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De forma simples, pretende-se discorrer sobre tema de suma importância na busca da efetividade da jurisdição
penal, o qual, todavia, não tem recebido o merecido destaque por parte de nossos doutrinadores.
A demora na conclusão da instrução processual penal, desencadeada por diversos motivos sobre os quais não
cabe aqui discorrer, faz das medidas assecuratórias fortes aliadas na busca pela tutela criminal patrimonial.
Com o presente texto busca-se contribuir para utilização das referidas medidas, mormente, no combate aos
delitos contra a ordem tributária, a ordem econômica, o sistema financeiro nacional, nos crimes de “lavagem” e
ocultação de bens, direitos e valores e em qualquer outro delito do qual resulte prejuízo ao erário.
GENERALIDADES
No curso de uma ação criminal ou até mesmo antes de seu início é comum acontecerem situações que
demandem providências urgentes, por parte do ministério público ou da própria vítima do delito, hábeis a
acautelar interesses, ora assegurando a correta apuração da infração penal, ora garantindo a futura execução da
pena que se pretende ver aplicada, ou ainda, garantindo o ressarcimento do dano causado pela prática criminosa.
Neste contexto, as medidas assecuratórias penais de cunho patrimonial visam a tutelar, provisoriamente,
direitos até o momento em que o Estado-Juiz possa decidir, definitivamente, a demanda, resolvendo, inclusive, o
pagamento das custas processuais e o ressarcimento do dano causado à vítima do delito.
No ordenamento jurídico pátrio, as medidas cautelares penais estão previstas de maneira bastante confusa. O
Código de Processo Penal dispõe sobre elas de maneira dispersa e sem sistematização. Da matéria tratam ainda
normas esparsas como o Decreto-lei n.º 3.240/41 e a Lei 9.613/98, entre outras.
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Analisando os artigos 125 a 144 do Código de Processo Penal, constata-se que as medidas assecuratórias são
previstas como processos incidentais, os quais deverão ser propostos perante o juízo competente para julgar a
ação criminal, sendo autuadas em apartado, a fim de não tumultuar a instrução da ação criminal.
Tais medidas, além das condições gerais para propositura de qualquer ação, sejam elas, a legitimidade das
partes, a possibilidade jurídica do pedido e o interesse de agir, possuem mais dois requisitos, quais sejam, o
fumus boni iuris e o periculum in mora.
Vale salientar que, no processo penal, o sentido de urgência que inspira as medidas assecuratórias possui
particularidades que o diferenciam do processo civil. A respeito, vejamos o que diz João Gualberto Garcez
Ramos1:
A urgência, no caso, é quase onipresente. Essa qualidade decorre de diversas razões. Em primeiro
lugar, do fato de que o crime é, ontologicamente, a maior ofensa ao próximo que prevê o ordenamento
jurídico. Se é à pessoa do indivíduo, muitas vezes também o é ao seu patrimônio, irrazoadamente
atingido. Sendo assim, ocorrendo o prejuízo patrimonial, justificada está a reação estatal enérgica.
Outra razão é referente ao destinatário das regras viabilizadoras da responsabilidade patrimonial.
Tendo o agente cometido um crime patrimonial doloso ou crime não patrimonial motivado pela cobiça,
por exemplo, é razoável pensar-se que, uma vez consumado o crime, seu objetivo passe a ser manter o
status quo alcançado com a prática da infração penal; talvez até com a repetição de ações moralmente
reprováveis. Nisso também reside a potencial inutilidade das medidas patrimoniais do processo se
desvestidas de urgências.
Sobre a autonomia do processo penal cautelar, ou seja, sobre a existência de um processo cautelar distinto do
processo de conhecimento ou do de execução, existem controvérsias entre os processualistas. No entanto, em
relação às medidas assecuratórias aqui comentadas, não se pode deixar de reconhecer como suas características:
a acessorialidade (apesar de ser possível a existência de uma medida cautelar sem a futura ação penal), a
preventividade, a provisoriedade, a revogabilidade e a referibilidade, bem como a possibilidade de
contenciosidade.
Vale registrar ainda que, como nosso direito processual penal assegura ao magistrado o amplo conhecimento
judicial dos fatos, bem como em face do poder geral de cautela conferido ao magistrado, é possível a concessão
de medidas cautelares de ofício pelo próprio juiz da causa, no curso do procedimento, sem necessidade de
petição inicial e de correspondente sentença.
De acordo com Fernando da Costa Tourinho Filho2, o art. 125 do CPP contém impropriedade técnica ao se
referir a seqüestro:
“Embora não se trate, a rigor, de coisa sobre cuja propriedade haja controvérsia, e só assim seria
seqüestro, por outro lado, não podem ser seqüestrados quaisquer bens do indiciado; apenas aqueles
imóveis adquiridos por ele com os proventos da infração.”
Citando Tornaghi, o citado autor conclui que a medida assecuratória prevista no dispositivo em análise seria
“um misto de seqüestro e de arresto”.
Deficiência terminológica à parte, o certo é que estamos diante de providência que, fundada no interesse público,
visa a antecipar o perdimento de bem produto do crime ou o proveito do crime (vantagem indiretamente
auferida pelo agente com a prática criminosa) como efeito da futura e eventual condenação.
Desta feita, o seqüestro é medida adotada no interesse do ofendido e do próprio Estado, com o escopo de
antecipar os efeitos da sentença penal condenatória, salvaguardando a reparação do dano sofrido pelo ofendido,
bem como o pagamento das custas e da pena de multa a ser fixada na sentença. Ela também tem por objetivo
assegurar que da atividade criminosa não resulte vantagem econômica para o infrator.
Neste sentido, o Código Penal, em seu artigo 91, prevê entre os efeitos civis da condenação a indenização do
dano causado pelo crime e o confisco de bens (instrumentos e do produto do crime).
Nos artigos 125 e 126 do CPP está previsto como requisito para a concessão da medida a presença de indícios
veementes da origem ilícita dos bens do indiciado ou acusado, mesmo que estes tenham sido transferidos a
terceiros.
Vejamos o que entendem nossos Tribunais sobre a presença de indícios suficientes da origem ilícita dos bens:
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In “Processo Penal”, Vol. 3, Editora Saraiva, 2005, p. 28.
