You are on page 1of 20

1

A Política Nacional de Resíduos Sólidos como Ferramenta


de Educação Ambiental nos Laboratórios de Instituição de
Ensino Profissionalizante e Superior*

Andreia Francisca Riter Netto**


Rívea Cristina Custódio Rodrigues***

Resumo

O objetivo desse trabalho foi fomentar a discussão sobre os resíduos gerados pelos
laboratórios do IFF Campus Campos-Guarus junto à comunidade acadêmica, utilizando como
fio condutor a PNRS e incentivar a realização do Plano de Gerenciamento dos Resíduos,
formando alunos e servidores como multiplicadores dessas práticas. A coleta dos dados foi
alcançada através de questionários aplicados aos funcionários usuários dos laboratórios e
estudantes do curso de Engenharia Ambiental e Técnico em Meio Ambiente, a sensibilização
e conscientização da comunidade acadêmica foi realizada através de minicursos e palestras.
Após análise das respostas do questionário constatou-se a existência de passivos ambientais e
uma contínua geração de resíduos, colocando em risco a saúde e segurança no laboratório.
Para maiores informações sobre a quantidade e características dos resíduos gerados elaborou-
se uma ficha de atividades práticas para os laboratórios. Esses dados irão contribuir para
elaboração de um inventário. Analisando as respostas dos questionários aplicados aos
estudantes observou-se a necessidade de ampliação dos seus conhecimentos acerca do
assunto, com essa finalidade foi distribuída uma cartilha relacionada ao tema PGR. Há
necessidade de mais atividades de capacitação de toda comunidade dessa maneira cada
membro poderá contribuir,
_________________________
*
Este artigo constitui-se no Trabalho de Conclusão de Curso da Pós-graduação Lato Sensu em Educação
Ambiental, cursado no Instituto Federal Fluminense, Campus Campos-Centro, durante os anos de 2014/2016,
desenvolvido sob a orientação do Profo. MSc. Cristiano Peixoto Maciel. As autoras agradecem o apoio da Profª.
Drª Monique Freitas Neto do Instituto Federal Fluminense, Campus Campos-Guarus.
**
Graduada em Licenciatura em Biologia. Servidora Técnica Profissional na Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro. E-mail: andreiafranciscarn@yahoo.com.br
***
Graduada em Licenciatura em Biologia. Servidora Técnica Profissional na Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro e Professora Supervisora de Aulas Práticas da Fundação Cecierj/Consórcio CEDERJ.
E-mail: rivearodrigues@gmail.com
2

com sua habilidade, em prol do coletivo. A evidência da geração de resíduos na IE corrobora


necessidade de implementar o PGR de laboratório na unidade.
Palavras-chave: Sensibilização, Gerenciamento de Resíduos de Laboratório, Instituição de
Ensino.

1-Introdução

A mudança nas práticas ambientais torna-se extremamente urgente diante da


complexidade dos problemas ambientais atuais e deve ser direcionada para a sensibilização
da população acerca do papel que cada um precisa desempenhar nesse contexto.
No Brasil a Lei nº 6938/81 da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) foi um
marco nas questões ambientais do país, responsável pela inclusão do tema ambiental na
gestão de políticas públicas e no art. 225 da Constituição Federal de1988 (CF/88).
De acordo com Milaré (2009), a temática ambiental aparece como um dos assuntos
que mais empolga (ou apavora?) os habitantes, na exata medida que se torna mais evidente
que o crescimento econômico e até a simples sobrevivência da espécie humana não podem
ser pensados sem a administração inteligente dos recursos naturais.
A Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P) foi instituída pelo Ministério
do Meio Ambiente (MMA) com o propósito de cumprir o capítulo 4 da Agenda 21 (1996),
isto é, ser o instrumento para o desenvolvimento de políticas e estratégias para mudar os
padrões de produções e consumos inadequados. Outro marco importante para a legislação
ambiental, que estabelece diretrizes a gestão integrada e o ao gerenciamento de resíduos
sólidos é a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei 12.305 de 2 de
agosto de 2010.

