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PSICOLOGIA
E EDUCAÇÃO
Catalogação na Publicação:
Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí
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EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Sumário
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EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................................69
ANEXOS .........................................................................................................................................71
C) PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO:
Pensando a Relação Professor-Aluno a Partir do Conceito de Transferência ............................ 89
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EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Conhecendo a Professora
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EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Considerações Introdutórias
Neste C.C. apresentaremos idéias introdutórias, questões de ordem geral no campo de co-
nhecimento da Psicologia, com o objetivo de nos localizarmos na ciência psicológica, seu objeto
de estudo, aspectos de sua história e os principais temas que vêm sendo tratados nessa área.
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Ementa conforme registrada no Plano Político-Pedagógico dos cursos de formação de professores da Unijuí.
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EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
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EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Unidade 1
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EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
Como as demais ciências, também a Psicologia surgiu a partir das necessidades cultu-
rais de entendimento do ser humano, buscando corresponder ao desejo do homem de com-
preender a si mesmo.
A seguir você vai conhecer um pouco da história da Psicologia na Grécia e Roma anti-
gas e no Renascimento. Você entenderá como a Psicologia tornou-se ciência. Poderá fazer
um breve percorrido pelas principais escolas psicológicas, tema aprofundado nas unidades
posteriores, e finalmente as teorias psicológicas atuais.
Seção 1.1
Sócrates viveu de 469 a 339 a.C, em Atenas. Seu postulado central era a razão como
principal característica humana, e afirmava ser ela a possibilitar aos homens sobrepujar os
instintos.
Imagem de Sócrates
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Platão viveu de 427 a 347 a. C. e avança seu pensamento definindo a cabeça como o
lugar da razão, enquanto a medula estabeleceria a ligação entre a alma e o corpo. Segundo
ele, com a morte a matéria desaparecia e a alma teria liberdade para habitar outro corpo.
Imagem de Platão
Aristóteles nasceu em 384 e morreu em 322 a.C. Estudou Medicina e História da Filo-
sofia. Afirmava que a observação é a forma de explicação dos eventos naturais. Assegurava
que a psychè é o princípio ativo da vida e que tudo que nasce, cresce e se alimenta possui
então, alma. Até mesmo animais e vegetais, que possuiriam alma vegetativa. Os animais
teriam essa mesma alma acrescida de uma sensitiva. No homem, encontraríamos além des-
tas a alma racional, que lhe daria a função de pensar. Ele dissocia alma e corpo.
Imagem de Aristóteles
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Como você pode perceber, muito tempo antes da ciência psicológica os gregos já havi-
am formulado teorias sobre o homem: a teoria de Platão, que postulava a imortalidade da
alma, separada do corpo, e a de Aristóteles, que definia a alma em sua relação com o corpo.
Seção 1.2
Santo Agostinho comunga das idéias de Platão, acreditando que a alma encontra-se
separada do corpo. Ela é a manifestação de Deus no homem, o que permite que este se torne
imortal. Por considerar a alma o lugar do pensamento, a Igreja quer compreendê-la. Na
alma existiriam três faculdades: a memória, a inteligência e a vontade, sendo esta a mais
importante pelo fato de participar dos atos do espírito e tornar-se o centro da personalidade
no homem.
São Tomás de Aquino viveu no período de transição e ruptura da Igreja Católica. Sur-
ge, então, o protestantismo. A partir dessa crise a Igreja passa a se perguntar acerca dos
conhecimentos que vem produzindo.
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Psiquismo
Disponível em:<http://www.diocesefranca.org.br/boletim/jan2006/
bd-materia2.html> –
Acesso em: 28 maio 2009.
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EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
Seção 1.3
A Psicologia no Renascimento
O Renascimento, que como seu nome indica, buscava ilustrar uma fase de “chegada
de novas coisas”. É um período riquíssimo de avanços no conhecimento humano. Novas
terras são descobertas e riquezas são produzidas e acumuladas. Formam-se nações como a
França, Espanha, Itália e Inglaterra. O capitalismo emerge e com ele novas formas de orga-
nização humana do ponto de vista da economia e da sociedade. O homem passa a ser visto
de forma diferente e se torna mais valorizado.
Uma geração envelhece, enquanto a outra cresce. No meio de tudo isso, a história segue
seu curso... antiguidade é a infância da Europa. Depois vem a longa Idade Média, o período
escolar da Europa já passou. E agora, o Renascimento. O longo período escolar já passou e a
jovem Europa quer finalmente se lançar à vida (Gaarder, 1985).
Nas artes, surgem novos artistas inigualáveis, como Dante Allighieri e sua “Divina
Comédia”, Rembrandt com sua obra em destaque e caracterizadora desse novo tempo, “Li-
ção de Anatomia”. É o período de Leonardo da Vinci e Michelângelo. Na Filosofia, Maquiavel
cunha sua obra clássica sobre política, “O Príncipe”.
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O filósofo René Descartes postula a separação entre alma (mente, numa linguagem
psicológica) e corpo. Estabelece-se o dualismo mente-corpo, o que torna possível os primei-
ros estudos do corpo humano morto, o que antes não ocorria por que a Igreja sacralizava o
corpo. Essa nova possibilidade é retratada por Rembrandt em Lição de Anatomia. O estudo
de Anatomia e Fisiologia, propiciado por essa visão, permite que também a Psicologia avan-
ce como conhecimento mais específico acerca do homem.
Seção 1.4
A partir do século 19, a ciência passa a se tornar a forma por excelência de conheci-
mento, sendo convocada a explicar as inovações surgidas.
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Em torno de 1850, Fechner e Weber formulam uma lei que passou a ser conhecida
como “lei de Fechner-Weber ”1 e que consiste na relação entre um estímulo e uma sensação,
permitindo com isso sua mensuração.
1
Pierre Bouguer (1760) e depois Ernst Heinrich Weber (1831) estudaram a menor variação perceptível para determinados estímulos.
Para isso apresentaram estímulos variáveis a diversos indivíduos para determinar o funcionamento quantitativo de diversos tipos de
percepção. A lei de Bouguer-Weber estipulava que o limiar sensorial (a menor diferença perceptível entre dois valores de um estímulo)
aumenta linearmente com o valor do estímulo de referência. O médico Gustav Fechner (inventor do termo psicofísica) modificou essa
lei para que ela se tornasse válida aos valores extremos do estímulo: “a sensação varia como o logaritmo da excitação”. Esta lei pode
ser aplicada a diversas formas de percepção. Não se sabe ao certo a causa neurológica dessa lei, mas ela pode ser percebida em diversos
fenômenos da percepção (<http://pt.wikipedia.org/wiki>).
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Ele define a Psicologia como uma ciência da consciência e desenvolve estudos sobre o
“paralelismo psicofísico”, que consiste no entendimento de que fenômenos mentais/psíqui-
cos correspondem a fenômenos orgânicos. Seu método é denominado de método
introspectivo2 .
Por intermédio dos estudos que passam a se tornar mais aprofundados, define-se o
objeto de estudo da Psicologia como sendo o comportamento, a consciência e a vida psíqui-
ca. O campo de estudos é, então, delimitado. Novos métodos passam a ser elaborados ao
mesmo tempo que novas teorias são formuladas, o que permite o avanço e o estabelecimen-
to definitivo da Psicologia. Fundam-se escolas psicológicas, que serão apresentadas a se-
guir, sucintamente.
Seção 1.5
Escolas Psicológicas
a) O funcionalismo, fundado por William James (1842-1910) nos Estados Unidos. O funci-
onalismo dá ênfase à natureza dinâmica e mutável da atividade mental: descobre como o
pensamento, as emoções e outros processos satisfazem às necessidades do organismo e
como este se ajusta ao meio ambiente. Procura dar uma abordagem genética aos proble-
mas psicológicos.3 Resumindo, essa escola estabelece como objeto de estudo para a Psi-
cologia a “consciência”, buscando compreender seu modo de funcionamento.
2
Tal método permite o estudo das emoções pela observação e reflexão por parte do próprio sujeito acerca de suas emoções, sendo
ao mesmo tempo sujeito e objeto de estudo num processo de auto-observação.
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Disponível em: <http://penta.ufrgs.br/~luis/Funcionalismo.html>. Acesso em 19 abr. 2009.
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Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Estruturalismo>. Acesso em 19 abr. 2009.
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São estas escolas que deram origem às teorias psicológicas, assim como as conhece-
mos atualmente.
Seção 1.6
Teorias Atuais
a) A Psicanálise: que trataremos nas Unidades “2” e “3”. Esta teoria foi desenvolvida por
Sigmund Freud (1856-1939). É um método de investigação cujo objeto principal é o “in-
consciente”, sendo também a denominação dada ao tratamento ou prática clínica, subsi-
diada pela teoria e pela investigação.
b) O Behaviorismo: esta teoria será abordada na Unidade “3” . Seu fundador foi John
Watson (1878-1958). Ele afirmava que o comportamento é o objeto de estudo da ciência
psicológica e o qualifica como observável e mensurável, o que permitiria experimentos em
situações diversas, mantendo sempre o caráter de objetividade científica acerca do objeto
de estudo.
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Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Estruturalismo>. Acesso em: 19 abr. 2009.
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SÍNTESE DA UNIDADE
Nesta Unidade você pôde conhecer as principais questões iniciais
para um estudo da Psicologia. De modo breve abordamos a defini-
ção do termo Psicologia e depois traçamos seu movimento históri-
co. Estudamos então como a Psicologia foi sendo pensada e
investigada através dos tempos, com destaque para os períodos
grego e romano, na Antiguidade. Passamos pelas descobertas do
Renascimento, que tiveram grande influência no desenvolvimento
desta ciência, chegando finalmente a descrever todos os movimen-
tos teóricos que ocorreram a partir do século 19, e que foram deci-
sivos para construir a ciência psicológica como a conhecemos nos
dias de hoje.
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Unidade 2
O DESENVOLVIMENTO HUMANO
O desenvolvimento do ser humano constitui uma área do conhecimento da Psicologia
que tem como objetivo central a busca por compreender o homem em todos os seus aspectos,
desde os períodos iniciais de vida, ou seja, desde o nascimento, até o momento de maturidade.
Existem muitas teorias que tratam do tema e conforme as diferentes metodologias e pontos de
vista vamos encontrar diversos entendimentos acerca do que seja o desenvolvimento, pois há
uma diversidade de condições de produção da representação do mundo e de vinculações com
conceitos de mundo e homem dominantes em cada momento histórico da sociedade.
Menino trabalhando
A partir do século 17, a Igreja defende que a criança deve ser preservada e afirma que
a vivência com adultos em quaisquer atividades pode causar efeitos danosos a sua formação
moral e de caráter. Foi uma atitude importante, pois começa a mostrar as diferenças entre
adultos e crianças.
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EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
No século 19 e início do século 20 ocorre uma preocupação maior com o estudo sobre
a criança e seu processo educacional, embora ela fosse ainda abandonada e a disciplina
familiar e escolar ainda eram bastante violentas e funcionavam por meio do castigo e do
espancamento.
As teorias do desenvolvimento, hoje, permitem que por meio delas possamos estudar
as crianças, bem como adolescentes e adultos, pelas inúmeras possibilidades de aplicação
na clínica, na escola e nas instituições da sociedade mais ampla.
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EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Disponível em:
<http://outofbadluck.wordpress.com/2006/12/08/god-jul/>.
Acesso em: 28 maio 2009.
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Seção 2.1
Psicanálise
Nesta seção você vai estudar alguns conceitos centrais da Psicanálise e saber porque
a sexualidade infantil é tão importante nesta teoria. Antes disso, no entanto, é preciso co-
nhecer um pouco da vida de seu fundador.
Imagem de Freud
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QUADRO GERAL
• Obstinada e solitária;
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CURSO DA “DOENÇA”
Pai adoeceu e ela o cuidava. Anna O. adoece lentamente, apresenta debilidade, ane-
mia, aversão a alimentos, impossibilidade de cuidar do pai (proibição), tosse (tussis
nervosa típica) motivo/queixa da 1ª consulta com Breuer.
SENTIDO DO SINTOMA
ANOITECER – Sono
NOITE – Excitação
RESISTÊNCIA E TRANSFERÊNCIA
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• Sob hipnose contava histórias que retratavam uma menina no leito de um pai doen-
te e após a morte do pai as mesmas se tornaram ainda mais trágicas. Alívio ao falar
sobre suas representações para Breuer.
• Cura pela fala – “talking cure”. Transferência abrindo espaço para as associações-
livres. Limpeza de chaminé.
• “Quando me achava presente, esse estado era de euforia, mas em minha ausência
era altamente desagradável e caracterizado por angústia e excitação”.
• Viagem de Breuer impede que haja a “cura pela fala”, pois “foi impossível persuadi-
la a confiar o que tinha a dizer a qualquer pessoa senão eu”.
• Ab-reação – “Seu estado moral era uma função do tempo decorrido desde a última
expressão oral”
DISSOCIAÇÃO PSÍQUICA
Anna O. tornou-se famosa na obra freudiana. Com 21 anos, era depressiva e hipocon-
dríaca (um quadro na época denominado “histeria”); ela se acreditava paralítica em algu-
mas ocasiões, ou não conseguia beber água mesmo estando com sede, e se sentia incapaz
de falar seu próprio idioma, o alemão, recorrendo ao francês ou inglês para se comunicar.
Breuer submeteu-a à hipnose e ela relatou casos de sua infância, e essa recordação fazia
com que se sentisse bem após o transe hipnótico.
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Imagem de Anna O.
Freud casou-se com Martha Bernays em 1886. O casal teve seis filhos (Mathilde, 1887;
Jean-Martin, 1889; Olivier, 1891; Ernst, 1892; Sophie, 1893; e Anna, 1895). Inicia, então,
seu trabalho clínico, em consultório próprio, e a partir daí a Psicanálise passa a se constituir
e torna-se seu projeto de vida.
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Os conceitos e termos mais importantes estarão sublinhados na primeira vez que forem apresentados.
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Atávicos
lugar na mente. A noção de “aparelho psíquico” é, então, um
Do latim atavu. Refere-se à
conjunto articulado de lugares – virtuais. Nesse modelo tópico o
hereditariedade, naquilo que
concerne a características aparelho psíquico é composto por três sistemas: o inconsciente, o
físicas e psíquicas, oriunda de
pré-consciente e o consciente
ascendentes remotos.
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passados e que essa alteração lhes confere um sentido e mesmo uma eficácia ou um poder
patogênico. Os seus “conteúdos” são regidos pelos mecanismos específicos do processo pri-
mário, principalmente a condensação e o deslocamento.2
Então, o inconsciente é
... aquilo que escapa da consciência. É constituído por conteúdos reprimidos que não têm acesso
aos sistemas pré-consciente/consciente pela ação de censuras internas. É um sistema do aparelho
psíquico regido por leis próprias de funcionamento (Bock, 1999, p. 65).
Podemos afirmar que os processos inconscientes não conhecem tempos como pas-
sado, presente e futuro. São, portanto, atemporais. Substituem a realidade externa pela
realidade psíquica, que é a realidade “interior ” de cada um, a subjetividade de cada ser
humano.
Freud elabora ainda outros conceitos produzindo a segunda tópica3 ou teoria sobre o
aparelho psíquico. Encontramos aqui o conceito de “id” (isso) . Nessa teorização aparecem
também os conceitos de “ego” (eu) e “superego” (supereu). É importante ressaltar que a
constituição desta “segunda teoria” não anula, não se iguala e nem se sobrepõe à teoria do
insconsciente. Doravante ambas serão consideradas como forma de explicar o aparelho psí-
quico de modo mais completo e complexo.
2
Um dos modos essenciais do funcionamento dos processos inconscientes. Uma representação única representa por si só várias
cadeias associativas (de pensamentos – desejos), em cuja interseção ela se encontra. Do ponto de vista econômico, é então
investida das energias que, ligadas a estas diferentes cadeias, se adicionam nela (Verbete Condensação, in Laplanche; Pontalis,
1987, p. 87).
Fato de a importância, o interesse, a intensidade de uma representação ser suscetível de se destacar dela para passar a outras
representações originariamente pouco intensas, ligadas à primeira por uma cadeia associativa. (...) A teoria psicanalítica do deslocamento
apela para a hipótese econômica de uma energia de investimento suscetível de se desligar das representações e de deslizar por caminhos
associativos (Laplanche; Pontalis, 1987, p. 116).
3
A representação “tópica” exposta no capítulo VII de “A interpretação dos sonhos” fixa a ordem de coexistência das diferentes regiões
do aparelho psíquico, entre cujas extremidades – sensível e motora – se desenrolam os processos.Em nota introduzida numa edição
posterior, contudo, Freud ressalta a insuficiência do esquema anteriormente construído. “O desenvolvimento posterior deste esquema
desdobrado linearmente”, escreve ele então, “deverá levar em conta esta suposição de que o sistema que sucede ao pré-consciente é
aquele a que devemos atribuir a consciência”.
