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EDWARD TONELLI

Professor Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).


Professor Titular e Livre-Docente do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina
da UFMG. Orientador do Curso de Pós-Graduação em Medicina -Área de Concentração
em Pediatria da UFMG. Membro Assessor do Serviço de Infectologia Pediátrica do Hospital
das Clínicas da UFMG. Membro do Núcleo Gerencial do Conselho Científico
do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Membro da Academia Mineira de Medicina e do Conselho Acadêmico
da Sociedade Brasileira de Pediatria. Consultor do CNPq

LINCOLN M. S. FREIRE
Presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria. Vice-Presidente da Associação Médica
Brasileira. Professor-Adjunto Mestre e Doutor do Departamento de Pediatria da Faculdade
de Medicina da UFMG. Professor do Curso de Pós-graduação em Medicina Tropical
e Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG. Membro do Comitê Técnico Assessor
do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde. Membro Assessor
do Programa de Erradicação do Sarampo e Controle da Rubéola do Ministério da Saúde.
Membro da Comissão Nacional de Revisão de Casos do Programa Nacional de Erradicação
da Poliomielite do Ministério da Saúde. Médico Pediatra do Hospital Governador
Israel Pinheiro -IPSEMG. Ex-Diretor do Centro Geral de Pediatra -
Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais.

2000

VOLUME I
DoençasInfecciosasna Infância e Adolescência-2" edição -2 volumes

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MEDSI -Editora Médica e Científica Ltda.

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CAPíTULO 68

Arbovi roses
Amélia P;A. Travassos da Rosa. Francisco P;Pinheiro
Elizabeth Salbé Travassos da Rosa. Sueli Guerreiro Rodrigues
Jorge F. S. Travassos da Rosa. Pedro F. C. Vasconcelos

Conceito e importância Mayaro


Classificação clínica das arboviroses Arbovírus responsáveis por encefalite
Classificação antigênica dos arbovírus Outras arboviroses
Sistema Universal de Classificação dos arbovírus Diagnóstico laboratorial
Epidemiologia Provas específicas
Arbovírus patogênicos para o homem identificados Isolamento do vírus
na Amazônia Histopatologia
Arbovírus isolados na Amazônia de patogenicidade Sorologia
desconhecida para o homem Detecção de antígenos e genomas vir ais
Arbovírus isolados fora da Amazônia Provas inespecíficas
Principais arbovírus epidêmicos no Brasil Diagnóstico diferencial
Dengue Tratamento
Febre amarela Profilaxia
Oropouche Referências bibliográficas

CONCEITO E IMPORTÂNCIA Conseqüentemente,as pessoasque mantêm


contato com os focosenzoóticosdos arbovírus
Arboviroses são doenças causadas por um sãoas que correm maior risco de adq~irirem
grupo de vírus ecologicamentebem definido a infecção.No entanto, certasarbovirosestêm
chamado arbovírus. Os arbovírus são vírus surgido periodicamenteem áreasurbanas,sob
transmitidos na natureza, mediante transmis- forma epidêmica, tais como o dengue,
sãobiológicaentre hospedeirossuscetíveispor Oropouche, Chikungunya e outras, ou
meio de artrópodeshematófagos,ou de hospe- mesmo endemicamente, como é o caso do
deiro artrópode a hospedeiroartrópode, atra- dengue. '
vés da via transovarianae, possivelmente,da
via sexual;multiplicam-see produzemviremia
nos vertebrados; multiplicam-se nos tecidos CLASSIFICAÇÃO CLíNICA
dos artrópodese sãorepassadosa novosverte- DAS ARBOVIROSES
brados suscetíveisatravésda picada do inseto,
após um período de incubação extrínseca As manifestaçõesclínicas em seres humanos,
(WHO TechnicalReport SeriesN" 719). decorrentes das infecções por arbovírus,
Asarboviroses,em quasesuatotalidade,são podem ser reunidas em quatro categorias:
zoonoses mantidas em ambiente silvestre. doença febril, febre com exantema, febre
986
ARBOVIROSES 987

hemorrágica e encefalite que varia em gravi- EPIDEMIOLOGIA


dade, desde a meningite assépticaaté casos
fatais. Os quadros febris constituemas mani- Arbovírus Patogênicos para o Homem
festaçõesclínicas observadascom maior fre- Identificados na Amazônia
qüência. É oportuno frisar que o mesmo tipo
de arbovírus é capazde causardiferentes sín- Trinta e quatro dos 186 tipos diferentes de
dromes clínicas e, por outro lado, a mesma arbovírus e outros vírus de vertebrados,iden-
sintomatologia pode ser determinada por tificados na Amazôniabrasileira, sãocompro-
diferentes arbovírus. vadamente patogênicos para o homem. A
infecçãohumana por 30 delesjá foi demons-
trada atravésdo isolamentodo agentea partir
CLASSIFICAÇÃO A~TIGÊNICA do sanguede doentes,sendo 27 a partir de
DOS ARBOVIRUS casosde infecçõesnaturais e três unicamente
de infecções de laboratório. Quatro outros
Os arbovírus sãoclassificadosem grupos anti- tipos -os vírus das encefaliteseqüinas lestee
gênicos, de acordo com o critério sorológico oeste, Nepuyo e Bussuquara -ainda não
estabelecidopor Casals6.Cadagrupo é consti- foram isolados de humanos na região70.Os
tuído de dois ou mais vírus que demonstram dois primeiros têm sido responsabilizadospor
relações antigênicas com outro, conforme vários surtos de encefalites nos Estados
mostrado por um ou mais testessorológicos. Unidos. O Nepuyo foi isoladode dois pacien-
Os três primeiros grupos caracterizadosforam tes na Guatemalae o Bussuquarafoi isolado
designadospelas letras A, B e C. Os grupos de um paciente com quadro febril no
subseqüentesreceberam nomes do primeiro Panamá7.45.51.60.75.
vírus isolado no respectivogrupo. Os arboví-
rus encontradosna Amazôniasãodistribuídos
em 22 grupos sorológicos,contendo 154soro- Isolados na Amazônia
tipos diferentes. Os demais 32 vírus são não de Patogenicidade Desconhecida
grupados. Mais de dois terços dessestipos para o Homem
foram isolados inicialmente na Amazônia,
antes que o fossemem qualquer outra parte Constituem a maioria dos arbovírus assinala-
do mundo; muitos tipos jamais foram encon- dos na Amazônia.Inquéritos sorológicosreali-
trados fora dessaregião. zadosem habitantesda região revelarama pre-
sençade imunidade para 13 dos 28 tipos pes-
quisados89,com valores da seguinte ordem:
Sistema Universal de Classificaçãodos Maguari (5,2%), Cocal (3,8%), Itaporanga
Arbovírus (3,3%),Una (3%), Kairi (2,7%),Bujaru (2,3%),
Pixuna (2%)e Moju (1,7%);para osvírus Aurá,
Com base em suas propriedades fisico-quími- Capim, Utinga, Belém e Araguari, os percen-
cas, a maioria dos arbovírus se distribui por tuais foram inferiores a 1%.
cinco famílias, quais sejam: Bunyaviridae,
Flaviviridae, Reoviridae, Rhabdoviridae e
Togaviridae. Ressalte-se,no entanto, que nem Arbovírus Isolados Fora da Amazônia
todos os membros das citadas famílias são
necessariamente arbovírus. Reconhece-se A maioria dos estudossobrearbovírus fora daAmazônia
ainda a existência de vírus integrantes das foi realizada, no Estado de São
famíliasArenaviridae, Poxviridae, Herpesviridae, Paulo, pelos grupos do Instituto Adolfo Lutz
Coronaviridae etc. Muitos outros não têm da Secretariade Saúdee Faculdadede Saúde
taxonomia definida, porquanto suas caracte- Públicada Universidadede SãoPaulo.
rísticas fisico-químicas ainda não são suficien- Na região Sudeste,dentre os cerca de 20
temente conhecidas7o. arbovírus isoladosde artrópodes, vertebrados

