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PRATICA PENAL II

Prof. Cláudio José Palma Sanchez

E-mail: palma@toledoprudente.edu.br

Grupo de Prática: Erga

Ana Carolina da Silva Camargo – CPF 024.654.762-61 – Te. (18) 99648-7247 – R.A. 001.1.12.153
– e-mail: carolscamargo@hotmail.com

Andre Alia Borelli – CPF 422.156.478-41 – Tel. (18) 98176-7052 – R.A. 001.1.13.228 – e-mail:
andre_borelli_@hotmail.com

Bruna Aparecida de Jesus Moura – CPF 434.456.778-16 – Tel. (18) 99653-7379 – R.A.
001.1.13.148 – e-mail: brunamoura2010@hotmail.com

Jacqueline Bersan Roberto – CPF 325.886.018-12 – Tel. (18) 99792-0049 – R.A. 001.2.13.003 –
e-mail: jacbersanroberto@gmail.com

Kleber Luciano Ancioto – CPF 003.810.349-41 – Tel. (18) 99613-7818 – R.A. 001.1.13.401

Leticia Barbosa da Silva – CPF 426.130.078-85 – Tel (18) 99798-0497 – R.A. 001.1.13.162 – e-
mail: leticiabarbosa07@hotmail.com

Luis Antonio de Sousa Ávila – CPF 352.701.478-07 – Tel. (18) 98807-5090 – R.A. 001.1.13.400 –
e-mail: luissavila@hotmail.com

Rafael de Jesus Pedroso – CPF 408.581.808-20 – Tel. (18) 99614-0252 – R.A. 001.1.13.192 – e-
mail: rafaeldejesus-17@hotmail.com

Renan Moreno Barhum – CPF 372.179.348-00 – Tel (18) 99726-8819 – R.A. 001.1.13.404 – e-
mail: renan.rmb@gmail.com

02/08/2016

PROCESSO

 Ritos  Ordinário / Sumário / Sumaríssimo

Inquérito Policial  Ação Penal  Citação do Réu  Resposta a Acusação  Juiz


(absolve sumariamente / não absolve)  Audiência (Debates orais)  Memoriais 
Sentença.

Durante todo esse processo pode ocorrer intercorrências, como a decretação de uma
prisão cautelar ou medida diversa da prisão.

Rito trata-se da parte visível do processo.

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Quando o Inquérito Policial é relatado, nos casos em que o crime for de Ação Penal
Pública ele é levado ao Ministério Público que terá três alternativas (Denunciar, Pedir
Diligências ou Pedir o Arquivamento).

Na sequencia, o Juiz pode receber ou rejeitar a denuncia, lembrando também que se o


Ministério Público pedir o arquivamento e o Juiz entender que não é o caso ele aplicará o
disposto no Art. 28 do CPP.

Uma vez recebida a denuncia, o Juiz manda citar o Réu, que deverá apresentar sua
primeira defesa no processo. A resposta à acusação possui algumas peculiaridades, uma vez
que na prática ela não deve trazer todos os argumentos de defesa.

A referida peça deve conter apenas teses que podem levar a absolvição sumária do
réu, nulidades e o requerimento de provas, em especial a testemunhal.

Em outras palavras, a razão da resposta é tentar conseguir a absolvição sumária do


réu, a anulação do processo ou se não for o caso para requerer as provas que a defesa
pretende produzir.

Neste sentido, são argumentos da resposta: o fato ser atípico, existirem causas
excludentes de ilicitude ou causas extintivas da punibilidade, princípio da insignificância, erro
de tipo, erro de proibição, eventuais discriminantes putativas, escusas absolutórias, etc.

As testemunhas de acusação são arroladas por ocasião da denuncia ou da queixa


crime, já as de defesa devem ser arroladas por ocasião da resposta a acusação, sob pena de
precluir o direito.

Apresentada a resposta, se o seu objetivo for a absolvição sumária, o Ministério


Público se manifesta sobre a defesa e o processo vai concluso para o Juiz, que na grande
maioria das vezes não absolve (in dubio pro societate), intimando as partes para audiência.

A audiência atualmente é de instrução, debates e julgamento. O que significa que o


Juiz pode requerer que as partes façam debates orais em audiência mesmo, mas o mais
comum é ele converter em Memoriais (Alegações Finais), que são apresentadas por escrito
posteriormente.

Quando convertido em memoriais o advogado possui um prazo para elaborar a defesa


para depois junta-la ao processo, no entanto, devemos sempre estar atentos com a
possibilidade do Juiz determinar que os debates sejam orais.

Os Ritos Sumário e Sumaríssimo se diferenciam do Ordinário em algumas coisas


pontuais, como número de testemunhas e prazos reduzidos.

 Incidentes

Pode ser que durante o andamento do processo ocorra alguns incidentes, como por
exemplo, incidente de falsidade, incidente de falso testemunho, incidente de restituição de
coisas apreendidas, incidentes assecuratórios (arresto, sequestro, hipoteca legal), incidente de
insanidade mental, etc. que serão melhor discutidos posteriormente.

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RESPOSTA A ACUSAÇÃO

A previsão legal da resposta à acusação encontra-se no Art. 396 e 396-A do CPP.

Na Lei de Drogas o nome desta resposta é Defesa Preliminar (Art. 55 da Lei


11.343/06).

O prazo para apresentação da resposta é normalmente de 10 dias corridos a contar da


citação/intimação (Súmula 710 do STF). Assim, o individuo sendo citado em um dia, inicia-se
a contagem no dia útil seguinte e o prazo deve findar também em dia útil, prorrogando-se caso
caia em dia não útil.

Quanto ao conteúdo, a resposta a acusação deve conter basicamente:

1) Alegações de Nulidades e/ou Teses Absolutórias

Tudo que puder ser alegado como nulidade e que possa absolver o cliente de forma
definitiva deve ser colocada na resposta à acusação, as outras matérias devem ser utilizadas
somente por ocasião das alegações finais.

Na vida forense, normalmente os advogados deixam a maioria dos argumentos, ainda


que pudessem ser encampados como uma tese de absolvição sumária, para as alegações
finais, pois como já dissemos, dificilmente o Juiz absolve sumariamente e ao expor suas teses
ele acaba adiantando suas teses defensivas ao Promotor.

O único problema que devemos estar atentos diz respeito as nulidades relativas, pois
se elas não forem arguidas no momento oportuno, elas se convalidam e há preclusão do
direito de argui-la.

2) Solicitação de provas e principalmente arrolamento de testemunhas de defesa.

Normalmente esse pedido é realizado de forma genérica, mas quando houver algum
pedido relevante é bom que ele seja especificado , por exemplo, a juntada de uma mídia e/ou
de mensagens em redes sociais, que seja nomeado um perito assistente ou que seja expedido
algum ofício.

 Estrutura da Resposta a Acusação

o Endereçamento ao juízo competente;


o Preâmbulo;
 Nome do cliente, nome da peça e o fundamento legal (Art. 396 e
seguintes CPP ou eventualmente o Art. 55 da Lei de Drogas).
o Dos Fatos;
o Do Direito;
 Preliminares
 Mérito
o Dos Pedidos;

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 Normalmente pede-se a absolvição sumária do cliente, além da


produção de provas, especificando o tipo de prova que deseja
produzir.
o Rol de Testemunhas de Defesa.

09/08/2016

RESPOSTA À ACUSAÇÃO (CONTINUAÇÃO)

O prazo para apresentação da defesa é de 10 dias e conforme dispõe a Súmula 710


do STF, conta-se da data da intimação e não da juntada aos autos do mandado ou da carta
precatória ou de ordem.

Súmula 710, STF – No processo penal, contam-se os prazos da data


da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta
precatória ou de ordem.

A Resposta à Acusação encontra seu fundamento legal nos Arts. 396 e 396-A do CPP.

