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Secretaria da Educação do Estado da Bahia

SEE-BA
Comum as Áreas de

Professor Padrão P - Grau IA


Edital de Abertura de Inscrições – SAEB/02/2017, de 09 de Novembro de 2017

NB029-2017
DADOS DA OBRA

Título da obra: Secretaria da Educação do Estado da Bahia - SEE-BA

Cargo: Comum as Áreas de Professor Padrão P - Grau IA

(Baseado no Edital de Abertura de Inscrições – SAEB/02/2017, de 09 de Novembro de 2017)

• Educação Brasileira: Temas Educacionais e Pedagógicos


• Noções de Igualdade Racial e de Gênero
• Conhecimentos Interdisciplinares

Professora
Silvana Guimarães

Produção Editorial/Revisão
Elaine Cristina
Igor de Oliveira
Camila Lopes
Suelen Domenica Pereira

Capa
Joel Ferreira dos Santos

Editoração Eletrônica
Marlene Moreno

Gerente de Projetos
Bruno Fernandes
APRESENTAÇÃO

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SUMÁRIO

Educação Brasileira: Temas Educacionais e Pedagógicos

As diferentes correntes do pensamento pedagógico brasileiro e as implicações na organização do sistema de educação


brasileiro....................................................................................................................................................................................................................... 01
A didática e o processo de ensino/aprendizagem: planejamento, estratégias, metodologias e avaliação da aprendizagem.......... 06
A sala de aula como espaço de aprendizagem............................................................................................................................................ 18
As teorias do currículo............................................................................................................................................................................................ 20
As contribuições da psicologia da educação para a pedagogia: implicações para a melhoria do ensino e para ações mais
embasadas da ação profissional docente no alcance do que se ensina aos indivíduos.............................................................. 31
Os conhecimentos socioemocionais no currículo escolar: a escola como espaço social............................................................ 33
As diretrizes curriculares nacionais para a formação docente................................................................................................................ 39
Aspectos legais e políticos da organização da educação brasileira..................................................................................................... 48
Políticas educacionais para a educação básica: as diretrizes curriculares nacionais. (etapas e modalidades).................... 57
A Interdisciplinaridade e a contextualização no Ensino Médio.............................................................................................................. 59
Os fundamentos de uma escola inclusiva. Educação e trabalho: o trabalho como princípio educativo............................... 61
Convenção da ONU sobre direitos das pessoas com deficiência......................................................................................................... 64
Educação para as relações étnico-raciais........................................................................................................................................................ 79
Decreto nº. 65.810, de 8 de dezembro de 1969 (promulga a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as
Formas de Discriminação Racial)........................................................................................................................................................................ 82
O Decreto federal nº 4.738, de 12 de junho de 2003 (reitera a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as
Formas de Discriminação Racial)........................................................................................................................................................................ 88
Ação da escola, protagonismo juvenil e cidadania..................................................................................................................................... 88
A Lei estadual nº 13.559, de 11 de maio de 2016: o Plano Estadual de Educação 19.................................................................. 91
O paradigma da supralegalidade como norma constitucional para os tratados dos direitos humanos.............................108
As avaliações nacionais da educação básica...............................................................................................................................................111
As licenciaturas interdisciplinares como paradigma atual da formação docente (menção no art. 24 da Resolução CNE/
CP nº. 2, de 1º de julho de 2015).....................................................................................................................................................................118
Legislação educacional: a) Constituição Federal de 1988 (Artigo n° 205 ao n° 214);..................................................................121
b) LDB, atualizada até 30 de setembro de 2017 – Lei federal nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 a Lei federal nº 13.415,
de 16 de fevereiro de 2017;................................................................................................................................................................................124
c) Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei federal nº 8069, de 13 de julho de 1990;..........................................................143
Estatuto do Magistério Público do Ensino Fundamental e Médio do Estado da Bahia - Lei estadual nº 8.261, de 29 de
maio de 2002............................................................................................................................................................................................................180

Noções de Igualdade Racial e de Gênero

Constituição da República Federativa do Brasil (art. 1°, 3°, 4° e 5°). ................................................................................................... 01


Constituição do Estado da Bahia, (Cap. XXIII “Do Negro”). .................................................................................................................... 23
Lei federal n° 12.288, de 20 de julho de 2010 (Estatuto da Igualdade Racial). ............................................................................... 24
Lei federal nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 (Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor) e Lei federal
n° 9.459, de 13 de maio de 1997 (Tipificação dos crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor)........................... 30
Decreto federal n° 65.810, de 08 de dezembro de 1969 (Convenção internacional sobre a eliminação de todas as formas
de discriminação racial). ....................................................................................................................................................................................... 32
Decreto federal n° 4.377, de 13 de setembro de 2002 (Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discrimina-
ção contra a mulher). ............................................................................................................................................................................................. 38
Lei federal nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha). ................................................................................................ 44
Código Penal Brasileiro (art. 140). ..................................................................................................................................................................... 49
Lei federal n° 9.455, de 7 de abril de 1997 (Crime de Tortura). ............................................................................................................. 50
Lei federal n° 2.889, de 1º de outubro de 1956 (Define e pune o Crime de Genocídio). ........................................................... 50
Lei federal nº 7.437, de 20 de dezembro de 1985 (Lei Caó). ................................................................................................................. 51
Lei estadual n° 10.549, de 28 de dezembro de 2006 (Secretaria de Promoção da Igualdade Racial); alterada pela Lei
estadual n° 12.212, de 04 de maio de 2011. ................................................................................................................................................. 51
Lei federal nº 10.678, de 23 de maio de 2003, com as alterações da Lei federal nº 13.341, de 29 de setembro de 2016
(Referente à Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República)................................... 77
SUMÁRIO

Conhecimentos Interdisciplinares

Linguagem, texto e contexto nos signos verbais e não-verbais. .......................................................................................................... 01


A intermediação entre linguagem verbal e não verbal no processo de constituição do texto/discurso. ............................ 13
A linguagem das ciências e das artes e seu entendimento como chaves à compreensão do mundo e da sociedade
18
A linguagem das ciências humanas no processo de formação das dimensões estéticas, éticas e políticas do atributo
exclusivo do ser humano. ..................................................................................................................................................................................... 23
A linguagem das ciências e das artes e as implicações ao pensar filosófico, a partir do Renascimento. ............................ 26
As linguagens das ciências, das artes e da matemática: sua conexão com a compreensão/interpretação de fenômenos
nas diferentes áreas das relações humanas com a natureza e com a vida social. ......................................................................... 29
As linguagens das ciências e das artes e sua relação com a comunicação humana. ................................................................... 29
O significado social e cultural das linguagens das artes e das ciências – naturais e humanas – e suas tecnologias. ..... 29
As linguagens como instrumentos de produção de sentido e, ainda, de acesso ao próprio conhecimento, sua organização
e sistematização........................................................................................................................................................................................................ 29
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

As diferentes correntes do pensamento pedagógico brasileiro e as implicações na organização do sistema de educação


brasileiro....................................................................................................................................................................................................................... 01
A didática e o processo de ensino/aprendizagem: planejamento, estratégias, metodologias e avaliação da aprendiza-
gem................................................................................................................................................................................................................................ 06
A sala de aula como espaço de aprendizagem............................................................................................................................................ 18
As teorias do currículo............................................................................................................................................................................................ 20
As contribuições da psicologia da educação para a pedagogia: implicações para a melhoria do ensino e para ações mais
embasadas da ação profissional docente no alcance do que se ensina aos indivíduos.............................................................. 31
Os conhecimentos socioemocionais no currículo escolar: a escola como espaço social............................................................ 33
As diretrizes curriculares nacionais para a formação docente................................................................................................................ 39
Aspectos legais e políticos da organização da educação brasileira..................................................................................................... 48
Políticas educacionais para a educação básica: as diretrizes curriculares nacionais. (etapas e modalidades)..................... 57
A Interdisciplinaridade e a contextualização no Ensino Médio.............................................................................................................. 59
Os fundamentos de uma escola inclusiva. Educação e trabalho: o trabalho como princípio educativo............................... 61
Convenção da ONU sobre direitos das pessoas com deficiência.......................................................................................................... 64
Educação para as relações étnico-raciais........................................................................................................................................................ 79
Decreto nº. 65.810, de 8 de dezembro de 1969 (promulga a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as
Formas de Discriminação Racial)........................................................................................................................................................................ 82
O Decreto federal nº 4.738, de 12 de junho de 2003 (reitera a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as
Formas de Discriminação Racial)........................................................................................................................................................................ 88
Ação da escola, protagonismo juvenil e cidadania..................................................................................................................................... 88
A Lei estadual nº 13.559, de 11 de maio de 2016: o Plano Estadual de Educação 19.................................................................. 91
O paradigma da supralegalidade como norma constitucional para os tratados dos direitos humanos.............................108
As avaliações nacionais da educação básica...............................................................................................................................................111
As licenciaturas interdisciplinares como paradigma atual da formação docente (menção no art. 24 da Resolução CNE/
CP nº. 2, de 1º de julho de 2015).....................................................................................................................................................................118
Legislação educacional: a) Constituição Federal de 1988 (Artigo n° 205 ao n° 214);..................................................................121
b) LDB, atualizada até 30 de setembro de 2017 – Lei federal nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 a Lei federal nº 13.415,
de 16 de fevereiro de 2017;................................................................................................................................................................................124
c) Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei federal nº 8069, de 13 de julho de 1990;..........................................................143
Estatuto do Magistério Público do Ensino Fundamental e Médio do Estado da Bahia - Lei estadual nº 8.261, de 29 de
maio de 2002............................................................................................................................................................................................................180
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

- Adquirir uma visão longitudinal dos objetivos do en-


AS DIFERENTES CORRENTES DO PENSAMENTO sino: dominar a formação do ciclo de aprendizagem, as
PEDAGÓGICO BRASILEIRO E AS IMPLICAÇÕES fases do conhecimento e do desenvolvimento intelectual
NA ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE da criança e do adolescente, além do sentimento de res-
ponsabilidade do professor pleno conjunto da formação
EDUCAÇÃO BRASILEIRO.
do ensino fundamental;
- Estabelecer laços com as teorias subjacentes às ativida-
des de aprendizagens;
- Observar e avaliar os alunos em situações de aprendi-
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E zagens;
PEDAGÓGICOS - Fazer balanços periódicos de competências e tomar de-
cisões de progressão;
O ofício de professor deve consagrar temas como a - Rumar a ciclos de aprendizagem: interagir grupos de
prática educativa, a profissionalização docente, o trabalho alunos e dispositivos de ensino-aprendizagem.
em equipe, projetos, autonomia e responsabilidades cres-
centes, pedagogias diferenciadas, e propostas concretas. 3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferen-
O autor toma como referencial de competência adotado ciação.
em Genebra, 1996, para uma formação continua. O pro- - Administrar a heterogeneidade no âmbito de uma tur-
fessor deve dominar saberes a ser ensinado, ser capaz de ma, com o propósito de grupos de necessidades, de projetos
dar aulas, de administrar uma turma e de avaliar. Ressalta e não de homogeneidade;
a urgência de novas competências, devido às transforma- - Abrir, ampliar a gestão de classe para um espaço mais
ções sociais existentes. As tecnologias mudam o trabalho, vasto, organizar para facilitar a cooperação e a geração de
a comunicação, a vida cotidiana e mesmo o pensamento. grupos utilidades;
A prática docência tem que refletir sobre o mundo. Os pro- - Fornecer apoio integrado, trabalhar com alunos por-
fessores são os intelectuais e mediadores, interpretes ati- tadores de grandes dificuldades, sem todavia transforma-se
vos da cultura, dos valores e do saber em transformação. num psicoterapeuta;
Se não se perceberem como depositários da tradição ou - Desenvolver a cooperação entre os alunos e certas for-
percursos do futuro, não serão desempenhar esse papel mas simples de ensino mútuo, provocando aprendizagens
por si mesmos. O currículo deve ser orientado para se de- através de ações coletivas, criando uma cultura de coopera-
signar competências, a capacidade de mobilizar diversos ção através de atitudes e da reflexão sobre a experiência.
recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações,
etc.) para enfrentar, solucionar uma serie de situações. Dez 4. Envolver os alunos em sua aprendizagem e em seu
domínios de competências reconhecidas como prioritárias trabalho.
na formação contínua das professoras e dos professores do - Suscitar o desejo de aprender, explicitar a relação com o
ensino fundamental. saber, o sentido do trabalho escolar e desenvolver na criança a
capacidade de auto avaliação. O professor deve ter em mente
1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem. o que é ensinar, reforçar a decisão de aprender, estimular o
- Conhecer, para determinada disciplina, os conteúdos desejo de saber, instituindo um conselho de alunos e negociar
a serem ensinados e sua tradução em objetivos de apren- regras e contratos;
dizagem: nos estágios de planejamento didático, da analise - Oferecer atividades opcionais de formação, à la carte;
posterior e da avaliação. - Favorecer a definição de um projeto pessoal do aluno,
- Trabalhar a partir das representações dos alunos: con- valorizando-os e reforçando-os a incitar o aluno a realizar
siderando o conhecimento do aluno, colocando-se no lu- projetos pessoais, sem retornar isso um pré-requisito.
gar do aprendiz, utilizando se de uma competência didáti-
ca para dialogar com ele e fazer com que suas concepções 5. Trabalhar em equipe.
se aproxime dos conhecimentos científicos; - Elaborar um projeto de equipe, representações comuns;
- Trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à apren- - Dirigir um grupo de trabalho, conduzir reuniões;
dizagem: usando de uma situação-problema ara transpo- - Formar e renovar uma equipe pedagógica;
sição didática, considerando o erro, como ferramenta para - Enfrentar e analisar em conjunto situações complexas,
o ensino. práticas e problemas profissionais.
- Construir e planejar dispositivos e sequências didá- - Administrar crises ou conflitos interpessoais.
ticas;
- Envolver os alunos em atividades de pesquisa, em 6. Participar da administração da escola.
projetos de conhecimento. - Elaborar, negociar um projeto da instituição;
- Administrar os recursos da escola;
2. Administrar a progressão das aprendizagens. - Coordenar, dirigir uma escola com todos os seus parcei-
- Conceber e administrar situações-problema ajusta- ros (serviços para escolares, bairro, associações de pais, pro-
das ao nível e as possibilidades dos alunos: em torno da fessores de línguas e cultura de origem);
resolução de um obstáculo pela classe, propiciando refle- - Organizar e fazer evoluir, no âmbito da escola, a par-
xões, desafios, intelectuais, conflitos sociocognitivos; ticipação dos alunos.

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

7. Informar e envolver os pais. Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condicio-
- Dirigir reuniões de informação e de debate; nantes de ordem sociopolítica que implicam diferentes
- Fazer entrevistas; concepções de homem e de sociedade e, consequente-
- Envolver os pais na construção dos saberes. mente, diferentes pressupostos sobre o papel da escola e
da aprendizagem, inter alia. Assim, justifica-se o presente
8. Utilizar novas tecnologias. estudo, tendo em vista que o modo como os professores
As novas tecnologias da informação e da comunicação realizam o seu trabalho na escola tem a ver com esses pres-
transformam as maneiras de se comunicar, de trabalhar, de supostos teóricos, explícita ou implicitamente.
decidir e de pensar. O professor predica usar editores de  
textos, explorando didáticas e programas com objetivos TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS
educacionais. Segundo LIBÂNEO (1990), a pedagogia liberal sustenta
- Discutir a questão da informática na escola; a ideia de que a escola tem por função preparar os indi-
víduos para o desempenho de papéis sociais, de acordo
- Utilizar editores de texto; com as aptidões individuais. Isso pressupõe que o indiví-
- Explorar as potencialidades didáticas dos programas duo precisa adaptar-se aos valores e normas vigentes na
em relação aos objetivos do ensino; sociedade de classe, através do desenvolvimento da cul-
- Comunicar-se à distância por meio da telemática; tura individual. Devido a essa ênfase no aspecto cultural,
- Utilizar as ferramentas multimídia no ensino. as diferenças entre as classes sociais não são consideradas,
pois, embora a escola passe a difundir a ideia de igualdade
Assim, quanto à oitava competência de Perrenoud, que de oportunidades, não leva em conta a desigualdade de
trabalhos nessa pesquisa, a Informática na Educação, nos condições.
fez perceber que cada vez mais precisamos do computa-
dor, porque estamos na era da informatização e por isso TENDÊNCIA LIBERAL TRADICIONAL
é primordial que nós profissionais da educação estejamos Segundo esse quadro teórico, a tendência liberal tra-
modernizados e acompanhando essa tendência, visto que dicional se caracteriza por acentuar o ensino humanístico,
assim como um simples pagamento no banco, utilizamos o de cultura geral. De acordo com essa escola tradicional, o
computador , para estarmos atualizados necessitamos ob- aluno é educado para atingir sua plena realização através
ter mais esta competência para se fazer uma docência de de seu próprio esforço. Sendo assim, as diferenças de clas-
qualidade. se social não são consideradas e toda a prática escolar não
tem nenhuma relação com o cotidiano do aluno.
9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da pro- Quanto aos pressupostos de aprendizagem, a ideia de
fissão. que o ensino consiste em repassar os conhecimentos para
- Prevenir a violência na escola e fora dela; o espírito da criança é acompanhada de outra: a de que a
- Lutar contra os preconceitos e as discriminações se- capacidade de assimilação da criança é idêntica à do adul-
xuais, étnicas e sociais; to, sem levar em conta as características próprias de cada
- Participar da criação de regras de vida comum refe- idade. A criança é vista, assim, como um adulto em minia-
rente á disciplina na escola, às sanções e à apreciação da tura, apenas menos desenvolvida.
conduta; No ensino da língua portuguesa, parte-se da concep-
- Analisar a relação pedagógica, a autoridade, a comu- ção que considera a linguagem como expressão do pensa-
nicação em aula; mento. Os seguidores dessa corrente linguística, em razão
- Desenvolver o senso de responsabilidade, a solidarie- disso, preocupam-se com a organização lógica do pensa-
dade e o sentimento de justiça. mento, o que presume a necessidade de regras do bem
falar e do bem escrever. Segundo essa concepção de lin-
10. Administrar sua própria formação contínua. guagem, a Gramática Tradicional ou Normativa se constitui
- Saber explicitar as próprias práticas; no núcleo dessa visão do ensino da língua, pois vê nessa
- Estabelecer seu próprio balanço de competência e gramática uma perspectiva de normatização linguística,
seu programa pessoa de formação contínua; tomando como modelo de norma culta as obras dos nos-
- Negociar um projeto de formação comum com os sos grandes escritores clássicos. Portanto, saber gramática,
colegas (equipe, escola, rede); teoria gramatical, é a garantia de se chegar ao domínio da
- Envolver-se em tarefas em escala de uma ordem de língua oral ou escrita.
ensino ou do sistema educativo; Assim, predomina, nessa tendência tradicional, o en-
- Acolher a formação dos colegas e participar dela. sino da gramática pela gramática, com ênfase nos exer-
cícios repetitivos e de recapitulação da matéria, exigindo
Conclusão: Contribuir para o debate sobe a sua profis- uma atitude receptiva e mecânica do aluno. Os conteúdos
sionalização, com responsabilidade numa formação conti- são organizados pelo professor, numa sequencia lógica, e a
nua.1 avaliação é realizada através de provas escritas e exercícios
de casa.
1 Fonte: Porto Alegre: ARTMED, 2000. Reimpressão 2008
Perrenoud, Philippe. 10 Novas Competências para Ensinar.

2
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA PROGRESSIVISTA A partir da Reforma do Ensino, com a Lei 5.692/71, que
Segundo essa perspectiva teórica de Libâneo, a ten- implantou a escola tecnicista no Brasil, preponderaram as
dência liberal renovada (ou pragmatista) acentua o sentido influências do estruturalismo linguístico e a concepção de
da cultura como desenvolvimento das aptidões individuais. linguagem como instrumento de comunicação. A língua –
A escola continua, dessa forma, a preparar o aluno para como diz TRAVAGLIA (1998) – é vista como um código, ou
assumir seu papel na sociedade, adaptando as necessidades seja, um conjunto de signos que se combinam segundo re-
do educando ao meio social, por isso ela deve imitar a vida. gras e que é capaz de transmitir uma mensagem, informa-
Se, na tendência liberal tradicional, a atividade pedagógica ções de um emissor a um receptor. Portanto, para os estru-
estava centrada no professor, na escola renovada progres- turalistas, saber a língua é, sobretudo, dominar o código.
sivista, defende-se a ideia de “aprender fazendo”, portanto No ensino da Língua Portuguesa, segundo essa con-
centrada no aluno, valorizando as tentativas experimentais, cepção de linguagem, o trabalho com as estruturas lin-
a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social, guísticas, separadas do homem no seu contexto social, é
etc, levando em conta os interesses do aluno. visto como possibilidade de desenvolver a expressão oral e
Como pressupostos de aprendizagem, aprender se tor- escrita. A tendência tecnicista é, de certa forma, uma mo-
na uma atividade de descoberta, é uma autoaprendizagem, dernização da escola tradicional e, apesar das contribui-
sendo o ambiente apenas um meio estimulador. Só é reti- ções teóricas do estruturalismo, não conseguiu superar os
do aquilo que se incorpora à atividade do aluno, através da equívocos apresentados pelo ensino da língua centrado na
descoberta pessoal; o que é incorporado passa a compor a gramática normativa. Em parte, esses problemas ocorreram
estrutura cognitiva para ser empregado em novas situações. devido às dificuldades de o professor assimilar as novas
É a tomada de consciência, segundo Piaget. teorias sobre o ensino da língua materna.
No ensino da língua, essas ideias escolanovistas não
trouxeram maiores consequências, pois esbarraram na práti- TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS
ca da tendência liberal tradicional. Segundo Libâneo, a pedagogia progressista designa as
tendências que, partindo de uma análise crítica das realida-
TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA NÃO-DIRETIVA des sociais, sustentam implicitamente as finalidades socio-
Acentua-se, nessa tendência, o papel da escola na for- políticas da educação.
mação de atitudes, razão pela qual deve estar mais preocu-
pada com os problemas psicológicos do que com os peda- TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTADORA
gógicos ou sociais. Todo o esforço deve visar a uma mudan- As tendências progressistas libertadoras e libertárias
ça dentro do indivíduo, ou seja, a uma adequação pessoal às têm, em comum, a defesa da autogestão pedagógica e o
solicitações do ambiente. antiautoritarismo. A escola libertadora, também conhecida
Aprender é modificar suas próprias percepções. Ape- como a pedagogia de Paulo Freire, vincula a educação à
nas se aprende o que estiver significativamente relacionado luta e organização de classe do oprimido. Segundo GA-
com essas percepções. A retenção se dá pela relevância do DOTTI (1988), Paulo Freire não considera o papel informati-
aprendido em relação ao “eu”, o que torna a avaliação esco- vo, o ato de conhecimento na relação educativa, mas insis-
lar sem sentido, privilegiando-se a auto-avaliação. Trata-se te que o conhecimento não é suficiente se, ao lado e junto
de um ensino centrado no aluno, sendo o professor apenas deste, não se elabora uma nova teoria do conhecimento e
um facilitador. No ensino da língua, tal como ocorreu com a se os oprimidos não podem adquirir uma nova estrutura
corrente pragmatista, as ideias da escola renovada não-dire- do conhecimento que lhes permita reelaborar e reordenar
tiva, embora muito difundidas, encontraram, também, uma seus próprios conhecimentos e apropriar-se de outros.
barreira na prática da tendência liberal tradicional. Assim, para Paulo Freire, no contexto da luta de classes,
o saber mais importante para o oprimido é a descoberta
TENDÊNCIA LIBERAL TECNICISTA da sua situação de oprimido, a condição para se libertar da
A escola liberal tecnicista atua no aperfeiçoamento da exploração política e econômica, através da elaboração da
ordem social vigente (o sistema capitalista), articulando-se consciência crítica passo a passo com sua organização de
diretamente com o sistema produtivo; para tanto, emprega classe. Por isso, a pedagogia libertadora ultrapassa os limi-
a ciência da mudança de comportamento, ou seja, a tecno- tes da pedagogia, situando-se também no campo da eco-
logia comportamental. Seu interesse principal é, portanto, nomia, da política e das ciências sociais, conforme Gadotti.
produzir indivíduos “competentes” para o mercado de traba- Como pressuposto de aprendizagem, a força motiva-
lho, não se preocupando com as mudanças sociais. dora deve decorrer da codificação de uma situação-proble-
Conforme MATUI (1988), a escola tecnicista, baseada na ma que será analisada criticamente, envolvendo o exercício
teoria de aprendizagem S-R, vê o aluno como depositário da abstração, pelo qual se procura alcançar, por meio de
passivo dos conhecimentos, que devem ser acumulados na representações da realidade concreta, a razão de ser dos
mente através de associações. Skinner foi o expoente prin- fatos. Assim, como afirma Libâneo, aprender é um ato de
cipal dessa corrente psicológica, também conhecida como conhecimento da realidade concreta, isto é, da situação
behaviorista. Segundo RICHTER (2000), a visão behaviorista real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta de
acredita que adquirimos uma língua por meio de imitação uma aproximação crítica dessa realidade. Portanto o co-
e formação de hábitos, por isso a ênfase na repetição, nos nhecimento que o educando transfere representa uma res-
drills, na instrução programada, para que o aluno forme posta à situação de opressão a que se chega pelo processo
“hábitos” do uso correto da linguagem. de compreensão, reflexão e crítica.

3
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

No ensino da Leitura, Paulo Freire, numa entrevista, sinte- De acordo com esse quadro teórico de José Carlos Li-
tiza sua ideia de dialogismo: “Eu vou ao texto carinhosamente. bâneo, deduz-se que as tendências pedagógicas liberais,
De modo geral, simbolicamente, eu puxo uma cadeira e con- ou seja, a tradicional, a renovada e a tecnicista, por se de-
vido o autor, não importa qual, a travar um diálogo comigo”. clararem neutras, nunca assumiram compromisso com as
transformações da sociedade, embora, na prática, procu-
TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTÁRIA rassem legitimar a ordem econômica e social do sistema
A escola progressista libertária parte do pressuposto de capitalista. No ensino da língua, predominaram os méto-
que somente o vivido pelo educando é incorporado e utiliza- dos de base ora empirista, ora inatista, com ensino da gra-
do em situações novas, por isso o saber sistematizado só terá mática tradicional, ou sob algumas as influências teóricas
relevância se for possível seu uso prático. A ênfase na apren- do estruturalismo e do gerativismo, a partir da Lei 5.692/71,
dizagem informal via grupo, e a negação de toda forma de da Reforma do Ensino.
repressão, visam a favorecer o desenvolvimento de pessoas Já as tendências pedagógicas progressistas, em oposi-
mais livres. No ensino da língua, procura valorizar o texto pro- ção às liberais, têm em comum a análise crítica do sistema
duzido pelo aluno, além da negociação de sentidos na leitura. capitalista. De base empirista (Paulo Freire se proclamava
um deles) e marxista (com as ideias de Gramsci), essas ten-
TENDÊNCIA PROGRESSISTA CRÍTICO-SOCIAL DOS dências, no ensino da língua, valorizam o texto produzido
CONTEÚDOS pelo aluno, a partir do seu conhecimento de mundo, assim
Conforme Libâneo, a tendência progressista crítico-social como a possibilidade de negociação de sentido na leitura.
dos conteúdos, diferentemente da libertadora e libertária, A partir da LDB 9.394/96, principalmente com as difu-
acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto com as sões das idéias de Piaget, Vygotsky e Wallon, numa pers-
realidades sociais. A atuação da escola consiste na preparação pectiva sócio-histórica, essas teorias buscam uma aproxi-
do aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecen- mação com modernas correntes do ensino da língua que
do-lhe um instrumental, por meio da aquisição de conteúdos consideram a linguagem como forma de atuação sobre o
e da socialização, para uma participação organizada e ativa na homem e o mundo, ou seja, como processo de interação
democratização da sociedade.
verbal, que constitui a sua realidade fundamental.
Na visão da pedagogia dos conteúdos, admite-se o prin-
cípio da aprendizagem significativa, partindo do que o alu-
TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS BRASILEIRAS
no já sabe. A transferência da aprendizagem só se realiza no
As tendências pedagógicas brasileiras foram muito in-
momento da síntese, isto é, quando o aluno supera sua visão
fluenciadas pelo momento cultural e político da sociedade,
parcial e confusa e adquire uma visão mais clara e unificadora.
pois foram levadas à luz graças aos movimentos sociais e
filosóficos. Essas formaram a prática pedagógica do país.
TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PÓS-LDB 9.394/96
Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de Os professores Saviani (1997) e Libâneo (1990) pro-
n.º 9.394/96, revalorizam-se as ideias de Piaget, Vygotsky e põem a reflexão sobre as tendências pedagógicas. Mos-
Wallon. Um dos pontos em comum entre esses psicólogos é trando que as principais tendências pedagógicas usadas
o fato de serem interacionistas, porque concebem o conhe- na educação brasileira se dividem em duas grandes linhas
cimento como resultado da ação que se passa entre o sujeito de pensamento pedagógico. Elas são: Tendências Liberais e
e um objeto. De acordo com Aranha (1998), o conhecimento Tendências Progressistas.
não está, então, no sujeito, como queriam os inatistas, nem no Os professores devem estudar e se apropriar dessas
objeto, como diziam os empiristas, mas resulta da interação tendências, que servem de apoio para a sua prática peda-
entre ambos. gógica. Não se deve usar uma delas de forma isolada em
toda a sua docência. Mas, deve-se procurar analisar cada
Para citar um exemplo no ensino da língua, segundo essa uma e ver a que melhor convém ao seu desempenho aca-
perspectiva interacionista, a leitura como processo permite a dêmico, com maior eficiência e qualidade de atuação. De
possibilidade de negociação de sentidos em sala de aula. O acordo com cada nova situação que surge, usa-se a ten-
processo de leitura, portanto, não é centrado no texto, as- dência mais adequada. E observa-se que hoje, na prática
cendente, bottom-up, como queriam os empiristas, nem no docente, há uma mistura dessas tendências.
receptor, descendente, top-down, segundo os inatistas, mas Deste modo, seguem as explicações das características
ascendente/descendente, ou seja, a partir de uma negociação de cada uma dessas formas de ensino. Porém, ao analisá
de sentido entre enunciador e receptor. Assim, nessa aborda- -las, deve-se ter em mente que uma tendência não substi-
gem interacionista, o receptor é retirado da sua condição de tui totalmente a anterior, mas ambas conviveram e convi-
mero objeto do sentido do texto, de alguém que estava ali vem com a prática escolar.
para decifrá-lo, decodificá-lo, como ocorria, tradicionalmen-
te, no ensino da leitura. Tendências Liberais - Liberal não tem a ver com algo
As ideias desses psicólogos interacionistas vêm ao en- aberto ou democrático, mas com uma instigação da socie-
contro da concepção que considera a linguagem como forma dade capitalista ou sociedade de classes, que sustenta a
de atuação sobre o homem e o mundo e das modernas ideia de que o aluno deve ser preparado para papéis sociais
teorias sobre os estudos do texto, como a Linguística Tex- de acordo com as suas aptidões, aprendendo a viver em
tual, a Análise do Discurso, a Semântica Argumentativa e a harmonia com as normas desse tipo de sociedade, tendo
Pragmática, entre outros. uma cultura individual.

4
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Tradicional - Foi a primeira a ser instituída no Brasil o conhecimento histórico. Prepara o aluno para o mundo
por motivos históricos. Nesta tendência o professor é a fi- adulto, com participação organizada e ativa na democrati-
gura central e o aluno é um receptor passivo dos conheci- zação da sociedade; por meio da aquisição de conteúdos
mentos considerados como verdades absolutas. Há repetição e da socialização. É o mediador entre conteúdos e alunos.
de exercícios com exigência de memorização. O ensino/aprendizagem tem como centro o aluno. Os co-
Renovadora Progressiva - Por razões de recomposição nhecimentos são construídos pela experiência pessoal e
da hegemonia da burguesia, esta foi a próxima tendência a subjetiva.
aparecer no cenário da educação brasileira. Caracteriza-se por Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
centralizar no aluno, considerado como ser ativo e curioso. (LDB 9.394/96), ideias como de Piaget, Vygotsky e Wallon
Dispõe da ideia que ele “só irá aprender fazendo”, valorizam- foram muito difundidas, tendo uma perspectiva sócio-his-
se as tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o tórica e são interacionistas, isto é, acreditam que o conhe-
estudo do meio natural e social. Aprender se torna uma ati- cimento se dá pela interação entre o sujeito e um objeto.
vidade de descoberta, é uma autoaprendizagem. O professor Alguns dos principais expoentes da história educacio-
é um facilitador. nal nacional e internacional debruçaram-se sobre a ques-
Renovadora não diretiva (Escola Nova) – Anísio Teixeira tão das tendências pedagógicas. Autores como Paulo Frei-
foi o grande pioneiro da Escola Nova no Brasil. É um método re, Luckesi, Libâneo, Saviani e Gadotti, entre outros não me-
centrado no aluno. A escola tem o papel de formadora de nos importantes, dedicaram grande parte de suas vidas a
atitudes, preocupando-se mais com a parte psicológica do estudos que pudessem contribuir para o avanço da Educa-
que com a social ou pedagógica. E para aprender tem que ção, desenvolvendo teorias para nortear as práticas peda-
estar significativamente ligado com suas percepções, modi- gógicas, objetivando melhorar a qualidade do ensino que é
ficando-as. aplicado nas escolas. Essa é a função das tendências peda-
Tecnicista – Skinner foi o expoente principal dessa cor- gógicas no universo educacional. O que se pretende neste
rente psicológica, também conhecida como behaviorista. trabalho é justamente trazer à tona essa questão, erguendo
Neste método de ensino o aluno é visto como depositário a bandeira das tendências pedagógicas contemporâneas,
passivo dos conhecimentos, que devem ser acumulados na buscando, assim, contribuir para uma melhor assimilação
mente através de associações. O professor é quem deposi- delas por parte de alguns professores de escolas públicas.
ta os conhecimentos, pois ele é visto como um especialista
na aplicação de manuais; sendo sua prática extremamente
A relação entre as tendências pedagógicas e a prá-
controlada. Articula-se diretamente com o sistema produtivo,
tica docente
com o objetivo de aperfeiçoar a ordem social vigente, que é
As tendências pedagógicas são de extrema relevân-
o capitalismo, formando mão de obra especializada para o
cia para a Educação, principalmente as mais recentes, pois
mercado de trabalho.
contribuem para a condução de um trabalho docente mais
Tendências Progressistas - Partem de uma análise crítica
consciente, baseado nas demandas atuais da clientela em
das realidades sociais, sustentam implicitamente as finalida-
des sociopolíticas da educação e é uma tendência que condiz questão. O conhecimento dessas tendências e perspectivas
com as ideias implantadas pelo capitalismo. O desenvolvi- de ensino por parte dos professores é fundamental para a
mento e popularização da análise marxista da sociedade pos- realização de uma prática docente realmente significativa,
sibilitou o desenvolvimento da tendência progressista, que se que tenha algum sentido para o aluno, pois tais tendên-
ramifica em três correntes: cias objetivam nortear o trabalho do educador, ajudando-o
Libertadora – Também conhecida como a pedagogia de a responder a questões sobre as quais deve se estruturar
Paulo Freire, essa tendência vincula a educação à luta e organi- todo o processo de ensino, tais como: o que ensinar? Para
zação de classe do oprimido. Onde, para esse, o saber mais im- quem? Como? Para quê? Por quê?
portante é a de que ele é oprimido, ou seja, ter uma consciência E para que a prática pedagógica em sala de aula alcan-
da realidade em que vive. Além da busca pela transformação ce seus objetivos, o professor deve ter as respostas para
social, a condição de se libertar através da elaboração da cons- essas questões, pois, como defende Luckesi (1994), “a Pe-
ciência crítica passo a passo com sua organização de classe. dagogia não pode ser bem entendida e praticada na escola
Centraliza-se na discussão de temas sociais e políticos; o pro- sem que se tenha alguma clareza do seu significado. Isso
fessor coordena atividades e atua juntamente com os alunos. nada mais é do que buscar o sentido da prática docente”.
Libertária – Procura a transformação da personalidade Essas tendências pedagógicas, formuladas ao longo
num sentido libertário e autogestionário. Parte do pressuposto dos tempos por diversos teóricos que se debruçaram sobre
de que somente o vivido pelo educando é incorporado e uti- o tema, foram concebidas com base nas visões desses pen-
lizado em situações novas, por isso o saber sistematizado só sadores em relação ao contexto histórico das sociedades
terá relevância se for possível seu uso prático. Enfoca a livre ex- em que estavam inseridos, além de suas concepções de ho-
pressão, o contexto cultural, a educação estética. Os conteúdos, mem e de mundo, tendo como principal objetivo nortear o
apesar de disponibilizados, não são exigidos pelos alunos e o trabalho docente, modelando-o a partir das necessidades
professor é tido como um conselheiro à disposição do aluno. de ensino observadas no âmbito social em que viviam.
“Crítico-social dos conteúdos” ou “Histórico-Críti- Sendo assim, o conhecimento dessas correntes peda-
ca” - Tendência que apareceu no Brasil nos fins dos anos gógicas por parte dos professores, principalmente as mais
70, acentua a prioridade de focar os conteúdos no seu recentes, torna-se de extrema relevância, visto que possi-
confronto com as realidades sociais, é necessário enfatizar bilitam ao educador um aprofundamento maior sobre os

5
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

pressupostos e variáveis do processo de ensino-aprendi- Em consonância com estas leituras filosóficas sobre as
zagem, abrindo-lhe um leque de possibilidades de dire- relações entre educação e sociedade, Libâneo (1985), ao rea-
cionamento do seu trabalho a partir de suas convicções lizar uma abordagem das tendências pedagógicas, organiza
pessoais, profissionais, políticas e sociais, contribuindo para as diferentes pedagogias em dois grupos: Pedagogia Liberal
a produção de uma prática docente estruturada, significa- e Pedagogia Progressivista. A Pedagogia Liberal é apresentada
tiva, esclarecedora e, principalmente, interessante para os nas formas Tradicional; Renovada Progressivista; Renovada Não
educandos. diretiva; e Tecnicista. A Pedagogia Progressivista é subdividida
A escola precisa ser reencantada, precisa encontrar em Libertadora; Libertária; e Crítico-social dos Conteúdos. 2
motivos para que o aluno vá para os bancos escolares com
satisfação, alegria. Existem escolas esperançosas, com gen-
te animada, mas existe um mal-estar geral na maioria delas. A DIDÁTICA E O PROCESSO DE ENSINO/
Não acredito que isso seja trágico. Essa insatisfação deve APRENDIZAGEM: PLANEJAMENTO,
ser aproveitada para dar um salto. Se o mal-estar for traba- ESTRATÉGIAS, METODOLOGIAS E AVALIAÇÃO
lhado, ele permite avanços. Se for aceito como fatalidade,
DA APRENDIZAGEM.
ele torna a escola um peso morto na história, que arrasta
as pessoas e as impede de sonhar, pensar e criar (Moacir
Gadotti, em entrevista para a revista Nova Escola, edição
de novembro/2000). À primeira vista, a definição do que é ensino e aprendi-
Desse modo, creio que seja essencial que todos os pro- zagem parece ser simples, mas existem profundas diferenças
fessores tenham um conhecimento mais aprofundado das entre epistemologias das abordagens da psicologia e da pe-
tendências pedagógicas, pois elas foram concebidas para dagogia. Desde o século 19 suas definições tem sofrido mui-
nortear as práticas pedagógicas. O educador deve conhe- tas alterações e de fato, tem se dado ênfase as teorias basea-
cê-las, principalmente as mais recentes, ainda que seja para das em evidencias como o Behaviorismo seguido pelo  Cons-
negá-las, mas de forma crítica e consciente, ou, quem sabe, trutivismo e o Cognitivismo.
para utilizar os pontos positivos observados em cada uma A luz do Behaviorismo Radical podemos dizer que to-
delas para construir uma base pedagógica própria, mas dos os fenômenos humanos podem e devem ser entendi-
com coerência e propriedade. dos como comportamentos, portanto, processos de ensino e
Afinal, como já defendia Snyders (1974), é possível aprendizagem também devem ser vistos como uma série de
“pensar que se pode abrir um caminho a uma pedagogia comportamentos que entrelaçados, geram uma consequência
atual; que venha fazer a síntese do tradicional e do moder- especifica que pode ser compreendida como a modelagem de
no: síntese e não confusão”. O importante é que se bus- novos repertórios comportamentais pelo educador em dire-
que tirar a venda dos olhos para enxergar, literalmente, o ção ao aluno que o absorve em forma de aprendizagem.
alunado e assim poder dar um sentido político e social ao Dentro da psicologia de forma geral, existem diversas
trabalho que está sendo realizado, pois, como afirma Li- teorias e formas de se entender o processo de ensino e apren-
bâneo, aprender é um ato de conhecimento da realidade dizagem. Basicamente as explicações se devem mais a episte-
concreta, isto é, da situação real vivida pelo educando, e só mologia da escola psicológica que a quer definir do que a leis
tem sentido se resulta de uma aproximação crítica dessa gerais e amplas de entendimento aceitas por uma classe de
realidade, o que está em consonância com o que diz Sa- profissionais, seja da psicologia, seja da pedagogia.  Skinner
viani (1991): a Pedagogia Crítica implica a clareza dos de- define aprendizagem em seu artigo Are the Theories of Lear-
terminantes sociais da educação, a compreensão do grau ning Necessary? (1950) como uma mudança na probabilidade
em que as contradições da sociedade marcam a educação de uma resposta especifica. Diferentemente de algumas es-
e, consequentemente, como é preciso se posicionar diante colas da psicologia, Skinner não apenas considera o aparelho
dessas contradições e desenredar a educação das visões biológico do estudante, mas também considera que além do
ambíguas para perceber claramente qual é a direção que aparato biológico (Variável Filogenética), existe um ambiente
cabe imprimir à questão educacional. externo ao organismo que em determinadas condições, se-
Para Luckesi (1994), a “Pedagogia se delineia a partir de jam elas planejadas ou não, ajudam ou atrapalham na insta-
uma posição filosófica definida”. Em seu livro Filosofia da lação de novos repertórios e mudança nas taxas de resposta
Educação, o autor discorre sobre a relação existente entre emitidas ( Variável Ontogenética e Variável Cultural ). Skinner
a Pedagogia e a Filosofia e busca clarificar as perspectivas então chamou a interação entre a variável filogenética, onto-
das relações entre educação e sociedade. No seu traba- genética e cultural de Níveis de Seleção do Comportamento.
lho, Luckesi apresenta três tendências filosóficas respon- A noção de interação constante entre organismo e am-
sáveis por interpretar a função da educação na sociedade: biente está presente na obra de Skinner fazendo com que a
a Educação Redentora, a Educação Reprodutora e a Edu- sua teoria de aprendizagem se torne essencialmente intera-
cação Transformadora da sociedade. A primeira é otimis- cionista e não ambientalista, e derruba criticas que apenas é
ta, acredita que a educação pode exercer domínio sobre a baseada em eventos observáveis e com a noção de homem
sociedade (pedagogias liberais). A segunda é pessimista, que apenas responde passivamente a estímulos como erro-
percebe a educação como sendo apenas reprodutora de neamente tem se pregado em clara confusão entre a Teoria
um modelo social vigente, enquanto a terceira tendência Behaviorista Metodológica de J. B. Watson (1878-1958) e o
assume uma postura crítica com relação às duas anteriores, Behaviorismo Radical de B. F. Skinner (1904-1990).
indo de encontro tanto ao “otimismo ilusório” quanto ao
“pessimismo imobilizador” (Pedagogias Progressivistas). 2 Texto adaptado de Delcio Barros da Silva

6
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

A abordagem Skineriana como citado por HUBNER Criando-se condições mais favoráveis de ensino ba-
(pág. 48) defende a escola como instituição facilitadora do seadas em reforço positivo e não em coerção, a tendência
ensino, pois para existir comportamento é necessário uma é que o processo de aprendizagem se torne mais efetivo
interação entre organismo e ambiente e dessa interação por parte do aluno e mais prazeroso do ponto de vista do
certos repertórios vão ser selecionados pelas suas conse- educador criando então um ambiente propicio para o pro-
quências. Para que haja uma maior eficiência na transmis- cesso ensino-aprendizagem adequado. Segundo Skinner (
são de repertórios comportamentais, a escola pode fazer citado por Milhollan & Forisha; 1972) o papel principal da
a modelagem dos mesmos sem que seja essencialmente escola seria de acelerar o processo de transmissão de co-
necessária a seleção por consequências, tornando o ensino nhecimento modelando grande quantidade de respostas
mais rápido e efetivo. colocando o comportamento de aprender sobre numero-
O ensino é importante do ponto de vista cultural, pois
sos controles de estímulos. O educador baseado em uma
o educador passa o conhecimento que já aprendeu e que
estratégia comportamental tem a sua disposição ferramen-
foi passado de individuo para individuo historicamente de
tas importantes capazes de aumentar a probabilidade do
alguém que em algum momento não foi ensinado, portan-
to não precisando mais sofrer as limitações e dificuldades comportamento de aprender arranjando contingências
enfrentadas pelo primeiro organismo a ter seu repertório adequadas ao ensino.
selecionado. O processo de transmissão de conhecimento A análise do comportamento tem estabelecido leis ge-
já não depende mais da tentativa e erro e da seleção por rais do comportamento que podem ser utilizadas a favor
consequências, potencializando, portanto a instalação de do educador como os procedimentos de reforçamento, os
repertórios comportamentais. Skinner diz que ensinar é o estudos sobre controle coercitivo, procedimento e efeitos
ato de facilitar a aprendizagem, no sentido de que quem colaterais da punição, controle de estímulos, equivalência,
é ensinado aprende mais rapidamente do que quem não análise de contingências entre outros procedimentos fa-
é (1972, p. 4). Segundo HÜBNER, (1998) as contingências cilitadores do processo de ensino-aprendizagem. Alguns
predominantes nas escolas, de acordo com a perspectiva educadores têm como forma de ensinar um método de
comportamental (ou behaviorista) vêm afastando o aluno passar conhecimento e esperam que com isso os alunos o
da sala de aula, no sentido de punir muito mais do que re- absorvam sem considerar que cada organismo é diferente
forçar positivamente o que o aluno faz na direção do saber. e portanto precisa de ritmos, espaços, estratégias e tem-
Essas contingências predominantes como nos diz pos diferentes para aprender. Tal método que basicamente
HUBNER (1998) se referem a praticas de punição com bai- força o individuo a decorar aquilo que lhe é passado não
xa frequência de uso de reforçadores positivos na pratica é uma estratégia de ensino inteligente já que não é basea-
dos educadores. Tal uso indiscriminado de punição causa
da em reforçamento positivo e sim em controle aversivo.  E
como efeito colateral uma evasão escolar cada vez mais
como nos diz SIDMAN (1995), a coerção gera estados de
alta com notável aversão ao ambiente escolar com alunos
se utilizando de frases como “aprender é pouco legal, as contra controle e de fuga esquiva além de estimular res-
aulas são chatas, os colegas não gostam de aprender etc…” postas alternativas as esperadas.
como apontam CALDAS, 2000 e HÜBNER, 1998. A Análise Skinner brilhantemente fecha a questão de forçar o es-
do Comportamento apoiada pela sua filosofia da ciência tudante a aprender por métodos coercitivos quando diz:
conhecida como behaviorismo Radical tem em seu corpo “Você não pode impor felicidade. Você em ultima instancia,
de conhecimento estratégias de ensino poderosas que po- não pode impor coisa alguma. Nós não usamos a força!
dem de fato contribuir com o processo de aprendizagem. Tudo que precisamos é de uma engenharia comportamen-
Um dos maiores expoentes da psicologia da apren- tal adequada. (Skinner, 1948, p149)”3
dizagem, Fred Keller propõe um ensino individualizado Nas palavras do educador Paulo Freire, não existe en-
defendendo com isso que problemas comumente vistos sino sem aprendizagem. Para ele e para vários educadores
dentro das escolas como a coerção e a punição sejam mi- contemporâneos, educar alguém é um processo dialógi-
nimizados ou mesmo sanados. No contexto educacional, o co, um intercâmbio constante. Nessa relação educador e
controle aversivo pode desencadear tentativas de buscar educando trocam de papeis o tempo inteiro: o educando
alivio ou escapar desses estímulos que causam sofrimento aprende ao passo que ensina seu educador e o educador
(Skinner, 1990; Sidman, 1995; Oliveira, 1998). O contra con- ensina e aprende com seu estudante.
trole aparece na tentativa de evitar e eliminar a estimula- Ainda para Freire, no processo pedagógico, alunos e
ção aversiva e o comportamento de não aprender aparece,
professores devem assumir seus papeis conscientemente
seja por fuga-esquiva, seja por agressão direta ao profes-
– não são apenas sujeitos do “ensinar” e do “aprender”, e
sor. Para Skinner o professor é o responsável pelo ensino
sim, seres humanos com histórias e trajetórias únicas. Para
de repertórios comportamentais de forma mais rápida, efi-
ciente e que se não for por modelagem direta, de certo o educador, no processo de ensino-aprendizagem é pre-
não seriam aprendidos de outra forma. Segundo a aborda- ciso reconhecer o Outro (professor e aluno) em toda sua
gem comportamental o método mais eficiente de ensino complexidade, em suas esferas biológicas, sociais, culturais,
é simplesmente arranjar contingências de reforço para o afetivas, linguísticas entre outras.
comportamento de aprender. Segundo os defensores des- 3 www.psicologiaeciencia.com.br – Texto adaptado de
sa abordagem, o que falta nas escolas é o reforço positivo. Marcelo C. Souza

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

O ensino-aprendizagem promove o diálogo entre o Esses tipos de aprendizagem tem grande relevância na
conteúdo curricular (formal) e os conteúdos únicos (vivên- assimilação ativa dos indivíduos, favorecendo um conheci-
cias, história, individualidade) tanto do professor quanto do mento a partir das circunstâncias vivenciadas pelo mesmo.
estudante.4 O processo de assimilação de determinados conheci-
mentos, habilidades, percepção e reflexão é desenvolvido
Didática é considerada como arte e ciência do ensi- por meios atitudinais, motivacionais e intelectuais do aluno,
no, o objetivo deste artigo é analisar o processo didático sendo o professor o principal orientador desse processo de
educativo e suas contribuições positivas para um melhor assimilação ativa, é através disso que se pode adquirir um
desempenho no processo de ensino-aprendizagem. Como melhor entendimento, favorecendo um desenvolvimento
arte a didática não objetiva apenas o conhecimento por cognitivo.
conhecimento, mas procura aplicar os seus próprios prin- Através do ensino podemos compreender o ato de
cípios com a finalidade de desenvolver no individuo as ha- aprender que é o ato no qual assimilamos mentalmente
bilidades cognoscitivas, tornando-os críticos e reflexivos, os fatos e as relações da natureza e da sociedade. Esse
desenvolvendo assim um pensamento independente. processo de assimilação de conhecimentos é resultado da
Nesse Artigo abordamos esse assunto acerca das vi- reflexão proporcionada pela percepção prático-sensorial e
sões de Libâneo (1994), destacando as relações e os pro- pelas ações mentais que caracterizam o pensamento (Libâ-
cessos didáticos de ensino e aprendizagem, o caráter edu- neo, 1994). Entendida como fundamental no processo de
cativo e crítico desse processo de ensino, levando em con- ensino a assimilação ativa desenvolve no individuo a ca-
sideração o trabalho docente além da organização da aula pacidade de lógica e raciocínio, facilitando o processo de
e seus componentes didáticos do processo educacional aprendizagem do aluno.
tais como objetivos, conteúdos, métodos, meios de ensi- Sempre estamos aprendendo, seja de maneira sistemá-
no e avaliação. Concluímos o nosso trabalho ressaltando a tica ou de forma espontânea, teoricamente podemos dizer
importância da didática no processo educativo de ensino e que há dois níveis de aprendizagem humana: o reflexo e
aprendizagem. o cognitivo. O nível reflexo refere-se às nossas sensações
pelas quais desenvolvemos processos de observação e
1.0 PROCESSOS DIDÁTICOS BÁSICOS, ENSINO E percepção das coisas e nossas ações físicas no ambiente.
APRENDIZAGEM. Este tipo de aprendizagem é responsável pela formação de
A Didática é o principal ramo de estudo da pedagogia, hábitos sensório motor (Libâneo, 1994).
pois ela situa-se num conjunto de conhecimentos pedagó- O nível cognitivo refere-se à aprendizagem de determi-
gicos, investiga os fundamentos, as condições e os modos nados conhecimentos e operações mentais, caracterizada
de realização da instrução e do ensino, portanto é consi- pela apreensão consciente, compreensão e generalização
derada a ciência de ensinar. Nesse contexto, o professor das propriedades e relações essenciais da realidade, bem
tem como papel principal garantir uma relação didática como pela aquisição de modos de ação e aplicação refe-
entre ensino e aprendizagem através da arte de ensinar, rentes a essas propriedades e relações (Libâneo, 1994). De
pois ambos fazem parte de um mesmo processo. Segundo acordo com esse contexto podemos despertar uma apren-
Libâneo (1994), o professor tem o dever de planejar, dirigir dizagem autônoma, seja no meio escolar ou no ambiente
e controlar esse processo de ensino, bem como estimular em que estamos.
as atividades e competências próprias do aluno para a sua Pelo meio cognitivo, os indivíduos aprendem tanto
aprendizagem. pelo contato com as coisas no ambiente, como pelas pa-
A condição do processo de ensino requer uma clara lavras que designam das coisas e dos fenômenos do am-
e segura compreensão do processo de aprendizagem, ou biente. Portanto as palavras são importantes condições de
seja, deseja entender como as pessoas aprendem e quais aprendizagem, pois através delas são formados conceitos
as condições que influenciam para esse aprendizado. Sen- pelos quais podemos pensar.
do assim Libâneo (1994) ressalta que podemos distinguir O ensino é o principal meio de progresso intelectual
a aprendizagem em dois tipos: aprendizagem casual e a dos alunos, através dele é possível adquirir conhecimentos
aprendizagem organizada. e habilidades individuais e coletivas. Por meio do ensino, o
a.      Aprendizagem casual: É quase sempre espontâ- professor transmite os conteúdos de forma que os alunos
nea, surge naturalmente da interação entre as pessoas com assimilem esse conhecimento, auxiliando no desenvolvi-
o ambiente em que vivem, ou seja, através da convivência mento intelectual, reflexivo e crítico.
social, observação de objetos e acontecimentos. Por meio do processo de ensino o professor pode al-
b.      Aprendizagem organizada: É aquela que tem cançar seu objetivo de aprendizagem, essa atividade de
por finalidade específica aprender determinados conheci- ensino está ligada à vida social mais ampla, chamada de
mentos, habilidades e normas de convivência social. Este prática social, portanto o papel fundamental do ensino é
tipo de aprendizagem é transmitido pela escola, que é uma mediar à relação entre indivíduos, escola e sociedade.
organização intencional, planejada e sistemática, as finali-
dades e condições da aprendizagem escolar é tarefa espe-
cífica do ensino (LIBÂNEO, 1994. Pág. 82).

4 www.educacaointegral.com.br

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

1.1 O CARÁTER EDUCATIVO DO PROCESSO DE EN- • Criar as condições e os meios para que os alunos
SINO E O ENSINO CRÍTICO. desenvolvam capacidades e habilidades intelectuais de
De acordo com Libâneo (1994), o processo de ensino, modo que dominem métodos de estudo e de trabalho in-
ao mesmo tempo em que realiza as tarefas da instrução telectual visando a sua autonomia no processo de aprendi-
de crianças e jovens, também é um processo educacional. zagem e independência de pensamento;
No desempenho de sua profissão, o professor deve ter • Orientar as tarefas de ensino para objetivo educa-
em mente a formação da personalidade dos alunos, não tivo de formação da personalidade, isto é, ajudar os alunos
apenas no aspecto intelectual, como também nos aspec- a escolherem um caminho na vida, a terem atitudes e con-
tos morais, afetivos e físicos. Como resultado do trabalho vicções que norteiem suas opções diante dos problemas e
escolar, os alunos vão formando o senso de observação, a situações da vida real (LIBÂNEO, 1994, Pág. 71).
capacidade de exame objetivo e crítico de fatos e fenôme- Além dos objetivos da disciplina e dos conteúdos, é
nos da natureza e das relações sociais, habilidades de ex- fundamental que o professor tenha clareza das finalidades
pressão verbal e escrita. A unidade instrução-educação se que ele tem em mente, a atividade docente tem a ver dire-
reflete, assim, na formação de atitudes e convicções frente tamente com “para que educar”, pois a educação se realiza
à realidade, no transcorrer do processo de ensino. numa sociedade que é formada por grupos sociais que tem
O processo de ensino deve estimular o desejo e o gos- uma visão diferente das finalidades educativas.
to pelo estudo, mostrando assim a importância do conhe- Para Libâneo (1994), a didática trata dos objetivos,
cimento para a vida e o trabalho, (LIBÂNEO, 1994). condições e meios de realização do processo de ensino,
Nesse processo o professor deve criar situações que ligando meios pedagógico-didáticos a objetivos sócio-po-
estimule o indivíduo a pensar, analisar e relacionar os as- líticos. Não há técnica pedagógica sem uma concepção
pectos estudados com a realidade que vive. Essa realização de homem e de sociedade, sem uma competência técnica
consciente das tarefas de ensino e aprendizagem é uma para realiza-la educacionalmente, portanto o ensino deve
ser planejado e ter propósitos claros sobre suas finalidades,
fonte de convicções, princípios e ações que irão relacionar
preparando os alunos para viverem em sociedade.
as práticas educativas dos alunos, propondo situações reais
É papel de o professor planejar a aula, selecionar, orga-
que faça com que os individuo reflita e analise de acordo
nizar os conteúdos de ensino, programar atividades, criar
com sua realidade (TAVARES, 2011).
condições favoráveis de estudo dentro da sala de aula,
Entretanto o caráter educativo está relacionado aos estimular a curiosidade e criatividade dos alunos, ou seja,
objetivos do ensino crítico e é realizado dentro do pro- o professor dirige as atividades de aprendizagem dos alu-
cesso de ensino. È através desse processo que acontece a nos a fim de que estes se tornem sujeitos ativos da própria
formação da consciência crítica dos indivíduos, fazendo-os aprendizagem.
pensar independentemente, por isso o ensino crítico, cha- Entretanto é necessário que haja uma interação mú-
mado assim por implicar diretamente nos objetivos sócio tua entre docentes e discentes, pois não há ensino se os
-políticos e pedagógicos, também os conteúdos, métodos alunos não desenvolverem suas capacidades e habilidades
escolhidos e organizados mediante determinada postura mentais.
frente ao contexto das relações sociais vigentes da prática Podemos dizer que o processo didático se baseia no
social, (LIBÂNEO, 1994). conjunto de atividades do professor e dos alunos, sob a
È através desse ensino crítico que os processos men- direção do professor, para que haja uma assimilação ati-
tais são desenvolvidos, formando assim uma atitude in- va de conhecimentos e desenvolvimento das habilidades
telectual. Nesse contexto os conteúdos deixam de serem dos alunos. Como diz Libâneo (1994), é necessário para o
apenas matérias, e passam então a ser transmitidos pelo planejamento de ensino que o professor compreenda as
professor aos seus alunos formando assim um pensamento relações entre educação escolar, os objetivos pedagógicos
independente, para que esses indivíduos busquem resolver e tenha um domínio seguro dos conteúdos ao qual ele le-
os problemas postos pela sociedade de uma maneira cria- ciona, sendo assim capaz de conhecer os programas ofi-
tiva e reflexiva. ciais e adequá-los ás necessidades reais da escola e de seus
alunos.
1.2 A DIDÁTICA E O TRABALHO DOCENTE Um professor que aspira ter uma boa didática neces-
Como vimos anteriormente à didática estuda o proces- sita aprender a cada dia como lidar com a subjetividade
so de ensino no seu conjunto, no qual os objetivos, con- do aluno, sua linguagem, suas percepções e sua prática de
teúdos fazem parte, de modo a criar condições que garan- ensino. Sem essas condições o professor será incapaz de
tam uma aprendizagem significativa dos alunos. Ela ajuda elaborar problemas, desafios, perguntas relacionadas com
os conteúdos, pois essas são as condições para que haja
o professor na direção, orientação das tarefas do ensino e
uma aprendizagem significativa. No entanto para que o
da aprendizagem, dando a ele uma segurança profissio-
professor atinja efetivamente seus objetivos, é preciso que
nal. Segundo Libâneo (1994), o trabalho docente também
ele saiba realizar vários processos didáticos coordenados
chamado de atividade pedagógica tem como objetivos pri-
entre si, tais como o planejamento, a direção do ensino da
mordiais: aprendizagem e da avaliação (LIBÂNEO, 1994).
• Assegurar aos alunos o domínio mais seguro e du-
radouro possível dos conhecimentos científicos;

9
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

1.3 A ORGANIZAÇÃO DA AULA E SEUS COMPO- Dentro da organização da aula destacaremos agora
NENTES DIDÁTICOS DO PROCESSO EDUCACIONAL seus Componentes Didáticos, que são também abordados
A aula é a forma predominante pela qual é organizado em alguns trabalhos como elementos estruturantes do en-
o processo de ensino e aprendizagem. É o meio pelo qual sino didático. São eles: os objetivos (gerais e específicos),
o professor transmite aos seus alunos conhecimentos ad- os conteúdos, os métodos, os meios e as avaliações.  
quirido no seu processo de formação, experiências de vida,
conteúdos específicos para a superação de dificuldades 1.3.1 OBJETIVOS
e meios para a construção de seu próprio conhecimento, São metas que se deseja alcançar, para isso usa-se de
nesse sentido sendo protagonista de sua formação huma- diversos meios para se chegar ao esperado. Os objetivos
na e escolar. educacionais expressam propósitos definidos, pois o pro-
É ainda o espaço de interação entre o professor e o fessor quando vai ministrar a aula já vai com os objetivos
indivíduo em formação constituindo um espaço de troca definidos. Eles têm por finalidade, preparar o docente para
mútua. A aula é o ambiente propício para se pensar, criar, determinar o que se requer com o processo de ensino, isto
desenvolver e aprimorar conhecimentos, habilidades, ati- é prepará-lo para estabelecer quais as metas a serem alcan-
tudes e conceitos, é também onde surgem os questiona- çadas, eles constituem uma ação intencional e sistemática.
mentos, indagações e respostas, em uma busca ativa pelo Os objetivos são exigências que requerem do professor
esclarecimento e entendimento acerca desses questiona- um posicionamento reflexivo, que o leve a questionamen-
mentos e investigações. tos sobre a sua própria prática, sobre os conteúdos os ma-
Por intermédio de um conjunto de métodos, o educa- teriais e os métodos pelos quais as práticas educativas se
dor busca melhor transmitir os conteúdos, ensinamentos e concretizam. Ao elaborar um plano de aula, por exemplo,
conhecimentos de uma disciplina, utilizando-se dos recur- o professor deve levar em conta muitos questionamentos
sos disponíveis e das habilidades que possui para infundir acerca dos objetivos que aspira, como O que? Para que?
no aluno o desejo pelo saber. Como? E Para quem ensinar?, e isso só irá melhorar didati-
Deve-se ainda compreender a aula como um conjun- camente as suas ações no planejamento da aula. 
to de meios e condições por meio das quais o professor Não há prática educativa sem objetivos; uma vez que
orienta, guia e fornece estímulos ao processo de ensino em estes integram o ponto de partida, as premissas gerais para
função da atividade própria dos alunos, ou seja, da assimi- o processo pedagógico (LIBÂNEO, 1994- pág.122). Os ob-
lação e desenvolvimento de habilidades naturais do aluno jetivos são um guia para orientar a prática educativa sem
na aprendizagem educacional. Sendo a aula um lugar privi- os quais não haveria uma lógica para orientar o processo
legiado da vida pedagógica refere-se às dimensões do pro- educativo.
cesso didático preparado pelo professor e por seus alunos. Para que o processo de ensino-aprendizagem aconte-
Aula é toda situação didática na qual se põem objeti- ça de modo mais organizado faz-se necessário, classificar
vos, conhecimentos, problemas, desafios com fins instruti- os objetivos de acordo com os seus propósitos e abran-
vos e formativos, que incitam as crianças e jovens a apren- gência, se são mais amplos, denominados objetivos gerais
der (LIBÂNEO, 1994- Pág.178). Cada aula é única, pois ela e se são destinados a determinados fins com relação aos
possui seus próprios objetivos e métodos que devem ir de alunos, chamados de objetivos específicos.
acordo com a necessidade observada no educando. a.      Objetivos Gerais: exprimem propósitos mais
A aula é norteada por uma série de componentes, que amplos acerca do papel da escola e do ensino diante das
vão conduzir o processo didático facilitando tanto o de- exigências postas pela realidade social e diante do de-
senvolvimento das atividades educacionais pelo educador senvolvimento da personalidade dos alunos (LIBANÊO,
como a compreensão e entendimento pelos indivíduos em 1994- pág. 121). Por isso ele também afirma que os obje-
formação; ela deve, pois, ter uma estruturação e organiza- tivos educacionais transcendem o espaço da sala de aula
ção, afim de que sejam alcançados os objetivos do ensino. atuando na capacitação do indivíduo para as lutas sociais
Ao preparar uma aula o professor deve estar atento às de transformação da sociedade, e isso fica claro, uma vez
quais interesses e necessidades almeja atender, o que pre- que os objetivos têm por fim formar cidadãos que venham
tende com a aula, quais seus objetivos e o que é de caráter a atender os anseios da coletividade.
urgente naquele momento. A organização e estruturação b.      Objetivos Específicos: compreendem as inten-
didática da aula têm por finalidade proporcionar um traba- cionalidades específicas para a disciplina, os caminhos tra-
lho mais significativo e bem elaborado para a transmissão çados para que se possa alcançar o maior entendimento,
dos conteúdos. O estabelecimento desses caminhos pro- desenvolvimento de habilidades por parte dos alunos que
porciona ao professor um maior controle do processo e só se concretizam no decorrer do processo de transmissão
aos alunos uma orientação mais eficaz, que vá de acordo e assimilação dos estudos propostos pelas disciplinas de
com previsto. ensino e aprendizagem. Expressam as expectativas do pro-
As indicações das etapas para o desenvolvimento da fessor sobre o que deseja obter dos alunos no decorrer do
aula, não significa que todas elas devam seguir um crono- processo de ensino. Têm sempre um caráter pedagógico,
grama rígido (LIBÂNEO, 1994-Pág. 179), pois isso depende porque explicitam a direção a ser estabelecida ao trabalho
dos objetivos, conteúdos da disciplina, recursos disponíveis escolar, em torno de um programa de formação. (TAVARES,
e das características dos alunos e de cada aluno e situações 2001- Pág. 66).
didáticas especificas.

10
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

1.3.2 CONTEÚDOS des. É uma ação conjunta em que o educador é o promotor,


Os conteúdos de ensino são constituídos por um con- que faz questionamentos, propõem problemas, instiga, faz
junto de conhecimentos. É a forma pela qual, o professor desafios nas atividades e o educando é o receptor ativo e
expõem os saberes de uma disciplina para ser trabalhado atuante, que através de suas ações responde ao proposto
por ele e pelos seus alunos. Esses saberes são advindos produzindo assim conhecimentos. O papel do professor é
do conjunto social formado pela cultura, a ciência, a téc- levar o aluno a desenvolver sua autonomia de pensamento.    
nica e a arte. Constituem ainda o elemento de mediação
no processo de ensino, pois permitem ao discente através 1.3.3 MÉTODOS DE ENSINO
da assimilação o conhecimento  histórico, cientifico, cultu- Métodos de ensino são as formas que o professor or-
ral acerca do mundo e possibilitam ainda a construção de ganiza as suas atividades de ensino e de seus alunos com
convicções e conceitos. a finalidade de atingir objetivos do trabalho docente em
O professor, na sala de aula, utiliza-se dos conteúdos relação aos conteúdos específicos que serão aplicados. Os
da matéria para ajudar os alunos a desenvolverem compe- métodos de ensino regulam as formas de interação entre
tências e habilidades de observar a realidade, perceber as ensino e aprendizagem, professor e os alunos, na qual os
propriedades e características do objeto de estudo, estabe- resultados obtidos é assimilação consciente de conheci-
lecer relações entre um conhecimento e outro, adquirir mé- mentos e desenvolvimento das capacidades cognoscitivas
todos de raciocínio, capacidade de pensar por si próprios, e operativas dos alunos.
fazer comparações entre fatos e acontecimentos, formar Segundo Libâneo (1994) a escolha e organização os
conceitos para lidar com eles no dia-a-dia de modo que métodos de ensino devem corresponder à necessária uni-
sejam instrumentos mentais para aplicá-los em situações dade objetivos-conteúdos-métodos e formas de organiza-
da vida prática (LIBÂNEO 2001, pág. 09). Neste contexto ção do ensino e as condições concretas das situações didá-
pretende-se que os conteúdos aplicados pelo professor ticas. Os métodos de ensino dependem das ações imedia-
tenham como fundamento não só a transmissão das infor- tas em sala de aula, dos conteúdos específicos, de méto-
mações de uma disciplina, mas que esses conteúdos apre- dos peculiares de cada disciplina e assimilação, além disso,
sentem relação com a realidade dos discentes e que sirvam esses métodos implica o conhecimento das características
dos alunos quanto à capacidade de assimilação de conteú-
para que os mesmos possam enfrentar os desafios impos-
dos conforme a idade e o nível de desenvolvimento mental
tos pela vida cotidiana. Estes devem também proporcionar
e físico e suas características socioculturais e individuais.
o desenvolvimento das capacidades intelectuais e cogni-
A relação objetivo-conteúdo-método procuram mos-
tivas do aluno, que o levem ao desenvolvimento critico e
trar que essas unidades constituem a linhagem funda-
reflexivo acerca da sociedade que integram.
mental de compreensão do processo didático: os objeti-
Os conteúdos de ensino devem ser vistos como uma
vos, explicitando os propósitos pedagógicos intencionais
relação entre os seus componentes, matéria, ensino e o co-
e planejados de instrução e educação dos alunos, para a
nhecimento que cada aluno já traz consigo. Pois não basta participação na vida social; os conteúdos, constituindo a
apenas a seleção e organização lógica dos conteúdos para base informativa concreta para alcançar os objetivos e de-
transmiti-los. Antes os conteúdos devem incluir elementos terminar os métodos; os métodos, formando a totalidade
da vivência prática dos alunos para torná-los mais signifi- dos passos, formas didáticas e meios organizativos do en-
cativos, mais vivos, mais vitais, de modo que eles possam sino que viabilizam a assimilação dos conteúdos, e assim, o
assimilá-los de forma ativa e consciente (LIBÂNEO, 1994 atingimento dos objetivos.
pág. 128). Ao proferir estas palavras, o autor aponta para No trabalho docente, os professores selecionam e or-
um elemento de fundamental importância na preparação ganizam seus métodos e procedimentos didáticos de acor-
da aula, a contextualização dos conteúdos. do com cada matéria. Dessa forma destacamos os princi-
a.      Contextualização dos conteúdos pais métodos de ensino utilizado pelo professor em sala
A contextualização consiste em trazer para dentro da de aula: método de exposição pelo professor, método de
sala de aula questões presentes no dia a dia do aluno e trabalho independente, método de elaboração conjunta,
que vão contribuir para melhorar o processo de ensino e método de trabalho em grupo. Nestes métodos, os conhe-
aprendizagem do mesmo. Valorizando desta forma o con- cimentos, habilidades e tarefas são apresentados, expli-
texto social em que ele está inserido e proporcionando a cadas e demonstradas pelo professor, além dos trabalhos
reflexão sobre o meio em que se encontra, levando-o a planejados individuais, a elaboração conjunta de atividades
agir como construtor e transformador deste. Então, pois, entre professores e alunos visando à obtenção de novos
ao selecionar e organizar os conteúdos de ensino de uma conhecimentos e os trabalhos em grupo. Dessa maneira
aula o professor deve levar em consideração a realidade designamos todos os meios e recursos matérias utilizados
vivenciada pelos alunos. pelo professor e pelos alunos para organização e condu-
b.      A relação professor-aluno no processo de en- ção metódica do processo de ensino e aprendizagem (LI-
sino e aprendizagem: BÂNEO, 1994 Pág. 173).
O professor no processo de ensino é o mediador entre
o indivíduo em formação e os conhecimentos prévios de 1.3.4 AVALIAÇÃO ESCOLAR
uma matéria. Tem como função planejar, orientar a direção A avaliação escolar é uma tarefa didática necessária
dos conteúdos, visando à assimilação constante pelos alu- para o trabalho docente, que deve ser acompanhado passo
nos e o desenvolvimento de suas capacidades e habilida- a passo no processo de ensino e aprendizagem. Através

11
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

da mesma, os resultados vão sendo obtidos no decorrer ternas e condições internas do aluno, pois nesse contexto
do trabalho em conjunto entre professores e alunos, a fim o professor deve organizar o ensino objetivando o desen-
de constatar progressos, dificuldades e orientá-los em seus volvimento autônomo e independente do aluno (LIBÂNEO,
trabalhos para as correções necessárias. Libâneo (1994). 1994).
A avaliação escolar é uma tarefa complexa que não se
resume à realização de provas e atribuição de notas, ela 1.4 A PROFISSÃO DOCENTE E SUA REPERCUSSÃO
cumpre funções pedagógico-didáticas, de diagnóstico e de SOCIAL
controle em relação ao rendimento escolar. Segundo Libâneo (1994) o trabalho docente é a parte
A função pedagógico-didática refere-se ao papel da integrante do processo educativo mais global pelo qual os
avaliação no cumprimento dos objetivos gerais e especí- membros da sociedade são preparados para a participação
ficos da educação escolar. Ao comprovar os resultados do da vida social. Com essas palavras Libâneo deixa bem claro
processo de ensino, evidencia ou não o atendimento das o importante e essencial papel do professor na inserção e
finalidades sociais do ensino, de preparação dos alunos construção social de cada individuo em formação. O edu-
para enfrentar as exigências da sociedade e inseri-los ao cador deve ter como principal e fundamental compromisso
meio social. Ao mesmo tempo, favorece uma atitude mais com a sociedade formar alunos que se tornem cidadãos
responsável do aluno em relação ao estudo, assumindo-o ativos, críticos, reflexivos e participativos na vida social.
como um dever social. Já a função de diagnóstico permite O docente no processo de ensino e aprendizagem é a
identificar progressos e dificuldades dos alunos e a atuação ponte de mediação entre o aluno em formação e o meio
do professor que, por sua vez, determinam modificações social no qual está inserido; uma vez que ele vai através de
do processo de ensino para melhor cumprir as exigências instruções, conteúdos e métodos orientar aos seus alunos
dos objetivos. A função do controle se refere aos meios e a a viver socialmente.    Sendo a educação um fenômeno
frequência das verificações e de qualificação dos resultados social necessário à existência e funcionamento de toda a
escolares, possibilitando o diagnóstico das situações didá- sociedade, exige-se a todo instante do professor as com-
ticas (LIBÂNEO, 1994). petências técnicas e teóricas para a transmissão desses
No entanto a avaliação na pratica escolar nas escolas conhecimentos que são essenciais para a manutenção e
tem sido bastante criticada sobre tudo por reduzir-se à sua progresso social.
função de controle, mediante a qual se faz uma classifica- O processo educacional, notadamente os objetivos,
ção quantitativa dos alunos relativa às notas que obtive- conteúdos do ensino e o trabalho do professor são regidos
ram nas provas. Os professores não tem conseguido usar por uma série de exigências da sociedade, ao passo que a
os procedimentos de avaliação que sem dúvida, implicam sociedade reclama da educação a adequação de todos os
o levantamento de dados por meio de testes, trabalhos componentes do ensino aos seus anseios e necessidades.
escritos etc. Em relação aos objetivos, funções e papel da Porém a prática educativa não se restringe as exigências da
avaliação na melhoria das atividades escolares e educati- vida em sociedade, mas também ao processo de promo-
vas, tem-se verificado na pratica escolar alguns equívocos. ver aos indivíduos os saberes e experiências culturais que
(LIBÂNEO, Pág. 198- 1994). o tornem aptos a atuar no meio social e transformá-lo em
O mais comum é tomar a avaliação unicamente como função das necessidades econômicas, sociais e políticas da
o ato de aplicar provas, atribuir notas e classificar os alunos. coletividade (LIBÂNEO, 1994 pág.17). O professor deve for-
O professor reduz a avaliação à cobrança daquilo que o mar para a emancipação, reflexão, criticidade e atuação so-
aluno memorizou e usa a nota somente como instrumento cial do indivíduo e não para a submissão ou o comodismo.
de controle. Tal ideia é descabida, primeiro porque a atri-
buição de notas visa apenas o controle formal, com obje- Os diversos conceitos de avaliação
tivo classificatório e não educativo; segundo porque o que No sistema educacional, a avaliação é usada para a co-
importa é o veredito do professor sobre o grau de adequa- leta de informação, necessária aos diversos componentes
ção e conformidade do aluno ao conteúdo que transmite. do sistema (os responsáveis pela determinação das políti-
Outro equívoco é utilizar a avaliação como recompensa aos cas educacionais; os diretores de escolas; os professores; os
bons alunos e punição para os desinteressados, além disso, alunos) em sua tomada de decisões.
os professores confiam demais em seu olho clínico, dispen- A avaliação educacional pode ser considerada como
sam verificações parciais no decorrer das aulas e aqueles um dos temas que, ao serem abordados, sempre requerem
que rejeitam as medidas quantitativas de aprendizagem um exercício de “olhar para o passado” para entender o que
em favor de dados qualitativos (LIBÂNEO, 1994). reserva o futuro. “Enfim, terá de ser o instrumento do re-
O entendimento correto da avaliação consiste em con- conhecimento dos caminhos percorridos e da identificação
siderar a relação mútua entre os aspectos quantitativos e dos caminhos a serem perseguidos” (Luckesi, 1995, p. 43).
qualitativos. A escola cumpre uma função determinada so- Começou-se a falar na avaliação aplicada à educação
cialmente, a de introduzir as crianças, jovens e adultos no com Tyler (1949), considerado como o pai da avaliação
mundo da cultura e do trabalho, tal objetivo não surge es- educacional. Ele a encara como a comparação constante
pontaneamente na experiência das crianças, jovens e adul- entre os resultados dos alunos, ou o seu desempenho e
tos, mas supõe as perspectivas traçadas pela sociedade e objetivos, previamente definidos. A avaliação é, assim com-
controle por parte do professor. Por outro lado, a relação preendida, o processo de determinação da extensão com
pedagógica requer a independência entre influências ex- que os objetivos educacionais se realizam.

12
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Outros autores - Bloom, Hastings e Madaus (1971) - Características e funções  da avaliação


também relacionam a avaliação com a verificação de ob- A avaliação caracteriza-se de acordo com vários aspec-
jetivos educacionais. Em função da finalidade da avaliação, tos:
consideram três tipos de avaliação: uma preparação inicial Quanto à forma pode ser: (i) escrita, com respostas
para a aprendizagem, uma verificação da existência de di- curtas (as que requerem a marcação de alternativas de
ficuldades por parte do aluno durante a aprendizagem e o respostas) ou discursivas (aquelas em que os alunos cons-
controle sobre se os alunos atingiram os objetivos fixados troem e redigem uma resposta); (ii) oral; (iii) por observação
previamente. Os tipos de avaliação referidos representam, e anotações sobre o objeto; (iv) por análise documental; (v)
respectivamente, a avaliação diagnóstica, a avaliação for- por monitoramento do objeto de estudo, estando ele sob
mativa e a avaliação certificativa. influência da inserção ou retirada de um fator ambiental.
Também Noizet e Caverni (1985) e Cardinet (1993) se Quanto às funções:
referem à avaliação como um processo de verificação de De acordo com a sua finalidade, pode-se identificar os
objetivos, em que a produção escolar dos alunos é compa- seguintes tipos de avaliação:
rada a um modelo. Para o último autor, o processo de ava- • somativa - realizada em uma única oportunida-
liação contribui para a eficácia do ensino, porque consiste de, relativa aos processos ocorridos num período de tem-
na observação e interpretação dos seus efeitos. No limite, po passado; por isso também é uma avaliação final, cujas
permite orientar as decisões necessárias ao bom funciona- funções se destinam a verificar se os objetivos inicialmente
mento da escola. estabelecidos são os resultados alcançados ao término de
De Ketele (1993) referencia, também, a avaliação ao um processo, sendo que sua aplicação está geralmente vol-
processo de verificação de objetivos previamente defini- tada para a certificação, promoção ou seleção;
dos. Segundo este autor, é no próprio processo de ensino • formativa - é contínua pois se realiza ao longo de
-aprendizagem que surge a avaliação, funcionando como todo o processo educacional e tem como finalidade permi-
um mecanismo que verifica se os objetivos pretendidos são tir o acompanhamento e análise dos pontos fortes e fracos
efetivamente atingidos. desse processo, para que se possa aperfeiçoá-lo quando
Atribuindo à descrição do processo um papel impor- ainda estiver ocorrendo.
tante na avaliação, Stufflebeam (1985) refere que é preciso, • diagnóstica  - é inicial, quando aplicada no iní-
primeiro, identificar as necessidades educacionais e só de- cio do processo que se quer avaliar, tendo, por exemplo, a
pois elaborar programas de avaliação centrados no proces- função de identificar o estágio de aprendizagem ou desen-
so educativo, para que seja possível aperfeiçoar este pro- volvimento em que os alunos se encontram, esclarecendo
cesso. O modelo C.I.P.P., sugerido por este autor, procura aquilo que eles já detêm dos pré-requisitos necessários ao
definir a avaliação como um processo racional onde existe ingresso numa nova etapa de ensino. Também pode ocor-
um contexto (C), uma entrada ou input (I), um processo (P) rer num momento durante o processo de ensino e apren-
e um produto (P). A informação recolhida com a avaliação dizagem quando, por exemplo, buscam-se as causas do
permite aos agentes educativos reunirem dados para to- fracasso que possa ocorrer na aprendizagem.
marem decisões, subsequentemente. Quanto a quem avalia: de acordo com quem a reali-
Comparar a avaliação a um sistema de comunicação é za, existem três tipos de avaliação: a autoavaliação, a he-
a perspectiva apresentada por outros autores, como Cardi- teroavaliação e a avaliação mista ou coavaliação:
net (1993), que considera a avaliação como um sistema de Autoavaliação: neste caso, quem emite o juízo de va-
comunicação entre professores e alunos, por meio de um lor sobre o que é examinado é o próprio objeto da avalia-
processo sistemático de coleta de informação. ção, ou seja, o avaliador é o próprio avaliado.
Para além da verificação de objetivos, Scriven (1967) A autoavaliação tem um enorme potencial formativo e
considera que na avaliação há uma descrição com um jul- permite que as pessoas e as organizações conheçam suas
gamento, ou seja, são apreciados os objetivos de ensino. potencialidades e limitações, além de permitir a reflexão
Este autor foi o primeiro a definir os conceitos de avaliação sobre a própria realidade, que é um passo essencial no pro-
formativa e somativa, que serão abordados mais adiante. cesso de sua transformação.
Perrenoud (1978, 1982), por seu lado, considera que a Por exemplo, a autoavaliação docente é um bom ponto
avaliação participa na gênese da desigualdade existente ao de partida para a melhora dos processos de ensino-apren-
nível da aprendizagem e do êxito dos alunos. Segundo ele, dizagem; a avaliação da aprendizagem pelos próprios alu-
avaliação escolar, na sua forma corrente, é uma avaliação nos permite que eles descubram seus erros, o que gera
de referência normativa. A função reprodutora da escola, mais facilmente o conflito cognitivo necessário para toda
para o autor, concretiza-se através de práticas avaliativas aprendizagem.
de referência normativa que reproduzem as desigualdades A heteroavaliação: ao contrário da autoavaliação, a
sociais. heteroavaliação é realizada por uma outra pessoa ou por
Entende-se, hoje, que a avaliação é uma atividade sub- uma equipe. Pode ser executada, por exemplo, pelo pro-
jetiva, envolvendo mais do que medir, a atribuição de um fessor ao avaliar seus alunos, pelo diretor de uma escola
valor de acordo com critérios que envolvem diversos pro- ao avaliar o trabalho docente, por uma Secretaria Munici-
blemas técnicos e éticos. pal ou Estadual de Educação ou mesmo pelo Ministério da
Educação, ao avaliarem escolas ou redes. 

13
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

É muito útil para conhecimento de aspectos do processo com os quais os avaliadores e os avaliados estão muito envol-
vidos, pois o avaliador lança um olhar externo sobre o objeto da avaliação, podendo assim contribuir com visões diferentes
das do avaliado sobre a função da educação, os padrões de desempenho desejável e os métodos de avaliação.
Como exemplo de heteroavaliações podem ser citadas as avaliações feitas pelos professores em sala de aula, os ves-
tibulares, as avaliações dos sistemas nacionais de educação ou as de programas educacionais, entre outras.
A coavaliação: neste processo participam tanto agentes externos (como os gestores e financiadores) quanto aqueles
que executam quotidianamente a educação formal. Este tipo de avaliação possibilita a formulação de diferentes pontos de
vista sobre a valoração do objeto avaliado e o contraste de resultados.
A avaliação dos sistemas de ensino, por exemplo, deve se basear também na avaliação das escolas por si próprias. Neste
caso, além de ser avaliada por agentes externos, cada escola deve se autoavaliar em função de seus programas, projetos,
materiais pedagógicos, recursos, professores, gestão, pessoal de apoio, alunos e infraestrutura.  “A avaliação deve passar de
um discurso de descrição e julgamento para um discurso de diálogo”  (Nevo, 1988).  Toda a comunidade da escola deve ser
preparada para poder combinar os produtos das heteroavaliações e autoavaliações.
Principais características da avaliação e seus focos intra e extraescolares

Principais Avaliação com foco em objetos Avaliação com foco em objetos


características dimensionais no âmbito da escola dimensionais em âmbitos extraescolares
Na maioria das vezes é aplicada na forma de
Geralmente realizada por meio de testes
testes escritos e questionários socioeconômicos,
Quanto à forma escritos ou orais, podendo ser utilizadas
mas também pode ser realizada de outras
outras formas
formas, como a investigação documental
Geralmente a função somativa tem
sido enfatizada, mas acredita-se que Pode apresentar quaisquer funções inclusive
Quanto à função o ideal é a aplicação das outras duas reunindo as duas ou as três numa única
funções (diagnóstica e formativa) em avaliação
complementação a esta
Assim como a avaliação no âmbito escolar,
Quanto à relação Pode-se concretizar como autoavaliação,
pode apresentar as três relações entre sujeito
sujeito-objeto heteroavaliação ou coavaliação
e objeto
Quanto ao foco de Os processos e resultados das ações de Os processos e resultados da educação
interesse ensino-aprendizagem enquanto fenômeno social
Investiga e atende aos interesses da O universo que investiga e os interesses a que
Quanto à amplitude/ comunicade escolar imediata (pais, alunos, atende amiúde são muito extensos, voltando-
extensão diretores, professores, corpo de funcionários se para a sociedade como um todo ou para
da escola) parcelas da mesma

Os diversos tipos de avaliação educacional


O mais tradicional objeto da avaliação educacional é o aluno, que, durante todo o ano escolar, é avaliado por seus
professores. No entanto, os focos de interesse da avaliação são cada vez mais diversificados, tornando mais frequentes e
mesmo comuns, no cotidiano da sociedade, as referências à avaliação de cursos, de escolas, de instituições, de professores,
de diretores, de rendimento dos alunos, de desempenho dos sistemas de ensino, de materiais didáticos, de currículos, de
experiências e inovações educacionais, etc. Considerando o desenvolvimento e a produção acadêmica da área, é possível
afirmar que quase todos os aspectos da educação e também fatores a ela relacionados são passíveis de se tornar objeto
de avaliação.
A existência deste leque tão grande de interesses e possibilidades na área da avaliação educacional torna imprescindí-
vel, em qualquer projeto de avaliação, a delimitação e a definição precisa do objeto a ser avaliado. A precisão e qualidade
da resposta à pergunta o que avaliar definem o nível e a abrangência da avaliação, assim como os indicadores a serem
considerados, os dados a serem coletados e como todas as informações serão analisadas.
 Assim, o processo de avaliação pode abranger o sistema educacional de um país, ou uma rede de ensino, ou um grupo
de escolas, ou uma escola, ou uma turma de alunos, ou até mesmo um único aluno.    
 O entendimento de que todo processo educacional é composto por diferentes aspectos e sofre influências de fatores
externos a ele faz com que os projetos de avaliação sejam abrangentes e tenham diversos objetos de interesse, para os
quais existem instrumentos específicos de avaliação, como por exemplo: a aprendizagem dos alunos, os condicionantes
socioeconômicos e culturais dos alunos, o perfil do professorado, a prática docente, as condições de funcionamento das
escolas, as características da gestão escolar e o clima organizacional, entre outros.

14
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Por isso, é tendência atual da avaliação educacional o para a aferição da qualidade do seu resultado, porém, a
desenvolvimento de projetos que buscam articular, com- compreensão do processo de avaliação do processo ensi-
patibilizar e utilizar distintos modelos, ferramentas e ins- no/aprendizagem tem sido pautada pela lógica da mensu-
trumentos, de modo a melhor apreender os multifacetados ração, isto é, associa-se o ato de avaliar ao de “medir” os
aspectos do processo educacional, objeto da avaliação.5 conhecimentos adquiridos pelos alunos. 
Avaliação da Aprendizagem A avaliação tem sido estudada desde o início do século
A avaliação é parte integrante do processo ensino/ XX, porém, segundo Caro apud Goldberg & Souza (1982),
aprendizagem e ganhou na atualidade espaço muito amplo desde 1897 existem registros dos relatos de J. M. Rice sobre
nos processos de ensino. Requer preparo técnico e grande uma pesquisa avaliativa utilizada para estabelecer a relação
capacidade de observação dos profissionais envolvidos. entre o tempo de treinamento e o rendimento em ortogra-
 Segundo Perrenoud (1999), a avaliação da aprendi- fia, revelando que uma grande ênfase em exercícios não
zagem, no novo paradigma, é um processo mediador na levava necessariamente a um melhor rendimento.
construção do currículo e se encontra intimamente relacio-
As duas primeiras décadas deste século, de acordo
nada à gestão da aprendizagem dos alunos.
com Borba & Ferri (1997), foram marcadas pelo desenvol-
Na avaliação da aprendizagem, o professor não deve
permitir que os resultados das provas periódicas, geral- vimento de testes padronizados para medir as habilidades
mente de caráter classificatório, sejam supervalorizados em e aptidões dos alunos e influenciados, principalmente nos
detrimento de suas observações diárias, de caráter diag- Estados Unidos, pelos estudos de Robert Thorndike.
nóstico. Nessa época, as pesquisas avaliativas voltavam-se par-
O professor, que trabalha numa dinâmica interativa, ticularmente para a mensuração de mudanças do com-
tem noção, ao longo de todo o ano, da participação e pro- portamento humano. Caro apud Goldberg & Souza (1982)
dutividade de cada aluno. É preciso deixar claro que a pro- aponta várias destas pesquisas realizadas nos anos 20 para
va é somente uma formalidade do sistema escolar. Como, medir efeitos de programas de diversas áreas sobre o com-
em geral, a avaliação formal é datada e obrigatória, devem- portamento das pessoas.
se ter inúmeros cuidados em sua elaboração e aplicação.   Eram realizados experimentos relativos à produtivida-
A avaliação, tal como concebida e vivenciada na maio- de e à moral dos operários, à eficácia de programas de saú-
ria das escolas brasileiras, tem se constituído no principal de pública, à influência de programas experimentais uni-
mecanismo de sustentação da lógica de organização do versitários sobre a personalidade e atitudes dos alunos, etc. 
trabalho escolar e, portanto, legitimador do fracasso, ocu- A avaliação da aprendizagem tem seus princípios e ca-
pando mesmo o papel central nas relações que estabele- racterísticas no campo da Psicologia, sendo que as duas
cem entre si os profissionais da educação, alunos e pais.  primeiras décadas do século XX foram marcadas pelo de-
Os métodos de avaliação ocupam sem duvida espaço
senvolvimento de testes padronizados para medir as habi-
relevantes no conjunto das práticas pedagógicas aplica-
lidades e aptidões dos alunos.
das ao processo de ensino e aprendizagem. Avaliar, neste
contexto, não se resume à mecânica do conceito formal e A avaliação é uma operação descritiva e informativa nos
estatístico; não é simplesmente atribuir notas, obrigatórias meios que emprega, formativa na intenção que lhe preside
à decisão de avanço ou retenção em determinadas disci- e independente face à classificação. De âmbito mais vasto
plinas.  e conteúdo mais rico, a avaliação constitui uma operação
Para Oliveira (2003), devem representar as avaliações indispensável em qualquer sistema escolar.
aqueles instrumentos imprescindíveis à verificação do Havendo sempre, no processo de ensino/aprendiza-
aprendizado efetivamente realizado pelo aluno, ao mesmo gem, um caminho a seguir entre um ponto de partida e um
tempo que forneçam subsídios ao trabalho docente, dire- ponto de chegada, naturalmente que é necessário verificar
cionando o esforço empreendido no processo de ensino se o trajeto está a decorrer em direção à meta, se alguns
e aprendizagem de forma a contemplar a melhor abor- pararam por não saber o caminho ou por terem envereda-
dagem pedagógica e o mais pertinente método didático do por um desvio errado.
adequado à disciplina – mas não somente -, à medida que É essa informação, sobre o progresso de grupos e de
consideram, igualmente, o contexto sócio-político no qual cada um dos seus membros, que a avaliação tenta recolher
o grupo está inserido e as condições individuais do aluno, e que é necessária a professores e alunos.
sempre que possível. A avaliação descreve que conhecimentos, atitudes ou
A avaliação da aprendizagem possibilita a tomada de
aptidões que os alunos adquiriram, ou seja, que objetivos
decisão e a melhoria da qualidade de ensino, informando
do ensino já atingiram num determinado ponto de percur-
as ações em desenvolvimento e a necessidade de regula-
ções constantes. so e que dificuldades estão a revelar relativamente a outros.
Esta informação é necessária ao professor para pro-
Origem da avaliação curar meios e estratégias que possam ajudar os alunos a
Avaliar vem do latim a + valere, que significa atribuir resolver essas dificuldades e é necessária aos alunos para
valor e mérito ao objeto em estudo. Portanto, avaliar é atri- se aperceberem delas (não podem os alunos identificar
buir um juízo de valor sobre a propriedade de um processo claramente as suas próprias dificuldades num campo que
desconhecem) e tentarem ultrapassá-las com a ajuda do
5 Fonte: www.educacaopublica.rj.gov.br – Por Maria professor e com o próprio esforço. Por isso, a avaliação tem
Cândida Trigo uma intenção formativa.

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

A avaliação proporciona também o apoio a um proces- namentos que se fizerem necessários em face do projeto
so a decorrer, contribuindo para a obtenção de produtos educativo, definido coletivamente, e comprometido com
ou resultados de aprendizagem. a garantia da aprendizagem do aluno. Converte-se, então,
As avaliações a que o professor procede enquadram- em um instrumento referencial e de apoio às definições de
se em três grandes tipos: avaliação diagnostica, formativa natureza pedagógica, administrativa e estrutural, que se
e somativa. concretiza por meio de relações partilhadas e cooperativas. 

Evolução da avaliação Funções do processo avaliativo 


A partir do início do século XX, a avaliação vem atra- As funções da avaliação são: de diagnóstico, de verifi-
vessando pelo menos quatro gerações, conforme Guba e cação e de apreciação.
Lincoln, apud Firme (1994). São elas: mensuração, descriti- – Função diagnóstica - A primeira abordagem, de acor-
va, julgamento e negociação. do com Miras e Solé (1996, p. 381), contemplada pela ava-
– Mensuração – não distinguia avaliação e medida. liação diagnóstica (ou inicial), é a que proporciona infor-
Nessa fase, era preocupação dos estudiosos a elaboração mações acerca das capacidades do aluno antes de iniciar
de instrumentos ou testes para verificação do rendimento um processo de ensino/aprendizagem, ou ainda, segundo
escolar. O papel do avaliador era, então, eminentemente
Bloom, Hastings e Madaus (1975), busca a determinação
técnico e, neste sentido, testes e exames eram indispen-
da presença ou ausência de habilidades e pré-requisitos,
sáveis na classificação de alunos para se determinar seu
bem como a identificação das causas de repetidas dificul-
progresso.
– Descritiva – essa geração surgiu em busca de melhor dades na aprendizagem. 
entendimento do objetivo da avaliação. Conforme os estu- A avaliação diagnóstica pretende averiguar a posição
diosos, a geração anterior só oferecia informações sobre o do aluno face a novas aprendizagens que lhe vão ser pro-
aluno. postas e a aprendizagens anteriores que servem de base
 Precisavam ser obtidos dados em função dos objetivos àquelas, no sentido de obviar as dificuldades futuras e, em
por parte dos alunos envolvidos nos programas escolares, certos casos, de resolver situações presentes. 
sendo necessário descrever o que seria sucesso ou dificul- – Função formativa - A segunda função á a avaliação
dade com relação aos objetivos estabelecidos. formativa que, conforme Haydt (1995, p. 17), permite cons-
Neste sentido o avaliador estava muito mais concen- tatar se os alunos estão, de fato, atingindo os objetivos
trado em descrever padrões e critérios. Foi nessa fase que pretendidos, verificando a compatibilidade entre tais ob-
surgiu o termo “avaliação educacional”.  jetivos e os resultados efetivamente alcançados durante o
– Julgamento – a terceira geração questionava os tes- desenvolvimento das atividades propostas.
tes padronizados e o reducionismo da noção simplista de   Representa o principal meio através do qual o estu-
avaliação como sinônimo de medida; tinha como preocu- dante passa a conhecer seus erros e acertos, assim, maior
pação maior o julgamento. estímulo para um estudo sistemático dos conteúdos.
 Neste sentido, o avaliador assumiria o papel de juiz,  Outro aspecto destacado pela autora é o da orienta-
incorporando, contudo, o que se havia preservado de fun- ção fornecida por este tipo de avaliação, tanto ao estudo
damental das gerações anteriores, em termos de mensura- do aluno como ao trabalho do professor, principalmente
ção e descrição. através de mecanismos de feedback.
 Assim, o julgamento passou a ser elemento crucial do  Estes mecanismos permitem que o professor detecte e
processo avaliativo, pois não só importava medir e descre- identifique deficiências na forma de ensinar, possibilitando
ver, era preciso julgar sobre o conjunto de todas as dimen- reformulações no seu trabalho didático, visando aperfei-
sões do objeto, inclusive sobre os próprios objetivos.  çoa-lo.
– Negociação – nesta geração, a avaliação é um pro- Para Bloom, Hastings e Madaus (1975), a avaliação for-
cesso interativo, negociado, que se fundamenta num pa-
mativa visa informar o professor e o aluno sobre o ren-
radigma construtivista. Para Guba e Lincoln apud Firme
dimento da aprendizagem no decorrer das atividades es-
(1994) é uma forma responsiva de enfocar e um modo
colares e a localização das deficiências na organização do
construtivista de fazer.
A avaliação é responsiva porque, diferentemente das ensino para possibilitar correção e recuperação.
alternativas anteriores que partem inicialmente de variá- A avaliação formativa pretende determinar a posição
veis, objetivos, tipos de decisão e outros, ela se situa e de- do aluno ao longo de uma unidade de ensino, no sentido
senvolve a partir de preocupações, proposições ou contro- de identificar dificuldades e de lhes dar solução. 
vérsias em relação ao objetivo da avaliação, seja ele um – Função somativa – Tem como objetivo, segundo Mi-
programa, projeto, curso ou outro foco de atenção. Ela é ras e Solé (1996, p. 378) determinar o grau de domínio do
construtivista em substituição ao modelo científico, que aluno em uma área de aprendizagem, o que permite ou-
tem caracterizado, de um modo geral, as avaliações mais torgar uma qualificação que, por sua vez, pode ser utilizada
prestigiadas neste século. como um sinal de credibilidade da aprendizagem realizada.
Neste sentido, Souza (1993) diz que a finalidade da Pode ser chamada também de função creditativa. Tam-
avaliação, de acordo com a quarta geração, é fornecer, so- bém tem o propósito de classificar os alunos ao final de
bre o processo pedagógico, informações que permitam aos um período de aprendizagem, de acordo com os níveis de
agentes escolares decidir sobre as intervenções e redirecio- aproveitamento.

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

A avaliação somativa pretende ajuizar do progresso mais comum na maioria das instituições de ensino ainda é
realizado pelo aluno no final de uma unidade de apren- um registro em forma de nota, procedimento este que não
dizagem, no sentido de aferir resultados já colhidos por tem as condições necessárias para revelar o processo de
avaliações do tipo formativa e obter indicadores que per- aprendizagem, tratando-se apenas de uma contabilização
mitem aperfeiçoar o processo de ensino. Corresponde a dos resultados.
um balanço final, a uma visão de conjunto relativamente Quando se registra, em forma de nota, o resultado ob-
a um todo sobre o qual, até aí, só haviam sido feitos juízos tido pelo aluno, fragmenta-se o processo de avaliação e in-
parcelares.  troduz-se uma burocratização que leva à perda do sentido
do processo e da dinâmica da aprendizagem.
Objetivos da avaliação  Se a avaliação tem sido reconhecida como uma função
Na visão de Miras e Solé (1996, p. 375), os objetivos diretiva, ou seja, tem a capacidade de estabelecer a direção
da avaliação são traçados em torno de duas possibilidades: do processo de aprendizagem, oriunda esta capacidade de
emissão de “um juízo sobre uma pessoa, um fenômeno, sua característica pragmática, a fragmentação e a burocra-
uma situação ou um objeto, em função de distintos crité- tização acima mencionadas levam à perda da dinamicidade
rios”, e “obtenção de informações úteis para tomar alguma do processo.
decisão”. Os dados registrados são formais e não representam
 Para Nérici (1977), a avaliação é uma etapa de um a realidade da aprendizagem, embora apresentem conse-
procedimento maior que incluiria uma verificação prévia. qüências importantes para a vida pessoal dos alunos, para
A avaliação, para este autor, é o processo de ajuizamento, a organização da instituição escolar e para a profissionali-
apreciação, julgamento ou valorização do que o educando zação do professor.
revelou ter aprendido durante um período de estudo ou de Uma descrição da avaliação e da aprendizagem pode-
desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem. ria revelar todos os fatos que aconteceram na sala de aula.
 Segundo Bloom, Hastings e Madaus (1975), a avalia- Se fosse instituída, a descrição (e não a prescrição) seria
ção pode ser considerada como um método de adquirir e uma fonte de dados da realidade, desde que não houvesse
processar evidências necessárias para melhorar o ensino e uma vinculação prescrita com os resultados.
A isenção advinda da necessidade de analisar a apren-
a aprendizagem, incluindo uma grande variedade de evi-
dizagem (e não julgá-la) levaria o professor e os alunos a
dências que vão além do exame usual de ‘papel e lápis’.
constatarem o que realmente ocorreu durante o processo:
 É ainda um auxílio para classificar os objetivos signifi-
se o professor e os alunos tivessem espaço para revelar os
cativos e as metas educacionais, um processo para deter-
fatos tais como eles realmente ocorreram, a avaliação seria
minar em que medida os alunos estão se desenvolvendo
real, principalmente discutida coletivamente.
dos modos desejados, um sistema de controle da quali-
No entanto, a prática das instituições não encontrou
dade, pelo qual pode ser determinada etapa por etapa do uma forma de agir que tornasse possível essa isenção: as
processo ensino/aprendizagem, a efetividade ou não do prescrições suplantam as descrições e os pré-julgamentos
processo e, em caso negativo, que mudança devem ser fei- impedem as observações.
tas para garantir sua efetividade.  A consequência mais grave é que essa arrogância não
permite o aperfeiçoamento do processo de ensino e apren-
Modelo tradicional de avaliação versus modelo dizagem. E este é o grande dilema da avaliação da apren-
mais adequado dizagem.
Gadotti (1990) diz que a avaliação é essencial à edu- O entendimento da avaliação, como sendo a medida
cação, inerente e indissociável enquanto concebida como dos ganhos da aprendizagem pelo aluno, vem sofrendo
problematização, questionamento, reflexão, sobre a ação. denúncias há décadas, desde que as teorias da educação
Entende-se que a avaliação não pode morrer. Ela se faz escolar recolocaram a questão no âmbito da cognição.
necessária para que possamos refletir questionar e trans- Pretende-se uma mudança da avaliação de resultados
formar nossas ações. para uma avaliação de processo, indicando a possibilidade
O mito da avaliação é decorrente de sua caminhada de realizar-se na prática pela descrição e não pela prescri-
histórica, sendo que seus fantasmas ainda se apresentam ção da aprendizagem. 
como forma de controle e de autoritarismo por diversas
gerações. Acreditar em um processo avaliativo mais eficaz CONSIDERAÇÕES FINAIS
é o mesmo que cumprir sua função didático-pedagógica Com este artigo podemos perceber o importante pa-
de auxiliar e melhorar o ensino/aprendizagem.  pel que a didática desempenha no processo de ensino e
A forma como se avalia, segundo Luckesi (2002), é cru- aprendizagem. Como vimos ela proporciona os meios, as
cial para a concretização do projeto educacional. É ela que condições pelos quais a prática educacional se concretiza.
sinaliza aos alunos o que o professor e a escola valorizam. Ela orienta o trabalho do professor fazendo-o significati-
vo para que possa guiar de forma competente, expressiva
A avaliação da aprendizagem como processo cons- e coerente as práticas de ensino. Através dos componen-
trutivo de um novo fazer  tes que constituem o processo de ensino, visa propiciar os
O processo de conquista do conhecimento pelo alu- meios para a atividade própria de cada aluno, busca ainda
no ainda não está refletido na avaliação. Para Wachowicz formá-los para serem indivíduos críticos, reflexivos capazes
& Romanowski (2002), embora historicamente a questão de desenvolverem habilidades e capacidades intelectuais.6
tenha evoluído muito, pois trabalha a realidade, a prática 6 Fonte: www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br -

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

pela humanidade e experiência cotidiana – é que se dá


A SALA DE AULA COMO ESPAÇO DE a mediação; e ela ocorre nos dois sentidos, tanto do pro-
fessor para o aluno quanto do a É uma luta de contrários.
APRENDIZAGEM.
Esse modo de compreender a mediação não aceita a
ideia do professor mediador do conhecimento, tampouco
a noção de professor facilitador da aprendizagem.
Quando entendida na perspectiva do senso comum, Essas duas acepções são equivocadas, porque, em pri-
a relação ensino-aprendizagem é linear; assim, quando há meiro lugar, o professor não é o único mediador, pois o
ensino, deve necessariamente haver aprendizagem. aluno também medeia, e, em segundo lugar, a mediação
Ao inverso, quando não houve aprendizagem, não não se estabelece com o conhecimento e sim entre o aluno
houve ensino. Desse modo, o ensino é subordinado à e o professor. Trata-se de uma automediação no segundo
aprendizagem. Essa subordinação é expressa em concep- sentido atribuído por Mészáros; ou seja, a mediação entre
ções que compreendem o professor como facilitador da o homem e os outros homens: aluno para o professor. Em
aprendizagem, ou ainda como mediador do conhecimento. outros termos, a mediação, na escola, é um processo que
Aqui a proposta é discutir referências teóricas e me- ocorre a sala de aula e promove a superação do imediato
todológicas que possam revelar uma concepção não linear no mediato por meio de uma tensão dialética entre pólos
da relação em foco, bem como criticar as concepções de opostos.
professor facilitador e professor mediador. A relação entre o homem e a natureza é ‘automediado-
A mediação no campo educacional é geralmente con- ra’ num duplo sentido.
siderada como o produto de uma relação entre dois termos Primeiro, porque é a natureza que propicia a mediação
distintos que, por meio dela podem ser homogeneizados. entre si mesma e o homem; segundo, porque a própria ativi-
Essa homogeneização elimina a diferença entre eles e, por dade mediadora é apenas um atributo do homem, localiza-
conseguinte, a possibilidade de conflito entre ambos. Por- do numa parte específica da natureza. Assim,
tanto, quando se compreende a mediação como o resul- na atividade produtiva, sob o primeiro desses dois as-
tado, como um produto, a necessária relação entre dois pectos ontológicos a natureza faz a mediação entre si mes-
termos se reduz à sua soma, o que resulta na sua anulação ma e a natureza; e, sob o segundo aspecto ontológico - em
mútua, levando-os ao equilíbrio. Essa ideia concebe a me- virtude do fato de ser a atividade produtiva inerentemente
diação como o resultado da aproximação entre dois termos social - o homem faz a mediação ente si mesmo e os demais
que, embora distintos no início, quando totalmente sepa- homens. (Mészáros, 1981, p.77-78)
Sendo a mediação na sala de aula uma automediação,
rados, tendem a igualar-se à medida que se aproximam um
não podemos abrir mão da relação direta entre professor
do outro.
e aluno. Desse modo, não podemos substituí-la por falsos
Em estudos desse contexto discute-se o conceito de
mediadores, como por exemplo, a exibição de filmes quan-
mediação local, indicando que mediar implica solucionar
do a temática não corresponde àquela tratada pelo pro-
conflitos por meio de ações educativas. Assim, a media-
fessor, ou a execução aleatório de atividades de ensino. Os
ção restringe-se a uma ação pragmática, circunscrita a uma
professores que se utilizam com frequência desses recursos
situação de conflito. Este entendimento da mediação não
nutrem a esperança de que essas práticas sejam capazes
é muito distante daquele em que ela é compreendida na
de estabelecer mediações que eles, os professores, talvez
situação da sala de aula. não se sintam seguros para desenvolver. Alguns professo-
A mediação na sala de aula é também pragmática, pois res precisam ser lembrados de que sala de aula não é sala
pretende que o aluno aprenda de modo imediato. Nos dois de cinema nem oficina de terapia ocupacional.
casos, em que mediar é agir de modo pragmático, todo Os professores que se utilizam desses artifícios o fazem
conflito pode ser “solucionado”, e o aluno pode “aprender”. muitas vezes no intuito de facilitar a aprendizagem; porém,
Para compreendermos a mediação na sala de aula, é sendo a relação entre o ensino e a aprendizagem uma luta
preciso, em primeiro lugar, estabelecermos que o estudan- de contrários, não há como facilitá-la. Ao inverso, o profes-
te está sempre no plano do imediato, e o professor está, sor deve dificultar a vida cotidiana do aluno inserindo nela
ou deveria estar, no plano do mediato. Assim, entre eles se o conhecimento, e, dessa forma, negando-a. Pois, na vida
estabelece uma mediação que visa, como já o dissemos, a cotidiana não há conhecimento e sim experiência. Desse
superação do imediato no mediato. Em outras palavras, o modo, não há como facilitar o que é difícil. Aprender é di-
estudante deve superar a sua compreensão imediata e as- fícil.
cender a outra que é mediata. E isso só pode ocorrer pela será sempre necessário que ela [criança] se fatigue a
ação do professor que medeia com o aluno, estabelecendo fim de aprender e que se obrigue a privações e limitações
com ele uma tensão que implica negar o seu cotidiano. de movimento físico isto é que se submeta a um tirocínio
Por outro lado, o aluno tentará trazer o professor para o psicofísico. Deve-se convencer a muita gente que o estudo
cotidiano vivido por ele, aluno, negando, assim, o conhe- é também um trabalho e muito fatigante com um tirocínio
cimento veiculado pelo professor. Nessa luta de contrários particular próprio, não só muscular-nervoso mas intelectual:
– professor e aluno, conhecimento sistematizado é um processo de adaptação, é um hábito adquirido com
Elieide Pereira dos Santos/Isleide Carvalho Batista/Mayane esforço, aborrecimento e mesmo sofrimento. (Gramsci, 1985,
Leite da Silva Souza p. 89)

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Como assinala Gramsci, a aprendizagem depende do nos com os conceitos que os constituem. Agora o que o
esforço pessoal de cada estudante. É claro que o professor professor deve fazer é organizar os conceitos e as relações
sempre poderá intervir, de modo direto, neste processo, entre eles. Esse processo, de acordo com Lefebvre (1983),
auxiliando o aluno. Ele deve esforçar-se para que os estu- implica dois movimentos: a retrospecção e a prospecção.
dantes aprendam, mas não pode minimizar nem esconder A retrospecção permite que o estudante compreenda
as dificuldades inerentes à aprendizagem. o processo de formação e desenvolvimento do conceito
Quando se compreende a relação ensino-aprendiza- abordado e a prospecção possibilita o entendimento do
gem na sala de aula como mediação, o ensino e aprendi- estado atual do conceito a partir das relações que o concei-
zagem são opostos entre si e se relacionam por meio de to estudado estabelece com outros, tanto com aqueles que
uma tensão dialética. Desse modo, esses termos, apesar de o corroboram quanto com os que a ele se opõem. A pros-
negarem-se mutuamente, se completam, mas, como já o pecção do conceito permite o estabelecimento de relações
dissemos, essa unidade não se estabelece de modo linear. interdisciplinares, a que temos chamado de interdisciplina-
Neste artigo, conceituaremos primeiro o ensino e, pela ridade conceitual para distingui-la daquela que é corrente
sua negação, conceituaremos aprendizagem. Sabemos da na escola, a interdisciplinaridade temática. Não podemos
dificuldade de conceituar esses dois termos, pois de modo ensinar por meio do tema, devemos fazê-lo por meio do
geral os estudiosos da área de educação e os professores, conceito. Evitamos o uso da expressão conteúdo de ensino
talvez por influência das pedagogias contemporâneas, não em virtude da sua imprecisão. Quando a organização do
o fazem; pois preocupam-se quase exclusivamente com ensino é baseada nos processos de retrospecção e pros-
o “como ensinar”, ou mais precisamente como facilitar a pecção de conceitos, o fundamental são as relações que se
aprendizagem dos alunos. estabelecem nos dois processos. No primeiro, elas dizem
A ideia principal que informa o nosso conceito de en- respeito ao desenvolvimento do conceito, à oposição entre
sino é a de que ele expressa a relação que o professor es- a sua origem e o estado atual, no segundo, elas tratam dos
tabelece com o conhecimento produzido e sistematizado vínculos entre conceitos. Assim, podemos afirmar que en-
pela humanidade. Assim, o ensino constitui-se de três ativi- sinar é fazer relações. Por isso, ensinar é tão difícil quanto
dades distintas a serem desenvolvidas pelo professor. aprender.
A primeira consiste em, diante de um tema, selecionar A terceira tarefa do professor é transmitir aos alunos
aquilo que foi previamente selecionado e organizado. Des-
o que deve ser apresentado aos alunos; por exemplo, no
sa forma, a transmissão é a única etapa do processo de
tema “Revolução Francesa”, próprio da História, selecionar
ensino que ocorre efetivamente na sala de aula. Em que
o que é mais importante ensinar aos alunos da 5ª série (no-
pese o preconceito sobre a palavra transmissão, não abri-
menclatura brasileira). Já o professor do 1º ano do Ensino
mos mão dela, porque é isso o que o professor faz na sala
Médio deve defrontar-se com a mesma pergunta; a mesma
de aula. É na transmissão do conhecimento que ocorrem as
situação se coloca ao professor universitário encarregado
mediações entre professores e alunos.
de abordá-lo. Dessa forma, o docente deve preocupar-se
Se o ensino é a relação que o professor estabelece com
em compatibilizar a seleção do conhecimento a ser ensina- o conhecimento, a aprendizagem ao contrário é a relação
do com a possibilidade de aprendizagem dos alunos. Nos que o estudante estabelece com o conhecimento e, por-
dias de hoje, é bastante comum que a seleção seja abran- tanto, é nela que a mediação se efetiva: pela superação do
gente; e isso pode levar os professores a apresentarem aos imediato no mediato.
seus alunos informações supérfluas, que, quando confun- Não é possível discutir a aprendizagem como fize-
didas com conhecimento, não lhes permitem fazer as sínte- mos com o ensino, porque ela é de cunho singular e, des-
ses necessárias para a superação do cotidiano, produzindo sa forma, ocorre de modo diverso em cada estudante. A
neles uma “erudição balofa” que pode ao contrário encerrá discussão da aprendizagem na perspectiva deste texto,
-los na vida cotidiana. Esse equívoco ocorre, por exemplo, ou seja, em oposição ao ensino, ainda deve ser elabora-
quando o professor de História, ao abordar a Revolução da e, certamente, não poderá sê-lo pela psicologia, mas
francesa, preocupa-se com detalhes da vida privada de sim pela filosofia. A única possibilidade, ainda que remota
Maria Antonieta ou com a moda ditada por Luís XV. Ainda no âmbito da psicologia, estaria no desenvolvimento do
exemplificando, o mesmo pode ocorrer com o professor pensamento de Vigotski, desde que compreendido numa
de Literatura que expõe aos alunos os períodos literários e perspectiva filosófica, pois a psicologia como ciência tem
seus principais expoentes sem apresentar as relações entre por objeto o comportamento, e aprender não é o mesmo
os autores, bem como entre os períodos literários, ocultan- que comportar-se, em que pese o esforço das pedagogias
do assim a historicidade inerente à literatura. contemporâneas em desenvolver esta associação. Do nos-
A erudição balofa pode também estar presente nas so ponto de vista, o que a psicologia, no seu estado atual,
disciplinas ligadas às ciências naturais; ela tem levado os pode fazer é controlar a aprendizagem, o que é diferente
professores a acreditar que quanto maior a quantidade de de compreendê-la.
informações mais os alunos sabem. Quando a relação ensino-aprendizagem é tomada na
A segunda atividade desenvolvida pelo professor é a perspectiva da mediação no seu sentido original, ao mes-
organização, ou seja, diante da seleção feita a partir de um mo tempo em que não há uma relação direta entre en-
tema é preciso organizar esta seleção para apresentá-la aos sino e aprendizagem, não há também uma desvinculação
alunos. Desde o momento em que fazemos a seleção já desses dois processos. Ou seja, para haver aprendizagem,
não podemos falar mais em temas; devemos preocupar- necessariamente deve haver ensino.

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Porém, eles não ocorrem de modo simultâneo. Dessa Para Saviani (1981) “é preciso privilegiar a relação entre
forma, o professor pode desenvolver o ensino – selecionar, o que precisa ser conhecido e o caminho que precisa ser
organizar e transmitir o conhecimento – e o aluno pode trilhado para conhecer, ou seja, entre conteúdo e método,
não aprender. Para que o aluno aprenda, ele precisa desen- na perspectiva da construção da autonomia intelectual e
volver sua síntese singular do conhecimento transmitido, ética”.
e isso se dá pelo confronto, por meio da negação mútua, Hoje, há um consenso entre educadores de que o
desse conhecimento com a vida cotidiana do aluno. Como “aprender” é o papel mais importante de toda e qualquer
cada aluno tem um cotidiano, e o conhecimento é aprendi- instituição educacional. E que nesta linha, o compromis-
do por meio da síntese já explicitada, o conhecimento não so político do professor apoiada pela equipe e direção se
pode ser aprendido igualmente por todos os alunos, em- exigem mutuamente e se interpenetram, não sendo mais
bora aquele transmitido pelo professor seja único. Assim, possível dissociar uma da outra.
a relação ensino-aprendizagem na perspectiva aqui apre- Para Sacristán (2.000): organizar currículo e programas
sentada expressa o vínculo dialético entre unidade e di- de conteúdo é contribuir na formação das novas gerações
versidade. Por isso, o conhecimento transmitido pelo pro- da humanidade com possibilidades de traçar caminhos
fessor pode ser uno e aquele aprendido pelo aluno pode possíveis para superar dificuldades. E, que nós cidadãos
ser diverso. A unidade e a diversidade são opostos que se participantes deste processo, professores pedagogos e
completam, ou e é próprio do humano. gestores, consigamos construir outra escola, onde todos
possam ser sujeitos de suas próprias histórias e parceiros
Fonte: Revista Lusófona de Educação na construção de uma sociedade mais democrática e mais
Texto adaptado de José Luís Vieira de Almeida e Teresa humana.
Maria Grubisich Sob este ponto de vista o currículo caracteriza-se por
uma estratégia de abordagem do objeto, que é o aluno.
Estratégia esta que significa um modo de observar, de pen-
AS TEORIAS DO CURRÍCULO. sar e de agir do educador sobre o alunado, construindo a
partir das teorias que suportam a formação profissional do
educador como sobre a sua experiência, sistema de valores,
ideologia e estilo pessoa.
Na busca da constituição do conhecimento, outro ter-
As atividades didáticas devem ser planejadas de acor-
mo a ser levado em consideração é o currículo, palavra de
do com os níveis de ensino da língua escrita: sistema de
origem latina currere, que se refere à carreira, a um percur-
escrita, leitura e produção de textos escritos e uso social
so, que deve ser realizado.
da língua escrita. A diversidade de atividades pedagógicas
A escola está e não está em crise, ela reproduz a ideo-
propostas em sala de aula precisa se apresentar para as
logia do capital, e ao mesmo tempo oferece condições
crianças de modo organizado e coeso. Isso pode ser garan-
de emancipação humana. Podendo assim, conservar ou
reproduzir, e é nesta contradição que é preciso analisar o tido se forem observados dois critérios didáticos: a sequên-
currículo da escola, pois, ele deve refletir as mais diversas cia das atividades e a integração entre elas.
formas de cultura. A sequência das atividades garante que as ações de
Segundo Saviani (1984) “o currículo deve expressar um aprendizagem sejam contínuas, ou seja, que partam con-
caminho pelo qual teoricamente todos deveriam percorrer secutivamente umas das outras, permitindo o aprofun-
rumo ao projeto social, passando a ser entendido como damento e a ampliação do conhecimento dos alunos. A
forma de contestação do poder”. integração diz respeito ao relacionamento entre as ações
Um sistema escolar é complexo, frequentado por mui- pedagógicas, visando dar unidade às temáticas abordadas
tos alunos e, portanto, deve organizar-se. O que se deve em sala de aula e à exploração de determinados recursos
então ensinar já que o currículo também é uma seleção pedagógicos e materiais escritos.
limitada da cultura? Com certeza um currículo que com- O planejamento escolar é uma tarefa docente que in-
preenda um projeto de vida, socializado e cultural, com um clui tanto a previsão das atividades em termos de orga-
conjunto de objetivos de aprendizagem selecionados que nização e coordenação em face dos objetivos propostos,
possam dar lugar à criação de experiências, para que nele quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo
se operem as oportunidades, que se privilegiem conheci- de ensino. O planejamento é um meio para programar as
mentos necessários para entender o mundo e os proble- ações docentes, mas é também um momento de pesquisa
mas reais e que mobilize o aluno para o entendimento e e reflexão intimamente ligado à avaliação. Há três moda-
a participação na vida social. Sendo pertinente formar um lidades de planejamento, articulados entre si o plano da
aluno crítico, reflexivo e participativo das tomadas de de- escola, o plano de ensino e o plano de aulas.
cisões da sociedade, que não sejam apenas cidadãos, mas
que saibam praticar e exercer sua cidadania ativa conecta- A importância do planejamento escolar
da com seus direitos e deveres. O planejamento é um processo de racionalização, or-
A produção do conhecimento deve ser o resultado da ganização e coordenação da ação docente, articulando a
relação entre o homem e as relações sociais, através da ati- atividade escolar e a problemática do contexto social. A
vidade humana, ou seja, o trabalho como práxis humana e escola, os professores e alunos são integrantes da dinâ-
produtiva. mica das relações sociais; tudo o que acontece no meio

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

escolar está atravessado por influências econômicas, po- Por objetividade entendemos a correspondência do
líticas e culturais que caracterizam a sociedade de classe. plano com a realidade que se vai aplicar. Não adianta fazer
Isso significa que os elementos do planejamento escolar - previsões fora das possibilidades humanas e materiais da
objetivos-conteúdos-métodos – estão recheados de impli- escola, fora das possibilidades dos alunos.
cações sociais, têm um significado genuinamente político. Deve haver coerência entre os objetivos gerais, objeti-
Por essa razão o planejamento, é uma atividade de reflexão vos específicos, os conteúdos, métodos e avaliação. Coe-
a cerca das nossas opções e ações; se não pensarmos di- rência é relação que deve existir entre as ideias e a prática.
daticamente sobre o rumo que devemos dar ao nosso tra- O plano deve ter flexibilidade no decorrer do ano leti-
balho, ficaremos entregues aos rumos estabelecidos pelos vo, o professor está sempre organizando e reorganizando
interesses dominantes da sociedade. o seu trabalho. Como já dissemos o plano é um guia e não
O planejamento tem assim as seguintes funções: uma decisão inflexível.
a) Explicar os princípios, diretrizes e procedimentos do Existem pelo menos três níveis de planos: o plano da
trabalho docente que as segurem a articulação entre as escola, o plano de ensino, o plano de aula.
tarefas da escola e as exigências do contexto social e do O plano da escola é um documento mais global; ex-
processo de participação democrática. pressa orientações gerais que sintetizam, de um lado, as
b) Expressar os vínculos entre o posicionamento filo- ligações da escola com o sistema escolar mais amplo e, de
sófico, político-pedagógico e profissional e as ações efeti- outro, as ligações do projeto pedagógico da escola com os
vas que o professor irá realizar na sala de aula, através de planos de ensino propriamente ditos.
objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas de O plano de ensino (ou plano de unidade) é a pre-
ensino. visão dos objetivos e tarefas do trabalho docente para o
c) Assegurar a racionalização, organização e coorde- ano ou semestre; é um documento mais elaborado, dividi-
nação do trabalho docente, de modo que a previsão das do por unidades sequenciais, no qual aparecem objetivos
ações docentes possibilite ao professor a realização de um específicos, conteúdos e desenvolvimento metodológicos.
ensino de qualidade e evite a improvisação e a rotina. O plano de aula é a previsão do desenvolvimento do
d) Prever objetivos, conteúdos e métodos a partir de conteúdo para uma aula ou conjunto de aulas e tem um
consideração das exigências postas pela realidade social, caráter específico.
do nível de preparo e das condições sócio-culturais e indi- O plano de aula é um detalhamento do plano de ensi-
viduais dos alunos. no. As unidades e subunidades (tópicos) que foram previs-
e) Assegurar a unidade e a coerência do trabalho do-
tas em linhas gerais são agora especificadas e sistematiza-
cente, uma vez que torna possível inter-relacionar, num
das para uma situação didática real. A preparação de aulas
plano, os elementos que compõem o processo de ensino:
é uma tarefa indispensável e, assim como o plano de ensi-
os objetivos (para que ensinar), os conteúdos (o que ensi-
no, deve resultar em um documento escrito que servirá não
nar), os alunos e suas possibilidades (a quem ensinar), os
só para orientar ações do professor como também para
métodos e técnicas (como ensinar) e avaliação que intima-
possibilitar constantes revisões e aprimoramentos de ano
mente relacionada aos demais.
para ano. Em todas as profissões o aprimoramento profis-
f) Atualizar os conteúdos do plano sempre que for pre-
ciso, aperfeiçoando-o em relação aos progressos feitos no sional depende da acumulação de experiências conjugan-
campo dos conhecimentos, adequando-os às condições de do a prática e reflexão criteriosa sobre ela, tendo em vista
aprendizagens dos alunos, aos métodos, técnicas e recur- uma prática constantemente transformada para melhor.
sos de ensino que vão sendo incorporados nas experiên- Na elaboração de um plano de aula, deve-se levar em
cias do cotidiano. consideração, em primeiro lugar, que a aula é um perío-
g) Facilitar a preparação das aulas: selecionar o material do de tempo variável. Dificilmente completamos em uma
didático em tempo hábil, saber que tarefas professor e alu- só aula o desenvolvimento de uma unidade ou tópico de
nos devem executar. Replanejar o trabalho frente a novas unidade, pois o processo de ensino e aprendizagem se
situações que aparecem no decorrer das aulas. compõe de uma sequência articulada de fases: preparação
Para que os planos sejam efetivamente instrumentos e apresentação de objetivos, conteúdos e tarefas; desen-
para a ação, devem ser como guia de orientação e devem volvimento da mataria nova; consolidação (fixação, exer-
apresentar ordem sequencial, objetividade, coerência, fle- cícios, recapitulação, sistematização); aplicação, avaliação.
xibilidade. Isso significa que devemos planejar não uma aula, mas um
conjunto de aulas.
O plano é um guia para orientar o professor em Na preparação de aulas, o professor deve reler os ob-
suas ações educativas jetivos gerais da matéria e a sequência de conteúdos do
O plano é um guia de orientação, pois nele são esta- plano de ensino. Não pode esquecer que cada tópico novo
belecidas as diretrizes e os meios de realização do trabalho é uma continuidade do anterior; é necessário assim, con-
docente. Sua função é orientar a prática partindo da exi- siderar o nível de preparação inicial dos alunos para a ma-
gência da própria prática. téria nova.
O plano deve ter uma ordem sequencial, progressiva. Deve, também, tomar o tópico da unidade a ser de-
Para alcançar os objetivos, são necessários vários passos, senvolvido e desdobrá-lo numa sequência lógica, na forma
de modo que a ação docente obedeça a uma sequência de conceitos, problemas, ideias. Trata-se de organizar um
lógica. conjunto de noções básicas em torno de uma ideia central,

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

formando um todo significativo que possibilite ao aluno o êxito escolar dos alunos. Ao fazer a avaliação das aulas,
percepção clara e coordenada do assunto em questão. Ao convém ainda levantar questões como estas: Os objetivos e
mesmo tempo em que são listadas as noções, conceitos, conteúdos foram adequados à turma? O tempo de duração
ideias e problemas, é feita a previsão do tempo necessá- da aula foi adequado? Os métodos e técnicas de ensino
rio. A previsão do tempo, nesta fase, ainda não é definitiva, foram variados e oportunos em suscitar a atividade mental
pois poderá ser alterada no momento de detalhar o desen- e prática dos alunos? Foram feitas verificações de aprendi-
volvimento metodológico da aula. zagem no decorrer das aulas (informais e formais)? O re-
Em relação a cada tópico, o professor redigirá um ou lacionamento professor-aluno foi satisfatório? Houve uma
mais objetivos específicos, tendo em conta os resultados organização segura das atividades, de modo ter garantido
esperados na assimilação de conhecimentos e habilidades um clima de trabalho favorável? Os alunos realmente con-
(fatos, conceitos, ideias, relações, métodos e técnicas de es- solidaram a aprendizagem da matéria, num grau suficiente
tudo, princípios e atitudes etc.) estabelecer os objetivos é para introduzir matéria nova? Foram propiciadas tarefas de
uma tarefa tão importante que deles vão depender os mé- estudo ativo e independente dos alunos?
todos e procedimentos de transmissão e assimilação dos A escola sendo lugar propício para trabalhar com o
conteúdos e as várias formas de avaliação (parciais e finais). conhecimento, tem em suas funções levar o aluno à com-
O desenvolvimento metodológico será desdobrado preensão da realidade para através do conhecimento atuar
nos seguintes itens, para cada assunto novo: preparação de forma a contribuir para que haja mudança. Aí surge uma
e introdução do assunto; desenvolvimento e estudo ativo questão a ser respondida. Que realidade se defende na es-
do assunto; sistematização e aplicação; tarefas de casa. Em cola? Como afirma Kuenzer “Toda forma de conhecer uma
cada um desses itens são indicados os métodos, procedi- realidade, para nela intervir, pressupõe uma determinada
mentos e materiais didáticos, isto é, o que o professor e concepção desta realidade”. Para conhecer a realidade faz-
alunos farão para alcançar os objetivos. se necessário planejamento. De uma maneira geral, po-
Em cada um dos itens mencionados, o professor deve de-se dizer que o ato de planejar suas ações acompanha o
prever formas de verificação do rendimento dos alunos. homem desde o início de sua existência, pois a história dele
Precisa lembrar que a avaliação é feita no início (o que o é resultado do presente e do passado, ou seja, ao procurar
aluno sabe antes do desenvolvimento da matéria nova), satisfazer suas necessidades o homem produziu diferentes
durante e no final de uma unidade didática. A avaliação relações, dentre elas, as educativas.
deve conjugar várias formas de verificação, podendo ser De uma maneira simplificada pode-se dizer que o pla-
informal, para fins de diagnóstico e acompanhamento do nejamento educacional possui dois aspectos. O primeiro
progresso dos alunos, formal para fins de atribuição de no- refere-se ao planejamento estrutural. Ele é burocrático e
tas ou conceitos. explica as ações que a educação faz. É produzido em ga-
Os momentos didáticos do desenvolvimento meto- binetes, pelas secretarias: federal, estadual e municipal.
dológico não são rígidos. Cada momento terá duração de Trata principalmente dos recursos financeiros. Com relação
tempo de acordo com o conteúdo, com o nível de assimi- ao porquê dessa característica do planejamento Calazans
lação dos alunos. Às vezes ocupar-se-á mais tempo com afirma que, nas últimas décadas ele possui um caráter au-
a exposição oral da matéria, em outras, com o estudo da toritário e manipulador. O outro caráter explica o peda-
matéria. Outras vezes, ainda, tempo maior pode ser dedi- gógico, ou seja, planeja as ações que vão “desembocar”
cado a exercício de fixação e consolidação. Por exemplo, na sala de aula, na prática do professor e do aluno. Tendo
pode acontecer que os alunos dominem perfeitamente como pressuposto que só ocorre a mudança de uma de-
os conhecimentos e habilidades necessárias para enfren- terminada situação quando ao planejar se tem certeza de
tar a matéria nova; nesse caso, a preparação e introdução onde quer chegar, deve-se se ter claro que o ato do plane-
do tema pode ser mais breve. Entretanto, se os alunos não jamento educacional é muito sério e exige compromisso, é
dispõem de pré-requisitos bem consolidados, a decisão do um ato de intervenção técnica e política, não podendo ser
professor deve ser outra, gastando-se mais tempo para ga- visto como uma simples rotina. Planejar, também, implica
rantir uma base inicial de preparo através da recapitulação, conhecer limitações e possibilidades.
pré-testes de sondagem e exercícios. É possível visualizar na atual realidade do professor do
O desenvolvimento metodológico pode se destacar Ensino Fundamental que as denominadas semanas de pla-
aulas com finalidades específicas: aula de exposição oral da nejamento escolar que ocorrem no início de cada ano leti-
matéria, aula de discussão ou trabalho em grupo, aula de vo, nada mais têm sido além de um momento de preencher
estudo dirigido individual, aula de demonstração prática formulários para serem arquivados na gaveta do diretor ou
ou estudo do meio, aula de exercícios, aula de recapitula- de um intermediário do processo pedagógico, como coor-
ção, aula de verificação para avaliação. denador ou o supervisor. Além do mais sendo realizado an-
O professor consciencioso deverá fazer uma avalia- tes do início das aulas essa atitude traz algumas reflexões:
ção da própria aula. Sabemos que o êxito dos alunos não se uma boa prática implica um grau de conhecimento da
depende unicamente do professor e do seu método de realidade que ela vai transformar e também das exigências
trabalho, pois a situação docente envolve muitos fatores às quais ela precisa responder, como planejar antes de co-
de natureza social, psicológica, o clima geral da dinâmi- nhecer a turma em que se vai atuar? Até que ponto o pla-
ca da escola etc. Entretanto, o trabalho docente tem um nejamento deve «amarrar» o fazer em sala de aula? Como
peso significativo ao proporcionar condições efetivas para deve ser: diário, semanário, mensal, bimestral ou anual?

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Quando e como deve ser feito? Quais as possibilidades e do trabalho na sociedade capitalista, com a intenção de
os limites de sua realização? Inúmeras questões como es- racionalizar o trabalho, aumentando então a produção de
tas permeiam o dia-a-dia do professor e o coloca em dúvi- excedente. Taylor (americano) desenvolveu a chamada es-
da sobre como deve realmente ocorrer o planejamento na cola da administração científica preocupada em aumentar
escola. Infelizmente, entre outros motivos, a sua formação a eficiência da indústria, por meio, inicialmente da raciona-
não permite refletir sobre tais indagações e por isso acaba lização do trabalho operário, ou seja, quanto mais repetida
fazendo uso do tão famoso «formulário», argumentando fosse a tarefa do operário, mais eficaz seria o seu resultado.
resumidamente que está cumprindo com seu dever. Fayol (europeu) desenvolveu a chamada teoria clássi-
A partir de Fusari, é preciso dizer que o “formulário” ca, preocupada em aumentar a eficiência da aplicação de
utilizado pelos professores para registro do planejamen- princípios gerais da administração em bases científicas.
to foi criado pela Divisão de Assistência Pedagógica, em Essas teorias influenciaram também a educação já que na
julho de 1970, no Estado de São Paulo, à luz do behavio- sociedade capitalista o objetivo da escola é reparar o indi-
rismo americano, onde em um programa de treinamento víduo para atuar e adaptar-se a ela, contribuindo para sua
de professores criam-se os elementos objetivos, conteúdo, consolidação, como bem explica Zanardini: sob este ponto
estratégias e avaliação para garantir um ensino eficiente de vista “administrativo Capitalista”, a escola é concebida
e eficaz. Para Fusari, a competência em sala é algo muito como uma organização formal como outra qualquer, des-
mais importante do que apenas saber fazer um bom plano, vinculada do contexto social e de sua especificidade, isto
pois quando se fala em plano de ensino, automaticamen- porque os eficientes princípios, métodos e técnicas que
te vem em mente a estrutura do documento da Divisão promovem a evolução e produtividade na empresa devem
de Assistência Pedagógica. “Este foi o modelo elaborado e estar presentes também na escola. A organização do tra-
implantado em todas as escolas brasileiras e é este modelo balho escolar a partir da ótica capitalista enfatiza aspectos
que os professores rejeitam e que os técnicos de supervi- burocráticos, e como tal, prioriza a formalidade, o profissio-
são, na maioria dos casos, valorizam” (1984). nalismo, a impessoalidade, a hierarquia e a especialização
Ao adotar o “formulário” de 1970, importado de fora, (1998).
assumia-se a ideia implícita de produtividade, de eficiência Percebe-se que ainda mesmo hoje essa teoria acom-
e de eficácia do ensino para dar conta da necessidade da panha a intenção do Estado. A maneira através da qual as
produção da sociedade. Porém, o que se percebia inclusive secretarias propõem o planejamento na escola, está articu-
os próprios especialistas, é que o que constava na teoria lada com os interesses da classe dominante, mesmo que o
do plano não representava a realidade prática do profes- Estado afirme o caráter de neutralidade na continuidade do
sor. O aluno acabava sendo privado do conteúdo, pois as trabalho, esses interesses estão claros.
metodologias ativas de ensino acabavam impedindo que Lukesi conceitua o planejamento como “a atividade
o professor tivesse segurança em dar o conteúdo. O fato é intencional pela qual se projetam fins e se estabelecem
que numa sociedade o planejamento da educação é esta- meios para atingi-los. É uma ação ideologicamente com-
belecido a partir das regras e relações, herdando as formas, prometida não possui caráter de neutralidade” (1992). Por
os fins, as capacidades e os domínios do modelo do capital isso o planejamento será um ato ao mesmo tempo políti-
monopolista do Estado. co-social, científico e técnico.
O Estado assumindo o papel de agente interventor, Ao realizar o planejamento na escola não basta que o
normalizador da ordem, em suas políticas educacionais professor apenas esteja atento aos meios, faz-se necessário
tenta mascarar os sistemas de relações sociais que dividem também os fins, os objetivos da educação. Uma das formas
a sociedade, por isso a centralidade da educação traz con- de estar atento é percebido no plano de aula. Fusari afirma
sigo que o planejamento deve ser proposto pelo Estado. que o preparo das aulas é um encontro curricular, no qual,
Desta maneira, pode-se dizer que há certa confusão no ano a ano, vai-se tecendo a rede do currículo escolar pro-
que diz respeito à explicação das formas de planejar. Na posto para determinada faixa etária, modalidade ou grau
realidade o que os professores desenvolvem como “pla- de ensino (1992). Nessa visão, a aula deve ser concebida
nejamento” acaba seguindo certo “ritual”. Inicialmente o como um momento curricular importante, no qual o edu-
professor recebe os conteúdos para desenvolver o planeja- cador faz a mediação competente e crítica entre os alunos
mento. Tais conteúdos fazem parte dos documentos onde e os conteúdos do ensino, sempre procurando direcionar a
consta o plano de curso contendo as propostas de educa- ação docente para a aprendizagem do aluno.
ção que o Estado necessita e impõe. Como por exemplo, Fusari apresenta uma distinção entre plano e planeja-
pode-se citar os Parâmetros Curriculares Nacionais que são mento. Para ele planejamento - é o processo que envolve a
tidos como um referencial e mesmo não tendo força de Lei, atuação concreta dos educadores no cotidiano do seu tra-
constituem um currículo que é seguido pelos professores. balho pedagógico, envolvendo todas as suas ações e situa-
Ao aprofundar sobre o conceito do que significa plane- ções, o tempo todo, envolvendo a permanente interação
jar na escola encontra-se que o planejamento é “um con- entre os educadores e entre os próprios educandos (1989
junto de ações coordenadas visando atingir os resultados p. 10). Enquanto que o plano de ensino é um momento
previstos de forma mais eficiente e econômica” (LUCKESI, de documentação do processo educacional escolar como
1992). Este conceito, porém, está articulado à teoria da um todo. É, pois, um documento elaborado pelo docente,
Administração Científica representada por Taylor e Fayol. contendo suas propostas de trabalho, numa área e/ou dis-
Essa teoria é decorrente da necessidade de organização ciplina específica.

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

O plano de ensino é mais abrangente do que aquilo Enfim, não se pode esquecer que a escola necessita
que está registrado no planejamento do professor. Nesse desenvolver o seu trabalho pedagógico, em longo prazo,
entendimento, planejamento e plano se complementam com objetivos a serem atingidos no bimestre, semestre ou
e se interpenetram no processo da prática docente. Um no ano letivo. Mesmo que isto seja difícil num país em que
profissional da Educação bem preparado supera eventuais não se tem clareza política e econômica do que vai ocorrer
limites do seu plano, a partir das reflexões vivenciadas. Um amanhã, este argumento não pode ser utilizado para que
bom plano não transforma, em si, a realidade da sala de a escola planeje somente para o dia seguinte. Para com-
aula, pois ele depende da competência e do compromisso preender como ocorre o plano de ensino faz-se necessário
social do docente. Se um bom plano necessita de compro- entendê-lo desde o momento em que é determinado pelas
misso técnico e político, como é possível medir como tais políticas educacionais até chegar à sala de aula.
aspectos ocorrem? Que caminho pode levar a essa percep- O caminho que se desenvolve na ação do planejamen-
ção? Partindo do pressuposto que a metodologia deve ser to começa no plano de curso (planejamento macro), advin-
entendida enquanto caminho ou meio que professores e do na maioria das vezes pronto dos próprios órgãos que
alunos devem percorrer para atingir o objetivo colocado coordenam o trabalho nos estados, municípios e chega a
no processo de ensino - aprendizagem e que as realida- escola onde são elaborados os planos de ensino. A par-
des em sala de aula são dinâmicas, pode-se afirmar que tir dele o professor conclui e organiza seu plano de aula
ela não deve ser um conjunto sequencial de procedimen-
sem uma maior pesquisa sobre os conteúdos necessários
tos engessados. Mas, sim enquanto uma prática dinâmica
para a série que irá atuar. Pode-se perceber que o plane-
flexível que pode ser revista e reorientada de forma que
jamento é um elemento que necessita de muita discussão,
garanta a qualidade do ensino. Neste sentido Rays afirma
que “a atividade metódica - se em correspondência com o pois, sendo iniciado de maneira para não dar certo, o ato
objetivo almejado - faz com que o homem se relacione de do planejamento já começa de forma inadequada. Como
forma mais adequada com o mundo da natureza e com o superação dessas dicotomias alguns teóricos apontam o
mundo da cultura” (1991). Dessa maneira, é possível afir- planejamento coletivo ou participativo. Entende-se que
mar que “um método de ensino torna-se concreto quando existe na escola o Projeto Político - Pedagógico e que este
o mesmo se converte em método de aprendizagem”. Desta sendo construído de forma coletiva, todas as ações da es-
forma, não se pode esquecer que o método de ensino tem cola também deveriam ser, por isso, o planejamento do tra-
que considerar em seus determinantes não só a realidade balho deve fazer parte da concepção da escola. Diante da
vital da escola (representada principalmente pelas figuras pesquisa sobre o que é planejar surge uma pergunta que
do educador e do educando), mas, também a realidade só- precisa ser respondida: Afinal se o planejamento é neces-
cio-cultural em que está inserida. sário como deve ocorrer? É preciso conhecer a realidade
Pode-se dizer que sendo o ensino um processo dialé- do aluno, ou seja, não deve acontecer uma semana peda-
tico, seu movimento essência estará no ideário político - gógica de planejamento e sim de estudo e de avaliação
pedagógico que se operará em suas contradições internas do Projeto Político - Pedagógico da escola, para que to-
e externas. Como afirma Frigotto, no processo dialético dos os envolvidos no processo escolar possam participar.
de conhecimento da realidade, o que importa fundamen- Veiga (1995), afirma que o Projeto Político - Pedagógico
talmente não é a crítica pela crítica, o conhecimento pelo (PPP) não pode ser visto como um mero documento que
conhecimento, mas a crítica e o conhecimento crítico para é exigido pelas secretarias, uma burocracia. Tem que ser
uma prática que altere e transforme a realidade anterior no construído coletivamente. É uma necessidade e ao mesmo
plano do conhecimento e no plano histórico-social (1987). tempo um desafio para a escola. Enquanto coletivo, o PPP
Desta maneira, o conhecimento deve ser o instrumento pressupõe superar a fragmentação, buscar o trabalho arti-
que contribuirá para que o indivíduo possa se inserir na so- culado, exigindo assim um esforço político do conjunto da
ciedade e ao mesmo tempo interferir nela para que tenha comunidade escolar. É um planejamento que busca unificar
melhores condições de sobrevivência. a direção dos envolvidos na escola. É político, porque nele
Na história do planejamento de ensino é possível ver
está inserida uma intencionalidade e é pedagógico porque
que o processo da educação se condiciona por suas con-
estabelece caminho para que a escola atinja seu objetivo
tradições objetivas e subjetivas. Esse condicionamento re-
para garantir o compromisso com a democratização da
presenta o vetor principal do processo de ensino de apren-
dizagem que conduz à unidade da teoria e da prática peda- mesma.
gógica. A contradição é, sem dúvida, o elemento gerador Ao planejar o PPP a escola deveria expressar o méto-
que leva a ação didática a proporcionar a assimilação crítica do que realiza suas ações. Na prática, é possível perceber
e criativa do conhecimento e a produção de conhecimen- que a questão do método é algo que traz muita discussão,
tos em situações didáticas específicas e às manifestações pois ainda se acredita ou se proclama que para resolver
de fenômenos de natureza diversa. adequadamente os problemas de sala de aula, é necessário
Um aspecto importante a ser lembrado é que o pro- detectar a ausência do método de ensino no trabalho do
fessor não pode perder de vista que a escolha das me- professor. Visto desta maneira o método não representa
todologias está articulada aos princípios e finalidades da a concepção de Educação do professor, mas, apenas o rol
educação por ele preconizada. Tal procedimento é impor- de atividades que o mesmo desenvolve. Propõe-se que o
tante, visto que as metodologias possuem fundamentação método organizatório pode encaminhar satisfatoriamente
político filosófica, portanto não se constitui um elemento a “montagem” da escola como local de transmissão do sa-
neutro. ber. Para esclarecer a diferença entre as concepções sobre

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

o método Veiga afirma: a metodologia que se faz coletiva a prática social na qual vive. Não se pode esquecer que
e solidariamente é diferente daquela que é determinada a esse processo não se realiza individualmente, nem mesmo
priori, de cima para baixo, a respeito de como devem ser numa relação a dois, entre professor e aluno, mas é um
realizadas as atividades em sala de aula (1995). processo coletivo pelo qual um grupo de pessoas se depa-
A pergunta que muitos professores ainda fazem é qual ra com o conhecimento e no qual não se perde a perspec-
método seguir ao se propor à prática o planejamento? Há tiva individual.
um discurso preconizado entre os professores de que “o Com relação ao trabalho coletivo Fusari esclarece que
melhor método é não seguir nenhum ou analisar todos e o trabalho coletivo exige educadores que tenham pontos
extrair deles o que é mais interessante” afirma-se que a “re- de partida (princípios) e pontos de chegada (objetivos)
ceita correta” é a experiência do professor. Na verdade esse comuns (1993). Neste sentido, Falkembach, demonstra
pensamento traz como pano de fundo uma desculpa para a possibilidade do coletivo chegar ao objetivo alcançado
não se explicar qual concepção de educação que embasa o quando o planejamento participativo torna-se instrumento
trabalho pedagógico. teórico-prático capaz de facilitar a convergência entre o re-
A insegurança acaba dando margem para que o ensino fletir e o agir, no espaço escolar (1995).
ocorra na forma tradicional. Será que o tradicional garan- As grandes perguntas que se deve responder ao discu-
te a aprendizagem? Que tipo de aprendizagem atinge-se? tir o planejamento é o quê, para quê, para quem e o como
Nessa visão é comum se ouvir que “professor é aquele que deve ocorrer o trabalho pedagógico na escola? Se hoje o
ensina e não aquele que se preocupa com o método”. Tais caráter redentor da escola não é mais visto como único e
atitudes expressam que há certa confusão do que seja en- verdadeiro é porque se acredita que deva existir uma forma
sinar. O método enquanto concepção vai caracterizar a prá- de planejar o ensino sem que seja reproduzida a situação
tica pedagógica, pois, não é o conteúdo do conhecimento imposta pelo poder dominante. Nessa perspectiva aponta-
que fará isso, mas o meio pelo qual este conhecimento é da, um grupo de professores do qual faço parte, procurou
transmitido, que vai reelaborá-lo, transformando-o em sa- encontrar um meio concreto para que os objetivos propos-
ber conservador ou progressista. tos pela escola fossem alcançados. Uma maneira de realizar
Neste sentido, Fusari chama a prática do planejamen- o planejamento de forma mais coerente com a realidade
to de “ecletismo pedagógico” porque é possível identificar dos professores. Não se trata de mais um ecletismo peda-
num professor cujo discurso é marcadamente progressista, gógico, mas, uma tentativa de se desenvolver o coletivo na
comportamentos bastante conservadores no trato com os escola. Cabe lembrar que a “quebra” de paradigmas cau-
conteúdos do ensino e na própria interação com os alunos. sa um certo desconforto entre os professores. É mais fácil
Não há, assim uma correspondência necessária entre dis- desacreditar do novo do que desconstruir a imagem do
curso e prática pedagógica (1993). velho, do tradicional. Esse está sendo um dos desafios a ser
Há autores que afirmam ter uma diferença entre o enfrentado na prática que se propõe a fazer.
método científico da apreensão da realidade e o método Até o momento descobriu-se que há a certeza de que
de ensino pelo qual a população escolar se apropria do a forma que orientava a elaboração do planejamento não
conhecimento então produzido. Por outro lado, esses au- condizia com a concepção que se tinha da educação e este
tores complementam que em ambos os métodos, há uma foi o motivo que levou o grupo a estudar uma maneira
base comum, porque tratam do método do pensamento. diferente de expressar seu planejamento. Durante a nova
Na maneira pela qual ocorre a obtenção do saber enquan- prática surgiram questionamentos sobre o objetivo do tra-
to objeto de apropriação por parte da população escolar balho, onde se queria chegar com tal prática. Entre as res-
e da não transmissão por parte dos professores, levanta postas está a mais importante: o resgate do conteúdo na
por sua vez a questão educacional, de como se realiza sua escola. Temos procurado perceber quais são efetivamente
apropriação na escola. O “como” tido como a questão do os conteúdos necessários a cada série, pesquisado biblio-
método. Segundo Álvaro Vieira Pinto “as regras do méto- grafias que abordam os conteúdos, para que os mesmos
do indicam ainda o modo segundo o qual se deve operar ficassem claros para os professores sistematizado num do-
experimentalmente sobre o mundo com o propósito de in- cumento o que foi planejado.
vestigá-lo e desentranhar dele seus conteúdos inteligíveis” O diálogo, análise e estudo constante embasam a prá-
(1985). tica e muitos entraves já foram enfrentados: a resistência
O espaço onde ocorre o desenrolar dos conteúdos sis- ao novo, a falta de formação sobre qual a concepção de
tematizados é a sala de aula, Wachowicz faz uma reflexão educação que se procura defender na escola e a dificulda-
sobre esse espaço e diz que mesmo sendo o lugar ao qual de no registro escrito, enquanto instrumento que expressa
jamais chegou o interesse efetivo da maioria dos políticos o pensamento e a realidade humana. As conquistas aos
e administradores, é ao mesmo tempo o suporte para que poucos estão aparecendo, porém este trabalho ainda não
ocorra a educação. Por isso a sala de aula, apesar das in- foi concluído, seus resultados poderão ser sistematizados
terferências da política administrativa e educacional, bem futuramente, já que ao desenvolvê-lo está sendo questio-
como da situação histórico- social do país, ainda pode nada e reelaborada a especificidade da escola enquanto
ser um espaço que possui “a fascinação das coisas vitais” local privilegiado de obtenção do conhecimento. Para que
(1995). Por isso, para dar conta de tornar o conhecimento os objetivos sejam alcançados Fusari afirma que a relação
socializado, o método didático tem que se tornar neces- da especificidade da escola com competência técnica e o
sário, como aquele capaz de fazer o aluno ler criticamente compromisso político do educador poderá contribuir para

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

que o planejamento participativo ocorra. As questões que petência técnica. O que se pretende dizer é que a educação
permeiam o planejamento de ensino não se esgotam aqui, de um povo é determinada pelas necessidades decorrentes
já que a escola está diretamente ligada com a própria his- da forma pela qual ele está organizado para produzir os
tória do ser humano e este faz parte do movimento da rea- meios de vida de que necessita. Por isso, pode - se afirmar
lidade que é dinâmica e sofre constantes transformações. que o que se ensina, o como se ensina, o espaço onde se
As relações educativas, que ocorrem no ambiente es- ensina e os objetivos do ensino são determinados histori-
colar, são diversas e ao mesmo tempo com permanente camente nas relações sociais e econômicas.
construção e reconstrução. Por isso, um relato de uma ex-
periência é limitado, tendo em vista a dinâmica do processo Em tempos modernos um outro aspecto referente à
histórico. No entanto, as certezas construídas no trabalho currículo se destaca: a questão da interdisciplinaridade, e
coletivo, o comprometimento, a clareza da concepção da tem como objetivo principal mostrar que em função da
escola poderão fazer uma prática estar voltada ao compro- rapidez das mudanças em todos os setores da socieda-
misso político e a competência técnica dos envolvidos nes- de atual (científico, tecnológico, cultural ou econômico),
sa realidade. Esta última entendida não como um “dom” e faz-se necessário analisar e repensar o atual modelo de
muito menos como neutra, mas construída e inserida num currículo escolar. Os estudos apontam para um currículo
tempo e num espaço. É necessário questionar não só “o multidisciplinar atual, onde permanece um modelo frag-
que” do saber a ser ensinado na escola, mas também “o mentado, em que há justaposição de disciplinas diversas,
como” se pretende ensinar, pois, a pergunta que deve ser sem relação aparente entre si. Enquanto que no novo mo-
respondida é como se ensina bem? Quem pode afirmar so- delo curricular, de base interdisciplinar, o mundo não é vis-
bre as prioridades de uma escola no que se refere à apren- to de forma fragmentada. As informações, as percepções
dizagem dos alunos? Planejar implica preocupar-se com a e os conceitos compõem uma significação total, comple-
aprendizagem, com a obtenção do conhecimento e como ta. A intenção de analisar o atual currículo escolar, faz-se
ninguém pode dar o que não tem, como ajudar alguém no primeiro momento, no sentido de reorienta-lo rumo
para “conhecer” sem se ter o conhecimento? à nova proposta, pois, quanto mais se acelera a produ-
O domínio do conteúdo é a base sólida que vai deter- ção do saber humano mais se faz necessário garantir que
minar se o trabalho é coletivo ou não. Desta maneira, o pla- não se perca a visão do todo. E, num segundo momento,
nejamento implica discutir a questão como diz Pinto, 1984,
questiona-se que no processo multidisciplinar, presente
“sobre o conteúdo e a forma” da educação. O conteúdo
na escola, desconsidera–se as características e necessida-
entendido como o conjunto de conhecimentos que são
des do desenvolvimento cognitivo do aluno, dificultando
transmitidos pelo professor ao aluno, ou seja, os conheci-
essa percepção do todo. A interdisciplinaridade é apon-
mentos organizados e distribuídos em forma de disciplina
tada nos estudos como sendo uma nova concepção de
curricular. A forma insere os procedimentos ou técnicas de
ensino e de currículo, baseados na interdependência en-
ensino, é ela que define a concepção que um determinado
tre os diversos ramos do conhecimento, a interação e a
trabalho pedagógico assume. É através da forma que se
comunicação existentes entre as disciplinas, levando-se a
percebe na postura de um professor em que é fundamen-
tada a concepção de homem, de educação e de sociedade um conhecimento harmônico e significativo. São levanta-
que se pretende trabalhar. A forma e o conteúdo estão in- das algumas concepções e reflexões sobre a prática inter-
ter-relacionados, um depende do outro, por isso na relação disciplinar, evidenciando-se que a mesma, em seu sentido
conteúdo forma, ao conteúdo cabe o papel determinante, estrito, corresponde a uma interseção estrutural da diver-
porém essa determinação não é absoluta. sidade de conhecimentos ensinados, observando-se tam-
Apesar de alguns teóricos como Fusari afirmarem que bém o papel do educador, seu envolvimento e formação.
o professor possui domínio do conteúdo que ensina e que Esse texto propõe que, por via da ação pedagógica através
mesmo pautado em técnicas e métodos através da meto- da interdisciplinaridade, haja a construção de uma escola
dologia do professor é possível perceber qual é o conteú- participativa, norteada por um Projeto educacional centra-
do ensinado, na prática dos professores é possível detectar do na intencionalidade definida com base nos objetivos
que é justamente aí que está o grande problema. a serem alcançados pelos sujeitos educandos. E que tem
A sociedade mudou, as condições econômicas muda- como propósito a formação do sujeito social apoiada na
ram e estão mudando constantemente, porém, os conteú- mudança de atitude, procedimentos e postura por parte
dos que o professor domina continuam sendo os mesmos dos educadores.
que foram determinados há uma década, ligados ao Cur- A explanação sobre o Currículo em tempos modernos
rículo. Os PCNs contribuíram para que a confusão ficasse - a questão da interdisciplinaridade -aponta para as diver-
ainda pior e em consequência o professor continua sem sas compreensões e argumentações acerca do currículo,
saber o que e como planejar sua ação pedagógica. Embora definindo-o como instrumento de compreensão do mun-
com limites, tenha conseguido desvelar a forma como vem do, inserindo-o como construção social, uma prática que
sendo elaborado o planejamento nas séries iniciais do En- revela seu compromisso com os indivíduos, a história, a
sino Fundamental, nota-se ainda que a construção de um sociedade e a cultura. Avançando nesse sentido de superar
planejamento que garanta o conhecimento acumulado ao uma visão estreita de currículo, são propostas algumas te-
longo da história da humanidade depende, entre outros, máticas que nos parecem pertinentes para contribuir com
também do nosso compromisso político e de nossa com- uma atitude ressignificadora da escola, no sentido de rom-

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

per grades curriculares, à busca de uma identidade social Tanto as técnicas, como o planejamento, as diretrizes e
que expresse as necessidades de nossa época apontando documentos oficiais ligados ao currículo traduzem a pró-
para a importância de uma escola à altura de seu tempo, pria compreensão do significado de escola e das relações
trazendo para si a responsabilidade de investigar as ques- que esta instituição estabelece com a sociedade, na qual
tões postas pela sociedade. está inserida.
Diante das mudanças visíveis nas sociedades contem- Segundo o mesmo autor, as tendências mais atuais do
porâneas levanta-se razões para que se busque uma trans- campo do currículo são no sentido de privilegiar a inserção
formação curricular, diante dos paradigmas que privilegiam deste termo em uma rede conceptual mais ampla e com-
o desenvolvimento de novas competências. plexa sem, no entanto, perder de vista a especificidade do
Em termos de mudanças, destaca-se a necessidade de espaço no qual ele é pensado e produzido.
encaminhar pela via da ação pedagógica, uma recuperação O conhecimento esse produzido num espaço social
do sentido de totalidade, ou seja, um currículo multidis- com funções sociais formativas e normativas, precisa ser
ciplinar com visão fragmentada e deformada do mundo, devidamente considerado. Assumir a não neutralidade dos
para um currículo interdisciplinar onde as informações, conteúdos escolares e suas implicações político-pedagógi-
percepções e conceitos compõem uma totalidade. cas e culturais não autoriza, no entanto, cair em um rela-
Assim, são levantadas algumas concepções e reflexões tivismo radical que permite afirmar que qualquer saber ou
sobre a prática interdisciplinar, trazendo à tona possíveis valor ético-cultural pode e deve ser ensinado nas escolas. (
metodologias para o desenvolvimento da mesma, procu- moreira,1995, p. 28)
rando-se caracterizar a atitude interdisciplinar, questionan- Não se trata de negar a necessidade de selecionar os
do os obstáculos e possibilidades para a sua aplicação. conteúdos escolares, mas sim de explicitar os critérios des-
Uma possibilidade de resposta à questão da interdisci- ta seleção de forma consciente e em sintonia com o projeto
plinaridade, consiste em explicitar a necessidade de inter- de escola e de sociedade no qual se acredita e pelo qual
dependência entre os diversos campos de conhecimento, se luta. A experiência escolar deve encaminhar para uma
apontando algumas características fundamentais para que compreensão crítica e construtiva da realidade, ou seja, o
ocorra uma verdadeira transformação curricular, a qual en- conhecimento só faz sentido , em última instância, quando
volve, desde mudanças de atitude, novas metodologias e contribui para a transformação da sociedade.
procedimentos, passando pelos grandes agentes da mu- Nesse sentido Coll ( 2003, p. 45),afirma que enquan-
dança : os educadores. to projeto, o currículo é um guia para os encarregados de
seu desenvolvimento, um instrumento útil para orientar a
prática pedagógica, uma ajuda para o professor.” Sendo
I – Currículo: perspectivas atuais
assim cabe interrogar-nos sobre as funções que ele deve
À medida que o currículo transformou-se em objeto de
desempenhar. Baseado nessas funções, não pode limitar-se
estudos e críticas mais aprofundados, alguns aspectos im-
a enunciar uma série de intenções, princípios e orientações
portantes da relação escola/sociedade adquiriram relevo.
gerais que sejam de escassa ou nula ajuda para os profes-
Passou-se a compreender o caráter eminentemente políti-
sores. O currículo deve levar em conta as condições reais
co da ação da escola, os vínculos entre educação, currículo
nas quais o projeto vai ser realizado, situando-se justamen-
e sociedade em suas dimensões históricas por natureza e,
te entre as intenções, princípios, orientações gerais, a prá-
portanto, contraditórias; a educação e a escola como pro- tica pedagógica e a sociedade que ele irá atender. A partir
cesso que viabilizam interesses sociais de grupos hegemô- dessa compreensão, pode-se dizer que o currículo imprime
nicos. uma identidade à escola e aos que dela participam. Per-
O currículo se define hoje como instrumento de com- mite, ainda perceber que o conhecimento trabalhado no
preensão do mundo. Basta um breve estudo sobre o que ambiente escolar extrapola os limites de seus muros, uma
tem sido escrito a respeito deste termo para se perceber vez que impulsiona o movimento dialético de (re) criação
que existem diferentes maneiras de compreendê-lo. de um conhecimento escolar para a sociedade , mediante a
De uma concepção tecnicista e reducionista de currícu- ação dos que compartilham a vida escolar, apropriando –se
lo – associada comumente a listagens de conteúdos tidos dos conhecimentos sociais.
como universais e indispensáveis para serem ensinados nas Nesta perspectiva, o currículo tem necessidade de en-
diferentes disciplinas – até a sua percepção como prática caminhar, através da ação pedagógica, uma recuperação
social cotidiana que produz significados e dá sentido ao do sentido de totalidade, ou seja, um todo estruturado, no
mundo, existe uma distância semântica enorme, tradutora qual fatos de qualquer natureza possam ser racionalmente
de diferentes olhares e perspectivas sobre a temática cur- compreendidos. Entram em questão os processos de ino-
ricular. vação curricular como a interdisciplinaridade e a contex-
O currículo está associado à técnica, ao planejamen- tualização.
to do que deve ser ensinado, às inúmeras diretrizes e do- Discutir o currículo é, portanto, debater uma perspec-
cumentos oficiais, ou pensá-lo a partir da ampliação do tiva de mundo, de sociedade e de ser humano. Um debate
campo conceptual e articulá-lo a outros conceitos com a que não se reduz a uma visão tradicional de mudanças de
cultura, representação, poder ou identidade, são posturas conteúdos escolares. Sacristán (2000, p.26 ) remete à im-
e escolhas cujas implicações políticas e pedagógicas são portante reflexão de que “o currículo já é por si o resultado
bem diferentes.(silva, 1995, p.18 ) de decisões que obedecem a fatores determinantes diver-

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

sos: culturais, econômicos políticos e pedagógicos .” Nes- II – Interdisciplinaridade – concepções e reflexões


sa visão sua realização posterior ocorre em um contexto sobre a prática
prático no qual se realizam tipos de práticas pedagógicas Percebe-se então, que o conceito de interdisciplinari-
muito diversas sendo estas a condensação da função social dade vem se desenvolvendo também nas ciências da edu-
e cultural da instituição escolar. cação. A interdisciplinaridade é uma forma de pensar. Pia-
Isso significa, compreender que o currículo escolar tra- get sustentava que a interdisciplinaridade seria uma forma
duz marcas impressas de uma cultura nem sempre visíveis, de se chegar a transdisciplinaridade, etapa que não ficaria
mas que estão latentes nas relações sociais de uma época. na interação e reciprocidade entre as ciências, mas alcan-
Por tudo isso, currículo é ação, é trajetória, é caminho çaria um estágio onde não haveria mais fronteiras entre as
que se constitui para cada grupo, em cada realidade esco- disciplinas.
lar, de forma diferenciada. É, portanto, um processo dinâ- A interdisciplinaridade surgiu no final do século pas-
mico, mutante , sujeito a inúmeras influências. sado, pela necessidade de dar uma resposta à fragmenta-
O currículo é utilizado por diferentes sociedades tan- ção causada por uma epistemologia de cunho positivista.
to para desenvolver os processos de conservação, trans- As ciências haviam se dividido em muitas disciplinas e a
formação e renovação dos conhecimentos historicamente interdisciplinaridade restabelecia, pelo menos, um diálogo
acumulados como, para socializar as crianças e os jovens entre elas, embora não resgatasse ainda a unidade e a to-
segundo valores tidos como desejáveis.( moreira, 2005,p. talidade do saber.( fazenda,2003,p.110 )
11 ) No Brasil, vários educadores têm se interessado pelo
Pode-se afirmar que o currículo é formado não só pelas tema, principalmente a partir das colocações de Hilton Ja-
oportunidades, no sentido de ampliar sua visão de mundo. piassu em Interdisciplinaridade e categoria do saber, sem
Sob esta perspectiva, ele é sempre uma construção social, contudo ocorrer o aprofundamento e a abrangência que
uma prática que revela seu compromisso com os indiví- um estudo dessa natureza requer.
duos, a história, a sociedade e a cultura. De acordo com os PCNs ( Parâmetros Curriculares Na-
Não é preciso ir longe para saber que as experiências cionais ), fica mais claro quando se considera o fato tri-
escolares mudam as pessoas e que as pessoas são capa- vial de que todo conhecimento mantém um diálogo per-
zes de mudar o mundo. O currículo escolar se constitui e manente com outros conhecimentos, que podem ser de
se institui no conflitante campo de debates que intenciona questionamento, de confirmação, de complementação, de
compreender os diversos “fazeres” e “pensares” que reper- negação, de ampliação, de iluminação de aspectos não dis-
cutem no interior da escola. Os estudos curriculares repre- tinguidos.
sentam um poderoso artefato para o movimento de obser- A interdisciplinaridade visa garantir a construção de
vação, reflexão e intervenção na dinâmica escolar. um conhecimento globalizante, rompendo as fronteiras
A exigência interdisciplinar que a educação indica re- das disciplinas. Para isso, integrar conteúdos não seria sufi-
veste-se sobretudo de aspectos pluridisciplinares e trans- ciente. Seria preciso uma atitude e postura intersdisciplinar.
disciplinares que permitirão novas formas de cooperação, Atitude de busca, envolvimento, compromisso, reciproci-
principalmente o caminho no sentido de um policompe- dade diante do conhecimento interdisciplinar.
tência. (fazenda,2003 p.12 ) Normalmente, professores e educadores em geral ex-
É notório que a maioria das sociedades contemporâ- pressam sua compreensão a partir de uma leitura imediata
neas está passando por rápidas mudanças que represen- e linear do próprio termo interdisciplinaridade, reduzindo
tam um grande desafio, sob vários perspectivas. Surge, no -o a uma prática de cruzamento de disciplinas, ou melhor,
mundo do trabalho, um novo paradigma que privilegia o de partes dos conteúdos disciplinares, que eventualmente
desenvolvimento de competências ligadas ao raciocínio ofereçam pontos de contato nas atividades letivas. (casci-
lógico, à capacidade de iniciativa, de cooperação e de au- no, 2000, p. 67 )
tonomia. Nesse aspecto a LDB em seu Art. 22, norteia que Segundo o mesmo autor, nesse caso, tem–se que as
a educação básica, formada pela educação infantil, ensino práticas ditas interdisciplinares aconteçam, geralmente,
fundamental e ensino médio tem por finalidades desenvol- com professores cujas disciplinas possuem a priori afini-
ver o educando, assegurar-lhe a formação comum indis- dades, ou que “coincidam” na organização dos horários de
pensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios aulas, facilitando a “integração” das mesmas disciplinas.
para progredir no trabalho e em estudos posteriores. A imagem de “encontro” de partes do conteúdo que
Sendo assim, a educação torna-se base fundamental se “parecem” revela a existência de uma representação da
do desenvolvimento econômico emergente. Mudam-se interdisciplinaridade bastante precária. Integrar matérias
as relações sociais, as de trabalho, e a educação precisa e / ou conteúdos aos pares, aos trios de “matéria”, como
ser transformada. Diante das novas exigências da socieda- geralmente ocorre nas escolas, indica a precariedade da
de moderna, a ação educativa precisa ser redimensionada reflexão sobre esse conceito-chave para a reconstrução da
dentro do cenário político-econômico e do próprio discur- ideia de educação.
so educacional, pois ambos repercutem na organização do A ação interdisciplinar deverá estabelecer a relação do
trabalho escolar. “ser-no-outro”, aí estaria o ponto de partida para o proces-
so interdisciplinar, a construção de dialogar estruturados
nas diferenças, abraçando a riqueza derivada da diversida-
de.

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

As novas posições de educação requererão a conju- O desconhecimento, o não envolvimento acarreta nos
gação de outros esquemas teórico-didáticos que poderão educadores certo medo de perder prestígio, medo de ver
eventualmente contribuir para as construções interdiscipli- seu saber dividido entre outros e medo de perder seu lugar
nares, baseadas em superações, reformulações, no olhar na instituição. Uma das formas de superar essa situação
atento, na magia das práticas. seria uma redefinição das diretrizes centrais da instituição,
Nesse sentido, as aprendizagens do conhecer, do fazer envolvendo os educadores na proposta de interdisciplinari-
e do ser conduziriam a uma proposta de aprendizagem em dade, prestigiando seu trabalho e valorizando-o.
convivência com situações novas, onde a produção do co- O obstáculo seguinte estaria na metodologia de traba-
nhecimento superaria o acúmulo de informações. lho, na escolha das etapas a serem atingidas, nas condições
A interdisciplinaridade supõe três condições elementa- de trabalho dos componentes da equipe, o estabelecimen-
res: trabalhar em um mesmo objeto de pesquisa, combinar to de regras iniciais e na redefinição da proposta a cada
as linhas metodológicas, definindo uma problemática co- etapa vencida.
mum, e recorrer a conceitos teóricos transversais, estraté- Outro obstáculo refere-se a uma questão maior: for-
gias científicas, trazendo informações úteis à compreensão mação do educador. A resposta a ela é um somatório de
dos problemas estudados, ou seja, trabalhar com base em questões:
projetos. ( silva, 2005, p.27 ) Fazenda ( 2003, p.174 ) , diz” a formação passa sempre
Entende-se que no campo de um projeto, o educador pela mobilização de vários tipos de saber: saberes de uma
poderá articular seu projeto pessoal, existencial, ao projeto prática reflexiva, saberes de uma teoria especializada, sabe-
global da sociedade na qual se encontra. O projeto viabi- res de uma militância pedagógica .”
liza a instauração de um universo de relações sociais onde Poderá o educador engajar-se num trabalho interdis-
se desenvolvem as condições da cidadania e da democra- ciplinar, sendo sua formação fragmentada? Existem condi-
cia, entendidas como dois referenciais dos seres humanos ções para o educador entender como o aluno aprende, se
numa realidade histórica. não lhe foi reservado espaço para perceber como ocorre
Nos projetos educacionais a interdisciplinaridade se sua própria aprendizagem? Que condições terá para trocar
baseia em alguns princípios como a noção de tempo, a re- com outras disciplinas, se ainda não dominou o conteúdo
lação direta e pessoal com a aquisição do saber, o projeto específico da sua ? Poderá entender, esperar, dizer, criar e
de vida, o significado do conteúdo e nas metodologias de imaginar se não foi educado para isso? Buscará a transfor-
mação social se ainda não iniciou o processo de transfor-
trabalho.
mação pessoal?
Os estudos apontam que somente na troca, numa ati-
III – Interdisciplinaridade – obstáculos e possibili-
tude conjunta entre educadores e educandos, visando um
dades
conhecer maior e melhor, que a interdisciplinaridade no
Fazenda ( 1999, p. 17 ),diz que “ o que caracteriza a
ensino ocorrerá como meio de conseguir uma melhor for-
atitude interdisciplinar é a ousadia da busca, da pesquisa :
mação geral, como meio de atingir uma formação de pes-
é a transformação da insegurança num exercício do pensar quisadores e pesquisa, como condição para uma educação
, num construir”. perenemente, como superação da dicotomia ensino/pes-
Segundo a mesma autora, várias barreiras de ordem quisa e como forma de compreender e modificar o mundo.
material, pessoal, institucional poderão ser transpostas Saviani ( 2003, p. 53 ),argumenta que” a interdisciplina-
pelo desejo de inovar, de criar, de ir além para superar bar- ridade é, acima de tudo processo de co-participação, diá-
reiras e dificuldades institucionais e pessoais. A solidão que logo, que caracterizam a integração não apenas das disci-
caracteriza o pensar interdisciplinar pode diluir-se na troca, plinas mas de todos os envolvidos no processo educativo.”
no diálogo, no aceitar o pensar do outro. No entanto, se o objetivo dessa troca for apenas in-
Partindo da constatação de que no ensino, os conhe- tegração dos conteúdos e dos programas das disciplinas,
cimentos são organizados em função das disciplinas, e de sem um questionamento de problemas relativos a clientela,
que estas são um meio cômodo de dividir os conhecimen- à comunidade, aos recursos humanos, materiais e tecnoló-
tos e partes sobre as quais são organizadas experiências gicos, visando uma mudança social, a interdisciplinaridade
de ensino e pesquisa, corre–se o risco de certas disciplinas pode resultar apenas numa rotulação para velhos proble-
ocuparem o centro, posicionando-se frente às demais para mas.
assegurar seu lugar na instituição escolar e a manutenção A ação pedagógica, através da interdisciplinaridade,
de seu poder. Para superar esse obstáculo, a instituição não aponta para a construção de uma escola participativa e de-
poderia reforçar o capitalismo epistemológico de determi- cisiva na formação do sujeito social.
nadas disciplinas, pois ao permitir isso estaria bloqueando Uma interdisciplinaridade no ensino com vistas a no-
a possibilidade de comunicação com o restante do espaço vos questionamentos e buscas supõe uma mudança de
mental, portanto limitando sua própria possibilidade de atitude no compreender e entender o conhecimento, uma
crescer. troca em que todos saem ganhando: alunos, professores e
Certos educadores, entretanto, vêm utilizando–se des- a própria instituição.
se termo sem pensar no seu significado mais profundo se Ao analisar o atual modelo de currículo e evidenciar
referindo ao fato de que, quando o projeto existe os educa- uma nova proposta sobre o mesmo é preciso considerar
dores que irão executá-lo muitas vezes desconhecem o real que um dos grandes problemas da transformação curricu-
significado do mesmo, ou seja, são movimentos de “cima lar é o fato da escola ser uma das instituições sociais resis-
para baixo”. (fazenda, 1999, p.30 ) tentes a mudanças.

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

É evidente, através dos estudos, que modelo multidis- Considerar as razões psicopedagógicas, pensar o co-
ciplinar presente na escola, ainda hoje, desconsidera as ca- nhecimento e o currículo como uma rede de significações
racterísticas e necessidades do desenvolvimento cognitivo e a escola como lugar não apenas de transmissão do saber,
do aluno, dificultando a percepção da inteireza do saber e mas também de sua construção coletiva é de suma impor-
do ser humano, impossibilitando a visão da totalidade. tância.
Quando se coloca a questão da interdisciplinaridade, Conclui-se que o grande passo rumo à nova proposta é
pensa-se logo num processo integrador, articulado, or- a mudança do paradigma de escola e da postura dos pro-
gânico, de tal modo que, em que pesem as diferenças de fessores. A função da escola já não é integrar as novas ge-
formas, de meios, as atividades desenvolvidas levam ao rações ao tipo de sociedade pré-existente, mas tem como
mesmo fim. Sempre uma articulação entre a totalidade e objetivo oferecera o educando uma ideia integrada da vida
unidade. (fazenda, 2003, p.42 ). e das relações dos seres vivos entre si e a natureza, pois o
Quanto mais se acelera a produção do saber, mais se mundo não está dividido em física, química ou biologia.
faz necessário garantir que não se perca a visão do todo. É preciso rever o funcionamento da escola não só
Mas, na prática, o que vemos acontecer é a simples coor- quanto a conteúdos, metodologias e atividades, mas quan-
denação de matérias, garantindo-se assim, a integração to à maneira de tratar o aluno e comportamentos que deve
vertical. estimular: auto expressão, auto valorização, co-responsa-
O novo modelo curricular, de base interdisciplinar exi- bilidade, curiosidade e autonomia na construção do co-
ge uma nova visão de escola criativa, ousada e com um nhecimento. Entre outros, somados a uma administração e
nova concepção onde não haja divisão do divisão do saber. metodologia participativa.
Num currículo multidisciplinar os alunos recebem in- É necessário que se dê atenção ao estágio em que o
formações incompletas e têm uma visão fragmentada e corpo docente de uma escola se encontra, em relação ao
deformada do mundo. Num currículo interdisciplinar as processo interdisciplinar, e motiva-lo a expressar e discutir
informações, as percepções e os conceitos compõem uma em conjunto os problemas principais do ensino e seus es-
totalidade de significação completa e o mundo já não é forços, sob a ótica da elaboração globalizadora do conhe-
visto como um quebra-cabeça desmontado. cimento. (luck, 1994, p.34 )
A ideia de um currículo interdisciplinar, mesmo sendo Uma prática interdisciplinar exige mudanças de atitu-
de, procedimento, postura por parte dos educadores, den-
muito sido discutida, com a introdução dos PCNs ( Parâ-
tre elas: historicizar e contextualizar os conteúdos, valorizar
metros Curriculares Nacionais ), ainda não alcançou a sala
o trabalho em parceria, desenvolver a atitude de busca,
de aula ou o contexto escolar, de um modo geral. Há uma
pesquisa, trabalhar com pedagogia de projetos, definir
confusão em relação ao que seja a interdisciplinaridade. Ela
base teórica, dinamizar a coordenação de área e resgatar o
ainda é vista apenas como a integração das disciplinas de
sentido humano, o mais profundo e significativo eixo da in-
conteúdo escolar e não como a superação dessas frontei-
terdisciplinaridade – perguntando-se a todo momento em
ras através da criação de uma equipe interdisciplinar, em
que tal conteúdo contribui para que os alunos se tornem
que as atitudes dos membros, ainda que representando
mais humanos,/–se, assim, a proposta da interdisciplinari-
sua respectiva área de conhecimento, colabore para o enri- dade. Porém, não se pode ignorar sobre as atuais condi-
quecimento do grupo. ções dos trabalhadores da educação e suas preocupações
Avançar para um currículo interdisciplinar significa co- com as questões comuns do cotidiano escolar.7
meçar a pensar interdisciplinarmente, isto é, ver o todo,
não pela simples somatória de que tudo sempre está em Teorias do Currículo
tudo, tudo repercute em tudo, permitindo que o pensa- O currículo escolar abrange as experiências de apren-
mento ocorra com base no diálogo entre as diversas áreas dizagens implementadas pelas instituições escolares e que
do saber. deverão ser vivenciadas pelos estudantes. Nele estão conti-
Enquanto instituição social, a escola é sempre orien- dos os conteúdos que deverão ser abordados no processo
tada pelo tipo de homem que deseja formar. Portanto, o de ensino-aprendizagem e a metodologia utilizada para os
século XXI exige um novo modelo de escola, pois fragmen- diferentes níveis de ensino.
tando-se o conhecimento, fragmenta-se o próprio homem Ele deve contribuir para construção da identidade dos
( o aluno e o professor ) , que ficam então fragilizados e são alunos na medida em que ressalta a individualidade e o
facilmente dominados. contexto social que estão inseridos. Além de ensinar um
A rapidez das mudanças em todos os setores da socie- determinado assunto, deve aguçar as potencialidades e a
dade atual, o acúmulo de conhecimentos, as novas exigên- criticidade dos alunos.
cias do mercado de trabalho, têm apontado para a necessi- Nessa perspectiva, a função da teoria curricular é com-
dade de uma revisão didático-pedagógica no processo de preender e descrever fenômenos da prática curricular. É
educação escolar. através da teoria que teremos a compreensão do objeto e
Essa nova concepção de ensino e de currículo, baseada intenções de um determinado grupo social. Temos como
na interdependência entre os diversos campos do conhe- teorias do currículo:
cimento, deve realmente superar o modelo fragmentado e
compartimentado da estrutura curricular fundamentada no 7 Fonte: www.webartigos.com – Por Vera Nilse Pe-
isolamento dos conteúdos. reira

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

• Teorias tradicionais: ela tem como objetivo princi- Diferentemente da Psicologia da Educação/Educacio-
pal preparar para aquisição de habilidades intelectuais atra- nal, a Psicologia Escolar é definida pelo âmbito profissional
vés de práticas de memorização. Esse tipo de currículo teve com um campo de ação determinado, ou seja, é a escola e
origem nos Estados Unidos e tem como base a tendência as relações que aí se estabelecem; baseia sua atuação nos
conservadora, baseada nos princípios de Taylor, esse que fundamentos teóricos adquiridos através da Psicologia da
igualava o sistema educacional ao modelo organizacional Educação e por outras subáreas da psicologia necessárias
e administrativo das empresas. para o desenvolvimento das atividades (ANTUNES 2007,
• Teorias críticas: argumenta que não existe uma apud BARBOSA, 2012 p. 163 – 173).
teoria neutra, já que toda teoria está baseada nas relações O autor nos diz ainda que a Psicologia Educacional e a
de poder. Isso está implícito nas disciplinas e conteúdos Psicologia da Escolar estão intimamente relacionadas, mas
que reproduzem a desigualdade social que fazem com que não são iguais, não podendo reduzir-se uma à outra, pois
muitos alunos saem da escola antes mesmo de aprender cada uma possui sua autonomia. A primeira é a área do
as habilidades das classes dominantes. Percebe o currículo conhecimento que tem como objetivo compreender os fe-
como um campo que prega a liberdade e um espaço cultu- nômenos psicológicos envolvidos no processo educativo.
ral e social de lutas. A outra é considerada um campo de atuação profissional,
• Teorias pós-críticas: nessa perspectiva o currí- sendo possível realização de intervenções no espaço esco-
culo é tido como algo que produz uma relação de gêne- lar ou a ele relacionado.
ros, pois predomina a cultura patriarcal. Essa teoria critica Segundo Santrock (2010, p. 2) “ a psicologia é o estudo
a desvalorização do desenvolvimento cultural e histórico científico do comportamento e dos processos mentais. A
de alguns grupos étnicos e os conceitos da modernidade, Psicologia Educacional é o ramo da psicologia dedicado à
como razão e ciência. Outra perspectiva desse currículo é compreensão do ensino e da aprendizagem no ambiente
a fundamentação no pós-estruturalismo que acredita que educacional”. Temos então uma área muito abrangente que
o conhecimento é algo incerto e indeterminado. Questiona quando descrita em seus mínimos detalhes pode nos ren-
também o conceito de verdade, já que leva em considera- der um livro com milhares de páginas.
ção o processo pelo qual algo se tornou verdade. Mesmo com esta íntima relação entre psicologia e edu-
É por causa dessa divergência entre as teorias curri- cação Bock (2003, p. 78) afirma que nem sempre foi assim:
culares que a escola deve procurar discutir qual currículo Enquanto a concepção dominante, na educação oci-
ela quer adotar para se chegar ao objetivo desejado. Essa
dental, foi a chamada Escola Tradicional, não houve ne-
escolha deve ser pensada a partir da concepção do seu
cessidade de uma Psicologia para acompanhar a prática
Projeto Politico Pedagógico, esse que deve fundamentar a
educativa. A Psicologia só se tornou necessária quando
prática teórica da instituição e as inquietudes dos alunos.8
o Movimento da Escola Nova revolucionou a educação e
construiu demandas específicas para a psicologia do de-
senvolvimento e da aprendizagem.
AS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA DA A autora explica que a Educação Tradicional compreen-
EDUCAÇÃO PARA A PEDAGOGIA: IMPLICAÇÕES de experiências e concepções pedagógicas que a caracteri-
zam e de certa forma orientaram a educação desde o sécu-
PARA A MELHORIA DO ENSINO E PARA AÇÕES
lo XVIII até o século XX. Processos educativos que tiveram
MAIS EMBASADAS DA AÇÃO PROFISSIONAL espaço principalmente nas escolas religiosas.
DOCENTE NO ALCANCE DO QUE SE ENSINA Esta concepção tradicional pensou na educação como
AOS INDIVÍDUOS. um trabalho de desenraizamento do mal natural do ser hu-
mano. Acreditava-se que o homem nascia dotado de uma
natureza humana dupla: uma parte era corrompida pelo
De acordo com Antunes (2007 apud BARBOSA 2012 p. pecado original e a outra era considerada essencial, consi-
163 – 173) a Psicologia Educacional pode ser descrita como deravelmente boa e construtiva.
uma subárea da psicologia que é considerada uma área de À educação cabia somente desenvolver a parte boa do
conhecimento a qual entendemos como corpus sistemático ser humano, impedindo que a parte corrompida se mani-
e organizado de saberes científicos, produzidos de acordo festasse nas pessoas, e para isso utilizou-se o instrumento
com procedimentos definidos, referentes à determinados básico do saber. O conhecimento era visto como único ins-
fenômenos ou conjunto de fenômenos constituintes da trumento capaz de dar ao homem o autocontrole neces-
realidade, fundamentado em questões ontológicas, episte- sário para aquilo que é ruim no homem fosse controlado.
mológicas, metodológicas e éticas determinadas. É impor- A Pedagogia da Escola tradicional já recebia o aluno
tante considerarmos as diversas concepções, abordagens e como um ser humano corrompido. Suas ações no am-
teorias que constituem esta área de conhecimento. biente escolar de certa forma demonstravam isto: alunos
Assim podemos afirmar que a Psicologia da Educação inquietos, ora curiosos, ora destrutivos, indisciplinados, se
ou Psicologia Educacional é uma subárea de conhecimen- deixados sozinhos, sem regras e sem vigilância. Perversos,
to, que tem como vocação a produção de saberes relativos com hábitos inaceitáveis como pegar as coisas dos outros
aos fenômenos psicológicos constituinte do processo edu- indevidamente, masturbar-se, não respeitarem os mais ve-
cativo. lhos e autoridades, não cumprir com as tarefas e respon-
8 Fonte: www.infoescola.com sabilidades.

31
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Estes alunos deveriam ser expostos a um modelo de ser estimuladas a pensar e também a se adaptar ao seu
aperfeiçoamento humano para poderem desenvolver sua ambiente fora da escola, as crianças devem aprender a se-
parte da natureza humana essencial. Este modelo era de- rem mais autônomas e solucionadoras de problemas de
senvolvido pelos professores e alguém escolhido para dar maneira reflexiva. Para Dewey toda criança merece ter uma
nome à escola e que deveria ser cultuado e seus feitos de- educação de qualidade sem diferenciação de classe, raça
veriam ser divulgados aos alunos para que eles conheces- ou sexo, ele lutou para que todas as crianças de uma ma-
sem e soubessem sempre que modelo a seguir. Por isso, as neira geral tivessem uma educação competente.
escolas públicas sempre levam o nome de alguém (geral- Thorndike, outro percursor da Psicologia Educacional
mente de um homem) considerado aprimorado pela cultu- enfocou a avaliação e a mediação e promoveu os princí-
ra (BOCK, 2003). pios básicos e científicos da aprendizagem. Argumentou
Esta escola era regida ainda por outros princípios, con- que uma das tarefas mais importantes da escola é a de
forme nos cita Bock (2003): disciplinas e regras rígidas para desenvolver as habilidades de raciocínio das crianças, se
que os alunos pudessem ir corrigindo seus desvios. Princí- diferenciando ao fazer estudos científicos aprofundados
pios e códigos morais eram estabelecidos, impostos, divul- e precisos sobre o ensino e aprendizagem (BEATTY, 1998
gados e repetidos exaustivamente. Deveriam a ser apren- apud SANTROCK 2010, p. 3). Promoveu também a ideia de
didos a qualquer custo, e para garantir que os resultados que a Psicologia Educacional deve ter uma base científica
fossem alcançados, eram contratados vigilantes disciplina- e deve enfocar principalmente a mediação. (O’DONNEL e
res como agentes educacionais da escola. LEVIN 2001 apud SANTROCK 2010, p.3).
Para que a Psicologia? Na verdade não havia necessi- Discutindo sobre o início da Psicologia da Educação,
dade alguma de qualquer conhecimento sobre o ser huma- nos deparamos com as diversas transformações que ocor-
no e seu desenvolvimento, de modo que já se sabia tudo reram no mundo através dos anos. Segundo Bock (2003,
sobre a natureza corrompida e também já se sabia de seu p. 81) “as grandes guerras trouxeram uma valorização da
potencial para criar, cooperar, ser honesto, desenvolver re- infância, tomada como o futuro. A escola também respon-
lações estáveis e saudáveis, respeitar a autoridade, ser inte- deu a estas novas ideias com a proposta da Pedagogia da
lectualmente aprimorado e ser dotado de coerência. Escola Nova, que se pôs no avesso às ideias da Escola Tra-
O campo da Psicologia Educacional foi criado por dicional”. A criança passou a ser vista como naturalmente
boa. Sua natureza humana era dividida em duas: a parte
grandes estudiosos e pioneiros da Psicologia no final do
boa, que vinha desde o nascimento e a outra corruptível. A
século IX. Os três principais pioneiros de destaque no iní-
escola passou a ter a responsabilidade de manter a criança
cio da história da Psicologia Educacional são Willian James,
na bondade e na espontaneidade que a caracterizavam.
John Dewey e Edward Lee Thorndike. James lançou um li-
A escola passou a ser espaço de liberdade e comunica-
vro intitulado Principles of Psychology e ministrou diversas
ção, lugar onde a criança poderia manifestar sua afetivida-
palestras através de uma série intitulada Talks to Teacher,
de expressa como carinho ou agressividade; sua criativida-
em que discutia as aplicações da psicologia na educação
de expressa como construção ou destruição; sua liberdade
de crianças, argumentando que os experimentos laborato- expressa como obediência ou rebeldia. Todas as atitudes
riais em psicologia muitas vezes não conseguem nos dizer, infantis foram tomadas de maneira naturais, como boas
de maneira eficiente, como ensinar as crianças. Enfatizou e desejáveis. Mas é importante destacar que a escola se
ainda a importância de se observar o processo de ensino/ manteve atenta e vigilante no que diz respeito ao desen-
aprendizagem em sala de aula para aprimorar a educação, volvimento psíquico da criança.
trazendo como recomendação que os professores iniciem Os chamados vigilantes disciplinados foram substituí-
as aulas em um ponto além do nível de conhecimento e dos por vigilantes do desenvolvimento pedagogos e psi-
compreensão da criança a fim de desenvolver a mente de- cólogos. As regras foram extintas, permaneciam somente
las (SANTROCK, 2010). aquelas construídas pela equipe da escola. Nenhuma preo-
De acordo com Santrock (2010), John Dewey por sua cupação com a disciplina, pois na bagunça se visualizava
vez tornou-se a força motriz da aplicação na prática da psi- o interesse pelo saber, pela construção coletiva, pela troca
cologia. Estabeleceu o primeiro e mais importante labora- (BOCK 2003).
tório de Psicologia Educacional nos EUA, mas precisamente No que se refere à comunicação na Escola Nova esta
na Universidade de Chicago no ano de 1894, continuando era prioridade. O professor foi colocado em uma posição
seu trabalho inovador na Universidade de Colúmbia. Muitas modesta sem grande influência, afinal era um representan-
ideias importantes partiram deste teórico, nos mostrando te dos adultos, visto sempre como um mundo corrompido.
que a criança é um ser em constante e ativa aprendizagem. O professor passou então a ter a função de organizador
É importante destacar que antes de Dewey, as pessoas das condições de aprendizagem, devendo prover materiais
acreditavam que as crianças deviam permanecer senta- e situações que propiciem o aprendizado.
das e em silêncio de modo que aprendiam passivamente e As técnicas pedagógicas se tornaram ativas. Alunos em
de uma maneira mecânica, em contraste a esta crença ele atividades constantes, vivendo a satisfação do aprendizado
trouxe que as crianças aprendem realizando. e da descoberta (BOCK 2003).
O teórico nos traz ainda mais uma contribuição, afir- Bock (2003) considera que as escolas já não faziam
mando que a educação deve focar a criança em sua to- culto à grandes homens e, portanto mudaram seus nomes
talidade enfatizando também a adaptação da criança ao aproveitando ideias ou símbolos de grupalização , troca,
ambiente, elas devem ser educadas de modo que possam descobertas, jogos ou termos que fizessem referência à in-

32
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

fância. A cultura, como saber, continuou a ser instrumento nais, habilidades do século XXI, paradigma holístico, currí-
básico de trabalho, mas agora o mais importante era es- culo socioemocional e abordagem transversal tornaram-se
timular perguntas e não mais formular respostas que na recorrentes nos debates educacionais mobilizados pelos
verdade não respondiam nenhuma delas, como na Escola diferentes sistemas de ensino, especialmente no período
Tradicional. Curiosidade, interesse, motivação, experiência, em que estivemos envolvidos nas questões atinentes à
eram palavras muito importantes no vocabulário da Escola base nacional comum curricular. Que racionalidades gover-
Nova. namentais operam na implementação dessas políticas de
Fonte: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/ currículo? Quais sentidos de conhecimento escolar e for-
artigos/idiomas/psicologia-da-educacao-conceitos-objeti- mação humana são engendrados no interior dessa trama
vos-funcoes-e-finalidades/37945 discursiva? Como as propostas curriculares são ressignifi-
cadas no contexto das competências socioemocionais?
Com essas interrogações, organizamos o presente ar-
tigo em três seções. Na primeira, produzimos um breve
OS CONHECIMENTOS SOCIOEMOCIONAIS diagnóstico das possíveis articulações entre infância, es-
NO CURRÍCULO ESCOLAR: A ESCOLA COMO colarização e neoliberalismo, valendo-nos de uma abor-
dagem pluralista para o estudo das políticas educacionais.
ESPAÇO SOCIAL.
(TELLO; MAINARDES, 2015). A seguir, na segunda seção,
exploramos alguns desdobramentos subjetivos da teoriza-
ção contemporânea nomeada como Big Five, inspiradora
Uma revista informativa brasileira, no mês de abril de das atuais reformas com ênfase nas competências socioe-
2015, apresentou uma entrevista com James Heckman, mocionais. Por fim, a partir da implementação de uma ex-
Prêmio Nobel de Economia no ano de 2001. Entretanto, periência colocada em ação no Rio de Janeiro, analisamos
diferentemente do que se possa imaginar, as páginas jor- a promoção de currículos socioemocionais centrados nas
nalísticas não traziam elementos vinculados à área estri- competências no século XXI.
tamente econômica, mas ampliavam seu campo de inter-
venção para pensar a educação das crianças de nosso País. Infância, escolarização e neoliberalismo: um diag-
Heckman (2015)3, na referida entrevista, assumia como um nóstico
de seus posicionamentos que “tentar sedimentar num ado- Pesquisas internacionais de longo prazo sobre progra-
lescente o conhecimento que deveria ter sido apresentado mas de educação para crianças pobres insistem em eviden-
a ele dez anos antes custa mais e é menos eficiente”. Mais ciar que intervenções precoces são eficientes, porque au-
que evidenciar um conjunto de pressupostos para pensar mentam significativamente os resultados em avaliações de
as políticas de escolarização, a partir do engendramento larga escala e a probabilidade de que o estudante complete
de uma matriz econômica, a entrevista com o professor da o ciclo educacional básico. Além disso, tais programas são
Universidade de Chicago enuncia uma racionalidade po- apontados como promotores da redução da retenção es-
lítica contemporânea que posiciona a educação escolar colar, do tempo de permanência dos estudantes em classes
como objeto de intervenção governamental, equacionada especiais, da criminalidade, das taxas de natalidade e da
enquanto um investimento econômico. delinquência entre os jovens. (CUNHA et al., 2005). Pesqui-
Todavia, o referido texto não é uma elaboração oca- sadores como James Heckman. (CUNHA; HECKMAN, 2011;
sional. Em uma significativa trama governamental, são HECKMAN, 2006, 2008), anteriormente referido, defendem
inúmeros os institutos, organizações não governamentais, a eficiência econômica da Educação Infantil e a importância
agências multilaterais, atores políticos e grupos educa- de programas de educação da primeira infância como solu-
cionais que operam na difusão desses princípios. (SHO- ção dos diversos problemas de ordem econômica, política
RE; WRIGHT, 1997; PENN, 2002; BALL, 2014). Evidencia-se, e social que afetam os países em desenvolvimento. Desse
em nosso tempo, uma difusão de modelos de currículos modo, a inclusão da população infantil de baixa renda em
socioemocionais que tomam a infância como alvo privile- programas de educação, conforme Fumagalli (2010), visa
giado para o investimento econômico. Mais uma vez re- assegurar as condições básicas de sobrevivência dos indi-
correndo a Heckman (2015), as próprias famílias passam a víduos e, ao mesmo tempo, incluí-los no jogo do mercado,
ser reposicionadas no interior dessa lógica política. Em suas gerenciando e minimizando os riscos que aqueles cobertos
palavras, “elas indicam que qualquer tipo de intervenção por tais políticas representam para si mesmos, para os ou-
que consiga despertar o interesse dos pais e fazê-los es- tros e para o Estado.
timular, desde cedo, o aprendizado cognitivo e emocional De acordo com Penn (2002), os preceitos de interpre-
dos filhos tem excelente custo-benefício”. Pensar a escola- tação e de práticas modeladas para crianças nos Estados
rização em termos de investimentos econômicos sobre a Unidos são divulgados de forma indiscriminada como per-
vida nos inquieta, do ponto de vista investigativo. feitamente legítimos para o mundo majoritário (subdesen-
Ao colocarmos em exame os regimes de implementa- volvido do Sul, do Terceiro Mundo). Para a referida autora,
ção das políticas curriculares em curso em determinadas os pesquisadores alegam que a única evidência e expe-
regiões de nosso país, imediatamente encontraremos a riência válida provém dos Estados Unidos, pois defendem
proliferação de uma nova gramática formativa. (NASCI- a ideia de que ninguém mais testou os pressupostos relati-
MENTO, 2013). Noções como competências socioemocio- vos à primeira infância com a mesma intensidade que eles

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

– desconsiderando que outros países possam não conside- a Lei nº 11.114, de 16 de maio de 2005, instituiu o início
rar válida ou necessária a operacionalização de programas da obrigatoriedade do Ensino Fundamental aos 6 anos. A
de intervenção precoce para justificar gastos com crianças ampliação do Ensino Fundamental de oito para nove anos
pequenas. Fundamentada na confluência dos estudos da de duração, de acordo com Correa (2011), ocasionou mu-
neurociência e da economia que tomam como parâme- danças no currículo da pré-escola e, em muitos casos, uma
tro um modelo universal de desenvolvimento humano, os intensificação precoce do processo de escolarização das
argumentos apresentados nos estudos dos economistas crianças na Educação Infantil.
estão disseminando-se através dos documentos produzi- Argumentando na mesma linha analítica, Moss (2011)
dos pelo Banco Mundial e tornando-se referência para o destaca que o modelo de prontidão para a escola está im-
planejamento e a operacionalização de políticas de Edu- plicado em uma lógica que define a educação das crianças
cação Infantil em diversos países. Todavia, conforme Moss como estratégia de retorno econômico. Conforme o autor,
(2011), o que chama a atenção é o fato de que, nos Estados tal modelo não é recente, mas tem acentuado os argumen-
Unidos, país no qual emergiram os estudos de intervenção tos de pesquisadores da área da economia sobre a impor-
precoce4, na década de 1960, as taxas de pobreza entre as tância do investimento na pequena infância. Isso porque o
crianças estavam 22% mais altas em 2010 do que em 1965, saber decorrente da expertise econômica possibilita adotar,
quando se iniciaram os programas citados pelos pesqui- no campo da intervenção governamental, técnicas e es-
sadores. tratégias que objetivam governar os homens e as coisas.
Nas análises econômicas, de acordo com Esping-An- (FOUCAULT, 2008).
dersen (2007), a infância que está à margem das condições Além disso, no que diz respeito à preocupação com a
de vida consideradas produtivas pelo Estado neoliberal preparação das crianças para o Ensino Fundamental e, de
é considerada um risco social que demanda intervenção, modo correlato, para as avaliações em larga escala (Provi-
acompanhamento e avaliação. Por esse motivo, as crianças nha Brasil, Prova Brasil, dentre outros) comumente utiliza-
oriundas de famílias de baixa renda têm sido vistas como das em nosso país, temos também evidenciado a contrata-
capital humano a ser desenvolvido em termos de conheci- ção de sistemas privados de ensino por redes educacionais
mentos específicos, habilidades e destrezas. públicas e a adoção de apostilas para o trabalho pedagógi-
Corroborando o argumento, Nascimento (2013) des- co das diferentes etapas da Educação Básica. Esse trabalho
taca que os analistas econômicos têm defendido o inves- pedagógico apostilado, segundo Nascimento (2012), não
timento em Educação Infantil como promotor de vanta- atende às proposições das Diretrizes Curriculares Nacio-
gens para as classes de baixa renda, devido à ampliação nais, caracterizando-se fundamentalmente como “curso
do tempo que as famílias têm, enquanto os filhos estão preparatório” para as etapas posteriores da escolarização.
na escola, para se dedicarem ao trabalho e gerarem renda. A Emenda Constitucional nº 59, de 11 de novembro de
Desse modo, é possível observar, por meio das políticas de 2009, tornou obrigatória a matrícula de crianças de 4 e 5
escolarização contemporâneas, que os investimentos em anos, o que também foi modificado na Lei de Diretrizes e
capital humano infantil estão se efetivando predominante- Bases da Educação pela Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013.
mente por meio da educação da criança desde a mais tenra Nesse sentido, a Emenda Constitucional aponta para uma
idade, tendo em vista a preparação de indivíduos capaci- ruptura da Educação Infantil entre 0 e 3 anos e 4 e 5 anos, o
tados para uma atividade laboral futura. (LUPTON, 1999). que causa um impacto negativo na oferta de atendimento
O argumento central utilizado de modo recorrente pe- às crianças menores. Conforme Rosemberg (2010), o aten-
los pesquisadores é que uma educação de qualidade pos- dimento de 0 a 3 anos no Brasil é muito deficitário, e, com
sibilita a formação de pessoas mais eficientes economica- a emenda, corre-se o risco de que esse déficit seja amplia-
mente, pois tem efeitos diretos sobre fatores socioeconô- do através de conveniamentos, terceirizações e incentivo
micos, como o aumento de emprego, renda e escolaridade ao desenvolvimento de programas de ação familiar. Outro
e a redução de riscos, como o número de gestações inde- ponto de grande impacto a ser considerado é a probabili-
sejadas, de atitudes violentas, dentre outros aspectos que dade de escolarização precoce das crianças de 4 e 5 anos, a
trazem prejuízos ao desenvolvimento dos países. As contri- partir do aumento do número de crianças por sala de aula
buições decorrentes do investimento educacional realiza- para garantir o atendimento e a antecipação do currículo
do, conforme Heckman (2006, 2008) e Cunha e Heckman desenvolvido no Ensino Fundamental.
(2011), aumentam indefectivelmente a renda nacional, a Reafirmando a obrigatoriedade da Educação Infantil a
redução dos níveis de pobreza e a menor necessidade de partir dos 4 anos de idade, o novo PNE (2011-2020), em
programas sociais compensatórios. sua primeira meta, apresenta o propósito de universaliza-
Desse modo, a partir de uma formalização cada vez ção do ensino escolar da população de 4 e 5 anos até 2016
maior das políticas para a educação no Brasil, em 2001 foi e a ampliação do atendimento das crianças de até 3 anos,
aprovado o primeiro Plano Nacional de Educação (PNE), de forma a cobrir 50% dessa população. Além disso, vale
para o período de 2001 a 2010, previsto na Constituição mencionar que o novo PNE apresenta como uma das estra-
Federal. (BRASIL, 1988). O primeiro PNE previu a ampliação tégias da Meta 1 “[...] avaliar a Educação Infantil com base
do atendimento da Educação Infantil e a extensão da esco- em instrumentos nacionais, a fim de aferir a infraestrutura
laridade obrigatória para crianças de 6 anos de idade. Em física, o quadro de pessoal e os recursos pedagógicos e
2006, as crianças de 6 anos de idade foram transferidas da de acessibilidade empregados na creche e na pré-escola”.
Educação Infantil para o Ensino Fundamental, uma vez que (CORREA, 2011, p. 107).

