You are on page 1of 15

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/275993569

Aplicações de biomateriais em ortopedia

Article  in  Estudos Tecnológicos em Engenharia · December 2013


DOI: 10.4013/ete.2013.92.02

CITATIONS READS

3 880

1 author:

Luciano Brito Rodrigues


Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
44 PUBLICATIONS   310 CITATIONS   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Computational and experimental Biomechanics View project

Environmental Management of Agroindustrial Process View project

All content following this page was uploaded by Luciano Brito Rodrigues on 17 November 2016.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Estudos Tecnológicos em Engenharia, 9(2):63-76, julho-dezembro 2013
© 2013 by Unisinos - doi: 10.4013/ete.2013.92.02

Aplicações de biomateriais em ortopedia

Biomaterials applications in orthopaedics

Luciano Brito Rodrigues1


Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Brasil
rodrigueslb@gmail.com

Resumo. Biomaterial é um termo usado para indi- Abstract. Biomaterial is a term used to indicate the
car os materiais que constituem partes de implantes materials that constitute parts of medical implants,
médicos, dispositivos extracorpóreos e descartáveis extracorporeal devices and disposables that are
que são utilizados em medicina, cirurgia, odontolo- used in medicine, surgery, dentistry and veterinary
gia e medicina veterinária, em todos os aspectos re- medicine, in all aspects related to health care. More
lacionados ao cuidado com a saúde. De forma mais specifically, biomaterials are more related to medi-
específica, os biomateriais estão mais relacionados cal devices, especially those that are temporarily or
a dispositivos médicos, sobretudo àqueles que são permanently implanted in the human body. These
temporária ou permanentemente implantados no materials differ from others in that they contain a
corpo humano. Estes materiais diferenciam-se de combination of mechanical, chemical, physical and
outros por conter uma combinação de propriedades biological properties which makes their use in the
mecânicas, químicas, físicas e biológicas que torna human body possible. Advances in Health, Engi-
viável sua utilização no corpo humano. Os avanços neering and other fields of science, driven mainly
alcançados na área da Saúde, aliados à Engenharia by rising expectations and the quality of life, have
e outros ramos da Ciência, motivados principal- enabled the development of techniques that seek
mente pelo aumento da expectativa e da qualidade to restore all or some of the functions of the organ
de vida, têm possibilitado o desenvolvimento de or tissue of the person who suffered some form of
técnicas que buscam restabelecer as funções totais mutilation or was affected by a disease. This pa-
ou parciais do órgão ou do tecido da pessoa que so- per presents the applications of biomaterials in
freu algum tipo de mutilação ou foi acometida por the orthopedic area. It will discuss the concepts of
alguma doença. Este trabalho visa a apresentar as biomaterials, as well as those related to the scope
aplicações de biomateriais na área ortopédica. Para of this paper. Then the groups of the most widely
tanto, discorrerá sobre os conceitos de biomateriais, used materials in medicine will be presented, and
além daqueles relacionados com o escopo deste the main types of materials used in orthopedics will
trabalho. Em seguida, serão citados os grupos de be defined with their applications. Finally, the latest
materiais mais utilizados e, depois, definidos os advances and perspectives for the use of biomateri-
principais tipos de materiais de uso em ortopedia, als in orthopedics will be presented.
com suas aplicações. Os avanços mais recentes e as
perspectivas para o uso de biomateriais em ortope-
dia serão, por fim, apresentados.

Palavras-chave: biomateriais, ortopedia, bioenge- Key words: biomaterials, orthopedics, bioengineer-


nharia. ing.

1
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Praça Primavera, 40, Primavera, 45700-000, Itapetinga, BA, Brasil.
Aplicações de biomateriais em ortopedia

Introdução substâncias, sintética ou natural em origem,


que possa ser usada por um período de tem-
A perda de um órgão ou de uma parte do po, completa ou parcialmente como parte de
corpo gera, além da perda da função, transtornos um sistema que trate, aumente ou substitua
sociais e psicológicos. Os avanços alcançados na qualquer tecido, órgão ou função do corpo”
área da Saúde, aliados à Engenharia e a outros (Boretos e Eden, in Dee et al., 2002).
ramos da Ciência, motivados principalmente Um biomaterial tem que ter a capacidade
pelo aumento da expectativa e da qualidade de apresentar uma resposta adequada a uma
de vida, têm possibilitado o desenvolvimento situação específica. Alguns materiais metáli-
de técnicas que buscam restabelecer as funções cos, por exemplo, apresentam as características
totais ou parciais do órgão ou do tecido da pes- mecânicas requeridas, porém, corroem-se ra-
soa que sofreu algum tipo de mutilação ou foi pidamente, implicando a ruptura do implante.
acometida por alguma doença. Dentre estas téc- Assim, nem todos os materiais são adequados
nicas, a que apresenta maior versatilidade e pos- para serem usados com esse fim. O material
sibilidades de desenvolvimento é a que oferece deve ser aceito pelos tecidos que estão próxi-
aos pacientes a substituição total ou parcial do mos e também pelas demais partes do corpo,
tecido danificado por implantes constituídos por ou seja, o material deve ser biocompatível, não
biomateriais (Oréfice, 2005). Isso tem resultado devendo produzir irritação, infecções ou aler-
no desenvolvimento de implantes de diversos gia no organismo humano. Se o material não
tipos, com diferentes formatos e constituídos de for adequadamente selecionado, haverá sua
vários biomateriais tanto que hoje é praticamen- rejeição por parte do organismo. Basicamen-
te impossível saber o número de modelos de te em função desta rejeição, ocorrem dois ti-
próteses disponível no mercado mundial. pos de resposta pelo organismo: a primeira é
Este trabalho visa a apresentar as aplica- uma resposta local, produzida nas imediações
ções de biomateriais na área ortopédica. Para do implante, ocasionando uma inflamação
tanto, discorrerá sobre os conceitos de bioma- dos tecidos adjacentes, que se manifesta com
teriais, além daqueles relacionados com o es- hematomas e fortes dores; a outra resposta é
copo deste trabalho. Em seguida, serão citados chamada remota e repercute em outras par-
os grupos de materiais utilizados em medicina tes do corpo, ocasionando infecções. O meio
e, depois, definidos os principais tipos de ma- biológico é altamente agressivo, pois tem uma
teriais de uso em ortopedia, com suas aplica- elevada atividade química. A reação contrária
ções. Os avanços mais recentes e as perspec- do corpo humano ao material implantado se
tivas para o uso de biomateriais em ortopedia produz em vários níveis: físico-químico, mole-
serão, por fim, apresentados. cular e celular. É, portanto, muito importante
saber ou tentar prever o comportamento do
Biomateriais material dentro do corpo, conhecendo se é ou
não biocompatível (Arnal, 2005).
Biomaterial é um termo usado para indi- Os testes iniciais com novos materiais ge-
car os materiais que constituem partes de im- ralmente são realizados in vitro, onde as con-
plantes médicos, dispositivos extracorpóreos e dições do ambiente biológico buscam ser re-
descartáveis que são utilizados em medicina, produzidas em laboratório da forma mais fiel
cirurgia, odontologia e medicina veterinária, possível, de modo a permitir avaliar resulta-
em todos os aspectos relacionados ao cuidado dos preliminares da resposta de um material
com a saúde (Dee et al., 2002). De forma mais à ação do meio. Os avanços obtidos nesses
específica, os biomateriais estão mais relacio- experimentos permitem a realização dos tes-
nados a dispositivos médicos, sobretudo àque- tes in vivo, onde são primeiramente utilizados
les que são temporária ou permanentemente animais para a validação e a obtenção de re-
implantados no corpo humano. Esses mate- sultados. Os animais mais utilizados são ratos,
riais diferenciam-se de outros por conter uma cães, ovelhas e porcos, os quais permitem a
combinação de propriedades mecânicas, quí- realização de experimentos mais diversos re-
micas, físicas e biológicas que torna viável sua lacionados com testes de novos materiais. A
utilização no corpo humano (Oréfice, 2005). O compatibilidade dos implantes, as proprieda-
termo biomaterial foi definido na Conferência des de degradação e a resistência mecânica são
do Instituto Nacional de Desenvolvimento de alguns dos parâmetros avaliados nesses testes.
Consenso em Saúde como “Qualquer substân- É certo que a utilização de animais em expe-
cia (outra que não droga) ou combinação de rimentos encontra uma série de resistências