Arbovírus
988 DOENÇAS CAUSADAS POR V(RUS

silvestres e seres humanos, assume maior outros estados registraram casosautóctones:


importância o vírus Rocio (ROC), não só pela São Paulo15,Minas Gerais, Pernambuco e
capacidade de disseminação epidêmica, mas, Bahia. Milhares de pessoasforam acometidas
sobretudo, pela gravidade da encefalite que nessesestados.Em todos elesfoi isoladounica-
provoca, muitas vezes com evolução fatal. mente o vírus dengue sorotipo 1 (DEN-l). No
Outros vírus importantes, em face do papel período de 1986 a 1990 foram notificados
potencial de infectar o homem em natureza, 162.978casosda doença,emboraestudossoro-
são os vírus da encefalite eqüina venezuelana lógicos realizadosno Rio de janeiro tenham
subtipo I-A (Alphavirus),Çaraparu (Bunyavirus) estimadoque cerca1 milhão de casosda infec-
e Dengue (Flavivirus). Esté último está associa- ção ocorreram somentenaquela cidade14.Tal
do a inúmeras epidemias na região, com fato demonstra espetacularmentee de modo
milhares de casosnotificados a partir de 1986 cabal a subnotificação,verificada em todos os
e dezenas de mortos por dengue hemorrági- paísesonde epidemiasde dengue sãoregistra-
co, especialmente no Estado do Rio de das.Afora o Brasil,outros paísesna Américado
Sul, sem história prévia de dengue ou sem
Janeiro.
registro da enfermidade durante várias déca-
das, sofreram grandes epidemias devidas ao
PRINCIPAIS ARBOvíRUS DEN-l. São eles: Bolívia (1987), Paraguai
(1988),Equador(1988)e Peru(1990).Durante
EPIDÊMICOS NO BRASIL o surto ocorrido no Peru, detectou-setambém
o DEN-4. Assimcomo ocorreu na maioria das
Dengue epidemiasregistradasno Brasil, nessespaísesa
real incidência da infecção permanece na
o vírus do dengue peri.~ce ao grupo B dos maioria dos casosdesconhecida49.
arbovírus. Com base em suaspropriedades fisi- Recente atividade do dengue no Brasil
co-químicas está inserido no gênero FÚlViviru.5, começouem 1990,com uma grande epidemia
família Flaviviridae84. Possuiquatro sorotipos -
de dengue 2 (DEN-2) em diferentespartes do
DEN-l, DEN-2, DEN-3 e DEN-428 -, que cau- Rio de janeir036. Cerca de 100.000 casos
sam a mesma doença: febre clássicado dengue foram notificadosnos anosde 1990/91na área
ou febre do dengue e/ou febre hemorrágica do do Grande Rio e em Niterói. Entre esses,cerca
dengue. de 1.000casosforam notificados com caracte-
rísticasde dengue hemorrágico e/ou síndrome
de choque do dengue, segundocritérios clíni-
Epidemiologia cos,embora apenas200 tenhamsido classifica-
dos de acordo com os critérios da Organização
o primeiro registro documentado clínica e labo- Mundial de Saúde. Dezessetecasos foram
ratorialmente do dengue em território nacional fataisOO.Ressalte-seque em fevereiro de 1989
ocorreu em 1982, em Boa Vista, Roraima, uma amostra de DEN-2 (genótipo Burkina
extremo norte do País,atingindo um quinto da Faso)foi isolada em Belém, a partir de um
populaçã068. À época, estimou-se em 12.000 caso febril cuja raciente era procedente de
pessoasacometidas, não tendo sido registrados Luanda, Angola6.
casosde dengue hemorrágic037.68.Até então, os Em abril de 1991,o sorotipo 2 causouuma
registros existentes referiam-se a casosclínicos grande epidemia em Araguaína, TO, tendo
sem comprovação laboratorial e a dados soroló- sido notificados 2.194 casosda doença, todos
gicos sem história clínica8.Naquela oportunida- de febre clássicade dengue (FNS/MS, 1994).
de, constatou-se a presença simultânea de dois Um inquérito soroepidemiológico realizado
sorotipos: DEN-l e DEN-468. após a epidemia, estimou que aproximada-
Em 1986, após quatro anos sem transmissão mente 83.250 pessoas foram acometidas78.
de dengue no país, irromperam epidemias de Nessemesmo ano, essesorotipo foi também
dengue clássico nos', Estados do Rio de detectado a partir de julho no estado das
Janeiros9, Alagoas e C~.ará. Em 1987, quatro Alagoas.
ARBOVIROSES 989

Em 1994, uma grande epidemia de febre Ias de Kupffer), seja anticorpo-dependente é


clássicae febre hemorrágica de dengue foi considerado um fator importante na regula-
registrada em Fortalezae vários municípios, a ção da enfermidade do dengue no homem;
maioria fazendo parte da área metropolitana ademais, a variação nos epitopos antigênicos
da capital cearense.Até fins de agosto desse do vírus também pode servir para modelar a
ano, 27.067 casos foram notificados pela infecção20.21.Existem, também, afirmações de
Secretaria de Saúde do Ceará, sendo que que a variação na virulência das cepas víricas
19.306 ou 71,4% ocorreram em Fortaleza.A do dengue determina a gravidade da infec-
incidência da infecção nessacidade, baseada ção57. Há, também, uma hipótese integral
na notificação dos casos, foi calculada em sobre o envolvimento de FHD/SCD, que con-
1.000,9 por 100.000 habitantes. Dezenasde sidera os fatores de risco individuais e epide-
casosda forma hemorrágica foram notifica- miológicos, assim como os fatores víricos3o.
dos, 26 dos quais foram confirmados e, entre
estes,14 evoluíram para o óbito8o.Um inqué-
rito soroepidemiológicorandomizado realiza-
do na capital cearense estimou que, entre Patologia
março e agosto, ocorreram 660.000 casosda
As alteraçõesanatomopatológicase;ncontradas
infecçãoem Fortaleza8l.
nas infecçõescausadaspelos vírus do dengue
Em outubro de 1996, ocorreram os primei-
variam de intensida~ee gravidade. Sãomíni-
ros casosautóctonesde dengue em Belém, PA.
mas na febre clássica'dodengue e, freqüentes
O sorotipo envolvido foi o DEN-l e, no perío-
e extensasno dengue hemorrágico, podendo,
do de outubro de 1996a abril de 1997, foram
inclusive, provocar a morte do paciente.
confirmados laboratorialmente 3.597, embora No dengue clássico,as alteraçõesmais evi-
o número de infecçõesnão confirmadas no dentes ocorrem no tegumento e estãorelacio-
laboratório seja, por estimativas,pelo menos nadasà presençado,exantema. Em materiais
dez vezes maior (Vasconcelos& Travassos obtidos por biópsia da pele de pacientescom
Rosa,dados não-publicados,1997). exantema, têm sido observados inflamação
das células endoteliais dos pequenos vasos,
edema perivascular e infiltrado inflamatóriO
Etiopatogenia do tipo mononuclear.É interessanteobservar
que partículasvirais ou seusantígenosjamais
A febre do dengue, assimcomo a febre hemor- foram encontradosna pele, o que tem permi-
rágica do dengue, podem ser causadaspor tido aos autores opservar que o exantema
quaisquer dos quatro sorotipos. O vírus tem maculopapular do dengue deve-se ou pode
como local preferencial para replicaçãono ser ser devido ao envolvimento de imunoglobuli-
humano, as células do sistema fagocítico- nas ou outro mecanismoindireto, tendo como
mononuclear. As razões do aparecimento do alvo o tegumento,e não à açãodireta do vírus
dengue têm sido objeto de estudos com con- ou seusantígenos22.
clusõesmuitas vezesdivergentes. Extensosestudos anatomopatológicostêm
sido feitos a partir de casosfatais de dengue
hemorrágico, os quais permitiram concluir
Sítios de Replicação e Patogênese que as principais alteraçõesprovocadaspelo
vírus dengue se concentram sobremodo em
A patogêneseda febre hemorrágica do den- três órgãos e/ou sistemas,quais sejam,o figa-
gue/síndrome do choque do dengue (FHD/ do, o sistemareticuloendoteliale o sistemavas-
SCD), todavia, persiste como um desafio. O cular. A localizaçãoe a extensãodessaslesões
fato de que o aumento da replicaçãodo vírus determinarão ou não a sobrevivência do
dengue nas células do tecido linfóide, com paciente.Essasaltera~õesgeralmentesetradu-
predileçãoespecialpor fagócitosmononuclea- zem clinicamente por hemorragias do tegu-
res (monócitos,macrófagos,histiócitose célu- mento, do tecido subcutâneo,do trato gas-
990 DOENÇAS CAUSADAS POR V[RUS