Art. 396, CPP – Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a


denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á
e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por
escrito, no prazo de 10 (dez) dias.

Art. 396-A, CPP – Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e


alegar tudo o que interessa à sua defesa, oferecer documentos e
justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas,
qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário.

Na prática esta defesa possui o condão de convencer o Juiz no sentido de absolver o


Réu e extinguir o processo, por essa razão ela só deve discutir matérias que levam a este fim.

Na Lei de Drogas (Lei 11.343/06) esta defesa recebe a denominação de Defesa


Preliminar.

Quanto à estrutura da defesa, na parte do Direito termos que dividir os assuntos em


Preliminares e Mérito.

PRELIMINARES

o Falta de Condição da Ação

Aqui analisaremos a legitimidade de parte, o interesse de agir e a possibilidade jurídica


do pedido. Este último, embora não faça mais parte das condições da ação na esfera civil, na
esfera penal continua fazendo.

Possibilidade Jurídica do Pedido: refere-se ao fato da conduta ser típica, ilícita e


culpável.

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Interesse de Agir: refere-se ao fato de que a Ação penal tem como finalidade assegurar
o jus puniendi do Estado, neste sentido, se o crime estiver prescrito, houver decadência do
direito de representar ou de propor a queixa crime, ou ainda no caso de estar presente uma
excludente que isente o acusado de pena, faltará interesse de agir.

Legitimidade de parte: Nas Ações Públicas Incondicionadas o Ministério Público é a


parte legítima para propor a denúncia e tem total autonomia para isto; já nas Ações Públicas
Condicionadas o Ministério Público continua sendo a parte legítima para propor a denúncia, no
entanto, ele não é autônomo, pois depende de representação da vítima ou seu representante;
por fim nas Ações Privadas é o ofendido que possui a prerrogativa de apresentar a queixa.

o Falta de Pressuposto Processuais

Sejam de existência ou de validade, este é o momento para serem alegados. Neste


sentido, podemos alegar a falta de uma citação válida por exemplo.

o Nulidades

Devemos alegar as nulidades ditas relativas, ocorridas desde o inquérito policial até a
peça acusatória, sob pena de preclusão.

Há doutrinadores que defendem que nulidades do inquérito policial não contaminam a


Ação Penal e acerca do tema somos obrigados a discordar, pois dependendo da nulidade
contamina sim, como é o caso da utilização de Provas Ilícitas nos autos.

Já as nulidades absolutas, cabe ao Promotor e ao Juiz se atentarem a elas, o Advogado


de Defesa só deve argui-la ao final do processo, ocasião em que reconhecida a nulidade
absoluta, anula-se todo o processo desde a peça acusatória, o que significa dizer que o
recebimento também é anulado e a prescrição volta a contar do fato até a presente data.
Fazendo tal procedimento o advogado de defesa almeja que a pretensão punitiva do Estado
prescreva.

o Exceções

O §1° do Art. 396-A do CPP, normatiza que as exceções sejam manejadas em uma
petição autônoma, vejamos:

Art. 396-A, §1°, CPP – A exceção será processada em apartado, nos


termos dos arts. 95 a 112 deste Código.

Neste sentido, poderão ser opostas, segundo previsão do Art. 95 do CPP: suspeição;
incompetência e juízo; litispendência; ilegitimidade de parte; e coisa julgada.

Com esta normatização surgiram duas correntes, uma mais clássica que defende a
necessidade de se manejar a exceção em peça autônoma conforme o dispositivo legal e outra,
cuja OAB compactua, que as exceções podem ser alegadas em sede de preliminares da
Resposta à Acusação.

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Na prática, para não corrermos o risco é melhor arguirmos as exceções em uma peça
apartada, no entanto, se cair no exame da Ordem ela poderá ser realizada em sede preliminar
da Resposta à Acusação.

MÉRITO

No Mérito, as matérias que deverão ser arguidas são:

o Falta de Justa Causa


 Culpa Exclusiva da Vítima  afasta o nexo causal.
o Fato atípico
 Princípio da insignificância: mínima periculosidade, reduzida
reprovabilidade da conduta, inexpressiva lesividade  exclui a
tipicidade material.
o Excludentes de Ilicitude (Art. 23, CP)
o Excludente de Culpabilidade
 Embriaguez completa proveniente de caso fortuito/força maior;
 Coação moral irresistível,
 Obediência hierárquica;
 Consentimento do ofendido  causa supralegal.
o Causas Extintivas de Punibilidade (Art. 107, CP)
 Súmula 554 do STF – o pagamento do cheque depois de recebida
denúncia ou queixa não obsta a Ação Penal, o que significa em
contrário senso que o pagamento antes da denuncia ou queixa
obsta a Ação Penal;
 Art. 168-A §2° e 337-A §1° do CP – a reparação do dano antes do
inicio da Ação Penal, extingue a punibilidade;
 Art. 312, §3° do CP – a reparação do dano no peculato culposo, até
a sentença definitiva, é causa de extinção. Já se for depois, é causa
de redução de pena;
 Nos crimes contra a ordem tributária (Lei 8.137/90), o
pagamento do tributo extingue a punibilidade;
 Prescrição - O STF vem admitindo nos seus julgados a prescrição
virtual, já o STJ, proíbe o seu reconhecimento na Súmula 438.
o Erro de tipo (Art. 20, CP)
 Indivíduo sequer sabe que esta incidindo em um crime.
o Erro de proibição (Art. 21, CP)
 Indivíduo sabe o que esta fazendo, mas desconhece os limites
legais, acreditando que sua conduta é autorizada, quando na
verdade não é.
o Crime impossível (Art. 17, CP)

Na prática se o mérito não levar à absolvição sumária, o ideal é não alegar,


reservando-as para as alegações finais, buscando não adiantar a tese defensiva à acusação.

Existem autores que defendem que a prescrição e decadência, devem ser alegadas em
sede preliminar, o que na pratica não muda muita coisa, pois o resultado seria o mesmo.

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Temos que nos ater ao fato que a Resposta à Acusação tem como viés discutir a
extinção do processo e absolvição sumária do Réu.

PRODUÇÃO DE PROVAS

Por fim, é de suma importância sabermos que a Resposta à Acusação é o momento


processual de trabalhar com as provas que a defesa pretende produzir, especialmente acerca
do arrolamento das testemunhas.

RESPOSTA À ACUSAÇÃO VS DEFESA PRELIMINAR DA LEI DE DROGAS

Estas peças se diferenciam basicamente por duas razões: 1) Na Preliminar o Advogado


pode pedir a desclassificação do 33 (tráfico) para o 28 (porte). Se tal pedido for acatado pelo
Juiz, praticamente ocorre abolitio criminis, uma vez que as sanções impostas ao indivíduo que
porta drogas para o consumo próprio são administrativas. 2) Na Preliminar o advogado pode
buscar demonstrar que o seu cliente é dependente químico, pois se assim ele for considerado
e ficar constatado que ele era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento estará isento de pena, conforme determina
o Art. 45 da Lei 11.343/06.

Art. 45, Lei 11.434/06 – É isento de pena o agente que, em razão da


dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força
maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que
tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento.

23/08/2016

INCIDENTES

Quando falamos em incidentes, nos referimos a determinadas situações ou atos que


acontecem durante o andamento do processo. Insta salientar que eles podem ocorrer em
qualquer fase, inquérito, processo, recursal ou até na execução de pena.

1) Incidente de Insanidade Mental (Art. 149/154, CPP)

Sabemos que a insanidade relaciona-se com a capacidade do indivíduo em


compreender a conduta ilícita e determinar-se conforme este entendimento (imputabilidade),
estando assim diretamente relacionada à culpabilidade.

