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LUANA SATO

A EVOLUÇÃO DAS TÉCNICAS CONSTRUTIVAS EM SÃO PAULO:


RESIDÊNCIAS UNIFAMILIARES DE ALTO PADRÃO

São Paulo
2011
LUANA SATO

A EVOLUÇÃO DAS TÉCNICAS CONSTRUTIVAS EM SÃO PAULO:


RESIDÊNCIAS UNIFAMILIARES DE ALTO PADRÃO

Dissertação apresentada à Escola Politécnica


da Universidade de São Paulo para obtenção
do título de Mestre em Engenharia

Área de concentração:
Engenharia de Construção Civil

Orientador: Professor Doutor


Fernando Henrique Sabbatini

São Paulo
2011
FICHA CATALOGRÁFICA

Sato, Luana
A evolução das técnicas construtivas em São Paulo:
residências unifamiliares de alto padrão / L. Sato. -- São
Paulo, 2011. 183 p.

Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica da


Universidade de São Paulo. Departamento de
Engenharia de Construção Civil.

1. Construção civil – São Paulo 2. História (Técnicas)


3. Evolução tecnológica 4. Sistemas e processos
construtivos I. Universidade de São Paulo. Escola
Politécnica. Departamento de Engenharia de
Construção Civil II. t
DEDICATÓRIA

À Mnemósine, deusa grega da memória.


AGRADECIMENTOS

Ao professor Sabbatini, de infinita paciência e compreensão, por ter concedido a


oportunidade de contar com sua “última” orientação.

À professora Mércia e ao “chxfx” Alexandre por me acompanharem nesta “jornada”,


permitindo, aconselhando, alertando, e ensinando, mesmo quando não estavam
presentes, através de suas palavras registradas em seus trabalhos acadêmicos.

Às meninas do departamento – Deliane, Aline, Thais, e Gabriela – e à Valéria por


suportarem meus “ais” durante oito horas, cinco dias por semana, e por esperarem
ansiosamente as “cenas do próximo capítulo”. Em especial à Renata, meu braço
direito, e à Helena, que “segurou a barra” na reta final.

À Kátia, Mariana, e Larissa, por suportarem os “ais” noturnos, enquanto


navegávamos no mesmo barco, ou melhor, na biblioteca da Escola Politécnica.

À Renata Monte, por seu companheirismo durante as disciplinas, nas aulas


ministradas e nos infinitos – e imprescindíveis – cafés.

À Fátima e à Regina, anjos da guarda noturnos da biblioteca da Engenharia Civil,


que sempre incentivavam fortemente a permanência até às 22 horas.

Aos meus queridos amigos da Pacaembu, da FAU e da POLI, abandonados, que


compreenderam mais uma necessidade de reclusão.

À minha mãe, pai e irmão, que sempre respeitam silenciosamente o crescimento


lento das minhas empreitadas megalomaníacas.

E, ao não menos importante, Tchello, nos momentos de maior angústia e carinho,


pequenos oásis no espaço-tempo.
RESUMO

Existe uma lacuna de registros históricos relacionada à evolução das técnicas


construtivas utilizadas em São Paulo, sobretudo as envolvidas na construção de
edificações de pequeno porte, que ficaram à margem das pesquisas desde o
advento da construção em altura. Isto torna apropriado o levantamento de tais
técnicas, bem como a investigação sobre os aspectos históricos que contribuíram
para a sua modificação. O objetivo do presente estudo foi o registro sistemático das
técnicas construtivas de habitações unifamiliares de alto padrão – representantes da
boa técnica, por não haver a barreira de recursos, falta de planejamento e projeto –,
bem como a análise dos motivos que levaram a suas transformações. Desse modo,
este estudo visa a contribuir para o registro da história da construção paulistana.
Para tanto, realizou-se uma ampla revisão bibliográfica, incluindo a consulta de
publicações relevantes e periódicos especializados.

Palavras-chave: Construção civil em São Paulo. História das técnicas. Evolução


tecnológica. Sistemas e processos construtivos.
ABSTRACT

There is a lack of historical data related to evolution of the constructive techniques


used in Sao Paulo, especially those involved in the construction of small buildings,
which have become a subject of minor interest to researches since the advent of
high-rise buildings. This makes a survey of the constructive techniques appropriate,
as well as a research on the historical aspects that contributed to their modification.
The aim of this study was to systematically record the high standard single-family
residences constructive techniques – which represent good technique, for in this
case there is no lack of resources, planning and design –, as well as to analyze the
reasons that led to changes in such techniques. Therefore, this study seeks to
contribute to the record of the construction history of Sao Paulo. To this end, we
carried out an extensive literature review, including consultation of relevant
publications and specialized serials.

Keywords: Civil Construction in Sao Paulo. History of the Techniques. Technological


Evolution. Building Processes and Systems.
LISTA DE FIGURAS

Figura 3-1 – Tipo de arquitetura colonial: a Casa do Bandeirante, do século XVIII. .37
Figura 3-2 – Exemplar de arquitetura eclética: A Casa das Rosas, de 1935. ...........39
Figura 3-3 – Exemplar de arquitetura Art-Nouveau: a Vila Penteado, de 1902.........40
Figura 3-4 – Exemplar de arquitetura Art Déco: a residência Jorge Maluf, de 1937. 41
Figura 3-5 – Exemplar da arquitetura neocolonial: a residência Manoel Arantes
Matheus, de 1940......................................................................................................42
Figura 3-6 – Exemplar de arquitetura modernista: a Casa de Vidro, de 1951...........44
Figura 3-7 – “Máquina” para beneficiar café..............................................................52
Figura 3-8 – Embarque das sacarias de café............................................................53
Figura 3-9 – Imigrantes sendo transportados por trem. ............................................55
Figura 3-10 – Propaganda da Fundição do Braz, de 1904........................................58
Figura 3-11 – Tijolos do século XIX...........................................................................69
Figura 3-12 – Entrada de um vapor com imigrantes. ................................................76
Figura 4-1 – Construção de uma parede de taipa sobre alicerce de pedras.............94
Figura 4-2 – Etapas de execução dos alicerces em barro. .......................................95
Figura 4-3 – “Taipal”, travado com as escoras, costas e agulhas. ............................97
Figura 4-4 – Deslocamento dos prismas moldados pelos taipais..............................98
Figura 4-5 – Taipa de mão sem preenchimento......................................................100
Figura 4-6 – Trama da taipa de mão. ......................................................................100
Figura 4-7 – Cachorro decorado da Casa do Butantã.............................................102
Figura 4-8 – Detalhes dos esteios da Casa dos Butantã. .......................................103
Figura 4-9 – Forro de madeira do quarto do senhor................................................104
Figura 4-10 – As tábuas do forro eram simplesmente apoiadas nos barrotes
engastados nas paredes de taipa. ..........................................................................104
Figura 4-11 – Diferentes tipos de aparelhos com arranjo para obtenção de paredes
com espessuras variadas........................................................................................110
Figura 4-12 – Abóbada plana, também conhecida como sobre-arco. .....................111
Figura 4-13 – Cunhal em pedra...............................................................................112
Figura 4-14 – Cunhal em pedra...............................................................................112
Figura 4-15 – Fachada revestida com argamassa dosada em obra. Casa das Rosas,
de 1935. ..................................................................................................................113
Figura 4-16 – Fachada revestida com azulejos, ao estilo Neocolonial....................113
Figura 4-17 – Tabique simples sem revestimento...................................................114
Figura 4-18 – Tabique apoiado sobre madre, para receber enchimento.................115
Figura 4-19 – Outro arranjo de composição de uma parede de tabique, para receber
enchimento..............................................................................................................115
Figura 4-20 – Estrutura de telhado, sem tesoura. ...................................................117
Figura 4-21 – Estrutura de telhado, com tesoura, indicada para telhados de quatro
águas. .....................................................................................................................117
Figura 4-22 – Telhado de residência Neocolonial, de 1940. ...................................118
Figura 4-23 – Estruturação de cobertura em “mansarda”. ......................................118
Figura 4-24 – Estruturação de cobertura quando há uma abertura.........................118
Figura 4-25 – Telhado (esq.) e, em detalhe (dir.), aberturas da mansarda e coletor de
águas pluviais da Casa das Rosas, construída em 1935........................................119
Figura 4-26 – Da esquerda para a direita: telhas cerâmicas do tipo capa-e-canal,
telhas cerâmicas tipo Marselhesa, e telhas de ardósia planas................................119
Figura 4-27 – Exemplo de fixação de assoalho sobre barrotes de madeira de um
sobrado. ..................................................................................................................121
Figura 4-28 – Planta que ilustra a posição dos barrotes e perfis metálicos do sobrado
da Casa das Rosas. ................................................................................................121
Figura 4-29 – Cortes referentes à planta anterior. À esquerda, corte AB. À direita,
corte CD. .................................................................................................................121
Figura 4-30 – Abobadilha de sustentação do piso. .................................................122
Figura 4-31 – Abobadilha executada na Vila Penteado. .........................................122
Figura 4-32 – Alguns tipos de pisos frios encontrados na Casa das Rosas............123
Figura 4-33 – Formas de fixação entre tábuas de composição do soalho. .............123
Figura 4-34 – Tipos de arranjo do assoalho da Casa das Rosas............................123
Figura 4-35 – Forros em estuque, de 1935 (esquerda) e em madeira, 1902 (direita).
................................................................................................................................124
Figura 4-36 – Detalhe do forro da Vila Penteado. ...................................................124
Figura 4-37 – Estruturação de forro de estuque. Técnica com ripas, com tela de
arame quadrada e com material chamado duplex. .................................................125
Figura 4-38 – Exemplo de demarcação com pregos, indicado a largura da parede, do
alicerce, e da vala, para o caso de parede de um tijolo. .........................................132
Figura 4-39 – À esquerda, alicerce sem cinta de amarração, com sapata em
concreto. Á direita, detalhe de cinta de amarração que era executada sem cálculo.
................................................................................................................................133
Figura 4-40 – Projeto e fundação executada em bloco de concreto com cinta de
amarração. ..............................................................................................................134
Figura 4-41 – Elevação e fotografia da residência Hélio Olga, de 1990. Fundações
em tubulão...............................................................................................................134
Figura 4-42 – Perspectiva de fôrma de pilar............................................................136
Figura 4-43 – Elevação e corte de fôrma para pilares com seção circular, muito
usada na execução de pilotis. .................................................................................136
Figura 4-44 – Ligação das tábuas do assoalho da laje, com a fôrma da viga. ........136
Figura 4-45 – Escoras para travamento da fôrma da viga. .....................................136
Figura 4-46 – Assoalho para laje e seu escoramento. ............................................137
Figura 4-47 – Perfil de aço servindo como armação para a viga. ...........................137
Figura 4-48 – Fôrma para concretagem das peças estruturais. ..............................139
Figura 4-49 – Montagem da armação das vigas sobre alvenaria já executada, para
posterior concretagem.............................................................................................139
Figura 4-50 – Residência em alvenaria estrutural. ..................................................139
Figura 4-51 – Início do serviço de elevação pelos cantos.......................................140
Figura 4-52 – Tacos recomendados no período, chumbados com argamassa de
cimento e areia........................................................................................................141
Figura 4-53 – Da esquerda para a direita, em destaque: verga para vãos menores
que 1 m; verga com folga para fixação de tijolos; verga moldada in loco, com fôrma
inferior em madeira e lateral em tijolos posicionados em espelho. .........................142
Figura 4-54 – Estrutura de madeira, com diferentes tipos de acabamento do beiral,
apoiada sobre laje de concreto. ..............................................................................145
Figura 4-55 – Telhas de fibrocimento......................................................................146
Figura 4-56 – Cobertura em laje plana da Residência Paulo Mendes da Rocha
(1966)......................................................................................................................146
Figura 4-57 – Laje de concreto armado, com rebaixo para garantia de mesmo nível
entre tipos de revestimento de piso diferentes. .......................................................147
Figura 4-58 – Espaçamento entre barrotes e seu apoio em paredes de alvenaria ou
madre. .....................................................................................................................148
Figura 4-59 – Posicionamento recomendado das madres. .....................................148
Figura 4-60 – Laje mista tipo Volterrana. ................................................................150
Figura 4-61 – Seção curiosa do componente cerâmico da laje mista tipo Universal.
................................................................................................................................150
Figura 4-62 – Exemplo de janela, cuja padieira e peitoril são mais largos (no mínimo
14 cm de cada lado) que o vão delimitado pelas ombreiras. ..................................153
Figura 4-63 – Janela e “acessórios” da Casa do Bandeirante, de meados do século
XVIII. .......................................................................................................................153
Figura 4-64 – Detalhe de verga reta (esquerda) e verga curva (direita) de porta da
Casa do Bandeirante, de meados do século XVIII. .................................................154
Figura 4-65 – Detalhe dos encaixes para grade de proteção de madeira...............154
Figura 4-66 – Muxarabies. ......................................................................................155
Figura 4-67 – Esquadria em madeira da Casa das Rosas (1935), à Avenida Paulista.
No detalhe (dir.), os trilhos que possibilitam a abertura das persianas. ..................156
Figura 4-68 – Janela em madeira da Vila Penteado (1902). ...................................157
Figura 4-69 – Janela com moldura de pedra, guilhotina e persianas em madeira e
grade de proteção de ferro fundido. ........................................................................157
Figura 4-70 – Janelas das áreas de serviço da Casa das Rosas (1935). ...............157
Figura 4-71 – Grade de fechamento de janela do porão.........................................157
Figura 4-72 – Caixilhos metálicos, com vidros coloridos formando vitrais. .............158
Figura 4-73 – Variação de portas almofadadas.......................................................159
Figura 4-74 – À esquerda, porta da entrada, metálica. Ao centro, porta de madeira,
que dá acesso a pátio interno privativo. Casas das Rosas, 1935. À direita, porta de
madeira da Vila Penteado, 1902. ............................................................................159
Figura 4-75 – Caixilho da Residência Paulo Mendes da Rocha, 1964 (esquerda), e
detalhe de seu projeto (direita)................................................................................161
Figura 4-76 – Porta principal da Residência Paulo Mendes da Rocha, de 1964.....161
Figura 4-77 – Louças e metais típicos da fase do ecletismo...................................164
LISTA DE TABELAS

Tabela 3-1 – Entrada de Imigrantes no Estado de São Paulo – 1970 a 1939...........77


Tabela 3-2 – Disciplinas que compunham o curso de engenharia. ...........................81
Tabela 3-3 – Classificação dos materiais da construção civil por seu desempenho
ambiental...................................................................................................................89
Tabela 5-1 – Resumo das técnicas utilizadas em São Paulo, ao longo dos três
períodos estipulados. ..............................................................................................168
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CREA Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura
EPUSP Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
DPH Departamento do Patrimônio Histórico
GRM Gabinete de Resistência dos Materiais
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPI Imposto sobre produtos Industrializados
IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas
ISSN International Standard Serial Number
LEM Laboratório de Ensaio dos Materiais
NBR Norma Brasileira
PCC Departamento de Construção Civil
SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
SEMA Secretaria Especial do Meio Ambiente
SindusCon Sindicato da Indústria da Construção
TGP Tecnologia e Gestão da Produção na Construção Civil
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................17
1.1 Contextualização.........................................................................................17
1.2 Justificativa .................................................................................................23
1.3 Objetivos .....................................................................................................25
1.4 Metodologia ................................................................................................25
1.5 Estruturação do trabalho.............................................................................27
2 CONCEITOS ENVOLVIDOS NA EXPOSIÇÃO DA EVOLUÇÃO DAS TÉCNICAS
CONSTRUTIVAS PAULISTANAS.............................................................................28
2.1 Evolução .....................................................................................................28
2.2 Técnica construtiva .....................................................................................29
2.3 Residências unifamiliares ...........................................................................30
2.4 Alto padrão..................................................................................................31
2.5 Subsistema .................................................................................................32
3 PRINCIPAIS FATORES QUE IMPULSIONARAM A MUDANÇA DOS
SUBSISTEMAS.........................................................................................................35
3.1 Arquitetura ..................................................................................................35
3.1.1 Colonial ...................................................................................................36
3.1.2 Ecletismo: Neoclássico, Art Nouveau, Art Déco e Neocolonial ...............37
3.1.3 Modernismo.............................................................................................43
3.2 Alterações políticas .....................................................................................46
3.2.1 Vinda da Família Real .............................................................................46
3.2.2 A Declaração da Independência e a Proclamação da República............48
3.2.3 A nova República e a especulação imobiliária ........................................50
3.3 Alterações econômicas ...............................................................................52
3.3.1 O plantio do café .....................................................................................52
3.3.2 A evolução dos transportes terrestres .....................................................53
3.3.3 A alavancagem da economia ..................................................................56
3.3.4 A emergência da atividade industrial.......................................................57
3.3.4.1 A formação da indústria de materiais...................................................59
3.3.4.2 O caso do tijolo ....................................................................................65
3.4 Alterações sociais .......................................................................................69
3.4.1 A estrutura escravocrata .........................................................................71
3.4.2 As corporações de ofício .........................................................................73
3.4.3 Os imigrantes ..........................................................................................75
3.4.4 A necessidade de qualificação da mão-de-obra......................................78
3.5 A cientifização das atividades .....................................................................79
3.5.1 A primeira instituição de ensino superior paulistana – A Escola Politécnica
80
3.5.2 A criação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT .........................85
3.5.3 A criação da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT ..........86
3.6 Sustentabilidade .........................................................................................87
4 EVOLUÇÃO DAS TÉCNICAS CONSTRUTIVAS DOS SUBSISTEMAS
ESTRUTURA E VEDAÇÃO.......................................................................................91
4.1 A cidade de taipa – 1554 a 1849 ................................................................92
4.1.1 Estrutura de blocos maciços de terra ......................................................93
4.1.1.1 Alicerces ..............................................................................................94
4.1.1.2 Vedações verticais exteriores e demais vedações estruturais.............96
4.1.2 Vedações ................................................................................................99
4.1.2.1 Verticais não estruturais (internas) – a taipa de mão...........................99
4.1.2.2 Horizontais inferiores – o chão de terra batida ..................................100
4.1.2.3 Horizontais superiores – o telhado em quatro águas.........................101
4.1.2.4 Horizontais intermediárias – os sobrados de madeira .......................103
4.2 A cidade de alvenaria de tijolo – 1850 a 1929 ..........................................104
4.2.1 Estrutura de tijolos maciços...................................................................106
4.2.1.1 Alicerces ............................................................................................106
4.2.1.2 Vedações verticais exteriores e demais vedações estruturais...........108
4.2.2 Vedações ..............................................................................................113
4.2.2.1 Verticais não estruturais (internas) – os tabiques ..............................114
4.2.2.2 Horizontais inferiores – o piso impermeável ......................................116
4.2.2.3 Horizontais superiores – o telhado, a mansarda ou a platibanda ......116
4.2.2.4 Horizontais intermediárias – ainda o sobrado....................................120
4.3 A cidade de alvenaria de blocos e de concreto armado – 1930-hoje........126
4.3.1 Estrutura em concreto armado ..............................................................131
4.3.1.1 Fundações .........................................................................................131
4.3.1.2 Superestrutura ...................................................................................135
4.3.2 Vedações ..............................................................................................139
4.3.2.1 Verticais externas – os blocos ...........................................................139
4.3.2.2 Verticais internas – os blocos ou tijolos .............................................143
4.3.2.3 Horizontais inferiores – laje impermeabilizada...................................144
4.3.2.4 Horizontais superiores – a cobertura plana .......................................144
4.3.2.5 Horizontais intermediárias – a laje mista ...........................................147
4.4 Evolução nos demais subsistemas ...........................................................152
4.4.1 Esquadrias ............................................................................................152
4.4.2 Instalações ............................................................................................162
4.4.2.1 Hidráulicas .........................................................................................162
4.4.2.2 Elétricas .............................................................................................166
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................167
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................174
17

1 INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização

O atual estado da arte do setor da construção civil brasileira apresenta algo de


paradoxal, pois, apesar de ter grande representatividade econômica e social para o
país1, é considerado atrasado em relação aos demais setores industrializados.

Os fatores responsáveis pela defasagem do setor vêm sendo mantidos em pauta2


desde os anos 1970. Apesar de nem sempre compor o tema principal da pesquisa, o
assunto relativo ao atraso acompanha o objeto de reflexão dos autores, como
podemos perceber em Bruna (1976), Farah (1988, 1992), Abiko et al. (2005), e
FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (2008).

No entanto, é importante ressaltar que tais trabalhos, envolvidos no cenário da


industrialização do setor, são resultados de discussões voltadas para a produção
“seriada”, ou seja, que apresenta alguma repetição, representada
predominantemente pelas edificações multipavimentos.

Ainda que seja possível aplicar os fatores responsáveis pelo atraso do setor ao caso
específico das edificações residenciais de pequeno porte3, deve-se salientar que

_____________
1
O setor como um todo vem apresentando, para o Brasil, importância econômica e social: em 2008, o
macro-setor (construtores, produtores/fornecedores de materiais e equipamentos e setor de
serviços) correspondeu a 11,9% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, além de representar 8,3%
dos empregos formais, e contribuir significativamente para a redução do déficit habitacional. (FIESP,
2009). São Paulo teve, dentre todos os municípios, a maior participação no PIB nacional, em 2007,
representando 12% de participação relativa. (IBGE, 2009).
2
Os principais itens destacados são: a utilização de mão-de-obra de baixa qualificação; a alta
rotatividade da mão-de-obra (agentes de produção); a falta de capacitação dos agentes técnicos da
cadeia produtiva; os problemas quanto à qualidade dos produtos intermediários; a não integração
entre os principais agentes da cadeia do setor; a baixa eficiência produtiva, qualidade e
produtividade insatisfatórias; o setor pouco receptivo às mudanças; a incidência de impostos sobre
produtos industrializados (IPI); e a falta de conhecimento do mercado consumidor.
3
Ver definição no segundo capítulo.
18

este nicho de mercado foi posicionado à margem das pesquisas e discussões


acadêmicas. Após a consolidação da construção em altura, as particularidades das
edificações unifamiliares passaram a não ser prioritárias, por serem consideradas
pouco relevantes ao contexto da industrialização da construção civil.

Como revela Farah (1992), quase nenhuma pesquisa no âmbito da produção de


edifícios foi realizada ao longo do desenvolvimento da indústria da construção,
sendo quase nula a existência de registros que evidenciem as mudanças
experimentadas, principalmente se estivermos buscando registros sobre as técnicas
construtivas. “Somente a partir do final dos anos 70, identificam-se alterações
significativas no tratamento dado à indústria da construção pela literatura” (FARAH,
1992, p. 23). Motoyama (1994, p. 21-22) corrobora a opinião da autora, e acrescenta
que a maioria dos trabalhos originados nos anos 70 trata apenas do
desenvolvimento da industrialização em geral, sem tecer considerações em relação
à evolução da tecnologia – o que começa a mudar na metade dos anos 804.

Faz-se necessária, então, a explanação sobre a formação do setor da construção


civil paulistano para que se possam visualizar as razões que levaram à lacuna
identificada por Farah (1992) e Motoyama (1994). Essa lacuna provoca reflexo sobre
o registro e possível análise da atividade construtiva predominante do século XVI ao
XX em São Paulo 5, em termos de edificações de caráter residencial, uma vez que
as pesquisas relativas à formação do setor da construção civil surgiram somente
após o início da industrialização do mesmo – o que se confunde com a
generalização da construção de edifícios multipavimentos.

Os profissionais voltados para atividades técnicas que atuavam no país, na época


da fundação da cidade de São Paulo, eram os engenheiros militares, os jesuítas
instruídos em “artes” e os mestres de risco6 (VARGAS, 1994, p. 195-196). Os
engenheiros militares se encarregavam principalmente da construção de fortes para
defesa do território, ficando, portanto, resignados às cidades do litoral. Os jesuítas,
iniciadores da colonização do planalto de Piratininga, preocupavam-se com a

_____________
4
Por iniciativa de alguns autores como Katinsky (1972, 2002), Vargas (1994) e Gama (1985, 1987).
5
De sua fundação, em 1554, a 1930, aproximadamente.
6
Para definição, ver item 3.3.2.
19

construção de templos religiosos, porém, no início, também auxiliavam na


concepção das habitações. Finalmente, quem realmente realizava as construções
com auxílio de seu conhecimento prático eram os mestres de risco, formados pelas
corporações de ofício da época. Eram eles que comandavam os escravos, que, no
caso de São Paulo, eram os índios em processo de catequização, ou simplesmente
capturados.

Assim, a cidade de São Paulo permaneceu com a mesma forma de construir por
praticamente três séculos: “Não havendo pedra na região, a técnica escolhida foi a
da terra socada em grandes fôrmas de madeira [...] Ao longo daqueles séculos [XVI,
XVII, e XVIII] falar dos paulistas era falar das construções em taipa” (REIS FILHO,
2004, p. 17-18).

Segundo Pereira (1988) e Telles (1984), o atraso técnico de São Paulo (e do


restante do país) caracterizado pela estagnação, na época da colônia, justifica-se
pela cultura essencialmente escravista. Motoyama (2004, p. 92) complementa ao
afirmar que, “sendo o trabalho ofício de cativos, não interessava aos senhores de
engenhos nem aos intelectuais da colônia”.

Logo, na São Paulo colonial, tanto por causa da proteção do monopólio do “saber
fazer”, quanto por ser um trabalho não nobre, não havia a intenção de registro ou
análise, e muito menos de melhoria, das atividades de construção: “para os escravos
não havia atrativo algum em melhorar as técnicas que só iriam enriquecer seus
algozes” (MOTOYAMA, 2004, p. 92).

O caráter imutável da construção somente começou a ser alterado, segundo Abiko


(2005, p. 125), a partir do final do século XIX, quando o crescimento passou a ser
intenso e ocorreram, alterações significativas na sociedade. Farah (1988, p. 685)
aponta os principais fatores que induziram a essa transformação: a substituição do
trabalho escravo pelo assalariado, juntamente com o incentivo à imigração européia;
a emergência da atividade industrial, logo após o surto do café; o aumento das taxas
de urbanização e o desenvolvimento dos transportes.
20

Do que foi exposto por aquela autora, o que mais incitou mudanças no construir
paulistano naquele momento foi o novo contingente de pessoas após o incentivo da
imigração por parte do governo, influenciado pela classe dominante, a qual, por sua
vez, necessitava de pessoas que pudessem substituir o trabalho até então escravo.
Tais pessoas trazem o conhecimento de uma nova forma de construção e dominam
as técnicas construtivas necessárias para colocá-la em prática.

Os profissionais desta segunda etapa tinham características bastante distintas dos


profissionais estrangeiros do Brasil colonial. Farah (1992, p. 136-137) afirma que os
imigrantes, a maioria italianos capomastri7, trouxeram “consigo uma tradição
construtiva em que se destacava o uso do tijolo e a habilidade artística na execução
das habitações”. Além disso, possuíam organização e tradição política, o que,
juntamente com o domínio do processo de trabalho, ajudou na formação de uma
categoria de trabalhadores unida.

Portanto, em uma segunda fase, a nova forma de construir passou a estar


inteiramente sob domínio dos imigrantes que não se direcionaram ao trabalho nos
campos rurais. A elite da época (fazendeiros do café) não se opunha ao monopólio
do conhecimento, e muito menos exigia alguma forma de registro das atividades,
pois se dedicava inteiramente a manter sua hegemonia, expandindo o alcance de
suas lavouras com as estradas de ferro.

O terceiro momento, também apontado por Farah (1988, p. 685), é marcado pela
cientifização das atividades, pois são criadas as instituições de ensino, pesquisa e
normalização. No entanto, a importância do registro das atividades relativas à
construção de edificações residenciais continuava sendo desprezada, visto que o
seu domínio ainda era deixado a encargo dos mestres-de-obras formados por
instituição voltada para as atividades práticas. Isso pode ser notado pela quase
ausência desse assunto na pauta das edições da “Revista Polytechnica” 8, ou pela

_____________
7
Na língua italiana, capo significa chefe. Capomastri é plural de capomaestro, em italiano. Significa
mestre-de-obra (POLITO, 1996, p. 55). Ver item 3.3.3.
8
Das 273 edições da “Revista Polytechnica”, entre cerca de 1300 matérias, aproximadamente 20
tinham alguma relação com construção civil, sendo algumas delas relacionadas a novos materiais,
arquitetura e salubridade.
21

criação tardia de departamento específico9. Na virada do século, a Escola


Politécnica voltou os esforços para a construção de infra-estrutura, como estradas
de ferro, portos e obras de saneamento10.

Outro fato que passou a monopolizar as atenções de mestres e alunos, no terceiro


momento, foi o advento do concreto armado, poucos anos depois11. Mais uma vez, a
renovação do conjunto de ações para realização dos edifícios mudou radicalmente,
demandando, porém, a busca por um conhecimento que não era de domínio de
nenhum profissional da época. Porém, neste caso, os engenheiros se preocupavam
com a parte da ciência do material – o qual seria profundamente explorado no
recém-criado Gabinete de Resistência dos Materiais – e os mestres-de-obras, por
sua vez, com a forma de usá-lo.

O domínio da prática por parte dos mestres-de-obras só viria a ser questionado após
1930, no contexto da regulação das profissões. Os “Conselhos profissionais”
passaram a cobrar uma contribuição anual para registro do profissional, o qual,
segundo Coelho (1999, p. 29-30), recebia em troca a garantia de um mercado
“protegido”, uma vez que sua perícia era evidenciada pelo diploma de nível
superior12. Logo, consolidou-se “o deslocamento da responsabilidade pelo ato de
construir para engenheiros e arquitetos, detentores de um conhecimento técnico, em
detrimento dos trabalhadores-empreiteiros, possuidores de um saber prático”
(FARAH, 1992, p. 147).

Concluiu-se, então, um distanciamento entre a teoria e a prática, o que repercutiu


sobre a construção civil paulistana. Uma das mudanças provocadas por tal dicotomia

_____________
9
De acordo com Vahan Agopyan, citado por Escosteguy (1994, p. 136), a criação do Departamento
de Engenharia de Construção Civil aconteceu em 1970, o que pode ser considerado revolucionário:
“geralmente a construção civil é relegada a uma parte de outro departamento, como apêndice”.
Sabbatini (1997, p. 53) alega que foi com a reforma universitária de 1970 que “surgiram condições
propícias” para tal feito.
10
De acordo com Vargas (1994, p. 205), o período de 1870 a 1920 representa os anos da engenharia
ferroviária, de portos e de saneamento.
11
Segundo Vasconcelos (1985), o primeiro edifício construído em cimento armado (como o concreto
armado era chamado até 1920) foi de autoria de Francisco Notaroberto, em 1908, localizado na
Rua São Bento, esquina com a atual Praça do Patriarca.
12
No contexto da regulamentação da profissão, alguns mestres puderam passar por uma avaliação
que os habilitasse profissionalmente. Porém, após a primeira rodada de 1933, somente os
diplomados passaram a ser registrados.
22

foi a separação da atividade de projeto – a qual se preocupa com a forma final do


edifício – da atividade construtiva. Outra foi a perda do domínio sobre o “saber
fazer”, pois os engenheiros e arquitetos não possuíam conhecimento sobre a
atividade concreta. Os novos mestres-de-obras, com sua formação deficiente,
tampouco detinham esse conhecimento. Dessa forma, é nesse mesmo período que
a mão-de-obra, antes composta pelos aprendizes dos primeiros imigrantes (que
também já haviam se afastado da experiência dos capomastri), passou a ser
substituída por migrantes rurais, “sem tradição anterior nessa atividade” (FARAH,
1988, p. 686).

Nos anos 1970, voltando ao ponto que suscitou a necessidade da breve digressão
histórica do presente estudo, já se possuía domínio respeitável das características e
do comportamento do material concreto – ou melhor, do concreto armado. Ademais,
houve, nesse período, a criação de diversos equipamentos que viriam a facilitar as
operações relativas à construção em altura. As pesquisas relativas à produção de
edificações residenciais tiveram início justamente nessa época, o que pode ser
considerado como início de um quarto estágio. Isto coincide com o que Vargas
(1994, p. 203) chama de segunda etapa da cientifização das atividades,
caracterizada pela criação dos cursos de pós-graduação das universidades.

Este quarto estágio (atual) é marcado pela formação de um mercado imobiliário


voltado para a concorrência que “preocupa-se em alterar as suas características de
produção, com a implantação de novas tecnologias nos seus empreendimentos”
(BARROS, 1996, p. 77). Por isso, a maioria dos esforços se voltou para as
construções multipavimentos, já que a especulação imobiliária afetou o valor dos
terrenos, supervalorizando-os.

Em 2010, a construção formal13 de casas de alto padrão acontece de duas formas:


14
ou pela “produção própria” , que se torna possível com a contratação de

_____________
13
Parcela diminuta deste nicho. A formalidade envolve o registro de responsabilidade técnica,
licenças diversas (demolição, execução, movimentação de terra etc.), acompanhamento técnico
da construção, uso de materiais em conformidade com as normas vigentes, funcionários
devidamente registrados (incluindo o pagamento de encargos sociais), e ausência de
irregularidades fundiárias (FIESP, 2008, p. 29).
14
Ver definição no segundo capítulo.
23

construtoras especializadas, ou pela incorporação imobiliária15. Na primeira, visa-se


a uma arquitetura ousada, e há farta disponibilidade de recursos. Sua realização
depende de profissionais altamente qualificados, que pouco se valem das técnicas
convencionais. Na segunda, busca-se alguma oportunidade de mercado, com
garantia de retorno financeiro, sendo que a confecção das unidades – na maioria
das vezes idênticas – é realizada por uma construtora que utiliza as técnicas
desenvolvidas para edifícios multipavimentos.

Diante de tudo que foi exposto, apesar de raramente apresentar repetição de projeto
construtivo e atender um contingente de pessoas consideravelmente menor, verifica-
se a importância de um estudo com enfoque na construção de edificações de
pequeno porte, tanto por alcançar a origem da maioria das técnicas construtivas
envolvidas na execução de edifícios multipavimentos – uma vez que as mesmas
16
surgiram da adaptação das antigas técnicas utilizadas nos “palacetes” –, quanto
para afastar da informalidade a construção de casas.

Portanto, a existência de poucos estudos focados em edificações residenciais


paulistanas de pequeno porte e alto padrão enseja este trabalho, cuja pertinência é
ainda maior levando-se em conta que se trata de um momento de profissionalização
da construção de casas, com enfoque nas técnicas construtivas. Nesse sentido, esta
pesquisa visa não somente a evitar que os erros sejam reincidentes, como também
a incorporar o conhecimento do passado.

1.2 Justificativa

Pode-se citar o nome de alguns autores que já aprofundaram suas pesquisas com
relação à história construtiva da cidade de São Paulo, mas com enfoques distintos:

_____________
15
Ver distinção no segundo capítulo.
16
Termo utilizado para designar edificações unifamiliares de alto padrão. Tem significado igual ao do
termo “mansão”, atualmente utilizado.
24

 Farah (1992) e a história do processo de trabalho na construção civil em São


Paulo;
 Nagamini (1999) e a evolução do ensino e da pesquisa durante o crescimento da
cidade de São Paulo;
 Lemos (1969, 1979, 1985), Pereira (1988), e Toledo (2004) e a história da
arquitetura paulistana;
 Silva Telles (1994), Santos (1985) e Vasconcelos (1985) e a história da
engenharia paulistana;
 Gama (1985, 1987), Vargas (1994), Katinsky (1972, 2002), Reis Filho (2002,
2004, 2005, 2010) e a história da técnica e da tecnologia.

Ainda, sem a intenção de promover uma analise histórica, podem-se listar alguns
trabalhos que realizam um estudo aprofundado das técnicas construtivas – sem a
noção de seqüência executiva – na realização de habitações (de pequena ou de
grande porte). Porém, tais publicações podem ser consideradas “radiografia” de uma
determinada época, ou seja, representam técnicas datadas. Entre eles podemos
citar Albuquerque (194217), Schmidt (194618), Pianca (195519), Borges (195720),
Cardão (1969), Azeredo (1977, 1987), Yazigi (1997).

A título de registro, é necessário mencionar também quatro autores estrangeiros de


muito contribuíram para a formação dos engenheiros civis paulistanos: Leitão (1896),
Segurado (1936, s.d.[a], s.d.[b]), L’Hermite (1978) e Baud (1980).

De todos os autores citados, os que possuem estudos cujo foco mais se aproxima
do presente trabalho são Katinsky (1972, 2002) e Reis Filho (2002, 2004, 2005,
2010). Porém, estes não realizam uma análise sistemática de todas as técnicas
construtivas que foram (ou são) utilizadas em São Paulo, visto que esse não foi o
objetivo de suas publicações. Os demais autores, apesar de serem de grande
interesse para o desenvolvimento do presente trabalho, não enfocam diretamente as
técnicas.