trointestinal e do coração.Ademais,é comum mita em aproximadamente quatro a cinco


o encontro de hemorragia,dilataçãoe conges- dias.Após um período de incubaçãoque varia,
tão de vasose edema arterial. Por outro lado, em média, de cinco a oito dias, há uma súbita
tem sido freqüente o encontro de coleções elevaçãode temperatura, acompanhada por
líquidas em cavidadesserosas,tais como cavi- cefaléiade grau variável, tontura, dor re,troo-
dade peritoneal, pericárdio e espaçopleural e cular e dores muscularese articulares. E fre-
hemorragias em diversos órgãos, como rins, qüente o aparecimento de erupção cutânea,
baçoe linfonodos22.80. principalmente do tipo maculopapular (Figs.
No ligado, as principais alteraçõesencon- 68-1 e 68-2), embora possa ser petequial em
tradas têm sido degeneraçãodos hepatócitose muitos pacientes.Alguns pacientes apresen-
dascélulasde Kupffer e formaçãodos corpús- tam hemorragiasna pele, soba forma de peté-
culos de Councilman-Rocha Lima, muitas quias, e, em casosraros, outros tipos de san-
vezesem grande quantidâde,como ocorre na gramento, como epistaxe, gengivorragia,
febre amarela. hematêmesee hematúria. A infecçãoevolui de
No baço e linfonodos, sãoobservadasproli- modo benigno, desaparecendoao fim de pou-
ferações de formas jovens de linfócitos, de cosdias a uma semana22.78.88.
célulasdo revestimento sinusoidale aumento A forma henwrrágica,
afora a sintomatologia
da fagocitoselinfocitária. Ainda nessesórgãos, correspondente à febre clássica, apresenta
tem sido comum o encontro de atrofia e hemorragiase diminuição do volume plasmá-
depleção de células na área periarterial dos tico intravascular,o que pode levar o paciente
ao choque hipovolêmico e à morte. Clinica-
dutos linfáticosdo baçoe área paracorticaldos
mente, o pacienteapresenta-seagitado e com
linfonodos. Na medula óssea,é freqüente a
extremidadesfrias. A pele torna-sepegajosa,e
constataçãode hipoplasia. No cimo, atrofia
sudoresepode estarpresente.Comumente,há
aguda é um achadofreqüente22.
fenômenoshemorrágicos,como hematêmese,
melena,hematúria, metrorragia em mulheres,
especialmentenaquelasque adquirem a doen-
Quadro Clínico ça durante a menstruação; entretanto, as
hemorragiasmaiscomuns sãoas do tegumen-
o espectroclínico das infecçõespelo vírus do to, e as quais se manifestamcomo equimoses,
dengue pode variar desdea forma inaparente púrpura, petéquiasetc.O testede torniquete é
ou assintomática,passandopor uma síndrome positivo (esteé realizadomantendo-seo man-
febril viral indiferenciada, febre clássicado guito do tensiômetroao nível da pressãodias-
dengue (raramente com pequenasmanifesta- tólica por cinco minutos; a seguir,contam-seas
ções hemorrágicas),até a febre hemorrágica petéquias). Por outro lado, outros sintomas
do dengue, que pode apresentar-secom ou gerais podem estar presentes, alguns deles
sem choque. O dengue hemorrágico é uma podem, inclusive,alertar o médico para a imi-
das principais causasde hospitalizaçãoe óbito nência da gravidade do caso. Entre estes,os
na faixa etária até 10 anosno SudesteAsiático. mais indicativossão a ocorrência de dispnéia,
A proporção de indivíduos infectadosque bem como cianoseperilabial e das extremida-
não apresentammanifestaçãoclínica é muito des.A presençade um dessessinaisdeve servir
variável. Em Cuba, estimaram-senove casos de alerta e parâmetro para internação em
assintomáticospara cadadezcasosde infecção, ambienteque disponhade cuidadosintensivos.
em 197718. Em Niterói, estudos realizados Nessescasos,a pressãoarterial ou a diferença
pela FSESPe IEC sugeremque, para cadatrês de pressão(entre a pressãosistólicae a diastó-
infectados, apenas um foi assintomático lica)encontra-sebaixa,o que tambémdeve ser
(fravassosda Rosaet al., dados não-publica- considerado indicativo para internamento,
dos, 1986).Já em Araguaína, Tocantins,esti- pois freqüentementeservecomo alerta e pre-
mou-seem 29% de casosassintomáticos78. núncio de choque20-22.8o.88.90.
A fo17llaclínica clássicaapresenta-secomo Dois aspectos laboratoriais caracteristica-
uma enfermidade aguda febril e que seautoli- mente acompanham os quadros da FHD e
ARBOVIROSES 991

ma esmr pelo menos 20% aumenmdo nos


casosem que não há hemorragia e basmnt~
diminuído (abaixo de 30%) nos casos com
hemorragias88.A contagem de leucócitos é
variável,oscilandoentre leucopeniae modera-
da leucocitose.Linfocitosecom linfócitos atípi-
cosconstituiachadocomum. Da mesmaforma
é comum a presença de hipoproteinemia,
hiponatremia e de moderado aumento do
nível sérico da aminotransferase aspártica
(TGP).Algumas vezesse observaalbuminúria
moderada,que costumasertransitória.
A dispnéia, em algunscasos,é intensa; nes-
Fig. 68.1. Exantema maculopapular na face anterior do
sescasos,a ausculta pulmonar revela ruídos
tronco e membro superior direito.
adventíciosque sinalizam para um derrame
pleural. Aos RX, é comum o encontro do
derrame pleural em um ou em ambosos pul-
mões, de volume variável. Está claro que a
OSS, quais sejam, trombocitopenia e hemo- gravidade do caso e a intensidade da dis-
concentração.Estaresulta do extravasamento pnéia sãodiretamente proporcionais ao volu-
do plasma sangüíneodevido ao aumento da me encontrado na cavidade pleural. Outras
permeabilidade vascular.As plaquetas usual- cavidadesserosascostumam ser acometidas,
mente se encontram abaixo de lOO.OOO/ml de como é o caso da cavidade peritoneal; nos
sangue, o que se observa entre o terceiro e casosgraves, a presençade asciteé comum.
oitavo dias de doença,e o hematócrito costu- O líquido obtido, tanto por paracentesecomo
...
por toracocentese,costuma ser riCOem pro-
teínas, especialmentealbumina, e apresenta
aspectosemelhanteao do plasma. Na vigên-
cia de hemorragia, esseslíquidos tomam a
tonalidade xantocrômica ou francamente
hemorrágica.
Em criançasde baixa idade, essasintomato-
logia acima descrim nem sempre estápresen-
te, sendo mais comum a ocorrência de choro
freqüente (denomndo desconforto), cianose,
alteraçõescompormmentaise do humor, agi-
mção psicomotora e dispnéia. A febre nem
sempre estápresente e, não raro, o paciente
encontra-sehipoteqso ou mesmo em choque,
sem9ue apresentequalquer sinalde hemorra-
gia. E comum observar-sehepatomegalia,com
figado palpável a 5 a 10 cm do rebordo costal
direit022.88.
A OMS classificaa FHD em quatro graus,
de acordo com a severidadeda doença: grau
I, 11, 111e IV (Quadro 68-1). Vale ressalmr
que nem sempre é fácil classificaro paciente
nos diferentes graus de severidade, sendo
especialmentedificil nos graus III e IV: O cri-
Fig. 68-2. Mesmo paciente da figura anterior mostrando tério deve ser clínico e laboratorial. Os dados
a exuberância do exantema na face posterior do tronco. laboratoriais mais impormntes para a classifi-
992 DOENÇAS CAUSADAS POR V[RUS