64 Estudos Tecnológicos em Engenharia, vol. 9, n. 2, p. 63-76, jul/dez 2013


Luciano Brito Rodrigues

por parte dos organismos de defesa e prote- materiais biodegradáveis está voltado para o
ção dessas espécies, sendo, portanto, um tema desenvolvimento de materiais biocompatíveis
polêmico e que e vai de encontro ao desenvol- com as devidas características de resistência e
vimento das tecnologias relacionadas com os degradação que permitam seu uso regular no
biomateriais. Os pesquisadores e financiado- tratamento de problemas ortopédicos em pa-
res envolvidos com projetos de biomateriais cientes humanos (An et al., 2000).
devem estar cientes de que suas responsabili-
dades em relação ao uso de animais são deter- Biomateriais e suas aplicações
minadas pelas leis e regulamentações federais, em Medicina
estaduais e locais em vigor (An et al., 2000;
Hanson et al., 1996). Os materiais selecionados para utilização
em Medicina resultam de anos de pesquisas
Biocompatibilidade das propriedades químicas e físicas de uma
gama diferente de materiais candidatos (Callis-
O conceito de biocompatibilidade alterou-se ter Jr., 2002). Mais de 50 diferentes dispositivos
muito nos últimos anos. Primeiramente, acredi- constituídos de mais de 40 tipos de materiais
tava-se que um material era biocompatível se são usados atualmente como forma de repa-
fosse totalmente inerte ao corpo humano, não ro, substituição ou auxílio às partes do corpo.
ocorrendo resposta alguma do meio biológico A escolha de um material para ser usado como
à sua presença. Essa ideia de um material to- biomaterial passa necessariamente pela análise
talmente inerte foi deixada de lado quando se de um conjunto de requisitos que devem ser
percebeu que a presença de qualquer tipo de encontrados. Assim sendo, um material apto a
material sempre ocasiona alguma resposta do ingressar na classe de biomateriais deve exibir
organismo, podendo variar em função do tipo propriedades coerentes com a função específi-
de aplicação e das características dos pacientes ca do implante (mecânica, no caso do sistema
(faixa etária, sexo, etc). Assim, o conceito de ósseo, e óptica, no caso de lentes intraocula-
biocompatibilidade de um material só poderia res). Além disso, o efeito do ambiente orgânico
ser definido compreendendo-se as várias for- no material (corrosão, degradação) e o efeito
mas de interação do organismo com o material, do material no organismo são fenômenos que
dando-se ênfase especial à interface tecido (ou devem ser estudados com extremo cuidado.
meio circunvizinho)-material (Oréfice, 2005). A esses efeitos está associada a chamada “bio-
compatibilidade” (Silva Jr. e Oréfice, 2001), que
pode ser definida como a “habilidade do ma-
Materiais biodegradáveis terial desempenhar uma resposta apropriada a
uma aplicação específica” (Lemons, 1996).
Geralmente, quatro diferentes termos (bio- A interação dos tecidos vivos com o bio-
degradação, bioerosão, bioabsorção e bioreab- material, associada com o tipo de resposta do
sorção) são utilizados para indicar o material organismo à presença do material, é o ponto
ou o dispositivo que tem a propriedade de gra- mais desafiador na utilização de biomateriais.
dualmente desaparecer após ser introduzido Os tipos de interação entre tecido-implante
do organismo. Apesar dos esforços no sentido são fundamentalmente dependentes do tipo
de se estabelecer qual o termo mais adequado, de material e podem ser reunidos nos seguin-
percebe-se que ainda há ainda certa indefini- tes grupos: tóxica, não-tóxica (muitas vezes
ção entre os diversos pesquisadores (Alexan- chamada de bioinerte ou parcialmente inerte),
der et al., 1996). Para fins deste trabalho, será bioativa e biodegradável (Pereira et al., 1999).
priorizada a utilização do termo biodegradá- Devido a sua grande variedade de aplica-
vel. Ao longo dos últimos vinte anos, estes ma- ções dentro da medicina, não existe uma clas-
teriais têm sido utilizados e experimentados sificação definida para os biomateriais. Mesmo
em muitos aspectos da cirurgia ortopédica, assim, estes podem ser classificados em função
incluindo fixação de fraturas, substituição ós- de alguns aspectos fundamentais (Arnal, 2005):
sea, reparo de cartilagens, reparos de menisco,
fixação de ligamentos e liberação de drogas e • Segundo o problema apresentado: subs-
medicamentos. Parafusos, pinos, plugs e placas tituição de partes danificadas (implan-
para cirurgias ortopédicas, orais e craniofa- tes), melhorar uma função (marca-pas-
ciais são algumas de suas formas de aplicação. sos), rupturas ósseas (placas, parafuso),
O foco principal da pesquisa relacionada com entre outros;

Estudos Tecnológicos em Engenharia, vol. 9, n. 2, p. 63-76, jul/dez 2013 65


Aplicações de biomateriais em ortopedia

• Em função do uso em órgãos do corpo Metais ligas metálicas


humano: coração (válvulas), pulmão
(máquina oxigenadora), olhos (lentes de Os materiais metálicos são normalmen-
contato), etc; te combinações de elementos metálicos. Eles
• De acordo com o uso nos sistemas do cor- possuem um número grande de elementos
po: esquelético (placas, parafusos), circu- não-localizados, ou seja, seus elétrons não es-
latório (válvulas cardíacas), etc.; tão ligados a qualquer átomo em particular
• Segundo sua natureza: metais, cerâmicos, (Callister Jr., 2002). Muitas das propriedades
poliméricos e compósitos. dos metais são atribuídas a estes elétrons e,
por isso, os metais são excelentes condutores
Uma classificação proposta pela American de eletricidade e calor e não transparentes à
Society for Testing Materials (ASTM), que en- luz. São resistentes, mas deformáveis, sendo
globa e completa a classificação apresentada por isso utilizados em muitas aplicações estru-
anteriormente, agrupa os materiais em dispo- turais (Padilha, 1997).
sitivos: Muitos metais podem ser tolerados pelo
• externos: que estão em contato com as corpo humano em pequenas quantidades (Fe,
superfícies do corpo (eletrodos, próteses Cr, Ni, Ti, Co...), assim, nem todos os materiais
externas, etc.); são biologicamente aceitos pelos tecidos que
• com comunicação exterior: comunicação estão em contato eles. Portanto, os estudos de
com canais naturais internos (cateteres biocompatibilidade são fundamentais para a
urinários, aparatos intra-uterinos), em implantação de um novo biomaterial metálico,
comunicação com tecidos e fluidos (con- o qual deve apresentar prioritariamente uma
tato por curto e médio tempo), em conta- boa resistência à corrosão. Ao ocorrer a oxida-
to com o sangue; ção do metal no corpo humano, há uma libe-
• implantados por longo tempo: em conta- ração de produtos de corrosão aos tecidos cir-
to com osso, tecidos e fluidos tissulares e cundantes, desencadeado uma série de efeitos
em contato com o sangue. indesejáveis ao organismo. Os materiais que
cumprem esta exigência de resistência à corro-
Biomateriais utilizados em ortopedia são são os aços inoxidáveis, as ligas à base de
cobalto, o titânio, o ouro e a platina. Os metais
Os implantes ortopédicos têm permitido, e suas ligas encontram muitas aplicações em
nos últimos sessenta anos, a melhoria da qua- ortopedia, especialmente como materiais es-
lidade de vida de diversas pessoas em todo truturais, em dispositivos para fixação de fra-
mundo. Só nos Estados Unidos, estima-se que turas e na substituição total ou parcial de ar-
mais de um milhão de cirurgias ortopédicas ticulações, mas também podem ser utilizados
sejam realizadas anualmente (Oreffo e Triffitt, na fabricação de instrumental cirúrgico, em
1999). O objetivo da engenharia é permitir estabilizadores externos, braçadeiras e apara-
uma correta integração entre a prótese e o sis- tos para tração. Esses materiais são utilizados
tema ósseo remanescente, de modo que a inte- principalmente devido a suas propriedades
gridade e a funcionalidade anterior do conjun- mecânicas e sua resistência à corrosão no or-
to possam ser mantidas. Esses implantes são ganismo humano (Martín, 2004).
geralmente adicionados no esqueleto humano Até o século XVIII, os materiais metálicos
em suturas, correção de deformidades, resta- utilizados em implantes cirúrgicos eram fun-
belecimento das funções de partes originais do damentalmente o ouro e a prata. Nesse perí-
corpo. Os dispositivos mais utilizados são pla- odo, várias tentativas de introduzir materiais
cas ósseas, parafusos, articulações de quadril, metálicos no interior do corpo humano foram,
joelho, cotovelo, ombros e união de tendões em sua maioria, frustradas. Em 1926, apare-
e ligamentos. Esses implantes estão expostos ceram os primeiros implantes de aço inoxi-
às características bioquímicas e dinâmicas do dável e, em 1936, sugiram as ligas à base de
corpo humano e seu projeto é determinado cromo-cobalto. A utilização do titânio e suas
pela anatomia e pelas condições fisiológicas ligas tive início a partir da década de sessenta
desse ambiente. Assim, os materiais utilizados (Marinheiro, 2002). A utilização de materiais
na fabricação dos implantes devem suportar metálicos representa significativa importância
as características agressivas do meio e as soli- econômica e clínica dentro do campo dos bio-
citações de carregamento que lhes são impos- materiais. Dados históricos mundiais revelam
tas (Mudali et al., 2003). que, entre 1940 e 1975, aproximadamente cem

