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UERJ em Questão Ano XX • No 103

Março / abril / maio


2014

Presidente da Capes recebe da UERJ a Ordem do Mérito José Bonifácio


No ano em que completou dez anos como presidente da Coordena-
ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o pro-
fessor Jorge Almeida Guimarães recebeu no dia 23 de maio na UERJ
uma tripla condecoração: o título de Grão-Oficial da Ordem do Méri-
to José Bonifácio, concedido pela Universidade; a Medalha Henrique
Morize, instituída pela Academia Brasileira de Ciências; e uma placa
distintiva oferecida pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade
e Tecnologia (INMETRO). > Página 3

Pesquisadoras estrangeiras debatem genética forense Laboratório busca soluções para reduzir a poluição
Entre 14 e 17 de abril a Universidade recebeu as especialistas em ge- O estudo de métodos para reduzir o impacto ambiental no
nética forense Mecki Prinz, presidente da Sociedade Internacional de solo, na água e no ar causado pelas indústrias – com a identi-
Genética Forense – ISFG na sigla em inglês, e Marie Allen, pesquisadora ficação de poluentes, de recursos para reduzir esse impacto
do Laboratório de Ciência para a Vida, do Departamento de Imunologia, ambiental e de soluções para o seu tratamento – está entre as
Genética e Patologia da Universidade de Uppsala, na Suécia. Elas deram atividades de pesquisa desenvolvidas pelo Laboratório de Bior-
aulas no workshop “Metodologias atuais e de nova geração da genética remediação e Fitotecnologia. Criado em 2008, o Laboratório
forense”, direcionado a estudantes de pós-graduação e profissionais tem caráter multidisciplinar e reúne pesquisadores da Engenharia,
que trabalham com técnicas de coleta de DNA. > Página 16 da Biologia e da Química. > Páginas 12 e 13

Empresas incubadas na UERJ são premiadas


A Senfio e a Eyllo Tecnologia, empresas instaladas na Phoenix,
incubadora da Faculdade de Engenharia da UERJ, se classificaram
em primeiro e em terceiro lugar, respectivamente, na etapa final da
Competição de Tecnologia da Informação e Inovação do UK Trade
& Investment, promovida pelo Consulado Geral Britânico. Os ven-
cedores vão conhecer os principais centros tecnológicos do Reino
Unido – entre os quais a Tech City, polo tecnológico de Londres que
hospeda 1.400 empresas, de iniciantes (startups) a gigantes do setor
como Google, Facebook, Intel e Twitter. > Página 11

Parceria UERJ e Petrobras Conferência de economia e mídia Incentivo à Formação Científica


O patrimônio cultural material e imaterial de O professor Eli Noam, da Universidade de Columbia em Estudantes de Moçambique fizeram visitas téc-
Itaboraí, Rio Bonito, Cachoeiras de Macacu, Nova York, apresentou dados da pesquisa internacional nicas ao Instituto Politécnico em Nova Friburgo,
Guapimirim e Tanguá está registrado em li- que coordena, sobre propriedade e concentração de mí- à Faculdade de Tecnologia em Resende e ao
vro e DVD e faz parte de uma pesquisa da dia em 29 países, cujos resultados devem ser publica- Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento
Universidade em parceria com a Petrobras. dos ainda em 2014 pela Oxford University Press. Sustentável (CEADS/UERJ), na Ilha Grande.
> Página 2 > Páginas 8 e 9 > Página 10
2 / MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 UERJ em Questão

> EDITORIAL
UERJ e Petrobras lançam livro e documentário
Prêmio, intercâmbio e pesquisa
No final de maio, a Universidade concedeu ao presidente
sobre patrimônio cultural do Leste Fluminense
da Capes, professor Jorge Guimarães, a sua maior comenda: o O patrimônio cultural material Luís Reznik explica que a defi-
título de Grão-Oficial da Ordem do Mérito José Bonifácio. A
e imaterial de Itaboraí, Rio Bonito, nição do que é patrimônio cultu-
cerimônia realizada na Capela Ecumênica foi uma tripla home-
Cachoeiras de Macacu, Guapimi- ral em cada cidade não partiu de
nagem pelos dez anos do professor na presidência da Capes:
além da Ordem do Mérito José Bonifácio, ele recebeu a Medalha rim e Tanguá está registrado agora especialistas, que identificam o
Henrique Morize, instituída pela Academia Brasileira de Ciências, em livro e DVD que estão sendo valor das manifestações com base
e uma placa distintiva oferecida pelo Instituto Nacional de distribuídos nas escolas e bibliote- em definições internacionais. Ele
Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). cas dessas localidades. O trabalho distingue a necessidade de conhe-
A pesquisa também é o tema central de três matérias sobre reúne informações sobre os cinco ccer o que a comunidade reconhece
atividades de diferentes laboratórios da Universidade: do Labo- municípios do Leste Fluminense e ccomo seu patrimônio e sua cultura
ratório de Caracterização de Materiais – que, em parceria com o
faz parte de uma pesquisa da Univer- para vinculá-los aos dados oficiais:
p
Centro Nacional de Microeletrônica de Barcelona, está realizando
sidade em parceria com a Petrobras. ““O que aquela comunidade valo-
testes com um tipo especial de cerâmica para ser utilizada em
detector a gás de raios X que dispensa a necessidade de impressão
Iniciado em 2009, o estudo iden-- rriza? Patrimônio é valor. O valor é
do exame e permite a visualização digital das imagens; do Labo- tificou mais de 100 patrimônios daa uuniversal e absoluto, mas também
ratório de Biorremediação e Fitotecnologia, ligado ao Departa- região – entre ruínas de igrejas do o é subjetivo, porque o que pode ser
mento de Engenharia Sanitária e Meio Ambiente da Faculdade de século XIX, fazendas, estações ferro-rro- valorizado por alguém pode não
va
Engenharia, que estuda métodos para reduzir o impacto ambien- viárias, cachoeiras, manifestações religiosas e arte- ser por outra pessoa. Por isso tínhamos
tal no solo, na água e no ar causado pelas indústrias; e do Labora- sanatos – que agora estão no livro Patrimônio Cultural uma demanda fundamental, que era escutar essas
tório de Diagnósticos por DNA, do Instituto de Biologia Roberto no Leste Fluminense – História e memória de Itaboraí, localidades. Reunindo as informações chegamos ao
Alcântara Gomes, que recebeu no campus Maracanã entre 14 e 17 de
Rio Bonito, Cachoeiras de Macacu, Guapimirim e Tan- inventário. Em relação ao patrimônio arquitetônico
abril as especialistas em genética forense Mecki Prinz, presidente
guá e no DVD Entrelugares: Patrimônio e Memória no tentamos ser exaustivos na medida do possível, já que
da Sociedade Internacional de Genética Forense, e Marie Allen,
pesquisadora do Laboratório de Ciência para a Vida, do Departa- Leste Fluminense. Os professores da UERJ Luís Reznik uma comunidade pode revalorizar alguns objetos e
mento de Imunologia, Genética e Patologia da Universidade de (coordenador da pesquisa), Marcia de Almeida Gon- desvalorizar outros com o passar do tempo”.
Uppsala, na Suécia. Elas deram aulas no workshop “Metodologias çalves, Roberto Conduru e Rui Aniceto Nascimento O livro traz uma análise histórica do patrimônio
atuais e de nova geração da genética forense”. Fernandes são os autores do livro. O DVD é um docu- local: “Não é só contar a história do bem, mas sim a
Os destaques desta edição do UERJ em Questão estão as mentário com narrativas de moradores, imagens dos história do seu processo de valorização – como foi
empresas incubadas na Universidade – a Senfio e a Eyllo Tec- bens arquitetônicos, urbanísticos e paisagísticos e construído e como, ao longo do tempo, vai sendo
nologia –, que se classificaram respectivamente em 1º e em 3º
de manifestações populares. O documentário de 84 valorizado”. No caso dos bens imateriais é feita uma
lugar na etapa final da Competição de Tecnologia da Informação
minutos foi feito paralelamente ao livro. A proposta descrição histórica de como ocorre a manifestação
e Inovação do UK Trade & Investment, promovida pelo Consu-
lado Geral Britânico. A Senfio desenvolveu um sistema de iden- do DVD – produzido pelo professor Reznik, com desses bens, como a Folia de Reis, por exemplo. “O
tificação por radiofrequência para monitoramento e registro de direção do cineasta Pedro Paulo Rosa – foi criar mais que representa esse patrimônio? Como nós pensamos
higienização das mãos de modo a reduzir ocorrências de infec- um instrumento de educação patrimonial para as o patrimônio imaterial e qual a importância, a rele-
ção hospitalar, muitas vezes ocasionada pela falta de higieniza- cinco cidades do Leste Fluminense. vância e os apontamentos para a história da região?”,
ção das mãos dos profissionais de saúde entre os atendimentos. A pesquisa faz parte do Plano de Valorização da questiona Reznik. Para ele, o patrimônio tem a beleza
A Eyllo Tecnologia criou o aplicativo Paprika, que utiliza a tec- Cultura do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro e a vocação da memória: “As festas, danças, sabores
nologia da Realidade Aumentada (RA) e é único no país: pode ser
(Comperj), cuja meta é contribuir para o reconhe- que estão na família durante anos, a arte oleira, o
instalado em tablets e smartphones e permite ao usuário obter
cimento e a visibilidade dos patrimônios das cinco patrimônio natural como o Dedo de Deus (território
informações instantâneas sobre o entorno, para além da própria
percepção natural.
cidades. Segundo o coordenador do estudo, o livro e o de Guapimirim), cada um deles tem a sua valorização”.
O UERJ em Questão também registra as atividades do grupo DVD têm como função identificar, descrever e anali- A educação patrimonial também faz parte de
de sete estudantes moçambicanos que vieram para o Brasil como sar um conjunto de bens culturais reconhecido como outros dois livros produzidos a partir das pesquisas:
parte do Programa de Incentivo à Formação Científica do Minis- referência de identidade nas suas respectivas locali- História e Patrimônio – Guapimirim e História e
tério das Relações Exteriores/Capes. Orientados por professo- dades. Para a elaboração do trabalho registrado nas Patrimônio – Cachoeiras de Macacu, de Luís Reznik,
res de diferentes áreas, eles visitaram o Instituto Politécnico em 541 páginas do volume impresso, a equipe usou fontes Elenice Rocha, Marcelo Magalhães, Marcia Gonçal-
Nova Friburgo, a Faculdade de Tecnologia em Resende e o Centro oficiais como o Instituto do Patrimônio Histórico e ves e Rui Fernandes. Nesses volumes são elaboradas
de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável na Ilha
Artístico Nacional (Iphan), o Instituto Estadual do atividades didáticas com a história do município,
Grande em programação acadêmica desenvolvida sob a supervi-
Patrimônio Cultural (Inepac), a Biblioteca Nacional, de modo que os professores possam trabalhar com
são do DCARH/SR-2. Nas páginas centrais deste número está um
resumo do que foi a 11ª Conferência Mundial de Economia e Gestão o Arquivo Nacional e o Arquivo Público do Estado o material em sala de aula. Os livros foram distri-
de Mídia, que aconteceu na Universidade entre 12 e 16 de maio e teve do Rio de Janeiro, além de informações de órgãos buídos nas cidades-tema e no final de 2013 também
a participação de pesquisadores estrangeiros e brasileiros reunidos públicos locais, outras referências bibliográficas e foram organizadas oficinas com professores da rede
para debater status, tendências e dilemas das organizações contem- documentais, sites da região com informações sobre pública para que os autores apresentassem a sua pro-
porâneas de mídia. Nossos desejos de uma boa leitura. turismo local e de moradores. posta metodológica.

