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Pesquisadoras estrangeiras debatem genética forense Laboratório busca soluções para reduzir a poluição
Entre 14 e 17 de abril a Universidade recebeu as especialistas em ge- O estudo de métodos para reduzir o impacto ambiental no
nética forense Mecki Prinz, presidente da Sociedade Internacional de solo, na água e no ar causado pelas indústrias – com a identi-
Genética Forense – ISFG na sigla em inglês, e Marie Allen, pesquisadora ficação de poluentes, de recursos para reduzir esse impacto
do Laboratório de Ciência para a Vida, do Departamento de Imunologia, ambiental e de soluções para o seu tratamento – está entre as
Genética e Patologia da Universidade de Uppsala, na Suécia. Elas deram atividades de pesquisa desenvolvidas pelo Laboratório de Bior-
aulas no workshop “Metodologias atuais e de nova geração da genética remediação e Fitotecnologia. Criado em 2008, o Laboratório
forense”, direcionado a estudantes de pós-graduação e profissionais tem caráter multidisciplinar e reúne pesquisadores da Engenharia,
que trabalham com técnicas de coleta de DNA. > Página 16 da Biologia e da Química. > Páginas 12 e 13
> EDITORIAL
UERJ e Petrobras lançam livro e documentário
Prêmio, intercâmbio e pesquisa
No final de maio, a Universidade concedeu ao presidente
sobre patrimônio cultural do Leste Fluminense
da Capes, professor Jorge Guimarães, a sua maior comenda: o O patrimônio cultural material Luís Reznik explica que a defi-
título de Grão-Oficial da Ordem do Mérito José Bonifácio. A
e imaterial de Itaboraí, Rio Bonito, nição do que é patrimônio cultu-
cerimônia realizada na Capela Ecumênica foi uma tripla home-
Cachoeiras de Macacu, Guapimi- ral em cada cidade não partiu de
nagem pelos dez anos do professor na presidência da Capes:
além da Ordem do Mérito José Bonifácio, ele recebeu a Medalha rim e Tanguá está registrado agora especialistas, que identificam o
Henrique Morize, instituída pela Academia Brasileira de Ciências, em livro e DVD que estão sendo valor das manifestações com base
e uma placa distintiva oferecida pelo Instituto Nacional de distribuídos nas escolas e bibliote- em definições internacionais. Ele
Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). cas dessas localidades. O trabalho distingue a necessidade de conhe-
A pesquisa também é o tema central de três matérias sobre reúne informações sobre os cinco ccer o que a comunidade reconhece
atividades de diferentes laboratórios da Universidade: do Labo- municípios do Leste Fluminense e ccomo seu patrimônio e sua cultura
ratório de Caracterização de Materiais – que, em parceria com o
faz parte de uma pesquisa da Univer- para vinculá-los aos dados oficiais:
p
Centro Nacional de Microeletrônica de Barcelona, está realizando
sidade em parceria com a Petrobras. ““O que aquela comunidade valo-
testes com um tipo especial de cerâmica para ser utilizada em
detector a gás de raios X que dispensa a necessidade de impressão
Iniciado em 2009, o estudo iden-- rriza? Patrimônio é valor. O valor é
do exame e permite a visualização digital das imagens; do Labo- tificou mais de 100 patrimônios daa uuniversal e absoluto, mas também
ratório de Biorremediação e Fitotecnologia, ligado ao Departa- região – entre ruínas de igrejas do o é subjetivo, porque o que pode ser
mento de Engenharia Sanitária e Meio Ambiente da Faculdade de século XIX, fazendas, estações ferro-rro- valorizado por alguém pode não
va
Engenharia, que estuda métodos para reduzir o impacto ambien- viárias, cachoeiras, manifestações religiosas e arte- ser por outra pessoa. Por isso tínhamos
tal no solo, na água e no ar causado pelas indústrias; e do Labora- sanatos – que agora estão no livro Patrimônio Cultural uma demanda fundamental, que era escutar essas
tório de Diagnósticos por DNA, do Instituto de Biologia Roberto no Leste Fluminense – História e memória de Itaboraí, localidades. Reunindo as informações chegamos ao
Alcântara Gomes, que recebeu no campus Maracanã entre 14 e 17 de
Rio Bonito, Cachoeiras de Macacu, Guapimirim e Tan- inventário. Em relação ao patrimônio arquitetônico
abril as especialistas em genética forense Mecki Prinz, presidente
guá e no DVD Entrelugares: Patrimônio e Memória no tentamos ser exaustivos na medida do possível, já que
da Sociedade Internacional de Genética Forense, e Marie Allen,
pesquisadora do Laboratório de Ciência para a Vida, do Departa- Leste Fluminense. Os professores da UERJ Luís Reznik uma comunidade pode revalorizar alguns objetos e
mento de Imunologia, Genética e Patologia da Universidade de (coordenador da pesquisa), Marcia de Almeida Gon- desvalorizar outros com o passar do tempo”.