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Tal estratégia, de acordo com Nascimento (2013), gerou passou a focar sua atenção na população, através da defi-
várias controvérsias, pois serviu de justificativa para a Se- nição de objetivos a serem alcançados e da proposição de
cretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), órgão diretamente ações que visavam potencializar as ações produtivas, iden-
vinculado à Presidência da República, aplicar uma avaliação tificando os problemas e minimizando-os por intervenções
de larga escala (ASQ-3) na cidade do Rio de Janeiro, tendo que buscavam a organização dos indivíduos de modo mais
em vista a aferição do desenvolvimento das crianças e a eficaz (LUPTON, 1999). A primeira estratégia vinculou-se à
qualidade dos serviços prestados por instituições públicas elaboração de “dispositivos de inscrição”. (MILLER; ROSE,
de Educação Infantil5. 2012, p. 84). Mediante a operacionalização desses dispo-
Esse instrumento tomou como padrão normativo de sitivos, as informações sobre a população passaram a ser
excelência de desenvolvimento a classe média branca es- traduzidas em debates e diagnósticos, tornando as realida-
tadunidense. Os resultados da avaliação realizada aponta- des comparáveis.
ram que 26% das crianças cariocas submetidas aos testes Miller e Rose (2012, p. 85) assinalam que as formas de
se encontram em desvantagem em relação aos seus pares inscrição da realidade passaram a se constituir como “cen-
estadunidenses. No site da SAE, ainda, foi apresentado um tros de cálculo”. Isso porque as informações inscritas em
ranking das creches que obtiveram os “melhores” resulta- determinadas racionalidades governamentais adquirem
dos em termos de desenvolvimento das crianças. intensa potencialidade quando calculadas. No caso deste
Sem dúvida alguma, tratou-se de uma interpretação artigo, esse sentido político atribuído à inscrição e ao cál-
economicista da educação, baseada em parâmetros pro- culo possibilita pensar como uma racionalidade específica
duzidos no contexto estadunidense do que seja uma Edu- do nosso tempo – o investimento no desenvolvimento de
cação Infantil de qualidade, a qual, devido à crítica dos pes- competências socioemocionais – organiza determinadas
quisadores do campo da Educação Infantil no Brasil, não foi formas de conduzir as condutas dos sujeitos e das popula-
levada adiante enquanto política de avaliação das crianças. ções, possibilitando o planejamento de estratégias relativas
Esses parâmetros são criticados por Penn (2002) e Moss à gestão de fatores de risco que podem ser desencadeados
(2011) quando afirmam que os Estados Unidos dispõem de pela falta de investimento em tal campo. Essas estratégias,
um dos mais desiguais e injustos sistemas de Educação In- conforme apresentaremos posteriormente, são planejadas
fantil do mundo. Corroborando o argumento apresentado, sob a justificativa de que o risco social de “produzir” cida-
Shore e Wright (1997) indicam, por meio de suas pesqui- dãos que não tenham competências socioemocionais de-
sas, quais pressupostos e práticas neoliberais estão sendo senvolvidas, além de gerar altos custos para o país, torna
reportados para os países em desenvolvimento, a partir da uma parcela da população dependente da tutela do Estado
para resolver seus problemas.
implantação de modos particulares de governar. As autoras
Como destacaremos nos documentos a serem analisa-
destacam ainda que, frente à existência dos problemas so-
dos, a educação é significada nas análises dos experts do
ciais contemporâneos, as políticas introduzem formas par-
campo da economia como um espaço de intervenção que
ticulares de definir e de solucionar os problemas sociais. Do
deve ser conhecido e administrado por meio de programas
ponto de vista dos investimentos subjetivos, como eviden-
governamentais, como é o caso da proposição de currícu-
ciaremos na próxima seção, constatamos uma ênfase nas
los socioemocionais. Isso porque é o caráter calculável da
teorizações nomeadas como Big Five.
população que passa pela escola que enseja a possibilidade
de intervenções cada vez mais precisas, dirigidas à miríade
Big Five: novos investimentos subjetivos de problemas que afetam a vida das crianças e jovens. Isso
Do ponto de vista da fabricação das subjetividades con- ocorre, conforme O’Malley (1996), Lupton (1999) e Bujes
temporâneas, para ampliar as formas de abordagem das (2010), porque a noção de risco e as práticas dela derivadas
racionalidades governamentais que, em nossa perspectiva, estão associadas à sociedade de segurança, a qual permite
operam em rede e das possibilidades de capitalização de inserir determinados fenômenos dentro de uma série de
vida através da inovação, importa trazer as contribuições acontecimentos prováveis.
de Miller e Rose (2012). Seria conveniente pensarmos nos Pode-se depreender, então, que os dispositivos de ins-
modos pelos quais as questões da inscrição e do cálculo se crição se tornaram o terreno comum das formas contem-
tornam tecnologias de governo. porâneas de racionalidade política, orientando, de acordo
Com a emergência da estatística, no decorrer do século com Foucault (2008), Miller e Rose (2012), as tarefas dos
XVIII, passamos a representar de diferentes formas os obje- governantes em termos de supervisão e maximização cal-
tos a serem governados. A estatística foi considerada o co- culada das forças da sociedade a partir do processo de
nhecimento das forças e dos recursos que caracterizavam escolarização de crianças e jovens. Além disso, é evidente
o Estado, como, por exemplo, conhecimento da população o imperativo de que sejam inventados indivíduos, desde
(número de indivíduos, de mortos, de nascidos), estimativa a infância, com mais habilidades e flexibilidade para mu-
da riqueza dos indivíduos, das diferentes categorias de in- danças, de forma que possam se tornar adultos produtivos,
divíduos, das riquezas que o Estado possuía, entre outros participantes do jogo do consumo e empreendedores de si
aspectos que passaram a ser o conteúdo essencial do saber mesmos. (LÓPEZ-RUIZ, 2007; GADELHA, 2009).
do soberano. (SENRA, 2005). As questões relativas à saúde, A partir do argumento apresentado, é evidente que a
à longevidade, à educação e à capacidade produtiva da po- população escolar pobre se torna o centro das ações de
pulação, enquanto coletivo a ser administrado, passaram a governo, implicando investimentos que buscam priorizar
ser uma preocupação do Estado. A partir de então, o Estado esforços em direção a racionalidades de governamento da

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

conduta das crianças e das pessoas envolvidas com sua Currículos socioemocionais e competências no sé-
educação. Nessas bases, a tarefa do governo, prescrita pe- culo XXI: um estudo curricular
los economistas, é estruturar estratégias que potencializem Como sinalizamos acima, para produzirmos uma análi-
o desenvolvimento de competências socioemocionais em se das formas contemporâneas de organização dos Estados,
crianças e jovens, reduzindo riscos futuros. Para tanto, as em especial no que tange às políticas educacionais, uma das
análises dos economistas partem de pressupostos univer- noções importantes é a de redes políticas, evidenciada nos
sais sobre o desenvolvimento socioemocional de crian- estudos recentes de Ball (2014). De acordo com o sociólogo,
ças e jovens, construindo suas argumentações a partir de redes políticas “[...] são um tipo de ‘social’ novo, envolvendo
um modelo “padrão” definido pela expertise psicológica. tipos específicos de relações sociais, de fluxos e de movimen-
(SMOLKA et al., 2015). É a partir desse modelo que são pro- tos”. (BALL, 2014, p. 29). A rede passa a funcionar como um
postos programas curriculares baseados no Big Five, tendo operador analítico para a compreensão da tessitura política
em vista o desenvolvimento de competências socioemo- de nosso tempo, na qual agentes públicos e privados se en-
cionais. trelaçam na efetivação das intencionalidades compartilhadas
As teorizações centradas nos modelos do Big Five para pensar as questões sociais e suas possíveis soluções. Em
apontam um conjunto de cinco grandes fatores que, en- tais condições, um conjunto de novos atores políticos adquire
quanto traços de personalidade, podem ser medidos cien- centralidade no direcionamento dos discursos da política, seja
tificamente, em especial em seu potencial para as organi- por meio de novas articulações, seja através da validação de
zações. De acordo com Fruyt (2014), em atividade desen- novos argumentos e comunidades produtoras de sentidos.
volvida pelo Instituto Ayrton Senna, a referida teorização São variadas as formas de conexão e de relacionamento
apresenta significativos impactos para a escolarização entre os integrantes dessas redes políticas. Na acepção do au-
contemporânea, sobretudo ao enfatizar questões como tor, “a política está sendo privatizada em vários sentidos”. (BALL,
2014, p. 32). Podemos depreender, então, que a noção de rede
a amabilidade, a extroversão, a estabilidade emocional, a
se torna relevante para descrevermos as novas formas de go-
conscienciosidade e a abertura a mudanças. No limite, se-
vernança em ação. Todavia, cabe explicitar que “[...] as formas
gundo o psicólogo, além de intensificar a busca por resul-
de governança em rede não são fixas e podem conter alguns
tados educacionais futuros, a teoria do Big Five permite um
componentes fugazes, frágeis e experimentais” (BALL, 2014, p.
ensino mais personalizado.
33). Agências internacionais, governos locais, institutos diver-
De fato, o Big Five é exatamente sobre isso. Ele propor-
sos, consultores e “empreendedores de políticas” passam a mo-
ciona uma descrição do indivíduo nas características que bilizar-se de forma “estruturalmente acopladas”. (JESSOP, 2006).
diferenciam uma criança/jovem de seus pares e cria, então, Uma das decorrências analíticas dessas novas formas de
a possibilidade de alinhar o ambiente de aprendizagem de governança diz respeito à emergência de variadas formas de
acordo com a individualidade, proporcionando por isso um mobilidade das políticas. Ou seja, empresas e agentes priva-
ensino melhor. Por exemplo, considerando dois alunos com dos diversos, no âmbito da mobilidade, assumem protago-
diferenças no cruzamento entre Abertura e Conscienciosida- nismo na difusão de novos pressupostos orientadores das
de: Manuela é menos criativa, mas metódica e comprometi- políticas educacionais, em/para diferentes regiões do plane-
da, enquanto Luis gosta de criar e experimentar coisas, mas ta. Em escala global, tais ações “[...] incluem novas formas de
tem dificuldade de se manter um planejamento. Ambos irão filantropia e de ajuda para o desenvolvimento educacional,
aprender de formas muito diferentes e os professores deve- para os processos de mercado de crescimento e expansão de
rão oferecer um suporte diferente a cada um: o professor capital e a busca por parte das empresas de novas oportuni-
de Manuela terá que usar tempo extra para elaborar uma dades para lucro”. (BALL, 2014, p. 37). Como derivação des-
tarefa pré-estruturada de aprendizagem para ela, enquanto sa atuação, dentre outras questões, poderíamos assinalar a
Luis vai preferir uma atividade mais aberta, mas que exigirá fabricação de novas formas de “convergência”. (BALL, 2014),
de seu professor um acompanhamento mais intenso sobre desenvolvidas através de intensa atuação política dos novos
seu progresso. (FRUYT, 2014, p. 1). atores integrantes da rede política, no âmbito local.
Os investimentos econômicos na escolarização asso- Examinando publicações recentes, engendradas no contex-
ciados às emergentes demandas por personalização dos to de determinada rede política contemporânea, encontramos
percursos formativos caracterizam as políticas curriculares algumas conexões discursivas envolvendo a promoção de com-
examinadas neste artigo. Como podemos diferenciar os petências socioemocionais, educação para o século XXI e apren-
percursos formativos dos estudantes? Que possibilidades dizagens permanentes. Um desses documentos, publicado pelo
de intervenção subjetiva se derivam dessa grade de inter- Instituto Ayrton Senna, parte do pressuposto de que “[...] formar
venção pedagógica? Quais sentidos de formação humana crianças e jovens para superar os desafios do século XXI requer o
emergem dos investimentos econômicos mobilizados em desenvolvimento de um conjunto de competências necessárias
tais políticas? Que resultados se fazem possíveis das avalia- para aprender, viver, conviver e trabalhar em um mundo cada vez
ções de larga escala colocadas em ação em tais contextos? mais complexo”. (IAS, 2014, p. 4). Em tais condições, constata-se
A seguir, exploraremos como exemplar analítico algumas uma crítica aos modelos curriculares mais convencionais, cen-
estratégias mobilizadas na implementação do projeto Du- trados em conhecimentos disciplinares, uma vez que, de acor-
pla Escola, no Estado do Rio de Janeiro. Entretanto, antes do com os formuladores do documento, a sociedade espera
de situá-lo no interior de determinadas racionalidades jovens com outro perfil formativo. A solução de problemas
políticas, assinalamos entendimentos provisórios sobre as de maneira colaborativa, o pensamento crítico e criativo e a
formas interventivas mobilizadas por um Estado que opera capacidade de fazer escolhas responsáveis são algumas das
em rede. (BALL, 2014). demandas apresentadas para a escola do novo século.

36
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Inspirado em paradigmas holísticos da educação, geralmente vinculados ao desenvolvimento humano, o documento


analisado prioriza a educação como promotora de oportunidades, capaz de preparar indivíduos aptos a realizar escolhas
e a transformar suas competências em potencial. (IAS, 2014). Para tanto, é proposta uma concepção de educação na qual
[...] a ênfase recai em aspectos socioemocionais que capacitam as pessoas para buscarem o que desejam, tomarem deci-
sões, estabelecerem objetivos e persistirem no seu alcance mesmo em situações adversas, de modo a serem protagonistas do
seu próprio desenvolvimento e de suas comunidades e países. (IAS, 2014, p. 5).
Em outras palavras, encaminha-se como forma mais eficaz para a escolarização do século XXI “[...] um investimento nos
aspectos socioemocionais para alavancar a aprendizagem”. (IAS, 2014, p. 6, grifo dos autores).
As competências propostas pelo Instituto Ayrton Senna são apresentadas como vetores para direcionar as inovações
curriculares, sobretudo ao focalizarem aspectos cognitivos e socioemocionais. Responsabilidade, colaboração, comunica-
ção, criatividade e autocontrole se tornam questões a serem priorizadas nas proposições curriculares, ao mesmo tempo que
objetos de avaliação em larga escala. (IAS, 2014). Retomando o documento examinado, um breve vocabulário explicativo
enuncia alguns desses pressupostos:
Competência: capacidade de mobilizar, articular e colocar em prática conhecimentos, valores, atitudes e habilidades, seja
no aspecto cognitivo, seja no aspecto socioemocional, ou na inter-relação dos dois.
No aspecto da competência socioemocional: para se relacionar com os outros e consigo mesmo, compreender e gerir
emoções, estabelecer e atingir objetivos, tomar decisões autônomas e responsáveis e enfrentar situações adversas de maneira
criativa e construtiva. As competências socioemocionais priorizadas nesse contexto são aquelas que desempenham um papel
crucial na obtenção do sucesso escolar e na vida futura das crianças e jovens.
No aspecto da competência cognitiva: para interpretar, refletir, raciocinar, pensar abstratamente, assimilar ideias com-
plexas, resolver problemas e generalizar aprendizados. (IAS, 2014, p. 9, grifos dos autores).
A partir desse conjunto de competências, assinala-se a importância da efetivação de políticas públicas e práticas pe-
dagógicas sintonizadas com esses princípios. Implica-se também que, para a construção do século XXI, precisamos de
currículos apropriados, formação de professores e o estabelecimento de padrões de inovação. (IAS, 2014).
Exemplar nessa direção é o projeto Solução Educacional para o Ensino Médio conduzido pelo Instituto Ayrton Senna,
em parceria com a OCDE e a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro. Esse projeto, alicerçado na inovação e na
diferenciação dos currículos escolares,
[...] propõe-se ensinar os conteúdos curriculares a partir de uma matriz de competências para o século XXI, flexível e
customizável a diferentes modelos de escola – que combina competências cognitivas – como a resolução de problemas e o
pensamento crítico – com competências socioemocionais – como a colaboração e a responsabilidade. (IAS, 2014, p. 13).
Em torno do projeto Solução Educacional, para além da própria centralidade das competências socioemocionais, des-
pertam nossa atenção as estratégias mobilizadas para sua avaliação em larga escala. A intenção explicitada nesse docu-
mento se vincula ao objetivo de “[...] ampliar o repertório de ferramentas de avaliação que compõem esses sistemas – e
contribuir, portanto, para a ampliação das fronteiras do que se entende por educação de qualidade”. (IAS, 2014, p. 22, grifos
dos autores). A referida modalidade de avaliação de competências se mobiliza em duas dimensões, quais sejam, formativa
e somativa (IAS, 2014), aproximando-as de questões socioeconômicas.
Para o acompanhamento desse processo, foi desenvolvido o sistema SENNA (Social and Emotional or Non-cognitive
Nationwide Assessment). Tal sistema “[...] será disponibilizado para apoiar gestores e educadores na tarefa de formular, exe-
cutar e reorientar políticas públicas e práticas pedagógicas destinadas a melhorar a qualidade da educação no Brasil”. (IAS,
2014, p. 22). A matriz orientadora do sistema SENNA contém tanto as competências a serem adquiridas pelos indivíduos
quanto as atitudes esperadas que os alunos desenvolvam em suas condutas cotidianas. Ou seja, a matriz orientadora pode
ser considerada, em última instância, um tipo de tecnologia que busca programar e controlar os estudantes em sua forma
de agir, sentir, pensar e situar-se diante de si mesmos, da vida que levam e do mundo em que vivem. (O’MALLEY, 1996;
GADELHA, 2009). O Quadro 1 dá visibilidade para essa lógica organizativa.

QUADRO 1 – MODELO DE CLASSIFICAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS


Estabelecimento e alcan- Respeito e cuidado Sociabilidade e Gestão das emo-
Dimen- Abertura para o
ce de objetivos (Cons- pelos outros (Ama- entusiasmo (Ex- ções (Estabilida-
são novo (Abertura)
cienciosidade) bilidade) troversão) de emocional)
Compe- Ex.: Comunica-
Ex.: Responsabilidade Ex.: Colaboração Ex.: Curiosidade Ex.: Autocontrole
tência ção
Ex.: O aluno en-
Ex.: O aluno vai preparado Ex.: O aluno de-
contra soluções Ex.: O aluno par- Ex.: O aluno per-
para as aulas; permanece monstra interesse
em meio a conflito ticipa ativamen- manece calmo
comprometido com seus em aprender; faz
Atitude com os colegas; te; encara as mesmo quando
objetivos mesmo que perguntas para
demonstra respeito atividades com criticado ou pro-
levem muito tempo para melhorar a com-
pelo sentimento entusiasmo. vocado.
serem alcançados. preensão.
dos outros.
FONTE: IAS (2014).

37
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

O modelo de classificação das competências, acima evidenciado, é colocado em ação através de dois questionários
preenchidos pelos estudantes e pelos professores. O Questionário Socioemocional é respondido pelos estudantes do 5º
ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. De acordo com o documento examinado, “[...] as questões que
compõem o instrumento dizem respeito às atitudes, sentimentos ou percepções dos alunos em relação a si mesmos e só
admitem uma resposta como mais adequada”. (IAS, 2014, p. 25). Ele pode ser aplicado pelos professores como uma tarefa
específica de aula com duração aproximada de 40 minutos. O Quadro 2, a seguir, apresenta um exemplo de questão.

QUADRO 2 – QUESTIONÁRIO SOCIOEMOCIONAL

Avalie na escala 3
1 2 4 5
abaixo o quanto Mais ou
Nada Pouco Muito Totalmente
você consegue menos
1. Fazer perguntas para compreender melhor um assunto.
2. Colaborar com algum colega quando o observa tendo dificuldade.
3. Apresentar disposição para atividades mais longas e complexas.
FONTE: IAS (2014).

Considerando que tais estratégias interventivas são mobilizadas no âmbito de um Estado em rede, bem como pela sua
intencionalidade dirigida aos investimentos econômicos e à personalização dos percursos formativos, constatamos que as
racionalidades políticas orientadoras da escolarização contemporânea são deslocadas para o âmbito dos indivíduos. Esse
deslocamento da racionalidade interventiva, mais do que enunciar uma predominância do neoliberalismo enquanto grade
de inteligibilidade, supõe um uso econômico para a constituição subjetiva dos indivíduos. Como é possível perceber a partir
da leitura das tabelas, a linguagem da expertise psicológica é utilizada como pressuposto de viabilização de comparações.
Nesse sentido, pode-se dizer que se constitui um rol de palavras, de definições, de conceitos, a partir de uma linguagem
específica que permite as operações de notação, inscrição e cálculo das competências socioemocionais dos alunos. (MIL-
LER; ROSE, 2012).

Considerações finais
Ao finalizarmos nossa composição analítica, podemos afirmar que, a partir da produção de saberes estatísticos (SEN-
RA, 2005) sobre as competências socioemocionais dos alunos, tornam-se os traços da população discente calculáveis e
inteligíveis. Em decorrência desse processo, planejam-se ações com o intuito de agir sobre os aspectos levantados como
problemáticos pelos cálculos estatísticos, a partir da análise dos questionários respondidos pelos alunos. Desse modo, de-
senvolve-se um processo de inteligibilidade sobre a população discente, para posteriormente poder operar sobre ela por
meio de políticas educacionais e práticas pedagógicas, cujo foco é a potencialização das aprendizagens com base no de-
senvolvimento das competências nas quais os alunos apresentam menos destaque (ESPING-ANDERSEN, 2007). Em suma,
potencializar o desenvolvimento das competências socioemocionais dos estudantes torna-se um imperativo de um Estado
que procura extrair da população a potência produtiva e, com isso, minimizar situações que possam gerar despesas futuras
ligadas às áreas da segurança, da saúde e da educação.
A partir da dinâmica apresentada, constituída pelos processos de inteligibilidade e operacionalidade (FARHI NETO,
2008), evidenciam-se as formas de atuação do Estado através de agenciamentos políticos envolvendo parcerias, organi-
zações não governamentais e organismos internacionais, colocando em ação uma forma de “governança em rede” (BALL,
2014, p. 188), como sinalizamos anteriormente. Tal forma de governança, com maior ou menor intensidade, dá visibilidade
para uma nova arquitetura institucional. Para além da predominância de novas formas de “economização da vida social”,
o que já seria representativo, as atuais formas de intervenção estatal definem seus critérios de sucesso, especialmente no
que tange à escolarização pública.
Como consequência das discussões apresentadas no decorrer do artigo, é interessante compartilhar o argumento de-
fendido por Simons e Masschlein (2008, p. 193): “[...] a educação pode ser considerada como uma indústria do conhecimen-
to”. Desse modo, é possível inferir que é a partir dessa “indústria educacional”, motivada contemporaneamente pela emer-
gência de currículos socioemocionais, habilidades do século XXI e o imperativo de investimento econômico em educação,
que são planejadas refinadas tecnologias que operam no mapeamento e na tentativa de potencialização das competências
socioemocionais dos alunos, tendo em vista a qualificação do capital humano.9

9 Fonte: www.scielo.br – Por CARVALHO, Rodrigo Saballa de / SILVA, Roberto Rafael Dias da.

38
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

CONSIDERANDO que as instituições de educação bá-


AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS sica, seus processos de organização e gestão e projetos
pedagógicos cumprem, sob a legislação vigente, um papel
PARA A FORMAÇÃO DOCENTE.
estratégico na formação requerida nas diferentes etapas
(educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) e
modalidades da educação básica;
RESOLUÇÃO Nº 2, DE 1º DE JULHO DE 2015 CONSIDERANDO a necessidade de articular as Diretri-
  zes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Conti-
Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a for- nuada, em Nível Superior, e as Diretrizes Curriculares Na-
mação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cur- cionais para a Educação Básica;
sos de formação pedagógica para graduados e cursos de CONSIDERANDO os princípios que norteiam a base
segunda licenciatura) e para a formação continuada. comum nacional para a formação inicial e continuada, tais
 
como: a) sólida formação teórica e interdisciplinar; b) uni-
O Presidente do Conselho Nacional de Educação, no
dade teoria-prática; c) trabalho coletivo e interdisciplinar;
uso de suas atribuições legais e tendo em vista o disposto
d) compromisso social e valorização do profissional da
na Lei nº 9.131, de 24 de novembro de 1995, Lei nº 9.394,
de 20 de dezembro de 1996, Lei nº 11.494, de 20 de ju- educação; e) gestão democrática; f) avaliação e regulação
nho de 2007, Lei nº 11.502, de 11 de julho de 2007, Lei nº dos cursos de formação;
11.738, de 16 de julho de 2008, Lei nº 12.796, de 4 de abril CONSIDERANDO a articulação entre graduação e pós-
de 2013, Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, observados graduação e entre pesquisa e extensão como princípio pe-
os preceitos dos artigos 61 até 67 e do artigo 87 da Lei nº dagógico essencial ao exercício e aprimoramento do pro-
9.394, de 1996, que dispõem sobre a formação de profis- fissional do magistério e da prática educativa;
sionais do magistério, e considerando o Decreto nº 6.755, CONSIDERANDO a docência como ação educativa e
de 29 de janeiro de 2009, as Resoluções CNE/CP nº 1, de como processo pedagógico intencional e metódico, en-
18 de fevereiro de 2002, CNE/CP nº 2, de 19 de fevereiro de volvendo conhecimentos específicos, interdisciplinares e
2002, CNE/CP nº 1, de 15 de maio de 2006, CNE/CP nº 1, pedagógicos, conceitos, princípios e objetivos da forma-
de 11 de fevereiro de 2009, CNE/CP nº 3, de 15 de junho de ção que se desenvolvem entre conhecimentos científicos e
2012, e as Resoluções CNE/CEB nº 2, de 19 de abril de 1999, culturais, nos valores éticos, políticos e estéticos inerentes
e CNE/CEB nº 2, de 25 de fevereiro de 2009, as Diretrizes ao ensinar e aprender, na socialização e construção de co-
Curriculares Nacionais da Educação Básica, bem como o nhecimentos, no diálogo constante entre diferentes visões
Parecer CNE/CP nº 2, de 9 de junho de 2015, homologado de mundo;
por Despacho do Ministro de Estado da Educação publi- CONSIDERANDO o currículo como o conjunto de valo-
cado no Diário Oficial do União de 25 de junho de 2015, e
res propício à produção e à socialização de significados no
CONSIDERANDO que a consolidação das normas na-
espaço social e que contribui para a construção da identi-
cionais para a formação de profissionais do magistério para
a educação básica é indispensável para o projeto nacional dade sociocultural do educando, dos direitos e deveres do
da educação brasileira, em seus níveis e suas modalidades cidadão, do respeito ao bem comum e à democracia, às
da educação, tendo em vista a abrangência e a complexi- práticas educativas formais e não formais e à orientação
dade da educação de modo geral e, em especial, a educa- para o trabalho;
ção escolar inscrita na sociedade; CONSIDERANDO a realidade concreta dos sujeitos que
CONSIDERANDO que a concepção sobre conhecimen- dão vida ao currículo e às instituições de educação básica,
to, educação e ensino é basilar para garantir o projeto da sua organização e gestão, os projetos de formação, devem
educação nacional, superar a fragmentação das políticas ser contextualizados no espaço e no tempo e atentos às
públicas e a desarticulação institucional por meio da insti- características das crianças, adolescentes, jovens e adultos
tuição do Sistema Nacional de Educação, sob relações de que justificam e instituem a vida da/e na escola, bem como
cooperação e colaboração entre entes federados e siste- possibilitar a reflexão sobre as relações entre a vida, o co-
mas educacionais; nhecimento, a cultura, o profissional do magistério, o estu-
CONSIDERANDO que a igualdade de condições para dante e a instituição;
o acesso e a permanência na escola; a liberdade de apren- CONSIDERANDO que a educação em e para os direitos
der, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, humanos é um direito fundamental constituindo uma parte
a arte e o saber; o pluralismo de ideias e de concepções do direito à educação e, também, uma mediação para efe-
pedagógicas; o respeito à liberdade e o apreço à tolerân-
tivar o conjunto dos direitos humanos reconhecidos pelo
cia; a valorização do profissional da educação; a gestão
Estado brasileiro em seu ordenamento jurídico e pelos paí-
democrática do ensino público; a garantia de um padrão
ses que lutam pelo fortalecimento da democracia, e que a
de qualidade; a valorização da experiência extraescolar; a
vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práti- educação em direitos humanos é uma necessidade estraté-
cas sociais; o respeito e a valorização da diversidade étni- gica na formação dos profissionais do magistério e na ação
co-racial, entre outros, constituem princípios vitais para a educativa em consonância com as Diretrizes Nacionais para
melhoria e democratização da gestão e do ensino; a Educação em Direitos Humanos;

39
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

CONSIDERANDO a importância do profissional do ma- e Tecnológica, Educação do Campo, Educação Escolar Indí-
gistério e de sua valorização profissional, assegurada pela gena, Educação a Distância e Educação Escolar Quilombo-
garantia de formação inicial e continuada, plano de carrei- la), nas diferentes áreas do conhecimento e com integração
ra, salário e condições dignas de trabalho; entre elas, podendo abranger um campo específico e/ou
CONSIDERANDO o trabalho coletivo como dinâmica interdisciplinar.
político-pedagógica que requer planejamento sistemático § 1º Compreende-se a docência como ação educati-
e integrado, Resolve: va e como processo pedagógico intencional e metódico,
envolvendo conhecimentos específicos, interdisciplinares e
CAPÍTULO I pedagógicos, conceitos, princípios e objetivos da forma-
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS ção que se desenvolvem na construção e apropriação dos
valores éticos, linguísticos, estéticos e políticos do conhe-
Art. 1º Ficam instituídas, por meio da presente Resolu- cimento inerentes à sólida formação científica e cultural do
ção, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação ensinar/aprender, à socialização e construção de conheci-
Inicial e Continuada em Nível Superior de Profissionais do mentos e sua inovação, em diálogo constante entre dife-
Magistério para a Educação Básica, definindo princípios, rentes visões de mundo.
fundamentos, dinâmica formativa e procedimentos a se- § 2º No exercício da docência, a ação do profissional
rem observados nas políticas, na gestão e nos programas do magistério da educação básica é permeada por dimen-
e cursos de formação, bem como no planejamento, nos sões técnicas, políticas, éticas e estéticas por meio de sólida
processos de avaliação e de regulação das instituições de formação, envolvendo o domínio e manejo de conteúdos
educação que as ofertam. e metodologias, diversas linguagens, tecnologias e inova-
§ 1º Nos termos do § 1º do artigo 62 da Lei de Dire- ções, contribuindo para ampliar a visão e a atuação desse
trizes e Bases da Educação Nacional (LDB), as instituições profissional.
formadoras em articulação com os sistemas de ensino, em Art. 3º A formação inicial e a formação continuada
regime de colaboração, deverão promover, de maneira ar- destinam-se, respectivamente, à preparação e ao desen-
ticulada, a formação inicial e continuada dos profissionais volvimento de profissionais para funções de magistério na
do magistério para viabilizar o atendimento às suas especi- educação básica em suas etapas – educação infantil, ensino
ficidades nas diferentes etapas e modalidades de educação fundamental, ensino médio – e modalidades – educação de
básica, observando as normas específicas definidas pelo jovens e adultos, educação especial, educação profissional
Conselho Nacional de Educação (CNE). e técnica de nível médio, educação escolar indígena, edu-
§ 2º As instituições de ensino superior devem conceber cação do campo, educação escolar quilombola e educação
a formação inicial e continuada dos profissionais do magis- a distância – a partir de compreensão ampla e contextua-
tério da educação básica na perspectiva do atendimento lizada de educação e educação escolar, visando assegurar
às políticas públicas de educação, às Diretrizes Curriculares a produção e difusão de conhecimentos de determinada
Nacionais, ao padrão de qualidade e ao Sistema Nacional área e a participação na elaboração e implementação do
de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), manifestando projeto político-pedagógico da instituição, na perspecti-
organicidade entre o seu Plano de Desenvolvimento Insti- va de garantir, com qualidade, os direitos e objetivos de
tucional (PDI), seu Projeto Pedagógico Institucional (PPI) e aprendizagem e o seu desenvolvimento, a gestão demo-
seu Projeto Pedagógico de Curso (PPC) como expressão de crática e a avaliação institucional.
uma política articulada à educação básica, suas políticas e § 1º Por educação entendem-se os processos forma-
diretrizes. tivos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência
§ 3º Os centros de formação de estados e municípios, humana, no trabalho, nas instituições de ensino, pesquisa e
bem como as instituições educativas de educação básica extensão, nos movimentos sociais e organizações da socie-
que desenvolverem atividades de formação continuada dos dade civil e nas relações criativas entre natureza e cultura.
profissionais do magistério, devem concebê-la atendendo § 2º Para fins desta Resolução, a educação contextuali-
às políticas públicas de educação, às Diretrizes Curriculares zada se efetiva, de modo sistemático e sustentável, nas ins-
Nacionais, ao padrão de qualidade e ao Sistema Nacional tituições educativas, por meio de processos pedagógicos
de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), expressando entre os profissionais e estudantes articulados nas áreas de
uma organicidade entre o seu Plano Institucional, o Pro- conhecimento específico e/ou interdisciplinar e pedagógi-
jeto Político Pedagógico (PPP) e o Projeto Pedagógico de co, nas políticas, na gestão, nos fundamentos e nas teorias
Formação Continuada (PPFC) através de uma política ins- sociais e pedagógicas para a formação ampla e cidadã e
titucional articulada à educação básica, suas políticas e di- para o aprendizado nos diferentes níveis, etapas e modali-
retrizes. dades de educação básica.
Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para a For- § 3º A formação docente inicial e continuada para a
mação Inicial e Continuada em Nível Superior de Profis- educação básica constitui processo dinâmico e complexo,
sionais do Magistério para a Educação Básica aplicam-se direcionado à melhoria permanente da qualidade social da
à formação de professores para o exercício da docência na educação e à valorização profissional, devendo ser assumi-
educação infantil, no ensino fundamental, no ensino médio da em regime de colaboração pelos entes federados nos
e nas respectivas modalidades de educação (Educação de respectivos sistemas de ensino e desenvolvida pelas insti-
Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação Profissional tuições de educação credenciadas.

40
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

§ 4º Os profissionais do magistério da educação básica XI – a compreensão dos profissionais do magistério


compreendem aqueles que exercem atividades de docên- como agentes formativos de cultura e da necessidade de
cia e demais atividades pedagógicas, incluindo a gestão seu acesso permanente às informações, vivência e atualiza-
educacional dos sistemas de ensino e das unidades esco- ção culturais.
lares de educação básica, nas diversas etapas e modalida- § 6º O projeto de formação deve ser elaborado e desen-
des de educação (educação infantil, ensino fundamental, volvido por meio da articulação entre a instituição de edu-
ensino médio, educação de jovens e adultos, educação cação superior e o sistema de educação básica, envolvendo
especial, educação profissional e técnica de nível médio, a consolidação de fóruns estaduais e distrital permanentes
educação escolar indígena, educação do campo, educação de apoio à formação docente, em regime de colaboração, e
escolar quilombola e educação a distância), e possuem a deve contemplar:
formação mínima exigida pela legislação federal das Dire- I – sólida formação teórica e interdisciplinar dos profis-
trizes e Bases da Educação Nacional. sionais;
§ 5º São princípios da Formação de Profissionais do II – a inserção dos estudantes de licenciatura nas institui-
Magistério da Educação Básica: ções de educação básica da rede pública de ensino, espaço
privilegiado da práxis docente;
I – a formação docente para todas as etapas e modali-
III – o contexto educacional da região onde será desen-
dades da educação básica como compromisso público de
volvido;
Estado, buscando assegurar o direito das crianças, jovens
IV – as atividades de socialização e a avaliação de seus
e adultos à educação de qualidade, construída em bases impactos nesses contextos;
científicas e técnicas sólidas em consonância com as Dire- V – a ampliação e o aperfeiçoamento do uso da Lín-
trizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica; gua Portuguesa e da capacidade comunicativa, oral e escrita,
II – a formação dos profissionais do magistério (for- como elementos fundamentais da formação dos professo-
madores e estudantes) como compromisso com projeto res, e da aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais (Libras);
social, político e ético que contribua para a consolidação VI – as questões socioambientais, éticas, estéticas e rela-
de uma nação soberana, democrática, justa, inclusiva e que tivas à diversidade étnico-racial, de gênero, sexual, religiosa,
promova a emancipação dos indivíduos e grupos sociais, de faixa geracional e sociocultural como princípios de equi-
atenta ao reconhecimento e à valorização da diversidade e, dade.
portanto, contrária a toda forma de discriminação; § 7º Os cursos de formação inicial e continuada de pro-
III – a colaboração constante entre os entes federados fissionais do magistério da educação básica para a educação
na consecução dos objetivos da Política Nacional de For- escolar indígena, a educação escolar do campo e a educação
mação de Profissionais do Magistério da Educação Básica, escolar quilombola devem reconhecer que:
articulada entre o Ministério da Educação (MEC), as insti- I – a formação inicial e continuada de profissionais do
tuições formadoras e os sistemas e redes de ensino e suas magistério para a educação básica da educação escolar in-
instituições; dígena, nos termos desta Resolução, deverá considerar as
IV – a garantia de padrão de qualidade dos cursos de normas e o ordenamento jurídico próprios, com ensino in-
formação de docentes ofertados pelas instituições forma- tercultural e bilíngue, visando à valorização plena das cultu-
doras; ras dos povos indígenas e à afirmação e manutenção de sua
V – a articulação entre a teoria e a prática no processo diversidade étnica;
de formação docente, fundada no domínio dos conheci- II – a formação inicial e continuada de profissionais do
mentos científicos e didáticos, contemplando a indissocia- magistério para a educação básica da educação escolar do
bilidade entre ensino, pesquisa e extensão; campo e da educação escolar quilombola, nos termos desta
VI – o reconhecimento das instituições de educação Resolução, deverá considerar a diversidade étnico-cultural
de cada comunidade.
básica como espaços necessários à formação dos profissio-
Art. 4º A instituição de educação superior que minis-
nais do magistério;
tra programas e cursos de formação inicial e continuada ao
VII – um projeto formativo nas instituições de educação
magistério, respeitada sua organização acadêmica, deverá
sob uma sólida base teórica e interdisciplinar que reflita a contemplar, em sua dinâmica e estrutura, a articulação entre
especificidade da formação docente, assegurando organi- ensino, pesquisa e extensão para garantir efetivo padrão de
cidade ao trabalho das diferentes unidades que concorrem qualidade acadêmica na formação oferecida, em consonân-
para essa formação; cia com o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), o
VIII – a equidade no acesso à formação inicial e con- Projeto Pedagógico Institucional (PPI) e o Projeto Pedagógi-
tinuada, contribuindo para a redução das desigualdades co de Curso (PPC).
sociais, regionais e locais; Parágrafo único. Os centros de formação de estados e
IX – a articulação entre formação inicial e formação municípios, bem como as instituições educativas de edu-
continuada, bem como entre os diferentes níveis e modali- cação básica que desenvolverem atividades de formação
dades de educação; continuada dos profissionais do magistério, deverão con-
X – a compreensão da formação continuada como templar, em sua dinâmica e estrutura, a articulação entre
componente essencial da profissionalização inspirado nos ensino e pesquisa, para garantir efetivo padrão de qualidade
diferentes saberes e na experiência docente, integrando-a acadêmica na formação oferecida, em consonância com o
ao cotidiano da instituição educativa, bem como ao projeto plano institucional, o projeto político-pedagógico e o pro-
pedagógico da instituição de educação básica; jeto pedagógico de formação continuada.

41
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

CAPÍTULO II Art. 6º A oferta, o desenvolvimento e a avaliação de


FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO MAGISTÉRIO atividades, cursos e programas de formação inicial e conti-
PARA EDUCAÇÃO BÁSICA: BASE COMUM NACIONAL nuada, bem como os conhecimentos específicos, interdisci-
plinares, os fundamentos da educação e os conhecimentos
Art. 5º A formação de profissionais do magistério deve pedagógicos, bem como didáticas e práticas de ensino e
assegurar a base comum nacional, pautada pela concepção as vivências pedagógicas de profissionais do magistério
de educação como processo emancipatório e permanen- nas modalidades presencial e a distância, devem observar
te, bem como pelo reconhecimento da especificidade do o estabelecido na legislação e nas regulamentações em
trabalho docente, que conduz à práxis como expressão da vigor para os respectivos níveis, etapas e modalidades da
articulação entre teoria e prática e à exigência de que se educação nacional, assegurando a mesma carga horária e
leve em conta a realidade dos ambientes das instituições instituindo efetivo processo de organização, de gestão e
educativas da educação básica e da profissão, para que se de relação estudante/professor, bem como sistemática de
possa conduzir o(a) egresso(a): acompanhamento e avaliação do curso, dos docentes e
I – à integração e interdisciplinaridade curricular, dan- dos estudantes.
do significado e relevância aos conhecimentos e vivência
da realidade social e cultural, consoantes às exigências da CAPÍTULO III
educação básica e da educação superior para o exercício da DO(A) EGRESSO(A) DA FORMAÇÃO INICIAL E
cidadania e qualificação para o trabalho; CONTINUADA
II – à construção do conhecimento, valorizando a pes-
quisa e a extensão como princípios pedagógicos essenciais Art. 7º O(A) egresso(a) da formação inicial e continua-
ao exercício e aprimoramento do profissional do magisté- da deverá possuir um repertório de informações e habilida-
rio e ao aperfeiçoamento da prática educativa; des composto pela pluralidade de conhecimentos teóricos
III – ao acesso às fontes nacionais e internacionais de e práticos, resultado do projeto pedagógico e do percurso
pesquisa, ao material de apoio pedagógico de qualidade, formativo vivenciado cuja consolidação virá do seu exercí-
ao tempo de estudo e produção acadêmica-profissional, cio profissional, fundamentado em princípios de interdisci-
viabilizando os programas de fomento à pesquisa sobre a plinaridade, contextualização, democratização, pertinência
e relevância social, ética e sensibilidade afetiva e estética,
educação básica;
de modo a lhe permitir:
IV – às dinâmicas pedagógicas que contribuam para o
I – o conhecimento da instituição educativa como or-
exercício profissional e o desenvolvimento do profissional
ganização complexa na função de promover a educação
do magistério por meio de visão ampla do processo for-
para e na cidadania;
mativo, seus diferentes ritmos, tempos e espaços, em face
II – a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de
das dimensões psicossociais, histórico-culturais, afetivas,
investigações de interesse da área educacional e específica;
relacionais e interativas que permeiam a ação pedagógica,
III – a atuação profissional no ensino, na gestão de pro-
possibilitando as condições para o exercício do pensamen- cessos educativos e na organização e gestão de institui-
to crítico, a resolução de problemas, o trabalho coletivo e ções de educação básica.
interdisciplinar, a criatividade, a inovação, a liderança e a Parágrafo único. O PPC, em articulação com o PPI e o
autonomia; PDI, deve abranger diferentes características e dimensões
V – à elaboração de processos de formação do docente da iniciação à docência, entre as quais:
em consonância com as mudanças educacionais e sociais, I – estudo do contexto educacional, envolvendo ações
acompanhando as transformações gnosiológicas e episte- nos diferentes espaços escolares, como salas de aula, la-
mológicas do conhecimento; boratórios, bibliotecas, espaços recreativos e desportivos,
VI – ao uso competente das Tecnologias de Informa- ateliês, secretarias;
ção e Comunicação (TIC) para o aprimoramento da prática II – desenvolvimento de ações que valorizem o traba-
pedagógica e a ampliação da formação cultural dos(das) lho coletivo, interdisciplinar e com intencionalidade peda-
professores(as) e estudantes; gógica clara para o ensino e o processo de ensino-apren-
VII – à promoção de espaços para a reflexão crítica dizagem;
sobre as diferentes linguagens e seus processos de cons- III – planejamento e execução de atividades nos es-
trução, disseminação e uso, incorporando-os ao processo paços formativos (instituições de educação básica e de
pedagógico, com a intenção de possibilitar o desenvolvi- educação superior, agregando outros ambientes culturais,
mento da criticidade e da criatividade; científicos e tecnológicos, físicos e virtuais que ampliem as
VIII – à consolidação da educação inclusiva através do oportunidades de construção de conhecimento), desenvol-
respeito às diferenças, reconhecendo e valorizando a diver- vidas em níveis crescentes de complexidade em direção à
sidade étnico-racial, de gênero, sexual, religiosa, de faixa autonomia do estudante em formação;
geracional, entre outras; IV – participação nas atividades de planejamento e no
IX – à aprendizagem e ao desenvolvimento de to- projeto pedagógico da escola, bem como participação nas
dos(as) os(as) estudantes durante o percurso educacional reuniões pedagógicas e órgãos colegiados;
por meio de currículo e atualização da prática docente que V – análise do processo pedagógico e de ensino-apren-
favoreçam a formação e estimulem o aprimoramento pe- dizagem dos conteúdos específicos e pedagógicos, além
dagógico das instituições. das diretrizes e currículos educacionais da educação básica;

42
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

VI – leitura e discussão de referenciais teóricos contem- XI – realizar pesquisas que proporcionem conhecimen-
porâneos educacionais e de formação para a compreensão to sobre os estudantes e sua realidade sociocultural, sobre
e a apresentação de propostas e dinâmicas didático-peda- processos de ensinar e de aprender, em diferentes meios
gógicas; ambiental-ecológicos, sobre propostas curriculares e sobre
VII – cotejamento e análise de conteúdos que balizam organização do trabalho educativo e práticas pedagógicas,
e fundamentam as diretrizes curriculares para a educação entre outros;
básica, bem como de conhecimentos específicos e peda- XII – utilizar instrumentos de pesquisa adequados para
gógicos, concepções e dinâmicas didático-pedagógicas, a construção de conhecimentos pedagógicos e científicos,
articuladas à prática e à experiência dos professores das objetivando a reflexão sobre a própria prática e a discussão
escolas de educação básica, seus saberes sobre a escola e e disseminação desses conhecimentos;
sobre a mediação didática dos conteúdos; XIII – estudar e compreender criticamente as Diretrizes
VIII – desenvolvimento, execução, acompanhamento e Curriculares Nacionais, além de outras determinações le-
avaliação de projetos educacionais, incluindo o uso de tec- gais, como componentes de formação fundamentais para
nologias educacionais e diferentes recursos e estratégias o exercício do magistério.
didático-pedagógicas; Parágrafo único. Os professores indígenas e aqueles
IX – sistematização e registro das atividades em portfó- que venham a atuar em escolas indígenas, professores da
lio ou recurso equivalente de acompanhamento. educação escolar do campo e da educação escolar quilom-
Art. 8º O(A) egresso(a) dos cursos de formação inicial bola, dada a particularidade das populações com que tra-
em nível superior deverá, portanto, estar apto a: balham e da situação em que atuam, sem excluir o acima
I – atuar com ética e compromisso com vistas à cons- explicitado, deverão:
trução de uma sociedade justa, equânime, igualitária; I – promover diálogo entre a comunidade junto a quem
II – compreender o seu papel na formação dos estu- atuam e os outros grupos sociais sobre conhecimentos, va-
dantes da educação básica a partir de concepção ampla e lores, modos de vida, orientações filosóficas, políticas e re-
contextualizada de ensino e processos de aprendizagem e ligiosas próprios da cultura local;
desenvolvimento destes, incluindo aqueles que não tive- II – atuar como agentes interculturais para a valoriza-
ram oportunidade de escolarização na idade própria; ção e o estudo de temas específicos relevantes.
III – trabalhar na promoção da aprendizagem e do de-
senvolvimento de sujeitos em diferentes fases do desen- CAPÍTULO IV
volvimento humano nas etapas e modalidades de educa- DA FORMAÇÃO INICIAL DO MAGISTÉRIO DA EDU-
ção básica; CAÇÃO BÁSICA EM NÍVEL SUPERIOR
IV – dominar os conteúdos específicos e pedagógicos
Art. 9º Os cursos de formação inicial para os profissio-
e as abordagens teórico-metodológicas do seu ensino, de
nais do magistério para a educação básica, em nível supe-
forma interdisciplinar e adequada às diferentes fases do
rior, compreendem:
desenvolvimento humano;
I – cursos de graduação de licenciatura;
V – relacionar a linguagem dos meios de comunicação
II – cursos de formação pedagógica para graduados
à educação, nos processos didático-pedagógicos, demons-
não licenciados;
trando domínio das tecnologias de informação e comuni-
III – cursos de segunda licenciatura.
cação para o desenvolvimento da aprendizagem;
§ 1º A instituição formadora definirá no seu projeto
VI – promover e facilitar relações de cooperação entre institucional as formas de desenvolvimento da formação
a instituição educativa, a família e a comunidade; inicial dos profissionais do magistério da educação básica
VII – identificar questões e problemas socioculturais e articuladas às políticas de valorização desses profissionais
educacionais, com postura investigativa, integrativa e pro- e à base comum nacional explicitada no capítulo II desta
positiva em face de realidades complexas, a fim de contri- Resolução.
buir para a superação de exclusões sociais, étnico-raciais, § 2º A formação inicial para o exercício da docência e
econômicas, culturais, religiosas, políticas, de gênero, se- da gestão na educação básica implica a formação em nível
xuais e outras; superior adequada à área de conhecimento e às etapas de
VIII – demonstrar consciência da diversidade, respei- atuação.
tando as diferenças de natureza ambiental-ecológica, étni- § 3º A formação inicial de profissionais do magistério
co-racial, de gêneros, de faixas geracionais, de classes so- será ofertada, preferencialmente, de forma presencial, com
ciais, religiosas, de necessidades especiais, de diversidade elevado padrão acadêmico, científico e tecnológico e cul-
sexual, entre outras; tural.
IX – atuar na gestão e organização das instituições de Art. 10. A formação inicial destina-se àqueles que pre-
educação básica, planejando, executando, acompanhando tendem exercer o magistério da educação básica em suas
e avaliando políticas, projetos e programas educacionais; etapas e modalidades de educação e em outras áreas nas
X – participar da gestão das instituições de educação quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos, com-
básica, contribuindo para a elaboração, implementação, preendendo a articulação entre estudos teórico-práticos,
coordenação, acompanhamento e avaliação do projeto pe- investigação e reflexão crítica, aproveitamento da forma-
dagógico; ção e experiências anteriores em instituições de ensino.

43
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Parágrafo único. As atividades do magistério também e) conhecimento multidimensional e interdisciplinar


compreendem a atuação e participação na organização e sobre o ser humano e práticas educativas, incluindo co-
gestão de sistemas de educação básica e suas instituições nhecimento de processos de desenvolvimento de crian-
de ensino, englobando: ças, adolescentes, jovens e adultos, nas dimensões física,
I – planejamento, desenvolvimento, coordenação, cognitiva, afetiva, estética, cultural, lúdica, artística, ética e
acompanhamento e avaliação de projetos, do ensino, das biopsicossocial;
dinâmicas pedagógicas e experiências educativas; f) diagnóstico sobre as necessidades e aspirações dos
II – produção e difusão do conhecimento científico- diferentes segmentos da sociedade relativamente à edu-
tecnológico das áreas específicas e do campo educacional. cação, sendo capaz de identificar diferentes forças e inte-
Art. 11. A formação inicial requer projeto com identi- resses, de captar contradições e de considerá-los nos pla-
dade própria de curso de licenciatura articulado ao bacha- nos pedagógicos, no ensino e seus processos articulados à
relado ou tecnológico, a outra(s) licenciatura(s) ou a cursos aprendizagem, no planejamento e na realização de ativida-
de formação pedagógica de docentes, garantindo: des educativas;
I – articulação com o contexto educacional, em suas g) pesquisa e estudo dos conteúdos específicos e pe-
dimensões sociais, culturais, econômicas e tecnológicas; dagógicos, seus fundamentos e metodologias, legislação
II – efetiva articulação entre faculdades e centros de educacional, processos de organização e gestão, trabalho
educação, institutos, departamentos e cursos de áreas es- docente, políticas de financiamento, avaliação e currículo;
pecíficas, além de fóruns de licenciatura; h) decodificação e utilização de diferentes linguagens
III – coordenação e colegiado próprios que formulem e códigos linguístico-sociais utilizadas pelos estudantes,
projeto pedagógico e se articulem com as unidades acadê- além do trabalho didático sobre conteúdos pertinentes às
micas envolvidas e, no escopo do PDI e PPI, tomem deci- etapas e modalidades de educação básica;
sões sobre a organização institucional e sobre as questões i) pesquisa e estudo das relações entre educação e tra-
administrativas no âmbito de suas competências; balho, educação e diversidade, direitos humanos, cidada-
IV – interação sistemática entre os sistemas, as institui- nia, educação ambiental, entre outras problemáticas cen-
ções de educação superior e as instituições de educação trais da sociedade contemporânea;
básica, desenvolvendo projetos compartilhados; j) questões atinentes à ética, estética e ludicidade no
V – projeto formativo que assegure aos estudantes o contexto do exercício profissional, articulando o saber aca-
domínio dos conteúdos específicos da área de atuação, dêmico, a pesquisa, a extensão e a prática educativa;
fundamentos e metodologias, bem como das tecnologias; l) pesquisa, estudo, aplicação e avaliação da legislação
VI – organização institucional para a formação dos for- e produção específica sobre organização e gestão da edu-
madores, incluindo tempo e espaço na jornada de trabalho cação nacional.
para as atividades coletivas e para o estudo e a investiga- II – núcleo de aprofundamento e diversificação de es-
ção sobre o aprendizado dos professores em formação; tudos das áreas de atuação profissional, incluindo os con-
VII – recursos pedagógicos como biblioteca, laborató- teúdos específicos e pedagógicos, priorizadas pelo projeto
rios, videoteca, entre outros, além de recursos de tecno- pedagógico das instituições, em sintonia com os sistemas
logias da informação e da comunicação, com qualidade e de ensino, que, atendendo às demandas sociais, oportuni-
quantidade, nas instituições de formação; zará, entre outras possibilidades:
VIII – atividades de criação e apropriação culturais jun- a) investigações sobre processos educativos, organiza-
to aos formadores e futuros professores. cionais e de gestão na área educacional;
Art. 12. Os cursos de formação inicial, respeitadas a di- b) avaliação, criação e uso de textos, materiais didá-
versidade nacional e a autonomia pedagógica das institui- ticos, procedimentos e processos de aprendizagem que
ções, constituir-se-ão dos seguintes núcleos: contemplem a diversidade social e cultural da sociedade
I – núcleo de estudos de formação geral, das áreas es- brasileira;
pecíficas e interdisciplinares, e do campo educacional, seus c) pesquisa e estudo dos conhecimentos pedagógicos
fundamentos e metodologias, e das diversas realidades e fundamentos da educação, didáticas e práticas de ensino,
educacionais, articulando: teorias da educação, legislação educacional, políticas de fi-
a) princípios, concepções, conteúdos e critérios oriun- nanciamento, avaliação e currículo.
dos de diferentes áreas do conhecimento, incluindo os co- d) Aplicação ao campo da educação de contribuições
nhecimentos pedagógicos, específicos e interdisciplinares, e conhecimentos, como o pedagógico, o filosófico, o his-
os fundamentos da educação, para o desenvolvimento das tórico, o antropológico, o ambiental-ecológico, o psicoló-
pessoas, das organizações e da sociedade; gico, o linguístico, o sociológico, o político, o econômico,
b) princípios de justiça social, respeito à diversidade, o cultural;
promoção da participação e gestão democrática; III – núcleo de estudos integradores para enriqueci-
c) conhecimento, avaliação, criação e uso de textos, mento curricular, compreendendo a participação em:
materiais didáticos, procedimentos e processos de ensino a) seminários e estudos curriculares, em projetos de
e aprendizagem que contemplem a diversidade social e iniciação científica, iniciação à docência, residência docen-
cultural da sociedade brasileira; te, monitoria e extensão, entre outros, definidos no projeto
d) observação, análise, planejamento, desenvolvimen- institucional da instituição de educação superior e direta-
to e avaliação de processos educativos e de experiências mente orientados pelo corpo docente da mesma institui-
educacionais em instituições educativas; ção;

44
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

b) atividades práticas articuladas entre os sistemas de sexual, religiosa, de faixa geracional, Língua Brasileira de
ensino e instituições educativas de modo a propiciar vivên- Sinais (Libras), educação especial e direitos educacionais
cias nas diferentes áreas do campo educacional, assegu- de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas so-
rando aprofundamento e diversificação de estudos, expe- cioeducativas.
riências e utilização de recursos pedagógicos; § 3º Deverá ser garantida, ao longo do processo, efe-
c) mobilidade estudantil, intercâmbio e outras ativida- tiva e concomitante relação entre teoria e prática, ambas
des previstas no PPC; fornecendo elementos básicos para o desenvolvimento
d) atividades de comunicação e expressão visando à dos conhecimentos e habilidades necessários à docência.
aquisição e à apropriação de recursos de linguagem capa- § 4º Os critérios de organização da matriz curricular,
zes de comunicar, interpretar a realidade estudada e criar bem como a alocação de tempos e espaços curriculares,
conexões com a vida social. se expressam em eixos em torno dos quais se articulam
dimensões a serem contempladas, como previsto no artigo
CAPÍTULO V 12 desta Resolução.
DA FORMAÇÃO INICIAL DO MAGISTÉRIO DA EDU- § 5º Nas licenciaturas, curso de Pedagogia, em educa-
CAÇÃO BÁSICA ção infantil e anos iniciais do ensino fundamental a serem
EM NÍVEL SUPERIOR: ESTRUTURA E CURRÍCULO desenvolvidas em projetos de cursos articulados, deverão
preponderar os tempos dedicados à constituição de co-
Art. 13. Os cursos de formação inicial de professores nhecimento sobre os objetos de ensino, e nas demais li-
para a educação básica em nível superior, em cursos de li- cenciaturas o tempo dedicado às dimensões pedagógicas
cenciatura, organizados em áreas especializadas, por com- não será inferior à quinta parte da carga horária total.
ponente curricular ou por campo de conhecimento e/ou § 6º O estágio curricular supervisionado é componen-
interdisciplinar, considerando-se a complexidade e multir- te obrigatório da organização curricular das licenciaturas,
referencialidade dos estudos que os englobam, bem como sendo uma atividade específica intrinsecamente articulada
a formação para o exercício integrado e indissociável da com a prática e com as demais atividades de trabalho aca-
docência na educação básica, incluindo o ensino e a gestão dêmico.
educacional, e dos processos educativos escolares e não Art. 14. Os cursos de formação pedagógica para gra-
escolares, da produção e difusão do conhecimento cien- duados não licenciados, de caráter emergencial e provisó-
rio, ofertados a portadores de diplomas de curso superior
tífico, tecnológico e educacional, estruturam-se por meio
formados em cursos relacionados à habilitação pretendida
da garantia de base comum nacional das orientações cur-
com sólida base de conhecimentos na área estudada, de-
riculares.
vem ter carga horária mínima variável de 1.000 (mil) a 1.400
§ 1º Os cursos de que trata o caput terão, no mínimo,
(mil e quatrocentas) horas de efetivo trabalho acadêmico,
3.200 (três mil e duzentas) horas de efetivo trabalho aca-
dependendo da equivalência entre o curso de origem e a
dêmico, em cursos com duração de, no mínimo, 8 (oito)
formação pedagógica pretendida.
semestres ou 4 (quatro) anos, compreendendo:
§ 1º A definição da carga horária deve respeitar os se-
I – 400 (quatrocentas) horas de prática como compo-
guintes princípios:
nente curricular, distribuídas ao longo do processo forma- I – quando o curso de formação pedagógica pertencer
tivo; à mesma área do curso de origem, a carga horária deverá
II – 400 (quatrocentas) horas dedicadas ao estágio su- ter, no mínimo, 1.000 (mil) horas;
pervisionado, na área de formação e atuação na educação II – quando o curso de formação pedagógica pertencer
básica, contemplando também outras áreas específicas, se a uma área diferente da do curso de origem, a carga horá-
for o caso, conforme o projeto de curso da instituição; ria deverá ter, no mínimo, 1.400 (mil e quatrocentas) horas;
III – pelo menos 2.200 (duas mil e duzentas) horas de- III – a carga horária do estágio curricular supervisiona-
dicadas às atividades formativas estruturadas pelos núcleos do é de 300 (trezentas) horas;
definidos nos incisos I e II do artigo 12 desta Resolução, IV – deverá haver 500 (quinhentas) horas dedicadas às
conforme o projeto de curso da instituição; atividades formativas referentes ao inciso I deste parágrafo,
IV – 200 (duzentas) horas de atividades teórico-práti- estruturadas pelos núcleos definidos nos incisos I e II do
cas de aprofundamento em áreas específicas de interesse artigo 12 desta Resolução, conforme o projeto de curso da
dos estudantes, conforme núcleo definido no inciso III do instituição;
artigo 12 desta Resolução, por meio da iniciação científica, V – deverá haver 900 (novecentas) horas dedicadas às
da iniciação à docência, da extensão e da monitoria, entre atividades formativas referentes ao inciso II deste parágra-
outras, consoante o projeto de curso da instituição. fo, estruturadas pelos núcleos definidos nos incisos I e II do
§ 2º Os cursos de formação deverão garantir nos currí- artigo 12 desta Resolução, conforme o projeto de curso da
culos conteúdos específicos da respectiva área de conheci- instituição;
mento ou interdisciplinares, seus fundamentos e metodo- VI – deverá haver 200 (duzentas) horas de atividades
logias, bem como conteúdos relacionados aos fundamen- teórico-práticas de aprofundamento em áreas específicas
tos da educação, formação na área de políticas públicas de interesse dos alunos, conforme núcleo definido no in-
e gestão da educação, seus fundamentos e metodologias, ciso III do artigo 12, consoante o projeto de curso da ins-
direitos humanos, diversidades étnico-racial, de gênero, tituição;

45
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

§ 2º Os cursos de formação deverão garantir nos currí- tos da educação, formação na área de políticas públicas
culos conteúdos específicos da respectiva área de conheci- e gestão da educação, seus fundamentos e metodologias,
mento ou interdisciplinares, seus fundamentos e metodo- direitos humanos, diversidades étnico-racial, de gênero,
logias, bem como conteúdos relacionados aos fundamen- sexual, religiosa, de faixa geracional, Língua Brasileira de
tos da educação, formação na área de políticas públicas Sinais (Libras), educação especial e direitos educacionais
e gestão da educação, seus fundamentos e metodologias, de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas so-
direitos humanos, diversidades étnico-racial, de gênero, cioeducativas.
sexual, religiosa, de faixa geracional, Língua Brasileira de § 4º Os cursos descritos no caput poderão ser oferta-
Sinais (Libras), educação especial e direitos educacionais dos a portadores de diplomas de cursos de graduação em
de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas so- licenciatura, independentemente da área de formação.
cioeducativas. § 5º Cabe à instituição de educação superior ofertante
§ 3º Cabe à instituição de educação superior ofertante do curso verificar a compatibilidade entre a formação do
do curso verificar a compatibilidade entre a formação do candidato e a habilitação pretendida.
candidato e a habilitação pretendida. § 6º O estágio curricular supervisionado é componen-
§ 4º O estágio curricular supervisionado é componen- te obrigatório da organização curricular das licenciaturas,
te obrigatório da organização curricular das licenciaturas, sendo uma atividade específica intrinsecamente articulada
sendo uma atividade específica intrinsecamente articulada com a prática e com as demais atividades de trabalho aca-
com a prática e com as demais atividades de trabalho aca- dêmico.
dêmico. § 7º Os portadores de diploma de licenciatura com
§ 5º A oferta dos cursos de formação pedagógica para exercício comprovado no magistério e exercendo atividade
graduados poderá ser realizada por instituições de educa- docente regular na educação básica poderão ter redução
ção superior, preferencialmente universidades, que ofertem da carga horária do estágio curricular supervisionado até o
curso de licenciatura reconhecido e com avaliação satisfa- máximo de 100 (cem) horas.
tória realizada pelo Ministério da Educação e seus órgãos § 8º A oferta dos cursos de segunda licenciatura pode-
na habilitação pretendida, sendo dispensada a emissão de rá ser realizada por instituição de educação superior que
novos atos autorizativos. oferte curso de licenciatura reconhecido e com avaliação
§ 6º A oferta de cursos de formação pedagógica para satisfatória pelo MEC na habilitação pretendida, sendo dis-
graduados deverá ser considerada quando dos processos pensada a emissão de novos atos autorizativos.
de avaliação do curso de licenciatura mencionado no pa- § 9º A oferta de cursos de segunda licenciatura deve-
rágrafo anterior. rá ser considerada quando dos processos de avaliação do
§ 7º No prazo máximo de 5 (cinco) anos, o Ministério curso de licenciatura mencionado no parágrafo anterior.
da Educação, em articulação com os sistemas de ensino e § 10. Os cursos de segunda licenciatura para professo-
com os fóruns estaduais permanentes de apoio à formação res em exercício na educação básica pública, coordenados
docente, procederá à avaliação do desenvolvimento dos pelo MEC em regime de colaboração com os sistemas de
cursos de formação pedagógica para graduados, definindo ensino e realizados por instituições públicas e comunitárias
prazo para sua extinção em cada estado da federação. de educação superior, obedecerão às diretrizes operacio-
Art. 15. Os cursos de segunda licenciatura terão carga nais estabelecidas na presente Resolução.
horária mínima variável de 800 (oitocentas) a 1.200 (mil e
duzentas) horas, dependendo da equivalência entre a for- CAPÍTULO VI
mação original e a nova licenciatura. DA FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFISSIO-
§ 1º A definição da carga horária deve respeitar os se- NAIS DO MAGISTÉRIO
guintes princípios:
I – quando o curso de segunda licenciatura pertencer à Art. 16. A formação continuada compreende dimen-
mesma área do curso de origem, a carga horária deverá ter, sões coletivas, organizacionais e profissionais, bem como
no mínimo, 800 (oitocentas) horas; o repensar do processo pedagógico, dos saberes e valores,
II – quando o curso de segunda licenciatura pertencer e envolve atividades de extensão, grupos de estudos, reu-
a uma área diferente da do curso de origem, a carga ho- niões pedagógicas, cursos, programas e ações para além
rária deverá ter, no mínimo, 1.200 (mil e duzentas) horas; da formação mínima exigida ao exercício do magistério na
III – a carga horária do estágio curricular supervisiona- educação básica, tendo como principal finalidade a refle-
do é de 300 (trezentas) horas; xão sobre a prática educacional e a busca de aperfeiçoa-
§ 2º Durante o processo formativo, deverá ser garan- mento técnico, pedagógico, ético e político do profissional
tida efetiva e concomitante relação entre teoria e prática, docente.
ambas fornecendo elementos básicos para o desenvolvi- Parágrafo único. A formação continuada decorre de
mento dos conhecimentos e habilidades necessários à do- uma concepção de desenvolvimento profissional dos pro-
cência. fissionais do magistério que leva em conta:
§ 3º Os cursos de formação deverão garantir nos currí- I – os sistemas e as redes de ensino, o projeto peda-
culos conteúdos específicos da respectiva área de conheci- gógico das instituições de educação básica, bem como os
mento e/ou interdisciplinar, seus fundamentos e metodo- problemas e os desafios da escola e do contexto onde ela
logias, bem como conteúdos relacionados aos fundamen- está inserida;

46
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

II – a necessidade de acompanhar a inovação e o de- CAPÍTULO VII


senvolvimento associados ao conhecimento, à ciência e à DOS PROFISSIONAIS DO MAGISTÉRIO E SUA VA-
tecnologia; LORIZAÇÃO
III – o respeito ao protagonismo do professor e a um
espaço tempo que lhe permita refletir criticamente e aper- Art. 18. Compete aos sistemas de ensino, às redes e às
feiçoar sua prática; instituições educativas a responsabilidade pela garantia de
IV – o diálogo e a parceria com atores e instituições políticas de valorização dos profissionais do magistério da
competentes, capazes de contribuir para alavancar novos educação básica, que devem ter assegurada sua formação,
patamares de qualidade ao complexo trabalho de gestão além de plano de carreira, de acordo com a legislação vi-
da sala de aula e da instituição educativa. gente, e preparação para atuar nas etapas e modalidades
Art. 17. A formação continuada, na forma do artigo 16, da educação básica e seus projetos de gestão, conforme
deve se dar pela oferta de atividades formativas e cursos definido na base comum nacional e nas diretrizes de for-
de atualização, extensão, aperfeiçoamento, especialização, mação, segundo o PDI, PPI e PPC da instituição de educa-
mestrado e doutorado que agreguem novos saberes e prá- ção superior, em articulação com os sistemas e redes de
ticas, articulados às políticas e gestão da educação, à área ensino de educação básica.
de atuação do profissional e às instituições de educação § 1º Os profissionais do magistério da educação básica
básica, em suas diferentes etapas e modalidades da edu- compreendem aqueles que exercem atividades de docên-
cação. cia e demais atividades pedagógicas, como definido no ar-
§ 1º Em consonância com a legislação, a formação con- tigo 3º, § 4º, desta Resolução;
tinuada envolve: § 2º No quadro dos profissionais do magistério da ins-
I – atividades formativas organizadas pelos sistemas, tituição de educação básica deve constar quem são esses
redes e instituições de educação básica incluindo desen- profissionais, bem como a clara explicitação de sua titula-
volvimento de projetos, inovações pedagógicas, entre ou- ção, atividades e regime de trabalho.
tros; § 3º A valorização do magistério e dos demais profis-
II – atividades ou cursos de atualização, com carga ho- sionais da educação deve ser entendida como uma dimen-
rária mínima de 20 (vinte) horas e máxima de 80 (oitenta) são constitutiva e constituinte de sua formação inicial e
horas, por atividades formativas diversas, direcionadas à continuada, incluindo, entre outros, a garantia de constru-
melhoria do exercício do docente; ção, definição coletiva e aprovação de planos de carreira e
II – atividades ou cursos de extensão, oferecida por ati- salário, com condições que assegurem jornada de trabalho
vidades formativas diversas, em consonância com o projeto com dedicação exclusiva ou tempo integral a ser cumprida
de extensão aprovado pela instituição de educação supe- em um único estabelecimento de ensino e destinação de
rior formadora; 1/3 (um terço) da carga horária de trabalho a outras ativi-
IV – cursos de aperfeiçoamento, com carga horária mí- dades pedagógicas inerentes ao exercício do magistério,
nima de 180 (cento e oitenta) horas, por atividades forma- tais como:
tivas diversas, em consonância com o projeto pedagógico I – preparação de aula, estudos, pesquisa e demais ati-
da instituição de educação superior; vidades formativas;
V – cursos de especialização lato sensu por atividades II – participação na elaboração e efetivação do projeto
formativas diversas, em consonância com o projeto peda- político-pedagógico da instituição educativa;
gógico da instituição de educação superior e de acordo III – orientação e acompanhamento de estudantes;
com as normas e resoluções do CNE; IV – avaliação de estudantes, de trabalhos e atividades
VI – cursos de mestrado acadêmico ou profissional, por pedagógicas;
atividades formativas diversas, de acordo com o projeto V – reuniões com pais, conselhos ou colegiados esco-
pedagógico do curso/programa da instituição de educa- lares;
ção superior, respeitadas as normas e resoluções do CNE e VI – participação em reuniões e grupos de estudo e/
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível ou de trabalho, de coordenação pedagógica e gestão da
Superior – Capes; escola;
VII – curso de doutorado, por atividades formativas VII – atividades de desenvolvimento profissional;
diversas, de acordo com o projeto pedagógico do curso/ VIII – outras atividades de natureza semelhante e rela-
programa da instituição de educação superior, respeitadas cionadas à comunidade escolar na qual se insere a ativida-
as normas e resoluções do CNE e da Capes. de profissional.
§ 2º A instituição formadora, em efetiva articulação Art. 19. Como meio de valorização dos profissionais do
com o planejamento estratégico do Fórum Estadual Per- magistério público nos planos de carreira e remuneração
manente de Apoio à Formação Docente e com os sistemas dos respectivos sistemas de ensino, deverá ser garantida
e redes de ensino e com as instituições de educação básica, a convergência entre formas de acesso e provimento ao
definirá no seu projeto institucional as formas de desen- cargo, formação inicial, formação continuada, jornada de
volvimento da formação continuada dos profissionais do trabalho, incluindo horas para as atividades que conside-
magistério da educação básica, articulando-as às políticas rem a carga horária de trabalho, progressão na carreira e
de valorização a serem efetivadas pelos sistemas de ensino. avaliação de desempenho com a participação dos pares,
asseverandose:

47
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

I – acesso à carreira por concurso de provas e títulos CAPÍTULO VIII


orientado para assegurar a qualidade da ação educativa; DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
II – fixação do vencimento ou salário inicial para as car-
reiras profissionais da educação de acordo com a jornada Art. 22. Os cursos de formação de professores que se
de trabalho definida nos respectivos planos de carreira no encontram em funcionamento deverão se adaptar a esta
caso dos profissionais do magistério, com valores nunca Resolução no prazo de 2 (dois) anos, a contar da data de
inferiores ao do Piso Salarial Profissional Nacional, vedada sua publicação.
qualquer diferenciação em virtude da etapa ou modalidade Parágrafo único. Os pedidos de autorização para fun-
de educação e de ensino de atuação; cionamento de curso em andamento serão restituídos aos
III – diferenciação por titulação dos profissionais da proponentes para que sejam feitas as adequações neces-
educação escolar básica entre os habilitados em nível mé- sárias.
dio e os habilitados em nível superior e pós-graduação lato Art. 23. Os processos de avaliação dos cursos de licen-
sensu, com percentual compatível entre estes últimos e os ciatura serão realizados pelo órgão próprio do sistema e
acompanhados por comissões próprias de cada área.
detentores de cursos de mestrado e doutorado;
Art. 24. Os cursos de formação inicial de professores
IV – revisão salarial anual dos vencimentos ou salários
para a educação básica em nível superior, em cursos de
conforme a Lei do Piso;
licenciatura, organizados em áreas interdisciplinares, serão
V – manutenção de comissão paritária entre gestores e objeto de regulamentação suplementar.
profissionais da educação e os demais setores da comuni- Art. 25. Esta Resolução entra em vigor na data de sua
dade escolar para estudar as condições de trabalho e pro- publicação, revogadas as disposições em contrário, em es-
por políticas, práticas e ações para o bom desempenho e a pecial a Resolução CNE/CP nº 2, de 26 de junho de 1997,
qualidade dos serviços prestados à sociedade; a Resolução CNE/CP nº 1, de 30 de setembro de 1999, a
VI – elaboração e implementação de processos avalia- Resolução CNE/CP nº 1, de 18 de fevereiro de 2002 e suas
tivos para o estágio probatório dos profissionais do magis- alterações, a Resolução CNE/CP nº 2, de 19 de fevereiro de
tério, com a sua participação; 2002 e suas alterações, a Resolução nº 1, de 11 de fevereiro
VII – oferta de programas permanentes e regulares de de 2009, e a Resolução nº 3, de 7 de dezembro de 2012.
formação e aperfeiçoamento profissional do magistério e a
instituição de licenças remuneradas e formação em serviço,
inclusive em nível de pós-graduação, de modo a atender às
especificidades do exercício de suas atividades, bem como ASPECTOS LEGAIS E POLÍTICOS DA
os objetivos das diferentes etapas e modalidades da edu- ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA.
cação básica.
Art. 20. Os critérios para a remuneração dos profissio-
nais do magistério público devem se pautar nos preceitos
da Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008, que estabelece o Muitas são as dificuldades dos gestores escolares em
Piso Salarial Profissional Nacional, e no artigo 22 da Lei nº relação à gestão democrática da escola que envolve co-
11.494, de 20 de junho de 2007, que dispõe sobre a parce- nhecimentos sobre as bases legais da educação e sobre a
la da verba do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento organização administrativa e pedagógica da escola.
da Educação Básica e Valorização do Magistério (Fundeb), O conhecimento sobre os aspectos da organização
destinada ao pagamento dos profissionais do magistério, administrativa e pedagógica é necessário para a condução
bem como no artigo 69 da Lei nº 9.394, de 20 de dezem- dos processos de elaboração e ou atualização do Proje-
to Político-Pedagógico, do Regimento Escolar e, mais re-
bro de 1996, que define os percentuais mínimos de investi-
centemente, do PDE-Escola, documentos que traduzem o
mento dos entes federados na educação, em consonância
planejamento estratégico da escola em prol da melhoria
com a Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprovou
dos serviços prestados à comunidade e da qualidade da
o Plano Nacional de Educação (PNE). educação.
Parágrafo único. As fontes de recursos para o paga- Bem, esse é o objetivo deste texto, ou seja, propiciar,
mento da remuneração dos profissionais do magistério pú- aos gestores escolares, conhecimentos sobre a organiza-
blico são aquelas descritas no artigo 212 da Constituição ção administrativa e pedagógica das instituições de ensino.
Federal e no artigo 60 do seu Ato das Disposições Cons-
titucionais Transitórias, além de recursos provenientes de Afinal o que é Projeto Político-Pedagógico, Regi-
outras fontes vinculadas à manutenção e ao desenvolvi- mento Escolar e Plano de Desenvolvimento da Escola?
mento do ensino. Uma vez que já aprendemos sobre as bases concei-
Art. 21. Sobre as formas de organização e gestão da tuais do Projeto Político-Pedagógico, prosseguiremos com
educação básica, incluindo as orientações curriculares, os a organização do trabalho pedagógico. O gestor escolar,
entes federados e respectivos sistemas de ensino, redes e no desempenho desta função, precisa conhecer as bases
instituições educativas deverão garantir adequada relação legais que normatizam o trabalho pedagógico e a organi-
numérica professor/educando, levando em consideração zação da escola, principalmente, sobre os documentos que
as características dos educandos, do espaço físico, das eta- auxiliam a gerência da escola, sendo eles: Projeto Político
pas e modalidades da educação e do projeto pedagógico -Pedagógico (PPP), Regimento Escolar e Plano de Desen-
e curricular. volvimento da Educação (PDE).

48
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

O art. 12 da Lei de Diretrizes e Bases, Lei nº 9394/96, Se o PPP é tudo isso. O que é, então, o Regimento
estipula a elaboração e execução da proposta pedagógica Escolar?
da escola em consonância com as normas comuns e a dos O Regimento Escolar estabelece a organização admi-
respectivos sistemas de ensino e, no inciso I do art. 14, es- nistrativa, didático-pedagógica e disciplinar da escola. Nele
tabelece a “participação dos profissionais da educação na estão descritas as formas de trabalho, as normas dentro
elaboração do projeto pedagógico da escola”. das quais o trabalho será realizado, os direitos e deveres
O conhecimento da base legal que fundamenta a or- dos profissionais da escola, dos alunos e dos pais.
ganização escolar e o trabalho pedagógico é fulcral para a Cada sistema de ensino estipula as normas para a ela-
melhoria da qualidade da educação. Vale lembrar que no boração deste documento. Ao contrário do PPP que não
caso da educação, a Lei nº 9394/96 e as Diretrizes Curricula- possui um modelo padrão para orientar sua elaboração, o
res Nacionais estabelecem normas mandatárias para todas Regimento Escolar possui, sendo ele:
as escolas brasileiras, ou seja, todas as instituições de ensino • identificação e objetivos da escola;
privadas e públicas, da Educação Básica ao Ensino Superior • etapas da educação básica que a escola oferece;
deverão obedecê-las. • organização administrativa e técnico-pedagógica
O que precisamos buscar na legislação?
(atribuições da direção, o corpo técnico-pedagógico, a se-
Na atual LDB, podemos encontrar as diretrizes para a
cretaria, os serviços auxiliares, o corpo docente e discente);
organização da proposta curricular; diretrizes para o pro-
• organização e função dos órgãos colegiados (con-
cesso avaliativo, determinações para o trabalho escolar;
objetivos de cada nível e modalidade de ensino; princípios selho escolar, associação de pais e mestres, grêmio estu-
e finalidades da educação, responsabilidades dos governos dantil etc.);
federal, estadual e municipal e formação dos profissionais • estrutura de ensino: orientações didático-pedagó-
da educação. gicas, processo avaliativo (definição clara dos instrumentos,
As orientações didático-pedagógicas constam nas dire- critérios e formas de comunicação dos resultados), acom-
trizes curriculares e na proposta pedagógica de cada siste- panhamento do rendimento escolar e seus aspectos didá-
ma de ensino. Já no Estatuto da Criança e do Adolescente, ticos, promoção do aluno (cálculo de notas e médias, orga-
os direitos das crianças e jovens brasileiros, direitos e deve- nização de boletins, certificados etc.), recuperação paralela,
res da família, principalmente, em relação à educação. reuniões pedagógicas e de pais, etc.;
Vocês já sabem que o Projeto Político-Pedagógico é o • organização da vida escolar (calendário, matrícula,
documento que orienta a concepção e a organização do transferência, cancelamento de matrícula, frequência);
trabalho educativo, estabelece os objetivos da escola, o • normas de convivência escolar: as sanções para
perfil de sociedade e de cidadão que pretendem formar. alunos e funcionários da escola.
É, portanto, um documento norteador da ação educati-
va e não pode abster-se da definição dos pressupostos teó- O Regimento Escolar é
ricos que irão respaldar e subsidiar os trabalhos pedagógi- [...] um documento que, por natureza, reclama elabo-
cos e as relações na escola. O Projeto Político-Pedagógico ração coletiva, envolvendo toda comunidade escolar. Exata-
deve ser compreendido como documento de reflexão que mente por ser a tradução formal do projeto político-pedagó-
tem como objetivo maior, a busca da qualidade do ensino. gico da escola [...] não é documento que se elabore às pres-
Segundo Veiga (1995), a possibilidade de construção sas, mas exige que se disponha de certo tempo, para permitir
do PPP que o processo participativo – moroso quase sempre - possa
[...] passa pela autonomia da escola, de sua capacidade acontecer. (CEED/RS, 1998, p. 7)
de delinear sua própria identidade. Isto significa resgatar a Assim, para que o processo de construção do Projeto
escola como espaço público, lugar de debate, de diálogo, Político-Pedagógico e do Regimento Escolar da escola e
fundado na reflexão coletiva. [...] é preciso entender que o
a consolidação do texto final destes documentos não se
PPP da escola dará indicações necessárias à organização do
resumam a uma atividade burocrática, com o propósito
trabalho pedagógico, que inclui o trabalho do professor na
de cumprir uma exigência legal, é preciso que os gestores
dinâmica da sala de aula (p. 14).
Nesta concepção, o PPP é um documento orientador escolares viabilizem as condições necessárias para a sua
do trabalho pedagógico realizado pela escola, e para a or- construção, execução, acompanhamento, avaliação e (re)
ganização deste documento, a dinâmica da sala de aula e construção. São algumas dessas condições:
o trabalho do professor são os grandes referenciais. Nele 1. a delimitação e organização do tempo para a dis-
estão estabelecidos os pilares e as ações para que a escola cussão, elaboração e acompanhamento do projeto;
possa desempenhar sua função social, além dos direciona- 2. estabelecimento de possibilidades e de limitações
mentos administrativos e financeiros. do trabalho da escola e definição de prioridades;
A construção do PPP bem como o processo de atuali- 3. acompanhamento da execução da proposta peda-
zação deste documento é marcada por contradições e con- gógica.
flitos, uma vez que, a participação efetiva dos profissionais É necessário, ainda, que os envolvidos neste processo
da escola, alunos e seus familiares, comunidade externa e tenham acesso às informações necessárias à elaboração
órgãos públicos trazem para as discussões diversas con- destes documentos e que compreendam os impactos e a
cepções, crenças, práticas, demandas, convicções, interes- abrangência das decisões tomadas para a escola, para a
ses que precisam ser aglutinados para a elaboração de um comunidade e, principalmente, para a vida das crianças e
compromisso político e pedagógico coletivo. jovens atendidos pela escola.

49
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

De maneira geral, o processo de elaboração desses documentos envolve negociações, consensos, expectativas, idas e
vindas, impasses, conflitos. Isso porque supõe
[...] rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para
arriscar-se, atravessar um período de instabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor que
o presente. [...] As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores. (GADOTTI,
1994, p.579).
Resumindo, o Projeto Político-Pedagógico contempla a concepção, realização e avaliação do projeto educativo da es-
cola. Ele é político, pois, representa um compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade e pedagógico
no sentido de definir as ações pedagógicas necessárias à efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação do
cidadão participativo, responsável, crítico e criativo, capaz de atuar como agente de transformação da sociedade.
O Regimento Escolar é um instrumento, uma ferramenta que dá vida ao PPP. Nele ficam estabelecidos os procedimen-
tos metodológicos, avaliativos, disciplinares, as relações estabelecidas na ação educativa que a escola validou por meio da
gestão democrática. Enfim,

50
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Qual a relação entre o PPP, o Regimento Escolar e Organização Administrativa da Escola


o PDE? Os gestores de uma instituição de ensino precisam ter
conhecimento sobre a organização administrativa e peda-
O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) foi gógica de uma escola e sobre como utilizar os resultados
criado pelo governo federal e inserido nas escolas públicas das avaliações em larga escala da educação para a melhoria
de ensino fundamental das consideradas Zonas de Atendi- da qualidade do ensino. Pensar a organização administra-
mento Prioritário (ZAPs) das regiões norte, nordeste e cen- tiva de uma escola é considerar a especificidade da gestão
tro-oeste. Inicialmente, o PDE era um programa inserido no escolar, ou seja, a sua função pedagógica.
âmbito do Fundescola, do Ministério da Educação (MEC) e
financiado pelo Banco Mundial. Assim, a compreensão da especificidade da escola
O PDE tinha como objetivos: melhorar a gestão escolar, enquanto instituição social bem como das finalidades da
a qualidade do ensino e a aumentar o tempo de perma- educação e dos objetivos sociais da escola é fundamental
nência das crianças na escola (SAVIANI, 2007). para todos os envolvidos no processo de gestão da uma
instituição de ensino uma vez que a educação escolar não
Na atualidade, o PDE passou a se chamar PDE- Escola é toda a educação, conforme a atual LDBEN, a educação
e consiste em um instrumento estratégico dirigido às esco- ocorre nos mais variados espaços, na escola onde é uma
las com IDH mais crítico. É uma importante ferramenta de atividade sistemática e intencional, na família, nas diversas
aperfeiçoamento da gestão escolar que se desenvolve em relações sociais.
três etapas:
Diversos são as dificuldades enfrentadas pelos gesto-
• Diagnóstico da Escola res escolares em relação à organização administrativa e pe-
• Síntese do Diagnóstico da Escola dagógica de uma escola, sendo elas:
• Plano de Ação da Escola.
• dificuldades na compreensão das bases legais da
O PDE-Escola é disponibilizado no SIMEC – Sistema In- educação, principalmente, em relação à organização dos
tegrado de Planejamento, Orçamento e Finanças. A escola, sistemas de ensino, construção da proposta pedagógica,
a partir do PPP e do Regimento Escolar, tendo como base avaliação da aprendizagem e institucional, financiamento;
as etapas especificadas no PDE, devem elaborar plano de • falta de unidade que se traduz na dificuldade em
ação, com a participação das comunidades interna e exter- articular, em prol da proposta política e pedagógica da es-
na, para a melhoria dos seus resultados. cola, os profissionais dos diversos turnos de trabalho da
O PDE viabiliza o plano de ação da escola por meio do escola;
apoio técnico e financeiro do MEC. • dificuldades no estabelecimento de parcerias com
Os três documentos estudados nesta unidade, o Pro- a família e com a comunidade;
jeto Político-Pedagógico, Regimento Escolar e PDE-Escola, • dificuldades na articulação entre o planejamento
estão interligados e constituem o planejamento estraté- administrativo, pedagógico da escola e os recursos finan-
gico da gestão escolar. Muitas dificuldades estão relacio- ceiros;
nadas ao processo de construção e ou atualização destes • dificuldades na implantação da proposta político
documentos, uma delas está relacionada à falta de referên- -pedagógica.
cias e diretrizes claras necessárias à formação do indivíduo • Vamos então, compreender como está estrutura-
crítico, reflexivo, criativo, consciente, capaz de interagir em do o Sistema Nacional de Ensino. Veja o esquema abaixo:
uma sociedade dinâmica e com as diversas interfaces do
mundo laboral. Outra dificuldade enfrentada é a definição
da práxis pedagógica, pois, ela se define e se delineia nas
estratégias de aprendizagem e nos meios empregados
para se atingir as metas estipuladas pelas escolas e, para
defini-la é preciso um processo coletivo, participativo, dia-
lógico e reflexivo (GADOTTI, 1994).

É preciso que os envolvidos no processo de elaboração


desses documentos participem em condições de igualdade
e que cada segmento – gestão, equipe pedagógica, família
e comunidade, alunos - possa contribuir para a ampliação
do diálogo em prol da melhoria da qualidade do ensino e
da formação para a cidadania. Os documentos estudados
são as ferramentas da gestão democrática, pois, contem-
plam todos os eixos do planejamento de uma instituição
de ensino sendo eles: organização administrativa, organi-
zação pedagógica e avaliação institucional.

51
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

O Sistema Nacional de Ensino é integrado e cada ente federativo, União, Estados, Distrito Federal e Municípios podem
organizar seus respectivos sistemas de ensino. Além disso, as instâncias administrativas precisam trabalhar em regime de
colaboração na oferta, financiamento e garantia da qualidade da educação. No entanto, ainda não há definição de como
correrá plenamente a articulação e dos mecanismos de colaboração entre as esferas de poder.
As concepções de gestão escolar se refletem nas posições políticas e nas concepções de homem e de sociedade. O
modo como a escola se organiza e se estrutura tem um caráter pedagógico e, na gestão democrática, são priorizados
modelos de gestão que valorizam o trabalho coletivo e a participação de todos. A estrutura organizacional das escolas se
diferencia conforme a legislação dos Estados e Municípios e com as concepções de organização e gestão adotadas, mas,
de modo geral, podemos perceber uma estrutura básica conforme modelo a seguir:

52
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

O Conselho Escolar tem atribuições consultivas, deli- • cuidar do atendimento e do acompanhamento es-
berativas e fiscais em questões definidas na legislação es- colar dos alunos e também do relacionamento escola-pais-
tadual ou municipal e no Regimento Escolar. comunidade.
Essas questões, de modo geral, envolvem aspectos
pedagógicos, administrativos e financeiros. Gestores e re- A formação específica de supervisores ou coordena-
presentados dos docentes, dos especialistas em educação, dores pedagógicos e dos orientadores educacionais tem
dos funcionários, dos pais e dos alunos devem compor o sido motivo de bastante polêmica entre os educadores. Em
Conselho Escolar observando, em princípio, a paridade dos muitos sistemas de ensino, as funções de coordenação, su-
integrantes da escola (50%) e usuários (50%). pervisão e orientação educacional podem ser exercidas por
A Gestão da Escola é o núcleo executivo que plane- diferentes profissionais.
ja, organiza, coordena, avalia e integra todas as atividades Para melhor conhecimento do assunto, leia o artigo: LI-
desenvolvidas no âmbito da unidade escolar. São algumas BÂNEO, José Carlos. “O sistema de organização e gestão da
das atribuições da equipe de gestão: escola” In: LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da
• gerir a escola, cumprindo e fazendo cumprir a le- Escola - teoria e prática. 4ª ed. Goiânia: Alternativa, 2001.
gislação em vigor, bem como os regulamentos, diretrizes e “O trabalho docente é uma atividade intencional, plane-
normas emanadas dos órgãos superiores e as disposições jada conscientemente visando a atingir objetivos de apren-
do Projeto Político-Pedagógico e do Regimento Escolar, de dizagem. Por isso precisa ser estruturado e ordenado”. (LIBÃ-
modo a garantir a consecução dos objetivos do processo NEO, 1994, p. 96)
educacional;
O corpo docente compõe a equipe pedagógica e tem
• coordenar e garantir a elaboração, a execução e a
com funções:
avaliação da proposta pedagógica da escola;
• participar da elaboração da proposta pedagógica
• garantir o funcionamento da organização escolar;
e do plano de ensino;
• zelar pelo patrimônio físico e cultural da escola e
da comunidade; • planejar, elaborar e cumprir o plano de trabalho,
• promover a administração do pessoal da escola segundo a proposta pedagógica da escola;
e dos recursos materiais e financeiros necessários para o • zelar pela aprendizagem dos alunos;
aperfeiçoamento do trabalho educacional. • estabelecer estratégias de recuperação para os
alunos de menor rendimento;
A Equipe Pedagógica compreende as atividades de • cumprir carga horária de efetivo trabalho escolar,
coordenação pedagógica e orientação educacional. As além de participar efetivamente dos períodos dedicados ao
funções dos especialistas em educação variam conforme a planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissio-
legislação estadual e municipal, sendo que em muitos lu- nal;
gares suas atribuições ora são unificadas em apenas um • colaborar com as atividades de articulação da es-
profissional, ora são desempenhadas por professores. De cola com as famílias e a comunidade.
modo geral a equipe pedagógica tem a função de propor-
cionar apoio técnico aos docentes e discentes, relativos a: Os Setores Técnico-Administrativos respondem pe-
• elaboração, desenvolvimento e avaliação da pro- las atividades-meio que asseguram o atendimento dos
posta pedagógica; objetivos e funções da escola. No caso, destacaremos as
• coordenação técnica e pedagógica; atribuições da Secretaria Escolar, pois, é o órgão adminis-
• acompanhamento e avaliação do processo de en- trativo encarregado da execução dos trabalhos pertinentes
sino-aprendizagem; à escrituração, correspondência e aos arquivos da escola.
• promover a coordenação, o acompanhamento, A Secretaria deverá se organizar de modo a permitir a
controle e avaliação das atividades educacionais da escola; verificação da identidade de cada aluno, a autenticidade e
• participar da elaboração e execução da proposta regularidade de sua vida escolar, bem como a qualificação
pedagógica e do plano de ensino; profissional do pessoal docente, técnico e administrativo.
• acompanhar, avaliar e controlar a execução do Pla- São algumas das atribuições da secretaria escolar:
no de Trabalho dos docentes; • responder perante a gestão, pelo expediente e
• prestar assistência técnica aos professores, visan- execução dos serviços gerais da secretaria;
do ao cumprimento da proposta pedagógica, e do plano
• organizar, superintender e realizar serviços de es-
de ensino e assegurar a eficiência e a eficácia do desem-
crituração escolar e os registros relacionados com a admi-
penho dos docentes para melhoria dos padrões de ensino;
nistração do pessoal;
• prover, juntamente com os professores, meios
para a recuperação de aprendizagem dos alunos, acompa- • organizar e manter sob guarda os prontuários dos
nhando sua aplicação e avaliando cada professor em sua alunos, fichários e arquivos zelando pela sua ordem e con-
atuação nesse processo; socializar o saber docente, estimu- servação;
lando a troca de experiências entre os segmentos da co- • promover e manter atualizados os registros de
munidade escolar, a discussão e a sistematização da prática aproveitamento escolar e frequência dos alunos, a escri-
pedagógica, viabilizando o trânsito teoria-prática, de forma turação dos livros e dos documentos de sua responsabi-
a qualificar a prática docente; lidade;

53
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

• prestar informações e esclarecimentos referentes Organização Pedagógica da Escola


à escrituração e legislação, ao pessoal docente, técnico e
administrativo; A organização pedagógica da escola deve articular-se
• fazer expedir toda a correspondência da escola. à organização administrativa. Compete à equipe pedagó-
gica a interlocução com o corpo docente para efetivação
A biblioteca e os laboratórios são espaços de aprendi- de uma prática pedagógica que cumpra os pressupostos
zagem que prestam assessoria e suporte ao trabalho peda- conceituais e práticos expostos no Projeto Político-Peda-
gógico. São ambientes pedagógicos destinados às ativida- gógico.
des teórico-práticas disponibilizadas para os professores e
alunos e acessíveis à comunidade interna e externa. Podemos considerar a prática pedagógica, com ativi-
dade complexa e dinâmica que se efetiva em um ambiente
A Família e a Comunidade segmentos importantes social particular, ou seja, na escola e que tem como finali-
para a consolidação da gestão democrática nas escolas dade a formação de um sujeito crítico, reflexivo capaz de
públicas e para a garantia da implementação da práxis pe- exercer sua cidadania e se inserir no mercado de trabalho.
dagógica. A legislação educacional atual coloca a família
como corresponsável pela educação das crianças e jovens. Não é tarefa fácil, segundo Borges (2003), a função da
São funções da família e da comunidade: Equipe Pedagógica encontra-se maximizada no processo
• zelar juntamente com seus filhos pela conserva- educativo agindo em todos os espaços para a garantia da
ção de todos os espaços físicos, bem como de materiais efetivação de um projeto de escola que cumpra com sua
existentes na escola e que são patrimônio de uso coletivo; função política, pedagógica e social. Ainda sobre as dificul-
• comprometer-se com o processo de aprendiza- dades enfrentadas pelos pedagogos, Saviani (1994) afirma
gem e assiduidade de seu filho; que esses profissionais, enquanto especialistas em peda-
• participar do processo de eleição dos pais / mães gogia escolar cabe-lhes a tarefa de trabalhar os conteúdos
ou responsáveis representantes por turma, processo este de base científica, organizando-os nas formas e métodos
disciplinado no Plano Anual da escola. mais propícios à sua efetiva assimilação por parte dos alu-
Todos os segmentos que compõem a organização ad- nos.
ministrativa da escola – gestão, equipe pedagógica, con-
selho escolar, setor técnico-administrativo, família e co- A equipe pedagógica deve, portanto, contruir uma
munidade – deverão trabalhar de forma integrada, pois, o proposta pedagógica atenda a demanda do contexto só-
processo de gestão democrática das escolas públicas é si- cio-econômico-cultural atual, com a proposição de ações
nônimo de processo coletivo de tomada de decisões, tanto que possibilite a formação de cidadãos críticos, capazes de
na construção e ou atualização do Projeto Político-Pedagó- lidar, conscientemente, com a realidade científica e tecno-
gico como na definição do destino dos recursos financeiros lógica na qual estão inseridos.
recebidos pela escola.
Assim, é de responsabilidade da equipe pedagógica –
O processo de instrumentalização da comunidade so- coordenadores, supervisores, orientadores educacionais e
bre o sentido de sua participação é legítimo e função da professores – construírem, juntamente com os demais seg-
equipe de gestão da escola. mentos da escola, a proposta curricular que norteará o tra-
balho pedagógico e a práxis educativa da escola. Para isso
É importante consolidar a escola como espaço de ins- se faz necessário conhecimento das diretrizes curriculares
trumentalização e socialização do conhecimento (SAVIA- nacionais para cada nível e modalidade de ensino ofertado
NI, 1991), conhecimento que passa pela tomada de cons- pela escola e sobre o sistema de avaliação em larga escala.
ciência da comunidade sobre o seu papel na construção
de uma proposta de gestão que, de fato, contribua para
a solução dos problemas enfrentados pela escola e para a
melhoria da qualidade do ensino.
As escolas precisam gerir diversos recursos financeiros
que devem ser empregados na aquisição de material per-
manente; manutenção, conservação e pequenos reparos
da unidade escolar; aquisição de material de consumo ne-
cessário ao funcionamento da escola; avaliação de apren-
dizagem; implementação de projeto pedagógico; e desen-
volvimento de atividades educacionais.
Os recursos financeiros, de modo geral, são repassados
às escolas uma vez por ano, é calculado a partir do número
de alunos relatado pela escola no censo escolar do ano
anterrior. As escolas devem prestar contas anualmente dos
recursos financeiros. Uma escola pode receber recursos fi-
nanceiros do FNDE, PDDE, PDE-ESCOLA, etc.

54
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Além da observância das diretrizes curriculares e das bases legais referentes à construção da proposta pedagógica da
escola, é necessária a formação continuada do corpo docente para a melhoria da prática pedagógica e da melhoria da
qualidade do ensino.
A formação continuada, principalmente, diante da difusão das tecnologias da informação e da comunicação (TICs) que
têm impactado fortemente a prática pedagógica e, consequentemente, a organização do trabalho pedagógico, abre novo
leque de possibilidades de metodologias e práticas de ensino, novas formas de acesso ao conhecimento, novos conheci-
mentos, novas formas de aprender e superação de barreiras físicas em relação ao conhecimento e espaços de aprendizagens.
Cabe à coordenação pedagógica ou ao profissional que desempenha essa função na escola oportunizar momentos de
estudo e discussão sobre temáticas relacionadas ao trabalho docente, ao processo de ensino-aprendizagem, à educação
de maneira geral, trocas de experiências, estabelecimento de parcerias a fim de possibilitar a formação destes profissionais
no ambiente de trabalho.
Muitos sistemas de ensino, cientes da importância da formação continuada e troca de experiências, estabeleceram,
dentro da carga horária dos profissionais da escola, momentos para os encontros da equipe pedagógica. Tais momentos
recebem nomes diversos sendo ‘Reunião de Módulo’ o mais comum.
No entanto, as funções são as mesmas: fórum permanente de discussão das concepções de educação, das metodo-
logias de ensino, sobre os conhecimentos teóricos e experiências que desenvolvam as competências profissionais do pro-
fessor, estabelecimento de grupos de estudos e pesquisas, discussões sobre os problemas enfrentados na sala de aula e
fora dela, estabelecimento de parcerias para a realização de projetos, avaliação da proposta pedagógica e das práticas de
ensino, análise das avaliações em larga escala, dentre outras (LIBÂNEO, 2001; SAVIANI, 2007; VEIGA, 1995).
É preciso que o coordenador pedagógico planeje, antecipadamente, esses momentos de encontro da equipe pedagó-
gica e conduza o processo. Como a organização pedagógica e administrativa deve estar integrada, o gestor escolar pode
participar dos encontros da equipe pedagógica, mas, é preciso ter cuidado para que esses encontros não se torne momen-
tos de mera prestação de contas de reivindicações diversas. O Conselho de Classe, também, se configura como momento
de encontro da equipe pedagógica, mas, não deve ser confundido com os momentos de formação e discussão sobre o
trabalho pedagógico.
O Conselho de Classe é constituído para discussão das vivências em sala de aula e envolve todos os atores participantes
do processo de ensino-aprendizagem. O Conselho de Classe, de modo geral, ocorre logo após a finalização de cada etapa
pedagógica – bimestre ou trimestre – e pressupõe avaliação do desenvolvimento dos aprendentes e da prática pedagógica
dos professores. (SILVA, 1999).
A proposta pedagógica da escola deve partir do pressuposto que o conhecimento é uma construção coletiva mediada
pelo diálogo (FREIRE, 2004). O procecesso de construção do conhecimento deve partir da realidade dos sujeitos, de seus
interesses sem deixar de lado o conhecimento técnico-científico e cultural produzido pelas sociedades ao longo dos anos
e os conteúdos previtos nas diretrizes curriculares nacionais e a dos respectivos sistemas de ensino.

55
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

É preciso, além da seleção da concepção de aprendi- Aspecto importante da organzação pedagógica e tam-
zagem que norteará o trabalho pedagógico da escola, da bém da organização administrativa, a avaliação em larga
seleção de conteúdos, da especificação do processo avalia- escala, no caso da Educação Básica, o Sistema de Avaliação
tivo é necessário a escolha e utilização de metodologias de da Educação Básica (SAEB), mostra os resultados sobre os
ensino que favoreçam o diálogo, a interação com o objeto índices de aprendizagem e servem, para os gestores es-
de estudo, a experimentação (consulte a obra de Dewey), colares, como sensor da qualidade da educação oferecida.
que seja desafiadoras e que permitam a (re)criação do co- O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica
nhecimento pelos sujeitos. (SAEB) foi implantado em 1990 e é coordenado pelo Insti-
Freire (2004) chama a atenção para o fato de que a es- tuto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
cola precisa ressignificar o processo de ensinar e aprender Teixeira (INEP). Consiste na sistematização e análise de da-
de forma a possibilitar, ao sujeito aprendente, o estabele- dos sobre o ensino fundamental e médio. O SAEB fornece
cimento de conexções e relações entre os conhecimentos subsídios para a formulação de politicas e diretrizes educa-
produzidos pela humanidade e a realidade na qual está cionais para as escolas de todo o país.
inserido. Para o autor, os conhecimentos significativos pro- O SAEB é composto por duas avaliações complemen-
movem o diálogo, provocam questionamentos e discus- tares, a Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), ava-
sões, propiciando a interação entre sujeito e conhecimento. lia os estudantes matriculados no 5º e 9º anos do ensino
Para dar conta de tudo isso, a proposta pedagógica e fundamental e no 3º ano do ensino médio e a Avaliação
a organização curricular devem ser flexíveis, deve prever a Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), mais conhecida
possibilidade de mudança e alterações e propor uma sele- como Prova Brasil, que avalia alunos de 5º e 9º anos do
ção intencional, sistemática e criteriosa de conteúdos. ensino fundamental público, nas redes estaduais, munici-
A proposta pedagógica da escola como parte inte- pais e federais em escolas que tenham no mínimo 20 alu-
grante do PPP representa uma determinada concepção de nos matriculados na série avaliada. As avaliações do SAEB
educação e de sociedade e deve ser construída pelos pro- ocorrem a cada dois anos, a Aneb é amostral e a Anresc,
fessores dos diversos compontentes curriculares, mediada censitária.
pela equipe pedagógica. Para a elaboração da proposta Como vimos, a avaliação é parte integrante da pro-
pedagógica e da organização curricular da escola, os do- posta pedagógica da escola e, a avaliação em larga escola
centes e a coordenação pedagógica precisa lançam mão possibilita que a escola identifique suas fragilidades em re-
dos fundamentos curriculares. Para dar vida à proposta pe- lação ao processo de ensino-aprendizagem, as competên-
dagógica da escola e à organização curricular, é preciso a cias e habilidades que precisam ser desenvolvidas e reveja
elaboração dos planos de ensino e de aula que sistemati- suas estratégias de ensino.
zam o planejamento do trabalho pedagógico. A avaliação em larga escala possibilita, também, que
O currículo escolar não é neutro. Ele sintetiza a concep- a escola se localize em relação à qualidade do ensino em
ção de homem, de mundo e de sociedade que se deseja relação às escolas do município, do estado e do país e a
formar. A organização curricuar estabelece a organização partir dos índices de desempenho dos alunos, estabelecer
dos espaços e tempos em que a escola vai desenvolver os estratégias que possibilitem a melhoria do ensino e, conse-
diferentes conhecimentos e valores. A escola pode, con- quentemente, o rendimento dos alunos.
forme a atual LDBEN, se organizar em regime seriado (or- A adoção de metodologias de ensino mais adequadas
ganização curricular exclusivamente temporal) ou regime ao contexto da escola e da comunidade atendida e que
cilcado (dividido em tempos que variam de dois a três anos foram selecionadas a partir de uma análise criteriosa dos
e consideram as variações evolutivas dos alunos e seus rit- resultados obtidos pela escola no SAEB e fruto do diálogo
mos de aprendizagem).(SILVA, 1999). e da reflexão da equipe pedagógica sobre a proposta pe-
Esses documentos devem contemplar recorte dos dagógica da escola propiciam a aprendizagem dos alunos
conteúdos selecionados para cada período educativo, com consequente melhoria dos indicadores de rendimento
apresentar a intencionalidade da proposta pedagógica e escolar da escola.
do professor em relação às competências e habilidades a É importante que tenham a compreensão de que se faz
serem desenvolvidas junto aos educandos e traduzidas a necessário que a equipe pedagógica e os gestores escola-
partir dos objetivos de ensino e critérios avaliativos. res interpretem e analisem as avaliações do SAEB para de
Para que a proposta pedagógica se efetive no cotidia- fato implementarem as mudanças necessárias no espaço
no escolar e, portanto, se consolide como uma rotina pe- escolar e na comunidade, principalmente, para subsidiar
dagógica da escola se faz necessário a participação ativa da mudanças das açoes pedagógicas nas salas de aula.
equipe pedagógica na construção do PPP e que os profes- A gestão escolar envolve a organização administrati-
sores tenham pleno conhecimento da organização curricu- va e pedagógica de uma escola e deve garantir que todos
lar da escola: conteúdos (intencionalidade-objetivos), me- os segmentos envolvidos na práxis educativa consquistem
todologias a serem utilizadas para que se possa atingir os seu lugar na construção do Projeto Político-Pedagógico da
objetivos de aprendizagem e como os aprendentes serão escola. Lagarde (1993) chama a atenção para o fato de que
avaliados (critérios e instrumentos de avaliação) e sobre as poder se faz presente nas relações cotidianas, em ações,
possibilidades de intervenção para aqueles que não conse- em gestos, na linguagem, na capacidade de decidir sobre
guiram alcançar os objetivos de aprendizagem. a vida do outro.

56
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

As relações de poder permeiam todas as relações so- As diretrizes curriculares preservam a autonomia
ciais presentes na escola e, ao contruirmos a proposta polí- dos professores?
tico-pedagógica da escola, estamos tomando decisões que As diretrizes curriculares visam preservar a questão da
impactarão a vida das crianças e jovens que passarão pela autonomia da escola e da proposta pedagógica, incenti-
escola, ou seja, estamos tamando decisões que impactarão vando as instituições a montar seu currículo, recortando,
a vida do outro, seja esse outro, o aluno, o professor, os dentro das áreas de conhecimento, os conteúdos que lhe
pais, a comunidade... convêm para a formação daquelas competências explícitas
Ao elaborarmos coletivamente o PPP da escola e ao nas DCNs.
abrirmos espaços para o diálogo nas esferas administra- Desse modo, as escolas devem trabalhar os conteúdos
tivas e pedagógicas da gestão escolar, estaremos contri- básicos nos contextos que lhe parecerem necessários, con-
buindo para a formação de sujeitos críticos, refleximos, siderando o perfil dos alunos que atendem, a região em
criativos, pensantes. O gestor escolar é figura central neste que estão inseridas e outros aspectos locais relevantes.
processo, pois, define, planeja, organiza, coordena, avalia
e integra todas as atividades desenvolvidas no âmbito da Quais são as diferenças entre as diretrizes curricula-
unidade escolar.10 res e os parâmetros curriculares?
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) são di-
retrizes separadas por disciplinas elaboradas pelo gover-
POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO no federal e não obrigatórias por lei. Elas visam subsidiar
BÁSICA: AS DIRETRIZES CURRICULARES e orientar a elaboração ou revisão curricular; a formação
NACIONAIS. (ETAPAS E MODALIDADES). inicial e continuada dos professores; as discussões peda-
gógicas internas às escolas; a produção de livros e outros
materiais didáticos e a avaliação do sistema de Educação.
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) são normas Os PCNs foram criados em 1997 e funcionaram como refe-
obrigatórias para a Educação Básica que orientam o pla- renciais para a renovação e reelaboração da proposta cur-
nejamento curricular das escolas e dos sistemas de ensino. ricular da escola até a definição das diretrizes curriculares.
Elas são discutidas, concebidas e fixadas pelo Conselho Na- Já as Diretrizes Curriculares Nacionais são normas obri-
cional de Educação (CNE). gatórias para a Educação Básica que têm como objetivo
Atualmente, existem diretrizes gerais para a Educação orientar o planejamento curricular das escolas e dos sis-
Básica. Cada etapa e modalidade da dela (Educação Infan- temas de ensino, norteando seus currículos e conteúdos
til, Ensino Fundamental e Ensino Médio) também apresen- mínimos. Assim, as diretrizes asseguram a formação básica,
tam diretrizes curriculares próprias. A mais recente é a do com base na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB),
Ensino Médio. definindo competências e diretrizes para a Educação Infan-
As diretrizes buscam promover a equidade de apren- til, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio.
dizagem, garantindo que conteúdos básicos sejam ensina- Quais são as diferenças entre as diretrizes curricu-
dos para todos os alunos, sem deixar de levar em conside- lares e as expectativas de aprendizagem (direitos de
ração os diversos contextos nos quais eles estão inseridos. aprendizagem)?
As expectativas de aprendizagem definem o que se es-
O que são e qual é a função das diretrizes curricu- pera que todos os alunos aprendam ao concluírem uma
lares? série e um nível de ensino. Elas foram previstas pelo CNE
As Diretrizes Curriculares Nacionais são um conjunto nas diretrizes gerais da Educação Básica.
de definições doutrinárias sobre princípios, fundamentos e Diferentemente das diretrizes, que são mais amplas
procedimentos na Educação Básica que orientam as esco-
e genéricas, as expectativas contemplam recomendações
las na organização, articulação, desenvolvimento e avalia-
explícitas sobre os conhecimentos que precisam ser abor-
ção de suas propostas pedagógicas.
dados em cada disciplina. Contudo, as expectativas de
As DCNs têm origem na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB), de 1996, que assinala ser incumbência da aprendizagem não configuram uma listagem de conteú-
União «estabelecer, em colaboração com os estados, Distri- dos, competências e habilidades, mas sim um conjunto
to Federal e os municípios, competências e diretrizes para a de orientações que possam auxiliar o planejamento dos
Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, professores, como materiais adequados, tempo de traba-
que nortearão os currículos e os seus conteúdos mínimos, lho e condições necessárias para colocá-lo em prática. No
de modo a assegurar a formação básica comum». momento, as expectativas de aprendizagem (direitos de
O processo de definição das diretrizes curriculares aprendizagem) estão em discussão no MEC.11
conta com a participação das mais diversas esferas da so-
ciedade. Dentre elas, o Conselho Nacional dos Secretários Enfim, a legislação educacional brasileira traz uma
Estaduais de Educação (Consed), a União Nacional dos Diri- enorme quantidade de diretrizes curriculares nacionais.
gentes Municipais de Educação (Undime), a Associação Na- O que seriam essas diretrizes? Normas obrigatórias para
cional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), a Educação Básica que possuem como objetivo maior a
além de docentes, dirigentes municipais e estaduais de en- orientação para elaboração dos planejamentos curricula-
sino, pesquisadores e representantes de escolas privadas. 11 Fonte: www.todospelaeducacao.org.br – Por Lucas
10 Fonte: www.escoladegestores.virtual.ufc.br Rodrigues

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

res tanto nas unidades escolares quanto nos sistemas de De forma pormenorizada, aqui temos os artigos 26 e
ensino. São elaboradas com a colaboração de todos os en- 27 da LDB, com explicações e orientações para sua exe-
tes federados e existe um convite aberto para auxílio nessa cução nas escolas de todo país, na tentativa de garantir a
construção, porém são fixadas pelo Conselho Nacional de equidade e um currículo mínimo baseado nas concepções
Educação (CNE). Sua origem é a norma descritiva, a Lei de de educação adotadas na CF/1988 e na LDB.
Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que traz em seu texto
a incumbência de criação de diretrizes que nortearão os Utilizando-se dessa reflexão proposta até aqui, muitos
currículos da Educação Básica. podem acreditar que os professores não têm mais autono-
Existe, atualmente, uma resolução que traz as diretri- mia no trabalho pedagógico. Engano. As diretrizes curri-
zes gerais para a Educação Básica, a Resolução n. 4/2010 culares preservam a questão da autonomia da escola e da
do Conselho Nacional de Educação – essa resolução é proposta pedagógica, incentivando as instituições a mon-
alvo frequente das aulas nas graduações, bem como dos tar seu currículo, recortando, dentro das áreas de conhe-
concursos para admissão de professores. Cada etapa da cimento, os conteúdos que lhes convêm para a formação
Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e daquelas competências explícitas nas DCNs. Sendo assim,
Ensino Médio), porém, também apresenta suas diretrizes as escolas trabalharão com os conteúdos básicos nos con-
curriculares próprias. Em suma, um dos objetivos é garantir textos e considerarão o perfil dos estudantes que atendem,
um ensino de qualidade, centrado nas aprendizagens e no a comunidade em que estes estão inseridos e outros as-
desenvolvimento do educando, além de estratégias de par- pectos locais relevantes.
ticipação coletiva da comunidade escolar no planejamento
da escola e sua efetiva gestão democrática. Ampliando essa discussão, muitos costumam con-
Segundo o próprio parecer de 2010, que originou as fundir os PCNs e a BNCC com as DCNs. De forma rápida,
atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação vou tentar explicar. Os Parâmetros Curriculares Nacionais
Básica, trata-se de uma delimitação de um conjunto de – PCNs são diretrizes separadas por disciplinas, elaboradas
definições doutrinárias sobre princípios, fundamentos e pelo governo federal e não obrigatórias por lei. Orientam
procedimentos na Educação Básica (…) que orientarão as as discussões pedagógicas internas às escolas, a produção
de livros e outros materiais didáticos e a avaliação do sis-
escolas brasileiras dos sistemas de ensino na organização,
tema de educação. Uma espécie de currículo mínimo, na
na articulação, no desenvolvimento e na avaliação de suas
visão tradicional de currículo. Já a Base Nacional Comum
propostas pedagógicas.
Curricular – BNCC é um conjunto de orientações que de-
Verifica-se que sua existência está condicionada a um
verão nortear os currículos das escolas públicas e privadas
movimento de atualização das políticas educacionais que
de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio
consubstanciem o direito de todo brasileiro à formação
em todo o Brasil. A Base estabelecerá direitos e objetivos
humana e cidadã e à formação profissional, na vivência e
de aprendizagem, isto é, o que se considera indispensável
convivência em ambiente educativo, conforme preconiza-
que todo estudante saiba após completar a Educação Bá-
do pela Constituição Federal e pela Lei de Diretrizes e Bases sica. Fará isso estabelecendo os conteúdos essenciais que
da Educação Nacional. deverão ser ensinados em todas as escolas, assim como as
Os objetivos descritos nas DCNs são: sistematizar os competências e as habilidades que deverão ser adquiridas
princípios e diretrizes gerais da Educação Básica contidos pelos alunos. Diferentemente das diretrizes, que são mais
na Constituição, na LDB e demais dispositivos legais, tradu- amplas e genéricas, as expectativas contemplam recomen-
zindo-os em orientações que contribuam para assegurar a dações explícitas sobre os conhecimentos que precisam ser
formação básica comum nacional, tendo como foco os su- abordados em cada disciplina.12
jeitos que dão vida ao currículo e à escola; estimular a refle-
xão crítica e propositiva que deve subsidiar a formulação, Acesse o link a seguir e veja a síntese das DCNs - http://
execução e avaliação do projeto político-pedagógico da portal.mec.gov.br/docman/janeiro-2016-pdf/32621-cne-
escola de Educação Básica; orientar os cursos de formação sintese-das-diretrizes-curriculares-da-educacao-basica-pdf.
inicial e continuada de profissionais – docentes, técnicos,
funcionários – da Educação Básica, os sistemas educativos
dos diferentes entes federados e as escolas que os inte-
gram, indistintamente da rede a que pertençam.
Em regra, suas normas não são distintas daquelas pro-
postas na LDB e  estabelecerão bases comuns nacionais
para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino
Médio, bem como para as modalidades com que podem se
apresentar, a partir das quais os sistemas federal, estaduais,
distrital e municipais, por suas competências próprias e
complementares, formularão as suas orientações, asse-
gurando a integração curricular das três etapas sequentes
desse nível da escolarização, essencialmente para compor
um todo orgânico. 12 Fonte: www.blog.grancursosonline.com.br

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

O mundo globalizado exigiu mudanças na educação,


A INTERDISCIPLINARIDADE E A consequentemente exige que o professor seja atualizado,
criativo, orientador e facilitador da aprendizagem.13
CONTEXTUALIZAÇÃO NO ENSINO MÉDIO.
Dentro do panorama educativo atual, diversos são os
apontamentos que se direcionam às necessidades de re-
Para deixarmos de lado a educação baseada na for- formulações quanto às práticas e metodologias de ensino
mação de modelos, memorizações, e fragmentação do co- existentes, as quais relacionam-se diretamente aos proces-
nhecimento, foi elaborada a reorganização curricular com sos de ensino e de aprendizagem do público que permeia
o objetivo de desenvolver os conteúdos, utilizando a inter- o espaço escolar. Pierson e Neves (2001) mencionam que
disciplinaridade e a contextualização. os problemas gerados pelas transformações sócio-econô-
Conforme a LDB nº 9394 / 96, a organização do currí- micas da atualidade vêm preocupando a sociedade e, que
culo superou as disciplinas estanques. Pretende integração diante disso, podem-se verificar movimentos que objeti-
e articulação dos conhecimentos num processo permanen- vam discutir a racionalidade técnica presente no modelo
te de interdisciplinaridade e contextualização. de produção de conhecimento e a excessiva especialização
A interdisciplinaridade ao saber útil. Utiliza conheci- das ciências fechadas em disciplinas (fragmentação), oriun-
mentos de várias disciplinas para a compreensão de uma das do paradigma positivista. Souza, Vian, Oliveira, Del Pino
situação problema. É uma integração de saberes. Num tex- & Marchi Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em
to de ciências, por exemplo, além do conhecimento especí- Ciências Vol. 16 No 1, 2016 131
fico da matéria, o aluno pode aprender gramática, elaborar
problemas relativos ao texto e muito mais. Observando o contexto social, econômico e tecnológi-
A contextualização do conteúdo traz importância ao co atual, é possível constatar um descompasso real deste
cotidiano do aluno, mostra que aquilo que se aprende , com o sistema educativo vigente, especialmente tratando-
em sala de aula, tem aplicação prática em nossas vidas. A se da educação básica e pública do país. Diversos autores
contextualização permite ao aluno sentir que o saber não é atentam para esta situação: Alarcão (2008) indica o contexto
apenas um acúmulo de conhecimentos técnico-científicos, desafiador em que a escola se insere, uma vez que disputa
mas sim uma ferramenta que os prepara para enfrentar o com diversos meios de divulgação de informação e, desta
mundo, permitindo-lhe resolver situações até então des- maneira, concorre com formas mais interativas de busca e
comparação de dados. No mesmo sentido, Neubauer et al
conhecidas.
(2011) também relaciona a constituição do conhecimento
A fragmentação, a distância entre os conteúdos gera
nesta era globalizada, indicando da necessidade da escola
desinteresse por a aprendizagem não ser significativa.. Esta
prover meios para incentivar novas habilidades cognitivas.
ocorre quando há relação entre o aluno e o que ele está
Junto das críticas ao modelo escolar desconfigurado em
aprendendo, considerando-o como o centro da aprendiza-
relação aos fatos gerais, também são percebidas interro-
gem, sendo ativo.
gativas quanto a constituição de um modelo curricular es-
O contexto dá significado ao conteúdo e deve basear-
colar engessado. Diante das mudanças apontadas para a
se na vida social, nos fatos do cotidiano e na convivência
melhor sintonia entre escola/sociedade, é pertinente que
do aluno. Isto porque o aluno vive num mundo regido pela reflexões em torno de mudanças nas concepções de currí-
natureza, pelas relações sociais estando exposto à informa- culo também ganhem respaldo. Conforme Sacristán (2013)
ção e a vários tipos de comunicação Portando, o cotidiano, o currículo tem o sentido de constituir a carreira do es-
o ambiente físico e social devem fazer a ponte entre o que tudante, consistindo em um plano de estudos ordenados
se vive e o que se aprende na escola. relacionado aos conteúdos trabalhados na escola. Ao que
Aproveitando-se do conhecimento prévio do aluno, o se trata da organização curricular, é possível perceber que
professor deverá planejar “induções”, fazendo com que o esta vem sendo discutida e modificada com o passar dos
conceito a ser aprendido parta do próprio aluno. tempos. O que pode justificar esta afirmativa é que, desde
Vejamos, por exemplo, o caso de um professor de his- a LDB 9394/96 (BRASIL, 1996) existe a preocupação com a
tória. Deverá selecionar do conteúdo os fatos, conceitos, constituição de um currículo contextualizado, ao mesmo
época, usos e costumes que o conteúdo exige. Deverá ela- tempo que procura atender às peculiaridades regionais e
borar perguntas, que partam do cotidiano, induzindo os locais. Ainda no que se refere ao currículo, é possível in-
alunos a fazerem comparações até chegar onde pretende. dicar que outras leis ou decretos, como os PCNs (BRASIL,
Através das respostas dos alunos, será elaborado um texto. 2000) e as DCNs (BRASIL, 2012), apresentam propostas que
Através de outras induções planejadas pelo professor esses visam atender as problemáticas atuais, especialmente foca-
texto dará origem a outros textos, como por exemplo de das às novas formas de constituição do saber.
geografia. Por exemplo: -Onde ocorreram tais fatos? Dife-
renciar os conceitos, usos , costumes entre as regiões do
planeta.
Nesse mesmo texto a gramática deverá ser inserida e a
obtenção de dados para elaborar problemas. Em educação 13 Fonte: www.webartigos.com
artística o campo será amplo a ser explorado.

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Para atingir o objetivo de se trabalhar com as comple- mo que a temática da interdisciplinaridade seja tratada nos
xidades do contemporâneo há uma clara necessidade de documentos mais recentes da educação básica e já citados
se promover e superar a fragmentação dos saberes no en- no decorrer deste texto, torna-se evidente que sua com-
sino, em busca de uma visão e ação globalizadora e mais preensão ainda seja um entrave para que ocorra de fato
humana (LÜCK, 2010). em sala de aula. O assunto contudo, não é relativamente
No que se refere à fragmentação do conhecimento, es- novo no meio escolar, uma vez que Fazenda (1993) insere
tudos justificam o desgaste desta prática diante dos tem- a temática no campo educativo a partir da década de 60.
pos atuais, indicando ser “insuficiente para a solução de No que se refere ao campo da educação, Garcia (2008)
problemas reais e concretos” (Ibidem, p.19). Para tanto, a define que a interdisciplinaridade deve ser interpretada
superação desta concepção de saber estabelecido histori- como uma “construção de pontes” entre conteúdos de di-
camente no modelo tradicional de escola, exige a conjun- ferentes disciplinas do currículo. Neste sentido o autor ain-
ta reflexão em torno da constituição do entendimento do da indica que a interdisciplinaridade foi encarada na pers-
currículo escolar, em uma proposição de metodologia mais pectiva epistemológica, buscando o diálogo integrativo de
integrada. Diante disto, Santomé (1998, p. 41) corrobora e conceitos e na perspectiva relacionada ao desenvolvimento
relacionado ao currículo da educação básica, na forma de
menciona que “[...] quanto maior for a compartimentação
estratégias para a integração entre disciplinas, aqui enten-
dos conteúdos, mais difícil será sua compreensão, pois a
didas como as matérias do currículo escolar. Levando em
realidade torna-se menos precisa”.
conta a segunda perspectiva, torna-se importante salientar
Por disciplina, Santomé (1998, p. 55) define como “[...]
a exigência na forma de pensar e reestruturar o currículo,
uma maneira de organizar e delimitar um território de tra- de forma que não passará mais a aceitar as especificidades
balho, de concentrar a pesquisa e as experiências dentro do modelo tradicional.
de um determinado ângulo de visão”. A partir deste termo, De acordo com Fazenda (1993) a interdisciplinaridade
as disciplinaridades são as inúmeras relações entre várias é caracterizada por uma intensa reciprocidade nas trocas e
disciplinas, sendo que a diferença conceitual está baseada integração entre as disciplinas, visando um enriquecimento
nas diferentes graduações que envolvem as articulações mútuo e a colaboração. Neste mesmo sentido, Lück (2010)
entre os saberes disciplinares (FAZENDA, 1993; JAPIASSU, a define como um processo de interação entre as discipli-
1976). Estas relações dão origem aos vocábulos Multidis- nas do currículo escolar que se dá a partir do engajamento
ciplinaridade, Pluridisciplinaridade, Interdisciplinaridade e conjunto dos educadores com o objetivo de proporcionar
Transdisciplinaridade. uma formação integral aos alunos e superar a fragmenta-
A interdisciplinaridade enquanto um princípio pedagó- ção do conhecimento no ensino.
gico capacita os estudantes para lidar com a complexida- Para Santomé (1998, p.73) a interdisciplinaridade impli-
de da sociedade atual a partir de uma visão integrada do ca na vontade e no compromisso em “elaborar um contex-
conhecimento e da interação com os demais alunos, uma to mais geral, no qual cada uma das disciplinas em contato
vez que as ações humanas se repercutem reciprocamente são por sua vez modificadas e passam a depender clara-
(HARTMANN; ZIMMERMANN, 2007). Conforme os PCNs: mente uma das outras”. Nessa perspectiva há a necessida-
Na perspectiva escolar, a interdisciplinaridade não tem de de interação entre duas ou mais disciplinas, resultando
a pretensão de criar novas disciplinas ou saberes, mas de em intercomunicação e enriquecimento recíproco. Confor-
utilizar os conhecimentos de várias disciplinas para resolver me Japiassú (1976, p.74), a interdisciplinaridade “Caracteri-
um problema concreto ou compreender um determinado za-se pela intensidade das trocas entre especialistas e pelo
fenômeno sob diferentes pontos de vista. Em suma, a in- grau de integração real das disciplinas, no interior de um
terdisciplinaridade tem uma função instrumental. Trata-se projeto específico de pesquisa”.
de recorrer a um saber diretamente útil e utilizável para Para que os docentes sejam capazes de articular os
responder às questões e aos problemas sociais contempo- conteúdos de diferentes disciplinas é necessário que estes
estejam abertos a aprender uns com os outros e admitam
râneos (BRASIL, 2000, p. 21).
que apenas um ramo do saber, isolado, não é suficiente
Tendo em vista a proposta dos PCNs de promover um
para responder às necessidades educacionais impostas
ensino contextualizado, de base interdisciplinar, faz-se ne-
pela atualidade (HARTMANN; ZIMMERMANN, 2007).14
cessária a compreensão deste termo, muito embora não
haja um conceito específico e considerado correto para tal.
Segundo Veiga Neto (2010), mesmo que os Estudos Disci-
plinares a mais de três décadas vêm discutindo a integra-
ção disciplinar parece que ainda estamos longe de chegar
a acordos satisfatórios sobre o que é a interdisciplinarida-
de, sobre o que se quer dizer quando se fala em currícu-
los interdisciplinares, pluridisciplinares, multidisciplinares
ou transdisciplinares e como podem eles ser planejados, 14 Fonte: www.seer.ufmg.br – Por Lauren Heineck de
executados e avaliados. Em outras palavras: mesmo que a Souza/Vanessa Vian/Eniz Conceição Oliveira/José Claudio Del
bibliografia nacional em torno das disciplinas seja muito Pino/Miriam Ines Marchi
ampla, numerosa e variada, ainda há muito por fazer. Mes-

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

tentes no grupo que a criança vai construindo sua identida-


OS FUNDAMENTOS DE UMA ESCOLA de, vai testando seus limites, desafiando suas possibilidades
INCLUSIVA. EDUCAÇÃO E TRABALHO: O e, consequentemente, aprendendo. Este é o mundo real. E
quanto mais diversificadas forem essas experiências, quan-
TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO.
to mais instigantes esses desafios, mais a criança aprende.
Segregar a pessoa com deficiência é negar-lhe o direito a
viver num mundo real, é negar-lhe o direito a aprender pela
O fundamento filosófico mais radical para a defesa da convivência com pessoas ditas não deficientes.
inclusão escolar de pessoas com deficiências é, sem dúvida, CRSTIANE T. SAMPAIO e SÔNIA R. SAMPAIO, na sua
o fato de que todos nascemos iguais e com os mesmos obra Educação Inclusiva - o professor mediando para a vida,
direitos, entre eles o direito de convivermos com os nossos escrevem:
semelhantes. Não importam as diferenças, não importam “Os diferentes ritmos, comportamentos, experiências
as deficiências: o ser humano tem direito de viver e convi- imprimem ao cotidiano escolar a possibilidade de troca de
ver com outros seres humanos, sem discriminação e sem repertórios, de visões de mundo, confrontos, ajuda mútua
segregações odiosas. E quanto mais “diferente” o ser hu- e consequente ampliação das capacidades individuais.”
mano, quanto mais deficiências ele tem, mais esse direito As mesmas autoras, com base na teoria de VIGOTSKY
se impõe. E este é um direito natural, que nem precisaria (A formação social da mente: o desenvolvimento dos proces-
estar positivado em lei. Não precisava constar na Consti- sos psicológicos superiores. São Paulo. Martins Fontes.1998),
tuição. ressaltam:
Assim, o direito de estar numa sala de aula, junto com “Se construir conhecimentos implica uma ação com-
crianças da mesma idade, com ou sem deficiência, é ante- partilhada, já que é através dos outros que as relações entre
rior ao direito do professor de dar aula. O direito da criança sujeito e objeto de conhecimento são estabelecidas, a di-
e do adolescente de estar numa sala de aula é um direito versidade de níveis de conhecimento de cada criança pode
que decorre do fato de ele ser cidadão, é um direito natu- propiciar uma rica oportunidade de troca de experiências,
ral. O direito do professor de dar aula decorre de uma por- questionamentos e cooperação. A aceitação da criança
taria, que, em certos casos, pode ser revogada a qualquer deficiente pelos colegas vai depender muito do professor
momento. Ninguém pode revogar o direito à convivência colocar em prática uma pedagogia inclusiva que não pre-
e à educação. tenda a correção do aluno com deficiência, mas a manifes-
Em certo sentido, a escola é a continuação e a amplifi- tação do seu potencial. A escola, nesta perspectiva, deve
cação da família. A segregação, a discriminação, a exclusão buscar consolidar o respeito às diferenças, vistas não como
é odiosa, tanto na família quanto na escola. No dizer de um obstáculo para o cumprimento da ação educativa, mas
BOAVENTURA DE SOUZA SANTOS: como fator de enriquecimento e melhoria da qualidade de
“Temos o direito de sermos iguais quando a diferença ensino e aprendizagem para todos, tanto para alunos com
nos inferioriza; temos o direito a sermos diferentes quando a deficiência quanto para aqueles sem deficiência.”
igualdade nos descaracteriza”. Por isso, numa perspectiva de escola inclusiva, o am-
O direito à educação, o direito de frequentar a escola biente escolar deve representar, com a maior fidelidade
comum ( junto com os ditos “normais”), o direito a apren- possível, a diversidade dos indivíduos que compõem a so-
der nos “limites” das próprias possibilidades e capacidades, ciedade. São as diferenças que possibilitam enriquecer as
são decorrentes do direito primordial à convivência, até experiências curriculares e que ajudam a melhor assimilar
porque é na convivência com seres humanos - “normais” o conhecimento que se materializa nas disciplinas do cur-
ou diferentes - que o ser humano mais aprende. Nesse sen- rículo. Somente numa escola em que a sociedade, sempre
tido, o professor precisa perder a ilusão de que é com ele plural e heterogênea, esteja equitativamente representada,
que a criança vai aprender as coisas mais importantes para com alunos com deficiências ou não, é que o currículo es-
a vida, aquelas das quais ele mais vai precisar. A maior parte colar pode cumprir sua função: construir a cidadania e pre-
do que o ser humano aprende, o aprende na convivência, parar os alunos para viverem em harmonia fora da escola,
na interação, através dos mecanismos que Piaget denomi- dotados de habilidades e competências que a experiência
na de acomodação e adaptação, enfrentando os problemas de escola e o conhecimento nela construído os ajudou a
do dia-a-dia. A boa escola é aquela que, ombreando com desenvolver.
a escola da vida, oferece ao aluno bons “cardápios”, com Nessa concepção de escola que não exclui ninguém,
produtos de boa qualidade, através de situações-proble- em que a deficiência, seja ela qual for, não deve constituir
ma, de questões bem elaboradas, de roteiros de trabalho, barreira para a criança permanecer na escola e aprender,
de projetos, de aulas onde o ator principal é o aluno e não vem assumindo particular importância e papel decisivo o
o professor. atendimento educacional especializado, que tem como
pressuposto fundamental o direito da criança com defi-
Os fundamentos psicológicos: ciência a frequentar a escola comum e de nela progredir,
Do ponto de vista psicológico e afetivo, não há dúvida dentro de seus limites e possibilidades.
de que é na interação com o grupo e com as diferenças de
sexo, de cor, de idade, de condição social e com as diferen-
ças de aptidões e de capacidades físicas e intelectuais exis-

61
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Os fundamentos legais: rios dessa declaração estavam dizendo também, indubita-


A rigor, como já dito acima, os direitos da pessoa com velmente, que o direito à educação, pública e gratuita, não
deficiência em relação à educação nem precisariam estar está condicionado a nenhum tipo de performance, seja ela
positivados em lei: são direitos originários, fundamentais, física, auditiva, visual ou cognitiva.
que decorrem do simples fato de o sujeito desses direitos Passo importante no caminho do reconhecimento dos
ser pessoa humana. Em geral, porém, para, de um lado, se- direitos das pessoas deficientes foi a resolução aprovada
rem melhor explicitados e ganharem mais força cogente, e, pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas
por outro, para que fiquem mais claras as responsabilidades em 9 de dezembro de 1975, conhecida como Declaração
de quem lhes deve garantir a eficácia, esses direitos aca- dos direitos das pessoas deficientes, na qual se afirma que a
bam sendo recepcionados em textos legais que vão desde pessoa com deficiência, qualquer que seja a origem, a natu-
os tratados internacionais até uma simples portaria minis- reza e a gravidade dessa deficiência, tem os mesmos direi-
terial ou parecer de um órgão colegiado, passando pelas tos fundamentais que seus concidadãos da mesma idade,
leis ordinárias e pela própria constituição do país. Foi o que o que implica, antes de tudo, o direito de desfrutar de uma
aconteceu com os direitos das pessoas com deficiências, vida decente, tão normal e plena quanto possível, inclusive,
particularmente, com o direito à educação, visto na pers- e sobretudo, no que diz respeito à educação.
pectiva da educação inclusiva, não como um movimento Quarenta anos depois da Declaração Universal dos Di-
de mão única, mas como um processo de mão dupla, onde, reitos Humanos, sensível à reflexão que se vinha fazendo
por um lado, se reconhece à pessoa com deficiência direi- no mundo inteiro, e, particularmente, aqui no Brasil, acerca
to a frequentar e a usufruir todos os espaços e condições do tema, o constituinte de 1988, ao explicitar os deveres do
de vida, as mais normais possíveis, e, por outro, se atribui Estado brasileiro em relação à educação, estabelece que um
à sociedade, através do poder público, a responsabilida- dos serviços que devem ser garantidos para o cumprimento
de de garantir à pessoa com deficiência reais condições de desse dever é o do atendimento educacional especializado
acessibilidade a todos os bens materiais e culturais social- às pessoas com deficiência, que deve ser oferecido prefe-
mente produzidos e disponíveis, eliminando toda e qual- rencialmente na rede regular de ensino (CF, art. 208, inciso
quer barreira - física, cognitiva, cultural - que se interponha III).
entre a pessoa com deficiência e esses bens. Do conceito A partir dos anos 90, a reflexão em torno da natureza
de integração, que acentua o processo de adaptação do e das políticas relativas à educação especial foram se in-
aluno com deficiência ao grupo, passa-se ao conceito de tensificando e vários documentos foram aprovados, tanto
inclusão, que enfatiza a responsabilidade da sociedade de no âmbito nacional quanto internacional, consolidando em
se reorganizar de forma a garantir, por meio de políticas leis a linha de discussão que se vinha fazendo em torno do
públicas definidas e concretas, condições físicas, materiais, tema, sempre no sentido de que a criança com deficiência,
de recursos humanos, de equipamentos e de instrumentos seja essa deficiência física, visual, auditiva, cognitiva ou de
legais que permitam à pessoa com deficiência ser um cida- qualquer outro tipo, tem direito de ser matriculada em es-
dão como qualquer outro e ter a possibilidade concreta de colas comuns, nelas permanecer e de receber nelas o aten-
usufruir de tudo o que a sociedade oferece para que a in- dimento de que necessita para superar os impedimentos
clusão escolar realmente se efetive, na sua total dimensão. e as barreiras que lhe dificultam a aprendizagem, o pleno
Sem ter a pretensão de esgotar o tema referente às exercício da cidadania e a inserção no mundo do trabalho,
bases legais de uma concepção de educação inclusiva, va- nos limites de suas capacidades.
mos fazer referência apenas aos documentos que nos pa- No âmbito internacional, apenas para citar os mais im-
recem fundamentais e que, na sua essência, apontam para portantes, e os que mais diretamente tratam do direito das
a mesma direção: o direito da criança com deficiência à pessoas deficientes à educação em escolas comuns, desta-
educação, e, decorrente dele, o direito dessa criança de ser camos os seguintes documentos:
matriculada numa turma de escola comum, junto com as - Em 1990, em Washington DC, a XXIII Conferência Sa-
crianças da sua idade, com garantia de meios e recursos nitária Panamericana OPSOrganização Mundial de Saúde.
que supram os seus impedimentos à aprendizagem e ao - Em 1990, em Jon Tien, Tailândia, a Declaração Mundial
seu desenvolvimento afetivo e cognitivo. de Educação para Todos - UNICEF.
Fundamentado em sólidos pressupostos filosóficos e - Em 1994, em Salamanca, Espanha, a Declaração de Sa-
psicológicos, o direito da criança com deficiência de fre- lamanca: princípios, políticas e prática em Educação Especial,
quentar a escola comum e de receber nela um atendimen- que trata especificamente da criação e manutenção de sis-
to educacional especializado encontra-se hoje legalmente temas educacionais inclusivos. “Todas as escolas devem aco-
reconhecido e solidamente regulamentado. lher todas as crianças, independentemente de suas condições
Esse direito, na verdade, foi reconhecido pela primeira pessoais, culturais e sociais, crianças com eficiências e bem
vez, de forma solene, na Declaração Universal dos Direitos dotadas, crianças de rua, de minorias étnicas, lingüísticas ou
do Homem, em 1948, onde se proclama que todas as pes- culturais, dezonas desfavorecidas ou marginais.”
soas nascem livres e iguais em dignidade e direitos, sem - Em 1999, em Londres, Carta para o 3º Milênio, apro-
distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política vada pela Assembléia Governativa da Rehabilitation Inter-
ou de qualquer outra natureza. Ao afirmar que todas as national, que estabelece oportunidades iguais para pessoas
pessoas nascem iguais em dignidade e direitos, os signatá- com deficiência.)

62
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

- Em 1999, na Guatemala, a Convenção interamericana Resolução CNE/CEB nº 2/2001. Institui Diretrizes e Nor-
para eliminação de todas as formas de discriminação con- mas para a Educação Especial na Educação Básica. No seu
tra as pessoas portadoras de deficiências, promulgada, no art. 2º, assim dispõe a Resolução: “Os sistemas de ensino
Brasil, pelo Decreto nº 3.956, de outubro de 2001. A Con- devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas or-
venção proclama que as pessoas com deficiência têm os ganizar-se para o atendimento aos educandos com neces-
mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que sidades educacionais especiais, assegurando as condições
as demais pessoas, e define como discriminação toda e necessárias para uma educação de qualidade para todos.”
qualquer diferenciação ou exclusão com base na deficiên- (MEC/SEESP, 2001).
cia, que impeça ou negue o exercício dos direitos humanos Parecer CNE/CEB nº 17/2001. Diretrizes Nacionais para
e das liberdades fundamentais. a Educação Especial na Educação Básica.
- Em 2001, a Declaração Internacional de Montreal so- Lei nº 10.172/2001. Aprova o Plano Nacional de Educa-
bre Inclusão, aprovada em 5 de junho de 2001 pelo Con- ção - PNE e dá outras providências.
gresso Internacional “Sociedade Inclusiva”, realizado em No tópico 8 do texto aprovado, o PNE aponta diretrizes
Montreal, Canadá. para a política de educação especial no Brasil e indica obje-
- Em 2002, em Madrid, Espanha, a Declaração de Ma- tivos e metas para a política de educação de pessoas com
drid, onde se reconhece e se proclama que as pessoas com necessidades educacionais especiais.
deficiência têm os mesmos direitos humanos de todos os Decreto nº 6.094/2007. Dispõe sobre a implementação
demais cidadãos. do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação. No
- Em 2007, promulgação da Convenção sobre os Direi- art. 2º, inciso IX, o documento aponta como uma das di-
tos das Pessoas com Deficiência, adotada pela ONU em de- retrizes do plano, na qual devem se empenhar Municípios,
zembro de 2006, e firmada pelo Brasil em março de 2007. Estados, Distrito Federal e União, a garantia de acesso e
No Brasil, após a Constituição de 1988, a discussão em permanência das pessoas com necessidades educacionais
torno do tema da educação especial ganhou espaço e se especiais nas classes comuns do ensino regular, fortalecen-
aprofundou. Fruto dessa reflexão, foram sendo editados do a inclusão educacional nas escolas públicas.
textos legais nos quais, não obstante alguns recuos, a idéia Decreto nº 186/2008. Aprova o texto da Convenção so-
da inclusão escolar entendida como direito de acesso da bre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Protoco-
lo Facultativo, assinados em Nova Iorque, em 30 de março
criança com deficiência na escola comum e de nela receber
de 2006.
o atendimento de que necessita para vencer as barreiras
Decreto nº 6571/2008. Dispõe sobre o atendimento
que lhe dificultam a aprendizagem se consolida em defi-
educacional especializado.
nitivo. Dois anos após a promulgação da Constituição, em
Resolução CNE/CEB nº 4/2009. Institui as diretrizes
1990, esse direito foi reforçado no Estatuto da Criança e do
operacionais para o atendimento educacional especializa-
Adolescente (art. 54, inciso III).
do na Educação Básica, modalidade Educação Especial.
Além desses documentos, de natureza legal, cabe re-
Sem querer esgotar a matéria, elencamos a seguir os
ferir, ainda, como textos fundamentais na reflexão e na di-
principais textos legais que se referem ao tema: fusão de idéias, conceitos e diretrizes afinadas com a con-
Lei nº 7.853/89. Dispõe sobre o apoio às pessoas com cepção de educação especial na perspectiva da educação
deficiências, sua integração social e pleno exercício de di- inclusiva, os seguintes documentos:
reitos sociais e individuais. 2004 - O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas
LDB nº 9.394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação e Classes Comuns da Rede Regular, do Ministério Público
Nacional. A LDB dedica à educação especial os artigos 58, Federal, que teve por objetivo disseminar os conceitos e
59 e 60 do Capítulo V. A exemplo do que fizera o Estatuto diretrizes mundiais para a inclusão, reafirmando o direito e
da Criança e do Adolescente, a LDB considera a educação os benefícios da escolarização de alunos com e sem defi-
especial uma modalidade de educação escolar, a ser ofere- ciência nas turmas comuns do ensino regular.
cida, preferencialmente, na rede regular de ensino. 2008 - O documento Política Nacional de Educação Es-
Parecer CNE/CEB nº 16/99. Dispõe sobre educação pecial na Perspectiva da Educação Inclusiva, elaborado pelo
profissional de alunos com necessidades educacionais es- Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria nº 555/2007,
peciais. prorrogada pela Portaria nº 948/2007, entregue ao Minis-
Resolução CNE/CEB nº 4/99. Dispõe sobre educação tro da Educação em 07 de janeiro de 2008.
profissional de alunos com necessidades educacionais es- 2010 - A Nota Técnica SEESP nº 10/2010 Orientações
peciais. para institucionalização da oferta do atendimento educacio-
Decreto nº 3.298/99. Regulamenta a Lei 7.853/89, dis- nal especializado (AEE) em Salas de Recursos Multifuncio-
põe sobre a política nacional para integração da pessoa nais implantadas nas escolas regulares.
portadora de deficiências, consolida as normas de prote- 2010 - O documento Construindo o Sistema Nacional
ção ao portador de deficiências. Articulado de Educação: o Plano Nacional de Educação –
Lei nº 10.098/2000. Estabelece normas gerais e crité- Diretrizes e Estratégias de Ação, aprovado pela Assembleia
rios básicos para a promoção de acessibilidade das pessoas da Conferência Nacional da Educação (CONAE), em 1º de
portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida e abril de 2010. No Eixo VI do referido documento - Justiça
dá outras providências. Social, Educação e Trabalho: Inclusão, diversidade e igualda-

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

de - ao tratar especificamente da educação especial, o tex- DECRETA: 


to aponta as responsabilidades do poder público no que Art. 1o  A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
tange à educação especial, as metas a serem perseguidas, Deficiência e seu Protocolo Facultativo, apensos por cópia
os instrumentos, os recursos e os modos operacionais para ao presente Decreto, serão executados e cumpridos tão in-
atingi-las, enfatizando sempre o direito da criança com de- teiramente como neles se contém. 
ficiência de ser atendida na escola comum. Art. 2o  São sujeitos à aprovação do Congresso Nacio-
O conjunto de documentos oficiais e textos legais rela- nal quaisquer atos que possam resultar em revisão dos re-
cionados acima, certamente incompleto, aponta para uma feridos diplomas internacionais ou que acarretem encargos
concepção de educação especial de natureza inclusiva, não ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional, nos
termos do art. 49, inciso I, da Constituição. 
divorciada da escola comum. Ao ler esses documentos,
Art. 3o  Este Decreto entra em vigor na data de sua
não obstante as resistências que ainda se esboçam e as publicação. 
contestações que ainda se ouvem, não há como ignorar o Brasília, 25 de agosto de 2009; 188o da Independência
fato de que, sobretudo nas últimas duas décadas, o direito e 121o da República. 
da criança com deficiência de frequentar a escola comum
e de nela encontrar os meios e recursos necessários para CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS
superar suas deficiências, encontra-se irreversivelmente es- COM DEFICIÊNCIA 
tabelecido. Nesse ponto da caminhada, não há como vol-
tar atrás. O que importa agora é pais, professores, gestores Preâmbulo  
educacionais, Municípios, Estados e União atuarem como Os Estados Partes da presente Convenção, 
parceiros a fim de que se garantam os recursos, os meios e a) Relembrando os princípios consagrados na Carta das
os instrumentos para que as experiências de inclusão esco- Nações Unidas, que reconhecem a dignidade e o valor ine-
lar de crianças com deficiência bem sucedidas se multipli- rentes e os direitos iguais e inalienáveis de todos os mem-
bros da família humana como o fundamento da liberdade,
quem, e aquilo que está contemplado em lei se concretize
da justiça e da paz no mundo,
na prática de todas as escolas do país.15
b) Reconhecendo que as Nações Unidas, na Declaração
Universal dos Direitos Humanos e nos Pactos Internacio-
nais sobre Direitos Humanos, proclamaram e concordaram
que toda pessoa faz jus a todos os direitos e liberdades ali
CONVENÇÃO DA ONU SOBRE DIREITOS DAS estabelecidos, sem distinção de qualquer espécie,
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA. c)  Reafirmando a universalidade, a indivisibilidade, a
interdependência e a inter-relação de todos os direitos hu-
manos e liberdades fundamentais, bem como a necessi-
dade de garantir que todas as pessoas com deficiência os
exerçam plenamente, sem discriminação,
DECRETO Nº 6.949, DE 25 DE AGOSTO DE 2009. d) Relembrando o Pacto Internacional dos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais, o Pacto Internacional dos
Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos Direitos Civis e Políticos, a Convenção Internacional sobre
a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial,
das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo,
a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de
assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Discriminação contra a Mulher, a Convenção contra a Tor-
tura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição Degradantes, a Convenção sobre os Direitos da Criança e
que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e a Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos
Considerando que o Congresso Nacional aprovou, por de Todos os Trabalhadores Migrantes e Membros de suas
meio do Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008, Famílias,
conforme o procedimento do § 3º do art. 5º da Constitui- e) Reconhecendo  que a deficiência é um conceito em
ção, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com De- evolução e que a deficiência resulta da interação entre pes-
ficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova soas com deficiência e as barreiras devidas às atitudes e ao
York, em 30 de março de 2007; ambiente que impedem a plena e efetiva participação des-
Considerando que o Governo brasileiro depositou o sas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades
instrumento de ratificação dos referidos atos junto ao Se- com as demais pessoas,
f) Reconhecendo a importância dos princípios e das di-
cretário-Geral das Nações Unidas em 1o de agosto de 2008;
retrizes de política, contidos no Programa de Ação Mundial
Considerando que os atos internacionais em apreço
para as Pessoas Deficientes e nas Normas sobre a Equi-
entraram em vigor para o Brasil, no plano jurídico externo, paração de Oportunidades para Pessoas com Deficiência,
em 31 de agosto de 2008;  para influenciar a promoção, a formulação e a avaliação
de políticas, planos, programas e ações em níveis nacional,
15 Fonte: www.assistiva.com.br – Por Mara Lúcia Sar- regional e internacional para possibilitar maior igualdade
toretto de oportunidades para pessoas com deficiência,

64
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

g) Ressaltando a importância de trazer questões relati- t) Salientando o fato de que a maioria das pessoas com
vas à deficiência ao centro das preocupações da sociedade deficiência vive em condições de pobreza e, nesse sentido,
como parte integrante das estratégias relevantes de desen- reconhecendo a necessidade crítica de lidar com o impacto
volvimento sustentável, negativo da pobreza sobre pessoas com deficiência,
h)  Reconhecendo  também que a discriminação contra u) Tendo em mente que as condições de paz e seguran-
qualquer pessoa, por motivo de deficiência, configura vio- ça baseadas no pleno respeito aos propósitos e princípios
lação da dignidade e do valor inerentes ao ser humano, consagrados na Carta das Nações Unidas e a observância
i) Reconhecendo ainda a diversidade das pessoas com dos instrumentos de direitos humanos são indispensáveis
deficiência, para a total proteção das pessoas com deficiência, parti-
j) Reconhecendo a necessidade de promover e proteger cularmente durante conflitos armados e ocupação estran-
os direitos humanos de todas as pessoas com deficiência, geira,
inclusive daquelas que requerem maior apoio, v)  Reconhecendo a importância da acessibilidade aos
k) Preocupados com o fato de que, não obstante esses meios físico, social, econômico e cultural, à saúde, à edu-
diversos instrumentos e compromissos, as pessoas com cação e à informação e comunicação, para possibilitar às
deficiência continuam a enfrentar barreiras contra sua par- pessoas com deficiência o pleno gozo de todos os direitos
ticipação como membros iguais da sociedade e violações humanos e liberdades fundamentais,
de seus direitos humanos em todas as partes do mundo, w) Conscientes de que a pessoa tem deveres para com
l) Reconhecendo a importância da cooperação interna- outras pessoas e para com a comunidade a que pertence e
cional para melhorar as condições de vida das pessoas com que, portanto, tem a responsabilidade de esforçar-se para
deficiência em todos os países, particularmente naqueles a promoção e a observância dos direitos reconhecidos na
em desenvolvimento, Carta Internacional dos Direitos Humanos,
m)  Reconhecendo as valiosas contribuições existentes x) Convencidos  de que a família é o núcleo natural e
e potenciais das pessoas com deficiência ao bem-estar co- fundamental da sociedade e tem o direito de receber a
mum e à diversidade de suas comunidades, e que a pro- proteção da sociedade e do Estado e de que as pessoas
moção do pleno exercício, pelas pessoas com deficiência, com deficiência e seus familiares devem receber a proteção
de seus direitos humanos e liberdades fundamentais e de e a assistência necessárias para tornar as famílias capazes
sua plena participação na sociedade resultará no fortale- de contribuir para o exercício pleno e equitativo dos direi-
tos das pessoas com deficiência,
cimento de seu senso de pertencimento à sociedade e no
y) Convencidos  de que uma convenção internacional
significativo avanço do desenvolvimento humano, social
geral e integral para promover e proteger os direitos e a
e econômico da sociedade, bem como na erradicação da
dignidade das pessoas com deficiência prestará significa-
pobreza,
tiva contribuição para corrigir as profundas desvantagens
n) Reconhecendo a importância, para as pessoas com
sociais das pessoas com deficiência e para promover sua
deficiência, de sua autonomia e independência individuais,
participação na vida econômica, social e cultural, em igual-
inclusive da liberdade para fazer as próprias escolhas,
dade de oportunidades, tanto nos países em desenvolvi-
o) Considerando que as pessoas com deficiência devem mento como nos desenvolvidos, 
ter a oportunidade de participar ativamente das decisões
relativas a programas e políticas, inclusive aos que lhes di- Acordaram o seguinte: 
zem respeito diretamente,
p) Preocupados com as difíceis situações enfrentadas Artigo 1
por pessoas com deficiência que estão sujeitas a formas Propósito 
múltiplas ou agravadas de discriminação por causa de raça, O propósito da presente Convenção é promover, pro-
cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de outra teger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos
natureza, origem nacional, étnica, nativa ou social, proprie- os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas
dade, nascimento, idade ou outra condição, as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua
q) Reconhecendo  que mulheres e meninas com defi- dignidade inerente.  
ciência estão frequentemente expostas a maiores riscos, Pessoas com deficiência são aquelas que têm impe-
tanto no lar como fora dele, de sofrer violência, lesões ou dimentos de longo prazo de natureza física, mental, inte-
abuso, descaso ou tratamento negligente, maus-tratos ou lectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas
exploração, barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva
r) Reconhecendo  que as crianças com deficiência de- na sociedade em igualdades de condições com as demais
vem gozar plenamente de todos os direitos humanos e pessoas. 
liberdades fundamentais em igualdade de oportunidades
com as outras crianças e relembrando as obrigações as- Artigo 2
sumidas com esse fim pelos Estados Partes na Convenção Definições 
sobre os Direitos da Criança, Para os propósitos da presente Convenção: 
s) Ressaltando a necessidade de incorporar a perspecti- “Comunicação” abrange as línguas, a visualização de
va de gênero aos esforços para promover o pleno exercício textos, o braille, a comunicação tátil, os caracteres amplia-
dos direitos humanos e liberdades fundamentais por parte dos, os dispositivos de multimídia acessível, assim como a
das pessoas com deficiência, linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e

65
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

os meios de voz digitalizada e os modos, meios e formatos b) Adotar todas as medidas necessárias, inclusive legis-
aumentativos e alternativos de comunicação, inclusive a lativas, para modificar ou revogar leis, regulamentos, cos-
tecnologia da informação e comunicação acessíveis; tumes e práticas vigentes, que constituírem discriminação
“Língua” abrange as línguas faladas e de sinais e outras contra pessoas com deficiência;
formas de comunicação não-falada; c) Levar em conta, em todos os programas e políticas, a
“Discriminação por motivo de deficiência” significa proteção e a promoção dos direitos humanos das pessoas
qualquer diferenciação, exclusão ou restrição baseada em com deficiência;
deficiência, com o propósito ou efeito de impedir ou im- d) Abster-se de participar em qualquer ato ou prática
possibilitar o reconhecimento, o desfrute ou o exercício, incompatível com a presente Convenção e assegurar que
em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, as autoridades públicas e instituições atuem em conformi-
de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais dade com a presente Convenção;
nos âmbitos político, econômico, social, cultural, civil ou e) Tomar todas as medidas apropriadas para eliminar a
qualquer outro. Abrange todas as formas de discriminação, discriminação baseada em deficiência, por parte de qual-
inclusive a recusa de adaptação razoável; quer pessoa, organização ou empresa privada;
“Adaptação razoável” significa as modificações e os f) Realizar ou promover a pesquisa e o desenvolvi-
ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus mento de produtos, serviços, equipamentos e instalações
desproporcional ou indevido, quando requeridos em cada com desenho universal, conforme definidos no Artigo 2
caso, a fim de assegurar que as pessoas com deficiência da presente Convenção, que exijam o mínimo possível de
possam gozar ou exercer, em igualdade de oportunidades adaptação e cujo custo seja o mínimo possível, destina-
com as demais pessoas, todos os direitos humanos e liber- dos a atender às necessidades específicas de pessoas com
dades fundamentais; deficiência, a promover sua disponibilidade e seu uso e a
“Desenho universal” significa a concepção de produtos, promover o desenho universal quando da elaboração de
ambientes, programas e serviços a serem usados, na maior normas e diretrizes;
medida possível, por todas as pessoas, sem necessidade g) Realizar ou promover a pesquisa e o desenvolvi-
de adaptação ou projeto específico. O “desenho universal” mento, bem como a disponibilidade e o emprego de novas
não excluirá as ajudas técnicas para grupos específicos de tecnologias, inclusive as tecnologias da informação e co-
municação, ajudas técnicas para locomoção, dispositivos e
pessoas com deficiência, quando necessárias. 
tecnologias assistivas, adequados a pessoas com deficiên-
cia, dando prioridade a tecnologias de custo acessível;
Artigo 3
h) Propiciar informação acessível para as pessoas com
Princípios gerais 
deficiência a respeito de ajudas técnicas para locomoção,
Os princípios da presente Convenção são:
dispositivos e tecnologias assistivas, incluindo novas tec-
a) O respeito pela dignidade inerente, a autonomia
nologias bem como outras formas de assistência, serviços
individual, inclusive a liberdade de fazer as próprias esco-
de apoio e instalações;
lhas, e a independência das pessoas;
i) Promover a capacitação em relação aos direitos re-
b) A não-discriminação; conhecidos pela presente Convenção dos profissionais e
c) A plena e efetiva participação e inclusão na socie- equipes que trabalham com pessoas com deficiência, de
dade; forma a melhorar a prestação de assistência e serviços ga-
d) O respeito pela diferença e pela aceitação das pes- rantidos por esses direitos. 
soas com deficiência como parte da diversidade humana e 2.Em relação aos direitos econômicos, sociais e cultu-
da humanidade; rais, cada Estado Parte se compromete a tomar medidas,
e) A igualdade de oportunidades; tanto quanto permitirem os recursos disponíveis e, quando
f) A acessibilidade; necessário, no âmbito da cooperação internacional, a fim
g) A igualdade entre o homem e a mulher; de assegurar progressivamente o pleno exercício desses
h) O respeito pelo desenvolvimento das capacidades direitos, sem prejuízo das obrigações contidas na presente
das crianças com deficiência e pelo direito das crianças Convenção que forem imediatamente aplicáveis de acordo
com deficiência de preservar sua identidade.  com o direito internacional. 
3.Na elaboração e implementação de legislação e
Artigo 4 políticas para aplicar a presente Convenção e em outros
Obrigações gerais  processos de tomada de decisão relativos às pessoas com
1.Os Estados Partes se comprometem a assegurar e deficiência, os Estados Partes realizarão consultas estreitas
promover o pleno exercício de todos os direitos humanos e envolverão ativamente pessoas com deficiência, inclusive
e liberdades fundamentais por todas as pessoas com defi- crianças com deficiência, por intermédio de suas organiza-
ciência, sem qualquer tipo de discriminação por causa de ções representativas. 
sua deficiência. Para tanto, os Estados Partes se compro- 4.Nenhum dispositivo da presente Convenção afetará
metem a: quaisquer disposições mais propícias à realização dos di-
a) Adotar todas as medidas legislativas, administrativas reitos das pessoas com deficiência, as quais possam estar
e de qualquer outra natureza, necessárias para a realização contidas na legislação do Estado Parte ou no direito inter-
dos direitos reconhecidos na presente Convenção; nacional em vigor para esse Estado. Não haverá nenhuma

66
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

restrição ou derrogação de qualquer dos direitos humanos do com sua idade e maturidade, em igualdade de oportu-
e liberdades fundamentais reconhecidos ou vigentes em nidades com as demais crianças, e recebam atendimento
qualquer Estado Parte da presente Convenção, em confor- adequado à sua deficiência e idade, para que possam exer-
midade com leis, convenções, regulamentos ou costumes, cer tal direito. 
sob a alegação de que a presente Convenção não reco-
nhece tais direitos e liberdades ou que os reconhece em Artigo 8
menor grau.  Conscientização 
5.As disposições da presente Convenção se aplicam, 1.Os Estados Partes se comprometem a adotar medi-
sem limitação ou exceção, a todas as unidades constituti- das imediatas, efetivas e apropriadas para:
vas dos Estados federativos.  a) Conscientizar toda a sociedade, inclusive as famílias,
sobre as condições das pessoas com deficiência e fomentar
Artigo 5 o respeito pelos direitos e pela dignidade das pessoas com
Igualdade e não-discriminação  deficiência;
1.Os Estados Partes reconhecem que todas as pessoas b) Combater estereótipos, preconceitos e práticas no-
são iguais perante e sob a lei e que fazem jus, sem qualquer civas em relação a pessoas com deficiência, inclusive aque-
les relacionados a sexo e idade, em todas as áreas da vida;
discriminação, a igual proteção e igual benefício da lei. 
c) Promover a conscientização sobre as capacidades e
2.Os Estados Partes proibirão qualquer discriminação
contribuições das pessoas com deficiência.
baseada na deficiência e garantirão às pessoas com defi-
2.As medidas para esse fim incluem:
ciência igual e efetiva proteção legal contra a discriminação
a) Lançar e dar continuidade a efetivas campanhas de
por qualquer motivo.  conscientização públicas, destinadas a:
3.A fim de promover a igualdade e eliminar a discri- i)  Favorecer atitude receptiva em relação aos direitos
minação, os Estados Partes adotarão todas as medidas das pessoas com deficiência;
apropriadas para garantir que a adaptação razoável seja ii)  Promover percepção positiva e maior consciência
oferecida.  social em relação às pessoas com deficiência;
4.Nos termos da presente Convenção, as medidas es- iii) Promover o reconhecimento das habilidades, dos
pecíficas que forem necessárias para acelerar ou alcançar méritos e das capacidades das pessoas com deficiência e
a efetiva igualdade das pessoas com deficiência não serão de sua contribuição ao local de trabalho e ao mercado la-
consideradas discriminatórias.  boral;
b) Fomentar em todos os níveis do sistema educacio-
Artigo 6 nal, incluindo neles todas as crianças desde tenra idade,
Mulheres com deficiência  uma atitude de respeito para com os direitos das pessoas
1.Os Estados Partes reconhecem que as mulheres e com deficiência;
meninas com deficiência estão sujeitas a múltiplas formas c) Incentivar todos os órgãos da mídia a retratar as pes-
de discriminação e, portanto, tomarão medidas para asse- soas com deficiência de maneira compatível com o propó-
gurar às mulheres e  meninas com deficiência o pleno e sito da presente Convenção;
igual exercício de todos os direitos humanos e liberdades d) Promover programas de formação sobre sensibili-
fundamentais.  zação a respeito das pessoas com deficiência e sobre os
2.Os Estados Partes tomarão todas as medidas apro- direitos das pessoas com deficiência. 
priadas para assegurar o pleno desenvolvimento, o avanço
e o empoderamento das mulheres, a fim de garantir-lhes o Artigo 9
exercício e o gozo dos direitos humanos e liberdades fun- Acessibilidade 
damentais estabelecidos na presente Convenção.  1.A fim de possibilitar às pessoas com deficiência vi-
ver de forma independente e participar plenamente de
todos os aspectos da vida, os Estados Partes tomarão as
Artigo 7
medidas apropriadas para assegurar às pessoas com defi-
Crianças com deficiência 
ciência o acesso, em igualdade de oportunidades com as
1.Os Estados Partes tomarão todas as medidas neces-
demais pessoas, ao meio físico, ao transporte, à informação
sárias para assegurar às crianças com deficiência o pleno
e comunicação, inclusive aos sistemas e tecnologias da in-
exercício de todos os direitos humanos e liberdades fun- formação e comunicação, bem como a outros serviços e
damentais, em igualdade de oportunidades com as demais instalações abertos ao público ou de uso público, tanto na
crianças.  zona urbana como na rural. Essas medidas, que incluirão
2.Em todas as ações relativas às crianças com deficiên- a identificação e a eliminação de obstáculos e barreiras à
cia, o superior interesse da criança receberá consideração acessibilidade, serão aplicadas, entre outros, a:
primordial.  a) Edifícios, rodovias, meios de transporte e outras ins-
3.Os Estados Partes assegurarão que as crianças com talações internas e externas, inclusive escolas, residências,
deficiência tenham o direito de expressar livremente sua instalações médicas e local de trabalho;
opinião sobre todos os assuntos que lhes disserem respei- b) Informações, comunicações e outros serviços, inclu-
to, tenham a sua opinião devidamente valorizada de acor- sive serviços eletrônicos e serviços de emergência. 

67
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

2.Os Estados Partes também tomarão medidas apro- 2.Os Estados Partes reconhecerão que as pessoas com
priadas para: deficiência gozam de capacidade legal em igualdade de
a) Desenvolver, promulgar e monitorar a implementa- condições com as demais pessoas em todos os aspectos
ção de normas e diretrizes mínimas para a acessibilidade da vida. 
das instalações e dos serviços abertos ao público ou de 3.Os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para
uso público; prover o acesso de pessoas com deficiência ao apoio que
b) Assegurar que as entidades privadas que oferecem necessitarem no exercício de sua capacidade legal.  
instalações e serviços abertos ao público ou de uso público 4.Os Estados Partes assegurarão que todas as medi-
levem em consideração todos os aspectos relativos à aces- das relativas ao exercício da capacidade legal incluam
sibilidade para pessoas com deficiência; salvaguardas apropriadas e efetivas para prevenir abusos,
c) Proporcionar, a todos os atores envolvidos, formação em conformidade com o direito internacional dos direitos
em relação às questões de acessibilidade com as quais as humanos. Essas salvaguardas assegurarão que as medidas
pessoas com deficiência se confrontam; relativas ao exercício da capacidade legal respeitem os di-
d) Dotar os edifícios e outras instalações abertas ao reitos, a vontade e as preferências da pessoa, sejam isentas
público ou de uso público de sinalização em braille e em de conflito de interesses e de influência indevida, sejam
formatos de fácil leitura e compreensão; proporcionais e apropriadas às circunstâncias da pessoa,
e) Oferecer formas de assistência humana ou animal e se apliquem pelo período mais curto possível e sejam sub-
serviços de mediadores, incluindo guias, ledores e intérpre- metidas à revisão regular por uma autoridade ou órgão
tes profissionais da língua de sinais, para facilitar o acesso judiciário competente, independente e imparcial. As salva-
aos edifícios e outras instalações abertas ao público ou de guardas serão proporcionais ao grau em que tais medidas
uso público; afetarem os direitos e interesses da pessoa.  
f) Promover outras formas apropriadas de assistência e 5.Os Estados Partes, sujeitos ao disposto neste Artigo,
apoio a pessoas com deficiência, a fim de assegurar a essas tomarão todas as medidas apropriadas e efetivas para as-
pessoas o acesso a informações; segurar às pessoas com deficiência o igual direito de pos-
g) Promover o acesso de pessoas com deficiência a no- suir ou herdar bens, de controlar as próprias finanças e de
vos sistemas e tecnologias da informação e comunicação, ter igual acesso a empréstimos bancários, hipotecas e ou-
inclusive à Internet; tras formas de crédito financeiro, e assegurarão que as pes-
h) Promover, desde a fase inicial, a concepção, o de- soas com deficiência não sejam arbitrariamente destituídas
senvolvimento, a produção e a disseminação de sistemas de seus bens. 
e tecnologias de informação e comunicação, a fim de que
esses sistemas e tecnologias se tornem acessíveis a custo Artigo 13
mínimo.  Acesso à justiça 
1.Os Estados Partes assegurarão o efetivo acesso das
Artigo 10 pessoas com deficiência à justiça, em igualdade de condi-
Direito à vida  ções com as demais pessoas, inclusive mediante a provisão
Os Estados Partes reafirmam que todo ser humano tem de adaptações processuais adequadas à idade, a fim de fa-
o inerente direito à vida e tomarão todas as medidas ne- cilitar o efetivo papel das pessoas com deficiência como
cessárias para assegurar o efetivo exercício desse direito participantes diretos ou indiretos, inclusive como testemu-
pelas pessoas com deficiência, em igualdade de oportuni- nhas, em todos os procedimentos jurídicos, tais como in-
dades com as demais pessoas.  vestigações e outras etapas preliminares. 
2.A fim de assegurar às pessoas com deficiência o efe-
Artigo 11 tivo acesso à justiça, os Estados Partes promoverão a capa-
Situações de risco e emergências humanitárias  citação apropriada daqueles que trabalham na área de ad-
Em conformidade com suas obrigações decorrentes do ministração da justiça, inclusive a polícia e os funcionários
direito internacional, inclusive do direito humanitário inter- do sistema penitenciário. 
nacional e do direito internacional dos direitos humanos,
os Estados Partes tomarão todas as medidas necessárias Artigo 14
para assegurar a proteção e a segurança das pessoas com Liberdade e segurança da pessoa 
deficiência que se encontrarem em situações de risco, in- 1.Os Estados Partes assegurarão que as pessoas com
clusive situações de conflito armado, emergências humani- deficiência, em igualdade de oportunidades com as demais
tárias e ocorrência de desastres naturais.  pessoas:
a) Gozem do direito à liberdade e à segurança da pes-
Artigo 12 soa; e
Reconhecimento igual perante a lei  b) Não sejam privadas ilegal ou arbitrariamente de sua
1.Os Estados Partes reafirmam que as pessoas com liberdade e que toda privação de liberdade esteja em con-
deficiência têm o direito de ser reconhecidas em qualquer formidade com a lei, e que a existência de deficiência não
lugar como pessoas perante a lei. justifique a privação de liberdade. 

68
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

2.Os Estados Partes assegurarão que, se pessoas com 5.Os Estados Partes adotarão leis e políticas efetivas,
deficiência forem privadas de liberdade mediante algum inclusive legislação e políticas voltadas para mulheres e
processo, elas, em igualdade de oportunidades com as crianças, a fim de assegurar que os casos de exploração,
demais pessoas, façam jus a garantias de acordo com o violência e abuso contra pessoas com deficiência sejam
direito internacional dos direitos humanos e sejam tratadas identificados, investigados e, caso necessário, julgados. 
em conformidade com os objetivos e princípios da presen-
te Convenção, inclusive mediante a provisão de adaptação Artigo 17
razoável.  Proteção da integridade da pessoa 
Toda pessoa com deficiência tem o direito a que sua
Artigo 15 integridade física e mental seja respeitada, em igualdade
Prevenção contra tortura ou tratamentos ou penas de condições com as demais pessoas.
cruéis,
desumanos ou degradantes  Artigo 18
Liberdade de movimentação e nacionalidade 
1.Nenhuma pessoa será submetida à tortura ou a tra-
1.Os Estados Partes reconhecerão os direitos das pes-
tamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes. Em
soas com deficiência à liberdade de movimentação, à li-
especial, nenhuma pessoa deverá ser sujeita a experimen-
berdade de escolher sua residência e à nacionalidade, em
tos médicos ou científicos sem seu livre consentimento. 
igualdade de oportunidades com as demais pessoas, inclu-
2.Os Estados Partes tomarão todas as medidas efeti- sive assegurando que as pessoas com deficiência:
vas de natureza legislativa, administrativa, judicial ou outra a) Tenham o direito de adquirir nacionalidade e mudar
para evitar que pessoas com deficiência, do mesmo modo de nacionalidade e não sejam privadas arbitrariamente de
que as demais pessoas, sejam submetidas à tortura ou a sua nacionalidade em razão de sua deficiência.
tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.  b) Não sejam privadas, por causa de sua deficiência,
da competência de obter, possuir e utilizar documento
Artigo 16 comprovante de sua nacionalidade ou outro documento
Prevenção contra a exploração, a violência e o abuso  de identidade, ou de recorrer a processos relevantes, tais
1.Os Estados Partes tomarão todas as medidas apro- como procedimentos relativos à imigração, que forem ne-
priadas de natureza legislativa, administrativa, social, edu- cessários para facilitar o exercício de seu direito à liberdade
cacional e outras para proteger as pessoas com deficiência, de movimentação.
tanto dentro como fora do lar, contra todas as formas de c) Tenham liberdade de sair de qualquer país, inclusive
exploração, violência e abuso, incluindo aspectos relacio- do seu; e
nados a gênero.  d) Não sejam privadas, arbitrariamente ou por causa de
2.Os Estados Partes também tomarão todas as medi- sua deficiência, do direito de entrar no próprio país. 
das apropriadas para prevenir todas as formas de explo- 2.As crianças com deficiência serão registradas imedia-
ração, violência e abuso, assegurando, entre outras coisas, tamente após o nascimento e terão, desde o nascimento,
formas apropriadas de atendimento e apoio que levem em o direito a um nome, o direito de adquirir nacionalidade e,
conta o gênero e a idade das pessoas com deficiência e de tanto quanto possível, o direito de conhecer seus pais e de
seus familiares e atendentes, inclusive mediante a provisão ser cuidadas por eles. 
de informação e educação sobre a maneira de evitar, reco-
nhecer e denunciar casos de exploração, violência e abuso. Artigo 19
Os Estados Partes assegurarão que os serviços de proteção Vida independente e inclusão na comunidade 
levem em conta a idade, o gênero e a deficiência das pes- Os Estados Partes desta Convenção reconhecem o
igual direito de todas as pessoas com deficiência de viver
soas. 
na comunidade, com a mesma liberdade de escolha que as
3.A fim de prevenir a ocorrência de quaisquer formas
demais pessoas, e tomarão medidas efetivas e apropriadas
de exploração, violência e abuso, os Estados Partes assegu-
para facilitar às pessoas com deficiência o pleno gozo des-
rarão que todos os programas e instalações destinados a
se direito e sua plena inclusão e participação na comunida-
atender pessoas com deficiência sejam efetivamente moni- de, inclusive assegurando que:
torados por autoridades independentes.  a) As pessoas com deficiência possam escolher seu
4.Os Estados Partes tomarão todas as medidas apro- local de residência e onde e com quem morar, em igual-
priadas para promover a recuperação física, cognitiva e dade de oportunidades com as demais pessoas, e que não
psicológica, inclusive mediante a provisão de serviços de sejam obrigadas a viver em determinado tipo de moradia;
proteção, a reabilitação e a reinserção social de pessoas b) As pessoas com deficiência tenham acesso a uma
com deficiência que forem vítimas de qualquer forma de variedade de serviços de apoio em domicílio ou em insti-
exploração, violência ou abuso. Tais recuperação e rein- tuições residenciais ou a outros serviços comunitários de
serção ocorrerão em ambientes que promovam a saúde, apoio, inclusive os serviços de atendentes pessoais que
o bem-estar, o auto-respeito, a dignidade e a autonomia forem necessários como apoio para que as pessoas com
da pessoa e levem em consideração as necessidades de deficiência vivam e sejam incluídas na comunidade e para
gênero e idade.  evitar que fiquem isoladas ou segregadas da comunidade;

69
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

c) Os serviços e instalações da comunidade para a po- lia, lar, correspondência ou outros tipos de comunicação,
pulação em geral estejam disponíveis às pessoas com defi- nem a ataques ilícitos à sua honra e reputação. As pessoas
ciência, em igualdade de oportunidades, e atendam às suas com deficiência têm o direito à proteção da lei contra tais
necessidades.  interferências ou ataques. 
2.Os Estados Partes protegerão a privacidade dos da-
Artigo 20 dos pessoais e dados relativos à saúde e à reabilitação de
Mobilidade pessoal  pessoas com deficiência, em igualdade de condições com
Os Estados Partes tomarão medidas efetivas para as- as demais pessoas. 
segurar às pessoas com deficiência sua mobilidade pessoal
com a máxima independência possível: Artigo 23
a) Facilitando a mobilidade pessoal das pessoas com Respeito pelo lar e pela família 
deficiência, na forma e no momento em que elas quiserem, 1.Os Estados Partes tomarão medidas efetivas e apro-
e a custo acessível; priadas para eliminar a discriminação contra pessoas com
b) Facilitando às pessoas com deficiência o acesso a deficiência, em todos os aspectos relativos a casamento,
tecnologias assistivas, dispositivos e ajudas técnicas de família, paternidade e relacionamentos, em igualdade de
qualidade, e formas de assistência humana ou animal e condições com as demais pessoas, de modo a assegurar
de mediadores, inclusive tornando-os disponíveis a custo que:
acessível; a) Seja reconhecido o direito das pessoas com deficiên-
c) Propiciando às pessoas com deficiência e ao pessoal cia, em idade de contrair matrimônio, de casar-se e estabe-
especializado uma capacitação em técnicas de mobilidade; lecer família, com base no livre e pleno consentimento dos
d) Incentivando entidades que produzem ajudas téc- pretendentes;
nicas de mobilidade, dispositivos e tecnologias assistivas a b) Sejam reconhecidos os direitos das pessoas com
levarem em conta todos os aspectos relativos à mobilidade deficiência de decidir livre e responsavelmente sobre o
de pessoas com deficiência.  número de filhos e o espaçamento entre esses filhos e de
ter acesso a informações adequadas à idade e a educação
Artigo 21 em matéria de reprodução e de planejamento familiar, bem
Liberdade de expressão e de opinião e acesso à infor- como os meios necessários para exercer esses direitos.
mação  c) As pessoas com deficiência, inclusive crianças, con-
Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropria- servem sua fertilidade, em igualdade de condições com as
das para assegurar que as pessoas com deficiência possam demais pessoas. 
exercer seu direito à liberdade de expressão e opinião, in- 2.Os Estados Partes assegurarão os direitos e respon-
clusive à liberdade de buscar, receber e compartilhar in- sabilidades das pessoas com deficiência, relativos à guarda,
formações e idéias, em igualdade de oportunidades com custódia, curatela e adoção de crianças ou instituições se-
as demais pessoas e por intermédio de todas as formas melhantes, caso esses conceitos constem na legislação na-
de comunicação de sua escolha, conforme o disposto no cional. Em todos os casos, prevalecerá o superior interesse
Artigo 2 da presente Convenção, entre as quais: da criança. Os Estados Partes prestarão a devida assistência
a) Fornecer, prontamente e sem custo adicional, às às pessoas com deficiência para que essas pessoas possam
pessoas com deficiência, todas as informações destinadas exercer suas responsabilidades na criação dos filhos. 
ao público em geral, em formatos acessíveis e tecnologias 3.Os Estados Partes assegurarão que as crianças com
apropriadas aos diferentes tipos de deficiência; deficiência terão iguais direitos em relação à vida familiar.
b) Aceitar e facilitar, em trâmites oficiais, o uso de lín- Para a realização desses direitos e para evitar ocultação,
guas de sinais, braille, comunicação aumentativa e alter- abandono, negligência e segregação de crianças com de-
nativa, e de todos os demais meios, modos e formatos ficiência, os Estados Partes fornecerão prontamente infor-
acessíveis de comunicação, à escolha das pessoas com de- mações abrangentes sobre serviços e apoios a crianças
ficiência; com deficiência e suas famílias. 
c) Urgir as entidades privadas que oferecem serviços 4.Os Estados Partes assegurarão que uma criança não
ao público em geral, inclusive por meio da Internet, a for- será separada de seus pais contra a vontade destes, ex-
necer informações e serviços em formatos acessíveis, que ceto quando autoridades competentes, sujeitas a controle
possam ser usados por pessoas com deficiência; jurisdicional, determinarem, em conformidade com as leis e
d) Incentivar a mídia, inclusive os provedores de infor- procedimentos aplicáveis, que a separação é necessária, no
mação pela Internet, a tornar seus serviços acessíveis a pes- superior interesse da criança. Em nenhum caso, uma crian-
soas com deficiência; ça será separada dos pais sob alegação de deficiência da
e) Reconhecer e promover o uso de línguas de sinais.  criança ou de um ou ambos os pais. 
5.Os Estados Partes, no caso em que a família imediata
Artigo 22 de uma criança com deficiência não tenha condições de
Respeito à privacidade  cuidar da criança, farão todo esforço para que cuidados al-
1.Nenhuma pessoa com deficiência, qualquer que seja ternativos sejam oferecidos por outros parentes e, se isso
seu local de residência ou tipo de moradia, estará sujeita a não for possível, dentro de ambiente familiar, na comuni-
interferência arbitrária ou ilegal em sua privacidade, famí- dade. 

70
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Artigo 24 e para capacitar profissionais e equipes atuantes em todos


Educação  os níveis de ensino. Essa capacitação incorporará a cons-
1.Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas cientização da deficiência e a utilização de modos, meios
com deficiência à educação. Para efetivar esse direito sem e formatos apropriados de comunicação aumentativa e al-
discriminação e com base na igualdade de oportunidades, ternativa, e técnicas e materiais pedagógicos, como apoios
os Estados Partes assegurarão sistema educacional inclusi- para pessoas com deficiência. 
vo em todos os níveis, bem como o aprendizado ao longo 5.Os Estados Partes assegurarão que as pessoas com
de toda a vida, com os seguintes objetivos: deficiência possam ter acesso ao ensino superior em ge-
a) O pleno desenvolvimento do potencial humano e do ral, treinamento profissional de acordo com sua vocação,
senso de dignidade e auto-estima, além do fortalecimento educação para adultos e formação continuada, sem dis-
do respeito pelos direitos humanos, pelas liberdades fun- criminação e em igualdade de condições. Para tanto, os
damentais e pela diversidade humana; Estados Partes assegurarão a provisão de adaptações ra-
b) O máximo desenvolvimento possível da persona- zoáveis para pessoas com deficiência. 
lidade e dos talentos e da criatividade das pessoas com
deficiência, assim como de suas habilidades físicas e inte- Artigo 25
lectuais; Saúde 
c) A participação efetiva das pessoas com deficiência Os Estados Partes reconhecem que as pessoas com
em uma sociedade livre.  deficiência têm o direito de gozar do estado de saúde mais
2.Para a realização desse direito, os Estados Partes as- elevado possível, sem discriminação baseada na deficiên-
segurarão que: cia. Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropria-
a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do das para assegurar às pessoas com deficiência o acesso a
sistema educacional geral sob alegação de deficiência e serviços de saúde, incluindo os serviços de reabilitação,
que as crianças com deficiência não sejam excluídas do en- que levarão em conta as especificidades de gênero. Em
sino primário gratuito e compulsório ou do ensino secun- especial, os Estados Partes:
dário, sob alegação de deficiência; a) Oferecerão às pessoas com deficiência programas e
b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao atenção à saúde gratuitos ou a custos acessíveis da mes-
ensino primário inclusivo, de qualidade e gratuito, e ao en- ma variedade, qualidade e padrão que são oferecidos às
sino secundário, em igualdade de condições com as de- demais pessoas, inclusive na área de saúde sexual e re-
mais pessoas na comunidade em que vivem; produtiva e de programas de saúde pública destinados à
c) Adaptações razoáveis de acordo com as necessida- população em geral;
des individuais sejam providenciadas; b) Propiciarão serviços de saúde que as pessoas com
d) As pessoas com deficiência recebam o apoio neces- deficiência necessitam especificamente por causa de sua
sário, no âmbito do sistema educacional geral, com vistas a deficiência, inclusive diagnóstico e intervenção precoces,
facilitar sua efetiva educação; bem como serviços projetados para reduzir ao máximo e
e) Medidas de apoio individualizadas e efetivas sejam prevenir deficiências adicionais, inclusive entre crianças e
adotadas em ambientes que maximizem o desenvolvimen- idosos;
to acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão c) Propiciarão esses serviços de saúde às pessoas com
plena.  deficiência, o mais próximo possível de suas comunidades,
3.Os Estados Partes assegurarão às pessoas com de- inclusive na zona rural;
ficiência a possibilidade de adquirir as competências prá- d) Exigirão dos profissionais de saúde que dispensem
ticas e sociais necessárias de modo a facilitar às pessoas às pessoas com deficiência a mesma qualidade de serviços
com deficiência sua plena e igual participação no sistema dispensada às demais pessoas e, principalmente, que ob-
de ensino e na vida em comunidade. Para tanto, os Estados tenham o consentimento livre e esclarecido das pessoas
Partes tomarão medidas apropriadas, incluindo: com deficiência concernentes. Para esse fim, os Estados
a) Facilitação do aprendizado do braille, escrita alterna- Partes realizarão atividades de formação e definirão re-
tiva, modos, meios e formatos de comunicação aumentati- gras éticas para os setores de saúde público e privado, de
va e alternativa, e habilidades de orientação e mobilidade, modo a conscientizar os profissionais de saúde acerca dos
além de facilitação do apoio e aconselhamento de pares; direitos humanos, da dignidade, autonomia e das necessi-
b) Facilitação do aprendizado da língua de sinais e pro- dades das pessoas com deficiência;
moção da identidade linguística da comunidade surda; e) Proibirão a discriminação contra pessoas com defi-
c) Garantia de que a educação de pessoas, em parti- ciência na provisão de seguro de saúde e seguro de vida,
cular crianças cegas, surdocegas e surdas, seja ministrada caso tais seguros sejam permitidos pela legislação nacio-
nas línguas e nos modos e meios de comunicação mais nal, os quais deverão ser providos de maneira razoável e
adequados ao indivíduo e em ambientes que favoreçam ao justa;
máximo seu desenvolvimento acadêmico e social.  f) Prevenirão que se negue, de maneira discriminató-
4.A fim de contribuir para o exercício desse direito, os ria, os serviços de saúde ou de atenção à saúde ou a ad-
Estados Partes tomarão medidas apropriadas para empre- ministração de alimentos sólidos ou líquidos por motivo
gar professores, inclusive professores com deficiência, ha- de deficiência. 
bilitados para o ensino da língua de sinais e/ou do braille,

71
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Artigo 26 e) Promover oportunidades de emprego e ascensão


Habilitação e reabilitação  profissional para pessoas com deficiência no mercado de
1.Os Estados Partes tomarão medidas efetivas e apro- trabalho, bem como assistência na procura, obtenção e
priadas, inclusive mediante apoio dos pares, para possi- manutenção do emprego e no retorno ao emprego;
bilitar que as pessoas com deficiência conquistem e con- f) Promover oportunidades de trabalho autônomo,
servem o máximo de autonomia e plena capacidade física, empreendedorismo, desenvolvimento de cooperativas e
mental, social e profissional, bem como plena inclusão e estabelecimento de negócio próprio;
participação em todos os aspectos da vida. Para tanto, os g) Empregar pessoas com deficiência no setor público;
Estados Partes organizarão, fortalecerão e ampliarão ser- h) Promover o emprego de pessoas com deficiência no
viços e programas completos de habilitação e reabilitação, setor privado, mediante políticas e medidas apropriadas,
particularmente nas áreas de saúde, emprego, educação e
que poderão incluir programas de ação afirmativa, incenti-
serviços sociais, de modo que esses serviços e programas:
vos e outras medidas;
a) Comecem no estágio mais precoce possível e sejam
i) Assegurar que adaptações razoáveis sejam feitas
baseados em avaliação multidisciplinar das necessidades e
pontos fortes de cada pessoa; para pessoas com deficiência no local de trabalho;
b) Apóiem a participação e a inclusão na comunidade j) Promover a aquisição de experiência de trabalho por
e em todos os aspectos da vida social, sejam oferecidos pessoas com deficiência no mercado aberto de trabalho;
voluntariamente e estejam disponíveis às pessoas com de- k) Promover reabilitação profissional, manutenção do
ficiência o mais próximo possível de suas comunidades, in- emprego e programas de retorno ao trabalho para pessoas
clusive na zona rural.  com deficiência. 
2.Os Estados Partes promoverão o desenvolvimento da 2.Os Estados Partes assegurarão que as pessoas com
capacitação inicial e continuada de profissionais e de equi- deficiência não serão mantidas em escravidão ou servidão
pes que atuam nos serviços de habilitação e reabilitação.  e que serão protegidas, em igualdade de condições com as
3.Os Estados Partes promoverão a disponibilidade, o demais pessoas, contra o trabalho forçado ou compulsório. 
conhecimento e o uso de dispositivos e tecnologias assis-
tivas, projetados para pessoas com deficiência e relaciona- Artigo 28
dos com a habilitação e a reabilitação.  Padrão de vida e proteção social adequados 
1.Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas
Artigo 27 com deficiência a um padrão adequado de vida para si e
Trabalho e emprego  para suas famílias, inclusive alimentação, vestuário e mo-
1.Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas
radia adequados, bem como à melhoria contínua de suas
com deficiência ao trabalho, em igualdade de oportunida-
condições de vida, e tomarão as providências necessárias
des com as demais pessoas. Esse direito abrange o direito
à oportunidade de se manter com um trabalho de sua li- para salvaguardar e promover a realização desse direito
vre escolha ou aceitação no mercado laboral, em ambiente sem discriminação baseada na deficiência. 
de trabalho que seja aberto, inclusivo e acessível a pes- 2.Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas
soas com deficiência. Os Estados Partes salvaguardarão e com deficiência à proteção social e ao exercício desse di-
promoverão a realização do direito ao trabalho, inclusive reito sem discriminação baseada na deficiência, e tomarão
daqueles que tiverem adquirido uma deficiência no empre- as medidas apropriadas para salvaguardar e promover a
go, adotando medidas apropriadas, incluídas na legislação, realização desse direito, tais como:
com o fim de, entre outros: a) Assegurar igual acesso de pessoas com deficiência
a) Proibir a discriminação baseada na deficiência com a serviços de saneamento básico e assegurar o acesso aos
respeito a todas as questões relacionadas com as formas serviços, dispositivos e outros atendimentos apropriados
de emprego, inclusive condições de recrutamento, contra- para as necessidades relacionadas com a deficiência;
tação e admissão, permanência no emprego, ascensão pro- b) Assegurar o acesso de pessoas com deficiência, par-
fissional e condições seguras e salubres de trabalho; ticularmente mulheres, crianças e idosos com deficiência,
b) Proteger os direitos das pessoas com deficiência, em a programas de proteção social e de redução da pobreza;
condições de igualdade com as demais pessoas, às condi- c) Assegurar o acesso de pessoas com deficiência e
ções justas e favoráveis de trabalho, incluindo iguais opor- suas famílias em situação de pobreza à assistência do Esta-
tunidades e igual remuneração por trabalho de igual valor,
do em relação a seus gastos ocasionados pela deficiência,
condições seguras e salubres de trabalho, além de repara-
inclusive treinamento adequado, aconselhamento, ajuda
ção de injustiças e proteção contra o assédio no trabalho;
financeira e cuidados de repouso;
c) Assegurar que as pessoas com deficiência possam
exercer seus direitos trabalhistas e sindicais, em condições d) Assegurar o acesso de pessoas com deficiência a
de igualdade com as demais pessoas; programas habitacionais públicos;
d) Possibilitar às pessoas com deficiência o acesso efe- e) Assegurar igual acesso de pessoas com deficiência a
tivo a programas de orientação técnica e profissional e a programas e benefícios de aposentadoria. 
serviços de colocação no trabalho e de treinamento profis-
sional e continuado;

72
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Artigo 29 3.Os Estados Partes deverão tomar todas as providên-


Participação na vida política e pública  cias, em conformidade com o direito internacional, para
Os Estados Partes garantirão às pessoas com deficiên- assegurar que a legislação de proteção dos direitos de
cia direitos políticos e oportunidade de exercê-los em con- propriedade intelectual não constitua barreira excessiva
dições de igualdade com as demais pessoas, e deverão: ou discriminatória ao acesso de pessoas com deficiência a
a) Assegurar que as pessoas com deficiência possam bens culturais. 
participar efetiva e plenamente na vida política e pública, 4.As pessoas com deficiência farão jus, em igualdade
em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, de oportunidades com as demais pessoas, a que sua iden-
diretamente ou por meio de representantes livremente es- tidade cultural e linguística específica seja reconhecida e
colhidos, incluindo o direito e a oportunidade de votarem apoiada, incluindo as línguas de sinais e a cultura surda. 
e serem votadas, mediante, entre outros: 5.Para que as pessoas com deficiência participem, em
i) Garantia de que os procedimentos, instalações e ma- igualdade de oportunidades com as demais pessoas, de
teriais e equipamentos para votação serão apropriados, atividades recreativas, esportivas e de lazer, os Estados Par-
acessíveis e de fácil compreensão e uso;
tes tomarão medidas apropriadas para:
ii) Proteção do direito das pessoas com deficiência ao
a) Incentivar e promover a maior participação possível
voto secreto em eleições e plebiscitos, sem intimidação, e
a candidatar-se nas eleições, efetivamente ocupar cargos das pessoas com deficiência nas atividades esportivas co-
eletivos e desempenhar quaisquer funções públicas em to- muns em todos os níveis;
dos os níveis de governo, usando novas tecnologias assis- b) Assegurar que as pessoas com deficiência tenham
tivas, quando apropriado; a oportunidade de organizar, desenvolver e participar em
iii) Garantia da livre expressão de vontade das pessoas atividades esportivas e recreativas específicas às deficiên-
com deficiência como eleitores e, para tanto, sempre que cias e, para tanto, incentivar a provisão de instrução, treina-
necessário e a seu pedido, permissão para que elas sejam mento e recursos adequados, em igualdade de oportuni-
auxiliadas na votação por uma pessoa de sua escolha; dades com as demais pessoas;
b) Promover ativamente um ambiente em que as pes- c) Assegurar que as pessoas com deficiência tenham
soas com deficiência possam participar efetiva e plenamen- acesso a locais de eventos esportivos, recreativos e turís-
te na condução das questões públicas, sem discriminação e ticos;
em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, e d) Assegurar que as crianças com deficiência possam,
encorajar sua participação nas questões públicas, median- em igualdade de condições com as demais crianças, parti-
te: cipar de jogos e atividades recreativas, esportivas e de la-
i) Participação em organizações não-governamentais zer, inclusive no sistema escolar;
relacionadas com a vida pública e política do país, bem e) Assegurar que as pessoas com deficiência tenham
como em atividades e administração de partidos políticos;
acesso aos serviços prestados por pessoas ou entidades
ii) Formação de organizações para representar pessoas
envolvidas na organização de atividades recreativas, turísti-
com deficiência em níveis internacional, regional, nacional
e local, bem como a filiação de pessoas com deficiência a cas, esportivas e de lazer. 
tais organizações. 
Artigo 31
Artigo 30 Estatísticas e coleta de dados 
Participação na vida cultural e em recreação, lazer e 1.Os Estados Partes coletarão dados apropriados, in-
esporte  clusive estatísticos e de pesquisas, para que possam for-
1.Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas mular e implementar políticas destinadas a por em prática
com deficiência de participar na vida cultural, em igualdade a presente Convenção. O processo de coleta e manutenção
de oportunidades com as demais pessoas, e tomarão todas de tais dados deverá:
as medidas apropriadas para que as pessoas com deficiên- a) Observar as salvaguardas estabelecidas por lei, in-
cia possam: clusive pelas leis relativas à proteção de dados, a fim de
a) Ter acesso a bens culturais em formatos acessíveis; assegurar a confidencialidade e o respeito pela privacidade
b) Ter acesso a programas de televisão, cinema, teatro das pessoas com deficiência;
e outras atividades culturais, em formatos acessíveis; e b) Observar as normas internacionalmente aceitas para
c) Ter acesso a locais que ofereçam serviços ou eventos proteger os direitos humanos, as liberdades fundamentais
culturais, tais como teatros, museus, cinemas, bibliotecas e os princípios éticos na coleta de dados e utilização de
e serviços turísticos, bem como, tanto quanto possível, ter
estatísticas. 
acesso a monumentos e locais de importância cultural na-
2.As informações coletadas de acordo com o disposto
cional. 
2.Os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para neste Artigo serão desagregadas, de maneira apropriada,
que as pessoas com deficiência tenham a oportunidade de e utilizadas para avaliar o cumprimento, por parte dos Es-
desenvolver e utilizar seu potencial criativo, artístico e in- tados Partes, de suas obrigações na presente Convenção
telectual, não somente em benefício próprio, mas também e para identificar e enfrentar as barreiras com as quais as
para o enriquecimento da sociedade.  pessoas com deficiência se deparam no exercício de seus
direitos. 

73
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

3.Os Estados Partes assumirão responsabilidade pela 2.O Comitê será constituído, quando da entrada em
disseminação das referidas estatísticas e assegurarão que vigor da presente Convenção, de 12 peritos. Quando a
elas sejam acessíveis às pessoas com deficiência e a outros.  presente Convenção alcançar 60 ratificações ou adesões,
o Comitê será acrescido em seis membros, perfazendo o
Artigo 32 total de 18 membros. 
Cooperação internacional  3.Os membros do Comitê atuarão a título pessoal e
1.Os Estados Partes reconhecem a importância da coo- apresentarão elevada postura moral, competência e expe-
peração internacional e de sua promoção, em apoio aos riência reconhecidas no campo abrangido pela presente
esforços nacionais para a consecução do propósito e dos
Convenção. Ao designar seus candidatos, os Estados Partes
objetivos da presente Convenção e, sob este aspecto, ado-
são instados a dar a devida consideração ao disposto no
tarão medidas apropriadas e efetivas entre os Estados e, de
Artigo 4.3 da presente Convenção. 
maneira adequada, em parceria com organizações interna-
cionais e regionais relevantes e com a sociedade civil e, em 4.Os membros do Comitê serão eleitos pelos Estados
particular, com organizações de pessoas com deficiência. Partes, observando-se uma distribuição geográfica equi-
Estas medidas poderão incluir, entre outras: tativa, representação de diferentes formas de civilização e
a) Assegurar que a cooperação internacional, incluindo dos principais sistemas jurídicos, representação equilibrada
os programas internacionais de desenvolvimento, sejam in- de gênero e participação de peritos com deficiência. 
clusivos e acessíveis para pessoas com deficiência; 5.Os membros do Comitê serão eleitos por votação se-
b) Facilitar e apoiar a capacitação, inclusive por meio creta em sessões da Conferência dos Estados Partes, a par-
do intercâmbio e compartilhamento de informações, ex- tir de uma lista de pessoas designadas pelos Estados Partes
periências, programas de treinamento e melhores práticas; entre seus nacionais. Nessas sessões, cujo quorum será de
c) Facilitar a cooperação em pesquisa e o acesso a co- dois terços dos Estados Partes, os candidatos eleitos para
nhecimentos científicos e técnicos; o Comitê serão aqueles que obtiverem o maior número de
d) Propiciar, de maneira apropriada, assistência técni- votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes
ca e financeira, inclusive mediante facilitação do acesso a dos Estados Partes presentes e votantes. 
tecnologias assistivas e acessíveis e seu compartilhamento, 6.A primeira eleição será realizada, o mais tardar, até
bem como por meio de transferência de tecnologias.  seis meses após a data de entrada em vigor da presente
2.O disposto neste Artigo se aplica sem prejuízo das Convenção. Pelo menos quatro meses antes de cada elei-
obrigações que cabem a cada Estado Parte em decorrência
ção, o Secretário-Geral das Nações Unidas dirigirá carta
da presente Convenção. 
aos Estados Partes, convidando-os a submeter os nomes
Artigo 33 de seus candidatos no prazo de dois meses. O Secretário-
Implementação e monitoramento nacionais  Geral, subsequentemente, preparará lista em ordem alfa-
1.Os Estados Partes, de acordo com seu sistema or- bética de todos os candidatos apresentados, indicando que
ganizacional, designarão um ou mais de um ponto focal foram designados pelos Estados Partes, e submeterá essa
no âmbito do Governo para assuntos relacionados com a lista aos Estados Partes da presente Convenção. 
implementação da presente Convenção e darão a devida 7.Os membros do Comitê serão eleitos para mandato
consideração ao estabelecimento ou designação de um de quatro anos, podendo ser candidatos à reeleição uma
mecanismo de coordenação no âmbito do Governo, a fim única vez. Contudo, o mandato de seis dos membros elei-
de facilitar ações correlatas nos diferentes setores e níveis.  tos na primeira eleição expirará ao fim de dois anos; ime-
2.Os Estados Partes, em conformidade com seus siste- diatamente após a primeira eleição, os nomes desses seis
mas jurídico e administrativo, manterão, fortalecerão, de- membros serão selecionados por sorteio pelo presidente
signarão ou estabelecerão estrutura, incluindo um ou mais da sessão a que se refere o parágrafo 5 deste Artigo. 
de um mecanismo independente, de maneira apropriada, 8.A eleição dos seis membros adicionais do Comitê
para promover, proteger e monitorar a implementação da será realizada por ocasião das eleições regulares, de acordo
presente Convenção. Ao designar ou estabelecer tal me- com as disposições pertinentes deste Artigo. 
canismo, os Estados Partes levarão em conta os princípios 9.Em caso de morte, demissão ou declaração de um
relativos ao status e funcionamento das instituições nacio-
membro de que, por algum motivo, não poderá continuar
nais de proteção e promoção dos direitos humanos. 
a exercer suas funções, o Estado Parte que o tiver indicado
3.A sociedade civil e, particularmente, as pessoas com
designará um outro perito que tenha as qualificações e sa-
deficiência e suas organizações representativas serão en-
volvidas e participarão plenamente no processo de moni- tisfaça aos requisitos estabelecidos pelos dispositivos per-
toramento.  tinentes deste Artigo, para concluir o mandato em questão. 
10.O Comitê estabelecerá suas próprias normas de
Artigo 34 procedimento. 
Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência  11.O Secretário-Geral das Nações Unidas proverá o
1.Um Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Defi- pessoal e as instalações necessários para o efetivo desem-
ciência (doravante denominado “Comitê”) será estabeleci- penho das funções do Comitê segundo a presente Conven-
do, para desempenhar as funções aqui definidas.  ção e convocará sua primeira reunião. 

