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AS ANALOGIAS IMPRODUTIVAS
O mesmo símbolo pode ser apropriado e usado para diferentes propósitos e com
significados variados; isto depende do período histórico, da base religiosa e da
dimensão de realidade visada.
O núcleo de significados básicos das letras hebraicas não concorda com o das
cartas dos Arcanos maiores. Tomemos um exemplo. A letra Guimel evoca a riqueza ou
pobreza, o planeta Marte, o anjo Samael, o ouvido direito, a ligação entre Binah e
Gevurah. Tudo isto tem pouco a ver com a carta da Imperatriz, a dissonância é tão
grande que G.O.Mebes indica o planeta Vênus como o correspondente, e ao fazê-lo sai
da esfera da Cabala judaica e cria outra coisa.
O mesmo problema acontece na comparação de outras letras e cartas.
Ao abordamos um conjunto, a primeira providência deve ser a verificação da
composição, a estrutura.
No alfabeto hebraico a estrutura básica das letras é 3+7+12:
três letras-mães dispostas nos três caminhos horizontais da Árvore da Vida:
Same Tsad
He Vav Zain Het Tet Yod Lamed Nun Ain Qof
c e
Nos arcanos maiores do Tarô não temos nada que lembre remotamente este esquema.
Tal analogia levaria a classificar o Mago, a Morte e o Louco como cartas matrizes, o
que, não me recordo tenha ocorrido.
A Árvore da Vida é um diagrama que resume dois Os caminhos da Ávore e as
milênios de investigações de místicos judaicos e letras, tal como aparecem nos
assinala os aspectos coincidentes nos domínios manuais de Tarô, não
teológico, cosmológico e antropológico, com profundas coincidem com os textos
implicações para a terapêutica, magia cerimonial, artes tradicionais.
mânticas e principalmente, práticas meditativas. Alterar
qualquer coisa no desenho é esterilizar a prática.
Os desenhos da Árvore da Vida que comumente
aparecem nos estudos de Tarô-Cabala, mostram as letras
dispostas em ordem alfabética partindo de cima; neste
caso a letra Aleph liga Kether a Chokmah.
Esta associação entre letras e caminhos da Árvore da
Vida é uma especulação de autores cristãos, pois na
realidade a letra Aleph liga Chesed a Guevurah.
Tomando a Árvore como diagrama no corpo humano
esta região representa o tórax e a letra Aleph o elemento
Ar. Colocar a Aleph no hemisfério direito do cérebro
(Kether-Chokmah) significa que o sujeito pensa ao
sabor da ventania.
Deus o tenha!
“Arcanos menores” é uma designação recente para o
baralho comum, cuja origem podem ser buscada no
Oriente, tendo chegado à Europa pelas mãos dos
mulçumanos, e daí a denominação naibs para os quatro
elementos (estrutura horizontal) o que tem pouco a ver
com os quatro mundos dos cabalistas (estrutura Para ampliar,
vertical). clique sobre a imagem.
As dez sefirot da Árvore da Vida são atributos de
Deus, as três superiores saem da passagem do livro do
Êxodo quando Deus infunde seu Espírito, Sabedoria e
Inteligência, para que Betzalel possa construir o
tabernáculo.
Os nomes das sete inferiores foram tirados do livro das Crônicas quando o rei Davi
profere uma oração consagrando Salomão como seu sucessor. Se a carta 1 não for lida
na perspectiva de Espírito e vontade divina, a 2 na de Sabedoria do Pai Universal e
assim por diante, a aproximação é puramente ornamental.
TARÔ, UMA MANCIA DESPREZADA
Quando Court Gebelin escreveu Le Monde Primitif no final do século 18, o Tarô já
existia como jogo e cartomancia havia 4 séculos. Suas origens não foram registradas e sua
prática confinava-se a curiosos, nobres e pessoas simples. Com este autor tem início uma
corrente esotérica que procura vincular o tarô a uma tradição, em seu caso, egípcia.
Lévi vinculou o Tarô à Cabala e Papus aos ciganos. Somente Oswald Wirth viu com clareza
que as imagens eram européias, medievais e cristãs. Um dos grandes problemas da história do
Tarô é investigar esta cegueira. Propomos aqui um início de discussão.
Depois de 600 anos de movimentos de povos e
destruição, os europeus puderam respirar aliviados no
século XI, experimentando uma revitalização
econômica intensa com diversas conseqüências
benéficas na esfera cultural e religiosa: o novo
movimento monástico (Cluny e Cister), a organização
das ordens militares, a construção das grandes
catedrais românicas e góticas pela confraria
maçônica, o início da poesia trovadoresca e das
Cortes de Amor no Sul da França, e muitos outros.