Uppsala, na Suécia. Elas deram aulas no workshop “Metodologias çalves, Roberto Conduru e Rui Aniceto Nascimento O livro traz uma análise histórica do patrimônio
atuais e de nova geração da genética forense”. Fernandes são os autores do livro. O DVD é um docu- local: “Não é só contar a história do bem, mas sim a
Os destaques desta edição do UERJ em Questão estão as mentário com narrativas de moradores, imagens dos história do seu processo de valorização – como foi
empresas incubadas na Universidade – a Senfio e a Eyllo Tec- bens arquitetônicos, urbanísticos e paisagísticos e construído e como, ao longo do tempo, vai sendo
nologia –, que se classificaram respectivamente em 1º e em 3º
de manifestações populares. O documentário de 84 valorizado”. No caso dos bens imateriais é feita uma
lugar na etapa final da Competição de Tecnologia da Informação
minutos foi feito paralelamente ao livro. A proposta descrição histórica de como ocorre a manifestação
e Inovação do UK Trade & Investment, promovida pelo Consu-
lado Geral Britânico. A Senfio desenvolveu um sistema de iden- do DVD – produzido pelo professor Reznik, com desses bens, como a Folia de Reis, por exemplo. “O
tificação por radiofrequência para monitoramento e registro de direção do cineasta Pedro Paulo Rosa – foi criar mais que representa esse patrimônio? Como nós pensamos
higienização das mãos de modo a reduzir ocorrências de infec- um instrumento de educação patrimonial para as o patrimônio imaterial e qual a importância, a rele-
ção hospitalar, muitas vezes ocasionada pela falta de higieniza- cinco cidades do Leste Fluminense. vância e os apontamentos para a história da região?”,
ção das mãos dos profissionais de saúde entre os atendimentos. A pesquisa faz parte do Plano de Valorização da questiona Reznik. Para ele, o patrimônio tem a beleza
A Eyllo Tecnologia criou o aplicativo Paprika, que utiliza a tec- Cultura do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro e a vocação da memória: “As festas, danças, sabores
nologia da Realidade Aumentada (RA) e é único no país: pode ser
(Comperj), cuja meta é contribuir para o reconhe- que estão na família durante anos, a arte oleira, o
instalado em tablets e smartphones e permite ao usuário obter
cimento e a visibilidade dos patrimônios das cinco patrimônio natural como o Dedo de Deus (território
informações instantâneas sobre o entorno, para além da própria
percepção natural.
cidades. Segundo o coordenador do estudo, o livro e o de Guapimirim), cada um deles tem a sua valorização”.
O UERJ em Questão também registra as atividades do grupo DVD têm como função identificar, descrever e anali- A educação patrimonial também faz parte de
de sete estudantes moçambicanos que vieram para o Brasil como sar um conjunto de bens culturais reconhecido como outros dois livros produzidos a partir das pesquisas:
parte do Programa de Incentivo à Formação Científica do Minis- referência de identidade nas suas respectivas locali- História e Patrimônio – Guapimirim e História e
tério das Relações Exteriores/Capes. Orientados por professo- dades. Para a elaboração do trabalho registrado nas Patrimônio – Cachoeiras de Macacu, de Luís Reznik,
res de diferentes áreas, eles visitaram o Instituto Politécnico em 541 páginas do volume impresso, a equipe usou fontes Elenice Rocha, Marcelo Magalhães, Marcia Gonçal-
Nova Friburgo, a Faculdade de Tecnologia em Resende e o Centro oficiais como o Instituto do Patrimônio Histórico e ves e Rui Fernandes. Nesses volumes são elaboradas
de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável na Ilha
Artístico Nacional (Iphan), o Instituto Estadual do atividades didáticas com a história do município,
Grande em programação acadêmica desenvolvida sob a supervi-
Patrimônio Cultural (Inepac), a Biblioteca Nacional, de modo que os professores possam trabalhar com
são do DCARH/SR-2. Nas páginas centrais deste número está um
resumo do que foi a 11ª Conferência Mundial de Economia e Gestão o Arquivo Nacional e o Arquivo Público do Estado o material em sala de aula. Os livros foram distri-
de Mídia, que aconteceu na Universidade entre 12 e 16 de maio e teve do Rio de Janeiro, além de informações de órgãos buídos nas cidades-tema e no final de 2013 também
a participação de pesquisadores estrangeiros e brasileiros reunidos públicos locais, outras referências bibliográficas e foram organizadas oficinas com professores da rede
para debater status, tendências e dilemas das organizações contem- documentais, sites da região com informações sobre pública para que os autores apresentassem a sua pro-
porâneas de mídia. Nossos desejos de uma boa leitura. turismo local e de moradores. posta metodológica.
ANDRE BITTENCOURT
dia 23 de maio na Capela Ecu-
mênica do campus Maracanã,
ANDRÉIA RÊGO
tuto de Estudos Sociais e Políticos da como nome importante para o pensa-
UERJ agora podem usufruir de uma mento político no país.
nova e mais completa biblioteca espe- Segundo o professor Adalberto Car-
cializada em Sociologia e Ciência Polí- doso, diretor do IESP, a doação do pro-
tica: a biblioteca Wanderley Guilherme fessor Wanderley Guilherme dos Santos
dos Santos, espaço que leva o nome do foi decisiva para que o movimento de
grande estudioso do campo da Ciência estruturação da biblioteca ganhasse
Política no Brasil e um dos fundadores peso: “Essa homenagem na figura do
do Instituto. professor Wanderley é uma homenagem
Para estruturar o acervo com a aqui- a toda uma geração que construiu este
sição de títulos via financiamentos, Instituto e às gerações que a sucederam”. A professora Eliete Bouskela, do Ins- prementes) relativas à sustentabilidade
convênios e, principalmente, doações A proposta de honraria a ser rece- tituto de Biologia Roberto Alcântara e ao próprio sucesso da vida em comum.
