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São Paulo
2011
LUANA SATO
Área de concentração:
Engenharia de Construção Civil
São Paulo
2011
FICHA CATALOGRÁFICA
Sato, Luana
A evolução das técnicas construtivas em São Paulo:
residências unifamiliares de alto padrão / L. Sato. -- São
Paulo, 2011. 183 p.
Figura 3-1 – Tipo de arquitetura colonial: a Casa do Bandeirante, do século XVIII. .37
Figura 3-2 – Exemplar de arquitetura eclética: A Casa das Rosas, de 1935. ...........39
Figura 3-3 – Exemplar de arquitetura Art-Nouveau: a Vila Penteado, de 1902.........40
Figura 3-4 – Exemplar de arquitetura Art Déco: a residência Jorge Maluf, de 1937. 41
Figura 3-5 – Exemplar da arquitetura neocolonial: a residência Manoel Arantes
Matheus, de 1940......................................................................................................42
Figura 3-6 – Exemplar de arquitetura modernista: a Casa de Vidro, de 1951...........44
Figura 3-7 – “Máquina” para beneficiar café..............................................................52
Figura 3-8 – Embarque das sacarias de café............................................................53
Figura 3-9 – Imigrantes sendo transportados por trem. ............................................55
Figura 3-10 – Propaganda da Fundição do Braz, de 1904........................................58
Figura 3-11 – Tijolos do século XIX...........................................................................69
Figura 3-12 – Entrada de um vapor com imigrantes. ................................................76
Figura 4-1 – Construção de uma parede de taipa sobre alicerce de pedras.............94
Figura 4-2 – Etapas de execução dos alicerces em barro. .......................................95
Figura 4-3 – “Taipal”, travado com as escoras, costas e agulhas. ............................97
Figura 4-4 – Deslocamento dos prismas moldados pelos taipais..............................98
Figura 4-5 – Taipa de mão sem preenchimento......................................................100
Figura 4-6 – Trama da taipa de mão. ......................................................................100
Figura 4-7 – Cachorro decorado da Casa do Butantã.............................................102
Figura 4-8 – Detalhes dos esteios da Casa dos Butantã. .......................................103
Figura 4-9 – Forro de madeira do quarto do senhor................................................104
Figura 4-10 – As tábuas do forro eram simplesmente apoiadas nos barrotes
engastados nas paredes de taipa. ..........................................................................104
Figura 4-11 – Diferentes tipos de aparelhos com arranjo para obtenção de paredes
com espessuras variadas........................................................................................110
Figura 4-12 – Abóbada plana, também conhecida como sobre-arco. .....................111
Figura 4-13 – Cunhal em pedra...............................................................................112
Figura 4-14 – Cunhal em pedra...............................................................................112
Figura 4-15 – Fachada revestida com argamassa dosada em obra. Casa das Rosas,
de 1935. ..................................................................................................................113
Figura 4-16 – Fachada revestida com azulejos, ao estilo Neocolonial....................113
Figura 4-17 – Tabique simples sem revestimento...................................................114
Figura 4-18 – Tabique apoiado sobre madre, para receber enchimento.................115
Figura 4-19 – Outro arranjo de composição de uma parede de tabique, para receber
enchimento..............................................................................................................115
Figura 4-20 – Estrutura de telhado, sem tesoura. ...................................................117
Figura 4-21 – Estrutura de telhado, com tesoura, indicada para telhados de quatro
águas. .....................................................................................................................117
Figura 4-22 – Telhado de residência Neocolonial, de 1940. ...................................118
Figura 4-23 – Estruturação de cobertura em “mansarda”. ......................................118
Figura 4-24 – Estruturação de cobertura quando há uma abertura.........................118
Figura 4-25 – Telhado (esq.) e, em detalhe (dir.), aberturas da mansarda e coletor de
águas pluviais da Casa das Rosas, construída em 1935........................................119
Figura 4-26 – Da esquerda para a direita: telhas cerâmicas do tipo capa-e-canal,
telhas cerâmicas tipo Marselhesa, e telhas de ardósia planas................................119
Figura 4-27 – Exemplo de fixação de assoalho sobre barrotes de madeira de um
sobrado. ..................................................................................................................121
Figura 4-28 – Planta que ilustra a posição dos barrotes e perfis metálicos do sobrado
da Casa das Rosas. ................................................................................................121
Figura 4-29 – Cortes referentes à planta anterior. À esquerda, corte AB. À direita,
corte CD. .................................................................................................................121
Figura 4-30 – Abobadilha de sustentação do piso. .................................................122
Figura 4-31 – Abobadilha executada na Vila Penteado. .........................................122
Figura 4-32 – Alguns tipos de pisos frios encontrados na Casa das Rosas............123
Figura 4-33 – Formas de fixação entre tábuas de composição do soalho. .............123
Figura 4-34 – Tipos de arranjo do assoalho da Casa das Rosas............................123
Figura 4-35 – Forros em estuque, de 1935 (esquerda) e em madeira, 1902 (direita).
................................................................................................................................124
Figura 4-36 – Detalhe do forro da Vila Penteado. ...................................................124
Figura 4-37 – Estruturação de forro de estuque. Técnica com ripas, com tela de
arame quadrada e com material chamado duplex. .................................................125
Figura 4-38 – Exemplo de demarcação com pregos, indicado a largura da parede, do
alicerce, e da vala, para o caso de parede de um tijolo. .........................................132
Figura 4-39 – À esquerda, alicerce sem cinta de amarração, com sapata em
concreto. Á direita, detalhe de cinta de amarração que era executada sem cálculo.
................................................................................................................................133
Figura 4-40 – Projeto e fundação executada em bloco de concreto com cinta de
amarração. ..............................................................................................................134
Figura 4-41 – Elevação e fotografia da residência Hélio Olga, de 1990. Fundações
em tubulão...............................................................................................................134
Figura 4-42 – Perspectiva de fôrma de pilar............................................................136
Figura 4-43 – Elevação e corte de fôrma para pilares com seção circular, muito
usada na execução de pilotis. .................................................................................136
Figura 4-44 – Ligação das tábuas do assoalho da laje, com a fôrma da viga. ........136
Figura 4-45 – Escoras para travamento da fôrma da viga. .....................................136
Figura 4-46 – Assoalho para laje e seu escoramento. ............................................137
Figura 4-47 – Perfil de aço servindo como armação para a viga. ...........................137
Figura 4-48 – Fôrma para concretagem das peças estruturais. ..............................139
Figura 4-49 – Montagem da armação das vigas sobre alvenaria já executada, para
posterior concretagem.............................................................................................139
Figura 4-50 – Residência em alvenaria estrutural. ..................................................139
Figura 4-51 – Início do serviço de elevação pelos cantos.......................................140
Figura 4-52 – Tacos recomendados no período, chumbados com argamassa de
cimento e areia........................................................................................................141
Figura 4-53 – Da esquerda para a direita, em destaque: verga para vãos menores
que 1 m; verga com folga para fixação de tijolos; verga moldada in loco, com fôrma
inferior em madeira e lateral em tijolos posicionados em espelho. .........................142
Figura 4-54 – Estrutura de madeira, com diferentes tipos de acabamento do beiral,
apoiada sobre laje de concreto. ..............................................................................145
Figura 4-55 – Telhas de fibrocimento......................................................................146
Figura 4-56 – Cobertura em laje plana da Residência Paulo Mendes da Rocha
(1966)......................................................................................................................146
Figura 4-57 – Laje de concreto armado, com rebaixo para garantia de mesmo nível
entre tipos de revestimento de piso diferentes. .......................................................147
Figura 4-58 – Espaçamento entre barrotes e seu apoio em paredes de alvenaria ou
madre. .....................................................................................................................148
Figura 4-59 – Posicionamento recomendado das madres. .....................................148
Figura 4-60 – Laje mista tipo Volterrana. ................................................................150
Figura 4-61 – Seção curiosa do componente cerâmico da laje mista tipo Universal.
................................................................................................................................150
Figura 4-62 – Exemplo de janela, cuja padieira e peitoril são mais largos (no mínimo
14 cm de cada lado) que o vão delimitado pelas ombreiras. ..................................153
Figura 4-63 – Janela e “acessórios” da Casa do Bandeirante, de meados do século
XVIII. .......................................................................................................................153
Figura 4-64 – Detalhe de verga reta (esquerda) e verga curva (direita) de porta da
Casa do Bandeirante, de meados do século XVIII. .................................................154
Figura 4-65 – Detalhe dos encaixes para grade de proteção de madeira...............154
Figura 4-66 – Muxarabies. ......................................................................................155
Figura 4-67 – Esquadria em madeira da Casa das Rosas (1935), à Avenida Paulista.
No detalhe (dir.), os trilhos que possibilitam a abertura das persianas. ..................156
Figura 4-68 – Janela em madeira da Vila Penteado (1902). ...................................157
Figura 4-69 – Janela com moldura de pedra, guilhotina e persianas em madeira e
grade de proteção de ferro fundido. ........................................................................157
Figura 4-70 – Janelas das áreas de serviço da Casa das Rosas (1935). ...............157
Figura 4-71 – Grade de fechamento de janela do porão.........................................157
Figura 4-72 – Caixilhos metálicos, com vidros coloridos formando vitrais. .............158
Figura 4-73 – Variação de portas almofadadas.......................................................159
Figura 4-74 – À esquerda, porta da entrada, metálica. Ao centro, porta de madeira,
que dá acesso a pátio interno privativo. Casas das Rosas, 1935. À direita, porta de
madeira da Vila Penteado, 1902. ............................................................................159
Figura 4-75 – Caixilho da Residência Paulo Mendes da Rocha, 1964 (esquerda), e
detalhe de seu projeto (direita)................................................................................161
Figura 4-76 – Porta principal da Residência Paulo Mendes da Rocha, de 1964.....161
Figura 4-77 – Louças e metais típicos da fase do ecletismo...................................164
LISTA DE TABELAS
1 INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização
Ainda que seja possível aplicar os fatores responsáveis pelo atraso do setor ao caso
específico das edificações residenciais de pequeno porte3, deve-se salientar que
_____________
1
O setor como um todo vem apresentando, para o Brasil, importância econômica e social: em 2008, o
macro-setor (construtores, produtores/fornecedores de materiais e equipamentos e setor de
serviços) correspondeu a 11,9% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, além de representar 8,3%
dos empregos formais, e contribuir significativamente para a redução do déficit habitacional. (FIESP,
2009). São Paulo teve, dentre todos os municípios, a maior participação no PIB nacional, em 2007,
representando 12% de participação relativa. (IBGE, 2009).
2
Os principais itens destacados são: a utilização de mão-de-obra de baixa qualificação; a alta
rotatividade da mão-de-obra (agentes de produção); a falta de capacitação dos agentes técnicos da
cadeia produtiva; os problemas quanto à qualidade dos produtos intermediários; a não integração
entre os principais agentes da cadeia do setor; a baixa eficiência produtiva, qualidade e
produtividade insatisfatórias; o setor pouco receptivo às mudanças; a incidência de impostos sobre
produtos industrializados (IPI); e a falta de conhecimento do mercado consumidor.
3
Ver definição no segundo capítulo.
18
_____________
4
Por iniciativa de alguns autores como Katinsky (1972, 2002), Vargas (1994) e Gama (1985, 1987).
5
De sua fundação, em 1554, a 1930, aproximadamente.
6
Para definição, ver item 3.3.2.
19
Assim, a cidade de São Paulo permaneceu com a mesma forma de construir por
praticamente três séculos: “Não havendo pedra na região, a técnica escolhida foi a
da terra socada em grandes fôrmas de madeira [...] Ao longo daqueles séculos [XVI,
XVII, e XVIII] falar dos paulistas era falar das construções em taipa” (REIS FILHO,
2004, p. 17-18).
Logo, na São Paulo colonial, tanto por causa da proteção do monopólio do “saber
fazer”, quanto por ser um trabalho não nobre, não havia a intenção de registro ou
análise, e muito menos de melhoria, das atividades de construção: “para os escravos
não havia atrativo algum em melhorar as técnicas que só iriam enriquecer seus
algozes” (MOTOYAMA, 2004, p. 92).
Do que foi exposto por aquela autora, o que mais incitou mudanças no construir
paulistano naquele momento foi o novo contingente de pessoas após o incentivo da
imigração por parte do governo, influenciado pela classe dominante, a qual, por sua
vez, necessitava de pessoas que pudessem substituir o trabalho até então escravo.
Tais pessoas trazem o conhecimento de uma nova forma de construção e dominam
as técnicas construtivas necessárias para colocá-la em prática.
O terceiro momento, também apontado por Farah (1988, p. 685), é marcado pela
cientifização das atividades, pois são criadas as instituições de ensino, pesquisa e
normalização. No entanto, a importância do registro das atividades relativas à
construção de edificações residenciais continuava sendo desprezada, visto que o
seu domínio ainda era deixado a encargo dos mestres-de-obras formados por
instituição voltada para as atividades práticas. Isso pode ser notado pela quase
ausência desse assunto na pauta das edições da “Revista Polytechnica” 8, ou pela
_____________
7
Na língua italiana, capo significa chefe. Capomastri é plural de capomaestro, em italiano. Significa
mestre-de-obra (POLITO, 1996, p. 55). Ver item 3.3.3.
8
Das 273 edições da “Revista Polytechnica”, entre cerca de 1300 matérias, aproximadamente 20
tinham alguma relação com construção civil, sendo algumas delas relacionadas a novos materiais,
arquitetura e salubridade.
21
O domínio da prática por parte dos mestres-de-obras só viria a ser questionado após
1930, no contexto da regulação das profissões. Os “Conselhos profissionais”
passaram a cobrar uma contribuição anual para registro do profissional, o qual,
segundo Coelho (1999, p. 29-30), recebia em troca a garantia de um mercado
“protegido”, uma vez que sua perícia era evidenciada pelo diploma de nível
superior12. Logo, consolidou-se “o deslocamento da responsabilidade pelo ato de
construir para engenheiros e arquitetos, detentores de um conhecimento técnico, em
detrimento dos trabalhadores-empreiteiros, possuidores de um saber prático”
(FARAH, 1992, p. 147).
_____________
9
De acordo com Vahan Agopyan, citado por Escosteguy (1994, p. 136), a criação do Departamento
de Engenharia de Construção Civil aconteceu em 1970, o que pode ser considerado revolucionário:
“geralmente a construção civil é relegada a uma parte de outro departamento, como apêndice”.
Sabbatini (1997, p. 53) alega que foi com a reforma universitária de 1970 que “surgiram condições
propícias” para tal feito.