74
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

12.Com a aprovação da Assembleia Geral, os membros 4.Os Estados Partes tornarão seus relatórios ampla-
do Comitê estabelecido sob a presente Convenção rece- mente disponíveis ao público em seus países e facilitarão o
berão emolumentos dos recursos das Nações Unidas, sob acesso à possibilidade de sugestões e de recomendações
termos e condições que a Assembleia possa decidir, tendo gerais a respeito desses relatórios. 
em vista a importância das responsabilidades do Comitê.  5.O Comitê transmitirá às agências, fundos e progra-
13.Os membros do Comitê terão direito aos privilégios, mas especializados das Nações Unidas e a outras organi-
facilidades e imunidades dos peritos em missões das Na- zações competentes, da maneira que julgar apropriada, os
ções Unidas, em conformidade com as disposições perti- relatórios dos Estados Partes que contenham demandas ou
nentes da Convenção sobre Privilégios e Imunidades das indicações de necessidade de consultoria ou de assistência
Nações Unidas.  técnica, acompanhados de eventuais observações e suges-
tões do Comitê em relação às referidas demandas ou indi-
Artigo 35 cações, a fim de que possam ser consideradas. 
Relatórios dos Estados Partes 
1.Cada Estado Parte, por intermédio do Secretário- Artigo 37
Geral das Nações Unidas, submeterá relatório abrangente Cooperação entre os Estados Partes e o Comitê 
sobre as medidas adotadas em cumprimento de suas obri- 1.Cada Estado Parte cooperará com o Comitê e auxilia-
gações estabelecidas pela presente Convenção e sobre o rá seus membros no desempenho de seu mandato. 
progresso alcançado nesse aspecto, dentro do período de 2.Em suas relações com os Estados Partes, o Comitê
dois anos após a entrada em vigor da presente Convenção dará a devida consideração aos meios e modos de aprimo-
para o Estado Parte concernente.  rar a capacidade de cada Estado Parte para a implementa-
2.Depois disso, os Estados Partes submeterão relató- ção da presente Convenção, inclusive mediante coopera-
ção internacional. 
rios subsequentes, ao menos a cada quatro anos, ou quan-
do o Comitê o solicitar. 
Artigo 38
3.O Comitê determinará as diretrizes aplicáveis ao teor
Relações do Comitê com outros órgãos 
dos relatórios. 
A fim de promover a efetiva implementação da pre-
4.Um Estado Parte que tiver submetido ao Comitê
sente Convenção e de incentivar a cooperação internacio-
um relatório inicial abrangente não precisará, em relató-
nal na esfera abrangida pela presente Convenção:
rios subsequentes, repetir informações já apresentadas.
a) As agências especializadas e outros órgãos das Na-
Ao elaborar os relatórios ao Comitê, os Estados Partes são
ções Unidas terão o direito de se fazer representar quan-
instados a fazê-lo de maneira franca e transparente e a le-
do da consideração da implementação de disposições da
var em consideração o disposto no Artigo 4.3 da presente presente Convenção que disserem respeito aos seus res-
Convenção.  pectivos mandatos. O Comitê poderá convidar as agências
5.Os relatórios poderão apontar os fatores e as dificul- especializadas e outros órgãos competentes, segundo jul-
dades que tiverem afetado o cumprimento das obrigações gar apropriado, a oferecer consultoria de peritos sobre a
decorrentes da presente Convenção.  implementação da Convenção em áreas pertinentes a seus
respectivos mandatos. O Comitê poderá convidar agências
Artigo 36 especializadas e outros órgãos das Nações Unidas a apre-
Consideração dos relatórios  sentar relatórios sobre a implementação da Convenção em
1.Os relatórios serão considerados pelo Comitê, que áreas pertinentes às suas respectivas atividades;
fará as sugestões e recomendações gerais que julgar per- b) No desempenho de seu mandato, o Comitê consul-
tinentes e as transmitirá aos respectivos Estados Partes. O tará, de maneira apropriada, outros órgãos pertinentes ins-
Estado Parte poderá responder ao Comitê com as informa- tituídos ao amparo de tratados internacionais de direitos
ções que julgar pertinentes. O Comitê poderá pedir infor- humanos, a fim de assegurar a consistência de suas respec-
mações adicionais ao Estados Partes, referentes à imple- tivas diretrizes para a elaboração de relatórios, sugestões e
mentação da presente Convenção.  recomendações gerais e de evitar duplicação e superposi-
2.Se um Estado Parte atrasar consideravelmente a en- ção no desempenho de suas funções. 
trega de seu relatório, o Comitê poderá notificar esse Esta-
do de que examinará a aplicação da presente Convenção Artigo 39
com base em informações confiáveis de que disponha, a Relatório do Comitê 
menos que o relatório devido seja apresentado pelo Esta- A cada dois anos, o Comitê submeterá à Assembleia
do dentro do período de três meses após a notificação. O Geral e ao Conselho Econômico e Social um relatório de
Comitê convidará o Estado Parte interessado a participar suas atividades e poderá fazer sugestões e recomendações
desse exame. Se o Estado Parte responder entregando seu gerais baseadas no exame dos relatórios e nas informações
relatório, aplicar-se-á o disposto no parágrafo 1 do presen- recebidas dos Estados Partes. Estas sugestões e recomen-
te artigo.  dações gerais serão incluídas no relatório do Comitê, acom-
3.O Secretário-Geral das Nações Unidas colocará os re- panhadas, se houver, de comentários dos Estados Partes.  
latórios à disposição de todos os Estados Partes.

75
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Artigo 40 Artigo 45
Conferência dos Estados Partes  Entrada em vigor 
1.Os Estados Partes reunir-se-ão regularmente em 1.A presente Convenção entrará em vigor no trigésimo
Conferência dos Estados Partes a fim de considerar ma- dia após o depósito do vigésimo instrumento de ratificação
térias relativas à implementação da presente Convenção. ou adesão.
2.O Secretário-Geral das Nações Unidas convocará, 2.Para cada Estado ou organização de integração regio-
dentro do período de seis meses após a entrada em vigor nal que ratificar ou formalmente confirmar a presente Con-
da presente Convenção, a Conferência dos Estados Partes. venção ou a ela aderir após o depósito do referido vigésimo
As reuniões subsequentes serão convocadas pelo Secretá- instrumento, a Convenção entrará em vigor no trigésimo dia
rio-Geral das Nações Unidas a cada dois anos ou conforme a partir da data em que esse Estado ou organização tenha
a decisão da Conferência dos Estados Partes.  depositado seu instrumento de ratificação, confirmação for-
mal ou adesão. 
Artigo 41
Artigo 46
Depositário 
Reservas 
O Secretário-Geral das Nações Unidas será o depositá-
1.Não serão permitidas reservas incompatíveis com o
rio da presente Convenção.   objeto e o propósito da presente Convenção. 
2.As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento. 
Artigo 42
Assinatura  Artigo 47
A presente Convenção será aberta à assinatura de to- Emendas 
dos os Estados e organizações de integração regional na 1.Qualquer Estado Parte poderá propor emendas à
sede das Nações Unidas em Nova York, a partir de 30 de presente Convenção e submetê-las ao Secretário-Geral das
março de 2007.  Nações Unidas. O Secretário-Geral comunicará aos Estados
Partes quaisquer emendas propostas, solicitando-lhes que o
Artigo 43 notifiquem se são favoráveis a uma Conferência dos Estados
Consentimento em comprometer-se  Partes para considerar as propostas e tomar decisão a res-
A presente Convenção será submetida à ratificação pe- peito delas. Se, até quatro meses após a data da referida co-
los Estados signatários e à confirmação formal por organi- municação, pelo menos um terço dos Estados Partes se ma-
zações de integração regional signatárias. Ela estará aberta nifestar favorável a essa Conferência, o Secretário-Geral das
à adesão de qualquer Estado ou organização de integração Nações Unidas convocará a Conferência, sob os auspícios
regional que não a houver assinado.   das Nações Unidas. Qualquer emenda adotada por maioria
de dois terços dos Estados Partes presentes e votantes será
submetida pelo Secretário-Geral à aprovação da Assembleia
Artigo 44
Geral das Nações Unidas e, posteriormente, à aceitação de
Organizações de integração regional  todos os Estados Partes. 
1.”Organização de integração regional” será entendida 2.Qualquer emenda adotada e aprovada conforme o dis-
como organização constituída por Estados soberanos de posto no parágrafo 1 do presente artigo entrará em vigor no
determinada região, à qual seus Estados membros tenham trigésimo dia após a data na qual o número de instrumentos
delegado competência sobre matéria abrangida pela pre- de aceitação tenha atingido dois terços do número de Esta-
sente Convenção. Essas organizações declararão, em seus dos Partes na data de adoção da emenda. Posteriormente, a
documentos de confirmação formal ou adesão, o alcance emenda entrará em vigor para todo Estado Parte no trigési-
de sua competência em relação à matéria abrangida pela mo dia após o depósito por esse Estado do seu instrumento
presente Convenção. Subsequentemente, as organizações de aceitação. A emenda será vinculante somente para os Es-
informarão ao depositário qualquer alteração substancial tados Partes que a tiverem aceitado. 
no âmbito de sua competência.  3.Se a Conferência dos Estados Partes assim o decidir por
2.As referências a “Estados Partes” na presente Con- consenso, qualquer emenda adotada e aprovada em confor-
venção serão aplicáveis a essas organizações, nos limites midade com o disposto no parágrafo 1 deste Artigo, relacio-
da competência destas.  nada exclusivamente com os artigos 34, 38, 39 e 40, entrará
3.Para os fins do parágrafo 1 do Artigo 45 e dos pará- em vigor para todos os Estados Partes no trigésimo dia a par-
tir da data em que o número de instrumentos de aceitação
grafos 2 e 3 do Artigo 47, nenhum instrumento depositado
depositados tiver atingido dois terços do número de Estados
por organização de integração regional será computado. 
Partes na data de adoção da emenda. 
4.As organizações de integração regional, em matérias
de sua competência, poderão exercer o direito de voto na Artigo 48
Conferência dos Estados Partes, tendo direito ao mesmo Denúncia 
número de votos quanto for o número de seus Estados Qualquer Estado Parte poderá denunciar a presente
membros que forem Partes da presente Convenção. Essas Convenção mediante notificação por escrito ao Secretário-
organizações não exercerão seu direito de voto, se qual- Geral das Nações Unidas. A denúncia tornar-se-á efetiva
quer de seus Estados membros exercer seu direito de voto, um ano após a data de recebimento da notificação pelo
e vice-versa.  Secretário-Geral.  

76
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Artigo 49 Artigo 4 
Formatos acessíveis  1.A qualquer momento após receber uma comunica-
O texto da presente Convenção será colocado à dispo- ção e antes de decidir o mérito dessa comunicação, o Co-
sição em formatos acessíveis.   mitê poderá transmitir ao Estado Parte concernente, para
sua urgente consideração, um pedido para que o Estado
Artigo 50 Parte tome as medidas de natureza cautelar que forem ne-
Textos autênticos  cessárias para evitar possíveis danos irreparáveis à vítima
Os textos em árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e ou às vítimas da violação alegada. 
russo da presente Convenção serão igualmente autênticos.  2.O exercício pelo Comitê de suas faculdades discricio-
EM FÉ DO QUE os plenipotenciários abaixo assinados, nárias em virtude do parágrafo 1 do presente Artigo não
devidamente autorizados para tanto por seus respectivos implicará prejuízo algum sobre a admissibilidade ou sobre
Governos, firmaram a presente Convenção. o mérito da comunicação. 
PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO SOBRE OS Artigo 5 
DIREITOS O Comitê realizará sessões fechadas para examinar
DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA 
comunicações a ele submetidas em conformidade com o
presente Protocolo. Depois de examinar uma comunicação,
Os Estados Partes do presente Protocolo acordaram o
o Comitê enviará suas sugestões e recomendações, se hou-
seguinte: 
ver, ao Estado Parte concernente e ao requerente.  
Artigo 1 
1.Qualquer Estado Parte do presente Protocolo (“Esta- Artigo 6 
do Parte”) reconhece a competência do Comitê sobre os 1.Se receber informação confiável indicando que um
Direitos das Pessoas com Deficiência (“Comitê”) para rece- Estado Parte está cometendo violação grave ou sistemática
ber e considerar comunicações submetidas por pessoas ou de direitos estabelecidos na Convenção, o Comitê convida-
grupos de pessoas, ou em nome deles, sujeitos à sua juris- rá o referido Estado Parte a colaborar com a verificação da
dição, alegando serem vítimas de violação das disposições informação e, para tanto, a submeter suas observações a
da Convenção pelo referido Estado Parte.  respeito da informação em pauta. 
2.O Comitê não receberá comunicação referente a 2.Levando em conta quaisquer observações que te-
qualquer Estado Parte que não seja signatário do presente nham sido submetidas pelo Estado Parte concernente, bem
Protocolo.  como quaisquer outras informações confiáveis em poder
do Comitê, este poderá designar um ou mais de seus mem-
Artigo 2  bros para realizar investigação e apresentar, em caráter de
O Comitê considerará inadmissível a comunicação urgência, relatório ao Comitê. Caso se justifique e o Estado
quando: Parte o consinta, a investigação poderá incluir uma visita ao
a) A comunicação for anônima; território desse Estado. 
b) A comunicação constituir abuso do direito de sub- 3.Após examinar os resultados da investigação, o Co-
meter tais comunicações ou for incompatível com as dispo- mitê os comunicará ao Estado Parte concernente, acompa-
sições da Convenção; nhados de eventuais comentários e recomendações. 
c) A mesma matéria já tenha sido examinada pelo Co- 4.Dentro do período de seis meses após o recebimento
mitê ou tenha sido ou estiver sendo examinada sob outro dos resultados, comentários e recomendações transmiti-
procedimento de investigação ou resolução internacional; dos pelo Comitê, o Estado Parte concernente submeterá
d) Não tenham sido esgotados todos os recursos inter- suas observações ao Comitê. 
nos disponíveis, salvo no caso em que a tramitação desses
5.A referida investigação será realizada confidencial-
recursos se prolongue injustificadamente, ou seja imprová-
mente e a cooperação do Estado Parte será solicitada em
vel que se obtenha com eles solução efetiva;
todas as fases do processo. 
e) A comunicação estiver precariamente fundamentada
ou não for suficientemente substanciada; ou
f) Os fatos que motivaram a comunicação tenham Artigo 7 
ocorrido antes da entrada em vigor do presente Protocolo 1.O Comitê poderá convidar o Estado Parte concernen-
para o Estado Parte em apreço, salvo se os fatos continua- te a incluir em seu relatório, submetido em conformidade
ram ocorrendo após aquela data.  com o disposto no Artigo 35 da Convenção, pormenores
a respeito das medidas tomadas em consequência da in-
Artigo 3  vestigação realizada em conformidade com o Artigo 6 do
Sujeito ao disposto no Artigo 2 do presente Protoco- presente Protocolo. 
lo, o Comitê levará confidencialmente ao conhecimento do 2.Caso necessário, o Comitê poderá, encerrado o pe-
Estado Parte concernente qualquer comunicação submeti- ríodo de seis meses a que se refere o parágrafo 4 do Artigo
da ao Comitê. Dentro do período de seis meses, o Estado 6, convidar o Estado Parte concernente a informar o Comitê
concernente submeterá ao Comitê explicações ou declara- a respeito das medidas tomadas em consequência da refe-
ções por escrito, esclarecendo a matéria e a eventual solu- rida investigação. 
ção adotada pelo referido Estado.  

77
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Artigo 8  2.Para cada Estado ou organização de integração re-


Qualquer Estado Parte poderá, quando da assinatura gional que ratificar ou formalmente confirmar o presente
ou ratificação do presente Protocolo ou de sua adesão a Protocolo ou a ele aderir depois do depósito do décimo
ele, declarar que não reconhece a competência do Comitê, instrumento dessa natureza, o Protocolo entrará em vigor
a que se referem os Artigos 6 e 7. no trigésimo dia a partir da data em que esse Estado ou
organização tenha depositado seu instrumento de ratifica-
Artigo 9  ção, confirmação formal ou adesão. 
O Secretário-Geral das Nações Unidas será o depositá-
rio do presente Protocolo. Artigo 14 
1.Não serão permitidas reservas incompatíveis com o
Artigo 10  objeto e o propósito do presente Protocolo. 
O presente Protocolo será aberto à assinatura dos Es- 2.As reservas poderão ser retiradas a qualquer mo-
tados e organizações de integração regional signatários da mento. 
Convenção, na sede das Nações Unidas em Nova York, a
partir de 30 de março de 2007. Artigo 15 
1.Qualquer Estado Parte poderá propor emendas ao
Artigo 11  presente Protocolo e submetê-las ao Secretário-Geral das
O presente Protocolo estará sujeito à ratificação pelos Nações Unidas. O Secretário-Geral comunicará aos Estados
Estados signatários do presente Protocolo que tiverem ra- Partes quaisquer emendas propostas, solicitando-lhes que
tificado a Convenção ou aderido a ela. Ele estará sujeito o notifiquem se são favoráveis a uma Conferência dos Es-
à confirmação formal por organizações de integração re- tados Partes para considerar as propostas e tomar decisão
gional signatárias do presente Protocolo que tiverem for- a respeito delas. Se, até quatro meses após a data da refe-
malmente confirmado a Convenção ou a ela aderido. O rida comunicação, pelo menos um terço dos Estados Partes
Protocolo ficará aberto à adesão de qualquer Estado ou se manifestar favorável a essa Conferência, o Secretário-
organização de integração regional que tiver ratificado ou Geral das Nações Unidas convocará a Conferência, sob os
formalmente confirmado a Convenção ou a ela aderido e auspícios das Nações Unidas. Qualquer emenda adotada
que não tiver assinado o Protocolo.   por maioria de dois terços dos Estados Partes presentes e
votantes será submetida pelo Secretário-Geral à aprovação
Artigo 12  da Assembleia Geral das Nações Unidas e, posteriormente,
1.“Organização de integração regional” será entendi- à aceitação de todos os Estados Partes. 
da como organização constituída por Estados soberanos 2.Qualquer emenda adotada e aprovada conforme o
de determinada região, à qual seus Estados membros te- disposto no parágrafo 1 do presente artigo entrará em
vigor no trigésimo dia após a data na qual o número de
nham delegado competência sobre matéria abrangida pela
instrumentos de aceitação tenha atingido dois terços do
Convenção e pelo presente Protocolo. Essas organizações
número de Estados Partes na data de adoção da emenda.
declararão, em seus documentos de confirmação formal
Posteriormente, a emenda entrará em vigor para todo Esta-
ou adesão, o alcance de sua competência em relação à
do Parte no trigésimo dia após o depósito por esse Estado
matéria abrangida pela Convenção e pelo presente Proto-
do seu instrumento de aceitação. A emenda será vinculante
colo. Subsequentemente, as organizações informarão ao
somente para os Estados Partes que a tiverem aceitado. 
depositário qualquer alteração substancial no alcance de
sua competência. 
Artigo 16 
2.As referências a “Estados Partes” no presente Proto- Qualquer Estado Parte poderá denunciar o presente
colo serão aplicáveis a essas organizações, nos limites da Protocolo mediante notificação por escrito ao Secretário-
competência de tais organizações.  Geral das Nações Unidas. A denúncia tornar-se-á efetiva
3.Para os fins do parágrafo 1 do Artigo 13 e do pará- um ano após a data de recebimento da notificação pelo
grafo 2 do Artigo 15, nenhum instrumento depositado por Secretário-Geral.  
organização de integração regional será computado. 
4.As organizações de integração regional, em matérias Artigo 17 
de sua competência, poderão exercer o direito de voto na O texto do presente Protocolo será colocado à disposi-
Conferência dos Estados Partes, tendo direito ao mesmo ção em formatos acessíveis.  
número de votos que seus Estados membros que forem
Partes do presente Protocolo. Essas organizações não Artigo 18 
exercerão seu direito de voto se qualquer de seus Estados Os textos em árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e
membros exercer seu direito de voto, e vice-versa.  russo e do presente Protocolo serão igualmente autênticos. 
EM FÉ DO QUE os plenipotenciários abaixo assinados,
Artigo 13  devidamente autorizados para tanto por seus respectivos
1.Sujeito à entrada em vigor da Convenção, o presente governos, firmaram o presente Protocolo. 
Protocolo entrará em vigor no trigésimo dia após o depósi-
to do décimo instrumento de ratificação ou adesão. 

78
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

A DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL
EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES ÉTNICO- A DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL EM UM PAÍS MULTI-
CULTURAL.
RACIAIS
Devemos partir da premissa que nos mostra o signi-
ficado do conceito de diversidade, refere-se a variedades,
diferenças, que estão presentes em nossa sociedade de
Desde a colonização do Brasil já nos é mostrado a forma bem delineada na variabilidade de raça, opção se-
diversidade cultural do país, onde no processo de desco- xual, culto religioso, cultura e padrões socioeconômicos
brimento a imposição do modo de agir e pensar dos co- que existem em um país pluricultural e pluriétnico, como
lonizadores divergiam em muitos pontos dos costumes é o Brasil. De acordo com Abramowick (2006 apud Saraiva
indígenas nativos causando assim conflitos, pois o “euro- (2012) a diversidade pode significar variedade, diferença,
centrismo” arraigou na cabeça do homem branco que ele multiplicidade. A diferença é que torna especial o que é
seria um ser mais evoluído. diferente; o que diferencia uma coisa da outra, a falta de
Descortinado o racismo no Brasil e seu processo de es- igualdade ou semelhança. Isto é, podemos afirmar que
cravização que deixou marcas severas na história dos afri- onde a diversidade existe diferenças.
canos e afrodescendentes que por meio dos maus tratos A diversidade cultural refere-se a uma quantidade va-
e das violências sofridas no trajeto África/Brasil e em sua riada de grupos humanos e estes que advém de múltiplas
permanência aqui, colocaram o negro em condições hie- culturas que precisão ser conhecidas e estudadas. Como
rarquicamente inferiorizadas socialmente falando. assegura Vera Maria Candau (2008, p.26).
Corroborando para o processo de “branqueamento” Tendemos a uma visão homogeneizadora e estereoti-
que o país viveu, onde quanto mais próximo do estereóti- pada de nós mesmos, em que nossa identidade cultural é
po europeu mais aceito e inserido pela sociedade o cida- muitas vezes vista como um dado “natural”. Desvelar esta
dão era, esquecendo-se cada vez mais da importância de realidade e favorecer uma visão, dinâmica, contextualiza-
reconhecer cada indivíduo na sua essência cultural. Sendo da e plural das nossas identidades culturais é fundamental,
assim o Brasil miscigenado por vários grupos humanos for- articulando-se a dimensão pessoal e coletiva destes pro-
madores de uma mesma nação rica em diversidade cultu- cessos.
ral, a desigualdade das relações étnico-raciais é um tema A conscientização da reconstrução histórica de nos-
atual na nossa sociedade, pois o preconceito existe e in- sas identidades culturais é de relevante importância nesse
fluência com toda força nas relações sociais dos indivíduos. processo de desvelar a homogeneização que se criou em
Precisamos nos conscientizar que não existe superio- relação as diferenças que constituem a nossa nação. Pois
ridade entre os povos e sim diferenças culturais que de- através da admissão das especificidades de cada pessoa,
vemos respeitar seja ela racial, social ou de gênero, daí a cidades e grupo humano é possível valorizar e respeitar,
importância de conhecer em que sociedade vivemos para por meio de dinamismo nas práticas educativas. Como as-
entendermos assim a posição de cada indivíduo e procu- sinala Candau (2008, p.26):
rarmos soluções para problemas arraigados na sociedade Ser conscientes de nossos enraizamentos culturais, dos
como o preconceito, no entanto acabamos por descriminar processos de hibridização e de negação e silenciamento de
e só conseguiremos mudar essa postura através do conhe- determinadas pertencimentos culturais, sendo capazes de
cimento como afirma Adilton de Paula (2005,p 92): reconhecê-los constitui um exercício fundamental.
Para falar a verdade, hoje a grande maioria das pessoas
ainda não se guia pela ciência e pelo conhecimento. O bai- A DIVERSIDADE NO AMBIENTE ESCOLAR
xo grau de estudos e informações faz que a maioria da po- O Brasil é um país socialmente falando diverso somos
pulação do planeta ainda entenda e explique o mundo e a vários povos em uma só nação, índios, brancos, negros, es-
realidade a partir de suas crendices, fetiches e ignorâncias. trangeiros vindos de várias partes do mundo convivendo
O tema proposto nesse artigo busca esclarecer a histó- nesse emaranhado de culturas, resultando assim em uma
ria de lutas do povo negro e indígena, desmistificar o pre- grande miscigenação. De acordo com Gomes (2008, p.70):
conceito na nossa sociedade por meio do reconhecimento Em uma sociedade multirracial e pluricultural, como é
do negro como edificador e parte integrante da gênese do o caso do Brasil, não podemos mais continuar pensando a
Brasil. Com esse propósito objetivamos saber como cur- cidadania e a democracia sem considerar a diversidade e o
sa a implementação da lei 10.639/2003 elaborada pelo tratamento desigual historicamente imposto aos diferentes
movimento negro que institui história e cultura Africana, grupos sociais e étnico-raciais.
Afro-brasileira nos currículos escolares das séries iniciais Então a discussão sobre diversidade não deve reduzir-
das escolas públicas e particulares. A problemática desse se apenas a um conceito de igualdade, pois esse compor-
trabalho fundamenta-se em fazer uma análise a cerca da tamento deu origem a uma forma de preconceito negado
implementação da referida lei na escola pública por meio tornado-se assim mais difícil o reconhecimento dessa plu-
de pesquisa de campo baseado no viés “compreensivista” ralidade. Pois uma das formas de segregação de indivíduos,
e na abordagem qualitativa está pesquisa encontra-se em que perduraram ao longo da história de composição da
andamento. Para esse estudo instrumentalizamos as teo- nação foi as referentes às questões raciais ligadas princi-
rias de autores de GOMES (2010), CANDAU (2008), ABRA- palmente a cor da pele. Nesse sentido Candau (2005, p.19)
MOWICZ (2008), LARAIA (2004), dentre outros. afirma que: Não se deve contrapor igualdade a diferença.

79
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

“De fato, a igualdade não está oposta a diferença, e sim As experiências de vida dos negros com o patrimônio
à desigualdade, e diferença não se opõem a igualdade, e cultural de seu grupo e com o do “outro”, do grupo branco,
sim a padronização, a produção em série, à uniformidade, o grau de miscigenação e a presença de traços negróides
a sempre o “mesmo”, a mesmice”. em seu fenótipo, as experiências de discriminação racial
Isto é, através do conhecimento das desigualdades que vivenciou, a consciência de seus direitos enquanto
raciais e dos problemas enfrentados as discussões destas povo fundante do Brasil, estão entre os elementos centrais
tornará menos complexa, pois a construção da identidade que definirão a maneira como vai reconhecer ou não.
racial desvelará este estereótipo do negro ligado sempre Desta forma fica evidente que o conhecimento dos su-
a um ser marginalizado. Como frisa Bento (2011,p.99), “A jeitos sobre a história cultural e étnica de seus antepassados
complexidade do ser negro em uma sociedade em que é de essencial relevância, uma vez que inibem a existência
essa condição aparece associada a pobreza, inferioridade, do preconceito mesmo por que o processo de edificação
incompetência, feiura, atraso cultural tornam a construção de nossa identidade racial faz com que a questionemos e
da identidade racial dos negros e negras um grande desa- junto dela os fatores sociais que rodeiam, já que está não
fio.” é estática vive em constante mudança. De tal modo (SILVA,
Quer-se dizer, a edificação desses estereótipos com re- 2000) citado por (MORREIRA, 2008) diz: “Nossa identidade,
lação aos Afrodescendentes deu origem ao racismo. Mas o assim, não é uma essência, não é um dado, não é fixa, não
que é racismo? É a defesa da superioridade de certos gru- é estável, nem centrada, nem unificada, nem homogênea,
pos étnicos ou Culturas, que de forma oculta torna-se um nem definitiva.
pensamento social nesse sentido foram criadas as raças e É uma construção, um efeito, um processo de produ-
de acordo com as características de cada individuo deno- ção, um ato performativo”.
mina-se a qual raça pertence. Hoje é comprovado cientifi-
camente que elas não existem somos todos pertencentes CULTURA E DIVERSIDADE NO ESPAÇO ESCOLAR
de uma mesma espécie a humana quando se fala em dife- Cultura tem um conceito muito amplo que está ligada
renças de povos podemos nos referir no máximo a grupos a vida em sociedade a relação dos sujeitos no decorrer des-
humanos diferenciados. sa vivência e ao conjunto de símbolos que emanam desta,
O preconceito racial é produto do racismo, sócio e definindo o modo de agir dos seres de acordo com a so-
historicamente construídos, ou seja, não conheço e dou o ciedade em que reside. E assim assimila WHITE (1955 apud
julgamento que acho ser coerente. E no Brasil vai de acor- LARAIA (2004,p.55)
do com as aparências quanto mais característica da matriz Todo comportamento humano se origina no uso de
africana trouxer consigo maior será a discriminação que é símbolos. Foi o símbolo que transformou nossos ancestrais
diferente do preconceito norte-americano que não impor- antropóides em homens e fê-los humanos. Todas as civili-
ta se o número de características brancas for maior do que zações se espalharam e perpetuaram somente pelo uso de
as negras se houver sangue negro já é fator exclusão. símbolos... . Toda cultura depende de símbolos. É o exercí-
“Nosso preconceito racial atém-se mais ás aparências, cio da faculdade de simbolização que cria a cultura e o uso
ás marca fenóticas quanto mais traços físicos negros, mais de símbolos que torna possível a sua perpetuação. Sem o
problemas, diferente do preconceito de origem, norte-a- símbolo não haveria cultura, e o homem seria apenas ani-
mericano, em que uma gota de sangue negro é fator de mal, não um ser humano.
exclusão, independente de a pessoa ter mais traços bran- ...O comportamento humano é o comportamento sim-
cos do que negro.” bólico.
Joel Araujo Zito, cineasta. (revista USP, n°69, p.75, mar/ O comportamento cultural fez do homem um ser social
maio 2006) E para que não reafirmemos esse comporta- e muitos autores dedicaram seus estudos a entender sobre
mento racista que exclui os negros e os demais grupos o nascimento da cultura e sua importância na vida. “LÉVI
formadores de nossa nação que encontram-se a margem, -STRAUSS (1976 apud LARAIA (2004) frisa que “a cultura
necessita-se cada vez mais da nossa conscientização e esta surgiu no momento em que se instituiu a primeira regra
ocorrerá através do conhecimento da história de nossos segundo ele está seria a proibição do incesto, padrão de
antepassados que é essencial no reconhecer-se como parte comportamento comum a todas as sociedades humanas.”
integrante de determinado grupo social e no compor de Ou seja, e a partir do aprimoramento das regras e nor-
nossa identidade racial A estruturação da identidade racial mas delineou-se a identidade de cada comunidade, torna-
é um processo de importância impar, pois significa aquilo do alguns símbolos presentes e aceito no modo de vida de
que somos e “deste modo está vai sendo constituída ao uma sociedade e ilícita em outra. E, com efeito, LARAIA diz:
longo da vida, em meio às interações e identificações com (2004, p.55)
diferentes pessoas grupos que convivemos socialmente e “Como, por exemplo, a cor preta significa luto entre
vamos criando elos com essa multiplicidade de indivíduos” nós e entre os chineses é o branco que exprime esse sen-
(MOREIRA,2008). Reconhecer-se como negro, pois a infor- timento.”
mação e consolidação das raízes de sua identidade cultural Por conseguinte é primordial ao analisar uma cultu-
definirão o posicionamento de suas concepções sobre as ra e entender sua essência e símbolos para depois deste
questões que norteiam esse reconhecimento. No que se discorremos sobre um posicionamento crítico, pois os se-
refere á construção da identidade racial Bento (2011,p.99) res humanos que habitam determinada comunidade vive
salienta: de acordo com os preceitos desta e consequentemente

80
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

molda-se ao seus ritos, valores, comportamentos. E neste A educação escolar, entendida com parte constituinte
sentido corrobora LARAIA (2004, p. 57) “é de importância do processo de humanização, socialização e formação, tem
fundamental para o nosso ponto de vista sobre a natureza pois, de estar associada aos processos culturais, á constru-
do homem que se torna, assim, não apenas o produtor da ção das identidades de gênero, de raça, de idade, de esco-
cultura, mas também, num sentido especificamente bioló- lha sexual, entre outros.
gico, o produto da cultura”. E nesse processo de inserção de novas práticas educa-
Contudo cultura está estritamente ligado com a discus- tivos todos os sujeitos que compõe a comunidade escolar
são de manifestação da diversidade dos grupos humanos e necessitam estar cientes sobre o contexto da diversidade
por meio desta o conhecimento e afirmação de cada sujei- e reconhecer-se como transformadores da sociedade que
to tal como é torna-se possível, do contrário a consciência conseguem identificar a diferença não como um problema
cultural hoje no Brasil tende a homogeneizar os indivíduos mais como parte da humanização dos indivíduos. Eassim
em um modelo estereotipado. Gomes e Silva (2005,p.18) asseguram:
“O que tenho constatado é a pouca consciência que A sociedade brasileira é pluriétnica e pluricultural. Alu-
em geral temos destes processos e do cruzamento de cul- nos, professores e funcionários de estabelecimentos de
turas presente neles. Tendemos a uma visão homogeneiza- ensino são, antes de mais nada sujeitos sociais – homens
e mulheres, crianças, adolescentes, jovens e adultos, per-
dora e estereotipada de nos mesmos, em que nossa identi-
tencentes a diferentes grupos étnico-raciais, integrantes de
dade cultural é muitas vezes vista como um dado “ natural”.
distintos grupos sociais. São sujeitos com histórias de vida,
Desvelar esta realidade e favorecer uma visão dinâmica,
representações, experiências, identidades, crenças, valores
contextualizada e plural das nossas identidades culturais é
e costumes próprios que impregnam os ambientes edu-
fundamental. ”. (CANDAU, 2008, p 26). cacionais por onde transitam com suas particularidades e
A discussão sobre diversidade cultural deve ser feita no semelhanças, compondo o contexto da diversidade.
espaço escolar, pois este é um espaço de conflito já que é A diversidade étnico–cultural é um assunto que deve
o local onde toda esta pluralidade cultural se encontra, e a fazer parte dos currículos escolares, pois notam-se atitudes
melhor forma para desmistificar esses preconceitos é ques- segregatórias das crianças, é necessário que ensinemos e
tionando, estudando, pesquisando e conhecendo os gru- aprendamos a conviver com as diferenças respeitando-as,
pos humanos formadores de nossa nação. Porque antes de pois todos temos direitos iguais perante a sociedade, so-
tudo esse é um processo de conhecimento onde devemos mos um país de muitas etnias, cores e cultos e essas diver-
propor aos nossos alunos investigar, rever, reconstruir e en- sidades estão presentes em nosso dia-a-dia.
tender sobre uma cultura que é de todos. E nesse sentido Por isso devemos prestar mais atenção de que forma
que aparece nas diretrizes curriculares nacionais. o ambiente em que a criança vive a influencia nas suas
“Questionem relações ético-raciais baseadas em pre- opiniões, pois é fato que crianças entre quatro e seis anos
conceitos que desqualifiquem os negros e salientem es- se espelham nos comportamentos dos adultos com quem
tereótipos depreciativos, palavras, atitudes que velada ou convive. Isto é, “a criança absorve papéis e atitudes dos
explicitamente violentas, expressão sentimentos de supe- outros, isto é, interioriza-os, tornando-os seus. Por meio
rioridade em relação aos negros, próprios de uma socieda- desta identificação, ela torna-se capaz de identificar a si
de hierárquica e desigual” (Diretrizes, 2005, p. 12) mesma, de adquirir uma identidade subjetivamente coe-
A abordagem sobre as diferenças tem que ser um as- rente e plausível.” (BERGER,1994 )
sunto exercitado no cotidiano escolar, pois a desconstrução A criança é um ser pré-moldado que é aperfeiçoado
do comportamento racista deve acontecer através da dis- a partir da convivência no universo em que esta inserida
cussão e do conhecimento, ao invés de silenciamento por e este é formado por vários segmentos e a escola é um
que optando por essa prática compactuamos com a dis- destes que muitas vezes torna-se omissa diante de atitudes
seminação deste problema social. Podendo também desse racistas, no entanto nos como professores parte integran-
modo construir uma formação educacional cada vez mais te do processo de aprendizagem das crianças devemos a
cada dia repensarmos nossa prática para não reafirmar ati-
social que situe o educando como sujeito de sua realidade.
tudes discriminatórias como pontua (Abramowicz, Oliveira
Como aponta (GOMES E SILVA, 2005)
e Rodrigues,2010:p.85)
“Inserir essa complexa problemática na abordagem do
Podemos concluir que as crianças, aos 4 anos de idade,
cotidiano escolar exige que seja repensada uma nova con-
já passaram por processos de subjetivação que as levaram
cepção de formação educacional. a concepções já tão arraigados no nosso imaginário social
Em que o profissional de educação seja visto como su- sobre o branco e o negro e conseqüentemente sobre as
jeito sociocultural do processo educacional, ou seja, aquele positividades e negatividades atribuídas a um e outro gru-
que atribui sentido a sua existência através de suas refe- po racial.
rências e do espaço que está inserido além da instituição Portanto é muito importante que a escola esteja bem
escolar”. instruída para essas questões da discussão e instrução so-
Pois o campo educacional é abrangente, educar exige a bre a diversidade seja de gênero, étnico-racial, religiosa ou
participação dos pais da escola da comunidade que acerca de sexo, desmistificando estereótipos, pois este é o primei-
e além de tudo dos acontecimentos globais, sociais, polí- ro contato social da criança com a pluralidade cultural que
ticos e culturais. De acordo com Gomes e Silva (2005,p.18) existe ao seu redor.

81
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

CONSIDERAÇÕES FINAIS E TENDO a referida Convenção entrado em vigor, de


A diversidade étnico-racial que o Brasil possui é a sua conformidade com o disposto em seu artigo 19,  parágrafo
identidade, por isso é de pertinente valor que aprenda- 1º, a 4 de janeiro de 1969;
mos a conviver com a diversidade, conhecendo e discutin- DECRETA que a mesma, apensa por cópia ao presente 
do e acima tudo respeitando, pois o reconhecer-se como Decreto,  seja  executada  e  cumprida  tão  inteiramente
pertencente a um grupo sem preconceitos e de essencial como ela nele contém.
importância para que mostremos uma sociedade livre e Brasília, 8 de dezembro de 1969; 148º da Independên-
consciente. Tendo como primeiro passo desconsidera a cia e 81º da República.
diversidade com sinônimo de igualdade assumindo que EMÍLIO G. MÉDICI 
todos nos temos particularidade e que a ideia de homoge- Mário Gibson Barbosa 
neização da sociedade e no mínimo enganadora, pois o ser
humano nunca vai ser enquadra em um padrão. A CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMI-
Contudo cada grupo social tem sua cultura e com esta NAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO
seus costumes, regras e comportamentos dotados de par- RACIAL. 
ticularidades e assim sendo a cultura é sim responsável
pela formação da personalidade do indivíduo constituin- Os Estados Partes na presente Convenção,
do seres diversos que também são preceptores de culturas Considerando que a Carta das Nações Unidas baseia-se
ímpares. em princípios de dignidade e igualdade inerentes a todos
A escola é o principal instrumento nesse processo, os seres humanos, e que todos os Estados Membros com-
pois e responsável pelo primeiro contato social do ser prometeram-se a tomar medidas separadas e conjuntas,
humano então tem que está preparada para receber, inte- em cooperação com a Organização, para a consecução de 
grar e trabalhar as diversidades tornado a formação social um  dos  propósitos  das  Nações  Unidas  que  é  promo-
da criança multicultural e pluriétinica, pois, esta é respon- ver  e encorajar o respeito universal e observância  dos  di-
sável por um desenvolvimento livre para que se construa reitos  humanos  e  liberdades  fundamentais  para  todos, 
um cidadão consciente da realidade em que vive e essa sem discriminação de raça, sexo, idioma ou religião.
constituição é de essencial importância e tem que ser exe- Considerando que a Declaração Universal dos Direitos
cutada com maestria pela escola, pois este é um espaço do Homem proclama que todos os homens  nascem livres
de conflitos que devem ser discutida, construídos e refei- e iguais em dignidade e direitos e que todo homem tem
tos com instruções que desmistifiquem estereótipos e a todos os direitos estabelecidos na  mesma,  sem  distinção 
lei 10639/03 é um recurso muito rico nesse processo, pois de qualquer espécie e principalmente de raça, cor ou ori-
informa o aluno e o professor e a comunidade em geral.16 gem nacional,
Considerando  todos  os  homens  são  iguais  perante 
a  lei  e  têm  o  direito  à  igual  proteção  contra  qualquer
DECRETO Nº. 65.810, DE 8 DE DEZEMBRO discriminação e contra qualquer incitamento à discrimina-
DE 1969 (PROMULGA A CONVENÇÃO ção,
INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE Considerando que  as  Nações  Unidas  têm  condena-
TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO do  o  colonialismo  e  todas  as  práticas  de  segregação  e
discriminação a ele associados, em qualquer forma e onde
RACIAL).
quer que existam, e que a Declaração sobre  a  Conces-
são de Independência, a Partes e Povos Coloniais, de 14 de
dezembro de 1960 (Resolução 1.514 (XV), da  assembleia
Geral afirmou e proclamou solenemente a necessidade de
DECRETO Nº 65.810, DE 8 DE DEZEMBRO DE 1969 levá-las a um fim rápido e incondicional,
Considerando que a Declaração das Nações  Unidas 
Promulga a Convenção Internacional sobre a Elimina- sobre  eliminação  de  todas  as  formas  de  Discriminação
ção de todas as Formas de Discriminação Racial.  Racial,  de  20 de  novembro  de  1963, (Resolução 1.904 (
XVIII)  da  assembleia-Geral),  afirma  solenemente   a ne-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, cessidade  de  eliminar   rapidamente  a   discriminação  
HAVENDO  o  Congresso  Nacional  aprovado  pelo  racial   através  do  mundo  em  todas  as  suas  formas  e
Decreto  Legislativo  nº 23,  de  21  de  junho de  1967, a manifestações e de assegurar a compreensão e o respeito
Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as à dignidade da pessoa humana,
Formas de Discriminação Racial, que foi aberta à  assina- Convencidos de que qualquer doutrina de superiorida-
tura em Nova York e assinada pelo Brasil a 7 de março de de  baseada  em  diferenças  raciais  é  cientificamente  fal-
1966; sa, moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa,
E HAVENDO sido depositado o Instrumento brasilei- em que, não existe justificação para a discriminação racial,
ro  de  Ratificação, junto  ao  Secretário-Geral  das  Nações em teoria ou na prática, em lugar algum,
Unidas, a 27 de março de 1968; Reafirmando que a discriminação entre os homens por
16 Fonte: www.editorarealize.com.br – Por Rayssa Mar- motivos de raça, cor ou  origem  étnica  é  um  obstáculo 
tins Alves a relações amistosas e pacíficas entre as nações e é capaz

82
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

de disturbar a paz e a segurança entre povos e a harmonia Artigo II


de pessoas vivendo lado a lado até dentro de um mesmo 1. Os Estados Partes condenam a discriminação racial
Estado, e comprometem-se a adotar, por todos os meios apropria-
Convencidos que a existência de barreiras raciais re- dos e sem tardar uma política de eliminação da discrimi-
pugna os ideais de qualquer sociedade humana, nação racial em todas as suas formas e de promoção de
Alarmados por manifestações de discriminação racial  entendimento entre todas as raças e para esse fim:
ainda  em  evidência  em  algumas  áreas  do  mundo  e  por a) Cada Estado parte compromete-se a efetuar
políticas governamentais baseadas em superioridade racial nenhum ato ou prática de discriminação racial con-
ou ódio, como as políticas  de  apartheid ,  segregação  ou tra pessoas, grupos de pessoas ou instituições e fa-
separação, zer com que todas as autoridades públicas nacio-
Resolvidos a adotar todas as medidas necessárias para  nais ou locais, se conformem com esta obrigação;
eliminar  rapidamente  a  discriminação  racial  em,  todas  b) Cada Estado Parte compromete-se a não encora-
as suas formas e manifestações, e a prevenir e combater jar, defender ou apoiar a discriminação racial prati-
doutrinas e práticas raciais com o  objetivo de  promover  o cada por uma pessoa ou uma organização qualquer;
entendimento entre as raças e construir uma comunidade c) Cada Estado Parte deverá tomar as medidas efica-
internacional livre de todas as formas de separação racial  e zes, a fim de rever as politicas governamentais nacio-
discriminação racial, nais e locais e para modificar, ab-rogar ou anular qual-
Levando em conta a  Convenção  sobre  Discrimina- quer disposição regulamentar que tenha como objeti-
ção  nos  Emprego  e  Ocupação  adotada  pela  Organi- vo criar a discriminação ou perpetrá-la onde já existir;
zação internacional do Trabalho em 1958, e a Convenção d) Cada Estado Parte deverá, por todos os meios apro-
contra discriminação no  Ensino  adotada  pela  Organiza- priados, inclusive se as circunstâncias o exigirem, as me-
ção  das Nações Unidas para Educação a Ciência em 1960, didas legislativas, proibir e por fim, a discriminação racial
Desejosos de completar os princípios estabelecidos na praticadas por pessoa, por grupo ou das organizações;
Declaração das Nações unidas sobre a Eliminação de todas e) Cada Estado Parte compromete-se a favorecer, quando
as formas de discriminação racial e assegurar o mais cedo for o caso as organizações e movimentos multi-raciais e
outros meios próprios a eliminar as barreiras entre as raças
possível a adoção de medidas práticas para esse fim,
e a desencorajar o que tende a fortalecer a divisão racial.
Acordaram no seguinte:
2) Os Estados Partes tomarão, se as circunstâncias o
exigirem, nos campos social, econômico, cultural e outros,
PARTE I
as medidas especiais e concretas para assegurar como
convier o desenvolvimento ou a proteção de certos grupos
Artigo I
raciais ou de indivíduos pertencentes a estes grupos com
1. Nesta Convenção, a expressão “discriminação racial”
o objetivo de garantir-lhes, em condições de igualdade, o
significará qualquer distinção, exclusão restrição ou pre-
pleno exercício dos direitos do homem e das liberdades
ferência baseadas em raça, cor, descendência ou origem fundamentais.
nacional ou etnica que tem por objetivo ou efeito anular Essas medidas não deverão, em caso algum, ter a fina-
ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício num lidade de manter direitos grupos raciais, depois de alcança-
mesmo plano,( em igualdade de condição), de direitos dos os objetivos em razão dos quais foram tomadas.
humanos e liberdades fundamentais no domínio político
econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio Artigo III
de vida pública. Os Estados Partes especialmente condenam a segre-
2. Esta Convenção não se aplicará ás distinções, exclu- gação racial e o apartheid e comprometem-se a proibir e a
sões, restrições e preferências feitas por um Estado Parte eliminar nos territórios sob sua jurisdição todas as práticas
nesta Convenção entre cidadãos e não cidadãos. dessa natureza.
3. Nada nesta Convenção poderá ser interpretado
como afetando as disposições legais dos Estados Partes, Artigo IV
relativas a nacionalidade, cidadania e naturalização, desde Os Estados partes condenam toda propaganda e todas
que tais disposições não discriminem contra qualquer na- as organizações que se inspirem em ideias ou teorias ba-
cionalidade particular. seadas na superioridade de uma raça ou de um grupo de
4. Não serão consideradas discriminação racial as me- pessoas de uma certa cor ou de uma certa origem étnica
didas especiais tomadas com o único objetivo de assegurar ou que pretendem justificar ou encorajar qualquer forma
progresso adequado de certos grupos raciais ou étnicos ou de ódio e de discriminação raciais e comprometem-se a
de indivíduos que necessitem da proteção que possa ser adotar imediatamente medidas positivas destinadas a eli-
necessária para proporcionar a tais grupos ou indivíduos minar qualquer incitação a uma tal discriminação, ou quais-
igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades quer atos de discriminação com este objetivo tendo em
fundamentais, contando que, tais medidas não conduzam, vista os princípios formulados na Declaração universal dos
em consequência, à manutenção de direitos separados direitos do homem e os direitos expressamente enunciados
para diferentes grupos raciais e não prossigam após terem no artigo 5 da presente convenção, eles se comprometem
sido alcançados os seus objetivos. principalmente:

83
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

a) a declarar delitos puníveis por lei, qualquer difusão iii) direito à habitação;
de ideias baseadas na superioridade ou ódio raciais, qual- iv) direito à saúde pública, a tratamento médico, à pre-
quer incitamento à discriminação racial, assim como quais- vidência social e aos serviços sociais;
quer atos de violência ou provocação a tais atos, dirigidos v) direito a educação e à formação profissional;
contra qualquer raça ou qualquer grupo de pessoas de vi) direito a igual participação das atividades culturais;
outra cor ou de outra origem técnica, como também qual- f) direito de acesso a todos os lugares e serviços des-
quer assistência prestada a atividades racistas, inclusive seu tinados ao uso do publico, tais como, meios de transporte
financiamento; hotéis, restaurantes, cafés, espetáculos e parques.
b) a declarar ilegais e a proibir as organizações assim
como as atividades de propaganda organizada e qualquer Artigo VI
outro tipo de atividade de propaganda que incitar a discri- Os Estados Partes assegurarão a qualquer pessoa que
minação racial e que a encorajar e a declara delito punível estiver sob sua jurisdição, proteção e recursos efetivos
por lei a participação nestas organizações ou nestas ativi- perante os tribunais nacionais e outros órgãos do Estado
dades. competentes, contra quaisquer atos de discriminação racial
c) a não permitir as autoridades públicas nem ás insti- que, contrariamente à presente Convenção, violarem seus
tuições públicas nacionais ou locais, o incitamento ou en- direitos individuais e suas liberdades fundamentais, assim
corajamento à discriminação racial. como o direito de pedir a esses tribunais uma satisfação ou
repartição justa e adequada por qualquer dano de que foi
Artigo V vitima em decorrência de tal discriminação.
De conformidade com as obrigações fundamentais
enunciadas no artigo 2, Os Estados Partes comprometem- Artigo VII
se a proibir e a eliminar a discriminação racial em todas Os Estados Partes, comprometem-se a tomar as medi-
suas formas e a garantir o direito de cada uma à igualdade das imediatas e eficazes, principalmente no campo de ensi-
perante a lei sem distinção de raça , de cor ou de origem no, educação, da cultura e da informação, para lutar contra
nacional ou étnica, principalmente no gozo dos seguintes os preconceitos que levem à discriminação racial e para
direitos: promover o entendimento, a tolerância e a amizade entre
a) direito a um tratamento igual perante os tribunais ou nações e grupos raciais e éticos assim como para propagar
qualquer outro órgão que administre justiça;
ao objetivo e princípios da Carta das Nações Unidas da De-
b) direito a segurança da pessoa ou à proteção do Es-
claração Universal dos Direitos do Homem, da Declaração
tado contra violência ou ou lesão corporal cometida que
das Nações Unidas sobre a eliminação de todas as formas
por funcionários de Governo, quer por qualquer indivíduo,
de discriminação racial e da presente Convenção.
grupo ou instituição.
c) direitos políticos principalmente direito de participar
PARTE II
às eleições - de votar e ser votado - conforme o sistema de
Artigo VIII
sufrágio universal e igual direito de tomar parte no Gover-
no, assim como na direção dos assuntos públicos, em qual- 1. Será estabelecido um Comitê para a eliminação da
quer grau e o direito de acesso em igualdade de condições, discriminação racial (doravante denominado “o Comitê)
às funções públicas. composto de 18 peritos conhecidos para sua alta morali-
d) Outros direitos civis, principalmente, dade e conhecida imparcialidade, que serão eleitos pelos
i) direito de circular livremente e de escolher residência Estados Membros dentre seus nacionais e que atuarão a
dentro das fronteiras do Estado; título individual, levando-se em conta uma repartição geo-
ii) direito de deixar qualquer pais, inclusive o seu, e de gráfica equitativa e a representação das formas diversas de
voltar a seu país; civilização assim como dos principais sistemas jurídicos.
iii) direito de uma nacionalidade; 2. Os Membros do Comitê serão eleitos em escrutí-
iv) direito de casar-se e escolher o cônjuge; nio secreto de uma lista de candidatos designados pe-
v) direito de qualquer pessoa, tanto individualmente los Estados Partes, Cada Estado Parte poderá desig-
como em conjunto, à propriedade; nar um candidato escolhido dentre seus nacionais.
vi) direito de herdar; 3. A primeira eleição será realizada seis meses após a
vii) direito à liberdade de pensamento, de consciência data da entrada em vigor da presente Convenção. Três
e de religião; meses pelo menos antes de cada eleição, o Secretário
viii) direito à liberdade de opinião e de expressão; Geral das Nações Unidas enviará uma Carta aos Estados
ix) direito à liberdade de reunião e de associação pa- Partes para convidá-los a apresentar suas candidatu-
cífica; ras no prazo de dois meses. O Secretário Geral elabora-
e) direitos econômicos, sociais culturais, principalmen- rá uma lista por ordem alfabética, de todos os candida-
te: tos assim nomeados com indicação dos Estados partes
i) direitos ao trabalho, a livre escolha de seu trabalho, a que os nomearam, e a comunicará aos Estados Partes.
condições equitativas e satisfatórias de trabalho à proteção 4. Os membros do Comitê serão eleitos durante uma reu-
contra o desemprego, a um salário igual para um trabalho nião dos Estados Partes convocada pelo Secretário Geral
igual, a uma remuneração equitativa e satisfatória; das Nações Unidas. Nessa reunião, em que o quorum será
ii) direito de fundar sindicatos e a eles se afiliar; alcançado com dois terços dos Estados Partes, serão eleitos

84
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

membros do Comitê, os candidatos que obtiverem o maior qualquer outro processo que estiver a sua disposição, tanto
número de votos e a maioria absoluta de votos dos repre- um como o outro terão o direito de submetê-la novamente
sentantes dos Estados Partes presentes e votantes. ao Comitê, endereçando uma notificação ao Comitê assim
5. a) Os membros do Comitê serão eleitos por um pe- como ao outro Estado interessado.
ríodo de quatro anos. Entretanto, o mandato de nove dos 3. O Comitê só poderá tomar conhecimento de uma
membros eleitos na primeira eleição, expirará ao fim de questão, de acordo com o parágrafo 2 do presente artigo,
dois anos; logo após a primeira eleição os nomes desses após ter constatado que todos os recursos internos dispo-
nove membros serão escolhidos, por sorteio, pelo Presi- níveis foram interpostos ou esgotados, de conformidade
dente do Comitê. com os princípios do direito internacional geralmente re-
b) Para preencher as vagas fortuitas, o Estado Parte, conhecidos. Esta regra não se aplicará se os procedimentos
cujo perito deixou de exercer suas funções de membro do de recurso excederem prazos razoáveis.
Comitê, nomeará outro perito dentre seus nacionais, sob 4. Em qualquer questão que lhe for submetida, Comitê
reserva da aprovação do Comitê. poderá solicitar aos Estados-Partes presentes que lhe for-
6. Os Estados Partes serão responsáveis pelas despesas neçam quaisquer informações complementares pertinen-
dos membros do Comitê para o período em que estes de- tes.
sempenharem funções no Comitê. 5. Quando o Comitê examinar uma questão conforme
o presente Artigo os Estados Partes interessados terão o
Artigo IX direito de nomear um representante que participará sem
1. Os Estados Partes comprometem-se a apresentar ao direito de voto dos trabalhos no Comitê durante todos os
Secretário Geral para exame do Comitê, um relatório sobre debates.
as medidas legislativas, judiciárias, administrativas ou ou-
tras que tomarem para tornarem efetivas as disposições da Artigo XII
presente Convenção: 1. a) Depois que o Comitê obtiver e consultar as infor-
a) dentro do prazo de um ano a partir da entrada em mações que julgar necessárias, o Presidente nomeará uma
vigor da Convenção, para cada Estado interessado no que Comissão de Conciliação ad hoc (doravante denominada «
lhe diz respeito, e posteriormente, cada dois anos, e toda A Comissão», composta de 5 pessoas que poderão ser ou
vez que o Comitê o solicitar. O Comitê poderá solicitar in- não membros do Comitê. Os membros serão nomeados
formações complementares aos Estados Partes. com o consentimento pleno e unânime das partes na con-
2. O Comitê submeterá anualmente à Assembleia Geral, trovérsia e a Comissão fará seus bons ofícios a disposição
um relatório sobre suas atividades e poderá fazer suges- dos Estados presentes, com o objetivo de chegar a uma
tões e recomendações de ordem geral baseadas no exa- solução amigável da questão, baseada no respeito à pre-
me dos relatórios e das informações recebidas dos Estados sente Convenção.
Partes. Levará estas sugestões e recomendações de ordem b) Se os Estados Partes na controvérsia não chegarem
geral ao conhecimento da Assembleia Geral, e se as houver a um entendimento em relação a toda ou parte da compo-
juntamente com as observações dos Estados Partes. sição da Comissão num prazo de três meses os membros
da Comissão que não tiverem o assentimento do Estados
Artigo X Partes, na controvérsia serão eleitos por escrutínio secreto
1. O Comitê adotará seu regulamento interno. entre os membros de dois terços dos membros do Comitê.
2. O Comitê elegerá sua mesa por um período de dois 2. Os membros da Comissão atuarão a título individual.
anos. Não deverão ser nacionais de um dos Estados Partes na
3. O Secretário Geral da Organização das Nações Uni- controvérsia nem de um Estado que não seja parte da pre-
das foi necessários serviços de Secretaria ao Comitê. sente Convenção.
4. O Comitê reunir-se-á normalmente na Sede das Na- 3. A Comissão elegerá seu Presidente e adotará seu re-
ções Unidas. gimento interno.
4. A Comissão reunir-se-á normalmente na sede nas
Artigo XI Nações Unidas em qualquer outro lugar apropriado que a
1. Se um Estado Parte Julgar que outro Estado igual- Comissão determinar.
mente Parte não aplica as disposições da presente Conven- 5. O Secretariado previsto no parágrafo 3 do artigo 10
ção poderá chamar a atenção do Comitê sobre a questão. prestará igualmente seus serviços à Comissão cada ver que
O Comitê transmitirá, então, a comunicação ao Estado Par- uma controvérsia entre os Estados Partes provocar sua for-
te interessado. Num prazo de três meses, o Estado destina- mação.
tário submeterá ao Comitê as explicações ou declarações     6. Todas as despesas dos membros da Comissão
por escrito, a fim de esclarecer a questão e indicar as me- serão divididos igualmente entre os Estados Partes na con-
didas corretivas que por acaso tenham sido tomadas pelo trovérsia baseadas num cálculo estimativo feito pelo Secre-
referido Estado. tário-Geral.
2. Se, dentro de um prazo de seis meses a partir da 7. O Secretário Geral ficará autorizado a pagar, se for ne-
data do recebimento da comunicação original pelo Esta- cessário, as despesas dos membros da Comissão, antes que o
do destinatário a questão não foi resolvida a contento dos reembolso seja efetuado pelos Estados Partes na controvér-
dois Estados, por meio de negociações bilaterais ou por sia, de conformidade com o parágrafo 6 do presente artigo.

85
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

8. As informações obtidas e confrontadas pelo Comitê se- 6. a) O Comitê levará, a título confidencial, qual-
rão postas à disposição da Comissão, e a Comissão poderá quer comunicação que lhe tenha sido endereçada, ao
solicitar aos Estados interessados de lhe fornecer qualquer conhecimento do Estado Parte que, pretensamente
informação complementar pertinente. houver violado qualquer das disposições desta Con-
venção, mas a identidade da pessoa ou dos grupos
Artigo XIII de pessoas não poderá ser revelada sem o consenti-
1. Após haver estudado a questão sob todos os seus mento expresso da referida pessoa ou grupos de pes-
aspectos, a Comissão preparará e submeterá ao Presi- soas. O Comitê não receberá comunicações anônimas.
dente do Comitê um relatório com as conclusões sobre b) Nos três meses seguintes, o referido Estado submeterá,
todas as questões de fato relativas à controvérsia en- por escrito ao Comitê, as explicações ou recomendações
tre as partes e as recomendações que julgar oportunas que esclarecem a questão e indicará as medidas corretivas
a fim de chegar a uma solução amistosa da controvérsia. que por acaso houver adotado.
2. O Presidente do Comitê transmitirá o relatório da Co- 7. a) O Comitê examinará as comunicações, à luz de
missão a cada um dos Estados Partes na controvér- todas as informações que forem submetidas pelo Esta-
sia. Os referidos Estados comunicarão ao Presidente do parte interessado e pelo peticionário. O Comitê so
do Comitê num prazo de três meses se aceitam ou não, examinará uma comunicação de peticionário após ter-se
as recomendações contidas no relatório da Comissão. assegurado que este esgotou todos os recursos inter-
3. Expirado o prazo previsto no paragrafo 2º do presente nos disponíveis. Entretanto, esta regra não se aplicará
artigo, o Presidente do Comitê comunicará o Relatório da se os processos de recurso excederem prazos razoáveis.
Comissão e as declarações dos Estados Partes interessadas b) O Comitê remeterá suas sugestões e recomendações
aos outros Estados Parte na Comissão. eventuais, ao Estado Parte interessado e ao peticionário.
8. O Comitê incluirá em seu relatório anual um resumo
Artigo XIV destas comunicações, se for necessário, um resumo das
1. Todo o Estado parte poderá declarar e qualquer explicações e declarações dos Estados Partes interessados
momento que reconhece a competência do Comitê para assim como suas próprias sugestões e recomendações.
receber e examinar comunicações de indivíduos sob sua 9. O Comitê somente terá competência para exercer as
jurisdição que se consideram vítimas de uma violação pelo funções previstas neste artigo se pelo menos dez Estados
referido Estado Parte de qualquer um dos direitos enun- Partes nesta Convenção estiverem obrigados por declara-
ciados na presente Convenção. O Comitê não receberá ções feitas de conformidade com o parágrafo deste artigo.
qualquer comunicação de um Estado Parte que não houver
feito tal declaração. Artigo XV
2. Qualquer Estado parte que fizer uma declaração de 1. Enquanto não forem atingidos os objetivos da re-
conformidade com o parágrafo do presente artigo, poderá solução 1.514 (XV) da Assembleia Geral de 14 de dezem-
criar ou designar um órgão dentro de sua ordem jurídica bro de 1960, relativa à Declaração sobro a concessão da
nacional, que terá competência para receber e examinar as independência dos países e povos coloniais, as disposi-
petições de pessoas ou grupos de pessoas sob sua jurisdi- ções da presente convenção não restringirão de manei-
ção que alegarem ser vitimas de uma violação de qualquer ra alguma o direito de petição concedida aos povos por
um dos direitos enunciados na presente Convenção e que outros instrumentos internacionais ou pela Organiza-
esgotaram os outros recursos locais disponíveis. ção das Nações Unidas e suas agências especializadas.
3. A declaração feita de conformidade com o parágrafo 2. a) O Comitê constituído de conformidade com o pará-
1 do presente artigo e o nome de qualquer órgão criado grafo 1 do artigo 8 desta Convenção receberá cópia das
ou designado pelo Estado Parte interessado consoante o petições provenientes dos órgãos das Nações Unidas que
parágrafo 2 do presente artigo será depositado pelo Esta- se encarregarem de questões diretamente relacionadas
do Parte interessado junto ao Secretário Geral das Nações com os princípios e objetivos da presente Convenção e
Unidas que remeterá cópias aos outros Estados Partes. A expressará sua opinião e formulará recomendações sobre
declaração poderá ser retirada a qualquer momento me- petições recebidas quando examinar as petições recebidas
diante notificação ao Secretário Geral mas esta retirada não dos habitantes dos territórios sob tutela ou não autônomo
prejudicará as comunicações que já estiverem sendo estu- ou de qualquer outro território a que se aplicar a resolução
dadas pelo Comitê. 1514 (XV) da Assembleia Geral, relacionadas a questões
4. O órgão criado ou designado de conformidade com tratadas pela presente Convenção e que forem submetidas
o parágrafo 2 do presente artigo, deverá manter um re- a esses órgãos.
gistro de petições e cópias autenticada do registro serão b) O Comitê receberá dos órgãos competentes da Or-
depositadas anualmente por canais apropriados junto ao ganização das Nações Unidas cópia dos relatórios sobre
Secretário Geral das Nações Unidas, no entendimento que medidas de ordem legislativa judiciária, administrativa ou
o conteúdo dessas cópias não será divulgado ao público. outra diretamente relacionada com os princípios e obje-
5. Se não obtiver repartição satisfatória do órgão cria- tivos da presente Convenção que as Potências Adminis-
do ou designado de conformidade com o parágrafo 2 do tradoras tiverem aplicado nos territórios mencionados na
presente artigo, o peticionário terá o direito de levar a alinea “a” do presente parágrafo e expressará sua opinião e
questão ao Comitê dentro de seis meses. fará recomendações a esses órgãos.

86
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

3. O Comitê incluirá em seu relatório à Assembleia um 2. Não será permitida uma reserva incompatível com
resumo das petições e relatórios que houver recebido de o objeto e o escopo desta Convenção nem uma reserva
órgãos das Nações Unidas e as opiniões e recomenda- cujo efeito seria a de impedir o funcionamento de qualquer
ções que houver proferido sobre tais petições e relatórios. dos órgãos previstos nesta Convenção. Uma reserva será
4. O Comitê solicitará ao Secretário Geral das Nações Uni- considerada incompatível ou impeditiva se a ela objetarem
das qualquer informação relacionada com os objetivos da ao menos dois terços dos Estados partes nesta Convenção.
presente Convenção que este dispuser sobre os territórios 3. As reservas poderão ser retiradas a qualquer mo-
mencionados no parágrafo 2 (a) do presente artigo. mento por uma notificação endereçada com esse objetivo
ao Secretário Geral. Tal notificação surgirá efeito na data de
Artigo XVI seu recebimento.
As disposições desta Convenção relativas a solução das
controvérsias ou queixas serão aplicadas sem prejuízo de Artigo XXI
outros processos para solução de controvérsias e queixas Qualquer Estado parte poderá denunciar esta Conven-
no campo da discriminação previstos nos instrumentos ção mediante notificação escrita endereçada ao Secretário
constitutivos das Nações Unidas e suas agências especiali- Geral da Organização das Nações Unidas. A denúncia surti-
zadas, e não excluirá a possibilidade dos Estados partes re- rá efeito um ano após data do recebimento da notificação
comendarem aos outros, processos para a solução de uma pelo Secretário Geral.
controvérsia de conformidade com os acordos internacio-
nais ou especiais que os ligarem. Artigo XXI
Qualquer Controvérsia entre dois ou mais Estados Par-
Terceira Parte te relativa a interpretação ou aplicação desta Convenção
Artigo XVII que não for resolvida por negociações ou pelos processos
1. A presente Convenção ficará aberta à assinatura de previstos expressamente nesta Convenção, será o pedido
todo Estado Membro da Organização das Nações Unidas de qualquer das Partes na controvérsia. Submetida à de-
cisão da Côrte Internacional de Justiça a não ser que os
ou membro de qualquer uma de suas agências especiali-
litigantes concordem em outro meio de solução.
zadas, de qualquer Estado parte no Estatuto da Côrte In-
ternacional de Justiça, assim como de qualquer outro Es-
Artigo XXII
tado convidado pela Assembleia-Geral da Organização das
Qualquer Controvérsia entre dois ou mais Estados Par-
Nações Unidas a torna-se parte na presente Convenção.
tes relativa à interpretação ou aplicação desta Convenção,
2. A presente Convenção ficará sujeita à ratificação e os
que não for resolvida por negociações ou pelos processos
instrumentos de ratificação serão depositados junto ao Se-
previstos expressamente nesta Convenção será, pedido de
cretário Geral das Nações Unidas.
qualquer das Partes na controvérsia, submetida à decisão
da Côrte Internacional de Justiça a não ser que os litigantes
Artigo XVIII concordem em outro meio de solução.
1. A presente Convenção ficará aberta a adesão de
qualquer Estado mencionado no parágrafo 1º do artigo 17. Artigo XXIII
2. A adesão será efetuada pelo depósito de instrumento de 1. Qualquer Estado Parte poderá formular a qualquer
adesão junto ao Secretário Geral das Nações Unidas. momento um pedido de revisão da presente Convenção,
mediante notificação escrita endereçada ao Secretário Ge-
Artigo XIX ral das Nações Unidas.
1. Esta convenção entrará em vigor no trigésimo dia após 2. A Assembleia-Geral decidirá a respeito das medidas
a data do deposito junto ao Secretário Geral das Nações Uni- a serem tomadas, caso for necessário, sobre o pedido.
das do vigésimo sétimo instrumento de ratificação ou adesão.
2. Para cada Estado que ratificar a presente Convenção ou a Artigo XXIV
ele aderir após o depósito do vigésimo sétimo instrumento O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas
de ratificação ou adesão esta Convenção entrará em vigor comunicará a todos os Estados mencionados no parágrafo
no trigésimo dia após o depósito de seu instrumento de 1º do artigo 17 desta Convenção.
ratificação ou adesão. a) as assinaturas e os depósitos de instrumentos de ra-
tificação e de adesão de conformidade com os artigos 17
Artigo XX e 18;
1. O Secretário Geral das Nações Unidas receberá e en- b) a data em que a presente Convenção entrar em vi-
viará, a todos os Estados que forem ou vierem a torna-se gor, de conformidade com o artigo 19;
partes desta Convenção, as reservas feitas pelos Estados c) as comunicações e declarações recebidas de confor-
no momento da ratificação ou adesão. Qualquer Estado midade com os artigos 14, 20 e 23.
que objetar a essas reservas, deverá notificar ao Secretário d) as denúncias feitas de conformidade com o artigo
Geral dentro de noventa dias da data da referida comuni- 21.
cação, que não aceita.

87
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Artigo XXV DECRETA:


1. Esta Convenção, cujos textos em chinês, espanhol,
inglês e russo são igualmente autênticos será depositada Art. 1º  É reconhecida, de pleno direito e por prazo in-
nos arquivos das Nações Unidas. determinado, a competência do Comitê Internacional para
2. O Secretário Geral das Nações Unidas enviará cópias a Eliminação da Discriminação Racial para receber e anali-
autenticadas desta Convenção a todos os Estados perten- sar denúncias de violação dos direitos humanos conforme
centes a qualquer uma das categorias mencionadas no pa- previsto no art. 14 da      Convenção Internacional sobre a
rágrafo 1º do artigo 17. Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, de
Em fé do que os abaixo assinados devidamente autori- 7 de março de 1966.
zados por seus Governos assinaram a presente Convenção Art. 2º  Este Decreto entra em vigor na data de sua
que foi aberta a assinatura em Nova York a 7 de março de publicação.
1966.
Brasília, 12 de junho de 2003; 182º da Independência e
115º da República.
O DECRETO FEDERAL Nº 4.738, DE 12 DE
JUNHO DE 2003 (REITERA A CONVENÇÃO
INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE
TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO AÇÃO DA ESCOLA, PROTAGONISMO JUVENIL E
RACIAL). CIDADANIA.

DECRETO Nº 4.738, DE 12 DE JUNHO DE 2003. A palavra protagonismo vem de “protos”, que em latim
significa principal, o primeiro, e de “agonistes”, que quer
Promulga a Declaração Facultativa prevista no art. 14 dizer lutador, competidor. Este termo, muito utilizado pelo
da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas teatro para definir o personagem principal de uma encena-
as Formas de Discriminação Racial, reconhecendo a com- ção, foi incorporado à Educação por Antonio Carlos Gomes
petência do Comitê Internacional para a Eliminação da da Costa, educador mineiro que vem desenvolvendo uma
Discriminação Racial para receber e analisar denúncias de nova prática educativa com jovens.
violação dos direitos humanos cobertos na mencionada Dentro da idéia de protagonismo juvenil proposta por
Convenção. Gomes da Costa, o jovem é tomado como elemento cen-
tral da prática educativa, que participa de todas as fases
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição desta prática, desde a elaboração, execução até a avalia-
que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e ção das ações propostas. A idéia é que o protagonismo
juvenil possa estimular a participação social dos jovens,
Considerando que pelo Decreto nº 65.810, de 8 de de- contribuindo não apenas com o desenvolvimento pessoal
zembro de 1969, foi promulgada a Convenção Internacio- dos jovens atingidos, mas com o desenvolvimento das co-
nal sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discrimina- munidades em que os jovens estão inseridos. Dessa forma,
ção Racial, de 7 de março de 1966; segundo o educador, o protagonismo juvenil contribui para
a formação de pessoas mais autônomas e comprometidas
Considerando que o Congresso Nacional aprovou, por socialmente, com valores de solidariedade e respeito mais
meio do Decreto Legislativo nº 57, de 26 de abril de 2002, incorporados, o que contribui para uma proposta de trans-
solicitação de o Brasil fazer a Declaração Facultativa pre- formação social.
vista no art. 14 da Convenção Internacional sobre a Elimi- “Protagonismo juvenil é a participação do adolescente
nação de Todas as Formas de Discriminação Racial, reco- em atividade que extrapolam os âmbitos de seus interes-
nhecendo a competência do Comitê Internacional para a ses individuais e familiares e que podem ter como espaço
Eliminação da Discriminação Racial para receber e analisar a escola, os diversos âmbitos da vida comunitária; igrejas,
denúncias de violação dos direitos humanos cobertos na clubes, associações e até mesmo a sociedade em sentido
mencionada Convenção; mais amplo, através de campanhas, movimentos e outras
formas de mobilização que transcendem os limites de seu
Considerando que a Declaração, reconhecendo a com- entorno sócio- comunitário ” (Costa, 1996:90)
petência do mencionado Comitê Internacional para a Eli- Antonio Carlos Gomes da Costa acredita que toda
minação da Discriminação Racial, foi depositada junto à Educação deva levar em conta duas perguntas básicas: Que
Secretaria Geral da Organização das Nações Unidas em 17 tipo de homem se pretende formar e que tipo de socieda-
de junho de 2002; de pretendemos construir? A primeira questão ele respon-
de a partir da reflexão sobre as principais características do
século XX, em que o mundo capitalista desenvolveu um
homem excessivamente autônomo e pouco solidário tendo
o mundo socialista desenvolvido o contrário.

88
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Assim, ele acredita que, com as principais mudanças do Entretanto, para que se desenvolva o protagonismo
mundo atual, entre elas o final da separação entre os mun- juvenil é necessário desenvolver um novo tipo de relacio-
dos capitalista e socialista, nosso desafio seja exatamen- namento entre jovens e adultos, em que o adulto deixa de
te formar um homem solidário e autônomo simultanea- ser um transmissor de conhecimentos para ser um cola-
mente; que seja capaz de apreender as novas linguagens borador e um parceiro do jovem na descoberta de novos
que surgem diariamente e ganhar espaços no disputado conhecimentos e na ação comunitária.
mercado de trabalho ao mesmo tempo em que possa dar Para que isso aconteça, é necessário, no entanto, que
conta das terríveis conseqüências da globalização, como a haja uma mudança na visão do educando, em que este
desigualdade e a exclusão social. possa ser visto como fonte de iniciativa, fonte de liberdade
Para a formação deste homem autônomo e solidário, e de compromisso. Isso quer dizer que os jovens devem
Antonio Carlos parte de uma concepção de Educação que ser estimulados a tomarem iniciativa dos projetos a serem
está de acordo tanto com a Constituição de 1988 como desenvolvidos, ao mesmo tempo em que devem vivenciar
com a LDB de 1996 .Ele parte do artigo 205 da Constitui- possibilidades de escolha e de responsabilidades.
ção Federal que diz: O desenvolvimento do Protagonismo Juvenil, dessa
“A educação é um direito de todos, dever do Estado e forma,está de acordo com as disposições contidas no Es-
da família, com a colaboração da sociedade civil, visando tatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em que crianças
o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o e adolescentes são entendidos como “sujeitos de direitos”,
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. ou seja, devem estar no centro das políticas de atenção
E do artigo 1o, da Lei 9394/96, LDB, que diz: para este segmento.
“A educação abrange os processos formativos que se Isso pressupõe uma concepção muito positiva de ju-
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no ventude, em que os jovens possam ser enxergados como
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos mo- detentores de potencial de ação e transformação sociais
vimentos sociais e organizações da sociedade civil e nos muito fortes, passando a ser agentes do processo educa-
movimentos culturais” cional e não meros receptores de conhecimentos e de pro-
Para responder a questão sobre qual tipo de socieda- postas pré-definidas:
de pretendemos construir, o educador recorre ao artigo 3o “O protagonismo juvenil parte do pressuposto de que
o que os adolescentes pensam, dizem e fazem pode trans-
da Constituição Federal:
cender os limites do seu entorno pessoal e familiar e influir
“Constituem objetivos fundamentais da República Fe-
no curso dos acontecimentos da vida comunitária e social
derativa do Brasil:
mais ampla. Em outras palavras, o protagonismo juvenil é
I- Construir uma sociedade livre, justa e solidária;
uma forma de reconhecer que a participação dos adoles-
II- Garantir o desenvolvimento nacional;
centes pode gerar mudanças decisivas na realidade social,
III- Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
ambiental, cultural e política onde estão inseridos. Nesse
desigualdades sociais e regionais;
sentido, participar para o adolescente é envolver-se em
IV- Promover o bem de todos, sem preconceitos de
processos de discussão, decisão, desenho e execução de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de ações, visando, através do seu envolvimento na solução de
discriminação”. problemas reais, desenvolver o seu potencial criativo e a
sua força transformadora. Assim, o protagonismo juvenil,
Assim, a concepção de Educação contida na propos- tanto como um direito, é um dever dos adolescentes” (Cos-
ta de protagonismo juvenil deve ser entendida de forma ta,1996:65).
abrangente, não podendo limitar-se à Educação escolar,
mas incluindo outros aspectos que possam auxiliar os jo- Por que a participação social dos jovens?
vens no exercício da vida pública, como o desenvolvimen- Nesse sentido, seria função do processo educativo criar
to pessoal, profissional, as relações sociais e o trato com as oportunidades que pudessem garantir aos jovens uma vi-
questões do bem-comum. Ao mesmo tempo os espaços vência e um aprendizado das questões do mundo adul-
educacionais devem ser compreendidos como múltiplos, to, proporcionando o fortalecimento de um autoconceito
ultrapassando os muros das escolas e atingindo outros positivo, a formação de vínculos saudáveis e o desenvol-
espaços de referência, como organizações sociais, movi- vimento de potencialidades e talentos, o que ao mesmo
mentos sociais, etc… tempo em que favoreceria os próprios jovens, contribuiria
com a construção de uma sociedade menos violenta e de-
O protagonismo juvenil deve priorizar a intervenção sigual. Além disso, Antonio Carlos Gomes da Costa acredita
comunitária, procurando,com a ação concreta dos jovens, que o envolvimento dos jovens em projetos sociais e co-
contribuir para uma sociedade mais justa, a partir da in- munitários possa auxiliá-los na criação de projetos de vida,
corporação de valores democráticos e participativos por elemento fundamental para o desenvolvimento pessoal e
parte dos jovens e da vivência do diálogo, da negociação social dos jovens.
e da convivência com as diferenças sociais. Assim, o prota- A participação social dos jovens não é um elemento
gonismo juvenil pressupõe sempre um compromisso com novo na história brasileira, tendo se desenvolvido de acor-
a democracia. do com o contexto histórico e econômico a que estivemos
submetidos. A juventude dos anos 60 e 70 ficou notada-

89
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

mente conhecida pela sua participação social e política, O papel do educador


que teve nos estudantes seus principais protagonistas, os
quais tomavam as ruas para manifestar o descontentamen- O educador, dentro da proposta de desenvolvimento
to não apenas com as questões estudantis da época, mas do protagonismo juvenil, deve ceder seu espaço “cênico”
com questões nacionais e mundiais. ao jovem, passando a ter uma função de “bastidor” ou de
A esta época, “política” era um termo aplicado quase suporte. Isso, de forma alguma significa abandonar a fun-
totalmente aos partidos políticos e as relações sociais eram ção educativa, mas ao contrário, significa colocar os jovens
fortemente hierarquizadas, fruto do regime autoritário vi- em posição de destaque no que diz respeito aos processos
gente no país. Além disso, a juventude estudantil era uma decisórios, adotando uma postura de apoio e colabora-
juventude vinda de extratos sociais mais favorecidos social- ção. Isso requer uma presença constante junto aos jovens,
mente, justamente aqueles que tinham acesso ao ensino numa posição diferente à posição do educador tradicional,
universitário da época. estabelecendo uma relação mais “horizontal” junto aos jo-
Justamente esta juventude foi considerada como mo- vens sem, contudo, perder o seu papel de educador.
delo de participação social e foi a partir desta geração de
jovens que se descobriu o potencial transformador presen- Uma relação mais “horizontal” entre educador e edu-
te na condição juvenil. As gerações que se seguiram foram cando pressupõe estar de acordo com o contexto atual, em
sempre comparadas às gerações de 60/70, como se nunca que não são mais toleradas as formas hierárquicas dentro
mais aparecesse na História uma geração de jovens capaz e fora das instituições, que tiveram origem em períodos de
de propor um modelo novo de sociedade, tendo sido en- repressão e ditadura. Vivemos, ao contrário, um momento
tendidas como despolitizadas ou apáticas. de abertura à diversidade e ao diálogo, em que o respeito
Ocorre que as juventudes dos anos 80 e 90 foram cria- às diferenças e a busca do bem comum são agora valoriza-
das em ambientes que de forma alguma estimularam a po- dos e estimulados.
litização e a participação dos jovens, ao mesmo tempo em
que foram bombardeadas pelos meios de comunicação de O papel do educador, desta forma, se constitui numa
massa em direção ao consumo e ao individualismo. Isso função chave do desenvolvimento do protagonismo juve-
quer dizer que se os jovens desta geração nos parecem nil, à medida que tem a intenção clara de desenvolver a
indiferentes, é porque houve todo um processo educativo autonomia dos jovens. Nesse sentido, todas as suas ações
que contribuiu para isso. e estratégias devem estar direcionadas para uma resposta
autônoma e criativa por parte dos jovens, evitando aque-
Entretanto, os tempos mudaram e novas juventudes,
las ações e estratégias que promovam a dependência ou a
mais especificamente a juventude pobre, ganham voz na
acomodação.
vida pública com o processo de redemocratização do país,
ao mesmo tempo em que uma nova concepção de política
Nesse sentido, Antonio Carlos Gomes da Costa desen-
é desenvolvida a partir da ampliação do que possa vir a ser
volve um quadro com etapas da relação educador/educan-
o “público” e o “privado”.
do que devem progressivamente caminhar da relação de
Assim, hoje, o que é “público” é o que está a serviço
dependência para uma relação de autonomia, passando
de todos e as responsabilidades do que é público não são
neste percurso, por atitudes que promovam a colaboração
mais apenas do Estado, sendo divididas com a sociedade entre jovens e adultos:
civil. Assim, criam-se novas formas de participação políti-  
ca, entendida aqui como “habilidade no trato das relações
humanas com vistas à obtenção dos resultados desejados”
(Aurélio) e a partir da constituição de 1988 torna-se possí-
vel também se expressar politicamente a partir dos diferen-
tes Conselhos ligados às políticas públicas e nas próprias
instituições públicas, como Por Exemplo a Escola.
Isso mostra, na verdade, que é possível.
Assim, promover a participação dos jovens a partir do
protagonismo juvenil é também facilitar o acesso do jo-
vem aos novos espaços de participação social e política,
resgatando o elemento transformador inerente à condição
juvenil e canalizando-o para uma atuação saudável.
O desenvolvimento do protagonismo juvenil, de acor-
do com Antonio Carlos Gomes da Costa, diferencia-se do
protagonismo juvenil de outras épocas principalmente em
função de que na proposta do educador, as idéias e ini-
ciativas devam ser sempre oriundas dos próprios jovens, o
que em outras épocas foi determinado pelos adultos em
ideários já pré-definidos dentro dos partidos políticos.

90
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Etapas de
desenvolvimento de uma Dependência Colaboração Autonomia
ação
Iniciativa unilateral Discussão conjunta sobre
Iniciativa da ação Iniciativa parte dos jovens
do educador assumir ou não uma iniciativa
Planejamento da O educador planeja Os jovens planejam sem o
Planejamento em conjunto
ação sozinho educador o que será realizado
O educador executa Educadores e jovens
Os jovens executam sozinhos
Execução da ação e o jovem recebe a executam juntos a ação
o que foi planejado
ação planejada
Educadores e jovens
Os educadores Os próprios jovens avaliam a
Avaliação da ação discutem o que e como avaliar
avaliam os jovens ação realizada
a ação realizada
Os resultados são Educador e jovens Os jovens se apropriam dos
Apropriação dos
apropriados pelo compartilham os resultados da resultados e respondem pelas
resultados
educador ação desenvolvida conseqüências da ação
 
Assim, percebemos que o papel do educador no desenvolvimento do protagonismo juvenil tem um método e uma
direção muito claros, que devem proporcionar a autonomia e a liberdade de escolha dos jovens de maneira gradativa a
partir das atitudes e atividades planejadas e propostas:
“Além do compromisso ético, a opção pelo desenvolvimento de propostas, que tenham por base o protagonismo ju-
venil, exige do educador uma clara vontade política da sua parte, no sentido de contribuir- através do seu trabalho- para a
construção de uma sociedade, que respeite os direitos de cidadania e aumente progressivamente os níveis de participação
de sua população”. (Costa, 1996:115)
Além disso, é importante ressaltar que o protagonismo juvenil não é militância partidária nem tampouco uma ação
educativa a cargo do próprio educando, mas antes de tudo é um processo que pretende facilitar a inserção dos jovens no
mundo adulto a partir do exercício da participação social dentro dos espaços a que os jovens pertencem.
Para tanto, é função central do educador auxiliar os jovens no reconhecimento desses espaços, favorecendo uma refle-
xão crítica a respeito do funcionamento e das possibilidades de atuação dentro dos mesmos.17

A LEI ESTADUAL Nº 13.559, DE 11 DE MAIO DE


2016: O PLANO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO 19.

O plano envolve políticas públicas alinhadas às 20 metas do Plano Nacional de Educação que devem ser adotadas nos
próximos 10 anos.
O plano prevê políticas públicas relacionadas a questões como a erradicação do analfabetismo, universalização do
atendimento escolar, melhoria da qualidade da educação, valorização da carreira docente e aumento de vagas no ensino
superior.
O Plano Estadual de Educação institui metas para desenvolver a educação na Bahia desde o nível fundamental até o
superior, prevendo ainda a educação indígena, do campo e de jovens e adultos, além do magistério, financiamento e ges-
tão. Uma das diretrizes é a elaboração de calendários escolares flexíveis, adequados à realidade econômica e geográfica
de cada região.

LEI Nº 13.559 DE 11 DE MAIO DE 2016

Aprova o Plano Estadual de Educação da Bahia e dá outras providências.

O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, faço saber que a Assembleia Legislativa decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º - Fica aprovado o Plano Estadual de Educação - PEE-BA, com vigência de 10 (dez) anos, a contar da publicação
desta Lei, em consonância com o disposto no art. 214 da Constituição Federal, no art. 250 da Constituição Estadual e na Lei
Federal nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprovou o Plano Nacional de Educação - PNE.
Art. 2º - São diretrizes orientadoras do PEE-BA:

17 Fonte: www.fundacaotelefonica.org.br – Por Branca Sylvia Brener

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

I - erradicação do analfabetismo; § 2º - No processo de monitoramento e avaliação do


II - universalização do atendimento escolar; PEE-BA, os representantes das entidades indicadas nos in-
III - superação das desigualdades educacionais, com cisos I a IV do caput deste artigo poderão consultar especia-
ênfase no desenvolvimento integral do sujeito, na promo- listas, institutos de pesquisa, universidades, outras instituições
ção da cidadania e na erradicação de todas as formas de e órgãos colegiados de caráter consultivo.
discriminação; § 3º - O Poder Público buscará ampliar o escopo das
IV - melhoria da qualidade da educação; pesquisas com fins estatísticos, de forma a incluir informação
V - formação para o desenvolvimento integral do sujei- detalhada sobre o perfil das populações de 04 (quatro) a 17
to, para a cidadania e para o trabalho, com ênfase nos va- (dezessete) anos, particularmente as com deficiência.
lores morais e éticos nos quais se fundamenta a sociedade; Art. 5º - As Conferências Estaduais de Educação são ins-
VI - promoção do princípio da gestão democrática da tâncias com o objetivo de avaliar a execução deste PEE-BA e
educação no Estado; de formular subsídios para a Conferência Nacional de Educa-
VII - promoção humanística, científica, cultural e tecno- ção, bem como elaborar o Plano Estadual de Educação para o
lógica do Estado; decênio subsequente.
§ 1º - As Conferências Estaduais de Educação antecederão
VIII - valorização dos profissionais da educação;
a Conferência Nacional de Educação e deverão ser precedidas
IX - promoção dos princípios do respeito aos direitos
de conferências municipais ou intermunicipais, articuladas e
humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambien-
coordenadas pelo Fórum Estadual de Educação da Bahia.
tal. § 2º - As Conferências Estaduais de Educação realizar-se
Art. 3º - O PEE-BA fica estruturado, na forma do Ane- -ão com intervalo de até 04 (quatro) anos entre elas e deverão
xo Único desta Lei, em 20 (vinte) metas, seguidas de suas ser convocadas com, no mínimo, 01 (um) ano de antecedên-
estratégias específicas, que terão como referência a Pes- cia.
quisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, o censo § 3º - O Estado promoverá a realização de, pelo menos,
demográfico e os censos nacionais da Educação Básica e 02 (duas) Conferências Estaduais de Educação até o final do
Superior, em bases a serem atualizadas e observadas ao decênio.
longo do processo de acompanhamento deste PEE-BA, Art. 6º - Fica reconhecido o Fórum Estadual de Educação
sem prejuízo de outras fontes e informações relevantes. da Bahia - FEE-BA, instância de caráter consultivo e organizati-
§ 1º - As estratégias definidas no Anexo Único desta Lei vo, ao qual compete, além das atribuições previstas no art. 4º
serão implementadas, considerando a articulação interfe- desta Lei, promover a articulação das Conferências Estaduais
derativa das políticas educacionais e ainda: de Educação com as conferências municipais ou intermunici-
I - a articulação das políticas educacionais com as de- pais que as precederem.
mais políticas sociais, particularmente as culturais e as de Art. 7º - O Estado atuará em regime de colaboração com
inserção produtiva no mundo do trabalho; a União e os municípios, visando ao alcance das metas e à
II - o atendimento das necessidades específicas das implementação das estratégias objeto do PNE, deste PEE-BA
populações do campo, das comunidades indígenas e qui- e dos Planos Municipais de Educação - PME.
lombolas e de grupos itinerantes, asseguradas a equidade § 1º - É de responsabilidade dos gestores estaduais dos
educacional e a diversidade cultural; sistemas públicos de educação a adoção das medidas neces-
III - o atendimento das necessidades específicas na sárias ao alcance das metas previstas neste PEE-BA.
Educação Especial, assegurado o sistema educacional in- § 2º - O Estado colaborará com a União na instituição
clusivo em todos os níveis, etapas e modalidades. do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, nos
§ 2º - As metas e estratégias deverão ser cumpridas termos do art. 11 da Lei Federal nº 13.005, de 25 de junho
no prazo de vigência deste PEE-BA, se outro prazo inferior de 2014, como fonte de informação para a avaliação da qua-
lidade da Educação Básica e para a orientação das políticas
não tiver sido definido para metas e estratégias específicas.
públicas desse nível de ensino.
Art. 4º - A execução do PEE-BA, o alcance de suas dire-
§ 3º - O processo de monitoramento e avaliação referido
trizes e a eficácia de suas metas e estratégias serão objeto
no art. 4º desta Lei poderá ser ampliado, em regime de cola-
de processo de monitoramento contínuo e avaliações pe- boração com os Municípios, para alcançar o acompanhamen-
riódicas, realizadas pelas seguintes instâncias: to das metas e estratégias dos PME.
I - Secretaria da Educação - SEC, que o coordenará; § 4º - Será objeto de regime de colaboração específico
II - Comissão de Educação da Assembleia Legislativa; a implementação de modalidades de educação escolar que
III - Conselho Estadual de Educação - CEE; necessitem considerar territórios étnico-educacionais e a uti-
IV - Fórum Estadual de Educação da Bahia - FEE-BA. lização de estratégias que levem em conta as identidades e
§ 1º - Compete, ainda, às instâncias referidas no caput especificidades socioculturais e linguísticas de cada comuni-
deste artigo: dade envolvida, assegurada a consulta prévia e informada a
I - divulgar os resultados do monitoramento e das ava- essa comunidade.
liações nos respectivos sítios institucionais da internet; § 5º - As estratégias definidas neste PEE-BA não excluem
II - analisar e propor políticas públicas para assegurar a a adoção de medidas adicionais em âmbito local ou de ins-
implementação das estratégias e o cumprimento das me- trumentos jurídicos que formalizem a cooperação entre os
tas; entes federados, podendo ser complementadas por meca-
III - analisar e propor a revisão do percentual de inves- nismos nacionais e locais de coordenação e colaboração
timento público em educação. recíproca.

92
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 8º - Ficam criados, no âmbito dos Núcleos Regio- Estratégias:


nais de Educação - NRE, foros de negociação, cooperação e 1.1) impulsionar a busca ativa de crianças em idade
pactuação entre gestores do Estado e dos Municípios inte- correspondente à Educação Infantil, do campo, de comu-
grantes da regional, para integração de políticas e progra- nidades tradicionais, indígenas, quilombolas e urbanas, em
mas dos serviços de educação, na forma do regulamento. parceria com órgãos públicos de assistência social, saúde
§ 1º - O fortalecimento do regime de colaboração en- e proteção à infância dos sistemas municipais, no intento
tre o Estado e os Municípios dar-se-á, inclusive, mediante de enfatizar a compulsoriedade da universalização da pré
a adoção de arranjos institucionais, considerando o enlace -escola;
entre educação, território e desenvolvimento e o comparti- 1.2) incentivar o atendimento da Educação Infantil de
lhamento de competências políticas, técnicas e financeiras, populações do campo, urbanas, de comunidades indíge-
na perspectiva de um sistema nacional de educação. nas, quilombolas e comunidades tradicionais, nos respecti-
§ 2º - O Estado fomentará o consorciamento como mo- vos espaços de vida, redimensionando, quando for o caso,
delo de articulação territorial para superar a descontinuida- a distribuição territorial da oferta, configurando a nuclea-
de das políticas educacionais. ção de escolas e evitando-se o deslocamento de crianças,
Art. 9º - O Estado atuará nos limites de sua compe- respeitadas as especificidades dessas comunidades;
tência e observada a política de colaboração, a capacidade 1.3) assegurar a indissociabilidade das dimensões do
de atendimento e o esforço fiscal de cada ente federado, cuidar e do educar no atendimento a esta etapa da Edu-
para, em consonância com o art. 212 e o inciso VI do art. cação Básica;
214, ambos da Constituição Federal, e o art. 60 do Ato das 1.4) estimular, em regime de colaboração, o Programa
Disposições Constitucionais Federais Transitórias, alcançar Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos
a Meta 20 do Anexo Único deste PEE-BA. para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil, em áreas
§ 1º - A meta progressiva do investimento público em rurais e urbanas, respeitando as normas de acessibilidade,
educação será avaliada no quarto ano de vigência do PEE a partir do primeiro ano de vigência deste PEE-BA;
-BA e poderá ser ampliada por meio de lei para atender 1.5) estimular a atuação nas especificidades da Educa-
às necessidades financeiras do cumprimento das demais ção Infantil na organização das redes escolares, salvaguar-
metas. dadas as diferenças de aspectos culturais entre campo e
§ 2º - Os Planos Plurianuais - PPA, as diretrizes orça- cidade, garantindo o atendimento da criança de 0 (zero)
mentárias e os orçamentos anuais do Estado serão formu- a 05 (cinco) anos em estabelecimentos de ensino que se
lados de maneira a assegurar a consignação de dotações encaixem nos parâmetros nacionais de qualidade e à arti-
orçamentárias compatíveis com o disposto neste artigo e culação com a etapa escolar seguinte, visando ao ingresso
nas diretrizes, metas e estratégias deste PEE-BA, a fim de da criança de 06 (seis) anos de idade completos no Ensino
viabilizar sua plena execução. Fundamental;
Art. 10 - O Estado deverá, no primeiro ano de vigência 1.6) fomentar e subsidiar a elaboração, de modo par-
deste PEE-BA, aprovar lei específica de seu Sistema Esta- ticipativo, no âmbito do Conselho Estadual de nacionais
dual de Ensino, disciplinando a organização da Educação de qualidade e à articulação com a etapa escolar seguinte,
Básica e da Educação Superior, e a gestão democrática da visando ao ingresso da criança de 06 (seis) anos de idade
educação pública no âmbito do Estado, observado o dis- completos no Ensino Fundamental;
posto nos arts. 247 a 249 da Constituição Estadual. 1.6) fomentar e subsidiar a elaboração, de modo parti-
Art. 11 - Até o final do primeiro semestre do nono ano cipativo, no âmbito do Conselho Estadual de Educação, de
de vigência deste PEE-BA, o Poder Executivo Estadual en- diretrizes e orientações para organização e funcionamento
caminhará à Assembleia Legislativa, sem prejuízo das prer- de instituições de Educação Infantil, no Sistema Estadual
rogativas deste Poder, o Anteprojeto de Lei referente ao de Educação, em cumprimento à legislação em vigor, até o
Plano Estadual de Educação a vigorar no período subse- segundo ano de vigência deste PEE-BA;
quente, que incluirá diagnóstico, diretrizes, metas e estra- 1.7) fomentar normas, procedimentos e prazos para
tégias para o próximo decênio. que os sistemas municipais de educação realizem a cha-
Art. 12 - Fica revogada a Lei nº 10.330 , de 15 de se- mada pública ou censo anual da demanda por creches e
tembro de 2006. pré-escolas nos Municípios da Bahia, a partir do primeiro
Art. 13 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publi- ano de vigência do PEE-BA;
cação. 1.8) estimular, em regime de colaboração entre a
PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, em 11 União, o Estado e os Municípios baianos, até o fim do pri-
de maio de 2016. meiro ano de vigência do PEE-BA, o incremento da oferta
de vagas para creche e pré-escola nas redes públicas de
ANEXO ÚNICO Educação Infantil, conforme os Parâmetros Nacionais de
Da Educação Infantil Qualidade e as especificidades de cada Município;
Meta 1: Assegurar a discussão com os sistemas muni- 1.9) estimular a ampliação da oferta de vagas em re-
cipais de educação a respeito da universalização da pré-es- gime de tempo integral, em creches e pré-escolas da rede
cola para as crianças de 04 (quatro) a 05 (cinco) anos de pública de ensino, de modo que, progressivamente, todas
idade, nos termos do disposto pela Emenda Constitucional as crianças de 0 (zero) a 05 (cinco) anos tenham acesso
Federal nº 59, de 11 de novembro de 2009, e estimular a à Educação Integral, conforme estabelecido nas Diretrizes
ampliação da oferta de Educação Infantil em creches. Curriculares Nacionais da Educação Infantil;

93
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

1.10) estimular a criação ou ampliação de áreas verdes 1.19) estimular a criação e a ampliação do acervo li-
nas instituições de Educação Infantil, bem como a garan- terário, de materiais e objetos educativos, de jogos, de
tia de espaços adequados para jogos, brincadeiras e outras instrumentos musicais e de tecnologias educacionais nas
experiências da cultura lúdica infantil, promovendo o res- escolas de Educação Infantil, para garantir à criança o aces-
peito às relações da infância com a cultura, o meio ambien- so a processos de construção, articulação e ampliação de
te e a educação; conhecimentos e aprendizagens em diferentes linguagens;
1.11) apoiar, técnica e pedagogicamente, os Municí- 1.20) promover o desenvolvimento de projetos e ações,
pios para a criação de um setor específico de Educação In- em caráter complementar, com foco no desenvolvimento
fantil nas secretarias municipais de educação, estimulando integral das crianças de até 03 (três) anos de idade, articu-
os conselhos municipais de educação a elaborarem orien- lando as áreas de educação, saúde e assistência social;
tações e diretrizes municipais para a Educação Infantil, até 1.21) promover a colaboração da Secretaria da Edu-
o fim do segundo ano de vigência deste PEE-BA; cação com os Municípios na elaboração de proposta de
1.12) estimular, em regime de colaboração entre a diretrizes curriculares para a Educação Infantil, precedida
União, o Estado e os Municípios, políticas públicas de for- de consulta pública, e no encaminhamento ao Conselho
mação inicial e continuada de professores, coordenadores Estadual de Educação das propostas das redes municipais
pedagógicos, gestores escolares e demais profissionais que não se constituem como sistema, até o final do primei-
da educação que trabalham em instituições de Educação ro ano de vigência deste PEE-BA;
Infantil (creche e pré-escolas), de modo que, progressiva- 1.22) estruturar, até o fim do primeiro ano de vigência
mente, o atendimento na Educação Infantil (do campo e do PEE-BA, um setor específico na Secretaria da Educação
urbano) seja realizado por profissionais com formação em para tratar da orientação sobre os assuntos da Educação
nível superior, a partir do segundo ano de vigência do PEE Infantil.
-BA;
1.13) estimular a articulação entre Pós-Graduação, nú- Do Ensino Fundamental
cleos de pesquisa e cursos de formação para profissionais Meta 2: Universalizar o Ensino Fundamental de 09
da educação, de modo a garantir a elaboração de propos- (nove) anos para toda a população de 06 (seis) a 14 (ca-
tas pedagógicas das escolas e de cursos de formação inicial torze) anos e garantir que, pelo menos, 95% (noventa e
que incorporem os avanços de pesquisas ligadas às teorias cinco por cento) dos alunos concluam essa etapa na idade
educacionais no atendimento da população de 0 (zero) a
recomendada, até o último ano de vigência deste PEE-BA.
05 (cinco) anos;
Estratégias:
1.14) incentivar e apoiar todos os Municípios para que
2.1) formalizar procedimentos orientadores para que
a sua política pública para a Educação Infantil esteja conso-
o Ensino Fundamental seja o espaço de aprendizagem e
lidada até 2019, em acordo com a legislação vigente;
apropriação do legado cultural da nossa civilização e de
1.15) estimular e apoiar a formulação, pelos Municí-
desenvolvimento das habilidades cognitivas essenciais à
pios, das propostas pedagógicas para a Educação Infantil,
observando as orientações e a legislação educacional em atuação livre e autônoma dos indivíduos na sociedade, pri-
vigor para o atendimento de crianças de 0 (zero) a 05 (cin- vilegiando trocas, acolhimento e senso de pertencimento,
co) anos de idade, até o fim do terceiro ano de vigência para assegurar o bem-estar das crianças e adolescentes;
deste PEE-BA; 2.2) realizar parceria entre a Secretaria da Educação -
1.16) fomentar a avaliação da Educação Infantil, a ser SEC e as Secretarias dos Municípios no fomento ao atendi-
realizada a cada 02 (dois) anos, com base nos Indicadores mento socioeducativo;
da Qualidade na Educação Infantil orientados pelo MEC, a 2.3) promover a busca ativa de crianças e adolescentes
fim de aferir a infraestrutura física, o quadro de pessoal, as fora da escola, no campo e na cidade, em parceria com
condições de gestão, os recursos pedagógicos, a situação órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção à
de acessibilidade, entre outros indicadores relevantes, a infância, adolescência e juventude, a partir do primeiro ano
partir do segundo ano de vigência deste PEE-BA; de vigência deste PEE-BA;
1.17) estimular o acesso à Educação Infantil das crian- 2.4) estimular o desenvolvimento de tecnologias pe-
ças com deficiência, transtornos globais do dagógicas que combinem, de maneira articulada, a orga-
desenvolvimento e altas habilidades e fomentar a ofer- nização do tempo e das atividades didáticas entre a escola
ta do atendimento educacional especializado, complemen- e o ambiente comunitário, considerando as especificidades
tar e suplementar, assegurando a educação bilíngue para curriculares, seja no âmbito das escolas urbanas, do campo,
crianças surdas e a transversalidade da Educação Especial das comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas e no
nesta etapa da Educação Básica; desenvolvimento e altas atendimento de grupos itinerantes;
habilidades e fomentar a oferta do atendimento educacio- 2.5) estimular a oferta do Ensino Fundamental para as
nal especializado, complementar e suplementar, assegu- populações do campo, indígenas e quilombolas, comuni-
rando a educação bilíngue para crianças surdas e a trans- dades tradicionais nas próprias comunidades, garantindo
versalidade da Educação Especial nesta etapa da Educação condições de permanência dos estudantes nos seus espa-
Básica; ços socioculturais;
1.18) dispor orientações estruturadas sobre a alimen- 2.6) promover a articulação entre os sistemas e redes
tação escolar adequada para todas as crianças atendidas municipais de ensino e apoiar a elaboração e o encami-
nas instituições de Educação Infantil, do campo e urbanas, nhamento ao Conselho Estadual de Educação, precedida
públicas e conveniadas; de consulta pública, de proposta de direitos e objetivos de

94
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

aprendizagem e desenvolvimento para os estudantes do 2.16) estimular que o respeito às diversidades seja
Ensino Fundamental, considerado o caráter específico de objeto de tratamento transversal pelos professores, bem
espaços socioculturais onde se situam as escolas, até o final como pelas Instituições de Ensino Superior nos currículos
do primeiro ano de vigência deste PEE-BA; considerado o de graduação, respeitando os Direitos Humanos e o com-
caráter específico de espaços socioculturais onde se situam bate a todas as formas de discriminação e intolerância, à
as escolas, até o final do primeiro ano de vigência deste luz do conceito de supralegalidade presente no ordena-
PEE-BA; mento jurídico brasileiro;
2.7) indicar o Conselho Estadual de Educação para pro- 2.17) estimular a criação de programas de formação de
por normativas sobre o acompanhamento e o apoio indi- professores da Educação Básica, em todas as suas etapas,
vidualizado aos estudantes do Ensino Fundamental com níveis e modalidades, que contribuam para uma cultura de
dificuldades de aprendizagem de qualquer natureza; respeito aos direitos humanos, visando ao enfrentamento
2.8) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do trabalho infantil, do racismo e de outras formas de dis-
do acesso, da permanência e do êxito escolar dos filhos criminação, respeitando os direitos humanos e o combate
dos beneficiários de programas de transferência de renda, a todas as formas de discriminação e intolerância, à luz do
visando à garantia de condições adequadas para a apren- conceito de supralegalidade presente no ordenamento ju-
dizagem destes alunos, em colaboração com as famílias e rídico brasileiro;
com órgãos públicos de assistência social, saúde e prote- 2.18) consolidar as normativas relacionadas com as es-
ção à infância, adolescência e juventude; colas agrícolas, nos termos do disposto pela Lei nº 11.352,
2.9) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento de 23 de dezembro de 2008, garantida prerrogativa técnica
de crianças e adolescentes em situação de discriminação, da pedagogia da alternância para a concepção e organiza-
preconceitos e violências na escola, visando à garantia de ção do currículo nestas escolas, para o Ensino Fundamental;
condições adequadas para a aprendizagem desses es- 2.18) consolidar as normativas relacionadas com as es-
tudantes, em colaboração com as famílias e com órgãos colas agrícolas, nos termos do disposto pela Lei nº 11.352,
públicos de assistência social, saúde e proteção à infância, de 23 de dezembro de 2008, garantida prerrogativa técnica
adolescência e juventude; da pedagogia da alternância para a concepção e organiza-
2.10) sugerir aos Conselhos Estadual e Municipais de ção do currículo nestas escolas, para o Ensino Fundamental;
Educação a elaboração de normas regulatórias sobre a par- 2.19) integrar os dados do Censo Escolar da Educação
ticipação dos docentes e gestores escolares na organização Básica com o Sistema Nacional de Atendimento Socioedu-
do trabalho pedagógico e das ações de gerenciamento, so- cativo - SINASE, no âmbito da rede estadual;
bretudo nas responsabilidades adstritas às atividades pre- 2.20) atender às indicações do SINASE, a partir dos da-
vistas nos arts. 12, 13 e 14 da Lei Federal nº 9.394, de 20 de dos do Censo Escolar da Educação Básica;
dezembro de 1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação 2.21) fortalecer o processo de ensino e de aprendiza-
Nacional - LDB, na programação do tempo e horário da gem com o uso de tecnologias e linguagens multimídia.
escola para o desenvolvimento dessas ações previstas, com
destaque para a adequação do calendário escolar à realida- Do Ensino Médio
de local, à identidade cultural e à territorialidade; Meta 3: Expandir gradativamente o atendimento esco-
2.11) estimular e promover a relação das escolas com lar para toda a população de 15 (quinze) a 17 (dezessete)
movimentos culturais, a fim de garantir a oferta regular de anos e elevar, até o final do período de vigência deste PEE
atividades culturais para os estudantes, de forma a tornar -BA, a taxa líquida de matrículas no Ensino Médio para 85%
as escolas polos de criação e difusão cultural; (oitenta e cinco por cento).
2.12) incentivar e promover a participação dos pais ou Estratégias:
responsáveis no acompanhamento das atividades escola- 3.1) indicar ao Conselho Estadual de Educação o pre-
res dos filhos, fomentando o estreitamento das relações paro do ordenamento normativo orientador para que o
entre a escola e a família; Ensino Médio seja espaço de ressignificação e recriação da
2.13) implementar formas de oferta do Ensino Funda- cultura herdada, privilegiando o apoio e a troca de conhe-
mental, garantindo a qualidade, para atender a crianças, cimentos, para assegurar o bem-estar dos adolescentes e
adolescentes e adultos de grupos étnicos itinerantes e da- jovens;
queles que se dedicam a atividades de caráter itinerante ou 3.2) fortalecer as iniciativas estaduais de renovação do
associadas a práticas agrícolas, entre outros; Ensino Médio, em articulação com os programas nacionais,
2.14) promover atividades de estímulo a múltiplas vi- a fim de fomentar práticas pedagógicas com abordagens
vências esportivas dos estudantes, vinculadas a projetos de interdisciplinares, nas dimensões do trabalho, das lingua-
incremento ao esporte educacional nas escolas; gens, das tecnologias, da cultura e das múltiplas vivências
2.15) articular com as Instituições de Educação Supe- esportivas, com destaque para as escolas do campo, qui-
rior - IES o desenvolvimento de programas de formação lombolas, de grupos itinerantes e comunidades tradicio-
continuada e inicial de professores alfabetizadores, para nais, nas quais devem ser consideradas as experiências e
atender às diferentes demandas da educação - especial, do realidades sociais dos respectivos espaços de vivência dos
campo, indígena, quilombola, de jovens e adultos; estudantes;

95
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

3.3) fomentar programas de educação e de cultura 3.14) estruturar políticas de proteção ao estudante
para a qualificação social de pessoas de áreas urbanas, do contra formas de exclusão, como medida de prevenção do
campo, indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais, abandono escolar, motivadas por preconceito ou quaisquer
na faixa etária de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos, e de formas de discriminação;
adultos que estejam fora da escola ou em defasagem no 3.15) estimular, por meio de orientação profissional,
fluxo escolar; a participação dos adolescentes e jovens nos cursos das
3.4) estimular a expansão das matrículas gratuitas de áreas tecnológica e científica, estabelecendo acordos com
Ensino Médio integrado à Educação Profissional, obser- as IES e a Rede Federal de Educação Profissional, Científica
vando-se as peculiaridades das populações do campo, das e Tecnológica para a realização de estágios e visitas téc-
comunidades indígenas, quilombolas, de comunidades tra- nicas, articuladas com as atividades de ensino, pesquisa e
dicionais e dos povos ciganos; extensão;
3.5) integrar, anualmente, as avaliações sistêmicas do 3.16) encorajar o aproveitamento dos estudos feitos
Ensino Médio ao funcionamento das unidades escolares em programas complementares como ações de melhoria
respectivas, nas áreas urbanas, no campo, indígenas, qui- aos currículos do Ensino Médio, a ser regulamentado por
lombolas, de comunidades tradicionais, considerando as ato do Conselho Estadual de Educação, ouvida a Secreta-
dimensões pedagógica e administrativa; ria da Educação no que concerne à orientação quanto aos
3.6) articular com os sistemas municipais de ensino programas complementares;
a formulação de políticas educacionais que assegurem o 3.17) incentivar a oferta de escolas do Ensino Médio
direito de aprender dos estudantes e apresentá-las para no campo, em espaços quilombolas, indígenas e de comu-
consulta pública e posterior encaminhamento ao Conselho nidades tradicionais, com a criação de escolas ou classes
de Educação competente, até o primeiro ano de vigência vinculadas;
deste PEE-BA; 3.18) fortalecer o acompanhamento e o monitoramen-
3.7) ampliar o acesso dos estudantes à cultura corporal to do acesso e da permanência dos jovens beneficiários
e às múltiplas vivências esportivas, integradas ao currículo de programas de transferência de renda no Ensino Médio,
escolar; em colaboração com as famílias e com órgãos públicos de
3.8) fortalecer o processo de ensino e de aprendiza- assistência social, saúde e proteção à adolescência e à ju-
gem, elevando a taxa de aprovação e reduzindo a taxa de ventude;
abandono escolar, de modo a assegurar aos estudantes a 3.19) consolidar as normativas relacionadas com as
escolas agrícolas, nos termos da Lei nº 11.352, de 23 de
continuidade dos estudos na idade adequada nesta etapa
dezembro de 2008, garantida a prerrogativa técnica da pe-
de ensino;
dagogia da alternância para a concepção e organização do
3.9) providenciar estratégias que possibilitem a regu-
currículo nestas escolas, para o Ensino Médio;
larização de fluxo aos estudantes do Ensino Médio com
3.20) implementar, no currículo do Ensino Médio, con-
distorção de idade, série ou ano, com implicações para a
teúdos e atividades pertinentes à dimensão trabalho, que
continuidade de estudos na idade adequada;
não se confunde com a profissionalização, mas aproxima
3.10) desenvolver procedimentos que assegurem for-
o adolescente e jovem do mundo do trabalho, e articular
mas de possibilitar a superação das dificuldades de apren-
tais conteúdos com a orientação profissional e o acesso a
dizagem apresentadas pelos estudantes do Ensino Médio, cursos técnicos e de qualificação profissional;
nos respectivos componentes curriculares; 3.21) articular a Educação Superior com a Educação
3.11) promover a busca ativa da população de 15 Básica, visando ao fortalecimento do currículo, ao desen-
(quinze) a 17 (dezessete) anos fora da escola volvimento de proficiências e à melhoria dos resultados
3.10) desenvolver procedimentos que assegurem for- educacionais;
mas de possibilitar a superação das dificuldades de apren- 3.22) assegurar, por meio de normativa do Conselho
dizagem apresentadas pelos estudantes do Ensino Médio, Estadual de Educação, que o respeito às diversidades seja
nos respectivos componentes curriculares; objeto de tratamento didático-pedagógico transversal no
3.11) promover a busca ativa da população de 15 desenvolvimento dos currículos das escolas de Ensino Mé-
(quinze) a 17 (dezessete) anos fora da escola, em articula- dio, respeitando os direitos humanos e o combate a todas
ção com os serviços de assistência social, saúde e proteção as formas de discriminação e intolerância, à luz do conceito
à adolescência e à juventude; de supralegalidade presente no ordenamento jurídico bra-
3.12) redimensionar a oferta de Ensino Médio nos tur- sileiro;
nos diurno e noturno, bem como a distribuição territorial 3.23) fomentar o desenvolvimento de programas de
das escolas de Ensino Médio, de forma a atender a toda a formação de professores da Educação Básica, em todas as
demanda, de acordo com as necessidades específicas dos suas etapas, níveis e modalidades, que contribuam para
estudantes e das comunidades; uma cultura de respeito aos direitos humanos, visando ao
3.13) desenvolver formas de oferta do Ensino Médio, enfrentamento do racismo e de outras formas de discrimi-
garantida a qualidade, para atender a adolescentes, jovens nação e intolerância, respeitando os direitos humanos e o
e adultos de grupos étnicos e famílias itinerantes, bem combate a todas as formas de discriminação e intolerância,
como de adolescentes e jovens em instituições socioedu- à luz do conceito de supralegalidade presente no ordena-
cativas; mento jurídico brasileiro.

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Da Educação Especial/Inclusiva 4.7) estimular a oferta de educação bilíngue, em Língua


Meta 4: Universalizar, para a população de 04 (quatro) Brasileira de Sinais - LIBRAS, como primeira língua, e na
a 17 (dezessete) anos com deficiência, transtornos globais modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda
do desenvolvimento e altas habilidades, o acesso à Edu- língua, aos estudantes surdos e com deficiência, em escolas
cação Básica e ao atendimento educacional especializado, e classes bilíngues e em escolas inclusivas, nos termos do
nas redes regulares de ensino, com a garantia de sistema que dispõe o Decreto Federal nº 5.626, de 22 de dezembro
educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, de 2005, e os arts. 24 e 30 da Convenção Internacional so-
classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou bre os Direitos das Pessoas com Deficiência, promulgada
conveniados, até o último ano de vigência deste PEE-BA. pelo Decreto Federal nº 6.949, de 25 de agosto de 2009,
Estratégias: bem como a adoção do Sistema Braille de leitura para ce-
4.1) desenvolver e aplicar tecnologias pedagógicas que gos e surdos-cegos;
combinem, de maneira articulada, a organização do tempo, 4.8) fortalecer a oferta de Educação Inclusiva, comba-
as atividades didáticas e o ambiente comunitário, conside- tendo a exclusão de pessoas com deficiência no ensino
regular e assegurando a articulação pedagógica entre o
rando as especificidades educativas do ambiente escolar
ensino regular e o atendimento educacional especializado;
inclusivo, respeitada a natureza das escolas urbanas, do
4.9) acompanhar e monitorar o acesso à escola e ao
campo, do ethos cultural das comunidades indígenas, qui-
atendimento educacional especializado, bem como da per-
lombolas e dos povos itinerantes; manência e do desenvolvimento escolar dos estudantes
4.2) institucionalizar o combate à discriminação entre com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento
grupos sociais diferenciados, de todas e quaisquer fontes e altas habilidades, beneficiários de programas de transfe-
diretas ou indiretas de incitação e indução ao preconceito rência de renda, juntamente com o combate às situações
e à discriminação eventualmente presentes nos conteúdos de discriminação, preconceito e outras formas de violência,
curriculares, nas práticas pedagógicas, nos livros, nos ma- em colaboração com as famílias e com os órgãos públicos
teriais didáticos e nos comportamentos individuais e cole- de assistência social, de saúde e de proteção à infância, à
tivos no espaço escolar, a fim de coibi-los, cabendo à esco- adolescência e à juventude;
la, por meio dos Colegiados Escolares, o zelo, a precaução 4.10) fomentar o desenvolvimento de pesquisas inter-
e o comportamento institucional vigilante e ao Conselho disciplinares para subsidiar a formulação de políticas públi-
Estadual de Educação o preparo de ato normativo de ação cas intersetoriais que atendam às especificidades educa-
orientadora para esta questão, discutida com os sistemas cionais de estudantes com deficiência, transtornos globais
de ensino; do desenvolvimento e altas habilidades, que requeiram
4.3) ampliar a implantação de salas de recursos mul- medidas de atendimento especializado;
tifuncionais, até o sexto ano de vigência deste Plano, em 4.11) promover a articulação intersetorial entre órgãos
parceria com o Governo Federal, bem como fomentar a e políticas públicas de saúde, assistência social e direitos
formação continuada de professores para o atendimento humanos, em parceria com as famílias, com a finalidade
educacional especializado nas escolas urbanas, do campo, de desenvolver modelos voltados para a continuidade do
indígenas, das comunidades quilombolas e em áreas onde atendimento escolar, na Educação de Jovens e Adultos -
vivem povos de comunidades tradicionais; EJA com deficiência e transtornos globais do desenvolvi-
4.4) direcionar orientações para o atendimento educa- mento com idade superior à faixa etária de escolarização
cional especializado em salas de recursos multifuncionais, obrigatória, de forma a assegurar a atenção integral;
preferencialmente na própria unidade escolar, ou em ser- 4.12) estruturar, até o fim do quinto ano de vigência
viços especializados, públicos ou conveniados, nas formas do PEE-BA, a ampliação das equipes de profissionais da
educação para o atendimento educacional especializado,
complementar e suplementar, para todos os estudantes
com professores, pessoal de apoio ou auxiliares, tradutores
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento
e intérpretes de LIBRAS, guias-intérpretes para surdos-ce-
e altas habilidades matriculados na rede pública de Educa-
gos, professores de LIBRAS, a fim de estruturar o serviço de
ção Básica, conforme necessidade identificada por meio de Educação Especial nas escolas, para atender à demanda do
avaliação, ouvidos a família e, quando possível, o estudan- processo de escolarização dos estudantes com deficiência,
te, no prazo de vigência deste PEE-BA; transtornos globais do desenvolvimento e altas habilida-
4.5) promover a articulação intersetorial para estimular des;
a criação de centros multidisciplinares de apoio, pesquisa 4.13) definir, no segundo ano de vigência deste PEE-BA,
e assessoria, articulados com instituições acadêmicas e in- indicadores de qualidade e políticas de avaliação e supervi-
tegrados por profissionais das áreas de saúde, assistência são para o funcionamento de instituições de ensino, públi-
social, pedagogia, psicologia e tecnologia assistiva, para cas e privadas, que prestam atendimento a estudantes com
apoiar o trabalho dos professores da Educação Básica de deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
estudantes com deficiência, transtornos globais do desen- habilidades, sob o aval do Conselho Estadual de Educação;
volvimento e altas habilidades; 4.14) promover iniciativas, em parceria com o Ministé-
4.6) incentivar a participação de sistemas e instituições rio da Educação e órgãos de pesquisa, demografia e esta-
públicas de educação nos programas suplementares de tística, no sentido de obter informações detalhadas sobre o
acessibilidade em que se incluem, a adequação arquitetô- perfil das pessoas com deficiência, transtornos globais do
nica, a oferta de transporte acessível, a disponibilização de desenvolvimento e altas habilidades, na faixa etária de 0
material didático próprio e recursos de tecnologia assistiva; (zero) a 17 (dezessete) anos;

97
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

4.15) incentivar a inclusão, como temática formativa, 5.6) promover e estimular a formação inicial e conti-
nos cursos de licenciatura e nos demais cursos de forma- nuada de professores para a alfabetização de crianças, com
ção para profissionais da educação, inclusive em nível de o conhecimento de novas tecnologias educacionais e prá-
Pós-Graduação, observado o disposto no caput do art. 207 ticas pedagógicas inovadoras, estimulando a articulação
da Constituição Federal, dos referenciais técnicos relacio- entre programas de Pós-Graduação stricto sensu e ações de
nados com o atendimento educacional de estudantes com formação continuada de professores para a alfabetização;
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas 5.7) apoiar a alfabetização de crianças com deficiência,
habilidades; considerando as suas especificidades, inclusive a alfabetiza-
4.16) promover parcerias com instituições comuni- ção bilíngue de pessoas surdas, e seus tempos e necessida-
tárias, confessionais ou filantrópicas, sem fins lucrativos, des de aprendizagem;
conveniadas com o poder público, visando ampliar a oferta 5.8) estruturar os processos pedagógicos de alfabeti-
de formação continuada e a produção de material didático zação nos anos iniciais do Ensino Fundamental, articulan-
acessível, assim como os serviços de acessibilidade neces- do-os com as estratégias desenvolvidas na pré-escola, com
sários, participação e aprendizagem dos estudantes com
qualificação e valorização dos professores alfabetizadores e
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
com apoio pedagógico específico, a fim de garantir a con-
habilidades matriculados na rede pública de ensino;
tinuação e consolidação da alfabetização plena de todas as
4.17) disponibilizar recursos de tecnologia assistiva,
crianças;
serviços de acessibilidade e formação continuada de pro-
fessores, apoio técnico e demais profissionais da educação 5.9) promover, nos anos iniciais do Ensino Fundamental,
para o atendimento educacional especializado comple- a inseparabilidade das dimensões do educar e do cuidar,
mentar, nas escolas urbanas e do campo; considerando a função social desta etapa da educação e
4.18) desenvolver indicadores específicos de avaliação sua centralidade que é o educando, pessoa em formação,
da qualidade da Educação Especial, bem como da qua- na sua essência humana.
lidade da educação bilíngue para surdos, com o aval do
Conselho Estadual de Educação, em comum acordo com os Da Educação Integral
Conselhos Municipais de Educação. Meta 6: Oferecer educação em tempo integral em, no
mínimo, 25% (vinte e cinco por cento) das escolas públicas
Da Alfabetização Infantil da Educação Básica, até o final do período de vigência deste
Meta 5: Mobilizar esforços para alfabetizar todas as PEE-BA.
crianças, no máximo, até o final do terceiro ano do Ensino Estratégias:
Fundamental. Estratégias:
Estratégias: 6.1) incentivar que as unidades escolares do campo e
5.1) instituir protocolo de colaboração entre as redes das comunidades tradicionais se associem aos programas
públicas de ensino, com o fito de ampliar e consolidar os nacionais para Educação Integral, considerando as peculia-
processos de alfabetização para as crianças do campo, qui- ridades locais na estruturação curricular;
lombolas, indígenas, de populações e grupos itinerantes e 6.2) adotar medidas para otimizar o tempo de perma-
comunidades tradicionais; nência dos estudantes na escola, direcionando a expansão
5.2) estimular os Municípios na alfabetização de crian- da jornada com o efetivo trabalho escolar combinado com
ças do campo, indígenas, quilombolas, de comunidades atividades de aplicação de conhecimento científico, recrea-
tradicionais de grupos étnicos e trabalhadores itinerantes, tivas, esportivas e culturais, sempre conciliadas com o prin-
com a produção de materiais didáticos específicos, a serem cípio da contextualização e com a abordagem interdiscipli-
vinculados a programas de formação continuada de pro- nar;
fessores alfabetizadores;
6.3) promover, com o apoio da União, a oferta de Edu-
5.3) desenvolver instrumentos de acompanhamento
cação Básica pública em tempo integral, por meio de ati-
que considerem o uso da língua materna pelas comuni-
vidades de acompanhamento pedagógico e multidiscipli-
dades indígenas e a identidade cultural das comunidades
nares, inclusive culturais e esportivas, de forma que o tem-
quilombolas, comunidades tradicionais e de outros grupos
étnicos; po de permanência dos estudantes na escola, ou sob sua
5.4) estimular os sistemas de ensino e as escolas a responsabilidade, passe a ser igual ou superior a 07 (sete)
criarem seus respectivos instrumentos de avaliação e mo- horas diárias durante todo o ano letivo, com a ampliação
nitoramento, implementando medidas pedagógicas para progressiva da jornada de professores em uma única escola,
alfabetizar todos os estudantes até, no máximo, o final do até o sexto ano de vigência deste PEE-BA;
terceiro ano do Ensino Fundamental, tendo como referên- 6.4) estabelecer protocolo de medidas pedagógicas,
cia a avaliação nacional; normatizado pelo Conselho Estadual de Educação e reite-
5.5) fomentar o desenvolvimento e a aplicação de tec- rado pelos conselhos municipais de educação para garantir
nologias educacionais e de práticas pedagógicas inovado- a ampliação do tempo de permanência dos estudantes na
ras que assegurem a alfabetização e favoreçam a aprendi- escola, sem distinção entre turnos e com perfil de sequen-
zagem dos estudantes, consideradas as diversas aborda- ciamento de atividades curriculares, integradas ou não com
gens metodológicas e sua efetividade; outros espaços educativos da sociedade;

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

6.5) fomentar a articulação da escola com os diferentes 7.4) encorajar a oferta bilíngue na Educação Infantil e
espaços educativos, culturais e esportivos e com equipa- nos anos iniciais do Ensino Fundamental, em língua mater-
mentos públicos, como brinquedotecas, centros comunitá- na das comunidades indígenas e em Língua Portuguesa;
rios, bibliotecas, praças, parques, museus, teatros, cinemas, 7.5) garantir a oferta de programa para a formação ini-
planetários e outros; cial e continuada de profissionais da educação aos grupos
6.6) estimular a oferta de atividades voltadas à am- e o atendimento em Educação Especial para populações
pliação da jornada escolar de estudantes matriculados nas tradicionais, populações de grupos itinerantes e de comu-
escolas de Educação Básica, por meio da participação de nidades indígenas e quilombolas, em articulação com o
entidades da sociedade civil, de forma concomitante e em Ministério da Educação - MEC;
articulação com a rede pública de ensino; 7.6) estabelecer e implantar, até o segundo ano de vi-
6.7) incentivar a educação em tempo integral, para gência deste PEE-BA, mediante pactuação interfederativa,
pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvol- diretrizes pedagógicas para a Educação Básica e a base
vimento e altas habilidades na faixa etária de 04 (quatro) a nacional comum dos currículos, com direitos e objetivos
de aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes para
17 (dezessete) anos, estimulando atendimento educacional
cada ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, res-
especializado complementar e suplementar ofertado em
peitada a diversidade regional, estadual e local;
salas de recursos multifuncionais da própria escola ou em
7.7) assegurar mecanismos de indução da melhoria da
instituições especializadas; proficiência dos estudantes do Ensino Fundamental e do
6.8) estimular, nas escolas, projetos de enriquecimento Ensino Médio, em todas as escolas públicas por meio de
curricular de formação integral dos estudantes nas áreas programas e processos destinados a esse objetivo;
de ciência, arte, música, cultura, esporte e cultura corporal, 7.8) estabelecer, em colaboração entre a União, o Es-
com vistas ao desenvolvimento de habilidades, saberes e tado e os Municípios, um conjunto de indicadores de ava-
competências para a convivência, o trabalho coletivo e a liação institucional com base no perfil dos estudantes e do
promoção do bem-estar biopsicossocial; corpo de profissionais da educação, nas condições de in-
6.9) fortalecer os procedimentos de acesso à escola em fraestrutura das escolas, nos recursos pedagógicos dispo-
tempo integral aos adolescentes que cumprem medida so- níveis, nas características da gestão e em outras dimensões
cioeducativa. relevantes, considerando as especificidades das modalida-
des de ensino;
Do Aprendizado Adequado na Idade Certa 7.9) induzir processo contínuo de autoavaliação das
Meta 7: Fomentar a qualidade da Educação Básica em escolas de Educação Básica, por meio da construção de
todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo es- instrumentos que orientem as dimensões a serem forta-
colar e da aprendizagem, tendo como parâmetro o avanço lecidas, destacando-se a elaboração de planejamento es-
dos indicadores de fluxo revelados pelo Censo Escolar e tratégico, a melhoria contínua da qualidade educacional,
dos indicadores de resultados de desempenho em exames a formação continuada dos profissionais da educação e o
padronizados, nos termos da metodologia do Índice de aprimoramento da gestão democrática, até o quarto ano
Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB. de vigência deste PEE-BA;
Estratégias: 7.10) fortalecer os processos de fomento ao apoio téc-
7.1) estimular práticas pedagógicas inovadoras que as- nico e financeiro para a gestão escolar, garantindo a parti-
segurem a melhoria da aprendizagem e do fluxo escolar, cipação da comunidade escolar no planejamento e na apli-
considerando o uso de softwares livres e de recursos edu- cação desses recursos, visando à consolidação da gestão
cacionais abertos; democrática;
7.11) garantir políticas de combate à violência na esco-
7.2) incentivar a melhoria da educação escolar ofere-
la, por meio do desenvolvimento de ações destinadas a ca-
cida no campo, para crianças, jovens e adultos de popula-
pacitar profissionais da Educação Básica para detecção dos
ções tradicionais, de populações e grupos itinerantes e de
sinais de suas causas, dentre estas a violência doméstica e
comunidades indígenas e quilombolas, sexual, favorecendo a adoção das providências adequadas
7.2) incentivar a melhoria da educação escolar ofere- para promover a construção da cultura de paz e um am-
cida no campo, para crianças, jovens e adultos de popu- biente escolar dotado de segurança para a comunidade;
lações tradicionais, de populações e grupos itinerantes e 7.12) implementar políticas de inclusão e permanência
de comunidades indígenas e quilombolas, respeitando a na escola para adolescentes e jovens que se encontrem em
articulação entre os ambientes escolares e comunitários, de regime de privação de liberdade e em situação de rua, as-
modo a orientar para corrigir fluxo e aumentar os níveis de segurando os princípios da Lei Federal nº 8.069, de 13 de
proeficiência; julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente;
7.3) garantir, no currículo da Educação de Jovens e 7.13) garantir, nos currículos escolares, conteúdos sobre
Adultos, a temática da sustentabilidade ambiental e a pre- a história e as culturas afro-brasileira e indígena, incluin-
servação das respectivas identidades culturais, a participa- do a dos povos ciganos, assegurando-se o cumprimento
ção da comunidade na definição do modelo de organiza- das respectivas diretrizes curriculares nacionais, por meio
ção pedagógica e de gestão das instituições, consideradas de ações colaborativas com fóruns de educação e grupos
as práticas socioculturais e as formas particulares de orga- étnico-raciais, conselhos escolares, equipes pedagógicas e
nização do tempo escolar; representantes da sociedade civil;

99
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

7.14) mobilizar as famílias e setores da sociedade civil, 8.7) promover o acompanhamento e o monitoramento
articulando a educação formal com experiências de educa- do acesso à escola específicos para os segmentos popu-
ção popular e cidadã, com o propósito de que a educação lacionais identificados com sucessivos abandonos e va-
seja assumida como responsabilidade de todos e de ampliar riados motivos de absenteísmo, em parceria com as áreas
o controle social sobre o cumprimento das políticas públicas de saúde e assistência social, em permanente colaboração
educacionais; interfederativa, para garantir a frequência e consolidar o
7.15) promover, com especial ênfase, em consonância apoio à aprendizagem, ampliando o atendimento desses
com as diretrizes do Plano Estadual do Livro e da Leitura, estudantes na rede pública regular de ensino;
aprovado pelo Decreto nº 15.303, de 28 de julho de 2014, 8.8) promover a busca ativa de jovens, adultos e idosos
a formação de leitores e leitoras e a capacitação de profes- que não tiveram efetivado o direito à educação e se encon-
sores. tram fora da escola, em parceria com a assistência social,
saúde e justiça;
Da Escolaridade Média da População 8.8) promover a busca ativa de jovens, adultos e idosos
Meta 8: Assegurar políticas para elevar a escolarida- que não tiveram efetivado o direito à educação e se encon-
de média da população de 18 (dezoito) a 29 (vinte e nove) tram fora da escola, em parceria com a assistência social,
anos, com vistas à continuidade de esforços para a redução saúde e justiça;
da diferença entre o campo e áreas urbanas, nas regiões de 8.9) intensificar a oferta regular da Educação de Jovens
menor escolaridade e com incidência de maiores níveis de e Adultos - EJA em unidades prisionais e fortalecer a requa-
pobreza e entre negros e não negros declarados à Fundação lificação das unidades socioeducativas, de internação ou de
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. semiliberdade, com destaque para o reordenamento ge-
Estratégias: rencial e para a concepção curricular pertinentes, a serem
8.1) estimular a política de Educação de Jovens e Adul- normatizados pelo Conselho Estadual de Educação;
tos - EJA em todas as redes públicas de ensino, que contri- 8.10) implementar atendimento educacional especia-
buam para ampliar a escolaridade da população baiana, com lizado, complementar e suplementar, para o público da
reforço nas condições de atendimento às especificidades; Educação Especial matriculado na modalidade Educação
8.2) implementar programas de Educação de Jovens e de Jovens e Adultos - EJA, em salas de recursos multifun-
Adultos - EJA para os segmentos populacionais que este- cionais da própria escola, de outra escola da rede pública
jam fora da escola e com defasagem idade/ano, associados ou em instituições conveniadas e centros de atendimento
a estratégias que garantam a continuidade da escolarização educacional especializados;
após a alfabetização inicial, respeitadas as condições cultu- 8.11) estimular a oferta de componentes curriculares
rais do campo e da cidade, do urbano e do rural, de maneira que tratem do ensino e da aprendizagem da Educação de
a se assumirem as peculiaridades culturais como paradigma Jovens e Adultos - EJA nos projetos pedagógicos e matri-
curricular; zes curriculares dos cursos de graduação em licenciatura;
8.3) promover articulações intersetoriais para expansão 8.12) convergir políticas de atendimento educacional
da escolaridade da população baiana, em parceria com as para os grupos sociais mais pobres do Estado, com as polí-
áreas da ciência e tecnologia, saúde, trabalho, desenvolvi- ticas assistenciais, de modo a potencializar o efeito do sis-
mento social e econômico, cultura e justiça, priorizando o tema educativo sobre a redução da pobreza extrema na
apoio aos estudantes com rendimento escolar defasado e Bahia;
considerando-se as particularidades dos segmentos popula- 8.13) fazer articulações entre sistemas de educação,
cionais específicos, ressaltada a integração com a Educação para ampliar e interiorizar a oferta de matrículas na Educa-
Profissional; ção de Jovens e Adultos - EJA, priorizando atingir as áreas
8.4) estimular ordenamento escolar diferenciado, na es- mais remotas do Estado e atender às populações mais po-
trutura e funcionamento e no currículo, que garanta acesso bres e a redução da desigualdade entre negros e não ne-
gratuito a exames de certificação de conclusão do Ensino gros.
Fundamental e do Ensino Médio para os que não tiveram
oportunidade de matrícula à época da oferta regular ou para Da Alfabetização e do Analfabetismo Funcional de
os que têm escolaridade deficitária, insuficiente ou incom- Jovens e Adultos
pleta; Meta 9: Elevar a taxa de alfabetização da população
8.5) incentivar programas para o desenvolvimento de com 15 (quinze) anos ou mais para 90% (noventa por cen-
tecnologias para correção de fluxo, com ênfase no acompa- to), até 2025, e reduzir a taxa de analfabetismo funcional,
nhamento pedagógico individualizado e na recuperação e até o final da vigência deste PEE-BA.
progressão parcial, bem como priorizar apoio a estudantes Estratégias:
com rendimento escolar defasado, considerando as especifi- 9.1) proceder ao levantamento de dados sobre a de-
cidades dos segmentos populacionais envolvidos na respec- manda por Educação de Jovens e Adultos - EJA, na cidade
tiva correção de fluxo; e no campo, para subsidiar a formulação de uma política
8.6) fortalecer os mecanismos de ampliação da oferta pública, que garanta o acesso e a permanência de jovens,
gratuita de Educação Profissional Técnica pública e de par- adultos e idosos nesta modalidade, ampliando o acompa-
cerias com as entidades privadas de serviço social e de for- nhamento de metas, a avaliação e a fiscalização dos recur-
mação profissional vinculadas ao sistema sindical, de forma sos destinados para este fim e assegurando a oferta gratui-
concomitante ao ensino ofertado na rede escolar pública, ta da educação para jovens, adultos e idosos que respeite a
para os segmentos populacionais considerados; diversidade dos sujeitos e suas múltiplas identidades;

100
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

9.2) realizar diagnóstico dos jovens e adultos com Ensi- 9.11) articular parcerias intersetoriais entre as políticas
no Fundamental e Ensino Médio incompletos, para identi- de Educação de Jovens e Adultos - EJA e as políticas cultu-
ficar a demanda por vagas na Educação de Jovens e Adul- rais, para que estudantes e educadores e profissionais da
tos - EJA, realizando as chamadas públicas regulares para EJA sejam beneficiados por ações que permitam o acesso à
matrícula e promovendo a busca ativa, em colaboração expressão e à produção cultural, em suas diferentes lingua-
com os entes federados e em parceria com organizações gens e expandindo possibilidades de oferta da Educação
da sociedade civil; Profissional da área cultural para a EJA, em plena aderência
9.3) ampliar as redes e aumentar alianças e parcerias com a Lei Federal nº 13.018, de 22 de julho de 2014, que
para a consolidação de uma política pública que tenha o dispõe sobre a Política Nacional de Cultura Viva;
objetivo de superar a perspectiva restrita da alfabetização, 9.12) garantir aumento progressivo da matrícula de
caminhando na direção da consolidação de uma política egressos de programas de alfabetização de jovens e adul-
que inclua a alfabetização no âmbito da Educação de Jo- tos, nos níveis seguintes da Educação Básica e da Educação
vens e Adultos - EJA, promovendo a continuidade entre Profissional, tendo em vista a continuidade dos estudos e a
uma e outra; elevação da escolaridade desses sujeitos.
9.4) realizar processos contínuos de formação de al-
fabetizadores, em diálogos com as práticas cotidianas de Da Educação de Jovens e Adultos - EJA integrada à
sala de aula e com uma relação de interdependência entre Educação Profissional
a teoria e a prática, garantindo a observância de princípios Meta 10: Ampliar a oferta em 25% (vinte e cinco por
fundamentais que orientam a formação de educadores da cento), das matrículas de Educação de Jovens e Adultos -
Educação de Jovens e Adultos - EJA na perspectiva da Edu- EJA, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, na forma
cação Popular; integrada à Educação Profissional.
9.5) efetuar avaliação cognitiva dos alfabetizandos jo- Estratégias:
vens, adultos e idosos, baseada na matriz de referência do 10.1) expandir a oferta da Educação Profissional in-
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, devi- tegrada à Educação de Jovens e Adultos - EJA, nos níveis
damente adaptada à realidade da Educação de Jovens e Fundamental e Médio, em cursos planejados, inclusive na
Adultos - EJA;
modalidade de Educação à Distância, de acordo com as ca-
9.6) executar ações complementares de atendimento
racterísticas do público e considerando as especificidades
ao estudante da Educação de Jovens e Adultos - referência
das populações itinerantes e do campo, das comunidades
do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, de-
indígenas, quilombolas, das comunidades tradicionais e
vidamente adaptada à realidade da Educação de Jovens e
dos privados de liberdade;
Adultos - EJA;
10.2) implementar programas de formação profissio-
9.6) executar ações complementares de atendimento
nal para a população jovem e adulta, direcionados para os
ao estudante da Educação de Jovens e Adultos - EJA, por
meio de programas suplementares de transporte, alimen- segmentos com baixos níveis de escolarização formal, do
tação e saúde, inclusive atendimento oftalmológico e for- campo e da cidade, bem como para os (as) estudantes com
necimento gratuito de óculos e cirurgias eletivas, em arti- deficiência, articulando os sistemas de ensino, a Rede Fe-
culação com a área da saúde; deral de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, as
9.7) apoiar projetos inovadores na Educação de Jovens universidades, as centrais e sindicatos de trabalhadores, as
e Adultos - EJA que visem ao desenvolvimento de modelos cooperativas e as associações, por meio de ações de exten-
adequados às necessidades específicas desses estudantes, são desenvolvidas em centros tecnológicos, com tecnolo-
nos diferentes níveis, etapas e modalidades de ensino; gias assistivas que favoreçam a efetiva inclusão social;
9.8) estabelecer mecanismos e incentivos que integrem 10.3) fomentar a produção de material didático, o de-
os segmentos empregadores, públicos e privados, e os sis- senvolvimento de currículos e de metodologias específicas,
temas de ensino, para promover a compatibilização da jor- os instrumentos de avaliação, o acesso a equipamentos e
nada de trabalho dos empregados com a oferta das ações laboratórios e a formação inicial e continuada de docen-
de alfabetização e de Educação de Jovens e Adultos - EJA; tes das redes públicas que atuam na Educação de Jovens e
9.9) promover a integração da Educação de Jovens e Adultos - EJA integrada à
Adultos - EJA com políticas públicas de saúde, trabalho, 10.3) fomentar a produção de material didático, o de-
meio ambiente, cultura e lazer, entre outros, na perspectiva senvolvimento de currículos e de metodologias específicas,
da formação integral dos cidadãos; os instrumentos de avaliação, o acesso a equipamentos e
9.10) fazer proposições de programas colaborativos de laboratórios e a formação inicial e continuada de docen-
capacitação tecnológica da população jovem e adulta, di- tes das redes públicas que atuam na Educação de Jovens e
recionados para os segmentos com baixos níveis de esco- Adultos - EJA integrada à Educação Profissional;
larização formal e para os estudantes com deficiência, arti- 10.4) fomentar a diversificação curricular da Educação
culando os sistemas de ensino, a Rede Federal de Educação Profissional articulada à Educação de Jovens e Adultos -
Profissional, Científica e Tecnológica, as universidades, as EJA, promovendo a interrelação entre teoria e prática nos
cooperativas e as associações, por meio de ações de ex- eixos da ciência, do trabalho, da tecnologia, da cultura e
tensão desenvolvidas em centros vocacionais tecnológicos, da cidadania, de forma a organizar o tempo e o espaço
com tecnologias assistivas que favoreçam a efetiva inclusão pedagógicos adequados às características e necessidades
social e produtiva dessa população; dos jovens e adultos;

101
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

10.5) implementar e ampliar mecanismos de reconhe- 11.8) fomentar a oferta pública de certificação profis-
cimento e valorização dos saberes e experiências de jovens sional como reconhecimento de saberes para fins de vali-
e adultos trabalhadores, adquiridos em contextos externos dação, em parte ou no todo, da qualificação profissional e
ao espaço escolar, a serem considerados na integralização dos cursos técnicos;
curricular nos cursos de formação inicial e continuada e nos 11.9) ampliar a oferta de matrículas gratuitas de Edu-
cursos técnicos de nível médio, por meio do aproveitamen- cação Profissional Técnica de nível médio pelas entidades
to de estudos ou de certificação profissional. privadas de formação profissional vinculadas ao sistema
sindical e entidades sem fins lucrativos
Da Educação Profissional 11.9) ampliar a oferta de matrículas gratuitas de Edu-
Meta 11: Ampliar as matrículas da Educação Profis- cação Profissional Técnica de nível médio pelas entidades
sional Técnica de nível médio, assegurando a qualidade da privadas de formação profissional vinculadas ao sistema
oferta e pelo menos 50% (cinquenta por cento) da expan- sindical e entidades sem fins lucrativos de atendimento à
são no segmento público. pessoa com deficiência;
Estratégias: 11.10) estruturar sistema de avaliação da qualidade da
11.1) expandir a oferta de Educação Profissional Técni- Educação Profissional Técnica de nível médio das redes es-
ca de nível médio na rede pública estadual de ensino, com colares públicas e privadas;
ênfase nas modalidades integradas, de modo que a pro- 11.11) expandir a oferta de Educação Profissional Téc-
porção de técnicos na população economicamente ativa se nica de nível médio para as pessoas com deficiência, trans-
aproxime da demandada pelo mundo do trabalho; tornos globais do desenvolvimento e altas habilidades;
11.2) articular a expansão das matrículas de Educação 11.12) estruturar sistema estadual de informação pro-
Profissional Técnica de nível médio na Rede Federal de fissional, articulando a oferta de formação das instituições
Educação Profissional, Científica e Tecnológica, levando em especializadas em Educação Profissional aos dados do
consideração a responsabilidade dos Institutos na orde- mercado de trabalho e às consultas promovidas em enti-
nação territorial, sua vinculação com arranjos produtivos, dades empresariais e de trabalhadores;
sociais e culturais, locais e regionais, bem como a interiori- 11.13) ofertar cursos de Educação Profissional aos es-
tudantes em cumprimento de medidas socioeducativas,
zação da Educação Profissional;
observando as ressalvas da legislação vigente;
11.3) expandir o atendimento da Educação Profissional
11.14) articular a oferta de Educação Profissional com
integrada ao Ensino Médio para as populações do campo
o sistema público de emprego, trabalho e renda, com as
e para as comunidades indígenas, quilombolas e povos das
políticas de desenvolvimento territorial e com as ações de
comunidades tradicionais, de acordo com as expectativas
inclusão produtiva, municipais, estaduais e federais;
territoriais e escuta das representações institucionais des-
11.15) organizar serviços de orientação profissional
sas comunidades;
para divulgação da Educação Profissional no último ano do
11.4) reduzir as desigualdades étnico-raciais e regio-
Ensino Fundamental;
nais, com destaque para as peculiaridades do campo e 11.16) promover, em parceria com as Instituições de
da cidade, da cultura local e da identidade territorial, no Ensino Superior - IES e os Institutos Federais de Educação,
acesso e permanência na Educação Profissional Técnica de Ciência e Tecnologia, oferta de cursos de Licenciatura e
nível médio, inclusive mediante a adoção de políticas afir- Pós-Graduação na área de Educação Profissional, priori-
mativas, na forma da lei, no âmbito do Sistema Estadual de zando a formação dos profissionais que atuam nos cursos
Ensino da Educação Básica; técnicos de nível médio e de qualificação profissional;
11.5) estimular a oferta da Educação Profissional Tec- 11.17) articular com as IES o prosseguimento do per-
nológica, de Graduação e de Pós-Graduação, em integra- curso formativo dos concluintes dos cursos técnicos de ní-
ção com a Rede Federal de Educação Profissional, Científica vel médio com os respectivos cursos superiores análogos;
e Tecnológica e com as instituições universitárias de Educa- 11.18) mapear, de forma contínua, a demanda e fo-
ção Superior, levando em consideração a responsabilidade mentar a oferta de formação de pessoal técnico de nível
dos Institutos na ordenação territorial, sua vinculação com médio, considerando as necessidades do desenvolvimento
arranjos produtivos, sociais e culturais, locais e regionais, do Estado, particularmente do semiárido e das manchas de
bem como a interiorização da Educação Profissional; pobreza extrema.
11.6) fomentar a expansão da oferta de Educação Pro-
fissional técnica de nível médio na modalidade de Educa- Da Educação Superior
ção à Distância, com a finalidade de ampliar o atendimento Meta 12: Focalizar o crescimento gradativo da taxa
e democratizar o acesso à Educação Profissional pública e líquida de matrícula na Educação Superior, a partir da vi-
gratuita, assegurando padrão de qualidade; gência deste PEE - BA, de maneira que se atinja a taxa de
11.7) estimular a expansão do estágio na Educação 12% (doze por cento) em relação à população estimada de
Profissional Técnica de nível médio, preservando-se seu 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos de idade no ano de
caráter pedagógico integrado ao itinerário formativo do 2025, contribuindo para equilibrar a meta nacional e, do
aluno, visando à formação de qualificações próprias da ati- mesmo modo, concentrar esforços para que a taxa bruta
vidade profissional, à contextualização curricular e ao de- de matrícula se situe em torno de 30% (trinta por cento)
senvolvimento da juventude; nesse mesmo ano.

102
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Estratégias: 12.10) mapear a demanda e fomentar a oferta de for-


12.1) coordenar com as IES públicas e privadas o pro- mação de pessoal de nível superior, destacadamente no
pósito da expansão do acesso à Educação Superior, tendo, que se refere à formação nas áreas de ciências e ciências
no horizonte, o esforço progressivo para se proporcionar aplicadas, matemática e licenciaturas, considerando as ne-
a elevação de ambas as taxas de matrícula, alinhada à ex- cessidades do desenvolvimento do Estado, a inovação tec-
pansão com o respeito à natureza institucional das IES, às nológica e a melhoria da qualidade da Educação Básica,
respectivas demandas de cada região onde estão inseridas em permanente diálogo com os sistemas de ensino, como
e novos formatos de mecanismos de acesso ao Ensino Su- dispõe o art. 51 da Lei Federal nº 9.394, de 20 de dezembro
perior; de 1996 - LDB;
12.2) estimular a formação de profissionais da educa- 12.11) estimular programa de composição de acervo
ção na perspectiva de participação nos processos de aten- digital de referências bibliográficas, produção de materiais
dimento específico a populações do campo, comunidades didáticos e audiovisuais, para os cursos da Educação Su-
indígenas e quilombolas, a povos ciganos, a comunidades perior, assegurada a acessibilidade às pessoas com defi-
tradicionais e a pessoas com deficiência, transtornos do ciência;
desenvolvimento e altas habilidades; 12.12) aprimorar e consolidar a oferta de vagas no âm-
12.3) articular um fórum de interlocução entre as insti- bito da Universidade Aberta do Brasil - UAB;
tuições públicas que atuam na Educação Superior, comuni- 12.13) estimular mecanismos, visando otimizar a ca-
dades tradicionais e a pessoas com deficiência, transtornos pacidade instalada das instituições públicas de Educação
do desenvolvimento e altas habilidades; Superior, mediante ações articuladas e coordenadas para
12.3) articular um fórum de interlocução entre as insti- consolidar a interiorização do acesso à Graduação e diver-
tuições públicas que atuam na Educação Superior, no âm- sificar alternativas de acesso, permanência e garantia de
bito de suas ações de ensino, pesquisa e extensão, fundado sucesso no percurso formativo, para que, ao final deste Pla-
no fortalecimento da colaboração interfederativa, no pacto no, a cobertura de acesso para a população de 18 (dezoito)
cooperativo e no diálogo interinstitucional, na reafirmação a 24 (vinte e quatro) anos tenha incremento de 22% (vinte
das competências instituídas pela Lei Federal nº 9.394, de e dois por cento);
12.14) discutir com as IES procedimentos que contri-
20 de dezembro de 1996 - LDB, e pelo disposto no art. 214
buam para difundir a participação de estudantes em pro-
da Constituição Federal;
gramas de extensão universitária, de modo orientado para
12.4) incentivar programa específico de formação de
as áreas de grande pertinência social, avaliadas conjunta-
professores e outros profissionais da educação para esco-
mente entre IES, órgãos públicos e secretarias de governo.
las urbanas e do campo, das comunidades indígenas e qui-
lombolas, dos povos das comunidades tradicionais, bem
Da Titulação de Professores da Educação Superior
como para a Educação Especial, em conjunto com as IES
Meta 13: Elevar a qualidade da Educação Superior
públicas - universitárias ou não;
e ampliar a proporção de mestres e doutores do corpo
12.5) encaminhar protocolo de referência para o Go- docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de
verno Federal, no sentido de buscar ampliação para as po- Educação Superior para 75% (setenta e cinco por cento),
líticas de inclusão e de assistência estudantil dirigidas aos sendo, do total, no mínimo, 35% (trinta e cinco por cento)
discentes de instituições públicas de Educação Superior doutores.
baianas, com destaque aos estudantes das universidades Estratégias:
estaduais; 13.1) propor diálogos sobre as formas de consolidar
12.6) incentivar a ampliação da oferta de estágio su- a disposição do quadro de mestres e doutores da rede
pervisionado como experiência formativa curricular nos pública de Educação Superior e estabelecer mecanismos
projetos pedagógicos e matrizes curriculares da Educação cooperativos entre instituições públicas de Educação Su-
Superior, estimulando o intercâmbio entre as instituições perior, bem como projetos e programas que assegurem
de Educação Superior, conforme previsto na Lei Federal nº o desenvolvimento regional no Estado e que contribuam
11.788, de 25 de setembro de 2008; para a sustentabilidade da bioprodução baiana, colaborem
12.7) fomentar programas que assegurem maior parti- na preservação ambiental e acionem mecanismos auto-re-
cipação proporcional de grupos historicamente desfavore- guladores para supervisão e ação sobre problemas sociais,
cidos na Educação Superior, mediante a adoção de políti- da saúde e da educação, sempre em articulação e conso-
cas afirmativas; nância com outras políticas públicas, como a de formação
12.8) estimular condições de acessibilidade física, co- de professores, a ambiental, a de inovação e a de desen-
municacionais e didático-pedagógicas, de forma a garantir volvimento regional;
o desenvolvimento curricular aos estudantes com deficiên- 13.2) estimular a permanência de mestres e doutores
cia e demais grupos, público-alvo da Educação Especial, das IES junto aos cursos de formação de professores - ini-
conforme legislação em vigor; cial e continuada - nos respectivos cursos de licenciatura,
12.9) fomentar estudos e pesquisas referentes à neces- de forma que se insira no percurso formativo a discussão
sidade de articulação entre formação, currículo, pesquisa e sobre a inclusão dos indicadores educacionais e as con-
mundo do trabalho, considerando as necessidades econô- sequências da recursividade dos baixos indicadores para a
micas, sociais e culturais da Bahia e do Brasil; sociedade;

103
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

13.3) fomentar a melhoria da qualidade dos cursos de 14.3) estimular o planejamento do conjunto dos cam-
pedagogia e de licenciaturas e a articulação com as redes pos para formação de mestres e doutores, consideradas
de Educação Básica, de modo a possibilitar aos graduandos as necessidades do desenvolvimento territorial baiano, da
a aquisição das qualificações necessárias para conduzir o convivência com o semiárido e mitigação dos efeitos da
processo pedagógico escolar, combinando formação geral seca, da gestão dos recursos hídricos e ambientais, da bio-
e específica com a prática docente; diversidade e da geração de emprego e renda, construin-
13.4) impulsionar a formação de consórcios de institui- do, de forma coletiva, esse plano de formação junto às IES
ções públicas e privadas de Educação Superior, com vistas baianas;
a potencializar a atuação regional, inclusive por meio de 14.4) estimular a integração e a atuação articulada en-
plano de desenvolvimento institucional integrado, assegu- tre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ní-
rando maior visibilidade territorial às atividades de ensino, vel Superior - CAPES e as agências estaduais de fomento à
pesquisa e extensão; pesquisa;
13.5) incentivar a requalificação dos currículos dos 14.5) implementar ações para reduzir as desigualdades
cursos de graduação no âmbito do Estado, assegurando étnico-raciais e regionais e para favorecer o acesso das po-
mobilidade estudantil e observância dos princípios da fle- pulações do campo e das comunidades indígenas e qui-
xibilidade, da interdisciplinaridade, da transversalidade, da lombolas a programas de Mestrado e Doutorado;
contextualização e da curricularização da pesquisa e da ex- 14.6) fomentar a expansão do programa de acervo di-
tensão; gital de referências bibliográficas para os cursos de Pós-
13.6) consolidar o processo contínuo de autoavaliação Graduação, assegurada a acessibilidade às pessoas com
das instituições estaduais de Educação Superior, fortale- deficiência;
cendo a participação das Comissões Próprias de Avaliação, 14.7) estimular a participação das mulheres nos cursos
requalificando as diretrizes do Sistema Nacional de Ava- de Pós-Graduação stricto sensu, em particular aqueles liga-
liação da Educação Superior - SINAES, instituído pela Lei dos às áreas de Engenharia, Matemática, Física, Química,
Federal nº 10.861, de 14 de abril de 2004; Informática e outros no campo das ciências em que as mu-
13.7) discutir com o Conselho Estadual de Educação lheres ainda sejam a minoria;
novos formatos para o reconhecimento dos cursos de Gra- 14.8) fomentar pesquisas, com foco em desenvolvi-
duação que possam ser utilizados pelas universidades es- mento e estímulo à inovação, bem como incrementar a
taduais para dar agilidade aos procedimentos correlatos a formação de recursos humanos para a inovação nos Terri-
essa finalidade legal; tórios de Identidade e nos Municípios;
13.8) estruturar medidas de estímulo à inovação cien- 14.9) estimular programas de incentivo à cooperação
tífica e tecnológica e de proteção jurídica nas instituições entre empresas, IES e ICT, de modo a incrementar a inova-
de Educação Superior às produções científica, tecnológica ção e a produção e respectivos registros de patentes, esti-
e artística, viabilizando registros de patentes e de proprie- mulando-se o desenvolvimento de tecnologia para gestão
dade intelectual; de recursos.
13.9) fortalecer as redes físicas de laboratórios mul-
tifuncionais das IES e ICT nas áreas estratégicas definidas Da Formação de Professores
pelas políticas nacionais de ciência, tecnologia e inovação. Meta 15: Articular a continuidade do Plano Nacional
de Formação de Professores da Educação Básica - PARFOR,
Da Pós-Graduação em regime de colaboração entre a União, o Estado e os
Meta 14: Fortalecer o aumento gradual do número Municípios, visando atingir a expectativa de que todos os
de matrículas na Pós-Graduação stricto sensu, de modo a professores da Educação Básica possuam formação espe-
atingir a titulação anual de 1.900 (um mil e novecentos) cífica de nível superior, obtida em curso de Licenciatura na
mestres e 500 (quinhentos) doutores, de maneira contínua área de conhecimento em que atuam.
e gradativa. Estratégias:
Estratégias: 15.1) planejar a disponibilização de vagas em pro-
14.1) articular com as Instituições de Educação Supe- gramas contínuos de aperfeiçoamento da docência para
rior - IES a construção de um plano estratégico para co- docentes do nível da Educação Básica, em quaisquer das
bertura de demandas para expansão de matrículas em cur- modalidades, com o fito de aprofundar a compreensão
sos de Pós-Graduação, com destaque para a educação do sobre a aceitação das diferenças, da marca cultural e da
campo, quilombola, indígena, de comunidades tradicionais sempre possível convivência democrática entre os grupos
e de povos ciganos, Educação Especial, dos privados de li- humanos distintos entre si, com atenção especial para a
berdade, educação científica e alfabetização; educação do campo, educação escolar indígena, educação
14.2) fomentar a articulação entre as universidades e os quilombola, educação especial, educação prisional e aten-
institutos federais, objetivando a oferta de Pós-Graduação dimento socioeducativo;
stricto sensu voltada para as áreas prioritárias de desenvol- 15.2) estimular a melhoria da qualidade dos cursos de
vimento integrado do Estado, particularizando as vocações pedagogia e licenciaturas, por meio de discussões perma-
intrarregionais e interregionais; nentes com as IES, de modo a consolidar a aquisição das

104
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

qualificações necessárias para conduzir os 15.2) estimular a Nacional de Avaliação da Educação Superior - SINAES, res-
melhoria da qualidade dos cursos de pedagogia e licencia- peitando-se o disposto pela Lei Federal nº 10.861, de 14 de
turas, por meio de discussões permanentes com as IES, de abril de 2004;
modo a consolidar a aquisição das qualificações necessá- 15.12) oferecer apoio técnico-pedagógico aos progra-
rias para conduzir os diversos processos pedagógicos que mas de iniciação à docência a estudantes matriculados em
combinem formação geral e específicas, em reciprocidade cursos de licenciatura, a fim de aprimorar a formação de
com o princípio pedagógico da contextualidade, da inter- profissionais para atuar no Magistério da Educação Básica;
disciplinaridade, da simetria invertida, da residência docen- 15.13) valorizar as práticas de ensino e os estágios nos
te e da articulação entre formação acadêmica e base nacio- cursos de formação de nível médio e superior dos profis-
nal comum do currículo da Educação Básica; sionais da educação, visando ao trabalho sistemático de
15.3) reprogramar, em regime de colaboração entre articulação entre a formação acadêmica e as demandas da
União, Estado e Municípios, as ações do Plano Estratégico Educação Básica;
de Formação de Profissionais do Magistério da Rede Públi- 15.14) fomentar a oferta de cursos técnicos de nível
ca de Educação Básica, de modo que assegure a formação médio e tecnológicos de nível superior destinados à forma-
em licenciatura a todos os professores, até o último ano de ção, nas respectivas áreas de atuação, dos profissionais da
vigência deste PEE-BA; educação de outros segmentos que não os do magistério,
15.4) fomentar, nas IES, a criação e a consolidação dos no prazo de cinco anos de vigência do PEE-BA;
Fóruns de Licenciatura e Comitês Gestores de Formação 15.14) fomentar a oferta de cursos técnicos de nível
Inicial e Continuada de Professores, institucionalizando es- médio e tecnológicos de nível superior destinados à forma-
sas instâncias, até o fim do primeiro ano de vigência desse ção, nas respectivas áreas de atuação, dos profissionais da
PEE-BA, de modo a incluí-los nos projetos institucionais de educação de outros segmentos que não os do magistério,
cada IES; no prazo de cinco anos de vigência do PEE-BA;
15.5) criar um banco de dados referente à necessida- 15.15) assegurar que as questões de diversidade cultu-
de de formação de docentes e não docentes, por nível de ral, étnica, religiosa e sexual sejam tratadas como temáticas
ensino, etapas e modalidades da educação, até o fim do
nos currículos de formação inicial e continuada de profes-
primeiro ano de vigência desse PEE;
sores, sob égide do Plano Nacional de Educação em Direi-
15.6) estimular o desenvolvimento de modelos de for-
tos Humanos e das diretrizes nacionais para a educação
mação docente para a Educação Profissional que valorizem
em direitos humanos emanadas pelo Conselho Nacional de
a experiência prática, por meio da oferta, nas redes federal
Educação;
e estaduais de Educação Profissional, de cursos voltados à
15.16) promover programas de formação inicial e con-
complementação e à certificação didático-pedagógica de
tinuada dos profissionais e de todos os atores que atuam
profissionais experientes;
na educação prisional ou no atendimento socioeducativo.
15.7) estimular programa de formação para produção
e uso de tecnologias e conteúdos multimidiáticos para o
contexto das novas tecnologias educativas, garantindo Da Formação Continuada e Pós-Graduação de Pro-
acesso aberto aos mesmos e sua disseminação coletiva; fessores
15.8) consolidar ações de natureza interinstitucional Meta 16: Formar, em nível de Pós-Graduação, 50%
que reforcem os objetivos da Lei Federal nº 10.639, de 09 (cinquenta por cento) dos professores da Educação Básica,
de janeiro de 2003, e da Lei Federal nº 11.645, de 10 de até o último ano de vigência deste PEE-BA, e garantir a
março de 2008, com inclusão curricular dos objetos a que todos os profissionais da Educação Básica formação conti-
se referem essas Leis, em articulação com os sistemas de nuada em sua área de atuação, considerando as necessida-
Educação Básica; des, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino.
15.9) promover em articulação com as IES o reconheci- Estratégias:
mento da escola de Educação Básica e demais instâncias da 16.1) realizar, até o segundo ano de vigência deste PEE
educação como espaços estratégicos da formação inicial e -BA, em regime de colaboração, o diagnóstico e o planeja-
continuada dos professores e dos demais profissionais do mento estratégico para dimensionamento da demanda por
magistério; formação continuada de professores da Educação Básica
15.10) fomentar as IES para a ampliação da oferta de do Estado e dos Municípios, ficando o Fórum Estadual Per-
cursos de formação inicial e continuada de professores manente de Apoio à Formação Docente como núcleo para
para a educação escolar indígena, do campo, quilombo- organizar o citado plano estratégico;
la, das comunidades tradicionais, da educação de jovens e 16.2) instituir áreas prioritárias para a Política Estadual
adultos, inclusive para privados de liberdade, considerando de Formação de Docentes da Educação Básica, sob aval do
o ensino intercultural e bilíngue, a diversidade cultural, o Conselho Estadual de Educação e colaboração da União
desenvolvimento regional e as especificidades étnico-cul- Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação - UNDI-
turais e circunstanciais de cada comunidade ou de grupos; ME e da União Nacional dos Conselhos Municipais de Edu-
15.11) promover o avanço das discussões sobre o fi- cação - UNCME, no âmbito da discussão estadual sobre a
nanciamento estudantil de estudantes matriculados em formação docente e as necessidades do Sistema Estadual
cursos de licenciatura com avaliação positiva pelo Sistema de Ensino;

105
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

16.3) fortalecer o Plano Estadual do Livro e da Leitura, II.implantar, no Estado, e recomendar às redes públi-
aprovado pelo Decreto nº 15.303, de 28 de julho de 2014, cas municipais de Educação Básica o acompanhamento
vinculando-o à formação continuada de docentes e insti- dos profissionais iniciantes, supervisionados por equipes
tuindo-o como dispositivo de referência aos sistemas de experientes, a fim de fundamentar, com base em avalia-
ensino, para consolidar a prática de leitura e de formação ção documentada, a decisão pela efetivação após o estágio
de leitores, de modo especial à área das linguagens; probatório;
16.4) articular, em colaboração entre o Estado, os Mu- III.atender, no Estado, e recomendar aos Municípios e
nicípios e a União, a oferta especial de cursos de Pós-Gra- redes privadas de ensino que, nos Planos de Carreira dos
duação para a formação de professores de LIBRAS, por- profissionais da educação, constem indicações para incen-
tuguês escrito para surdos como segunda língua, desde a tivos resultantes de processos para formação continuada,
alfabetização até os anos iniciais, bem como de professores com definições das prioridades para as licenças e padrões
alfabetizadores para atendimento educacional especializa- para a formalização desses incentivos, de modo associado
do, para qualquer modalidade da Educação Básica, incluí- ao aumento da proficiência dos estudantes, da permanên-
das obras de literatura e dicionários. cia e da conclusão de escolaridade no tempo certo e ao
final de cada etapa;
Da Valorização do Professor IV.fomentar a criação e a implementação dos Planos de
Meta 17: Valorização dos docentes das redes públicas Carreira dos profissionais da rede particular de Educação
da Educação Básica em conformidade com o conjunto de Básica, por intermédio de normativa do Conselho Estadual
medidas regulamentares à disposição constitucional que de Educação;
V.promover a integração de ações que visem garantir,
pressupõe Planos de Carreira definidos em lei, ingresso por
por meio de ação colaborativa entre os entes federados, o
concurso público de provas e títulos, composição da jorna-
cumprimento da Lei do Piso Salarial Profissional Nacional.
da de trabalho e formação continuada.
Estratégias:
Da Gestão Democrática
I.incentivar a implementação de política de atenção à Meta 19: Estimular a discussão sobre a regulamentação
saúde para os profissionais da educação, com ênfase na acerca da gestão democrática da educação, com vistas à
prevenção de doenças decorrentes do trabalho, destacan- garantia da sua consolidação associada a critérios técnicos
do as relacionadas com a saúde vocal, a saúde mental e os de mérito e desempenho e à consulta ampla à comunidade
distúrbios osteomusculares, por meio de medidas de pro- escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos
moção da saúde, numa perspectiva biopsicossocial e com e apoio técnico da União, do Estado e dos Municípios.
ações intersetoriais de saúde, educação e assistência social;
II.incluir, nos cursos de formação continuada de pro- Estratégias:
fessores, a temática Educação para a Saúde, com foco na 19.1) regulamentar, no âmbito do Estado, a nomeação
saúde do trabalhador da educação; dos Diretores de escolas, estabelecendo critérios técnicos
III.observar os resultados do acompanhamento, a ser de mérito e desempenho, bem como a participação da co-
feito pela União, do avanço salarial dos profissionais da munidade escolar, destacando-se a atenção à gestão peda-
educação pública do Estado, considerando os indicadores gógica em que se inserem a supervisão da aprendizagem, a
apontados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicí- organização do ensino, a valorização do colegiado/conse-
lios - PNAD, com a finalidade explícita da gestão da política lho escolar, o pleno cumprimento do período letivo diário,
salarial; o plano coletivo de recomposição de competências não
IV.articular, em conjunto com a União, a implementa- desenvolvidas pelos estudantes, a organização das ações
ção de políticas de valorização dos profissionais do Magis- didáticas e a requalificação dos horários destinados ao pla-
tério; nejamento, no conjunto das suas atividades;
V.estimular as redes públicas de Educação Básica para 19.2) ampliar, em colaboração com a União, programas
instituírem o acompanhamento pedagógico dos profissio- de apoio e formação de conselheiros dos Conselhos Esta-
nais iniciantes. dual e Municipais de Educação, do Conselho de Acompa-
nhamento e Controle Social do Fundo Nacional de Desen-
Do Plano de Carreira volvimento da Educação Básica - FUNDEB, dos conselhos
de alimentação escolar, com garantia das condições ne-
Meta 18: Estimular, no prazo de 02 (dois) anos, a exis-
cessárias ao funcionamento pleno desses colegiados, com
tência de Planos de Carreira para os profissionais da Educa-
vistas ao bom desempenho de suas funções;
ção Básica pública, tomando como referência o piso salarial
19.3) incentivar os Municípios a constituírem Fóruns
nacional profissional, definido em lei federal, nos termos
Permanentes de Educação, com o intuito de organizar e
do inciso VIII do art. 206 da Constituição Federal. coordenar as conferências municipais, bem como para efe-
Estratégias: tuar o acompanhamento da execução do PNE, deste PEE
I.considerar as especificidades socioculturais das esco- -BA e de seus respectivos planos de educação;
las do campo e das comunidades indígenas, quilombolas e 19.4) incentivar, em todas as redes de Educação Básica,
comunidades tradicionais no provimento de cargos efeti- a constituição e o fortalecimento de grêmios estudantis e
vos para essas escolas; de associações de pais e mães de estudantes, asseguran-

106
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

do-se-lhes, inclusive, espaços adequados e condições de 20.5) garantir mecanismos de articulação entre o Plano
funcionamento nas escolas e, ainda, fomentando a sua arti- Nacional de Educação - PNE, o Plano Estadual de Educação
culação orgânica com os colegiados e conselhos escolares, e cada Plano Municipal de Educação, no âmbito do Estado
por meio das respectivas representações; da Bahia, para que os instrumentos orçamentários utiliza-
19.5) fomentar a constituição e o fortalecimento de dos pelos entes federados - Plano Plurianual - PPA, Lei de
conselhos escolares e de conselhos municipais de educa- Diretrizes Orçamentárias - LDO e Lei de Orçamento Anual
ção, como instrumentos de supervisão da gestão escolar - LOA - sejam harmônicos e sistemicamente vinculados
e de funcionamento da unidade escolar, assegurando-se entre si, de modo a sublinhar procedimentos técnicos que
condições de funcionamento autônomo; assegurem o cumprimento das metas e estratégias deste
19.6) estimular a participação e a consulta a profissio- PEE-BA;
nais da educação, a estudantes e aos seus familiares para a 20.6) regulamentar a destinação dos recursos advindos
formulação dos projetos político-pedagógicos, planos de da exploração de petróleo e gás natural para a manuten-
gestão escolar e regimentos escolares, assegurando a par- ção e desenvolvimento da educação pública no Estado da
ticipação dos pais e mães na avaliação do funcionamento Bahia, em conformidade com o disposto na Lei Federal nº
da escola e no cumprimento do seu papel na formação das 12.858, de 09 de setembro de 2013;
crianças e jovens; 20.7) fortalecer os mecanismos e os instrumentos que
19.7) desenvolver programas de formação de gestores assegurem a transparência e o controle social na utiliza-
escolares com vistas ao processo de conciliação do plano ção dos recursos públicos aplicados em educação, espe-
de gestão com resultados educacionais, em que se dê des- cialmente a realização de audiências públicas, a criação de
taque aos direitos de aprendizagem e portais eletrônicos de transparência e a capacitação dos
cumprimento das rotinas de fluxo das aulas, à conso- membros de conselhos de acompanhamento e controle
lidação de boas práticas e intervenções pedagógicas nos social do FUNDEB, com a colaboração entre o Ministério da
currículos de modo a subsidiar a definição de critérios ob- Educação, a Secretaria da Educação, as secretarias de edu-
jetivos para o provimento dos cargos; cação dos Municípios e os Tribunais de Contas da União,
19.8) promover, fortalecer e apoiar iniciativas de en- do Estado e dos Municípios;
frentamento ao uso do álcool e outras substâncias psicoa- 20.8) colaborar para que seja implantado nos siste-
mas públicos o Custo Aluno-Qualidade inicial - CAQi, no
tivas em ambientes escolares, na perspectiva da redução
contexto da formulação nacional deste parâmetro e salva-
de danos.
guardado o princípio dos reajustes indispensáveis à prote-
ção financeira para o sucesso do processo de ensino e de
Do Financiamento da Educação
aprendizagem, à luz da implantação plena do Custo Aluno-
Meta 20: Assegurar os recursos financeiros para cum-
Qualidade - CAQ;
primento das metas de competência do Estado estabele-
20.9) desenvolver, por meio de articulações interseto-
cidas por este Plano Estadual de Educação, buscando-se
riais, estudos, formas de controle e acompanhamento re-
ampliar o investimento público em educação e consolidar
gular da aplicação de investimentos de custo por aluno da
o disposto no art. 159 da Constituição do Estado da Bahia, Educação Básica, da Educação Profissional e da Educação
incluindo este PEE-BA no contexto dos programas de du- Superior públicas;
ração continuada. 20.10) aperfeiçoar o gerenciamento dos recursos des-
tinados à educação no Estado e nos Municípios, median-
Estratégias: te a formação de gestores das redes públicas estadual e
20.1) promover a avaliação da porcentagem de inves- municipais, com vistas à melhoria contínua do uso legal e
timento e custeio em educação, a cada 02 (dois) anos, con- eficiente dos recursos públicos, nos termos dispostos pelo
siderados os investimentos em cada nível da oferta, para Título VII da Lei Federal nº 9.394, de 20 de dezembro de
se obter, de modo permanente, a supervisão das necessi- 1996 - LDB;
dades financeiras para o cumprimento das metas do PEE 20.11) estimular os segmentos que integram cada co-
-BA, em discussão com os Poderes Legislativo e Executivo; munidade escolar a realizarem consultas aos portais de
20.2) otimizar a destinação de recursos à manutenção transparência das receitas e despesas do total de recursos
e ao desenvolvimento do ensino aos recursos vinculados, destinados ao funcionamento dos sistemas de educação
nos termos do art. 212 da Constituição Federal; no âmbito do Estado e, também, a desempenharem papel
20.3) pactuar o Estado com os Municípios, sob aval ativo na fiscalização da aplicação desses recursos, por meio
do regime de colaboração com a União, na formulação de de conselhos civis, assessoramento do Ministério Público
estratégias que assegurem novas fontes de financiamento e colaboração técnica do Tribunal de Contas do Estado da
permanentes e sustentáveis para todas as etapas e moda- Bahia.18
lidades da Educação Básica;
20.4) consolidar a capacidade de atendimento e do es-
forço fiscal do Estado e dos Municípios, com vistas a aten-
der às suas demandas educacionais, à luz das normativas
nacionais, com destaque para a Lei Federal nº 11.494, de
20 de junho de 2007, que regulamenta o FUNDEB; 18 Fonte: simec.mec.gov.br

107
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

com a legislação infraconstitucional, com base nos arti-


O PARADIGMA DA SUPRALEGALIDADE gos 102, III, b e 105, III, a, ambos da Constituição da Repú-
COMO NORMA CONSTITUCIONAL PARA OS blica de 1988 .
TRATADOS DOS DIREITOS HUMANOS. O Ministro Celso de Mello, em seu voto proferido em
data de 12.03.2009, esposou entendimento no sentido da
hierarquia constitucional dos tratados internacionais de
Direitos Humanos após a Emenda Constitucional n. 45/04.
Os problemas decorrentes da interação entre direito Nada obstante, foi vencedora a posição que perfilhou
interno e Direito Internacional constituem motivo de dis- a tese da hierarquia supralegal – mas infraconstitucional
senso na doutrina há longa data, revelando ser um tema – dos tratados internacionais de direitos humanos ante-
sensível, sobretudo devido às implicações de tal intera- riormente ratificados que não tenham sido aprovados pelo
ção relativamente a questões da maior grandeza, como a procedimento estatuído pelo novo § 3º, a despeito do teor
da soberania nacional e a da supremacia da Constituição. literal dos §§ 1º e 2º do artigo 5º da CRFB/88.
Tal problema, ainda sem solução, sobretudo em vir- Do quanto foi aqui sucintamente historiado, de se fazer
tude de tais aspectos particularmente problemáticos, uma brevíssima crítica acerca dos avanços e retrocessos na
veio novamente à baila por ocasião do julgamento do HC matéria encarnados na paradigmática decisão para, depois,
n. 87.585-8/TO pelo Supremo Tribunal Federal, ocorrido fazer uma incursão na teoria do direito no sentido de in-
no ano de 2008 que aqui serve de pano de fundo para a vestigar outras possibilidades de interpretação e aplicação
análise da interpretação e aplicação do direito. do direito que se mostrem mais adequadas à resolução de
Renunciando-se a discutir diversos aspectos correla- problemas envolvendo a interação dos ordenamentos na-
tos, como a hierarquia dos tratados na ordem constitu- cional e internacional dos direitos humanos.
cional brasileira, a questão da aplicabilidade imediata, a Em primeiro lugar, adotando-se abertamente uma pos-
natureza materialmente ou formalmente constitucional tura em favor dos direitos humanos e do reconhecimento
dos direitos humanos, a identidade ou diferença de direi- de status hierárquico superior para seus instrumentos, vis-
tos humanos e direitos fundamentais, far-se-á uma crítica lumbra-se um avanço em relação à posição clássica do Su-
seguida de uma proposição quanto à metódica de aplica- premo na matéria, eis que a tese da supralegalidade mos-
ção e interpretação do direito voltado à proteção do ser tra-se mais progressista e mais adequada para com os fins
humano, seja ele interno, seja ele internacional. estatuídos pela Constituição de 1988 e pelo Direito Inter-
nacional dos Direitos Humanos do que o tradicional enten-
1.O julgamento do HC 87.585-8/TO pelo STF: breve dimento da paridade com a legislação infraconstitucional.
relato, avanços e crítica. Abrem-se, portanto, novas possibilidades, como a de
O habeas corpus n. 87.5858-8/TO origina-se da inad- controle de convencionalidade das leis e atos normativos
missão, pelo Superior Tribunal de Justiça, de recurso or- , o que constitui inequívoco avanço. Nada obstante, ainda
dinário contra decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª que reconhecido tal importante passo no sentido da efe-
Região. No processo em questão, buscava-se a soltura do tividade dos direitos humanos no Brasil, de se consignar
paciente, preso em 2005 como depositário infiel. que a decisão ficou aquém do esperado, revelando caráter
A controvérsia jurídica veiculada prende-se à manu- conservador em certa medida.
tenção ou aplicabilidade, no ordenamento jurídico brasi- Nesse diapasão, de se consignar, inicialmente, a inexis-
leiro, da hipótese contemplada em norma constitucional tência de suporte normativo para a tese da mera suprale-
que prevê a prisão do depositário infiel (art. 5º, LXVII) . galidade. A doutrina mais avançada já reconhecia, com
Disposições da Convenção Americana de Direitos base nos §§ 1º e 2º do art. 5º da CRFB/88 a hierarquia cons-
Humanos de 1969 (art. 7º) e do Pacto Internacional de titucional dos instrumentos internacionais consagradores
Direitos Civis e Políticos de 1966 (art. 11), ambos ratifica- de direitos humanos . A inclusão do § 3º ao mesmo artigo
dos pela República Federativa do Brasil, vedam a prisão reconhece, igualmente, hierarquia constitucional, e não in-
civil, excetuando o primeiro instrumento apenas a hipó- fraconstitucional, às referidas normas.
tese relativa ao devedor de alimentos. Ademais, o reconhecimento de caráter meramente su-
Tais dispositivos reputavam-se, no habeas corpus em pralegal representa-se inconsistente com outras decisões
questão, içados à condição de normas constitucionais, em situações semelhantes de recepção de normas , sendo
tendo em vista a inclusão, pela Emenda Constitucional que, a rigor, os instrumentos internacionais de direitos hu-
n. 45/2004, do parágrafo 3º ao artigo 5º da Constituição manos deveriam ter sido reconhecidos como recepciona-
da República Federativa do Brasil, reconhecendo o status dos com hierarquia constitucional pelo novo § 3º do art. 5º
hierárquico de norma constitucional aos tratados inter- da Constituição, independentemente do procedimento ali
nacionais de direitos humanos aprovados pelo Congres- preconizado .
so Nacional segundo o procedimento ali preconizado, Assim, ainda que se vislumbre avanço na tese da su-
similar ao das Emendas à Constituição. pralegalidade em face da tese até então dominante (pari-
A posição até então dominante no STF quanto à ma- dade), de se reconhecer que a decisão ficou muito aquém
téria perfilhava entendimento no sentido da paridade do esperado, tendo em vista a teleologia que transparece
hierárquico-normativa dos instrumentos internacionais das normas constitucionais em mesa.

108
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Nada obstante, para além da discussão concernente à Tais teses, ao buscar resolver eventuais incompatibili-
hierarquia das normas internacionais instituidoras de direi- dades entre as disposições de direito interno e as disposi-
tos humanos, tema de grande relevância e bastante deba- ções de Direito internacional a partir do critério hierárquico
tido, interessa-nos aqui fazer breve incursão na teoria do , acabam forçosamente por aderir à ideia de estabelecer, de
direito para, distinguindo situações diversas de conflito de maneira apriorística e desvinculada do caso concreto, uma
normas, colisão de direitos fundamentais e concorrência escala hierárquica prestabelecida na qual se inserem os di-
de normas protetivas de direitos humanos e de direitos versos diplomas normativos, dotando uns de prevalência
fundamentais, sustentar outra maneira de enfocar, com- sobre os outros.
preender e buscar solucionar o problema, independente- É nessa esteira que se insere a recente decisão do STF
mente do status hierárquico conferido às espécies norma- que consagrou a tese da supralegalidade quanto aos trata-
tivas em interação. dos previamente ratificados, como visto, debatendo-se os
Assim, tendo como pano de fundo a decisão em co- Ministros acerca da posição hierárquica a ser conferida aos
mento, propor-se-ão formas distintas de resolução dos tratados internacionais instituidores de direitos humanos
problemas atinentes à interação do direito interno e do em nosso ordenamento.
Direito Internacional em diferentes circunstâncias, o que Está a parecer, conforme se sustentará no item con-
clusivo, que tal solução simplista está longe de satisfazer
se passa a fazer.
as necessidades e peculiaridades da situação complexa
em que convergem normas constitucionais e internacio-
Conflito de normas no tempo e no espaço.
nais protetivas da pessoa, cujos catálogos podem coincidir
São amplamente conhecidas as regras de solução dos
no todo ou em parte , embora sejam dotados de evidente
conflitos de normas no tempo e no espaço, razão pela qual consentaneidade axiológica e teleológica.
a presente seção será uma revisão muito sucinta sobrevoo Outro problema, distinto das antinomias, na qual duas
das já conhecidas regras lex superior, lex posterior e lex ou mais normas são total ou parcialmente incompatíveis,
specialis , estando a preocupação central centrada na ca- como é sabido, radica na questão da colisão de direitos
racterização do conflito de normas. fundamentais, que não se pode resolver pelos critérios
Pode a antinomia ser definida, segundo Norberto tradicionais, conforme se passa, muito sucintamente, a de-
Bobbio, como a situação na qual “são colocadas em exis- monstrar.
tência duas normas, das quais uma obriga e a outra proíbe, Colisão de Direitos Fundamentais.
ou uma obriga e a outra permite, ou uma proíbe e a outra É dotada de notoriedade a polêmica entre as teorias
permite o mesmo comportamento.” interna e externa das restrições a direitos fundamentais (In-
Parece ser evidente que o contato entre ordenamentos nentheorie e Aussentheorie), e, conjuntamente, difundiu-se
jurídicos nacionais e outros, como o Direito Comunitário a ideia de colisão e de ponderação (Abwägung) ou utiliza-
e o Direito Internacional, sói constituir fonte de conflitos, ção do princípio da proporcionalidade (Verhälmässigkeits-
gerando antinomias na medida em que normas de teores, grundsatz) como forma de resolução.
origens e hierarquia normativa diversos são destinadas a Assim, é cediço atualmente, dada a proeminência al-
incidir no mesmo âmbito espacial e temporal. cançada pela teoria externa, que, em se verificando uma
Tal problema torna-se ainda mais agudo diante de dis- situação de colisão de direitos fundamentais – i.e., quando
posições que determinam a incorporação do Direito Inter- o exercício de um direito fundamental de um titular impli-
nacional ao direito interno e a aplicabilidade imediata das car violação ao direito fundamental de outro titular –, deve
normas constantes de instrumentos internacionais, como, o julgador lançar mão do construto do princípio da pro-
v.g., os §§ 1º e 2º do art. 5º da CRFB/88. porcionalidade para, através da atividade conhecida como
Não se pretende adentrar aqui, por fugir ao escopo ponderação, estabelecer o alcance definitivo de cada um
do trabalho, o problema do Direito Comunitário, fixando dos direitos fundamentais no caso concreto.
a atenção na questão do Direito Internacional Público, ou, Para além de outras consequências, tal metódica, ainda
que suscetível a críticas e objeções cuja seriedade não de
mais especificamente, do Direito Internacional dos Direitos
pode descurar , revelou a insuficiência dos critérios tradi-
Humanos.
cionais de resolução de antinomias, descortinando outras
Em regra se tem buscado solucionar o conflito entre
dimensões do problema da interpretação e aplicação do
direito nacional e Direito Internacional através dos clássi-
direito, sobretudo em matérias particularmente importan-
cos critérios de solução de antinomias, especialmente pelo tes, como a dos direitos e garantias fundamentais.
já referido o critério hierárquico (lex superior derogat lex Concorrência de normas e o princípio da primazia da
inferior), como se pôde ver do breve escorço sobre o HC norma mais favorável (princípio pro homine).
87.585-8/TO. Diante disso de se indagar se o problema posto pela
Assim, com relação aos tratados internacionais, além incidência simultânea dos catálogos nacional (constitucio-
da polêmica entre monistas e dualistas , firmaram-se di- nal) e internacionais de direitos (humanos ou fundamentais
versos entendimentos doutrinários no sentido da consti- ) é passível de solução pelo mecanismo simples de solução
tucionalidade, da supralegalidade e da paridade hierárqui- de antinomias, ou se reclama algo mais, o que nos remete
co-normativa destes. ao objeto principal desta exposição.

109
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Em primeiro lugar, de se insistir em uma distinção pre- Tal critério não é novo, sendo velho conhecido do Di-
cisa de três situações não equiparáveis, quais sejam, a reito Internacional dos Direitos Humanos, consistindo no
da antinomia – inicialmente solucionável com recurso aos princípio denominado primazia da norma mais favorável
critérios tradicionais –, a da colisão – inicialmente solu- às vítimas de violações ou, de forma mais ampla, aos ti-
cionável pela técnica da ponderação a partir do construto tulares de direitos. Segundo esclarece Antonio Augusto
teórico-jurisprudencial da proporcionalidade – e, por fim, Cançado Trindade:
identificar uma situação que não se confunde com confli- “No presente domínio de proteção, não mais há pre-
to e tampouco com colisão, qual seja, a concorrência de tensão de primazia do direito internacional ou do direito
normas ou de direitos. interno, como ocorria na polêmica clássica e superada en-
Ou seja, sustentamos que, em casos tais, está-se tre monistas e dualistas. No presente contexto, a primazia é
diante de uma situação que se poderia definir como con- da norma mais favorável às vítimas, que melhor as proteja,
corrência de normas (ou de direitos), e não conflito, e seja ela de direito internacional ou de direito interno. É a
tampouco colisão . solução expressamente consagrada em diversos tratados
Não se trata de colisão, pois nos casos de colisão o de direitos humanos, da maior relevância por suas implica-
direito fundamental de um titular choca-se, como a pró- ções práticas.” [28]
pria metáfora está a indicar, com o direito fundamental Assim, em casos como o havido no HC 87.585-8/TO,
de outro titular (ou, alternativamente, com outros bens propugna-se ser descabida a resolução a partir de crité-
constitucionalmente tutelados), o que não é o caso, a rios engendrados para situações diversas da que se coloca
toda evidência, quando diversas normas tutelam, em di- (conflito de normas e colisão de direitos), impondo-se a
ferentes graus de amplitude, os direitos de um mesmo aplicação do princípio da primazia da norma mais favorável
titular. ao titular dos direitos em questão, independentemente de
Por outro lado, para se caracterizar conflito de nor- hierarquia preestabelecida.
mas, como visto, é preciso haver inconciliabilidade ou Assim, como já ocorre em outros ramos do direito ca-
divergência entre os comandos. Em caso de normas de racterizados pela pluralidade de fontes normativas, como
direitos fundamentais e normas de direitos humanos que o Direito do Trabalho, no âmbito da concorrência de dis-
tutelam a vida e a dignidade humanas, em regra o que posições protetivas de direitos humanos ou fundamentais
se verifica, contrariamente, é conciliabilidade e conver- não há que se recorrer a critérios estáticos e apriorísticos,
gência , consentaneidade teleológica e axiológica. Os di- mas de se aplicar, no caso concreto, a norma que de forma
versos dispositivos, de direito interno ou internacional, mais ampla ou eficaz atenda aos direitos humanos funda-
tutelam o direito à vida em suas diversas dimensões, o di- mentais.
reito à liberdade, a dignidade humana e assim por dian- Fonte: http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/tese-
te, não são conflitantes ou logicamente incompatíveis. A da-supralegalidade-dos-tratados-internacionais-de-direi-
divergência parcial dá-se na amplitude ou no âmbito de tos-humanos-e-intera%C3%A7%C3%A3o-entre-o
proteção, uma norma sendo, por vezes, mais ampla do
que outra.
No caso em mesa, e.g., o que há é concorrência con-
vergente de mais de uma norma instituidora de direi-
tos e protetiva da liberdade pessoal: examinando o HC
87.585-8/TO o que se verifica é uma norma de direito
interno (a disposição do art. 5º LXVII que proíbe a prisão
civil excetuando dois casos apenas) com uma norma de
direito internacional (a disposição do art. 7º, 7, da Con-
venção Americana, que igualmente proíbe a prisão civil,
com apenas uma exceção). A última é mais ampla do que
a primeira, mas não são inconciliáveis, pois, neste caso,
a disposição constitucional opera como padrão mínimo,
mas não como padrão máximo de proteção .
Assim, com a devida vênia das respeitáveis opiniões
em contrário, não se tratando de conflito de normas não
há que se aplicar critérios de resolução de antinomias.
Distinguindo-se os casos de conflito e de colisão e
ambos do caso da concorrência – situação na qual uma
pluralidade de normas concorre (e não conflita) em prol
da promoção de um mesmo fim, no caso em mesa, a li-
berdade pessoal – há que se propugnar pela adoção de
um critério adequado à tarefa que se coloca diante do
intérprete e do aplicador.

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

AS AVALIAÇÕES NACIONAIS DA EDUCAÇÃO


BÁSICA.

O Sistema de Avaliação da Educação Básica – Saeb, instituído em 1990, é composto por um conjunto de avaliações
externas em larga escala e tem como principal objetivo realizar um diagnóstico da educação básica brasileira e de alguns
fatores que possam interferir no desempenho do estudante, fornecendo um indicativo sobre a qualidade do ensino ofer-
tado. O levantamento produz informações que subsidiam a formulação, reformulação e o monitoramento das políticas pú-
blicas nas esferas municipal, estadual e federal, visando a contribuir para a melhoria da qualidade, equidade e eficiência do
ensino. Além disso, procura também oferecer dados e indicadores sobre fatores de influência do desempenho dos alunos
nas áreas e anos avaliados.
Em 2005, o Saeb foi reestruturado e passou a ser composto por duas avaliações: a Avaliação Nacional da Educação
Básica (Aneb), que manteve as características, os objetivos e os procedimentos da avaliação efetuada até aquele momento
pelo Saeb, e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), conhecida como Prova Brasil, criada com o objetivo de
avaliar a qualidade do ensino ministrado nas escolas das redes públicas.
Em 2013, a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) foi incorporada ao Saeb para melhor aferir os níveis de alfabeti-
zação e letramento em Língua Portuguesa (leitura e escrita) e Matemática.
Hoje o Saeb é composto pelas três avaliações externas em larga escala:

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Histórico

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Fonte: http://portal.inep.gov.br/educacao-basica/saeb

Abaixo algumas reflexões sobre os aspectos que envolvem e ampliam a discussão a cerca da avaliação da educação
básica.
Os sistemas nacionais de avaliação, criados desde há algum tempo em muitos países, entre os quais o Brasil, têm cer-
tamente potencial para esclarecer os diversos setores da sociedade sobre as tendências da educação. Eles foram criados
para estimular a assunção de responsabilidades e a visibilidade que devem ter os sistemas educativos na informação dos
diversos atores, em nível individual, institucional, governamental e no conjunto da sociedade.
A questão da avaliação, porém, não é simples. Pelo papel que desempenha no julgamento de valor dos programas e siste-
mas, a avaliação tem grande poder e, por isso, a importância de uma reflexão aprofundada sobre os diferentes aspectos que a
permeiam. Não se pode negar que a avaliação tem força para transformar, justificar ou até desacreditar aquilo que avalia.
No caso dos Sistemas educacionais, entre os múltiplos fatores que influenciam a avaliação, dois se destacam: a autono-
mia da escola de um lado e a responsabilidade do Estado de outro. O Estado não pode restringir a autonomia das escolas,
mas é imperioso que ele se responsabilize pela qualidade de seus sistemas educativos, nas esferas pública e privada.

A analise do contexto - dimensões de realidade e temporalidade


fundamental que, antes de qualquer decisão sobre a avaliação da qualidade da educação, deva ocorrer uma análise
do contexto em que o processo educacional se desenvolve, configurado não só na realidade do momento, mas na sua
temporalidade. Essa análise histórica é de fundamental importância para a definição de critérios e indicadores de avaliação.
Agregando complexidade a essa definição, tem-se que pensar que a avaliação da qualidade da educação deve englo-
bar critérios e indicadores numéricos (quantitativos) e descritivos (qualitativos), uma vez que quantidade e qualidade estão
estreitamente relacionadas.
A expansão da rede de escolas privadas merece ser considerada pelo sistema e seus usuários. Essas escolas devem ser
analisadas pela população que as procuram na busca de maior qualidade de educação para os filhos e pelo próprio sistema
educacional em que estão inseridas. Assim, apesar da variedade em termos de significados, deve haver uma reflexão sobre
uma série de atributos ou elementos descritores no sentido de responder a algumas questões, como por exemplo: O que
deve ser considerado como qualidade de educação? O que significa qualidade do ensino privado? Quais os fatores impul-
sores e restritivos dessa qualidade? Em que medida ela está se efetivando na maioria dos estabelecimentos do sistema?
Quais as responsabilidades das varias instâncias de decisão do sistema? Avaliar um sistema educativo repousa na idéia de
que uma escola é muito mais do que uma simples junção de classes. A escola existe em um certo contexto e é fundamental
que este seja analisado, uma vez que se constitui em fator determinante para a qualidade de ensino.

A avaliação e a escola como realidade complexa


A avaliação precisa ser capaz de reconhecer as escolas como organizações complexas que devem ser focalizadas ana-
liticamente para além dos limites restritos do espaço pedagógico.
Assim, paralelamente à necessidade de se compreender as especificidade dos estabelecimentos de ensino, é preciso
situar a análise dos resultados num contexto mais amplo, no qual a educação está se desenvolvendo.

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

É fundamental a distinção entre avaliar a política edu- A avaliação da aprendizagem e os padrões mínimos
cativa e avaliar o que acontece na escola. Embora em dife- de qualidade
rentes níveis de abrangência, a avaliação da escola e a ava- A definição de padrões mínimos de qualidade é um de-
liação do sistema não são estanques, elas apresentam forte safio para a avaliação. Especificamente quanto A avaliação
interrelação. da aprendizagem dos educandos, os critérios e indicadores
Isso reforça a necessidade da avaliação ser realizada em devem se relacionar diretamente aos resultados obtidos em
dois níveis: micro, relacionado a cada estabelecimento de termos dos graus de domínio de competências, capacidades
ensino, o que deve ser pautado pela noção de especificidade ou habilidades, na perspectiva de uma educação vista não
de cada contexto e macro, ou seja, uma avaliação do siste- exclusivamente como pragmática.
ma, o que imprime a ela um caráter de generalidade. Outro aspecto importante é o da avaliação de acompa-
Outra discussão é sobre as dimensões interna e externa nhamento dos educandos. É a fase de transição entre o in-
que deveriam caracterizar a avaliação de cada estabeleci- terno da escola e a sociedade. A ideia é a de que a qualidade
mento de ensino. de uma escola também precisa agregar a seus resultados in-
A avaliação interna de cada escola do ensino privado está ternos as peculiaridades e variáveis específicas de cada aluno
diretamente relacionada às formas de sua gestão educativa que a deixa, quer seja na evasão ao longo do processo, quer
e ao seu projeto pedagógico, harmonizado com as diretrizes seja ao final da formação.
da educação. Isso significa que os estabelecimentos escola- Isso implica avaliação formativa, mesmo que sejam ne-
res não são inteiramente específicos, particulares, únicos, o cessários alguns cortes no processo, de modo a que se pos-
que obriga ao próprio sistema educativo em que estão inse- sam obter dados para uma análise na amplitude do sistema
ridos a refletirem sobre critérios mais amplos de qualidade. educacional privado e público. O caráter formativo diz res-
Desta maneira, na dimensão interna, a avaliação deve peito à orientação constante na melhoria das ações em nível
alimentar a reflexão da própria escola, ou seja de sua co- institucional, curricular e de cada educando.
munidade, sobre as formas de sua gestão educativa e sobre Em termos mais específicos do processo de ensino e
seus propósitos e resultados, representados no seu projeto aprendizagem, apesar de a prática avaliativa ser familiar aos
docentes, deve-se estimulá-los para que compreendam os
pedagógico. Uma das formas de processar essa análise inter-
motivos da avaliação em dimensão mais ampla. Essa com-
na poderia ser a da auto avaliação. O pressuposto é o de que
preensão levará A melhoria da aprendizagem e da avaliação
antes de criticar, deve-se praticar a autocrítica.
dos alunos. isso implica capacitação precedida e acompa-
Contudo, essa é apenas uma alternativa; a própria escola
nhada por sensibilização constante Reforçando a questão
deveria criar suas metodologias de avaliação, sempre con-
da temporalidade, a escola deverá avaliar suas ações numa
siderando que não existe uma única metodologia capaz de
perspectiva de presente, passado e futuro. Isso caracteriza o
medir e garantir a qualidade de ensino do aprendiz.
aspecto longitudinal dos estudos, tendo como alvo o resgate
O importante é que a escola realize, além de uma avalia- dos fatos que configuram a história de vida de cada escola.
ção interna, uma avaliação externa para que possa ser con-
siderada de qualidade no conjunto do sistema e não apenas A integração entre o sistema público e o sistema pri-
intra-muros. vado
A avaliação de cada escola baseada na dupla perspectiva Operacionalmente, o sistema de avaliação do ensino pri-
- interna e externa - pode proporcionar a criação de uma cul- vado poderia se iniciar com um projeto, pelo qual escolas pri-
tura avaliativa e pode propiciar o alcance de alguns objetivos vadas comporiam uma amostra da sua população. Evidente-
básicos: processo de contínuo aperfeiçoamento de sua mis- mente, alguns critérios deveriam nortear a composição dessa
são de educar, instrumento de gestão educativa, elemento amostra. Um desses critérios é o da representatividade, outro
importante de informação para políticas públicas, e presta- o da estratificação. O critério de estratificação deve garantir
ção de conta aos educandos e seus familiares. que a análise dos resultados possa ser feita no contexto regio-
O desafio é buscar o equilíbrio entre a avaliação interna nal, com respeito aos aspectos culturais. Antes de propor uma
representada pela reflexão dos atores sobre suas práticas e a integração entre os sistemas público e privado deve haver uma
avaliação externa na perspectiva do desejo de transparência análise aprofundada da adequação de ambas as partes.
das ações e no fomento de um debate sobre o sistema. Importante, também, que haja clareza sobre os objetos
Uma avaliação exclusivamente interna pode impedir a de avaliação. Para isso, talvez seja necessário definir algumas
escola de situar-se criticamente nos desempenhos do siste- dimensões, por exemplo, dimensão humana (ou de pessoal),
ma de ensino. de ensino, aprendizagem e orientação dos educandos (o que
Uma avaliação de caráter apenas externo, por outro lado, exige a análise de alguns componentes essenciais do proces-
pode ressaltar meramente um espírito de competição entre
so, como: abordagens educativas, objetivos, conteúdos, me-
escolas, e tomar-se nefasta ao assumir um enfoque de con-
todologias, estratégias, abordagens e formas de avaliação)
corrência. Cumpre ressaltar que a avaliação que exacerba a
e material (ou física).
classificação pode deturpar fins educacionais.
Contextualizam essa análise indicadores relacionados
É evidente que sempre haverá uma certa diferenciação
entre as escolas; a uniformidade é totalitarismo. Embora à política educacional, às condições de infraestrutura do
diferentes, contudo, é preciso que tenham um eixo nor- sistema e das escolas, à gestão e à infraestrutura de cada
teador que não prejudique a qualidade da formação dos escola, à qualidade de seu projeto pedagógico, à capacita-
educandos. çáo dos docentes, ao clima escolar, entre outros.