O criminoso que é considerado plenamente capaz é imputável, já o menor de 18 anos


ou aqueles que possuem uma patologia que os impede de compreender a conduta ilícita e
determinar-se conforme este entendimento são inimputáveis, por fim aqueles que tenham
esta capacidade reduzida são considerados semi-imputáveis.

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Portanto, a discussão sobre a insanidade resume-se a constatação se o indivíduo é ou


não imputável.

Art. 149, CPP – Quando houver dúvida sobre a integridade mental do


acusado, o juiz ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério
Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão
ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal.

Por óbvio este incidente depende de conhecimentos técnicos que possam definir o
grau de discernimento do indivíduo no momento da prática delituosa e é com base neste
laudo que o Juiz se orienta.

O Juiz não é obrigado a cegamente seguir as conclusões do laudo, podendo pedir


esclarecimento e até nomear outro perito.

Um dos argumentos que comumente ouvimos é que inimputabilidade para o doente


mental é bom, mas tal premissa nem sempre é verdadeira. Sobre a polêmica que envolve o
assunto, vejamos a Súmula 527 do STJ que define uma questão acerca do tempo de Medida
de Segurança, assunto estes que é debatido na doutrina e que ainda não esta pacificado, mas
sem dúvida a Súmula se presta como um informativo.

Súmula 527, STJ – O tempo de duração da medida de segurança não


deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao
delito praticado.

Tal disposição não significa dizer que o indivíduo ficará por todo esse tempo sob
Medida de Segurança, uma vez que ele passará periodicamente por exames e quando se
comprovar que a periculosidade cessou ele será colocado em liberdade.

No entanto, em algumas situações pode ser difícil obter um laudo favorável, assim é
melhor que o indivíduo seja condenado e pegando a pena mínima talvez ela seja convertida
em restritiva de direitos, do que sofrer uma Medida de Segurança e correr o risco de ficar
preso por um período até o máximo cominado ao crime praticado.

Ainda nas hipóteses em que o crime for praticado com violência ou grave ameaça, em
que não é possível a sua conversão em penas restritivas de direito, pode ser que o acusado
pegue uma pena de até 4 anos e já inicie o cumprimento em regime aberto ou semi-aberto,
podendo ainda se beneficiar com a progressão de regime e os demais benefícios. Por outro
lado se ele for considerado insano, dependerá de um laudo para conseguir sair.

Não é incomum que os clientes peçam para que o advogado solicite ao Juiz o incidente
de insanidade mental, no entanto, o deferimento ou não do exame é faculdade do Juiz,
portanto, se o indivíduo possui realmente uma patologia de ordem mental, recomenda-se que
a família traga os documentos que comprovam o acompanhamento clínico para fundamentar
o pedido do Incidente de Insanidade Mental.

Tal comprovação será interessante, quando houver possibilidade da Medida de


Segurança imposta ser de Tratamento Ambulatorial, ou seja, o indivíduo permanece em

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liberdade e periodicamente é submetido a exames e acompanhamento medido. Assim, nas


hipóteses em que a sanção penal for mais gravosa do que este tratamento haverá vantagem
em se demonstrar a insanidade do agente, caso contrário é preciso cautela pelos motivos
expostos acima.

A Medida de Segurança culturalmente no Brasil é tratada e conhecida como pena, mas


este entendimento é equivocado, uma vez que sua natureza é de tratamento, assim o Juiz por
ocasião de sua aplicação deve ter um entendimento diferenciado, neste sentido, tem
caminhado as teses de defesas dos advogados, uma vez que na Lei, a aplicação da Medida de
Segurança se pauta exclusivamente na gravidade do delito e na periculosidade do agente.

Assim, em prol daqueles que são submetidos a tais medidas existe apenas a Súmula
527 do STJ que acaba por vetar a possibilidade de prisões perpétuas, mascaradas por
Medidas de Seguranças.

 Incidente de Dependência Química

É comum também os advogados requererem o Incidente de Dependência Química,


uma vez que tal dependência pode gerar insanidade e, conforme a previsão do Art. 45 da Lei
de Drogas, uma vez comprovado que o sujeito era inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento ficaria isento de
pena.

Art. 45, Lei 11.343/06 – É isento de pena o agente que, em razão da


dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força
maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que
tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento.

No entanto, na grande maioria das vezes o laudo retorna com a conclusão de que o
indivíduo é dependente, no entanto, plenamente imputável.

Em outras palavras, a jurisprudência não entende que pelo simples fato de ser
dependente o sujeito torna-se inimputável (não é automático), entendimento estes que
compactuamos uma vez que a grande maioria dos dependentes químicos são realmente
plenamente imputáveis.

Assim, quando considerados imputáveis, afasta-se a previsão do Art. 45 da Lei de


Drogas e aplica-se a pena normalmente

Existe um grande número de crimes que envolvem indivíduos alcoolizados e sobre o


tema nos cumpre informar que o doente alcoólatra, em algumas situação, também pode ser
considerado insano.

Nestes casos o advogado, por petição simples ou mesmo como um item na Resposta à
Acusação, requer o incidente, ou o próprio Ministério Público atuando como custus legis

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requer a instauração do incidente conforme dispõe o Art. 564, III, “d” do CPP e o Juiz decide
acerca do deferimento ou não do pedido.

Uma vez instaurado o Incidente, suspende-se o andamento do processo até que o


laudo esteja pronto e o perito possa se manifestar. Nesta hipótese pode haver um perito
assistente, as partes se manifestam sobre o laudo e, por fim o Juiz decide se considera o
acusado imputável, semi-imputável ou inimputável e para aplicação da Medida de Segurança
leva em consideração ainda a Periculosidade do Agente.

30/08/2016

2) Incidente de Falsidade (Art. 145/148 CPP)

Existem dois tipos de falsidade, a material e a ideológica. A perícia somente pode ser
realizada nos casos de falsidade material, uma vez que a ideológica o documento é verdadeiro
a ideia nele inserida é que é falsa, impossibilitando a constatação por perícia.

Tal incidente é importante, pois se o Juiz extinguir um processo tomando como base
em um atestado de óbito falso do Réu, dificilmente conseguirá reabrir o processo novamente,
uma vez que não se admite Revisão Criminal pro societate.

O Advogado se juntar aos autos um documento falso, caso o Juiz perceba que há
conluio com o cliente, além da coautoria no crime de falso há possibilidade de sofrer uma
sanção por litigância de má fé. Pois ainda que o Código de Processo Penal não preveja esta
possibilidade, o processo é único e a boa fé deve ser observada em todos os procedimentos,
assim por analogia pode-se aplica a previsão do Código de Processo Civil.

Assim, sempre que o advogado tiver dúvidas acerca da autenticidade de um


documento, é indicado pegar uma declaração do cliente o isentando de responsabilidade.

Neste sentido, advogados e o Ministério Público possuem legitimidade para requerer o


incidente e o Juiz ex ofício pode determinar a sua execução.

Uma vez verificada a falsidade, a depender da gravidade do crime, o Juiz pode pensar
na possibilidade de se decretar preventiva, além do indivíduo responder pelo crime de falso.

3) Incidente de Restituição de Coisas Apreendidas (Art. 118/124 CPP)

Trata-se do incidente mais comum na pratica forense penal.

Requerer a restituição de coisas apreendidas significa solicitar de volta o objeto que


eventualmente foi apreendido.

Por óbvio há objetos que pela sua própria natureza não podem ser restituídos. Nesse
sentido, armas com numeração raspada, produtos falsificados, veículos utilizados no tráfico de
drogas, contrabando ou descaminho, não são restituídos e os dois primeiros são destruídos e o
terceiro é revertido em favor do Estado.