_____________
17
Para desenvolvimento do trabalho, foi usada a edição de 1948.
18
Para desenvolvimento do trabalho, foi usada a publicação de 1949.
19
Para desenvolvimento do trabalho, foi usada a edição de 1977.
20
Para desenvolvimento do trabalho, foi usada a edição de 1962.
25

Em resumo, considerando-se o que foi exposto na contextualização e, somando a


isso, a carência de bibliografia que verse sobre a análise da evolução histórica das
técnicas construtivas paulistanas de forma sistemática, propõe-se uma investigação
nos moldes que serão descritos abaixo.

1.3 Objetivos

Este trabalho tem como objetivo principal o registro da evolução21 das técnicas
construtivas envolvidas na produção de edificações residenciais unifamiliares, e a
realização da análise dos motivos que a impulsionaram.

Dessa forma, o trabalho se proporá a contribuir para uma aproximação entre o alheio
mercado atual e a história construtiva paulistana a partir do estudo das
particularidades que envolvem a produção de edificações residenciais de pequeno
porte.

1.4 Metodologia

A definição do tema desta dissertação e a proposição de seu objetivo foram


decorrentes de uma pesquisa realizada na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo, com o título: “Evolução das Casas Paulistanas: sete
estudos de caso” (SATO, 2007). Esta pesquisa, por enfocar os aspectos
arquitetônicos, expõe de maneira superficial as diversas técnicas construtivas
utilizadas ao longo do crescimento da cidade de São Paulo.

_____________
21
Vide a acepção que se pretende extrair do termo no próximo capítulo.
26

Assim, o aprofundamento dos registros bibliográficos a respeito da evolução das


técnicas construtivas constituiu o primeiro passo da pesquisa. Foram consultados:

 Periódicos especializados da área:


 “Revista Téchne” – todos os exemplares até o ano de 2010;
 “Revista Politécnica” – da edição de novembro de 1904 a edição de
novembro de 2004;
 “Revista dos construtores”, de 1889 – números 1, 2, e 3;
 Revista “A Construcção em São Paulo”, de 1924 e 1925 – números 2 a 20
– os demais números desta última publicação não foram encontrados;
 “Boletim do Instituto de Engenharia” – edições de 1917 a 1941;
 Revista “Engenharia” – revista do Instituto de Engenharia – edições de
1942 a 1990.
 Livros, dissertações e teses obtidos em banco de dados (Dedalus USP, Infohab,
CAPES, Biblioteca digital da Universidade Mackenzie).
 Decretos, leis e códigos pertinentes à construção de edificações em São Paulo:
 Decreto n° 391, de 10 de fevereiro de 1903 (SEGURA DO, s.d.[b]);
 Lei n° 2.332, de 9 de novembro de 1920 (A Construc ção em São Paulo;
Boletim do Instituto de Engenharia);
 Lei n° 3.427 – Código de Obras “Arthur Saboya” –, de 19 de novembro
1929, consolidado pelo ato n° 663, de 10 de agosto de 1934 (AYRES
NETTO, 1950);
 Lei n° 8.266, de 20 de junho de 1975 (HIRSCHFELD, 1982);
 Lei n°11.228, de 25 de junho de 1992 (FREITAS; BOT ELHO, 2008).

Por ser um tema muito específico, relacionado a um determinado tipo de construção,


em uma cidade brasileira, verificou-se a inexistência de artigos internacionais sobre
o tema – os bancos de dados acessados foram: Science Direct, CAPES, ISI Web of
Knowledge.
27

1.5 Estruturação do trabalho

O trabalho foi estruturado em cinco capítulos, incluindo o primeiro, utilizado para a


introdução ao tema, sua justificativa e os objetivos a serem alcançados.

Foram explicitados os limites da pesquisa no segundo capítulo, o qual também foi


destinado ao esclarecimento dos conceitos essenciais à análise da evolução das
técnicas construtivas envolvidas na construção de residências unifamiliares de alto
padrão.
No terceiro capítulo foram expostos os principais fatores que impulsionaram a
mudança das técnicas, como a sua ligação intrínseca com a arquitetura e a
imigração, bem como com outros fatores político-econômicos de valor histórico.

O capítulo 4 evidenciou as diversas técnicas utilizadas na cidade de São Paulo, de


acordo com os subsistemas em que são aplicadas. O seu conteúdo passou pela
taipa de pilão, a alvenaria estrutural de tijolos maciços e as estruturas de concreto
armado, complementadas com alvenarias de blocos vazados ou amplas esquadrias
metálicas.

Reservou-se o último capítulo para as considerações finais após a revisão


bibliográfica realizada.
28

2 CONCEITOS ENVOLVIDOS NA EXPOSIÇÃO DA EVOLUÇÃO DAS


TÉCNICAS CONSTRUTIVAS PAULISTANAS

2.1 Evolução

O termo “evolução” carrega em si uma polêmica, pois pode exprimir uma mudança
pura e simples, ou uma mudança necessariamente vinculada ao aprimoramento.
Como o vocábulo aparece muitas vezes ao longo do texto, e, inclusive, no título do
presente trabalho, considerou-se necessário o esclarecimento sobre qual acepção
está sendo utilizada.

Ferreira (1986, p. 736-737) traz dois significados (dentre seis), que se aproximam
dos dois sentidos mencionados acima: “1. Desenvolvimento progressivo de uma
idéia, acontecimento, ação etc. 2. Movimento progressivo. [Antônimo nesta acepção:
involução]”.

O dicionário etimológico da autoria de Cunha (1982, p. 339), traz definição idêntica


ao primeiro item de Ferreira (1986), sem a conotação de melhoria. Ademais, Cunha
(1982, p. 339) atesta que o verbete foi utilizado pela primeira vez na língua
portuguesa em 1813, sendo originário da palavra em latim evolvere.

Buscando o significado do verbete em latim, em Leite e Jordão (1958, p. 170), a


palavra “evolvere” aparece com o significado de “cair rolando, atirar, derrubar,
desenvolver, estender”, afastando-se ainda mais do conceito de mudança no sentido
de aperfeiçoamento.

Esse sentido somente surgiu após o advento do darwinismo. No entanto, o próprio


Darwin, que raramente servia-se do vocábulo “evolução” (BOWLER, 1989, p. 9),
empregou tal termo “envolvendo apenas a mudança, sem implicar em alguma forma
de progresso” (BOWLER, 1989, p. 9). Atualmente, os biólogos evolutivos também
29

rechaçam qualquer conotação de melhoria que o termo possa suscitar, visto que se
pautam, antes, pelo conceito de adaptação (BOWLER, 1989).

Assim, tanto na etimologia da palavra “evolução”, quanto em seu uso pela biologia
evolutiva, contata-se a ausência da acepção de “melhoria” ou “progresso”. Nesse
sentido, o presente trabalho mostra-se em consonância com essas respeitáveis
fontes, pois pretende demonstrar as mudanças verificadas nas técnicas construtivas
paulistanas, ao longo do crescimento da cidade de São Paulo, sem afirmar que as
mesmas tenham se aprimorado.

2.2 Técnica construtiva

Sabbatini (1989), em sua tese de doutorado, explora profundamente o conceito dos


termos “técnica construtiva”, “método construtivo”, “processo construtivo” e “sistema
construtivo”, os quais são, usualmente, utilizados de maneira confusa no mercado da
construção civil. De maneira a estabelecer claramente o sentido em que esses
termos serão empregados nesta dissertação, adotar-se-ão as definições do autor
citado:

TÉCNICA CONSTRUTIVA é um conjunto de operações empregadas por um


particular oficio para produzir parte de uma construção (SABBATINI, 1989,
p. 15).

MÉTODO CONSTRUTIVO é um conjunto de técnicas construtivas


interdependentes e adequadamente organizadas, empregado na
construção de uma parte (subsistema ou elemento) de uma edificação
(SABBATINI, 1989, p. 18).

PROCESSO CONSTRUTIVO é um organizado e bem definido modo de se


construir um edifício. Um específico processo construtivo caracteriza-se
pelo seu particular conjunto de métodos utilizado na construção da estrutura
e das vedações do edifício (invólucro) (SABBATINI, 1989, p. 20).
30

SISTEMA CONSTRUTIVO é um processo construtivo de elevados níveis de


industrialização e de organização, constituído por um conjunto de
elementos e componentes inter-relacionados e completamente integrados
pelo processo (SABBATINI, 1989, p. 25).

O presente trabalho enfoca as técnicas construtivas utilizadas na cidade de São


Paulo, a partir do período colonial.

2.3 Residências unifamiliares

Com o intuito de restringir ainda mais a abrangência do tema, são analisadas


apenas técnicas construtivas comumente aplicáveis às habitações unifamiliares. No
presente estudo, tais edificações são consideradas de pequeno porte, em
contraposição aos edifícios de múltiplos pavimentos. No entanto, o “pequeno porte”
não está relacionado com a área de construção. Ao contrário, as residências
unifamiliares, cujas técnicas construtivas são aqui expostas, possuem grandes áreas
(ver próximo item).

É importante frisar também que as residências unifamiliares (ou individuais,


conforme Reis Filho, 2002), podem ter duas formas principais de produção: a
“própria” ou por iniciativa imobiliária privada.

A FIESP (2008) expõe o seguinte significado para “produção própria”:

Trata-se de um tipo de habitação individualizado de alto padrão. Destina-se


a um pequeno público consumidor de maior poder aquisitivo [...] Assim,
esse público pode comprar materiais e serviços de maior qualidade e mais
caros [...] Estas habitações são construídas por empresas de melhor
qualificação do mercado, que se utilizam, em sua maioria, de sistemas de
gestão da qualidade contribuindo para a melhoria da operação [...] (FIESP,
2008, p. 23).
31

Para “privada imobiliária” a FIESP propõe: “Este segmento destina-se à classe


média alta [...], sendo as unidades produzidas por meio de um condomínio,
incorporação, construção e venda a preço fechado [...]” (FIESP, 2008, p. 23).

Sendo esclarecidas estas duas formas de produção, afirma-se que os objetos de


estudo deste trabalho estão relacionados com a produção “própria”, pois as técnicas
construtivas utilizadas pela iniciativa privada imobiliária muitas vezes são adaptadas
das desenvolvidas para edifícios de múltiplos pavimentos.

2.4 Alto padrão

Para melhor definição do objeto de estudo, é necessário tornar claro qual o padrão
de residência que está sendo considerado.

O termo “alto padrão” é utilizado neste trabalho para exprimir, tanto a melhor
qualidade dos acabamentos, quanto edificações com uma área considerável. No
estudo realizado em 2007, foram selecionadas sete casas representativas,
projetadas e construídas para a elite da sociedade, quatro delas tombadas por
órgãos de proteção do patrimônio histórico22. O menor exemplar, do período
colonial, com apenas um pavimento, possuía aproximadamente 300 m2. O maior
possuía aproximadamente 1200 m2, distribuídos em quatro pavimentos. A área
média dos pavimentos dos estudos de caso é de 270 m².

Além disso, as residências estudadas eram chamadas de palacetes, pois foram


projetadas seguindo estilos arquitetônicos determinados e construídas para famílias
da elite paulistana, com exceção da Casa do Bandeirante, que foi construída em
época em que não havia diferenciação de acabamentos – apenas de áreas –, e as

_____________
22
Exceto a residência neocolonial de 1940, a residência modernista de 1966, e a residência
contemporânea de 1990.
32

casas representativas do movimento moderno e contemporâneo, pois o termo se


tornara pejorativo23.

Outro fator de menção importante é a localização das casas. Todas as edificações


mencionadas tiveram de ser situadas em terrenos que possibilitassem a sua
implantação, acarretando em um afastamento do centro da cidade, porém sem
prejudicar a sua localização. No entanto, devido ao crescimento vertiginoso da
cidade, todos os exemplares estudados já foram inseridos na mancha urbana atual.

Considera-se que o padrão desses exemplares mencionados, e de seus similares,


apresente maior comprometimento com as corretas práticas de construção de suas
épocas, principalmente por não haver barreiras relativas à disponibilidade de
recursos. Portanto, apesar de não representarem a realidade da maior parte das
construções paulistanas, determinou-se o estudo focado em técnicas construtivas
aplicadas em: edificações destinadas para a elite, bem localizadas, nas quais foram
utilizados materiais de acabamento de boa qualidade (a maioria importados), com
projetos arquitetônicos bem definidos contratados, e que possuem área de no
mínimo 300 m2 por pavimento.

2.5 Subsistema

BARROS (1991, p. 21) em sua dissertação de mestrado afirma:

A maneira mais racional de abordar o edifício na sua totalidade, seja


objetivando a elaboração do projeto, a sua execução ou avaliação de seu
desempenho, é dividindo-o em partes, solucionando-as uma a uma. Para
que isso ocorra, é necessário que cada parte, enfocada sob um
determinado ponto de vista, tenha a sua funcionalidade própria, não
perdendo, porém, a relação com as demais e com o próprio edifício.

_____________
23
Diante do enorme déficit habitacional.
33

Seguindo a afirmação exposta, para melhor ilustrar as mudanças nas técnicas


construtivas ao longo dos anos será necessária a divisão da edificação em partes,
diante da complexidade da abordagem do edifício como um todo. Existem algumas
propostas para essa divisão, em que o edifício é dividido em sistemas, que, por sua
vez, são divididos em subsistemas.

O conceito de “sistema” e “subsistema”, assim como “técnica construtiva”, já foi


amplamente discutido pelo grupo de pesquisa da especialidade em Tecnologia e
Gestão da Produção na Construção Civil (TGP). O presente estudo não tem como
propósito questioná-lo, e, portanto, seguem definições dadas por Souza (1983),
Sabbatini (1989), e Barros (1991).

Em sua tese de doutorado, Sabbatini (1989) cita duas definições para a palavra
“sistema”:
[...] [Sistema] é um conjunto de elementos combinados em um todo,
organizado para servir a um objetivo comum (WARSZAWSKI, 1977 apud
SABBATINI, 1989, p. 22).

Em seu sentido mais amplo, sistema é um conjunto de elementos (partes do


todo) que guardam entre si alguma relação (SEBESTYÉN, 1980 apud
SABBATINI, 1989, p. 22).

Já o termo “subsistema” é definido pela ISO/DP 6241 apud SOUZA (1983, p. 18)
como “conjunto de partes do edifício que preenche uma ou várias funções”.

Barros (1991) adapta o que foi dito pelo autor mencionado e define subsistema
como “parte do edifício que desempenha uma ou várias funções, necessárias ao
atendimento das exigências dos usuários”.

A divisão proposta por Barros (1991), inserida nos conceitos relevantes ao contexto
de inovação tecnológica do grupo de pesquisa TGP, elenca como subsistemas do
edifício a estrutura, as vedações, os sistemas prediais e os de proteção e segurança.
Adotar-se-á a mesma classificação proposta pela autora mencionada para
demonstrar a evolução das técnicas construtivas. Porém, o último subsistema
34

destacado não será abordado neste trabalho, deixando uma oportunidade para
futuras pesquisas.

Portanto, em cada período identificado, a descrição de cada subsistema será


sistematizada da seguinte maneira:

 Estrutura
 Infraestrutura (alicerces / fundações)
 Superestrutura
 Vedações
 Verticais (interiores e de fachada)
 Horizontais (superiores, inferiores e intermediárias)

Os sistemas prediais, os revestimentos e as esquadrias (componentes da vedação)


serão discutidos em um tópico único, de maneira mais objetiva.
35

3 PRINCIPAIS FATORES QUE IMPULSIONARAM A MUDANÇA DOS


SUBSISTEMAS

São diversos os fatores que demandaram ou influenciaram as mudanças das


técnicas construtivas paulistanas no decorrer do tempo. Contudo, todos são
conseqüências de acontecimentos históricos que repercutiram em aspectos sociais,
políticos e econômicos correntes. Entre eles estão:

 As tendências arquitetônicas;
 Alterações políticas;
 Alterações sociais;
 Alterações econômicas;
 A cientifização das atividades;
 A sustentabilidade.

3.1 Arquitetura

A arquitetura, desde a fundação da cidade, sofreu grandes e muitas mudanças,


quase todas elas por reflexo da sociedade. Segundo Lemos (1979, p. 11), a adoção
(sempre defasada da origem européia) de novos critérios de composição foi impelida
muitas vezes por modismo, sem prévia análise da organização dos partidos
arquitetônicos, desvinculando-os de sua razão de ser.

Carlos da Silva Prado, em consonância com Lemos, afirma que não poderia ser de
outra forma, pois:

Numa sociedade mais desenvolvida, os homens procuram adaptar os


materiaes ás suas necessidades. Duas sociedades em que predominam
necessidades differentes não produzem architecturas iguaes, mesmo
quando dispõem dos mesmos materiaes. Quando porem as necessidades
36

são as mesmas, o emprego de materiaes differentes produz architecturas


semelhantes (PRADO, 1932, p. 352).

A seguir, serão pontuados alguns movimentos arquitetônicos – ou estilos24 – mais


significantes na história da cidade de São Paulo.

3.1.1 Colonial

Pode ser dito que o colonial foi o primeiro estilo adotado na cidade de São Paulo. A
técnica que o possibilitou foi a taipa de pilão.

O número de aberturas, em comparação com a área de paredes cegas, era


pequeno. Diz-se que nos tempos da taipa, os cheios predominavam sobre os vazios.

Foi um período em que a modulação regia a configuração de uma planta baixa.


Todos os cômodos deveriam ter dimensões vinculadas com a unidade chamada de
lanço25.

De acordo com (1957, p. 6), a arquitetura daquela época era extremamente fiel à
função da edificação, à economia de materiais e ao estilo de vida dos paulistas.
Pereira (1988, p. 24) afirma que essa ressonância podia ser notada até na
diferenciação dos cômodos: a especialização das atividades era tímida, a não ser a
eclesiástica e a dos viajantes, que tinham locais muito bem definidos dentro da
organização da residência.

Por três séculos, não havia distinção arquitetônica entre casas de classes sociais
diferentes. Tal diferenciação só iria ser notada com o aumento do número de

_____________
24
“Estylo, em Architectura, é, pois, o conjunto de caracteres que distinguem as construcções de certa
collectividade, em determinado período da historia, quando a mesma fórma geometrica serve de
principio esthético e constructivo” (ALBUQUERQUE, 1929, p. 276).
25
Lanço: faixa de moradia compreendendo cômodos encarreirados perpendicularmente ao
alinhamento da rua. Também medida de largura, pois nas casas urbanas os cômodos possuíam
dimensões mais ou menos padronizadas e suas larguras variavam pouco (LEMOS, 1969).
37

pessoas e conseqüente crescimento da cidade. O estilo arquitetônico adotado então


seria o conhecido como ecletismo.

Figura 3-1 – Tipo de arquitetura colonial: a Casa do Bandeirante, do século XVIII.


Fonte: Foto de Mariana Matayoshi, 2006.

3.1.2 Ecletismo: Neoclássico, Art Nouveau, Art Déco e Neocolonial

O ecletismo surgiu como resposta às novas necessidades da sociedade paulistana.


Uma delas residia na ornamentação das edificações, que era incompatível com a
taipa de pilão, como Lemos destaca:

A taipa de pilão, no entanto, não admitia arroubos, permitindo tão somente


a brancura serena dos paramentos lisos. Nada de molduras, reentrâncias,
balanços, cimalhas [...]. E nunca balautradas e rendilhamentos graciosos. E,
então, houve o casamento inevitável. O tijolo passou a revestir a taipa,
passou a coroá-la com seus topos formando platibandas movimentadas em
prodígios de equilíbrio e permitindo exuberância dos estuques (LEMOS,
2002, p. 34).

Mas a mudança não foi abrupta. No século XVIII, houve apenas modificações em
detalhes, como na estética das janelas (formato das vergas, e extinção de rótulas).
Quando o vidro começou, em meados do século XIX, a se popularizar é que as
reformas de ornamentação ganharam força. Surgiram as janelas do tipo guilhotina
38

adornadas, tabeiras ou cimalhas de madeira pintada logo abaixo dos beirais agora
forrados, e os cachorros foram escondidos (LEMOS, 1985, p. 28-29).

Uma alteração arquitetônica significativa foi a modificação da implantação da


edificação no terreno, tanto por recursos estéticos, mas também por exigências
legais. Leis e códigos26 impunham novas regras de implantação, bem como
dimensões mínimas para cada cômodo. Os volumes deveriam se afastar do solo e,
posteriormente, das divisas. A existência de um porão distinguia se a edificação era
exclusivamente residencial, pois, assim, o térreo não era utilizado para o comércio. E
quando era possível o afastamento dos limites do terreno, configuraram-se os
primeiros jardins (REIS FILHO, 2002, p. 127).

Nos bairros residenciais de faixas de renda alta e média, o cenário era de


absorção e aprofundamento das mudanças que vinham ocorrendo nas duas
últimas décadas do século XIX. As casas passavam a ser isoladas no
centro dos lotes, valorizando a sua volumetria, em contraste com os bairros
tradicionais, nos quais a arquitetura apresentava apenas duas dimensões,
no alinhamento das ruas. [...]. Os arquitetos tratavam de explorar as
possibilidades abertas pelas novas modalidades de implantação.
Projetavam edifícios com volumetria rica e diversificada, [...] (REIS FILHO,
2004, p.186).

_____________
26
É de fevereiro de 1903 o decreto nº 391, que regulamenta as construções brasileiras. Nele está o
artigo 16º que define: “Nas casas destinadas a habitação a altura do porão não será menor do que
m m
0 ,60, nem maior que 3 ,0, contados da superfície impermeável que trata o artigo 14º, § 5º, até a
parte inferior dos barrotes” (SEGURADO, s.d.[b], p.183). Ainda, o mesmo decreto determina no
artigo 17º: “Na construção dos prédios para habitação se deixará livre área de terreno suficiente
para pátios, jardins, etc.; não se aceitando área inferior a seis metros quadrados para as casas de
um só pavimento, de oito metros quadrados para as casas de dois pavimentos e de 10 metros
quadrados para as de três ou mais pavimentos” (SEGURADO, s.d.[b], p. 184). Posteriormente, a
Lei nº 2.332, de novembro de 1920, reforçou a exigência, pelo artigo 360º: “O soalho do primeiro
pavimento deve ficar afastado do solo cincoenta centimetros, pelo menos” (A CONSTRUCÇÃO EM
SÃO PAULO, jan. 1924). Já no Código de Obras “Arthur Saboya”, de novembro de 1929, não
existe mais essa exigência (AYRES NETTO, 1950).
39

Figura 3-2 – Exemplar de arquitetura eclética: A Casa das Rosas, de 1935.


Fonte: Foto disponível em <http://theurbanearth.wordpress.com/2009/01/24/parabens-sao-paulo-455-
anos/>. Acesso em 12 fev. 2011.

Apesar de sua origem libertária e nacionalista (Europa), o movimento estilístico


conhecido como Art-nouveau, no Brasil, também foi importado como mera
roupagem. Extremamente decorativo, mantinha a técnica construtiva tradicional, ou
seja, a “solução antiga definida pela arquitetura de tijolos trazidos há muito pelos
imigrantes” (LEMOS, 1979, p. 10). Além da exposição dos materiais in natura, um
elemento inovador trazido pelo estilo foi o uso do ferro forjado ou do ferro fundido,
que possibilitava novas formas.

Em toda construção o Sr. Dubugras [ícone do Art-Nouveau no Brasil] deu


inteira preferência às formas de estrutura real. As disposições construtivas e
a natureza dos materiais são praticamente acusadas, lealmente postas em
evidência: o que parece ser suportada funciona verdadeiramente como tal;
o granito é granito mesmo; os revestimentos de argamassa não iludem; e
toda peça de madeira já está com a cor própria, tendo apenas uma camada
protetora de verniz aparente [...].
Aplaudimos convictos esta maneira de construir tão honesta e racional. O
arquiteto tem de cingir-se aos recursos de que dispõe, e às formas impostas
pela estabilidade e resistência dos materiais. Ladear dificuldades ou simular
riquezas com fingimentos e artifícios é, a nosso ver, cair em uma arte
viciada e mentirosa [...] (TOLEDO apud SEGAWA, 1999, p. 33-34).
40

Figura 3-3 – Exemplar de arquitetura Art-Nouveau: a Vila Penteado, de 1902.


Fonte: Foto extraída de TOLEDO (2002, p. 17).

O Art-déco, por sua vez, representava a negação do que era considerado exagero
no Art-nouveau: os ornatos curvos se tornaram ortogonais. Porém, seu caráter
epidérmico também não exigia nenhuma mudança construtiva.

Para efeitos práticos, vou considerar o Art Decó no Brasil mais como uma
manifestação essencialmente decorativa que propriamente construtiva –
embora em certas situações as fronteiras entre a decoração e a tectônica
sejam tênues (SEGAWA, 1999, p. 60).

Pinheiro (1997) defende que, apesar de ser voltado para a aparência externa, este
estilo possui uma feição introdutória ao moderno, em comparação aos demais.
“Mesmo quando as referências aos modelos históricos são mantidas [...] estas
passam por um processo de homogeneização [...] como a estilização e
geometrização de elementos ornamentais” (PINHEIRO, 1997, p. 127).
41

Figura 3-4 – Exemplar de arquitetura Art Déco: a residência Jorge Maluf, de 1937.
Fonte: Fotografia de Mariana Matayoshi, 2006.

Já o movimento neocolonial, este “tinha pretensões de renovador, a resgatar a


arquitetura brasileira, perdida numa miscelânea estilística importada” (PINHEIRO,
1997, p. 67). Apareceu como um protesto das famílias tradicionais paulistanas contra
os imigrantes emergentes. Porém, por falta de conhecimento sobre as origens de
nossa arquitetura, não passou de nova maquiagem para os edifícios construídos em
tijolos maciços.

Por volta de 1910, acompanhando movimentos nacionalistas europeus,


especialmente da França, alguns intelectuais paulistas se voltaram para o
estudo da arquitetura colonial, à qual chamavam Arquitetura Brasileira,
correspondendo ao que hoje se conhece como Neocolonial. Essa mudança
arquitetônica se incluía como parte de um movimento mais amplo, de
revalorização das famílias tradicionais paulistas, com destaque para o
movimento das bandeiras e os grandes proprietários rurais do século XIX.
[...] (REIS FILHO, 2004, p.186).

Em oposição à elevação da edificação do nível do solo, nota-se um movimento que


dispensa “os velhos porões de grande altura, capazes de garantir a intimidade dos
interiores. A tendência, agora, seria oposta. Cabia forçar por todos os meios o
nivelamento, a aproximação com os jardins” (REIS FILHO, 2002, p. 76).
42

Figura 3-5 – Exemplar da arquitetura neocolonial: a residência Manoel Arantes Matheus, de 1940.
Fonte: Fotografia publicada na Revista Acrópole (1940, p. 127).

Percebe-se que a convivência de tais estilos arquitetônicos se assemelha a um


diálogo em que se expõem “pontos-de-vistas” contrários. Mange (1949, p. 33) afirma
que essa característica se reforça pela facilidade de comunicação da época
(imprensa, rádio, cinema). Para Pereira (1988, p. 107), o que contribuiu para a
miscelânea foi a “predominância da forma de produção por encomenda” das
edificações.

Portanto, por aproximadamente 80 anos, todas as tendências arquitetônicas, após a


introdução da alvenaria estrutural de tijolos maciços, foram mais voltadas para a
estética do que para a técnica, como afirma Reis Filho:

No conjunto, porém, pode-se dizer que as residências individuais dessa


época não apresentavam alterações tecnológicas fundamentais. Apenas,
pouco a pouco, substituíam-se, por produtos nacionais, equipamentos e
materiais inicialmente importados. As paredes de tijolos forçavam a
repetição das plantas nos dois pavimentos. Os pisos de madeira exigiam a
existência de porões no pavimento térreo e de forros de gesso ou madeira
nos dois andares. Os telhados amplos, quase sempre com beirais,
lançavam as águas sobre os jardins, ou, quando possível, ostentavam um
sistema completo de condutores e calhas em balanço. [...] As soluções mais
complexas teriam que aguardar as oportunidades surgidas com a ampliação
do movimento modernista (REIS FILHO, 2002, p. 78).
43

A ruptura da sistemática do envoltório se dá no início do movimento modernista,


quando, finalmente, novos materiais e esquemas estruturais serão explorados.

3.1.3 Modernismo

O movimento modernista é possibilitado pelo desenvolvimento de novas tecnologias


construtivas (advento do concreto armado), bem como pelo sentimento de negação
dos estilos anteriores. Assim afirma Segawa (1999, p. 54): “O engajamento político-
ideológico do futurismo, o antiracionalismo, o anti-subjetivismo, e a eliminação do
supérfluo [...] foram todos movimentos contrários ao otimismo e à frivolidade Déco,
nascidos em contextos históricos convulsivos [...]”.

Em quase todos [exemplares modernistas] a aparência procura atender às


inovações formais, que o modernismo vinha introduzindo, por meio de
artifícios de desenho arquitetônico: linhas retas, platibandas ocultando o
telhado de telha tipo Marselha, revestimento com mica, alguns ornatos
retilíneos e o fingimento de uma poderosa estrutura de concreto. Em outros,
a preocupação ia mais longe e apareciam janelas de modelos mais
recentes, de ferro para as salas e de madeira, tipo “ideal”, nos dormitórios
(REIS FILHO, 2002, p. 68).

De forma contrária aos demais movimentos citados, o modernismo brasileiro estava


“em consonância com o que de mais adiantado se fazia então na Europa”. A
preocupação com a racionalidade do processo construtivo era intrínseca ao
movimento, bem como o avanço dos projetos estruturais e tecnológicos (REIS
FILHO, 2004, p.156).

O avanço técnico e econômico possibilitou um novo arranjo arquitetônico. “Pela


primeira vez seriam exploradas amplamente as possibilidades de acomodação no
terreno” (REIS FILHO, 2002, p. 88), devido à liberdade provida pelas estruturas
reticuladas de concreto. “As fachadas se modernizaram. As esquadrias de madeira
entre parapeitos, vergas e bonecas de alvenaria foram substituídas por esquadrias
44

de alumínio de piso a teto, de parede a parede” (PACHECO apud VASCONCELOS,


1985, p. 40).

As paredes não foram as únicas a serem libertadas: a planta também foi declarada
“livre”, com ampla flexibilidade. Entretanto, “na prática esses alvos estavam longe de
um completo atendimento”, mas em pouco tempo “seriam superados os entraves
que ainda dificultavam o desenvolvimento da organização espacial” (REIS FILHO,
2002, p. 88-89).

Figura 3-6 – Exemplar de arquitetura modernista: a Casa de Vidro, de 1951.


Fonte: Fotografia extraída de INSTITUTO LINA BO E P. M. BARDI (1999, p. 83).

Além da abertura de possibilidades técnicas com o advento do concreto, o material


apresentava um custo menor (REIS FILHO, 2002, p. 93), e também tinha um forte
apelo plástico:

Esse emprego do concreto em larga escala tem permitido uma exploração


mais ampla da composição em vários planos, sendo esses frequentemente
associados a uma intenção simbólica. O concreto surge também como
elemento plástico fundamental, razão pela qual é deixado ao natural, numa
solução que já tem sido chamada de brutalista. Nessas oportunidades têm
sido colocadas também algumas formulações técnicas construtivas de pré-
moldados, parcialmente inadequadas para residências individuais, mas
significativas para o desenvolvimento que já se anuncia (REIS FILHO, 2002,
p. 94).
45

O novo estilo trazia ampla gama de possibilidades, e o curso de arquitetura havia se


separado do curso de engenharia civil. Neste contexto, Mange (1949) fez um apelo
para evocar a cautela dos profissionais diante da liberdade concedida:

É um dos problemas importantes da arquitetura moderna coordenar e


organisar suas novas conquistas, realisar um verdadeiro balanço de seus
novos conhecimentos e responsabilidades. É necessário um imenso
trabalho de análise e síntese para metodisar os conhecimentos referentes
aos seus fins e aos seus meios. A evolução assumiu o aspecto de
revolução: os conceitos antigos de séculos perderam o seu valor, foram
submergidos e tornaram-se inúteis. Cabe porém organisar na base dos
novos valores, os programas e os métodos, sistematisar os novos
conhecimentos. Surgiram novos conceitos: - é necessário crear novas
teorias, não estáticas como as do passado, porém dinâmicas e capazes de
acompanhar a evolução incessante e rápida da civilização moderna
(MANGE, 1949, p. 32).

No entanto, a despeito da preocupação de profissionais como Mange, muito foi feito


sem a sistematização adequada dos novos conceitos. De acordo com Segawa
(1999), Niemeyer, um dos arquitetos brasileiros de grande destaque mundial,
menciona-se como exemplo, pois em certos momentos ignorou alguns princípios da
habitabilidade:

[Niemeyer revelou] ter passado por “um processo honesto e frio de meu
trabalho de arquiteto”. Fazendo sua mea culpa pelo excesso de projetos
sem o devido cuidado, revelando sentimentos de contradição pessoal diante
do quadro social do Brasil e sua atuação profissional junto às “classes
abastadas”, ele admitia ter se descuidado “de certos problemas e a adotar
uma tendência excessiva para a originalidade, no que era incentivado pelos
próprios interessados, desejosos de dar a seus prédios maior repercussão e
realce. Isso prejudicou em alguns casos a simplicidade das construções e o
sentido de lógica e economia que muito reclamavam”. [...] nesse sentido, o
arquiteto voltou-se para soluções compactas e simples. A simplicidade
buscada pelo arquiteto encontraria na estrutura seu principal protagonista
(SEGAWA, 1999, p.143).
46

3.2 Alterações políticas

O período abrangido pelo presente estudo foi marcado por profundas alterações
governamentais, como a mudança da Família Real, a Declaração da Independência,
e a Proclamação da República.

Alguns desses fatores repercutiram diretamente nas técnicas, como veremos a


seguir.

3.2.1 Vinda da Família Real

Apesar do destino da Família Real27 ser a capital da colônia – o Rio de Janeiro –,


sua chegada tem reflexos claros sobre mudanças na construção civil brasileira,
principalmente em relação ao refinamento dos acabamentos. Segundo Zmitrowics
(2005, p. 48), as elites locais se sentiram próximas da Europa e procuraram, a partir
de então, copiar suas formas e técnicas. Porém, essa busca limitava-se à
transformação dos invólucros das construções como, por exemplo, “alinhamentos,
harmonia entre fachadas, as envasaduras, as alturas das cimalhas ou cornijas, [e] a
continuidade da cumeeira” (PAULO, 2004, p. 93).

São Paulo, diferentemente das cidades mais importantes do litoral, passou a adotar
as novas soluções mais tardiamente. As casas adotaram o novo padrão por volta de
1820 (D’ALAMBERT, 1993, p. 90).

Entretanto, a Família Real afetou muitas outras circunstâncias. Ferretti (2004, p. 14)
afirma que somente se começou a pensar o Brasil como síntese (por pequena
parcela da população brasileira, mais intelectualizada), e não simples soma das

_____________
27
Diante do bloqueio continental imposto por Napoleão, no qual havia uma das exigências era a
declaração de guerra aos ingleses (incluindo o fechamento dos portos portugueses), a Família
Real se viu obrigada a refugiar-se no Brasil.
47

várias partes, a partir deste fato. NAGAMINI in VARGAS et al. (1994) aponta outros
efeitos da vinda da côrte portuguesa, como a possibilidade de instalação de
manufaturas na Colônia, o estabelecimento de instituições técnicas, artísticas e
científicas, e a abertura dos portos ao comércio internacional.

A possibilidade de instalação de manufaturas possibilitou, por exemplo, o início da


fabricação de cal – item essencial, segundo Lemos (1985, p. 19), para disseminação
do saber trazido pelos imigrantes – além da produção mecanizada de tijolos (REIS
FILHO, 2002).

Por influência da mudança da côrte, em 1816, chegou da Europa um grupo de


artistas conhecidos como Missão Artística Francesa (ver item 3.4.2), e, com a
criação da Academia Imperial de Belas Artes (no Rio de Janeiro) em 1826, começa a
se propagar o estilo neoclássico, que iria ser o “estilo oficial do Império”
(ZMITROWICS, 2005, p. 48).

A abertura dos portos assegurou a expansão cafeeira (também reforçada pela


imigração, após a abolição da escravatura) que, por sua vez, demandou a
construção de linhas férreas para escoamento de sua produção. Com as alterações
citadas, os portos se multiplicaram, e as importações28 tornaram-se mais freqüentes.
D’Alambert (1993, p. 21-22) afirma que se importavam tijolos da França, Itália e
Inglaterra.

