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Sepher Yetzirah — A Base do Tarô Cabalístico

Agarath

O "Sepher Yetzirah", ou "Livro Cabalístico da Formação", é dito ser o mais velho


tratado rabínico da filosofia cabalística que ainda existe, possivelmente data do século I e.v.
(segundo Perle Epstein).

No Sepher Yetzirah está escrito que no início Yah, ou Jehovah das Hostes, formou e criou o
Universo em 32 Caminhos da Sabedoria através de 3 Sepharim (modos de criação) a saber:
Sfor (Números), Sepher (Letras) e Sippur (Sons).

Diz ainda que a Otz ha-Chaim, ou a árvore da Vida, é composta de 10 Esferas ou Sephiroth
(no singular cada esfera é chamada de Sephira e no plural Sephiroth; quando se fala em
Sephiroth, dependendo do contexto, pode-se estar falando de 2 esferas ou mais, ou de todo
o conjunto das 10 Sephiroth, ou seja, a completa árvore da Vida); e também de 22
caminhos que ligam uma Sephira à outra. E é exatamente o conjunto destas 10 Sephiroth e
destes 22 caminhos que forma os 32 Caminhos da Sabedoria citados acima. As Sephiroth
são consideradas números (números de 1 à 9, e conjunto de tudo simbolizado pelo 10, que é
o Reino ou Malkuth, que também na Qabalah é o resultado de todas as outras Sephiroth que
o antecedem), ou seja Sfor, e os caminhos letras, ou seja Sepher. Os 22 caminhos
correspondem às 22 letras do alfabeto hebraico, e como veremos mais adiante, também aos
22 Atus ou Trunfos do Tarô. Lembro ainda que no alfabeto hebraico todas estas 22 letras
são consoantes, pois o alfabeto hebraico não possui vogais, quando se quer assinalar vogais
em palavras hebraicas geralmente utiliza-se alguns pontinhos, que em determinados locais
indicam a vogal que se quer expressar. Eu penso que as vogais são intimamentes ligadas ao
som (Sippur), e tanto as vogais quanto o som são ligados ao Espírito, que é vida, energia,
que circula e dá vida à árvore (algo como o Prana para os hindús), ainda mais tendo em
conta que diz-se que o alfabeto hebraico não possui vogais justamente porque sabendo-se
as vogais apropriadas consegue-se vibrar corretamente o inefável nome de Deus.

O Sepher Yetzirah ainda divide as 22 letras ou caminhos em:

• 3 letras mães: Aleph, Mem e Shin; que correspondem respectivamente aos 3


elementos: Ar, água e Fogo.
• 7 letras duplas: Beth, Ghimel, Daleth, Kaph, Phe, Resh e Thau; que correspondem
respectivamente aos 7 planetas: Mercúrio, Lua, Vênus, Júpiter, Marte, Sol e
Saturno.
• 12 letras simples: He, Vau, Zain, Cheth, Teth, Iod, Lamed, Nun, Samech, Ain,
Tzadi, Quph; que correspondem respectivamente aos 12 signos: Aquário, Touro,
Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, áries,
Peixes.

Note que na descrição das 12 letras simples há uma inversão na ordem de áries e Aquário, é
porque aqui sigo as atribuições do Tarô de Thoth, onde He corresponde à Aquário e não a
áries, e Tzadi corresponde a áries e não a Aquário. As explicações para isto encontram-se
em Introdução ao Tarô de Thoth — Os Arcanos Maiores. Quem quiser seguir o sistema da
GD, é só tomar He como áries e Tzadi como Aquário.

As 7 duplas possuem "duplicidade" de pronúncia, aspirada e expirada. Os seus significados


devem sempre ser duais, pois elas simbolizam a "tese" e a "antítese" a que a vida humana
está exposta.