Reitor: Ricardo Vieiralves Vice-Reitor: Paulo Roberto Volpato


Diretoria de Comunicação Social • Direção: Sonia Virgínia Moreira UERJ em Questão — Edição de texto: Sonia Virgínia Moreira Pauta e redação: Graça Louzada Reportagem: Fausto Jr. ,
Lorena Forti, Mayana Garcia, Mirella Arruda e Ricardo Nicolay Fotos: Thiago Facina Projeto Gráfico e Editoração: Rafael Bezerra
Tiragem: 10.000 exemplares Impressão: Infoglobo • Contatos: 21 2334-0638 e comuns@uerj.br
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UERJ em Questão MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 / 3

Reitor da UERJ recebe título da Presidente da Capes é homenageado na UERJ


Em cerimônia realizada no
Câmara Municipal de Nova Friburgo

ANDRE BITTENCOURT
dia 23 de maio na Capela Ecu-
mênica do campus Maracanã,

AMANDA TINOCO / JORNAL A VOZ DA SERRA


o professor Jorge Almeida
Guimarães, presidente da
Coordenação de Aperfeiço-
amento de Pessoal de Nível
Superior (Capes), recebeu uma
tripla condecoração: o título
de Grão-Oficial da Ordem do
Mérito José Bonifácio, con-
cedido pela UERJ, a Medalha
Henrique Morize, instituída
pela Academia Brasileira de
Da esquerda para a direita, o presidente da câmara municipal de Nova Friburgo, vereador Marcio Damazio,
Ciências e uma placa distintiva
o Reitor da UERJ, Ricardo Vieiralves, e o prefeito de Nova Friburgo Rogério Cabral oferecida pelo Instituto Nacio- O professor Jacob Palis Não podíamos de maneira
Na véspera do aniversário de 196 registrou ainda que em iniciativa nal de Metrologia, Qualidade Júnior, presidente da Acade- alguma ficar de fora dessa
anos de Nova Friburgo (em 16 de apoiada pelo Reitor, também está e Tecnologia (INMETRO). mia Brasileira de Ciências, fez homenagem”.
maio), a Câmara Municipal outor- em curso a segunda turma do curso Ao abrir a solenidade, o questão de explicar o simbo- Jorge de Almeida Guima-
gou a Comenda Barão de Nova Fri- de direito civil-constitucional, Reitor Ricardo Vieiralves lismo da Medalha ao homena- rães completou dez anos como
burgo ao Reitor da Universidade do "em convênio com a OAB, e sob a enfatizou a importância da geado: “Além da sua relevante presidente da Capes em 9 de
Estado do Rio de Janeiro, profes- coordenação do professor Gustavo homenagem: “Concedemos a contribuição como cientista, fevereiro desse ano. Gradu-
sor Ricardo Vieiralves, em soleni- Tepedino, um dos maiores civilistas Ordem do Mérito José Boni- Henrique Morize foi quem ado em Medicina Veterinária
dade no Teatro Municipal Laercio brasileiros, que vai favorecer a for- fácio, a maior comenda que a estabeleceu o princípio, que e doutor em Ciências Biológi-
Rangel Ventura. A comenda, que mação de excelência de dezenas de UERJ pode oferecer a um cida- prevalece até hoje, de eleger- cas, foi professor da Universi-
é a mais alta condecoração conce- advogados”. dão, ao nosso querido Jorge mos somente os melhores dade Federal Rural do Rio de
dida pela instituição, foi criada em Atualmente cerca de 800 alunos Guimarães. Ela já foi entregue cientistas para a ABC. Para Janeiro, da Faculdade de Medi-
18 de junho de 1993 e é concedida estão inscritos nos cursos de gra- a presidentes da República, a nós é muito significativo que cina de São José do Rio Preto,
anualmente pela instituição. No duação em Engenharia Mecânica ministros de Estado, a gran- seja o acadêmico Jorge Gui- da Universidade Estadual de
seu discurso durante a solenidade, e Engenharia de Computação e no des intelectuais, a pessoas da marães, que tanto tem apoiado Campinas, da Universidade
o presidente da Câmara Municipal Programa de Pós-graduação – cur- monta do nosso homenageado as atividades da nossa Aca- Federal Fluminense e da Uni-
de Nova Friburgo, vereador Márcio sos de Modelagem Computacio- de hoje. Devo ressaltar, porém demia, o primeiro a receber versidade Federal do Rio de
Damázio, disse estar feliz pela ini- nal (mestrado e doutorado) e de que a nossa maior insígnia essa comenda”. O professor Janeiro, onde recebeu em 1999
ciativa de indicar o nome do Reitor Ciência e Tecnologia dos Materiais ainda é singela se comparada Oscar Acselrad, presidente o título de Professor Emérito.
da UERJ para a homenagem: “Sabe- (mestrado). à ação acadêmica e política interino do INMETRO, des- Atualmente é professor da
mos da importância da Universi- Ao agradecer o Reitor disse que desse brasileiro. Tê-lo a par- tacou a contribuição da Capes Universidade Federal do Rio
dade para a nossa cidade, que apesar "as reflexões sobre esse tempo de tir de agora como integrante ao Instituto durante a gestão Grande do Sul. Já foi diretor
das dificuldades enfrentadas pela minha vida, que os senhores me do corpo permanente desta do homenageado ao entregar a do CNPq; presidente da Socie-
tragédia das enchentes em 2011, vem obrigaram a fazer, e que pensava Universidade é uma honraria placa distintiva a Jorge Guima- dade Brasileira de Bioquímica
fazendo um excelente trabalho”. perdido, transformaram aqueles maior que a homenagem que rães: “Nos últimos dez anos, o e Biologia Molecular por duas
Depois do presidente da Câmara acontecimentos, pessoas e situa- lhe prestamos. Sua presença Instituto teve um desenvolvi- vezes e secretário do Ministé-
Municipal, foi a vez do vereador ções de muitos anos atrás em algo só engrandece e eleva o nome mento considerável, passando rio de Ciência e Tecnologia.
Marcelo Verly (que também é ser- vivo e tangível. Recordar não é da UERJ”. Em seguida, a pro- a ser também reconhecido Ao final da cerimônia o
vidor da Universidade no campus de somente lembrar. Recordar é atri- fessora Thereza Fidalgo, do como gerador e produtor de homenageado autografou
Nova Friburgo) fazer o discurso. Ele buir sentido e tornar vivo o que Instituto de Biologia Roberto conhecimento. Não mera exemplares do seu livro A pós-
lembrou na solenidade que a Uni- estava adormecido. Considerei que Alcântara Gomes, foi convo- coincidência, nesse mesmo -graduação e a evolução da produ-
versidade foi precursora na oferta a Comenda Barão de Nova Friburgo cada pelo Reitor para saudar o período nosso homenageado ção científica brasileira, escrito
de vagas através da política de me foi concedida pela história de homenageado representando foi quem esteve à frente da em coautoria com Elenara
cotas, “que tem sido um excelente minha família na cidade. E, por esse os docentes da Universidade. Capes. Seu espírito empreen- Chaves Edler de Almeida. A
instrumento de inclusão social motivo, penso haver justiça e razão Em seu discurso ela destacou a dedor, sua imensa capacidade obra retrata a história da pós-
e de reparação de desigualdades na honraria que hoje recebo”. lição do amigo e ex-orientador de liderança e sua sensibili- -graduação no Brasil desde
históricas, e atuante também no Além da homenagem ao Reitor de doutorado: “Jorge Almeida dade para identificar e apoiar a fundação da Capes em 1951
fortalecimento do Cederj – Centro foram indicados e concedidos pelos Guimarães, mestre na ciência iniciativas que contribuam e apresenta indicadores da
de Educação Superior a Distância 21 vereadores da Câmara Municipal e na vida, ensinou-me a olhar para o desenvolvimento cien- evolução da participação da
do Estado do Rio de Janeiro, atual- 41 títulos de cidadão friburguense a educação como único cami- tífico e tecnológico do nosso comunidade científica bra-
mente com vários cursos em Nova a figuras de destaque em diversos nho e ter o conhecimento país foram fundamentais para sileira no âmbito nacional e
Friburgo e região”. O vereador segmentos do município. como grande paixão”. o crescimento do INMETRO. mundial.
4 / MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 UERJ em Questão

Biblioteca do IESP leva o nome de um Professora do Instituto de Biologia é eleita


dos principais autores da ciência política para Academia Europeia de Ciências e Artes
Pesquisadores e visitantes do Insti- e contribuiu para destacar o seu autor

ANDRÉIA RÊGO
tuto de Estudos Sociais e Políticos da como nome importante para o pensa-
UERJ agora podem usufruir de uma mento político no país.
nova e mais completa biblioteca espe- Segundo o professor Adalberto Car-
cializada em Sociologia e Ciência Polí- doso, diretor do IESP, a doação do pro-
tica: a biblioteca Wanderley Guilherme fessor Wanderley Guilherme dos Santos
dos Santos, espaço que leva o nome do foi decisiva para que o movimento de
grande estudioso do campo da Ciência estruturação da biblioteca ganhasse
Política no Brasil e um dos fundadores peso: “Essa homenagem na figura do
do Instituto. professor Wanderley é uma homenagem
Para estruturar o acervo com a aqui- a toda uma geração que construiu este
sição de títulos via financiamentos, Instituto e às gerações que a sucederam”. A professora Eliete Bouskela, do Ins- prementes) relativas à sustentabilidade
convênios e, principalmente, doações A proposta de honraria a ser rece- tituto de Biologia Roberto Alcântara e ao próprio sucesso da vida em comum.
de alunos, ex-alunos, professores e pes- bida em vida, pouco comum nos dias Gomes (IBRAG-UERJ), teve a sua atuação Compõem atualmente a Academia
quisadores de todo o Brasil. Antes do atuais, foi prontamente aceita pelo Rei- acadêmica reconhecida mais uma vez por Europeia representantes de 74 países,
processo de intensificação as aquisições, tor, que associou a escolha do nome da uma entidade científica. Depois de ter sido distribuídos em sete áreas do conhe-
o acervo do Instituto reunia cerca de biblioteca à eternização do professor eleita em 2004 para a Academia Nacional cimento: Artes; Ciências Naturais;
3.000 volumes. A maior parte pertencia Wanderley: “A Universidade é uma ins- de Medicina, em 2006 para a Académie Ciências Sociais; Ciências Técnicas,
à biblioteca da Faculdade Latino-Ame- tituição muito pretensiosa e lida com Nationale de Médecine, na França, e em Ambientais e Religiões; Direito e Eco-
ricana de Ciências Sociais (FLACSO), eternidades. Então estamos eternizando 2013 para a Academia Brasileira de Ciên- nomia; Humanidades; Medicina. Entre
antes sediada em Brasília e há quatro o professor”, disse o professor Ricardo cias, ela foi eleita em março de 2014 para os seus integrantes, 29 conquistaram o
anos abrigada no IESP. Agora a biblio- Vieiralves na inauguração do espaço. A a Academia Europeia de Ciências e Artes. Prêmio Nobel (oito em Física, oito em
teca Wanderley Guilherme dos Santos essa observação, o professor Wanderley A professora disse que duas situa- Química, sete em Medicina, três em
reúne 16 mil títulos, entre periódicos, respondeu: “É complicado ser eternizado ções a motivaram para a candidatura Economia e três o Prêmio Nobel da
teses, livros etc. Trata-se de uma biblio- dessa forma, estando presente. Mas em mais recente: “Notei que entre os poucos Paz). Eliete Bouskela é o segundo nome
teca especializada na área de Sociologia qualquer lugar que eu esteja, quero ser latino-americanos que conquistaram latino-americano na área de Medicina:
e Ciência Política, com parte do acervo eternamente grato ao reconhecimento lugar na Academia Europeia, não havia antes dela, a região era representada
dedicado a áreas correlatas, como Filo- do Reitor e da Instituição”. A cerimônia sequer um representante do Brasil, assim pelo médico e professor argentino
sofia, Economia, História. de descerramento da placa de inaugura- como nenhuma mulher. Já era hora de Florentino Sanguinetti. Para a profes-
O professor Wanderley Guilherme ção da Biblioteca aconteceu no dia 21 de uma cientista brasileira ocupar esse sora Eliete Bouskela, o diálogo propor-
dos Santos foi um dos maiores incen- março, durante encontro da Associação espaço. Além disso, achei atrativa a pro- cionado pela Academia Europeia entre
tivadores desse processo de estrutura- Brasileira de Ciência Política. O ato foi posta da instituição de discutir os temas especialistas de várias nacionalidades
ção ao doar 5.000 títulos do seu acervo conduzido pelo professor Adalberto da ciência de forma mais ampla, aberta é bastante vantajoso para o desenvol-
pessoal: “Não me custou a doação, por- Cardoso e pelo Reitor com a presença a outros campos do saber. Foram essas vimento da Ciência: “Estudar o que
que na verdade eu estava doando a mim do homenageado. Também estiveram duas razões, muito fortes, que me fizeram ocorre somente em um ou outro lugar
mesmo”, disse. Nascido em 1935, o pro- presentes a companheira do professor aceitar o conselho do colega americano é pouco produtivo. É importante conhe-
fessor Wanderley é doutor em Ciência Wanderley, Ana de Hollanda, e seu filho, Marcos Intaglietta, membro da Acade- cer o que acontece em outras partes do
Política pela Universidade de Stanford, o professor do IESP Fabiano Guilherme mia, e me candidatar”. mundo, o que os outros estudam, as dife-
nos Estados Unidos, e professor aposen- Mendes Santos, além de amigos e fami- Fundada em 1990 na Áustria, pelo rentes abordagens, as variadas formas de
tado do IESP. Ele ajudou a criar o Insti- liares. cirurgião cardíaco Felix Unger, Franz ser, porque o trabalho científico exige
tuto – na época, Instituto Universitário A biblioteca Wanderley Guilherme Cardinal König (arcebispo de Viena) vivência. Tudo é, sem dúvida, enrique-
de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) dos Santos integra a Rede Sirius e está e por Nikolaus Lobkowicz (filósofo e cido pelo acúmulo de experiências”.
entre 1966 e 1969, no período do regime aberta ao público interno e externo cientista político), a Academia Euro- Professora da UERJ desde 1977, Eliete
militar, durante o qual afirma ter ocor- de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h. peia de Ciências e Artes nasceu com a Bouskela criou em 1994 o Laboratório de
rido um “genocídio intelectual”: “Mesmo Como o Instituto se dedica a cursos de proposta de examinar sob novas pers- Pesquisas em Microcirculação, ligado ao
dentro de um contexto de intimidação e mestrado e doutorado, o espaço atende pectivas os problemas enfrentados pela Departamento de Ciências Fisiológicas
terror, o Instituto jamais alterou a liber- principalmente estudantes e professo- Europa no final do século XX. A ideia do IBRAG. Atualmente coordena a Pós-
dade de pensamento e da pluralidade das res da pós-graduação. “Uma biblioteca foi criar uma rede de cientistas e artistas -graduação em Fisiopatologia Clínica e
suas abordagens”, afirmou o cientista é viva, porque ela vai crescendo e se que tratasse de temas relevantes para a Experimental (FISCLINEX), programa
político. Aos 27 anos – dois anos antes modificando. Nós temos cursos novos sociedade, de forma interdisciplinar e multidisciplinar voltado para a solução
do golpe que derrubou o presidente sempre, o que exige livros e faz com que transnacional. Para os três idealizadores de doenças crônicas – como obesidade,
João Goulart da Presidência da Repú- seja sempre viva”, comentou o professor da Academia, o nível de especialização diabetes e hipertensão – que exigem a
blica e resultou na ascensão de militares Adalberto. Os títulos que fazem parte do a que havia chegado o conhecimento integração de diversas especialidades.
ao poder, o professor publicou o artigo acervo da Faculdade Latino-Americana científico tornara-se um bloqueio à Também é presidente do Conselho
intitulado Quem vai dar o golpe no Bra- de Ciências Sociais também estão inte- visão do todo, dificultando a solução de Superior e coordenadora da área de
sil?. Esse texto gerou grande repercussão grados à biblioteca. questões fundamentais (e cada vez mais Saúde na FAPERJ.
UERJ em Questão MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 / 5

