio de Pedro Segundo, completados pelo do Colégio era atender às sugestões dos professores de
próprio esforço, Floriano de Britto tornara-se senhor da disciplinas exigindo ensino prático a par do t e ó r i c o ,
filologia francesa." obedecendo à moderna orientação pedagógica. Crédito
Logo após, p o r é m , era Delpech, catedrático de de 150 contos votado pelo Congresso para os gabinetes
Francês do Internato, transferido para a cadeira de Literatura de ciências físicas e naturais, p e r m i t i u em 1927, no
Brasileira e de Línguas Latinas até então interinamente Externato, aparelhar os gabinetes de Física e Química.
ocupada pelo Dr. Júlio Nogueira, por sua vez nomeado Sensivelmente alargado o primeiro ficou possuidor do que
catedrático interino de Francês do Internato. requer o ensino moderno da Física, podendo, segundo o
No ano letivo de 1927, o ensino em ambas as seções diretor Roxo, sofrer confronto com qualquer
do Colégio correu com regularidade, aplicadas disposições estabelecimento congénere nacional ou estrangeiro. Ao
de novo Regimento Interno. Dividindo turmas de alunos professor Henrique Dodsworth, aos seus esforços, ficou
respeitava a classificação de discentes obtida pela média devendo a cadeira de Física do Externato importantes
das notas de exames do ano anterior, alguns professores melhoramentos materiais, uma das salas do gabinete tendo
embora, discordassem da medida apresentando objeções. recebido o nome daquele professor.
Na cadeira de História Natural do Externato, bem Melhorados consideravelmente ficaram, em 1927,
como nas cadeiras de Física, Química e Instrução Moral os g a b i n e t e s de H i s t ó r i a N a t u r a l , b e m c o m o o de
e Cívica, o ensino revestiu muito feição prática por parte Geografia, t a m b é m sala de aula da disciplina, dotado com
dos respectivos professores. O professor suplementar Dr. aparelho, máquina de projeção fixa, servida por 300
Octacílio Álvares Pereira, acompanhou alunos de turma a diapositivos, de preferência apresentando vistas e coisas
seu cargo nas diversas visitas feitas a estabelecimentos nacionais.
públicos ou particulares. Mostruários com amostras de produtos nossos,
Dava assim execução a programa da cadeira, tendo quadros r e p r e s e n t a t i v o s de vários tipos de c o r t e s
em vista concretizar os ensinamentos da mesma. Visitou geológicos, desenhados no próprio estabelecimento, sob
a 3a turma suplementar do 1o ano, entre outros a d i r e ç ã o do Dr. D e l g a d o de Carvalho, e x c e l e n t e s
estabelecimentos, o Arquivo Nacional, o Instituto Histórico fotografias, ornaram c o m proveito a sala de aula de
e Geográfico Brasileiro, o Tribunal do Júri, o "Jornal do Corografia do Brasil.
Brasil". Sob a direção dos professores Serrano e Delgado
A 27 de maio de 1927, na sala da Congregação, de Carvalho preparou-se em 1927 sala destinada às aulas
presidida pelo Ministro da Justiça, Dr. Vianna do Castello, de História Universal, cujas paredes receberam, a fresco,
ESCRAGNOLLE DÓRIA

seis grandes mapas de diversos épocas históricas, sob Em 1927, foi chamado a exercer o cargo de chefe
as quais figuravam retratos de grandes vultos americanos. de disciplina, no qual já se notabilizara Quintino do Valle,
A estabelecimento como o Externato do Colégio de o Dr. José Lourenço dos Santos, docente da Escola Normal,
Pedro Segundo, frequentado por numerosíssimos alunos, incumbido de zelar pela ordem na Casa, auxiliado por 28
de vária formação educativa e sentimentos nem sempre inspetores para 400 alunos. Não havendo substituto para
c u l t i v a d o s até primor, a disciplina é c o n d i ç ã o v i t a l , o chefe de disciplina, mister foi criar cargo de subchefe.
disciplina eficaz quando temperada pela justiça e pela Em 1927 o foi o Dr. Octávio Severo Castão, antigo inspetor
equidade. No ano letivo de 1927, a disciplina no Externato, de alunos, podendo assim o chefe de disciplina revezar
à parte algumas punições a tempo, por faltas leves, não um pouco nas funções incessantes.
sofreu alteração, em porte, mercê de inspetores n e m Empenhou-se a diretoria do Internato na regularidade
sempre isentos de contrariedades no exercício de funções da instrução militar, participando os alunos de várias
para as quais não está habilitado qualquer. Demandam solenidades e campeonatos de jogos desportivos.
não só cultivo intelectual como, sobretudo, formação
Zelou também a diretoria do Internato pela eficiência
m o r a l , a m í n g u a de um e m o r m e n t e da outra logo
do serviço médico, a cargo do Dr. Rodolpho Chapot Prevost,
percebidas pelo aluno, p r i n c i p a l m e n t e , pelo mal
e do dentário, a cargo do Dr. Francisco de Paula Severino
intencionado ou desrespeitador por natureza.
da Silva. É sabido hoje a importância ligada pela medicina
Desde 17 de março de 1926, achava-se o Internato
à odontologia para descoberta, cura ou lenitivo de várias
sob a direção interina do Dr. Pedro do Coutto, passando
afecções das muitas que ameaçam, minam ou extinguem
este em 1927, a dirigi-lo efetivamente. Exerceu o cargo
vida humana.
de vice-diretor o bacharel em letras Quintino do Valle,
Em 1927, propunha o Dr. Chapot Prevost várias
catedrático de Português, o Dr. Coutto catedrático de
medidas tendentes a melhorar as condições higiénicas do
História do Brasil na seção do Internato. Coube ao Dr.
estabelecimento: — pavilhões separados para dormitório
Pedro do Coutto, em 1927, a presidência da Congregação,
de limitado número de colegiais, acréscimo de banheiras,
a qual escolheu o catedrático Doutor Philadelpho de
aquisição de instrumentos, adoção de lâmpadas elétricas
Azevedo para representante no Conselho Superior do
com vidros foscos para resguardo da vista dos alunos nas
Ensino.
salas de estudo. Na série de medidas proposta pelo
Cresceu, sobremaneira, a matrícula no Internato no
ano letivo de 1927, ampliado o quadro da Secretaria, m é d i c o do I n t e r n a t o , achavam-se incluídas algumas

exercido o cargo de secretário do estabelecimento pelo relativas à higiene intelectual de modo a não prejudicar a

Sr. João Baptista Torres. Prestava bons serviços no corpórea, lembrando o Dr. Chapot Prevost, que dada a
Internato desde 1906, inspetor de alunos, amanuense idade dos colegiais e o nosso clima, a fadiga cerebral é
desde 1917, conhecendo bem o mecanismo administrativo dez vezes mais funesta de que a dos outros sistemas de
no instituto de ensino ao qual se dedicara e onde, degrau economia.
a d e g r a u , c o n q u i s t o u p o s t o de s e c r e t á r i o , nele se As solenidades do costume encerraram o ano letivo
assinalando. de 1927 no Colégio, ano letivo no curso do qual vários
A disciplina em Internatos é muito diferente da professores experimentaram nas aulas o uso de testes,
exigida nos Externatos nos quais a vigilância se exerce facultado pelo regimento. Dois professores, Antenor
por algumas horas e não dia e noite como num Internato. Nascentes e Delgado de Carvalho, adotaram
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

definitivamente tal processo de avaliações de armações metálicas adquiridas pelo diretor Laet.
aproveitamento nas sabatinas e concursos bimestrais de Removidos os documentos do arquivo das estantes de
suas aulas. madeira para as de aço, ficou a importante seção do
Bastante melhorado materialmente ficou o Internato Colégio, confiada ao inexcedível zelo do arquivista Augusto
em 1927, construído mais um andar e nele localizados Pedro da Silva Maia, localizada na parte do edifício de face
três vastos dormitórios e uma rouparia. Reconhecia, para a Rua Marechal Floriano, parte imprópria para o
porém, o diretor Coutto, que a despeito da boa vontade e serviço das aulas, visto o contínuo e numerosíssimo
esforço do corpo docente e administrativo, o Internato trânsito público pela citada rua, uma das mais
"ainda estava bem longe do que devia ser estabelecimento pulverulentas.
de seu género". Estabeleceu o diretor Roxo confortável sala para
Igualmente, o diretor Roxo, quanto ao Externato, professores, um gabinete contíguo à sala da Congregação,
reconhecia o edifício impróprio para os seus fins. ampliada para o duplo da antiga área e formada
Apresentava as razões do seu sentir, sugerindo a interiormente.
Muitos outros melhoramentos materiais nas
localização do Externato nos Morros de Santo António ou
diversas dependências do Colégio foram devidos à
da Conceição, tornado fácil o acesso aos mesmos. A única
administração Roxo, zelando por uma casa que lhe
vantagem da presença do Externato na Rua Marechal
preparara o espírito e abrira carreira.
Floriano era o de ser esta ponto central, sem maior
Entre aqueles melhoramentos de utilidade para o
dificuldade atingido pelos alunos dos bairros pobres ou dos
bom funcionamento das aulas, cumpre mencionar a
subúrbios, isto é, pela maioria dos alunos do Colégio.
instalação de relógio central elétrico colocado no gabinete
Sendo impossível despender avultada quantia para
da diretoria, acionando outros relógios postos em diversos
a construção de novo e modelar Externato, dizendo-se
pontos do edifício.
precisos para tanto 20.000 contos, propunha o diretor Roxo
Automaticamente, o relógio central punha a soar as
várias alterações, no edifício, alterações orçadas em 500
campainhas elétricas, dando anúncio do início ou fim das
contos, para melhoria de condições higiénicas e
aulas, fim tão grato aos menos aplicados.
pedagógicas do instituto a seu cargo. Entre as medidas Encerradas as aulas em 1927, teve mais uma vez o
propostas pelo diretor Roxo avultava a construção de casa Colégio de incumbir-se de serviço exaustivo, o dos exames
para o porteiro em terreno de propriedade do Colégio, com parcelados e seriados, prestados uns pelo Decreto 5.309-
oito metros de frente para a Rua da Prainha. Isso permitiria A, outros pelo Decreto 11.530, outros ainda obedecendo
a construção de três boas salas de aula na parte então a Lei 16.782-A.
tomada pela residência do porteiro, construção de 3o andar Compreende-se facilmente o aperto de serviço e o
na ala do edifício, dando para a Rua da Prainha, redobrar da possível fiscalização na realização simultânea
ajardinamento dos pátios internos e outras medidas de exames processados de acordo com três Decretos
tendentes a tornar quanto possível o Externato edifício diferentes, os de números 5.309-A e 11.530, referindo-se
capaz de preencher ainda por alguns anos sua natureza e a exames de preparatórios e o de número 16.782-A a
seus fins. exames de curso seriado realizados por candidatos
Aos poucos iria o diretor Roxo atendendo às estranhos ao Colégio.
necessidades mais urgentes do Externato, uma delas a Para ser bem avalizada a monta do serviço
remodelação do Arquivo, finalmente senhor de excelentes extraordinário do Colégio, basta dizer que outrora, no
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Império, tal serviço incumbia a uma repartição especial, a contra 7, confirmou a denominação da cadeira de Instrução
Inspetoria de Instrução Pública Primária e Secundária do Moral e Cívica em vez Instrução Cívica e Noções de Direito
Município da Corte. Usual.
Os anos letivos do Colégio começavam sempre por Entendeu também a Congregação nomear comissão
convocações de Congregação. A 2 de março de 1928, para estudo dos pontos alteráveis do Regimento Interno
precedendo a abertura de aulas, reunia-se a Congregação, do Colégio. Ficou a comissão constituída pelos vice-
presidida pelo diretor do Externato, Dr. Roxo. Comunicava diretores do Externato e do Internato, Othello Reis e
ele oficialmente ao Corpo Congregado o falecimento do Quintino do Valle e pelos professores Antenor Nascentes
professor Laet, não sem lhe ter consagrado expressões e Escragnolle Dória.
de respeito e saudade, propondo a realização de sessão Para representante do Colégio no Conselho Superior
solene em memória do desaparecido. À proposta do do Ensino em 1929, elegeu a Congregação, por 18 votos,
presidente da Congregação foram acrescentadas propostas o professor Philadelpho Azevedo. Representava os
dos professores Lafayette Pereira e Henrique Dodsworth. docentes-livres na Congregação, em 1927, o docente
Requereu o primeiro inserção em ata de voto de profundo Jayme Coelho, substituído em 1928 pelo docente Dr.
António Figueira de Almeida.
pesar pela morte de Laet, propondo o segundo que, de
Aliás, o Conselho Superior do Ensino, por voto
acordo com antiga sugestão sua, fosse dado o nome de
unânime, solicitara ao Governo a supressão da docência-
Carlos de Laet a uma das salas do Externato. Todas as
livre no Pedro Segundo, opinião secundada pelo juízo do
propostas receberam sanção unânime.
diretor Roxo por não se justificar no Colégio a docência-
No ano letivo de 1928, o ensino no Colégio sofreria
livre, instituição universitária e própria de ensino superior.
alteração, apresentada em sessão da Congregação,
Caracterizava a docência-livre a faculdade pela escolha
proposta subscrita por numerosos professores, proposta
de professores por parte do aluno — dizia o diretor do
motivada tendente a modificar a seriação do curso do
Externato — tal escolha, evidentemente, não podia partir
Colégio.
de meninos ou adolescentes. Acrescia a esta ponderação
A proposta sugeria a conveniência da transferência a impossibilidade de adaptar-se a livre-docência à
da cadeira de Instrução Moral e Cívica do 1 ° para o 5o ano, organização de turmas em colégio de instrução secundária,
a ideia combatida pelos professores Gabaglia e Delpech, organização sujeita a critérios pedagógicos, qual por
chegando o primeiro a propor a extinção da cadeira. exemplo a limitação do número de alunos, devendo haver
Discutida a proposta Gabaglia, com emenda deste nas referidas turmas necessária homogeneidade.
professor mantendo a Cadeira no 1o ano, foi mandada a Em relação ao ensino, foi apresentada à
proposta à Comissão de Ensino, visto insistir o professor Congregação proposta do professor George Sumner. Por
Gabaglia no propósito de serem ouvidas as respectivas intermédio do Ministro da Justiça, sugeria ao Congresso
comissões sobre assuntos ventilados em Congregação. Nacional a conveniência de serem considerados
Voltando esta a discutir o plano de nova seriação de catedráticos os professores de Desenho do Colégio.
matérias do curso secundário aprovou o Corpo Congregado Aceita pela comissão de Docência, foi a proposta
o parecer da Comissão de Ensino relativo ao assunto. de Sumner unanimemente aprovada pela Congregação.
Manteve, por 17 votos contra 12, a denominação da cadeira Todos os serviços do Externato, em 1928, correram
de Português em vez da de Idioma Nacional. Por 18 votos com a devida regularidade, humanamente embora sujeitos
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a senões, o diretor Roxo procurando corrigi-los por meios com o Hino Nacional cantado pelo Orfeão do Colégio.
suasórios, ou discretos se de maior monta. A 29 de dezembro, realizou a Congregação sessão
Tratava também de corrigir, no alcance de sua solene dividida em três partes, a primeira dedicada a Carlos
autoridade e das possibilidades financeiras do Colégio, os de Laet, a segunda, à entrega de certificados aos alunos
senões da localização do Externato. Insistia pelo de 5o ano de curso concluído em 1927, a terceira, à sessão
ajardinamento dos pátios da Casa, "não só para tornarem- literária.
se aprazível local de estudos, como permitindo o Apreciando a personalidade inconfundível de Laet
jardinamento a constituição de pequeno horto com certo oram o professor Jonathas Serrano, em nome da
número de espécies botânicas para estudos de História Congregação e o quintanista Gentil Coelho de Castro, em
Natural". nome de colegas de turma.
Desejoso de levantar o inventário do Externato, Analisou o professor Serrano a individualidade de
designava o diretor Roxo Comissões para auxílio seu na Carlos de Laet sob os variados aspectos por ela
realização do intento. Incumbia aos professores apresentados na existência, "professor quase até o dia da
Escragnolle Dória e José Oiticica e ao bibliotecário do morte". O professor Serrano, em minudente estudo, disse
Externato, Dr. Fernandes Veiga, a avaliação dos 15.000 muito sobre aquele a quem elogiava e "cuja obra, na
volumes da biblioteca do estabelecimento. imprensa, daria, reduzida a volumes, uma biblioteca",
Duas solenidades encerraram o ano letivo de 1928. desejoso o orador "por ver a obra de Laet reduzida a livros,
A 2 de dezembro, data natalícia de D. Pedro II e, portanto, apelo feito da tribuna do Colégio que o escritor amou, dirigiu
sempre memorável no Colégio, presidida pelo Ministro da e dignificou, sem se acomodar, emudecer ou infletir na
Justiça, realizava-se sessão solene comemorativa do 91° defesa de ideais", declaração tanto mais insuspeita
aniversário da fundação da Casa. À cerimónia ajuntou-se porquanto oriunda de antigo adversário do polemista na
a inauguração do retrato de D. Pedro II, retratado o antigo imprensa, o que não impedira Laet de prestar justiça ao
soberano de corpo inteiro, trazendo numa das mãos o seu contendor ao concorrer este a cátedra no Colégio.
Decreto de fundação do Colégio, quadro aquele obra do Estudando, longamente, a vida de Carlos de Laet, o
pintor patrício Carlos Osvald. professor Serrano concluiu, lembrando-lhe feição conhecida
Seguiu-se à inauguração da tela a colação de grau de poucos, a da sua capacidade poética, citando-lhe um
dos bacharéis em Ciências e Letras de curso concluído soneto: — "Rosa", bem digno de figurar em antologia.
em 1927: — António Gabriel de Paula Fonseca, Carlos
Rocha Mafra de Laet, neto de Carlos de Laet, José Cândido la Rosa vestir-se e do vestido
Sampaio de Lacerda e Luiz Torres Barbosa, alunos do Uma voz se desprende e assim murmura:
Externato. "Muitas morremos de uma morte escura
Doze alunos receberam prémios de aplicação e sete, Porque te envolva sérico tecido".
de procedimento exemplar, cabendo o Prémio Nerval de
Gouvêa a aluno do Internato, Plínio Gomes de Mattos Filho. la toucar-se e escuta-se um gemido
Constou a festa também de parte literária e musical, Do marfim que as madeixas lhe segura:
preenchida aquela pela recitação de poesias por alunos e "Por dar-te o afeite desta minha alvura
alunas, estas por execuções de trechos clássicos de Jaz na selva meu corpo sucumbido".
Beethoven e Schumann por alunos, encerrada a solenidade
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Põe um colar e a pérola mais fina: vaga pela transferência para a cadeira congénere do
"Para pescar-me quantos párias, quantos Externato do professor Álvaro Espinheira.
Padeceram no mar lúgubres s o r t e s " . Frequentemente, havia cadeiras vagas no Colégio,
j á por f a l e c i m e n t o s , d i v e r s o s i m p e d i m e n t o s , não
E Rosa chora: O h ! desditosa sina! permitindo preencher definitivamente vagas resultantes de
Todo sorriso é feito de mil prantos óbitos ou disponibilidades.
Toda vida se tece de mil m o r t e s ! " Assim, transferido o professor Nascentes da cadeira
de Português do Internato para a do Externato, vaga
Não pareça fora de propósito a transcrição e a proveniente do falecimento do professor Laet, passara reger
memória deste soneto porque, recitado em sessão solene, interinamente a cadeira respectiva no Externato o Dr.
o professor Serrano pôde acrescentar perorando, " q u e m Jacques Raymundo Ferreira da Silva, docente-livre.
metrificou e rimou tais estrofes não era apenas uma Serviram t a m b é m interinamente, no impedimento
inteligência robusta, era ainda um coração capaz de dos professores Almeida Lisboa, Henrique Dodsworth e
emoção e ternura, uma alma que vibrava aos grandes Oliveira de Menezes, os dois últimos no exercício de
mistérios da dor". funções eletivas, os Drs. Irineu Leite de Freitas, Francisco
O ano letivo de 1929 abriu-se com certo número de Venâncio Filho e Corregio de Castro nas cadeiras de
cadeiras vagas, quais no Externato as de Alemão, vaga Matemática. Física e Química.
desde junho de 1925, por efeito da disponibilidade do Considerável era o n ú m e r o de matriculados no
professor Said Ali, a de Latim, vaga desde fevereiro de Colégio.
1927, pelo falecimento do professor Mendes de Aguiar, a Daí necessidade de criar turmas suplementares, 14
de Química, vaga desde setembro de 1929, em virtude da no Externato, onde sempre mais numerosas estas turmas,
disponibilidade do professor Oliveira de Menezes, a de menos três turmas em 1929 do que em 1927 e em 1928.
Instrução Moral e Cívica, criada pela Reforma Rocha Vaz, Difícil era sempre organizar horário de aulas no Colégio,
a tais cadeiras achava-se interinamente e respectivamente sobretudo no Externato, cujo edifício cada vez mais, pelo
ocupadas pelos professores Drs. Tristão da Cunha, Nelson crescer de matriculados, se ressentia da impropriedade
Romero, Luiz Pinheiro Guimarães e Cónego Dr. Francisco para preencher fins educativos, a falta de espaço sensível
da Gama Mac Dowell. a cada m o m e n t o em prédio de faces voltadas para vias
Havia, porém, anteriormente, o Governo resolvido públicas de intenso trânsito e ruído, quais a Avenida Passos
sustar inscrições para concurso no Colégio. e as ruas Marechal Floriano e Camerino.
Todas as cadeiras acima enumeradas pertenciam Pelos fundos ficava o edifício, voltado para a rua da
ao E x t e r n a t o , no I n t e r n a t o t a m b é m vagas a l g u m a s Prainha, ora L e a n d r o M a r t i n s , o n d e se localizavam
cadeiras, assim a de Francês, vaga, pelo óbito do professor estabelecimentos industriais de rumor e perigo, serrarias
Floriano de Britto e transferência do professor Delpech, e fundições. As primeiras acompanhavam não raro as
regendo-a interinamente o professor Júlio Nogueira, antes aulas com a música das serras, as segundas enfumaçando
lecionando no Externato a cadeira de Literatura Brasileira e enfagulhando salas.
e de Língua Latina. Nos edifícios do Externato e do Internato tudo
No Internato, também preenchia interinamente o Dr. acabava se reduzindo a obras de simples adaptação ou
Nuno Lopes Smith de Vasconcellos a cadeira de Inglês, remodelações.
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Em abril de 1929, a diretoria Roxo pôde concluir a Num estabelecimento com a frequência diária de
reconstrução começada em 1928, das alas do edifício do 700 alunos, como o Externato em 1929, houve apenas a
Externato dando para a Rua da Prainha e de esquina com lamentar um caso de indisciplina, de aluno do 1o ano contra
a rua Camerino, abrangendo cerca de 300 metros em cada o seu inspetor, punido o aluno, após inquérito regular feito
um dos pavimentos. por professores, com a pena de suspensão de exames
Com a reconstrução pôde o imóvel conter bem maior em 13 e 2a época.
número de dependências no pavimento térreo e no Outro caso de indisciplina, por parte de um
superior. preparatoriano, por ocasião de exames parcelados,
Neste, o Salão Nobre foi inteiramente restaurado. também foi objeto de inquérito, proposta ao Diretor-Geral
Durante algum tempo esteve a obra de Bettencourt da Silva do Departamento de Ensino a exclusão do preparatoriano
ameaçada de completa destruição, ideia contra a qual dos estudos, por tempo a arbitrar, de quaisquer
sempre se manifestaram sobretudo os professores Carlos estabelecimentos oficiais ou equiparados.
de Laet e Escragnolle Dória. Procurava, assim, a diretoria Roxo resguardar o
Felizmente, não medrou ideia tão contrária à tradição princípio indispensável da disciplina, sem o qual não vale
e beleza do estabelecimento. Achou-se o soalho, mudado a pena abrir portas de estabelecimento de instrução.
por inteiro, trazido ao nível do resto do pavimento, foram Nem se estendia a vigilância da diretoria só a
mudadas as esquadrias, restaurados, pintados e discentes e preparatorianos, também a subordinados,
redoirados os painéis de estuque do teto e das paredes. advertindo inspetor, convidando-o usar com alunos, de
Para obter mais duas salas de aula houve mister sacrificar linguagem que não desse motivo a reclamações.
parte do salão, aquele em que figurava tribuna de música. Advertia a diretoria do Externato, mas reconhecia
Mais tarde, ficou reconhecido que mais valia ter conservado oficialmente que "no desempenho de funções exercidas
o Salão Nobre do Externato qual o havia legado o Império. com zelo e dignidade os inspetores faziam jus a preito de
Muito se perdeu. reconhecimento por parte da administração do Colégio".
Outras adaptações foram feitas no edifício do Daí, lamentar este o falecimento inesperado, com
Externato em 1929, recebendo o Salão Nobre mobiliário suspeitas infelizmente não apuradas de crime, por traição,
de imbuia, trabalho nacional de fábrica de Santa Catarina, em sua própria residência, do inspetor de alunos Octávio
reformado aos poucos o mobiliário escolar, estabelecidos Freire de Andrade, desaparecido do número dos vivos a
filtros para uso dos alunos, aproveitada antiga sala dos 19 de outubro de 1929. Admitido como inspetor no
inspetores, num vestíbulo, para instalação de pequeno Internato em 1912, no mesmo ano transferido para o
refeitório para uso de professores, no intervalo de aulas, e Externato, aí no decurso de 16 anos de exercício distinguiu-
para venda de merendas a alunos. se por espírito disciplinador. Conseguia, com pouco vulgar
Substituía a modesta instalação outra do mesmo serenidade, manter ordem e respeito nas turmas das quais
género e modestíssima, localizada na parte do edifício do era encarregado, sem altear voz sem punir, por simples
lado da Rua da Prainha, instalação pitorescamente força moral, equiparando-se destarte a outros colegas
denominada Café Fumaça e dirigida por serventes, ai dotados das mesmas qualidades.
obtendo parcas vantagens acrescidas a minguados Coadjuvava os diretores do Externato e do Internato
vencimentos, daqueles serventes o mais popular entre a Congregação do Colégio, a eleger em 1929 representante
docentes e discentes o de nome Romeu. dos docentes-livres junto ao Corpo Congregado — Dr. Mário
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Guedes Naylor. Procurava o Corpo Congregado não só Lamentou-lhe a morte a Congregação do Colégio, a qual
manter a disciplina como pugnar por quanto interessasse foi presente proposta do professor Lafayette Pereira, para
a causa do ensino, mormente em relação ao Colégio. ser dado o nome de Silva Ramos à sala de História Natural
Em 1929, a Congregação discutia longamente, à do Internato.
vista de parecer de comissão especial, indicação No Externato, por oferta do professor Escragnolle
apresentada ao Conselho de Ensino pelo professor Figueira Dória, foi inaugurado, na sala dos inspetores, o retrato de
de Mello sobre reforma do ensino secundário. meio corpo do finado inspetor de alunos Octávio Freire de
Sem maior alteração e sob a direção Roxo correu Andrade, retrato aquele obra fotográfica ampliada de outro
em 1930 o ano letivo no Externato, funcionando na inspetor, Carlos Pederneiras.
Congregação, como representante dos docentes-livres o A 18 de outubro de 1930, realizou-se a inauguração
Dr. Oscar Przewodowski, eleito para servir em 1930. do retrato do inspetor Andrade. O diretor Roxo pôs
Escolheu igualmente a Congregação para representá-la no empenho na realização do ato como exemplo ao corpo de
Conselho Nacional do Ensino o professor Quintino do Valle, inspetores e a discentes.
sucedendo ao professor Gastão Ruch. Reunidos aqueles e presente toda a turma do 5o ano
Por proposta do professor Lafayette Pereira, votava B, a última inspecionada pelo inspetor Andrade, no 2° ano
louvores a Congregação com o professor Oiticica, então daquela turma em 1929, foram descerradas as cortinas
na Alemanha, pelo brilhantismo das lições do mencionado de sobre o retrato.
lente de Português do Externato, naquele país de tanta Oraram o professor Escragnolle Dória e o diretor
cultura e apreciado saber. Roxo, ambos concitando os inspetores em face de alunos,
Ainda por proposta do professor Lafayette Pereira, a nunca desampararem trabalho e dever conforme fizera
votava louvores a Congregação aos docentes-livres Jayme o colega desaparecido.
Coelho e Clóvis do Rego Monteiro, por motivo de seus Em nome do Colégio, orou agradecendo um inspetor,
concursos na Escola Normal e subsequentes nomeações realizando-se a modesta, mas expressiva solenidade, na
para as cadeiras de História da Civilização e Literatura da véspera do 1o aniversário da morte do inspetor Andrade,
referida Escola. por ser o dia de tal aniversário um domingo.
Ao encerrar-se o ano letivo de 1930, por proposta No ano letivo de 1930, entendeu o diretor Roxo
do professor Quintino do Valle, secundada pelo diretor promover no Externato algumas conferências de caráter
Roxo, a Congregação votava moção de pesar, lamentando educativo ou instrutivo, conferências concorridíssimas por
a morte do Doutor José Júlio da Silva Ramos, falecido a parte de alunos e seguidas com interesse por parte de
15 de dezembro de 1930. docentes.
Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, Também no ano letivo, para entretenimento de
após concurso, fora nomeado lente de Português do alunos, realizavam-se no Salão Nobre, com o auxílio de
Internato a 6 de junho de 1907, aí lecionando até obter profissionais, curiosas sessões de prestidigitação e
disponibilidade. Servira de professor suplementar de transmissão de pensamento.
Português do Externato em 1884, 1895, 1896 e 1897, três O fim do ano letivo de 1930 contaria, em outubro,
anos inspetor escolar no Distrito Federal, diretor e professor alguns dias de sobressalto geral, a refletir-se no Colégio,
durante dois anos do Ginásio Fluminense instalado em em virtude de sucessos políticos findos em mudança
Petrópolis. Era, pois, Silva Ramos um radicado no ensino. radical nas instituições vigentes, afastado do Governo o
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Presidente Dr. Washington Luiz Pereira de Souza, aluno do parte do novo Ministério da Educação e Saúde Pública com
Internato no Império, instituído afinal um Governo o fim de adotar o regimento interno do Colégio de Pedro
Provisório, tendo por chefe o Dr. Getúlio Dornelles Vargas, Segundo a nova reforma do ensino. Por proposta aprovada
empossado a 3 de novembro, com poderes discricionários. do presidente da Congregação, o diretor Roxo, ficou a
A 7 de novembro era expedido um dos primeiros referida comissão a cargo dos professores Nascentes,
Decretos do novo Governo adiando os exames do Colégio. Philadelphoe Coutto.
Encerrava-se o ano letivo para o Colégio com A 4 de fevereiro de 1931, falecia o catedrático de
mudanças na direção das suas duas seções. Deixava a Inglês, Álvaro Espinheira, antigo e probo substituto da
direção do Internato o professor Pedro do Coutto, nomeado cadeira por escolha da Congregação, em 1915, e
para substituí-lo o diretor do Externato, o professor Roxo, catedrático em 1920, designado para o Internato, tendo
nomeado diretor do Externato o professor Delgado de servido como chefe de disciplina no Externato de 1911 a
Carvalho, tudo por Decretos de 9 de dezembro de 1930. 1915.
Continuava na vice-diretoria do Internato o professor A 25 de março de 1931, em sessão de Congregação,
Quintino do Valle. Era nomeado para o cargo de vice-diretor o professor George Sumner propunha voto de pesar pelo
do Externato, exercido pelo professor Othelo Reis, o
trespasse de Espinheira, declarando-o "sempre cumpridor
professor Escragnolle Dória, que não aceitou tal nomeação
de deveres por modo distinto". Como sucede a professores
como declinara a de diretor em 1925.
ríspidos, nem a todos agradava Álvaro Espinheira, mas
Ressentira-se o Colégio de efeitos da revolução de
no tocante a assiduidade, a cumprimento exato de
abalo ao país em 1930, depondo o Presidente da República,
deveres, de palavra, a devotamento, a obrigações de
Doutor Washington Luiz Pereira de Souza, a 24 de outubro
cidadão e de chefe de família, só merecia louvores. Sabia
de 1930, quando poucos dias faltavam para terminação
mais o "fortiter in re" do que o " suaviter in modo", no
de mandato e consequente entrega de Governo a sucessor
exercício de funções de magistério, exercendo-as, porém,
eleito e reconhecido, Dr. Júlio de Albuquerque Prestes. A
com escrúpulo, alheio a empenhos de torcer justiça.
31 de outubro de 1930, chegava ao Rio de Janeiro, vindo
A 20 de setembro de 1931, sob a presidência do
do Rio Grande do Sul, terra natal, o Dr. Getúlio Dornelles
Vargas, para chefiar Governo Provisório. Ministro interino da Educação e Saúde Pública, Dr. Belisário
Adiados, a 6 de novembro, os exames do Colégio, Augusto de Oliveira Penna, no edifício do Externato
a 11 do mesmo mês, parte do edifício do Externato era realizava-se a colação de grau à turma de bacharéis de
transformado em quartel provisório de batalhão do exército curso concluído em 1930. Na mesma ocasião, foram
trazido ao Rio de Janeiro pelo movimento revolucionário, distribuídos prémios a alunos que melhores teses haviam
a inaugurar novo período político chamado República Nova. apresentado na aula de Geografia do professor Raja
Aquartelou-se em parte considerável do edifício do Gabaglia.
Externato o 8o Batalhão de Caçadores, repetindo-se assim O Colégio festejava os seus, sabendo honrar alheios.
mais uma vez a História, pois o seminário de São Joaquim, Assim, recebeu em 1931 os delegados do 2o Congresso
ao tempo do Príncipe Regente, dera guarida a tropas Feminino, dedicando-lhes sessão especial no Salão Nobre
portuguesas. do Externato, chamando à mesa da solenidade as
Ao iniciar-se o ano letivo de 1931, a Congregação delegadas Dras. Bertha Lutz e Cármen Portinho.
entendeu designar comissão de membros seus para No decurso do ano letivo de 1931, realizaram-se na
acompanhamento dos trabalhos de comissão nomeada por aula de História Natural do Externato interessantes
ESCRAGNOLLE DÓRIA