66 Estudos Tecnológicos em Engenharia, vol. 9, n. 2, p. 63-76, jul/dez 2013


Luciano Brito Rodrigues

milhões de cirurgias foram realizadas em seres metilmetacrilato) passaram a ser, desde então,
humanos para colocação de implantes metáli- considerados como o padrão para comparação
cos (Azevedo e Hippert Jr., 2002). No Brasil, o e introdução de novos materiais utilizados nas
mercado de implantes ortopédicos está estima- artroplastias (Santavirta et al., 1998).
do em US$ 64 milhões anuais, sendo o serviço Em relação aos materiais metálicos, o aço
público de saúde responsável por mais de 80% inoxidável tem sido pouco utilizado nos pro-
do consumo nacional de implantes cirúrgicos jetos de novas próteses de articulações. Seu
metálicos (Azevedo e Hippert Jr., 2002). Dados baixo custo é um dos fatores principais que
do início da década de 1990 mostram que os sustenta sua utilização em alguns países, como
valores relacionados com o mercado de próte- o Brasil. As ligas de Cromo-Cobalto são mais
ses e artigos ortopédicos nos Estados Unidos resistentes e menos passíveis de corrosão se
foram em torno de US$ 2.098 milhões, dos comparadas ao aço inoxidável. Em função do
quais aproximadamente 66% correspondem seu alto módulo de elasticidade (200-250GPa),
a próteses metálicas de articulações. Estima- a fixação das próteses de ligas de cromo-co-
se ainda que, neste país, cerca de 3,6 milhões balto e de aço inoxidável é feita com a utiliza-
de cirurgias ortopédicas são realizadas por ção de cimento ósseo, visando a minimizar os
ano, sendo que quatro das dez mais frequen- efeitos da má distribuição de tensões na região
tes utilizam implantes metálicos (Alexander et do implante. As ligas de titânio (mais do que
al., 1996). No mundo, os valores em torno do o titânio puro) são os materiais metálicos que
mercado de implantes ortopédicos atingiram recentemente têm sido mais utilizados em ar-
o montante de US$ 4,4 bilhões em 1999 (Brasil, troplastias. Apresentam algumas característi-
2011; Instituto Inovação, 2004). Os materiais cas superiores aos demais materiais metálicos
metálicos atualmente mais utilizados em or- utilizados, principalmente uma maior resistên-
topedia são (Bruke et al., 1996): aço inoxidável cia à corrosão, resistência mecânica, e menor
 316L; ligas de cromo-cobalto  CrCoMo e Cr- módulo de elasticidade (110GPa). Porém, são
CoWNi; e titânio puro e suas ligas  Ti-6Al-4V. mais suscetíveis a falhas, além de possuir me-
O tântalo é um metal que também vem sendo nor resistência ao desgaste quando compara-
utilizado, principalmente como revestimento, das às ligas de cromo-cobalto. A resistência ao
visando a melhorar a adesão óssea e a resis- desgaste das ligas de titânio pode ser melhora-
tência à corrosão da por processos de deposição de íons. Existem
A substituição de articulações (artroplastia) também indícios de que o titânio e suas ligas
é um dos mais eficazes procedimentos cirúrgi- favorecem uma melhor interação metal-osso
cos, fazendo com que as pesquisas de desenvol- do que as ligas de cromo-cobalto, não haven-
vimento de materiais para esta aplicação seja do, contudo, diferenças clínicas a este respeito
a que concentra maior atenção (Santavirta et (Santavirta et al., 1998). O tântalo é um outro
al., 1998). As artroplastias de quadril, joelho e metal que, devido a sua biocompatibilidade
ombro são, nesta ordem, os três procedimentos e alta resistência à corrosão, vem sendo bas-
mais realizados (Zadeh e Calvert, 1998). A ar- tante utilizado em aplicações biomédicas nos
troplastia de quadril, por sua vez, é a que tem últimos 40 anos principalmente como marca-
maior repercussão entre os especialistas em passo e em cirurgias reparadoras de crânio.
ortopedia devido às demandas apresentadas Esse material pode ser utilizado tanto nas for-
por milhares de pessoas em todo mundo aco- mas sólida como porosa. O tântalo sólido é no
metidas por artrite, osteoporose e ainda vítimas mínimo dez vezes mais rígido que o osso. Já o
de acidentes. No século passado, técnicas avan- tântalo poroso (também conhecido como metal
çadas de cirurgia foram introduzidas na déca- trabecular) apresenta propriedades mecânicas
da de quarenta e a utilização de materiais mo- parecidas com a do osso vivo, tendo sua prin-
dernos data da década de sessenta, quando se cipal aplicação na área de implantes ortopé-
introduziu o conceito da moderna artroplastia dicos. A diferença entre o tântalo poroso e os
total do quadril, ou artroplastia de baixo atrito, demais materiais porosos é que ele apresenta
realizada por John Charnley. Esse procedimen- uniformidade e continuidade estrutural, boa
to consistiu em substituir a cabeça do fêmur por resistência, baixa dureza (similar à do osso),
uma peça metálica fixada com cimento ósseo, grande volume de porosidades e alto coeficien-
que se articulou a outra localizada no acetá- te de atrito. Estudos em animais têm mostrado
bulo, feita de material polimérico (Bruke et al., que a alta porosidade do tântalo (80%) permite
1996; Hench, 2000). Os materiais escolhidos por uma melhor adesão óssea em torno do material
Charnley (aço inoxidável, polietileno e poli- como por entre ele (Christie, 2003).

Estudos Tecnológicos em Engenharia, vol. 9, n. 2, p. 63-76, jul/dez 2013 67


Aplicações de biomateriais em ortopedia

Com o passar do tempo, a utilização de Brasileiro Odonto-Médico-Hospitalar (CB26),