Paralelamente a isto surgiram crises espirituais que
se tornaram agudas: provas racionais da existência de
Deus (Anselmo), as querelas de Investiduras, as
[http://divinity.library.vanderbilt.edu] heresias e a Inquisição, a subordinação do papado aos
reis franceses (o cativeiro de Avignon) e o extermínio
da Ordem dos Templários em 1310.
O Tarô é um dos tesouros salvos do naufrágio. Algumas das imagens foram copiadas
diretamente das esculturas das Catedrais, como mostra Flournoy em A simbólica dos
arcanos: uma peregrinação da alma.
A quantidade de imagens femininas remete para as Cortes de Amor provençais e os
Fideli d’Amore italianos. Pesquisas na iconografia dos manuscritos alquímicos
poderiam mostrar surpresas, bem como nos trabalhos dos mestres em iluminuras
franceses e de Siena do início do século XIV. Eu arriscaria dizer que o desenho básico
original foi realizado antes de 1348, pois toda a iconografia européia ficou marcada pela
Peste Negra, da qual o Tarô está isento. A crise espiritual não terminou em 1310, ao
contrário, prosseguiu célere com o Cisma (três papas simultâneos no final do século
XIV), a Reforma e o impacto da emergência das ciências experimentais. Cento e
cinqüenta anos depois do extermínio dos Templários, poucos conheciam o patrimônio
esotérico acumulado no Cristianismo e promoveram uma verdadeira orgia eclética, um
patê esotérico formado por fragmentos colhidos em diversas tradições: hermetismo
greco-egípcio, neoplatonismo, pitagorismo, alquimia e magia islâmicas, e cabala
judaica.
Já estamos em pleno Renascimento e os autores
que compunham a biblioteca básica de Lévi (Ficino,
Mirandola, Postel, Reuchlin, Agrippa e outros), não
escreveram uma linha sobre o Tarô. As razões
possíveis: não conheciam a origem, não tomavam o
baralho como material esotérico etc.
Pesquisar a origem do Tarô é embrenhar-se em
assunto complicado: que caminhos tortuosos
levaram os dirigentes cristãos da religião de amor
dos Evangelhos até o canibalismo da primeira
Cruzada e às torturas e fogueiras da Inquisição?
Na realidade o Tarô não precisa legitimar-se com
associações a outras tradições. O núcleo de
significados das cartas consolidou-se ao longo de [http://www.ojm.org/]
séculos e insistir nas associações pode ser um
estorvo.
Um tarólogo em exercício não deve se lembrar que a carta do Eremita corresponde à
letra Theith, ao signo de Leão, à audição, ao rim esquerdo. Se o fizer vai ficar perplexo.
Pri
meiro quadrado: A INFÂNCIA Tempo da infância, da construção do corpo físico, dos
colégios e nações, o “nós”.
Jogos numerológicos
Essa disposição em quatro tem a vantagem de apresentar de modo harmonioso os
conjuntos de fases vividas. Os amantes da numerologia e dos jogos matemáticos têm,
aí, um ponto de encontro.
A base matemática é 4 e o 7 se apresenta, igualmente, com particular importância.
Por exemplo, se somarmos os números das cartas externas ou internas de cada quadra,
teremos:
– primeiro quadrado: 7 = 2 + 5 ou 3 + 4
– segundo quadrado: 17 = 7 + 10 ou 8 + 9
– terceiro quadrado: 27 = 12 + 15 ou 13 + 14
– quarto quadrado: 37 = 17 + 20 ou 18 + 19
Podemos também adicionar as duas cartas que se encontram em linha em dois
quadrados opostos:
17 = Papisa + Diabo; Imperatriz + Temperança; Imperador + Morte...
27 = Carro + Julgamento; Eremita + Lua ...
As etapas e a mensagem
Cada arcano representa uma etapa do caminho da vida, um estágio de realização.
Se os examinarmos um a um, na ordem e por agrupamentos de cada quadra com o seu
respectivo "cabeça", o que “abre a porta”, poderemos sentir em cada um deles a energia
particular que emana dessas imagens. É possível entrar no “jogo da lembrança”. E
poderemos dizer “eu também passei por isso!” No final das contas, talvez,
compreenderemos que o Tarô conta a história de nossas próprias vidas.
Aí está o ensinamento que os Antigos, mestres das imagens e construtores do
românico e, após, das catedrais medievais, quiseram conferir a um jogo de cartas antes
de desaparecerem definitivamente. Trata-se, portanto, de um jogo a dinheiro que se
alastrou como um rastilho de pólvora pelos botequins de toda a Europa. Foi como uma
garrafa lançada ao mar, um conhecimento transmitido, às cegas, para as gerações
futuras, para qualquer finalidade útil...
Uma vez que o suporte era modesto, porque o jogo permitia ganhar dinheiro, porque
falava por imagens e não por palavras e, sem dúvida, ainda por outras razões, a
mensagem chegou até nós.