10
De acordo com Vargas (1994, p. 205), o período de 1870 a 1920 representa os anos da engenharia
ferroviária, de portos e de saneamento.
11
Segundo Vasconcelos (1985), o primeiro edifício construído em cimento armado (como o concreto
armado era chamado até 1920) foi de autoria de Francisco Notaroberto, em 1908, localizado na
Rua São Bento, esquina com a atual Praça do Patriarca.
12
No contexto da regulamentação da profissão, alguns mestres puderam passar por uma avaliação
que os habilitasse profissionalmente. Porém, após a primeira rodada de 1933, somente os
diplomados passaram a ser registrados.
22
Nos anos 1970, voltando ao ponto que suscitou a necessidade da breve digressão
histórica do presente estudo, já se possuía domínio respeitável das características e
do comportamento do material concreto – ou melhor, do concreto armado. Ademais,
houve, nesse período, a criação de diversos equipamentos que viriam a facilitar as
operações relativas à construção em altura. As pesquisas relativas à produção de
edificações residenciais tiveram início justamente nessa época, o que pode ser
considerado como início de um quarto estágio. Isto coincide com o que Vargas
(1994, p. 203) chama de segunda etapa da cientifização das atividades,
caracterizada pela criação dos cursos de pós-graduação das universidades.
_____________
13
Parcela diminuta deste nicho. A formalidade envolve o registro de responsabilidade técnica,
licenças diversas (demolição, execução, movimentação de terra etc.), acompanhamento técnico
da construção, uso de materiais em conformidade com as normas vigentes, funcionários
devidamente registrados (incluindo o pagamento de encargos sociais), e ausência de
irregularidades fundiárias (FIESP, 2008, p. 29).
14
Ver definição no segundo capítulo.
23
Diante de tudo que foi exposto, apesar de raramente apresentar repetição de projeto
construtivo e atender um contingente de pessoas consideravelmente menor, verifica-
se a importância de um estudo com enfoque na construção de edificações de
pequeno porte, tanto por alcançar a origem da maioria das técnicas construtivas
envolvidas na execução de edifícios multipavimentos – uma vez que as mesmas
16
surgiram da adaptação das antigas técnicas utilizadas nos “palacetes” –, quanto
para afastar da informalidade a construção de casas.
1.2 Justificativa
Pode-se citar o nome de alguns autores que já aprofundaram suas pesquisas com
relação à história construtiva da cidade de São Paulo, mas com enfoques distintos:
_____________
15
Ver distinção no segundo capítulo.
16
Termo utilizado para designar edificações unifamiliares de alto padrão. Tem significado igual ao do
termo “mansão”, atualmente utilizado.
24
Ainda, sem a intenção de promover uma analise histórica, podem-se listar alguns
trabalhos que realizam um estudo aprofundado das técnicas construtivas – sem a
noção de seqüência executiva – na realização de habitações (de pequena ou de
grande porte). Porém, tais publicações podem ser consideradas “radiografia” de uma
determinada época, ou seja, representam técnicas datadas. Entre eles podemos
citar Albuquerque (194217), Schmidt (194618), Pianca (195519), Borges (195720),
Cardão (1969), Azeredo (1977, 1987), Yazigi (1997).
De todos os autores citados, os que possuem estudos cujo foco mais se aproxima
do presente trabalho são Katinsky (1972, 2002) e Reis Filho (2002, 2004, 2005,
2010). Porém, estes não realizam uma análise sistemática de todas as técnicas
construtivas que foram (ou são) utilizadas em São Paulo, visto que esse não foi o
objetivo de suas publicações. Os demais autores, apesar de serem de grande
interesse para o desenvolvimento do presente trabalho, não enfocam diretamente as
técnicas.
_____________
17
Para desenvolvimento do trabalho, foi usada a edição de 1948.
18
Para desenvolvimento do trabalho, foi usada a publicação de 1949.
19
Para desenvolvimento do trabalho, foi usada a edição de 1977.
20
Para desenvolvimento do trabalho, foi usada a edição de 1962.
25
1.3 Objetivos
Este trabalho tem como objetivo principal o registro da evolução21 das técnicas
construtivas envolvidas na produção de edificações residenciais unifamiliares, e a
realização da análise dos motivos que a impulsionaram.
Dessa forma, o trabalho se proporá a contribuir para uma aproximação entre o alheio
mercado atual e a história construtiva paulistana a partir do estudo das
particularidades que envolvem a produção de edificações residenciais de pequeno
porte.
1.4 Metodologia
_____________
21
Vide a acepção que se pretende extrair do termo no próximo capítulo.
26
2.1 Evolução
O termo “evolução” carrega em si uma polêmica, pois pode exprimir uma mudança
pura e simples, ou uma mudança necessariamente vinculada ao aprimoramento.
Como o vocábulo aparece muitas vezes ao longo do texto, e, inclusive, no título do
presente trabalho, considerou-se necessário o esclarecimento sobre qual acepção
está sendo utilizada.
Ferreira (1986, p. 736-737) traz dois significados (dentre seis), que se aproximam
dos dois sentidos mencionados acima: “1. Desenvolvimento progressivo de uma
idéia, acontecimento, ação etc. 2. Movimento progressivo. [Antônimo nesta acepção:
involução]”.
rechaçam qualquer conotação de melhoria que o termo possa suscitar, visto que se
pautam, antes, pelo conceito de adaptação (BOWLER, 1989).
Assim, tanto na etimologia da palavra “evolução”, quanto em seu uso pela biologia
evolutiva, contata-se a ausência da acepção de “melhoria” ou “progresso”. Nesse
sentido, o presente trabalho mostra-se em consonância com essas respeitáveis
fontes, pois pretende demonstrar as mudanças verificadas nas técnicas construtivas
paulistanas, ao longo do crescimento da cidade de São Paulo, sem afirmar que as
mesmas tenham se aprimorado.
Para melhor definição do objeto de estudo, é necessário tornar claro qual o padrão
de residência que está sendo considerado.
O termo “alto padrão” é utilizado neste trabalho para exprimir, tanto a melhor
qualidade dos acabamentos, quanto edificações com uma área considerável. No
estudo realizado em 2007, foram selecionadas sete casas representativas,
projetadas e construídas para a elite da sociedade, quatro delas tombadas por
órgãos de proteção do patrimônio histórico22. O menor exemplar, do período
colonial, com apenas um pavimento, possuía aproximadamente 300 m2. O maior
possuía aproximadamente 1200 m2, distribuídos em quatro pavimentos. A área
média dos pavimentos dos estudos de caso é de 270 m².
_____________
22
Exceto a residência neocolonial de 1940, a residência modernista de 1966, e a residência
contemporânea de 1990.
32
2.5 Subsistema
_____________
23
Diante do enorme déficit habitacional.
33
Em sua tese de doutorado, Sabbatini (1989) cita duas definições para a palavra
“sistema”:
[...] [Sistema] é um conjunto de elementos combinados em um todo,
organizado para servir a um objetivo comum (WARSZAWSKI, 1977 apud
SABBATINI, 1989, p. 22).
Já o termo “subsistema” é definido pela ISO/DP 6241 apud SOUZA (1983, p. 18)
como “conjunto de partes do edifício que preenche uma ou várias funções”.
Barros (1991) adapta o que foi dito pelo autor mencionado e define subsistema
como “parte do edifício que desempenha uma ou várias funções, necessárias ao
atendimento das exigências dos usuários”.
A divisão proposta por Barros (1991), inserida nos conceitos relevantes ao contexto
de inovação tecnológica do grupo de pesquisa TGP, elenca como subsistemas do
edifício a estrutura, as vedações, os sistemas prediais e os de proteção e segurança.
Adotar-se-á a mesma classificação proposta pela autora mencionada para
demonstrar a evolução das técnicas construtivas. Porém, o último subsistema
34
destacado não será abordado neste trabalho, deixando uma oportunidade para
futuras pesquisas.
Estrutura
Infraestrutura (alicerces / fundações)
Superestrutura
Vedações
Verticais (interiores e de fachada)
Horizontais (superiores, inferiores e intermediárias)
As tendências arquitetônicas;
Alterações políticas;
Alterações sociais;
Alterações econômicas;
A cientifização das atividades;
A sustentabilidade.
3.1 Arquitetura
Carlos da Silva Prado, em consonância com Lemos, afirma que não poderia ser de
outra forma, pois:
3.1.1 Colonial
Pode ser dito que o colonial foi o primeiro estilo adotado na cidade de São Paulo. A
técnica que o possibilitou foi a taipa de pilão.
De acordo com (1957, p. 6), a arquitetura daquela época era extremamente fiel à
função da edificação, à economia de materiais e ao estilo de vida dos paulistas.
Pereira (1988, p. 24) afirma que essa ressonância podia ser notada até na
diferenciação dos cômodos: a especialização das atividades era tímida, a não ser a
eclesiástica e a dos viajantes, que tinham locais muito bem definidos dentro da
organização da residência.
Por três séculos, não havia distinção arquitetônica entre casas de classes sociais
diferentes. Tal diferenciação só iria ser notada com o aumento do número de
_____________
24
“Estylo, em Architectura, é, pois, o conjunto de caracteres que distinguem as construcções de certa
collectividade, em determinado período da historia, quando a mesma fórma geometrica serve de
principio esthético e constructivo” (ALBUQUERQUE, 1929, p. 276).
25
Lanço: faixa de moradia compreendendo cômodos encarreirados perpendicularmente ao
alinhamento da rua. Também medida de largura, pois nas casas urbanas os cômodos possuíam
dimensões mais ou menos padronizadas e suas larguras variavam pouco (LEMOS, 1969).
37
Mas a mudança não foi abrupta. No século XVIII, houve apenas modificações em
detalhes, como na estética das janelas (formato das vergas, e extinção de rótulas).
Quando o vidro começou, em meados do século XIX, a se popularizar é que as
reformas de ornamentação ganharam força. Surgiram as janelas do tipo guilhotina
38
adornadas, tabeiras ou cimalhas de madeira pintada logo abaixo dos beirais agora
forrados, e os cachorros foram escondidos (LEMOS, 1985, p. 28-29).
_____________
26
É de fevereiro de 1903 o decreto nº 391, que regulamenta as construções brasileiras. Nele está o
artigo 16º que define: “Nas casas destinadas a habitação a altura do porão não será menor do que
m m
0 ,60, nem maior que 3 ,0, contados da superfície impermeável que trata o artigo 14º, § 5º, até a
parte inferior dos barrotes” (SEGURADO, s.d.[b], p.183). Ainda, o mesmo decreto determina no
artigo 17º: “Na construção dos prédios para habitação se deixará livre área de terreno suficiente
para pátios, jardins, etc.; não se aceitando área inferior a seis metros quadrados para as casas de
um só pavimento, de oito metros quadrados para as casas de dois pavimentos e de 10 metros
quadrados para as de três ou mais pavimentos” (SEGURADO, s.d.[b], p. 184). Posteriormente, a
Lei nº 2.332, de novembro de 1920, reforçou a exigência, pelo artigo 360º: “O soalho do primeiro
pavimento deve ficar afastado do solo cincoenta centimetros, pelo menos” (A CONSTRUCÇÃO EM
SÃO PAULO, jan. 1924). Já no Código de Obras “Arthur Saboya”, de novembro de 1929, não
existe mais essa exigência (AYRES NETTO, 1950).
39
O Art-déco, por sua vez, representava a negação do que era considerado exagero
no Art-nouveau: os ornatos curvos se tornaram ortogonais. Porém, seu caráter
epidérmico também não exigia nenhuma mudança construtiva.
Para efeitos práticos, vou considerar o Art Decó no Brasil mais como uma
manifestação essencialmente decorativa que propriamente construtiva –
embora em certas situações as fronteiras entre a decoração e a tectônica
sejam tênues (SEGAWA, 1999, p. 60).
Pinheiro (1997) defende que, apesar de ser voltado para a aparência externa, este
estilo possui uma feição introdutória ao moderno, em comparação aos demais.
“Mesmo quando as referências aos modelos históricos são mantidas [...] estas
passam por um processo de homogeneização [...] como a estilização e
geometrização de elementos ornamentais” (PINHEIRO, 1997, p. 127).
41
Figura 3-4 – Exemplar de arquitetura Art Déco: a residência Jorge Maluf, de 1937.
Fonte: Fotografia de Mariana Matayoshi, 2006.
Figura 3-5 – Exemplar da arquitetura neocolonial: a residência Manoel Arantes Matheus, de 1940.
Fonte: Fotografia publicada na Revista Acrópole (1940, p. 127).
3.1.3 Modernismo
As paredes não foram as únicas a serem libertadas: a planta também foi declarada
“livre”, com ampla flexibilidade. Entretanto, “na prática esses alvos estavam longe de
um completo atendimento”, mas em pouco tempo “seriam superados os entraves
que ainda dificultavam o desenvolvimento da organização espacial” (REIS FILHO,
2002, p. 88-89).
[Niemeyer revelou] ter passado por “um processo honesto e frio de meu
trabalho de arquiteto”. Fazendo sua mea culpa pelo excesso de projetos
sem o devido cuidado, revelando sentimentos de contradição pessoal diante
do quadro social do Brasil e sua atuação profissional junto às “classes
abastadas”, ele admitia ter se descuidado “de certos problemas e a adotar
uma tendência excessiva para a originalidade, no que era incentivado pelos
próprios interessados, desejosos de dar a seus prédios maior repercussão e
realce. Isso prejudicou em alguns casos a simplicidade das construções e o
sentido de lógica e economia que muito reclamavam”. [...] nesse sentido, o
arquiteto voltou-se para soluções compactas e simples. A simplicidade
buscada pelo arquiteto encontraria na estrutura seu principal protagonista
(SEGAWA, 1999, p.143).
46
O período abrangido pelo presente estudo foi marcado por profundas alterações
governamentais, como a mudança da Família Real, a Declaração da Independência,
e a Proclamação da República.
São Paulo, diferentemente das cidades mais importantes do litoral, passou a adotar
as novas soluções mais tardiamente. As casas adotaram o novo padrão por volta de
1820 (D’ALAMBERT, 1993, p. 90).
Entretanto, a Família Real afetou muitas outras circunstâncias. Ferretti (2004, p. 14)
afirma que somente se começou a pensar o Brasil como síntese (por pequena
parcela da população brasileira, mais intelectualizada), e não simples soma das
_____________
27
Diante do bloqueio continental imposto por Napoleão, no qual havia uma das exigências era a
declaração de guerra aos ingleses (incluindo o fechamento dos portos portugueses), a Família
Real se viu obrigada a refugiar-se no Brasil.