4
Origem: STF - Agravo Regimental em Inquérito N.º 705-6/140-DF. Relator: Ilmar Galvão. DJ:
20.10.1995
EMENTA: DESPACHO QUE, EM INQUÉRITO POLICIAL, DECRETOU LIMINARMENTE, AD
REFERENDUM DO PLENÁRIO, SEQÜESTRO DE BENS QUE TERIAM SIDO ADQUIRIDOS
PELOS INDICIADOS COM OS PROVENTOS DA INFRAÇÃO (ARTS. 125 E 132 DO CPP).
IMPUGNAÇÃO MANIFESTADO POR AGRAVO DE INSTRUMENTO.
Contemporaneidade da aquisição dos ditos bens com a imputada prática de atos delituosos, os
quais, segundo consta, envolveram elevadas somas de dinheiro. Circunstância bastante para
autorizar a presunção de que se está diante de produto da ilicitude.
Exclusão, todavia de parte ideal (1/20) de imóvel que coube ao primeiro acusado por sucessão, ao qual
teriam sido por este incorporadas valiosas benfeitorias após a sucessão de fatos criminosos narrados na
denúncia, em face da impossibilidade física de serem estas destacadas, para fim de concretização do
confisco, medida que, de outra parte, não se poderia executar sobre o respectivo valor, sem prejuízo
para os demais condôminos, terceiros de boa fé, cujos direitos se acham expressamente ressalvados no
art. 91, II, do Código Penal, já que exigiria a cessação da indivisão do bem, por meio de sua conversão
em dinheiro. Exclusão, também, de imóvel anteriormente adquirido pelo segundo acusado.
Despacho referendado com as ressalvas acima explicitadas.
Agravos regimentais de que não se conhece, por sua inadequação a casos de despacho do relator que
adiante providência cautelar ad referendum do Plenário. Precedentes do STF.
Ocorre que muitas vezes o criminoso tem, na frente da atividade criminosa, uma atividade lícita que oculta a
origem criminosa do seu patrimônio, dificultando sobremaneira a demonstração da relação entre o patrimônio e
a atividade ilícita, todavia, a jurisprudência vem, com acerto, permitindo a desconsideração da personalidade
jurídica nestas hipóteses. Vejamos o seguinte precedente:
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É certo que o ônus da prova cabe a quem alega, assim, quem postula a medida caberá provar a proveniência
ilícita dos bens, já que esse é requisito para concessão da medida. No entanto, dada a dificuldade na
comprovação da origem ilícita dos bens nos delitos de "lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores,
entende-se possível a inversão do ônus da prova, cabendo ao acusado do crime provar que o patrimônio é lícito
(v. g. art. 4º, § 2º da Lei n.º 9.613/98).
Neste caso, a possibilidade da inversão do ônus da prova, mesmo tratando-se de medida que visa garantir os
efeitos de uma eventual e futura condenação criminal, dá-se porque a constrição é meramente patrimonial, ou
seja, incide sobre o patrimônio e não sobre a liberdade do indivíduo.
Por sua vez, o artigo 127 do CPP dispõe que o seqüestro pode ser ordenado “antes de oferecida a denúncia ou
queixa”, ou, “em qualquer fase do processo”. Ressalta-se, aqui, que a determinação da medida, antes de
iniciada a ação penal, deve-se ao risco de que durante o inquérito o investigado se desfaça dos bens produto do
crime ou adquiridos com os haveres obtidos por meios criminosos, tornando difícil ou impossível a reparação do
dano.
Quanto à competência para decretar a medida, apenas o juiz penal a possui. Agora, claro que não é qualquer juiz
penal, só o competente. Logo, as regras de competência devem ser observadas.
Com efeito, distribuído o inquérito policial, a competência para determinar o seqüestro de bens será do juiz
competente para o inquérito. Caso ainda não tenha havido distribuição do procedimento investigatório, a
competência será do juiz penal competente para eventual e futura ação penal, o qual determinando o seqüestro de
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bens, antes da distribuição do inquérito policial, ficará prevento para o mesmo e, posteriormente, para a
eventual ação penal. Vejamos as decisões a seguir ementadas:
Nos termos do art. 127, podem requerer o seqüestro: 1) o Ministério Público, mesmo antes de proposta a ação
penal, obedecidas as regras de competência e de atribuições; 2) a autoridade policial, mediante representação ao
juiz; 3) o ofendido mediante requerimento ao juiz; 4) apesar de não haver disposição expressa, entende-se que se
o ofendido for incapaz, seus representantes legais poderão requerer a medida e, se falecido, seus herdeiros
também poderão fazê-lo, isto com fundamento no art. 63 do CPP; 5) por fim, reza o mencionado dispositivo que
o juiz pode decretar a medida de ofício, ou seja, independente de provocação de qualquer uma das pessoas antes
mencionadas.
Uma vez ordenada a medida, o magistrado determinará a autuação do incidente em apartado, bem como a
expedição do competente mandado, o qual, segundo Tourinho3“conterá a descrição do bem cujo seqüestro se
ordenou, sua localização, o motivo e fins da diligência, sendo subscrito pelo escrivão e assinado pelo Juiz.”
“De posse do mandado, dois Oficiais de Justiça dirigir-se-ão ao lugar em que estiver localizado o
imóvel (dentro da respectiva comarca, é óbvio; se fora, expedir-se-á precatória), dando ciência da
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In “Processo Penal”, Vol. 3, Editora Saraiva, 2005, p. 30/31.
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diligência ao seu proprietário. De qualquer sorte, encontrado ou não o proprietário ou possuidor,
lavrarão o respectivo auto, tudo conforme o art. 665 do CPC.”
Com a juntada do mandado, cumprido dentro das exigências legais, o magistrado determinará a inscrição do
seqüestro no Cartório de Registro de Imóveis, nos moldes estabelecidos na Lei n.º 6.015/73 (Lei de Registros
Públicos), sendo esta a única disposição legal que não se aplica ao seqüestro de bens móveis, já que, por motivos
óbvios, não é cabível.
Nosso Código de Processo Penal não prevê um procedimento próprio para a efetivação do seqüestro, motivo
pelo qual entende-se pela aplicação das normas atinentes à penhora, previstas no Código de Processo Civil. As
regras previstas nos artigos 125 a 133 do CPP aplicam-se tanto ao seqüestro de imóveis como o de móveis,
salvo, como dito anteriormente, o registro no Cartório de Imóveis, o qual é aplicável apenas ao seqüestro de
imóveis.