A primeira tópica foi inspirada pela análise do sonho e da histeria. Será sucedida, após 1920, por uma segunda tópica, elaborada em
resposta aos problemas da psicose, que abrange o id, o ego, e o superego. Da primeira, Freud dizia que tinha um valor descritivo, ao passo
que na segunda reconhecemos um valor sistemático. Insatisfeito com o “modelo topográfico”, porquanto este não conseguia explicar
muitos fenômenos psíquicos, em especial aqueles que emergiam na prática clínica, Freud vinha gradativamente elaborando uma nova
concepção, até que, em 1920, mais precisamente a partir do importante trabalho metapsicológico “Além do princípio do prazer”, ele
estabeleceu de forma definitiva a sua clássica concepção do aparelho psíquico, conhecido como modelo estrutural (ou dinâmico), tendo
em vista que a palavra “estrutura” significa um conjunto de elementos que separadamente têm funções específicas, porém são
indissociados entre si, interagem permanentemente e influenciam-se reciprocamente. Ou seja, diferentemente da Primeira Tópica, que
sugere uma passividade, a Segunda Tópica é predominantemente ativa, dinâmica. Essa concepção estruturalista ficou cristalizada em
“O ego e o id”, de 1923, e consiste em uma divisão tripartite da mente em três instâncias: o id, o ego e o superego. Disponível em:
<http://fundamentosfreud.vilabol.uol.com.br/segundatopica.html>. Acesso em: 07 abr. 2009
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EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
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Este foi um termo introduzido por Georg Groddeck em 1923 e conceituado por Sigmund Freud no mesmo ano, a partir do pronome
alemão neutro da terceira pessoa do singular (Es), para designar uma das três instâncias da segunda tópica freudiana, ao lado do ego (eu)
e do superego (supereu). O id (isso) é concebido como um conjunto de conteúdos de natureza pulsional e de ordem inconsciente.
Uma das três instâncias diferenciadas por Freud na sua segunda teoria do aparelho psíquico, o id constitui o pólo pulsional da
personalidade. Os seus conteúdos, expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, por um lado hereditários e inatos e, por outro,
recalcados e adquiridos. Do ponto de vista “econômico”, o id é, para Freud, o reservatório inicial da energia psíquica. Do ponto de vista
“dinâmico”, ele abriga e interage com as funções do ego e com os objetos, tanto os da realidade exterior quanto aqueles que,
introjetados, estão habitando o superego, com os quais quase sempre entra em conflito, porém, não raramente, o id estabelece alguma
forma de aliança e conluio com o superego. Do ponto de vista “genérico”, são as suas diferenciações. Do ponto de vista “funcional”,
ele é regido pelo princípio do prazer; logo pelo processo primário. Disponível em: <http://fundamentosfreud.vilabol.uol.com.br/
segundatopica.html>. Acesso em: 7 abr. 2009.
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É um termo empregado na Filosofia e na Psicologia para designar a pessoa humana como consciente de si e objeto do pensamento.
Retomado por Sigmund Freud, esse termo designou, num primeiro momento, a sede da consciência. O ego (eu) foi então delimitado num
sistema chamado primeira tópica, que abrangia o consciente, o pré-consciente e inconsciente. A partir de 1920 o termo mudou de
estatuto, sendo conceituado por Freud como uma instância psíquica, no contexto de uma segunda tópica que abrangia outras duas
instâncias: o superego e o id. O ego tornou-se então, em grande parte, inconsciente.
Essa segunda tópica (id, ego, superego) deu origem a três leituras divergentes da doutrina freudiana: a primeira destaca um eu concebido
como um pólo de defesa ou de adaptação à realidade Do ponto de vista tópico, o ego está numa relação de dependência tanto para com
as reivindicações do id quanto para com os imperativos do superego e exigências da realidade. Embora se situe como mediador,
encarregado dos interesses da totalidade da pessoa, a sua autonomia é apenas relativa. Do ponto de vista dinâmico, o ego representa
essencialmente, no conflito neurótico, o pólo defensivo da personalidade; põe em jogo uma série de mecanismos de defesa, estes
motivados pela percepção de um afeto desagradável (sinal de angústia). Do ponto de vista econômico, o ego surge como um fator de
ligação dos processos psíquicos; mas, nas operações defensivas, as tentativas de ligação da energia pulsional são contaminadas pelas
características que especificam o processo primário: assumem um aspecto compulsivo, repetitivo, desreal.
A teoria psicanalítica procura explicar a gênese do ego em dois registros relativamente heterogêneos, quer vendo nele um aparelho
adaptativo, diferenciado a partir do id em contato com a realidade exterior, quer definindo-o como o produto de identificações que
levam à formação no seio da pessoa de um objeto de amor investido pelo id. Relativamente à primeira teoria do aparelho psíquico, o
ego é mais vasto do que o sistema pré-consciente consciente, na medida em que as suas operações defensivas são em grande parte
inconscientes.Freud descreveu o ego como uma parte do id, que por influência do mundo exterior, ter-se-ia diferenciado. Disponível
em: <http://fundamentosfreud.vilabol.uol.com.br/segundatopica.html>. Acesso em: 7 abr. 2009.
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É uma das instâncias da personalidade tal como Freud a descreveu no quadro da sua segunda teoria do aparelho psíquico: o seu papel é
semelhante ao de um juiz ou de um censor relativamente ao ego. Freud vê na consciência moral, na auto-observação, na formação de
ideais, funções do superego.Classicamente, o superego é definido como herdeiro do complexo de Édipo; constitui-se por interiorização
das exigências e das interdições parentais. Alguns psicanalistas recuam para mais cedo a formação do superego, vendo esta instância em
ação desde as fases pré-edipianas (Melanie Klein) ou pelo menos procurando comportamentos e mecanismos psicológicos muito
precoces que seriam precursores do superego. Disponível em: <http://fundamentosfreud.vilabol.uol.com.br/segundatopica.html, Acesso
em: 7 abr. 2009.
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EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Este tema é central na obra freudiana e ele surge a partir do trabalho clínico, apontando
elementos da sexualidade na produção de sintomas em pacientes adultos, portanto, emoções ou
traumas vividos na infância se expressavam por meio de sintomas. Os elementos de sua clínica
apontam, então, para o reconhecimento da sexualidade como elemento a ser considerado desde a
infância e isso permite que ele desenvolva sua teoria sobre a sexualidade infantil. Se a sexualida-
de infantil ainda não era referida nos discursos, ela de alguma forma já se fazia notar por meio de
ameaças práticas; a primeira, pela negação pura e simples da existência de uma sexualidade na
infância e a segunda pela amnésia que incide sobre os primeiros anos da infância. Recusando
estes conceitos, está-se negando os próprios impulsos sexuais infantis. Nesse sentido, sua propo-
sição sobre a sexualidade infantil escandaliza a sociedade da época, porém Freud “acreditava que
o padrão de personalidade do adulto era estabelecido no começo da vida, estando quase comple-
tamente formado por volta dos cinco anos” (Freud, apud Schultz, 1981, p. 346).
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O complexo de Édipo é um conceito fundamental para a Psicanálise e caracteriza-se por sentimentos contraditórios de amor e
hostilidade. Metaforicamente, este conceito é visto como amor à mãe e ódio ao pai, mas esta idéia permanece, apenas, porque o mundo
infantil resume-se a estas figuras parentais ou aos representantes delas. A idéia central do conceito de complexo de Édipo inicia-se na
ilusão de que o bebê tem de possuir proteção e amor total, o que é reforçado pelos cuidados intensivos que o recém-nascido recebe por
sua condição frágil. Esta proteção é relacionada, de maneira mais significativa, à figura materna. Mais ou menos aos três anos, a criança
começa a entrar em contato com algumas situações em que sofre interdições. Estas interdições são facilmente exemplificadas pelas
proibições que começam a acontecer nesta idade. A criança não pode mais ter certos comportamento, deve agora sentar de forma
correta e controlar o esfíncter. Neste momento, a criança começa a perceber que não é o centro do mundo e precisa renunciar ao mundo
organizado em que se encontra e também à sua ilusão de proteção e amor total. O complexo de Édipo é muito importante porque
caracteriza a diferenciação do sujeito em relação aos pais. A criança começa a perceber que os pais pertencem a uma realidade cultural
e que não podem se dedicar somente a ela porque possuem outros compromissos, como é o caso do trabalho, de amigos e de todas as
outras atividades. A figura do pai representa a inserção da criança na cultura, é a ordem cultural. A criança também começa a perceber
que o pai pertence à mãe e por isso dirige sentimentos hostis a ele. Estes sentimentos são contraditórios porque a criança também ama
esta figura que hostiliza. A diferenciação do sujeito é permeada pela identificação da criança com um dos pais. Com o aparecimento do
complexo de Édipo, a criança sai do reinado dos impulsos, dos instintos, e passa para um plano mais racional.
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Seção 2. 2
Epistemologia Genética
JEAN PIAGET
Disponível em:
<http://famous-relationships.topsynergy.com/
Jean_Piaget/Motivation.asp>.
Acesso em: 28 maio 2009.
Nesta seção você vai ser apresentado a Piaget e sua teoria: a Epistemologia Genética.
Vai conhecer alguns fatos que o levaram à pesquisa que originou esta teoria do desenvolvi-
mento e seus conceitos fundantes. Também vai saber como Piaget entendia e organizava o
desenvolvimento do conhecimento e concluir que sua obra está mais viva do que nunca,
sendo alvo de pesquisas pelo mundo afora.
8
“A despeito de seu duplo interesse pela ciência natural e pela filosofia e a formação que adquiriu nestes domínios (em particular no
primeiro) Jean Piaget não se tornou biólogo (...) nem filósofo.” (Montangero; Maurice-Naville, 1998. p. 19).
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EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Filosofia bergsoniana contribui com sua formação teórica, con- Apriorismo e Inatismo
9
De Kant, em sua obra Piaget conservará as questões relativas ao racionalismo. A classificação kantiana dos conhecimentos em
categorias estará presente na pesquisa piagetiana sobre os conhecimentos da criança.
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O termo refere-se à gênese e não à gene. Essa diferenciação é crucial para comprovar o interesse piagetiano pelas questões do
desenvolvimento do conhecimento.
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EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
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Este conceito será tratado com maior profundidade adiante. À guisa de introdução, podemos afirmar que as estruturas cognitivas
representam as possibilidades de cada sujeito, enquanto ser cognoscente, num dado momento de suas relações com o mundo e estas
comportam uma formação progressiva, que pode ser estudada nas teorias do desenvolvimento cognitivo, propostas por Piaget, teoria
esta produzida na sua pesquisa, com o Método Clínico, com crianças e adolescentes.
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O social é um processo de relações entre os indivíduos.
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A exceção é em A causalidade física na criança, de 1927.
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EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
O método não é verbal, pois o estudo das condutas centra-se nos bebês, transforman-
do-se então em observação minuciosa das atividades da criança.
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Operação é o elemento da estrutura que dá conta do caráter lógico do pensamento. “Estrutura é um sistema de transformações que
comporta leis, enquanto sistema (por oposição às propriedades dos elementos) e que se conserva ou se enriquece pelo jogo mesmo de
suas transformações, sem que estas conduzam para fora de suas fronteiras ou invoquem elementos exteriores. Em resumo, uma
estrutura compreende os caracteres de totalidade, de transformações e auto-regulação” (Piaget, 1979, p. 8).
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EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
d) Período de transição
Publica Estudos de Epistemologia Genética 15 entre 1957 e 1968. Em alguns desses es-
tudos aborda o tema das “funções constituintes”, sem aprofundamentos. O estudo dessas
funções permitiria a ligação entre o conceito de estrutura e os aspectos funcionais da ação.
Em alguns textos desse período Piaget começa a se dedicar ao problema dos mecanis-
mos de transformação das estruturas elementares em estruturas mais complexas. Anuncia
também os primeiros estudos sobre a equilibração, que considera necessários para explicar
a aquisição das estruturas operatórias.
O ponto central da maior parte dos textos deste período final de sua obra é o cuidado
em explicar como os conhecimentos novos podem ocorrer sem serem pré-determinados no
espírito do sujeito nem retirados tais quais do meio, revelando uma preocupação mais
interacionista e dialética.
Conduz também pesquisas que visam a corrigir e melhorar sua teoria da lógica opera-
tória. Aparecem os trabalhos sobre correspondências ou morfismos e sobre a lógica das sig-
nificações com a noção de implicação significante.
15
Ao longo de todos os períodos da obra, publica 37 volumes de Estudos de Epistemologia Genética, em colaboração com vários autores.
16
Sobre este livro, ele o teria publicado respondendo a uma demanda acadêmica do momento, de acordo com Montangero; Maurice-
Naville, 1998.
17
Nível de preferência substitui o termo estágio e serve para caracterizar as etapas de desenvolvimento de um conhecimento dado. Surge
a tríade dialética intra-inter-trans. A primeira refere-se às operações e coordenações do próprio sujeito, a segunda se dá na coordenação
entre operações semelhantes e a terceira produz o conhecimento num patamar superior, mais avançado. Ao chegar a esta etapa
reinicia-se o ciclo, transformando-se em intra (operacional, figural ...) num nível mais alto.
39
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
O método transforma-se para dar conta dos temas em estudo. Trata-se agora de ob-
servar estratégias de construção ou resolução de problemas de preferência ao juízo das
crianças.
Conhecimento? Para Piaget a palavra não tem o significado que o senso comum lhe
dá. Para ele o termo “conhecer ” tem sentido claro: organizar, estruturar e explicar a partir
do vivido, do experenciado. Conhecer é o que se dá a partir da vivência e da ação sobre o
objeto do conhecimento.
18
Piaget trata deste tema em uma obra póstuma, publicada em 1987: Por uma lógica das significações.
40
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
E genética? A razão está em que Piaget não se limita a explicar como é possível o
conhecimento de um adulto, ele discute as condições necessárias ou geradoras para que a
criança chegue ao conhecimento possível.20
Essa interação organismo-meio ocorre pelo processo de adaptação com os seus dois
pólos: assimilação-acomodação. Ela se dá em diferentes níveis, desde os mais elementares
(manipulação de objetos) até os mais elaborados, como nas trocas simbólicas (Artes, Filoso-
fia, Ciência). Em um primeiro momento a palavra “adaptação”, até chegar ao conceito-
adaptação, recebe o sentido que lhe é próprio na Biologia, lembrando um fluxo irreversível.
Em um segundo momento, explica-se em termos de equilíbrio progressivo (equilíbrio
majorante) e em um terceiro estágio explica-se em termos de uma “abstração reflexiva” que
19
Física está mencionada como um exemplo de área de conhecimento. Poderíamos ter citado qualquer outro campo.
20
Conhecimento possível, pois a capacidade de conhecer é fruto das trocas sujeito-meio. Essas trocas são responsáveis pela construção
da própria capacidade de conhecer.
21
Os termos sublinhados neste texto são conceitos fundamentais da Epistemologia Genética. Não serão amplamente explicitados por
serem objeto de estudo e aprofundamento na disciplina Psicologia Genética.
41
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
22
Os primeiros autores que tratam da idéia de estágio são W. Freyer (1882) e J. M. Baldwin (1894), que consideram o desenvolvimento
cognitivo como uma passagem por etapas ou períodos, fundados na concepção evolucionista. Para Baldwin, a evolução psicológica
passa por quatro períodos, que têm semelhanças com as descrições clássicas dos estágios, mais tarde apontadas por Piaget.
42
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Na década de 70, último estágio, Piaget foca suas pesquisas nos processos de constru-
ção de “estruturas de preferência”. O nível de preferência substitui, então, o termo estágio, e
serve para caracterizar as etapas de desenvolvimento de um conhecimento dado. Surge a
tríade dialética intra-inter-trans. A primeira refere-se às operações e coordenações do próprio
sujeito, a segunda se dá na coordenação entre operações semelhantes e a terceira produz o
conhecimento num patamar superior, mais avançado. Ao chegar a esta etapa reinicia-se o
ciclo, transformando-se em intra (operacional, figural ...) num nível mais alto. Esse processo
produz espirais, nas quais os avanços em uma dada estrutura conduzem a reorganizações de
outra estrutura, que por sua vez refletem-se no início de todo o processo. As estruturas de
preferência estariam indicando um corte do próprio autor à idéia inicial de estágio. Piaget não
pôde avançar em suas pesquisas a respeito dessa nova forma de conceituação acerca do modo
como se processa o conhecimento, as quais vão ser reveladas em suas últimas obras, algumas
publicadas postumamente, entre as quais destacam-se: Psicogênese e História das Ciências
(1983); Por uma lógica de significações (1987); e Morfismos e Categorias (1990).
43
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
No Brasil
Na Universidade de São Paulo alguns pesquisadores que devemos citar são: a profes-
sora Zélia Ramozzi-Chiarottino, que investiga questões relativas ao núcleo da teoria; o pro-
fessor Lino de Macedo, que estuda os temas da moralidade e da Psicopedagogia; o professor
Yves de La Taille, do Instituto de Psicologia, que desenvolve pesquisas acerca das relações
entre a Epistemologia Genética e a Psicanálise; o professor Adrian Dongo Montoya, que
investiga como o meio social influi no desenvolvimento cognitivo.
No exterior
44
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Nos Estados Unidos, o professor de Psicologia Jerome Bruner, da New York University;
o professor John Flavell, da Stanford University, e Renée Baillargeon, da University of Illinois.
Os temas que estão atualmente sendo investigados pelos autores citados anterior-
mente tem tratado de questões em torno do núcleo teórico. No Brasil a pesquisadora mais
conhecida é a professora Zélia Chiarottino, da USP.
Atualmente estão sendo realizadas pesquisas sobre as novas competências dos bebês,
por franceses (Lécuyer), americanos ( Baillargeon) e canadenses (Décarie e Ricard).