Letra Dupla Tese Antítese


Beth Vida Morte
Conflito ou
Ghimel Paz
Guerra
Daleth Sabedoria Loucura
Koph Prosperidade Pobreza
Peh Beleza Fealdade
Resh Fertilidade Esterelidade
Dependência
Tau Soberania ou
Escravidão

Todas as 22 letras se combinam e produzem formas no mundo, no ano, e no homem


(homem e mulher):

Formas no Formas no
Formas no
Letras Mundo Homem
Ano (Shaná)
(Olam) (Nephesh)
Elementos
3 Mães
Primitivos
Peito
Ar (espírito Homem:
que Aleph Mem
Aleph estabelece o Umidade Shim
equilíbrio Mulher:
entre eles) Shin Mem
Aleph
Mem água (que Frio Ventre
forma a terra) (corpo)
Homem:
Shin Mem
Aleph
Mulher:
Aleph Mem
Shin
Fogo (que
Shim forma o céu Calor Cabeça
da terra)
7 portais,
7 Dias da
7 Duplas 7 Planetas aberturas
Semana
dos sentidos
O olho
Beth (Vida/Morte) Mercúrio Quarta-feira
direito
A orelha
Ghimel (Paz/Guerra) Lua Segunda-feira
direita
Daleth A narina
Vênus Sexta-feira
(Sabedoria/Loucura) direita
Koph A orelha
Júpiter Quinta-feira
(Proseridade/Pobreza) esquerda
O ouvido
Peh (Beleza/Fealdade) Marte Terça-feira
esquerdo
Resh A narina
Sol Domingo
(Fertilidade/Esterelidade) esquerda
Tau
Saturno Sábado A boca
(Soberania/Escravidão)
12
12 Simples 12 Meses 12 Órgãos
Constelações
He (olfato) áries Nisan Pé direito
Vau (audição) Touro Ivar Rim direito
Zain (gustação) Gêmeos Sivan Pé esquerdo
Chet (fala) Câncer Tamus Mão direita
Rim
Thet (digestão) Leão Ab
esquerdo
Mão
Yod (tato) Virgem Elul
esquerda
Lamed (trabalho) Libra Tishri Bílis
Intestino
Nun (movimento) Escorpião Mavchesshvan
delgado
Sameck (raiva) Sagitário Kislev Estômago
Ayin (riso, alegria) Capricórnio Tebes Fígado
Tzaddi (pensamento) Aquário Shebat Esôfago
Órgãos
Qof (sono) Peixes Adar
reprodutores

Como pode-se notar, o Sepher Yetzirah afirma clara e objetivamente a que elemento cada
letra mãe corresponde, a qual planeta cada letra dupla corresponde e a qual signo cada letra
simples corresponde. Assim, podemos montar uma tabela comparando as atribuições do
sistema de Eliphas Levi, as atribuições do sistema da GD (Golden Dawn) e as atribuições
do Tarô de Thoh (ou o Tarô de Crowley). Lembrando que Eliphas Levi começa a contar a
partir do 1 e coloca Aleph como O Mago e assim por diante; já tanto a GD quanto Crowley
colocam o 0 (zero) na sua exata posição na frente do 1, colocam Aleph como O Louco,
Beth como O Mago e assim por diante. Também, o sistema de Crowley só difere daquele
da GD devido a permuta entre O Imperador e A Estrela. Crowley reafirma sua tese baseada
no Livro da Lei, através do "duplo laço do zodíaco", onde ficam em evidência os signos de
Leão e Libra (que ambos ele e a GD permutam) e os signos de áries e Aquário (que apenas
ele permuta). Ou seja, Crowley explicou as 2 permutas numa tacada só.