Art. 1o Esta Lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo


sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas
à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluindo os resíduos
perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos
econômicos aplicáveis.
§ 1o Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de
direito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de
resíduos sólidos e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao
gerenciamento de resíduos sólidos.
§ 2o Esta Lei não se aplica aos rejeitos radioativos, que são regulados por
legislação específica.
3

A PNRS articula-se com várias outras leis federais, tais preceitos são elencados nos
art. 2o e 5o: reproduzidos seguir:
Art. 2o Aplicam-se aos resíduos sólidos, além do disposto nesta Lei, nas
os
Leis n 11.445/2007, 9.974/2000 e 9.966/2000, as normas estabelecidas pelos órgãos
do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), do Sistema Nacional de
Vigilância Sanitária (SNVS), do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade
Agropecuária (Suasa) e do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial (Sinmetro).
Art. 5o A Política Nacional de Resíduos Sólidos integra a Política Nacional
do Meio Ambiente e articula-se com a Política Nacional de Educação Ambiental,
regulada pela Lei no 9.795/99, com a Política Federal de Saneamento Básico, regulada
pela Lei nº 11.445/2007 e com a Lei no 11.107/2005.

Considerando que o art. 225, 1º, VI da CF estabelece que o poder público tem
obrigação de “promover a Educação Ambiental (EA) em todos os níveis de ensino e
conscientização pública para preservação do meio ambiente”, destaca-se a importância de
ações coletivas na defesa do meio ambiente.
A EA está prevista no art. 225, § 1º, VI, Constituição Federal de 1988; no art. 2º, X,
da Política Nacional do Meio Ambiente e delimitada na Política Nacional de Educação
Ambiental (PNEA). A lei 9.795/99 dispõe sobre a EA e institui a PNEA, e o seu primeiro
artigo traz a definição de EA como sendo “os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade”.
Nesse sentido, o papel das instituições de ensino (IE) é extremamente importante,
incentivando futuros profissionais a atuarem no mercado de trabalho de forma
ambientalmente correta. Uma prática relevante a ser adotada pela IE são os Programas de
Gerenciamento de Resíduos (PGR). A proposta, ao se implantar um PGR é a minimização
dos impactos gerados pelas atividades da instituição. Uma vez iniciada, esse tende a ganhar
corpo, pois apresenta aspectos positivos tanto financeira quanto ambientalmente (Nolasco, et
al., 2006).
Nas Instituições de Ensino Superior (IES) são gerados resíduos sólidos classificados
nos dois grupos: quanto à origem (resíduos sólidos urbanos) e quanto à periculosidade
(resíduos perigosos e não perigosos). Algumas IES e pesquisa podem produzir resíduos
radiativos, são resíduos perigosos cujos tratamentos e descartes obedecem a instruções
normativas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN-NE-6.05).
De forma geral, acredita-se que apenas indústrias e hospitais são produtores de
resíduos perigosos, entretanto quando entramos nos laboratórios de pesquisa das IE
4

observamos que eles são também uma fonte desses resíduos. Muitos pesquisadores discutem
sobre as agressões ao meio ambiente, no entanto em muitas instituições os reagentes e
amostras contaminadas são descartados nas pias, mesmo sabendo que a rede de efluentes
sanitários não trata tais resíduos.
No Brasil, um número crescente de IES possuem PG ou tratam os resíduos químicos
produzidos em seus laboratórios dando-lhes uma destinação final ambientalmente correta.
Algumas das quais servem de referência de gestão de resíduos para outras instituições.
Dentre as IES que possuem PGR pode-se citar: Universidade Federal do Pará (PGGR, 2008),
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Universidade Estadual de São Paulo,
(UNESP), USP São Carlos, EMBRAPA, Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP)
mencionado por Sassiotto (2005); Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP)
citado por Tavares e Bendassoli (2005). O estudo acerca da implementação do PGR químico
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul foi publicado por Gerbase et al. (2006).
Segundo Cunha (2001), a Universidade Federal do Paraná iniciou o seu PG de resíduos
químicos em 1999.
Nesse contexto, o presente trabalho de EA foi realizado com o objetivo de fomentar a
discussão sobre os resíduos gerados pelos laboratórios do IFF Campus Campos-Guarus, junto
à comunidade acadêmica, utilizando como fio condutor o estudo das leis ambientais, em
particular a PNRS, incentivando a realização do Plano de Gerenciamento dos Resíduos
gerados na unidade, previsto na Lei 12305/10 e formando os alunos e servidores como
multiplicadores de práticas que levem em conta a questão ambiental.