116
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

A avaliação por comparação absoluta, mais do que Algumas considerações gerais de caráter orienta-
relativa dor da discussão sobre o tema
Não se pode desconsiderar que a responsabilidade de Com a finalidade de subsidiar as reflexões, alguns as-
qualquer escola é oferecer boa educação. Tanto para a avalia- pectos devem ser aqui apontados:
ção interna quanto externa é imprescindível a definição de ob- • A avaliação do sistema privado deve tornar públi-
jetivos, critérios e indicadores de avaliação. Há que se ressaltar cos seus resultados, na busca de maior transparência e de
o desafio dessa empreitada. Toma-se como pressuposto a exis- definição de responsabilidades.
tência de diferentes níveis de valoração sobre o que cada escola • A avaliação do sistema do ensino privado deve es-
produz, dependendo de quem analisa os resultados. tar configurada no contexto dos sistemas educativos.
Para que essa avaliação possa ser bem fundamentada, • Antes de qualquer decisão avaliativa, é fundamen-
cada escola deveria se pautar por um quadro referencial tal considerar a realidade na qual o processo educacional
de critérios que permita inferências sobre qual a qualidade se desenvolve.
educacional desejada. A esse quadro específico, devem es- • Além da dimensão de realidade, é importante re-
tar agregados critérios mais amplos de natureza do sistema, fletir sobre a temporalidade do processo educativo, para
não só do sistema privado, foco desse documento, como que os critérios possam ser definidos em termos compa-
do sistema educacional na interdependência de seus níveis: rativos absolutos, mais do que em termos de comparação
infantil, educação básica e educação superior. relativa (comparação entre escolas).
A meta é a de que avaliação das escolas no sistema • A avaliação da qualidade da educação deve englo-
privado chegue a um acordo sobre os principais aspectos bar critérios e indicadores numéricos (quantitativos) e des-
conceituais e, no mínimo, sobre critérios e indicadores men- critivos (qualitativos), uma vez que quantidade e qualidade
suráveis (numericamente ou descritivamente) com relação A estão estreitamente relacionadas.
qualidade. Isso caracteriza a ideia de avaliação por critérios • A integração entre a avaliação do sistema público
absolutos, cuja lógica é a comparação de cada escola com e privado deve ser analisado em termos de racionalização
padrões de qualidade educacional pré-estabelecidos. Desta de recursos, na busca de parceria real de contrapartida de
maneira, os quadros referenciais de análise devem estar ex- um sistema e de outro.
plicitados no sistema e na escola. • A avaliação deve considerar dois níveis: macro do
Há que se ressaltar que a construção desses quadros de sistema e micro de cada estabelecimento.
referência exige um cenário de fundo de natureza teórica e • Em cada estabelecimento de ensino é fundamen-
interpretativa. Serão diferentes os critérios que visem A uma tal aliar a avaliação interna com a avaliação externa. A ava-
aprendizagem voltada apenas para o domínio de conteúdos liação interna de cada escola do ensino privado está dire-
escolares, de outra que além desses conteúdos invista no tamente relacionada às formas de sua gestão educativa e
desenvolvimento de uma aprendizagem mais critica. Além ao seu projeto pedagógico. A avaliação externa exige uma
disso, é preciso advertir que a presença desses quadros re- análise de impactos no sistema educativo e no sistema so-
ferenciais não exclui a dificuldade da análise e da interpre- cial mais amplos.
tação dos resultados, uma vez que estes nunca esgotarão a • Antes de ser ampliado, o processo avaliativo de-
realidade. veria ser realizado numa dimensão mais delimitada, com
Numa visão ainda mais ampla, a avaliação com base em amostras de escolas estratificadamente representativas.
critérios absolutos deve ser estabelecida em consonância • A avaliação da aprendizagem pode se constituir
com os critérios de outros sistemas de ensino. Para realizar num ponto de partida da avaliação curricular e institucio-
essa articulação, reforça-se novamente que a avaliação deve nal, mas nunca o único indicador.
ser ao mesmo tempo quantitativa e qualitativa sem que es- • Para que a avaliação se caracterize como orienta-
sas duas facetas sejam analisadas de forma dicotômica. dora das ações educativas, é importante que os resulta-
Em síntese, três propósitos centrais devem nortear uma dos sejam usados para levantamento de hipóteses sobre
avaliação: fornecer resultados para a gestão da educação, possíveis causas de problemas, subsidiando análises mais
subsidiar a melhoria dos projetos pedagógicos das escolas e aprofundadas e nunca como forma de punição dos esta-
propiciar informações para a melhoria da própria avaliação, belecimentos e dos elementos humanos que o constituem.
o que se caracteriza como meta-avaliação. • Ao professor deve ser dada capacitação para que
O sistema avaliativo deve ser provocador de ações de a avaliação da aprendizagem ressalte seu aspecto fornativo
melhoria, caso contrário poderá se transformar em mero ins- de melhoria dos desempenhos dos educandos.
trumento de coleta de dados. • Uma cultura avaliativa sadia depende da saúde de
Os objetivos da avaliação visariam então: todas as instâncias que realizam a avaliação.
• Alimentar a reflexão de cada escola sobre os pro- • Depois de realizada a avaliação, é de responsabi-
cessos e produtos de seu projeto pedagógico e de sua ges- lidade do sistema o gerenciamento das necessidades de
tão educativa; melhoria detectadas.19
• Incentivar uma cultura avaliativa nos sistemas edu-
cativos, nas escolas e nos próprios sistemas de avaliação;
• Fomentar a reflexão e revisão das políticas educa-
cionais, pela possibilidade de análise dos desempenhos dos
diversos sistemas educativos do país. 19 Fonte: www.fcc.org.br – Por Léa Depresbiteris

117
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

As Licenciaturas em um contexto interdisciplinar:


AS LICENCIATURAS INTERDISCIPLINARES mudanças e perspectivas
COMO PARADIGMA ATUAL DA FORMAÇÃO Recentemente tivemos a aprovação das novas Diretri-
DOCENTE (MENÇÃO NO ART. 24 DA zes Curriculares para a Educação Básica, Resolução CNE/
CEB n° 04/2010 ‐ DCNEB, Parecer CNE/CEB nº 07/2010 e,
RESOLUÇÃO CNE/CP Nº. 2, DE 1º DE JULHO DE
mais recentemente para o Ensino Médio, a Resolução CNE/
2015). CEB n° 02/2012 – DCNEM e, o Parecer CNE/CEB nº 05/2011.
Estes documentos normativos trazem em seu texto um
novo panorama para a Educação Nacional, preconizando a
A melhoria da qualidade da formação docente implica necessidade de um ensino interdisciplinar, conforme pode-
no aprendizado de novas maneiras de ensinar e desenvol- mos observar, nas DCNEM:
ver estratégias de aprendizagem. A carência nacional de Art. 8º O currículo é organizado em áreas de conheci-
professores para atender à Educação Básica em todas as mento, a saber:
áreas de conhecimento, especialmente a da rede pública, I ‐ Linguagens;
tornou-se, no Brasil, um problema crônico tendo como II ‐ Matemática;
agravante a má formação docente, a qual repercute na bai- III ‐ Ciências da Natureza;
xa qualidade educacional e dos altos índices de evasão e IV ‐ Ciências Humanas.
repetência escolar no País. Essa realidade exige a participa- § 1º O currículo deve contemplar as quatro áreas do
ção da Universidade em projetos que objetivem mudanças conhecimento, com tratamento metodológico que eviden-
substanciais nesses indicadores, principalmente por meio cie a contextualização e a interdisciplinaridade ou outras
de uma atuação na Educação Básica, com qualidade social. formas de interação e articulação entre diferentes campos
As discussões e pesquisas sobre formação de profes- de saberes específicos. (BRASIL, 2012, pág. 2‐3)
sores em nível superior não são novas, mas ainda são um Aparece também a necessidade de um ensino interdis-
desafio, pois implicam compreender e discutir as concep- ciplinar nas DCNEB:
ções de formação, as condições de trabalho, a carreira dos Art 13º (...) § 3º(...) III – escolha da abordagem didá-
professores, sua configuração identitária profissional den- tico‐pedagógica disciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar
tre outros elementos. ou transdisciplinar pela escola, que oriente o projeto polí-
Ademais, discutir a formação de professores implica em tico‐pedagógico e resulte de pacto estabelecido entre os
questões de múltiplas naturezas com enfoques políticos, profissionais da escola, conselhos escolares e comunidade,
epistemológicos, culturais e profissionais, constituindo‐se subsidiando a organização da matriz curricular, a definição
assim um processo multifacetado que demanda estudos e de eixos temáticos e a constituição de redes de aprendiza-
pesquisas nestes diversos enfoques. gem; (BRASIL, 2010, s/p)
Sabemos que ao abranger a temática da formação Como podemos observar as politicas públicas que
docente de um modo geral, somos remetidos a um gran- implicam em reformas curriculares para educação básica
dioso volume de publicações e discussões de autores da apontam para a interdisciplinaridade.
área, tanto nacionais como internacionais, tais como: Tardif A partir destas novas orientações que regem a educa-
(2002, 2005), Nóvoa (1995a, 1995b) Alarcão (2001, 2007), ção nacional, observamos um movimento no sentido de
Zeichner (1993,2002), Garcia (1995), Pimenta (2002), Vei- repensar a formação de professores, conforme nos sinaliza
ga (2002), Freire (1983,2000), Diniz‐Pereira (2000), Freitas Ilma Passos Alencastro Veiga (2010) em sua obra intitulada:
(1999,2007), Sheibe (1999, 2002, 2004), Krahe (2000), Mello “A escola mudou. Que mude a formação de professores!”.
(2010). Todo esse contexto parece indicar que a proposição de
Para afirmar que a Formação de Professores se cons- um novo modelo de escola, provocada pela implementa-
titui campo de estudos, recorremos ao estudo de André ção das atuais políticas educacionais para as escolas pú-
(2010) baseado em Marcelo Garcia (1999). Segundo a au- blicas de Educação Básica, pode estar contribuindo de ma-
tora, Marcelo propõe cinco critérios para atestar a delimita- neira relevante para necessidade de repensar a formação
ção do campo de formação de professores, que são: inicial de professores.
(...) existência de um objeto próprio, uso de metodo- Demarcamos inclusive a orientação que o próprio do-
logia específica, uma comunidade de cientistas que define cumento apresenta:
um código de comunicação próprio e integração entre os Art 2º Estas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
participantes no desenvolvimento da pesquisa e reconhe- para a Educação Básica têm por objetivos: inciso III ‐ orien-
cimento da formação de professores como um elemento tar os cursos de formação inicial e continuada de docen-
fundamental na qualidade da ação educativa. (MARCELO, tes e demais profissionais da Educação Básica, os sistemas
1999, p. 24 ‐26 apud ANDRÉ, 2010, p.175). educativos dos diferentes entes federados e as escolas que
Ademais, pesquisas sobre este campo de estudos “For- os integram, indistintamente da rede a que pertençam
mação de professores” tornam‐se importante, pois segun- (Brasil, 2010,s/p)
do André (2010) seus resultados contribuem como subsí- Assim pensamos nas Licenciaturas Interdisciplinares
dios para formulação de políticas públicas, além de aferir como uma nova perspectiva de formação de professores, à
reconhecimento à formação de professores como elemen- luz das novas diretrizes para Educação Básica e Ensino Mé-
to fundamental para uma escola pública de qualidade. dio, bem como os novos contextos da educação nacional.

118
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Embora tenhamos ressaltado o aspecto da interdisci- A discussão sobre a interdisciplinaridade na formação


plinaridade na legislação da Educação Básica, esta orienta- de professores de nível superior, também não é recente
ção para os currículos não é recente. sendo observado um adensamento nestes estudos partir
Se observarmos as legislações anteriores1 percebemos dos anos 2000.
uma orientação para que a escola se organize de forma a con- Nosso entendimento é de que a partir da aprovação
templar a interdisciplinaridade, na organização do seu currículo, da Resolução CNE/CP 1/2002, que institui as Diretrizes Cur-
em sua metodologia. Basta lembrarmo‐nos também dos Parâ- riculares Nacionais para Formação de Professores da Edu-
metros Curriculares Nacionais ‐ PCNs. cação Básica3, em nível superior, em curso de licenciatura,
A professora Ivani Fazenda, grande estudiosa da temáti- de graduação plena, houve um aumento no surgimento de
ca no Brasil e coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa cursos que pautam sua organização a partir da interdisci-
sobre Interdisciplinaridade, nos afirma que investiga a temá- plinaridade.
tica há 30 anos, “Fecunda produção teórica, porém difícil de Ademais, também tivemos reformulações nas políticas
ser implementada, porque infelizmente o rito das cabeças de Educação Superior. No Brasil, a aprovação da LDB nº
deformadas pelo acúmulo de conteúdos ainda impera” (FA- 9.694/96, que revogou a antiga lei nº 5.540/68, (e também
ZENDA, 2006, p. 9) a Lei 5692/71) apresenta uma nova configuração para a
Ocorre que estas pesquisas procuram investigar principal- Educação Superior do país.
mente as práticas realizadas pelos professores bem como a con- Atualmente, percebemos uma ênfase nesta reconfigu-
cepção adotada por estes do que seja a interdisciplinaridade. ração quando o decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007,
Ao desenvolver nossos estudos buscando acrescentar implanta o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação
e Expansão das Universidades Federais – REUNI. Este pro-
dados à construção de uma teoria da Interdisciplinaridade na
grama, dentre suas ações, apresenta uma significativa vin-
Educação investigamos sistematicamente o cotidiano de pro-
culação de recursos às propostas de renovação acadêmica:
fessores do ensino fundamental, médio e superior. (FAZENDA e
“As universidades devem exercer sua autonomia insti-
FERREIRA, 2013, p18) tucional para propor cursos novos, 3 Antecedida pelo Pare-
Garcia (2006) já nos chamava a atenção para o fato de cons- cer CNE/CP 09/2001. Estes documentos normativos trazem
tar na literatura muitos estudos sobre o conceito da interdisci- em seu texto a orientação para a organização da matriz
plinaridade e poucos dando visibilidade às práticas realizadas. curricular do curso a partir da dimensão da interdisciplina-
Neste mesmo artigo ele vai chamar de “práticas invisíveis”, ridade, dentre outras.
as práticas interdisciplinares que estão presentes nas escolas, Outro marco importante para a Educação Superior
mas que não tem visibilidade. E chama também de “práticas no país é a proposta da Universidade Nova, gestada por
invisíveis”, o que não acontece na escola acerca da interdiscipli- Naomar de Almeida Filho na Universidade Federal da Bah-
naridade. Devido aos inúmeros estudos, pesquisas, publicações ia (UFBA), depois estendida para Universidade Federal do
sobre a interdisciplinaridade, esta deveria estar muito mais pre- ABC (UFABC). Esta proposta de universidade marca a for-
sente nas escolas, o que infelizmente não ocorre. mação para interdisciplinaridade.
Diante do contexto apresentado, vale refletir: Já temos um Podemos observar a partir dos apontamentos acima
acúmulo de produção sobre interdisciplinaridade, já temos uma que a normatização referente à formação de professores
legislação que orienta a ação da escola de Educação Básica para em nível superior4, tem fomentado a criação ou reformula-
um ensino interdisciplinar, por que efetivamente ainda se vê ção dos cursos pautados pela flexibilização curricular e pela
pouco da interdisciplinaridade na escola? interdisciplinaridade.
Podemos arrazoar que ainda não estamos pensando na Assim encontramos na literatura estudos de cursos de
formação deste professor que atua na escola. Será que po- formação de professores em nível superior – principalmen-
demos requerer mais práticas interdisciplinares na escola se te cursos de Pedagogia e Educação no Campo ‐, que se
o professor não recebe esta formação? Será que os cursos de organizam a partir de eixos ou temas interdisciplinares.
formação disciplinar conseguirão formar para uma perspectiva Percebemos então a quase inexistência da perspectiva
interdisciplinar? (GARCIA, 2006). interdisciplinar na Educação Superior, em cursos de licen-
É este o viés que buscamos discutir neste estudo. Não apro- ciaturas por áreas de conhecimento.
fundaremos as discussões no sentido de problematizar o con- Novamente encontramos uma limitação dos estudos e
das pesquisas e defendemos ser necessário demarcar essa
ceito da interdisciplinaridade. Ressaltamos que nossa intenção
lacuna sobre o processo de formação interdisciplinar nas
neste estudo é demarcar a lacuna de estudos e pesquisas na
demais licenciaturas.
sobre a formação interdisciplinar do professor, ou seja, sobre o
processo de formação e não a prática pedagógica desenvolvida. As Licenciaturas Interdisciplinares
Diante do contexto exposto até o momento, gostaría-
Sobre a interdisciplinaridade na formação de professo- mos então de nos debruçarmos brevemente sobre os cur-
res sos de formação inicial de professores caracterizados como
Conforme procuramos apresentar anteriormente, os estu- Licenciaturas Interdisciplinares.
dos e pesquisas sobre a temática interdisciplinar não são Podemos dizer que as Licenciaturas Interdisciplinares
recentes e, concentram‐se principalmente nos estudos das são cursos de formação em nível superior para professores
práticas interdisciplinares dos professores e na definição de que podem ser organizadas por áreas do conhecimento,
um conceito. por temas ou eixos temáticos.

119
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

As Licenciaturas Interdisciplinares constituem atual- das políticas mundiais, em todas as áreas. É um contexto
mente uma nova perspectiva para a formação de professo- que sofreu e ainda sofre com as implicações de um novo
res da Educação Básica, tanto que muitas universidades fe- modelo de acumulação do capital, traçadas já no séc. XX.
derais estão oferecendo cursos de licenciaturas nessa nova As discussões acerca das políticas de formação de professores
arquitetura curricular. conduzem ao entendimento de que tais políticas são baliza-
Cursos de Lis em desenvolvimento no país: das pelas estratégias econômicas de ordem neoliberal. Por
• Universidade Federal do Maranhão sentirmos em nossa sociedade atual as implicações e influên-
• Universidade Federal de Roraima cia das estratégias econômicas adotadas ao longo do séc. XX
• Universidade Federal do Mato Grosso considera‐se relevante analisar tal momento histórico, desta-
• Universidade Federal dos Vales de Jequitinhonha e Mucuri cando, deste período, as políticas educacionais e priorizando,
• Universidade Federal de Juiz de Fora como base desta discussão, as políticas de formação de pro-
• Universidade Federal do ABC (em projeto) fessores. Interessa destacar a importância de se compreender
• Universidade Federal do Oeste do Pará a natureza e o sentido que este processo assume, na tentativa
• UNILAB (em projeto) de explicitar os fundamentos orientadores das propostas ofi-
• Universidade Federal da Bahia ciais de formação docente.
• Universidade Federal do Pampa Destas discussões Gentili afirma: (1996, p.16):
• Universidade Federal do Paraná A possibilidade de conhecer e reconhecer a lógica dis-
• Universidade Federal da Integração Latino‐americana cursiva do neoliberalismo obviamente não é suficiente para
• Universidade Federal da Fronteira Sul frear a força persuasiva de sua retórica. No entanto pode
• E outras. ajudar‐nos a desenvolver mais e melhores estratégias de
Como cursos de formação de professores, é necessá- luta contra as intensas dinâmicas de exclusão social promo-
rio considerar as normativas legais, Resolução CNE/CP n° vida por tais políticas.
1/2002, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para Parte‐se do final do século XX, a fim de explicitar como
a Formação de Professores da Educação Básica (DCNFPEB) é possível, na atual sociedade, perceber as implicações e
e o Parecer CNE/CP n° 09/2001, pois são documentos que influências das estratégias econômicas adotadas naquele
normatizam a formação docente no país, requerendo obri- período, pois conforme afirma Peroni:
gatoriedade de seu cumprimento. Na referida resolução, em Os anos de 1990 ficaram marcados, para os países da
seu artigo 14 encontramos a orientação: América Latina, como aqueles em que se aprofundou o pro-
Art. 14. Nestas Diretrizes, é enfatizada a flexibilidade ne- cesso de inserção no mercado globalizado e pela aplicação
cessária, de modo que cada instituição formadora construa das políticas neoliberais (2003, p.11).
projetos inovadores e próprios, integrando os eixos articula- As discussões deste período particular do capitalismo
dores nelas mencionados. centram‐se na redefinição das políticas mundiais – que
§ 1º A flexibilidade abrangerá as dimensões teóricas e busca novos modelos de acumulação; redefinição do papel
práticas, de interdisciplinaridade, dos conhecimentos a se- do Estado, atingindo diretamente os países e suas políticas
rem ensinados, dos que fundamentam a ação pedagógica, mais direcionadas para o atendimento da população, e al-
da formação comum e específica, bem como dos diferentes terações nas políticas públicas de educação. A educação,
âmbitos do conhecimento e da autonomia intelectual e pro- nesse novo modelo, é entendida como importante ferra-
fissional. (BRASIL. RESOLUÇÃO CNE/CP 1, 2002, p. 6) menta para o desenvolvimento, sendo destacado o papel
As atuais propostas curriculares nacionais para formação da escolarização básica e a formação dos professores que
de professores evidenciam a preocupação com a flexibiliza- atuam nesse nível.
ção e, em especial, a interdisciplinaridade. Inicialmente, é importante registrar que os estudos
Conforme análise de Krahe (2000), as outras reformas apontam que em nenhuma outra época se presenciou um
educacionais, ou seja, período até 1990 privilegiavam um en- contingente de reformas educacionais desta ordem, não só
sino baseado na racionalidade técnica, voltado basicamente no Brasil, mas também nos demais países da América Lati-
ao ensino de métodos e técnicas de ensino nos cursos de na. Também não se pode afirmar que este foi um processo
formação de professores. limitado a uma determinada época, década de 1990, pois
Ao tentar compreender como se constitui as Licencia- ainda hoje vivenciamos um contexto reformista.
turas Interdisciplinares é necessário buscar compreender Buscamos em autores como Oliveira (2003); Maúes
o contexto no qual estão inseridas. Para isso entendemos (2003) Tommasi (1996), Shiroma, Moraes, Evangelista (2004),
como necessário a análise do contexto global e o contexto Gentili, Silva (1994,1996), a constatação de que as reformas
nacional em que foram e têm sido produzidas as Licenciatu- educacionais efetivadas no Brasil, desde os anos de 1990 até
ras Interdisciplinares, bem como compreender as decisões e os dias atuais, procuraram traduzir as demandas postas pela
ações em torno da produção desta perspectiva de formação. lógica do capital e pela ideologia neoliberal, exigindo maior
Torna‐se necessário mapear o contexto sócio histórico eficiência e produtividade dos trabalhadores a fim de que
em que se encontram. eles se adaptem mais facilmente às exigências do mercado.
Preliminarmente, é possível afirmar que o momento real Considerando a análise exposta, é possível afirmar que
no qual as Licenciaturas Interdisciplinares se encontram é um existe uma relação direta entre a globalização da economia,
período particular do capitalismo, que busca novos mode- a necessidade de regulação do Estado, a reforma na educa-
los de acumulação, centrando suas ações na redefinição ção e políticas de valorização e formação docente.

120
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Podemos pensar nas Licenciaturas Interdisciplinares


como uma forma de atender a esta demanda de flexibiliza- LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL:
ção e produtividade, na medida em que habita o professor A) CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 (ARTIGO
egresso deste curso a atuar numa área do conhecimento, por
N° 205 AO N° 214);
exemplo, Ciências da Natureza e trabalhar com química, física
e biologia.
Ao nos propormos discutir a formação inicial dos profes-
sores, olhando para as Licenciaturas Interdisciplinares, sabía- Direito à educação (artigos 205 a 214)
mos que estávamos adentrando numa área muito incipiente
e que encontraríamos muito mais dúvidas e questionamentos CAPÍTULO III
a certezas e respostas. DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO
Pensar a formação interdisciplinar do professor é um de-
safio, pois requer analisar os elementos que produzem esta Seção I
formação enquanto ela ainda está sendo implementada. En- DA EDUCAÇÃO
contramos muitos estudos sobre as práticas interdisciplinares
e sobre a conceituação do que seja a interdisciplinaridade, Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Esta-
mas não a proposta de uma formação de professores ado- do e da família, será promovida e incentivada com a cola-
tando este princípio. boração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento
As Licenciaturas Interdisciplinares podem ter sido produzi- da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
das pelos impactos das novas normatizações da Educação Básica qualificação para o trabalho.
nos cursos de formação de professores; podem ter sido produ-
zidas pelos impactos da reconfiguração da Educação Superior, e Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguin-
dai podemos pensar a partir da aprovação da LDB nº 9.694/96, tes princípios:
REUNI, impactos da Declaração do Processo de Bolonha. I - igualdade de condições para o acesso e permanência
Ainda podemos pensar que as Licenciaturas Interdiscipli- na escola;
nares podem ter sido produzidas pelos impactos do contexto II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divul-
socioeconômico, que impele à Educação, principalmente a gar o pensamento, a arte e o saber;
Educação Superior a formação de trabalhadores que se adap- III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas,
tem à ordem econômica vigente. e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
Nos ficam mais dúvidas que certezas: O que sabemos IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos
sobre as Licenciaturas Interdisciplinares? O que podemos oficiais;
mapear sobre esta perspectiva de formação de professores? V - valorização dos profissionais da educação escolar,
Que concepção de formação docente é possível inferir a partir garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso
deste estudo? O que estes estudos nos revelarão acerca das exclusivamente por concurso público de provas e títulos,
Licenciaturas Interdisciplinares e das políticas para formação aos das redes públicas; 
de professores? VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
Apesar destes questionamentos, temos algumas hipóte- VII - garantia de padrão de qualidade.
ses: a formação de professores pelas licenciaturas interdiscipli- VIII - piso salarial profissional nacional para os profis-
nares pode contribuir para uma mudança paradigmática nes- sionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. 
ta área; mesmo sem destituir as especialidades, esta formação Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de tra-
parece pretender romper limites disciplinares historicamente balhadores considerados profissionais da educação básica e
instituídos; as LIS demandarão não só a criação novos cursos, sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de
mas também de “novos professores”. seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do
A formação dos educadores, ao mesmo tempo em que Distrito Federal e dos Municípios. 
é uma possibilidade de efetivação da interdisciplinaridade, é
um desafio para sua concretização, pois há necessidade de re- Art. 207. As universidades gozam de autonomia didáti-
visitar os cursos de formação destes profissionais. Para tanto, co-científica, administrativa e de gestão financeira e pa-
a aproximação com as Universidades com é uma necessidade trimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade
constante e vemos que há um longo percurso a ser feito.20 entre ensino, pesquisa e extensão.
§ 1º É facultado às universidades admitir professores,
Resolução CNE/CP nº. 2, de 1º de julho de 2015 técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei.
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de
Art. 24. Os cursos de formação inicial de professores para pesquisa científica e tecnológica. 
a educação básica em nível superior, em cursos de licenciatu-
ra, organizados em áreas interdisciplinares, serão objeto de Art. 208. O dever do Estado com a educação será efeti-
regulamentação suplementar. vado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4
20 Fonte: www.xanpedsul.faed.udesc.br - Por Maria (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclu-
das Graças C. da S. M. Gonçalves Pinto/Aline Souza da Luz sive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram
Gonçalves Pinto acesso na idade própria; 

121
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

II - progressiva universalização do ensino médio gra- § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a


tuito;  União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios defini-
III - atendimento educacional especializado aos porta- rão formas de colaboração, de modo a assegurar a univer-
dores de deficiência, preferencialmente na rede regular de salização do ensino obrigatório. 
ensino; § 5º A educação básica pública atenderá prioritaria-
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às mente ao ensino regular. 
crianças até 5 (cinco) anos de idade; 
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes- Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca me-
quisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada nos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
um; nicípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita re-
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às sultante de impostos, compreendida a proveniente de trans-
condições do educando; ferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida
da educação básica, por meio de programas suplementares pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios,
de material didático escolar, transporte, alimentação e assis- ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não é conside-
tência à saúde.  rada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é di- governo que a transferir.
reito público subjetivo. § 2º Para efeito do cumprimento do disposto no
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo «caput» deste artigo, serão considerados os sistemas de
Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabi- ensino federal, estadual e municipal e os recursos aplica-
lidade da autoridade competente. dos na forma do art. 213.
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educan- § 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará
dos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, prioridade ao atendimento das necessidades do ensino
junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola. obrigatório, no que se refere a universalização, garantia
de padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano
Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendi- nacional de educação. 
das as seguintes condições: § 4º Os programas suplementares de alimentação e
I - cumprimento das normas gerais da educação na- assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão finan-
cional; ciados com recursos provenientes de contribuições sociais e
II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder outros recursos orçamentários.
Público. § 5º A educação básica pública terá como fonte adicio-
nal de financiamento a contribuição social do salário-e-
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ducação, recolhida pelas empresas na forma da lei. 
ensino fundamental, de maneira a assegurar formação § 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da
básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, contribuição social do salário-educação serão distribuídas
nacionais e regionais. proporcionalmente ao número de alunos matriculados na
§ 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, cons- educação básica nas respectivas redes públicas de ensino. 
tituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas
de ensino fundamental. Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às es-
§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado em colas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitá-
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas rias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que:
também a utilização de suas línguas maternas e processos I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem
próprios de aprendizagem. seus excedentes financeiros em educação;
II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra
Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder
nicípios organizarão em regime de colaboração seus sis- Público, no caso de encerramento de suas atividades.
temas de ensino. § 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser
§ 1º A União organizará o sistema federal de ensi- destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamen-
no e o dos Territórios, financiará as instituições de ensi- tal e médio, na forma da lei, para os que demonstrarem
no públicas federais e exercerá, em matéria educacional, insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e
função redistributiva e supletiva, de forma a garantir cursos regulares da rede pública na localidade da residência
equalização de oportunidades educacionais e padrão míni- do educando, ficando o Poder Público obrigado a investir
mo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e prioritariamente na expansão de sua rede na localidade.
financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios;  § 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estí-
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino mulo e fomento à inovação realizadas por universidades e/
fundamental e na educação infantil.  ou por instituições de educação profissional e tecnológica
§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritaria- poderão receber apoio financeiro do Poder Público. 
mente no ensino fundamental e médio. 

122
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de edu- didas as seguintes condições: I - cumprimento das normas
cação, de duração decenal, com o objetivo de articular o gerais da educação nacional; II - autorização e avaliação de
sistema nacional de educação em regime de colaboração qualidade pelo Poder Público”;
e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de imple- - “gratuidade do ensino público em estabelecimentos
mentação para assegurar a manutenção e desenvolvimento oficiais”, sendo esta a principal vertente de implementação
do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por do direito à educação pelo Estado;
meio de ações integradas dos poderes públicos das diferen- - “valorização dos profissionais da educação escolar,
tes esferas federativas que conduzam a: garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingres-
I - erradicação do analfabetismo; so exclusivamente por concurso público de provas e títu-
II - universalização do atendimento escolar; los, aos das redes públicas”, bem como “piso salarial pro-
III - melhoria da qualidade do ensino; fissional nacional para os profissionais da educação escolar
IV - formação para o trabalho; pública, nos termos de lei federal”, pois sem a valorização
V - promoção humanística, científica e tecnológica dos profissionais responsáveis pelo ensino será inatingível
do País. o seu aperfeiçoamento. Além disso, “a lei disporá sobre as
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos categorias de trabalhadores considerados profissionais da
públicos em educação como proporção do produto interno educação básica e sobre a fixação de prazo para a elabora-
bruto.  ção ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”
O artigo 6º da Constituição Federal menciona o direi- (artigo 206, parágrafo único, CF);
to à educação como um de seus direitos sociais. A educa- - “gestão democrática do ensino público, na forma da
ção proporciona o pleno desenvolvimento da pessoa, não lei”, remetendo ao direito de participação popular na toma-
apenas capacitando-a para o trabalho, mas também para da de decisões políticas referentes às atividades de ensino;
a vida social como um todo. Contudo, a educação tem um e
custo para o Estado, já que nem todos podem arcar com o - “garantia de padrão de qualidade”, posto que sem
custeio de ensino privado. qualidade de ensino é impossível atingir uma melhoria na
No título VIII, que aborda a ordem social, delimita-se a qualificação pessoal e profissional dos nacionais. 
questão da obrigação do Estado com relação ao direito à O ensino universitário encontra respaldo no artigo 207
educação, assim como menciona-se quais outros agentes da Constituição, tendo autonomia didático-científica, ad-
responsáveis pela efetivação deste direito. ministrativa e de gestão financeira e patrimonial, e sendo
Neste sentido, o artigo 205, CF, prevê: “A educação, di- baseado na tríade ensino-pesquisa-extensão, disciplina
reito de todos e dever do Estado e da família, será promovi- que se estende a instituições de pesquisa científica e tec-
da e incentivada com a colaboração da sociedade, visando nológica. Com vistas ao aperfeiçoamento desta tríade, au-
ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o toriza-se a contratação de profissionais estrangeiros.
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Enquanto que os artigos 205 e 206 da Constituição
Resta claro que a educação não é um dever exclusivo possuem uma menor densidade normativa, colacionando
do Estado, mas da sociedade como um todo e, principal- princípios diretores e ideias basilares, o artigo 208 volta-se
mente, da família. Depreende-se que educação vai além à regulamentação do modo pelo qual o Estado efetivará o
do mero aprendizado de conteúdos e envolve a educação direito à educação.
para a cidadania e o comportamento ético em sociedade Interessante notar, em primeira análise, que o Estado
– a educação da qual o constituinte fala não é apenas a se exime da obrigatoriedade no fornecimento de educação
formal, mas também a informal. superior, no art. 208, V, quando assegura, apenas, o “aces-
Por seu turno, o artigo 206 da Constituição estabelece so” aos níveis mais elevados de ensino, pesquisa e criação
os princípios que devem guiar o ensino: artística. Fica denotada ausência de comprometimento
- “igualdade de condições para o acesso e permanência orçamentário e infraestrutural estatal com um número su-
na escola”, que significa a compreensão de que a educação ficiente de universidades/faculdades públicas aptas a re-
é um direito de todos e não apenas dos mais favorecidos, cepcionar o maciço contingente de alunos que saem da
cabendo ao Estado investir para que os menos favorecidos camada básica de ensino, sendo, pois, clarividente exemplo
ingressem e permaneçam na escola; de aplicação da reserva do possível dentro da Constituição.
- “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar Ainda, é preciso observar que se utiliza a expressão “se-
o pensamento, a arte e o saber”, de forma que o ensino gundo a capacidade de cada um”, de forma que o critério
tem um caráter ativo e passivo, indo além da compreensão para admissão em universidades/faculdades públicas é, so-
de conteúdos dogmático se abrangendo também os pro- mente, pelo preparo intelectual do cidadão, a ser testado
cessos criativos; em avaliações com tal fito, como o vestibular e o exame
- “pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e nacional do ensino médio.
coexistência de instituições públicas e privadas de ensino”, O ensino básico possui conteúdos mínimos, fixados
de modo que não se entende haver um único método de nos moldes do artigo 210, CF. A menção do ensino religio-
ensino, uma única maneira de aprender, permitindo a ex- so como facultativo remete à laicidade do Estado, ao passo
ploração das atividades educacionais também por institui- que a menção ao ensino de línguas de povos indígenas
ções privadas. A respeito das instituições privadas, o artigo remete ao pluralismo político, fundamento da República
209, CF prevê que “o ensino é livre à iniciativa privada, aten- Federativa.

123
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

O artigo 211, CF trabalha com a organização e colabo- VI - gratuidade do ensino público em estabelecimen-
ração dos sistemas de ensino entre os entes federativos. tos oficiais;
Por sua vez, os artigos 212 e 213 da Constituição traba- VII - valorização do profissional da educação escolar;
lham com aspectos orçamentários: VIII - gestão democrática do ensino público, na forma
Encerrando a disciplina da educação, o artigo 214 tra- desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;
balha com o plano nacional de educação, de duração de- IX - garantia de padrão de qualidade;
cenal (na atualidade, estamos no início da implementação X - valorização da experiência extra-escolar;
do PNE cuja duração se estende até o ano de 202421), que XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e
tem metas ali descritas.  as práticas sociais.
XII - consideração com a diversidade étnico-ra-
cial.     (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)

B) LDB, ATUALIZADA ATÉ 30 DE SETEMBRO TÍTULO III


DE 2017 – LEI FEDERAL Nº 9.394, DE 20 DE Do Direito à Educação e do Dever de Educar
DEZEMBRO DE 1996 A LEI FEDERAL Nº 13.415,
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar públi-
DE 16 DE FEVEREIRO DE 2017;
ca será efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (qua-
tro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da se-
LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. guinte forma:    (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
a) pré-escola;     (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. b) ensino fundamental;    (Incluído pela Lei nº 12.796,
de 2013)
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o c) ensino médio;   (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cin-
co) anos de idade;   (Redação dada pela Lei nº 12.796, de
TÍTULO I 2013)
Da Educação III - atendimento educacional especializado gratuito
aos educandos com deficiência, transtornos globais do de-
Art. 1º A educação abrange os processos formativos senvolvimento e altas habilidades ou superdotação, trans-
que se desenvolvem na vida familiar, na convivência huma- versal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferen-
na, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos cialmente na rede regular de ensino;     (Redação dada pela
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas Lei nº 12.796, de 2013)
manifestações culturais. IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se de- e médio para todos os que não os concluíram na idade
senvolve, predominantemente, por meio do ensino, em própria;     (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
instituições próprias. V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes-
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo quisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada
do trabalho e à prática social. um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
TÍTULO II condições do educando;
Dos Princípios e Fins da Educação Nacional VII - oferta de educação escolar regular para jovens e
adultos, com características e modalidades adequadas às
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspi- suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos
rada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidarie- que forem trabalhadores as condições de acesso e perma-
dade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento nência na escola;
do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas
sua qualificação para o trabalho. da educação básica, por meio de programas suplementa-
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguin- res de material didático-escolar, transporte, alimentação e
tes princípios: assistência à saúde;     (Redação dada pela Lei nº 12.796,
I - igualdade de condições para o acesso e permanên- de 2013)
cia na escola; IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, defini-
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar dos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de
a cultura, o pensamento, a arte e o saber; insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; de ensino-aprendizagem.
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; X – vaga na escola pública de educação infantil ou de
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino fundamental mais próxima de sua residência a toda
ensino; criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de
21 http://pne.mec.gov.br/ idade.     (Incluído pela Lei nº 11.700, de 2008).

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 5o   O acesso à educação básica obrigatória é di- Art. 9º A União incumbir-se-á de:       (Regulamento)
reito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colabo-
de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, ração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
entidade de classe ou outra legalmente constituída e, ain- II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti-
da, o Ministério Público, acionar o poder público para exigi tuições oficiais do sistema federal de ensino e o dos Terri-
-lo.      (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) tórios;
§ 1o   O poder público, na esfera de sua competência III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados,
federativa, deverá:     (Redação dada pela Lei nº 12.796, de ao Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimen-
2013) to de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário
I - recensear anualmente as crianças e adolescentes em à escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistri-
idade escolar, bem como os jovens e adultos que não con- butiva e supletiva;
cluíram a educação básica;     (Redação dada pela Lei nº IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o
12.796, de 2013) Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes
II - fazer-lhes a chamada pública; para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequên- médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos míni-
cia à escola. mos, de modo a assegurar formação básica comum;
§ 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Públi- IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o
co assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obri- Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedimentos
gatório, nos termos deste artigo, contemplando em segui- para identificação, cadastramento e atendimento, na edu-
da os demais níveis e modalidades de ensino, conforme as cação básica e na educação superior, de alunos com altas
prioridades constitucionais e legais. habilidades ou superdotação; (Incluído pela Lei nº 13.234,
§ 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste de 2015)
artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a
na hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição Federal, educação;
sendo gratuita e de rito sumário a ação judicial correspon-  VI - assegurar processo nacional de avaliação do ren-
dente. dimento escolar no ensino fundamental, médio e superior,
§ 4º Comprovada a negligência da autoridade compe- em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando
tente para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do
poderá ela ser imputada por crime de responsabilidade. ensino;
§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e
de ensino, o Poder Público criará formas alternativas de pós-graduação;
acesso aos diferentes níveis de ensino, independentemente  VIII - assegurar processo nacional de avaliação das
da escolarização anterior. instituições de educação superior, com a cooperação dos
Art. 6o  É dever dos pais ou responsáveis efetuar a ma- sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de
trícula das crianças na educação básica a partir dos 4 (qua- ensino;
tro) anos de idade.     (Redação dada pela Lei nº 12.796, de IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
2013) avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de edu-
Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as cação superior e os estabelecimentos do seu sistema de
seguintes condições: ensino.       (Vide Lei nº 10.870, de 2004)
I - cumprimento das normas gerais da educação nacio- § 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Na-
nal e do respectivo sistema de ensino; cional de Educação, com funções normativas e de supervi-
II - autorização de funcionamento e avaliação de quali- são e atividade permanente, criado por lei.
dade pelo Poder Público; § 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a
III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o IX, a União terá acesso a todos os dados e informações
previsto no art. 213 da Constituição Federal. necessários de todos os estabelecimentos e órgãos edu-
cacionais.
TÍTULO IV § 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão
Da Organização da Educação Nacional ser delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que
mantenham instituições de educação superior.
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
nicípios organizarão, em regime de colaboração, os respec- I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e institui-
tivos sistemas de ensino. ções oficiais dos seus sistemas de ensino;
§ 1º Caberá à União a coordenação da política nacional II - definir, com os Municípios, formas de colaboração
de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e na oferta do ensino fundamental, as quais devem assegu-
exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em rar a distribuição proporcional das responsabilidades, de
relação às demais instâncias educacionais. acordo com a população a ser atendida e os recursos finan-
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organi- ceiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder
zação nos termos desta Lei. Público;

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao
em consonância com as diretrizes e planos nacionais de juiz competente da Comarca e ao respectivo representante
educação, integrando e coordenando as suas ações e as do Ministério Público a relação dos alunos que apresen-
dos seus Municípios; tem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e percentual permitido em lei.     (Incluído pela Lei nº 10.287,
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de edu- de 2001)
cação superior e os estabelecimentos do seu sistema de Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
ensino; I - participar da elaboração da proposta pedagógica do
V - baixar normas complementares para o seu sistema estabelecimento de ensino;
de ensino; II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a
VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem, III - zelar pela aprendizagem dos alunos;
respeitado o disposto no art. 38 desta Lei;    (Redação dada IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alu-
pela Lei nº 12.061, de 2009) nos de menor rendimento;
VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos,
estadual.       (Incluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003) além de participar integralmente dos períodos dedicados
Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento pro-
competências referentes aos Estados e aos Municípios. fissional;
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de: VI - colaborar com as atividades de articulação da es-
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti- cola com as famílias e a comunidade.
tuições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da
às políticas e planos educacionais da União e dos Estados; gestão democrática do ensino público na educação básica,
II - exercer ação redistributiva em relação às suas es- de acordo com as suas peculiaridades e conforme os se-
colas; guintes princípios:
III - baixar normas complementares para o seu sistema I - participação dos profissionais da educação na ela-
de ensino; boração do projeto pedagógico da escola;
IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabeleci- II - participação das comunidades escolar e local em
mentos do seu sistema de ensino; conselhos escolares ou equivalentes.
V - oferecer a educação infantil em creches e pré-es- Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unida-
colas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida des escolares públicas de educação básica que os integram
a atuação em outros níveis de ensino somente quando es- progressivos graus de autonomia pedagógica e adminis-
tiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área trativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais
de competência e com recursos acima dos percentuais mí- de direito financeiro público.
nimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção Art. 16. O sistema federal de ensino compreende:(Re-
e desenvolvimento do ensino. gulamento)
VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede I - as instituições de ensino mantidas pela União;
municipal.  (Incluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003) II - as instituições de educação superior criadas e man-
Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, tidas pela iniciativa privada;
por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor III - os órgãos federais de educação.
com ele um sistema único de educação básica. Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as Federal compreendem:
normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a in- I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente,
cumbência de: pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal;
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; II - as instituições de educação superior mantidas pelo
II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e Poder Público municipal;
financeiros; III - as instituições de ensino fundamental e médio cria-
III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas das e mantidas pela iniciativa privada;
-aula estabelecidas; IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Fe-
IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de deral, respectivamente.
cada docente; Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de
V - prover meios para a recuperação dos alunos de me- educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada,
nor rendimento; integram seu sistema de ensino.
VI - articular-se com as famílias e a comunidade, crian- Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreen-
do processos de integração da sociedade com a escola; dem:
VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus I - as instituições do ensino fundamental, médio e de
filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a fre- educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal;
quência e rendimento dos alunos, bem como sobre a exe- II - as instituições de educação infantil criadas e manti-
cução da proposta pedagógica da escola;   (Redação dada das pela iniciativa privada;
pela Lei nº 12.013, de 2009) III – os órgãos municipais de educação.

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes ní- Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e
veis classificam-se nas seguintes categorias administrati- médio, será organizada de acordo com as seguintes regras
vas:       (Regulamento)(Regulamento) comuns:
I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorpora- I - a carga horária mínima anual será de oitocentas
das, mantidas e administradas pelo Poder Público; horas para o ensino fundamental e para o ensino médio,
II - privadas, assim entendidas as mantidas e adminis- distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo
tradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado. trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames
Art. 20. As instituições privadas de ensino se enqua- finais, quando houver;    (Redação dada pela Lei nº 13.415,
drarão nas seguintes categorias:       (Regulamento)(Regu- de 2017)
lamento) II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a
I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as primeira do ensino fundamental, pode ser feita:
que são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas a) por promoção, para alunos que cursaram, com apro-
físicas ou jurídicas de direito privado que não apresentem veitamento, a série ou fase anterior, na própria escola;
as características dos incisos abaixo; b) por transferência, para candidatos procedentes de
II - comunitárias, assim entendidas as que são insti- outras escolas;
tuídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais c) independentemente de escolarização anterior, me-
pessoas jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, sem diante avaliação feita pela escola, que defina o grau de de-
fins lucrativos, que incluam na sua entidade mantenedora senvolvimento e experiência do candidato e permita sua
representantes da comunidade;      (Redação dada pela Lei inscrição na série ou etapa adequada, conforme regula-
nº 12.020, de 2009) mentação do respectivo sistema de ensino;
III - confessionais, assim entendidas as que são insti- III - nos estabelecimentos que adotam a progressão
tuídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais regular por série, o regimento escolar pode admitir formas
pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e de progressão parcial, desde que preservada a sequência
ideologia específicas e ao disposto no inciso anterior; do currículo, observadas as normas do respectivo sistema
IV - filantrópicas, na forma da lei. de ensino;
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alu-
TÍTULO V nos de séries distintas, com níveis equivalentes de adian-
Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensi- tamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras,
no artes, ou outros componentes curriculares;
CAPÍTULO I V - a verificação do rendimento escolar observará os
Da Composição dos Níveis Escolares seguintes critérios:
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do
Art. 21. A educação escolar compõe-se de: aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os
I - educação básica, formada pela educação infantil, quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre
ensino fundamental e ensino médio; os de eventuais provas finais;
II - educação superior. b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos
com atraso escolar;
CAPÍTULO II c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries me-
DA EDUCAÇÃO BÁSICA diante verificação do aprendizado;
Seção I d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
Das Disposições Gerais e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de pre-
ferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo
Art. 22. A educação básica tem por finalidades desen- rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições
volver o educando, assegurar-lhe a formação comum indis- de ensino em seus regimentos;
pensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios VI - o controle de frequência fica a cargo da escola,
para progredir no trabalho e em estudos posteriores. conforme o disposto no seu regimento e nas normas do
Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em sé- respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima
ries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para
de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na aprovação;
idade, na competência e em outros critérios, ou por forma VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históri-
diversa de organização, sempre que o interesse do proces- cos escolares, declarações de conclusão de série e diplo-
so de aprendizagem assim o recomendar. mas ou certificados de conclusão de cursos, com as espe-
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive cificações cabíveis.
quando se tratar de transferências entre estabelecimentos § 1º  A carga horária mínima anual de que trata o in-
situados no País e no exterior, tendo como base as normas ciso I do caput deverá ser ampliada de forma progressiva,
curriculares gerais. no ensino médio, para mil e quatrocentas horas, devendo
§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se às peculia- os sistemas de ensino oferecer, no prazo máximo de cinco
ridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério anos, pelo menos mil horas anuais de carga horária, a partir
do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o de 2 de março de 2017.   (Incluído pela Lei nº 13.415, de
número de horas letivas previsto nesta Lei. 2017)

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

§ 2o  Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de § 8º A exibição de filmes de produção nacional cons-
educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular, tituirá componente curricular complementar integrado à
adequado às condições do educando, conforme o inciso VI proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obri-
do art. 4o.   (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) gatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais.(Incluído
Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades res- pela Lei nº 13.006, de 2014)
ponsáveis alcançar relação adequada entre o número de § 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à pre-
alunos e o professor, a carga horária e as condições mate- venção de todas as formas de violência contra a criança
riais do estabelecimento. e o adolescente serão incluídos, como temas transversais,
Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino, nos currículos escolares de que trata o caput deste artigo,
à vista das condições disponíveis e das características re- tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990
gionais e locais, estabelecer parâmetro para atendimento (Estatuto da Criança e do Adolescente), observada a pro-
do disposto neste artigo. dução e distribuição de material didático adequado.  (In-
Art. 26.  Os currículos da educação infantil, do ensino cluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
fundamental e do ensino médio devem ter base nacional § 10.  A inclusão de novos componentes curriculares
comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino de caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curri-
e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diver- cular dependerá de aprovação do Conselho Nacional de
sificada, exigida pelas características regionais e locais da Educação e de homologação pelo Ministro de Estado da
sociedade, da cultura, da economia e dos educandos.   (Re- Educação.    (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
dação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) Art. 26-A.  Nos estabelecimentos de ensino funda-
§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem abran- mental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se
ger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e
matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e indígena.(Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008).
da realidade social e política, especialmente do Brasil. § 1o  O conteúdo programático a que se refere este ar-
§ 2o  O ensino da arte, especialmente em suas expres- tigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que
sões regionais, constituirá componente curricular obrigató- caracterizam a formação da população brasileira, a partir
rio da educação básica.    (Redação dada pela Lei nº 13.415,
desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história
de 2017)
da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos
§ 3o A educação física, integrada à proposta pedagógi-
indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira
ca da escola, é componente curricular obrigatório da edu-
e o negro e o índio na formação da sociedade nacional,
cação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno:    (Re-
resgatando as suas contribuições nas áreas social, econô-
dação dada pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)
mica e política, pertinentes à história do Brasil.  (Redação
I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a
dada pela Lei nº 11.645, de 2008).
seis horas;  (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)
§ 2o  Os conteúdos referentes à história e cultura afro
II – maior de trinta anos de idade; (Incluído pela Lei nº
10.793, de 1º.12.2003) -brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão minis-
III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, trados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial
em situação similar, estiver obrigado à prática da educação nas áreas de educação artística e de literatura e história
física; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) brasileiras. (Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008).
IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de ou- Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica
tubro de 1969;  (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) observarão, ainda, as seguintes diretrizes:
V – (VETADO)  (Incluído pela Lei nº 10.793, de I - a difusão de valores fundamentais ao interesse so-
1º.12.2003) cial, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao
VI – que tenha prole.(Incluído pela Lei nº 10.793, de bem comum e à ordem democrática;
1º.12.2003) II - consideração das condições de escolaridade dos
§ 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as alunos em cada estabelecimento;
contribuições das diferentes culturas e etnias para a forma- III - orientação para o trabalho;
ção do povo brasileiro, especialmente das matrizes indíge- IV - promoção do desporto educacional e apoio às
na, africana e européia. práticas desportivas não-formais.
§ 5o  No currículo do ensino fundamental, a partir do Art. 28. Na oferta de educação básica para a popu-
sexto ano, será ofertada a língua inglesa.    (Redação dada lação rural, os sistemas de ensino promoverão as adap-
pela Lei nº 13.415, de 2017) tações necessárias à sua adequação às peculiaridades da
§ 6o  As artes visuais, a dança, a música e o teatro são vida rural e de cada região, especialmente:
as linguagens que constituirão o componente curricular de I - conteúdos curriculares e metodologias apropria-
que trata o § 2o deste artigo.     (Redação dada pela Lei nº das às reais necessidades e interesses dos alunos da zona
13.278, de 2016) rural;
§ 7o  A integralização curricular poderá incluir, a critério II - organização escolar própria, incluindo adequação
dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às con-
os temas transversais de que trata o caput.   (Redação dada dições climáticas;
pela Lei nº 13.415, de 2017) III - adequação à natureza do trabalho na zona rural.

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Parágrafo único.  O fechamento de escolas do campo, III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,


indígenas e quilombolas será precedido de manifestação tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e
do órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que a formação de atitudes e valores;
considerará a justificativa apresentada pela Secretaria de IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços
Educação, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que
manifestação da comunidade escolar. (Incluído pela Lei nº se assenta a vida social.
12.960, de 2014) § 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o en-
sino fundamental em ciclos.
Seção II § 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regu-
Da Educação Infantil lar por série podem adotar no ensino fundamental o regi-
me de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do
Art. 29.  A educação infantil, primeira etapa da edu- processo de ensino-aprendizagem, observadas as normas do
cação básica, tem como finalidade o desenvolvimento in- respectivo sistema de ensino.
tegral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos § 3º O ensino fundamental regular será ministrado em
físico, psicológico, intelectual e social, complementando a língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a
ação da família e da comunidade.  (Redação dada pela Lei utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
nº 12.796, de 2013) aprendizagem.
Art. 30. A educação infantil será oferecida em: § 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensi-
I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de no a distância utilizado como complementação da aprendi-
até três anos de idade; zagem ou em situações emergenciais.
II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cin- § 5o  O currículo do ensino fundamental incluirá, obriga-
co) anos de idade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de toriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças e
2013) dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13
de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Ado-
Art. 31.  A educação infantil será organizada de acordo
lescente, observada a produção e distribuição de material
com as seguintes regras comuns:  (Redação dada pela Lei
didático adequado.    (Incluído pela Lei nº 11.525, de 2007).
nº 12.796, de 2013)
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído
I - avaliação mediante acompanhamento e registro do
como tema transversal nos currículos do ensino fundamen-
desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promo-
tal.      (Incluído pela Lei nº 12.472, de 2011).
ção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental;    (In-
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é
cluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
parte integrante da formação básica do cidadão e constitui
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensi-
horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias no fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural
de trabalho educacional;   (Incluído pela Lei nº 12.796, de religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.    
2013) (Redação dada pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997)
III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) § 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedi-
horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para mentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso
a jornada integral;   (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos
IV - controle de frequência pela instituição de educa- professores.   (Incluído pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997)
ção pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (ses- § 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, cons-
senta por cento) do total de horas; (Incluído pela Lei nº tituída pelas diferentes denominações religiosas, para a defi-
12.796, de 2013) nição dos conteúdos do ensino religioso.     (Incluído pela Lei
V - expedição de documentação que permita atestar os nº 9.475, de 22.7.1997)
processos de desenvolvimento e aprendizagem da crian- Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá
ça.    (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula,
sendo progressivamente ampliado o período de permanên-
Seção III cia na escola.
Do Ensino Fundamental § 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das
formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei.
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com dura- § 2º O ensino fundamental será ministrado progressiva-
ção de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando- mente em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino.
se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação
básica do cidadão, mediante:     (Redação dada pela Lei nº Seção IV
11.274, de 2006) Do Ensino Médio
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, ten-
do como meios básicos o pleno domínio da leitura, da es- Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica,
crita e do cálculo; com duração mínima de três anos, terá como finalidades:
II - a compreensão do ambiente natural e social, do I - a consolidação e o aprofundamento dos conheci-
sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em mentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando
que se fundamenta a sociedade; o prosseguimento de estudos;

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania § 8o  Os conteúdos, as metodologias e as formas de


do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser avaliação processual e formativa serão organizados nas re-
capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de des de ensino por meio de atividades teóricas e práticas,
ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; provas orais e escritas, seminários, projetos e atividades on
III - o aprimoramento do educando como pessoa hu- -line, de tal forma que ao final do ensino médio o educando
mana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da demonstre:    (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
autonomia intelectual e do pensamento crítico; I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que
IV - a compreensão dos fundamentos científico-tec- presidem a produção moderna;    (Incluído pela Lei nº 13.415,
nológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria de 2017)
com a prática, no ensino de cada disciplina. II - conhecimento das formas contemporâneas de lingua-
Art. 35-A.  A Base Nacional Comum Curricular defini- gem.   (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
rá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, Art. 36.  O currículo do ensino médio será composto pela
conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos,
nas seguintes áreas do conhecimento:      (Incluído pela Lei que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes
arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto
nº 13.415, de 2017)
local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber:       (Re-
I - linguagens e suas tecnologias;      (Incluído pela Lei
dação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
nº 13.415, de 2017)
I - linguagens e suas tecnologias;       (Redação dada pela
II - matemática e suas tecnologias;    (Incluído pela Lei
Lei nº 13.415, de 2017)
nº 13.415, de 2017) II - matemática e suas tecnologias;       (Redação dada pela
III - ciências da natureza e suas tecnologias;     (Incluído Lei nº 13.415, de 2017)
pela Lei nº 13.415, de 2017) III - ciências da natureza e suas tecnologias;(Redação dada
IV - ciências humanas e sociais aplicadas.      (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
pela Lei nº 13.415, de 2017) IV - ciências humanas e sociais aplicadas;       (Redação
§ 1o  A parte diversificada  dos  currículos  de  que  trata dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
o caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, de- V - formação técnica e profissional.      (Incluído pela Lei nº
verá estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular 13.415, de 2017)
e ser articulada a partir do contexto histórico, econômico, § 1o  A organização das áreas de que trata o caput e das res-
social, ambiental e cultural.     (Incluído pela Lei nº 13.415, pectivas competências e habilidades será feita de acordo com
de 2017) critérios estabelecidos em cada sistema de ensino.       (Reda-
§ 2o  A Base Nacional Comum Curricular referente ao ção dada pela Lei nº 13.415, de 2017) 
ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas I - (revogado);       (Redação dada pela Lei nº 13.415, de
de educação física, arte, sociologia e filosofia.    (Incluído 2017) 
pela Lei nº 13.415, de 2017) II - (revogado);   (Redação dada pela Lei nº 13.415, de
§ 3o  O ensino da língua portuguesa e da matemática 2017)
será obrigatório nos três anos do ensino médio, assegu- III – (revogado). (Redação dada pela Lei nº 11.684, de 2008)
rada às comunidades indígenas, também, a utilização das § 2º     (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008)
respectivas línguas maternas.    (Incluído pela Lei nº 13.415, § 3o  A critério dos sistemas de ensino, poderá ser com-
de 2017) posto itinerário formativo integrado, que se traduz na compo-
§ 4o  Os currículos do ensino médio incluirão, obriga- sição de componentes curriculares da Base Nacional Comum
toriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar Curricular - BNCC e dos itinerários formativos, considerando
outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferen- os incisos I a V do caput.      (Redação dada pela Lei nº 13.415,
de 2017)
cialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade de
§ 4º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008)
oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensi-
§ 5o  Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade
no.    (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do en-
§ 5o  A carga horária destinada ao cumprimento da
sino médio cursar mais um itinerário formativo de que trata
Base Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a o caput.      (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)  
mil e oitocentas horas do total da carga horária do ensino § 6o  A critério dos sistemas de ensino, a oferta de forma-
médio, de acordo com a definição dos sistemas de ensi- ção com ênfase técnica e profissional considerará:       (Incluído
no.    (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 6o  A União estabelecerá os padrões de desempenho I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor
esperados para o ensino médio, que serão referência nos produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo
processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos
Comum Curricular.    (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem profissio-
§ 7o  Os currículos do ensino médio deverão conside- nal;      (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) 
rar a formação integral do aluno, de maneira a adotar um II - a possibilidade de concessão de certificados interme-
trabalho voltado para a construção de seu projeto de vida diários de qualificação para o trabalho, quando a formação
e para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e so- for estruturada e organizada em etapas com terminalida-
cioemocionais.     (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) de.       (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) 

130
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

§ 7o  A oferta de formações experimentais relacionadas Parágrafo único.  A preparação geral para o trabalho e,
ao inciso V do caput, em áreas que não constem do Catá- facultativamente, a habilitação profissional poderão ser de-
logo Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua senvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio
continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conse- ou em cooperação com instituições especializadas em edu-
lho Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da in- cação profissional.    (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
serção no Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo Art. 36-B.  A educação profissional técnica de nível mé-
de cinco anos, contados da data de oferta inicial da forma- dio será desenvolvida nas seguintes formas:    (Incluído pela
ção.      (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)   Lei nº 11.741, de 2008)
§ 8o  A oferta de formação técnica e profissional a que I - articulada com o ensino médio;   (Incluído pela Lei nº
se refere o inciso V do caput, realizada na própria insti- 11.741, de 2008)
tuição ou em parceria com outras instituições, deverá ser II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha
aprovada previamente pelo Conselho Estadual de Educa- concluído o ensino médio.   (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
ção, homologada pelo Secretário Estadual de Educação e Parágrafo único.  A educação profissional técnica de ní-
certificada pelos sistemas de ensino.       (Incluído pela Lei vel médio deverá observar:     (Incluído pela Lei nº 11.741,
nº 13.415, de 2017)  de 2008)
§ 9o  As instituições de ensino emitirão certificado com I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes cur-
validade nacional, que habilitará o concluinte do ensino riculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de
médio ao prosseguimento dos estudos em nível superior Educação;     (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
ou em outros cursos ou formações para os quais a con- II - as normas complementares dos respectivos siste-
clusão do ensino médio seja etapa obrigatória.      (Incluído mas de ensino;    (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
pela Lei nº 13.415, de 2017)   III - as exigências de cada instituição de ensino, nos
§ 10.  Além das formas de organização previstas no art. termos de seu projeto pedagógico.  (Incluído pela Lei nº
23, o ensino médio poderá ser organizado em módulos e 11.741, de 2008)
adotar o sistema de créditos com terminalidade específi- Art. 36-C.  A educação profissional técnica de nível mé-
ca.      (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)  dio articulada, prevista no inciso I do caput  do art. 36-B
§ 11.  Para efeito de cumprimento das exigências cur- desta Lei, será desenvolvida de forma: (Incluído pela Lei nº
riculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão 11.741, de 2008)
reconhecer competências e firmar convênios com institui-
I - integrada, oferecida somente a quem já tenha con-
ções de educação a distância com notório reconhecimento,
cluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de
mediante as seguintes formas de comprovação:      (Incluí-
modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica
do pela Lei nº 13.415, de 2017)  
de nível médio, na mesma instituição de ensino, efetuan-
I - demonstração prática;       (Incluído pela Lei nº
do-se matrícula única para cada aluno; (Incluído pela Lei nº
13.415, de 2017)
11.741, de 2008)
II - experiência de trabalho supervisionado ou outra
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino
experiência adquirida fora do ambiente escolar;       (Incluí-
do pela Lei nº 13.415, de 2017) médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrículas dis-
III - atividades de educação técnica oferecidas em ou- tintas para cada curso, e podendo ocorrer: (Incluído pela Lei
tras instituições de ensino credenciadas;      (Incluído pela nº 11.741, de 2008)
Lei nº 13.415, de 2017)  a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as
IV - cursos oferecidos por centros ou programas ocu- oportunidades educacionais disponíveis; (Incluído pela Lei
pacionais;      (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)  nº 11.741, de 2008)
V - estudos realizados em instituições de ensino na- b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se
cionais ou estrangeiras;      (Incluído pela Lei nº 13.415, de as oportunidades educacionais disponíveis;  (Incluído pela
2017)  Lei nº 11.741, de 2008)
VI - cursos realizados por meio de educação a distância c) em instituições de ensino distintas, mediante convê-
ou educação presencial mediada por tecnologias.      (In- nios de intercomplementaridade, visando ao planejamento
cluído pela Lei nº 13.415, de 2017)  e ao desenvolvimento de projeto pedagógico unificado. (In-
§ 12.  As escolas deverão orientar os alunos no pro- cluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
cesso de escolha das áreas de conhecimento ou de atua- Art. 36-D.  Os diplomas de cursos de educação profis-
ção profissional previstas no caput.      (Incluído pela Lei nº sional técnica de nível médio, quando registrados, terão va-
13.415, de 2017) lidade nacional e habilitarão ao prosseguimento de estudos
na educação superior.(Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
Seção IV-A Parágrafo único.  Os cursos de educação profissional
Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio técnica de nível médio, nas formas articulada concomitan-
(Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) te e subsequente, quando estruturados e organizados em
etapas com terminalidade, possibilitarão a obtenção de cer-
Art. 36-A.  Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste tificados de qualificação para o trabalho após a conclusão,
Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral do com aproveitamento, de cada etapa que caracterize uma
educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões qualificação para o trabalho.  (Incluído pela Lei nº 11.741,
técnicas.   (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) de 2008)

131
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Seção V Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em


Da Educação de Jovens e Adultos articulação com o ensino regular ou por diferentes estraté-
gias de educação continuada, em instituições especializa-
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada das ou no ambiente de trabalho.    (Regulamento)(Regula-
àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos mento)       (Regulamento)
no ensino fundamental e médio na idade própria. Art. 41.  O conhecimento adquirido na educação pro-
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente fissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser
aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os es- objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para
tudos na idade regular, oportunidades educacionais apro- prosseguimento ou conclusão de estudos.  (Redação dada
priadas, consideradas as características do alunado, seus in- pela Lei nº 11.741, de 2008)
teresses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos Art. 42.  As instituições de educação profissional e tec-
e exames. nológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula
e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao
integradas e complementares entre si. nível de escolaridade.  (Redação dada pela Lei nº 11.741,
§ 3o  A educação de jovens e adultos deverá articular-se, de 2008)
preferencialmente, com a educação profissional, na forma
do regulamento. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) CAPÍTULO IV
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exa- DA EDUCAÇÃO SUPERIOR
mes supletivos, que compreenderão a base nacional comum
do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em Art. 43. A educação superior tem por finalidade:
caráter regular. I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do
§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: espírito científico e do pensamento reflexivo;
I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhe-
maiores de quinze anos; cimento, aptos para a inserção em setores profissionais e
II - no nível de conclusão do ensino médio, para os para a participação no desenvolvimento da sociedade bra-
maiores de dezoito anos. sileira, e colaborar na sua formação contínua;
§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação cien-
educandos por meios informais serão aferidos e reconheci- tífica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e
dos mediante exames. da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o
entendimento do homem e do meio em que vive;
CAPÍTULO III IV - promover a divulgação de conhecimentos cultu-
rais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da
DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
humanidade e comunicar o saber através do ensino, de pu-
Da Educação Profissional e Tecnológica
blicações ou de outras formas de comunicação;
(Redação dada pela Lei nº 11.741, de 2008)
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento
cultural e profissional e possibilitar a correspondente con-
Art. 39.  A educação profissional e tecnológica, no cum-
cretização, integrando os conhecimentos que vão sendo
primento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos
adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do
diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões conhecimento de cada geração;
do trabalho, da ciência e da tecnologia.  (Redação dada pela VI - estimular o conhecimento dos problemas do mun-
Lei nº 11.741, de 2008) do presente, em particular os nacionais e regionais, prestar
§ 1o  Os cursos de educação profissional e tecnológi- serviços especializados à comunidade e estabelecer com
ca poderão ser organizados por eixos tecnológicos, possi- esta uma relação de reciprocidade;
bilitando a construção de diferentes itinerários formativos, VII - promover a extensão, aberta à participação da
observadas as normas do respectivo sistema e nível de ensi- população, visando à difusão das conquistas e benefícios
no. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e
§ 2o  A educação profissional e tecnológica abrangerá os tecnológica geradas na instituição.
seguintes cursos:(Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) VIII - atuar em favor da universalização e do aprimora-
I – de formação inicial e continuada ou qualificação pro- mento da educação básica, mediante a formação e a capa-
fissional;(Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) citação de profissionais, a realização de pesquisas pedagó-
II – de educação profissional técnica de nível médio; (In- gicas e o desenvolvimento de atividades de extensão que
cluído pela Lei nº 11.741, de 2008) aproximem os dois níveis escolares.  (Incluído pela Lei nº
III – de educação profissional tecnológica de graduação 13.174, de 2015)
e pós-graduação. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes
§ 3o  Os cursos de educação profissional tecnológica de cursos e programas:       (Regulamento)
graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que con- I - cursos sequenciais por campo de saber, de dife-
cerne a objetivos, características e duração, de acordo com rentes níveis de abrangência, abertos a candidatos que
as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Con- atendam aos requisitos estabelecidos pelas instituições de
selho Nacional de Educação.     (Incluído pela Lei nº 11.741, ensino, desde que tenham concluído o ensino médio ou
de 2008) equivalente;    (Redação dada pela Lei nº 11.632, de 2007).

132
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

II - de graduação, abertos a candidatos que tenham estudantes, comutar as penalidades previstas nos § 1o e §
concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido 3o em outras medidas, desde que adequadas para a supe-
classificados em processo seletivo; ração das deficiências e irregularidades constatadas.   (In-
III - de pós-graduação, compreendendo programas de cluído pela Medida Provisória nº 785, de 2017)
mestrado e doutorado, cursos de especialização, aperfei- Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, in-
çoamento e outros, abertos a candidatos diplomados em dependente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias
cursos de graduação e que atendam às exigências das ins- de trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado
tituições de ensino; aos exames finais, quando houver.
IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam § 1o  As instituições informarão aos interessados, antes
aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas institui- de cada período letivo, os programas dos cursos e demais
ções de ensino. componentes curriculares, sua duração, requisitos, qualifi-
§ 1º. Os resultados do processo seletivo referido no cação dos professores, recursos disponíveis e critérios de
inciso II do caput deste artigo serão tornados públicos avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condi-
pelas instituições de ensino superior, sendo obrigatória a ções, e a publicação deve ser feita, sendo as 3 (três) primei-
divulgação da relação nominal dos classificados, a respec- ras formas concomitantemente: (Redação dada pela lei nº
tiva ordem de classificação, bem como do cronograma das 13.168, de 2015)
chamadas para matrícula, de acordo com os critérios para I - em página específica na internet no sítio eletrônico
preenchimento das vagas constantes do respectivo edi- oficial da instituição de ensino superior, obedecido o se-
tal.    (Incluído pela Lei nº 11.331, de 2006)   (Renumerado guinte:  (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
do parágrafo único para § 1º pela Lei nº 13.184, de 2015) a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter
§ 2º No caso de empate no processo seletivo, as ins- como título “Grade e Corpo Docente”;   (Incluída pela lei nº
tituições públicas de ensino superior darão prioridade de 13.168, de 2015)
matrícula ao candidato que comprove ter renda familiar b) a página principal da instituição de ensino superior,
inferior a dez salários mínimos, ou ao de menor renda fa- bem como a página da oferta de seus cursos aos ingres-
miliar, quando mais de um candidato preencher o critério santes sob a forma de vestibulares, processo seletivo e ou-
inicial.    (Incluído pela Lei nº 13.184, de 2015) tras com a mesma finalidade, deve conter a ligação desta
com a página específica prevista neste inciso;    (Incluída
§ 3o  O processo seletivo referido no inciso II consi-
pela lei nº 13.168, de 2015)
derará as competências e as habilidades definidas na Base
c) caso a instituição de ensino superior não possua sítio
Nacional Comum Curricular.   (Incluído pela lei nº 13.415,
eletrônico, deve criar página específica para divulgação das
de 2017)
informações de que trata esta Lei;     (Incluída pela lei nº
Art. 45. A educação superior será ministrada em insti-
13.168, de 2015)
tuições de ensino superior, públicas ou privadas, com va-
d) a página específica deve conter a data completa de
riados graus de abrangência ou especialização.      (Regula-
sua última atualização;  (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
mento)(Regulamento) II - em toda propaganda eletrônica da instituição de
Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, ensino superior, por meio de ligação para a página referida
bem como o credenciamento de instituições de educação no inciso I;   (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
superior, terão prazos limitados, sendo renovados, periodi- III - em local visível da instituição de ensino superior e
camente, após processo regular de avaliação. (Regulamen- de fácil acesso ao público;   (Incluído pela lei nº 13.168, de
to)(Regulamento)       (Vide Lei nº 10.870, de 2004) 2015)
§ 1º Após um prazo para saneamento de deficiências IV - deve ser atualizada semestralmente ou anualmen-
eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere te, de acordo com a duração das disciplinas de cada cur-
este artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, con- so oferecido, observando o seguinte:   (Incluído pela lei nº
forme o caso, em desativação de cursos e habilitações, 13.168, de 2015)
em intervenção na instituição, em suspensão temporária a) caso o curso mantenha disciplinas com duração di-
de prerrogativas da autonomia, ou em descredenciamen- ferenciada, a publicação deve ser semestral;   (Incluída pela
to.  (Regulamento)(Regulamento)  (Vide Lei nº 10.870, de lei nº 13.168, de 2015)
2004) b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do
§ 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo início das aulas;   (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
responsável por sua manutenção acompanhará o processo c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo
de saneamento e fornecerá recursos adicionais, se necessá- docente até o início das aulas, os alunos devem ser comu-
rios, para a superação das deficiências. nicados sobre as alterações;   (Incluída pela lei nº 13.168,
§ 3o  No caso de instituição privada, além das sanções de 2015)
previstas no § 1o, o processo de reavaliação poderá resul- V - deve conter as seguintes informações:   (Incluído
tar também em redução de vagas autorizadas, suspensão pela lei nº 13.168, de 2015)
temporária de novos ingressos e de oferta de cursos.    (In- a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição
cluído pela Medida Provisória nº 785, de 2017) de ensino superior;     (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
§ 4o  É facultado ao Ministério da Educação, median- b) a lista das disciplinas que compõem a grade curricu-
te procedimento específico e com a aquiescência da insti- lar de cada curso e as respectivas cargas horárias;    (Incluí-
tuição de ensino, com vistas a resguardar o interesse dos da pela lei nº 13.168, de 2015)

133
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

c) a identificação dos docentes que ministrarão as au- I - produção intelectual institucionalizada mediante o
las em cada curso, as disciplinas que efetivamente minis- estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes,
trará naquele curso ou cursos, sua titulação, abrangendo a tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regio-
qualificação profissional do docente e o tempo de casa do nal e nacional;
docente, de forma total, contínua ou intermitente.  (Incluí- II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titu-
da pela lei nº 13.168, de 2015) lação acadêmica de mestrado ou doutorado;
§ 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveita- III - um terço do corpo docente em regime de tempo
mento nos estudos, demonstrado por meio de provas e integral.
outros instrumentos de avaliação específicos, aplicados Parágrafo único. É facultada a criação de universidades
por banca examinadora especial, poderão ter abreviada a especializadas por campo do saber.(Regulamento)(Regula-
duração dos seus cursos, de acordo com as normas dos mento)
sistemas de ensino. Art. 53. No exercício de sua autonomia, são assegura-
§ 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores, das às universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes
salvo nos programas de educação a distância. atribuições:
§ 4º As instituições de educação superior oferecerão, I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e
no período noturno, cursos de graduação nos mesmos programas de educação superior previstos nesta Lei, obe-
padrões de qualidade mantidos no período diurno, sendo decendo às normas gerais da União e, quando for o caso,
obrigatória a oferta noturna nas instituições públicas, ga- do respectivo sistema de ensino;   (Regulamento)
rantida a necessária previsão orçamentária. II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, ob-
Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhe- servadas as diretrizes gerais pertinentes;
cidos, quando registrados, terão validade nacional como III - estabelecer planos, programas e projetos de pes-
prova da formação recebida por seu titular. quisa científica, produção artística e atividades de extensão;
§ 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão IV - fixar o número de vagas de acordo com a capaci-
por elas próprias registrados, e aqueles conferidos por ins- dade institucional e as exigências do seu meio;
tituições não-universitárias serão registrados em universi- V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos
dades indicadas pelo Conselho Nacional de Educação. em consonância com as normas gerais atinentes;
§ 2º Os diplomas de graduação expedidos por univer- VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;
sidades estrangeiras serão revalidados por universidades VII - firmar contratos, acordos e convênios;
públicas que tenham curso do mesmo nível e área ou equi- VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos
valente, respeitando-se os acordos internacionais de reci- de investimentos referentes a obras, serviços e aquisições
procidade ou equiparação. em geral, bem como administrar rendimentos conforme
§ 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expe- dispositivos institucionais;
didos por universidades estrangeiras só poderão ser reco- IX - administrar os rendimentos e deles dispor na for-
nhecidos por universidades que possuam cursos de pós- ma prevista no ato de constituição, nas leis e nos respecti-
graduação reconhecidos e avaliados, na mesma área de vos estatutos;
conhecimento e em nível equivalente ou superior. X - receber subvenções, doações, heranças, legados e
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão cooperação financeira resultante de convênios com entida-
a transferência de alunos regulares, para cursos afins, na des públicas e privadas.
hipótese de existência de vagas, e mediante processo se- § 1º Para garantir a autonomia didático-científica das
letivo. universidades, caberá aos seus colegiados de ensino e pes-
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão quisa decidir, dentro dos recursos orçamentários disponí-
na forma da lei.       (Regulamento) veis, sobre:      (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
Art. 50. As instituições de educação superior, quando I - criação, expansão, modificação e extinção de cur-
da ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas sos;      (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
de seus cursos a alunos não regulares que demonstrarem II - ampliação e diminuição de vagas;      (Redação dada
capacidade de cursá-las com proveito, mediante processo pela Lei nº 13.490, de 2017)
seletivo prévio. III - elaboração da programação dos cursos;      (Reda-
Art. 51. As instituições de educação superior creden- ção dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
ciadas como universidades, ao deliberar sobre critérios e IV - programação das pesquisas e das atividades de
normas de seleção e admissão de estudantes, levarão em extensão;      (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
conta os efeitos desses critérios sobre a orientação do en- V - contratação e dispensa de professores;      (Redação
sino médio, articulando-se com os órgãos normativos dos dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
sistemas de ensino. VI - planos de carreira docente.      (Redação dada pela
Art. 52. As universidades são instituições pluridisci- Lei nº 13.490, de 2017)
plinares de formação dos quadros profissionais de nível § 2o  As doações, inclusive monetárias, podem ser di-
superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo rigidas a setores ou projetos específicos, conforme acordo
do saber humano, que se caracterizam por: (Regulamento) entre doadores e universidades.       (Incluído pela Lei nº
(Regulamento) 13.490, de 2017)

134
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

§ 3o  No caso das universidades públicas, os recursos candos com deficiência, transtornos globais do desenvol-
das doações devem ser dirigidos ao caixa único da institui- vimento e altas habilidades ou superdotação.    (Redação
ção, com destinação garantida às unidades a serem benefi- dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
ciadas.       (Incluído pela Lei nº 13.490, de 2017) § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio espe-
Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público cializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da
gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial para clientela de educação especial.
atender às peculiaridades de sua estrutura, organização e § 2º O atendimento educacional será feito em classes,
financiamento pelo Poder Público, assim como dos seus pla- escolas ou serviços especializados, sempre que, em função
nos de carreira e do regime jurídico do seu pessoal.       (Re- das condições específicas dos alunos, não for possível a sua
gulamento)(Regulamento) integração nas classes comuns de ensino regular.
§ 1º No exercício da sua autonomia, além das atribui- § 3º A oferta de educação especial, dever constitucional
ções asseguradas pelo artigo anterior, as universidades pú- do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, du-
blicas poderão: rante a educação infantil.
I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e Art. 59.  Os sistemas de ensino assegurarão aos educan-
administrativo, assim como um plano de cargos e salários, dos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento
atendidas as normas gerais pertinentes e os recursos dis- e altas habilidades ou superdotação:  (Redação dada pela Lei
poníveis; nº 12.796, de 2013)
II - elaborar o regulamento de seu pessoal em conformi- I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
dade com as normas gerais concernentes; organização específicos, para atender às suas necessidades;
III - aprovar e executar planos, programas e projetos de II - terminalidade específica para aqueles que não pu-
investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em derem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino
geral, de acordo com os recursos alocados pelo respectivo fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração
Poder mantenedor; para concluir em menor tempo o programa escolar para os
IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais; superdotados;
V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às III - professores com especialização adequada em nível
suas peculiaridades de organização e funcionamento; médio ou superior, para atendimento especializado, bem
VI - realizar operações de crédito ou de financiamen- como professores do ensino regular capacitados para a inte-
to, com aprovação do Poder competente, para aquisição de gração desses educandos nas classes comuns;
bens imóveis, instalações e equipamentos; IV - educação especial para o trabalho, visando a sua
VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições
providências de ordem orçamentária, financeira e patrimo- adequadas para os que não revelarem capacidade de inser-
nial necessárias ao seu bom desempenho.
ção no trabalho competitivo, mediante articulação com os
§ 2º Atribuições de autonomia universitária poderão ser
órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresen-
estendidas a instituições que comprovem alta qualificação
tam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual
para o ensino ou para a pesquisa, com base em avaliação
ou psicomotora;
realizada pelo Poder Público.
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas so-
Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu
ciais suplementares disponíveis para o respectivo nível do
Orçamento Geral, recursos suficientes para manutenção e
ensino regular.
desenvolvimento das instituições de educação superior por
ela mantidas. Art. 59-A.   O poder público deverá instituir cadastro
Art. 56. As instituições públicas de educação superior nacional de alunos com altas habilidades ou superdotação
obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegurada matriculados na educação básica e na educação superior, a
a existência de órgãos colegiados deliberativos, de que par- fim de fomentar a execução de políticas públicas destinadas
ticiparão os segmentos da comunidade institucional, local e ao desenvolvimento pleno das potencialidades desse aluna-
regional. do. (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015)
Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocupa- Parágrafo único.  A identificação precoce de alunos com
rão setenta por cento dos assentos em cada órgão colegia- altas habilidades ou superdotação, os critérios e procedimen-
do e comissão, inclusive nos que tratarem da elaboração e tos para inclusão no cadastro referido no caput deste artigo,
modificações estatutárias e regimentais, bem como da esco- as entidades responsáveis pelo cadastramento, os mecanis-
lha de dirigentes. mos de acesso aos dados do cadastro e as políticas de de-
Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior, o senvolvimento das potencialidades do alunado de que trata
professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas semanais o caput serão definidos em regulamento.
de aulas.  (Regulamento) Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino
estabelecerão critérios de caracterização das instituições pri-
CAPÍTULO V vadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação ex-
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL clusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e
financeiro pelo Poder Público.
Art. 58.  Entende-se por educação especial, para os efei- Parágrafo único.  O poder público adotará, como alter-
tos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida nativa preferencial, a ampliação do atendimento aos edu-
preferencialmente na rede regular de ensino, para edu- candos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi-

135
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

mento e altas habilidades ou superdotação na própria rede § 1º  A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municí-
pública regular de ensino, independentemente do apoio pios, em regime de colaboração, deverão promover a forma-
às instituições previstas neste artigo.    (Redação dada pela ção inicial, a continuada e a capacitação dos profissionais de
Lei nº 12.796, de 2013) magistério.   (Incluído pela Lei nº 12.056, de 2009).
§ 2º  A formação continuada e a capacitação dos profis-
TÍTULO VI sionais de magistério poderão utilizar recursos e tecnologias
Dos Profissionais da Educação de educação a distância. (Incluído pela Lei nº 12.056, de 2009).
§ 3º  A formação inicial de profissionais de magistério
Art. 61.  Consideram-se profissionais da educação es- dará preferência ao ensino presencial, subsidiariamente fa-
colar básica os que, nela estando em efetivo exercício e zendo uso de recursos e tecnologias de educação a distân-
tendo sido formados em cursos reconhecidos, são:   (Re- cia.  (Incluído pela Lei nº 12.056, de 2009).
dação dada pela Lei nº 12.014, de 2009) § 4o  A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municí-
I – professores habilitados em nível médio ou superior pios adotarão mecanismos facilitadores de acesso e perma-
nência em cursos de formação de docentes em nível superior
para a docência na educação infantil e nos ensinos funda-
para atuar na educação básica pública.  (Incluído pela Lei nº
mental e médio;    (Redação dada pela Lei nº 12.014, de
12.796, de 2013)
2009)
§ 5o  A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municí-
II – trabalhadores em educação portadores de di- pios incentivarão a formação de profissionais do magistério
ploma de pedagogia, com habilitação em administração, para atuar na educação básica pública mediante programa
planejamento, supervisão, inspeção e orientação educa- institucional de bolsa de iniciação à docência a estudantes
cional, bem como com títulos de mestrado ou doutorado matriculados em cursos de licenciatura, de graduação plena,
nas mesmas áreas;   (Redação dada pela Lei nº 12.014, de nas instituições de educação superior.   (Incluído pela Lei nº
2009) 12.796, de 2013)
III – trabalhadores em educação, portadores de diplo- § 6o  O Ministério da Educação poderá estabelecer nota
ma de curso técnico ou superior em área pedagógica ou mínima em exame nacional aplicado aos concluintes do en-
afim. (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) sino médio como pré-requisito para o ingresso em cursos de
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos graduação para formação de docentes, ouvido o Conselho
respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos Nacional de Educação - CNE.     (Incluído pela Lei nº 12.796,
de áreas afins à sua formação ou experiência profissional, de 2013)
atestados por titulação específica ou prática de ensino em § 7o  (VETADO).   (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
unidades educacionais da rede pública ou privada ou das § 8o  Os currículos dos cursos de formação de docentes te-
corporações privadas em que tenham atuado, exclusiva- rão por referência a Base Nacional Comum Curricular.(Incluído
mente para atender ao inciso V do caput do art. 36;(Incluí- pela lei nº 13.415, de 2017)     (Vide Lei nº 13.415, de 2017)
do pela lei nº 13.415, de 2017) Art. 62-A.  A formação dos profissionais a que se refere o
V - profissionais graduados que tenham feito comple- inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo
mentação pedagógica, conforme disposto pelo Conselho técnico-pedagógico, em nível médio ou superior, incluindo
Nacional de Educação.(Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) habilitações tecnológicas.     (Incluído pela Lei nº 12.796, de
Parágrafo único.  A formação dos profissionais da edu- 2013)
cação, de modo a atender às especificidades do exercício Parágrafo único.  Garantir-se-á formação continuada para
de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes os profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho
etapas e modalidades da educação básica, terá como fun- ou em instituições de educação básica e superior, incluindo
cursos de educação profissional, cursos superiores de gradua-
damentos: (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009)
ção plena ou tecnológicos e de pós-graduação.  (Incluído pela
I – a presença de sólida formação básica, que propi-
Lei nº 12.796, de 2013)
cie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais
Art. 62-B. O acesso de professores das redes públicas de
de suas competências de trabalho;    (Incluído pela Lei nº educação básica a cursos superiores de pedagogia e licencia-
12.014, de 2009) tura será efetivado por meio de processo seletivo diferencia-
II – a associação entre teorias e práticas, mediante es- do.       (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017)
tágios supervisionados e capacitação em serviço;  (Incluí- § 1º  Terão direito de pleitear o acesso previsto
do pela Lei nº 12.014, de 2009) no caput deste artigo os professores das redes públicas mu-
III – o aproveitamento da formação e experiências nicipais, estaduais e federal que ingressaram por concurso
anteriores, em instituições de ensino e em outras ativida- público, tenham pelo menos três anos de exercício da profis-
des. (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) são e não sejam portadores de diploma de graduação.(Incluí-
Art. 62.  A formação de docentes para atuar na edu- do pela Lei nº 13.478, de 2017)
cação básica far-se-á em nível superior, em curso de li- § 2o As instituições de ensino responsáveis pela oferta de
cenciatura plena, admitida, como formação mínima para cursos de pedagogia e outras licenciaturas definirão critérios
o exercício do magistério na educação infantil e nos cinco adicionais de seleção sempre que acorrerem aos certames
primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em ní- interessados em número superior ao de vagas disponíveis
vel médio, na modalidade normal.(Redação dada pela lei para os respectivos cursos.(Incluído pela Lei nº 13.478, de
nº 13.415, de 2017) 2017)

136
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

§ 3o Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem de- § 3o  A União prestará assistência técnica aos Estados,
finidos em regulamento pelas universidades, terão priori- ao Distrito Federal e aos Municípios na elaboração de con-
dade de ingresso os professores que optarem por cursos cursos públicos para provimento de cargos dos profissio-
de licenciatura em matemática, física, química, biologia e nais da educação.    (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
língua portuguesa.       (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017)
Art. 63. Os institutos superiores de educação mante- TÍTULO VII
rão:    (Regulamento) Dos Recursos financeiros
I - cursos formadores de profissionais para a educa-
ção básica, inclusive o curso normal superior, destinado à Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação
formação de docentes para a educação infantil e para as os originários de:
primeiras séries do ensino fundamental; I - receita de impostos próprios da União, dos Estados,
II - programas de formação pedagógica para porta- do Distrito Federal e dos Municípios;
dores de diplomas de educação superior que queiram se II - receita de transferências constitucionais e outras
dedicar à educação básica; transferências;
III - programas de educação continuada para os profis- III - receita do salário-educação e de outras contribui-
sionais de educação dos diversos níveis. ções sociais;
Art. 64. A formação de profissionais de educação para IV - receita de incentivos fiscais;
administração, planejamento, inspeção, supervisão e orien- V - outros recursos previstos em lei.
tação educacional para a educação básica, será feita em Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de
cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós- dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, vinte e cinco por cento, ou o que consta nas respectivas
nesta formação, a base comum nacional. Constituições ou Leis Orgânicas, da receita resultante de
Art. 65. A formação docente, exceto para a educação impostos, compreendidas as transferências constitucionais,
superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas na manutenção e desenvolvimento do ensino público.
horas. § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida
pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municí-
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério
pios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não será
superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritaria-
considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo,
mente em programas de mestrado e doutorado.
receita do governo que a transferir.
Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por uni-
§ 2º Serão consideradas excluídas das receitas de im-
versidade com curso de doutorado em área afim, poderá
postos mencionadas neste artigo as operações de crédito
suprir a exigência de título acadêmico.
por antecipação de receita orçamentária de impostos.
Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valoriza-
§ 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes
ção dos profissionais da educação, assegurando-lhes, in-
aos mínimos estatuídos neste artigo, será considerada a re-
clusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira ceita estimada na lei do orçamento anual, ajustada, quan-
do magistério público: do for o caso, por lei que autorizar a abertura de créditos
I - ingresso exclusivamente por concurso público de adicionais, com base no eventual excesso de arrecadação.
provas e títulos; § 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive e as efetivamente realizadas, que resultem no não atendi-
com licenciamento periódico remunerado para esse fim; mento dos percentuais mínimos obrigatórios, serão apu-
III - piso salarial profissional; radas e corrigidas a cada trimestre do exercício financeiro.
IV - progressão funcional baseada na titulação ou habi- § 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do
litação, e na avaliação do desempenho; caixa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
V - período reservado a estudos, planejamento e ava- nicípios ocorrerá imediatamente ao órgão responsável pela
liação, incluído na carga de trabalho; educação, observados os seguintes prazos:
VI - condições adequadas de trabalho. I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de
§ 1o A experiência docente é pré-requisito para o exercí- cada mês, até o vigésimo dia;
cio profissional de quaisquer outras funções de magistério, II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigési-
nos termos das normas de cada sistema de ensino.   (Renu- mo dia de cada mês, até o trigésimo dia;
merado pela Lei nº 11.301, de 2006) III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao
§ 2o  Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e final de cada mês, até o décimo dia do mês subsequente.
no § 8o do art. 201 da Constituição Federal, são conside- § 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a cor-
radas funções de magistério as exercidas por professores reção monetária e à responsabilização civil e criminal das
e especialistas em educação no desempenho de ativida- autoridades competentes.
des educativas, quando exercidas em estabelecimento de Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e de-
educação básica em seus diversos níveis e modalidades, senvolvimento do ensino as despesas realizadas com vistas
incluídas, além do exercício da docência, as de direção de à consecução dos objetivos básicos das instituições edu-
unidade escolar e as de coordenação e assessoramento pe- cacionais de todos os níveis, compreendendo as que se
dagógico.     (Incluído pela Lei nº 11.301, de 2006) destinam a:

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docen- § 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a fór-
te e demais profissionais da educação; mula de domínio público que inclua a capacidade de atendi-
II - aquisição, manutenção, construção e conservação mento e a medida do esforço fiscal do respectivo Estado, do
de instalações e equipamentos necessários ao ensino; Distrito Federal ou do Município em favor da manutenção e
III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados do desenvolvimento do ensino.
ao ensino; § 2º A capacidade de atendimento de cada governo será
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas vi- definida pela razão entre os recursos de uso constitucional-
sando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à mente obrigatório na manutenção e desenvolvimento do
expansão do ensino; ensino e o custo anual do aluno, relativo ao padrão mínimo
V - realização de atividades-meio necessárias ao fun- de qualidade.
cionamento dos sistemas de ensino; § 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e 2º,
VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas a União poderá fazer a transferência direta de recursos a cada
públicas e privadas; estabelecimento de ensino, considerado o número de alunos
VII - amortização e custeio de operações de crédito que efetivamente frequentam a escola.
destinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo; § 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser exer-
VIII - aquisição de material didático-escolar e manu- cida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos Muni-
tenção de programas de transporte escolar. cípios se estes oferecerem vagas, na área de ensino de sua
Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e responsabilidade, conforme o inciso VI do art. 10 e o inciso
desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com: V do art. 11 desta Lei, em número inferior à sua capacidade
I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de de atendimento.
ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no arti-
que não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua go anterior ficará condicionada ao efetivo cumprimento pe-
qualidade ou à sua expansão; los Estados, Distrito Federal e Municípios do disposto nesta
II - subvenção a instituições públicas ou privadas de Lei, sem prejuízo de outras prescrições legais.
caráter assistencial, desportivo ou cultural; Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às escolas
III - formação de quadros especiais para a administra- públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, con-
ção pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos; fessionais ou filantrópicas que:
IV - programas suplementares de alimentação, assis- I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distribuam
tência médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e resultados, dividendos, bonificações, participações ou parce-
outras formas de assistência social; la de seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto;
II - apliquem seus excedentes financeiros em educação;
V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para
III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra
beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder
VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educa-
Público, no caso de encerramento de suas atividades;
ção, quando em desvio de função ou em atividade alheia à
IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos rece-
manutenção e desenvolvimento do ensino.
bidos.
Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e de-
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser
senvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos
destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na
balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a
forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de re-
que se refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal. cursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares da
Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, priorita- rede pública de domicílio do educando, ficando o Poder Pú-
riamente, na prestação de contas de recursos públicos, o blico obrigado a investir prioritariamente na expansão da sua
cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição Fe- rede local.
deral, no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais § 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão
Transitórias e na legislação concernente. poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclusive
Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o mediante bolsas de estudo.
Distrito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mí-
nimo de oportunidades educacionais para o ensino fun- TÍTULO VIII
damental, baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, Das Disposições Gerais
capaz de assegurar ensino de qualidade.
Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este ar- Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colabora-
tigo será calculado pela União ao final de cada ano, com ção das agências federais de fomento à cultura e de assistên-
validade para o ano subsequente, considerando variações cia aos índios, desenvolverá programas integrados de ensino
regionais no custo dos insumos e as diversas modalidades e pesquisa, para oferta de educação escolar bilingue e in-
de ensino. tercultural aos povos indígenas, com os seguintes objetivos:
Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dos I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos,
Estados será exercida de modo a corrigir, progressivamen- a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de
te, as disparidades de acesso e garantir o padrão mínimo suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e
de qualidade de ensino. ciências;

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o Art. 81. É permitida a organização de cursos ou insti-
acesso às informações, conhecimentos técnicos e científi- tuições de ensino experimentais, desde que obedecidas as
cos da sociedade nacional e demais sociedades indígenas disposições desta Lei.
e não-índias. Art. 82.  Os sistemas de ensino estabelecerão as nor-
Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os mas de realização de estágio em sua jurisdição, observada
sistemas de ensino no provimento da educação intercultu- a lei federal sobre a matéria.      (Redação dada pela Lei nº
ral às comunidades indígenas, desenvolvendo programas 11.788, de 2008)
integrados de ensino e pesquisa.  Parágrafo único. (Revogado).      (Redação dada pela
§ 1º Os programas serão planejados com audiência das Lei nº 11.788, de 2008)
comunidades indígenas. Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica,
§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluí- admitida a equivalência de estudos, de acordo com as nor-
dos nos Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes mas fixadas pelos sistemas de ensino.
objetivos: Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser
I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua mater- aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas res-
na de cada comunidade indígena; pectivas instituições, exercendo funções de monitoria, de
II - manter programas de formação de pessoal espe- acordo com seu rendimento e seu plano de estudos.
cializado, destinado à educação escolar nas comunidades Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação
indígenas; própria poderá exigir a abertura de concurso público de
III - desenvolver currículos e programas específicos, provas e títulos para cargo de docente de instituição públi-
neles incluindo os conteúdos culturais correspondentes às ca de ensino que estiver sendo ocupado por professor não
respectivas comunidades; concursado, por mais de seis anos, ressalvados os direitos
IV - elaborar e publicar sistematicamente material di- assegurados pelos arts. 41 da Constituição Federal e 19 do
dático específico e diferenciado. Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
§ 3o No que se refere à educação superior, sem prejuízo Art. 86. As instituições de educação superior constituí-
de outras ações, o atendimento aos povos indígenas efe- das como universidades integrar-se-ão, também, na sua
tivar-se-á, nas universidades públicas e privadas, mediante condição de instituições de pesquisa, ao Sistema Nacional
a oferta de ensino e de assistência estudantil, assim como de Ciência e Tecnologia, nos termos da legislação especí-
de estímulo à pesquisa e desenvolvimento de programas fica.
especiais.   (Incluído pela Lei nº 12.416, de 2011)
Art. 79-A. (VETADO)    (Incluído pela Lei nº 10.639, de TÍTULO IX
9.1.2003) Das Disposições Transitórias
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de no-
vembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.     (In-  Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se
cluído pela Lei nº 10.639, de 9.1.2003) um ano a partir da publicação desta Lei.
Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimen- § 1º A União, no prazo de um ano a partir da publica-
to e a veiculação de programas de ensino a distância, em ção desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Pla-
todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação no Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os
continuada.    (Regulamento)    (Regulamento) dez anos seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial
§ 1º A educação a distância, organizada com abertura sobre Educação para Todos.
e regime especiais, será oferecida por instituições especifi- § 2º  (Revogado).       (Redação dada pela lei nº 12.796,
camente credenciadas pela União. de 2013)
§ 2º A União regulamentará os requisitos para a realiza- § 3o  O Distrito Federal, cada Estado e Município, e, su-
ção de exames e registro de diploma relativos a cursos de pletivamente, a União, devem:    (Redação dada pela Lei nº
educação a distância. 11.330, de 2006)
§ 3º As normas para produção, controle e avaliação de I - (revogado); (Redação dada pela lei nº 12.796, de
programas de educação a distância e a autorização para 2013)
sua implementação, caberão aos respectivos sistemas de a) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de
ensino, podendo haver cooperação e integração entre os 2006)
diferentes sistemas.(Regulamento) b) (Revogado)  (Redação dada pela Lei nº 11.274, de
§ 4º A educação a distância gozará de tratamento dife- 2006)
renciado, que incluirá: c) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de
I - custos de transmissão reduzidos em canais comer- 2006)
ciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens
outros meios de comunicação que sejam explorados me- e adultos insuficientemente escolarizados;
diante autorização, concessão ou permissão do poder pú- III - realizar programas de capacitação para todos os
blico;      (Redação dada pela Lei nº 12.603, de 2012) professores em exercício, utilizando também, para isto, os
II - concessão de canais com finalidades exclusivamen- recursos da educação a distância;
te educativas; IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino fun-
III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder damental do seu território ao sistema nacional de avaliação
Público, pelos concessionários de canais comerciais. do rendimento escolar.

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

§ 4º  (Revogado).   (Redação dada pela lei nº 12.796, O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
de 2013) gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 
§ 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando a Art. 1o  O art. 24 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino 1996, passa a vigorar com as seguintes alterações:  
fundamental para o regime de escolas de tempo integral. “Art. 24.  ........................................................... 
§ 6º A assistência financeira da União aos Estados, ao I - a carga horária mínima anual será de oitocentas
Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos Estados horas para o ensino fundamental e para o ensino médio,
aos seus Municípios, ficam condicionadas ao cumprimen- distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo
to do art. 212 da Constituição Federal e dispositivos legais trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames
pertinentes pelos governos beneficiados. finais, quando houver;
Art. 87-A.  (VETADO).  (Incluído pela lei nº 12.796, de ................................................................................. 
2013) § 1º  A carga horária mínima anual de que trata o in-
Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- ciso I do caput deverá ser ampliada de forma progressiva,
nicípios adaptarão sua legislação educacional e de ensino no ensino médio, para mil e quatrocentas horas, devendo
os sistemas de ensino oferecer, no prazo máximo de cinco
às disposições desta Lei no prazo máximo de um ano, a
anos, pelo menos mil horas anuais de carga horária, a partir
partir da data de sua publicação.   (Regulamento) (Regula-
de 2 de março de 2017.  
mento)
§ 2o  Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de
§ 1º As instituições educacionais adaptarão seus esta-
educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular,
tutos e regimentos aos dispositivos desta Lei e às normas adequado às condições do educando, conforme o inciso VI
dos respectivos sistemas de ensino, nos prazos por estes do art. 4o.” (NR)  
estabelecidos. Art. 2o  O art. 26 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
§ 2º O prazo para que as universidades cumpram o dis- 1996, passa a vigorar com as seguintes alterações:  
posto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos. “Art. 26.  ...........................................................
Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que ve- ................................................................................. 
nham a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar § 2o  O ensino da arte, especialmente em suas expres-
da publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema sões regionais, constituirá componente curricular obrigató-
de ensino. rio da educação básica.
Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o ................................................................................. 
regime anterior e o que se institui nesta Lei serão resol- § 5o  No currículo do ensino fundamental, a partir do
vidas pelo Conselho Nacional de Educação ou, mediante sexto ano, será ofertada a língua inglesa.
delegação deste, pelos órgãos normativos dos sistemas de ................................................................................. 
ensino, preservada a autonomia universitária. § 7o  A integralização curricular poderá incluir, a critério
Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publi- dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo
cação. os temas transversais de que trata o caput.
Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024, .................................................................................. 
de 20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro de § 10.  A inclusão de novos componentes curriculares de
1968, não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de novem- caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular de-
bro de 1995 e 9.192, de 21 de dezembro de 1995 e, ainda, penderá de aprovação do Conselho Nacional de Educação
as Leis nºs 5.692, de 11 de agosto de 1971 e 7.044, de 18 e de homologação pelo Ministro de Estado da Educação.”
de outubro de 1982, e as demais leis e decretos-lei que as (NR) 
modificaram e quaisquer outras disposições em contrário. Art. 3o  A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
passa a vigorar acrescida do seguinte art. 35-A:  
Brasília, 20 de dezembro de 1996; 175º da Indepen-
“Art. 35-A.  A Base Nacional Comum Curricular defini-
dência e 108º da República.
rá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio,
conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação,
LEI Nº 13.415, DE 16 DE FEVEREIRO DE 2017.
nas seguintes áreas do conhecimento: 
I - linguagens e suas tecnologias; 
Altera as Leis nos 9.394, de 20 de dezembro de 1996, II - matemática e suas tecnologias; 
que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, III - ciências da natureza e suas tecnologias; 
e 11.494, de 20 de junho 2007, que regulamenta o Fundo IV - ciências humanas e sociais aplicadas.  
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e § 1o  A parte diversificada  dos  currículos  de  que  trata
de Valorização dos Profissionais da Educação, a Consolida- o caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, de-
ção das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei verá estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular
no 5.452, de 1o de maio de 1943, e o Decreto-Lei no 236, e ser articulada a partir do contexto histórico, econômico,
de 28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei no 11.161, de 5 de social, ambiental e cultural. 
agosto de 2005; e institui a Política de Fomento à Imple- § 2o  A Base Nacional Comum Curricular referente ao
mentação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral. ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas
de educação física, arte, sociologia e filosofia. 

140
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

§ 3o  O ensino da língua portuguesa e da matemática § 5o  Os sistemas de ensino, mediante disponibilida-
será obrigatório nos três anos do ensino médio, assegu- de de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do
rada às comunidades indígenas, também, a utilização das ensino médio cursar mais um itinerário formativo de que
respectivas línguas maternas.    trata o caput.  
§ 4o  Os currículos do ensino médio incluirão, obriga- § 6o  A critério dos sistemas de ensino, a oferta de for-
toriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar mação com ênfase técnica e profissional considerará: 
outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferen- I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor
cialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade de produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo
oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino.  parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos
§ 5o  A carga horária destinada ao cumprimento da estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem profis-
Base Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a sional; 
mil e oitocentas horas do total da carga horária do ensino II - a possibilidade de concessão de certificados inter-
médio, de acordo com a definição dos sistemas de ensino.   mediários de qualificação para o trabalho, quando a for-
§ 6o  A União estabelecerá os padrões de desempenho mação for estruturada e organizada em etapas com termi-
esperados para o ensino médio, que serão referência nos nalidade.  
§ 7o  A oferta de formações experimentais relacionadas
processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional
ao inciso V do caput, em áreas que não constem do Catá-
Comum Curricular. 
logo Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua
§ 7o  Os currículos do ensino médio deverão conside-
continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conse-
rar a formação integral do aluno, de maneira a adotar um
lho Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da inser-
trabalho voltado para a construção de seu projeto de vida ção no Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo de
e para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e so- cinco anos, contados da data de oferta inicial da formação. 
cioemocionais.   § 8o  A oferta de formação técnica e profissional a que
§ 8o  Os conteúdos, as metodologias e as formas de se refere o inciso V do caput, realizada na própria insti-
avaliação processual e formativa serão organizados nas re- tuição ou em parceria com outras instituições, deverá ser
des de ensino por meio de atividades teóricas e práticas, aprovada previamente pelo Conselho Estadual de Educa-
provas orais e escritas, seminários, projetos e atividades on ção, homologada pelo Secretário Estadual de Educação e
-line, de tal forma que ao final do ensino médio o educan- certificada pelos sistemas de ensino.  
do demonstre:  § 9o  As instituições de ensino emitirão certificado com
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos validade nacional, que habilitará o concluinte do ensino
que presidem a produção moderna;  médio ao prosseguimento dos estudos em nível superior
II - conhecimento das formas contemporâneas de lin- ou em outros cursos ou formações para os quais a conclu-
guagem.”  são do ensino médio seja etapa obrigatória.  
Art. 4o  O art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de § 10.  Além das formas de organização previstas no art.
1996, passa a vigorar com as seguintes alterações:   23, o ensino médio poderá ser organizado em módulos e
“Art. 36.  O currículo do ensino médio será composto adotar o sistema de créditos com terminalidade específica. 
pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários for- § 11.  Para efeito de cumprimento das exigências cur-
mativos, que deverão ser organizados por meio da oferta riculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão
de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância reconhecer competências e firmar convênios com institui-
para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de en- ções de educação a distância com notório reconhecimento,
sino, a saber:   mediante as seguintes formas de comprovação:  
I - linguagens e suas tecnologias;  I - demonstração prática; 
II - matemática e suas tecnologias;  II -  experiência de trabalho supervisionado ou outra
experiência adquirida fora do ambiente escolar; 
III - ciências da natureza e suas tecnologias;  
III - atividades de educação técnica oferecidas em ou-
IV - ciências humanas e sociais aplicadas; 
tras instituições de ensino credenciadas; 
V - formação técnica e profissional.  
IV - cursos oferecidos por centros ou programas ocu-
§ 1º  A organização das áreas de que trata o caput e das
pacionais; 
respectivas competências e habilidades será feita de acor- V - estudos realizados em instituições de ensino nacio-
do com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino.  nais ou estrangeiras; 
I - (revogado);  VI - cursos realizados por meio de educação a distância
II - (revogado); ou educação presencial mediada por tecnologias.  
.................................................................................  § 12.  As escolas deverão orientar os alunos no proces-
§ 3º  A critério dos sistemas de ensino, poderá ser so de escolha das áreas de conhecimento ou de atuação
composto itinerário formativo integrado, que se traduz na profissional previstas no caput.” (NR) 
composição de componentes curriculares da Base Nacio- Art. 5o  O art. 44 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
nal Comum Curricular - BNCC e dos itinerários formativos, 1996, passa a vigorar acrescido do seguinte § 3o:  
considerando os incisos I a V do caput. “Art. 44.  ...........................................................
..................................................................................  .................................................................................. 

141
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

§ 3o  O processo seletivo referido no inciso II consi- do Ministério da Educação, bem como à definição da forma
derará as competências e as habilidades definidas na Base de distribuição dos programas relativos à educação básica,
Nacional Comum Curricular.” (NR)   profissional, tecnológica e superior e a outras matérias de
Art. 6o  O art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de interesse da educação.  
1996, passa a vigorar com as seguintes alterações:   § 4o  As inserções previstas no caput destinam-se ex-
“Art. 61.  ........................................................... clusivamente à veiculação de mensagens do Ministério da
.................................................................................  Educação, com caráter de utilidade pública ou de divulga-
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos ção de programas e ações educacionais.” (NR) 
respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos Art. 11.  O disposto no § 8o do art. 62 da Lei no 9.394,
de áreas afins à sua formação ou experiência profissional, de 20 de dezembro de 1996, deverá ser implementado no
atestados por titulação específica ou prática de ensino em prazo de dois anos, contado da publicação da Base Nacio-
unidades educacionais da rede pública ou privada ou das nal Comum Curricular. 
corporações privadas em que tenham atuado, exclusiva- Art. 12.  Os sistemas de ensino deverão estabelecer
mente para atender ao inciso V do caput do art. 36;  cronograma de implementação das alterações na Lei no
V - profissionais graduados que tenham feito comple- 9.394, de 20 de dezembro de 1996, conforme os arts. 2o,
mentação pedagógica, conforme disposto pelo Conselho 3o e 4o desta Lei, no primeiro ano letivo subsequente à data
Nacional de Educação. de publicação da Base Nacional Comum Curricular, e iniciar
........................................................................” (NR)  o processo de implementação, conforme o referido crono-
Art. 7o  O art. 62 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de grama, a partir do segundo ano letivo subsequente à data
1996, passa a vigorar com as seguintes alterações:   de homologação da Base Nacional Comum Curricular.  
“Art. 62.  A formação de docentes para atuar na edu- Art. 13.  Fica instituída, no âmbito do Ministério da
cação básica far-se-á em nível superior, em curso de licen- Educação, a Política de Fomento à Implementação de Esco-
ciatura plena, admitida, como formação mínima para o las de Ensino Médio em Tempo Integral.
exercício do magistério na educação infantil e nos cinco Parágrafo único.   A Política de Fomento de que trata
primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em ní- o caput prevê o repasse de recursos do Ministério da Edu-
cação para os Estados e para o Distrito Federal pelo prazo
vel médio, na modalidade normal.
de dez anos por escola, contado da data de início da imple-
.................................................................................. 
mentação do ensino médio integral na respectiva escola,
§ 8º  Os currículos dos cursos de formação de docen-
de acordo com termo de compromisso a ser formalizado
tes terão por referência a Base Nacional Comum Curricular.”
entre as partes, que deverá conter, no mínimo:
(NR) 
I - identificação e delimitação das ações a serem finan-
Art. 8o  O art. 318 da Consolidação das Leis do Trabalho
ciadas;
- CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio
II - metas quantitativas;
de 1943, passa a vigorar com a seguinte redação: 
III - cronograma de execução físico-financeira;
“Art. 318.  O professor poderá lecionar em um mesmo IV - previsão de início e fim de execução das ações e da
estabelecimento por mais de um turno, desde que não conclusão das etapas ou fases programadas. 
ultrapasse a jornada de trabalho semanal estabelecida le- Art. 14.  São obrigatórias as transferências de recursos
galmente, assegurado e não computado o intervalo para da União aos Estados e ao Distrito Federal, desde que cum-
refeição.” (NR)  pridos os critérios de elegibilidade estabelecidos nesta Lei
Art. 9o  O caput do art. 10 da Lei no 11.494, de 20 de e no regulamento, com a finalidade de prestar apoio fi-
junho de 2007, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso nanceiro para o atendimento de escolas públicas de ensino
XVIII:   médio em tempo integral cadastradas no Censo Escolar da
“Art. 10.  ........................................................... Educação Básica, e que:  
.................................................................................  I - tenham iniciado a oferta de atendimento em tempo
XVIII - formação técnica e profissional prevista no inci- integral a partir da vigência desta Lei de acordo com os
so V do caput do art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro critérios de elegibilidade no âmbito da Política de Fomento,
de 1996. devendo ser dada prioridade às regiões com menores ín-
........................................................................” (NR)  dices de desenvolvimento humano e com resultados mais
Art. 10.  O art. 16 do Decreto-Lei no 236, de 28 de feve- baixos nos processos nacionais de avaliação do ensino mé-
reiro de 1967, passa a vigorar com as seguintes alterações:  dio; e 
“Art. 16.  ........................................................... II - tenham projeto político-pedagógico que obedeça
.................................................................................  ao disposto no art. 36 da Lei no 9.394, de 20 dezembro de
§ 2o  Os programas educacionais obrigatórios deverão 1996.
ser transmitidos em horários compreendidos entre as sete § 1o   A transferência de recursos de que trata
e as vinte e uma horas.  o caput será realizada com base no número de matrículas
§ 3o  O Ministério da Educação poderá celebrar convê- cadastradas pelos Estados e pelo Distrito Federal no Censo
nios com entidades representativas do setor de radiodifu- Escolar da Educação Básica, desde que tenham sido aten-
são, que visem ao cumprimento do disposto no caput, para didos, de forma cumulativa, os requisitos dos incisos I e II
a divulgação gratuita dos programas e ações educacionais do caput.

142
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

§ 2o  A transferência de recursos será realizada anual- Art. 21.  Esta Lei entra em vigor na data de sua publi-
mente, a partir de valor único por aluno, respeitada a dis- cação.
ponibilidade orçamentária para atendimento, a ser definida Art. 22.  Fica revogada a Lei no 11.161, de 5 de agosto
por ato do Ministro de Estado da Educação. de 2005.
§ 3o  Os recursos transferidos nos termos do caput po- Brasília, 16 de fevereiro de 2017; 196o da Independên-
derão ser aplicados nas despesas de manutenção e desen- cia e 129o da República.
volvimento previstas nos incisos I, II, III, V e VIII do caput do
art. 70 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, das
escolas públicas participantes da Política de Fomento. C) ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
§ 4o  Na hipótese de o Distrito Federal ou de o Estado – LEI FEDERAL Nº 8069, DE 13 DE JULHO DE
ter, no momento do repasse do apoio financeiro suplemen-
1990;
tar de que trata o  caput, saldo em conta de recursos re-
passados anteriormente, esse montante, a ser verificado no
último dia do mês anterior ao do repasse, será subtraído do
valor a ser repassado como apoio financeiro suplementar LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990.
do exercício corrente.
§ 5o  Serão desconsiderados do desconto previsto no § Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e
4o os recursos referentes ao apoio financeiro suplementar, dá outras providências.
de que trata o caput, transferidos nos últimos doze meses.
Art. 15.  Os recursos de que trata o parágrafo único do O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Con-
art. 13 serão transferidos pelo Ministério da Educação ao gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação - FNDE,
independentemente da celebração de termo específico.    Título I
Art. 16.  Ato do Ministro de Estado da Educação dispo- Das Disposições Preliminares
rá sobre o acompanhamento da implementação do apoio
financeiro suplementar de que trata o parágrafo único do Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à crian-
art. 13. ça e ao adolescente.
Art. 17.  A transferência de recursos financeiros prevista Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a
no parágrafo único do art. 13 será efetivada automatica- pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente
mente pelo FNDE, dispensada a celebração de convênio, aquela entre doze e dezoito anos de idade.
acordo, contrato ou instrumento congênere, mediante de- Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se
pósitos em conta-corrente específica.  excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e
Parágrafo único.  O Conselho Deliberativo do FNDE vinte e um anos de idade.
disporá, em ato próprio, sobre condições, critérios opera- Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os
cionais de distribuição, repasse, execução e prestação de direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
contas simplificada do apoio financeiro. prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, asse-
Art. 18.  Os Estados e o Distrito Federal deverão for- gurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
necer, sempre que solicitados, a documentação relativa à oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o de-
execução dos recursos recebidos com base no parágrafo senvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
único do art. 13 ao Tribunal de Contas da União, ao FNDE, condições de liberdade e de dignidade.
aos órgãos de controle interno do Poder Executivo federal Parágrafo único.  Os direitos enunciados nesta Lei apli-
e aos conselhos de acompanhamento e controle social.  cam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discrimina-
Art. 19.  O acompanhamento e o controle social so- ção de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, et-
bre a transferência e a aplicação dos recursos repassados nia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal
com base no parágrafo único do art. 13 serão exercidos no de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica,
âmbito dos Estados e do Distrito Federal pelos respectivos ambiente social, região e local de moradia ou outra condi-
conselhos previstos no art. 24 da Lei no 11.494, de 20 de ção que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade
junho de 2007.  em que vivem.(incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Parágrafo único.   Os conselhos a que se refere Art. 4º É dever da família, da comunidade, da socie-
o caput analisarão as prestações de contas dos recursos re- dade em geral e do poder público assegurar, com abso-
passados no âmbito desta Lei, formularão parecer conclu- luta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida,
sivo acerca da aplicação desses recursos e o encaminharão à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
ao FNDE. à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
Art. 20.   Os recursos financeiros correspondentes ao liberdade e à convivência familiar e comunitária.
apoio financeiro de que trata o parágrafo único do art. 13 Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
correrão à conta de dotação consignada nos orçamentos a) primazia de receber proteção e socorro em quais-
do FNDE e do Ministério da Educação, observados os li- quer circunstâncias;
mites de movimentação, de empenho e de pagamento da b) precedência de atendimento nos serviços públicos
programação orçamentária e financeira anual. ou de relevância pública;

143
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

c) preferência na formulação e na execução das políti- § 7o  A gestante deverá receber orientação sobre alei-
cas sociais públicas; tamento materno, alimentação complementar saudável e
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre
áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. formas de favorecer a criação de vínculos afetivos e de es-
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto timular o desenvolvimento integral da criança.  (Incluído
de qualquer forma de negligência, discriminação, explora- pela Lei nº 13.257, de 2016)
ção, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei § 8o  A gestante tem direito a acompanhamento sau-
qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos dável durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso,
fundamentais. estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras inter-
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta venções cirúrgicas por motivos médicos.  (Incluído pela Lei
os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem nº 13.257, de 2016)
comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a § 9o  A atenção primária à saúde fará a busca ativa da
condição peculiar da criança e do adolescente como pes- gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas de
soas em desenvolvimento. pré-natal, bem como da puérpera que não comparecer às
consultas pós-parto.  (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Título II § 10.  Incumbe ao poder público garantir, à gestante e
Dos Direitos Fundamentais à mulher com filho na primeira infância que se encontrem
Capítulo I sob custódia em unidade de privação de liberdade, am-
Do Direito à Vida e à Saúde biência que atenda às normas sanitárias e assistenciais do
Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção articulação com o sistema de ensino competente, visando
à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais ao desenvolvimento integral da criança.  (Incluído pela Lei
públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento nº 13.257, de 2016)
sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. Art. 9º O poder público, as instituições e os empre-
Art. 8o  É assegurado a todas as mulheres o acesso aos gadores propiciarão condições adequadas ao aleitamento
programas e às políticas de saúde da mulher e de plane- materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida
jamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada,
privativa de liberdade.
atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério
§ 1o  Os profissionais das unidades primárias de saúde
e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no
desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas,
âmbito do Sistema Único de Saúde.  (Redação dada pela
visando ao planejamento, à implementação e à avaliação
Lei nº 13.257, de 2016)
de ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento
§ 1o  O atendimento pré-natal será realizado por pro-
materno e à alimentação complementar saudável, de for-
fissionais da atenção primária.  (Redação dada pela Lei nº
ma contínua.  (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
13.257, de 2016)
§ 2o  Os profissionais de saúde de referência da gestan- § 2o  Os serviços de unidades de terapia intensiva neo-
te garantirão sua vinculação, no último trimestre da ges- natal deverão dispor de banco de leite humano ou unidade
tação, ao estabelecimento em que será realizado o parto, de coleta de leite humano.  (Incluído pela Lei nº 13.257, de
garantido o direito de opção da mulher.  (Redação dada 2016)
pela Lei nº 13.257, de 2016) Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de
§ 3o  Os serviços de saúde onde o parto for realizado atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são
assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos obrigados a:
alta hospitalar responsável e contrarreferência na atenção I - manter registro das atividades desenvolvidas, atra-
primária, bem como o acesso a outros serviços e a gru- vés de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
pos de apoio à amamentação.  (Redação dada pela Lei nº II - identificar o recém-nascido mediante o registro de
13.257, de 2016) sua impressão plantar e digital e da impressão digital da
§ 4o  Incumbe ao poder público proporcionar assis- mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela au-
tência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e toridade administrativa competente;
pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as III - proceder a exames visando ao diagnóstico e tera-
consequências do estado puerperal.       (Incluído pela Lei pêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nas-
nº 12.010, de 2009)      Vigência cido, bem como prestar orientação aos pais;
§ 5o  A assistência referida no § 4o deste artigo deverá IV - fornecer declaração de nascimento onde constem
ser prestada também a gestantes e mães que manifestem necessariamente as intercorrências do parto e do desen-
interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como volvimento do neonato;
a gestantes e mães que se encontrem em situação de pri- V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao
vação de liberdade.  (Redação dada pela Lei nº 13.257, de neonato a permanência junto à mãe.
2016)  VI - acompanhar a prática do processo de amamen-
§ 6o   A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) tação, prestando orientações quanto à técnica adequada,
acompanhante de sua preferência durante o período do enquanto a mãe permanecer na unidade hospitalar, utili-
pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto imedia- zando o corpo técnico já existente.       (Incluído pela Lei nº
to. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) 13.436, de 2017) (Vigência)

144
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 11.  É assegurado acesso integral às linhas de cui- § 2o  O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à
dado voltadas à saúde da criança e do adolescente, por saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma trans-
intermédio do Sistema Único de Saúde, observado o prin- versal, integral e intersetorial com as demais linhas de cui-
cípio da equidade no acesso a ações e serviços para pro- dado direcionadas à mulher e à criança.  (Incluído pela Lei
moção, proteção e recuperação da saúde.  (Redação dada nº 13.257, de 2016)
pela Lei nº 13.257, de 2016) § 3o  A atenção odontológica à criança terá função edu-
§ 1o  A criança e o adolescente com deficiência serão cativa protetiva e será prestada, inicialmente, antes de o
atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas ne- bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, e, pos-
cessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e teriormente, no sexto e no décimo segundo anos de vida,
reabilitação.  (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) com orientações sobre saúde bucal. (Incluído pela Lei nº
§ 2o  Incumbe ao poder público fornecer gratuitamen- 13.257, de 2016)
te, àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses, pró- § 4o  A criança com necessidade de cuidados odonto-
teses e outras tecnologias assistivas relativas ao tratamen- lógicos especiais será atendida pelo Sistema Único de Saú-
to, habilitação ou reabilitação para crianças e adolescentes, de. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
de acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas ne-
Capítulo II
cessidades específicas.  (Redação dada pela Lei nº 13.257,
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
de 2016)
§ 3o  Os profissionais que atuam no cuidado diário ou
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberda-
frequente de crianças na primeira infância receberão for- de, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em
mação específica e permanente para a detecção de sinais processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos ci-
de risco para o desenvolvimento psíquico, bem como para vis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
o acompanhamento que se fizer necessário.  (Incluído pela Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes
Lei nº 13.257, de 2016) aspectos:
Art. 12.  Os estabelecimentos de atendimento à saúde, I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços co-
inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de munitários, ressalvadas as restrições legais;
cuidados intermediários, deverão proporcionar condições II - opinião e expressão;
para a permanência em tempo integral de um dos pais ou III - crença e culto religioso;
responsável, nos casos de internação de criança ou adoles- IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
cente.  (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) V - participar da vida familiar e comunitária, sem discri-
Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo minação;
físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tra- VI - participar da vida política, na forma da lei;
tos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade
sem prejuízo de outras providências legais. (Redação dada da integridade física, psíquica e moral da criança e do ado-
pela Lei nº 13.010, de 2014) lescente, abrangendo a preservação da imagem, da identi-
§ 1o  As gestantes ou mães que manifestem interesse dade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espa-
em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamen- ços e objetos pessoais.
te encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infân- Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança
cia e da Juventude.  (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento
§ 2o  Os serviços de saúde em suas diferentes portas de desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrange-
entrada, os serviços de assistência social em seu compo- dor.
Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de
nente especializado, o Centro de Referência Especializado
ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de
de Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Siste-
tratamento cruel ou degradante, como formas de correção,
ma de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente
disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais,
deverão conferir máxima prioridade ao atendimento das
pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis,
crianças na faixa etária da primeira infância com suspeita pelos agentes públicos executores de medidas socioeduca-
ou confirmação de violência de qualquer natureza, formu- tivas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles,
lando projeto terapêutico singular que inclua intervenção tratá-los, educá-los ou protegê-los.     (Incluído pela Lei nº
em rede e, se necessário, acompanhamento domiciliar.  (In- 13.010, de 2014)
cluído pela Lei nº 13.257, de 2016) Parágrafo único.   Para os fins desta Lei, considera-
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá progra- se:     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
mas de assistência médica e odontológica para a preven- I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou puniti-
ção das enfermidades que ordinariamente afetam a popu- va aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o
lação infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, adolescente que resulte em:  (Incluído pela Lei nº 13.010,
educadores e alunos. de 2014)
§ 1o  É obrigatória a vacinação das crianças nos casos a) sofrimento físico; ou     (Incluído pela Lei nº 13.010,
recomendados pelas autoridades sanitárias.  (Renumerado de 2014)
do parágrafo único pela Lei nº 13.257, de 2016) b) lesão;     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

145
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma nos termos do § 1o do art. 23, dos incisos I e IV do caput do
cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescen- art. 101 e dos incisos I a IV do caput  do art. 129 desta
te que:     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
a) humilhe; ou     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) § 4o  Será garantida a convivência da criança e do ado-
b) ameace gravemente; ou     (Incluído pela Lei nº lescente com a mãe ou o pai privado de liberdade, por
13.010, de 2014) meio de visitas periódicas promovidas pelo responsável
c) ridicularize.     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) ou, nas hipóteses de acolhimento institucional, pela en-
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os tidade responsável, independentemente de autorização
responsáveis, os agentes públicos executores de medidas judicial.       (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014)
socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casa-
de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou prote- mento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualifi-
gê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou cações, proibidas quaisquer designações discriminatórias
degradante como formas de correção, disciplina, educação relativas à filiação.
ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualda-
de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão de de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que
aplicadas de acordo com a gravidade do caso:    (Incluído dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles
pela Lei nº 13.010, de 2014) o direito de, em caso de discordância, recorrer à auto-
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário ridade judiciária competente para a solução da diver-
de proteção à família;      (Incluído pela Lei nº 13.010, de gência.      (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de
2014) 2009)     Vigência
II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psi- Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda
quiátrico;     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no
III - encaminhamento a cursos ou programas de orien- interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir
tação;     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) as determinações judiciais.
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento Parágrafo único.  A mãe e o pai, ou os responsáveis,
especializado;     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) têm direitos iguais e deveres e responsabilidades com-
V - advertência.     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) partilhados no cuidado e na educação da criança, deven-
Parágrafo único.  As medidas previstas neste artigo se- do ser resguardado o direito de transmissão familiar de
rão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras suas crenças e culturas, assegurados os direitos da criança
providências legais.     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
estabelecidos nesta Lei.  (Incluído pela Lei nº 13.257, de
2016)
Capítulo III
Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não
Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária
constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão
Seção I
do poder familiar.     (Expressão substituída pela Lei nº
Disposições Gerais
12.010, de 2009)       Vigência
§ 1o  Não existindo outro motivo que por si só autorize
Art. 19.  É direito da criança e do adolescente ser criado
e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em a decretação da medida, a criança ou o adolescente será
família substituta, assegurada a convivência familiar e co- mantido em sua família de origem, a qual deverá obriga-
munitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento toriamente ser incluída em serviços e programas oficiais
integral.  (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) de proteção, apoio e promoção.  (Redação dada pela Lei
§ 1o  Toda criança ou adolescente que estiver inserido nº 13.257, de 2016)
em programa de acolhimento familiar ou institucional terá § 2o A condenação criminal do pai ou da mãe não im-
sua situação reavaliada, no máximo, a cada 6 (seis) meses, plicará a destituição do poder familiar, exceto na hipótese
devendo a autoridade judiciária competente, com base em de condenação por crime doloso, sujeito à pena de reclu-
relatório elaborado por equipe interprofissional ou multidis- são, contra o próprio filho ou filha.       (Incluído pela Lei
ciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade nº 12.962, de 2014)
de reintegração familiar ou colocação em família substituta, Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar se-
em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta rão decretadas judicialmente, em procedimento contradi-
Lei.      (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)      Vigência tório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na
§ 2o  A permanência da criança e do adolescente em hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e
programa de acolhimento institucional não se prolongará obrigações a que alude o art. 22.     (Expressão substituída
por mais de 2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
que atenda ao seu superior interesse, devidamente funda-
mentada pela autoridade judiciária.      (Incluído pela Lei nº Seção II
12.010, de 2009)       Vigência Da Família Natural
§ 3o  A manutenção ou a reintegração de criança ou
adolescente à sua família terá preferência em relação a Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade
qualquer outra providência, caso em que será esta incluída formada pelos pais ou qualquer deles e seus descenden-
em serviços e programas de proteção, apoio e promoção, tes.     (Vide Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência

146
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Parágrafo único.  Entende-se por família extensa ou I - que sejam consideradas e respeitadas sua identi-
ampliada aquela que se estende para além da unidade pais dade social e cultural, os seus costumes e tradições, bem
e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próxi- como suas instituições, desde que não sejam incompatíveis
mos com os quais a criança ou adolescente convive e man- com os direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e
tém vínculos de afinidade e afetividade.     (Incluído pela Lei pela Constituição Federal;     (Incluído pela Lei nº 12.010, de
nº 12.010, de 2009)   Vigência 2009)   Vigência
Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no
ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma
no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante etnia;     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
escritura ou outro documento público, qualquer que seja a III - a intervenção e oitiva de representantes do ór-
origem da filiação. gão federal responsável pela política indigenista, no caso
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o de crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos,
nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se dei- perante a equipe interprofissional ou multidisciplinar que
xar descendentes.
irá acompanhar o caso.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de
Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direi-
2009)   Vigência
to personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser
Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta
exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer
restrição, observado o segredo de Justiça. a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade
com a natureza da medida ou não ofereça ambiente fami-
Seção III liar adequado.
Da Família Substituta Art. 30. A colocação em família substituta não admi-
Subseção I tirá transferência da criança ou adolescente a terceiros ou
Disposições Gerais a entidades governamentais ou não-governamentais, sem
autorização judicial.
Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á me- Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira
diante guarda, tutela ou adoção, independentemente da si- constitui medida excepcional, somente admissível na mo-
tuação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta dalidade de adoção.
Lei. Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável
§ 1o  Sempre que possível, a criança ou o adolescente prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o
será previamente ouvido por equipe interprofissional, res- encargo, mediante termo nos autos.
peitado seu estágio de desenvolvimento e grau de com-
preensão sobre as implicações da medida, e terá sua opi- Subseção II
nião devidamente considerada.     (Redação dada pela Lei nº Da Guarda
12.010, de 2009)   Vigência
§ 2o  Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de ida- Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência
de, será necessário seu consentimento, colhido em audiên- material, moral e educacional à criança ou adolescente,
cia.     (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros,
§ 3o  Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o inclusive aos pais.     (Vide Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afetivida- § 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato,
de, a fim de evitar ou minorar as consequências decorrentes podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos pro-
da medida.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência cedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por
§ 4o  Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção,
estrangeiros.
tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos
comprovada existência de risco de abuso ou outra situação
casos de tutela e adoção, para atender a situações pecu-
que justifique plenamente a excepcionalidade de solução
diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompi- liares ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável,
mento definitivo dos vínculos fraternais.     (Incluído pela Lei podendo ser deferido o direito de representação para a
nº 12.010, de 2009)   Vigência prática de atos determinados.
§ 5o  A colocação da criança ou adolescente em famí- § 3º A guarda confere à criança ou adolescente a con-
lia substituta será precedida de sua preparação gradativa e dição de dependente, para todos os fins e efeitos de direi-
acompanhamento posterior, realizados pela equipe inter- to, inclusive previdenciários.
profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, § 4o  Salvo expressa e fundamentada determinação em
preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando
pela execução da política municipal de garantia do direi- a medida for aplicada em preparação para adoção, o de-
to à convivência familiar.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de ferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros
2009)   Vigência não impede o exercício do direito de visitas pelos pais, as-
§ 6o  Em se tratando de criança ou adolescente indíge- sim como o dever de prestar alimentos, que serão objeto
na ou proveniente de comunidade remanescente de qui- de regulamentação específica, a pedido do interessado ou
lombo, é ainda obrigatório:     (Incluído pela Lei nº 12.010, do Ministério Público.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de
de 2009)   Vigência 2009)   Vigência

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 34.  O poder público estimulará, por meio de assis- Subseção IV


tência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, Da Adoção
sob a forma de guarda, de criança ou adolescente afastado
do convívio familiar.     (Redação dada pela Lei nº 12.010, Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-
de 2009)  Vigência se-á segundo o disposto nesta Lei.
§ 1o  A inclusão da criança ou adolescente em progra- § 1o  A adoção é medida excepcional e irrevogável, à
mas de acolhimento familiar terá preferência a seu acolhi- qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recur-
mento institucional, observado, em qualquer caso, o cará- sos de manutenção da criança ou adolescente na família
ter temporário e excepcional da medida, nos termos desta natural ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25
Lei.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência desta Lei.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
§ 2o  Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal § 2o  É vedada a adoção por procuração.     (Incluído
cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
receber a criança ou adolescente mediante guarda, obser- Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, de-
vado o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei.     (Incluído pela zoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guar-
Lei nº 12.010, de 2009) da ou tutela dos adotantes.
§ 3o  A União apoiará a implementação de serviços de Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adota-
acolhimento em família acolhedora como política pública, do, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessó-
os quais deverão dispor de equipe que organize o acolhi- rios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes,
mento temporário de crianças e de adolescentes em re- salvo os impedimentos matrimoniais.
sidências de famílias selecionadas, capacitadas e acompa- § 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho
nhadas que não estejam no cadastro de adoção.(Incluído do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adota-
pela Lei nº 13.257, de 2016) do e o cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos
§ 4o  Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais, parentes.
distritais e municipais para a manutenção dos serviços de § 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado,
acolhimento em família acolhedora, facultando-se o repas- seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descen-
se de recursos para a própria família acolhedora. (Incluído dentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de
pela Lei nº 13.257, de 2016) vocação hereditária.
Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tem- Art. 42.  Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos,
po, mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Minis- independentemente do estado civil.     (Redação dada pela
tério Público. Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do
Subseção III adotando.
Da Tutela § 2o  Para adoção conjunta, é indispensável que os
adotantes sejam casados civilmente ou mantenham união
Art. 36.  A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a estável, comprovada a estabilidade da família.     (Redação
pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos.     (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
dada pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência § 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos
Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a mais velho do que o adotando.
prévia decretação da perda ou suspensão do poder fami- § 4o  Os divorciados, os judicialmente separados e os
liar e implica necessariamente o dever de guarda.     (Ex- ex-companheiros podem adotar conjuntamente, contanto
pressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde
Art. 37.  O tutor nomeado por testamento ou qualquer que o estágio de convivência tenha sido iniciado na cons-
documento autêntico, conforme previsto no parágrafo úni- tância do período de convivência e que seja comprovada a
co do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 existência de vínculos de afinidade e afetividade com aque-
- Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a le não detentor da guarda, que justifiquem a excepciona-
abertura da sucessão, ingressar com pedido destinado ao lidade da concessão.      (Redação dada pela Lei nº 12.010,
controle judicial do ato, observando o procedimento pre- de 2009)  Vigência
visto nos arts. 165 a 170 desta Lei.     (Redação dada pela § 5o  Nos casos do § 4o  deste artigo, desde que de-
Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência monstrado efetivo benefício ao adotando, será assegurada
Parágrafo único.  Na apreciação do pedido, serão ob- a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da
servados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil. (Re-
Lei, somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na dação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
disposição de última vontade, se restar comprovado que § 6o  A adoção poderá ser deferida ao adotante que,
a medida é vantajosa ao tutelando e que não existe outra após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no
pessoa em melhores condições de assumi-la.     (Redação curso do procedimento, antes de prolatada a sentença.(In-
dada pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência cluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar
art. 24. reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos
legítimos.

148
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e § 8o  O processo relativo à adoção assim como outros a
saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador adotar ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se
o pupilo ou o curatelado. seu armazenamento em microfilme ou por outros meios,
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais garantida a sua conservação para consulta a qualquer tem-
ou do representante legal do adotando. po.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência 
§ 1º. O consentimento será dispensado em relação à § 9º Terão prioridade de tramitação os processos de
criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou adoção em que o adotando for criança ou adolescente
tenham sido destituídos do  poder familiar.     (Expressão com deficiência ou com doença crônica.     (Incluído pela
substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência Lei nº 12.955, de 2014)
§ 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos Art. 48.  O adotado tem direito de conhecer sua origem
de idade, será também necessário o seu consentimento. biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivên- no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes,
cia com a criança ou adolescente, pelo prazo que a autorida- após completar 18 (dezoito) anos.     (Redação dada pela
de judiciária fixar, observadas as peculiaridades do caso. Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
§ 1o  O estágio de convivência poderá ser dispensado Parágrafo único.  O acesso ao processo de adoção po-
se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do derá ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoi-
adotante durante tempo suficiente para que seja possível to) anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência
avaliar a conveniência da constituição do vínculo.     (Reda- jurídica e psicológica.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de
ção dada pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência 2009)  Vigência
§ 2o  A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o po-
dispensa da realização do estágio de convivência.      (Reda- der familiar dos pais naturais.     (Expressão substituída pela
ção dada pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
§ 3o  Em caso de adoção por pessoa ou casal residente Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada co-
ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência, cum- marca ou foro regional, um registro de crianças e adoles-
prido no território nacional, será de, no mínimo, 30 (trinta) centes em condições de serem adotados e outro de pes-
dias.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência soas interessadas na adoção.     (Vide Lei nº 12.010, de
§ 4o  O estágio de convivência será acompanhado pela
2009)   Vigência
equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da
§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia
Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos res-
consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Minis-
ponsáveis pela execução da política de garantia do direito
tério Público.
à convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não
acerca da conveniência do deferimento da medida.    (In-
satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer das
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
hipóteses previstas no art. 29.
Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença
judicial, que será inscrita no registro civil mediante manda- § 3o  A inscrição de postulantes à adoção será prece-
do do qual não se fornecerá certidão. dida de um período de preparação psicossocial e jurídica,
§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da
pais, bem como o nome de seus ascendentes. Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos res-
§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará ponsáveis pela execução da política municipal de garantia
o registro original do adotado. do direito à convivência familiar.      (Incluído pela Lei nº
§ 3o  A pedido do adotante, o novo registro pode- 12.010, de 2009)  Vigência
rá ser lavrado no Cartório do Registro Civil do Município § 4o  Sempre que possível e recomendável, a prepa-
de sua residência.     (Redação dada pela Lei nº 12.010, de ração referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com
2009)  Vigência crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou insti-
§ 4o  Nenhuma observação sobre a origem do ato po- tucional em condições de serem adotados, a ser realizado
derá constar nas certidões do registro.      (Redação dada sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técni-
pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência ca da Justiça da Infância e da Juventude, com apoio dos
§ 5o  A sentença conferirá ao adotado o nome do ado- técnicos responsáveis pelo programa de acolhimento e
tante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a pela execução da política municipal de garantia do direito
modificação do prenome.       (Redação dada pela Lei nº à convivência familiar.      (Incluído pela Lei nº 12.010, de
12.010, de 2009)  Vigência 2009) Vigência
§ 6o  Caso a modificação de prenome seja requerida § 5o  Serão criados e implementados cadastros esta-
pelo adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observa- duais e nacional de crianças e adolescentes em condições
do o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.      (Reda- de serem adotados e de pessoas ou casais habilitados à
ção dada pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência adoção.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
§ 7o  A adoção produz seus efeitos a partir do trânsi- § 6o  Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais
to em julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese residentes fora do País, que somente serão consultados na
prevista no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força inexistência de postulantes nacionais habilitados nos ca-
retroativa à data do óbito.     (Incluído pela Lei nº 12.010, dastros mencionados no § 5o deste artigo.     (Incluído pela
de 2009)  Vigência Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência

149
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

§ 7o  As autoridades estaduais e federais em matéria de nacional, aprovada pelo Decreto Legislativo no 1, de 14 de
adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo- janeiro de 1999, e promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21
lhes a troca de informações e a cooperação mútua, para de junho de 1999.     (Redação dada pela Lei nº 12.010, de
melhoria do sistema.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
2009)  Vigência § 1o  A adoção internacional de criança ou adolescen-
§ 8o  A autoridade judiciária providenciará, no prazo te brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar
de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e quando restar comprovado:     (Redação dada pela Lei nº
adolescentes em condições de serem adotados que não 12.010, de 2009)  Vigência
tiveram colocação familiar na comarca de origem, e das I - que a colocação em família substituta é a solução
pessoas ou casais que tiveram deferida sua habilitação à adequada ao caso concreto;     (Incluído pela Lei nº 12.010,
adoção nos cadastros estadual e nacional referidos no § de 2009)  Vigência
5o deste artigo, sob pena de responsabilidade.     (Incluído II - que foram esgotadas todas as possibilidades de
pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência colocação da criança ou adolescente em família substituta
§ 9o  Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela brasileira, após consulta aos cadastros mencionados no art.
manutenção e correta alimentação dos cadastros, com 50 desta Lei;     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vi-
posterior comunicação à Autoridade Central Federal Bra- gência
sileira.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência III - que, em se tratando de adoção de adolescente,
§ 10.  A adoção internacional somente será deferida se, este foi consultado, por meios adequados ao seu estágio
após consulta ao cadastro de pessoas ou casais habilitados de desenvolvimento, e que se encontra preparado para a
à adoção, mantido pela Justiça da Infância e da Juventude medida, mediante parecer elaborado por equipe interpro-
na comarca, bem como aos cadastros estadual e nacional fissional, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28
referidos no § 5o deste artigo, não for encontrado interes- desta Lei.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
sado com residência permanente no Brasil.     (Incluído pela § 2o  Os brasileiros residentes no exterior terão prefe-
Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência rência aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional
§ 11.  Enquanto não localizada pessoa ou casal interes- de criança ou adolescente brasileiro.     (Redação dada pela
sado em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
que possível e recomendável, será colocado sob guarda § 3o  A adoção internacional pressupõe a intervenção
de família cadastrada em programa de acolhimento fami- das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria
liar.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência de adoção internacional.      (Redação dada pela Lei nº
§ 12.  A alimentação do cadastro e a convocação crite-
12.010, de 2009)  Vigência
riosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo Mi-
Art. 52.  A adoção internacional observará o procedi-
nistério Público.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi-
mento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as se-
gência
guintes adaptações:     (Redação dada pela Lei nº 12.010,
§ 13.  Somente poderá ser deferida adoção em favor
de 2009)  Vigência
de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previa-
I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar
mente nos termos desta Lei quando:     (Incluído pela Lei nº
criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido
12.010, de 2009)  Vigência
de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em
I - se tratar de pedido de adoção unilateral;     (Incluído
pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência matéria de adoção internacional no país de acolhida, assim
II - for formulada por parente com o qual a criança ou entendido aquele onde está situada sua residência habi-
adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetivida- tual;     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
de;     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência II - se a Autoridade Central do país de acolhida con-
III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guar- siderar que os solicitantes estão habilitados e aptos para
da legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, adotar, emitirá um relatório que contenha informações so-
desde que o lapso de tempo de convivência comprove a bre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos
fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja cons- solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e
tatada a ocorrência de má-fé ou qualquer das situações médica, seu meio social, os motivos que os animam e sua
previstas nos arts. 237 ou 238 desta Lei.     (Incluído pela Lei aptidão para assumir uma adoção internacional;     (Incluí-
nº 12.010, de 2009)  Vigência do pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
§ 14.  Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o
candidato deverá comprovar, no curso do procedimento, relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a
que preenche os requisitos necessários à adoção, confor- Autoridade Central Federal Brasileira;     (Incluído pela Lei
me previsto nesta Lei.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de nº 12.010, de 2009)  Vigência
2009)  Vigência IV - o relatório será instruído com toda a documen-
Art. 51.  Considera-se adoção internacional aquela na tação necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado
qual a pessoa ou casal postulante é residente ou domici- por equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada
liado fora do Brasil, conforme previsto no Artigo 2 da Con- da legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova
venção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção de vigência;     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vi-
das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Inter- gência

150
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

V - os documentos em língua estrangeira serão devida- I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condi-
mente autenticados pela autoridade consular, observados ções e dentro dos limites fixados pelas autoridades compe-
os tratados e convenções internacionais, e acompanhados tentes do país onde estiverem sediados, do país de acolhi-
da respectiva tradução, por tradutor público juramenta- da e pela Autoridade Central Federal Brasileira;     (Incluído
do;     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigên- II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualifica-
cias e solicitar complementação sobre o estudo psicossocial das e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada
do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de formação ou experiência para atuar na área de adoção in-
acolhida;     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência ternacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia Fe-
VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade deral e aprovadas pela Autoridade Central Federal Brasilei-
Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangei- ra, mediante publicação de portaria do órgão federal com-
ra com a nacional, além do preenchimento por parte dos petente;     (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
postulantes à medida dos requisitos objetivos e subjetivos III - estar submetidos à supervisão das autoridades
necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe competentes do país onde estiverem sediados e no país
esta Lei como da legislação do país de acolhida, será expe- de acolhida, inclusive quanto à sua composição, funciona-
dido laudo de habilitação à adoção internacional, que terá mento e situação financeira;     (Incluído pela Lei nº 12.010,
validade por, no máximo, 1 (um) ano; (Incluído pela Lei nº de 2009)  Vigência
12.010, de 2009)  Vigência IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira,
VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado a cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas,
será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o bem como relatório de acompanhamento das adoções in-
Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encon- ternacionais efetuadas no período, cuja cópia será encami-
tra a criança ou adolescente, conforme indicação efetua- nhada ao Departamento de Polícia Federal;     (Incluído pela
da pela Autoridade Central Estadual. (Incluído pela Lei nº Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
12.010, de 2009)  Vigência V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Au-
§ 1o  Se a legislação do país de acolhida assim o au- toridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade
torizar, admite-se que os pedidos de habilitação à adoção Central Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois)
internacional sejam intermediados por organismos creden- anos. O envio do relatório será mantido até a juntada de
ciados.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência cópia autenticada do registro civil, estabelecendo a cidada-
§ 2o  Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira nia do país de acolhida para o adotado;     (Incluído pela Lei
o credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros nº 12.010, de 2009)  Vigência
encarregados de intermediar pedidos de habilitação à ado- VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os
adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Bra-
ção internacional, com posterior comunicação às Autorida-
sileira cópia da certidão de registro de nascimento estran-
des Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de
geira e do certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam
imprensa e em sítio próprio da internet.     (Incluído pela Lei
concedidos.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vi-
nº 12.010, de 2009)  Vigência
gência
§ 3o  Somente será admissível o credenciamento de or-
§ 5o  A não apresentação dos relatórios referidos no §
ganismos que:     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vi-
4o deste artigo pelo organismo credenciado poderá acar-
gência
retar a suspensão de seu credenciamento.     (Incluído pela
I - sejam oriundos de países que ratificaram a Con-
Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
venção de Haia e estejam devidamente credenciados pela § 6o  O credenciamento de organismo nacional ou es-
Autoridade Central do país onde estiverem sediados e no trangeiro encarregado de intermediar pedidos de adoção
país de acolhida do adotando para atuar em adoção in- internacional terá validade de 2 (dois) anos.     (Incluído pela
ternacional no Brasil;     (Incluído pela Lei nº 12.010, de Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
2009)  Vigência § 7o  A renovação do credenciamento poderá ser con-
II - satisfizerem as condições de integridade moral, cedida mediante requerimento protocolado na Autoridade
competência profissional, experiência e responsabilidade Central Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores
exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Cen- ao término do respectivo prazo de validade.     (Incluído
tral Federal Brasileira;     (Incluído pela Lei nº 12.010, de pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
2009)  Vigência § 8o  Antes de transitada em julgado a decisão que con-
III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua cedeu a adoção internacional, não será permitida a saída
formação e experiência para atuar na área de adoção inter- do adotando do território nacional.     (Incluído pela Lei nº
nacional;     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência 12.010, de 2009)  Vigência
IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamen- § 9o  Transitada em julgado a decisão, a autoridade ju-
to jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Au- diciária determinará a expedição de alvará com autoriza-
toridade Central Federal Brasileira.     (Incluído pela Lei nº ção de viagem, bem como para obtenção de passaporte,
12.010, de 2009)  Vigência constando, obrigatoriamente, as características da criança
§ 4o  Os organismos credenciados deverão ainda:     (In- ou adolescente adotado, como idade, cor, sexo, eventuais
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência sinais ou traços peculiares, assim como foto recente e a

151
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

aposição da impressão digital do seu polegar direito, ins- Art. 52-C.  Nas adoções internacionais, quando o Brasil
truindo o documento com cópia autenticada da decisão for o país de acolhida, a decisão da autoridade competente
e certidão de trânsito em julgado.     (Incluído pela Lei nº do país de origem da criança ou do adolescente será conhe-
12.010, de 2009)  Vigência cida pela Autoridade Central Estadual que tiver processado
§ 10.  A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a o pedido de habilitação dos pais adotivos, que comunicará o
qualquer momento, solicitar informações sobre a situação fato à Autoridade Central Federal e determinará as providên-
das crianças e adolescentes adotados.     (Incluído pela Lei cias necessárias à expedição do Certificado de Naturalização
nº 12.010, de 2009)  Vigência Provisório.      (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
§ 11.  A cobrança de valores por parte dos organis- § 1o  A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério
mos credenciados, que sejam considerados abusivos pela Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela
Autoridade Central Federal Brasileira e que não estejam decisão se restar demonstrado que a adoção é manifesta-
devidamente comprovados, é causa de seu descredencia- mente contrária à ordem pública ou não atende ao interesse
mento.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência superior da criança ou do adolescente.     (Incluído pela Lei
§ 12.  Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem nº 12.010, de 2009)  Vigência
ser representados por mais de uma entidade credenciada § 2o  Na hipótese de não reconhecimento da adoção,
para atuar na cooperação em adoção internacional.     (In- prevista no § 1o deste artigo, o Ministério Público deverá
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência imediatamente requerer o que for de direito para resguardar
§ 13.  A habilitação de postulante estrangeiro ou domi- os interesses da criança ou do adolescente, comunicando-
ciliado fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano, se as providências à Autoridade Central Estadual, que fará
podendo ser renovada.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de a comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira e à
2009)  Vigência Autoridade Central do país de origem.     (Incluído pela Lei
§ 14.  É vedado o contato direto de representantes de nº 12.010, de 2009)  Vigência
organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com Art. 52-D.  Nas adoções internacionais, quando o Brasil
dirigentes de programas de acolhimento institucional ou for o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no
familiar, assim como com crianças e adolescentes em con- país de origem porque a sua legislação a delega ao país de
acolhida, ou, ainda, na hipótese de, mesmo com decisão, a
dições de serem adotados, sem a devida autorização judi-
criança ou o adolescente ser oriundo de país que não tenha
cial.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
aderido à Convenção referida, o processo de adoção seguirá
§ 15.  A Autoridade Central Federal Brasileira poderá
as regras da adoção nacional.     (Incluído pela Lei nº 12.010,
limitar ou suspender a concessão de novos credenciamen-
de 2009)  Vigência
tos sempre que julgar necessário, mediante ato adminis-
trativo fundamentado.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de
Capítulo IV
2009)  Vigência
Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao
Art. 52-A.  É vedado, sob pena de responsabilidade e Lazer
descredenciamento, o repasse de recursos provenientes
de organismos estrangeiros encarregados de intermediar Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação,
pedidos de adoção internacional a organismos nacionais visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo
ou a pessoas físicas.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho,
2009)  Vigência assegurando-se-lhes:
Parágrafo único.  Eventuais repasses somente poderão I - igualdade de condições para o acesso e permanência
ser efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Ado- na escola;
lescente e estarão sujeitos às deliberações do respectivo II - direito de ser respeitado por seus educadores;
Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente.     (In- III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência recorrer às instâncias escolares superiores;
Art. 52-B.  A adoção por brasileiro residente no exterior IV - direito de organização e participação em entidades
em país ratificante da Convenção de Haia, cujo processo estudantis;
de adoção tenha sido processado em conformidade com a V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
legislação vigente no país de residência e atendido o dis- residência.
posto na Alínea “c” do Artigo 17 da referida Convenção, Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter
será automaticamente recepcionada com o reingresso no ciência do processo pedagógico, bem como participar da
Brasil. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência definição das propostas educacionais.
§ 1o  Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao ado-
“c” do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença lescente:
ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça.      (In- I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
§ 2o  O pretendente brasileiro residente no exterior em II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuida-
país não ratificante da Convenção de Haia, uma vez rein- de ao ensino médio;
gressado no Brasil, deverá requerer a homologação da sen- III - atendimento educacional especializado aos porta-
tença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça.     (In- dores de deficiência, preferencialmente na rede regular de
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência ensino;

152
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é
de zero a cinco anos de idade;    (Redação dada pela Lei nº assegurada bolsa de aprendizagem.
13.306, de 2016) Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes- anos, são assegurados os direitos trabalhistas e previden-
quisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada ciários.
um; Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é asse-
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às con- gurado trabalho protegido.
dições do adolescente trabalhador; Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regi-
VII - atendimento no ensino fundamental, através de me familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido
programas suplementares de material didático-escolar, em entidade governamental ou não-governamental, é ve-
transporte, alimentação e assistência à saúde. dado trabalho:
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um
público subjetivo. dia e as cinco horas do dia seguinte;
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo po- II - perigoso, insalubre ou penoso;
der público ou sua oferta irregular importa responsabilidade III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao
da autoridade competente. seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos IV - realizado em horários e locais que não permitam a
no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto frequência à escola.
aos pais ou responsável, pela frequência à escola. Art. 68. O programa social que tenha por base o traba-
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matri- lho educativo, sob responsabilidade de entidade governa-
cular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino. mental ou não-governamental sem fins lucrativos, deverá
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fun- assegurar ao adolescente que dele participe condições de
damental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: capacitação para o exercício de atividade regular remune-
I - maus-tratos envolvendo seus alunos; rada.
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, § 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade la-
esgotados os recursos escolares; boral em que as exigências pedagógicas relativas ao de-
III - elevados níveis de repetência. senvolvimento pessoal e social do educando prevalecem
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiên- sobre o aspecto produtivo.
cias e novas propostas relativas a calendário, seriação, currí- § 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo tra-
culo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção balho efetuado ou a participação na venda dos produtos
de crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental de seu trabalho não desfigura o caráter educativo.
obrigatório. Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os va- e à proteção no trabalho, observados os seguintes aspec-
lores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto tos, entre outros:
social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a I - respeito à condição peculiar de pessoa em desen-
liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura. volvimento;
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da II - capacitação profissional adequada ao mercado de
União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e trabalho.
espaços para programações culturais, esportivas e de lazer
voltadas para a infância e a juventude. Título III
Da Prevenção
Capítulo V Capítulo I
Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Tra- Disposições Gerais
balho
Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de qua- ameaça ou violação dos direitos da criança e do adoles-
torze anos de idade, salvo na condição de aprendiz.      (Vide cente.
Constituição Federal) Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regula- Municípios deverão atuar de forma articulada na elabora-
da por legislação especial, sem prejuízo do disposto nesta Lei. ção de políticas públicas e na execução de ações destina-
Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técni- das a coibir o uso de castigo físico ou de tratamento cruel
co-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da ou degradante e difundir formas não violentas de educa-
legislação de educação em vigor. ção de crianças e de adolescentes, tendo como principais
Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos ações:     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
seguintes princípios: I - a promoção de campanhas educativas permanentes
I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino para a divulgação do direito da criança e do adolescente
regular; de serem educados e cuidados sem o uso de castigo físico
II - atividade compatível com o desenvolvimento do ou de tratamento cruel ou degradante e dos instrumentos
adolescente; de proteção aos direitos humanos;     (Incluído pela Lei nº
III - horário especial para o exercício das atividades. 13.010, de 2014)

153
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, Capítulo II


do Ministério Público e da Defensoria Pública, com o Con- Da Prevenção Especial
selho Tutelar, com os Conselhos de Direitos da Criança e Seção I
do Adolescente e com as entidades não governamentais Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões
que atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos e Espetáculos
da criança e do adolescente;     (Incluído pela Lei nº 13.010,
de 2014) Art. 74. O poder público, através do órgão competen-
III - a formação continuada e a capacitação dos profis- te, regulará as diversões e espetáculos públicos, informan-
sionais de saúde, educação e assistência social e dos de- do sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se
mais agentes que atuam na promoção, proteção e defesa recomendem, locais e horários em que sua apresentação
dos direitos da criança e do adolescente para o desenvolvi- se mostre inadequada.
mento das competências necessárias à prevenção, à iden- Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e
tificação de evidências, ao diagnóstico e ao enfrentamento espetáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de
de todas as formas de violência contra a criança e o adoles- fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação
cente;     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) destacada sobre a natureza do espetáculo e a faixa etária
IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pa- especificada no certificado de classificação.
cífica de conflitos que envolvam violência contra a criança Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às
e o adolescente;     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) diversões e espetáculos públicos classificados como ade-
V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que quados à sua faixa etária.
visem a garantir os direitos da criança e do adolescente, Parágrafo único. As crianças menores de dez anos so-
desde a atenção pré-natal, e de atividades junto aos pais e mente poderão ingressar e permanecer nos locais de apre-
responsáveis com o objetivo de promover a informação, a sentação ou exibição quando acompanhadas dos pais ou
reflexão, o debate e a orientação sobre alternativas ao uso responsável.
de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante no Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente
processo educativo;     (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
exibirão, no horário recomendado para o público infanto
VI - a promoção de espaços intersetoriais locais para
juvenil, programas com finalidades educativas, artísticas,
a articulação de ações e a elaboração de planos de atua-
culturais e informativas.
ção conjunta focados nas famílias em situação de violência,
Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresenta-
com participação de profissionais de saúde, de assistência
do ou anunciado sem aviso de sua classificação, antes de
social e de educação e de órgãos de promoção, proteção e
sua transmissão, apresentação ou exibição.
defesa dos direitos da criança e do adolescente.     (Incluí-
Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcio-
do pela Lei nº 13.010, de 2014)
nários de empresas que explorem a venda ou aluguel de
Parágrafo único.  As famílias com crianças e adolescen-
tes com deficiência terão prioridade de atendimento nas fitas de programação em vídeo cuidarão para que não haja
ações e políticas públicas de prevenção e proteção.     (In- venda ou locação em desacordo com a classificação atri-
cluído pela Lei nº 13.010, de 2014) buída pelo órgão competente.
Art. 70-B.  As entidades, públicas e privadas, que atuem Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo de-
nas áreas a que se refere o art. 71, dentre outras, devem verão exibir, no invólucro, informação sobre a natureza da
contar, em seus quadros, com pessoas capacitadas a reco- obra e a faixa etária a que se destinam.
nhecer e comunicar ao Conselho Tutelar suspeitas ou casos Art. 78. As revistas e publicações contendo material
de maus-tratos praticados contra crianças e adolescen- impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes de-
tes.    (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014) verão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a
Parágrafo único.  São igualmente responsáveis pela advertência de seu conteúdo.
comunicação de que trata este artigo, as pessoas encarre- Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as ca-
gadas, por razão de cargo, função, ofício, ministério, pro- pas que contenham mensagens pornográficas ou obsce-
fissão ou ocupação, do cuidado, assistência ou guarda de nas sejam protegidas com embalagem opaca.
crianças e adolescentes, punível, na forma deste Estatuto, o Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao públi-
injustificado retardamento ou omissão, culposos ou dolo- co infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotogra-
sos.      (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014) fias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas,
Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a infor- tabaco, armas e munições, e deverão respeitar os valores
mação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e éticos e sociais da pessoa e da família.
produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que
de pessoa em desenvolvimento. explorem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere
Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem ou por casas de jogos, assim entendidas as que realizem
da prevenção especial outras decorrentes dos princípios apostas, ainda que eventualmente, cuidarão para que não
por ela adotados. seja permitida a entrada e a permanência de crianças e
Art. 73. A inobservância das normas de prevenção im- adolescentes no local, afixando aviso para orientação do
portará em responsabilidade da pessoa física ou jurídica, público.
nos termos desta Lei.

154
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Seção II Art. 87. São linhas de ação da política de atendimen-


Dos Produtos e Serviços to:  (Vide Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
I - políticas sociais básicas;
Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente II - serviços, programas, projetos e benefícios de assis-
de: tência social de garantia de proteção social e de prevenção
I - armas, munições e explosivos; e redução de violações de direitos, seus agravamentos ou
II - bebidas alcoólicas; reincidências; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
III - produtos cujos componentes possam causar de- III - serviços especiais de prevenção e atendimento mé-
pendência física ou psíquica ainda que por utilização in- dico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos,
devida; exploração, abuso, crueldade e opressão;
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles IV - serviço de identificação e localização de pais, res-
que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de pro- ponsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
vocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida; V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos
V - revistas e publicações a que alude o art. 78; direitos da criança e do adolescente.
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes. VI - políticas e programas destinados a prevenir ou
Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou ado- abreviar o período de afastamento do convívio familiar e a
lescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento con- garantir o efetivo exercício do direito à convivência familiar
gênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou de crianças e adolescentes;    (Incluído pela Lei nº 12.010, de
responsável. 2009) Vigência
VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma
Seção III de guarda de crianças e adolescentes afastados do convívio
Da Autorização para Viajar familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças
maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas
Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos. (Incluí-
comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou res- do pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
ponsável, sem expressa autorização judicial. Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:
§ 1º A autorização não será exigida quando: I - municipalização do atendimento;
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional
dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos
criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na
e controladores das ações em todos os níveis, assegurada
mesma região metropolitana;
a participação popular paritária por meio de organizações
b) a criança estiver acompanhada:
representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais;
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau,
III - criação e manutenção de programas específicos, ob-
comprovado documentalmente o parentesco;
servada a descentralização político-administrativa;
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e muni-
mãe ou responsável. cipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais criança e do adolescente;
ou responsável, conceder autorização válida por dois anos. V - integração operacional de órgãos do Judiciário, Mi-
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a auto- nistério Público, Defensoria, Segurança Pública e Assistência
rização é dispensável, se a criança ou adolescente: Social, preferencialmente em um mesmo local, para efeito de
I - estiver acompanhado de ambos os pais ou respon- agilização do atendimento inicial a adolescente a quem se
sável; atribua autoria de ato infracional;
II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado ex- VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, Mi-
pressamente pelo outro através de documento com firma nistério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e encarrega-
reconhecida. dos da execução das políticas sociais básicas e de assistência
Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, ne- social, para efeito de agilização do atendimento de crianças
nhuma criança ou adolescente nascido em território na- e de adolescentes inseridos em programas de acolhimento
cional poderá sair do País em companhia de estrangeiro familiar ou institucional, com vista na sua rápida reintegra-
residente ou domiciliado no exterior. ção à família de origem ou, se tal solução se mostrar com-
provadamente inviável, sua colocação em família substituta,
Parte Especial em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta
Título I Lei;  (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
Da Política de Atendimento VII - mobilização da opinião pública para a indispensável
Capítulo I participação dos diversos segmentos da sociedade.   (In-
Disposições Gerais cluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
VIII - especialização e formação continuada dos pro-
Art. 86. A política de atendimento dos direitos da crian- fissionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção
ça e do adolescente far-se-á através de um conjunto articu- à primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre di-
lado de ações governamentais e não-governamentais, da reitos da criança e sobre desenvolvimento infantil;(Incluído
União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. pela Lei nº 13.257, de 2016)

155
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

IX - formação profissional com abrangência dos di- I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei,
versos direitos da criança e do adolescente que favoreça a bem como às resoluções relativas à modalidade de aten-
intersetorialidade no atendimento da criança e do adoles- dimento prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos
cente e seu desenvolvimento integral;(Incluído pela Lei nº da Criança e do Adolescente, em todos os níveis; (Incluído
13.257, de 2016) pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
X - realização e divulgação de pesquisas sobre desen- II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido,
volvimento infantil e sobre prevenção da violência.(Incluído atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e
pela Lei nº 13.257, de 2016) pela Justiça da Infância e da Juventude; (Incluído pela Lei nº
Art. 89. A função de membro do conselho nacional e 12.010, de 2009)  Vigência
dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da crian- III - em se tratando de programas de acolhimento ins-
ça e do adolescente é considerada de interesse público re- titucional ou familiar, serão considerados os índices de su-
levante e não será remunerada. cesso na reintegração familiar ou de adaptação à família
substituta, conforme o caso. (Incluído pela Lei nº 12.010,
Capítulo II de 2009)Vigência
Das Entidades de Atendimento Art. 91. As entidades não-governamentais somente
Seção I poderão funcionar depois de registradas no Conselho Mu-
Disposições Gerais nicipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual
comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autoridade
Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis judiciária da respectiva localidade.
pela manutenção das próprias unidades, assim como pelo § 1o  Será negado o registro à entidade que: (Incluído
planejamento e execução de programas de proteção e só- pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
cio-educativos destinados a crianças e adolescentes, em a) não ofereça instalações físicas em condições ade-
regime de: quadas de habitabilidade, higiene, salubridade e seguran-
I - orientação e apoio sócio-familiar; ça;
II - apoio sócio-educativo em meio aberto; b) não apresente plano de trabalho compatível com os
III - colocação familiar; princípios desta Lei;
c) esteja irregularmente constituída;
IV - acolhimento institucional;    (Redação dada pela Lei
d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas.
nº 12.010, de 2009)       igência       
e) não se adequar ou      deixar de cumprir as resolu-
V - prestação de serviços à comunidade;  (Redação
ções e deliberações relativas à modalidade de atendimento
dada pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide)
prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança
VI - liberdade assistida; (Redação dada pela Lei nº
e do Adolescente, em todos os níveis.       (Incluída pela Lei
12.594, de 2012)      (Vide)
nº 12.010, de 2009)   Vigência
VII - semiliberdade; e (Redação dada pela Lei nº 12.594,
§ 2o  O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos,
de 2012)      (Vide)
cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e
VIII - internação.       (Incluído pela Lei nº 12.594, de do Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de
2012)      (Vide) sua renovação, observado o disposto no § 1o deste artigo.
§ 1o  As entidades governamentais e não governamen- (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
tais deverão proceder à inscrição de seus programas, es- Art. 92.  As entidades que desenvolvam programas de
pecificando os regimes de atendimento, na forma definida acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os se-
neste artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da Crian- guintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 12.010, de
ça e do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições 2009) Vigência
e de suas alterações, do que fará comunicação ao Conse- I - preservação dos vínculos familiares e promoção da
lho Tutelar e à autoridade judiciária.    (Incluído pela Lei nº reintegração familiar;(Redação dada pela Lei nº 12.010, de
12.010, de 2009) Vigência 2009)Vigência
§ 2o  Os recursos destinados à implementação e ma- II - integração em família substituta, quando esgota-
nutenção dos programas relacionados neste artigo serão dos os recursos de manutenção na família natural ou ex-
previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos públicos tensa; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
encarregados das áreas de Educação, Saúde e Assistência III - atendimento personalizado e em pequenos gru-
Social, dentre outros, observando-se o princípio da priori- pos;
dade absoluta à criança e ao adolescente preconizado pelo IV - desenvolvimento de atividades em regime de co
caput do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput e -educação;
parágrafo único do art. 4o desta Lei. (Incluído pela Lei nº V - não desmembramento de grupos de irmãos;
12.010, de 2009)  Vigência VI - evitar, sempre que possível, a transferência para
§ 3o  Os programas em execução serão reavaliados pelo outras entidades de crianças e adolescentes abrigados;
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adoles- VII - participação na vida da comunidade local;
cente, no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se VIII - preparação gradativa para o desligamento;
critérios para renovação da autorização de funcionamen- IX - participação de pessoas da comunidade no pro-
to: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência cesso educativo.

156
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

§ 1o  O dirigente de entidade que desenvolve progra- Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de
ma de acolhimento institucional é equiparado ao guardião, internação têm as seguintes obrigações, entre outras:
para todos os efeitos de direito. (Incluído pela Lei nº 12.010, I - observar os direitos e garantias de que são titulares
de 2009)   Vigência os adolescentes;
§ 2o  Os dirigentes de entidades que desenvolvem pro- II - não restringir nenhum direito que não tenha sido
gramas de acolhimento familiar ou institucional remeterão objeto de restrição na decisão de internação;
à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas
relatório circunstanciado acerca da situação de cada criança unidades e grupos reduzidos;
ou adolescente acolhido e sua família, para fins da reavalia- IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de res-
ção prevista no § 1o do art. 19 desta Lei.(Incluído pela Lei nº peito e dignidade ao adolescente;
12.010, de 2009)Vigência V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da
§ 3o  Os entes federados, por intermédio dos Poderes preservação dos vínculos familiares;
Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a per- VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente,
manente qualificação dos profissionais que atuam direta ou os casos em que se mostre inviável ou impossível o reata-
indiretamente em programas de acolhimento institucional e mento dos vínculos familiares;
destinados à colocação familiar de crianças e adolescentes, VII - oferecer instalações físicas em condições adequa-
incluindo membros do Poder Judiciário, Ministério Público das de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e
e Conselho Tutelar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) os objetos necessários à higiene pessoal;
Vigência VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e
§ 4o  Salvo determinação em contrário da autoridade ju- adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos;
diciária competente, as entidades que desenvolvem progra- IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odonto-
mas de acolhimento familiar ou institucional, se necessário lógicos e farmacêuticos;
com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos de assistên- X - propiciar escolarização e profissionalização;
cia social, estimularão o contato da criança ou adolescente XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer;
com seus pais e parentes, em cumprimento ao disposto nos XII - propiciar assistência religiosa àqueles que deseja-
incisos I e VIII do caput deste artigo.  (Incluído pela Lei nº rem, de acordo com suas crenças;
12.010, de 2009)Vigência XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
§ 5o  As entidades que desenvolvem programas de aco- XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo
lhimento familiar ou institucional somente poderão receber máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à  au-
recursos públicos se comprovado o atendimento dos prin- toridade competente;
cípios, exigências e finalidades desta Lei.(Incluído pela Lei nº XV - informar, periodicamente, o adolescente interna-
12.010, de 2009)      Vigência do sobre sua situação processual;
§ 6o  O descumprimento das disposições desta Lei pelo XVI - comunicar às autoridades competentes todos os
dirigente de entidade que desenvolva programas de acolhi- casos de adolescentes portadores de moléstias infecto-
mento familiar ou institucional é causa de sua destituição, contagiosas;
sem prejuízo da apuração de sua responsabilidade admi- XVII - fornecer comprovante de depósito dos perten-
nistrativa, civil e criminal.   (Incluído pela Lei nº 12.010, de ces dos adolescentes;
2009)       Vigência XVIII - manter programas destinados ao apoio e acom-
§ 7o  Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) panhamento de egressos;
anos em acolhimento institucional, dar-se-á especial aten- XIX - providenciar os documentos necessários ao exer-
ção à atuação de educadores de referência estáveis e qua- cício da cidadania àqueles que não os tiverem;
litativamente significativos, às rotinas específicas e ao aten- XX - manter arquivo de anotações onde constem data
dimento das necessidades básicas, incluindo as de afeto e circunstâncias do atendimento, nome do adolescente,
como prioritárias.    (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) seus pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade,
Art. 93.  As entidades que mantenham programa de acompanhamento da sua formação, relação de seus per-
acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional tences e demais dados que possibilitem sua identificação e
e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia a individualização do atendimento.
determinação da autoridade competente, fazendo comuni- § 1o  Aplicam-se, no que couber, as obrigações cons-
cação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da tantes deste artigo às entidades que mantêm programas
Infância e da Juventude, sob pena de responsabilidade. (Re- de acolhimento institucional e familiar.   (Redação dada
dação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Parágrafo único.  Recebida a comunicação, a autoridade § 2º No cumprimento das obrigações a que alude este
judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário com artigo as entidades utilizarão preferencialmente os recur-
o apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas ne- sos da comunidade.
cessárias para promover a imediata reintegração familiar da Art. 94-A.  As entidades, públicas ou privadas, que abri-
criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for guem ou recepcionem crianças e adolescentes, ainda que
isso possível ou recomendável, para seu encaminhamento a em caráter temporário, devem ter, em seus quadros, pro-
programa de acolhimento familiar, institucional ou a família fissionais capacitados a reconhecer e reportar ao Conselho
substituta, observado o disposto no § 2o do art. 101 desta Tutelar suspeitas ou ocorrências de maus-tratos.       (In-
Lei.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência cluído pela Lei nº 13.046, de 2014)

157
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Seção II Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em


Da Fiscalização das Entidades conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas
que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e co-
Art. 95. As entidades governamentais e não-governa- munitários.
mentais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo Judi- Parágrafo único.  São também princípios que regem
ciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares. a aplicação das medidas:(Incluído pela Lei nº 12.010, de
Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de con- 2009)   Vigência
tas serão apresentados ao estado ou ao município, confor- I - condição da criança e do adolescente como sujei-
me a origem das dotações orçamentárias. tos de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos
Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de aten- direitos previstos nesta e em outras Leis, bem como na
dimento que descumprirem obrigação constante do Constituição Federal; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
art. 94, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal Vigência
de seus dirigentes ou prepostos:  (Vide Lei nº 12.010, de II - proteção integral e prioritária: a interpretação e
aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve
2009)       Vigência
ser voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de
I - às entidades governamentais:
que crianças e adolescentes são titulares; (Incluído pela Lei
a) advertência;
nº 12.010, de 2009)       Vigência
b) afastamento provisório de seus dirigentes;
III - responsabilidade primária e solidária do poder pú-
c) afastamento definitivo de seus dirigentes; blico: a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças
d) fechamento de unidade ou interdição de programa. e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal,
II - às entidades não-governamentais: salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é de
a) advertência; responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de
b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas pú- governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento
blicas; e da possibilidade da execução de programas por entida-
c) interdição de unidades ou suspensão de programa; des não governamentais; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
d) cassação do registro. 2009)       Vigência
§ 1o  Em caso de reiteradas infrações cometidas por en- IV - interesse superior da criança e do adolescente: a
tidades de atendimento, que coloquem em risco os direitos intervenção deve atender prioritariamente aos interesses e
assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comunicado ao direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da con-
Ministério Público ou representado perante autoridade ju- sideração que for devida a outros interesses legítimos no
diciária competente para as providências cabíveis, inclusive âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso
suspensão das atividades ou dissolução da entidade.   (Re- concreto; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)      Vigência
dação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção
§ 2o  As pessoas jurídicas de direito público e as organi- da criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito
zações não governamentais responderão pelos danos que pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida pri-
seus agentes causarem às crianças e aos adolescentes, ca- vada;(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
racterizado o descumprimento dos princípios norteadores VI - intervenção precoce: a intervenção das autorida-
das atividades de proteção específica.    (Redação dada pela des competentes deve ser efetuada logo que a situação
Lei nº 12.010, de 2009)Vigência de perigo seja conhecida; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009)   Vigência
Título II VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exer-
cida exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja
Das Medidas de Proteção
ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à
Capítulo I
proteção da criança e do adolescente; (Incluído pela Lei nº
Disposições Gerais
12.010, de 2009)   Vigência
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adoles- deve ser a necessária e adequada à situação de perigo em
cente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos que a criança ou o adolescente se encontram no momento
nesta Lei forem ameaçados ou violados: em que a decisão é tomada; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; 2009)   Vigência
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsá- IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser
vel; efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres
III - em razão de sua conduta. para com a criança e o adolescente;       (Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009)   Vigência
Capítulo II X - prevalência da família: na promoção de direitos e na
Das Medidas Específicas de Proteção proteção da criança e do adolescente deve ser dada preva-
lência às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua
Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão família natural ou extensa ou, se isto não for possível, que
ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como subs- promovam a sua integração em família substituta; (Incluído
tituídas a qualquer tempo. pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência

158
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o I - sua identificação e a qualificação completa de seus


adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento pais ou de seu responsável, se conhecidos;(Incluído pela Lei
e capacidade de compreensão, seus pais ou responsável nº 12.010, de 2009)   Vigência
devem ser informados dos seus direitos, dos motivos que II - o endereço de residência dos pais ou do responsá-
determinaram a intervenção e da forma como esta se pro- vel, com pontos de referência;(Incluído pela Lei nº 12.010,
cessa; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência de 2009)   Vigência
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o ado- III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados
lescente, em separado ou na companhia dos pais, de res- em tê-los sob sua guarda;(Incluído pela Lei nº 12.010, de
ponsável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus 2009)   Vigência
pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao
nos atos e na definição da medida de promoção dos direi- convívio familiar.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vi-
tos e de proteção, sendo sua opinião devidamente consi- gência
derada pela autoridade judiciária competente, observado o § 4o  Imediatamente após o acolhimento da criança ou
disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.(Incluído pela Lei do adolescente, a entidade responsável pelo programa de
nº 12.010, de 2009)   Vigência acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no individual de atendimento, visando à reintegração familiar,
art. 98, a autoridade competente poderá determinar, den- ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada
tre outras, as seguintes medidas: em contrário de autoridade judiciária competente, caso em
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante que também deverá contemplar sua colocação em família
termo de responsabilidade; substituta, observadas as regras e princípios desta Lei.(In-
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; cluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabeleci- § 5o  O plano individual será elaborado sob a respon-
mento oficial de ensino fundamental; sabilidade da equipe técnica do respectivo programa de
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou co- atendimento e levará em consideração a opinião da criança
munitários de proteção, apoio e promoção da família, da ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável.
criança e do adolescente;    (Redação dada pela Lei nº (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
13.257, de 2016) § 6o  Constarão do plano individual, dentre ou-
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou tros:       (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
I - os resultados da avaliação interdisciplinar;       (In-
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicôma-
II - os compromissos assumidos pelos pais ou respon-
nos;
sável; e       (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
VII - acolhimento institucional;   (Redação dada pela Lei
III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas
nº 12.010, de 2009)   Vigência
com a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais
VIII - inclusão em programa de acolhimento fami-
ou responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso
liar; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
IX - colocação em família substituta. (Incluído pela Lei seja esta vedada por expressa e fundamentada determi-
nº 12.010, de 2009)   Vigência nação judicial, as providências a serem tomadas para sua
§ 1o  O acolhimento institucional e o acolhimento fa- colocação em família substituta, sob direta supervisão
miliar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis da autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
como forma de transição para reintegração familiar ou, não 2009)   Vigência
sendo esta possível, para colocação em família substituta, § 7o  O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá
não implicando privação de liberdade. (Incluído pela Lei nº no local mais próximo à residência dos pais ou do respon-
12.010, de 2009)   Vigência sável e, como parte do processo de reintegração familiar,
§ 2o  Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais sempre que identificada a necessidade, a família de origem
para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio
das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afasta- e de promoção social, sendo facilitado e estimulado o con-
mento da criança ou adolescente do convívio familiar é de tato com a criança ou com o adolescente acolhido.(Incluído
competência exclusiva da autoridade judiciária e importará pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem § 8o  Verificada a possibilidade de reintegração familiar,
tenha legítimo interesse, de procedimento judicial conten- o responsável pelo programa de acolhimento familiar ou
cioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal o institucional fará imediata comunicação à autoridade judi-
exercício do contraditório e da ampla defesa.(Incluído pela ciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de 5
Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência (cinco) dias, decidindo em igual prazo. (Incluído pela Lei nº
§ 3o  Crianças e adolescentes somente poderão ser 12.010, de 2009)   Vigência
encaminhados às instituições que executam programas § 9o  Em sendo constatada a impossibilidade de re-
de acolhimento institucional, governamentais ou não, por integração da criança ou do adolescente à família de ori-
meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autori- gem, após seu encaminhamento a programas oficiais ou
dade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre comunitários de orientação, apoio e promoção social, será
outros:    (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência enviado relatório fundamentado ao Ministério Público, no

159
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

qual conste a descrição pormenorizada das providências Título III


tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos técni- Da Prática de Ato Infracional
cos da entidade ou responsáveis pela execução da política Capítulo I
municipal de garantia do direito à convivência familiar, para Disposições Gerais
a destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou
guarda.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descri-
§ 10.  Recebido o relatório, o Ministério Público terá ta como crime ou contravenção penal.
o prazo de 30 (trinta) dias para o ingresso com a ação de Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de
destituição do poder familiar, salvo se entender necessária dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.
a realização de estudos complementares ou outras provi- Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser con-
dências que entender indispensáveis ao ajuizamento da siderada a idade do adolescente à data do fato.
demanda.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança cor-
§ 11.  A autoridade judiciária manterá, em cada comar- responderão as medidas previstas no art. 101.
ca ou foro regional, um cadastro contendo informações
atualizadas sobre as crianças e adolescentes em regime de Capítulo II
acolhimento familiar e institucional sob sua responsabilida- Dos Direitos Individuais
de, com informações pormenorizadas sobre a situação jurí-
dica de cada um, bem como as providências tomadas para Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua li-
sua reintegração familiar ou colocação em família substitu- berdade senão em flagrante de ato infracional ou por or-
ta, em qualquer das modalidades previstas no art. 28 desta dem escrita e fundamentada da autoridade judiciária com-
Lei.  (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência petente.
§ 12.  Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o Parágrafo único. O adolescente tem direito à identifi-
Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os cação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser
Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adoles- informado acerca de seus direitos.
cente e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o lo-
sobre a implementação de políticas públicas que permitam cal onde se encontra recolhido serão incontinenti comu-
reduzir o número de crianças e adolescentes afastados do
nicados à autoridade judiciária competente e à família do
convívio familiar e abreviar o período de permanência em
apreendido ou à pessoa por ele indicada.
programa de acolhimento.     (Incluído pela Lei nº 12.010,
Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena
de 2009)   Vigência
de responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata.
Art. 102. As medidas de proteção de que trata este
Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser de-
Capítulo serão acompanhadas da regularização do regis-
terminada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
tro civil.  (Vide Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e
§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o as-
sento de nascimento da criança ou adolescente será feito basear-se em indícios suficientes de autoria e materialida-
à vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da de, demonstrada a necessidade imperiosa da medida.
autoridade judiciária. Art. 109. O adolescente civilmente identificado não
§ 2º Os registros e certidões necessários à regulariza- será submetido a identificação compulsória pelos órgãos
ção de que trata este artigo são isentos de multas, custas e policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de con-
emolumentos, gozando de absoluta prioridade. frontação, havendo dúvida fundada.
§ 3o  Caso ainda não definida a paternidade, será  defla-
grado procedimento específico destinado à sua averigua- Capítulo III
ção, conforme previsto pela Lei no 8.560, de 29 de dezembro Das Garantias Processuais
de 1992.  (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
§ 4o  Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua li-
dispensável o ajuizamento de ação de investigação de pa- berdade sem o devido processo legal.
ternidade pelo Ministério Público se, após o não compa- Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras,
recimento ou a recusa do suposto pai em assumir a pa- as seguintes garantias:
ternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato
adoção. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência infracional, mediante citação ou meio equivalente;
§ 5o  Os registros e certidões necessários à inclusão, a II - igualdade na relação processual, podendo confron-
qualquer tempo, do nome do pai no assento de nascimen- tar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as pro-
to são isentos de multas, custas e emolumentos, gozando vas necessárias à sua defesa;
de absoluta prioridade.    (Incluído dada pela Lei nº 13.257, III - defesa técnica por advogado;
de 2016) IV - assistência judiciária gratuita e integral aos neces-
§ 6o  São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação re- sitados, na forma da lei;
querida do reconhecimento de paternidade no assento de V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade
nascimento e a certidão correspondente.    (Incluído dada competente;
pela Lei nº 13.257, de 2016) VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou res-
ponsável em qualquer fase do procedimento.

160
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Capítulo IV Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme


Das Medidas Sócio-Educativas as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas du-
Seção I rante jornada máxima de oito horas semanais, aos sába-
Disposições Gerais dos, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não
prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a au- trabalho.
toridade competente poderá aplicar ao adolescente as se-
guintes medidas: Seção V
I - advertência; Da Liberdade Assistida
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade; Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que
IV - liberdade assistida; se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompa-
V - inserção em regime de semi-liberdade; nhar, auxiliar e orientar o adolescente.
VI - internação em estabelecimento educacional; § 1º A autoridade designará pessoa capacitada para
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta entidade ou programa de atendimento.
a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravi- § 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo míni-
dade da infração. mo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorro-
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será gada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o
admitida a prestação de trabalho forçado. orientador, o Ministério Público e o defensor.
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou defi- Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a su-
ciência mental receberão tratamento individual e especiali- pervisão da autoridade competente, a realização dos se-
zado, em local adequado às suas condições. guintes encargos, entre outros:
Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. I - promover socialmente o adolescente e sua família,
99 e 100. fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário,
em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência
Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos
social;
II a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas suficien-
II - supervisionar a frequência e o aproveitamento es-
tes da autoria e da materialidade da infração, ressalvada a
colar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula;
hipótese de remissão, nos termos do art. 127.
III - diligenciar no sentido da profissionalização do
Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada
adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho;
sempre que houver prova da materialidade e indícios su-
IV - apresentar relatório do caso.
ficientes da autoria.
Seção VI
Seção II Do Regime de Semi-liberdade
Da Advertência
Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser deter-
Art. 115. A advertência consistirá em admoestação ver- minado desde o início, ou como forma de transição para o
bal, que será reduzida a termo e assinada. meio aberto, possibilitada a realização de atividades exter-
nas, independentemente de autorização judicial.
Seção III § 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionali-
Da Obrigação de Reparar o Dano zação, devendo, sempre que possível, ser utilizados os re-
cursos existentes na comunidade.
Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos § 2º A medida não comporta prazo determinado apli-
patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, cando-se, no que couber, as disposições relativas à inter-
que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimen- nação.
to do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da
vítima. Seção VII
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a Da Internação
medida poderá ser substituída por outra adequada.
Art. 121. A internação constitui medida privativa da li-
Seção IV berdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionali-
Da Prestação de Serviços à Comunidade dade e respeito à condição peculiar de pessoa em desen-
volvimento.
Art. 117. A prestação de serviços comunitários con- § 1º Será permitida a realização de atividades externas,
siste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa de-
por período não excedente a seis meses, junto a entidades terminação judicial em contrário.
assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos § 2º A medida não comporta prazo determinado, de-
congêneres, bem como em programas comunitários ou vendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão
governamentais. fundamentada, no máximo a cada seis meses.

161
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de inter- § 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade.


nação excederá a três anos. § 2º A autoridade judiciária poderá suspender tem-
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo ante- porariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se
rior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regime existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade
de semi-liberdade ou de liberdade assistida. aos interesses do adolescente.
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade físi-
de idade. ca e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas
§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será pre- adequadas de contenção e segurança.
cedida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
§ 7o  A determinação judicial mencionada no § 1o po- Capítulo V
derá ser revista a qualquer tempo pela autoridade judiciá- Da Remissão
ria.       (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide)
Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para
quando: apuração de ato infracional, o representante do Ministério
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave
Público poderá conceder a remissão, como forma de ex-
ameaça ou violência a pessoa;
clusão do processo, atendendo às circunstâncias e conse-
II - por reiteração no cometimento de outras infrações
quências do fato, ao contexto social, bem como à persona-
graves;
III - por descumprimento reiterado e injustificável da lidade do adolescente e sua maior ou menor participação
medida anteriormente imposta. no ato infracional.
§ 1o  O prazo de internação na hipótese do inciso III des- Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão
te artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, deven- da remissão pela autoridade judiciária importará na sus-
do ser decretada judicialmente após o devido processo le- pensão ou extinção do processo.
gal.       (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide) Art. 127. A remissão não implica necessariamente o re-
§ 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, conhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem
havendo outra medida adequada. prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade eventualmente a aplicação de qualquer das medidas pre-
exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele desti- vistas em lei, exceto a colocação em regime de semi-liber-
nado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios dade e a internação.
de idade, compleição física e gravidade da infração. Art. 128. A medida aplicada por força da remissão po-
Parágrafo único. Durante o período de internação, in- derá ser revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante
clusive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógi- pedido expresso do adolescente ou de seu representante
cas. legal, ou do Ministério Público.
Art. 124. São direitos do adolescente privado de liber-
dade, entre outros, os seguintes: Título IV
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável
Ministério Público;
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade; Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou respon-
III - avistar-se reservadamente com seu defensor; sável:
IV - ser informado de sua situação processual, sempre I - encaminhamento a serviços e programas oficiais
que solicitada; ou comunitários de proteção, apoio e promoção da famí-
V - ser tratado com respeito e dignidade;
lia;    (Redação dada dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
VI - permanecer internado na mesma localidade ou na-
II - inclusão em programa oficial ou comunitário de au-
quela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsá-
xílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
vel;
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente; III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psi-
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos; quiátrico;
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e as- IV - encaminhamento a cursos ou programas de orien-
seio pessoal; tação;
X - habitar alojamento em condições adequadas de hi- V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acom-
giene e salubridade; panhar sua frequência e aproveitamento escolar;
XI - receber escolarização e profissionalização; VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer: a tratamento especializado;
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social; VII - advertência;
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua cren- VIII - perda da guarda;
ça, e desde que assim o deseje; IX - destituição da tutela;
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor X - suspensão ou destituição do poder familiar.     (Ex-
de local seguro para guardá-los, recebendo comprovante pressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
daqueles porventura depositados em poder da entidade; Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas
XVI - receber, quando de sua desinternação, os docu- nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto
mentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade. nos arts. 23 e 24.

162
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opres- I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses
são ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas
a autoridade judiciária poderá determinar, como medida no art. 101, I a VII;
cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum. II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplican-
Parágrafo único.  Da medida cautelar constará, ainda, a do as medidas previstas no art. 129, I a VII;
fixação provisória dos alimentos de que necessitem a crian- III - promover a execução de suas decisões, podendo
ça ou o adolescente dependentes do agressor.     (Incluído para tanto:
pela Lei nº 12.415, de 2011) a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educa-
ção, serviço social, previdência, trabalho e segurança;
Título V b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de
Do Conselho Tutelar descumprimento injustificado de suas deliberações.
Capítulo I IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que
Disposições Gerais constitua infração administrativa ou penal contra os direitos
da criança ou adolescente;
Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e au- V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua
tônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de competência;
zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adoles- VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade
cente, definidos nesta Lei. judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o
Art. 132.  Em cada Município e em cada Região Ad- adolescente autor de ato infracional;
ministrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) VII - expedir notificações;
Conselho Tutelar como órgão integrante da administração VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de
pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos criança ou adolescente quando necessário;
pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, per- IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da
mitida 1 (uma) recondução, mediante novo processo de es- proposta orçamentária para planos e programas de atendi-
colha.     (Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012) mento dos direitos da criança e do adolescente;
Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho Tu- X - representar, em nome da pessoa e da família, contra
telar, serão exigidos os seguintes requisitos: a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da
I - reconhecida idoneidade moral; Constituição Federal;
II - idade superior a vinte e um anos; XI - representar ao Ministério Público para efeito das
III - residir no município. ações de perda ou suspensão do poder familiar, após es-
Art. 134.  Lei municipal ou distrital disporá sobre o local, gotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do
dia e horário de funcionamento do Conselho Tutelar, inclu- adolescente junto à família natural.     (Redação dada pela Lei
sive quanto à remuneração dos respectivos membros, aos nº 12.010, de 2009)   Vigência
quais é assegurado o direito a:    (Redação dada pela Lei nº XII - promover e incentivar, na comunidade e nos gru-
12.696, de 2012) pos profissionais, ações de divulgação e treinamento para o
I - cobertura previdenciária;     (Incluído pela Lei nº reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e
12.696, de 2012) adolescentes.       (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014)
II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de Parágrafo único.  Se, no exercício de suas atribuições, o
1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal;      (Incluí- Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do con-
do pela Lei nº 12.696, de 2012) vívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério
III - licença-maternidade;     (Incluído pela Lei nº 12.696, Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal
de 2012) entendimento e as providências tomadas para a orientação,
IV - licença-paternidade;     (Incluído pela Lei nº 12.696, o apoio e a promoção social da família.     (Incluído pela Lei
de 2012) nº 12.010, de 2009)   Vigência
V - gratificação natalina.     (Incluído pela Lei nº 12.696, Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente pode-
de 2012) rão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de quem
Parágrafo único.  Constará da lei orçamentária municipal tenha legítimo interesse.
e da do Distrito Federal previsão dos recursos necessários
ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e Capítulo III
formação continuada dos conselheiros tutelares.     (Reda- Da Competência
ção dada pela Lei nº 12.696, de 2012) Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de
Art. 135.  O exercício efetivo da função de conselhei- competência constante do art. 147.
ro constituirá serviço público relevante e estabelecerá pre- Capítulo IV
sunção de idoneidade moral.     (Redação dada pela Lei nº Da Escolha dos Conselheiros
12.696, de 2012)
Art. 139. O processo para a escolha dos membros do
Capítulo II Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal e realiza-
Das Atribuições do Conselho do sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos Direi-
tos da Criança e do Adolescente, e a fiscalização do Ministé-
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: rio Público.     (Redação dada pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991)

163
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

§ 1o  O processo de escolha dos membros do Conselho Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a
Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o território na- que se refere o artigo anterior somente será deferida pela
cional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do mês autoridade judiciária competente, se demonstrado o inte-
de outubro do ano subsequente ao da eleição presiden- resse e justificada a finalidade.
cial.     (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
§ 2o  A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia Capítulo II
10 de janeiro do ano subsequente ao processo de esco- Da Justiça da Infância e da Juventude
lha.     (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012) Seção I
§ 3o  No processo de escolha dos membros do Conse- Disposições Gerais
lho Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, prometer
ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qual- Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar
quer natureza, inclusive brindes de pequeno valor. (Incluído varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude,
pela Lei nº 12.696, de 2012) cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionali-
dade por número de habitantes, dotá-las de infra-estrutura
Capítulo V e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões.
Dos Impedimentos
Seção II
Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conse- Do Juiz
lho marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e
genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz
sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado. da Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa fun-
Parágrafo único. Estende-se o impedimento do con- ção, na forma da lei de organização judiciária local.
selheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade Art. 147. A competência será determinada:
judiciária e ao representante do Ministério Público com I - pelo domicílio dos pais ou responsável;
atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescen-
na comarca, foro regional ou distrital. te, à falta dos pais ou responsável.
§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a
Título VI autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as
Do Acesso à Justiça regras de conexão, continência e prevenção.
Capítulo I § 2º A execução das medidas poderá ser delegada à
Disposições Gerais autoridade competente da residência dos pais ou respon-
sável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a
Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou ado- criança ou adolescente.
lescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao § 3º Em caso de infração cometida através de trans-
Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos. missão simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais
§ 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos de uma comarca, será competente, para aplicação da pe-
que dela necessitarem, através de defensor público ou ad- nalidade, a autoridade judiciária do local da sede estadual
vogado nomeado. da emissora ou rede, tendo a sentença eficácia para todas
§ 2º As ações judiciais da competência da Justiça da as transmissoras ou retransmissoras do respectivo estado.
Infância e da Juventude são isentas de custas e emolumen- Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é com-
tos, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé. petente para:
Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão repre- I - conhecer de representações promovidas pelo Minis-
sentados e os maiores de dezesseis e menores de vinte e tério Público, para apuração de ato infracional atribuído a
um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na adolescente, aplicando as medidas cabíveis;
forma da legislação civil ou processual. II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou
Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador extinção do processo;
especial à criança ou adolescente, sempre que os interesses III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;
destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses
quando carecer de representação ou assistência legal ainda individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao ado-
que eventual. lescente, observado o disposto no art. 209;
Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, poli- V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades
ciais e administrativos que digam respeito a crianças e ado- em entidades de atendimento, aplicando as medidas      ca-
lescentes a que se atribua autoria de ato infracional. bíveis;
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de
não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando- infrações contra norma de proteção à criança ou     ado-
se fotografia, referência a nome, apelido, filiação, paren- lescente;
tesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobreno- VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho
me.     (Redação dada pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003) Tutelar, aplicando as medidas cabíveis.

164
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou ado- verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver tra-
lescente nas hipóteses do art. 98, é também competente a balhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento,
Justiça da Infância e da Juventude para o fim de: prevenção e outros, tudo sob a imediata subordinação à
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela; autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, ponto de vista técnico.
perda ou modificação da tutela ou guarda;     (Expressão
substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência Capítulo III
c) suprir a capacidade ou o consentimento para o ca- Dos Procedimentos
samento; Seção I
d) conhecer de pedidos baseados em discordância Disposições Gerais
paterna ou materna, em relação ao exercício do poder
familiar;     (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei apli-
2009)   Vigência cam-se subsidiariamente as normas gerais previstas na le-
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, gislação processual pertinente.
quando faltarem os pais; Parágrafo único.  É assegurada, sob pena de responsa-
f) designar curador especial em casos de apresentação bilidade, prioridade absoluta na tramitação dos processos
de queixa ou representação, ou de outros procedimentos e procedimentos previstos nesta Lei, assim como na execu-
judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ção dos atos e diligências judiciais a eles referentes.      (In-
ou adolescente; cluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
g) conhecer de ações de alimentos; Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não cor-
h) determinar o cancelamento, a retificação e o supri- responder a procedimento previsto nesta ou em outra lei,
mento dos registros de nascimento e óbito. a autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar
Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, de ofício as providências necessárias, ouvido o Ministério
através de portaria, ou autorizar, mediante alvará: Público.
I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, Parágrafo único.  O disposto neste artigo não se aplica
desacompanhado dos pais ou responsável, em: para o fim de afastamento da criança ou do adolescente de
a) estádio, ginásio e campo desportivo; sua família de origem e em outros procedimentos necessa-
b) bailes ou promoções dançantes; riamente contenciosos.      (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009)       Vigência
c) boate ou congêneres;
Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214.
d) casa que explore comercialmente diversões eletrô-
nicas;
Seção II
e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televi-
Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar
são.
(Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vi-
II - a participação de criança e adolescente em:
gência
a) espetáculos públicos e seus ensaios;
b) certames de beleza. Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade do poder familiar terá início por provocação do Ministério
judiciária levará em conta, dentre outros fatores: Público ou de quem tenha legítimo interesse.      (Expres-
a) os princípios desta Lei; são substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
b) as peculiaridades locais; Art. 156. A petição inicial indicará:
c) a existência de instalações adequadas; I - a autoridade judiciária a que for dirigida;
d) o tipo de frequência habitual ao local; II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência
e) a adequação do ambiente a eventual participação do requerente e do requerido, dispensada a qualificação
ou frequência de crianças e adolescentes; em se tratando de pedido formulado por representante do
f) a natureza do espetáculo. Ministério Público;
§ 2º As medidas adotadas na conformidade deste ar- III - a exposição sumária do fato e o pedido;
tigo deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde
determinações de caráter geral. logo, o rol de testemunhas e documentos.
Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade
Seção III judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspen-
Dos Serviços Auxiliares são do poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o
julgamento definitivo da causa, ficando a criança ou ado-
Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de lescente confiado a pessoa idônea, mediante termo de res-
sua proposta orçamentária, prever recursos para manuten- ponsabilidade.      (Expressão substituída pela Lei nº 12.010,
ção de equipe interprofissional, destinada a assessorar a de 2009)       Vigência
Justiça da Infância e da Juventude. Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez
Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre ou- dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem
tras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas
local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou e documentos.