próteses coxofemorais em cirurgias (artroplas- vem realizando um grande esforço na elabo-
tia) de quadril tornou-se um dos procedimen- ração/adaptação/tradução de normas técnicas
tos ortopédicos mais frequentemente realiza- para o setor. São cerca de 103 documentos
dos e diversas variações dessas próteses foram atualmente disponíveis na ABNT, os quais
criadas. Bannister (1993) e Villar (1994) são al- abrangem desde a especificação de matérias-
gumas das diversas referências onde se podem primas e produtos, passando por requisitos de
encontrar maiores informações sobre a evolu- embalagem e marcação das peças, até aspectos
ção histórica deste procedimento, bem como dimensionais de componentes específicos de
da utilização destas próteses. A cada ano, são licitação, como forma de garantir a qualidade
realizadas cerca de 800 mil artroplastias de dos implantes cirúrgicos (Azevedo e Hippert
quadril em todo mundo. Os registros mostram Jr., 2002; ABIMO, 2005).
que, após nove anos de utilização, 6% dessas As aplicações dos materiais metálicos são
próteses são substituídas devido a problemas muitas e, contrariamente, o número desses ma-
relacionados a desgaste destas próteses (Ge- teriais que podem suportar o agressivo meio
ringer et al., 2005). Nos Estados Unidos, esti- biológico é muito pequeno. Mesmo assim, os
ma-se que sejam realizadas cerca de 160 a 170 resultados obtidos com a utilização de implan-
mil dessas cirurgias por ano (AAOS, 2003). In- tes metálicos não são tão satisfatórios, uma vez
dependentemente da seleção da prótese, ainda que ainda ocorrem falhas devido a sua aplica-
são muitas as complicações inerentes à reali- ção, tais como desgaste, corrosão, liberação de
zação da artroplastia, sendo que as duas mais espécies iônicas, dentre outras (Martín, 2004).
importantes são, a curto prazo, a ocorrência de Nesse sentido, bastantes pesquisas estão em
infecção e, a longo prazo, a perda da fixação da desenvolvimento nesta área, as quais vêm sen-
prótese e a osteólise, ocasionada pela geração do introduzidas gradualmente. Muitos desses
de debris (partículas) do desgaste da superfície estudos têm sido elaborados no intuito de pro-
articular, tanto nas próteses cimentadas como mover melhorias nesses materiais de modo a
nas não cimentadas. Estudos relacionados com permitir melhor interação com o organismo
porosidade, desenvolvimento de novos mate- humano, tornando, por exemplo, a superfície
riais e revestimento de implantes são constan- do material metálico bioativa por meio de re-
temente investigados no sentido de resolver os vestimento superficial (Bruke et al., 1996; Ka-
problemas de qualidade apresentados pelos neko et al., 2001).
implantes (AAOS, 2003; Oreffo e Triffitt, 1999).
A preocupação com a qualidade dos im- Polímeros
plantes surgiu com o consequente aumento
de sua utilização. Para tanto, surgiram nor- São materiais constituídos de macromolé-
mas que buscam determinar as características culas orgânicas, sintéticas ou naturais. No caso
dos implantes, desde sua matéria prima até da maioria dos polímeros, essas moléculas se
o produto final. No Brasil, o órgão responsá- encontram na forma de cadeias longas e fle-
vel pela fiscalização de implantes é a Agência xíveis, cujo elemento principal consiste em
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), uma série de átomos de carbono. Essas longas
que, a partir da Consulta Pública n° 24 de 8 moléculas são compostas por entidades estru-
de março de 2002, expressou a necessidade de turais denominadas de mero, que se repetem
dispor de especificações técnicas para implan- sucessivamente ao longo da cadeia. Um único
tes metálicos para osteossíntese (Brasil, 2002). mero é chamado monômero, enquanto o ter-
A referida consulta relaciona normas para pa- mo polímero significa muitos meros (Callister
rafusos ósseos; placas ósseas; dispositivos de Jr., 2002). Os materiais poliméricos são ge-
fixação intramedular; implantes para fixação ralmente leves, isolantes elétricos e térmicos,
dos terminais do fêmur; pinos e fios ósseos; e flexíveis e apresentam boa resistência à corro-
grampos. Atualmente, existem mais de qua- são e baixa resistência ao calor. Os polímeros
renta empresas registradas no Ministério da naturais de origem animal ou vegetal foram
Saúde autorizadas a fabricar, importar e dis- usados por milênios. O desenvolvimento dos
tribuir produtos médicos para uso em orto- plásticos modernos ocorreu principalmente
pedia. São centenas de produtos, os quais, em a partir de 1900. Entre 1930 e 1950, surgiu a
sua maioria, são fabricados de material metá- maioria dos polímeros e, desde então, o desen-
lico (Brasil, 2011). A Associação Brasileira de volvimento desses materiais não parou mais
Normas Técnicas (ABNT), através do Comitê (Padilha, 1997).

68 Estudos Tecnológicos em Engenharia, vol. 9, n. 2, p. 63-76, jul/dez 2013


Luciano Brito Rodrigues

Diversas classificações de polímeros são ter, e polivinil começaram a ser registrados em


usadas rotineiramente. Um desses tipos de textos relevantes da área de medicina na meta-
classificação usa o efeito da temperatura no de da década de 1940. Depois, outros materiais
comportamento dos materiais como critério como Teflon, polipropileno de alta densidade
para divisão. Outra classificação leva em con- e poliuretanos foram adaptados e igualmente
ta o tipo de química envolvida na síntese do utilizados em cirurgias. Esses polímeros são
material. Os polímeros são ainda classificados essencialmente importantes em aplicações mé-
em função da estrutura das cadeias formadas dicas e, na área ortopédica, são principalmente
a partir da polimerização (Oréfice, 2005). Em utilizados como dispositivos protéticos perma-
função do efeito da temperatura no compor- nentes, incluindo os implantes de quadril. As
tamento, os polímeros podem ser classificados pesquisas atuais continuam aperfeiçoando a
em (Padilha, 1997): estabilidade e o desempenho desses materiais
in vivo não só em ortopedia, como também em
• Termoplásticos: são polímeros fusíveis outras áreas da medicina (Griffith, 2000). Di-
e solúveis, ou seja, fundem-se ao serem ferentemente dos metais, um grande número
aquecidos e se solidificam ao serem res- polímeros é utilizado nas mais diversas apli-
friados. Se forem aquecidos novamente, cações em biomateriais. Isso ocorre principal-
voltam a se tornar plásticos e podem ser mente devido à disponibilidade de uma varie-
moldados em novas formas. Poliuretano, dade de composições, propriedades e formas
policloreto de vinila, polipropileno, po- (sólida, fibra, tecido, filme e gel), podendo ser
liestireno são alguns exemplos de termo- fabricados facilmente em diversas formas e
plásticos; estruturas. Contudo, esses materiais tendem a
• Termorrígidos: são aqueles que, uma vez ser muito flexíveis e fracos, de modo que não
moldados, adquirem a forma do molde, suportam demandas mecânicas em certas apli-
não podendo mais ser aquecidos para cações como, por exemplo, implantes ortopé-
assumir outro ou o mesmo formato. São, dicos. Eles também absorvem líquidos e se di-
portanto, infusíveis, insolúveis e estáveis latam, dependendo de seu uso e sua aplicação.
com a variação da temperatura. Possuem, Os polímeros mais utilizados em aplicações
em relação aos termoplásticos, maior du- biomédicas são: polietileno (PE), poliuretano
reza, estabilidade térmica, resistência (PU), politetraflúoretileno (PTFE), poliacetato
à fluência, sendo, porém, mais frágeis. (PA), polimetilmetacrilato (PMMA), polietile-
Baquelite, resinas epóxi, poliésteres, po- notereftalato (PET), borracha de silicone (SR),
licarbonatos são exemplos de materiais polisulfona (PS) (Ramakrishna et al., 2001). O
termorrígidos; polímero derivado do óleo de mamona é um
• Elastômeros: também chamados de bor- material desenvolvido no Brasil, de baixo cus-
rachas, são materiais elásticos na tempe- to, que apresenta excelentes propriedades es-
ratura ambiente, obtidos através da cura truturais e possibilidades de uso em medicina,
do látex, que são polímeros de forma in- pois vem demonstrando ser biocompatível. A
definida. Todos os elastômeros têm como literatura apresenta trabalhos em que o polí-
propriedade característica a elasticidade mero de mamona foi implantado em defeitos
e a flexibilidade, o que faz com que atin- ósseos, de modo que bons relatos sobre o seu
jam a ruptura com uma deformação mui- comportamento clínico e biológico têm sido
to grande, sem que ocorra a deformação encontrados (Silvestre Filho, 2001; Laranjeira
permanente. Borracha natural, butadie- et al., 2004; Leonel et al., 2004).
no-estireno, borracha nitrílica, borracha Os principais polímeros usados atualmen-
clorada e silicones são alguns tipos de te em ortopedia são o polietileno, em particu-
elastômeros mais comuns. lar o polietileno de ultra-alto peso molecular
(UHMWPE) e o polimetilmetacrilato (PMMA).
O uso de polímeros em medicina data O UHMWPE tem sido extensivamente utili-
quase do início do campo da ciência dos po- zado em articulações (em conjunto com ligas
límeros. Uma vez que os polímeros sintéti- CrCoMo), principalmente nas artroplastias
cos foram descobertos, abriu-se um caminho de quadril (componente acetabular) de e jo-
para os estudos com esses tipos de materiais elho. Esse material possui amortecimento de
em experimentos cirúrgicos. O uso do Nylon impacto eficaz e baixo coeficiente de atrito e,
em suturas data de 1940, e polímeros como em contrapartida, possui uma taxa de desgas-
poli(metilmetacrilato) - PMMA, Dacron poliés- te relativamente significante. A redução desse

