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RELATO DE EXPERIËNCIA

Uma experiência de supervisão na área psicossocial:


desafios teórico-práticos

Vicente de Paula Faleiros


Universidade Católica de Brasília

Uma experiência de supervisão na área psicossocial: desafios teórico-práticos


Resumo: Este artigo trata da relação de supervisão de profissionais do setor psicossocial no âmbito da Justiça. Dois paradigmas são
referenciados para análise da questão da atuação psicossocial: o da disputa e o do conflito, a partir dos quais focalizou-se a relação teoria/
prática no processo de supervisão como autoformação e troca de saberes na perspectiva da correlação de forças. Com esse referencial
foi efetuada e analisada a supervisão do setor psicossocial na Central Judicial do Idoso1, evidenciando contradições na defesa de direitos,
na judicialização dos conflitos sociais e a falibilidade das políticas públicas relativas à pessoa idosa, bem como a carga simbólica de
onipotência/impotência do trabalho social no Judiciário.
Palavras-chave: supervisão, psicossocial, judiciário, idosos.

An Experience of Supervision in the Psycho-social Field: Theoretical and Practical Challenges


Abstract: This article looks at the relationship of the supervision of professionals in the psycho-social sector in the realm of the courts.
Two paradigms are used for the analysis of the issues of psycho-social action: that of dispute and conflict, based on which the
relationship between theory and practice is analyzed in the process of supervision as a self-education and exchange of knowledge from
the perspective of the co-relation of forces. With this reference, supervision of the psycho-social sector in the Judicial Center for the
Elderly was analyzed, revealing contradictions in the defense of rights, legal resolutions of social conflict and the inadequacy of public
policies related to the elderly, as well as the symbolic weight of the omnipotence and impotence of social work in the Judiciary system.
Key words: supervision, psycho-social, judiciary, the elderly.

Recebido em 08.04.2009. Aprovado em 31.07.2009.

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As relações de poder na atuação profissional colocando o interesse de um contra o de outro, em


que tornam equivalentes, ao menos formalmente, suas
Este artigo visa contribuir para a compreensão do pretensões e ações.
processo de supervisão de profissionais que atuam Boltanski (1990) chama de disputa a exteriori-
nos Núcleos Psicossociais da Justiça, trazendo à zação do princípio da equivalência que coloca frente
reflexão uma relação entre teoria e prática. Analisa- a frente a generalização de propriedades abstratas
mos, com base em referencial teórico abaixo dos contendores para que se dê um fim à disputa e
explicitado, uma experiência de supervisão2 junto a se consiga a paz.
profissionais de Psicologia e Serviço Social da Cen- Assim, nesse paradigma, a disputa na esfera da
tral Judicial do Idoso do Distrito Federal3. justiça implica em:
A metodologia de elaboração desse texto está a) enfrentamento de adversários ou inimigos;
embasada nas anotações de cada uma das sete ses- b) busca da equivalência dos contendores;
sões de supervisão, considerando: o tema colocado c) produção da prova;
em pauta, as problematizações levantadas pelas par- d) avaliação da culpa;
ticipantes e pelo supervisor, o debate teórico e a cons- e) punição do culpado.
trução de sínteses enquanto reflexão/ação, reflexão A intervenção social, nesse padrão, está vincula-
articulada à ação, num processo dialético de da à perícia da situação ou “verificação de fatos in-
questionamento/análise/síntese, compartilhado entre teressantes à causa que são transmitidos aos juízes”
supervisor e profissionais da área psicossocial. Para (TURCK, 2000, p. 34), que é uma atividade auxiliar do
se contextualizar a questão do lugar e das relações juiz, de caráter interpretativo e consubstanciada em
de poder desses profissionais analisamos, em primei- laudo sigiloso, onde a produção do “parecer” visa um
ro lugar, os paradigmas da justiça e do aparelho de diagnóstico da agressão/vitimização com indicadores
justiça em suas correlações de força. Em seguida, das condições sociais dos sujeitos.
situamos as questões da supervisão nesse contexto, Nesse paradigma, a relação entre o contexto, a
vinculando contexto e método como expressão de lei, o sujeito e a situação tem como foco a disputa,
um processo metodológico complexo que envolve para que o juiz possa punir “adequadamente”. A dis-
teoria e prática. Os pressupostos teóricos da ação puta pode ser alienada do contexto social do conflito,
estão abstratamente considerados como “paradigma embora a ele se refira. Para Fávero, Melão e Jorge
da disputa” e “paradigma do conflito” em que se po- (2005, p. 33), os conflitos sociais no Poder Judiciário
dem situar as questões de estratégias de ação. expressam a ausência de ações do Poder Executivo
Em realidade, os profissionais da área psicossocial na implementação de políticas sociais, pois
se inscrevem num contexto de poder em que se pre-
sume que haverá a aplicação da lei para dirimir con- [...] além dos litígios e demandas que requerem a
flitos. Pressupõe-se o uso da força na aplicação da intervenção judicial como regulamentação de guar-
lei, pois como diz Derrida (2007, p.17): “ se a justiça da de filhos, violência doméstica, adoção etc... cada
não é necessariamente o direito ou a lei, ela só pode vez mais se acentua uma “demanda fora de lugar”
tornar-se justiça, por direito ou em direito, quando ou uma “judicialização” da pobreza que busca no
detém a força, ou antes quando recorre à força des- Judiciário solução para situações que, embora se
de seu primeiro instante, sua primeira palavra.” As- expressem particularmente, decorrem de extremas
sim, o contexto da justiça é um contexto em que se condições [sic!] de desigualdades sociais.
recorre à força legítima para impor a lei, no exercício
do discurso, do ritual, da obrigação, do dever, por for- A disputa, ao se limitar à querela, não implica a
ça da autoridade. consideração do conflito social nela implícito, e nes-
A autoridade do juiz se traduz no dito: “decisão sa perspectiva o que o Judiciário busca é finalizar ou
judicial não se discute, se cumpre”, pois migth makes arquivar a querela com o cancelamento da disputa.
rigth (o poder faz o direito), lembra Derrida. Esse Por sua vez, mantém-se do conflito, à medida que
poder se inscreve em dois paradigmas que passo a persistam, as relações sociais que lhe dão fundamento.
chamar de paradigma da disputa e de paradigma do Trata-se de uma visão idealista de uma identida-
conflito, que estruturam diferentemente o trabalho de entre Estado e direito, como expressa Faria (2001,
psicossocial, como veremos posteriormente. p. 17): “[...] a intensidade disso foi tanta que com o
tempo terminou por estabelecer um saber especializa-
do difusamente presente na trama de todas as rela-
O paradigma da disputa ções sociais e nas múltiplas instituições, privadas ou
públicas – da família e da fábrica aos Tribunais.”
O sistema de justiça tem funcionado, em geral, O discurso instituído do psicossocial, nesse
como um lugar em que os contendores passam a dis- paradigma da disputa, passa a ser o discurso do con-
putar uma decisão que seja favorável à demanda, trole, pois segundo Foucault (1996, p. 18), o discurso