45
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
BANKS-LEITE, Luci (Org.) Percursos piagetianos. São Paulo: Cortez Ed., 1997.
FERREIRO, Emilia. Atualidade de Jean Piaget. Trad. Ernani Rosa. Porto Alegre: ArtMed,
2001.
KESSELRING, Thomas. Jean Piaget. Trad. Antônio Estevão Allgayer e Fernando Becker.
Petrópolis: Vozes, 1993.
PIAGET, J. Seis Estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice Magalhães d‘Amorim e Paulo
Sérgio Lima Silva. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1978.
SÍNTESE DA UNIDADE
Nesta Unidade nosso objetivo foi o de apresentar a você duas im-
portantes teorias que lhe permitirão compreender o conceito de de-
senvolvimento humano, que trata do homem em todos os seus as-
pectos, desde os períodos iniciais de vida até seus níveis superiores.
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EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
– na concepção de conhecimento;
– no conceito de equilibração e
47
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Unidade 3
AS TEORIAS PSICOLÓGICAS
E SUA VISÃO SOBRE A APRENDIZAGEM
Nesta unidade temos o objetivo de apresentar a você quatro teorias psicológicas que
lhe permitirão estudar o processo de aprendizagem de um modo amplo, tornando também
possível a realização de uma “escolha” teórica como sua base de trabalho quando estiver
planejando o processo de ensino-aprendizagem de seus futuros alunos.
Seção 3.1
A Psicologia Sócio-Histórica
Lev S. Vygostsky (1896-1934), seu idealizador, nasceu e viveu na Rússia, porém mor-
reu muito jovem, com apenas 38 anos.
Imagem de Vygostsky
49
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
Imagem de um cérebro
1
Conforme Argento, Heloisa. Disponível em: <http://www.robertexto.com/archivo1/socio_construtivista.htm>. Acesso em: 20 abr.
2009.
50
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Disponível em:
<http://obrigadoaeducareeducadoparainstruir.
blogspot.com/>.
Acesso em: 28 maio 2009.
Nesse sentido, cabe salientar que a linguagem 2 é o sistema simbólico dos grupos hu-
manos e representa um salto qualitativo na evolução da espécie. É ela que fornece os con-
ceitos, as formas de organização do real, a mediação entre o sujeito e o objeto do conheci-
mento. É por meio dela que as funções mentais superiores são socialmente formadas e cul-
turalmente transmitidas, portanto sociedades e culturas diferentes produzem estruturas de
pensamento diferenciadas.
2
O instrumento lingüístico e a interação social são decisivos para o desenvolvimento.
51
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
3
É a distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial.
52
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
O aluno não é tão-somente o sujeito da aprendizagem, mas aquele que aprende junto
ao outro o que seu grupo social produz, tal como valores, linguagem e o próprio conheci-
mento.
53
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
– Você pode assistir ao filme A guerra do fogo, que apresenta o processo de interação entre
os indivíduos e o meio na socialização e produção dos conhecimentos.
Para saber mais sobre o trabalho de Vygosty você pode pesquisar na bibliografia indicada:
54
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Seção 3.2
A Psicanálise
Ao tratar deste tema, ele entende que é fundamental perguntar por aquilo que faz com
que alguém queira aprender algo, pois o processo de aprender depende da razão ou das
causas que motivam o sujeito na busca do conhecimento.
Um dos importantes momentos para pensar como se processa a aprendizagem pela via
psicanalítica remonta à base da descoberta da diferença sexual anatômica, quando as cri-
anças descobrem que o mundo é feito de homens e mulheres, seres humanos com e sem
pênis. É quando a criança pergunta os porquês de “tudo”, interessada em descobrir como se
nasce e por que se morre, querendo saber sua origem e seu “destino”.
As crianças percebem cedo essas diferenças biológicas, mas nessa fase elas passam a
interpretar esse “saber ”. Os meninos pensam que se as meninas não são iguais a eles, têm a
possibilidade de ser quando crescerem. Nesse momento a criança do sexo feminino compre-
ende que lhe está faltando algo. Há uma angústia que provém da compreensão de antigas
perdas à luz desse novo sentimento. É chamada de angústia da castração, que se manifesta
com o complexo de Édipo. Essa angústia faz com que queira saber, por isso, para Freud, as
primeiras investigações são sempre de ordem sexual, pois a criança precisa descobrir e defi-
nir seu lugar no mundo e a princípio este é um lugar sexual.
O lugar sexual é situado inicialmente em relação aos pais ou àquilo que eles esperam
que a criança seja. Essa é razão da pergunta “De onde viemos?”, que se equivale à busca de
saber “Qual a minha origem em relação ao desejo de vocês?”; “Quais suas expectativas?”;
“O que esperam que eu seja?” O que é esperado é que no final do conflito edipiano a inves-
55
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
tigação de ordem sexual seja reprimida. É sublimada4 em desejo de saber, que se associa ao
ato de dominar, ver, buscar, investigar. Então, as investigações são deixadas de lado por
uma necessidade característica da constituição psíquica, que permite o deslocamento dos
interesses sexuais para os não-sexuais, mas que mantém a criança atenta e predisposta a
fazer perguntas sobre várias situações e acontecimentos, para poder continuar pensando
nas coisas fundamentais. Ali se encontra o prazer pela investigação, o interesse na observa-
ção da natureza, o gosto pela leitura, o prazer em viajar, etc. Freud defende que a mola
propulsora do desenvolvimento intelectual é, portanto, sexual.
Esses elementos são alguns dos determinantes que levam um sujeito a querer apren-
der, porém ele não aprende por si mesmo, precisa de alguém. Na escola, esse alguém é o
professor. Na visão psicanalítica, não importa qual é o conteúdo que está sendo ensinado.
Os critérios para definir um bom conteúdo estão com o próprio professor, pois ele só pode ser
“ouvido” por seus alunos quando estes o revestem de uma especial importância. Isso estabe-
lece entre professor e aluno um campo no qual a aprendizagem passa a ser possível. Freud
denominou este campo de transferência.
Relação professor-aluno
Disponível em:
<http://deolhonofuturoatividades.blogspot.com/
2008/04/relao-professor-e-aluno-uma-
reviso.html>. Acesso em: 28 maio 2009.
4
Refere-se à sublimação, o mais eficaz dos mecanismos de defesa, na medida em que o sujeito canaliza os impulsos libidinais (de origem
sexual) para uma postura socialmente útil e aceitável.
56
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
o professor torna-se depositário de algo que pertence ao aluno e fica “carregado” de impor-
tância especial, o que lhe dá “poder” sobre o aprendiz e este se dirige ao professor, atribuin-
do-lhe um sentido, e passando, o professor, a fazer parte do cenário inconsciente do aluno.
Isso explica, em parte, o fato de que alguns professores aparentemente “comuns” acabam
imprimindo marcas importantes no desenvolvimento intelectual de seus alunos. O professor
não percebe que está em um lugar de destaque para alguns de seus alunos e estes não
querem que o professor saiba disso, até porque isso é inconsciente. Todo aluno quer que o
professor “suporte” estar nesse lugar em que ele o colocou. Então, para produzir boas apren-
dizagens, o professor em sua prática “deveria” aceitar o lugar em que o coloca seu aluno e
com isso, levá-lo a superar essa grande importância, o que permitiria ao educando tornar-se
autônomo e construtor de seu próprio conhecimento.
– A diferença sexual anatômica ? a interpretação dada a esse fato ? a descoberta de que falta
algo, “angústia de castração” ? esta angústia faz querer saber.
– A criança aprende com alguém ? O ato de aprender pressupõe uma relação com quem
ensina ? os critérios de verdade são assentados pelo próprio professor, que é ouvido por
seu aluno quando este o reveste de importância especial ? ênfase nas relações afetivas.
– Transferência ? campo que se estabelece entre professor e aluno e que determina as condi-
ções para o aprender ? a transferência se produz quando o desejo de saber do aluno se
aferra a um elemento particular, que é a pessoa do professor.
– O professor é um sujeito marcado pelo seu desejo inconsciente e é esse desejo que o impul-
siona para a função de mestre.
57
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
Seção 3. 3
Jean Piaget,5 ao tratar desta questão, afirma ser importante tornar clara a diferença
entre dois problemas: o problema do desenvolvimento em geral e o problema da aprendiza-
gem. Esclarece ele que estes problemas são muito diferentes, ainda que algumas pessoas
não façam esta distinção. Ele nos mostra que o desenvolvimento é um processo espontâneo
e diz respeito ao desenvolvimento do corpo, do sistema nervoso e das funções mentais. No
caso do desenvolvimento do conhecimento nas crianças, esse crescimento físico só se con-
clui na vida adulta. É um processo de desenvolvimento total que deve ser re-situado no
contexto geral biológico e psicológico. Ou seja, o desenvolvimento é um processo que se
relaciona com a totalidade de estruturas do conhecimento. Com a aprendizagem ocorre o
oposto. Ela é, geralmente, provocada por situações de sala de aula, quando o professor traz
a referência a algum ponto didático ou a uma situação externa. Então, ele afirma que o
desenvolvimento explica a aprendizagem, constituindo um processo essencial, no qual cada
elemento da aprendizagem ocorre como uma função do desenvolvimento total.
5
Idéias sobre o ato de aprender que encontram no texto: Conhecimento e aprendizagem. Piaget, Jean. Development and learning. In:
Lavatelly; Stendler, 1972.
6
“Entendemos que construtivismo na Educação poderá ser a forma teórica ampla que reúna as várias tendências atuais do pensamento
educacional. Tendências que têm em comum a insatisfação com um sistema educacional que teima (ideologia) em continuar essa forma
particular de transmissão que é a escola, que consiste em fazer repetir, recitar, aprender, ensinar o que já está pronto, em vez de fazer
agir, operar, criar, construir a partir da realidade vivida por alunos e professores, isto é, pela sociedade – a próxima e, aos poucos, as
distantes. A educação deve ser um processo de construção de conhecimento ao qual ocorrem, em condição de complementaridade, por
um lado, os alunos e professores e, por outro, os problemas sociais atuais e o conhecimento já construído (Acervo cultural da
Humanidade) (Fernando Becker. Disponível em: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/dea_a.php?t=011>.
58
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
O construtivismo difere da escola tradicional porque ele estimula uma forma de pensar
em que o aprendiz, ao invés de assimilar o conteúdo passivamente, reconstrói o já existente,
dando um novo significado – o que resulta em novo conhecimento. Com base nisso é impor-
tante que a dinâmica de uma sala de aula privilegie o raciocínio dos alunos, a dedução, a
demonstração e outras formas de investigação.
Isso gera também o entendimento (aprendizado) do presente, que por sua vez é base-
ado no passado e dá ao futuro nova construção. Nessa aprendizagem o aluno reconstrói a
abordagem de seus conhecimentos, o que faz com que todo o saber esteja em constante
ampliação, elaboração e reconstrução.
No Brasil essa forma de ensino começou a ser introduzida nas escolas a partir da
década de 70, quando a teoria de Jean Piaget começava a fazer parte dos ambientes educa-
cionais. Com a escola construtivista, o aluno passa a ser o sujeito da sua aprendizagem, ele
é um sujeito ativo que participa do processo metodológico. Piaget pode ser definido como
precursor da visão construtivista, em razão de que é um dos traços distintivos por excelência
da epistemologia genética, que enfatiza a explicação da gênese do pensamento racional
como o resultado de um processo de construção que tem sua origem na lógica das ações do
sujeito sobre o meio (objeto, cultura, outros homens...).
Nesta teoria o sujeito (aluno) é um ser ativo que estabelece relação de troca com o
meio-objeto (físico, pessoa, conhecimento) num sistema de relações vivenciadas e significa-
tivas. A aprendizagem desse sujeito ativo exige sempre uma atividade organizadora na
interação estabelecida entre ele e o conteúdo a ser aprendido, além de sua aprendizagem
estar vinculada ao grau de desenvolvimento já alcançado.
59
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
construída pelo sujeito. Assimilar significa, nesse contexto, aprender/ser ativo, o que é uma
característica fundamental no entendimento de Piaget sobre aprendizagem. Disso decorrem
implicações pedagógicas.
Estas implicações permitem que saibamos que à medida que a criança constrói e re-
constrói esquemas/ações de conhecimento agindo sobre o meio, El se estrutura mentalmen-
te. Ao falar de suas ações e experiências a criança inscreve-se num quadro conceitual, per-
tencente ao meio sociocultural em que vive. A linguagem ocorre em função dos símbolos
individuais e coletivos (significantes) e dos objetos que ela elabora (significado). A função
simbólica, por meio da linguagem, permite o estabelecimento de relações com o meio. A
capacidade de aprender manifesta-se, então, em ações e na linguagem.
Em estreita relação com o ato de aprender está o ato de ensinar, que sob o ponto de
vista piagetiano tem a função específica de propiciar que o sujeito construa seu conheci-
mento.
• a atividade do sujeito
60
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Epistemológica
– AÇÃO como percepção
Refere-se à Epistemologia ou
– AÇÃO como operação mental imediata teoria do conhecimento (do
grego episthem (conhecimento
– AÇÃO como operação mental enquanto experimentação e de- ou verdade) + logos (discur-
so). Na Filosofia, é um ramo
dução. que trata dos problemas
filosóficos relacionados à
• Que o ensino seja baseado na pesquisa, investigação e solução crença e ao conhecimento.
• provocar desequilíbrios
• oportunizar desafios
61
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
– Aplicações pedagógicas
Muitos autores da área da educação têm escrito a respeito das aplicações pedagógicas
da epistemologia piagetiana.
• Emilia Ferreiro, baseada na teoria de Jean Piaget, construiu uma teoria sobre a alfabetiza-
ção. É a psicogênese da lingua escrita. Importante conhecer as experiências de emprego
da teoria desta autora. Temos experiências bem-sucedidas e outras nem tanto, devido às
interpretações e leituras nem sempre adequadas sobre esta proposta teórica.
Se você se interessar por saber mais sobre este autor, sua teoria e
suas implicações educacionais, consulte as referências indicadas
a seguir.
– <www.fae.ufmg.br/abrapec/revistas/v1n1a5.pdf>.
– <www.scielo.br/scielo.php/>
62
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Seção 3.4
Behaviorismo
Behaviorismo é um termo que vem da palavra inglesa “behavior ”, que significa com-
portamento. Temos então uma teoria psicológica que se desenvolveu a partir da definição
do objeto de estudo “comportamento”, daí behaviorismo ou comportamentalismo. Seu obje-
to é, portanto, o comportamento tanto animal quanto humano, definido objetivamente como
válido se for observável e mensurável.
7
Um exemplo do esquema (E – R) foi desenvolvido pelo fisiologista russo Ivan Pavlov numa experiência com um cão, uma campainha
e um pedaço de carne. Ele percebeu que quando o cão via o pedaço de carne ele salivava, o que foi chamado de reflexo não-condicionado.
Pavlov também começou a tocar a campainha (estímulo neutro) quando ia mostrar o pedaço de carne. Rapidamente o cão passou a
associar a carne com a campainha, salivando também toda vez que ela era tocada. Essa reação a um estímulo neutro foi chamada de
reflexo condicionado, importante no sentido de explicar a associação de um estímulo a outro.
8
O exemplo mais conhecido do condicionamento operante (R – r) – resposta-reforço, foi desenvolvido por B. F. Skinner. Ele criou a
“caixa de Skinner”, na qual era colocado um rato privado de alimento. Naturalmente, o rato emitia vários comportamentos (operantes)
aleatoriamente e quando ele se aproximava de uma barrinha perto da parede, Skinner introduzia uma gota d’água na caixa através de
um mecanismo e o rato a bebia. As próximas gotas eram apresentadas quando o rato se aproximava um pouco mais da barra. As outras
quando o rato encostava o nariz na barra, depois as patas, e assim em diante até que o rato estava pressionando a barra dezenas de vezes
até saciar completamente sua sede. Foi observado que os comportamentos do rato que eram seguidos de um estímulo reforçador (a água)
aumentavam de freqüência.
9
Na seqüência será incluído um quadro das categorias de reforçamento.
63
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
1) Esquemas de
reforçamento contínuo
razão fixa
esquemas de razão
razão variável
64
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Esta teoria tem aplicações no ensino e na educação, especialmente no que diz respei-
to à aprendizagem. Podemos citar como exemplos de aplicação o método de ensino progra-
mado, o controle e a organização das situações de aprendizagem pelo emprego de esquemas
de reforçamento e a tecnologia de ensino, que atualmente utiliza o computador na escola.
– Reforços:
65
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
A terceira e última Unidade deste livro apresentou uma série de teorias psicológicas
que focalizam e refletem acerca do processo de aprendizagem.
Sobre essa mesma questão – o ato de aprender – é possível verificar que as concepções
do suíço Jean Piaget, com sua Epistemologia Genética, relacionam o processo de desenvol-
vimento do conhecimento com a aprendizagem. Ele entende ainda que a base da aprendi-
zagem é o próprio desenvolvimento, pois ela é um conjunto de modos próprios que o homem
constrói continuamente para se adaptar ao novos conhecimentos.
66
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
sua história, aos processos mais pontuais sobre o desenvolvimento humano e sobre o ato de
aprender, pode levá-lo a uma compreensão sobre o modo como aprendemos todos, o que vai
ajudá-lo a resolver determinadas questões de ordem pedagógica que lhe serão postas como
professor.
