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1.1 – Tipologia:
A fonte a qual escolhi para analisar nesta apresentação é um Livro intitulado Por que
resisti à prisão do baiano escritor, comunista, “terrorista”, poeta, assaltante,
guerrilheiro, revolucionário Carlos Marighella. O livro se apresenta como uma
denuncia, literatura política (como ele mesmo intitula), uma reportagem política como
afirma Jorge Amado, como ato político como relata Antonio Candido, e para além de
um relato autobiográfico é uma transmissão de conhecimentos de uma experiência de
vida militante aos militantes, a juventude.
Marighella escreve este livro um ano após o golpe militar de 1964, após
revolução cubana e de sua prisão em 9 de maio do mesmo ano durante uma
sessão de cinema no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Em um momento
conturbado dentro PCB, com muitos debates internos, autocríticas, ele
escreve este livro demonstrando a fragmentação do partido entre uma linha
que acreditavam que expulsariam a ditadura por uma via democrática, sem
confronto violento, e outra linha que propunha a retomada da democracia
através das lutas de massas.
- Liberdade
-Resistência
- Proposta de frente única antiditadura
- Erros da esquerda e críticas ao pcb
- O papel da Juventude
Defende uma frente ampla para derrotar a ditadura, que em sua visão
continua a exigir a presença da burguesia nacional, além dos operários,
camponeses e camadas médias. Mas adverte que essa frente – e aqui é outro
ponto de combate à política do partido – não pode ser instrumento de
contenção do ímpeto, da ousadia das massas populares. A liderança da
burguesia nacional se caracteriza por ser débil e vacilante e está destinada
sempre a entrar em colapso e a ceder quando se desenha a possibilidade de
um confronto que passe o poder aos setores populares. Ou seja, a liderança
deste frente ampla não pode ser submetida à burguesia nacional e nem ser
um fator de limitação das ações da massa.
Ele aponto criticas diretas aos membros do PCB ao dizer que os comunistas
sempre disseram, sobretudo durante o governo Goulart, que a violência dos
golpistas seria respondida na mesma moeda, que eles “seriam esmagados se
levantassem a cabeça”, palavras do próprio Prestes. Neste sentido, ele
aponta que o grande erro foi a não organização de uma resistência ao golpe,
mesmo sabendo de suas ameaças, com exceção a greve geral. Esse foi o erro
mais sensível em acreditar na capacidade de direção da burguesia, sem o
apelo à organização de massas e à ação e vigilância independentes.
Ele toma como exemplo a revolução cubana e faz projeções deste campo de
experiências: devido ao emprego da violência pela ditadura, a ideia de se
retomar a democracia pela via pacífica se distanciou da realidade brasileira.
Por tanto, este fato poderá levar ao aparecimento de guerrilhas. Como a
revolução nos apresenta, somente a organização do povo disponde de seus
próprios recursos (desde autodefesa até a organização armada) levara a
libertação nacional.
A ditadura militar deve ser derrotada e para isso é necessário uma união
nacional de todos os setores contrários ao regime, pautados pela ação. A
aliança com a burguesia nacional naquele momento era uma necessidade
para a conjuntura histórica brasileira. No entanto, era para ter a clareza que
o protagonismo da luta deve ser das massas populares. O grande erro da
esquerda naquele momento foi em acreditar na capacidade de direção da
burguesia, sem o apelo à organização de massas e à ação de vigilância
independentes.
Faz suas apostas nas novas gerações e afirma destinar este livro a elas que
leram e refletiram sobre as ideias postas:
Conclusão
A fonte a qual eu analiso é a 2ºedição do livro Por que resisti à prisão publicada
em 1994 pela editora brasiliense juntamente com o apoio da Universidade federal da
Bahia. Os direitos autorais é reservado a Clara Charf (ex-mulher do guerrilheiro) e a
família. A ilustração da capa é um esboço de Oscar Niemayer para o projeto do túmulo
de Carlos Marighella, contem uma apresentação de Antonio Candido e o prefácio de
Jorge Amado.
Em 1994, Clara e Carlinhos deram passos a frente, editando os livros Por que
resisti à prisão e Rondó da Liberdade. Era uma maneira de torna conhecido seu
pensamento político e a sua veia poética. Esta tentativa de narrar uma história não
oficial é muito importante para se pensar a historiografia, demonstra que a História
chamada oficial usualmente omite ou nega fatos, circunstancias e nomes que tiveram
importância fundamental. Tentando traçar esta nova narrativa, no mesmo ano a
Universidade Federal da Bahia (UFBA) organizou um Seminário em torno do
pensamento político de Marighella. Coordenado pelo professor Jorge Nóvoa, do
Departamento de História da UFBA, contando com a presença de Florestan Fernandes,
Antonio Candido, Jacob Gorender, depoimento em vídeo de Jorge Amado.
Simultaneamente, inaugurava-se uma exposição de fotos na sede do bloco Olorum, no
Pelorinho, que acompanhava toda a trajetória do dirigente Comunista.
Desta forma, Clara busca um arcabouço de intelectuais para sistematizar a
memoria deste sujeito com tantas contradições, amado e odiado quase que na mesma
proporção. A meu ver, sua memória tomou os rumos de uma memória coletiva, muito
próxima da simbologia de Che Guevara. Sua imagem é atrelada como símbolo da
resistência de um momento histórico, a luta pela liberdade. Marighella vira um polo
aglutinador de tantas outras memórias que foram perdidas, esquecidas nos porões da
ditadura, milhares de brasileiros, militantes, revolucionários que deram a vida pelas
mesmas causas. Por tanto, entender a complexidade do contexto no qual Carlos
Marighella estava inserido e analisar o seu entendimento sobre este processo de
radicalização das ações políticas é de fundamental importância para aprofundarmos a
compreensão do período proposto à investigação.