Quadro 68-1. Classificação do grau de gravidade de pacientes com FHD*88

Formas benignas Grau I -Febre acompanhada de sintomas inespecíficos; a única manifestação hemor-
rágica é a prova do laço positiva
Grau 11-Sangramento espontâneo, além das manifestações dos pacientes do grau I,
geralmente na forma de sangramentos da pele e outros sangramentos
Formas graves Grau 111-Insuficiência circulatória manifestada por pulso rápido e fraco, redução da
pressão de pulso em 20 mm Hg ou menos, ou hipoterlsão, com a pele pegajosa e fria e
inquietação
Grau IV -Choque profundo com pressão arterial e pulso não-detectáveis

*A presença de trombocitopenia e hemoconcentração distingue os estágios I e II da FHD do casos da febre clássica do dengue.

caçãosãoa presençade trombocitopenia e as Na África, a diversidade de vetores é a


alteraçõesdo hematócrito88. mesma, sendo que naquele continente os veto-
res silvestres são principalmente mosquitos
pertencentes ao gênero Aedes,em particular as
Febre Amarela espéciesAe. africanm e Ae. simpsoni.O primei-
ro é o responsável pela transmissão na copa
o vírus da febre amarela (FA) pertence ao das árvores, principalmente entre macacos,
grupo B dos arbovírus6.Taxonomicamente, enquanto o segundo é responsável pela trans-
está inserido no gênero Flavivirus,onde é o missão da doença dos macacos para o homem
protótipo, família Flaviviridae82. na África OrientaI61.84. Outras espécies de
Aedes-Ae. furcifer, Ae. taylori e Ae. luteocephalm
-são importantes ve;toresda febre amarela nas
áreas de savana na Africa Ocidental I 1.34.35.83.86.
Epidemiologia
Na Amazônia, como no restante do conti-
A febre amarela presentemente é uma zoono- nente americano, a febre amarela ocorre ape-
se. Ocorre somente no ambiente silvestre. No nas sob a forma silvestre. A virose é ampla-
passado foi importante nosologia, tendo cau- mente disseminada na região, a julgar pela
sado extensas epidemias em todo o território detecção de anticorpos para o vírus amarílico
nacional, sendo famosas as epidemias no Rio em macacos capturados em diferentes áreas.
de Janeiro, Recife e Belém. No ambiente urba- Atuam como seus vetores e reservatórios, mos-
no, o vetor é o mosquito Aedes (Stegomyia) quitos do gênero Haemagogu.s,em primeiro
aegypti,mesmo vetor do dengue. plano e, secundariamente, algumas espécies
No ambiente silvestre das áreas florestais do gênero Sabethes.O acometimento de pes-
das Américas, o vírus amarílico é transmitido soas, contudo, se observa sob forma esporádi-
principalmente pelos gêneros Haemagoguse ca, sendo raros os surtos dessa virose na
Sabethes.No primeiro gênero, a maior diversi- região. Óbitos comprovados por histopatolo-
dade de espécies de vetores em potencial e a gia ou por isolamento do vírus são observados
maior distribuição no território nacional anualmente, porém quase sempre em número
fazem dos mosquitos Hael1zagogus os principais igual ou inferior a 30 casos por ano, nos últi-
responsáveis pela transmissão da forma silves- mos cinco decênios. Dentre os surtos assinala-
tre da doença23.79.As espécies incriminadas dos nesse período, ressaltem-se os observados
nesse gênero são as seguintes; Hg. janthinomys, em Oriboca e Apeú, Estado do Pará, em 1954
Hg. albomaculatus,Hg. spegazzinii,Hg. leucoce- e 1955, respectivamente, durante os quais o
laenuse Hg. capricomii. No segundo gênero, as vírus de febre amarela foi isolado pela primei-
espécies Sa.chloropteruse Sa.sopeli são conside- ra vez no Brasil, a partir do sangue de 21 casos
radas vetores potenciais da FA8.11.12.85.87. benignos9. Em 1974, ocorreu uma extensa
ARBOVIROSES 993

epidemia que afetou principalmente a parte infecção,comôéo casodos macacosguaribas


central de Goiás, sendo provável que o vírus (Alouatta)que, com dosesmínimas do vírus,
tenha se originado das áreas enzoóticas da sucumbemà infecção,desenvolvendoum qua-
Região Amazônica46. Registre-se, ainda, a dro sistêmicomuito parecido com as formas
recrudescência da virose em 1978, quando se graves apresentadas por seres humanos.
verificaram surtos em quatro áreas do Pará. Outros respondem com menor sensibilidade
Pela sua excepcional ocorrência, mencionam- ao vírus, como acontececom o macacoprego
se os isolamentos do vírus a partir do sangue (Cebus) que, inoculado com elevadasdosesdo
de um indivíduo no 122 dia de doença, resi- vírus amarílico, raramente morre, sequer
dente em Barcelos, Estado do Amazonas3, e a desenvolvendo sintomatologia grave. Na
partir de um lote de Aedes (Ochloretatus)ful'lnl.s maioria das vezes, há desenvolvimento de
capturado em Serra do Navio, no então viremia, por três a cinco dias, porém sem sin-
Território Federal do Amapá, em 1967. Em tomatologia ou, quando muito, apresentando
1984, observou-se um surto importante que febre82.
atingiu cinco municípios do Baixo Amazonas,
no Estado do Pará, sendo comprovados 31
casos, 11 dos quais foram fatais. E de interesse o Homem como Hospedeiro Silvestre
registrar que, nesse episódio, além do Hae-
rnagogus(Haemagogus)janthinomys,verificou-se A febre amarela constitui importante causa de
também a participação do Hg. (Hag.) albomacu- morbimortalidade não só na Amazônia Bra-
tatus na transmissão do vírus amarílico, vetor sileira, como também na Região Centro-Oeste.
anteriormente não assinalado no Brasil69. Mais de 90% dos casos diagnosticados no
No biênio 1993-1994, ocorreu a maior epi- Brasil ocorrem nas florestas dessas regiões,
acometendo com maior severidade imigran-
demia de febre amarela silvestre registrada no
tes, ainda que, na vigência de surtos, nativos
Brasil nos últimos 20 anos. Setenta e quatro
não-imunes também"possam ser acometidos.
casos, incluindo 13 fatais, foram diagnostica-
Os índios constituem, sem dúvida, um
dos nos municípios de Barra do Corda,
grupo importante a 'ser considerado. Com
Esperantinópolis, Mirador e Pastos Bons, no
efeito, nos últimos 1O anos casosconfirmados
Estado do Maranhão79.
por sorologia e isolamento viral foram diag-
nosticados nas tribos Oyampi, no Estado do
Amapá, em 198469,e Yanomami, no Estado de
Roraima, em 199173e em 1993 (IEC, dados
Hospedeiros Vertebrados
inéditos).
Na febre amarela urbana, o homem é o único
hospedeiro com importância epidemiológica.
Nos animais domésticos,não tem sido reco- Patogenia
nhecida doença. Portanto, não parecem ser
suscetíveisao vírus amarílico. A infecçãoexpe- Os dadosda patogên~seda febre amarelasão
rimental dessesanimais mostra baixo nível de incompletamente conhecidos e decorrem
suscetibilidade,embora os cães desenvolvam principalmente de estudosexperimentais em
respostafebril após inoculaçãoperiférica34. camundongos e macacos rhesus (Macaca
No ambiente silvestre, no entanto, vários mulatta).
animais podem atuar como hospedeirospara Em camundongosrecém-nascidos,o vírus
o vírus da FA. Os primatas não-humanossão, aman1icodetermina, uma vez inoculado por
entretanto, os principais e mais sensíveishos- via intracerebral,encefalitefatalcercade cinco
ped~iros. Todas as espéciesde primatas não- a sete dias pós-inoculação(pi). Todos os ani-
humanos do Novo Mundo, até hoje estuda- mais sucumbem à infecção, exibindo uma
das,têm-semostrado suscetíveisao vírus ama- panencefalite,ou seja, praticamente todos os
rílico, uns apresentandomaior sensibilidadeà órgãosdo SNC sãogravementeacometidos.
994 DOENÇAS CAUSADAS POR VíRUS