2-Metodologia

2.1-Descrição do Local

A IE contemplada pelo projeto de educação ambiental foi o IFF Campus Campos-


Guarus. Criado em 2005 pelo Ministério da Educação através do Programa de Expansão da
Rede Federal de educação profissional, localiza-se à margem esquerda do Rio Paraíba do Sul
em área urbanizada cedida pelo 56° Batalhão de Infantaria do Exército.
O campus possui 2 laboratórios de informática, 1 laboratório de química, 1 laboratório
de física, 1 laboratório de metrologia, 1 laboratório de meio ambiente, 1 laboratório de
farmácia, 2 laboratórios de enfermagem e 6 laboratórios na área de
5

eletrônica/eletromecânica. São oferecidos atualmente os cursos técnicos integrados em


Eletrônica e Meio Ambiente, cursos sequenciais pós-médio em Farmácia, Enfermagem e
Eletromecânica além do Programa de Ensino de Jovens e Adultos nas áreas de Meio
Ambiente e Eletrônica. O campus oferece ainda o curso superior de Engenharia Ambiental
(IFF Campus Campos-Guarus, 2014).

2.2-Coleta de Dados

Inicialmente, após ter feito contato com os administradores do campus procedeu-se a


coleta de dados sobre os resíduos gerados -tipo, quantidade e destino feita através de
questionário aplicado a usuários de laboratórios docentes e técnicos. Concomitantemente, a
mesma metodologia foi aplicada aos estudantes do sétimo e oitavo período do curso de
Engenharia Ambiental e do segundo e terceiro ano do curso Técnico em Meio Ambiente, em
um total de 78 alunos. A elaboração dos questionários foi de acordo com Dietz e Tamoio,
(2000). O questionário aplicado aos estudantes visou investigar o entendimento sobre
resíduos, legislação relacionada ao tema e PGR.
A segunda etapa do trabalho foi destinada a análise das respostas para melhor
elaboração do ciclo de palestras e minicursos nas dependências do campus, abertos a toda a
comunidade acadêmica da instituição, agregando profissionais do IFF Campus Campos-Guarus a
outras IE.

2.3- Ciclos de Palestra e Minicursos

O primeiro minicurso realizado no dia 12 de novembro de 2015, no evento I Encontro


das Engenharias e Seus Aspectos Ambientais (I EENSAA), com o tema “Resíduos Sólidos,
Conscientização Ambiental e Sensibilização” foi ministrado por um Engenheiro Ambiental
(figura 1A). Esse minicurso foi agendado após apresentação de trabalho em forma de Banner
em evento no IFF Campus Campos Guarus (CONEPE 2015).
No dia de 16 de dezembro foi realizada uma palestra sobre Legislação Ambiental
ministrada por uma Advogada Especialista em Direito Ambiental.
O último minicurso foi oferecido no dia de 19 de janeiro com o tema “Tratamento de
Resíduos de Laboratório” (figura 1B) foi ministrado por uma profissional com formação em
Química, Doutorado em Ciências e pesquisadora da área de Química Ambiental.
6

Paralelamente aos eventos foram promovidos diálogos com docentes, alunos e


servidores técnicos sobre os resíduos gerados nos laboratórios.

A B
Figura1- A Minicurso Resíduos Sólidos Conscientização Ambiental e Sensibilização. B. Minicurso
Tratamento de Resíduos de Laboratório.

Como fechamento foram distribuídos exemplares de uma cartilha abordando os temas


PNRS, PGR e resíduos de laboratório para os alunos da instituição (figura 2). Ao mesmo
tempo, foi elaborada uma ficha de aula prática para permanecer nos laboratórios onde, a cada
aula, será feito relato sobre o experimento realizado, reagentes utilizados e resíduos gerados
(anexo 1).

Figura 2: Cartilha distribuída aos estudantes abordando os temas PNRS, PGR e resíduos de laboratório.
7

2.4-Avaliação dos resultados

Os questionários dos alunos foram analisados e após agrupar as respostas obteve-se


um quantitativo em porcentagem de alunos que responderam a opção correta. No caso das
perguntas discursivas, as respostas foram consideradas certas, erradas ou incompletas. A
compilação dos demais dados coletados -questionários aplicados aos usuários dos
laboratórios e observações durante as visitas ao campus- originou uma análise qualitativa.