O futebol e o Brasil: livros da EdUERJ sobre as Lançamentos da Editora


relações entre o futebol e a “pátria de chuteiras” A TEORIA FÍSICA: SEU OBJETO E SUA ESTRUTURA
Sessenta e quatro anos depois da primeira Social, e Alvaro do Cabo, doutorando do Pro- Pierre Duhem
Copa do Mundo da FIFA no Brasil, o país se grama de Pós-graduação em História Comparada Obra de destaque para o desenvolvimento
prepara para receber novamente o campeonato da UFRJ e professor da Universidade Candido da filosofia da ciência no século XX, original-
mundial de futebol no momento em que a reali- Mendes. A escolha das Copas obedeceu a dois mente publicado em 1906, o livro de Pierre
zação do evento é tema de várias manifestações, critérios: a classificação da seleção no torneio e a Duhem analisa as relações entre a metafísica e
o que reforça a importância da reflexão para a dimensão simbólica dos resultados na imprensa a ciência, determinando a verdadeira natureza
compreensão do significado dos megaeventos e junto à sociedade brasileira. Dentre os campe- da teoria física, permitindo a compreensão dos
esportivos e da mobilização social gerada em onatos mundiais analisados, o Brasil foi campeão pressupostos metodológicos e as consequências filosóficas dos
torno deles. No ano da Copa no Brasil (e também em cinco (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002) e ficou em modelos e teorias usados pelos cientistas em suas tentativas de
de celebração dos 20 anos de fundação da Editora segundo lugar em dois (1950 e 1998). Outros dois descrever racionalmente os fenômenos naturais.
da UERJ), dois livros dedicados ao estudo do tema campeonatos mundiais foram escolhidos porque
e suas relações com a “pátria de chuteiras” estão os autores julgaram que um inaugurou a “cons- REDAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS: TEORIA E PRÁTICA
sendo lançados: Copas do Mundo - Comunicação trução” da fundação simbólica do esporte no país - 6ª EDIÇÃO
e identidade cultural no país do futebol, organizado (1938) e outro colocou em questão essa fundação Claudio Cezar Henriques e Darcilia Simões (orgs.)
por Ronaldo Helal e Alvaro do Cabo, e Entradas (1982). A Copa das Confederações de 2013 foi sele- Os ensaios reunidos neste livro apresentam
e bandeiras – A conquista do Brasil pelo futebol, cionada por ser a mais recente e por conta das aspectos relacionados à elaboração dos diferen-
de Gilmar Mascarenhas. Ao completar duas manifestações que gerou em várias cidades bra- tes textos acadêmicos exigidos durante o ensino
décadas, a EdUERJ se consolida como agente de sileiras. Para Alvaro do Cabo, “o lançamento do superior. Abordada em detalhes, a monografia é
divulgação do conhecimento produzido na Uni- livro às vésperas da Copa no Brasil pode ampliar analisada nesta obra como um trabalho que pos-
versidade com qualidade editorial. o debate sobre as relações possíveis entre futebol, sibilita ao estudante universitário o aprimora-
Os dois livros tentam compreender a impor- mídia e nação. É também uma oportunidade de mento da sua capacidade de articular várias disciplinas e expor
tância do esporte para os brasileiros e como see ddiscutir de maneira suas ideias com clareza e precisão.
desenvolveu desde que chegou no país no final aaprofundada a impor-
do século XIX. O futebol começou ç ttância das Copas para FEMINILIDADES: CORPOS E SEXUALIDADES EM DEBATE
como esporte dee ricos o imaginário coletivo Daniele Andrade da Silva, Jimena de Garay Hernandez, Aureliano
e, com o tempo,, foi se n nacional e o papel do Lopes da Silva Junior e Anna Paula Uziel (orgs.)
transformando até se ffutebol para a própria Resultado das discussões apresentadas no
popularizar. O professor
rofessor cconstrução identitária Seminário “Corpos, Sexualidades e Feminili-
Gilmar Mascarenhas
arenhas da nação brasileira”.
d dades”, realizado em 2012 na UERJ, este livro
explica em seuu livroliv
vro O livro Entradas e propõe uma série de discussões sobre o corpo e
que nos últimos oss 15
15 BBandeiras – A conquista distintas formas de feminilidades, em múltiplos
anos surgiu um m ddo Brasil pelo futebol, e amplos contextos.
movimento paraa ddo professor do Ins-
“reelitizar” o tituto de Geografia NUNO RAMOS POR JÚLIA STUDART
futebol – seja pelo
o da UERJ, Gilmar Júlia Studart
aumento do preço reço
ço Mascarenhas, mostra um olhar da Geografia
M A Coleção Ciranda pretende levar ao lei-
dos ingressos ouu pela sobre o processo de desenvolvimento do fute-
so tor de poesia exercícios de análise literária
“aniquilação dos espaços populares” nos estádios. bol no país desde o final do século XIX até 2014, das obras de poetas contemporâneos. O novo
Algumas pessoas entendem que a Copa de 2014 vai incluindo a realização da Copa. Ele explica que o livro da coleção traz uma revisão crítica da
acelerar este processo com a adequação dos estádios livro começa com a chegada do futebol no Brasil, produção do pintor, desenhista, escultor,
ao padrão e às exigências da FIFA, Federação Inter- introduzido pelos ingleses no Rio Grande do Sul escritor, cineasta, cenógrafo e compositor
nacional de Associações de Futebol, a autoridade como resultado da influência de dois dos países Nuno Ramos, feita pela poeta e professora Júlia Studart, da
mundial do setor. A Copa do Mundo é a maior com- platinos, Argentina e Uruguai, “berço do fute- Escola de Letras da Unirio.
petição internacional de esporte único, disputada bol na América do Sul”, e da imigração alemã na
por 32 seleções masculinas de 208 federações afi- região, que desde o século XIX tinha uma cul- TERESA CRISTINA DE BOURBON: UMA IMPERATRIZ NAPOLITANA
liadas à FIFA. Segundo dados da Federação, dentre tura esportiva muito forte, sobretudo a ginás- NOS TRÓPICOS - 1843-1889
os 19 campeonatos mundiais de futebol o Brasil é o tica: “O futebol chega a várias cidades do país, a Aniello Angelo Avella
único país a ter disputado todos os torneios desde a população toma conhecimento desta nova prá- Mais do que simples biografia, o livro de
primeira Copa em 1930. tica esportiva, mas ainda não desperta interesse Aniello Angelo preenche uma lacuna histo-
Analisar os momentos em que a Seleção Bra- por ele porque existia uma grande barreira a ser riográfica, devolvendo voz à imperatriz Teresa
sileira consolidou-se como paixão comum de vencida — a da corporeidade, que está arraigada Cristina de Bourbon, mulher de Dom Pedro II,
todas as classes sociais: essa é a proposta do livro em uma atitude sedentária, pois quem realmente uma das personalidades que mais contribuí-
Copas do Mundo: Comunicação e identidade cultural realizava trabalhos físicos ou de esforço eram os ram para a formação da identidade do Brasil e
no país do futebol, organizado pelos professores escravos. Por este motivo as pessoas queriam se o desenvolvimento das relações culturais, sociais e políticas
Ronaldo Helal, da Faculdade de Comunicação afastar da identidade do pobre e do escravo.” entre Brasil e Itália.
6 / MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 UERJ em Questão

O legado da professora Yonne Moniz Reis


Persistência, firmeza, amabilidade e empreende- à Universidade. Sob a sua liderança, no final dos

ARQUIVO DA FAMÍLIA
dorismo marcaram, segundo amigos e colegas de anos 70 sentíamos orgulho ao constatar que o curso
profissão, a vida da professora e ex-diretora do Ins- de Psicologia da UERJ havia se tornado um dos
tituto de Psicologia da UERJ, Yonne Moniz Reis, que que mais aprovava alunos em concursos, tanto para
faleceu no dia 28 de fevereiro aos 89 anos. A profes- órgãos públicos como privados, assim como um dos
sora esteve na direção do Instituto entre 1976 e 1980, que mais firmava convênios com o intuito de ofere-
como diretora, e entre 1971 e 1975 como vice-diretora. cer vagas de estágio aos nossos estudantes”.
O curso de Psicologia foi criado em 1964, dois anos Outro ex-aluno que depois também seria colega de
depois de a profissão de psicólogo ter sido regula- Yonne Moniz no Instituto de Psicologia é o professor
mentada. Na sua origem, o Instituto fazia parte do aposentado Wilson Moura. Ele ratifica a importância
Departamento de Pedagogia da Faculdade de Edu- da professora para a consolidação do Instituto: “Não
cação, que integrava a Faculdade de Filosofia, Ciên- há dúvida de que a solidez do curso de Psicologia da
cias e Letras. Depois esteve vinculado ao Instituto UERJ se deve, em grande parte, à visão política e à
de Biologia entre 1968 e 1971, ano em que a Resolu- tenacidade da professora Yonne Moniz Reis. Por trás
ção nº 382 do Conselho Universitário o transformou da sua meiga forma de se relacionar, se escondiam um
em unidade do Centro de Educação e Humanidades. grande talento empreendedor, uma forte determina-
Nesse período, o Instituto de Psicologia abrangia o ção, a capacidade de integrar e a de avançar sem criar
curso de Relações Públicas, que em 1986 deu origem à "Sua meta refletia a visão pluralista inimizades. As mudanças de endereço do curso de
Faculdade de Comunicação Social. que tinha daquilo que deva ser uma Psicologia, inicialmente localizado na Rua Haddock
Em depoimento no volume Memória do Curso de Lobo, na Tijuca, depois na Rua Fonseca Teles, em São
instituição. Quando algum problema
Psicologia da UERJ (1991), que organizou em home- Cristóvão, e por último na sua sede definitiva no cam-
nagem ao Instituto de Psicologia quando se apo-
surgia, não hesitava em reunir a equipe pus Maracanã, foram acompanhadas de vários desa-
sentou, a professora Yonne Moniz destacou o clima para resolvê-lo em conjunto. Sua fios. A escassez de verbas e os entraves burocráticos
democrático do Instituto, herdado da direção que a dedicação era integral à Universidade" foram sabiamente vencidos por ela, através de con-
antecedeu, que se contrapunha ao momento político vênios com órgãos federais, estaduais e municipais,
(período do regime militar) que atravessava o Brasil: me incluo. Eu e ela divergíamos muito, mas nunca que propiciaram oportunidades de aperfeiçoamento
“Considero de grande importância ressaltar o fato de houve animosidade entre nós. Ela era o exemplo de ao corpo docente e ao discente, além do ingresso de
ter recebido da direção anterior, do professor Eliezer que é possível ser firme sem deixar de ser gentil. recursos financeiros que minimizaram a escassez
Schneider, um clima liberal, de compreensão e tran- Considero-a fundamental tanto na minha forma- das dotações oficiais da época. No momento em que
quilidade, o que contribuiu em muito para a solução ção profissional como na formação do meu caráter. ela definitivamente nos deixa, nos cabe a obrigação
de impasses e dificuldades advindas, em grande parte Sempre gostei dela e sempre a admirei. Mais tarde, de preservar o seu lugar de destaque na memória do
da abertura política tão esperada e não pronunciada. já como seu colega de profissão, passei a confessar Instituto, para que as próximas gerações, ao usufruí-
A atuação dos alunos, suas reivindicações e inicia- publicamente o que sentia por ela. Ela era uma pes- rem de todos os benefícios à sua disposição, nunca se
tivas sempre foram consideradas, embora limitadas soa extremamente hábil politicamente, com grande esqueçam da dívida de gratidão com esta professora
por um contexto ainda repressor. Nada impediu que capacidade de negociação. Ela conseguiu fazer do que, com sua bondade, humildade e dedicação, con-
a partir dos mesmos se organizassem um Centro Aca- curso de Psicologia da UERJ um curso de elite, em tribuiu para que o Instituto de Psicologia atingisse o
dêmico e um Psicocine (Cine Clube), se realizassem termos de investimentos. Durante a sua gestão como padrão de qualidade que tem hoje”.
Semanas de Calouros, Feiras de Livros, Semanas de diretora a graduação tinha equipamentos de primeira Segundo a professora Ana Jacó, do Instituto de
Psicologia, palestras, seminários e encontros, como linha e não faltavam professores”. Psicologia, deve-se ainda à professora Yonne Moniz
também se mantivessem quadros murais e informa- Para a professora aposentada Alba Lúcia Moura, a instalação na UERJ, em 1967, do Serviço de Psico-
tivos, o que configura o espírito democrático que também ex-aluna de Yonne Moniz e que, como pro- logia Aplicada – SPA (que hoje leva seu nome) e a
sempre existiu no Instituto, embora reinasse no país fessora do Instituto, foi sua substituta na disciplina criação do cargo de psicólogo em 1976. Desde a sua
o regime de exceção,” escreveu. Testes Psicológicos, a professora Yonne “tinha como criação está voltado para a formação prática do psi-
Ex-aluno e mais tarde professor do Instituto, o maior preocupação a consolidação de um quadro de cólogo ao oferecer atendimento supervisionado ao
Reitor Ricardo Vieiralves comentou a sua convivên- professores e funcionários que se dispusesse a tra- público interno e externo à Universidade. Antes de
cia com a professora: “Yonne foi quem, na graduação, balhar pelo Instituto de Psicologia, independente- trabalhar na Universidade, a professora integrou
me ensinou a técnica de Rorschach, o famoso teste mente de questões de cunho ideológico-partidário. em 1956 a equipe técnica do Serviço de Ortofrenia e
psicológico que usa pranchas com manchas simé- Sua meta refletia a visão pluralista que tinha daquilo Psicologia do Instituto de Pesquisas Educacionais da
tricas de tinta. Ela era especialista em testes clíni- que deva ser uma instituição. Quando algum pro- Prefeitura do Distrito Federal; atuou de 1959 a 1966
cos e uma ótima professora. Como diretora, teve de blema surgia, não hesitava em reunir a equipe para no Serviço de Orientação Educacional do Colégio de
lidar com alunos muito combativos – entre os quais resolvê-lo em conjunto. Sua dedicação era integral Aplicação (CAp-UERJ) e foi professora e orientadora
educacional entre 1961 e 1969 na Escola Normal Júlia
Kubitschek. Na Associação Brasileira de Psicologia
Deve-se à professora Yonne Moniz a instalação na UERJ, em 1967, do Serviço de Psicologia Aplicada – ABPA, a professora Yonne exerceu as fun-
Aplicada – SPA (que hoje leva seu nome) e a criação do cargo de psicólogo em 1976 ções de tesoureira (1973), primeira vice-presidente
(1976 e 1982) e presidente (1979).
UERJ em Questão MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 / 7