Creio ainda ser importante, à guisa de conclusão deste livro-texto, proceder a algu-
mas reflexões finais acerca do processo de “educar-ensinar-aprender ”, que é o grande obje-
tivo de todos nós nesse processo pedagógico que vem acontecendo, ou seja, a formação de
professores na modalidade de ensino a distância. Ao refletir sobre a Educação nos reporta-
mos a um conceito clássico sobre esse processo, disponibilizado pelo pensamento de Emile
Durkheim, que nos ensina que a educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre
aquelas que ainda não estão maduras para a vida social. Tem por objetivo suscitar e desen-
volver na criança desde estados físicos, intelectuais e também morais que a sociedade em
que ela está inserida exige e especialmente seu meio sociocultural especial.10
Ao promover esse processo os adultos esperam que os jovens se tornem como eles, trans-
mitindo-lhes crenças, condutas, medos, valores, esperanças. O processo educativo é realizado
de várias formas, na família, na rua, na escola. Por meio do contato com o outro nos impreg-
namos das influências sociais, adquirindo características comuns a todos os homens: aquelas
características que consideramos humanas, próprias de uma nação, cidade, classe social, gru-
po ou família. Como é possível perceber, então, os homens vão sendo educados, fazem “expe-
riências” e aprendem a partir das relações com o outro. Isso constitui a cultura própria, parti-
cular, de cada sujeito e de cada grupo sociocultural. Um conceito de aprendizagem que privi-
legia essa visão de processo e que envolve o homem e o meio social mais amplo nos é apresen-
tado por Marta Kohl de Oliveira. Ela ressalta que a aprendizagem é um processo no qual o
sujeito adquire informações, habilidades, valores e atitudes. Isso ocorre no contato com a
realidade em que está inserido, seu meio e as pessoas com quem convive.11
Assim sendo, a compreensão do modo como se dá esse processo permite conhecer o ser
humano em suas múltiplas facetas e explica a maneira pela qual o homem se desenvolve,
toma conhecimento do mundo (espaço-tempo), inserindo-se nele e tornando-se sujeito de
sua própria história e da história de seu grupo social. No processo educativo ocorre o que se
pode denominar de ensino-aprendizagem. Então, quando discorremos sobre a importância
da aprendizagem para o homem, você percebe que estamos tratando de uma “via de duas
mãos”, ou seja, o processo educacional abrange sempre e necessariamente esses elementos
que são intimamente ligados, são complementares e solidários.
10
Durkheim, apud Buisson, 1911.
11
Oliveira, 1995.
67
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
68
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Referências
ARGE NTO, He loi sa. Di sponí v e l e m: <http://ww w.robe rtexto.com/ archi vo1/
socio_construtivista.htm>. Acesso em: 20 abr. 2009.
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981.
BANKS-LEITE, Luci (Org.). Percursos Piagetianos. São Paulo: Cortez Ed., 1997.
BOCK, Ana M. B. et al. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. São Paulo:
Saraiva, 1999.
CASTORINA, José Antonio et al. Piaget e Vygotsky: novas contribuições para o debate.
Trad. Claudia Schilling. São Paulo: Ed. Ática, 1998.
FERREIRO, Emilia. Atualidade de Jean Piaget. Trad. Ernani Rosa. Porto Alegre: ArtMed,
2001.
KESSELRING, Thomas. Jean Piaget. Trad. Antônio Estevão Allgayer e Fernando Becker.
Petrópolis: Vozes, 1993.
69
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
LAVATELLY, C. S.; STENDLER, F. Reading in child behavior and development. New York:
Hartcourt Brace Janovich, 1972.
MACEDO, Lino de (Org.). Cinco estudos de educação moral. São Paulo: Casa do Psicólogo,
1996.
PIAGET, Jean. O estruturalismo. Trad. Moacir Renato de Amorim. São Paulo: Difel, 1979.
______. Psicologia da Inteligência. Trad. Nathanael C. Caixeiro. Rio de Janeiro: Zahar Ed.,
1983.
______. Seis Estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice Magalhães d‘Amorim e Paulo Sérgio
Lima Silva. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1978.
______; GARCIA, Rolando. Psicogênese e história das ciências. Trad. Maria Fernanda de
Moura Rebelo Jesuíno. Lisboa: Dom Quixote, 1987.
70
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Anexos
Nestes anexos constam cinco textos que permitem leitura e reflexão e estão relaciona-
dos às idéias teóricas sobre a aprendizagem, tratadas especialmente na Unidade 3.
1
A autora é professora da Universidade Estadual de Maringá, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Departamento de Psicologia
e este artigo é encontrado em: <www.boletimef.com.br/biblioteca>. Acesso em: 25 abr. 2009.
71
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
Sève (1989) afirma que os cortes realizados atingiram principalmente as reflexões marxistas de
Vygotski, como se elas tivessem importância secundária para a compreensão de seus conceitos.
Em conseqüência disso, as traduções se apresentam “assépticas”, “limpas” do que parece ser
considerada a “ideologia comunista”. Esta “limpeza”, realizada pelos tradutores em relação às
reflexões marxistas, deu margem à polêmica existente de ser Vygotski marxista ou não. A idéia
equivocada de alguns autores contemporâneos de que existia uma imposição ideológica desde a
revolução, que obrigava os cientistas a adotarem o materialismo dialético em todos os seus traba-
lhos, acabou por reforçar ainda mais esta polêmica: era Vygotski realmente marxista ou adotou o
marxismo por imposição ideológica?
Na verdade essa controvérsia se enfraquece na medida em que uma leitura mais abrangente e
aprofundada das obras de Vygotski se enraizar nas grandes questões que a sociedade russa, e
depois a União Soviética, tinha que resolver.
As críticas e retaliações, sofridas por Vygotski na década de 30, que culminaram com a proibi-
ção de suas obras pelo governo de Stalin, ajudam a entender sua defesa por uma “verdadeira”
Psicologia marxista, em oposição àquela que vinha se evidenciando.
Segundo Davydov e Zinchenko (1994), a visão de mundo de Vygotski desenvolveu-se nos anos
da revolução e refletiu as mais avançadas e fundamentais influências socioideológicas relacionadas
à compreensão das forças essenciais do homem, das leis de seu desenvolvimento histórico e de sua
formação plena, nas condições da nova sociedade socialista, pensamento que se manifestou plena-
mente na Filosofia materialista dialética que conhecia a fundo e na qual baseou toda a sua teoria.
O desejo de Vygotski, portanto, era abordar o estudo da mente utilizando-se do método de Marx,
opondo-se frontalmente à utilização de citações e junções ecléticas entre os clássicos marxistas e as
teorias psicológicas ocidentais, como tentativa de construção de uma Psicologia marxista.
Estudar Vygotski hoje, no entanto, parece ter de enfrentar dois problemas em um primeiro
plano: romper com a censura burguesa, referente a sua formação marxista e seu compromisso com
a sociedade comunista, e romper com a censura comunista de suas próprias obras, operada a
partir da década de 30 pelo stalinismo.
72
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
O primeiro problema pode ser resolvido com a utilização das traduções espanholas que são
mais fiéis à edição russa das Obras escolhidas, enquanto que o segundo só seria possível de ser
resolvido tendo acesso aos manuscritos do autor, muitos deles desaparecidos ou alterados durante
o governo de Stalin.
Ler Vygotski, portanto, é antes de tudo admiti-lo como marxista e comunista e todas as implica-
ções decorrentes disso. Como diz Duarte, comete-se um grave equívoco ao pretender depurar a
Psicologia de Vygotski de seu marxismo ou afastá-lo da proposta de uma sociedade comunista:
“para se compreender o pensamento de Vigotski e sua escola é indispensável o estudo dos funda-
mentos filosóficos marxistas dessa escola psicológica” (Duarte, 1996, p. 78).
Grande parte das publicações nacionais, com base na teoria de Vygotski, têm enfatizado a
aprendizagem, a interação entre pares e a relação entre pensamento e linguagem. Encontram-se
poucos estudiosos, inclusive estrangeiros, que consideram as influências societárias mais amplas
no desenvolvimento da psique humana. A organização social, as relações sociais de produção
como construtoras de uma psique determinada não são analisadas. A ênfase na escola, na interação
em pequenos grupos, na relação aprendizagem e desenvolvimento com enfoque na zona de de-
senvolvimento proximal, na mediação, são destacadas sem que se avance para o significado que
assumem em uma sociedade capitalista, quando o próprio Vygotski estava empenhado na destrui-
ção dessa forma de sociedade.
Esses autores não ignoram por completo o social, mas o “social” dilui-se ou, dizendo melhor,
restringe-se às interações individuais em pequenos grupos. As relações sociais, no sentido dado por
Marx e adotado por Vygotski, como produtoras e transformadoras dos comportamentos, condutas e
formas de pensar humanos no decorrer da história, acabam por se limitar a relações interpessoais
nesta forma de se ler Vygotski. As interações e mediações, estudadas de maneira a-histórica, indepen-
dentes de tempo e lugar, adquirem um significado distinto daquele pretendido por Vygotski.
73
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
Para os pesquisadores atuais, orientados pela ciência da História, entender o social de Vygotski
significaria fazer as distinções entre as condições objetivas presentes na sociedade russa daquele
período, que permitiram a revolução e a construção do projeto coletivo socialista, e as condições
objetivas atuais desta sociedade, onde tem-se a globalização do capital, e cujo projeto coletivo é o
neoliberalismo, para que se definam os limites de uma teoria revolucionária, deslocada da
materialidade que a produziu.
São poucos os autores que trazem a biografia do autor ligada aos acontecimentos da URSS e o
impacto destes em seu pensamento. Quando isso ocorre, embora de maneira sucinta e, algumas
vezes, com interpretações político-ideológicas evidentes, considera-se um avanço, no sentido de
possibilitar a leitura de um Vygotski histórico na atualidade, rebatendo grande parte das “classi-
ficações” que têm sido realizadas de sua teoria, idéias e conceitos
Dentre eles, Shuare (1990) é quem traz um panorama mais completo da base filosófica da
Psicologia soviética e das relações entre o desenvolvimento desta, após a revolução, com as con-
dições da União Soviética, enfocando diversos teóricos do período e suas investigações sobre o
desenvolvimento da psique humana.
A questão, neste estudo, não é escolher uma dentre as várias leituras apresentadas, mas frisar
que, quando se adota o ponto de vista histórico, significa admitir que não se tiram leituras dos
textos de Psicologia, simplesmente, mas que a leitura se constrói a partir das questões postas
pelos homens historicamente determinados. Dito de outra forma, as leituras e interpretações en-
contram seus limites nas formas de pensar e interpretar a realidade, produzidas na luta pela
organização da sociedade. Daí a dificuldade, na atualidade, em entender o pensamento de Vygotski
como ele propôs que assim se entendesse o pensamento em geral, isto é, historicamente.
Com a Revolução de 1917 começam os problemas da sociedade russa que iriam sugerir a teoria
de Vygotski. A luta de classes, de interesses antagônicos (burgueses e proletários), não desapare-
ce com a abolição da propriedade privada dos meios de produção, ela metamorfoseia-se em cada
etapa da construção do socialismo russo.
Nos anos que se seguiram à Revolução Socialista, não se pode dizer que a aparência da soci-
edade soviética correspondesse a sua essência, ou à essência do projeto coletivo que a impulsio-
nou, pois o fato de ter sido abolida juridicamente a propriedade privada não garantia que, auto-
maticamente, as relações burguesas haviam sido eliminadas. Esta contradição, intrinsecamente
74
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
ligada à luta de classes no interior da Rússia e ao período de reconstrução da sociedade, que ora
imprimia características burguesas, ora socialistas às relações de produção, será o fio condutor
para a análise da Psicologia vygotskiana.
Uma das questões que chama a atenção quando se lê atentamente as obras de Vygotski é sua
contundência e insistência em superar a “velha Psicologia”, postulando uma “nova Psicologia”
que fosse capaz de eliminar a dicotomia entre corpo e mente e realizar a síntese. Esta dicotomia
foi historicamente o pomo da discórdia entre as teorias psicológicas, justificando sua classificação
entre idealistas e materialistas. Vygotski parece perseguir o objetivo de superá-la, trazendo para
a Psicologia o método proposto por Marx e Engels e construindo a ponte que eliminaria a cisão
entre a matéria e o espírito.
Com essa perspectiva Vygotski revê as principais teorias ligadas à “velha Psicologia” mostran-
do seus pontos positivos e negativos, e o faz mostrando os avanços e retrocessos, historicamente
determinados, como uma luta que se descola do mundo real e se afirma no mundo das idéias e
vice-versa. Opondo-se aos estudiosos de sua época, ele procura demonstrar os elementos da crí-
tica e da análise das teorias existentes para construir uma nova Psicologia. Este posicionamento
fica evidente em seu texto El significado histórico de la crisis de la Psicología. Una investigación
metodológica, de 1927.
Pode-se dizer que a análise de Vygotski em relação à crise da “velha” Psicologia expressa a
luta concreta pós-revolucionária pela superação das relações capitalistas de produção. A revolu-
ção socialista possibilitava a construção de uma “nova Psicologia”, capaz de superar o antago-
nismo clássico entre materialismo e idealismo, da mesma forma em que o capitalismo seria
superado pelo comunismo. No entanto, como ainda permanecia a luta de classes no interior da
sociedade russa, permanecia a luta pela superação da velha Psicologia que assumia um caráter
cada vez mais agressivo no mundo das idéias, tal como se fazia na vida prática a expropriação
da burguesia.
Para ele, a Revolução decretou a crise das explicações reducionistas em Psicologia e impulsio-
nou a criação da nova Pedagogia, pela necessidade de a Psicologia deixar de ser uma ciência
pura, desligada aparentemente das necessidades reais, e tornar-se uma ciência capaz de solucio-
nar os problemas postos pela prática social.
75
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
responsáveis pelo aperfeiçoamento da Psicologia e de suas concepções teóricas. “La vida necesita
de la psicología y de su práctica y a consecuencia de este contacto com la vida es de esperar un
auge en la psicología” (Vygotski, 1991, vol. I, p. 359).
Esta idéia de aplicação prática da ciência na solução dos problemas enfrentados em relação à
construção do socialismo é encontrada em vários autores que escrevem sobre a União Soviética e
em manuais de Economia Política russa, demonstrando que o desenvolvimento do socialismo esta-
ria ligado à revolução científico-técnica.
Na tentativa de entender o que ocorre, a partir de seu campo específico de conhecimento, Vygotski
critica não só a Psicologia ocidental que, por possuir suas bases assentadas na realidade burguesa,
encontra aí os limites de suas interpretações. Mas também faz críticas à Psicologia marxista em
processo de construção. Esta, de sua perspectiva, não passava de uma colcha de retalhos de citações
de Marx e Engels superpostas às análises de fenômenos psicológicos realizadas pela Psicologia
ocidental, o que acaba por desembocar no ecletismo tão comum à Psicologia burguesa.
Coerente com suas concepções, Vygotski postula que, estando a sociedade comunista em cons-
trução, não é possível existir uma Psicologia comunista acabada. Esta só será capaz de se comple-
tar com a existência real da sociedade comunista, com a concretização desta forma de organização
social e com a transformação das relações sociais.
Nuestra ciencia no podía ni puede desarrollarse en la vieja sociedad. Ser dueños de la verdad sobre la
persona y de la propia persona es imposible mientras la humanidad no sea dueña de la verdad sobre la
sociedad y de la propia sociedad. Por el contrario, en la nueva sociedad, nuestra ciência se hallará en el
centro de la vida. “El salto del reino de la necesidad al reino de la libertad” planteará inevitablemente
la cuestión del dominio de nuestro propio ser, de subordinarlo a nosotros mismos. (...) Será en efecto la
última ciencia del período histórico de la humanidad o la ciencia de la préhistoria de esta humanidad.
Porque la nueva sociedad creará al hombre nuevo (Vygotski, 1991, p. 406, grifos nossos).
Em outros escritos ele argumenta que na transição para uma Psicologia comunista, a Psicologia
burguesa deveria ser utilizada com restrições. A nova Psicologia não poderia existir, porque não
existia o novo homem na realidade da sociedade soviética. As relações entre eles pautavam-se
mais pela prática burguesa do que pela prática comunista, existindo apenas a possibilidade de
que este novo homem emergisse com a consolidação da nova sociedade.
Para ele, a Psicologia comunista seria a Psicologia geral que unificaria todos os ramos particula-
res (Psicologia do desenvolvimento, experimental, vocacional, etc.) através do método. Esta preocu-
pação metodológica está presente em todas as obras de Vygotski, inclusive em seus primeiros estu-
dos sobre a arte. O livro Psicología del arte, segundo Leontiev descreve no Prólogo, é um resumo
dos trabalhos de Vygotski de 1915-1922 sobre esta temática. Em todo o livro, ao analisar as teorias
de diversos estudiosos da arte, Vygotski evidencia a importância de um método unificador, para que
a arte seja entendida em seus diversos aspectos e complexidades como uma produção social.
Em todas as suas obras ele enfatiza o método materialista-histórico, que deveria ser tomado
como geral para a análise dos fenômenos, capaz de unificar a ciência psicológica. A condição para
a construção de uma Psicologia marxista no campo teórico, portanto, era o domínio e utilização do
método proposto por Marx, pois sem ele esta se transformaria em uma colcha de retalhos seme-
lhante à Psicologia burguesa.