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A única possibilidade de se reaver o veículo é se ele não pertencer ao criminoso pego


em flagrante e o terceiro (proprietário) desconhecer suas práticas delituosas. Mas, mesmo
nesta situação enquanto o veículo for necessário para o processo ele não é liberado, sendo
comum que o Juiz o libere somente por ocasião da Sentença, visto que a princípio ele não tem
certeza se o proprietário do veículo estava ou não em conluio com o infrator. Insta salientar
que há ainda a necessidade de se comprovar a regularidade do veículo, demonstrando que ele
foi adquirido de forma lícita e esta declarado no Imposto de Renda e pagar a taxa por todo o
período em que o veículo permanecer no pátio.

4) Medidas Assecuratórias (Art. 125/144-A, CPP)

Nem sempre a prestação jurisdicional definitiva é imediata, isto se explica pelo


acúmulo de processos que abarrotam os juízos, e também, pelo próprio desenrolar dos
processo, que nem sempre podem ser definidos rapidamente.

Por esta razão, o legislador tem que buscar medidas que se não trazem o resultado de
pronto da demanda, pelo menos podem garantir até o final desta, que a parte lesada possa
receber a prestação jurisdicional na sua plenitude, pois, senão, caso fosse impossível se
acautelar um direito, a realização da justiça seria como nos dizeres de Calamandrei, “um
remédio longamente elaborado para um doente já morto”.

Assim, no âmbito penal temos três medidas assecuratórias: Sequestro, Arresto e


Hipoteca Legal, que poderão ser requeridas desde antes do recebimento da denuncia ate o
transcorrer do processo.

A razão de ser possível a sua proposição antes de começada a ação, se deve ao risco de
que durante o procedimento investigativo, o investigado se desfaça de seus bens tornando
difícil a reparação do dano.

Vejamos cada uma delas:

a. Sequestro

Trata-se de medida assecuratória, fundada no interesse público e antecipativa do


perdimento de bens como efeito da condenação, no caso de bens produto do crime ou
adquiridos pelo agente com a prática do fato criminoso. Por ter por fundamento o interesse
público, qual seja o de que a atividade criminosa não tenha vantagem econômica, sequestro
pode, inclusive, ser decretado de ofício.

Os Arts. 125, 126 e 127 do Código de Processo Penal, estabelecem que o


sequestro poderá ser decretado se existirem indícios veementes da origem ilícita dos bens
imóveis ou móveis do indiciado ou acusado, mesmo que estes tenham sido transferidos a
terceiros.

Possuem legitimidade e podem requerer o sequestro: a) o Ministério Público, mesmo


em fase de inquérito, obedecidas as regras de competência; b) a autoridade policial, mediante
representação para o juiz; c) o ofendido no delito; se for incapaz, seus representantes legais;

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se estiver morto, seus herdeiros; d) o juiz pode decretar a medida de ofício,


independentemente de provocação de qualquer das partes anteriormente citadas.

Em regra como o sequestro é requerido pelo membro do Ministério Público, uma vez
que se trata de uma política de Estado no combate a criminalidade.

Somente o juiz penal é que possui competência para determinar o sequestro. Mas
para saber qual o juiz penal o competente, deve-se observar algumas regras. A primeira é a de
que se os autos do inquérito já foram distribuídos, a competência será o juiz da ação. Se os
autos da peça investigativa ainda não foram distribuídos, a competência será do juiz penal da
comarca. Existindo mais de um juiz criminal na comarca, a competência será definida por
sorteio realizado no Cartório do Distribuidor.

Uma observação a ser feita, é que havendo determinação da medida antes da


distribuição do inquérito policial, o juiz que a concedeu, será o prevento para conhecer da
ação penal.

b. Arresto

Arresto é a retenção de qualquer bem do acusado, com a finalidade de assegurar o


ressarcimento do dano, evitando-se desta feita, a dissipação do patrimônio deste.

A terminologia empregada pelo CPP, no Art. 137, vêm há muitos anos sendo criticada
pela grande maioria da doutrina brasileira. Dizemos isto, em razão da imprecisão técnica com
que é utilizado o termo “sequestro” neste dispositivo. Na verdade, o correto seria o emprego
do termo “arresto” ao invés de “sequestro”, por causa da finalidade a que se presta a medida,
que pelas suas definições são bem distintas.

Serão arrestáveis todos os bens pertencentes ao acusado suscetíveis de penhora. O rol


dos bens não penhoráveis poderá ser encontrado no Art. 833 do Novo Código de Processo
Civil.

Entre sequestro e o arresto existem elementos comuns e elementos diferenciais. São


elementos comuns ao arresto e ao sequestro: a) o intuito de segurança econômica, quando
qualquer fato (dos previstos na lei) permite crer-se na ofensa a direitos; b) o caráter de medida
cautelar, como a detenção pessoal, os protestos, a caução, a venda judicial de objetos
comerciais que tenham sido embargados, depositados ou penhorados, se de fácil deterioração
etc. Um desvia o perigo do desaparecimento da coisa — é o sequestro; outro consiste em
embargo ou impedimento, até que o devedor solva a dívida. Um supõe a questão sobre a coisa
(direito real; posse); outro, a obrigação.

Os elementos diferenciais estão na cautela, que diz respeito à utilidade final da relação
de direito (no arresto) enquanto concerne ao próprio objeto (no sequestro). O sequestro
supõe a litigiosidade da coisa, enquanto no arresto existe certeza sobre a titularidade dominial
do objeto. Por fim, não existe arresto de pessoa, enquanto se admite o sequestro pessoal,
como na posse provisória de filhos.

Kleber Luciano Ancioto Página 12


PRATICA PENAL II

Os bens arrestados (sequestrados) serão entregues a terceiro estranho à lide, que


ficará responsável pelo depósito e administração dos objetos, segundo as regras processuais
civis (Art. 139 do CPP).

O arresto poderá será interposto em qualquer fase do processo, pois pode servir de
preparação para a especialização da hipoteca legal.

Dois requisitos deverão ser satisfeitos para poder se interpor o arresto: a) a prova da
materialidade do delito; b) a existência de indícios suficientes de autoria.

A lei possibilita um arresto prévio, cautelar, diante da possibilidade de haver demora


no processo de especialização e inscrição da hipoteca legal. Assim, quaisquer bens imóveis do
réu podem ser sequestrados, para posteriormente ser objeto do pedido de inscrição da
hipoteca legal, não se confundindo com o sequestro previsto no Art. 125. O arresto provisório
é revogado, se no prazo de quinze dias, não for promovido o pedido de inscrição da hipoteca
legal.

Note-se que esta medida, aplicar-se-á, apenas a bens imóveis, vez que é preparatória
para a especialização da hipoteca legal.

Acerta do Arresto definitivo, é necessário que não haja bens imóveis ou sejam eles
insuficientes para garantir a responsabilidade do acusado ou de seu responsável, para que os
bens móveis possam ser arrestados.

O arresto será levantado ou cancelado, quando a sentença penal for absolutória ou


houver sido julgada extinta a punibilidade. Cancelada a medida nestes dois casos, os bens
deverão ser devolvidos ao acusado.

Se os bens móveis arrestados, nos termos do Art. 137, forem fungíveis e facilmente
deterioráveis, estes deverão ser avaliados e levados à leilão público, devendo ser o dinheiro
apurado, depositado ou entregue a terceiro idôneo, que assinará termo de responsabilidade
(art. 137, § 1° c/c art. 120, § 5° do CPP).

São fungíveis os bens móveis que podem ser substituídos por outros do mesmo
gênero, qualidade e quantidade.

Se os bens móveis arrestados gerarem rendas, caberá ao juiz arbitrar uma importância
proveniente destes rendimentos, a ser entregue à vítima para a sua manutenção e a de sua
família.

c. Hipoteca Legal

Hipoteca é o direito real de garantia em virtude do qual um bem imóvel, que continua
em poder do devedor, assegura ao credor, precipuamente, o pagamento da dívida.

