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Isabel Fernandes Pinto – nasceu no Porto, em 1980.

É licenciada em Estudos Teatrais pela ESMAE-IPP, tendo


complementado a sua formação de atriz no Laboratoire de Recherches Théâtrales, sediado em Estrasburgo. É também
licenciada em Arquitetura pela FAUP, tendo colaborado em gabinetes nacionais e franceses. É atriz, contadora de
histórias e autora de contos e textos para teatro. Em 2005 criou o projeto Faunas (http://faunas.no.sapo.pt) – teatro
portátil dirigido a jovens – onde escreve, encena e interpreta, que tem levado a várias escolas, bibliotecas e
auditórios.

TEATRO versus JOGO DRAMÁTICO

Piaget mostrou-nos o jogo simbólico como um processo espontâneo através do qual a


criança lida com as inquietações que surgem ao longo do seu crescimento e para as quais ela ainda
não dispõe de meios de racionalização e verbalização. Uma criança que não brinca será, portanto,
um adulto sem respostas, alguém que não teve oportunidade de buscar soluções para as
perplexidades e temores que encontrou ao longo do seu crescimento.

Dentro do jogo simbólico, a expressão dramática constitui um instrumento privilegiado.


Assumir papéis, atribuir papéis, construir pequenas narrativas, estabelecer as regras de um mundo
ficcional são meios para “ensaiar” a vida. Este “ensaiar” assume dois sentidos: ensaiar como
imitação do real observado – o ator que repete uma cena – e ensaiar como procura de respostas –
o investigador que procura soluções. A criança é simultaneamente ator e investigador, constrói
um mundo ficcional com regras que ela própria dita, projetando as imagens que ela construiu a
partir da sua observação. Ao abrigo da ficção, a criança é livre para experimentar e descobrir. Ela
usa o jogo dramático individualmente e em pequenos grupos, de forma autónoma e espontânea.
Porém, quando é transportado para a sala de aula e proposto pelo educador ou professor, o jogo
dramático ganha uma dimensão coletiva, onde a sua riqueza pedagógica se evidencia. É possível
trabalhar várias competências através do jogo dramático: a coordenação físico-motora, a
concentração, a confiança, o relacionamento interpessoal, a criatividade.

Março de 2015
Educação Pré-Escolar
O jogo dramático pode consistir na construção de uma ficção onde toda a turma é
envolvida. No caso da atividade proposta, as crianças entram num espaço onírico – a “aldeia do
silêncio” – onde cada um tem o seu lugar – a sua “casa”. Entre esse espaço individual bem definido
e o espaço público de partilha, várias atividades podem ter lugar mediante os objetivos
pedagógicos estabelecidos. O professor ou educador será o timoneiro dessa viagem pelo
imaginário, criando para cada etapa uma narrativa estimulante.

Jogo dramático infantil e teatro com crianças é a mesma coisa? Não. O jogo dramático
poderá conduzir à criação de uma peça de teatro com as crianças ou não. A elaboração de uma
apresentação teatral não deve ser o objetivo das aulas de expressão dramática, mas antes um
meio para a aquisição de competências pedagógicas (a autoconfiança, a exposição pública e a
expressão física, motora e vocal). Se o professor ou educador pretender criar uma apresentação
teatral com as crianças, deve ter o cuidado de que o guião advenha da colaboração entre todos os
elementos da turma e que todos possam participar respeitando as suas características pessoais e
afinidades. Se uma criança tiver muito medo da exposição pública, o exercício de uma breve
aparição pode ser um ótimo desafio; se uma criança for muito extrovertida, um papel que abarque
momentos de exuberância e de autocontrolo pode ser um ótimo desafio. Os desafios lançados a
cada criança serão as suas conquistas e darão sentido a esse trabalho. No teatro com crianças não
há protagonistas nem personagens menores, cada um é herói de si mesmo.

Uma proposta de leitura: SLADE, Peter – O Jogo dramático infantil.

Março de 2015
Educação Pré-Escolar

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