Aqui, cabe uma importante observação. No caso dos bens imóveis seja ele PRODUTO ou PROVEITO do crime,
sempre caberá o seqüestro. Tratando-se de bens móveis PRODUTO do crime caberá a busca e apreensão nos
termos do art. 240, §1º do CPP, medida que aqui não se aprofunda a análise por tratar de providência cautelar
probatória e não medida constritiva real. Neste último caso, não é necessária uma medida de seqüestro sendo
suficiente a busca e apreensão que é menos formal, consistindo numa tutela mais rápida.
Desta feita, temos que enquanto existir o produto ou o instrumento do crime (bem móvel), caberá a busca e
apreensão do mesmo e, estando ele apreendido, ficará garantido para um eventual confisco.
Por outro lado, se os bens móveis forem PROVEITO do crime, terá que haver uma ação de seqüestro.
Conclui-se que quando o bem objeto do crime se transforma, p. ex. o veículo furtado que foi desmanchado para
venda das peças, ele passa a ser PROVEITO do crime (resultado indireto) e as peças terão de ser seqüestradas.
No caso não caberá mais a restituição do automóvel ou a sua busca e apreensão, eis que o bem já fora todo
desmanchado, em todo caso, caberá a indenização da vítima.
O seqüestro, é bom frisar, atinge única e exclusivamente o patrimônio adquirido ilicitamente pelo agente. Ele
não tem caráter de punição, é apenas a recuperação daquilo que foi perdido pela vítima, seja o produto ou o
proveito de crime em se tratando de bens imóveis ou apenas o proveito em se tratando de bem móvel. Se houver
o reconhecimento judicial de que estes bens são produto de ilícito, aí sim, haverá, como efeito da condenação, o
perdimento do(s) bem(ns).
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Efetivada medida poderão ser opostos embargos (art. 129 do CPP), meio de defesa conferido ao indiciado ou
réu, ao terceiro senhor e possuidor e ao terceiro de boa-fé (art. 130 do CPP).
É importante, assim, atentar para distinção entre terceiro estranho e terceiro adquirente dos bens. Neste sentido,
traz-se os ensinamentos de Marcellus Polastri Lima5, que, citando Sérgio de Moraes Pitombo, esclarece:
“Em processo, o terceiro aflora como pessoa diversa daqueles que litigam. Quem não tomou parte no
feito, pessoalmente ou por via de representação e, se não pode sujeitar, diretamente à eficácia dos atos
jurisdicionais dimanantes é terceiro (...) Costuma-se apartar, no processo penal, o terceiro (arts. 125 e
129 do Cód. de Proc. Penal) do terceiro de boa-fé (art. 130, n. II, do Cód. de Proc. Penal). Simples
terceiro seria o senhor e possuidor do bem seqüestrado, estranho ele ao delito, por completo alheio à
infração penal. Terceiro de boa-fé, apenas aquele que adquiriu, ao menos a preço justo, bens do
acusado, resultantes da infração ignorando-lhes, de modo invencível, a proveniência ilícita.
Seqüestráveis, outrossim, são os bens, móveis ou imóveis, adquiridos pelo terceiro, com o produto
direto, ou indireto da infração penal, o qual lhe foi, disfarçadamente, fornecido pelo indiciado.
(destacamos)”.
4
Neste sentido, Fernando da Costa Tourinho Filho, in “Processo Penal, Volume 3, Editora Saraiva, p. 31.
5
In “Tutela Cautelar no Processo Penal”, Ed. Lumen Juris, 2005, p. 170/172.
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Acordão Origem: TRF - PRIMEIRA REGIÃO Classe: AG - AGRAVO DE INSTRUMENTO –
9401374210 Processo: 9401374210 UF: MT Órgão Julgador: TERCEIRA TURMA Data da decisão:
6/2/1995 Documento: TRF100029289 Fonte DJ DATA: 6/4/1995 PAGINA: 19355 Relator(a) JUIZ
TOURINHO NETO Decisão unânime. Data Publicação 06/04/1995
Ementa PROCESSO PENAL. EMBARGOS DE TERCEIRO DE BOA-FE. SEQUESTRO.
JULGAMENTO.
1. OS EMBARGOS DE TERCEIRO DE BOA-FE, AO CONTRARIO DOS EMBARGOS DO
SENHOR E POSSUIDOR, POR NÃO SER UM ESTRANHO AO FATO CRIMINOSO, SO
PODERÃO SER JULGADOS DEPOIS DE TRANSITADA EM JULGADO A SENTENÇA
CRIMINAL, CONFORME DISPÕE O ART. 130, PARAG. UNICO, DO CODIGO DE
PROCESSO PENAL.
2. AGRAVO IMPROVIDO.
Na hipótese do seqüestro ter sido requerido pelo Ministério Público, a contestação aos embargos ficará a seu
cargo. Quando requerido pelo ofendido ou determinado de ofício pelo juiz, o órgão do Ministério Público deverá
intervir como custos legis.
Eugênio Pacelli6, discorrendo sobre as matérias que podem ser alegadas nos embargos, adverte:
“É bem de ver, porém, que a exigência de fundamentação vinculada (às matérias mencionadas no art.
130, CPP) dos embargos pode esbarrar, no caso concreto, nas franquias constitucionais do devido
processo legal , uma vez que ninguém será privado de seus bens sem a sua observância (art. 5º, LIV).
Assim, parece-nos, também aqui, irrecusável a observância do princípio da ampla defesa e
contraditório.”
De acordo com a regra inserta no art. 130, parágrafo único do CPP, a decisão sobre os embargos somente deverá
ser proferida após o trânsito em julgado da eventual sentença penal condenatória.
Quanto ao recurso cabível contra a decisão que determina o seqüestro ou o indefere, não há unanimidade entre
os doutrinadores. Há os que defendam ser tal decisão irrecorrível já que a mesma não é prevista no rol exaustivo
do artigo 581 do CPP (recurso em sentido estrito), como também, entendendo que ela não seria definitiva nem
teria força de definitiva, não seria hipótese de cabimento de apelação (art. 593, II do CPP). Para esses, a
legalidade da referida decisão somente poderá ser questionada através de mandado de segurança, no qual,
todavia, é pacífico o entendimento de que não é cabível dilação probatória. Vejamos as decisões a seguir
ementadas:
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In “Curso de Processo Penal”, Ed. Del Rey, 2006, p. 278
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Acordão Origem: STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Classe: ROMS - RECURSO
ORDINARIO EM MANDADO DE SEGURANÇA – 3272 Processo: 199300194216 UF: SP Órgão
Julgador: QUINTA TURMA Data da decisão: 29/03/1995 Documento: STJ000087193 Fonte DJ
DATA: 15/05/1995 PÁGINA:13414 LEXSTJ VOL.:00075 PÁGINA:282 Relator(a) ASSIS TOLEDO
Decisão unânime. Data Publicação 15/05/1995
Ementa PROCESSUAL PENAL. SEQUESTRO DE BENS. RENOVAÇÃO.