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instituído controla, seleciona, organiza e redistribui a realidade em que se produz o conflito na busca da
certo número de procedimentos. No discurso há ex- garantia da cidadania e do direito, inclusive dos direi-
clusões e inclusões conforme a interpretação e a tos humanos. A análise dessas condições pressupõe
avaliação do verdadeiro e do falso. Segundo Foucault, o deciframento da relação entre as estruturas sociais
“existe uma vontade de verdade que se apóia sobre e a constituição do sujeito, com os significados dos
um suporte institucional.” conflitos objetiva e subjetivamente explicitados.
O “parecer” se relaciona com a interpretação O deciframento da situação na sua complexida-
classificatória e avaliativa da situação pelo profissio- de e na reconstrução dos discursos de configuração
nal com o suporte institucional, enquadrando-se numa dos limites, das possibilidades e das alternativas pas-
“polícia discursiva”, onde sa a ser o foco da intervenção profissional para a
resolução do conflito, o que pressupõe:
[...] existem os rituais da palavra, as sociedades do a) a intervenção junto aos conflitantes para su-
discurso, os grupos doutrinários e as apropriações perar o conflito do ponto de vista imediato, com
sociais que se ligam uns aos outros e constituem atendimento psicossocial;
espécies de grandes edifícios que garantem a distri- b) a produção de um discurso provisório que se
buição dos sujeitos que falam nos diferentes tipos torna processual, com a busca das diferentes
de discurso e apropriação dos discursos por certas visões sobre a questão conflituosa;
categorias de sujeitos (FOUCAULT, 1996, p. 44). c) a intervenção cidadã para a integração dos
sujeitos aos direitos sociais;
A justiça é um sistema que ritualiza e distribui a d) a intervenção nos conflitos familiares por meio
palavra, conforme o lugar estabelecido e o lugar das da mediação do conflito e da construção do
provas para decisão da autoridade. O peso do dis- reconhecimento do outro, superando a ordem
curso depende do peso do poder de quem fala. Que jurídica formal da disputa;
poder tem o louco, o velho, a criança, a mulher? A e) a consideração das normas e valores e re-
fala da defesa e as falas da acusação são incluídas gras de convivência em conflito com o direi-
ou excluídas, segundo critérios que incluem ou ex- to formal;
cluem a realidade, os sujeitos ou seu discurso. f) a criatividade dos próprios sujeitos para resol-
Assim, o papel do profissional psicossocial, no ver conflitos;
paradigma da disputa, é o de fornecer ao juiz ele- g) as construções dos discursos e contradiscursos
mentos para que se produza o processo de uma e seus valores, no contexto social e na busca
viabilização de equivalências de falas e provas dos de paradigmas não formais de resolução do
contendores. Na maioria dos casos, visando uma conflito;
“acomodação social” da disputa entre os contendores h) a relação do conflito com as condições da fa-
como casais, famílias, dogradictos, adolescentes in- mília, com as políticas públicas, com as redes
fratores com comportamentos socialmente reprimi- sociais;
dos, como é salientado na pesquisa de Fávero, Me- i) a ênfase na responsabilidade ao invés de ên-
lão e Jorge (2005). fase na periculosidade e na culpa.
Essa intervenção esbarra nas condições de fun-
cionamento da própria justiça, no seu jogo de poder e
O paradigma do conflito também nas dificuldades da família, na falta de
infraestrutura, na burocracia e na falta de alternati-
O paradigma do conflito, implícito na Lei 9099/ vas ao Poder Executivo. Há, ainda, a falta de articu-
95 (BRASIL, 1995), relativa aos juizados criminais lação com a comunidade no enfrentamento dos con-
especiais, buscou o objetivo de conciliar ou flitos e a falta também de condições estruturais pró-
transacionar (Art. 60) a execução de infração de prias do sistema capitalista para enfrentar situações
menor poder ofensivo. como o desemprego, a precarização do trabalho, a
O conflito, diferentemente da disputa, coloca ên- expulsão do campo e a miséria, ou a pobreza.
fase na desigualdade social, ao invés de acentuar uma Nesse contexto, torna-se também conflituosa a
equivalência formal entre contendores. Ao invés de relação entre o psicossocial e os outros operadores do
uma ênfase no julgamento e no arquivamento do pro- direito e das políticas sociais, pois ainda inexiste uma
cesso, torna atores os indivíduos ou grupos que visão estruturada do trabalho social em redes, devido
protagonizam o conflito, principalmente dando-lhes à fragmentação dos poderes do Estado e das ativida-
oportunidade e voz para expressão das divergências des do Poder Executivo. Existe muitas vezes um
e dos consensos. descompasso entre a ordem jurídica, o ordenamento
Torna-se possível um outro discurso que expres- político e as relações sociais. O psicossocial precisa
se a verdade do sujeito e a confrontação com suas levar em conta essas três dimensões em sua atuação
condições em sua relação complexa, visualizando-se no Poder Judiciário, ou seja, tanto a legalidade como