Mas depois de 1808, com a ‘abertura dos portos’, com a crescente


importação de novos produtos de acabamento, os padrões começaram a se
alterar. [...] nos anos seguintes foram adotadas medidas oficiais para proibir
o uso de muxarabis nos sobrados e estimular a adoção de soluções
consideradas mais civilizadas, de agrado dos países exportadores, o que
incluía vidraças, gradis de ferro e cortinas (REIS FILHO, 2004, p.107).

_____________
28
“Os trens que desciam a Santos carregados de café, retornavam a São Paulo repletos de mármore
de Carrara, Pinho de Riga, vidros coloridos da Bélgica, chapas de Flandres, telhas de ardósia e
cerâmica de Marselha, ferragens e louças da Inglaterra” (LOUREIRO, 1981, p. 36). Em alguns
poucos edifícios mais altos, com estruturas mais complexas, utilizavam-se peças de aço,
importadas da Europa. Porém apenas para edifícios comerciais. (REIS FILHO, 2004, p.154).
48

Ainda, com a transformação do Rio de Janeiro de capital da colônia em capital do


reino, houve repercussão sobre os materiais utilizados na construção: “[...] iniciou-se
a disseminação do tijolo cozido, até então bastante restrito, o qual era produzido em
olarias, fora do canteiro de obras” (FARAH, 1992, p. 129).

3.2.2 A Declaração da Independência e a Proclamação da República

Conforme Reis Filho (2002, p. 136), a Declaração da Independência “não implicou,


de modo geral, em mudança na arquitetura”, pois o programa de necessidades29 e
os aspectos construtivos coloniais se repetiram por boa parte do século XIX. Porém,
o mesmo autor admite que, com a independência, propagou-se a influência da
Missão Francesa e da Academia Imperial de Belas Artes, pois havia se intensificado
o desejo de reprodução do ambiente europeu em terras brasileiras: “os grandes
proprietários rurais passaram a assumir responsabilidades diretas de expansão
européia nesta área tropical” (REIS FILHO, 2002, p. 140).

Por outro lado, Simonsen (1939, p. 333) narrando a evolução industrial brasileira,
afirma que a Independência prejudicou a produção agrícola do norte do país, pois se
perdeu a exclusividade do mercado português, e nos foi imposto um regime de livre
câmbio até 1844, por pressões políticas inglesas. Esse fato deu abertura para
aplicação de capital na plantação de café.

Não se encontrou registro de que a Proclamação da República tenha alterado


diretamente alguma característica técnica de construção. Sobre esse período,
declara Reis Filho (2002):

Os primeiros anos do século XX assistiram à repetição, sob várias formas,


dos esquemas de relações entre arquitetura e lote urbano, que haviam
entrado em voga com a República. Conservando-se ainda as técnicas de
_____________
29
Conjunto de necessidades do usuário, neste caso, em relação à moradia, listados, de forma a
setorizar a construção. Utilizados como premissa de projeto. Segundo Lemos (1985, p. 51) um
programa de necessidades é tão importante quanto a técnica construtiva na determinação do
partido arquitetônico.
49

construção e uso dos edifícios, largamente apoiados na abundância de


mão-de-obra mais grosseira e, em pequena parte, artesanal, era natural
que as soluções mais ou menos rústicas, com edifícios sobre o alinhamento
da via pública, a revelar, em quase todos os detalhes, os compromissos de
um passado ainda recente de trabalho escravo e com os esquemas rígidos
dos tempos coloniais. De fato, a abolição da escravatura e a instalação da
República não seriam suficientes para que o país alcançasse rapidamente
condições de valorização ou melhoria de padrões de mão-de-obra ou para
que se transformasse a estrutura econômica, iniciando-se a instalação
industrial. Para isso seria necessário aguardar o impacto da primeira guerra
mundial (REIS FILHO, 2002, p. 54).

No entanto, esse contexto governamental coincide com a modificação da posição da


edificação dentro dos limites do terreno, conseqüência da evolução da
conscientização relativa à salubridade (SEGAWA, 2003, p. 38-39), e talvez por
influência da efervescência política da época.

O afastamento da construção das divisas do lote aparece como solução para


garantir a ventilação e a insolação das dependências, indispensáveis para uma
habitação salubre. E, para isso, a forma de construir dos imigrantes passou a seu
extremante conveniente (PAULO, 2004, p. 95).

Os raios de sol haviam sido descobertos como poderosos bactericidas


através de seus agentes ultravioleta e o então serviço sanitário por meio do
seu Código de 1911 já não só exigia rigor no afastamento da umidade do
solo, precaução já antiga, como também recomendava nas condições de
saneamento que a orientação dos edifícios devesse “visar, sempre que
possível, a sua proteção contra ventos umidos” e fosse tal que assegurasse
“uma insolação de 3 a 4 horas por dia, no mínimo” (LEMOS, 1985, p. 83).

Nagamini (1999) e Paulo (2004) concordam que, além do caráter higienicista, a


Proclamação da República também está relacionada com o adensamento da cidade.

São desse período, as primeiras leis que visam aumentar a oferta de


moradias. Uma delas, por exemplo, a n.468, de 14/12/1900, isenta as casas
50
[30]
operárias de impostos, permite a diminuição do pé-direito mínimo e o
emprego de materiais de segunda, mas exige uma construção com o
mínimo de três compartimentos (NAGAMINI, 1999, p. 88).

Ainda, vinculada ao deslocamento das edificações e ao aumento populacional


também está a busca de terrenos, como afirma Lemos (1985):

Certamente, a partir do último quartel do século XIX, os critérios de uso do


solo alteraram-se bastante, não havendo propriamente uma modificação na
taxa de ocupação do lote; mas as construções começam a se afastar das
divisas laterais para efeito de melhor iluminação dos cômodos medianos e
tais partidos eram quase que impossíveis dentro do perímetro histórico da
cidade, dada a inexistência de lotes totalmente vagos para construir. Os
terrenos baldios na periferia desse perímetro é que passaram a ser
sofregamente requisitados. Veio a especulação imobiliária, logo agravada
pela desesperante falta de moradias (LEMOS, 1985, p. 55-56).

De acordo com Zmitrowics (2005, p. 52), o redirecionamento dos capitais para os


negócios imobiliários também estava atrelado à diminuição de empreendimentos
ferroviários ao fim da escravidão, bem como à súbita desvalorização da moeda
corrente em 1893. É nesse cenário que surgem empresas como a Companhia City:

Na prática, esses loteamentos, postos em voga em São Paulo pela Cia.


City, ao transporem os esquemas ingleses da “cidade-jardim”, sofriam
adaptações várias, reduzindo-se, na maioria das vezes, a um
aperfeiçoamento do sistema viário e uma reinterpretação, em termos de
“paisagismo”, dos velhos lotes tradicionais (REIS FILHO, 2002, p. 71).

3.2.3 A nova República e a especulação imobiliária

A nova República tem início em 1930, após o golpe de Getúlio Vargas. O


agravamento da especulação imobiliária e a verticalização das construções,

_____________
30
O pé-direito poderia ser diminuído desde que se garantisse a circulação do ar (SEGAWA, 2003, p.
40).
51

permitida pelo advento do concreto armado, foram alguns dos reflexos do


adensamento da cidade, iniciado no período anterior.

Os períodos de inflação e, mais espetaculosamente, o que o Brasil


atravessa atualmente [1953], foram períodos prósperos para arquitetos e
vendedores de terrenos. A inquietude diante da desvalorização da moeda
leva frequentemente os cidadãos da alta burguesia e da classe média à
compra de imóveis (PASSAGLIA, 1984, p. 43).

De acordo com Farah (1992, p. 132), são escassas as informações sobre a


formação das primeiras construtoras de edificações do país. Acredita-se que elas
tenham surgido do desdobramento das antigas tendas de mestres ligadas às
corporações de ofícios. Com a difusão da produção para o mercado, no começo do
século XX, surgem as incorporadoras, empresas que se responsabilizam pela
construção de unidades habitacionais após vendê-las na “planta”.

As empresas que surgiram no mercado neste cenário buscaram artifícios que


aumentassem as vendas, reduzissem os prazos e baixassem os custos. A relação
da produção de edificações passou a ser “empurrada”, pois era grande o déficit de
habitações. Para a conquista de possíveis compradores, despontou, nos anos 1960,
a propaganda imobiliária agressiva:

Os tapumes sujos e barracões de venda de apartamentos, feitos com


sobras de pinho de obras terminadas, foram substituídos por painéis e
‘stands’ de venda, projetados por arquitetos e decoradores [...] (PACHECO
in VASCONCELOS, 1985, p. 40).

Pacheco in Vasconcelos (1985, p. 41), analisando a formação do setor da


construção civil, alega que essa sistemática é agravada nos anos 1970, quando
imperava o “pedir emprestado e ficar devendo”. O “fator prazo passou a interessar
de maneira decisiva na realização dos negócios”.

Porém, esses são aspectos relevantes principalmente para a construção de


edificações de múltiplos pavimentos. A construção de residências unifamiliares foi
também atingida, embora de maneira mais sutil.
52

3.3 Alterações econômicas

3.3.1 O plantio do café

Grande parte da prosperidade vivenciada por São Paulo é devida à produção de


café. Para as lavouras, foi necessária a importação de mão-de-obra, que trouxe em
sua bagagem conhecimento. Com a venda do grão, recursos financeiros foram
levantados. Tornou-se possível a melhoria do sistema de transportes.

De 1808 a 1850, houve a expansão do plantio do café, que já ocupava toda a


extensão do vale do Rio Paraíba do Sul e parte da circunvizinhança da cidade de
São Paulo. Naquele momento, o que impedia uma maior expansão era o transporte
precário. Quando este empecilho foi eliminado – mais especificamente entre 1860 e
1880 –, consolidou-se o domínio exclusivo do café sobre os demais gêneros de
exportação, levando a uma profunda alteração do quadro demográfico e da
organização do trabalho em função da crise do sistema escravocrata (PASSAGLIA,
1984, p. 46).

Figura 3-7 – “Máquina” para beneficiar café.


31
Fonte: Fotografia disponível em <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/imigracao/> .

_____________
31
ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Apresenta dados pertinentes à imigração ao
Estado de São Paulo, como informações estatísticas, galeria de imagens, textos publicados, entre
outros itens. Disponível em <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/imigracao/>. Acesso em 12 fev.
2011.
53

Figura 3-8 – Embarque das sacarias de café.


Fonte: Fotografia disponível em <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/imigracao/>. Acesso em 12 fev.
2011.

A hegemonia do café só teve fim com a crise de 1929. Seu espaço então foi
assumido pelo setor industrial, o qual já vinha crescendo com recursos providos pela
economia cafeeira (NAGAMINI, 1999, p. 224).

3.3.2 A evolução dos transportes terrestres

Por 300 anos, o acesso a São Paulo e localidades vizinhas se dava através de
caminhos de terra, com aproximadamente quatro metros de largura e sem
drenagem, por onde trafegavam tropas de cavalos e carros de boi que transportaram
mercadorias aos portos (NAGAMINI in VARGAS et al., 1994) (VARGAS, 2005, p.
15).

A despeito de alguns relatos mapas do século XVII colocarem, por exemplo,


a vila de São Paulo no centro de extensa rede de estradas, não podemos
nos iludir. Essas estradas não passavam de simples veredas ou picadas, à
moda indígena, dependendo do sucesso do percurso do admirável senso
de orientação que o bandeirante aprendera, em parte, do índio
(MOTOYAMA, 2004, p. 89).
54

Este panorama só mudou a partir de 185032, com o início da instalação das ferrovias
(NAGAMINI in VARGAS et al., 1994). As estradas de ferro foram condição sine qua
non tanto para escoamento da produção – a locomotiva permitia um escoamento da
produção quatro vezes mais eficiente (ZMITROWICS, 2005, p. 50) – como para
expansão da área produtiva, e, por conseqüência, das próprias cidades (VARGAS,
2005, p. 17). Diferentemente das propriedades açucareiras do norte, as fazendas do
café não eram auto-suficientes. Assim, foi necessária a formação de novos centros
comerciais, que incentivaram mais obras portuárias e ferrovias (ZMITROWICS,
2005, p. 50).

Após a instalação da estrada de ferro ligando Santos a Jundiaí, em 1868, a


cidade passou a crescer em ritmo acelerado, pois tornara-se o centro de
realização do capital gerado na cafeicultura e palco de vultuosas transações
comerciais (COMISSÃO, 2001, p. 35).

A localização de São Paulo, que por muito tempo foi considerada desvantajosa pela
barreira imposta pela Serra do Mar, passou a ser ponto estratégico após o advento
das linhas férreas: Passaglia (1984, p. 47) afirma que a cidade assumiu, na década
de 1870, a posição de centro do complexo de estradas de ferro, fazendo a
intermediação entre o litoral e o interior. D’Alambert (1993, p. 8) completa, alegando
que o café proveniente das fazendas e as mercadorias importadas desembarcadas
em Santos, bem como os imigrantes recém chegados, tinham que obrigatoriamente
passar pela capital paulista.

A transformação de São Paulo de cidade simplória para entreposto comercial e


industrial, promovida pelas primeiras estradas de ferro em 1868 e 1875, (LEMOS,
1979, p. 114) estimulou, além de sua expansão territorial, o crescimento
demográfico. A construção de novas moradias se fez necessária em um cenário no
qual um novo “saber fazer” havia sido trazido pelos imigrantes, e materiais

_____________
32
Segundo Nagamini (1999, p. 71), a primeira linha férrea do Brasil teve sua construção iniciada em
1854. Ela ligaria a baía de Guanabara até o pé da serra de Petrópolis, com uma extensão de 14,5
quilômetros e em bitola de 1,676 m. Ainda segundo a mesma autora (p. 73), na província de São
Paulo, a primeira construção ferroviária a ser instalada é a que serviu de ligação entre Jundiaí e o
porto de Santos, com construção iniciada em 1860. Tal linha férrea tinha uma extensão de 139
quilômetros, em bitola de 1,6 m.
55

importados (os quais passaram a ser fabricados na cidade posteriormente pela


indústria nascente) eram mais facilmente obtidos, com auxílio das ferrovias.

Figura 3-9 – Imigrantes sendo transportados por trem.


Fonte: Fotografia disponível em <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/imigracao/>. Acesso em 12 fev.
2011.

Um dos efeitos positivos da nova posição (centralizada) da cidade de São Paulo foi
a possibilidade de produzir localmente uma série de itens que antes eram
importados. A partir de então, foi possível o deslocamento das matérias primas e de
combustíveis (ZMITROWICS, 2005, p. 50).

Em relação às técnicas construtivas, as ferrovias possibilitaram a importação de


peças de acabamentos, que atendiam ao gosto da elite paulistana, e até de edifícios
fabricados na Europa, trazidos nos porões dos navios, como lastro (REIS FILHO,
2005, p. 75).

Em um terceiro momento, já durante a República Velha, iniciou-se a construção de


estradas de rodagem, em paralelo à ampliação da rede ferroviária brasileira. Com o
tempo, e com a chegada do automóvel33, a construção rodoviária suplantou a

_____________
33
Segundo Vargas (2005, p. 18), o automóvel aparece como um meio de transporte elegante. Em
1907, surge o Automóvel Clube do Brasil e, no ano seguinte, o de São Paulo, para congregar os
aficionados do automobilismo. Em 1916, iniciou-se a construção da primeira rodovia aberta para
esse fim, a São Paulo-Jundiaí. Em 1920, Washington Luis assumiu o Governo do Estado de São
56

construção das estradas de ferro (VARGAS et al., 1994). Esse assunto é bastante
mencionado nas edições da revista Engenharia, a partir de 1960.

3.3.3 A alavancagem da economia

Segundo Passaglia (1984, p. 44), até meados do século XVIII, grande parte do
território de São Paulo era despovoada, havendo concentração em alguns núcleos
no planalto e alguns voltados para a mineração. A sua integração ao sistema de
produção colonial foi diferente em comparação com a região norte/nordeste e Rio de
Janeiro:

[...] foi objeto de uma ação política dos representantes da coroa portuguesa.
A crise do ouro brasileiro que afetou os rendimentos de Portugal, delineou
um quadro de dificuldades de ordem econômica [...]. [A administração
pombalina] passou a agir contra a dispersão demográfica, orientou a
agricultura para o comércio exterior [...] (PASSAGLIA, 1984, p. 44).

Portanto, o período subseqüente à reorientação da atividade econômica da capital


paulista foi marcado pela produção de gêneros para exportação, destacando-se
inicialmente o açúcar e o algodão (PASSAGLIA, 1984, p. 45). Como se disse, pouco
a pouco, o café foi conquistando espaço nas exportações até se tornar o principal
produto de São Paulo e do Brasil.

Porém, Passaglia (1984, p. 48) considera o período entre a proclamação da


República e a Primeira Grande Guerra Mundial (1889 a 1914) como a fase áurea do
sistema de exportação de café. “A magnitude e a concentração de renda nas mãos
de fazendeiros e capitalistas vinculados ao sistema cafeeiro, possibilitou um poder
aquisitivo sem precedentes na história da economia brasileira [...]” (PASSAGLIA,
1984, p. 48).

Paulo e iniciou a sua intensa atividade rodoviária. Estabelece-se um plano rodoviário,


compreendendo estradas irradiando de São Paulo. Quando chegou à Presidência da República,
entre 1926 e 1930, utilizava o slogan: “Governar é abrir estradas”.
57

É nessa conjuntura que a elite, com recursos financeiros em abundância, voltou-se


para o consumo de bens que viessem atender a um novo padrão de vida, à
semelhança dos principais centros desenvolvidos econômica e culturalmente:

O crescimento econômico e a definitiva inclusão da cidade de São Paulo no


circuito de desenvolvimento capitalista, possibilitaram que a sua arquitetura
acentuasse uma característica que até então era exercida com discrição,
devido às restrições do meio: a função de cenário de uma ostentação socio-
econômica e, o de transmitir uma imagem de modernidade ao compartilhar
de um gosto considerado procedente de uma das culturas mais
requintadas, a européia. Neste processo de europeização, diga-se de
passagem, que é de escala internacional, coube aos mestres-de-obras,
pedreiros e técnicos italianos, o papel de difusores de uma cultura
arquitetônica. Se em termos de capital dependíamos da Inglaterra, se as
nossas exportações de café estavam quase integralmente atreladas ao
mercado consumidor norte-americano e se a nossa cultura literária e
pictórica era francesa, em termos de arquitetura, ela foi italiana [...]
(PASSAGLIA, 1984, p. 67-68).

3.3.4 A emergência da atividade industrial

A atividade industrial paulistana teve início34 com a chegada das primeiras levas de
imigrantes, pois, segundo Nagamini (1999, p. 82), trouxeram “consigo uma outra
formação cultural ou experiência técnica ou, ainda, porque guardavam relações com
os negócios ligados à importação”. Foram eles que organizaram os primeiros
empreendimentos industriais. Na propaganda abaixo (fig. 3-11), pode-se notar a
convivência entre a indústria nascente e a produção agrária, típica deste período.

_____________
34
“Os estudos econômicos fazem referências sobre o surgimento e desenvolvimento da indústria
paulista, ocorrido entre 1886 até 1914, embora intercalado pela crise cafeeira de 1897 a 1904”
(NAGAMINI, 1999, p.83).
58

35
Figura 3-10 – Propaganda da Fundição do Braz, de 1904 .
Fonte: Imagem disponível em <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/imigracao/>. Acesso em 12 fev.
2011.

Zmitrowics (2005, p. 51) afirma que havia “uma sobreposição de diversas condições
favoráveis” que favorecia a formação da indústria:

De um lado a disponibilidade de mão-de-obra, pouco preparada,


proveniente da escravidão ou do exterior, de pessoal de nível técnico,
artesãos e engenheiros estrangeiros aos quais se somavam os brasileiros
formados no exterior e os egressos das escolas nacionais. De outro, os
capitais, obtidos pela exportação de produtos agrícolas, e a disponibilidade
de energia, seja mineral importada (carvão), seja hidráulica local, que logo
depois começou a ser transmitida sob forma de eletricidade (ZMITROWICS,
2005, p. 51).

Simonsen (1939, p. 338) acrescenta, ao rol de elementos propulsores da indústria, o


fato da intensa imigração não só ter colaborado para a massa de trabalhadores, mas
também ter trazido pessoas acostumadas com um nível de vida mais elevado do que
os primeiros habitantes do planalto, criando um mercado consumidor carente de
produtos industrializados.

_____________
35
Diz o texto: Fundição de bronze, grandes oficinas mecânicas para construção de máquina para a
lavoura e para a indústria, oficinas de ferreiro, serralheiro e caldereiro, especialidade em confecção
de sinos, moendas para cana, moinho para fubá, triturador de milho, cilíndros para padaria, chapas
para fogões, grelhas, buchas para carroças, pesos para balanças, grelhas para terreiros de café, e
bem assim sortimento completo de torneiras e válvulas de todas as qualidades para vapor, tubos
de latão e de cobre sem solda. Encarrega-se de assentamento ou conserto de máquinas, motores
e locomotivas. Agente geral neste Estado do aperfeiçoado aparelho para beneficiar café
denominado Machina “Spinola” bem como descascador “Lucio”. Fundição especial para
construção. Vigas de aço e ferro duplo T.
59

Com a semente da industrialização e a diversificação da produção rural,


principalmente após a Primeira Guerra Mundial, surgem as primeiras modificações
tecnológicas, aliadas à valorização do trabalho remunerado (REIS FILHO, 2002, p.
64). Como conseqüência, tem-se o abastecimento de outras regiões com os
produtos paulistas “possibilitando a consolidação de sua liderança no mercado
brasileiro” (NAGAMINI, 1999, p. 83).

Vargas (2005, p. 19), afirma que no período compreendido entre 1930 até a
Segunda Guerra Mundial, houve o surto de construção de edifícios e obras
sanitárias e urbanas de concreto armado, corroborado pela crise do café, em 1929.
Ainda, segundo o mesmo autor, a industrialização, em poucos anos superou a
rentabilidade promovida pelo produto agrícola. Já no contexto de uma
industrialização mais consolidada, passou a se buscar a industrialização também do
ato de construir, como uma forma de inclusão de uma massa de trabalhadores sem
qualificação. Contudo, é neste momento em que há um descolamento entre as
tendências do mercado da construção civil e o objeto de estudo do presente
trabalho.

A forma com que a industrialização mais afetou a construção das edificações


residenciais unifamiliares, foi por meio da formação da indústria de materiais, como
pode ser visto a seguir.

3.3.4.1 A formação da indústria de materiais

Durante o período do Brasil colônia, todo o material requerido para a construção das
edificações era conseguido nas próprias imediações do canteiro36. Farah (1988, p.
685) ressalta que, no primeiro século, “a atividade de construção [...] se caracterizou

_____________
36
Como no caso da terra e da madeira. A terra era escolhida conforme a sua umidade e composição
granulométrica. Já a madeira, “boa era a que afundava na água”. As peças sempre eram cortadas
com folga (por garantia), pois não havia preocupação com custo. O difícil era providenciar o
transporte para essas grandes peças (LEMOS, 1985, p. 37).
60

pela autoprodução”, que Pereira (1988, p. 2) define como produção doméstica. A


extração de materiais em locais muito próximos ao sítio da construção era
compatível a esse processo produtivo37.

Entretanto, Zmitrowics (2005, p. 48) afirma que, após a abertura dos portos e
conseqüente integração da colônia ao comércio exterior, aquisições passaram a ser
forçadas por países estrangeiros, principalmente pela Inglaterra. A solução
encontrada para atendimento de tal pressão foi a proibição ou imposição do uso de
certos materiais38.

Aliado à imposição de importação de materiais, maior com o passar dos anos,


intensificou-se a “tendência à substituição de materiais locais processados
39
integralmente na obra, por materiais e componentes fabricados fora do canteiro”
FARAH (1992, p. 135), com a chegada dos primeiros imigrantes. A atividade de
construção de edificações se separou da atividade de produção de materiais, o que
era mais condizente à “produção por encomenda” que se configurava,
acompanhando o crescimento vertiginoso da cidade.

Porém, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) dificultou extremamente as


importações. O mercado brasileiro, principalmente São Paulo – que teve seu
balanço comercial do café abalado – foi impulsionado a montar seu próprio fabrico
de materiais. Foi nesse cenário que se originou a indústria de materiais.

_____________
37
Não é o caso da cal. Este material foi extremamente raro em São Paulo, pois sua produção se dava
no litoral. “A cal subiu em cestos, ou em sacos, nas costas dos índios pelas trilhas da Serra, sendo
empregada em esporádicas obras em que era estritamente necessária” (LEMOS, 1985, p. 43). No
entanto, a cal da época citada, era cheia de impurezas, pois era extraída de sambaquis. A cal
proveniente de rochas calcáreas só produzida, em São Paulo, no final do século XVIII (1798 em
Santos), chegando a um volume considerável no começo do século XIX, na região de Sorocaba.
Além de ser usada nas alvenarias, a cal também era empregada na composição de tintas de
pintura de casas, às vezes coloridas com pigmentos vegetais, como o anil, cujo fixador era pedra
ume, ou certos óxidos ou terras finas. A pintura a cal era desinfetante e muito usada na
higienização dos ambientes. (LEMOS, 1985, p. 43-44).
38
Exemplos que podem ser citados: a substituição de elementos vazados de madeira por vidros
importados da Inglaterra; a obrigação do uso de telhas planas francesas importadas de Marselha;
proibição do despejo de águas provenientes dos telhados diretamente sobre o passeio público (o
que leva à importação de chapas de cobre e zinco); importação de ornatos e moldes de gesso,
arames, pregos, papéis de parede, tintas, ladrilhos e azulejos da Europa; importação de barrotes e
tábuas para soalhos e forros de Pinho-de-Riga (ZMITROWICS, 2005, p. 48). Segundo Lemos
(1985, p. 36-38), o Pinho-de-Riga era de talho fácil, com alta resistência à flexão, de
comportamento estável, e baixa susceptibilidade ao cupim.
39
Como os tijolos e telhas de barro cozido (FARAH, 1992, 135).
61

Poucos anos depois, aos primeiros passos da fabricação nacional de materiais,


começou a se questionar a falta de padronização de componentes. A revista A
40
Construcção em São Paulo, publicou muitos artigos sobre a “standardisação” das
construções, sendo que, em janeiro de 1924, teceu as primeiras considerações:

Uma construcção não precisa ser rigorosamente igual a outras, para


offerecer vantagens; basta que os elementos sejam iguaes e que se adopte
o mesmo typo, para se apreciar as vantagens [...].
Perguntar-se-á, como se pode construir em serie, sem serem todas as
casas eguaes. Muito fácil. Basta que o constructor adopte seus typos de
trabalho, procurando facilitar a execução e repetindo-os todas as vezes que
tenha trabalhos identicos. Parecerá, com isso, que o constructor passará de
homem de gosto a um simples fabricante. Contra essa objecção,
poderemos apontar os trabalhos feitos diariamente por archictectos de
nomeada, todos elles indicando a mão do mesmo individuo, e isto por
simples tendencia natural á repetição [...].
Com a “standadisação” pode-se conseguir muita economia de tempo, pois o
facto de encontrar todos os typos de materiaes promptos, muitos delles já
prearados de tal forma que só precisam ser assentados na obra, seria ideal.
Poder-se-ia chegar ao ponto de se fazer uma simples montagem no local
[...].
Assim, poderá o constructor achar muitos trabalhos que podem ser
repetidos de um modo sempre egual, com grande vantagem de preços.
Seria o ideal, si todos os constructores chegassem a um accordo e
adoptassem especificações e typos uniformes para todos os trabalhos e
realisassem a “standadisação” dos trabalhos de construcção, como as
fabricas americanas adoptaram para os seus productos, tendo grande
proveito financeiro e desenvolvendo prodigiosamente a grande nação
americana (A CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jan. 1924).

No mesmo artigo, expôs-se o problema das esquadrias, em vista da fabricação de


insumos de madeira ser a maior responsável pela paralisação de uma obra. “Porque
se ha de encommendar, para cada casa, as esquadrias, sendo necessario dar typos,
_____________
40
Há também uma edição da Revista Polytechnica, de 1924, comentando sobre a “standardisação”
comum a todos os países industriais. Nestes países existiam Comissões Oficiais, cujo objetivo era
reduzir a fabricação de produtos destinados à construção ao menor número de tipos, todos eles
caracterizados por ensaios de laboratório “consagrados pela prática” – definição oficial do termo
standard (FREIRE, 1924, p. 376).
62

dimensões, croquis e combinar preços? Porque não se ha de comprar portas e


janellas como se compra qualquer mercadoria?” (A CONSTRUCÇÃO EM SÃO
PAULO, jan. 1924).

Em março de 1924, a mesma revista apresentou um artigo sobre as vantagens


“standardisação” das esquadrias, reforçando a própria questão colocada em
publicação anterior. Entre elas estão:

 A construção poder “ser atacada ininterruptamente, sem que a falta das


esquadrias, dos batentes, etc. venha a entravar a marcha normal dos serviços”;
 A garantia de utilização de madeira seca e, consequentemente, a execução de
uma pintura a óleo com secagem mais rápida e sem manchas (conforme a
desigualdade do secamento da tinta, devido à umidade, umas partes ficavam
brilhantes, outras não);
 Economia de mão-de-obra e “presteza as fabricação, além da homogeneidade
dos typos fabricados”.

O assunto da padronização dos materiais continuou a ser abordado em edições


posteriores. Em abril de 1924, mencionou-se a falta de padrão na fabricação de
telhas:

É deveras lastimavel que, em S. Paulo, cada ceramica tenha o seu typo de


telha, com tamanho e detalhes differentes. Se extendermos a observação
sobre as ceramicas do interior do Estado e as do Paraná, a differença é
mais frisante. Cada fabrica nova que se monta, novo typo a apparecer.
Os inconvenientes são innumeros, pois não basta já apresentarem na
fabricação de uma mesma ceramica, telhas de tamanhos differentes, pela
desigualdade de cosimento e, entre ceramicas, a differença de qualidade de
barros e preparação.
Em uma reforma, augmento, ou mesmo numa telha que se quebro em um
telhado, se vê a difficuldade do problema que é achar telhas eguaes para
uma emenda ou substituir as quebradas. Ha casos de se precisar mudar um
painel inteiro de telhado por não se achar telhas eguaes para a substituição
ou emenda [...].
Outro inconveniente muito commum, nas construcções em S. Paulo, é o
que se dá quando tenha comprado um typo de telha e por um engano
63

qualquer ellas não bastam. É preciso mais um pouco; pede-se ao


fornecedor, este nao tem em deposito, está para receber, e assim perde-se
muitos dias para completar um telhado.

Já na edição de outubro de 1924, há uma discussão sobre a dimensão ótima dos


tijolos utilizados em São Paulo, visando a redução de tijolos por metro quadrado, de
argamassa, e de mão-de-obra. Menciona-se que o tijolo comum da cidade tinha 25 x
12 x 5,5 cm, porém que a dimensão 23 x 11 x 9 deveria ser estudada, pois haveria
“um augmento de volume e também uma diminuição considerável do numero de
tijolos por m. quadrado de parede”. A maior preocupação do autor residia na
resistência à compressão de uma parede executada com o tijolo de 9 cm de altura,
pois a “parede ter menos 2 centímetros de espessura nas paredes de 1 tijolo e a de
1 centímetro nas de ½ tijolo”.

Parece o problema ter persistido até julho de 1925, quando a revista novamente
comenta sobre a desunião da classe de engenheiros, que agrava a questão da
padronização dos componentes de construção:

O padrão dos materiaes que até agora nunca existiu, é um dos pontos
importantes em se tratando de construcções.
Encontram-se tijolos de todos os tamanhos e cores, frageis e quebradiços,
porosos e mal feitos, e o Architecto tem que se sujeitar a usal-os e pagal-os
por bom preço.
O mesmo acontece com as telhas. Não é possível ripar um telhado sem que
as telhas estejam na obra, pois as dimensões são sempre diversas. [...] É
necessario que as olarias façam tijolos e telhas de um tamanho
determinado, preenchendo as exigencias technicas (A CONSTRUCÇÃO EM
SÃO PAULO, jul. 1925).

Nota-se que, apesar da forte preocupação com a padronização de vários


componentes utilizados nas edificações, em nenhum momento se analisou a
integração dos componentes entre si. Bruna (1976) menciona o problema, cinqüenta
64

anos depois, mostrando que a falta de integração entre os produtores de materiais


se perpetuou41:

Verifica-se que a maioria das indústrias de materiais de construção limita-se


aos ciclos produtivos de suas unidades sem a menor preocupação em
oferecer um produto que seja coordenado em relação aos demais semi-
acabados. Não há preocupação com a pesquisa dimensional, com a oferta
de um material efetivamente de catálogo e de estoque (BRUNA, 1976, p.47-
48).

Sinalizando o lento desenvolvimento da indústria de materiais, Reis Filho (2002)


comenta que até 1940 (ano da criação da Associação Brasileira de Normas
Técnicas), a “industrialização dos materiais de construção seria tímida, em escala
modesta, quase artesanal. A indústria [...], no que se refere à construção, ensaiava
apenas alguns avanços” (REIS FILHO, 2002, p. 64).

O impulso necessário42 viria da dificuldade proporcionada pela Segunda Guerra


Mundial. A nova limitação de importação foi um dos elementos propulsores da nossa
indústria de materiais. Mais uma vez, o país se viu obrigado a substituir materiais
importados por produtos nacionais, que, aos poucos, foram se aperfeiçoando (REIS
FILHO, 2002, p. 90).

Porém, com o aprofundamento do conhecimento científico relacionado aos


materiais, e com a intenção da criação de normas técnicas para grande parte dos
produtos, forma-se um setor de produção de insumos para a construção civil, que
proporciona um ambiente favorável à racionalização da construção. Isso se alia à
difusão da construção em altura, e à busca pela mecanização.

_____________
41
A não integração entre os principais agentes da cadeia do setor de edificações da construção civil é
um dos pontos que dificultam o desenvolvimento tecnológico e a produção industrializada: não se
verifica a concordância entre diferentes agentes produtores de materiais, resultado em partes
intermediárias não compatíveis. A coordenação modular foi pensada somente a partir dos anos
1960, diante do grande déficit de habitações.
42
De fato, foi necessário um obstáculo que dificultasse as importações para que os produtos
nacionais passassem a ser utilizados. O cimento Rodovalho, por exemplo, produzido em Sorocaba
desde 1897, ainda não tinha ampla aceitação no mercado no início do século XX. Quem afirma
isso é Nagamini (1999, p. 108) analisando a pesquisa realizada para confecção do Manual de
Resistência dos Materiais: o cimento “Rodovalho” apresentou um dos melhores resultados, porém
sendo de procedência nacional, ainda assim duvidava-se de seu desempenho.
65

Havia agora o ensejo de um aperfeiçoamento permanente, de tal modo que,


no fim do período, com a extensão das influências e benefícios do mundo
industrial a proporções crescentes da população, já seria possível começar
a calcular o prazo de obsolescência de uma edificação. Sucediam-se os
esquemas num esforço para acompanhar as transformações da tecnologia
e dos costumes e, em torno de cada um deles, multiplicavam-se os
experimentos, em busca das melhores fórmulas de aproveitamento (REIS
FILHO, 2002, p. 50).

Verificou-se, um pouco depois, uma tendência de industrialização de componentes


que se difundiu nos países centrais nos anos 1960, com o objetivo de tornar o
canteiro de obras em local somente para montagem (FARAH, 1992, p. 122). Neste
contexto, surgiram as peças de concreto armado pré-fabricadas para a
superestrutura, apesar de que isso já havia sido desejado – e executado43 – nos
anos 1920:

Nas estruturas de cimento armado, si se pudesse ter catalogado as vigas


de cimento armado com as de ferro, de modo que só fosse necessario a
collocação no lugar, haveria grande lucro. Ha casos que se convem adoptar
a uniformidade, com prejuizo de material, para se obter a economia geral (A
CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jan. 1924).

Porém, a industrialização do modo de construir e a pré-fabricação pouco imprimiram


alterações nas habitações unifamiliares de alto padrão.