Universidade economiza com Rede Mata Atlântica do Programa de


licitações por pregão eletrônico Pesquisa em Biodiversidade inaugura site
O pregão eletrônico é a modalidade de licitação mais A Rede Mata Atlântica (PPBio. ecossistemas com certo nível de Programa: inventários biológicos
utilizada na UERJ para contratação de serviços e aquisição MA), que integra o Programa de Pes- homogeneidade) que compreende a (número e composição de espé-
de produtos, sendo no estado do Rio de Janeiro o órgão que quisa em Biodiversidade (PPBio), costa nordeste, sudeste e sul do Bra- cies, formas de associação das
mais licita por este meio. Apenas em 2013 foram realizadas criado em 2004 pelo Ministério sil, leste do Paraguai e a província de espécies entre si e com o ambiente
cerca de 550 licitações e no primeiro trimestre de 2014 a de Ciência, Tecnologia e Inovação, Misiones, na Argentina. etc.); coleções biológicas (acervos)
soma chega a 98 processos licitatórios. A economia obtida está com o seu site na internet, Dados do Ministério do Meio e projetos temáticos. Para a profes-
em relação às outras modalidades está em torno de 30%. O em <www.ppbioma.uerj.br>. Os Ambiente mostram que no trecho sora Helena Bergallo, a maior con-
pregão foi criado depois da Lei 8666/93, que instituiu nor- objetivos gerais do PPBio compre- brasileiro da Mata Atlântica a vege- tribuição do PPBio é permitir o
mas para licitações e contratos da administração pública, endem: intensificar estudos sobre tação nativa foi reduzida a pouco acesso a informações metodologi-
por meio da Lei 10.520/02, que dispôs sobre a modalidade biodiversidade no Brasil, descentra- mais de 22% da cobertura original e camente padronizadas, resultantes
de licitação denominada pregão para aquisição de bens e lizar a produção científica, integrar esse remanescente apresenta dife- da integração de pesquisas desen-
serviços, e do Decreto 5.450/05, que regulamentou o pregão as atividades de pesquisa e divulgar rentes estágios de regeneração. Na volvidas em diferentes ramos da
na forma eletrônica. A UERJ utiliza esse processo desde a os resultados para diferentes finali- Mata Atlântica são encontradas biologia. Para ela, essa integração é
primeira gestão do Reitor Ricardo Vieiralves (2008-2011), dades – como, por exemplo, gestão cerca de 20 mil espécies vegetais fundamental: “Não se compreende
quando o governo do estado também implantou o Sistema ambiental e educação. (equivalentes a 35% das existentes ecossistema, ou seja, as relações
Integrado de Gestão de Aquisições – SIGA. A gestão do Programa é feita no Brasil), inclusive espécies endê- entre os elementos bióticos (plan-
É nessa plataforma eletrônica que a Coordenadoria Técnica pelo próprio Ministério via dois micas e ameaçadas de extinção; tas, animais, bactérias etc.) e os abi-
de Licitações e Contratos (Coteli), da Diretoria de Administra- tipos de núcleos: os executores (NE) o número de espécies vegetais é óticos (rochas, água, solo, vento,
ção e Finanças (DAF), realiza os pregões da Universidade. Além e os regionais (NR). Os núcleos exe- maior que a de alguns continen- energia solar etc.), que atuam con-
da economia financeira obtida, a modalidade permitiu que cutores coordenam as atividades tes (na América do Norte está em juntamente em um determinado
empresas de outras cidades ou estado participassem do pro- de pesquisa, de gerenciamento das torno de 17 mil e na Europa pró- espaço na superfície terrestre, sem
cesso: “O pregão eletrônico é democrático porque a adminis- informações da Rede (incluindo xima a 12 mil); há 849 espécies de interligar o que se sabe, de forma
tração pode comprar um produto sem a limitação geográfica fóruns de discussão para a criação de aves, 370 de anfíbios, 200 de rép- especializada, sobre cada um des-
da empresa ofertante. Para a UERJ, que tem campi em outros protocolos que possibilitem a com- teis, 270 de mamíferos e cerca de ses elementos. É preciso estabe-
municípios, foi produtivo, pois uma empresa da região tem as paração de dados) e de capacitação 350 espécies de peixes. Por ser uma lecer um diálogo. E esse diálogo
mesmas chances e podemos economizar inclusive com o frete”, para a instalação da infraestrutura das regiões do mundo mais ricas é certamente facilitado quando
explica o coordenador da Coteli, Fábio Amandula. RAPELD – metodologia identifi- em biodiversidade, sua preserva- se usa uma linguagem comum –
A utilização do sistema on-line também fez com que os fun- cada pela junção da sigla em inglês ção é prioritária, pois tem impor- no caso, a metodologia RAPELD.
cionários que trabalham com os processos ganhassem tempo. ‘RAP’ (para ‘inventários rápidos’) e tância vital para aproximadamente Isso permite que determinados
Nas modalidades anteriores, os documentos eram verificados da sigla em português ‘PELD’ (para 120 milhões de brasileiros que prognósticos sejam traçados de
primeiro, mas no pregão eletrônico houve uma inversão de ‘pesquisas ecológicas de longa dura- vivem em sua área, além de regular maneira mais acelerada e consis-
fases e os lances passaram a ser a primeira etapa do processo: ção’). Os oito núcleos executores se o fluxo de mananciais hídricos e tente”, explica.
“É como um leilão ao contrário. Quem faz a melhor oferta é distribuem da seguinte maneira: assegurar a fertilidade do solo. O professor Bruno Rosado,
selecionado para em seguida ser verificada a documentação”, um na Amazônia Ocidental, um na Todos os núcleos do PPBio do Departamento de Ecologia do
diz Amandula. O pregão eletrônico também possibilita que Amazônia Oriental, um na região trabalham para a ampliação e a IBRAG e vice-coordenador da
o pregoeiro negocie e peça descontos, o que gera economia do Semiárido, um nos Campos disseminação do conhecimento Rede Mata Atlântica, assinala que
para a Instituição. O SIGA permite ainda uma integração com Sulinos, dois do Cerrado e dois na sobre a biodiversidade brasileira “esses prognósticos são úteis para
outros sistemas públicos de acompanhamento de processos, Mata Atlântica. São coordenados ao produzir e apresentar on-line os pesquisadores e, especialmente,
execução orçamentária, financeira, logística e armazena- pela professora Helena Bergallo, do dados gerados pelos chamados para os gestores ambientais, que
mento. Tudo isso possibilita a realização de levantamento de Departamento de Ecologia gia do Ins- “componentes”
componentes do necessitam cada vez mais
preços e a visualização do que outros órgãos estão comprando, tituto de Biologia Roberto
to de rapidez e segurança
de quem e por qual valor. “Isso se tornou mais uma ferramenta Alcantara Gomes da na tomada de decisões
para negociação”, segundo Fábio Amandula. UERJ, reúnem 102 para garantir o futuro das
A UERJ publica no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro pesquisadores de uni- próximas gerações.” No
todos os pregões eletrônicos a ocorrer – e também em jornal versidades públicas site podem ser encontra-
de grande circulação quando se trata de compras com valor e privadas distribuí- das informações sobre a
inicial acima de R$ 160 mil, como prevê a Lei 8666. Após o dos entre os estados Rede Mata Atlântica e seus
encerramento do pregão eletrônico no sistema, a empresa do Rio de Janeiro, núcleos regionais, coleções
vencedora (que apresentou preços mais baixos) tem até três do Paraná, de Santa biológicas, projetos temáti-
dias úteis para enviar os documentos que comprovem a Catarina, da Bahia e cos e referentes à legislação
habilitação da documentação e do produto, quando o edital de Pernambuco. Essa ambiental, além de publi-
exigir qualificação técnica. Atualmente esse setor da DAF distribuição se deve cações da Rede e mapas de
possuiu sete pregoeiros. “Com o advento do pregão ele- à própria configura- sítios de inventários bio-
trônico foi aberto o caminho para um processo bem mais ção da Mata Atlântica, a, llógicos, notícias e agenda de
transparente”, diz coordenador da Coteli. um bioma (conjunto de diferentes eventos e cursos.
eve
8 / MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 UERJ em Questão