1. SEQUESTRO DE BENS IMOVEIS ANTE A EXIGENCIA DE INDICIOS DE
PROCEDENCIA ILICITA (ARTS. 126 E 127 DO CPP). MATERIA QUE, ENVOLVENDO
QUESTÃO DE FATO CONTROVERTIDA, NÃO COMPORTA EXAME NA VIA
SUMARISSIMA DO "MANDAMUS".
2. POSSIBILIDADE DE RENOVAÇÃO DO SEQUESTRO PREPARATORIO VENCIDO, COM O
OFERECIMENTO DA DENUNCIA. ALEGAÇÃO DE DECURSO DE PRAZO PREJUDICADA.
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA IMPROVIDO.
Outros processualistas, como Tourinho7, entendem que da decisão que defere ou indefere o pedido de seqüestro
cabe apelação, eis que tem natureza definitiva ou com força de definitiva (art. 593, II do CPP). Isto porque uma
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In “Processo Penal”, Vol. 3, Editora Saraiva, 2005, p. 30.
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vez determinado o seqüestro, a medida perdurará até o término da ação penal, ou, se ao revés, for denegado o
pedido, o requerente terá seus direitos desprotegidos até uma eventual decisão final da ação penal. Tal
entendimento é majoritário, vejamos as decisões a seguir ementadas:
Outros doutrinadores defendem ainda que, ante a ausência de efeito suspensivo dos embargos (art. 129 e 130 do
CPP), deve-se admitir a possibilidade de impetração de mandado de segurança para suspender a medida. Tal
hipótese, todavia, seria possível apenas em casos extremos e excepcionais, bem como quando o impetrante
comprovar, de plano, a origem dos bens seqüestrados, já que não é possível a dilação probatória no mandamus,
justificando, assim, a transferência da medida para o juízo cível.
Agora, da decisão que acolhe ou nega os embargos, o entendimento pacífico, seja doutrinário, seja
jurisprudencial, é o de que cabível apelação (art. 593, II do CPP).
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O seqüestro poderá ser levantado nas hipóteses previstas no artigo 131 do CPP. A primeira delas ocorre “se a
ação penal não for intentada no prazo de 60 dias, contado da data em que ficar concluída a diligência”.
Entenda-se aqui, contado de sua efetivação, e não, da sua inscrição. Acrescente-se, ainda, que levantado o
seqüestro antes do início ação penal, poderá haver a renovação da medida quando aquela se iniciar.
Vale salientar, que nossos Tribunais vêm mitigando a aplicação de tal prazo quando houver justo motivo para a
demora na propositura da ação penal ou o interesse público assim justificar. O entendimento predominante é o
de que não se deve proceder ao levantamento do seqüestro nas referidas hipóteses. Neste sentido, destacamos as
seguintes decisões:
A segunda hipótese, também prevista no art. 131 do CPP, ocorre “se o terceiro, a quem tiverem sido
transferidos os bens, prestar caução que assegure a aplicação do disposto no art. 74, II, b, segunda parte, do
Código Penal”, leia-se, aqui, artigo 91, II, “b”, que substituiu o art. 74 da lei anterior.
A terceira e última hipótese ocorre “se for julgada extinta a punibilidade ou absolvido o réu, por sentença
transitada em julgado”. Vejamos decisão relativa à extinção da punibilidade em decorrência do óbito do
acusado:
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Acordão Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIÃO Classe: QUOACR - QUESTÃO DE
ORDEM NA APELAÇÃO CRIMINAL Processo: 200371080068552 UF: RS Órgão Julgador:
OITAVA TURMA Data da decisão: 26/05/2004 Documento: TRF400096064 Fonte DJU
DATA:09/06/2004 PÁGINA: 639 Relator(a) LUIZ FERNANDO WOWK PENTEADO Decisão
unânime. Data Publicação 09/06/2004
Ementa QUESTÃO DE ORDEM. SEQÜESTRO DE BENS. PENA DE PERDIMENTO.
REPARAÇÃO DO DANO. EFEITOS DA CONDENAÇÃO. ÓBITO DE ACUSADO. EXTINÇÃO
DA PUNIBILIDADE. DESONERAÇÃO DOS BENS.
1 - Se a medida cautelar de seqüestro fundamenta-se no fato de que, em caso de eventual
condenação, os bens objeto do crime sofreriam pena de perdimento em favor da União, bem
como serviriam para o pagamento do prejuízo causado pelo delito praticado, a morte do
acusado, que extingue a punibilidade, faz com que a constrição imposta perca efeito.
2 - A pena de perdimento e o dever de reparar o dano causado pelo delito decorrem da
condenação, o que não se verificará em razão do falecimento do réu.
3 - Questão de ordem acolhida para liberar os bens seqüestrados dos falecidos.
Não se pode deixar de registrar, ainda, importante precedente do Superior Tribunal de Justiça que garantiu a
permanência de medida assecuratória penal havendo a suspensão do curso de processo – hipótese de suspensão e
não de extinção da punibilidade - em decorrência de adesão do réu à programa de recuperação de crédito
(PAES), vejamos:
Transitada em julgado a sentença penal condenatória, sem ter sido o seqüestro levantado, competirá ao juiz que
determinou a medida, qual seja, o próprio juiz criminal, de ofício ou a requerimento do interessado, determinar a
avaliação e a venda dos bens em leilão público (art. 133 do CPP).
O parágrafo único, do art. 133 do CPP reza ainda que “Do dinheiro apurado, será recolhido ao Tesouro
Nacional o que não couber ao lesado ou a terceiro de boa-fé.” Não existindo licitante, o bem será adjudicado à
vítima.
O depósito e a administração dos bens seqüestrados é regulado de acordo com as regras do Código de Processo
Civil (arts. 148 a 150), que serão aplicadas subsidiariamente no processo penal.