preleções da disciplina por alunos, preleções às quais, a Mário Barreto, professor do Colégio Militar, tendo também
convite do professor Potsch, davam presença vários lecionado no Internato do Colégio. Continuando nesta
professores do Colégio. Tais exercícios, antes inaugurados tradição paterna, a de Fausto Barreto, Mário Barreto era
nas aulas de História do professor Escragnolle Dória, respeitado como filólogo, sempre na estacada para estudar
serviam de estímulo a alunos, sobrelevando-se entre outras e defender o lídimo da língua vernácula. Levou-oa morte
as preleções da aula de História Natural as das alunas quando a vida ainda bastante lhe prometia para lustre de
Oridéa Fernandes, Cybelle Gourlart, Rosa Vianna e dos nome e proveito de estudiosos. Por ocasião do seu
alunos Daniel Penna Aarão Reis e Alberto Raja Gabaglia. falecimento foram suspensas as aulas do Colégio, além
Mostravam-se assim os alunos do Colégio não só de outras homenagens ao professor bom e modesto.
empenhados em dar largas de inteligência como a
A 28 de novembro, deixava a diretoria do Externato,
patentear sentimentos de coração.
passando a vice-diretor, o Dr. Delgado de Carvalho,
Demonstrou estes a turma do 3o ano B do Externato
empossado como diretor o Dr. Henrique de Toledo
ao falecer colega dos melhores, Newton Costa de Azevedo
Dodsworth, a assumir direção no período rumoroso do
Osório, um dos mais apreciados alunos do Colégio; de
Colégio, o dos exames, prolongado até nova abertura de
morte geralmente pranteada, o que convém mencionar,
aulas pelos exames parcelados e de candidatos estranhos
para abono do coração e caráter dos discentes do Colégio,
sujeitos a provas perante professores do Colégio. O labor
que também prestaram idêntica homenagem por ocasião
sempre o caracterizou, nele de reflexo a atividade do seu
do falecimento do distinto quintanista Linneu Bittencourt
Augusto Patrono, nas funções de semi-secular
Quadros.
desempenho no cargo de primeiro magistrado da Nação
Luto também foi para o Colégio em 1931, a 9 de
fiel ao "nulla dies sine labor".
setembro, o desaparecimento prematuro do professor
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

XIV
O Colégio de 1932 a 1937

Gastão Ruch, Professor Emérito • Diretoria Dodsworth • Homenagem ao


Professor Nascentes • Projeto de Instituto Brasileiro de Filologia • Reforma
Francisco Campos • Extinção da Cadeira de Instrução Moral e Cívica • Ensino de
Línguas Vivas Estrangeiras • Auxiliares de Ensino e Provas Parciais • Imprensa e
Clubes Colegiais • Intercâmbio Pedagógico • Embaixadas Intelectuais ao
Estrangeiro • Curso Livre de Italiano • Movimento da Secretaria, da Tesouraria, da
Biblioteca do Externato • Obras no Colégio • A Galeria dos Reitores e Diretores •
O Gabinete de Educação • Serviço de Refeições • Disciplina colegial • O Clube pela
Paz • A Celebração do Centenário do Colégio • Homenagem ao Professor Frontin •
Criação do Curso Noturno • O Professor Garric • Curso Livre de Grego • Cursos de
Aperfeiçoamento de História Natural e Química • Cursos Livres de Canto Orfeônico •
Concertos Musicais Educativos • Concursos e Cursos Estranhos ao Colégio •
Óbitos • Inauguração do Busto de Augusto Comte • Obras, Reformas e Novas
Instalações • Diretoria Raja Gabaglia • Homenagem ao Professor Escragnolle Dória •
A Emenda n.° 1.845 • Projeto de Associação Brasileira de Cultura •
Jubilação de Antigos Professores • Aumento das Disciplinas da 6a Série •
Cursos Complementares • Novos Professores • Óbitos • Homenagens • Propostas •
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Restauração das Cadeiras de História do Brasil, Instrução Moral e Cívica e Direito


Usual • Concurso • Novos Óbitos • Centenário Coqueiro • O Conselho Nacional de
Educação e seu Plano Pedagógico • Admissão de Professores Contratados no
Colégio e a Maneira de Regulá-la • A Circular 1.200 de 1o de Junho de 1937 •
Escragnolle Dória Professor Emérito • Óbito do Professor Badaró •
O Professor Dodsworth Interventor no Distrito Federal •
A Celebração do 1 o Centenário do Colégio.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Wf em antes da abertura do ano letivo de 1932, a 16 de Conferia ao colega jubilado o título de Professor
ILJ janeiro, reunia-se a Congregação do Colégio, em Emérito, atendendo a serviços relevantes prestados ao
sessão solene, a da colação de grau aos bacharéis em Ensino Secundário durante mais de 30 anos com a maior
Ciências e Letras de curso findo, em 1931, curso enlutado assiduidade e sobretudo interesse.
pela perda do probo professor Álvaro Espinheira, falecido Na mesma sessão de homenagem a Ruch, o
a 4 de fevereiro de 1931. professor Roxo fundamentou duas propostas, uma relativa
A 30 de janeiro, realizava a Congregação nova ao professor Delgado de Carvalho, pela sua atuação na
sessão. diretoria do Externato, outra de congratulação com o
Dedicou-a ao professor Gastão Mathias Ruch Governo Provisório pela escolha do professor Dodsworth
Sturzenecker, havia pouco jubilado, a 5 de janeiro, para diretor do Externato, assinalando o esforço do
catedrático de Francês do Externato. nomeado em favor do Colégio, na qualidade de deputado
Oraram o professor Delpech, salientando a nobreza federal.
da vida de magistério do homenageado; o professor
Nova homenagem, esta porém no fim do ano letivo
Nascentes, afirmando o amor de Ruch pelo ensino; o
de 1932, prestaria a Congregação.
professor Accioli interpretando sentimentos próprios e dos
Distinguiu um de seus membros, o professor
funcionários administrativos do Colégio, bem como os dos
Nascentes, por motivo da publicação de notável e útil
professores de Línguas Vivas Estrangeiras; o professor
Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, por mestres
Raja Gabaglia, traduzindo a emoção dos professores ex-
alunos de Gastão Ruch; o professor Sumner, louvando em apreciada a obra no Brasil e no estrangeiro.
nome do corpo discente, por último, o professor Na sessão de homenagem ao professor Nascentes,
Przewodowski, prestando homenagem pelos livres- a 22 de dezembro de 1932, orou o professor Oiticica.
docentes. Defendeu então a ideia de conseguir o Colégio dos
Em seguida, a Congregação, por unanimidade, poderes públicos a criação do Instituto Brasileiro de
aprovava moção subscrita por 23 professores. Filologia.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Independente ou agregado ao Museu Nacional, teria Poderia o curso complementar ser organizado no
por diretor o professor Nascentes, digno da honra por títulos Colégio de Pedro Segundo.
de honestidade, esforço e competência. Os catedráticos do Pedro Segundo deveriam ser
Agradecendo a homenagem da Congregação, frisou nomeados por Decreto, mediante concursos de provas e
o professor Nascentes que "a publicação do dicionário de de títulos, escolhidos entre diplomados pela Faculdade de
sua lavra interessava não tanto à pessoa do autor como à Educação, Ciências e Letras.
corporação docente do Colégio". Enquanto não houvesse tais diplomas, o cargo de
"Apagado o nome do autor, cumpria elevar o do Pedro professor do Pedro Segundo seria provido por concurso,
Segundo, prestando-lhe assim o mais meritório dos nas condições estabelecidas para a escolha dos
serviços." catedráticos de ensino superior.
No decurso do ano letivo de 1932, elevar-se-ia, Indicaria o Conselho Nacional de Educação três
sobremaneira, o número de alunos do Externato, perto de membros da comissão examinadora do concurso, porém,
500. estranhos à Congregação do Colégio.
O professor seria nomeado por 10 anos. Findo o
Foram divididos em turmas, no 1 ° ano obedecendo-
decénio, caso fosse o professor candidato a recondução
se ao critério da média dos graus nos exames de admissão
no cargo, sujeitar-se-ia a novo concurso, ao qual
e nas demais séries, observada quanto possível a
concorreria conjuntamente com professores do
classificação de ano anterior.
estabelecimento de Ensino Secundário nomeados por
Assinalar-se-ia o ano letivo de 1932 no Colégio e no
concurso.
Ensino Secundário brasileiro pelo começo de execução de
Não sendo o professor nomeado por 10 anos
reforma daquele ensino.
candidato à recondução, o concurso seria de títulos e
Triunfante a revolução de 1930, o Chefe do Governo
provas.
Provisório, o 2o da República, Dr. Getúlio Vargas, expediu
Para o ensino de Línguas Vivas no Colégio haveria
o Decreto 21.241, de 4 de abril de 1932.
professores contratados, auxiliados por professores
Referendou-o o Ministro da Educação e da Saúde
nacionais ou estrangeiros admitidos anualmente por
Pública, Dr. Francisco Luiz da Silva Campos, expedido portaria de contrato, tendo a seu cargo pequenas turmas,
aquele Decreto para consolidação das disposições sobre no máximo de 20 alunos.
o Ensino Secundário entre outras providências. Contratar-se-iam serviços de professores de Música
Pelo citado Decreto, o Ensino Secundário, e Educação Física.
oficialmente reconhecido, seria ministrado no Colégio de O candidato a exame de admissão no Pedro Segundo
Pedro Segundo e em estabelecimentos sob regime de deveria provar, por certidão de registro civil, ter a idade de
inspeção oficial. 11 anos ou completado até 30 de junho do ano em que
Compreendiam dois cursos seriados: — um requeresse inscrição.
fundamental, de 5 anos, e outro complementar de 2, o Seriam nulos os exames de admissão prestados na
segundo curso obrigatório para os candidatos à matrícula mesma época em mais de um estabelecimento de Ensino
em determinados institutos de ensino superior, Secundário, válido o exame de admissão feito no Pedro
discriminadas as disciplinas necessárias aos candidatos Segundo para a matrícula no 1o ano em qualquer outro
à matrícula em cada instituto de ensino. estabelecimento de citado grau.
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No Pedro Segundo, a banca examinadora de Formularam-nas os professores Antenor Nascentes,


admissão constaria de três professores do Colégio Adriano Delpech, Delgado de Carvalho e o dirigente do
designados pelo diretor de cada seção. ensino de Francês, Dr. António Carneiro Leão, aprovadas
Processada a matrícula no curso secundário na as mencionadas instruções pelo Ministro da Educação e
primeira quinzena de março, o ano letivo começaria a 15 Saúde Pública.
de março para terminar a 30 de novembro, salvo caso de Determinaram as instruções a finalidade do ensino
força maior, mediante autorização do Ministro da Educação. direto do Francês, do Inglês e do Alemão no Colégio. Tal
Haveria férias escolares nos meses de janeiro, ensino seria ministrado em turmas de 15 alunos, fixados
fevereiro até a primeira quinzena de março inclusive, tido o horário das aulas, estabelecido o processo dos exames
por período de férias a segunda quinzena de junho. finais de Línguas Vivas por meio de provas escritas e orais.
Cada aula duraria 50 minutos, obrigatória a Foi o ensino pelo Método Direto iniciado no ano letivo
frequência às aulas, não podendo prestar exame, em de 1932 somente no 1o e 2o ano, não podendo principiar o
primeira época, o aluno de frequência inferior a ZA da curso de Alemão, visto os alunos da 3a e 4a séries
totalidade das aulas obrigatórias da respectiva série. estudantes daquela língua estarem sujeitos a regime
Constariam os trabalhos escolares no ano letivo de
anterior.
arguições, trabalhos práticos, provas escritas parciais,
A fins de estímulo, resolveu o diretor Dodsworth
quatro, para cada disciplina. A tais provas deveriam ser
aproveitar como auxiliares de ensino ex-alunos do Colégio.
atribuídas notas, graduadas de cinco em cinco pontos, em
Escolheu os mais distintos por aplicação e conduta,
maio, junho, setembro e novembro.
favorecendo assim estreia de magistério a elementos de
Entrando em minudentes providências sobre as
boa recomendação para o Colégio.
provas parciais, isentas de segunda chamada, o Decreto
Em 1932, o regime das provas parciais entrou a ser
21.241 estabelecia que ao aluno faltoso a uma prova parcial
aplicado a todas as séries do curso, no termo do ano letivo
se atribuísse a nota zero, quaisquer que fossem os motivos
processada a promoção dos alunos do Colégio de acordo
da ausência.
com os dos institutos de ensino superior, secundário,
Determinou o Decreto 21.241 as condições para ser
o aluno secundário aprovado na última série do curso ou comercial e técnico profissional.
promoção em qualquer das duas séries. Feita nos termos do Decreto 22.167 de 5 de
Extinguiu o Decreto 21.241 a Cadeira de Instrução dezembro de 1932, a promoção era obtida por média
Moral e Cívica de lições a princípio ministradas no 1o ano aritmética superior ou igual a 40 pontos no cômputo das
e depois no 5o ano do curso ginasial. disciplinas das séries nas quais se achassem os alunos
Nomeado para reger interinamente aquela Cadeira, regularmente matriculados.
o Cónego, depois Monsenhor, Dr. Francisco da Gama Mac No ano letivo de 1932, procurou a diretoria do
Dowell, por Decreto de 9 de julho de 1925, desempenhou Externato animar o gosto de alunos por questões
ele funções até ser exonerado, por extinção da Cadeira, intelectuais. Fundou o corpo discente vários periódicos,
pelo Decreto de 27 de julho de 1932. nascidas quatro associações colegiais: Academia de
Tal ocorria, quando o ensino de Línguas Vivas História, Academia de Sciencias, Lettras e Artes, o Grémio
Estrangeiras, instituído no Colégio pelo Método Direto, com Scientifico e Litterario e o Club de Química, achando-se
caráter exclusivamente prático, carecia de instruções. em projeto a Academia dos Dez.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

O Clube de Química reunia-se na sala de preleções destinadas àqueles. Assim acontecia com a dos alunos
do gabinete da disciplina, sala por voto unânime da do Liceu José Henrique Rodo, em Montevideu, do Liceu
Congregação denominada Oliveira de Menezes em Normal Pedro Nunes, de Lisboa, do Liceu João de Deus,
lembrança do primeiro professor da Cadeira, separada da do Porto, e de outras instituições.
de Física, Dr. Augusto Xavier Oliveira de Menezes. Aos exercícios intelectuais praticados por uns,
Grande atividade desenvolveu a Academia de juntavam-se os esportivos do agrado, força e destreza de
História, fundada por iniciativa do professor Serrano. outros, para tanto construída no pátio interno do Externato
Recebeu estatutos elaborados pelos 5o anistas Ascanio uma quadra destinada a jogos de basquetebol, realizando-
Pedro de Farias, António Jorge Ananias, Jorge Américo se ali vários páreos entre alunos do Colégio, e discentes
de Araújo. Octávio Christo Miscow, Pedro Américo de de vários estabelecimentos de Ensino Secundário,
Araújo, Renée Nogueira e René Pereira Alves. sobrelevado o Colégio Militar.
A par da atividade das associações colegiais de Bacharéis ou alunos do Colégio participavam de
cultura surgiam vários periódicos redigidos por alunos. manifestações de vida intelectual, como a do concurso
Traziam variados nomes: Pronome, O Atalaia, O Arauto, de oratória, estabelecido pelo Diretório Central Académico,
Sciencias e Lettras, Atheneu e Noticias, este último e favorecido pela Reitoria da Universidade do Rio de
subvencionado pela administração do Colégio, no intuito Janeiro, para escolha da embaixada académica, retribuindo
de trazer o corpo discente bem informado das medidas em Portugal a visita de estudantes lusitanos ao Rio de
referentes ao ensino.
Janeiro.
Assim, os alunos, sem dispêndio, tomavam
Triunfou no concurso o académico de Direito,
conhecimento fidedigno dos sucessos da vida escolar.
bacharel do Externato, José Guilherme de Araújo Jorge,
Nas modestas lides jornalísticas do Colégio
para dar cabal desempenho ao mandato, muito apreciada
adestravam-se muitos alunos, entre outros Júlio Salek,
em Portugal a eloquência do jovem bacharel.
Sérgio Frazão, Ary da Matta, Alziro Zarur, Carmindo Carneiro
Procurando conhecer o país natal, uma embaixada
da Rocha, Eremildo Vianna, Sylvio e Hamilton Elia, Daniel
de 19 alunos quinto e quartanistas do Externato, visitaram
Aarão Reis, Annibal Barcellos, Carlos Brazil de Araújo,
em excursão educativa, sob a inspeção do secretario Dr.
Hugo Kammseter.
Octacílio Álvares Pereira, as cidades de Juiz de Fora e
Era redator chefe do Noticiário, órgão semi-oficial
do Colégio, aluno dos melhores, pela aplicação, Ouro Preto. Sabia-se a primeira digna de nota pelo
procedimento e cultura: Alziro Zarur. desenvolvimento industrial, merecendo ser chamada a
Por sua parte, o Decreto 21.241 de 4 de abril de Manchester brasileira, a segunda cidade cheia de
1932 procurava apegar ao Colégio os alunos e os pais recordações históricas e coloniais constituindo verdadeiro
responsáveis por eles, e também nos estabelecimentos museu a céu aberto, de lições patrióticas.
de Ensino Secundário sob inspeção. Haveria reuniões de Nada disso impedia no Colégio zelo pela regularidade
pais de alunos ou responsáveis por eles, no intuito de do ensino.
desenvolver em colaboração harmónica a ação educativa No Externato, evitava a diretoria a coincidência de
da escola. duas aulas de Línguas Vivas no mesmo dia, estabelecia
Por seu lado, a diretoria do Externato buscava facilitar também a necessária alternância entre as demais aulas,
o intercâmbio de correspondência entre estudantes acomodadas em 1932 nada menos de 28 turmas no limite
nacionais e estrangeiros, recebendo destes mensagens do horário.
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No Externato, funcionou, com a devida autorização Balanceada a Tesouraria em 1932, como de hábito,
ministerial, um curso livre de literatura italiana, sobretudo nela tudo foi encontrado na mais perfeita ordem.
medieval, ministrado por meio de conferências pelo Quanto ao movimento, apresentou igualmente a
professor Guido Vitalleti. Biblioteca do Externato, em 1932, frequência crescente, a
O curso, inteiramente gratuito, era útil a estudantes de perto de 6.000 leitores consultando 5.849 obras em
e à classe intelectual, sendo patrocinado pelo Governo várias línguas.
Italiano, difundindo e ampliando relações de cultura ítalo- A Biblioteca do Externato, como as demais
brasileira. dependências do edifício, ressentia-se da insuficiência do
Realizadas no decurso do ano letivo de 1932, duas prédio, este longe de apresentar requisitos necessários
vezes por semana, as conferências Vitalleti atraíram cerca ao cabal preenchimento de sua natureza e de seus fins.
de 80 alunos e angariaram seletos auditórios de pessoas De ano a ano, apesar de por muito combatido, o Colégio
gradas. via crescer matrícula de discentes, prova de favor público,
Sempre onerada de serviços, a última organização malgrado defeitos atribuídos à instituição.
deles datando de 1927, a Secretaria do Externato, em 1932, Aumenta aqui, diminui ali, adapta além, continuou
sofreu reorganização dividida em seções: de Ensino, de o Colégio, nas suas duas seções, a abrigar elevado número
Contabilidade, de Protocolo, Informações e Arquivos e de de alunos, impossível satisfazer a inclusão de muitos e
Expediente. muitos aprovados nos exames de admissão com graus
Nas disposições gerais da remodelação da menos elevados.
Secretaria, remodelação realizada à vista de exposição de Para acudir a necessidades, julgadas prementes, os
motivos do Secretário, a diretoria do Externato buscava edifícios do Externato e do Internato viviam por assim dizer
facilitar o serviço, presidido pelo Secretário, com a em obras.
obrigação de atender este diariamente, das 11 às 15 horas, Assim, em 1932, a diretoria do Externato tratou de
as pessoas que o procurassem em objeto de serviço, dotar duas salas ao ensino eficiente do Desenho, não só
encarregados vários amanuenses da chefia das seções lhes melhorando condições de luz, como permitindo melhor
cujo expediente seria despachado com o secretário, o colocação de alunos, facilitando trabalho aos professores.
despacho deste com o diretor em hora fixada pelo último. Aperfeiçoados os gabinetes de diversas disciplinas,
Para simplificação do serviço da Secretaria, o diretor serviram a alunos de outros estabelecimentos secundários.
Dodsworth mandava organizar um fichário, para Foram franqueados, por exemplo, os gabinetes de Física
assentamentos relativos a alunos, destinados a fichas, e Química, mediante solicitação, às alunas do último ano
ano inteiro, a permitir de pronto conhecer a vida escolar do Externato Nossa Senhora de Sião, sob a fiscalização
de cada estudante. de professora do respectivo Colégio.
Outro órgão da maior importância no Colégio foi Entre melhoramentos materiais do Externato, um
sempre a Tesouraria. De 1925 a 1931, funcionou no avultou, em significação moral elevada, a criação de
Departamento do Ensino, a cargo do funcionário exemplar, galeria, instalada no gabinete do Diretor, apresentando os
o Dr. Mário Bevilacqua. retratos dos antigos reitores e diretores do Externato.
Transferida a Tesouraria para o Colégio, aí recebeu Em colocação de honra passaram a figura na galeria
instruções permitindo a eficiência de serviços, as efígies de D. Pedro II, o inexcedível patrono do Colégio,
apresentando em 1932, receita superior a 800:000$000 e e o de Bernardo de Vasconcellos, o zeloso Ministro do
saldo aproximado de 160:000$000. Império de tantos serviços na fundação da ilustre Casa.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Impossível foi obter na ocasião os retratos dos três Instituído no Externato um Gabinete de Educação,
primeiros reitores do Colégio, a saber frei António de foi ele, por aviso de 13 de maio de 1932, incumbido de
Arrábida, Bispo de Anemuria (1838-1839), Dr. Joaquim serviços de várias ordens: — inspeção do regime alimentar
Caetano da Silva (1839-1851) e Capitâo-de-Mar-e-Guerra de discentes, organização de gráfico fornecendo à primeira
José de Souza Corrêa (1851-1855). vista o aspecto morfofisiológico de aluno por aluno.
Ficaram no momento da inauguração na Galeria de Realizaram-se no Gabinete de Educação palestras
Honra do Externato os retratos de cinco dos reitores: semanais sobre questões de higiene, palestras por espaço
de quarenta minutos, com projeções luminosas quanto
Dr. Manoel Pacheco da Silva (Barão de Pacheco)
possível, tudo sem perturbar funcionamento de aulas. No
— 1857-1872
Gabinete de Educação, dirigido pelo vice-diretor do
Dr. Monsenhor José Joaquim da Fonseca Lima
Externato, das referidas palestras ficou encarregado o
— 1872-1880
diretor do serviço médico do Gabinete, Dr. Savino Gasparini,
Dr. José Joaquim do Carmo
subinspetor sanitário rural, zeloso funcionário, auxiliado pelo
— 1880-1888
Monsenhor Luiz Raymundo da Silva Brito inspetor de alunos, de excelente nota, António da Rocha
— 1888-1892 Nogueira, em comissão no Gabinete.
José Veríssimo Dias de Mattos Instituindo palestras sobre questões de higiene, de
— 1892-1898 acordo com um programa de 30 lições, o Dr. Gasparini
com elas prestava serviços ao desenvolvimento da cultura
Ainda na estreia da Galeria de Honra do Externato no Colégio, modelo dos estabelecimentos de Ensino
figuravam os retratos dos seguintes diretores: Secundário. Frisava o Dr. Gasparini a ação geral das
grandes endemias nacionais, a enfraquecerem a raça.
Dr. Francisco Carlos da Silva Cabrita Constituíam-se, pois, aqueles alunos, bem
— 1898-1903 instruídos, ótimos propagandistas da higiene no meio da
Dr. José Gil Castello Branco população, sobretudo nas classes menos favorecidas de
— 1903-1905 pecúnia.
Dr. João António Coqueiro
Assistiriam às lições do Gabinete de Educação
— 1905-1910
apenas alunos do 4 o , 5o e 6o anos, já em idade de recebê-
Dr. José Cândido de Albuquerque Mello Mattos
las com proveito. Sobre cada ponto de higiene individual
— 1910-1912
seriam formulados testes.
Dr. Eugénio de Barros Raja Gabaglia
— 1912-1914 Em 1932, anexo ao Gabinete de Educação, funcionou
Dr. Augusto Daniel de Araújo Lima serviço de refeições, especialmente destinado ao pessoal
— 1914-1917 docente e administrativo do Externato, depois ampliado
Dr. Carlos Maximiliano Pimenta de Laet este serviço em proveito de discentes, por D. Leopoldina
— 1917-1925 de Maya Monteiro, inspetora de alunas, com todos os
Dr. Euclides de Medeiros Guimarães Roxo requisitos para o delicado cargo, do nascimento às
— 1925-1930 qualidades pessoais.
Dr. Carlos Delgado de Carvalho Do corpo disciplinar do Externato desaparecia, a 6
— 1930-1931 de julho de 1932, o inspetor de alunos Jurandyr Veiga,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