47
várias partes, a partir deste fato. NAGAMINI in VARGAS et al. (1994) aponta outros
efeitos da vinda da côrte portuguesa, como a possibilidade de instalação de
manufaturas na Colônia, o estabelecimento de instituições técnicas, artísticas e
científicas, e a abertura dos portos ao comércio internacional.
_____________
28
“Os trens que desciam a Santos carregados de café, retornavam a São Paulo repletos de mármore
de Carrara, Pinho de Riga, vidros coloridos da Bélgica, chapas de Flandres, telhas de ardósia e
cerâmica de Marselha, ferragens e louças da Inglaterra” (LOUREIRO, 1981, p. 36). Em alguns
poucos edifícios mais altos, com estruturas mais complexas, utilizavam-se peças de aço,
importadas da Europa. Porém apenas para edifícios comerciais. (REIS FILHO, 2004, p.154).
48
Por outro lado, Simonsen (1939, p. 333) narrando a evolução industrial brasileira,
afirma que a Independência prejudicou a produção agrícola do norte do país, pois se
perdeu a exclusividade do mercado português, e nos foi imposto um regime de livre
câmbio até 1844, por pressões políticas inglesas. Esse fato deu abertura para
aplicação de capital na plantação de café.
_____________
30
O pé-direito poderia ser diminuído desde que se garantisse a circulação do ar (SEGAWA, 2003, p.
40).
51
_____________
31
ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Apresenta dados pertinentes à imigração ao
Estado de São Paulo, como informações estatísticas, galeria de imagens, textos publicados, entre
outros itens. Disponível em <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/imigracao/>. Acesso em 12 fev.
2011.
53
A hegemonia do café só teve fim com a crise de 1929. Seu espaço então foi
assumido pelo setor industrial, o qual já vinha crescendo com recursos providos pela
economia cafeeira (NAGAMINI, 1999, p. 224).
Por 300 anos, o acesso a São Paulo e localidades vizinhas se dava através de
caminhos de terra, com aproximadamente quatro metros de largura e sem
drenagem, por onde trafegavam tropas de cavalos e carros de boi que transportaram
mercadorias aos portos (NAGAMINI in VARGAS et al., 1994) (VARGAS, 2005, p.
15).
Este panorama só mudou a partir de 185032, com o início da instalação das ferrovias
(NAGAMINI in VARGAS et al., 1994). As estradas de ferro foram condição sine qua
non tanto para escoamento da produção – a locomotiva permitia um escoamento da
produção quatro vezes mais eficiente (ZMITROWICS, 2005, p. 50) – como para
expansão da área produtiva, e, por conseqüência, das próprias cidades (VARGAS,
2005, p. 17). Diferentemente das propriedades açucareiras do norte, as fazendas do
café não eram auto-suficientes. Assim, foi necessária a formação de novos centros
comerciais, que incentivaram mais obras portuárias e ferrovias (ZMITROWICS,
2005, p. 50).
A localização de São Paulo, que por muito tempo foi considerada desvantajosa pela
barreira imposta pela Serra do Mar, passou a ser ponto estratégico após o advento
das linhas férreas: Passaglia (1984, p. 47) afirma que a cidade assumiu, na década
de 1870, a posição de centro do complexo de estradas de ferro, fazendo a
intermediação entre o litoral e o interior. D’Alambert (1993, p. 8) completa, alegando
que o café proveniente das fazendas e as mercadorias importadas desembarcadas
em Santos, bem como os imigrantes recém chegados, tinham que obrigatoriamente
passar pela capital paulista.
_____________
32
Segundo Nagamini (1999, p. 71), a primeira linha férrea do Brasil teve sua construção iniciada em
1854. Ela ligaria a baía de Guanabara até o pé da serra de Petrópolis, com uma extensão de 14,5
quilômetros e em bitola de 1,676 m. Ainda segundo a mesma autora (p. 73), na província de São
Paulo, a primeira construção ferroviária a ser instalada é a que serviu de ligação entre Jundiaí e o
porto de Santos, com construção iniciada em 1860. Tal linha férrea tinha uma extensão de 139
quilômetros, em bitola de 1,6 m.
55
Um dos efeitos positivos da nova posição (centralizada) da cidade de São Paulo foi
a possibilidade de produzir localmente uma série de itens que antes eram
importados. A partir de então, foi possível o deslocamento das matérias primas e de
combustíveis (ZMITROWICS, 2005, p. 50).
_____________
33
Segundo Vargas (2005, p. 18), o automóvel aparece como um meio de transporte elegante. Em
1907, surge o Automóvel Clube do Brasil e, no ano seguinte, o de São Paulo, para congregar os
aficionados do automobilismo. Em 1916, iniciou-se a construção da primeira rodovia aberta para
esse fim, a São Paulo-Jundiaí. Em 1920, Washington Luis assumiu o Governo do Estado de São
56
construção das estradas de ferro (VARGAS et al., 1994). Esse assunto é bastante
mencionado nas edições da revista Engenharia, a partir de 1960.
Segundo Passaglia (1984, p. 44), até meados do século XVIII, grande parte do
território de São Paulo era despovoada, havendo concentração em alguns núcleos
no planalto e alguns voltados para a mineração. A sua integração ao sistema de
produção colonial foi diferente em comparação com a região norte/nordeste e Rio de
Janeiro:
[...] foi objeto de uma ação política dos representantes da coroa portuguesa.
A crise do ouro brasileiro que afetou os rendimentos de Portugal, delineou
um quadro de dificuldades de ordem econômica [...]. [A administração
pombalina] passou a agir contra a dispersão demográfica, orientou a
agricultura para o comércio exterior [...] (PASSAGLIA, 1984, p. 44).
A atividade industrial paulistana teve início34 com a chegada das primeiras levas de
imigrantes, pois, segundo Nagamini (1999, p. 82), trouxeram “consigo uma outra
formação cultural ou experiência técnica ou, ainda, porque guardavam relações com
os negócios ligados à importação”. Foram eles que organizaram os primeiros
empreendimentos industriais. Na propaganda abaixo (fig. 3-11), pode-se notar a
convivência entre a indústria nascente e a produção agrária, típica deste período.
_____________
34
“Os estudos econômicos fazem referências sobre o surgimento e desenvolvimento da indústria
paulista, ocorrido entre 1886 até 1914, embora intercalado pela crise cafeeira de 1897 a 1904”
(NAGAMINI, 1999, p.83).
58
35
Figura 3-10 – Propaganda da Fundição do Braz, de 1904 .
Fonte: Imagem disponível em <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/imigracao/>. Acesso em 12 fev.
2011.
Zmitrowics (2005, p. 51) afirma que havia “uma sobreposição de diversas condições
favoráveis” que favorecia a formação da indústria:
_____________
35
Diz o texto: Fundição de bronze, grandes oficinas mecânicas para construção de máquina para a
lavoura e para a indústria, oficinas de ferreiro, serralheiro e caldereiro, especialidade em confecção
de sinos, moendas para cana, moinho para fubá, triturador de milho, cilíndros para padaria, chapas
para fogões, grelhas, buchas para carroças, pesos para balanças, grelhas para terreiros de café, e
bem assim sortimento completo de torneiras e válvulas de todas as qualidades para vapor, tubos
de latão e de cobre sem solda. Encarrega-se de assentamento ou conserto de máquinas, motores
e locomotivas. Agente geral neste Estado do aperfeiçoado aparelho para beneficiar café
denominado Machina “Spinola” bem como descascador “Lucio”. Fundição especial para
construção. Vigas de aço e ferro duplo T.
59
Vargas (2005, p. 19), afirma que no período compreendido entre 1930 até a
Segunda Guerra Mundial, houve o surto de construção de edifícios e obras
sanitárias e urbanas de concreto armado, corroborado pela crise do café, em 1929.
Ainda, segundo o mesmo autor, a industrialização, em poucos anos superou a
rentabilidade promovida pelo produto agrícola. Já no contexto de uma
industrialização mais consolidada, passou a se buscar a industrialização também do
ato de construir, como uma forma de inclusão de uma massa de trabalhadores sem
qualificação. Contudo, é neste momento em que há um descolamento entre as
tendências do mercado da construção civil e o objeto de estudo do presente
trabalho.
Durante o período do Brasil colônia, todo o material requerido para a construção das
edificações era conseguido nas próprias imediações do canteiro36. Farah (1988, p.
685) ressalta que, no primeiro século, “a atividade de construção [...] se caracterizou
_____________
36
Como no caso da terra e da madeira. A terra era escolhida conforme a sua umidade e composição
granulométrica. Já a madeira, “boa era a que afundava na água”. As peças sempre eram cortadas
com folga (por garantia), pois não havia preocupação com custo. O difícil era providenciar o
transporte para essas grandes peças (LEMOS, 1985, p. 37).
60
Entretanto, Zmitrowics (2005, p. 48) afirma que, após a abertura dos portos e
conseqüente integração da colônia ao comércio exterior, aquisições passaram a ser
forçadas por países estrangeiros, principalmente pela Inglaterra. A solução
encontrada para atendimento de tal pressão foi a proibição ou imposição do uso de
certos materiais38.
_____________
37
Não é o caso da cal. Este material foi extremamente raro em São Paulo, pois sua produção se dava
no litoral. “A cal subiu em cestos, ou em sacos, nas costas dos índios pelas trilhas da Serra, sendo
empregada em esporádicas obras em que era estritamente necessária” (LEMOS, 1985, p. 43). No
entanto, a cal da época citada, era cheia de impurezas, pois era extraída de sambaquis. A cal
proveniente de rochas calcáreas só produzida, em São Paulo, no final do século XVIII (1798 em
Santos), chegando a um volume considerável no começo do século XIX, na região de Sorocaba.
Além de ser usada nas alvenarias, a cal também era empregada na composição de tintas de
pintura de casas, às vezes coloridas com pigmentos vegetais, como o anil, cujo fixador era pedra
ume, ou certos óxidos ou terras finas. A pintura a cal era desinfetante e muito usada na
higienização dos ambientes. (LEMOS, 1985, p. 43-44).
38
Exemplos que podem ser citados: a substituição de elementos vazados de madeira por vidros
importados da Inglaterra; a obrigação do uso de telhas planas francesas importadas de Marselha;
proibição do despejo de águas provenientes dos telhados diretamente sobre o passeio público (o
que leva à importação de chapas de cobre e zinco); importação de ornatos e moldes de gesso,
arames, pregos, papéis de parede, tintas, ladrilhos e azulejos da Europa; importação de barrotes e
tábuas para soalhos e forros de Pinho-de-Riga (ZMITROWICS, 2005, p. 48). Segundo Lemos
(1985, p. 36-38), o Pinho-de-Riga era de talho fácil, com alta resistência à flexão, de
comportamento estável, e baixa susceptibilidade ao cupim.
39
Como os tijolos e telhas de barro cozido (FARAH, 1992, 135).
61
Parece o problema ter persistido até julho de 1925, quando a revista novamente
comenta sobre a desunião da classe de engenheiros, que agrava a questão da
padronização dos componentes de construção:
O padrão dos materiaes que até agora nunca existiu, é um dos pontos
importantes em se tratando de construcções.
Encontram-se tijolos de todos os tamanhos e cores, frageis e quebradiços,
porosos e mal feitos, e o Architecto tem que se sujeitar a usal-os e pagal-os
por bom preço.
O mesmo acontece com as telhas. Não é possível ripar um telhado sem que
as telhas estejam na obra, pois as dimensões são sempre diversas. [...] É
necessario que as olarias façam tijolos e telhas de um tamanho
determinado, preenchendo as exigencias technicas (A CONSTRUCÇÃO EM
SÃO PAULO, jul. 1925).
_____________
41
A não integração entre os principais agentes da cadeia do setor de edificações da construção civil é
um dos pontos que dificultam o desenvolvimento tecnológico e a produção industrializada: não se
verifica a concordância entre diferentes agentes produtores de materiais, resultado em partes
intermediárias não compatíveis. A coordenação modular foi pensada somente a partir dos anos
1960, diante do grande déficit de habitações.
42
De fato, foi necessário um obstáculo que dificultasse as importações para que os produtos
nacionais passassem a ser utilizados. O cimento Rodovalho, por exemplo, produzido em Sorocaba
desde 1897, ainda não tinha ampla aceitação no mercado no início do século XX. Quem afirma
isso é Nagamini (1999, p. 108) analisando a pesquisa realizada para confecção do Manual de
Resistência dos Materiais: o cimento “Rodovalho” apresentou um dos melhores resultados, porém
sendo de procedência nacional, ainda assim duvidava-se de seu desempenho.
65
Cristóvão Gonçalves pode ser considerado como o primeiro oleiro de São Paulo. Em
1575, “iniciou a batalha pela transformação da fisionomia do arraial, obrigando-se a
fazer telha para se cobrirem as moradas da vila [...] e foi fixado um padrão.
Gonçalves faria a telha de com tamanho e boa forma, que ficasse de dois palmos e
_____________
43
A pré-fabricação brasileira teve início na década de 1920, na produção de estacas, postes e tubos
(VASCONCELOS, 1988, p. 45).
66
O uso do tijolo foi muito restrito nos primeiros anos da capital paulista. Até o século
XVIII, o material era pouco usado por falta de conhecimento técnico, e talvez devido
ao custo das fôrmas e fornos necessários (ZMITROWICS, 2005, p. 46).
_____________
44
Há notícia de um requerimento, datado de maio de 1859, solicitando a instalação de uma fábrica de
tijolos mecanizada (D’ALAMBERT, 1993, p. 75). Em 1867 surge a primeira olaria mecanizada em
Campinas (Sampaio Peixoto) (LEMOS, 1985, p. 41).
67
com cerca de 40 olarias, produzindo telhas e tijolos, situadas nas margens do Rio
Tietê, em bairros como a Barra Funda, Bom Retiro, Água Branca e às margens do
Rio Pinheiros. Já nos anos 1890, na periferia norte da cidade estavam concentrados
cerca de 4000 operários exercendo atividades em caieiras e pedreiras.
Entende-se que em 1905 já eram produzidos “tijolos” vazados, de dois ou seis furos,
pois constam na listagem dos corpos de prova que foram ensaiados no contexto da
elaboração do Manual de Resistência dos Materiais (NAGAMINI, 1999, p. 215).
Segundo a mesma autora, em 1911 é instalada a Companhia Paulista de Tijolos
Calcáreos, também enviados para o Gabinete de Resistência dos Materiais para
determinação do desempenho.