Por fim, traz-se à colação precedente do STJ que, em face da preponderância do interesse público sobre o
privado, garantiu a manutenção do sigilo em medida cautelar de seqüestro até a sua efetiva concretização,
vejamos:
Eugênio Pacelli8 aponta alguns traços distintivos entre a hipoteca legal e o seqüestro:
Ao contrário do seqüestro, que incide diretamente sobre o bem litigioso, e no qual a litigiosidade é
revelada pela possibilidade de ter sido ele adquirido com proventos da infração, a hipoteca legal sobre
imóveis do acusado independe da origem ou da fonte de aquisição da propriedade. Trata-se de medida
cujo único objetivo é garantir a solvabilidade do credor, na liquidação de obrigação ou
responsabilidade civil decorrente de infração penal.
(...)
Observe-se que para a decretação do seqüestro a exigência era de indícios veementes da proveniência
ilícita do bem, sem a necessidade da mesma constatação em relação à autoria. A razão de semelhante
distinção é muito simples: enquanto o seqüestro dirige-se à coisa litigiosa, que poderá pertencer até
mesmo a terceiros, estranhos ao crime, a hipoteca tem como alvo unicamente o patrimônio do suposto
autor do fato criminoso, em atenção à sua responsabilidade civil. E por isso poderá recair sobre
8
In Curso de Processo Penal, Editora Del Rey, 2006, Belo Horizonte, p. 278.
20
quaisquer imóveis, desde que suficientes para garantir a futura recomposição patrimonial dos danos,
bem com o pagamento das custas e despesas processuais.
É possível, pois, serem especializados bens imóveis do imputado, adquiridos antes do cometimento do crime,
sendo irrelevante provar que o réu está dilapidando o seu patrimônio ou demonstrar a relação do bem com a
prática delituosa. Neste sentido, transcreve-se as decisões a seguir ementadas:
Pode-se dizer que a hipoteca legal é direito real de garantia em virtude do qual um bem imóvel, que continua em
poder do devedor, assegura ao credor o pagamento da dívida.
Quanto ao momento para interposição da medida, dispõe o artigo 134 do CPP que ela poderá ser oferecida em
qualquer fase do processo, o que vem acarretando controvérsias, já que há os que entendem possível a
especialização da hipoteca antes do início da ação penal, ou seja, na fase do inquérito, e os que entendem em
sentido contrário.
São dois os pressupostos necessários para a especialização da hipoteca legal: a prova inequívoca da
materialidade e indícios suficientes de autoria. Vejamos a decisão do STF a seguir ementada:
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ORIGEM: SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AG.REG.NA AÇÃO CAUTELAR 1.189-2
DISTRITO FEDERAL RELATOR: MIN. JOAQUIM BARBOSA AGRAVADO(A/S): MINISTÉRIO
PÚBLICO FEDERAL DJ: 02.02.2007
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. SEQÜESTRO E ARRESTO DOS BENS DOS INDICIADOS
PARA POSTERIOR INSCRIÇÃO DE HIPOTECA LEGAL. PRESENÇA DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS À CONCESSÃO DE MEDIDAS CAUTELARES. GARANTIA DE
RESSARCIMENTO DO ERÁRIO. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO DESPROVIDO.
Agravo regimental interposto contra decisão que determinou o seqüestro de bens móveis e o arresto de
bens imóveis dos agravantes.
A decisão agravada encontra-se suficientemente fundamentada, existindo nos autos numerosos
indícios aptos a demonstrar a presença dos pressupostos necessários à concessão de medidas
cautelares.
A reduzida participação do agravante no capital da NOV Patrimonial Ltda. não desautoriza o
acautelamento dos bens pertencentes à empresa, ante os indícios de confusão patrimonial
existentes.
Não há prova nos autos de que os valores apurados unilateralmente e recolhidos aos cofres
públicos pelo agravante sejam suficientes ao ressarcimento do Erário em caso de condenação.
A mera circunstância de a Receita Federal não ter ajuizado ação própria contra os agravantes, bem
como a inexistência de ação penal ou civil em que se lhes impute o cometimento de fraudes ou o
desvio de recursos públicos, não os exime das medidas cautelares justificadas à luz dos indícios de
prática criminosa apresentados pela Procuradoria-Geral da República.
Agravo regimental desprovido.
Na hipótese de ser proposta a ação civil ex delicto poderá o interessado requerer a especialização da hipoteca
legal no juízo cível competente para decidir a medida. Não obstante, tratando-se, aqui, de medida assecuratória
penal, a competência será do juízo competente para processar a ação penal.
Dispõe o artigo 140 do CPP que a garantia proveniente da especialização da hipoteca legal abrange, além do
ressarcimento do dano, as despesas processuais e as penas pecuniárias caso aplicadas, tendo o
ressarcimento ex delicto preferência em relação às despesas processuais e penas pecuniárias, isto é, indeniza-se o
ofendido em primeiro lugar, e o que sobrar o Estado recolhe.
Poderão requerer a especialização da hipoteca legal: o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros (art.
842, I e 827, VI do CCB), bem como pelo Ministério Público, quando o ofendido for pobre e a ele requeira, ou
se houver interesse da fazenda pública (municipal, estadual ou federal), nesta última hipótese, a própria pessoa
jurídica de direito público também poderá formular o pedido.
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No que tange à previsão, contida no art. 142 do CPP, de que o MP pode requerer a especialização da hipoteca
legal quando a vítima for pobre e a ele requerer, entendemos que tal regra tem constitucionalidade duvidosa, haja
vista que o direito à indenização é individual disponível, bem como a defesa dos necessitados, atualmente, é
atribuição da Defensoria Pública.
Com efeito, em relação à dispositivo análogo, seja ele o art. 68 do CPP, o STF vem decidindo por sua
inconstitucionalidade progressiva, ou seja, na medida em que a Defensoria Pública for estruturada nos Estados, a
regra passaria a ser inconstitucional. Tratando da questão, discorre Tourinho9:
Onde houver Defensor Público, a legitimidade para as atividades de que cuidam essas disposições é da
sua exclusividade. Onde não houver, ela se desloca para o Ministério Público.
De acordo com o art. 134 do CPP, a medida pressupõe a certeza da infração e indícios suficientes da autoria.
Registre-se, contudo, que tais pressupostos também são necessários para o recebimento da Denúncia, motivo
pelo qual alguns doutrinadores defendem que a especialização da hipoteca legal poderá ser deferida ainda na fase
policial da persecutio criminis.