Três são as espécies de hipoteca: a convencional, a judicial ou a legal. A primeira


decorre do contrato celebrado entre o credor e o devedor da obrigação. A segunda advém de
uma sentença judicial. A terceira, a legal, é a que nos interessa, pois sobre ela que se refere o
Código de Processo Penal.

Kleber Luciano Ancioto Página 13


PRATICA PENAL II

A hipoteca legal é aquela instituída pela lei, como medida cautelar, favorável a certas
pessoas, com o fim de garantir determinadas obrigações.

Ainda, a respeito da hipoteca legal, a que se falar sobre a crítica de Camara Leal, à
redação do Art. 134 do Código de Processo Penal, quando diz que o ofendido poderá
requerer a hipoteca legal. Não é a hipoteca que a vítima poderá requerer, mas sim, a sua
especialização, pois a hipoteca é decorrente da lei, e dá direitos ao agredido, a partir da data
do cometimento do crime.

A especialização da hipoteca legal poderá ser requerida em qualquer fase do processo.


Cabe ressaltar o uso impreciso do termo indiciado na redação do Art. 134 do CPP.

Mirabete alerta, entretanto, que alguns tribunais do país vêm entendo que a
especialização da hipoteca poderia ocorrer antes do início da ação penal, posicionamento este,
que data vênia, discordamos, pois a redação do artigo supracitado, é bem clara em dizer que a
especialização da hipoteca poderá ser requerida em qualquer fase do processo.

Dois são os requisitos necessários para a especialização da hipoteca legal: a) a prova


inequívoca da materialidade do fato delituoso; b) indícios suficientes de autoria.

Se a especialização da hipoteca legal for requerida no juízo cível, obviamente será este
o competente para decidi-la. Como estamos falando sobre uma medida assecuratória penal, a
competência neste caso, será da autoridade judiciária que estiver presidindo a ação penal.

O pedido de especialização da hipoteca legal pode ser formulado pelo ofendido (Art.
134 do CPP), pela parte (Art. 135 do CPP), pelo representante legal da vítima ou seus
herdeiros e pelo Ministério Público, quando o ofendido for pobre e a ele requeira, ou se
houver interesse da fazenda pública (municipal, estadual ou federal).

A especialização da hipoteca legal possui duas finalidades básicas, a primeira, é a de


satisfazer o dano ex delicto; e a segunda, pagar as penas pecuniárias se aplicadas, e também,
as despesas processuais. Deve-se ficar bem claro, que a primeira finalidade tem prioridade em
relação à segunda, isto é, indeniza-se a vítima primeiro, e o que sobrar o Estado recolhe,
conforme o disposto no Art. 140 do CPP.

A hipoteca legal será levantada ou cancelada, se o réu for absolvido por sentença
transitada em julgado ou estiver extinta a sua punibilidade.

O Código de Processo Penal, no § 6° do Art. 135, permite que a hipoteca legal seja
impedida através de caução, prestada pelo réu. A caução poderá ser realizada em dinheiro ou
títulos da dívida pública, a serem cotados na bolsa, no dia em que for procedida.

A grande discussão a respeito da caução gira em torno desta ser mera faculdade do
juiz ou direito subjetivo do réu.

Os que entendem da última forma argumentam que se estiverem presentes todos os


requisitos legais para se evitar a medida, não poderá o juiz, negá-la ao requerente.
Entendemos ser este posicionamento o mais acertado, pelos motivos esposados.

Kleber Luciano Ancioto Página 14


PRATICA PENAL II

Os defensores da primeira posição, afirmam que o dispositivo é bem claro ao expressar


“o juiz poderá deixar de mandar proceder à inscrição da hipoteca legal”. Tratando-se a decisão,
de liberalidade do juiz.

A especialização da hipoteca legal e o arresto poderão ser requeridos no juízo cível


contra terceiro responsável, pelos mesmos legitimados da medida na esfera penal. Tal
procedimento servirá como preparatório ou incidental para o processo de conhecimento
condenatório, vez que o terceiro responsável, não é parte no processo penal.

 Considerações Finais

O dever de reparar o dano deriva da condenação pelo ilícito penal, conforme previsão
no inciso I do Art. 91 do CP.

Neste sentido, o Juiz Criminal pode realizar uma estimativa dos danos causados e uma
vez a decisão transitando em julgado ela serve como Título Executivo Judicial que, se líquida,
pode ser executada imediatamente sem necessidade de se ingressar com um processo cível.

Insta salientar que com a criação da defensoria pública o Ministério Público deixou de
ser legitimado para propor a Ação Civil Ex Delicto. Assim, somente advogados autônomos que
representem a vítima (Assistentes da Acusação) ou a defensoria pública que são legitimados
para propositura da referida Ação.

Devemos atentar que nem todas as Sentenças Absolutória afastam a possibilidade de


se exigir a reparação do dano, portanto, em algumas situações ainda que o Réu seja absolvido
no penal poderá ser condenado a ressarcir o dano no cível.

Sabendo disso, nós enquanto advogados não precisamos aguardar o resultado final da
Ação Penal para demandar o Réu no Cível. É possível impetrarmos a Ação Cível
concomitantemente com a Ação Penal e, para garantir o ressarcimento requeremos as
medidas assecuratórias.

06/09/2016

Com a prática do delito, normalmente instaura-se o Inquérito Policial que ao final


resulta em um relatório enviado para o Ministério Público (em caso de Ação Pública) ou para o
Querelante (em caso de Ação Privada).

Ofertada a Ação Penal o Juiz poderá rejeita-la ou recebe-la e citar o Réu para
apresentar Resposta a Acusação.

Apresentada a Resposta à Acusação, o Ministério Público se manifesta e o Juiz poderá


absolver sumariamente o Réu se entender que estão presentes uma das hipóteses previstas
nos incisos do Art. 397 do CPP.

Kleber Luciano Ancioto Página 15


PRATICA PENAL II

Não havendo nada que afaste de forma inequívoca o crime ou a responsabilidade do


Réu, o Juiz não absolve sumariamente e marca a Audiência de Instrução, Debates e
Julgamento prevista no Art. 400 do CPP.

Art. 400, CPP – Na audiência de instrução e julgamento, a ser


realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à
tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas
arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o
disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos
peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas,
interrogando-se, em seguida, o acusado.

O dispositivo acima foi modificado pela Lei 11.719/08 e com as modificações houve
uma concentração dos atos processuais que anteriormente eram fragmentados. Assim, o que
antes se realizava em atos separados e fazia com que a Ação Penal perdurasse por anos,
atualmente é realizado tudo em uma única audiência.

AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO, DEBATES E JULGAMENTO

Tendo sido concentrado todos os atos em um único momento, exige do profissional


que ele esteja preparado para a audiência. Os Debates, por exemplo, não é incomum que
Juízes exijam que eles sejam realizados oralmente na própria audiência e, se o Advogado não
estiver preparado, sem dúvida quem sairá perdendo é o cliente, pois não alegará todas as
teses de defesa.

Atualmente nós temos também a possibilidade da audiência por videoconferência, que


deveria ser a regra, especialmente quando o Réu estiver preso.

Etapas da Audiência:

o Declarações do Ofendido (se houver)

O Código de Processo Penal autoriza que se a vítima quiser por sentir-se atemorizada,
poderá prestar suas declarações sem a presença do Réu. Neste sentido, tanto a vítima como as
testemunhas de acusação poderão narrar os fatos e até mesmo realizar o reconhecimento do
Réu sem que ele esteja presente pessoalmente, conforme prevê o inciso III do Art. 226 do
CPP.

O Advogado deve ter cautela em perquirir a vítima, primeiro para não vitimizá-la
novamente e segundo para não favorecer ainda mais para formar o convencimento do Juiz no
sentido da existência de materialidade e autoria do crime.

o Oitiva das Testemunhas de Acusação

São arroladas pelo Ministério Público ou pelo Querelante por ocasião do oferecimento
da peça acusatória.