falecido em Lavras, Minas, aos 29 anos, quando havia Álvares Pereira, promoveu a fundação de um "Clube pela
ainda muito a esperar de sua vida. Paz", sob a égide de Alexandre de Gusmão, o santista de
Tanto valia o d e s a p a r e c i d o que a Diretoria do tantas colaborações no reinado de D. João V, colocado o
Externato o declarou " u m dos bons elementos do corpo clube sob os auspícios da Fundação Carnegie, pela Paz
disciplinar, gozando gerais simpatias de seus superiores, Internacional.
colegas e inspecionados". Encerrava o ano letivo de 1932, sucesso lutuoso qual
Apontava a Diretoria do Externato o inspetor Veiga o do falecimento de antigo vice-diretor do Internato, Nestor
como um dos bons elementos da disciplina, mas tratava Victor dos Santos, à memória do qual a Congregação
t a m b é m de eliminar d i s c e n t e s incompatíveis c o m a consagrou voto de pesar.
regularidade da vida colegial. Para tanto, a Congregação O ano l e t i v o de 1 9 3 3 , em período de f é r i a s ,
elegia os p r o f e s s o r e s Gabaglia, Roxo e N a s c e n t e s , assinalou-se pela colação de grau à turma de bacharéis
i n c u m b i n d o - o s de p r o c e d e r e m ao d e v i d o e x a m e da em ciências e letras de 1932, colação realizada em sessão
situação dos indesejáveis, inclusive os envolvidos em solene da Congregação a 4 de fevereiro.
inquéritos e com responsabilidade comprovada. Ainda em período de férias, a 25 de março, abriram-
O cuidado da disciplina, por parte da Diretoria do se inscrições no Colégio para os concursos às cadeiras
Externato, era contínuo, pois ao encerramento do ano letivo vagas de Português, Latim, Matemática e Química.
no Colégio, sempre se seguiam exames parcelados ou de Nas primeiras sessões da Congregação, em 1933,
candidatos estranhos, determinando afluência de pessoas começou a e s b o ç a r - s e o d e s e j o de c o m e m o r a r
ao edifício do Externato e ao seu estreito âmbito. condignamente o centenário da fundação do Colégio, a 2
No Colégio, a disciplina era coadjuvada, nas suas de dezembro de 1937. Na sessão de 18 de julho cogitou o
duas seções, pela instrução militar. Corpo Docente de medidas tendentes à realização daquele
Conduz esta a hábitos de obediência e subordinação, fim.
existente aquela instrução obrigatória desde maio de 1908. O presidente da Congregação e diretor do Internato,
No Externato não pôde, dada a insuficiência de local o professor Roxo, aventou a ideia de ser solicitado ao
apropriado, ser ministrada no próprio edifício. Solicitou o Governo a construção de novos edifícios para
1 ° sargento instrutor Arlindo Gonçalves Raposo permissão funcionamento do Externato e do Internato, realizando-se
a quem de direito para instruir alunos no pátio do Quartel- igualmente na data centenária um Congresso Internacional
General, no Campo de Instrução da Vila Militar e no Estande de Ensino Secundário.
de Tiro na mesma Vila. Propôs o professor Serrano a nomeação de comissão
Em 1932, por ordem superior, não havendo exames de professores para elaborar projeto de festas
para encerramento de instrução militar foram os alunos comemorativas.
do Colégio, em virtude de Aviso Ministerial, considerados A u t o r i z o u a Congregação ao seu p r e s i d e n t e a
reservistas de segunda categoria. designá-la, nomeando então o professor Roxo, comissão
Ao lado da p r e p a r a ç ã o para a guerra e s e u s composta pelos professores Antenor Nascentes, Jonathas
imperiosos flagelos, a preparação para a paz e seus Serrano, Henrique Dodsworth, Raja Gabaglia, Cecil Thiré,
fecundos benefícios. João Baptista de Mello e Souza e Escragnolle Dória.
Um grupo de professores e alunos do Colégio, a cuja A 10 de agosto de 1933, reunia-se a Congregação
testa se colocou o secretário do Externato, Dr. Octacílio em sessão s o l e n e , la prestar h o m e n a g e m a figura
ESCRAGNOLLE DÓRIA

expressiva do corpo docente, o professor André Gustavo ano. Pediam vénia para homenagear o professor
Paulo de Frontin, falecido a 15 de fevereiro de 1933. Entrara Escragnolle Dória, o qual por espaço de lustro lecionara a
para o Colégio em 1880, provido por concurso no cargo de turma B na mesma sala 18. Segundo o desejo da turma,
substituto de Filosofia, cargo exercido até 1890, então tal homenagem consistiria na colocação na referida sala
nomeado lente catedrático de Mecânica e Astronomia do de medalhão comemorativo, conferido à sala o nome do
Externato até disponibilidade em 1911. por extinção da professor Escragnolle Dória.
Cadeira. Dando conhecimento ao corpo Congregado, da
Lamentando a perda do professor Frontin, a petição a ele dirigida, o professor Roxo, presidente da
Congregação realizou, em honra de sua memória, sessão Congregação, sugeriu a ideia de associar-se a mesma às
solene. Oraram nela os professores Roxo, Accioli, homenagens solicitadas; proposta aprovada sob
Nascentes, este como discípulo de Frontin, Gabaglia e aclamação, segundo ata da Congregação.
Przedowoski, este por parte dos docentes-livres. Julgando interpretar sentimento de pares, o professor
Falecendo, a 2 de outubro de 1933, o chefe da Roxo designou os professores Coutto, Serrano e Mello e
disciplina do Internato, Octávio Severo Castão, a 23 de Souza para no dia da homenagem orarem, o primeiro em
outubro de 1933 via-se ainda o Internato privado dos nome da Congregação, o segundo em nome do Externato
serviços de seu prestimoso ecónomo João Guilherme de e o terceiro em nome do Internato. Generosamente, o
Seixas. professor Mello e Souza manifestou satisfação em
A 25 de novembro de 1933 reunia-se a Congregação associar-se à homenagem projetada e o professor Serrano
em caráter ainda solene, desta vez festivo. Tratava-se da agradeceu à Congregação a honra de sua designação.
posse de novo diretor do Externato, o Dr. Fernando António A 24 de dezembro de 1933, realizava-se, na sala
Raja Gabaglia, em substituição ao Dr. Henrique de Toledo 18, a homenagem ao professor Escragnolle Dória, já na
Dodsworth, exonerado a pedido, tendo a 16 de novembro sala figurando o nome dele, bem como medalhão com o
transmitido a direção do Externato ao vice-diretor Delgado seu retrato, obra artística do laureado escultor Benevenuto
de Carvalho. Berna, por vezes professor suplementar de Desenho no
Neto de antigo reitor e filho de antigo professor e Externato, o dito medalhão materialmente adquirido por
diretor do Colégio, ao tomar posse, propôs-se o Dr. Raja subscrição entre alunos.
Gabaglia a continuar lembradas carreiras de avô e pai na Por ocasião da solenidade, oraram os professores
direção e professorado da Casa Ilustre. Roxo, Gabaglia, Serrano e Mello e Souza, em nome do
Revestiu-se a posse do novo diretor de grande e Colégio, o Dr. Octacílio Pereira, em nome do corpo
jubilosa solenidade, felicitando o recém-nomeado administrativo, e os alunos Dagmar Barbosa Pereira Filho,
administrador o professor Delgado de Carvalho em nome Ary da Matta e Júlio Salek, em nome do corpo discente,
da Diretoria, o professor Jonathas Serrano pela com a maior boa vontade associado à manifestação o
Congregação, o Dr. Octacílio Pereira, por delegação do diretor do Externato, Dr. Raja Gabaglia.
corpo administrativo, e o bacharel Carlos Brasil de Araújo, Ao Externato, pela sua natureza afluíam cada vez
por parte de discentes. mais candidatos à matrícula. Superlotados os cursos
Em sessão de 18 de dezembro de 1933, a matutino e vespertino do Externato foi nele criado, em 1933,
Congregação tomava conhecimento de requerimento terceiro curso, e noturno. Para matrícula em tal turno só
firmado por 36 alunos representantes da turma B do 5o houve uma dificuldade, a de atender à cópia das
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pretensões, para tanto em parte contribuindo a Funcionou igualmente no Externato, em 1933, um


circunstância de ser o Colégio o estabelecimento de Ensino curso livre de Literatura Francesa, por meio de conferências
Secundário cobrando menores taxas. feitas pelo professor Roberto Garric, da Sorbonne, curso
Já em 1932, por iniciativa de professor do Internato, inaugurado com a presença do ilustre Embaixador da
Doutor Honório Sylvestre, fora proposta a criação do França, Luiz Hermitte.
referido curso, instituído não sem estudos preliminares, Interessou-se o professor Garric pelo ensino de
sobretudo pelo lado financeiro, de modo a não Línguas Vivas no Colégio, assistindo às aulas de Francês
sobrecarregar os cofres públicos. Submetido, porém, em ministradas pelo Método Direto.
1933, como de costume, o orçamento interno do Colégio Devido ao professor José Oiticica foi instituído, em
à aprovação do Ministro da Educação e Saúde Pública, 1933, um curso livre de Grego, de caráter inteiramente
foi a este presente o projeto da criação do curso noturno. gratuito e regido por aquele professor. Logo se inscreveram
Aprovou-a, o Ministro por despacho de 3 de junho de 1933, no curso 126 pessoas, entre professores, funcionários e
atento o perfeito equilíbrio entre receita e despesa, alunos da Casa, além de académicos de diversos cursos
assegurando vida própria ao dito curso. superiores.
A principio foi pensamento da diretoria do Externato Continuaram em funcionamento cursos de
iniciar o curso noturno somente pela 1a série. Seriam nele aperfeiçoamento de História Natural e Química, destinados
matriculados quantos candidatos tivessem logrado a alunos da 4a e da 5a séries, cursos promovidos e mantidos
aprovação nos exames de admissão do Colégio, sem por iniciativa e presença dos professores Waldemiro Potsch
possibilidade de matricula nos cursos matutino e vespertino e Luiz Pinheiro Guimarães.
por falta de vagas. Classificados entre os graus 67 e 50 Funcionaram igualmente no Externato, em 1933,
nos referidos exames, havia nada menos de 300 candidatos cursos livres de Música e Canto Orfeônico, instituído o
à espera de ensino. ensino de Música, nas três primeiras séries do curso
A requerimento, porém, de estudantes impedidos ginasial.
de frequentar o Colégio no correr do dia, por empregos Voltara-se assim, por disposição de decreto, à
públicos ou obrigações particulares, ficou criado um curso tradição do Colégio, onde o ensino de Música começou a
destinado a candidatos à habilitação na 3a, 4a e 5a séries, vigorar desde fundação em 1837.
na conformidade do artigo 100 do Decreto 21.241, de 4 de No começo do ano letivo de 1933, independente de
abril de 1932, seus números e parágrafos. remuneração, a diretoria do Externato aceitou o
Nos três turnos, matutino, vespertino e noturno do oferecimento de duas professoras de Música, D. Maria
Externato, achou-se ministrado ensino, em 1933, a perto Elisa Leite de Freitas Lima e Francisca Miranda Freitas.
de 2.000 alunos distribuídos por 37 turmas. Pediram e obtiveram autorização para funcionamento de
Auxiliando o ensino, pelo alargar de cultura, cursos livres de Música e Canto Orfeônico do Externato,
funcionavam no Externato cursos livres. Assim o de onde o professor José Oiticica já iniciara algumas aulas
Italiano a cargo do professor José Citanna, da Real daquele Canto, compondo até hino para o Colégio.
Universidade de Milão, coincidindo com a abertura do Em breve o pequeno, mas afinado, Coro Orfeônico
curso, a 10 de junho de 1933, inauguração de bronze Pedro II, com 40 vozes, 25 femininas e 15 masculinas,
artístico, oferta do Governo Italiano ao Colégio, classificadas de acordo com o timbre, a afinação e a
comparecendo à solenidade o Embaixador da Itália, extensão, pôde participar de solenidades da Casa, dirigido
Roberto Cantaluppo. o Coro pela professora Maria Elisa Leite de Freitas Lima.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

O ensino da Música no Colégio, em 1933, foi Orientados tais cursos pelo Dr. João Pinto Pessoa,
completado por concertos educativos organizados pelo no fim de missão, dirigiu este agradecimento à Diretoria
professor José Oiticica e a cargo de duas distintas artistas do Externato, louvando funcionários do Colégio que, para
de piano e de canto, a senhorita Dora Bevilacqua e D. regularidade dos Cursos de Emergência, haviam trabalhado
Rosetta da Costa Pinto. fora de horas de expediente.
No correr dos concertos, o professor Oiticica Devendo, em fins de 1933, realizar-se na Faculdade
incumbia-se de explicar ao auditório, sempre numeroso, de Direito da Universidade do Rio de Janeiro um concurso
os números dos programas, comentando ligeiramente a para professor catedrático foi o mesmo certame
vida e a obra dos músicos naqueles apresentados. processado no Salão Nobre do Externato, para tanto
Realizavam-se os concertos educativos no Salão oferecido, por não dispor a Faculdade de Direito de local
Nobre do Externato. Aí também se reunia ainda o Club amplo onde se realizassem a série de provas destinadas
pela Paz Alexandre de Gusmão, presidido pelo secretário a prover-lhe cátedra. Materialmente, zelando pelo bom
do Externato, Doutor Octacílio Álvares Pereira. nome do Colégio, já na limpeza do edifício durante o ano
Por iniciativa de bacharéis e bacharelandos do letivo, já em ocasiões extraordinárias, como as dos cursos
Colégio, aqueles da turma de 1929, estes da turma de e concursos aos quais foi feito referência, os serventes
1933, foi inaugurado numa das salas do Externato, do Externato na modéstia de funções procuravam
previamente designada pela Diretoria, o busto de Augusto coadjuvar, deixando honrada memória quando colhidos
Comte, presidido o ato pelo Dr. Octacílio Pereira, ouvidos pela morte.
vários oradores. Por isto, a diretoria, o corpo docente e o
Sem mais alteração, continuaram os serviços de administrativo manifestaram especial pesar ao
ordem diversa do Colégio. No Externato, anexo ao Gabinete desaparecer do corpo de serventes do Externato um dos
de Educação e por sua vez anexo ao serviço de refeições, mais antigos servidores da classe, Manoel José da Silva.
começou a funcionar, em 1933, serviço da natureza do Mias de trinta anos de serviços, assiduidade, dedicação,
primeiro. Destinava-se a fornecer ligeiras refeições aos respeito a superiores e a ordens, popularidade no corpo
alunos, entregue o serviço à exploração de concessionário discente, dão-lhe direito a menção de estímulo e
de serviços idênticos na Escola Politécnica e no Instituto homenagem à classe, tanto a justificar o conceito da fábula
de Educação, antiga Escola Normal. de La Fontaine:
Insuficiente mostrava-se o Externato para os
próprios interesses do Colégio. Ainda assim, além de dar On a souvent besoin
sede a exames estranhos à Casa, nunca recusou auxiliar D un plus petit que soi
com a maior boa vontade, o bem público que serve no
Ensino Secundário. Cedeu o Externato várias salas para Inibido, em razão de enfermidade, de prestar serviços
realização de cursos e concursos alheios ao Colégio. como servente, desde 1927, Manoel José da Silva
Foram cedidas, por exemplo, em 1932, por um trimestre, desempenhou o cargo de ajudante de porteiro, sempre
3 salas para funcionamento de Cursos de Emergência demonstrando o mesmo zelo e dedicação até o último
criados pelo Departamento de Correios e Telégrafos, então alento.
a cargo de antigo aluno do Pedro Segundo, o Dr. Trajano Nos estabelecimentos e qualquer ordem, pequenos
Furtado Reis. e pequenas coisas têm grande importância.
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Em 1933, sofreu reforma de vulto o mobiliário A nova instalação da carpintaria produziu logo bons
escolar. Instalavam-se nas salas de aulas 100 carteiras f r u t o s , reconhecendo-lhe o f i c i a l m e n t e a diretoria do
de imbuia compensada, de tipo pedagógico e higiénico Externato, os inúmeros trabalhos, os valiosos serviços,
moderno, adquiridas mesas e poltronas de fabricação com apreciável economia para os cofres do Colégio.
nacional destinadas a professores. Concretando, reparando, pintando e fabricando,
Do mobiliário antigo foram cedidos ao Internato colocando, a oficina de carpintaria, de serviços executados
carteiras, mesas e armários melhor conservados, as por serventes do Externato, robora quanto da modesta,
demais peças sujeitas a concorrência pública de bom mas profícua classe já foi dito.
resultado pecuniário. À reforma do mobiliário, seguiu-se, por parte da
Acudiram à licitação numerosos pretendentes, entre diretoria do Externato, reforma das instalações elétricas
os quais diretores de escolas, professores particulares e do edifício, consultada a Inspetoria-Geral de Iluminação,
representantes de prefeituras de Estados vizinhos do julgando defeituosa a instalação elétrica existente, por
Distrito Federal. não distribuir boa luz, em edifício onde funcionava curso
No plano de reforma do mobiliário, ficou abrangida noturno frequentado por jovens estudantes, sujeitos por
a Secretaria do Externato, os seus m ó v e i s pedindo deficiência de luz a perturbações visuais e até nervosas.
substituição. Aconselhava a Inspetoria-Geral de Iluminação o uso
Foram m e l h o r a d a s as c o n d i ç õ e s materiais da de aparelhos de luz indireta, diminuindo as manchas de
mesma Secretaria pela ampliação de salas, instalada sombra, permitindo iluminação em qualquer ponto de
convenientemente a movimentada seção do Protocolo, salas, antes de ser determinado o tipo de aparelho mais
sempre cheia de interesses e de interessados na solução próprio, bem estudados a cor, a natureza do teto e a das
daqueles, e por não pouco tempo, a seção confiada ao paredes dos aposentos, tudo de suma importância técnica.
dedicado servente António Leite, habilitando-se a estudos Coube ao d i r e t o r Raja Gabaglia, inaugurar no
no Colégio no esforço de louváveis aspirações. Externato, o ano letivo de 1934, presidindo a Congregação.
M o b i l i á r i o r e f o r m a d o e não i n c e s s a n t e m e n t e A esta, em sessão especial de 19 de maio, dava o
cuidado, mobiliário em breve estragado, m o r m e n t e em diretor conhecimento de estar-se cuidando na Assembleia
casa de ensino, onde nem t o d o s os discentes zelam Nacional Constituinte da passagem automática do Colégio
propriedade c o m u m . para a Prefeitura Municipal.
Compreendendo-o, a diretoria do Externato mandara Emenda de n.° 1.845, apresentada à Assembleia
construir um galpão nos fundos do edifício, ai instalando a e l a b o r a d o r a de C o n s t i t u i ç ã o dava aos E s t a d o s e
oficina de carpintaria a n t e r i o r m e n t e mal acomodada, Municipalidades a faculdade de coordenação de ensino
embora a título provisório, na garagem do Externato. em todos os seus graus, observando o diretor Gabaglia à
Ficou dotada a útil seção do estabelecimento, para Congregação quão perniciosa era a Emenda tal qual estava
continuidade de incessantes trabalhos, de área de 60 redigida.
metros quadrados em concreto e cimento. Recebeu o Declarou o m e s m o diretor ter-se entendido com a
galpão da carpintaria telhado de uma só água a f i m de não Comissão Coordenadora da Assembleia Nacional
ser prejudicada iluminação de salas vizinhas. Constituinte.
As obras das novas instalações do Externato foram Junto a esta se manifestava em favor do Colégio, o
fiscalizadas por professor do Colégio, o Dr. Enoch da Rocha seu corpo discente, bem recebido pelo presidente da
Lima, abalizado engenheiro construtor e arquiteto. Constituinte, Dr. António Carlos Ribeiro de Andrada.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Em seguida às ponderações do diretor Gabaglia, o solene de preitos aos professores por força de tempo e lei
professor Mello e Souza leu moção de protesto contra a afastados do exercício de funções.
projetada medida. Na mesma sessão de 3 de novembro de 1934,
Deliberou a Congregação mandar imprimir o protesto, encareceu o professor Gabaglia a necessidade de aumento
para maior e pronta divulgação do mesmo. de disciplinas na 6a série, visto funcionar esta para
Na ocasião, declarou o professor Philadelpho de concessão de bacharelados, propondo aquele diretor,
Azevedo votar pela conclusão do projeto relativo ao Colégio. desde logo, a criação do curso de História da América no
Novamente reunida a Congregação, em sessão anoletivode 1936.
extraordinária a 30 de maio de 1934, o presidente do Corpo M o s t r o u também o professor Gabaglia a
Congregado, o professor Gabaglia, propôs expedição de conveniência de dirigir-se a Congregação ao Poder
telegrama de congratulações à Assembleia Nacional Legislativo no sentido de não serem reduzidos para 30 ou
Constituinte, na pessoa do presidente desta, Dr. António 40 os coeficientes exigidos para promoção no curso
Carlos, bem como aos deputados, Henrique Dodsworth e seriado.
Euvaldo Lodi, aquele representante do Distrito Federal, e Provinha a sugestão do diretor da notícia de haver
este Deputado Classista, por seus esforços em prol do em andamento, na Câmara dos Deputados, projetos no
Colégio.
sentido de redução dos citados coeficientes.
A Assembleia, por grande maioria, aprovou o regime
Encerrou a Congregação seus trabalhos em 1934
do ensino preconizado pelo Colégio.
com a sessão solene de colação de grau à turma de
Era o estabelecimento apoiado pela imprensa e a
bacharéis do Colégio em 1934.
esta também entendeu a Congregação endereçar
Realizou-se a cerimónia, a 2 de dezembro, data de
telegramas de felicitações e agradecimentos.
saudade e reverência para as duas seções da Casa, visto
Na mesma sessão extraordinária de 30 de maio de
ser a data natalícia de D. Pedro II, tão desvelado pelo
1934 propôs à Congregação o professor Accioli a realização
Colégio, em meio às ocupações e preocupações de meio
por parte da Congregação de sessão solene em
século de reinado.
homenagem a quantos haviam secundado os esforços do
Colégio na rejeição legislativa da Emenda 1.845. Bem precisava o Colégio de nota final de alegria em
Propôs também o professor Lafayette Pereira da 1934. Para ele o ano decorrera entre lutos de perda de
formação de associação de professores, sob a professores. Retirava a morte do corpo docente quatro
denominação de Associação Brasileira de Cultura, com o professores: José Cândido de Albuquerque Mello Mattos,
fim de trabalhar pela difusão do ensino e pela propaganda ex-diretor, falecido a 2 de janeiro de 1934, desaparecidos,
dos processos de ensino educativo. João Ribeiro a 13 de fevereiro, Gastão Ruch a 25 de outubro
A 3 de novembro de 1934, por proposta do diretor e Henrique Coelho Netto a 28 de novembro de 1934. A
Gabaglia, a Congregação formulou votos de homenagem todos esses professores prestou o Colégio homenagens
e saudade a quatro professores havia pouco jubilados: Said fúnebres, tradutoras de reconhecimento e saudade.
Ali, Paula Lopes, Badaró e Arthur Ferreira, por muitos anos Começou o Colégio, desde 1935, a tratar com mais
lecionando no Colégio nas cátedras de Alemão, História afinco da celebração do 1o Centenário de sua fundação,
Natural, Latim e Desenho. mesmo entre labores do ano letivo. Assinalou-se este
À proposta, unanimemente aprovada, ajuntou o pelo processo do concurso para provimento da cadeira de
professor Sumner a ideia, logo aprovada, da realização Matemática do Internato, concurso terminado pela
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indicação e nomeação do candidato classificado em 1o Inscrever-se-iam no citado rol fúnebre de 1935 os