Melhor explicando, recebida a Denúncia os pressupostos da medida em comento já estariam presentes, quais
sejam, a prova do crime e indícios suficientes de sua autoria, logo, como é certo que não se encontram na lei
palavras inúteis, caso a especialização da hipoteca legal fosse apenas possível depois de iniciada a ação penal,
não seria necessária a inclusão de tais requisitos no art. 134 do CPP.
O procedimento para especialização da hipoteca legal é definido no art. 135 do CPP. O requerimento deverá ser
instruído “com as provas ou indicação das provas em que se fundar a estimação da responsabilidade, com a
relação dos imóveis que o responsável possuir, se outros tiver, além dos indicados no requerimento, e com os
documentos que comprobatórios do domínio.” Recebido o requerimento, o juiz mandará proceder o
arbitramento do valor da responsabilidade e à avaliação do imóvel, podendo “corrigir o arbitramento do valor
da responsabilidade, se lhe parecer excessivo ou deficiente.”
Transitada em julgado a sentença penal condenatória, e não havendo discordância a respeito do arbitramento, os
autos deverão ser remetidos ao juízo cível, onde deverão ser executados (art. 63 c/c art. 143, ambos do CPP).
O art. 136 do CPP, com intuito de oferecer maiores garantias, permite aos legitimados à postulação da
especialização da hipoteca legal outra medida preventiva, já que o processo de especialização e registro pode ser
muito demorado. Assim, os legitimados poderão requerer o arresto dos bens sobre os quais se pretenda recair
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In “Processo Penal”, Vol. 3, Editora Saraiva, 2005, p. 39.
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a hipoteca, até que tal medida seja efetivamente concretizada. Uma vez deferido o arresto e efetivada sua
diligência deverá o requerente promover o registro e especialização da hipoteca legal no prazo de 15 dias, sob
pena de revogação da medida preliminar.
Caso os bens do responsável sejam insuficientes para garantir o valor total arbitrado, o juiz ainda assim poderá
conceder a medida garantindo pelo menos parte do valor da indenização.
Cumpre registrar, que a inscrição (registro) da hipoteca legal é requisito indispensável para a medida valer contra
terceiros.
Nos termos do art. 141 do CPP, a hipoteca legal será cancelada se por sentença irrecorrível o réu for absolvido
ou for julgada extinta a sua punibilidade.
Da decisão que determina ou indefere a inscrição e especialização da hipoteca legal cabe recurso de apelação,
sendo apenas legitimados para sua interposição as partes, não podendo terceiro prejudicado fazê-lo.
Como não se permite a hipoteca de bens móveis (salvo, excepcionalmente, sobre navios e aeronaves), o
legislador, no art. 137 do CPP, redação dada pela Lei n.º 11.435/2006, autorizou aos legitimados para requerer
a hipoteca legal, quando inexistentes bens imóveis em nome do acusado ou do responsável civil, e caso
existentes, insuficientes para garantir o valor estipulado para a reparação do dano, despesas processuais e penas
pecuniárias, a requerer o arresto de móveis.
Deve-se observar a restrição legal para que esse tipo de medida recaia, tão somente, sobre bens que sejam
suscetíveis de penhora, quais sejam, os não arrolados no artigo 649 do Código de Processo Civil, com redação
dada pela Lei. 11.382/2006.
Observação importante diz respeito ao fato de que nossos Tribunais, analisando casos de bens de família, vêm
decidindo pela constitucionalidade da exceção prevista no art. 3º, VI, da Lei n.º 8.009/90 (dispõe sobre a
impenhorabilidade do bem de família), de penhorabilidade dos bens adquiridos “com produto do crime ou para
execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimentos de bens.” Neste sentido,
vejamos a decisão a seguir:
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Acordão Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIÃO Classe: ACR - APELAÇÃO CRIMINAL
Processo: 200470000152488 UF: PR Órgão Julgador: SÉTIMA TURMA Data da decisão: 30/05/2006
Documento: TRF400126540 Fonte DJU DATA:14/06/2006 PÁGINA: 587 Relator(a) NÉFI
CORDEIRO Decisão unânime. Data Publicação 14/06/2006
Ementa: PENAL E PROCESSO PENAL. CRIME CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO
NACIONAL. EMBARGOS DE TERCEIRO. MEDIDAS ASSECURATÓRIAS. MINISTÉRIO
PÚBLICO. LEGITIMIDADE. HIPOTECA LEGAL E ARRESTO PROVISÓRIO.
PENHORABILIDADE. BEM DE FAMÍLIA. EXCEÇÃO. MEAÇÃO. PERICULUM IN MORA.
PRESUNÇÃO LEGAL.
1. Nos termos do artigo 142 do CPP, em havendo interesse da Fazenda Pública o Ministério Público
tem legitimidade para requerer medida cautelar de arresto provisório e posterior hipoteca legal, bem
como o arresto de bens móveis.
2. Para a providência acautelatória, que visa à reparação do dano causado e ao pagamento de multa e
custas, exige-se prova da materialidade do fato criminoso e indícios suficientes da autoria, sendo
desnecessária prova de que esteja o réu dilapidando seu patrimônio.
3. O arresto (constrição sobre bens móveis do patrimônio do réu) ou a hipoteca legal (constrição sobre
bens imóveis do patrimônio do réu) não podem atingir bens impenhoráveis.
4. A proteção legal ao bem de família, da Lei nº 8.009/90, tem expressamente excepcionadas
hipóteses em que pode ser tal bem atingido pela constrição, entre elas a reparação por sentença
criminal condenatória, pelo grave dano social causado pela infração penal.
5. Constitucional é a exceção do art. 3º, VI, da Lei nº 8.009/90, pois se analogamente decidiu o
Supremo Tribunal Federal ser constitucional restringir o direito de moradia em face da proteção
à fiança - RE 407688 - ainda mais razoável é a proteção pelo dano criminal.
6. É do credor o ônus de demonstrar que a esposa aproveitou-se do resultado da infração penal -
afastando dela a prova negativa que se daria com a inversão do ônus probatório - e os efeitos da
meação somente se darão em fase de eventual alienação dos bens indivisíveis, mas desde logo deve
ficar assegurado expressamente esse direito.
7. O periculum in mora nas cautelares penais se dá por presunção legal absoluta, não se admitindo
prova de que na espécie inexiste o risco de desfazimento do patrimônio do réu.