Estudos Tecnológicos em Engenharia, vol. 9, n. 2, p. 63-76, jul/dez 2013 69


Aplicações de biomateriais em ortopedia

fator tem sido o foco principal das pesquisas origem sintética e que não são biodegra-
relacionadas a esse material (Santavirta et al., dáveis como polietileno, polipropileno,
1998), contudo, os resultados até então obti- policloreto de vinil, polimetilmetacrilato,
dos não têm sido significantes (Sheeja et al., policarbonato.
2004). O PMMA é muito utilizado em ortope- • aplicações temporárias dentro do or-
dia como cimento ósseo para fixação de próte- ganismo: os materiais utilizados nestas
ses de quadril e joelho, em reparos de defeitos aplicações são denominados biodegra-
de crânio e em cirurgias de coluna (Deb et al., dáveis ou bioabsorvíveis. Parafusos de
2005). O uso do PMMA como cimento ósseo interferência, suturas, dispositivos de
revolucionou a utilização de próteses de qua- reconstrução de ligamentos e de menis-
dril e, desde então, nenhum outro método de cos, dispositivos de fixação em reparo de
fixação tem apresentado melhores resultados fraturas são alguns dos elementos bioab-
em longo prazo, apesar das controvérsias em sorvíveis existentes. O poli(ácido lático)
torno de sua utilização (Santavirta et al., 1998). – PLA, o poli(ácido glicólico) – PGA e o
Os polímeros podem sofrer degradação no poli(dioxanona) – PDS são os materiais
ambiente biológico, as quais são originadas por bioabsorvíveis mais comumente utili-
causas físicas (térmica, mecânica, fotoquímica zados. Além desses, vários copolímeros
ou radiação) ou químicas (oxidação, hidrólise de PLA e PGA têm sido testados (Pietr-
ou ozonólise). Essa degradação leva a uma mo- zak, et al., 1996; An et al., 2000; Maurus e
dificação da estrutura do polímero, ocasionan- Kaeding, 2004). A utilização em suturas
do modificações na propriedade do material. é uma das mais bem sucedidas aplica-
Quando a degradação ocorre de forma não ções desses materiais em ortopedia. A
controlada e não prevista, o desempenho do fixação óssea foi uma aplicação poste-
biomaterial pode ser comprometido, podendo rior que surgiu com o desenvolvimento
ocorrer: aumento da duração dos processos dos pinos biodegradáveis para cirurgias
inflamatórios; alteração dimensional dos dis- de pé e tornozelo. Atualmente, as áreas
positivos; redução das propriedades mecâni- de maior evolução clínica dos implan-
cas, etc. Em muitas situações, os materiais são tes biodegradáveis são joelho e ombro
programados para se biodegradarem e, por (Burkhart, 2000).
isso, podem exibir alterações controladas em • aplicações permanentes dentro do orga-
sua estrutura, que acabam por reduzir a massa nismo: os materiais para essas aplicações
do material. Em termos de materiais biodegra- devem ser projetados para manter suas
dáveis, um dos grandes objetivos de bioenge- propriedades por grandes períodos de
nheiros e cientistas é a produção de biomate- tempo, devendo, portanto, ser inertes,
riais capazes de substituir o tecido danificado biocompatíveis e atóxicos. As aplicações
por certo período de tempo durante o qual o mais importantes para os polímeros em
processo de reparo natural da área afetada es- ortopedia incluem suturas, tecidos, pró-
taria sendo promovido. O material ideal para teses ou implantes ortopédicos, dispositi-
essa função, além de biodegradável, estimu- vos de fixação, cimentos ósseos e compo-
laria a regeneração do tecido matriz e teria nente acetabular em cirurgias de quadril
uma cinética de degradação das propriedades (Mudali et al., 2003). Entre os materiais
mecânica compatível com a cinética de reparo mais utilizados estão os polímeros fluo-
do tecido. Assim, o novo tecido iria progressi- rados como o teflon, poliamidas, elastô-
vamente substituindo o implante nas funções meros, silicones, poliésteres, policarbo-
requeridas. Os polímeros biodegradáveis são, natos, etc.
portanto, programados especialmente para
se degradar quando expostos em ambientes Cerâmicos
corpóreos por mecanismos físico-químicos ou
biológicos (Oréfice, 2005; Pereira et al., 1999). Os materiais cerâmicos são compostos en-
Dentre as aplicações de polímeros em orto- tre os elementos metálicos e não-metálicos.
pedia, estão (González, 2004): São frequentemente óxidos, nitretos e carbe-
• equipamentos e instrumentos cirúrgicos: tos. A grande variedade de materiais que se
compostos por termoplásticos e termor- enquadra nessa classificação inclui cerâmicos
rígidos convencionais que podem encon- que são compostos por materiais argilosos, ci-
trar diversas aplicações na vida diária. mento e vidro. Esses materiais são tipicamente
Os materiais mais usados são aqueles de isolantes à passagem de eletricidade e calor e

70 Estudos Tecnológicos em Engenharia, vol. 9, n. 2, p. 63-76, jul/dez 2013


Luciano Brito Rodrigues

são mais resistentes a altas temperaturas e a melhantes a dos tecidos duros (Martín, 2004).
ambientes abrasivos do que os materiais me- A utilização de cerâmicas como biomateriais
tálicos e poliméricos (Callister Jr., 2002). As remonta a 1894, quando Dreesman relatou o
cerâmicas são duras, têm alta resistência à uso de gesso como um possível substituto
compressão e são muito quebradiças. São di- para ossos. Porém, suas propriedades pouco
fíceis de se fabricar, possuem baixa confiabili- atrativas praticamente excluíram a utilização
dade mecânica e alta densidade (Ramakrishna do gesso como biocerâmica implantável. A dé-
et al., 2001). Até aproximadamente os últimos cada de 1970 marcou o início do uso mais in-
cinquenta anos, os materiais mais importan- tenso de materiais cerâmicos com proprieda-
tes que se enquadravam nesta categoria eram des que possibilitam a sua classificação como
conhecidos por cerâmicas tradicionais e eram biocerâmicas. A primeira biocerâmica com uso
aqueles em que a matéria-prima é a argila e muito difundido neste período foi a alumina
cujos produtos são a louça, a porcelana, os ti- densa (Kawachi et al., 2000).
jolos, as telhas, os azulejos, os vidros e as ce- Do ponto de vista teórico, os biomateriais
râmicas de alta temperatura. Recentemente, cerâmicos oferecem muitas vantagens para
houve um progresso significativo em relação à uso como implantes musculoesqueléticos e
compreensão da natureza fundamental desses em interações com o tecido ósseo. As cerâmi-
materiais e dos fenômenos que ocorrem neles. cas podem: (i) ser constituídas de elementos
Consequentemente, uma nova geração desses que são normais ao ambiente biológico, (ii)
materiais foi desenvolvida, e o termo “cerâmi- permitir a obtenção de estruturas controladas
ca” tomou um significado muito mais amplo. para influenciar as interações locais, incluindo
Hoje, esses novos materiais possuem aplicação a biointegração ao longo das interfaces de dis-
em diversos setores da indústria, como as de positivos, (iii) permitir condutividade térmica
componentes eletrônicos, de computadores, e elétricas controladas, (iv) ser utilizados como
equipamentos aeroespaciais, de produtos bio- interfaces inertes ou como barreira (revesti-
médicos, dentre outras (Callister Jr., 2002). Es- mento) entre materiais estranhos e tecidos, (v)
truturalmente, as cerâmicas podem ser classi- permitir densidades e cores que são similares
ficadas em: sólidos cristalinos, sólidos amorfos ao osso e (vi) permitir módulo de elasticidade
como os vidros, e sólidos amorfos com núcleos similar ao osso (Lemons, 1996). Uma classifi-
de cristalização, no caso das vidro-cerâmicas cação corrente para as cerâmicas é a estabele-
(Martín, 2004). cida por Larry Hench (in Kawachi et al., 2000),
Materiais biocerâmicos são aqueles espe- na qual esses materiais são agrupados em 4
cificamente projetados para serem usados na classes, de acordo com a resposta na interface
fabricação de implantes cirúrgicos, próteses tecido-implante:
e órgãos artificiais, assim como para cumprir • Bioinertes ou quase inertes: apresentam
uma determinada função fisiológica no corpo a formação de uma fina cápsula fibrosa
humano. As biocerâmicas possuem uma boa em torno do implante. A alumina (Al2O3)
biocompatibilidade e são os materiais que me- de alta densidade e pureza é utilizada em
lhor favorecem a ósseo integração (interação aplicações que suportam carregamentos,
entre o osso e o implante) e também são mate- como os implantes de quadril. Esse mate-
riais mais parecidos com o componente mine- rial possui como características excelente
ral do osso, fazendo com que suas aplicações resistência à corrosão, alta resistência ao
sejam muito amplas. Contudo, seu caráter rí- desgaste, alta biocompatibilidade, raras
gido e quebradiço limita seu emprego a aplica- reações eletromecânicas e não apresenta
ções que não devem suportar cargas, como no degradação biológica. Tudo isto faz com
caso de enchimentos de defeitos ósseos, tanto que a alumina venha sendo utilizada
em cirurgia bucal como em ortopédica, na ci- em cirurgias ortopédicas por mais de 20
rurgia do ouvido médio e no recobrimento de anos. Outras aplicações da alumina em
implantes dentais e próteses metálicas. Outras ortopedia incluem próteses de joelho, pa-
aplicações para os materiais cerâmicos estão rafusos ósseos e preenchimento ósseo. A
sendo investigadas como: a fabricação de ci- Zircônia (ZrO2), mais recentemente, foi
mentos de fosfato de cálcio, misturas bifásicas reconhecida como um material apropria-
para obtenção de componentes minerais do do para implantes em artroplastias de
osso mais semelhantes às apatitas biológicas; a quadril (componente esférico), devido ao
Engenharia de tecidos e, ainda, a obtenção de baixo desgaste apresentado por esse ma-
materiais nanoestruturados com estruturas se- terial quando utilizado em conjunto um