165
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

§ 1o A citação será pessoal, salvo se esgotados todos § 2º Na audiência, presentes as partes e o Ministério
os meios para sua realização.    (Incluído pela Lei nº 12.962, Público, serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oral-
de 2014) mente o parecer técnico, salvo quando apresentado por
§ 2o O requerido privado de liberdade deverá ser citado escrito, manifestando-se sucessivamente o requerente, o
pessoalmente.     (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014) requerido e o Ministério Público, pelo tempo de vinte mi-
Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de nutos cada um, prorrogável por mais dez. A decisão será
constituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento e proferida na audiência, podendo a autoridade judiciária,
de sua família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja excepcionalmente, designar data para sua leitura no prazo
nomeado dativo, ao qual incumbirá a apresentação de res- máximo de cinco dias.
posta, contando-se o prazo a partir da intimação do des- Art. 163.  O prazo máximo para conclusão do procedi-
pacho de nomeação. mento será de 120 (cento e vinte) dias.       (Redação dada
Parágrafo único.  Na hipótese de requerido privado de pela Lei nº 12.010, de 2009)      Vigência
liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no momen- Parágrafo único.  A sentença que decretar a perda ou
to da citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado de- a suspensão do poder familiar será averbada à margem
fensor.   (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014) do registro de nascimento da criança ou do adolescen-
Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária re- te.      (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)       Vigência
quisitará de qualquer repartição ou órgão público a apre-
sentação de documento que interesse à causa, de ofício ou Seção III
a requerimento das partes ou do Ministério Público. Da Destituição da Tutela
Art. 161. Não sendo contestado o pedido, a autoridade
judiciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o pro-
cinco dias, salvo quando este for o requerente, decidindo cedimento para a remoção de tutor previsto na lei proces-
em igual prazo. sual civil e, no que couber, o disposto na seção anterior.
§ 1o  A autoridade judiciária, de ofício ou a requeri-
mento das partes ou do Ministério Público, determinará a Seção IV
realização de estudo social ou perícia por equipe interpro- Da Colocação em Família Substituta
fissional ou multidisciplinar, bem como a oitiva de teste-
Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos
munhas que comprovem a presença de uma das causas de
de colocação em família substituta:
suspensão ou destituição do poder familiar previstas nos
I - qualificação completa do requerente e de seu even-
arts. 1.637 e 1.638 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de
tual cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência des-
2002 - Código Civil, ou no art. 24 desta Lei. (Redação dada
te;
pela Lei nº 12.010, de 2009)       Vigência
II - indicação de eventual parentesco do requerente e
§ 2o  Em sendo os pais oriundos de comunidades in-
de seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adoles-
dígenas, é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe
cente, especificando se tem ou não parente vivo;
profissional ou multidisciplinar referida no § 1o deste artigo, III - qualificação completa da criança ou adolescente e
de representantes do órgão federal responsável pela políti- de seus pais, se conhecidos;
ca indigenista, observado o disposto no § 6o do art. 28 des- IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento,
ta Lei.   (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)      Vi- anexando, se possível, uma cópia da respectiva certidão;
gência V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou
§ 3o  Se o pedido importar em modificação de guarda, rendimentos relativos à criança ou ao adolescente.
será obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-
criança ou adolescente, respeitado seu estágio de desen- se-ão também os requisitos específicos.
volvimento e grau de compreensão sobre as implicações Art. 166.  Se os pais forem falecidos, tiverem sido des-
da medida.    (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)      Vi- tituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem
gência aderido expressamente ao pedido de colocação em famí-
§ 4o  É obrigatória a oitiva dos pais sempre que esses lia substituta, este poderá ser formulado diretamente em
forem identificados e estiverem em local conhecido.  (In- cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes,
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009)      Vigência dispensada a assistência de advogado.     (Redação dada
§ 5o Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberdade, pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
a autoridade judicial requisitará sua apresentação para a § 1o  Na hipótese de concordância dos pais, esses se-
oitiva.       (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014) rão ouvidos pela autoridade judiciária e pelo representante
Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judi- do Ministério Público, tomando-se por termo as declara-
ciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por cinco ções.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
dias, salvo quando este for o requerente, designando, des- § 2o  O consentimento dos titulares do poder familiar
de logo, audiência de instrução e julgamento. será precedido de orientações e esclarecimentos prestados
§ 1º A requerimento de qualquer das partes, do Minis- pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Ju-
tério Público, ou de ofício, a autoridade judiciária poderá ventude, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevo-
determinar a realização de estudo social ou, se possível, de gabilidade da medida.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de
perícia por equipe interprofissional. 2009)  Vigência

166
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

§ 3o  O consentimento dos titulares do poder familiar Seção V


será colhido pela autoridade judiciária competente em au- Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Ado-
diência, presente o Ministério Público, garantida a livre ma- lescente
nifestação de vontade e esgotados os esforços para manu-
tenção da criança ou do adolescente na família natural ou Art. 171. O adolescente apreendido por força de or-
extensa.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência dem judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade
§ 4o  O consentimento prestado por escrito não terá judiciária.
validade se não for ratificado na audiência a que se refe- Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de
re o § 3o deste artigo.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de ato infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade
2009)  Vigência policial competente.
§ 5o  O consentimento é retratável até a data da pu- Parágrafo único. Havendo repartição policial especiali-
blicação da sentença constitutiva da adoção.     (Incluído zada para atendimento de adolescente e em se tratando de
ato infracional praticado em co-autoria com maior, preva-
pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
lecerá a atribuição da repartição especializada, que, após as
§ 6o  O consentimento somente terá valor se for dado
providências necessárias e conforme o caso, encaminhará
após o nascimento da criança.     (Incluído pela Lei nº o adulto à repartição policial própria.
12.010, de 2009)  Vigência Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional co-
§ 7o  A família substituta receberá a devida orientação metido mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a
por intermédio de equipe técnica interprofissional a servi- autoridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106,
ço do Poder Judiciário, preferencialmente com apoio dos parágrafo único, e 107, deverá:
técnicos responsáveis pela execução da política municipal I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e
de garantia do direito à convivência familiar.     (Incluído o adolescente;
pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a reque- III - requisitar os exames ou perícias necessários à com-
rimento das partes ou do Ministério Público, determinará provação da materialidade e autoria da infração.
a realização de estudo social ou, se possível, perícia por Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante,
equipe interprofissional, decidindo sobre a concessão de a lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de
guarda provisória, bem como, no caso de adoção, sobre o ocorrência circunstanciada.
estágio de convivência. Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou respon-
Parágrafo único.  Deferida a concessão da guarda sável, o adolescente será prontamente liberado pela auto-
provisória ou do estágio de convivência, a criança ou o ridade policial, sob termo de compromisso e responsabili-
dade de sua apresentação ao representante do Ministério
adolescente será entregue ao interessado, mediante ter-
Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro
mo de responsabilidade.      (Incluído pela Lei nº 12.010,
dia útil imediato, exceto quando, pela gravidade do ato
de 2009)  Vigência infracional e sua repercussão social, deva o adolescente
Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo permanecer sob internação para garantia de sua segurança
pericial, e ouvida, sempre que possível, a criança ou o pessoal ou manutenção da ordem pública.
adolescente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Pú- Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade poli-
blico, pelo prazo de cinco dias, decidindo a autoridade cial encaminhará, desde logo, o adolescente ao represen-
judiciária em igual prazo. tante do Ministério Público, juntamente com cópia do auto
Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tu- de apreensão ou boletim de ocorrência.
tela, a perda ou a suspensão do poder familiar constituir § 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a au-
pressuposto lógico da medida principal de colocação em toridade policial encaminhará o adolescente à entidade de
família substituta, será observado o procedimento contra- atendimento, que fará a apresentação ao representante do
ditório previsto nas Seções II e III deste Capítulo.      (Ex- Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas.
pressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência § 2º Nas localidades onde não houver entidade de
Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade po-
poderá ser decretada nos mesmos autos do procedimen- licial. À falta de repartição policial especializada, o adoles-
to, observado o disposto no art. 35. cente aguardará a apresentação em dependência separada
Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar- da destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipóte-
se, exceder o prazo referido no parágrafo anterior.
se-á o disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido
Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade
no art. 47.
policial encaminhará imediatamente ao representante do
Parágrafo único.  A colocação de criança ou adoles- Ministério Público cópia do auto de apreensão ou boletim
cente sob a guarda de pessoa inscrita em programa de de ocorrência.
acolhimento familiar será comunicada pela autoridade Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver
judiciária à entidade por este responsável no prazo má- indícios de participação de adolescente na prática de ato
ximo de 5 (cinco) dias.      (Incluído pela Lei nº 12.010, de infracional, a autoridade policial encaminhará ao represen-
2009)  Vigência tante do Ministério Público relatório das investigações e    
demais documentos.

167
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de § 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão
ato infracional não poderá ser conduzido ou transportado cientificados do teor da representação, e notificados a
em compartimento fechado de veículo policial, em condi- comparecer à audiência, acompanhados de advogado.
ções atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco § 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a
à sua integridade física ou mental, sob pena de responsa- autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente.
bilidade. § 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade
Art. 179. Apresentado o adolescente, o representan- judiciária expedirá mandado de busca e apreensão, deter-
te do Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto minando o sobrestamento do feito, até a efetiva apresen-
de apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, tação.
devidamente autuados pelo cartório judicial e com infor- § 4º Estando o adolescente internado, será requisitada
mação sobre os antecedentes do adolescente, procederá a sua apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais
imediata e informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, ou responsável.
de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas. Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela au-
Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o re- toridade judiciária, não poderá ser cumprida em estabele-
presentante do Ministério Público notificará os pais ou cimento prisional.
responsável para apresentação do adolescente, podendo § 1º Inexistindo na comarca entidade com as carac-
requisitar o concurso das polícias civil e militar. terísticas definidas no art. 123, o adolescente deverá ser
Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo imediatamente transferido para a localidade mais próxima.
anterior, o representante do Ministério Público poderá: § 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adoles-
I - promover o arquivamento dos autos; cente aguardará sua remoção em repartição policial, desde
II - conceder a remissão; que em seção isolada dos adultos e com instalações apro-
III - representar à autoridade judiciária para aplicação priadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco
de medida sócio-educativa. dias, sob pena de responsabilidade.
Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou con- Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou
cedida a remissão pelo representante do Ministério Públi- responsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos
co, mediante termo fundamentado, que conterá o resumo mesmos, podendo solicitar opinião de profissional qualifi-
dos fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária cado.
§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a
para homologação.
remissão, ouvirá o representante do Ministério Público,
§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a au-
proferindo decisão.
toridade judiciária determinará, conforme o caso, o cum-
§ 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medi-
primento da medida.
da de internação ou colocação em regime de semi-liberda-
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa
de, a autoridade judiciária, verificando que o adolescente
dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante despa-
não possui advogado constituído, nomeará defensor, de-
cho fundamentado, e este oferecerá representação, desig-
signando, desde logo, audiência em continuação, podendo
nará outro membro do Ministério Público para apresentá
determinar a realização de diligências e estudo do caso.
-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só en- § 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado,
tão estará a autoridade judiciária obrigada a      homologar. no prazo de três dias contado da audiência de apresenta-
Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do ção, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.
Ministério Público não promover o arquivamento ou con- § 4º Na audiência em continuação, ouvidas as teste-
ceder a remissão, oferecerá representação à autoridade munhas arroladas na representação e na defesa prévia,
judiciária, propondo a instauração de procedimento para cumpridas as diligências e juntado o relatório da equipe in-
aplicação da medida sócio-educativa que se afigurar a mais terprofissional, será dada a palavra ao representante do Mi-
adequada. nistério Público e ao defensor, sucessivamente, pelo tempo
§ 1º A representação será oferecida por petição, que de vinte minutos para cada um, prorrogável por mais dez,
conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá
infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, po- decisão.
dendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado,
pela autoridade judiciária. não comparecer, injustificadamente à audiência de apre-
§ 2º A representação independe de prova pré-consti- sentação, a autoridade judiciária designará nova data, de-
tuída da autoria e materialidade. terminando sua condução coercitiva.
Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a con- Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou sus-
clusão do procedimento, estando o adolescente internado pensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase
provisoriamente, será de quarenta e cinco dias. do procedimento, antes da sentença.
Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judi- Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer
ciária designará audiência de apresentação do adolescente, medida, desde que reconheça na sentença:
decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção I - estar provada a inexistência do fato;
da internação, observado o disposto no art. 108 e pará- II - não haver prova da existência do fato;
grafo. III - não constituir o fato ato infracional;

168
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido § 3º  A infiltração de agentes de polícia na internet
para o ato infracional. não será admitida se a prova puder ser obtida por outros
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o meios.   (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
adolescente internado, será imediatamente colocado em  Art. 190-B. As informações da operação de infiltração
liberdade. serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela
Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida autorização da medida, que zelará por seu sigilo.   (Incluí-
de internação ou regime de semi-liberdade será feita: do pela Lei nº 13.441, de 2017)
I - ao adolescente e ao seu defensor; Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o
II - quando não for encontrado o adolescente, a seus acesso aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Pú-
pais ou responsável, sem prejuízo do defensor. blico e ao delegado de polícia responsável pela operação,
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far- com o objetivo de garantir o sigilo das investigações.   (In-
se-á unicamente na pessoa do defensor. cluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
§ 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a
deverá este manifestar se deseja ou não recorrer da sen- sua identidade para, por meio da internet, colher indícios
tença. de autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts.
240,241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts.
Seção V-A 154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848,
(Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal). (Incluído pela
Da Infiltração de Agentes de Polícia para a Investi- Lei nº 13.441, de 2017)
gação de Crimes contra a Dignidade Sexual de Criança Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar
e de Adolescente” de observar a estrita finalidade da investigação responde-
rá pelos excessos praticados.   (Incluído pela Lei nº 13.441,
Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na inter- de 2017)
net com o fim de investigar os crimes previstos nos  arts. Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público
240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. poderão incluir nos bancos de dados próprios, mediante
154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, procedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial,
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), obedecerá às as informações necessárias à efetividade da identidade fic-
seguintes regras:       (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) tícia criada.    (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
I – será precedida de autorização judicial devidamente Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata
circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os limi- esta Seção será numerado e tombado em livro específi-
tes da infiltração para obtenção de prova, ouvido o Minis- co.   (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
tério Público;    (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos
II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Pú- eletrônicos praticados durante a operação deverão ser re-
blico ou representação de delegado de polícia e conterá a gistrados, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz
demonstração de sua necessidade, o alcance das tarefas e ao Ministério Público, juntamente com relatório circuns-
dos policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investiga- tanciado.    (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
das e, quando possível, os dados de conexão ou cadastrais Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados ci-
que permitam a identificação dessas pessoas;     (Incluído tados no caput deste artigo serão reunidos em autos
pela Lei nº 13.441, de 2017) apartados e apensados ao processo criminal juntamente
III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, com o inquérito policial, assegurando-se a preservação da
sem prejuízo de eventuais renovações, desde que o total identidade do agente policial infiltrado e a intimidade das
não exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demons- crianças e dos adolescentes envolvidos.   (Incluído pela Lei
trada sua efetiva necessidade, a critério da autoridade judi- nº 13.441, de 2017)
cial.    (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
§ 1º A autoridade judicial e o Ministério Público pode- Seção VI
rão requisitar relatórios parciais da operação de infiltração Da Apuração de Irregularidades em Entidade de
antes do término do prazo de que trata o inciso II do § Atendimento
1º deste artigo.   (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
§ 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º deste Art. 191. O procedimento de apuração de irregulari-
artigo, consideram-se:    (Incluído pela Lei nº 13.441, de dades em entidade governamental e não-governamental
2017) terá início mediante portaria da autoridade judiciária ou
I – dados de conexão: informações referentes a hora, representação do Ministério Público ou do Conselho Tute-
data, início, término, duração, endereço de Protocolo de In- lar, onde conste, necessariamente, resumo dos fatos.
ternet (IP) utilizado e terminal de origem da conexão;   (In- Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a au-
cluído pela Lei nº 13.441, de 2017) toridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar
II – dados cadastrais: informações referentes a nome e liminarmente o afastamento provisório do dirigente da en-
endereço de assinante ou de usuário registrado ou auten- tidade, mediante decisão fundamentada.
ticado para a conexão a quem endereço de IP, identificação Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no
de usuário ou código de acesso tenha sido atribuído no prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo jun-
momento da conexão.  tar documentos e indicar as provas a produzir.

169
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo ne- Seção VIII


cessário, a autoridade judiciária designará audiência de ins- (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
trução e julgamento, intimando as partes. Da Habilitação de Pretendentes à Adoção
§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o
Ministério Público terão cinco dias para oferecer alegações Art. 197-A.  Os postulantes à adoção, domiciliados no
finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo. Brasil, apresentarão petição inicial na qual conste:      (In-
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou de- cluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
finitivo de dirigente de entidade governamental, a auto- I - qualificação completa;     (Incluído pela Lei nº 12.010,
ridade judiciária oficiará à autoridade administrativa ime- de 2009)   Vigência
diatamente superior ao afastado, marcando prazo para a II - dados familiares;     (Incluído pela Lei nº 12.010, de
substituição. 2009)   Vigência
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autorida- III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou
de judiciária poderá fixar prazo para a remoção das irregu- casamento, ou declaração relativa ao período de união es-
laridades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo tável;     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
será extinto, sem julgamento de mérito. IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Ca-
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigen- dastro de Pessoas Físicas;     (Incluído pela Lei nº 12.010, de
te da entidade ou programa de atendimento. 2009)   Vigência
V - comprovante de renda e domicílio;     (Incluído pela
Seção VII Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
Da Apuração de Infração Administrativa às Nor- VI - atestados de sanidade física e mental;     (Incluído
mas de Proteção à Criança e ao Adolescente pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
VII - certidão de antecedentes criminais;     (Incluído
Art. 194. O procedimento para imposição de penali- pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
dade administrativa por infração às normas de proteção VIII - certidão negativa de distribuição cível.     (Incluí-
à criança e ao adolescente terá início por representação do pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
do Ministério Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto de
Art. 197-B.  A autoridade judiciária, no prazo de 48
infração elaborado por servidor efetivo ou voluntário cre-
(quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério
denciado, e assinado por duas testemunhas, se possível.
Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá:     (Incluído
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração,
pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
poderão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a
I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equi-
natureza e as circunstâncias da infração.
pe interprofissional encarregada de elaborar o estudo téc-
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração se-
nico a que se refere o art. 197-C desta Lei;     (Incluído pela
guir-se-á a lavratura do auto, certificando-se, em caso con-
trário, dos motivos do retardamento. Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para apre- II - requerer a designação de audiência para oitiva dos
sentação de defesa, contado da data da intimação, que postulantes em juízo e testemunhas;     (Incluído pela Lei nº
será feita: 12.010, de 2009)   Vigência
I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for la- III - requerer a juntada de documentos complementa-
vrado na presença do requerido; res e a realização de outras diligências que entender ne-
II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente ha- cessárias.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)  Vigência
bilitado, que entregará cópia do auto ou da representação Art. 197-C.  Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe
ao requerido, ou a seu representante legal, lavrando certi- interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juven-
dão; tude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá
III - por via postal, com aviso de recebimento, se não subsídios que permitam aferir a capacidade e o preparo
for encontrado o requerido ou seu representante legal; dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou
IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios
não sabido o paradeiro do requerido ou de seu represen- desta Lei.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
tante legal. § 1o  É obrigatória a participação dos postulantes em
Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo le- programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventu-
gal, a autoridade judiciária dará vista dos autos do Ministé- de preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis
rio Público, por cinco dias, decidindo em igual prazo. pela execução da política municipal de garantia do direito
Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária à convivência familiar, que inclua preparação psicológica,
procederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo orientação e estímulo à adoção inter-racial, de crianças
necessário, designará audiência de instrução e julgamen- maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas
to.     (Vide Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos.     (In-
Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão cluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
sucessivamente o Ministério Público e o procurador do re- § 2o  Sempre que possível e recomendável, a etapa
querido, pelo tempo de vinte minutos para cada um, pror- obrigatória da preparação referida no § 1o deste artigo in-
rogável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, cluirá o contato com crianças e adolescentes em regime
que em seguida proferirá sentença. de acolhimento familiar ou institucional em condições de

170
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

serem adotados, a ser realizado sob a orientação, super- VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escri-
visão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância vão remeterá os autos ou o instrumento à superior instân-
e da Juventude, com o apoio dos técnicos responsáveis cia dentro de vinte e quatro horas, independentemente de
pelo programa de acolhimento familiar ou institucional e novo pedido do recorrente; se a reformar, a remessa dos
pela execução da política municipal de garantia do direito autos dependerá de pedido expresso da parte interessada
à convivência familiar.      (Incluído pela Lei nº 12.010, de ou do Ministério Público, no prazo de cinco dias, contados
2009)   Vigência da intimação.
Art. 197-D.  Certificada nos autos a conclusão da parti- Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no
cipação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a au- art. 149 caberá recurso de apelação.
toridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, Art. 199-A.  A sentença que deferir a adoção produz
decidirá acerca das diligências requeridas pelo Ministério efeito desde logo, embora sujeita a apelação, que será re-
Público e determinará a juntada do estudo psicossocial, de- cebida exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tra-
signando, conforme o caso, audiência de instrução e julga- tar de adoção internacional ou se houver perigo de dano
mento.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência irreparável ou de difícil reparação ao adotando.     (Incluído
Parágrafo único.  Caso não sejam requeridas diligências, pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
ou sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária determi- Art. 199-B.  A sentença que destituir ambos ou qual-
nará a juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista quer dos genitores do poder familiar fica sujeita a apelação,
dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, decidindo que deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo.     (In-
em igual prazo.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vi- cluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
gência Art. 199-C.  Os recursos nos procedimentos de adoção
Art. 197-E.  Deferida a habilitação, o postulante será ins- e de destituição de poder familiar, em face da relevância
crito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a das questões, serão processados com prioridade absoluta,
sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem devendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado
cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de que aguardem, em qualquer situação, oportuna distribui-
crianças ou adolescentes adotáveis.     (Incluído pela Lei nº ção, e serão colocados em mesa para julgamento sem re-
12.010, de 2009)   Vigência visão e com parecer urgente do Ministério Público.      (In-
§ 1o  A ordem cronológica das habilitações somente cluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
poderá deixar de ser observada pela autoridade judiciária Art. 199-D.  O relator deverá colocar o processo em
nas hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quan- mesa para julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta)
do comprovado ser essa a melhor solução no interesse do
dias, contado da sua conclusão.     (Incluído pela Lei nº
adotando.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
12.010, de 2009)   Vigência
§ 2o  A recusa sistemática na adoção das crianças ou ado-
Parágrafo único.  O Ministério Público será intimado
lescentes indicados importará na reavaliação da habilitação
da data do julgamento e poderá na sessão, se entender
concedida.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
necessário, apresentar oralmente seu parecer.     (Incluído
pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
Capítulo IV
Art. 199-E.  O Ministério Público poderá requerer a ins-
Dos Recursos
tauração de procedimento para apuração de responsabili-
Art. 198.  Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância dades se constatar o descumprimento das providências e
e da Juventude, inclusive os relativos à execução das me- do prazo previstos nos artigos anteriores.      (Incluído pela
didas socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal daLei Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil),
com as seguintes adaptações:       (Redação dada pela Lei nº Capítulo V
12.594, de 2012)      (Vide) Do Ministério Público
I - os recursos serão interpostos independentemente de
preparo; Art. 200. As funções do Ministério Público previstas
II - em todos os recursos, salvo nos embargos de de- nesta Lei serão exercidas nos termos da respectiva lei     or-
claração, o prazo para o Ministério Público e para a defesa gânica.
será sempre de 10 (dez) dias;       (Redação dada pela Lei nº Art. 201. Compete ao Ministério Público:
12.594, de 2012)      (Vide) I - conceder a remissão como forma de exclusão do
III - os recursos terão preferência de julgamento e dis- processo;
pensarão revisor; II - promover e acompanhar os procedimentos relati-
IV -     (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência vos às infrações atribuídas a adolescentes;
V -     (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência III - promover e acompanhar as ações de alimentos
VI -     (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência e os procedimentos de suspensão e destituição do po-
VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior der familiar, nomeação e remoção de tutores, curadores
instância, no caso de apelação, ou do instrumento, no caso e guardiães, bem como oficiar em todos os demais proce-
de agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho fun- dimentos da competência da Justiça da Infância e da Ju-
damentado, mantendo ou reformando a decisão, no prazo ventude;     (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de
de cinco dias; 2009)   Vigência

171
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

IV - promover, de ofício ou por solicitação dos inte- § 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inciso
ressados, a especialização e a inscrição de hipoteca legal e VIII deste artigo, poderá o representante do Ministério Pú-
a prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer blico:
administradores de bens de crianças e adolescentes nas hi- a) reduzir a termo as declarações do reclamante, instau-
póteses do art. 98; rando o competente procedimento, sob sua presidência;
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade
a proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos reclamada, em dia, local e horário previamente notificados
relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos ou acertados;
no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal; c) efetuar recomendações visando à melhoria dos ser-
VI - instaurar procedimentos administrativos e, para viços públicos e de relevância pública afetos à criança e ao
instruí-los: adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita ade-
a) expedir notificações para colher depoimentos ou es- quação.
clarecimentos e, em caso de não comparecimento injusti- Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não
for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na
ficado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia
defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipó-
civil ou militar;
tese em que terá vista dos autos depois das partes, podendo
b) requisitar informações, exames, perícias e documen-
juntar documentos e requerer diligências, usando os recur-
tos de autoridades municipais, estaduais e federais, da ad-
sos cabíveis.
ministração direta ou indireta, bem como promover inspe- Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer
ções e diligências investigatórias; caso, será feita pessoalmente.
c) requisitar informações e documentos a particulares Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público
e instituições privadas; acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício
VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências inves- pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
tigatórias e determinar a instauração de inquérito policial, Art. 205. As manifestações processuais do representante
para apuração de ilícitos ou infrações às normas de prote- do Ministério Público deverão ser fundamentadas.
ção à infância e à juventude;
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias Capítulo VI
legais assegurados às crianças e adolescentes, promoven- Do Advogado
do as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou res-
habeas corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, ponsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse
na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de
afetos à criança e ao adolescente; que trata esta Lei, através de advogado, o qual será intimado
X - representar ao juízo visando à aplicação de penali- para todos os atos, pessoalmente ou por publicação oficial,
dade por infrações cometidas contra as normas de prote- respeitado o segredo de justiça.
ção à infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária inte-
responsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível; gral e gratuita àqueles que dela necessitarem.
XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prá-
atendimento e os programas de que trata esta Lei, ado- tica de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será    
tando de pronto as medidas administrativas ou judiciais processado sem defensor.
necessárias à remoção de irregularidades porventura ve- § 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á no-
meado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo,
rificadas;
constituir outro de sua preferência.
XII - requisitar força policial, bem como a colaboração
§ 2º A ausência do defensor não determinará o adia-
dos serviços médicos, hospitalares, educacionais e de as-
mento de nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear
sistência social, públicos ou privados, para o desempenho
substituto, ainda que provisoriamente, ou para o só efeito
de suas atribuições. do ato.
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações § 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando se
cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver sido
mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e indicado por ocasião de ato formal com a presença da auto-
esta Lei. ridade judiciária.
§ 2º As atribuições constantes deste artigo não ex-
cluem outras, desde que compatíveis com a finalidade do Capítulo VII
Ministério Público. Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Di-
§ 3º O representante do Ministério Público, no exercí- fusos e Coletivos
cio de suas funções, terá livre acesso a todo local onde se
encontre criança ou adolescente. Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações
§ 4º O representante do Ministério Público será res- de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à
ponsável pelo uso indevido das informações e documentos criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou
que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo. oferta irregular:     (Vide Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência

172
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

I - do ensino obrigatório; Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão to-


II - de atendimento educacional especializado aos por- mar dos interessados compromisso de ajustamento de sua
tadores de deficiência; conduta às exigências legais, o qual terá eficácia de título
III – de atendimento em creche e pré-escola às crianças executivo extrajudicial.
de zero a cinco anos de idade;    (Redação dada pela Lei nº Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegi-
13.306, de 2016) dos por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações
IV - de ensino noturno regular, adequado às condições pertinentes.
do educando; § 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as
V - de programas suplementares de oferta de material normas do Código de Processo Civil.
didático-escolar, transporte e assistência à saúde do     edu- § 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pú-
cando do ensino fundamental; blica ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribui-
VI - de serviço de assistência social visando à proteção ções do poder público, que lesem direito líquido e certo
à família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem previsto nesta Lei, caberá ação mandamental, que se rege-
como ao amparo às crianças e adolescentes que dele ne- rá pelas normas da lei do mandado de segurança.
cessitem; Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimen-
VII - de acesso às ações e serviços de saúde;
to de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá
VIII - de escolarização e profissionalização dos adoles-
a tutela específica da obrigação ou determinará providên-
centes privados de liberdade.
cias que assegurem o resultado prático equivalente ao do
IX - de ações, serviços e programas de orientação,
adimplemento.
apoio e promoção social de famílias e destinados ao ple-
no exercício do direito à convivência familiar por crianças e § 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e ha-
adolescentes.     (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vi- vendo justificado receio de ineficácia do provimento final,
gência é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após jus-
X - de programas de atendimento para a execução das tificação prévia, citando o réu.
medidas socioeducativas e aplicação de medidas de pro- § 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior
teção.       (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide) ou na sentença, impor multa diária ao réu, independente-
§ 1o As hipóteses previstas neste artigo não excluem mente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível
da proteção judicial outros interesses individuais, difusos com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumpri-
ou coletivos, próprios da infância e da adolescência, pro- mento do preceito.
tegidos pela Constituição e pela Lei.     (Renumerado do § 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em
Parágrafo único pela Lei nº 11.259, de 2005) julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida
§ 2o A investigação do desaparecimento de crianças desde o dia em que se houver configurado o descumpri-
ou adolescentes será realizada imediatamente após noti- mento.
ficação aos órgãos competentes, que deverão comunicar Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo ge-
o fato aos portos, aeroportos, Polícia Rodoviária e compa- rido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescen-
nhias de transporte interestaduais e internacionais, forne- te do respectivo município.
cendo-lhes todos os dados necessários à identificação do § 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o
desaparecido.     (Incluído pela Lei nº 11.259, de 2005) trânsito em julgado da decisão serão exigidas através de
Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão pro- execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos
postas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para § 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o di-
processar a causa, ressalvadas a competência da Justiça Fe- nheiro ficará depositado em estabelecimento oficial de cré-
deral e a competência originária dos tribunais superiores. dito, em conta com correção monetária.
Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos
coletivos ou difusos, consideram-se legitimados concor-
recursos, para evitar dano irreparável à parte.
rentemente:
Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser
I - o Ministério Público;
condenação ao poder público, o juiz determinará a remes-
II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Fede-
ral e os territórios; sa de peças à autoridade competente, para apuração da
III - as associações legalmente constituídas há pelo responsabilidade civil e administrativa do agente a que se
menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais atribua a ação ou omissão.
a defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julga-
dispensada a autorização da assembléia, se houver prévia do da sentença condenatória sem que a associação autora
autorização estatutária. lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Públi-
§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Mi- co, facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
nistérios Públicos da União e dos estados na defesa dos Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar
interesses e direitos de que cuida esta Lei. ao réu os honorários advocatícios arbitrados na conformi-
§ 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por dade do § 4º do art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de
associação legitimada, o Ministério Público ou outro legiti- 1973 (Código de Processo Civil), quando reconhecer que a
mado poderá assumir a titularidade ativa. pretensão é manifestamente infundada.

173
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a as- Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as
sociação autora e os diretores responsáveis pela proposi- normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao     pro-
tura da ação serão solidariamente condenados ao décuplo cesso, as pertinentes ao Código de Processo Penal.
das custas, sem prejuízo de responsabilidade por perdas e Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pú-
danos. blica incondicionada
Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não
haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários Seção II
periciais e quaisquer outras despesas. Dos Crimes em Espécie
Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público
deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, prestan- Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o diri-
do-lhe informações sobre fatos que constituam objeto de gente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante
ação civil, e indicando-lhe os elementos de convicção. de manter registro das atividades desenvolvidas, na forma
Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e e prazo referidos no art. 10 desta Lei, bem como de for-
tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam ense- necer à parturiente ou a seu responsável, por ocasião da
jar a propositura de ação civil, remeterão peças ao Ministé- alta médica, declaração de nascimento, onde constem as
rio Público para as providências cabíveis. intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato:
Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado Pena - detenção de seis meses a dois anos.
poderá requerer às autoridades competentes as certidões Parágrafo único. Se o crime é culposo:
e informações que julgar necessárias, que serão fornecidas Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
no prazo de quinze dias. Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de
Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua estabelecimento de atenção à saúde de gestante de iden-
presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pes- tificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião
soa, organismo público ou particular, certidões, informa- do parto, bem como deixar de proceder aos exames referi-
ções, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não dos no art. 10 desta Lei:
poderá ser inferior a dez dias úteis. Pena - detenção de seis meses a dois anos.
§ 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas Parágrafo único. Se o crime é culposo:
as diligências, se convencer da inexistência de fundamento Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
para a propositura da ação cível, promoverá o arquivamen- Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liber-
to dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, dade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante
fazendo-o fundamentadamente. de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autorida-
§ 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informa- de judiciária competente:
ção arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer Pena - detenção de seis meses a dois anos.
em falta grave, no prazo de três dias, ao Conselho Superior Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que
do Ministério Público. procede à apreensão sem observância das formalidades
§ 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção legais.
de arquivamento, em sessão do Conselho Superior do Mi- Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela
nistério público, poderão as associações legitimadas apre- apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata co-
sentar razões escritas ou documentos, que serão juntados municação à autoridade judiciária competente e à família
aos autos do inquérito ou anexados às peças de informa- do apreendido ou à pessoa por ele indicada:
ção. Pena - detenção de seis meses a dois anos.
§ 4º A promoção de arquivamento será submetida a Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua au-
exame e deliberação do Conselho Superior do Ministério toridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangi-
Público, conforme dispuser o seu regimento. mento:
§ 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a Pena - detenção de seis meses a dois anos.
promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro Art. 233.     (Revogado pela Lei nº 9.455, de 7.4.1997:
órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação. Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa
Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou ado-
as disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985. lescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da
apreensão:
Título VII Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Dos Crimes e Das Infrações Administrativas Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado
Capítulo I nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberda-
Dos Crimes de:
Seção I Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Disposições Gerais Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade
judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante
Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados do Ministério Público no exercício de função prevista nesta
contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem Lei:
prejuízo do disposto na legislação penal. Pena - detenção de seis meses a dois anos.

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de § 1o  Nas mesmas penas incorre quem:  (Incluído pela
quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem Lei nº 11.829, de 2008)
judicial, com o fim de colocação em lar substituto: I – assegura os meios ou serviços para o armazena-
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa. mento das fotografias, cenas ou imagens de que trata
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pu- o caput deste artigo;  (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
pilo a terceiro, mediante paga ou recompensa: II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa. computadores às fotografias, cenas ou imagens de que
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem ofere- trata o caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de
ce ou efetiva a paga ou recompensa. 2008)
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato des-  § 2o  As condutas tipificadas nos incisos I e II do §
tinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior 1o  deste artigo são puníveis quando o responsável legal
com inobservância das formalidades legais ou com o fito pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa
de obter lucro: de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa. o caput deste artigo.    (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Parágrafo único. Se há emprego de violência, gra-  Art. 241-B.  Adquirir, possuir ou armazenar, por qual-
ve ameaça ou fraude:     (Incluído pela Lei nº 10.764, de quer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que
12.11.2003) contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolven-
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena do criança ou adolescente:  (Incluído pela Lei nº 11.829, de
correspondente à violência. 2008)
Art. 240.  Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar  Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e mul-
ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou ta. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:      (Re-  § 1o  A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois ter-
dação dada pela Lei nº 11.829, de 2008) ços) se de pequena quantidade o material a que se refere
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e mul- o caput deste artigo.  (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
ta.      (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)  § 2o  Não há crime se a posse ou o armazenamento
§ 1o  Incorre nas mesmas penas quem agencia, faci- tem a finalidade de comunicar às autoridades competen-
lita, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a tes a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241,
241-A e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita
participação de criança ou adolescente nas cenas referidas
por:  (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
no caput deste artigo, ou ainda quem com esses contrace-
 I – agente público no exercício de suas funções;    (In-
na.      (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
cluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
§ 2o  Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente
 II – membro de entidade, legalmente constituída, que
comete o crime:      (Redação dada pela Lei nº 11.829, de
inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento,
2008)
o processamento e o encaminhamento de notícia dos cri-
I – no exercício de cargo ou função pública ou a pre-
mes referidos neste parágrafo;(Incluído pela Lei nº 11.829,
texto de exercê-la;      (Redação dada pela Lei nº 11.829, de de 2008)
2008)  III – representante legal e funcionários responsáveis de
II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabi- provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede
tação ou de hospitalidade; ou      (Redação dada pela Lei nº de computadores, até o recebimento do material relativo à
11.829, de 2008) notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou
III – prevalecendo-se de relações de parentesco con- ao Poder Judiciário.  (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
sanguíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção,  § 3o  As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão
de tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de manter sob sigilo o material ilícito referido.  (Incluído pela
quem, a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, Lei nº 11.829, de 2008)
ou com seu consentimento.      (Incluído pela Lei nº 11.829,  Art. 241-C.  Simular a participação de criança ou ado-
de 2008)        lescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por
Art. 241.  Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou meio de adulteração, montagem ou modificação de foto-
outro registro que contenha cena de sexo explícito ou por- grafia, vídeo ou qualquer outra forma de representação vi-
nográfica envolvendo criança ou adolescente:     (Redação sual:     (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
dada pela Lei nº 11.829, de 2008)  Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (In-
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e mul- cluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
ta.     (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008) Parágrafo único.  Incorre nas mesmas penas quem
Art. 241-A.  Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou
distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o
por meio de sistema de informática ou telemático, foto- material produzido na forma do caput deste artigo. (Incluí-
grafia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo do pela Lei nº 11.829, de 2008)
explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adoles- Art. 241-D.  Aliciar, assediar, instigar ou constranger,
cente:      (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e mul- com ela praticar ato libidinoso:(Incluído pela Lei nº 11.829,
ta.     (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) de 2008)

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.   (In- Art. 244-B.  Corromper ou facilitar a corrupção de
cluído pela Lei nº 11.829, de 2008) menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infra-
Parágrafo único.  Nas mesmas penas incorre quem:  (In- ção penal ou induzindo-o a praticá-la:(Incluído pela Lei nº
cluído pela Lei nº 11.829, de 2008) 12.015, de 2009)
I – facilita ou induz o acesso à criança de material con- Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.(Incluído
tendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim pela Lei nº 12.015, de 2009)
de com ela praticar ato libidinoso;(Incluído pela Lei nº § 1o  Incorre nas penas previstas no caput deste artigo
11.829, de 2008) quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de
II – pratica as condutas descritas no caput deste ar- quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo
tigo com o fim de induzir criança a se exibir de forma da internet. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
pornográfica ou sexualmente explícita.(Incluído pela Lei § 2o  As penas previstas no caput deste artigo são au-
nº 11.829, de 2008) mentadas de um terço no caso de a infração cometida ou
Art. 241-E.  Para efeito dos crimes previstos nesta induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de
Lei, a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” 25 de julho de 1990. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
compreende qualquer situação que envolva criança ou
adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou si- Capítulo II
muladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança Das Infrações Administrativas
ou adolescente para fins primordialmente sexuais(Incluí-
do pela Lei nº 11.829, de 2008) Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente estabelecimento de atenção à saúde e de ensino funda-
ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente mental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade
arma, munição ou explosivo: competente os casos de que tenha conhecimento, en-
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.  (Redação volvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra
dada pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003) criança ou adolescente:
Art. 243.  Vender, fornecer, servir, ministrar ou entre- Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
gar, ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a crian- cando-se o dobro em caso de reincidência.
ça ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de en-
outros produtos cujos componentes possam causar de- tidade de atendimento o exercício dos direitos constantes
pendência física ou psíquica:(Redação dada pela Lei nº nos incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:
13.106, de 2015) Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
cando-se o dobro em caso de reincidência.
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e mul-
Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autoriza-
ta, se o fato não constitui crime mais grave.  (Redação
ção devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato
dada pela Lei nº 13.106, de 2015)
ou documento de procedimento policial, administrativo ou
Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente
judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua
ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente
ato infracional:
fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que,
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
pelo seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar
cando-se o dobro em caso de reincidência.
qualquer dano físico em caso de utilização indevida:
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou par-
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa. cialmente, fotografia de criança ou adolescente envolvido
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga res-
tais definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição peito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma
ou à exploração sexual:       (Incluído pela Lei nº 9.975, de a permitir sua identificação, direta ou indiretamente.
23.6.2000) § 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa
Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além ou emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista
da perda de bens e valores utilizados na prática criminosa neste artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a
em favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adoles- apreensão da publicação ou a suspensão da programação
cente da unidade da Federação (Estado ou Distrito Fe- da emissora até por dois dias, bem como da publicação
deral) em que foi cometido o crime, ressalvado o direito do periódico até por dois números.   (Expressão declara
de terceiro de boa-fé.  (Redação dada pela Lei nº 13.440, inconstitucional pela ADIN 869-2).
de 2017) Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária
§ 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o ge- de seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de re-
rente ou o responsável pelo local em que se verifique a gularizar a guarda, adolescente trazido de outra comarca
submissão de criança ou adolescente às práticas referi- para a prestação de serviço doméstico, mesmo que autori-
das no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 9.975, de zado pelos pais ou responsável:
23.6.2000) Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
§ 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cas- cando-se o dobro em caso de reincidência, independen-
sação da licença de localização e de funcionamento do temente das despesas de retorno do adolescente, se for o
estabelecimento. (Incluído pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000) caso.

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os de- Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78
veres inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela e 79 desta Lei:
ou guarda, bem assim determinação da autoridade judi- Pena - multa de três a vinte salários de referência, du-
ciária ou Conselho Tutelar: (Expressão substituída pela Lei nº plicando-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo
12.010, de 2009)   Vigência de apreensão da revista ou publicação.
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou
cando-se o dobro em caso de reincidência. o empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o
Art. 250.  Hospedar criança ou adolescente desacompa- acesso de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou
nhado dos pais ou responsável, ou sem autorização escrita sobre sua participação no espetáculo:   (Vide Lei nº 12.010,
desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel de 2009)   Vigência
ou congênere:(Redação dada pela Lei nº 12.038, de 2009). Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
Pena – multa.   (Redação dada pela Lei nº 12.038, de caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
2009). minar o fechamento do estabelecimento por até quinze
§ 1º  Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de dias.
multa, a autoridade judiciária poderá determinar o fecha- Art. 258-A.  Deixar a autoridade competente de pro-
mento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias.  (Incluí- videnciar a instalação e operacionalização dos cadastros
do pela Lei nº 12.038, de 2009). previstos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei: (Incluído
§ 2º  Se comprovada a reincidência em período inferior pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente fe- Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
chado e terá sua licença cassada. (Incluído pela Lei nº 12.038, (três mil reais).       (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vi-
de 2009). gência
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qual- Parágrafo único.  Incorre nas mesmas penas a autorida-
quer meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84 de que deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de
e 85 desta Lei: adolescentes em condições de serem adotadas, de pessoas
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- ou casais habilitados à adoção e de crianças e adolescentes
cando-se o dobro em caso de reincidência. em regime de acolhimento institucional ou familiar. (Incluí-
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetá- do pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
culo público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à Art. 258-B.  Deixar o médico, enfermeiro ou dirigen-
entrada do local de exibição, informação destacada sobre a te de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de
natureza da diversão ou espetáculo e a faixa etária especifi- efetuar imediato encaminhamento à autoridade judiciária
cada no certificado de classificação: de caso de que tenha conhecimento de mãe ou gestante
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- interessada em entregar seu filho para adoção:  (Incluído
cando-se o dobro em caso de reincidência. pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer re- Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
presentações ou espetáculos, sem indicar os limites de idade (três mil reais). (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vi-
a que não se recomendem: gência
Pena - multa de três a vinte salários de referência, du- Parágrafo único.  Incorre na mesma pena o funcionário
plicada em caso de reincidência, aplicável, separadamente, de programa oficial ou comunitário destinado à garantia
à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou publi- do direito à convivência familiar que deixa de efetuar a co-
cidade. municação referida no caput deste artigo. (Incluído pela Lei
Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espe- nº 12.010, de 2009)   Vigência
táculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de sua Art. 258-C.  Descumprir a proibição estabelecida no
classificação: inciso II do art. 81:  (Redação dada pela Lei nº 13.106, de
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; dupli- 2015)
cada em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$
determinar a suspensão da programação da emissora por 10.000,00 (dez mil reais);(Redação dada pela Lei nº 13.106,
até dois dias. de 2015)
Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congêne- Medida Administrativa - interdição do estabelecimento
re classificado pelo órgão competente como inadequado às comercial até o recolhimento da multa aplicada.   (Redação
crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo: dada pela Lei nº 13.106, de 2015)
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na
reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão Disposições Finais e Transitórias
do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados
quinze dias. da publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dis-
Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de pondo sobre a criação ou adaptação de seus órgãos às di-
programação em vídeo, em desacordo com a classificação retrizes da política de atendimento fixadas no art. 88 e ao
atribuída pelo órgão competente: que estabelece o Título V do Livro II.
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em Parágrafo único. Compete aos estados e municípios
caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter- promoverem a adaptação de seus órgãos e programas às
minar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias. diretrizes e princípios estabelecidos nesta Lei.

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 260.  Os contribuintes poderão efetuar doações aos § 1o  A doação de que trata o caput poderá ser deduzi-
Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, da até os seguintes percentuais aplicados sobre o imposto
distrital, estaduais ou municipais, devidamente compro- apurado na declaração:  (Incluído pela Lei nº 12.594, de
vadas, sendo essas integralmente deduzidas do imposto 2012)      (Vide)
de renda, obedecidos os seguintes limites:(Redação dada I - (VETADO);  (Incluído pela Lei nº 12.594, de
pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide) 2012)      (Vide)
I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda de- II - (VETADO);  (Incluído pela Lei nº 12.594, de
vido apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com base 2012)      (Vide)
no lucro real; e (Redação dada pela Lei nº 12.594, de III - 3% (três por cento) a partir do exercício de
2012)      (Vide) 2012.  (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide)
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apu- § 2o  A dedução de que trata o caput:  (Incluído pela Lei
rado pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual, nº 12.594, de 2012)      (Vide)
observado o disposto no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do im-
dezembro de 1997.(Redação dada pela Lei nº 12.594, de posto sobre a renda apurado na declaração de que trata o
2012)      (Vide) inciso II do caput do art. 260;  (Incluído pela Lei nº 12.594,
  § 1º -  (Revogado pela Lei nº 9.532, de 10.12.1997) de 2012)      (Vide)
§ 1o-A.   Na definição das prioridades a serem aten- II - não se aplica à pessoa física que:  (Incluído pela Lei
didas com os recursos captados pelos fundos nacional, nº 12.594, de 2012)      (Vide)
estaduais e municipais dos direitos da criança e do ado- a) utilizar o desconto simplificado;  (Incluído pela Lei nº
lescente, serão consideradas as disposições do Plano 12.594, de 2012)      (Vide)
Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de b) apresentar declaração em formulário; ou  (Incluído
Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comuni- pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide)
tária e as do Plano Nacional pela Primeira Infância.    (Re- c) entregar a declaração fora do prazo;  (Incluído pela
dação dada dada pela Lei nº 13.257, de 2016) Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide)
§ 2o  Os conselhos nacional, estaduais e municipais III - só se aplica às doações em espécie; e   (Incluído
pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide)
dos direitos da criança e do adolescente fixarão critérios
IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções
de utilização, por meio de planos de aplicação, das dota-
em vigor.  (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide)
ções subsidiadas e demais receitas, aplicando necessaria-
§ 3o  O pagamento da doação deve ser efetuado até a
mente percentual para incentivo ao acolhimento, sob a
data de vencimento da primeira quota ou quota única do
forma de guarda, de crianças e adolescentes e para pro-
imposto, observadas instruções específicas da Secretaria
gramas de atenção integral à primeira infância em áreas
da Receita Federal do Brasil.  (Incluído pela Lei nº 12.594,
de maior carência socioeconômica e em situações de ca-
de 2012)      (Vide)
lamidade.    (Redação dada dada pela Lei nº 13.257, de
§ 4o  O não pagamento da doação no prazo estabe-
2016) lecido no § 3o  implica a glosa definitiva desta parcela de
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministé- dedução, ficando a pessoa física obrigada ao recolhimento
rio da Economia, Fazenda e Planejamento, regulamentará da diferença de imposto devido apurado na Declaração de
a comprovação das doações feitas aos fundos, nos termos Ajuste Anual com os acréscimos legais previstos na legisla-
deste artigo.  (Incluído pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991) ção.  (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide)
  § 4º O Ministério Público determinará em cada co- § 5o  A pessoa física poderá deduzir do imposto apu-
marca a forma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo rado na Declaração de Ajuste Anual as doações feitas, no
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, dos respectivo ano-calendário, aos fundos controlados pelos
incentivos fiscais referidos neste artigo.   (Incluído pela Lei Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente mu-
nº 8.242, de 12.10.1991)        nicipais, distrital, estaduais e nacional concomitantemente
§ 5o  Observado o disposto no § 4o do art. 3o da Lei com a opção de que trata o caput, respeitado o limite pre-
no 9.249, de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que visto no inciso II do art. 260. (Incluído pela Lei nº 12.594, de
trata o inciso I do caput: (Redação dada pela Lei nº 12.594, 2012)      (Vide)
de 2012)      (Vide) Art. 260-B.  A doação de que trata o inciso I do art.
I - será considerada isoladamente, não se submeten- 260 poderá ser deduzida:  (Incluído pela Lei nº 12.594, de
do a limite em conjunto com outras deduções do impos- 2012)      (Vide)
to; e (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide) I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas ju-
II - não poderá ser computada como despesa ope- rídicas que apuram o imposto trimestralmente; e  (Incluído
racional na apuração do lucro real. (Incluído pela Lei nº pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide)
12.594, de 2012)      (Vide) II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual,
Art. 260-A.  A partir do exercício de 2010, ano-calen- para as pessoas jurídicas que apuram o imposto anualmen-
dário de 2009, a pessoa física poderá optar pela doação te.  (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide)
de que trata o inciso II do caput do art. 260 diretamente Parágrafo único.  A doação deverá ser efetuada dentro
em sua Declaração de Ajuste Anual.  (Incluído pela Lei nº do período a que se refere a apuração do imposto. (Incluí-
12.594, de 2012)      (Vide) do pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide)

178
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 260-C.  As doações de que trata o art. 260 desta Art. 260-G.  Os órgãos responsáveis pela administra-
Lei podem ser efetuadas em espécie ou em bens.  (Incluído ção das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do
pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide) Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais de-
Parágrafo único.  As doações efetuadas em espécie de- vem:  (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide)
vem ser depositadas em conta específica, em instituição fi- I - manter conta bancária específica destinada exclusi-
nanceira pública, vinculadas aos respectivos fundos de que vamente a gerir os recursos do Fundo;  (Incluído pela Lei nº
trata o art. 260. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide) 12.594, de 2012)      (Vide)
Art. 260-D.  Os órgãos responsáveis pela administração II - manter controle das doações recebidas; e  (Incluído
das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adoles- pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide)
cente nacional, estaduais, distrital e municipais devem emitir III - informar anualmente à Secretaria da Receita Fede-
recibo em favor do doador, assinado por pessoa competente ral do Brasil as doações recebidas mês a mês, identifican-
e pelo presidente do Conselho correspondente, especifican- do os seguintes dados por doador:  (Incluído pela Lei nº
do:  (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide) 12.594, de 2012)      (Vide)
I - número de ordem;  (Incluído pela Lei nº 12.594, de a) nome, CNPJ ou CPF;  (Incluído pela Lei nº 12.594, de
2012)      (Vide) 2012)      (Vide)
II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) b) valor doado, especificando se a doação foi em
e endereço do emitente;  (Incluído pela Lei nº 12.594, de espécie ou em bens. (Incluído pela Lei nº 12.594, de
2012)      (Vide) 2012)      (Vide)
III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) do Art. 260-H.  Em caso de descumprimento das obriga-
doador;  (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide) ções previstas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal
IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e  (In- do Brasil dará conhecimento do fato ao Ministério Públi-
cluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide) co. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide)
V - ano-calendário a que se refere a doação.  (Incluído Art. 260-I.  Os Conselhos dos Direitos da Criança e do
pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide) Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais di-
§ 1o  O comprovante de que trata o  caput deste arti- vulgarão amplamente à comunidade:  (Incluído pela Lei nº
go pode ser emitido anualmente, desde que discrimine os 12.594, de 2012)      (Vide)
valores doados mês a mês.  (Incluído pela Lei nº 12.594, de I - o calendário de suas reuniões;  (Incluído pela Lei nº
2012)      (Vide) 12.594, de 2012)      (Vide)
§ 2o  No caso de doação em bens, o comprovante deve II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de
conter a identificação dos bens, mediante descrição em atendimento à criança e ao adolescente;  (Incluído pela Lei
campo próprio ou em relação anexa ao comprovante, infor- nº 12.594, de 2012)      (Vide)
mando também se houve avaliação, o nome, CPF ou CNPJ III - os requisitos para a apresentação de projetos a se-
e endereço dos avaliadores. (Incluído pela Lei nº 12.594, de rem beneficiados com recursos dos Fundos dos Direitos da
2012)      (Vide)
Criança e do Adolescente nacional, estaduais, distrital ou
Art. 260-E.  Na hipótese da doação em bens, o doador
municipais;  (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide)
deverá:  (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide)
IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-
I - comprovar a propriedade dos bens, median-
calendário e o valor dos recursos previstos para implemen-
te documentação hábil;  (Incluído pela Lei nº 12.594, de
tação das ações, por projeto;  (Incluído pela Lei nº 12.594,
2012)      (Vide)
de 2012)      (Vide)
II - baixar os bens doados na declaração de bens e di-
V - o total dos recursos recebidos e a respectiva desti-
reitos, quando se tratar de pessoa física, e na escrituração,
nação, por projeto atendido, inclusive com cadastramento
no caso de pessoa jurídica; e  (Incluído pela Lei nº 12.594, de
2012)      (Vide) na base de dados do Sistema de Informações sobre a In-
III - considerar como valor dos bens doados:  (Incluído fância e a Adolescência; e  (Incluído pela Lei nº 12.594, de
pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide) 2012)      (Vide)
a) para as pessoas físicas, o valor constante da última de- VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficia-
claração do imposto de renda, desde que não exceda o valor dos com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do
de mercado;  (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide) Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais.(In-
b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos cluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide)
bens.  (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide) Art. 260-J.  O Ministério Público determinará, em cada
Parágrafo único.  O preço obtido em caso de leilão não Comarca, a forma de fiscalização da aplicação dos incenti-
será considerado na determinação do valor dos bens doa- vos fiscais referidos no art. 260 desta Lei.  (Incluído pela Lei
dos, exceto se o leilão for determinado por autoridade judi- nº 12.594, de 2012)      (Vide)
ciária. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide) Parágrafo único.  O descumprimento do disposto
Art. 260-F.  Os documentos a que se referem os arts. nos arts. 260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder
260-D e 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por por ação judicial proposta pelo Ministério Público, que
um prazo de 5 (cinco) anos para fins de comprovação da poderá atuar de ofício, a requerimento ou representa-
dedução perante a Receita Federal do Brasil. (Incluído pela ção de qualquer cidadão. (Incluído pela Lei nº 12.594, de
Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide) 2012)      (Vide)

179
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 260-K.  A Secretaria de Direitos Humanos da Pre- Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas da
sidência da República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria União, da administração direta ou indireta, inclusive fun-
da Receita Federal do Brasil, até 31 de outubro de cada dações instituídas e mantidas pelo poder público federal
ano, arquivo eletrônico contendo a relação atualizada dos promoverão edição popular do texto integral deste Estatu-
Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacio- to, que será posto à disposição das escolas e das entidades
nal, distrital, estaduais e municipais, com a indicação dos de atendimento e de defesa dos direitos da criança e do
respectivos números de inscrição no CNPJ e das contas adolescente.
bancárias específicas mantidas em instituições financeiras Art. 265-A.  O poder público fará periodicamente am-
públicas, destinadas exclusivamente a gerir os recursos dos pla divulgação dos direitos da criança e do adolescente nos
Fundos. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)      (Vide) meios de comunicação social.    (Redação dada dada pela
Art. 260-L.  A Secretaria da Receita Federal do Brasil Lei nº 13.257, de 2016)
expedirá as instruções necessárias à aplicação do dispos- Parágrafo único.   A divulgação a que se refere
to nos arts. 260 a 260-K. (Incluído pela Lei nº 12.594, de o  caput  será veiculada em linguagem clara, compreensí-
2012)      (Vide) vel e adequada a crianças e adolescentes, especialmente às
Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos crianças com idade inferior a 6 (seis) anos.    (Incluído dada
da criança e do adolescente, os registros, inscrições e alte- pela Lei nº 13.257, de 2016)
rações a que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91 Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua
desta Lei serão efetuados perante a autoridade judiciária publicação.
da comarca a que pertencer a entidade. Parágrafo único. Durante o período de vacância deve-
Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar rão ser promovidas atividades e campanhas de divulgação
aos estados e municípios, e os estados aos municípios, os e esclarecimentos acerca do disposto nesta Lei.
recursos referentes aos programas e atividades previstos Art. 267. Revogam-se as Leis n.º 4.513, de 1964, e 6.697,
nesta Lei, tão logo estejam criados os conselhos dos direi- de 10 de outubro de 1979 (Código de Menores), e as de-
tos da criança e do adolescente nos seus respectivos níveis. mais disposições em contrário.
Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tute- Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência e
lares, as atribuições a eles conferidas serão exercidas pela 102º da República.
autoridade judiciária.
Art. 263. O Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes
alterações: ESTATUTO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO DO
1) Art. 121 ............................................................ ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO DO ESTADO
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de DA BAHIA - LEI ESTADUAL Nº 8.261, DE 29 DE
um terço, se o crime resulta de inobservância de regra téc- MAIO DE 2002.
nica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de
prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em
flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada
LEI Nº 8.261 DE 29 DE MAIO DE 2002
de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor
de catorze anos.
2) Art. 129 ............................................................... Dispõe sobre o Estatuto do Magistério Público do
§ 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qual- Ensino Fundamental e Médio do Estado da Bahia e dá
quer das hipóteses do art. 121, § 4º. outras providências.
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, faço saber
art. 121. que Assembleia Legislativa decreta e eu sanciono a seguin-
3) Art. 136................................................................. te Lei:
§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é pra-
ticado contra pessoa menor de catorze anos. CAPÍTULO I
4) Art. 213 .................................................................. DISPOSIÇÕES PRELIMINARES E PRINCÍPIOS
Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze
anos: Art. 1º - Esta Lei disciplina o regime jurídico do Magis-
Pena - reclusão de quatro a dez anos. tério Público do Ensino Fundamental e Médio do Estado da
5) Art. 214................................................................... Bahia e consubstancia o seu estatuto especial previsto na
Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze Constituição Estadual.
anos: Parágrafo único - Ao Magistério Público aplica-se, sub-
Pena - reclusão de três a nove anos.» sidiariamente, o Estatuto dos Servidores Públicos Civis do
Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de dezembro Estado e correspondente legislação complementar.
de 1973, fica acrescido do seguinte item: Art. 2º - O exercício do magistério, fundamentado nos
“Art. 102 .................................................................... direitos primordiais da pessoa humana, ampara-se nos se-
6º) a perda e a suspensão do pátrio poder. “ guintes princípios:

180
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

I - liberdade de ensinar, pesquisar e divulgar o saber Art. 7º - São atribuições do Professor:


produzido pela sociedade, através de um atendimento es- I - participar da elaboração da proposta pedagógica e
colar de qualidade; do plano de desenvolvimento do estabelecimento de en-
II - crença no poder da educação que contemple todas sino;
as dimensões do saber e do fazer no processo de huma- II - elaborar e cumprir plano de trabalho e de aula,
nização crescente e de construção da cidadania desejada; segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de
III - reconhecimento do valor do profissional de educa- ensino;
ção, asseguradas as condições dignas de trabalho e com- III - zelar pela aprendizagem dos alunos;
patíveis com sua tarefa de educador; IV - estabelecer estratégias de aprendizagem e de recu-
IV - garantia da participação dos sujeitos na vida nacio- peração para os alunos de menor rendimento;
nal, no que diz respeito ao alcance dos direitos civis, sociais V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos,
e políticos; além de participar integralmente dos períodos dedicados ao
V - promoção na carreira; planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissio-
VI - gestão democrática fundada em decisões colegia- nal;
das e interação solidária com os diversos segmentos esco- VI - colaborar com as atividades de articulação da escola
lares; com as famílias e a comunidade;
VII - conjunção de esforços e desejos comuns, expres- VII -atuar em projetos pedagógicos especiais desenvol-
sos na noção de parceria entre escola e comunidade; vidos e aprovados pela Secretaria da Educação;
VIII - qualidade do ensino e preservação dos valores VIII - exercer outras atribuições correlatas e afins.
regionais e locais. Art. 8º - São atribuições do Coordenador Pedagógico:
I - coordenar o planejamento e a execução das ações
CAPÍTULO II pedagógicas nas Unidades Escolares e/ou DIREC;
DA ORGANIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO II - articular a elaboração participativa do Projeto Peda-
gógico da Escola;
Art. 3º - Para os efeitos desta lei, entende-se por: III - acompanhar o processo de implantação das dire-
I - Quadro do Magistério - conjunto de cargos de pro- trizes da Secretaria relativas à avaliação da aprendizagem e
vimento efetivo e em comissão, quantitativamente indica- dos currículos, orientando e intervindo junto aos professores
dos e distribuídos em carreiras, na área da Educação, lota- e alunos quando solicitado e/ou necessário;
dos na Secretaria da Educação do Estado da Bahia; IV - avaliar os resultados obtidos na operacionalização
II - Cargo - o conjunto orgânico de atribuições e res- das ações pedagógicas, visando a sua reorientação;
ponsabilidades cometidas a um servidor com as caracterís- V - coordenar e acompanhar as atividades dos horários
ticas essenciais de criação por lei, com denominação pró- de Atividade Complementar em Unidades Escolares, viabili-
pria, número certo e pagamento pelos cofres do Estado; zando a atualização pedagógica em serviço;
III - Nível - unidade básica da carreira, integrada pelo VI - estimular, articular e participar da elaboração de
agrupamento de cargos com a mesma denominação e projetos especiais junto à comunidade escolar;
iguais responsabilidades, identificados pela natureza e VII - elaborar estudos, levantamentos qualitativos e
complexidade de suas atribuições e pelo grau de conheci- quantitativos indispensáveis ao desenvolvimento do sistema
mento e escolaridade exigível para seu desempenho; ou rede de ensino ou da escola;
IV - Carreira - cargos escalonados segundo a especifi- VIII - elaborar, acompanhar e avaliar, em conjunto com a
cidade das atribuições e responsabilidades; Direção da Unidade Escolar, os planos, programas e projetos
V - Rede Estadual de Ensino - o conjunto de escolas voltados para o desenvolvimento do sistema e/ou rede de
estaduais pertencentes à Secretaria da Educação do Estado ensino e de escola, em relação a aspectos pedagógicos, ad-
da Bahia; ministrativos, financeiros, de pessoal e de recursos materiais;
VI - Diretoria Regional de Educação - DIREC - órgão IX - promover ações que otimizem as relações interpes-
de administração educacional pertencente à Secretaria da soais na comunidade escolar;
Educação do Estado da Bahia; X - divulgar e analisar, junto à comunidade escolar, do-
VII - Local de trabalho - Unidade Escolar ou Adminis- cumentos e projetos do Órgão Central, buscando imple-
trativa onde o servidor desempenha suas atividades. mentá-los nas Unidades Escolares, atendendo às peculiari-
Art. 4º - Compõem o Magistério Público Estadual do dades regionais;
Ensino Fundamental e Médio os servidores que exerçam XI - analisar os resultados de desempenho dos alunos,
atividades de docência e de suporte pedagógico direto à visando a correção de desvios no Planejamento Pedagógico;
docência, incluídas as de direção, planejamento, adminis- XII - propor e planejar ações de atualização e aperfei-
tração escolar e coordenação pedagógica. çoamento de professores e técnicos, visando a melhoria de
Art. 5º - O Quadro do Magistério de Ensino Fundamen- desempenho profissional;
tal e Médio compreende os cargos de Professor e Coorde- XIII - conceber, estimular e implantar inovações pedagó-
nador Pedagógico. gicas e divulgar as experiências de sucesso, promovendo o
Art. 6º - O Quadro do Magistério compõe-se dos se- intercâmbio entre Unidades Escolares;
guintes cargos escalonados: XIV - identificar, orientar e encaminhar, para serviços
I - Professor - P; especializados, alunos que apresentem necessidades de
II - Coordenador Pedagógico - CP. atendimento diferenciado;

181
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

XV - promover e incentivar a realização de palestras, II -complementação de estudos ou pós-graduação em


encontros e similares, com grupos de alunos e professores áreas específicas da educação especial, posterior à licencia-
sobre temas relevantes para a educação preventiva integral tura nas diferentes áreas de conhecimento, para atuação
e cidadania; nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio.
XVI - propor, em articulação com a direção, a implanta- Parágrafo único - Aos professores em exercício do ma-
ção e implementação de medidas e ações que contribuam gistério em educação especial, na data da entrada em vigor
para promover a melhoria da qualidade de ensino e o su- desta Lei, serão asseguradas oportunidades de formação
cesso escolar dos alunos; continuada, inclusive em nível de especialização pelas insti-
XVII - organizar e coordenar a implantação e imple- tuições educacionais públicas ou conveniadas.
mentação do Conselho de Classe numa perspectiva ino- Art. 14 - O Quadro do Magistério Público do Ensino Fun-
vadora de instância avaliativa do desempenho dos alunos; damental e Médio do Estado da Bahia é constituído de:
XVIII - promover reuniões e encontros com os pais, vi- I - cargos de provimento efetivo;
sando a integração escola/família para promoção do su- II - cargos de provimento em comissão.
cesso escolar dos alunos; Art. 15 - São de provimento efetivo os cargos de Pro-
XIX - estimular e apoiar a criação de Associações de fessor e Coordenador Pedagógico criados e classificados na
Pais, de Grêmios Estudantis e outras que contribuam para forma e número fixado no Anexo I desta Lei.
o desenvolvimento e a qualidade da educação; Parágrafo único - O quantitativo necessário para o exer-
XX - exercer outras atribuições correlatas e afins. cício do cargo de Coordenador Pedagógico é definido de
Art. 9º - A formação do Professor para atuar no ensino acordo com o porte da Unidade Escolar, conforme previsto
fundamental e médio, far-se-á: no Anexo II desta Lei.
I - ensino superior, em curso de licenciatura, de gra- Art. 16 - Os cargos da carreira do Magistério Público Es-
duação plena, em universidades e institutos superiores de tadual de Ensino Fundamental e Médio ficam estruturados
educação, admitida, como formação mínima, a oferecida em níveis, na forma estabelecida no Anexo III desta Lei.
pelo ensino médio completo, na modalidade Normal, para Art. 17 - Os cargos em comissão do Magistério Público
o exercício do magistério nas quatro primeiras séries do Estadual de Ensino Fundamental e Médio são os constantes
ensino fundamental; no Anexo IV desta Lei.
II - ensino superior, em curso de licenciatura, de gra- Art. 18 - Somente poderão exercer os cargos em comis-
duação plena, em universidades e institutos superiores de são do Magistério Público Estadual do Ensino Fundamental e
Médio, exceto o de Secretário Escolar, os ocupantes de cargo
educação legalmente reconhecidas, com habilitações es-
permanente da carreira de magistério, com formação em li-
pecíficas em área própria, para o exercício do magistério
cenciatura plena, após aprovação prévia em processo seleti-
nas séries finais do ensino fundamental e no ensino médio;
vo interno e certificação, conforme critérios e procedimentos
III - formação superior em universidades e institutos
estabelecidos em regulamento.
superiores de educação legalmente reconhecidas, em área
Ver também:
correspondente e complementação nos termos da legisla-
Decreto nº 16.385 de 26 de outubro de 2015 - Dispõe
ção vigente, para o exercício do magistério em áreas espe-
sobre os critérios e procedimentos do processo seletivo in-
cíficas das séries finais do ensino fundamental e no ensino terno a ser realizado pela unidade escolar, requisitos para
médio. o preenchimento dos cargos de Diretor e Vice-Diretor das
Art. 10 - A formação de profissionais para a Coordena- unidades escolares estaduais, conforme disposto no art.
ção Pedagógica no ensino fundamental e médio, será feita 18 da Lei nº 8.261, de 29 de maio de 2002 - Estatuto do
em curso de graduação em pedagogia ou em nível de pós- Magistério, e dá outras providências.
graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, Regulamentado pelo Decreto nº 13.202 , de 19 de
nesta formação, a base comum nacional. agosto de 2011.
Art. 11 - Para o exercício do Magistério de Ensino Fun- Regulamentado pelo Decreto nº 11.218 , de 18 de se-
damental e Médio, além dos requisitos previstos em outros tembro de 2008. (Revogado pelo Decreto nº 13.202, de 19
diplomas legais específicos, exigir-se-á o diploma com o de agosto de 2011)
registro expedido pelos órgãos competentes. § 1º - Na hipótese de não haver na Unidade Escolar pro-
Art. 12 - As atividades de docência ou técnico-peda- fissionais com formação em licenciatura plena o candidato
gógicas em classes especiais ou de alunos com necessida- ao cargo em comissão deverá contar com o mínimo de 05
des educacionais especiais serão exercidas por professores (cinco) anos de exercício de magistério na Unidade Escolar.
que possuírem especialização adequada em nível médio ou § 2º - No caso de vacância dos cargos em comissão do
superior, para atendimento especializado, bem como por Magistério Público Estadual do Ensino Fundamental e Médio,
professores de ensino regular capacitados para a integra- o titular da Secretaria da Educação designará um integrante
ção desses educandos nas classes comuns. da carreira pró-tempore, até novo preenchimento do cargo
Art. 13 - Os professores especializados em educação pelo mesmo processo previsto no caput deste artigo.
especial deverão comprovar: Art. 19 - O cargo em comissão de Secretário Escolar
I -formação em curso de licenciatura em educação somente poderá ser exercido por servidor público estadual
especial ou em uma de suas áreas, preferencialmente de após aprovação prévia em processo seletivo interno e certi-
modo concomitante e associado à licenciatura para os ficação, conforme critérios e procedimentos estabelecidos
anos iniciais do ensino fundamental; em regulamento.

182
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 20 - Os integrantes do Magistério Público Estadual VIII - coletar, analisar e divulgar os resultados de de-
de Ensino Fundamental e Médio relacionados por área, sempenho dos alunos, visando a correção de desvios no
grau, disciplina e função, lotados na Secretaria da Educação Planejamento Pedagógico;
serão distribuídos, por ato competente, entre os diversos IX- assegurar a participação do Colegiado Escolar na
estabelecimentos de ensino. elaboração e acompanhamento do plano de desenvolvi-
Art. 21 - O ingresso nos cargos da carreira do magis- mento da escola;
tério público estadual depende de aprovação prévia em X - gerenciar o funcionamento das escolas, zelando
concurso público de provas e títulos, de acordo com a na- pelo cumprimento da legislação e normas educacionais e
tureza e a complexidade do cargo, na forma prevista nesta pelo padrão de qualidade do ensino;
Lei e observada as demais legislações específicas para cada XI - cumprir e fazer cumprir as disposições contidas na
caso. Programação Escolar, inclusive com referência a prazos;
XII - supervisionar a distribuição da carga horária obri-
CAPÍTULO III gatória dos servidores da escola;
DA ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA XIII - emitir certificados, atestados, guia de transferên-
cia e demais documentos que devam ser emitidos pelo di-
Art. 22 - Na organização administrativa e pedagógica rigente máximo da Unidade Escolar;
das unidades escolares, haverá, de acordo com a categoria XIV - controlar a frequência dos servidores da Unidade
da respectiva unidade escolar e o nível de escolaridade do Escolar;
titular do cargo, os cargos em comissão de Diretor, Vice-Di- XV - elaborar e controlar a escala de férias dos servido-
retor e Secretário Escolar, na forma estabelecida no Anexo res e enviar via específica à DIREC;
V desta Lei. XVI - promover ações que estimulem a utilização de
Parágrafo único - A classificação dos cargos em comis- espaços físicos da Unidade Escolar, bem como o uso dos
são de Diretor e Vice-Diretor, de acordo com o nível de recursos disponíveis para a melhoria da qualidade de en-
escolaridade do titular, é a seguinte: sino como: bibliotecas, salas de leitura, televisão, laborató-
I -Nível 1: ocupante de cargo efetivo classificado nos rios, informática e outros;
níveis 1 ou 2; XVII - estimular a produção de materiais didático-pe-
II -Nível 2: ocupante de cargo efetivo classificado nos dagógicos nas Unidades Escolares, promover ações que
ampliem esse acervo, incentivar e orientar os docentes
níveis 3 ou 4.
para a utilização intensiva e adequada dos mesmos;
Art. 23 - O Diretor e o Secretário Escolar exercerão o
XVIII - coordenar as atividades administrativas da Uni-
cargo em regime de tempo integral e o Vice-Diretor em
dade Escolar;
regime de tempo parcial, de conformidade com o disposto
XIX - convocar os professores para a definição da distri-
no Anexo VI desta Lei, podendo o Vice-Diretor vir a ser
buição das aulas de acordo com a sua habilitação, adequan-
submetido ao regime de tempo integral nas hipóteses a
do-as à necessidade da Unidade Escolar e do Professor;
serem definidas em decreto regulamentar.
XX - manter atualizadas as informações funcionais dos
Art. 24 - São atribuições do Diretor:
servidores na Unidade Escolar;
I - administrar e executar o calendário escolar; XXI - zelar pelo patrimônio da escola, bem como o uso
II - elaborar o planejamento geral da unidade escolar, dos recursos disponíveis para a melhoria da qualidade de
inclusive o planejamento da proposta pedagógica; ensino como: bibliotecas, salas de leitura, televisão, labora-
III - promover a política educacional que implique no tórios, informática e outros;
perfeito entrosamento entre os corpos docente, discente, XXII - analisar, conferir e assinar o inventário anual dos
técnico-pedagógico e administrativo; bens patrimoniais e do estoque do material de consumo;
IV - informar ao servidor da notificação, ao dirigente XXIII - responder pelo cadastramento e registros rela-
máximo da Secretaria, da necessidade de apurar o descum- cionados com a administração de pessoal;
primento dos deveres funcionais, inclusive o não cumpri- XXIV - programar, registrar, executar e acompanhar as
mento regular da jornada obrigatória de trabalho e tomar despesas da Unidade Escolar;
a ciência do faltoso ou juntar aos autos declaração de duas XXV - coordenar as atividades financeiras da Unidade
ou mais testemunhas no caso de recusa do servidor de re- Escolar;
ceber a informação e dar ciência; XXVI - controlar os créditos orçamentários da Unidade
V - comunicar à Diretoria Regional de sua jurisdição Escolar oriundos dos recursos Federais, Estaduais ou Mu-
a necessidade de professores ou existência de excedentes nicipais;
por área e disciplina; XXVII - elaborar e responder pela prestação de contas
VI - manter o fluxo de informações atualizado, inclusive dos recursos da Unidade Escolar;
as ocorrências funcionais dos servidores, com a DIREC; XXVIII - registrar e controlar as obrigações a pagar da
VII - acompanhar e avaliar os planos, programas e pro- Unidade Escolar;
jetos voltados para o desenvolvimento do sistema e/ou XXIX - adotar medidas que garantam as condições fi-
rede de ensino e de escola, em relação a aspectos pedagó- nanceiras necessárias à implementação das ações previstas
gicos, administrativos, financeiros, de pessoal e de recursos no plano de desenvolvimento da Unidade Escolar;
materiais; XXX - exercer outras atribuições correlatas e afins.

183
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 25 - São atribuições do Vice-Diretor: CAPÍTULO IV


I - substituir o Diretor em sua falta e nos seus impedi- NORMAS FUNCIONAIS ESPECIAIS
mentos eventuais; SEÇÃO I
II - assessorar o Diretor no gerenciamento do funciona- REMOÇÃO
mento da Unidade Escolar, compartilhando com o mesmo
a execução das tarefas que lhe são inerentes e zelando pelo Art. 27 - Para os fins deste estatuto, remoção é a mo-
cumprimento da legislação e normas educacionais; vimentação do ocupante de cargo do magistério de uma
III - exercer as atividades de apoio administrativo-fi- para outra unidade escolar, ainda que da mesma localida-
nanceiro; de.
IV - acompanhar o desenvolvimento das tarefas da Se- Art. 28 - A remoção pode ser feita:
cretaria Escolar e do pessoal de apoio; I - a pedido do servidor;
V - controlar a frequência do pessoal docente e técni- II - ex-officio, por conveniência do serviço;
co-administrativo, encaminhando relatório ao Diretor para III - por permuta;
as providências; IV - para acompanhar cônjuge, servidor público esta-
VI - zelar pela manutenção e limpeza do estabeleci- dual, removido ex-officio ou promovido.
mento no seu turno; Art. 29 - A remoção será feita a pedido ou ex-officio,
VII - supervisionar e controlar os serviços de reprogra- no interesse do ensino, mediante justificativa e audiência
fia e digitação; do interessado.
VIII - executar outras atribuições correlatas e afins de- § 1º - A remoção a pedido está condicionada à existên-
terminadas pela direção. cia de vaga e somente será efetuada no período de recesso
Art. 26 - São atribuições do Secretário Escolar: escolar de final de ano letivo, exceto por motivo de saúde
I - prestar atendimento à comunidade interna e externa do servidor, cônjuge, companheiro ou dependente, condi-
da Unidade Escolar; cionado à comprovação, por junta médica oficial.
II - efetivar registros escolares e processar dados re- § 2º - A remoção por permuta será atendida quando
ferentes a matrícula, aluno, professor e servidor em livros,
o pedido estiver subscrito pelos interessados, observadas
certificados, fichas individuais, históricos escolares, formu-
as conveniências do ensino e normas regulamentares es-
lários e banco de dados;
pecíficas.
III - classificar e guardar documentos de escrituração
§ 3º - O servidor do magistério que acumular legalmen-
escolar, correspondências, dossiê de alunos, documentos
te cargo ou emprego público estadual, quando removido
de servidores, pedagógicos, administrativos, financeiros e
ex-officio em razão do outro cargo ou emprego público
legislações pertinentes;
estadual, será considerado também removido em relação
IV - redigir e expedir correspondências oficiais;
ao cargo do magistério e ficará em licença sem vencimen-
V - organizar e responder pela manutenção dos arqui-
vos; tos se não existir vaga em unidade escolar da rede estadual
VI - acompanhar os atos administrativos publicados no da localidade para a qual foi removido e até que ela se
Diário Oficial do Estado; verifique.
VII - coordenar o pessoal de apoio e administrativo, em § 4º - A audiência do interessado, no processo de re-
todos os períodos de funcionamento da Unidade Escolar; moção ex-officio, poderá ser acompanhada por membro
VIII - responder pelos diários de classe; da Associação dos Professores Licenciados do Estado da
IX - fornecer informações para a Direção, alunos, pais, Bahia - APLB.
equipe de suporte pedagógico, professores, órgãos cole- Art. 30 - É assegurada ao servidor integrante do qua-
giados e órgãos públicos; dro do Magistério Público Estadual do Ensino Fundamental
X - exercer as atividades de apoio administrativo-finan- e Médio, quando casado com servidor público civil ou mi-
ceiro; litar, da administração centralizada ou descentralizada do
XI - zelar pela manutenção e limpeza do estabeleci- Estado, preferência para a remoção para o mesmo local em
mento no seu turno; que o seu cônjuge foi mandado servir.
XII - manter o fluxo de informações atualizado na Uni- Parágrafo único - Não existindo vaga em unidade es-
dade Escolar; colar da localidade, o servidor do magistério poderá optar
XIII - coordenar a utilização plena, pelos professores, entre prestar serviços a outro órgão público estadual do
dos recursos da TV Escola, Vídeo Escola, Salto Para o Futuro mesmo lugar ou ficar em licença sem vencimentos.
e outros; Art. 31 - Quando o número de candidatos à remoção
XIV - comunicar ao Diretor da Escola as ocorrências for maior que o número de vagas deverá ser procedida a
funcionais do servidor, com base na legislação vigente, tais classificação dos concorrentes, observada a seguinte or-
como: faltas, licenças, afastamentos, ausência parcial ou dem de prioridade:
total de carga horária, abandono de serviço, readaptação I - doente, para a localidade onde deva se tratar;
funcional e outras; II - o que tiver cônjuge ou filho doente, para a localida-
XV - executar outras atribuições correlatas e afins de- de onde o tratamento deva ser feito;
terminadas pela direção. III - arrimo, para a localidade onde resida a família;
IV - casado, para a localidade onde resida o cônjuge.

184
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Parágrafo único - Além da ordem de prioridade previs- Art. 38 - Considera-se atividade de magistério, para
ta neste artigo, observar-se-á a seguinte preferência: efeito de aplicação da progressão por avanço vertical, a
I - de mais tempo de efetivo exercício do magistério preparação, ministração de aulas, controle e avaliação do
estadual, na localidade de onde requer remoção; rendimento escolar, recuperação dos alunos, atuação em
II - de nível mais elevado; projetos especiais, coordenação pedagógica e direção es-
III - mais antigo no magistério; colar.
IV - mais antigo no serviço público estadual; Art. 39 - O preenchimento mediante progressão fun-
V - de idade maior. cional por avanço vertical, dos cargos criados por esta Lei,
obedecerá ao limite máximo de 60% (sessenta por cento)
SEÇÃO II das vagas existentes anualmente.
AVANÇO Redação do art. 39 de acordo com o art. 1º
da Lei nº 9.838 , de 19 de dezembro de 2005.
Art. 32 - Ao servidor do magistério é assegurado o di- Redação original: “Art. 39 - O preenchimento median-
reito à percepção de vantagem de avanço em virtude de te progressão funcional por avanço vertical, dos cargos
tempo de efetivo exercício no Magistério Público do Ensino
criados por esta Lei, obedecerá ao limite máximo de
Fundamental e Médio do Estado da Bahia ou de obtenção
40% (quarenta por cento) das vagas existentes anual-
de titulação específica.
mente.”
Parágrafo único - O avanço poderá ser horizontal e
Art. 40 - O interstício será apurado em dias de efetivo
vertical.
Art. 33 - Consiste o avanço horizontal por tempo de exercício no nível, sendo considerado para este efeito os
serviço na majoração do vencimento básico por quinquê- afastamentos por motivos de:
nio de efetivo exercício no Magistério Público do Ensino I - por 1 (um) dia, para doação de sangue;
Fundamental e Médio do Estado da Bahia. II - por 2 (dois) dias, para alistamento eleitoral;
§ 1º - O avanço horizontal por tempo de serviço será III - por 8 (oito) dias consecutivos, por motivo de:
devido à razão de 5% (cinco por cento), sobre o vencimen- a) casamento;
to básico, por quinquênio, aos servidores do quadro do b) falecimento de cônjuge, companheiro, pais, padrasto
Magistério do Ensino Fundamental e Médio, que estejam ou madrasta, filhos, enteados, menor sob guarda ou tutela
no efetivo exercício, contínuo ou interpolado, de atividades e irmãos, desde que comprovados com atestado de óbito.
de regência de classe, coordenação pedagógica e direção IV - até 15 (quinze) dias, por período de trânsito, com-
de unidades de ensino, até o limite máximo de 30% (trinta preendido como o tempo gasto pelo servidor que mudar
por cento). de sede, contados da data do desligamento.
§ 2º - A gratificação prevista neste artigo somente al- V - férias;
cançará aos servidores beneficiados pela disposição do § VI - participação em programa de treinamento regular-
2º do artigo 3º da Lei nº 4.694, de 09 de junho de 1987, mente instituído;
quando a vantagem pessoal que lhes foi assegurada for VII - participação em júri e em outros serviços obriga-
inferior ao limite percentual máximo estabelecido no pa- tórios por lei;
rágrafo precedente e apenas para completar aquele limite. VIII - missão ou estudos em outros pontos do território
Art. 34 - O avanço horizontal por tempo de serviço será nacional ou no exterior, quando o afastamento houver sido
devido a partir do dia imediato àquele em que o servidor autorizado pela autoridade competente;
do magistério completar o quinquênio de efetivo exercício, IX - abono de falta, a critério do chefe imediato do ser-
contínuo ou interpolado. vidor, no máximo de 72 (setenta e dois) dias por quinquê-
Art. 35 - Consiste o avanço vertical na progressão do nio;
servidor para o nível imediatamente superior na carreira,
X - licença:
em virtude de obtenção de titulação específica.
a) à gestante, à adotante e licença-paternidade;
Art. 36 - O avanço vertical far-se-á, à vista da qualifica-
b) para tratamento da própria saúde;
ção obtida pelo servidor.
c) por motivo de acidente em serviço ou por doença
Parágrafo único - A progressão de que trata este artigo
é condicionada à conclusão do curso de formação profis- profissional;
sional, conforme estabelecido no Anexo III desta Lei. d) prêmio por assiduidade;
Art. 37 - São requisitos para progressão por avanço e) para o servidor-atleta.
vertical: XI - exercício de cargo comissionado no âmbito da Ad-
I - estar o servidor no efetivo exercício de atividades do ministração, em atividades relacionadas à área da Educa-
Magistério, correspondentes às atribuições do cargo que ção.
ocupe; Art. 41 - A contagem do interstício será suspensa na
II - cumprir o interstício mínimo de 03 (três) anos de data do afastamento do servidor por motivo de:
permanência no nível atribuído ao cargo ocupado; I -falta injustificada ao serviço;
III - comprovar o servidor possuir titulação específica, II -suspensão disciplinar ou preventiva;
correspondente à formação profissional exigida para o ní- III -licença com perda de vencimento;
vel pretendido, conforme previsto no Anexo III desta Lei. IV -readaptação em função estranha ao magistério;

185
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

V -colocação à disposição de qualquer órgão ou enti- § 1º - Os servidores que exerçam atividade de suporte
dade da administração pública direta ou indireta, Federal, pedagógico direto à docência cumprirão o regime de 20
Estadual ou Municipal; (vinte) ou 40 (quarenta) horas, em jornadas de 04 (quatro)
VI -atuação em órgão da estrutura da Secretaria da ou 08 (oito) horas, durante 05 (cinco) dias da semana.
Educação, no desempenho de atividades não correlatas às § 2º - Além do número normal de aulas, em tempo
de Magistério. parcial, a que se obriga pelo exercício do cargo, o docente
Parágrafo único - Nos casos de afastamento previsto poderá ministrar aulas extraordinárias, em razão das neces-
neste artigo, a contagem do interstício será retomada na sidades do ensino, mediante acréscimo de sua retribuição,
data em que o servidor reassumir o exercício. calculado à base do valor da hora/aula, respeitado o limite
Art. 42 - Quando, na utilização das vagas, para efeito de 40 (quarenta) horas.
de Progressão Funcional por Avanço Vertical, a existência § 3º - As aulas extraordinárias, no limite máximo de
das mesmas for inferior ao quantitativo dos requerimentos, 20 (vinte) horas semanais, só serão atribuídas a docente
deverão ser observados sucessivamente os seguintes crité- ocupante de um só cargo, em regime de tempo parcial, nos
rios para desempate: casos de carga horária residual ou durante o afastamento
I -tempo de exercício em cargo do Magistério de Ensi- legal e eventual do titular.
no Fundamental e Médio do Estado da Bahia; § 4º - Para a atribuição das aulas extraordinárias a Di-
II -tempo de conclusão da titulação ou habilitação es- reção da Unidade Escolar observará os seguintes critérios:
pecífica comprovada; a) nível mais alto no quadro de carreira do Magistério
III -tempo de serviço público estadual; Público Estadual do Ensino Fundamental e Médio;
VI -número de filhos. b) tempo de serviço no Magistério Público Estadual do
§ 1º - Anualmente a Secretaria da Educação abrirá ins- Ensino Fundamental e Médio;
crições para progressão funcional por avanço vertical, obe- c) tempo de serviço na Unidade Escolar.
decendo aos seguintes prazos: § 5º - O vencimento dos docentes e dos servidores
a) Requerimento da progressão - limitado até 60 (ses- que exerçam atividade de suporte pedagógico direto à do-
senta) dias antes do término do ano letivo imediatamente cência submetidos ao regime de 40 (quarenta) horas será
anterior ao do julgamento e concessão; o dobro do valor atribuído, no mesmo cargo, ao regime
b) Julgamento, com a publicação da lista classificatória de 20 (vinte) horas, incidindo sobre o vencimento de 40
(quarenta) horas os percentuais referentes a benefícios ou
- mês de março de cada ano;
vantagens a que façam jus, enquanto permanecerem nesse
c) Recurso - primeira quinzena do mês de abril de cada
regime.
ano;
Art. 45 - Aos docentes e demais servidores que exer-
d) Concessão - mês de maio de cada ano.
çam atividade de suporte pedagógico direto à docência
§ 2º - As vantagens decorrentes da progressão, a que
optantes pelo regime de 20 (vinte) horas serão assegura-
se refere este artigo, somente serão devidas a partir da
das as alterações para o regime de 40 (quarenta) horas,
data estabelecida no respectivo ato de concessão expedido
condicionada à existência de vaga no quadro de magistério
pelo Secretário da Educação.
público estadual e à observância, por ordem de prioridade,
dos seguintes critérios:
SEÇÃO III I - assiduidade;
FÉRIAS II - antiguidade:
a) no magistério na unidade escolar;
Art. 43 - O período de férias anuais do servidor do qua- b) no magistério público estadual;
dro do Magistério Público do Ensino Fundamental e Médio c) no funcionalismo público estadual.
é de 30 (trinta) dias consecutivos, considerando-se como Art. 46 - Considera-se assíduo o docente e os servido-
de recesso escolar os dias excedentes a esse prazo em que, res que exerçam atividade de suporte pedagógico direto à
de acordo com o calendário da respectiva instituição, não docência com frequência regular, isto é, sem faltas injusti-
haja exercício de atividade docente. ficadas ao serviço.
Art. 47 - Apura-se a antiguidade do docente e dos de-
SEÇÃO IV mais servidores que exerçam atividades de suporte pedagó-
REGIME DE TRABALHO gico direto à docência pelo cômputo do tempo de efetivo
exercício de suas funções, tendo como termo inicial a data
Art. 44 - Os servidores que exerçam atividades de do- do ingresso no quadro de magistério público estadual.
cência e de suporte pedagógico direto à docência, inte- § 1º - Entende-se por antiguidade no magistério na
grantes do quadro do Magistério Público Estadual de En- unidade escolar o desempenho das atividades de nature-
sino Fundamental e Médio submeter-se-ão a um dos se- za pedagógica e administrativo-pedagógica exercidas nas
guintes Regimes de Trabalho: unidades escolares.
I - Regime de Tempo Integral, com 40 (quarenta) horas § 2º - Entende-se por antiguidade no magistério pú-
semanais; blico estadual o desempenho das atividades de natureza
II - Regime de Tempo Parcial, com 20 (vinte) horas se- pedagógica e administrativo-pedagógica exercidas em ór-
manais. gãos centrais e regionais da Secretaria da Educação.

186
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

§ 3º - Entende-se por antiguidade no funcionalismo Art. 52 - O docente ou os demais servidores que exer-
público estadual o desempenho pelos docentes e demais çam atividade de suporte pedagógico direto à docência,
servidores que exerçam atividades de suporte pedagógi- em regime de 40 (quarenta) horas semanais, somente terá
co direto à docência, de funções de natureza diversas das assegurada a percepção de proventos de inatividade neste
pedagógicas e administrativo-pedagógico, no âmbito da regime, se nele houver permanecido por, no mínimo, 05
Secretaria da Educação. (cinco) anos consecutivos e imediatamente anteriores à
Art. 48 - A valoração dos critérios para a alteração do data do requerimento de aposentadoria.
regime de trabalho será feita de acordo com a seguinte Art. 53 - O docente da 1ª a 4ª série do ensino funda-
pontuação: mental, submetido ao regime de tempo parcial ou integral
I - à assiduidade serão atribuídos 06 (seis) pontos para com efetiva regência de classe, receberá uma gratificação
cada ano letivo sem anormalidades na frequência; de 15% (quinze por cento) sobre o seu vencimento básico,
II - à antiguidade serão atribuídos, sem qualquer possi- a título de atividades complementares, que passará a ser
bilidade de cumulação: de 27% (vinte e sete por cento) a partir de 1º de janeiro de
a) a cada ano letivo de magistério na unidade escolar, 2003.
03 (três) pontos para o docente e demais servidores que Parágrafo único - O docente com carga horária de 40
exerçam atividade de suporte pedagógico direto à docên- (quarenta) horas semanais que exercer as atividades letivas
cia e 04 (quatro) pontos para o exercente do cargo de Di- na 1ª a 4ª série do ensino fundamental somente por 20
retor; (vinte) horas semanais, receberá uma gratificação de 7,5%
b) a cada ano letivo de magistério público estadual, 02 (sete e meio por cento) sobre o seu vencimento básico, a
(dois) pontos; título de atividades complementares, que passará a ser de
c) a cada ano civil de serviço no funcionalismo público 13,5% (treze e meio por cento) a partir de 1º de janeiro de
estadual será atribuído 01 (um) ponto. 2003.
Parágrafo único - Na hipótese de ter o docente ou os Art. 54 - Poderá ser concedido horário especial ao ser-
demais servidores que exerçam atividade de suporte pe- vidor do Magistério Público Estadual do Ensino Fundamen-
dagógico direto à docência, no curso de um mesmo ano tal e Médio, estudante, quando comprovada a incompatibi-
letivo, atuado em mais de uma das situações figuradas nas lidade de horário escolar com o da Unidade de Ensino, sem
alíneas do inciso II deste artigo, a contagem dos pontos prejuízo do exercício do cargo.
para efeito de aferição da antiguidade será feita propor- Parágrafo único - Para efeito do disposto neste artigo,
será exigido a compensação de horários da Unidade de En-
cionalmente.
sino, respeitada a duração da jornada de trabalho semanal.
Art. 49 - A alteração do regime de trabalho para redu-
Art. 55 - Para o desenvolvimento das atividades com-
ção da carga horária, de 40 (quarenta) horas para 20 (vinte)
plementares deverá ser reservada 1/3 (um terço) da carga
horas semanais, ocorrerá unicamente no período de reces-
horária correspondente ao regime de trabalho a que estão
so escolar, devendo o requerimento respectivo ser instruí-
submetidos os professores da 5ª a 8ª série do Ensino Fun-
do com os seguintes documentos:
damental e os do Ensino Médio, na forma estabelecida no
I - declaração do docente ou dos demais servidores
Anexo VII desta Lei.
que exerçam atividade de suporte pedagógico direto à do-
Redação de acordo com a Lei
cência declinando o motivo da sua pretensão, de modo a nº  12.904 , de 17 de setembro de 2013.
deixar claro que a redução não lhe trará prejuízo de qual- Redação original: “Art. 55 - Para desenvolvimento das
quer ordem; atividades complementares dos professores da 5ª a 8ª
II - manifestação expressa do superior hierárquico séries do Ensino Fundamental e os do Ensino Médio de-
quanto à possibilidade da redução de carga horária plei- verão ser reservadas 25% (vinte e cinco por cento) da
teada. carga horária correspondente ao regime de trabalho a
Art. 50 - O prazo máximo para requerer alteração de que os mesmos se subordinem, e a partir de 1º de janei-
regime de trabalho é de 60 (sessenta) dias antes do térmi- ro de 2003 deverão ser reservadas as cargas horárias
no do semestre letivo. estabelecidas no anexo VII desta Lei.” 
Art. 51 - Os docentes e os demais servidores que exer- Art. 56 - Considera-se Atividade Complementar, a car-
çam atividade de suporte pedagógico direto à docência ga horária destinada, pelos professores em efetiva regência
submetidos ao regime de tempo parcial, quando no exer- de classe, com a participação coletiva dos docentes, por
cício do cargo de Diretor das Unidades Escolares, quando área de conhecimento, à preparação e avaliação do traba-
designado para exercer atividades no Núcleo de Tecnolo- lho didático, às reuniões pedagógicas e ao aperfeiçoamen-
gia ou no Programa de Enriquecimento Instrumental - PEI, to profissional, de acordo com a proposta pedagógica de
terão o seu regime de trabalho temporariamente alterado cada Unidade Escolar.
para o regime de 40 (quarenta) horas, quando o funciona- Art. 57 - É obrigatória a participação de todos os pro-
mento do estabelecimento assim o exigir e houver dispo- fessores em efetiva regência nas Atividades Complementa-
nibilidade de recursos. res, em dia e hora determinados pela direção da Unidade
Parágrafo único - Aplica-se o disposto neste artigo ao Escolar, sendo essas atividades supervisionadas pelo Coor-
exercente do cargo de Vice-Diretor nas hipóteses previstas denador Pedagógico, sem prejuízo da carga horária desti-
em decreto regulamentar. nada à efetiva regência de classe.

187
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 58 - A distribuição da carga horária do professor de- V - prestar assistência técnica relacionada com sua ati-
verá ser feita conforme estabelecido no Anexo VII desta Lei. vidade docente;
§ 1º - A distribuição de carga horária do professor em VI - quando no exercício de um mandato legislativo
sala de aula obedecerá, prioritariamente, à sua formação compor a Comissão de Educação;
profissional, considerando a modalidade de ensino da Uni- VII - abono de falta, a critério do chefe imediato do ser-
dade Escolar e à seguinte ordem de preferência: vidor, no máximo de 72 (setenta e dois) dias por quinquênio;
I - maior tempo de serviço em efetiva regência de clas- Parágrafo único - Nos casos dos incisos II a V deste ar-
se na Unidade Escolar; tigo a autoridade competente para permitir o afastamento
II - nível mais alto de enquadramento no quadro de deverá considerar a conveniência e o interesse do ensino.
Magistério Público Estadual; Art. 62 - O docente e demais servidores que exerçam
III - assiduidade. atividade de suporte pedagógico direto à docência devida-
§ 2º - A distribuição da carga horária do professor de- mente matriculados em cursos de pós-graduação a nível de
verá ser feita, considerando: especialização, mestrado ou doutorado, que tenham corre-
I - as atividades em sala de aula - Regência de Classe; lação com a sua formação profissional e com as atribuições
II - as Atividades Complementares - AC, destinadas à definidas para o cargo que ocupa, poderão ser liberados das
preparação e avaliação do trabalho didático, às reuniões atividades educacionais ou técnicas, parcial ou totalmente,
pedagógicas e ao aperfeiçoamento profissional; sem prejuízo das vantagens do cargo e de acordo com o
III - as atividades de livre escolha - destinadas à prepa- interesse da Administração.
ração de aulas e a avaliação de trabalhos de alunos. § 1º - A ausência não excederá a 02 (dois) anos, prorro-
gável por mais 1 (um) e, findo o curso, somente após decor-
SEÇÃO V rido o mínimo de 05 (cinco) anos poderá ser permitida nova
DO ENQUADRAMENTO ausência.
§ 2º - Ao servidor beneficiado pelo disposto neste ar-
Art. 59 - Fica assegurado aos atuais professores não tigo não será concedida exoneração, licença para tratar de
licenciados o direito ao enquadramento na Carreira do Ma- interesse particular ou aposentadoria antes de decorrido
gistério Público Estadual do Ensino Fundamental e Médio, período igual ao do afastamento, ressalvada a hipótese do
quando obtiverem a habilitação específica para o exercício ressarcimento das despesas correspondentes.
do magistério. § 3º - O afastamento previsto neste artigo não será con-
§ 1º - Para fins do disposto no caput deste artigo, con- cedido ao servidor exercente de cargo comissionado.
sideram-se professores não licenciados os servidores em Art. 63 - Não é permitido ao Professor ou Coordenador
exercício de magistério sem titulação específica, nos ter- Pedagógico exercer, em regime de disposição ou requisição,
mos da legislação federal e das resoluções do Conselho qualquer função pública estranha ao magistério.
Estadual de Educação. Parágrafo único - Não se compreendem na proibição
§ 2º - Os professores não licenciados permanecerão, deste artigo as seguintes situações:
obrigatoriamente, em regência de classe, salvo os que vie- I - exercício da função de governo ou administração fe-
rem a ocupar Cargos em Comissão, nos termos desta Lei. deral, no território nacional ou no exterior, por nomeação do
§ 3º - Os cargos de professor não licenciado, estrutu- Presidente da República;
rados em níveis, são os constantes no Anexo VIII desta Lei. II - exercício de funções de Secretário de Estado, direção
§ 4º - Aos atuais professores não licenciados que se en- de entidades da administração estadual descentralizada, e
contrem no exercício do magistério a título precário e não de cargos em comissão, por nomeação do Governador;
preenchem os requisitos previstos no Anexo VIII desta Lei III - opção, de acordo com o disposto no parágrafo úni-
serão atribuídos vencimentos correspondentes ao Nível 02. co do artigo 30.
Art. 64 - Os Professores do Magistério Público Estadual
SEÇÃO VI do Ensino Fundamental e Médio, portadores de habilitação
AFASTAMENTOS E VANTAGENS específica decorrente de curso regularmente reconhecido,
com carga horária mínima e integralizada em um único cur-
Art. 60 - Ao professor ou Coordenador Pedagógico que so de 360 (trezentos e sessenta) horas/aula, perceberão uma
contrair doença pela natureza ou por conta da sua ativida- gratificação especial de 20% (vinte por cento), calculada so-
de, serão assegurados os direitos previstos na Lei nº 6.677, bre o valor do vencimento base do nível do cargo ocupado,
de 26 de setembro de 1994. enquanto estiver na regência de classes com alunos com ne-
Art. 61 - Serão considerados de efetivo exercício os cessidades educacionais especiais.
afastamentos do servidor do magistério para: Parágrafo único - A gratificação prevista neste artigo
I - licença para tratamento de saúde; será concedida a pedido do docente, pela autoridade com-
II - seu aperfeiçoamento, especialização ou atualização petente e à vista do comprovante do ato oficial de designa-
em instituições nacionais ou estrangeiras; ção para a regência de classe de excepcionais.
III - comparecer a reuniões ou congressos relacionados Art. 65 - A Gratificação de Estímulo às Atividades de
com a atividade docente que lhe seja pertinente; Classe será concedida aos ocupantes do cargo de Profes-
IV - cumprir programa de educação ou ensino resul- sor do Magistério Público Estadual do Ensino Fundamental
tante de acordo cultural com outra nação; e Médio que se encontrem em efetiva regência de classe,

188
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

no percentual de 40% (quarenta por cento) sobre o venci- III - por 8 (oito) dias consecutivos, por motivo de:
mento básico atribuído ao cargo ocupado pelo beneficiá- a) casamento;
rio desde que preenchidos, cumulativamente, os seguintes b) falecimento de cônjuge, companheiro, pais, padrasto
requisitos: ou madrasta, filhos, enteados, menor sob guarda ou tutela
I - que a regência de classe esteja sendo exercida em e irmãos, desde que comprovados com atestado de óbito.
Unidades Escolares da Rede Pública Estadual ou em Uni- IV - até 15 (quinze) dias, por período de trânsito, com-
dades Escolares conveniadas ou municipalizadas mediante preendido como o tempo gasto pelo servidor que mudar
convênio celebrado com o Estado da Bahia, por intermédio de sede, contados da data do desligamento.
da Secretaria da Educação; V - férias;
II - que o exercício da regência seja comprovado pelo VI - participação em programa de treinamento regular-
diretor da unidade escolar onde o docente esteja minis- mente instituído;
trando as aulas obrigatórias de sua carga horária, validada VII - participação em júri e em outros serviços obriga-
na programação escolar anual. tórios por lei;
Parágrafo único - O percentual da Gratificação de que VIII - missão ou estudos em outros pontos do território
trata este artigo passará para 45% (quarenta e cinco por nacional ou no exterior, quando o afastamento houver sido
cento) a partir de 1º de julho de 2002 e para 50% (cinquen- autorizado pela autoridade competente;
ta por cento) a partir de 1º janeiro de 2003. IX - abono de falta, a critério do chefe imediato do ser-
Art. 65-A - Para efeito do disposto no art. 65 desta Lei, vidor, no máximo de 72 (setenta e dois) dias por quinquê-
também é considerada a participação de Professor em Pro- nio;
grama ou Projeto pedagógico aprovado pela Secretaria da X - licença:
Educação. a) à gestante, à adotante e licença-paternidade;
Parágrafo único -   Serão estabelecidas, em ato do Che- b) para tratamento da própria saúde;
fe do Poder Executivo, as diretrizes para instituição dos no- c) por motivo de acidente em serviço ou por doença
vos Programas ou Projetos pedagógicos referidos no caput profissional;
deste artigo. d) para o servidor-atleta;
Art. 65-A acrescido pelo art. 1º da Lei nº 13.188, de
XI - licença-prêmio, se o servidor estiver percebendo
01 de julho de 2014.
a gratificação de que trata este artigo há mais de 6 (seis)
  Art. 66 - O Professor que desdobra a carga horária
meses;
obrigatória em regência e em atividades técnico-adminis-
XII -readaptação funcional.
trativa, fará jus a esta gratificação apenas sobre a parcela
Inciso XII acrescido ao art. 71 pela Lei nº 12.904 , de
do vencimento correspondente ao de efetiva regência, ou
17 de setembro de 2013.
seja, 20 (vinte) horas semanais.
Art. 72 - A constatação de irregularidades nos proce-
Art. 67 - A Gratificação de Estímulo às Atividades de
dimentos que originaram a concessão da Gratificação de
Classe não será concedida ao Professor que estiver servin-
do no órgão central da Secretaria da Educação, nas Direto- Estímulo às Atividades de Classe implicará em apuração de
rias Regionais de Educação - DIREC ou exercendo ativida- responsabilidade e devolução, pelo beneficiário, dos valo-
des técnico-administrativas em Unidades Escolares. res recebidos indevidamente, calculados pelo valor do ven-
Art. 68 - Na hipótese de acumulação legal de dois car- cimento básico vigente na data da devolução.
gos de magistério a Gratificação de Estímulo às Atividades Art. 73 - A Gratificação de Estímulo às Atividades de
de Classe será aplicada isoladamente, desde que, em cada Classe não servirá de base de cálculo para qualquer outra
um deles, o ocupante esteja no exercício da efetiva regên- parcela remuneratória.
cia de classe. Art. 73-A - Investido em cargo de Diretor ou Vice-Di-
Art. 69 - A concessão da Gratificação de Estímulo às retor de unidade escolar, o Professor poderá optar pela
Atividades de Classe será devida a partir da comprovação continuidade da percepção da Gratificação de Estímulo às
do efetivo exercício da regência de classe, com base nos Atividades de Classe, caso em que a Gratificação por Con-
registros anuais da programação escolar. dições Especiais de Trabalho - CET corresponderá à dife-
Parágrafo único - Configurando-se a situação de re- rença entre o valor atribuído ao cargo em comissão e o da
gência de classe, posteriormente à data referida neste arti- primeira vantagem.
go, a gratificação será devida a partir do início do exercício Art. 73-A acrescido pelo art. 1º da Lei nº 13.188, de
da correspondente atividade. 01 de julho de 2014.
Art. 70 - Em caso de faltas ou penalidades aplicadas Art. 74 - O Professor e o Coordenador Pedagógico,
que impliquem em dedução do vencimento, esta atingirá, mesmo no exercício de cargo comissionado do quadro do
na mesma proporção, a Gratificação de Estímulo às Ativi- Magistério Público Estadual do Ensino Fundamental e Mé-
dades de Classe. dio, que exerça as atribuições do seu cargo em Unidades
Art. 71 - O Professor perderá o direito à Gratificação Escolares situadas em localidades inóspitas, de difícil aces-
de Estímulo às Atividades de Classe quando afastado do so, insalubre, insegura ou de precárias condições de vida,
exercício da regência de classe, salvo nos seguintes casos: terá assegurado o direito à percepção de até 30% (trinta
I - por 1 (um) dia, para doação de sangue; por cento) do vencimento básico do cargo ocupado, na
II - por 2 (dois) dias, para alistamento eleitoral; forma determinada em regulamento.

189
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 75 - Para fins do disposto no artigo anterior, con- Parágrafo único - Decorrendo o afastamento da con-
sidera-se como de difícil acesso as Unidades Escolares, cessão de licença prêmio à assiduidade, a continuidade do
quando localizadas: pagamento da gratificação somente será assegurada se o
I - na capital do Estado ou na Região Metropolitana, e servidor estiver percebendo, ininterruptamente, há mais de
a) não dispuserem de linhas convencionais de trans- seis meses.
porte coletivo, ou Art. 79 - O Professor com carga horária de 40 horas que
b) distarem mais de 2 Km dos corredores e vias de exerce suas atividades letivas em 02 (duas) Unidades Esco-
transporte coletivo; lares diferentes, sendo apenas uma enquadrada como de
II - no interior do Estado, as vilas e povoados distantes difícil acesso, a gratificação será concedida no percentual
da sede do município, no mínimo, 10 Km;
correspondente ao da carga horária respectiva.
III - em região que apenas permita o acesso parcial ou
Art. 80 - A gratificação de difícil acesso deixará de ser
integralmente por via fluvial ou marítima.
paga na ocorrência de qualquer das situações a seguir enu-
Parágrafo único - Somente terá direito à gratificação
pelo exercício de suas atribuições em local de difícil acesso meradas:
o professor ou Coordenador Pedagógico, mesmo no exer- I - remoção do beneficiário para Unidade Escolar não
cício de cargo comissionado do quadro Magistério Público considerada com localização de difícil acesso;
Estadual do Ensino Fundamental e Médio, que residir em II - mudança de residência do beneficiário que impli-
local diverso daquele onde tem exercício funcional. que descaracterização da dificuldade de acesso;
Art. 76 - As localidades de difícil acesso, observados os III - exclusão da unidade da lista de classificação das
critérios estabelecidos no artigo anterior, serão definidas Unidades Escolares situadas em locais reconhecidos como
em ato do Secretário da Educação. de difícil acesso.
Art. 77 - A gratificação de difícil acesso será paga con- Art. 81 - Caberá à Secretaria da Educação o controle
juntamente com os vencimentos e demais vantagens do dos pagamentos efetuados a título de gratificação de difícil
cargo de que o beneficiário seja titular e não servirá de acesso e a concessão será feita através de ato da autorida-
base de cálculo para qualquer outra vantagem, à exceção de competente.
de acréscimo correspondente à remuneração de férias e Art. 82 - O Professor e o Coordenador Pedagógico fa-
gratificação natalina. rão jus à Gratificação de Estímulo ao Aperfeiçoamento Pro-
Parágrafo único - As deduções na remuneração do ser- fissional por comprovação, com aproveitamento, de con-
vidor, decorrentes de faltas injustificadas ao trabalho ou da
clusão de cursos de atualização, aperfeiçoamento ou pós-
imposição de penalidades que tenham repercussão finan-
graduação, desde que observados os seguintes requisitos:
ceira, alcançarão, de igual modo, a parcela correspondente
Decreto nº 8.579 , de 04 de julho de 2003: Regula-
à gratificação.
Art. 78 - O servidor perderá o direito à gratificação de menta a Gratificação de Estímulo ao Aperfeiçoamento
difícil acesso quando afastado do exercício funcional, salvo Profissional dos Professores e Coordenadores Pedagó-
as seguintes hipóteses de ausências e afastamentos: gicos, integrantes do quadro do Magistério Público do
I - por 1 (um) dia, para doação de sangue; Ensino Fundamental e Médio do Estado da Bahia.
II - por 2 (dois) dias, para alistamento eleitoral; I - existência de correlação entre o curso e a respectiva
III - por 8 (oito) dias consecutivos, por motivo de: habilitação ou área de atuação;
a) casamento; II - comprovação de aproveitamento de curso, median-
b) falecimento de cônjuge, companheiro, pais, padrasto te apresentação do correspondente diploma ou certificado;
ou madrasta, filhos, enteados, menor sob guarda ou tutela III - cumprimento da carga horária mínima estabeleci-
e irmãos, desde que comprovados com atestado de óbito. da, integralizada em único curso;
IV - até 15 (quinze) dias, por período de trânsito, com- IV - curso promovido pela Secretaria da Educação ou
preendido como o tempo gasto pelo servidor que mudar instituições públicas e privadas, nacionais ou estrangeiras,
de sede, contados da data do desligamento. devidamente reconhecidas pelo Ministério da Educação e
V - férias; do Desporto - MEC ou validadas pela Secretaria da Educa-
VI - participação em programa de treinamento regular- ção do Estado da Bahia.
mente instituído;
§ 1º - Para fins da Gratificação prevista neste artigo so-
VII - participação em júri e em outros serviços obriga-
mente serão valorados cursos concluídos a partir de 01 de
tórios por lei;
janeiro de 1998.
VIII - abono de falta, a critério do chefe imediato do
servidor, no máximo de 72 (setenta e dois) dias por quin- § 2º - Os cursos ministrados por outras instituições so-
quênio; mente serão considerados quando atendidos os critérios
IX - licença: de equivalência estabelecidos pela Secretaria da Educação
a) à gestante, à adotante e licença-paternidade; do Estado da Bahia.
b) para tratamento da própria saúde; § 3º - Não será considerada, para fins desta gratifica-
c) por motivo de acidente em serviço ou por doença ção, a titulação já utilizada pelo servidor para efeito de pro-
profissional; gressão funcional por avanço vertical na carreira ou para
d) prêmio por assiduidade. percepção de qualquer outra vantagem já incorporada aos
seus vencimentos.

190
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 83 - A Gratificação de Estímulo ao Aperfeiçoamen- V - conhecer, cumprir e fazer cumprir o Regimento Es-
to Profissional será incidente sobre o vencimento ou salá- colar, os horários e o calendário previstos para a escola;
rio básico atribuído ao cargo ocupado pelo beneficiário, no VI - manter e fazer com que seja mantida a disciplina
equivalente a: em sala de aula e nas diversas dependências escolares;
I -5% (cinco por cento) aos portadores de certificado VII - comparecer e participar das reuniões para as quais
de curso com duração mínima de 80 (oitenta) e máxima de for convocado, contribuindo para a gestão democrática da
119 (cento e dezenove) horas; escola;
II -10% (dez por cento) aos portadores de certificado VIII - empenhar-se pela qualidade do ensino ministra-
de curso com duração mínima de 120 (cento e vinte) e má- do, zelando pelo bom nome da unidade escolar;
xima de 359 (trezentos e cinquenta e nove) horas; IX - respeitar, igualmente, a todo o pessoal da escola,
III -15% (quinze por cento) aos portadores de certifica- alunos, colegas, autoridades do ensino e servidores admi-
do de curso com duração mínima a partir de 360 (trezentos nistrativos;
e sessenta) horas. X - zelar pelo cumprimento dos princípios educacio-
IV -20% (vinte por cento) aos portadores de diploma nais estabelecidos;
de Mestre; XI - zelar pelo respeito à igualdade de direitos quanto
V -25% (vinte e cinco por cento) aos portadores de di- às diferenças socioeconômicas, de raça, sexo, credo religio-
ploma de Doutor. so e convicção política ou filosófica;
Incisos IV e V acrescidos ao art. 83 pelo art. 11 da XII - respeitar o pluralismo de ideias e concepções pe-
Lei nº 8.480, de 24 de outubro de 2002 dagógicas;
§ 1º - É permitida a percepção cumulativa dos per- XIII - respeitar a dignidade do aluno e sua personalida-
centuais previstos neste artigo, desde que decorrentes de de em formação;
cursos diferentes e limitado ao percentual máximo de 50% XIV - guardar sigilo profissional;
(cinquenta por cento). XV - zelar pela defesa dos direitos profissionais e pela
§ 2º - Na hipótese de acumulação legal de dois cargos dignidade da classe.
de magistério, o disposto neste artigo será aplicado a cada Art. 88 - Constituem transgressões passíveis de pena
um deles, nada impedindo a percepção simultânea da van- para o integrante do Quadro do Magistério Público do En-
tagem. sino Fundamental e Médio, além das já previstas no Estatu-
Art. 84 - A concessão da Gratificação de Estímulo ao to dos Servidores Públicos Civis do Estado:
Aperfeiçoamento Profissional dar-se-á por ato da autorida- I - não cumprimento de deveres enumerados no artigo
de competente, nos termos estabelecidos em regulamen- anterior;
to específico, que será elaborado pelo Poder Executivo no II - a ação ou omissão que resulte em prejuízo físico,
prazo de 180 (cento e oitenta) dias. moral ou intelectual ao aluno;
Parágrafo único - As concessões subsequentes obede- III - a aplicação de castigo físico ou humilhante ao alu-
cerão ao interstício mínimo de 3 (três) anos cada. no;
Art. 85 - A constatação de irregularidades nos proce- IV - ato que resulte em exemplo deseducativo para o
dimentos que originaram a concessão da Gratificação de aluno;
Estímulo ao Aperfeiçoamento Profissional implicará em V - a discriminação por raça, condição social, nível inte-
apuração de responsabilidades e devolução, pelo bene- lectual, sexo, credo ou convicção política.
ficiário, dos valores recebidos indevidamente, calculados Parágrafo único - Em caso de transgressão, as penas a
pelo valor do vencimento ou salário básico vigente na data serem aplicadas são as previstas no Estatuto dos Funcioná-
da devolução. rios Públicos Civis do Estado, com a gradação que couber,
Art. 86 - A Gratificação de Estímulo ao Aperfeiçoamen- em cada caso.
to Profissional não servirá de base de cálculo para qualquer Art. 89 - O servidor do magistério que, sem motivo jus-
outra parcela remuneratória. tificado, deixar de cumprir o plano das atividades didáticas
programadas para o ano letivo ficará sujeito às penalidades
SEÇÃO VII de advertência, suspensão e demissão, na forma da lei.
DEVERES E OUTRAS NORMAS ESPECIAIS Parágrafo único - Ficará sujeito à mesma pena quem
for responsável pela direção da Unidade Escolar que tenha
Art. 87 - Aos integrantes do Magistério Público do En- exercício o servidor faltoso e não comunique à autoridade
sino Fundamental e Médio incumbe observar e cumprir, superior a infração prevista.
além dos que lhe são próprios em virtude da condição de Art. 90 - A acumulação de 02 (dois) cargos de magis-
servidor público, os seguintes deveres especiais: tério, na forma da lei, deverá ocorrer, preferencialmente,
I - a lealdade e o respeito às instituições constitucionais numa mesma Unidade Escolar, desde que no currículo des-
e administrativas a que servir; ta figurem as disciplinas lecionadas pelo servidor.
II - a dedicação e o zelo num esforço comum de bem Parágrafo único - O Professor e demais integrantes do
servir à causa de educação, em prol do desenvolvimento quadro do Magistério Público do Ensino Fundamental e
nacional; Médio só poderão acumular dois cargos do Magistério Pú-
III - o respeito aos preceitos éticos do magistério; blico do Ensino Fundamental e Médio em regime de tempo
IV - cumprir, com eficiência e responsabilidade, as atri- parcial.
buições específicas de seu cargo;

191
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Art. 91 - Para fins de aposentadoria é permitido ao ocu- Exercícios


pante de 02 (dois) cargos estaduais de magistério transpor
tempo de serviço, total ou parcial, de um para outro cargo, 01. Assinale a alternativa que associa corretamente os
respeitadas as demais disposições legais. números do primeiro bloco de palavras à(s) letra(s) do se-
§ 1º - O tempo de serviço público estadual utilizado gundo bloco.
nos termos deste artigo é considerado definitivamente vin- 1. Pedagogia Tradicional.
culado ao efeito previsto e não mais poderá ser computa- 2. Tecnicismo.
do, sob qualquer hipótese, para outro efeito, finalidade ou 3. Construtivismo.
situação. a. Prática pedagógica altamente controlada e dirigida
§ 2º - O disposto no presente artigo em nada modifica pelo professor, com atividades mecânicas inseridas numa
o direito de o servidor continuar no exercício do outro car- proposta educacional rígida e passível de ser totalmente
go que legalmente acumulava. programada em detalhes.
b. As idéias de descobrir, inventar, redescobrir, criar, sen-
CAPÍTULO V do que aquilo que se faz é tão importante quanto o motivo
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS e a maneira que se faz.
c. Prática pedagógica altamente controlada e dirigida
pelo professor; proposta educacional rígida, com atividades
Art. 92 - O Plano de Cargos e Salários do Magistério
mecânicas.
do Ensino Fundamental e Médio estruturará os cargos de
d. Prática pedagógica que se caracteriza pela sobrecar-
carreira em classe, além dos níveis já constantes do Anexo
ga de informações veiculadas ao aluno; processo de aqui-
III desta Lei. sição de conhecimento muitas vezes destituído de signifi-
Art. 93 - Quando houver extinção de disciplinas ou ex- cação.
cedente de Professores em determinada disciplina, far-se-á e. O conhecimento já adquirido pelo aluno não é valo-
o aproveitamento dos docentes titulares em disciplina ou rizado, sendo a cartilha sequencialmente seguida, a base do
em atividades análogas ou correlatas, considerada a res- processo de alfabetização
pectiva habilitação pessoal mediante curso de atualização,
aperfeiçoamento ou especialização. a) 1A, 1D, 2B, 3C e 3E.
Parágrafo único - As disposições previstas no caput b) 1B, 2C, 2D, 3A e 3E.
deste artigo aplicam-se aos casos de substituição tempo- c) 1D, 1E, 2A, 2C e 3B.
rária no interesse da Administração Pública. d) 1C, 1E, 2A, 2B e 3D.
Art. 94 - O servidor do quadro do Magistério Públi- e) 1E, 2C, 2B, 3A e 3D.
co Estadual do Ensino Fundamental e Médio que, em de-
corrência de doença comprovada por junta médica oficial, 02. (CEFET-AL - 2013 - IF-AL ) Considerando a ten-
não mais puder exercer as suas atividades, será readaptado dência pedagógica liberal tecnicista, é falso afirmar que:
funcionalmente, sendo-lhe cometidas novas atribuições, a) O tecnicismo educacional ganhou autonomia en-
em atividades análogas ou correlatas, compatíveis com a quanto tendência pedagógica nos anos 60, inspirada na
limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou teoria behaviorista da aprendizagem e na abordagem sis-
mental, garantindo-se-lhe o vencimento do cargo de que é têmica do ensino.
titular e as vantagens que lhe seja asseguradas pelo exercí- b) A tendência tecnicista está interessada na racionali-
cio destas novas funções. zação do ensino, no uso de meios e técnicas mais eficazes,
Parágrafo único - É garantida à gestante atribuições prevalecendo o uso de manuais de caráter instrumental.
compatíveis com seu estado físico, nos casos em que hou- c) Os livros didáticos utilizados nas escolas que adotam
ver recomendação clínica, sem prejuízo de seus vencimen- essa tendência são elaborados com base na tecnologia da
instrução.
tos e demais vantagens do cargo.
d) A tendência tecnicista foi imposta às escolas pelos
Art. 95 - Ficam extintas a Gratificação de Incentivo à
órgãos oficiais do governo populista, por ser compatível
Qualificação Profissional, a partir de 31 de dezembro de
com a orientação econômica, política e ideológica vigente
2002, e a Gratificação por Desempenho e Qualificação Pro-
nesse período.
fissional e o Abono de Permanência em Atividade, a partir e) No tecnicismo, o professor é um administrador e exe-
da entrada em vigor desta Lei, para os integrantes do Ma- cutor do planejamento, que é organizado com objetivos,
gistério Público Estadual do Ensino Fundamental e Médio. conteúdos, estratégias e avaliação.
Art. 96 - O Poder Executivo expedirá os atos regula-
mentares necessários à execução da presente Lei. 03. (FUNCAB - 2013 - SEDUC-RO) Na tendência tra-
Art. 97 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua pu- dicional, a Pedagogia Liberal se caracteriza por:
blicação. a) subordinar a educação à sociedade, tendo como fun-
Art. 98 - Revogam-se as disposições em contrário, es- ção a preparação de recursos humanos por meio da profis-
pecialmente a Lei nº 3.375 , de 31 de janeiro de 1975. sionalização.
PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, em 29 b) valorizar a autoeducação, a experiência direta sobre
de maio de 2002. o meio pela atividade e o ensino centrado no aluno e no
grupo.

192
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

c) acentuar o ensino humanístico, de cultura geral, Assinale a alternativa correta:


através do qual o aluno deve atingir pelo seu próprio es- a) Apenas o item I está correto.
forço, sua plena realização. b) Apenas o item II está correto.
d) considerar a educação um processo interno, que c) Apenas o item III está correto.
parte das necessidades e dos interesses individuais. d) Apenas os itens I e III estão corretos.
e) focar no aprender a aprender, ou seja, é mais im- e) Todos os itens estão corretos.
portante o processo de aquisição do saber do que o saber
propriamente. 07. A justaposição de disciplinas e o trabalho com
um único tema por diferentes disciplinas são ações que
04. (FUNCAB - 2012 - MPE-RO) As práticas do co- garantem o sucesso do trabalho educativo na perspec-
tidiano escolar têm vários condicionantes políticos e tiva interdisciplinar.
sociais que configuram diferentes concepções de ho- ( ) certo
mem e sociedade e, em consequência, diferentes con- ( ) errado
cepções de escola, aprendizagem, relação professor/a
– aluno/a, técnicas pedagógicas, entre outras. Confor- 08. A Constituição Federal em seu artigo 206, inciso
me Libâneo (1992), as tendências pedagógicas classi- VI, estabelece a gestão democrática no ensino público
ficam-se como um entre os sete princípios necessários para se
em duas grandes vertentes: ministrar o ensino em nosso país, por extensão, para ge-
a) Pedagogia Liberal (tradicional, renovada não dire- rir as escolas públicas. Coloque SIM (S) para os itens que
são pertinentes a uma gestão democrática e NÃO (N)
tiva e tecnicista) e Pedagogia Emancipatória (libertadora,
para as que não são pertinentes.
renovada progressista, libertária e crítico-social dos con-
( ) Pessoas a serviço da organização.
teúdos).
( ) Hierarquia verticalizada.
b) Pedagogia Liberal (libertadora, libertária e crítico-
( ) Responsabilidade compartilhada.
social dos conteúdos) e Pedagogia Progressista (tradicio-
( ) Foco no cumprimento de normas e regulamento.
nal, renovada progressista, renovada não diretiva e tecni-
( ) Relacionamento interpessoal.
cista). ( ) Preocupação com processos e resultados.
c) Pedagogia Liberal (tradicional, renovada progressis-
ta, renovada não diretiva e tecnicista) e Pedagogia Progres- A sequência CORRETA, de cima para baixo, é:
sista (libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos). (A) N, N, S, N, S, S.
d) Pedagogia Autoritária (tradicional, renovada pro- (B) S, S, N, S, S, N.
gressista, renovada não diretiva e tecnicista) e Pedagogia (C) N, S, S, N, N, S.
Capitalista (libertadora, libertária e crítico-social dos con- (D) N, S, N, N, S, S.
teúdos).
e) Pedagogia Liberal (tradicional, renovada progressis- 09. “Qual é o papel da avaliação no processo de en-
ta, renovada não diretiva e tecnicista) e Pedagogia Capita- sino aprendizagem? É certo que podermos separar o
lista (libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos). fato de ensinar do fato de ensinar e avaliar? Antes de
ensinar, sempre fazemos uma avaliação inicial?” BASSE-
05. (CESPE - 2012 - TJ-RO) A aprendizagem, de DAS, HUGUETE, SOLE, 1999. São muitos os questiona-
acordo com a concepção pedagógica liberal renovado- mentos sobre avaliação. Analise as afirmativas a seguir
ra não diretiva: e marque a alternativa INCORRETA:
a) consiste em modificar as percepções da realidade. a) A avaliação é utilizada para ajustar ou modificar as
b) baseia-se na motivação e na estimulação de pro- atividades em função dos conhecimentos e as dificuldades
blemas. no início de uma sequência de ensino e de aprendizagem.
c) baseia-se no desempenho do aluno. b) Uma prática de avaliação formativa supõe um do-
d) prioriza a resolução de situações-problema a partir mínio do currículo e dos processos de ensino e de apren-
de temas geradores. dizagem.
e) ocorre a partir da interação social, da construção de c) Ao elaborar uma avaliação, o educador deve observar
conhecimento em grupo. a contextualização, a interdisciplinaridade e a parametriza-
ção.
06. (Professor – Anos Iniciais – 2013 – ICAP). Um d) A avaliação se restringe ao julgamento sobre sucesso
projeto pedagógico poderá ser orientado por três ou fracasso do aluno e pode ser compreendida como um
grandes diretrizes: conjunto de ações que orientam a intervenção pedagógica.
I. Posicionar-se em relação às questões sociais e in-
terpretar a tarefa educativa como uma intervenção na 10. A Lei de Diretrizes e Bases, Lei nº. 9394/96, em seu
realidade no momento presente; art. 3º enfatiza os princípios norteadores do ensino no Bra-
II. Não tratar os valores apenas como conceitos sil. Analise-os:
ideais; I. Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a
III. Incluir essa perspectiva no ensino dos conteú- cultura, o pensamento, a arte e o saber.
dos das áreas de conhecimento escolar. II. Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas.
III. Respeito à liberdade e apreço à tolerância.

193
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

Está(ão) correto(s) apenas o(s) princípio(s): 13. (NUCEPE/2015 - SEDUC-PI) O processo de in-
a) I, II clusão escolar pode prever como uma das metodolo-
b) II gias a individualização do ensino, através de planos
c) III específicos de aprendizagem para o aluno. No entanto,
d) I, II, III deve-se evitar
a) fazer um currículo individual paralelo para alguns
11. (FUNIVERSA/2015 - Secretaria da Criança – DF) alunos. Caso isto aconteça, estes alunos ficam à  margem
Assinale a alternativa que apresenta o termo corres- do grupo, pois as trocas significativas feitas em uma sala
pondente à definição a seguir: caracteriza-se como de aula necessariamente acontecem em torno dos objetos
nova concepção de divisão do saber e visa à interde- de aprendizagem.
pendência, à interação e à comunicação existentes en- b) levar em conta a diversidade, pois em uma sala de
tre as áreas do conhecimento. Há a interação e o com- aula as aprendizagens necessariamente acontecem em tor-
partilhamento de ideias, opiniões e explicações.  no dos objetos de aprendizagem que são pensados para
a) multidisciplinaridade  todos os alunos.
b) interdisciplinaridade  c) as flexibilizações curriculares no processo de inclu-
c) contextualização são educativa, pois é necessário pensá-las para um grupo
de alunos e as diversidades que o compõem, e não para
12. (BIO-RIO/2015 - IF-RJ) No processo de plane- alguns alunos tomados isoladamente.
jamento de adaptações curriculares aos alunos com d) atender as outras diversidades que aparecem coti-
necessidades especiais, há dimensões do currículo que dianamente na comunidade. Deve-se atender individual-
precisam ser levadas em consideração para que ele mente quem realmente precisa, ou seja, os alunos com
reflita um modo de entender a educação e a cultura deficiências.
escolar. No Brasil, este tópico é abordado legalmen- e) trabalhar os temas com todos os alunos da turma,
te nos Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações pois alguns alunos, com determinados problemas, não pre-
Curriculares. No documento brasileiro, as adaptações cisam alcançar objetivos de natureza acadêmica, e sim de
curriculares: natureza funcional.
a) ajustam as diferentes instancias curriculares, para
responder às necessidades dos professores, e assim favo- 14. (CS-UFG/2014 - IF-GO) Na escola há uma cer-
recer as condições que lhe são necessárias para que se ta maneira de organização do trabalho, da vida e da
efetive o máximo possível de ensino e aprendizagem para convivência. As exigências de procedimento, regras e
que assim os alunos especiais tenham tarefas semelhantes métodos para se realizar algo é o que se convencionou
a todos os demais alunos. chamar de
b) consideram que a diversidade esta presente em sala
a) currículo escolar.
de aula e que as diferentes formas de aprender enrique-
b) tradição escolar.
cem o processo educacional favorecendo a igualdade e
c) disciplina escolar.
promovendo atitudes pedagógicas com vistas a criar con-
e) estatuto escolar.
dições de manutenção de um planejamento homogêneo.
c) implicam na planificação pedagógica e as ações do-
15. (COPEVE-UFAL/2011 – UFAL) O financiamento
centes fundamentadas em critérios que definem o que o
da Educação Básica não se restringe aos recursos do
aluno deve aprender; como e quando aprender; que for-
FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
mas de organização do ensino são mais eficientes para o
processo de aprendizagem; como e quando avaliar o alu- da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais
no. da Educação. Alguns programas como Programa Na-
e) auxiliam no intercambio com as instituições simila- cional do Livro Didático, Programa Biblioteca Escolar,
res para o controle oficial dos órgãos de fomento de como Programa de Transporte e de Merenda Escolar, contri-
avaliar cada instituição e os docentes que estão realizando buem para a manutenção da educação e são desenvol-
trabalhos diferenciados com cada aluno com necessidades vidos pelo
especiais. a) FUNDEF – Fundo de Manutenção e Desenvolvimen-
e) impedem a evasão escolar e promovem escolas de to do Ensino Fundamental.
educadores especializados em alfabetização de alunos b) FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da
especiais para avaliar o resultados dos testes destinados Educação.
a clientela que se pretende incluir na escola regular com c) PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola.
vistas a socialização dos familiares no processo educativo. d) Programa Brasil Alfabetizado.
e) PNLEM – Programa Nacional do Livro para o Ensino
Médio.

194
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

16. (Professor – Anos Iniciais – 2013 – ICAP). A contri- 19. UTFPR/2017 – UTFPR) Segundo o documento
buição da escola é a de: Política Nacional da Educação Especial na perspectiva
a) Não eleger a cidadania como eixo vertebrador da edu- da Educação Inclusiva, a educação especial está volta-
cação escolar. da para alunos com:
b) Colocar-se contra valores e práticas sociais. a) transtornos globais de desenvolvimento e altas ha-
c) Desenvolver um projeto de educação comprometida bilidades e dificuldades de aprendizagem.
com o desenvolvimento de capacidades que permitam inter- b) dificuldades de aprendizagem, transtornos globais
vir na realidade para transformá-la. de comportamento e deficiência.
d) Desrespeitar princípios e descomprometer-se com as c) transtornos globais de desenvolvimento, altas habi-
perspectivas e decisões que as favoreçam. lidades/superdotação e deficiência.
e) Não valorizar conhecimentos que permitam desenvol- d) altas habilidades/superdotação, deficiência e trans-
ver as capacidades necessárias para a participação efetiva. tornos globais socioemocionais.
e) deficiência, superdotação e dificuldades de apren-
17. (ACAFE/2017 -SED/SC) “A educação das relações dizagem em mais de uma área.
étnico-raciais/ERER tem por alvo a formação de cidadãos,
mulheres e homens empenhados em promover condições 20 . (FUNRIO/2016 – IF/PA) A interdisciplinaridade
de igualdade no exercício de direitos sociais, políticos, pode ser assim definida: 
econômicos, dos direitos de ser, viver, pensar, próprios a) Os conteúdos escolares são apresentados por ma-
aos diferentes pertencimentos étnico-raciais e sociais.” térias ou disciplinas independentes umas das outras. O
Nesse sentido, todas as alternativas estão corretas, exce- conjunto de matérias é proposto simultaneamente aos
to a: Fonte: Proposta Curricular de Santa Catarina – 2014 estudantes. Trata-se de uma organização somativa. 
p.66/67. b) A interação entre duas ou mais disciplinas, que
a) A abertura proposta pela ERER para os currículos pode ir desde a simples comunicação entre elas até a in-
encaminha novos saberes, novas formas de ensinar e novos tegração recíproca de conceitos fundamentais podendo
comportamentos para aqueles a quem se dará essa oportu-
implicar, em alguns casos, em um novo corpo disciplinar. 
nidade de aprender.
c) O grau máximo de relações entre as disciplinas, daí
b) A abertura proposta pela ERER para os currículos
que supõe uma integração global dentro de um sistema
encaminha novos saberes, novas formas de ensinar e novos
globalizador, com o propósito de explicar a realidade sem
comportamentos para aqueles a quem se dará essa oportu-
parcelamento do conhecimento.
nidade de aprender.
d) Uma multiplicidade de disciplinas e, cada uma de-
c) A ERER reconhece a presença de sujeitos étnicos de
las, em sua especialização, cria um corpo diferenciado,
matriz africana e indígena no território do conhecimento (cur-
determinado por um campo ou objeto material de refe-
rículos oficiais).
d) A ERER fomenta ações educativas de combate ao ra- rência.
cismo e às discriminações. Esse princípio encaminha para que e) Temas voltados para a compreensão e para a cons-
se estabeleça conexão entre os objetivos da escola e os dos su- trução da realidade social, que são assim adjetivados por
jeitos negros e indígenas, na busca por igualdade e equidade. não pertencerem a nenhuma disciplina específica, mas
por atravessarem todas elas como se a todas fossem per-
18. (IF/TO/2017 - IF-TOA Resolução CNE/CEB nº tinentes. 
04/2010 estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Básica. Conforme esse documento para 21. (COPEVE-UFAL/2017 - Prefeitura de Maceió
a organização da Educação Básica, devem-se observar as – AL) As questões sobre o currículo estão no centro
Diretrizes Curriculares Nacionais comuns a todas as suas das discussões atuais. Segundo Marisa Vorraber Costa
etapas, modalidades e orientações temáticas, respeitadas (2001), as teorias curriculares expressam determina-
as suas especificidades e as dos sujeitos a que se desti- das visões de mundo e de currículo. Na teoria pós-crí-
nam. São consideradas modalidades da Educação Básica.  tica, o currículo precisa levar em consideração, princi-
a) Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e palmente,
Educação Especial. a) identidades, classe social, currículo oculto, diferen-
b) Educação Especial, Educação Profissional e Tecnológi- ças e avaliação.  
ca, Pedagogia da Terra e Educação Escolar Indígena. b) identidades, diferenças, alteridades, gênero e mul-
c) Educação de Tempo integral, Educação Tecnológica, ticulturalismo.  
Educação do Campo, Educação Escolar Indígena e Educação c) conteúdos, identidades, planejamento de ensino,
a Distância. avaliação e multiculturalismo.  
d) Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Edu- d)classe social, identidades, avaliação, planejamento e
cação Profissional e Tecnológica, Educação do Campo, Educa- avaliação da aprendizagem. 
ção Escolar Indígena e Educação a Distância. e) conteúdos, avaliação da aprendizagem, planeja-
e) Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional mento de ensino, classe social e identidades. 
e Tecnológica, Educação do Campo e Educação a Distância e
Educação Religiosa. 

195
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

22. (MPT/2017 – MPT) Acerca da Convenção das a) Os pais ou responsáveis não tem o direito ter ciência
Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Defi- do processo pedagógico, bem como participar da defini-
ciência e de seu Protocolo Facultativo, ratificada pelo ção das propostas educacionais.
Brasil, analise as seguintes proposições: b) Das implicações estatutárias para a escola e do direi-
I - O núcleo da definição de pessoas com deficiência to á educação, é o Art. 53 diz que a criança e o adolescente
é a interação dos impedimentos que essas pessoas têm têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento
com as diversas barreiras sociais, que resultam na obs- de sua pessoa, preparo para o exercício de sua cidadania e
trução de sua participação plena e efetiva na sociedade, qualificação para o trabalho, assegurando-se - lhes: igual-
com igualdade de condições com as demais pessoas. dade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - Para os conceitos da Convenção, a deficiência se direito de ser respeitado por seus educadores; direito de
encontra na sociedade, uma vez que as barreiras sociais contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instân-
impedem a interação plena e efetiva das pessoas que cias escolares superiores.
c) No processo educacional respeitar-se-ão somente
possuem características de impedimentos físicos, men-
os valores culturais, artísticos e históricos próprios do con-
tais, sensoriais e intelectuais.
texto social da criança e do adolescente, sendo de suma
III - Tendo a Convenção sido aprovada na forma pre-
importância que a instituição escolar tome conhecimento
vista no art. 5º, §3º, da Constituição da República, esta
do Estatuto da Criança e do Adolescente, somente para a
equivale a emenda constitucional, pelo que não se apli- sua prática educacional. 
ca nenhum conceito anterior de pessoa com deficiência d) Nenhuma das alternativas. 
contido em normas infraconstitucionais que se contrapo-
nha ao conceito trazido na Convenção. GABARITO
IV - Considerando-se o novo conceito adotado pela
Convenção, se o impedimento apresentado não acarreta
à pessoa dificuldade de integração social, seja no traba- 01 C
lho, seja no desenvolvimento das atividades cotidianas, 02 D
esta não se enquadra no conceito de pessoa com defi- 03 C
ciência.
04 C
Assinale a alternativa CORRETA: 05 A
a) Apenas as assertivas I, II e III estão corretas.  06 E
b) Apenas as assertivas I, II e IV estão corretas.
07 ERRADO
c) Apenas as assertivas II, III e IV estão corretas. 
d) Todas as assertivas estão corretas.  08 A
e) Não respondida.  09 D
10 A
23. (Instituto Excelência/2017 - Prefeitura de Tre-
membé – SP) A escola precisa construir espaços de 11 B
diálogo e de participação no dia-a-dia de suas ati- 12 C
vidades curriculares e não curriculares, de forma a 13 A
permitir que estudantes, docentes e a comunidade se
tornem atores e atrizes efetivos de fato, da constru- 14 C
ção da cidadania participativa. Na escola, os distúr- 15 B
bios disciplinares, a violência e o autoritarismo nas 16 C
relações interpessoais são alguns dos maiores proble-
17 C
mas sociais da atualidade e vêm comprometendo a
busca por uma educação de qualidade, e de forma de- 18 C
mocrática, para que os conflitos cotidianos sejam en- 19 C
frentados nas escolas, busca-se a construção de valo-
20 B
res de ética e de cidadania por parte dos membros da
comunidade escolar. A escola é um ambiente propício 21 B
para o exercício e aprendizado da ética. Através dela, 22 D
professores, alunos e funcionários podem obter resul- 23 B
tados positivos no processo educacional, melhorando
o ambiente de trabalho e aprendizado. Em suma, se
todos agirem de forma ética na escola todos ganhará,
pois os resultados serão positivos:
Mediante o exposto acima assinale a alternativa
CORRETA:  

196
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

ANOTAÇÕES

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197
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS

ANOTAÇÕES

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198
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Constituição da República Federativa do Brasil (art. 1°, 3°, 4° e 5°). ................................................................................................... 01


Constituição do Estado da Bahia, (Cap. XXIII “Do Negro”). ..................................................................................................................... 23
Lei federal n° 12.288, de 20 de julho de 2010 (Estatuto da Igualdade Racial). ............................................................................... 24
Lei federal nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 (Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor) e Lei federal
n° 9.459, de 13 de maio de 1997 (Tipificação dos crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor)........................... 30
Decreto federal n° 65.810, de 08 de dezembro de 1969 (Convenção internacional sobre a eliminação de todas as formas
de discriminação racial). ....................................................................................................................................................................................... 32
Decreto federal n° 4.377, de 13 de setembro de 2002 (Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discrimina-
ção contra a mulher). ............................................................................................................................................................................................. 38
Lei federal nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha). ................................................................................................. 44
Código Penal Brasileiro (art. 140). ..................................................................................................................................................................... 49
Lei federal n° 9.455, de 7 de abril de 1997 (Crime de Tortura). ............................................................................................................. 50
Lei federal n° 2.889, de 1º de outubro de 1956 (Define e pune o Crime de Genocídio). ........................................................... 50
Lei federal nº 7.437, de 20 de dezembro de 1985 (Lei Caó). .................................................................................................................. 51
Lei estadual n° 10.549, de 28 de dezembro de 2006 (Secretaria de Promoção da Igualdade Racial); alterada pela Lei
estadual n° 12.212, de 04 de maio de 2011. ................................................................................................................................................. 51
Lei federal nº 10.678, de 23 de maio de 2003, com as alterações da Lei federal nº 13.341, de 29 de setembro de 2016
(Referente à Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República)................................... 77
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

ficam os meios. Portanto, se um príncipe pretende con-


CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA quistar e manter o poder, os meios que empregue serão
DO BRASIL (ART. 1°, 3°, 4° E 5°). sempre tidos como honrosos, e elogiados por todos, pois
o vulgo atenta sempre para as aparências e os resultados”.
A concepção de soberania inerente ao monarca se
quebrou numa fase posterior, notadamente com a ascen-
Princípios fundamentais são do ideário iluminista. Com efeito, passou-se a enxergar
a soberania como um poder que repousa no povo. Logo, a
1) Fundamentos da República autoridade absoluta da qual emana o poder é o povo e a
O título I da Constituição Federal trata dos princípios legitimidade do exercício do poder no Estado emana deste
fundamentais do Estado brasileiro e começa, em seu arti- povo.
go 1º, trabalhando com os fundamentos da República Fe- Com efeito, no Estado Democrático se garante a sobe-
derativa brasileira, ou seja, com as bases estruturantes do rania popular, que pode ser conceituada como “a qualidade
Estado nacional. máxima do poder extraída da soma dos atributos de cada
Neste sentido, disciplina: membro da sociedade estatal, encarregado de escolher os
seus representantes no governo por meio do sufrágio uni-
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela versal e do voto direto, secreto e igualitário”3.
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Fe- Neste sentido, liga-se diretamente ao parágrafo úni-
deral, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem co do artigo 1º, CF, que prevê que “todo o poder emana
como fundamentos: do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos
I - a soberania; ou diretamente, nos termos desta Constituição”. O povo é
II - a cidadania; soberano em suas decisões e as autoridades eleitas que
III - a dignidade da pessoa humana; decidem em nome dele, representando-o, devem estar
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; devidamente legitimadas para tanto, o que acontece pelo
V - o pluralismo político. exercício do sufrágio universal.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o Por seu turno, a soberania nacional é princípio geral da
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, atividade econômica (artigo 170, I, CF), restando demons-
nos termos desta Constituição. trado que não somente é guia da atuação política do Esta-
do, mas também de sua atuação econômica. Neste senti-
Vale estudar o significado e a abrangência de cada qual
do, deve-se preservar e incentivar a indústria e a economia
destes fundamentos.
nacionais.
1.1) Soberania
1.2) Cidadania
Soberania significa o poder supremo que cada nação
Quando se afirma no caput do artigo 1º que a Repú-
possui de se autogovernar e se autodeterminar. Este con-
blica Federativa do Brasil é um Estado Democrático de Di-
ceito surgiu no Estado Moderno, com a ascensão do ab-
reito, remete-se à ideia de que o Brasil adota a democracia
solutismo, colocando o reina posição de soberano. Sendo
assim, poderia governar como bem entendesse, pois seu como regime político.
poder era exclusivo, inabalável, ilimitado, atemporal e divi- Historicamente, nota-se que por volta de 800 a.C. as
no, ou seja, absoluto. comunidades de aldeias começaram a ceder lugar para
Neste sentido, Thomas Hobbes1, na obra Leviatã, de- unidades políticas maiores, surgindo as chamadas cidades
fende que quando os homens abrem mão do estado na- -estado ou polis, como Tebas, Esparta e Atenas. Inicialmen-
tural, deixa de predominar a lei do mais forte, mas para a te eram monarquias, transformaram-se em oligarquias e,
consolidação deste tipo de sociedade é necessária a pre- por volta dos séculos V e VI a.C., tornaram-se democracias.
sença de uma autoridade à qual todos os membros devem Com efeito, as origens da chamada democracia se encon-
render o suficiente da sua liberdade natural, permitindo tram na Grécia antiga, sendo permitida a participação dire-
que esta autoridade possa assegurar a paz interna e a de- ta daqueles poucos que eram considerados cidadãos, por
fesa comum. Este soberano, que à época da escrita da obra meio da discussão na polis.
de Hobbes se consolidava no monarca, deveria ser o Levia- Democracia (do grego, demo+kratos) é um regime po-
tã, uma autoridade inquestionável. lítico em que o poder de tomar decisões políticas está com
No mesmo direcionamento se encontra a obra de Ma- os cidadãos, de forma direta (quando um cidadão se reúne
quiavel2, que rejeitou a concepção de um soberano que com os demais e, juntos, eles tomam a decisão política) ou
deveria ser justo e ético para com o seu povo, desde que indireta (quando ao cidadão é dado o poder de eleger um
sempre tivesse em vista a finalidade primordial de manter representante).
o Estado íntegro: “na conduta dos homens, especialmente Portanto, o conceito de democracia está diretamente
dos príncipes, contra a qual não há recurso, os fins justi- ligado ao de cidadania, notadamente porque apenas quem
1 MALMESBURY, Thomas Hobbes de. Leviatã. Tradução de possui cidadania está apto a participar das decisões políti-
João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. [s.c]: [s.n.], 1861. cas a serem tomadas pelo Estado.
2 MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Tradução Pietro Nassetti. 3 BULOS, Uadi Lammêngo. Constituição federal anotada.
São Paulo: Martin Claret, 2007, p. 111. São Paulo: Saraiva, 2000.

1
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Cidadão é o nacional, isto é, aquele que possui o vín- Para Reale6, a evolução histórica demonstra o domí-
culo político-jurídico da nacionalidade com o Estado, que nio de um valor sobre o outro, ou seja, a existência de uma
goza de direitos políticos, ou seja, que pode votar e ser ordem gradativa entre os valores; mas existem os valores
votado (sufrágio universal). fundamentais e os secundários, sendo que o valor fonte
Destacam-se os seguintes conceitos correlatos: é o da pessoa humana. Nesse sentido, são os dizeres de
a) Nacionalidade: é o vínculo jurídico-político que liga Reale7: “partimos dessa ideia, a nosso ver básica, de que a
um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que ele pessoa humana é o valor-fonte de todos os valores. O ho-
passe a integrar o povo daquele Estado, desfrutando assim mem, como ser natural biopsíquico, é apenas um indivíduo
de direitos e obrigações. entre outros indivíduos, um ente animal entre os demais da
b) Povo: conjunto de pessoas que compõem o Estado, mesma espécie. O homem, considerado na sua objetividade
unidas pelo vínculo da nacionalidade. espiritual, enquanto ser que só realiza no sentido de seu de-
c) População: conjunto de pessoas residentes no Estado, ver ser, é o que chamamos de pessoa. Só o homem possui
nacionais ou não. a dignidade originária de ser enquanto deve ser, pondo-se
Depreende-se que a cidadania é um atributo conferi- essencialmente como razão determinante do processo his-
do aos nacionais titulares de direitos políticos, permitindo a tórico”.
consolidação do sistema democrático. Quando a Constituição Federal assegura a dignidade
da pessoa humana como um dos fundamentos da Repúbli-
1.3) Dignidade da pessoa humana ca, faz emergir uma nova concepção de proteção de cada
A dignidade da pessoa humana é o valor-base de in- membro do seu povo. Tal ideologia de forte fulcro huma-
terpretação de qualquer sistema jurídico, internacional ou nista guia a afirmação de todos os direitos fundamentais e
nacional, que possa se considerar compatível com os valores confere a eles posição hierárquica superior às normas or-
éticos, notadamente da moral, da justiça e da democracia. ganizacionais do Estado, de modo que é o Estado que está
Pensar em dignidade da pessoa humana significa, acima de para o povo, devendo garantir a dignidade de seus mem-
tudo, colocar a pessoa humana como centro e norte para bros, e não o inverso.
qualquer processo de interpretação jurídico, seja na elabo-
ração da norma, seja na sua aplicação. 1.4) Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa
Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou Quando o constituinte coloca os valores sociais do tra-
plena, é possível conceituar dignidade da pessoa humana balho em paridade com a livre iniciativa fica clara a percep-
como o principal valor do ordenamento ético e, por con- ção de necessário equilíbrio entre estas duas concepções.
sequência, jurídico que pretende colocar a pessoa humana De um lado, é necessário garantir direitos aos trabalhado-
como um sujeito pleno de direitos e obrigações na ordem res, notadamente consolidados nos direitos sociais enume-
internacional e nacional, cujo desrespeito acarreta a própria rados no artigo 7º da Constituição; por outro lado, estes
exclusão de sua personalidade. direitos não devem ser óbice ao exercício da livre iniciativa,
Aponta Barroso4: “o princípio da dignidade da pessoa mas sim vetores que reforcem o exercício desta liberdade
humana identifica um espaço de integridade moral a ser as- dentro dos limites da justiça social, evitando o predomínio
segurado a todas as pessoas por sua só existência no mun- do mais forte sobre o mais fraco.
do. É um respeito à criação, independente da crença que Por livre iniciativa entenda-se a liberdade de iniciar a
se professe quanto à sua origem. A dignidade relaciona-se exploração de atividades econômicas no território brasi-
tanto com a liberdade e valores do espírito como com as leiro, coibindo-se práticas de truste (ex.: monopólio). O
condições materiais de subsistência”. constituinte não tem a intenção de impedir a livre iniciativa,
O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, do até mesmo porque o Estado nacional necessita dela para
Tribunal Superior do Trabalho, trouxe interessante conceito crescer economicamente e adequar sua estrutura ao aten-
numa das decisões que relatou: “a dignidade consiste na dimento crescente das necessidades de todos os que nele
percepção intrínseca de cada ser humano a respeito dos vivem. Sem crescimento econômico, nem ao menos é pos-
direitos e obrigações, de modo a assegurar, sob o foco de sível garantir os direitos econômicos, sociais e culturais afir-
condições existenciais mínimas, a participação saudável e mados na Constituição Federal como direitos fundamentais.
ativa nos destinos escolhidos, sem que isso importe destila- No entanto, a exploração da livre iniciativa deve se dar
ção dos valores soberanos da democracia e das liberdades de maneira racional, tendo em vista os direitos inerentes
individuais. O processo de valorização do indivíduo articula a aos trabalhadores, no que se consolida a expressão “valores
promoção de escolhas, posturas e sonhos, sem olvidar que o sociais do trabalho”. A pessoa que trabalha para aquele que
espectro de abrangência das liberdades individuais encontra explora a livre iniciativa deve ter a sua dignidade respeitada
limitação em outros direitos fundamentais, tais como a hon- em todas as suas dimensões, não somente no que tange
ra, a vida privada, a intimidade, a imagem. Sobreleva registrar aos direitos sociais, mas em relação a todos os direitos fun-
que essas garantias, associadas ao princípio da dignidade da damentais afirmados pelo constituinte.
pessoa humana, subsistem como conquista da humanidade, vista n. 259300-59.2007.5.02.0202. Relator: Alberto Luiz Bresciani
razão pela qual auferiram proteção especial consistente em de Fontan Pereira. Brasília, 05 de setembro de 2012j1. Disponível em:
indenização por dano moral decorrente de sua violação”5. www.tst.gov.br. Acesso em: 17 nov. 2012.
4 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da 6 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São Paulo: Sa-
Constituição. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 382. raiva, 2002, p. 228.
5 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Re- 7 Ibid., p. 220.

2
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

A questão resta melhor delimitada no título VI do texto ciário”. Se, por um lado, o Estado é uno, até mesmo por se
constitucional, que aborda a ordem econômica e financei- legitimar na soberania popular; por outro lado, é necessá-
ra: “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização ria a divisão de funções das atividades estatais de maneira
do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim equilibrada, o que se faz pela divisão de Poderes.
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames O constituinte afirma que estes poderes são indepen-
da justiça social, observados os seguintes princípios [...]”. dentes e harmônicos entre si. Independência significa que
Nota-se no caput a repetição do fundamento republicano cada qual possui poder para se autogerir, notadamente
dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. pela capacidade de organização estrutural (criação de car-
Por sua vez, são princípios instrumentais para a efeti- gos e subdivisões) e orçamentária (divisão de seus recursos
vação deste fundamento, conforme previsão do artigo 1º e conforme legislação por eles mesmos elaborada). Harmo-
do artigo 170, ambos da Constituição, o princípio da livre nia significa que cada Poder deve respeitar os limites de
concorrência (artigo 170, IV, CF), o princípio da busca do competência do outro e não se imiscuir indevidamente em
pleno emprego (artigo 170, VIII, CF) e o princípio do tra- suas atividades típicas.
tamento favorecido para as empresas de pequeno porte A noção de separação de Poderes começou a tomar
constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede forma com o ideário iluminista. Neste viés, o Iluminismo
e administração no País (artigo 170, IX, CF). Ainda, assegu- lançou base para os dois principais eventos que ocorre-
rando a livre iniciativa no exercício de atividades econômi- ram no início da Idade Contemporânea, quais sejam as
cas, o parágrafo único do artigo 170 prevê: “é assegurado Revoluções Francesa e Industrial. Entre os pensadores que
a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, lançaram as ideias que vieram a ser utilizadas no ideário
independentemente de autorização de órgãos públicos, das Revoluções Francesa e Americana se destacam Loc-
salvo nos casos previstos em lei”. ke, Montesquieu e Rousseau, sendo que Montesquieu foi
o que mais trabalhou com a concepção de separação dos
1.5) Pluralismo político Poderes.
A expressão pluralismo remete ao reconhecimento da Montesquieu (1689 –  1755) avançou nos estudos de
multiplicidade de ideologias culturais, religiosas, econômi- Locke, que também entendia necessária a separação dos
cas e sociais no âmbito de uma nação. Quando se fala em Poderes, e na obra O Espírito das Leis estabeleceu em de-
pluralismo político, afirma-se que mais do que incorporar finitivo a clássica divisão de poderes: Executivo, Legislativo
esta multiplicidade de ideologias cabe ao Estado nacional e Judiciário. O pensador viveu na França, numa época em
fornecer espaço para a manifestação política delas. que o absolutismo estava cada vez mais forte.
Sendo assim, pluralismo político significa não só res- O objeto central da principal obra de Montesquieu8
peitar a multiplicidade de opiniões e ideias, mas acima de não é a lei regida nas relações entre os homens, mas as leis
tudo garantir a existência dela, permitindo que os vários e instituições criadas pelos homens para reger as relações
grupos que compõem os mais diversos setores sociais pos- entre os homens. Segundo Montesquieu9, as leis criam
sam se fazer ouvir mediante a liberdade de expressão, ma- costumes que regem o comportamento humano, sendo
nifestação e opinião, bem como possam exigir do Estado influenciadas por diversos fatores, não apenas pela razão.
substrato para se fazerem subsistir na sociedade. Quanto à fonte do poder, diferencia-se, segundo Mon-
Pluralismo político vai além do pluripartidarismo ou tesquieu10, do modo como se dará o seu exercício, uma vez
multipartidarismo, que é apenas uma de suas consequên- que o poder emana do povo, apto a escolher mas inapto
cias e garante que mesmo os partidos menores e com pou- a governar, sendo necessário que seu interesse seja repre-
cos representantes sejam ouvidos na tomada de decisões sentado conforme sua vontade.
políticas, porque abrange uma verdadeira concepção de Montesquieu11 estabeleceu como condição do Estado
multiculturalidade no âmbito interno. de Direito a separação dos Poderes em Legislativo, Judi-
ciário e Executivo – que devem se equilibrar –, servindo o
2) Separação dos Poderes primeiro para a elaboração, a correção e a ab-rogação de
A separação de Poderes é inerente ao modelo do Es- leis, o segundo para a promoção da paz e da guerra e a
tado Democrático de Direito, impedindo a monopolização garantia de segurança, e o terceiro para julgar (mesmo os
do poder e, por conseguinte, a tirania e a opressão. Resta próprios Poderes).
garantida no artigo 2º da Constituição Federal com o se- Ao modelo de repartição do exercício de poder por in-
guinte teor: termédio de órgãos ou funções distintas e independentes
de forma que um desses não possa agir sozinho sem ser
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmôni- limitado pelos outros confere-se o nome de sistema de
cos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. freios e contrapesos (no inglês, checks and balances).

A separação de Poderes é inerente ao modelo do Es- 8 MONTESQUIEU, Charles de Secondat. O Espírito das Leis.
tado Democrático de Direito, impedindo a monopolização Tradução Fernando Henrique Cardoso e Leôncio Martins Rodrigues. 2.
do poder e, por conseguinte, a tirania e a opressão. Resta ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 25.
garantida no artigo 2º da Constituição Federal com o se- 9 Ibid., p. 26.
guinte teor: “Art. 2º São Poderes da União, independentes 10 Ibid., p. 32.
e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judi- 11 Ibid., p. 148-149.

3
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

3) Objetivos fundamentais 3.4) Promover o bem de todos, sem preconceitos


O constituinte trabalha no artigo 3º da Constituição de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
Federal com os objetivos da República Federativa do Bra- formas de discriminação
sil, nos seguintes termos: Ainda no ideário de justiça social, coloca-se o princípio
da igualdade como objetivo a ser alcançado pela Repú-
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República blica brasileira. Sendo assim, a república deve promover
Federativa do Brasil: o princípio da igualdade e consolidar o bem comum. Em
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; verdade, a promoção do bem comum pressupõe a preva-
II - garantir o desenvolvimento nacional;  lência do princípio da igualdade.
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as Sobre o bem de todos, isto é, o bem comum, o filósofo
desigualdades sociais e regionais; Jacques Maritain12 ressaltou que o fim da sociedade é o
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de seu bem comum, mas esse bem comum é o das pessoas
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de humanas, que compõem a sociedade. Com base neste
discriminação. ideário, apontou as características essenciais do bem co-
mum: redistribuição, pela qual o bem comum deve ser re-
3.1) Construir uma sociedade livre, justa e solidária distribuído às pessoas e colaborar para o desenvolvimento
O inciso I do artigo 3º merece destaque ao trazer a delas; respeito à autoridade na sociedade, pois a autorida-
expressão “livre, justa e solidária”, que corresponde à tría- de é necessária para conduzir a comunidade de pessoas
de liberdade, igualdade e fraternidade. Esta tríade con- humanas para o bem comum; moralidade, que constitui a
solida as três dimensões de direitos humanos: a primei- retidão de vida, sendo a justiça e a retidão moral elemen-
ra dimensão, voltada à pessoa como indivíduo, refere-se tos essenciais do bem comum.
aos direitos civis e políticos; a segunda dimensão, focada
na promoção da igualdade material, remete aos direitos 4) Princípios de relações internacionais (artigo 4º)
econômicos, sociais e culturais; e a terceira dimensão se O último artigo do título I trabalha com os princípios
concentra numa perspectiva difusa e coletiva dos direitos
que regem as relações internacionais da República brasi-
fundamentais.
leira:
Sendo assim, a República brasileira pretende garantir a
preservação de direitos fundamentais inatos à pessoa hu-
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas
mana em todas as suas dimensões, indissociáveis e inter-
suas relações internacionais pelos seguintes princípios: 
conectadas. Daí o texto constitucional guardar espaço de
I - independência nacional;
destaque para cada uma destas perspectivas.
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
3.2) Garantir o desenvolvimento nacional
IV - não-intervenção;
Para que o governo possa prover todas as condições
necessárias à implementação de todos os direitos funda- V - igualdade entre os Estados;
mentais da pessoa humana mostra-se essencial que o país VI - defesa da paz;
se desenvolva, cresça economicamente, de modo que cada VII - solução pacífica dos conflitos;
indivíduo passe a ter condições de perseguir suas metas. VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da hu-
3.3) Erradicar a pobreza e a marginalização e redu- manidade;
zir as desigualdades sociais e regionais X - concessão de asilo político.
Garantir o desenvolvimento econômico não basta Parágrafo único. A República Federativa do Brasil bus-
para a construção de uma sociedade justa e solidária. É cará a integração econômica, política, social e cultural dos
necessário ir além e nunca perder de vista a perspectiva povos da América Latina, visando à formação de uma co-
da igualdade material. Logo, a injeção econômica deve munidade latino-americana de nações.
permitir o investimento nos setores menos favorecidos,
diminuindo as desigualdades sociais e regionais e paulati- De maneira geral, percebe-se na Constituição Fede-
namente erradicando a pobreza. ral a compreensão de que a soberania do Estado nacional
O impacto econômico deste objetivo fundamental é brasileiro não permite a sobreposição em relação à sobe-
tão relevante que o artigo 170 da Constituição prevê em rania dos demais Estados, bem como de que é necessário
seu inciso VII a “redução das desigualdades regionais e respeitar determinadas práticas inerentes ao direito inter-
sociais” como um princípio que deve reger a atividade nacional dos direitos humanos.
econômica. A menção deste princípio implica em afirmar
que as políticas públicas econômico-financeiras deverão
se guiar pela busca da redução das desigualdades, forne-
cendo incentivos específicos para a exploração da ativida-
de econômica em zonas economicamente marginalizadas. 12 MARITAIN, Jacques. Os direitos do homem e a lei natural.
3. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1967, p. 20-22.

4
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

4.1) Independência nacional 4.6) Defesa da paz


A formação de uma comunidade internacional não O direito à paz vai muito além do direito de viver num
significa a eliminação da soberania dos países, mas apenas mundo sem guerras, atingindo o direito de ter paz social,
uma relativização, limitando as atitudes por ele tomadas de ver seus direitos respeitados em sociedade. Os direitos
em prol da preservação do bem comum e da paz mundial. e liberdades garantidos internacionalmente não podem
Na verdade, o próprio compromisso de respeito aos di- ser destruídos com fundamento nas normas que surgiram
reitos humanos traduz a limitação das ações estatais, que para protegê-los, o que seria controverso. Em termos de
sempre devem se guiar por eles. Logo, o Brasil é um país relações internacionais, depreende-se que deve ser sem-
independente, que não responde a nenhum outro, mas pre priorizada a solução amistosa de conflitos.
que como qualquer outro possui um dever para com a hu-
manidade e os direitos inatos a cada um de seus membros. 4.7) Solução pacífica dos conflitos
Decorrendo da defesa da paz, este princípio remete
4.2) Prevalência dos direitos humanos à necessidade de diplomacia nas relações internacionais.
O Estado existe para o homem e não o inverso. Por- Caso surjam conflitos entre Estados nacionais, estes deve-
tanto, toda normativa existe para a sua proteção como rão ser dirimidos de forma amistosa.
pessoa humana e o Estado tem o dever de servir a este fim Negociação diplomática, serviços amistosos, bons ofí-
de preservação. A única forma de fazer isso é adotando a cios, mediação, sistema de consultas, conciliação e inqué-
pessoa humana como valor-fonte de todo o ordenamento, rito são os meios diplomáticos de solução de controvérsias
o que somente é possível com a compreensão de que os internacionais, não havendo hierarquia entre eles. Somen-
direitos humanos possuem uma posição prioritária no or- te o inquérito é um procedimento preliminar e facultativo
denamento jurídico-constitucional. à apuração da materialidade dos fatos, podendo servir de
Conceituar direitos humanos é uma tarefa complicada, base para qualquer meio de solução de conflito13. Concei-
mas, em síntese, pode-se afirmar que direitos humanos tua Neves14:
são aqueles inerentes ao homem enquanto condição para - “Negociação diplomática é a forma de autocompo-
sua dignidade que usualmente são descritos em docu-
sição em que os Estados oponentes buscam resolver suas
mentos internacionais para que sejam mais seguramente
divergências de forma direta, por via diplomática”;
garantidos. A conquista de direitos da pessoa humana é,
- “Serviços amistosos é um meio de solução pacífica
na verdade, uma busca da dignidade da pessoa humana.
de conflito, sem aspecto oficial, em que o governo designa
um diplomada para sua conclusão”;
4.3) Autodeterminação dos povos
- “Bons ofícios constituem o meio diplomático de so-
A premissa dos direitos políticos é a autodeterminação
lução pacífica de controvérsia internacional, em que um
dos povos. Neste sentido, embora cada Estado tenha obri-
Estado, uma organização internacional ou até mesmo um
gações de direito internacional que deve respeitar para a
chefe de Estado apresenta-se como moderador entre os
adequada consecução dos fins da comunidade internacio-
nal, também tem o direito de se autodeterminar, sendo litigantes”;
que tal autodeterminação é feita pelo seu povo. - “Mediação define-se como instituto por meio do
Se autodeterminar significa garantir a liberdade do qual uma terceira pessoa estranha à contenda, mas acei-
povo na tomada das decisões políticas, logo, o direito à ta pelos litigantes, de forma voluntária ou em razão de
autodeterminação pressupõe a exclusão do colonialismo. estipulação anterior, toma conhecimento da divergência e
Não se aceita a ideia de que um Estado domine o outro, dos argumentos sustentados pelas partes, e propõe uma
tirando a sua autodeterminação. solução pacífica sujeita à aceitação destas”;
- “Sistema de Consultas constitui-se em meio diplo-
4.4) Não-intervenção mático de solução de litígios em que os Estados ou or-
Por não-intervenção entenda-se que o Estado brasilei- ganizações internacionais sujeitam-se, sem qualquer in-
ro irá respeitar a soberania dos demais Estados nacionais. terferência pessoal externa, a encontros periódicos com o
Sendo assim, adotará práticas diplomáticas e respeitará as objetivo de compor suas divergências”.
decisões políticas tomadas no âmbito de cada Estado, eis
que são paritários na ordem internacional. 4.8) Repúdio ao terrorismo e ao racismo
Terrorismo é o uso de violência através de ataques lo-
4.5) Igualdade entre os Estados calizados a elementos ou instalações de um governo ou
Por este princípio se reconhece uma posição de pari- da população civil, de modo a incutir medo, terror, e assim
dade, ou seja, de igualdade hierárquica, na ordem interna- obter efeitos psicológicos que ultrapassem largamente o
cional entre todos os Estados. Em razão disso, cada Estado círculo das vítimas, incluindo, antes, o resto da população
possuirá direito de voz e voto na tomada de decisões polí- do território.
ticas na ordem internacional em cada organização da qual
faça parte e deverá ter sua opinião respeitada. 13 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito Internacional Público &
Direito Internacional Privado. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 123.
14 Ibid., p. 123-126.

5
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Racismo é a prática de atos discriminatórios baseados Em termos comparativos à clássica divisão tridimen-
em diferenças étnico-raciais, que podem consistirem vio- sional dos direitos humanos, os direitos individuais (maior
lência física ou psicológica direcionada a uma pessoa ou a parte do artigo 5º, CF), os direitos da nacionalidade e os
um grupo de pessoas pela simples questão biológica her- direitos políticos se encaixam na primeira dimensão (direi-
dada por sua raça ou etnia. tos civis e políticos); os direitos sociais se enquadram na se-
Sendo o Brasil um país que prega o pacifismo e que é gunda dimensão (direitos econômicos, sociais e culturais) e
assumidamente pluralista, ambas práticas são considera- os direitos coletivos na terceira dimensão. Contudo, a enu-
das vis e devem ser repudiadas pelo Estado nacional. meração de direitos humanos na Constituição vai além dos
direitos que expressamente constam no título II do texto
4.9) Cooperação entre os povos para o progresso constitucional.
da humanidade Os direitos fundamentais possuem as seguintes carac-
A cooperação internacional deve ser especialmente terísticas principais:
econômica e técnica, a fim de conseguir progressivamen- a) Historicidade: os direitos fundamentais possuem
te a plena efetividade dos direitos humanos fundamentais antecedentes históricos relevantes e, através dos tempos,
internacionalmente reconhecidos. adquirem novas perspectivas. Nesta característica se en-
Os países devem colaborar uns com os outros, o que é quadra a noção de dimensões de direitos.
possível mediante a integração no âmbito de organizações b) Universalidade: os direitos fundamentais perten-
internacionais específicas, regionais ou globais. cem a todos, tanto que apesar da expressão restritiva do
Em relação a este princípio, o artigo 4º se aprofun- caput do artigo 5º aos brasileiros e estrangeiros residentes
da em seu parágrafo único, destacando a importância da no país tem se entendido pela extensão destes direitos, na
cooperação brasileira no âmbito regional: “A República Fe- perspectiva de prevalência dos direitos humanos.
derativa do Brasil buscará a integração econômica, políti- c) Inalienabilidade: os direitos fundamentais não
ca, social e cultural dos povos da América Latina, visando possuem conteúdo econômico-patrimonial, logo, são in-
à formação de uma comunidade latino-americana de na- transferíveis, inegociáveis e indisponíveis, estando fora do
comércio, o que evidencia uma limitação do princípio da
ções”. Neste sentido, o papel desempenhado no MERCO-
autonomia privada.
SUL.
d) Irrenunciabilidade: direitos fundamentais não po-
dem ser renunciados pelo seu titular devido à fundamenta-
4.10) Concessão de asilo político
lidade material destes direitos para a dignidade da pessoa
Direito de asilo é o direito de buscar abrigo em outro
humana.
país quando naquele do qual for nacional estiver sofrendo
e) Inviolabilidade: direitos fundamentais não podem
alguma perseguição. Tal perseguição não pode ter mo-
deixar de ser observados por disposições infraconstitucio-
tivos legítimos, como a prática de crimes comuns ou de
nais ou por atos das autoridades públicas, sob pena de nu-
atos atentatórios aos princípios das Nações Unidas, o que lidades.
subverteria a própria finalidade desta proteção. Em suma, f) Indivisibilidade: os direitos fundamentais compõem
o que se pretende com o direito de asilo é evitar a con- um único conjunto de direitos porque não podem ser ana-
solidação de ameaças a direitos humanos de uma pessoa lisados de maneira isolada, separada.
por parte daqueles que deveriam protegê-los – isto é, os g) Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não
governantes e os entes sociais como um todo –, e não pro- se perdem com o tempo, não prescrevem, uma vez que são
teger pessoas que justamente cometeram tais violações. sempre exercíveis e exercidos, não deixando de existir pela
“Sendo direito humano da pessoa refugiada, é obriga- falta de uso (prescrição).
ção do Estado asilante conceder o asilo. Entretanto, preva- h) Relatividade: os direitos fundamentais não po-
lece o entendimento que o Estado não tem esta obrigação, dem ser utilizados como um escudo para práticas ilícitas
nem de fundamentar a recusa. A segunda parte deste ar- ou como argumento para afastamento ou diminuição da
tigo permite a interpretação no sentido de que é o Estado responsabilidade por atos ilícitos, assim estes direitos não
asilante que subjetivamente enquadra o refugiado como são ilimitados e encontram seus limites nos demais direitos
asilado político ou criminoso comum”15. igualmente consagrados como humanos.

Direitos e garantias fundamentais Direitos e deveres individuais e coletivos

O título II da Constituição Federal é intitulado “Direitos O capítulo I do título II é intitulado “direitos e deveres
e Garantias fundamentais”, gênero que abrange as seguin- individuais e coletivos”. Da própria nomenclatura do capí-
tes espécies de direitos fundamentais: direitos individuais tulo já se extrai que a proteção vai além dos direitos do
e coletivos (art. 5º, CF), direitos sociais (genericamente indivíduo e também abrange direitos da coletividade. A
previstos no art. 6º, CF), direitos da nacionalidade (artigos maior parte dos direitos enumerados no artigo 5º do texto
12 e 13, CF) e direitos políticos (artigos 14 a 17, CF). constitucional é de direitos individuais, mas são incluídos
15 SANTOS FILHO, Oswaldo de Souza. Comentários aos arti-
alguns direitos coletivos e mesmo remédios constitucionais
gos XIII e XIV. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declara- próprios para a tutela destes direitos coletivos (ex.: manda-
ção Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008, p. 83. do de segurança coletivo).

6
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

1) Brasileiros e estrangeiros Em caso de ineficácia da garantia, implicando em vio-


O caput do artigo 5º aparenta restringir a proteção con- lação de direito, cabe a utilização dos remédios constitu-
ferida pelo dispositivo a algumas pessoas, notadamente, cionais.
“aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País”. No Atenção para o fato de o constituinte chamar os re-
entanto, tal restrição é apenas aparente e tem sido interpre- médios constitucionais de garantias, e todas as suas fór-
tada no sentido de que os direitos estarão protegidos com mulas de direitos e garantias propriamente ditas apenas
relação a todas as pessoas nos limites da soberania do país. de direitos.
Em razão disso, por exemplo, um estrangeiro pode in-
gressar com habeas corpus ou mandado de segurança, ou 4) Direitos e garantias em espécie
então intentar ação reivindicatória com relação a imóvel seu Preconiza o artigo 5º da Constituição Federal em seu
localizado no Brasil (ainda que não resida no país). caput:
Somente alguns direitos não são estendidos a todas as
pessoas. A exemplo, o direito de intentar ação popular exige Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem
a condição de cidadão, que só é possuída por nacionais titu- distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei-
lares de direitos políticos. ros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
2) Relação direitos-deveres propriedade, nos termos seguintes [...].
O capítulo em estudo é denominado “direitos e garan-
tias deveres e coletivos”, remetendo à necessária relação di- O caput do artigo 5º, que pode ser considerado um
reitos-deveres entre os titulares dos direitos fundamentais. dos principais (senão o principal) artigos da Constituição
Acima de tudo, o que se deve ter em vista é a premissa re- Federal, consagra o princípio da igualdade e delimita as
conhecida nos direitos fundamentais de que não há direito cinco esferas de direitos individuais e coletivos que mere-
que seja absoluto, correspondendo-se para cada direito um cem proteção, isto é, vida, liberdade, igualdade, segurança
dever. Logo, o exercício de direitos fundamentais é limitado e propriedade. Os incisos deste artigos delimitam vários
pelo igual direito de mesmo exercício por parte de outrem, direitos e garantias que se enquadram em alguma destas
não sendo nunca absolutos, mas sempre relativos. esferas de proteção, podendo se falar em duas esferas es-
Explica Canotilho16 quanto aos direitos fundamentais: “a
pecíficas que ganham também destaque no texto consti-
ideia de deveres fundamentais é suscetível de ser entendida
tucional, quais sejam, direitos de acesso à justiça e direitos
como o ‘outro lado’ dos direitos fundamentais. Como ao ti-
constitucionais-penais.
tular de um direito fundamental corresponde um dever por
parte de um outro titular, poder-se-ia dizer que o particular
- Direito à igualdade
está vinculado aos direitos fundamentais como destinatário
Abrangência
de um dever fundamental. Neste sentido, um direito funda-
Observa-se, pelo teor do caput do artigo 5º, CF, que o
mental, enquanto protegido, pressuporia um dever corres-
constituinte afirmou por duas vezes o princípio da igual-
pondente”. Com efeito, a um direito fundamental conferido
à pessoa corresponde o dever de respeito ao arcabouço de dade:
direitos conferidos às outras pessoas.
Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem
3) Direitos e garantias distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei-
A Constituição vai além da proteção dos direitos e esta- ros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
belece garantias em prol da preservação destes, bem como do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
remédios constitucionais a serem utilizados caso estes direi- propriedade, nos termos seguintes [...].
tos e garantias não sejam preservados. Neste sentido, divi-
dem-se em direitos e garantias as previsões do artigo 5º: os Não obstante, reforça este princípio em seu primeiro
direitos são as disposições declaratórias e as garantias são as inciso:
disposições assecuratórias.
O legislador muitas vezes reúne no mesmo dispositivo Artigo 5º, I, CF. Homens e mulheres são iguais em di-
o direito e a garantia, como no caso do artigo 5º, IX: “é livre reitos e obrigações, nos termos desta Constituição.
a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença” – Este inciso é especificamente voltado à necessidade
o direito é o de liberdade de expressão e a garantia é a ve- de igualdade de gênero, afirmando que não deve haver
dação de censura ou exigência de licença. Em outros casos, o nenhuma distinção sexo feminino e o masculino, de modo
legislador traz o direito num dispositivo e a garantia em ou- que o homem e a mulher possuem os mesmos direitos e
tro: a liberdade de locomoção, direito, é colocada no artigo obrigações.
5º, XV, ao passo que o dever de relaxamento da prisão ilegal Entretanto, o princípio da isonomia abrange muito
de ofício pelo juiz, garantia, se encontra no artigo 5º, LXV17. mais do que a igualdade de gêneros, envolve uma pers-
16 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional pectiva mais ampla.
e teoria da constituição. 2. ed. Coimbra: Almedina, 1998, p. 479.
17 FARIA, Cássio Juvenal. Notas pessoais tomadas em telecon- ferência.

7
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

O direito à igualdade é um dos direitos norteadores Neste sentido, as discriminações legais asseguram
de interpretação de qualquer sistema jurídico. O primeiro a verdadeira igualdade, por exemplo, com as ações afir-
enfoque que foi dado a este direito foi o de direito civil, mativas, a proteção especial ao trabalho da mulher e do
enquadrando-o na primeira dimensão, no sentido de que menor, as garantias aos portadores de deficiência, entre
a todas as pessoas deveriam ser garantidos os mesmos outras medidas que atribuam a pessoas com diferentes
direitos e deveres. Trata-se de um aspecto relacionado à condições, iguais possibilidades, protegendo e respeitando
igualdade enquanto liberdade, tirando o homem do ar- suas diferenças18. Tem predominado em doutrina e juris-
bítrio dos demais por meio da equiparação. Basicamente, prudência, inclusive no Supremo Tribunal Federal, que as
estaria se falando na igualdade perante a lei. ações afirmativas são válidas.
No entanto, com o passar dos tempos, se percebeu
que não bastava igualar todos os homens em direitos e - Direito à vida
deveres para torná-los iguais, pois nem todos possuem Abrangência
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a prote-
as mesmas condições de exercer estes direitos e deveres.
ção do direito à vida. A vida humana é o centro gravitacio-
Logo, não é suficiente garantir um direito à igualdade for-
nal em torno do qual orbitam todos os direitos da pessoa
mal, mas é preciso buscar progressivamente a igualdade
humana, possuindo reflexos jurídicos, políticos, econômi-
material. No sentido de igualdade material que aparece
cos, morais e religiosos. Daí existir uma dificuldade em con-
o direito à igualdade num segundo momento, pretenden- ceituar o vocábulo vida. Logo, tudo aquilo que uma pessoa
do-se do Estado, tanto no momento de legislar quanto possui deixa de ter valor ou sentido se ela perde a vida.
no de aplicar e executar a lei, uma postura de promoção Sendo assim, a vida é o bem principal de qualquer pessoa,
de políticas governamentais voltadas a grupos vulneráveis. é o primeiro valor moral inerente a todos os seres huma-
Assim, o direito à igualdade possui dois sentidos no- nos19.
táveis: o de igualdade perante a lei, referindo-se à apli- No tópico do direito à vida tem-se tanto o direito de
cação uniforme da lei a todas as pessoas que vivem em nascer/permanecer vivo, o que envolve questões como
sociedade; e o de igualdade material, correspondendo à pena de morte, eutanásia, pesquisas com células-tronco e
necessidade de discriminações positivas com relação a aborto; quanto o direito de viver com dignidade, o que
grupos vulneráveis da sociedade, em contraponto à igual- engloba o respeito à integridade física, psíquica e moral,
dade formal. incluindo neste aspecto a vedação da tortura, bem como
a garantia de recursos que permitam viver a vida com dig-
Ações afirmativas nidade.
Neste sentido, desponta a temática das ações afirmati- Embora o direito à vida seja em si pouco delimitado
vas,que são políticas públicas ou programas privados cria- nos incisos que seguem o caput do artigo 5º, trata-se de
dos temporariamente e desenvolvidos com a finalidade de um dos direitos mais discutidos em termos jurisprudenciais
reduzir as desigualdades decorrentes de discriminações e sociológicos. É no direito à vida que se encaixam polêmi-
ou de uma hipossuficiência econômica ou física, por meio cas discussões como: aborto de anencéfalo, pesquisa com
da concessão de algum tipo de vantagem compensatória células tronco, pena de morte, eutanásia, etc.
de tais condições.
Quem é contra as ações afirmativas argumenta que, Vedação à tortura
em uma sociedade pluralista, a condição de membro de De forma expressa no texto constitucional destaca-se
um grupo específico não pode ser usada como critério de a vedação da tortura, corolário do direito à vida, conforme
inclusão ou exclusão de benefícios. Ademais, afirma-se previsão no inciso III do artigo 5º:
que elas desprivilegiam o critério republicano do mérito
Artigo 5º, III, CF. Ninguém será submetido a tortura nem
(segundo o qual o indivíduo deve alcançar determinado
a tratamento desumano ou degradante.
cargo público pela sua capacidade e esforço, e não por
pertencer a determinada categoria); fomentariam o racis-
A tortura é um dos piores meios de tratamento de-
mo e o ódio; bem como ferem o princípio da isonomia por sumano, expressamente vedada em âmbito internacional,
causar uma discriminação reversa. como visto no tópico anterior. No Brasil, além da disciplina
Por outro lado, quem é favorável às ações afirmativas constitucional, a Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997 define
defende que elas representam o ideal de justiça compen- os crimes de tortura e dá outras providências, destacando-
satória (o objetivo é compensar injustiças passadas, dívi- se o artigo 1º:
das históricas, como uma compensação aos negros por
tê-los feito escravos, p. ex.); representam o ideal de justiça
distributiva (a preocupação, aqui, é com o presente. Busca- 18 SANFELICE, Patrícia de Mello. Comentários aos artigos I e
se uma concretização do princípio da igualdade material); II. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal
dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008, p. 08.
bem como promovem a diversidade.
19 BARRETO, Ana Carolina Rossi; IBRAHIM, Fábio Zambitte.
Comentários aos Artigos III e IV. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comen-
tários à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: For-
tium, 2008, p. 15.

8
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Art. 1º Constitui crime de tortura: Liberdade de pensamento e de expressão


I - constranger alguém com emprego de violência ou O artigo 5º, IV, CF prevê:
grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confis- Artigo 5º, IV, CF. É livre a manifestação do pensamento,
são da vítima ou de terceira pessoa; sendo vedado o anonimato.
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa; Consolida-se a afirmação simultânea da liberdade de
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autori- pensamento e da liberdade de expressão.
dade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso Em primeiro plano tem-se a liberdade de pensamento.
sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo Afinal, “o ser humano, através dos processos internos de re-
pessoal ou medida de caráter preventivo. flexão, formula juízos de valor. Estes exteriorizam nada mais
Pena - reclusão, de dois a oito anos. do que a opinião de seu emitente. Assim, a regra consti-
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa tucional, ao consagrar a livre manifestação do pensamento,
presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico imprime a existência jurídica ao chamado direito de opi-
ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto nião”20. Em outras palavras, primeiro existe o direito de ter
em lei ou não resultante de medida legal. uma opinião, depois o de expressá-la.
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, No mais, surge como corolário do direito à liberdade de
quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pensamento e de expressão o direito à escusa por convicção
pena de detenção de um a quatro anos. filosófica ou política:
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gra-
víssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resul- Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por
ta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos. motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou po-
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: lítica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal
I - se o crime é cometido por agente público; a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternati-
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, por- va, fixada em lei.
tador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta)
anos;  Trata-se de instrumento para a consecução do direito
III - se o crime é cometido mediante sequestro. assegurado na Constituição Federal – não basta permitir que
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função se pense diferente, é preciso respeitar tal posicionamento.
ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo Com efeito, este direito de liberdade de expressão é li-
dobro do prazo da pena aplicada. mitado. Um destes limites é o anonimato, que consiste na
§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de garantia de atribuir a cada manifestação uma autoria certa
graça ou anistia. e determinada, permitindo eventuais responsabilizações por
§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a manifestações que contrariem a lei.
hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regi- Tem-se, ainda, a seguinte previsão no artigo 5º, IX, CF:
me fechado.
Artigo 5º, IX, CF. É livre a expressão da atividade inte-
- Direito à liberdade lectual, artística, científica e de comunicação, indepen-
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a pro- dentemente de censura ou licença.
teção do direito à liberdade, delimitada em alguns incisos
que o seguem. Consolida-se outra perspectiva da liberdade de expres-
são, referente de forma específica a atividades intelectuais,
Liberdade e legalidade artísticas, científicas e de comunicação. Dispensa-se, com re-
Prevê o artigo 5º, II, CF: lação a estas, a exigência de licença para a manifestação do
pensamento, bem como veda-se a censura prévia.
Artigo 5º, II, CF. Ninguém será obrigado a fazer ou deixar A respeito da censura prévia, tem-se não cabe impedir a
de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. divulgação e o acesso a informações como modo de contro-
le do poder. A censura somente é cabível quando necessária
O princípio da legalidade se encontra delimitado neste ao interesse público numa ordem democrática, por exemplo,
inciso, prevendo que nenhuma pessoa será obrigada a fazer censurar a publicação de um conteúdo de exploração sexual
ou deixar de fazer alguma coisa a não ser que a lei assim infanto-juvenil é adequado.
determine. Assim, salvo situações previstas em lei, a pessoa O direito à resposta (artigo 5º, V, CF) e o direito à inde-
tem liberdade para agir como considerar conveniente. nização (artigo 5º, X, CF) funcionam como a contrapartida
Portanto, o princípio da legalidade possui estrita rela- para aquele que teve algum direito seu violado (notadamen-
ção com o princípio da liberdade, posto que, a priori, tudo à te inerentes à privacidade ou à personalidade) em decor-
pessoa é lícito. Somente é vedado o que a lei expressamen- rência dos excessos no exercício da liberdade de expressão.
te estabelecer como proibido. A pessoa pode fazer tudo o
que quiser, como regra, ou seja, agir de qualquer maneira 20 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano.
que a lei não proíba. Curso de direito constitucional. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Liberdade de crença/religiosa Liberdade de informação


Dispõe o artigo 5º, VI, CF: O direito de acesso à informação também se liga a
uma dimensão do direito à liberdade. Neste sentido, prevê
Artigo 5º, VI, CF. É inviolável a liberdade de consciên- o artigo 5º, XIV, CF:
cia e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção Artigo 5º, XIV, CF. É assegurado a todos o acesso à in-
aos locais de culto e a suas liturgias. formação e resguardado o sigilo da fonte, quando neces-
sário ao exercício profissional.
Cada pessoa tem liberdade para professar a sua fé
como bem entender dentro dos limites da lei. Não há uma Trata-se da liberdade de informação, consistente na
crença ou religião que seja proibida, garantindo-se que a liberdade de procurar e receber informações e ideias por
profissão desta fé possa se realizar em locais próprios. quaisquer meios, independente de fronteiras, sem inter-
Nota-se que a liberdade de religião engloba 3 tipos ferência.
distintos, porém intrinsecamente relacionados de liberda- A liberdade de informação tem um caráter passivo, ao
des: a liberdade de crença; a liberdade de culto; e a liberda- passo que a liberdade de expressão tem uma caracterís-
de de organização religiosa. tica ativa, de forma que juntas formam os aspectos ativo
Consoante o magistério de José Afonso da Silva21, entra e passivo da exteriorização da liberdade de pensamento:
na liberdade de crença a liberdade de escolha da religião, não basta poder manifestar o seu próprio pensamento, é
a liberdade de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade preciso que ele seja ouvido e, para tanto, há necessidade
(ou o direito) de mudar de religião, além da liberdade de de se garantir o acesso ao pensamento manifestado para
não aderir a religião alguma, assim como a liberdade de a sociedade.
descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnos- Por sua vez, o acesso à informação envolve o direito de
ticismo, apenas excluída a liberdade de embaraçar o livre todos obterem informações claras, precisas e verdadeiras a
exercício de qualquer religião, de qualquer crença. A liber-
respeito de fatos que sejam de seu interesse, notadamente
dade de culto consiste na liberdade de orar e de praticar
pelos meios de comunicação imparciais e não monopoli-
os atos próprios das manifestações exteriores em casa ou
zados (artigo 220, CF). No entanto, nem sempre é possível
em público, bem como a de recebimento de contribuições
que a imprensa divulgue com quem obteve a informação
para tanto. Por fim, a liberdade de organização religiosa
divulgada, sem o que a segurança desta poderia ficar pre-
refere-se à possibilidade de estabelecimento e organização
judicada e a informação inevitavelmente não chegaria ao
de igrejas e suas relações com o Estado.
público.
Como decorrência do direito à liberdade religiosa, as-
Especificadamente quanto à liberdade de informação
segurando o seu exercício, destaca-se o artigo 5º, VII, CF:
no âmbito do Poder Público, merecem destaque algumas
Artigo 5º, VII, CF. É assegurada, nos termos da lei, a pres- previsões.
tação de assistência religiosa nas entidades civis e mili- Primeiramente, prevê o artigo 5º, XXXIII, CF:
tares de internação coletiva.
Artigo 5º, XXXIII, CF. Todos têm direito a receber dos ór-
O dispositivo refere-se não só aos estabelecimentos gãos públicos informações de seu interesse particular, ou
prisionais civis e militares, mas também a hospitais. de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
Ainda, surge como corolário do direito à liberdade reli- da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas
giosa o direito à escusa por convicção religiosa: cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e
do Estado.
Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por
motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou po- A respeito, a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011
lítica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do
a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alterna- art. 5º, CF, também conhecida como Lei do Acesso à In-
tiva, fixada em lei. formação.
Não obstante, estabelece o artigo 5º, XXXIV, CF:
Sempre que a lei impõe uma obrigação a todos, por
exemplo, a todos os homens maiores de 18 anos o alis- Artigo 5º, XXXIV, CF. São a todos assegurados, indepen-
tamento militar, não cabe se escusar, a não ser que tenha dentemente do pagamento de taxas:
fundado motivo em crença religiosa ou convicção filosó- a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa
fica/política, caso em que será obrigado a cumprir uma de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
prestação alternativa, isto é, uma outra atividade que não b) a obtenção de certidões em repartições públicas,
contrarie tais preceitos. para defesa de direitos e esclarecimento de situações de in-
teresse pessoal.
21 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional
positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Quanto ao direito de petição, de maneira prática, Prevê o artigo 5º, LXVII, CF:
cumpre observar que o direito de petição deve resultar
em uma manifestação do Estado, normalmente dirimindo Artigo 5º, LXVII, CF. Não haverá prisão civil por dívi-
(resolvendo) uma questão proposta, em um verdadeiro da, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário
exercício contínuo de delimitação dos direitos e obriga- e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário
ções que regulam a vida social e, desta maneira, quando infiel.
“dificulta a apreciação de um pedido que um cidadão quer
apresentar” (muitas vezes, embaraçando-lhe o acesso à Nos termos da Súmula Vinculante nº 25 do Supremo
Justiça); “demora para responder aos pedidos formula- Tribunal Federal, “é ilícita a prisão civil de depositário infiel,
dos” (administrativa e, principalmente, judicialmente) ou qualquer que seja a modalidade do depósito”. Por isso, a
“impõe restrições e/ou condições para a formulação de única exceção à regra da prisão por dívida do ordenamen-
petição”, traz a chamada insegurança jurídica, que traz de- to é a que se refere à obrigação alimentícia.
sesperança e faz proliferar as desigualdades e as injustiças.
Dentro do espectro do direito de petição se insere, por Liberdade de trabalho
exemplo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar O direito à liberdade também é mencionado no artigo
cópias reprográficas e certidões, bem como de ofertar de- 5º, XIII, CF:
núncias de irregularidades. Contudo, o constituinte, talvez
na intenção de deixar clara a obrigação dos Poderes Pú- Artigo 5º, XIII, CF. É livre o exercício de qualquer tra-
blicos em fornecer certidões, trouxe a letra b) do inciso, o balho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
que gera confusões conceituais no sentido do direito de profissionais que a lei estabelecer.
obter certidões ser dissociado do direito de petição.
Por fim, relevante destacar a previsão do artigo 5º, LX, O livre exercício profissional é garantido, respeitados
CF: os limites legais. Por exemplo, não pode exercer a profis-
são de advogado aquele que não se formou em Direito e
Artigo 5º, LX, CF. A lei só poderá restringir a publicida-
não foi aprovado no Exame da Ordem dos Advogados do
de dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou
Brasil; não pode exercer a medicina aquele que não fez
o interesse social o exigirem.
faculdade de medicina reconhecida pelo MEC e obteve o
cadastro no Conselho Regional de Medicina.
Logo,o processo, em regra, não será sigiloso. Apenas
o será quando a intimidade merecer preservação (ex: pro-
Liberdade de reunião
cesso criminal de estupro ou causas de família em geral)
Sobre a liberdade de reunião, prevê o artigo 5º, XVI,
ou quando o interesse social exigir (ex: investigações que
CF:
possam ser comprometidas pela publicidade). A publici-
dade é instrumento para a efetivação da liberdade de in-
formação. Artigo 5º, XVI, CF. Todos podem reunir-se pacifica-
mente, sem armas, em locais abertos ao público, inde-
Liberdade de locomoção pendentemente de autorização, desde que não frustrem
Outra faceta do direito à liberdade encontra-se no ar- outra reunião anteriormente convocada para o mesmo lo-
tigo 5º, XV, CF: cal, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade com-
petente.
Artigo 5º, XV, CF. É livre a locomoção no território
nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos Pessoas podem ir às ruas para reunirem-se com de-
termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus mais na defesa de uma causa, apenas possuindo o dever
bens. de informar tal reunião. Tal dever remonta-se a questões de
segurança coletiva. Imagine uma grande reunião de pes-
A liberdade de locomoção é um aspecto básico do di- soas por uma causa, a exemplo da Parada Gay, que chega
reito à liberdade, permitindo à pessoa ir e vir em todo o a aglomerar milhões de pessoas em algumas capitais: seria
território do país em tempos de paz (em tempos de guerra absurdo tolerar tal tipo de reunião sem o prévio aviso do
é possível limitar tal liberdade em prol da segurança). A li- poder público para que ele organize o policiamento e a
berdade de sair do país não significa que existe um direito assistência médica, evitando algazarras e socorrendo pes-
de ingressar em qualquer outro país, pois caberá à ele, no soas que tenham algum mal-estar no local. Outro limite é
exercício de sua soberania, controlar tal entrada. o uso de armas, totalmente vedado, assim como de subs-
Classicamente, a prisão é a forma de restrição da liber- tâncias ilícitas (Ex: embora a Marcha da Maconha tenha
dade. Neste sentido, uma pessoa somente poderá ser pre- sido autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, vedou-se
sa nos casos autorizados pela própria Constituição Fede- que nela tal substância ilícita fosse utilizada).
ral. A despeito da normativa específica de natureza penal,
reforça-se a impossibilidade de se restringir a liberdade de
locomoção pela prisão civil por dívida.

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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Liberdade de associação Artigo 5º, XX, CF. Ninguém poderá ser compelido a as-
No que tange à liberdade de reunião, traz o artigo 5º, sociar-se ou a permanecer associado.
XVII, CF:
- Direitos à privacidade e à personalidade
Artigo 5º, XVII, CF. É plena a liberdade de associação
para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar. Abrangência
Prevê o artigo 5º, X, CF:
A liberdade de associação difere-se da de reunião por
sua perenidade, isto é, enquanto a liberdade de reunião é Artigo 5º, X, CF. São invioláveis a intimidade, a vida
exercida de forma sazonal, eventual, a liberdade de associa- privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
ção implica na formação de um grupo organizado que se direito a indenização pelo dano material ou moral decorren-
mantém por um período de tempo considerável, dotado de te de sua violação.
estrutura e organização próprias.
Por exemplo, o PCC e o Comando vermelho são associa- O legislador opta por trazer correlacionados no mesmo
ções ilícitas e de caráter paramilitar, pois possuem armas e o dispositivo legal os direitos à privacidade e à personalida-
ideal de realizar sua própria justiça paralelamente à estatal. de.
O texto constitucional se estende na regulamentação da Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimida-
liberdade de associação. de, ao abordar a proteção da vida privada – que, em resu-
O artigo 5º, XVIII, CF, preconiza: mo, é a privacidade da vida pessoal no âmbito do domicílio
e de círculos de amigos –, Silva22 entende que “o segredo
Artigo 5º, XVIII, CF. A criação de associações e, na forma da vida privada é condição de expansão da personalidade”,
da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo mas não caracteriza os direitos de personalidade em si.
vedada a interferência estatal em seu funcionamento. A união da intimidade e da vida privada forma a pri-
vacidade, sendo que a primeira se localiza em esfera mais
Neste sentido, associações são organizações resultantes estrita. É possível ilustrar a vida social como se fosse um
da reunião legal entre duas ou mais pessoas, com ou sem grande círculo no qual há um menor, o da vida privada, e
personalidade jurídica, para a realização de um objetivo co- dentro deste um ainda mais restrito e impenetrável, o da
mum; já cooperativas são uma forma específica de associa- intimidade. Com efeito, pela “Teoria das Esferas” (ou “Teoria
ção, pois visam a obtenção de vantagens comuns em suas dos Círculos Concêntricos”), importada do direito alemão,
atividades econômicas. quanto mais próxima do indivíduo, maior a proteção a ser
Ainda, tem-se o artigo 5º, XIX, CF: conferida à esfera (as esferas são representadas pela intimi-
dade, pela vida privada, e pela publicidade).
Artigo 5º, XIX, CF. As associações só poderão ser compul- “O direito à honra distancia-se levemente dos dois an-
soriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por teriores, podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa
decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em tem de si (honra subjetiva) e ao juízo positivo que dela fa-
julgado. zem os outros (honra objetiva), conferindo-lhe respeitabi-
lidade no meio social. O direito à imagem também pos-
O primeiro caso é o de dissolução compulsória, ou seja, sui duas conotações, podendo ser entendido em sentido
a associação deixará de existir para sempre. Obviamente, é objetivo, com relação à reprodução gráfica da pessoa, por
preciso o trânsito em julgado da decisão judicial que assim meio de fotografias, filmagens, desenhos, ou em sentido
determine, pois antes disso sempre há possibilidade de re- subjetivo, significando o conjunto de qualidades cultivadas
verter a decisão e permitir que a associação continue em pela pessoa e reconhecidas como suas pelo grupo social”23.
funcionamento. Contudo, a decisão judicial pode suspender
atividades até que o trânsito em julgado ocorra, ou seja, no Inviolabilidade de domicílio e sigilo de correspon-
curso de um processo judicial. dência
Em destaque, a legitimidade representativa da associa- Correlatos ao direito à privacidade, aparecem a invio-
ção quanto aos seus filiados, conforme artigo 5º, XXI, CF: labilidade do domicílio e o sigilo das correspondências e
comunicações.
Artigo 5º, XXI, CF. As entidades associativas, quando ex- Neste sentido, o artigo 5º, XI, CF prevê:
pressamente autorizadas, têm legitimidade para representar
seus filiados judicial ou extrajudicialmente. Artigo 5º, XI, CF. A casa é asilo inviolável do indivíduo,
ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do mo-
Trata-se de caso de legitimidade processual extraordi- rador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
nária, pela qual um ente vai a juízo defender interesse de prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.
outra(s) pessoa(s) porque a lei assim autoriza.
A liberdade de associação envolve não somente o direi- 22 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional
to de criar associações e de fazer parte delas, mas também positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
o de não associar-se e o de deixar a associação, conforme 23 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito cons-
artigo 5º, XX, CF: titucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

O domicílio é inviolável, razão pela qual ninguém pode “A manifestação do pensamento é livre e garantida
nele entrar sem o consentimento do morador, a não ser em nível constitucional, não aludindo a censura prévia em
EM QUALQUER HORÁRIO no caso de flagrante delito (o diversões e espetáculos públicos. Os abusos porventura
morador foi flagrado na prática de crime e fugiu para seu ocorridos no exercício indevido da manifestação do pensa-
domicílio) ou desastre (incêndio, enchente, terremoto...) mento são passíveis de exame e apreciação pelo Poder Ju-
ou para prestar socorro (morador teve ataque do coração, diciário com a consequente responsabilidade civil e penal
está sufocado, desmaiado...), e SOMENTE DURANTE O DIA de seus autores, decorrentes inclusive de publicações inju-
por determinação judicial. riosas na imprensa, que deve exercer vigilância e controle
Quanto ao sigilo de correspondência e das comunica- da matéria que divulga”24.
ções, prevê o artigo 5º, XII, CF: O  direito de resposta é o direito que uma pessoa
tem de se defender de críticas públicas no mesmo meio
Artigo 5º, XII, CF. É inviolável o sigilo da correspondên- em que foram publicadas garantida exatamente a mes-
cia e das comunicações telegráficas, de dados e das comuni- ma repercussão. Mesmo quando for garantido o direito
cações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, de resposta não é possível reverter plenamente os da-
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de nos causados pela manifestação ilícita de pensamento,
investigação criminal ou instrução processual penal. razão pela qual a pessoa inda fará jus à indenização.
A manifestação ilícita do pensamento geralmente cau-
O sigilo de correspondência e das comunicações está sa um dano, ou seja, um prejuízo sofrido pelo agente, que
melhor regulamentado na Lei nº 9.296, de 1996. pode ser individual ou coletivo, moral ou material, econô-
mico e não econômico.
Personalidade jurídica e gratuidade de registro Dano material é aquele que atinge o patrimônio (ma-
Quando se fala em reconhecimento como pessoa pe- terial ou imaterial) da vítima, podendo ser mensurado fi-
rante a lei desdobra-se uma esfera bastante específica dos nanceiramente e indenizado.
direitos de personalidade, consistente na personalidade “Dano moral direto consiste na lesão a um interesse
jurídica. Basicamente, consiste no direito de ser reconheci- que visa a satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapa-
do como pessoa perante a lei. trimonial contido nos direitos da personalidade (como a
Para ser visto como pessoa perante a lei mostra-se ne- vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro,
cessário o registro. Por ser instrumento que serve como a intimidade, os sentimentos afetivos, a própria imagem)
pressuposto ao exercício de direitos fundamentais, asse- ou nos atributos da pessoa (como o nome, a capacidade, o
gura-se a sua gratuidade aos que não tiverem condição estado de família)”25.
de com ele arcar. Já o dano à imagem é delimitado no artigo 20 do Có-
Aborda o artigo 5º, LXXVI, CF: digo Civil:

Artigo 5º, LXXVI, CF. São gratuitos para os reconhe- Artigo 20, CC. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à
cidamente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de administração da justiça ou à manutenção da ordem públi-
nascimento; b) a certidão de óbito. ca, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a
publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma
O reconhecimento do marco inicial e do marco final pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem pre-
da personalidade jurídica pelo registro é direito individual, juízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra,
não dependendo de condições financeiras. Evidente, seria a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins
absurdo cobrar de uma pessoa sem condições a elabora- comerciais.
ção de documentos para que ela seja reconhecida como
viva ou morta, o que apenas incentivaria a indigência dos - Direito à segurança
menos favorecidos. O caput do artigo 5º da Constituição assegura a pro-
teção do direito à segurança. Na qualidade de direito in-
Direito à indenização e direito de resposta dividual liga-se à segurança do indivíduo como um todo,
Com vistas à proteção do direito à privacidade, do di- desde sua integridade física e mental, até a própria segu-
reito à personalidade e do direito à imagem, asseguram-se rança jurídica.
dois instrumentos, o direito à indenização e o direito de No sentido aqui estudado, o direito à segurança pes-
resposta, conforme as necessidades do caso concreto. soal é o direito de viver sem medo, protegido pela soli-
Com efeito, prevê o artigo 5º, V, CF: dariedade e liberto de agressões, logo, é uma maneira de
garantir o direito à vida.
Artigo 5º, V, CF. É assegurado o direito de resposta,
proporcional ao agravo, além da indenização por dano 24 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 26.
material, moral ou à imagem. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.
25 ZANNONI, Eduardo. El daño en la responsabilidad civil.
Buenos Aires: Astrea, 1982.