de alunos, ex-alunos, professores e pes- bida em vida, pouco comum nos dias Gomes (IBRAG-UERJ), teve a sua atuação Compõem atualmente a Academia
quisadores de todo o Brasil. Antes do atuais, foi prontamente aceita pelo Rei- acadêmica reconhecida mais uma vez por Europeia representantes de 74 países,
processo de intensificação as aquisições, tor, que associou a escolha do nome da uma entidade científica. Depois de ter sido distribuídos em sete áreas do conhe-
o acervo do Instituto reunia cerca de biblioteca à eternização do professor eleita em 2004 para a Academia Nacional cimento: Artes; Ciências Naturais;
3.000 volumes. A maior parte pertencia Wanderley: “A Universidade é uma ins- de Medicina, em 2006 para a Académie Ciências Sociais; Ciências Técnicas,
à biblioteca da Faculdade Latino-Ame- tituição muito pretensiosa e lida com Nationale de Médecine, na França, e em Ambientais e Religiões; Direito e Eco-
ricana de Ciências Sociais (FLACSO), eternidades. Então estamos eternizando 2013 para a Academia Brasileira de Ciên- nomia; Humanidades; Medicina. Entre
antes sediada em Brasília e há quatro o professor”, disse o professor Ricardo cias, ela foi eleita em março de 2014 para os seus integrantes, 29 conquistaram o
anos abrigada no IESP. Agora a biblio- Vieiralves na inauguração do espaço. A a Academia Europeia de Ciências e Artes. Prêmio Nobel (oito em Física, oito em
teca Wanderley Guilherme dos Santos essa observação, o professor Wanderley A professora disse que duas situa- Química, sete em Medicina, três em
reúne 16 mil títulos, entre periódicos, respondeu: “É complicado ser eternizado ções a motivaram para a candidatura Economia e três o Prêmio Nobel da
teses, livros etc. Trata-se de uma biblio- dessa forma, estando presente. Mas em mais recente: “Notei que entre os poucos Paz). Eliete Bouskela é o segundo nome
teca especializada na área de Sociologia qualquer lugar que eu esteja, quero ser latino-americanos que conquistaram latino-americano na área de Medicina:
e Ciência Política, com parte do acervo eternamente grato ao reconhecimento lugar na Academia Europeia, não havia antes dela, a região era representada
dedicado a áreas correlatas, como Filo- do Reitor e da Instituição”. A cerimônia sequer um representante do Brasil, assim pelo médico e professor argentino
sofia, Economia, História. de descerramento da placa de inaugura- como nenhuma mulher. Já era hora de Florentino Sanguinetti. Para a profes-
O professor Wanderley Guilherme ção da Biblioteca aconteceu no dia 21 de uma cientista brasileira ocupar esse sora Eliete Bouskela, o diálogo propor-
dos Santos foi um dos maiores incen- março, durante encontro da Associação espaço. Além disso, achei atrativa a pro- cionado pela Academia Europeia entre
tivadores desse processo de estrutura- Brasileira de Ciência Política. O ato foi posta da instituição de discutir os temas especialistas de várias nacionalidades
ção ao doar 5.000 títulos do seu acervo conduzido pelo professor Adalberto da ciência de forma mais ampla, aberta é bastante vantajoso para o desenvol-
pessoal: “Não me custou a doação, por- Cardoso e pelo Reitor com a presença a outros campos do saber. Foram essas vimento da Ciência: “Estudar o que
que na verdade eu estava doando a mim do homenageado. Também estiveram duas razões, muito fortes, que me fizeram ocorre somente em um ou outro lugar
mesmo”, disse. Nascido em 1935, o pro- presentes a companheira do professor aceitar o conselho do colega americano é pouco produtivo. É importante conhe-
fessor Wanderley é doutor em Ciência Wanderley, Ana de Hollanda, e seu filho, Marcos Intaglietta, membro da Acade- cer o que acontece em outras partes do
Política pela Universidade de Stanford, o professor do IESP Fabiano Guilherme mia, e me candidatar”. mundo, o que os outros estudam, as dife-
nos Estados Unidos, e professor aposen- Mendes Santos, além de amigos e fami- Fundada em 1990 na Áustria, pelo rentes abordagens, as variadas formas de
tado do IESP. Ele ajudou a criar o Insti- liares. cirurgião cardíaco Felix Unger, Franz ser, porque o trabalho científico exige
tuto – na época, Instituto Universitário A biblioteca Wanderley Guilherme Cardinal König (arcebispo de Viena) vivência. Tudo é, sem dúvida, enrique-
de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) dos Santos integra a Rede Sirius e está e por Nikolaus Lobkowicz (filósofo e cido pelo acúmulo de experiências”.