Duplo Laço do Zodíaco

Então analisamos a tabela abaixo, onde as letras marcadas com M são as mães, as com D
são as duplas e as com S são as simples. E assim comparamos as correspondências entre os
elementos, os planetas e os signos com as próprias cartas do Tarô. No sistema de Levi,
comparar O Mago com o Ar até que não é muito de se estranhar, e muitos teimam em
afirmar que Aleph é O Mago porque o formato da figura do Mago formaria um Aleph com
suas mãos uma elevada para cima e outra para baixo (assim como a posição das mãos do
lendário Baphomet); mas analisando as correspondências de todas as outras cartas com os
elementos, planetas e signos, o sistema de Levi se torna o mais desconexo. Fica estranho,
por exemplo, relacionar A Sacerdotisa a Mercúrio, O imperador a Vênus, O Eremita a
Leão, e assim por diante. Já nos sistemas de Thoth e da GD as atribuições caem como uma
luva; só para citar alguns exemplos, as atribuições da Força ou Luxúria com Leão, do
Eremita com Virgem, da Justiça ou Ajustamento com Libra, de Escorpião com a Morte (na
Astrologia Escorpião pertence a casa 8, que é a da morte), Capricórnio com O Diabo, etc,
são muito felizes.

Assim, penso que no Tarô Cabalístico o sistema de Eliphas Levi se torna obsoleto, e, para
despeito de alguns, tanto a GD quanto Crowley acertaram e descobriram a chave que
faltava para a aplicação prática do ensinamentos do ilustre Sepher Yetzirah, que junto ao
Zohar constituem os dois pilares fundamentais de toda a instrução oral ou o "Conhecimento
Secreto" dado a Moisés para o uso privativo dos sacerdotes, ao contrário da Lei Escrita,
dirigida aos mundanos. Bom, atualmente este ensinamento que era de caráter privativo está
mais acessível, embora ainda exista aqueles que não possuem olhos para ver nem ouvidos
para ouvir esta maravilha, e se fecham ao conhecimento simplesmente por preconceito.
Quem sabe assim o conhecimento fique "secreto" (ou fechado para os olhos do cego) por
mais um tempo, até as pessoas começarem a serem mais analíticas. Também, fica difícil
agora para os cabalistas mais tradicionalistas negarem a eficiência da Cabala Hermética, e
continuarem querendo rebaixá-la ao campo da pura superstição. Deste modo, quem quiser
aplicar o Tarô Cabalístico em moldes muito fora do sistema da GD estará apenas blefando,
ou brincando de associar, pois na Qabalah tudo é ordenado, sincrônico, matemático, como a
própria Criação.

Após ter escolhido que sistema ter como base, pode-se analisar todos os 22 Atus do Tarô
com as atribuições no mundo, no ano e no homem dadas para as 22 letras pelo Sepher
Yetzirah, e meditar sobre estas relações.

Letras Tarot de Thoth Sistema da GD Sistema de Eliphas Levi


Aleph O Louco Ar (M) O Louco Ar (M) O Mago Ar (M)
Mercúrio Mercúrio A
Bethel O Mago O Mago Mercúrio (D)
(D) (D) Sacerdotisa
A A
Ghimel Lua (D) Lua (D) A Imperatriz Lua (D)
Sacerdotisa Sacerdotisa
Daleth A Imperatriz Vênus (D) A Imperatriz Vênus (D) O Imperador Vênus (D)
He A Estrela Aquarius (S) O Imperador Aries (S) O Papa Aries (S)
O O Os
Vau Taurus (S) Taurus (S) Taurus (S)
Hierofante Hierofante Namorados
Gemmini Os Gemmini
Zain Os Amantes O Carro Gemmini (S)
(S) Namorados (S)
Cheth O Carro Cancer (S) O Carro Cancer (S) A Força Cancer (S)
Thet A Luxúria Leo (S) A Força Leo (S) O Eremita Leo (S)
A Roda da
Yod O Eremita Virgo (S) O Eremita Virgo (S) Virgo (S)
Fortuna
Kaph A Fortuna Júpiter (D) A Roda da Júpiter (D) A Justiça Júpiter (D)
Fortuna
O
Lamed Librae (S) A Justiça Librae (S) O Enforcado Librae (S)
Ajustamento
O O
Mem água (M) água (M) A Morte água (M)
Pendurado Pendurado
Num A Morte Scorpio (S) A Morte Scorpio (S) A Arte Scorpio (S)
Sagitarius Sagitarius
Sameck A Arte A Arte O Diabo Sagitarius (S)
(S) (S)
Capricornii Capricornii Capricornii
Ayin O Diabo O Diabo A Torre
(S) (S) (S)
Peh A Torre Marte (D) A Torre Marte (D) A Estrela Marte (D)
Tzaddi O Imperador Aries (S) A Estrela Aquarius (S) A Lua Aquarius (S)
Qoph A Lua Pisces (S) A Lua Pisces (S) O Sol Pisces (S)
O
Resh O Sol Sol (D) O Sol Sol (D) Sol (D)
Julgamento
O
Shin O Eon Fogo (M) Fogo (M) O Louco Fogo (M)
Julgamento
Tau O Universo Saturno (D) O Universo Saturno (D) O Universo Saturno (D)