Quanto às dimensões dos tijolos, parece não ter havido muito consenso nos
primeiros anos. Além de várias propostas divergentes quanto ao tamanho dos
componentes, a revista A Construcção São Paulo de junho de 1924 critica a lei n°
2332, de 1920, que regulamenta o material e as dimensões dos tijolos45, a qual não
era respeitada “por ninguém e nem mesmo pela prefeitura Municipal”. Neste número,
ainda se propõe que fosse promulgada uma lei que regulamentasse a produção de
tijolos, pois:
_____________
45
Segundo o artigo 168, o tijolo podia ser de barro, sílico-calcáreo, ou de cimento, com as dimensões
mínimas de vinte e sete centímetros, por treze centímetros e por seis centímetros (comprimento,
largura e altura, respectivamente) (A CONSTRUCÇÃO SÃO PAULO, jun. 1924).
68
O Instituto de Engenharia abordou este assunto somente nos anos 1930, porém
assinalando que o problema ainda permanecia:
Segundo Argilés (1993, p. 20), embora nem todos os tijolos fossem exatamente
iguais em suas dimensões, com seu uso, o desejo da modulação foi intensificado.
Alguns tijolos, no início, eram quadrados. Em pouco tempo passaram a ser
retangulares, até chegar à proporção do comprimento igual ao dobro da largura
menos um centímetro.
69
A B
C D
E F
Após a descoberta do Brasil, não havia interesse por parte de nenhum profissional
de instalação na colônia de Portugal por sua difícil aclimatação, e pelas atenções
estarem voltadas para as especiarias das Índias. Inicialmente, para a Terra de Santa
Cruz46, vieram somente aqueles que visavam a extração do Pau-Brasil, espécie
_____________
46
Segundo nome do Brasil. O primeiro, “Ilha de Santa Cruz”, foi abandonado assim que se notou a
imensidão do território, segundo relato de Pero Vaz de Caminha. <
www.acervo.sp.gov.br/exposicoes/arquivos/nome_do_brasil.html> Acesso em 7 de fevereiro de
2011.
70
Nagamini (1999, p. 30) afirma que foram três grupos que iniciaram a colonização da
capitania de São Vicente: os religiosos, os mestres das corporações de ofício, e os
engenheiros militares. Porém, nos primeiros anos, a atratividade do planalto era
muito pequena para os dois últimos grupos citados, comparativamente às outras
capitanias produtoras de cana-de-açúcar. Portanto, os jesuítas – com o objetivo de
catequizar a população nativa – foram os precursores da ocupação de São Paulo47.
Motoyama (2004, p. 91) concorda com a última afirmação, e ainda completa dizendo
que algumas ordens religiosas acabaram por formar também “técnicos e artesãos
como os mestres de risco [...], oleiros, ladrilheiros, telheiros, pedreiros, canteiros,
rebocadores, carpinteiros, carapinas, entalhadores, ferreiros, serralheiros, latoeiros e
outros [...]”.
_____________
47
Nomes de alguns profissionais que participaram da fundação de São Paulo: Segundo a Construtora
Moraes Dantas S.A. (s.d.) e Assunção (2007, p. 209), Cristóvão Gonçalves foi o primeiro oleiro (em
1575). O primeiro engenheiro militar a atuar em São Paulo, segundo Lemos (1985, p. 15), foi João
da Costa Ferreira, em fins do século XVIII.
71
A manutenção do índio como escravo era mais difícil do que a do negro, pois o
primeiro conhecia melhor o território do que seu algoz, o bandeirante. Em
contrapartida, alguns eram apenas convencidos pela palavra cristã de que deveriam
se juntar às companhias religiosas. Pereira (1988, p. 17) comenta que a relação de
trabalho entre os “negros da terra” e os portugueses era compulsória, apesar de
haver, em alguns casos, o pagamento de salários, os quais eram “mesquinhos”.
No início, a catequização dos índios pelos jesuítas era legítima. Por haver escassez
de mão-de-obra, o índio ajudava os religiosos com os trabalhos manuais:
Contudo, após 1581, a ação dos jesuítas passou a ser marcada pela utilização do
índio como mera ferramenta:
72
Segundo Pereira (1988, p. 37-38), a compra do escravo africano para São Paulo só
passou a ser possível quando surgiram as primeiras plantações de café. E, no final
do século XIX, o planalto era um dos principais “consumidores” do trafico negreiro:
_____________
48
O índio escravizado representava mais um “corpo estranho”, juntamente com o negro africano, que
comprometia a formação da nação (FERRETTI, 2004, p. 52).
73
_____________
49
De acordo com ZMITROWICZ (2005, p. 45), a nomenclatura “mestre de risco” vem da tradição
medieval. Eram assim chamados os “artífices legalmente licenciados para projetar e construir,
cujos conhecimentos haviam sido adquiridos diretamente de outro mestre, como aprendizes [...]”.
Nagamini (1999, p. 45) explica que a denominação era comum devido ao fato do “mestre riscar no
terreno, um plano prévio com a localização das paredes e outros detalhes construtivos, antes de
iniciar a construção”.
74
Por São Paulo ter uma importância secundária no contexto colonial, sem grandes
plantios de valia para Portugal, era, ainda, uma localidade menos atrativa para a
fixação de artesãos (PEREIRA, 1988, p. 6), o que fez com que, no princípio, os
próprios jesuítas exercessem a função dos mestres de risco. Segundo Pereira (1988,
p. 38), “às vezes, não havia quem soubesse fazer; em outras ocasiões, não havia
trabalhadores em número suficiente, resultando em dificuldades para a realização de
algumas obras”.
Uma outra possível conseqüência foi o fato de que “os primeiros a vir – a maioria de
Portugal – nem sempre eram do ofício a que diziam pertencer” (MOTOYAMA, 2004,
p. 90).
Motoyama (2004, p. 90) e Zmitrowicz (2005, p. 45) afirmam que, mesmo assim, a
responsabilidade das obras construtivas com alguma importância recaía geralmente
no mestre de risco até um pouco após a Constituição do Império de 1824, que
revogou o Regimento das Corporações de Ofício.
Nagamini (1999, p. 57) ressalta que a iniciativa de formação de quadros técnicos era
fundamental, pois as corporações foram extintas, a escravidão estava em declínio e
75
a instalação de manufaturas havia sido liberada. Farah (1992) completa: “Teve início
aí, inclusive em atividades relacionadas com a construção, um processo de
formação profissional de caráter formal, distinto do que caracterizava as
corporações, de base iniciática” (FARAH, 1992, p. 129).
3.4.3 Os imigrantes
Como exemplo do movimento imigratório – que teve um início tímido para depois
tornar-se expressivo – foi a chegada dos primeiros alemães em 1820. O número
cresceu por volta de 1850, para chegar ao seu ápice em 1870:
_____________
50
Segundo gráfico disponível em <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/imigracao/estatisticas.php>
(acesso em 12 fev. 2011), a imigração subsidiada teve início, aproximadamente, em 1895, com
pico em 1905, e queda vertiginosa até 1915. O incentivo por parte do governo foi encerrado em
1927. A imigração espontânea cresceu lentamente, superando a subsidiada por volta de 1913.
76
Porém, a intensa imigração ocorreu a partir de 1888 (ver tabela 3.1), o que elevou a
porcentagem de europeus a ultrapassar 50% do total da população do Estado, e à
tendência de abandono do período colonial (REIS FILHO, 2004, p. 139-140). Apesar
do destino original ser a lavoura, Simonsen (1939, p. 338) comenta que devido à
super-produção de café na virada do século, houve uma desvalorização do grão e
redução de salários, o que levou a uma migração para a área urbana.
As técnicas italianas, por exemplo, eram diferentes das técnicas portuguesas: “Os
italianos preferiam, por exemplo, os alicerces de tijolo aos de pedra, e na carpintaria
usavam pregos ao invés de parafusos, o que tinha o efeito de mudar as
possibilidades estruturais de certas madeiras [...]” (LOUREIRO, 1981, p. 33). “Pelas
mãos dos artesãos italianos as fachadas das casas paulistas receberam elementos
decorativos, [...] a despeito dos modelos arquitetônicos eruditos produzidos pelos
arquitetos europeus para a elite paulistana” (D’ALAMBERT, 1993, p. 10-11).
Segundo Lemos (1985, p. 86), além da técnica, o imigrante provocou alterações nos
programas de necessidades das habitações. Reis Filho (2004, p. 142) completa,
afirmando que não foi só a casa que foi alterada, mas também o padrão das
construções, de acordo com as posses de seu morador (aparecimento de bairros
industriais e operários).
Foi um período no qual a construção ficou totalmente sob o domínio dos mestres-de-
obras (capomastri), aos quais cabia a direção e realização de todas as técnicas
construtivas. Somente com a ampliação da atuação do engenheiro civil – a qual, no
início estava limitada ao cálculo – que a solução de problemas técnicos passou a ter
uma parcela de métodos e teorias científicas (após a criação do primeiro laboratório
de materiais) (VARGAS et al., 1994).
De acordo com Nagamini (1999, p. 234), o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo
buscava atender essa exigência de qualificar profissionais capazes de exercer
atividades em novos moldes relacionadas com a construção civil.
Bruna (1973, p. 14) alerta que a solução proposta pelo Liceu, no sentido de formar
operários, “além de ser longa, é cara, correndo-se o risco de formar uma mão-de-
obra anacrônica”, e acabava por “manter uma estrutura de trabalho artesanal”.
_____________
51
Com inauguração oficial em 15 de fevereiro de 1894 (NAGAMINI, 1999, p. 100).
81
Após completar a primeira etapa, o aluno poderia optar entre as profissões acima
assinaladas, em um curso de três anos de duração (NAGAMINI, 1999, p. 101) (ver
tabela 3.2).
Ano / Disciplinas53
curso Engenheiro Engenheiro-arquiteto
Estudo dos materiais de construção, teoria
da resistência dos materiais e grafoestática.
Física industrial
_____________
52
Antônio Francisco de Paula Souza, responsável pela aprovação do projeto da Escola Politécnica, e
primeiro diretor da instituição, por “reconhecimento pela sua luta em prol do ensino técnico e da
engenharia” (NAGAMINI, 1999, p. 99).
53
Em 1913 já era ensinado o cálculo das estruturas de concreto, com auxílio de apostila elaborada
por Paula Souza. A partir de 1918, foram incluídas as disciplinas Tecnologia da Construção Civil e
Tecnologia da Construção Mecânica, ambas ministradas por Victor da Silva Freire (VARGAS et al.,
1994, p. 23).
82
Ano / Disciplinas53
curso Engenheiro Engenheiro-arquiteto
Estradas, pontes e viadutos.
Navegação interior, canais, portos do mar e Substituída por Estética das artes do
faróis. desenho
Substituída por História da arquitetura.
3 Estradas de ferro (tráfego)
Estilos diversos.
Economia política, direito administrativo e
estatística.
Ainda, Santos (1985, p. 256) afirma que o curso de engenharia civil tinha a
possibilidade da extensão para arquitetura, com ênfase no caráter racional e
construtivo da obra, voltado para as tendências do movimento eclético. Sobre a
criação do curso de engenheiros-arquitetos, Luiz Inácio Romeiro de Anhaia Mello
menciona:
_____________
54
Desde o início, havia uma clara distinção de funções entre as duas variáveis da profissão que
lidava com construção civil: a arquitetura era voltada para a construção de casas e de prédios; a
engenharia civil era voltada para a parte de saneamento e de pavimentação (FICHER, 2005, p.
26). Tal distinção agravou-se com o passar do tempo, até que, em 1948, a formação do arquiteto
ficou ao encargo de uma nova instituição: a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. A divisão foi
extremamente deletéria para ambos profissionais, uma vez que afastou novamente a técnica da
estética – repetição do que acontecera no último quartel do século XIX, fato repudiado por Anhaia
Mello (ver citação acima).
55
Santos (1985, p. 245) afirma que a fundação do “Escriptorio Technico Ramos de Azevedo” se deu
em 1884.
56
Importantes construtoras têm origem a partir desse marco: a Severo e Villares foi originada a partir
do Escritório Técnico. Outra construtora digna de menção é a Construtora de Santos, organizada
por Roberto Simonsen (VARGAS, 2005, p. 17).
57 o
Aconteceu em 11 de dezembro de 1933, por meio do decreto n 23.569, na ocasião da criação do
Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura.
84
Christiano Stockler das Neves [...], defendia, junto com outros arquitetos,
[...] a necessidade de regulamentar a profissão, pois: “A maior aspiração de
todos os architectos é a regulamentação de sua profissão, afim de que seja
protegida e não soffra a concorrência desleal dos que não possuem as
qualificações necessárias ao exercício de tão nobre carreira” (NAGAMINI,
1999, p. 159).
_____________
58
A regulamentação da profissão foi consolidada pela Resolução n° 2, de 23 de abril de 1934
(<www.creasp.org.br>. Acesso em 27 fev. 2011).
85
Após uma década de atuação, Santos (1985, p. 139) afirma que o acúmulo de
experiência por parte do Gabinete de Resistência dos Materiais colocou a Escola
Politécnica como “a principal instituição produtora de tecnologia civil no Estado”.
Além disso, de maneira a se adequar ao desenvolvimento tecnológico do setor e às
solicitações do mercado paulistano, diversas reformas foram aplicadas na estrutura
do curso de engenharia civil (SANTOS, 1985, p. 141).
Outro dos reforços da cientifização das atividades foi a criação da ABNT, em 1940
como diz Nagamini (1999):
_____________
59
A primeira regulamentação que cita o concreto é de 1929; porém, é muito genérica
(VASCONCELOS, 1985). A consolidação do conhecimento relativo ao concreto armado, segundo
Santos (1985, p. 139), deu-se com a publicação do livro “Cálculo de Concreto Armado”, do
professor Telêmaco van Langendonck, em 1944.
87
A norma é uma faca de dois gumes. Se, por um lado, evita que aconteçam
acidentes, impondo exigências a serem cumpridas ou impedindo que se
cometam exageros, por outro lado cerceia a liberdade criativa e limita o
progresso. As limitações impostas são às vezes conseqüência da falta de
conhecimento mais profundo de algum problema. Os ensaios abrangem na
maioria dos casos, apenas determinadas faixas de utilização, sendo
temerário fazerem-se extrapolações não documentadas [...]
(VASCONCELOS, 1985, p. 56).
Portanto, pode-se dizer que a criação da ABNT foi fundamental para a generalização
da utilização do concreto em todos os tipos de construção, em São Paulo ou no
Brasil.