entre 1966 e 1969, no período do regime aberta ao público interno e externo cientista político), a Academia Euro- Professora da UERJ desde 1977, Eliete
militar, durante o qual afirma ter ocor- de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h. peia de Ciências e Artes nasceu com a Bouskela criou em 1994 o Laboratório de
rido um “genocídio intelectual”: “Mesmo Como o Instituto se dedica a cursos de proposta de examinar sob novas pers- Pesquisas em Microcirculação, ligado ao
dentro de um contexto de intimidação e mestrado e doutorado, o espaço atende pectivas os problemas enfrentados pela Departamento de Ciências Fisiológicas
terror, o Instituto jamais alterou a liber- principalmente estudantes e professo- Europa no final do século XX. A ideia do IBRAG. Atualmente coordena a Pós-
dade de pensamento e da pluralidade das res da pós-graduação. “Uma biblioteca foi criar uma rede de cientistas e artistas -graduação em Fisiopatologia Clínica e
suas abordagens”, afirmou o cientista é viva, porque ela vai crescendo e se que tratasse de temas relevantes para a Experimental (FISCLINEX), programa
político. Aos 27 anos – dois anos antes modificando. Nós temos cursos novos sociedade, de forma interdisciplinar e multidisciplinar voltado para a solução
do golpe que derrubou o presidente sempre, o que exige livros e faz com que transnacional. Para os três idealizadores de doenças crônicas – como obesidade,
João Goulart da Presidência da Repú- seja sempre viva”, comentou o professor da Academia, o nível de especialização diabetes e hipertensão – que exigem a
blica e resultou na ascensão de militares Adalberto. Os títulos que fazem parte do a que havia chegado o conhecimento integração de diversas especialidades.
ao poder, o professor publicou o artigo acervo da Faculdade Latino-Americana científico tornara-se um bloqueio à Também é presidente do Conselho
intitulado Quem vai dar o golpe no Bra- de Ciências Sociais também estão inte- visão do todo, dificultando a solução de Superior e coordenadora da área de
sil?. Esse texto gerou grande repercussão grados à biblioteca. questões fundamentais (e cada vez mais Saúde na FAPERJ.
UERJ em Questão MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 / 5
ARQUIVO DA FAMÍLIA
dorismo marcaram, segundo amigos e colegas de anos 70 sentíamos orgulho ao constatar que o curso
profissão, a vida da professora e ex-diretora do Ins- de Psicologia da UERJ havia se tornado um dos
tituto de Psicologia da UERJ, Yonne Moniz Reis, que que mais aprovava alunos em concursos, tanto para
faleceu no dia 28 de fevereiro aos 89 anos. A profes- órgãos públicos como privados, assim como um dos
sora esteve na direção do Instituto entre 1976 e 1980, que mais firmava convênios com o intuito de ofere-
como diretora, e entre 1971 e 1975 como vice-diretora. cer vagas de estágio aos nossos estudantes”.
O curso de Psicologia foi criado em 1964, dois anos Outro ex-aluno que depois também seria colega de
depois de a profissão de psicólogo ter sido regula- Yonne Moniz no Instituto de Psicologia é o professor
mentada. Na sua origem, o Instituto fazia parte do aposentado Wilson Moura. Ele ratifica a importância
Departamento de Pedagogia da Faculdade de Edu- da professora para a consolidação do Instituto: “Não
cação, que integrava a Faculdade de Filosofia, Ciên- há dúvida de que a solidez do curso de Psicologia da
cias e Letras. Depois esteve vinculado ao Instituto UERJ se deve, em grande parte, à visão política e à
de Biologia entre 1968 e 1971, ano em que a Resolu- tenacidade da professora Yonne Moniz Reis. Por trás
ção nº 382 do Conselho Universitário o transformou da sua meiga forma de se relacionar, se escondiam um
em unidade do Centro de Educação e Humanidades. grande talento empreendedor, uma forte determina-
Nesse período, o Instituto de Psicologia abrangia o ção, a capacidade de integrar e a de avançar sem criar
curso de Relações Públicas, que em 1986 deu origem à "Sua meta refletia a visão pluralista inimizades. As mudanças de endereço do curso de
Faculdade de Comunicação Social. que tinha daquilo que deva ser uma Psicologia, inicialmente localizado na Rua Haddock
Em depoimento no volume Memória do Curso de Lobo, na Tijuca, depois na Rua Fonseca Teles, em São
instituição. Quando algum problema
Psicologia da UERJ (1991), que organizou em home- Cristóvão, e por último na sua sede definitiva no cam-
nagem ao Instituto de Psicologia quando se apo-
surgia, não hesitava em reunir a equipe pus Maracanã, foram acompanhadas de vários desa-
sentou, a professora Yonne Moniz destacou o clima para resolvê-lo em conjunto. Sua fios. A escassez de verbas e os entraves burocráticos
democrático do Instituto, herdado da direção que a dedicação era integral à Universidade" foram sabiamente vencidos por ela, através de con-
antecedeu, que se contrapunha ao momento político vênios com órgãos federais, estaduais e municipais,
(período do regime militar) que atravessava o Brasil: me incluo. Eu e ela divergíamos muito, mas nunca que propiciaram oportunidades de aperfeiçoamento
“Considero de grande importância ressaltar o fato de houve animosidade entre nós. Ela era o exemplo de ao corpo docente e ao discente, além do ingresso de
ter recebido da direção anterior, do professor Eliezer que é possível ser firme sem deixar de ser gentil. recursos financeiros que minimizaram a escassez
Schneider, um clima liberal, de compreensão e tran- Considero-a fundamental tanto na minha forma- das dotações oficiais da época. No momento em que
quilidade, o que contribuiu em muito para a solução ção profissional como na formação do meu caráter. ela definitivamente nos deixa, nos cabe a obrigação
de impasses e dificuldades advindas, em grande parte Sempre gostei dela e sempre a admirei. Mais tarde, de preservar o seu lugar de destaque na memória do
da abertura política tão esperada e não pronunciada. já como seu colega de profissão, passei a confessar Instituto, para que as próximas gerações, ao usufruí-
A atuação dos alunos, suas reivindicações e inicia- publicamente o que sentia por ela. Ela era uma pes- rem de todos os benefícios à sua disposição, nunca se
tivas sempre foram consideradas, embora limitadas soa extremamente hábil politicamente, com grande esqueçam da dívida de gratidão com esta professora
por um contexto ainda repressor. Nada impediu que capacidade de negociação. Ela conseguiu fazer do que, com sua bondade, humildade e dedicação, con-
a partir dos mesmos se organizassem um Centro Aca- curso de Psicologia da UERJ um curso de elite, em tribuiu para que o Instituto de Psicologia atingisse o
dêmico e um Psicocine (Cine Clube), se realizassem termos de investimentos. Durante a sua gestão como padrão de qualidade que tem hoje”.