76
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Romper com o determinismo biológico significava, antes de tudo, criar a consciência da trans-
formação da qual o homem é sujeito e objeto e, para alcançar este objetivo, Vygotski procurou
traçar uma linha divisória entre o homem e o animal, demonstrando seus pontos de convergência
e de divergência, opondo-se à Psicologia fisiológica que reduzia os comportamentos de ambos a
reações instintivas e reflexas.
O caminho traçado por Luria e Vygotski, no livro “Estudos sobre a história do comportamento”
(1996) escrito no final dos anos 20 e início dos anos 30, para demonstrar que no homem o desen-
volvimento histórico se sobrepõe ao biológico, segue três linhas principais: evolutiva, histórica e
ontogenética.
Assim, Vygotski parte das idéias de Engels (1985) e desenvolve em seus estudos a importância
da linguagem enquanto sistema simbólico responsável pela transformação do pensamento prático
em pensamento verbal e pelo desenvolvimento das operações intelectuais responsáveis pelo con-
trole do próprio comportamento. O desenvolvimento do comportamento do animal ao do homem
ocorre para ele, portanto, através de um salto qualitativo do biológico ao histórico.
Da mesma forma como faz a análise do comportamento animal e humano, em suas semelhan-
ças, mas sobretudo nas suas diferenças, ele procede em relação ao homem primitivo e ao homem
moderno, pontuando as convergências e divergências. Ao postular as características de cada um
deles no que diz respeito às funções psicológicas, deita por terra a concepção de uniformidade e
de universalidade de determinadas características psicológicas. Elimina a idéia de que as funções
psicológicas são dadas desde o nascimento e não sofrem alterações qualitativas e que são comuns
a todos os homens, independente do período histórico ou da sociedade em que vivem. Ao contrá-
rio, ele demonstra o quanto a diversidade qualitativa das funções está intrinsecamente ligada à
característica de sobrevivência, de organização e das relações que cada tipo humano estabelece
com os outros homens e com a natureza.
Tais necessidades concretas de remodelação da natureza humana para construir aquilo que a
própria revolução projetava de novo, circunstanciada pela força da tradição, conduziu Vygotski à
necessidade de entender como a criança se transforma em um ser sociocultural. Em outras pala-
vras, como uma criança recém-nascida, onde predominam a princípio as funções elementares e
biológicas, apropria-se dos instrumentos culturais e simbólicos postos em sociedade, transforman-
do-se, qualitativamente, em um ser que se vê como unidade na relação com o coletivo em constru-
ção, com o qual deve comprometer-se.
77
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
A tese central de sua teoria afirma ser a psique uma construção histórico-social, o que constitui
o elemento inovador de sua Psicologia, condizente com os encaminhamentos dados para a cons-
trução da consciência comunista. A sociedade soviética estava criando as condições concretas para
o desenvolvimento de relações sociais autenticamente comunistas, ao mesmo tempo que necessi-
tava alterar a consciência das massas, eliminando as características burguesas e transformando-a,
gradativamente, em consciência comunista, voltada à coletividade: essência do “homem novo”.
Neste sentido ele critica a “velha” Psicologia como incapaz de orientar o processo educativo,
por estudar a psique de forma estática e não dinâmica, em suas formas cristalizadas e não em
processo de origem, formação e desenvolvimento: “Lo que describe y analiza, se clasifica y
categoriza, es una conciencia ya terminada com todos sus atributos y componentes, como si hubiera
existido durante siglos tal y como nos la descubre la introspección” (Vygotski, 1991, p. 146).
Desta forma, a “nova” maneira de enfocar o homem deveria ocupar um lugar central no proces-
so educativo. A psique deveria ser estudada em transformação, levando-se em conta os mecanis-
mos capazes de acelerar ou bloquear seu desenvolvimento.
De ahí que la nueva psicología sea un fundamento para la educación en mucha mayor medida
que lo era la psicología tradicional (...). El nuevo sistema no tendrá que esforzarse por extraer de
sus leyes las derivaciones pedagógicas ni adaptar sus tesis a la aplicación práctica en la escuela,
porque la solución al problema pedagógico está contenida en su mismo núcleo teórico, y la educación
es la primera palabra que menciona (Vygotski, 1991, p. 144, grifos nossos).
78
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
O autocontrole individual, ou seja, o autodomínio para a gestão coletiva, tão frisado por Vygotski,
parecia ser o único mecanismo capaz de eliminar a existência das relações burguesas, permitindo
aos homens conter seus impulsos egoístas, voltados à satisfação individual e imediata, em prol da
execução de um projeto coletivo de distribuição igualitária da produção. Ao mesmo tempo, através
da autodisciplina, seria possível suprir as necessidades práticas de desenvolvimento da socieda-
de, as quais exigiriam dos homens grande sacrifício, cujo retorno e benefício só seriam alcançados
a longo prazo. Para Vygotski esta era a diretriz para substituir a coerção externa cada vez mais
presente na sociedade soviética e, ao mesmo, facilitar o caminho para o verdadeiro comunismo. O
homem deveria ser capaz de controlar suas funções psicológicas tanto quanto fora capaz de con-
trolar a natureza desenvolvendo a ciência e a tecnologia.
Considerações finais
Aceitar a leitura histórica é um primeiro passo, mas para isso é preciso admitir que o fazer e o
pensar são históricos e estão intimamente relacionados, o que subentende uma determinada for-
ma de existência em processo de transformação, tanto quanto compreender que uma teoria não
prolifera em alguma estratosfera semântica, alijada das lutas que os homens travam na produção
material de sua existência social.
Lê-se com objetivos diferentes e, neste sentido, a idéia de fidelidade de interpretação deve ser
reconsiderada. “A leitura não é um processo transparente e natural. Considerações ideológicas,
genéricas e sociais entram na leitura de Psicologias. O objetivo da interpretação fiel, portanto,
não é o absoluto, a ser determinado para todo o sempre.” (Burgess, In: Daniels, 1994, p. 40).
Assim, na atualidade, o pesquisador vai à obra de Vygotski para retirar o que julga importante de
acordo com sua especialidade, sua visão de homem e natureza. Encontram-se, então, vários Vygotskis,
alguns marxistas, outros não; uns preocupados com a crise da Psicologia (que diversos autores con-
temporâneos dizem ser atualíssima) em primeiro plano, outros interessados em Educação Especial;
outros preocupados com desenvolvimento e aprendizagem, com enfoque na zona de desenvolvimento
proximal; enfim, observa-se uma fragmentação de sua obra, com a perda de significado de seus con-
ceitos. Vygotski apresenta-se como pedólogo, metodólogo, psicólogo, estudioso da arte, todos separa-
dos e nunca em comunicação com as grandes questões da sociedade de seu tempo.
Desta maneira, torna-se quase impossível compreender a totalidade de sua obra, o fio condutor
de todas as suas análises, o que efetivamente lhe deu base para discutir assuntos tão diversos sem
perder de vista a perspectiva revolucionária da sociedade russa. Entende-se que é imperativo
superar estas formas de análise do pensamento vygotskiano, pois seus estudos sobre o pensamen-
to humano (quando entendido em sua totalidade), um dos interesses da própria Psicologia
vygotskiana, demonstraram a impossibilidade de se manter uma estratégia a-histórica desse tipo.
Isto quer dizer que não se pode aprender ou utilizar aquilo que se produziu no passado? Não,
o que se quer dizer é que, ao apreender o que se produziu no passado, deve-se considerar, a todo
momento, as condições objetivas que permitiram o seu surgimento, o seu desaparecimento, bem
como o seu ressurgimento.
Pergunta-se, então: é possível trazer Vygotski para a atualidade sem distorcer o significado
comunista de seus conceitos? O que a atualidade poderia aproveitar na leitura de Vygotski sem
abstraí-lo, sem desistoricizá-lo ou descaracterizá-lo?
79
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
Entende-se que, mais do que buscar soluções ou “receitas” para os problemas educacionais da
atualidade, retirando Vygotski do contexto histórico que lhe dá significado e fragmentando-o,
deve-se buscar em sua teoria o método de análise por ele utilizado na compreensão dos fenôme-
nos psicológicos para uma sociedade que se transforma pela ação consciente de seus homens. A
apreensão de seu método permitirá pensar soluções para os problemas da atualidade, consideran-
do o psiquismo humano individual como produto das relações sociais mais amplas. Para que isso
seja possível é importante o conhecimento da organização social vigente e das implicações desta
no comportamento dos indivíduos e na consciência social. É como dar conta do fenômeno da
globalização onde rompem-se todas as fronteiras econômicas entre países e nações, gerando uma
vulnerabilidade também globalizada, com o conhecimento de suas interferências e determinações
no âmbito individual e particular.
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EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
B) CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM
De uns anos para cá ficou mais explícito que para se falar de educação não bastava trazer a
idéia de aprendizagem — normalmente entendida como modificação de comportamento. O con-
ceito de aprendizagem tem em si um resquício muito forte da Psicologia behaviorista, a qual
tratava a aprendizagem, fruto de condicionamentos, como sendo a forma maior de se organizar o
comportamento de uma pessoa, ou seja, a mãe de todas as modificações na personalidade do
sujeito. Portanto, a escola, querendo transmitir conhecimentos, deveria recorrer aos processos de
condicionamento. No caso de querer dar uma formação moral aos alunos, deveria também recorrer
a condicionamentos. No caso de querer desenvolver uma consciência crítica (se fosse possível —
segundo eles), deveria, como nos outros casos, recorrer aos processos de condicionamento.
Esta explicação simplista, advinda da Psicologia behaviorista (talvez fosse melhor dizer
reducionista, mas de qualquer forma todo reducionismo não deixa de ser um simplismo), trouxe
consigo uma distorção que se traduziu na transformação da escola brasileira de clássica para
tecnicista — embora um tecnicismo moreno.
Essa escola que normalmente se denomina tradicional passou a abordar todos os processos
escolares de forma igual, dando margem a uma psicologização da educação mais nefasta que
aquela ocorrida com o advento da escola nova. Digo mais nefasta porque o movimento da Escola
Nova procurava fazer com que a Psicologia estivesse a serviço do aluno. Já a psicologização
tecnicista colocou a Psicologia a serviço do professor e da autoridade escolar (quem decide o que
condicionar em quem?...).
Com o advento das teorias construtivistas e interacionistas – especialmente a partir das contri-
buições de Piaget –, passou-se a entender que não se pode considerar a questão da aprendizagem
descolada do que se entende por conhecimento, ou mais precisamente por processo de conheci-
mento (processo cognitivo). Daí a importância de uma análise que contemple aprendizagem, co-
nhecimento e inteligência.
Em minha opinião, o grande mérito de Jean Piaget foi ter abordado a inteligência de uma
maneira qualitativa, diferenciando-se dos estudos psicológicos tradicionais sobre este tema, que
insistem em dar uma ênfase muito maior no aspecto quantitativo, quando não se restringem ex-
clusivamente a este.
Para chegar à compreensão da inteligência, Piaget partiu de seus estudos em Biologia a res-
peito da adaptação dos seres vivos. Ele via na inteligência o principal instrumento de adaptação
do ser humano, que, aliás, é o ser vivo que melhor se adapta a ambientes e condições, por mais
adversas que sejam (desde os pólos terrestres, até a vida no espaço, passando pelos ambientes
nocivos criados pelo próprio homem). Tudo isso é possível porque o “Homo sapiens” constrói
conhecimentos que lhe possibilitam uma interação cada vez melhor com o meio, por mais adverso
que este lhe seja (Piaget, 1973).
1
O autor é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Educação, e pertence ao Departamento de Estudos
Especializados. O presente artigo encontra-se em: <www.pgie.ufrgs.br/alunos_espie/espie/franco/public_html/textos/aprend.htm>. Acesso
em: 25 abr. 2009.
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A grande pergunta que Piaget se propõe a responder é sobre como o ser humano chega a
construir esta capacidade de se adaptar. Não como chegou através da evolução das espécies, mas
como, no decorrer de sua vida, portanto, na sua ontogênese, chega ao ponto de construir conheci-
mentos que possibilitem os grandes avanços científicos que presenciamos no nosso dia-a-dia. E
nesta perspectiva Piaget coloca uma idéia que se torna o ponto central de toda sua teoria: “o
conhecimento surge da ação”. E a inteligência e a aprendizagem estão aí presentes na palavra
“ação”.
Mas como é possível fazer uma afirmação dessas? Muitos objetam afirmando que a inteligên-
cia e a ação são dois processos de naturezas diferentes. Ora, se o homem é uma totalidade, exata-
mente esta objeção quanto à “natureza” dos dois processos perde sentido. Vejamos como Piaget
demonstra esta integração entre ação e inteligência.
O que vai então inaugurar a diferenciação entre o sujeito cognoscente e o objeto cognoscível –
condição fundamental para a existência do conhecimento? Não poder ser nem o sujeito, nem o
objeto, pois eles não existem como tais. Deverá haver aqui algum instrumento de mediação que
cumpra este papel. O que a criança traz consigo ao nascer são somente as ações reflexas (sucção,
preensão, etc.) e será a partir do uso dessas ações que a criança dar-se-á conta que o mundo é
algo diverso dela mesma, que, por exemplo, os objetos oferecem resistência.
Portanto, com o concurso da ação, poderá se instalar a diferenciação entre o sujeito que conhe-
ce e o objeto a ser conhecido.
Tal diferenciação implica em modificações tanto por parte do sujeito como do objeto. A perspec-
tiva de ambos fica alterada. Para explicar esta mudança, Piaget lançou mão do conceito de “adap-
tação”, oriundo da Biologia.
Há, então, uma relação especial entre assimilação e acomodação, no sentido que uma não
sucede à outra simplesmente, mas cada uma gera uma situação nova, que provocará necessidade
da outra entrar em ação, o que resultará num processo interminável de adaptação.
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EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Mas esta explicação dada por Piaget não consegue aclarar como a inteligência pode evoluir de
uma forma sensório-motora, prática, para um grau tão alto de complexidade como o encontrado
nos pensamentos abstratos e formais de uma dedução matemática, por exemplo. Ou seja, como se
podem criar tantas novidades no decorrer vida do indivíduo.
Para sanar tal deficiência J. Piaget lançou mão da lógica dialética (sistematizada modernamente
por Hegel) formulando a teoria da abstração.
“Abstrair ” significa retirar. Portanto toda abstração é um ato de extrair conhecimento. Isto se
encaixa bem dentro do quadro epistemológico da teoria de Piaget porque, afinal, o conhecimento
não está dentro do sujeito, como o querem as teorias aprioristas. No entanto isso pode levar o
leitor menos avisado a tentar aproximar a epistemologia genética do behaviorismo, o que também
não é possível, e veremos a prova disso na própria concepção de abstração.
As teorias empiristas consideram esta como a fonte de todo o conhecimento. Isto seria verdade
se a maneira de conhecer fosse sempre a mesma durante toda a vida do sujeito, pois a abstração
empírica não tem possibilidade de criar novidades, ela está presa aos observáveis, e aqui é inte-
ressante lembrar o paradoxo (aporia) de David Hume (1980) ao questionar se o princípio da
causalidade é verdadeiro. Segundo este pensador, se todo o conhecimento vem da experiência,
abstraído diretamente da observação, nada justifica que se aceite o princípio da causalidade.
Assim (este exemplo é do próprio Hume) ao se queimar um dedo em uma chama de vela, seríamos
capazes de ver a seqüência do dedo, da chama e do dedo queimado, mas de maneira nenhuma
poderíamos depreender a relação de causalidade entre a chama e a queimadura. O que nos leva-
ria a acreditar numa relação de causalidade seria o mero hábito de se observar sucessões repeti-
damente. Assim, o próprio Hume, que pretendia ser um empirista, eu diria radical, porque crítico,
atesta que as teses empiristas não conseguem explicar todo o conhecimento.
Piaget irá dar uma contribuição muito importante para resolver a aporia de Hume através do
modelo da abstração reflexiva. Este modelo servirá para explicar o processo de desenvolvimento
com a criação de novidades que aí acontece, e inclusive explicar como se chega à noção do prin-
cípio de causalidade, entre outras.
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EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
problema proposto por Hume. A este tipo de abstração Piaget dá o nome de “pseudoempírica”,
porque utiliza observáveis mas retira suas informações das coordenações das ações sobre estes
observáveis, sendo, portanto, um tipo de abstração reflexiva.
O grau mais alto de abstração reflexiva é a “abstração refletida” (“réfléchie”), quando há tomada
de consciência do processo de reflexão. Esta expressaria o processo refletidor em sua plenitude.
Em que consistiria o processo refletidor? Consiste em dois aspectos inseparáveis. O “reflexo”
(“réfléchissement”), que seria a projeção para um patamar superior daquilo que fora retirado de
um inferior; e a “reflexão” (“réflexion”), que é a reconstrução mental daquilo que fora transporta-
do, no patamar superior. Assim, por reflexo e reflexão, ou seja, na abstração reflexiva
(“réfléchissante”), o sujeito cria as novidades, por reconstruções sempre renovadas, ao ponto de
poder construir reflexões sobre reflexões, possibilitando-lhe, mais tarde, um raciocínio completa-
mente desligado (independente) do mundo real que o cerca (cf. Piaget et al, 1977).