3.3.4.2 O caso do tijolo

Cristóvão Gonçalves pode ser considerado como o primeiro oleiro de São Paulo. Em
1575, “iniciou a batalha pela transformação da fisionomia do arraial, obrigando-se a
fazer telha para se cobrirem as moradas da vila [...] e foi fixado um padrão.
Gonçalves faria a telha de com tamanho e boa forma, que ficasse de dois palmos e

_____________
43
A pré-fabricação brasileira teve início na década de 1920, na produção de estacas, postes e tubos
(VASCONCELOS, 1988, p. 45).
66

meio, depois de cozida” (CONSTRUTORA MORAES DANTAS S.A., s.d.). Após


1590, muitas casas já tinham a sua cobertura composta por telhas.

O uso do tijolo foi muito restrito nos primeiros anos da capital paulista. Até o século
XVIII, o material era pouco usado por falta de conhecimento técnico, e talvez devido
ao custo das fôrmas e fornos necessários (ZMITROWICS, 2005, p. 46).

A primeira manifestação sobre o uso do tijolo é de 1850. O engenheiro polonês


Cristiano Wyzewzki redigiu um ofício, “recomendando esse tipo de construção para
evitar os graves danos que as casas de taipa sofriam com as inundações”
(ZMITROWICS, 2005, p. 50). Porém, no início da difusão de sua utilização, era mais
econômico importá-los, pois no exterior se possuía uma tecnologia capaz de fabricar
milhares de tijolos por dia (LEMOS, 1985, p. 41).

Conforme a demanda aumentava, aos poucos, as olarias começaram a aparecer em


locais de barro bom, “fazendo concorrência aos estabelecimentos que já produziam
telhas [capa-e-canal] e ladrilhos” (LEMOS, 1985, p. 41).

Segundo D’Alambert (1993, p. 30), as máquinas para produção de tijolo surgiram no


final do século XVIII. Antes disso, os tijolos eram produzidos manualmente. Porém,
essas máquinas foram importadas para o Brasil apenas no século XIX44. Ainda de
acordo com a autora citada, as máquinas para fazer tijolos e telhas deram início ao
processo de industrialização na área de construção civil mundial, por serem
inovações tecnológicas. As primeiras olarias a vapor de São Paulo – com produções
significativas – são das últimas décadas do século XIX, por iniciativa de imigrantes
alemães, italianos e franceses (D’ALAMBERT, 1993, p. 76).

A mecanização da produção de tijolos – que coincidiu com o início da produção de


cal – possibilitou o aumento da precisão geométrica das paredes, o que, em
conseqüência, viabilizou a produção mecanizada de portas e janelas (SILVA, 2003,
p. 27-29). Segundo Nagamini (1999, p. 85), na década de 1880, a cidade contava

_____________
44
Há notícia de um requerimento, datado de maio de 1859, solicitando a instalação de uma fábrica de
tijolos mecanizada (D’ALAMBERT, 1993, p. 75). Em 1867 surge a primeira olaria mecanizada em
Campinas (Sampaio Peixoto) (LEMOS, 1985, p. 41).
67

com cerca de 40 olarias, produzindo telhas e tijolos, situadas nas margens do Rio
Tietê, em bairros como a Barra Funda, Bom Retiro, Água Branca e às margens do
Rio Pinheiros. Já nos anos 1890, na periferia norte da cidade estavam concentrados
cerca de 4000 operários exercendo atividades em caieiras e pedreiras.

Entende-se que em 1905 já eram produzidos “tijolos” vazados, de dois ou seis furos,
pois constam na listagem dos corpos de prova que foram ensaiados no contexto da
elaboração do Manual de Resistência dos Materiais (NAGAMINI, 1999, p. 215).
Segundo a mesma autora, em 1911 é instalada a Companhia Paulista de Tijolos
Calcáreos, também enviados para o Gabinete de Resistência dos Materiais para
determinação do desempenho.

As primeiras manifestações da mecanização na produção de materiais da


construção e a presença dos imigrantes como trabalhadores assalariados
respondiam pelas alterações das técnicas construtivas nessa época.
Surgiam então as casas construídas com tijolos e cobertas com telhas tipo
Marselha, onde a madeira serrada permitia um acabamento mais perfeito
de janelas, portas e beirais. Estes últimos ostentariam ornamentos de
madeira serrada, conhecidos como lambrequins (REIS FILHO, 2002, p. 48).

Quanto às dimensões dos tijolos, parece não ter havido muito consenso nos
primeiros anos. Além de várias propostas divergentes quanto ao tamanho dos
componentes, a revista A Construcção São Paulo de junho de 1924 critica a lei n°
2332, de 1920, que regulamenta o material e as dimensões dos tijolos45, a qual não
era respeitada “por ninguém e nem mesmo pela prefeitura Municipal”. Neste número,
ainda se propõe que fosse promulgada uma lei que regulamentasse a produção de
tijolos, pois:

O construtor que tiver a ingenuidade de querer cumprir esse artigo da lei


2332, não encontrará fornecedor de tijolos que possa fornecer-lhe, pois este
não encontra olaria que fabrique tijolos de acordo com as exigências acima
[...]. Atualmente os tijolos têm, no máximo, 25 centímetros de comprimento,

_____________
45
Segundo o artigo 168, o tijolo podia ser de barro, sílico-calcáreo, ou de cimento, com as dimensões
mínimas de vinte e sete centímetros, por treze centímetros e por seis centímetros (comprimento,
largura e altura, respectivamente) (A CONSTRUCÇÃO SÃO PAULO, jun. 1924).
68

12 centímetros de largura e 5 a 5,5 centímetros de altura (A


CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jun.1924).

O Instituto de Engenharia abordou este assunto somente nos anos 1930, porém
assinalando que o problema ainda permanecia:

Quanto à desvantagem que se quiz assinalar para o tijolo proposto


comparando-o aquele do Código Arthur Saboya (270 x 130 x 60), antes de
prosseguir, devemos declarar que de 60 fabricantes diferentes de que
constaram as amostras analisadas pelo LEM, não apareceu nem um com
as medidas estabelecidas pelo Codigo. Não existem, a não ser que sejam
feitos sob encomenda (PEREIRA, 1932, p. 188).

Não podemos negar ter o Código de Obras da Prefeitura tratado


acertadamente esse problema, dando ao tijolo dimensões, talvez, mesmo
únicas, capazes de satisfazer o interesse da maioria. Infelizmente o Poder
Municipal não exigiu a obrigatoriedade da observância dessas dimensões,
resultando disso os fabricantes de tijolos terem iniciado não só diminuir o
tijolo como aplicar carimbos de espessura exagerada que vieram ainda
mais agravar os interesses do consumidor. Esses impressos de um dos
lados do tijolo, chegam, as vezes, a profundidade tal que, não raro, afetam
a resistência do tijolo, além de acarretar em prejuizo no uso da argamassa
que, sendo desprezado os estudos preliminares, exijam futuros acrescimos
do material, dando assim na pratica resultados bem diversos dos previstos
(RODER, 1932, p. 102).

Segundo Argilés (1993, p. 20), embora nem todos os tijolos fossem exatamente
iguais em suas dimensões, com seu uso, o desejo da modulação foi intensificado.
Alguns tijolos, no início, eram quadrados. Em pouco tempo passaram a ser
retangulares, até chegar à proporção do comprimento igual ao dobro da largura
menos um centímetro.
69

A B

C D

E F

Figura 3-11 – Tijolos do século XIX.


A) Tijolo burro. B) Tijolo burro, do século XVIII, com marca de mão de escravo. C) Tijolo, do século
XIX, da olaria Sampaio Peixoto (Campinas) com brasão imperial. D) Tijolo triangular, do século XIX,
da olaria Eduardo Amaral (Jundiaí). E) Tijolo quadrado, do século XIX, da olaria Vila Prates (Jundiaí).
F) Tijolo com marcas do século XIX. Fonte: D’ALAMBERT (1993, p. 37-38).

3.4 Alterações sociais

Após a descoberta do Brasil, não havia interesse por parte de nenhum profissional
de instalação na colônia de Portugal por sua difícil aclimatação, e pelas atenções
estarem voltadas para as especiarias das Índias. Inicialmente, para a Terra de Santa
Cruz46, vieram somente aqueles que visavam a extração do Pau-Brasil, espécie

_____________
46
Segundo nome do Brasil. O primeiro, “Ilha de Santa Cruz”, foi abandonado assim que se notou a
imensidão do território, segundo relato de Pero Vaz de Caminha. <
www.acervo.sp.gov.br/exposicoes/arquivos/nome_do_brasil.html> Acesso em 7 de fevereiro de
2011.
70

vegetal que possibilitava o tingimento de tecidos (vermelho) e a utilização de sua


madeira para móveis e construção de navios.

Em um segundo momento, Portugal percebeu a necessidade de proteger a sua


colônia, que, além de possuir o Pau-Brasil, passou a ser cobiçada por outros
governos, pois era vista como um possível acesso a minas de metais preciosos (Ex.
Potosí, na Bolívia):

Assim, de maneira geral, a ocupação territorial ocorreu, desde século XVI


até meados do século XVIII, através da posse e fixação dos colonizadores
nas proximidades do litoral ou nas margens dos rios, de modo a facilitar o
relacionamento e controle por parte da metrópole, assim como dar conta de
suas precárias formas de abastecimento de água e de seus meios de
transportes e comunicação (NAGAMINI, 1999, p. 35).

Nagamini (1999, p. 30) afirma que foram três grupos que iniciaram a colonização da
capitania de São Vicente: os religiosos, os mestres das corporações de ofício, e os
engenheiros militares. Porém, nos primeiros anos, a atratividade do planalto era
muito pequena para os dois últimos grupos citados, comparativamente às outras
capitanias produtoras de cana-de-açúcar. Portanto, os jesuítas – com o objetivo de
catequizar a população nativa – foram os precursores da ocupação de São Paulo47.

Motoyama (2004, p. 91) concorda com a última afirmação, e ainda completa dizendo
que algumas ordens religiosas acabaram por formar também “técnicos e artesãos
como os mestres de risco [...], oleiros, ladrilheiros, telheiros, pedreiros, canteiros,
rebocadores, carpinteiros, carapinas, entalhadores, ferreiros, serralheiros, latoeiros e
outros [...]”.

Posteriormente, com a descoberta de ouro nas “Minas Gerais”, o planalto passou a


ser mais interessante no sentido de permanência de outros profissionais, como os
das corporações de ofício.

_____________
47
Nomes de alguns profissionais que participaram da fundação de São Paulo: Segundo a Construtora
Moraes Dantas S.A. (s.d.) e Assunção (2007, p. 209), Cristóvão Gonçalves foi o primeiro oleiro (em
1575). O primeiro engenheiro militar a atuar em São Paulo, segundo Lemos (1985, p. 15), foi João
da Costa Ferreira, em fins do século XVIII.
71

3.4.1 A estrutura escravocrata

Parece ter vindo de Portugal o desprezo pelas atividades ditas manuais,


instaurando-se no Brasil uma estrutura escravocrata.

Segundo Pereira (1988, p. 17-18, 37-38), o preço do escravo africano não


compensava seu uso em São Paulo, uma vez que, para a metrópole, o nordeste era
muito mais significativo em termos de economia exportadora devido às plantações
de açúcar – o que mudou quando surgiram as primeiras plantações de café.
Portanto, naquela época, como “não se podia arcar com os custos de uma
escravaria africana, [...] [adaptou-se] ao trabalho indígena”.

A manutenção do índio como escravo era mais difícil do que a do negro, pois o
primeiro conhecia melhor o território do que seu algoz, o bandeirante. Em
contrapartida, alguns eram apenas convencidos pela palavra cristã de que deveriam
se juntar às companhias religiosas. Pereira (1988, p. 17) comenta que a relação de
trabalho entre os “negros da terra” e os portugueses era compulsória, apesar de
haver, em alguns casos, o pagamento de salários, os quais eram “mesquinhos”.

No início, a catequização dos índios pelos jesuítas era legítima. Por haver escassez
de mão-de-obra, o índio ajudava os religiosos com os trabalhos manuais:

Procurando-se dar um certo alinhamento e mais apuro às edificações


dessas casas para índios, o jeito foi os jesuítas se servirem, aliás, não só de
mestres de obra mas também de operários. Afonso Brás e seus
companheiros ajudaram na construção das casas necessárias para cada
família, arruadas e feitas à moda portuguesa, trazendo, junto com os índios,
a terra e a água às costas [...] (CONSTRUTORA MORAES DANTAS S.A.,
s.d.).

Contudo, após 1581, a ação dos jesuítas passou a ser marcada pela utilização do
índio como mera ferramenta:
72

[...] dividindo a ação dos jesuítas em dois momentos; um heróico e um


posterior de degeneração. A assim chamada “idade d`oiro dos jesuítas” foi
limitadíssima, correspondendo, na Europa e no Brasil, aos primeiros 40
anos de atuação da ordem [Nóbrega e Anchieta]. [...] A partir da ascensão
do superior Acquaviva em 1581 impôs-se nova orientação para toda ordem,
que passou a ser marcada por “restrições mentais”, busca das “pompas e
vaidades do mundo” e a mais funesta intromissão nos assuntos do governo
[...] (FERRETTI, 2004, p. 76).

É nesse contexto que se sucederam algumas das Reformas Pombalinas, como a


expulsão dos jesuítas da colônia, em 1759, e a abolição da escravidão indígena, no
final do século XVIII. Assim, não havia mais nenhum agente se contrapondo às
intenções do governo; ao mesmo tempo, possibilitava-se a real integração do índio
na colonização da região, através do trabalho remunerado48.

Segundo Pereira (1988, p. 37-38), a compra do escravo africano para São Paulo só
passou a ser possível quando surgiram as primeiras plantações de café. E, no final
do século XIX, o planalto era um dos principais “consumidores” do trafico negreiro:

Na conformação social de São Paulo, modificaram-se os dois extremos da


pirâmide. Na base, devido à alta demanda de mão-de-obra, ocorreu um
significativo aumento de população escrava, e São Paulo se tornou, dos
anos 1860 a 80, juntamente com a província do Rio de Janeiro, a principal
meta do tráfico interno de escravos. Junto à população de caipiras livres
pobres e um contingente imigrante que até 1886 manteve-se relativamente
pequeno, o considerável aumento da população de escravos transformou a
província em um dos principais focos de tensão social de todo o país [...]. A
despeito de uma imagem progressista da elite cafeicultora paulista, São
Paulo de finais do século XIX era um dos bastiões do escravismo nacional
(FERRETTI, 2004, p. 139).

_____________
48
O índio escravizado representava mais um “corpo estranho”, juntamente com o negro africano, que
comprometia a formação da nação (FERRETTI, 2004, p. 52).
73

3.4.2 As corporações de ofício

Segundo Gama (1987, p. 83), as corporações de ofício, também conhecidas como


guilda ou grêmio, eram associações medievais de artesãos ou de comerciantes.
Dentre os objetivos dessas associações, de caráter urbano, estavam: a garantia do
monopólio do exercício da profissão, o controle da qualidade do serviço e da jornada
de trabalho, a formação de profissionais por meio do sistema de aprendizado, e a
assistência aos membros em caso de doença ou similares. Porém, o mesmo autor
(GAMA, 1987, p. 106-107) acrescenta que as corporações apresentaram
dificuldades de adaptação à realidade da colônia por não haver as condições de
trabalho livre e nem o surto de crescimento, verificados na Europa da Idade Média.

É de 1572 o Regimento que ditava os exames a serem aplicados para o


reconhecimento profissional em Portugal e suas colônias (ZMITROWICZ, 2005, p.
45). Para conseguir o título de mestre de risco49, “o pretendente tinha de submeter a
um longo período de aprendizagem diretamente com um mestre reconhecido, como
na Idade Média” (MOTOYAMA, 2004, p. 90). Gama (1994, p. 56) confirma que a
técnica construtiva do Brasil colonial progredia por meio do empirismo, isto é, do
aprendizado prático.

No entanto, o florescimento das corporações, no Brasil, foi bastante dificultado, pois


tinha de conviver lado a lado com a escravidão (PEREIRA, 1988, p.37) e o desprezo
profundo pelo trabalho. Apesar de o sistema escravocrata prover farta mão-de-obra,
a produtividade era muito baixa, principalmente pelas técnicas de construção
portuguesas serem consideradas, na época, inovadoras (ZMITROWICZ, 2005, p.
45).

_____________
49
De acordo com ZMITROWICZ (2005, p. 45), a nomenclatura “mestre de risco” vem da tradição
medieval. Eram assim chamados os “artífices legalmente licenciados para projetar e construir,
cujos conhecimentos haviam sido adquiridos diretamente de outro mestre, como aprendizes [...]”.
Nagamini (1999, p. 45) explica que a denominação era comum devido ao fato do “mestre riscar no
terreno, um plano prévio com a localização das paredes e outros detalhes construtivos, antes de
iniciar a construção”.
74

Por São Paulo ter uma importância secundária no contexto colonial, sem grandes
plantios de valia para Portugal, era, ainda, uma localidade menos atrativa para a
fixação de artesãos (PEREIRA, 1988, p. 6), o que fez com que, no princípio, os
próprios jesuítas exercessem a função dos mestres de risco. Segundo Pereira (1988,
p. 38), “às vezes, não havia quem soubesse fazer; em outras ocasiões, não havia
trabalhadores em número suficiente, resultando em dificuldades para a realização de
algumas obras”.

Uma outra possível conseqüência foi o fato de que “os primeiros a vir – a maioria de
Portugal – nem sempre eram do ofício a que diziam pertencer” (MOTOYAMA, 2004,
p. 90).

Motoyama (2004, p. 90) e Zmitrowicz (2005, p. 45) afirmam que, mesmo assim, a
responsabilidade das obras construtivas com alguma importância recaía geralmente
no mestre de risco até um pouco após a Constituição do Império de 1824, que
revogou o Regimento das Corporações de Ofício.

Contribuindo para a extinção das Corporações de Ofício, a vinda da côrte


portuguesa importou a Missão Técnica e Artística Francesa (em 1816), que, em
pouco tempo, seria responsável pela fundação da Escola de Belas Artes (1826),
instituição com o objetivo de implementar o ensino técnico no país. Sobre a
“Missão”, Reis Filho (2002) cita:

O objetivo de D. João VI era utilizar os mestres europeus para “estabelecer


no Brasil uma Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, em que se promova
e difunda a instrução e conhecimentos indispensáveis aos homens
destinados não só aos empregos públicos da administração do Estado, mas
também ao progresso da agricultura, mineralogia, indústria e comércio,
fazendo-se portanto necessários aos habitantes o estudo das Belas Artes
com aplicação referente aos ofícios mecânicos cuja prática, perfeição e
utilidade dependem dos conhecimentos teóricos daquelas artes e difusivas
luzes das ciências naturais, físicas e exatas” (REIS FILHO, 2002, p. 116).

Nagamini (1999, p. 57) ressalta que a iniciativa de formação de quadros técnicos era
fundamental, pois as corporações foram extintas, a escravidão estava em declínio e
75

a instalação de manufaturas havia sido liberada. Farah (1992) completa: “Teve início
aí, inclusive em atividades relacionadas com a construção, um processo de
formação profissional de caráter formal, distinto do que caracterizava as
corporações, de base iniciática” (FARAH, 1992, p. 129).

3.4.3 Os imigrantes

Os primeiros artesãos europeus que constituíram as corporações de ofício poderiam


ser considerados como os primeiros imigrantes para a região do planalto. Porém,
eram em número muito inferior ao de estrangeiros que chegaram após o incentivo do
governo. Por isso, existe a distinção entre os estrangeiros que vieram antes e depois
da imigração subsidiada50, na qual grandes contingentes de pessoas
desembarcaram no litoral santista. Esta foi a solução que a elite paulistana
encontrou para a forte pressão pela abolição da escravidão, por parte dos ingleses.

Como exemplo do movimento imigratório – que teve um início tímido para depois
tornar-se expressivo – foi a chegada dos primeiros alemães em 1820. O número
cresceu por volta de 1850, para chegar ao seu ápice em 1870:

[...] dentre os imigrantes vieram alguns pedreiros e construtores, que


trouxeram de sua terra natal um conhecimento técnico-construtivo mais
‘civilizado’ e uma nova linguagem arquitetônica e estilística. Estes artífices
foram aos poucos penetrando no ramo de construções da cidade e
ampliando sua área de atuação, ao executarem obras ‘modernas’, segundo
novos preceitos técnicos e estéticos. Acredita-se que os profissionais
alemães tenham sido os introdutores do sistema construtivo da alvenaria de
tijolos em São Paulo, na década de 1850.
[...]
Na década de 1870, chegaram a São Paulo inúmeros arquitetos e
engenheiros alemães interessados em projetar e construir na capital

_____________
50
Segundo gráfico disponível em <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/imigracao/estatisticas.php>
(acesso em 12 fev. 2011), a imigração subsidiada teve início, aproximadamente, em 1895, com
pico em 1905, e queda vertiginosa até 1915. O incentivo por parte do governo foi encerrado em
1927. A imigração espontânea cresceu lentamente, superando a subsidiada por volta de 1913.
76

paulista. Estes profissionais foram os responsáveis pela introdução do


Ecletismo nas construções paulistanas. O novo estilo, incentivado pela
mudança de gosto da sociedade local, apoiava-se na nova técnica
construtiva, sendo em alvenaria de tijolos os prédios executados por esses
construtores alemães (D’ALAMBERT, 1993, p. 90).

Segundo D’Alambert (1993, p. 9) as primeiras levas significativas de imigrantes


europeus destinados às lavouras de café chegaram a partir de 1871 (portugueses,
espanhóis, eslavos e, principalmente, italianos). A Itália teve um papel de destaque,
uma vez que o país passava por um momento de conflito político e social. Além
disso, o italiano se adaptava melhor ao trabalho e às condições da região.

Figura 3-12 – Entrada de um vapor com imigrantes.


Fonte: Fotografia disponível em <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/imigracao/>. Acesso em 12 fev.
2011.

Porém, a intensa imigração ocorreu a partir de 1888 (ver tabela 3.1), o que elevou a
porcentagem de europeus a ultrapassar 50% do total da população do Estado, e à
tendência de abandono do período colonial (REIS FILHO, 2004, p. 139-140). Apesar
do destino original ser a lavoura, Simonsen (1939, p. 338) comenta que devido à
super-produção de café na virada do século, houve uma desvalorização do grão e
redução de salários, o que levou a uma migração para a área urbana.

O aumento do número de pessoas tornou imprescindível a atuação dos próprios


imigrantes na sociedade e também na construção civil (D’ALAMBERT, 1993, p. 10-
11).
77

Tabela 3-1 – Entrada de Imigrantes no Estado de São Paulo – 1970 a 1939.

Ano Quantidade Ano Quantidade Ano Quantidade Ano Quantidade


1870 159 1888 91.826 1906 46.214 1924 56.085
1871 83 1889 27.694 1907 28.900 1925 57.429
1872 323 1890 38.291 1908 37.278 1926 76.796
1873 590 1891 108.688 1909 38.308 1927 61.607
1874 120 1892 42.061 1910 39.486 1928 40.847
1875 3.289 1893 81.745 1911 61.508 1929 53.362
1876 1.303 1894 48.947 1912 98.640 1930 30.924
1877 2.832 1895 139.998 1913 116.640 1931 16.216
1878 1.678 1896 99.010 1914 46.624 1932 17.420
1879 953 1897 98.134 1915 15.614 1933 33.680
1880 613 1898 46.939 1916 17.011 1934 30.757
1881 2.705 1899 31.172 1917 23.407 1935 21.131
1882 2.743 1900 22.802 1918 11.447 1936 14.854
1883 4.912 1901 70.348 1919 16.205 1937 12.384
1884 4.868 1902 37.831 1920 32.028 1938 8.549
1885 6.500 1903 16.553 1921 32.678 1939 12.207
1886 9.534 1904 23.761 1922 31.281
1887 32.110 1905 45.839 1923 45.240 Total 2.429.711
Fonte: <http://www.memorialdoimigrante.sp.gov.br/historico/index.htm>. Acesso em mar. 2007.

As técnicas italianas, por exemplo, eram diferentes das técnicas portuguesas: “Os
italianos preferiam, por exemplo, os alicerces de tijolo aos de pedra, e na carpintaria
usavam pregos ao invés de parafusos, o que tinha o efeito de mudar as
possibilidades estruturais de certas madeiras [...]” (LOUREIRO, 1981, p. 33). “Pelas
mãos dos artesãos italianos as fachadas das casas paulistas receberam elementos
decorativos, [...] a despeito dos modelos arquitetônicos eruditos produzidos pelos
arquitetos europeus para a elite paulistana” (D’ALAMBERT, 1993, p. 10-11).

Segundo Lemos (1985, p. 86), além da técnica, o imigrante provocou alterações nos
programas de necessidades das habitações. Reis Filho (2004, p. 142) completa,
afirmando que não foi só a casa que foi alterada, mas também o padrão das
construções, de acordo com as posses de seu morador (aparecimento de bairros
industriais e operários).

Os artesãos estrangeiros trouxeram de seu país de origem um nível técnico e


cultural superior ao da média dos paulistas. Com isso, tornaram-se os responsáveis
pela quebra do preconceito com “as atividades manuais, relegadas ao escravo. [...] a
atividade artesanal voltou a ser respeitada e colocada em lugar de destaque,
78

enquanto forma de invenção e de expressão humana” (D’ALAMBERT, 1993, p. 10-


11).

Foi um período no qual a construção ficou totalmente sob o domínio dos mestres-de-
obras (capomastri), aos quais cabia a direção e realização de todas as técnicas
construtivas. Somente com a ampliação da atuação do engenheiro civil – a qual, no
início estava limitada ao cálculo – que a solução de problemas técnicos passou a ter
uma parcela de métodos e teorias científicas (após a criação do primeiro laboratório
de materiais) (VARGAS et al., 1994).

3.4.4 A necessidade de qualificação da mão-de-obra

Com o fim das corporações de ofício, logo se assistiu a um declínio, intensificado a


cada geração, do conhecimento por parte dos mestres-de-obras. Era necessário
criar uma instituição que possibilitasse incutir um conhecimento maior e mais
sistematizado em um nível para os operários. Em 1873 foi fundada a Sociedade
Propagadora da Instrução Popular, instituição leiga e particular que deu origem, em
1883, ao Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Em 1885 foi criado o Liceu de Artes
e Ofícios do Sagrado Coração de Jesus (GAMA, 1987, p. 150-151).

De acordo com Nagamini (1999, p. 234), o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo
buscava atender essa exigência de qualificar profissionais capazes de exercer
atividades em novos moldes relacionadas com a construção civil.

A mentalidade empresarial nascente, associada a determinados grupos


políticos, iria manifestar-se também através de campanhas pela educação
popular e preparação de quadros de oficiais mecânicos. [...] A iniciativa não
era isolada; [...] “a sua atividade foi acompanhando o movimento favorável à
educação popular de fim profissional, que se manifesta
contemporaneamente em institutos de caráter oficial [...]”. Utilizando
principalmente a experiência de mestres europeus, o Liceu permitiu a
formação de mão-de-obra local, que veio auxiliar os construtores, tornando-
79

os aos poucos menos dependentes do mercado externo (REIS FILHO,


2002, p. 149).

Bruna (1973, p. 14) alerta que a solução proposta pelo Liceu, no sentido de formar
operários, “além de ser longa, é cara, correndo-se o risco de formar uma mão-de-
obra anacrônica”, e acabava por “manter uma estrutura de trabalho artesanal”.

Já o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI, o qual foi organizado em


1942, tentou superar a falha do Liceu, com o intuito de formar operários
especializados. Nagamini (1999, p. 234) afirma:

Por sua vez, a organização do SENAI, em 1940, marca a instalação de um


outro tipo de modelo educacional, talves mais atualizado, capaz de atender
demanda de quadros técnicos em regiões diferenciadas, guardando
vínculos estreitos com as indústrias locais para garantir a absorção dos
seus diplomados e ao mesmo tempo preencher às expectativas em termos
de qualificação de mão-de-obra. Ainda que a atuação do SENAI faça-se
sentir muito mais após o período da nossa pesquisa, o fato de, na época,
significativos segmentos da sociedade reivindicarem a criação de
estabelecimentos escolares baseados nesse modelo, com estreitas
relações com a organização racional do trabalho, indicam que as indústrias
de construção no seu processo de formação, já necessitavam desse tipo de
técnicos (NAGAMINI, 1999, p. 234).

3.5 A cientifização das atividades

Durante o período do Brasil Colonial, as técnicas construtivas estavam muito longe


da tecnologia. “Na verdade, todas elas se processaram e progrediram sobre o
sistema de aprendizado, na prática” (GAMA in VARGAS et al., 1994).

Após a intervenção do Marquês de Pombal, em 1763, introduziram-se conceitos


científicos na formação de engenheiros militares (VARGAS, 1994, p. 195). Porém
como foi exposto anteriormente, somente com a mudança da Família Real para o
Brasil que foram criadas instituições técnicas e artísticas, esboçando-se o início da
80

cientifização das atividades. É nesse momento que o país efetivamente entra em


contato com a ciência moderna (VARGAS et al., 1994, p. 18). A forma com que
implantaram tais instituições, porém, foi incipiente, pois, de acordo com Lemos
(1979, p. 17), com a forte demanda por novos estilos arquitetônicos, lançou-se mão
de novas técnicas construtivas, as quais, segundo o mesmo autor, foram
“bruscamente empregadas sem terem sido longamente testadas”:

A partir da Revolução Industrial as novas soluções vieram de roldão não


dando tempo a experimentos conclusivos. Aos tijolos laminados, às grandes
placas de vidro plano, às estruturas metálicas altamente racionalizadas, ao
concreto armado [...] sucedeu uma arquitetura imposta ao povo sem que ele
tivesse opções regionais [...]. Ao contrário da arquitetura tradicional,
daquela vernácula [...] (LEMOS, 1979, p. 17).

A verdadeira fase científica, na qual se deu início a um estudo aprofundado dos


materiais, aconteceu após a formação dos cursos superiores de engenharia e
arquitetura, como será visto a seguir.

3.5.1 A primeira instituição de ensino superior paulistana – A Escola


Politécnica

Foi em 24 de agosto de 1893, com a promulgação da lei n. 191, que a Escola


Politécnica foi criada51:
Uma escola superior de mathemáticas e de sciencias applicadas às artes e
industrias, sob a denominação de Escola Polytechnica de S.Paulo, devendo
a mesma compor-se de cursos especiais que serão criados por lei em
epoca opportuna, além dos cursos seguintes:
De engenharia civil, com 5 annos de estudos.
De engenharia industrial, com 5 annos de estudos.
De engenharia agrícola, com 3 annos de estudos.
De um curso annexo de artes mecânicas, com 3 annos de estudos.
(NAGAMINI, 1999, p. 99).

_____________
51
Com inauguração oficial em 15 de fevereiro de 1894 (NAGAMINI, 1999, p. 100).
81

O curso estava estruturado da seguinte maneira: após o cumprimento de um curso


preliminar, o aluno passava para uma etapa fundamental, de dois anos de duração.
Nesta etapa, seriam passados os conceitos das matemáticas elementares, palavras
de Paula Souza52, em discussão do projeto no Congresso Legislativo de São Paulo
(NAGAMINI, 1999, p. 98).

Após completar a primeira etapa, o aluno poderia optar entre as profissões acima
assinaladas, em um curso de três anos de duração (NAGAMINI, 1999, p. 101) (ver
tabela 3.2).

Tabela 3-2 – Disciplinas que compunham o curso de engenharia.

Ano / Disciplinas53
curso Engenheiro Engenheiro-arquiteto
Estudo dos materiais de construção, teoria
da resistência dos materiais e grafoestática.

Tecnologia das profissões elementares

Substituída por Elementos de


1 Mecânica aplicada às máquinas
arquitetura. Estudo de detalhes.

Arquitetura civil e higiene das habitações

Aula - Projetos e construções de desenho


de máquinas

Estabilidade das construções

Tecnologia do construtor mecânico

Hidráulica, abastecimento d'água, esgoto e


2
saneamento das cidades

Física industrial

Aula - Épuras e projetos

_____________
52
Antônio Francisco de Paula Souza, responsável pela aprovação do projeto da Escola Politécnica, e
primeiro diretor da instituição, por “reconhecimento pela sua luta em prol do ensino técnico e da
engenharia” (NAGAMINI, 1999, p. 99).
53
Em 1913 já era ensinado o cálculo das estruturas de concreto, com auxílio de apostila elaborada
por Paula Souza. A partir de 1918, foram incluídas as disciplinas Tecnologia da Construção Civil e
Tecnologia da Construção Mecânica, ambas ministradas por Victor da Silva Freire (VARGAS et al.,
1994, p. 23).
82

Ano / Disciplinas53
curso Engenheiro Engenheiro-arquiteto
Estradas, pontes e viadutos.

Navegação interior, canais, portos do mar e Substituída por Estética das artes do
faróis. desenho
Substituída por História da arquitetura.
3 Estradas de ferro (tráfego)
Estilos diversos.
Economia política, direito administrativo e
estatística.

Aula - Projetos e orçamentos

Fonte: NAGAMINI (1999, p. 102).


Os alunos que optassem pela profissão de engenheiro-arquiteto deveriam cursar as mesmas
disciplinas que o engenheiro civil, com algumas exceções. Na tabela acima, à direita, estão
demonstradas as disciplinas exclusivas do engenheiro-arquiteto, que substituíam as disciplinas
imediatamente sua à esquerda.

Vargas (2005, p. 15) ressalta a diferença entre a instituição existente no Rio de


Janeiro e a Politécnica de São Paulo. Esta seguia o modelo das Escolas Superiores
Técnicas germânicas, onde se ensinava engenharia com base nas ciências físicas e
matemáticas, porém acompanhada de um intenso ensino técnico em oficinas e
gabinetes experimentais.

Ainda, Santos (1985, p. 256) afirma que o curso de engenharia civil tinha a
possibilidade da extensão para arquitetura, com ênfase no caráter racional e
construtivo da obra, voltado para as tendências do movimento eclético. Sobre a
criação do curso de engenheiros-arquitetos, Luiz Inácio Romeiro de Anhaia Mello
menciona:

Não escapou à intuição genial dos eméritos fundadores da nossa Escola


Politécnica, a conveniência e necessidade de incluir um curso de
engenheiros arquitetos entre os vários do novo instituto. O fato é deveras de
se acentuar, porque na época, último quartel do século dezenove, andava a
Arquitetura divorciada da Construção; era interpretada em termos de massa
e espaço, e o ensino se baseava em dados predominantemente estéticos e
não em função e estrutura, o que parecia caber melhor numa politécnica
(SANTOS, 1985, p. 239).
83

De acordo com Vasconcelos (2005, p. 64-65), nas primeiras construções de


edificações residenciais em que o engenheiro-arquiteto54 pôde participar, houve uma
forte resistência por parte dos mestres, os quais ainda detinham o conhecimento do
“como construir”, mais vasto em comparação ao conhecimento absorvido pelo
profissional recém-criado. Esta recusa explica o exíguo uso de inovações
tecnológicas – que, no período, já estavam surgindo no mercado sem serem trazidas
por um contingente imigratório – nas construções. Já os engenheiros civis formados
pela Politécnica, no início, voltavam-se principalmente para a construção de obras
públicas, como, por exemplo, estradas de ferro e portos de escoamento, sem
resistência alguma por parte dos mestres, uma vez que eram atividades em que não
tinham experiência (VARGAS, 2005, p. 14). Portanto, “era natural que o concreto
armado demorasse mais para ser implantado em construções não ferroviárias”
(VASCONCELOS, 2005, p. 67).

Essencial para a promoção da atividade do engenheiro-arquiteto foi Antônio


Francisco de Paula Ramos de Azevedo, um dos fundadores da Escola (SANTOS,
1985, p. 245). Ao fundar o Escritório Técnico Ramos de Azevedo, em 189655, inicia-
se o desenvolvimento da indústria de construção de edifícios (VARGAS, 2005, p. 17)
56
. De acordo com Santos (1985, p. 245), o Escritório foi um dos centros difusores de
novas técnicas construtivas como a aplicação do ferro, a sistematização do uso do
tijolo, e, mais tarde, a utilização do concreto.