Semanas de Calouros, Feiras de Livros, Semanas de diretora a graduação tinha equipamentos de primeira Segundo a professora Ana Jacó, do Instituto de
Psicologia, palestras, seminários e encontros, como linha e não faltavam professores”. Psicologia, deve-se ainda à professora Yonne Moniz
também se mantivessem quadros murais e informa- Para a professora aposentada Alba Lúcia Moura, a instalação na UERJ, em 1967, do Serviço de Psico-
tivos, o que configura o espírito democrático que também ex-aluna de Yonne Moniz e que, como pro- logia Aplicada – SPA (que hoje leva seu nome) e a
sempre existiu no Instituto, embora reinasse no país fessora do Instituto, foi sua substituta na disciplina criação do cargo de psicólogo em 1976. Desde a sua
o regime de exceção,” escreveu. Testes Psicológicos, a professora Yonne “tinha como criação está voltado para a formação prática do psi-
Ex-aluno e mais tarde professor do Instituto, o maior preocupação a consolidação de um quadro de cólogo ao oferecer atendimento supervisionado ao
Reitor Ricardo Vieiralves comentou a sua convivên- professores e funcionários que se dispusesse a tra- público interno e externo à Universidade. Antes de
cia com a professora: “Yonne foi quem, na graduação, balhar pelo Instituto de Psicologia, independente- trabalhar na Universidade, a professora integrou
me ensinou a técnica de Rorschach, o famoso teste mente de questões de cunho ideológico-partidário. em 1956 a equipe técnica do Serviço de Ortofrenia e
psicológico que usa pranchas com manchas simé- Sua meta refletia a visão pluralista que tinha daquilo Psicologia do Instituto de Pesquisas Educacionais da
tricas de tinta. Ela era especialista em testes clíni- que deva ser uma instituição. Quando algum pro- Prefeitura do Distrito Federal; atuou de 1959 a 1966
cos e uma ótima professora. Como diretora, teve de blema surgia, não hesitava em reunir a equipe para no Serviço de Orientação Educacional do Colégio de
lidar com alunos muito combativos – entre os quais resolvê-lo em conjunto. Sua dedicação era integral Aplicação (CAp-UERJ) e foi professora e orientadora
educacional entre 1961 e 1969 na Escola Normal Júlia
Kubitschek. Na Associação Brasileira de Psicologia
Deve-se à professora Yonne Moniz a instalação na UERJ, em 1967, do Serviço de Psicologia Aplicada – ABPA, a professora Yonne exerceu as fun-
Aplicada – SPA (que hoje leva seu nome) e a criação do cargo de psicólogo em 1976 ções de tesoureira (1973), primeira vice-presidente
(1976 e 1982) e presidente (1979).
UERJ em Questão MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 / 7
> ESPECIAL
Conferência de economia e gestão de mídia debate estudos e
perspectivas de organizações brasileiras e estrangeiras do setor*
No encontro de quatro dias que reuniu menores índices de concentração de mídia
pesquisadores do exterior e do Brasil, a de plataforma. Entre os fatores que inter-
palestra "Panorama da mídia no Brasil" ferem mais diretamente na concentração
do professor brasileiro Rosental Calmon da mídia em cada país, Noam considera o
Alves, da Universidade do Texas em Aus- tamanho da população, a riqueza da nação
tin, abriu a 11ª Conferência Mundial de e a intervenção do governo nas políticas
Economia e Gestão de Mídia (11th World de mídia e comunicação: “Entre os países
Media Economics and Management em desenvolvimento, temos observado
Conference) na manhã do dia 13 de maio uma grande participação do governo no
na Universidade do Estado do Rio de controle das empresas de mídia, ainda que
Janeiro. O foco da apresentação foi a pro- indiretamente, porque mesmo em lugares
dução jornalística e o lugar ocupado pelos onde as companhias são privadas a proxi-
Abertura da 11ª Conferência Mundial de Economia e Gestão de Mídia no foyer do Teatro Odylo Costa, filho no dia 12 de maio
grupos nacionais. O ex-correspondente e midade e a relação dos donos com o poder
diretor do Jornal do Brasil iniciou a pales- garante que a principal companhia jorna-
tra com o contexto histórico-econômico lística tenha 60% do mercado. Há sempre
do desenvolvimento da indústria de um fator político nisso”.