3-Resultados e Discussão

3.1-Características dos laboratórios e da comunidade

Pode-se observar após o diálogo com membros da comunidade acadêmica que a


unidade conta com um corpo de servidores bem qualificados e dispostos a explorar o tema, o
que é um ponto positivo.
De acordo com o Plano Geral de Gerenciamento de Resíduos da UFPA (2008)
entendimento da comissão de gerenciamento de resíduos, alguns parâmetros devem balizar o
sistema de gerenciamento de resíduos. O primeiro deveria ser a co-responsabilidade, ou seja,
o gerador do resíduo (aluno, técnico, docente e Unidade) é co-responsável em todo processo
de tratamento e disposição do resíduo gerado.
Muitos profissionais que atuam na unidade demonstram restrições em contribuir para
o PGR, focam apenas em suas atividades construindo uma IE compartimentada, na qual
maioria da comunidade não percebe a complexidade das relações existentes e
consequentemente, agem de maneira alheia aos problemas ambientais que estão sendo
gerados no campus.
Durante as visitas iniciais ao campus, ao abordar alguns membros da comunidade
avaliando a opinião deles sobre o tema, foi possível identificar apesar de se sentirem
responsáveis e perceberem a necessidade, não buscam uma nova perspectiva em suas
atividades práticas. Opinião pronunciada por diversos profissionais:

“Que bom que vão desenvolver esse projeto aqui, estamos


mesmo precisando.”
8

Segundo Corrêa et al. (2012), ao realizarem uma pesquisa na Universidade Federal de


Pelotas – UFPE, com o objetivo de construir políticas de gestão dos resíduos, observaram que
o processo foi permeado de desafios, pela necessidade de aprendizagem da construção e
interação junto ao coletivo, em uma estrutura institucional que culturalmente dialoga pouco,
por constituir-se fragmentada e departamentalizada. Limites e dificuldades foram
identificados, especialmente pela visão de mundo dos sujeitos envolvidos, que pareciam
esperar, passivamente, a solução imediata e o estabelecimento de ordem à aparente desordem
provocada pela emersão do problema dos resíduos no contexto institucional.
Os usuários técnicos e docentes do Campus Guarus demonstraram que existe uma
preocupação com os resíduos gerados, visto que encontramos passivos ambientais estocados
(figura 4).

Figura 4. Passivos armazenados nos laboratórios da instituição.

Os esforços podem ser comprovados pela iniciativa dos técnicos de solicitar aos
usuários a identificação dos resíduos deixados na pia para posterior processamento, entretanto
na maioria das vezes não ocorre. O fato de os laboratórios serem utilizados por muitos
usuários de todos os segmentos da instituição (docentes, técnicos, discentes dos níveis técnico
médio e graduandos), amplia a dificuldade nesse controle (figura 5).
9

Figura 5. Resíduos sem identificação deixados na pia acompanhado pelo


pedido de providências. Recado deixado por um técnico do laboratório.

Muitos resíduos são estocados de forma inadequada e sem correta identificação, o que
dificulta o correto tratamento e disposição, nesse caso os novos resíduos gerados devem ser
priorizados no gerenciamento por maior facilidade de identificação. O primeiro passo a ser
seguido seria a obtenção de um local apropriado para a estocagem desses resíduos e posterior
tratamento, essa ação foi priorizada em PGRs bem sucedidos (PGR da UFPA, UFLA, entre
outras). Entretanto, a falta de um local específico para o tratamento de resíduos não pode ser
um empecilho iniciar o PGR, o laboratório gerador pode funcionar como uma estação de
tratamento inicial.
Ressalta-se, no entanto, que a maioria das universidades não dispõe do passivo, o que
facilita o estabelecimento de um programa de gerenciamento, mas, por outro lado, mostra o
descaso com que o assunto vem sendo tratado até os dias atuais (Tavares e Bendassoli, 2005).

3.2-Dados obtidos a partir das respostas dos estudantes

A partir da análise das respostas obtidas através dos questionários aplicados aos
alunos observa-se que há uma necessidade de ampliação do conhecimento sobre os temas
abordados nesse trabalho.
Quando perguntados sobre tratamento e gerenciamento de resíduos observou-se que a
maioria dos alunos não tem conhecimento sobre os temas abordados, muitas vezes
associando somente a reciclagem e/ou disposição do lixo em aterros sanitários. Um grupo de
alunos demonstrou relativo conhecimento sobre os temas, mas de forma incompleta. Uma
minoria respondeu corretamente, de forma sucinta (gráficos 1 e 2).
10

Gráfico 1- Porcentagem de alunos que responderam certo (C), errado (E) ou


Incompleto (I) ao responderem o que entendem por tratamento de resíduos.

Gráfico 2 - Porcentagem de alunos que responderam certo (C), errado (E) ou


incompleto (I) ao responderem o que entendem por gerenciamento de resíduos.