3.6 Sustentabilidade
_____________
60
Lemos (1979, p. 62), todavia, considera Afonso Brás, padre taipeiro, como pioneiro na seleção
ecológica de materiais de construção.
88
_____________
61
“Para a queima de cada milheiro de tijolos, utiliza-se 1m³ de madeira, o que equivale a seis árvores
de médio porte” (CIANCIARDI, 2004. p.48).
62
Em seguida, as principais iniciativas e participações foram: em 1972, participação da Conferência
de Estocolmo; em 1973, a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA; em 1981, a
instituição, pelo Governo Federal, da Política Nacional do Meio Ambiente, e a criação do Sistema
Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e do Cadastro Técnico Federal de Atividades e
Instrumentos de Defesa Ambiental; em 1988, inclusão de um capítulo dedicado ao meio ambiente
na nova Constituição; em 1989, criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis – IBAMA; em 1992, assinatura do Protocolo de Kioto; em 2002, participação
na Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo (CIANCIARDI,
2004).
89
Tabela 3-3 – Classificação dos materiais da construção civil por seu desempenho ambiental.
Categorias Descrição Exemplo
Produtos Obtidos com o mínimo de agressão ao Madeira obtida de áreas que possuam
recomendados meio ambiente, utilizam matéria prima planejamento de manejo sustentável ou
renovável ou reaproveitável não com certificação do FSC – Forest
industrializada. Não emitem poluentes Stwardship Council, fibras
sólidos, líquidos ou gasosos em todo o reaproveitadas da agroindústria (fibra de
seu ciclo de vida. coco, de bananeira, palha de arroz),
juta, algodão, resinas vegetais à base
de óleo de mamona, colas vegetais,
tintas vegetais, compósitos de fibras
vegetais e outros.
Materiais que utilizam matéria prima não Tijolos de adobe, tijolos de solo-cimento,
renovável, mas que não comprometem terra utilizada no taipal, tintas
diretamente o meio ambiente no importadas à base de silicatos.
momento de sua extração (ou emitindo
poluentes) e que necessitam de pouca
energia para sua transformação.
Materiais de reuso ou reaproveitados, Materiais de demolição, dormentes de
pois não consomem matéria prima e linhas férreas.
90
_____________
63
Reciclagem pré-consumo: utiliza resíduos gerados pela fabricação de materiais de construção
antes de terem chegado ao mercado. Reciclagem pós-consumo: utiliza matéria prima de descarte
(CIANCIARDI, 2004, p.128).
91
Sobre a cidade de São Paulo, podemos destacar quatro autores que a investigaram
profundamente, do ponto de vista da evolução arquitetônica e urbanística: Nestor
Goulart Reis Filho (2002), Carlos Alberto Cerqueira Lemos (1985), Paulo César
Xavier Pereira (1988) e Benedito Lima de Toledo (2004).
Como os termos adotados para nomear as divisões são mais adequados à escola de
arquitetura, aqui se propõe uma outra nomenclatura, fortemente inspirada na divisão
dos autores acima relacionados, porém adaptada para a explanação a respeito das
técnicas construtivas paulistanas:
_____________
64
Silva (2003, p. 27) declara que o “período áureo da alvenaria” se estende de 1850 a 1920.
D’Alambert (1993, p. 90) confirma o início, pois argumenta que a introdução do tijolo aconteceu em
1850, por imigrantes alemães. Ainda, em Zmitrowics (2005, p. 50), pode-se verificar um ofício (de
um engenheiro polonês) sobre a necessidade de substituição da taipa pela alvenaria de tijolos.
65
Apesar dos primeiros edifícios em concreto armado serem do início do século XX (por volta de
1908), segundo Lemos (1985, p. 190), a sistematização do uso do concreto aconteceu a partir de
1930. Silva (2003, p. 38), apesar de limitar o “período áureo da alvenaria” até 1920, e de
Vasconcelos (1985) afirmar que em 1920 já havia o “cimento armado”, a autora citada declara que
“a década de 30 marcou um início de um período [...] de perda progressiva do rigor técnico e do
domínio tecnológico” relativos às alvenarias de vedação, sinalizando a expansão do uso do
92
concreto. Além disso, a lei n° 2332, publicada em 1 920, regulamenta principalmente itens
construtivos relativos à construção em alvenaria, demonstrando a vigência desta técnica
construtiva.
66
A construção em madeira, de qualquer forma, é de manejo mais complexo do que socar terra entre
duas tábuas rudemente cortadas. Já a pedra, segundo Lemos (1979, p. 62), além de necessitar da
cal para o assentamento – a qual só foi descoberta no Brasil em meados do século XVIII –, não era
extraída porque não havia quem soubesse fazê-lo. Tal afirmação sobre a pedra é confirmada por
Katinsky (1972, p. 87) e Pereira (1988, p. 31), pois o capital era pouco e a mão-de-obra escassa.
Em outra publicação, Lemos comenta que a escassez de pedra ainda era um problema até meados
93
A maioria das casas era térrea. A primeira construção com mais de um pavimento –
dois, mais precisamente – só apareceu no final do século XVI. Os sobrados
tornaram-se comuns em meados do século XVIII (REIS FILHO, 2004, p. 28).
[...] uma casa com sobrado em parte de seu interior. Este às vezes se
revela no exterior por uma ou mais janelas pequenas, bem junto ao telhado,
ou simplesmente permanece oculto para o exterior. Mas sua presença pode
ser percebida por fora porque as paredes sobre as portas e janelas do
térreo aparecem com um ou dois metros de altura (REIS FILHO, 2004, p.
52).
Essa técnica construtiva se perpetuaria por três séculos (XVI, XVII, e XVIII) em São
Paulo, até o os primeiros sinais de abalo do sistema escravocrata (REIS FILHO,
2004, p. 154).
do século XIX, pois há registros que a Câmara, em 1822, cobrava pedras “como imposto para
aqueles que transportavam suas mercadorias para o comércio da cidade” (LEMOS, 1985, p. 27-
28).
94
4.1.1.1 Alicerces
_____________
67
Os alicerces de Portugal eram mais altos que a vala executada, subindo 10 a 20 cm acima do solo,
para funcionarem como um baldrame de isolamento, drenando a água que ali se acumulasse
(KATINSKY, 1972, p. 86).
95
De acordo com Carlos Schmidt (1949, p. 139), autor da bibliografia que descreve a
técnica construtiva da taipa de pilão, a terra ideal é a vermelha firme, de boa liga,
sem manchas de areia, e sem pedras. Todavia, é importante que essa terra tenha
em sua composição uma pequena porcentagem de areia para balancear o alto
caráter contrátil da argila, o qual pode favorecer a formação de fissuras por
contração na secagem (KATINSKY, 1972, p. 87).
Katinsky (1994, p. 85) afirma que, apesar de ser uma prática corrente em Portugal,
no Brasil não houve uso da celulose ou da areia para correção do teor de argila.
“Quando a argila não possui nenhum teor de material antiplástico, as camadas
sucessivas de terra ficam marcadas e separadas, iniciando-se, com o tempo, um
processo de gretamento que favorece a ruína da estrutura”.
O grau de umidade da terra deve ser ótimo, ou seja, não pode ser excessivo
(trabalhabilidade ruim, pois a terra gruda no pilão e favorece a fissuração por
retração na secagem), nem insuficiente (muita poeira desprendida quando a terra é
socada e difícil formação da “liga” entre as camadas de um prisma). Normalmente, a
97
Se a execução for correta, Schmidt (1949, p. 153) diz que a parede atinge altas
resistências, mesmo sendo exposta às intempéries. Foram muitas as paredes que,
quando derrubadas para dar espaço à nova cidade de tijolos, soltavam “fogo” ao
impacto das picaretas.
Os “taipais” (fig. 4-3) eram dispositivos, de um metro de altura, formados por quatro
painéis, dois frontais e dois laterais, os quais eram imobilizados com auxílio de
escoras, costas e agulhas. Os painéis laterais eram formados por quatro tábuas de
peroba (4,45 x 0,25 x 0,025) 68, unidas coplanarmente por quatro travessas de 15 cm
de largura, fixadas a prego, transversalmente ao comprimento das tábuas. Os
painéis frontais eram formados por tábuas de um metro de comprimento, cuja
largura era variável, de acordo com a espessura final da parede, travadas por
travessas pregadas em suas extremidades. (SCHMIDT, 1949, p. 141).
A execução das paredes era realizada por fiadas de prismas moldados pelos taipais.
De acordo com Schmidt (1949, p. 141-144), os prismas podiam ser realizados
imediatamente após o término dos alicerces, para haver continuidade no maciço. A
terra era socada dentro dos taipais, com auxílio da mão-de-pilão, em camadas de 10
a 15 cm. Quando faltava um palmo para a terra atingir a borda superior do taipal,
colocavam-se os “codos”, peças roliças envoltas por folhas de bananeira, com
_____________
68
Comprimento, largura, espessura, em metros, respectivamente.
98
mesmo diâmetro das “agulhas”, pedaços de madeira roliços com furos, que
garantiam parte do travamento do taipal, por unirem as duas costas opostas. As
costas, por sua vez, mantinham o tabuado do taipal fixo.
Assim que o taipal estivesse cheio, podia ser desmontado. Antes de partir para a
segunda fiada de prismas, a primeira devia estar completa em todo perímetro da
edificação (SCHMIDT, 1949, p. 144).
proporção (em volume) 1:3, estrume de gado e água; no caso do revestimento fino,
tabatinga69 – “espécie de cal” para pintura, obtida de saibro ou barro branco da beira
do Tamanduateí (LOUREIRO, 1981, p. 20) – e areia.
4.1.2 Vedações
_____________
69
Katinsky (1972, p. 87) afirma que para a execução do revestimento fino, também se utilizava cal –
“obtida das ostreiras do litoral” – e areia. O calcáreo próximo do Planalto só irá ser explorado
“próximo à independência e com a disseminação da fabricação de cimento”, pelo mesmo motivo
que não se utilizavam as pedras: pouco tempo disponível para a execução da edificação e falta de
recursos (mão-de-obra e capital).
70
Segundo a Construtora Moraes Dantas S.A., [s.d.], a técnica conhecida como pau-a-pique também
é conhecida como tapona e trata-se de paus roliços, colocados na vertical (enxaiméis), e de varas
flexíveis no sentido horizontal (farfuias), formando um engradado. Vargas et al. (1994) adiciona o
termo “barreada” à lista de designações para o conjunto de “caniços engradados, calafetados com
barro batido à mão”.
100
Figura 4-5 – Taipa de mão sem Figura 4-6 – Trama da taipa de mão.
preenchimento. Fonte: Ilustração de SATO (2007).
Fonte:<http://www.museudacidade.sp.gov.
br/taipadepilao.php>. Acesso em 19 fev.
2011.
O piso interno, em contato direto com o solo, era feito com a própria terra batida,
com exceção dos quartos do senhor e dos hóspedes, e da capela, que eram
assoalhados (LOUREIRO, 1981, p. 20). Bruno (1977, p. 63) afirma que esse
assoalhamento nem sempre era adequado, “pois era feito de táboas apenas fixadas
em vigotas colocadas sobre o chão de terra”.
No final do século XVI72, com a produção das primeiras telhas, as edificações foram
adquirindo uma aparência melhor. Porém, isso somente foi possível com a chegada
de mais oleiros73, e com a reforma das estruturas da cobertura, adequada “para
receber a mudança da técnica” (REIS FILHO, 2004, p. 28). Sobre os novos telhados,
Lemos afirma:
Sendo muito erodível, era sempre protegida por profundos beirais – nunca
por alpendres, porque nessas providências de determinação de partidos
arquitetônicos também influiu bastante o nosso clima, que pode apresentar
dias bem quentes, mas sempre de noites frescas ou bastante frias; assim
era conveniente que a grossa parede de terra socada estivesse
acumulando calor do sol para aquecer o repouso noturno do mameluco
74
cansado. (LEMOS, 1985, p. 26) .
Tais beirais, não eram forrados (somente depois o forro dos beirais apareceu): as
peças de madeira que os sustentavam ficavam em evidência. Os barrotes eram
chamados de “cachorros” (fig. 4-7), “pois como detalhe decorativo costumava-se
entalhar ‘uma cabeça de animal na ponta’”. (REIS FILHO, 2004, p. 47).
_____________
71
A primeira olaria de que se tem notícia é de 15 anos depois da instalação da vila. O fator limitante
não era a matéria prima. Mais para o final do século, em 1595, o oleiro Cristóvão Álvares assinava
compromisso com a Câmara, para fornecer “toda a telha que for necessária para a vila se cobrir”.
(REIS FILHO, 2004, p. 28).
72
Segundo Pereira (1988, p. 20), “Com a aglomeração das primeiras construções [...] a Câmara
procurava estabelecer critérios para a construção das moradias, buscando preservar as casas de
incêndios, devido as suas coberturas de palha [...] Nesse sentido, obrigava os moradores a
utilizarem telhas e a pagá-las, se não em dinheiro, pelo menos em produtos da terra [...]”.
73
De acordo com D’Alambert (1993, p. 74), em 1593 já havia a organização e juiz de ofício dos
oleiros na povoação, sendo que Fernão d’Álvares aparece como destaque nas Atas de Câmara.
74
Grifo da autora deste trabalho.
102
Além da sustentação promovida pelas paredes, havia algumas peças auxiliares, que
também desempenhavam função estrutural, elaboradas com a mesma madeira das
esquadrias. Eram os esteios, os quais tinham seus “capitéis” ou “corpos”
trabalhados, na maioria das vezes por pura estética. Na figura 4-8, pode-se notar os
detalhes de um esteio recuperado após reforma da Casa do Butantã.
103
As telhas, segundo KATINSKY (1972), eram claras e porosas, sem ressaltos para
encaixe no madeiramento. Às vezes apresentavam um “risco de dedo” para
melhorar a estabilidade da peça sobre a estrutura do telhado.
Figura 4-9 – Forro de madeira do quarto do Figura 4-10 – As tábuas do forro eram
senhor. simplesmente apoiadas nos barrotes engastados
Fonte: Fotografia de Mariana Matayoshi, 2006. nas paredes de taipa.
Fonte: Fotografia de Mariana Matayoshi, 2006.