Em macacos,o vírus da FA causa uma espaço porta como da veia centro lobular.
doençacaracterizadapor um tropismo seme- Dentro da área necrosada,observam-se,além
lhante àqueledeterrntnadono homem, isto é, da necrosepropriamente dita, um infiltrado
o vírus apresenta viscerotropismo, especial- inflamatório em que predominam as células
mente para o figado, onde determina necrose mononucleares,debris celularese vários tipos
hepatocitáriamaciça53. e graus de degeneração.É freqüente e muito
Após o inoculo, o vírus desapareceda circu- característicada FA, ainda que não patogno-
lação,não sendodetectadonasprimeiras 24 h mônica (pois pode serencontrada na hepatite
pioApós esseperíodo, o vírus é encontradonas viral, malária por Plasmodium falciParum,mo-
células de Kupffer, onde causa degeneração nonucleoseinfecciosae febre hemorrágicasde
acidófila em zonasfocais,durante seuperíodo naturezaviral), a degeneraçãohialina (corpús-
inicial de multiplicação. Em seguida, essas culo de Councilman, que se caracteriza por
células sofrem degeneraçãobaloniforme e, degeneraçãoacidófila ou hialina dos hepatóci-
posteriormente, sofrem necrosedo tipo hiali- tos). Ocorre, ainda, a degeneraçãogordurosa
na. Cerca de 48 h pi, () vírus já é encontrado (esteatosehepática,do tipo multi- e microva-
no sangue e nos hepatócitos.A partir daí, o cuolar, observadatanto nas célulasdegenera-
título viral no sanguecresceaté cercade 96 h das como nas preservadas),os corpúsculosde
pi, quando então o mesmo decrescerapida- Torres (corpúsculos encontrados dentro do
mente até não sermaisdetectadono sangue,o núcleo das célulasdegeneradase que corres-
que ocorre por volta de 120 h (cinco dias)pi, pondem a inclusõesde proteínasnucleares),e
que é o período em que costuma ocorrer a Villela (corpúsculos amarelos brilhantes,
maioria das mortes. Vale salientar que os menores do que os corpúsculosde Council-
macacosrhesus são os animais mais sensíveis man, encontrados nas fases avançadas da
ao vírus amarílico53.Dosesmínimas do vírus doença e detectadosnos hepatócitos,células
sãocapazesde causara morte dessesanimais, de Kupffer e macrófagos53.
prolongando-se ape~s o período de estado Em sereshumanos,os achadoshistopatoló-
da doença. Doses elevadas determinam a gicos são muito semelhantesàquelesobserva-
morte fulminante dessessímios(48-72 h pi). dos nos símiose decorrem sobretudo de exa-
No figado, além da degeneração inicial mesde necropsia.Normalmente, a doençano
determinada nas célulasde Kupffer, à qual se homem arrasta-sepor um período de tempo
segue necrose hialina das mesmas,o vírus maior do que no macacorhesuse, ao contrá-
amarílico causa necrose hepatocitária em rio destes,que invariavelmente sucumbemà
grandes áreas do parênquima hepático, por infecção,entre OSsereshumanos apenasuma
volta de 72-96 h pioDe início, as lesõescarac- pequena parte desenvolveformas graves da
terizam-se por aumento de tamanho dos doença,e somentecercade 50% dos mesmos
núcleose marginaçãoda cromatina. Simulta- evoluempara o óbito. O períQdode viremia é
neamente,ocorre necrosehialina dos hepató- maior, prolongando-sede cinco a setedias. O
citos. As lesõeshepatocitáriasse caracterizam título da viremia atinge o pico por volta de 96
por localizarem-senos lóbulos hepáticos,atin- horasapóso início dos sintomas(quatro dias),
gindo, dentro de um lóbulo, determinadas quando então começaa decrescerrapidamen-
áreas e preservando outras. Com efeito, a te, até não ser mais detectadovírus circulante,
lesãono lóbulo individualizado é representada o que ocorre após o oitavo dia de doença,
por uma área de necrose central (necrose embora tenha sido descrito um casoem que a
mediozonal). Nessa área, há destruição das viremia prolongou-seexcepcionalmenteaté o
traves de Remack, perdendo o figado sua 122dia de doença3.
estrutura característica.Em alguns casosem Estudosrealizadosno continente african062
que a necroseé muito extensa,há dificuldade relacionama existênciade infecçõesinaparen-
para o patologista emitir um diagnóstico53. tese doençaem função da naturezada respos-
Paradoxalmente,as áreasem volta da necrose ta do hospedeiro.Se a respostaé do tipo pri-
mediozonalapresentam-secom suasarquite- mária, a proporção de casosfrustros ou leves
turas preservadas,tanto na porçãopróxima ao (benignos) em relação aos graves é de 2:1.
ARBOVIROSES 995