mídia no Brasil entre 1940 e 1960: o papel O mercado de mídia no Brasil na pers-
determinante dos investimentos de Assis pectiva de três especialistas da área de
Chateaubriand nos meios impressos e em pesquisa de mercado e opinião pública
redes de rádio e TV; as intervenções do constituiu outro dos painéis programados
governo militar na mídia, tanto na forma com especialistas convidados. Derli Pra-
de censura como de apoio financeiro, vato, diretor comercial e de atendimento do
político e técnico e a empresários aliados; IBOPE, abriu as apresentações propondo
a profissionalização da imprensa. “Há 50 que o principal desafio do século XXI
anos a mídia brasileira era amadora em está em transferir o foco das reflexões em
Painel "Mercado de Mídia", com os profissionais convidados Thiago Moreira (Nielsen Online), Alex Banks (comScore) e Derli Pravato (Ibope Media)
termos de administração. Eram empre- torno dos constantes avanços da tecnolo-
sas familiares, dependentes da estrutura Senado em 22 de abril, também foi con- receita das pessoas os itens obrigatórios, de gia para as transformações culturais que
governamental, convivíamos com uma siderado pelo professor: “A mídia no subsistência, então o consumo de mídia é estão no bojo destas mudanças, segundo
série de ‘ilegalidades regularizadas’. O Brasil não sofreu o impacto das crises 20% do consumo discricionário. A média ele “o mais importante é a cultura emer-
jornalista trabalhava para o governo e, mundiais porque o contexto econômico de consumo pode chegar a 10 horas por dia, gente deste processo, é o comportamento
ao mesmo tempo, cobria o governo para brasileiro é de estabilidade e certa pros- ou seja: 60% do tempo em que não estamos das pessoas”. Para o diretor do IBOPE a
o seu jornal e isso não era problema. Ele peridade. Tem havido um crescimento da dormindo estamos consumindo mídia. informação é a essência da comunicação e
também era isento de imposto de renda e classe média e seu poder de consumo tem Isso tem um evidente impacto na econo- é a isso que devemos estar atentos quando
tinha vantagens na compra de passagens grande impacto no mercado de mídia”. mia”, apontou o palestrante falamos de transformações no mercado de
aéreas, entre outras coisas. O golpe militar Um ponto alto da Conferência foi a O principal dado levantado pelos pes- mídia. De acordo com pesquisa apresentada
afetou fortemente o panorama da mídia apresentação do professor Eli Noam, da quisadores da equipe de Noam foi o fatu- por ele, em 2007 a quantidade de informa-
por causa da censura e da premiação ou Universidade de Columbia em Nova York, ramento das empresas de mídia de cada ção consumida no mundo foi de 1 exabyte,
condenação das empresas que estivessem que trouxe dados da pesquisa interna- país. Os dados foram tratados com base enquanto em 2013 essa mesma quantidade
ou não alinhadas com o sistema político. cional que coordena, sobre propriedade e no índice HHI (Herfindahl-Hirschman foi consumida em apenas um dia. Thiago
As empresas que sobreviveram e pros- concentração de mídia em 29 países, cujos Index), que indicou o nível de concentra- Moreira, diretor da área Digital/Telecom da
peraram inauguraram um contexto de resultados devem ser publicados ainda em ção das empresas. “O estudo indicou que, Nielsen para a América Latina, apresentou
maior profissionalização”. 2014 pela Oxford University Press. Um dos de um modo geral, a mídia é muito con- dados referentes ao consumo de meios de
Sobre a realidade contemporânea das objetivos do estudo é tentar conhecer as centrada em todo o mundo. Quanto mais comunicação no mercado norte americano,
indústrias de mídia brasileiras, Rosental tendências do mercado mundial de mídia e intensiva em capital é uma indústria, mais que confirmam a importância da televi-
Alves fez uma análise de conjuntura das a realidade de cada país em particular para, concentrada ela é. E a tendência indica são no mercado de mídia e a importância
redes de TV, dos jornais diários e também então, sugerir respostas diferenciadas ao que a mídia mundial no futuro deverá ser estratégica de pensar o conteúdo que está
das políticas de mídia. Centrou sua fala movimento de um mercado que faz cada ainda mais concentrada porque o setor tem sendo entregue. “A TV não está perdendo
na hegemonia das Organizações Globo e vez mais consumidores. alcançado economias de escala cada vez uso, ela está se transformando, está cada vez
da Editora Abril, no desempenho da rede Segundo Noam, a mídia de conteúdo mais altas”, explicou. mais social”. Alex Banks, vice-presidente da
regional de televisão RBS (Rio Grande pode atingir 1% do PIB mundial, sendo que Entre os países com maiores níveis América Latina e diretor no Brasil da comS-
do Sul e Santa Catarina) e na questão da a mídia de plataforma já alcança cerca de de concentração na mídia de conteúdo core Inc., apresentou números mundiais de
convergência tecnológica e de mídia que 2,3%. Contabilizando o consumo de dispo- estão a China, o Egito, Rússia, África do audiência nos meios digitais, que posicio-
está afetando o mercado de impressos. sitivos e a venda varejista, esse percentual Sul, Irlanda, México, a Argentina e o Bra- nam a América Latina com 40% seguida de
O Marco Civil da Internet, aprovado no chega a 5,9% em média: “Se tirarmos da sil, que por outro lado, apresenta um dos 41% na Ásia, 26% Europa, 14% na América do
UERJ em Questão MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 / 9
A plateia formada por pesquisadores brasileiros e estrangeiros na conferência de abertura do professor Rosental Calmon Alves, da Universidade do Texas em Austin
ANDRÉIA RÊGO
cia do cuidado permanente com a saúde e teúdo on-line da parte dos alunos da ter-
incentivar o uso da internet são duas das ceira idade, a fonoaudióloga procurou
propostas do programa “Idoso em foco”, ajuda no curso de computação oferecido
que em 2014 completa cinco anos e nesse pela UnATI. É esse tipo de difusão do
período conquistou ouvintes em vários “Idoso em foco” que gera bons resulta-
estados do Brasil e também em Portugal. dos para o projeto. A apresentação do
O projeto de extensão desenvolvido pela trabalho no Congresso da Associação
Universidade Aberta da Terceira Idade Brasileira de Saúde Coletiva, em 2012, foi
(UnATI-UERJ) é resultado do trabalho elogiada por tratar do uso do computa-
de alunos da graduação, de técnico-admi- dor para a promoção da saúde – pouco
nistrativos e do compromisso dos idosos comum na época – e gerou convites para
com a produção semanal do programa. outras apresentações sobre o programa,
Com conteúdo novo todas as quintas- sua audiência e elementos da sua criação.