Há decisão, todavia, entendendo que a exceção prevista no art. 3º, VI, da Lei n.º 8.0009/90, não incide quando se
tratar de pena de multa aplicada. Vejamos:
Os bens arrestados, nos moldes do art. 139 do CPP, ficarão sujeitos ao regime do processo civil, sendo entregues
a terceiro estranho à lide, o qual será responsável pelo seu depósito e administração.
Nos termos do art. 137 do CPP, se os bens móveis arrestados forem fungíveis e facilmente deterioráveis, deverão
ser avaliados e levados à leilão público, devendo o dinheiro apurado ser depositado em uma conta corrente ou
entregue ao terceiro que os detinha se for pessoa idônea, o qual assinará termo de responsabilidade (art. 137, § 1º
c/c art. 120, § 5º do CPP). Vejamos a decisão a seguir ementada:
Na hipótese dos bens móveis arrestados gerarem rendas, caberá ao juiz arbitrar um valor proveniente de tais
rendimentos, com o objetivo de prover à manutenção do acusado e de sua família.
Instituído com a finalidade específica de regular o seqüestro de bens de pessoas indiciadas por crimes dos quais
resulte prejuízo para a Fazenda Pública, o Decreto-Lei n.º 3.240/41, ainda vigor, conforme entendimento
jurisprudencial dominante a respeito, é norma especial, a qual, uma vez configurada a hipótese de delito do que
resulte prejuízo ao Erário, prevalecerá sobre as normas gerais previstas no Código de Processo Penal que
disciplinam o seqüestro de bens como medida assecuratória para os crimes em geral. Sobre a vigência e
aplicabilidade do referido texto normativo, o STJ, reiteradamente, vem decidindo:
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Acordão Origem: STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Classe RESP - RECURSO
ESPECIAL Nº 149.516 - SC (1997/0067222-0) RELATOR: MINISTRO GILSON DIPP Data da
publicação: 17.06.2002.
EMENTA PENAL. RESP. SEQÜESTRO DE BENS. DELITO QUE RESULTA PREJUÍZO À
FAZENDA PÚBLICA. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO. AFRONTA AO
ART. 1º DO DECRETO-LEI 4.240/41. CONFIGURAÇÃO. INAPLICABILIDADE DO ART. 125
DO CPP À ESPÉCIE. TIPOS QUE REGULAM ASSUNTOS DIVERSOS E TÊM EXISTÊNCIA
COMPATÍVEL. IMPROPRIEDADE DA ARGUMENTAÇÃO ACERCA DO MOMENTO EM QUE
OS BENS SEQÜESTRADOS FORAM ADQUIRIDOS. RECURSO CONHECIDO PELA ALÍNEA
"A" E PROVIDO.
I. Impõe-se, para demonstração da divergência jurisprudencial a comprovação da divergência e a
realização do confronto analítico entre julgados, de modo a evidenciar sua identidade ou semelhança, a
teor do que determina o art. 255, §§ 1º e 2º do RISTJ.
II. Não sobressai ilegalidade na decisão monocrática que, calcada na norma que visa ao
seqüestro dos bens o quanto bastem para a satisfação de débito oriundo de crime contra a
Fazenda Pública, determina o seqüestro de todos os bens dos indiciados.
III. O art. 1º do Decreto-Lei n° 4.240/41. por ser norma especial, prevalece sobre o art. 125 do
CPP e não foi por este revogado eis que a legislação especial não versa sobre a mera apreensão
do produto do crime, mas, sim. configura específico meio acautelatório de ressarcimento da
Fazenda Pública, de crimes contra ela praticados. Os tipos penais em questão regulam assuntos
diversos e têm existência compatível.
IV. Não há que se argumentar sobre o momento em que os bens submetidos a seqüestro foram
adquiridos, pois o dispositivo do r. Decreto-Lei visa a alcançar tantos bens quanto bastem à
satisfação do débitos decorrente do delito contra a Fazenda Pública.
V. Evidenciada a apontada afronta à legislação infraconstitucional, deve ser cassado o acórdão
recorrido, a fim de ser restabelecida a decisão monocrática que determinou o seqüestro de todos os
bens dos ora recorridos, por seus judiciosos termos.
VI .Recurso conhecido pela alínea a e provido, nos termos do voto do relator.
Entre as particularidades da medida prevista no Decreto-Lei n.º 3.240/41 pode-se citar o fato de não exigir que
os bens do indiciado ou acusado, objeto da medida, sejam decorrentes da prática delituosa, sendo, por isso,
irrelevante a origem dos bens que sofrerão a constrição.
Com efeito, não importa se tais bens foram adquiridos antes ou depois da prática criminosa; se são, ou
não, produto do crime, bem como se foram, ou não, adquiridos com proventos da infração, e ainda, se são
bens móveis ou imóveis.
Aqui, verifica-se uma impropriedade da denominação utilizada pelo referido Decreto-Lei ao falar em seqüestro,
uma vez que este pressupõe que os bens sejam produto do crime ou adquiridos com o produto do crime (proveito
do crime) e, no caso da medida ora comentada, o bem não precisa ter nenhuma relação com o fato criminoso.
Outrossim, por destinar-se à proteção dos interesses da fazenda pública, o art. 4º do mencionado Decreto-Lei
prevê que a medida poderá “recair sobre todos os bens do indiciado, e compreender os bens em poder de
terceiros desde que estes os tenham adquirido dolosamente, ou com culpa grave”, alcançando, assim, tantos
bens quantos forem necessários ao ressarcimento do prejuízo sofrido pelo Erário. Vejamos os seguintes
precedentes:
Outra peculiaridade da medida em análise é a possibilidade de ser deferida sem audiência da parte contrária, o
que é, expressamente, autorizado pelo art. 2º do referido texto normativo.
Uma vez presentes indícios veementes da responsabilidade do indiciado não há impedimento para a
decretação do seqüestro de tantos bens quantos forem necessários a assegurar o ressarcimento dos prejuízos
sofridos pelo Erário (art. 3º do Decreto-lei n.º 3.240/41). Vejamos as seguintes decisões:
Acordão Origem: TRIBUNAL - QUINTA REGIAO Classe: ACR - Apelação Criminal - 231
Processo: 8905030033 UF: PE Órgão Julgador: Primeira Turma Data da decisão: 28/04/2005
Documento: TRF500101895 Fonte DJ - Data::13/09/2005 - Página::474 - Nº::176 Relator(a)
Desembargador Federal Élio Wanderley de Siqueira Filho Decisão UNÂNIME Data Publicação
13/09/2005
Ementa PROCESSO PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. SEQÜESTRO DE BENS DE RÉU
ENVOLVIDO NO DESVIO DE RECURSOS FEDERAIS. SUFICIÊNCIA DE INDÍCIOS DE QUE
TAIS BENS SERIAM FRUTO DA ATIVIDADE CRIMINOSA. "ESCÂNDALO DA MANDIOCA".