A unidade possui lixeiras de coleta seletiva e o tema reciclagem é abordado, no


entanto, os alunos têm uma visão equivocada de que um PGR limita-se apenas a tais práticas.
Essa concepção corrobora para as respostas incorretas sobre a existência de um
gerenciamento de resíduos na unidade (gráfico 3).
11

Gráfico 3. Porcentagem de alunos que marcaram ( ) sim, considerado certo (C) e que
marcaram ( ) não sendo considerado errado (E), ao responderem no questionário se o
IFF Campus Campos Guarus possui Gerenciamento de Resíduo.

Todos os alunos consideram que o tratamento de resíduos é vital para uma melhor
proteção do ambiente e quando questionados sobre a responsabilidade do resíduo gerado na
instituição, a maioria considera o gerador de resíduos como responsável (gráfico 4).

Gráfico 4. Porcentagem de alunos que marcaram a alternativa; órgão ambiental fiscalizador


(ORG), De quem gera (DQG) ou Não sei (NS) ao responderem no questionário de quem é
a responsabilidade pelo destino final de resíduos gerados nos laboratórios do IFF Guarus.

Quando perguntados sobre legislação relativa a resíduos sólidos no Brasil a maioria


respondeu corretamente PNRS (gráfico 5). No entanto, quando questionados sobre portaria
especifica, apenas um aluno, que cursa o Técnico em Meio Ambiente citou a NBR 10004,
importante norma regulamentadora de resíduo
12

Gráfico 5. Porcentagem de alunos que marcaram a alternativa ( ) PNRS/2010 considerada


certa (C) e as demais alternativas consideradas erradas (E).

“A classificação de resíduos sólidos envolve a identificação do processo ou atividade


que lhes deu origem, de seus constituintes e características, e a comparação destes
constituintes com listagens de resíduos e substâncias cujo impacto à saúde e ao meio
ambiente é conhecido. A segregação dos resíduos na fonte geradora e a identificação da sua
origem são partes integrantes dos laudos de classificação, onde a descrição de matérias-
primas, de insumos e do processo no qual o resíduo foi gerado devem ser explicitados”.
(ABNT, 2004)

3.3 - Os Resíduos Gerados

Os laboratórios dos cursos de ensino médio e graduação, das escolas técnicas e dos
institutos de pesquisa, também são geradores de resíduos líquidos e sólidos, de grande
diversidade e potencial poluidor, embora em volume reduzido (Furiam e Gunther, 2006) (Vaz
et al., 2010). Esses autores através de levantamento bibliográfico, concluíram que as
Instituições de Ensino Superior são pouco exploradas e restritas, em relação ao seu
gerenciamento ambiental. No entanto, demonstram a sua preocupação com o
desenvolvimento sustentável, tanto no que diz respeito ao ensino dos alunos, quanto às suas
práticas ambientais.
De acordo com os usuários entrevistados, no campus Campos-Guarus, os laboratórios
são utilizados com maior frequência para o ensino através de aulas práticas e
desenvolvimentos de projetos de extensão, em menor escala são realizados experimentos de
projetos para pesquisa. Os dados obtidos nos questionários possibilitaram a confecção de uma
13

tabela com o levantamento inicial dos resíduos gerados nos laboratórios da instituição e sua
destinação (tabela 1).

LABORATÓRIO RESÍDUOS DESTINO


GERADOS
Química e Meio Cloreto de prata, O cloreto de prata é
Ambiente metais pesados recolhido em recipientes
(mercúrio, prata, plásticos e armazenado no
cromo, chumbo e laboratório, outros resíduos
cobre), solventes, têm diferentes destinos,
ácidos e bases. alguns são descartados na
pia e outros acondicionados
em frascos que são
estocados no laboratório.
Biologia Resíduos biológicos Após autoclavação e
não especificados descartados no lixo.
Farmácia Solventes orgânicos, Geralmente são
entre eles hexano, acondicionados em garrafa
acetato de etila, e rotulados.
acetona,
diclorometano,
metanol, sílica
cromatográfica
Enfermagem Os resíduos Acondicionados em sacos
biológicos e brancos leitosos eestocados
perfurocortantes, os no laboratório
infectantes
Eletrônica Pilhas e baterias Estocados no laboratório
lâmpadas percloreto
de ferro

Física Pilhas e baterias Destinados a pontos de


coleta fora da instituição
Tabela 1-Levantamento inicial dos resíduos gerados nos laboratórios da instituição e sua destinação.