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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Nesta linha, para Silva26, “efetivamente, esse conjunto de Com efeito, a proteção da propriedade privada está li-
direitos aparelha situações, proibições, limitações e proce- mitada ao atendimento de sua função social, sendo este o
dimentos destinados a assegurar o exercício e o gozo de requisito que a correlaciona com a proteção da dignidade
algum direito individual fundamental (intimidade, liberdade da pessoa humana.
pessoal ou a incolumidade física ou moral)”.
Especificamente no que tange à segurança jurídica, tem- Uso temporário
se o disposto no artigo 5º, XXXVI, CF: No mais, estabelece-se uma terceira limitação ao direito
de propriedade que não possui o caráter definitivo da desa-
Artigo 5º, XXXVI, CF. A lei não prejudicará o direito ad- propriação, mas é temporária, conforme artigo 5º, XXV, CF:
quirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
Artigo 5º, XXV, CF. No caso de iminente perigo público,
Pelo inciso restam estabelecidos limites à retroatividade a autoridade competente poderá usar de propriedade par-
da lei. ticular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se
Define o artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do houver dano.
Direito Brasileiro:
Se uma pessoa tem uma propriedade, numa situação
Artigo 6º, LINDB. A Lei em vigor terá efeito imediato e de perigo, o poder público pode se utilizar dela (ex: montar
geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e uma base para capturar um fugitivo), pois o interesse da
a coisa julgada. coletividade é maior que o do indivíduo proprietário.
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado se-
gundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. Direito sucessório
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o O direito sucessório aparece como uma faceta do direi-
seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles to à propriedade, encontrando disciplina constitucional no
cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição artigo 5º, XXX e XXXI, CF:
pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão Artigo 5º, XXX, CF. É garantido o direito de herança;
judicial de que já não caiba recurso.
Artigo 5º, XXXI, CF. A sucessão de bens de estrangei-
- Direito à propriedade ros situados no País será regulada pela lei brasileira em be-
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a prote- nefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não
ção do direito à propriedade, tanto material quanto intelec- lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
tual, delimitada em alguns incisos que o seguem.
O direito à herança envolve o direito de receber – seja
Função social da propriedade material devido a uma previsão legal, seja por testamento – bens de
O artigo 5º, XXII, CF estabelece: uma pessoa que faleceu. Assim, o patrimônio passa para ou-
tra pessoa, conforme a vontade do falecido e/ou a lei de-
Artigo 5º, XXII, CF. É garantido o direito de propriedade. termine. A Constituição estabelece uma disciplina específica
para bens de estrangeiros situados no Brasil, assegurando
A seguir, no inciso XXIII do artigo 5º, CF estabelece o que eles sejam repassados ao cônjuge e filhos brasileiros nos
principal fator limitador deste direito: termos da lei mais benéfica (do Brasil ou do país estrangeiro).

Artigo 5º, XXIII, CF. A propriedade atenderá a sua função Direito do consumidor
social. Nos termos do artigo 5º, XXXII, CF:

A propriedade, segundo Silva27, “[...] não pode mais ser Artigo 5º, XXXII, CF. O Estado promoverá, na forma da
considerada como um direito individual nem como institui- lei, a defesa do consumidor.
ção do direito privado. [...] embora prevista entre os direitos
individuais, ela não mais poderá ser considerada puro direi- O direito do consumidor liga-se ao direito à propriedade
to individual, relativizando-se seu conceito e significado, es- a partir do momento em que garante à pessoa que irá adqui-
pecialmente porque os princípios da ordem econômica são rir bens e serviços que estes sejam entregues e prestados da
preordenados à vista da realização de seu fim: assegurar a forma adequada, impedindo que o fornecedor se enrique-
todos existência digna, conforme os ditames da justiça so- ça ilicitamente, se aproveite de maneira indevida da posição
cial. Se é assim, então a propriedade privada, que, ademais, menos favorável e de vulnerabilidade técnica do consumidor.
tem que atender a sua função social, fica vinculada à conse- O Direito do Consumidor pode ser considerado um ramo
cução daquele princípio”. recente do Direito. No Brasil, a legislação que o regulamen-
26 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional tou foi promulgada nos anos 90, qual seja a Lei nº 8.078, de
positivo... Op. Cit., p. 437. 11 de setembro de 1990, conforme determinado pela Cons-
27 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional tituição Federal de 1988, que também estabeleceu no artigo
positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias:

14
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Artigo 48, ADCT. O Congresso Nacional, dentro de cento ano seguinte à divulgação da obra se esta for de natureza
e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará có- audiovisual ou fotográfica. Estes, por sua vez, abrangem,
digo de defesa do consumidor. basicamente, o direito de dispor sobre a reprodução, edi-
ção, adaptação, tradução, utilização, inclusão em bases de
A elaboração do Código de Defesa do Consumidor foi dados ou qualquer outra modalidade de utilização; sendo
um grande passo para a proteção da pessoa nas relações que estas modalidades de utilização podem se dar a título
de consumo que estabeleça, respeitando-se a condição de oneroso ou gratuito.
hipossuficiente técnico daquele que adquire um bem ou “Os direitos autorais, também conhecidos como co-
faz uso de determinado serviço, enquanto consumidor. pyright (direito de cópia), são considerados bens móveis,
podendo ser alienados, doados, cedidos ou locados. Res-
Propriedade intelectual salte-se que a permissão a terceiros de utilização de cria-
Além da propriedade material, o constituinte protege ções artísticas é direito do autor. [...] A proteção consti-
também a propriedade intelectual, notadamente no artigo tucional abrange o plágio e a contrafação. Enquanto que
5º, XXVII, XXVIII e XXIX, CF: o primeiro caracteriza-se pela difusão de obra criada ou
produzida por terceiros, como se fosse própria, a segunda
Artigo 5º, XXVII, CF. Aos autores pertence o direito ex- configura a reprodução de obra alheia sem a necessária
clusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas permissão do autor”28.
obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
- Direitos de acesso à justiça
Artigo 5º, XXVIII, CF. São assegurados, nos termos da lei: A formação de um conceito sistemático de acesso à
a) a proteção às participações individuais em obras justiça se dá com a teoria de Cappelletti e Garth, que apon-
coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, in- taram três ondas de acesso, isto é, três posicionamentos
clusive nas atividades desportivas; básicos para a realização efetiva de tal acesso. Tais ondas
b) o direito de fiscalização do aproveitamento eco- foram percebidas paulatinamente com a evolução do Di-
nômico das obras que criarem ou de que participarem aos reito moderno conforme implementadas as bases da onda
criadores, aos intérpretes e às respectivas representações anterior, quer dizer, ficou evidente aos autores a emergên-
sindicais e associativas; cia de uma nova onda quando superada a afirmação das
premissas da onda anterior, restando parcialmente imple-
Artigo 5º, XXIX, CF. A lei assegurará aos autores de in- mentada (visto que até hoje enfrentam-se obstáculos ao
ventos industriais privilégio temporário para sua utiliza- pleno atendimento em todas as ondas).
ção, bem como proteção às criações industriais, à proprie- Primeiro, Cappelletti e Garth29 entendem que surgiu
dade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos uma onda de concessão de assistência judiciária aos po-
distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvi- bres, partindo-se da prestação sem interesse de remunera-
mento tecnológico e econômico do País. ção por parte dos advogados e, ao final, levando à criação
de um aparato estrutural para a prestação da assistência
Assim, a propriedade possui uma vertente intelectual pelo Estado.
que deve ser respeitada, tanto sob o aspecto moral quanto Em segundo lugar, no entender de Cappelletti e Garth30,
sob o patrimonial. No âmbito infraconstitucional brasileiro, veio a onda de superação do problema na representação
a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, regulamenta os dos interesses difusos, saindo da concepção tradicional de
direitos autorais, isto é, “os direitos de autor e os que lhes processo como algo restrito a apenas duas partes indivi-
são conexos”. dualizadas e ocasionando o surgimento de novas institui-
O artigo 7° do referido diploma considera como obras ções, como o Ministério Público.
intelectuais que merecem a proteção do direito do autor Finalmente, Cappelletti e Garth31 apontam uma ter-
os textos de obras de natureza literária, artística ou científi- ceira onda consistente no surgimento de uma concepção
ca; as conferências, sermões e obras semelhantes; as obras mais ampla de acesso à justiça, considerando o conjunto
cinematográficas e televisivas; as composições musicais; de instituições, mecanismos, pessoas e procedimentos uti-
fotografias; ilustrações; programas de computador; coletâ- lizados: “[...] esse enfoque encoraja a exploração de uma
neas e enciclopédias; entre outras. ampla variedade de reformas, incluindo alterações nas for-
Os direitos morais do autor, que são imprescritíveis, mas de procedimento, mudanças na estrutura dos tribunais
inalienáveis e irrenunciáveis, envolvem, basicamente, o di-
reito de reivindicar a autoria da obra, ter seu nome divul- 28 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais:
teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da Constituição da Repú-
gado na utilização desta, assegurar a integridade desta ou
blica Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. São Paulo: Atlas,
modificá-la e retirá-la de circulação se esta passar a afron- 1997.
tar sua honra ou imagem. 29 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça.
Já os direitos patrimoniais do autor, nos termos dos ar- Tradução Ellen Grace Northfleet. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris
tigos 41 a 44 da Lei nº 9.610/98, prescrevem em 70 anos Editor, 1998, p. 31-32.
contados do primeiro ano seguinte à sua morte ou do 30 Ibid., p. 49-52
falecimento do último coautor, ou contados do primeiro 31 Ibid., p. 67-73

15
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

ou a criação de novos tribunais, o uso de pessoas leigas - Direitos constitucionais-penais


ou paraprofissionais, tanto como juízes quanto como de-
fensores, modificações no direito substantivo destinadas Juiz natural e vedação ao juízo ou tribunal de ex-
a evitar litígios ou facilitar sua solução e a utilização de ceção
mecanismos privados ou informais de solução dos litígios. Quando o artigo 5º, LIII, CF menciona:
Esse enfoque, em suma, não receia inovações radicais e
compreensivas, que vão muito além da esfera de repre- Artigo 5º, LIII, CF. Ninguém será processado nem sen-
sentação judicial”. tenciado senão pela autoridade competente”, consolida o
Assim, dentro da noção de acesso à justiça, diversos princípio do juiz natural que assegura a toda pessoa o direi-
aspectos podem ser destacados: de um lado, deve criar-se to de conhecer previamente daquele que a julgará no pro-
o Poder Judiciário e se disponibilizar meios para que todas cesso em que seja parte, revestindo tal juízo em jurisdição
as pessoas possam buscá-lo; de outro lado, não basta ga- competente para a matéria específica do caso antes mesmo
rantir meios de acesso se estes forem insuficientes, já que do fato ocorrer.
para que exista o verdadeiro acesso à justiça é necessário
que se aplique o direito material de maneira justa e célere. Por sua vez, um desdobramento deste princípio en-
Relacionando-se à primeira onda de acesso à justiça, contra-se no artigo 5º, XXXVII, CF:
prevê a Constituição em seu artigo 5º, XXXV:
Artigo 5º, XXXVII, CF. Não haverá juízo ou tribunal de
Artigo 5º, XXXV, CF. A lei não excluirá da apreciação do exceção.
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
Juízo ou Tribunal de Exceção é aquele especialmente
O princípio da inafastabilidade da jurisdição é o prin- criado para uma situação pretérita, bem como não reco-
cípio de Direito Processual Público subjetivo, também nhecido como legítimo pela Constituição do país.
cunhado como Princípio da Ação, em que a Constituição
garante a necessária tutela estatal aos conflitos ocorrentes Tribunal do júri
na vida em sociedade. Sempre que uma controvérsia for A respeito da competência do Tribunal do júri, prevê o
levada ao Poder Judiciário, preenchidos os requisitos de artigo 5º, XXXVIII, CF:
admissibilidade, ela será resolvida, independentemente de
haver ou não previsão específica a respeito na legislação. Artigo 5º, XXXVIII. É reconhecida a instituição do júri,
Também se liga à primeira onda de acesso à justiça, com a organização que lhe der a lei, assegurados:
no que tange à abertura do Judiciário mesmo aos menos a) a plenitude de defesa;
favorecidos economicamente, o artigo 5º, LXXIV, CF: b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
Artigo 5º, LXXIV, CF. O Estado prestará assistência jurí- d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos
dica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiên- contra a vida.
cia de recursos.
O Tribunal do Júri é formado por pessoas do povo, que
O constituinte, ciente de que não basta garantir o julgam os seus pares. Entende-se ser direito fundamental
acesso ao Poder Judiciário, sendo também necessária a o de ser julgado por seus iguais, membros da sociedade e
efetividade processual, incluiu pela Emenda Constitucional não magistrados, no caso de determinados crimes que por
nº 45/2004 o inciso LXXVIII ao artigo 5º da Constituição: sua natureza possuem fortes fatores de influência emo-
cional.
Artigo 5º, LXXVIII, CF. A todos, no âmbito judicial e ad- Plenitude da defesa envolve tanto a autodefesa quan-
ministrativo, são assegurados a razoável duração do pro- to a defesa técnica e deve ser mais ampla que a denomina-
cesso e os meios que garantam a celeridade de sua trami- da ampla defesa assegurada em todos os procedimentos
tação. judiciais e administrativos.
  Sigilo das votações envolve a realização de votações
Com o tempo se percebeu que não bastava garantir secretas, preservando a liberdade de voto dos que com-
o acesso à justiça se este não fosse célere e eficaz. Não põem o conselho que irá julgar o ato praticado.
significa que se deve acelerar o processo em detrimento A decisão tomada pelo conselho é soberana. Contudo,
de direitos e garantias assegurados em lei, mas sim que a soberania dos veredictos veda a alteração das decisões
é preciso proporcionar um trâmite que dure nem mais e dos jurados, não a recorribilidade dos julgamentos do Tri-
nem menos que o necessário para a efetiva realização da bunal do Júri para que seja procedido novo julgamento
justiça no caso concreto. uma vez cassada a decisão recorrida, haja vista preservar
o ordenamento jurídico pelo princípio do duplo grau de
jurisdição.

16
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Por fim, a competência para julgamento é dos crimes A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 define os crimes
dolosos (em que há intenção ou ao menos se assume o resultantes de preconceito de raça ou de cor. Contra eles
risco de produção do resultado) contra a vida, que são: não cabe fiança (pagamento de valor para deixar a prisão
homicídio, aborto, induzimento, instigação ou auxílio a provisória) e não se aplica o instituto da prescrição (perda
suicídio e infanticídio. Sua competência não é absoluta e é de pretensão de se processar/punir uma pessoa pelo de-
mitigada, por vezes, pela própria Constituição (artigos 29, curso do tempo).
X / 102, I, b) e c) / 105, I, a) / 108, I). Não obstante, preconiza ao artigo 5º, XLIII, CF:

Anterioridade e irretroatividade da lei Artigo 5º, XLIII, CF. A lei considerará crimes inafian-
O artigo 5º, XXXIX, CF preconiza: çáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
Artigo5º, XXXIX, CF. Não há crime sem lei anterior terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo
que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.
evitá-los, se omitirem.
É a consagração da regra do nullum crimen nulla poe-
Anistia, graça e indulto diferenciam-se nos seguintes
na sine praevia lege. Simultaneamente, se assegura o prin-
termos: a anistia exclui o crime, rescinde a condenação e
cípio da legalidade (ou reserva legal), na medida em que extingue totalmente a punibilidade, a graça e o indulto
não há crime sem lei que o defina, nem pena sem prévia apenas extinguem a punibilidade, podendo ser parciais; a
cominação legal, e o princípio da anterioridade, posto que anistia, em regra, atinge crimes políticos, a graça e o in-
não há crime sem lei anterior que o defina. dulto, crimes comuns; a anistia pode ser concedida pelo
Ainda no que tange ao princípio da anterioridade, Poder Legislativo, a graça e o indulto são de competência
tem-se o artigo 5º, XL, CF: exclusiva do Presidente da República; a anistia pode ser
concedida antes da sentença final ou depois da condena-
Artigo 5º, XL, CF. A lei penal não retroagirá, salvo para ção irrecorrível, a graça e o indulto pressupõem o trânsito
beneficiar o réu. em julgado da sentença condenatória; graça e o indulto
apenas extinguem a punibilidade, persistindo os efeitos do
O dispositivo consolida outra faceta do princípio da crime, apagados na anistia; graça é em regra individual e
anterioridade: se, por um lado, é necessário que a lei tenha solicitada, enquanto o indulto é coletivo e espontâneo.
definido um fato como crime e dado certo tratamento pe- Não cabe graça, anistia ou indulto (pode-se considerar
nal a este fato (ex.: pena de detenção ou reclusão, tempo que o artigo o abrange, pela doutrina majoritária) contra
de pena, etc.) antes que ele ocorra; por outro lado, se vier crimes de tortura, tráfico, terrorismo (TTT) e hediondos
uma lei posterior ao fato que o exclua do rol de crimes ou (previstos na Lei nº 8.072 de 25 de julho de 1990). Além
que confira tratamento mais benéfico (diminuindo a pena disso, são crimes que não aceitam fiança.
ou alterando o regime de cumprimento, notadamente), Por fim, prevê o artigo 5º, XLIV, CF:
ela será aplicada. Restam consagrados tanto o princípio da
irretroatividade da lei penal in pejus quanto o da retroati- Artigo 5º, XLIV, CF. Constitui crime inafiançável e im-
vidade da lei penal mais benéfica. prescritível a ação de grupos armados, civis ou militares,
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
Menções específicas a crimes
O artigo 5º, XLI, CF estabelece: Personalidade da pena
A personalidade da pena encontra respaldo no artigo
5º, XLV, CF:
Artigo 5º, XLI, CF. A lei punirá qualquer discriminação
atentatória dos direitos e liberdades fundamentais.
Artigo 5º, XLV, CF. Nenhuma pena passará da pessoa
do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
Sendo assim confere fórmula genérica que remete ao decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, es-
princípio da igualdade numa concepção ampla, razão pela tendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite
qual práticas discriminatórias não podem ser aceitas. No do valor do patrimônio transferido.
entanto, o constituinte entendeu por bem prever trata-
mento específico a certas práticas criminosas. O princípio da personalidade encerra o comando de o
Neste sentido, prevê o artigo 5º, XLII, CF: crime ser imputado somente ao seu autor, que é, por seu
turno, a única pessoa passível de sofrer a sanção. Seria fla-
Artigo 5º, XLII, CF. A prática do racismo constitui crime grante a injustiça se fosse possível alguém responder pelos
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, atos ilícitos de outrem: caso contrário, a reação, ao invés de
nos termos da lei. restringir-se ao malfeitor, alcançaria inocentes. Contudo, se
uma pessoa deixou patrimônio e faleceu, este patrimônio
responderá pelas repercussões financeiras do ilícito.

17
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Individualização da pena Vedação de determinadas penas


A individualização da pena tem por finalidade concre- O constituinte viu por bem proibir algumas espécies de
tizar o princípio de que a responsabilização penal é sempre penas, consoante ao artigo 5º, XLVII, CF:
pessoal, devendo assim ser aplicada conforme as peculiari-
dades do agente. Artigo 5º, XLVII, CF. não haverá penas:
A primeira menção à individualização da pena se en- a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos
contra no artigo 5º, XLVI, CF: termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
Artigo 5º, XLVI, CF. A lei regulará a individualização da c) de trabalhos forçados;
pena e adotará, entre outras, as seguintes: d) de banimento;
a) privação ou restrição da liberdade; e) cruéis.
b) perda de bens;
c) multa; Em resumo, o inciso consolida o princípio da humani-
d) prestação social alternativa; dade, pelo qual o “poder punitivo estatal não pode aplicar
e) suspensão ou interdição de direitos. sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que
lesionem a constituição físico-psíquica dos condenados”32 .
Pelo princípio da individualização da pena, a pena deve Quanto à questão da pena de morte, percebe-se que o
ser individualizada nos planos legislativo, judiciário e execu- constituinte não estabeleceu uma total vedação, autorizan-
tório, evitando-se a padronização a sanção penal. A indivi- do-a nos casos de guerra declarada. Obviamente, deve-se
dualização da pena significa adaptar a pena ao condenado, respeitar o princípio da anterioridade da lei, ou seja, a le-
consideradas as características do agente e do delito. gislação deve prever a pena de morte ao fato antes dele ser
A pena privativa de liberdade é aquela que restringe, praticado. No ordenamento brasileiro, este papel é cumpri-
com maior ou menor intensidade, a liberdade do condena- do pelo Código Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.001/1969),
do, consistente em permanecer em algum estabelecimento que prevê a pena de morte a ser executada por fuzilamento
prisional, por um determinado tempo.
nos casos tipificados em seu Livro II, que aborda os crimes
A pena de multa ou patrimonial opera uma diminuição
militares em tempo de guerra.
do patrimônio do indivíduo delituoso.
Por sua vez, estão absolutamente vedadas em quais-
A prestação social alternativa corresponde às penas
quer circunstâncias as penas de caráter perpétuo, de traba-
restritivas de direitos, autônomas e substitutivas das penas
lhos forçados, de banimento e cruéis.
privativas de liberdade, estabelecidas no artigo 44 do Có-
No que tange aos trabalhos forçados, vale destacar
digo Penal.
que o trabalho obrigatório não é considerado um trata-
Por seu turno, a individualização da pena deve também
mento contrário à dignidade do recluso, embora o trabalho
se fazer presente na fase de sua execução, conforme se de-
preende do artigo 5º, XLVIII, CF: forçado o seja. O trabalho é obrigatório, dentro das condi-
ções do apenado, não podendo ser cruel ou menosprezar
Artigo 5º, XLVIII, CF. A pena será cumprida em estabele- a capacidade física e intelectual do condenado; como o
cimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a trabalho não existe independente da educação, cabe in-
idade e o sexo do apenado. centivar o aperfeiçoamento pessoal; até mesmo porque o
trabalho deve se aproximar da realidade do mundo exter-
A distinção do estabelecimento conforme a natureza no, será remunerado; além disso, condições de dignidade e
do delito visa impedir que a prisão se torne uma faculdade segurança do trabalhador, como descanso semanal e equi-
do crime. Infelizmente, o Estado não possui aparato sufi- pamentos de proteção, deverão ser respeitados.
ciente para cumprir tal diretiva, diferenciando, no máximo, o
nível de segurança das prisões. Quanto à idade, destacam- Respeito à integridade do preso
se as Fundações Casas, para cumprimento de medida por Prevê o artigo 5º, XLIX, CF:
menores infratores. Quanto ao sexo, prisões costumam ser
exclusivamente para homens ou para mulheres. Artigo 5º, XLIX, CF. É assegurado aos presos o respeito
Também se denota o respeito à individualização da à integridade física e moral.
pena nesta faceta pelo artigo 5º, L, CF:
Obviamente, o desrespeito à integridade física e mo-
Artigo 5º, L, CF. Às presidiárias serão asseguradas con- ral do preso é uma violação do princípio da dignidade da
dições para que possam permanecer com seus filhos durante pessoa humana.
o período de amamentação. Dois tipos de tratamentos que violam esta integridade
estão mencionados no próprio artigo 5º da Constituição
Preserva-se a individualização da pena porque é toma- Federal. Em primeiro lugar, tem-se a vedação da tortura e
da a condição peculiar da presa que possui filho no período de tratamentos desumanos e degradantes (artigo 5º, III,
de amamentação, mas também se preserva a dignidade da CF), o que vale na execução da pena.
criança, não a afastando do seio materno de maneira precá- 32 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 16.
ria e impedindo a formação de vínculo pela amamentação. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1.

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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

No mais, prevê o artigo 5º, LVIII, CF: Presunção de inocência


Prevê a Constituição no artigo 5º, LVII:
Artigo 5º, LVIII, CF. O civilmente identificado não será
submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses Artigo 5º, LVII, CF. Ninguém será considerado culpado
previstas em lei. até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

Se uma pessoa possui identificação civil, não há por- Consolida-se o princípio da presunção de inocência,
que fazer identificação criminal, colhendo digitais, fotos, pelo qual uma pessoa não é culpada até que, em definitivo,
etc. Pensa-se que seria uma situação constrangedora des- o Judiciário assim decida, respeitados todos os princípios e
necessária ao suspeito, sendo assim, violaria a integridade garantias constitucionais.
moral.
Ação penal privada subsidiária da pública
Nos termos do artigo 5º, LIX, CF:
Devido processo legal, contraditório e ampla de-
fesa
Artigo 5º, LIX, CF. Será admitida ação privada nos cri-
Estabelece o artigo 5º, LIV, CF:
mes de ação pública, se esta não for intentada no prazo
legal.
Artigo 5º, LIV, CF. Ninguém será privado da liberdade
ou de seus bens sem o devido processo legal. A chamada ação penal privada subsidiária da pública
encontra respaldo constitucional, assegurando que a omis-
Pelo princípio do devido processo legal a legislação são do poder público na atividade de persecução criminal
deve ser respeitada quando o Estado pretender punir al- não será ignorada, fornecendo-se instrumento para que o
guém judicialmente. Logo, o procedimento deve ser livre interessado a proponha.
de vícios e seguir estritamente a legislação vigente, sob
pena de nulidade processual. Prisão e liberdade
Surgem como corolário do devido processo legal o O constituinte confere espaço bastante extenso no ar-
contraditório e a ampla defesa, pois somente um procedi- tigo 5º em relação ao tratamento da prisão, notadamente
mento que os garanta estará livre dos vícios. Neste senti- por se tratar de ato que vai contra o direito à liberdade.
do, o artigo 5º, LV, CF: Obviamente, a prisão não é vedada em todos os casos, por-
que práticas atentatórias a direitos fundamentais implicam
Artigo 5º, LV, CF. Aos litigantes, em processo judicial ou na tipificação penal, autorizando a restrição da liberdade
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o daquele que assim agiu.
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a No inciso LXI do artigo 5º, CF, prevê-se:
ela inerentes.
Artigo 5º, LXI, CF. Ninguém será preso senão em fla-
O devido processo legal possui a faceta formal, pela grante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
qual se deve seguir o adequado procedimento na apli- autoridade judiciária competente, salvo nos casos de trans-
cação da lei e, sendo assim, respeitar o contraditório e a gressão militar ou crime propriamente militar, definidos em
ampla defesa. Não obstante, o devido processo legal tem lei.
sua faceta material que consiste na tomada de decisões
justas, que respeitem os parâmetros da razoabilidade e da Logo, a prisão somente se dará em caso de flagran-
te delito (necessariamente antes do trânsito em julgado),
proporcionalidade.
ou em caráter temporário, provisório ou definitivo (as duas
primeiras independente do trânsito em julgado, preenchi-
Vedação de provas ilícitas
dos requisitos legais e a última pela irreversibilidade da
Conforme o artigo 5º, LVI, CF:
condenação).
Aborda-se no artigo 5º, LXII o dever de comunicação
Artigo 5º, LVI, CF. São inadmissíveis, no processo, as ao juiz e à família ou pessoa indicada pelo preso:
provas obtidas por meios ilícitos.
Artigo 5º, LXII, CF. A prisão de qualquer pessoa e o lo-
Provas ilícitas, por força da nova redação dada ao arti- cal onde se encontre serão comunicados imediatamente ao
go 157 do CPP, são as obtidas em violação a normas cons- juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele
titucionais ou legai, ou seja, prova ilícita é a que viola regra indicada.
de direito material, constitucional ou legal, no momento
da sua obtenção. São vedadas porque não se pode aceitar Não obstante, o preso deverá ser informado de todos
o descumprimento do ordenamento para fazê-lo cumprir: os seus direitos, inclusive o direito ao silêncio, podendo
seria paradoxal. entrar em contato com sua família e com um advogado,
conforme artigo 5º, LXIII, CF:

19
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Artigo 5º, LXIII, CF. O preso será informado de seus direi- 6) Tratados internacionais incorporados ao ordena-
tos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe asse- mento interno
gurada a assistência da família e de advogado. Estabelece o artigo 5º, § 2º, CF que os direitos e garan-
tias podem decorrer, dentre outras fontes, dos “tratados
Estabelece-se no artigo 5º, LXIV, CF: internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte”.
Artigo 5º, LXIV, CF. O preso tem direito à identificação Para o tratado internacional ingressar no ordenamen-
dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório po- to jurídico brasileiro deve ser observado um procedimento
licial. complexo, que exige o cumprimento de quatro fases: a ne-
gociação (bilateral ou multilateral, com posterior assinatura
Por isso mesmo, o auto de prisão em flagrante e a ata do Presidente da República), submissão do tratado assina-
do depoimento do interrogatório são assinados pelas auto- do ao Congresso Nacional (que dará referendo por meio
ridades envolvidas nas práticas destes atos procedimentais. do decreto legislativo), ratificação do tratado (confirmação
Ainda, a legislação estabelece inúmeros requisitos para da obrigação perante a comunidade internacional) e a pro-
que a prisão seja validada, sem os quais cabe relaxamento, mulgação e publicação do tratado pelo Poder Executivo33.
tanto que assim prevê o artigo 5º, LXV, CF: Notadamente, quando o constituinte menciona os tratados
internacionais no §2º do artigo 5º refere-se àqueles que
Artigo 5º, LXV, CF. A prisão ilegal será imediatamente tenham por fulcro ampliar o rol de direitos do artigo 5º, ou
relaxada pela autoridade judiciária. seja, tratado internacional de direitos humanos.
O §1° e o §2° do artigo 5° existiam de maneira originá-
Desta forma, como decorrência lógica, tem-se a previ- ria na Constituição Federal, conferindo o caráter de prima-
são do artigo 5º, LXVI, CF: zia dos direitos humanos, desde logo consagrando o prin-
cípio da primazia dos direitos humanos, como reconhecido
Artigo 5º, LXVI, CF. Ninguém será levado à prisão ou nela pela doutrina e jurisprudência majoritários na época. “O
mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com princípio da primazia dos direitos humanos nas relações
ou sem fiança. internacionais implica em que o Brasil deve incorporar os
tratados quanto ao tema ao ordenamento interno brasilei-
Mesmo que a pessoa seja presa em flagrante, devido ro e respeitá-los. Implica, também em que as normas vol-
ao princípio da presunção de inocência, entende-se que ela tadas à proteção da dignidade em caráter universal devem
não deve ser mantida presa quando não preencher os re- ser aplicadas no Brasil em caráter prioritário em relação a
quisitos legais para prisão preventiva ou temporária. outras normas”34.
Regra geral, os tratados internacionais comuns ingres-
Indenização por erro judiciário sam com força de lei ordinária no ordenamento jurídico
A disciplina sobre direitos decorrentes do erro judiciário brasileiro porque somente existe previsão constitucional
encontra-se no artigo 5º, LXXV, CF: quanto à possibilidade da equiparação às emendas consti-
tucionais se o tratado abranger matéria de direitos huma-
Artigo 5º, LXXV, CF. O Estado indenizará o condenado nos. Antes da emenda alterou o quadro quanto aos trata-
por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do dos de direitos humanos, era o que acontecia, mas isso não
tempo fixado na sentença. significa que tais direitos eram menos importantes devido
ao princípio da primazia e ao reconhecimento dos direitos
Trata-se do erro em que incorre um juiz na apreciação e implícitos.
julgamento de um processo criminal, resultando em conde- Por seu turno, com o advento da Emenda Constitucio-
nação de alguém inocente. Neste caso, o Estado indenizará. nal nº 45/04 se introduziu o §3º ao artigo 5º da Consti-
Ele também indenizará uma pessoa que ficar presa além do tuição Federal, de modo que os tratados internacionais de
tempo que foi condenada a cumprir. direitos humanos foram equiparados às emendas consti-
tucionais, desde que houvesse a aprovação do tratado em
5) Direitos fundamentais implícitos cada Casa do Congresso Nacional e obtivesse a votação em
Nos termos do § 2º do artigo 5º da Constituição Fede- dois turnos e com três quintos dos votos dos respectivos
ral: membros:

Artigo 5º, §2º, CF. Os direitos e garantias expressos nesta Art. 5º, § 3º, CF. Os tratados e convenções interna-
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos cionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
em que a República Federativa do Brasil seja parte. quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalen-
tes às emendas constitucionais. 
Daí se depreende que os direitos ou garantias podem 33 VICENTE SOBRINHO, Benedito. Direitos Fundamentais e
estar expressos ou implícitos no texto constitucional. Sendo Prisão Civil. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 2008.
assim, o rol enumerado nos incisos do artigo 5º é apenas 34 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacio-
exemplificativo, não taxativo. nal Público e Privado. Salvador: JusPodivm, 2009.

20
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Logo, a partir da alteração constitucional, os tratados Remédios constitucionais


de direitos humanos que ingressarem no ordenamento ju- Remédios constitucionais são as espécies de ações ju-
rídico brasileiro, versando sobre matéria de direitos huma- diciárias que visam proteger os direitos fundamentais re-
nos, irão passar por um processo de aprovação semelhante conhecidos no texto constitucional quando a declaração e
ao da emenda constitucional. a garantia destes não se mostrar suficiente. Assim, o Poder
Contudo, há posicionamentos conflituosos quanto à Judiciário será acionado para sanar o desrespeito a estes
possibilidade de considerar como hierarquicamente cons- direitos fundamentais, servindo cada espécie de ação para
titucional os tratados internacionais de direitos humanos uma forma de violação.
que ingressaram no ordenamento jurídico brasileiro ante-
riormente ao advento da referida emenda. Tal discussão se 1) Habeas corpus
deu com relação à prisão civil do depositário infiel, prevista No que tange à disciplina do habeas corpus, prevê a
como legal na Constituição e ilegal no Pacto de São José Constituição em seu artigo 5º, LXVIII:
da Costa Rica (tratado de direitos humanos aprovado antes
da EC nº 45/04), sendo que o Supremo Tribunal Federal Artigo 5º, LXVIII, CF. Conceder-se-á habeas corpus sempre
firmou o entendimento pela supralegalidade do tratado de que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência
direitos humanos anterior à Emenda (estaria numa posição ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou
que paralisaria a eficácia da lei infraconstitucional, mas não abuso de poder.
revogaria a Constituição no ponto controverso).
Trata-se de ação gratuita, nos termos do artigo 5º, LXXVII, CF.
7) Tribunal Penal Internacional a) Antecedentes históricos: A Magna Carta inglesa, de
Preconiza o artigo 5º, CF em seu § 4º: 1215, foi o primeiro documento a mencionar este remédio e
o Habeas Corpus Act, de 1679, o regulamentou.
Artigo 5º, §4º, CF. O Brasil se submete à jurisdição de b) Escopo: ação que serve para proteger a liberdade de
Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifes- locomoção. Antes de haver proteção no Brasil por outros re-
médios constitucionais de direitos que não este, o habeas-
tado adesão.
corpus foi utilizado para protegê-los. Hoje, apenas serve à
 
lesão ou ameaça de lesão ao direito de ir e vir.
O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional foi
c) Natureza jurídica: ação constitucional de cunho pre-
promulgado no Brasil pelo Decreto nº 4.388 de 25 de se-
dominantemente penal, pois protege o direito de ir e vir e
tembro de 2002. Ele contém 128 artigos e foi elaborado em
vai contra a restrição arbitrária da liberdade.
Roma, no dia 17 de julho de 1998, regendo a competência
d) Espécies: preventivo, para os casos de ameaça de vio-
e o funcionamento deste Tribunal voltado às pessoas res-
lação ao direito de ir e vir, conferindo-se um “salvo conduto”,
ponsáveis por crimes de maior gravidade com repercussão ou repressivo, para quando ameaça já tiver se materializado.
internacional (artigo 1º, ETPI). e) Legitimidade ativa: qualquer pessoa pode manejá
“Ao contrário da Corte Internacional de Justiça, cuja ju- -lo, em próprio nome ou de terceiro, bem como o Ministério
risdição é restrita a Estados, ao Tribunal Penal Internacional Público (artigo 654, CPP). Impetrante é o que ingressa com a
compete o processo e julgamento de violações contra indi- ação e paciente é aquele que está sendo vítima da restrição
víduos; e, distintamente dos Tribunais de crimes de guerra à liberdade de locomoção. As duas figuras podem se con-
da Iugoslávia e de Ruanda, criados para analisarem crimes centrar numa mesma pessoa.
cometidos durante esses conflitos, sua jurisdição não está f) Legitimidade passiva: pessoa física, agente público
restrita a uma situação específica”35. ou privado.
Resume Mello36: “a Conferência das Nações Unidas so- g) Competência: é determinada pela autoridade coa-
bre a criação de uma Corte Criminal Internacional, reunida tora, sendo a autoridade imediatamente superior a ela. Ex.:
em Roma, em 1998, aprovou a referida Corte. Ela é perma- Delegado de Polícia é autoridade coatora, propõe na Vara
nente. Tem sede em Haia. A corte tem personalidade inter- Criminal Estadual; Juiz de Direito de uma Vara Criminal é a
nacional. Ela julga: a) crime de genocídio; b) crime contra autoridade coatora, impetra no Tribunal de Justiça.
a humanidade; c) crime de guerra; d) crime de agressão. h) Conceito de coação ilegal: encontra-se no artigo
Para o crime de genocídio usa a definição da convenção 648, CPP:
de 1948. Como crimes contra a humanidade são citados:
assassinato, escravidão, prisão violando as normas inter- Artigo 648, CPP. A coação considerar-se-á ilegal: I - quan-
nacionais, violação tortura, apartheid, escravidão sexual, do não houver justa causa; II - quando alguém estiver preso
prostituição forçada, esterilização, etc. São crimes de guer- por mais tempo do que determina a lei; III - quando quem
ra: homicídio internacional, destruição de bens não justifi- ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo; IV -
cada pela guerra, deportação, forçar um prisioneiro a servir quando houver cessado o motivo que autorizou a coação; V
nas forças inimigas, etc.”. - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos
em que a lei a autoriza; VI - quando o processo for manifesta-
35 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito Internacional Público & mente nulo; VII - quando extinta a punibilidade.
Direito Internacional Privado. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
36 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito Inter- i) Procedimento: regulamentado nos artigos 647 a 667
nacional Público. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. do Código de Processo Penal.

21
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

2) Habeas data c) Natureza jurídica: ação constitucional de natureza ci-


O artigo 5º, LXXII, CF prevê: vil, independente da natureza do ato impugnado (administra-
tivo, jurisdicional, eleitoral, criminal, trabalhista).
Artigo 5º, LXXII, CF. Conceder-se-á habeas data: a) para d) Espécies: preventivo, quando se estiver na iminência
assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa de violação a direito líquido e certo, ou reparatório, quando já
do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de consumado o abuso/ilegalidade.
entidades governamentais ou de caráter público; b) para a re- e) Direito líquido e certo: é aquele que pode ser de-
tificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo monstrado de plano mediante prova pré-constituída, sem a
sigiloso, judicial ou administrativo. necessidade de dilação probatória, isto devido à natureza cé-
lere e sumária do procedimento.
Tal como o habeas corpus, trata-se de ação gratuita (arti- f) Legitimidade ativa: a mais ampla possível, abrangen-
go 5º, LXXVII, CF). do não só a pessoa física como a jurídica, nacional ou estran-
a) Antecedente histórico: Freedom of Information Act, de geira, residente ou não no Brasil, bem como órgãos públicos
1974. despersonalizados e universalidades/pessoas formais reco-
b) Escopo: proteção do acesso a informações pessoais nhecidas por lei.
constantes de registros ou bancos de dados de entidades go- g) Legitimidade passiva: A autoridade coatora deve ser
vernamentais ou de caráter público, para o conhecimento ou autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício
retificação (correção). de atribuições do Poder Público. Neste viés, o art. 6º, §3º, Lei
c) Natureza jurídica: ação constitucional que tutela o nº 12.016/09, preceitua que “considera-se autoridade coato-
acesso a informações pessoais. ra aquela que tenha praticado o ato impugnado ou da qual
d) Legitimidade ativa: pessoa física, brasileira ou estran- emane a ordem para a sua prática”.
geira, ou por pessoa jurídica, de direito público ou privado, h) Competência: Fixada de acordo com a autoridade
tratando-se de ação personalíssima – os dados devem ser a coatora.
respeito da pessoa que a propõe. i) Regulamentação específica: Lei nº 12.016, de 07 de
e) Legitimidade passiva: entidades governamentais da agosto de 2009.
Administração Pública Direta e Indireta nas três esferas, bem j) Procedimento: artigos 6º a 19 da Lei nº 12.016/09.
como instituições, órgãos, entidades e pessoas jurídicas pri-
vadas prestadores de serviços de interesse público que pos- 4) Mandado de segurança coletivo
suam dados relativos à pessoa do impetrante. A Constituição Federal prevê a possibilidade de ingresso com
f) Competência: Conforme o caso, nos termos da Consti- mandado de segurança coletivo, consoante ao artigo 5º, LXX:
tuição, do Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, “d”), do Supe-
rior Tribunal de Justiça (art. 105, I, “b”), dos Tribunais Regionais Artigo 5º, LXX, CF. O mandado de segurança coletivo pode
Federais (art. 108, I, “c”), bem como dos juízes federais (art. ser impetrado por: a) partido político com representação no
109, VIII). Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe
g) Regulamentação específica: Lei nº 9.507, de 12 de ou associação legalmente constituída e em funcionamento há
novembro de 1997. pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros
h) Procedimento: artigos 8º a 19 da Lei nº 9.507/1997. ou associados.

3) Mandado de segurança individual a) Origem: Constituição Federal de 1988.


Dispõe a Constituição no artigo 5º, LXIX: b) Escopo: preservação ou reparação de direito líquido
e certo relacionado a interesses transindividuais (individuais
Artigo 5º, LXIX, CF. Conceder-se-á mandado de seguran- homogêneos ou coletivos), e devido à questão da legitimi-
ça para proteger direito líquido e certo, não amparado por dade ativa, pertencente a partidos políticos e determinadas
habeas-corpus ou habeas-data, quando o responsável pela ile- associações.
galidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente c) Natureza jurídica: ação constitucional de natureza ci-
de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. vil, independente da natureza do ato, de caráter coletivo.
d) Objeto: o objeto do mandado de segurança coletivo
a) Origem: Veio com a finalidade de preencher a lacuna são os direitos coletivos e os direitos individuais homogêneos.
decorrente da sistemática do habeas corpus e das liminares Tal instituto não se presta à proteção dos direitos difusos, con-
possessórias. forme posicionamento amplamente majoritário, já que, dada
b) Escopo: Trata-se de remédio constitucional com na- sua difícil individualização, fica improvável a verificação da
tureza subsidiária pelo qual se busca a invalidação de atos de ilegalidade ou do abuso do poder sobre tal direito (art. 21,
autoridade ou a suspensão dos efeitos da omissão adminis- parágrafo único, Lei nº 12.016/09).
trativa, geradores de lesão a direito líquido e certo, por ilega- e) Legitimidade ativa: como se extrai da própria discipli-
lidade ou abuso de poder. São protegidos todos os direitos na constitucional, aliada ao artigo 21 da Lei nº 12.016/09, é de
líquidos e certos à exceção da proteção de direitos humanos partido político com representação no Congresso Nacional,
à liberdade de locomoção e ao acesso ou retificação de infor- bem como de organização sindical, entidade de classe ou as-
mações relativas à pessoa do impetrante, constantes de re- sociação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo
gistros ou bancos de dados de entidades governamentais ou menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos
de caráter público, ambos sujeitos a instrumentos específicos. que atinjam diretamente seus interesses ou de seus membros.

22
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

f) Disciplina específica na Lei nº 12.016/09: 6) Ação popular


Prevê o artigo 5º, LXXIII, CF:
Art. 22, Lei nº 12.016/09. No mandado de segurança co-
letivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente aos mem- Artigo 5º, LXXIII, CF. Qualquer cidadão é parte legítima para
bros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante. propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio
§ 1º O mandado de segurança coletivo não induz litis- público ou de entidade de que o Estado participe, à moralida-
pendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa de administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico
julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de
não requerer a desistência de seu mandado de segurança no custas judiciais e do ônus da sucumbência.
prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da
impetração da segurança coletiva. a) Origem: Constituição Federal de 1934.
§ 2º No mandado de segurança coletivo, a liminar só b) Escopo: é instrumento de exercício direto da demo-
poderá ser concedida após a audiência do representante cracia, permitindo ao cidadão que busque a proteção da coisa
judicial da pessoa jurídica de direito público, que deverá se pública, ou seja, que vise assegurar a preservação dos interes-
pronunciar no prazo de 72 (setenta e duas) horas. ses transindividuais.
c) Natureza jurídica: trata-se de ação constitucional, que
5) Mandado de injunção visa anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de
Regulamenta o artigo 5º, LXXI, CF: que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural
Artigo 5º, LXXI, CF. Conceder-se-á mandado de injunção d) Legitimidade ativa: deve ser cidadão, ou seja, aquele
sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável nacional que esteja no pleno gozo dos direitos políticos.
o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prer- e) Legitimidade passiva: ente da Administração Públi-
rogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. ca, direta ou indireta, ou então pessoa jurídica que de algum
modo lide com a coisa pública.
a) Escopo: os dois requisitos constitucionais para que seja f) Competência: Será fixada de acordo com a origem
proposto o mandado de injunção são a existência de norma do ato ou omissão a serem impugnados (artigo 5º, Lei nº
constitucional de eficácia limitada que prescreva direitos, liber- 4.717/65).
dades constitucionais e prerrogativas inerentes à nacionalida- g) Regulamentação específica: Lei nº 4.717, de 29 de ju-
de, à soberania e à cidadania; além da falta de norma regu- nho de 1965.
lamentadores, impossibilitando o exercício dos direitos, liber- h) Procedimento: artigos 7º a 19, Lei nº 4.717/65.
dades e prerrogativas em questão. Assim, visa curar o hábito
que se incutiu no legislador brasileiro de não regulamentar as
normas de eficácia limitada para que elas não sejam aplicáveis. CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA BAHIA,
b) Natureza jurídica: ação constitucional que objetiva a (CAP. XXIII “DO NEGRO”).
regulamentação de normas constitucionais de eficácia limitada.
c) Legitimidade ativa: qualquer pessoa, nacional ou es-
trangeira, física ou jurídica, capaz ou incapaz, que titularize di-
reito fundamental não materializável por omissão legislativa CAPÍTULO XXIII – 
do Poder público, bem como o Ministério Público na defesa DO NEGRO
de seus interesses institucionais. Não se aceita a legitimidade
ativa de pessoas jurídicas de direito público. Art. 286 - A sociedade baiana é cultural e historicamente
d) Competência: Supremo Tribunal Federal, quando a marcada pela presença da comunidade afro-brasileira, consti-
elaboração de norma regulamentadora for atribuição do Pre- tuindo a prática do racismo crime inafiançável e imprescritível,
sidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos sujeito a pena de reclusão, nos termos da Constituição Federal.
Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Art. 287 - Com países que mantiverem política oficial de
Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos discriminação racial, o Estado não poderá:
Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal I - admitir participação, ainda que indireta, através de em-
(art. 102, I, “q”, CF); ao Superior Tribunal de Justiça, quando a presas neles sediadas, em qualquer processo licitatório da Ad-
elaboração da norma regulamentadora for atribuição de ór- ministração Pública direta ou indireta;
gão, entidade ou autoridade federal, da administração direta II - manter intercâmbio cultural ou desportivo, através de
ou indireta, excetuados os casos da competência do Supre- delegações oficiais.
mo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Art. 288 - A rede estadual de ensino e os cursos de forma-
Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal (art. 105, ção e aperfeiçoamento do servidor público civil e militar inclui-
I, “h”, CF); ao Tribunal Superior Eleitoral, quando as decisões rão em seus programas disciplina que valorize a participação
dos Tribunais Regionais Eleitorais denegarem habeas corpus, do negro na formação histórica da sociedade brasileira.
mandado de segurança, habeas data ou mandado de injun- Art. 289 - Sempre que for veiculada publicidade estadual
ção (art. 121, §4º, V, CF); e aos Tribunais de Justiça Estaduais, com mais de duas pessoas, será assegurada a inclusão de uma
frente aos entes a ele vinculados. da raça negra.
e) Procedimento: Regulamentado pela Lei nº Art. 290 - O dia 20 de novembro será considerado, no ca-
13.300/2016. lendário oficial, como Dia da Consciência Negra.

23
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Art. 3o  Além das normas constitucionais relativas aos


LEI FEDERAL N° 12.288, DE 20 DE JULHO DE princípios fundamentais, aos direitos e garantias funda-
2010 (ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL). mentais e aos direitos sociais, econômicos e culturais, o
Estatuto da Igualdade Racial adota como diretriz político-
jurídica a inclusão das vítimas de desigualdade étnico-ra-
cial, a valorização da igualdade étnica e o fortalecimento
LEI Nº 12.288, DE 20 DE JULHO DE 2010. da identidade nacional brasileira.
Art. 4o  A participação da população negra, em con-
Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis dição de igualdade de oportunidade, na vida econômica,
nos 7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de 13 de abril social, política e cultural do País será promovida, priorita-
de 1995, 7.347, de 24 de julho de 1985, e 10.778, de 24 de riamente, por meio de:
novembro de 2003. I - inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento
econômico e social;
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- II - adoção de medidas, programas e políticas de ação
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: afirmativa;
III - modificação das estruturas institucionais do Estado
TÍTULO I para o adequado enfrentamento e a superação das desi-
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES gualdades étnicas decorrentes do preconceito e da discri-
minação étnica;
Art. 1o  Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, IV - promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar
destinado a garantir à população negra a efetivação da o combate à discriminação étnica e às desigualdades étni-
igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos cas em todas as suas manifestações individuais, institucio-
individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação nais e estruturais;
e às demais formas de intolerância étnica. V - eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais
e institucionais que impedem a representação da diversi-
Parágrafo único.  Para efeito deste Estatuto, considera-
dade étnica nas esferas pública e privada;
se:
VI - estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas
I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distin-
oriundas da sociedade civil direcionadas à promoção da
ção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça,
igualdade de oportunidades e ao combate às desigualda-
cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha
des étnicas, inclusive mediante a implementação de incen-
por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou
tivos e critérios de condicionamento e prioridade no acesso
exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos
aos recursos públicos;
e liberdades fundamentais nos campos político, econômi- VII - implementação de programas de ação afirmativa
co, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida destinados ao enfrentamento das desigualdades étnicas no
pública ou privada; tocante à educação, cultura, esporte e lazer, saúde, segu-
II - desigualdade racial: toda situação injustificada de rança, trabalho, moradia, meios de comunicação de massa,
diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e opor- financiamentos públicos, acesso à terra, à Justiça, e outros.
tunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de Parágrafo único.  Os programas de ação afirmativa
raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica; constituir-se-ão em políticas públicas destinadas a reparar
III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente as distorções e desigualdades sociais e demais práticas dis-
no âmbito da sociedade que acentua a distância social en- criminatórias adotadas, nas esferas pública e privada, du-
tre mulheres negras e os demais segmentos sociais; rante o processo de formação social do País.
IV - população negra: o conjunto de pessoas que se Art. 5o  Para a consecução dos objetivos desta Lei, é
autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou instituído o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade
raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia Racial (Sinapir), conforme estabelecido no Título III.
e Estatística (IBGE), ou que adotam auto definição análoga;
V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas TÍTULO II
adotados pelo Estado no cumprimento de suas atribuições DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
institucionais; CAPÍTULO I
VI - ações afirmativas: os programas e medidas espe- DO DIREITO À SAÚDE
ciais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a
correção das desigualdades raciais e para a promoção da Art. 6o  O direito à saúde da população negra será ga-
igualdade de oportunidades. rantido pelo poder público mediante políticas universais,
Art. 2o  É dever do Estado e da sociedade garantir a sociais e econômicas destinadas à redução do risco de
igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo cida- doenças e de outros agravos.
dão brasileiro, independentemente da etnia ou da cor da § 1o  O acesso universal e igualitário ao Sistema Único
pele, o direito à participação na comunidade, especialmen- de Saúde (SUS) para promoção, proteção e recuperação da
te nas atividades políticas, econômicas, empresariais, edu- saúde da população negra será de responsabilidade dos
cacionais, culturais e esportivas, defendendo sua dignidade órgãos e instituições públicas federais, estaduais, distritais
e seus valores religiosos e culturais. e municipais, da administração direta e indireta.

24
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

§ 2o  O poder público garantirá que o segmento da III - desenvolvimento de campanhas educativas, inclu-
população negra vinculado aos seguros privados de saúde sive nas escolas, para que a solidariedade aos membros da
seja tratado sem discriminação. população negra faça parte da cultura de toda a sociedade;
Art. 7o  O conjunto de ações de saúde voltadas à popu- IV - implementação de políticas públicas para o forta-
lação negra constitui a Política Nacional de Saúde Integral lecimento da juventude negra brasileira.
da População Negra, organizada de acordo com as diretri-
zes abaixo especificadas: Seção II
I - ampliação e fortalecimento da participação de li- Da Educação
deranças dos movimentos sociais em defesa da saúde da
população negra nas instâncias de participação e controle Art. 11.  Nos estabelecimentos de ensino fundamental
social do SUS; e de ensino médio, públicos e privados, é obrigatório o es-
II - produção de conhecimento científico e tecnológico tudo da história geral da África e da história da população
em saúde da população negra; negra no Brasil, observado o disposto na Lei no 9.394, de 20
III - desenvolvimento de processos de informação, co- de dezembro de 1996.
municação e educação para contribuir com a redução das § 1o  Os conteúdos referentes à história da população
vulnerabilidades da população negra. negra no Brasil serão ministrados no âmbito de todo o cur-
Art. 8o  Constituem objetivos da Política Nacional de rículo escolar, resgatando sua contribuição decisiva para o
Saúde Integral da População Negra: desenvolvimento social, econômico, político e cultural do
I - a promoção da saúde integral da população negra, País.
priorizando a redução das desigualdades étnicas e o com- § 2o  O órgão competente do Poder Executivo fomenta-
bate à discriminação nas instituições e serviços do SUS; rá a formação inicial e continuada de professores e a elabo-
II - a melhoria da qualidade dos sistemas de informa- ração de material didático específico para o cumprimento
ção do SUS no que tange à coleta, ao processamento e à do disposto no caput deste artigo.
análise dos dados desagregados por cor, etnia e gênero; § 3o  Nas datas comemorativas de caráter cívico, os ór-
III - o fomento à realização de estudos e pesquisas so- gãos responsáveis pela educação incentivarão a participa-
bre racismo e saúde da população negra; ção de intelectuais e representantes do movimento negro
IV - a inclusão do conteúdo da saúde da população para debater com os estudantes suas vivências relativas ao
negra nos processos de formação e educação permanente tema em comemoração.
dos trabalhadores da saúde; Art. 12.  Os órgãos federais, distritais e estaduais de fo-
V - a inclusão da temática saúde da população negra mento à pesquisa e à pós-graduação poderão criar incen-
nos processos de formação política das lideranças de mo- tivos a pesquisas e a programas de estudo voltados para
vimentos sociais para o exercício da participação e controle temas referentes às relações étnicas, aos quilombos e às
social no SUS. questões pertinentes à população negra.
Parágrafo único.  Os moradores das comunidades de Art. 13.  O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos
remanescentes de quilombos serão beneficiários de incen- competentes, incentivará as instituições de ensino superior
tivos específicos para a garantia do direito à saúde, incluin- públicas e privadas, sem prejuízo da legislação em vigor, a:
do melhorias nas condições ambientais, no saneamento I - resguardar os princípios da ética em pesquisa e
básico, na segurança alimentar e nutricional e na atenção apoiar grupos, núcleos e centros de pesquisa, nos diversos
integral à saúde. programas de pós-graduação que desenvolvam temáticas
de interesse da população negra;
CAPÍTULO II II - incorporar nas matrizes curriculares dos cursos de
DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPOR- formação de professores temas que incluam valores con-
TE E AO LAZER cernentes à pluralidade étnica e cultural da sociedade bra-
Seção I sileira;
Disposições Gerais III - desenvolver programas de extensão universitária
destinados a aproximar jovens negros de tecnologias avan-
Art. 9o  A população negra tem direito a participar de çadas, assegurado o princípio da proporcionalidade de gê-
atividades educacionais, culturais, esportivas e de lazer nero entre os beneficiários;
adequadas a seus interesses e condições, de modo a con- IV - estabelecer programas de cooperação técnica, nos
tribuir para o patrimônio cultural de sua comunidade e da estabelecimentos de ensino públicos, privados e comuni-
sociedade brasileira. tários, com as escolas de educação infantil, ensino funda-
Art. 10.  Para o cumprimento do disposto no art. 9o, os mental, ensino médio e ensino técnico, para a formação
governos federal, estaduais, distrital e municipais adotarão docente baseada em princípios de equidade, de tolerância
as seguintes providências: e de respeito às diferenças étnicas.
I - promoção de ações para viabilizar e ampliar o aces- Art. 14.  O poder público estimulará e apoiará ações
so da população negra ao ensino gratuito e às atividades socioeducacionais realizadas por entidades do movimento
esportivas e de lazer; negro que desenvolvam atividades voltadas para a inclusão
II - apoio à iniciativa de entidades que mantenham es- social, mediante cooperação técnica, intercâmbios, convê-
paço para promoção social e cultural da população negra; nios e incentivos, entre outros mecanismos.

25
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Art. 15.  O poder público adotará programas de ação CAPÍTULO III


afirmativa. DO DIREITO À LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE
Art. 16.  O Poder Executivo federal, por meio dos ór- CRENÇA E AO LIVRE EXERCÍCIO DOS CULTOS RELIGIO-
gãos responsáveis pelas políticas de promoção da igualda- SOS
de e de educação, acompanhará e avaliará os programas
de que trata esta Seção. Art. 23.  É inviolável a liberdade de consciência e de
crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos reli-
Seção III giosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de
Da Cultura culto e a suas liturgias.
Art. 24.  O direito à liberdade de consciência e de cren-
Art. 17.  O poder público garantirá o reconhecimento ça e ao livre exercício dos cultos religiosos de matriz africa-
das sociedades negras, clubes e outras formas de manifes- na compreende:
tação coletiva da população negra, com trajetória histórica I - a prática de cultos, a celebração de reuniões rela-
comprovada, como patrimônio histórico e cultural, nos ter- cionadas à religiosidade e a fundação e manutenção, por
mos dos arts. 215 e 216 da Constituição Federal. iniciativa privada, de lugares reservados para tais fins;
Art. 18.  É assegurado aos remanescentes das comuni- II - a celebração de festividades e cerimônias de acordo
dades dos quilombos o direito à preservação de seus usos, com preceitos das respectivas religiões;
costumes, tradições e manifestos religiosos, sob a proteção III - a fundação e a manutenção, por iniciativa privada,
do Estado. de instituições beneficentes ligadas às respectivas convic-
Parágrafo único.  A preservação dos documentos e dos ções religiosas;
sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos IV - a produção, a comercialização, a aquisição e o uso
quilombos, tombados nos termos do  § 5o do art. 216 da de artigos e materiais religiosos adequados aos costumes
Constituição Federal, receberá especial atenção do poder e às práticas fundadas na respectiva religiosidade, ressalva-
público. das as condutas vedadas por legislação específica;
Art. 19.  O poder público incentivará a celebração das V - a produção e a divulgação de publicações relacio-
personalidades e das datas comemorativas relacionadas à nadas ao exercício e à difusão das religiões de matriz afri-
trajetória do samba e de outras manifestações culturais de cana;
matriz africana, bem como sua comemoração nas institui- VI - a coleta de contribuições financeiras de pessoas
ções de ensino públicas e privadas. naturais e jurídicas de natureza privada para a manutenção
Art. 20.  O poder público garantirá o registro e a prote- das atividades religiosas e sociais das respectivas religiões;
ção da capoeira, em todas as suas modalidades, como bem VII - o acesso aos órgãos e aos meios de comunicação
de natureza imaterial e de formação da identidade cultural para divulgação das respectivas religiões;
brasileira, nos termos do art. 216 da Constituição Federal. VIII - a comunicação ao Ministério Público para abertu-
Parágrafo único.  O poder público buscará garantir, por ra de ação penal em face de atitudes e práticas de intole-
meio dos atos normativos necessários, a preservação dos rância religiosa nos meios de comunicação e em quaisquer
elementos formadores tradicionais da capoeira nas suas outros locais.
relações internacionais. Art. 25.  É assegurada a assistência religiosa aos pra-
ticantes de religiões de matrizes africanas internados em
Seção IV hospitais ou em outras instituições de internação coletiva,
Do Esporte e Lazer inclusive àqueles submetidos a pena privativa de liberdade.
Art. 26.  O poder público adotará as medidas neces-
Art. 21.  O poder público fomentará o pleno acesso da sárias para o combate à intolerância com as religiões de
população negra às práticas desportivas, consolidando o matrizes africanas e à discriminação de seus seguidores,
esporte e o lazer como direitos sociais. especialmente com o objetivo de:
Art. 22.  A capoeira é reconhecida como desporto de I - coibir a utilização dos meios de comunicação so-
criação nacional, nos termos do  art. 217 da Constituição cial para a difusão de proposições, imagens ou abordagens
Federal. que exponham pessoa ou grupo ao ódio ou ao desprezo
§ 1o  A atividade de capoeirista será reconhecida em por motivos fundados na religiosidade de matrizes africa-
todas as modalidades em que a capoeira se manifesta, seja nas;
como esporte, luta, dança ou música, sendo livre o exercí- II - inventariar, restaurar e proteger os documentos,
cio em todo o território nacional. obras e outros bens de valor artístico e cultural, os monu-
§ 2o  É facultado o ensino da capoeira nas instituições mentos, mananciais, flora e sítios arqueológicos vinculados
públicas e privadas pelos capoeiristas e mestres tradicio- às religiões de matrizes africanas;
nais, pública e formalmente reconhecidos. III - assegurar a participação proporcional de repre-
sentantes das religiões de matrizes africanas, ao lado da
representação das demais religiões, em comissões, conse-
lhos, órgãos e outras instâncias de deliberação vinculadas
ao poder público.

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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

CAPÍTULO IV Parágrafo único.  Os Estados, o Distrito Federal e os


DO ACESSO À TERRA E À MORADIA ADEQUADA Municípios estimularão e facilitarão a participação de or-
Seção I ganizações e movimentos representativos da população
Do Acesso à Terra negra na composição dos conselhos constituídos para fins
de aplicação do Fundo Nacional de Habitação de Interesse
Art. 27.  O poder público elaborará e implementará po- Social (FNHIS).
líticas públicas capazes de promover o acesso da população Art. 37.  Os agentes financeiros, públicos ou privados,
negra à terra e às atividades produtivas no campo. promoverão ações para viabilizar o acesso da população
Art. 28.  Para incentivar o desenvolvimento das atividades negra aos financiamentos habitacionais.
produtivas da população negra no campo, o poder público
promoverá ações para viabilizar e ampliar o seu acesso ao CAPÍTULO V
financiamento agrícola. DO TRABALHO
Art. 29.  Serão assegurados à população negra a assis-
tência técnica rural, a simplificação do acesso ao crédito agrí- Art. 38.  A implementação de políticas voltadas para a
cola e o fortalecimento da infraestrutura de logística para a inclusão da população negra no mercado de trabalho será
de responsabilidade do poder público, observando-se:
comercialização da produção.
I - o instituído neste Estatuto;
Art. 30.  O poder público promoverá a educação e a
II - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar
orientação profissional agrícola para os trabalhadores negros
a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as
e as comunidades negras rurais. Formas de Discriminação Racial, de 1965;
Art. 31.  Aos remanescentes das comunidades dos qui- III - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar
lombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a a Convenção no 111, de 1958, da Organização Internacional
propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títu- do Trabalho (OIT), que trata da discriminação no emprego
los respectivos. e na profissão;
Art. 32.  O Poder Executivo federal elaborará e desenvol- IV - os demais compromissos formalmente assumidos
verá políticas públicas especiais voltadas para o desenvolvi- pelo Brasil perante a comunidade internacional.
mento sustentável dos remanescentes das comunidades dos Art. 39.  O poder público promoverá ações que assegu-
quilombos, respeitando as tradições de proteção ambiental rem a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho
das comunidades. para a população negra, inclusive mediante a implemen-
Art. 33.  Para fins de política agrícola, os remanescentes tação de medidas visando à promoção da igualdade nas
das comunidades dos quilombos receberão dos órgãos com- contratações do setor público e o incentivo à adoção de
petentes tratamento especial diferenciado, assistência técni- medidas similares nas empresas e organizações privadas.
ca e linhas especiais de financiamento público, destinados à § 1o  A igualdade de oportunidades será lograda me-
realização de suas atividades produtivas e de infraestrutura. diante a adoção de políticas e programas de formação pro-
Art. 34.  Os remanescentes das comunidades dos qui- fissional, de emprego e de geração de renda voltados para
lombos se beneficiarão de todas as iniciativas previstas nesta a população negra.
e em outras leis para a promoção da igualdade étnica. § 2o  As ações visando a promover a igualdade de opor-
tunidades na esfera da administração pública far-se-ão por
Seção II meio de normas estabelecidas ou a serem estabelecidas
Da Moradia em legislação específica e em seus regulamentos.
§ 3o  O poder público estimulará, por meio de incenti-
Art. 35.  O poder público garantirá a implementação de vos, a adoção de iguais medidas pelo setor privado.
políticas públicas para assegurar o direito à moradia adequa- § 4o  As ações de que trata o caput deste artigo asse-
gurarão o princípio da proporcionalidade de gênero entre
da da população negra que vive em favelas, cortiços, áreas
os beneficiários.
urbanas subutilizadas, degradadas ou em processo de de-
§ 5o  Será assegurado o acesso ao crédito para a pe-
gradação, a fim de reintegrá-las à dinâmica urbana e promo-
quena produção, nos meios rural e urbano, com ações afir-
ver melhorias no ambiente e na qualidade de vida. mativas para mulheres negras.
Parágrafo único.  O direito à moradia adequada, para os § 6o  O poder público promoverá campanhas de sensi-
efeitos desta Lei, inclui não apenas o provimento habitacio- bilização contra a marginalização da mulher negra no tra-
nal, mas também a garantia da infraestrutura urbana e dos balho artístico e cultural.
equipamentos comunitários associados à função habitacio- § 7o  O poder público promoverá ações com o obje-
nal, bem como a assistência técnica e jurídica para a constru- tivo de elevar a escolaridade e a qualificação profissional
ção, a reforma ou a regularização fundiária da habitação em nos setores da economia que contem com alto índice de
área urbana. ocupação por trabalhadores negros de baixa escolarização.
Art. 36.  Os programas, projetos e outras ações governa- Art. 40.  O Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo
mentais realizadas no âmbito do Sistema Nacional de Habi- ao Trabalhador (Codefat) formulará políticas, programas e
tação de Interesse Social (SNHIS), regulado pela Lei no 11.124, projetos voltados para a inclusão da população negra no
de 16 de junho de 2005, devem considerar as peculiaridades mercado de trabalho e orientará a destinação de recursos
sociais, econômicas e culturais da população negra. para seu financiamento.

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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Art. 41.  As ações de emprego e renda, promovidas por TÍTULO III


meio de financiamento para constituição e ampliação de DO SISTEMA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA IGUAL-
pequenas e médias empresas e de programas de geração DADE RACIAL
de renda, contemplarão o estímulo à promoção de empre- (SINAPIR)
sários negros. CAPÍTULO I
Parágrafo único.  O poder público estimulará as ativi- DISPOSIÇÃO PRELIMINAR
dades voltadas ao turismo étnico com enfoque nos locais,
monumentos e cidades que retratem a cultura, os usos e os Art. 47.  É instituído o Sistema Nacional de Promoção
costumes da população negra. da Igualdade Racial (Sinapir) como forma de organização
Art. 42.  O Poder Executivo federal poderá implementar e de articulação voltadas à implementação do conjunto de
critérios para provimento de cargos em comissão e fun- políticas e serviços destinados a superar as desigualdades
ções de confiança destinados a ampliar a participação de étnicas existentes no País, prestados pelo poder público fe-
negros, buscando reproduzir a estrutura da distribuição ét- deral.
nica nacional ou, quando for o caso, estadual, observados § 1o  Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios po-
os dados demográficos oficiais. derão participar do Sinapir mediante adesão.
§ 2o  O poder público federal incentivará a sociedade e
CAPÍTULO VI a iniciativa privada a participar do Sinapir.
DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
CAPÍTULO II
Art. 43.  A produção veiculada pelos órgãos de comu- DOS OBJETIVOS
nicação valorizará a herança cultural e a participação da
população negra na história do País. Art. 48.  São objetivos do Sinapir:
Art. 44.  Na produção de filmes e programas destina- I - promover a igualdade étnica e o combate às desi-
dos à veiculação pelas emissoras de televisão e em salas gualdades sociais resultantes do racismo, inclusive median-
cinematográficas, deverá ser adotada a prática de conferir
te adoção de ações afirmativas;
oportunidades de emprego para atores, figurantes e técni-
II - formular políticas destinadas a combater os fatores
cos negros, sendo vedada toda e qualquer discriminação
de marginalização e a promover a integração social da po-
de natureza política, ideológica, étnica ou artística.
pulação negra;
Parágrafo único.  A exigência disposta no caput não se
III - descentralizar a implementação de ações afirmati-
aplica aos filmes e programas que abordem especificidades
vas pelos governos estaduais, distrital e municipais;
de grupos étnicos determinados.
IV - articular planos, ações e mecanismos voltados à
Art. 45.  Aplica-se à produção de peças publicitárias
promoção da igualdade étnica;
destinadas à veiculação pelas emissoras de televisão e em
salas cinematográficas o disposto no art. 44. V - garantir a eficácia dos meios e dos instrumentos
Art. 46.  Os órgãos e entidades da administração pú- criados para a implementação das ações afirmativas e o
blica federal direta, autárquica ou fundacional, as empresas cumprimento das metas a serem estabelecidas.
públicas e as sociedades de economia mista federais deve-
rão incluir cláusulas de participação de artistas negros nos CAPÍTULO III
contratos de realização de filmes, programas ou quaisquer DA ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA
outras peças de caráter publicitário.
§ 1o  Os órgãos e entidades de que trata este artigo Art. 49.  O Poder Executivo federal elaborará plano na-
incluirão, nas especificações para contratação de serviços cional de promoção da igualdade racial contendo as metas,
de consultoria, conceituação, produção e realização de fil- princípios e diretrizes para a implementação da Política Na-
mes, programas ou peças publicitárias, a obrigatoriedade cional de Promoção da Igualdade Racial (PNPIR).
da prática de iguais oportunidades de emprego para as § 1o  A elaboração, implementação, coordenação, ava-
pessoas relacionadas com o projeto ou serviço contratado. liação e acompanhamento da PNPIR, bem como a organi-
§ 2o  Entende-se por prática de iguais oportunidades zação, articulação e coordenação do Sinapir, serão efetiva-
de emprego o conjunto de medidas sistemáticas executa- dos pelo órgão responsável pela política de promoção da
das com a finalidade de garantir a diversidade étnica, de igualdade étnica em âmbito nacional.
sexo e de idade na equipe vinculada ao projeto ou serviço § 2o  É o Poder Executivo federal autorizado a instituir
contratado. fórum intergovernamental de promoção da igualdade étni-
§ 3o  A autoridade contratante poderá, se considerar ca, a ser coordenado pelo órgão responsável pelas políticas
necessário para garantir a prática de iguais oportunidades de promoção da igualdade étnica, com o objetivo de im-
de emprego, requerer auditoria por órgão do poder públi- plementar estratégias que visem à incorporação da política
co federal. nacional de promoção da igualdade étnica nas ações go-
§ 4o  A exigência disposta no  caput não se aplica às vernamentais de Estados e Municípios.
produções publicitárias quando abordarem especificidades § 3o  As diretrizes das políticas nacional e regional de
de grupos étnicos determinados. promoção da igualdade étnica serão elaboradas por órgão
colegiado que assegure a participação da sociedade civil.

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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Art. 50.  Os Poderes Executivos estaduais, distrital e mu- I - promoção da igualdade de oportunidades em edu-
nicipais, no âmbito das respectivas esferas de competência, cação, emprego e moradia;
poderão instituir conselhos de promoção da igualdade ét- II - financiamento de pesquisas, nas áreas de educação,
nica, de caráter permanente e consultivo, compostos por saúde e emprego, voltadas para a melhoria da qualidade
igual número de representantes de órgãos e entidades pú- de vida da população negra;
blicas e de organizações da sociedade civil representativas III - incentivo à criação de programas e veículos de co-
da população negra. municação destinados à divulgação de matérias relaciona-
Parágrafo único.  O Poder Executivo priorizará o repas- das aos interesses da população negra;
se dos recursos referentes aos programas e atividades pre- IV - incentivo à criação e à manutenção de microem-
vistos nesta Lei aos Estados, Distrito Federal e Municípios presas administradas por pessoas autodeclaradas negras;
que tenham criado conselhos de promoção da igualdade V - iniciativas que incrementem o acesso e a perma-
étnica. nência das pessoas negras na educação fundamental, mé-
dia, técnica e superior;
CAPÍTULO IV VI - apoio a programas e projetos dos governos esta-
DAS OUVIDORIAS PERMANENTES E DO ACESSO À duais, distrital e municipais e de entidades da sociedade
JUSTIÇA E À SEGURANÇA civil voltados para a promoção da igualdade de oportuni-
dades para a população negra;
Art. 51.  O poder público federal instituirá, na forma da VII - apoio a iniciativas em defesa da cultura, da memó-
lei e no âmbito dos Poderes Legislativo e Executivo, Ouvi- ria e das tradições africanas e brasileiras.
dorias Permanentes em Defesa da Igualdade Racial, para § 1o  O Poder Executivo federal é autorizado a adotar
receber e encaminhar denúncias de preconceito e discri- medidas que garantam, em cada exercício, a transparên-
minação com base em etnia ou cor e acompanhar a imple- cia na alocação e na execução dos recursos necessários ao
mentação de medidas para a promoção da igualdade. financiamento das ações previstas neste Estatuto, explici-
Art. 52.  É assegurado às vítimas de discriminação étni- tando, entre outros, a proporção dos recursos orçamentá-
ca o acesso aos órgãos de Ouvidoria Permanente, à Defen- rios destinados aos programas de promoção da igualdade,
soria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, especialmente nas áreas de educação, saúde, emprego e
em todas as suas instâncias, para a garantia do cumprimen- renda, desenvolvimento agrário, habitação popular, desen-
to de seus direitos. volvimento regional, cultura, esporte e lazer.
Parágrafo único.  O Estado assegurará atenção às mu- § 2o  Durante os 5 (cinco) primeiros anos, a contar do
lheres negras em situação de violência, garantida a assis- exercício subsequente à publicação deste Estatuto, os ór-
tência física, psíquica, social e jurídica. gãos do Poder Executivo federal que desenvolvem políticas
Art. 53.  O Estado adotará medidas especiais para coi- e programas nas áreas referidas no § 1o deste artigo dis-
bir a violência policial incidente sobre a população negra. criminarão em seus orçamentos anuais a participação nos
Parágrafo único.  O Estado implementará ações de programas de ação afirmativa referidos no inciso VII do art.
ressocialização e proteção da juventude negra em conflito 4o desta Lei.
com a lei e exposta a experiências de exclusão social. § 3o  O Poder Executivo é autorizado a adotar as me-
Art. 54.  O Estado adotará medidas para coibir atos de didas necessárias para a adequada implementação do
discriminação e preconceito praticados por servidores pú- disposto neste artigo, podendo estabelecer patamares de
blicos em detrimento da população negra, observado, no participação crescente dos programas de ação afirmativa
que couber, o disposto na Lei no 7.716, de 5 de janeiro de nos orçamentos anuais a que se refere o § 2o deste artigo.
1989. § 4o  O órgão colegiado do Poder Executivo federal res-
Art. 55.  Para a apreciação judicial das lesões e das ponsável pela promoção da igualdade racial acompanhará
ameaças de lesão aos interesses da população negra de- e avaliará a programação das ações referidas neste artigo
correntes de situações de desigualdade étnica, recorrer-se nas propostas orçamentárias da União.
-á, entre outros instrumentos, à ação civil pública, discipli- Art. 57.  Sem prejuízo da destinação de recursos ordi-
nada na Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985. nários, poderão ser consignados nos orçamentos fiscal e
da seguridade social para financiamento das ações de que
CAPÍTULO V trata o art. 56:
DO FINANCIAMENTO DAS INICIATIVAS DE PRO- I - transferências voluntárias dos Estados, do Distrito
MOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL Federal e dos Municípios;
II - doações voluntárias de particulares;
Art. 56.  Na implementação dos programas e das ações III - doações de empresas privadas e organizações não
constantes dos planos plurianuais e dos orçamentos anuais governamentais, nacionais ou internacionais;
da União, deverão ser observadas as políticas de ação afir- IV - doações voluntárias de fundos nacionais ou inter-
mativa a que se refere o inciso VII do art. 4o desta Lei e nacionais;
outras políticas públicas que tenham como objetivo pro- V - doações de Estados estrangeiros, por meio de con-
mover a igualdade de oportunidades e a inclusão social da vênios, tratados e acordos internacionais.
população negra, especialmente no que tange a:

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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

TÍTULO IV Igualdade Racial, na hipótese de extensão nacional, ou dos


DISPOSIÇÕES FINAIS Conselhos de Promoção de Igualdade Racial estaduais ou
locais, nas hipóteses de danos com extensão regional ou
Art. 58.  As medidas instituídas nesta Lei não excluem local, respectivamente.” (NR)
outras em prol da população negra que tenham sido ou Art. 63.  O § 1o do art. 1o da Lei nº 10.778, de 24 de no-
venham a ser adotadas no âmbito da União, dos Estados, vembro de 2003, passa a vigorar com a seguinte redação:
do Distrito Federal ou dos Municípios. “Art. 1o  .......................................................................
Art. 59.  O Poder Executivo federal criará instrumentos § 1º  Para os efeitos desta Lei, entende-se por violên-
para aferir a eficácia social das medidas previstas nesta Lei cia contra a mulher qualquer ação ou conduta, baseada no
e efetuará seu monitoramento constante, com a emissão gênero, inclusive decorrente de discriminação ou desigual-
e a divulgação de relatórios periódicos, inclusive pela rede dade étnica, que cause morte, dano ou sofrimento físico,
mundial de computadores. sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público
Art. 60.  Os arts. 3o e 4o da Lei nº 7.716, de 1989, passam quanto no privado.
a vigorar com a seguinte redação: ...................................................................................” (NR)
“Art. 3o  ........................................................................ Art. 64.  O § 3o do art. 20 da Lei nº 7.716, de 1989, passa
Parágrafo único.  Incorre na mesma pena quem, por a vigorar acrescido do seguinte inciso III:
motivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou pro- “Art. 20.  ......................................................................
cedência nacional, obstar a promoção funcional.” (NR) .............................................................................................
“Art. 4o  ........................................................................ § 3o  ...............................................................................
§ 1º  Incorre na mesma pena quem, por motivo de dis- .............................................................................................
criminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas
preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica: de informação na rede mundial de computadores.
I - deixar de conceder os equipamentos necessários ...................................................................................” (NR)
ao empregado em igualdade de condições com os demais Art. 65.  Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias após
trabalhadores; a data de sua publicação.
II - impedir a ascensão funcional do empregado ou Brasília,  20  de julho de 2010; 189o da Independência
obstar outra forma de benefício profissional; e 122o da República.
III - proporcionar ao empregado tratamento diferen-
ciado no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao
salário.
§ 2o  Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de LEI FEDERAL Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE
serviços à comunidade, incluindo atividades de promoção 1989 (DEFINE OS CRIMES RESULTANTES DE
da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra PRECONCEITO DE RAÇA OU DE COR)
forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos E LEI FEDERAL N° 9.459, DE 13 DE MAIO DE
de aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas 1997 (TIPIFICAÇÃO DOS CRIMES RESULTANTES
atividades não justifiquem essas exigências.” (NR) DE PRECONCEITO DE RAÇA OU DE COR).
Art. 61.  Os arts. 3o e 4o da Lei nº 9.029, de 13 de abril de
1995, passam a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 3o  Sem prejuízo do prescrito no art. 2o e nos LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989.
dispositivos legais que tipificam os crimes resultantes de
preconceito de etnia, raça ou cor, as infrações do disposto Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou
nesta Lei são passíveis das seguintes cominações: de cor.
...................................................................................” (NR)
“Art. 4o  O rompimento da relação de trabalho por ato O PRESIDENTE DA REPÚBLICA,  faço saber que o
discriminatório, nos moldes desta Lei, além do direito à Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:   
reparação pelo dano moral, faculta ao empregado optar Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes
entre: resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor,
...................................................................................” (NR) etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela
Art. 62.  O art. 13 da Lei no 7.347, de 1985, passa a vi- Lei nº 9.459, de 15/05/97)
gorar acrescido do seguinte § 2o, renumerando-se o atual Art. 2º (Vetado).
parágrafo único como § 1o: Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devida-
“Art. 13.  ........................................................................ mente habilitado, a qualquer cargo da Administração Dire-
§ 1o  ............................................................................... ta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços
§ 2º  Havendo acordo ou condenação com fundamento públicos.
em dano causado por ato de discriminação étnica nos ter- Parágrafo único.  Incorre na mesma pena quem, por
mos do disposto no art. 1o desta Lei, a prestação em dinhei- motivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou pro-
ro reverterá diretamente ao fundo de que trata o caput e cedência nacional, obstar a promoção funcional. (Incluído
será utilizada para ações de promoção da igualdade étnica, pela Lei nº 12.288, de 2010)
conforme definição do Conselho Nacional de Promoção da Pena: reclusão de dois a cinco anos.

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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada.  Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou for-
§ 1o  Incorre na mesma pena quem, por motivo de dis- ma, o casamento ou convivência familiar e social.
criminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do Pena: reclusão de dois a quatro anos.
preconceito de descendência ou origem nacional ou étni- Art. 15. (Vetado).
ca: (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do car-
I - deixar de conceder os equipamentos necessários go ou função pública, para o servidor público, e a suspen-
ao empregado em igualdade de condições com os demais são do funcionamento do estabelecimento particular por
trabalhadores; (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) prazo não superior a três meses.
II - impedir a ascensão funcional do empregado ou Art. 17. (Vetado).
obstar outra forma de benefício profissional; (Incluído pela Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta
Lei nº 12.288, de 2010) Lei não são automáticos, devendo ser motivadamente de-
III - proporcionar ao empregado tratamento diferen- clarados na sentença.
ciado no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao Art. 19. (Vetado).
salário. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou
§ 2o  Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência na-
serviços à comunidade, incluindo atividades de promoção cional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra Pena: reclusão de um a três anos e multa. (Redação
forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
de aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas § 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular sím-
atividades não justifiquem essas exigências. bolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda
Pena: reclusão de dois a cinco anos. que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de di-
Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento vulgação do nazismo. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de
comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente 15/05/97)
ou comprador. Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído
Pena: reclusão de um a três anos.
pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingres-
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é co-
so de aluno em estabelecimento de ensino público ou pri-
metido por intermédio dos meios de comunicação social
vado de qualquer grau.
ou publicação de qualquer natureza: (Redação dada pela
Pena: reclusão de três a cinco anos.
Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído
de dezoito anos a pena é agravada de 1/3 (um terço).
pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em
§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá de-
hotel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento si-
terminar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste,
milar.
Pena: reclusão de três a cinco anos. ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediên-
Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em cia: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)    
restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão
abertos ao público. dos exemplares do material respectivo;(Incluído pela Lei
Pena: reclusão de um a três anos. nº 9.459, de 15/05/97)
Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em II - a cessação das respectivas transmissões radiofôni-
estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes cas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer
sociais abertos ao público. meio;(Redação dada pela Lei nº 12.735, de 2012)
Pena: reclusão de um a três anos. III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas
Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em de informação na rede mundial de computadores. (Incluí-
salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de mas- do pela Lei nº 12.288, de 2010)
sagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades. § 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da conde-
Pena: reclusão de um a três anos. nação, após o trânsito em julgado da decisão, a destrui-
Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edi- ção do material apreendido. (Incluído pela Lei nº 9.459, de
fícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada de 15/05/97)
acesso aos mesmos: Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publica-
Pena: reclusão de um a três anos. ção. (Renumerado pela Lei nº 8.081, de 21.9.1990)
Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes pú- Art. 22. Revogam-se as disposições em contrário. (Re-
blicos, como aviões, navios barcas, barcos, ônibus, trens, numerado pela Lei nº 8.081, de 21.9.1990)
metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido. Brasília, 5 de janeiro de 1989; 168º da Independência
Pena: reclusão de um a três anos. e 101º da República.
Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao ser-
viço em qualquer ramo das Forças Armadas.
Pena: reclusão de dois a quatro anos.

31
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

LEI Nº 9.459, DE 13 DE MAIO DE 1997.


DECRETO FEDERAL N° 65.810, DE 08
Altera os arts. 1º e 20 da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro DE DEZEMBRO DE 1969 (CONVENÇÃO
de 1989, que define os crimes resultantes de preconceito INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE
de raça ou de cor, e acrescenta parágrafo ao art. 140 do
TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO
Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.
RACIAL).
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço  saber  que o
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Os arts. 1º e 20 da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro
de 1989, passam a vigorar com a seguinte redação: DECRETO Nº 65.810, DE 8 DE DEZEMBRO DE 1969
“Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes
Promulga a Convenção Internacional sobre a Elimina-
resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor,
ção de todas as Formas de Discriminação Racial. 
etnia, religião ou procedência nacional.”
“Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA,
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência na-
HAVENDO  o  Congresso   Nacional  aprovado   pelo 
cional. Decreto  Legislativo  nº 23,  de  21  de  junho de  1967, a
Pena: reclusão de um a três anos e multa. Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular sím- Formas de Discriminação Racial, que foi aberta à  assina-
bolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda tura em Nova York e assinada pelo Brasil a 7 de março de
que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divul- 1966;
gação do nazismo. E HAVENDO sido depositado o Instrumento  brasilei-
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. ro  de  Ratificação, junto  ao  Secretário-Geral  das  Nações
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é co- Unidas, a 27 de março de 1968;
metido por intermédio dos meios de comunicação social E TENDO a referida Convenção entrado em vigor, de
ou publicação de qualquer natureza: conformidade com o disposto em seu artigo 19,  parágrafo
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. 1º, a 4 de janeiro de 1969;
§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá de- DECRETA que a mesma, apensa por cópia ao presente 
terminar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, Decreto,  seja  executada  e  cumprida  tão  inteiramente
ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediên- como ela nele contém.
cia: Brasília, 8 de dezembro de 1969; 148º da Independên-
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão cia e 81º da República.
dos exemplares do material respectivo; EMÍLIO G. MÉDICI 
II - a cessação das respectivas transmissões radiofôni- Mário Gibson Barbosa 
cas ou televisivas.
§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condena- A CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMI-
ção, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição NAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO
do material apreendido.» RACIAL. 
Art. 2º O art. 140 do Código Penal fica acrescido do
seguinte parágrafo: Os Estados Partes na presente Convenção,
Considerando que a Carta das Nações Unidas baseia-se
“Art. 140. ...................................................................
em princípios de dignidade e igualdade inerentes a todos
...................................................................................
os seres humanos, e que todos os Estados Membros com-
§ 3º  Se a injúria consiste na utilização de elementos
prometeram-se a tomar medidas separadas e conjuntas,
referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem:
em cooperação com a Organização, para a consecução de 
Pena: reclusão de um a três anos e multa.” um  dos  propósitos  das  Nações  Unidas  que  é  promo-
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publi- ver  e encorajar o respeito universal e observância  dos  di-
cação. reitos  humanos  e  liberdades  fundamentais  para  todos, 
Art. 4º Revogam-se as disposições em contrário, espe- sem discriminação de raça, sexo, idioma ou religião.
cialmente o art. 1º da Lei nº 8.081, de 21 de setembro de Considerando que a Declaração Universal dos Direitos
1990, e a Lei nº 8.882, de 3 de junho de 1994. do Homem proclama que todos os homens  nascem livres
Brasília, 13 de maio de 1997; 176º da Independência e e iguais em dignidade e direitos e que todo homem tem
109º da República. todos os direitos estabelecidos na  mesma,  sem  distinção 
de qualquer espécie e principalmente de raça, cor ou ori-
gem nacional,
Considerando  todos  os  homens  são  iguais  perante 
a  lei  e  têm  o  direito  à  igual  proteção  contra  qualquer
discriminação e contra qualquer incitamento à discriminação,

32
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Considerando que  as  Nações  Unidas  têm  condena- 2. Esta Convenção não se aplicará ás distinções, exclu-
do  o  colonialismo  e  todas  as  práticas  de  segregação  e sões, restrições e preferências feitas por um Estado Parte
discriminação a ele associados, em qualquer forma e onde nesta Convenção entre cidadãos e não cidadãos.
quer que existam, e que a Declaração sobre  a  Conces- 3. Nada nesta Convenção poderá ser interpretado
são de Independência, a Partes e Povos Coloniais, de 14 de como afetando as disposições legais dos Estados Partes,
dezembro de 1960 (Resolução 1.514 (XV), da  Assembleia relativas a nacionalidade, cidadania e naturalização, desde
Geral afirmou e proclamou solenemente a necessidade de que tais disposições não discriminem contra qualquer na-
levá-las a um fim rápido e incondicional, cionalidade particular.
Considerando que a Declaração das Nações  Unidas  sobre  4. Não serão consideradas discriminação racial as me-
eliminação  de  todas  as  formas  de  Discriminação Racial,  de  didas especiais tomadas com o único objetivo de assegurar
20 de  novembro  de  1963, (Resolução 1.904 ( XVIII)  da  As- progresso adequado de certos grupos raciais ou étnicos ou
sembleia-Geral),  afirma  solenemente   a necessidade  de  eli- de indivíduos que necessitem da proteção que possa ser
minar   rapidamente  a   discriminação   racial   através  do  mun- necessária para proporcionar a tais grupos ou indivíduos
do  em  todas  as  suas  formas  e manifestações e de assegurar igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades
a compreensão e o respeito à dignidade da pessoa humana, fundamentais, contando que, tais medidas não conduzam,
Convencidos de que qualquer doutrina de superioridade  em consequência, à manutenção de direitos separados
baseada  em  diferenças  raciais  é  cientificamente  falsa, mo- para diferentes grupos raciais e não prossigam após terem
ralmente condenável, socialmente injusta e perigosa, em que, sido alcançados os seus objetivos.
não existe justificação para a discriminação racial, em teoria
ou na prática, em lugar algum, Artigo II
Reafirmando que a discriminação entre os homens por 1. Os Estados Partes condenam a discriminação racial
motivos de raça, cor ou  origem  étnica  é  um  obstáculo  a e comprometem-se a adotar, por todos os meios apropria-
relações amistosas e pacíficas entre as nações e é capaz de dos e sem tardar uma política de eliminação da discrimi-
disturbar a paz e a segurança entre povos e a harmonia de nação racial em todas as suas formas e de promoção de
pessoas vivendo lado a lado até dentro de um mesmo Estado, entendimento entre todas as raças e para esse fim:
Convencidos que a existência de barreiras raciais repugna a) Cada Estado parte compromete-se a efetuar nenhum
os ideais de qualquer sociedade humana, ato ou prática de discriminação racial contra pessoas, gru-
Alarmados por manifestações de discriminação racial  ain- pos de pessoas ou instituições e fazer com que todas as
da  em  evidência  em  algumas  áreas  do  mundo  e  por políti- autoridades públicas nacionais ou locais, se conformem
cas governamentais baseadas em superioridade racial ou ódio, com esta obrigação;
como as políticas  de  apartheid ,  segregação  ou separação, b) Cada Estado Parte compromete-se a não encorajar,
Resolvidos a adotar todas as medidas necessárias  para 
defender ou apoiar a discriminação racial praticada por
eliminar  rapidamente  a  discriminação  racial  em,  todas 
uma pessoa ou uma organização qualquer;
as suas formas e manifestações, e a prevenir e combater
c) Cada Estado Parte deverá tomar as medidas efica-
doutrinas e práticas raciais com o  objetivo de  promover  o
zes, a fim de rever as politicas governamentais nacionais e
entendimento entre as raças e construir uma comunidade
locais e para modificar, ab-rogar ou anular qualquer dispo-
internacional livre de todas as formas de separação racial  e
sição regulamentar que tenha como objetivo criar a discri-
discriminação racial,
minação ou perpetrá-la onde já existir;
Levando em conta a  Convenção   sobre  Discrimina-
ção  nos  Emprego  e  Ocupação  adotada  pela  Organiza- d) Cada Estado Parte deverá, por todos os meios apro-
ção internacional do Trabalho em 1958, e a Convenção contra priados, inclusive se as circunstâncias o exigirem, as me-
discriminação no  Ensino  adotada  pela  Organização  das didas legislativas, proibir e por fim, a discriminação racial
Nações Unidas para Educação a Ciência em 1960, praticadas por pessoa, por grupo ou das organizações;
Desejosos de completar os princípios estabelecidos na e) Cada Estado Parte compromete-se a favorecer,
Declaração das Naçõs unidas sobre a Eliminação de todas as quando for o caso as organizações e movimentos multi-ra-
formas de discriminação racial e assegurar o mais cedo possí- ciais e outros meios próprios a eliminar as barreiras entre
vel a adoção de medidas práticas para esse fim, as raças e a desencorajar o que tende a fortalecer a divisão
Acordaram no seguinte: racial.
2) Os Estados Partes tomarão, se as circunstâncias o
PARTE I exigirem, nos campos social, econômico, cultural e outros,
as medidas especiais e concretas para assegurar como
Artigo I convier o desenvolvimento ou a proteção de certos grupos
1. Nesta Convenção, a expressão “discriminação racial” raciais ou de indivíduos pertencentes a estes grupos com
significará qualquer distinção, exclusão restrição ou preferên- o objetivo de garantir-lhes, em condições de igualdade, o
cia baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional pleno exercício dos direitos do homem e das liberdades
ou etnica que tem por objetivo ou efeito anular ou restringir fundamentais.
o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano,( em Essas medidas não deverão, em caso algum, ter a fina-
igualdade de condição), de direitos humanos e liberdades lidade de manter direitos grupos raciais, depois de alcança-
fundamentais no domínio político econômico, social, cultural dos os objetivos em razão dos quais foram tomadas.
ou em qualquer outro domínio de vida pública.

33
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Artigo III ii) direito de deixar qualquer pais, inclusive o seu, e de


Os Estados Partes especialmente condenam a segre- voltar a seu país;
gação racial e o apartheid e comprometem-se a proibir e a iii) direito de uma nacionalidade;
eliminar nos territórios sob sua jurisdição todas as práticas iv) direito de casar-se e escolher o cônjuge;
dessa natureza. v) direito de qualquer pessoa, tanto individualmente
como em conjunto, à propriedade;
Artigo IV vi) direito de herdar;
Os Estados partes condenam toda propaganda e todas vii) direito à liberdade de pensamento, de consciência
as organizações que se inspirem em idéias ou teorias basea- e de religião;
das na superioridade de uma raça ou de um grupo de pes- viii) direito à liberdade de opinião e de expressão;
soas de uma certa cor ou de uma certa origem étnica ou que ix) direito à liberdade de reunião e de associação pa-
pretendem justificar ou encorajar qualquer forma de ódio e cífica;
de discriminação raciais e comprometem-se a adotar ime- e) direitos econômicos, sociais culturais, principalmen-
diatamente medidas positivas destinadas a eliminar qual- te:
quer incitação a uma tal discriminação, ou quaisquer atos de i) direitos ao trabalho, a livre escolha de seu trabalho, a
discriminação com este objetivo tendo em vista os princípios condições equitativas e satisfatórias de trabalho à proteção
formulados na Declaração universal dos direitos do homem contra o desemprego, a um salário igual para um trabalho
e os direitos expressamente enunciados no artigo 5 da pre- igual, a uma remuneração equitativa e satisfatória;
sente convenção, eles se comprometem principalmente: ii) direito de fundar sindicatos e a eles se afiliar;
a) a declarar delitos puníveis por lei, qualquer difusão de iii) direito à habitação;
idéias baseadas na superioridade ou ódio raciais, qualquer iv) direito à saúde pública, a tratamento médico, à pre-
incitamento à discriminação racial, assim como quaisquer vidência social e aos serviços sociais;
atos de violência ou provocação a tais atos, dirigidos contra v) direito a educação e à formação profissional;
qualquer raça ou qualquer grupo de pessoas de outra cor ou vi) direito a igual participação das atividades culturais;
de outra origem técnica, como também qualquer assistência f) direito de acesso a todos os lugares e serviços des-
prestada a atividades racistas, inclusive seu financiamento; tinados ao uso do publico, tais como, meios de transporte
hotéis, restaurantes, cafés, espetáculos e parques.
b) a declarar ilegais e a proibir as organizações assim Artigo VI
como as atividades de propaganda organizada e qualquer Os Estados Partes assegurarão a qualquer pessoa que
estiver sob sua jurisdição, proteção e recursos efetivos
outro tipo de atividade de propaganda que incitar a discri-
perante os tribunais nacionais e outros órgãos do Estado
minação racial e que a encorajar e a declara delito punível
competentes, contra quaisquer atos de discriminação racial
por lei a participação nestas organizações ou nestas ativi-
que, contrariamente à presente Convenção, violarem seus
dades.
direitos individuais e suas liberdades fundamentais, assim
c) a não permitir as autoridades públicas nem ás institui-
como o direito de pedir a esses tribunais uma satisfação ou
ções públicas nacionais ou locais, o incitamento ou encora-
repartição justa e adequada por qualquer dano de que foi
jamento à discriminação racial.
vitima em decorrência de tal discriminação.
Artigo VII
Artigo V Os Estados Partes, comprometem-se a tomar as medi-
De conformidade com as obrigações fundamentais das imediatas e eficazes, principalmente no campo de ensi-
enunciadas no artigo 2, Os Estados Partes comprometem-se no, educação, da cultura e da informação, para lutar contra
a proibir e a eliminar a discriminação racial em todas suas os preconceitos que levem à discriminação racial e para
formas e a garantir o direito de cada uma à igualdade peran- promover o entendimento, a tolerância e a amizade entre
te a lei sem distinção de raça , de cor ou de origem nacional nações e grupos raciais e éticos assim como para propagar
ou étnica, principalmente no gozo dos seguintes direitos: ao objetivo e princípios da Carta das Nações Unidas da De-
a) direito a um tratamento igual perante os tribunais ou claração Universal dos Direitos do Homem, da Declaração
qualquer outro orgão que administre justiça; das Nações Unidas sobre a eliminação de todas as formas
b) direito a segurança da pessoa ou à proteção do Esta- de discriminação racial e da presente Convenção.
do contra violência ou ou lesão corporal cometida que por
funcionários de Governo, quer por qualquer indivíduo, gru- PARTE II
po ou instituição.
c) direitos políticos principalmente direito de participar Artigo VIII
às eleições - de votar e ser votado - conforme o sistema de 1. Será estabelecido um Comitê para a eliminação da
sufrágio universal e igual direito de tomar parte no Governo, discriminação racial (doravante denominado “o Comitê)
assim como na direção dos assuntos públicos, em qualquer composto de 18 peritos conhecidos para sua alta morali-
grau e o direito de acesso em igualdade de condições, às dade e conhecida imparcialidade, que serão eleitos pelos
funções públicas. Estados Membros dentre seus nacionais e que atuarão a
d) Outros direitos civis, principalmente, título individual, levando-se em conta uma repartição geo-
i) direito de circular livremente e de escolher residência gráfica equitativa e a representação das formas diversas de
dentro das fronteiras do Estado; civilização assim como dos principais sistemas jurídicos.

34
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

2. Os Membros do Comitê serão eleitos em escrutínio Artigo XI


secreto de uma lista de candidatos designados pelos Esta- 1. Se um Estado Parte Julgar que outro Estado igual-
dos Partes, Cada Estado Parte poderá designar um candi- mente Parte não aplica as disposições da presente Conven-
dato escolhido dentre seus nacionais. ção poderá chamar a atenção do Comitê sobre a questão.
3. A primeira eleição será realizada seis meses após a O Comitê transmitirá, então, a comunicação ao Estado Par-
data da entrada em vigor da presente Convenção. Três me- te interessado. Num prazo de três meses, o Estado destina-
ses pelo menos antes de cada eleição, o Secretário Geral tário submeterá ao Comitê as explicações ou declarações
das Nações Unidas enviará uma Carta aos Estados Partes por escrito, a fim de esclarecer a questão e indicar as me-
para convidá-los a apresentar suas candidaturas no prazo didas corretivas que por acaso tenham sido tomadas pelo
de dois meses. O Secretário Geral elaborará uma lista por referido Estado.
ordem alfabética, de todos os candidatos assim nomeados 2. Se, dentro de um prazo de seis meses a partir da
com indicação dos Estados partes que os nomearam, e a data do recebimento da comunicação original pelo Esta-
comunicará aos Estados Partes. do destinatário a questão não foi resolvida a contento dos
4. Os membros do Comitê serão eleitos durante uma dois Estados, por meio de negociações bilaterais ou por
reunião dos Estados Partes convocada pelo Secretário Geral qualquer outro processo que estiver a sua disposição, tanto
das Nações Unidas. Nessa reunião, em que o quorum será um como o outro terão o direito de submetê-la novamente
alcançado com dois terços dos Estados Partes, serão eleitos ao Comitê, endereçando uma notificação ao Comitê assim
membros do Comitê, os candidatos que obtiverem o maior como ao outro Estado interessado.
número de votos e a maioria absoluta de votos dos repre- 3. O Comitê só poderá tomar conhecimento de uma
sentantes dos Estados Partes presentes e votantes. questão, de acordo com o parágrafo 2 do presente artigo,
5. a) Os membros do Comitê serão eleitos por um perío- após ter constatado que todos os recursos internos dispo-
do de quatro anos. Entretanto, o mandato de nove dos mem- níveis foram interpostos ou esgotados, de conformidade
bros eleitos na primeira eleição, expirará ao fim de dois anos; com os princípios do direito internacional geralmente re-
logo após a primeira eleição os nomes desses nove membros conhecidos. Esta regra não se aplicará se os procedimentos
de recurso excederem prazos razoáveis.
serão escolhidos, por sorteio, pelo Presidente do Comitê.
4. Em qualquer questão que lhe for submetida, Comitê
b) Para preencher as vagas fortuitas, o Estado Parte,
poderá solicitar aos Estados-Partes presentes que lhe forne-
cujo perito deixou de exercer suas funções de membro do
çam quaisquer informações complementares pertinentes.
Comitê, nomeará outro perito dentre seus nacionais, sob
5. Quando o Comitê examinar uma questão conforme
reserva da aprovação do Comitê.
o presente Artigo os Estados Partes interessados terão o
6. Os Estados Partes serão responsáveis pelas despesas
direito de nomear um representante que participará sem
dos membros do Comitê para o período em que estes de-
direito de voto dos trabalhos no Comitê durante todos os
sempenharem funções no Comitê. debates.
Artigo IX Artigo XII
1. Os Estados Partes comprometem-se a apresentar ao 1. a) Depois que o Comitê obtiver e consultar as infor-
Secretário Geral para exame do Comitê, um relatório sobre mações que julgar necessárias, o Presidente nomeará uma
as medidas legislativas, judiciárias, administrativas ou ou- Comissão de Conciliação ad hoc (doravante denominada «
tras que tomarem para tornarem efetivas as disposições da A Comissão», composta de 5 pessoas que poderão ser ou
presente Convenção: não membros do Comitê. Os membros serão nomeados
a) dentro do prazo de um ano a partir da entrada em com o consentimento pleno e unânime das partes na con-
vigor da Convenção, para cada Estado interessado no que trovérsia e a Comissão fará seus bons ofícios a disposição
lhe diz respeito, e posteriormente, cada dois anos, e toda dos Estados presentes, com o objetivo de chegar a uma
vez que o Comitê o solicitar. O Comitê poderá solicitar in- solução amigável da questão, baseada no respeito à pre-
formações complementares aos Estados Partes. sente Convenção.
2. O Comitê submeterá anualmente à Assembleia Geral, b) Se os Estados Partes na controvérsia não chegarem
um relatório sobre suas atividades e poderá fazer suges- a um entendimento em relação a toda ou parte da compo-
tões e recomendações de ordem geral baseadas no exa- sição da Comissão num prazo de três meses os membros
me dos relatórios e das informações recebidas dos Estados da Comissão que não tiverem o assentimento do Estados
Partes. Levará estas sugestões e recomendações de ordem Partes, na controvérsia serão eleitos por escrutínio secreto
geral ao conhecimento da Assembleia Geral, e se as houver entre os membros de dois terços dos membros do Comitê.
juntamente com as observações dos Estados Partes. 2. Os membros da Comissão atuarão a título individual.
Não deverão ser nacionais de um dos Estados Partes na
Artigo X controvérsia nem de um Estado que não seja parte da pre-
1. O Comitê adotará seu regulamento interno. sente Convenção.
2. O Comitê elegerá sua mesa por um período de dois anos. 3. A Comissão elegerá seu Presidente e adotará seu re-
3. O Secretário Geral da Organização das Nações Uni- gimento interno.
das foi necessários serviços de Secretaria ao Comitê. 4. A Comissão reunir-se-á normalmente na sede nas
4. O Comitê reunir-se-á normalmente na Sede das Na- Nações Unidas em qualquer outro lugar apropriado que a
ções Unidas. Comissão determinar.

35
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

5. O Secretariado previsto no parágrafo 3 do artigo 10 pres- 4. O órgão criado ou designado de conformidade com
tará igualmente seus serviços à Comissão cada ver que uma o parágrafo 2 do presente artigo, deverá manter um re-
controvérsia entre os Estados Partes provocar sua formação. gistro de petições e cópias autenticada do registro serão
6. Todas as despesas dos membros da Comissão serão depositadas anualmente por canais apropriados junto ao
divididos igualmente entre os Estados Partes na controvérsia Secretário Geral das Nações Unidas, no entendimento que
baseadas num cálculo estimativo feito pelo Secretário-Geral. o conteúdo dessas cópias não será divulgado ao público.
7. O Secretário Geral ficará autorizado a pagar, se for 5. Se não obtiver repartição satisfatória do órgão cria-
necessário, as despesas dos membros da Comissão, antes do ou designado de conformidade com o parágrafo 2 do
que o reembolso seja efetuado pelos Estados Partes na presente artigo, o peticionário terá o direito de levar a
controvérsia, de conformidade com o parágrafo 6 do pre- questão ao Comitê dentro de seis meses.
sente artigo. 6. a) O Comitê levará, a título confidencial, qualquer co-
8. As informações obtidas e confrontadas pelo Comi- municação que lhe tenha sido endereçada, ao conhecimento
tê serão postas à disposição da Comissão, e a Comissão do Estado Parte que, pretensamente houver violado qualquer
poderá solicitar aos Estados interessados sde lhe fornecer das disposições desta Convenção, mas a identidade da pes-
qualquer informação complementar pertinente. soa ou dos grupos de pessoas não poderá ser revelada sem
o consentimento expresso da referida pessoa ou grupos de
Artigo XIII pessoas. O Comitê não receberá comunicações anônimas.
1. Após haver estudado a questão sob todos os seus b) Nos três meses seguintes, o referido Estado subme-
aspectos, a Comissão preparará e submeterá ao Presidente terá, por escrito ao Comitê, as explicações ou recomenda-
do Comitê um relatório com as conclusões sobre todas ass ções que esclarecem a questão e indicará as medidas cor-
questões de fato relativas à controvérsia entre as partes e retivas que por acaso houver adotado.
as recomendações que julgar oportunas a fim de chegar a 7. a) O Comitê examinará as comunicações, à luz de to-
uma solução amistosa da controvérsia. das as informações que forem submetidas pelo Estado par-
2. O Presidente do Comitê transmitirá o relatório da te interessado e pelo peticionário. O Comitê so examinará
Comissão a cada um dos Estados Partes na controvérsia. uma comunicação de peticionário após ter-se assegurado
Os referidos Estados comunicarão ao Presidente do Comitê que este esgotou todos os recursos internos disponíveis.
num prazo de três meses se aceitam ou não, as recomen- Entretanto, esta regra não se aplicará se os processos de
dações contidas no relatório da Comissão. recurso excederem prazos razoáveis.
3. Expirado o prazo previsto no paragrafo 2º do pre- b) O Comitê remeterá suas sugestões e recomendações
sente artigo, o Presidente do Comitê comunicará o Relató- eventuais, ao Estado Parte interessado e ao peticionário.
rio da Comissão e as declarações dos Estados Partes inte- 8. O Comitê incluirá em seu relatório anual um resumo
ressadas aos outros Estados Parte na Comissão. destas comunicações, se for necessário, um resumo das
explicações e declarações dos Estados Partes interessados
Artigo XIV assim como suas próprias sugestões e recomendações.
1. Todo o Estado parte poderá declarar e qualquer 9. O Comitê somente terá competência para exercer as
momento que reconhece a competência do Comitê para funções previstas neste artigo se pelo menos dez Estados
receber e examinar comunicações de indivíduos sob sua Partes nesta Convenção estiverem obrigados por declara-
jurisdição que se consideram vítimas de uma violação pelo ções feitas de conformidade com o parágrafo deste artigo.
referido Estado Parte de qualquer um dos direitos enun-
ciados na presente Convenção. O Comitê não receberá Artigo XV
qualquer comunicação de um Estado Parte que não houver 1. Enquanto não forem atingidos os objetivos da reso-
feito tal declaração. lução 1.514 (XV) da Assembleia Geral de 14 de dezembro
2. Qualquer Estado parte que fizer uma declaração de de 1960, relativa à Declaração sobro a concessão da inde-
conformidade com o parágrafo do presente artigo, poderá pendência dos países e povos coloniais, as disposições da
criar ou designar um órgão dentro de sua ordem jurídica presente convenção não restringirão de maneira alguma
nacional, que terá competência para receber e examinar as o direito de petição concedida aos povos por outros ins-
petições de pessoas ou grupos de pessoas sob sua jurisdi- trumentos internacionais ou pela Organização das Nações
ção que alegarem ser vitimas de uma violação de qualquer Unidas e suas agências especializadas.
um dos direitos enunciados na presente Convenção e que 2. a) O Comitê constituído de conformidade com o
esgotaram os outros recursos locais disponíveis. parágrafo 1 do artigo 8 desta Convenção receberá cópia
3. A declaração feita de conformidade com o parágrafo das petições provenientes dos órgãos das Nações Unidas
1 do presente artigo e o nome de qualquer órgão criado que se encarregarem de questões diretamente relaciona-
ou designado pelo Estado Parte interessado consoante o das com os princípios e objetivos da presente Convenção e
parágrafo 2 do presente artigo será depositado pelo Esta- expressará sua opinião e formulará recomendações sobre
do Parte interessado junto ao Secretário Geral das Nações petições recebidas quando examinar as petições recebidas
Unidas que remeterá cópias aos outros Estados Partes. A dos habitantes dos territórios sob tutela ou não autônomo
declaração poderá ser retirada a qualquer momento me- ou de qualquer outro território a que se aplicar a resolução
diante notificação ao Secretário Geral mas esta retirada não 1514 (XV) da Assembleia Geral, relacionadas a questões
prejudicará as comunicações que já estiverem sendo estu- tratadas pela presente Convenção e que forem submetidas
dadas pelo Comitê. a esses órgãos.

36
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

b) O Comitê receberá dos órgãos competentes da Or- Artigo XX


ganização das Nações Unidas cópia dos relatórios sobre 1. O Secretário Geral das Nações Unidas receberá e en-
medidas de ordem legislativa judiciária, administrativa ou viará, a todos os Estados que forem ou vierem a torna-se
outra diretamente relacionada com os princípios e obje- partes desta Convenção, as reservas feitas pelos Estados
tivos da presente Convenção que as Potências Adminis- no momento da ratificação ou adesão. Qualquer Estado
tradoras tiverem aplicado nos territórios mencionados na que objetar a essas reservas, deverá notificar ao Secretário
alínea “a” do presente parágrafo e expressará sua opinião e Geral dentro de noventa dias da data da referida comuni-
fará recomendações a esses órgãos. cação, que não aceita.
3. O Comitê incluirá em seu relatório à Assembleia um 2. Não será permitida uma reserva incompatível com o
resumo das petições e relatórios que houver recebido de objeto e o escopo desta Convenção nem uma reserva cujo
órgãos das Nações Unidas e as opiniões e recomendações efeito seria a de impedir o funcionamento de qualquer dos
que houver proferido sobre tais petições e relatórios. órgãos previstos nesta Convenção. Uma reserva será con-
4. O Comitê solicitará ao Secretário Geral das Nações siderada incompatível ou impeditiva se a ela objetarerm ao
Unidas qualquer informação relacionada com os objetivos menos dois terços dos Estados partes nesta Convenção.
da presente Convenção que este dispuser sobre os terri- 3. As reservas poderão ser retiradas a qualquer mo-
tórios mencionados no parágrafo 2 (a) do presente artigo. mento por uma notificação endereçada com esse objetivo
ao Secretário Geral. Tal notificação surgirá efeito na data de
Artigo XVI seu recebimento.
As disposições desta Convenção relativas a solução das
controvérsias ou queixas serão aplicadas sem prejuízo de Artigo XXI
outros processos para solução de controvérsias e queixas Qualquer Estado parte poderá denunciar esta Conven-
no campo da discriminação previstos nos instrumentos ção mediante notificação escrita endereçada ao Secretário
constitutivos das Nações Unidas e suas agências especiali- Geral da Organização das Nações Unidas. A denúncia surti-
zadas, e não excluirá a possibilidade dos Estados partes re- rá efeito um ano após data do recebimento da notificação
comendarem aos outros, processos para a solução de uma pelo Secretário Geral.
controvérsia de conformidade com os acordos internacio-
nais ou especiais que os ligarem. Artigo XXI
Qualquer Controvérsia entre dois ou mais Estados Par-
Terceira Parte te relativa a interpretação ou aplicação desta Convenção
que não for resolvida por negociações ou pelos processos
Artigo XVII previstos expressamente nesta Convenção, será o pedido
1. A presente Convenção ficará aberta à assinatura de de qualquer das Partes na controvérsia. Submetida à de-
todo Estado Membro da Organização das Nações Unidas cisão da Côrte Internacional de Justiça a não ser que os
ou membro de qualquer uma de suas agências especializa- litigantes concordem em outro meio de solução.
das, de qualquer Estado parte no Estatuto da Côrte Inter-
nacional de Justiça, assim como de qualquer outro Estado Artigo XXII
convidado pela Assembleia-Geral da Organização das Na- Qualquer Controvérsia entre dois ou mais Estados Par-
ções Unidas a torna-se parte na presente Convenção. tes relativa à interpretação ou aplicação desta Convenção,
2. A presente Convenção ficará sujeita à ratificação e que não for resolvida por negociações ou pelos processos
os instrumentos de ratificação serão depositados junto ao previstos expressamente nesta Convenção será, pedido de
Secretário Geral das Nações Unidas. qualquer das Partes na controvérsia, submetida à decisão
da Côrte Internacional de Justiça a não ser que os litigantes
Artigo XVIII concordem em outro meio de solução.
1. A presente Convenção ficará aberta a adesão de
qualquer Estado mencionado no parágrafo 1º do artigo 17. Artigo XXIII
2. A adesão será efetuada pelo depósito de instrumen- 1. Qualquer Estado Parte poderá formular a qualquer
to de adesão junto ao Secretário Geral das Nações Unidas. momento um pedido de revisão da presente Convenção,
mediante notificação escrita endereçada ao Secretário Ge-
Artigo XIX ral das Nações Unidas.
1. Esta convenção entrará em vigor no trigésimo dia 2. A Assembleia-Geral decidirá a respeito das medidas
após a data do deposito junto ao Secretário Geral das Na- a serem tomadas, caso for necessário, sobre o pedido.
ções Unidas do vigésimo sétimo instrumento de ratificação
ou adesão. Artigo XXIV
2. Para cada Estado que ratificar a presente Convenção O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas
ou a ele aderir após o depósito do vigésimo sétimo instru- comunicará a todos os Estados mencionados no parágrafo
mento de ratificação ou adesão esta Convenção entrará em 1º do artigo 17 desta Convenção.
vigor no trigésimo dia após o depósito de seu instrumento a) as assinaturas e os depósitos de instrumentos de ra-
de ratificação ou adesão. tificação e de adesão de conformidade com os artigos 17
e 18;

37
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

b) a data em que a presente Convenção entrar em vigor, DECRETA:


de conformidade com o artigo 19; Art. 1o  A Convenção sobre a Eliminação de Todas as
c) as comunicações e declarações recebidas de confor- Formas de Discriminação contra a Mulher, de 18 de dezem-
midade com os artigos 14, 20 e 23. bro de 1979, apensa por cópia ao presente Decreto, com
d) as denúncias feitas de conformidade com o artigo 21. reserva facultada em seu art. 29, parágrafo 2, será executa-
da e cumprida tão inteiramente como nela se contém.
Artigo XXV Art. 2o   São sujeitos à aprovação do Congresso Na-
1. Esta Convenção, cujos textos em chinês, espanhol, in- cional quaisquer atos que possam resultar em revisão da
glês e russo são igualmente autênticos será depositada nos referida Convenção, assim como quaisquer ajustes com-
arquivos das Nações Unidas. plementares que, nos termos do art. 49, inciso I, da Consti-
2. O Secretário Geral das Nações Unidas enviará cópias tuição, acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
autenticadas desta Convenção a todos os Estados perten- patrimônio nacional.
centes a qualquer uma das categorias mencionadas no pa- Art. 3o   Este Decreto entra em vigor na data de sua
rágrafo 1º do artigo 17. publicação.
Em fé do que os abaixo assinados devidamente autoriza- Art. 4o  Fica revogado o Decreto no 89.460, de 20 de
dos por seus Governos assinaram a presente Convenção que março de 1984.
foi aberta a assinatura em Nova York a 7 de março de 1966.
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas
Este texto não substitui o original publicado no Diário de Discriminação contra a Mulher
Oficial da União - Seção 1 de 10/12/1969 Os Estados Partes na presente convenção,
CONSIDERANDO que a Carta das Nações Unidas rea-
firma a fé nos direitos fundamentais do homem, na dig-
nidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de
DECRETO FEDERAL N° 4.377, DE 13 DE direitos do homem e da mulher,
SETEMBRO DE 2002 (CONVENÇÃO SOBRE CONSIDERANDO que a Declaração Universal dos Di-
A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE reitos Humanos reafirma o princípio da não-discriminação
DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER). e proclama que todos os seres humanos nascem livres e
iguais em dignidade e direitos e que toda pessoa pode
invocar todos os direitos e liberdades proclamados nessa
Declaração, sem distinção alguma, inclusive de sexo,
DECRETO Nº 4.377, DE 13 DE SETEMBRO DE 2002. CONSIDERANDO que os Estados Partes nas Conven-
ções Internacionais sobre Direitos Humanos tem a obriga-
Promulga a Convenção sobre a Eliminação de Todas as ção de garantir ao homem e à mulher a igualdade de gozo
Formas de Discriminação contra a Mulher, de 1979, e revo- de todos os direitos econômicos, sociais, culturais, civis e
ga o Decreto no 89.460, de 20 de março de 1984. políticos,
OBSEVANDO as convenções internacionais concluídas
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição sob os auspícios das Nações Unidas e dos organismos es-
que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da Constituição, e pecializados em favor da igualdade de direitos entre o ho-
Considerando que o Congresso Nacional aprovou, mem e a mulher,
pelo Decreto Legislativo no 93, de 14 de novembro de 1983, OBSERVANDO, ainda, as resoluções, declarações e
a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de recomendações aprovadas pelas Nações Unidas e pelas
Discriminação contra a Mulher, assinada pela República Fe- Agências Especializadas para favorecer a igualdade de di-
derativa do Brasil, em Nova York, no dia 31 de março de reitos entre o homem e a mulher,
1981, com reservas aos seus artigos 15, parágrafo 4o, e 16, PREOCUPADOS, contudo, com o fato de que, apesar
parágrafo 1o, alíneas (a), (c), (g) e (h); destes diversos instrumentos, a mulher continue sendo ob-
Considerando que, pelo Decreto Legislativo no 26, de jeto de grandes discriminações,
22 de junho de 1994, o Congresso Nacional revogou o RELEMBRANDO que a discriminação contra a mulher
citado Decreto Legislativo no 93, aprovando a Convenção viola os princípios da igualdade de direitos e do respeito da
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação dignidade humana, dificulta a participação da mulher, nas
contra a Mulher, inclusive os citados artigos 15, parágrafo mesmas condições que o homem, na vida política, social,
4o, e 16, parágrafo 1o , alíneas (a), (c), (g) e (h); econômica e cultural de seu país, constitui um obstáculo ao
Considerando que o Brasil retirou as mencionadas re- aumento do bem-estar da sociedade e da família e dificulta
servas em 20 de dezembro de 1994; o pleno desenvolvimento das      potencialidades da mulher
Considerando que a Convenção entrou em vigor, para para prestar serviço a seu país e à humanidade,
o Brasil, em 2 de março de 1984, com a reserva facultada PREOCUPADOS com o fato de que, em situações de
em seu art. 29, parágrafo 2; pobreza, a mulher tem um acesso mínimo à alimentação,
à saúde, à educação, à capacitação e às oportunidades de
emprego, assim como à satisfação de outras necessidades,

38
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

CONVENCIDOS de que o estabelecimento da Nova Or- Artigo 2o


dem Econômica Internacional baseada na equidade e na Os Estados Partes condenam a discriminação contra
justiça contribuirá significativamente para a promoção da a mulher em todas as suas formas, concordam em seguir,
igualdade entre o homem e a mulher, por todos os meios apropriados e sem dilações, uma polí-
SALIENTANDO que a eliminação do  apartheid, de to- tica destinada a eliminar a discriminação contra a mulher,
das as formas de racismo, discriminação racial, colonialis- e com tal objetivo se comprometem a:
mo, neocolonialismo, agressão, ocupação estrangeira e do- a) Consagrar, se ainda não o tiverem feito, em suas
minação e interferência nos assuntos internos dos Estados constituições nacionais ou em outra legislação apropriada
é essencial para o pleno exercício dos direitos do homem o princípio da igualdade do homem e da mulher e asse-
e da mulher, gurar por lei outros meios apropriados a realização prática
AFIRMANDO que o fortalecimento da paz e da se- desse princípio;
gurança internacionais, o alívio da tensão internacional, a b) Adotar medidas adequadas, legislativas e de outro
cooperação mútua entre todos os Estados, independente- caráter, com as sanções cabíveis e que proíbam toda dis-
mente de seus sistemas econômicos e sociais, o desarma- criminação contra a mulher;
mento geral e completo, e em particular o desarmamento c) Estabelecer a proteção jurídica dos direitos da mu-
nuclear sob um estrito e efetivo controle internacional, a lher numa base de igualdade com os do homem e garantir,
afirmação dos princípios de justiça, igualdade e proveito por meio dos tribunais nacionais competentes e de outras
mútuo nas relações entre países e a realização do direito instituições públicas, a proteção efetiva da mulher contra
dos povos submetidos a dominação colonial e estrangeira todo ato de discriminação;
e a ocupação estrangeira, à autodeterminação e indepen- d) Abster-se de incorrer em todo ato ou prática de dis-
dência, bem como o respeito da soberania nacional e da criminação contra a mulher e zelar para que as autorida-
integridade territorial, promoverão o progresso e o desen- des e instituições públicas atuem em conformidade com
volvimento sociais, e, em consequência, contribuirão para esta obrigação;
a realização da plena igualdade entre o homem e a mulher, e) Tomar as medidas apropriadas para eliminar a dis-
CONVENCIDOS de que a participação máxima da mulher,
criminação contra a mulher praticada por qualquer pes-
em igualdade de condições com o homem, em todos os cam-
soa, organização ou empresa;
pos, é indispensável para o desenvolvimento pleno e comple-
f) Adotar todas as medidas adequadas, inclusive de
to de um país, o bem-estar do mundo e a causa da paz,
caráter legislativo, para modificar ou derrogar leis, regu-
TENDO presente a grande contribuição da mulher ao
lamentos, usos e práticas que constituam discriminação
bem-estar da família e ao desenvolvimento da sociedade,
contra a mulher;
até agora não plenamente reconhecida, a importância so-
g) Derrogar todas as disposições penais nacionais que
cial da maternidade e a função dos pais na família e na
educação dos filhos, e conscientes de que o papel da mu- constituam discriminação contra a mulher.
lher na procriação não deve ser causa de discriminação
mas sim que a educação dos filhos exige a responsabilida- Artigo 3o
de compartilhada entre homens e mulheres e a sociedade Os Estados Partes tomarão, em todas as esferas e, em
como um conjunto, particular, nas esferas política, social, econômica e cultural,
RECONHECENDO que para alcançar a plena igualdade todas as medidas apropriadas, inclusive de caráter legisla-
entre o homem e a mulher é necessário modificar o papel tivo, para assegurar o pleno desenvolvimento e progresso
tradicional tanto do homem como da mulher na sociedade da mulher, com o objetivo de garantir-lhe o exercício e
e na família, gozo dos direitos humanos e liberdades fundamentais em
RESOLVIDOS a aplicar os princípios enunciados na igualdade de condições com o homem.
Declaração sobre a Eliminação da Discriminação contra a
Mulher e, para isto, a adotar as medidas necessárias a fim Artigo 4o
de suprimir essa discriminação em todas as suas formas e 1. A adoção pelos Estados-Partes de medidas espe-
manifestações, ciais de caráter temporário destinadas a acelerar a igual-
CONCORDARAM no seguinte: dade de fato entre o homem e a mulher não se consi-
derará discriminação na forma definida nesta Convenção,
PARTE I mas de nenhuma maneira implicará, como consequência,
a manutenção de normas desiguais ou separadas; essas
Artigo 1o medidas cessarão quando os objetivos de igualdade de
Para os fins da presente Convenção, a expressão “dis- oportunidade e tratamento houverem sido alcançados.
criminação contra a mulher” significará toda a distinção, 2. A adoção pelos Estados-Partes de medidas espe-
exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por ob- ciais, inclusive as contidas na presente Convenção, desti-
jeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, nadas a proteger a maternidade, não se considerará dis-
gozo ou exercício pela mulher, independentemente de seu criminatória.
estado civil, com base na igualdade do homem e da mu-
lher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos
campos político, econômico, social, cultural e civil ou em
qualquer outro campo.

39
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Artigo 5o PARTE III


Os Estados-Partes tornarão todas as medidas apropria-
das para: Artigo 10
a) Modificar os padrões socioculturais de conduta de Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropria-
homens e mulheres, com vistas a alcançar a eliminação dos das para eliminar a discriminação contra a mulher, a fim de
preconceitos e práticas consuetudinárias e de qualquer ou- assegurar-lhe a igualdade de direitos com o homem na esfe-
tra índole que estejam baseados na ideia da inferioridade ra da educação e em particular para assegurarem condições
ou superioridade de qualquer dos sexos ou em funções es- de igualdade entre homens e mulheres:
tereotipadas de homens e mulheres. a) As mesmas condições de orientação em matéria de
b) Garantir que a educação familiar inclua uma com- carreiras e capacitação profissional, acesso aos estudos e ob-
preensão adequada da maternidade como função social e tenção de diplomas nas instituições de ensino de todas as
o reconhecimento da responsabilidade comum de homens categorias, tanto em zonas rurais como urbanas; essa igual-
e mulheres no que diz respeito à educação e ao desenvol- dade deverá ser assegurada na educação pré-escolar, geral,
vimento de seus filhos, entendendo-se que o interesse dos técnica e profissional, incluída a educação técnica superior,
filhos constituirá a consideração primordial em todos os assim como todos os tipos de capacitação profissional;
casos. b) Acesso aos mesmos currículos e mesmos exames,
pessoal docente do mesmo nível profissional, instalações e
Artigo 6o material escolar da mesma qualidade;
Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropria- c) A eliminação de todo conceito estereotipado dos pa-
das, inclusive de caráter legislativo, para suprimir todas as péis masculino e feminino em todos os níveis e em todas as
formas de tráfico de mulheres e exploração da prostituição formas de ensino mediante o estímulo à educação mista e a
da mulher. outros tipos de educação que contribuam para alcançar este
objetivo e, em particular, mediante a modificação dos livros
PARTE II e programas escolares e adaptação dos métodos de ensino;
d) As mesmas oportunidades para obtenção de bolsas-
Artigo 7o de-estudo e outras subvenções para estudos;
Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropria- e) As mesmas oportunidades de acesso aos programas
das para eliminar a discriminação contra a mulher na vida de educação supletiva, incluídos os programas de alfabetiza-
política e pública do país e, em particular, garantirão, em ção funcional e de adultos, com vistas a reduzir, com a maior
igualdade de condições com os homens, o direito a: brevidade possível, a diferença de conhecimentos existentes
a) Votar em todas as eleições e referenda públicos e ser entre o homem e a mulher;
elegível para todos os órgãos cujos membros sejam objeto f) A redução da taxa de abandono feminino dos estudos
de eleições públicas; e a organização de programas para aquelas jovens e mulhe-
b) Participar na formulação de políticas governamen- res que tenham deixado os estudos prematuramente;
tais e na execução destas, e ocupar cargos públicos e exer- g) As mesmas oportunidades para participar ativamente
cer todas as funções públicas em todos os planos gover- nos esportes e na educação física;
namentais; h) Acesso a material informativo específico que contri-
c) Participar em organizações e associações não-gover- bua para assegurar a saúde e o bem-estar da família, incluí-
namentais que se ocupem da vida pública e política do país. da a informação e o assessoramento sobre planejamento da
família.
Artigo 8o
Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apro- Artigo 11
priadas para garantir, à mulher, em igualdade de condições 1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apro-
com o homem e sem discriminação alguma, a oportunida- priadas para eliminar a discriminação contra a mulher na
de de representar seu governo no plano internacional e de esfera do emprego a fim de assegurar, em condições de
participar no trabalho das organizações internacionais. igualdade entre homens e mulheres, os mesmos direitos,
em particular:
Artigo 9o a) O direito ao trabalho como direito inalienável de todo
1. Os Estados-Partes outorgarão às mulheres direitos ser humano;
iguais aos dos homens para adquirir, mudar ou conservar b) O direito às mesmas oportunidades de emprego,
sua nacionalidade. Garantirão, em particular, que nem o inclusive a aplicação dos mesmos critérios de seleção em
casamento com um estrangeiro, nem a mudança de na- questões de emprego;
cionalidade do marido durante o casamento, modifiquem c) O direito de escolher livremente profissão e emprego,
automaticamente a nacionalidade da esposa, convertam- o direito à promoção e à estabilidade no emprego e a todos
na em apátrida ou a obriguem a adotar a nacionalidade os benefícios e outras condições de serviço, e o direito ao
do cônjuge. acesso à formação e à atualização profissionais, incluindo
2. Os Estados-Partes outorgarão à mulher os mesmos aprendizagem, formação profissional superior e treinamen-
direitos que ao homem no que diz respeito à nacionalidade to periódico;
dos filhos.

40
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

d) O direito a igual remuneração, inclusive benefícios, Artigo 14


e igualdade de tratamento relativa a um trabalho de igual 1. Os Estados-Partes levarão em consideração os pro-
valor, assim como igualdade de tratamento com respeito à blemas específicos enfrentados pela mulher rural e o im-
avaliação da qualidade do trabalho; portante papel que desempenha na subsistência econômi-
e) O direito à seguridade social, em particular em casos ca de sua família, incluído seu trabalho em setores não-mo-
de aposentadoria, desemprego, doença, invalidez, velhice netários da economia, e tomarão todas as medidas apro-
ou outra incapacidade para trabalhar, bem como o direito priadas para assegurar a aplicação dos dispositivos desta
de férias pagas; Convenção à mulher das zonas rurais.
f) O direito à proteção da saúde e à segurança nas con- 2. Os Estados-Partes adotarão todas as medias apro-
dições de trabalho, inclusive a salvaguarda da função de priadas para eliminar a discriminação contra a mulher nas
reprodução. zonas rurais a fim de assegurar, em condições de igualdade
2. A fim de impedir a discriminação contra a mulher por entre homens e mulheres, que elas participem no desen-
razões de casamento ou maternidade e assegurar a efetivi- volvimento rural e dele se beneficiem, e em particular as
dade de seu direito a trabalhar, os Estados-Partes tomarão segurar-lhes-ão o direito a:
as medidas adequadas para: a) Participar da elaboração e execução dos planos de
a) Proibir, sob sanções, a demissão por motivo de gra- desenvolvimento em todos os níveis;
videz ou licença de maternidade e a discriminação nas de- b) Ter acesso a serviços médicos adequados, inclusive
missões motivadas pelo estado civil; informação, aconselhamento e serviços em matéria de pla-
b) Implantar a licença de maternidade, com salário nejamento familiar;
pago ou benefícios sociais comparáveis, sem perda do em- c) Beneficiar-se diretamente dos programas de seguri-
prego anterior, antiguidade ou benefícios sociais; dade social;
c) Estimular o fornecimento de serviços sociais de d) Obter todos os tipos de educação e de formação,
apoio necessários para permitir que os pais combinem as acadêmica e não-acadêmica, inclusive os relacionados à
obrigações para com a família com as responsabilidades alfabetização funcional, bem como, entre outros, os bene-
do trabalho e a participação na vida pública, especialmente
fícios de todos os serviços comunitário e de extensão a fim
mediante fomento da criação e desenvolvimento de uma
de aumentar sua capacidade técnica;
rede de serviços destinados ao cuidado das crianças;
e) Organizar grupos de auto-ajuda e cooperativas a fim
d) Dar proteção especial às mulheres durante a gravi-
de obter igualdade de acesso às oportunidades econômi-
dez nos tipos de trabalho comprovadamente prejudiciais
cas mediante emprego ou trabalho por conta própria;
para elas.
f) Participar de todas as atividades comunitárias;
3. A legislação protetora relacionada com as questões
g) Ter acesso aos créditos e empréstimos agrícolas, aos
compreendidas neste artigo será examinada periodica-
mente à luz dos conhecimentos científicos e tecnológicos serviços de comercialização e às tecnologias apropriadas, e
e será revista, derrogada ou ampliada conforme as neces- receber um tratamento igual nos projetos de reforma agrá-
sidades. ria e de reestabelecimentos;
h) gozar de condições de vida adequadas, particular-
Artigo 12 mente nas esferas da habitação, dos serviços sanitários, da
1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apro- eletricidade e do abastecimento de água, do transporte e
priadas para eliminar a discriminação contra a mulher na das comunicações.
esfera dos cuidados médicos a fim de assegurar, em con-
dições de igualdade entre homens e mulheres, o acesso a PARTE IV
serviços médicos, inclusive os referentes ao planejamento
familiar. Artigo 15
2. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 1o, os Es- 1. Os Estados-Partes reconhecerão à mulher a igualda-
tados-Partes garantirão à mulher assistência apropriadas de com o homem perante a lei.
em relação à gravidez, ao parto e ao período posterior ao 2. Os Estados-Partes reconhecerão à mulher, em maté-
parto, proporcionando assistência gratuita quando assim rias civis, uma capacidade jurídica idêntica do homem e as
for necessário, e lhe assegurarão uma nutrição adequada mesmas oportunidades para o exercício dessa capacidade.
durante a gravidez e a lactância. Em particular, reconhecerão à mulher iguais direitos para
Artigo 13 firmar contratos e administrar bens e dispensar-lhe-ão um
Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apro- tratamento igual em todas as etapas do processo nas cor-
priadas para eliminar a discriminação contra a mulher em tes de justiça e nos tribunais.
outras esferas da vida econômica e social a fim de assegu- 3. Os Estados-Partes convém em que todo contrato ou
rar, em condições de igualdade entre homens e mulheres, outro instrumento privado de efeito jurídico que tenda a
os mesmos direitos, em particular: restringir a capacidade jurídica da mulher será considerado
a) O direito a benefícios familiares; nulo.
b) O direito a obter empréstimos bancários, hipotecas 4. Os Estados-Partes concederão ao homem e à mulher
e outras formas de crédito financeiro; os mesmos direitos no que respeita à legislação relativa ao
c) O direito a participar em atividades de recreação, es- direito das pessoas à liberdade de movimento e à liberdade
portes e em todos os aspectos da vida cultural. de escolha de residência e domicílio.

41
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Artigo 16 3. A eleição inicial realizar-se-á seis meses após a data


1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas ade- de entrada em vigor desta Convenção. Pelo menos três
quadas para eliminar a discriminação contra a mulher em meses antes da data de cada eleição, o Secretário-Geral
todos os assuntos relativos ao casamento e às ralações fa- das Nações Unidas dirigirá uma carta aos Estados-Partes
miliares e, em particular, com base na igualdade entre ho- convidando-os a apresentar suas candidaturas, no prazo
mens e mulheres, assegurarão: de dois meses. O Secretário-Geral preparará uma lista, por
a) O mesmo direito de contrair matrimônio; ordem alfabética de todos os candidatos assim apresen-
b) O mesmo direito de escolher livremente o cônjuge tados, com indicação dos Estados-Partes que os tenham
e de contrair matrimônio somente com livre e pleno con- apresentado e comunica-la-á aos Estados Partes;
sentimento; 4. Os membros do Comitê serão eleitos durante uma
c) Os mesmos direitos e responsabilidades durante o reunião dos Estados-Partes convocado pelo Secretário-Ge-
casamento e por ocasião de sua dissolução; ral na sede das Nações Unidas. Nessa reunião, em que o
d) Os mesmos direitos e responsabilidades como pais, quorum será alcançado com dois terços dos Estados-Par-
qualquer que seja seu estado civil, em matérias pertinentes tes, serão eleitos membros do Comitê os candidatos que
aos filhos. Em todos os casos, os interesses dos filhos serão obtiverem o maior número de votos e a maioria absoluta
a consideração primordial; de votos dos representantes dos Estados-Partes presentes
e) Os mesmos direitos de decidir livre a responsavel- e votantes;
mente sobre o número de seus filhos e sobre o intervalo 5. Os membros do Comitê serão eleitos para um man-
entre os nascimentos e a ter acesso à informação, à educa- dato de quatro anos. Entretanto, o mandato de nove dos
ção e aos meios que lhes permitam exercer esses direitos; membros eleitos na primeira eleição expirará ao fim de
f) Os mesmos direitos e responsabilidades com respei- dois anos; imediatamente após a primeira eleição os no-
to à tutela, curatela, guarda e adoção dos filhos, ou insti- mes desses nove membros serão escolhidos, por sorteio,
tutos análogos, quando esses conceitos existirem na legis- pelo Presidente do Comitê;
lação nacional. Em todos os casos os interesses dos filhos 6. A eleição dos cinco membros adicionais do Comitê
serão a consideração primordial; realizar-se-á em conformidade com o disposto nos pará-
g) Os mesmos direitos pessoais como marido e mu- grafos 2, 3 e 4 deste Artigo, após o depósito do trigési-
lher, inclusive o direito de escolher sobrenome, profissão mo-quinto instrumento de ratificação ou adesão. O man-
e ocupação; dato de dois dos membros adicionais eleitos nessa ocasião,
h) Os mesmos direitos a ambos os cônjuges em maté- cujos nomes serão escolhidos, por sorteio, pelo Presidente
ria de propriedade, aquisição, gestão, administração, gozo do Comitê, expirará ao fim de dois anos;
e disposição dos bens, tanto a título gratuito quanto à tí- 7. Para preencher as vagas fortuitas, o Estado-Par-
tulo oneroso. te cujo perito tenha deixado de exercer suas funções de
2. Os esponsais e o casamento de uma criança não te- membro do Comitê nomeará outro perito entre seus nacio-
rão efeito legal e todas as medidas necessárias, inclusive as nais, sob reserva da aprovação do Comitê;
de caráter legislativo, serão adotadas para estabelecer uma 8. Os membros do Comitê, mediante aprovação da As-
idade mínima para o casamento e para tornar obrigatória a sembléia Geral, receberão remuneração dos recursos das
inscrição de casamentos em registro oficial. Nações Unidas, na forma e condições que a Assembléia
Geral decidir, tendo em vista a importância das funções do
PARTE V Comitê;
9. O Secretário-Geral das Nações Unidas proporciona-
Artigo 17 rá o pessoal e os serviços necessários para o desempenho
1. Com o fim de examinar os progressos alcançados na eficaz das funções do Comitê em conformidade com esta
aplicação desta Convenção, será estabelecido um Comitê Convenção.
sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher (do-
ravante denominado o Comitê) composto, no momento da Artigo 18
entrada em vigor da Convenção, de dezoito e, após sua 1. Os Estados-Partes comprometem-se a submeter ao
ratificação ou adesão pelo trigésimo-quinto Estado-Parte, Secretário-Geral das Nações Unidas, para exame do Comi-
de vinte e três peritos de grande prestígio moral e compe- tê, um relatório sobre as medidas legislativas, judiciárias,
tência na área abarcada pela Convenção. Os peritos serão administrativas ou outras que adotarem para tornarem efe-
eleitos pelos Estados-Partes entre seus nacionais e exer- tivas as disposições desta Convenção e sobre os progres-
cerão suas funções a título pessoal; será levada em conta sos alcançados a esse respeito:
uma repartição geográfica equitativa e a representação das a) No prazo de um ano a partir da entrada em vigor da
formas diversas de civilização assim como dos principais Convenção para o Estado interessado; e
sistemas jurídicos; b) Posteriormente, pelo menos cada quatro anos e
2. Os membros do Comitê serão eleitos em escrutínio toda vez que o Comitê a solicitar.
secreto de uma lista de pessoas indicadas pelos Estados 2. Os relatórios poderão indicar fatores e dificuldades
-Partes. Cada um dos Estados-Partes poderá indicar uma que influam no grau de cumprimento das obrigações esta-
pessoa entre seus próprios nacionais; belecidos por esta Convenção.

42
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Artigo 19 4. Esta Convenção estará aberta à adesão de todos os


1. O Comitê adotará seu próprio regulamento. Estados. A adesão efetuar-se-á através do depósito de um
2. O Comitê elegerá sua Mesa por um período de dois instrumento de adesão junto ao Secretário-Geral das Na-
anos. ções Unidas.

Artigo 20 Artigo 26
1. O Comitê se reunirá normalmente todos os anos por 1. Qualquer Estado-Parte poderá, em qualquer mo-
um período não superior a duas semanas para examinar mento, formular pedido de revisão desta revisão desta
os relatórios que lhe sejam submetidos em conformidade Convenção, mediante notificação escrita dirigida ao Secre-
com o Artigo 18 desta Convenção. tário-Geral das Nações Unidas.
2. As reuniões do Comitê realizar-se-ão normalmente 2. A Assembleia Geral das Nações Unidas decidirá so-
na sede das Nações Unidas ou em qualquer outro lugar bre as medidas a serem tomadas, se for o caso, com respei-
que o Comitê determine. to a esse pedido.

Artigo 21 Artigo 27
1. O Comitê, através do Conselho Econômico e Social 1. Esta Convenção entrará em vigor no trigésimo dia
das Nações Unidas, informará anualmente a Assembléia a partir da data do depósito do vigésimo instrumento de
Geral das Nações Unidas de suas atividades e poderá apre- ratificação ou adesão junto ao Secretário-Geral das Nações
sentar sugestões e recomendações de caráter geral basea- Unidas.
das no exame dos relatórios e em informações recebidas 2. Para cada Estado que ratificar a presente Convenção
dos Estados-Partes. Essas sugestões e recomendações de ou a ela aderir após o depósito do vigésimo instrumento
caráter geral serão incluídas no relatório do Comitê junta- de ratificação ou adesão, a Convenção entrará em vigor
mente com as observações que os Estados-Partes tenham no trigésimo dia após o depósito de seu instrumento de
porventura formulado. ratificação ou adesão.
2. O Secretário-Geral transmitirá, para informação, os
relatórios do Comitê à Comissão sobre a Condição da Mu- Artigo 28
lher. 1. O Secretário-Geral das Nações Unidas receberá e en-
As Agências Especializadas terão direito a estar repre- viará a todos os Estados o texto das reservas feitas pelos
sentadas no exame da aplicação das disposições desta Estados no momento da ratificação ou adesão.
Convenção que correspondam à esfera de suas atividades. 2. Não será permitida uma reserva incompatível com o
O Comitê poderá convidar as Agências Especializadas a objeto e o propósito desta Convenção.
apresentar relatórios sobre a aplicação da Convenção nas 3. As reservas poderão ser retiradas a qualquer mo-
áreas que correspondam à esfera de suas atividades. mento por uma notificação endereçada com esse objetivo
ao Secretário-Geral das Nações Unidas, que informará a
PARTE VI todos os Estados a respeito. A notificação surtirá efeito na
data de seu recebimento.
Artigo 23
Nada do disposto nesta Convenção prejudicará qual- Artigo 29
quer disposição que seja mais propícia à obtenção da 1. Qualquer controvérsia entre dois ou mais Estados
igualdade entre homens e mulheres e que seja contida: -Partes relativa à interpretação ou aplicação desta Con-
a) Na legislação de um Estado-Parte ou venção e que não for resolvida por negociações será, a
b) Em qualquer outra convenção, tratado ou acordo in- pedido de qualquer das Partes na controvérsia, submetida
ternacional vigente nesse Estado. a arbitragem. Se no prazo de seis meses a partir da data
do pedido de arbitragem as Partes não acordarem sobre a
Artigo 24 forma da arbitragem, qualquer das Partes poderá subme-
Os Estados-Partes comprometem-se a adotar todas as ter a controvérsia à Corte Internacional de Justiça mediante
medidas necessárias em âmbito nacional para alcançar a pedido em conformidade com o Estatuto da Corte.
plena realização dos direitos reconhecidos nesta Conven- 2. Qualquer Estado-Parte, no momento da assinatura
ção. ou ratificação desta Convenção ou de adesão a ela, pode-
rá declarar que não se considera obrigado pelo parágrafo
Artigo 25 anterior. Os demais Estados-Partes não estarão obrigados
1. Esta Convenção estará aberta à assinatura de todos pelo parágrafo anterior perante nenhum Estado-Parte que
os Estados. tenha formulado essa reserva.
2. O Secretário-Geral das Nações Unidas fica designa- 3. Qualquer Estado-Parte que tenha formulado a reser-
do depositário desta Convenção. va prevista no parágrafo anterior poderá retirá-la em qual-
3. Esta Convenção está sujeita a ratificação. Os instru- quer momento por meio de notificação ao Secretário-Geral
mentos de ratificação serão depositados junto ao Secretá- das Nações Unidas.
rio-Geral das Nações Unidas.

43
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Artigo 30 § 2o  Cabe à família, à sociedade e ao poder público


Esta convenção, cujos textos em árabe, chinês, espa- criar as condições necessárias para o efetivo exercício dos
nhol, francês, inglês e russo são igualmente autênticos será direitos enunciados no caput.
depositada junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas. Art. 4o  Na interpretação desta Lei, serão considerados
Em testemunho do que, os abaixo-assinados devida- os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as
mente autorizados, assinaram esta Convenção. condições peculiares das mulheres em situação de violên-
cia doméstica e familiar.

LEI FEDERAL Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE TÍTULO II


2006 (LEI MARIA DA PENHA). DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA
A MULHER
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006.
Art. 5o  Para os efeitos desta Lei, configura violência
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e
doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou
familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar patrimonial:                        (Vide Lei complementar nº 150,
a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Jui- de 2015)
zados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; I - no âmbito da unidade doméstica, compreendi-
altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei da como o espaço de convívio permanente de pessoas,
de Execução Penal; e dá outras providências. com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas;
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- II - no âmbito da família, compreendida como a comu-
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: nidade formada por indivíduos que são ou se consideram
aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou
TÍTULO I por vontade expressa;
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o
agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, in-
Art. 1o  Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a dependentemente de coabitação.
violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos Parágrafo único.  As relações pessoais enunciadas nes-
do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção te artigo independem de orientação sexual.
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra Art. 6o  A violência doméstica e familiar contra a mu-
a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Pu- lher constitui uma das formas de violação dos direitos hu-
nir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tra- manos.
tados internacionais ratificados pela República Federativa
do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência CAPÍTULO II
Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medi- DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMI-
das de assistência e proteção às mulheres em situação de LIAR CONTRA A MULHER
violência doméstica e familiar.
Art. 2o  Toda mulher, independentemente de classe, Art. 7o  São formas de violência doméstica e familiar
raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educa-
contra a mulher, entre outras:
cional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais ine-
I - a violência física, entendida como qualquer conduta
rentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as opor-
que ofenda sua integridade ou saúde corporal;
tunidades e facilidades para viver sem violência, preservar
sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, II - a violência psicológica, entendida como qualquer
intelectual e social. conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da
Art. 3o  Serão asseguradas às mulheres as condições autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno de-
para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à senvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante
acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidada- ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, iso-
nia, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência lamento, vigilância constante, perseguição contumaz, in-
familiar e comunitária. sulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação
§ 1o  O poder público desenvolverá políticas que visem do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause
garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
relações domésticas e familiares no sentido de resguardá III - a violência sexual, entendida como qualquer con-
-las de toda forma de negligência, discriminação, explora- duta que a constranja a presenciar, a manter ou a partici-
ção, violência, crueldade e opressão. par de relação sexual não desejada, mediante intimidação,

44
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comerciali- VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Mi-
zar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que litar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos
a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados
a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prosti- no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia;
tuição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipu- VIII - a promoção de programas educacionais que dis-
lação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos seminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da
sexuais e reprodutivos; pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer etnia;
conduta que configure retenção, subtração, destruição IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os
parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos humanos, à equidade de gênero e de raça ou etnia e ao
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas ne- problema da violência doméstica e familiar contra a mulher.
cessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer condu- CAPÍTULO II
ta que configure calúnia, difamação ou injúria. DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
TÍTULO III
DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE Art. 9o  A assistência à mulher em situação de violên-
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR cia doméstica e familiar será prestada de forma articulada
CAPÍTULO I e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Or-
DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO gânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no
Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e
Art. 8o  A política pública que visa coibir a violência políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando
doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de for o caso.
§ 1o  O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da
um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do
mulher em situação de violência doméstica e familiar no ca-
Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governa-
dastro de programas assistenciais do governo federal, esta-
mentais, tendo por diretrizes:
dual e municipal.
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do
§ 2o  O juiz assegurará à mulher em situação de vio-
Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas
lência doméstica e familiar, para preservar sua integridade
de segurança pública, assistência social, saúde, educação,
física e psicológica:
trabalho e habitação;
I - acesso prioritário à remoção quando servidora públi-
II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e
ca, integrante da administração direta ou indireta;
outras informações relevantes, com a perspectiva de gê- II - manutenção do vínculo trabalhista, quando neces-
nero e de raça ou etnia, concernentes às causas, às conse- sário o afastamento do local de trabalho, por até seis meses.
qüências e à frequência da violência doméstica e familiar § 3o  A assistência à mulher em situação de violência
contra a mulher, para a sistematização de dados, a serem doméstica e familiar compreenderá o acesso aos benefícios
unificados nacionalmente, e a avaliação periódica dos re- decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico,
sultados das medidas adotadas; incluindo os serviços de contracepção de emergência, a
III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e
valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outros
a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exa- procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos de
cerbem a violência doméstica e familiar, de acordo com o violência sexual.
estabelecido no inciso III do art. 1o, no inciso IV do art. 3o e
no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal; CAPÍTULO III
IV - a implementação de atendimento policial especia- DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL
lizado para as mulheres, em particular nas Delegacias de
Atendimento à Mulher; Art. 10.  Na hipótese da iminência ou da prática de vio-
V - a promoção e a realização de campanhas educati- lência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade
vas de prevenção da violência doméstica e familiar contra a policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de
mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral, imediato, as providências legais cabíveis.
e a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção aos Parágrafo único.  Aplica-se o disposto no caput deste
direitos humanos das mulheres; artigo ao descumprimento de medida protetiva de urgência
VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, deferida.
termos ou outros instrumentos de promoção de parceria Art. 10-A.  É direito da mulher em situação de violên-
entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades cia doméstica e familiar o atendimento policial e pericial
não-governamentais, tendo por objetivo a implementação especializado, ininterrupto e prestado por servidores - pre-
de programas de erradicação da violência doméstica e fa- ferencialmente do sexo feminino - previamente capacita-
miliar contra a mulher; dos.                   (Incluíd pela Lei nº 13.505, de 2017)

45
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

§ 1o  A inquirição de mulher em situação de violência II - colher todas as provas que servirem para o esclare-
doméstica e familiar ou de testemunha de violência do- cimento do fato e de suas circunstâncias;
méstica, quando se tratar de crime contra a mulher, obede- III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, ex-
cerá às seguintes diretrizes:                   (Incluído pela Lei nº pediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para
13.505, de 2017) a concessão de medidas protetivas de urgência;
I - salvaguarda da integridade física, psíquica e emo- IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de
cional da depoente, considerada a sua condição peculiar delito da ofendida e requisitar outros exames periciais ne-
de pessoa em situação de violência doméstica e fami- cessários;
liar;                   (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) V - ouvir o agressor e as testemunhas;
II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar
em situação de violência doméstica e familiar, familiares aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando
e testemunhas terão contato direto com investigados ou a existência de mandado de prisão ou registro de outras
suspeitos e pessoas a eles relacionadas;                   (Incluí- ocorrências policiais contra ele;
do pela Lei nº 13.505, de 2017) VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito po-
III - não revitimização da depoente, evitando sucessivas licial ao juiz e ao Ministério Público.
inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível § 1o  O pedido da ofendida será tomado a termo pela
e administrativo, bem como questionamentos sobre a vida autoridade policial e deverá conter:
privada.                   (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) I - qualificação da ofendida e do agressor;
§ 2o  Na inquirição de mulher em situação de violência II - nome e idade dos dependentes;
doméstica e familiar ou de testemunha de delitos de que III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas
trata esta Lei, adotar-se-á, preferencialmente, o seguinte solicitadas pela ofendida.
procedimento:                   (Incluído pela Lei nº 13.505, de § 2o  A autoridade policial deverá anexar ao documento
2017) referido no § 1o o boletim de ocorrência e cópia de todos
I - a inquirição será feita em recinto especialmente os documentos disponíveis em posse da ofendida.
projetado para esse fim, o qual conterá os equipamentos
§ 3o  Serão admitidos como meios de prova os laudos
próprios e adequados à idade da mulher em situação de
ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos
violência doméstica e familiar ou testemunha e ao tipo e à
de saúde.
gravidade da violência sofrida;                  (Incluído pela Lei
Art. 12-A.  Os Estados e o Distrito Federal, na formula-
nº 13.505, de 2017)
ção de suas políticas e planos de atendimento à mulher em
II - quando for o caso, a inquirição será intermedia-
situação de violência doméstica e familiar, darão priorida-
da por profissional especializado em violência doméstica
de, no âmbito da Polícia Civil, à criação de Delegacias Espe-
e familiar designado pela autoridade judiciária ou poli-
cializadas de Atendimento à Mulher (Deams), de Núcleos
cial;                   (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
III - o depoimento será registrado em meio eletrônico Investigativos de Feminicídio e de equipes especializadas
ou magnético, devendo a de gravação e a mídia integrar o para o atendimento e a investigação das violências graves
inquérito.                   (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) contra a mulher.
Art. 11.  No atendimento à mulher em situação de vio- Art. 12-B.  (VETADO).                   (Incluído pela Lei nº
lência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá, 13.505, de 2017)
entre outras providências: § 1o  (VETADO).                   (Incluído pela Lei nº 13.505,
I - garantir proteção policial, quando necessário, co- de 2017)
municando de imediato ao Ministério Público e ao Poder § 2o  (VETADO.                   (Incluído pela Lei nº 13.505,
Judiciário; de 2017)
II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saú- § 3o  A autoridade policial poderá requisitar os servi-
de e ao Instituto Médico Legal; ços públicos necessários à defesa da mulher em situação
III - fornecer transporte para a ofendida e seus depen- de violência doméstica e familiar e de seus dependen-
dentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco tes.                   (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017)
de vida;
IV - se necessário, acompanhar a ofendida para asse- TÍTULO IV
gurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência DOS PROCEDIMENTOS
ou do domicílio familiar; CAPÍTULO I
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nes- DISPOSIÇÕES GERAIS
ta Lei e os serviços disponíveis.
Art. 12.  Em todos os casos de violência doméstica e Art. 13.  Ao processo, ao julgamento e à execução das
familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, de- causas cíveis e criminais decorrentes da prática de violência
verá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as nor-
procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código mas dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da
de Processo Penal: legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao
I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e idoso que não conflitarem com o estabelecido nesta Lei.
tomar a representação a termo, se apresentada;

46
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Art. 14.  Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar Parágrafo único.  O juiz poderá revogar a prisão preven-
contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com compe- tiva se, no curso do processo, verificar a falta de motivo para
tência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem
Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o pro- razões que a justifiquem.
cesso, o julgamento e a execução das causas decorrentes Art. 21.  A ofendida deverá ser notificada dos atos pro-
da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. cessuais relativos ao agressor, especialmente dos pertinen-
Parágrafo único.  Os atos processuais poderão realizar- tes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intima-
se em horário noturno, conforme dispuserem as normas de ção do advogado constituído ou do defensor público.
organização judiciária. Parágrafo único.  A ofendida não poderá entregar inti-
Art. 15.  É competente, por opção da ofendida, para os mação ou notificação ao agressor.
processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado:
I - do seu domicílio ou de sua residência; Seção II
II - do lugar do fato em que se baseou a demanda; Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam
III - do domicílio do agressor. o Agressor
Art. 16.  Nas ações penais públicas condicionadas à re-
presentação da ofendida de que trata esta Lei, só será admi- Art. 22.  Constatada a prática de violência doméstica e
tida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá
especialmente designada com tal finalidade, antes do rece- aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separada-
bimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. mente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre
Art. 17.  É vedada a aplicação, nos casos de violência do- outras:
méstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas,
ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei
de pena que implique o pagamento isolado de multa. no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência
com a ofendida;
CAPÍTULO II
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das
Seção I
testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre es-
Disposições Gerais
tes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemu-
Art. 18.  Recebido o expediente com o pedido da ofen-
nhas por qualquer meio de comunicação;
dida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas:
c) frequentação de determinados lugares a fim de pre-
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre
servar a integridade física e psicológica da ofendida;
as medidas protetivas de urgência; IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar
de assistência judiciária, quando for o caso; ou serviço similar;
III - comunicar ao Ministério Público para que adote as V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
providências cabíveis. § 1o  As medidas referidas neste artigo não impedem a
Art. 19.  As medidas protetivas de urgência poderão ser aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre
concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigi-
ou a pedido da ofendida. rem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério
§ 1o  As medidas protetivas de urgência poderão ser Público.
concedidas de imediato, independentemente de audiência § 2o  Na hipótese de aplicação do inciso I, encontran-
das partes e de manifestação do Ministério Público, deven- do-se o agressor nas condições mencionadas no  caput e
do este ser prontamente comunicado. incisos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de
§ 2o  As medidas protetivas de urgência serão aplicadas 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou
isolada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e
qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que determinará a restrição do porte de armas, ficando o supe-
os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou vio- rior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da
lados. determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de
§ 3o  Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.
ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas proteti- § 3o  Para garantir a efetividade das medidas protetivas
vas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento,
necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de auxílio da força policial.
seu patrimônio, ouvido o Ministério Público. § 4o  Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no
Art. 20.  Em qualquer fase do inquérito policial ou da que couber, o disposto no caput e nos  §§ 5o e 6º do art.
instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de
decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Processo Civil).
Público ou mediante representação da autoridade policial.

47
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Seção III Art. 28.  É garantido a toda mulher em situação de vio-


Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida lência doméstica e familiar o acesso aos serviços de De-
fensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos
Art. 23.  Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo termos da lei, em sede policial e judicial, mediante atendi-
de outras medidas: mento específico e humanizado.
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a pro-
grama oficial ou comunitário de proteção ou de atendi- TÍTULO V
mento; DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus
dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do Art. 29.  Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar
agressor; contra a Mulher que vierem a ser criados poderão contar
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a ser in-
prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e tegrada por profissionais especializados nas áreas psicos-
alimentos; social, jurídica e de saúde.
IV - determinar a separação de corpos. Art. 30.  Compete à equipe de atendimento multidis-
Art. 24.  Para a proteção patrimonial dos bens da so- ciplinar, entre outras atribuições que lhe forem reservadas
ciedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da pela legislação local, fornecer subsídios por escrito ao juiz,
mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguin- ao Ministério Público e à Defensoria Pública, mediante lau-
tes medidas, entre outras: dos ou verbalmente em audiência, e desenvolver trabalhos
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo de orientação, encaminhamento, prevenção e outras me-
agressor à ofendida; didas, voltados para a ofendida, o agressor e os familiares,
II - proibição temporária para a celebração de atos e com especial atenção às crianças e aos adolescentes.
contratos de compra, venda e locação de propriedade em Art. 31.  Quando a complexidade do caso exigir avalia-
comum, salvo expressa autorização judicial; ção mais aprofundada, o juiz poderá determinar a manifes-
III - suspensão das procurações conferidas pela ofen-
tação de profissional especializado, mediante a indicação
dida ao agressor;
da equipe de atendimento multidisciplinar.
IV - prestação de caução provisória, mediante depó-
Art. 32.  O Poder Judiciário, na elaboração de sua pro-
sito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da
posta orçamentária, poderá prever recursos para a criação
prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.
e manutenção da equipe de atendimento multidisciplinar,
Parágrafo único.  Deverá o juiz oficiar ao cartório com-
nos termos da Lei de Diretrizes Orçamentárias.
petente para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo.
TÍTULO VI
CAPÍTULO III
DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

Art. 25.  O Ministério Público intervirá, quando não for Art. 33.  Enquanto não estruturados os Juizados de
parte, nas causas cíveis e criminais decorrentes da violência Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas
doméstica e familiar contra a mulher. criminais acumularão as competências cível e criminal para
Art. 26.  Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de vio-
outras atribuições, nos casos de violência doméstica e fa- lência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as
miliar contra a mulher, quando necessário: previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação
I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, processual pertinente.
de educação, de assistência social e de segurança, entre Parágrafo único.  Será garantido o direito de preferên-
outros; cia, nas varas criminais, para o processo e o julgamento das
II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particu- causas referidas no caput.
lares de atendimento à mulher em situação de violência
doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as medidas ad- TÍTULO VII
ministrativas ou judiciais cabíveis no tocante a quaisquer DISPOSIÇÕES FINAIS
irregularidades constatadas;
III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar Art. 34.  A instituição dos Juizados de Violência Domés-
contra a mulher. tica e Familiar contra a Mulher poderá ser acompanhada
pela implantação das curadorias necessárias e do serviço
CAPÍTULO IV de assistência judiciária.
DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA Art. 35.  A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
nicípios poderão criar e promover, no limite das respectivas
Art. 27.  Em todos os atos processuais, cíveis e crimi- competências:
nais, a mulher em situação de violência doméstica e fami- I - centros de atendimento integral e multidisciplinar
liar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado o para mulheres e respectivos dependentes em situação de
previsto no art. 19 desta Lei. violência doméstica e familiar;

48
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

II - casas-abrigos para mulheres e respectivos depen- f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de re-
dentes menores em situação de violência doméstica e fa- lações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou
miliar; com violência contra a mulher na forma da lei específica;
III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços ........................................................... ” (NR)
de saúde e centros de perícia médico-legal especializados Art. 44.  O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
no atendimento à mulher em situação de violência domés- dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as
tica e familiar; seguintes alterações:
IV - programas e campanhas de enfrentamento da vio- “Art. 129.  ..................................................
lência doméstica e familiar; ..................................................................
V - centros de educação e de reabilitação para os § 9o  Se a lesão for praticada contra ascendente, des-
agressores. cendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem
Art. 36.  A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o
nicípios promoverão a adaptação de seus órgãos e de seus agente das relações domésticas, de coabitação ou de hos-
programas às diretrizes e aos princípios desta Lei. pitalidade:
Art. 37.  A defesa dos interesses e direitos transindivi- Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
duais previstos nesta Lei poderá ser exercida, concorrente- ..................................................................
mente, pelo Ministério Público e por associação de atuação § 11.  Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será
na área, regularmente constituída há pelo menos um ano, aumentada de um terço se o crime for cometido contra
nos termos da legislação civil. pessoa portadora de deficiência.” (NR)
Parágrafo único.  O requisito da pré-constituição po- Art. 45.  O art. 152 da Lei no 7.210, de 11 de julho de
derá ser dispensado pelo juiz quando entender que não há 1984  (Lei de Execução Penal), passa a vigorar com a se-
outra entidade com representatividade adequada para o guinte redação:
ajuizamento da demanda coletiva. “Art. 152.  ...................................................
Art. 38.  As estatísticas sobre a violência doméstica e Parágrafo único.  Nos casos de violência doméstica
familiar contra a mulher serão incluídas nas bases de dados
contra a mulher, o juiz poderá determinar o compareci-
dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça e Segurança a fim
mento obrigatório do agressor a programas de recupera-
de subsidiar o sistema nacional de dados e informações
ção e reeducação.” (NR)
relativo às mulheres.
Art. 46.  Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco)
Parágrafo único.  As Secretarias de Segurança Públi-
dias após sua publicação.
ca dos Estados e do Distrito Federal poderão remeter suas
Brasília,  7  de  agosto  de 2006; 185o da Independência
informações criminais para a base de dados do Ministério
e 118o da República.
da Justiça.
Art. 39.  A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, no limite de suas competências e nos termos
das respectivas leis de diretrizes orçamentárias, poderão CÓDIGO PENAL BRASILEIRO (ART. 140).
estabelecer dotações orçamentárias específicas, em cada
exercício financeiro, para a implementação das medidas
estabelecidas nesta Lei.
Art. 40.  As obrigações previstas nesta Lei não excluem Injúria
outras decorrentes dos princípios por ela adotados. Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade
Art. 41.  Aos crimes praticados com violência domésti- ou o decoro:
ca e familiar contra a mulher, independentemente da pena Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de § 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
1995. I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou
Art. 42.  O art. 313 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de ou- diretamente a injúria;
tubro de 1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar II - no caso de retorsão imediata, que consista em ou-
acrescido do seguinte inciso IV: tra injúria.
“Art. 313.  ................................................. § 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato,
................................................................ que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se consi-
IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar derem aviltantes:
contra a mulher, nos termos da lei específica, para garantir Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa,
a execução das medidas protetivas de urgência.” (NR) além da pena correspondente à violência.
Art. 43.  A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-Lei § 3o  Se a injúria consiste na utilização de elementos
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição
a vigorar com a seguinte redação: de pessoa idosa ou portadora de deficiência:       (Redação
“Art. 61.  .................................................. dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
................................................................. Pena - reclusão de um a três anos e multa.   
II - ............................................................
.................................................................

49
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

LEI FEDERAL N° 9.455, DE 7 DE ABRIL DE 1997 LEI FEDERAL N° 2.889, DE 1º DE OUTUBRO


(CRIME DE TORTURA). DE 1956 (DEFINE E PUNE O CRIME DE
GENOCÍDIO).

LEI Nº 9.455, DE 7 DE ABRIL DE 1997.


LEI Nº 2.889, DE 1º DE OUTUBRO DE 1956.
Define os crimes de tortura e dá outras providências.
Define e pune o crime de genocídio.
O  PRESIDENTE DA REPÚBLICA  Faço saber que o
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: O PRESIDENTE DA REPÚBLICA:
Art. 1º Constitui crime de tortura: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu san-
I - constranger alguém com emprego de violência ou ciono a seguinte Lei:
grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou
a) com o fim de obter informação, declaração ou con- em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como
fissão da vítima ou de terceira pessoa; tal:  (Vide Lei nº 7.960, de 1989)
b) para provocar ação ou omissão de natureza crimi- a) matar membros do grupo;
nosa; b) causar lesão grave à integridade física ou mental de
c) em razão de discriminação racial ou religiosa; membros do grupo;
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou au- c) submeter intencionalmente o grupo a condições de
toridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total
intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar ou parcial;
castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimen-
Pena - reclusão, de dois a oito anos. tos no seio do grupo;
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo
presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico para outro grupo;
ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto Será punido:
em lei ou não resultante de medida legal. Com as penas do  art. 121, § 2º, do Código Penal, no
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, caso da letra a;
quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na
Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b;
pena de detenção de um a quatro anos.
Com as penas do art. 270, no caso da letra c;
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou
Com as penas do art. 125, no caso da letra d;
gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se
Com as penas do art. 148, no caso da letra e;
resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
Art. 2º Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
prática dos crimes mencionados no artigo anterior:  (Vide
I - se o crime é cometido por agente público;
Lei nº 7.960, de 1989)
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, por-
Pena: Metade da cominada aos crimes ali previstos.
tador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta)
anos; (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) Art. 3º Incitar, direta e publicamente alguém a cometer
III - se o crime é cometido mediante seqüestro. qualquer dos crimes de que trata o art. 1º:   (Vide Lei nº
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função 7.960, de 1989)
ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo Pena: Metade das penas ali cominadas.
dobro do prazo da pena aplicada. § 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma de
§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de crime incitado, se este se consumar.
graça ou anistia. § 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando
§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a a incitação for cometida pela imprensa.
hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regi- Art. 4º A pena será agravada de 1/3 (um terço), no caso
me fechado. dos arts. 1º, 2º e 3º, quando cometido o crime por gover-
Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o nante ou funcionário público.
crime não tenha sido cometido em território nacional, sen- Art. 5º Será punida com 2/3 (dois terços) das respecti-
do a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local vas penas a tentativa dos crimes definidos nesta lei.
sob jurisdição brasileira. Art. 6º Os crimes de que trata esta lei não serão consi-
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publica- derados crimes políticos para efeitos de extradição.
ção. Art. 7º Revogam-se as disposições em contrário.
Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de Rio de Janeiro, 1 de outubro de 1956; 135º da Indepen-
julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente. dência e 68º da República.
Brasília, 7 de abril de 1997; 176º da Independência e
109º da República.

50
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Art. 8º. Obstar o acesso de alguém a qualquer cargo


LEI FEDERAL Nº 7.437, DE 20 DE DEZEMBRO público civil ou militar, por preconceito de raça, de cor, de
DE 1985 (LEI CAÓ). sexo ou de estado civil.
Pena - perda do cargo, depois de apurada a responsa-
bilidade em inquérito regular, para o funcionário dirigente
da repartição de que dependa a inscrição no concurso de
LEI Nº 7.437, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1985. habilitação dos candidatos.
Art. 9º. Negar emprego ou trabalho a alguém em au-
Inclui, entre as contravenções penais a prática de atos tarquia, sociedade de economia mista, empresa concessio-
resultantes de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de nária de serviço público ou empresa privada, por precon-
estado civil, dando nova redação à Lei nº 1.390, de 3 de ceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
julho de 1951 - Lei Afonso Arinos. Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e
multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o (MVR), no caso de empresa privada; perda do cargo para
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: o responsável pela recusa, no caso de autarquia, sociedade
Art. 1º. Constitui contravenção, punida nos termos des- de economia mista e empresa concessionária de serviço
ta lei, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, público.
de cor, de sexo ou de estado civil. Art. 10. Nos casos de reincidência havidos em estabe-
Art. 2º. Será considerado agente de contravenção o di- lecimentos particulares, poderá o juiz determinar a pena
retor, gerente ou empregado do estabelecimento que inci- adicional de suspensão do funcionamento, por prazo não
dir na prática referida no artigo 1º. desta lei. superior a 3 (três) meses.
Art. 11. Esta lei entra em vigor na data de sua publica-
Das Contravenções ção.
Art. 3º. Recusar hospedagem em hotel, pensão, estala- Art. 12. Revogam-se as disposições em contrário.
gem ou estabelecimento de mesma finalidade, por precon- Brasília, 20 de dezembro de 1985; 164º da Indepen-
ceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil. dência e 97º da República.
Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano,
e multa de 3 (três) a 10 (dez) vezes o maior valor de refe-
rência (MVR).
LEI ESTADUAL N° 10.549, DE 28 DE DEZEMBRO
Art. 4º. Recusar a venda de mercadoria em lojas de
DE 2006 (SECRETARIA DE PROMOÇÃO DA
qualquer gênero ou o atendimento de clientes em restau-
rantes, bares, confeitarias ou locais semelhantes, abertos IGUALDADE RACIAL); ALTERADA PELA LEI
ao público, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de ESTADUAL N° 12.212, DE 04 DE MAIO DE 2011.
estado civil.
Pena - Prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) me-
ses, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de LEI Nº 10.549 DE 28 DE DEZEMBRO DE 2006
referência (MVR).
Art. 5º. Recusar a entrada de alguém em estabeleci- Modifica a estrutura organizacional da Adminis-
mento público, de diversões ou de esporte, por preconcei- tração Pública do Poder Executivo Estadual e dá outras
to de raça, de cor, de sexo ou de estado civil. providências.
Pena - Prisão simples, de 15 (quinze dias a 3 (três) me- O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, faço saber
ses, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de que a Assembleia Legislativa decreta e eu sanciono a se-
referência (MVR). guinte Lei:
Art. 6º. Recusar a entrada de alguém em qualquer tipo Art. 1º - A Administração Pública Estadual fica modifi-
de estabelecimento comercial ou de prestação de serviço, cada na forma da presente Lei.
por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil. Art. 2º - Ficam alteradas as denominações das seguin-
Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias e 3 (três) me- tes Secretarias de Estado:
ses, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de I - Secretaria do Trabalho, Assistência Social e Esporte
referência (MVR). - SETRAS, para Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e
Art. 7º. Recusar a inscrição de aluno em estabelecimen- Esporte - SETRE;
to de ensino de qualquer curso ou grau, por preconceito de II - Secretaria de Combate à Pobreza e às Desigualda-
raça, de cor, de sexo ou de estado civil. des Sociais - SECOMP, para Secretaria de Desenvolvimento
Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, Social e Combate à Pobreza - SEDES;
e multa de 1(uma) a três) vezes o maior valor de referência III - Secretaria de Governo - SEGOV para Casa Civil;
(MVR). IV - Secretaria de Cultura e Turismo - SCT, para
Parágrafo único. Se se tratar de estabelecimento oficial V - Secretaria da Justiça e Direitos Humanos - SJDH,
de ensino, a pena será a perda do cargo para o agente, para Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos
desde que apurada em inquérito regular. - SJCDH.

51
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Art. 3º - Ficam criadas as seguintes Secretarias: a) o Conselho de Desenvolvimento da Comunidade


I - Secretaria de Relações Institucionais - SERIN; Negra;
II - Secretaria de Promoção da Igualdade - SEPROMI; b) o Conselho de Defesa dos Direitos da Mulher;
III - Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regio- VII - da Secretaria do Planejamento - SEPLAN para a
nal SEDIR; Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional - SE-
IV - Secretaria de Turismo - SETUR. DIR:
Art. 4º - Ficam transferidas as seguintes atividades, a) os Conselhos Regionais de Desenvolvimento;
funções, fundos, órgãos e entidades: b) a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional
I - da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Espor- CAR.
te - SETRE, para a Secretaria de Desenvolvimento Social e Art. 5º - As estruturas básicas da Secretaria de Rela-
Combate à Pobreza - SEDES: ções Institucionais - SERIN, da Secretaria de Promoção da
a) a Superintendência de Assistência Social; Igualdade - SEPROMI e da Secretaria de Desenvolvimento
b) o Fundo Estadual de Assistência Social, de que trata e Integração Regional - SEDIR, não conterão a Diretoria
a Lei 6.930/95; Geral prevista no art. 2º da Lei 7.435/98.
c) o Fundo Estadual de Atendimento à Criança e ao Parágrafo único - Fica criada a Diretoria de Adminis-
Adolescente, de que trata a Lei 6975/96; tração e Finanças em cada uma das Secretarias referidas
d) a Fundação da Criança e do Adolescente - FUNDAC; neste artigo e no Gabinete do Governador, tendo por fi-
e) o Conselho Estadual de Assistência Social - CEAS; nalidade o planejamento e coordenação das atividades
f) o Conselho Estadual da Criança e do Adolescente - de programação, orçamentação, acompanhamento, ava-
CECA; liação, estudos e análises, administração financeira e de
g) a Comissão Interinstitucional de Defesa Civil - CIDEC; contabilidade, material, patrimônio, serviços, recursos hu-
h) a Coordenação de Defesa Civil - CORDEC; manos, modernização administrativa e informática.
II - da Secretaria de Desenvolvimento Social e Comba- Art. 6º - A Secretaria de Relações Institucionais - SE-
te à Pobreza - SEDES, para a Casa Civil, o Fundo Estadual RIN tem por finalidade a coordenação política do Poder
de Combate e Erradicação da Pobreza - FUNCEP, instituído Executivo e de suas relações com os demais Poderes das
pelo art. 4º da Lei 7.988/2001; diversas esferas de Governo, com a sociedade civil e suas
III - da Secretaria de Desenvolvimento Social e Comba- instituições.
te à Pobreza - SEDES, para a Casa Civil: § 1º - A Secretaria de Relações Institucionais - SERIN
a) a Diretoria Executiva do Fundo Estadual de Combate tem a seguinte estrutura básica:
e Erradicação da Pobreza FUNCEP, criada pelo art. 2º, inciso a) Gabinete do Secretário;
II, alínea c, da Lei nº 7.988, de 21 de dezembro de 2001, b) Diretoria de Administração e Finanças;
com as alterações introduzidas pela Lei nº 9.509, de 20 de c) Coordenação de Assuntos Legislativos;
maio de 2005, exceto a Diretoria de Orçamento Público e a d) Coordenação de Assuntos Federativos;
Diretoria de Finanças; e) Coordenação de Articulação Social.
Redação de acordo com o art. 46 da Lei nº 10.955, Parágrafo único - As Coordenações têm por objetivo
de 12 de dezembro de 2007.  o planejamento, a execução e o controle das atividades a
Redação original: “a) a Diretoria Executiva do FUN- cargo da Secretaria de Relações Institucionais SERIN, con-
CEP criada pelo art. 2º, II, c e § 8º da Lei 7.988/2001, forme dispuser o Regulamento.
com as alterações introduzidas pela Lei 9.509/2005, ex- Art. 7º - A Secretaria de Promoção da Igualdade - SE-
ceto a Coordenação de Orçamento e Finanças;” PROMI tem por finalidade planejar e executar políticas de
b) o Conselho de Políticas de Inclusão Social; promoção da igualdade racial e proteção dos direitos de
c) a Câmara Técnica de Gestão de Programas; indivíduos e grupos étnicos atingidos pela discriminação e
IV - da Casa Civil: demais formas de intolerância, bem assim, planejar e exe-
a) para a Secretaria de Relações Institucionais SERIN: as cutar as políticas públicas de caráter transversal para as
funções de coordenação de assuntos legislativos; mulheres.
b) para o Gabinete do Governador, órgão vinculado di- § 1º - A Secretaria de Promoção à Igualdade - SEPRO-
retamente ao Governador: a Ouvidoria Geral do Estado, a MI tem a seguinte estrutura básica:
Secretaria Particular do Governador, o Escritório de Repre- I - Órgãos Colegiados:
sentação do Governo, o Cerimonial e a Assessoria Especial a) Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Ne-
do Governador; gra;
V - da Secretaria de Cultura para a Secretaria de Turis- b) Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mu-
mo - SETUR: lher;
a) a Superintendência de Investimentos em Pólos Tu- II - Órgãos da Administração Direta:
rísticos; a) Gabinete do Secretário;
b) a Empresa de Turismo da Bahia S/A BAHIATURSA; b) Diretoria de Administração e Finanças;
VI - da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Hu- c) Superintendência de Políticas para as Mulheres;
manos - SJCDH, para a Secretaria de Promoção da Igualda- d) Superintendência de Promoção da Igualdade Racial.
de - SEPROMI:

52
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

§ 2º - A Superintendência de Políticas para as Mulheres Redação de acordo como o art. 39 da Lei nº 13.204,
tem por finalidade orientar, apoiar, coordenar, acompanhar, de 11 de dezembro de 2014.
controlar e executar programas e atividades voltadas à im- Redação original: “Art. 9º - O Gabinete do Governa-
plementação de políticas para as mulheres, implementar dor, órgão de assistência direta e imediata ao Governa-
ações afirmativas e definir ações públicas de promoção da dor, tem a seguinte estrutura básica:
igualdade entre homens e mulheres e de combate à discri- a) Chefia do Gabinete;
minação. b) Ouvidoria Geral do Estado;
§ 3º - A Superintendência de Promoção da Igualda- c) Secretaria Particular do Governador;
de Racial tem por finalidade orientar, apoiar, coordenar, d) Cerimonial;
acompanhar, controlar e executar programas e atividades e) Assessoria Especial do Governador;
voltadas à implementação de políticas e diretrizes para a f) Assessoria Internacional;
promoção da igualdade  e da proteção dos direitos de in- g) Escritório de Representação do Governo;
divíduos e grupos raciais e étnicos, afetados por discrimi- h) Diretoria de Administração e Finanças.
nação racial e demais formas de intolerância. Parágrafo único -   Fica criado o cargo de Chefe de Ga-
§ 4º - Fica acrescida à composição do Conselho de De- binete do Governador, ao qual são asseguradas as prerro-
senvolvimento da Comunidade Negra e do Conselho Es- gativas, representação, remuneração e impedimentos de
tadual de Defesa dos Diretos da Mulher, de que tratam as Secretário de Estado, cabendo-lhe a supervisão e a coor-
alíneas a e b do art. 17 da Lei nº 4.697/87, a representação denação dos órgãos integrantes da estrutura do Gabinete
da Secretaria de Promoção da Igualdade - SEPROMI. do Governador, a elaboração da agenda e o exercício de
Art. 8º - A Secretaria de Desenvolvimento e Integração outras atribuições designadas pelo Governador.”
Regional - SEDIR tem por finalidade planejar e coordenar a Art. 10 - A Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e
execução da política estadual de desenvolvimento regional Esporte - SETRE tem por finalidade planejar e executar as
integrado; formular, em parceria com o Conselho Estadual de políticas de emprego e renda e de apoio à formação do tra-
Desenvolvimento Econômico e Social, os planos e programas balhador, de economia solidária e de fomento ao esporte.
regionais de desenvolvimento; estabelecer estratégias de in- Parágrafo único - Fica criada na Secretaria do Trabalho,
tegração das economias regionais; acompanhar e avaliar os Emprego, Renda e Esporte - SETRE a Superintendência de
programas integrados de desenvolvimento regional. Economia Solidária, com a finalidade de planejar, coorde-
§ 1º - A Secretaria de Desenvolvimento e Integração nar, executar e acompanhar as ações e programas de fo-
Regional - SEDIR tem a seguinte estrutura básica: mento à economia solidária.
I - Órgãos Colegiados: Art. 11 - A Secretaria de Desenvolvimento Social e
a) Conselhos Regionais de Desenvolvimento. Combate à Pobreza - SEDES tem por finalidade planejar,
II - Órgãos da Administração Direta: coordenar, executar e fiscalizar as políticas de desenvolvi-
a) Gabinete do Secretário; mento social, segurança alimentar e nutricional e de assis-
b) Diretoria de Administração e Finanças; tência social.
c) Coordenação de Políticas do Desenvolvimento Re- § 1º - A Superintendência de Apoio à Inclusão Social,
gional; passa a ser denominada Superintendência de Inclusão e
d) Coordenação de Programas Regionais; Assistência Alimentar, com a finalidade de promover as
III - Entidade da Administração Indireta: ações de inclusão social e de assistência alimentar, confor-
a) Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional - me dispuser o regulamento.
CAR. § 2º - Fica extinta a Superintendência de Articulação e
§ 2º - As coordenações têm por objetivo o planejamen- Programas Especiais.
to, a execução e o controle das atividades a cargo da Se- Art. 12 - A Secretaria de Desenvolvimento Social e
cretaria de Desenvolvimento e Integração Regional - SEDIR, Combate à Pobreza - SEDES tem a seguinte estrutura básica:
conforme dispuser o regulamento. I - Órgãos Colegiados:
Art. 9º - O Gabinete do Governador, órgão de assistên- a) Comissão Interinstitucional de Defesa Civil - CIDEC;
cia direta e imediata ao Governador, tem a seguinte estru- b) Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Ado-
tura básica: lescente - CECA;
a) Chefia do Gabinete; c) Conselho Estadual de Assistência Social - CEAS;
b) Secretaria Particular do Governador; d) Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do
c) Cerimonial; Estado da Bahia - CONSEA BA;
d) Assessoria Especial do Governador; II - Órgãos da Administração Direta:
e) Assessoria Internacional; a) Gabinete do Secretário;
f) Escritório de Representação do Governo. b) Diretoria Geral;
Parágrafo único - Fica criado o cargo de Chefe do Gabi- c) Superintendência de Assistência Social;
nete do Governador, ao qual são atribuídas as atividades de d) Superintendência de Inclusão e Assistência Alimentar;
supervisão e coordenação dos órgãos integrantes da estru- III - Órgão em Regime Especial de Administração Direta:
tura do Gabinete do Governador, bem como a elaboração a) Coordenação de Defesa Civil - CORDEC.
da agenda e o exercício de outras atribuições designadas IV - Entidade da Administração Indireta:
pelo Governador. a) Fundação da Criança e do Adolescente - FUNDAC.

53
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Parágrafo único - O Secretário do Desenvolvimento Art. 18 - Fica o Poder Executivo autorizado a praticar
Social e Combate à Pobreza - SEDES passa a integrar na os atos necessários à continuidade dos serviços, até a de-
condição de presidente, o Conselho Estadual de Assistência finitiva estruturação dos órgãos criados ou reorganizados
Social - CEAS, o Conselho Estadual dos Direitos da Criança por esta Lei.
e do Adolescente - CECA e a Comissão Interinstitucional de Art. 19 - Esta Lei entrará em vigor em 1º de janeiro de
Defesa Civil - CIDEC. 2007.
Art. 13 - A Secretaria de Turismo - SETUR tem por finali- Art. 20 - Revogam-se as disposições em contrário.
dade planejar, coordenar e executar políticas de promoção PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, em 28
e fomento ao turismo. de dezembro de 2006.
§ 1º - A Secretaria de Turismo - SETUR tem a seguinte
estrutura básica: LEI Nº 12.212 DE 04 DE MAIO DE 2011
I - Órgãos da Administração Direta:
a) Gabinete do Secretário; Modifica a estrutura organizacional e de cargos em
b) Diretoria Geral; comissão da Administração Pública do Poder Executivo
c) Superintendência de Investimentos em Pólos Turísticos; Estadual, e dá outras providências.
d) Superintendência de Serviços Turísticos.
II - Entidade da Administração Indireta: O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, faço saber
a) Empresa de Turismo da Bahia S/A - BAHIATURSA. que a Assembleia Legislativa decreta e eu sanciono a se-
§ 2º - A Superintendência de Serviços Turísticos tem guinte Lei:
por finalidade planejar e executar programas e projetos de Art. 1º - A estrutura da Administração Pública do Poder
qualificação de serviços e mão-de-obra, capacitação em- Executivo Estadual fica modificada, na forma da presente Lei.
presarial, certificação de qualidade, regulação e fiscalização Art. 2º - Fica criada a Secretaria de Políticas para as
de atividades turísticas. Mulheres - SPM, com a finalidade de planejar, coordenar e
Art. 14 - Ficam criadas: articular a execução de políticas públicas para as mulheres,
I - na Secretaria da Agricultura - SEAGRI: a Superinten-
tendo a seguinte estrutura organizacional básica:
dência de Agricultura Familiar, com a finalidade de orientar,
I - Órgão Colegiado:
apoiar, coordenar, acompanhar, controlar e executar pro-
a) Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher
gramas e atividades voltados ao fortalecimento da agricul-
- CDDM;
tura familiar.
II - Órgãos da Administração Direta:
II - na Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Huma-
a) Gabinete da Secretária;
nos - SJCDH:
b) Diretoria de Administração e Finanças;
a) a Coordenação Executiva de Defesa dos Direitos da
Pessoa com Deficiência, com a finalidade de promover e c) Coordenação de Articulação Institucional e Ações
fortalecer o desenvolvimento dos programas e ações vol- Temáticas;
tados para a defesa dos direitos da pessoa portadora de d) Coordenação de Planejamento e Gestão de Políticas
deficiência; para as Mulheres.
b) a Coordenação de Políticas para os Povos Indígenas, Art. 3º - O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da
vinculada à Superintendência de Apoio e Defesa aos Direi- Mulher - CDDM, órgão consultivo, tem por finalidade esta-
tos Humanos. belecer diretrizes e normas relativas às políticas e medidas
Art. 15 - Para atender à implantação dos novos órgãos que visem eliminar a discriminação e garantir condições de
criados por esta Lei e às adequações na estrutura da Admi- liberdade e equidade de direitos para a mulher, asseguran-
nistração Pública Estadual, ficam criados 04 (quatro) cargos do sua plena participação nas atividades políticas, sociais,
de Secretário de Estado e os cargos em comissão constan- econômicas e culturais do Estado.
tes do Anexo Único desta Lei. Parágrafo único - As normas de funcionamento do
Art. 16 - Ficam extintos os cargos em comissão cons- CDDM serão estabelecidas em Regimento próprio.
tantes do Anexo Único desta Lei. Art. 4º - O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da
Art. 17 - Fica o Chefe do Poder Executivo autorizado a Mulher - CDDM tem a seguinte composição:
promover, no prazo de 120 (cento e vinte) dias: I - a Secretária de Políticas para as Mulheres, que o pre-
I - a revisão e a elaboração dos regimentos, estatutos sidirá;
e outros instrumentos regulamentadores para adequação II - 06 (seis) servidoras estaduais, representantes das
das alterações organizacionais decorrentes desta Lei; Secretarias de Promoção da Igualdade Racial, da Educação,
II - as modificações orçamentárias necessárias ao cum- da Saúde, da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, do Tra-
primento desta Lei, respeitados os valores globais constan- balho, Emprego, Renda e Esporte e da Segurança Pública;
tes do orçamento do exercício de 2007. III - 12 (doze) representantes da sociedade civil, sendo:
Parágrafo único - As modificações de que trata o in- a) 05 (cinco) membros de organizações de mulheres,
ciso II deste artigo incluem a abertura de créditos espe- legalmente constituídas;
ciais destinados, exclusivamente, à criação de categorias de b) 02 (duas) de notória atuação na luta pela defesa dos
programação indispensáveis ao funcionamento de órgãos direitos da mulher;
criados ou decorrentes desta Lei, respeitado o Art. 7º da Lei c) 01 (uma) da comunidade acadêmica vinculada ao es-
Orçamentária de 2007. tudo da condição feminina;

54
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

d) 01 (uma) das trabalhadoras rurais; Art. 12 - O Conselho de Desenvolvimento da Comuni-


e) 01 (uma) das trabalhadoras urbanas; dade Negra - CDCN, órgão colegiado, tem por finalidade
f) 01 (uma) das mulheres negras; estudar, propor e acompanhar medidas de relacionamento
g) 01 (uma) indígena. dos órgãos governamentais com a comunidade negra, vi-
§ 1º - As titulares do Conselho e suas suplentes serão sando resgatar o direito à sua plena cidadania e participa-
nomeadas pelo Governador do Estado, sendo que as refe- ção na sociedade.
ridas nos incisos II e III, deste artigo, serão indicadas pelos Art. 13 - O Gabinete do Secretário tem por finalidade
respectivos órgãos e entidades. prestar assistência ao Titular da Pasta, em suas tarefas téc-
§ 2º - O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da nicas e administrativas.
Mulher manterá a atual composição até a definitiva indica- Art. 14 - A Diretoria de Administração e Finanças tem
ção e nomeação dos representantes dos órgãos e entida- por finalidade o planejamento e coordenação das ativida-
des que o compõem, conforme estabelecido nos incisos II des de programação, orçamentação, acompanhamento,
e III deste artigo. avaliação, estudos e análises, administração financeira e de
Art. 5º - O Gabinete da Secretária tem por finalidade contabilidade, material, patrimônio, serviços, recursos hu-
prestar assistência ao Titular da Pasta, em suas tarefas téc- manos, modernização administrativa e informática.
nicas e administrativas. Art. 15 - A Coordenação de Promoção da Igualdade Ra-
Art. 6º - A Diretoria de Administração e Finanças tem cial tem por finalidade orientar, apoiar, coordenar, acompa-
por finalidade o planejamento e coordenação das ativida- nhar, controlar e executar programas e atividades voltadas
des de programação, orçamentação, acompanhamento, à implementação de políticas e diretrizes para a promoção
avaliação, estudos e análises, administração financeira e de da igualdade e da proteção dos direitos de indivíduos e
contabilidade, material, patrimônio, serviços, recursos hu- grupos raciais e étnicos, afetados por discriminação racial e
manos, modernização administrativa e informática. demais formas de intolerância.
Art. 7º - A Coordenação de Articulação Institucional Art. 16 - A Coordenação de Políticas para as Comuni-
e Ações Temáticas tem por finalidade integrar as políticas dades Tradicionais tem por finalidade formular políticas de
promoção da defesa dos direitos e interesses das comu-
para as mulheres nas áreas de educação, saúde, trabalho e
nidades tradicionais, inclusive quilombolas, no Estado da
participação política, visando o combate à violência contra
Bahia, reduzindo as desigualdades e eliminando todas as
a mulher e a redução das desigualdades de gênero e a eli-
formas de discriminação identificadas.
minação de todas as formas de discriminação identificadas.
Art. 17 - A estrutura de cargos em comissão da SEPRO-
Art. 8º - A Coordenação de Planejamento e Gestão de
MI fica alterada, na forma a seguir indicada:
Políticas para as Mulheres tem por finalidade apoiar a for-
I - ficam extintos 02 (dois) cargos de Superintendente,
mulação e a implementação de políticas públicas de gêne-
símbolo DAS-2A;
ro, de forma transversal.
II - ficam criados 02 (dois) cargos de Coordenador Exe-
Art. 9º - Fica alterada a denominação da Secretaria cutivo, símbolo DAS-2B;
de Promoção da Igualdade - SEPROMI para Secretaria de III - ficam remanejados, da extinta Superintendência de
Promoção da Igualdade Racial - SEPROMI, que passa a ter Políticas para as Mulheres para a Coordenação de Políti-
por finalidade planejar e executar políticas de promoção da cas para as Comunidades Tradicionais, ora criada, 01 (um)
igualdade racial e de proteção dos direitos de indivíduos e cargo de Coordenador I, símbolo DAS-2C, 01 (um) cargo
grupos étnicos atingidos pela discriminação e demais for- de Coordenador II, símbolo DAS-3, 01 (um) cargo de Coor-
mas de intolerância. denador III, símbolo DAI-4 e 01 (um) cargo de Secretário
Art. 10 - Ficam excluídas da finalidade e competências Administrativo I, símbolo DAI-5.
da SEPROMI as atividades pertinentes ao planejamento e Art. 18 - Fica criado, na estrutura de cargos em comis-
execução das políticas públicas de caráter transversal para são da SEPROMI, alocado na Diretoria de Administração e
as mulheres. Finanças, 01 (um) cargo de Coordenador II, símbolo DAS-3.
Parágrafo único - Fica transferido da SEPROMI para a Art. 19 - Fica criada a Secretaria de Administração Pe-
Secretaria de Políticas para as Mulheres - SPM o Conselho nitenciária e Ressocialização - SEAP, com a finalidade de
Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher - CDDM. formular políticas de ações penais e de ressocialização de
Art. 11 - A Secretaria de Promoção da Igualdade Racial sentenciados, bem como de planejar, coordenar e executar,
passa a ter a seguinte estrutura organizacional básica: em harmonia com o Poder Judiciário, os serviços penais do
I - Órgão Colegiado: Estado, tendo a seguinte estrutura organizacional básica:
a) Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Ne- I - Órgãos Colegiados:
gra - CDCN; a) Conselho Penitenciário - CP;
II - Órgãos da Administração Direta: b) Conselho de Operações do Sistema Prisional;
a) Gabinete do Secretário; II - Órgãos da Administração Direta:
b) Diretoria de Administração e Finanças; a) Gabinete do Secretário;
c) Coordenação de Promoção da Igualdade Racial; b) Ouvidoria;
d) Coordenação de Políticas para as Comunidades Tra- c) Corregedoria do Sistema Penitenciário;
dicionais. d) Coordenação de Monitoramento e Avaliação do Sis-
tema Prisional;

55
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

e) Diretoria Geral; Art. 24 - A Ouvidoria tem por finalidade receber e exa-


f) Superintendência de Ressocialização Sustentável; minar denúncias, reclamações e sugestões dos cidadãos,
g) Superintendência de Gestão Prisional: relacionadas à atuação da Secretaria.
1. Sistema Prisional; Art. 25 - A Corregedoria do Sistema Penitenciário tem
h) Central de Apoio e Acompanhamento às Penas e por finalidade acompanhar, controlar e avaliar a regulari-
Medidas Alternativas da Bahia - CEAPA: dade da atuação funcional e da conduta dos servidores da
1. Núcleos de Apoio e Acompanhamento às Penas e Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização
Medidas Alternativas. - SEAP, em estreita articulação com o Sistema de Correição
Art. 20 - O Conselho Penitenciário - CP, órgão consul- Estadual.
tivo e fiscalizador da execução penal, tem por finalidade Art. 26 - A Coordenação de Monitoramento e Avalia-
estabelecer diretrizes e normas relativas à política criminal ção do Sistema Prisional tem por finalidade coordenar e
e penitenciária no Estado. acompanhar o fluxo de dados e informações, visando ao
Parágrafo único - As normas de funcionamento do CP aprimoramento das práticas das Unidades Prisionais.
serão estabelecidas em Regimento próprio. Art. 27 - A Diretoria Geral tem por finalidade a coor-
Art. 21 - O Conselho Penitenciário - CP tem a seguinte denação dos órgãos setoriais e seccionais, dos sistemas
composição: formalmente instituídos, responsáveis pela execução das
I - o Secretário de Administração Penitenciária e Res- atividades de programação, orçamentação, acompanha-
socialização; mento, avaliação, estudos e análises, material, patrimônio,
II - 01 (um) representante da Defensoria Pública da serviços, recursos humanos, modernização administrativa e
União; informática, e administração financeira e de contabilidade.
III - 01 (um) representante da Defensoria Pública do Art. 28 - A Superintendência de Ressocialização Sus-
Estado da Bahia; tentável tem por finalidade implantar atividades que pos-
IV - 01 (um) representante do Ministério Público Fe- sibilitem a ressocialização e reabilitação do indivíduo sob
deral; custódia, através do desenvolvimento de programas de
V - 01 (um) representante do Ministério Público do Es- educação, cultura e trabalho produtivo.
tado da Bahia; Art. 29 - A Superintendência de Gestão Prisional tem
VI - 01 (um) representante da Ordem dos Advogados por finalidade administrar e supervisionar o cumprimento
do Brasil - OAB, Secção Bahia, indicado pelo seu Conselho das atividades alusivas à execução penal, em conformidade
Estadual; com ações de humanização, bem como administrar e su-
VII - 02 (dois) professores ou profissionais notoriamen- pervisionar o Sistema Prisional.
te especializados em Direito Penal, Processual Penal ou Pe- Parágrafo único - O Sistema Prisional é composto pelos
nitenciário; Presídios, Penitenciárias, Colônias Penais, Conjuntos Penais,
VIII - 02 (dois) professores ou profissionais notoria- Cadeias Públicas, Hospital de Custódia e Tratamento, Casa
mente especializados em Medicina Legal ou Psiquiatria; do Albergado e Egressos, Centro de Observação Penal,
IX - 02 (dois) representantes da comunidade, de livre Central Médica Penitenciária e Unidade Especial Disciplinar.
escolha do Governador. Art. 30 - A Central de Apoio e Acompanhamento às
§ 1º - O Presidente do Conselho será um de seus mem- Penas e Medidas Alternativas da Bahia - CEAPA tem por
bros, nomeado pelo Governador do Estado, mediante in- finalidade acompanhar a execução de medidas e penas al-
dicação do Colegiado, em lista tríplice, através de votação ternativas aplicadas pelos órgãos do Poder Judiciário do
secreta. Estado da Bahia.
§ 2º - Os membros do Conselho e seus suplentes serão Parágrafo único - Os Núcleos de Apoio e Acompanha-
nomeados pelo Governador do Estado, sendo que os refe- mento às Penas e Medidas Alternativas de que trata o art.
ridos nos incisos II a VI deste artigo, serão indicados pelos 1º da Lei nº 11.042, de 09 de maio de 2008, ficam vincu-
respectivos órgãos e entidades. lados à Central de Apoio e Acompanhamento às Penas e
§ 3º - Os membros indicados nos incisos VII, VIII e IX Medidas Alternativas da Bahia - CEAPA.
deste artigo, serão escolhidos pelo Governador do Estado. Art. 31 - Ficam excluídas da finalidade e competências
Art. 22 - O Conselho de Operações do Sistema Prisional, da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos - SJ-
órgão de integração e avaliação das ações operacionais, é CDH, as atividades pertinentes à execução da política e da
composto pelo Secretário de Administração Penitenciária administração do Sistema Penitenciário do Estado.
e Ressocialização, que o presidirá e pelos Dirigentes da Art. 32 - Fica extinta, na SJCDH, a Superintendência de
Superintendência de Gestão Prisional, da Corregedoria do Assuntos Penais - SAP, ficando os seus bens patrimoniais
Sistema Penitenciário e da Coordenação de Monitoramen- e acervo transferidos para a Secretaria de Administração
to e Avaliação do Sistema Prisional, bem como das Unida- Penitenciária e Ressocialização - SEAP.
des Prisionais. Parágrafo único - Para atender ao disposto no caput
Art. 23 - O Gabinete do Secretário tem por finalidade deste artigo, fica extinto o Quadro de Cargos em Comissão
prestar assistência ao Titular da Pasta, em suas tarefas téc- da Superintendência de Assuntos Penais - SAP, da Secreta-
nicas e administrativas. ria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos - SJCDH.