Antes da testemunha ser ouvida, poderá ocorrer a CONTRADITA e, neste caso, o Juiz
decidirá sobre ouvi-la como testemunha do juízo, como informante ou dispensa-la.

Kleber Luciano Ancioto Página 16


PRATICA PENAL II

Normalmente o Juiz sempre ouve, ainda que como informante, por conta do Principio da
busca pela Verdade Real.

o Oitiva das Testemunhas de Defesa

São arroladas pela defesa por ocasião da Resposta a Acusação.

Quando as testemunhas de defesa podemos dividi-las em dois grupos: as úteis e as


que vão para “canonizar” o Réu.

A grosso modo, o depoimento das testemunhas “canonizadoras” não se prestam para


a instrução criminal, mas o advogado as arrola para confortar o Réu e para que o Juiz possa
levar em consideração na primeira fase da dosimetria da pena, onde ele analisa as
circunstancias judiciais e levará em conta questões subjetivas ligada ao Réu para aumentar ou
diminuir a pena.

Alguns Juízes autorizam que as testemunhas “canonizadoras” façam uma declaração


de próprio punho, economizando tempo da audiência.

o Esclarecimentos dos Peritos

o Acareações

o Reconhecimento de Pessoas e Coisas

o Interrogatório do Réu

A Lei de Drogas determina que o primeiro ato da audiência deve ser o Interrogatório
do Réu e, há Juízes que entendem que ela deve ser respeitada, por ser uma Lei Especial
possuindo hierarquia sobre a Lei Geral (CPP), por outro lado há Juízes que entendem que como
a previsão no CPP é mais benéfica que a da Lei, deve-se manter o disposto no Código e o
interrogatório do Réu ser o último ato da audiência, antes apenas dos debates orais.

O interrogatório é composto por duas partes, uma primeira que diz respeito a
informações pessoais do Réu e uma segunda parte que diz respeito aos fatos.

O fato do interrogatório ser colocado no final da audiência, possui o viés de valorizar o


contraditório e a ampla defesa, uma vez que o Réu tem direito de conhecer as provas que o
Estado possui contra ele antes de se manifestar.

o Debates Orais ou Memorais

A maioria dos Juízes acabam convertendo os Debates Orais em Memoriais, mas como
já alertamos acima, o advogado deve sempre ir preparado pois alguns Juízes não convertem.

o Prolação da Sentença

03/10/2016

Kleber Luciano Ancioto Página 17


PRATICA PENAL II

MEMORIAIS (ALEGAÇÕES FINAIS ESCRITAS)

A regra é que os debates sejam orais (Art. 403, caput, CPP), mas se o Juiz achar
conveniente ele pode converter em memoriais (Art. 403, §3°, CPP).

 Defesa Efetiva

Este é o momento para esgotar todas as teses de defesa, seja em sede de preliminares
ou de mérito e, neste último, inclui-se teses que não absolvem, mas beneficiam o Réu de
alguma forma (estas teses relacionam-se com dosagem de pena, afastamento de
qualificadoras, de causas de aumento de pena ou agravantes).

Isso porque na grande maioria das vezes não se consegue a absolvição do Réu, até
porque por ocasião da Sentença já se passou por vários filtros (Inquérito – Indiciamento;
Promotor – Oferecimento da Denúncia; Juiz – Recebimento da Denuncia / Possibilidade de
Absolvição Sumária), assim temos que ter cuidado com as teses que não absolvem, pois
podem gerar benefícios ao cliente.

 Principais Teses

o Preliminares

 Nulidades
 Incompetência do Juízo
 Não oferecimento do SURSIS
 Inépcia da Inicial
o Ex. não individualização das condutas.

 Exceções
 Todos os argumentos do Art. 95 do CPP

A existência de algumas das causas dispostas nos incisos deste dispositivo gera a
nulidade do Processo.

 Prescrição e Decadência

Nesta hipótese as vezes a falta de representação, que configura falta de condição de


procedibilidade, leva a decadência do direito de representar, visto que quando arguida,
normalmente já se esgotou o prazo para faze-la.

 Falta de Condições da Ação e Pressupostos Processuais

São teses dificilmente alegadas em processo crime, mas pode ocorrer.

Quanto as Condições da Ação, precisamos analisar a legitimidade de parte, o interesse


de agir e a possibilidade jurídica do pedido. Este último, embora não faça mais parte das
condições da ação na esfera civil, na esfera penal continua fazendo.

Kleber Luciano Ancioto Página 18


PRATICA PENAL II

Possibilidade Jurídica do Pedido: refere-se ao fato da conduta ser típica, ilícita e


culpável.

Interesse de Agir: refere-se ao fato de que a Ação penal tem como finalidade
assegurar o jus puniendi do Estado, neste sentido, se o crime estiver prescrito, houver
decadência do direito de representar ou de propor a queixa crime, ou ainda no caso de estar
presente uma excludente que isente o acusado de pena, faltará interesse de agir.

Legitimidade de parte: Nas Ações Públicas Incondicionadas o Ministério Público é a


parte legítima para propor a denúncia e tem total autonomia para isto; já nas Ações Públicas
Condicionadas o Ministério Público continua sendo a parte legítima para propor a denúncia, no
entanto, ele não é autônomo, pois depende de representação da vítima ou seu representante;
por fim nas Ações Privadas é o ofendido que possui a prerrogativa de apresentar a queixa.

o Falta de Pressuposto Processuais

Já em relação aos Pressupostos Processuais, seja de existência ou de validade. Neste


sentido, podemos alegar a falta de uma citação válida por exemplo.

o Mérito

 Teses Absolutórias

 Fato Atípico
o Erro de Tipo (Art. 20, CP)
 Escusável  Isento de Pena (§1°)
 Inescusável  Responde pelo crime
culposo (§2°)
o Clausula excludente da tipicidade
 Princípio da insignificância

 Excludentes de Ilicitude (Art. 23, CP)


o Reais

 Excludentes de Culpabilidade
o Erro de Proibição (Art. 21, CP)
o Coação Moral Irresistível (Art. 22, CP)
o Obediência Hierárquica (Art. 22, CP)
o Legitima Defesa Putativa

 Causa Extintivas da Punibilidade (Art. 107, CP)


o Anistia, Graça ou Indulto (Inciso II)
o Abolitiu criminis (Inciso III)
o Prescrição, Decadência ou Perempção (Inciso IV)
o Renúncia do direito de queixa ou pelo perdão
aceito, nos crimes de ação privada (Inciso V)

Kleber Luciano Ancioto Página 19


PRATICA PENAL II

o Retratação do agente, nos casos em que a Lei


admite (Inciso VI)
o Perdão Judicial (Inciso IX)
o Ausência de Representação  Decadência

 Escusas absolutórias nos crimes patrimoniais

 Culpa exclusiva da vítima

 Crime Impossível (Art. 17, CP)

 Atentar para os motivos que fundamentam a absolvição


previsto nos incisos do Art. 386, CPP, em especial
aqueles que absolvem com base no princípio in dubio pro
reo, como a ausência de provas da materialidade ou
autora do crime

 Teses Não Absolutórias, mas que Beneficiam o Réu

 Circunstâncias Judiciais Favoráveis (Art. 59, CP)

 Atenuantes
o Nominadas (Art. 65, CP)
 Confissão (Súmula 545, STJ)
o Inominadas (Art. 66, CP)
 Primariedade

Súmula 545, STJ – Quando a confissão for utilizada para a formação


do convencimento do julgador, o réu fara jus a atenuante prevista no
art. 65, III, d, do Código Penal.

 Com relação à dosimetria de pena, atentar para as


seguintes súmulas:

Súmula 269, STJ – É admissível a adoção do regime prisional


semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a 4
(quatro) anos se favoráveis as circunstancias judiciais.