> ESPECIAL
Conferência de economia e gestão de mídia debate estudos e
perspectivas de organizações brasileiras e estrangeiras do setor*
No encontro de quatro dias que reuniu menores índices de concentração de mídia
pesquisadores do exterior e do Brasil, a de plataforma. Entre os fatores que inter-
palestra "Panorama da mídia no Brasil" ferem mais diretamente na concentração
do professor brasileiro Rosental Calmon da mídia em cada país, Noam considera o
Alves, da Universidade do Texas em Aus- tamanho da população, a riqueza da nação
tin, abriu a 11ª Conferência Mundial de e a intervenção do governo nas políticas
Economia e Gestão de Mídia (11th World de mídia e comunicação: “Entre os países
Media Economics and Management em desenvolvimento, temos observado
Conference) na manhã do dia 13 de maio uma grande participação do governo no
na Universidade do Estado do Rio de controle das empresas de mídia, ainda que
Janeiro. O foco da apresentação foi a pro- indiretamente, porque mesmo em lugares
dução jornalística e o lugar ocupado pelos onde as companhias são privadas a proxi-
Abertura da 11ª Conferência Mundial de Economia e Gestão de Mídia no foyer do Teatro Odylo Costa, filho no dia 12 de maio
grupos nacionais. O ex-correspondente e midade e a relação dos donos com o poder
diretor do Jornal do Brasil iniciou a pales- garante que a principal companhia jorna-
tra com o contexto histórico-econômico lística tenha 60% do mercado. Há sempre
do desenvolvimento da indústria de um fator político nisso”.
mídia no Brasil entre 1940 e 1960: o papel O mercado de mídia no Brasil na pers-
determinante dos investimentos de Assis pectiva de três especialistas da área de
Chateaubriand nos meios impressos e em pesquisa de mercado e opinião pública
redes de rádio e TV; as intervenções do constituiu outro dos painéis programados
governo militar na mídia, tanto na forma com especialistas convidados. Derli Pra-
de censura como de apoio financeiro, vato, diretor comercial e de atendimento do
político e técnico e a empresários aliados; IBOPE, abriu as apresentações propondo
a profissionalização da imprensa. “Há 50 que o principal desafio do século XXI
anos a mídia brasileira era amadora em está em transferir o foco das reflexões em
Painel "Mercado de Mídia", com os profissionais convidados Thiago Moreira (Nielsen Online), Alex Banks (comScore) e Derli Pravato (Ibope Media)
termos de administração. Eram empre- torno dos constantes avanços da tecnolo-
sas familiares, dependentes da estrutura Senado em 22 de abril, também foi con- receita das pessoas os itens obrigatórios, de gia para as transformações culturais que
governamental, convivíamos com uma siderado pelo professor: “A mídia no subsistência, então o consumo de mídia é estão no bojo destas mudanças, segundo
série de ‘ilegalidades regularizadas’. O Brasil não sofreu o impacto das crises 20% do consumo discricionário. A média ele “o mais importante é a cultura emer-
jornalista trabalhava para o governo e, mundiais porque o contexto econômico de consumo pode chegar a 10 horas por dia, gente deste processo, é o comportamento
ao mesmo tempo, cobria o governo para brasileiro é de estabilidade e certa pros- ou seja: 60% do tempo em que não estamos das pessoas”. Para o diretor do IBOPE a
o seu jornal e isso não era problema. Ele peridade. Tem havido um crescimento da dormindo estamos consumindo mídia. informação é a essência da comunicação e
também era isento de imposto de renda e classe média e seu poder de consumo tem Isso tem um evidente impacto na econo- é a isso que devemos estar atentos quando
tinha vantagens na compra de passagens grande impacto no mercado de mídia”. mia”, apontou o palestrante falamos de transformações no mercado de
aéreas, entre outras coisas. O golpe militar Um ponto alto da Conferência foi a O principal dado levantado pelos pes- mídia. De acordo com pesquisa apresentada
afetou fortemente o panorama da mídia apresentação do professor Eli Noam, da quisadores da equipe de Noam foi o fatu- por ele, em 2007 a quantidade de informa-
por causa da censura e da premiação ou Universidade de Columbia em Nova York, ramento das empresas de mídia de cada ção consumida no mundo foi de 1 exabyte,
condenação das empresas que estivessem que trouxe dados da pesquisa interna- país. Os dados foram tratados com base enquanto em 2013 essa mesma quantidade
ou não alinhadas com o sistema político. cional que coordena, sobre propriedade e no índice HHI (Herfindahl-Hirschman foi consumida em apenas um dia. Thiago
As empresas que sobreviveram e pros- concentração de mídia em 29 países, cujos Index), que indicou o nível de concentra- Moreira, diretor da área Digital/Telecom da
peraram inauguraram um contexto de resultados devem ser publicados ainda em ção das empresas. “O estudo indicou que, Nielsen para a América Latina, apresentou
maior profissionalização”. 2014 pela Oxford University Press. Um dos de um modo geral, a mídia é muito con- dados referentes ao consumo de meios de
Sobre a realidade contemporânea das objetivos do estudo é tentar conhecer as centrada em todo o mundo. Quanto mais comunicação no mercado norte americano,
indústrias de mídia brasileiras, Rosental tendências do mercado mundial de mídia e intensiva em capital é uma indústria, mais que confirmam a importância da televi-
Alves fez uma análise de conjuntura das a realidade de cada país em particular para, concentrada ela é. E a tendência indica são no mercado de mídia e a importância
redes de TV, dos jornais diários e também então, sugerir respostas diferenciadas ao que a mídia mundial no futuro deverá ser estratégica de pensar o conteúdo que está
das políticas de mídia. Centrou sua fala movimento de um mercado que faz cada ainda mais concentrada porque o setor tem sendo entregue. “A TV não está perdendo
na hegemonia das Organizações Globo e vez mais consumidores. alcançado economias de escala cada vez uso, ela está se transformando, está cada vez
da Editora Abril, no desempenho da rede Segundo Noam, a mídia de conteúdo mais altas”, explicou. mais social”. Alex Banks, vice-presidente da
regional de televisão RBS (Rio Grande pode atingir 1% do PIB mundial, sendo que Entre os países com maiores níveis América Latina e diretor no Brasil da comS-
do Sul e Santa Catarina) e na questão da a mídia de plataforma já alcança cerca de de concentração na mídia de conteúdo core Inc., apresentou números mundiais de
convergência tecnológica e de mídia que 2,3%. Contabilizando o consumo de dispo- estão a China, o Egito, Rússia, África do audiência nos meios digitais, que posicio-
está afetando o mercado de impressos. sitivos e a venda varejista, esse percentual Sul, Irlanda, México, a Argentina e o Bra- nam a América Latina com 40% seguida de
O Marco Civil da Internet, aprovado no chega a 5,9% em média: “Se tirarmos da sil, que por outro lado, apresenta um dos 41% na Ásia, 26% Europa, 14% na América do
UERJ em Questão MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 / 9

A plateia formada por pesquisadores brasileiros e estrangeiros na conferência de abertura do professor Rosental Calmon Alves, da Universidade do Texas em Austin

Rádio SulAmérica Trânsito, que transmite sobretudo infor-


mações enviadas por ouvintes, afastam qualquer dúvida
sobre a participação da audiência. Inaugurada em 2007 pelo
Grupo Bandeirantes e com cobertura da região metropoli-
tana de São Paulo, a SulAmérica recebe diariamente 2 mil
SMS e 1,5 mil mensagens eletrônicas, que são usados na
geração de 2,4 mil peças de informações. A rádio também
se alimenta de comentários e recados de 40 mil pessoas
que a curtem no Facebook, de 105 mil seguidores no Twit-
ter e outros 1,8 mil no Instagram, comprovando que uma
emissora de rádio hoje não se limita à frequência no dial. O
recebimento de informações dos leitores também é incen-
tivado pelo Grupo Abril por meio de envio de depoimentos
e pesquisas. Segundo a estatística Andréa Costa, da área de
Professor Eli Noam, da Universidade de Columbia nos Estados Unidos, na palestra sobre conglomerados Professora Beth Saad, da Universidade de São Paulo, no painel "Interação impresso e on-line"
inteligência de mercado do Grupo, as 88 pesquisas realiza-
Norte e 9% na África. O Brasil responde por 10% da audi- SporTV, Júlio Almeida, forneceu dados sobre os hábitos de das nos últimos quatro anos geraram 71 chamadas de capa e
ência em toda a América Latina. Parte deste desempenho consumo de programas de TV esportivos, contextuali- 33 matérias principais. Ricardo Anderáos, coordenador da
expressivo pode ser atribuída ao engajamento dos brasilei- zando os desafios do negócio. Usando números do Target equipe brasileira do Brasil Post, jornal exclusivamente ele-
ros nas mídias sociais especialmente no Facebook, líder no Group Index, ele afirmou que os brasileiros acompanham trônico e versão brasileira do The Huffington Post (Estados
mercado de mídia digital no Brasil. as partidas de futebol pela televisão (42%) por pelo menos Unidos), mostrou o sistema de produção virtual de notícias,
No painel "Gestão de conteúdo e os cenários local, cinco horas por semana (66%), como também consomem no qual o jornalista cria títulos diferentes para mídia espe-
regional e global", Diego Oliveira, diretor da Ipsos/ os produtos atrelados aos jogos, como noticiários (58%) e cífica (incluindo as redes sociais), adiciona tags e link para o
Marplan, disse que "a glocalização reconfigurou o mundo” comentários esportivos (50%). José Colagrossi, vice-presi- próprio perfil do Facebook e do Twitter: “No Brasil Post, o
e que “é preciso entender os muitos "Brasis" dentro do ter- dente para a América Latina do IBOPE Repucom, destacou leitor pode acompanhar o jornal, uma reportagem especí-
ritório e o glocal”, em alusão à dimensão local na produção a nova fase do patrocínio esportivo. A atividade ganhou fica e até um jornalista específico. Ele também tem acesso
de uma cultura global. O editor-executivo do G1, portal de ares profissionais a partir dos anos 1980 e 1990, movimento a estatísticas detalhadas, em tempo real, do desempenho
notícias das Organizações Globo, Renato Franzini, mos- que se acelerou na última década acompanhando, dentre da matéria que circula pela rede”. No debate aberto com a
trou que o site é uma rede nacional "real e física" formada outros fatores, as mudanças na área esportiva. “Os atletas plateia, alguns participantes da Conferência questionaram
por mais de 500 jornalistas espalhados pelo Brasil. Pes- eram avaliados e admirados pelos seus talentos. O valor o modelo de trabalho do Brasil Post, que caracterizaria acú-
quisas apresentadas por ele mostram que 56,2 milhões de de suas imagens era ligado ao desempenho e aos valores mulo de função (produção muito grande para uma redação
internautas brasileiros buscam notícias na internet e, desse de liderança”, disse Colagrossi, mencionando Zico, Pelé e de apenas nove pessoas) e algumas frases de Anderáos como
total, 27,3 milhões acessam o G1 – em segundo lugar vem o Ayrton Senna. Atualmente, segundo o executivo, “a indús- “a existência de um gap gigantesco entre academia e mer-
portal Terra, com 13,3 milhões de acessos, e o site da Folha de tria da celebridade criou um novo tipo de jogador, com cado”. O painelista reforçou que essas polêmicas revelam a
S. Paulo, com 12,1 milhões de acessos. O perfil do mercado ‘outros atributos’ e realizações fora do campo que comple- crise geral enfrentada por vários setores de produção, que
de TV por assinatura e a mudança do comportamento dos mentam o talento e a qualidade individual”. vai além do jornalismo: “Não existe mais a divisão ‘eu sou o
hábitos de consumo da população brasileira foram temas O desafio de desenvolver métodos que permitam uma repórter, ele é o editor, aquele é o fotógrafo’. Hoje está tudo
destacados pela gerente de planejamento e negócios dos comunicação de fato colaborativa entre a audiência e os veí- misturado. Este, pra mim, é o verdadeiro conceito de ‘jorna-
canais SporTV, Andréa Tuttman, no painel Mídia e Esporte. culos esteve em pauta no painel sobre comunicação colabo- lista total’ que discutíamos décadas atrás”, defendeu.
Ela apontou o crescimento da classe C como um dos prin- rativa. Em meio a cada vez mais canais interativos e softwares
cipais fatores para a expansão do consumo de TV paga no de medição de acessos e audiência, os profissionais lidam *A cobertura da Conferência foi realizada por Emerson Dias,
Jacqueline Deolindo, Karla Ribeiro (alunos de doutorado),
Brasil, que corresponde a 46% dos 19 milhões de domicílios com as dificuldades de estabelecer análises qualitativas que Lígia Fonseca (aluna de mestrado) e Cynthia Duarte (mestre), do
com acesso a esse serviço de TV. Já o diretor de RH do canal auxiliem no desenvolvimento do conteúdo. Os números da Programa de Pós-graduação em Comunicação da UERJ
10 / MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 UERJ em Questão