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os dispositivos das políticas públicas e as condições de A Figura 1 mostra que as relações de poder
vida dos sujeitos e suas relações de conflito. Essas dominantes estão estruturadas pela hegemonia do
dimensões estão estruturadas por relações econômi- Poder Judicial e do poder da Promotoria que de-
cas e de poder, além de suas implicações culturais e terminam as condições e a dinâmica dos processos
ideológicas. Vamos destacar as relações de poder, pois de trabalho da Burocracia e do Setor Psicos-
são determinantes no exercício da Justiça, não só pela social. No entanto essa organização do poder está
imposição da força da Lei e da autoridade, mas pelas articulada, nas sociedades democráticas, à garantia
estratégias de discurso e de imposições de poder pes- da cidadania, enquanto direitos formais e também
soal, em todos os atos que se referem à dinâmica de enquanto participação e inserção social. Esses di-
intervenção psicossocial. reitos, por sua vez, são demandados em relações
A Figura 1 mostra, sumariamente, no contexto conflituosas e em condições sociais de desigual-
da intervenção psicossocial, os setores principais em dade. O quadro central mostra que cidadania im-
presença e duas questões que são entrelaçadas: a plica a efetivação dos direitos num processo com-
da cidadania e a da relação dos conflitos sociais plexo onde estão presentes não só advogados e pro-
com o delito, que pode ser vista no paradigma da vas, mas uma dinâmica social de desigualdade
disputa ou do conflito. socioeconômica como de correlações de força.
Nas relações de poder do Judiciário destacamos Nessas correlações de força é que o Setor
quatro setores: o Juiz, a Burocracia, a Promotoria e o Psicossocial poderá exercer um poder, ainda que
Setor Psicossocial, mas existem diferentes atores que limitado, de afirmação de direitos e de subsídios à
interferem na dinâmica dessa estrutura como os ad- Justiça, além de contribuir ao empoderamento dos
vogados, os jurados, os depoentes, os peritos, e outros. sujeitos e à mediação de conflitos. Esse poder do
Cada setor tem uma estruturação própria, mas Setor Psicossocial, com seus limites estruturais,
interdependente na trajetória dos processos. Na Fi- é que foi analisado no processo de supervisão na
gura 1, a supervisão aparece apenas com vínculo tê- dinâmica relacional em que é exercido, visualizando-
nue, pois ocorreu eventualmente e fora da estrutura do se a articulação entre estrutura organizacional e es-
Poder Judiciário. Após a apresentação da Figura 1, tratégias de ação.
explicitamos os fundamentos da supervisão efetuada.