56
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Art. 33 - Fica transferida da Secretaria da Justiça, Ci- I - Órgão Colegiado:


dadania e Direitos Humanos - SJCDH para a Secretaria de a) Conselho Estadual de Comunicação Social;
Administração Penitenciária e Ressocialização - SEAP, a vin- II - Órgãos da Administração Direta:
culação do Conselho Penitenciário - CP, ficando extintos, da a) Gabinete do Secretário;
estrutura de cargos em comissão da SJCDH, 01 (um) cargo b) Assessoria de Imprensa do Governador;
de Presidente de Conselho, símbolo DAS-2C, 01 (um) car- c) Diretoria Geral;
go de Coordenador II, símbolo DAS-3 e 01 (um) cargo de d) Coordenação de Comunicação Integrada;
Coordenador IV, símbolo DAI-5. e) Coordenação de Jornalismo;
Art. 34 - Ficam criadas, na estrutura organizacional e de III - Entidade de Administração Indireta:
cargos em comissão da Secretaria da Justiça, Cidadania e a) Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia - IRDEB.
Direitos Humanos - SJCDH, as seguintes Unidades, na for- Art. 39 - O Conselho Estadual de Comunicação Social,
ma a seguir indicada: órgão consultivo e deliberativo, tem por finalidade formular
I - a Superintendência dos Direitos das Pessoas com a Política de Comunicação Social do Estado, observada a
Deficiência, com a finalidade de planejar, coordenar, super- competência que lhe confere o art. 277 da Constituição do
visionar, avaliar e fiscalizar a execução das políticas públicas Estado da Bahia e o disposto na Constituição Federal.
estaduais voltadas para a promoção e proteção dos direi- Parágrafo único - O Regimento do Conselho, por ele
tos das pessoas com deficiência; aprovado e homologado por ato do Governador do Estado,
II - a Superintendência de Prevenção e Acolhimento fixará suas normas de funcionamento.
aos Usuários de Drogas e Apoio Familiar, com a finalidade Art. 40 - O Conselho Estadual de Comunicação Social
de planejar, coordenar, supervisionar, avaliar e fiscalizar a tem as seguintes competências, dentre outras conferidas
execução das políticas públicas preventivas às drogas e de em Lei:
atendimento aos dependentes e suas famílias, promoven- I - formular e acompanhar a execução da Política de
do a reinserção social de usuários de drogas. Comunicação Social do Estado e desenvolver canais institu-
§ 1º - Para atender ao disposto no inciso I deste artigo, cionais e democráticos de comunicação permanente com a
ficam criados 01 (um) cargo de Superintendente, símbolo
sociedade baiana;
DAS-2A, 02 (dois) cargos de Diretor, símbolo DAS-2C, 01
II - formular propostas que contemplem o cumprimen-
(um) cargo de Assessor Técnico, símbolo DAS-3, 02 (dois)
to do disposto nos capítulos referentes à comunicação so-
cargos de Assessor Administrativo, símbolo DAI-4 e 01
cial das Constituições Federal e Estadual;
(um) cargo de Secretário Administrativo I, símbolo DAI-5.
III - propor medidas que visem o aperfeiçoamento de
§ 2º - Para atender ao disposto no inciso II deste artigo,
uma política estadual de comunicação social, com base nos
ficam criados 01 (um) cargo de Superintendente, símbolo
princípios democráticos e na comunicação como direito
DAS-2A, 02 (dois) cargos de Diretor, símbolo DAS-2C, 01
(um) cargo de Assessor Técnico, símbolo DAS-3 e 01 (um) fundamental, estimulando o acesso, a produção e a difusão
cargo de Secretário Administrativo I, símbolo DAI-5. da informação de interesse coletivo;
§ 3º - Fica extinta, da estrutura organizacional e de IV - participar da elaboração do Plano Estadual de Polí-
cargos em comissão da Secretaria da Justiça, Cidadania e ticas Públicas de Comunicação Social, bem como acompa-
Direitos Humanos - SJCDH, a Coordenação Executiva de nhar a sua execução;
Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, bem como V - orientar e acompanhar as atividades dos órgãos
01 (um) cargo de Coordenador Executivo, símbolo DAS-2B. públicos de radiodifusão sonora e radiodifusão de sons e
Art. 35 - Fica extinta, da estrutura organizacional e de imagem do Estado;
cargos em comissão da SJCDH, a Corregedoria, bem como VI - atuar na defesa dos direitos difusos e coletivos da
01 (um) cargo de Coordenador I, símbolo DAS-2C, 02 (dois) sociedade baiana no que tange a comunicação social;
cargos de Coordenador II, símbolo DAS-3 e 01 (um) cargo VII - receber e reencaminhar denúncias sobre abusos e
de Secretário Administrativo I, símbolo DAI-5. violações de direitos humanos nos veículos de comunicação
Art. 36 - Ficam extintos, da estrutura de cargos em co- no Estado da Bahia, aos órgãos competentes, para adoção
missão da SJCDH, 01 (um) cargo de Coordenador Técnico, de providências nos seus respectivos âmbitos de atuação;
símbolo DAS-2D, 01 (um) cargo de Coordenador II, símbolo VIII - fomentar a produção e difusão de conteúdos de
DAS-3 e 01 (um) cargo de Coordenador III, símbolo DAI-4, iniciativa estadual, observadas as diversidades artísticas,
alocados na Diretoria Geral. culturais, regionais e sociais da Bahia;
Art. 37 - Fica alterada a denominação do Centro de IX - estimular o fortalecimento da rede pública de co-
Educação em Direitos Humanos e Assuntos Penais - CE- municação, de modo que ela tenha uma participação ativa
DHAP, criado pela Lei nº  10.955  , de 21 de dezembro de na execução das políticas de comunicação do Estado da
2007, para Centro de Educação em Direitos Humanos, com Bahia;
a finalidade de executar programas, projetos e atividades X - articular ações para que a distribuição das verbas
de formação e educação em Direitos Humanos. publicitárias do Estado seja baseada em critérios técnicos
Art. 38 - Fica criada a Secretaria de Comunicação Social de audiência e que garantam a diversidade e pluralidade;
- SECOM, com a finalidade de propor, coordenar e executar XI - estimular a implementação e promover o fortaleci-
a política de comunicação social do Governo, bem como mento dos veículos de comunicação comunitária, para faci-
de promover a radiodifusão pública, tendo a seguinte es- litar o acesso à produção e à comunicação social em todo o
trutura organizacional básica: território estadual;

57
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

XII - estimular a adoção dos recursos tecnológicos l) 01 (um) representante dos veículos comunitários ou
proporcionados pela digitalização da radiodifusão priva- alternativos;
da, pública e comunitária, no incentivo à regionalização da m) 03 (três) representantes das Organizações Não-Go-
produção cultural, artística e jornalística, e democratização vernamentais - ONGS ou entidades sociais vinculadas à co-
dos meios de comunicação; municação;
XIII - recomendar a convocação e participar da execu- n) 01 (um) representante dos movimentos sociais de
ção da Conferência Estadual de Comunicação e suas etapas comunicação;
preparatórias; o) 03 (três) representantes de entidades de movimentos
XIV - elaborar e aprovar o seu Regimento Interno, para sociais organizados;
posterior homologação por ato do Chefe do Poder Execu- p) 01 (um) representante de entidades de jornalismo
tivo; digital.
XV - convocar audiências e consultas públicas sobre § 1º - A SECOM convocará, por meio de edital, publi-
comunicação e políticas públicas do setor; cado no Diário Oficial do Estado, reunião para eleição dos
XVI - acompanhar a criação e o funcionamento de con- representantes, citados no inciso III deste artigo, cabendo-
selhos municipais de comunicação; lhe, ao final, encaminhar o resultado das indicações para
XVII - fomentar a inclusão digital e o acesso às redes deliberação do Governador do Estado.
digitais em todo o território baiano, como forma de demo- § 2º - Os membros do Conselho e seus suplentes serão
cratizar a comunicação; nomeados pelo Governador do Estado e tomarão posse na
XVIII - fomentar a adoção de programas de capacita- 1ª (primeira) reunião do Colegiado, e serão substituídos, em
ção e formação, assegurando a apropriação social de novas suas ausências e impedimentos, pelos respectivos suplen-
tecnologias da comunicação. tes, previamente indicados.
Art. 41 - O Conselho Estadual de Comunicação Social § 3º - O mandato dos Conselheiros e de seus respecti-
tem a seguinte composição: vos suplentes será de 02 (dois) anos, permitida uma recon-
I - o Secretário de Comunicação Social, que o presidirá; dução por igual período.
II - 06 (seis) representantes do Poder Público Estadual, Art. 42 - O Gabinete do Secretário tem por finalidade
indicados pelo Titular da respectiva Pasta, sendo: prestar assistência ao Titular da Pasta, em suas tarefas técni-
a) 01 (um) representante da Secretaria de Comunica- cas e administrativas.
ção Social - SECOM; Art. 43 - A Assessoria de Imprensa do Governador tem
b) 01 (um) representante da Secretaria de Cultura - SE- por finalidade divulgar os atos e expressar a opinião do
CULT; Governador do Estado em comunicações à sociedade e à
c) 01 (um) representante da Secretaria da Educação - imprensa, em articulação com as demais Unidades da Se-
SEC; cretaria.
d) 01 (um) representante da Secretaria de Ciência, Tec- Art. 44 - A Diretoria Geral tem por finalidade a coor-
nologia e Inovação - SECTI; denação dos órgãos setoriais, dos sistemas formalmente
e) 01 (um) representante da Secretaria da Justiça, Cida- instituídos, responsáveis pela execução das atividades de
dania e Direitos Humanos - SJCDH; programação, orçamentação, acompanhamento, avaliação,
f) 01 (um) representante do Instituto de Radiodifusão estudos e análises, material, patrimônio, serviços, recursos
Educativa da Bahia - IRDEB; humanos, modernização administrativa e informática, e ad-
III - 20 (vinte) representantes da sociedade civil, sendo: ministração financeira e de contabilidade.
a) 01 (um) representante da entidade profissional de Art. 45 - A Coordenação de Comunicação Integrada tem
classe; por finalidade coordenar e acompanhar o desenvolvimento
b) 01 (um) representante das universidades públicas, de campanhas publicitárias institucionais do Governo, bem
com atuação no Estado da Bahia; como avaliar a sua publicidade.
c) 01 (um) representante do segmento de televisão Art. 46 - A Coordenação de Jornalismo tem por finali-
aberta e por assinatura comercial; dade divulgar os atos do Governo para a sociedade e a im-
d) 01 (um) representante do segmento de rádio comer- prensa, bem como articular-se com os órgãos e entidades
cial; governamentais, para fins de comunicação social.
e) 01 (um) representante das empresas de jornais e re- Art. 47 - As Secretarias de Estado e demais órgãos e
vistas; entidades da Administração Pública Estadual prestarão o
f) 01 (um) representante das agências de publicidade; apoio e os recursos técnicos, quando solicitados pelo Secre-
g) 01 (um) representante das empresas de telecomu- tário de Comunicação Social, necessários à implementação
nicações; do Plano Estadual de Comunicação Social, a ser estabeleci-
h) 01 (um) representante das empresas de mídia exte- do pelo Conselho Estadual de Comunicação Social.
rior; Art. 48 - Fica transferida a vinculação estrutural do Insti-
i) 01 (um) representante das produtoras de audiovisual tuto de Radiodifusão Educativa da Bahia - IRDEB, da Secre-
ou serviços de comunicação; taria de Cultura - SECULT para a Secretaria de Comunicação
j) 01 (um) representante do movimento de radiodifu- Social - SECOM, mantendo a mesma natureza jurídica.
são comunitária; Parágrafo único - Ficam excluídas da finalidade e com-
k) 01 (um) representante das entidades de classe dos petências da SECULT as atividades/funções de radiodifusão
trabalhadores do segmento de comunicação social; cultural e educativa.

58
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Art. 49 - Ficam criadas, na estrutura organizacional do I - fica extinta a Coordenação de Acompanhamento de


Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia - IRDEB, as Políticas Governamentais;
seguintes Unidades: II - fica criada a Coordenação de Acompanhamento
I - Diretoria de Programação e Conteúdos, com a fi- de Políticas de Infraestrutura, com a finalidade de fornecer
nalidade de planejar, coordenar, acompanhar e avaliar a subsídios ao Governador, na análise das políticas relativas
programação da Rádio Educadora, TV Educativa, do Portal à infraestrutura, promovendo a sua coordenação e integra-
e da produção jornalística do IRDEB, bem como promo- ção, em articulação com os órgãos e entidades executoras;
ver e apoiar as ações relacionadas à produção e conteúdo III - fica criada a Coordenação de Acompanhamento de
radiofônico e audiovisual para compor a programação do Políticas Sociais, com a finalidade de fornecer subsídios ao
Instituto; Governador, na análise das políticas sociais, promovendo a
II - Coordenação de Planejamento e Relacionamento sua coordenação e integração, em articulação com os ór-
Institucional, com a finalidade de coordenar, promover, de- gãos e entidades executoras.
senvolver, acompanhar e avaliar as ações do IRDEB, visando Art. 57 - A estrutura de cargos em comissão da Casa
incentivar e aprimorar a interlocução e a interatividade com Civil fica alterada, na forma a seguir indicada:
a sociedade. I - ficam criados 02 (dois) cargos de Assessor Especial,
Art. 50 - A Diretoria de Operações passa a ter por fina- símbolo DAS-2C, 02 (dois) cargos de Coordenador I, sím-
lidade promover, coordenar e supervisionar a execução das bolo DAS-2C e 03 (três) cargos de Coordenador II, símbolo
atividades de radiodifusão, TV e engenharia de operação DAS-3;
do Instituto. II - fica extinto 01 (um) cargo de Assessor Técnico, sím-
Art. 51 - Ficam criados, na estrutura de cargos em co- bolo DAS-3, alocado no Gabinete do Secretário.
missão do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia - Art. 58 - Ficam extintos, do Quadro Especial de Cargos
IRDEB, 01 (um) cargo de Diretor, símbolo DAS-2B, 01 (um) em Comissão da Casa Civil, 02 (dois) cargos de Assistente I,
cargo de Chefe de Gabinete, símbolo DAS-2C, 02 (dois) car- símbolo DAS-2C, 02 (dois) cargos de Assistente III, símbolo
gos de Coordenador I, símbolo DAS-2C, e 01 (um) cargo de DAI-4 e 04 (quatro) cargos de Assistente IV, símbolo DAI-5.
Assessor de Comunicação Social I, símbolo DAS-3. Parágrafo único - O Quadro Especial de Cargos em Co-
Art. 52 - Ficam extintos, na estrutura de cargos em missão da Casa Civil é o constante do Anexo II, que integra
comissão do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bah- esta Lei.
ia - IRDEB, 01 (um) cargo de Assessor Especial, símbolo Art. 59 - Fica criada a Secretaria Estadual para Assuntos
DAS-2C, 05 (cinco) cargos de Gerente, símbolo DAS-3, 05 da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 - SECOPA, com a
(cinco) cargos de Assistente III, símbolo DAI-4, e 04 (quatro) finalidade de coordenar, articular, promover, acompanhar e
cargos de Coordenador III, símbolo DAI-4. integrar as ações e projetos prioritários da Copa do Mundo
Art. 53 - O Quadro de Cargos em comissão do Instituto da FIFA Brasil 2014.
de Radiodifusão Educativa da Bahia - IRDEB passa a ser o Parágrafo único - Para cumprimento de sua finalida-
constante do Anexo I desta Lei. de, a SECOPA atuará diretamente e em apoio a programas,
Art. 54 - Fica extinta, da estrutura organizacional da projetos e ações executados por outros órgãos ou entida-
Casa Civil, a Assessoria Geral de Comunicação Social - AGE- des da Administração Pública de quaisquer esferas gover-
COM. namentais.
Parágrafo único - Para atender ao disposto no caput Art. 60 - A Secretaria Estadual para Assuntos da Copa
deste artigo, ficam extintos, do quadro de cargos em co- do Mundo da FIFA Brasil 2014 - SECOPA tem a seguinte
missão da Casa Civil, 01 (um) cargo de Assessor Geral, sím- estrutura organizacional básica:
bolo DAS-1, 01 (um) cargo de Assessor Especial, símbolo I - Órgão Colegiado:
DAS-2B, 06 (seis) cargos de Coordenador I, símbolo DAS a) Comitê Gestor da Copa do Mundo da FIFA Brasil
-2C, 01 (um) cargo de Gerente, símbolo DAS-3, 15 (quinze) 2014;
cargos de Assessor de Comunicação Social I, símbolo DAS- II - Órgãos da Administração Direta:
3, 08 (oito) cargos de Assessor de Comunicação Social II, a) Gabinete do Secretário;
símbolo DAI-4, 02 (dois) cargos de Assessor Administrativo, b) Diretoria de Administração e Finanças;
símbolo DAI-4, 01 (um) cargo de Assistente Orçamentário, c) Coordenação de Projetos para Assuntos da Copa;
símbolo DAI-4, 01 (um) cargo de Assessor de Comunicação d) Coordenação de Marketing para Assuntos da Copa.
Social III, símbolo DAI-5, 13 (treze) cargos de Assistente IV, Art. 61 - O Comitê Gestor da Copa do Mundo da FIFA
símbolo DAI-5, 04 (quatro) cargos de Coordenador IV, sím- Brasil 2014, presidido pelo Secretário da SECOPA, tem por
bolo DAI-5, 01 (um) cargo de Secretário Administrativo I, finalidade monitorar as ações necessárias ao cumprimen-
símbolo DAI-5, 04 (quatro) cargos de Assistente V, símbolo to do calendário definido pela Federation Internationale
DAI-6 e 05 (cinco) cargos de Secretário Administrativo II, de Football Association - FIFA e pelo Comitê Organizador
símbolo DAI-6. Local - COL para a realização da Copa do Mundo da FIFA
Art. 55 - Ficam excluídas da finalidade da Casa Civil as Brasil 2014 na Cidade de Salvador.
atividades de comunicação social. Parágrafo único - O Comitê Gestor da Copa do Mundo
Art. 56 - A estrutura organizacional da Casa Civil fica da FIFA Brasil 2014 tem sua composição e funcionamento
alterada, na forma a seguir indicada: estabelecidos em Regimento próprio.

59
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Art. 62 - O Gabinete do Secretário tem por finalidade Art. 73 - A estrutura de cargos em comissão da Secre-
prestar assistência ao Titular da Pasta, em suas tarefas téc- taria da Indústria, Comércio e Mineração fica alterada, na
nicas e administrativas. forma a seguir indicada:
Art. 63 - A Diretoria de Administração e Finanças tem I - ficam criados 01 (um) cargo de Superintendente,
por finalidade o planejamento e coordenação das ativida- símbolo DAS-2A, 06 (seis) cargos de Diretor, símbolo DAS
des de programação, orçamentação, acompanhamento, -2B, 03 (três) cargos de Assessor Especial, símbolo DAS-2C,
avaliação, estudos e análises, administração financeira e de 01 (um) cargo de Coordenador II, símbolo DAS-3 e 06 (seis)
contabilidade, material, patrimônio, serviços, recursos hu- cargos de Assessor Administrativo, símbolo DAI-4;
manos, modernização administrativa e informática. II - ficam extintos 02 (dois) cargos de Assistente III,
Art. 64 - A Coordenação de Projetos para Assuntos da símbolo DAI-4, 02 (dois) cargos de Coordenador III, sím-
Copa tem por finalidade acompanhar e monitorar a imple- bolo DAI-4, 04 (quatro) cargos de Coordenador IV, símbolo
mentação dos projetos e ações relacionadas ao evento es- DAI-5, 01 (um) cargo de Secretário Administrativo I, símbo-
portivo, bem como a coordenação dos Grupos Executivos lo DAI-5 e 06 (seis) cargos de Secretário Administrativo II,
de Trabalho da Copa 2014. símbolo DAI-6.
Art. 65 - A Coordenação de Marketing para Assuntos Art. 74 - O Quadro de Cargos em Comissão da Secre-
da Copa tem por finalidade planejar e viabilizar a estratégia taria da Indústria, Comércio e Mineração é o constante do
de marketing relacionada aos projetos e ações da Copa e Anexo VII, que integra esta Lei.
ao fomento das relações públicas da Secretaria. Art. 75 - Fica criada, na estrutura organizacional da Se-
Art. 66 - A SECOPA funcionará, a partir da data de pu- cretaria de Relações Institucionais - SERIN, a Coordenação
blicação desta Lei, até 31 de dezembro de 2014, ficando de Políticas de Juventude, com a finalidade de coordenar,
extinta em 01 de janeiro de 2015. articular e integrar os programas e ações do Governo do
Art. 67 - Para atender à implantação da Secretaria de Estado, voltados à população jovem.
Políticas para as Mulheres - SPM, da Secretaria de Adminis- Parágrafo único - Para atender ao disposto no caput
tração Penitenciária e Ressocialização - SEAP, da Secretaria deste artigo, ficam criados, na estrutura de cargos em co-
de Comunicação Social - SECOM e da Secretaria Estadual missão da SERIN, 01 (um) cargo de Coordenador Executivo,
para Assuntos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 - símbolo DAS-2B, 01 (um) cargo de Coordenador I, símbolo
SECOPA, ficam criados 04 (quatro) cargos de Secretário de DAS-2C, 02 (dois) cargos de Coordenador II, símbolo DAS-
Estado, sendo que os Quadros de Cargos em Comissão das 3 e 01 (um) cargo de Secretário Administrativo I, símbolo
Secretarias de Estado, ora criadas, são os constantes dos DAI-5.
Anexos III, IV, V e VI, respectivamente, que integram esta Art. 76 - Ficam criados, na estrutura de cargos em
Lei. comissão da SERIN, 02 (dois) cargos de Coordenador I,
Art. 68 - Com a extinção da SECOPA, conforme data símbolo DAS-2C, alocados na Coordenação de Assuntos
prevista no art. 66 desta Lei, serão extintos os cargos em Federativos e na Coordenação de Articulação Social, res-
comissão constantes do Anexo VI desta Lei, bem como pectivamente.
transferidos para os órgãos da Administração Pública do Art. 77 - A estrutura de cargos em comissão do Ga-
Poder Executivo Estadual os bens adquiridos para o desen- binete do Governador do Estado fica alterada, na forma a
volvimento das ações e projetos a critério do Poder Execu- seguir indicada:
tivo Estadual. I - ficam criados 01 (um) cargo de Chefe de Gabinete,
Art. 69 - A Secretaria da Indústria, Comércio e Minera- símbolo DAS-2A, 01 (um) cargo de Coordenador de Escri-
ção - SICM passa a ter por finalidade formular e executar a tório, símbolo DAS-2A, 01 (um) cargo de Chefe de Cerimo-
política de desenvolvimento e apoio à indústria, ao comér- nial, símbolo DAS-2A, 07 (sete) cargos de Assessor Especial,
cio, aos serviços e à mineração do Estado. símbolo DAS-2B, 01 (um) cargo de Coordenador Executivo,
Art. 70 - O Conselho de Desenvolvimento Industrial símbolo DAS-2B, 04 (quatro) cargos de Assessor Especial,
- CDI passa a denominar-se Conselho de Desenvolvimen- símbolo DAS-2C, 01 (um) cargo de Coordenador I, símbolo
to da Indústria e do Comércio - CDIC, órgão de natureza DAS-2C, 13 (treze) cargos de Coordenador Técnico, símbo-
consultiva, com a finalidade de opinar sobre a formulação lo DAS-2D, 03 (três) cargos de Assessor Técnico, símbolo
da política de desenvolvimento industrial e comercial do DAS-3, 02 (dois) cargos de Secretário de Gabinete, símbolo
Estado. DAS-3, 01 (um) cargo de Assessor Administrativo, símbolo
Art. 71 - Fica criada, na estrutura organizacional da Se- DAI-4, 02 (dois) cargos de Assistente III, símbolo DAI-4, 01
cretaria da Indústria, Comércio e Mineração, a Superinten- (um) cargo de Assistente Orçamentário, símbolo DAI-4 e 04
dência de Desenvolvimento Econômico, com a finalidade (quatro) cargos de Coordenador III, símbolo DAI-4.
de viabilizar a implementação das políticas de desenvol- II - ficam extintos 01 (um) cargo de Assessor Especial
vimento produtivo, competitividade e comércio exterior, do Governador, símbolo DAS-2A, 01 (um) cargo de Diretor,
acompanhando e avaliando os seus projetos estratégicos, símbolo DAS-2A e 01 (um) cargo de Coordenador de Escri-
relacionados às atividades finalísticas da Secretaria. tório, símbolo DAS-2B.
Art. 72 - A Superintendência de Comércio e Serviços Art. 78 - Os cargos em comissão de Secretário Particu-
passa a ter por finalidade propor políticas relativas ao de- lar do Governador, símbolo DAS-2A e de Chefe de Cerimo-
senvolvimento comercial e de serviços, e das micro, pe- nial, símbolo DAS-2A, alocadas no Gabinete do Governa-
quenas e médias empresas, bem como planejar e elaborar dor, serão ocupados, preferencialmente, por portadores de
estudos e projetos. diploma de nível superior.

60
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Art. 79 - O Quadro de Cargos em Comissão do Gabine- Art. 87 - Fica extinto, na estrutura de cargos em comis-
te do Governador - GABGOV é o constante do Anexo VIII são da Secretaria de Cultura, 01 (um) cargo de Assistente
que integra esta Lei. de Execução Orçamentária, símbolo DAI-5.
Art. 80 - Ficam criados, na estrutura de cargos em co- Art. 88 - Ficam criadas, na estrutura organizacional da
missão da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Fundação Pedro Calmon - Centro de Memória e Arquivo
Agrária - SEAGRI, 01 (um) cargo de Diretor, símbolo DAS Público da Bahia - FPC, as seguintes Unidades:
-2C, 08 (oito) cargos de Coordenador II, símbolo DAS-3, 03 I - Centro de Memória da Bahia, com a finalidade de
(três) cargos de Coordenador III, símbolo DAI-4 e 02 (dois) exercer a coordenação e supervisão geral dos acervos do-
cargos de Assessor Administrativo, símbolo DAI-4, aloca- cumentais para subsidiar a realização de pesquisas e estu-
dos na Superintendência de Agricultura Familiar - SUAF. dos na área da história política e administrativa da Bahia;
Art. 81 - Ficam criados, na estrutura de cargos em co- II - Diretoria do Livro e da Leitura, com a finalidade de
missão da Secretaria da Segurança Pública - SSP, 01 (um) planejar, coordenar, avaliar e apoiar programas e ações re-
cargo de Assessor de Comunicação Social, símbolo DAS lacionadas ao desenvolvimento da leitura, da produção li-
-2C, na Polícia Militar da Bahia - PM/BA, 01 (um) cargo de
terária e da cadeia produtiva do livro, no âmbito do Estado
Assessor de Comunicação Social, símbolo DAS-2C e 01
da Bahia, bem como incentivar estas ações;
(um) cargo de Assessor de Comunicação Social I, símbolo
III - Diretoria do Arquivo Público do Estado da Bahia,
DAS-3 e, na Polícia Civil do Estado da Bahia - PC/BA, 01
com a finalidade de planejar, coordenar, promover, acom-
(um) cargo de Assessor de Comunicação Social I, símbolo
DAS-3. panhar, avaliar e apoiar as ações pertinentes ao processo
Art. 82 - A estrutura de cargos em comissão da Secre- de preservação de documentos de valor histórico e cultural
taria da Saúde - SESAB fica modificada, na forma a seguir do Estado da Bahia.
indicada: Art. 89 - Ficam criados, na estrutura de cargos em co-
I - ficam criados 01 (um) cargo de Diretor, símbolo DAS missão da Fundação Pedro Calmon - Centro de Memória e
-2C e 01 (um) cargo de Diretor, símbolo DAS-2D; Arquivo Público da Bahia - FPC, 02 (dois) cargos de Coor-
II - ficam extintos 01 (um) cargo de Coordenador II, denador II, símbolo DAS-3, 01 (um) cargo de Coordenador
símbolo DAS-3 e 03 (três) cargos de Coordenador III, sím- III, símbolo DAI-4, e 02 (dois) cargos de Secretário Adminis-
bolo DAI-4. trativo II, símbolo DAI-6.
Art. 83 - Fica alterada a estrutura organizacional e de Art. 90 - Fica extinto, na estrutura de cargos em co-
cargos em comissão da Secretaria de Cultura - SECULT, da missão da Fundação Pedro Calmon - Centro de Memória e
Fundação Pedro Calmon - Centro de Memória e Arquivo Arquivo Público da Bahia - FPC, 01 (um) cargo de Assistente
Público da Bahia - FPC, do Instituto do Patrimônio Artístico III, símbolo DAI-4.
e Cultural da Bahia - IPAC e da Fundação Cultural do Estado Art. 91 - Ficam criadas, na estrutura organizacional do
da Bahia - FUNCEB. Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia - IPAC,
Art. 84 - A Superintendência de Cultura da SECULT pas- as seguintes Unidades:
sa a denominar-se Superintendência de Desenvolvimento I - Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural,
Territorial da Cultura, com a finalidade de propor políticas com a finalidade de planejar, coordenar e promover ações
e programas para o desenvolvimento da cultura territoriali- para o resgate e preservação da memória cultural baiana
zada, bem como coordenar, desenvolver e acompanhar es- em todas as suas manifestações;
tudos, pesquisas e ações de apoio à criação, produção, di- II - Diretoria de Projetos, Obras e Restauro, com a finali-
fusão e ao consumo dos bens culturais no Estado da Bahia. dade de planejar, coordenar, executar e avaliar as atividades
Art. 85 - Fica criada, na estrutura organizacional da SE- pertinentes a projetos, obras, conservação e restauração
CULT, o Centro de Culturas Populares e Identitárias, com a
dos bens móveis e imóveis culturais do Estado da Bahia.
finalidade de planejar, coordenar, fomentar e difundir in-
Art. 92 - Ficam extintas, na estrutura organizacional do
formações sobre culturas populares indígenas e afro-des-
Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia - IPAC,
cendentes e sedimentar o processo de desenvolvimento da
as seguintes Unidades:
cultura regional do Estado, bem como promover a dinami-
zação e gestão cultural do Centro Histórico de Salvador. I - Diretoria de Preservação do Patrimônio Artístico e
Art. 86 - Ficam criados, na estrutura de cargos em co- Cultural;
missão da Secretaria de Cultura, 02 (dois) cargos de Asses- II - Diretoria de Ações Culturais.
sor Especial, símbolo DAS-2C, 01 (um) cargo de Coordena- Art. 93 - Ficam criados, na estrutura de cargos em co-
dor I, símbolo DAS-2C, 01 (um) cargo de Diretor, símbolo missão do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da
DAS-2C, 01 (um) cargo de Assessor Técnico, símbolo DAS- Bahia - IPAC, 04 (quatro) cargos de Coordenador II, símbolo
3, 17 (dezessete) cargos de Coordenador II, símbolo DAS-3, DAS-3, 02 (dois) cargos de Coordenador III, símbolo DAI-4,
02 (dois) cargos de Assessor Administrativo, símbolo DAI-4, 01 (um) cargo de Coordenador IV, símbolo DAI-5, e 01 (um)
17 (dezessete) cargos de Coordenador de Centro de Cultu- cargo de Secretário Administrativo II, símbolo DAI-6.
ra, símbolo DAI-4, 07 (sete) cargos de Coordenador III, sím- Art. 94 - Ficam extintos, na estrutura de cargos em co-
bolo DAI-4, 02 (dois) cargos de Coordenador IV, símbolo missão do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da
DAI-5, 01 (um) cargo de Secretário Administrativo I, símbo- Bahia - IPAC, 02 (dois) cargos de Gerente, símbolo DAS-3, e
lo DAI-5 e 18 (dezoito) cargos de Secretário Administrativo 01 (um) cargo de Supervisor, símbolo DAI-5.
II, símbolo DAI-6.

61
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Art. 95 - Ficam extintas, na estrutura organizacional da Art. 102 - Ficam extintos, na estrutura da Administra-
Fundação Cultural do Estado da Bahia - FUNCEB, as seguin- ção Pública do Poder Executivo Estadual:
tes Unidades: I - o Instituto do Meio Ambiente - IMA, previsto no
I - Diretoria de Literatura; art. 5 da , de 06 de junho de 2008, anteriormente denomi-
II - Diretoria de Música e Artes Cênicas. nado Centro de Recursos Ambientais, autarquia estadual
Art. 96 - Ficam criadas, na estrutura organizacional da criada pela Lei Delegada nº 31 , de 03 de março de 1983;
Fundação Cultural do Estado da Bahia - FUNCEB, as seguin- II - o Instituto de Gestão das Águas e Clima - INGÁ,
tes Unidades: previsto no art. 10da , de 06 de junho de 2008, anterior-
I - Diretoria das Artes, com a finalidade de propor e mente denominado Superintendência de Recursos Hídri-
estimular políticas públicas de fomento às artes visuais, à cos - SRH, autarquia estadual criada pela Lei nº 6.812 , de
música, ao teatro, à dança e à literatura; 18 de janeiro de 1995.
II - Centro de Formação em Artes, com a finalidade de Art. 103 - Fica criado o Instituto do Meio Ambiente e
planejar, coordenar, executar e avaliar ações e projetos ar- Recursos Hídricos - INEMA, como autarquia vinculada à Se-
tístico-educativos, promovendo a democratização do aces- cretaria do Meio Ambiente - SEMA, dotada de personalida-
so aos cursos, o funcionamento regular e a dinamização de jurídica de direito público, autonomia administrativa e
das diversas linguagens artísticas. financeira e patrimônio próprio, o qual reger-se-á por esta
Art. 97 - A Diretoria de Administração, Orçamento e Lei e demais normas legais aplicáveis.
Finanças passa a denominar-se Diretoria de Administração § 1º - O INEMA terá sede e foro na cidade de Salvador,
e Finanças, com a finalidade de executar as atividades de Estado da Bahia e prazo de duração indeterminado.
administração geral, modernização e informática, adminis- § 2º - O INEMA gozará, no que couber, de todas as
tração financeira e contabilidade da Fundação Cultural do franquias e privilégios concedidos aos órgãos da Adminis-
Estado da Bahia - FUNCEB, em articulação com a Diretoria tração Direta do Estado.
Art. 104 - Os recursos orçamentários e financeiros, bem
Geral da Secretaria de Cultura e os respectivos Sistemas
como os acervos e obrigações do IMA e do INGÁ passam a
formalmente instituídos.
ser transferidos para o INEMA, que os sucederá ainda nos
Art. 98 - A Assessoria Técnica passa a ter por finalidade
direitos, créditos e obrigações decorrentes de lei, ato ad-
desempenhar as atividades de planejamento, programação
ministrativo ou contrato, inclusive nas respectivas receitas.
e orçamentação, em articulação com o respectivo Sistema
Art. 105 - O Instituto do Meio Ambiente e Recursos
Estadual de Planejamento.
Hídricos - INEMA tem por finalidade executar a Política Es-
Art. 99 - Ficam criados, na estrutura de cargos em co-
tadual de Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversidade,
missão da Fundação Cultural do Estado da Bahia - FUNCEB,
a Política Estadual de Recursos Hídricos, a Política Estadual
01 (um) cargo de Diretor, símbolo DAS-2B, 06 (seis) car- sobre Mudança do Clima e a Política Estadual de Educação
gos de Coordenador I, símbolo DAS-2C, 02 (dois) cargos Ambiental.
de Coordenador II, símbolo DAS-3, e 11 (onze) cargos de Art. 106 - O INEMA tem as seguintes competências:
Coordenador III, símbolo DAI-4. I - executar as ações e programas relacionados à Políti-
Art. 100 - Ficam extintos, na estrutura de cargos em ca Estadual de Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversi-
comissão da Fundação Cultural do Estado da Bahia - FUN- dade, da Política Estadual de Recursos Hídricos, da Política
CEB, 02 (dois) cargos de Diretor, símbolo DAS-2C, 04 (qua- Estadual sobre Mudança do Clima e da Política Estadual de
tro) cargos de Coordenador Técnico, símbolo DAS-2D, 01 Educação Ambiental;
(um) cargo de Assessor Técnico, símbolo DAS-3, 02 (dois) II - participar da elaboração e da implementação do
cargos de Gerente, símbolo DAS-3, 06 (seis) cargos de Ad- Plano Estadual de Meio Ambiente, do Plano Estadual de
ministrador de Espaço Cultural, símbolo DAI-4, 01 (um) Recursos Hídricos e do Plano Estadual sobre Mudança do
cargo de Assistente III, símbolo DAI-4, 15 (quinze) cargos Clima;
de Coordenador de Centro de Cultura, símbolo DAI-4, 03 III - realizar ações de Educação Ambiental, consideran-
(três) cargos de Diretor, símbolo DAI-4, 05 (cinco) cargos do as práticas de desenvolvimento sustentável;
de Subgerente, símbolo DAI-4, 01 (um) cargo de Assistente IV - promover a gestão florestal e do patrimônio gené-
Administrativo-Financeiro, símbolo DAI-5, 02 (dois) cargos tico, bem como a restauração de ecossistemas, com vistas
de Assistente de Apoio Técnico, símbolo DAI-5, 05 (cinco) à proteção e preservação da flora e da fauna;
cargos de Coordenador IV, símbolo DAI-5, 02 (dois) cargos V - promover as ações relacionadas com a criação, a
de Supervisor, símbolo DAI-5, e 15 (quinze) cargos de Se- implantação e a gestão das Unidades de Conservação, em
cretário Administrativo II, símbolo DAI-6. consonância com o Sistema Estadual de Unidades de Con-
Art. 101 - O Quadro de Cargos em Comissão da Se- servação - SEUC, bem como elaborar e implementar os Pla-
cretaria de Cultura - SECULT, da Fundação Pedro Calmon nos de Manejo;
- Centro de Memória e Arquivo Público da Bahia - FPC, do VI - promover a gestão das águas superficiais e subter-
Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia - IPAC râneas de domínio do Estado;
e da Fundação Cultural do Estado da Bahia - FUNCEB pas- VII - fomentar a criação e organização de Comitês de
sam a ser os constantes dos Anexos IX, X, XI e XII, respecti- Bacia Hidrográfica, visando garantir o seu funcionamento,
vamente, desta Lei. bem como acompanhar a implementação dos seus respec-
tivos planos;

62
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

VIII - executar programas, projetos e ações voltadas à § 1º - Os membros do Conselho de Administração e


proteção e melhoria do meio ambiente, da biodiversidade seus suplentes serão nomeados pelo Governador do Esta-
e dos recursos hídricos; do, para um mandato de 02 (dois) anos, permitida uma re-
IX - propor ao Conselho Estadual de Meio Ambiente condução, sendo que os referidos nos incisos III a V serão
- CEPRAM e ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos - indicados pelos respectivos órgãos.
CONERH normas para a proteção, conservação, defesa e § 2º - O representante dos servidores do INEMA e seu
melhoria do meio ambiente e dos recursos hídricos; respectivo suplente serão escolhidos por votação, median-
X - expedir licenças ambientais, emitir anuência pré- te escrutínio secreto, realizada por entidade dos servidores
via para implantação de empreendimentos e atividades em ou, na sua falta, por comissão de servidores especialmente
unidades de conservação estaduais, autorizar a supressão constituída para este fim.
de vegetação, conceder outorga de direito de uso de recur- § 3º - O Diretor Geral do INEMA participará das re-
sos hídricos e praticar outros atos autorizativos, na forma uniões do Conselho, porém, sem direito a voto, quando
da lei; forem deliberadas matérias referentes a relatórios e pres-
XI - efetuar a cobrança pelo uso de recursos hídricos, tações de contas da Autarquia ou assuntos do seu interes-
de bens da biodiversidade e de outras receitas previstas na se próprio.
legislação ambiental e de recursos hídricos; § 4º - Os membros do Conselho serão substituídos,
XII - elaborar e gerenciar os cadastros ambientais e de em suas ausências e impedimentos, pelos respectivos su-
recursos hídricos; plentes.
XIII - coordenar, executar, acompanhar, monitorar e § 5º - O Regimento do Conselho de Administração,
avaliar a qualidade ambiental e de recursos hídricos; por ele aprovado e homologado por ato do Governador
XIV - pesquisar e monitorar o tempo, o clima e as mu- do Estado, fixará as normas de seu funcionamento.
danças climáticas, bem como a ocorrência da desertifica- Art. 110 - A Diretoria Geral do INEMA, composta pelo
ção; conjunto de órgãos de planejamento, assessoramento,
XV - efetuar a previsão meteorológica e os monitora- execução, avaliação e controle, tem a seguinte organiza-
mentos hidrológicos, hidrogeológicos, climáticos e hidro-
ção:
meteorológicos;
I - Gabinete do Diretor Geral;
XVI - realizar estudos e pesquisas destinados à elabo-
II - Procuradoria Jurídica;
ração e execução de programas, projetos e ações voltadas
III - Coordenação de Ações Estratégicas;
à melhoria da qualidade ambiental e de recursos hídricos;
IV - Coordenação de Atendimento Ambiental;
XVII - celebrar convênios, contratos, ajustes e protoco-
V - Coordenação de Interação Social;
los com instituições públicas e privadas, nacionais, estran-
VI - Coordenação de Gestão Descentralizada:
geiras e internacionais, bem como termos de compromis-
a) Unidades Regionais;
so, observada a legislação pertinente;
XVIII - exercer o poder de polícia administrativa, pre- VII - Diretoria de Regulação;
ventiva ou repressiva, fiscalizando o cumprimento da legis- VIII - Diretoria de Fiscalização e Monitoramento Am-
lação ambiental e de recursos hídricos. biental;
Art. 107 - O INEMA atuará em articulação com os ór- IX - Diretoria de Águas;
gãos e entidades da Administração Pública Estadual e com X - Diretoria de Biodiversidade;
a sociedade civil organizada, para consecução de seus XI - Diretoria de Unidades de Conservação;
objetivos, em consonância com as diretrizes das Políticas XII - Diretoria Administrativa e Financeira.
Nacionais do Meio Ambiente, de Recursos Hídricos, sobre Art. 111 - O Gabinete do Diretor Geral tem por finali-
Mudança do Clima e de Educação Ambiental. dade prestar assistência ao Diretor Geral em suas tarefas
Art. 108 - O INEMA tem a seguinte estrutura organiza- técnicas e administrativas.
cional básica: Art. 112 - A Procuradoria Jurídica tem por finalidade
I - Conselho de Administração; exercer a representação judicial e extrajudicial, a consul-
II - Diretoria Geral. toria e o assessoramento jurídico ao INEMA, mediante a
Art. 109 - O Conselho de Administração, órgão consul- vinculação técnica à Procuradoria Geral do Estado e, de
tivo, deliberativo, de orientação e supervisão superior, tem acordo com a legislação das Procuradorias Jurídicas das
por finalidade o acompanhamento, controle e avaliação Autarquias e Fundações do Estado da Bahia.
das ações executadas pelo INEMA, sendo integrado pelos Art. 113 - A Coordenação de Ações Estratégicas tem
seguintes membros: por finalidade coordenar ações que promovam a melhoria
I - o Secretário do Meio Ambiente, que o presidirá; da gestão e do aperfeiçoamento do Sistema Estadual de
II - o Diretor Geral do INEMA; Informações Ambientais e de Recursos Hídricos - SEIA, de
III - 01 (um) representante da Casa Civil; acordo com as diretrizes e prioridades estabelecidas pela
IV - 01 (um) representante da Secretaria da Adminis- SEMA, voltadas à otimização do desempenho organiza-
tração; cional e fortalecimento dos resultados institucionais, em
V - 01 (um) representante da Procuradoria Geral do Es- articulação com as unidades do INEMA.
tado;
VI - 01 (um) representante dos servidores do INEMA.

63
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Art. 114 - A Coordenação de Atendimento Ambiental Art. 124 - O Diretor Geral será nomeado pelo Governa-
tem por finalidade executar a triagem técnica e adminis- dor do Estado.
trativa de documentos, formar, exercer o acompanhamen- Art. 125 - Aos Diretores e demais dirigentes do INEMA
to, controle e guarda de processos, bem como realizar o incumbe planejar, dirigir, avaliar o desempenho, coordenar,
controle e a expedição de correspondências destinadas ao controlar e orientar a execução das atividades de sua área
Instituto ou geradas por este. de competência e exercer outras atribuições que lhes fo-
Art. 115 - A Coordenação de Interação Social tem por rem cometidas pelo Diretor Geral da entidade.
finalidade coordenar, gerir e executar, de forma descentra- Art. 126 - Constituem patrimônio do INEMA, os bens
lizada e participativa, as ações relativas à implementação e móveis e imóveis, valores, rendas e direitos atualmente
funcionamento dos Conselhos Gestores das Unidades de pertencentes ao IMA e ao INGÁ ou que lhe venham a ser
Conservação, dos Comitês de Bacia Hidrográfica e das Au- adjudicados ou transferidos.
diências Públicas. § 1º - Os bens, diretos e valores do INEMA serão utiliza-
Art. 116 - A Coordenação de Gestão Descentralizada dos, exclusivamente, no cumprimento dos seus objetivos,
tem por finalidade promover a articulação, a gestão e a permitida, a critério da Diretoria Geral, a utilização de uns e
integração das Unidades Regionais, bem como apoiar a outros para obtenção de rendas destinadas ao atendimen-
desconcentração e descentralização da gestão ambiental to de suas finalidades.
do Estado. § 2º - Em caso de extinção do INEMA, seus bens e di-
Parágrafo único - As Unidades Regionais são unidades reitos reverterão ao patrimônio do Estado da Bahia, salvo
de desconcentração da gestão das atividades da Autarquia, disposição em contrário expressa em lei.
que têm por finalidade executar a Política Estadual do Meio Art. 127 - Constituem receitas do INEMA:
Ambiente e de Proteção à Biodiversidade e a Política Es- I - os créditos orçamentários que lhe forem consigna-
tadual de Recursos Hídricos, nas suas respectivas regiões, dos pelo Orçamento Geral do Estado;
através do licenciamento, monitoramento e fiscalização II - os recursos correspondentes a 95% (noventa e cin-
ambiental, além de prestar apoio aos municípios no de- co por cento) dos valores das multas administrativas por
senvolvimento da gestão ambiental local, em articulação
atos lesivos ao meio ambiente, a serem repassados pelo
com a SEMA.
Fundo de Recursos para o Meio Ambiente - FERFA;
Art. 117 - A Diretoria de Regulação tem por finalidade
III - os valores correspondentes às multas administra-
planejar, organizar e coordenar as ações necessárias para
tivas por descumprimento da legislação estadual de recur-
emissão das licenças ambientais e dos atos autorizativos
sos hídricos;
de meio ambiente e de recursos hídricos, na forma da lei.
IV - os valores da arrecadação da Taxa de Controle e
Art. 118 - A Diretoria de Fiscalização e Monitoramen-
Fiscalização Ambiental, incidente sobre as atividades utili-
to Ambiental tem por finalidade fiscalizar o cumprimento
zadoras de recursos naturais e atividades potencialmente
da legislação ambiental e de recursos hídricos, bem como
coordenar, executar, acompanhar, monitorar e avaliar a poluidoras do meio ambiente, prevista no art. 3º da Lei Es-
qualidade ambiental e de recursos hídricos. tadual nº 11.631, de 30 de dezembro de 2009;
Art. 119 - A Diretoria de Águas tem por finalidade im- V - os recursos correspondentes a até 25% (vinte e cin-
plementar os planos de recursos hídricos, bem como pro- co por cento) dos previstos no inciso III do art. 1º da Lei
mover estudos, implementar e avaliar medidas, ações, pro- Estadual nº 9.281, de 07 de outubro de 2004, referentes às
gramas e projetos, visando assegurar o gerenciamento do compensações financeiras previstas no § 1º do art. 20 da
uso, a qualidade e conservação dos recursos hídricos e o Constituição Federal, a serem repassados pelo FERFA;
atendimento da demanda e da oferta hídrica estadual. VI - os recursos correspondentes a 20% (vinte por cen-
Art. 120 - A Diretoria de Biodiversidade tem por fina- to) da cobrança pelo fornecimento de água bruta dos re-
lidade coordenar a gestão florestal e do patrimônio gené- servatórios;
tico, bem como a execução de programas e projetos de VII - os valores provenientes da remuneração pela aná-
proteção e restauração de ecossistemas. lise dos processos de licenciamento ambiental e pela pres-
Art. 121 - A Diretoria de Unidades de Conservação tem tação de serviços;
por finalidade coordenar as ações relacionadas com a cria- VIII - os valores provenientes da cobrança de emolu-
ção, a implantação e a gestão das Unidades de Conserva- mentos administrativos para expedição das outorgas de
ção, em consonância com o SEUC, bem como elaborar e direito de uso dos recursos hídricos;
implementar os Planos de Manejo. IX - os valores correspondentes às multas aplicadas
Art. 122 - A Diretoria Administrativa e Financeira tem pelo descumprimento de Termo de Compromisso celebra-
por finalidade executar as atividades de programação, or- do pela Entidade;
çamentação, acompanhamento, avaliação, estudos e aná- X - os valores provenientes da venda de publicações
lises, material, patrimônio, serviços, recursos humanos, ou outros materiais educativos e técnicos produzidos pela
modernização administrativa e informática, administração Entidade;
financeira e de contabilidade, e de arrecadação. XI - os recursos oriundos de convênios, acordos ou
Art. 123 - Ato do Chefe do Poder Executivo estabe- contratos celebrados com entidades públicas ou privadas,
lecerá as Unidades Regionais, definindo as suas áreas de organismos ou empresas nacionais, estrangeiras ou inter-
abrangência. nacionais;

64
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

XII - as doações, legados, subvenções e quaisquer ou- III - promover a integração das políticas ambientais do
tras fontes ou atividades. Estado entre si e com as políticas públicas setoriais, bem
§ 1º - Será destinado a projetos de melhoria ambiental como a articulação de sua atuação com o Sistema Nacional
o percentual de 80% (oitenta por cento) do valor resultan- do Meio Ambiente - SISNAMA e com o Sistema Nacional
te do recurso previsto no inciso II do caput deste artigo. de Gerenciamento de Recursos Hídricos - SINGREH;
§ 2º - Fica mantida a destinação de 80% (oitenta por IV - elaborar o Plano Estadual de Meio Ambiente, o Pla-
cento) dos recursos previstos no inciso VI do caput deste no Estadual de Recursos Hídricos e o Plano Estadual sobre
artigo para o órgão responsável pela administração, ope- Mudança do Clima, supervisionando a sua implementação;
ração e manutenção do reservatório. V - gerir o Fundo de Recursos para o Meio Ambiente -
Art. 128 - A prestação de contas do INEMA, relativa à FERFA, o Fundo Estadual de Recursos Hídricos - FERHBA e a
administração dos bens e recursos obtidos, no exercício ou Câmara de Compensação Ambiental, exercendo o controle
na gestão, será elaborada em conformidade com as dispo- orçamentário, financeiro e patrimonial dos mesmos;
VI - exercer a Secretaria Executiva do CEPRAM e do CO-
sições constitucionais sobre a matéria, com o disposto em
NERH;
lei, no Regimento e demais normas legais aplicáveis, de-
VII - gerir e operacionalizar o SEIA, promovendo a in-
vendo ser encaminhadas ao Tribunal de Contas do Estado.
tegração com os demais sistemas relacionados com a sua
Art. 129 - O exercício financeiro do INEMA coincidirá
área de atuação;
com o ano civil. VIII - planejar, coordenar e executar ações para a pro-
Art. 130 - O regime jurídico do pessoal do INEMA é o moção de estudos e pesquisas voltados ao desenvolvimen-
estabelecido para o serviço público estadual. to tecnológico e científico para o uso sustentável e racional
§ 1º - A admissão de servidores do INEMA dar-se-á dos recursos ambientais e hídricos;
mediante concurso público e com observância ao plano IX - apoiar o fortalecimento da gestão ambiental muni-
de cargos e salários e benefícios previstos em lei. cipal, podendo delegar competência;
§ 2º - Os cargos efetivos do INGÁ e do IMA passam X - promover e estimular a celebração de convênios e
a integrar o quadro do INEMA, onde desempenharão as acordos entre entidades públicas, privadas e organizações
suas respectivas atribuições legais. não-governamentais, nacionais, estrangeiras e internacio-
§ 3º - Ficam transferidos da estrutura de cargos efeti- nais, com vistas à otimização da gestão ambiental e de re-
vos do IMA e do INGÁ para o INEMA os cargos de Procura- cursos hídricos no Estado.
dor Jurídico e suas respectivas classes, previstos no Anexo Art. 134 - A SEMA tem a seguinte estrutura organiza-
II da Lei nº 8.208, de 04 de fevereiro de 2002. cional básica:
§ 4º - O Poder Executivo poderá colocar à disposição I - Órgãos Colegiados:
do INEMA servidores públicos do seu quadro para auxiliar a) Conselho Estadual do Meio Ambiente - CEPRAM;
no desempenho de programas ou projetos específicos. b) Conselho Estadual de Recursos Hídricos - CONERH;
Art. 131 - Fica criado o Sistema Estadual de Informa- II - Órgãos da Administração Direta:
ções Ambientais e de Recursos Hídricos - SEIA, que absor- a) Gabinete do Secretário;
verá o Sistema Estadual de Informações Ambientais - SEIA b) Coordenação de Ações Estratégicas;
e o Sistema Estadual de Informações de Recursos Hídricos c) Coordenação de Gestão dos Fundos;
- SEIRH. d) Diretoria Geral;
Art. 132 - A Secretaria do Meio Ambiente - SEMA, cria- e) Superintendência de Estudos e Pesquisas Ambientais;
da pela Lei n° 8.538, de 20 de dezembro de 2002, alterada f) Superintendência de Políticas e Planejamento Am-
pelas Leis nº 9.525, de 21 de junho de 2005, nº 10.431, de biental;
III - Entidades da Administração Indireta:
20 de dezembro de 2006 e nº 11.050, de 06 de junho de
a) Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hí-
2008, tem por finalidade planejar, coordenar, supervisionar
dricos - INEMA;
e controlar a política estadual e as diretrizes governamen-
b) Companhia de Engenharia Ambiental da Bahia -
tais fixadas para o meio ambiente, a biodiversidade e os
CERB.
recursos hídricos. Art. 135 - O CEPRAM, órgão superior do Sistema Esta-
Art. 133 - A SEMA passa a ter as seguintes competên- dual do Meio Ambiente, com funções de natureza consul-
cias: tiva, normativa, deliberativa e recursal, tem por finalidade
I - planejar, coordenar, supervisionar e controlar a Polí- o planejamento e acompanhamento da política e das di-
tica Estadual de Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversi- retrizes governamentais voltadas para o meio ambiente, a
dade, da Política Estadual de Recursos Hídricos, da Política biodiversidade e a definição de normas e padrões relacio-
Estadual sobre Mudança do Clima e da Política Estadual de nados à preservação e conservação dos recursos naturais.
Educação Ambiental; Art. 136 - O CONERH, órgão superior do Sistema Esta-
II - planejar, coordenar, orientar e integrar as ações re- dual de Gerenciamento de Recursos Hídricos, com caráter
lativas ao Sistema Estadual do Meio Ambiente - SISEMA e consultivo, normativo, deliberativo, recursal e de represen-
ao Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídri- tação, tem por finalidade o planejamento e acompanha-
cos - SEGREH; mento da política e das diretrizes governamentais voltadas
para a gestão dos recursos hídricos.

65
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Art. 137 - O Gabinete do Secretário tem por finalidade Art. 146 - Ficam extintos os cargos em comissão pre-
prestar assistência ao Titular da Pasta em suas tarefas téc- vistos nos Quadros de Cargos em Comissão do IMA e do
nicas e administrativas. INGÁ, constantes dos Anexos II e III da Lei nº 11.050, 06 de
Art. 138 - A Coordenação de Ações Estratégicas tem junho de 2008.
por finalidade coordenar ações que promovam a melhoria Art. 147 - Fica alterado o Quadro de Cargos em Co-
da gestão e do aperfeiçoamento do SEIA, de acordo com missão da SEMA, que passa a ser o constante do Anexo
as diretrizes e prioridades estabelecidas nas políticas go- XIV desta Lei.
vernamentais voltadas para a otimização do desempenho Art. 148 - Fica o Poder Executivo autorizado a promo-
organizacional e fortalecimento dos resultados institucio- ver, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, os atos neces-
nais, em articulação com a Diretoria Geral. sários:
Art. 139 - A Coordenação de Gestão dos Fundos tem I - à elaboração dos atos regulamentares e regimentais
por finalidade exercer a gestão orçamentária, financeira e que decorram, implícita ou explicitamente, das disposi-
patrimonial do FERFA, do FERHBA e da Câmara de Com- ções desta Lei, inclusive os que se relacionam com pessoal,
pensação Ambiental. material e patrimônio, bem como as alterações organiza-
Art. 140 - A Diretoria Geral tem por finalidade a coor- cionais e de cargos em comissão decorrentes desta Lei;
denação dos órgãos setoriais e seccionais dos sistemas for- II - à utilização, para o funcionamento das Secreta-
malmente instituídos, responsáveis pela execução das ativi- rias de Estado, ora criadas, mediante processo formal de
dades de programação, orçamentação, acompanhamento, cessão, de servidores das demais Secretarias, Autarquias
avaliação, estudos e análises, material, patrimônio, serviços, e Fundações do Estado da Bahia, bem como de servidores
recursos humanos, modernização administrativa e infor- de outras esferas governamentais, por meio de instrumen-
mática, e de administração financeira e de contabilidade. to próprio adequado;
Art. 141 - A Superintendência de Estudos e Pesquisas III - à abertura de créditos adicionais, necessários ao
Ambientais tem por finalidade planejar, coordenar e execu- funcionamento das Secretarias e demais órgãos e entida-
tar ações para a promoção do conhecimento, informação e
des da Administração Pública Indireta do Poder Executivo
inovação, direcionadas ao desenvolvimento tecnológico e
Estadual;
científico em gestão ambiental, bem como aprimorar seus
IV - à continuidade dos serviços, até a definitiva es-
instrumentos de gestão ambiental na busca do desenvolvi-
truturação das Secretarias e demais órgãos e entidades da
mento sustentável e da qualidade ambiental.
Administração Pública Indireta do Poder Executivo Esta-
Art. 142 - A Superintendência de Políticas e Planeja-
dual, em especial os processos licitatórios;
mento Ambientais tem por finalidade planejar as políticas
V - à transferência dos contratos, convênios, protoco-
de meio ambiente e de recursos hídricos, bem como coor-
los e demais instrumentos vigentes, necessária à imple-
denar e supervisionar a execução de seus programas e pro-
mentação das alterações das competências definidas nesta
jetos de gestão, promovendo a articulação institucional e a
educação ambiental. Lei, procedendo-se às devidas adequações orçamentárias;
Art. 143 - A Companhia de Engenharia Ambiental da VI - à elaboração de estudos sobre o quadro de car-
Bahia - CERB, criada pela Lei nº 2.929, de 11 de maio de gos efetivos para atendimento às atividades inerentes às
1971, alterada pelas Leis nº 6.074, de 22 de maio de 1991, competências da SEMA e do INEMA, a ser definido em lei;
nº 8.538, de 20 de dezembro de 2002 e nº 11.050, de 06 de VII - às modificações orçamentárias que se fizerem ne-
junho de 2008, passa a denominar-se Companhia de Enge- cessárias ao cumprimento do disposto nesta Lei, respeita-
nharia Ambiental e Recursos Hídricos da Bahia - CERB. dos os valores globais constantes do orçamento vigente e
Art. 144 - A Companhia de Engenharia Ambiental e Re- no Plano Plurianual.
cursos Hídricos da Bahia - CERB, sociedade de economia Art. 149 - Revogam-se as disposições em contrário,
mista de capital autorizado, vinculada à Secretaria do Meio em especial a Lei nº  11.050, de 06 de junho de 2008, os
Ambiente, tem a finalidade de executar programas, pro- artigos 49, 51 e 52 da Lei nº 11.612 , de 08 de outubro
jetos e ações de engenharia ambiental e aproveitamento de 2009, e o artigo 171, caput e parágrafo único da Lei
dos recursos hídricos, perenização de rios, perfuração de nº 10.431 , de 20 de dezembro de 2006.
poços, construção, operação e manutenção de barragens e Art. 150 - Esta Lei entra em vigor na data de sua pu-
obras para mitigação dos efeitos da seca e convivência com blicação.
o semi-árido, bem como a execução de outros programas, PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, em 04
projetos e ações relativas a obras de infraestrutura que lhe de maio de 2011.
venham a ser atribuídas dentro da política de Governo do
Estado para o setor.
Parágrafo único - A estrutura organizacional e funcio-
nal da CERB, bem como a definição de suas competências,
inclusive das unidades organizacionais que a compõem, se-
rão definidas em seu Estatuto Social e Regimento Interno.
Art. 145 - O Quadro de Cargos em Comissão do INEMA
é o constante do Anexo XIII desta Lei.

66
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

JAQUES WAGNER
Governador
Eva Maria Cella Dal Chiavon
Secretária da Casa Civil Manoel Vitório da Silva Filho
Secretário da Administração
Eduardo Seixas de Salles
Secretário da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária
Carlos Martins Marques de Santana
Secretário da Fazenda
Zezéu Ribeiro
Secretário do Planejamento
Osvaldo Barreto Filho
Secretário da Educação
Otto Alencar
Secretário de Infra-Estrutura
Almiro Sena Soares Filho
Secretário da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos
Jorge José Santos Pereira Solla
Secretário da Saúde
James Silva Santos Correia
Secretário da Indústria, Comércio e Mineração
Nilton Vasconcelos Júnior
Secretário do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte
Maurício Teles Barbosa
Secretário da Segurança Pública
Antônio Albino Canelas Rubim
Secretário de Cultura
Eugênio Spengler
Secretário do Meio Ambiente
Cícero de Carvalho Monteiro
Secretário de Desenvolvimento Urbano
Paulo Francisco de Carvalho Câmera
Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação
Wilson Alves de Brito Filho
Secretário de Desenvolvimento e Integração Regional
Domingos Leonelli Neto
Secretário de Turismo
Vanda Sampaio de Sá Barreto
Secretária de Promoção da Igualdade, em exercício
Paulo Cézar Lisboa Cerqueira
Secretário de Relações Institucionais
Carlos Alberto Lopes Brasileiro
Secretário de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza

67
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

ANEXO I
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DO INSTITUTO DE RADIODIFUSÃO EDUCATIVA DA BAHIA - IRDEB

CARGO SÍMBOLO QUANTIDADE


Diretor Geral DAS-2A 01
Diretor DAS-2B 03
Assessor Especial DAS-2C 01
Chefe de Gabinete DAS-2C 01
Coordenador I DAS-2C 09
Procurador Chefe DAS-2C 01
Assessor de Comunicação Social I DAS-3 01
Assessor Técnico DAS-3 05
Coordenador II DAS-3 05
Gerente DAS-3 14
Assessor Administrativo DAI-4 05
Assistente III DAI-4 03
Coordenador III DAI-4 23
Secretário Administrativo II DAI-6 09
Assistente RA e TV I FC-3 10
Assistente RA e TV II FC-2 10
Assistente RA e TV III FC-1 10

ANEXO II
QUADRO ESPECIAL DE CARGOS EM COMISSÃO DA CASA CIVIL

CARGO SÍMBOLO QUANTIDADE


Assistente II DAS-3 08
Assistente III DAI-4 13
Assistente IV DAI-5 21

ANEXO III
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES - SPM

CARGO SÍMBOLO QUANTIDADE


Chefe de Gabinete DAS-2A 01
Coordenador Executivo DAS-2B 02
Assessor Especial DAS-2C 02
Diretor DAS-2C 01
Coordenador I DAS-2C 02
Assessor Técnico DAS-3 02
Secretário de Gabinete DAS-3 01
Assistente II DAS-3 01
Coordenador II DAS-3 05
Coordenador III DAI-4 03
Assistente Orçamentário DAI-4 01
Oficial de Gabinete DAI-5 01
Secretário Administrativo I DAI-5 03

68
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

ANEXO IV
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA SECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA E RESSOCIALIZA-
ÇÃO - SEAP

CARGO SÍMBOLO QUANTIDADE


Chefe de Gabinete DAS-2A 01
Superintendente DAS-2A 02
Diretor Geral DAS-2B 01
Assessor Especial DAS-2C 03
Diretor DAS-2C 28
Coordenador I DAS-2C 06
Coordenador Técnico DAS-2D 10
Diretor DAS-2D 09
Diretor Adjunto DAS-2D 01
Assessor de Comunicação Social I DAS-3 01
Diretor Adjunto DAS-3 28
Assistente de Conselho I DAS-3 01
Assessor Técnico DAS-3 35
Secretário de Gabinete DAS-3 01
Coordenador II DAS-3 20
Assessor Administrativo DAI-4 12
Coordenador III DAI-4 28
Assistente Orçamentário DAI-4 02
Coordenador IV DAI-5 112
Oficial de Gabinete DAI-5 02
Secretário Administrativo I DAI-5 10
Coordenador V DAI-6 131
Secretário Administrativo II DAI-6 22

ANEXO V
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - SECOM

CARGO SÍMBOLO QUANTIDADE


Chefe de Gabinete DAS-2A 01
Assessor de Imprensa do Governador DAS-2A 01
Diretor Geral DAS-2B 01
Coordenador Executivo DAS-2B 02
Assessor Especial DAS-2C 04
Diretor DAS-2C 03
Coordenador I DAS-2C 09
Assessor Técnico DAS-3 01
Coordenador II DAS-3 04
Assessor de Comunicação Social I DAS-3 17
Secretário de Gabinete DAS-3 01
Assessor de Comunicação Social II DAI-4 19
Assessor Administrativo DAI-4 06
Coordenador III DAI-4 07
Assistente Orçamentário DAI-4 02
Assessor de Comunicação Social III DAI-5 07
Oficial de Gabinete DAI-5 02
Secretário Administrativo I DAI-5 08

69
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

ANEXO VI
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA SECRETARIA ESTADUAL PARA ASSUNTOS DA COPA DO MUNDO DA
FIFA BRASIL 2014 - SECOPA

CARGO SÍMBOLO QUANTIDADE


Chefe de Gabinete DAS-2A 01
Coordenador Executivo DAS-2B 02
Assessor Especial DAS-2C 02
Diretor DAS-2C 01
Coordenador  Técnico DAS-2D 04
Secretário de Gabinete DAS-3 01
Assessor de Comunicação Social I DAS-3 01
Assessor Técnico DAS-3 01
Coordenador II DAS-3 03
Coordenador III DAI-4 01
Assistente Orçamentário DAI-4 01
Oficial de Gabinete DAI-5 01
Secretário Administrativo I DAI-5 04

ANEXO VII
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA SECRETARIA DA INDÚSTRIA COMÉRCIO E MINERAÇÃO - SICM

CARGO SÍMBOLO QUANTIDADE


Chefe de Gabinete DAS-2A 01
Superintendente DAS-2A 03
Diretor Geral DAS-2B 01
Diretor DAS-2B 06
Assessor Especial DAS-2C 06
Coordenador I DAS-2C 14
Diretor DAS-2C 03
Assessor de Comunicação Social I DAS-3 01
Assessor Técnico DAS-3 08
Coordenador II DAS-3 33
Secretário de Gabinete DAS-3 01
Assessor Administrativo DAI-4 06
Assistente Orçamentário DAI-4 02
Coordenador III DAI-4 14
Coordenador IV DAI-5 03
Oficial de Gabinete DAI-5 02
Secretário Administrativo I DAI-5 03

70
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

ANEXO VIII
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DO GABINETE DO GOVERNADOR - GABGOV

CARGO SÍMBOLO QUANTIDADE


Assessor Chefe DAS-2A 01
Assessor Especial do Governador DAS-2A 03
Chefe de Gabinete DAS-2A 01
Coordenador de Escritório DAS-2A 01
Chefe de Cerimonial DAS-2A 01
Ouvidor Geral do Estado DAS-2A 01
Secretário Particular do Governador DAS-2A 01
Assessor Especial DAS-2B 09
Coordenador Executivo DAS-2B 01
Assessor Especial DAS-2C 09
Coordenador I DAS-2C 08
Diretor DAS-2C 01
Secretário de Gabinete do Governador DAS-2C 02
Coordenador Técnico DAS-2D 14
Assessor Técnico DAS-3 11
Assistente II DAS-3 04
Coordenação II DAS-3 05
Oficial de Gabinete do Governador DAS-3 04
Secretário de Gabinete DAS-3 04
Assessor Administrativo DAI-4 03
Assistente III DAI-4 10
Assistente Orçamentário DAI-4 02
Coordenador III DAI-4 08
Assistente IV DAI-5 22
Secretário Administrativo I DAI-5 14
Assistente V DAI-6 02
Secretário Administrativo II DAI-6 01

71
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

ANEXO IX
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA SECRETARIA DE CULTURA - SECULT

CARGO SÍMBOLO QUANTIDADE


Chefe de Gabinete DAS-2A 01
Superintendente DAS-2A 02
Diretor Geral DAS-2B 01
Assessor Especial DAS-2C 03
Coordenador I DAS-2C 03
Diretor DAS-2C 09
Assessor de Comunicação Social I DAS-3 01
Assessor Técnico DAS-3 05
Assistente de Conselho I DAS-3 01
Coordenador II DAS-3 35
Secretário de Gabinete DAS-3 01
Assessor Administrativo DAI-4 05
Assistente Orçamentário DAI-4 04
Secretário de Câmara DAI-4 04
Coordenador de Centro de Cultura DAI-4 17
Coordenador III DAI-4 11
Assistente IV DAI-5 01
Coordenador IV DAI-5 08
Oficial de Gabinete DAI-5 02
Secretário Administrativo I DAI-5 04
Secretário de Câmara DAI-5 04
Secretário de Comissão DAI-5 01
Secretário Administrativo II DAI-6 28

72
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

ANEXO X
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA FUNDAÇÃO PEDRO CALMON - CENTRO DE MEMÓRIA E ARQUIVO
PÚBLICO DA BAHIA - FPC

CARGO SÍMBOLO QUANTIDADE


Diretor Geral DAS-2A 01
Diretor DAS-2B 02
Assessor Chefe DAS-2C 01
Chefe de Gabinete DAS-2C 01
Diretor DAS-2C 04
Procurador Chefe DAS-2C 01
Assessor de Comunicação Social I DAS-3 01
Assessor Técnico DAS-3 02
Coordenador II DAS-3 13
Diretor de Biblioteca I DAS-3 08
Gerente DAS-3 05
Assessor Administrativo DAI-4 08
Assistente III DAI-4 01
Coordenador III DAI-4 04
Subgerente DAI-4 18
Assistente de Apoio Técnico DAI-5 04
Assistente IV DAI-5 02
Coordenador IV DAI-5 18
Secretário Administrativo I DAI-5 03
Supervisor DAI-5 11
Assistente V DAI-6 12
Secretário Administrativo II DAI-6 22

73
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

ANEXO XI
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DO INSTITUTO DO PATRIMÔNIO ARTÍSTICO E CULTURAL DA BAHIA -
IPAC

CARGO SÍMBOLO QUANTIDADE


Diretor Geral DAS-2A 01
Assessor Chefe DAS-2C 01
Chefe de Gabinete DAS-2C 01
Diretor DAS-2C 07
Procurador Chefe DAS-2C 01
Coordenador Técnico DAS-2D 01
Assessor de Comunicação Social I DAS-3 01
Assessor Técnico DAS-3 04
Coordenador II DAS-3 07
Gerente DAS-3 06
Assessor Administrativo DAI-4 06
Coordenador III DAI-4 05
Diretor de Museu DAI-4 06
Subgerente DAI-4 21
Assistente Administrativo e Financeiro DAI-5 04
Coordenador IV DAI-5 04
Coordenador Municipal DAI-5 02
Secretário Administrativo I DAI-5 02
Supervisor DAI-5 20
Secretário Administrativo II DAI-6 18

74
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

ANEXO XII
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA - FUNCEB

CARGO SÍMBOLO QUANTIDADE


Diretor Geral DAS-2A 01
Diretor DAS-2B 02
Assessor Chefe DAS-2C 01
Chefe de Gabinete DAS-2C 01
Coordenador I DAS-2C 06
Diretor DAS-2C 04
Procurador Chefe DAS-2C 01
Coordenador Técnico DAS-2D 01
Assessor de Comunicação Social I DAS-3 01
Assessor Técnico DAS-3 05
Coordenador II DAS-3 07
Gerente DAS-3 04
Administrador de Espaço Cultural DAI-4 04
Assessor Administrativo DAI-4 01
Assessor de Comunicação Social II DAI-4 01
Assistente III DAI-4 09
Coordenador III DAI-4 21
Subgerente DAI-4 12
Assistente de Execução Orçamentária DAI-5 01
Assistente Administrativo-Financeiro DAI-5 01
Assistente de Apoio Técnico DAI-5 01
Coordenador IV DAI-5 15
Secretário Administrativo I DAI-5 01
Supervisor DAI-5 19
Coordenador V DAI-6 02
Secretário Administrativo II DAI-6 22

75
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

ANEXO XIII
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DOINSTITUTO DO MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS ? INEMA

CARGO SÍMBOLO QUANTIDADE


Diretor Geral DAS-2A 01
Chefe de Gabinete DAS-2B 01
Diretor DAS-2B 06
Procurador Chefe DAS-2C 01
Assessor Especial DAS-2C 02
Coordenador I DAS-2C 28
Coordenador Técnico DAS-2D 25
Coordenador II DAS-3 57
Assessor de Comunicação Social I DAS-3 01
Assessor Técnico DAS-3 07
Coordenador III DAI-4 27
Assessor Administrativo DAI-4 06
Coordenador IV DAI-5 10
Secretário Administrativo I DAI-5 18

ANEXO XIV
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE ? SEMA

CARGO SÍMBOLO QUANTIDADE


Chefe de Gabinete DAS-2A 01
Superintendente DAS-2A 02
Diretor Geral DAS-2B 01
Diretor DAS-2B 05
Coordenador Executivo DAS-2B 01
Assessor Especial DAS-2C 05
Diretor DAS-2C 03
Coordenador I DAS-2C 11
Coordenador Técnico DAS-2D 05
Coordenador II DAS-3 23
Assessor Técnico DAS-3 09
Assessor de Comunicação Social I DAS-3 01
Secretário de Gabinete DAS-3 01
Coordenador III DAI-4 07
Assessor Administrativo DAI-4 06
Assistente Orçamentário DAI-4 02
Oficial Gabinete DAI-5 02
Secretário Administrativo I DAI-5 10
Assistente IV DAI-5 01

76
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

LEI Nº 13.341, DE 29 DE SETEMBRO DE 2016.


LEI FEDERAL Nº 10.678, DE 23 DE MAIO DE
2003, COM AS ALTERAÇÕES DA LEI FEDERAL Altera as Leis nos 10.683, de 28 de maio de 2003, que
Nº 13.341, DE 29 DE SETEMBRO DE 2016 dispõe sobre a organização da Presidência da República e
(REFERENTE À SECRETARIA DE POLÍTICAS dos Ministérios, e 11.890, de 24 de dezembro de 2008, e re-
DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL DA voga a Medida Provisória no 717, de 16 de março de 2016.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA).
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 
Art. 1o  Ficam extintos: 
LEI No 10.678, DE 23 DE MAIO DE 2003. I - a Secretaria de Portos da Presidência da República; 
II - a Secretaria de Aviação Civil da Presidência da Re-
Cria a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da pública; 
Igualdade Racial, da Presidência da República, e dá outras III - a Controladoria-Geral da União; 
providências. IV - o Ministério das Comunicações; 
V - o Ministério do Desenvolvimento Agrário; 
Faço saber que o Presidente da República adotou a VI - o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da
Medida Provisória nº 111, de 2003, que o Congresso Na- Juventude e dos Direitos Humanos; 
cional aprovou, e eu, Eduardo Siqueira Campos, Segundo VII - a Casa Militar da Presidência da República; e 
Vice-Presidente, no exercício da Presidência da Mesa do VIII - a Secretaria de Comunicação Social da Presidên-
Congresso Nacional, para os efeitos do disposto no art. 62 cia da República.
da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda Art. 2o  Ficam transformados:
constitucional nº 32, combinado com o art. 12 da Resolu- I - o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Co-
ção nº 1, de 2002-CN, promulgo a seguinte Lei: mércio Exterior em Ministério da Indústria, Comércio Exte-
Art. 1o   Fica criada, como órgão de assessoramento rior e Serviços;
imediato ao Presidente da República, a Secretaria Especial II - o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação em
de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunica-
Art. 2o     (Revogado pela Lei nº 12.314, de 2010) ções;
Art. 3o  O CNPIR será presidido pelo titular da Secre- III - o Ministério do Trabalho e Previdência Social em
taria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Ra- Ministério do Trabalho;
cial, da Presidência da República, e terá a sua composição, IV - o Ministério da Justiça em Ministério da Justiça e
competências e funcionamento estabelecidos em ato do Cidadania;
Poder Executivo, a ser editado até 31 de agosto de 2003. V - o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
Parágrafo único.  A Secretaria Especial de Políticas de à Fome em Ministério do Desenvolvimento Social e Agrá-
Promoção da Igualdade Racial, da Presidência da Repú- rio;
blica, constituirá, no prazo de noventa dias, contado da VI - o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
publicação desta Lei, grupo de trabalho integrado por re- em Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Ges-
presentantes da Secretaria Especial e da sociedade civil, tão; e
para elaborar proposta de regulamentação do CNPIR, a ser VII - o Ministério dos Transportes em Ministério dos
submetida ao Presidente da República. Transportes, Portos e Aviação Civil.
Art. 4º Fica criado, na Secretaria Especial de Políticas Art. 3o  Ficam criados:
de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da Re- I - o Ministério da Transparência, Fiscalização e Contro-
pública, 1(um) cargo de Secretário-Adjunto, código DAS ladoria-Geral da União - CGU; e
101.6. (Redação dada pela Lei nº 11.693, de 2008) II - o Gabinete de Segurança Institucional da Presidên-
Art. 4º-A. Fica transformado o cargo de Secretário Es- cia da República.
pecial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial no Art. 4o  Ficam extintos os cargos de:
cargo de Ministro de Estado Chefe da Secretaria Especial I - Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Portos da
de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.  (Incluído Presidência da República;
pela Lei nº 11.693, de 2008) II - Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Aviação
Art. 5o  Esta Lei entra em vigor na data de sua publi- Civil da Presidência da República;
cação. III - Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Comuni-
Congresso Nacional, em 23 de maio de 2003; 182º da cação Social da Presidência da República;
Independência e 115º da República. IV - Ministro de Estado Chefe da Controladoria-Geral
da União;
V - Ministro de Estado das Comunicações;
VI - Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário;
VII - Ministro de Estado das Mulheres, da Igualdade
Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos;

77
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

VIII - Secretário-Executivo da Secretaria de Portos da IV - do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial,


Presidência da República; da Juventude e dos Direitos Humanos para o Ministério da
IX - Secretário-Executivo da Secretaria de Aviação Civil Justiça e Cidadania, ressalvados aqueles com competências
da Presidência da República; relativas a políticas para a juventude;
X – (VETADO); V - do Ministério do Desenvolvimento Agrário para o
XI - Secretário-Executivo do Ministério do Desenvolvi- Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário;
mento Agrário; VI - da Casa Militar da Presidência da República para
XII - Secretário-Executivo do Ministério das Mulheres, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos; República; e
XIII - Chefe da Casa Militar da Presidência da República; VII - da Secretaria de Comunicação Social da Presidên-
XIV - Secretário Especial da Previdência Social do Mi- cia da República para a Casa Civil da Presidência da Repú-
nistério do Trabalho e Previdência Social; e blica.
XV - Secretário Especial do Trabalho do Ministério do Parágrafo único.   Mantidos os demais órgãos e enti-
Trabalho e Previdência Social. dades supervisionadas que lhe componham a estrutura
Art. 5o  Ficam criados os cargos de: organizacional ou que lhe estejam vinculados, ficam trans-
I - Ministro de Estado da Transparência, Fiscalização e feridos:
Controladoria-Geral da União - CGU; I - o Conselho de Recursos da Previdência Social, que
II - Ministro de Estado Chefe do Gabinete de Segurança passa a se chamar Conselho de Recursos do Seguro Social,
Institucional da Presidência da República; e o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, do Ministé-
III - Natureza Especial de Secretário-Executivo do Ga- rio do Trabalho e Previdência Social para o Ministério do
binete de Segurança Institucional da Presidência da Repú- Desenvolvimento Social e Agrário;
blica; II - a Superintendência Nacional de Previdência Com-
IV - Natureza Especial de Secretário Especial de Agri- plementar - PREVIC, o Conselho Nacional de Previdência
cultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário do Ministé- Complementar e a Câmara de Recursos da Previdência
rio do Desenvolvimento Social e Agrário. Complementar para o Ministério da Fazenda;
Art. 6o  Ficam transferidas as competências: III - o Conselho Nacional de Previdência Social e a Em-
I - da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da Re- presa de Tecnologia e Informações da Previdência Social -
pública e da Secretaria de Portos da Presidência da Repú- DATAPREV, que passam a se chamar, respectivamente, Con-
blica para o Ministério dos Transportes, Portos e Aviação selho Nacional de Previdência e Empresa de Tecnologia e
Civil; Informações da Previdência - DATAPREV, para o Ministério
II - da Controladoria-Geral da União para o Ministé- da Fazenda;
rio da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da IV - a Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantido-
União - CGU; res e Garantias S.A. - ABGF e o Banco Nacional do Desen-
III - do Ministério das Comunicações para o Ministério volvimento Econômico e Social - BNDES para o Ministério
da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações; do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão;
IV - do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, V - o Conselho Deliberativo do Sistema de Proteção
da Juventude e dos Direitos Humanos para o Ministério da da Amazônia - CONSIPAM da Casa Civil da Presidência da
Justiça e Cidadania, ressalvadas as competências sobre po- República para o Ministério da Defesa;
líticas para a juventude; VI – (VETADO); e
V - do Ministério do Desenvolvimento Agrário para o VII - a Câmara de Comércio Exterior - CAMEX para a
Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário; Presidência da República.
VI - da Casa Militar da Presidência da República para Art. 8o  Ficam transformados os cargos de:
o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da I - Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e
República; e Comércio Exterior em cargo de Ministro de Estado da In-
VII - da Secretaria de Comunicação Social da Presidên- dústria, Comércio Exterior e Serviços;
cia da República para a Casa Civil da Presidência da Repú- II - Ministro de Estado da Ciência, Tecnologia e Inova-
blica. ção em cargo de Ministro de Estado da Ciência, Tecnologia,
Art. 7o  Ficam transferidos os órgãos e as entidades su- Inovações e Comunicações;
pervisionadas, no âmbito: III - Ministro de Estado do Trabalho e Previdência Social
I - da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da Re- em cargo de Ministro de Estado do Trabalho;
pública e da Secretaria de Portos da Presidência da Repú- IV - Ministro de Estado da Justiça em cargo de Ministro
blica para o Ministério dos Transportes, Portos e Aviação de Estado da Justiça e Cidadania;
Civil; V - Ministro de Estado do Desenvolvimento Social e
II - da Controladoria-Geral da União para o Ministé- Combate à Fome em cargo de Ministro de Estado do De-
rio da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da senvolvimento Social e Agrário;
União - CGU; VI - Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e
III - do Ministério das Comunicações para o Ministério Gestão em cargo de Ministro de Estado do Planejamento,
da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações; Desenvolvimento e Gestão;

78
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

VII - Ministro de Estado dos Transportes em cargo de Art. 9o  Para fins do disposto no art. 1o, os cargos ine-
Ministro de Estado dos Transportes, Portos e Aviação Civil; rentes aos órgãos comuns, nos termos em que os define
VIII - Natureza Especial de Secretário-Executivo do Mi- o art. 28 da Lei no 10.683, de 28 de maio de 2003, serão
nistério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior suprimidos por ocasião da publicação dos decretos das
em cargo de Natureza Especial de Secretário-Executivo do estruturas regimentais dos órgãos que incorporarem as
Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços; respectivas competências.
IX - Natureza Especial de Secretário-Executivo do Mi- Art. 10.  O acervo patrimonial e o quadro de servidores
nistério da Ciência, Tecnologia e Inovação em cargo de efetivos dos órgãos e entidades extintos, transformados,
Natureza Especial de Secretário-Executivo do Ministério da transferidos, incorporados ou desmembrados por esta
Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações; Lei serão transferidos aos órgãos que absorverem as suas
X - Natureza Especial de Secretário-Executivo do Mi- competências, bem como os respectivos direitos, créditos
nistério do Trabalho e Previdência Social em cargo de Na- e obrigações decorrentes de lei, atos administrativos ou
tureza Especial de Secretário-Executivo do Ministério do contratos, inclusive as receitas e despesas.
Trabalho; Parágrafo único.  Aplica-se às dotações orçamentárias
XI - Natureza Especial de Secretário-Executivo do Mi- dos órgãos e entidades de que trata o caput o disposto
nistério da Justiça em cargo de Natureza Especial de Secre- no art. 52 da Lei no 13.242, de 30 de dezembro de 2015.
tário-Executivo do Ministério da Justiça e Cidadania; Art. 11.   Ficam transferidas aos órgãos que recebam
XII - Natureza Especial de Secretário-Executivo do Mi- as atribuições correspondentes e a seus titulares as com-
nistério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome em petências e as incumbências, estabelecidas em lei, dos
cargo de Natureza Especial de Secretário-Executivo do Mi- órgãos transformados e de seus titulares, transferidos ou
nistério do Desenvolvimento Social e Agrário; extintos por esta Lei.
XIII - Natureza Especial de Secretário-Executivo do Mi- Art. 12.  A Lei no 10.683, de 28 de maio de 2003, passa
nistério do Planejamento, Orçamento e Gestão em cargo a vigorar com as seguintes alterações:
de Natureza Especial de Secretário-Executivo do Ministério “Art. 1o  .......................................................................
do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão; .....................................................................................
XIV - Natureza Especial de Secretário-Executivo do Mi- IV - (revogado);
nistério dos Transportes em cargo de Natureza Especial de .....................................................................................
Secretário-Executivo do Ministério dos Transportes, Portos VI - pelo Gabinete de Segurança Institucional da Pre-
e Aviação Civil; sidência da República;
XV - Natureza Especial de Secretário-Executivo da Con- .....................................................................................
troladoria-Geral da União em cargo de Natureza Especial XI - (revogado);
de Secretário-Executivo do Ministério da Transparência, XII - (revogado);
Fiscalização e Controladoria-Geral da União - CGU; ......................................................................................
XVI - Natureza Especial de Subchefe-Executivo da Se- § 1o  ..............................................................................
cretaria de Comunicação Social da Presidência da Repúbli- ......................................................................................
ca em cargo de Natureza Especial de Secretário Especial da X - (revogado).
Secretaria de Comunicação Social da Casa Civil da Presi- ......................................................................................
dência da República; § 3o  (VETADO).
XVII - Natureza Especial de Secretário Especial de Di- I - (revogado);
reitos Humanos do Ministério das Mulheres, da Igualdade ............................................................................” (NR)
Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos em cargo de “Art. 2o  .................................................................
Natureza Especial de Secretário Especial de Direitos Huma- I -  ..........................................................................
nos do Ministério da Justiça e Cidadania; ......................................................................................
XVIII - Natureza Especial de Secretário Especial de Po- e) na formulação e implementação da política de co-
líticas de Promoção da Igualdade Racial do Ministério das municação e divulgação social do Governo Federal;
Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direi- f) na implementação de programas informativos;
tos Humanos em cargo de Natureza Especial de Secretário g) na organização e desenvolvimento de sistemas de
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do informação e pesquisa de opinião pública;
Ministério da Justiça e Cidadania; h) na coordenação da comunicação interministerial e
XIX - Natureza Especial de Secretário Especial de Po- das ações de informação e difusão das políticas de gover-
líticas para as Mulheres do Ministério das Mulheres, da no;
Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos em i) na coordenação, normatização, supervisão e contro-
cargo de Natureza Especial de Secretário Especial de Políti- le da publicidade e de patrocínios dos órgãos e das enti-
cas para as Mulheres do Ministério da Justiça e Cidadania; e dades da administração pública federal, direta e indireta, e
XX - Natureza Especial de Secretário-Executivo do Mi- de sociedades sob controle da União;
nistério das Comunicações em Natureza Especial de Secre- j) na convocação de redes obrigatórias de rádio e te-
tário Especial dos Direitos da Criança e do Adolescente do levisão;
Ministério da Justiça e Cidadania.

79
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

k) na coordenação e consolidação da implementação § 3o  Caberá ao Secretário-Executivo da Secretaria de


do sistema brasileiro de televisão pública; Governo da Presidência da República exercer, além da su-
l) na assistência ao Presidente da República relativa- pervisão e da coordenação das Secretarias integrantes da
mente à comunicação com a sociedade; estrutura regimental da Secretaria de Governo da Presi-
m) no relacionamento do Presidente da República com dência da República subordinadas ao Ministro de Estado
a imprensa nacional, regional e internacional; da Secretaria de Governo da Presidência da República, as
n) na coordenação do credenciamento de profissionais funções que lhe forem por este atribuídas.” (NR)
de imprensa e do acesso e do fluxo a locais onde ocorram “Art. 6o  Ao Gabinete de Segurança Institucional da Pre-
atividades de que participe o Presidente da República; sidência da República compete:
o) na prestação de apoio jornalístico e administrativo .......................................................................................
ao comitê de imprensa do Palácio do Planalto; III - analisar e acompanhar questões com potencial de
p) na divulgação de atos e de documentação para ór- risco, prevenir a ocorrência e articular o gerenciamento de
gãos públicos; crises, em caso de grave e iminente ameaça à estabilidade
q) no apoio aos órgãos integrantes da Presidência da institucional;
República no relacionamento com a imprensa; e IV - coordenar as atividades de inteligência federal;
..................................................................................... V - realizar o assessoramento pessoal em assuntos mi-
Parágrafo único.  .......................................................... litares e de segurança;
I - (revogado); VI - coordenar as atividades de segurança da informa-
...................................................................................... ção e das comunicações;
IV - a Secretaria Executiva; VII -  zelar, assegurado o exercício do poder de polí-
V - até três Subchefias; cia, pela segurança pessoal do Presidente da República, do
VI - a Secretaria Especial de Comunicação Social; e Vice-Presidente da República e respectivos familiares, dos
VII - até três Secretarias.” (NR) titulares dos órgãos essenciais da Presidência da República
e de outras autoridades ou personalidades, quando de-
“Art. 3o  .................................................................
terminado pelo Presidente da República, bem como pela
.....................................................................................
segurança dos palácios presidenciais e das residências do
XII - (revogado);
Presidente da República e do Vice-Presidente da República;
XIII - (revogado);
VIII - coordenar as atividades do Sistema de Proteção
.....................................................................................
Nuclear Brasileiro como seu órgão central; e
§ 1o  .......................................................................
IX - planejar e coordenar viagens presidenciais no País
I - supervisão e execução das atividades administrati-
e, no exterior, em articulação com o Ministério das Relações
vas da Presidência da República e, supletivamente, da Vice
Exteriores.
-Presidência da República;
......................................................................................
II - avaliação da ação governamental e do resultado da § 3o  Os locais onde o Presidente da República e o Vi-
gestão dos administradores, no âmbito dos órgãos inte- ce-Presidente da República trabalham, residem, estejam ou
grantes da Presidência da República e Vice-Presidência da haja a iminência de virem a estar, e adjacências, são áreas
República, além de outros determinados em legislação es- consideradas de segurança das referidas autoridades e
pecífica, por intermédio da fiscalização contábil, financeira, cabe ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência
orçamentária, operacional e patrimonial; da República, para os fins do disposto neste artigo, adotar
III - formulação, supervisão, coordenação, integração as necessárias medidas para a sua proteção e coordenar a
e articulação de políticas públicas para a juventude; participação de outros órgãos de segurança nessas ações.
IV - articulação, promoção e execução de programas § 4o  O Gabinete de Segurança Institucional da Presi-
de cooperação com organismos nacionais e internacio- dência da República tem como estrutura básica:
nais, públicos e privados, voltados à implementação de .......................................................................................
políticas de juventude; IV - a Secretaria-Executiva e até três Secretarias; e
V - elaboração da agenda futura do Presidente da Re- V - a Agência Brasileira de Inteligência - ABIN.” (NR)
pública; “Art. 11-A.  Ao Conselho de Aviação Civil, presidido
VI - articulação e supervisão dos órgãos e entidades pelo Ministro de Estado dos Transportes, Portos e Aviação
envolvidos na integração para o registro e legalização de Civil, com composição e funcionamento estabelecidos pelo
empresas. Poder Executivo, compete estabelecer as diretrizes da polí-
§ 2o  ............................................................................. tica relativa ao setor de aviação civil.” (NR)
...................................................................................... “Art. 16.  ...............................................................
IV-A - a Secretaria Nacional de Juventude; § 1o  O Conselho da República e o Conselho de Defesa
..................................................................................... Nacional terão como Secretários-Executivos, respectiva-
VIII - (revogado); mente, o Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Go-
IX - (revogado); verno da Presidência da República e o Ministro de Estado
X - o Conselho Nacional de Juventude; Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidên-
XI - a Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa. cia da República.

80
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

§ 2o  A Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacio- IV - da Cultura;


nal será presidida pelo Ministro de Estado Chefe do Gabi- V - da Fazenda;
nete de Segurança Institucional da Presidência da Repúbli- VI - da Indústria, Comércio Exterior e Serviços;
ca.” (NR) VII - da Integração Nacional;
“Art. 18.  Ao Ministro de Estado da  Transparência,  Fis- VIII - da Justiça e Cidadania;
calização e Controladoria-Geral da União - CGU, no exercí- IX - da Saúde;
cio da sua competência, incumbe, especialmente: X - da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Ge-
I - decidir, preliminarmente, sobre as representações ou ral da União - CGU;
denúncias fundamentadas que receber, indicando as provi- XI - das Cidades;
dências cabíveis; XII - das Relações Exteriores;
II - instaurar os procedimentos e processos adminis- XIII - de Minas e Energia;
trativos a seu cargo, constituindo comissões, e requisitar a XIV - do Desenvolvimento Social e Agrário;
instauração daqueles que venham sendo injustificadamen- XV - do Esporte;
te retardados pela autoridade responsável; XVI - do Meio Ambiente;
III - acompanhar procedimentos e processos adminis- XVII - do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão;
trativos em curso em órgãos ou entidades da administra- .......................................................................................
ção pública federal; XIX - do Trabalho;
IV - realizar inspeções e avocar procedimentos e pro- XX - do Turismo;
cessos em curso na administração pública federal, para XXI - dos Transportes, Portos e Aviação Civil;
exame de sua regularidade, propondo a adoção de provi- XXII - (revogado);
dências ou a correção de falhas; XXIII - (revogado);
V - efetivar ou promover a declaração da nulidade de .......................................................................................
procedimento ou processo administrativo e, se for o caso, XXV - (revogado);
a imediata e regular apuração dos fatos mencionados nos XXVI - da Educação.
autos e na nulidade declarada; Parágrafo único.  ...........................................................
VI - requisitar procedimentos e processos administrati- .......................................................................................
vos já arquivados por autoridade da administração pública II - o Chefe da Secretaria de Governo da Presidência da
federal; República;
VII - requisitar a órgão ou entidade da administração III -  o Advogado-Geral da União, até que seja apro-
pública federal ou, quando for o caso, propor ao Presi- vada emenda constitucional para incluí-lo no rol das alí-
dente da República que sejam solicitados as informações neas c e d do inciso I do caput do art. 102 da Constituição
e os documentos necessários a trabalhos do Ministério da Federal;
Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União .......................................................................................
- CGU; VI - (revogado);
VIII - requisitar aos órgãos e às entidades federais ser- VII - o Presidente do Banco Central do Brasil, até que
vidores e empregados necessários à constituição das co- seja aprovada emenda constitucional para incluí-lo, junta-
missões referidas no inciso II, e de outras análogas, bem mente com os diretores do Banco Central do Brasil, no rol
como qualquer servidor ou empregado indispensável à das alíneas c e d do inciso I do caput do art. 102 da Cons-
instrução do processo; tituição Federal; e
IX - propor medidas legislativas ou administrativas e VIII - o Chefe do Gabinete de Segurança Institucional
sugerir ações que visem evitar a repetição de irregularida- da Presidência da República.” (NR)
des constatadas; “Art. 27.  ......................................................................
X - receber as reclamações relativas à prestação de ser- ......................................................................................
viços públicos em geral e promover a apuração do exercí- II - Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Co-
cio negligente de cargo, emprego ou função na adminis- municações:
tração pública federal, quando não houver disposição legal a) política nacional de telecomunicações;
que atribua a competência a outros órgãos; e b) política nacional de radiodifusão;
XI - desenvolver outras atribuições de que o incumba o c) serviços postais, telecomunicações e radiodifusão;
Presidente da República. d) políticas nacionais de pesquisa científica e tecnoló-
§ 1o  (Revogado). gica e de incentivo à inovação;
§ 2o  (Revogado). e) planejamento, coordenação, supervisão e controle
§ 3o  (Revogado). das atividades de ciência, tecnologia e inovação;
§ 4o  (Revogado). f) política de desenvolvimento de informática e auto-
§ 5o  (Revogado).” (NR) mação;
“Art. 25.  ............................................................... g) política nacional de biossegurança;
..................................................................................... h) política espacial;
II - da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações; i) política nuclear;
III - da Defesa; j) controle da exportação de bens e serviços sensíveis; e

81
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

k) articulação com os Governos dos Estados, do Distri- d) assistência e acompanhamento do Ministério do De-
to Federal e dos Municípios, com a sociedade civil e com senvolvimento Social e Agrário e do Instituto Nacional de
órgãos do Governo Federal para estabelecimento de dire- Colonização e Reforma Agrária - INCRA nas ações de re-
trizes para as políticas nacionais de ciência, tecnologia e gularização fundiária, para garantir a preservação da iden-
inovação; tidade cultural dos remanescentes das comunidades dos
l) (revogada); quilombos;
III - Ministério da Defesa: e) (revogada);
a) política de defesa nacional, estratégia nacional de f) (revogada);
defesa e elaboração do Livro Branco de Defesa Nacional; g) (revogada);
b) políticas e estratégias setoriais de defesa e militares; h) (revogada);
c) doutrina, planejamento, organização, preparo e em- V - Ministério da Fazenda:
prego conjunto e singular das Forças Armadas; a) moeda, crédito, instituições financeiras, capitaliza-
d) projetos especiais de interesse da defesa nacional; ção, poupança popular, seguros privados e previdência pri-
e) inteligência estratégica e operacional no interesse da vada aberta;
defesa; b) política, administração, fiscalização e arrecadação
f) operações militares das Forças Armadas; tributária e aduaneira;
g) relacionamento internacional de defesa; c) administração financeira e contabilidade públicas;
h) orçamento de defesa; d) administração das dívidas públicas interna e externa;
i) legislação de defesa e militar; e) negociações econômicas e financeiras com gover-
j) política de mobilização nacional; nos, organismos multilaterais e agências governamentais;
k) política de ensino de defesa; f) preços em geral e tarifas públicas e administradas;
l) política de ciência, tecnologia e inovação de defesa; g) fiscalização e controle do comércio exterior;
m) política de comunicação social de defesa; h) realização de estudos e pesquisas para acompanha-
n) política de remuneração dos militares e pensionistas; mento da conjuntura econômica;
o) política nacional:
i) autorização, ressalvadas as competências do Conse-
1.  de indústria de defesa, abrangendo a produção;
lho Monetário Nacional:
2.  de compra, contratação e desenvolvimento de Pro-
1. da distribuição gratuita de prêmios a título de pro-
duto de Defesa - PRODE, abrangendo as atividades de
paganda quando efetuada mediante sorteio, vale-brinde,
compensação tecnológica, industrial e comercial;
concurso ou operação assemelhada;
3. de inteligência comercial de Prode; e
2. das operações de consórcio, fundo mútuo e outras
4. de controle da exportação e importação de Prode e
formas associativas assemelhadas, que objetivem a aquisi-
em áreas de interesse da defesa;
ção de bens de qualquer natureza;
p) atuação das Forças Armadas, quando couber, na ga-
rantia da lei e da ordem, visando à preservação da ordem 3. da venda ou da promessa de venda de mercadorias
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, na a varejo, mediante oferta pública e com recebimento ante-
garantia da votação e da apuração eleitoral e sua coopera- cipado, parcial ou total, do preço;
ção com o desenvolvimento nacional e a defesa civil e no 4. da venda ou da promessa de venda de direitos, in-
combate a delitos transfronteiriços e ambientais; clusive cotas de propriedade de entidades civis, como hos-
q) logística de defesa; pital, motel, clube, hotel, centro de recreação ou alojamen-
r) serviço militar; to e organização de serviços de qualquer natureza, com ou
s) assistência à saúde, social e religiosa das Forças Ar- sem rateio de despesas de manutenção, mediante oferta
madas; pública e com pagamento antecipado do preço;
t) constituição, organização, efetivos, adestramento e 5. da venda ou promessa de venda de terrenos lotea-
aprestamento das forças navais, terrestres e aéreas; dos a prestações mediante sorteio; e
u) política marítima nacional; 6. da exploração de loterias, inclusive os sweepsta-
v) segurança da navegação aérea e do tráfego aquaviá- kes e outras modalidades de loterias realizadas por entida-
rio e salvaguarda da vida humana no mar; des promotoras de corridas de cavalos;
w) patrimônio imobiliário administrado pelas Forças j) previdência; e
Armadas, sem prejuízo das competências atribuídas ao Mi- k) previdência complementar;
nistério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão; VI - Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Servi-
x) política militar aeronáutica e atuação na política ae- ços:
roespacial nacional; a) política de desenvolvimento da indústria, do comér-
y) infraestrutura aeroespacial e aeronáutica; e cio e dos serviços;
z) operacionalização do Sistema de Proteção da Ama- b) propriedade intelectual e transferência de tecnolo-
zônia - SIPAM; gia;
IV - Ministério da Cultura: c) metrologia, normalização e qualidade industrial;
a) política nacional de cultura; d) políticas de comércio exterior;
b) proteção do patrimônio histórico e cultural; e) regulamentação e execução dos programas e ativi-
c) regulação de direitos autorais; e dades relativas ao comércio exterior;

82
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

f) aplicação dos mecanismos de defesa comercial; f) planejamento, coordenação e administração da polí-


g) participação em negociações internacionais relativas tica penitenciária nacional;
ao comércio exterior; e g) nacionalidade, imigração e estrangeiros;
h) execução das atividades de registro do comércio; h) ouvidoria-geral dos índios e do consumidor;
VII - Ministério da Integração Nacional: i) ouvidoria das polícias federais;
a) formulação e condução da política de desenvolvi- j) prevenção e repressão à lavagem de dinheiro e coo-
mento nacional integrada; peração jurídica internacional;
b) formulação dos planos e programas regionais de k) defesa dos bens e dos próprios da União e das en-
desenvolvimento; tidades integrantes da administração pública federal indi-
c) estabelecimento de estratégias de integração das reta;
economias regionais; l) articulação, coordenação, supervisão, integração e
d) estabelecimento das diretrizes e prioridades na apli- proposição das ações do Governo e do Sistema Nacional
de Políticas sobre Drogas nos aspectos relacionados com
cação dos recursos dos programas de financiamento de
as atividades de prevenção, repressão ao tráfico ilícito e à
que trata a alínea  c do inciso I do caput do art. 159 da
produção não autorizada de drogas e aquelas relacionadas
Constituição Federal;
com o tratamento, a recuperação e a reinserção social de
e) estabelecimento das diretrizes e prioridades na apli-
usuários e dependentes e ao Plano Integrado de Enfrenta-
cação dos recursos do Fundo de Desenvolvimento da Ama- mento ao Crack e outras Drogas;
zônia - FDA e do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste m) política nacional de arquivos;
- FDNE; n) formulação de políticas e diretrizes voltadas à pro-
f) estabelecimento de normas para cumprimento dos moção dos direitos da cidadania, da criança, do adoles-
programas de financiamento dos fundos constitucionais cente, do idoso e das minorias e à defesa dos direitos das
e das programações orçamentárias dos fundos de investi- pessoas com deficiência e à promoção da sua integração à
mentos regionais; vida comunitária;
g) acompanhamento e avaliação dos programas inte- o) articulação de iniciativas e apoio a projetos voltados
grados de desenvolvimento nacional; à proteção e à promoção dos direitos humanos em âmbito
h) defesa civil; nacional, tanto por organismos governamentais, incluindo
i) obras contra as secas e de infraestrutura hídrica; os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, quanto por
j) formulação e condução da política nacional de irri- organizações da sociedade;
gação; p) exercício da função de ouvidoria nacional de direi-
k) ordenação territorial; e tos humanos, da criança, do adolescente, do idoso e das
l) obras públicas em faixas de fronteiras; minorias;
m) (revogada); q) atuação em favor da ressocialização e da proteção
n) (revogada); dos dependentes químicos, sem prejuízo das atribuições
o) (revogada): dos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Políticas
1. (revogado); Públicas sobre Drogas - SISNAD;
2. (revogado); r) formulação, coordenação, definição de diretrizes e
3. (revogado); articulação de políticas para a promoção da igualdade ra-
p) (revogada); cial;
q) (revogada); s) formulação, coordenação e avaliação das políticas
r) (revogada); públicas afirmativas de promoção da igualdade e da pro-
teção dos direitos de indivíduos e grupos raciais e étnicos,
s) (revogada);
com ênfase na população negra, afetados por discrimina-
t) (revogada);
ção racial e demais formas de intolerância;
u) (revogada);
t) articulação, promoção e acompanhamento da exe-
v) (revogada);
cução dos programas de cooperação com organismos
w) (revogada); nacionais e internacionais, públicos e privados, voltados à
x) (revogada); implementação da promoção da igualdade racial;
y) (revogada); u) formulação, coordenação e acompanhamento das
z) (revogada); políticas transversais de governo para a promoção da
VIII - Ministério da Justiça e Cidadania: igualdade racial;
a) defesa da ordem jurídica, dos direitos políticos e das v) planejamento, coordenação da execução e avaliação
garantias constitucionais; do Programa Nacional de Ações Afirmativas;
b) política judiciária; w) acompanhamento da implementação de legisla-
c) direitos dos índios; ção de ação afirmativa e definição de ações públicas que
d) políticas sobre drogas, segurança pública, polícias visem ao cumprimento de acordos, convenções e outros
federal, rodoviária, ferroviária federal e do Distrito Federal; instrumentos congêneres firmados pelo País, nos aspectos
e) defesa da ordem econômica nacional e dos direitos relativos à promoção da igualdade e ao combate à discri-
do consumidor; minação racial ou étnica;

83
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

x) assistência ao Presidente da República em matérias h) requisição a órgão ou entidade da administração


não afetas a outro Ministério; e pública federal de informações e documentos necessários
y) formulação, coordenação, definição de diretrizes e a seus trabalhos ou atividades;
articulação de políticas para as mulheres, incluindo: i) requisição a órgãos ou entidades da administração
1. elaboração e implementação de campanhas educati- pública federal de servidores ou empregados necessários à
vas e antidiscriminatórias de caráter nacional; constituição de comissões, inclusive as que são objeto do
2. planejamento que contribua na ação do Governo Fe- disposto na alínea c, e de qualquer servidor ou empregado
deral e das demais esferas de governo para a promoção da indispensável à instrução de processo ou procedimento;
igualdade entre mulheres e homens; j) proposição de medidas legislativas ou administrati-
3. promoção, articulação e execução de programas de vas e sugestão de ações necessárias a evitar a repetição de
cooperação com organismos nacionais e internacionais, pú- irregularidades constatadas;
blicos e privados, voltados à implementação das políticas; e k) recebimento de reclamações relativas à prestação de
4. acompanhamento da implementação de legislação serviços públicos, em geral, e apuração do exercício ne-
de ação afirmativa e definição de ações públicas que visem gligente de cargo, emprego ou função na administração
ao cumprimento de acordos, convenções e planos de ação pública federal, quando não houver disposição legal que
firmados pelo País, nos aspectos relativos à igualdade entre atribua competências específicas a outros órgãos; e
mulheres e homens e ao combate à discriminação; l) execução das atividades de controladoria no âmbito
IX - Ministério da Saúde: do Poder Executivo federal;
a) política nacional de saúde; XI - Ministério das Cidades:
b) coordenação e fiscalização do Sistema Único de Saúde - SUS; a) política de desenvolvimento urbano;
c) saúde ambiental e ações de promoção, proteção e b) políticas setoriais de habitação, saneamento am-
recuperação da saúde individual e coletiva, inclusive a dos biental, transporte urbano e trânsito;
trabalhadores e dos índios; c) promoção, em articulação com as diversas esferas
d) informações de saúde; de governo, com o setor privado e organizações não go-
e) insumos críticos para a saúde; vernamentais, de ações e programas de urbanização, de
f) ação preventiva em geral, vigilância e controle sani- habitação, de saneamento básico e ambiental, transporte
tário de fronteiras e de portos marítimos, fluviais e aéreos; urbano, trânsito e desenvolvimento urbano;
g) vigilância de saúde, especialmente quanto a drogas, d) política de subsídio à habitação popular, saneamen-
medicamentos e alimentos; to e transporte urbano;
.................................................................................... e) planejamento, regulação, normatização e gestão
i) pesquisa científica e tecnologia na área de saúde; da aplicação de recursos em políticas de desenvolvimento
X - Ministério da Transparência, Fiscalização e Controla- urbano, urbanização, habitação, saneamento básico e am-
doria-Geral da União - CGU: biental, transporte urbano e trânsito; e
a) adoção das providências necessárias à defesa do pa- f) participação na formulação das diretrizes gerais para
trimônio público, ao controle interno, à auditoria pública, à conservação dos sistemas urbanos de água e para a ado-
correição, à prevenção e combate à corrupção, às atividades ção de bacias hidrográficas como unidades básicas do pla-
de ouvidoria e ao incremento da transparência da gestão no nejamento e gestão do saneamento;
âmbito da administração pública federal; XII - Ministério das Relações Exteriores:
b) decisão preliminar acerca de representações ou de- a) política internacional;
núncias fundamentadas que receber, indicando as provi- b) relações diplomáticas e serviços consulares;
dências cabíveis; c) participação nas negociações comerciais, econômicas,
c) instauração de procedimentos e processos adminis- técnicas e culturais com governos e entidades estrangeiras;
trativos a seu cargo, constituindo comissões, e requisição d) programas de cooperação internacional;
de instauração daqueles injustificadamente retardados pela e) promoção do comércio exterior, de investimentos e
autoridade responsável; da competitividade internacional do País, em coordenação
d) acompanhamento de procedimentos e processos com as políticas governamentais de comércio exterior; e
administrativos em curso em órgãos ou entidades da admi- f) apoio a delegações, comitivas e representações brasi-
nistração pública federal; leiras em agências e organismos internacionais e multilaterais;
e) realização de inspeções e avocação de procedimen- g) (revogada);
tos e processos em curso na administração pública federal, h) (revogada);
para exame de sua regularidade, propondo a adoção de i) (revogada):
providências ou a correção de falhas; 1. (revogado);
f) efetivação ou promoção da declaração da nulidade 2. (revogado);
de procedimento ou processo administrativo e, se for o 3. (revogado);
caso, da imediata e regular apuração dos fatos envolvidos 4. (revogado);
nos autos e na nulidade declarada; 5. (revogado);
g) requisição de dados, informações e documentos re- .....................................................................................
lativos a procedimentos e processos administrativos já ar- 7. (revogado);
quivados por autoridade da administração pública federal;

84
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

XIII - Ministério de Minas e Energia: d) planejamento, coordenação, supervisão e avaliação


a) geologia, recursos minerais e energéticos; dos planos e programas de incentivo aos esportes e de
b) aproveitamento da energia hidráulica; ações de democratização da prática esportiva e inclusão
c) mineração e metalurgia; e social por intermédio do esporte;
d) petróleo, combustível e energia elétrica, inclusive e) (revogada);
nuclear; f) (revogada);
e) (revogada); XVI - Ministério do Meio Ambiente:
f) (revogada); a) política nacional do meio ambiente e dos recursos
g) (revogada); hídricos;
h) (revogada); b) política de preservação, conservação e utilização
i) (revogada); sustentável de ecossistemas, e biodiversidade e florestas;
j) (revogada); c) proposição de estratégias, mecanismos e instru-
l) (revogada); mentos econômicos e sociais para a melhoria da qualidade
m) (revogada); ambiental e do uso sustentável dos recursos naturais;
XIV - Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário: d) políticas para integração do meio ambiente e pro-
a) política nacional de desenvolvimento social; dução;
b) política nacional de segurança alimentar e nutricio- e) políticas e programas ambientais para a Amazônia
nal; Legal; e
c) política nacional de assistência social; f) zoneamento ecológico-econômico;
d) política nacional de renda de cidadania; XVII -  Ministério do Planejamento, Desenvolvimento
e) articulação com os governos federal, estaduais, do e Gestão:
Distrito Federal e municipais e a sociedade civil no estabe- .....................................................................................
lecimento de diretrizes para as políticas nacionais de de- f) formulação de diretrizes, coordenação das negocia-
senvolvimento social, de segurança alimentar e nutricional, ções e acompanhamento e avaliação dos financiamentos
de renda de cidadania e de assistência social;
externos de projetos públicos com organismos multilate-
f) articulação entre as políticas e programas dos gover-
rais e agências governamentais;
nos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais e as
......................................................................................
ações da sociedade civil ligadas ao desenvolvimento social,
j) administração patrimonial; e
à produção alimentar, à alimentação e nutrição, à renda de
......................................................................................
cidadania e à assistência social;
XIX - Ministério do Trabalho:
g) orientação, acompanhamento, avaliação e supervi-
a) política e diretrizes para a geração de emprego e
são de planos, programas e projetos relativos às áreas de
renda e de apoio ao trabalhador;
desenvolvimento social, segurança alimentar e nutricional,
de renda de cidadania e de assistência social; b) política e diretrizes para a modernização das rela-
h) normatização, orientação, supervisão e avaliação da ções de trabalho;
execução das políticas de desenvolvimento social, segu- c) fiscalização do trabalho, inclusive do trabalho por-
rança alimentar e nutricional, de renda de cidadania e de tuário, e aplicação das sanções previstas em normas legais
assistência social; ou coletivas;
i) gestão do Fundo Nacional de Assistência Social; d) política salarial;
j) coordenação, supervisão, controle e avaliação da e) formação e desenvolvimento profissional;
operacionalização de programas de transferência de renda; f) segurança e saúde no trabalho;
k) aprovação dos orçamentos gerais do Serviço Social g) política de imigração; e
da Indústria - SESI, do Serviço Social do Comércio - SESC e h) cooperativismo e associativismo urbanos;
do Serviço Social do Transporte - SEST; XX - Ministério do Turismo:
l) reforma agrária; a) política nacional de desenvolvimento do turismo;
m) promoção do desenvolvimento sustentável do seg- b) promoção e divulgação do turismo nacional, no País
mento rural constituído pelos agricultores familiares; e e no exterior;
n) delimitação das terras dos remanescentes das co- c) estímulo às iniciativas públicas e privadas de incen-
munidades dos quilombos e determinação de suas demar- tivo às atividades turísticas;
cações, a serem homologadas por decreto; d) planejamento, coordenação, supervisão e avaliação
o) (revogada); dos planos e programas de incentivo ao turismo;
XV - Ministério do Esporte: e) gestão do Fundo Geral de Turismo; e
a) política nacional de desenvolvimento da prática dos f) desenvolvimento do Sistema Brasileiro de Certifi-
esportes; cação e Classificação das atividades, empreendimentos e
b) intercâmbio com organismos públicos e privados, equipamentos dos prestadores de serviços turísticos;
nacionais, internacionais e estrangeiros, voltados à promo- g) (revogada);
ção do esporte; h) (revogada);
c) estímulo às iniciativas públicas e privadas de incenti-
vo às atividades esportivas; e

85
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

XXI - Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil: § 5o  A competência relativa aos direitos dos índios atri-
a) política nacional de transportes ferroviário, rodoviá- buída ao Ministério da Justiça e Cidadania na alínea c do
rio, aquaviário e aeroviário; inciso VIII do caput inclui o acompanhamento das ações de
b) marinha mercante e vias navegáveis; saúde desenvolvidas em prol das comunidades indígenas.
c) formulação de políticas e diretrizes para o desen- .....................................................................................
volvimento e o fomento do setor de portos e instalações § 8o  As competências atribuídas ao Ministério dos
portuárias marítimos, fluviais e lacustres e execução e ava- Transportes, Portos e Aviação Civil, nos termos das alí-
liação de medidas, programas e projetos de apoio ao de- neas a, b e i do inciso XXI do caput, compreendem:
senvolvimento da infraestrutura e da superestrutura dos .....................................................................................
portos e instalações portuárias marítimos, fluviais e lacus- III - a elaboração e a aprovação dos planos de outor-
tres; gas, ouvida, tratando-se da exploração da infraestrutura
d) formulação, coordenação e supervisão das políticas aeroportuária, a Agência Nacional de Aviação Civil - ANAC;
nacionais do setor de portos e instalações portuárias ma- .....................................................................................
rítimos, fluviais e lacustres; V - a formulação e a supervisão da execução da polí-
e) participação no planejamento estratégico, no es- tica referente ao Fundo da Marinha Mercante, destinado
tabelecimento de diretrizes para sua implementação e na à renovação, recuperação e ampliação da frota mercante
definição das prioridades dos programas de investimentos nacional, em articulação com os Ministérios da Fazenda e
em transportes; do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão;
f) elaboração dos planos gerais de outorgas; VI - o estabelecimento de diretrizes para afretamento
g) estabelecimento de diretrizes para a representação de embarcações estrangeiras por empresas brasileiras de
do País nos organismos internacionais e em convenções, navegação e para liberação do transporte de cargas pres-
acordos e tratados referentes às suas competências; critas;
h) desenvolvimento da infraestrutura e da superestru- VII - a elaboração de estudos e projeções relativos aos
tura aquaviária dos portos e instalações portuárias em sua assuntos de aviação civil e de infraestruturas aeroportuária
esfera de competência, com a finalidade de promover a e aeronáutica civil e sobre a logística do transporte aéreo
segurança e a eficiência do transporte aquaviário de car- e do transporte intermodal e multimodal, ao longo de ei-
gas e de passageiros; e xos e fluxos de produção, em articulação com os demais
i) aviação civil e infraestruturas aeroportuária e de ae- órgãos governamentais competentes, com atenção às exi-
ronáutica civil, em articulação, no que couber, com o Mi- gências de mobilidade urbana e acessibilidade;
nistério da Defesa; VIII - a formulação e a implementação do planejamen-
j) (revogada); to estratégico do setor aeroviário, definindo prioridades
XXII - (revogado); dos programas de investimentos;
XXIII - (revogado); IX - a proposição de que se declare a utilidade públi-
..................................................................................... ca, para fins de desapropriação ou instituição de servidão
XXV - (revogado); administrativa, dos bens necessários à construção, manu-
XXVI - Ministério da Educação: tenção e expansão da infraestrutura aeronáutica e aeropor-
a) política nacional de educação; tuária;
b) educação infantil; X - a coordenação dos órgãos e das entidades do sis-
c) educação em geral, compreendendo ensino funda- tema de aviação civil, em articulação com o Ministério da
mental, ensino médio, ensino superior, educação de jovens Defesa, no que couber; e
e adultos, educação profissional, educação especial e edu- XI - a transferência, para Estados, o Distrito Federal ou
cação a distância, exceto ensino militar; Municípios, da implantação, da administração, da opera-
d) avaliação, informação e pesquisa educacional; ção, da manutenção e da exploração de aeródromos públi-
e) pesquisa e extensão universitária; cos, direta ou indiretamente.
f) magistério; e .....................................................................................
g) assistência financeira a famílias carentes para a es- § 14.   Ao Ministério da Transparência, Fiscalização e
colarização de seus filhos ou dependentes. Controladoria-Geral da União - CGU, no exercício de suas
..................................................................................... competências, cabe dar o devido andamento às represen-
§ 3o    A competência atribuída ao Ministério da In- tações ou denúncias fundamentadas que receber, relativas
tegração Nacional de que trata a alínea  k do inciso VII a lesão ou ameaça de lesão ao patrimônio público, velando
do caput será exercida em conjunto com o Ministério da por seu integral deslinde.
Defesa. § 15.   Ao Ministério da Transparência, Fiscalização e
§ 4o  A competência atribuída ao Ministério do Meio Controladoria-Geral da União - CGU, por seu titular, sempre
Ambiente, nos termos da alínea f do inciso XVI do caput, que constatar omissão da autoridade competente, cumpre
será exercida em conjunto com o Ministério da Agricultu- requisitar a instauração de sindicância, procedimentos e
ra, Pecuária e Abastecimento, o Ministério do Planejamen- processos administrativos, e avocar aqueles já em curso
to, Desenvolvimento e Gestão, o Ministério da Indústria, perante órgão ou entidade da administração pública fede-
Comércio Exterior e Serviços e o Ministério da Integração ral, visando à correção do andamento, inclusive mediante a
Nacional. aplicação da penalidade administrativa cabível.

86
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

§ 16.  Cumpre ao Ministério da Transparência, Fiscali- “Art. 29.  ...............................................................


zação e Controladoria-Geral da União - CGU, na hipótese I -  do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-
do § 15, instaurar sindicância ou processo administrativo mento, o Conselho Nacional de Política Agrícola, o Conse-
ou, conforme o caso, representar a autoridade competente lho Deliberativo da Política do Café, o Conselho Nacional
para apurar a omissão das autoridades responsáveis. de Aquicultura e Pesca, a Comissão Especial de Recursos, a
§ 17.   O Ministério da Transparência, Fiscalização e Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, o Insti-
Controladoria-Geral da União - CGU encaminhará à Advo- tuto Nacional de Meteorologia e até cinco Secretarias;
cacia-Geral da União os casos que configurarem improbi- II - do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário,
dade administrativa e aqueles que recomendarem a indis- o Conselho Nacional de Assistência Social, o Conselho de
ponibilidade de bens, o ressarcimento ao erário e outras Articulação de Programas Sociais, o Conselho Gestor do
providências a cargo da Advocacia-Geral da União e pro- Programa Bolsa Família, o Conselho Nacional de Desenvol-
vocará, sempre que necessária, a atuação do Tribunal de vimento Rural Sustentável, o Conselho Curador do Banco
Contas da União, da Secretaria da Receita Federal do Brasil, da Terra, o Conselho de Recursos do Seguro Social, a Secre-
dos órgãos do sistema de controle interno do Poder Execu- taria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento
tivo federal e, quando houver indícios de responsabilidade Agrário e até seis Secretarias;
penal, do Departamento de Polícia Federal e do Ministério ....................................................................................
Público, inclusive quanto a representações ou denúncias IV - do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
que se afigurarem manifestamente caluniosas. Comunicações, o Conselho Nacional de Ciência e Tecnolo-
§ 18.   Os procedimentos e processos administrativos gia, o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste, o
de instauração e avocação facultados ao Ministério da Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal, o Instituto Na-
Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União cional de Águas, o Instituto Nacional da Mata Atlântica, o
- CGU incluem aqueles de que tratam o  Título V da Lei Conselho Nacional de Informática e Automação, a Comis-
no 8.112, de 11 de dezembro de 1990, e o Capítulo V da Lei são de Coordenação das Atividades de Meteorologia, Cli-
no 8.429, de 2 de junho de 1992, e outros a serem desen- matologia e Hidrologia, o Instituto Nacional de Pesquisas
volvidos ou já em curso em órgão ou entidade da adminis- Espaciais, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia,
tração pública federal, desde que relacionados a lesão ou o Instituto Nacional de Tecnologia, o Instituto Brasileiro de
ameaça de lesão ao patrimônio público. Informação em Ciência e Tecnologia, o Instituto Nacional
§ 19.   Os titulares dos órgãos do sistema de contro- do Semiárido, o Centro de Tecnologia da Informação Rena-
le interno do Poder Executivo federal devem cientificar o to Archer, o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, o Centro
Ministro de Estado da Transparência, Fiscalização e Con- de Tecnologia Mineral, o Laboratório Nacional de Astrofí-
troladoria-Geral da União - CGU acerca de irregularidades sica, o Laboratório Nacional de Computação Científica, o
que, registradas em seus relatórios, tratem de atos ou fatos Museu de Astronomia e Ciências Afins, o Museu Paraense
atribuíveis a agentes da administração pública federal e das Emílio Goeldi, o Observatório Nacional, a Comissão Téc-
quais haja resultado ou possa resultar prejuízo ao erário de nica Nacional de Biossegurança, o Conselho Nacional de
valor superior ao limite fixado pelo Tribunal de Contas da Controle de Experimentação Animal, o Centro Nacional de
União para efeito da tomada de contas especial elaborada Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais e até cinco
de forma simplificada. Secretarias;
§ 20.  O Ministro de Estado da  Transparência,  Fiscali- V - (revogado);
zação e Controladoria-Geral da União - CGU poderá requi- VI - (revogado);
sitar servidores na forma do art. 2o da Lei no 9.007, de 17 de VII - do Ministério da Defesa, o Conselho Militar de
março de 1995. Defesa, o Comando da Marinha, o Comando do Exérci-
§ 21.  Para efeito do disposto no § 19, os órgãos e as to, o Comando da Aeronáutica, o Estado-Maior Conjunto
entidades da administração pública federal estão obriga- das Forças Armadas, a Secretaria-Geral, a Escola Superior
dos a atender, no prazo indicado, às requisições e solicita- de Guerra, o Centro Gestor e Operacional do Sistema de
ções do Ministro de Estado da Transparência, Fiscalização Proteção da Amazônia, o Hospital das Forças Armadas, a
e Controladoria-Geral da União - CGU e a comunicar-lhe a Representação Brasileira na Junta Interamericana de De-
instauração de sindicância ou outro processo administrati- fesa, o Conselho Deliberativo do Sistema de Proteção da
vo e o respectivo resultado. Amazônia - CONSIPAM, até três Secretarias e um órgão de
§ 22.  Fica autorizada a manutenção no Ministério da controle interno;
Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União VIII - (revogado);
- CGU das Gratificações de Representação da Presidência IX - do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Ser-
da República alocadas à Controladoria-Geral da União da viços, o Conselho Nacional de Metrologia, Normalização
Presidência da República na data de publicação desta Lei. e Qualidade Industrial, o Conselho Nacional das Zonas de
§ 23.  O INSS é vinculado ao Ministério do Desenvolvi- Processamento de Exportação e até quatro Secretarias;
mento Social e Agrário e, quanto às questões previdenciá- X - do Ministério da Cultura, o Conselho Superior do
rias, segue as diretrizes gerais estabelecidas pelo Conselho Cinema, o Conselho Nacional de Política Cultural, a Comis-
Nacional de Previdência. são Nacional de Incentivo à Cultura e até seis Secretarias;
§ 24.  (VETADO).” (NR) .....................................................................................

87
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

XII - do Ministério da Fazenda, o Conselho Monetário XXV - (revogado);


Nacional, o Conselho Nacional de Política Fazendária, o Con- XXVI -  do Ministério da Transparência, Fiscalização e
selho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, o Conse- Controladoria-Geral da União - CGU, o Conselho de Trans-
lho Nacional de Seguros Privados, o Conselho de Recursos parência Pública e Combate à Corrupção, a Comissão de
do Sistema Nacional de Seguros Privados, o Conselho de Coordenação de Controle Interno, a Corregedoria-Geral da
Previdência Privada Aberta e de Capitalização, o Conselho União, a Ouvidoria-Geral da União e duas Secretarias, sen-
de Controle de Atividades Financeiras, o Conselho Adminis- do uma a Secretaria Federal de Controle Interno;
trativo de Recursos Fiscais, o Conselho Diretor do Fundo de XXVII - do Ministério da Educação, o Conselho Nacio-
Garantia à Exportação, o Comitê Brasileiro de Nomenclatura, nal de Educação, o Instituto Benjamin Constant, o Instituto
o Comitê de Avaliação de Créditos ao Exterior, a Secretaria Nacional de Educação de Surdos e até seis Secretarias.
da Receita Federal do Brasil, a Procuradoria-Geral da Fazen- .....................................................................................
da Nacional, a Escola de Administração Fazendária, o Con- § 7o  Ao Conselho Nacional de Aquicultura e Pesca, pre-
selho Nacional de Previdência Complementar, a Câmara de sidido pelo Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e
Recursos da Previdência Complementar, o Conselho Nacio- Abastecimento e composto na forma estabelecida em re-
nal de Previdência e até seis Secretarias; gulamento pelo Poder Executivo, compete subsidiar a for-
..................................................................................... mulação da política nacional para a pesca e aquicultura,
XIV - do Ministério da Justiça e Cidadania, o Conselho propondo diretrizes para o desenvolvimento e fomento da
Nacional de Política Criminal e Penitenciária, o Conselho Na- produção pesqueira e aquícola, apreciar as diretrizes para o
cional de Segurança Pública, o Conselho Federal Gestor do desenvolvimento do plano de ação da pesca e aquicultura
Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, o Conselho Nacio- e propor medidas destinadas a garantir a sustentabilidade
nal de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade da atividade pesqueira e aquícola.
Intelectual, o Conselho Nacional de Arquivos, o Conselho ......................................................................................
Nacional de Políticas sobre Drogas, o Departamento de Po- § 9o   O Conselho de Transparência Pública e Comba-
lícia Federal, o Departamento de Polícia Rodoviária Federal, te à Corrupção será presidido pelo Ministro de Estado da
o Departamento Penitenciário Nacional, o Arquivo Nacional, Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União
o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, o - CGU e composto, paritariamente, por representantes da
Conselho Nacional dos Direitos Humanos, o Conselho Na- sociedade civil organizada e representantes do Governo
cional de Combate à Discriminação, o Conselho Nacional Federal.” (NR)
dos Direitos da Criança e do Adolescente, o Conselho Na- Art. 13.  A criação, a extinção, a transformação, a trans-
cional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, o Conselho ferência, a incorporação ou o desmembramento de órgãos
Nacional dos Direitos do Idoso, o Conselho Nacional dos ou unidades administrativas integrantes das entidades e
Direitos da Mulher, a Secretaria Especial de Políticas para as dos órgãos, para fins do disposto nesta Lei, ocorrerá me-
Mulheres, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da diante a edição de decreto, desde que não implique au-
Igualdade Racial, a Secretaria Especial de Direitos Humanos mento de despesa, que também disporá sobre a estrutura
e até seis Secretarias; regimental e a distribuição do pessoal e de cargos ou fun-
..................................................................................... ções no âmbito do órgão ou da unidade administrativa.
XVII - do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento Art. 14.   Enquanto não forem publicados os decretos
e Gestão, a Comissão de Financiamentos Externos, a Asses- de estrutura regimental dos Ministérios que absorverão as
soria Econômica e até dez Secretarias; competências dos órgãos de que trata o art. 1o, as estru-
..................................................................................... turas remanescentes dos órgãos a serem extintos na forma
XIX - do Ministério das Relações Exteriores, o Cerimo- do art. 9o ficarão subordinadas aos Ministros de Estado ti-
nial, a Secretaria de Planejamento Diplomático, a Inspeto- tulares dos órgãos que irão assumir as competências res-
ria-Geral do Serviço Exterior, a Secretaria-Geral das Relações pectivas.
Exteriores, composta de até nove Subsecretarias-Gerais, a Art. 15.  A estrutura organizacional dos órgãos extintos
Secretaria de Controle Interno, o Instituto Rio Branco, as mis- e transformados, assim como as entidades que lhes sejam
sões diplomáticas permanentes, as repartições consulares, o vinculadas, integrarão os órgãos resultantes das transfor-
Conselho de Política Externa, a Comissão de Promoções e a mações ou daqueles que absorveram as respectivas com-
Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior; petências, bem como serão mantidas as gratificações devi-
..................................................................................... das em virtude de exercício nos órgãos transformados ou
XXI -  do Ministério do Trabalho, o Conselho Nacional extintos.
do Trabalho, o Conselho Nacional de Imigração, o Conse- Art. 16.  É aplicável o disposto no art. 2o da Lei no 9.007,
lho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, o de 17 de março de 1995, para os servidores, os militares e
Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador, os empregados em exercício no Ministério dos Transportes,
o Conselho Nacional de Economia Solidária e até três Se- Portos e Aviação Civil ou no Ministério da Justiça e Cidada-
cretarias; nia requisitados para a Secretaria de Aviação Civil da Presi-
XXII -  do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação dência da República, para a Secretaria de Portos da Presi-
Civil, o Conselho Nacional de Aviação Civil, o Instituto Nacio- dência da República ou para o Ministério das Mulheres, da
nal de Pesquisas Hidroviárias e até cinco Secretarias; Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos até
..................................................................................... a data de entrada em vigor desta Lei.

88
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Parágrafo único.  Os servidores, os militares e os em- EXERCÍCIOS


pregados de que trata o  caput poderão ser designados
para o exercício de Gratificações de Representação da PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Presidência da República ou de Gratificação de Exercício
em Cargo de Confiança nos órgãos da Presidência da Re- 001 - (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014)
pública devida aos militares enquanto permanecerem em A República Federativa do Brasil, formada pela união in-
exercício nos sucessores dos órgãos para os quais foram dissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
requisitados. constitui-se em Estado Democrático de Direito (art. 1º da
Art. 17.  O art. 18 da Lei no 11.890, de 24 de dezembro CF).
de 2008, passa a vigorar com a seguinte alteração: Com base no enunciado acima é correto afirmar, ex-
“Art. 18.  ................................................................ ceto:
...................................................................................... A) são objetivos fundamentais da república federativa
II - .......................................................................... do Brasil erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir
a) ............................................................................ as desigualdades sociais e regionais.
...................................................................................... B) a soberania, a cidadania e o pluralismo político não
5.  Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exte- são fundamentos da república federativa do brasil.
rior; C) ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
...........................................................................” (NR) alguma coisa senão em virtude de lei.
Art. 18.  Ficam revogados: D) é livre a manifestação de pensamento, sendo ve-
I - os seguintes dispositivos da Lei no 10.683, de 28 de dado o anonimato.
maio de 2003: E) construir uma sociedade livre, justa e solidária é
a) os incisos IV, XI e XII do caput do art. 1º; um dos objetivos fundamentais da república federativa do
b) o inciso X do § 1º do art. 1º; Brasil.
c) o inciso I do parágrafo único do art. 2º;
d) o art. 2º-B; R: B. Todas as alternativas descrevem características,
e) os incisos XII e XIII do caput do art. 3º; atributos do Estado Democrático de Direito que é a Re-
f) os incisos VIII e IX do § 2º do art. 3º; pública Federativa brasileira, notadamente: erradicação da
g) os §§ 1º a 5º do art. 18; pobreza e diminuição de desigualdades (artigo 3º, III, CF);
h) os arts. 17, 19, 20, 24-A e 24-D; soberania, cidadania e pluralismo político (artigo 1º, I, II e
i) os incisos XXII, XXIII e XXV do caput do art. 25; V, CF); princípio da legalidade (artigo 5º, II, CF); liberdade
j) o inciso VI do parágrafo único do art. 25; de expressão (artigo 5º, IV, CF); construção de sociedade
k) os incisos XXII, XXIII e XXV do caput do art. 27; e justa, livre e solidária (artigo 3º, I, CF). Sendo assim, incor-
l) os incisos V, VI, VIII e XXV do caput do art. 29; e reta a afirmação de que soberania, cidadania e pluralismo
II - a Medida Provisória no  717, de 16 de março de político não são fundamentos da República Federativa do
2016. Brasil, pois estão como tais enumerados no artigo 1º, CF,
Art. 19.  Esta Lei entra em vigor na data de sua publi- além de decorrerem da própria estrutura de um Estado
cação, produzindo efeitos: Democrático de Direito.
I - quanto à alteração das estruturas dos órgãos abran-
gidos, a partir da data de entrada em vigor dos respectivos 002 - (DPE/GO - Defensor Público - UFG/2014) A
decretos de estrutura regimental; e propósito dos princípios fundamentais da República Fede-
II - quanto às transformações, às extinções de cargos, rativa do Brasil, reconhece-se que:
às alterações de supervisão ministerial de entidades e às A) o pluralismo político está inserido entre seus obje-
demais disposições, de imediato. tivos.
Parágrafo único.   A competência sobre Previdência B) a livre iniciativa é um de seus fundamentos e se con-
e Previdência Complementar será exercida, de imediato, trapõe ao valor social do trabalho.
pelo Ministério da Fazenda, com apoio das estruturas que C) a dignidade é também do nascituro, o que desauto-
atualmente dão suporte a elas. riza, portanto, a prática da interrupção da gravidez quando
Brasília,  29  de  setembro  de 2016; 195o da Indepen- decorrente de estupro.
dência e 128o da República. D) a promoção do bem de todos, sem preconceito de
origem, raça, sexo, cor, idade e qualquer outra forma de
discriminação, é um de seus objetivos.
E) o legislativo, o executivo e o judiciário, dependentes
e harmônicos entre si, são poderes da união.

89
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

R: D. O artigo 1º, CF traz os princípios fundamentais C) Construir uma sociedade livre, justa e solidária,
(fundamentos) da República Federativa do Brasil: “I - a so- garantindo o desenvolvimento nacional com erradicação
berania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa huma- da pobreza e da marginalização, reduzindo as desigual-
na; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; dades sociais e regionais, promovendo o bem de todos,
V - o pluralismo político”. O princípio de “A” se encontra sem preconceitos de origem, raça, cor, idade e quaisquer
no inciso V; o de “B” no inciso IV; o de “C” no inciso III, outras formas de discriminação.
pois viola a dignidade humana da mãe forçá-la a dar luz D) Promover a defesa nacional contra atos de Esta-
à um filho que resulte de estupro; o de “E” decorre dos dos estrangeiros que intervierem nos assuntos internos
incisos I e II e é previsão do artigo 2º, que dispõe que “são da nação.
Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Somente resta a al- R: C. O constituinte trabalha no artigo 3º da Consti-
ternativa “D”, que apesar de realmente trazer um objetivo tuição Federal com os objetivos da República Federativa
da República Federativa brasileira – previsto no artigo 3º, do Brasil, nos seguintes termos: “Art. 3º Constituem obje-
IV, não tem a ver com os princípios fundamentais, mas sim tivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I -
com os objetivos. construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir
o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a
003 - (DPE/DF - Analista - Assistência Judiciária - marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regio-
FGV/2014) Sobre os Princípios Fundamentais da Repúbli- nais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de
ca Federativa do Brasil, à luz do texto constitucional de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
1988, é INCORRETO afirmar que: de discriminação”. Somente a alternativa “C” resume to-
A) a República Federativa do Brasil tem como funda- dos os objetivos elencados neste dispositivo.
mentos: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa
humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa 005 - (TCE/PI - Assessor Jurídico - FCC/2014) Pelo
e o pluralismo político. princípio da justeza ou da conformidade funcional da
B) a República Federativa do Brasil tem como objetivos Constituição Federal,
fundamentais: construir uma sociedade livre, justa e soli- A) as normas constitucionais devem ser interpretadas
dária; garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a po- no sentido de terem a mais ampla efetividade social, re-
breza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais conhecendo a maior eficácia possível aos direitos funda-
e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos mentais.
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas B) partindo da ideia de unidade da constituição, os
de discriminação. bens jurídicos constitucionalizados deverão coexistir de
C) todo o poder emana do povo, que o exerce unica- forma harmônica na hipótese de eventual conflito ou
mente por meio de representantes eleitos. concorrência entre esses bens e princípios, por inexistir
D) entre outros, são princípios adotados pela Repú- hierarquia entre eles.
blica Federativa do Brasil nas suas relações internacionais, C) o intérprete máximo da constituição, ao concretizar
os seguintes: a independência nacional, a prevalência dos a norma constitucional, será responsável por estabelecer
direitos humanos e o repúdio ao terrorismo e ao racismo. sua força normativa, não podendo alterar a repartição de
E) a autodeterminação dos povos, a não intervenção funções constitucionalmente estabelecidas pelo consti-
e a defesa da paz são princípios regedores das relações tuinte originário.
internacionais da República Federativa do Brasil. D) as normas constitucionais devem ser interpretadas
em sua globalidade, afastando-se as aparentes antino-
R: C. A democracia brasileira adota a modalidade se- mias legais.
midireta, porque possibilita a participação popular direta E) na resolução dos problemas jurídico-constitucio-
no poder por intermédio de processos como o plebiscito, nais deve-se dar primazia aos critérios que favoreçam a
o referendo e a iniciativa popular. Como são hipóteses res- integração política e social, e o reforço da unidade política
tritas, pode-se afirmar que a democracia indireta é pre- do estado.
dominantemente adotada no Brasil, por meio do sufrágio
universal e do voto direto e secreto com igual valor para R: C. O princípio da conformidade funcional ou da jus-
todos. Contudo, não é a única maneira de se exercer o po- teza é um dos princípios interpretativos das normas cons-
der (artigo 14, CF e artigo 1º, parágrafo único, CF). titucionais e prescreve que ao intérprete da Constituição,
o Supremo Tribunal Federal, é defeso, proibido, modificar
004 - (TJ/MG - Juiz - FUNDEP/2014) Assinale a alter- a repartição de funções fixadas pela própria Constituição
nativa que descreve COMPLETAMENTE os objetivos funda- Federal.
mentais da República Federativa do Brasil.
A) Erradicar a pobreza e o analfabetismo.
B) Garantir o desenvolvimento pessoal dos cidadãos e
construir a riqueza de sua gente.

90
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

006 - (MPE/MA - MPE/2014) Sobre os fundamentos B) A qualificação normativa da dignidade da pessoa


da República Federativa do Brasil é incorreto afirmar que: humana como princípio fundamental traduz a certeza de
A) Podemos falar na existência de soberania popu- que o art. 1º, III, da Constituição contém apenas uma de-
lar quando a soberania reside no povo (fonte do poder) e claração de conteúdo ético, na medida em que representa
quando o poder pertence ao povo (titularidade do poder); uma norma jurídico-positiva não dotada, em sua plenitu-
B) Todos os preceitos que identificam o regime ado- de, de status constitucional formal e material;
tado como democrático são bens reveladores da ideia de C) Pelo menos no que concerne à sua dimensão prin-
Direito ou da ordem de valores acolhida na constituição, cipiológica, a dignidade da pessoa humana atua como
refletindo-se, contudo, apenas indiretamente nas normas uma espécie de mandado de otimização, ordenando a
atributivas de direitos e, portanto, não se impondo direta- proteção e promoção da dignidade da pessoa, a ser reali-
mente ao intérprete e aplicador das normas constitucio- zada na maior medida possível, ainda que desconsideran-
nais e legais; do as possibilidades fáticas e jurídicas existentes;
C) A menção à democracia realizada no caput do art. D) A dignidade humana serve como elemento limita-
1º da CF/88 incorpora uma regra prescritiva e não uma re- dor dos direitos fundamentais, pois age como justificativa
gra negativa ou proibitiva, na medida em que obriga a que para a imposição de restrição a estes, podendo também
na expressão e na organização políticas se observem as atuar como limite aos limites desses mesmos direitos, ao
regras inerentes a uma ordem constitucional democrática; exercer restrições à atividade limitadora no âmbito dos
D) A separação e a interdependência dos poderes, direitos fundamentais, com o objetivo de coibir eventual
conforme previsto no art. 2º da CF/88, constitui-se em abuso que possa levar ao seu esvaziamento ou supressão;
princípio coessencial ao Estado de Direito, não se exau- E) Na sua atuação como limite à atuação estatal e da
rindo nos órgãos de soberania e nem sequer nos demais comunidade em geral, a dignidade implica apenas que a
órgãos do Estado, abrangendo de igual forma os estados pessoa não pode ser reduzida à condição de mero obje-
federados e os municípios; to da ação própria e de terceiros, não provocando direta-
E) Constitui-se em exemplo de dispositivo de natureza mente a adoção de medidas contra a atuação estatal ou
de terceiros que a violem ou ameacem o nascimento de
constitucional que trata diretamente da dignidade da pes-
direitos fundamentais negativos.
soa humana o previsto no art. 79 do ADCT, que instituiu o
Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, com o obje-
R: D. Dignidade da pessoa humana é o principal va-
tivo de viabilizar a todos os brasileiros acesso a níveis dig-
lor do ordenamento ético e, por consequência, jurídico
nos de subsistência e com recursos para serem aplicados
que pretende colocar a pessoa humana como um sujeito
em ações suplementares de nutrição, habitação, educação,
pleno de direitos e obrigações na ordem internacional e
saúde, reforço de renda familiar e outros programas de
nacional, cujo desrespeito acarreta a própria exclusão de
relevante interesse social voltados para melhoria da qua-
sua personalidade. Logo, estabelece-se na noção de digni-
lidade de vida.
dade da pessoa humana um aspecto intrínseco de correla-
ção entre direitos e deveres. Os próprios direitos afirmados
R: B. Em se tratando de norma constitucional, possui como inerentes à dignidade da pessoa humana são obstá-
força normativa e serve de parâmetro ao intérprete na culo para o exercício de cada qual deles, pois nenhum di-
aplicação da lei e mesmo de diretriz para o controle de reito é absoluto, afinal, se todo ser humano é digno, todo
constitucionalidade, pouco importando se a densidade ser humano deve poder exercê-los, sendo que o direito do
normativa é baixa, ou seja, se são princípios genéricos e de outro é o limite do exercício de cada direito pessoal.
difícil compreensão teórica na prática. Logo, a aplicação
não é indireta, mas sim direta. 008 - (TJ/MT - Juiz - FMP-RS/2014) Assinale a alter-
nativa correta a respeito dos partidos políticos.
007 - (MPE/MA - MPE/2014) Atualmente a aplicação A) É vedado a eles o recebimento de recursos financei-
do preceito da dignidade da pessoa humana, conforme ros por parte de empresas transnacionais.
previsão do inciso III, do art. 1º, da CF de 1988, tem se re- B) É assegurado a eles o acesso gratuito à propaganda
velado relativamente constante nas decisões provenientes no rádio e na televisão, exceto aqueles que não possuam
do STF e STJ, assim como dos demais órgãos judiciários. representação no Congresso Nacional.
Sobre esse fundamento do Estado Democrático de Direito, C) Os partidos devem, obrigatoriamente, ter caráter
é correto afirmar que: nacional.
A) Embora a dignidade da pessoa humana conste D) Os partidos devem, após cada campanha, apresen-
do rol dos direitos e garantias fundamentais expressos tar ao Congresso Nacional a sua prestação de contas para
na Magna Carta, foi também consagrada como princípio aprovação.
e valor fundamental e, como tal, deve servir de norte ao E) Em razão de sua importante função institucional,
intérprete, ao qual incumbe a missão de assegurar-lhe a os partidos políticos possuem natureza jurídica de direito
necessária força normativa; público.

91
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

R: C. O artigo 17 da Constituição Federal regulamenta os 010 - (PC/SP - Oficial Administrativo - VU-


partidos políticos e coloca o caráter nacional como preceito NESP/2014) A República Federativa do Brasil, formada
que deva necessariamente se observado: “É livre a criação, pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Dis-
fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, res- trito Federal, constitui-se em um Estado
guardados a soberania nacional, o regime democrático, o A) democrático de Direito.
pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa hu- B) burocrático.
mana e observados os seguintes preceitos: I - caráter na- C) o Congresso Nacional, o Senado e a Câmara dos
cional; II - proibição de recebimento de recursos financeiros Deputados.
de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a D) socialista progressista.
estes; III - prestação de contas à Justiça Eleitoral; IV - funcio- E) humanitário social.
namento parlamentar de acordo com a lei. § 1º É assegurada
aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura R: A. Consta no caput do artigo 1º, CF: “a República
interna, organização e funcionamento e para adotar os crité-
Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
rios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em
obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em
Estado Democrático de Direito [...]”.
âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo
seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade
partidária. § 2º Os partidos políticos, após adquirirem perso-
nalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus esta- DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
tutos no Tribunal Superior Eleitoral. § 3º Os partidos políticos
têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito 001 - (TJ/MG - Juiz - FUNDEP/2014) Sobre a clas-
ao rádio e à televisão, na forma da lei. § 4º É vedada a utili- sificação dos direitos e garantias fundamentais, assinale a
zação pelos partidos políticos de organização paramilitar”. alternativa CORRETA.
A) Direitos individuais e coletivos.
009 - (Prefeitura de Recife/PE - Procurador- B) Direitos sociais e políticos.
FCC/2014) Entre os princípios que regem, segundo a Cons- C) Direitos de nacionalidade, políticos e partidos po-
tituição Federal, a República Federativa do Brasil nas suas líticos.
relações internacionais, encontram-se os seguintes: D) Direitos individuais, coletivos, sociais, de nacionali-
A) defesa da paz, soberania nacional, não-intervenção dade, políticos e de partidos políticos.
e repúdio a todas as formas de tratamento desumano ou
degradante. R: D. O título II da Constituição Federal é intitulado “Di-
B) autodeterminação dos povos, cooperação entre os reitos e Garantias fundamentais”, gênero que abrange as
povos para o progresso da humanidade e promoção do seguintes espécies de direitos fundamentais: direitos indi-
bem-estar e da justiça social. viduais e coletivos (art. 5º, CF), direitos sociais (generica-
C) defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, não-in- mente previstos no art. 6º, CF), direitos da nacionalidade
tervenção e repúdio ao terrorismo e ao racismo. (artigos 12 e 13, CF) e direitos políticos (artigos 14 a 17, CF).
D) soberania nacional, proteção do meio ambiente eco-
logicamente equilibrado, não intervenção e solução pacífica 002 - (MPE/MG - Promotor de Justiça - MPE/2014)
dos conflitos. Relativamente ao tratamento que a Constituição Federal
E) cooperação entre os povos para o progresso da conferiu às restrições do Estado sobre a propriedade priva-
humanidade, proteção do meio ambiente ecologicamente da, é INCORRETO afirmar:
equilibrado, promoção do bem-estar e da justiça social.
A) O Poder Público, com a colaboração da comunida-
de, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro,
R: C. O último artigo do título I trabalha com os princí-
por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento
pios que regem as relações internacionais da República bra-
e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e
sileira: “Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas
suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - in- preservação.
dependência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; B) Estão tombados todos os documentos e os sítios
III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - detentores de reminiscências históricas dos antigos qui-
igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução lombos.
pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao C) O decreto que garantir tratamento especial à pro-
racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso priedade produtiva também fixará normas para o cumpri-
da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo mento dos requisitos relativos à sua função social.
único. A República Federativa do Brasil buscará a integração D) São isentas de impostos federais, estaduais e muni-
econômica, política, social e cultural dos povos da América cipais as operações de transferência de imóveis desapro-
Latina, visando à formação de uma comunidade latino-ame- priados para fins de reforma agrária.
ricana de nações”. Os grifos apontam que a alternativa “C”
descreveu corretamente 4 dos princípios que regem as rela-
ções internacionais da República brasileira.

92
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

R: C. A alternativa “A” está de acordo com o previsto no individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
artigo 216, §1º, CF; a alternativa “B” está de acordo com o administrativas”. A facultatividade da filiação afirmada na
artigo 216, §5º, CF; a alternativa “D” está conforme o artigo letra “C” é previsão confirmada no artigo 8º, V, CF e a li-
184, §5º, CF. Somente não guarda compatibilidade com a berdade de associação ressaltada na alternativa “E” de fato
Constituição a alternativa “C”, porque, nos termos do artigo observa os ditames legais, notadamente os dos incisos do
185, parágrafo único, “a lei garantirá tratamento especial à artigo 8º.
propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimen- Somente resta a alternativa “D”, que capciosamen-
to dos requisitos relativos a sua função social”. te afirma que é obrigatória a intervenção dos sindicatos
patronais em quaisquer negociações coletivas. De fato, o
003 - (TCE/PI - Assessor Jurídico - FCC/2014) A teo- artigo 8º da CF traz em seu inciso VI que “é obrigatória a
ria da reserva do possível participação dos sindicatos nas negociações coletivas de
A) significa a inoponibilidade do arbítrio estatal à efeti- trabalho”, mas esta previsão não se refere aos sindicatos
vação dos direitos sociais, econômicos e culturais. patronais, compostos por representantes de todas empre-
B) gira em torno da legitimidade constitucional do sas da área, e sim aos sindicatos profissionais, compostos
controle e da intervenção do poder judiciário em tema de por representantes dos trabalhadores. Logo, um sindicato
implementação de políticas públicas, quando caracterizada profissional pode promover uma negociação coletiva com
hipótese de omissão governamental. uma única empresa, não apenas com o sindicato patronal.
C) considera que as políticas públicas são reservadas
discricionariamente à análise e intervenção do poder judi- 005 - (PGE/AC - Procurador - FMP-RS/2014) Analise
ciário, que as limitará ou ampliará, de acordo com o caso as afirmativas abaixo.
concreto. I - Somente quando expressamente autorizado pela
D) é sinônima, em significado e extensão, à teoria do Constituição, o legislador pode restringir ou regular algum
mínimo existencial, examinado à luz da violação dos direi- direito fundamental.
tos fundamentais sociais, culturais e econômicos, como o II - De acordo com a jurisprudência do STF, a liberda-
direito à saúde e à educação básica. de de expressão ocupa uma posição superior no sistema
E) defende a integridade e a intangibilidade dos direi- constitucional brasileiro, prevalecendo sempre em caso de
tos fundamentais, independentemente das possibilidades colisão com outros direitos fundamentais, individuais ou
financeiras e orçamentárias do estado. sociais.
III - No âmbito das relações de submissão, os direitos
R: B. A teoria da reserva do possível busca impedir fundamentais acabam submetidos por outros direitos pe-
que se argumente por uma obrigação infinita do Estado culiares a tais relações.
de atender direitos econômicos, sociais e culturais. No en- IV - Viola o princípio da igualdade toda e qualquer
tanto, não pode ser invocada como muleta para impedir ação discriminatória, mesmo de caráter afirmativo, pro-
que estes direitos adquiram efetividade. Se a invocação da duzida pelo legislador ou, mesmo, por meio de políticas
reserva do possível não demonstrar cabalmente que o Es- públicas.
tado não tem condições de arcar com as despesas, o Poder A) Todas as alternativas são verdadeiras.
Judiciário irá intervir e sanar a omissão. B) Todas as alternativas são falsas.
C) Apenas a alternativa I está correta.
004 - (TRT/23ª REGIÃO (MT) - Juiz Substituto - TRT D) Apenas as alternativas II e III estão corretas.
23R/2014) Em face do artigo 8º da Constituição Federal,
assinale a alternativa INCORRETA: R: B. I está incorreta porque, a princípio, todo direito
A) O aposentado filiado tem o direito a votar e ser vo- fundamental pode ser objeto de regulamentação específi-
tado nas organizações sindicais. ca e eventual restrição, desde que esta regulação ou restri-
B) Ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses ção não atentem contra o próprio direito; II está incorreta
coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões porque a liberdade de expressão sofre diversas limitações,
judiciais ou administrativas. como a honra e a moral das pessoas, não sendo um direi-
C) Ninguém será obrigado a filiar-se ou manter-se filia- to fundamental que deva ser priorizado em relação aos
do a sindicatos. outros; III está incorreta porque a relação de submissão
D) É indispensável a participação do sindicato patronal não exclui o direito fundamental (ex.: trabalhador e em-
em qualquer negociação coletiva. pregador); IV está incorreta porque é pacífico que as ações
E) É livre a associação profissional ou sindical, observa- afirmativas são constitucionais.
dos os ditames legais.
006 - (PGE/AC - Procurador - FMP-RS/2014) A Con-
R: D. Nos termos do artigo 8º, VIII, CF, “o aposentado venção sobre os direitos das pessoas com deficiência foi
filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações incorporada no ordenamento brasileiro com hierarquia su-
sindicais”, o que torna a alternativa “A” correta. Já o artigo pralegal, mas infraconstitucional. Em relação à afirmativa,
8º, III, CF confirma a alternativa “B” prevendo que “ao sin- assinale a alternativa verdadeira.
dicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou

93
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

A) A afirmativa está correta. IV - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra


B) A afirmativa está parcialmente correta, pois não e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indeniza-
existe hierarquia supralegal. ção pelo dano material ou moral decorrente de sua viola-
C) A afirmativa está incorreta. ção.
D) Nenhuma das alternativas anteriores. V - É inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
R: C. A Convenção Internacional sobre os Direitos das garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e
Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo des- suas liturgias.
ponta como o mais relevante tratado internacional na ma- A) Apenas I, II e III estão corretas.
téria em estudo que foi ratificado pelo Brasil, isto porque B) Apenas II, III e IV estão corretas.
possui o status de emenda constitucional, já que foi apro- C) Apenas III e V estão corretas.
vado nos moldes do artigo 5º, §3º, CF. D) Apenas IV e V estão corretas.
E) Todas as questões estão corretas.
007 - (PGE/AC - Procurador - FMP-RS/2014) A
Constituição brasileira de 1988 garante aos litigantes, em R: “E”. “I” está correta porque a principal diferença entre
processo judicial, e aos acusados em geral o contraditório direitos e garantias é que os primeiros servem para deter-
e a ampla defesa, com os meios e os recursos a ela ineren- minar os bens jurídicos tutelados e as segundas são os ins-
tes, não porém em processo administrativo, pois sempre é trumentos para assegurar estes (ex: direito de liberdade de
possível o interessado recorrer ao Poder Judiciário. locomoção – garantia do habeas corpus). “II” está correta,
Quanto à afirmação, é possível dizer: afinal, o próprio artigo 5º prevê em seu §2º que “os direi-
A) É incorreta, pois também no procedimento admi- tos e garantias expressos nesta Constituição não excluem
nistrativo devem ser observadas as garantias constitucio- outros decorrentes do regime e dos princípios por ela ado-
nais do processo. tados, ou dos tratados internacionais em que a República
B) É correta, pois no procedimento administrativo não Federativa do Brasil seja parte”, fundamento que também
incidem as garantias constitucionais do processo. demonstra que o item “III” está correto. O item IV traz cópia
C) É incorreta, parcialmente, pois no procedimento ad- do artigo 5º, X, CF, que prevê que “são invioláveis a intimi-
ministrativo vigora apenas a garantia do contraditório. dade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, asse-
D) Nenhuma alternativa anterior está correta. gurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação”; o que faz também o item V
R: A. No procedimento administrativo vigoram as re- com relação ao artigo 5º, VI, CF que diz que “é inviolável a
gras do contraditório e da ampla defesa, tanto é que a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o
Constituição prevê no artigo 5º, LV: “aos litigantes, em livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da
processo judicial ou administrativo, e aos acusados em lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. Sendo
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, assim, todas afirmativas estão corretas.
com os meios e recursos a ela inerentes”.
009 - (TRT 2ª Região/SP - Juiz do Trabalho - TRT
008 - (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) O 2R/2014) Em relação às ações que o Poder Público deve-
art. 5º da Constituição Federal trata dos direitos e deveres rá tomar para que seja assegurada a efetividade do meio
individuais e coletivos, espécie do gênero direitos e ga- ambiente ecologicamente equilibrado, aponte a alternativa
rantias fundamentais (Título II). Assim, apesar de referir-se, correta:
de modo expresso, apenas a direitos e deveres, também A) As pessoas jurídicas serão responsabilizadas admi-
consagrou as garantias fundamentais. (LENZA, Pedro. Di- nistrativa, civil e penalmente nos casos em que a infração
reito Constitucional Esquematizado, São Paulo: Saraiva, ao meio ambiente seja cometida por decisão de seu repre-
2009,13ª. ed., p. 671). sentante legal ou contratual.
Com base na afirmação acima, analise as questões a B) Exigir que para instalação de toda obra ou atividade
seguir e assinale a alternativa correta. seja procedido, obrigatoriamente, estudo prévio de impac-
I - Os direitos são bens e vantagens prescritos na to ambiental, podendo ou não publicá-lo, nos limites da lei.
norma constitucional, enquanto as garantias são os ins- C) Promover a educação ambiental de forma obrigató-
trumentos através dos quais se assegura o exercício dos ria exclusivamente no ensino fundamental.
aludidos direitos. D) Legislar sobre responsabilidade por dano ambiental
II - O rol dos direitos expressos nos 78 incisos e pa- e proteção à saúde do trabalhador, promovendo a educa-
rágrafos do art. 5º da Constituição Federal é meramente ção ambiental nas escolas é dever exclusivo dos estados
exemplificativo. federados, sendo subsidiária a responsabilidade da União
III - Os direitos e garantias expressos na Constituição E) O dever de preservação e defesa do meio ambiente
Federal não excluem outros decorrentes do regime e dos é responsabilidade exclusiva do poder público em todos os
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais seus níveis.
em que o Brasil seja parte.

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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

R: A. A alternativa “A” está em consonância com o artigo R: C. Nos termos do artigo 5º, LI, CF, “nenhum brasileiro
225, §3º, CF: “As condutas e atividades consideradas lesivas será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime
ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas comum, praticado antes da naturalização, ou de compro-
ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, indepen- vado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e
dentemente da obrigação de reparar os danos causados”. drogas afins, na forma da lei”. Embora a condenação tenha
ocorrido após a naturalização, o crime comum foi pratica-
010 - (PC/SP - Escrivão de Polícia - VUNESP/2014) do antes dela, permitindo a extradição de Pietro.
Assinale a alternativa correta a respeito dos direitos e ga-
rantias fundamentais previstos na Constituição Federal de 012 - (PC/TO - Delegado de Polícia - Aroeira/2014)
1988. Dispõe a Constituição Federal, no Título dos Direitos e Ga-
A) A lei só poderá restringir a publicidade dos atos rantias Fundamentais, que a prisão ilegal será imediata-
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse mente:
social o exigirem. A) revogada pela autoridade policial competente.
B) Conceder-se-á habeas data sempre que a falta de B) substituída por fiança.
norma regulamentadora torne inviável o exercício dos di- C) relaxada pela autoridade judiciária.
reitos e liberdades constitucionais. D) substituída por monitoração eletrônica.
C) A lei regulará a individualização da pena e adotará, R: C. É o disposto no artigo 5º, LXV, CF: “a prisão ilegal
entre outras, a privação ou a restrição da liberdade, a perda será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária”.
de bens e o banimento
D) Constituem crimes inafiançáveis e imprescritíveis o 013 - (PC/TO - Delegado de Polícia - Aroeira/2014)
racismo, a tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e os No caso de condenação criminal transitada em julgado,
definidos como crimes hediondos. enquanto durarem seus efeitos, o condenado terá seus di-
E) Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturali- reitos políticos:
zado, em caso de crime comum praticado antes da natura- A) mantidos.
lização, ou de comprovado envolvimento com terrorismo. B) cassados.
C) perdidos.
R: A. Preconiza o artigo 5º da Constituição em seu in- D) suspensos.
ciso LX: “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse R: D. Os direitos políticos nunca podem ser cassados ou
social o exigirem”, restando “A” correta. “B” está incorre- perdidos, mas no máximo suspensos. A condenação crimi-
ta porque descreve a finalidade do mandado de injunção; nal transitada em julgado justifica a suspensão dos direitos
“C” está incorreta porque perda de bens (confisco) e bani- políticos, o que é disposto no artigo 15, III, CF: “é vedada a
mento são penas vedadas; “D” está incorreta porque estes cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só
crimes não são imprescritíveis, mas sim “insuscetíveis de se dará nos casos de: [...] III - condenação criminal transita-
graça ou anistia”, além de inafiançáveis; “E” está incorreta da em julgado, enquanto durarem seus efeitos”.
porque após a naturalização somente se extradita por en-
volvimento com tráfico ilícito de entorpecentes. 014 - (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) Os
remédios constitucionais são as formas estabelecidas pela
011 - (TRT/16ª REGIÃO/MA - Analista Judiciário - Constituição Federal para concretizar e proteger os direitos
FCC/2014) Pietro, nascido na Itália, naturalizou-se brasilei- fundamentais a fim de que sejam assegurados os valores
ro no ano de 2012. No ano de 2011, Pietro acabou come- essenciais e indisponíveis do ser humano.
tendo um crime de roubo, cuja autoria foi apurada apenas Assim, é correto afirmar, exceto:
no ano de 2013, sendo instaurada a competente ação pe- A) O habeas corpus pode ser formulado sem advogado,
nal, culminando com a condenação de Pietro, pela Justiça não tendo de obedecer a qualquer formalidade processual,
Pública, ao cumprimento da pena de 05 anos e 04 meses e o próprio cidadão prejudicado pode ser o autor.
de reclusão, em regime inicial fechado, por sentença tran- B) O habeas corpus é utilizado sempre que alguém so-
sitada em julgado. Neste caso, nos termos estabelecidos frer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação
pela Constituição federal, Pietro em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso
A) não poderá ser extraditado, tendo em vista a quan- de poder.
tidade de pena que lhe foi imposta pelo Poder Judiciário. C) O autor da ação constitucional de habeas corpus re-
B) não poderá ser extraditado, pois o crime foi cometi- cebe o nome de impetrante; o indivíduo em favor do qual
do antes da sua naturalização. se impetra, paciente, podendo ser o mesmo impetrante, e
C) poderá ser extraditado. a autoridade que pratica a ilegalidade, autoridade coatora.
D) não poderá ser extraditado, pois não cometeu crime D) Caberá habeas corpus em relação a punições disci-
hediondo ou de tráfico ilícito de entorpecentes e drogas plinares militares.
afim. E) O habeas corpus será preventivo quando alguém se
E) não poderá ser extraditado, pois a sentença conde- achar ameaçado de sofrer violência, ou repressivo, quando
natória transitou em julgado após a naturalização. for concreta a lesão.

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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

R: “D”. O habeas corpus é garantia prevista no artigo governamental da administração direta ou indireta. Por sua
5º, LXVIII, CF: “conceder-se-á habeas corpus sempre que vez, o item “IV” reflete o artigo 5º, LXXI, CF, do qual decorre
alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência logicamente o item “V”, posto que a demora do legislador
ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade em regulamentar uma norma constitucional de aplicabi-
ou abuso de poder”. A respeito dele, a lei busca torná-lo lidade mediata, que necessita do preenchimento de seu
o mais acessível possível, por ser diretamente relacionado conteúdo, evidencia-se em risco aos direitos fundamentais
a um direito fundamental da pessoa humana. O objeto de garantidos pela Constituição Federal.
tutela é a liberdade de locomoção; a propositura não de-
pende de advogado; o que propõe a ação é denominado 016 - (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) O
impetrante e quem será por ela beneficiado é chamado pa- devido processo legal estabelecido como direito do cida-
ciente (podendo a mesma pessoa ser os dois), contra quem dão na Constituição Federal configura dupla proteção ao
é proposta a ação é a denominada autoridade coatora; e é indivíduo, pois atua no âmbito material de proteção ao
possível utilizar habeas corpus repressivamente e preventi- direito de liberdade e no âmbito formal, ao assegurar-lhe
vamente. Por sua vez, a Constituição Federal prevê no ar- paridade de condições com o Estado para defender-se.
tigo 142, §2º que “não caberá habeas corpus em relação a Com base na afirmação acima, analise as questões a
punições disciplinares militares”. seguir e assinale a alternativa correta.
I - Ninguém será processado nem sentenciado senão
015 - (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) Ain- pela autoridade competente.
da em relação aos outros remédios constitucionais analise II - A lei só poderá restringir a publicidade dos atos
as questões a seguir e assinale a alternativa correta. processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse
I - O habeas data assegura o conhecimento de infor- social o exigirem.
mações relativas à pessoa do impetrante, constantes de III - São admissíveis, no processo, as provas obtidas por
registros ou banco de dados de entidades governamentais meios ilícitos.
ou de caráter público. IV - Ninguém será levado à prisão ou nela mantido,
II - Será concedido habeas data para a retificação de quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem
dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, fiança.
judicial ou administrativo. V - Não haverá prisão civil por dívida, nem mesmo a do
III - Em se tratando de registro ou banco de dados de depositário infiel.
entidade governamental, o sujeito passivo na ação de ha- A) Apenas I, II e IV estão corretas.
beas data será a pessoa jurídica componente da adminis- B) Apenas I, III e V estão corretas.
tração direta e indireta do Estado. C) Apenas III e IV estão corretas.
IV - O mandado de injunção serve para requerer à au- D) Apenas IV e V estão corretas.
toridade competente que faça uma lei para tornar viável o E) Todas as questões estão corretas.
exercício dos direitos e liberdades constitucionais.
V - O pressuposto lógico do mandado de injunção é a R: A. Nos termos do artigo 5º, LIII, CF, “ninguém será
demora legislativa que impede um direito de ser efetivado processado nem sentenciado senão pela autoridade com-
pela falta de complementação de uma lei. petente”, restando o item “I” correto; pelo artigo 5º, LX, CF,
A) Todas as afirmações estão corretas. “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos proces-
B) Apenas I, II e III estão corretas. suais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o
C) Apenas II, III e IV estão corretas. exigirem”, motivo pelo qual o item “II” está correto; e prevê
D) Apenas II, III e V estão corretas. o artigo 5º, LXVI, CF que “ninguém será levado à prisão
E) Apenas IV e V estão corretas. ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisó-
ria, com ou sem fiança”, confirmando o item “IV”. Por sua
R: A. No que tange ao tema, destaque para os seguintes vez, o item “III” está incorreto porque “são inadmissíveis, no
incisos do artigo 5º da CF: “LXXI - conceder-se-á mandado processo, as provas obtidas por meios ilícitos” (artigo 5º,
de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora LVI, CF); e o item “V” está incorreto porque a jurisprudência
torne inviável o exercício dos direitos e liberdades consti- atual ainda aceita a prisão civil do devedor de alimentos,
tucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à sendo que o texto constitucional autoriza tanto esta quan-
soberania e à cidadania; LXXII - conceder-se-á habeas data: to a do depositário infiel (artigo 5º, LXVII, CF).
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas
à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos 017 - (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014)
de dados de entidades governamentais ou de caráter pú- “Mandado de segurança é o meio constitucional posto à
blico; b) para a retificação de dados, quando não se prefira disposição de toda pessoa física ou jurídica, para proteção
fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo”. de direito individual ou coletivo, líquido e certo, não ampa-
Os itens “I” e “II” repetem o teor do artigo 5º, LXXII, CF. rado por habeas corpus ou habeas data, lesado ou ameaça-
Já o item “III” decorre logicamente da previsão dos direi- do de lesão, por ato de autoridade”. (Meirelles, Helly Lopes.
tos fundamentais como limitadores da atuação do Estado, Mandado de segurança. São Paulo: Revista dos Tribunais,
logo, as informações requeridas serão contra uma entidade 1997, p. 03)

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NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

Conforme a lição de Helly L. Meirelles, analise as ques- A) o direito à vida é considerado inviolável, razão pela
tões abaixo e marque a alternativa correta. qual não comporta exceções, sendo inconstitucionais as
I - O mandado de segurança é conferido aos indivíduos regras fixadas no art. 128, incisos i e ii, do código penal,
para que eles se defendam de atos ilegais ou praticados que preveem aborto necessário e sentimental.
com abuso de poder, constituindo-se verdadeiro instru- B) os direitos fundamentais diferenciam-se das garan-
mento de liberdade civil e liberdade política. tias fundamentais na medida em que os direitos se decla-
II - O mandado de segurança coletivo pode ser impe- ram, enquanto as garantias têm um conteúdo assecurató-
trado por partido político com representação no Congres- rio daqueles
so Nacional. C) a característica principal dos direitos fundamentais é
III - Organização sindical, entidade de classe ou asso- a indivisibilidade, o que significa reconhecer que os direitos
ciação legalmente constituída há pelo menos dois anos fundamentais não comportam divisão no tempo, sendo,
pode impetrar mandado de segurança em defesa de seus portanto, imprescritíveis.
membros ou associados. D) a igualdade de todos perante a lei repele qualquer
IV - O âmbito de incidência do mandado de segurança prática discriminatória ainda que empreendida com propó-
é definido residualmente, pois somente caberá seu ajuiza- sito afirmativo.
mento quando o direito líquido e certo a ser protegido não E) os direitos fundamentais são de titularidade exclusi-
for amparado por habeas corpus. va das pessoas naturais, dado que decorrentes do princípio
V - O direito líquido e certo, capaz de ensejar o manda- da dignidade da pessoa humana.
do de segurança, é aquele que não pode ser demonstrado
de plano, necessitando de produção de provas. R: B. A ligação entre direitos e garantias é justamente o
A) Todas as afirmações estão corretas. caráter instrumental/assecuratório da garantia em relação
B) Apenas a afirmação III está correta. ao direito, em consonância com a alternativa “B”.
C) Apenas III, IV e V estão corretas. Todo direito fundamental comporta exceções, mesmo
D) Apenas II, III e IV estão corretas. o direito à vida, sendo constitucionais as previsões que au-
E) Apenas I e II estão corretas. torizam o abordo no Código Penal, logo, “A” está incorreta.
Já a indivisibilidade não corresponde à imprescritibilidade,
R: E. No que tange ao mandado de segurança, desta- restando incorreta a letra “C”. A igualdade que a lei assegu-
ca-se o artigo 5º, nos seguintes incisos: “LXIX - conceder- ra é material, o que permite ações afirmativas em favor de
se-á mandado de segurança para proteger direito líquido grupos prejudicados, tratando os desiguais de maneira de-
e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sigual, razão pela qual “D” está incorreta. “E” resta afastada
quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de po- porque direitos fundamentais podem abranger grupos de
der for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no pessoas, nascituros, a coletividade, etc.
exercício de atribuições do Poder Público; LXX - o mandado
de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido 019 - (DPE/DF - Analista - Assistência Judiciária -
político com representação no Congresso Nacional; b) or- FGV/2014) A natureza dos tratados internacionais de di-
ganização sindical, entidade de classe ou associação legal- reitos humanos sempre geraram debates na doutrina e
mente constituída e em funcionamento há pelo menos um na jurisprudência. A controvérsia, entretanto, foi reduzida
ano, em defesa dos interesses de seus membros ou asso- após a aprovação da Emenda Constitucional n° 45/2004,
ciados”. O caráter subsidiário do mandado de segurança, que inseriu o § 3° do Art. 5° na Constituição da República.
permitindo a defesa de direito líquido e certo não ampara- Sobre o tema, é correto afirmar que:
do por habeas corpus ou habeas data, o coloca na posição A) os tratados internacionais de direitos humanos pos-
de instrumento de defesa de todos direitos fundamentais suem hierarquia de lei ordinária.
do cidadão, notadamente, liberdades civis e políticas (item B) os tratados internacionais de direitos humanos
“I”). O item “II” é confirmado pelo artigo 5º, LXX, “a”, CF. aprovados antes da Emenda Constitucional n° 45/2004
O item “III” está incorreto porque não é preciso 2 anos possuem hierarquia de lei ordinária.
de constituição, bastando 1 ano (artigo 5º, LXX, “b”, CF). C) os tratados internacionais de direitos humanos apro-
O item “IV” apenas está incorreto porque não menciona vados de acordo com o procedimento previsto no Art. 5, §
que o direito também não pode ser amparado por habeas 3° da Constituição Federal de 1988 têm status de emenda
data (artigo 5º, LXIX, CF). O item V está “incorreto” porque constitucional.
classicamente o direito líquido e certo deve ser provado D) os tratados internacionais de direitos humanos
de plano, com meros documentos acostados à inicial, não aprovados de acordo com o procedimento previsto no Art.
havendo fase probatória neste tipo de ação. Logo, corretas 5, § 3° da Constituição Federal de 1988 possuem status su-
apenas “I” e “II”. pralegal e infraconstitucional.
E) antes da Emenda Constitucional n° 45/2004, o Su-
018 - (DPE/GO - Defensor Público - UFG/2014) A premo Tribunal Federal entendia que os tratados interna-
Constituição Federal de 1988 é conhecida como a “Cons- cionais de direitos humanos possuíam status supralegal.
tituição Cidadã” em função de seu vasto rol de direitos e
garantias fundamentais. Nesse sentido,

97
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

R: Os tratados de direitos humanos, a partir da Emenda R: E. “A” está incorreta porque o habeas corpus cabe
Constitucional n° 45/04, cumpridas as condições do artigo “sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de so-
5°, §3° são considerados como emendas constitucionais. No frer violência ou coação em sua liberdade de locomoção,
mais, o Supremo Tribunal Federal decidiu no dia 05 de de- por ilegalidade ou abuso de poder” (artigo 5º, LXVIII, CF);
zembro de 2008, após a Emenda Constitucional nº 45/2004, “B” está incorreta porque “o preso será informado de seus
que é ilegal a prisão civil do depositário infiel, utilizando-se direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
da tese de que os tratados de direitos humanos têm status assegurada a assistência da família e de advogado” (arti-
supralegal, ou seja, encontram-se acima das leis ordinárias, go 5º, LXIII, CF), logo, assegura-se a assistência da família
porém abaixo da Constituição Federal. Neste sentido, a sú- mas não a remoção do estabelecimento; “C” está errada
mula vinculante n° 25 e Habeas Corpus n° 87.585-8/TO. porque “o preso tem direito à identificação dos responsá-
veis por sua prisão ou por seu interrogatório policial” (arti-
020 - (TRT/18ª REGIÃO/GO - Juiz do Trabalho - go 5º, LXIV, CF), regra que vale mesmo nos crimes inafian-
FCC/2014) O exercício do direito de greve pelos servidores çáveis pois a Constituição não cria exceção; “D” está errada
públicos civis da Administração direta porque a comunicação ao juiz é imediata (artigo 5º, LXII,
A) deve ser considerado inconstitucional, até que seja CF) e não no primeiro dia útil. Somente resta a alternativa
editada a lei definidora dos termos e limites em que possa “E”, que traz o teor do artigo 5º, LXVI, CF: “ninguém será
ser exercido, a fim de preservar a continuidade da prestação levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a
dos serviços públicos. liberdade provisória, com ou sem fiança”.
B) deve ser considerado abusivo se exercido por servi-
dores públicos em estágio probatório. 022 - (PC/SP - Delegado de Polícia - VUNESP/2014)
C) é constitucional, visto que previsto em norma da É privativo de brasileiro nato o cargo de
constituição federal com aplicabilidade imediata, não ne- A) Ministro do Supremo Tribunal Federal.
cessitando de regulamentação, nem de integração normati- B) Senador.
va, para que o direito nela previsto possa ser exercido. C) Juiz de Direito.
D) é constitucional, devendo, no entanto, observar a D) Delegado de Polícia.
regulamentação legislativa da greve dos trabalhadores em E) Deputado Federal.
geral, que se aplica, naquilo que couber, aos servidores pú-
blicos enquanto não for promulgada lei específica para o R: A. Conforme disciplina o artigo 12, § 3º, CF, “São pri-
exercício desse direito. vativos de brasileiro nato os cargos: I - de Presidente e
E) é constitucional e poderá ensejar convenção coletiva Vice-Presidente da República; II - de Presidente da Câmara
em que seja prevista a majoração dos vencimentos dos ser- dos Deputados; III - de Presidente do Senado Federal; IV -
vidores públicos. de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V - da carreira
diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas; VII - de Mi-
R: D. A greve é um direito do servidor público, previsto nistro de Estado da Defesa”. O motivo da vedação é que em
no inciso VII do artigo 37 da Constituição Federal de 1988, determinadas circunstâncias o Ministro do Supremo Tribu-
portanto, trata-se de um direito constitucional. Nesse sen- nal Federal pode assumir substitutivamente a Presidência
tido já decidiu o Superior Tribunal de Justiça ao julgar o re- da República.
curso no Mandado de Segurança nº 2.677, que, em suas
razões, aduziu que “o servidor público, independente da lei 023 - (PC/SP - Investigador de Polícia - VU-
complementar, tem o direito público, subjetivo, constitucio- NESP/2014) Considerando o disposto na Constituição Fe-
nalizado de declarar greve”. Esse direito abrange o servidor deral sobre os direitos e garantias fundamentais, assinale a
público em estágio probatório, não podendo ser penalizado alternativa correta.
pelo exercício de um direito constitucionalmente garantido. A) Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas,
em locais abertos ao público, desde que obtida prévia au-
021 - (PC/SP - Delegado de Polícia - VUNESP/2014) torização do delegado de polícia e não frustrem outra reu-
Quanto às garantias constitucionais e à privação da liberda- nião anteriormente convocada para o mesmo local
de, assinale a alternativa correta. B) É reconhecida a instituição do júri, com a organi-
A) Conceder-se-á habeas corpus sempre que a lei admi- zação que lhe der a lei, assegurada a competência para o
tir a liberdade provisória. julgamento dos crimes dolosos e culposos contra a vida.
B) O preso será informado de seus direitos, dentre os C) A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis
quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a re- de graça ou anistia, entre outros, a prática da tortura e o
moção para estabelecimento perto de sua família. tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins
C) O preso tem direito à identificação dos responsáveis D) É inviolável o sigilo da correspondência e das co-
por sua prisão ou por seu interrogatório policial, exceto nos municações telegráficas, de dados e das comunicações te-
crimes inafiançáveis. lefônicas, salvo, no último caso, por ordem do juiz ou do
D) A prisão de qualquer pessoa e o local onde se en- promotor de justiça, na forma da lei.
contre serão comunicados no primeiro dia útil ao juiz com- E) A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
petente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada. podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo
E) Ninguém será levado à prisão ou nela mantido quan- em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
do a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança. socorro, ou, durante à noite, por determinação judicial.

98
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

R: C. “A” está incorreta porque a autorização é dispen- este que estava localizado em sua sede. Na mesma deci-
sada (artigo 5º, XVI, CF); “B” porque o júri não julga crimes são, o juiz autorizou o uso de força policial, se necessário
culposos contra a vida, só dolosos (artigo 5º, XXXVIII, CF); fosse, para que o oficial de justiça ingressasse no imóvel da
“D” porque a ordem deve ser judicial e não pode partir do devedora. Munido dessa decisão, o oficial de justiça com-
Ministério Público (artigo 5º, XII, CF); “E” porque o ingresso pareceu à sede da empresa, mas foi impedido de ingressar
por determinação judicial se dá durante o dia (artigo 5º, no imóvel pelo responsável. Diante dessa situação, o oficial
XI, CF). Somente resta “C”, que traz a previsão do artigo 5º, de justiça.
XLIII, CF: “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetí- A) não poderá ingressar no imóvel sem autorização do
veis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito proprietário, ainda que autorizado por ordem judicial, em
de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos razão do direito à inviolabilidade de domicílio.
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandan- B) não poderá ingressar no imóvel sem autorização do
tes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”. proprietário, o que poderia ser feito apenas se determina-
do por ordem expressa de delegado de polícia.
024 - (TJ/DF - Juiz - CESPE/2014) A respeito dos di- C) poderá ingressar no imóvel, mesmo sem autorização
reitos e garantias fundamentais, dos direitos sociais e dos do proprietário, em qualquer horário, independentemente
direitos políticos, assinale a opção correta. de autorização judicial, uma vez que o direito à inviolabili-
A) Caso determinado trabalhador rural ajuíze ação vi- dade de domicílio não se aplica à pessoa jurídica.
sando obter provimento que lhe assegure o recebimento da D) poderá ingressar no imóvel, mesmo sem autoriza-
remuneração pelo trabalho noturno superior à remunera- ção do proprietário, em qualquer horário, visto que autori-
ção do trabalho diurno, o juiz deverá rejeitar o pedido, pois zado por decisão judicial
a CF não conferiu ao trabalhador rural o direito postulado. E) poderá ingressar no imóvel, mesmo sem autorização
B) Embora a CF estabeleça a inviolabilidade do sigilo do proprietário, e desde que durante o dia, visto que auto-
das comunicações telefônicas, o juiz poderá, de ofício, de- rizado por decisão judicial.
terminar a interceptação de comunicação telefônica na in-
vestigação criminal e na instrução processual penal. R: E. Neste sentido, o artigo 5º, XI, CF prevê: “a casa é
C) Caso tenha sido impetrado habeas corpus cujo ob- asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo pe-
jeto seja o indevido cerceamento pelo poder público do di- netrar sem consentimento do morador, salvo em caso de
reito de reunião, o juiz deverá admitir a ação, uma vez que flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou,
se trata de instrumento adequado à proteção do direito de durante o dia, por determinação judicial”.
reunião.
D) Se determinada associação impetrar mandado de 026 - (Prefeitura de Recife/PE - Procurador -
segurança coletivo para defesa de interesses de seus asso- FCC/2014) A Emenda Constitucional nº 72, promulgada
ciados, mas não juntar a autorização destes nos autos, o juiz em 2 de abril de 2013, tem por finalidade estabelecer a
deverá denegar a segurança, pois a CF exige expressamente igualdade de direitos entre os trabalhadores domésticos e
a autorização dos filiados. os demais trabalhadores urbanos e rurais. Nos termos de
E) O juiz deverá rejeitar a ação rescisória ajuizada para suas disposições, a Emenda
fins de reaquisição dos direitos políticos se a perda decor- A) determinou a extensão ao trabalhador doméstico,
rer do cancelamento da naturalização por sentença judicial dentre outros, dos direitos à remuneração do serviço ex-
transitada em julgado, por se tratar de instrumento proces- traordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento a
sual descabido para a finalidade pretendida. do normal e à proteção do mercado de trabalho da mulher,
mediante incentivos específicos.
R: B. Quanto ao sigilo de correspondência e das comu- B) instituiu vedação ao legislador para conferir tra-
nicações, prevê o artigo 5º, XII, CF: “XII - é inviolável o si- tamento diferenciado aos trabalhadores domésticos, em
gilo da correspondência e das comunicações telegráficas, relação aos trabalhadores urbanos e rurais.
de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último C) não determinou a extensão ao trabalhador domés-
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a tico, dentre outros, dos direitos à proteção em face da au-
lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instru- tomação e à proteção do mercado de trabalho da mulher,
ção processual penal”. O sigilo de correspondência e das mediante incentivos específicos.
comunicações está melhor regulamentado na Lei nº 9.296, D) determinou a extensão ao trabalhador doméstico,
de 1996, mas a Constituição já deixa claro que é possível a dentre outros, dos direitos à proteção em face da automa-
quebra mediante ordem judicial, razão pela qual “B” está ção e ao piso salarial proporcional à extensão e à comple-
correta. xidade do trabalho.
E) não determinou a extensão ao trabalhador domés-
025 - (TRT 19ª Região/AL - Analista Judiciário - Ofi- tico, dentre outros, dos direitos à remuneração do serviço
cial de Justiça Avaliador - FCC/2014) Em um processo de extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cen-
execução e em atenção a requerimento formulado pelo cre- to a do normal e ao piso salarial proporcional à extensão e
dor, foi proferida decisão judicial determinando a expedição à complexidade do trabalho.
de mandado de penhora e avaliação de máquina industrial
pertencente à empresa executada-devedora, equipamento

99
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

R: C. A Emenda Constitucional nº 72/2013, que ficou R: B. Trata-se do direito individual assegurado no ar-
conhecida no curso de seu processo de votação como PEC tigo 5º, XLV, CF: “nenhuma pena passará da pessoa do
das domésticas, deu redação ao parágrafo único do ar- condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
tigo 7º, o qual estende alguns dos direitos enumerados decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
nos incisos do caput para a categoria dos trabalhadores estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o
domésticos, quais sejam: “IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, limite do valor do patrimônio transferido”. Logo, a obri-
XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, gação se transfere nos limites da herança, sendo que em
atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a eventual sucessão se apurará no patrimônio do falecido o
simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, suficiente para pagamento da reparação do dano e, even-
principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho tual saldo remanescente, será transmitido aos herdeiros.
e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX,
XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência 029 - (PC/MG - Investigador de Polícia - FU-
social”. Os direitos descritos na alternativa “C” estão pre- MARC/2014) Sobre a Lei Penal, é CORRETO afirmar que
vistos nos incisos XXVII e XX do artigo 7º da Constituição, A) não retroage, salvo para beneficiar o réu.
não estendidos aos empregados domésticos pela emenda. B) não retroage, salvo se o fato criminoso ainda não
for conhecido.
027 - (Prefeitura de Recife/PE - Procurador- C) retroage, salvo disposição expressa em contrário.
FCC/2014) O texto constitucional assegura gratuidade D) retroage, se ainda não houver processo penal ins-
A) à obtenção de certidão de óbito pelos reconhecida- taurado.
mente pobres e, às ações de habeas data, habeas corpus e
mandado de injunção. R: A. Preconiza o artigo 5º, XL, CF: “XL - a lei penal
B) ao transporte coletivo urbano para pessoas maiores não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. Assim, se vier
de sessenta anos e, na forma da lei, aos atos necessários uma lei posterior ao fato que o exclua do rol de crimes ou
ao exercício da cidadania. que confira tratamento mais benéfico (diminuindo a pena
C) ao transporte coletivo urbano para pessoas maiores ou alterando o regime de cumprimento, notadamente), ela
de sessenta anos e às ações de habeas corpus e habeas será aplicada.
data.
D) ao casamento religioso e às ações de habeas data, 030 - (PC/MG - Investigador de Polícia - FU-
habeas corpus e mandado de injunção. MARC/2014) Sobre as garantias fundamentais estabeleci-
E) à obtenção de certidão de óbito pelos reconhecida- das na Constituição Federal, é CORRETO afirmar que
mente pobres e, na forma da lei, aos atos necessários ao A) a Lei Penal é sempre irretroativa.
exercício da cidadania. B) a prática do racismo constitui crime inafiançável e
imprescritível.
R: E. Prevê o artigo 5º, LXXVI, CF: “LXXVI - são gratui- C) não haverá pena de morte em nenhuma circuns-
tos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei: tância.
a) o registro civil de nascimento; b) a certidão de óbito”. D) os templos religiosos, entendidos como casas de
Ainda, o artigo 5º, LXXVII, CF: “são gratuitas as ações de Deus, possuem garantia de inviolabilidade domiciliar.
habeas corpus e habeas data, e, na forma da lei, os atos
necessários ao exercício da cidadania”. R: B. Neste sentido, prevê o artigo 5º, XLII, CF: “XLII
- a prática do racismo constitui crime inafiançável e im-
028 - (PC/MG - Investigador de Polícia - FU- prescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da
MARC/2014) Quanto aos princípios constitucionais de lei”, restando “B” correta. “A” é incorreta porque a lei penal
natureza penal, NÃO é correto o que se afirma em: retroage para beneficiar o réu; “C” é incorreta porque é
A) As penas no Brasil têm caráter preventivo e retri- aceita a pena de morte para os crimes militares praticados
butivo. em tempo de guerra; “D” é incorreta porque igrejas não
B) A obrigação de reparar o dano produzido pelo cri- possuem inviolabilidade domiciliar.
me não pode se estender aos familiares do preso, sob for-
ma de sucessão.
C) O princípio constitucional da responsabilidade pes-
soal significa que a pena não pode passar da pessoa do
condenado.
D) O princípio da proporcionalidade significa que
a pena deve ser proporcional ao crime, ou seja, guardar
equilíbrio entre a infração praticada e a sanção imposta.

100
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

ANOTAÇÕES

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101
NOÇÕES DE IGUALDADE RACIAL E DE GÊNERO

ANOTAÇÕES

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102
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Linguagem, texto e contexto nos signos verbais e não-verbais. .......................................................................................................... 01


A intermediação entre linguagem verbal e não verbal no processo de constituição do texto/discurso. ............................ 13
A linguagem das ciências e das artes e seu entendimento como chaves à compreensão do mundo e da
sociedade..................................................................................................................................................................................................18
A linguagem das ciências humanas no processo de formação das dimensões estéticas, éticas e políticas do atributo
exclusivo do ser humano. ..................................................................................................................................................................................... 23
A linguagem das ciências e das artes e as implicações ao pensar filosófico, a partir do Renascimento. ............................ 26
As linguagens das ciências, das artes e da matemática: sua conexão com a compreensão/interpretação de fenômenos
nas diferentes áreas das relações humanas com a natureza e com a vida social. ......................................................................... 29
As linguagens das ciências e das artes e sua relação com a comunicação humana. ................................................................... 29
O significado social e cultural das linguagens das artes e das ciências – naturais e humanas – e suas tecnologias. ..... 29
As linguagens como instrumentos de produção de sentido e, ainda, de acesso ao próprio conhecimento, sua organização
e sistematização........................................................................................................................................................................................................ 29
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

fala está sempre condicionada pelas regras socialmente


LINGUAGEM, TEXTO E CONTEXTO NOS estabelecidas da língua, mas é suficientemente ampla para
SIGNOS VERBAIS E NÃO-VERBAIS. permitir um exercício criativo da comunicação. Um indiví-
duo pode pronunciar um enunciado da seguinte maneira:

A família de Regina era paupérrima.


Linguagem é a capacidade que possuímos de expres-
sar nossos pensamentos, ideias, opiniões e sentimentos. Outro, no entanto, pode optar por:
Está relacionada a fenômenos comunicativos; onde há co-
municação, há linguagem. Podemos usar inúmeros tipos A família de Regina era muito pobre.
de linguagens para estabelecermos atos de comunicação, As diferenças e semelhanças constatadas devem-se
tais como: sinais, símbolos, sons, gestos e regras com sinais às diversas manifestações da fala de cada um. Note, além
convencionais (linguagem escrita e linguagem mímica, por disso, que essas manifestações devem obedecer às regras
exemplo). Num sentido mais genérico, a linguagem pode gerais da língua portuguesa, para não correrem o risco de
ser classificada como qualquer sistema de sinais que se va- produzir enunciados incompreensíveis como:
lem os indivíduos para comunicar-se.
A linguagem pode ser: Família a paupérrima de era Regina.

- Verbal: aquela que faz uso das palavras para comu- Não devemos confundir língua com escrita, pois são
nicar algo. dois meios de comunicação distintos. A escrita represen-
ta um estágio posterior de uma língua. A língua falada
é mais espontânea, abrange a comunicação linguística em
toda sua totalidade. Além disso, é acompanhada pelo tom
de voz, algumas vezes por mímicas, incluindo-se fisiono-
mias. A língua escrita não é apenas a representação da lín-
gua falada, mas sim um sistema mais disciplinado e rígido,
uma vez que não conta com o jogo fisionômico, as mímicas
As figuras acima nos comunicam sua mensagem atra- e o tom de voz do falante. No Brasil, por exemplo, todos
vés da linguagem verbal (usa palavras para transmitir a in- falam a língua portuguesa, mas existem usos diferentes da
formação). língua devido a diversos fatores. Dentre eles, destacam-se:
- Fatores Regionais: é possível notar a diferença do
português falado por um habitante da região nordeste e
- Não Verbal: aquela que utiliza outros métodos de
outro da região sudeste do Brasil. Dentro de uma mesma
comunicação, que não são as palavras. Dentre elas estão a
região, também há variações no uso da língua. No estado
linguagem de sinais, as placas e sinais de trânsito, a lingua-
do Rio Grande do Sul, por exemplo, há diferenças entre a
gem corporal, uma figura, a expressão facial, um gesto, etc.
língua utilizada por um cidadão que vive na capital e aque-
la utilizada por um cidadão do interior do estado.
- Fatores Culturais: o grau de escolarização e a for-
mação cultural de um indivíduo também são fatores que
colaboram para os diferentes usos da língua. Uma pessoa
escolarizada utiliza a língua de uma maneira diferente da
pessoa que não teve acesso à escola.
- Fatores Contextuais: nosso modo de falar varia de
acordo com a situação em que nos encontramos: quando
Essas figuras fazem uso apenas de imagens para co- conversamos com nossos amigos, não usamos os termos
municar o que representam. que usaríamos se estivéssemos discursando em uma sole-
nidade de formatura.
A Língua é um instrumento de comunicação, sendo - Fatores Profissionais: o exercício de algumas ativi-
composta por regras gramaticais que possibilitam que de- dades requer o domínio de certas formas de língua chama-
terminado grupo de falantes consiga produzir enunciados das línguas técnicas. Abundantes em termos específicos,
que lhes permitam comunicar-se e compreender-se. Por essas formas têm uso praticamente restrito ao intercâmbio
exemplo: falantes da língua portuguesa. técnico de engenheiros, químicos, profissionais da área de
A língua possui um caráter social: pertence a todo um direito e da informática, biólogos, médicos, linguistas e ou-
conjunto de pessoas, as quais podem agir sobre ela. Cada tros especialistas.
membro da comunidade pode optar por esta ou aquela - Fatores Naturais: o uso da língua pelos falantes
forma de expressão. Por outro lado, não é possível criar sofre influência de fatores naturais, como idade e sexo.
uma língua particular e exigir que outros falantes a com- Uma criança não utiliza a língua da mesma maneira que
preendam. Dessa forma, cada indivíduo pode usar de ma- um adulto, daí falar-se em linguagem infantil e linguagem
neira particular a língua comunitária, originando a fala. A adulta.

1
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Fala Signo: elemento representativo que possui duas par-


tes indissolúveis: significado e significante. Significado (é o
É a utilização oral da língua pelo indivíduo. É um ato in- conceito, a ideia transmitida pelo signo, a parte abstrata
dividual, pois cada indivíduo, para a manifestação da fala, do signo) + Significante (é a imagem sonora, a forma, a
pode escolher os elementos da língua que lhe convém, parte concreta do signo, suas letras e seus fonemas).
conforme seu gosto e sua necessidade, de acordo com a
situação, o contexto, sua personalidade, o ambiente socio- Língua: conjunto de sinais baseado em palavras que
cultural em que vive, etc. Desse modo, dentro da unidade obedecem às regras gramaticais.
da língua, há uma grande diversificação nos mais variados
Fala: uso individual da língua, aberto à criatividade e ao
níveis da fala. Cada indivíduo, além de  conhecer o que
desenvolvimento da liberdade de expressão e compreensão.
fala, conhece também o que os outros falam; é por isso
que somos capazes de dialogar com pessoas dos mais va- COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
riados graus de cultura, embora nem sempre a linguagem
delas seja exatamente como a nossa.  Texto Literário: expressa a opinião pessoal do autor
Devido ao caráter individual da fala, é possível obser- que também é transmitida através de figuras, impregnado
var alguns níveis: de subjetivismo. Ex: um romance, um conto, uma poesia...
(Conotação, Figurado, Subjetivo, Pessoal).
- Nível Coloquial-Popular: é a fala que a maioria das
pessoas utiliza no seu dia a dia, principalmente em situa- Texto Não-Literário: preocupa-se em transmitir uma
ções informais. Esse nível da fala é mais espontâneo, ao mensagem da forma mais clara e objetiva possível. Ex:
utilizá-lo, não nos preocupamos em saber se falamos de uma notícia de jornal, uma bula de medicamento. (Deno-
acordo ou não com as regras formais estabelecidas pela tação, Claro, Objetivo, Informativo).
língua. O objetivo do texto é passar conhecimento para o lei-
tor. Nesse tipo textual, não se faz a defesa de uma ideia.
- Nível Formal-Culto: é o nível da fala normalmente Exemplos de textos explicativos são os encontrados em
utilizado pelas pessoas em situações formais. Caracteriza- manuais de instruções.
se por um cuidado maior com o vocabulário e pela obe-
Informativo: Tem a função de informar o leitor a res-
diência às regras gramaticais estabelecidas pela língua.
peito de algo ou alguém, é o texto de uma notícia de
jornal, de revista, folhetos informativos, propagandas. Uso
Signo da função referencial da linguagem, 3ª pessoa do singular.
É um elemento representativo que apresenta dois as- Descrição: Um texto em que se faz um retrato por
pectos: o significado e o significante. Ao escutar a pa- escrito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um obje-
lavra “cachorro”, reconhecemos a sequência de sons que to. A classe de palavras mais utilizada nessa produção é o
formam essa palavra. Esses sons se identificam com a lem- adjetivo, pela sua função caracterizadora. Numa aborda-
brança deles que está em nossa memória. Essa lembrança gem mais abstrata, pode-se até descrever sensações ou
constitui uma real imagem sonora, armazenada em nosso sentimentos. Não há relação de anterioridade e posterio-
cérebro que é o significante do signo “cachorro”. Quan- ridade. Significa “criar” com palavras a imagem do objeto
do escutamos essa palavra, logo pensamos em um ani- descrito. É fazer uma descrição minuciosa do objeto ou da
mal irracional de quatro patas, com pelos, olhos, orelhas, personagem a que o texto se refere.
etc. Esse conceito que nos vem à mente é o significado do
signo “cachorro” e também se encontra armazenado em Narração: Modalidade em que se conta um fato, fic-
nossa memória. tício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu-
Ao empregar os signos que formam a nossa língua, gar, envolvendo certos personagens. Refere-se a objetos
do mundo real. Há uma relação de anterioridade e pos-
devemos obedecer às regras gramaticais convencionadas
terioridade. O tempo verbal predominante é o passado.
pela própria língua. Desse modo, por exemplo, é possível
Estamos cercados de narrações desde as que nos contam
colocar o artigo indefinido “um” diante do signo “cachor- histórias infantis, como o “Chapeuzinho Vermelho” ou a
ro”, formando a sequência “um cachorro”, o mesmo não “Bela Adormecida”, até as picantes piadas do cotidiano.
seria possível se quiséssemos colocar o artigo “uma” dian-
te do signo “cachorro”. A sequência “uma cachorro” con- Dissertação: Dissertar é o mesmo que desenvolver
traria uma regra de concordância da língua portuguesa, ou explicar um assunto, discorrer sobre ele. Assim, o tex-
o que faz com que essa sentença seja rejeitada. Os signos to dissertativo pertence ao grupo dos textos expositivos,
que constituem a língua obedecem a padrões determina- juntamente com o texto de apresentação científica, o re-
dos de organização. O conhecimento de uma língua en- latório, o texto didático, o artigo enciclopédico. Em princípio,
globa tanto a identificação de seus signos, como também o texto dissertativo não está preocupado com a persuasão
o uso adequado de suas regras combinatórias. e sim, com a transmissão de conhecimento, sendo, portanto,
um texto informativo.