Súmula 444, STJ – É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações


penais em curso para agravar a pena base.

Súmula 718, STF – A opinião do julgador sobre a gravidade em


abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de
regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.

Súmula 719, STF – A imposição do regime de cumprimento mais


severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea.

Kleber Luciano Ancioto Página 20


PRATICA PENAL II

 Substituição de Pena Privativa de Liberdade por


Restritiva de Direitos (Art. 43 e 44 do CP).

Atentar para o §3° do Art. 44 do CP, nos casos em que o indivíduo for reincidente,
vejamos:

Art. 44, §3°, CP – Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar


a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a
reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo
crime.

Neste sentido, se o indivíduo demonstrar que ele sempre trabalhou (através de


registros na carteira de trabalho), que possui filhos, são situações que favorecem na
substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos nas hipóteses em que for
reincidente.

 Desclassificação do crime

Este argumento é muito utilizado em procedimentos do Júri e, nas hipóteses em que


se discute se o crime foi praticado com ou sem violência.

 Atacar:
o Qualificadoras
o Agravantes
o Causas de aumento de pena e
o Concurso de crimes material.

Às vezes, serve como tese de defesa algar crime continuado, visto que a pena cai
consideravelmente quando comparado ao concurso material.

 SURSI da Pena (Art. 77, CP)

 Regime Prisional

É importante buscarmos reduzir ao máximo a pena fixada para que o cliente possa
iniciar o cumprimento em um regime prisional mais benéfico.

 Pedidos

Todas as teses alegadas no Direito devem constar no pedido, não é por outro motivo
que os pedidos trabalham com a ideia de subsidiariedade.

Insta salientar que não podemos nos olvidar de pedir pelo Direito de Recorrer em
Liberdade, especialmente se o Réu estiver respondendo o processo livre. Nas hipóteses em
que ele estiver respondendo preso, ainda assim podemos pedir para que ele tenha o direito de
recorrer em liberdade pugnando-se pela expedição do Alvará de Soltura, tendo em vista não
estarem mais presentes os requisitos que autorizam a prisão preventiva.

Kleber Luciano Ancioto Página 21


PRATICA PENAL II

25/10/2016

MEMORIAIS NO RITO DO JÚRI

 Teses na Primeira Fase

Além das nulidades que deverão ser alegadas em sede preliminares, temos que
trabalhar três teses importantes:

o Absolvição Sumária (Art. 415, CPP);


o Impronúncia (Art. 414, CPP); e
o Desclassificação (Art. 419, CPP);

Eventualmente, devemos atacar:

o Qualificadoras / crimes conexos

E requerer pelo:

o Direito de recorrer e de responder o processo em liberdade.

Vejamos as Teses que podem ser alegadas nos problemas abaixo:

PROBLEMA 01 – WALDOMIRO está sendo processado por manter arma ilegal no interior de
sua residência. Foi encontrada uma arma de fogo de fabricação caseira, denominada de “rabo
de cotia”, desmuniciada. Os policiais adentraram durante a noite na residência do réu, sem seu
consentimento, no intuito de averiguarem suposto delito de descaminho. Os policiais civis
apenas lograram êxito no encontro da referida arma. O acusado não foi preso em flagrante e
por ser primário responde o processo em liberdade. Foi aberto inquérito policial para melhor
apuração do fato, tomando o depoimento do acusado, dos policiais civis que realizaram a
apreensão e confeccionado o laudo pericial. A peça investigatória foi encaminhada para o MP.
Inclusive o laudo concluiu que a arma é apta a realizar disparos. O MP não ofereceu a
suspensão do processo, uma vez que o réu não possuía bons antecedentes (dois inquéritos por
lesões corporais graves em andamento). O magistrado não acatou a tese do defensor na
defesa inicial. Na audiência de instrução, debates e julgamento foram ouvidas as testemunhas
de acusação, que confirmaram a apreensão da arma desmuniciada. As testemunhas de defesa
apenas relatam os bons antecedentes socais do réu. No interrogatório o réu afirma que a arma
lhe pertencia, mas que nunca tinha a usado e seria de fabricação caseira, com a finalidade de
“matar pombinhas”, uma vez que sua residência fica na zona rural. O Magistrado, após o
interrogatório do réu, determina a conversão dos debates orais em memoriais. O MP postula
pela condenação do réu pelo crime descrito no Art. 12, da Lei 10.826/03. Apresente
memoriais da defesa.

 Preliminares
o Inquérito em andamento não impede concessão de Sursis processual
o Inviolabilidade de domicílio – nulidade do processo

 Mérito
o Erro de proibição

Kleber Luciano Ancioto Página 22


PRATICA PENAL II

 Dosimetria
o Primariedade – atenuante inominada do Art. 66 do CP.
o Confissão – atenuante do Art. 65, III, “d”, do CP e Súmula 545 do STJ.
o Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
o Suspensão condicional da pena.
o Regime inicial aberto.
o Direito de recorrer em liberdade, já que assim respondeu ao processo.

PROBLEMA 02 – Carlos atropelou duas pessoas com seu veículo. No dia dos fatos, o Policial
que atendeu a ocorrência solicitou a presença da Polícia Técnica, a qual constatou em laudo
pericial que o indiciado estava em alta velocidade (aproximadamente 120 KM/HORA) no
momento do incidente. O veículo também foi periciado. O inquérito foi concluído e remetido
ao Ministério Público, o qual ofertou denúncia em face de Carlos por duplo homicídio doloso.
O promotor de justiça justificou a capitulação no dolo eventual. O magistrado do Tribunal do
Júri de Presidente Prudente, sem acatar a defesa inicial, recebeu a denúncia e determinou data
para audiência de instrução e julgamento. O defensor solicitou em sua defesa inicial a
presença do perito para esclarecimentos em audiência, o que foi negado pelo r. magistrado
sob o fundamento de que o laudo apresentado bastava para provar os fatos. Durante a
audiência, as testemunhas de acusação afirmaram que as vítimas trafegavam pela pista. As
testemunhas de defesa indicaram que o réu é pessoa cuidadosa, apresentando bons
antecedentes. No interrogatório o réu reafirma que tomou todos os cuidados devidos para
evitar o acidente e que até a presente data nunca foi multado por infração de trânsito. O r.
magistrado converte os debates orais em memoriais a pedido das partes. O Ministério Público
postula a pronúncia de Carlos com fundamento na velocidade incompatível com o local, o que
já demonstraria o dolo eventual do acusado. Você como defensor de Carlos apresente
memoriais na primeira fase do procedimento do Júri.

 Preliminares
o Nulidade do processo a partir da decisão que indefere os esclarecimentos do
perito, tendo em vista o cerceamento à defesa – afronta ao princípio da
plenitude de defesa, princípio específico do Tribunal do Júri e aplicável a todo
o procedimento.

 Mérito
o Absolvição (Art. 415, CPP)
 Culpa exclusiva das vítimas – trafegavam na pista.
 Imprevisibilidade do resultado danoso – exclusão do dolo e culpa.
 Insuficiência de provas da materialidade – laudo por si só não poderia
formar convencimento do juiz, ressaltando-se sua contradição com os
demais elementos probatórios.
o Desclassificação para homicídio culposo (Art. 302 do CTB) – agente não agiu
dolosamente. Entretanto, entendendo por estar presente culpa, requer a
desclassificação.
o Direito de recorrer em liberdade – não estão presentes requisitos dos Arts.
312 e 313, CPP.