Figura 1 - Interação dos setores implicados na atuação psicossocial num contexto democrático
e num Estado de Direito

Poder Judicial Promotoria


- Responsabilização - Defesa da ordem jurí-
- Sanção frente ao delito dica, da democracia, zelo
pelos direitos e interesses
sociais e individuais
Cidadania indisponíveis
- Direitos formais e - Fiscalização
consideração pela
participação, inserção social e

Relações de conflito e Supervisão


sujeitos Técnica
- Direitos, participação e
inserção social
Burocracia cartorial e - Poder, expressão e Psicossocial
administrativa condições sociais - Afirmação de direitos
- Normas - Delito - Subsídio à justiça -
- Cartório laudos e pareceres
- Empoderamento
- Mediação de conflitos
sociais

Fonte: elaboração do autor

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As dimensões da supervisão Para construção de saberes e práticas do setor


psicossocial, tomou-se como foco a relação teoria/
O pressuposto da supervisão que foi adotada nessa prática tanto no sentido de avaliar as relações de
prática é de que tanto o Serviço Social como a Psi- poder em jogo, como para buscar alternativas de atu-
cologia se colocam num processo de correlação de ação numa perspectiva crítica. Faleiros (1997) define
forças, como assinalado por Faleiros (2008a). Nessa essa perspectiva como a articulação de uma teoria
correlação de forças, os atores expressam tanto as crítica com a desconstrução da prática na articula-
determinações de seu lugar de poder, de sua posição ção da mesma com uma visão de totalidade e com-
político-institucional, como as determinações dos dis- plexidade. Assinala que a crítica se concretiza no
positivos de ação e das estratégias de decisões e ar- desvelamento dos mecanismos dominantes de ilusão
ticulações no confronto dos atores em presença. e alienação e no deciframento das relações de poder
A supervisão não faz parte da estrutura do po- e exploração, buscando mediações para elucidar os
der e se relaciona com os técnicos de forma tempo- conflitos no questionamento da imediatez dos dados
rária. Trata-se de um modelo de supervisão que e relacionamentos. A crítica prática, segundo o autor,
contribui eventualmente para a reflexão de temas e articula-se a propostas de mudanças das condições
mudança das práticas. Não assume a responsabili- objetivas e subjetivas no contexto das correlações de
dade pela execução. forças instituídas e instituintes.
Não se trata de uma supervisão como processo Nessa perspectiva, a supervisão buscou articular
de ensino-aprendizagem e nem como terapia profis- um olhar sobre o poder dominante e as forças emer-
sional (BURIOLLA, 1994), mas como estratégia de gentes, assim como sobre as possibilidades de mu-
apoio técnico com vistas ao aperfeiçoamento teóri- dança para efetivação da cidadania, no embate com
co/prático. A supervisão, segundo Eva Faleiros (1981), as tendências neoliberais de negação da cidadania, e
tem vários enfoques e se manifesta conforme o pro- que priorizam o mercado e não o Estado de Direito.
cesso histórico da sociedade e da profissão, podendo Essa relação teoria/prática é um processo de re-
ser influenciada por uma visão funcionalista com maior flexão sobre o movimento entre a particularidade fo-
ou menor ênfase psicologizante. A autora destaca que, calizada e a generalidade de sua produção, e, ao
com o movimento de reconceituação do Serviço So- mesmo tempo, de aprofundamento das condições
cial (anos 1970), a supervisão passou a ser entendida gerais em que podem ser pensados os fenômenos
como um processo pedagógico de reflexão crítica, sociais no contexto capitalista. Com efeito, na super-
integrando teoria, prática e técnicas. visão surgem situações particulares de conflito soci-
Sheriff e Sanchez (1973) mostram que a supervi- al que são vinculadas à conjuntura e à estrutura soci-
são no sistema capitalista se coloca numa relação de al (FALEIROS, 2008a). Essas situações implicam uma
subordinado/dominante. Numa visão dialética, impli- multidimensionalidade que, por sua vez, é fragmen-
ca um crescimento mútuo de supervisor/supervisado tada pela própria divisão do poder e por sua signifi-
para desenvolvimento de um processo liberador das cação para cada um dos setores mencionados na
amarras das condições de dominação. Nessa pers- Figura 1. É a partir do seu lugar de poder que as
pectiva, a supervisão objetiva efetivar direitos dos questões são modeladas e os discursos proferidos,
usuários no processo interativo das relações de po- como assinala Dominique Maingueneau (2008, p. 54):
der, inclusive em nível institucional.
Tem-se como pressuposto que a supervisão faz [...] o discurso constituinte implica um tipo de liga-
parte da formação continuada e da autoformação, ção especifica entre operações linguageiras e es-
numa relação de trocas de saberes em que se bus- paço institucional. As formas enunciativas não são
ca a crítica do contexto e da ação dos atores, assim aí um simples vetor de ideias, elas representam a
como dos fundamentos e das alternativas para es- instituição no discurso, ao mesmo tempo em que
tratégias profissionais nos processos de trabalho que moldam, legitimando-o (ou deslegitimando-o) esse
condicionam a ação. Como salienta Faleiros (2007a), universo social no qual elas vêm se inscrever.
o Serviço Social, como outras atividades profissio-
nais de caráter social, inscreve-se no processo de Nessa ótica, o processo de supervisão abre a pos-
produção e reprodução social numa relação de sibilidade de se discutir o paradigma do conflito, numa
hegemonia e contra-hegemonia, controle e resistên- visão crítica das relações de poder e dos conflitos
cia, conforme a conjuntura de forças em presença. sociais que são judicializados. A articulação entre as
Assim, os saberes e as práticas estão articulados demandas de intervenção judicial com os conflitos
aos movimentos hegemônicos e contra-hegemônicos sociais passa a ser o objeto do processo teórico/prá-
com ênfases diferenciadas na burocracia, no tico da intervenção psicossocial.
clientelismo, na produtividade ou na defesa de di- Essa forma de supervisão crítica difere de uma
reitos, conforme a organização e a força dos blocos supervisão apenas centrada num problema isolado
dominantes e dominados. ou na subjetividade dos profissionais. Busca articular