Ganhando força com a abertura de empresas construtoras, e com o aumento dos


profissionais formados, a regulamentação da profissão57 era inevitável. Diversos

_____________
54
Desde o início, havia uma clara distinção de funções entre as duas variáveis da profissão que
lidava com construção civil: a arquitetura era voltada para a construção de casas e de prédios; a
engenharia civil era voltada para a parte de saneamento e de pavimentação (FICHER, 2005, p.
26). Tal distinção agravou-se com o passar do tempo, até que, em 1948, a formação do arquiteto
ficou ao encargo de uma nova instituição: a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. A divisão foi
extremamente deletéria para ambos profissionais, uma vez que afastou novamente a técnica da
estética – repetição do que acontecera no último quartel do século XIX, fato repudiado por Anhaia
Mello (ver citação acima).
55
Santos (1985, p. 245) afirma que a fundação do “Escriptorio Technico Ramos de Azevedo” se deu
em 1884.
56
Importantes construtoras têm origem a partir desse marco: a Severo e Villares foi originada a partir
do Escritório Técnico. Outra construtora digna de menção é a Construtora de Santos, organizada
por Roberto Simonsen (VARGAS, 2005, p. 17).
57 o
Aconteceu em 11 de dezembro de 1933, por meio do decreto n 23.569, na ocasião da criação do
Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura.
84

profissionais se mobilizaram no sentido de monopolizar o direito de exercer a


profissão na década de 1930, entre eles Christiano Stockler das Neves:

Christiano Stockler das Neves [...], defendia, junto com outros arquitetos,
[...] a necessidade de regulamentar a profissão, pois: “A maior aspiração de
todos os architectos é a regulamentação de sua profissão, afim de que seja
protegida e não soffra a concorrência desleal dos que não possuem as
qualificações necessárias ao exercício de tão nobre carreira” (NAGAMINI,
1999, p. 159).

Outro problema apontado por Christiano das Neves referia-se aos


“empreiteiros e mestres de obras sem qualificações, isto é, somente
práticos, sem cultura geral. A regulamentação deve impedir que assumam o
título de architecto, não podendo projetar ou construir sem a direcção de um
profissional legalmente habilitado no exercício da architectura”. Para tanto,
por ocasião da regulamentação, seria importante garantir a realização de
um exame de habilitação para esses construtores com mais de 10 anos de
experiência (NAGAMINI, 1999, p. 160).

Farah (1992, p. 147) aponta este momento como crucial no “deslocamento da


responsabilidade pelo ato de construir para engenheiros e arquitetos, detentores de
um conhecimento técnico, em detrimento dos trabalhadores-empreiteiros,
possuidores de um saber prático”. Iniciou-se uma luta “contra os simples
construtores e os diplomados no exterior”, a qual foi consolidada com a criação58 dos
Conselhos Regionais de Engenharia e Arquitetura – CREA, cuja função era garantir
a prática da profissão somente para as categorias habilitadas pelo conselho, além
de fiscalizar as atividades de projeto e construção.

O ápice da evolução do conhecimento promovida pela Escola Politécnica se deu em


1964, com a criação dos cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado) na área
de Engenharia Urbana e de Construções Civis (SANTOS, 1985, p. 294). Vale
ressaltar que somente após a criação dos cursos mencionados é que se iniciam
estudos voltados para análise da formação do setor da construção civil paulistana –

_____________
58
A regulamentação da profissão foi consolidada pela Resolução n° 2, de 23 de abril de 1934
(<www.creasp.org.br>. Acesso em 27 fev. 2011).
85

Farah (1992) e Motoyama (1994) relatam que os primeiros registros relativos à


formação do mercado são dos anos 1970.

3.5.2 A criação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT

O mérito da Escola Politécnica, que pode ser reconhecido como propulsor da


cientifização da construção civil paulistana, foi o profundo estudo dos materiais
realizado pelo Gabinete de Resistência dos Materiais, cujas atividades se iniciaram
em 1899. Vasconcelos (1985) aponta o Manual de Resistência dos Materiais,
publicado em 1905 pelo Grêmio Politécnico, como fruto do trabalho desenvolvido.

Após uma década de atuação, Santos (1985, p. 139) afirma que o acúmulo de
experiência por parte do Gabinete de Resistência dos Materiais colocou a Escola
Politécnica como “a principal instituição produtora de tecnologia civil no Estado”.
Além disso, de maneira a se adequar ao desenvolvimento tecnológico do setor e às
solicitações do mercado paulistano, diversas reformas foram aplicadas na estrutura
do curso de engenharia civil (SANTOS, 1985, p. 141).

Em 1926, Ary Torres transforma o Gabinete de Resistência dos Materiais em


Laboratório de Ensaio dos Materiais (LEM), visando ao atendimento das demandas
do mercado da construção civil paulista. É nesse laboratório que se iniciaram as
pesquisas sobre o uso do novo material – o concreto (REIS FILHO, 2004, p. 154-
155; VARGAS, 2005, p. 18).

Em 1934, o então Laboratório de Ensaios de Materiais da Escola


Politécnica de São Paulo transforma-se em Instituto de Pesquisas
Tecnológicas. Destacam-se entre as suas atribuições: a execução de
pesquisas em caráter experimental e de interesse para as indústrias e
empresas particulares; atuação como laboratório estadual de ensaio de
materiais e de metrologia para auxiliar na uniformização de métodos,
normas e padrões para os órgãos públicos, além de servir como laboratório
didático para os cursos de engenharia (NAGAMINI, 1999, p. 225).
86

A partir de então foi decisiva a participação da Escola Politécnica no


fornecimento da tecnologia para a implantação do concreto armado entre
nós, culminando com a verticalização da cidade, a partir dos anos quarenta.
Nessa área, deve-se destacar a contribuição do professor Ary Frederico
Torres, pioneiro das pesquisas sobre a dosagem racional do concreto para
alcançar as resistências previstas nos projetos (SANTOS, 1985, p. 139).

3.5.3 A criação da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT

Outro dos reforços da cientifização das atividades foi a criação da ABNT, em 1940
como diz Nagamini (1999):

A pesquisa tecnológica ganha uma forte aliada com a constituição da


ABNT, em 1940. Ela é resultante da participação de engenheiros e técnicos
em diferentes ramos da indústria e laboratórios de pesquisa do país. Esse
movimento também contou com o apoio de Roberto Simonsen, um dos
defensores da necessidade de uniformizar normas e padrões para produtos
industriais [...] (NAGAMINI, 1999, p. 223-224).

A utilização do concreto foi devidamente regulamentada59 após a aprovação da NB-


1, voltada para execução e cálculo do concreto armado, elaborada – com a
participação da ABCP – em 1937 (SANTOS, 1985, p.139). Na seqüência, se
elaborou a NB-2, voltada para pontes em concreto armado e a NB-4, para lajes
mistas (NAGAMINI, 1999, p. 227). Apesar do foco inicial ser o concreto armado, a
intenção de normalizar / padronizar se estendeu para outros produtos industriais
(NAGAMINI, 1999, p. 225).

Vasconcelos (1985), porém, analisa a questão, destacando um aspecto negativo da


normalização:

_____________
59
A primeira regulamentação que cita o concreto é de 1929; porém, é muito genérica
(VASCONCELOS, 1985). A consolidação do conhecimento relativo ao concreto armado, segundo
Santos (1985, p. 139), deu-se com a publicação do livro “Cálculo de Concreto Armado”, do
professor Telêmaco van Langendonck, em 1944.
87

A norma é uma faca de dois gumes. Se, por um lado, evita que aconteçam
acidentes, impondo exigências a serem cumpridas ou impedindo que se
cometam exageros, por outro lado cerceia a liberdade criativa e limita o
progresso. As limitações impostas são às vezes conseqüência da falta de
conhecimento mais profundo de algum problema. Os ensaios abrangem na
maioria dos casos, apenas determinadas faixas de utilização, sendo
temerário fazerem-se extrapolações não documentadas [...]
(VASCONCELOS, 1985, p. 56).

Portanto, pode-se dizer que a criação da ABNT foi fundamental para a generalização
da utilização do concreto em todos os tipos de construção, em São Paulo ou no
Brasil.

Atualmente, as normas técnicas da ABNT estão mais voltadas para “especificações


que definam as qualidades dos produtos; a elaboração de normas que estabeleçam
regras para a execução de serviços; a imposição de padrões que reduzam os tipos
produzidos de serviços; a imposição de padrões que reduzam os tipos produzidos a
um número mais econômico; e a fixação de terminologias que uniformizem as
designações técnicas em todo país” (MEIRELLES, 2005 apud FIESP, 2008).

3.6 Sustentabilidade

Na visão de consumo de materiais, Cianciardi (2004, p. 48) afirma que a construção


de habitações começou a ter impacto deletério no meio ambiente paulistano já
durante o sistema construtivo taipa60, pois havia o “desbaste inconseqüente das
florestas pelos colonizadores”, tanto para a formação dos taipais, quanto para a
queima de telhas. O sistema construtivo posterior, a alvenaria, apesar de atender
melhor às exigências de conforto dos usuários, demandava mais madeira para a

_____________
60
Lemos (1979, p. 62), todavia, considera Afonso Brás, padre taipeiro, como pioneiro na seleção
ecológica de materiais de construção.
88

queima de tijolos61 e telhas. Já o concreto, para ser produzido, consome muitos


recursos naturais e emite muito CO2 para a atmosfera.

No entanto, no ponto de vista da vida útil das habitações, pode-se notar um


progresso, diante da história construtiva paulistana. Com a evolução das técnicas
construtivas, houve uma adequação aos fatores climáticos da região, bem como um
aumento da durabilidade das construções.

Além disso, durante o período dominado pelo concreto, coincidente com o


movimento moderno, pode-se dizer que foram inseridos elementos projetuais a favor
de uma melhor eficiência energética, como o uso de elementos vazados (ou
cobogós) e brise-soleil.

As primeiras manifestações brasileiras concretas visando à sustentabilidade são dos


anos 1960, com a Conferência Internacional sobre a Utilização Racional e a
Conservação dos Recursos da Biosfera, organizada pela UNESCO62.

Visando à adequação das construções ao contexto sustentável, inicia-se a busca


pela “casa ecológica”:

A construção ecológica é aquela edificada quase sempre instintiva e


intuitivamente, que utiliza tecnologia e recursos naturais locais (não
industrializados) com um mínimo de alteração e impactos sobre o meio
ambiente durante todo o ciclo de vida do edifício e que não deixa vestígios
sintéticos ao término de seu ciclo de vida. (ARAÚJO, 2004 apud
CIANCIARDI, 2004, p.90).

_____________
61
“Para a queima de cada milheiro de tijolos, utiliza-se 1m³ de madeira, o que equivale a seis árvores
de médio porte” (CIANCIARDI, 2004. p.48).
62
Em seguida, as principais iniciativas e participações foram: em 1972, participação da Conferência
de Estocolmo; em 1973, a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA; em 1981, a
instituição, pelo Governo Federal, da Política Nacional do Meio Ambiente, e a criação do Sistema
Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e do Cadastro Técnico Federal de Atividades e
Instrumentos de Defesa Ambiental; em 1988, inclusão de um capítulo dedicado ao meio ambiente
na nova Constituição; em 1989, criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis – IBAMA; em 1992, assinatura do Protocolo de Kioto; em 2002, participação
na Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo (CIANCIARDI,
2004).
89

Entretanto, a construção ecológica, em São Paulo, só pôde ser verificada na época


anterior à colonização. Mais adequada à realidade paulistana está a “casa
sustentável”:

A construção sustentável é por sua vez uma opção quase sempre


consciente do usuário que objetiva a reconexão do meio construído com os
ecossistemas da Terra, promovendo uma interatividade de benefícios
mútuos, com a preservação e recuperação do meio ambiente. Esta
modalidade construtiva utiliza-se de alta tecnologia associada com soluções
sustentáveis na gestão energética, hídrica, e no tratamento dos afluentes
domésticos, assim como de materiais processados ou não, materiais de
reuso ou reciclados de origens diversas (atentando-se sempre à gestão dos
recursos energéticos na extração e produção de materiais). As casas
construídas com garrafas pet, materiais de demolição, materiais
sustentáveis industrializados são exemplos desta modalidade construída
(ARAÚJO, 2004 apud CIANCIARDI, 2004, p.90).

Porém, Cianciardi (2004) propõe o foco no uso de materiais industrializados de baixo


impacto ambiental (produtos corretos e aceitáveis) pelos seguintes fatores: são
fabricados em escala industrial, podendo atender a crescentes demandas
habitacionais, comuns a centros urbanos; são produtos testados cientificamente e
possuem especificações técnicas de fabrico. O autor expõe uma tabela (3.3) que
distingue os materiais de recomendados até inaceitáveis.

Tabela 3-3 – Classificação dos materiais da construção civil por seu desempenho ambiental.
Categorias Descrição Exemplo
Produtos Obtidos com o mínimo de agressão ao Madeira obtida de áreas que possuam
recomendados meio ambiente, utilizam matéria prima planejamento de manejo sustentável ou
renovável ou reaproveitável não com certificação do FSC – Forest
industrializada. Não emitem poluentes Stwardship Council, fibras
sólidos, líquidos ou gasosos em todo o reaproveitadas da agroindústria (fibra de
seu ciclo de vida. coco, de bananeira, palha de arroz),
juta, algodão, resinas vegetais à base
de óleo de mamona, colas vegetais,
tintas vegetais, compósitos de fibras
vegetais e outros.
Materiais que utilizam matéria prima não Tijolos de adobe, tijolos de solo-cimento,
renovável, mas que não comprometem terra utilizada no taipal, tintas
diretamente o meio ambiente no importadas à base de silicatos.
momento de sua extração (ou emitindo
poluentes) e que necessitam de pouca
energia para sua transformação.
Materiais de reuso ou reaproveitados, Materiais de demolição, dormentes de
pois não consomem matéria prima e linhas férreas.
90

Categorias Descrição Exemplo


energia para sua produção.
Produtos Oriundos da reciclagem (pré ou pós- Ecotelhas (chapas compósitas de fibras
63
corretos consumo ), ou que utilizem, ao mesmo vegetais, alumínio e plástico PEBD).
tempo, matérias primas ecológicas com
outras de baixo impacto ambiental.
Produtos Estes materiais utilizam matérias primas Lâmpada fluorescente compacta, telha
aceitáveis não renováveis, apresentam baixa de fibra celulósica com manta asfáltica.
emissividade de COVs – Compósitos
Orgânicos Voláteis, não têm similar
ecológico no mercado, sendo a única
opção menos agressiva ao meio
ambiente.
Produtos Não possuem nenhum substituto na sua Areia.
inevitáveis categoria de mercado.
Produtos Não devem ser utilizados pelo seu alto Amianto.
inaceitáveis impacto ambiental, ou por exercer
dados à saúde dos seres humanos.
Adaptação de CIANCIARDI (2004, p. 127-130).

Tal limitação / substituição de materiais poderá ter profundo impacto sobre as


técnicas construtivas, bem como alteraria as feições arquitetônicas.

_____________
63
Reciclagem pré-consumo: utiliza resíduos gerados pela fabricação de materiais de construção
antes de terem chegado ao mercado. Reciclagem pós-consumo: utiliza matéria prima de descarte
(CIANCIARDI, 2004, p.128).
91

4 EVOLUÇÃO DAS TÉCNICAS CONSTRUTIVAS DOS


SUBSISTEMAS ESTRUTURA E VEDAÇÃO

Sobre a cidade de São Paulo, podemos destacar quatro autores que a investigaram
profundamente, do ponto de vista da evolução arquitetônica e urbanística: Nestor
Goulart Reis Filho (2002), Carlos Alberto Cerqueira Lemos (1985), Paulo César
Xavier Pereira (1988) e Benedito Lima de Toledo (2004).

A importância da menção desses autores reside na divisão da história urbanística e


arquitetônica da cidade em três períodos: o primeiro é nomeado “cidade de taipa –
1554 a 1888”, “cidade velha”, “cidade de barro”, ou ”cidade colonial”; o segundo,
“cidade européia – 1889 a 1930”, “São Paulo de tijolo – cidade nova”, “cidade de
tijolo”, ou “metrópole do café”; e, por fim, para o terceiro período da cidade os nomes
dados são “metrópole centralizada e congestionada”, “casas do século XX”, “cidade
de concreto” ou “cidade atual”.

Como os termos adotados para nomear as divisões são mais adequados à escola de
arquitetura, aqui se propõe uma outra nomenclatura, fortemente inspirada na divisão
dos autores acima relacionados, porém adaptada para a explanação a respeito das
técnicas construtivas paulistanas:

 Período de 1554 a 1849: cidade de taipa;


 Período de 185064 a 1929: cidade de alvenaria de tijolo;
 Período de 193065 a dias atuais: cidade de alvenaria de blocos e concreto
armado;

_____________
64
Silva (2003, p. 27) declara que o “período áureo da alvenaria” se estende de 1850 a 1920.
D’Alambert (1993, p. 90) confirma o início, pois argumenta que a introdução do tijolo aconteceu em
1850, por imigrantes alemães. Ainda, em Zmitrowics (2005, p. 50), pode-se verificar um ofício (de
um engenheiro polonês) sobre a necessidade de substituição da taipa pela alvenaria de tijolos.
65
Apesar dos primeiros edifícios em concreto armado serem do início do século XX (por volta de
1908), segundo Lemos (1985, p. 190), a sistematização do uso do concreto aconteceu a partir de
1930. Silva (2003, p. 38), apesar de limitar o “período áureo da alvenaria” até 1920, e de
Vasconcelos (1985) afirmar que em 1920 já havia o “cimento armado”, a autora citada declara que
“a década de 30 marcou um início de um período [...] de perda progressiva do rigor técnico e do
domínio tecnológico” relativos às alvenarias de vedação, sinalizando a expansão do uso do
92

A terminologia escolhida é diretamente relacionada aos materiais utilizados na


execução do subsistema que desempenha a função estrutural da edificação.
Contudo, a nomenclatura escolhida não tem a intenção de dar menor importância
aos registros relacionados às modificações que os demais subsistemas sofreram ao
longo do tempo.

4.1 A cidade de taipa – 1554 a 1849

Segundo Motoyama (2004, p. 87), o objetivo principal dos portugueses, no início da


ocupação territorial, era a extração do pau-brasil e de outras madeiras, sem
preocupação com o povoamento. Os únicos que tinham interesse em se fixar eram
os jesuítas, devido ao seu interesse em catequizar os índios. Depois, com a
preocupação de conservação da sua colônia sul-americana, os portugueses
lançaram mão de técnicas construtivas de origem Ibérica – a qual tem raízes
muçulmanas (PEREIRA, 1988, p. 6).

Enquanto no litoral do Brasil a principal técnica utilizada era “a alvenaria de pedra” –


à exceção de Minas Gerais, cuja técnica de maior difusão era o sistema de gaiola
preenchido por painéis de pau-a-pique ou de tijolo (MOTOYAMA, 2004, p. 90) –, em
São Paulo utilizava-se a taipa de pilão, juntamente com a taipa de mão, devido à
disponibilidade de materiais: a terra era abundante, a madeira, inadequada ao clima,
e a pedra, além de pouca, somente era encontrada após percurso por “trilhas
indígenas que definiram o modo de andar à paulista, isto é, um andarilho atrás do
66
outro em caravanas serpenteantes” (LEMOS, 1979, p. 62) .

concreto. Além disso, a lei n° 2332, publicada em 1 920, regulamenta principalmente itens
construtivos relativos à construção em alvenaria, demonstrando a vigência desta técnica
construtiva.
66
A construção em madeira, de qualquer forma, é de manejo mais complexo do que socar terra entre
duas tábuas rudemente cortadas. Já a pedra, segundo Lemos (1979, p. 62), além de necessitar da
cal para o assentamento – a qual só foi descoberta no Brasil em meados do século XVIII –, não era
extraída porque não havia quem soubesse fazê-lo. Tal afirmação sobre a pedra é confirmada por
Katinsky (1972, p. 87) e Pereira (1988, p. 31), pois o capital era pouco e a mão-de-obra escassa.
Em outra publicação, Lemos comenta que a escassez de pedra ainda era um problema até meados
93

A maioria das casas era térrea. A primeira construção com mais de um pavimento –
dois, mais precisamente – só apareceu no final do século XVI. Os sobrados
tornaram-se comuns em meados do século XVIII (REIS FILHO, 2004, p. 28).

Além dessas duas configurações, eram encontradas também as “falsas”, ou seja,

[...] uma casa com sobrado em parte de seu interior. Este às vezes se
revela no exterior por uma ou mais janelas pequenas, bem junto ao telhado,
ou simplesmente permanece oculto para o exterior. Mas sua presença pode
ser percebida por fora porque as paredes sobre as portas e janelas do
térreo aparecem com um ou dois metros de altura (REIS FILHO, 2004, p.
52).

Essa técnica construtiva se perpetuaria por três séculos (XVI, XVII, e XVIII) em São
Paulo, até o os primeiros sinais de abalo do sistema escravocrata (REIS FILHO,
2004, p. 154).

4.1.1 Estrutura de blocos maciços de terra

No primeiro período, caracterizado pelo uso da taipa como técnica predominante, as


vedações (externas) possuem também função estrutural. Portanto, serão descritas
neste item.

do século XIX, pois há registros que a Câmara, em 1822, cobrava pedras “como imposto para
aqueles que transportavam suas mercadorias para o comércio da cidade” (LEMOS, 1985, p. 27-
28).
94

4.1.1.1 Alicerces

A técnica comumente utilizada pelos portugueses utilizava pedras nos alicerces67


(fig. 4-1). Acredita-se que esta técnica também era utilizada no planalto paulista
sempre que possível, pois garantia melhor proteção contra a umidade à base das
paredes de barro. Porém, quando não havia quem soubesse extrair o material das
grandes rochas, ou quando as poucas pedras extraídas recebiam outros fins
(calçadas que contornavam as casas, ou passeios públicos), a taipa paulistana
apoiava-se em alicerces de barro, executados com os mesmos movimentos
utilizados nas paredes.

Figura 4-1 – Construção de uma parede de taipa sobre alicerce de pedras.


Fonte: Ilustração extraída de (VÁRIOS, 1979 apud PAULO, 2004, p. 32).

Segundo Schmidt (1949, p. 140), a execução consistia na marcação do terreno para


a abertura de valas, com profundidade mínima de três palmos, e quatro dedos (dois
de cada lado) mais largas que as paredes. A terra retirada dos buracos recém
abertos seria parte da matéria prima para execução do alicerce. Porém, como seria
“socada”, a terra necessária para preencher o restante do vão, até que o alicerce
ficasse “faceando o chão”, seria retirada de local previamente determinado (fig. 4-2).
Essa terra não poderia ser argilosa a ponto de grudar no soquete.

_____________
67
Os alicerces de Portugal eram mais altos que a vala executada, subindo 10 a 20 cm acima do solo,
para funcionarem como um baldrame de isolamento, drenando a água que ali se acumulasse
(KATINSKY, 1972, p. 86).
95

Figura 4-2 – Etapas de execução dos alicerces em barro.


Fonte: Ilustração de SATO (2007).

Seu traçado acompanhava o desenho das paredes, o que favorecia a impressão de


que as paredes nasciam de dentro da terra. Porém, essa continuidade alicerce-
parede era extremamente vulnerável à ação das águas. As manifestações
patológicas foram assim descritas por Katinsky (1972, p. 86):

Ora, nestas paredes, que formam um corpo inteiriço com os alicerces,


verifica-se em inúmeros casos sua corrosão ao longo do encontro do solo.
Com o progresso dessa corrosão a parede desapruma e gira feito uma
porta nos gonzos, caindo de um só golpe; não por esboroamento provocado
por erosão da chuva (processo muito mais lento), mas por umedecimento
de sua base.
96

4.1.1.2 Vedações verticais exteriores e demais vedações estruturais

As paredes externas eram executadas com a técnica construtiva conhecida como


“taipa de pilão”, que se caracteriza por grandes volumes de terra socada, a qual
acumula função estrutural e de vedação. Geralmente, tais paredes são muito largas,
principalmente quando se trata de uma construção na qual há um sobrado. Sua
arquitetura “dava a impressão de uma arquitetura mais robusta do que as casas de
pedra do litoral” (REIS FILHO, 2004, p. 46-47). Segundo Telles (1994, p. 34-35), as
paredes variavam de 40 a 80 cm de largura, às vezes mais.

Telles (1994, p. 34-35) descreve a execução das paredes: “o barro é fortemente


socado entre fôrmas de madeira (taipais), ficando uma estrutura monolítica depois
de seca”.

De acordo com Carlos Schmidt (1949, p. 139), autor da bibliografia que descreve a
técnica construtiva da taipa de pilão, a terra ideal é a vermelha firme, de boa liga,
sem manchas de areia, e sem pedras. Todavia, é importante que essa terra tenha
em sua composição uma pequena porcentagem de areia para balancear o alto
caráter contrátil da argila, o qual pode favorecer a formação de fissuras por
contração na secagem (KATINSKY, 1972, p. 87).

Katinsky (1994, p. 85) afirma que, apesar de ser uma prática corrente em Portugal,
no Brasil não houve uso da celulose ou da areia para correção do teor de argila.
“Quando a argila não possui nenhum teor de material antiplástico, as camadas
sucessivas de terra ficam marcadas e separadas, iniciando-se, com o tempo, um
processo de gretamento que favorece a ruína da estrutura”.

O grau de umidade da terra deve ser ótimo, ou seja, não pode ser excessivo
(trabalhabilidade ruim, pois a terra gruda no pilão e favorece a fissuração por
retração na secagem), nem insuficiente (muita poeira desprendida quando a terra é
socada e difícil formação da “liga” entre as camadas de um prisma). Normalmente, a
97

terra retirada de um palmo (22,5 cm) de profundidade já estava no ponto ideal de


umidade.

Se a execução for correta, Schmidt (1949, p. 153) diz que a parede atinge altas
resistências, mesmo sendo exposta às intempéries. Foram muitas as paredes que,
quando derrubadas para dar espaço à nova cidade de tijolos, soltavam “fogo” ao
impacto das picaretas.

Os “taipais” (fig. 4-3) eram dispositivos, de um metro de altura, formados por quatro
painéis, dois frontais e dois laterais, os quais eram imobilizados com auxílio de
escoras, costas e agulhas. Os painéis laterais eram formados por quatro tábuas de
peroba (4,45 x 0,25 x 0,025) 68, unidas coplanarmente por quatro travessas de 15 cm
de largura, fixadas a prego, transversalmente ao comprimento das tábuas. Os
painéis frontais eram formados por tábuas de um metro de comprimento, cuja
largura era variável, de acordo com a espessura final da parede, travadas por
travessas pregadas em suas extremidades. (SCHMIDT, 1949, p. 141).

Figura 4-3 – “Taipal”, travado com as escoras, costas e agulhas.


Fonte: Ilustração de SATO (2007).

A execução das paredes era realizada por fiadas de prismas moldados pelos taipais.
De acordo com Schmidt (1949, p. 141-144), os prismas podiam ser realizados
imediatamente após o término dos alicerces, para haver continuidade no maciço. A
terra era socada dentro dos taipais, com auxílio da mão-de-pilão, em camadas de 10
a 15 cm. Quando faltava um palmo para a terra atingir a borda superior do taipal,
colocavam-se os “codos”, peças roliças envoltas por folhas de bananeira, com
_____________
68
Comprimento, largura, espessura, em metros, respectivamente.
98

mesmo diâmetro das “agulhas”, pedaços de madeira roliços com furos, que
garantiam parte do travamento do taipal, por unirem as duas costas opostas. As
costas, por sua vez, mantinham o tabuado do taipal fixo.

As costas, as agulhas com as cunhas e os codos podem ser considerados os


primeiros cimbramentos da história paulistana.

Assim que o taipal estivesse cheio, podia ser desmontado. Antes de partir para a
segunda fiada de prismas, a primeira devia estar completa em todo perímetro da
edificação (SCHMIDT, 1949, p. 144).

As juntas verticais das fiadas sucessivas eram desencontradas: o deslocamento


usual era de meio prisma (fig. 4-4). Para execução dos prismas superiores, se
utilizavam andaimes de acesso.

Figura 4-4 – Deslocamento dos prismas moldados pelos taipais.


Fonte: Ilustração de SATO (2007).

Após fechamento dos buracos deixados pelas agulhas, o revestimento era


executado. No caso do revestimento grosso, fazia parte da dosagem terra e areia na
99

proporção (em volume) 1:3, estrume de gado e água; no caso do revestimento fino,
tabatinga69 – “espécie de cal” para pintura, obtida de saibro ou barro branco da beira
do Tamanduateí (LOUREIRO, 1981, p. 20) – e areia.

4.1.2 Vedações

4.1.2.1 Verticais não estruturais (internas) – a taipa de mão

Internamente, executava-se a “taipa de mão”, também chamada de “taipa de


70
sopapo” ou de “sebe” . Na taipa de mão, o barro é atirado à mão sobre uma
armação de paus verticais e horizontais devidamente amarrados – é a construção de
pau-a-pique, que ainda na década de 90 se usava em construções precárias, nas
cidades e no campo (TELLES, 1994, p. 34-35).

As paredes de taipa de mão, além de mais simples, são mais rápidas de se


executar. Inicialmente, constrói-se uma malha de paus roliços, verticais (barrotes) e
horizontais (ripas), amarrados com cipó (fig. 4-5 e 4-6). Em seguida, atira-se barro
com a mão, dos dois lados da trama (o que requer o trabalho de, no mínimo, duas
pessoas ao mesmo tempo). Daí vem o nome "taipa de mão", "sopapo" ou "tapona".

_____________
69
Katinsky (1972, p. 87) afirma que para a execução do revestimento fino, também se utilizava cal –
“obtida das ostreiras do litoral” – e areia. O calcáreo próximo do Planalto só irá ser explorado
“próximo à independência e com a disseminação da fabricação de cimento”, pelo mesmo motivo
que não se utilizavam as pedras: pouco tempo disponível para a execução da edificação e falta de
recursos (mão-de-obra e capital).
70
Segundo a Construtora Moraes Dantas S.A., [s.d.], a técnica conhecida como pau-a-pique também
é conhecida como tapona e trata-se de paus roliços, colocados na vertical (enxaiméis), e de varas
flexíveis no sentido horizontal (farfuias), formando um engradado. Vargas et al. (1994) adiciona o
termo “barreada” à lista de designações para o conjunto de “caniços engradados, calafetados com
barro batido à mão”.
100

Figura 4-5 – Taipa de mão sem Figura 4-6 – Trama da taipa de mão.
preenchimento. Fonte: Ilustração de SATO (2007).
Fonte:<http://www.museudacidade.sp.gov.
br/taipadepilao.php>. Acesso em 19 fev.
2011.

4.1.2.2 Horizontais inferiores – o chão de terra batida

O piso interno, em contato direto com o solo, era feito com a própria terra batida,
com exceção dos quartos do senhor e dos hóspedes, e da capela, que eram
assoalhados (LOUREIRO, 1981, p. 20). Bruno (1977, p. 63) afirma que esse
assoalhamento nem sempre era adequado, “pois era feito de táboas apenas fixadas
em vigotas colocadas sobre o chão de terra”.

O piso externo, constituído de faixa ao redor da construção, se possível era de


pedra.

A preocupação com os efeitos deletérios da água sobre as paredes de barro


determinava, segundo Lemos (1985, p. 26), que as casas fossem construídas
“levantadas em plataformas ou terraplenos a salvo das enxurradas. Daí as ruas
sempre planas, ao longo das curvas de nível [...]. A velha cidade [do tempo da
fundação] não tinha ladeiras construídas”.
101

4.1.2.3 Horizontais superiores – o telhado em quatro águas

As primeiras construções eram todas cobertas de palha71, o que representava um


ponto crítico em termos de segurança, pois “em momentos de conflito os atacantes
poderiam lançar flechas com fogo e incendiar a vila” (REIS FILHO, 2004, p. 28).

No final do século XVI72, com a produção das primeiras telhas, as edificações foram
adquirindo uma aparência melhor. Porém, isso somente foi possível com a chegada
de mais oleiros73, e com a reforma das estruturas da cobertura, adequada “para
receber a mudança da técnica” (REIS FILHO, 2004, p. 28). Sobre os novos telhados,
Lemos afirma:

Sendo muito erodível, era sempre protegida por profundos beirais – nunca
por alpendres, porque nessas providências de determinação de partidos
arquitetônicos também influiu bastante o nosso clima, que pode apresentar
dias bem quentes, mas sempre de noites frescas ou bastante frias; assim
era conveniente que a grossa parede de terra socada estivesse
acumulando calor do sol para aquecer o repouso noturno do mameluco
74
cansado. (LEMOS, 1985, p. 26) .

Tais beirais, não eram forrados (somente depois o forro dos beirais apareceu): as
peças de madeira que os sustentavam ficavam em evidência. Os barrotes eram
chamados de “cachorros” (fig. 4-7), “pois como detalhe decorativo costumava-se
entalhar ‘uma cabeça de animal na ponta’”. (REIS FILHO, 2004, p. 47).

_____________
71
A primeira olaria de que se tem notícia é de 15 anos depois da instalação da vila. O fator limitante
não era a matéria prima. Mais para o final do século, em 1595, o oleiro Cristóvão Álvares assinava
compromisso com a Câmara, para fornecer “toda a telha que for necessária para a vila se cobrir”.
(REIS FILHO, 2004, p. 28).
72
Segundo Pereira (1988, p. 20), “Com a aglomeração das primeiras construções [...] a Câmara
procurava estabelecer critérios para a construção das moradias, buscando preservar as casas de
incêndios, devido as suas coberturas de palha [...] Nesse sentido, obrigava os moradores a
utilizarem telhas e a pagá-las, se não em dinheiro, pelo menos em produtos da terra [...]”.
73
De acordo com D’Alambert (1993, p. 74), em 1593 já havia a organização e juiz de ofício dos
oleiros na povoação, sendo que Fernão d’Álvares aparece como destaque nas Atas de Câmara.
74
Grifo da autora deste trabalho.
102

Figura 4-7 – Cachorro decorado da Casa do Butantã.


Fonte: Fotografia extraída de KATINSKY (1972, p. 25).

A estrutura dos telhados apoiava-se sobre as robustas paredes de taipa, exceto a


região dos alpendres reentrantes, onde a estrutura era suportada pelos esteios de
madeira. Em alguns casos, as paredes tinham a sua altura alterada de maneira a
constituir a empena do telhado. Sobre elas se apoiavam os caibros, cujas dimensões
eram de 8 x 11 cm, aproximadamente, sem amarrações com terças ou peça da
cumeeira. Os caibros eram amarrados pelas pontas por meio de cavilhas
horizontais, e permaneciam no lugar após a fixação das ripas sobre eles. Estas eram
grossas, de 1,2 cm x 10 cm (KATINSKY, 1972, p. 88).

Devido a essa configuração, a maioria dos telhados possuía quatro “águas”


(edificações rurais) em formato piramidal (LOUREIRO, 1981, p. 20) ou duas “águas”
(edificações urbanas).

Além da sustentação promovida pelas paredes, havia algumas peças auxiliares, que
também desempenhavam função estrutural, elaboradas com a mesma madeira das
esquadrias. Eram os esteios, os quais tinham seus “capitéis” ou “corpos”
trabalhados, na maioria das vezes por pura estética. Na figura 4-8, pode-se notar os
detalhes de um esteio recuperado após reforma da Casa do Butantã.
103

Figura 4-8 – Detalhes dos esteios da Casa dos Butantã.


Fonte: Composição extraída de SATO (2007).

As telhas, segundo KATINSKY (1972), eram claras e porosas, sem ressaltos para
encaixe no madeiramento. Às vezes apresentavam um “risco de dedo” para
melhorar a estabilidade da peça sobre a estrutura do telhado.

4.1.2.4 Horizontais intermediárias – os sobrados de madeira

A separação entre dois pavimentos, quando as construções assobradadas (mais


comuns no século XVIII) surgiram, era realizada por meio dos “sobrados” – estrutura
montada para receber o piso dos pavimentos superiores e o forro dos inferiores,
executada com barrotes de madeira (ALBUQUERQUE, 1948, p. 94). O piso era
executado com tábuas colocadas acima dos barrotes mencionados.

Nas primeiras construções em taipa, raramente as casas eram forradas (BRUNO,


1977; REIS FILHO, 2004, p. 47). O forro foi sendo utilizado parcialmente, a partir do
século XVIII.
104

Figura 4-9 – Forro de madeira do quarto do Figura 4-10 – As tábuas do forro eram
senhor. simplesmente apoiadas nos barrotes engastados
Fonte: Fotografia de Mariana Matayoshi, 2006. nas paredes de taipa.
Fonte: Fotografia de Mariana Matayoshi, 2006.

4.2 A cidade de alvenaria de tijolo – 1850 a 1929

Enquanto as primeiras peças de concreto com armadura de aço foram ensaiadas


por Lambot75 em 1848, na França, e por Hyatt76 em 1850, nos Estados Unidos
(VASCONCELOS, 1988, p. 44), um conjunto de acontecimentos influenciou (com
certa defasagem) na interrupção do uso da técnica construtiva secular em São
Paulo. A partir de 1850, a taipa foi sendo substituída pela alvenaria de tijolos77.