A principal regra a ser adotada para o gerenciamento dos resíduos é a da


responsabilidade objetiva, isto é, quem gera o resíduo torna-se responsável pelo mesmo. A
Lei 6938, de 31 de agosto de 1981, mais conhecida como Política Nacional do Meio
Ambiente, estabelece que a responsabilidade objetiva dispensa a prova de culpa no caso de
um possível dano ao ambiente, ou seja, para que um potencial poluidor seja penalizado, basta
que se prove um nexo de causa e efeito entre a atividade desenvolvida por uma organização e
um dano ambiental (Tavares e Bendassoli, 2005).
14

Mesmo que não quantificados muitos dos resíduos encontrados no local e citados
pelos geradores são inflamáveis, corrosivos, tóxicos ou infectantes, colocando em risco a
saúde e segurança no laboratório. Os frascos de resíduos estão armazenados, de forma
acessível às pessoas que circulam naquele ambiente. Além disso, a identificação de alguns
frascos é inadequada, evidenciando a necessidade do início da discussão com a comunidade
no intuito de o tema ganhar força dentro da instituição e conduzir a um processo gradativo de
elaboração de um plano de gerenciamento desses resíduos.
De acordo com o art. 13 da PNRS, os resíduos sólidos são classificados em dois
grupos: quanto a origem e quanto a periculosidade. Os resíduos classificados como perigosos
são aqueles que, “em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade,
reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e
mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de
acordo com lei, regulamento ou norma técnica”. .
Shinzato et al. ao apresentaram uma análise preliminar dos riscos associados ao
gerenciamento de resíduos em uma universidade pública, sugerem que a capacitação
continuada, voltada ao correto gerenciamento de Resíduos Sólidos da Saúde, é prevista nas
resoluções e normas pertinentes como uma medida necessária à prevenção de problemas e à
proteção da saúde dos trabalhadores e frequentadores de estabelecimentos geradores de tais
resíduos.
É importante ressaltar que a capacitação dos profissionais de laboratório deve ser
contínua no processo de PGR, contribuindo para correta classificação dos agentes com os
quais trabalham, reconhecendo as devidas normativas que regulam tais agentes assim como o
manuseio e armazenamento corretos.
Alberguini et al. (2003), destacam que após implantação do Programa de Gestão e
Gerenciamento de Resíduos Químicos, a consciência ética formada se auto-alimenta tornando
inconcebível a irresponsável prática de lançar resíduos químicos pia abaixo. Essa atitude
diária, essa prática cotidiana, leva o aluno a desenvolver uma ética adequada e correta no que
concerne à manipulação, tratamento e descarte de produtos químicos levando,
consequentemente, à preservação ambiental e influenciando sua atitude na vida profissional
futura.
15

3.4 - Atividades Desenvolvidas

As atividades de Educação Ambiental são importantes para orientar a segregação, a


coleta, o tratamento e a destinação final dos resíduos sólidos gerados nos ambientes das IE,
uma vez que requerem um tratamento especial (Furiam e Gunther, 2006).
A sensibilização da comunidade acadêmica iniciada com a apresentação de banner
(figura 7), no evento CONEPE, repercutiu de maneira positiva entre os discentes,
despertando interesse sobre o tema. Naquele momento, foi proposto por alunos da comissão
organizadora do evento posterior, o EENSAA, a inclusão de um minicurso.

Figura 7-Banner apresentado no evento CONEPE, marcando o início das atividades de sensibilização.

Estiveram presentes nos minicursos oferecidos, membros dos três segmentos da


comunidade, além de integrar profissionais de outras unidades do IFF que interessados pelo
tema, participaram do curso. Houve uma interação entre os palestrantes e docentes do
campus, incentivando uma futura parceria para desenvolver trabalhos, o que motivou os
docentes e técnicos.
A compilação dos dados dos questionários revelou a necessidade de ampliação dos
conhecimentos dos estudantes acerca do tema e resultou na elaboração e distribuição da
cartilha. Alonso et al. (2004), ao utilizarem a cartilha para o ensino da ecologia concluíram
16