Estudos Tecnológicos em Engenharia, vol. 9, n. 2, p. 63-76, jul/dez 2013 71


Aplicações de biomateriais em ortopedia

componente acetabular de UHMWPE mais comparáveis às de tecidos como o


(Santavirta et al., 1998); osso cortical, pode ser citada a produção
• Porosos: a grande vantagem oferecida de compósitos envolvendo a fase bioati-
pelos implantes de materiais cerâmicos va (cerâmica) e um segundo componente
porosos é a capacidade de permitir uma (Silva Jr. e Oréfice, 2001).
melhor interação entre o tecido e o mate- • Bioabsorvíveis ou biodegradáveis: A re-
rial, uma vez que ocorre um crescimento absorção é uma característica desejada
do tecido para dentro dos poros, ocorren- para um biomaterial em alguns tipos de
do assim, um ganho mecânico devido a implantes, nos quais o processo de degra-
essa interpenetração. Um dos grandes dação é concomitante com a reposição do
problemas apresentados pelos implan- osso em formação. Cerâmicas de cálcio
tes porosos é a falha por fadiga devido à fosfato têm sido utilizadas ao longo dos
concentração de tensões existente entre últimos 20 anos em aplicações diversas,
os poros do material (Oréfice, 2005); incluindo ortopedia. Diferentes fases
• Bioativos: são materiais que induzem dessas cerâmicas são usadas a depender
uma resposta específica na interface do do tipo de material desejado (Oreffo e
material, resultando na formação de uma Triffitt, 1999; Kawachi et al., 2000; Pren-
ligação especifica na interface do mate- dergast, 2001).
rial. Os materiais mais estudados que
possuem essa característica são: cerâmica A Hidroxiapatita é o material de maior ver-
apatita (Hidroxiapatita – HA); biovidros, satilidade para uso em implantes devido a sua
vidro-cerâmicas. Uma área de pesquisa similaridade com o osso e sua habilidade de
que demonstra alguma promessa no uso adesão a esse tecido. Esse material é caracte-
de materiais bioativos está relacionada rizado por certa solubilidade, a qual permi-
com o desenvolvimento de cimentos de te circundar rapidamente o osso ou tecido,
cálcio fosfato. A principal aplicação dos formando uma adesão direta ao implante. A
biovidros tem sido o preenchimento ósseo solubilidade permite a gradual degradação e
da cavidade oral e seu uso como material absorção do material por parte do tecido cir-
para uso ortopédico. O campo de estudos cundado, estimulando o osso a crescer no ma-
de cerâmicas bioativas é relativamente terial por entre seus poros, podendo ocorrer
novo e o uso de vidro bioativo como ma- posteriormente a gradual substituição do ma-
terial de preenchimento ósseo mostra-se terial pelo tecido. A principal restrição de uso
promissor. O conhecimento detalhado desse material é sua baixa resistência, o que
acerca das interações entre o material e permite sua aplicação apenas em dispositivos
células vivas está se tornando um meio que suportem baixos carregamentos (Mudali
para a criação de novos materiais que po- et al., 2003). Nas últimas duas décadas, a uti-
dem carregar células vivas ou fatores de lização de implantes bioativos revestidos com
crescimento que permitam regeneração Hidroxiapatita apresentaram resultados clíni-
e não apenas o reparo de estruturas e te- cos promissores. Os revestimentos com esse
cidos danificados ou gastos (Greenspan, material em implantes de titânio puro têm
1999). As biocerâmicas apresentam alto sido considerados como a combinação ideal
grau de bioatividade, mas, por outro lado, dentre as combinações revestimento-implante
apresentam propriedades mecânicas, em existentes (Teraoka et al., 2000). O conhecimen-
geral, não adequadas à necessidade de to adquirido com as experiências em animais
produção de implantes para fins estru- mostra que o recobrimento com HA possui
turais. Cerâmicas são caracterizadas por grande potencial de osseointegração se com-
apresentar baixa tenacidade e altos módu- parado aos implantes não recobertos. Estudos
los de elasticidade (o módulo de elastici- em humanos comparando esses dois tipos de
dade de vidros bioativos é igual a 80 GPa) implantes apresentaram diferenças menores
quando comparadas com o osso cortical que os resultados com animais (Santavirta
humano (módulo de elasticidade varia de et al., 1998). O uso clínico da hidroxiapatita é
7-20 GPa), que comprometem o uso e o também limitado devido a sua lenta biodegra-
processamento desses materiais para apli- dação. Estudos efetuados por longos períodos
cações biomédicas. Como solução para de tempo têm mostrado que a hidroxiapatita
a necessidade de produção de materiais começa a ser reabsorvida gradualmente após
bioativos com propriedades mecânicas 4 ou 5 anos de implante (Kawachi et al., 2000).

72 Estudos Tecnológicos em Engenharia, vol. 9, n. 2, p. 63-76, jul/dez 2013


Luciano Brito Rodrigues

Compósitos ortopedia (Mudali et al., 2003). Nos últimos


anos, considerável atenção tem sido dada aos
Compósitos são materiais obtidos pela materiais compósitos bioabsorvíveis ou bioes-
combinação de dois ou mais materiais ou táveis feitos de polímeros e biocerâmicas. Vá-
fases, com o objetivo de aproveitar as carac- rios avanços no desenvolvimento desses com-
terísticas desejadas de cada material. Nesse pósitos têm sido investigados em todo mundo.
sentido, vários materiais compósitos têm sido Usualmente, as biocerâmicas são combinadas
desenvolvidos pela engenharia. Em nível atô- como preenchimento ou revestimento em ma-
mico, materiais como ligas metálicas e polí- trizes de polímeros (Niemelä et al., 2005).
meros poderiam ser denominados compósitos
por serem constituídos de diferentes e distin- Perspectivas nas pesquisas
tos agrupamentos atômicos. Alguns autores para implantes ortopédicos
consideram como compósito o material cons-
tituído de dois ou mais elementos químicos Durante o último século, uma revolução
diferentes possuindo uma interface distinta e na medicina ocorreu, o que proporcionou
reconhecível entre eles (Alexander et al., 1996). significativa melhoria na qualidade de vida
Nessa combinação, os constituintes retêm suas de milhões de pacientes. Em meio aos avan-
identidades, ou seja, não se dissolvem ou se ços, as alternativas disponíveis para o trata-
descaracterizam completamente e atuam em mento de pessoas com problemas nos ossos
conjunto, fazendo com que as propriedades do e nas articulações estão restritas às técnicas
compósito sejam superiores às dos constituin- de transplante ou de implantes. As limitações
tes individualmente (Silvestre Filho, 2001). Os e os problemas característicos da técnica de
materiais compósitos são constituídos de uma implantação restringem sua utilização (Hen-
ou mais fases descontínuas fixadas dentro de ch, 2000; Oréfice, 2005). Assim, a utilização
uma fase contínua. A fase descontínua, deno- de biomateriais continua sendo a alternati-
minada material de reforço, é usualmente mais va mais viável, versátil e com possibilidades
rígida e mais resistente que a fase contínua de obtenção de maiores desenvolvimentos.
(aglomerante), chamada de matriz. De forma Toda a revolução causada nos últimos anos
simples, esses materiais podem ser classifica- no campo das cirurgias ortopédicas deve-
dos em compósitos reforçados com partículas, se, especialmente, ao desenvolvimento de
compósitos reforçados com fibras e compósi- novos biomateriais. Contudo, a maioria dos
tos estruturais (Callister Jr., 2002). implantes utilizados atualmente continua
Em ortopedia, materiais compósitos têm apresentando problemas, como instabilidade
encontrado aplicação em dois grupos. O pri- interfacial, desgaste e falhas mecânicas, o que
meiro refere-se à fabricação de aparelhos di- tem limitado o tempo de vida útil das próte-
versos como, por exemplo, cadeiras de rodas, ses a aproximadamente 20 anos. Dessa forma,
e o segundo grupo inclui a confecção de pró- ainda são muitos os desafios apresentados e
teses externas e internas (Silvestre Filho, 2001). muitas as áreas promissoras para pesquisa de
Algumas aplicações de compósitos que são implantes ortopédicos a partir do desenvolvi-
utilizados com êxito em implantes internos mento e da manipulação das propriedades de
incluem: componentes femorais de baixa du- materiais. Algumas delas incluem:
reza para artroplastia de quadril, dispositivos • Substituição total dos elementos de pinos
biodegradáveis de fixação de fraturas, cimen- e parafusos metálicos por biodegradáveis
tos ósseos resistentes a fraturas e componentes (Burkhart, 2000);
de articulação resistentes a fraturas e desgas- • Aumento da durabilidade dos implantes
te. Para ser utilizado como biomaterial, cada para mais 10 ou 20 anos (Hench, 2000);
componente do material compósito deve ser • Modificação de superfícies e ligas metáli-
biocompatível para evitar degradação entre as cas: obtenção de um novo aço inoxidável
interfaces dos constituintes. Os polímeros re- para substituição do atual 316L (Mudali
forçados com fibra (Fibre-reinforced polymers et al., 2003);
– FRP) são os materiais compósitos mais inves- • Revestimentos de Hidroxiapatita (HAP)
tigados para fins de aplicações biomédicas. A nos implantes metálicos (Teraoka et al.,
incerteza sobre o tempo útil de duração e sua 2000; Mudali et al., 2003);
possível degradação sobre complexos estados • Produção de novas ligas de titânio (San-
de tensão são alguns dos fatores que têm limi- tavirta et al., 1998; Taddei et al., 2004;
tado o uso desses materiais em aplicações em Guillemot et al., 2004);