lugar, Dr. Haroldo Lisboa da Cunha, processado também, nomes: de antigo professor suplementar do Colégio, Aprigio
mas interrompido o concurso para provimento das cadeiras Carlos de Macedo, falecido a 29 de maio no Asilo São
de Química do Externato e do Internato. Luiz, de Carlos Galdino Leal, inspetor de alunos no Externato
Nomeado por Decreto de 24 de junho de 1935, o Dr. de 1895 a 1921 e dele chefe de disciplina de 1921 até a
Haroldo Lisboa da Cunha tomou posse do cargo de morte. Faleceria, a 24 de novembro, antigo médico do
professor catedrático de uma das cadeiras de Matemática Internato, o Dr. Luiz de Castro.
do Internato, em sessão solene da Congregação, realizada A 23 de dezembro, a Congregação votava moção
a 2 de julho. Saudado pelo presidente da Congregação, de pesar pelo óbito do chefe de disciplina Carlos Galdino
Dr. Raja Gabaglia, e em nome daquela pelo professor Leal.
Lafayette Pereira, o novo professor respondeu agradecendo É de estímulo dar sempre o Colégio homenagem à
as demonstrações de acolhida. memória de alunos seus distintos, aberto exemplo, pelo
A 18 de novembro de 1935, reunia-se de novo Internato, ornando-se com o retrato de falecido aluno,
solenemente a Congregação para dar posse, após Simão. A 11 de dezembro de 1935, sucumbia, em Friburgo,
concurso, ao professor Nelson Romero, nomeado o bacharel e oficial da reserva do Exército José Ângelo
catedrático de Latim por Decreto de 11 de novembro de Cavalli, exemplo de gratidão e respeito a mestres por ele
1935. lembrados e agradecidos comovedoramente em leito de
Concorrendo e obtendo a cadeira por concurso, bem morte. A discentes tais devem ser consagrados preitos
classificado em concurso de Italiano processado no de retribuição a nobres sentimentos.
Colégio, Nelson Romero conseguia satisfazer alta aspiração A 9 de junho de 1936, deliberava a Congregação
de saber mesclada ao nobre desejo de figurar em nomear representantes com o fim de associar-se o Colégio
corporação docente na qual tivera assento e relevo o às homenagens prestadas pelo Instituto Histórico e
inconfundível Sylvio Romero. Geográfico Brasileiro ao orador perpétuo da associação,
Ao novo professor de Latim, saudou o presidente fundada ano após o Colégio e, como este, sempre de
da Congregação, Raja Gabaglia, dando-lhe boas vindas em especial desvelo por parte de D. Pedro II. Após o
nome de colegas o professor Sumner, a todos agradecendo falecimento do Dr. Rego César, nonagenário como ele, o
Nelson Romero. Dr. Ramiz Galvão se tornara o decano dos bacharéis em
A 2 de dezembro de 1935, com o aparato e o letras, diplomado em turma do Externato em 1861.
programa do costume, conferia o Colégio o grau de bacharel No mesmo momento de participação das
em ciências e letras aos alunos de 6a série concluída num homenagens do Instituto Histórico, recebia a Congregação
ano letivo de termo socialmente perturbado pelos sucessos ofício do Embaixador Argentino, Dr. Ramon Carcano,
de levante no 3o Regimento de Infantaria e na Escola de comunicando a criação no seu país de curso quadrienal
Aviação, triunfando a ordem. de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira.
No decurso do ano letivo de 1935, o rol fúnebre do No decurso do ano letivo de 1936, a 4 de agosto foi
Colégio seria acrescido pelo falecimento, a 14 de janeiro, submetido ao juízo e ao voto da Congregação, proposta
do decano nonagerário dos bacharéis em letras, Dr. João subscrita pelos professores Coutto, Sumner e Thiré,
Pinto do Rego César, figura da cidade na de um homem pedindo a restauração das cadeiras de História do Brasil,
de bem, na extensão da palavra. Instrução Moral e Cívica e Direito Usual.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Entendeu a Congregação sujeitar a proposta a exame Por ocasião do falecimento do Dr. Chavantes, deu o
de comissão, para ela designados os professores Coutto, Colégio à sua memória devidos preitos, ocorrido tão
Oliveira de Menezes e Alcino Chavantes, relator o primeiro lamentável e prematuro sucesso a 24 de novembro de
dos eleitos. 1936.
Apresentou parecer o professor Coutto, opinando Ajuntou-se a Congregação às homenagens
pelo restabelecimento das mencionadas cadeiras. administrativas do Colégio ao honrado professor não só
Votou a Congregação pelo ressurgir da cadeira de votando moção de pesar, como aprovando proposta do
História do Brasil, estabelecendo-se divergência de opiniões professor Lafayette Pereira para ser dado o nome de Alcino
quanto ao restabelecimento da cadeira de Instrução Moral Chavantes à sala de aula de desenho no Externato.
e Cívica. Pelo restabelecimento votaram 8 professores, 8 Após o óbito do catedrático Chavantes, ocorreu o
outros o condenando. do docente Dr. Mário Guedes Naylor, falecido a 20 de junho
Chamado a pronunciar-se por último, o presidente de 1936, ele bacharel em letras.
da Congregação, professor Raja Gabaglia, pelo voto de Haja igualmente lembrança do desaparecimento de
qualidade decidiu contra o restabelecimento. dois modestos servidores do Colégio no Externato, o do
No intuito de celebrar o 1o Centenário de fundação
servente José Romeu, falecido a 3 de novembro, e o do
do Colégio, em sessão de 1o de dezembro de 1936, a
auxiliar Aleixo Pinheiro, falecido a 12 de novembro.
Congregação encaminhou à Câmara dos Deputados
Tornara-se o primeiro muito popular entre docentes
indicação tendente a ser auxiliada oficialmente aquela
e discentes, o segundo encarregado da vigilância noturna
celebração, apresentada a indicação pelo deputado
do Externato e a zelava intransigentemente.
Henrique Dodsworth, professor do Colégio, além de ex-
Por ocasião do falecimento de ambos, administrativa
diretordo Externato.
e particularmente, foram atendidas não só despesas de
Por proposta do professor Sumner. congratulou-se a
funeral como as de primeiros socorros à família do
Congregação, a 10 de agosto, com o professor Accioli pelo
servente Romeu, caída em desvalimento pela perda do
seu 33° ano de magistério no Colégio.
chefe, fulminado pela morte por "angina pectoris" no
Em 1936, procederia a Congregação a concurso para
uma das cadeiras de Português, deixada vaga pelo exercício de funções.
falecimento de Carlos de Laet e longamente preenchida Felizmente, abriu-se o ano letivo de 1937 com a
em interinidade pelo docente Jacques Raymundo Ferreira sessão solene de 22 de janeiro, convocada para dar posse
da Silva. Processado o concurso, nele foi classificado da cadeira de Português, no Internato, ao Dr. Clóvis do
em 1o lugar o Dr. Clóvis do Rego Monteiro, já distinto no Rego Monteiro, para ela nomeado por Decreto de 14 de
magistério do Colégio. janeiro.
Não poupou a morte o Colégio no decurso do ano Prestado o compromisso de bem preencher funções,
letivode1936. recebeu o novo lente saudações por parte do presidente
Arrebatou-lhe um dos seus estimados professores, da Congregação, Raja Gabaglia, felicitado em nome da
o de Desenho, Dr. Alcino José Chavantes, que por concurso Congregação pelo Professor Hanehmann Guimarães,
obtivera o cargo. agradecendo a todos os professor Clóvis Monteiro.
Operoso, prezado pelos colegas e pelos discentes, Por Decreto de 5 de abril de 1937, a pedido e nos
competente, lhano de trato, honrava posição no Colégio termos constitucionais, foi concedida jubilação ao
do qual fora aluno. professor Escragnolle Dória, catedrático de História do
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Externato e neste de posse de cadeira a 7 de novembro outros pontos do país, notadamente no Maranhão, onde o
de 1906, em virtude da nomeação por concurso a 5 de preito de muitos pôs em relevo a memória do conterrâneo
novembro. ilustre.
A 30 de abril de 1937, entendeu o Colégio associar- Logo após a celebração do centenário natalício de
se à celebração do centenário do nascimento de antigo quem com proficiência e austeridade dirigira o Internato e
diretor do Internato e depois do Externato, o Dr. João o Externato do Colégio, o Conselho Nacional de Educação
António Coqueiro, centenário que mereceu expressivas entregou ao Ministro de Educação e Saúde Pública, plano
comemorações em vários setores da cultura nacional em de educação elaborado dentro de prazo fixado, achando-
reverência àquele educador. se no dito Conselho representado o Colégio pelo professor
Na direção do Colégio, em suas duas seções, Jonathas Serrano, partícipe de tudo quanto especialmente
continuou o Dr. Coqueiro a lembrança de comprovincianos respeitava o Ensino Secundário.
maranhenses que regeram a instituição, assim os Dr. Trabalhando incessante, o Conselho realizou 65
António Henrique Leal, Monsenhor Raymundo da Silva sessões com a maior diligência de seus membros e de
Brito e D. José de Souza da Silveira. seus auxiliares, os funcionários da Secretaria do Conselho
Memorou o centenário natalício do Dr. Coqueiro no e os da Reitoria da Universidade.
Colégio, sessão solene no Salão Nobre do Externato, No plano apresentado pelo Conselho certas
sessão presidida pelo diretor deste, Dr. Raja Gabaglia. disposições mais de perto entendiam com o Colégio.
Pelo mesmo diretor especialmente convidados Segundo o plano, um representante do Ensino
oraram na solenidade o Almirante Graça Aranha nos Secundário deveria figurar entre os representantes do
louvores à vida científica e pedagógica de Coqueiro, pelo ensino em seus diferentes ramos e graus e os da cultura
diretor Raja Gabaglia declarando que, sem grave injustiça, nacional, os primeiros em número de 13, os segundos
seria impossível ao Colégio de Pedro Segundo deixar em sendo 6, nomeados todos pelo Presidente da República e
olvido a memória do seu antigo diretor. Participou também escolhidos em lista tríplice organizada pelo próprio
das homenagens um representante do corpo discente. Conselho, aberta exceção para o representante da
Na sessão do dia 30 de abril do Conselho Nacional Imprensa como representante da cultura nacional.
de Educação, rendeu preito ao Dr. Coqueiro, membro do O ensino religioso deveria ser ministrado de acordo
referido Conselho, o Dr. Alceu de Amoroso Lima, bacharel com os princípios da confissão religiosa do aluno,
em letras da turma de 1908, graduado no Externato, então manifestada por pais ou responsáveis no ato da matrícula,
dirigido pelo Dr. Coqueiro. facultativa a frequência nas respectivas aulas.
Recordou o aluno de outrora a figura do seu diretor, Nos cursos secundários a educação moral e cívica
assinalando-lhe austeridade impecável, zelo pela disciplina, seria ministrada pelo professor de História do Brasil,
indefectível espírito de justiça, qualidade de tanta auréola naqueles cursos obrigatória a Educação Física.
a quem dirige seja o que for, a obediência devendo vir O plano elaborado pelo Conselho Nacional de
tanto mais exata de baixo quanto o exemplo mais exato Educação declarou o Ensino Secundário destinado à
de cima. educação do adolescente, visando ao desenvolvimento
Aliás, o centenário Coqueiro mereceu grande harmónico da personalidade física, intelectual e moral por
homenagens, não só na capital da República, como em meio de cultura geral autónoma.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Deveria o Ensino Secundário abranger dois ciclos, promoção para a série imediata sem motivo justificado;
um fundamental de 5 anos, outro complementar de 2. d) o que não tivesse bom comportamento escolar ou social.
Neste curso, o estudo do Grego, Italiano e Espanhol seria Conforme o plano pedagógico do Conselho Nacional
somente obrigatório em casos previstos em lei. O aluno de Educação, os poderes públicos deveriam assegurar aos
que concluísse o curso secundário, obteria o diploma de alunos necessitados o repouso dos trabalhos escolares
bacharel em letras, se aprovado em exame final de em instituições destinadas a este fim ou em locais
conjunto e no de Grego. convenientes, instituídas também pelos poderes públicos
Toda a matéria relativa ao Ensino Secundário, quando colónias de férias para os alunos dos cursos primário,
discutida no Conselho Nacional de Educação, recebeu a secundário e profissional.
participação assídua e orientadora do professor Jonathas Seriam admitidos em tais colónias os alunos dos
Serrano. referidos cursos mediante as seguintes condições: — a)
No seu título VI o plano pedagógico elaborado pelo idade mínima de 13 anos; b) não poderem por motivos
Conselho Nacional de Educação dispunha sobre assistência económicos iniciar estudos ou neles prosseguir, preferidos
escolar, já conhecida no ensino primário, mantida sobretudo os filhos de famílias numerosas: c) estar em condições
pelo corpo docente do magistério primário com muitos de matricular-se em estabelecimento de Ensino
esforços e dedicação, tanto mais meritórios quanto Secundário, profissional ou superior; d) ter obtido somente
obscuros. notas plenas ou distintas nas provas parciais ou finais das
Para estender assistência escolar, tratou o Conselho séries ou cursos anteriores.
Nacional de Educação de providenciar quanto à assistência Tais as disposições principais relativas ao Ensino
a alunos necessitados por meio de Caixas Escolares, Secundário do plano elaborado pelo Conselho Nacional de
bolsas de estudos e colónias de férias . Educação, plano constante de 501 artigos, muitos
As Caixas Escolares seriam administradas pelo completados por parágrafos. Outras disposições do
diretor de cada estabelecimento de ensino primário ou mesmo plano entendiam com o Ensino Secundário de
secundário, auxiliado por um representante do corpo modo geral, lembrado que só poderiam ser oficialmente
discente ou dos pais dos alunos, coadjuvada a Caixa reconhecidos pelos poderes públicos os estabelecimentos
Escolar pelos poderes públicos, por meio de quota aplicada particulares de ensino que reservassem anualmente 5%
aos fins de assistência. Para atender aos gastos com a de matrículas gratuitas para alunos necessitados.
assistência escolar, seria reservada anualmente quota Pelo plano do Conselho Nacional de Educação era
mínima de 10% dos fundos especiais de educação. vedada a dispensa de concurso de títulos e provas no
A bolsa de estudos, de que tratava o plano de provimento dos cargos de magistério oficial, entendendo-
educação, deveria equivaler à soma que permitisse ao se tal o que dependesse de nomeação dos poderes
estudante pobre manter-se, pagar taxas e contribuições públicos, federais ou municipais.
escolares, seguir cursos especiais, adquirir livros e material A 7 de abril de 1937, o Decreto n.° 1.555 regulou,
indispensável ao aperfeiçoamento dos estudos. entre outras providências, a admissão de professores
Perderia direito à bolsa: — a) o aluno reprovado em contratados no Colégio de Pedro Segundo.
qualquer disciplina; b) o que não obtivesse notas plenas Pelo citado Decreto, organizadas em cada ano letivo,
ou distintas em mais de duas provas parciais ou finais; c) as turmas do curso fundamental e complementar, os
o que deixasse de preencher as condições necessárias à diretores do Externato e do Internato, deveria ser oferecida
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

aos catedráticos a escolha da Regência direta das turmas contratados no curso fundamental, 22S000 por hora,
das disciplinas em que se mostrarem habilitados. As gratificados os professores do curso complementar com
turmas excedentes, na disciplina respectiva, seriam 50S000 por hora de trabalho na Regência de turma até 3
distribuídas a docentes-livres e preparadores. No caso de horas semanais e com 22S000 por hora excedente.
turmas sem Regência, ao diretor de cada seção do Colégio, Na Regência de turmas ou na orientação e
por edital, competiria abrir inscrição para contrato ânuo fiscalização do ensino, as gratificações a professores
de professores, mediante condições especificadas na catedráticos, contratados ou preparadores deveriam ser
referida inscrição, entre elas a da prova de idade maior de pagas segundo instruções baixadas pelo Ministro da
21 anos, certificado de professor expedido pelo Educação e Saúde Pública. Professor algum, de qualquer
Departamento Nacional de Educação, prova de exercício categoria, prestaria mais de cinco horas de trabalho diário.
de magistério com indicação de tempo de serviço e títulos A 1 o de junho de 1937, o Diretor-Geral do
diversos de cultura. Departamento Nacional de Educação, Dr. Lourenço Filho,
Para regulamento dos títulos apresentados e baixava a Circular n.° 1.200 dando instruções às escolas
classificação de candidatos seria organizada comissão da superiores em 1938, encontrando-se na citada circular
qual participantes os diretores das duas seções do Colégio, referências a exames prestados no Pedro Segundo.
como membros permanentes, e os professores A 12 de junho de 1937 reunia-se a Congregação do
catedráticos das várias disciplinas, membros variáveis na Colégio e por unanimidade de votos, à vista de motivada
comissão. moção, proclamava Professor Emérito o professor
A classificação obedeceria ao número de pontos Escragnolle Dória, que, após mais de 30 anos de serviço,
atribuído a cada candidato, pontos de 0 a 100, pontos de requerera jubilaçáo, concedida por Decreto de 5 de abril
cada membro da comissão julgadora, a nota de de 1937. Ao honroso voto da Congregação ajuntaram-se
classificação constituída pela média aritmética dos pontos demonstrações oficiais de apreço por parte do Diretor-Geral
obtidos pelo candidato. do Departamento Nacional de Ensino, Dr. Lourenço Filho,
Caberiam as designações de professores ao Ministro e do Diretor do Ensino Secundário, Doutor Mário Paulo de
da Educação e Saúde Pública, segundo as necessidades Brito, bacharel em letras do Colégio.
do ensino e na ordem de classificação, disciplina por Como a vida é oscilar entre alegria e tristeza, a 24
disciplina. de junho de 1937, finava-se, em Guaratinguetá, Estado de
Salvo os professores contratados para o ensino de São Paulo, onde residia, o professor jubilado de Latim do
Línguas Vivas, os demais se obrigariam a 12 horas Internato e depois do Externato Dr. Eduardo Gê Badaró,
semanais de ensino, no mínimo. sem muito tempo para gozar jubilaçáo.
O professor catedrático de cada disciplina nas Admitido no Colégio após dois concursos, um em
seções do Colégio orientaria e fiscalizaria os trabalhos dos 1906 e outro em 1909, o professor Badaró deixou entre
professores contratados. No caso de haver mais de um colegas lembranças de moderação e competência, entre
catedrático para a mesma disciplina o encargo da discípulos exemplo de benevolência e assiduidade no
orientação e fiscalização entre catedráticos sofreria cumprimento do dever.
distribuição equitativa. Para justificação do conceito de ser a vida oscilar
Tratou ainda o Decreto 1.555 de 7 de abril de 1937 perpétuo entre dor e alegria, rejubilou-se o Colégio, a 3 de
da gratificação devida a docentes livres e professores julho de 1937, com a posse do Dr. Henrique de Toledo
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Dodsworth, professor catedrático de Física do Externato Nas comemorações do Centenário nem foi só
e seu antigo diretor, no cargo de Interventor no Distrito lembrada a vida presente, não olvidados o fundo e o cunho
Federal de onde é natural. religioso da instituição secular.
Em novembro de 1937, organizado programa oficial Mandou esta celebrar missa em sufrágio de reitores,
para comemorar o 1o Centenário de fundação do Colégio professores e funcionários falecidos no decurso da centúria.
de Pedro Segundo, foram iniciadas comemorações de vária No Salão Nobre o Externato realizou a Congregação sessão
ordem, tendentes todas a alvo único, o de fixar bem na solene de culto à memória de catedráticos falecidos em
memória pública a gloriosa data secular de 2 de dezembro 1936, os Drs. Eduardo Gê Badaró e Alcino José Chavantes
de 1837. Júnior, do primeiro dizendo o professor Nelson Romero e
Conferências na Escola Nacional de Música, missa do segundo o professor Enoch da Rocha Lima.
em sufrágio de reitores, diretores, professores e Demonstrações de natureza diferente assinalaram
funcionários falecidos no decurso do centenário de o memorar do primeiro centenário de fundação do Colégio.
existência do Colégio, missa campal na praça de São No extenso sobre variado rol das comemorações,
Cristóvão, colação de grau à turma dos bacharéis em cumpre sobrelevar algumas solenidades de alta ou piedosa
ciências e letras da turma de 1937, denominada do expressão, umas de incitamento à vida, outras de
reverência à morte.
Centenário, lançamento de pedra fundamental de novo
No número das últimas incluem-se romarias em
edifício para o Colégio na Praia Vermelha, sessões solenes
memória de D. Pedro Segundo, do Marquês de Olinda e
no Externato e no Internato para entrega de certificados a
de Bernardo de Vasconcellos.
alunos de curso fundamental concluído, bailes escolares
Realizou o Colégio, matutinamente, a 1 ° de dezembro
nas duas seções do Colégio, baile de gala no Automóvel
de 1937, romaria a Petrópolis, onde jazem os restos mortais
Clube, espetáculo do Teatro Escolar no Teatro João
de D. Pedro Segundo e da consorte, a Imperatriz D. Theresa
Caetano, com papéis confiados a alunos do Externato e
Christina.
Internato, entrega da Bandeira Nacional e de estandartes
Umas 600 pessoas participaram da ida do Colégio
do Colégio à Diretoria do Externato; bandeiras e estandartes
à Cidade de Pedro, de nascedouro em 1834. Foi a romaria
adquiridos pelos corpos docente, administrativo e discente,
ali recebida pelo secretário da Prefeitura, Dr. Cardoso de
nada seria poupado para lustro das solenidades
Miranda, por autoridades locais e por delegações dos
memorativas da fundação do Colégio, no sétimo ano de
colégios São Vicente de Paulo, Pinto Ferreira, Plínio Leite
reinado em minoridade de D. Pedro Segundo.
e do Ginásio Petropolitano, estabelecimentos de Ensino
Novembro de 1937 constituiu como que um mês Secundário associados à homenagem.
de preparação espiritual para as festas do Centenário. Na Reunido o Colégio na Matriz, em torno do local onde
Escola Nacional de Música, em sessões presididas pelo se achavam os despojos terrenos dos imperantes, depois
Ministro da Educação, os professores Francisco Venâncio de ter sido depositada coroa de bronze junto ao ataúde de
Filho, Jonathas Serrano e Raja Gabaglia discorreram, D. Pedro Segundo, orou em nome da Congregação do
sucessiva e respectivamente, sobre as personalidades de Colégio o diretor e professor Raja Gabaglia, traduzindo
Euclydes da Cunha, Farias Brito e Capistrano de Abreu, sentimentos de respeito e gratidão ao protetor do Colégio,
ocupantes de cátedras no Colégio e por concursos que lhe consagrara larga parte de vida. Presenciaram a
memoráveis. cerimónia o neto e o bisneto de D. Pedro Segundo, os
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

Príncipes D. Pedro de Orleans e Bragança e D. Pedro nemoroso parque da Quinta da Boa Vista. No Palácio
Gastão, associando-se assim o antigo lar do finado nascera D. Pedro II e passara vida até exílio. Realizou-se
Imperador à renovada família do Colégio. missa campal em sítio, pois lembrado do bairro de São
Na Catedral, ao ser benzida a coroa de bronze Cristóvão, onde ainda funciona o Internato.
ofertada ao Imperador pelo Colégio, disse da significação Por desejo e iniciativa da Comissão do Centenário,
do ato, Monsenhor Mac Dowell, professor do Pedro foi o santo sacrifício da missa celebrado, em altar adrede
Segundo. Ao túmulo imperial, ainda de caráter provisório, preparado próximo à estátua de D. Pedro Segundo,
o Ginásio Pinto Ferreira entregou coroa de flores naturais. convidado para celebrante D. Benedito Alves de Souza,
Na cerimónia, o Centro Carioca achou-se representado Bispo resignatário do Espírito Santo e titular de Oriza.
pelo Dr. Ernani de Figueiredo Cardoso, ex-aluno do Colégio Finda a missa, orou o professor Jonathas Serrano,
e conhecido educador. professor de História da Civilização, disciplina do exame
Nem deixou o Colégio, congregado em Petrópolis, na justiça, estudando D. Pedro Segundo e relembrando o
de passar pela estátua de D. Pedro Segundo, num dos maior de seus amigos, também amigo do Colégio e seu
locais de maior evidência da cidade serrana. Admiraram reformador, o Visconde de Bom Retiro.
todos a estátua que representa D. Pedro Segundo à
Estavam representados na solenidade a Presidência
paisana, sem nenhum atributo imperial, na atitude do
da República, vários Ministros de Estado, comandos de
pensamento, tão própria do soberano que, à filósofo
forças militares.
meditativo, tanto reinou sobre os homens quanto sobre os
Numerosas delegações dos mais opostos centros
livros.
de cultura deram presença ao ato, sobrelevando-se
Ante a estátua de D. Pedro II, tomaram a palavra o
naquelas delegações, a da colónia norte-americana no Rio
professor Raja Gabaglia, pela Congregação do Colégio, o
de Janeiro na pessoa do Sr. e da Sra. Danfort.
professor Murillo Araújo, em nome de antigos alunos,
No pedestal da estátua, os professores Raja
orando em nome dos alunos atuais um 5o anista do
Gabaglia, Philadelpho de Azevedo e Benevenuto Berna,
Externato, os intérpretes do Colégio dizendo em nome
deste todo o reconhecimento da instituição centenária ao este presidente do Centro Carioca, depuseram palma florida
ínclito Imperador. ofertada por aquele Centro em nome da Cidade do Rio de
Oferecido, no Palace Hotel, um almoço à romaria Janeiro. Alunos do Colégio atiraram então flores à estátua
pelo prefeito Dr. Yeddo Fiúza, o Dr. Miranda Cardoso, do Grande Amigo da Instituição, e isso ao som do Hino
secretário da Prefeitura, explicou a homenagem, dizendo- Nacional, tão grato aos ouvidos de D. Pedro Segundo no
a não só preito à comemoração cívica, como de sinal de decurso do seu reinado.
simpatia ao Colégio de Pedro Segundo, na dedicação à Completou o preito do Centro Carioca um discurso
memória do seu patrono, também o de Petrópolis. de representante do mesmo, Dr. Luiz Paula Freitas, diretor
Agradeceu o professor Dr. Lafayette Pereira, Diretor do Instituto Brasileiro de Ensino, trazendo à mente e à
do Internato, retribuindo o acolhimento hospitaleiro do povo memória dos presentes a imagem e o afeto de D. Pedro
petropolitano, acolhimento que, logo ao chegar ao Rio de Segundo pelo Colégio a ele dedicado pela Regência Araújo
Janeiro, o professor Raja Gabaglia pôs em relevo num Lima.
expressivo telegrama de novo agradecimento. A 29 de novembro, mandada celebrar missa pelos
Iniciaram-se as comemorações do mês da fundação bacharéis de 1937, em ação de graças por feliz conclusão
do Colégio em 1837, a 2 de dezembro de 1937, no de curso, pelo meio-dia de 2 de dezembro, no Salão Nobre
ESCRAGNOLLE DÓRIA

do Externato, realizou-se a colação de grau de bacharel O professor Ignácio de Azevedo Amaral, pela
em ciências e letras à turma de 1937, em presença do Universidade do Rio de Janeiro, o Dr. Leon Renault, ex-
Ministro da Educação, para os amigos do passado a diretor do Instituto de Minas, João Pinheiro, pelo ensino
solenidade de evocação à primeira em 1843. profissional, e o Dr. Costa Senna, diretor do Departamento
O fim da tarde de 2 de dezembro de 1937 foi da Educação na Prefeitura, relembraram a glória e os
consagrado ao lançamento de pedra angular de novo serviços do Colégio.
edifício do Colégio, na Praia Vermelha, em terrenos do Em nome do corpo discente orou o 5o anista do
Hospício Nacional de Alienados, antigo Hospício de D. Internato, Octávio Costa, que se revelando orador
Pedro Segundo, erguido pela Santa Casa da Misericórdia empolgou a atenção do auditório, do qual mereceu
do Rio de Janeiro, na benemerência do seu provedor José entusiásticas ovações pela elevação, fluência e patriotismo
Clemente Pereira. do seu discurso de filho espiritual do Colégio.
Participou do lançamento da pedra básica o Para remate da brilhante sobre inolvidável sessão,
Presidente da República, primeiro a lançar-lhe pá de orou o Dr. Getúlio Vargas, declarando logo ao romper oração
revestidor cimento, discursando no ato o Ministro da que "entre as numerosas solenidades que presidira,
Educação e o professor Raja Gabaglia. Acentuou o
nenhuma lhe parecera mais edificante e sugestiva, porque
Ministro que em o novo edifício, surgiria novo ciclo de
o centenário do Colégio de Pedro Segundo evocava todo o
grandeza da prestimosa instituição. Agradeceu o diretor
quadro da evolução política e cultural do Brasil".
do Externato o apoio do Presidente da República às
Assinalou também o orador: "quão difícil fora
comemorações do Centenário, concluindo por afirmar "que
estabelecer os fundamentos de tal obra, quão grande o
o Colégio seria, como fora e era, o Seminário da
devotamento de seus organizadores.
Nacionalidade".
Na missão árdua a que se devotaram, orientando o
Às 9 horas da noite de 2 de dezembro, grandiosa
problema da aculturação brasileira, os nossos primeiros
festa encerrou o magno dia evocador da fundação do
educadores chegaram a resultados os mais
Colégio, celebrando sessão solene no Teatro Municipal.
Abriu sessão o Ministro da Educação, proferindo extraordinários. Só o espírito evangelizador e as virtudes
longo discurso de natureza cívica e pedagógica, no correr da fé podem explicar o milagre de termos conseguido
do qual declarou o Colégio de Pedro Segundo "um dos amálgamas na sociedade colonial os fatores díspares e
mais preciosos monumentos do património nacional, primários de nossa formação — indígenas da idade da
havendo pois, justo motivo de alegria pública a celebração pedra, escravos africanos em diversos estados culturais
do seu primeiro centenário", numa época que o orador e imigrantes peninsulares — integrados todos na
declarou "dura e trágica". civilização cristã" — Tais palavras do Presidente da
Em seguida, discursaram o professor Raja Gabaglia, República em louvor do Colégio.
em nome do Colégio, o professor Fernando de Magalhães, À sessão solene do Teatro Municipal, promovida pelo
bacharel em letras da turma de 1891, em nome de antigos Ministério da Educação, deram presença o Presidente da
alunos, o Dr. Ramiz Galvão, outrora professor interino do República, o Corpo Diplomático, Ministros de Estado, o
Colégio por onde se graduara em 1861, declarando-se o Prefeito do Distrito Federal, professor do Colégio, muitas
decano dos bacharéis em letras ao qual a Divina autoridades e pessoas gradas, convidados os antigos e
Providência ainda dilatara vida para presença na novos alunos do Colégio, comparecendo a Congregação
solenidade. para remate da homenagem. Nem da festa, para exemplo
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

sobre união, foram excluídos os demais estabelecimentos vítima ilustre de uma das mais devastadoras epidemias
de Ensino Secundário do Rio de Janeiro, representados de febre amarela no Rio de Janeiro, e de Pedro de Araújo
por docentes e discentes. Lima, Marquês de Olinda, falecido em 1870, vinte anos
Dera início à sessão magna comemorativa o erguer após o eficacíssimo colaborador na obra ingente e futurosa
de vozes dos orfeões do Externato e do Internato dirigidos da fundação do Colégio de Pedro Segundo.
pelas professoras D. Maria Elisa de Freitas e Lucilia Villa- Em homenagem a Bernardo de Vasconcellos, junto
Lobos. De pé, a assistência ouviu os sons do Hino Nacional a seu túmulo, aos ecos da necrópole, orou em nome da
consagrador da Pátria na memória de seu autor, Francisco Congregação o professor Nelson Romero. Delegado da
Manoel da Silva. Após o hino pátrio, o do Colégio. m e s m a c o n g r e g a ç ã o , o p r o f e s s o r Pedro do C o u t t o
A sessão solene de 2 de dezembro de 1937 foi discursou junto ao túmulo do Marquês de Olinda, ambos

realizada em recinto fechado e acessível só a convidados. evocando em síntese a vida e os serviços do Regente do