que o método não tradicional pode transformar “o aprender” numa atividade atrativa, além de
contribuir para o desenvolvimento do espírito crítico dos alunos. No caso específico deste
estudo, a cartilha estimulou uma interessante discussão sobre o que “somos capazes de fazer,
e o que podemos fazer para melhorar o local onde moramos” reduzindo a distância entre a
teoria e a prática.
O fato de os laboratórios não possuírem registro das atividades desenvolvidas naquele
local e a dificuldade que os usuários apresentam em quantificar os resíduos que geram,
revelou a necessidade da elaboração de uma ficha para registro de resíduos gerados. Essa
ficha irá contribuir para o levantamento dos dados qualitativos e quantitativos, importantes na
elaboração de um PGR.
No Brasil, diversas Instituições Federais de Ensino Superior desenvolveram
Programas de Gerenciamento de Resíduos Químicos (PGRQ), dentre elas 44,6% tem
programa ou estão com uma linha de pesquisa formada. Nas universidades estaduais 28,6% já
possuem PGRQ implantado ou em desenvolvimento (Oliveira Junior, 2012).
Mesmo que na elaboração e implementação de um PGR seja necessário investimento
de recursos financeiros, a posteriori, em função dos princípios que regem o programa – não
geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final- o saldo econômico
será positivo para a instituição. Segundo Nolasco et al.(2006), a proposta, ao se implantar um
PGR é a minimização dos impactos gerados pelas atividades da instituição. Uma vez iniciada,
esse tende a ganhar corpo, pois apresenta aspectos positivos tanto financeira quanto
ambientalmente.

4- Considerações Finais

O programa de gerenciamento de resíduos, além de ser uma ferramenta de gestão


ambiental, propicia um trabalho de EA com todos os envolvidos na atividade. A inserção da
discussão do tema PGR de laboratórios e as atividades desenvolvidas nesse trabalho
instituíram uma oportunidade para formar uma comissão de gerenciamento, e,
principalmente, a capacitação dos profissionais e o início da parceria com profissionais de
outras unidades e instituições.
Esperamos que a partir da motivação despertada através desse trabalho, alunos,
técnico-administrativos e professores do IFF Campus Campos-Guarus venham a adotar
17

técnicas de manejo de resíduos de laboratório que levem em consideração a questão


ambiental.
Para todo o processo de educação e gestão ambiental ser bem sucedido se faz
necessário promover maior interação entre os membros da comunidade bem como um grande
comprometimento de todos. A Educação Ambiental deve permear a conduta da comunidade
de forma que atuem como multiplicadores do conhecimento adquirido, transformando a
unidade em modelo de instituição pública sustentável.

The National Solid Waste Policy as environmental


education tool in Laboratories of Professional and Higher
Education Institution

Abstract

The objective of this study was to encourage discussion about the waste generated by the
laboratories of the IFF Campus Campos-Guarus in the academic community using the
National Policy on Solid Wastes as a guide and encourage the accomplishment of the Waste
Management Plan (WMP), forming students and employees as multipliers of these practices.
Data collection was achieved through questionnaires given to staff that used the laboratories
and students of the Environmental Engineering and Environmental Technician courses.
Sensitization and awareness of the academic community was conducted through short
courses and lectures. After analyzing responses of questionnaires, it was found the existence
of environmental liabilities and a continuous generation of waste, endangering the health and
safety of laboratory users. In order to obtain more information on the quantity and
characteristics of the waste generated, it was elaborated a form of practical activities for
laboratories. These data will contribute to create an inventory. After analyzing responses
from questionnaires given to students, it was observed the need to expand their knowledge on
the subject. Therefore, it was distributed a booklet about WMP to the students. It is necessary
to develop more training activities of all community, allowing each member to contribute
with his ability to benefit the collective. The evidence of waste generation at the Educational
Institution supports the need to implement the laboratory WMP in the unit.
Key words: Awareness, Laboratory waste management, Educational Institution.
18

5- Referências

ABNT ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS -NBR10004 resíduos


sólidos: classificação - Rio de Janeiro, 2004

AGENDA 21 (1996) – Disponível em http://www.mma.gov.br/responsabilidade-


socioambiental/agenda-21/agenda-21-global. Acesso em:20/10/2014.

ALBERGUINI, L. B. A., SILVA, L. C., REZENDE, M. O. O. Experiência pioneira em


gestão e gerenciamento de resíduos químicos em um campus Universitário. Revista Química
Nova, 26 (2): 291-295, 2003.

ALONSO, R. S, BARBOSA, P. M. M, VIANA, F. E. C. Aprendendo Ecologia através de


Cartilhas. 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária da UFMG, 2004.

GERBASE, A.E., GREGORIO, J.R., CALVETE, T. Gerenciamento dos Resíduos da


Disciplina Química Inorgânica II do Curso de Química da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Revista Química Nova, Vol. 29, No. 2, 397-403, 2006.