-feiras, o programa foi criado em 2009 e Ainda que esteja direcionado para
pode ser ouvido na webradio UERJ (em temas relativos ao bem-estar, o programa
www.radiouerj.com.br/IdosoEmFoco.php) aborda outros assuntos, como política,
e pelo site de rádios on-line Radiotube cultura e sociedade. O bloco ‘toques de
(em www.radiotube.org.br/). O pro- saúde’ trata da saúde do idoso com ênfase
grama é feito para idosos, que também na prevenção, do qual participam den-
se encarregam da produção, e faz parte tistas, médicos, psicólogos etc. No bloco
de um projeto idealizado pela fonoau- ‘a voz do idoso’ são debatidos temas refe-
dióloga Cláudia Helena Steenhagen a rentes ao Estatuto do Idoso coletados pela
partir das suas atividades de promoção equipe de produção nos corredores da
da saúde no ambulatório da UnATI. A UnATI. O último bloco, ‘saindo de casa’,
proposta é divulgar formas de preve- apresenta a agenda cultural aos ouvintes.
nir doenças e pesquisas de saúde para Essa fórmula simples e direta conquis-
a Terceira Idade para além do campus. tou um público cativo para além dos limi-
A formatação e realização do programa tes do campus Maracanã: “Uma das edições
contam com a ajuda da jornalista Gisele chegou a mais de 1.000 acessos no Radio-
Sobral, uma das fundadoras da webradio tube”, diz a idealizadora do programa,
UERJ. Ela diz que a sugestão de criação do numa referência ao programa 72, que foi
programa foi atendida de imediato pelo ao ar no dia 12 de agosto de 2011. Cláudia
seu caráter inovador e porque a webradio Todo o processo criativo – da elaboração dos temas abordados até a também destaca o retorno que o programa
tem interesse na parceria com a UnATI: produção das edições – tem como referência os próprios idosos. Como tem recebido dos ouvintes, inclusive de
“A Rádio UERJ on-line foi idealizada para Portugal. O alcance do programa pode ser
se trata de programa difundido pela internet, a participação dos idosos
que diversos setores da Universidade medido pelos contatos feito por faculda-
atuassem e criassem conteúdos”.
(como ouvintes ou como colaboradores) adquiriu outra dimensão des em várias regiões, com a solicitação
O resultado foi um programa com 30 O “Idoso em foco” tem três alunos da para o conteúdo e também nas locu- do material produzido para que fosse feita
minutos de duração, dividido em três UnATI como âncoras fixos: Diva Perez, ções: “Não somos de Comunicação e não maior divulgação: “Com a nossa autoriza-
blocos: toques de saúde, a voz do idoso e Amilcar Valente e Jaime Ramos. Os três aprendemos isso na Faculdade, eu não ção, os programas passaram a ser difun-
saindo de casa. Cláudia conta com o apoio foram convidados por Cláudia para parti- entendia nada de rádio”, diz a estudante didos entre crianças e idosos e também
de bolsita de estágio e outra bolsista de cipar do programa e apesar a insegurança de Enfermagem Tayná Campos, voluntá- passou a ser transmitido em emissoras
extensão, além de voluntários e estagiários inicial aceitaram o desafio e tomaram ria no projeto. Rafaella Reis, também da comunitárias, como das comunidades do
de outros projetos. Todo o processo cria- gosto pela atividade: “No começo foi Enfermagem, e a estudante de Psicologia Salgueiro e do Morro da Formiga”.