Outra homenagem do Colégio à sua primeira centúria seria Império e do Ministro de 1837.

patenteada ao público, a 4 de dezembro. Tal o desfile pela No mesmo dia 5 de dezembro, no Internato, realizou-
se sessão solene para entrega de certificados de conclusão
Avenida Rio Branco de préstito formado por professores.
do curso fundamental aos quintanistas do estabelecimento.
antigos e novos alunos e funcionários do Colégio. Do
turma paraninfada pelo professor Lafayette Pereira e tendo
desfile participaram com o maior garbo e luzimento não
como orador o aluno Octávio Costa, que da sua eloquência
só o Colégio como o Colégio Militar e estabelecimentos
dera tão brilhante cópia na sessão solene do Teatro
de grau secundário, da Prefeitura Municipal e de ensino
Municipal. A 6 de dezembro, o Externato entregava
particular.
certificados de conclusão de curso fundamental aos alunos
Desfile comovedor o de 4 de dezembro de 1937,
5 o anistas da seção, com os festejos do costume.
apesar do desfavorecimento da tarde salpicada de chuva,
Em continuação aos festejos do Centenário, o Teatro
afrontando o cortejo, a intempérie como se realizada a
Escolar, de sede no Externato, realizou espetáculo original
marcha em dia entre azul e sol.
no Teatro João Caetano, antigo São Pedro de Alcântara,
Professores, bacharéis, funcionários encanecidos,
exibição pública bem curiosa, visto nela só representar
não se deixaram vencer no entusiasmo pelo vigor das gente do Colégio.
mocidades de corpo no desfile, os mais velhos ritmando Renovava-se destarte tradição no estabelecimento.
passo com os mais jovens. Não houve quem comentando Neste, em espaçados tempos, no Externato e no Internato,
não aplaudisse , a principiar pelo Presidente da República. alunos de ambas as seções haviam representado quase
A 1 o de dezembro, o Colégio, reunido em Petrópolis, sempre em datas magnas da Pátria ou do Colégio, assim
rendera preito a D. Pedro Segundo, organizada para tanto a 7 de s e t e m b r o , assim a de 2 de dezembro, datas
romaria cívica, tributando justiça ao protetor do Colégio, presentes a todas as memórias pelo alto significado.
título a resistir a qualquer negação de outros títulos ao A exibição pública do Teatro Escolar do Colégio, no
antigo monarca. âmbito do Teatro João Caetano, a 23 de dezembro de 1937
Nova romaria conduziu o Colégio, a 5 de dezembro e à noite, obedecia à direçáo dos professores Delgado de
de 1937, à necrópole da Venerável Ordem Terceira dos Carvalho, Raul Penido Filho e Gilberto Chrokatt de Sá.
Mínimos de S. Francisco de Paula. Aí se encontram os O programa do espetáculo merece ser conservado.
túmulos de Bernardo de Vasconcellos, falecido em 1850, Com o tempo perde a lembrança de muito e de muitos
ESCRAGNOLLE DÓRIA

fins da presente Memória resguardar passado para Molière é autor de obra diante da qual se inclina a
apresentá-lo a futuro. posteridade, obrigando à curvatura a Academia Francesa
Compreendeu o espetáculo comemorativo de 23 de em peso, ao declarar que nada faltava à glória do
dezembro de 1937 duas partes no seu programa, uma parte comediógrafo se a glória de acolhê-lo no seu grémio faltara
musical e outra teatral. à Academia, de tantos imortais de vidas logo perecedouras
A execução do Hino do Colégio, música de Francisco e ocas de méritos, até para coevos.
Braga e letra do aluno Hamilton Elia, deu princípio à festa, Rien ne manque à sa gloire, il manquait à la nôtre.
seguindo-se apresentação ao público do Teatro Escolar pelo Tal a inscrição do busto de Molière na Academia
professor Raul Penido Filho. Francesa.
Minueto, música de Barroso Netto, letra de Marinha É mister, no programa do Teatro Escolar, acentuar
Braga — Sonho de Amor, adaptação da Serenata de fundo o Casamento A Pulso. Mesmo de título mudado,
Schubertpor Lozano, letra de Máximo de Moura Santos representa Molière na sua admirável galeria de tipos
— Luar do Sertão, música de J. F. Guimarães, poesia de humanos, na originalidade das suas pinturas de costumes
Catullo Cearense — tais foram as composições e de caracteres, dos seus processos cómicos e
executadas pelo Orfeão do Colégio, dirigido pela professora dramáticos.
Maria Elisa de Freitas. A execução de Mocidade, marcha, Que o génio francês luz em Molière não padece
música e letra do professor Sá Roriz, seria ainda confiada dúvida, justificada a resposta de Boileau a Luiz XIV, padrinho
às vozes do mesmo Orfeão. Complementaria a parte da filha do ator-autor, ao perguntar-lhe o "Rei Sol" que
musical o aluno Jayme Cluck interpretando a Symphonia escritor mais lhe honrara o reinado. "Molière, Senhor",
Hespanhola de F. Sala. responde Boileau, que a confrades não poupava sátiras.
Na parte teatral da festividade apreciou o público, Le Mariage Force, representado em França de 7 a
seleto e numeroso, os esquetes Duas Cartas, de Chrokatt 13 de maio de 1664, seria exibido no Rio de Janeiro a 21
de Sá, e Crepúsculo de Satanás, do mesmo autor, professor de abril de 1792, data da execução capital de Tiradentes.
do Colégio, bem como Primos Por Selecção, farsa em 1 Afirmou-o Pires de Almeida na 3a parte da desordenada,
ato do professor Delgado de Carvalho. mas útil coletânea Brazil-Theatro, na qual é preciso achar
No desempenho das três peças de caráter ligeiro, o fio dos assuntos para proveito da pesquisa.
foi notado o desembaraço dos intérpretes Dinorah Santos, Segundo Pires de Almeida, a comédia de Molière
Edilia da Rocha Coelho e Néa Rosenbaum, alunas do foi representada "em terreno baldio e fronteiro ao adro da
Colégio, secundadas pelos seus colegas efetivos de estudo capelinha da Lapa dos Mascates", que constituía então
e momentâneos de palco, Décio Guimarães Abreu, Hilgard os fundos da igreja da atual Igreja da Cruz dos Militares e
Sternberg e Mário Camarinha, sem esquecer Dirceu e a parte alargada pelo mar, na qual se construiu mais tarde,
Tasso. e definitivamente, a atual Igreja da Lapa dos Mercadores
Menção especial fique reservada à aluna Lygia (no fim da Rua do Ouvidor, próxima ao mar).
Walker nos papéis a ela confiados em Duas Cartas e Não são despiciendas tais informações. Dão cunho
Primos Por Selecção. literário e histórico à comédia molieresca de 1664,
Reserve-se também menção particular para a interpretada em 1937 por alunas e alunos do Colégio,
representação de Casamento A Pulso, título dado à comédia ensaiados por Celestino Silva, de papéis bem sabidos
de Molière — Le Mariage Force— pelo seu adaptador em para folga do ponto Paschoal Américo e movendo-se num
vernáculo, o Dr. Pires de Almeida. cenário devido a Gustavo Dória.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Oito personagens deram vida à comédia de Molière sessão solene em o Grémio Litterario Mello e Souza, no
na qual em torno de figura feminina única, gira a ação da Internato também oferecido e promovido pelos quintanistas
peça, a figura de Dorimena, encarnada na graciosa aluna da casa um almoço em homenagem a professores e ex-
Cilka da Silva Leite, em discreto papel de Pagem a aluna alunos daquela seção do Colégio. Discentes do Externato
Walkyria Almeida. e do Internato dedicaram irradiações radiofónicas, emitidas
Dos papéis de Sganarello, Jeronymo, Alcantor, pela estação do Ministério da Educação, em honra das
Alcides encarregaram-se c o m distinção e aplauso os duas casas do Colégio e dos professores Raja Gabaglia,
alunos Decio Guimarães Abreu, Augusto Cláudio Ferreira, Pedro do Coutto, José Accioli, Henrique Dodsworth e
Nilo Andrade e Hilgard Sternberg. Escragnolle Dória.
Na comédia de Molière a prosa deste fustiga em Para a segunda quinzena de março de 1938, ficou
Pancrácio, filósofo pirrônico e em Marfório. filósofo reservada, ainda na lembrança do Centenário do Colégio,
aristotélico, todas as contendas e rusgas da filosofia no sessão solene, no Salão Nobre do Externato, sessão
século XVII. presidida pelo Ministro da Educação e consagrada à lição
Marfório, o filósofo pirrônico encontrou no aluno inaugural do ano de 1938, proferida pelo professor Dr.
Waldomiro Rothberg um bom intérprete. Mas, a revelação Francisco Pinheiro Guimarães, e a inauguração na Sala da
da noite na obra de Molière foi a do aluno Octacilio da Congregação dos bustos de D. Pedro Segundo, do Marquês
Silva Chaves, encarnando Pancrácio, filósofo aristotélico. de Olinda e de Bernardo de V a s c o n c e l l o s . Seria a
Dicção, gesticulação, a gosto em cena, tudo no jovem s o l e n i d a d e c o n d i g n o f e c h o das c o m e m o r a ç õ e s d o
intérprete impressionou o auditório. Dir-se-ia ele Centenário.
acostumado ao palco tal a naturalidade e vivacidade com No programa das festividades da centúria, b e m
as quais representou, aplaudíssimo. assinalado ficou o empenho de associar a elas, o mais
O curioso e bem-sucedido espetáculo do Teatro p o s s í v e l , a c l a s s e inteira dos bacharéis em l e t r a s ,
Escolar do Colégio, na noite de 23 de dezembro de 1937, graduados, ex-alunos e discentes próximos de graduação.
terminou ao som do Hino Nacional, pelo Orfeão do Colégio, Grande o júbilo a 2 de dezembro de 1937, ao abrir-
hino aquele mais do que simples música, a voz da própria se o Colégio, menor não foi o prazer do mesmo em 1937,
Pátria. ao acentuar bem fundo o seu traço indelével na cultura
Alunos das duas seções do Colégio acresceram nacional.
realizações do programa oficial comemorativo. Realizou Muito deveu o Colégio a D. Pedro Segundo, como
o corpo d i s c e n t e celebração de missa na matriz do ao Colégio, em cem anos, ficou devendo o Brasil. Ao
Engenho Velho, celebrante vigário da paróquia, Monsenhor considerar-lhe existência, serviços, esforços, lustre, pôde
Mac Dowell, professor do Colégio. Realizaram t a m b é m a Pátria dizer, em 1937, Casa Benemérita, em lembrança
os alunos da 5 a série do Externato e do Internato sessões humanística e dantesca:
lítero-musicais nas duas casas do Colégio, no Internato Onorate I'Altíssima Progénie.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Quadro de formatura, no Museu do Colégio, dos Bacharéis em


Ciências e Letras, turma de 1902, do Ginásio Nacional, nome do
Colégio na época, e onde se encontram, entre outros, Antenor
Nascentes, Manuel Bandeira e Souza da Silveira.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

XV

O Instituto dos Bacharéis em Letras • Sua Fundação • Seu Reconhecimento Oficial •


Sua Vida e Seus Trabalhos • A Solenidade de 2 de Dezembro de 1902 •
A Equiparação ao Colégio e o Instituto • Seu Eclipse.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

M erece referência especial, na vida centenária do


Colégio de Pedro Segundo, instituição singular
florescida nele anos seguidos. Constituiu associação de
Em r e u n i ã o de 2 de j u l h o de 1 8 6 3 ,
festejadíssima na Bahia por último selo de Independência
— propôs o bacharel Pereira Rego se denominasse o
— data

antigos alunos da Casa a preceder de muito associações grémio a criar — Instituto Brazileiro de Sciencias e Letras.
do género, tão apreciadas na Europa e ora tentadas de A 25 de junho de 1863, realizava-se segunda sessão,
novo no Brasil. Na espécie cabe prioridade ao Instituto presentes os bacharéis fundadores e mais 21 bacharéis,
dos Bacharéis em Letras. a c o n v i t e dos f u n d a d o r e s para reunião de t o d o s os
Em 1863, a 2 de j u l h o , c o n g r e g a v a m - s e s e t e bacharéis residentes na Corte. Sejam eles mencionados
bacharéis do Pedro Segundo para dar corpo à ideia do com o ano de graduação, pelas duas seções do Colégio,
grémio. realizada a divisão do Colégio em 1857.
Àqueles, a coevos, a vindouros recordariam a vida
do Colégio, nele as lições, o proveito do seu ensino, a sua Américo Romão de Figueiredo Mussuranga — (1853)
tradição enfim. (Bacharel pelo Liceu da Bahia)
Sete foram os fundadores do grémio. De inteira Augusto José de Castro e Silva — (1852)
justiça é memorar-lhes os nomes, mencionando o ano do António Dias Pinto Aleixo — (1853)
seu bacharelado. Anastácio Luiz do Bomsuccesso — (1852)
Alfredo d'Escragnolle Taunay — (1858)
Benjamim Franklin Ramiz Galvão — Externato (1861) António José de Souza Rego —(1849)
Eduardo César de Almeida Rego — Internato (1862) António Maria Corrêa de Sá e Benevides — (1862)
Ernesto Frederico da Cunha — Internato (1862) Carlos José Xavier —(1849)
Francisco José Xavier — Internato (1862) Domiciano Fortes de Bustamante e Sá — (1849)
João Carlos Mayrink — Internato (1862) Domingos José Freire —(1860)
José Pereira Rego Filho — Externato (1862) Evaristo Nunes Pires —(1855)
Pantaleão José Pinto — Externato (1861) José António de Araújo Filgueiras — (1856)
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

João José de S. Paulo —(1862) em consulta de 16 de abril de 1864, ficava o Instituto


João de Saldanha da Gama — (1853) autorizado a funcionar.
João Pinto do Rego César —(1859) O Decreto de 16 de maio de 1864, porém, estatuía
José Carlos de Almeida Áreas — (1843) explicitamente que as resoluções constantes do artigo 44
José Vicente de Azeredo Coutinho — (1849) dos estatutos do Instituto não podiam contrariar disposições
José Manoel da Silva — (1862) do Decreto.
Luiz José de Carvalho Mello Mattos — (1855) Careciam de aprovação do Governo Imperial os
Manoel Francisco Corrêa —(1855) princípios que se pretendiam servir de arestas e as reformas
Theophilo das Neves Ledo —(1850) a que se referia o artigo 45.
(Bacharel em Letras pelo Liceu da Bahia) Diziam os estatutos:
Artigo 44 — Qualquer caso não previsto pelos
Do grupo dos fundadores e dos primeiros adeptos, presentes Estatutos será provisoriamente resolvido pela
do novel Instituto, muitos das primeiras turmas do Colégio, Diretoria, cuja resolução, para formar aresto, fica
haviam de notabilizar-se mais na vida nacional: Sá e dependendo de aprovação da assembleia geral.
Benevides, Bispo de Mariana, Domingos Freire, lente de Artigo 45 — Os sócios em número superior à metade
Medicina, Alfredo d'Escragnolle Taunay e Manoel Francisco dos efetivos, poderão, quando julgarem necessário,
Corrêa, Senadores do Império, o último também Ministro requerer uma assembleia geral, para reforma dos Estatutos,
de Estado, dos Negócios Estrangeiros. o que, sendo aprovado, se incumbirá tal reforma a uma
Progrediu rapidamente o Instituto, a ponto de comissão especial composta de cinco membros.
encontrar amparo e consagração oficial, dada pelo Decreto Os estatutos submetidos ao "placet" do Governo
de 16 de maio de 1864, concedendo ao Instituto dos Imperial haviam sido subscritos na sala das sessões do
Bacharéis em Letras autorização para exercer funções e Instituto pelos bacharéis Costa Ferraz, Freitas Mussuranga
aprovando-lhe os respectivos Estatutos. e José Pereira Rego Filho.
Era a consagração pelo poder público da sociedade Constavam os estatutos de 12 capítulos e 45 artigos.
fundada na Corte com o título de Instituto dos Bacharéis Destes, os dois primeiros davam como juiz ao
em Letras. candidato a reunião dos bacharéis em letras do Império,
Fora o título proposto pelo bacharel Evaristo Nunes para, pelos melhores meios possíveis, combinar e
Pires e aceito no correr da discussão de estatutos, promover o progresso intelectual de associados.
preferido ao de Instituto Brazileiro de Sciencias e Letras, A fim de alcançar tal escopo, o Instituto realizaria
proposto pelo bacharel Pereira Rego, a 2 de julho de 1863. reuniões, e também aulas públicas, fundando caixas de
O Decreto n.° 3.270 de 16 de maio de 1864, ano beneficência, quando possível.
quadragésimo terceiro da Independência e do Império, deu Compor-se-ia o Instituto de cinco classes de sócios:
prestígio ao Instituto. — efetivos, honorários, beneméritos, benfeitores e
Pelo Decreto, declarava Sua Majestade o Imperador, correspondentes.
com a referenda do Ministro do Império, José Bonifácio Fundadores seriam quantos houvessem
de Andrada e Silva, que, atendendo à representação do comparecido à sessão inicial, a 2 de julho de 1863.
presidente do Instituto (o futuro Bispo de Mariana — Sá e Desejando pertencer ao Instituto devia o candidato,
Benevides) e à resolução tomada sobre o parecer da seçáo bacharel em letras, apresentar memória sobre qualquer
dos Negócios do Império do Conselho de Estado, exarado parte dos estudos do Imperial Colégio de Pedro II.
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Os sócios efetivos contribuiriam com a quota mensal Portaria do Ministério do Império, de 15 de fevereiro
de 2$000, remidos e benfeitores se oferecessem a quantia de 1865, concedeu ao Instituto dos Bacharéis uma sala
de 50$000. no Externato para celebração de sessões e organização
Todas as outras categorias de sócios do Instituto da biblioteca.
ficavam isentas de contribuição pecuniária. Cumprindo a portaria, e dando maior desafogo ao
Cuidavam os estatutos da administração do Instituto Instituto, muito se interessou por ele o secretário do
Incumbia-se o orador de produzir na sessão Externato e nele professor — José Manoel Garcia, daí o
Instituto conferir-lhe o título de sócio honorário.
aniversaria o elogio histórico dos sócios falecidos durante
Os bibliotecários do Instituto, de 1865 em diante,
o ano social, também caber-lhe-ia orações à beira túmulo.
deles primeiro o bacharel Francisco José Xavier,
As sessões ordinárias do Instituto não se realizariam
esforçaram-se por desenvolver a seção a seu cargo.
em novembro e dezembro, bimestre considerado de férias.
Contou a Biblioteca do Instituto, depois desamparada
A abertura das sessões ordinárias dependeria da presença
e dispersa, obras de valor e coleção de manuscritos dignos
mínima de 6 sócios.
de apreço como fossem:
Para apreciação de trabalhos dos sócios manteria o a) — A Estolaida, poema herói-còmico do Cónego
Instituto 11 comissões, de 3 membros cada uma, relator João Pereira da Silva, oferecido ao Instituto pelo bacharel
o membro mais votado. Uma de tais comissões seria a Rego César.
de línguas vivas, especialmente a nacional, atendendo Do poema publicado em 1878, só se conheciam
também à indígena. algumas estrofes e estas mesmo adulteradas.
A 2 de julho de 1864, no Externato do Imperial Pereira da Silva era carioca, Cónego da Capela Real
Colégio de Pedro Segundo, o Instituto celebrava sessão em 1803, pregador régio, humanista de vida vária, tendo-
inaugural contando no quadro social 52 bacharéis em letras. a iniciado como soldado. Escreveu A Estolaida. Do poema
À imitação de qualquer sociedade do género, extraiu e publicou o Cónego Januário da Cunha Barbosa,
verificou, porém, o Instituto durante muito tempo presença no seu Parnaso, algumas oitavas do canto 2o, descrevendo
e esforços de infatigável grupo de sócios. o Pão de Açúcar e a baía de Botafogo.
Em 1867, o Instituo conseguia publicar revista. b) — Poesias humorísticas e satíricas do monge
Intitulava-se — Bibliotheca do Instituto dos Bacharéis beneditino frei Rodrigo de São José, vice-reitor do Externato
em Letras. Trazia 298 páginas abrangendo, entre outros e neste alma de disciplina para honra do Colégio.
c) — O Orphão, trabalho de Joaquim Gonçalves
trabalhos literários, o discurso proferido na sessão solene
Ledo, o prócer da Independência, oferecido ao Instituto
de instalação do Instituto pelo respectivo presidente
pelo bacharel Carlos Alberto de Menezes, ajuntando este
bacharel — Sá e Benevides, O Púlpito no Brasil, da lavra
à dádiva breve memória explicativa da sua autenticidade.
do bacharel Ramiz Galvão, e Quatro Vultos, ensaio crítico-
Era, aliás, a Biblioteca do Instituto alvo de dádivas
biográf ico de Álvares de Azevedo, Junqueira Freire, Laurindo
importantes. Assim a do bacharel Fernando Mendes de
Rabello e Gonçalves Dias pelo bacharel Anastácio Luiz do
Almeida, doador de 300 obras, pertencentes à biblioteca
Bomsucesso. paterna, a do laborioso sobreerudito Senador Cândido
Tal número da Biblioteca foi único, é hoje raridade Mendes de Almeida.
bibliográfica. Infelizmente, nisto ficou a publicação, não à Em 1874, o Instituto dos Bacharéis em Letras
míngua de trabalhos literários, sim por falta de recursos recebia graça especial do poder público. Concedia-o o .
pecuniários de qualquer género. Decreto de 22 de julho de 1874, permitindo aos sócios do
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Instituto, em atos públicos e solenes, uso de medalha de Estudos sobre a provinda do Pará— pelo bacharel
ouro pendente de colar também de ouro. Numa das faces Custodio Américo dos Santos, futuro médico e professor
da medalha via-se gravada a cabeça de Minerva, deusa de Inglês do Colégio.
da sabedoria, laureada com a inscrição Pefro Duce et A Epopeia no Brasil — pelo bacharel Carlos
Auspice Petro, eras ingens iterabimus aequor. Na outra Maximiano Pimenta de Laet, futuro professor e diretor do
face da medalha, na parte central, a data do Decreto de Colégio.
sua instituição — 22 de julho de 1874 — em derredor — Historia e Geographia da Provinda do Espirito Santo
Instituto dos Bacharéis em Letras. — pelo mesmo.
O distintivo foi estreado por vários sócios em sessão Etymologia, prosódia e ortographia das palavras
solene do Instituto, honrada com a presença de D. Pedro portuguezas derivadas do grego — pelo bacharel Ramiz
II e da Família Imperial. Galvão.
Até 1884, muitos trabalhos foram lidos nas sessões Historia da cidade do Rio de Janeiro— pelo bacharel
regulares do Instituto. Entre eles figuravam, como mais
Vieira Fazenda, futuro cronista emérito da Cidade.
importantes, não só pelo interesse dos assuntos como
Apontamentos para a historia civil e ecclesiástica
pela notoriedade dos autores, as seguintes produções:
do Rio de Janeiro— pelo mesmo.
Humanidade e Progresso — (estudo das diversas
Diccionario etymologico e prosodico da lingua
escolas filosóficas até a cartesiana), pelo bacharel Corrêa
portugueza (princípio da letra A) — pelo bacharel Ramiz
de Sá e Benevides.
Galvão.
Geração Espontânea — pelo mesmo , futuro Bispo
Historia e Geographia da provinda de Goyaz— pelo
de Mariana.
bacharel Carlos Artur Moncorvo de Figueiredo,futuro e
O Púlpito no Brasil— pelo bacharel Ramiz Galvão.
acatado pediatra.
Quatro Vultos (Álvares de Azevedo, Junqueira Freire.
Catálogo dos manuscriptos que possam interessar
Laurindo Rabello e Gonçalves Dias) — pelo bacharel
à historia e geographia do Brazil— pelo mesmo.
Bomsuccesso.
Historia da Poesia no Brazil— pelo bacharel Oscar Macbeth — pelo bacharel Augusto Ferreira dos
Adolpho de Bulhões Ribeiro, futuro lente de medicina e Santos, futuro lente de Medicina do Rio de Janeiro.
reputado cirurgião. Viagem à America por João de Léry— tradução do
Historia do Theatro Grego — pelo bacharel João bacharel Moncorvo.
Baptista de Lacerda, futuro diretor do Museu Nacional. Estudo sobre o theatro nacional — pelo bacharel
A Glória de Colombo aos olhos da Historia — pelo Manoel Veloso Paranhos Pederneiras, futuro decano do
bacharel Ramiz Galvão. jornalismo carioca.
O Génesis e a Geologia — pelo bacharel Pedro Considerações sobre a obra de Draper — Conflito
Affonso de Carvalho, futuro lente de medicina e Barão de de Ciência e da Religião — pelo bacharel João Pinto do
Pedro Affonso. Rego César, futuro médico, clínico por longos e notórios
Analyse das causas da decadência da litteratura anos no Rio de Janeiro.
portugueza nos séculos XVI, XVII e XVIII, sua restauração A Alma e o Cérebro— pelo bacharel Rego César.
em Portugal — pelo bacharel Alfredo Piragibe, futuro Considerações sobre a obra Fim da Criação ou a
diretor do Internato do Colégio. natureza interpretada pelo senso commum— pelo bacharel
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Rego César (A obra não traz nome do autor, é porém da sátira. Páginas Literárias, 93 e Vitor Hugo), Anastácio Luiz
autoria de José de Araújo Ribeiro, Visconde do Rio Grande do Bomsuccesso (Análise do Colombo, de Porto Alegre,
e Senador do Império). em 6 cartas dirigidas ao bacharel Nunes Pires, A Fábula,
A educação da Mulher — pelo bacharel Alfredo sua Cultura em todos os Tempos e em todos os Lugares,
Moreira Pinto, o futuro geógrafo. Alegrias da Pátria, Análise de três romances de Alencar:
Hermann e Dorothéa, tradução do original de Goethe Iracema, O Garatuja e O Ermitão da Glória), José Basileu
— pelo bacharel João Henrique Braune, futuro lente de Neves Gonzaga (Memória sobre o Dilúvio Universal).
Grego do Colégio. Copiosa, pois, a lista de trabalhos apresentados ao
O Sonho, o Elogio da Mosca, e Tragapo dagra Instituto dos Bacharéis em Letras e nele discutidos.
(tradução do original grego de Luciano) — pelo bacharel Celebrava o Instituto, em 1884, à solene, o
Tomaz Ramos da Fonseca, futuro lente de Grego no Colégio. aniversário de instalação (1863-1884).
Além dos mencionados trabalhos literários, outros Memorava a data em sessão honrada, pela segunda
muitos foram lidos nas sessões do Instituto dos Bacharéis vez, com a presença de D. Pedro II e da Família Imperial,
em Letras, assim as produções dos seguintes bacharéis: em 2 de julho de 1884.
— Pantaleão José Pinto (Estudos das Línguas Vivas), Dizia então o secretário do Instituto, o doutor em
Manoel Gomes Belfort Duarte (História da Literatura medicina e bacharel em letras Diogo Garcez Palha,
Antiga), António Teixeira de Souza Alves (Principais referindo-se às augustas presenças imperiais: — "Praza
Classificações Mineralógicas), João Marinho de Azevedo aos Céus que tal ventura sirva de estímulo ao Instituto
(Agentes Plutônicos), Ernesto Frederico da Cunha (História para continuar no trabalho e aplicação e fazendo pela minha
dos Primeiros Séculos do Cristianismo), Joaquim da Cunha parte votos pela sua prosperidade , peço aos meus
Barbosa (Consciência e Crime, Poesia, e História da colegas que não desanimem, certos de que no estudo das
Literatura Sagrada e Profana), José Pereira Leitão Júnior ciências só poderão encontrar um hino majestoso entoado
(Concerto dos Séculos), Balthazar Bernardino Baptista ao Criador e ao ordenador dos mundos e que só com muita
Pereira (Memória Histórica do Município de Itaboraí e aplicação poderão descobrir armas para as contrariedades
Memória sobre os Governadores do Brasil), João Luiz dos que têm sofrido e que não são mais que a revelação da
Santos Titara (Considerações sobre o Governo do Paraguai), imperfeição e contingências humanas, e lhes peço que se
João Diogo Esteves da Silva (A Filosofia e a Humanidade dediquem ao trabalho tendo sempre em vista que o homem
e Estudos sobre a Educação Brasileira), José Tito de nascido para a verdade jamais a poderá encontrar na terra
Araújo (Lendas Bíblicas Históricas e Imaginativas), Eduardo que habita e nas ciências que possui, por maior que seja
de Lima Barros (Estudos Bibliográficos dos Poetas a sua soma, se as deixar de aceitar, aprender e conservar
Nascidos no Brasil), e traduções em verso da Piedade cuidadoso na revelação do Supremo Criador do Universo.
Suprema hugoana, de To Be or Not To Be (o monólogo Avante, pois, senhores do I n s t i t u t o , não
Shakespeareano), Evaristo Nunes Pires (A Pasmaceira, desanimemos após vinte anos de trabalhos e, ainda,
poema satírico), Carlos Alberto de Menezes (Calabar quando pareçam superiores às vossas forças os
Perante a História), Childerico Paranhos Pederneiras obstáculos a vencer, prossegui, trabalhai, lutai porque a
(História das Artes no Brasil, Os Meninos das Ruas de luta é a vida".
Nova âorú, tradução), Duarte José de Mello Pitada A enumeração dos principais trabalhos dos sócios
(Apontamentos Curiosos e Históricos), António Mendes do Instituto no decurso de mais de dois lustros, os
Limoeiro (O Passado e o Futuro, poesia. Vida e Progresso, decorridos de 1863 a 1884, sugere reflexões.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