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o envolvimento e a subjetividade dos profissionais Embora a idade seja um critério para outorgar ou
diante de impasses ou dificuldades no desenvolvimen- limitar direitos, esse critério é social, política e eco-
to do trabalho que combine a crítica com a efetividade/ nomicamente construído na relação estado/socieda-
eficácia da ação. de/mercado. A idade de direitos ou os direitos por
A distinção entre o que é demanda das chefias e idade não são definidos cronologicamente, mas no
o que é demanda da mediação dos conflitos é funda- confronto das relações de poder e das mudanças
mental para se decifrar os limites e as possibilidades demográficas, sociais, epidemiológicas, de qualidade
de intervenção profissional. As demandas do poder de vida, intergeracionais, econômicas, políticas, cul-
dominante podem expressar tanto a necessidade de turais (dentre as quais às relativas aos preconceitos
efetivação de direitos como as dificuldades na agili- em relação à velhice).
dade do processo ou na manifestação de poder hie- Na prática profissional, o enfoque nos direitos per-
rárquico/pessoal. Sabe-se que nas instituições as dis- mite olhar não só o horizonte da dignidade e do respei-
putas por cargos, as relações interpessoais e to previstos em lei, mas o caminhar da efetivação des-
intergrupos, a adaptação individual, as situações de se horizonte no cotidiano e nas relações entre os dife-
incertezas, podem gerar conflitos de relacionamento rentes operadores de políticas sociais.
(CROZIER, 1981). Muitas vezes privilegia-se a hierar-
quia em detrimento da efetividade.
Como na Figura 1, num contexto democrático e O processo da supervisão
num Estado de Direito, o objetivo a ser alcançado na
justiça é a garantia e a efetivação da cidadania. A Na primeira sessão de supervisão houve a
cidadania não se reduz a uma formalidade, mas im- interação de apresentação. A primeira questão le-
plica a efetivação do direito no movimento das situa- vantada foi sobre as demandas que chegam para os
ções concretas, onde o sujeito venha a ser reconhe- profissionais. Foi destacado que as diferentes deman-
cido como credor de direitos que sejam respeitados e das que se entrecruzam são provenientes de três lu-
garantidos nas redes públicas e privadas. A supervi- gares enumerados na Figura 1: da promotoria, da
são, nesse contexto, vai contribuir para que a inter- defensoria e do setor burocrático, em função dos
venção psicossocial articule a demanda dos sujeitos conflitos e demandas dos sujeitos.
aos direitos e às redes sociais, considerando os con- Destacou-se que as demandas se inscrevem na
flitos em jogo na justiça. Na promotoria, onde foi re- lógica da disputa ou do conflito, pois a questão cen-
alizada a supervisão, está em questão a cidadania da tral era da judicialização dos conflitos. A interven-
pessoa idosa. ção psicossocial passou a ser, contraditoriamente,
vista como executora de ordens, como mediadora
de conflitos e de pareceres, ou como pericial. Os
Cidadania da pessoa idosa objetivos da intervenção e as várias alternativas de
dispositivos também foram discutidos, entres estas:
No processo de supervisão aqui analisado, foi requisição de serviços, entrevistas ou mesmo cor-
enfatizada a importância da consideração e da respondências e telefonemas dentro das limitações
efetivação dos direitos da pessoa idosa. Em realida- de tempo e de recursos.
de, esses direitos são processuais, vinculados ao con- Concluiu-se que há diferentes concepções do tra-
texto histórico e político das sociedades, consideran- balho psicossocial e também um jogo de poder que
do-se a dinâmica econômica, a representação da se apresenta conforme a correlação de forças.
velhice, e os pactos políticos de proteção social Em realidade, o Poder Judiciário tem uma “es-
(FALEIROS, 2007c). No Brasil, esses direitos estão trutura contraditória”, como visualizado no Figu-
explicitados tanto em nível constitucional como nas ra 1 pelas flechas entre os setores, pois as rela-
legislações federal, estadual e municipal. Destacam- ções são configuradas pelo poder de cada um de-
se a Lei 8.842/94 (BRASIL, 1994) e o Estatuto do Ido- les definido em lei, mas exercido numa dinâmica
so – Lei 10.741/03 (BRASIL, 2003). de interações de saber, de uso de estratégias e de
Os direitos da pessoa idosa e sua inclusão na es- dispositivos e ações de grupos e indivíduos, com
fera constitucional não estão limitados a um corte de incidências nas práticas dos atores. Torna-se difí-
idade, embora, como assinala Godinho (2007, p. 67): cil uma autodefinição da intervenção profissional
que seja consensualmente aceita, mas a afirma-
[...] tratar do reconhecimento dos direitos dos ido- ção da autonomia depende da organização e da
sos significa, antes de tudo, considerar que o fundamentação do trabalho profissional que podem
ordenamento jurídico se vale do critério etário para ser pactuados numa negociação política e técnica,
outorgar ou limitar direitos, ou seja, a idade serve historicamente mutável. Foi evidenciado que o di-
como parâmetro para a aquisição, modificação, ou álogo é possível, dependendo da conjuntura e da
extinção de direitos. configuração do poder.