UERJ recebe estudantes de Moçambique como


parte de convênio internacional de formação científica
Integrante do Programa de Incentivo do conhecimento sobre o Rio de Janeiro,
à Formação Científica, promovido pelo uma experiência diferente para eles, na
Ministério das Relações Exteriores em qual cada um trouxe a vivência pessoal
parceria com a CAPES, um grupo de e pôde perceber as relações do homem
estudantes da República de Moçambique com o ambiente”. Para a estudante Tânia
desenvolveu na UERJ, entre janeiro e Inácio, do curso de educação, a imagem da
março deste ano, atividades sob a orien- universidade que a recebeu no Brasil será
tação de professores de vários cursos. sempre positiva: “A UERJ é uma Univer-
O Programa é uma das iniciativas do sidade que incentiva o estudante a pro-
governo brasileiro no âmbito da coope- duzir. Temos livros e pessoas excelentes
ração educacional, baseada – de acordo nos orientando naquilo que precisamos”.
como o Ministério das Relações Exte- Sara Dias, do curso de Ciência Política,
riores – na “forte identificação cultural fez parte na UERJ de uma pesquisa sobre
que o Brasil partilha com o continente o presídio de Ilha Grande, implodido em
africano” e na “identidade linguística” 1994: “Entrevistei pessoas que fizeram
com diversos países africanos, que pos- parte da história do presídio, foi uma
sibilitaram uma intensa cooperação Acima, estudantes moçambicanos visitam Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável na Ilha Grande. Abaixo, representantes do Ministério da experiência muito boa e rica”.
Ciência e Tecnologia de Moçambique se reúnem com equipe do Departamento de Capacitação e Apoio à Formação de Recursos Humanos da UERJ (Dcarh)
educacional com países como Angola, No dia 13 de março, no campus Mara-
Moçambique, São Tomé e Príncipe e canã, representantes do Ministério da
Cabo Verde. Ciência e Tecnologia de Moçambique se
O governo moçambicano selecio- reuniram com integrantes do DCARH,
nou as áreas em que existe hoje maior professores orientadores e alunos
demanda no país: agricultura, recursos para avaliar o Programa de Incentivo
minerais, biotecnologia, saúde, tecno- à Formação Científica dos estudantes
logias de informação e comunicação, moçambicanos. Na reunião foi feita
ciências marinhas e pescas, sustenta- uma avaliação do período que os alunos
bilidade ambiental e ciências sociais e estiveram no Brasil, com o registro dos
humanas. A UERJ recebeu sete alunos pontos a serem aperfeiçoados. Entre
de Moçambique, das 50 vagas oferecidas as sugestões para o aprimoramento
pelo Programa para estudo em universi- do Programa estão a busca por órgãos
dades brasileiras em 2014. Eles vieram de que possam custear projetos de pós-
instituições como a Universidade Peda- -graduação para alunos moçambicanos
gógica de Moçambique e a Escola Supe- e a identificação de recursos para aloja-
rior de Jornalismo de Maputo e foram 11 quilômetros que levou o grupo à loca- partir disso ter uma noção do ambiente mento dos estudantes em apartamentos
orientados por professores dos cursos lidade de Abraão, de onde saiu o barco em termos de precipitação, de abun- pagos pelo governo de Moçambique.
de Ciências Sociais, Ciências Contábeis, que conduziu os estudantes a diversos dância da fauna, de tipos de rochas e Manoel Rebelo, chefe do departamento
Comunicação Social (Jornalismo), Edu- pontos da Ilha Grande, entre os quais minerais”. Estudante moçambicana de Iniciação Científica e Tecnológica
cação, Geologia e Oceanografia. Freguesia de Santana, Praia do Japariz e de Navegação Marítima, Graça Fátima no Ministério moçambicano, fez uma
As atividades desenvolvidas pelos Praia de Iguaçu. conhecia a Ilha Grande dos seus estu- avaliação positiva do Programa: “Nossa
estudantes de Moçambique sob a super- A estudante Vânia Calado, que visi- dos na UERJ. Em Moçambique ela ainda função é estimular a ciência e a tecno-
visão do Departamento de Capacita- tou uma ilha pela primeira vez apesar não havia tido aulas práticas no mar: logia no nosso país. Desejamos ver cada
ção e Apoio à Formação de Recursos de morar no litoral moçambicano, ficou “Soube do Programa de Iniciação Cien- vez mais moçambicanos participando
Humanos – DCARH, vinculado à Sub- surpresa com a preservação da natu- tífica no ano passado, ainda nas férias. deste Programa. Os estudantes voltam
-Reitoria de Pós-graduação e Pesquisa, reza: “As pessoas fazem turismo sim, Gostei muito de vir para UERJ, pois ao nosso país disseminando as práticas
incluíram pesquisas e também visitas mas com cidadania, com foco na pre- não ficamos somente na teoria, tive- que tiveram acesso no Brasil, trazendo
técnicas, como ao Instituto Politéc- servação do meio ambiente e com uso mos a prática através da interação com outras formas de pensar a ciência”.
nico em Nova Friburgo, à Faculdade de sustentável dos recursos. Foi uma expe- o CEADS”. Para Ana Claudia Damit, do DCARH,
Tecnologia em Resende e ao Centro de riência excepcional. Da Ilha Grande O professor Luis Felipe Skinner, da a experiência dos estudantes no Brasil
Estudos Ambientais e Desenvolvimento levo na memória essa natureza que é Faculdade de Formação de Professores, foi importante para eles e para a UERJ:
Sustentável (CEADS/UERJ), na Ilha um verdadeiro cartão postal”. Para o acompanhou o grupo de estudantes e “Os orientadores se esforçaram bas-
Grande. Na visita ao CEADS, os estudan- estudante Reflexo Viegas, a visita a Ilha acredita que a experimentação de novo tante para acompanharem os estudantes.
tes moçambicanos conheceram espaços Grande serviu para vivenciar um pouco ambiente com diversidade ambien- Visitas técnicas institucionais ajudaram
mantidos pela Universidade, como o mais do que aprendeu no curso de Geo- tal vasta foi interessante e serviu para a integração e agora eles têm tudo para
Ecomuseu Ilha Grande, e locais como a grafia: “Foi possível observar como a ampliar o horizonte dos alunos: “Conhe- formar um grupo multidisciplinar e dar
trilha Abraão-Dois Rios – um trajeto de Ilha está estruturada fisicamente e a cer Ilha Grande foi uma complementação a sua contribuição para Moçambique”.
UERJ em Questão MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 / 11

Empresas incubadas na UERJ desenvolvem produtos premiados


A Senfio e a Eyllo Tecnologia, empresas instaladas
na Phoenix, incubadora da Faculdade de Engenharia
da UERJ, se classificaram em primeiro e em terceiro
lugar, respectivamente, na etapa final da Competição de
Tecnologia da Informação e Inovação do UK Trade &
Investment, promovida pelo Consulado Geral Britânico.
O sistema de identificação por radiofrequência para
monitoramento e registro de higienização das mãos,
desenvolvido pela Senfio, e o aplicativo Paprika, que usa
a tecnologia da Realidade Aumentada (RA), desenvolvido
pela Eyllo Tecnologia, foram os produtos premiados.
Aberta para produtos de Tecnologia da Informação
desenvolvidos por empresas brasileiras de todos os por-
tes, a competição teve duas etapas. Na primeira, foram
selecionados 70 produtos em sete cidades: Belo Horizonte
(MG), Campinas (SP), Campo Grande (MS), Curitiba (PR),
Porto Alegre (RS) e Recife (PE). Na etapa final, a classifi-
cação resultou da apresentação do produto e de um plano
de negócios ao comitê do Consulado: o primeiro colo-
Da esquerda para a direita: Elyr Teixeira e Daniel Morim, sócios da Senfio; e Enylton Machado, diretor da Eyllo Tecnologia
cado de cada cidade e mais três selecionados na Rio Info
(outra competição realizada em setembro de 2013 no Rio São Paulo, na Feira Internacional Hospitalar em maio
de Janeiro) foram contemplados com viagem de uma do ano passado, há uma fila de interessados na compra
semana, entre 12 e 16 de maio. Os vencedores vão conhecer do produto. Com a viagem ao Reino Unido esperamos
os principais centros tecnológicos do Reino Unido – entre poder conhecer de perto as vantagens do mercado bri-
os quais a Tech City, polo tecnológico de Londres que hos- tânico que, segundo informações do Consulado pare-
peda 1.400 empresas, de iniciantes (startups) a gigantes do cem muitas, e se for possível abrir uma filial da empresa lá”.
setor como Google, Facebook, Intel e Twitter. O Paprika, produto classificado em terceiro lugar, foi
Primeiro colocado do Rio de Janeiro, o sistema ideali- idealizado por Enylton Machado, cientista da computa-
zado por Elyr Teixeira e desenvolvido tecnicamente por ção e diretor da Eyllo Tecnologia. Pode ser instalado em
Daniel Morim, ambos engenheiros e sócios da Senfio, é tablets e smartphones e permite ao usuário obter infor-
único no Brasil. Segundo Elyr, o produto foi criado com mações sobre o entorno instantaneamente, para além da
o intuito de reduzir ocorrências de infecção hospitalar, própria percepção natural. “É um software desenvolvido
muitas vezes ocasionada pela falta de higienização das com base na tecnologia da Realidade Aumentada, que
mãos dos profissionais de saúde entre os atendimentos. combina o que existe no mundo real com o que existe
O projeto resultou da experiência de Elyr como enge- no mundo artificialmente criado no computador, o cha-
nheiro clínico, trabalhando na manutenção de equipa- mado mundo virtual. Com o aplicativo, são acrescenta-
mentos no Hospital do Andaraí e no Instituto Nacional dos dados à realidade percebida num primeiro momento,
de Cardiologia em Laranjeiras: “Percebi que entre os apa- de modo a acelerar a obtenção de informações úteis para
relhos hospitalares existentes, quase todos eram impor- facilitar a locomoção e a fruição dos espaços nas cidades
tados e pouquíssimos eram automatizados. Foi quando pelo indivíduo”, explica Enylton. Para a competição do
pensei em desenvolver um sistema eletrônico genui- UK Trade & Investment, o Paprika foi preparado para ser
namente brasileiro, capaz de fazer o controle (monito- utilizado em estádios de futebol, com o propósito de ofe-
ramento e registro) de procedimentos, para aprimorar recer ao torcedor informações sobre os jogadores; sobre
a qualidade do atendimento médico e também reduzir as instalações e serviços, como banheiros e lanchonetes;
custos e evitar desperdícios gerados pelo prolongamento e recursos lúdicos, como replay de gols etc.
desnecessário, ou melhor, ‘evitável’ de internações”. Uma vez instalado, o aplicativo funciona do seguinte
O sistema é composto por três unidades eletrôni- utilizar o dispensador a informação será registrada no modo: basta apontar o dispositivo (tablet ou smar-
cas – um crachá, um sensor de presença e um módulo software desenvolvido também para fornecer relatórios tphone) para o local de onde se quer obter informações,
que deve ser instalado no interior dos dispensadores de periódicos e ser acessado pela internet e também no selecionar um tipo de informação entre os cenários dis-
sabonete líquido ou álcool gel – e funciona assim: cada visor do crachá. Os sensores instalados próximos aos poníveis naquele lugar, e clicar nas etiquetas (geotags)
vez que o profissional, portador de um crachá de iden- leitos fazem a leitura do crachá, que pode ser progra- informativas com conteúdo multimídia ou em formato
tificação, aciona o dispensador para higienizar as mãos, mado para emitir sinais sonoros ou visuais, de modo de texto. O aplicativo possui hoje conteúdos das cida-
o equipamento emite um sinal por bluetooth para o cra- a avisar ao paciente se a higienização foi feita ou não. des do Rio de Janeiro e de São Paulo e oferece a opção
chá e a informação de que naquele momento o profis- Senfio aguarda agora a homologação pela Anatel para de visualizar cada local e as respectivas geotags em um
sional higienizou as mãos é transmitida via wi-fi para o a comercialização do produto, mas Daniel Morim já mapa bidimensional. O download do aplicativo pode ser
software central. Assim, todas as vezes que o profissional comemora: “Desde que o sistema foi apresentado em feito gratuitamente pelo site <www.paprikamix.me>.
12 / MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 UERJ em Questão