Entretanto, se a resposta do hospedeiro é Forma Moderada


secundária (superinfecções),a proporção do
número de casosassintomáticosaumenta para A forma moderadasecaracterizapor apresen-
22:1. Ou seja,nas epidemias em que a popu- tar outros sintomas além de febre e cefaléia.
lação não teve contato prévio com outro Os sintomasmais freqüentementeassinalados
Flavivirus, o número de casos sintomáticos sãomialgias,mal-estar,dor lombossacral,con-
tende a ser maior (cercade dez vezes)do que gestãoconjuntival, rubor facial e do pescoço,
naquelasáreas onde a população expostajá artralgias, náuseas,geralmente sem vômitos,
fora previamente infeccida por outro Fla- adinamia e astenia. Por vezes,um dos sinto-
vivirus (especialmentedengue). Apesarde não mas clássicospode manifestar-se.Assim,epis-
haver nenhum estudo específicono Brasil a taxe, subicteríciaou albuminúria leve podem
respeito do assunto,em face da existênciade estar presentes,ainda que transitoriamente.
oito outros flavivírus no país,especialmentena Ademais,os sintomastendema sermaisinten-
área enzoótica,têm sido reportados surtos de sosdo que na forma anterior e permanecem
febre amarelaacompanhadostanto de respos- por mais dias. Com efeito, essesquadros sem-
ta primária como de respostado tipo secundá- pre evoluem satisfatoriamenteentre dois e
ria. Tal fato já foi evidenciado,respectivamen- quatro dias. Essaforma costuma ocorrer em
te, em epidemias estudadas no Brasil Cen- pessoasque se infectaram previamente com
tra146.54
e na Amazônia69.79. outro Flaviviru5,ou se.ja,aquelasque possuem
imunidade parcialcruzada,ou devido a outros
fatoresainda não conhecidos82.
Quadro Clínico

o espectro clínico da febre amarela varia


Forma Grave
desde infecçõesassintomáticasou oligossinto-
máticas até formas fatais. Didaticamente, Nos quadros amarílicos graves, um ou mais
podemos classificar a sintomatologia dessa sintomas clássicosda doença estão presentes.
arbovirose em formas clínicas,como as que se Além de os sintomas presentes nas formas
segue: anteriores apresentarem-se com maior severi-
dade, vômitos alimentares ou hemorrágicos
(hematêmese) sobrevêm e costumam ser
Forma Leve muito intensos. Conseqüentemente, ocorre
dor epigástrica. A febre é elevada, com tempe-
Na forma leve ou abortivada febre amarela,os ratura variando de 39 a 40°C. A cefaléia fron-
únicos sintomas usualmente presentes são tal, de grande intensidade, é queixa freqüente
febre e cefaléia.Ambos os sintomas,em geral, dos doentes. As mialgias são intensas, genera-
duram no máximo dois dias, tendem a ser de lizadas e responsáveis pela prostração dos
pouca intensidade e muitas vezesnão impe- enfermos. É comum ocorrer congestão de face
dem que os acometidoscontinuem com seus e pescoço. A icteríci,aé franca, com níveis plas-
afazeres.É fácil depreender que, na ausência máticos de bilirrubina elevados, principalmen-
de epidemias,o encontro de tais casosé fortui- te à custa da fração direta. As transaminases
to. Por tratar-sede quadro benigno autolimita- apresentam-se bastante alteradas, sendo que o
do, essaforma clínicapode serconfundida com aumento maior se faz à custa da TGp, refletin-
outras doençasfebris, principalmente a gripe. do a intensa necrose do tecido hepático causa-
Na Amazônia, a ocorrência dessescasostem da pelo vírus amarílico. É comum o encontro
sido bem documentada em epidemias69.79.82,do sinal de Faget, caracterizado pelo encontro
acometendoprincipalmente criançascomimu- de bradicardia em paciente com hiperter-
nidade passivaadquirida (IgG) durante a ges- mia33.53.
tação(via transplacentária)e lactação(colostro A oligúria, quando ocorre, é acentuada e
e leite maternos)atravésda mãe53.82. costuma acompanhar-se de cilindrúria. Em
996 DOENÇAS CAUSADAS POR V[RUS

tais casos,o volume urinário diário pode ser A insuficiência renal instala-serepenúna-
menor do que 500 ml. Os níveis plasmáticos mente. De início, há oligúria com aumento
de uréia e creatininaelevam-see servemcomo discretode uréia e creatinina. Com a evolução
parâmetros para avaliação da insuficiência da doença,a insuficiênciarenal pode agravar-
renal. se, sendo possívela ocorrência de anúria. Os
A hematêmese(com vômitos em borra de valoressangüíneosde uréia e creaúnina estão
café) se faz acompanhar de dor epigástrica muito elevados,podendo chegar até cinco a
intensa.Outras hemorragiaspodem estarpre- seisvezesos valoresnormais, ou mesmovalo-
sentes, principalmente melena e epistaxe, res maisaltos,caracterizandoa azootemia,que
porém costumamserde pequenaintensidade. serve como parâmetro clinicolaboratorial de
Os pacientes,nessescasos,tendem a procurar avaliaçãoda insuficiênciarenal82.
hospitalização.A resolução ocorre após um Coagulaçãointravasculardisseminadaestá
período de estado que v'i:lriade cinco a sete comumente associadacom reduçõesdo fator
dias82. '
VIII e fibrinogênio, acompanhadasde trom-
bocitopeniae presençade produtos de degra-
daçãoda fibrina58.
Nessa forma, a letalidade pocle acometer
mais de 50% dos casos34.53. A doença dura
Forma Maligna invariavelmentemaisde uma semana,poden-
do chegara duas. Vale ressaltarque, na maio-
A febre amarela maligna caracteriza-sepor se ria dos pacientesque evoluempara a morte, o
tratar de quadro que merececuidado intensi- óbito costumaacontecerentre o sétimoe déci:.
vo, sendoconsideradauma emergênciamédi- mo dia de evolução.
ca. Nessaforma, todos os sintomas clássicos
estão presentes com grande intensidade. As
hemorragias são freqüentes, profusas e aco-
Evolução Clínica
metem múltiplos órgãos.~ém da hematême-
se, outras manifestaçõesh~morrágicas,como, As formas leve e moderada geralmente não
melena, epistaxe, gengivorragia, otorragia, comprometem outros órgãos nobres da eco-
hematúria e metrorragia costumam ocorrer.
nomia, ou o fazem muito discretamente. Por
São hemorragias francas, muitas das vezes
com volume considerávelde sangue.A colora- outro lado, os quadros gravese malignosagri-
ção viva do sanguedemonstraa intensidadee dem múltiplos órgãos, como rins, coração,
a gravidade da hemorragia, refletindo mau pulmõese cérebro.Ademais,invariavelmente,
prognóstico, em especialquando hematême- apresentam evolução em duas etapas, daí
se,melenae hematúria estãopresentes82. dizer-seque a febre amarelaé doençade evo-
Os níveisplasmáticosdasaminotransferases lução bifásica com um período de remissão
e bilirrubina encontram-seelevados.As taxas entre as mesmas53.82.
das transaminasespodem atingir 4.000 V/ml,
enquanto asde bilirrubina podem alcançar20 .Período de infecção (viremia).
mg% ou mais.Tais níveis começama subir no .Remissão (algumas horas a dois dias).
segundo dia, e muitas vezes encontram-se .Período de intoxicação (localização).
acima dos valoresnormais em torno do sexto
dia. Nos sobreviventes,a partir do sétimo dia,
começama diminuir e geralmente voltam aos Período de Infecção
valoresnormais por volta do 14"dia de doen-
ça. Os leucócitos invariavelmente diminuem Essaetapacorrespondeao período de viremia
(leucopenia). Quando eventualmente ocorre e, portanto, coincide com a passagemdo vírus
leucocitose, se faz por conta de infecções no sangue e também com as manifestações
secundárias.Além da leucopenia,verificam-se prodrômicas da doença,tais como febre, cefa-
neutropenia e linfocitose82. léia e mialgias,dentre outras.
ARBOVIROSES 997