Estudos Tecnológicos em Engenharia, vol. 9, n. 2, p. 63-76, jul/dez 2013 73


Aplicações de biomateriais em ortopedia

• Maior conhecimento sobre o desgas- AN, Y.H.; WOOLF, S.K.; FRIEDMAN, R.J. 2000.
te de implantes ortopédicos (Geringer Pre-clinical in vivo evaluation of ortho-
et al., 2005); paedic bioabsorbable devices. Biomaterials,
21(24):2635-2652.
• Revestimentos para obtenção de mate- ARNAL, G.F. 2005. Mejora de la resistencia a la cor-
riais mais resistentes à corrosão, ao des- rosión del titanio mediante el proceso de sellado.
gaste e com menor atrito (Santavirta et al., Barcelona, Espanha. Project de Final de Carrera.
1998; Sheeja et al., 2004); Universitat Politècnica de Catalunya, 108 p.
• Deposição de íons: introdução de peque- AZEVEDO, C.R.F.; HIPPERT JR, E. 2002. Análise de
nas quantidades de certo elemento na Falhas de Implantes Cirúrgicos. Cadernos de Saú-
de Pública, 18(5):1347-1358.
superfície do material, sem a modificação
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2002000500028
de sua superfície ou de propriedades vo- BANNISTER, G.C. 1993. Total Hip Replacement -
lumétricas (Mudali et al., 2003). Which Type? Current Orthopaedics, 7(3):165-170.
• Desenvolvimento de próteses com capa- BRASIL. 2011. Ministério da Saúde. Agência
cidade de modificar sua estrutura e suas Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível
propriedades em resposta à ação do meio em: http://www.anvisa.gov.br. Acesso em:
05/2011.
(Hench, 2000).
BRASIL. 2002. Ministério da Saúde. Agência Nacio-
nal de Vigilância Sanitária. Consulta Pública n.º
O desenvolvimento de dispositivos e me- 24, de 8 de março de 2002. D.O. de 11/03/2002.
canismos que possam promover a melhoria da BRUKE, J.F.; DIDISHEIM, P.; GOUPIL, D.; HEL-
qualidade de vida das pessoas foi e continua LER, J.; KANE, J.B.; KATZ, J.L.; KIM, S.W.;
sendo a grande motivação dos estudos relacio- LEMONS, J.E.; REFOJO, M.F.; ROBBLEE, L.S.;
nados com a área de saúde. A crescente parti- SMITH, D.C.; SWEENEY, J.D.; TOMPKINS,
R.G.; WATSON, J.T.; YAGER, P.; YARMUSH,
cipação e a interação entre profissionais das di- M.L. 1996. Orthopedic Applications. Applica-
versas áreas do conhecimento têm permitido o tion of Materials in Medicine and Dentistry. In:
avanço gradual das pesquisas e a consolidação B.D. RATNER; A.S. HOFFMAN; F.J. SCHOEN;
dos resultados obtidos ao longo dos últimos J.E. LEMONS (eds.), Biomaterials Science: An In-
anos. Espera-se, portanto, que todo investi- troduction to Materials in Medicine. New York,
mento fruto da mútua colaboração entre esses Academic Press, p. 283-388.
http://dx.doi.org/10.1016/B978-0-08-050014-0.50012-2
profissionais continue resultando em avanços
BURKHART, S.S. 2000. The evolution of clinical ap-
e que possam ser acessíveis principalmente às plications of biodegradable implants in arthro-
milhares de pessoas que sempre são citadas scopic surgery. Biomaterials, 21(24):2631-2634.
como a motivação inicial dessas pesquisas. CALLISTER JR, W.D. 2002. Ciência e Engenharia de
Materiais: Uma Introdução. Rio de Janeiro, LTC,
589 p.
Referências CHRISTIE, M.J. 2003. Treatment of pre-collapse os-
teonecrosis of the femoral head with a porous
AMERICAN ACADEMY OF ORTHOPAEDIC tantalum rod. Saint Thomas Journal, 1(3):11-14.
SURGEONS (AAOS). 2003. Osteoarthritis of the DEB, S.; AIYATHURAI, L.; ROETHER, J.A.; LUK-
Hip: Hip Joint Replacement. Information on the LINSKA, Z.B. 2005. Development of high-vis-
Impact and Treatment of Musculoskeletal Con- cosity, two-paste bioactive bone cements. Bio-
ditions: Section 4, 54 p. Disponível em: http:// materials, 26(17):3713-3718.
www3.aaos.org/research/imca/OAhipContents/ DEE, K.C.; PULEO, D.A.; BIZIOS, R. 2002. An Intro-
OAHip_replace.pdf. Acesso em: 06/2011. duction to Tissue-Biomaterial Interactions. Hobo-
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA ken, John Wiley & Sons, Inc., 248 p.
DE ARTIGOS E EQUIPAMENTOS MÉDICOS http://dx.doi.org/10.1002/0471270598
ODONTOLÓGICOS, HOSPITALARES E DE GERINGER, J.; FOREST, B.; COMBRADE, P. 2005.
LABORATÓRIOS (ABIMO). 2005. ABNT/CB26. Fretting-corrosion of materials used as ortho-
Disponível em: http://www.abimo.org.br/abnt/ paedic implants. Wear, 259:943-951.
index.asp. Acesso em: 05/2011. http://dx.doi.org/10.1016/j.wear.2004.11.027
ALEXANDER H.; BRUNSKI, J.B.; COOPER, S.L.; GONZÁLEZ, A.C. 2004. Nuevas poliésteramidas bio-
HENCH, L.L.; HERGENROTHER, R.W.; HO- degradables derivadas de ácido glicólico y aminoáci-
FFMAN, A.S.; KOHN, J.; LANGER, R.; PEPPAS, dos con aplicación en biomedicina. Barcelona, Es-
N.A.; RATNER, B.D.; SHALABY, S.W.; VISSER, panha. Project de Final de Carrera. Universitat
S.A.; YANNAS, I.V. 1996. Classes of materials Politècnica de Catalunya, 292 p.
used in medicine. In: B.D. RATNER; A.S. HOFF- GREENSPAN, D.C. 1999. Bioactive ceramic implant
MAN; F.J. SCHOEN; J.E. LEMONS (eds.), Bio- materials. Current Opinion in Solid State and Ma-
materials Science: An Introduction to Materials in terials Science, 4(4):389-393.
Medicine. New York, Academic Press, p. 37-130. GRIFFITH, L.G. 2000. Polymeric Biomaterials. Acta
http://dx.doi.org/10.1016/B978-0-08-050014-0.50007-9 Materialia, 48(1):263-277.