Basta agora falar da disposição dos caminhos (e consequentemente das cartas de Tarô) na
Otz ha-Chaim. Já expliquei sobre isto em Introdução ao Tarô de Thoth — Os Arcamos
Maiores, por isto vou ser breve aqui. Então, basta dizer que a numeração dos caminhos na
Otz ha-Chaim é dado pelo Caminho da Serpente Nechustan (a Serpente da Sabedoria). A
Serpente da Sabedoria se enrosca na árvore de um tal modo que seu corpo passa por cada
caminho os numerando (considere a ordem de numeração apenas quando o corpo da
Serpente para "por cima" do caminho, desconsidere quando passa por trás).

Com sua cauda perto de Malkuth e a cabeça próxima de Kether, ela indica a ordem correta
de numeração dos caminhos na árvore (Charles Fielding, em A Cabala Prática, Ed.
Pensamento).

Assim, faz-se outra tabela relacionando qual par de Sephiroth cada caminho liga:

Caminho Sephirot
11 Kether — Chokhmah
12 Kether — Binah
13 Kether — Tiphareth
14 Chokhmah — Binah
Chokhmah —
15
Tiphareth
16 Chokhmah — Chesed
17 Binah — Tiphareth
18 Binah — Geburah
19 Chesed — Geburah
20 Chesed — Tiphareth
21 Chesed — Netzach
22 Geburah — Tiphareth
23 Giburah — Hod
24 Tiphareth — Netzach
25 Tiphareth — Yesod
26 Tiphareth — Hod
27 Netzach — Hod
28 Netzach — Yesod
29 Netzach — Malkuth
30 Hod — Yesod
31 Hod — Malkuth
32 Yesod — Malkuth

Lembre-se que os 22 caminhos são contados a partir do 11, assim numerados de 11 à 32,
pois os 10 Caminhos maiores são as próprias Sephiroth. Os 32 Caminhos da Sabedoria são
a união dos 10 Caminhos (em uma escala superior) que são as Sephiroth e dos 22 caminhos
(em escala menor) que são as letras do alfabeto hebraico ou cartas do Tarô.

Apêndice
Exercício de Memorização das Cartas do Tarô sobre os
Caminhos da Otz ha-Chaim
Pegue uma cartolina e faça um painel, no qual deverá desenhar uma enorme árvore da
Vida, sobre a qual disporá os 22 Atus do Tarô de seu uso, usando para isto alguma das 3
atribuições dadas acima (Levi, GD ou Crowley).
Isto poderá proporcionar um avanço em seus estudos e mesmo nas meditações sobre o Tarô
Cabalístico, pois assim você terá uma ferramenta mais fácil para meditar sobre o
significado que tem cada carta ligando uma Sephira à outra, e assim expandir seus
horizontes.

O material indicado para se colar no painel é algum jogo de 22 cartas maiores de tarô que
seja o mais pequenino possível, para que não fique algo muito grande e pouco prático.
Quem tiver condições poderá fazer o exercício em um painel magnético, assim, colocando
ímãs atrás das cartas, poderá testar todas as atribuições possíveis.

Esta memorização poderá ser muito útil em futuros exercícios mais práticos relativos à
árvore da Vida.
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