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Na segunda sessão de supervisão, salientou-se o mesmo tempo, havia uma violência da instituição
fluxo de funcionamento da instituição relativamente cuidadora da pessoa idosa. A demanda à supervisão
aos conflitos ou disputas dos sujeitos. Viu-se que não se referia à necessidade de articular a punição do
era uniforme. No entanto, poder-se-ia padronizar certa agressor com a atenção à pessoa idosa.
dinâmica se fosse negociada politicamente. Para tratar da situação, a promotoria estava exi-
Diante das situações de emergência, torna-se mais gindo do psicossocial uma forma de relatório fundada
complexa uma padronização, pois são diversificadas na “quesitação”, ou seja, com itens pré-estabelecidos
as situações concernentes à pessoa idosa: manifes- muito específicos para servir de prova de agressão.
tação de violência de abandono, física, psicológica, Expressou-se um conflito de saber e poder, pois
financeira; doença; migração ou mesmo falta de se considerou que o parecer social não se deveria
autocuidado. Na rede social, não se configura uma enquadrar num formato de construção de perícia ou
atenção adequada aos vários tipos de situação, não prova, que nem sempre busca entender o conflito
só pela ausência de políticas, mas por falta de servi- subjacente. Por outro lado, a rede de responsa-
ços, como plantão noturno. Na promotoria chegam bilização também havia falhado na caracterização
situações desesperadoras com a carga simbólica de criminal do fato. A “quesitação” pressupunha aos
que “a justiça vai resolver logo”. Essa carga simbóli- profissionais a função de peritos criminais.
ca acaba recaindo também sobre o setor psicossocial, Nessa perspectiva, a intervenção demandada pelo
onde chega a um contraponto, o de representar o sistema se colocava muito mais próxima do paradigma
setor – ou mesmo o Poder Judiciário – como impo- da disputa que do paradigma do conflito, pois
tente, se não conseguir dar uma resposta satisfatória, desconsiderava a própria trama social em jogo na
num jogo simbólico entre onipotência e impotência. família e na instituição. De fato, os conflitos familia-
A análise dessa contradi- res se manifestavam na vio-
ção, na supervisão, possibili- lência contra a pessoa idosa,
tou a reflexão teórico/práti- ... não se tem atendido pois havia também uma rela-
ca do significado do ção de briga entre irmãos pelo
psicossocial e das contradi-
satisfatoriamente as situações dinheiro da mãe. A idosa, por
ções da própria rede de aten- de emergência que precisam sua vez, expressava uma tra-
dimento e do símbolo “da jetória de confiança no filho
resolubilidade que não resol- ser articuladas nas redes que a levava para a cabelei-
ve”, ou seja, da relação en- reira uma vez por mês e fa-
tre onipotência e impotência. sociais com fluxos efetivos e zia alguns passeios com ela.
A discussão do processo Faleiros (2007b) destaca
de “pingue-pongue social”, ágeis e com dispositivos menos que a relação de violência
ou seja, de jogo de empurra contra a pessoa idosa na fa-
das instituições, contraria a burocráticos para uso do mília está articulada tanto ao
efetivação da cidadania e a
necessidade de implicação e
orçamento e para atendimento contexto social como à histó-
ria familiar e aos relaciona-
mediação dos conflitos soci- efetivo das demandas. mentos dos sujeitos nessa his-
ais, que geram demanda tória. Trata-se de situações
para a justiça, principalmen- difíceis de serem enfrentadas,
te com a falência das políticas públicas que deveri- pois implicam sujeitos em uma interação familiar
am garantir a cidadania. conflituosa e arraigada.
O encaminhamento de pessoas idosas para abri- A própria justiça fica, de certa forma, sem ele-
gos nem sempre dá resolubilidade ao conflito, mas mentos consistentes e eficazes para responsabilizar
cobre uma emergência de fluxo que propicia insatis- os filhos pela violência contra os pais, considerando
fação aos sujeitos, que ficam privados da liberdade e que os próprios pais passam a tolerá-la para não per-
de alternativas de melhoria da situação. der, talvez, uma relação de afeto. Na supervisão, dis-
Concluiu-se que não se tem atendido satisfato- cutiu-se a relação entre a teoria da violência familiar
riamente as situações de emergência que preci- e práticas familiares e políticas com as demandas do
sam ser articuladas nas redes sociais com fluxos poder e as possibilidades da intervenção.
efetivos e ágeis e com dispositivos menos buro- Na quarta sessão, aprofundou-se a discussão en-
cráticos para uso do orçamento e para atendimen- tre “quesitação” e estudo psicossocial. A preocupa-
to efetivo das demandas. ção dos profissionais era de fazer valer seus conhe-
Na terceira sessão de supervisão, foi evidenciada cimentos e saberes na análise dos conflitos para de-
uma situação de violência contra a pessoa idosa em fesa dos direitos da pessoa idosa, buscando articular
que se manifestava um conflito familiar de abuso fi- o que está expresso na legislação com a demanda
nanceiro por parte do filho em relação à mãe. Ao por punição e proteção. A ótica do setor psicossocial