74 Estudos Tecnológicos em Engenharia, vol. 9, n. 2, p. 63-76, jul/dez 2013


Luciano Brito Rodrigues

GUILLEMOT, F.; PRIMA, F.; BAREILLE, R.; GOR- MUDALI, U.K.; SRIDHAR, T.M.; RAJ, B. 2003. Cor-
DIN, D.; GLORIANT. T.; PORTÉ-DURRIEU, rosion of bio implants. Sãdhanã, 28(3-4):601-637.
M.C.; ANSEL, D.; BAQUEY, C. 2004. Design of http://dx.doi.org/10.1007/BF02706450
new titanium alloys for orthopaedic applica- NIEMELÄ, T.; NIIRANEN, H.; KELLOMÄKI,M.;
tions. Medical & Biological Engineering & Comput- TÖRMÄLÄ, P. 2005. Self-reinforced composites
ing, 42(1):137-141. of bioabsorbable polymer and bioactive glass
HANSON, S.; LALOR, P.A.; NIEMI, S.M.; NORTH- with different bioactive glass contents. Part I:
UP, S.J.; RATNER, B.D.; SPECTOR, M.; VALE, Initial mechanical properties and bioactivity.
B.H.; WILLSON, J.E. 1996. Testing Biomaterials. Acta Biomaterialia, 1(2):235-242.
In: B.D. RATNER; A.S. HOFFMAN; F.J. SCH- OREFFO, R.O.C.; TRIFFITT, J.T. 1999. Future Poten-
OEN; J.E. LEMONS (eds.), Biomaterials Science: tials for Using Osteogenic Stem Cells and Bioma-
An Introduction to Materials in Medicine. New terials in Orthopedics. Bone, 25(2-Suppl.):5S-9S.
York, Academic Press, p. 215-242. ORÉFICE, R.L. 2005. Biomateriais e Biocompatibili-
http://dx.doi.org/10.1016/B978-0-08-050014-0.50010-9 dade. In: F. ORÉFICE (org.), Uveíte: Clínica e Ci-
HENCH, L.L. 2000. The challenge of orthopaedic rúrgica: Texto & Atlas. 2ª ed., Rio de Janeiro, vol.
materials. Current Orthopaedics, 14(1):5-15. 2, p. 1317-1351.
INSTITUTO INOVAÇÃO. 2004. Da Pedra Lascada PADILHA, A.F. 1997. Materiais de Engenharia: Micro-
aos Nanomateriais. Instituto Inovação. Belo Ho- estrutura e Propriedades. São Paulo, Hemus Edi-
rizonte, MG. Disponível em: http://www.insti- tora LTDA, 349 p.
tutoinovacao.com.br/estudos/estudomateriais. PEREIRA, A.P.V.; VASCONCELOS, W.L.; ORÉFI-
pdf. Acesso em: 05/2011. CE, R.L. 1999. Novos Biomateriais: Híbridos Or-
KANEKO, S.; TSURU, K.; HAYAKAWA, S.; TAKE- gânico-Inorgânicos Bioativos. Polímeros: Ciência
MOTO, S.; OHTSUKI, C.; OZAKI, T.; INOUE, e Tecnologia, 9(4):104-109.
H.; OSAKA, A. 2001. In vivo evaluation of bone- PIETRZAK, W.S.; SARVER, D.; VERSTYNEN, M.
bonding of titanium metal chemically treated 1996. Bioresorbable Implants - Practical Consid-
with a hydrogen peroxide solution containing erations. Bone, 19(1-Suppl.):109S-119S.
tantalum chloride. Biomaterials, 22(9):875-881. PRENDERGAST, P.J. 2001. Bone Prostheses and
KAWACHI, E.Y.; BERTRAN, C.A.; REIS, R.R.; AL- Implants. In: S.C. COWIN (ed.), Bone Mechan-
VES, O.L. 2000. Biocerâmicas: tendências e pers- ics Handbook. Boca Raton, CRC Press, vol. 35,
pectivas de uma área interdisciplinar. Química p. 1-29.
Nova, 23(4):518-522. RAMAKRISHNA, S.; MAYER, J.; WINTERMAN-
http://dx.doi.org/10.1590/S0100-40422000000400015 TEL, E.; LEONG, K.W. 2001. Biomedical Ap-
LARANJEIRA, M.G.; REZENDE, C.M.F.; SÁ, plications of polymer-composite materials:
M.J.C.; SILVA, C.M. 2004. Implantes de resina a review. Composites Science and Technology,
de poliuretana vegetal (Ricinus communis) na 61:1189-1224.
tração linear, fixação e fusão vertebral no cão. http://dx.doi.org/10.1016/S0266-3538(00)00241-4
Estudo experimental. Arquivo Brasileiro de Medi- SANTAVIRTA, S.; KONTTINEN, Y.T.; LAPPAL-
cina Veterinária e Zootecnia, 56(5):602-609. AINEN, R.; ANTTILA, A.; GOODMAN, S.B.;
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-09352004000500006 LIND, M.; SMITH, L.; TAKAGI, L.; GDMEZ-
LEMONS, J.E. 1996. Ceramics: past, present, and fu- BARRENA, E.; NORDSLETTEN, L.; XU, J.-W.
ture. Bone, 19(1-Suppl.):121S-128S. 1998. Materials in total joint replacement. Cur-
LEONEL, E.C.F.; SOBRINHO, J.A.; RAMALHO, rent Orthopaedics, 12(1):51-57.
L.T.O.; PORCIÚNA, H.F.; MANGILLI, P.D.; SHEEJA, D.; TAY, B.K.; NUNG, L.N. 2004. Feasibil-
RAPOPORT, A. 2004. A ação do polímero de ity of diamond-like carbon coatings for ortho-
mamona durante a neoformação óssea. Acta Ci- paedic applications. Diamond and Related Mate-
rurgica Brasileira, 19(4):342-350. rials, 13(1):184-190.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-86502004000400005 SILVA JR, P.E.; ORÉFICE, R.L. 2001. Compósitos
MARINHEIRO, C.A. 2002. Desenvolvimento de Má- Bioativos Obtidos a Partir da Inserção de Vidro
quina de Movimentos Cíclicos para Testes Biomecâ- Bioativo em Matriz de Poli(Metacrilato de Meti-
nicos. Ribeirão Preto, SP. Dissertação de Mestra- la). Polímeros: Ciência e Tecnologia, 11(3):109-115.
do. Universidade de São Paulo, 51 p. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-14282001000300009
MARTÍN, E.C. 2004. Biomateriales de naturaleza SILVESTRE FILHO, G.D. 2001. Comportamento me-
inorgánica: Metales, aleaciones y cerámicas. cânico do poliuretano derivado de óleo de mamona
Discurso de Toma de Posesión em La Real Aca- reforçado por fibra de carbono: contribuição para o
demia Nacional de Farmacia. Real Academia projeto de hastes de implantes de quadril. São Car-
Nacional de Farmacia. Disponível em: <http:// los, SP. Dissertação de Mestrado. Universidade
www.analesranf.com/index.php/discurso/is- de São Paulo, 192 p.
sue/view/303>. Acesso em: 4 jan. 2005 TADDEI, E.B.; HENRIQUES, V.A.R.; SILVA, C.R.M.;
MAURUS, P.B.; KAEDING, C.C. 2004. Bioabsorb- CAIRO, C.A.A. 2004. Production of new titani-
able Implant: Material Review. Operative Tech- um alloy for orthopedic implants. Materials Sci-
niques in Sports Medicine, 12(3):158-160. ence and Engineering: C, 24(5):683-687.

Estudos Tecnológicos em Engenharia, vol. 9, n. 2, p. 63-76, jul/dez 2013 75


Aplicações de biomateriais em ortopedia

TERAOKA, K.; NONAMI, T.; DOI, Y.; TAODA, H.; ZADEH, H.G.; CALVERT, R.T. 1998. Recent ad-
NAGANUMA, K.; YOKOGAWA, Y.; KAMEYA- vances in shoulder arthroplasty. Current Ortho-
MA, T. 2000. Hydroxyapatite implantation on paedics, 12(2):122-134.
the surface of pure titanium for orthopedic
implants. Materials Science and Engineering: C,
13(1-2):105-107.
VILLAR, R. 1994. Current Orthopaedics. Hip Ar- Submetido: 26/05/2013
throplasty, 8(3):176-181. Aceito: 04/10/2013

76 Estudos Tecnológicos em Engenharia, vol. 9, n. 2, p. 63-76, jul/dez 2013

View publication stats

You might also like