tivo – da elaboração dos temas abordados um susto, mas depois fui ficando íntima Bianca Lopes são as outras bolsistas que A satisfação da equipe está no ato de
até a produção das edições – tem como e logo não quis mais abandonar”, conta trabalham na produção do programa. A produzir o programa e nos benefícios
referência os próprios idosos. Como se a poetisa, escritora e compositora Diva preparação do grupo foi feita por Gisele gerados pelo trabalho: “O programa na
trata de programa difundido pela internet, Perez, há 15 anos na Universidade e há Sobral, que treinou fala e escrita para webradio se transformou em terapia ocu-
a participação dos idosos (como ouvintes três no programa. Ela não revela a idade, o rádio, entre outras noções técnicas pacional de grande valia para a nossa
ou como colaboradores) adquiriu outra segundo diz, para não perder a credi- do meio. Depois que o “Idoso em foco” atividade cognitiva. Ajudamos o idoso
dimensão: “Os mais velhos tinham muito bilidade como escritora. Os alunos de entrou no ar foi criada uma oficina de e nos ajudamos também”, avalia Amilcar
preconceito com o computador e eu que- graduação que participam do programa rádio para ser oferecida aos alunos da Valente, um dos âncoras fixos, aposen-
ria acabar com esse analfabetismo tecnoló- também se assustaram no início. Cabe a UnATI, mesmo aqueles que não tinham tado com 74 anos de idade. Existe agora
gico. Assim, o programa estimula o uso de eles dar suporte aos alunos da UnATI na interesse em participar do programa. a perspectiva de produção de uma radio-
recursos da informática e trabalha com a escolha dos temas a serem abordados, na Foram duas edições dessa oficina, com novela pelos idosos, ainda sem previsão
informação”, explica Cláudia Steenhagen. busca por fontes que possam contribuir duração de um ano cada. de lançamento.
16 / MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 UERJ em Questão
Nova York e ganhou notoriedade pelo ela, a causa mais frequente de insucesso
trabalho de identificação de corpos por numa investigação por DNA não são os
meio do DNA depois do atentado de 11 métodos de análise, mas o desconheci-
de setembro de 2001, quando trabalhava mento sobre como obter amostras válidas e
no Laboratório de Genética Forense, que preservá-las: “Mecki Prinz e Marie Allen
presta serviços para a polícia de Nova são especialistas de alto gabarito, com
York. No workshop, a especialista apre- muita coisa a nos ensinar. É importante
sentou técnicas de coleta, tratamento que os brasileiros se familiarizem com o
e análise de amostras biológicas que tema, que conheçam os cuidados neces-
preparam o DNA para que sirva como sários à preservação de cenas de crime.
evidência forense, ou seja: para elucidar Em 2012 a coleta de perfil genético como
situações de ocorrência de natureza cri- forma de identificação criminal passou
minal ou outra, quando interesses confli- foi incluída na Lei Federal nº. 12.654.
tantes concorrem num processo judicial. Mas é preciso capacitação, saber como
Marie Allen, por sua vez, trabalhou no No sentido horário: Mecki Prinz, presidente da Sociedade Internacional de Genética Forense e professora da John Jay College of Criminal Justice em Nova York;
professor Elizeu de Carvalho, diretor do Laboratório de Diagnósticos por DNA (IBRAG / UERJ); Leonor Gusmão, pesquisadora do LDD; e Marie Allen,
proceder para que a lei possa funcionar”.
caso de identificação dos restos mor- pesquisadora do Laboratório de Ciência para a Vida, da Universidade de Uppsala, Suécia O professor Elizeu de Carvalho, dire-
tais do astrônomo Nicolau Copérnico (localizado na mitocôndria, organela fragmentos de células de uma só vez, tor do Laboratório de Diagnósticos por
(1473-1543). No estudo foram compara- celular fora do núcleo das células), acelerando resultados e reduzindo DNA, informa que o Laboratório mantém
dos o material genético de um esqueleto sistema bastante útil quando o DNA custos. Além de pesquisas na área da desde 1997 um convênio com o Tribunal
encontrado sob a Catedral de Frombork, nuclear se encontra degradado ou genética forense, Marie Allen desen- de Justiça e com o Ministério Público,
na Polônia, e os fios de cabelos obtidos em quantidade reduzida, como no volve estudo na área da medicina sendo responsável por produzir todos os
em um dos livros usados pelo cientista caso das amostras biológicas encon- genômica, que tenta encontrar muta- testes de paternidade e de identificação
no século XVI. Atualmente ela trabalha tradas em cenas de crime (tecidos ções no DNA relacionadas à ocorrên- criminal solicitados judicialmente no
na identificação de relíquias que teriam desidratados, ossos, saliva, esperma, cia de morte súbita. estado: “O Rio de Janeiro se destaca como
pertencido a Santa Brígida, padroeira da pele, bulbo capilar e restos mortais, Para Leonor Gusmão, pesquisa- o único estado do país onde não há espera
Suécia, e na identificação do corpo da por exemplo). Ela abordou também dora do Laboratório de Diagnósticos para a realização de perícias genéticas
esposa de Hermann Göring, líder mili- o sequenciamento de nova geração por DNA da UERJ, o grande mérito do demandadas pela justiça gratuita. Isso se
tar e do partido de Adolf Hitler. (NGS na sigla em inglês), cujos equi- workshop foi disseminar entre estu- deve à equipe do LDD, que desde a sua
Na sua apresentação, Marie Allen pamentos geradores de arquivos ele- dantes e profissionais que trabalham criação em 1996 já ‘genotipou’ (identifi-
apresentou novas metodologias de trônicos (sequenciadores) são capazes no combate ao crime o que há de mais cou por DNA) mais de 200 mil pessoas.
trabalho com o DNA, entre as quais de operar massivamente, com a pos- avançado em termos de coleta e pre- Essas identificações resultaram em mais
a análise do DNA mitocondrial sibilidade de processar bilhões de servação de amostras de DNA. Segundo de 55 mil laudos periciais”.