2
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Argumentativo: Os textos argumentativos, ao contrário, enunciado curto que chama a atenção do leitor e resume a
têm por finalidade principal persuadir o leitor sobre o ponto ideia básica da entrevista. Pode estar todo em letra maiús-
de vista do autor a respeito do assunto. Quando o texto, além cula e recebe maior destaque da página. Na maioria dos
de explicar, também persuade o interlocutor e modifica seu casos, apenas as preposições ficam com a letra minúscu-
comportamento, temos um texto dissertativo-argumentativo. la. O subtítulo introduz o objetivo principal da entrevista
Exemplos: texto de opinião, carta do leitor, carta de soli- e não vem seguido de ponto final. É um pequeno texto e
citação, deliberação informal, discurso de defesa e acusação vem em destaque também. A fotografia do entrevistado
(advocacia), resenha crítica, artigos de opinião ou assinados, aparece normalmente na primeira página da entrevista e
editorial. pode estar acompanhada por uma frase dita por ele. As
frases importantes ditas pelo entrevistado e que aparecem
Exposição: Apresenta informações sobre assuntos, ex- em destaque nas outras páginas da entrevista são chama-
põe ideias; explica, avalia, reflete. (analisa ideias). Estrutura das de “olho”.
básica; ideia principal; desenvolvimento; conclusão. Uso de
linguagem clara. Ex: ensaios, artigos científicos, exposições Crônica: Assim como a fábula e o enigma, a crônica é
etc. um gênero narrativo. Como diz a origem da palavra (Cro-
nos é o deus grego do tempo), narra fatos históricos em
Injunção: Indica como realizar uma ação. É também ordem cronológica, ou trata de temas da atualidade. Mas
utilizado para predizer acontecimentos e comportamentos. não é só isso. Lendo esse texto, você conhecerá as princi-
Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos são, na sua pais características da crônica, técnicas de sua redação e
maioria, empregados no modo imperativo. Há também o terá exemplos.
uso do futuro do presente. Ex: Receita de um bolo e ma- Uma das mais famosas crônicas da história da literatu-
nuais. ra luso-brasileira corresponde à definição de crônica como
“narração histórica”. É a “Carta de Achamento do Brasil”, de
Diálogo: é uma conversação estabelecida entre duas Pero Vaz de Caminha”, na qual são narrados ao rei portu-
ou mais pessoas. Pode conter marcas da linguagem oral, guês, D. Manuel, o descobrimento do Brasil e como foram
como pausas e retomadas. os primeiros dias que os marinheiros portugueses passa-
ram aqui. Mas trataremos, sobretudo, da crônica como
Entrevista: é uma conversação entre duas ou mais gênero que comenta assuntos do dia a dia. Para começar,
pessoas (o entrevistador e o entrevistado), na qual pergun- uma crônica sobre a crônica, de Machado de Assis:
tas são feitas pelo entrevistador para obter informação do
entrevistado. Os repórteres entrevistam as suas fontes para O nascimento da crônica
obter declarações que validem as informações apuradas
ou que relatem situações vividas por personagens. Antes “Há um meio certo de começar a crônica por uma tri-
de ir para a rua, o repórter recebe uma pauta que contém vialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se
informações que o ajudarão a construir a matéria. Além das isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro,
informações, a pauta sugere o enfoque a ser trabalhado ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do
assim como as fontes a serem entrevistadas. Antes da en- calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas con-
trevista o repórter costuma reunir o máximo de informa- jeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela,
ções disponíveis sobre o assunto a ser abordado e sobre manda-se um suspiro a Petrópolis, e la glace est rompue
a pessoa que será entrevistada. Munido deste material, ele está começada a crônica. (...)
formula perguntas que levem o entrevistado a fornecer in- (Machado de Assis. “Crônicas Escolhidas”. São Pau-
formações novas e relevantes. O repórter também deve ser lo: Editora Ática, 1994)
perspicaz para perceber se o entrevistado mente ou mani-
pula dados nas suas respostas, fato que costuma acontecer Publicada em jornal ou revista onde é publicada, desti-
principalmente com as fontes oficiais do tema. Por exem- na-se à leitura diária ou semanal e trata de acontecimentos
plo, quando o repórter vai entrevistar o presidente de uma cotidianos. A crônica se diferencia no jornal por não buscar
instituição pública sobre um problema que está a afetar o exatidão da informação. Diferente da notícia, que procura
fornecimento de serviços à população, ele tende a evitar as relatar os fatos que acontecem, a crônica os analisa, dá-
perguntas e a querer reverter a resposta para o que con- lhes um colorido emocional, mostrando aos olhos do leitor
sidera positivo na instituição. É importante que o repórter uma situação comum, vista por outro ângulo, singular.
seja insistente. O entrevistador deve conquistar a confiança O leitor pressuposto da crônica é urbano e, em princí-
do entrevistado, mas não tentar dominá-lo, nem ser por ele pio, um leitor de jornal ou de revista. A preocupação com
dominado. Caso contrário, acabará induzindo as respostas esse leitor é que faz com que, dentre os assuntos tratados,
ou perdendo a objetividade. o cronista dê maior atenção aos problemas do modo de
As entrevistas apresentam com frequência alguns si- vida urbano, do mundo contemporâneo, dos pequenos
nais de pontuação como o ponto de interrogação, o tra- acontecimentos do dia a dia comuns nas grandes cidades.
vessão, aspas, reticências, parêntese e as vezes colchetes,
que servem para dar ao leitor maior informações que ele
supostamente desconhece. O título da entrevista é um

3
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Jornalismo e literatura: É assim que podemos dizer que Ler é armazenar informações; desenvolver; ampliar ho-
a crônica é uma mistura de jornalismo e literatura. De um rizontes; compreender o mundo; comunicar-se melhor;
recebe a observação atenta da realidade cotidiana e do escrever melhor; relacionar-se melhor com o outro.
outro, a construção da linguagem, o jogo verbal. Algumas
crônicas são editadas em livro, para garantir sua durabili- Pré-Leitura
dade no tempo. Nome do livro
Autor
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Dados Bibliográficos
Prefácio e Índice 
O primeiro passo para interpretar um texto consiste Prólogo e Introdução
em decompô-lo, após uma primeira leitura, em suas “ideias
básicas ou ideias núcleo”, ou seja, um trabalho analítico O primeiro passo é memorizar o nome do autor e a
buscando os conceitos definidores da opinião explicitada edição do livro, fazer um folheio sistemático: ler o prefá-
pelo autor. Esta operação fará com que o significado do cio e o índice (ou sumário), analisar um pouco da história
texto “salte aos olhos” do leitor. Ler é uma atividade muito que deu origem ao livro, ver o número da edição e o ano
mais complexa do que a simples interpretação dos símbo- de publicação. Se falarmos em ler um Machado de Assis,
los gráficos, de códigos,  requer que o indivíduo seja capaz um Júlio Verne, um Jorge Amado, já estaremos saben-
de interpretar o material lido, comparando-o e incorporan- do muito sobre o livro. É muito importante verificar es-
do-o à sua bagagem pessoal, ou seja, requer que o indiví- tes dados para enquadrarmos o livro na cronologia dos
duo mantenha um comportamento ativo diante da leitura. fatos e na atualidade das informações que ele contém. 
Verifique detalhes que possam contribuir para a coleta
Os diferentes níveis de leitura do maior número de informações possível. Tudo isso vai
ser útil quando formos arquivar os dados lidos no nosso
Para que isso aconteça, é necessário que haja matu-
arquivo mental. A propósito, você sabe o que seja um
ridade para a compreensão do material lido, senão tudo
prólogo, um prefácio e uma introdução? Muita gente
cairá no esquecimento ou ficará armazenado em nossa
pensa que os três são a mesma coisa, mas não:
memória sem uso, até que tenhamos condições cognitivas
Prólogo: é um comentário feito pelo autor a respeito
para utilizar.
do tema e de sua experiência pessoal.
De uma forma geral, passamos por diferentes níveis ou
Prefácio: é escrito por terceiros ou pelo próprio au-
etapas até termos condições de aproveitar totalmente o
tor, referindo-se ao tema abordado no livro e muitas ve-
assunto lido. Essas etapas ou níveis são cumulativas e vão
zes também tecendo comentários sobre o autor.
sendo adquiridas pela vida, estando presente em pratica-
Introdução: escrita também pelo autor, referindo-se
mente toda a nossa leitura.
ao livro e não ao tema.
O Primeiro Nível é elementar e diz respeito ao perío- O segundo passo é fazer uma leitura superficial. Po-
do de alfabetização. Ler é uma capacidade cerebral muito de-se, nesse caso, aplicar as técnicas da leitura dinâmica.
sofisticada e requer experiência: não basta apenas conhe-
cermos os códigos, a gramática, a semântica, é preciso que O Terceiro Nível é conhecido como analítico. Depois
tenhamos um bom domínio da língua. de vasculharmos bem o livro na pré-leitura, analisamos
o livro. Para isso, é imprescindível que saibamos em qual
O Segundo Nível é a pré-leitura ou leitura inspecional. gênero o livro se enquadra: trata-se de um romance, um
Tem duas funções específicas: primeiro, prevenir para que a tratado, um livro de pesquisa e, neste caso, existe apenas
leitura posterior não nos surpreenda e, sendo, para que te- teoria ou são inseridas práticas e exemplos. No caso de
nhamos chance de escolher qual material leremos, efetiva- ser um livro teórico, que requeira memorização, procure
mente. Trata-se, na verdade, de nossa primeira impressão criar imagens mentais sobre o assunto, ou seja, veja, real-
sobre o livro. É a leitura que comumente desenvolvemos mente, o que está lendo, dando vida e muita criatividade
“nas livrarias”. Nela, por meio do salteio de partes, respon- ao assunto.  Note bem: a leitura efetiva vai acontecer
dem basicamente às seguintes perguntas: nesta fase, e a primeira coisa a fazer é ser capaz de re-
- Por que ler este livro? sumir o assunto do livro em duas frases. Já temos algum
- Será uma leitura útil? conteúdo para isso, pois o encadeamento das ideias já é
- Dentro de que contexto ele poderá se enquadrar? de nosso conhecimento. Procure, agora, ler bem o livro,
do início ao fim. Esta é a leitura efetiva, aproveite bem
Essas perguntas devem ser revistas durante as etapas este momento. Fique atento! Aproveite todas as infor-
que se seguem, procurando usar de imparcialidade quanto mações que a pré-leitura ofereceu. Não pare a leitura
ao ponto de vista do autor, e o assunto, evitando precon- para buscar significados de palavras em dicionários ou
ceitos. Se você se propuser a ler um livro sem interesse, sublinhar textos, isto será feito em outro momento.
com olhar crítico, rejeitando-o antes de conhecê-lo, prova-
velmente o aproveitamento será muito baixo.

4
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

O Quarto Nível de leitura é o denominado de con- buscando os conceitos definidores da opinião explicitada
trole. Trata-se de uma leitura com a qual vamos efeti- pelo autor. Esta operação fará com que o significado do
vamente acabar com qualquer dúvida que ainda persis- texto “salte aos olhos” do leitor. Exemplo:
ta. Normalmente, os termos desconhecidos de um texto
são explicitados  neste próprio texto, à medida que vamos “Incalculável é a contribuição do famoso neurologista
adiantando a leitura. Um mecanismo psicológico fará com austríaco no tocante aos estudos sobre a formação da per-
que fiquemos com aquela dúvida incomodando-nos até sonalidade humana. Sigmund Freud (1859-1939) conseguiu
que tenhamos a resposta. Caso não haja explicação no acender luzes nas camadas mais profundas da psique hu-
texto, será na etapa do controle que lançaremos mão do mana: o inconsciente e subconsciente. Começou estudando
dicionário. casos clínicos de comportamentos anômalos ou patológicos,
Veja bem: a esta altura já conhecemos bem o livro e com a ajuda da hipnose e em colaboração com os colegas
o ato de interromper a leitura não vai fragmentar a com- Joseph Breuer e Martin Charcot (Estudos sobre a histeria,
preensão do assunto como um todo. Será, também, nessa 1895). Insatisfeito com os resultados obtidos pelo hipnotis-
etapa que sublinharemos os tópicos importantes, se neces- mo, inventou o método que até hoje é usado pela psicaná-
sário. Para ressaltar trechos importantes opte por um sinal
lise: o das ‘livres associações’ de ideias e de sentimentos, es-
discreto próximo a eles, visando principalmente a marcar
timuladas pela terapeuta por palavras dirigidas ao paciente
o local do texto em que se encontra, obrigando-o a fixar a
com o fim de descobrir a fonte das perturbações mentais.
cronologia e a sequência deste fato importante, situando-o
Para este caminho de regresso às origens de um trauma,
no livro.
Aproveite bem esta etapa de leitura. Para auxiliar no Freud se utilizou especialmente da linguagem onírica dos
estudo, é interessante que, ao final da leitura de cada capí- pacientes, considerando os sonhos como compensação dos
tulo, você faça um breve resumo com suas próprias pala- desejos insatisfeitos na fase de vigília.
vras de tudo o que foi lido. Mas a grande novidade de Freud, que escandalizou o
mundo cultural da época, foi a apresentação da tese de que
Um Quinto Nível pode ser opcional: a etapa da re- toda neurose é de origem sexual.”
petição aplicada. Quando lemos, assimilamos o conteú- (Salvatore D’Onofrio)
do do texto, mas aprendizagem efetiva vai requerer que
tenhamos prática, ou seja, que tenhamos experiência do Primeiro Conceito do Texto: “Incalculável é a contribui-
que foi lido na vida. Você só pode compreender conceitos ção do famoso neurologista austríaco no tocante aos estudos
que tenha visto em seu cotidiano. Nada como unir a teoria sobre a formação da personalidade humana. Sigmund Freud
à prática. Na leitura, quando não passamos pela etapa da (1859-1939) conseguiu acender luzes nas camadas mais pro-
repetição aplicada, ficamos muitas vezes sujeitos  àqueles fundas da psique humana: o inconsciente e subconsciente.”
brancos quando queremos evocar o assunto. Para evitar O autor do texto afirma, inicialmente, que Sigmund Freud
isso, faça resumos. ajudou a ciência a compreender os níveis mais profundos
Observe agora os trechos sublinhados do livro e os da personalidade humana, o inconsciente e subconsciente.
resumos de cada capítulo, trace um diagrama sobre o li-
vro, esforce-se para traduzi-lo com suas próprias palavras. Segundo Conceito do Texto: “Começou estudando casos
Procure associar o assunto lido com alguma experiência clínicos de comportamentos anômalos ou patológicos, com
já vivida ou tente exemplificá-lo com algo concreto, como a ajuda da hipnose e em colaboração com os colegas Joseph
se fosse um professor e o estivesse ensinando para uma Breuer e Martin Charcot (Estudos sobre a histeria, 1895). In-
turma de alunos interessados. É importante lembrar que satisfeito com os resultados obtidos pelo hipnotismo, inven-
esquecemos mais nas próximas 8 horas do que nos 30 tou o método que até hoje é usado pela psicanálise: o das
dias posteriores. Isto quer dizer que devemos fazer pausas ‘livres associações’ de ideias e de sentimentos, estimuladas
durante a leitura e ao retornarmos ao livro, consultamos
pela terapeuta por palavras dirigidas ao paciente com o fim
os resumos. Não pense que é um exercício monótono.
de descobrir a fonte das perturbações mentais.” A segunda
Nós somos capazes de realizar diariamente exercícios fí-
ideia núcleo mostra que Freud deu início a sua pesquisa es-
sicos com o propósito de melhorar a aparência e a saúde.
tudando os comportamentos humanos anormais ou doen-
Pois bem, embora não tenhamos condições de ver com o
que se apresenta nossa mente, somos capazes de senti-la tios por meio da hipnose. Insatisfeito com esse método,
quando melhoramos nossas aptidões como o raciocínio, a criou o das “livres associações de ideias e de sentimentos”.
prontidão de informações e, obviamente, nossos conheci- Terceiro Conceito do Texto: “Para este caminho de re-
mentos intelectuais. Vale a pena se esforçar no início e criar gresso às origens de um trauma, Freud se utilizou especial-
um método de leitura eficiente e rápido. mente da linguagem onírica dos pacientes, considerando os
sonhos como compensação dos desejos insatisfeitos na fase
Ideias Núcleo de vigília.” Aqui, está explicitado que a descoberta das raí-
zes de um trauma se faz por meio da compreensão dos
O primeiro passo para interpretar um texto consiste sonhos, que seriam uma linguagem metafórica dos desejos
em decompô-lo, após uma primeira leitura, em suas “ideias não realizados ao longo da vida do dia a dia.
básicas ou ideias núcleo”, ou seja, um trabalho analítico

5
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Quarto Conceito do Texto: “Mas a grande novidade de - As orações coordenadas não têm oração principal,
Freud, que escandalizou o mundo cultural da época, foi a apenas as ideias estão coordenadas entre si;
apresentação da tese de que toda neurose é de origem se- - Os adjetivos ligados a um substantivo vão dar a ele
xual.” Por fim, o texto afirma que Freud escandalizou a so- maior clareza de expressão, aumentando-lhe ou determi-
ciedade de seu tempo, afirmando a novidade de que todo nando-lhe o significado;
o trauma psicológico é de origem sexual. - Esclarecer o vocabulário;
- Entender o vocabulário;
Podemos, tranquilamente, ser bem-sucedidos numa - Viver a história;
interpretação de texto. Para isso, devemos observar o se- - Ative sua leitura;
guinte: - Ver, perceber, sentir, apalpar o que se pergunta e o
que se pede;
- Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do - Não se deve preocupar com a arrumação das letras
assunto; nas alternativas;
- As perguntas são fáceis, dependendo de quem lê o
- Se encontrar palavras desconhecidas, não interrom-
texto ou como o leu;
pa a leitura, vá até o fim, ininterruptamente;
- Cuidado com as opiniões pessoais, elas não existem;
- Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto
- Sentir, perceber a mensagem do autor;
pelo menos umas três vezes;
- Cuidado com a exatidão das questões em relação ao
- Ler com perspicácia, sutileza, malícia nas entrelinhas; texto;
- Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar; - Descobrir o assunto e procurar pensar sobre ele;
- Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as - Todos os termos da análise sintática, cada termo tem
do autor; seu valor, sua importância;
- Partir o texto em pedaços (parágrafos, partes) para - Todas as orações subordinadas têm oração principal
melhor compreensão; e as ideias se completam.
- Centralizar cada questão ao pedaço (parágrafo, par-
te) do texto correspondente; Vícios de Leitura
- Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de
cada questão; Por acaso você tem o hábito de ler movimentando a
- Cuidado com os vocábulos: destoa (=diferente de...), cabeça? Ou quem sabe, acompanhando com o dedo? Tal-
não, correta, incorreta, certa, errada, falsa, verdadeira, ex- vez vocalizando baixinho... Você não percebe, mas esses
ceto, e outras; palavras que aparecem nas perguntas e movimentos são alguns dos tantos que prejudicam a lei-
que, às vezes, dificultam a entender o que se perguntou tura. Esses movimentos são conhecidos como vícios de lin-
e o que se pediu; guagem.
- Quando duas alternativas lhe parecem corretas, pro- Movimentar a cabeça: procure perceber se você não
curar a mais exata ou a mais completa; está movimentando a cabeça enquanto lê. Este movimen-
- Quando o autor apenas sugerir ideia, procurar um to, ao final de pouco tempo, gera muito cansaço além de
fundamento de lógica objetiva; não causar nenhum efeito positivo. Durante a leitura ape-
- Cuidado com as questões voltadas para dados su- nas movimentamos os olhos.
perficiais; Regressar no texto, durante a leitura: pessoas que têm
- Não se deve procurar a verdade exata dentro da- dificuldade de memorizar um assunto, que não compreen-
quela resposta, mas a opção que melhor se enquadre no dem algumas expressões ou palavras tendem a voltar na
sentido do texto; sua leitura. Este movimento apenas incrementa a falta de
memória, pois secciona a linha de raciocínio e raramente
- Às vezes a etimologia ou a semelhança das palavras
explica o desconhecido, o que normalmente é elucidado
denuncia a resposta;
no decorrer da leitura. Procure sempre manter uma se-
- Procure estabelecer quais foram as opiniões expos-
quência e não fique “indo e vindo” no livro. O assunto pode
tas pelo autor, definindo o tema e a mensagem;
se tornar um bicho de sete cabeças!
- O autor defende ideias e você deve percebê-las; Ler palavra por palavra: para escrever usamos muitas
- Os adjuntos adverbiais e os predicativos do sujeito palavras que apenas servem como adereços. Procure ler o
são importantíssimos na interpretação do texto. Exem- conjunto e perceber o seu significado.
plos: Sub-vocalização: é o ato de repetir mentalmente a pa-
lavra. Isto só será corrigido quando conseguirmos ultrapas-
Ele morreu de fome. sar a marca de 250 palavras por minuto.
de fome: adjunto adverbial de causa, determina a Usar apoios: algumas pessoas têm o hábito de acom-
causa na realização do fato (= morte de “ele”). panhar a leitura com réguas, apontando ou utilizando um
Ele morreu faminto. objeto que salta “linha a linha”. O movimento dos olhos é
faminto: predicativo do sujeito, é o estado em que muito mais rápido quando é livre do que quando o faze-
“ele” se encontrava quando morreu. mos guiado por qualquer objeto.

6
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Leitura Eficiente Observe: você pode gostar de ler sobre esoterismo e


uma pessoa próxima não se interessar por este assunto.
Ao ler realizamos as seguintes operações: Por outro lado, será que esta mesma pessoa se interessa
por um livro que fale sobre História ou esportes? No caso
- Captamos o estímulo, ou seja, por meio da visão, en- da leitura, não existe livro interessante, mas leitores inte-
caminhamos o material a ser lido para nosso cérebro. ressados.
- Passamos, então, a perceber e a interpretar o dado A pessoa que se preocupa com a qualidade de sua
sensorial (palavras, números etc.) e a organizá-lo segun- leitura e com o resultado que poderá obter, deve pensar
do nossa bagagem de conhecimentos anteriores. Para essa no ato de ler como um comportamento que requer alguns
etapa, precisamos de motivação, de forma a tornar o pro- cuidados, para ser realmente eficaz.
cesso mais otimizado possível.
- Assimilamos o conteúdo lido integrando-o ao nos- - Atitude: pensamento positivo para aquilo que dese-
so “arquivo mental” e aplicando o conhecimento ao nosso ja ler. Manter-se descansado é muito importante também.
Não adianta um desgaste físico enorme, pois a retenção da
cotidiano.
informação será inversamente proporcional. Uma alimen-
tação adequada é muito importante.
A leitura é um processo muito mais amplo do que po-
- Ambiente: o ambiente de leitura deve ser prepara-
demos imaginar. Ler não é unicamente interpretar os sím-
do para ela. Nada de ambientes com muitos estímulos que
bolos gráficos, mas interpretar o mundo em que vivemos. forcem a dispersão. Deve ser um local tranquilo, agradá-
Na verdade, passamos todo o nosso tempo lendo! vel, ventilado, com uma cadeira confortável para o leitor e
O psicanalista francês Lacan disse que o olhar da mãe mesa para apoiar o livro a uma altura que possibilite pos-
configura a estrutura psíquica da criança, ou seja, esta se tura corporal adequada. Quanto a iluminação, deve vir do
vê a partir de como vê seu reflexo nos olhos da mãe! O lado posterior esquerdo, pois o movimento de virar a pági-
bebê, então, segundo esta citação, lê nos olhos da mãe na acontecerá antes de ter sido lida a última linha da pági-
o sentimento com que é recebido e interpreta suas emo- na direita e, de outra forma, haveria a formação de sombra
ções: se o que encontra é rejeição, sua experiência básica nesta página, o que atrapalharia a leitura.
será de terror; se encontra alegria, sua experiência será de - Objetos necessários: para evitar que, durante a lei-
tranquilidade, etc. Ler está tão relacionado com o fato de tura, levantarmos para pegar algum objeto que julguemos
existirmos que nem nos preocupamos em aprimorar este importante, devemos colocar lápis, marca-texto e dicioná-
processo. É lendo que vamos construindo nossos valores e rio sempre à mão. Quanto sublinhar os pontos importantes
estes são os responsáveis pela transformação dos fatos em do texto, é preciso aprender a técnica adequada. Não o
objetos de nosso sentimento. fazer na primeira leitura, evitando que os aspectos subli-
Leitura é um dos grandes, senão o maior, ingrediente nhados parecem-se mais com um mosaico de informações
da civilização. Ela é uma atividade ampla e livre, fato com- aleatórias.
provado pela frustração de algumas pessoas ao assistirem Os concursos apresentam questões interpretativas que
a um filme, cuja história já foi lida em um livro. Quando têm por finalidade a identificação de um  leitor autônomo.
lemos, associamos as informações lidas à imensa bagagem Portanto, o candidato deve compreender os níveis estrutu-
de conhecimentos que temos armazenados em nosso cé- rais da língua por meio da lógica, além de necessitar de um
rebro e então somos capazes de criar, imaginar e sonhar. bom léxico internalizado.
É por meio da leitura que podemos entrar em conta- As frases produzem significados diferentes de acor-
to com pessoas distantes ou do passado, observando suas do com o contexto em que estão inseridas. Torna-se, as-
crenças, convicções e descobertas que foram imortalizadas sim, necessário sempre fazer um confronto entre todas as
partes que compõem o texto. Além disso, é fundamental
por meio da escrita. Esta possibilita o avanço tecnológico
apreender as informações apresentadas por trás do texto
e científico, registrando os conhecimentos, levando-os a
e as inferências a que ele remete. Este procedimento justi-
qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo, desde que
fica-se por um texto ser sempre produto de uma postura
saibam decodificar a mensagem, interpretando os símbo-
ideológica do autor diante de uma temática qualquer.
los usados como registro da informação. A leitura é o ver-
dadeiro elo integrador do ser humano e a sociedade em Como ler e interpretar uma charge
que ele vive!
O mundo de hoje é marcado pelo enorme fluxo de in- Interpretar cartuns, charges ou quadrinhos exigem três
formações oferecidas a todo instante. É preciso também habilidades: observação, conhecimento do assunto e vo-
tornarmo-nos mais receptivos e atentos, para nos manter- cabulário adequado. A primeira permite que o leitor “veja”
mos atualizados e competitivos. Para isso, é imprescindível todos os ícones presentes - e dono da situação - dê início
leitura que nos estimule cada vez mais em vista dos re- à descrição minuciosa, mas que prioriza as relevâncias. A
sultados que ela oferece. Se você pretende acompanhar a segunda requer um leitor “antenado” com o noticiário mais
evolução do mundo, manter-se em dia, atualizado e bem recente, caso contrário não será possível estabelecer senti-
informado, precisa preocupar-se com a qualidade da sua dos para o que vê. A terceira encerra o ciclo, pois, sem dar
leitura. nome ao que vê, o leitor não faz a tradução da imagem.

7
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Desse modo, interpretar charges - ou qualquer outra Passo 1: Procure saber do que a charge está tratando: A
forma de expressão visual – exige procedimentos lógicos, charge geralmente está relacionada, por meio do uso de
atenção aos detalhes e uma preocupação rigorosa em as- ANALOGIAS, a uma notícia ou fato político, econômico, so-
sociar imagens aos fatos. cial ou cultural. Portanto, a primeira tarefa de um “analis-
ta de charges” será compreender a qual fato ou notícia a
charge em questão está relacionada.

Passo 2: Entenda os elementos contidos na charge:


Numa charge de crítica política ou econômica, sempre há
um protagonista e um antagonista da situação – ou seja,
um personagem alvejado pela crítica do chargista e outro
que faz a vez de porta-voz da crítica do chargista. Não ne-
cessariamente o antagonista aparece na cena… O próprio
cenário da charge, uma nota de rodapé ou a própria situa-
ção na qual o protagonista está inserido pode fazer a vez
de antagonista. Já nas charges de caráter social ou cultural,
geralmente não há protagonistas e antagonistas, mas ele-
mentos do fato ou da notícia que são caricaturizados – isto
é, retratados humoristicamente – com vistas a trazer força
à notícia representada na charge. No caso das charges de
Benett. Folha de São Paulo, 15/02/2010 crítica econômica e política, a identificação dos papéis de
protagonista e antagonista da situação é fundamental para
Charges são desenhos humorísticos que se utilizam da o próximo passo na interpretação desta charge.
ironia e do sarcasmo para a constituição de uma crítica a Passo 3: Identifique a linha editorial do veículo de co-
uma situação social ou política vigente, e contra a qual se municação: Não é novidade para nenhum de nós que a
pretende – ou ao menos se pretendia, na origem desse fe- imparcialidade da informação é uma mera ilusão, da qual
nômeno artístico, na Inglaterra do século XIX – fazer uma nos convenceram de tanto repetir. Não existe imparciali-
oposição. Diferente do cartoon, arte também surgida na dade nem nas ciências, quanto mais na imprensa! E por
Inglaterra e que pretendia parodiar situações do cotidiano mais que a manipulação da notícia seja um ato moralmen-
da sociedade, constituindo assim uma crítica dos costumes te execrável, a parcialidade na informação noticiada pelos
que ultrapassa os limites do tempo e projeta-se como críti- meios de comunicação não apenas é inevitável, como tam-
ca de época, a charge é caracterizada especificamente por bém pode vir a ser benéfica no que tange ao processo da
ser uma crônica, ou seja, narra ou satiriza um fato aconte- constituição de posicionamentos críticos e ideológicos no
cido em determinado momento, e que perderá sua carga debate democrático. Reafirmando aquele lugar-comum,
humorística ao ser desvencilhada do contexto temporal mas válido, do dramaturgo Nelson Rodrigues (do qual eu
no qual está inserida. Todavia, a palavra cartunista acabou nunca encontrei a citação, confesso), “toda unanimidade é
designando, na nossa linguagem cotidiana, a categoria burra”. Por isso, é preciso compreender e identificar a linha
de artistas que produz esse tipo de desenho humorístico editorial do veículo de comunicação no qual a charge foi
(charges ou cartoons) publicada, pois esta revela a ideologia que inspira o foco
Na verdade, quatro passos básicos para uma boa in- de parcialidade que este dá às suas notícias.
terpretação político-ideológica de uma charge. Afinal, se a
corrida eleitoral para a Presidência da República já come-
çou, não vai mal dar uma boa olhada nas charges publica-
das em cada jornal, impresso ou eletrônico, para ver o que
se passa na cabeça dos donos da grande mídia sobre esse
momento ímpar no processo democrático nacional…

Thiago Recchia. Gazeta do Povo, 01/04/2010

Amarildo. A Gazeta-ES, 12/04/2010

8
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Passo 4: Compreenda qual o posicionamento ideológico 1. O segmento do texto que ressalta a ação mesma da
frente ao fato, do qual a charge quer te convencer: Assim percepção de uma foto é:
como a notícia vem, como já foi comentado, carregada de (A) A câmara fotográfica é uma verdadeira máquina do
parcialidade ideológica, a charge não está longe de ser um tempo.
meio propício de comunicação de um ponto de vista. E (B) a fotografia congela o tempo.
com um detalhe a mais: a charge convence! Por seu efeito (C) nosso olhar é a varinha de condão que descongela o
humorístico, a crítica proposta pela charge permanece en- instante aprisionado.
raizada por tempo indeterminado em nossa imaginação e, (D) o significado de uma imagem muda com o passar
por decorrência, como vários autores da consagrada psico- do tempo.
logia da imagem já demonstraram, nos processos incons- (E) Mas é difícil imaginar alguém que seja insensível à
cientes que podem influenciar as decisões e escolhas que magia de uma foto.
julgamos serem estritamente voluntárias. Compreender
a mensagem ideológica da qual é composta uma charge 2. No contexto do último parágrafo, a referência aos
acaba tendo a função de tornar conscientes estes proces- vários níveis de percepção de uma fotografia remete
sos, fazendo com que nossa decisão seja fundamentada (A) à diversidade das qualidades intrínsecas de uma
numa decisão mais racional e posicionada, e ao mesmo foto.
tempo menos ingênua e caricata da situação. Aí, sim, a (B) às diferenças de qualificação do olhar dos obser-
charge poderá auxiliar na formulação clara e cônscia de um vadores.
posicionamento perante os fatos e notícias apresentados (C) aos graus de insensibilidade de alguns diante de
por esses meios de comunicação! uma foto.
(D) às relações que a fotografia mantém com as outras
EXERCÍCIOS artes.
(E) aos vários tempos que cada fotografia representa
Atenção: As questões de números 1 a 5 referem-se ao em si mesma.
texto seguinte.
3. Atente para as seguintes afirmações:
Fotografias I. Ao dizer, no primeiro parágrafo, que a fotografia con-
gela o tempo, o autor defende a ideia de que a realidade
Toda fotografia é um portal aberto para outra dimensão: apreendida numa foto já não pertence a tempo algum.
o passado. A câmara fotográfica é uma verdadeira máqui- II. No segundo parágrafo, a menção ao ditado sobre o
na do tempo, transformando o que é naquilo que já não é albergue espanhol tem por finalidade sugerir que o olhar
mais, porque o que temos diante dos olhos é transmudado do observador não interfere no sentido próprio e particular
imediatamente em passado no momento do clique. Costu- de uma foto.
mamos dizer que a fotografia congela o tempo, preservando III. Um fotógrafo profissional, conforme sugere o ter-
um momento passageiro para toda a eternidade, e isso não ceiro parágrafo, vê não apenas uma foto, mas os recursos
deixa de ser verdade. Todavia, existe algo que descongela de uma linguagem específica nela fixados.
essa imagem: nosso olhar. Em francês, imagem e magia con- Em relação ao texto, está correto o que se afirma SO-
têm as mesmas cinco letras: image e magie. Toda imagem é MENTE em
magia, e nosso olhar é a varinha de condão que descongela (A) I e II.
o instante aprisionado nas geleiras eternas do tempo foto- (B) II e III.
gráfico. (C) I.
Toda fotografia é uma espécie de espelho da Alice do (D) II.
País das Maravilhas, e cada pessoa que mergulha nesse (E) III.
espelho de papel sai numa dimensão diferente e vivencia
experiências diversas, pois o lado de lá é como o albergue 4. No contexto do primeiro parágrafo, o segmento
espanhol do ditado: cada um só encontra nele o que trou- Todavia, existe algo que descongela essa imagem pode ser
xe consigo. Além disso, o significado de uma imagem muda substituído, sem prejuízo para a correção e a coerência do
com o passar do tempo, até para o mesmo observador. texto, por:
Variam, também, os níveis de percepção de uma foto- (A) Tendo isso em vista, há que se descongelar essa
grafia. Isso ocorre, na verdade, com todas as artes: um músi- imagem.
co, por exemplo, é capaz de perceber dimensões sonoras in- (B) Ainda assim, há mais que uma imagem desconge-
teiramente insuspeitas para os leigos. Da mesma forma, um lada.
fotógrafo profissional lê as imagens fotográficas de modo (C) Apesar de tudo, essa imagem descongela algo.
diferente daqueles que desconhecem a sintaxe da fotografia, (D) Há, não obstante, o que faz essa imagem descon-
a “escrita da luz”. Mas é difícil imaginar alguém que seja gelar.
insensível à magia de uma foto. (E) Há algo, outrossim, que essa imagem descongelará.
(Adaptado de Pedro Vasquez, em Por trás daquela
foto.
São Paulo: Companhia das Letras, 2010)

9
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

5. Está clara e correta a redação deste livre comentário 6. A afirmação de que os dicionários podem ajudar a
sobre o texto: incendiar debates confirma-se, no texto, pelo fato de que o
(A) Apesar de se ombrearem com outras artes plásti- verbete discriminar
cas, a fotografia nos faz desfrutar e viver experiências de (A) padece de um sentido vago e impreciso, gerando
natureza igualmente temporal. por isso inúmeras controvérsias entre os usuários.
(B) Na superfície espacial de uma fotografia, nem se (B) apresenta um sentido secundário, variante de seu
imagine os tempos a que suscitarão essa imagem aparen- sentido principal, que não é reconhecido por todos.
temente congelada... (C) abona tanto o sentido legítimo como o ilegítimo
(C) Conquanto seja o registro de um determinado es- que se costuma atribuir a esse vocábulo.
paço, uma foto leva-nos a viver profundas experiências de (D) faz pensar nas dificuldades que existem quando se
caráter temporal. trata de determinar a origem de um vocábulo.
(D) Tal como ocorrem nos espelhos da Alice, as expe- (E) desdobra-se em acepções contraditórias que cor-
riências físicas de uma fotografia podem se inocular em respondem a convicções incompatíveis.
planos temporais.
(E) Nenhuma imagem fotográfica é congelada sufi- 7. Diz-se que tratar igualmente os desiguais é perpetuar
a desigualdade.
cientemente para abrir mão de implicâncias semânticas no
Da afirmação acima é coerente deduzir esta outra:
plano temporal.
(A) Os homens são desiguais porque foram tratados
com o mesmo critério de igualdade.
Atenção: As questões de números 6 a 9 referem-se ao
(B) A igualdade só é alcançável se abolida a fixação de
texto seguinte. um mesmo critério para casos muito diferentes.
(C) Quando todos os desiguais são tratados desigual-
Discriminar ou discriminar? mente, a desigualdade definitiva torna-se aceitável.
(D) Uma forma de perpetuar a igualdade está em sem-
Os dicionários não são úteis apenas para esclarecer o pre tratar os iguais como se fossem desiguais.
sentido de um vocábulo; ajudam, com frequência, a ilu- (E) Critérios diferentes implicam desigualdades tais que
minar teses controvertidas e mesmo a incendiar debates. os injustiçados são sempre os mesmos.
Vamos ao Dicionário Houaiss, ao verbete discriminar, e lá
encontramos, entre outras, estas duas acepções: a) perceber 8. Considerando-se o contexto, traduz-se adequada-
diferenças; distinguir, discernir; b) tratar mal ou de modo mente o sentido de um segmento em:
injusto, desigual, um indivíduo ou grupo de indivíduos, em (A) iluminar teses controvertidas (1º parágrafo) = amai-
razão de alguma característica pessoal, cor da pele, classe nar posições dubitativas.
social, convicções etc. (B) um preciso discernimento (2º parágrafo) = uma ar-
Na primeira acepção, discriminar é dar atenção às dife- raigada dissuasão.
renças, supõe um preciso discernimento; o termo transpira (C) disseminar o juízo preconcebido (2º parágrafo) =
o sentido positivo de quem reconhece e considera o estatuto dissuadir o julgamento predestinado.
do que é diferente. Discriminar o certo do errado é o pri- (D) a forma mais censurável (3º parágrafo) = o modo
meiro passo no caminho da ética. Já na segunda acepção, mais repreensível.
discriminar é deixar agir o preconceito, é disseminar o juízo (E) As acepções são inconciliáveis (3º parágrafo) = as
preconcebido. Discriminar alguém: fazê-lo objeto de nossa versões são inatacáveis.
intolerância.
Diz-se que tratar igualmente os desiguais é perpetuar a 9. É preciso reelaborar, para sanar falha estrutural, a
desigualdade. Nesse caso, deixar de discriminar (no sentido redação da seguinte frase:
de discernir) é permitir que uma discriminação continue (no (A) O autor do texto chama a atenção para o fato de
que o desejo de promover a igualdade corre o risco de
sentido de preconceito). Estamos vivendo uma época em
obter um efeito contrário.
que a bandeira da discriminação se apresenta em seu sen-
(B) Embora haja quem aposte no critério único de jul-
tido mais positivo: trata-se de aplicar políticas afirmativas
gamento, para se promover a igualdade, visto que descon-
para promover aqueles que vêm sofrendo discriminações
sideram o risco do contrário.
históricas. Mas há, por outro lado, quem veja nessas propos- (C) Quem vê como justa a aplicação de um mesmo cri-
tas afirmativas a forma mais censurável de discriminação... tério para julgar casos diferentes não crê que isso reafirme
É o caso das cotas especiais para vagas numa universidade uma situação de injustiça.
ou numa empresa: é uma discriminação, cujo sentido posi- (D) Muitas vezes é preciso corrigir certas distorções
tivo ou negativo depende da convicção de quem a avalia. As aplicando-se medidas que, à primeira vista, parecem em si
acepções são inconciliáveis, mas estão no mesmo verbete do mesmas distorcidas.
dicionário e se mostram vivas na mesma sociedade. (E) Em nossa época, há desequilíbrios sociais tão gra-
(Aníbal Lucchesi, inédito) ves que tornam necessários os desequilíbrios compensató-
rios de uma ação corretiva.

10
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Atenção: As questões de números 10 a 14 referem-se 11. Atente para as seguintes afirmações sobre o texto:
à crônica abaixo. I. A analogia entre a baleia e a União Soviética insinua,
entre outros termos de aproximação, o encalhe dos gigan-
Bom para o sorveteiro tes.
II. As reações dos envolvidos no episódio da baleia en-
Por alguma razão inconsciente, eu fugia da notícia. Mas calhada revelam que, acima das diferentes providências,
a notícia me perseguia. Até no avião, o único jornal abria na atinham-se todos a um mesmo propósito.
minha cara o drama da baleia encalhada na praia de Saqua- III. A expressão Tudo é símbolo prende-se ao fato de
rema. Afinal, depois de quase três dias se debatendo na areia que o autor aproveitou o episódio da baleia encalhada
da praia e na tela da televisão, o filhote de jubarte conseguiu para também figurar o encalhe de um país imobilizado pela
ser devolvido ao mar. Até a União Soviética acabou, como alta inflação.
foi dito por locutores especializados em necrológio eufórico. Em relação ao texto, está correto o que se afirma em
Mas o drama da baleia não acabava. Centenas de curiosos (A) I, II e III.
foram lá apreciar aquela montanha de força a se esfalfar em (B) I e III, apenas.
vão na luta pela sobrevivência. Um belo espetáculo. (C) II e III, apenas.
À noite, cessava o trabalho, ou a diversão. Mas já ao (D) I e II, apenas.
raiar do dia, sem recursos, com simples cordas e as próprias (E) III, apenas.
mãos, todos se empenhavam no lúcido objetivo comum. Co-
mum, vírgula. O sorveteiro vendeu centenas de picolés. Por 12. Foram irrelevantes para a salvação da baleia estes
ele a baleia ficava encalhada por mais duas ou três semanas. dois fatores:
Uma santa senhora teve a feliz ideia de levar pastéis e em- (A) o necrológio da União Soviética e os serviços da
padinhas para vender com ágio. Um malvado sugeriu que se traineira da Petrobrás.
desse por perdida a batalha e se começasse logo a repartir (B) o prestígio dos valores ecológicos e o empenho no
os bifes. lúcido objetivo comum.
(C) o fato de a jubarte ser um animal de sangue frio e o
Em 1966, uma baleia adulta foi parar ali mesmo e em
prestígio dos valores ecológicos.
quinze minutos estava toda retalhada. Muitos se lembravam
(D) o fato de a Petrobrás ser uma empresa estatal e as
da alegria voraz com que foram disputadas as toneladas da
iniciativas que couberam a uma traineira.
vítima. Essa de agora teve mais sorte. Foi salva graças à re-
(E) o aproveitamento comercial da situação e a força
ligião ecológica que anda na moda e que por um momento
descomunal empregada pela jubarte.
estabeleceu uma trégua entre todos nós, animais de sangue
quente ou de sangue frio.
13. Considerando-se o contexto, traduz-se adequada-
Até que enfim chegou uma traineira da Petrobrás. Logo
mente o sentido de um segmento em:
uma estatal, ó céus, num momento em que é preciso dar
(A) em necrológio eufórico (1º parágrafo) = em façanha
provas da eficácia da empresa privada. De qualquer forma, mortal.
eu já podia recolher a minha aflição. Metáfora fácil, lá se foi, (B) Comum, vírgula (2º parágrafo) = Geral, mas nem
espero que salva, a baleia de Saquarema. O maior animal tanto.
do mundo, assim frágil, à mercê de curiosos. À noite, sonhei (C) que se desse por perdida a batalha (2º parágrafo) =
com o Brasil encalhado na areia diabólica da inflação. A bor- que se imaginasse o efeito de uma derrota.
do, uma tripulação de camelôs anunciava umas bugigangas. (D) estabeleceu uma trégua entre todos nós (3º parágra-
Tudo fala. Tudo é símbolo. fo) = derrogou uma imunidade para nós todos.
(E) é preciso dar provas da eficácia (4º parágrafo) = con-
(Otto Lara Resende, Folha de S. Paulo) vém explicitar os bons propósitos.

10. O cronista ressalta aspectos contrastantes do caso 14. Está clara e correta a redação deste livre comentá-
de Saquarema, tal como se observa na relação entre estas rio sobre o último parágrafo do texto.
duas expressões: (A) Apesar de tratar do drama ocorrido com uma ba-
(A) drama da baleia encalhada e três dias se debatendo leia, o cronista não deixa de aludir a circunstâncias nacio-
na areia. nais, como o impulso para as privatizações e os custos da
(B) em quinze minutos estava toda retalhada e foram alta inflação.
disputadas as toneladas da vítima. (B) Mormente tratando de uma jubarte encalhado, o
(C) se esfalfar em vão na luta pela sobrevivência e levar cronista não obsta em tratar de assuntos da pauta nacional,
pastéis e empadinhas para vender com ágio. como a inflação ou o processo empresarial das privatiza-
(D) o filhote de jubarte conseguiu ser devolvido ao mar e ções.
lá se foi, espero que salva, a baleia de Saquarema. (C) Vê-se que um cronista pode assumir, como aqui
(E) Até que enfim chegou uma traineira da Petrobrás e ocorreu, o papel tanto de um repórter curioso como ana-
Logo uma estatal, ó céus. lisar fatos oportunos, qual seja a escalada inflacionária ou
a privatização.

11
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

(D) O incidente da jubarte encalhado não impediu de 15. Deve-se presumir, com base no texto, que a razão
que o cronista se valesse de tal episódio para opinar diante do mérito e a razão do voto devem ser consideradas, dian-
de outros fatos, haja vista a inflação nacional ou a escalada te da tomada de uma decisão,
das privatizações. (A) complementares, pois em separado nenhuma de-
(E) Ao bom cronista ocorre associar um episódio como las satisfaz o que exige uma situação dada.
o da jubarte com a natureza de outros, bem distintos, se- (B) excludentes, já que numa votação não se leva em
jam os da economia inflacionada, sejam o crescente prestí- conta nenhuma questão de mérito.
gio das privatizações. (C) excludentes, já que a qualificação por mérito pres-
supõe que toda votação é ilegítima.
Atenção: As questões de números 15 a 18 referem-se (D) conciliáveis, desde que as mesmas pessoas que vo-
ao texto abaixo. tam sejam as que decidam pelo mérito.
(E) independentes, visto que cada uma atende a ne-
A razão do mérito e a do voto cessidades de bem distintas naturezas.

Um ministro, ao tempo do governo militar, irritado com 16. Atente para as seguintes afirmações:
a campanha pelas eleições diretas para presidente da Re- I. A argumentação do ministro, referida no primeiro
pública, buscou minimizar a importância do voto com o se- parágrafo, é rebatida pelo autor do texto por ser falaciosa
guinte argumento: − Será que os passageiros de um avião e escamotear os reais interesses de quem a formula.
gostariam de fazer uma eleição para escolher um deles II. O autor do texto manifesta-se francamente favorá-
como piloto de seu voo? Ou prefeririam confiar no mérito do vel à razão do mérito, a menos que uma situação de real
profissional mais abalizado? impasse imponha a resolução pelo voto.
A perfídia desse argumento está na falsa analogia entre III. A conotação pejorativa que o uso de aspas confere
uma função eminentemente técnica e uma função eminen- ao termo “assembleísmo” expressa o ponto de vista dos
temente política. No fundo, o ministro queria dizer que o go- que desconsideram a qualificação técnica.
verno estava indo muito bem nas mãos dos militares e que
Em relação ao texto, está correto SOMENTE o que se
estes saberiam melhor que ninguém prosseguir no comando
afirma em
da nação.
(A) I.
Entre a escolha pelo mérito e a escolha pelo voto há ne-
(B) II.
cessidades muito distintas. Num concurso público, por exem-
(C) III.
plo, a avaliação do mérito pessoal do candidato se impõe
(D) I e II.
sobre qualquer outra. A seleção e a classificação de profis-
(E) II e III.
sionais devem ser processos marcados pela transparência
do método e pela adequação aos objetivos. Já a escolha da
liderança de uma associação de classe, de um sindicato deve 17. Considerando-se o contexto, são expressões bas-
ocorrer em conformidade com o desejo da maioria, que es- tante próximas quanto ao sentido:
colhe livremente seu representante. Entre a especialidade (A) fazer uma eleição e confiar no mérito do profissio-
técnica e a vocação política há diferenças profundas de na- nal.
tureza, que pedem distintas formas de reconhecimento. (B) especialidade técnica e vocação política.
Essas questões vêm à tona quando, em certas institui- (C) classificação de profissionais e escolha da liderança.
ções, o prestígio do “assembleísmo” surge como absoluto. Há (D) avaliação do mérito e reconhecimento da qualifi-
quem pretenda decidir tudo no voto, reconhecendo numa cação.
assembleia a “soberania” que a qualifica para a tomada de (E) transparência do método e desejo da maioria.
qualquer decisão. Não por acaso, quando alguém se opõe a 18. Atente para a redação do seguinte comunicado:
essa generalização, lembrando a razão do mérito, ouvem-
se diatribes contra a “meritocracia”. Eis aí uma tarefa para Viemos por esse intermédio convocar-lhe para a as-
nós todos: reconhecer, caso a caso, a legitimidade que tem sembleia geral da próxima sexta-feira, aonde se deci-
a decisão pelo voto ou pelo reconhecimento da qualificação dirá os rumos do nosso movimento reivindicatório.
indispensável. Assim, não elegeremos deputado alguém sem
espírito público, nem votaremos no passageiro que deverá As falhas do texto encontram-se plenamente sanadas
pilotar nosso avião. em:
(Júlio Castanho de Almeida, inédito) (A) Vimos, por este intermédio, convocá-lo para a as-
sembleia geral da próxima sexta-feira, quando se decidirão
os rumos do nosso movimento reivindicatório.
(B) Viemos por este intermédio convocar-lhe para a as-
sembleia geral da próxima sexta-feira, onde se decidirá os
rumos do nosso movimento reivindicatório.
(C) Vimos, por este intermédio, convocar-lhe para a as-
sembleia geral da próxima sexta-feira, em cuja se decidirão
os rumos do nosso movimento reivindicatório.

12
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

(D) Vimos por esse intermédio convocá-lo para a as- As marcas do discurso são:
sembleia geral da próxima sexta-feira, em que se decidirá
os rumos do nosso movimento reivindicatório. - A fala das personagens é, de princípio, anunciada por
(E) Viemos, por este intermédio, convocá-lo para a as- um verbo (disse e interrompeu no caso do filho e perguntou
sembleia geral da próxima sexta-feira, em que se decidirão e começou a dizer no caso do pai) denominado “verbo de
os rumos do nosso movimento reivindicatório. dizer” (como recrutar, retorquir, afirmar, obtem-perar declarar
e outros do mesmo tipo), que pode vir antes, no meio ou
Respostas: 01-C / 02-B / 03-E / 04-D / 05-C / 06-E / depois da fala das personagens (no nosso caso, veio depois);
07-B / 08-D / 09-B / 10-C / 11-B / 12-E / 13-B / 14-A / 15-E - A fala das personagens aparece nitidamente separa-
/ 16-A / 17-D / 18-A da da fala do narrador, por aspas, dois pontos, travessão ou
vírgula;
- Os pronomes pessoais, os tempos verbais e as palavras
que indicam espaço e tempo (por exemplo, pronomes de-
A INTERMEDIAÇÃO ENTRE LINGUAGEM monstrativos e advérbios de lugar e de tempo) são usados
VERBAL E NÃO VERBAL NO PROCESSO DE em relação à pessoa da personagem, ao momento em que
CONSTITUIÇÃO DO TEXTO/DISCURSO. ela fala diz “eu”, o espaço em que ela se encontra é o aqui e
o tempo em que fala é o agora.

Discurso Indireto
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre
Observemos um fragmento do mesmo conto de Macha-
do de Assis:
Num texto, as personagens falam, conversam entre
“Um dia, Serafina recebeu uma carta de Tavares dizendo-
si, expõem ideias. Quando o narrador conta o que elas lhe que não voltaria mais à casa de seu pai, por este lhe haver
disseram, insere na narrativa uma fala que não é de sua mostrado má cara nas últimas vezes que ele lá estivera.”
autoria, cita o discurso alheio. Há três maneiras principais Idem. Ibidem, p. 48.
de reproduzir a fala das personagens: o discurso direto, o
discurso indireto e o discurso indireto livre. Nesse caso o narrador para citar que Tavares disse a Se-
rafina, usa o outro procedimento: não reproduz literalmente
Discurso Direto as palavras de Tavares, mas comunica, com suas palavras, o
que a personagem diz. A fala de Tavares não chega ao leitor
“Longe do olhos...” diretamente, mas por via indireta, isto é, por meio das pala-
vras do narrador. Por essa razão, esse expediente é chamado
- Meu pai! Disse João Aguiar com um tom de ressenti- discurso indireto.
mento que fez pasmar o comendador. As principais marcas do discurso indireto são:
- Que é? Perguntou este.
João Aguiar não respondeu. O comendador arrugou a - As falas das personagens também vem introduzidas
testa e interrogou o rosto mudo do filho. Não leu, mais por um verbo de dizer;
adivinhou alguma coisa desastrosa; desastrosa, entenda-se, - As falas das personagens constituem oração subordi-
para os cálculos conjunto-políticos ou políticos-conjugais, nada substantiva objetiva direta do verbo de dizer e, por-
como melhor nome haja. tanto, são separadas da fala do narrador por uma partícula
- Dar-se-á caso que... começou a dizer comendador. introdutória normalmente “que” ou “se”;
- Que eu namore? Interrompeu galhofeiramente o fi- - Os pronomes pessoais, os tempos verbais e as palavras
lho. que indicam espaço e tempo (como pronomes demonstrati-
Machado de Assis. Contos. 26ª Ed. São Paulo, Áti- vos e advérbios de lugar e de tempo) são usados e relação a
ca, 2002, p. 43. narrador, ao momento em que ele fala e ao espaço em que
está.
O narrador introduz a fala das personagens, um pai e
Passagem do Discurso Direto para o Discurso Indireto
um filho, e, em seguida, como quem passa a palavra a elas
e as deixa falar. Vemos que as partes introdutórias perten-
Pedro disse:
cem ao narrador (por exemplo, disse João Aguiar com um
- Eu estarei aqui amanhã.
tom de ressentimento que faz pasmar o comendador) e as
falas, às personagens, (por exemplo, Meu pai!). No discurso direto, o personagem Pedro diz “eu”; o
O discurso direto é o expediente de citação do dis- “aqui” é o lugar em que a personagem está; “amanhã” é o
curso alheio pela qual o narrador introduz o discurso do dia seguinte ao que ele fala. Se passarmos essa frase para o
outro e, depois, reproduz literalmente a fala dele. discurso indireto ficará assim:

13
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Pedro disse que estaria lá no dia seguinte. Discurso Direto – Discurso Indireto
Presente – Pretérito Imperfeito
No discurso indireto, o “eu” passa a ele porque á al- Pretérito Perfeito – Pretérito mais-que-perfeito
guém de quem o narrador fala; estaria é futuro do pretéri- Futuro do Presente – Futuro do Pretérito
to: é um tempo relacionado ao pretérito da fala do narra-
dor (disse), e não ao presente da fala do personagem, como Joaquim disse: - Compro tudo isso.
estarei; lá é o espaço em que a personagem (e não o narra- - Joaquim disse que comprava tudo isso.
dor) havia de estar; no dia seguinte é o dia que vem após o
momento da fala da personagem designada por ele. Joaquim disse: - Comprei tudo isso.
Na passagem do discurso direto para o indireto, deve- - Joaquim disse que comprara tudo isso.
se observar as frases que no discurso direto tem as formas
interrogativas, exclamativa ou imperativa convertem-se, no Joaquim disse: - Comprarei tudo isso.
discurso indireto, em orações declarativas. - Joaquim disse que compraria tudo isso.

Ela me perguntou: quem está ai? Discurso Indireto Livre


Ela me perguntou quem estava lá.
“(...) No dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao
As interjeições e os vocativos do discurso direto desapa- fechar o negócio notou que as operações de Sinhá Vitória,
recem no discurso indireto ou tem seu valor semântico ex- como de costume, diferiam das do patrão. Reclamou e ob-
plicitado, isto é, traduz-se o significado que elas expressam. teve a explicação habitual: a diferença era proveniente de
juros.
O papagaio disse: Oh! Lá vem a raposa. Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto,
O papagaio disse admirado (explicitação do valor se- sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a mu-
mântico da interjeição oh!) que ao longe vinha a raposa. lher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do
branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estri-
Se o discurso citado (fala da personagem) comporta um bos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que
“eu” ou um “tu” que não se encontram entre as pessoas do era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar
discurso citante (fala do narrador), eles são convertidos num como negro e nunca arranjar carta de alforria!
“ele”, se o discurso citado contém um “aqui” não correspon- Graciliano Ramos. Vidas secas.
de ao lugar em que foi proferido o discurso citante, ele é
28ª Ed. São Paulo, Martins, 1971, p. 136.
convertido num “lá”.
Nesse texto, duas vozes estão misturadas: a do nar-
Pedro disse lá em Paris: - Aqui eu me sinto bem.
rador e a de Fabiano. Não há indicadores que delimitem
muito bem onde começa a fala do narrador e onde se inicia
Eu (pessoa do discurso citado que não se encontra no
a da personagem. Não se tem dúvida de que o período
discurso citante) converte-se em ele; aqui (espaço do discur-
inicial está traduzido a fala do narrador. A bem verdade,
so citado que é diferente do lugar em que foi proferido o
discurso citante) transforma-se em lá: até não se conformou (início do segundo parágrafo), é a
voz do narrador que está comandando a narrativa. Na ora-
- Pedro disse que lá ele se sentia bem. ção devia haver engano, já começa haver uma mistura de
vozes: sob o ponto de vista das marcas gramaticais, não há
Se a pessoa do discurso citado, isto é, da fala da per- nenhuma pista para se concluir, que a voz de Fabiano é que
sonagem (eu, tu, ele) tem um correspondente no discurso esteja sendo citada; sob o ponto de vista do significado,
citante, ela ocupa o estatuto que tem nesse último. porém, pode-se pensar numa reclamação atribuída a ele.
Tomemos agora esse trecho: “Ele era bruto, sim senhor,
Maria declarou-me: - Eu te amo. via-se perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha mio-
lo. Com certeza havia um erro no papel do branco.” Pelo
O “te” do discurso citado corresponde ao “me” do citan- conteúdo de verdade é pelo modo de dizer, tudo nos in-
te. Por isso, “te” passa a “me”: duz a vislumbrar aí a voz de Fabiano ecoando por meio
do discurso do narrador. É como se o narrador, sem aban-
- Maria declarou-me que me amava. donar as marcas linguísticas próprias de sua fala, estivesse
incorporando as reclamações e suspeitas da personagem,
No que se refere aos tempos, o mais comum é o que a cuja linguagem pertencem expressões do tipo bruto, sim
o verbo de dizer esteja no presente ou no pretérito perfei- senhor e a mulher tinha miolo. Até a repetição de palavras
to. Quando o verbo de dizer estiver no presente e o da fala e uma certa entonação presumivelmente exclamativa con-
da personagem estiver no presente, pretérito ou futuro do firmam essa inferência.
presente, os tempos mantêm-se na passagem do discur- Para perceber melhor o que é o discurso indireto livre,
so direto para o indireto. Se o verbo de dizer estiver no confrontemos uma frase do texto com a correspondente
pretérito perfeito, as alterações que ocorrerão na fala da em discurso direito e indireto:
personagem são as seguintes:

14
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

- Discurso Indireto Livre - To precisando de uns dinheirinho e duns gênor. Meu


Estava direito aquilo? arroizinho tá bão, tá encanando bem. Preciso de uns man-
timento pra coiêta. O sinhô pode me arranjá com Nhô
- Discurso Direto Salim. Depois eu vendo o arroiz pra ele mermo.
Fabiano perguntou: - Esta direito isto? - Você é sério, Elesbão?
- Sô sim sinhô!
- Discurso Indireto - Quanto é que você deve pro Nhô Salim?
Fabiano perguntou se aquilo estava direito - Um tiquinho.
Oswaldo de Andrade. Marco Zero.
Essa forma de citação do discurso alheio tem caracte- 2ª Ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1974,
rísticas próprias que são tanto do discurso direto quanto p. 7-8.
do indireto. As características do discurso indireto livre
são: Quanto ao discurso indireto, pode ser de dois tipos, e
cada um deles cria um efeito de sentido diverso.
- Não há verbos de dizer anunciando as falas das per- - Discurso Indireto que analisa o conteúdo: elimina
sonagens; os elementos emocionais ou afetivos presentes no discurso
- Estas não são introduzidas por partículas como direto, assim como as interrogações, exclamações ou for-
“que” e “se” nem separadas por sinais de pontuação; mas imperativas, por isso produz um efeito de sentido de
- O discurso indireto livre contém, como o discurso objetividade analítica. Com efeito, nele o narrador revela
direto, orações interrogativas, imperativas e exclamativas, somente o conteúdo do discurso da personagem, e não o
bem como interjeições e outros elementos expressivos; modo como ela diz. Com isso estabelece uma distância en-
- Os pronomes pessoais e demonstrativos, as palavras tre sua posição e a da personagem, abrindo caminho para
indicadoras de espaço e de tempo são usados da mesma a réplica e o comentário. Esse tipo de discurso indireto des-
forma que no discurso indireto. Por isso, o verbo estar, personaliza discurso citado em nome de uma objetividade
do exemplo acima, ocorre no pretérito imperfeito, e não analítica. Cria, assim, a impressão de que o narrador analisa
no presente (está), como no discurso direto. Da mesma o discurso citado de maneira racional e isenta de envolvi-
forma o pronome demonstrativo ocorre na forma aquilo, mento emocional. O discurso indireto, nesse caso, não se
como no discurso indireto. interessa pela individualidade do falante no modo como
ele diz as coisas. Por isso é a forma preferida nos textos de
Funções dos diferentes modos de citar o discurso natureza filosófica, científica, política, etc., quando se ex-
do outro põe as opiniões dos outros com finalidade de criticá-las,
rejeitá-las ou acolhê-las.
- Discurso Indireto que analisa a expressão: serve
O discurso direto cria um efeito de sentido de ver-
para destacar mais o modo de dizer do que o que se diz;
dade. Isso porque o leitor ou ouvinte tem a impressão
por exemplo, as palavras típicas do vocabulário da perso-
de que quem cita preservou a integridade do discurso ci-
nagem citada, a sua maneira de pronunciá-las, etc. Nesse
tado, ou seja, o que ele reproduziu é autêntico. É como
caso, as palavras ou expressões ressaltadas aparecem entre
se ouvisse a pessoa citada com suas próprias palavras e,
aspas. Veja-se este exemplo. De Eça de Queirós:
portanto, com a mesma carga de subjetividade.
Essa modalidade de citação permite, por exemplo,
...descobrira de repente, uma manhã, eu não devia trair
que se use variante linguística da personagem como for-
Amaro, “porque era papá do seu Carlinhos”. E disse-o ao
ma de fornecer pistas para caracterizá-la. Sirva de exem- abade; fez corar os sessenta e quatro anos do bom velho (...).
plo o trecho que segue, um diálogo entre personagens O crime do Padre Amaro.
do meio rural, um farmacêutico e um agricultor, cuja fala Porto, Lello e Irmão, s.d., vol. I, p. 314.
é transcrita em discurso direto pelo narrador:
Imagine-se ainda que uma pessoa, querendo denun-
Um velho brônzeo apontou, em farrapos, à janela ciar a forma deselegante com que fora atendida por um
aberta o azul. representante de uma empresa, tenha dito o seguinte:
- Como vai, Elesbão?
- Sua bênção... A certa altura, ele me respondeu que, se eu não estivesse
- Cheio de doenças? satisfeito, que fosse reclamar “para o bispo” e que ele já não
- Sim sinhô. estava “nem aí” com “tipinhos” como eu.
- De dores, de dificuldades?
- Sim sinhô. Em ambos os casos, as aspas são utilizadas para dar
- De desgraças... destaque a certas formas de dizer típicas das personagens
O farmacêutico riu com um tímpano desmesurado. citadas e para mostrar o modo como o narrador as inter-
Você é o Brasil. Depois Indagou: preta. No exemplo de Eça de Queirós, “porque era o papá
- O que você eu Elesbão? de seu Carlinhos” contem uma expressão da personagem

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CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Amélia e mostra certa dose de ironia e malícia do narrador. bém com explicitude que há oposição entre Neto e os ou-
No segundo exemplo, as aspas destacam a insatisfação do tros jogadores, sob o ponto de vista de contar com tempo
narrador com a deselegância e o desprezo do funcionário para evoluir. A escolha do conector “mas” entre a segunda
para com os clientes. e a primeira oração só é possível levando em conta esse
O discurso indireto livre fica a meio caminho da subje- dado implícito. Como se vê, há mais significados num texto
tividade e da objetividade. Tem muitas funções. Por exem- do que aqueles que aparecem explícitos na sua superfície.
plo, dá verossimilhança a um texto que pretende manifes- Leitura proficiente é aquela capaz de depreender tanto um
tar pensamentos, desejos, enfim, a vida interior de uma tipo de significado quanto o outro, o que, em outras pa-
personagem. lavras, significa ler nas entrelinhas. Sem essa habilidade, o
Em síntese, demonstra um envolvimento tal do narra- leitor passará por cima de significados importantes ou, o
dor com a personagem, que as vozes de ambos se mis- que é bem pior, concordará com ideias e pontos de vista
turam como se eles fossem um só ou, falando de outro que rejeitaria se os percebesse.
modo, como se o narrador tivesse vestido completamente Os significados implícitos costumam ser classificados
a máscara da personagem, aproximando-a do leitor sem a em duas categorias: os pressupostos e os subentendidos.
marca da sua intermediação.
Veja-se como, neste trecho: “O tímido José”, de Antônio Pressupostos: são ideias implícitas que estão implica-
de Alcântara Machado, o narrador, valendo-se do discurso das logicamente no sentido de certas palavras ou expres-
indireto livre, leva o leitor a partilhar do constrangimento sões explicitadas na superfície da frase. Exemplo:
da personagem, simulando estar contaminado por ele:
“André tornouse um antitabagista convicto.”
(...) Mais depressa não podia andar. Garoar, garoava
sempre. Mas ali o nevoeiro já não era tanto felizmente. Deci- A informação explícita é que hoje André é um antitaba-
diu. Iria indo no caminho da Lapa. Se encontrasse a mulher gista convicto. Do sentido do verbo tornarse, que significa
bem. Se não encontrasse paciência. Não iria procurar. Iria é “vir a ser”, decorre logicamente que antes André não era
para casa. Afinal de contas era mesmo um trouxa. Quando antitabagista convicto. Essa informação está pressuposta.
podia não quis. Agora que era difícil queria. Ninguém se torna algo que já era antes. Seria muito estra-
Laranja-da-china. In: Novelas Paulistanas. nho dizer que a palmeira tornouse um vegetal.
1ª Ed. Belo Horizonte, Itatiaia/ São Paulo, Edusp,
1998, p. 184.
“Eu ainda não conheço a Europa.”
INFORMAÇÕES EXPLÍCITAS E IMPLÍCITAS
A informação explícita é que o enunciador não tem
conhecimento do continente europeu. O advérbio ainda
Texto:
deixa pressuposta a possibilidade de ele um dia conhecêla.
As informações explícitas podem ser questionadas
“Neto ainda está longe de se igualar a qualquer um des-
pelo receptor, que pode ou não concordar com elas. Os
ses craques (Rivelino, Ademir da Guia, Pedro Rocha e Pelé),
pressupostos, porém, devem ser verdadeiros ou, pelo me-
mas ainda tem um longo caminho a trilhar (...).”
Veja São Paulo, 26/12/1990, p. 15. nos, admitidos como tais, porque esta é uma condição para
garantir a continuidade do diálogo e também para forne-
Esse texto diz explicitamente que: cer fundamento às afirmações explícitas. Isso significa que,
- Rivelino, Ademir da Guia, Pedro Rocha e Pelé são cra- se o pressuposto é falso, a informação explícita não tem
ques; cabimento. Assim, por exemplo, se Maria não falta nunca a
- Neto não tem o mesmo nível desses craques; aula nenhuma, não tem o menor sentido dizer “Até Maria
- Neto tem muito tempo de carreira pela frente. compareceu à aula de hoje”. Até estabelece o pressuposto
da inclusão de um elemento inesperado.
O texto deixa implícito que: Na leitura, é muito importante detectar os pressupos-
- Existe a possibilidade de Neto um dia aproximar-se tos, pois eles são um recurso argumentativo que visa a
dos craques citados; levar o receptor a aceitar a orientação argumentativa do
- Esses craques são referência de alto nível em sua es- emissor. Ao introduzir uma ideia sob a forma de pressu-
pecialidade esportiva; posto, o enunciador pretende transformar seu interlocutor
- Há uma oposição entre Neto e esses craques no que em cúmplice, pois a ideia implícita não é posta em discus-
diz respeito ao tempo disponível para evoluir. são, e todos os argumentos explícitos só contribuem para
confirmála. O pressusposto aprisiona o receptor no sistema
Todos os textos transmitem explicitamente certas infor- de pensamento montado pelo enunciador.
mações, enquanto deixam outras implícitas. Por exemplo, A demonstração disso pode ser feita com as “verdades
o texto acima não explicita que existe a possibilidade de incontestáveis” que estão na base de muitos discursos po-
Neto se equiparar aos quatro futebolistas, mas a inclusão líticos, como o que segue:
do advérbio ainda estabelece esse implícito. Não diz tam-

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CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

“Quando o curso do rio São Francisco for mudado, será - Certos advérbios
resolvido o problema da seca no Nordeste.”
A produção automobilística brasileira está totalmente
O enunciador estabelece o pressuposto de que é certa nas mãos das multinacionais.
a mudança do curso do São Francisco e, por consequência, O advérbio totalmente pressupõe que não há no Bra-
a solução do problema da seca no Nordeste. O diálogo sil indústria automobilística nacional.
não teria continuidade se um interlocutor não admitisse
ou colocasse sob suspeita essa certeza. Em outros termos, Você conferiu o resultado da loteria?
haveria quebra da continuidade do diálogo se alguém in- Hoje não.
terviesse com uma pergunta deste tipo: A negação precedida de um advérbio de tempo de
âmbito limitado estabelece o pressuposto de que apenas
“Mas quem disse que é certa a mudança do curso do nesse intervalo (hoje) é que o interrogado não praticou o
rio?” ato de conferir o resultado da loteria.
A aceitação do pressuposto estabelecido pelo emissor
- Orações adjetivas
permite levar adiante o debate; sua negação comprome-
te o diálogo, uma vez que destrói a base sobre a qual se
Os brasileiros, que não se importam com a coletivida-
constrói a argumentação, e daí nenhum argumento tem
mais importância ou razão de ser. Com pressupostos dis- de, só se preocupam com seu bemestar e, por isso, jogam
tintos, o diálogo não é possível ou não tem sentido. lixo na rua, fecham os cruzamentos, etc.
A mesma pergunta, feita para pessoas diferentes, O pressuposto é que “todos” os brasileiros não se im-
pode ser embaraçosa ou não, dependendo do que está portam com a coletividade.
pressuposto em cada situação. Para alguém que não faz
segredo sobre a mudança de emprego, não causa o menor Os brasileiros que não se importam com a coletividade
embaraço uma pergunta como esta: só se preocupam com seu bemestar e, por isso, jogam lixo
na rua, fecham os cruzamentos, etc.
“Como vai você no seu novo emprego?” Nesse caso, o pressuposto é outro: “alguns” brasilei-
ros não se importam com a coletividade.
O efeito da mesma pergunta seria catastrófico se ela
se dirigisse a uma pessoa que conseguiu um segundo em- No primeiro caso, a oração é explicativa; no segun-
prego e quer manter sigilo até decidir se abandona o an- do, é restritiva. As explicativas pressupõem que o que elas
terior. O adjetivo novo estabelece o pressuposto de que o expressam se refere à totalidade dos elementos de um
interrogado tem um emprego diferente do anterior. conjunto; as restritivas, que o que elas dizem concerne
apenas a parte dos elementos de um conjunto. O produ-
Marcadores de Pressupostos tor do texto escreverá uma restritiva ou uma explicativa
segundo o pressuposto que quiser comunicar.
- Adjetivos ou palavras similares modificadoras do
substantivo Subentendidos: são insinuações contidas em uma
frase ou um grupo de frases. Suponhamos que uma pes-
Julinha foi minha primeira filha. soa estivesse em visita à casa de outra num dia de frio
“Primeira” pressupõe que tenho outras filhas e que as glacial e que uma janela, por onde entravam rajadas de
outras nasceram depois de Julinha. vento, estivesse aberta. Se o visitante dissesse “Que frio
terrível”, poderia estar insinuando que a janela deveria ser
Destruíram a outra igreja do povoado.
fechada.
“Outra” pressupõe a existência de pelo menos uma
Há uma diferença capital entre o pressuposto e o su-
igreja além da usada como referência.
bentendido. O primeiro é uma informação estabelecida
- Certos verbos como indiscutível tanto para o emissor quanto para o re-
ceptor, uma vez que decorre necessariamente do senti-
Renato continua doente. do de algum elemento linguístico colocado na frase. Ele
O verbo “continua” indica que Renato já estava doente pode ser negado, mas o emissor colocao implicitamente
no momento anterior ao presente. para que não o seja. Já o subentendido é de responsabi-
lidade do receptor. O emissor pode esconder-se atrás do
Nossos dicionários já aportuguesaram a palavrea co- sentido literal das palavras e negar que tenha dito o que o
pydesk. receptor depreendeu de suas palavras. Assim, no exemplo
O verbo “aportuguesar” estabelece o pressuposto de dado acima, se o dono da casa disser que é muito pouco
que copidesque não existia em português. higiênico fechar todas as janelas, o visitante pode dizer
que também acha e que apenas constatou a intensidade
do frio.

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CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

O subentendido serve, muitas vezes, para o emissor pro- sos torna inevitável a aquisição de teorias e metalinguagens
tegerse, para transmitir a informação que deseja dar a conhe- apropriadas para esclarecer essas relações. O espaço de elu-
cer sem se comprometer. Imaginemos, por exemplo, que um cidação das relações entre o “fazer” e o “saber” artísticos é a
funcionário recémpromovido numa empresa ouvisse de um Universidade. Ora, este novo paradigma é necessariamente
colega o seguinte: crítico em relação aos anteriores, porque os pensa e analisa.
“Competência e mérito continuam não valendo nada Dessa forma, os antigos papéis reservados ao “mestre” e ao
como critério de promoção nesta empresa...” “discípulo” reconfiguram-se, por sua vez, como metáfora, nas
Esse comentário talvez suscitasse esta suspeita: figuras do professor e do aluno.
“Você está querendo dizer que eu não merecia a promo-
ção?” CIÊNCIA/ARTE: O PROBLEMA DO CONHECIMENTO
Ora, o funcionário preterido, tendo recorrido a um suben- Quando o cientista ou o filósofo se interrogam sobre que
tendido, poderia responder: é isto, ou aquilo, iniciam um processo de busca do conheci-
“Absolutamente! Estou falando em termos gerais.” mento. Contudo, o ser da coisa não é a coisa. A coisa está aí, o
seu ser não. Para o filósofo (Ortega y Gasset, 1992: 139-158),
se queremos conhecer o ser da coisa temos que investigar e
não nos podemos abandonar às nossas percepções, e mais,
A LINGUAGEM DAS CIÊNCIAS E DAS ARTES temos que começar pela humilde tarefa de entender o signi-
E SEU ENTENDIMENTO COMO CHAVES À ficado da palavra ser (grifos meus).
COMPREENSÃO DO MUNDO E DA SOCIEDADE. A luz numa percepção visual (o exemplo é de Ortega) não
apresenta o seu ser. A luz é uma coisa que tenho diante de
mim, que está aí. Vê-la não é conhecê-la. Em contraposição,
conhecer a luz é saber da sua essência e esta essência não
ARTE E INSTITUIÇÃO: CONFLITO DE MODELOS está aí, ela não se mostra.
O modelo medieval de ensino da arte tinha como caracte- O ente luz me ilumina, vejo-a, mas o ser, a sua essência,
rística a relação direta e pessoal entre mestre e discípulo, visava não me ilumina nem a vejo, nem talvez tenha nunca a noção
a convivência técnica e o aprendizado através das encomendas dessa essência.
de obras de arte. A este sucede-lhe o modelo da Academia Não é a coisa que o conhecimento apreende, mas o seu
no século XVI (Roma, Florença, Bolonha) que dispõe os saberes ser, ou a sua essência, o ser de uma coisa não é a coisa, nem
e fazeres em disciplinas organizadas, tendo como finalidade a uma hipercoisa, é um esquema intelectual. O seu conteúdo
complementação teórica e intelectual do trabalho meramente revela-nos o que a coisa é, e o que a coisa é, está constituído
artesanal dos ateliês. Já o termo “Beaux-Arts” foi instituído pela pelo papel que a coisa representa na vida.
Académie Royale de Paris (1648) tornando-se rapidamente Conhecimento é pois, para Ortega, um esforço mental
universal, mas é no século XVIII que as academias conhecem que extrai do caos um esquema de ordem, um cosmos, uma
o máximo de prestígio que coincide com a mensagem do Ilu- informação, uma linguagem, diríamos.
minismo em favor de uma cultura laica, enciclopédica e univer- Conforme Robert Henry Srour (1978: 36) o pensamento
sal. O declínio verifica-se no século XIX com o romantismo que científico é concebido como processo produtivo que não se
procura uma arte liberta de regras (“a arte não pode ser ensi- confunde com o reflexo especular ou duplicação mental da
nada”). Inaugura-se então o período de oposição às academias, realidade. “Produzir conhecimentos não é uma leitura direta da
seguido depois pelas vanguardas que rejeitam sua função bem essência na existência”, diz Srour, isto porque “o real não é trans-
como os seus métodos (Enc. de l’Art, 1991: 2-3). parente e dele não se faz uma leitura imediata”. Produzir conhe-
Com o surgimento de novos canais de distribuição e pro- cimentos é transformar informações complexas (científicas ou
moção de arte (galerias e salões de exposições, etc.) as acade- tecnológicas, sensíveis e técnicas), em resultados de um proces-
mias são condenadas a uma sobrevivência medíocre, mesmo so de trabalho. Trata-se, pois, de uma intervenção intelectual so-
ao ostracismo. Já o sistema mercadológico e democrático her- bre objetos simbólicos (intuições, observações, representações)
dado dos salões, museus e galerias, assume a arte como mer- e não de uma transformação da própria realidade observada,
cadoria cujo valor artístico é estabelecido na bolsa de valores já que o “Real”, somente é acessível pelo signo, pois “o máximo
e tem como centro a mídia e seu colunismo social (o “beau grau de realidade só é atingido pelos signos”, como disse Peirce.
monde”), serve também ao poder e à lavagem de dinheiro. Max Bense, como semioticista, coincide com Ortega, para
Com a democratização da arte, numerosas pessoas pro- aquele, “o conhecer repousa na intervenção de seres inteligentes
curam uma formação artística para desenvolver as suas ex- no mundo o qual deve ser identificado para torná-los conscien-
pressões em ateliês de artistas (adaptação do paradigma me- tes...”. Bense propõe que a identificação do mundo como algo
dieval) de forma quase autodidata ou bem como “arteterapia”. dado (o físico), dá-se sob um esquema causal. A identificação do
Também, a crise da arte na contemporaneidade é eviden- mundo como sentido e significação dá-se sob o esquema se-
te. Pois enquanto insistimos em chamar de “arte” o produto mântico e comunicativo. Já a identificação do mundo como algo
das atividades primárias e/ou artesanais, o que temos hoje feito, tem o seu lugar sob o esquema criativo. Estes três estados
é um formidável sistema de manifestações midiáticas e có- se distinguem por uma determinação. O físico está fortemente
digos (artesanais, industriais e pós-industriais) que se mistu- determinado, o semântico o está convencionalmente, já o esta-
ram, interpenetram e recodificam. Assim, as idéias-chave de do estético o está débil e singularmente, ambiguamente.
multiplicidade, complexidade, multimediação e recodificação Somente o que está suficientemente determinado pode
são fundamentais para entendermos esse processo da arte ser conhecido e fixado, já o que está totalmente indetermina-
contemporânea. A complexidade dessas relações e discur- do (como o caos), não pode ser identificado e fixado: para se

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CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

identificar deve ser primeiramente transposto em certa medi- ARTE/CIÊNCIA: IDENTIDADES


da a um estado determinado, por débil que seja, isto é, uma Comparando a criação científica e a artística observamos
ordem. (Bense, 1972: 61). Estados físicos como sistemas de que na origem do ato criador o cientista não se diferencia
planetas, estruturas de cristais, etc., são fortemente determina- do artista, apenas trabalham materiais diferentes do Universo.
dos, mas estados estéticos como por ex.: a distribuição de co- Ciência e arte têm uma origem comum, na abdução ou capa-
res numa tela de Tiziano, ou a seqüência de palavras num texto cidade para formular hipóteses, imagens, idéias, na colocação
poético são determinados duma maneira fraca, equiprobável. de problemas, e nos métodos infralógicos, mas é no seu de-
Ainda, para o ensaísta Albrecht Fabri “a essência da arte sempenho e “performance” que se distanciam enormemente,
é a tautologia”, pois as obras artísticas “não significam, mas como nos processos mentais de análise e síntese.
são”. Na arte, “é impossível distinguir entre representação e Em 1945, o matemático francês J. Hadamard que condu-
representado”. Esta tese permite a Max Bense desenvolver o zia o estudo The Psychology of Invention in the Mathematical
conceito de “fragilidade” da informação estética, informação Field (Arnheim, 1980), registra o processo de criação, conforme
esta que transcende a informação semântica, no que concer- declara nas palavras de Einstein: “As palavras ou a linguagem,
ne à “imprevisibilidade, à surpresa, à improbabilidade da or- escritas ou faladas, parecem não desempenhar nenhum pa-
denação dos signos”. Bense chega a falar da impossibilidade pel em meu mecanismo de pensamento. As entidades físicas,
de uma “codificação estética”. (Campos, 1970: 21). que parecem servir de elementos no pensamento, são certos
Enquanto a ciência procura a determinação na hiper-co- signos e imagens mais ou menos claras, que podem ser volun-
dificação, a arte, em contraposição, tende ao singular e à bai- tariamente reproduzidos e combinados...” (...) “...De um ponto
xa codificação, pois a arte não é linguagem em sentido estri- de vista psicológico, este jogo combinatório afigura-se como
to. A sensibilidade artística se inventa e constrói como objeto traço essencial no pensamento produtivo, antes de haver qual-
em si, enquanto a linguagem científica codifica seu objeto, quer conexão com a construção lógica em palavras, ou em ou-
ela é um discurso sobre um fenômeno (mesmo virtual). tras espécies de signos comunicáveis a outrem”. “Os elementos
Nas relações entre arte e ciência podemos perceber o jogo acima referidos são, de qualquer modo, de tipo visual e mes-
do cientista com as regras, já para o artista é o jogo com as mo alguns de tipo muscular. Palavras convencionais ou outros
possibilidades perceptivas (utiliza-se aqui o “raciocínio percep- signos tem de ser procurados laboriosamente e somente num
tual”, entendido por Arnheim -1980: 265-, como trabalho cria-
segundo estágio, quando o jogo associativo está suficiente-
tivo com as relações entre qualidades sensíveis) e qualitativas
mente instaurado e pode ser reproduzido à vontade.”
da luz, vale dizer, com as suas aparências concretas. Já para o
Hadamard, via Campos (1977: 85-90), menciona uma opi-
cientista, interessa a sua natureza ou essência, corpuscular ou
nião de R. Jakobson: “Signos são um suporte necessário do pen-
ondulatória, ou ambas, é dizer, seu código ou linguagem. Para
samento. Para o pensamento socializado (estágio da comunica-
o artista tecnológico o domínio tem que ser total, isto é, ele tem
que ter acuidade perceptiva para o qualitativo da luz e também ção) e para aquele em vias de socializarse (estágio da formula-
conhecimento das leis que a regem e codificam em linguagem. ção), o sistema de signos mais usual é a linguagem propriamente
Em síntese, a questão do conhecimento em ciência ou dita. Mas o pensamento interior, especialmente quando criativo,
em arte, apresenta-se de forma muito diferente. Para a pri- de bom grado usa outros sistemas de signos, que sejam mais
meira, no plano do conhecimento abstrato de qualquer fe- flexíveis, menos padronizados do que a linguagem e deixem
nômeno que ocorre universalmente, em qualquer época e mais liberdade, mais dinamismo para o pensamento criativo.”
qualquer sítio; para a segunda, no plano do conhecimento O que confirma Peirce, pois para este autor só pensamos
concreto de um objeto concreto e individual, insubstituível e com signos e os pensamentos são conduzidos por três es-
singular (Srour 1978: 38). A arte não se doa ao mundo como pécies de signos, sendo, na sua maioria, aqueles “da mesma
informação semântica, mas como informação estética. estrutura geral das palavras”, tendo, por isso mesmo, um ca-
Mas, numa situação em que a ciência está à procura de ráter simbólico. Mas os que não são assim, são signos que
novos modelos de interpretação da complexidade universal servem para complementar ou melhorar a incompletude das
regida pelo “princípio de indeterminação” (Heisemberg), numa palavras. Esses signos pensamentos não-simbólicos são de
situação, onde tanto a filosofia quanto a própria arte estão em duas classes: figuras, diagramas ou imagens “tais como aque-
crise, é porque os modelos de representação e determinação les mais ou menos análogos aos sintomas que eu chamo de
do conhecimento e sensibilidade não são mais adequados. De índices e que nos servem para apontar para um objeto fora
fato, como os fenômenos para os cientistas ou são complexos de nós”. Assim, cada tipo de signo “serve para trazer à mente
demais, ou estão fora do alcance dos instrumentos e tecnolo- objetos de espécies diferentes daqueles revelados por uma
gias, não podem ser codificados. Parece que é aqui que a sis- outra espécie de signos” (C.S.Peirce, 1974: 6.338). Como se
tematicidade harmoniosa e teleonômica da omniciência clás- pode ver, o próprio pensamento já é intersemiótico, ou seja, o
sica (o paradigma newtoniano que procura as regras imutáveis verbal e o não-verbal interagem nele.
do universo -Prigogine, 1979) entra em entropia, abrindo-se Estes aspectos servem para demonstrar a capacidade
caminho para a ambigüidade, o caos, a desordem, a indeter- tradutora do cérebro humano em relação ao tema que nos
minação, a confusão e também para a interpretação estética. ocupa, ou seja, a colaboração entre o sensível e o inteligível.
Nestes casos, onde a ciência entra em colapso, só resta a Estas capacidades interpenetram-se e traduzemse para deto-
abdução, a teoria, e é nesse ponto que se abre um possível nar a criação, o pensamento interior. Já quando a arte entra
contato para a arte e o estético. Cria-se então um vácuo, uma no estágio de formulação, surge a especialização pelo “racio-
tábula rasa, e isso ao mesmo tempo que é inquietante, também cínio perceptual” e assim a arte se doa ao mundo como arte
é entusiasmante, porque abre-se a janela para o criativo, o ex- determinada (música / pintura / dança / cinema / etc.) des-
perimental, isto é, no fundo existe a possibilidade de se reunir mistificando, com isso, a ideológica dicotomia entre teoria e
estas áreas, de estabelecer uma coerência (holismo) entre elas. prática, saber e fazer.

19
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

ARTE/CIÊNCIA: SIMILARIDADES (realismo renascentista, realismo fotográfico, a reprodutibili-


As mentes científicas e artísticas são sensíveis às analo- dade na gravura, logo conseguida pela via da fotografia e fo-
gias e similaridades icônicas como bem registrou Einstein. tomecânica, entre outras), não explicam a qualidade assignada
Também Kekulé (químico alemão do século XIX), ousou “pen- a um Rembrandt, um Goya ou um Cartier Bresson, por exem-
ser en serpent” (Augusto de Campos), ou seja, ele criou a fór- plo. “Eu não evoluo, eu viajo” (F. Pessoa). Da mesma forma que
mula da molécula do benzeno em analogia (G. Jung) com o não existe uma ciência “artística”, tampouco existe uma arte
“Uroboros” (serpente que se morde a cauda). E Edgard Allan adjetivada de “científica”. Aliás, não existe nem uma estética
Poe com seu ensaio “A Filosofia da Composição”, se auto-inti- (especulação, reflexão) de cunho científico. O que existe, sim,
tula “engenheiro literário” ao mostrar o processo de composi- são cruzamentos “intertextuais” entre ciência e arte.
ção literária que parte dos efeitos para as causas (feedback) na O artista fica, portanto, nesse namoro (mal correspondi-
narrativa verbal. Já Meyerhold criava suas “marionetes” para o do) com a ciência, seduzido com a forma “como” o cientista
“teatro-máquina” segundo os princípios dos autômatos em codifica seu objeto. Isso está claro, a pesquisa tem um com-
síntese com o estilo simbolista. promisso com a verdade (relação signo-objeto) do conheci-
Por outro lado, há inúmeros signos icônicos e diagramáti- mento de seu objeto e a arte com as qualidades do objeto
cos que contem traços pan-semióticos e que agem como ver- que cria: objeto-finalidade-sem-fim.
dadeiros princípios ordenadores espaciais e temporais que, Arte (produto) não é pesquisa (stricto sensu), mesmo
como a Secção Áurea ou mesmo a série de Fibonacci (entre que esta faça parte (lato-sensu) de seu processo. A pesquisa
outros), foram usados em todas as artes: arquitetura, cinema, (procura) de materiais, cores, formas, temas, sons, diagramas,
pintura, cerâmica, música, escultura, gráfica, fotografia, insta- movimentos, enfim, matérias primas e procedimentos heurís-
lação etc.. ticos, etc., se caracteriza como meio e não como fim. O artista,
A apropriação pelo artista de esquemas representa- assim, opera como o “bricoleur”: “Isto também pode servir”.
cionais de cunho científico constitui-se num recurso lícito e Lévi-Strauss (1976: 37-55) nos ensina que “o artista tem,
necessário, de caráter intertextual, que, transposto para uma por sua vez, algo de cientista e de ‘bricoleur’”. (...) “Distinguimos
nova ordem (mesmo que seja desordem), servirá ao artista o homem de ciência e o bricoleur pelas funções inversas que,
para pensar e elaborar as suas idéias e/ou modelos mentais. na ordem instrumental e final, conferem ao acontecimento e à
Isto, porque o artista é sensível às aparências da repre- estrutura, um criando acontecimentos (mudar o mundo) por
sentação científica, que é o lugar onde se instala a dimensão meio de estruturas, e outro, estruturas por meio de aconteci-
estética da ciência. Assim como existe na ciência uma estética mentos”. É o percurso do artista ao inventar a sua poética de tal
do simples (os retângulos áureos de Gustav Fechner, por ex.), forma que, enquanto a obra se faz, se inventa o modo de fazer.
existe também uma estética do complexo (as metáforas en- A arte não tem compromisso com a verdade e sim com a
tre um chip e diagramas utilizados nas diversas culturas que estesia ou sensibilidade (aliás, algo instável). Assim, a arte se
sugerem a relação analógica e metafórica que procura assimi- mostra mas não demonstra.
lar o menos ao mais familiar, o desconhecido ao conhecido),
como íntima conexão entre imagens visuais e poéticas e o ARTE/CIÊNCIA: DIFERENÇAS
pensamento sensível e produtivo de outro. A pesquisa em ciência é caracterizada pela indagação
Mas, entre o uso estrutural de elementos da ciência e seu sobre um objeto codificado em linguagem, sendo que, tanto
uso metafórico, há um abismo. É o abismo existente entre o objeto como linguagem são também investigados e inquiri-
não-verbal e o verbal. A condição: ter a consciência de que dos a partir de uma meta-linguagem. A pesquisa, assim, trata
não se está fazendo ciência. Conforme com Adorno (1983: de transmitir informação e conhecimento sobre o objeto pes-
83), é muito fácil demonstrar que os artistas, entusiamados quisado, requer, portanto, o distanciamento crítico necessário
com a nomenclatura científica, cometem muitos erros e que para poder abordar e determinar seu objeto desde todos os
a terminologia que empregam para seus processos artísticos pontos de vista possíveis. O cruzamento dos pontos de vista
não corresponde às realidades que com eles trata de signifi- elimina o subjetivismo, delimita e define a verdade sobre o ob-
car. E Lotman (1981: 28): “Quanto mais a arte for arte e a ciên- jeto pesquisado. Isto, de acordo com o “princípio de incerteza”
cia, ciência, tanto mais específicas serão as suas funções cultu- e também com o conceito de Niels Bohr sobre a relatividade
rais e tanto mais o diálogo entre elas será possível e fecundo”. do conhecimento. Diz Bohr (via Arnheim, 1980: 223), que todas
Cabe aqui assinalar um exemplo notável na arte visual: é as informações sobre um objeto atômico, obtidas através de
o trabalho de Escher, que se apropria das estruturas das re- diferentes planos experimentais, são complementares.
lações Figura/Fundo (teorizadas pioneiramente pelo psicólo- Para o artista, a partir de um conceito de arte como diver-
go da Gestalt E.Rubin em 1915) para construir com inovação gência da norma, do código e da convenção na geração de
estética seus universos espaciais e utópicos, ambiguamente interpretantes (significados), a arte instala um desarranjo nos
figurativos e relacionais. hábitos, crenças, expectativas e convenções instituídas como
A dimensão estética da ciência reside no modo, ou seja no significados estabelecidos. De acordo com o poeta: “uma
“como” o cientista representa seu objeto e não no “quê” repre- obra de arte deveria ensinar-nos sempre que não havíamos
senta. Já a dimensão científica da arte reside nas estruturas e/ visto o que vemos. A educação profunda consiste em desfazer
ou diagramas ordenadores que são seu próprio objeto- fina- a educação primitiva” (Valéry, 1991: 145).
lidade-sem-fim. E P. Valéry arrisca: “As artes não têm método, Não foi outra a percepção de Marcel Duchamp no “Gran-
têm modo”. Daí que resulta inadequado falarmos em “pro- de Vidro” (inacabado em 1923), quando fez da ironia e da
gresso” ou mesmo em “evolução” nas artes. Mesmo nas séries atitude antimecânica os seus antídotos ao utilizar pseudo-
artísticas que se utilizam das tecnologias de representação e geometrias na criação das “máquinas delirantes” (O. Paz).
de conceitos científicos para atingir determinados objetivos Mesmo o gesto duchampiano, anti-técnico e inutilizador da

20
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

função do objeto ao transformá-lo em ready-made, é criador Dessa forma, o experimentalismo, funcionalismo e sincre-
da diferença (crítica), homologando a indeterminação e con- tismo, constituem os procedimentos modernos por excelên-
tradição humanas. cia (Ferrara, 1981: 9-20) que unem, definitivamente, poética e
Ainda mais, o arbítrio da criação artística permanece visí- metalinguagem no campo da arte.
vel na obra acabada, enquanto é eliminado na criação cientí- Esta mudança de paradigma vem sendo modificada
fica pelo recurso à verificação e à construção lógica durante a constante e sistematicamente pela ação dos meios tecnológi-
formulação. A obra artística é assim mais independente, esta cos, que, como a fotografia, cria o “Museu Imaginário” como
elabora-se sob o princípio do paradigma, do modelo, do sin- “imprensa das artes plásticas” (A. Malraux, 1951) e a repro-
gular, do “eterno retorno”, já a obra científica é elaborada sob dutibilidade da obra de arte (W. Benjamin, 1980). Processo
o signo do geral, do sintagma, do progresso “e está ligada a este que continua atuante com o crescimento das tecnologias
todo o edifício da ciência” (Moles, 1981). Também, enquanto de base informática e eletrônica que providenciam recursos
a obra científica procura a monossemia e o “interpretante fi- e instrumentos para todas as atividades humanas, incluída
nal”, a obra artística procura a polissemia (“abertura” às mui- a arte. Por outro lado, temos que reconhecer, com Adorno
tas interpretações). Aqui é que se verifica essa transmissão (1983: 82), “que a técnica é um constitutivo da arte do passa-
do processo criador do artista para o espectador, que é a do na proporção incomparavelmente mais relevante do que
característica da arte. a admitida por essa ideologia cultural que nos pinta a era por
Por outro lado, o “texto artístico” tem um caráter “mo- ela denominada técnica como uma corrompida continuação
delizante” porque se projeta sobre a realidade de seu pró- de outras em que reinava a espontaneidade humana”.
prio modelo (Lotman: 1981: 19). E Paul Valéry (1991: 140): Pode se constatar então fluxos/refluxos, tensões/disten-
“As ciências e as artes diferem principalmente nisto, que as sões, aproximações/distanciamentos, somas/exclusões entre
primeiras devem visar resultados certos ou enormemente as diversas esferas e, portanto, entre os pensamentos cientí-
prováveis; as segundas podem esperar apenas resultados de fico e artístico. O fazer-pensar arte na universidade significa o
probabilidades desconhecidas”. estabelecimento de laboratórios vivos que vão de encontro
Também para E. Gombrich, o objetivo perseguido pelo ao esgotamento do campo dos possíveis mediante métodos
artista não é uma proposição verdadeira como na ciência, heurísticos. Isto é crítico em relação ao modelo romântico,
senão um efeito psicológico. “Tais efeitos podem ser estuda- como cultura do ego expressivo, e aos mitos do inconsciente
dos, mas não podem ser demonstrados”. e da falácia da “linguagem própria”. O fazer-pensar arte socia-
Como disse Marcel Duchamp: “Não há solução porque liza, assim, as poéticas e ilumina as práticas artísticas demons-
não há problema”. trando que precisar o impreciso é sempre um possível.
O artista-teórico põe em prática uma ação contemplativa,
ARTES E CIÊNCIAS: INTERDISCIPLINARIDADE de examinador e especulador sistemático. Com lucidez vai ao en-
Mas, como diz Arnheim (1980: 312), “o ensino da arte contro dos princípios que fundamentam a sua arte. É neste senti-
não pode ser eficaz se não se tem uma idéia correta de para do que ele se opõe ao mistério e à ingenuidade em arte, pois “o
que serve a arte e sobre que versa”. Para responder a esta inconsciente só funciona a plena satisfação quando a consciência
questão, devemos levar em conta que as várias “esferas” cumpre sua missão até o limite das suas possibilidades” (Arnheim,
que se articulam na dimensão cultural ou “universo simbó- 1980: 226). Assim, o meramente lúdico, é completado pelo lúcido,
lico estruturado” são a matéria-prima das práticas culturais, pois Mestre é aquele que domina as regras de seu jogo.
são abstrações, não o próprio real na sua concretude. Dessa Os artistas querem entender como se processa o fazer,
forma, a “esfera ideológica”, como campo nuclear da cultu- este é seu significado. Este querer-saber-do-fazer é ir ao en-
ra (sistemas de representações, valores e crenças); a “esfera contro da metalinguagem própria do artista, ou seja, aquela
cognitiva” (como sistema de conhecimentos científicos); a que diz respeito à Poética como processo formativo e ope-
“esfera artística” (como forma multifacetal e contraditória de rativo da obra de arte. De tal forma que, enquanto a obra se
apropriação “sensível” do real); e a “esfera técnica” (modos faz, se inventa o modo de fazer. Há, contudo, muitas artes,
de proceder das várias práticas), interagem e se recobrem com especificidades, complexidades e formulações próprias,
(Srour, 1978: 37). Desde esse ponto de vista, a “esfera artís- mas os dois elementos constituintes do princípio criativo, a
tica” multifacética se apropria e interage, contraditória e não “formação espontânea” e o “ato consciente”, são comuns a
antagonicamente, com o resto das “esferas”. É o que acon- todas elas. “O reflexivo sucedendo ao espontâneo e viceversa,
tece no século XVIII; quando as artes se libertam da esfera dentro dos caracteres principais das obras, mas estes fatores
ideológica (moral e religião), elas partem para a procura da estão sempre presentes” (Valéry, 1957: 1412-1415).
própria especificidade e autonomia, surgindo assim: pintura Conclui-se que a intuição sem conceito não existe e que
pura, música absoluta, escultura pura, arquitetura pura, poe- o conceito sem a intuição é vazio, assim “a arte é a união do
sia pura etc., encontrando nesse processo de busca, novas instinto (intuição) com a inteligência” (F. Pessoa).
heteronomias e fatos extra-artísticos. As artes, nessa procura, É esta a relação que entendo deve ser estudada em qual-
terminam se inscrevendo no espírito da geometria, da técni- quer Poética (síntese operativa do fazer-pensar), utilizando-se,
ca, da ciência, da construção e da linguagem. para isso, do cruzamento iluminador de todas as artes e ciên-
Mas é com a Revolução Industrial que começa no século cias como meios possíveis (o que aponta para uma compara-
XIX a transformação radical das artes, pela influência dos no- ção entre elas). Assim, o raciocínio perceptual (saber sensível)
vos códigos, linguagens e meios de produção, que “alteram e o pensamento como interação combinatória (a procura do
maravilhosamente a mesma noção de arte...” (Valéry, 1957: inteligível), constituem o cenário do pensamento criativo, de
1284-1287). Assiste-se assim à transformação operada na forma correlata, complementar, cooperativa, interdisciplinar e
formação do artista e nos modelos de ensino. multimídiática no intuito de pensar-fazer a luz.

21
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Bibliografia Já a sociologia e a antropologia são mais jovens, nasceram


ADORNO, Theodor W. Teoría Estética. Barcelona, E. Orbis, no século XIX e se desenvolveram no XX, estando ainda em fase
1983 de estruturação e, de certa forma, afirmação de sua cientificidade.
ARNHEIM, Rudolf. Hacia una psicología del arte. Madrid, Pensando nesta matriz básica das Ciências Humanas,
Alianza Editorial, 1980. contemporaneamente, a formação dos profissionais das mais
BENJAMIN, Walter. “A obra de arte na época de suas téc- diferentes áreas, na maior parte dos casos, carece justamente
nicas de reproducão”. In Os Pensadores, São Paulo, Abril Cul- deste referencial.
tural,1980 Abandonado em nome do aprimoramento técnico espe-
BENSE, Max. Pequena Estética. São Paulo, Perspectiva, cializado, conduzindo a problemas de ordem ética e huma-
1971. [ Links ] nista que, por sua vez, terminam interferindo no desempenho
CAMPOS, Haroldo. (org.) Ideograma: Lógica, Poesia, Lin- eficiente da profissão qualquer que seja.
guagem. São Paulo, Ed. Cultrix, 1977. Um profissional da saúde que comete um erro de diag-
_____________Metalinguagem. Rio de janeiro, Editora Vo- nostico, ou troca a medicação involuntariamente por falta de
zes, 1970. atenção, demonstra formação falha de natureza humanística.
ENCYCLOPÉDIE DE L’ART. La Pochothéque, Paris, Garzanti, 1991. Igualmente, um engenheiro que involuntariamente preju-
FERRARA, Lucrécia D’Alessio. A Estratégia dos Signos. São dica seres humanos, defendendo-se afirmando que se ateve
Paulo, Perspectiva, 1981. apenas aos aspectos técnicos, também carece dos pressupos-
LÉVI-STRAUSS. O Pensamento selvagem. São Paulo, tos básicos das Ciências Humanas.
Companhia Editora Nacional, 1976. Devemos lembrar que os nazistas, no final da primeira
LOTMAN. Iuri. Semiótica Soviética. Lisboa, Horizonte Uni- metade do século XX, torturaram, mataram e cometeram
versitário, 1981. atrocidades bárbaras em nome da eficiência técnico indus-
MALRAUX, André. “Le Musée Imaginaire”. In Les Voix du trial. Usando seres humanos inocentes em experiências médi-
Silence. Paris, La Galerie de la Pleiade, 1951. cas e chegando ao requinte macabro de cortar os cabelos de
MOLES, Abraham. A criação científica. São Paulo, Pers- suas vitimas dentro de um padrão industrial, que servia para
pectiva, 1981. fabricar chinelos para as tripulações dos submarinos alemães,
ORTEGA Y GASSET, José . Qué es conocimiento?. Madrid, antes de envia-las para as câmaras de gás.
Alianza Editorial,1992. Vitimando, sem distinção, homens, mulheres, jovens, ve-
PEIRCE, C.S. “Escritos Coligidos”. In Os Pensadores, São lhos e crianças.
Paulo, Abril Cultural, 1974. A grande questão envolta da ausência da reflexão huma-
PRIGOGINE, Ilya. La nouvelle alliance. Paris, Gallimard, nista mais apurada está atrelada a invisibilidade do outro.
1979SROUR, Robert Henry. Modos de Produção: Elementos O profissional que nunca refletiu sobre temas filosóficos,
da Problemática. Rio de Janeiro, Edicões Graal, 1978. históricos, sociológicos e antropológicos possui enorme difi-
VALÉRY, Paul. “La conquête de l’ubiquité, Pieces sur l’art”. culdade em reconhecer-se no outro, tratando o semelhante
In Oeuvres II, Paris, Gallimard, 1957 com descaso e ausência de ética.
____________Variedades. São Paulo, Iluminuras, 1991. Além disto, possui dificuldade para entender o mundo
___________”L’Invention Esthetique”. In Oeuvres I. Paris, Gal- em que vive e a importância de suas ações para o progresso
limard, 1957. da humanidade.
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex- Razão pela qual o processo civilizatório se encontra deca-
t&pid=S1678-53202003000100004 dente, com o aumento dos índices de violência em todo pla-
neta e a banalização do desrespeito para com a vida, fazendo
imperar a mais pura anomia.
Um processo que inaugurou um estado em que paramos
A LINGUAGEM DAS CIÊNCIAS HUMANAS NO
para refletir sobre estes efeitos, somente quando atingidos di-
PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS DIMENSÕES retamente em nossa natureza psicológica e física.
ESTÉTICAS, ÉTICAS E POLÍTICAS DO Neste sentido, antes de aprofundar a discussão sobre a
ATRIBUTO EXCLUSIVO DO SER HUMANO. importância das Ciências Humanas na formação profissional,
devemos percorrer os labirintos construídos pelo sistema ca-
pitalista. Definindo inicialmente uma composição mais deta-
A rigor, as Ciências Humanas envolvem uma ampla gama lhada para as humanidades.
de conhecimentos, aparentemente distanciados, tal como
economia, administração de empresas, contabilidade, direito, A natureza das Ciências Humanas.
geografia, psicologia, pedagogia, linguística, política, arqueo- Para entender a importância de uma formação humanís-
logia, etc. tica, é necessário entender o âmago primordial das Ciências
No entanto, a matriz básica que originou todas as outras Humanas.
subdivisões é constituída pela filosofia, história, sociologia Por definição, as humanidades abordam diversos aspec-
e antropologia. Ao passo que a primeira é mãe de todas as tos do ser humano como individuo, pessoa e sujeito, tanto no
ciências não só humanas, mas também exatas e inerentes às que tange a introspecção como a externalidade relacionada
biológicas ou saúde. consigo mesmo, o outro e o mundo.
A história é quase tão antiga quanto à filosofia, embora Em resumo, as Ciências Humanas deveriam buscar des-
seu referencial teórico vigente seja relativamente recente, re- vendar a complexidade que define a própria humanidade e a
montando ao século XVIII e, principalmente, XIX e XX. distingue do aspecto puramente animal.

22
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Curiosamente, os reajustes do sistema capitalista foram O cuidado consigo, o outro e o mundo é uma questão de
afastando as diversas áreas do conhecimento deste ideal, sobrevivência, onde tudo espelha o “eu”, e, por esta razão, exi-
somente a sua matriz original conservou a inquietação com ge uma atitude altruísta, já que a natureza humana é egoísta,
maior intensidade. instintivamente construída e reforçada pelo capitalismo.
Isto porque as Ciências Humanas, agregando as exatas
e biológicas, pertenciam à filosofia nos primórdios da siste- Vertentes humanistas.
matização do conhecimento, quando os mitos começaram a A matriz básica das Ciências Humanas possui inúmeras
ser abandonados em favor de sua gradual substituição pela vertentes, com concepções especificas de homem que inter-
racionalização. ferem no olhar sobre as problemáticas abordadas.
Entender o próprio homem e tudo que o rodeia, sem re- Igualmente interferindo na postura profissional; na forma
correr aos deuses, era o objetivo inicial, quando por volta do de aplicar a técnica; de conceber instrumentais de trabalho;
século VIII a.C, na Grécia e em outras partes do Velho Mundo, de lidar com o outro, a coletividade, o mundo, a construção
intensos debates originaram a filosofia. do conhecimento.
A primeira grande subdivisão deste conhecimento tota- Influenciando toda amplitude das Ciências Humanas, pe-
lizante aconteceu quando, ainda na antiguidade, Heródoto netrando também nas Exatas e Biológicas.
cunhou a palavra história, abrindo espaço para uma separa- Uma das primeiras configurações humanistas foi inaugu-
ção que se processou lentamente. rada pela tradição socrática na antiguidade, quando a figura
Na realidade, um dos grandes marcos de ruptura entre simbólica de Sócrates propôs a atitude expressa pela maiêuti-
filosofia e história ocorreu somente no século XVIII e, prin- ca e a máxima “só sei que nada sei”.
cipalmente, XIX, a despeito de avanços significativos em sua Um posicionamento de abertura para o mundo e cons-
construção teórica no século XX. tante aprendizado, assumindo uma posição de aceitação da
Destarte, a Revolução Francesa, mais precisamente o ilu- ignorância diante da vastidão do conhecimento por construir.
minismo, inaugurou a divisão clássica entre Humanas, Exatas O que foi complementado pela mencionada maiêutica,
e Biológicas. Um processo que contou com a influência da o parto de ideias, a atitude questionadora, formando o senso
Revolução Industrial, período em que passou a existir uma crítico apurado e aberto ao dialogo com o outro.
valorização do domínio técnico como sinônimo de ciência e Pensamento em concordância com a visão grega de ho-
progresso científico. mem, entendido como eixo unificador da ordem do universo,
Foi quando a racionalização totalizante, tendo a humani- onde existe uma dualidade entre mundo das ideias e mundo
zação como centro, foi relegada ao plano inferior em nome sensível pela qual o sujeito transita, ordenando a existência
do lucro. das coisas.
As Ciências Humanas passaram, a partir de então, a ser O que conduz a uma série de perguntas que clamam pela
visualizadas como distintas do universo do mundo dos ne- origem das coisas e do próprio homem, conduzindo a racio-
gócios. nalização dos atos e sistematização do conhecimento do eu,
Embora a sociologia tenha fornecido instrumentos para do outro e do mundo para lidar com a dualidade.
controle das massas de proletários, manipulando comporta- A vertente teocrática cristã medieval, imbuída intensa-
mentos para beneficiar a evolução da industrialização e urba- mente de religiosidade, enxerga o homem como criatura de
nização crescente. Deus, que estabelece um dialogo contínuo com o criador,
Entretanto, o homem continuou constituindo um ser do- sendo dotado de livre arbítrio.
tado de múltiplas esferas, um animal sociopolítico que, diante O que implica na responsabilidade social humana sobre
de sua fragilidade física perante a natureza, necessita interagir as próprias ações, com consequências para tudo que rodeia
e viver na coletividade para sobreviver. o homem, sendo o conhecimento fruto da revelação divina,
As próprias relações de trocas que caracterizam a essên- mas também de escolhas da humanidade.
cia do sistema capitalista carecem da interação humana e da Isto, a despeito do centro da Ciência estar fixado em Deus
reflexão centrada nas humanidades. e, por decorrência, em sua principal criação, o homem.
Razão pela qual a filosofia dividiu-se em outras áreas do A concepção de homem integral, inteiro, dotado de múlti-
conhecimento humano no século XIX, no caso, sociologia e plas esferas, tornou-se o parâmetro do humanismo renascen-
antropologia; que mantiveram sua preocupação com as hu- tista a partir do século XIV, integrado ao mundo pela sua rela-
manidades, seu objeto central de estudo. ção com o divino, mas igualmente com o profano, abrindo es-
Assim composta e comportando múltiplas esferas, as paço para abandonar a figura de Deus em nome da razão pura.
Ciências Humanas podem ser definidas como conhecimento Uma vertente que centralizou a reflexão no homem, su-
sistematizado que tem o homem e a sociedade como centro. bordinando todo conhecimento para tentar entender a exis-
O que envolve o estudo das interações entre as pessoas tência e o sentido da vida, inaugurando o desabrochar da
em diversos níveis, inclusive no aspecto econômico, pedagó- Ciência e o período do antropocentrismo em oposição ao
gico, organizacional e normativo. teocentrismo.
Portanto, tenta desvendar a complexidade humana, tran- Até então, o homem e o que poderíamos chamar de
sitando entre a construção do pensamento e a evolução bio- Ciências Humanas configurou o centro do conhecimento, su-
lógica, aspectos interdependentes. bordinando as Exatas e Biológicas.
Centralizando a observação dos fenômenos no homem, O que começou a mudar na Idade Moderna, quando o
os valores éticos e morais terminam aprofundando a analise homem substitui Deus pela sua própria figura, definindo-se
de seus diferentes componentes, atribuindo significado racio- como ser pensante dotado de autonomia, fornecida pela ra-
nal às necessidades sociais e culturais. zão cartesiana e a experiência empirista.

23
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Mesmo diante deste panorama, a natureza humana ain- A utilidade das Ciências Humanas.
da é holística, dotada de totalidade que integra as partes e A utilidade das Ciências Humanas na vida profissional, em
serve para estabelecer inter-relações entre as subdivisões do qualquer área, é muito mais ampla do que se imagina.
conhecimento, que, pela altura, já começava a surgir. Em primeiro lugar, como lembrou Leonardo Boff, clama
Entretanto, o período contemporâneo ou pós-moderno pela dignidade humana e remete à construção ética da pes-
agrega a tendência mecanicista, que procura explicar o mun- soa, a reboque, da prática profissional, em prol de uma socie-
do através de analogias com o funcionamento de máquinas, dade mais justa e igualitária.
momento em que o homem perde espaço para os objetos e Inserindo-se no resgate da preocupação consigo mesmo e
fenômenos que o rodeiam, tornando-se apenas um elemento o outro, que se perde no processo de formação compartimen-
que reage as forças que lhe são aplicadas. tado e tecnicista, imposto pelo capitalismo fordista vigente.
É neste sentido que Darwin, com o evolucionismo, ao Neste sentido, resgata, ou pelo menos tenta, a totalidade
abordar a evolução como fruto da seleção natural, transforma humana e a concepção de conhecimento interligada e depen-
o homem em apenas mais um ser dentre tantos outros dispu- dente da multiplicidade.
tando recursos naturais e lutando pela sobrevivência. Por sua vez, camuflada e oculta pelo tecnicismo profissio-
Igualmente, Comte, demonstra que o homem é apenas nal, distorcendo a própria visão sobre o mundo e a participa-
mais um objeto de estudo dentro do âmbito da mecânica so- ção do “eu” na auto reprodução do sistema capitalista.
cial. Portanto, as Ciências Humanas ampliam a percepção,
Pouco a Pouco, o homem é convertido em máquina de estimulando a formação de um senso crítico intensamente
produzir e consumir por uma lógica tecnicista, que também questionador e transformador da realidade.
estabelece tendências. A competitividade, sob esta ótica, não deixa de existir,
Tal como o capitalismo liberal e neoliberal, que enfatiza mas torna-se ética, estabelecendo a preocupação com o ou-
o individualismo e a competitividade, abandonando o olhar tro e uma vivencia profissional humanizada.
para o outro como espelho e para o mundo como conse- O autoconhecimento de si mesmo, reconhecido como
quência dos atos humanos. espelho no outro, aproxima as pessoas e demonstra que exis-
Em certo sentido, a pós-modernidade divide o homem te uma intensa interdependência que interfere no desempe-
em múltiplas facetas, quebra sua unidade existencial, trans- nho profissional.
formando em verdade somente o que é útil à reprodução do A ausência do paciente, não existe o médico. Na falta do
capitalismo e da desigualdade. aluno, não existe razão no trabalho do pesquisador ou do
A pluralidade perdida permanece sendo discutida pela professor.
matriz das Ciências Humanas, em muitos casos em uma ten- As próprias relações de trocas, a produção industrializada,
tativa de resgate das antigas vertentes humanistas. perdem seu sentido sem o homem como centro do processo.
Todavia, o abandono da humanização, em beneficio do Assim, em um mundo dominado pela competitividade,
tecnicismo profissionalizante, continua a desprestigiar as com um mercado de trabalho que exige excelência no de-
Ciências Humanas, reduzidas a literatura ou poesia, puramen- sempenho profissional; a preocupação com o outro demons-
te imaginada e sem conexão com a realidade, consideradas tra também o cuidado consigo mesmo, pois o “eu” se trans-
afastadas de uma utilidade prática. forma constantemente no “ele”, gritando pelo “nós” através
Nada mais falso, como tentaram demonstrar diversas ten- da formação humanista.
dências humanistas surgidas ou aprofundadas no século XX. Este resgate da totalidade transforma o desempenho
Tal como o marxismo, que, a partir da dialética e do ma- profissional e a consciência do mundo.
terialismo histórico, define o homem como produto do meio, Sujeitos alienados são facilmente manipulados, configu-
mas também produtor consciente das condições materiais rando um problema do ponto de vista da eficiência profis-
transformadoras da vida. sional, pois exigem supervisão constante, diante da incapa-
Em todo caso, centro das relações de troca, das condições cidade de perceber as questões que se apresentam e tomar
e condicionantes técnicas, da economia, das inter-relações decisões acertadas.
entre indivíduos e com o próprio habitat. É neste sentido que a consciência do mundo, ao ampliar
Ou ainda como os humanistas sigilosos, que tentaram o senso crítico, cria autonomia, capacidade de resolução de
resgatar a espiritualidade como unificadora da totalidade. problemas de forma integrada e integradora, pensando no
Caminho oposto ao humanismo logosófico, centrado no âmbito humanista que vê o conhecimento e as pessoas como
logos, na razão, que tanta realizar a evolução humana pro- parte de um todo sistêmico.
pondo resgatar a totalidade do ser, uma tendência argentina Refletindo por este prisma, as humanidades estreitam re-
que busca a excelência. lações sociais e melhoram a convivência política, tendo o bem
O humanismo, qualquer que seja a vertente ou profissão, comum de determinada categoria profissional como foco ou
é um instrumento essencial para entender a vida humana, o da organização a qual os indivíduos pertencem.
mundo, o outro, a aplicação de técnicas em um contexto éti- A reboque, dentro da construção de uma postura ética,
co e de fato racional; além do lugar do sujeito na ordem do constrói o caminho da busca da felicidade coletiva da socie-
universo amplo da existência fragmentada, que na realidade dade em sentido amplo.
compõe uma única totalidade múltipla. Portanto, em qualquer profissão, a formação em Ciências
Porém, pensando pragmaticamente, qual é afinal a utili- Humanas conduz a humanização do conhecimento técnico,
dade das Ciências Humanas na vida profissional? otimizando o desempenho profissional em vários sentidos,
Por que inclui-las como essencial na formação acadêmi- autossustentado a relação do sujeito com tudo que o rodeia
ca, principalmente na área de Extas e Biológicas? e consigo mesmo.

24
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Concluindo. temas totalizantes de explicações, e por esse motivo muitos


A amplitude do conhecimento humano não pode ser ra- acharam que o Humanismo não se enquadraria numa escola
zão de limitação do conhecer, antes, deveria permitir compor filosófica específica. No entanto, mesmo não havendo siste-
uma constante ampliação de competências aos profissionais mas totalizantes de interpretações sistemáticas da realidade, a
de todas as áreas. congruência de um olhar voltado a partir da realidade huma-
As facilidades tecnológicas e de comunicação, em si, na para se explicar o mundo, mesmo que de forma fragmen-
compõem grandes oportunidades de interações e diálogos, tada, nos coloca na evidência de ao menos concebê-lo como
nem sempre aproveitadas adequadamente, em meio à estru- uma corrente filosófica.
tura do sistema capitalista fordista. A perspectiva de uma tendência secular crescente dada
As Ciências Humanas apresentam-se, frente a este pro- pelo deslumbre da vida nas cidades, fez com que banquei-
blema, como fator integrador, agregando as Exatas e Biológi- ros ricos, mercadores e comerciantes abastados voltassem seu
cas em suas discussões. olhar para o desfrute dessa vida em contrapartida a uma ex-
Exemplo que deveria ser seguido por estas, onde o es- pectativa de salvação numa vida futura (PERRY 2002, p. 220).
paço das humanidades precisa ser revisto com urgência nos Isso não significa um ateísmo latente, mas uma clara dicoto-
meios acadêmicos. mia entre o discurso hegemônico religioso católico e a reali-
A ausência de uma formação humanizada tem demons- dade da vida mundana que se abria para quem tinha recursos
trado consequências desagradáveis nos diversos campos pro- na efervescência cultural das cidades renascentistas. A intelec-
fissionais, inclusive nas Ciências Humanas, com prejuízos que tualidade crescente e a busca de outras referências que justifi-
se acumulam a volumam na sociedade. cassem o usufruto de uma nova posição social de uma classe
Isto não significa que o teor técnico profissional deva ser emergente que diferia do clero, dos nobres e do povo comum,
abandonado, mas sim que as humanidades precisam enri- deflagram um movimento cultural que se centra no homem
quecer este conhecimento, devendo ser valorizadas, estuda- como porta-voz daquilo que deve se constituir a forma de se
das e aprofundadas. viver e explicar a realidade. Apesar das polêmicas, o Humanis-
Antes de ser um profissional, qualquer sujeito é um ser mo como movimento dentro da Renascença se constitui uma
humano, ocorre que nas mais diversas áreas, a humanização gama de olhares que influencia e é influenciado por uma filo-
está colocada de lado em nome da automação funcionalista. sofia multifacetada que se delineia a partir desse novo olhar.
Não somos máquinas, mas humanos e, portanto, carece-
mos de uma formação humanística que conduz a reflexão e Ruptura ou Continuidade?
ao dialogo. Embora o Humanismo dentro do Renascimento constitua
O que pode ser embasado pela filosofia, história, sociolo- um dos traços mais característicos desse período, chegando
gia e antropologia. inclusive a ter “uma influência determinante no pensamento
Indicativos de um caminho mais seguro em meio ao la- moderno” (MARCONDES 2006, p. 141), o Renascimento vai
birinto capitalista, tecnicista e profissionalizador, representado além do Humanismo e abarca o próprio Naturalismo, inserin-
pelo atual sistema educacional e pelas relações estabelecidas do o homem na história e na natureza como forma de dispor
no mundo globalizado. de seu próprio destino.
Texto: Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos. Giovanne Reale traz duas concepções opostas de autores
Fonte: http://fabiopestanaramos.blogspot.com. que procuraram definir as características desse período com
br/2012/07/a-importancia-das-ciencias-humanas-na.html base na dicotomia entre ruptura e continuidade; Kristeller e Garin
(REALE e ANTISERI 2002, p. 18-24). No entanto Danilo Marcon-
des recorre à análise e divisão histórica de Hegel (MARCONDES
2006, p. 139-141), e delimita o início da Filosofia Moderna e da
A LINGUAGEM DAS CIÊNCIAS E DAS própria noção de Moderno, a partir de  Ideias centrais e fatos
ARTES E AS IMPLICAÇÕES AO PENSAR importantesque reforçaram essas Ideias e que desembocaram
FILOSÓFICO, A PARTIR DO numa forma de pensar característica. A noção dialética da Histó-
RENASCIMENTO. ria percorre o caminho da síntese entre os dois caminhos dicoto-
mizados e o caracteriza no próprio fluxo dos contextos históricos.
Segundo essa concepção, é no próprio período prece-
dente que deve conter os elementos de sua própria supe-
O Renascimento é um movimento amplo, cultural e urba- ração, que provocará a dialética necessária a próxima etapa
no, que se inicia na Itália, mas circunscreve-se a toda Europa histórica. Nessa concepção podemos reunir então as Ideias
Ocidental e que procura retomar os valores da cultura clássica e fatos que contribuíram para a passagem da medievalidade
greco-romana. Sua amplitude se inscreve também em mu- para a modernidade.
danças políticas e econômicas, que vai desde a mudança de Ideias centrais:
regime político a uma transição do feudalismo medieval para a.  Ideia de Progresso: “que faz com que o novo seja con-
o capitalismo propriamente dito como modo de produção siderado melhor ou mais avançado que o antigo” (MARCON-
(passando pelo metalismo e pelo mercantilismo). DES 2006, p.140), e para isso o resgate do pensamento da
O Humanismo, poderíamos dizer, teria sido a base episte- antiguidade clássica Greco-Romana se fez necessário;
mológica desse período; o tipo de olhar lançado a toda histo- b. Valorização do Individuo: “ou da subjetividade, como
ricidade que caracteriza o período renascentista. A valorização lugar da certeza e da verdade, e origem de valores, em oposi-
do Homem, do indivíduo, do discurso plural e muitas vezes ção à tradição, isto é, ao saber adquirido, às instituições, à au-
direcionado e setorizado, rivalizaram com a tentativa de sis- toridade externa.” (MARCONDES 2006, p.140). Ou ainda nas

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CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

palavras de Abagnano: “reconheceu o valor do homem como sibilidade na trama de uma ordem lógica preestabelecida. Essa
ser terrestre ou mundano, inserido no mundo da natureza e filosofia, ignorada no período do humanismo como vã e inútil,
da história, capaz de nele forjar o próprio destino. O homem é substituída por pesquisas concretas, definidas e precisas na
a quem se reconhece um tal valor é um ser racional e finito, direção das ciências morais (ética, política, economia, estética,
cuja integração na natureza e na sociedade não constitui con- lógica e retórica) e das ciências da natureza (...) cultivadas iuxta-
denação nem exílio mas antes um instrumento de liberdade própria principia, fora de qualquer vínculo e de qualquer aucto-
o que por essa razão pode obter no meio da natureza, e entre ritas (...)” Eugênio Garin, apud in (REALE e ANTISERI 2002, p.20)
os homens a sua formação e a sua felicidade.” (ABBAGNANO O fato é que, a partir da leitura dos textos referenciados,
1970, p. 15-16) não fica claro em nenhum deles uma relação de causalidade
Fatos Importantes: entre uma nova concepção de mundo engendrando a his-
a. Humanismo renascentista iniciado no sec. XIV (como toricidade das mudanças, ou a historicidade das mudanças
movimento cultural amplo, intelectual, educacional, artístico engendrando novas formas de se pensar. Se a descoberta das
e literário - Petrarca) Américas pôde ter como origem a retomada de pensamentos
b. Invenção dos tipos móveis por Gutenberg no sec. XIV que previam outro olhar ao mundo e que proporcionaram as
c. Descoberta do Novo Mundo sec. XV viagens de Colombo, Vasco da Gama e Cabral, não há dúvida
d. Reforma Protestante do sec. XVI que a própria viagem e descoberta das Américas proporcio-
e. Revolução Científica do sec. XVII naram novas visões de mundo e pesquisas que mudaram a
Tanto Reale, ao final de sua comparação das visões entre percepção da realidade e do homem como Sujeito Histórico.
Kristeller e Garin, quanto Abagnano em sua introdução do vol. O “Espírito” moderno parece ter-se feito dialeticamente, como
V de sua História da Filosofia parecem concordar mais com a preconizaria Hegel em sua Fenomenologia do Espíritotrês sé-
tese de Garin, embora salientem que essa ruptura, esse novo, culos depois do início da Renascença.
traga também em seu bojo certa continuidade do antigo. O Em minha leitura particular desse período, o que parece
olhar renascentista lançado ao passado, tanto dá continuida- caracterizá-lo como nenhum outro antes dele, é a capacida-
de a uma tendência já identificada na medievalidade tardia de de abrigar, a despeito da resistência do sistema totalizador
(prenunciada em Guilherme de Ockham), quanto também vai quase agonizante que ainda insistia em controlar as mentes
além do olhar antigo para o estabelecimento de novas con- ávidas por conhecimento, a pluralidade e a diversidade de con-
cepções que os clássicos não tinham. Abagnano se expressa cepções e olhares sobre o passado. Buscavam-se os antigos,
sobre isso da seguinte maneira: os clássicos, em toda sua multicolorida concepção de mundo,
“Não é possível considerar o Renascimento meramente coexistindo tanto um olhar voltado ao ceticismo e o relativismo
como a afirmação da imanência em contraste com a transcen- dos sofistas, quanto um olhar totalizante e metafísico platônico,
dência medieval ou da irreligiosidade, do paganismo, do indivi- porém levando-se em conta seus próprios contextos históricos.
dualismo, do sensualismo e do cepticismo em contraposição à No entanto, notamos em comum tanto na antiguidade
religiosidade, ao universalismo, ao espiritualismo e ao dogma- quanto na medievalidade e na renascença um mesmo modus
tismo da Idade Média. Não faltam e até abundam no Renas- operandis de voltar-se ao passado: a busca de confirmações
cimento motivos francamente religiosos, afirmações enérgicas de suas próprias aspirações. Platão e Aristóteles quando se
de transcendência e certas retomadas de elementos cristãos e voltaram aos filósofos que os precederam e até aos seus con-
dogmáticos; muitas vezes esses motivos e elementos aparecem temporâneos, sempre os olharam a partir de suas próprias
entrelaçados com elementos e motivos opostos, formando sis- visões, pincelando em suas considerações apenas aquilo que
temas complexos cujo centro de gravidade e sentido completo pudessem confirmar suas próprias Ideias ou fornecerem con-
são difíceis de determinar.” (ABBAGNANO 1970, p.10) trapontos que pudessem ser refutados sem maiores proble-
Mesmo assim, particularmente, a tese de Garin é a que mas. O que os renascentistas criticavam na escolástica, quan-
mais faz sentido sob um olhar contemporâneo para o que do se voltava ao passado para pincelar o que confirmariam
foi o início da modernidade a partir do término do movimen- suas próprias concepções, eles próprios faziam isso agora;
to renascentista. Hoje entendemos o pensamento filosófico com a ilusão de que conhecendo mais amplamente aquilo
não mais restrito a um pensamento explicativo totalizador da que foi escamoteado pela medievalidade pudessem abrir lu-
realidade. Onde alguns poderiam chamar de diletantismo fi- zes que proporcionariam uma visão mais ampla da realidade.
losófico (como Kristeller, citado por Reale), outros enxergam Portanto, com o pano de fundo do Humanismo os renas-
tentativas filosóficas legítimas de tatear a realidade como a centistas fizeram a mesma coisa. Nesse aspecto podemos fa-
única filosofia possível num mundo fragmentado onde a Ver- lar em continuidade, embora haja uma clara ruptura entre as
dade não se constitui mais algo a ser colhido no objeto, mas duas formas de se conceber o mundo, o homem e a própria
sim a ser construído no sujeito em sua relação com o objeto. realidade. De certa forma proporcionou uma nova maneira de
Nesse aspecto, Garin se manifesta no livro de Reale nos se fazer história, sem, contudo, mudar a forma de buscar na
seguintes termos: história os elementos de mudança.
“A razão íntima daquela condenação do significado filosófi- Abagnano se refere a essa dicotomia entre continuidade/
co do humanismo (... está no) amor sobrevivente por uma visão ruptura da seguinte forma:
de filosofia constantemente combatida pelo pensamento do sé- “É com o humanismo que surge pela primeira vez a exi-
culo XV. Aquilo cuja perda é lamentada por tantos é justamente gência do reconhecimento da dimensão histórica dos aconteci-
o que os humanistas quiseram destruir, isto é, a construção de mentos. A Idade Média tinha ignorado por completo tal dimen-
grandes ‘catedrais de Ideias’, das grandes sistematizações lógi- são. É certo que já então se conhecia o se utilizava a cultura
co-teológicas: a filosofia que submete todo problema e toda clássica; esta era porém assimilada à época e tornada con-
pesquisa à questão teológica, que organiza e encerra toda pos- temporânea. Factos, figuras e doutrinas não possuíam para os

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CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

escritores da Idade Média uma fisionomia bem definida, indivi- Entre uma concepção que prega a realização da pessoa
dualizada e irrepetível: o seu mérito residia apenas na validade humana em busca da exploração ampla de suas potencialida-
que lhes pudesse ser reconhecida relativamente ao universo des que traduza uma aspiração de ser perfeito e total, e uma
de raciocínios no qual se moviam os ditos escritores. Sob este concepção que o conhecimento do mundo não é um sistema
ponto de vista eram inúteis a geografia e a cronologia como fixo concluído e que o homem é o que pode chegar mais per-
instrumentos de averiguação histórica. Todas essas figuras e to da compreensão total dos mistérios da natureza, os diversos
doutrinas se moviam numa esfera intemporal que não era ou- pensamentos que formam a concepção humanista (que nasce
tra senão a delineada pelos interesses fundamentais da época, na Renascença e vai permear toda a modernidade) irá desem-
apresentando-se por isso como contemporâneas dessa mesma bocar na ciência como forma do ser humano fundamentar o
esfera. Com o seu interesse pelo antigo, pelo antigo autêntico único conhecimento do qual ele possa dizer que tem.
e não por aquele que vinha sendo transmitido através de uma Na concepção humanista é no advento da Ciência com base
tradição deformante o humanismo renascentista concebe pela empírica que o ser humano se realizará enquanto tal na certeza
primeira vez a realidade da perspectiva histórica, isto é, da se- que a ciência lhe dá de sua capacidade de transformar a natureza
paração e da contraposição do objecto histórico, relativamente para atender seus intentos e necessidades. A Ideia de controle,
ao presente historiográfico.” (ABBAGNANO 1970, p. 12-13) domínio e reprodutibilidade que o homem sente-se senhor de
Essa dimensão histórica da busca do passado que a Renas- seu destino e pleno de realização de suas potencialidades.
cença resgata, a coloca num posicionamento diferente daquela Mesmo a própria Modernidade questionando essa aspi-
adotada na medievalidade, portanto, promove uma ruptura ração de perfeição do humanismo que desemboca na Ciência,
que amplia em muito a visão de mundo dos homens renas- a Ideia arraigada de que nos bastamos e somos senhores da
centistas. Mesmo assim isso não os exime de cometerem equí- natureza está na iminência de nos extinguir do planeta. Entre
vocos, e conforme nos relata Reale, o nível histórico-crítico dos ser Sujeito da História e um ilustre coadjuvante que garanta o
renascentistas assumiu como verdadeiros textos tardios e mo- curso natural da história, o homem sempre precisará interferir
dificados no mesmo nível daqueles que eles criticaram em sua no meio para se impor como espécie e continuar sua saga.
utilização pela Escolástica. (REALE e ANTISERI 2002, p. 32-43) A Modernidade e a Pós-Modernidade se ocuparão, mes-
Do ponto de vista filosófico, embora tradicionalmente as mo negando os princípios humanistas, do papel do Ser Hu-
Histórias da Filosofia não reconhecessem o período renas- mano na História e no planeta, discutindo e repensando essa
centista como importante e específico, sendo considerado posição à luz das necessidades.
apenas uma transição entre a Idade Média e a Modernidade,
ele possui um identidade própria característica e um estilo de Obras Citadas
filosofar que rompe de fato com a Escolástica Medieval (MAR- ABBAGNANO, Nicola.  História da Filosofia. Tradução:
CONDES 2006, p. 141), e circunscreve na história a concepção NUNO VALADAS e ANTÓNIO RAMOS ROSA. Vol. V. 14 vols.
humanística que influencia em grande parte toda a Moder- Lisboa: Presença, 1970.
nidade. O Renascimento, termo utilizado pela primeira vez ALVES, Catharina E. Rodrigues. “Humanismo: Definições
por Giorgio Vasari(1), é tomado tanto por Reale quanto por e Interpretações Histórico-Filosóficas.”  Revista Científica SER
Abagnano como um período característico e próprio, embora - Saber, Educação e Reflexão (FAAG - Faculdade de Agudos),
não se possa confundi-lo com a Filosofia Moderna e a própria Jan-Jun 2008: 45-55.
modernidade; inaugurada por Descartes e Bacon. MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia - dos
Essa noção de ultrapassamento, de ruptura “para o me- Pré-Socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar, 2006.
lhor”, de progresso e da formulação de sistemas que nos apro- PERRY, Marvin. Civilização Ocidental: uma história conci-
ximasse mais da realidade como ela é e de como o homem da. 3ª Edição. Tradução: Waltensir Dutra e Silvana Vieira. São
deva agir em relação a ela, parece ser revista apenas na con- Paulo, SP: Martins Fontes, 2002.
temporaneidade, na modernidade tardia ou como atualmente REALE, Giovanne, e Dario ANTISERI. História da Filosofia - Do
tentam designar; no pós-modernismo. Ver-se como novo, sem Humanismo a Kant. 5a. Vol. II. 3 vols. São Paulo, SP: Paullus, 2002.
os pressupostos da superação, do melhoramento, é algo que Fonte: http://filosofiageral.wikispaces.com/Humanis-
rompe o paradigma do historicismo e inaugura de fato novos mo+e+Renascimento
problemas filosóficos a que devemos nos debruçar a partir da
segunda metade do sec. XX. A pretensão da modernidade em
trazer Luzes pressupõe um acesso a uma verdade tão inferida AS LINGUAGENS DAS CIÊNCIAS, DAS ARTES
quanto a do período a que eles se referiram posteriormente E DA MATEMÁTICA: SUA CONEXÃO COM
como de trevas, com a diferença que, a partir dos fatos histó- A COMPREENSÃO/INTERPRETAÇÃO DE
ricos deflagrados a partir da perda da autoridade de sistemas FENÔMENOS NAS DIFERENTES ÁREAS DAS
totalizantes, inaugura-se o embate de discursos que pretende RELAÇÕES HUMANAS COM A NATUREZA E
traduzir essa verdade, confluindo para o discurso científico;
que tem como ponto comum a capacidade de se demonstrar COM A VIDA SOCIAL.
empiricamente aquilo que tenta explicar da realidade.

Conclusão Revistas, jornais e noticiários de TV fazem amplo uso de


O termo Humanismo, nas palavras de Catharina E. R. Alves tem valores numéricos, porcentagens, proporções, taxas, índices e
um ponto em comum entre os filósofos que tentam defini-lo: “o de gráficos. Os temas das reportagens variam, indo das finanças
que o humanismo, enquanto um movimento é histórico, varia his- à previsão do tempo, passando por esporte, trânsito, meio
toricamente e ainda hoje é objeto de polêmica” (ALVES 2008, p. 46). ambiente, política, saúde. O fato mostra quanto o domínio

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CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

das linguagens matemáticas é uma condição de cidadania clonagem genética, mudanças climáticas e outros. Decisões
que a Educação Básica tem de garantir. E isso só se consegue políticas importantes para a sociedade muitas vezes precisam
com um planejamento escolar articulado. ser tomadas com base em conhecimentos científicos diferen-
Ao aprender as primeiras operações, as crianças já podem ser ciados daqueles do senso comum. O desenvolvimento cientí-
orientadas a ajudar os pais a comparar preços e a somar os valores fico e tecnológico tornou-se um fator crucial para o bem-estar
dos produtos no carrinho de compras para não ultrapassar a despe- social a tal ponto que a Organização das Nações Unidas para a
sa prevista - atitude de consumo responsável. Ao longo das séries Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) utiliza desde 2000 um
iniciais, é possível desenvolver habilidades como medir e estimar sistema de distinção entre os povos com base na capacidade
quantidades. Nas mais avançadas, cabe o uso de taxas de variação de criar ou não o conhecimento científico. Em seus estudos so-
- por exemplo, no cálculo da vazão de uma torneira aberta ou na bre economia da pobreza, na Universidade Harvard, Jeffrey Sa-
previsão do consumo mensal de energia de aparelhos domésticos. chs conclui que “ciência e tecnologia são hoje mais excludentes
Sem prejuízo do ensino de conteúdos próprios, as aulas de que o capital” e “o mundo de hoje é dividido não pela ideolo-
Matemática são momentos privilegiados para a formação práti- gia, mas pela tecnologia”, destacando que ciência e tecnologia
ca, que deve ser completada em atividades nas demais discipli- definem hoje o futuro de um povo, sua capacidade de inovar
nas. Isso se dá de muitas maneiras: quando os alunos usam ma- e de adaptar as tecnologias desenvolvidas em outros lugares.
pas em diferentes escalas e analisam dados estatísticos de renda No entanto, apesar da crescente qualidade e quantidade
e condições de vida em Geografia; convertem unidades e orga- da pesquisa cientifica brasileira, que já contribui com 1,7% da
nizam tabelas e diagramas sobre processos naturais em Ciên- produção mundial de conhecimento, é sofrível o desempenho
cias; medem um colega para desenhá-lo em proporções reais de jovens brasileiros em provas que medem habilidades cienti-
e usam recursos geométricos para representar perspectivas em ficas e rendimento em matemática. Esse quadro evidencia uma
Arte; usam linhas de tempo em que uma escala de Anos é zoom enorme carência de formação de qualidade para professores de
de uma escala de séculos em História; registram desempenhos ciências, capazes de desenvolver nas atuais e nas próximas ge-
atléticos e dados ergométricos em Educação Física; e produzem rações de crianças e jovens um raciocínio crítico, com condutas
textos de ficção com base no gráfico de um saldo bancário pes- questionadoras e propositivas voltadas para a solução dos pro-
soal ao longo do ano em Língua Portuguesa. Sem atividades blemas da vida diária. Advêm daí propostas governamentais de
desse tipo, crianças e jovens terão um menor domínio prático políticas de divulgação e educação científicas, que vêm sendo
dessas linguagens. E isso não se corrige simplesmente com uma arduamente construídas para implementação urgente no país,
proporção maior de aulas de Matemática, especialmente se elas envolvendo cientistas, educadores e outros atores sociais.
se concentrarem na “gramática”. O que fazer, então, para garantir Artistas têm uma sensibilidade apurada para a percepção
aquelas práticas em toda a grade curricular? É preciso planejar, dos problemas da sociedade e comumente sintetizam e anteci-
e o exercício de linguagens matemáticas nas várias disciplinas pam questões cruciais. No seu premiado disco Quanta, de 1995,
- mais do que possível, essencial - só ocorre se for previsto no Arnaldo Antunes e Gilberto Gil nos apresentam a música A ciên-
projeto pedagógico, que não pode ser um documento de ga- cia em si. Entre mensagens mágicas e encantadoras, os versos
veta. E não fica prejudicado o ensino de Arte ou o de Geografia nos dizem: A ciência não se aprende, a ciência apreende a ciên-
se os estudantes aprenderem a desenhar a cabeça de um adulto cia em si/A ciência não se ensina, a ciência insemina a ciência
com 1/8 da altura do corpo, a avaliar distâncias em perspectiva em si/e A ciência não avança, a ciência alcança a ciência em si.
comparando triângulos, a reproduzir o trajeto da escola para a Aqui está, a meu ver, um importante elo nas relações entre arte
casa num guia com escala 1/10.000, tomando 1 centímetro por e ciência: a arte pode sensibilizar a percepção, via expansão de
100 metros, ou a calcular o Índice de Desenvolvimento Humano nossos sentidos, de nossos olhares, e nos facilitar o encontro de
(IDH) do município em que vivem. Antes que se enciúmem disci- novas idéias e soluções. O cardiologista e músico Richard Bing
plinas colocadas “a serviço” da Matemática, vale lembrar que um defendia que “a ciência e a medicina são tanto uma busca de
bom projeto pedagógico não omite a importância da História harmonia e beleza na natureza como o são a música e a arte.
no ensino de Arte ou das Ciências no ensino de Geografia - para Ambas requerem uma invenção de novos conceitos e ideias,
ficar só em dois exemplos - e vice-versa. Aliás, o que foi dito so- e novos caminhos de percepção. Ambas requerem a mesma
bre Matemática vale para Língua Portuguesa, que também se sensibilidade emocional e física a padrões, ritmos, consistência,
aprende em todas as aulas se os professores fizerem um traba- novidade, metáfora e analogia. Requerem um refinado uso dos
lho coordenado e atento aos avanços da turma. sentidos em conjunção com a mente e as mãos”.
Fonte: https://novaescola.org.br/conteudo/1747/mate- Grandes cientistas, como Galileu Galilei e Leonardo da
matica-em-todas-as-disciplinas Vinci, transitaram pelas vias de conexão entre a ciência e a
arte, ao desenvolver o conhecimento e o comunicar das mais
diferentes formas. Deixaram legados inestimáveis à humani-
AS LINGUAGENS DAS CIÊNCIAS E DAS ARTES dade. Um estudo sobre 73 cientistas de grande sucesso, den-
E SUA RELAÇÃO COM A COMUNICAÇÃO tre os quais muitos laureados com o Prêmio Nobel, realizado
HUMANA. pela equipe do cientista Robert Root-Bernstein, da Universi-
dade de Michigan nos Estados Unidos, identificou um grande
percentual de vocações artísticas, evidenciando 25 músicos e
compositores, 29 pintores, escultores, gravadores, desenhis-
A presença da ciência e da tecnologia no dia a dia das tas, 17 poetas, novelistas e teatrólogos. Recolhendo, estu-
pessoas é hoje amplamente reconhecida. Assuntos dos mais dando e interpretando as histórias contadas por pensadores,
relevantes centram-se em temas científicos, como novas va- artistas e cientistas eminentes, o estudo conclui que através
cinas e terapias, alimentos transgênicos, biocombustíveis, da arte os cientistas encontram as ferramentas para tornar

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CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

explícita a beleza, seja na arte, seja na ciência: “Um cientista, arte possibilitam o desenvolvimento de novas intuições e
como um pintor ou poeta ou compositor, é um realizador e compreensões através da incorporação do processo artísti-
descobridor de padrões. Os padrões do cientista, como os do co a outros processos investigativos. Ajudam a construir um
pintor, do poeta ou do compositor, devem ser belos; ideias, discurso interno e público sobre a relação entre arte, ciên-
como as cores ou palavras ou notas, devem ficar juntas de cia, atividades humanas e tópicos relacionados a atividades
modo harmônico. A beleza é o primeiro teste nas ciências multidisciplinares e multiculturais. A arte precisa ser incluí-
e nas artes: não há lugar permanente para a ciência feia ou da na educação científica não apenas para tornar as coisas
não inspirada”. E defendem que os conjuntos de talentos mais belas, apesar de frequentemente isso acontecer, mas
para arte e ciência devam ser considerados complementares, primariamente porque os artistas fazem descobertas sobre a
a se reforçar mutuamente. Consideram que o que o cientista natureza diferentes daquelas que fazem os cientistas, sejam
pode fazer depende não apenas do que ele sabe, mas de sua eles físicos, biólogos, geólogos ou outros especialistas. Além
personalidade, suas crenças, suas habilidades e sua prática disso, os artistas usam bases diferentes para tomar decisões
nos campos da arte. enquanto criam suas obras - seus experimentos. Mas tanto
Essa proposta não é assim tão nova, pois desde a época artistas como cientistas nos ajudam a notar e a apreciar as
em que os primeiros portugueses chegaram ao Brasil Leo- coisas da natureza que aprendemos a ignorar, ou que nunca
nardo da Vinci já nos dizia, em seu livro sobre a metodologia nos ensinaram a ver. Tanto a arte como a ciência são neces-
das descobertas: “Para [ter] uma mente completa, estude a sárias para o completo entendimento da natureza e de seus
arte da ciência, estude a ciência da arte, aprenda a enxergar, efeitos nas pessoas.
perceba que tudo se conecta a tudo”. Este é um referencial Fonte: https://www.bio.fiocruz.br/index.php/artigos/
básico que justifica o esforço para introduzir formalmente 338-relacoes-entre-ciencia-arte-e-educacao-relevancia-e-i-
ciência e arte na programação curricular de uma instituição novacao
científica que forme cientistas e educadores, reinserindo a
ciência como elemento da cultura. É isso que procuramos
fazer no Instituto Oswaldo Cruz: integrar na educação o exer- O SIGNIFICADO SOCIAL E CULTURAL DAS
cício, o treino e a educação da imaginação criativa, aprofun- LINGUAGENS DAS ARTES E DAS CIÊNCIAS
dando a idéia de Albert Einstein de que “a imaginação é mais – NATURAIS E HUMANAS – E SUAS
importante do que o conhecimento”. TECNOLOGIAS.
Em meu laboratório, temos desenvolvido ciência e arte
como uma linha de pesquisa em ensino e criatividade, e
como estratégia pedagógica. Cientistas e artistas lidam com
Uma das características marcantes da história do pensa-
as inquietações da descoberta, as regras, com as heranças
mento moderno tem sido a clara demarcação entre filosofia,
culturais e transformações do conhecimento ao longo dos
ciências naturais, ciências sociais e artes; de tal modo que
anos. Reunimos cientistas e artistas no mesmo espaço de
trabalho e debate e possibilitamos que desenvolvam seus a religião e outras modalidades de vida cultural e intelec-
estudos estabelecendo diálogos de modo constante. Liga- tual são postas à parte, como alheias e incompatíveis com
da a todas as áreas de conhecimento e facilitadora para o a modernidade. A metáfora “desencantamento do mundo”
trabalho interdisciplinar, a arte pode proporcionar a junção, expressa esse processo, esboçado em tempos antigos e
a integração de transversalidade em todos os espaços de medievais, mas que adquire crescente predomínio desde a
educação, seja informais, seja tradicionais como os espaços Renascença, a descoberta do Novo Mundo e a invenção da
escolares. Assim, as atividades de pesquisadores e estudan- imprensa, acontecimentos esses que se beneficiam do clima
tes nessa linha pretendem sensibilizar e capacitar professores intelectual que acompanha a Reforma Protestante.
a realizar esse trabalho nas escolas, a ampliar seu repertório De hecho, en nuestra cultura occidental la filosofía ha
expressivo, seu alcance na sociedade através do teatro e de estado vinculada desde el principio a la aparición de la cien-
outras formas de expressão artística, nas quais o conheci- cia. Esto es lo nuevo que integró a Europa en su unidad y
mento estará sendo transmitido sob uma linguagem e um que hoy en día proyecta en irradiación universal la cultura
mundo visual diferenciados. Pretendemos tentar comprovar científica propia de Europa desde la peligrosa situación de
nossa hipótese de que é possível sensibilizar o professor para la civilización mundial [...] Conocemos los grandes logros de
um ensino mais criativo e desenvolver estratégias que au- las grandes culturas de Oriente Próximo, conocemos las de
mentem a criatividade na formação dos cientistas, praticando Latinoamérica y del sur y del este de Asia. Sabemos, por lo
um ensino que estimule a imaginação. tanto, que la cultura no ha tomado necesariamente — ni en
O ser humano nunca viveu sem utilizar a arte como for- todas partes — el camino de la sabiduría y su potencia. Este
ma de expressão, uma indicação de que a linguagem da arte camino se ha seguido mucho más en Europa. Sólo en Euro-
é a própria linguagem da humanidade. Por isso, e para isso, pa se ha dado una diferenciación entre nuestras actividades
a arte precisa ser mais bem compreendida e valorizada na intelectuales que nos permite distinguir a la filosofía de la
educação, em todos os níveis de ensino, desde o ensino fun- ciencia, el arte y la religión [...]. En Europa nuestro destino
damental, em toda e qualquer escola, até o ensino de pós- intelectual adquirió forma gracias al hecho de que se produ-
graduação, para a formação de docentes e cientistas com jeran las máximas tensiones entre estas múltiplas formas de
orientação holística. A arte pode se combinar com a ciência la fuerza creadora. En especial el contenido de la filosofía y de
como parte de uma estratégia pedagógica explícita para a la ciencia tiene una importancia determinante en la situación
educação científica da população. Atividades de ciência e actual de Europa (Gadamer, 1990, pp. 24-25)1.

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CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Em escala crescente e de forma cada vez mais intensa apropriação, com as quais se afirma e reafirma a ordem social
e generalizada, as distinções entre as linguagens filosóficas, prevalecente. Essa tem sido a reversão da “razão crítica”, com
científicas e artísticas acentuam-se, adquirindo contornos de a qual se podem descobrir configurações, movimentos e ten-
narrativas radicalmente distintas. As demarcações tornam- dências da realidade social, em âmbito nacional e mundial.
se cada vez mais nítidas e, muitas vezes, rígidas. Aos pou- É evidente que essa multiplicação de especialidades,
cos, os “modernos” distinguem-se dos “antigos”, inclusive áreas, setores, campos e disciplinas cria sérios problemas
porque não mesclam teologia nem mitologia com filosofia, metodológicos, teóricos e epistemológicos, com os quais se
ciência e arte. Ao mesmo tempo em que se afirma e rea- debatem todos aqueles que assumem o desafio de refletir
firma o nascimento da filosofia no âmbito do pensamento sobre as condições e as possibilidades da «explicação», da
grego, esquecem-se as exegeses de tradições do pensamen- «compreensão» e da «revelação», questões que se colocam
to e mitologias gregas e de outras civilizações, com as quais para uns e outros, em termos epistemológicos. Debatem-
nascem algumas proposições fundamentais da metafísica e se com enigmas e antinomias presentes em emblemas tais
da epistemologia. A partir de Bacon e Galileu, assim como como tempo e espaço, parte e todo, passado e presente,
de Maquiavel, Descartes, Spinoza e outros, desenvolvem-se aparência e essência, singular e universal; além de continui-
metodologias e epistemologias, codificando procedimentos dade e descontinuidade, crise e ruptura, revolução científica
científicos e filosóficos, e demarcando orientações que serão e revolução cultural, reflexão e intuição, paixão e esclareci-
cada vez mais adotadas e generalizadas. Aos poucos instau- mento, contemporaneidade e não-contemporaneidade, si-
ra-se o “experimentalismo”, como emblema da maioridade multaneidade de criações intelectuais e espírito da época.
do pensamento científico, o qual tem sido, desde então, imi- Esse o clima intelectual que faz com que muitos repen-
tado por cientistas sociais, entusiasmados com a “indução sem problemas ontológicos e epistemológicos envolvidos na
quantitativa”, a busca da “objetividade”, o ideal da ciência ri- contínua e generalizada multiplicação de disciplinas e sub-
gorosa, madura ou dura, mas que se esquecem que o mundo disciplinas. São inquietações que se traduzem em debates e
sociocultural e político-econômico, ou histórico, articula-se escritos sobre “interdisciplinaridade”, “multidisciplinaridade”,
dialeticamente, envolvendo atividades físicas e espirituais, a “epistemologias integrais”, “epistemologias regionais”, “epis-
práxis humana, individual e coletiva. temes”, “rupturas epistemológicas”.
Essas demarcações têm sido uma vigorosa tendência e A rigor, a contínua demarcação, diferenciação e especia-
muitas vezes uma obsessão de filósofos, de cientistas dedi- lização nunca deixou de inquietar uns e outros, no curso dos
cados à “natureza” e à “sociedade”, bem como de escritores tempos modernos. Mas a força das instituições, da divisão do
e de outros artistas. São muitas as criações de uns e outros, trabalho intelectual, das equipes de seniores e juniores, dos
nas quais se marcam e demarcam as diferenças e as fron- aparatos tecnológicos e dos vultosos recursos financeiros
teiras, além das especificidades de cada linguagem, sistema oriundos de agências governamentais e privadas, alimenta a
de conceitos, conjuntos de metáforas, categorias e alegorias, indiferença ou mesmo a hostilidade com relação aos debates
compreendendo escolas e tradições, influências e filiações, e fundamentais, de cunho ontológico e epistemológico. São
compondo um vasto painel de narrativas em diferentes esti- muitos os que estranham ou menosprezam as inquietações,
los. Daí a crescente e generalizada subdivisão de “áreas”, “se- os debates e as reflexões com os quais o cientista, o filósofo
tores”, “campos”, “especializações”. Nas ciências sociais, bem e o artista buscam questionar-se, aprofundar interrogações,
como nas ciências naturais e até mesmo na filosofia, multipli- refletir sobre fundamentos e possibilidades de conhecimento
cam-se as especialidades e os especialistas, de tal modo que e esclarecimento, ou explicação, compreensão e revelação.
se formam intelectuais sofisticadíssimos e altamente compe- Esse o clima em que muitos descobrem e redescobrem
tentes em algum fragmento da realidade ou fímbria do pen- o contraponto “ciência e arte” como um aspecto fundamen-
samento. Devido à contínua e generalizada institucionaliza- tal da “crise” mais ou menos permanente, o que inquieta
ção, acadêmica e não acadêmica, das atividades intelectuais, adeptos da “especialização” e da visão abrangente, holística,
multiplicam-se as disciplinas nas ciências sociais e em cada do grande relato. Sim, o contraponto “ciência e arte” situa-
uma destas. A economia política e a sociologia, a história e se no âmago desse clima, das inquietações e controvérsias
a geografia, a antropologia e a psicologia subdividem-se em que acompanham os desenvolvimentos e os impasses, as
distintas e cada vez mais especializadas disciplinas. Devido à realizações e as reorientações, os equívocos e as façanhas
crescente institucionalização das atividades de ensino e pes- do pensamento, traduzidos em textos, narrativas de diferen-
quisa, à influência do positivismo e às induções do mercado, a tes “estilos”. Quando se tem o desafio de buscar as relações,
filosofia, as ciências naturais, as ciências sociais e as artes têm convergências e divergências entre “ciência e arte”, no que
sido pulverizadas no curso do século XX e começo do XXI. Em se refere às possibilidades de conhecimento, logo surge, si-
consequência, a contínua e generalizada reversão «técnica e multaneamente, o desafio de ter de reconhecer que as cria-
ciência», em lugar do contraponto «ciência e técnica», que ções científicas, filosóficas e artísticas podem ser vistas como
tem provocado uma acentuada primazia da técnica, da busca “narrativas”. Todas elas se traduzem em narrativas, ainda que
de tecnologias para a operação, a organização, a mudança se diferenciem em termos de figuras de linguagem, con-
e o controle dos processos e das estruturas que constituem ceitos, categorias, metáforas, alegorias e outros elementos.
os diferentes setores da sociedade, nacional e mundial. Daí Partir portanto deste pressuposto, de que todas as criações
o barbarismo «tecnociência”, com o qual se busca subordi- se traduzem em narrativas, é o que torna possível refletir so-
nar continuamente o ensino e a pesquisa às exigências das bre similaridades, confluências e contemporaneidades das
organizações públicas e privadas, de modo a aperfeiçoar as formulações filosóficas, científicas e artísticas, sem prejuízo
instituições, as organizações e as estruturas de dominação e do reconhecimento de quais são ou podem ser as peculia-

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CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

ridades e as especificidades das linguagens, figuras e outros dades, a identidade e a alteridade, o cotidiano e o mundo da
elementos de cada forma de conhecimento, esclarecimento vida, apreendendo relações e processos não só socioculturais
ou deslumbramento. Algo nesse sentido pode ser observa- e político-econômicos como também psicossociais, objetivos
do quando se resgatam as criações características da Renas- e subjetivos. As narrativas literárias e de outras linguagens
cença ou do Iluminismo. São criações filosóficas, científicas e artísticas, no entanto, contribuem principalmente para o que
artísticas, notáveis ou mesmo excepcionais pela originalida- se pode denominar revelação, desvendamento da realidade
de e audácia. Mas todas, ou a maioria, tanto na Renascença e do imaginário, o visível e o invisível, o prosaico e o sur-
como no Iluminismo, estão impregnadas de algo que pode preendente, implicando uns e outros, indivíduos e coletivida-
ser definido como o clima da ocasião ou o espírito da época, des, povos e nações, em diferentes épocas, surpreendendo o
elas narram revoluções culturais da maior importância para querer e as volições nas quais indivíduos se movem ou são
a inteligência das configurações e dos movimentos da his- movidos, como atores ou títeres de inquietações que podem
tória e do pensamento. São muitos, em todo o mundo, os ser fugazes ou de forças sociais que podem ser avassalado-
que reconhecem que as ciências e as artes se encontram e ras. A despeito da ampla gama de assuntos compreendidos
se fertilizam contínua e reiteradamente. Esse é um contra- pelas narrativas que se sucedem e se multiplicam no curso
ponto que vem de longe e que se afirma e reafirma no curso dos tempos, é inegável que alguns temas marcantes podem
dos tempos modernos. São muitos e notáveis os cientistas ser distinguidos, não somente por serem tratados de manei-
que trabalham suas narrativas artisticamente, incorporando ra simultânea por cientistas, escritores ou até filósofos, mas
soluções literárias e temas suscitados pelas fabulações de es- também e sobretudo por serem temas emblemáticos do que
critores e outros artistas. E também estes beneficiam-se das tem sido o curso da história e do pensamento modernos.
criações e dos enigmas propostos por cientistas. Há temas e Vale a pena examinar, ainda que brevemente, alguns
inquietações que impregnam as narrativas de uns e outros, desses emblemas, o que pode contribuir para clarificar ou-
em diferentes ocasiões. tros e novos aspectos da oposição “ciência e arte”. Note-
São notáveis os casos em que há evidente contempo- se que esse contraponto compreende um diálogo antigo,
raneidade de temas e inquietações desafiando uns e outros. muitas vezes polifônico, no qual se revelam ressonâncias,
Esse é um contraponto que estava presente no pensamento contemporaneidades e convergências que se polarizam em
político de Maquiavel e nas tragédias políticas de Shakespea-
temas fundamentais da discussão sobre o que tem sido a
re, que ressurge nas obras de Hegel, Goethe e Beethoven,
modernidade. Simultaneamente revelam-se alguns enigmas
assim como na anatomia da sociedade burguesa realizada
epistemológicos que podem contribuir para o esclarecimen-
por Balzac e Marx, e continua na descoberta da alienação
to de “revoluções” culturais, nas quais as criações artísticas,
individual e coletiva desvendada por Kafka e Weber, em cria-
científicas e filosóficas podem estar expressando o “espírito
ções e reflexões sobre a racionalização do mundo2.
da época”.
Em distintas épocas e ocasiões, são evidentes as conver-
Em uma fórmula breve, é possível tomar as narrativas que
gências e as fertilizações recíprocas, além da contempora-
neidade. Em suas distintas linguagens, compreendendo me- compõem a vasta biblioteca da modernidade, a despeito das
táforas e alegorias, conceitos e categorias, essas narrativas suas distintas linguagens, como diferentes formas de escla-
contribuem para o desenvolvimento e a recriação das múlti- recimento, envolvendo possibilidades diversas de articulação
plas gradações e possibilidades de esclarecimento. Tomadas da autoconsciência de uns e outros, a respeito da realidade e
em conjunto, no curso dos tempos modernos, contribuem do imaginário, do visível e do invisível, apreendendo o ser e o
decisivamente para o “desencantamento do mundo” e simul- devir, o fluxo de coisas, gentes e idéias, bem como as volições
tâneo “reencantamento do mundo”, em busca de utopias ou e as ilusões. Vistas assim, como um todo, como se fosse um
de alguma alegria. amplo e infindável mural em movimento, múltiplo, babélico
Se é verdade que os escritos literários, científicos e filo- e polifônico, elas compõem novas modalidades e possibili-
sóficos podem ser vistos como narrativas, nas quais se com- dades de metanarrativas, nas quais se cartografam diferentes
binam figuras de linguagem e idéias, metáforas e conceitos, configurações do palco da história e do mundo imaginário,
categorias e alegorias, é também verdade que há distinções surpreendendo muito do que pode ser real e fantástico. A
que se preservam, próprias de cada forma de reflexão ou fa- história do mundo moderno, em suas diferentes épocas e
bulação. Em se tratando das obras, ou narrativas, de ciências em seus distintos aspectos, está registrada principalmente
sociais, é possível classificá-las em duas modalidades bas- em narrativas. Nem sempre elas taquigrafam plenamente os
tante distintas, compreendendo “estilos” diferentes de escla- acontecimentos e as formas de pensamento, mas registram
recimento. Algumas estão empenhadas em contribuir para muito do que tem sido a realidade e as criações do imaginá-
a explicação do que é ou pode ser a realidade social, presen- rio. É como se as narrativas estivessem sempre desafiadas a
te ou passada, compreendendo o que pode ser observado, captar o visível e o invisível, o real e o possível, o ser e o devir,
classificado e quantificado, descrito ou explicado sempre que a realidade e a interpretação, o significado e a ilusão. No con-
possível em termos de variáveis, indicadores, índices e fre- junto, vistas como uma vasta biblioteca, Babel ou polifonia,
quências, de tal modo que a explicação se funda no princípio elas parecem adquirir consistência e vigência. Podem ser vis-
de causação funcional, estruturação ou articulação sistêmi- tas como ampla, movimentada e viva cartografia das diver-
ca. As englobadas na segunda modalidade de narrativas de sidades dos indivíduos e das coletividades, povos e nações,
ciências sociais estão comprometidas principalmente com culturas e civilizações, bem como das teorias e das interpre-
a compreensão do que pode ser a realidade social, tendo em tações, articulando significados e enigmas, com os quais se
conta o indivíduo e a sociedade, os indivíduos e as coletivi- forma e transforma o mundo moderno. Tanto é assim que

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CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

muitos, em diferentes épocas e em todos os lugares, têm sido Entre as mais variadas atividades literárias e artísticas,
levados a crer que o mundo moderno é principalmente, ou que revigoram as mentes humanas, a de maior dedicação
exclusivamente, uma ampla, complexa e infindável narrativa. e extremo fervor seria, penso eu, promover os estudos refe-
Toda narrativa bem realizada expressa, sintetiza ou su- rentes aos mais belos objetos, mais desejáveis de serem co-
gere algo do que se pode denominar “visão do mundo”. In- nhecidos. Esta é a natureza da disciplina que trata das revolu-
dependentemente da diversidade das linguagens, cada nar- ções divinas do Universo, movimento dos astros, dimensões,
rativa bem realizada confere ao leitor algo ou muito, seja de distâncias, nascimentos e ocasos, assim como das causas de
uma visão de conjunto, seja da perspectiva do seu tema, ob- outros fenômenos no céu, disciplina que, resumindo, explica
jeto, inquietação ou fabulação. Além e aquém das intenções totalmente esses acontecimentos (Copérnico, 1984, p. 13).
do autor, a narrativa surpreende o leitor com o que pode O pensamento e a imaginação guardam sempre alguma
ser uma taquigrafia, arquitetura ou configuração da época. contemporaneidade com as configurações e os movimen-
É como se ela sugerisse ou descortinasse todo um modo, tos da realidade sociocultural, histórica, mobilizando figuras
desde um olhar situado ou desterritorializado, enraizado ou e figurações da linguagem, signos e símbolos, emblemas e
errante. Parece uma estilização ou paroxismo do que se vê e
enigmas, conceitos e categorias, metáforas e alegorias. É cla-
não se vê, do que se conhece e desconhece, de tal modo que
ro que o pensamento e a imaginação são livres, descolam-se
o leitor adquire uma visão mais ou menos articulada, veros-
desta ou daquela realidade, revertem o fluxo da vida, inven-
símil ou ilusória, do que parece ou seria, presente, passado e
tam modos de ser e de devir. É o que se pode verificar em
futuro. Seja ela ensaística ou monográfica, realista ou idealis-
ta, naturalista ou impressionista, romântica ou expressionista, cada uma e todas as obras científicas e de ficção mais no-
lírica, dramática ou épica, a narrativa confere ao leitor uma táveis. São narrativas nas quais a realidade social, as formas
visão de conjunto ou os fragmentos de uma visão de conjun- de sociabilidade e os jogos das forças sociais nem sempre
to, seja o seu tema um indivíduo ou um grupo, situação ou aparecem ou estão até mesmo ausentes, podendo constituir,
tensão, estado de espírito ou alucinação, processo de rup- ou não, metáforas. Em todos os casos, no entanto, ressoa
tura, modo de ser ou devir. Sim, além do que afirma Lucien algo ou muito do “espírito da época”, do clima cultural, das
Goldmann, a propósito da obra literária ou artística, também tensões e das contradições, ou alucinações, que germinam
a grande obra filosófica ou científica pode expressar algo ou nesse tempo.
muito de uma visão de mundo. Ocorre que a grande obra nunca é apenas a tradução
Toda grande obra literária ou artística é expressão de uma do engenho e arte do seu autor, seja ele escritor, filósofo,
visão de mundo, um fenômeno de consciência coletiva que cientista, pintor, músico, arquiteto, escultor, cineasta. Em ge-
alcança seu máximo de clareza conceitual ou sensível na cons- ral, a grande obra é também, ou principalmente, a expressão
ciência do pensador ou do poeta (Goldmann, 1967, p. 21). do clima sociocultural, intelectual, científico, filosófico e ar-
A gênese e os desenvolvimentos da modernidade, por tístico da época, conforme se expressa em uma coletividade,
exemplo, somente se esclarecem quando são examinadas, grupo social, classe social, etnia, gênero ou povo. Há modu-
conjuntamente, criações artísticas, filosóficas e científicas. É lações da narrativa que ressoam determinações remotas ou
comum afirmar-se que a modernidade se inicia com a Re- invisíveis, reais ou imaginárias. Tanto é assim que a narrativa
nascença, a descoberta do Novo Mundo, a Reforma Pro- expressa o talento do autor e, simultaneamente, as inquie-
testante e a invenção da imprensa. Essa é a época em que tações de uns e outros do seu tempo, podendo ressoar não
as narrativas, as idéias e as novas formulações científicas, só o presente, mas também o passado e até mesmo o fu-
filosóficas e artísticas de Thomas More, Erasmo de Rotter- turo. São muitas as obras nas quais se conjugam diferentes
dam, Maquiavel, Cervantes, Shakespeare, Camões, Galileu, inquietações e ilusões, realizações e frustrações, alimentando
Copérnico, Kepler, Giordano Bruno, Leonardo da Vinci, Bos- a criatividade individual e coletiva, fazendo com que a obra
ch e outros estão surpreendendo e desafiando pensadores
bem realizada expresse a visão de mundo que se esconde no
de diferentes orientações, bem como indivíduos e coletivi-
espírito da época.
dades. Essa é a época em que Camões escreve Os Lusíadas,
Já era claro, para Thomas Hobbes e outros de seu tempo,
um poema épico que pode ser visto como o primeiro hino à
que a sociedade mercantil, moderna, em formação, passava
ocidentalização do mundo, na esteira do mercantilismo. Sem
esquecer que as tragédias históricas de Shakespeare contêm a ser o novo palco da história. O “direito natural” revelava-se
todo um “tratado” de ciência política, contemporâneo de O uma codificação das condições de organização da sociedade,
príncipe de Maquiavel, e que contribuem para revelar que a compreendendo a economia e a política. As faculdades físi-
«política» passava a desempenhar, nos tempos modernos, o cas e espirituais dos homens passavam a organizar-se e a ex-
mesmo papel que o «destino» havia tido na tragédia grega. pressar-se no âmbito das condições ancoradas na “guerra de
É também nessa época que ocorre a substituição da teoria todos contra todos”, que já se apresentava como um código
«geocêntrica» pela «heliocêntrica», subvertendo cosmo- fundamental de organização e funcionamento da sociedade,
gonias e topologias, princípios e dogmas, que haviam sido em seus diversos setores, destacando-se a esfera da políti-
formulados em «tempos antigos». Copérnico, Kepler, Galileu ca. Daí nasce o Estado, no contraponto da “luta pela vida”,
e outros contribuem decisivamente para que se dê o passo da qual falará Charles Darwin no século XIX, desdobrando a
fundamental do processo de «desencantamento do mundo». idéia da “guerra de todos contra todos”. Sem se dar conta, ou
Da mesma forma que nos escritos de outros pensadores, fi- talvez com pleno conhecimento, Hobbes já elaborava uma
lósofos e cientistas da época, em Copérnico também combi- das primeiras versões da “política” como fundamento da tra-
nam-se ciência e arte. gédia moderna, secularizada.

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CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Na natureza do homem encontramos três causas prin- Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem
cipais de discórdia. Primeiro, a competição; segundo, a des- como querem; não a fazem sob circunstância de sua esco-
confiança; terceiro, a glória. A primeira leva os homens a ata- lha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente,
car os outros tendo em vista o lucro; a segunda, à segurança; legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as
e a terceira, à reputação [...]. Com isto se torna manifesto que, gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos
durante o tempo em que os homens vivem sem um poder vivos. E justamente quando parecem empenhados em revo-
comum capaz de os manter a todos em respeito, eles se en- lucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu,
contram naquela condição a que se chama guerra; e uma precisamente nesses períodos de crise revolucionária os ho-
guerra que é de todos os homens contra todos os homens. mens conjuram ansiosamente em seu auxílio os espíritos do
[...] As paixões que fazem os homens tender para a paz são passado, tomando-lhes emprestado os nomes, os gritos de
o medo, o desejo daquelas coisas que são necessárias para guerra e as roupagens, a fim de apresentar-se nessa lingua-
uma vida confortável, e a esperança de consegui-las através gem emprestada (Marx, 1974, p. 335).
do trabalho (Hobbes, 1974, pp. 79 e 81). Há reflexões nas quais se combinam o discernimento
A importância crescente da propriedade privada, como com a vibração literária, o impacto da ideia com a entonação
um dos fundamentos da sociedade civil, de classes, burgue- da frase, o que leva o leitor a surpreender-se, assustar-se ou
sa, adquire relevância em uma breve reflexão de Rousseau, maravilhar-se. Nesses casos, a narrativa torna-se emblemá-
inscrita no Discurso sobre a origem e os fundamentos da de- tica, marcante, constituindo-se referência indispensável de
sigualdade entre os homens. É como se Rousseau estivesse algum momento excepcional de esclarecimento. Tudo o que
demarcando o que muitos já estavam vivendo, mas nem parecia estabelecido, codificado, explicado, logo se revela
sempre percebendo em todas as suas implicações. Chega- problemático, diferente, desmistificado. Instituem-se outras
va ao fim a época do feudalismo, da comunidade feudal, da perspectivas de percepção, análise, interpretação ou fabula-
“cumplicidade” servo e senhor, no âmbito da reprodução ção. O que parecia estabelecido e clarificado logo se revela
simples, do intercâmbio de valores de uso. Outra vez, surge aí insatisfatório, enganoso, mistificado. Aos poucos, ou de re-
um gérmen que se traduz na tragédia moderna: a proprieda- pente, descortinam-se outra realidade e outro imaginário,
de privada como fundamento da sociedade, da economia e modos de ser e de devir, condições e possibilidades. É como
da política, das formas de sociabilidade, dos jogos das forças se o autor, em um passe de mágica, revelasse o inextricável,
deslumbrando o leitor e deslumbrando-se.
sociais, tudo isso polarizado na “política”, na luta pelo poder,
As línguas formam-se naturalmente segundo as neces-
como técnica de dominação e apropriação.
sidades dos homens; elas transformam-se e alteram-se se-
O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro
gundo as transformações dessas mesmas necessidades. Nos
que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é
tempos antigos, em que a persuasão servia de força pública,
meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acre-
a eloquência era necessária. De que serviria ela hoje, quando
ditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e hor-
a força pública substitui a persuasão? Não se precisa de arti-
rores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancan-
fício nem de figuras de estilo para dizer: esta é a minha vonta-
do as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado aos seus de. Que discursos restam a fazer, portanto, ao povo reunido?
semelhantes: «Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis Sermões. E que importa aos que os fazem se estão persua-
perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que dindo o povo, visto que não é ele que distribui os benefícios?
a terra não pertence a ninguém!» (Rousseau, 1958, vol. 1, p. As línguas populares tornaram-se para nós tão perfeitamen-
189). te inúteis quanto a eloquência. As sociedades adquiriram sua
São muitos os estudos, os ensaios, as monografias, as re- última forma: nelas só se transforma algo com artilharia ou
flexões esparsas e as controvérsias nos quais estão presentes escudos; e como nada mais se tem a dizer ao povo, a não
a explicação, a compreensão ou a revelação, desvendando ser  dai dinheiro, dizemo-lo com cartazes nas esquinas ou
algo ou muito do que pode ser a realidade e o imaginário. com soldados dentro das casas (Rousseau, 2003, p. 177).
São narrativas nas quais podem estar presentes, com fre- Há textos científicos nos quais o autor utiliza recursos
quência, a rigorosa reflexão científica e a engenhosa imagi- narrativos com os quais claramente ficcionaliza e dramatiza o
nação artística que contribuem para o esclarecimento. argumento, a ideia, a revelação.
A inflexão dramática ou épica frequentemente ressoa em O capitalista compra a força de trabalho pelo valor diário.
escritos de filósofos e cientistas sociais, à medida que des- Seu valor-de-uso lhe pertence durante a jornada de trabalho
cortinam dilemas e perspectivas, impasses e inquietações [...]. O capitalista apenas personifica o capital. Sua alma é a
que conformam a modernidade, por dentro e por fora do alma do capital [...]. O capital é trabalho morto que, como
“desencantamento do mundo”. Descobrem leis de tendência um vampiro, se reanima sugando o trabalho vivo, e quanto
atravessadas por crises, desenvolvimentos desiguais, não- mais o suga mais forte se torna. O tempo em que o traba-
contemporaneidades, tensões e contradições. A despeito lhador trabalha é o tempo durante o qual o capitalista con-
das teorias e das ideologias que nascem com a modernida- some a força de trabalho que comprou [...]. Mas subitamente
de, como “progresso”, “evolução”, “divisão do trabalho social”, levanta-se a voz do trabalhador que estava emudecida no
“mão invisível”, “racionalização”, verificam que a modernidade turbilhão do processo produtivo: a mercadoria que te vendo
engendra desigualdades, decadências, antagonismos, guer- se distingue da multidão das outras, porque seu consumo
ras, revoluções. A dialética entre presente e passado, passado cria valor e valor maior de custo. Este foi o motivo por que
e presente, revela-se permanente e reiterada, em diferentes compraste. O que de teu lado aparece como aumento de
setores da sociedade, seja esta nacional ou mundial. valor do capital é do meu lado dispêndio excedente de força

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CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

de trabalho [...]. Pondo de lado o desgaste natural da idade forçar, o surgimento da intuição, o que a paixão também não
etc., preciso ter amanhã, para trabalhar, a força, a saúde e as pode fazer. Mas o trabalho e a paixão fazem com que surja
disposições normais que possuo hoje. Estais continuamen- a intuição, especialmente quando ambos atuam ao mesmo
te a pregar-me o evangelho da parcimônia e da abstinência. tempo. Apesar disso, a intuição não se manifesta quando nós
Quero gerir meu único patrimônio, a força de trabalho, como o queremos, mas quando ela o quer (1993, pp. 25-26).
um administrador racional, parcimonioso, abstendo-me de E nas de Arthur I. Miller:
qualquer dispêndio desarrazoado [...]. Quando prolongas Creativity in art can be explored like creativity in science
desmesuradamente o dia de trabalho, podes num dia gastar, because artists and scientists use many of the same strate-
de minha força de trabalho, uma quantidade maior do que a gies toward discovering new representations of nature. Just
que posso recuperar em três dias. O que ganhas em trabalho, like scientists, artists solve problems [...]. Creativity occurs in
perco em substância (Marx, 1968, livro I, cap. VIII). a cycle of conscious thought, unconscious thought, illumi-
São notáveis os textos científicos nos quais está presente nation (hopefully!) and verification [...]. Einstein, too, belie-
a elaboração literária, compreendendo figuras de linguagem,
ved in “free play with concepts” in the unconscious ...]. While
entonação, ritmo, revelações inesperadas, promessas de no-
consciousness plays the important role of setting boundaries
vos descobrimentos, compreendendo inclusive a dramatiza-
on our everyday actions, in the unconscious we can activa-
ção do que se diz e do modo de dizer, de tal forma que o
te complexes of information in long-term memory without
leitor pode inclusive maravilhar-se com o que lê. Algo que
é frequente e indispensável na obra literária, seja romance, boundary (2001, pp. 245-246).
drama ou poesia, pode estar presente na obra científica ou fi- Esse é um enigma que se cria e se desenvolve desde o
losófica. Além do mais, também na obra literária de categoria início dos tempos modernos: a despeito da crescente dis-
muitas vezes encontram-se revelações da maior importân- tinção entre “filosofia”, “ciência natural”, “ciência social” e
cia para a ciência e a filosofia. Nesse sentido é que algumas “arte”, no âmbito da “modernidade” ou do vasto processo
obras se tornam marcantes, excepcionais ou clássicas, reve- de “desencantamento do mundo”, são frequentes as inter-
lando-se como se fossem sismógrafos nos quais ressoam locuções abertas ou veladas entre essas esferas da cultura,
configurações e movimentos da realidade e do imaginário, do pensamento e do esclarecimento. A despeito da divisão
apreendendo premonitoriamente o que a maioria, ou todos, do trabalho intelectual, induzida pelo positivismo, da insti-
ainda não percebem. tucionalização e da crescente especialização do ensino e da
Esse o clima em que se revela que a “intuição”, a “paixão” pesquisa e das diferenças de linguagens entre essas formas
e a “imaginação” estão presentes em narrativas artísticas, ou “estilos” de pensamento, multiplicam-se os diálogos entre
científicas e filosóficas. É claro que em cada um desses “esti- filosofia, ciências e artes; em geral enriquecendo a cultura, o
los” da narração entram também outras faculdades, específi- pensamento e o esclarecimento. São diálogos que já estavam
cas de cada uma dessas áreas. Há recursos narrativos do ro- presentes nos escritos de Galileu, Giordano Bruno, Bacon e
mance que podem ser muito diversos daqueles mobilizados Vico, bem como em Shakespeare, Cervantes, Camões e Ra-
em outros “estilos”. Mas toda narrativa notável, que se torna belais, continuando nos séculos seguintes com Goethe, Dide-
marcante, revela algo ou muito de “inspiração”, “paixão” e rot, Nietzsche, Freud e Sartre, além de Kafka, Musil, Beckett
“imaginação”. Tanto é assim que são frequentes as narrativas e Borges.
nas quais o autor se revela presente, visível ou subjacente, Note-se que as noções de “tempo e espaço”, além de
projetando-se ou sugerindo-se, a despeito de sua intenção. outras como “presente e passado”, “ser e devir”, “parte e
Pode entusiasmar-se, mostrar-se indiferente ou mesmo bri- todo”, “aparência e essência”, “singular e universal”, podem
gar com o tema, a situação, os personagens presentes ou encontrar-se, evidentes ou implícitas, em diferentes criações
supostos, sem esquecer os que tomam partido na trama das
científicas, filosóficas e artísticas. Em certos casos, fica bem
relações, no jogo das situações, reais ou imaginárias, presen-
claro o modo de desvendar o que pode ser a “situação”, o
tes, pretéritas ou futuras.
“indivíduo”, a “vivência”, a “subjetividade”, as modulações da
Nas palavras de Max Weber:
“consciência”, bem como a “continuidade e descontinuida-
Com efeito, para o homem, enquanto homem, nada tem
valor a menos que ele possa fazê-lo com paixão [...]. Por mais de”, a “crise e ruptura”, o “dramático e épico”. Dependendo
intensa que seja essa paixão, por mais sincera e mais profun- da forma da narração, um texto científico pode ser concebido
da, ela não bastará, absolutamente, para assegurar que se em uma entonação dramática ou épica, e também lírica. Em
alcance êxito. Em verdade, essa paixão não passa de requisito alguns casos revela-se o pathos trágico que parecia atributo
da «inspiração», que é o único fator decisivo [...]. Essa inspi- da obra de arte, mas que se revela também na criação cien-
ração não pode ser forçada. Ela nada tem em comum com o tífica e filosófica, dependendo da arquitetura, do ritmo e da
cálculo frio [...]. No campo das ciências, a intuição do diletan- tensão com que está sendo narrada.
te pode ter significado tão grande quanto a do especialista e, São várias as questões que se apresentam quando se
por vezes, maior. Devemos, aliás, muitas das hipóteses mais exercita uma reflexão abrangente sobre criações intelectuais
frutíferas e dos conhecimentos de maior alcance a diletantes. que caracterizam a história e o pensamento no curso dos
Estes não se distinguem dos especialistas [...] senão por au- tempos modernos. Ainda que em termos exploratórios, sus-
sência de segurança no método de trabalho e, amiúde, em cetíveis de novos dados, debates e análises, é possível afirmar
consequência da incapacidade de verificar, apreciar e explorar que a comparação entre diferentes narrações relativas a de-
o significado da própria intuição. Se a inspiração não subs- terminados temas ou emblemas permite formular algumas
titui o trabalho, este, por seu lado, não pode substituir, nem idéias ou hipóteses.

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CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Primeiro, depois da [intensa e generalizada demarcação


das fronteiras entre a filosofia, as ciências e as artes, com- AS LINGUAGENS COMO INSTRUMENTOS
preendendo inclusive uma crescente especialização e frag- DE PRODUÇÃO DE SENTIDO E, AINDA, DE
mentação de cada uma e de todas as disciplinas, muitos ACESSO AO PRÓPRIO CONHECIMENTO, SUA
são levados a reconhecer que a filosofia, as ciências sociais ORGANIZAÇÃO E SISTEMATIZAÇÃO.
e as artes participam decisivamente, muitas vezes em cola-
boração, da formulação e reformulação de alguns dos em-
blemas marcantes dos tempos modernos. São vários e re-
conhecidamente notáveis os emblemas com os quais uns e Construção de conhecimento e produção de sentido
outros, filósofos, cientistas e artistas, bem como indivíduos
e coletividades, em todo o mundo, compreendem, explicam Texto adaptado por Ana Luiza B. Smolka
ou desvendam a realidade e o imaginário, os povos, reinos e
nações, as culturas e civilizações, as identidades e alteridades, Dentro das tendências contemporâneas em Psicologia
as diversidades e desigualdades, a multiplicidade de etnias e do Desenvolvimento, um dos problemas teóricos mais per-
a racialização do mundo, os fundamentalismos religiosos e a sistentes e intrigantes é aquele que diz respeito às relações
pluralidade dos mundos. ou articulações entre linguagem e cognição.
Podemos destacar duas posições principais que se apre-
Segundo, o cientista social, o filósofo e o escritor, bem sentam em oposição no quadro dessas tendências: a do
como outros artistas, estão também, em geral, taquigrafan- “construtivismo” piagetiano, que minimiza as diferenças entre
do algo da vida, a realidade, o modo de ser, as situações, formas verbais e não-verbais de representação, e o “sócio-in-
as convulsões sociais, as objetividades, as subjetividades, as teracionismo”, que considera a linguagem organizadora e es-
inquietações, as ilusões ou os imaginários, sempre de modo truturante das diversas formas de representação não-verbal.
a esclarecer, compreender, explicar ou revelar o labirinto, a No quadro teórico piagetiano, a característica específi-
babel ou o caos indecifrável, indizível. Quando tem êxito, o ca do homem não é a linguagem, mas é uma capacidade
autor confere à narrativa clareza e graça, algo que parece cognitiva superior, que abrange a linguagem como uma das
inteligível, convincente, verossímil. A maioria, se não todos, diversas manifestações da função simbólica.
aos poucos é capturada pelo o que é narrado. No curso da Ora, tal função semiótica ou simbólica é apresentada por
própria narração, eles se revelam fascinados pelas pessoas Piaget de maneira vaga e geral, ancorando-se no conceito de
ou personagens, figuras ou figurações, indivíduos ou coleti- REPRESENTAÇÃO, usado, por sua vez, de maneira ambígua, em
vidades, em suas façanhas e sofrimentos, realizações e frus- pelo menos dois sentidos: no sentido lato, frequentemente se
trações. É como se o “tema”, o “objeto” ou o “personagem”, confunde com o próprio pensamento, com a inteligência que
literal ou figuradamente, capturasse o narrador, levando-o a se estrutura, que não se apoia simplesmente sobre percepções
tornar-se seu porta-voz. Uma reversão da qual nem sempre e movimentos; no sentido estrito, representação equivale a
o narrador se dá conta, como se estivesse sendo levado pela imagem e consiste na reunião de um significante (que permite
sua criatura. a evocação) e de um significado (fornecido pelo pensamento).
Piaget demonstra, numa primeira série de obras, que a
Terceiro, o mundo moderno, em alguns dos seus aspec- representação sensório-motora funciona por meio de signifi-
tos fundamentais, tanto geo-históricos e culturais como in- cantes indiferenciados que são os índices. Traduções internas
telectuais, tem sido principalmente aquele que se encontra (no sujeito) de certas características do meio, estes índices
em narrativas, sobretudo as mais notáveis, com as quais se se organizam no curso do desenvolvimento para constituir
institui o esclarecimento e o esclarecido, a fabulação e o fa- as imagens mentais. O período simbólico começa quando
bulado. Alguns emblemas reconhecidamente fundamentais estas imagens tornam possível a evocação, isto é, uma nova
contribuem para revelar ou demonstrar que a modernidade apresentação (num outro plano) de um objeto ou uma ativi-
tem sido muito mais aquela que está nos textos, as narrativas. dade. Neste novo tipo de representação, a criança utiliza sig-
É como se, diante da realidade do imaginário infinito e inex- nificantes diferenciados e fora do sujeito, qualificados como
tricável, a narrativa se revelasse um modo de esclarecimento símbolos e signos.
ou uma forma de encantamento com os quais indivíduos e Posteriormente, aparece no quadro teórico piagetiano
coletividades, bem como intelectuais e artistas, exorcizam uma interpretação que acentua o caráter construtivo e inte-
enigmas da razão e da fantasia. rativo de todo conhecimento, e que recusa as noções linguís-
ticas de significante e significado (Bronckart, 1987).
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex- Se Piaget restringe a noção de representação e a ativida-
t&pid=S0103-20702004000100001 de simbólica à formação de imagens, ele estende, por outro
lado, o conceito de significado “aos esquemas de todos os
níveis constituindo o esquematismo do organismo”. O sig-
nificado é aquilo que o sujeito assimila, e essa assimilação
só é possível graças aos esquemas de que o sujeito dispõe.
Os significados constituem assim os instrumentos operati-
vos do sujeito, enquanto os significantes, como figurações
ou imagens de propriedades da realidade ou do organismo,
tornam-se os instrumentos figurativos.

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CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

Nesse quadro, podemos dizer que há uma dependência pecto interno da fala) no nível de funcionamento interno do
do domínio figurativo (significantes) em relação ao operativo indivíduo, deslocando o lugar de produção social da signifi-
(significados): o desenvolvimento da criança consiste, antes cação, e circunscrevendo-o, analiticamente, na esfera indivi-
de tudo, no desenvolvimento das estruturas operatórias, e dual. Aqui, a questão não seria tanto a do lugar de emergên-
estas engrendram a evolução dos instrumentos figurativos. cia da significação (que é assumido como sendo o lugar das
Além disso, há uma continuidade funcional entre os dife- interações sociais), mas como se produz essa significação na
rentes tipos de instrumentos figurativos. A linguagem é um dinâmica social, dialógica, e como, metodológica e empiri-
instrumento de conhecimento entre outros e, como tal, é camente, se pode traçar e aprender o processo dessa pro-
conside- rada uma atividade cognitiva, mas não tem papel dução. Para Vygotsky, “a função mental da palavra só pode
decisivo no desenvolvimento. ser explicada por um sistema que vai além do indivíduo. A
Para Piaget, todo conhecimento é representativo, no primeira função da palavra é a função social e se quisermos
sentido amplo do termo (intelectual/operativo; imagético/ traçar como ela funciona no comportamento do indivíduo,
figurativo), e todo conhecimento consiste em atribuir um devemos considerar como ela é usada e funciona no com-
significado, um sentido, aos objetos e aos acontecimentos. portamento social” (Vygotsky, 1981, p. 158).
Aqui, a questão que se coloca é: como emerge, ou de que Na sua construção teórica, Vygotsky consistente e insis-
natureza é a significação na teoria piagetiana? tentemente aponta para (o que temos chamado de) dimen-
Ancorando a significação na capacidade cognitiva geral de são discursiva, sem, contudo, caracterizála. Apesar do seu
representação, Piaget confere a ela um sentido bio/lógico que pressuposto básico de que o significado emerge na intera-
a desloca do âmbito social e verbal. Esse sentido bio/lógico da ção social, Vygotsky não chega a analisar os processos de
significação (como também da consciência) constitui um dos significação (lá) onde eles de produzem, ou seja, nas relações
pontos nevrálgicos e polêmicos no quadro teórico piagetiano. dialógicas. É Bakhtin (1981, 1984) quem privilegia, teórica e
Sem entrar aqui nos meandros dos debates das teorias metodologicamente, as relações dialógicas como lugar de
da representação e das teorias da significação (Foucault, análise e produção de significação.
Pierce, Benveniste, Lahud, Sercovich, entre outros), e circuns- Bakhtin não concebe a atividade mental sem material semió-
tico, sem SIGNIFICAÇÃO, isto é, sem produção de signos. “Todo
crevendo o problema ao âmbito da Psicologia do Desen-
gesto ou processo do organismo... pode tornar-se material para
volvimento, destaco a tendência que se opõe à perspectiva
a expressão da atividade psíquica, posto que tudo pode adquirir
piagetiana no que concerne aos fundamentos da relação lin-
um valor semiótico” (1981, p. 52). A realidade do psiquismo é,
guagem e cognição.
portanto, a realidade do signo, mas os signos só podem emergir
Na tendência inicialmente denominada de sócio-intera-
no terreno interindividual, no processo de interação social. Nesse
cionismo (e que hoje preferimos chamar perspectiva histó-
processo, Bakhtin tematiza o problema da (inter)subjetividade,
rico-cultural), as idéias de Vygotsky sobre pensamento e lin- uma vez que a constituição do sujeito se realiza num jogo de
guagem apresentam-se num quadro explicativo radicalmente reflexividade comunicativa. Quando os indivíduos penetram na
(em termos de raiz, de princípios) diferente do de Piaget. Para tessitura da comunicação humana e mergulham na trama das
Vygotsky, linguagem e cognição não só se articulam, mas se trocas verbais, a consciência desperta e começa a operar.
constituem mutuamente. A linguagem não é um epifenóme- Nesse terreno interindividual, a palavra se caracteriza por
no do pensamento ou de uma capacidade cognitiva geral de uma «intensidade semiótica» na medida em que, produzi-
representação, mas emerge no contexto das práticas sociais da pelo corpo individual sem recurso externo (diferente de
como instrumental constitutivo do psiquismo humano. “A pa- outros artefatos como o martelo ou a cruz) ela é «apenas e
lavra constitui o microcosmo da consciência humana”. completamente» signo. No entanto, ela só tem vida no movi-
O que distingue os homens dos animais, do ponto de mento de uma boca para outra, de um contexto para outro,
vista psicológico, é a SIGNIFICAÇÃO, isto é, a criação e a uti- de uma geração para outra.
lização de signos, de sinais artificiais. Signo por excelência, a Assim, a consciência individual emerge numa relação de
palavra, na sua especificidade, constitui a interface do social e alteridade e numa realidade discursiva que Bakhtin caracte-
do individual, do público e do privado, enquanto se configu- riza como fundamentalmente dialógica. Essa dialogia atinge
ra como atividade (produto e produção) humana nos níveis o estatuto de princípio na sua perspectiva teórica, enquanto
intermental (comunicação, interação social) e intramental (re- encontro de vozes que se realiza e acontece de diversos mo-
presentação, cognição). dos: seja no diálogo face a face, seja no inescapável, constitu-
Nesse contexto teórico, o funcionamento cognitivo e o tivo “concerto polifónico” quando, nas palavras que falamos,
conhecimento humano são considerados como de nature- ressoam as palavras dos outros.
za fundamentalmente social, na medida em que as ações do Deste ponto de vista, várias questões também emergem,
bebê só vão adquirindo sentido num sistema de relações e relacionadas, sobretudo, aos aspectos pragmáticos e históri-
significações sociais. Os processos verbais - inicialmente do co/ideológicos da construção do conhecimento.
“outro”, depois “próprios” - organizam e estruturam a ativida- Como as crianças participam do processo de elaboração
de mental. Por isso mesmo, Vygotsky escolhe o significado da coletiva do conhecimento? Quais as condições concretas de
palavra como unidade de análise no estudo do funcionamento elaboração do conhecimento nos contextos das salas de aula
mental (não cabe aqui uma discussão específica sobre a ques- e como estas condições interferem, marcam, diversificam ou
tão da adequabilidade e dos limites de tal unidade de análise). constituem o processo de construção do conhecimento? No
No entanto, mesmo enfatizando a natureza social da lin- âmbito da prática pedagógica, na dinâmica das relações de
guagem e da cognição, Vygotsky situa, metodologicamente, ensino, como captar indicadores do processo de elaboração
o “significado da palavra” (que ele destaca como sendo o as- do conhecimento ao nível inter e intramental?

36
CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

É no contexto de tais polêmicas e indagações que se in- 09. Cria: 4 leões... 4 leões...
sere o nosso esforço de investigar teórica e empiricamente
os processos de construção coletiva do conhecimento no 10. Prof: Você pode fazer pra gente, Rafa?
contexto pré-escolar. Partindo dos pressupostos 1. de que 11. Juli: Eu posso!
o conhecimento se constrói na dinâmica interativa; 2. de que
Então faz aí... (passa lápis e papel para
os processos dessa construção estão situados socio-histori- 12. Prof:
camente; 3. de que os modos de conhecer a realidade emer- Juli). Desenha um leão, põe na frente 4.
gem das/nas práticas sociais, as quais trazem embutidas, e 13. Várias vozes
estabilizadas mas em transformação, matrizes de significa- 14. Prof: Ô, Juli, marca aí pra gente, 4 leões.
ções produzidas culturalmente; 4. de que essas significações
implicam, necessariamente, o discurso enquanto material 15. Cria: Aqui em cima!
semiótico comum inter e intrasubjetivo; 5. de que o conheci- 16. Cria: Faz o 4
mento do mundo é, portanto, um conhecimento fundamen-
17. Cria: Faz o risco, outro risco prá cá!
talmente social, mediado pelo outro e pela palavra, tanto
quanto são os seus modos de construção; procuramos ex- Todo mundo tá na frente! 4 leões. Faz o
18. Cria:
plicitar aspectos da formação social da mente, da elaboração desenho do leão!
coletiva do conhecimento, na dinâmica dos acontecimentos Assim, ó! (passa leão de plástico) Usa
cotidianos no interior da escola. 19. Cria:
esse leão aqui para fazer a marca!
Assumindo, portanto, que a significação se produz na
dinâmica das interações verbais, optamos por privilegiar, no 20. Cria: Faz deitado, Juli!
nosso estudo, o movimento discursivo como objeto teóri- 21. Gabr: Então, faz uma pata! Então faz uma pata!
co-metodológico, enfocando os processos de enunciação Pata, pata! Ele vai saber? Pata! Esse tem
como lugar de construção do conhecimento e de produção
pata, esse tem, esse tem, esse tem pata,
de sentido. Destacamos, deste modo, a linguagem, como um 22. José:
esse tem pata, esse tem pata, esse tem
artefato cultural especial e como uma realidade histórica es-
pata...
pecífica que permeia e constitui as relações humanas. Aqui, a
perspectiva teórica de Bakhtin, articulando psiquismo e ideo- Vai pensar, vai pensar que, que é pata...
23. Cria:
logia, permite levar em consideração, na análise dos dados vai pensar que é pata de gorila!
empíricos, não só a estrutura cognitiva da atividade mental, Cria: Faz só uma pata...
mas o aspecto discursivo no jogo dos interesses sociais.
No presente simpósio, escolhemos apresentar alguns as- Ó o tamanhico da patinha! Ó o
pectos de uma análise preliminar de um episódio, destacado Rafa: tamanhão! Ó o tamanhico, ó o
das gravações semanais em vídeo feitas numa pré-escola da tamanhão, ó o tamanhão...
rede pública de ensino de Campinas:
É hora da roda inicial. Professora e crianças estão senta- Nosso esforço de análise com relação à dinâmica discur-
das no chão, conversando. As crianças acabaram de ganhar siva consiste, num primeiro momento, em procurar identifi-
da professora dois pacotes com animais de plástico. car diferentes vozes que entram em contato no processo de
elaboração conjunta do conhecimento. Como pensar a cons-
trução de conhecimento na dinâmica interativa, discursiva?
Ô gente, abre aí a roda. Ô, dá licença, Quem fala? De que lugares? Que vozes podem ser ouvidas?
abre aí a roda. O Rafa, vamos contar os Interessa-nos não apenas apontar ou descrever estas vozes,
01. Prof: bichos pra gente saber quantos tem... mas analisá-las no contexto de sua produção, uma vez que
pra na hora de guardar a gente conferir “a situação mais imediata e o meio social mais amplo de-
e ver se não está faltando nenhum, tá? terminam completamente e, por assim dizer, a partir do seu
02. Muitas vozes... próprio interior, a estrutura da enunciação” (Bakhtin, 1981, p.
113). O evento acontece no contexto formal de uma pré-es-
Vamos contar? Ô Gabr, Gabr, vamos
cola pública, o que já nos apresenta alguns indicadores para
contando to mundo junto? Você vai
03. Prof: análise. Podemos logo de início identificar - nos turnos de 1
usando seu dedo pra orientar a gente? a 4 - marcas de um discurso instrucional. A professora, ocu-
Então vamos começar. pando seu lugar social, solicita, argumenta, co-ordena a ativi-
04. Todos contam dade, controlando com a voz, via “orientação” (o apontar) de
uma das crianças, a contagem dos bichos. As crianças, prota-
Agora a gente vai ter que contar os gonistas como alunos no evento, acompanham a contagem.
05. Rafa: bichos separados, assim: 4 leões, aí pra No entanto, podemos observar, no turno 5, uma reversi-
não misturar... bilidade nos papéis. Agora, é uma criança que propõe e argu-
06. Prof: Quem pode fazer isso? menta, sendo que a formulação de seu argumento se esboça
e pode ser traçada a partir da fala da professora no turno 1.
07. Muitas vozes: eu, eu, eu...
Os turnos de 6 a 12 configuram movimentos de in/decisão
08. Prof: Ô, eu vou marcando aqui... da professora. Uma vez aceita a proposta da criança, há uma
procura dos modos de condução da atividade, que não estão

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CONHECIMENTOS INTERDISCIPLINARES

claramente delineados, e são negociados com as crianças no É interessante perceber como o pronome «Ele» marca
grupo. A professora oscila entre assumir a tarefa proposta, e um «alguém indeterminado», ou um «lugar» indefinido no
delegá-la ao grupo. movimento dialógico, e como, no turno 23, essa indefinição
Acaba optando por delegá-la ao grupo. Uma das crianças permanece, ou é reafirmada por uma outra criança em: “Vai
se propõe a realizá-la. Com a folha de papel no chão à sua fren- pensar, vai pensar, vai pensar que...” Quem vai pensar? Quem
te e com a canetinha na mão, agora é a criança que hesita, sem é o/esse “sujeito” (que fala, que é falado, que é referido)?
saber como proceder. (Os diversos modos de ocupação des- Não é só a especificidade ou não do atributo que é im-
se «lugar de desempenho» - não sabemos bem como designá portante no caso do registro, mas é, sobretudo, a orientação
-lo ainda - no grupo têm sido objeto de nossas investigações). para o outro. Criar signos implica levar em conta o outro. É
Nos turnos de 15 a 25, podemos acompanhar a dinâmi- importante que “outro” compreenda. É importante que se
ca da interlocução que se estabelece. Os “outros”, aqueles possa compreender.
que não estão justamente no “lugar de desempenho”, dão Essa fala das crianças indica um movimento de reflexivi-
palpites, sugestões, aconselham e disputam pontos de vis- dade, um desdobramento do “eu” para colocar-se “no lugar
ta. Nessa sequência, só crianças falam. A professora observa do outro”, num jogo negociado de intenção, convenção e
sem se manifestar. compreensão (como fica a interpretação do “egocentrismo”
Um interessante jogo de elaboração conjunta tem lugar, na criança pequena, sobretudo se levarmos em conta o prin-
caracterizado primordialmente pela co-operação. É interes- cípio dialógico?).
sante aqui lembrar Bakhtin (1981) quando ele diz que o cen- Ao mesmo tempo, essa fala aponta para um “sujeito que
tro organizador e formador de toda enunciação está situado fala”, enunciador, povoado de muitas vozes e perspectivas.
no meio social que envolve o indivíduo. (Tese radicalmente Ele, outro, nós, algúem generalizados - acabam se confun-
oposta à de Piaget, por exemplo!). dindo e constituindo o que Bakhtin denomina a “terceira
São seis ou sete crianças do grupo que entram, explicita- pessoa”, que configura o auditório/horizonte social de uma
mente, no jogo enunciativo nesse momento. época, e de uma situação, onde está imersa, mas singulari-
E o que está em jogo? Entre outras coisas, a identificação zada, a consciência individual. Essa tensão - eu, outro, nós
e classificação dos bichos, a contagem, o registro. São as prá- - marcada no discurso (no caso do nosso episódio, deflagra-
ticas e recursos de organização, de memorização que, entre da pelo pronome “ele” no processo enunciativo), merece ser
outras práticas, estão inscritas na história e no discurso do tematizada e problematizada no estudo dos processos de
grupo, constituindo as representações, o imaginário social, construção de conhecimento, constituição do sujeito e pro-
o habitus (Bourdieu) que sustenta as práticas e os múltiplos dução de sentido.
sentidos destas práticas.  
Dentre estas práticas, podemos também identificar mar- Referencias Bibliográficas
cas de uma prática pedagógica que, no jogo instrução/cons- Bakhtin, M. (1981).  Marxismo e Filosofia da Lingua-
trução, privilegia a interação e possibilita a explicitação de gem. São Paulo: Hucitec.
formas coletivas de construção do conhecimento. Bakhtin, M. (1984). Ésthétique de la Création Verbale. Pa-
No processo enunciativo, são discutidas formas de re- ris: Gallimard.
presentação (gráfica) de um objeto/referente: leão de plás- Bronckart, J.P. (1977). Théories du Langage: une lntroduc-
tico. “Faz um risco”, “Faz o desenho”, “Faz a marca”, “Faz dei- tion Critique. Paris: Pierrc Mardaga Editeur.
tado”, “Faz o (número) 4”, “Usa esse leão”, são alternativas Doise, W. e Pabnonari, A. (1986). Répresentations Socia-
que se apresentam: cópia, contorno, utilização do modelo, les. Paris: Delachaux et Niestlé .
símbolos, signos. Podemos observar um rápido e in-tenso Mounoud, P. c Bronckart, J.P. (1987). Psychologie. En-
trabalho simbólico realizado coletivamente (que muitas ve- cyclopedie de la Plêiade. Paris: Gallimard.
zes passa completamente desapercebido no cotidiano, mas Piaget, J. (1975). A Formação do Símbolo na Criança. Rio
que registrado pela câmera...) na medida em que as palavras, de Janeiro: Zahar.
sempre retrabalhadas, vão configurando conceitos e idéias Piaget, J. e Inhelder, B. (1978). A Psicologia da Criança. Rio
num processo dialógico. Tensão entre estabilidade e trans- de Janeiro: Difel.
formação, contingências e criação. Sinha, C. (1988). Language and Representation. NY: NY
Nesse trabalho (de discussão de formas de representa- University Press.
ção e significação) um atributo do leão, relacionado à posi- Sercovich. A. (1977). El Discurso, el Psiquismo y el Registro
ção do leão no papel (em pé), ganha destaque e é sugerido Imaginário. Buenos Aires: Ediciones Nueva Vision.
como característica válida a ser representada: a “pata”. Vygotsky, L.S. (1984). A Formação Social da Mente.  São
E vem a contestação imediata em réplica (turno 22): Paulo: Martins Fontes.
“Pata! Pata! Ele vai saber!?! Pata!”que provoca uma tréplica Vygotsky, L.S. (1987). Thinking and speech. In Rieber, R. &
igualmente enfática (turno 25)! Carton, A., The Collected Works of L.S. Vygotsky. NY: Plenum
Nessa contestação, podemos “ler” (aqui, a necessidade Press.
de remissão a outros discursos que dão significação aos fa- Wallon, H. (1979). Do Ato ao Pensamento. Lisboa: Moraes
tos) a noção de que uma pata não é um atributo específico Editores.
de um leão e de que, portanto, não vai poder caracterizá-lo. Wertsch, J. (1985). tygotsky and the Social Formation of
Mas mais do que isso, um detalhe que aparece significativo Mind. Cambridge: Harvard University Press.
na enunciação da criança, do ponto de vista da nossa análise,
é: “Ele vai saber!?!” - “Ele”, quem?

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