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Uma experiência de supervisão na área psicossocial: desafios teórico-práticos 265

deve articular, ao mesmo tempo, a demanda por pu- instituições do SUS e do SUAS e as alternativas que
nição do agressor com a proteção da vítima, como podem aparecer mais imediatas são abrigo nas Insti-
salienta Faleiros (2008b). Emerge também a contra- tuições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs)
dição entre a produtividade do sistema e a profundi- e mobilização da família, sem que sejam avaliados
dade da intervenção no conflito, com ênfase no en- suas possibilidades reais e seus limites. Por sua vez,
cerramento do processo ou na mediação. os programas para idosos dependentes são escassos
Na relação de poder, o parecer pode ser usado ou inexistentes.
como prova de crime, mas isto o aprisiona na lógica As famílias, na prática, não têm tido suporte para
da disputa e não o libera para entender o conflito. tratar da violência contra a pessoa idosa ou da sua
Para se encaminhar uma alternativa ao problema dependência, inexistindo serviços domiciliares. Nesse
da relação entre parecer profissional e “quesitação”, sentido, a atuação do setor psicossocial se vê, muitas
viu-se a possibilidade de se responder, de imediato, vezes, inviabilizada, pois não lhe cabe substituir o Po-
aos quesitos com saber específico, para não ir de der Executivo. A equipe se deu conta de suas limita-
encontro ao poder dominante e sim abrir um diálogo ções e das limitações existentes nas redes.
com a própria chefia para um melhor encaminha- Na última sessão, foi feita uma avaliação do
mento da questão. processo da supervisão e um balanço das alterna-
A relação entre poder institucional e saber profis- tivas para a construção do fluxo e dos instrumen-
sional, abordada por Faleiros (2007a), inscreve-se tais do trabalho, implicando maior elucidação das
numa dimensão política da regulação das mediações relações entre os atores e setores por meio de uma
ideológicas de poder, sociais e de produtividade, em visão da complexidade da própria estruturação do
que se inserem as instituições na dialética das suas Poder Judiciário e das relações de conflito social
formas no capitalismo. que são judicializadas. Deve-se considerar, inclu-
Na quinta sessão voltou-se à discussão da violên- sive, que a intervenção na Promotoria da Pessoa
cia contra a pessoa idosa. A equipe estava lidando Idosa ainda é incipiente.
com um significativo número de situações de violên-
cia, o que levou a aprofundar os objetivos contraditó-
rios entre a proteção e a punição, inclusive com a Considerações finais
necessidade de se estabelecer uma diferença entre
prova criminal e mediação dos conflitos. Em primeiro lugar, vamos destacar o processo da
Para intervir na mediação do conflito, entretanto, supervisão que se fundamentou, como expressamos
a equipe necessita não só de analise, mas de articu- anteriormente, numa concepção de autoformação,
lação das redes implicadas na situação concreta da numa troca de saberes, a partir das demandas do
violência. A produção da verdade, como já assinala- trabalho profissional num contexto de relações de
do por Foucault (1996), implica a utilização de co- poder estruturado pela lei e pelas condições de pro-
nhecimentos técnicos que se tornam instrumentos dução da justiça.
verificáveis e úteis para a instituição e não para os O curto processo teve uma sequência determi-
sujeitos envolvidos e no conflito. Como estratégia de nada pelas demandas da equipe na dinâmica das
construção do saber profissional em função dos di- relações entre os setores do Judiciário enumerados
reitos implicados na proteção/punição, a equipe na Figura 1. Nessas relações de poder é que se
visualizou construir instrumentais específicos para configuram as atividades dos atores, mas existe um
registrar e analisar a questão da violência contra a espaço de incertezas e indefinições que abre um
pessoa idosa, com avaliação da sua complexidade e campo de estratégias e táticas tanto de afirmação
da sua resolubilidade. do lugar do poder como de conquistas de novos es-
Na seguinte sessão de supervisão, a demanda dos paços para alguns avanços na efetivação de direi-
profissionais voltou-se para a discussão das redes de tos e mediação de conflitos.
atendimento e dos fluxos existentes diante dos confli- Durante a supervisão, os profissionais foram ela-
tos e das disputas. O instrumental mais utilizado nas borando suas interpretações e ressignificações de
redes é o relatório ou sumário de encaminhamento, sua atividade na estrutura do Judiciário, avaliando
que se inscreve muitas vezes como estratégia de “se as possibilidades de diálogo e de pactuação da defi-
livrar do problema”, empurrando-o para frente. nição de suas tarefas e das condições em que essas
No atendimento de cada operador de políticas podem ser realizadas. Nesse sentido, foi elucidada
públicas, não se realizam as possibilidades de se efe- a diferença entre parecer, perícia e averiguação e
tivar e garantir direitos, conforme dispõe o Estatuto de seus usos como provas, e também a diferença
do Idoso. Parece que os técnicos e atendentes bus- entre quesitação e parecer, com a valorização do
cam, de imediato, uma cobertura para sua interven- saber profissional.
ção no “encaminhamento” do problema e não da A análise do contexto de ação da justiça possibi-
efetivação do direito. Isto pode acontecer mesmo nas litou um olhar sobre as mudanças do paradigma da