Apesar da consolidação do uso dos tijolos ser crédito dos imigrantes italianos, os
primeiros a introduzirem a técnica da alvenaria de tijolos, segundo D’Alambert (1993,
p. 89-90), foram os alemães, os quais chegaram a São Paulo em 1820, mas tiveram
forte atuação na década de 1850. Os alemães “trouxeram de sua terra natal um
conhecimento técnico-construtivo mais ‘civilizado’ e uma nova linguagem
arquitetônica e estilística” (D’ALAMBERT, 1993, p. 90). Na época em questão, foi

_____________
75
Joseph Louis Lambot. Primeiro a realizar experiências práticas do efeito da introdução de ferragens
numa massa de concreto (VASCONCELOS, 1985, p. 8).
76
Thaddeus Hyatt, realizou, quase concomitantemente com Lambot, uma série de ensaios, em 1850
(VASCONCELOS, 1985, p. 10).
77
O tijolo já era utilizado no nordeste desde o século XVI (MOTOYAMA, 2004, p. 90).
105

introduzido o estilo conhecido como Ecletismo nas construções paulistanas78. “O


novo estilo, incentivado pela mudança de gosto da sociedade local, apoiava-se na
nova técnica construtiva, sendo em alvenaria de tijolos os prédios executados por
esses construtores alemães” (D’ALAMBERT, 1993, p. 90).

A técnica construtiva em alvenaria de tijolos maciços, ao ser comparada à taipa de


pilão, não apresentava a mesma fragilidade relacionada à ação da água, permitia
uma maior precisão na construção e possibilitava inovações estilísticas
(D’ALAMBERT, 1993, p. 64).

As casas desse período, “surpreendem pela primorosa execução, explicitando as


potencialidades do processo construtivo e evidenciando os benefícios da experiência
técnica artesanal da mão de obra” (REIS FILHO, 2002). A sua arquitetura não se
distanciava muito dos edifícios da Itália, que serviam de modelo. “Das inovações que
apresentaram, as principais foram os alpendres laterais, a servir de ingresso,
contendo esguias colunas de ferro” (LOUREIRO, 1981, p. 34).

Inicia-se um novo tipo de produção caracterizado pela encomenda (PEREIRA, 1988,


p. 2) aos capomastri italianos. E, após terem providenciado a construção de seus
próprios palacetes, os ricos tratavam de construir agrupamentos de casas de
aluguel, quase sempre perto das estações ferroviárias (LEMOS, 1985, p. 16).

Segundo Pereira (1988, p. 66), além da modificação do produto final, houve a


transformação do processo de trabalho na construção:

Aprofundava-se a divisão do trabalho de construir, exigindo-se plantas


antes de iniciar os trabalhos, que eram fiscalizados pela Prefeitura e, ao
mesmo tempo, cada vez mais podia [sic] se obter no mercado os materiais
para a construção. Para levantar as paredes, encomendavam-se os tijolos
nas olarias, da mesma maneira como já se fazia há séculos com as telhas
(PEREIRA, 1988, p. 66).

_____________
78
Exemplos citados por D’Alambert (1993, p. 90): Von Puttkamer, autor do Grande Hotel (1878), e
Matheus Hausler, autor da Hospedaria dos Imigrantes (1885) e do Palácio dos Campos Elíseos
(1896).
106

Ademais, Lemos (1979, p. 106) afirma que o uso do tijolo marca o fim do empirismo.
Entretanto, isso pode ser discutido, pois o uso racional dos materiais era baseado na
longa experiência (prática) dos recém-chegados profissionais (imigrantes). O
conhecimento científico somente foi aplicado no terceiro estágio evolutivo das
técnicas construtivas paulistanas, como foi abordado no item 3.5.

A alvenaria de tijolos sofre muitas alterações no século em que reinou absoluta, em


grande parte devido à modificação do componente básico. Esta técnica somente
passa a ter caráter secundário quando o concreto armado se demonstra capaz de
assumir a função estrutural até então desempenhada por ela.

4.2.1 Estrutura de tijolos maciços

Mais uma vez, o maciço que forma o invólucro acumula as funções de vedação e
encaminhamento das cargas incidentes. Portanto, neste período também trataremos
a vedação neste primeiro item.

4.2.1.1 Alicerces

As fundações passaram a ser executadas em alvenaria. Segundo Loureiro (1981, p.


33), os imigrantes italianos preferiam os alicerces de tijolo aos de pedra.

De acordo com Leitão (1896, p. 222), os alicerces tinham profundidades entre 50 cm


e 80 cm79, e apresentavam um acréscimo de espessura em relação às paredes que
suportavam para distribuir toda a carga por uma superfície mais larga. “Esse

_____________
79
O decreto nº 391, de novembro de 1903, determinava no artigo 14º, § 2º: “As paredes mestras
serão levantadas dos alicerces construídos sobre terreno firme ou previamente consolidado, não
tendo nunca menos de 60 cm de profundidade” (SEGURADO, s.d.[b], p. 180). Grifo da autora.
107

aumento de espessura tem o nome de sapata, e varia com a carga que o muro
suporta e com a natureza do terreno em que assenta” (LEITÃO, 1896, p. 222). As
“sapatas”, normalmente, não excediam mais que 15 cm da largura da parede.

Antes do início da execução, locavam-se as paredes, da mesma forma que se


locavam as paredes de taipa:

A construção de qualquer muro é sempre precedida do seu traçado sobre o


terreno; n’esse traçado, as linhas podem ser definidas por simples estacas
de ferro ou de madeira, com as quaes se marcam os limites do muro a
levantar. As estacas são reunidas por cordéis em cujos planos verticaes se
abrem os cabouços (LEITÃO, 1896, p. 217).

A execução dos alicerces se dava da seguinte forma: lançava-se argamassa e


assentavam-se os tijolos. Repetia-se essa operação até que se atingisse o topo da
vala que havia sido aberta. Se o terreno fosse muito compressível, formava-se, em
toda a extensão dos alicerces, um colchão de areia, composto por camadas
sucessivas bem batidas (LEITÃO, 1896, p. 206-211).

Segundo Leitão (1896, p. 77), aplicava-se “asphalto” para constituir uma camada
“isoladora” sobre o chão, “com êxito”. Essa prática era regulamentada pelo decreto
nº 391, desde 1903, o qual exigia a aplicação de uma camada impermeável de
asfalto ou concreto, com espessura mínima de 15 centímetros, em toda a superfície
ocupada pela construção, inclusive no respaldo das paredes (SEGURADO, s.d.[b],
p. 180). Tais exigências permanecem na lei nº 2332, de 1920, porém a espessura
mínima diminuiu para 10 centímetros (BOLETIM DO INSTITUTO DE ENGENHARIA,
1923, p. 82).
108

4.2.1.2 Vedações verticais exteriores e demais vedações estruturais

A técnica construtiva característica desse período é composta pelo componente


cerâmico (tijolo), dispostos em conjunto, e organizados de forma a eliminar juntas
verticais a prumo.

Além do tijolo, de forma a consolidar o maciço formado, as vedações eram


executadas com argamassa de assentamento, que, de acordo com o decreto nº 391
(1903) poderia ser composta por cimento ou cal, areia ou saibro (SEGURADO,
s.d.[b], p. 180). A areia era extraída do fundo dos rios80 e a cal só teve produção
significativa no início do século XIX. A partir de 1920, proibiu-se o emprego de
argamassa de argila e saibro (A CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jan. 1924).

A partir de 1920, as paredes deveriam ser isoladas dos alicerces por uma das
seguintes soluções: placas de asfalto, lâminas de chumbo, duas ou três fieiras de
tijolos vitrificados ou esmaltados, ou fiadas de tijolos assentados com argamassa de
cimento ou de cal, areia e alcatrão (A CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jan. 1924).

O que determinava a espessura das paredes eram as dimensões dos tijolos e a sua
organização no espaço. Esta forma de organizar os tijolos também é conhecida
como aparelho81. Normalmente, as paredes eram grossas na base e mais finas na
parte superior, à medida que se subiam os pavimentos – até quatro andares
(LEMOS, 1985). Sobre as paredes do período em questão, Leitão afirma:

A espessura d’estes muros não é constante; vae diminuindo de baixo para


cima, à medida que se torna menor a carga que sobre elles actua. Esse
_____________
80
A areia era fácil de ser encontrada. Era tirada do fundo dos rios. “Em 1862 as margens do Tietê
estão ajardinadas, acolhendo esportistas e gente em busca de lazer à beira d’água, em ambiente
realmente bucólico. Vinte e cinco anos depois, as mesmas margens ribeirinhas estão atulhadas de
montes de areia transportadas por grandes barcaças ali estacionadas. Nova atividade exploratória
surgia na cidade, empurrando para fora dos portos fluviais os pequenos clubes de natação e
remo”. (LEMOS, 1985, p. 39).
81
Definição de TACLA (1984, p. 36) “Modo de dispor tijolos […] nas alvenarias”. Existem diversos
tipos de aparelhos, entre eles o inglês, o belga, o flamengo, e o holandês. Porém, segundo Argilés
(1993, p. 20), tal disposição das peças somente pôde ser realizada quando os tijolos passaram a
ter o “comprimento igual ao dobro da largura”. Antes disso, os tijolos eram travados, tanto na face
da parede, quanto ao longo de sua espessura.
109

decrescimento da espessura obtem-se geralmente por meio de ressaltos no


paramento interior em cada andar do edifício. Os ressaltos são
m m
ordinariamente de 0 ,10 a 0 ,12 e a espessura mínima no andar superior
m
não deve ser menor do que 0 ,40 (LEITÂO, 1896, p. 223).

No início da utilização da alvenaria de tijolos, as paredes tinham largura exagerada,


principalmente devido ao caráter empírico comum ao período anterior. A
insegurança quanto à técnica construtiva era tamanha que chegaram a se
encamisar paredes em taipa com tijolos, como uma espécie de revestimento, criando
uma “técnica híbrida e de transição” (D’ALAMBERT, 1993, p. 45-46). Neste caso,
havia a intenção de ostentação da utilização da nova técnica, mas sem acreditar em
seu desempenho estrutural.

Nos exemplos mais antigos, o dimensionamento e os detalhes guardavam


ainda um compromisso formal com as técnicas tradicionais. As paredes
eram construídas com cerca de 60 centímetros, que se reduziam a menos
da metade nas paredes internas e sob o peitoril das janelas. Em altura,
alcançavam pelo menos 5 metros e, nos sobrados, cerca de dez (REIS
FILHO, 2002, p. 159).
110

A B

C D

Figura 4-11 – Diferentes tipos de aparelhos com arranjo para obtenção de paredes com espessuras
variadas.
A) Espessura “uma vez tijolo”, aparelho inglês (esq.) e aparelho flamengo (dir.); B) Espessura “uma
vez e meia tijolo”, aparelho inglês (esq.) e aparelho flamengo (dir.); C) Espessura “duas vezes tijolo”,
aparelho inglês (esq.) e aparelho flamengo (dir.); D) Espessura “duas e meia vezes tijolo”, aparelho
inglês. Fonte: Ilustração baseada em SEGURADO (s.d.[a], p. 85-89).

Reis Filho (2002, p. 128) cita paredes com cinco metros de altura, as quais eram
divididas por réguas de madeira horizontais. Uma delas localizada na altura dos
peitoris das janelas, e a outra acima dos vãos de janelas e portas, arrematando-as.
Havia também, nas mesmas paredes, uma divisão vertical, que acompanhava a
presença dos vãos. Caso fosse necessário, os painéis de alvenaria eram mais
subdivididos. O decreto nº 391 impunha o pé direito mínimo de quatro metros no
primeiro pavimento, três e oitenta no segundo pavimento, e três e sessenta no
terceiro pavimento. Para os edifícios com fachada de 8 metros de largura, as
dimensões aumentavam em meio metro (SEGURADO, s.d.[b], p. 182).

Posteriormente, já no final do período de vigência da alvenaria estrutural de tijolos


maciços, a espessura mínima exigida era proporcional a altura das paredes e ao
111

número de pavimentos da edificação. Por exemplo, pela lei n° 2332, a espessura


mínima para uma parede do térreo, em uma edificação de cinco pavimentos, era de
50 centímetros para as paredes externas (BOLETIM DO INSTITUTO DE
ENGENHARIA, 1923, p. 82). As paredes internas ou paredes externas de cômodos
não destinados a habitação noturna podiam ser de meio tijolo, ou seja,
aproximadamente 15 centímetros (A CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jun. 1924).

Antes do início da elevação das paredes, um gabarito deveria ser construído da


seguinte maneira:

Construído o massiço das fundações, estabelece-se em cada extremidade


do muro e a meio da sua espessura uma vara bem vertical, sobre a qual se
fixa horisontalmente uma travessa, onde, por meio de entalhes, se marca a
direcção e a espessura do muro; estes entalhes são tambem reunidos por
cordeis [...] Estas linhas ou guias são mudadas de logar juntamente com as
travessas á medida que a construcção vae elevando [...] (LEITÃO, 1896, p.
217-218).

Segundo Leitão (1896, p. 218-219), as vergas acima dos vãos podiam ser retas ou
curvas, de maneira a conduzir as cargas para as alvenarias laterais – chamadas de
“nembos” ou “machos”. Construía-se por cima da verga uma abóbada abatida com
tijolos, a qual era conhecida como “archete”, ou uma abóbada plana conhecida como
“sobre-arco” (fig. 4-12).

Figura 4-12 – Abóbada plana, também conhecida como sobre-arco.


Fonte: (LEITÃO, 1896, p. 253).
112

Após a consolidação da técnica sem a taipa, inicia-se o emprego de pedras nas


paredes de fachadas: Leitão (1896, p. 223) afirma que era “frequentissimo o
emprego da cantaria nos cunhaes82, em sóccos, em vergas, humbreiras, soleiras e
peitoris dos vãos”. Segundo Albuquerque (1948, p. 107), o uso de pedras nos
cunhais era um hábito “defeituoso como sistema puramente construtivo” quando
utilizado nos cunhais, pois o recalque era proporcional ao número de juntas, ou seja,
maior na porção constituída por tijolos. Tal fato não era verificado quando se
executavam “forras” de pedra. Essas “forras” consistiam em revestimentos de pedra
que envolviam a alvenaria, e tinham caráter apenas estético.

Figura 4-13 – Cunhal em pedra. Figura 4-14 – Cunhal em pedra.


Fonte: Revista Acrópole (1942, p. 341). Fonte: Fotografia de Sato, 2006.

O revestimento da fachada era executado com o conhecimento dos capomastri, com


argamassa dosada em obra. Os procedimentos eram guardados em segredo, e
passados apenas para pedreiros de confiança – tradição herdada da época das
corporações de ofício. Eram as argamassas decorativas83. Segundo Sousa (1993, p.
38), para obtenção da qualidade desejada, havia um rigor de execução extremo.
Mas, de acordo com o autor, graças a essa exigência, e devido à sucessão de
camadas, muitos edifícios executados nesse período resistem bravamente à ação
das chuvas ácidas e da fuligem existente em nossa atmosfera.

_____________
82
Segundo Tacla (1984, p. 146), cunhal é o “canto externo formado por duas paredes externas de um
edifício, que delas se destaca como pilastra”. Destaca-se, pois, as peças que compunham este
cunhal tinham largura maior que as paredes que nele chegavam.
83
Massa raspada, massa lavada, massa batida, barra lisa, ou revestimento tipo travertino.
113

Figura 4-15 – Fachada revestida com argamassa dosada em obra. Casa das Rosas, de 1935.
Fonte: (SATO, 2007).

É importante lembrar que, dependendo do estilo arquitetônico adotado, o


acabamento da fachada variava. No caso das edificações em estilo neocolonial,
revestia-se, parcialmente, a fachada com azulejos, “segundo o costume português”
(REIS FILHO, 2002, p. 160). Quando se desejava evocar o estilo inglês, deixava-se
o tijolo aparente.

Figura 4-16 – Fachada revestida com azulejos, ao estilo Neocolonial.


Fonte: Esquerda - Revista Acrópole (1940, p. 128). Direita - (SATO, 2007).

4.2.2 Vedações
114

4.2.2.1 Verticais não estruturais (internas) – os tabiques

Algumas paredes internas, sem função estrutural, ainda eram de tijolos


(preferencialmente furados, após o início de sua produção por volta do início do
século XX), porém mais delgadas que as robustas paredes externas. Outras eram
executadas em madeira, também conhecidas como “tabiques” (ALBUQUERQUE,
1948, p. 73), as quais eram empregadas nos casos em que não havia uma parede
correspondente no pavimento inferior.

Os tabiques84 (fig.4-17, 4-18, 4-19) eram compostos por um “tabuado rústico de


madeira” de segunda – às vezes reaproveitadas de andaimes –, ou por uma trama
de caibros, que eram engastados sobre o próprio vigamento do soalho (deixavam-se
duas vigas geminadas para o seu apoio). Sarrafos de madeira, muitas vezes de
juçara, eram pregados em ambos os lados do painel formado, para receber
posteriormente o enchimento.

Nota-se uma correspondência com a execução das paredes em taipa-de-mão da


época colonial (paredes mais finas que as externas, compostas por quadro interno
em madeira, que recebe enchimento na seqüência).

Figura 4-17 – Tabique simples sem revestimento.


Fonte: Ilustração extraída de VASCONCELLOS (1961, p. 36).

_____________
84
As divisões em madeira, passaram a ser parcialmente permitidas, após a publicação da lei 2332 (A
CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jan. 1924).
115

Figura 4-18 – Tabique apoiado sobre madre, para Figura 4-19 – Outro arranjo de
receber enchimento. composição de uma parede de
Fonte: (LEITÃO, 1896, p. 299). tabique, para receber
enchimento.
Fonte: (ALBUQUERQUE, 1948, p. 73).

O enchimento era composto por argamassa de cal e areia, em duas camadas


sobrepostas. A primeira camada era tida como reboco grosso, e geralmente era
acrescida de cimento, para garantir um endurecimento mais rápido. Essa argamassa
era lançada sobre o ripado, para haver a penetração entre os vãos deixados pela
madeira. Sua superfície não era alisada, para melhorar a aderência da próxima
camada. A segunda camada, no entanto, deveria ser desempenada, para a
obtenção de um acabamento liso.

Reis Filho (2002, p. 160) afirma que nas paredes interiores, os revestimentos de
massa quase sempre eram recobertos por papéis colados. Já nas salas de almoço,
cozinhas e banheiros começaram a surgir os revestimentos de azulejos85, em geral
com barras decorativas, em cores.

Apenas as paredes internas dos porões deveriam ser revestidas por uma camada
impermeável e resistente de trinta centímetros de altura, pelo menos, sendo o
restante rebocado e caiado (A CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jan. 1924).

_____________
85
De acordo com a Lei nº 2332, as cozinhas deveriam ser “impermeabilizadas” pelo menos, até um
metro e cinqüenta centímetros de altura, com material resistente, liso e não absorvente (A
CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jan. 1924).
116

4.2.2.2 Horizontais inferiores – o piso impermeável

O piso em contato com o solo acontecia em um porão elevado, pois, após medidas
de caráter higienizador (SIMÕES JÚNIOR, 2008, p. 50), a separação do solo era
exigida86 para afastamento da umidade ascendente.

Portanto, a principal exigência para o piso era a impermeabilidade, pois, apesar de


separar a parte habitável da edificação do solo, os porões eram utilizados como
depósito.

Além de usar o “asphalto” citado por Leitão (1896), com uma camada de dois cm,
aplicavam-se no piso pedras (piso em lajes de pedra), ou “betonilha” (SEGURADO,
1936, p. 304-312). A betonilha, segundo TACLA (1984, p. 78), era uma argamassa
“de cal misturada com saibro usada no revestimento de pisos aterrados, [...]
espalhada e apiloada sobre a terra, em camadas de espessura irregular”.

Ainda, a lei n° 2332 (1920) exigia uma faixa imperm eável de um metro de largura
mínima ao redor da habitação – o que remonta a tradição colonial (A
CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jan. 1924).

4.2.2.3 Horizontais superiores – o telhado, a mansarda ou a platibanda

A cobertura das casas se altera totalmente para atender ao código de posturas,


criado com a finalidade de controlar a desordem provocada pelo crescimento
vertiginoso – estava proibido o despejo de água pluvial (e também dejetos) sobre o

_____________
86
Caso não fosse possível garantir a elevação, o decreto de 1903 exigia no artigo 16º, § 1º: “Quando
não houver porão o chão será ladrilhado ou cimentado, podendo ser coberto por assoalho que
corra no máximo a doze centímetros acima do chão impermeável” (SEGURADO, s.d.[b], p. 184).
Já de acordo com a lei n° 2332, o soalho do pavimen to térreo deveria ser pregado em barrotes ou
tábuas grossas imersas em concreto de cal, areia e fragmentos duros, de pedra, de telha, de
ladrilho, de manilha, ou de tijolo bem queimado (A CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jan. 1924).
117

passeio público87. A partir desse momento, a maioria das edificações não seriam
concebidas com beirais, dando lugar às platibandas, as quais escondiam os
telhados e os dispositivos de captação das águas da chuva.

Leitão (1896, p. 361) descreve os telhados no momento de transição do beiral para a


platibanda:
Se o telhado é de beiral, as ripas, todas bem parallelas assentam-se de
baixo para cima, ficando a primeira [...] recolhida em relação ao focinho
d’estas. Se o beiral for recolhido e mascarado por uma platibanda, o
assentamento da ripa começa pela parte superior, colocando-se a primeira
m
0 ,03 abaixo da aresta do espigão, e as outras guardando [...] [uma
distância fixa], que representa uma água retangular onde, nos extremos das
fiadas, se assentam as meias telhas [...] (LEITÃO, 1896, p. 361).

Leitão (1896, p. 308) descreve o apoio das vigas ou barrotes (terças) sobre as duas
paredes de fachada. Sobre as vigas, assentavam-se as “varas” (caibros), que, por
sua vez, receberiam o “ripado” (ripas) (fig.4-20). Quando havia “guarda-pó” – espécie
de forro –, por cima do “varedo”, eram pregadas tábuas delgadas, que eram
arrematadas pelas ripas.

Figura 4-20 – Estrutura de telhado, sem tesoura. Figura 4-21 – Estrutura de telhado, com tesoura,
A letra “f” representa a viga que se apóia nas indicada para telhados de quatro águas.
paredes; a letra “v” as varas, que por sua vez, Fonte: (LEITÃO, 1896, p. 311).
receberão o ripado “r”.
Fonte: (LEITÃO, 1986, p. 310).

_____________
87
Segundo o decreto nº 391, de fevereiro de 1903, artigo 14º, § 14º: “As águas pluviais, quando for
possível, escoarão por meio de calhas e condutores para ralos providos de sifão colocados nas
áreas ou quintais interiores”; e § 16º: “É proibida a beirada de telhas em prédios nos alinhamentos
das ruas” (SEGURADO, s.d.[b], p. 181). Já a lei nº 2332, de novembro de 1920, diz que todos os
edifícios construídos nos alinhamentos de vias públicas, deveriam canalizar as águas pluviais dos
telhados ou balcões nas fachadas. Os condutores, por sua vez, nas fachadas sobre as vias
públicas deveriam ser embutidos nas paredes, na parte inferior, em uma altura mínima de três
metros, exceto se fossem de ferro fundido ou material de resistência equivalente (BOLETIM
INSTITUTO DE ENGENHARIA, 1923, p. 83).
118

Figura 4-22 – Telhado de residência Neocolonial, de 1940.


Fonte: (SATO, 2007).

Em algumas edificações, em que se desejava executar uma cobertura habitável


aliada ao estilo eclético, a estrutura do telhado era construída conforme a figura 4-
23. Na figura 4-24 pode-se notar a estruturação de uma abertura no telhado – no
caso uma trapeira88.

Figura 4-23 – Estruturação de cobertura em Figura 4-24 – Estruturação de cobertura quando


“mansarda”. há uma abertura.
Fonte: (LEITÃO, 1896, p. 313). Fonte: (LEITÃO, 1896, p. 316).

Com o passar do tempo, nas casas denominadas “palacetes”, foi importado o


costume francês de se aproveitar o espaço entre forro do último pavimento e a
cobertura. São construídas as águas furtadas e as mansardas (quando o último
pavimento possui aberturas). As platibandas deixam de existir, e a captação das
águas pluviais se dá somente por calhas e condutores verticais aparentes ou não,
normalmente metálicos (fig. 4-25).

_____________
88
Trapeiras são aberturas no telhado, guarnecidas de caixilho para “iluminar, ventilar ou permitir a
passagem para o desvão” (ALBERNAZ, 2003, p. 634) – espaço abaixo do telhado. Comumente
encontradas em mansardas.
119

Figura 4-25 – Telhado (esq.) e, em detalhe (dir.), aberturas da mansarda e coletor de águas pluviais
da Casa das Rosas, construída em 1935.
Fonte: (SATO, 2007).

De acordo com LEITÃO (1896, p. 31), telhas planas têm a vantagem de não
necessitar argamassa para seu assentamento, pois esta pode desenvolver
vegetações parasitas, antiestéticas e que geram a necessidade de reparos
freqüentes no telhado. Além disso, coberturas com telhas planas são menos
pesadas e podem ter estruturas mais leves, as quais se conservam mais, pois são
mais bem arejadas.

Na figura 4-26 estão ilustradas telhas comumente usadas (cerâmicas capa-e-canal,


planas cerâmicas tipo marselhesa, planas de ardósia) no período da alvenaria de
tijolos:

Figura 4-26 – Da esquerda para a direita: telhas cerâmicas do tipo capa-e-canal, telhas cerâmicas
tipo Marselhesa, e telhas de ardósia planas.
Fonte: (ALBUQUERQUE, 1948, p. 145-152).
120

Nos casos em que se utilizavam telhas de ardósia em mansardas, era comum o


emprego de uma cobertura, na parte superior, normalmente em metal (REIS FILHO,
2002, p. 161).

Esse aperfeiçoamento estrutural e de detalhes, dos sistemas de cobertura,


era uma decorrência dos novos recursos disponíveis, fossem os
equipamentos importados, fosse a mão-de-obra capaz de utilizá-los. O
desenvolvimento da indústria européia permitia o fornecimento, em
condições vantajosas, de folhas-de-flandres e cobre, para a montagem de
rufos, calhas, condutores e peças de arremate, em geral. Eram comuns os
condutores de ferro fundido e as braçadeiras de calhas com desenhos
decorativos (REIS FILHO, 2002, p. 161-162).

Porém, a cobertura mais comum do período, era o telhado já descrito, porém


escondido por platibandas. Neste caso, eram telhados, excessivamente complicados
por recortes na planta das casas (REIS FILHO, 2002, p. 162).

4.2.2.4 Horizontais intermediárias – ainda o sobrado

Os palacetes possuíam os sobrados, agora com peças metálicas (normalmente


antigos trilhos) e assoalho de madeira (fig.4-28 e 4-29). Segundo Leitão (1896, p.
332), quando os sobrados ainda eram sustentados por peças de madeira, as tábuas
eram pregadas, formando um ângulo reto: dois pregos em cada encontro, e três na
extremidade (fig. 4-27).
121

Figura 4-27 – Exemplo de fixação de assoalho sobre barrotes de madeira de um sobrado.


Fonte: Ilustração baseada em (LEITÃO, 1896, p. 332).

Figura 4-28 – Planta que ilustra a posição dos barrotes e perfis metálicos do sobrado da Casa das
Rosas.
Fonte: Desenho do Escritório Técnico “Ramos de Azevedo” SEVERO E VILLARES, pertencentes à
biblioteca da FAUUSP.

Figura 4-29 – Cortes referentes à planta anterior. À esquerda, corte AB. À direita, corte CD.
Fonte: Desenho do Escritório Técnico “Ramos de Azevedo” SEVERO E VILLARES, pertencentes à
biblioteca da FAUUSP.
122

Quando o sobrado dividia o piso térreo do porão, normalmente era construído em


abóbadas ou abobadilhas. As figuras 4-30 e 4-31 demonstram a representação
gráfica e fotográfica, respectivamente, de uma abobadilha. O arco se apoiava sobre
vigas de ferro89. Porém, as representações expostas apresentam o uso do tijolo de
maneiras diferentes: na foto, do sobrado da Vila Penteado, construída em 1902, os
tijolos aparecem deitados90.

Figura 4-30 – Abobadilha de sustentação do piso.


Fonte: (LEITÃO, 1896, p. 265).

Figura 4-31 – Abobadilha executada na Vila Penteado.


Fonte: (PRADO; MACHADO, 1976, p. 110).

Os pisos das vedações horizontais intermediárias são variados. Se localizados no


pavimento térreo, em região de intensa circulação, costumava-se empregar pisos
frios (ladrilhos, cerâmica, pedras naturais). Nos cômodos de menor circulação,
utilizavam-se soalhos de madeira.

Os pisos frios eram assentados sobre substratos bem nivelados. Era necessária a
aplicação de uma camada de argamassa de regularização antes de uma camada de
argamassa fina, similar ao reboco das paredes. Para o assentamento propriamente

_____________
89
A lei nº 2332, de 1920, proibiu o uso de vigas de madeira na constituição de uma abobadilha
(BOLETIM DO INSTITUTO DE ENGENHARIA, 1923, p. 83).
90
Leitão (1896, p. 266) afirma que essa forma de disposição dos tijolos, conhecida como “ao chato”,
era comum no Alentejo, região centro-sul de Portugal.
123

dito, utilizava-se argamassa de cimento, que deveria refluir entre as juntas (LEITÃO,
1896, p. 394).

Figura 4-32 – Alguns tipos de pisos frios encontrados na Casa das Rosas.
Fonte: (SATO, 2007).

Com importação de máquinas e ferramentas européias, no final do século XIX, que


permitiam o uso da madeira serrada ou torneada, difundiu-se o uso de assoalhos
encerados, muitas vezes mais por ostentação do que por gosto (REIS FILHO, 2002,
p. 158). Antes disso, utilizavam-se tábuas largas e imperfeitas (REIS FILHO, 2002,
p. 50).

Os soalhos quando compostos por tábuas, tinham espessura variando entre 2,4 e
3,6 cm (Leitão, 1896, p. 331). A forma de encaixe ente elas podia ser “a meio fio”,
“macho e fêmea”, ou “de junta”, conforme figura 4-25.

Figura 4-33 – Formas de fixação entre tábuas de composição do soalho.


“A” representa a fixação “a meio fio”. “B” a fixação “macho e fêmea”. “C” a fixação “de junta”.
Fonte: Ilustração baseada em (LEITÃO, 1896, p. 331).

Figura 4-34 – Tipos de arranjo do assoalho da Casa das Rosas.


Fonte: (SATO, 2007).
124

Em todo o período que a alvenaria de tijolos imperou, os forros podiam ser em


madeira ou em estuque (fig. 4-35). Os de madeira eram de “tábuas mais estreitas,
que formavam painéis com o quadriculado das vigas de sustentação”, ora pintados,
ora envernizados (REIS FILHO, 2002, p. 163-164). Nas salas e áreas de maior
valorização social, era mais comum o emprego de forros de estuque, com pinturas e
ornamentos em relevo. A técnica para sua execução, de acordo com Segurado
(1936), é uma herança da colonização portuguesa.

Figura 4-35 – Forros em estuque, de 1935 (esquerda) e em madeira, 1902 (direita).


Fonte: (SATO, 2007).

Nascimento (2002), cuja pesquisa versa sobre o forro da Vila Penteado – atual sede
da pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo –, afirma que os forros eram executados com a aplicação de camadas de
argamassa sobre uma trama formada por ripas justapostas, extraídas do caule de
juçara (fig. 4-36).

caibro ripa de
madeira

juçara
argamassa

Figura 4-36 – Detalhe do forro da Vila Penteado.


Fonte: Adaptado de (NASCIMENTO, 2002, p. 91).
125

De acordo com a revista A Construcção em São Paulo, de setembro de 1924, os


forros de madeira costumavam ser de Pinho-do-Paraná. Porém, além de serem mais
caros, requeriam pintura a óleo, estavam sujeitos ao apodrecimento e abertura de
fendas, pelas quais vazava uma fuligem preta composta pelo depósito de poeira
proveniente do telhado.

Já os forros de estuque, segundo a mesma publicação acima mencionada, podiam


ser executados por meio de ripas; esteiras de taquara; tela de arame quadrada e
sextavada; tela sextavada, separada da madeira por ferros ou pequenos sarrafos;
tela quadrada e sextavada fixada em caibros assentes em quinas; materiais
importados (rib-lath, high-rib, metal-lath); e um material chamado duplex (fig.4-37).

Figura 4-37 – Estruturação de forro de estuque. Técnica com ripas, com tela de arame quadrada e
com material chamado duplex.
Fonte: Desenhos extraídos da revista A Construcção em São Paulo, de setembro de 1924.
126

4.3 A cidade de alvenaria de blocos e de concreto armado – 1930-hoje

Apesar de a grande introdução do concreto acontecer próxima à terceira década do


91
século XX, Vasconcelos (1985, p. 13) , autor de uma retrospectiva histórica
referente a esse material, escreve que o mesmo já era usado em 1920, porém era
conhecido como “cimento armado”.

Há uma forte influência alemã no início do uso do concreto em São Paulo. Além da
participação de Wilhelm Fischer no Gabinete de Resistência dos Materiais – que iria
iniciar o estudo científico sobre o material no Brasil –, segundo Vasconcelos (1985,
p. 17) o concreto armado teve a sua ampla difusão realizada pela empresa alemã
Wayss & Freytag, a qual se registrou no Brasil como “Companhia Construtora
Nacional S.A.” em 1924.

A transição para este terceiro período não ocorreu como a passagem do primeiro
para o segundo, ou seja, não houve completo abandono da técnica construtiva
anterior após o domínio prático-científico do material inovador.

Vasconcelos (1985, p. 38) declara, sobre a transição entre técnicas:

Somente a partir de 1920 é que começaram a surgir de modo acanhado as


primeiras firmas de engenharia de construções civis. [...]
Antes de 1920 os edifícios eram quase todos térreos ou assobradados [...]
Esses prédios eram em geral construídos por operários que possuíam
experiência no ramo de construção. Como não apresentavam interesse ou
dificuldade estrutural, os engenheiros nem eram chamados para opinar.
Os operários que possuíam alguma habilidade transformavam-se com o
tempo em mestres-de-obras e assim conseguiam amealhar algumas
_____________
91
Existem divergências quanto ao primeiro edifício construído em concreto armado: Segundo o
mesmo autor, o primeiro edifício construído em ‘cimento armado’ foi de autoria de Francesco
Notaroberto (nota-se a forte influência dos imigrantes, agora na utilização deste novo material –
HOMEM, 1983 apud SILVA, 2003, p. 37), em 1908, localizado na rua São Bento, esquina atual
praça Patriarca. Milton Vargas diz que o primeiro edifício foi construído na rua Direita n° 7. Já Reis
Filho (2004, p. 156), por sua vez, afirma que o primeiro edifício em concreto armado construído no
centro de São Paulo foi o Guinle [...], projetado e construído entre 1911 e 1914.
127

economias. Logo fundavam a sua própria firma construtora e se


transformavam em ‘mestres riscadores’, fazendo eles próprios o ‘risco’ das
plantas, como então se chamavam os projetos arquitetônicos. Seus parcos
conhecimentos, entretanto, não permitiam que fizessem grandes projetos.
Sua visão restrita decorrente da falta de cultura tornavam [sic] suas
realizações bastante precárias seja de projeto, seja de estrutura.

Assim que o conhecimento sobre o material vai sendo aprofundado e a técnica


construtiva se consolidando, em 1930, “o emprego das estruturas de concreto
dominaria até mesmo para as estruturas mais singelas, como as residências de dois
pavimentos” (SILVA, 2003, p. 38).

A parede é elemento essencial na construcção. Sua funcção é dupla: de


resistencia e de vêdo. Quando de pedra ou tijolo, quasi sempre exercem
simultaneamente estas duas funções. Usando outros materiaes de
construcção, será facil separar aquellas funcções, empregando um para
resistencia e outro par vêdo. [...] O aço e o concreto facilitam hoje, de modo
notavel, a construcção de esqueletos resistentes ás cargas estaticas. Para
vêdo são diversos os materiaes conhecidos. Em ordem de antiguidade está
o tijolo, porém a industria tem creado outros mais “racionalisados” e
superiores como vêdo thermico. [...] Em São Paulo, apezar de todo o seu
magestoso progresso, é quasi impossivel o uso das grandes estructuras
metallicas, e por toda parte encontra-se ainda o tijolo de fabrico manual,
contemporaneo dos indios de Anchieta (ALBUQUERQUE, 1931, p. 397).