DECRETO-LEI Nº 3.240/41. NÃO REVOGAÇÃO DO MESMO PELO ADVENTO DO CÓDIGO
DE PROCESSO PENAL. PRECEDENTES DO C. STJ. APELO MINISTERIAL CONHECIDO E
PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA.
1. No caso de crimes de que resulte prejuízo para a Fazenda Pública, o seqüestro de bens é
disciplinado pelo Decreto-Lei nº 3.240/41 e pode recair sobre todos os bens do indiciado, a teor
do art. 4º desse diploma.
2. A decretação do seqüestro de bens como medida cautelar no processo penal não exige prova plena
de serem eles fruto da atividade criminosa, bastando a existência de indícios razoáveis de tanto.
Precedentes deste E. TRF da 5ª Região.
3. Vigência do Decreto-Lei nº 3.240/41, no ponto em que disciplina o seqüestro de bens de pessoa
indiciada por crime de que resulta prejuízo para a Fazenda Pública. Precedentes do C. STJ.
4. Apelo ministerial conhecido e provido. Sentença reformada.
Por fim, salienta-se o entendimento, retirado do julgado abaixo transcrito, de que o prazo estipulado no art. 136
do CPP não se aplica às hipóteses da medida em comento, em face da especialidade da regra contida no art. 4º, §
2º do Decreto-Lei n.º 3.240/41, a qual não determina prazo peremptório a ser observado para a especialização,
vejamos:
RESUMO
O seqüestro é reservado ao produto ou proveito do delito, podendo o mesmo recair sobre bens imóveis
(artigos 125 a 131 do CPP) ou sobre móveis (artigo 132 do CPP). A medida atinge única e exclusivamente o
patrimônio adquirido ilicitamente pelo agente.
Nos termos dos artigos 125 e 126 do CPP, é requisito para a concessão do seqüestro a presença de indícios
veementes da origem ilícita dos bens do indiciado ou acusado, mesmo que estes tenham sido transferidos a
terceiros.
O seqüestro não tem caráter de punição, é apenas a recuperação daquilo que foi perdido pela vítima, se houver o
reconhecimento judicial de que estes bens eram produto de ilícito, aí sim, haverá, como efeito da condenação, o
perdimento do(s) bem(ns).
O seqüestro é medida adotada no interesse do ofendido e do próprio Estado, com o escopo de antecipar os
efeitos da sentença penal condenatória, salvaguardando a reparação do dano sofrido pelo ofendido, bem
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como o pagamento das custas e da pena de multa a ser fixada na sentença. Ela também tem por objetivo
assegurar que da atividade criminosa não resulte vantagem econômica para o infrator.
Observa-se que no caso dos bens imóveis, seja ele PRODUTO ou PROVEITO do crime, sempre caberá
seqüestro. Tratando-se de bens móveis PRODUTO do crime caberá busca e apreensão, nos termos do art. 240,
§1º do CPP, e, tratando-se de bens móveis PROVEITO do crime a medida cabível será o seqüestro.
A hipoteca legal recai sobre imóveis do acusado e independe da origem ilícita do bem. Seu único objetivo é
garantir a solvabilidade do credor na liquidação de obrigação ou responsabilidade civil decorrente de
infração penal, ou seja, recomposição patrimonial dos danos, bem com o pagamento das custas e despesas
processuais.
São dois os pressupostos necessários para a especialização da hipoteca legal, quais sejam, a prova inequívoca
da materialidade e indícios suficientes de autoria. É possível, pois, serem especializados bens imóveis do
imputado adquiridos antes do cometimento do crime, sendo irrelevante provar que o réu está dilapidando o seu
patrimônio ou demonstrar a relação do bem com a prática delituosa.
Por seu turno, o arresto pode recair sobre bens imóveis (art. 136 do CPP), servindo como medida preparatória
da hipoteca legal, bem como sobre bens móveis (art. 137 do CPP), destinando-se, em ambas as hipóteses, à
garantia da ressarcimento do dano “alcançando também as despesas processuais e as penas pecuniárias,
tendo preferência sobre estas a reparação do dano ao ofendido” (art. 140 do CPP).
O art. 136 do CPP, com intuito de oferecer maiores garantias, permite aos legitimados à postulação da
especialização da hipoteca legal requererem o arresto dos bens sobre os quais se pretende recair a hipoteca, até
que esta medida seja efetivamente concretizada.
Por outro lado, como não se permite a hipoteca de bens móveis (salvo, excepcionalmente, sobre navios e
aeronaves), o legislador, no art. 137 do CPP, redação dada pela Lei n.º 11.435/2006, autorizou aos legitimados
para requerer a hipoteca legal, quando inexistentes bens imóveis em nome do acusado ou do responsável civil, e
caso existentes, insuficientes para garantir o valor estipulado para a reparação do dano, despesas processuais e
penas pecuniárias, a requererem o arresto de móveis.
Por fim, temos a medida prevista no Decreto-Lei 3.240/41, denominada incorretamente de seqüestro, quando na
realidade trata-se de uma modalidade de arresto que incide na hipótese de delitos que acarretem prejuízo ao
erário.
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Tal medida não exige que os bens do indiciado ou acusado sejam decorrentes da prática delituosa, sendo, por
isso, irrelevante a origem dos bens que sofrerão a constrição.
Com efeito, não importa se tais bens foram adquiridos antes ou depois da prática criminosa; se são, ou não,
produto do crime, bem como se foram, ou não, adquiridos com proventos da infração, e ainda, se são bens
móveis ou imóveis. Não obstante de origem absolutamente legítima, os bens poderão ser convertidos em
garantia.
Ademais, por destinar-se à proteção dos interesses da fazenda pública, o art. 4º do mencionado Decreto-Lei
prevê que a medida poderá “recair sobre todos os bens do indiciado, e compreender os bens em poder de
terceiros desde que estes os tenham adquirido dolosamente, ou com culpa grave”, alcançando, assim, tantos
bens quantos forem necessários ao ressarcimento do prejuízo sofrido pelo Erário.