Remissão ção média dessesquadros foi de quatro dias


para os casosfatais e de sete dias para os
A remissão inicia-se com melhora geral do pacientesem recuperação. Um terceiro tipo
estado clínico. O paciente acusa diminuição clínico foi observadoem Bolosso,que secons-
dasdores muscularese da cefaléia,sentindo-se tituiu em quadro fulminante com evolução
mais disposto. A febre regride e há sensação invariável para o óbito em dois dias de evolu-
de melhora, como sefosseo início da convales- ção. Clinicamente, essespacientesapresenta-
cença. Ocorre melhora dos sinais vitais. Esse vam intenso comprometimento geral (sinto-
período de remissão,quando ocorre, dura de masprodrômicos), com discreto ou inexisten-
algumashoras a dois dias. te comprometimento hepatorrenal61.62,
A convalescençaé ocasionalmenteprolon-
gada e se acompanhade severaa~tenia por
Período de Intoxicação uma a duas semanas.Raramente,mortes tar-
dias sobrevêmdurante o período de convales-
Seguindo-seà remissão,instala-seo período cença,até porque quando ocorremjá sepassa-
de intoxicaçãoou de localização,que se mani- ram semanasda faseaguda. Essesóbitos tar-
festapor meio dos sintomasclássicosda enfer- dios devem-se, principalmente, a complica-
midade. Os sintomasgerais,como febre, cefa- ções cardíacas, mas podem ocorrer devido a
léia"mialgias e vômitos alimentares,agravam- septicemia, necrosetubular aguda e pneumo-
se. E nessafase que se instala a insuficiência nia bacteriana34.53.
renal, agravadapela insuficiência hepática. A A recuperação-é completa; entretanto, a
lesãodo figado geralmente é maciça,o que é icterícia pode permanecer visível por meses,
demonstrado não só pelo aumento sérico de em algunscasos.
bilirrubina e transaminases,mas, sobretudo,
pela diminuição dos fatores sangüíneosde
coagulação.Tal fato tende a agravarsobremo- Oropouche
do os fenômenoshemorrágicos53.82.
o vírus Oropouche sorologicamente está
Algumas vezes,formas atípicas, fulminan-
tes, tambémocorrem, ocasionandomorte pre- incluído no grupo Simbu da classificaçãode
Casals6,Com base em suaspropriedades fisi-
coce por volta de 48-72 horas, no máximo,
co-químicas,pertence ao gênero Bunyaviru.s,
após o início da doença. A apresentaçãoclíni-
da família Bunyaviridae4.
ca é bizarra, com início brutal dos sintomas,
predominando os sintomasprodrômicos, com
discreto ou mesmoausentecomprometimento
hepatorrenal. Taisquadros sãoraros e quando
sobrevêm,é possívelque decorram de coagu-
Epidemiologia
lação intravasculardisseminada53.58.62.82.
Em uma série de publicaçõesreferentes à Dentre os arbovírus encontrados na Ama-
epidemia da Etiópia, Seriéetai. (1968) estabe- zônia, o Oropouche é o que tem sido isolado
leceram três apresentaçõesclínicas distintas com maior freqüênciaa partir de casoshuma-
para a febre amarela. Afora os casosassinto- nos. Efetivamente,extensasepidemias deter-
máticos,haveria uma forma caracterizadapor minadas por essevírus têm sido registradas
um intenso comprometimento renal (forma em várias partes da Amazônia, inclusive nas
renal) e moderadasalteraçõeshepáticase dos maiorescidadesda região: Beléme Manaus.
sintomas prodrômicos. A evolução média foi A febre do Oropouche é uma arbovirose
de setedias para os casosfataise de nove dias que se manifestasob a forma de um quadro
para os não-fatais. Em uma segunda forma, febril agudo, acompanhadode cefaléia,mial-
observou-seo inverso, ou seja, extenso com- gias,artralgias e ~tras manifestaçõessistêmi-
prometimento hepático com alteraçõesrenais casoAlguns dias após o término do episódio
e dos sintomasgeraismuito discretas.A evolu- febril inicial, é comum observara recorrência
998 DOENÇAS CAUSADAS POR VíRUS

dos sintomas, porém, em geral, com menor ditos, 1996). No cômputo geral, cerca de
intensidade. Alguns pacientes podem exibir 500.000pessoasforam atingidasdurante esses
um quadro severo, caracterizado como surtos52.77; no entanto, não houve registrosde
meningite linfoplasmocitária. A recuperação óbitos.
dos enfermos é completa, sem seqüelasapa- Fora do Brasil, assinalaram-seapenasduas
rentes,mesmonos casosmais graves. epidemias,sendouma no Panamáe a outra no
O primeiro casoda enfermidade foi descri- Peru. O surto do Panamá ocorreu em 1989,
to em Trinidad, em 19551.O vírus foi obtido a tendo atingido a localidadede Bejuco,situada
partir do sanguedo paci~nte.O doente residia cercade 50 km a oesteda capital panamenha
na localidade de Vega de Oropouche, daí a (Quiroz et aloPanamá,dados inéditos, 1989).
origem da denominação do vírus. Depois No Peru, o foco epidêmico foi registrado em
desse caso clínico aparentemente isolado, a 1992, afetandoa cidade de Iquitos, situadana
doença voltou a ser detectadaem 1961, desta Amazôniaperuana83.
vez em Belém, e sob a forma de epidemia,
durante a qual pelo menos 11.000 pessoas
foram infectadas39. Incidência
A partir de então, os centros urbanos da
Amazôniatêm sido afetadospor inúmerasepi- o Quadro 68-2 mostra as epidemiasbrasilei-
demias de febre do Oropouche. Conforme ras, em seqüênciacronológica, e a incidência
pode ser observadono Quadro 68-2, em sua de pessoasinfectadaspor localidade.As taxas
grande maioria as epidemias ocorreram no de ataque oscilaramentre 4,8% e 50,8%. Em
Estado do Pará, particularmente na zona geral, a estimativadas taxas foi feita mediante
Bragantina e na própriâ-.capital do estado; inquéritos soroepidemiológicos, nos quais
esta, inclusive, foi afetada por três epidemias grupos familiares eram selecionadosaleatoria-
importantes em um período de 20 anos, nos mente, e onde seaplicavaum questionáriocli-
anos de 1961, 1967-1968 e 1979-1980, e nicoepidemiológico aos membros de cada
durante a última a virose atingiu inúmeras família, bem como obtinham-se amostras de
cidades da parte leste desseestado18,39,40. A sanguepara detecçãode anticorpos neutrali-
cidade de Santaréme localidadescircunvizi- zantes,fixadores do complemento, inibidores
nhas sofreram igualmente uma forte epide- da hemaglutinação ou, mais recentemente,
mia, durante 1974-197513,17,4°. Em 1980- anticorpos IgM contra o vírus Oropouche.
1981,a virose incidiu em Manause Barcelos, Na cidade de Manaus, encontrou-se uma
no Estado do Amazonas, estimando-seque taxa de anticorpos IH de 15% para o vírus
cercade 97.000pessoasforam infectadaspelo Oropouche no período pós-epidêmico,o que
agentesomentena capital amazonense5 e, em sugereque cercade 97.000 de seushabitantes
1980, na cidade de Mazagão,Amapá4o.Após foram afetadospela virose, em 1980-19815.
um período de silêncio, que durou até 1988, Os dados obtidos pela Secretariade Estado
surgiram novos surtos, dessa vez incidindo de Saúdede Rondônia (dadosinéditos, 1991)
sobre as cidades de Porto Franco e Tocan- através de inquérito aleatório, indicaram a
tinópolis, situadas respectivamentenos esta- ocorrência de 58.574 casos de febre por
dos do Maranhão e Tocantins75.As epidemias Oropouche em Ariquemes e 35.413 em Ouro
seguintesocorreram em 1991,em localidades Preto do Oeste,durante epidemia que afetou
mais distantes -as cidades de Ariquemes e esseestado.
Ouro Preto D'Oeste, no Estado de Rondô-
nia52.Em 1994,o Oropouche voltou a deter-
minar epidemias, desta feita no garimpo de
ouro de Serra Pelada,Curionópolis, no Pará,71 DistribuiçãoSazonal
e posteriormente, em 1996, nos estadosdo
Acre (Xapun'),Amazonas(Novo Airão) e Pará A maioria das epidemias de febre do
(Brasil Novo, Oriximiná e Vitória do Xingu) Oropouche tem ocorrido nos mesesde maior
(Travassosda Rosa& Vas~oncelos,
"
dados iné- índice pluviométrico que, na Amazônia, cor-
ARBOVIROSES 999