Cumpre considerar primeiro o esforço de sucessivas De 1863 a 1867 ocupou a presidência do Instituto o
diretorias, buscando manter a continuidade e o prestígio bacharel Sá e Benevides, s u b s t i t u í d o em 1867 pelo
do Instituto. dedicadíssimo bacharel Anastácio Luiz do Bomsuccesso,
Assinale-se o interesse manifestado por muitos anteriormente 1 o secretário e vice-presidente.
s ó c i o s pelos t r a b a l h o s do I n s t i t u t o . Observe-se a Foi o cargo de orador do Instituto desempenhado de
orientação do espírito de alguns bacharéis em letras, 1864 a 1871, pelo bacharel Ramiz Galvão. Sucederam-
orientação partida do Instituto e seguida vida inteira. Ihe o bacharel Neves Gonzaga, orador de 1871 a 1875, o
Assim Ramiz Galvão a preocupar-se com estudos bacharel Mendes Limoeiro de 1875 a 1877, e de 1880 a
linguísticos, muitos hauridos do grego, Vieira Fazenda a 1881, o bacharel Manoel Velloso Paranhos Pederneiras de
tratar no Instituto do passado do Rio de Janeiro. Nem 1877 a 1878, o bacharel Rego César de 1878 a 1879, o
pareça descurioso notar a orientação inversa dos espíritos bacharel Fernandes Figueira de 1880 a 1881.
de outros sócios do Instituto, tais os de Oscar Bulhões e Solenidade das maiores e da mais alta expressão
Pedro Afonso, de Moncorvo de Figueiredo, de Moreira Pinto, promoveu o Instituto dos Bacharéis em Letras, presidido
os três primeiros dedicados à ciência médica, o último, em 1902 pelo bacharel José Bernardino Paranhos da Silva.
cultor da História e Geografia de tão boa sociedade. Foi aquela solenidade a sessão comemorativa do
Às diretorias do Instituto coube grande parte do 65° aniversário da fundação do Colégio de Pedro 2 o , então
merecimento de conservação dele. A primeira diretoria, "Gymnásio Nacional", nome no qual as paixões partidárias
eleita para o biénio 1863-1864, assim se compôs: de m o m e n t o obliteravam gratidão perene.
Presidente — Bacharel António Maria Corrêa de Sá Pouco antes da solenidade de 2 de Dezembro de
e B e n e v i d e s , ao depois Bispo de Mariana. — Vice- 1902, o Instituto dos Bacharéis em Letras incumbira uma
Presidente — Manoel Francisco Corrêa, depois deputado comissão de elaborar o programa do ato festivo.
geral, Senador do Império e Ministro de Estado. Compunha-se a delegação dos bacharéis:
1 o Secretário — Bacharel Ernesto Romão de Freitas Conselheiro Manoel Francisco Correia, da turma de 1849,
Mussurunga. Alfredo Russell, da turma de 1 8 9 1 , Paranhos da Silva, da
2 o Secretário — Bacharel Benjamin Franklin Ramiz t u r m a de 1892, Raul Pederneiras, da m e s m a t u r m a ,
Galvão, sócio fundador, lente de medicina, diretor da Theodoro Magalhães, da turma de 1893.
Biblioteca Nacional, preceptor dos Príncipes D. Pedro e D. A 2 de dezembro de 1902, às 11 horas da manhã,
Luiz de Orleans e Bragança. Monsenhor João Pires de A m o r i m , ex-vice-reitor e antigo
Tesoureiro — Bacharel José Pereira Rego Filho, professor de Religião do Colégio, celebrou missa em ação
sócio fundador, m é d i c o , secretário-geral da Imperial de graças acolitado por antigo aluno do Colégio, Cónego
Academia de Medicina. Manoel Marques de Gouvêa.
Orador — Bacharel Luiz José de Carvalho Mello Rezou-se a missa na igreja de São Joaquim, contígua
Mattos, advogado, Presidente da Assembleia Provincial ao Colégio, nela celebrada outra missa, a 3 de dezembro,
Fluminense. por alma dos bacharéis em letras desaparecidos no
o
1 Suplente — Bacharel João Carlos M a y r i n k , decurso de mais de meio século de vida do Instituto.
médico, sócio fundador. Na manhã de 2 de dezembro de 1902, comissão de
o
2 Suplente — Bacharel Ernesto Frederico da Cunha, bacharéis, representando o Instituo, na necrópole de
médico. Catumbi, visitou os túmulos do marquês de Olinda e de
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Bernardo de Vasconcellos, o Regente e o Ministro Ficavam-lhe ao lado os bacharéis Theodoro


fundadores do Colégio, sem ser possível prestar igual Magalhães e Lima Drummond, 1o secretário e orador do
homenagem aos restos mortais do primeiro reitor, o Bispo Instituto.
D. Frei António de Arrábida. Como de direito orou primeiro o bacharel Busch
Junto aos túmulos de Olinda e Bernardo de Varella, cheio de triunfos oratórios na tribuna forense. O
Vasconcellos, quedaram-se respeitosos os bacharéis discurso do bacharel decano de 1843 foi expressivo
Conselheiro Manoel Francisco Correia, da turma de 1849, transunto de passado e saudade.
Theodoro Magalhães, Alfredo Russell, Werneck Machado, Com aquele rememorou a vida oficial do Colégio,
da turma de 1881, Amarílio de Vasconcellos e Hermínio com esta a vida íntima dele.
Lyra da Silva, da turma de 1893. Bacharel em letras em 1843, era Busch Varella
Reuniram-se depois ao tradicional toque da sineta, advogado da mais célebre nota. Em 1902, remontando ao
no pátio do Externato do Ginásio Nacional, numerosos antanho, dizia de antigos professores do Colégio,
bacharéis em letras. Gonçalves de Magalhães, Joaquim Caetano, Santiago
Muitos representavam outros colegas. Nunes Ribeiro, Silva Maia, Porto Alegre.
Formaram todos, por ordem de turmas, à testa Do patrono da casa, D. Pedro II, afirmava Busch
destes o bacharel decano de 1849, Carlos Arthur Busch Varella, referindo-se aos primórdios do Colégio Imperial:
Varella. Caminharam os bacharéis para o Salão Nobre do — "Poucos eram então os alunos; o jovem Imperador,
Ginásio. moço da mesma idade que eles, visitava com frequência
Aí os aguardava luzido auditório no qual, entre as aulas, acompanhado quase sempre do seu venerando
pessoas gradas, figuravam o Dr. José Joaquim Seabra, amigo, o Visconde de Sapucaí, de saudosa memória;
Ministro da Justiça, os Drs. Francisco Cabrita e Coqueiro, tomava vivo interesse pelo adiantamento dos alunos,
diretores do Externato e Internato, assistidos pela assistia às suas lições e para todos tinha boas palavras
Congregação do Ginásio composta de lentes em exercício de animação. Foi assim que ele radicou nos corações de
e jubilados. todos aqueles moços uma respeitosa simpatia que o
Fora reservado aos bacharéis lugar distinto na acompanhava nos seus dias de glória e nos transes de
solenidade. sua acidentada existência".
Sentaram-se por ordem de turmas. No meio de
Tratando das reformas de modificação, à primitiva
colegas da turma de 1865, divisava-se o então Presidente
regulamentação do Colégio, observava ainda Busch
da República, Rodrigues Alves, perto dos bacharéis José
Varella: —
Américo dos Santos, Edmundo Mendes Limoeiro, Luiz
" Dessas reformas, a mais importante foi a de 1854,
Betim Paes Leme e Valeriano da Fonseca.
elaborada pelo benemérito Visconde de Bom Retiro, que
Na mesa de honra da sessão alvejavam dois
barretes. Um havia imposto grau aos bacharéis de 1849, com tanto zelo, atividade e inexcedível patriotismo geria
da primeira turma saída do Colégio, o outro pousara sobre os negócios do Ministério do Império, onde deixou traços
a cabeça dos bacharéis de 1901, última turma graduada luminosos de sua passagem.
em ciências e letras. Não me acoimeis de indiscrição se vos disser que
Convidou o presidente do Instituto dos Bacharéis, o Ministro Visconde, declinando dos louvores que alguém
Paranhos da Silva, o bacharel mais antigo, Busch Varella, tributava ao seu magnífico trabalho, respondeu que todo o
para presidir a sessão. merecimento dessa reforma cabia ao Imperador, que tinha
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

estudado acirradamente todo o movimento pedagógico nos "sancionada pelo correr dos decénios e testificada pela
modernos sistemas e métodos de ensino na Europa, lista dos 704 bacharéis por ele diplomados, não contando
especialmente em França". os estudantes que abandonaram o curso no 5o e 6o ano de
Prosseguindo na oração, o bacharel Busch Varella, estudos para, com aproveitamento, frequentarem as
em nome da Pátria, pugnou pela repatriação dos restos academias".
mortais de D. Pedro II e de D. Theresa Christina postos no Ao bacharel Theodoro de Magalhães seguiu-se com
panteão mortuário bragantino do mosteiro de São Vicente a palavra o bacharel João da Costa Lima Drummond, desde
de Fora, em Lisboa. os bancos colegiais tido por orador, na solenidade de 2 de
"A iniciativa da ideia não é minha, antes de mim dezembro de 1902, o sendo por mandato e conta do
manifestou-a na imprensa um ilustre brasileiro que não Instituto dos Bacharéis em Letras.
pode ser averbado de suspeito; onze anos foi ele Cônsul O discurso de Lima Drummond focalizou sobretudo
e Ministro do Brasil nos Estados Unidos da América do a figura de Bernardo Pereira de Vasconcellos, o Ministro
Norte e a sua adesão às formas republicanas é bem interino da Regência Olinda a desvelar-se tanto na fundação
como na posterior defesa do Colégio.
conhecida: — foi ele quem em 1893 aconselhou à
Pôs Lima Drummond também em relevo a figura de
República que para dar ao mundo documento de sua
morto querido do Instituto, o Dr. Anastácio Luiz do
estabilidade mandasse trasladar para a terra da Pátria os
Bomsuccesso — "o médico caridoso e exímio fabulista,
restos mortais do Brasileiro e de sua santa esposa, que
que durante muitos anos do género fora muitas vezes a
nos deram a todos o modelo da família e o exemplo dos
única personificação genuína e viva, desdenhando sempre,
bons costumes e dos sentimentos pios, o republicano que
por inúteis e fugaces, as seduções da força e do poder, na
assim se exprime é o Sr. Salvador de Mendonça."
íntima convivência com os pobres e os humildes, porque
Vinte anos passaram. Só em 1922, celebrado o 1o
confiava nestes dois poderosos elementos de formação
Centenário da Independência, realizaram-se os votos de
do caráter, o trabalho e a honra, transunto fiel da sua vida".
Salvador de Mendonça, em 1893, e de Busch Varella em Principiada ao meio-dia, findava quase às quatro
1902, a 2 de dezembro de justo em data natalícia do horas da tarde a solenidade promovida pelo Instituto dos
Imperador, "dia outrora festivo e de gala", como disse Bacharéis, a 2 de Dezembro de 1902.
Busch Varella, comparando D. Pedro II "a filho que chorava Tornara realidade ideia havia muito no pensamento
com saudade, mas não se queixava da mãe que o lançara de alguns bacharéis em letras, entre eles Teixeira Júnior,
de si". Visconde do Cruzeiro, e Busch Varella.
A Busch Varella sucedeu na tribuna o 1o Secretário A 5 de agosto de 1902, em reunião de 40 bacharéis,
do Instituto dos Bacharéis em Letras, o bacharel Theodoro fora resolvido levar avante a ideia da comemoração do
Augusto Ribeiro de Magalhães inventariando, às rápidas, 65° aniversário da fundação do Colégio.
os principais sucessos da vida do Colégio, da fundação a Realizou-se o ato, qual o narramos, com toda a
1902. solenidade e júbilo geral da classe dos bacharéis em letras
Prestando homenagens aos vultos da Casa, do Pedro Segundo.
exaltando-lhes préstimos sem lhes calar culpas A estes associaram-se vultos da maior
obedientes à franqueza humana, "como republicano representação pátria e até estrangeira, presente à festa o
intransigente e cronista imparcial ", Theodoro Magalhães Dr. Susviela Guarch, Ministro do Uruguai no Brasil, também
salientava sobretudo a valia do estabelecimento entre convidados o Arcebispo do Rio de Janeiro, D. Joaquim
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti e representantes de representação a estudar, com minudência e segurança, o


oito associações científicas, bem como significativamente Decreto favorecendo o Instituto Kopke.
irmãos da Irmandade de São Joaquim, funcionando no Ao próprio Congresso Nacional, o Instituto Kopke
templo contíguo ao Externato do então Gymnásio Nacional. pleiteara a equiparação ao Ginásio Nacional, pelo Poder
Por ocasião da solenidade de 2 de Dezembro de 1902, Legislativo rejeitada a pretensão.
reeditou e distribuiu o Instituto de Bacharéis em Letras o A representação do Instituto, pelo relator desta,
discurso lapidar de Bernardo de Vasconcellos, na abertura Paranhos da Silva, mostrava a ilegalidade da concessão
do Colégio, a 25 de março de 1838, dia de grande gala do Poder Executivo ao Instituto Kopke.
pelo aniversário do juramento da Constituição do Império. O Instituto dos Bacharéis firmou, pois, protesto
Nunca se mostrou o Instituto de Bacharéis indiferente contra o regime das equiparações cuja história, cujas
às questões de ensino, sobretudo se diziam respeito ao consequências não serão aqui narradas, examinando quais
Colégio. os seus efeitos em relação ao ensino.
Sobretudo aos bacharéis em letras sempre parecer
Nem foi o Instituto dos Bacharéis indiferente à
provisório o título de Ginásio Nacional.
postergação do nome de D. Pedro II como o do verdadeiro
A divina justiça imanente, superando a dos homens,
nome do Colégio. Em sessão ordinária, por unanimidade
dia mais, dia menos, restituiria à gloriosa Casa o nome
de votos e sob a presidência do bacharel Paranhos da Silva,
daquele cujos auspícios fora fundada em 1837.
aprovou o Instituto representação dirigida ao Presidente
Do interesse do Instituto dos Bacharéis por questões
da República e da lavra do sócio honorário professor
pedagógicas, mormente relativas ao Colégio, há frisante
Escragnolle Dória ao qual o Instituto conferira aquele título
exemplo.
pelo seu devotamento à instituição, na qual tomara posse
No uso de Direito Constitucional, o de petição, aos
proferindo discurso de exaltação ao Colégio, aos seus
membros do Congresso Nacional representou o Instituto
serviços, à sua tradição
dos Bacharéis em Letras.
No recuperar antiga denominação de Colégio de
Verberou o ato do poder executivo federal contido
no Decreto equiparando em 1895 ao Gymnásio Nacional, Pedro Segundo, podem encontrar-se o esforço e os votos
aos seus 58 anos de existência, o Instituto Kopke com do Instituto de Bacharéis em Letras.
sede no Rio de Janeiro, dirigido aliás por pessoa digna e Eis, como em nome dele, se expressava o professor
de cultura. Escragnolle Dória, dirigindo apelo aos altos poderes do país
O Instituto dos Bacharéis nomeou comissão para no sentido de reparar injustiça oriunda de instantes
redigir representação ao Congresso Nacional. agitados de transição do regime monárquico para o
Compuseram-na os bacharéis Luiz Carlos Fróes da republicano, quando por efeito de paixões momentâneas
Cruz, presidente, José Bernardino Paranhos da Silva, até direitos adquiridos de professores do Colégio foram
relator, Carlos José Sallaberry, Alfredo de Almeida Russell violados para ulteriores reparações judiciárias e
e Ildefonso Castilho Lisboa. administrativas.
A extensa e bem elaborada representação do
Instituto foi distribuída em avulso. Analisava os artigos A Mudança de Nome do Ginásio Nacional
dos Decretos aos quais se referia o ato do poder executivo,
bem como os avisos e as deliberações do mesmo poder Eis a representação do Instituto pedindo a restituição
referentes ao assunto, entrando por último o relator da ao Colégio do nome de D. Pedro II:
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

"Sr. Presidente da República — O Instituto de Trinta e dois anos de tradição lhe assinalaram as
Bacharéis em Letras, associação exclusivamente fundada denominações de Externato e Internato do Colégio de Pedro
por Bacharéis do Colégio de Pedro Segundo e por eles Segundo. Tradição inteiriça, coesão perfeita.
também exclusivamente mantida 46 anos (1863-1909), não 2 o — No período republicano, o Gymnasio Nacional
pode conservar-se indiferente à mudança de nome ora se viu dividido em Externato e Internato do Gymnasio
sofrida pelo Gymnasio Nacional. Nacional e não recebeu duas denominações opostas.
Considerando-se, com justo orgulho, ante mural do 3 o — O voto da Congregação, o desejo dos órgãos
Gymnasio, tendo sido por várias vezes pelo Governo da opinião nacional, a voz dos oradores nas festas de grau
julgado objeto de favores especiais, o que equivale à da Casa sempre pediram a mesma coisa: — a volta do
declaração implícita de utilidade pública o Instituto acredita nome de Pedro Segundo para todo o estabelecimento. Só,
ter pleno direito de intervir no assunto com a força de sua pura e simplesmente.
tradição e o vigor de suas convicções. 4 o — Quaisquer que tenham sido os serviços de
Fundado em 1837, o Colégio de Pedro Segundo Bernardo Pereira de Vasconcellos ao Colégio, no momento
começou a funcionar em 1838 c o m o internato, s e m i - histórico de sua fundação — e ninguém os nega como
internato e externato. Corridos dois decénios, o Decreto ninguém esquece t a m b é m os préstimos do Regente, a
de 24 de outubro de 1857 desmembrou o estabelecimento primeira figura do Governo — tais serviços se limitaram à
em duas seções: — Externato e Internato do Colégio de época da fundação. E n t r e t a n t o , a vida do Monarca
Pedro Segundo. A divisão não alterou o nome principal do identificou-se c o m o Colégio de Pedro Segundo, e o
Colégio. soberano muito se esforçou nas funções de protetor da
Sobrevêm a República. Apaga-se o título do Colégio. Casa, proporcionando-lhe o maior esplendor, impondo-a
Extingue-se o internato. Transformam-se as antigas duas de tal modo, que de 1889 par diante todos reivindicaram a

seções em 1 o
e 2 o
Institutos de Instrução Secundária, restituição ao Gymnasio Nacional do título de Colégio de
Pedro Segundo.
ambos em caráter de externato. Mais tarde, adota-se,
enfim, novo nome, Gymnasio Nacional — seccionando em Ninguém falou em Bernardo Pereira de Vasconcellos.
Externato e Internato do Gymnasio Nacional, seguimento 5 o — O nome de Bernardo Pereira de Vasconcellos,
do Externato e Internato Imperial Colégio de Pedro na tradição do Colégio de Pedro Segundo, representa corpo

Segundo. estranho, quando pode merecer c o m p l e t o aplauso e


unânime simpatia a concessão do glorioso nome a nova
Agora desaparece o Gymnasio. Surgem em lugar
fundação pedagógica. Chamado Bernardo Pereira de
dele o Externato Nacional de Pedro Segundo e o Internato
Vasconcellos o Internato, é forçoso chamar o Externato —
Nacional Bernardo de V a s c o n c e l l o s , s u b s t i t u i n d o o
Marquês de Olinda — pois, na época da fundação do
Externato e o Internato do Gymnasio Nacional.
Colégio, Olinda dirigia o país em nome do Imperador menor,
C o m a devida licença, parece ao I n s t i t u t o de
nada se podendo fazer sem anuência dele.
Bacharéis em Letras lhe ser lícito pleitear para o ex-
Tradições equivalem a grandes brilhantes, não se
Gymnasio Nacional a restituição in-integrum do antigo título
partem. Que valor t e m a Estrela do Sulou o Kohinoorem
Externato e Internato de Colégio de Pedro Segundo, pelas
pedaços?
razões seguintes:
6 o — Argumentando por absurdo, c o m o muitos
1 o — Cinquenta e dois anos de tradição sagraram
argumentam no caso, o nome de Pedro Segundo representa
para o Colégio o nome de Pedro Segundo.
apenas adulação antiga de 1837, com a qual se conformou
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Bernardo Pereira de Vasconcellos. Que nos ensinam, Talvez se responda: — os externatos ao Externato
porém, lições do mundo civilizado? tipo — o Pedro Segundo — os internatos ao Internato tipo
Os nomes de monarcas podem estar ligados a — o Bernardo de Vasconcellos.
institutos de ensino, corroborando a posteridade Mas os colégios "ad-equiparandum" são de regime
homenagem oficial do momento. Na cultíssima França misto na maior parte. A solução não resolve, pois, a
— espelho secular da civilização e dela perene exemplo dificuldade.
— nos plenos dias da democrática Terceira República
O argumento é apresentado pelo Instituto apenas
ninguém ainda se insurgiu em Paris contra o Lycée Henry
como lisura e inteireza na argumentação, porquanto o
IV'ou contra o Lycée Louis le Grand.
Instituto não dá quartel ao regime das equiparações, que
Não consta a presença de Henrique IV ou de Luiz
combateu e combaterá tenaz e inflexivelmente.
XIV na história da pedagogia.
Volvendo-se à denominação — Colégio de Pedro
Ninguém se lembrou de arrancar o nome de Henrique
IV e de substituí-lo pelo de Sully, entretanto Ministro de Segundo — Externato e Internato — tudo ficará sanado.
assinaladíssimos serviços ao rei e à Pátria. A restituição será perfeita, a tradição se tornará
7o — Denominar o ex-Gymnasio Nacional — inteira, as complicações de ordem administrativa
externato de Pedro Segundo e Internato Bernardo de desaparecerão.
Vasconcellos — equivale a produzir confusões em muita Não há desar para governo algum reconsiderar seus
ordem de assuntos: atos.
a) — dividindo a Congregação em dois grupos A fórmula — sem efeito — que os governos
anualmente presidido pelo diretor de estabelecimento de empregam quotidianamente em relação a pessoas e
nome diferente; dois corpos visíveis animados por suposta coisas jamais os desdoura, quando derivados de motivos
alma. justos ou recuo de boa fé.
b) — provocando a coexistência de títulos como o Nem o Estado é oráculo, nem os estadistas são
de bacharel em ciências e letras pelo Externato de Pedro granito. Insensatez é teimar sem razão. O futuro, aliás,
Segundo e bacharel em ciências e letras pelo Internato
governa mais do que o presente. Leis e medidas bem feitas
Bernardo de Vasconcellos — quando, entretanto, tais títulos
perduram. Na hipótese contrária espera-as o porvir para
emanam da fonte e contudo nada de comum representam;
suprimi-las ou modificá-las.
c) — disassociando completamente em futuro muito
Ousaria o Governo de 1890 transformar o Instituto
próximo a tradição histórica e a vida em comum de dois
Nacional de Instrução Secundária em Colégio de Pedro
estabelecimentos ligados há mais de meio século;
d) — dificultando distribuição das rubricas Segundo?
orçamentárias e de todos os serviços delas decorrentes. Entretanto, em 1909, dentro da mesma geração, foi
8o — A presença de dois títulos — Colégio de Pedro o ato perfeitamente possível e aplaudido.
Segundo e Colégio Bernardo de Vasconcellos — acarretará Os signatários de célebre manifesto republicano de
para o Governo numerosas dúvidas para as equiparações 1870 foram tachados de visionários. Que se disse deles
de que infelizmente tanto se usa. em 1889?
Qualquer colégio a equiparar-se a qual será Não é demais insistir no amor ao nome antigo do
equiparado — ao Externato de Pedro Segundo ou ao colégio. Nome ilustre constitui na pátria, em qualquer ordem
Internato Bernardo de Vasconcellos? social, na própria família, património inestimável, defendido
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

à custa dos maiores sacrifícios, honrado a poder dos Infelizmente, após longos anos de vitalidade, na
maiores esforços. constância de esforço pela cultura, o Instituto dos
Protestando, pois, o seu súbito apreço ao Governo Bacharéis em Letras entrou em eclipse do qual não saiu
constituído, o Instituto dos Bacharéis em Letras, escudado até hoje. Merece ressurreição pois, e sempre teve vida
na razão, nas tradições, no desejo unânime da classe, nobre. Que ressurja.
vem respeitosamente solicitar-lhe a restituição inteira do
nome de Pedro Segundo para o Externato e o Internato do
ex-Gymnasio Nacional".
ESCRAGNOLLE DÓRIA

Washington Luiz Pereira de Souza,


Presidente da República (1926- 1930). Ex-aluno.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

índice Onomástico*

AARÃO REIS, Daniel Penna 244, 250 AGASSIZ, Luiz 107-108


ABRANTES, Marquês de ver ALMEIDA, Miguel Calmon AGRÍCOLA, Júlio 159
du Pin e AGUIAR, Carlos Augusto da Costa 190
ABREU, Decio Guimarães 268-269 AGUIAR, Joaquim Luiz Mendes de 188, 226, 228, 231-
ABREU, Joào Capistrano de 167, 181,222, 231, 264 232, 240
ABREU, Pedro José de 89, 105, 130, 133, 143-145, 163- AGUILAR, José Pedro Werneck Ribeiro de 65
164, 190 AITA, Nella 210
ABREU, Saturnino Santa Clara Antunes de, Frei 127, ALBUQUERQUE, Almeida e 43
163 ALBUQUERQUE, António Francisco de Paula e Holanda
ACADEMIA DE CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES 249 Cavalcanti de 51
ACADEMIA DE HISTÓRIA 249 ALBUQUERQUE, Félix Maria de Freitas e 101,120-121,
ACADEMIA DE MARINHA 76, 108, 163 153
ACADEMIA DOS DEZ 249 ALBUQUERQUE, Francisco de Paula Cavalcanti de 51
ACADEMIA FRANCESA 268 ALBUQUERQUE, José Cândido de 128
ACADEMIA IMPERIAL DAS BELAS ARTES 102, 119, ALBUQUERQUE, Ugolino Ayres de Freitas e 120
143 ALBUQUERQUE. Visconde de ver ALBUQUERQUE.
ACADEMIA IMPERIAL DE MEDICINA 102-103 António Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti de
ACADEMIA MILITAR DO RIO DE JANEIRO 44, 108 ALEIXO, António Dias Pinto 272
ACCIOLI, José Cavalcanti de Barros 183, 234, 254, ALENCAR, Alexandrino Faria de 188
258, 260, 269 ALENCAR, José Martiniano de 40
ACHE, Felippe Hypolito 72 ALEXANDER, Alfredo 52, 164, 231
ADJUNTO, Alonso Garcia 176, 179 ALFREDO, João ver OLIVEIRA, João Alfredo Correia de
AFFONSO PENNA JÚNIOR 221, 229 71, 117-118, 120, 122
AFFONSO PENNA, Presidente (1906-1909) 183, 186- ALMEIDA LISBOA, Joaquim Ignacio de 182, 240
188,227 ALMEIDA, António Caetano de 100

* Elaborado pela Comissão de Atualização. As entradas para nomes institucionais aparecem em itálico e para os títulos de
publicações, em negrito. (N. do E.)
ESCRAGNOLLE DÓRIA