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266 Vicente de Paula Faleiros

disputa para o paradigma do conflito, pois a inter- FALEIROS, Eva Terezinha Silveira. La construction d’un
venção profissional se inscreve nas diferentes for- modele systemique et historico-structurel de stage et de
mas que são exigidas para a produção da justiça no supervision d’étudiants en Service Social, 1981.
contexto capitalista. A própria “quesitação” se ins- Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Université
creve numa perspectiva de produtividade em que Laval, Quebec, 1981.
as situações sociais judicializadas devem ser resol-
vidas num tempo menor, mesmo com o risco de ar- FALEIROS, Vicente de Paula. As interfaces do ensino e da
quivamento. No entanto, como assinala Pires (2007), prática no Serviço Social. In: RODRIGUES, M. L.; FRANCO,
os custos de mudança na justiça implicam tornar M. L. B. Novos rumos do ensino superior. São Paulo: PUC/
visíveis questões que estavam invisíveis. Com efei- SP – NEMESS, set. 1997, p. 54-68.
to, as práticas que infligem penas e sofrimentos aos
culpáveis os tornam visíveis, mas invisibilizam os ______. Saber profissional e poder institucional. São
conflitos mais profundos das desigualdades sociais, Paulo: Cortez, 2007a.
inclusive de classes.
No paradigma dos conflitos, não se entende a in- ______. Violência contra a pessoa idosa. Brasília: Uni-
tervenção profissional como um processo punitivo, mas versa, 2007b.
de reparação e reabilitação, que por sua vez vai exigir
nova estruturação do Judiciário para dar conta de pro- ______. Cidadania e direitos da pessoa idosa. Ser social,
duzir justiça com referência aos direitos humanos e de Brasília, n. 20, p. 35-61, jun. 2007c.
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Tópicos).

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Notas

1 Uma versão desse trabalho foi enviada para o Tribunal de


Justiça do Distrito Federal.

2 As ideias e interpretações aqui expressas são de exclusiva


responsabilidade do autor.

3 A supervisão foi realizada entre outubro de 2007 e fevereiro


de 2008, em sete sessões, num convênio entre a Universidade
Católica de Brasília, a Fundação Universa e o Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e Territórios.

Vicente de Paula Faleiros


vicentefaleiros@terra.com.br
Doutorado em Sociologia pela Universite de Mon-
treal
Pós-Doutorado, Écoles des Hautes Études en
Sciences Sociales, Paris/França
Professor na Universidade Católica de Brasília

Universidade Católica de Brasília


Mestrado em Gerontologia
Campus Universitário II Asa Norte - SGAN 916
Asa Norte
Brasília – Distrito Federal – Brasil
CEP: 70790-160

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