Vê-se como há aqui a influência hegeliana em Piaget. Trata-se da aplicação da dialética siste-
matizada por Hegel à Psicologia cognitiva. Afinal a reflexão nada mais é do que o processo de
superação ou ultrapassamento (“aufhebung”) da dialética hegeliana. Nisto ele demonstra que
todo conhecimento novo gera novidade, não só pelo conteúdo adquirido, mas pela formalização
que o sujeito constrói sobre este conteúdo. Portanto não temos aqui nem mais o conteúdo inicial,
nem o sujeito que começou a conhecer, mas um sujeito que se modificou e que aplicou esta modi-
ficação ao conteúdo original sob forma de relações, formalizações, etc. (é o que em filosofia se
chama de categorias do conhecimento).
E se até o momento via-se a proximidade de Piaget a Hegel, aqui se nota a presença do pensa-
mento kantiano na epistemologia genética. A saber, a pessoa não conhece o objeto em estado
puro, mas o que capta (abstrai) do mesmo (é a “intuição sensível” de Kant (1980)) e sobre isso
aplica as categorias que estão no sujeito, “a priori”. A diferença entre Piaget e Kant é que para o
Mestre de Genebra o “a priori” não está propriamente dado, mas é construído no decorrer do
desenvolvimento, pelo conjunto de abstrações ocorridas. Por isso que Ramozzi-Chiarottino (1984)
classifica o pensamento piagetiano como um “kantismo evolutivo”.
Até aqui se falou todo o tempo sobre o conhecimento. O leitor pode estar se perguntando: e a
aprendizagem, já que este é o ponto central desta conferência? Vejamos, então, as relações entre
aprendizagem e conhecimento.
Ramozzi-Chiarottino aponta claramente para a diferença dos dois processos lembrando ex-
pressões do próprio Piaget. Aprendizagem é, pois, saber fazer com êxito (“réussir ”, no francês),
enquanto que conhecer consiste em atribuir significado a alguma coisa ou ação, “levando em
conta não só o atual e o explícito como o passado, o possível e o implícito” (Ramozzi-Chiarottino,
1984, p.73). Portanto o conhecimento ultrapassa os limites da aprendizagem.
Mas Piaget distingue dois tipos de aprendizagem: a aprendizagem “stricto sensu” e a apren-
dizagem “lato sensu”. A primeira referir-se-ia à aquisição de um conhecimento ou atuação “em
função da experiência, podendo ser, aliás, do tipo físico ou do tipo lógico-matemático ou dos dois”
(Piaget; Gréco, 1974, p. 52).
Aqui mais uma vez temos que ter cuidado para não cair na confusão entre as conclusões da
epistemologia genética e o behaviorismo. Este, como todas as escolas de cunho empirista, argu-
menta que todo o conhecimento novo se origina de uma aprendizagem, entendendo esta como
uma aquisição direta do objeto. Mas Piaget acrescenta que o processo mesmo de aprendizagem
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EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
“stricto sensu”, é uma aquisição mediata, porque se dá no tempo, tempo este no qual ocorre a
interação do sujeito com o objeto, num processo de assimilação e acomodação, e portanto, supõe
estruturas prévias de pensamento. Não se pode esquecer que para os empiristas o processo de
aprendizagem não se dá por interação, mas por uma “adição” que o meio faz ao sujeito. A eles
Piaget objeta perguntando se não estão simplificando demais o processo de desenvolvimento e de
conhecimento por meio de equivalências (entre desenvolvimento e aprendizagem, entre experi-
ência e experiência física) não justificáveis psicologicamente (Piaget; Gréco, 1974, p. 10).
Em verdade, Piaget distingue seis formas de aquisição de conhecimento, às quais ainda acres-
centa a maturação – que não é propriamente uma aquisição. São elas: a percepção; a compreensão
imediata e pré-operatória; a aprendizagem “stricto sensu”; a indução; a coerência pré-operatória
(equilibração); e a dedução (Idem, ibidem, p. 55). Veja-se que a aprendizagem “stricto sensu” é
uma das formas de aquisição de conhecimento.
A aprendizagem “lato sensu” seria aquela que de certo modo engloba a aprendizagem “stricto
sensu” e a equilibração (Idem, ibidem, p. 54) de modo que traz em seu bojo a abstração reflexiva.
Portanto esta é a “verdadeira aprendizagem”, pois por ela o sujeito constrói conhecimentos novos,
e por isso ela gera desenvolvimento. O estudo de Inhelder, Bovet e Sinclair (1977) confirma isto
na medida em que demonstra que em se criando situações de aprendizagem, pode-se provocar
uma aceleração do desenvolvimento cognitivo de crianças.
Na literatura sobre a Psicologia do desenvolvimento podem ser encontradas muitas críticas às
postulações feitas por Piaget a respeito dos estágios do desenvolvimento cognitivo. Algumas de-
las podem ser pertinentes, mas há muitas que são fruto de uma má compreensão da teoria piagetiana
em seu todo. E aqui quero chamar atenção para o fato de que a obra de Piaget e seus colaborado-
res é toda a Epistemologia Genética, da qual a teoria dos estágios é apenas uma parte.
Um erro comum ao se interpretar Piaget é considerar esta parte da teoria como o principal de
sua obra. Devido a isso Piaget é, inclusive, acusado de “estruturalista”, no sentido de ter uma
compreensão por demais estática da inteligência, pois refere-se a “estágios” (ou “estádios”) e,
dentro deles, a “estruturas de pensamento”.
Piaget é partidário de um estruturalismo, sim, mas de um estruturalismo muito próprio. Um
ponto essencial deste estruturalismo é que ele vem acompanhado de um construtivismo – essen-
cialmente dialético, num movimento ascendente em espiral (Piaget, 1981). É assim que o desen-
volvimento cognitivo vai desde “as trocas meramente mecânicas entre o organismo e o meio, até o
nível das trocas simbólicas ou dos sistemas infinitamente abertos” (Ramozzi-Chiarottino, 1988,
p.20), ou seja, é assim que os processos cognitivos irão construir-se como um prolongamento dos
processos biológicos (Piaget, 1982, p. 13).
Além da questão do papel da teoria dos estágios no interior do todo da epistemologia genética,
um outro ponto – que é “prato cheio” aos “críticos” de Piaget – refere-se aos limites etários para
cada estágio. A isto o próprio Piaget responde:
Para que haja estágios é necessário primeiramente que a ordem de sucessão das aquisições seja
constante. Não a cronologia, mas a ordem de sucessão. Podemos caracterizar os estágios numa
população dada por uma cronologia, mas essa cronologia extremamente variável; ela depende
da experiência anterior dos indivíduos e não somente de sua maturação, e depende principal-
mente do meio social que pode acelerar ou retardar o aparecimento de um estágio, ou mesmo
impedir sua manifestação (Piaget, 1978d, p. 235).
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EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
Esta argumentação está calcada sobre pesquisas transculturais; as quais confirmam as hipóte-
ses iniciais de Piaget (cf. Modgil; Modgil, 1976).
Piaget ainda acrescenta mais quatro critérios para a definição dos estágios de desenvolvimen-
to, que seriam o caráter integrativo, que significa que as estruturas construídas num estágio farão
parte das estruturas do estágio seguinte; uma estrutura de conjunto, no sentido de que todas as
operações mentais daquele estágio têm uma relação entre si e podem ser abarcadas numa totali-
dade maior; a existência de um período inicial de preparação e de outro final de acabamento, e a
diferenciação dentre os processos formativos e as formas de equilíbrio finais, sendo que aqueles
se apresentam sob o aspecto de diferenciações progressivas e somente estas se constituem naque-
le equilíbrio de que fala o item anterior (Idem, ibidem, p. 236).
Feitos estes esclarecimentos, penso que será possível olhar com outros olhos para as formula-
ções tão comuns nos livros de Fundamentos da Educação a respeito da teoria piagetiana.
Após toda essa explanação “piagetiana” não poderia me furtar a tecer alguns comentários
sobre outras visões a respeito do conhecimento e da aprendizagem, principalmente idéias que,
pelo que se diz por aí, se contrapõem ao pensamento piagetiano. É o caso, em primeira instância,
da teorização de L. S. Vygotsky.
Sem entrar em muitos pormenores, penso que é importante destacar que o conceito de interação
em Vygotsky pode ser entendido do mesmo modo que em Piaget. No entanto é de se observar que
aquele autor russo dá um destaque muito maior ao fenômeno da aprendizagem que o mestre de
Genebra. Ora, não podemos esquecer que Vygotsky, além de ser um psicólogo, estava interessado em
produzir conhecimento psicológico propriamente dito, além de ter clara intenção de contribuir para o
processo educacional (de modo especial a Revolução Cultural na União Soviética). Piaget, por outro
lado, produziu conhecimento psicológico como um conhecimento secundário para alcançar seu fim
último, que era a construção de uma epistemologia científica (a Epistemologia Genética).
REFERÊNCIAS
HUME, David. Investigações sobre o entendimento humano. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural,
1980. p. 133-204. (Col. Os Pensadores).
INHELDER, Barbel; BOVET, Magali; SINCLAIR, Hermine. Aprendizagem e estruturas do conhe-
cimento. São Paulo: Saraiva, 1977.
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Col. Os Pensadores.)
Piaget, Jean. Biologia e conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1973.
______. A epistemologia genética. São Paulo: Abril Cultural, 1978b. p. 1-64. (Col. Os Pensadores).
______. O estruturalismo. Lisboa: Moraes, 1981.
______. O nascimento da inteligência na criança. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
PIAGET, Jean; GRÉCO, Pierre. Aprendizagem e conhecimento. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
1974.
PIAGET, Jean et al. Recherches sur l’abstraction réfléchissante. Paris: P.U.F., 1977. V. 1 e 2.
______. Em busca do sentido da obra de Jean Piaget. São Paulo: Ática, 1984.
______. Psicologia e epistemologia genética de Jean Piaget. São Paulo: E.P.U., 1988.
VYGOTSKY, Lev S. Pensamento e linguagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
88
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
C) PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO:
Pensando a Relação Professor-Aluno a Partir do Conceito de Transferência
1
A autora é mestre em Educação e Cultura pela Universidade do Estado de Santa Catarina e este artigo é encontrado em:
<www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000032006000100040&script=sci_arttext>. Acesso em: 26 abr. 2009. An. 5
Col. LEPSI IP/FE-USP June. 2006.
89
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
O fenômeno da transferência é por Freud apontado como sendo um fenômeno psíquico que se
encontra presente em todos os âmbitos das relações com nossos semelhantes. De acordo com
Laplanche e Pontalis (1992, p. 514), “[...] a transferência é entendida como uma repetição de
protótipos infantis vividos com uma sensação de atualidade acentuada”.
Nessa relação está implicada uma relação de amor, uma relação afetiva. Portanto, um professor
pode ser um suporte dos investimentos de seu aluno, porque é objeto de uma transferência. En-
tão, mais além da figura pessoal do professor, o educador vai representar, para o aluno, uma
função, substituindo, nesse momento, as figuras parentais e/ou pessoas que lhe foram importan-
tes, representando então esse lugar de ‘saber ’, de idealização, de poder.
A posição em que o professor se encontra, como se pode ver, não é um lugar fácil de sustentar,
pois nele estão depositadas projeções alheias a ele enquanto pessoa. O professor ignora sobre
esse lugar que lhe é outorgado pelo aluno, pois é o desejo inconsciente desse aluno que está
determinando o lugar a ele conferido. Em decorrência disso, ao professor é atribuído um poder
que caracteriza a sua autoridade, ou seja, a autoridade do professor não é imposta ao aluno, mas
outorgada ao professor pelo próprio aluno.
A autoridade não é algo consciente, que dependa do querer do professor, é algo da estrutura
mesma do encontro entre duas pessoas. Ou seja, quando se tem uma desigualdade entre os ele-
mentos, principalmente em relação ao saber, tem-se uma relação de elementos em que um está na
posição de saber para o outro. Nesse sentido, lida-se com o fenômeno da transferência.
Logo, se o professor se colocar na posição de que ‘tudo sabe’, não restará outra alternativa ao
aluno a não ser submeter-se à posição de objeto diante desse professor. No entanto, para que o
aluno possa se constituir como um sujeito ‘desejante do saber ’, o professor deveria reconhecer-se
um sujeito faltante, castrado. Na mesma medida, o professor deveria sustentar a sua posição como
representante do conhecimento.
Com o intento de privilegiar uma melhor compreensão acerca da relação professor-aluno, jul-
gou-se relevante um pequeno desvio à obra “O Banquete”, de Platão, a fim de demonstrar a
questão da transferência, e ainda ressaltar a implicação do método socrático na educação.
Sócrates inaugura um foco de interesse que tem a ver com a implicação de seu método para a
educação: a ironia e a maiêutica. Por meio dos diálogos de Sócrates, pode-se ter uma idéia a
respeito desse método. Ele interrogava seu interlocutor, levando-o a cair em contradição, perce-
bendo em seguida sua ignorância (ironia), pois ao confrontar-se com seu não saber, poderia en-
tão, dar luz às próprias idéias (maiêutica). Enfim, a essência do método socrático consistia em
confrontar argumentos através do diálogo, levando ao reconhecimento da ignorância, com humil-
dade, demarcando sua célebre frase: “sei que nada sei!”. Saber que não se sabe é o que mobiliza
o sujeito em direção ao conhecimento.
90
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
Tomando como base esse pressuposto, qual pode ser a posição do professor frente ao seu alu-
no? A posição de Sócrates na pólis era a de muito amado. Por quê? Pelo seu saber. Ele detinha um
saber que lhe era delegado pelos seus discípulos. Os discípulos vinham até ele com suas verda-
des prontas, partindo de sua realidade, e Sócrates questionava-os, instaurando a dúvida, a incer-
teza, levando-os, com isso, à busca do conhecimento.
A palavra de Sócrates tinha um valor muito precioso. A posição em que se encontrava era a de
ideal da pólis, o ideal do sujeito do conhecimento. Essa reflexão sobre a posição de Sócrates frente
aos seus discípulos remete ao fenômeno da transferência, ocorrido na relação analista-analisante,
mestre-discípulo e, igualmente, na realidade aqui pretendida, professor-aluno.
Na relação professor-aluno o conhecimento só pode ser suscitado, no processo ensino-aprendi-
zagem, através do desejo – desejo daquele a quem o conhecimento falta e desejo do professor de
ensinar, pois, conforme Lajonquière (1999, p. 141, grifo do autor), “todo adulto educa uma criança
em nome do desejo que o anima”. Assim, se tem no professor a figura que supostamente sabe e no
aluno a figura que deseja, ou não, aprender, decorrendo daí afirmar que o primeiro sujeito, em tese,
possui aquilo que ao segundo falta e, por isso, tem um grande poder nas mãos. Percebe-se, então,
a interligação entre a noção de desejo e a noção de falta, posto que se deseja aquilo que não se tem.
Foi nesse sentido, objetivando situar a transferência entre o desejo e o amor, ambos regidos
pela falta, que se optou pela obra “O Banquete”, privilegiando mais especificamente o discurso de
Alcibíades, proferido em direção a Sócrates, como analogia possível, no que se refere à relação
transferencial (amante-amado), com a relação professor-aluno. Como afirma Lacan (1992, p. 71),
“[...] alguma coisa que se assemelha ao amor, é assim que se pode, numa primeira aproximação,
definir a transferência”. Essa analogia talvez se faça significativa para situar, ainda mais, a res-
ponsabilidade que um professor tem frente ao seu aluno.
Os detalhes d‘O Banquete foram dados a conhecer por Platão, que dá conta dos diálogos neste
ocorridos:
Após o jantar, Erixímaco sugere que cada um dos convidados exponha o que sabe sobre Eros.
Ao findar da proclamação dos discursos, Sócrates é o último a falar. Sobre o amor, de acordo com
Monteiro (2000, p. 70), Sócrates estabelece alguns questionamentos “‘O amor é ou não amor de
alguma coisa?’, ‘Amar e desejar alguma coisa é tê-la ou não tê-la?’, ‘Pode-se desejar o que já se
tem?”. A partir daí, Sócrates introduz, segundo Peña (1986, p. 26), a função de falta: “Eros, sem
dúvida, deseja o objeto de que ele é amor, mas quando deseja e ama ele não possui a coisa que
deseja e ama. Só pode ser desejado aquilo que não se tem”.
A partir do discurso de Sócrates sobre Eros, pode-se perceber a questão da ‘falta’, que é
constitutiva da relação de amor. Em suma, o amor para Sócrates é o desejo de algo que não se
possui.
Após o discurso de Sócrates, um grande barulho indica a chegada de arruaceiros, dentre eles
Alcibíades. Ao perceber a presença de Sócrates, inicia um discurso com tom de ironia, reconhecido
por Sócrates como resultado do ciúme do outro (Agatão). Alcibíades diz que tentará louvá-lo a
respeito de sua sabedoria. Sócrates, nesse momento, encontra-se na situação de amado e Alcibíades
na situação de amante.
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EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
Alcibíades, enquanto amante, “[...] necessita saber sobre o desejo do amado, para ajustar-se a
ele”, ressalta Monteiro (2000, p. 70). Ele sabia que era amado por Sócrates, mas precisava de uma
confirmação, porém, “[...] Sócrates recusa esse lugar de possuidor de algo desejável: ‘Aqui onde
você vê alguma coisa, eu não sou nada’” (Monteiro, 2000, p. 70). E, logo em seguida, Sócrates se
volta a quem está à sua direita e faz um elogio a Agatão...