Kleber Luciano Ancioto Página 23


PRATICA PENAL II

PROBLEMA SAMARCO

O Ministério Publico Federal em Minas Gerais denunciou 22 pessoas e as empresas


SAMARCO, Vale, BHP Billiton e VogBR pelo rompimento da Barragem de Fundão, da Samarco,
em Mariana, na Região Central do estado. Dentre as denúncias, 21 pessoas são acusadas de
homicídio qualificado com dolo eventual - quando se assume o risco de matar. Os procuradores da
República José Adércio Leite Sampaio, Eduardo Aguiar, Jorge Munhós e Eduardo Santos de Oliveira,
apresentaram a conclusão das investigações nesta quinta-feira, em Belo Horizonte.

A barragem se rompeu no dia 5 de novembro de 2015, destruindo o distrito de Bento


Rodrigues, em Mariana, e atingindo várias outras localidades. Os rejeitos também atingiram mais de
40 cidades do Leste de Minas Gerais e do Espírito Santo. O desastre ambiental, considerado o maior
e sem precedentes no Brasil, deixou 19 mortos.

Das 22 pessoas denunciadas, apenas o engenheiro da VogBR Samuel Paes Loures não foi
acusado de homicídio com dolo eventual. Ele vai responder, juntamente com a VogBR, pelo crime
de apresentação de laudo ambiental falso. Os demais, além de homicídio, vão responder ainda por
crimes de inundação, desabamento, lesão corporal e crimes ambientais. A Samarco, aVale e a BHP
Billiton são acusadas de nove crimes ambientais.

Segundo o MPF, os acusados podem ir a júri popular e, se condenados, terem penas de


prisão de até 54 anos, além de pagamento de multa, de reparação dos danos ao meio ambiente e
daqueles causados às vítimas.

Segundo o procurador da República Eduardo Santos de Oliveira, o homicídio é qualificado


por motivo torpe, que foi a ganância da empresa, e por impossibilidade de defesa por parte das
vítimas.

O procurador da República José Adércio Leite Sampaio disse que o MPF pediu a reparação
dos danos causados às vítimas. O valor será apurado durante a instrução processual, que deve ser
feito pela Justiça.

"Havia sempre a busca pela exploração de mais minério, sempre em busca de aumentar os
lucros e dividendos para a Samarco e suas detentoras", disse o procurador. "Houve um sequestro da
segurança em busca do lucro", acrescentou.

De acordo com José Adércio, funcionários da Samarco notaram trincas no maciço da


barragem de Fundão em 2014. Engenheiros disseram que eram sinais de pré-ruptura. Diante do
cenário, segundo o procurador, a mineradora cumpriu parte das recomendações. "A empresa
[Samarco] usava de 'esparadrapos estruturais' ao invés de dar respostas contundentes aos
problemas da barragem", disse o procurador.

A análise feita por uma força-tarefa do MPF constatou problemas no maciço da barragem,
vazamentos, problemas na quantidade de água na barragem e nos procedimentos adotados para
que fossem feitos o alteamento e o recuo de Fundão. Um laudo feito por uma auditoria
independente concordou com a conclusão do inquérito da Polícia Civil sobre a causa do
rompimento da barragem, que foi a liquefação, quando há um acúmulo de água.

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PRATICA PENAL II

O procurador da República do Espírito Santo, Jorge Munhós, também participou da força-


tarefa do MPF. Segundo ele, o órgão identificou um documento interno da Samarco de abril de
2015 que previa, em caso de rompimento da barragem, a possibilidade de provocar até 20 mortes,
dano ambiental grave e paralisação das atividades da empresa por até dois anos.

Os documentos apontavam risco de falha na implementação e na operação das barragens


do Complexo Germano. Segundo Munhós, estes documentos já previam o rompimento por causa
do recuo do eixo da ombreira esquerda que geraria a liquefação.

Segundo o MPF, o Conselho de Administração da Samarco e os comitês dos quais a Vale e a


BHP participavam sabiam dos problemas apresentados na barragem e não se manifestaram para
garantir segurança. Documentos comprovam que a situação de Fundão foi levada a reuniões do
Conselho e dos comitês sem que nenhuma medida efetiva tivesse sido tomada.

A Vale, uma das donas da Samarco, repudiou "veementemente" a denúncia apresentada


pelo MPF envolvendo a mineradora e seus executivos. A empresa disse que o órgão "desprezou"
provas e depoimentos dados neste quase um ano de investigação que mostram que a Vale não
tinha conhecimento dos problemas apresentado em Fundão.

A mineradora ainda afirmou que os executivos que participam do Conselho de


Administração da Samarco jamais souberam de riscos de rompimento da barragem, sendo que a
eles sempre foi assegurada segurança da estrutura.

A Vale afirmou que "adotará firmemente as medidas cabíveis perante o Poder Judiciário
para comprovar sua inocência e de seus executivos e empregados e acredita, serenamente, que a
verdade e a sensatez irão prevalecer, fazendo-se a devida justiça".

Por meio de nota, a Samarco refutou a denúncia dizendo que a “empresa não tinha
qualquer conhecimento prévio de riscos à sua estrutura”. A mineradora disse ainda que a barragem
era “regularmente fiscalizada, não só pelas autoridades como também por consultores
internacionais independentes” e que a “segurança sempre foi uma prioridade” para a empresa (leia
a íntegra da nota abaixo).

“A Samarco refuta a denúncia do Ministério Público Federal, que desconsiderou as defesas


e depoimentos apresentados ao longo das investigações iniciadas logo após o rompimento da
barragem de Fundão e que comprovam que a empresa não tinha qualquer conhecimento prévio
de riscos à sua estrutura.
A barragem de Fundão era regularmente fiscalizada, não só pelas autoridades como
também por consultores internacionais independentes. Toda e qualquer medida sugerida e
implantada no que diz respeito à gestão da estrutura seguia as melhores práticas de engenharia e
segurança. A estabilidade da barragem de Fundão foi atestada pela consultoria VOGBR.
Segurança sempre foi uma prioridade na estratégia de gestão da Samarco, que reitera que
nunca houve redução de investimentos nesse tema por parte da empresa.”
Paulo Freitas Ribeiro, advogado de Ricardo Vescovi, informou em nota que "muito embora não
tenha tido acesso aos termos completos da denúncia, a defesa tem absoluta certeza de que as

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acusações formuladas contra o ex-Presidente são improcedentes, o que, por certo, haverá de ser
reconhecido pelo Poder Judiciário".
Por nota, a VogBR informou que não irá se pronunciar.
A mineradora BHP Billiton disse que aguarda ser notificada oficialmente. Em nota, ela
informou ainda que "repudia veementemente as acusações contra a empresa e os indivíduos
denunciados e irá apresentar sua defesa contra as denúncias oferecidas, prestando também todo o
suporte na defesa dos indivíduos denunciados”.
Inquérito da Polícia Federal
Na conclusão do inquérito da Polícia Federal, em junho deste ano, oito pessoas e as
empresas Samarco, Vale e VogBR foram indiciadas por crimes ambientais e danos contra o
patrimônio histórico e cultural.

Analisando o caso acima, poderíamos alegar:

 Preliminares
o Nulidade por cerceamento de defesa; e
o Denuncia Inepta, por não individualização das condutas.

 Mérito
o Este é o primeiro caso que o MPF denuncia alguém por homicídio doloso em
decorrência de um crime ambiental, assim poderíamos alegar:
 Obediência hierárquica em alguns casos;
 Caso fortuito, uma vez que há necessidade do fato ser ao menos
previsível  inexistência de responsabilidade objetiva.
 Desclassificação  Homicídio Culposo

Problemas a serem enfrentados:

Art. 13, §2°, CP  Crimes omissos impróprios  indivíduo deixou de agir quando
deveria ter agido.

Art. 103, §4°, CDC  Se a sentença penal for julgada procedente e transitar em
julgado, todas as pessoas que foram lesadas pelo crime poderão liquidar seus danos e executar
a sentença. Ou seja, além do crime, multa, ação civil publica, os responsáveis terão que
enfrentar ainda a execução de vários Títulos Executivos Judiciais.

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