Apesar da consolidação do uso dos tijolos ser crédito dos imigrantes italianos, os
primeiros a introduzirem a técnica da alvenaria de tijolos, segundo D’Alambert (1993,
p. 89-90), foram os alemães, os quais chegaram a São Paulo em 1820, mas tiveram
forte atuação na década de 1850. Os alemães “trouxeram de sua terra natal um
conhecimento técnico-construtivo mais ‘civilizado’ e uma nova linguagem
arquitetônica e estilística” (D’ALAMBERT, 1993, p. 90). Na época em questão, foi
_____________
75
Joseph Louis Lambot. Primeiro a realizar experiências práticas do efeito da introdução de ferragens
numa massa de concreto (VASCONCELOS, 1985, p. 8).
76
Thaddeus Hyatt, realizou, quase concomitantemente com Lambot, uma série de ensaios, em 1850
(VASCONCELOS, 1985, p. 10).
77
O tijolo já era utilizado no nordeste desde o século XVI (MOTOYAMA, 2004, p. 90).
105
_____________
78
Exemplos citados por D’Alambert (1993, p. 90): Von Puttkamer, autor do Grande Hotel (1878), e
Matheus Hausler, autor da Hospedaria dos Imigrantes (1885) e do Palácio dos Campos Elíseos
(1896).
106
Ademais, Lemos (1979, p. 106) afirma que o uso do tijolo marca o fim do empirismo.
Entretanto, isso pode ser discutido, pois o uso racional dos materiais era baseado na
longa experiência (prática) dos recém-chegados profissionais (imigrantes). O
conhecimento científico somente foi aplicado no terceiro estágio evolutivo das
técnicas construtivas paulistanas, como foi abordado no item 3.5.
Mais uma vez, o maciço que forma o invólucro acumula as funções de vedação e
encaminhamento das cargas incidentes. Portanto, neste período também trataremos
a vedação neste primeiro item.
4.2.1.1 Alicerces
_____________
79
O decreto nº 391, de novembro de 1903, determinava no artigo 14º, § 2º: “As paredes mestras
serão levantadas dos alicerces construídos sobre terreno firme ou previamente consolidado, não
tendo nunca menos de 60 cm de profundidade” (SEGURADO, s.d.[b], p. 180). Grifo da autora.
107
aumento de espessura tem o nome de sapata, e varia com a carga que o muro
suporta e com a natureza do terreno em que assenta” (LEITÃO, 1896, p. 222). As
“sapatas”, normalmente, não excediam mais que 15 cm da largura da parede.
Segundo Leitão (1896, p. 77), aplicava-se “asphalto” para constituir uma camada
“isoladora” sobre o chão, “com êxito”. Essa prática era regulamentada pelo decreto
nº 391, desde 1903, o qual exigia a aplicação de uma camada impermeável de
asfalto ou concreto, com espessura mínima de 15 centímetros, em toda a superfície
ocupada pela construção, inclusive no respaldo das paredes (SEGURADO, s.d.[b],
p. 180). Tais exigências permanecem na lei nº 2332, de 1920, porém a espessura
mínima diminuiu para 10 centímetros (BOLETIM DO INSTITUTO DE ENGENHARIA,
1923, p. 82).
108
A partir de 1920, as paredes deveriam ser isoladas dos alicerces por uma das
seguintes soluções: placas de asfalto, lâminas de chumbo, duas ou três fieiras de
tijolos vitrificados ou esmaltados, ou fiadas de tijolos assentados com argamassa de
cimento ou de cal, areia e alcatrão (A CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jan. 1924).
O que determinava a espessura das paredes eram as dimensões dos tijolos e a sua
organização no espaço. Esta forma de organizar os tijolos também é conhecida
como aparelho81. Normalmente, as paredes eram grossas na base e mais finas na
parte superior, à medida que se subiam os pavimentos – até quatro andares
(LEMOS, 1985). Sobre as paredes do período em questão, Leitão afirma:
A B
C D
Figura 4-11 – Diferentes tipos de aparelhos com arranjo para obtenção de paredes com espessuras
variadas.
A) Espessura “uma vez tijolo”, aparelho inglês (esq.) e aparelho flamengo (dir.); B) Espessura “uma
vez e meia tijolo”, aparelho inglês (esq.) e aparelho flamengo (dir.); C) Espessura “duas vezes tijolo”,
aparelho inglês (esq.) e aparelho flamengo (dir.); D) Espessura “duas e meia vezes tijolo”, aparelho
inglês. Fonte: Ilustração baseada em SEGURADO (s.d.[a], p. 85-89).
Reis Filho (2002, p. 128) cita paredes com cinco metros de altura, as quais eram
divididas por réguas de madeira horizontais. Uma delas localizada na altura dos
peitoris das janelas, e a outra acima dos vãos de janelas e portas, arrematando-as.
Havia também, nas mesmas paredes, uma divisão vertical, que acompanhava a
presença dos vãos. Caso fosse necessário, os painéis de alvenaria eram mais
subdivididos. O decreto nº 391 impunha o pé direito mínimo de quatro metros no
primeiro pavimento, três e oitenta no segundo pavimento, e três e sessenta no
terceiro pavimento. Para os edifícios com fachada de 8 metros de largura, as
dimensões aumentavam em meio metro (SEGURADO, s.d.[b], p. 182).
Segundo Leitão (1896, p. 218-219), as vergas acima dos vãos podiam ser retas ou
curvas, de maneira a conduzir as cargas para as alvenarias laterais – chamadas de
“nembos” ou “machos”. Construía-se por cima da verga uma abóbada abatida com
tijolos, a qual era conhecida como “archete”, ou uma abóbada plana conhecida como
“sobre-arco” (fig. 4-12).
_____________
82
Segundo Tacla (1984, p. 146), cunhal é o “canto externo formado por duas paredes externas de um
edifício, que delas se destaca como pilastra”. Destaca-se, pois, as peças que compunham este
cunhal tinham largura maior que as paredes que nele chegavam.
83
Massa raspada, massa lavada, massa batida, barra lisa, ou revestimento tipo travertino.
113
Figura 4-15 – Fachada revestida com argamassa dosada em obra. Casa das Rosas, de 1935.
Fonte: (SATO, 2007).
4.2.2 Vedações
114
_____________
84
As divisões em madeira, passaram a ser parcialmente permitidas, após a publicação da lei 2332 (A
CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jan. 1924).
115
Figura 4-18 – Tabique apoiado sobre madre, para Figura 4-19 – Outro arranjo de
receber enchimento. composição de uma parede de
Fonte: (LEITÃO, 1896, p. 299). tabique, para receber
enchimento.
Fonte: (ALBUQUERQUE, 1948, p. 73).
Reis Filho (2002, p. 160) afirma que nas paredes interiores, os revestimentos de
massa quase sempre eram recobertos por papéis colados. Já nas salas de almoço,
cozinhas e banheiros começaram a surgir os revestimentos de azulejos85, em geral
com barras decorativas, em cores.
Apenas as paredes internas dos porões deveriam ser revestidas por uma camada
impermeável e resistente de trinta centímetros de altura, pelo menos, sendo o
restante rebocado e caiado (A CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jan. 1924).
_____________
85
De acordo com a Lei nº 2332, as cozinhas deveriam ser “impermeabilizadas” pelo menos, até um
metro e cinqüenta centímetros de altura, com material resistente, liso e não absorvente (A
CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jan. 1924).
116
O piso em contato com o solo acontecia em um porão elevado, pois, após medidas
de caráter higienizador (SIMÕES JÚNIOR, 2008, p. 50), a separação do solo era
exigida86 para afastamento da umidade ascendente.
Além de usar o “asphalto” citado por Leitão (1896), com uma camada de dois cm,
aplicavam-se no piso pedras (piso em lajes de pedra), ou “betonilha” (SEGURADO,
1936, p. 304-312). A betonilha, segundo TACLA (1984, p. 78), era uma argamassa
“de cal misturada com saibro usada no revestimento de pisos aterrados, [...]
espalhada e apiloada sobre a terra, em camadas de espessura irregular”.
Ainda, a lei n° 2332 (1920) exigia uma faixa imperm eável de um metro de largura
mínima ao redor da habitação – o que remonta a tradição colonial (A
CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jan. 1924).
_____________
86
Caso não fosse possível garantir a elevação, o decreto de 1903 exigia no artigo 16º, § 1º: “Quando
não houver porão o chão será ladrilhado ou cimentado, podendo ser coberto por assoalho que
corra no máximo a doze centímetros acima do chão impermeável” (SEGURADO, s.d.[b], p. 184).
Já de acordo com a lei n° 2332, o soalho do pavimen to térreo deveria ser pregado em barrotes ou
tábuas grossas imersas em concreto de cal, areia e fragmentos duros, de pedra, de telha, de
ladrilho, de manilha, ou de tijolo bem queimado (A CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jan. 1924).
117
passeio público87. A partir desse momento, a maioria das edificações não seriam
concebidas com beirais, dando lugar às platibandas, as quais escondiam os
telhados e os dispositivos de captação das águas da chuva.
Leitão (1896, p. 308) descreve o apoio das vigas ou barrotes (terças) sobre as duas
paredes de fachada. Sobre as vigas, assentavam-se as “varas” (caibros), que, por
sua vez, receberiam o “ripado” (ripas) (fig.4-20). Quando havia “guarda-pó” – espécie
de forro –, por cima do “varedo”, eram pregadas tábuas delgadas, que eram
arrematadas pelas ripas.
Figura 4-20 – Estrutura de telhado, sem tesoura. Figura 4-21 – Estrutura de telhado, com tesoura,
A letra “f” representa a viga que se apóia nas indicada para telhados de quatro águas.
paredes; a letra “v” as varas, que por sua vez, Fonte: (LEITÃO, 1896, p. 311).
receberão o ripado “r”.
Fonte: (LEITÃO, 1986, p. 310).
_____________
87
Segundo o decreto nº 391, de fevereiro de 1903, artigo 14º, § 14º: “As águas pluviais, quando for
possível, escoarão por meio de calhas e condutores para ralos providos de sifão colocados nas
áreas ou quintais interiores”; e § 16º: “É proibida a beirada de telhas em prédios nos alinhamentos
das ruas” (SEGURADO, s.d.[b], p. 181). Já a lei nº 2332, de novembro de 1920, diz que todos os
edifícios construídos nos alinhamentos de vias públicas, deveriam canalizar as águas pluviais dos
telhados ou balcões nas fachadas. Os condutores, por sua vez, nas fachadas sobre as vias
públicas deveriam ser embutidos nas paredes, na parte inferior, em uma altura mínima de três
metros, exceto se fossem de ferro fundido ou material de resistência equivalente (BOLETIM
INSTITUTO DE ENGENHARIA, 1923, p. 83).
118
_____________
88
Trapeiras são aberturas no telhado, guarnecidas de caixilho para “iluminar, ventilar ou permitir a
passagem para o desvão” (ALBERNAZ, 2003, p. 634) – espaço abaixo do telhado. Comumente
encontradas em mansardas.
119
Figura 4-25 – Telhado (esq.) e, em detalhe (dir.), aberturas da mansarda e coletor de águas pluviais
da Casa das Rosas, construída em 1935.
Fonte: (SATO, 2007).
De acordo com LEITÃO (1896, p. 31), telhas planas têm a vantagem de não
necessitar argamassa para seu assentamento, pois esta pode desenvolver
vegetações parasitas, antiestéticas e que geram a necessidade de reparos
freqüentes no telhado. Além disso, coberturas com telhas planas são menos
pesadas e podem ter estruturas mais leves, as quais se conservam mais, pois são
mais bem arejadas.
Figura 4-26 – Da esquerda para a direita: telhas cerâmicas do tipo capa-e-canal, telhas cerâmicas
tipo Marselhesa, e telhas de ardósia planas.
Fonte: (ALBUQUERQUE, 1948, p. 145-152).
120
Figura 4-28 – Planta que ilustra a posição dos barrotes e perfis metálicos do sobrado da Casa das
Rosas.
Fonte: Desenho do Escritório Técnico “Ramos de Azevedo” SEVERO E VILLARES, pertencentes à
biblioteca da FAUUSP.
Figura 4-29 – Cortes referentes à planta anterior. À esquerda, corte AB. À direita, corte CD.
Fonte: Desenho do Escritório Técnico “Ramos de Azevedo” SEVERO E VILLARES, pertencentes à
biblioteca da FAUUSP.
122
Os pisos frios eram assentados sobre substratos bem nivelados. Era necessária a
aplicação de uma camada de argamassa de regularização antes de uma camada de
argamassa fina, similar ao reboco das paredes. Para o assentamento propriamente
_____________
89
A lei nº 2332, de 1920, proibiu o uso de vigas de madeira na constituição de uma abobadilha
(BOLETIM DO INSTITUTO DE ENGENHARIA, 1923, p. 83).
90
Leitão (1896, p. 266) afirma que essa forma de disposição dos tijolos, conhecida como “ao chato”,
era comum no Alentejo, região centro-sul de Portugal.
123
dito, utilizava-se argamassa de cimento, que deveria refluir entre as juntas (LEITÃO,
1896, p. 394).
Figura 4-32 – Alguns tipos de pisos frios encontrados na Casa das Rosas.
Fonte: (SATO, 2007).
Os soalhos quando compostos por tábuas, tinham espessura variando entre 2,4 e
3,6 cm (Leitão, 1896, p. 331). A forma de encaixe ente elas podia ser “a meio fio”,
“macho e fêmea”, ou “de junta”, conforme figura 4-25.
Nascimento (2002), cuja pesquisa versa sobre o forro da Vila Penteado – atual sede
da pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo –, afirma que os forros eram executados com a aplicação de camadas de
argamassa sobre uma trama formada por ripas justapostas, extraídas do caule de
juçara (fig. 4-36).
caibro ripa de
madeira
juçara
argamassa
Figura 4-37 – Estruturação de forro de estuque. Técnica com ripas, com tela de arame quadrada e
com material chamado duplex.
Fonte: Desenhos extraídos da revista A Construcção em São Paulo, de setembro de 1924.
126
Há uma forte influência alemã no início do uso do concreto em São Paulo. Além da
participação de Wilhelm Fischer no Gabinete de Resistência dos Materiais – que iria
iniciar o estudo científico sobre o material no Brasil –, segundo Vasconcelos (1985,
p. 17) o concreto armado teve a sua ampla difusão realizada pela empresa alemã
Wayss & Freytag, a qual se registrou no Brasil como “Companhia Construtora
Nacional S.A.” em 1924.
A transição para este terceiro período não ocorreu como a passagem do primeiro
para o segundo, ou seja, não houve completo abandono da técnica construtiva
anterior após o domínio prático-científico do material inovador.
formados pela experiência de trabalho na firma Wayss & Freytag, logo esta ciência
passou a ser de domínio dos paulistanos.