Então, é nessa recusa “[...] de ser o objeto amado (de ser e/ou possuir o ágalma, alguma coisa
visada pelo desejo) que Sócrates mantém o desejo de Alcibíades, porque lhe mantém a falta” (p.
70-71). Se a transferência se assemelha ao amor, o amante se aproxima do outro pela falta.
Direcionando essa linha de pensamento para o universo escolar, um professor, sabendo disso,
talvez possa atentar para esse ‘lugar ’ em que se encontra na relação transferencial. Nesse ‘jogo
de amor ’, ora ele está no lugar de amado (o qual é outorgado a ele pelo seu aluno), ora no lugar
de amante (momento em que se põe como um ser faltante), ou seja, em duas posições que o
colocam em xeque. Dois lugares que deverão ser dosados na mesma medida; ‘lugares’ que cau-
sam um certo mal-estar.
Percebe-se então, que um professor pode estar bastante imerso na dinâmica do amor pelos
alunos. O educador é aquele que, em muitos momentos, poderia estar influenciando, significati-
vamente, na história de seus alunos.
Neste sentido, a palavra passa a ter um significado muito forte na educação. O professor só vai
poder ser reconhecido nessa posição de saber pelo aluno se a palavra do professor não for uma
palavra qualquer, ou seja, se a palavra do professor for reconhecida e autorizada como, realmen-
te, um “lugar de saber ”.
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EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
tomado pelos alunos como um líder, um referencial, conseqüentemente, sua palavra também é
tomada como a de alguém respeitável, digna de ser ouvida. Um professor sensibilizado possibilita
espaços para que haja a circulação da palavra, apostando na possibilidade discursiva de seus
alunos, favorecendo para que o aluno possa se implicar no seu processo de vir a ser.
Há que se salientar aqui que a pretensão deste estudo não é dar um modelo de técnica para
ajudar na relação professor-aluno, mas, como já enfatizado, colocar a função do professor como
aquele que, para além do seu conteúdo programático, sem abdicar de sua função, enquanto al-
guém responsável pela transmissão de conteúdos formais, possa ser também aquele que escuta o
que a criança-aluno tem a dizer, apostando na possibilidade discursiva de seus alunos.
REFERÊNCIAS
KUPFER, M. C. M. Educação para o futuro: Psicanálise e Educação. São Paulo: Escuta, 2000.
LACAN, J. O Seminário, livro 8: a transferência. Rio de Janeiro: Zahar, 1992.
LAPLANCHE, J.; Pontalis, J.-B. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
PEÑA, J. F. Platão e Banquete. Letras da Coisa, nº 3. Curitiba, PR: Coisa Freudiana – Transmissão
em Psicanálise, 1986.
PLATÃO. A obra prima de cada autor. São Paulo: Martin Claret, 2001.
93
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
Todos aprendemos sem nos preocuparmos verdadeiramente com a natureza desse processo e
todos ensinamos sem buscarmos um suporte teórico explicativo do processo de ensino-aprendiza-
gem. Como professores temos alguns referenciais explicativos e, também, de forma implícita ou
explícita, orientamos a nossa prática por tais referenciais. De qualquer modo, as teorias de apren-
dizagem, tendo surgido, possivelmente, porque conforme salienta Bigge (1977), “o homem não só
quis aprender como também, frequentemente, sua curiosidade o impeliu a tentar aprender como
se aprende” (p. 3), são diversas e acompanharam de perto a evolução observada na Psicologia e
na Educação em Ciências. Assim, apresentamos ao longo deste artigo diversas teorias de ensino-
aprendizagem, reportando-nos sempre que possível ao ensino-aprendizagem nas ciências, inici-
ando pela teoria do Ensino por Transmissão, perspectiva fortemente marcada pelas teorias
behavioristas da aprendizagem. Após referirmos a influência de autores como Gagné (1975) ou
Bandura (1977), que mantiveram latente a influência comportamentalista, referimos a Aprendiza-
gem por Descoberta e a Aprendizagem por Mudança Conceptual. Por último, mencionamos o
Ensino por Pesquisa, processo fortemente marcado pelo cognitivismo-construtivismo que realça o
papel do aluno como construtor do conhecimento, movido pela curiosidade, descoberta e resolu-
ção de problemas. Esta perspectiva de ensino é referida como a mais atual ao nível da didática das
ciências e, implicitamente, aquela que deverá ser mais valorizada na formação dos professores.
Com este artigo pretendemos listar este conjunto de perspectivas de análise e definição de
processos de ensino-aprendizagem, sobretudo quando este processo ocorre nos contextos formais
escolares. Sem pretendermos ser exaustivos e profundos no conjunto de tais perspectivas, procu-
ramos, no entanto, salientar algumas implicações práticas e assumir as vantagens de uma aborda-
gem que reconhece o aluno como tendo um papel ativo e central nas aprendizagens, entendidas
como co-construções progressivas de conhecimento e destrezas. As teorias de aprendizagem e o
ensino-aprendizagem das ciências.
A Aprendizagem por Transmissão (APT) pode associar-se às perspectivas behavioristas ou
comportamentais da aprendizagem. O ensino por transmissão tem o seu fulcro nas exposições orais
do professor, que transmite as ideias (estímulos) aos alunos, isto é, “...o professor ‘dá a lição’,
imprime-a em arquivadores do conhecimentos e pede, em troca, que os alunos usem a sua atividade
mental para acumular, armazenar e reproduzir informações” (Santos; Praia, 1992, p. 13). Nessa
lógica instrucional de organizar o ensino, o aluno tem um papel cognitivo passivo, sendo encarado
como um mero receptáculo de informações que, mais tarde, serão úteis para a vida. Para além do
professor usar técnicas que salientem novas informações e informações mais corretas, deverá recor-
rer também ao reforço, preferencialmente a reforços diretos e imediatos, tendo em vista produzir
mudanças comportamentais dos alunos e a sua estabilidade. O papel tutelar do professor, que exer-
ce autoridade face aos seus conhecimentos científicos, sobrepõe-se ao papel do aluno. Este, ao invés
de aprender, e menos ainda aprender a aprender, apenas acumula saberes que deverá ser capaz de
repetir fielmente. Assim sendo, Cachapuz, Praia e Jorge (2000) observam
1
Publicado em Psicol. esc. educ. [online]. jun. 2003, vol. 7, n. 1 ISSN 1413-8557 [citado 26 abril 2009], p. 11-19. Disponível em:
<http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572003000100002&lng=pt&nrm=iso>.
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quase tudo se reduz ao professor injectar nos alunos as ‘matérias’ que centralmente são definidas
e obrigatórias dar ao longo do ano, importando sobretudo os resultados finais obtidos pelos
alunos nos testes sumativos – afinal quem mais ordena – enquanto produtos acabados e que são
os elementos principais para a atribuição de uma classificação. Cumprir o programa e preparar
para os exames é compreendido como aprender o programa (p. 7).
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EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
Os objetivos de instrução, a que Gagné (1975) associa objetivos comportamentais (os objetivos
de aprendizagem refletem alterações no comportamento dos estudantes), devem ser definidos em
termos de performances humanas, bem como especificar a situação em que estas serão observa-
das. Operacionalmente bem definidos e mensuráveis, tais objetivos devem ser elaborados no iní-
cio do processo de instrução, pois são eles que determinam qual o input que deve ser fornecido ao
aluno. Para o professor, constituem a base da instrução e o suporte de verificação dos resultados
de aprendizagem. Para o aluno, servem como motivação e permitem um feedback no final desse
processo. A objetividade na definição dos objetivos torna-se notória no recurso a verbos de ação,
que facilitam a compreensão do que se pretende observar na performance do aluno. Essa mesma
objetividade auxilia a clarificação do tipo de aprendizagem pretendida e as condições requeridas
para que estes objetivos sejam alcançados pelos alunos. Os objetivos devem ser elaborados para
cada ato de aprendizagem, situação que levará a que uma unidade programática a ensinar seja
constituída por objetivos iniciais mais simples e por objetivos terminais que envolvem capacida-
des mais complexas.
A teoria sociocognitiva de Bandura (1977) preocupa-se com a aprendizagem que tem lugar no
contexto de uma situação social e sugere que uma parte significativa daquilo que o sujeito aprende
resulta da imitação, modelagem ou aprendizagem observacional (Cruz, 1997). Esta teoria represen-
ta uma teoria de aprendizagem com largas capacidades de adaptação e aplicação ao contexto esco-
lar. Na sala de aula, a conduta do professor ou a ação de um colega podem facilmente originar uma
aprendizagem modelada junto dos alunos. Nesta perspectiva, a aprendizagem é, essencialmente,
uma atividade de processamento de informação, permitindo que condutas e eventos ambientais
sejam transformados em representações simbólicas que servem como guias de ação (Bandura, 1986).
Enquanto processamento de informação, a modelagem não corresponde nem a uma simples imita-
ção, nem a uma mera identificação do observador com o modelo. Embora esse processo de aprendi-
zagem não requeira o prêmio ou o castigo, nem para o observador nem para o modelo, a teoria
reconhece que estes podem melhorar a aquisição e execução da performance. Se numa perspectiva
behaviorista, o comportamento deve ser reforçado tendo em vista a sua aquisição e manutenção, na
aprendizagem modelada, mesmo quando reforçadas, as aprendizagens pressupõem experiências
prévias de observação. Porém, incentivos ou antecipação dos benefícios podem influenciar o sujeito,
determinando quais as condutas a observar. A expectativa de uma resposta efetiva ou de um castigo
pode favorecer, por exemplo, o nível de atenção do aprendiz na ação do modelo. A antecipação dos
benefícios pode, ainda, permitir uma melhor retenção do que foi observado, dado que o sujeito fica
motivado para simbolizar e ensaiar as atividades modeladas.
Pelo exposto se depreende que as teorias de Bandura (1977) e de Gagné (1975) não marcaram
uma clara distinção entre o aluno passivo, mero reprodutor de informação, e o aluno ativo, que
aprende, organiza e reestrutura a informação recebida. Com efeito, só em meados dos anos 60-70,
rejeitando a passividade do aluno face a essa Pedagogia de base memorística, de ritmo uniforme e
muito assente numa motivação extrínseca do aluno (Santos; Praia, 1992), surgem, no ensino das
ciências, pressupostos de uma Pedagogia ativa que reconhece e valoriza uma maior intervenção do
aluno na sua aprendizagem. Assim, opondo-se a um modelo pedagógico dominantemente marcado,
ao nível psicológico, pela corrente neobehaviorista, surge o modelo da Aprendizagem por Desco-
berta (APD). Este modelo irá, progressivamente, “desinstalar ” os referenciais teóricos de uma Peda-
gogia transmissiva reinante nas práticas dos professores. De acordo com essa teoria, defende-se
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EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
uma aprendizagem ativa, requerendo explorações e descobertas efetivas para o alcance de uma
verdadeira compreensão. As relações que as crianças descobrem a partir das suas próprias explora-
ções são mais passíveis de serem utilizadas e tendem a ser melhor retidas do que os fatos meramen-
te memorizados. Bruner (1961) alega que a aquisição do conhecimento é menos importante do que
a aquisição da capacidade para descobrir o conhecimento de forma autónoma. Assim, devem os
professores promover uma aprendizagem pela descoberta por meio de atividades exploratórias por
parte dos alunos. Nessa perspectiva, cabe ao professor a capacidade de lançar perguntas que des-
pertem a curiosidade, mantenham o interesse e provoquem e desenvolvam o pensamento.
Pelo exposto, depreende-se que a aprendizagem por descoberta é um processo difícil e moro-
so. Será um processo, porventura, compensado, entre outros fatores, porque ajuda o aluno a ter
uma aprendizagem mais baseada na compreensão e no significado do que na memorização. No
entanto, essa atividade que é mobilizada em termos sensoriais e cinestésicos para a construção
sistemática de idéias a partir de fatos, ignora que a construção ativa do conhecimento deve tam-
bém ter em conta a construção de idéias a partir de idéias (Santos; Praia, 1992).
A verdadeira ênfase do aluno como construtor do seu próprio conhecimento surge com as teo-
rias cognitivo-construtivistas da aprendizagem, que imprimem um caráter determinante às con-
cepções prévias dos alunos. Essa perspectiva cognitivo-construtivista da aprendizagem deve-se
ao modelo piagetiano e de Ausubel, Novak e Hanesian (1981). Ao contrário dos behavioristas,
esses autores preocuparam-se com o aprender a pensar e o aprender a aprender, e não com a
obtenção de comportamentos observáveis. No entanto, já não se trata de falar nos estádios de
desenvolvimento piagetiano com o entusiasmo dos anos 50 e 60, mas de responsabilizar o aluno
pelo seu percurso pessoal de aprendizagem e ajudá-lo a ser cognitiva e afetivamente persistente
(Cachapuz et al, 2000). Comparativamente à teoria de Bruner (1961), a teoria de Ausubel et al
(1981) dá pouca atenção à aprendizagem por descoberta. Essa é importante, apenas, por ser o
processo inicial de formação de conceitos relevantes na estrutura cognitiva. Em níveis etários
baixos, a formação de conceitos é o principal processo de aquisição de saberes, sendo essencial-
mente “(...) um tipo de aprendizagem por descoberta envolvendo formulação e testagem de hipó-
teses” (Novak, 1981, p. 59).
97
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
À medida que o sujeito adquire conhecimento em várias áreas de conteúdo, estas organizam-
se numa estrutura cognitiva relacionada com cada área. O melhor modo de se obter nova informa-
ção, a partir da estrutura cognitiva, é assimilá-la como parte da estrutura existente por um proces-
so de conexão. Esse processo está envolvido no relacionamento de uma idéia nova com um concei-
to prévio e, ao mesmo tempo, na modificação de ambos, isto é, dando significado a ambos. A
aprendizagem significativa só ocorre quando a informação nova é ligada a conceitos existentes,
assumindo que “é neste processo interativo entre o material recém-aprendido e os conceitos exis-
tentes (subsumer) que está o cerne da teoria de assimilação de Ausubel” (Novak, 1981, p. 63).
Novak (1981), ao referir-se ao trabalho de Ausubel, menciona, ainda, o conceito de organizadores
prévios e o seu valor para facilitar a aprendizagem. Esses funcionam como uma ponte cognitiva já
que deveriam servir de ancoradouro, na estrutura cognitiva, para o novo conhecimento. Se con-
ceitos relevantes não estiverem disponíveis na estrutura cognitiva de um aluno, os organizadores
prévios serviriam para ancorar as novas aprendizagens e levar ao desenvolvimento de um subsumer
que facilitasse a aprendizagem subseqüente (Novak, 1981). Seguindo essa perspectiva, de que os
organizadores prévios são mais gerais, mais abstratos e mais inclusivos do que o material de
aprendizagem subseqüente, então, a nível de desenvolvimento e planificação curricular, devem
ser esses elementos mais gerais a serem introduzidos em primeiro lugar, sendo o conceito pro-
gressivamente diferenciado em termos de detalhe e especificidade.
A teoria de Ausubel et al (1981) ocupa-se, especificamente, dos processos de ensino-aprendi-
zagem dos conceitos científicos a partir dos conceitos previamente formados pelos alunos na sua
vida quotidiana (Pozo, 1989). A aprendizagem passa a ser encarada como um processo interno e
pessoal que implica o aluno na construção ativa do conhecimento e que progride no tempo de
acordo com os interesses e capacidades de cada um. Aplicado ao ensino das ciências, o
98
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
No EMC, outro papel é exigido ao professor, outras tarefas são reclamadas aos alunos. Numa
lógica de aprendizagem por construção de conhecimento, exigese a iniciativa do aluno e fala-se
no papel mediador do professor: “... apela-se a um professor que consiga caminhar ao lado e à
frente dos alunos, a uma distância adequada, servindo de mediador entre os alunos e a nova
informação ou tarefa” (Almeida, 1998, p. 57). O importante é centrar no aluno o processo de
ensino-aprendizagem, criando condições para o envolvimento pessoal que se torna necessário
(Praia, 1989; Mourão et al, 1993; Almeida, 1998).
Ao destacar as contribuições pedagógicas do construtivismo, Champagne (1996) refere que,
como referente teórico, o construtivismo pode legitimar (ou ser utilizado como tal) todo o tipo de
práticas supostamente centradas no aluno e no seu contexto. Assim, passados 15 anos de intensa
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EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
investigação didática na área do EMC, surge, atualmente, no ensino das Ciências, a perspectiva
de Ensino Por Pesquisa (EPP). Essa perspectiva visa não só à compreensão do corpo de conheci-
mentos e processos científicos, mas pretende igualmente contribuir para o desenvolvimento pes-
soal e social dos jovens (Cachapuz et al, 2000). O ensino por pesquisa faz apelo a conteúdos inter
e transdisciplinares, cultural e educacionalmente relevantes. Nesse sentido, um dos objetivos
essenciais é a compreensão das relações C-T-S-A (Ciência-Tecnologia– Sociedade-Ambiente), pro-
curando garantir que as aprendizagens se tornem úteis aos alunos numa perspectiva de ação
(Canavarro, 1999; Praia, 1999). Trata-se, agora, de valorizar objetivos educacionais (e não mera-
mente instrucionais) que promovam uma avaliação formadora em detrimento da classificatória.