A alvenaria, perdendo a função estrutural, ou seja, tornando-se apenas elemento


vedação, perde totalmente o foco das atenções. A academia passa a se dedicar à
novidade do concreto. O rigor técnico e o domínio tecnológico em execução da
alvenaria, conseguidos até então, vão se perdendo progressivamente (SILVA, 2003,
p. 38). A alvenaria passa a ser tema de estudo novamente apenas quando retomou
a função estrutural, em meados da década de 1960.

No início do século XX, os cálculos das estruturas de concreto eram desenvolvidos


no exterior (VASCONCELOS, 1985, p. 16). Porém, no avanço dos estudos
realizados pelo Laboratório de Resistência dos Materiais da Escola Politécnica
(criado em 1899), somados à contribuição de conhecimento dos especialistas
128

formados pela experiência de trabalho na firma Wayss & Freytag, logo esta ciência
passou a ser de domínio dos paulistanos.

Com a evolução do saber, promovida pelas instituições de ensino superior, são


encontradas novas soluções que acabam por possibilitar maiores ousadias
construtivas. Telles (1944, p. 263) destaca, por exemplo, a contribuição da
engenharia para a ciência da Mecânica dos Solos:

Não só a nova ciência “mecânica dos solos” nos faculta outra compreensão
da maneira porque se comportam os solos, sob a ação de cargas, como os
métodos e aparelhamentos modernos de construção nos oferecem meios e
modos, desconhecidos há 50 anos, de distribuir o peso das fundações a
fazer, em superfície ou em profundidade. O concreto armado permite
fazerem-se radiers e vigas e também estacas premoldadas ou não, de
forma a se poderem suportar as mais pesadas estruturas (TELLES, 1944, p.
263).

Além de todos os fatos citados, Vasconcelos (1985, p. 39) ainda soma a criação da
ABNT, em 1940, como fundamental para a consolidação científica do saber-fazer
referente ao concreto, propiciando aos engenheiros brasileiros melhores condições
para a constituição de firmas construtoras. Em reuniões realizadas no Rio de
Janeiro, foram debatidos problemas que vinham sendo enfrentados, e os Códigos de
Obra e os regulamentos não oficiais foram ajustados à realidade nacional.

Concomitantemente, dá-se início à produção voltada para o mercado (PEREIRA,


1988, p. 2). De 1940 a 1950, as construtoras constituídas investiam em condomínios
horizontais, também conhecidos como “casas de vila”. Utilizavam-se recursos dos
futuros moradores na construção, e o que era construído era raramente alugado ou
vendido.

Contudo, de 1950 a 1960, testemunhou-se a criação das incorporadoras e


instituições financeiras. “Incorporadores procuravam a adesão de diversos
proprietários e, somando suas pequenas economias, tornavam possível, em prazos
de 30 meses a construção de apartamentos, agora em condomínios verticais”
(SANTOS, 1982 apud VASCONCELOS, 1985, p. 39).
129

Era o momento em que a maioria dos agentes do setor da construção civil paulistana
estava optando pela produção voltada para o mercado, assemelhando-se à
produção “empurrada” da indústria automobilística. Em contrapartida, a construção
de casas com o padrão-objetivo do presente estudo restringiu-se ao mercado por
encomenda novamente. Portanto, este foi o ponto de “descolamento” da produção
de edificações residenciais de pequeno porte das tendências do setor, no qual todos
os investimentos eram voltados para o barateamento da construção pela repetição92.

Com a chegada dos anos 1970, as técnicas desenvolvidas para a construção em


altura (e o avanço tecnológico sofrido pelo próprio material concreto93) puderam ser
utilizadas para materializar a arquitetura moderna, que em São Paulo era conhecida
como “brutalista”. Tal movimento também influenciou fortemente a produção de
casas, explorando as possibilidades promovidas pelo concreto armado, e criando
uma nova técnica construtiva, pela primeira vez, genuinamente paulistana94.
Entretanto, essa arquitetura não se generalizou, ficou muito restrita a uma elite mais
ligada às tendências arquitetônicas mais ousadas.

Nos anos 1990, caracterizando um segundo momento, o setor da construção civil


paulistano passa a perseguir a racionalização da construção, que também foi
sinalizada por Farah (1988, p. 689).

Apesar de ser mais marcante na construção de edifícios de múltiplos pavimentos, a


racionalização pôde ser sentida também no nicho de construção de casas, tanto
pelo uso de materiais desenvolvidos pela indústria de materiais – já formada –,
quanto pelas habitações unifamiliares construídas com meios da incorporação
imobiliária.

_____________
92
Criação dos pré-fabricados, aumento do conhecimento sobre a mecânica dos solos, e o
desenvolvimento de equipamentos que possibilitassem/aperfeiçoassem a concretagem de
edifícios de múltiplos pavimentos, são exemplos de investimentos que tinham como objetivo a
repetitividade.
93
Desenvolvimento de aditivos que possibilitassem concretos de alta resistência, concretos de alta
resistência inicial, entre outros.
94
A taipa, apesar de vernácula por acolher detalhes de origem diversa, seguia preceitos de origem
ibérica (SAIA, 1957, p. 6).
130

A maioria das empresas buscava a redução de prazos, pelo aumento de


produtividade, de maneira a manter competitividade no mercado. A implantação de
soluções construtivas desenvolvidas nos anos 70, que envolviam a retomada da
função estrutural e de vedação exercida pelo mesmo subsistema, foi vista como uma
das opções plausíveis para a optimização da produção. Tais soluções95, nesse
cenário, chegaram a ter seu uso cogitado em edificações de pequeno porte, porém
só se viabilizariam monetariamente se o número de unidades fosse muito grande. E
a repetição imposta por esse aspecto tira totalmente a exclusividade almejada pela
maior parte do público alvo típico de casas de alto padrão.

Os novos sistemas se orientam para a simplificação da execução,


envolvendo ora a fusão de atividades – como no caso da integração das
etapas de estrutura e vedação – ora a eliminação de atividades – como nos
sistemas que não requerem revestimento. A simplificação se dá [...] pela
transferência parcial de atividades para as centrais de produção,
procurando-se deixar no canteiro, na etapa de estrutura, apenas operações
de montagem (FARAH, 1992, p. 229).

No segmento de casas de alto padrão, de “produção própria”, verificou-se


justamente o contrário: projetos cada vez mais ousados, “inovadores”, que
acabavam por ter custos e prazos bem maiores dos que foram planejados,
justamente pelo seu caráter inédito.

Porém, para atingir o objetivo proposto (ousadia e desempenho), não se propuseram


novas técnicas. Simplesmente se dispôs do que já existia, justamente por este nicho
não ter a melhoria da produtividade como uma das prioridades.

É o que Pereira (1988, p. 2) descreve, quando afirma que:

[...] a transição para as relações capitalistas de produção que diversifica as


técnicas construtivas na cidade de São Paulo, combinando recursos
bastante avançados e industrializados com a persistência dos mais
rudimentares e artesanais.

_____________
95
Paredes maciças de concreto moldadas in loco com fôrmas de alumínio (ENGENHARIA, jan.
1970), e painéis pré-fabricados / tilt-up (ENGENHARIA, set. 1970).
131

A busca pelo aumento da produtividade e redução de custos só podia ser verificada


– dentro do nicho que está sendo exposto – nas iniciativas de empresas já
consagradas por sua construção residencial em múltiplos pavimentos. Essas
empresas mencionadas eram incorporadoras, as quais enxergavam altos retornos
financeiros em seus terrenos que se adequavam melhor ao perfil de um público alvo
afeiçoado a edificações de pequeno porte. Porém, para a realização dessas
moradias, passou-se a contratar empresas que viabilizassem um retorno financeiro
rápido, acostumadas com a repetitividade da construção em altura. É uma
subdivisão do nicho de casas de alto padrão, voltado para a produção do mercado,
bem menos representativo que a produção da autoprodução que se caracteriza pela
construção por encomenda.

Porém, é necessário frisar que não cabe ao presente trabalho a discussão das
técnicas exclusivamente utilizadas por construtoras, cuja especialidade é a
construção em altura.

4.3.1 Estrutura em concreto armado

4.3.1.1 Fundações

No campo da mecânica dos solos, este período (1931-1990) pôde vivenciar a


transição do empirismo para o planejamento, pois as cargas solicitantes
aumentaram (SANTOS, 1982 apud VASCONCELOS, 1985, p. 41) ou pelo aumento
do número de pavimentos, ou pela crescente ousadia dos projetos arquitetônicos.

Porém, os alicerces, sempre que possível, ainda eram executados em alvenaria,


seguindo a seguinte lógica: a largura do alicerce deveria ser de “meio tijolo a mais”
do que a parede, e as valas deveriam ter, aproximadamente, 15 cm a mais que o
alicerce (BORGES, 1962, p. 46). Porém, desde 1920, a lei n° 2332 exigia a
132

execução de “uma camada de concreto ou qualquer outro material conveniente” (A


CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jan. 1924).

Porém, antes do início de sua execução, locavam-se as paredes ou com cavaletes,


ou com tábuas corridas. Os cavaletes apresentavam risco de imprecisão, pois
poderiam ser deslocados se atingidos por carrinhos. Dava-se preferência ao uso das
tábuas corridas:

Consiste na cravação de pontaletes de pinho (3”x 3” ou 3” x 4”) distanciados


entre si de 1,50 m aproximadamente e afastados das futuras paredes cerca
de 1,20 m. Estes pontaletes servirão mais tarde para erguimento de
andaimes, sempre necessários. Nos pontaletes serão pregados [sic] tabuas
sucessivas formando uma cinta em volta da área a ser construída. As
tabuas deverão estar estendidas em nível para que se possa esticar a trena
sôbre elas. Pregos fincados nas tábuas determinam os alinhamentos [fig. 4-
38]. [...] Desde que apenas o eixo foi demarcado, caberá ao mestre a
colocação de pregos laterais que marquem a largura necessária para a
abertura da vala, do alicerce e da parede (BORGES, 1962, p. 42-43).

Prego do eixo

Largura da parede

Largura do alicerce

Largura da vala

Figura 4-38 – Exemplo de demarcação com pregos, indicado a largura da parede, do alicerce, e da
vala, para o caso de parede de um tijolo.
Fonte: (BORGES, 1962, p. 43).

A base de concreto – não armada – era executada com a largura da vala aberta, e
10 cm de espessura. Como essa base tinha como função a melhor distribuição das
cargas “encaminhadas” pelos alicerces, passou a ser chamada de “sapata”. Além
disso, em alguns casos, os alicerces de alvenaria eram “amarrados” com uma cinta
em concreto (fig. 4-39).
133

Figura 4-39 – À esquerda, alicerce sem cinta de amarração, com sapata em concreto. Á direita,
detalhe de cinta de amarração que era executada sem cálculo.
Fonte: (BORGES, 1962, p. 54-55).

Os alicerces também podiam ser executados em alvenaria de pedra em terrenos


alagadiços, pois os tijolos de barro, pelo excesso de umidade, podiam se decompor
(BORGES, 1962, p. 57). Quando a profundidade necessária fosse superior a 1
metro, recorria-se a brocas e/ou estacas pré-moldadas ou de madeira.

Coincidindo com a descoberta do concreto armado, o uso da impermeabilização


passou por mudanças, principalmente após a 1ª guerra mundial:

Com a guerra, o país fazia impermeabilizações com o que havia: na falta de


impermeabilizantes, usavam-se sabão, melaço e outras misturas, onde a
estanqueidade dependia mais da “fé” com que se fazia o trabalho do que da
mão de obra ou “qualidade” dos produtos (MORGADO, 1993, p.17).

Pacheco (1992, p. 17) afirma que a impermeabilização brasileira, como é conhecida


hoje, teve início na década de 1920, por iniciativa alemã. “Utilizava-se basicamente,
o piche – resíduo muito pegajoso, mas impermeável, resistente à ação da água, e
flexível”. Na década de 1930, noticiou-se que os primeiros edifícios foram
impermeabilizados com asfaltos importados da Europa96, especialmente da
Alemanha e da Suíça. Porém, foi na década de 1950 que os materiais importados
começaram a ser substituídos pelos nacionais, sendo desenvolvidas “emulsões
_____________
96
“Otto Baumgart [em 1935] trouxera da Europa um produto composto de sais metálicos e silicatos,
aplicável a sistemas rígidos, misturados às argamassas ou concretos. Batizado como Vedacit, o
material é muito usado até hoje” (PACHECO, 1992, p. 17).
134

asfálticas, além de feltros asfálticos e asfalto oxidado” (PACHECO, 1992, p. 17). Na


primeira metade do século utilizavam-se membranas moldadas in loco. A partir de
1960 foram introduzidas as mantas, impermeabilizações “pré-fabricadas”. Em 1970,
foi criada a primeira comissão de estudos de impermeabilização para a definição de
parâmetros técnicos. Foi em 1974 que surgiu no mercado a impermeabilização por
cristalização.

Atualmente, ainda se executam fundações com uso de blocos estruturais (fig.4-40) –


com ou sem sapata - em conjunto com brocas. Porém, dependendo do perfil do
terreno, do tipo de solo e das cargas solicitantes, faz-se uso de radiers, sapatas,
sapatas corridas, tubulões (fig. 4-41), ou estacas (não se usam mais as de madeira).

Figura 4-40 – Projeto e fundação executada em bloco de concreto com cinta de amarração.
Fonte: (BARROS; SABBATINI, 2010).

Figura 4-41 – Elevação e fotografia da residência Hélio Olga, de 1990. Fundações em tubulão.
Fonte: (SATO, 2007).
135

4.3.1.2 Superestrutura

O concreto foi utilizado, no início do período, até em edificações que haviam sido
projetadas para serem executadas conforme a técnica antiga. Nesses casos,
observou-se a dissociação da vedação externa do papel estrutural.

O material se caracteriza pela união de um meio aglomerante, no qual estão


aglutinadas partículas ou fragmentos de agregados (MEHTA; MONTEIRO, 2008, p.
10). No presente trabalho, o concreto mencionado é o que utiliza o cimento
hidráulico como aglomerante, particularmente o cimento “Portland”. Os agregados
mais comuns são a areia e a rocha britada.

O concreto apresenta dois estágios: o primeiro, no estado fresco, em que o


composto ainda está fluido, e o segundo, no estado endurecido, no qual o conjunto
adquire o formato imposto pela fôrma que o recebeu no estado fresco.

Segundo Albuquerque (1948, p. 65), as fôrmas para execução do concreto armado


eram de madeira de pouca resistência para facilitar o trabalho da mão-de-obra, de
preferência “o pinho nacional serrado em tábuas de uma polegada de espessura”. O
escoramento era feito com vigotas e caibros, também de pinho.

As fôrmas dos pilares (fig. 4-42 e fig. 4-43) eram montadas deixando aberto um dos
lados para facilitar o trabalho de envolver a armadura metálica previamente colocada
na posição do pilar. O travamento era executado com anéis em forma de “U” feitos
de caibros e sarrafos. Internamente, os cantos eram revestidos por sarrafos
triangulares para evitar que se formassem cantos vivos no concreto, os quais
poderiam ser danificados na desfôrma. O quarto lado só era posicionado no
momento do enchimento, e em etapas para facilitar a vibração (ALBUQUERQUE,
1948, p. 65).
136

Figura 4-42 – Perspectiva de fôrma de pilar. Figura 4-43 – Elevação e corte de fôrma para
Fonte: (LIMA, 1958, p. 39). pilares com seção circular, muito usada na
execução de pilotis.
Fonte: (LIMA, 1958, p. 40).

As fôrmas laterais das vigas deviam estar niveladas com o assoalho da laje (fig. 4-44
e fig. 4-45). Este assoalho era escorado com pontaletes travados com cunhas (fig. 4-
46). De maneira a garantir a espessura desejada da laje, tacos de madeira eram
pregados, servindo de guias no momento do alisamento do concreto com réguas
(ALBUQUERQUE, 1948, p. 67).

Figura 4-44 – Ligação das tábuas do Figura 4-45 – Escoras para travamento da fôrma
assoalho da laje, com a fôrma da viga. da viga.
Fonte: (LIMA, 1958, p. 35). Fonte: (LIMA, 1958, p. 38).
137

painel

guias

tala
pé direito

cunhas
calço

Figura 4-46 – Assoalho para laje e seu escoramento.


Fonte: adaptação de (LIMA, 1958, p. 35).

Para resistir aos esforços de tração provenientes da flexão, primeiro se utilizou perfis
metálicos (fig. 4-47), em alguns casos, trilhos de aço, embutidos em argamassa forte
de concreto (ZMITROWICS, 2005, p. 56). Posteriormente, a armação da laje era
executada com barras de aço. Todavia, nos casos em que se mantinha o vigamento
de madeira (nas áreas secas), segundo Albuquerque (1948, p. 104), podia ser mais
econômico o uso de telas de arame encontradas no mercado em rolos ou em folhas
avulsas.

Figura 4-47 – Perfil de aço servindo como armação para a viga.


Fonte: Corte do terraço da Casa das Rosas (1935) do Escritório Técnico “Ramos de Azevedo” Severo
e Villares, pertencentes à biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo.
138

A desfôrma deveria ser realizada na seguinte seqüência: pilares, laje e vigas. O


serviço deveria ser executado visando à reutilização da madeira. De maneira geral,
antes do lançamento do concreto, as fôrmas deveriam ser lavadas.
(ALBUQUERQUE, 1948, p. 67). Segundo Borges (1962, p. 77), quando molhadas,
as tábuas do assoalho incham e as pequenas frestas se fecham.

Porém, nas casas projetadas sob o conceito do modernismo, devido à dificuldade de


execução de alguns projetos (cascas) ou por especificação do próprio arquiteto,
paredes de concreto maciço moldadas in loco retomam a idéia de paredes externas
com função estrutural. Em contrapartida, sua execução era muito semelhante à
moldagem de peças estruturais reticuladas ou planas, estando a diferença apenas
no desafio da montagem da fôrma, a qual muitas vezes deveria deixar marcas
intencionais no concreto que seria aparente.

A alvenaria só iria retomar a função de suporte das cargas nos anos 1960 (ROSSO,
1994), quando o estado incentivou a construção de unidades habitacionais em
edificações de múltiplos pavimentos. Tal incentivo também repercutiu nas
edificações de pequeno porte, porém para sua realização eram utilizados materiais
mais racionais (blocos apropriados, com dimensões maiores97).

Além da alvenaria estrutural (fig. 4-50), atualmente, se utiliza o concreto armado. A


seqüência executiva pode ser a tradicional (fig. 4-48), muito semelhante com a
descrita anteriormente, ou pode ser mista: os elementos de concreto armado são
moldados sobre a alvenaria já executada (fig. 4-49) (BARROS; SABBATINI, 2010).

_____________
97
Segundo Farah (1992, p. 153), os blocos cerâmicos surgiram nos anos 1930. Já os blocos de
concreto, na década de 1940.
139

Figura 4-48 – Fôrma para concretagem das Figura 4-49 – Montagem da armação das
peças estruturais. vigas sobre alvenaria já executada, para
Fonte: (BARROS; SABBATINI, 2010). posterior concretagem.
Fonte: (BARROS; SABBATINI, 2010).

Figura 4-50 – Residência em alvenaria estrutural.


Fonte: (BARROS; SABBATINI, 2010).

4.3.2 Vedações

4.3.2.1 Verticais externas – os blocos

Inicialmente, o tijolo maciço ainda era usado como no período anterior. Porém, as
paredes não eram mais tão espessas. Segundo Lima (1958, p. 54), as paredes
externas (já revestidas) passaram a ter 25 cm de espessura, e os tijolos utilizados
140

deveriam ter textura homogênea, ser leves e bem cozidos, duros e sonoros, não
vitrificados, com faces planas e arestas finas98.

A argamassa utilizada para assentamento, segundo Borges (1962, p. 61), era


composta de cal e areia. Se a cal fosse virgem, a proporção usada era de 1:3. Se a
cal fosse hidratada, a proporção usada era 1:5.

Segundo Borges (1962, p. 58), o serviço de elevação era iniciado pelos cantos (fig.
4-51). Para garantir o alinhamento e o prumo, utilizavam-se escantilhões99 de
madeira e linhas. Albuquerque (1948, p. 63) afirma que os tijolos, no momento do
assentamento, deveriam ser molhados, para livrá-los de partículas de poeira e evitar
que absorvessem parte da água da argamassa, o que podia interferir na aderência.

escantilhão
início pelos
cantos
linhas

respaldo do
alicerce

Figura 4-51 – Início do serviço de elevação pelos cantos.


Fonte: adaptação de (BORGES, 1962, p. 58).

Borges (1962, p. 60-61) afirma que os vãos de portas e janelas eram deixados em
aberto, e, durante o levantamento das paredes, colocavam-se tacos para fixação
dos batentes e ombreiras. Os tacos eram de peroba, com as dimensões de meio
tijolo – para respeitar a modulação –, e apresentavam um estrangulamento central
para melhorar a fixação. Seu assentamento era realizado no decorrer da elevação
da parede, com argamassa de cimento e areia (fig. 4-52).

_____________
98
Segundo o artigo 93, da lei nº 8.266, de 1975, as paredes externas deveriam apresentar
desempenho igual ao de uma parede de 25 cm, composta por tijolos de barro maciços, revestidas
com argamassa de cal e areia (HIRSCHFELD, 1975, p. 52).
99
Espécie de equipamento, no caso de madeira, cuja sua superfície era demarcada com auxílio de
um serrote, para assinalar a graduação correspondente à fiada por fiada (tijolo mais junta de
argamassa). Hoje, o escantilhão é ajustável, quando a parede que for elevada estiver entre duas
lajes, ou apresenta um tripé (utilizado em alvenaria estrutural).
141

Figura 4-52 – Tacos recomendados no período, chumbados com argamassa de cimento e areia.
Fonte: (BORGES, 1962, p. 60).

Sobre os vãos das portas e janelas, eram previstas as vergas em concreto. Borges
(1962, p. 62-63) afirma que sua espessura devia ser menor que a espessura da
parede, e ser posicionada de forma a facear o lado externo da parede. Assim, o
nicho deixado seria preenchido com tijolos ou madeira, para facilitar a fixação das
cortinas. Seu comprimento deveria exceder o comprimento do vão em 30 cm de
cada lado.

As vergas podiam ser materializadas de duas formas, sendo a escolha diretamente


vinculada à dimensão do vão e da parede. Para vãos menores que 1 m, a verga era
constituída de argamassa de cimento e areia envolvendo duas barras de ¼”, sobre
uma fiada de tijolos imediatamente superior ao vão. Para vãos entre 1,00 e 2,40 m,
em paredes de meio tijolo, a peça era moldada fora de sua posição final, e disposta
quando a peça atingisse resistência adequada. Para vãos entre 1,00 e 2,40 m, em
paredes de 1 tijolo, a verga era moldada in loco, com uma tábua ao fundo e tijolos
em espelho nas laterais como fôrmas. Vãos superiores a 2,40 m deveriam receber
vergas calculadas como vigas (fig. 4-53) (BORGES, 1962, p. 63-64).
142

Figura 4-53 – Da esquerda para a direita, em destaque: verga para vãos menores que 1 m; verga
com folga para fixação de tijolos; verga moldada in loco, com fôrma inferior em madeira e lateral em
tijolos posicionados em espelho.
Fonte: (BORGES, 1962, p. 63-64).

Como os tijolos apresentavam variação geométrica, a parede ficava plana somente


em uma de suas faces. Os andaimes eram montados assim que as paredes
atingissem 1,5 m de altura.

No decorrer do tempo, novos materiais para vedação foram sendo criados100, pois os
agentes do setor da construção civil responsáveis pelo fornecimento dos materiais
também estavam imbuídos do espírito da industrialização da construção.

Os revestimentos, dentro deste período, também mudaram significativamente.

Borges (1962, p.138) afirma que o revestimento mais empregado era a argamassa
de cal e areia, em traço aproximado de 1:3, e aplicado em duas camadas: a primeira
de preparação, chamada revestimento grosso ou emboço; a segunda de
acabamento, chamada revestimento fino ou reboco.

Porém, também passaram a ser utilizadas argamassas industrializadas que


imitavam o acabamento da massa fina, massa raspada, e imitação de travertino.
Segundo Sousa (1993, p. 38), os revestimentos externos, que antes eram de
_____________
100
Os tijolos cerâmicos de oito furos surgiram em 1935. Os blocos de concreto celular auto-clavado,
foram introduzidos no mercado em 1948. Os blocos sílico-calcáreos surgiram em 1974. (BARROS,
1998, p. 27). Os blocos vazados de concreto apareceram em 1940 (FARAH, 1992, p. 153).
143

domínio de pedreiros e mestres, passaram a ser segredos industriais muito bem


guardados por parte dos fornecedores.

Atualmente, ao não se optar pelo aspecto dos materiais aparentes, um revestimento


bastante utilizado é o emboço paulista. Neste caso, o revestimento grosso é alisado
com uma esponja, ficando com um aspecto camurçado (não há a etapa do reboco
fino). Posteriormente, a superfície recebe demãos de pintura acrílica.

4.3.2.2 Verticais internas – os blocos ou tijolos

Segundo Albuquerque (1948, p. 71), as paredes internas podiam ser menos


espessas que as externas (de 15 cm com revestimento101), desde que não tivessem
paredes correspondentes no pavimento superior. Lima (1958, p. 54) afirma que as
paredes internas podiam ter 10 cm, já revestidas.

O que diferencia as paredes internas deste período das do anterior são os


revestimentos. No início do terceiro período construtivo de São Paulo, os materiais
para revestimento eram os mesmos102 que os utilizados no período áureo da
alvenaria de tijolos maciços. Somente a forma de aplicação que havia sido alterada.
Por exemplo, para aplicação do revestimento cerâmico, foram criadas as
103
argamassas colantes, em 1970 (FIORITO, p. 5) . Sua criação é resultado de uma
pesquisa com início em 1964, motivada “por problemas de descolamentos de
revestimentos de pisos e paredes, causados por inesperado e elevado consumo de
materiais cerâmicos” (FIORITO, p. 9). Conforme a indústria de materiais foi se
desenvolvendo, foram criados outros tipos de revestimento cerâmico, como as
pastilhas cerâmicas dos anos 50-60.

Ainda, nas áreas secas, é comum o emprego de gesso.


_____________
101
Na 2ª edição, Albuquerque (1948, p. 31) cita que o tijolo utilizado tinha 25 x 12 x 5,5, de
comprimento, largura e espessura, respectivamente. Já na terceira edição, Albuquerque (1952, p.
76) afirma que o tijolo utilizado tinha 23 x 11 x 5,5 centímetros de altura.
102
Com exceção do Granilite, também utilizado em pisos (ver item 4.3.2.5).
103
Segundo Schroeder (1994, p. 47), o uso da argamassa colante se consolidou nos anos 1980.
144

4.3.2.3 Horizontais inferiores – laje impermeabilizada

Quando o piso era executado diretamente sobre o solo, Albuquerque (1948, p. 95)
alerta sobre os inconvenientes da umidade ascensional. No período, preparava-se o
terreno, compactando bem o solo. Sobre ele, se possível, era acrescentado
cascalho. Depois, uma camada de concreto, de 10 a 12 cm104 de espessura era
executada, ou nivelada, ou com o caimento necessário. Sobre ela aplicava-se uma
camada isolante de asfalto, betume, ou mesmo pintura de pixe. Por fim, realizava-se
o revestimento final.

Porém, no início do período ainda era muito comum o uso do porão elevado para
proteger a edificação da umidade externa. Nos casos em que o porão elevado não
era acessível, aplicava-se “concreto bastardo feito com tijolo fragmentado e sobras
de argamassa da própria obra” (ALBUQUERQUE, 1948, p. 96).

4.3.2.4 Horizontais superiores – a cobertura plana

Neste período, os telhados, por conta dos movimentos arquitetônicos, sofreram


muitas alterações. Os beirais reapareceram, foram ocultados novamente, até que o
telhado105 em si foi substituído pela cobertura plana.

As mudanças nos sistemas de coberturas, resolvidas agora com telhas de


novos materiais, com pequenas inclinações, apoiadas sobre as lajes de
concreto e ocultas sob discretas platibandas, dariam ensejo a uma

_____________
104
Segundo o artigo 98, da lei nº 8.266, de 1975, os pavimentos sobre o solo deveriam ser
impermeabilizados e constituídos por camada de concreto, com espessura mínima de 7 cm, ou de
material equivalente (HIRSCHFELD, 1975, p. 54).
105
Como a estrutura de um telhado de madeira permaneceu basicamente a mesma, havendo
alterações apenas na forma de sustentação da mesma, não serão descritas novamente. Até
1975, a lei nº 8.266, através do artigo 95, exigia que a cobertura da edificação deveria apresentar
o mesmo desempenho que um telhado de telhas de barro sustentadas por armação de madeira,
na inclinação adequada e com forro de estuque (HIRSCHFELD, 1975, p. 53).
145

geometrização geral dos volumes, nos termos dos modelos estrangeiros


das casas de teto plano, de gosto cubista. Internamente essa inovação
possibilitaria a variação dos níveis de pé-direito em cada compartimento,
acompanhando a declividade suave do telhado. Externamente as inovações
plásticas corresponderiam à decadência do fachadismo e ao tratamento
arquitetônico homogêneo de todas as elevações (REIS FILHO, 2002, p. 91-
92).

A estrutura dos telhados, em alguns casos, passou a ser apoiada sobre uma laje de
concreto armado, a qual servia como forro ou de substrato para aplicação de um
revestimento aderido. A inclinação do telhado era dada por pilaretes de diferentes
alturas, que nascem a partir da laje (fig. 4-54).

Figura 4-54 – Estrutura de madeira, com diferentes tipos de acabamento do beiral, apoiada sobre laje
de concreto.
A) o revestimento da parte inferior do beiral está fixado nos próprios caibros do telhado. B) Outra
trama de caibros e embutida na parede e fixada nos caibros do telhado. C) Cachorro decorativo
fixado no revestimento tipo B. Fonte: (ALBUQUERQUE, 1948, p. 115).

As telhas utilizadas, no caso do emprego de telhado, ainda podiam sem capa-e-


canal ou planas. Porém, no final dos anos 1930 (FARAH, 1992, p. 153), surgiram as
telhas de fibrocimento (fig.4-55) e as metálicas.

A telha de fibro-cimento, pelo seu pouco peso, pela facilidade de colocação e pela
redução que permite obter na estrutura do telhado, dispensando os caibros e as
ripas, é empregada quase com exclusividade em outros tipos de construções
(ALBUQUERQUE, 1952, p.182).
146

Figura 4-55 – Telhas de fibrocimento.


As telhas autoportantes, permitem uma estrutura mais esbelta do telhado. Fonte: (ALBUQUERQUE,
1952, p. 183).

Quando a laje não era coberta por um telhado (fig. 4-56), era necessária a aplicação
de uma proteção térmica (contra grandes dilatações) e impermeabilização. Como já
foi mencionado, a impermeabilização nacional teve grande impulso na década de
1950. A partir de 1960 passou a se utilizar mantas, e na década de 1970, se
desenvolveu a impermeabilização por cristalização (PACHECO, 1992, p.17).
Segundo Farah (1992, p. 153), esta evolução que permitiu o uso de lajes planas
como cobertura.

Figura 4-56 – Cobertura em laje plana da Residência Paulo Mendes da Rocha (1966).
Fonte: (OAKLEY, 2006).
147

4.3.2.5 Horizontais intermediárias – a laje mista

As vedações horizontais intermediárias mais comuns, do início do terceiro período


até 1950, aproximadamente, eram as lajes de concreto106. De acordo com
Albuquerque (1948, p. 104), a preocupação principal do construtor era prever as
folgas necessárias para que não houvesse ressalto entre compartimentos revestidos
de materiais diversos (fig. 4-57).

Figura 4-57 – Laje de concreto armado, com rebaixo para garantia de mesmo nível entre tipos de
revestimento de piso diferentes.
Fonte: (ALBUQUERQUE, 1948, p. 103).

Porém, em alguns casos, ainda se utilizavam os antigos barrotes107 de madeira e,


eventualmente, vigas de ferro, concreto ou madeira, também conhecidas como
madres, normalmente utilizadas no caso de parede sem correspondente no piso
inferior (ALBUQUERQUE, 1948, p. 104).

Para que não houvesse oscilação do assoalho, os barrotes deveriam estar


espaçados em 50 cm, aproximadamente, de eixo a eixo. Ainda, o seu apoio sobre as
paredes não podia ser inferior a 15 cm108 e suas pontas deveriam receber pintura de
pixe ou material equivalente (BOLETIM DO INSITUTO DE ENGENHARIA, 1923, p.
83). Quando a parede fosse central, e servisse de apoio para barrotes de dois

_____________
106
A laje de concreto armado – com dez centímetros de espessura, acabada na superfície superior
com tacos de madeira e na face inferior, com argamassa de cal e areia – era a referência de
desempenho exigida pela lei nº 8.266, de 1975 (HIRSCHFELD, 1975, p. 53).
107
Os barrotes nem sempre eram calculados. Na maioria dos casos comprava-se a madeira
disponível nas casas de negociantes especializados. O comprimento usual dos barrotes era de
4,40 m. Trata-se de um múltiplo do palmo (ALBUQUERQUE, 1942, p. 108).
108
Exigido pela lei nº 2332, de 1920 (BOLETIM DO INSTITUTO DE ENGENHARIA, 1923, p. 83),
mantido pelo Código de Obras “Arthur Saboya” (AYRES NETTO, 1950, p. 87). Esse tipo de
vedação horizontal não aparece no código de edificações de junho de 1975, data de promulgação
da lei nº 8266 (HIRSCHFELD, 1982, p. 55).
148

compartimentos, não havia a necessidade de “encontrá-los” de topo, a não ser que


ficassem aparentes (fig. 4-58).

Figura 4-58 – Espaçamento entre barrotes e seu apoio em paredes de alvenaria ou madre.
Fonte: (ALBUQUERQUE, 1948, p. 109).

O apoio das madres não podia ser localizado acima de um vão de porta ou janela
(fig. 4-59). Se fosse a única opção, uma verga especial devia ser projetada. Ainda,
Albuquerque (1948, p. 107) afirma:

[...] em caso algum é permitido apoiar a madre directamente na alvenaria de


109
tijolo; será indispensável recorrer a coxim de concreto abrangendo certo
número de fiadas de alvenaria. As cargas concentradas merecem sempre
cuidados especiais.

Figura 4-59 – Posicionamento recomendado das madres.


Fonte: (ALBUQUERQUE, 1948, p. 107).

No entanto, compatível com o retorno da alvenaria estrutural, para a estruturação da


vedação horizontal intermediária, passou a se utilizar a técnica construtiva conhecida
como laje mista, disponível no mercado, segundo Farah (1992, p. 153) desde os
_____________
109
Diz a lei nº 2332, de 1920: “As vigas madres metalicas deverão ser embutidas nas paredes e
apoiadas em coxins, com a largura mínima de 30 cm, no sentido do eixo da viga. O apoio não
podera ser feito diretamente sobre a alvenaria. Serão pintadas de duas demãos de tinta
antiferruginosa” (BOLETIM DO INSTITUTO DE ENGENHARIA, 1923, p. 83). Como no caso da
execução de sobrados de madeira, a execução de madres não consta mais no Código de
Edificações de 1975 (HIRSCHFELD, 1982, p. 55).
149

anos 1940. Essa técnica se vale de vigotas (com abas) de concreto pré-moldadas
para a sustentação de tijolos furados de cerâmica ou de concreto. Este conjunto era
envolto por concreto no local. A espessura mínima de concreto acima da face
superior das lajotas era de três centímetros. Existem variações destas técnicas,
como laje tipo Volterrana (BORGES, 1962, p. 90) (fig. 4-60), e a laje tipo “Universal”
(ENGENHARIA, 1948) (fig. 4-61).