Não só a nova ciência “mecânica dos solos” nos faculta outra compreensão
da maneira porque se comportam os solos, sob a ação de cargas, como os
métodos e aparelhamentos modernos de construção nos oferecem meios e
modos, desconhecidos há 50 anos, de distribuir o peso das fundações a
fazer, em superfície ou em profundidade. O concreto armado permite
fazerem-se radiers e vigas e também estacas premoldadas ou não, de
forma a se poderem suportar as mais pesadas estruturas (TELLES, 1944, p.
263).
Além de todos os fatos citados, Vasconcelos (1985, p. 39) ainda soma a criação da
ABNT, em 1940, como fundamental para a consolidação científica do saber-fazer
referente ao concreto, propiciando aos engenheiros brasileiros melhores condições
para a constituição de firmas construtoras. Em reuniões realizadas no Rio de
Janeiro, foram debatidos problemas que vinham sendo enfrentados, e os Códigos de
Obra e os regulamentos não oficiais foram ajustados à realidade nacional.
Era o momento em que a maioria dos agentes do setor da construção civil paulistana
estava optando pela produção voltada para o mercado, assemelhando-se à
produção “empurrada” da indústria automobilística. Em contrapartida, a construção
de casas com o padrão-objetivo do presente estudo restringiu-se ao mercado por
encomenda novamente. Portanto, este foi o ponto de “descolamento” da produção
de edificações residenciais de pequeno porte das tendências do setor, no qual todos
os investimentos eram voltados para o barateamento da construção pela repetição92.
_____________
92
Criação dos pré-fabricados, aumento do conhecimento sobre a mecânica dos solos, e o
desenvolvimento de equipamentos que possibilitassem/aperfeiçoassem a concretagem de
edifícios de múltiplos pavimentos, são exemplos de investimentos que tinham como objetivo a
repetitividade.
93
Desenvolvimento de aditivos que possibilitassem concretos de alta resistência, concretos de alta
resistência inicial, entre outros.
94
A taipa, apesar de vernácula por acolher detalhes de origem diversa, seguia preceitos de origem
ibérica (SAIA, 1957, p. 6).
130
_____________
95
Paredes maciças de concreto moldadas in loco com fôrmas de alumínio (ENGENHARIA, jan.
1970), e painéis pré-fabricados / tilt-up (ENGENHARIA, set. 1970).
131
Porém, é necessário frisar que não cabe ao presente trabalho a discussão das
técnicas exclusivamente utilizadas por construtoras, cuja especialidade é a
construção em altura.
4.3.1.1 Fundações
Prego do eixo
Largura da parede
Largura do alicerce
Largura da vala
Figura 4-38 – Exemplo de demarcação com pregos, indicado a largura da parede, do alicerce, e da
vala, para o caso de parede de um tijolo.
Fonte: (BORGES, 1962, p. 43).
A base de concreto – não armada – era executada com a largura da vala aberta, e
10 cm de espessura. Como essa base tinha como função a melhor distribuição das
cargas “encaminhadas” pelos alicerces, passou a ser chamada de “sapata”. Além
disso, em alguns casos, os alicerces de alvenaria eram “amarrados” com uma cinta
em concreto (fig. 4-39).
133
Figura 4-39 – À esquerda, alicerce sem cinta de amarração, com sapata em concreto. Á direita,
detalhe de cinta de amarração que era executada sem cálculo.
Fonte: (BORGES, 1962, p. 54-55).
Figura 4-40 – Projeto e fundação executada em bloco de concreto com cinta de amarração.
Fonte: (BARROS; SABBATINI, 2010).
Figura 4-41 – Elevação e fotografia da residência Hélio Olga, de 1990. Fundações em tubulão.
Fonte: (SATO, 2007).
135
4.3.1.2 Superestrutura
O concreto foi utilizado, no início do período, até em edificações que haviam sido
projetadas para serem executadas conforme a técnica antiga. Nesses casos,
observou-se a dissociação da vedação externa do papel estrutural.
As fôrmas dos pilares (fig. 4-42 e fig. 4-43) eram montadas deixando aberto um dos
lados para facilitar o trabalho de envolver a armadura metálica previamente colocada
na posição do pilar. O travamento era executado com anéis em forma de “U” feitos
de caibros e sarrafos. Internamente, os cantos eram revestidos por sarrafos
triangulares para evitar que se formassem cantos vivos no concreto, os quais
poderiam ser danificados na desfôrma. O quarto lado só era posicionado no
momento do enchimento, e em etapas para facilitar a vibração (ALBUQUERQUE,
1948, p. 65).
136
Figura 4-42 – Perspectiva de fôrma de pilar. Figura 4-43 – Elevação e corte de fôrma para
Fonte: (LIMA, 1958, p. 39). pilares com seção circular, muito usada na
execução de pilotis.
Fonte: (LIMA, 1958, p. 40).
As fôrmas laterais das vigas deviam estar niveladas com o assoalho da laje (fig. 4-44
e fig. 4-45). Este assoalho era escorado com pontaletes travados com cunhas (fig. 4-
46). De maneira a garantir a espessura desejada da laje, tacos de madeira eram
pregados, servindo de guias no momento do alisamento do concreto com réguas
(ALBUQUERQUE, 1948, p. 67).
Figura 4-44 – Ligação das tábuas do Figura 4-45 – Escoras para travamento da fôrma
assoalho da laje, com a fôrma da viga. da viga.
Fonte: (LIMA, 1958, p. 35). Fonte: (LIMA, 1958, p. 38).
137
painel
guias
tala
pé direito
cunhas
calço
Para resistir aos esforços de tração provenientes da flexão, primeiro se utilizou perfis
metálicos (fig. 4-47), em alguns casos, trilhos de aço, embutidos em argamassa forte
de concreto (ZMITROWICS, 2005, p. 56). Posteriormente, a armação da laje era
executada com barras de aço. Todavia, nos casos em que se mantinha o vigamento
de madeira (nas áreas secas), segundo Albuquerque (1948, p. 104), podia ser mais
econômico o uso de telas de arame encontradas no mercado em rolos ou em folhas
avulsas.
A alvenaria só iria retomar a função de suporte das cargas nos anos 1960 (ROSSO,
1994), quando o estado incentivou a construção de unidades habitacionais em
edificações de múltiplos pavimentos. Tal incentivo também repercutiu nas
edificações de pequeno porte, porém para sua realização eram utilizados materiais
mais racionais (blocos apropriados, com dimensões maiores97).
_____________
97
Segundo Farah (1992, p. 153), os blocos cerâmicos surgiram nos anos 1930. Já os blocos de
concreto, na década de 1940.
139
Figura 4-48 – Fôrma para concretagem das Figura 4-49 – Montagem da armação das
peças estruturais. vigas sobre alvenaria já executada, para
Fonte: (BARROS; SABBATINI, 2010). posterior concretagem.
Fonte: (BARROS; SABBATINI, 2010).
4.3.2 Vedações
Inicialmente, o tijolo maciço ainda era usado como no período anterior. Porém, as
paredes não eram mais tão espessas. Segundo Lima (1958, p. 54), as paredes
externas (já revestidas) passaram a ter 25 cm de espessura, e os tijolos utilizados
140
deveriam ter textura homogênea, ser leves e bem cozidos, duros e sonoros, não
vitrificados, com faces planas e arestas finas98.
Segundo Borges (1962, p. 58), o serviço de elevação era iniciado pelos cantos (fig.
4-51). Para garantir o alinhamento e o prumo, utilizavam-se escantilhões99 de
madeira e linhas. Albuquerque (1948, p. 63) afirma que os tijolos, no momento do
assentamento, deveriam ser molhados, para livrá-los de partículas de poeira e evitar
que absorvessem parte da água da argamassa, o que podia interferir na aderência.
escantilhão
início pelos
cantos
linhas
respaldo do
alicerce
Borges (1962, p. 60-61) afirma que os vãos de portas e janelas eram deixados em
aberto, e, durante o levantamento das paredes, colocavam-se tacos para fixação
dos batentes e ombreiras. Os tacos eram de peroba, com as dimensões de meio
tijolo – para respeitar a modulação –, e apresentavam um estrangulamento central
para melhorar a fixação. Seu assentamento era realizado no decorrer da elevação
da parede, com argamassa de cimento e areia (fig. 4-52).
_____________
98
Segundo o artigo 93, da lei nº 8.266, de 1975, as paredes externas deveriam apresentar
desempenho igual ao de uma parede de 25 cm, composta por tijolos de barro maciços, revestidas
com argamassa de cal e areia (HIRSCHFELD, 1975, p. 52).
99
Espécie de equipamento, no caso de madeira, cuja sua superfície era demarcada com auxílio de
um serrote, para assinalar a graduação correspondente à fiada por fiada (tijolo mais junta de
argamassa). Hoje, o escantilhão é ajustável, quando a parede que for elevada estiver entre duas
lajes, ou apresenta um tripé (utilizado em alvenaria estrutural).
141
Figura 4-52 – Tacos recomendados no período, chumbados com argamassa de cimento e areia.
Fonte: (BORGES, 1962, p. 60).
Sobre os vãos das portas e janelas, eram previstas as vergas em concreto. Borges
(1962, p. 62-63) afirma que sua espessura devia ser menor que a espessura da
parede, e ser posicionada de forma a facear o lado externo da parede. Assim, o
nicho deixado seria preenchido com tijolos ou madeira, para facilitar a fixação das
cortinas. Seu comprimento deveria exceder o comprimento do vão em 30 cm de
cada lado.
Figura 4-53 – Da esquerda para a direita, em destaque: verga para vãos menores que 1 m; verga
com folga para fixação de tijolos; verga moldada in loco, com fôrma inferior em madeira e lateral em
tijolos posicionados em espelho.
Fonte: (BORGES, 1962, p. 63-64).
No decorrer do tempo, novos materiais para vedação foram sendo criados100, pois os
agentes do setor da construção civil responsáveis pelo fornecimento dos materiais
também estavam imbuídos do espírito da industrialização da construção.
Borges (1962, p.138) afirma que o revestimento mais empregado era a argamassa
de cal e areia, em traço aproximado de 1:3, e aplicado em duas camadas: a primeira
de preparação, chamada revestimento grosso ou emboço; a segunda de
acabamento, chamada revestimento fino ou reboco.
Quando o piso era executado diretamente sobre o solo, Albuquerque (1948, p. 95)
alerta sobre os inconvenientes da umidade ascensional. No período, preparava-se o
terreno, compactando bem o solo. Sobre ele, se possível, era acrescentado
cascalho. Depois, uma camada de concreto, de 10 a 12 cm104 de espessura era
executada, ou nivelada, ou com o caimento necessário. Sobre ela aplicava-se uma
camada isolante de asfalto, betume, ou mesmo pintura de pixe. Por fim, realizava-se
o revestimento final.
Porém, no início do período ainda era muito comum o uso do porão elevado para
proteger a edificação da umidade externa. Nos casos em que o porão elevado não
era acessível, aplicava-se “concreto bastardo feito com tijolo fragmentado e sobras
de argamassa da própria obra” (ALBUQUERQUE, 1948, p. 96).
_____________
104
Segundo o artigo 98, da lei nº 8.266, de 1975, os pavimentos sobre o solo deveriam ser
impermeabilizados e constituídos por camada de concreto, com espessura mínima de 7 cm, ou de
material equivalente (HIRSCHFELD, 1975, p. 54).
105
Como a estrutura de um telhado de madeira permaneceu basicamente a mesma, havendo
alterações apenas na forma de sustentação da mesma, não serão descritas novamente. Até
1975, a lei nº 8.266, através do artigo 95, exigia que a cobertura da edificação deveria apresentar
o mesmo desempenho que um telhado de telhas de barro sustentadas por armação de madeira,
na inclinação adequada e com forro de estuque (HIRSCHFELD, 1975, p. 53).
145
A estrutura dos telhados, em alguns casos, passou a ser apoiada sobre uma laje de
concreto armado, a qual servia como forro ou de substrato para aplicação de um
revestimento aderido. A inclinação do telhado era dada por pilaretes de diferentes
alturas, que nascem a partir da laje (fig. 4-54).
Figura 4-54 – Estrutura de madeira, com diferentes tipos de acabamento do beiral, apoiada sobre laje
de concreto.
A) o revestimento da parte inferior do beiral está fixado nos próprios caibros do telhado. B) Outra
trama de caibros e embutida na parede e fixada nos caibros do telhado. C) Cachorro decorativo
fixado no revestimento tipo B. Fonte: (ALBUQUERQUE, 1948, p. 115).
A telha de fibro-cimento, pelo seu pouco peso, pela facilidade de colocação e pela
redução que permite obter na estrutura do telhado, dispensando os caibros e as
ripas, é empregada quase com exclusividade em outros tipos de construções
(ALBUQUERQUE, 1952, p.182).
146
Quando a laje não era coberta por um telhado (fig. 4-56), era necessária a aplicação
de uma proteção térmica (contra grandes dilatações) e impermeabilização. Como já
foi mencionado, a impermeabilização nacional teve grande impulso na década de
1950. A partir de 1960 passou a se utilizar mantas, e na década de 1970, se
desenvolveu a impermeabilização por cristalização (PACHECO, 1992, p.17).
Segundo Farah (1992, p. 153), esta evolução que permitiu o uso de lajes planas
como cobertura.
Figura 4-56 – Cobertura em laje plana da Residência Paulo Mendes da Rocha (1966).
Fonte: (OAKLEY, 2006).
147
Figura 4-57 – Laje de concreto armado, com rebaixo para garantia de mesmo nível entre tipos de
revestimento de piso diferentes.
Fonte: (ALBUQUERQUE, 1948, p. 103).
_____________
106
A laje de concreto armado – com dez centímetros de espessura, acabada na superfície superior
com tacos de madeira e na face inferior, com argamassa de cal e areia – era a referência de
desempenho exigida pela lei nº 8.266, de 1975 (HIRSCHFELD, 1975, p. 53).
107
Os barrotes nem sempre eram calculados. Na maioria dos casos comprava-se a madeira
disponível nas casas de negociantes especializados. O comprimento usual dos barrotes era de
4,40 m. Trata-se de um múltiplo do palmo (ALBUQUERQUE, 1942, p. 108).
108
Exigido pela lei nº 2332, de 1920 (BOLETIM DO INSTITUTO DE ENGENHARIA, 1923, p. 83),
mantido pelo Código de Obras “Arthur Saboya” (AYRES NETTO, 1950, p. 87). Esse tipo de
vedação horizontal não aparece no código de edificações de junho de 1975, data de promulgação
da lei nº 8266 (HIRSCHFELD, 1982, p. 55).