Importa avaliar capacidades, atitudes e valores, e não apenas os conteúdos científicos
sobrevalorizados no EMC. Assim, o EPP preconiza momentos avaliativos ao longo de todo o per-
curso, auxiliando o aluno a perceber o que faz e a saber quais as estratégias metacognitivas a
utilizar em cada tarefa (Cachapuz et al, 2000). A pesquisa partilhada e a discussão promovida na
sala de aula desviam a atenção do professor para uma avaliação mais efetiva, tendo em vista
regular o processo de ensinoaprendizagem e implicando o aluno na construção do seu conheci-
mento. O papel ativo do sujeito aparece reclamado, a sua autonomia no ato de conhecer e o papel
central dado à descoberta e à exploração são tidos como decisivos na aprendizagem.
CONCLUSÃO
100
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
REFERÊNCIAS
101
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
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EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
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TAVARES, J.; ALARCÃO, I. Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem. 4. ed. Coimbra:
Livraria Almedina, 1992.
103
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
O ano de 2004 marca o centenário do nascimento de B. F. Skinner. Penso que a maioria dos
membros da American Psychological Society – APS (e mesmo uma menor proporção de todos os
psicólogos) não irá dar muita atenção a este fato. Afinal, o behaviorismo não saiu de cena? Não
vivemos nós na idade da revolução cognitiva, que ainda mantém o seu ímpeto e domina a maioria
das subáreas da Psicologia? Não é verdade que o campo da Psicologia do aprendizado animal, o
terreno de nascença do behaviorismo, pertence à década de 1950, da mesma época da televisão
preto & branco, de três canais de televisão, de antenas nas casas? Muitos leitores da APS irão
provavelmente responder sim para todas estas três questões. Se for esta resposta correta – e como
vocês verão, eu não penso necessariamente assim – podemos então perguntar o que aconteceu.
Vamos voltar a cem anos atrás, quando a Psicologia era uma nova área de conhecimento. Os
primeiros laboratórios datam de 1879, ou próximo desta data (abstenhamo-nos de reabrir esta
controvérsia) e, em 1904, ano do nascimento de Skinner, a Psicologia lutava para emergir como
uma ciência. . Entretanto, os métodos era variados e os artigos nas revistas especializadas daque-
la época freqüentemente detinham-se longamente na observação e na especulação. Experimenta-
ções cuidadosas eram raras, senão de todo ausentes. Alguns artigos até mesmo bordejavam confu-
sas tolices. Em Saint Louis, lugar de onde estou escrevendo, havia em 1904 uma famosa Feira
Mundial e uma assembléia de muitos dos sábios daqueles tempos, incluindo psicólogos, reuniu-
se com o propósito de proferir uma série de palestras sobre o estado-da-arte dos seus campos de
estudos e, é claro, apresentá-los sob a luz mais favorável possível. Um exame das suas conferên-
cias, registros das quais foram preservados para a posteridade, permitem uma sinopse do estado-
da-arte há 100 anos atrás.
Em 1913, nove anos após o nascimento de Skinner, John B. Watson publicou o seu famoso
artigo “Psychology from the stand point of a Behaviorist” [Psicologia do ponto de vista de um
Behaviorista] na Psychological Review. Ele era breve, mas poderoso. Watson dizia que a Psicolo-
gia deveria livrar-se do estudo introspectivo de eventos mentais que não eram diretamente
observáveis – imagética, memória, consciência e etc. – e estudar o comportamento. Watson subs-
crevia a declaração de Walter Pillsbury de que “a Psicologia é a ciência do comportamento” e ia
além ao dizer que “Acredito que podemos produzir uma Psicologia, defini-la como o fez Pillsbury
e nunca recuarmos desta definição: nunca usarmos os termos consciência, estados mentais, men-
te, conteúdos introspectivamente verificáveis, imagética e assemelhados” (1913, p. 116). Osso
duro de engolir! Estudar somente o comportamento! Psicólogos da velha-guarda provavelmente
julgaram Watson meio maluco, mas os jovens psicólogos acorreram a ele em bandos e, ao longo
dos anos, sua posição continuou a atrair adeptos convictos.
Se a Psicologia era a ciência do comportamento, então as suas metas seriam, como diria Skinner
anos depois, a predição e o controle do comportamento. Controle do comportamento! Fascinante!
1
Presidente da American Psychological Society.
Tradução para o português: Roosevelt R. Starling. Funrey, MG. Este artigo é encontrado em: <http://www.redepsi.com.br/portal/
modules/smartsection/item.php?itemid=141>. Acesso em: 27 abr. 2009.
104
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
O behaviorismo pretendia fazer da Psicologia uma ciência natural. Durante os anos nos quais
as idéias behavioristas estavam evoluindo, elas estavam em harmonia com a posição filosófica do
positivismo, defendida pela física e outros campos. Os conceitos deveriam ser definidos pelas
operações utilizadas para a sua mensuração, a fim de manter a ciência solidamente fundada em
dados observáveis e para eliminar ilusórios vôos especulativos.
105
EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
Assim, voltando a minha questão original: o que aconteceu com o behaviorismo? Neste ponto,
tenho algumas possíveis respostas. Deixarei para pessoas mais esclarecidas do que eu o encargo
de ponderá-las e decidir se a resposta final poderia ser alguma combinação das alternativas que
ofereço ou mesmo nenhuma delas.
Uma segunda razão possível é que, na década de 70, as análises behavioristas estavam se
tornando por demais microscópicas. Como ocorre na maioria dos campos de estudo durante o seu
desenvolvimento, os pesquisadores começaram a estudar cada vez mais e mais sobre cada vez
menos e menos. Ao invés de manter o foco nos problemas centrais, críticos, os pesquisadores
behavioristas voltaram a sua atenção para problemas cada vez mais sutis (isto é, cada vez mais
insignificantes), acarretando um aumento da complexidade das análises experimentais em total
desproporção com os ganhos em conhecimento que elas proporcionavam (É digno de nota o fato
de que muitas das grandes e fundamentais descobertas na maioria dos campos de estudo são
freqüentemente simples, diretas e básicas, de tal maneira que outros se perguntam: “Por que eu
não pensei nisto antes?”). O número de parâmetros e epiciclos no modelo Hull-Spence explodiu.
Examinem o enfadonho “Schedules of Reinforcement” de Ferster e Skinner, publicado em 1959,
comparado às formulações bem mais diretas escritas por Skinner em seu “The Behavior of
Organisms”, publicado em 1938. Nesta versão da história, havia algo errado com o Behaviorismo
nos anos 70 e 80: ele ficou muito focalizado em problemas específicos e perdeu de vista o quadro
maior.
Uma outra maneira pela qual o behaviorismo se perdeu é que muitos psicólogos (de maneira
especial psicólogos cognitivistas) não focalizam a história de aprendizagem dos organismos. Como
me escreveu John Wixted, ao comentar este artigo, “os pesquisadores se esqueceram de explicar
porque nós nos comportamos como nos comportamos. Muito daquilo que fazemos é função de
conseqüências anteriores de nossas ações e nós aprendemos a partir destas conseqüências. Mo-
106
EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
delos cognitivistas freqüentemente são substitutos desta história de aprendizado (eles se referem
a um computador mágico na nossa cabeça sem considerar o que explicaria as habilidades
computacionais deste computador...). Dessa maneira, na medida em que a Psicologia cognitivista
e a neurociência cognitiva não se interessam pela história de aprendizagem dos seus sujeitos – e,
na sua maior parte, elas não se interessam – o behaviorismo perdeu.”
Uma terceira resposta é a de que não há nada de errado com o behaviorismo atual, obrigado
por perguntar. A premissa inicial deste artigo está simplesmente errada. O Behaviorismo está
vivo, passa bem e nada “aconteceu” a ele. O Journal of the Experimental Analysis of Behavior –
agora editado pelo meu colega Len Green – continua sendo uma vitrina viva disto, como também
o é o Journal of Applied Behavior Analysis. Estas duas revistas são publicadas pela Society for the
Experimental Analysis of Behavior, que permanece forte e sadia desde 1957. O principal congres-
so dos behavioristas é o da Association for Behavior Analysis, ou ABA, que teve mais de 4 200
participantes em 2003 e que, no seu congresso de 2002, registrava 3 200 participantes. Incluindo
as organizações afiliadas em todo o planeta, ela tem em torno de 12.000 associados (comunicação
pessoal de Jack Marr). Ao longo dos anos, a ABA tem mostrado um crescimento espantoso e ainda
atrai 250 novos membros a cada ano, somente nos Estados Unidos. Na Society for the Quantitive
Analysis of Behavior, que realiza seu encontro antes e durante o congresso da ABA com seus
próprios critérios matematicamente sofisticados de afiliação, muito dos trabalhos apresentados
estão baseados em pesquisas com humanos (e não somente com pombos e ratos, conforme uma
visão estereotipada sugeriria).
Por que este entusiasmo todo? Porque as análises comportamentais funcionam! Sabemos agora
como aliviar ou eliminar fobias através de terapias baseadas em processos de extinção; conhece-
mos o poder de uma economia simbólica para ajustar o comportamento em hospitais psiquiátricos;
podemos reduzir a probabilidade de comportamentos problemáticos e aumentar a probabilidade
de comportamentos desejáveis através da oferta ou retirada judiciosa de reforçadores. Mesmo
para problemas estudados por psicólogos de orientação cognitivista, terapias comportamentais
são o tratamento de escolha. As técnicas comportamentais de Lovaas para crianças com autismo
são as que proporcionam as maiores esperanças, e, para dizer a verdade, até a presente data a
única esperança (está tudo bem com debates sobre a Teoria da Mente no autismo, mas não se o
que você deseja é terapia e tratamento; neste caso, procure o behaviorismo). De igual maneira,
por mais interessantes que possam ser as análises psicolingüísticas para a gagueira e afasias, os
tratamentos vêm majoritariamente dos laboratórios comportamentais. No ramo de neurobiologia
da aprendizagem o modelo central é o do condicionamento clássico e o principal modelo teórico é
o de Rescorla-Wagner. Análises comportamentais existem também para programas de
autodesenvolvimento, na indústria (Organizational Behavior Management), nos esportes, na edu-
cação de filhos e, é claro, no treinamento de animais de estimação e de zoológicos. Em qualquer
situação na qual a predição e o controle do comportamento aberto seja importante, encontrar-se-
ão análises comportamentais funcionando. Em suma, esta resposta afirma que o behaviorismo
continua vivo e florescente, embora talvez não tanto em voga na profissão como esteve antes.
Uma outra formulação para a resposta anterior (devida a Endel Tulving) é a de que existem
várias ciências psicológicas igualmente válidas. Num comentário enviado sobre um rascunho des-
te artigo ele diz que “Está bastante claro em 2004 que o termo “Psicologia” agora designa pelo
menos duas ciências bastante diferentes: uma do comportamento e outra da mente. Assim como
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EaD Làla C at arina Lenzi Nodari
outras ciências do comportamento, ambas lidam com criaturas vivas, mas a sua interseção é fraca,
provavelmente não maior do que a que existia entre a Psicologia e sociologia quando as coisas
começavam. Ninguém jamais conseguirá juntar novamente estas duas Psicologias, porque o seu
objeto de estudo é diferente, seus interesses são diferentes e o entendimento do tipo de ciência
com o qual elas trabalham é diferente. Por demais esclarecedor é o fato de que estas duas espécies
se movimentaram para ocupar diferentes territórios, não dialogam uma com a outra (não mais) e
seus membros não se associam. Este estado das coisas está exatamente do jeito que deve ser.”
Talvez a resposta mais radical que eu ofereço é que o behaviorismo é menos discutido e debatido
hoje em dia porque, na verdade, ele venceu o debate intelectual. Num sentido muito real, todos os
psicólogos contemporâneos – pelo menos aqueles que conduzem pesquisas empíricas – são
behavioristas. Mesmo os experimentalistas de máxima orientação cognitiva estão estudando algum
tipo de comportamento. Eles podem estar estudando os efeitos de variáveis relacionadas com o
apertar de teclas de computadores, de preencher checklists, de completar avaliações de
confiabilidade, de padrões de fluxo sanguíneo ou de lembrar palavras escrevendo-as em folhas de
papel, mas eles estão estudando, na maioria absoluta das vezes, comportamentos objetivamente
verificáveis. (Até mesmo experiências subjetivas, tais como avaliações de confiabilidade, podem ser
replicadas entre diferentes pessoas e em diferentes condições). Este passo, o de passar a estudar
comportamentos objetivamente verificáveis, representa uma enorme mudança em relação ao traba-
lho que muitos psicólogos conduziam em 1904. Hoje em dia os campos da Psicologia cognitiva e da
neurociência cognitiva é altamente comportamental, se se incluem neles medidas neurais do com-
portamento. Verdade: necessariamente, não existe nada de intrinsecamente interessante em apertar
teclas num computador, mas, por outro lado, as leis fundamentais do comportamento foram desen-
volvidas com base em ratos pressionando barras e percorrendo labirintos ou pombos bicando discos,
ações que não se poderiam considerar comportamentos por direito próprio. Em todas estas instânci-
as, é a esperança fundamental do cientista descobrir princípios interessantes a partir de análises
experimentais simples e elegantes. O pesquisador cognitivista vai além e procura evidências que
permitam uma convergência entre as observações comportamentais e o funcionamento interno dos
sistemas mente/ cérebro. Mas enquanto experimentalistas, tanto o pesquisador cognitivista quanto
o comportamentalista estuda o comportamento. O comportamento venceu.
Acredito que poderia prosseguir dando outras razões ou especulações, mas vamos deixá-las
em cinco. Deixe-me explicar porque eu deixei fora desta lista uma explicação popular que li nos
livros de história. Não é verdade que a revisão de Noam Chomsky sobre o Comportamento Verbal
de Skinner reduziu a pó a análise comportamental e demonstrou que, no que diz respeito à lin-
guagem, ela é falida? Li este debate por algumas vezes e, embora interessante, sempre me pare-
ceu que os protagonistas estavam argumentando com propósitos desencontrados, a partir de dife-
rentes paradigmas. Chomsky era e é um racionalista; no que diz respeito à linguagem, ele não vê
utilidade em análises experimentais ou dados de qualquer natureza e até mesmo a psicolingüística
experimental é de pouco interesse para ele. Meu palpite é o de que a revisão de Chomsky pode
receber crédito como uma causa menor da revolução cognitiva. Para a grande maioria dos psicólo-
gos, fundamentalmente empiristas na sua visão de mundo, foram os novos e importantes experi-
mentos que pesquisadores conduziam em temas cognitivos que criaram a revolução cognitiva, e
não a revisão de Chomsky sobre o livro de Skinner (aliás, refutada com bastante eficácia numa
argumentação desenvolvida por Kenneth MacCorquodale).
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EaD PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO
É verdade que eu mesmo sou um psicólogo cognitivista, mas favoreço várias respostas. O
Behaviorismo está vivo e a maior parte de nós é behaviorista. É possível que isto possa ser mais
verdade no que me diz respeito do que no que concerne a muitos outros. Minha produção teórica
é habitualmente de natureza bastante funcional. Alguns críticos reclamam que eu não tenho “teo-
rias reais” ou que eu estou somente descrevendo mais uma vez os dados; alguns argumentam que
minhas idéias são muito descritivas para serem testadas; não obstante, outros, desconsiderando
as críticas acima, empenharam-se em testá-las e acharam que elas estavam empiricamente erra-
das (hmm...ambos os conjuntos de críticos não podem estar simultaneamente corretos, penso lá
eu). Tendo sido parcialmente formado na tradição intelectual funcionalista de Johan McGeoch,
Arthur Melton e Robert Crowder, é bem verdade que eu meu sinto mais confortável me mantendo
perto dos dados e que, ao contrário do que fazem muitos dos meus colegas cognitivistas, eu me
engaje em poucos vôos teóricos extravagantes.
Há poucos anos atrás, Robert Solso editou um volume intitulado Mind and Brain in the 21st
Century (MIT Press) [A Mente e as Ciências do Cérebro no Século 21] para o qual eu escrevi um
capítulo no qual faço previsões audaciosas para o futuro da Psicologia cognitiva. Minha décima-
primeira e última previsão é a de que uma poderosa forma de behaviorismo faria um retorno ao
centro das tendências da Psicologia. Isto não significa que eu acredite que o movimento por
qualquer forma se esvaiu, ainda que pense que a revolução behaviorista tenha sido bem sucedida
em sua maior parte e que as suas premissas centrais tenham sido incorporadas à Psicologia.
Afinal, mesmo o mais ardente behaviorista concordaria em que os grandes debates que turbilhonavam
dentre e entre os behavioristas, já não ocorrem mais na corrente principal da literatura contempo-
rânea. Como John Wixted apontou na citação acima, psicólogos cognitivistas tendem a ignorar a
história da aprendizagem nas suas teorizações. Se começássemos a incorporar em nossas conside-
rações a história da aprendizagem, o behaviorismo já estaria fazendo uma reentrada. Contudo, e
ao mesmo tempo, está claro que muitos aspectos do behaviorismo jamais saíram de cena. Mais
propriamente, muitos psicólogos simplesmente ignoram o bom trabalho de pesquisa que está sen-
do produzido na tradição behaviorista.
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