You are on page 1of 1

C.E. Affonsina Mazzilo ARCADISMO Proº.

Marcio Marcelino

Situamo-nos, portanto, no século XVIII, época profundamente demarcada por grandes transformações
sociais. Uma delas, a Revolução Industrial, trouxe consigo o êxodo rural e, consequentemente, o crescimento urbano.
Emergia, assim, a mão de obra assalariada, tendo como consequência o progresso tecnológico e científico, colocado a
serviço da produção de bens. A aristocracia foi perdendo seu poder de força e, consequentemente, entrava em declínio
o absolutismo monárquico, passando a ceder lugar à burguesia.

Somada a tais transformações, entrava em cena uma nova corrente filosófica – o Iluminismo, calcado no
pressuposto de que a razão era fator determinante para a obtenção do conhecimento. Dessa forma, originando-se na
Inglaterra, no final do século XVII, obteve forte expansão na França, no século XVIII, tendo como principais
precursores os filósofos René Descartes e Espinosa, figuras reveladoras de um ideário voltado única e exclusivamente
à razão e à ciência (por acreditarem que todos os fatos deveriam ser isentos de toda e qualquer intervenção divina).
Acreditavam também na bondade do ser humano e na igualdade entre todos, defendendo veementemente a ideia de
que quem corrompe o ser humano é a própria sociedade, levando-o a conduzir atos não condizentes com a sua
posição enquanto tal. Vale dizer que essa afirmação está relacionada ao pensamento de Rousseau e Voltaire –
importantes filósofos que exerceram poder de influência.

Partindo de tal premissa, cabe afirmar que o Iluminismo tinha por finalidade formar uma sociedade mais
igualitária e esclarecida, razão pela qual o século XVIII ficou conhecido como o Século das Luzes. Tendo em vista essa
série de influências um tanto quanto decisivas para o movimento em referência, principalmente no tocante à
racionalidade, podemos dizer que o Arcadismo também é conhecido como Neoclassicismo, concebido como uma
retomada aos valores clássicos, baseados, principalmente, nas ideias aristotélicas.

Essa retomada esteve intimamente relacionada a alguns aspectos voltados para os postulados classicistas
(como afirmado anteriormente), sobretudo manifestados por alguns clichês, denominados máximas latinas. Assim,
destacamos:

* Inutilia truncat (cortar o inútil) – Essa tomada de posição retratava uma verdadeira repulsa aos excessos
preconizados pela arte barroca. Dessa forma, os representantes árcades optavam pela simplicidade, pela ordem direta
da linguagem e pela clareza.

* Carpe diem (aproveitar o dia) – Em face das instabilidades oriundas do mundo material, partindo do pressuposto
relacionado à fugacidade da vida, o ideal era aproveitar os prazeres proporcionados por esta, antes que passassem.

* Fugere urbem (fugir da cidade) – Tendo em vista as ideias preconizadas por Rousseau, somadas ao crescimento
desordenado das cidades, desencadeou-se o bucolismo – manifestado por uma evocação nostálgica do campo e da
natureza. Dessa forma, o anunciador (emissor) integra-se à vida campesina, abnegando-se dos valores citadinos.

* Locus amoenus (lugar ameno) – Segundo a visão dos representantes árcades, a natureza era vista como um lugar
ameno, aprazível, que lhes proporcionava equilíbrio e paz interior.

* Aurea mediocritas (equilíbrio do ouro) – Partindo do pressuposto de que a simplicidade se revelava como elemento
preponderante, o luxo e a ostentação eram vistos como algo inconcebível. Nesse sentido, os representantes árcades
pregavam o ideal de uma vida simples, permeada pelo equilíbrio, isto é, sem miséria nem riqueza, contando apenas
com o essencial, que pudesse lhe proporcionar tempo para a virtude e a arte.

Inspirados na região da Arcádia Grega – uma região mitológica habitada por deuses e pastores, onde se vivia de
acordo com as regras do amor e o prazer – os representantes fundaram as chamadas academias literárias, as
arcádias, cujos membros se reuniam com frequência, imbuídos no propósito de discutir assuntos relacionados às artes
como um todo. Para tanto, adotavam nomes de poetas gregos ou latinos, denominados pastores.

Cabe ainda ressaltar que além dos pressupostos acima ressaltados, outras características demarcaram a arte
neoclássica – notadamente expressas por:

* Racionalismo – Em virtude de a arte ser concebida como a imitação do real, toda criação que dela se originasse
deveria ser filtrada tão somente pela razão. Nesse sentido, o artista deveria recorrer a emoções genéricas, e não
àquelas oriundas de paixões criativas – fruto da inspiração pura e simples do enunciador.

* Exaltação da natureza – Mostrando-se totalmente opostos à realidade permeada nos grandes centros urbanos, os
representantes árcades iam ao encontro da natureza, uma vez que essa lhes proporcionava subsídios suficientes para
a purificação da alma.

* Imitação dos antigos – A arte greco-romana, considerada modelo de perfeição, equilíbrio, beleza e simplicidade,
exerceu forte influência aos moldes neoclassicistas no que se refere à temática, às regras de composição e ao
predomínio de figuras mitológicas.

* Preocupação como o homem natural – Consoante às ideias do filósofo Rousseau, o homem primitivo, uma vez
mantendo estreita relação com a natureza, ainda não fora corrompido pelos padrões sociais, pressuposto esse
preconizado pela teoria do “O bom Selvagem”, autoria do próprio Rousseau.

You might also like