ALMEIDA, António Figueira 229.238 ANDRADE, Octávio Freire de 241


ALMEIDA, Cândido Mendes de 274 ANDRÉA, Álvaro Soares de 130. 132
ALMEIDA, Fernando Mendes de 120, 191, 274 ANEMÚRIA, Bispo dever ARRÁBIDA, António de, Frei
ALMEIDA, Joào M e n d e s de 190,213 ANUÁRIO 63, 76
ALMEIDA, João Ribeiro de 72 AQUINO, João Pedro de 174
ALMEIDA, Luiz Castanhede de Carvalho e 161-164, ARAGUAIA, Visconde de ver MAGALHÃES, Domingos
178,213,228 José Gonçalves de
ALMEIDA, Manoel António de 166 ARANHA, Graça, Almirante 261
ALMEIDA, Miguel Calmon du Pin e 23, 68, 72, 79 ARAÚJO, Carlos Brasil de 250, 254
ALMEIDA, Pires de 268 ARAÚJO, Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de 107
ALMEIDA, Vital de 212,218 ARAÚJO, Jorge Américo de 250
ALMEIDA, Walkyria 269 ARAÚJO, José T t o Nabuco de 276
ALVARENGA, Silva 17 ARAÚJO, Manoel de Monte Rodrigues de 44
ALVARES DE AZEVEDO, Manoel António 63-64, 66, 89, ARAÚJO, Murillo 229, 265
94, 184 ARAÚJO. Pedro Américo de 250
ALVERCA, Abade de ver SALGUEIRO, José dos Santos ARAÚJO, Urbano dos Santos da Costa 214
ALVES, António Teixeira de Souza 276 ARAUTO, O 250
ALVES, João Luiz 214, 216, 2 2 1 , 224 ARCOS, Conde dos 21
ALVES, Joaquim José de Oliveira 162, 177 ARCOVERDE, Joaquim 182,280
ALVES, José Luiz 61,67 ARÊAS, José Carlos de Almeida 56,273
ALVES, Luiz Augusto Drumond 187 ARINOS, Barão dever BRITO, Thomás Fortunato de
ALVES, René Pereira 250 ARNIZAUT, Luiz Joaquim de Almeida e 65-66
ALVIM, Cesário 172 ARQUIVO NACIONAL 184, 235
A M A R A L , António Felizardo Cupertino do 116 ARRÁBIDA, António de, Frei 25, 27, 31,35, 45, 64, 119,
A M A R A L , Ignacio de Azevedo 266 158,252,278
A M A R A L , José de Santa Maria 69, 90, 112, 114, 118, ARTOIS, Conte de 71
120,127 ARVELLOS, Januário da Silva 33
AMÉRICO, Paschoal 268 ATALAIA, O 250
AMOR DIVINO, José de 26 ATHENEU E NOTÍCIAS 250
A M O R I M , João Pires de 119, 163, 277 AUDRET, Alexandre 78
ANANIAS, António Jorge 250 AUGUSTO, Pedro, Dom, Príncipe 121
ANCHIETA 16,123 A Z A M B U J A , Cónego 131
ANDRADA, António Carlos Ribeiro de 5 0 - 5 1 , 53, 72, AZEVEDO JÚNIOR. Luiz de 71
257-258 AZEVEDO, António Mariano de 34
ANDRADE, António José de Paiva Guedes de 59 AZEVEDO, António Rodrigues Monteiro de 88
ANDRADE, Boaventura Plácido Loureiro de 130 AZEVEDO, Duarte Moreira de 68, 122, 167
ANDRADE, Nilo 242 AZEVEDO, Ignacio Manoel Alvares de 66-67, 274
ANDRADE, Nuno de 130-131 AZEVEDO, João Marinho de 177,276
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

AZEVEDO, José da Costa 169 BARRUEL 27


AZEVEDO, José Philadelpho de Barros 191, 204, 214, BEETHOVEN 239
216, 222, 228, 236, 238, 243, 258, 265 BELL, Graham 153
AZEVEDO, Manoel António Duarte de 72, 90 BELLEGARDE, Niemeyer 53
AZEVEDO, Moreira 16-17, 68 BELLO, Wenceslau Leite Alves de Oliveira 180
BABO 162 BELTRÃO, António Carlos de Arruda 186
BACKEUSER, Everardo Adolpho 179, 212 BELTRÃO, Guiomar de Nóbrega 184
BACKEUSER, João Carlos Restier 213 BELTRÃO, Heitor da Nóbrega 184
BADARÓ, Eduardo Gê 188, 258, 263-264 BENEVIDES, António Maria Corrêa de Sá e 100-101,
BANDEIRA, Esmeraldino Olympio Torres 188-189 105, 112, 118-119, 158,272-275,277
BAPTISTA PAI 164 BENTO, José 122
BAPTISTA, Paula 131 BERGERAC, Cyranode 63
BAPTISTA, Pedro Pinto 162, 177, 200-201, 203 BERNA, Benevenuto 254, 265
BARBACENA, Marquês de ver PONTES, Felisberto BERNARDES, Arthur 214, 218, 2 2 1 , 224
Caldeira Brant BERQUÓ, João Maria da Gama 133-134, 1 5 1 , 167
BARBOSA, Francisco Vilela 44-46 BERRY, Duque de 71
BARBOSA, Isaltino 202 BEVILÁQUA, Clóvis 131
BARBOSA, Januário da Cunha 3 1 , 274 BEVILÁQUA, Dora 256
BARBOSA, Joaquim da Cunha 276 BEVILÁQUA, Mário 194, 2 0 1 , 203, 251
BARBOSA, Luiz Torres 239 BEVILÁQUA, Sylvio Alfredo 176
BARBOSA, Milton Pires 229 BIBLIOTECA NACIONAL 90, 101. 118-119, 184
BARBOSA, Paulo 24 BIBLIOTECA PÚBLICA DO RIO DE JANEIRO 31
BARBOSA, Ruy 151-152 BIHOURD, Pierre 73
BARCA, Conde da 24 BITTENCOURT, António Coelho 186
BARCELLOS, Annibal 250 BITTENCOURT, Nascimento 186
BARRETO, Alfredo Coelho 176 BLAKE, Sacramento 71
BARRETO, Amado Menna 201 B O M RETIRO, Barão de ver FERRAZ, Luiz Pedreira do
BARRETO, Amaro 184 Couto
BARRETO, Fausto 166, 2 3 1 , 244 BOMSUCESSO, Anastácio Luiz do 63, 79, 272, 274-277,
BARRETO, Mário 244 279
BARRETO, Rozendo Muniz 130-131, 133. 136, 139, BONAPARTE, Jeronymo 24
143, 147, 150, 164 BORGES, Abílio César 133
BARROS, Eduardo de Lima 276 BORGES, António Pedro de Carvalho 34
BARROS, Prudente José de Moraes e 177-178 BORGES, Francisco José 65-66
BARROS, Sebastião do Rego 26 BOSCOLI, José Ventura 80, 90, 105, 190
BARROSO NETTO 268 BOSSUET 123
BARROSO, Almirante 52 BOTELHO, Manoel 17
BARROSO, José Liberato 103 BRAGA, Ernani 186
ESCRAGNOLLE DÓRIA

BRAGA, Francisco 268 CAMPOS, Horácio Mendes 186


BRAGA, João 182 CAMPOS, Martinho Alvares da Silva 30, 116
BRANCO, Alves 66-67 CANTALUPPO, Roberto 255
BRANDÃO, Luiz de Almeida 37 CANTÃO 233
BRANNER, John Casper 214 CARCANO, Ramon 259
BRASIL, Joaquim Pinto 69 CARDOSO. Ernani de Figueiredo 265
BRAUNE, João Henrique 114,167,276 CARDOSO, Miranda 265
BRAZIL, Thomaz Pompeu de Souza 115 CARLOS V 156
BRAZIL, Sebastião Pereira 186 CARMO, José Joaquim do 130, 132, 134, 136-138, 142-
BREVES, João Onofre de Souza 1 6 6 , 2 0 8 , 2 1 0 , 212 144, 146-147, 150-151, 153, 155-156, 158, 252
BRITO, Cyro Cândido Martins de 71 CARMO, Nuno de Andrade 131
BRITO, Floriano Corrêa de 209, 215, 232, 235 CARNEIRO LEÃO, António 249
BRITO, Francisco Augusto Xavier 115 CARNEIRO, António Alves 153
BRITO, Francisco Bernardo 190 CARNEIRO, Plácido Mendes 19-20,22
BRITO, João Bernardo de 165 CARVALHO BORGES, Barão de ver BORGES, António
BRITO, Joaquim Marcelino de 60 Pedro de Carvalho
BRITO, Luiz Raymundo da Silva 119, 158, 161, 164, CARVALHO, António Luiz Affonso de 175
177, 182,252 CARVALHO, Balduíno Rodrigues de 165
BRITO, Marcelino de 65 CARVALHO, Carlos de 113
BRITO, Mário Paula 106, 186, 263 CARVALHO, Carlos Delgado de 210-211, 220, 234-236,
BRITO, Paulino de Souza 56 243-244, 247, 249, 252, 254, 267-268
BRITO, Raymundo Farias 188, 203, 264 CARVALHO, Carlos Leôncio de 128-130
BRITO, Thomaz Fortunato de 113 CARVALHO, Cecílio de 186, 203, 205, 2 1 1 , 217-218,
BUENO, Marcelino José da Ribeira Silva 52 221
BULHÕES, Oscar 277 CARVALHO, Guilherme Affonso de 113, 176, 209
BURNIER, António Ildefonso Nascentes 38, 93-94 CARVALHO, João da Costa 69-70, 72, 76-78
CABRITA, Francisco Carlos da Silva 180-182, 252, 278 CARVALHO, José Dias Delgado de 178, 181
CAETANO, João 106,112 CARVALHO, Pedro Affonso de 275
CALDEIRA, Reginaldo Netto 60 CARVALHO, Pedro Guedes de 187
CALMET 123 CARVALHO, Pedro Luiz de 18
CALOGERAS, João Baptista 52, 65-66, 6 9 - 7 1 , 167 CASTÃO, Octávio Severo 236, 254
CAMARINHA, Mário 268 CASTELLO BRANCO, Bernarda 19
CAMILLO, Alexandre 181 CASTELLO BRANCO, José Gil 182-183, 252
CAMINHOÁ 145-146,166 CASTELLO BRANCO, José Joaquim Justiniano
CAMÕES 202 Mascarenhas 17
CAMPOS SALLES, Manoel Ferraz de, Presidente (1898) CASTELLO BRANCO, Marcelino Sampaio 177
73, 180-181, 187 CASTELLO BRANCO, Pandiá Hermann de Tautphoeus
CAMPOS. Francisco Luiz da Silva 248 189
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

CASTELLO BRANCO, Urbano Burlamaqui 156 COELHO, Jayme Jansen 229,238,242


CASTELLO, Vianna do 235 COELHO, Manuel Inácio Souto Maior Pinto 24, 26
CASTELNAU, Conde de 41 COELHO, Olindo Pinto 186
CASTRIOTO, Carlos Frederico 63, 72 COIMBRA, Argemiro Gabriel de Figueiredo 127
CASTRO, Correggio de 229, 240 COIMBRA, João Bernardo de Azevedo 114
CASTRO, Gentil Coelho de 239 COLÉGIO AQUINO 200
CASTRO, José António de Azevedo 88 COLÉGIO DA BAHIA 16
CASTRO, José António de Magalhães 228 COLÉGIO DE JACUECANGA 38, 42
CASTRO, Leandro Rebelo Peixoto e 37-38, 4 0 - 4 1 , 44, COLÉGIO DE PIRATINGA 16
51 COLÉGIO DE PIRATININGA 16
CASTRO, Luiz de 259 COLÉGIO DE SANTA CÂNDIDA 136
CASTRO, Tito Lívio de 153 COLÉGIO DOS JESUÍTAS 16-17
CAVALCANTE, Amaro Bezerra 153, 179, 180 COLÉGIO HENRIQUE IV 282
CAVALCANTI, Holanda 60 COLÉGIO IMMACULADA DA CONCEIÇÃO 113
CAVALLI, José Angelo 259 COLÉGIO LEUZINGER: 113
CAXIAS, Duque de ver SILVA, Luiz Alves de Lima e COLÉGIO MARINHO 113
CAYRU, Visconde de ver LISBOA, José Maria da Silva COLÉGIO MILITAR 250
CAYX 27 COLÉGIO PAULA FREITAS 218
CEARENSE, Catulo da Paixão 268 COLÉGIO PINHEIRO 113
CENTRO CARIOCA 265 COLÉGIO PINTO FERREIRA 264
CERVANTES 82, 93 COLÉGIO PLÍNIO LEITE 264
CÉSAR, João Pinto do Rego 88, 99, 170. 259, 273, 275, COLÉGIO SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA 113
277 COLÉGIO SÃO VICENTE DE PAULO 264
CHAILLOT, A m e l o t de, Conde 175 COLÉGIO VASSIMON 181
CHAPOT PREVOST, Rodolpho 236 COLÉGIO VICTORIO 113
CHAVANTES, Alcino José 229-230, 260, 264 COMPANHIA DE JESUS 16
CHAVES, Octacilio da Silva 269 COMTE, Augusto 256
CHRISTINA, Thereza 61 CONSTANT, Benjamim 99, 170, 172-173, 179
CHROKATT DE SÁ, Gilberto 267-268 COQUEIRO, João António 181-182, 191, 1 9 4 , 2 5 2 , 2 6 1 ,
CITANNA, José 255 278
CLÉON, Camillo 71 CORDOVIL 105-106
CLIAS 123 CORRÊA, Azevedo 126
CLINTOCK 133,136,163 CORRÊA, Henrique Vaz 235
CLUCK, Jayme 268 CORRÊA, José de Souza 76-79, 81-82, 84, 117, 123,
COELHO NETTO, Henrique 258 252
COELHO NETTO, Zita 228 CORRÊA, Manoel Francisco 273, 277
COELHO, Assis 52 CORRÊA, Pedro da Silva 130
COELHO, Edilia da Rocha 268 CORRÊA, Rivadavia da Cunha 191-194
ESCRAGNOLLE DÓRIA

CORREIA, Felipe da Motta Azevedo 101 CUNHA, Joaquim Jeronymo Fernandes da 127
CORREIA, Leôncio 183 CUNHA, Tristão da 226,240
CORTEZ, Bento da Trindade 166 CUVIER 123
COSTA, Cláudio Manoel da 17 D A B E V I L L E , Cláudio 122
COSTA, Cypriano Amoroso 183 D'AMBRÁSIO, Paulina 186
COSTA, Eurico António da 235 D7WILA, Henrique 72
COSTA, Henrique César de Oliveira 179, 183 D'ESCRAGNOLLE, João Roberto 233
COSTA, Jacintho Pereira da 18 DANFORT 265
COSTA, José Caetano da Silva 73 DANTAS, Rodolpho 151
COSTA, Manoel Olympio Rodrigues da 139, 142, 144, DE ROZOIR 27
164 DELPECH, Adriano 184, 226, 228, 235, 238, 240, 247,
COSTA, Maria Júlia Picanço da 153 249
COSTA, Octávio Corrêa 266-267 DEMOSTHENES 123
COTEGIPE, Barão de ver WANDERLEY, João Maurício DIAS, António Gonçalves 6 8 - 7 1 , 78-79, 202, 274
COUTINHO, José Caetano da Silva 20 DIAS, Manoel de Campos 18-19
COUTINHO, José Lino 22 DIRCEU 268
COUTINHO, José Vicente de Azeredo 273 DOBRENZENKY. Condessa de 227
COUTINHO, Samuel Castrioto de Oliveira 124 DODSWORTH, Henrique de Toledo 209, 214, 226, 235,
COUTO, Joaquim Ignacio do 99 238, 240, 244, 247, 249, 253-254, 258, 263, 269
COUTO, Manoel de Magalhães 167,181 DODSWORTH, Jorge João 88
COUTO, Pinto do 102 DÓRIA, Francisco Manoel das Chagas 126
COUTTO, Pedro do 215-216, 226, 229, 232, 234-235, DÓRIA, Franklin 164,234
237, 243, 254, 259, 260, 267, 269 DÓRIA, Gustavo 268
CRAVEIRO, António Tibúrcio 52 DÓRIA, Luiz Gastão d'Escragnolle 68, 167, 183-185,
CRISOPÓLIS. Bispo dever SANTA MARIANNA, Pedro de 188. 191, 213, 216. 226, 228, 232, 238-239, 241-243,
CRUZ, Luiz Carlos Fróes da 280 253-254, 263, 269, 280
CRUZEIRO, Visconde de ver TEIXEIRA JÚNIOR, Jerónimo DOURADO, José Ferraz de Oliveira 38
José DOURADO, Mescenas Pereira 229
CUMBERWORTH 52 DRAGO, Luiz Pedro 113, 116, 132, 135, 146, 163
CUNHA FILHO, Joaquim Jeronymo Fernandes da 127, D R U M O N D , João da Costa Lima 133, 152, 278-279
130-131 DUARTE, Fortunato da Fonseca 166, 188
CUNHA, Ambrósio Leitão da 154-155 DUARTE, Francisco de Paula Belfort 99
CUNHA, Arthur 233 DUARTE, Manoel Gomes Belfort 276
CUNHA, Domingos José da Silva 233 DUARTE, Viriato Belfort 114
CUNHA, Ernesto Frederico da 272, 276-277 DUMONT 27
CUNHA, Euclides da 188-189, 203, 264 DUQUE ESTRADA, Domingos de Azevedo Coutinho 106
CUNHA, Felippe Ribeiro da 22 DUQUE ESTRADA, Joaquim Osório 183
CUNHA, Haroldo Lisboa da 259 DURÃO, Rita, Santa 17
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

ELIA, Hamilton 250, 268 FERRAZ, Luiz Pedreira do Couto 8 0 - 8 1 , 86, 265, 278
ELIA, Sylvio 250 FERREIRA, António Gonçalves 178
ERVEN, Francisco van 114 FERREIRA, Augusto Cláudio 269
ESCOLA DAS BELLAS ARTES 24 FERREIRA, Carlos Vieira 169-170
ESCOLA DE ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO 191 FERREIRA, José Paula 226,229
ESCOLA DE MEDICINA 30 FERREIRA, Luiz Nunes 212
ESCOLA DE MINAS DE OURO PRETO 191 FERREIRA, Manoel Arthur 147, 214, 226, 229, 258
ESCOLA DE MINAS DE PARIZ 191 FERREIRA, Miguel Vieira 170
ESCOLA DE SOLDADOS DO COLLEGIO 217 FERREIRA, Silvestre Pinheiro 21-22
ESCOLA NORMAL DO DISTRITO FEDERAL 130, 140, FIALHO SÉNIOR, Abreu 160
146, 152, 154-155, 158, 174, 183, 1 9 1 , 256 FIALHO, José António de Abreu 159, 161, 168, 228
ESCOLA POLYTECHNICA 114, 119, 126, 161, 174, 191, FIGUEIRA, António Fernandes 132, 277
256
FIGUEIREDO, Afonso Celso de Assis 169
ESCOLA WENCESLAU BRAZ 191
FIGUEIREDO, Carlos Arthur Moncorvo de 275, 277
ESCUDO DE MINERVA 90
FIGUEIREDO, José Bento da Cunha e 117, 126, 128,
ESPINHEIRA, Álvaro 240,243,247
130, 145
ESTATUTOS DO INSTITUTO DOS BACHARÉIS EM
FIGUEIREDO, Moncorvo de 277
LETRAS 103
FIGUEIREDO, Sebastião Ferreira de 217, 218
ESTRABÁO 123
FILGUEIRAS, José António de Araújo 272
EU, Conde d' 105,214
FIÚZA, Yeddo 265
EULER 123
FLETCHER 89,108
EVREUX, I v e s d ' 122
FLEURY, André 90
FACULDADE DE DIREITO DE RECIFE 131, 157
FONSECA, António Gabriel de Paula 239
FACULDADE DE DIREITO DE SÃO PAULO 80, 89, 127
FONSECA, Eduardo Emiliano da 59
FALLER, Annibal 207,218
FALLETI, Bernardo José 68 FONSECA, Hypolito Mendes da 59

FARIA, Chaves 113 FONSECA, João Severiano da 59


FARIA, Eutropio Pereira de 203 FONSECA, Manoel Deodoro da 169, 172, 176, 233-234
FARIA, Quintino José de 147 FONSECA, Manoel Mendes da 59
FARIAS, Ascanio Pedro de 250 FONSECA, Marechal Deodoro da 59
FARINA, Ciro Romano 191,212 FONSECA, Marechal Hermes da 189-191
FAZENDA, José Vieira 104-107, 275, 277 FONSECA, Mariano José Pereira da 210
FEIJÓ, Luiz da Cunha 89 FONSECA, Thomaz Ramos da 276
FEIJÓ, Regente 23, 44-47 FONSECA, Valeriano Ramos da 113, 278
FÉLIX, Monsenhor 133, 139-140, 143-144, 153 FRAENKEL, Cláudio Alfredo de Magalhães 215
FERNANDES, Oliveira 166 FRANÇA JÚNIOR, Ernesto Ferreira 79
FERNANDES, Oridéa 244 FRANÇA, Carlos Ferreira 119, 133, 136, 141-142, 144,
FERRAZ, Costa 93, 273 167
FERRAZ, Jorge Belmiro de Araújo 219 FRANCISCA, Princesa 24-25
ESCRAGNOLLE DÓRIA

FRANCISCO, M a r t i m 51 GASTÃO, Pedro 265


FRANCO, José da Purificação 84, 87, 105 GAZETA DA TARDE 1 53
FRANCO, Pedro Affonso de Carvalho 103 GAZETA DE NOTÍCIAS 174, 193
FRAZÃO, Sérgio 250 GAZETA DO RIO DE JANEIRO 21
FREDERICO, Orlando 184 GERVAIS, Desnelle de 52, 208
FREIRE, Domingos José 100,272-273 GIBBON 123
GINÁSIO NACIONAL 173, 186-188
FREIRE, José da Silva Pinheiro 64
GINÁSIO PETROPOLITANO 264
FREIRE, Junqueira 274
GÓES, Araújo 133
FREITAS, Francisca Miranda de 255
GÓES, João Francisco de 177, 203
FREITAS, Irineu Leite de 240
GOETHE 123,164
FREITAS, José Viriato de 93
GOLDESCHMIDTBertholdo 5 1 , 7 1 , 7 9 , 129, 133, 136-
FREITAS, Luiz Paula 265
137, 139-140, 145-146
FREITAS, Maria Elisa Leite de Lima 255, 267-268 GOLDSCHMITDT, Augusto 5 1 , 190
FRÓES, Arlindo 229 GOMENSORO 88
FRONTIN, André Gustavo Paulo de 123, 130, 146-147, GOMES, Alfredo Augusto 124. 190
196,208,254 GOMES, António Ildefonso 38
FRONTIN, Jean Gustave de 123 GOMES, Gabriel de Medeiros 62, 102, 120
GABAGLIA SÉNIOR, Eugênio Raja 20-21, 167, 177-178, GOMES, Roberto 186
181, 194-195, 200, 208-209, 231 GOMES, Wenceslau Braz Pereira 195
GABAGLIA, Alberto Raja 244 GONÇALVES, Bacharelvex SILVA. João António Gonçalves
GABAGLIA, Fernando António Raja 203, 214-216, 218- da
219, 230, 238, 243, 247, 253-254. 257-259, 260-261, GONÇALVES, Salathiel Firmino 205. 209
264-266, 269 GONZAGA, José Basileu Neves 276-277
GADE, Jorge 5 1 , 7 1 , 78-79 GONZAGA, Olympio 179
GALVÃO, Ignacio da Cunha 34 GORCEIX, Henrique 191,220
GOULART, Cybelle 244
GALVÃO, Manoel António 43-46
GOULART, Francisco Vieira 27
GALVÃO, Manoel Raymundo 53
GOUVÊA, Manoel Marques de 277
GALVEAS, Conde das 18
GUADALUPE, António de, Bispo 18-19, 195
GAMA, Agostinho Luiz da 176,215
GUARCH, Susviela 279
GAMA, Basilioda 17, 123
GUEDES FILHO, Manoel Joaquim 217-218
GAMA, João Saldanha da 154, 273
GUEDES, Júlio Adolpho da Fontoura 162, 164
GÂNDAVO 123 GUILLON, Joaquim Gonçalves 166
GARCEZ PALHA, Diogo 276 GUIMARÃES, Francisco Pinheiro 176, 178, 182, 193,
GARCIA, José Manoel 99-100, 102, 116, 121, 132,140- 269
142, 144-146, 154-155, 189, 274 GUIMARÃES, Hanehmann 228,260
GARCIA, Roberto 255 GUIMARÃES, J. F. 268
GARCIA, Washington 182 GUIMARÃES, Luiz Pedreira de Castro Pinheiro 229,
GASPARINI, Savino 252 233, 240, 255
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

GUIZOT 123 ITANHAEM, Marquês dever COELHO, Manuel Inácio Souto


HALBOUT, José Francisco 52, 89-90, 105, 133-136, Maior Pinto
139, 147, 1 6 1 , 163-164, 166, 174-175, 190-191 JACOTOT 136
HARRT, Frederico Carlos 107 JANSEN, Carlos 167
HAUHER, Júlio 229 JANUARIA, Princesa 25
HEILBORN, Hans 5 1 , 181, 197 JOÃO V, Dom 18-19
HERMES, João Severiano da Fonseca 128, 191 JOÃO VI, Dom 19-22,24,31,106
HERMITTE, Luiz 255 JOINVILLE. Príncipe 25
HIGGINS, Arthur 213,226 JORGE, Guilherme José 191
H O M E M DE MELLO, Barãover H O M E M DE MELLO, JORGE, José Guilherme de Araújo 250
Francisco Ignácio Marcondes JORNAL DO BRASIL 235
H O M E M DE MELLO, Francisco Ignácio Marcondes 102- JORNAL DO COMMÉRCIO 25-27, 193
103, 131, 137-138, 145, 151, 204 JOSÉ I, Dom, Ministro 16, 19
H O M E M , Joaquim Vicente Torres 64
KAMMSETER, Hugo 250
HOMERO 62,166
KEPLER 123
HOPE, Frederico 64
KIDDER 89,108
HORÁCIO 62, 123, 163
KIESSER 156
HUET 181
KNEPP, Monsenhor 38
IBITURUNA. Barão de 155
KOHN, Zulmira de Moraes 153
IDA, Manoel Said Ali 176, 222, 226, 240, 258
KULNER, Barão de 78
ILLIADA 62,127
L OIAPOQUE ET L AMAZONE, QUESTIONS
INÁCIO, Joaquim José 23
BRESILIENNE ET FRANÇAISE 43, 73
I N H A Ú M A , Visconde dever INÁCIO, Joaquim José
LABATUT 132
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO ver ESCOLA NORMAL DO
LACERDA, João Baptista de 103, 205
DISTRITO FEDERAL
LACERDA, José Cândido Sampaio de 239
INSTITUTO DOS ADVOGADOS DO RIO DE JANEIRO 54
INSTITUTO DOS BACHARÉIS EM LETRAS 272, 283 LACROIX 27

INSTITUTO DOS SURDOS MUDOS 181 LADÁRIO, Barão de ver AZEVEDO, José da Costa
INSTITUTO FERREIRA VIANNA 179 LAET, Carlos Maximiliano Pimenta de 113, 119, 145,
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRAPHICO BRAZILEIRO 150, 166, 197, 200-210, 212-214, 216-222, 226, 228,
30, 1 8 4 , 2 3 5 , 2 5 9 232-234, 239, 2 4 1 , 252, 260. 275
INSTITUTO KOPKE 178, 280 LAET, Carlos Rocha Mafra de 239
INSTITUTO NACIONAL DE MÚSICA 186 LAPA, Ludgero da Rocha Ferreira 65-66
INSTITUTO PHARMACEUTICO 158 LAVRADIO, Barão dover REGO, José Pere\ra
INSTITUTO PROFISSIONAL JOÃO ALFREDO 155,179 LAXE, Cortines 102
INVESTIGADOR PORTUGUEZ 21 LEAL PAI 164
IRAJÁ, Conde de, Bispo 132 LEAL, António Henrique 132, 154, 261
ITABORAHY, Visconde de ver TORRES, Joaquim José LEAL, Carlos Galdino 177,212,259
Rodrigues LEAL, Francisco de Paula 26
ESCRAGNOLLE DÓRIA