Segundo Baldovino e Rosso (1953, p. 3), as lajes tipo Volterranas têm origem na
evolução dos sobrados italianos. A partir da introdução do ferro, a separação dos
pavimentos foi dita “de vigas e VOLTERRANAS”. Estas últimas nada mais eram que
tijolos furados de forma apropriada para constituírem entre as mencionadas vigas de
ferro, abobadilhas de alvenaria. Em artigo publicado na Revista Politécnica de 1953,
os autores mencionados comentam a respeito da laje (aproveitando para fazer uma
propaganda da nova solução construtiva):

Quando o concreto substituiu o ferro, os sobrados também evoluíram e


tivemos as lages maciças, de dito material, capazes de suportar grandes
cargas, com imensas aplicações, seja nas construções civis como nas
industriais [...].
Foi assim que, como conseqüência lógica de toda uma evolução das
técnicas das construções e de uma secular experiência, surgiram as LAJES
MISTAS E AS LAJES NERVURADAS DE CONCRETO ARMADO [...].
As lajes mistas, cujo cálculo e execução devem entre nós obedecer às
normas NB-4, são definidas aquelas que se constroem com tijolos
cerâmicos capazes de resistir aos esforços de compressão oriundos da
flexão, quando solidários com nervuras de concreto armado.
[...]
A experiência demonstrou que essa solidariedade é muito dificilmente
conseguida e quando a montagem da lage é entregue aos próprios
construtores, não é sempre garantida devido aos defeitos da concretagem.
Como resultado destas observações, pensou-se em modificar a estrutura,
fornecendo uma viga já pronta [...] criou-se este novo tipo de lage mista que
aqui apresentamos: a LAGE VOLTERRANA SIPAC (BALDOVINO; ROSSO,
1953, p. 4).
150

Figura 4-60 – Laje mista tipo Volterrana.


Fonte: (BALDIVINO; ROSSO, 1953, p. 4).

Figura 4-61 – Seção curiosa do componente cerâmico da laje mista tipo Universal.
Fonte: (ENGENHARIA, 1948, p. II-VIII).

Os pisos utilizados neste período não apresentam muitas alterações em relação ao


estágio anterior, com a diferença da difusão do emprego dos materiais cerâmicos,
raros no século XIX. Eram utilizados o ladrilho de cimento, terracota ou ladrilho
cerâmico, grês cerâmico, e pastilha cerâmica (mesmo material, com dimensões
reduzidas). O assentamento era realizado com argamassas plásticas, compostas por
cimento, cal ou saibro e areia, em cuja superfície era polvilhado pó de cimento.

Além dos materiais mencionados, utilizava-se o granilite, também conhecido como


Granilita, a partir de 1921, quando a empresa Ulysses Pellicciotti & Cia, de São
151

Paulo, patenteou o nome (TACLA, 1984, p. 235). Albuquerque (1948, p. 187) define
o granilite como um aglomerado de cimento, areia, pó de mármore e fragmentos de
pedras duras, o qual era bastante empregado. Este tipo de revestimento era
aplicado como uma argamassa, em duas camadas: a primeira composta por areia e
cimento, e a segunda com os vários ingredientes necessários. Posteriormente, era
polido após o adequado endurecimento. A desvantagem deste tipo de revestimento
residia na propensão à fissuração, se não fosse executado com juntas. Porém,
mesmo com juntas – normalmente de latão – as fissuras poderiam aparecer,
segundo o autor. Este tipo de material não aceita reparos.

Em relação aos pisos considerados “quentes”, pôde-se perceber alguma mudança.


Apesar do uso da tábua corrida continuar, passou-se a utilizar também tacos e
parquês. O soalho de tábuas, aplicado desde fins do século XIX, no caso de
aplicação sobre laje ou sobre abobadilhas cerâmicas, era aplicado sobre ganzepes,
peças de madeira com talho em formato trapezoidal para posterior encaixe, ou
barrotes. A fixação dos ganzepes ou barrotes se fazia pela aplicação de argamassas
fortes nas suas laterais. O vão entre eles, se preenchido, recebia uma argamassa
fraca ou materiais leves. O soalho de tacos aparece a partir do final da década de
1940, se popularizando até 1960 (BARROS, 1991, p. 15).

Os parquês são empregados com auxílio de adesivos, diferentemente da técnica


tradicional citada acima. Da mesma forma, eram fixados os pisos à base de
borracha, ou plásticos, e os revestimentos têxteis110. Na maioria dos casos
comentados, a camada de fixação apresentava reduzida espessura, portanto o
substrato requeria uma planeza mais rigorosa (BARROS, 1991, p. 16).

A seguir, a afirmação de Barros (1991) sobre os pisos ao longo do terceiro período


estipulado pelo presente trabalho:

[...], avaliando-se as técnicas construtivas aplicadas ao subsistema piso,


identifica-se que o fator gerador de sua evolução é a introdução de novos
componentes de revestimento e materiais de assentamento, não

_____________
110
Aparecem somente no início de 1970 (BARROS, 1991, p. 17).
152

implicando, porém, num avanço da tecnologia construtiva, que vem


ocorrendo de forma lenta e localizada (BARROS, 1991, p. 17).

Porém, é a introdução das argamassas adesivas (a partir de 1970) para o


assentamento de ladrilhos e pedras a maior invenção no caso dos materiais para
piso, a qual eleva a exigência dos padrões de planeza e regularidade das bases.
Segundo Barros (1991, p. 18), é tal exigência que leva à necessidade da
constituição de uma camada reguladora, conhecida como contrapiso, em vista das
alternativas de execução de laje da época.

O forro em estuque ainda estava sendo empregado no início do período, quando a


laje em concreto ainda não era deixada aparente, ou revestida com gesso.

4.4 Evolução nos demais subsistemas

4.4.1 Esquadrias

As esquadrias eram instaladas após o término das paredes, e seus vãos eram
deixados abertos durante a execução destas. No momento em que as paredes
atingiam o nível superior das portas e janelas, era colocada, sobre cada vão, uma
grande tábua grossa para permitir a continuação do serviço. De acordo com Katinsky
(1972, p. 87), as vergas, soleiras ou parapeitos eram maiores que o vão final e,
portanto, ficavam encravadas na parede de taipa (fig. 4-62).
153

Figura 4-62 – Exemplo de janela, cuja padieira e peitoril são mais largos (no mínimo 14 cm de cada
lado) que o vão delimitado pelas ombreiras.
Fonte: Ilustração de Katinsky (1972, p. 86). Fotografia de Mariana Matayoshi, 2006.

As aduelas, lumeeiras e vergas poderiam ser colocadas separadamente ou já pré-


montadas. Em São Paulo, costumava-se utilizar madeira (VARGAS et al., 1994), de
preferência a do tipo “canela-preta” (SAIA, 1957; LOUREIRO, 1981). Porém, a
técnica portuguesa original utilizava pedras nos vãos das esquadrias (KATINSKY,
1972, p. 86).

Figura 4-63 – Janela e “acessórios” da Casa do Bandeirante, de meados do século XVIII.


Fonte: Fotografias de Mariana Matayoshi, 2006.
154

No início da colonização, as janelas e portas eram simples, com traços retos. Por
volta de 1745, as janelas e portas passaram a ser executadas com vergas
arqueadas (fig. 4-64) e sobrevergas (elementos decorativos acima das peças de
arremate superior dos vãos) (REIS FILHO, 2004, p. 46). Os peitoris, quando
existentes, eram executados com o mesmo material dos arremates mencionados
(REIS FILHO, 2004, p. 46-47).

Figura 4-64 – Detalhe de verga reta (esquerda) e verga curva (direita) de porta da Casa do
Bandeirante, de meados do século XVIII.
Fonte: (SATO, 2007).

Outra característica das esquadrias coloniais, que se perdeu com o tempo, era a
grade de proteção (fig. 4-65), existente do lado de fora das folhas escuras, também
em madeira, com as quinas voltadas para fora (LOUREIRO, 1981, p. 20).

Figura 4-65 – Detalhe dos encaixes para grade de proteção de madeira.


Fonte: (LEMOS, 1969, 43).
155

Quando o forro se fecha totalmente sob os telhados, as janelas passaram a ser


fechadas com treliças, gelosias, ou muxarabies (fig. 4-66). Este tipo de fechamento
permitia a passagem do ar e da luz, sem expor o interior da casa para estranhos
(REIS FILHO, 2004, p. 48). Porém, este costume já criticado pelo Marquês de
Pombal, foi banido no século XIX, pouco tempo depois da abertura dos portos que
favoreceu a importação de vidros.

Figura 4-66 – Muxarabies.


Fonte: Aquarela de Wasth Rodrigues, disponível em <www.dicionarioderuas.com.br/galeria>. Último
acesso em abr. 2007 (esquerda); Desenho de Wasth Rodrigues extraído de (PINHEIRO, 1997, p. 65)
(direita).

Com a mudança da técnica construtiva para a alvenaria de tijolos maciços, as


esquadrias também sofreram alterações, como é dito por Reis Filho (2002):

O enquadramento e a vedação dos vãos de portas e janelas aproveitavam


de diversos aperfeiçoamentos tecnológicos, sofrendo ao mesmo tempo
mudanças constantes, com o fim de responder às novas condições de uso
nas habitações. Podendo contar com peças de madeira aparelhada, vidros
e ferragens de melhor qualidade, importados a preços relativamente
reduzidos, os construtores passaram a utilizar um detalhamento mais
minucioso e tecnicamente mais elaborado (REIS FILHO, 2002, p. 162).

Com a substituição das gelosias pelo vidro, a partir do século XIX, em pouco tempo
percebeu-se que era necessário outro elemento para controle da luminosidade111.

_____________
111
Em 1920, o uso da persiana era regulamentado pela lei n° 2332: “Todos os aposentos de dormir
deverão ter as aberturas exteriores providas de venezianas ou de dispositivos proprios para
156

“As primeiras venezianas surgiram nos dormitórios. Eram compostas com réguas
largas e substituíam as vidraças, como vedação externa” (REIS FILHO, 2002, p.
163).

As esquadrias das janelas das áreas sociais ainda eram de madeira, porém com
trilhos metálicos e proporções diferentes (fig.4-67 e fig. 4-68). A utilização de vidros
planos, possibilitada pelos recursos adquiridos com o café, permitia a iluminação
natural interna, independentemente do tempo. Os antigos panos escuros da cidade
de taipa foram substituídos por panos mais esbeltos, denominados persianas,
obrigatórios para dormitórios, latrinas e banheiros. Em alguns pontos, mais
especificamente nas frestas dos porões elevados, barras de ferro fundido protegiam
a construção contra possíveis invasões. As áreas com atividades de serviço
possuíam as esquadrias das janelas em ferro (fig. 4-70 e 4-71).

Figura 4-67 – Esquadria em madeira da Casa das Rosas (1935), à Avenida Paulista. No detalhe (dir.),
os trilhos que possibilitam a abertura das persianas.
Fonte: (SATO, 2007).

assegurar a renovação do ar, provocando permanente tiragem” (A CONSTRUCÇÃO EM SÃO


PAULO, jan. 1924).
157

Figura 4-68 – Janela em madeira da Vila Figura 4-69 – Janela com moldura de pedra,
Penteado (1902). guilhotina e persianas em madeira e grade de
Fonte: Fotografia de Mariana Matayoshi, 2004. proteção de ferro fundido.
Fonte: Fotografia de Sato, 2007.

Figura 4-70 – Janelas das áreas de serviço da Casa das Rosas (1935).
Fonte: Fotografia de Sato, 2007.

Figura 4-71 – Grade de fechamento de janela do porão.


Fonte: Fotografia de Sato, 2007.

No início do século XX, surgem as janelas com montagens metálicas, geralmente


com a forma de vitrais (REIS FILHO, 2002, p. 163) (fig. 4-72).
158

Figura 4-72 – Caixilhos metálicos, com vidros coloridos formando vitrais.


Três fotografias acima: Residência Jorge Maluf, de 1934. Abaixo, à esquerda: vitral da Casa das
Rosas, de 1935. Abaixo, à direita: Residência Neocolonial, de 1940. Fonte: (SATO, 2007).

“As portas eram geralmente de duas folhas, com três almofadas (fig. 4-73) cada
uma. Nas externas, as almofadas do centro foram sendo substituídas por pequenas
janelas de vidro, protegidas com grades de ferro forjado” (REIS FILHO, 2002, p.
163). Dependendo da imponência desejada, a porta de entrada era em ferro fundido.
159

Figura 4-73 – Variação de portas almofadadas.


Fonte: Desenhos publicados na revista A Construcção em São Paulo, de março de 1924.

No caso das portas, os materiais se invertiam: em áreas nobres, sociais, as portas


eram grandiosas, em ferro fundido, ricamente ornamentadas. As portas das áreas de
serviços eram de madeira (fig. 4-74).

Figura 4-74 – À esquerda, porta da entrada, metálica. Ao centro, porta de madeira, que dá acesso a
pátio interno privativo. Casas das Rosas, 1935. À direita, porta de madeira da Vila Penteado, 1902.
Fonte: (SATO, 2007).

A Revista A Construcção em São Paulo, de março de 1924, publicou uma descrição


detalhada das portas mais comuns, com o intuito de padronizá-las:

Para as portas, pode-se adoptar a collocação em batentes ou em caixões.


Usam-se geralmente batentes para as portas externa, sendo elles de
160

espessura regular e tendo rebaixo para encaixe da porta com fechamento.


[...] Os caixões são constituidos de uma peça de madeira mais grossa, que
chamamos aduella, sendo nella feito o rebaixo, tendo a aduella a mesma
largura que a espessura da parede. Dos dois lados colocam-se molduras
que rematam a porta, cobrindo o encontro da alvenaria com a aduella;
essas molduras devem ser ligeiramente embutidas no revestimento da
parede. Completando-se a porta, usa-se não descer a moldura até o soalho,
interrompendo-a um pouco acima do rodapé e applicando uma outra
moldura que denominamos de socle (A CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO,
mar. 1924).

As madeiras mais utilizadas eram o Pinho-do-Paraná, pintado a óleo ou esmalte, o


Jequitibá (preço regulava com o pinho, mas era mais raro), o Cedro (mais caro na
época), a Peróba (para aduelas e batentes), a Embuia (muito cara), e ainda o Pinho-
de-Riga (caríssimo).

Quanto aos vãos, a mesma publicação citada menciona 2,20 metros de altura, pois
permite “a passagem do individuo mais alto com chapéo na cabeça”. De largura,
0,90 metros para os cômodos de recepção; 0,80 metros para os dormitórios e peças
de serviço; 0,70 metros também para peças de serviço. A espessura da porta
deveria variar de 30 a 35 milímetros (A CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, mar.
1924).

O alumínio foi utilizado na produção de esquadrias desde os anos 1950 (FARAH,


1992, p. 153). Vasconcelos (1985, p. 40) afirma que, após a década de 1960, as
esquadrias de madeira entre parapeitos, vergas e bonecas de alvenaria foram
substituídas por esquadrias de alumínio de piso a teto, de parede a parede.
161

Figura 4-75 – Caixilho da Residência Paulo Mendes da Rocha, 1964 (esquerda), e detalhe de seu
projeto (direita).
Fonte: (SPIRO, 2002, p. 59).

As portas do terceiro período proposto pelo presente trabalho, perderam as


almofadas que compunham as portas do período anterior. Com a intensificação da
industrialização dos materiais de construção, a maioria das portas deixou de ser
maciças.

Figura 4-76 – Porta principal da Residência Paulo Mendes da Rocha, de 1964.


Fonte: (SPIRO, 2002, p. 58).
162

4.4.2 Instalações

4.4.2.1 Hidráulicas

Na época da fundação da cidade de São Paulo, não havia abastecimento de água.


Esta era recolhida nos rios mais próximos, ou fontes naturais. Portanto, as casas
eram estrategicamente construídas nas proximidades das várzeas, mantendo-se
sempre uma distância de segurança contra enchentes.

O esgoto era simplesmente jogado pela janela, ou levado pelos escravos em barris
apelidados de “tigres” (REIS FILHO, 2002, p. 26).

Com o crescimento da cidade, somente ao final do século XVIII foram construídas


fontes artificiais em pontos estratégicos (SABESP, 2003).

O primeiro encanamento de água foi executado pelos frades de São


Francisco, para abastecimento próprio, isto em 1774. Em 1770 o
governador Lorena determinou a construção do chafariz da Misericórdia, em
pleno centro da Cidade, nas proximidades da Rua Direita e Rua do Palácio,
segundo projeto do Brigadeiro João da Costa Ferreira. A construção foi
confiada ao pedreiro Tebas. Nesse chafariz foi instalada a segunda
tubulação de esgotos de São Paulo, para conduzir as sobras de água e
desaguá-las no quintal do Palácio. O primeiro cano de esgoto já tinha sido
executado para servir o convento de Santa Teresa. (NOGUEIRA, 1994, p.
196).

O início da construção da rede de esgotos de São Paulo é de 1876. De acordo com


Nagamini (1999, p. 86), em 1877 é criada a Companhia Cantareira de Águas e
163

Esgotos, com capitais ingleses, visando o saneamento e o abastecimento de


água112.

Entretanto, quanto à alimentação de água, as ligações domiciliares somente foram


feitas no último quartel do século XIX, quando ainda se tentava eliminar o
fornecimento por chafarizes ou carros-pipa (SABESP, 2003, p. 26). Segundo
Nogueira (1994, p. 197), em 1887 já havia 5.000 ligações de água na cidade.

O início do século constituiu-se num período de longas e acaloradas


discussões em torno do problema da água. Estas discussões [...] giravam
em torno de dois temas básicos: Adução por gravidade e adução por
recalque; Aproveitamento de águas próximas, com processos de purificação
versus a utilização de águas mais distantes, porém de melhor qualidade
(NOGUEIRA, 1994, p. 198).

Assim, pouco a pouco, os banheiros são incluídos dentro do corpo da edificação nos
programas de necessidades, pois as tubulações113 importadas eram caríssimas
(PAULO, 2004). As louças sanitárias estavam disponíveis desde os anos 1930
(FARAH, 1992, p. 153):

Dos banhos de bacia, das jarras de quarto, dos urinóis de alcova, serviços
que sobrepunham aos dormitórios mais sujeitos às dificuldades do
transporte manual, chegava-se a uma definição funcional e técnica. Eram
empregadas as primeiras peças importadas de louça e ferro esmaltado:
banheiras gigantescas, com pés de leão, banheiras menores, de crianças,
chuveiros de balancim, pias muito enfeitadas, bidês e vasos sanitários,
também de louça colorida e ruidosas caixas de descarga (REIS FILHO,
2002, p. 164) [fig. 4-77].

_____________
112
A rede inicial tinha cerca de 14,5 km de comprimento, barragem de captação e um reservatório
para 500 milhões de litros. Dez anos depois, essa companhia ampliava sua rede para poder
distribuir água para 3.419 prédios, sendo que cerca de 4.450 prédios estavam ligados à rede de
esgotos (NAGAMINI, 1999, p. 86).
113
As tubulações eram embutidas na parede, ou no piso (A CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jun.
1924).
164

Figura 4-77 – Louças e metais típicos da fase do ecletismo.


Fonte: Sato, 2007.

Segundo Leitão (1896, p. 398), a tubulação ordinariamente empregada era a de


chumbo, pois possuía “grande tenacidade, flexibilidade, e facilidade de se deixar
soldar”.

As águas pluviais eram direcionadas com o emprego de manilhas de grês114, ou


tubos de ferro, ou tubos de zinco.

_____________
114 o o
“Produto cerâmico impermeável obtido por cocção, entre 1250 C e 1300 C, de uma pasta
vitrificável, natural (argila vitrificável) ou artificialmente preparada, cujas características finais mais
importantes são: massa opaca de som metálico, sem brilho, não riscável por ponta de aço e
dureza pétrea” (TACLA, 1984, p. 236).
165

O esgoto já era disposto com auxílio de manilhas cerâmicas, cujo “emprego [era]
115
frequentissimo na construcção das tubagens [...]” (LEITÃO, 1896, p. 32-33) , ou
tubos de ferro. As águas de lavagem eram dispostas por tubos de chumbo.

Contribuem, para essas mudanças, o conhecimento científico e as pesquisas que se


realizam para melhorar os sistemas de tratamento d’água e esgotos para complexos
urbanos, a partir da cientifização das atividades (NAGAMINI, 1999, p. 87).

A primeira legislação estadual contra a poluição das águas é a do Decreto no.


10.890 de 1940. A SABESP, após eliminar o enorme déficit do sistema de
abastecimento de água, voltou a sua atenção para o ataque à impressionante
insuficiência dos sistemas de coleta e tratamento de esgotos sanitários e industriais
(NOGUEIRA, 1994, p. 204).

Inicialmente, utilizavam-se tubulações e conexões importadas de água fria e de


esgotos (REIS FILHO, 2002, p. 43), feitos até então em ferro fundido, aço
galvanizado, ou em cerâmica. Em meados do século XX, surgiu o PVC. O PVC
flexível passou a ser produzido no Brasil a partir de 1950 (FARAH, 1992, p. 153) 116.
Os tubos de PVC rígido passaram a ser produzidos após 1958:

Uma tarefa bastante árdua enfrentada pela Tigre nos anos 60 foi romper o
preconceito contra os tubos de PVC. Para tanto foi realizado um grande
programa de marketing que incluiu desde o patrocínio de programas de
rádio até propaganda nos principais jornais e revistas da época, sempre
comparando os novos produtos com os tubos metálicos tradicionais e em
1959, ao lançar as primeiras conexões de PVC, a Tigre introduzia no
117
mercado o conceito de "sistema hidráulico" ou "linha completa” .

_____________
115
Segundo o autor mencionado, as manilhas bem fabricadas são sonoras quando percutidas por um
corpo duro; as que tinham fendas acusavam-se facilmente pelo som surdo que se obtinha nessa
percussão. O mesmo acontecia se as manilhas cujo cozimento tivesse sido insuficiente, ou em
demasiado.
116
Informação também verificada em: <http://www.tigre.com.br>. Acesso em: 09 ago. 2010.
117
Citação extraída do site: <http://www.correa.com.br/>. Acesso em: 09 ago. 2010.
166

4.4.2.2 Elétricas

Segundo Nagamini (1999, p. 86), a iluminação pública, à gás, foi inaugurada em


1872, “tendo sido colocados, para tanto, setecentos combustores”. O “gaz” era
fornecido em tubulações de chumbo, e seguiam quase todas as regras
estabelecidas para as tubulações de água (LEITÃO, 1896, p. 402).

Em 1899, foi fundada a “The São Paulo Railway, Light Power Company Limited”.
Porém, sua atuação ficou limitada ao fornecimento de energia elétrica apenas para
as localidades não abastecidas pela “São Paulo Gaz Company”.

A The São Paulo Tramway Light and Power Company foi criada em 1901 (VIEIRA;
BRITO, 1994, p. 264). Esta empresa “obtém a concessão para a instalação de
bondes elétricos e dos serviços de geração e distribuição de energia” (NAGAMINI,
1999, p. 87).

A partir do século XX, a energia elétrica é transmitida através de cabos e


fios para iluminação urbana e para tração de veículos de transporte coletivo.
[...]. Os bondes, que tinham surgido logo após as ferrovias regionais, eram
agora passados da tração animal para a tração elétrica (ZMITROWICS,
2005, p. 52).

A iluminação elétrica doméstica só se consolidou por volta de 1920 (PAULO, 2004,


p. 223).

No início as lâmpadas eram vendidas pela Companhia de Eletricidade e não


em lojas. Não existia conta de luz, existia um procedimento pelo qual pedia-
se a instalação em lâmpadas (os fios já deviam estar instalados) [...]
Vinham fazer a instalação; forneciam tudo: a corrente elétrica, os serviços a
lâmpada, e pagava-se uma taxa por mês. Não havia caixa de medição. A
ligação vinha do poste, direto (PAULO, 2004, p. 224).
167

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho desenvolvido até o presente momento teve, primeiramente, a intenção de


elencar os principais acontecimentos sociais, políticos e econômicos que
repercutiram sobre a construção civil, em especial, nas técnicas construtivas
paulistanas. Em uma segunda etapa, intentou-se a sistematização das técnicas
construtivas utilizadas na capital do planalto, da sua fundação até os dias atuais.

No capítulo 3, pretendeu-se exprimir os acontecimentos que levaram às mudanças


registradas no capítulo 4. A variação dos estilos arquitetônicos sempre teve uma
relação intrínseca com o gosto da elite (aristocracia do café, imigrantes emergentes,
e seus descendentes): o desejo de ostentação do que era novo, levou ao uso
impensado de muitas soluções técnicas. Os eventos políticos, por sua vez, tanto
possibilitaram o desenvolvimento econômico (abertura dos portos), quanto
influenciaram a sociedade paulistana ideologicamente e culturalmente (agitação da
sociedade com a declaração da independência e proclamação da república, bem
como o incentivo da criação das instituições de ensino). Os fatores econômicos e
sociais providenciaram recursos monetários e humanos, essenciais para a criação
de um mercado interno, o qual iria favorecer a formação de uma indústria própria.
Essa indústria, juntamente com o conhecimento que estava sendo desenvolvimento
nas primeiras instituições de ensino superior, iria levar São Paulo ao patamar em
que é encontrada hoje: o de megalópole industrializada.

A intenção do capítulo 4 era a de registrar todas as técnicas construtivas


encontradas nas publicações assinaladas no item em se descreveu a metodologia a
ser seguida. Apesar de terem sido encontrados diversos materiais que tangenciam o
assunto, poucos aprofundaram seus conteúdos efetivamente em relação às técnicas
construtivas. O resumo dos principais itens levantados pode ser visualizado na
tabela 5.1.
168

Tabela 5-1 – Resumo das técnicas utilizadas em São Paulo, ao longo dos três períodos estipulados.
Subsistema /
período 1 (1554-1849) 2 (1850-1929) 3 (1930-hoje)

Marcação: com estacas Marcação: com tábuas Marcação: com


e linhas. ou cavaletes, e linhas. cavaletes ou gabarito, e
arames.
Material: pedra (se Material: tijolo de barro Material: tijolos de barro
houvesse) ou terra maciço, com base de maciços, blocos
Alicerces socada (encontrada no concreto (sapata). cerâmicos e de concreto,
próprio canteiro). com ou sem sapata de
concreto armado.
Fundações rasas. Fundações rasas. Fundações rasas ou
Estrutura

Raramente profundas: profundas: brocas,


estacas de madeira. estacas de concreto, e
tubulões.
Precisa de fôrma. Não precisa de Precisa de fôrma.
fôrma.
Parede estrutural de Parede estrutural de Estrutura reticulada de
Super- terra socada (taipa tijolos maciços (23 x concreto armado.
acúmulo de funções

acúmulo de funções

estrutura de pilão). 11 x 5,5 cm ou Paredes maciças de


variações), dispostos concreto armado.
em aparelhos. Alvenaria estrutural de
blocos (39 x 19 x 14 cm
ou variações).
Revestimento de cal. Revestimento em Alvenaria de vedação de
argamassas tijolos maciços ou blocos
decorativas dosadas de vedação.
Externas em canteiro, Revestimento (quando
azulejos houver) em argamassas
(Neocolonial). industrializadas ou
Vedações verticais

dosadas em canteiro.
Taipa de mão Tabiques Alvenaria de vedação
Malha de paus roliços. Malha de tabuado de Blocos de vedação,
Preenchimento com madeira ou de sarrafos blocos estruturais
barro. Preenchimento com (quando houver parede
argamassa de cal e areia estrutural interna).
Internas (depois cimento).
Revestimento: não foi Revestimento: azulejos Revestimento: peças
encontrado nas (áreas úmidas), papel de cerâmicas (áreas
referências consultadas. parede, madeira úmidas), gesso.
(lambris), mármore,
granito, granilite.
Material: Terra batida, Material: pedras ou Material: concreto
Inferiores
tábuas de madeira. argamassa impermeável. armado.
Vedações horizontais

Estruturação: telhado de Estruturação: telhado de Estruturação: telhado


madeira com quatro madeira com ou sem com ou sem platibanda,
águas. mansarda, com ou sem terças apoiadas em
platibanda. pilaretes, apoiados na
laje, e laje plana.
Superiores Material: palha ou telhas Material: telhas Material: telhas
(depois). cerâmicas (planas ou cerâmicas (planas ou
capa-e-canal), de capa-e-canal), de
ardósia, de fibrocimento. fibrocimento, de asfalto,
concreto armado
aparente.
169

Subsistema /
período 1 (1554-1849) 2 (1850-1929) 3 (1930-hoje)

Sobrado: barrotes e Sobrado: barrotes de Laje de concreto armado


assoalho de madeira. madeira ou perfis ou laje mista: vigotas
metálicos. pré-moldadas e lajotas
Abobadilhas: perfis cerâmicas.
Intermedi-
metálicos e tijolos
árias
cerâmicos.
Forro: de madeira Forro: de madeira ou de Forro: (quando houver)
(quando houvesse). estuque. de gesso (aderido ou
não aderido).
Vergas: de madeira. Vergas: sobre-arcos de Vergas: concreto
tijolos maciços. armado.

Fechamento: chapas de Fechamento: persianas Fechamento: persianas


madeira maciça escuras, de madeira, caixilhos de (quando houver),
grades de balaústres de madeira com vidros. caixilhos metálicos (aço,
madeira (quando alumínio), de madeira,
Janelas houver). ou de PVC, com vidros.
Esquadrias

Dimensões e frequência: Dimensões e frequência: Dimensões e frequência:


vãos pequenos, poucas vãos mais altos, maior quando diferentes do
aberturas. número de aberturas. período anterior, vãos de
grande largura, em
alguns casos de piso a
teto.
Fechamento: chapas de Fechamento: quadros de Fechamento: chapas de
madeira maciça escuras. madeira, preenchidos madeira planas (sem
Portas com chapas de madeira almofadas), maciças ou,
maciça (almofadas) e mais recentemente não
vidros. maciças (sarrafeadas).

Em oposição à imutabilidade dos primeiros três séculos, as transformações


ganharam velocidade no segundo e terceiro períodos. Um salto foi dado tanto na
qualidade dos materiais empregados, quanto no conhecimento adquirido para a sua
utilização.

Esse salto pode ser sentido, inclusive, nas leis e códigos que envolvem a questão da
construção. No início (do século XX), os códigos eram muito prescritivos, chegando
a determinar dimensões e materiais, e adotando regras diferentes para cada
conjunto de ruas de São Paulo em que se fosse construir. A partir da década de
1950 que esses códigos passaram a não ser mais adequados (devido ao
crescimento desenfreado da cidade), e um grupo de profissionais passou a criticá-
los e modificá-los (entre eles Alexandre Albuquerque e Teodoro Rosso118).

_____________
118
Ambos manifestam suas críticas aos códigos nas revistas Engenharia de agosto de 1952, e janeiro
de 1970, respectivamente. Em resumo, ambos declaram que os códigos e leis “refletem a
evolução das técnicas construtivas” (ROSSO, 1970, p. 61): eram adequados até as primeiras
décadas do século XX, porém a partir do momento em que houve “uma maior diversificação na
170

Caminhou-se tanto nesse sentido que o atual código (de 1992) passa somente
diretrizes.

Entretanto, em relação à transição de algumas técnicas construtivas, pode-se


observar a manutenção de um hábito. Como exemplo, pode-se citar a evolução da
taipa de mão para o tabique. Apesar de ter havido uma revolução no quesito dos
materiais e na forma de execução das paredes estruturais, do primeiro para o
segundo períodos, as paredes internas permaneceram com um esquema executivo
bastante semelhante: muda-se apenas a seção das peças que estruturam o quadro
interno, e também o material do enchimento, porém o conceito por trás das ações
envolvidas na execução das paredes internas são praticamente as mesmas. Em
outro exemplo, nota-se uma espécie de empréstimo do passado, pois algumas
técnicas construtivas que utilizam materiais completamente diferentes (concreto e
terra), também apresentam atividades semelhantes, como é o caso da execução de
uma estrutura em concreto armado em comparação com a execução de uma parede
de taipa (montagem de fôrma, preenchimento, desforma).

Isto posto, é chegado o momento de reflexão necessário para realizar a ponte entre
os diversos aspectos que foram apontados nos capítulos acima comentados.

Dentre os acontecimentos expostos, identifica-se que a variação dos partidos


arquitetônicos, o conhecimento trazido pelos imigrantes, e o desenvolvimento
promovido pela cientifização das atividades, como os principais elementos
propulsores da alteração das técnicas construtivas. Ademais, acredita-se que os
conceitos referentes à sustentabilidade venham a impor, após a sua definição e
entendimentos completos, mudanças ainda não vivenciadas, daí o motivo de sua
breve abordagem.

Os estilos arquitetônicos, oscilando em harmonia com a mentalidade da sociedade,


demandaram algumas alterações das técnicas construtivas, como a substituição da
antiga taipa pela nova alvenaria de tijolos maciços, a qual era capaz de suportar
todos os ornamentos, então, extremamente necessários. Em contrapartida, esses

aplicação de materiais” (ROSSO, 1970, p. 61) se tornaram inadequados por serem “rígidos” e
“conselheirais” (ALBUQUERQUE, 1952, p. 470).
171

cânones foram subjugados assim que as sedutoras possibilidades do concreto


armado foram desvendadas. Foi exposta, então, a interdependência entre a estética
e o partido estrutural, ambos ditadores das soluções construtivas adotadas.

Apesar do pequeno impulso por parte de Dom João VI, ao inspirar a mudança da
Missão Francesa – que impôs a adoção do estilo neoclássico – para a terra brasilis,
sem o contingente de imigrantes possuidores do saber construir em tijolos maciços,
não haveria a disseminação testemunhada desta técnica, nem a valorização da
atividade laboral – tão desprezada na época da relação escravocrata –, a qual é
primordial para o crescimento de um país, em todos os sentidos. Neste caso,
demonstrou-se que o desenvolvimento construtivo e econômico devem muito aos
estrangeiros desembarcados no porto de Santos.

O investimento em instituições de ensino, sobretudo as de ensino superior, conduziu


ao desenvolvimento do conhecimento paulistano, paralisado no tempo até a paliativa
importação do raciocínio daqueles que serviriam de braços para a lavoura.
Finalmente, a partir da cientifização, as mentes do planalto iriam caminhar com as
próprias pernas. Após o domínio do cálculo do concreto armado, pela primeira vez,
atingiu-se o mesmo nível de conhecimento do restante do mundo. O sentimento de
vitória, no entanto, foi tão ofuscante que levou ao esquecimento de algumas regras
básicas da habitabilidade.

A questão – até agora juvenil – da sustentabilidade promete requisitar a busca por


novas soluções que atendam a demanda por novas habitações, mas sem
comprometer o equilíbrio do ecossistema, pois as conseqüências já são alarmantes.

Além dos quatro fatores decisivos para a transição entre os períodos da taipa,
alvenaria de tijolos maciços, concreto armado com vedações não estruturais e um
quarto período ainda por vir, os fatores político-econômicos foram essenciais para a
configuração do cenário extremamente decisivo para a verificação das
transformações citadas. No entanto, sem menosprezá-los, o grande vetor que
possibilitou a evolução das técnicas construtivas, e que terá relação direta com o
futuro sustentável, está relacionado com a formação e desenvolvimento da indústria
de materiais da construção.
172

O efeito sobre a construção começou pelas importações de materiais, impostas ou


não, as quais permitiram que os imigrantes pusessem em prática o seu “saber-
fazer”. Ainda, o desenvolvimento e possibilidade de importação de máquinas para
processamento e fabricação de materiais, promoveram o alcance de uma maior
precisão dimensional na construção, o que teve profundo impacto nas possibilidades
construtivas. Por fim, os novos materiais e componentes desenvolvidos a partir das
primeiras décadas do século XX, chegaram a interferir não somente nas técnicas
construtivas como na própria arquitetura das edificações, o que pode ser claramente
sentido na transição entre o ecletismo e o modernismo.

A mudança dos materiais também tornou possível o melhor aproveitamento dos


terrenos. Nos 300 anos do reinado da taipa de pilão, recomendava-se fortemente a
construção em terrenos planos, de maneira que a edificação tivesse uma
durabilidade razoável. Já no caso dos tijolos, existia a compatibilidade com os
terrenos com uma determinada inclinação, em detrimento da taipa. Porém, o
domínio completo dos terrenos com qualquer perfil, só foi alcançado com o concreto.
Juntamente com o material, a ciência da mecânica dos solos progrediu, viabilizando
as fundações profundas, a execução de grandes pilotis independentes das
vedações, e o vencimento de grandes vãos, graças a sua armação tracionada.

Portanto, tendo sido concluída a relação entre os fatores sociais, econômicos e


políticos com a evolução das técnicas assinaladas, acredita-se que, diante da
metodologia traçada, o objetivo pretendido foi alcançado, sendo esta dissertação
uma pequena contribuição para a história da construção paulistana.

São sugeridos como temas para futuras pesquisas:

 o aprofundamento da evolução das esquadrias, as quais refletem claramente a


história da formação de São Paulo;
 o aprofundamento na evolução dos sistemas prediais das edificações
unifamiliares, tanto relativa aos materiais, quanto à forma de execução;
173

 o profundo e sistematizado estudo da formação da evolução da indústria de


materiais, devido à sua forte influência na determinação das técnicas
construtivas.
174

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