BRASIL (1981) Lei nº 6938 institui a Política Nacional do Meio Ambiente.


BRASIL (1988) Constituição Federal.
BRASIL (1999) Lei nº 9795 institui a Política Nacional de Educação Ambiental.
BRASIL (2010) Lei nº 12.305 institui Política Nacional de Resíduos Sólidos.
CORRÊA, L. B., LUNARDI, V.L. JACOBI, P. R. Educação Ambiental na Construção de
Políticas para a Gestão dos Resíduos em uma Instituição de Ensino Superior. Revista
Brasileira de Educação Ambiental, 7: 9-15, 2012.

CUNHA, C. J. O Programa de Gerenciamento dos Resíduos Laboratoriais do Depto. de


Química da UFPR. Revista Química Nova, Vol. 24, No. 3, 424-427, 2001.

DIETZ, L. A; TAMAIO, I. Aprenda fazendo: apoio aos processos de Educação Ambiental.


Brasília: WWF Brasil, 2000. 386 p.

FURIAM, S. M.; GÜNTHER, W. R. Avaliação da Educação Ambiental no Gerenciamento


dos Resíduos Sólidos no Campus da Universidade Estadual de Feira de Santana. Revista
Sitientibus, 35: 7-27, 2006.

MILARÉ, E. Direito Ambiental: a gestão em foco. Editora Revista dos tribunais. 6ª edição,
2009.
MMA - MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE E RECURSOS RENOVÁVEIS. Disponível
em: http://www.mma.gov.br/agua/item/8852-agenda-ambiental-na-administra-publica-a3p.
Acesso em: 18/10/2014
19

NOLASCO, F. R., TAVARES, G. A., BENDASSOLLI, J. A. Implantação de Programas de


Gerenciamento de Resíduos Químicos e Recomendações Laboratoriais em Universidades:
Análise Crítica e Recomendações. Revista Engenharia Sanitária e Ambiental, 11(2):118-124,
2006
OLIVEIRA JUNIOR, F. A. Implantação de Programas de Gerenciamento de Resíduos
Químicos: caso da Universidade Federal de Lavras – Dissertação de Mestrado. UFLA, 103p.,
2012.
PLANO GERAL DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DA UFPA .2008. Disponível em
http://www.ufpa.br/prefeitura/relatorios/PGRSS.pdf. Acesso em 02/04/2015.
SASSIOTO, M.L.P. Manejo de Resíduos de Laboratórios Químicos em Universidades –
Estudo de Caso do Departamento de UFSCAR- Dissertação de Mestrado – UFSCAR, 151p.
2005.
SHINZATO, M.P., HESS, S.C., BONCZ, M.A., MACENTE, D.F.C., SKOWRONSKI, J
Análise preliminar de riscos sobre o gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde de uma
instituição de ensino em Mato Grosso do Sul: estudo de caso. Revista Brasileira de Saúde
Ocupacional. São Paulo, 35 (122): 340-352, 2010

TAVARES, G. A., BENDASSOLLI, J. A. Implantação de um Programa de Gerenciamento


de Resíduos Químicos e Águas Servidas nos Laboratórios de Ensino e Pesquisa no
CENA/USP. Revista Química Nova, 28 (4) 732-738, 2005

INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE - IFF CAMPUS CAMPOS-GUARUS. Disponível


em http://portal.iff.edu.br/campus/guarus. Acesso em 23/01/2015
VAZ, C. R., FAGUNDES, A. B., OLIVEIRA, I. L., KOVALESKI, J. L., SELIG, P. M.,
Sistema de Gestão Ambiental em Instituições de Ensino Superior: uma revisão. GEPROS -
Gestão da Produção, Operações e Sistemas – 5 (3): 45-58, 2010
20

Anexo

IFF Campus Campos-Guarus


Registro de resíduos de aulas práticas e experimentos de pesquisa

Laboratório: Data:

Tema da aula ou experimento:

Professor:

Número de alunos:
Reagentes Utilizados (especificar quantidade):

Resíduos Gerados: Observações:

Sugestões para observações: Pode ser descartado na pia, reaproveitado ou tratado? Qual a
quantidade gerada? É nocivo, tóxico, corrosivo, inflamável, explosivo, ácido ou básico?
Essa aula ou experimento podem ser reduzidos em escala? ( ) SIM ( ) NÃO
Anexo 1: Ficha para registro de resíduos gerados a partir das atividades realizadas nos laboratórios

You might also like