Laboratório de Biorremediação e Fitotecnologia pesquisa soluções para a poluição


Equipe estuda métodos para reduzir impacto ambiental no solo, na água e no ar
Buscar soluções capazes de remediar a fonte geradora da contaminação é con-
a poluição causada pelas indústrias por tínua e não está sendo resolvida.
meio de tratamento dos efluentes indus- Nesse contexto é mais simples tra-
triais, assim como reverter os danos tar o esgoto industrial, que identifica o
resultantes de derramamento de óleo poluidor, o tubo por onde sai o efluente
em acidentes que atingem o solo, corpos contaminante. A indústria pode inves-
hídricos e águas subterrâneas e adotar tir em tecnologia para tratamento, pois
medidas de controle de inundações pro- há leis de incentivo e também formas
vocadas pelas chuvas estão entre os obje- de punição. Os investigadores do Labo-
tivos do Laboratório de Biorremediação ratório também têm se dedicado a estu-
e Fitotecnologia (Labifi), vinculado ao dar a poluição do solo por derivados de
Departamento de Engenharia Sanitária petróleo. O próprio petróleo e os com-
e Meio Ambiente da Faculdade de Enge- bustíveis derivados são fontes de preocu-
nharia. Criado em 2008, o laboratório pação para a indústria e para a academia
tem caráter multidisciplinar e reúne um – no estado do Rio, a área de petróleo e
grupo de 12 pesquisadores e tanto profes- gás é relevante para a economia local e
sores como os alunos de pós-graduação o risco de impactos ambientais provo-
vêm de áreas, entre as quais Engenharia cados pela intensidade das atividades é
Civil, Engenharia Química, Engenharia maior apesar dos investimentos feitos
Ambiental, Biologia e Química. pelas empresas para controlar esse risco:
Segundo sua coordenadora, profes- “Nesse setor temos esperança de que os
sora Marcia Marques Gomes, a função problemas estejam totalmente equacio-
do Laboratório vai além do nome que nados em médio prazo, em termos de
indica os processos de biorremediação controle, mecanismo de prevenção, pla-
e fitotecnologia. A primeira aplica pro- nos de contingência e tecnologias dispo-
cessos biológicos para tratar áreas con- níveis”, diz a coordenadora.
taminadas, como água e solo, utilizando A equipe do Laboratório também
micro-organismos para a limpeza e des- testa um novo experimento para verifi-
contaminação de áreas ambientais afe- car a capacidade do sistema de remoção
tadas por poluentes. A segunda envolve de hormônios e compostos com a ação
o uso de plantas para fitoremediação de estrogênica da água. A detecção dessas
solo e tratamento de esgoto, que depois substâncias está sendo feita no Labifi
são utilizadas para o controle da poluição. com técnicas, métodos e identificação
Outros processos foram incorporados às por análise química e ecotoxicológica.
pesquisas, como os processos oxidativos A presença dos hormônios (desregu-
avançados (que tratam a poluição que ladores endócrinos) e de substâncias
os biológicos não conseguem resolver) tóxico para as espécies vivas”, diz a coor- um país com sérios problemas de áreas químicas que funcionam como hor-
e os ensaios ecotoxicológicos, que veri- denadora. Nesses ensaios, seres vivos contaminadas. A indústria química, por mônios é a preocupação mais recente
ficam os efeitos tóxicos da contamina- são colocados em contato com amostras exemplo, lança novos compostos pre- dos pesquisadores. Os micropoluentes
ção sobre espécies indicadoras – como do que está contaminado ou com sus- sentes em bens de consumo que são de emergentes estão em baixa concentra-
bactérias, microalgas, microcrustáceos, peita de contaminação de modo a veri- difícil degradação e se acumulam ao ção, mas representam um problema em
plantas, peixes e minhocas. ficar a reação desses animais. “Algumas longo dos anos”. Segundo a professora, todo o mundo, pois mesmo as estações
O estudo de métodos de identificação algas funcionam como indicadores de o maior problema do trabalho com a de tratamento mais sofisticadas não
de poluentes, de recursos para reduzir contaminação. Além disso, servem de contaminação é que as tentativas de conseguem remover completamente
o impacto ambiental e de soluções para alimento para outros seres. Assim, um solução só ocorrem quando o ambiente essas substâncias. Segundo a profes-
tratamento está vinculado ao trabalho contaminante persistente pode se acu- já está poluído. Um exemplo é o esgoto sora Marcia Gomes, os desregulado-
de diagnosticar, via ecotoxicologia, o mular ao longo da cadeia alimentar e che- urbano, que apesar das tecnologias para res endócrinos são despejados com o
que essas substâncias poluentes causam gar até a alimentação humana”, informa tratamento ainda depende de investi- esgoto (tratado ou não), caem nos cor-
nos organismos e no meio em que foram o mestrando em Engenharia Ambiental mento e planejamento urbanos. Para a pos hídricos receptores onde é feita a
depositadas. “Ao invés de fazermos ape- do Laboratório, Tadeu Vianna. pesquisadora, é preciso mudar a forma captação da água para abastecimento
nas uma análise química para verificar- A professora Marcia Gomes alerta como a população ocupa as bacias hidro- e assim retornam para o consumo
mos a redução ou a remoção do poluente, também que nem todos os contaminan- gráficas. Hoje há pessoas que se instalam humano. Os desreguladores endócrinos
também produzimos um ensaio bio- tes são fáceis de serem removidos e que em locais sem infraestrutura e sem rede envolvem fármacos, analgésicos, anti-
lógico em laboratório. Não adianta é preciso conhecer a dimensão do pro- de coleta e tratamento de esgoto. Assim, depressivos, estrogênios como a pílula
remover o composto contaminante blema para investir nas tecnologias de não adianta trabalhar com tecnologia de anticoncepcional, reposição hormonal
de interesse se aquele meio continuar remediação que são caras: “Vivemos em controle e tratamento de despoluição se utilizada por mulheres na menopausa,
UERJ em Questão MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 / 13
hormônio natural, anticonvulsivos,
diuréticos e fitohormônios, entre
Essa rede estuda soluções ambien-
tais e urbanísticas para o manejo
Trote solidário na UERJ alerta contra a dengue
outros. “Sabemos que a disfunção sustentável de águas fluviais e, com Na semana de recepção dos calouros, dos próprios calouros levarem à rua uma
endócrina está por trás de alguns o apoio da FINEP, realiza desde entre 10 e 14 de março, a Faculdade de informação relevante para a população:
tipos de câncer”, diz a professora. estudos quantitativos sobre a água Enfermagem promoveu o trote solidário “Estamos devolvendo à sociedade aquilo
“Se a pílula anticoncepcional pode das chuvas até a sua análise da qua- em parceria com uma comissão de alunos que a Universidade nos dá, que é a oportu-
aumentar o risco de algum tipo de lidade e reuso. do Centro Acadêmico de Enfermagem e nidade de estudar. Nós usamos o dinheiro
câncer, pequenas doses de hormô- Os “telhados verdes” também alguns estudantes do segundo período do público, usamos os impostos, então a ten-
nio na água podem, consequente- fazem parte da pesquisa: o desen- curso. Os estudantes foram recebidos com tamos retribuir com os nossos projetos
mente, aumentar o risco da doença. volvimento de substratos desses o tema: “Trote? Só se for no mosquito: neste momento”.
Se recebermos mais hormônios do telhados, nos quais as plantas estão todos contra a dengue”. Foram desenvol- Para os calouros que abordaram pessoas
que deveríamos estaremos criando fixadas de modo que tenham maior vidas atividades como ambientação e visi- nas ruas no trajeto até a praça Saens Peña
uma modificação hormonal que é capacidade de retenção hídrica. tação a diversos espaços da Universidade a atividade foi uma forma de mostrar que
impossível dizer o que pode causar”. Para a professora Marcia, “como (biblioteca, andares e salas onde os calou- o profissional de saúde tem compromisso
O Laboratório vai receber em o sistema de drenagem ficou sub- ros terão aulas), brincadeiras (pinturas e não apenas técnico, mas também com a
breve uma bactéria para utilização dimensionado nas cidades, parti- jogos) e uma panfletagem informativa de educação. O calouro Caio de Araújo Silva
em ensaios de detecção de estroge- cularmente no Rio de Janeiro, não prevenção da dengue. lembrou que ainda existe muita gente sem
nicidade em água, que tem na mem- encontramos soluções para o arma- Para a professora Helena David, dire- acesso à informação e que, como estu-
brana o equivalente ao receptor de zenamento dessa água. Por isso é tora da Faculdade de Enfermagem, essa foi dante de Enfermagem, tem o “dever cons-
estrogênio de célula humana. Resí- necessário valorizar as superfícies a maneira encontrada para fazer um ‘trote’ cientizar as pessoas a respeito da dengue”.
duos de gasolina na água, por exem- permeáveis como jardins, áreas diferente, rompendo com a prática de Vitorine Gonçalves, outra ingressante no
plo, podem causar desregulação verdes e valas de infiltração, entre brincadeiras que humilham ou deixam o curso, não esquece que toda a sociedade
endócrina em peixes machos, que outras”. O telhado verde contribui jovem ingressante exposto: “Pensamos em deve ficar vigilante no combate à doença:
passam a produzir altos teores de para o conforto térmico, economiza fazer uma recepção de calouros que ultra- “Tentei entregar vários panfletos para que
uma proteína típica em fêmeas. Atu- energia, reduz as ilhas de calor nos passasse a brincadeira de pintar, de pedir todos possam ficar atentos”.
almente, a dosagem dessa proteína é centros urbanos e torna o ar menos dinheiro. Tentamos fazer algo comprome- A dona de casa Cleonilta Gomes da
utilizada no Laboratório para detec- poluído. Também pode ser transfor- tido com o social”. Costa foi uma das pessoas a receber as
tar a presença de estrogenicidade mado em horta e não precisa estar A Faculdade programou o trote com explicações contra a dengue distribuí-
em água: “Se por um lado persis- necessariamente no teto dos imó- atividades de conscientização do pro- das pelos calouros de Enfermagem. Ela
tem problemas de esgoto como no veis – pode ser instalado na lateral blema da dengue. “A informação é massiva entende que a ação incentiva e orienta a
século XIX, este não é um problema de um prédio, por exemplo. nos momentos de epidemia. Nos momen- sociedade: “Eu já venho seguindo esses
científico, mas de investimento em O Laboratório de Biorreme- tos em que não há epidemia, não temos cuidados com a dengue, mas ver o empe-
políticas públicas e planejamento diação e Fitotecnologia tem apoio tanta notícia sobre a doença. Estamos nho desses alunos é muito bom, sempre
familiar que podem reduzir a pres- da FAPERJ, sua principal agência aqui tentando compensar isso, prestando muito positivo”. Dona Helenita Fontenele,
são social e também a ocupação de financiadora nos últimos anos, e um serviço importante à comunidade”, aposentada, também aprovou a ação e disse
áreas sem infraestrutura. Por outro também da FINEP, do CNPq e da diz a professora. Larissa Souza, aluna do que “é fundamental conscientizar as pes-
lado, temos os desafios como esses CAPES. Recebe ainda recursos 6º período integrante da comissão que soas, principalmente aquelas que deixam
dos hormônios e outros micropo- internacionais como os da fundação organizou o trote, observou a importância lixo espalhado pelas ruas”.
luentes que não estaríamos remo- sueca Swedish International Coo-
vendo se tivéssemos estações de peration in Research and Higher
tratamento de esgoto usando tec- Education e mantém parceria com
nologias convencionais”, explica a a Embrapa-Solos e a Linnaeus Uni-
professora Marcia Gomes. O Labo- versity, da Suécia. A equipe atual é
ratório tem como propósito enten- formada por quatro alunos de dou-
der o fenômeno da dispersão de torado, quatro de mestrado, dois
contaminantes no meio ambiente, de iniciação científica, um técnico
testar os diferentes métodos para de nível superior e outro de nível
remoção e tentar combinações des- médio, estes com bolsas do pro-
ses métodos sempre com o menor grama Qualitec-UERJ. Da equipe de
custo possível. A equipe também pesquisadores fazem parte a coor-
procura fazer economia de mate- denadora do Laboratório e os pro-
riais, de reagentes químicos e de fessores Alfredo Akira e Luciene
energia pensando sempre na susten- Pimentel da Silva (águas pluviais),
tabilidade das soluções. Eduardo Monteiro (diagnóstico
Com essas propostas o Labifi ambiental e poluição atmosférica),
integra uma rede de pesquisa cola- Daniele Maia Bila (Laboratório de
borativa nacional da qual partici- Engenharia Sanitária) e o professor
pam outras 15 universidades em Sérgio Corrêa Machado, da Faculdade
uma rede coordenada pela UFMG. de Tecnologia (campus Resende). Calouros do curso de Enfermagem da UERJ participam de trote solidário
14 / MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 UERJ em Questão

Projeto estuda cerâmicas de características especiais para detectores de raios-X


Pesquisa realizada pelo Laborató- recebeu financiamento da FAPERJ por
rio de Caracterização de Materiais da meio do edital de Apoio às Engenharias,
UERJ está testando um tipo de cerâ- que permitiu que o Laboratório com-
mica de características especiais para prasse uma politriz especial. Com esse
ser utilizada em equipamento inovador recurso, o Laboratório conseguiu redu-
de detector a gás de raios-X e desenvol- zir de 20 dias para cerca de três horas o
vendo, em parceria com o Centro Nacio- trabalho de polimento de uma amostra
nal de Microeletrônica de Barcelona, um da cerâmica avançada já que, na máquina
dispositivo interno para o aparelho que automática, o operador não precisa fazer
aumenta a eficiência da detecção desses esforço. Assim os pesquisadores conse-
raios-X, o gas electron multiplier. guem fazer a caracterização do carbeto
O projeto faz parte de um estudo mul- de boro avaliando suas propriedades
tidisciplinar que envolve o Laboratório, mecânicas e suas medidas de microsco-
o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, pia óticas e eletrônicas.
detentor da tecnologia do equipamento No Brasil existem aparelhos comer-
a gás, e a Universidade Federal do Rio de ciais de detectores bidimensionais, como
Janeiro, responsável pela fabricação da o da empresa Siemens, por exemplo, mas
cerâmica à base de pó de carbeto de boro. estes utilizam outra tecnologia baseada
O aparelho detector a gás que utiliza essa em sensores semicondutores. Essa tec-
cerâmica avançada é inovador porque nologia é três vezes mais cara do que a
dispensa a necessidade de impressão do tecnologia a gás, informa o professor
exame de raios-X com filmes fotográfi- Brant: “A inovação está no uso do apa-
cos e permite a visualização digital das relho a gás, que é uma alternativa mais
imagens na tela do computador. barata. Se imaginarmos uma comerciali-
Para o coordenador da pesquisa e O coordenador da pesquisa professor José Brant zação para o SUS sairia com custo muito
professor do Laboratório de Caracteriza- menor”. Alguns hospitais deixaram de
ção de Materiais, José Brant, o aparelho usar a chapa fotográfica, mas os apare-
minimiza outras exposições aos raios-X, lhos substitutos são mais caros do que
já que a imagem vai sendo construída aquele que o Laboratório está ajudando a
no momento em que a pessoa é exposta: desenvolver, testar e pretende comercia-
“Nesse processo não existe a chapa foto- lizar. A proposta é melhorar a eficiência
gráfica, o sinal vai para um conversor da tecnologia dos detectores que existem
analógico-digital e é transmitido para no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
a tela do computador. Além de agilizar nessas duas frentes: no domínio do uso
o atendimento, pois o médico obtém da cerâmica e no desenvolvimento desse
o resultado na hora e pode dar o diag- dispositivo multiplicador de elétrons.
nóstico no mesmo momento caso iden- O próximo passo do projeto será pro-
tifique algo. O médico ainda pode usar mover o intercâmbio de alunos com o
ferramentas computacionais para auxi- Centro Nacional de Microeletrônica de
liar no diagnóstico”. Barcelona e, para isso, vai aumentar o
Detectores a gás de Raios-X: a cerâmica se encaixa na janela central do dispositivo,
As cerâmicas de características espe- com o objetivo de captar as imagens digitais durante a realização de exames de Radiologia número de estudantes envolvidos com a
ciais usadas na pesquisa possuem van- e captação dos raios. O professor Brant já começaram a ser feitos e em fevereiro pesquisa sobre o dispositivo multiplica-
tagens como leveza, alta resistência e explica que o berílio é um material frá- foi depositada na Espanha uma patente dor e o detector a gás. Para o coordena-
transparência aos raios-X, com dureza gil e se for pressurizado pode romper, internacional do dispositivo. O pro- dor do Laboratório na UERJ, o interesse
próxima à de um diamante. Essas quali- enquanto a cerâmica avançada pode fessor José Brant estima que, em uma desses alunos na pesquisa está no fato de
dades fazem com que ela se torne ideal aumentar a pressurização do gás no inte- segunda etapa do projeto, o Brasil pro- o tema abordar tecnologia com aplica-
para a fabricação das janelas localizadas rior do dispositivo e, consequentemente, duzirá um protótipo do multiplicador a ção final e objetivo prático: “Estamos em
na parte frontal dos detectores a gás. Os melhorar sua eficiência. gás de elétrons: “Queremos desenvolver uma universidade e nossa missão prin-
estudos do Laboratório substituem o A outra parte da pesquisa, realizada essa tecnologia no Brasil e transformar- cipal é pesquisa e formação de recursos
berílio, material convencional para esse em parceria com o Centro Nacional de mos o multiplicador de elétrons em um humanos. Precisamos focar na questão
tipo de aplicação em detectores, pela Microeletrônica de Barcelona, desenvol- produto industrial”. da inovação, incentivada pelos órgãos de
cerâmica de carbeto de boro. O detector veu um dispositivo interno que aumenta O Laboratório de Caracterização de fomento, e dar um retorno à sociedade.
é uma espécie de caixa com o gás dentro. a eficiência da detecção dos raios-X com Materiais é especializado em trabalhar Essa pesquisa possibilita isso. O protó-
O gás converte os raios-X em elétrons a multiplicação desses elétrons (gas com essa cerâmica de características tipo já existe e estamos trabalhando para
e estes formam a imagem médica. A electron multiplier). Os testes com os pri- especiais, que possui um polimento melhorá-lo, tornando-o potencialmente
pressurização do gás ajuda na eficiência meiros protótipos dentro dos detectores difícil devido à sua dureza. O projeto comercial”.
UERJ em Questão MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 / 15