148
Figura 4-58 – Espaçamento entre barrotes e seu apoio em paredes de alvenaria ou madre.
Fonte: (ALBUQUERQUE, 1948, p. 109).
O apoio das madres não podia ser localizado acima de um vão de porta ou janela
(fig. 4-59). Se fosse a única opção, uma verga especial devia ser projetada. Ainda,
Albuquerque (1948, p. 107) afirma:
anos 1940. Essa técnica se vale de vigotas (com abas) de concreto pré-moldadas
para a sustentação de tijolos furados de cerâmica ou de concreto. Este conjunto era
envolto por concreto no local. A espessura mínima de concreto acima da face
superior das lajotas era de três centímetros. Existem variações destas técnicas,
como laje tipo Volterrana (BORGES, 1962, p. 90) (fig. 4-60), e a laje tipo “Universal”
(ENGENHARIA, 1948) (fig. 4-61).
Segundo Baldovino e Rosso (1953, p. 3), as lajes tipo Volterranas têm origem na
evolução dos sobrados italianos. A partir da introdução do ferro, a separação dos
pavimentos foi dita “de vigas e VOLTERRANAS”. Estas últimas nada mais eram que
tijolos furados de forma apropriada para constituírem entre as mencionadas vigas de
ferro, abobadilhas de alvenaria. Em artigo publicado na Revista Politécnica de 1953,
os autores mencionados comentam a respeito da laje (aproveitando para fazer uma
propaganda da nova solução construtiva):
Figura 4-61 – Seção curiosa do componente cerâmico da laje mista tipo Universal.
Fonte: (ENGENHARIA, 1948, p. II-VIII).
Paulo, patenteou o nome (TACLA, 1984, p. 235). Albuquerque (1948, p. 187) define
o granilite como um aglomerado de cimento, areia, pó de mármore e fragmentos de
pedras duras, o qual era bastante empregado. Este tipo de revestimento era
aplicado como uma argamassa, em duas camadas: a primeira composta por areia e
cimento, e a segunda com os vários ingredientes necessários. Posteriormente, era
polido após o adequado endurecimento. A desvantagem deste tipo de revestimento
residia na propensão à fissuração, se não fosse executado com juntas. Porém,
mesmo com juntas – normalmente de latão – as fissuras poderiam aparecer,
segundo o autor. Este tipo de material não aceita reparos.
_____________
110
Aparecem somente no início de 1970 (BARROS, 1991, p. 17).
152
4.4.1 Esquadrias
As esquadrias eram instaladas após o término das paredes, e seus vãos eram
deixados abertos durante a execução destas. No momento em que as paredes
atingiam o nível superior das portas e janelas, era colocada, sobre cada vão, uma
grande tábua grossa para permitir a continuação do serviço. De acordo com Katinsky
(1972, p. 87), as vergas, soleiras ou parapeitos eram maiores que o vão final e,
portanto, ficavam encravadas na parede de taipa (fig. 4-62).
153
Figura 4-62 – Exemplo de janela, cuja padieira e peitoril são mais largos (no mínimo 14 cm de cada
lado) que o vão delimitado pelas ombreiras.
Fonte: Ilustração de Katinsky (1972, p. 86). Fotografia de Mariana Matayoshi, 2006.
No início da colonização, as janelas e portas eram simples, com traços retos. Por
volta de 1745, as janelas e portas passaram a ser executadas com vergas
arqueadas (fig. 4-64) e sobrevergas (elementos decorativos acima das peças de
arremate superior dos vãos) (REIS FILHO, 2004, p. 46). Os peitoris, quando
existentes, eram executados com o mesmo material dos arremates mencionados
(REIS FILHO, 2004, p. 46-47).
Figura 4-64 – Detalhe de verga reta (esquerda) e verga curva (direita) de porta da Casa do
Bandeirante, de meados do século XVIII.
Fonte: (SATO, 2007).
Outra característica das esquadrias coloniais, que se perdeu com o tempo, era a
grade de proteção (fig. 4-65), existente do lado de fora das folhas escuras, também
em madeira, com as quinas voltadas para fora (LOUREIRO, 1981, p. 20).
Com a substituição das gelosias pelo vidro, a partir do século XIX, em pouco tempo
percebeu-se que era necessário outro elemento para controle da luminosidade111.
_____________
111
Em 1920, o uso da persiana era regulamentado pela lei n° 2332: “Todos os aposentos de dormir
deverão ter as aberturas exteriores providas de venezianas ou de dispositivos proprios para
156
“As primeiras venezianas surgiram nos dormitórios. Eram compostas com réguas
largas e substituíam as vidraças, como vedação externa” (REIS FILHO, 2002, p.
163).
As esquadrias das janelas das áreas sociais ainda eram de madeira, porém com
trilhos metálicos e proporções diferentes (fig.4-67 e fig. 4-68). A utilização de vidros
planos, possibilitada pelos recursos adquiridos com o café, permitia a iluminação
natural interna, independentemente do tempo. Os antigos panos escuros da cidade
de taipa foram substituídos por panos mais esbeltos, denominados persianas,
obrigatórios para dormitórios, latrinas e banheiros. Em alguns pontos, mais
especificamente nas frestas dos porões elevados, barras de ferro fundido protegiam
a construção contra possíveis invasões. As áreas com atividades de serviço
possuíam as esquadrias das janelas em ferro (fig. 4-70 e 4-71).
Figura 4-67 – Esquadria em madeira da Casa das Rosas (1935), à Avenida Paulista. No detalhe (dir.),
os trilhos que possibilitam a abertura das persianas.
Fonte: (SATO, 2007).
Figura 4-68 – Janela em madeira da Vila Figura 4-69 – Janela com moldura de pedra,
Penteado (1902). guilhotina e persianas em madeira e grade de
Fonte: Fotografia de Mariana Matayoshi, 2004. proteção de ferro fundido.
Fonte: Fotografia de Sato, 2007.
Figura 4-70 – Janelas das áreas de serviço da Casa das Rosas (1935).
Fonte: Fotografia de Sato, 2007.
“As portas eram geralmente de duas folhas, com três almofadas (fig. 4-73) cada
uma. Nas externas, as almofadas do centro foram sendo substituídas por pequenas
janelas de vidro, protegidas com grades de ferro forjado” (REIS FILHO, 2002, p.
163). Dependendo da imponência desejada, a porta de entrada era em ferro fundido.
159
Figura 4-74 – À esquerda, porta da entrada, metálica. Ao centro, porta de madeira, que dá acesso a
pátio interno privativo. Casas das Rosas, 1935. À direita, porta de madeira da Vila Penteado, 1902.
Fonte: (SATO, 2007).
Quanto aos vãos, a mesma publicação citada menciona 2,20 metros de altura, pois
permite “a passagem do individuo mais alto com chapéo na cabeça”. De largura,
0,90 metros para os cômodos de recepção; 0,80 metros para os dormitórios e peças
de serviço; 0,70 metros também para peças de serviço. A espessura da porta
deveria variar de 30 a 35 milímetros (A CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, mar.
1924).
Figura 4-75 – Caixilho da Residência Paulo Mendes da Rocha, 1964 (esquerda), e detalhe de seu
projeto (direita).
Fonte: (SPIRO, 2002, p. 59).
4.4.2 Instalações
4.4.2.1 Hidráulicas
O esgoto era simplesmente jogado pela janela, ou levado pelos escravos em barris
apelidados de “tigres” (REIS FILHO, 2002, p. 26).
Assim, pouco a pouco, os banheiros são incluídos dentro do corpo da edificação nos
programas de necessidades, pois as tubulações113 importadas eram caríssimas
(PAULO, 2004). As louças sanitárias estavam disponíveis desde os anos 1930
(FARAH, 1992, p. 153):
Dos banhos de bacia, das jarras de quarto, dos urinóis de alcova, serviços
que sobrepunham aos dormitórios mais sujeitos às dificuldades do
transporte manual, chegava-se a uma definição funcional e técnica. Eram
empregadas as primeiras peças importadas de louça e ferro esmaltado:
banheiras gigantescas, com pés de leão, banheiras menores, de crianças,
chuveiros de balancim, pias muito enfeitadas, bidês e vasos sanitários,
também de louça colorida e ruidosas caixas de descarga (REIS FILHO,
2002, p. 164) [fig. 4-77].
_____________
112
A rede inicial tinha cerca de 14,5 km de comprimento, barragem de captação e um reservatório
para 500 milhões de litros. Dez anos depois, essa companhia ampliava sua rede para poder
distribuir água para 3.419 prédios, sendo que cerca de 4.450 prédios estavam ligados à rede de
esgotos (NAGAMINI, 1999, p. 86).
113
As tubulações eram embutidas na parede, ou no piso (A CONSTRUCÇÃO EM SÃO PAULO, jun.
1924).
164
_____________
114 o o
“Produto cerâmico impermeável obtido por cocção, entre 1250 C e 1300 C, de uma pasta
vitrificável, natural (argila vitrificável) ou artificialmente preparada, cujas características finais mais
importantes são: massa opaca de som metálico, sem brilho, não riscável por ponta de aço e
dureza pétrea” (TACLA, 1984, p. 236).
165
O esgoto já era disposto com auxílio de manilhas cerâmicas, cujo “emprego [era]
115
frequentissimo na construcção das tubagens [...]” (LEITÃO, 1896, p. 32-33) , ou
tubos de ferro. As águas de lavagem eram dispostas por tubos de chumbo.
Uma tarefa bastante árdua enfrentada pela Tigre nos anos 60 foi romper o
preconceito contra os tubos de PVC. Para tanto foi realizado um grande
programa de marketing que incluiu desde o patrocínio de programas de
rádio até propaganda nos principais jornais e revistas da época, sempre
comparando os novos produtos com os tubos metálicos tradicionais e em
1959, ao lançar as primeiras conexões de PVC, a Tigre introduzia no
117
mercado o conceito de "sistema hidráulico" ou "linha completa” .
_____________
115
Segundo o autor mencionado, as manilhas bem fabricadas são sonoras quando percutidas por um
corpo duro; as que tinham fendas acusavam-se facilmente pelo som surdo que se obtinha nessa
percussão. O mesmo acontecia se as manilhas cujo cozimento tivesse sido insuficiente, ou em
demasiado.
116
Informação também verificada em: <http://www.tigre.com.br>. Acesso em: 09 ago. 2010.
117
Citação extraída do site: <http://www.correa.com.br/>. Acesso em: 09 ago. 2010.
166
4.4.2.2 Elétricas
Em 1899, foi fundada a “The São Paulo Railway, Light Power Company Limited”.
Porém, sua atuação ficou limitada ao fornecimento de energia elétrica apenas para
as localidades não abastecidas pela “São Paulo Gaz Company”.
A The São Paulo Tramway Light and Power Company foi criada em 1901 (VIEIRA;
BRITO, 1994, p. 264). Esta empresa “obtém a concessão para a instalação de
bondes elétricos e dos serviços de geração e distribuição de energia” (NAGAMINI,
1999, p. 87).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tabela 5-1 – Resumo das técnicas utilizadas em São Paulo, ao longo dos três períodos estipulados.
Subsistema /
período 1 (1554-1849) 2 (1850-1929) 3 (1930-hoje)
acúmulo de funções
dosadas em canteiro.
Taipa de mão Tabiques Alvenaria de vedação
Malha de paus roliços. Malha de tabuado de Blocos de vedação,
Preenchimento com madeira ou de sarrafos blocos estruturais
barro. Preenchimento com (quando houver parede
argamassa de cal e areia estrutural interna).
Internas (depois cimento).
Revestimento: não foi Revestimento: azulejos Revestimento: peças
encontrado nas (áreas úmidas), papel de cerâmicas (áreas
referências consultadas. parede, madeira úmidas), gesso.
(lambris), mármore,
granito, granilite.
Material: Terra batida, Material: pedras ou Material: concreto
Inferiores
tábuas de madeira. argamassa impermeável. armado.
Vedações horizontais
Subsistema /
período 1 (1554-1849) 2 (1850-1929) 3 (1930-hoje)
Esse salto pode ser sentido, inclusive, nas leis e códigos que envolvem a questão da
construção. No início (do século XX), os códigos eram muito prescritivos, chegando
a determinar dimensões e materiais, e adotando regras diferentes para cada
conjunto de ruas de São Paulo em que se fosse construir. A partir da década de
1950 que esses códigos passaram a não ser mais adequados (devido ao
crescimento desenfreado da cidade), e um grupo de profissionais passou a criticá-
los e modificá-los (entre eles Alexandre Albuquerque e Teodoro Rosso118).
_____________
118
Ambos manifestam suas críticas aos códigos nas revistas Engenharia de agosto de 1952, e janeiro
de 1970, respectivamente. Em resumo, ambos declaram que os códigos e leis “refletem a
evolução das técnicas construtivas” (ROSSO, 1970, p. 61): eram adequados até as primeiras
décadas do século XX, porém a partir do momento em que houve “uma maior diversificação na
170
Caminhou-se tanto nesse sentido que o atual código (de 1992) passa somente
diretrizes.
Isto posto, é chegado o momento de reflexão necessário para realizar a ponte entre
os diversos aspectos que foram apontados nos capítulos acima comentados.
aplicação de materiais” (ROSSO, 1970, p. 61) se tornaram inadequados por serem “rígidos” e
“conselheirais” (ALBUQUERQUE, 1952, p. 470).
171
Apesar do pequeno impulso por parte de Dom João VI, ao inspirar a mudança da
Missão Francesa – que impôs a adoção do estilo neoclássico – para a terra brasilis,
sem o contingente de imigrantes possuidores do saber construir em tijolos maciços,
não haveria a disseminação testemunhada desta técnica, nem a valorização da
atividade laboral – tão desprezada na época da relação escravocrata –, a qual é
primordial para o crescimento de um país, em todos os sentidos. Neste caso,
demonstrou-se que o desenvolvimento construtivo e econômico devem muito aos
estrangeiros desembarcados no porto de Santos.
Além dos quatro fatores decisivos para a transição entre os períodos da taipa,
alvenaria de tijolos maciços, concreto armado com vedações não estruturais e um
quarto período ainda por vir, os fatores político-econômicos foram essenciais para a
configuração do cenário extremamente decisivo para a verificação das
transformações citadas. No entanto, sem menosprezá-los, o grande vetor que
possibilitou a evolução das técnicas construtivas, e que terá relação direta com o
futuro sustentável, está relacionado com a formação e desenvolvimento da indústria
de materiais da construção.
172
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