LEAL, José Pinto da Silva 163 LISBOA, João Francisco: 132


LEAL, Pedro Galdino 209, 212 LISBOA, João Gonçalves Coelho 176
LEÁO FILHO, Honório H e m e t o Carneiro 63 LISBOA, José da Silva 105, 133, 139, 141-143, 153,
LEÃO XIII 230 182
LEÃO, Francisca de Azevedo 221 LISBOA, José Maria da Silva 21
LEÃO, Honório Hermeto Carneiro 54, 80, 86 LISBOA, Pedro de Alcântara 34
LEÃO, José Eugénio de Azevedo 221 LOBATO, Rodrigo 233
LEDO, Theophilo das Neves 273 LOBO, Aristides da Silveira 172
LEIBNITZ 127 LOBO, Fernando 178
LEITÃO JÚNIOR, José Pereira 276 LODI, Euvaldo 258
LEITÃO, Sebastião da Motta 18 LOPES, António de Castro 68, 78, 182
LEITE. António 257 LOPES, Moacyr Araújo 216
LEITE. António Pires Ferreira 204-205 LOPES, Rodolpho de Paula 176. 206-207, 221-222, 226.
LEME, Jurandyr dos Reis Paes 229 258
LEME, Luiz Betim Paes 278 LOPEZ, Carlos António 112
LEMOS, Miguel 118 LOPEZ. Francisco Solano 103. 105, 112, 114
LESSA, Fernando Francisco 5 1 , 61 LORETO, Barão de ver DÓRIA, Franklin
LICEU DE ARTES E OFÍCIOS 115, 126, 154-155 LOUREIRO, António Manoel 56
LIMA, Agostinho José de Souza 93,114 LOURENÇO FILHO 263
LIMA, Alceu de Amoroso 261 LUCENA 123
LIMA, Augusto Daniel de Araújo 178, 194-197, 202, LUCENA, Barão de ver LUCENA, Henrique Pereira de
205.211,252 LUCENA, Henrique Pereira de 100,175
LIMA, Carmem Casado 184 LUCIANO 276
LIMA, Domingos da Silva 162.177 LUISANT, Pif 63
LIMA, Edla da Costa 228 LUTZ, Bertha 243
LIMA, Enock Rocha 103, 229-230. 257, 264 LYCÉE HENRY IV 77, 282
LIMA. Franklin da Silva 130 LYRA, Tavares 183, 186-188
LIMA, José Joaquim da Fonseca 117-118, 120-123, MAC DOWELL, Francisco, Cónego 226, 240, 249, 264,
126-132, 158,252 269
LIMA, Luiz Alves de 98-99 MACAÉ, Visconde de ver TORRES, José Carlos Pereira
LIMA, Pedro de Araújo 86, 99, 102, 105, 107, 112, 174, de Almeida
188, 264-265, 267, 269, 278-279, 281 MACAHUBAS, Barão de ver BORGES, Abílio César
LIMOEIRO, António Mendes 106, 166, 276-277 MACEDO, Aprigio Carlos de 259
LIMOEIRO, Edmundo Mendes 278 MACEDO, Araripe 226
LINDSAY, Roberto Nunes 152 MACEDO, João Rodrigues de 133-134, 136, 140-142,
LIPPARONI, Gregório 52, 130, 208 144, 146
LISBOA, Balthazar 19 MACEDO, Joaquim Manoel de 67-72, 79-80, 1 0 5 , 1 1 3 ,
LISBOA, Ildefonso Castilho 280 122, 126, 147, 150-151. 162, 167, 174, 181
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

MACEDO, Luiz Cândido Paranhos de 118, 124, 154, MARTINS, António Félix 91
156-157, 166,204-205 MARTINS, Francisco Gonçalves 78-80, 86
MACEDO, Sérgio Teixeira de 98-99 MASCARENHAS, Manoel Moreira de Figueiredo 38
M A C H A D O , Aureliano Vieira Werneck 146 MASSINI.José 212
M A C H A D O , Brasido 200 MATTA, A r y d a 150,254
M A C H A D O , Leão Vieira do Nascimento 207 MATTA, Nascimento 86
MACHADO, Nelson Rodarte 228 MATTOS FILHO, Plinio Gomes de 239
MACIEL, Francisco Antunes 153 MATTOS, Carlos Gonçalves 162
MACIEL, Maximiniano 218 MATTOS, Eusébio de 17
MAFRA, João Maximiniano 106 MATTOS, Gregório de 17
MAGALHÃES, Domingos José Gonçalves de 31-33, 35. MATTOS, João Cancio Nunes de 170
42,202,278 MATTOS. José Cândido de Albuquerque Mello 191,
MAGALHÃES, Fernando Augusto Ribeiro de 178, 266 194,252, 258
MAGALHÃES, João José de Moura 93 MATTOS. José Veríssimo Dias de 177, 180, 252
MAGALHÃES, Theodoro Augusto Ribeiro de 212, 214, MATTOS, Luiz José de Carvalho Mello 128, 217, 273,
277-279 277
MAGNUS, Gustavo 203 M A X I M I L I A N O , Carlos 201
MAIA, Augusto Pedro da Silva 237, 278 MAYRINK, João Carlos 272,277
MAIA, Emilio Joaquim da Silva 31-32, 35, 37, 52, 54- MAZE, Diogo 52, 61
5 5 , 6 3 , 100 MEIRELLES, Joaquim Cândido Soares de 52
MAIA, José Pedro da Silva 59,113 MEIRELLES, José Gomes de Azambuja 130
MAIA, Mattoso 167, 181 MEIRELLES, Saturnino Soares de 189
MALEBRANCHE 127 MELLO E SOUZA, João Baptista de 183, 228-230, 253-
MALHEIRO, Agostinho Marques Perdigão 55 254, 258
MALHEIROS, Joaquim Mendes 89,113 MELLO FILHO, João Capistrano Bandeira de 157
MALLET, João Carlos Pardal de Medeiros 127, 134, 146 MELLO, Alexandre Soares de 146
M A M O R É , Barão de ver CUNHA, Ambrósio Leitão da MELLO, Custódio José de 177
M A M O R É , Ministro 156 MELLO, Domingos Ramos 114, 133-135, 143-144, 146,
MANCEBO. Gervásio 88 164. 167. 212
MANOEL. Francisco 106 MELLO, Figueira de 242
M A N O E L , Poluceno Pereira da Silva 133, 135 MELLO, João Capistrano Bandeira de 157-158,166, 177,
M A R A N H Ã O , Bispo de ver SARAIVA, Luiz da Conceição 183
MARIANNA, Bispo dever PIMENTA, Silvério Gomes MELLO, José Bento Leite Ferreira de 44-46
MARICÁ, Marquês dever FONSECA, Mariano José Pereira MELLO, José Tavares de 32,51
da MELLO, Maria dos Santos 186
MARQUES, César Augusto 121, 126-127, 130, 132, 168 MENDES, Fernandes 191
MARQUES, João 168 MENDES, Raymundo Teixeira 118-120
MARTINS 22,107 MENDONÇA, Jorge Furtado de 35, 72, 82, 84, 103, 105
ESCRAGNOLLE DÓRIA

MENDONÇA, Salvador Furtado de 32, 104, 279 MUNIZ, Rozendo 131,143-144


MENEZES, Augusto Xavier de Oliveira de 196, 204, 215, MURINELLY, José Arthur de 99
226, 234, 240, 250 MURITIBA, Barão de ver TOSTA, Manoel Vieira
MENEZES, Carlos Alberto de 107, 274, 276 MURTINHO, Joaquim 187
MENEZES, Francisco de Paula 62, 67, 72, 87 MUSEU NACIONAL 103, 248
MENEZES, Francisco Xavier Oliveira de 166, 196, 207, MUSSURANGA, Américo Romão de Figueiredo 272
209-210,260 MUSSURANGA, Ernesto Romão de Freitas 273, 277
MESCHICK, Augusto Guilherme 51, 176,211.215 NAPOLEÃO I 24
MESQUITA, Torquato Vieira de 233 NASCENTES, Antenor 182. 209, 212-213, 228, 236,
MEYER, Pedro Guilherme 112-113 238, 240, 243, 247-249, 253-254
MIGUEL, Dom 27 NASCIMENTO, Alexandre Cassiano do 178
MILTON 62, 123 NAYLOR, Mário Guedes 229, 242
MINERVA BRASILIENSE 82 NERVA 160
MIRANDA, Cardoso de 264 NEUKON, Segismundo 106
MIRANDA, Jayme de 233 NÓBREGA, Firmino José Soares da 6 1 , 78
MISCOW, Octávio Christo 250 NOGUEIRA, Baptista Caetano de Almeida 89-90
MOLIÈRE 62,268 NOGUEIRA, Júlio 226,235,240
MONAT, Alexandre 231 NOGUEIRA, Manoel Thomaz Alves 88, 1 0 1 , 127, 146,
MONAT, Henrique 181 156, 167, 174
M O N D A I N I . Alexandre 162 NOGUEIRA, Renée 250
MONTE ALEGRE, Marquês de ver CARVALHO, João da NORONHA, António Henrique de 120, 215
Costa NORONHA, José Romualdo de 106
MONTEIRO JÚNIOR, Domingos Jacy 114 NORRIS, Guilherme Fairfax 67,79
MONTEIRO, Clóvis do Rego 229, 242, 260 NOTICIÁRIO 250
MONTEIRO, Francisco Mozart do Rego 229 NOTÍCIAS 250
MONTEIRO, Leopoldina de Maya 252 NOVA MINERVA 82
MONTEIRO, Maciel 23 OITICICA, José Rodrigues Leite e 203, 226, 239. 242,
MONTIGNY, Granjean de 24, 27, 106, 122 247, 255-256
MONTSERRATE, Camillo de 7 1 , 85 OLINDA, Bispo d e v e r BRITO, Luiz Raymundo da Silva
MORAES, Arnaldo de 191 OLINDA, Marquês de ver LIMA, Pedro de Araújo
MORAES, Felizardo Joaquim da Silva 34, 40 OLIVEIRA, Arthur Baptista de 140, 213, 216-217
MORAES, Simeão Pereira de 99 OLIVEIRA, Carlos Américo Barbosa de 183
MOREIRA, Affonso Carlos 107 OLIVEIRA, Manoel Dias de 17
MOREIRA, João José 133-135, 150, 208 OLIVEIRA, Nelson Alves 186
MOREIRA, Manoel Duarte 79 OLIVEIRA, Quirino de 184
MOTTA 105 OLLENDORF 136
M O U R A , Guilherme Augusto de 56, 205. 209 OLYMPIA, Maria 153
MUNIZ, Patrício 65-66 OSÓRIO, N e w t o n Costa de Azevedo 244
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937

OTTONI, Christiano Benedicto 163 PEREIRA JÚNIOR, Castrioto Costa 63


OTTONI.Theophilo 114 PEREIRA JÚNIOR, José Fernandes da Costa 63, 71-72,
OURO PRETO. Visconde de ver FIGUEIREDO. Afonso 157-158
Celso de Assis PEREIRA. Baltazar Bernardino Baptista 276
PACHECO, Barão de ver SILVA, Manoel Pacheco da PEREIRA, Fernando Lobo Leite 176
PACHECO, José Moreira 189 PEREIRA, Francisco Maria Sodré 130
PAÇO, António Jansen do 128 PEREIRA, Graciano Leopoldino dos Santos 78
PAIVA, Francisco de Paula 114 PEREIRA. Hypolyto José da Costa 44
PAIVA, José Lourenço de 112 PEREIRA, José Clemente 266
PALM. Frederico 73 PEREIRA. José Hygino Duarte 1 76
PARANÁ, Marquês de ver LEÃO, Honório H e r m e t o PEREIRA, José Saturnino da Costa 44, 53
Carneiro PEREIRA, Lafayette Rodrigues 204-205. 207. 219, 238,
PARANAGUÁ, Marquês de ver BARBOSA, Francisco Vilela 242, 258. 260. 265, 267
PARANHOS JÚNIOR, José Maria da Silva 73, 113, 188 PEREIRA, Manoel 18,58
PARANHOS, José Maria da Silva 71,117 PEREIRA, Marcelino da Silva 79
PARDAL, Faria 114 PEREIRA, Octacilio Alvares 2 0 1 , 203, 2 1 1 . 235, 250,
PASSOS, Francisco 233 253-254, 256
PASSOS, Lucindo Pereira dos 105. 133, 135-136, 141- PEREIRA, Timotheo 178,182
144, 156. 159, 163 PERRAYON, Pedro Felippe 164, 177
PAULINO, Pedro 59 PESSOA, Epitacio Lindolpho da Silva 180-181
PEÇANHA, Nilo 188 PESSOA, João Pinto 256
PEDERNEIRAS, Carlos 242 PETALOGICA 106
PEDERNEIRAS, Childerico Paranhos 276 PIMENTA, Silvério Gomes 182
PEDERNEIRAS, Manoel Velloso Paranhos 275, 277 PIMENTEL, Aureliano Corrêa Pereira 154-156, 164
PEDERNEIRAS, Raul Paranhos 161, 164-165, 167, 177 PINHEIRO, Aleixo 260
PEDREIRA, João Baptista Ferreira 186 PINHEIRO, Fernandes, Cónego 93, 105
PEDRO I, Dom 31 PINHEIRO, Galdino Fernandes 102, 114
PEDRO, Fahim 228 PINHEIRO, João 185
PEIXOTO, Alvarenga 17 PINHEIRO, José Feliciano Fernandes 3 1 , 54
PEIXOTO, Floriano 176,178 PINTO, Alfredo Moreira 212, 276-277
PEIXOTO, Joaquim 59 PINTO, António da Costa 128
PENIDO FILHO, Raul 267-268 PINTO. Caetano José de Andrade 72
PENNA, Belisario Augusto de Oliveira 243 PINTO, Eduardo de Andrade 63
PENTEADO, Jairo Maciel de Aquino 184 PINTO, Estevão Leite de Magalhães 185
PEREIRA DE SOUZA, Washington Luiz, Presidente(1926- PINTO, João José de Andrade 34
1930) 243 PINTO, Luz 63
PEREIRA FILHO, Dagmar Barbosa 254 PINTO, Pantaleão José 272, 276
PEREIRA FILHO. João de Almeida 99 PINTO, Rosetta da Costa 256
ESCRAGNOLLE DÓRIA

PINTO, Santos 105 RAMIZ GALVÃO, Benjamin Franklin de 101, 114, 175,
PINTO, Vaz 108 216, 2 3 1 , 259. 266. 272. 274-275, 277
PIQUET, Francisco Maria 52, 60, 191 RAMOS, Álvaro Porfírio de Andrade 212
PIRAGIBE, Alfredo 103,177,181,275 RAMOS, José Ildefonso de Souza 101-102
PIRAGIBE, José Ferreira da Costa 179, 228, 234 RAMOS, José Júlio da Silva 182, 222, 242
PIRES, Evaristo Nunes 85, 175, 272-273, 276 RAMOS, Lameira 203
PITA. Rocha 17 RAMOS, Victorino de Paula 183
PITADA, Duarte José de Mello 276
RAPHAEL, Sanzio 123
PIZARRO, João Joaquim 99
RAPOSO, Arlindo Gonçalves 253
PIZARRO, Monsenhor 18
REGO FILHO, José Pereira 102, 272-273, 277
PLANITZ, Barão de ver PLANITZ. Carlos Roberto
REGO, António José de Souza 272
PLANITZ, Carlos Roberto 5 1 , 54, 60, 63-64, 67
REGO, Eduardo César de Almeida 101-105, 112, 272
PLATÃO 123
REGO, Joaquim Marcos de Almeida 87, 98, 133
POISSON 27
POMBAL, Marquês de 16-17 REGO, José Pereira 87

POMPEIA, Raul de Ávila 132, 134 REGO, Sebastião Pinto 54,119,158


PONTES, Felisberto Caldeira Brant 44-46, 73 REIS NETTO. Ignacio dos 185
PONTES, Rodrigo de Souza e Silva 53 REIS NETTO, Olympio dos 185
PORTELLA, Manoel do Nascimento Machado 156 REIS, Epiphanio José dos 161
PORTINHO, Cármen 243 REIS, Ernani 214
PORTO ALEGRE, Manoel de Araújo 33, 8 1 , 202, 214, REIS, José 214
278 REIS, Manoel Pereira 215
PORTUGAL, João Maria 189 REIS, Othello de Souza 208, 226, 228, 238, 243
POTSCH, Waldemiro 226, 244, 255 REIS, Trajano Furtado 256
PRESTES, Júlio de Albuquerque 243 RENAULT, Leon 256
PREVOST, Rodolpho Chapot 236
REZENDE, Conde dever VASCONCELOS, Luiz de
PRONOME 250
REZENDE, Leonidas Ribeiro de 186
PRZEWODOWSKI, Oscar 229, 242, 247, 254
RIBEIRO, Cândida Borges 153
PULUCENO, Manoel 141
RIBEIRO, Cândido Barata 152
QUADROS, Linneu Bittencourt 244
RIBEIRO, Delphim Moreira da Costa 208
QUEIROZ, Euzébio de 86,99
RIBEIRO, João 176,183,222,231,258
QUEIROZ, Manoel de 88
QUITITO, Astor Ramos 196 RIBEIRO, José de Araújo 276
RABELLO, Laurindo 41 RIBEIRO, José Silvestre 21
RABELLO, Leandro de Castro 37, 4 0 - 4 1 , 44 RIBEIRO, Leonor Borges 153
RABELLO, Lino António 37. 40 RIBEIRO, Manoel de Queiroz Mattoso 88
RAJA GABAGLIA ver GABAGLIA RIBEIRO, Oscar Adolpho de Bulhões 275
RAMIZ GALVÃO, Barão dever RAMIZ GALVÃO, Benjamin RIBEIRO, Santiago Nunes 55, 67, 278
Franklin de RICCI, Gian Pietro 212
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

RIO BRANCO, Barão do ver PARANHOS JÚNIOR, José S A I N T J O H N , Orestes 107


Maria da Silva SAKKA, F. 268
RIO BRANCO, Visconde d e v e r PARANHOS, José Maria SALÃO NOBRE 122-124
da Silva SALEK, Júlio 250, 254
RIO DE JANEIRO, O 156 SALGUEIRO, José dos Santos 20
ROCHA VAZ, Juvenil 221-222, 224, 226. 2 3 1 , 240 SALINAS, Catharina Margarida 37
ROCHA, Alexandre Ferreira de 19 SALLABERY, Carlos José 280
ROCHA, Carmindo Carneiro da 250 SALLABERY, Carlos Leopoldo Jorge 177
ROCHA, Justiniano José da 32, 35, 53, 76-78, 167 SANTA MARIANNA, Pedro de 92
ROCHET, Luiz 106 SANTO ANGELO, Barão de ver PORTO ALEGRE, Manoel

RODO, José Henrique 250 de Araújo


SANTOS, António Manoel Pereira dos 177
RODRIGUES ALVES, Francisco de Paula, Presidente (1902-
SANTOS, Augusto Ferreira dos 113, 275
1906) 107,278
SANTOS, Carlos Américo dos 195, 220-221
RODRIGUES JÚNIOR, António Joaquim 177
SANTOS, Carlos Maximiliano Pereira dos 195-197, 2 0 1 ,
RODRIGUES, António Joaquim 165
203
RODRIGUES, Coelho 131
SANTOS, Custodio Américo dos 107, 166, 275
RODRIGUES, Joào Barbosa 119-120
SANTOS, Dinorah 268
RODRIGUES, José Barbosa 189
SANTOS, Ezequiel Corrêa dos 116
ROMERO, Nelson 240, 259, 264, 267
SANTOS, Hemeterio José dos 129
ROMERO. Sylvio 130-131. 166, 168, 259
SANTOS, Inspetor 162-164
ROMEU, José 260
SANTOS, João da Cruz 99
ROMITTI. Mário 212
SANTOS, José Américo dos 278
RORIZ, José de Sá 229-230, 268
SANTOS, José Lourenço dos 236
ROSA, Francisco de Salles 56 SANTOS, Marcellino Bispo dos 178
ROSENBAUM, Néa 268 SANTOS, Marcos Baptista dos 226
ROSSINI 123 SANTOS, Máximo de Moura 268
ROSTAND, Edmond 63-64 SANTOS, Nestor Victor dos 253
ROTHBERG.Waldomiro 269 SANTOS, Noronha 87
ROXO, Euclides de Medeiros Guimarães 184, 189, 209, SANTOS, Pereira 162
2 2 1 , 226-228, 232, 235, 237-238, 242-243. 247, 252- SANTOS, Urbano 208,210
254 SÂO FÉLIX, Barão dever MARTINS, António Félix
ROXO, João Baptista Guimarães 184 SÂO JOSÉ, Rodrigo, Frei 44, 5 1 , 54, 59, 61-63, 68, 7 1 -
RUSSEL, Alfredo de Almeida 211-212, 277, 280 72,79,85,274
SÁ, Aurélio Garcindo Fernandes de 52 SÂO LEOPOLDO, Visconde de ver PINHEIRO, José
SÁ, Domiciano Fortes de Bustamante e 272 Feliciano Fernandes
SÁ, Felippe Franco de 153-154 SÂO LOURENÇO, Visconde de ver MARTINS, Francisco
SÁ, Mathias José Fernandes de 52 Gonçalves
SACRA FAMÍLIA, Pedro Nolasco da, Frei SÂO PAULO, Bispo dever REGO, Sebastião Pinto
ESCRAGNOLLE DÓRIA

SÁO PAULO, João José de 102,273 SILVA, João António Gonçalves da 64, 85, 88, 99, 101,
SAPUCAÍ, Marquês d e v e r VIANA, Cândido José de Araújo 168
SARAIVA, Conselheiro 131 SILVA, João Diogo Esteves da 276
SARAIVA, Luiz da Conceição 79, 119, 158 SILVA. João Pereira da 274
SATURNINO, Frei ver A B R E U , Saturino Santa Clara SILVA, Joaquim Caetano da 32, 35, 42-43, 51-52, 58-59,
Antunes de, Frei 61-63, 66, 68, 72-73, 76, 103, 113, 252, 278
SAULES, Calos Luiz de 118 SILVA, Joaquim Fernandes da 56
SCHIEFFLER, Guilherme Henrique Theodoro 5 1 , 90,105, SILVA, José Bernardino Paranhos da 177, 183-185, 189,
114, 126, 132-134, 136, 139-140, 143-144, 174 193,277,278,280
SCHILLER 164,166 SILVA, José Bonifácio de Andrade e 3 1 , 273
SCHOMBURGLE 156 SILVA, José Manoel da 256, 273
SCHUMAN 239 SILVA, José Maria Velho da 166, 182
SCOTT, Walter 64 SILVA, Luiz Alves de Lima e 54, 7 1 , 8 6 , 98, 106
SEABRA, José Joaquim 182, 278 SILVA, Manoel Pacheco da 84-87, 91-92, 94, 98, 101-
SEIBLITZ, Jorge Eugénio de Lossio e 99, 218 102, 107-108, 113-117,1 74, 189-190, 252
SEMINÁRIO DE SÃO JOAQUIM 19,21,122 SILVA, Mário de Oliveira e 228, 231
SEMINÁRIO DE SÁO JOSÉ 18-19, 108
SILVA, Maurício Joppert da 189
SENNA, Costa 207, 266
SILVEIRA, Aloysio Ferdinando de Souza da 182
SERÃO, Custodio Alves 27
SILVEIRA, José de Souza da 1 8 1 , 261
SERRANO, Jonathas Archanjo da Silveira 124, 229-230,
SILVEIRA, José Teixeira de Abreu 53
235, 239, 253-254, 2 6 1 , 264-265 SILVEIRA, Manoel 162
SILVA JÚNIOR, Pacheco da 133, 136 SILVESTRE, Honório de Souza 205, 2 1 1 , 255
SILVA, Albino 235 SIMONI, Luiz Vicente de 52, 84, 98, 112
SILVA, António Carlos Ribeiro de Andrada Machado e 50- SINIMBU 114,131
51 SOCIEDADE AUXILIADORA DA INDÚSTRIA NACIONAL
SILVA, António da Costa Pinto e 127 30
SILVA, Augusto José de Castro e 272 SOUTHEY 70
SILVA, Benecdito Raymundo da 214 SOUTO, Luiz Honório Vieira 215
SILVA, Celestino da 268 SOUZA, António José de 79,86,94,190
SILVA, Domingos Sérgio de Sabóia e 116 SOUZA, Benedicto Alves de 265
SILVA, Felisberto Pereira da 72
SOUZA, Carlos Henrique Pereira de 201
SILVA, Francisco de Paula Severino da 236
SOUZA, Everardo Vallim Pereira de 167
SILVA, Francisco Joaquim Bethencourtda 122-123, 202,
SOUZA, Irineu Evangelista de 80
241 SOUZA, Joaquim Gomes de 34
SILVA, Francisco Manoel da 267 SOUZA, José Teixeira de 59, 62
SILVA, Heitor Lyra da 179,212 SOUZA, Luiz de, Frei 22
SILVA, Jacques Raymundo Ferreira da 184, 229, 240 SOUZA, Octávio Augusto Inglez de 212
SILVA, João Alves Mendes da 138,145
SOUZA, Paulino de 72,115
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937

SOUZA, Pedro Luiz Pereira de 167 TORRES, Cândido José Rodrigues 23, 93
SOUZA, Vicente de 1 6 7 , 1 8 3 , 188, 203 TORRES, João Baptista 2 0 1 , 2 1 7 , 236
SOUZINHA, O ver SOUZA, Joaquim Gomes de TORRES, Joaquim José Rodrigues 81
SPINOSA 127 TORRES, José Carlos Pereira de Almeida 59-60, 65, 67-
SPIX 22, 107 68, 154
STENBERG. Hilgard 268, 269 TORRES, José Joaquim Fernandes 113
STRESSNER 114 TOSTA, Manoel Vieira 98
STURZENECKER, Gastão Mathias Ruch 52, 177, 181, TOUSSAINT, Júlio 100,112
183, 191, 216, 219, 226, 228, 242, 247, 258 TRAJANO 160
SUASSUNA, Visconde de ver ALBUQUERQUE, Francisco TRINDADE, Elpidio Maria da Silva 202, 2 0 6 , 2 1 1 , 217
de Paula Cavalcanti de TRINITYCOLLEGE 116
SUMNER, George 234-235, 238, 243, 247, 258-260 TROTTE, Vicente 186
TÁCITO 159-160 UCHÔA CAVALCANTI, João Barbalho 175
TAMANDARÉ, Marquês de 161 UNIVERSIDADE DE COIMBRA 22
TASSO 268 VALDEZ Y PALÁCIOS, José Manoel 79, 81-82
TAUBE, Guilherme Augusto de 53-54, 64 VALLE, Quintino do 186, 205, 222, 226, 228-229, 236,
TAUNAY, Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle 85-86, 238, 242-243
88,90-95, 150,272-273 VALLONGO 18
TAUNAY, LuizGoffredod'Escragnolle 116 VARELLA, Carlos Arthur Busch 56, 278-279
TAUNAY, Visconde cie ver TAUNAY, Alfredo Maria Adriano VARGAS, Getulio Domelles 242, 248, 266
d'Escragnolle VASCONCELLOS, Amarilio Hermes de 233
TAUTPHOEUS, Barão deverTAUTPHOEUS, Hermann de VASCONCELLOS, Bernardo Pereira de 23-27, 30-32, 34,
TAUTPHOEUS, Hermann de 5 1 , 69-70, 78, 80, 85, 133, 36-38. 40-42, 46-47, 5 1 , 58. 7 1 , 85, 102, 188, 195, 2 5 1 ,
146, 166-168 264, 267, 269, 278-279, 281-282
TAVARES, Carlos Augusto 206 VASCONCELLOS, Meira de 154
TÁVORA, Franklin 150 VASCONCELLOS, Nuno Lopes Smith de 240
TEATRO JOÃO CAETANO 267 VASCONCELLOS, Zaccarias de Góes e 115
TEATRO MUNICIPAL 266 VASCONCELOS, Luiz de 17
TEIXEIRA JÚNIOR, Jerónimo José 63, 9 0 - 9 1 , 279 VEIGA, Evaristo da 52
TEIXEIRA, Mathias José 133, 135, 165 VEIGA, João José Fernandes 218,239
TERRA, José Ladislau 100 VEIGA, Jurandir 252
THEMISTOCLES 123 VEIGA, Xavier da 46
THIRÉ, Arthur 191,220-221 VELLOSO, Pedro Leão 153
THIRÉ, Cecil 220, 253, 259 VENÂNCIO FILHO, Francisco 234, 240, 264
T H O M A Z N E T T O , João 218 VERGUEIRO, Senador 45-46
TIPOGRAFIA NACIONAL 58 VERNEY, Luiz António 213
TITARA, João Luiz dos Santos 103, 276 VIANA, Cândido José de Araújo 53-55
TORRES, Almeida 167 VIANNA, António Ferreira 90, 92, 157
ESCRAGNOLLE DÓRIA

VIANNA, Eremildo 250 VOCABULÁRIO DE BLUTEAU 202


VIANNA, Rosa 144 VOGELI, Feliz 107
VIDAL, Carneiro 165 WALKER. Lygia 268
VIDAL. Paulo 129,133,140-141.144 WANDERLEY, João Maurício 156-157
VIEGAS 87-88 WERNECK. Carlos Leoni 183
VIEIRA, Albertina Gusmão 170 WERNECK, Furquim 103
VIEIRA, António Luiz de Mello 130-131 XAVIER, Agliberto 1 9 1 , 206. 208
VIEIRA, Manoel Edwiges de Queiroz 126 XAVIER, António Lopes, Cónego 18
VILLA-LOBOS, Lucília 267 XAVIER, Carlos José 272
VILLEGAIGNON 156 XAVIER, Francisco José 167, 272, 274
VILLELA. Dantas 217 XENOFONTE 123
VINELLI, K o s s u t h d e 113 XIMENES, José Manoel Garcia 67
VITAL, Dom 100 ZARUR, Alziro 250
VITALLETI, Guido 251
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