Programa de webradio que promove saúde do idoso completa cinco anos


Divulgar entre os idosos a importân- Pare reverter a baixa adesão ao con-

ANDRÉIA RÊGO
cia do cuidado permanente com a saúde e teúdo on-line da parte dos alunos da ter-
incentivar o uso da internet são duas das ceira idade, a fonoaudióloga procurou
propostas do programa “Idoso em foco”, ajuda no curso de computação oferecido
que em 2014 completa cinco anos e nesse pela UnATI. É esse tipo de difusão do
período conquistou ouvintes em vários “Idoso em foco” que gera bons resulta-
estados do Brasil e também em Portugal. dos para o projeto. A apresentação do
O projeto de extensão desenvolvido pela trabalho no Congresso da Associação
Universidade Aberta da Terceira Idade Brasileira de Saúde Coletiva, em 2012, foi
(UnATI-UERJ) é resultado do trabalho elogiada por tratar do uso do computa-
de alunos da graduação, de técnico-admi- dor para a promoção da saúde – pouco
nistrativos e do compromisso dos idosos comum na época – e gerou convites para
com a produção semanal do programa. outras apresentações sobre o programa,
Com conteúdo novo todas as quintas- sua audiência e elementos da sua criação.
-feiras, o programa foi criado em 2009 e Ainda que esteja direcionado para
pode ser ouvido na webradio UERJ (em temas relativos ao bem-estar, o programa
www.radiouerj.com.br/IdosoEmFoco.php) aborda outros assuntos, como política,
e pelo site de rádios on-line Radiotube cultura e sociedade. O bloco ‘toques de
(em www.radiotube.org.br/). O pro- saúde’ trata da saúde do idoso com ênfase
grama é feito para idosos, que também na prevenção, do qual participam den-
se encarregam da produção, e faz parte tistas, médicos, psicólogos etc. No bloco
de um projeto idealizado pela fonoau- ‘a voz do idoso’ são debatidos temas refe-
dióloga Cláudia Helena Steenhagen a rentes ao Estatuto do Idoso coletados pela
partir das suas atividades de promoção equipe de produção nos corredores da
da saúde no ambulatório da UnATI. A UnATI. O último bloco, ‘saindo de casa’,
proposta é divulgar formas de preve- apresenta a agenda cultural aos ouvintes.
nir doenças e pesquisas de saúde para Essa fórmula simples e direta conquis-
a Terceira Idade para além do campus. tou um público cativo para além dos limi-
A formatação e realização do programa tes do campus Maracanã: “Uma das edições
contam com a ajuda da jornalista Gisele chegou a mais de 1.000 acessos no Radio-
Sobral, uma das fundadoras da webradio tube”, diz a idealizadora do programa,
UERJ. Ela diz que a sugestão de criação do numa referência ao programa 72, que foi
programa foi atendida de imediato pelo ao ar no dia 12 de agosto de 2011. Cláudia
seu caráter inovador e porque a webradio Todo o processo criativo – da elaboração dos temas abordados até a também destaca o retorno que o programa
tem interesse na parceria com a UnATI: produção das edições – tem como referência os próprios idosos. Como tem recebido dos ouvintes, inclusive de
“A Rádio UERJ on-line foi idealizada para Portugal. O alcance do programa pode ser
se trata de programa difundido pela internet, a participação dos idosos
que diversos setores da Universidade medido pelos contatos feito por faculda-
atuassem e criassem conteúdos”.
(como ouvintes ou como colaboradores) adquiriu outra dimensão des em várias regiões, com a solicitação
O resultado foi um programa com 30 O “Idoso em foco” tem três alunos da para o conteúdo e também nas locu- do material produzido para que fosse feita
minutos de duração, dividido em três UnATI como âncoras fixos: Diva Perez, ções: “Não somos de Comunicação e não maior divulgação: “Com a nossa autoriza-
blocos: toques de saúde, a voz do idoso e Amilcar Valente e Jaime Ramos. Os três aprendemos isso na Faculdade, eu não ção, os programas passaram a ser difun-
saindo de casa. Cláudia conta com o apoio foram convidados por Cláudia para parti- entendia nada de rádio”, diz a estudante didos entre crianças e idosos e também
de bolsita de estágio e outra bolsista de cipar do programa e apesar a insegurança de Enfermagem Tayná Campos, voluntá- passou a ser transmitido em emissoras
extensão, além de voluntários e estagiários inicial aceitaram o desafio e tomaram ria no projeto. Rafaella Reis, também da comunitárias, como das comunidades do
de outros projetos. Todo o processo cria- gosto pela atividade: “No começo foi Enfermagem, e a estudante de Psicologia Salgueiro e do Morro da Formiga”.
tivo – da elaboração dos temas abordados um susto, mas depois fui ficando íntima Bianca Lopes são as outras bolsistas que A satisfação da equipe está no ato de
até a produção das edições – tem como e logo não quis mais abandonar”, conta trabalham na produção do programa. A produzir o programa e nos benefícios
referência os próprios idosos. Como se a poetisa, escritora e compositora Diva preparação do grupo foi feita por Gisele gerados pelo trabalho: “O programa na
trata de programa difundido pela internet, Perez, há 15 anos na Universidade e há Sobral, que treinou fala e escrita para webradio se transformou em terapia ocu-
a participação dos idosos (como ouvintes três no programa. Ela não revela a idade, o rádio, entre outras noções técnicas pacional de grande valia para a nossa
ou como colaboradores) adquiriu outra segundo diz, para não perder a credi- do meio. Depois que o “Idoso em foco” atividade cognitiva. Ajudamos o idoso
dimensão: “Os mais velhos tinham muito bilidade como escritora. Os alunos de entrou no ar foi criada uma oficina de e nos ajudamos também”, avalia Amilcar
preconceito com o computador e eu que- graduação que participam do programa rádio para ser oferecida aos alunos da Valente, um dos âncoras fixos, aposen-
ria acabar com esse analfabetismo tecnoló- também se assustaram no início. Cabe a UnATI, mesmo aqueles que não tinham tado com 74 anos de idade. Existe agora
gico. Assim, o programa estimula o uso de eles dar suporte aos alunos da UnATI na interesse em participar do programa. a perspectiva de produção de uma radio-
recursos da informática e trabalha com a escolha dos temas a serem abordados, na Foram duas edições dessa oficina, com novela pelos idosos, ainda sem previsão
informação”, explica Cláudia Steenhagen. busca por fontes que possam contribuir duração de um ano cada. de lançamento.
16 / MARÇO / ABRIL / MAIO DE 2014 UERJ em Questão

Especialistas em genética forense se reúnem na Universidade


Convidadas pelo Laboratório de Diag-
nósticos por DNA – LDD, do Instituto
de Biologia Roberto Alcântara Gomes,
a UERJ recebeu entre 14 e 17 de abril as
especialistas em genética forense Mecki
Prinz, presidente da Sociedade Interna-
cional de Genética Forense – ISFG na
sigla em inglês, e Marie Allen, pesqui-
sadora do Laboratório de Ciência para a
Vida, do Departamento de Imunologia,
Genética e Patologia da Universidade de
Uppsala. Elas deram aulas no workshop
intitulado “Metodologias atuais e de nova
geração da genética forense” (Current
and Next Generation Methods in Forensic
Genetics), encontro direcionado a estu-
dantes de pós-graduação e profissionais
que trabalham com genética forense que
abordou técnicas para a coleta de DNA
e de aspectos éticos, legais e de controle
de qualidade das amostras coletadas para
identificação humana.
Mecki Prinz também é professora da
John Jay College of Criminal Justice em Marie Allen, pesquisadora do Laboratório de Ciência para a Vida, do Departamento de Imunologia, Genética e Patologia da Universidade de Uppsala (Suécia)

Nova York e ganhou notoriedade pelo ela, a causa mais frequente de insucesso
trabalho de identificação de corpos por numa investigação por DNA não são os
meio do DNA depois do atentado de 11 métodos de análise, mas o desconheci-
de setembro de 2001, quando trabalhava mento sobre como obter amostras válidas e
no Laboratório de Genética Forense, que preservá-las: “Mecki Prinz e Marie Allen
presta serviços para a polícia de Nova são especialistas de alto gabarito, com
York. No workshop, a especialista apre- muita coisa a nos ensinar. É importante
sentou técnicas de coleta, tratamento que os brasileiros se familiarizem com o
e análise de amostras biológicas que tema, que conheçam os cuidados neces-
preparam o DNA para que sirva como sários à preservação de cenas de crime.
evidência forense, ou seja: para elucidar Em 2012 a coleta de perfil genético como
situações de ocorrência de natureza cri- forma de identificação criminal passou
minal ou outra, quando interesses confli- foi incluída na Lei Federal nº. 12.654.
tantes concorrem num processo judicial. Mas é preciso capacitação, saber como
Marie Allen, por sua vez, trabalhou no No sentido horário: Mecki Prinz, presidente da Sociedade Internacional de Genética Forense e professora da John Jay College of Criminal Justice em Nova York;
professor Elizeu de Carvalho, diretor do Laboratório de Diagnósticos por DNA (IBRAG / UERJ); Leonor Gusmão, pesquisadora do LDD; e Marie Allen,
proceder para que a lei possa funcionar”.
caso de identificação dos restos mor- pesquisadora do Laboratório de Ciência para a Vida, da Universidade de Uppsala, Suécia O professor Elizeu de Carvalho, dire-
tais do astrônomo Nicolau Copérnico (localizado na mitocôndria, organela fragmentos de células de uma só vez, tor do Laboratório de Diagnósticos por
(1473-1543). No estudo foram compara- celular fora do núcleo das células), acelerando resultados e reduzindo DNA, informa que o Laboratório mantém
dos o material genético de um esqueleto sistema bastante útil quando o DNA custos. Além de pesquisas na área da desde 1997 um convênio com o Tribunal
encontrado sob a Catedral de Frombork, nuclear se encontra degradado ou genética forense, Marie Allen desen- de Justiça e com o Ministério Público,
na Polônia, e os fios de cabelos obtidos em quantidade reduzida, como no volve estudo na área da medicina sendo responsável por produzir todos os
em um dos livros usados pelo cientista caso das amostras biológicas encon- genômica, que tenta encontrar muta- testes de paternidade e de identificação
no século XVI. Atualmente ela trabalha tradas em cenas de crime (tecidos ções no DNA relacionadas à ocorrên- criminal solicitados judicialmente no
na identificação de relíquias que teriam desidratados, ossos, saliva, esperma, cia de morte súbita. estado: “O Rio de Janeiro se destaca como
pertencido a Santa Brígida, padroeira da pele, bulbo capilar e restos mortais, Para Leonor Gusmão, pesquisa- o único estado do país onde não há espera
Suécia, e na identificação do corpo da por exemplo). Ela abordou também dora do Laboratório de Diagnósticos para a realização de perícias genéticas
esposa de Hermann Göring, líder mili- o sequenciamento de nova geração por DNA da UERJ, o grande mérito do demandadas pela justiça gratuita. Isso se
tar e do partido de Adolf Hitler. (NGS na sigla em inglês), cujos equi- workshop foi disseminar entre estu- deve à equipe do LDD, que desde a sua
Na sua apresentação, Marie Allen pamentos geradores de arquivos ele- dantes e profissionais que trabalham criação em 1996 já ‘genotipou’ (identifi-
apresentou novas metodologias de trônicos (sequenciadores) são capazes no combate ao crime o que há de mais cou por DNA) mais de 200 mil pessoas.
trabalho com o DNA, entre as quais de operar massivamente, com a pos- avançado em termos de coleta e pre- Essas identificações resultaram em mais
a análise do DNA mitocondrial sibilidade de processar bilhões de servação de amostras de DNA. Segundo de 55 mil laudos periciais”.

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