Quadro 68-2. Epidemias de febre do Oropouche no Brasil, mostrando o número de amostras de vírus isoladas
de doentes, bem como a incidência e a estimativa de pessoas infectadas, 1961-1991

PESSOAS
INFECTADAS
ESTADO/MUNICíPIO(Mn) DATAPRovAVEL N° DE ISOLAMENTOS POPULAÇÃO INCID~NCIATOTAL
LOCALIDADE DA EPIDEMIA DEvfRUS EXISTENTE % ESTIMADO

PARÁ
Belém Fev-Mai/61 15 67.000' 17 11.000
Bragança(Mn)
Caratateua Fev-Mar/67 2 1.200 67 400
Bragança Mar-Jul/67 8 20.000 30 6.000
Belém Fev-Jul/68 101 600.000 D > 101
Baião (Mn)
Baião Jun-Set/72 o 2.500 35 > 85
Santarém (Mn)
Mojuí dos
Campos Dez-Abr/75 42 2.900 20 600
Palhal Fev-Abr/75 22 1.680 25 400
Santarém Abr-Jul/75 9 80.000 0-44 14.000
Belterra Abr-Jun/75 O 4.000 39 1.600
Alter-do-Chão Jul-Ago/75 16 750 37 280
Itupiranga (Mn)

Itupiranga Mai-Jun/75 9 1.500 28 420


Tomé-Açu (Mn)
Várias Jun-Out/78 22 10.000 15-43 2.000
Belém2 Abr-Jun/79 16 677.0002.5 4.8 16.000
Várias3 Mar-Nov/79 46 110.0005 6.1-50.8 11.000
Belém Fev-Out/80 28 812.4095 8 65.000
Várias4 Mar-Ago/80 52 104.7785 7.2-60.3 37.000

AMAZONAS
Manaus Nov/80-Mar/81 9 650.000 15 97.000
Barcelos Mai-Jul/80 O D 171

AMAPÁ
Mazagão 1980 o 10.000 D o
MARANHÃO
Porto Franco Dez/87 -Mar /88 75 D D

TOCANTINS
Tocantinópolis Dez/8? -Mar/88 10 D D

RONCÔNIA
Ariquemes Jan-Abr/91 16 210.837 27.78 58.574
Ouro Preto D'oeste Jan-Abr/91 3 130.125 27.21 35.413

TOTAL > 356.413

D. Desconhecido.
1. População de dois bairros (Marco e Pedreira).
2. População de seis bairros (Marco, Marambaia, Cidade Velha, Guamá, Umarizale Telégrafo).
3. Abaetetuba, Benfica, Benevides, Sta. Izabel, Castanhal, Capanema.
4. Ananindeua, Augusto Correa, Bragança.
5. População suscetível.
1000 DOENÇAS CAUSADAS POR VíRUS

respondemaos mesesde janeiro a junho. No maruíns que, após o período de incubação


entanto, algumas epidemias também têm se extrínseco,passama picar e infectarindivíduos
estendido ao período mais seco, julho a suscetíveis.
Estes,por suavez, servemde fonte
dezembro, embora com menor intensidade. de infecçãopara outros maruíns,constituindo-
Essacaracterísticasazonalprovavelmenteestá seentão uma cadeiade transmissãoque resul-
relacionada com a maior densidade popula- ta no desencadeamento de uma epidemia.
cional do maruím Cu!icoidesparaensis,vetor O sangue dos pacientesvirêmicos é infec-
urbano do Oropouche, nos mesesmais úmi- tante para os maruíns nos primeiros três a
dos, juntamente com a concentraçãode pes- quatro dias a partir do início dos sintomas,
soassuscetíveis.Em geral, o declínio das epi- quando a viremia é suficientementealta para
demiasestáassociadocoma chegadada época infectar essesinsetos. Estudos experimentais
secae conseqüentequeda da densidade dos demonstraram que o período de incubação
maruíns, e também com a redução do núme- extrínseco é de cinco ou mais dias. Estudo
ro de indivíduos suscetíveis24.25.40.56. prospectivo realizado em Santa Isabel, que
acompanhou 274 pessoassuscetíveisdurante
quatro meses,demonstrou que 78 pacientes
desenvolveraminfecçãopelo vírus Oropouche
Ciclos e Transmissão
e que, destas,49 ou 63% responderamà infec-
Estudos realizados pelo IEC sugerem que o
ção com manifestaçõesclínicasl8.
vírus Oropouche é mantido em natureza
mediante dois ciclos distintos: ciclo urbano e
ciclo silvestre4o.No ciclo urbano ou epidêmico,
o vírus é transmitido d~,uma pessoa a outra Patogenia
através da picada do marúím Culicoidesparaen- Pouco se conhecea respeito da patogenia da
sisoUma das evidências mais conclusivas dessa febre por Oropouche. Evidentemente,o agen-
assertiva provém da demonstração de que te produz uma infecçãosistêmicano homem
essesmaruíns, ao alimentar-se de sangue de que se expressa sob a forma de viremia. No
pacientes virêmicos, eram capazesde transmi- entanto, se desconheceo órgão ou órgãos
tir o vírus a hâmsters através da picada, após onde o vírus sereplica. Quasetodosos pacien-
um intervalo de cinco ou mais dias24.25,4o-42.5o.tes exibem viremia durante os dois primeiros
Ademais, essesinseto~ são encontrados abun- dias da enfermidade. No terceiro dia, a vire-
dantemente e em elevadas densidades duran- mia declina para 72%, e para 44 e 23% nos
te períodos epidêmicos31. quarto e quinto dias, respectivamente.O títu-
No ciclo silvestre, silencioso ou de manuten- lo da viremia usualmenteé superior a 3,0 10gl0
ção, há evidências de que desdentados (pregui- DL50 em camundongos/0,02ml, sendo que
ças), primatas não-humanos e possivelmente aproximadamente 10%dos pacientesexibem
algumas espéciesde avessilvestres atuem como viremia que atinge títulos de 5,0-5,3 10gl0
hopedeiros vertebrados. O(s) vetor(es) ainda DL50;0,02ml durante os dois primeiros dias
permanece(m) desconhecido(s), havendo, con- de doença.No terceiro dia, os títulos são llog
tudo, um isolamento viral a partir de Aedesser- inferiores aos dos dois primeiros dias, e no
Tatus (na Amazônia) e outro de Coquillettidia quarto dia se observa um marcante declínio
venezuelensis (em Trinidad). Ressalte-seque não no título da viremia40.
está descartada a participação do C, paraensis Tambémsedesconhecea patogeniadascri.
como vetor dessecicl031.4O. sesde recorrência,tão comumenteobservadas
O vínculo entre os dois ciclos, muito prova- na febre por Oropouche. Ressalte-seque em
velmente, é o próprio homem que, adquirindo nenhum dos numerosos pacientes examina-
a infecção em áreas silvestres enzoóticas, e a dos em fasede recorrência foi possíveldetec-
seguir retornando ao meio urbano em fase tar viremia.
virêmica, serve de fonte" de infecção para os O fato de que o vírus do Oropouche é capaz
maruíns. O vírus replic~-se nos tecidos dos de determinar meningite asséptica,inclusive
ARBOVIROSES 1001

tendo sido obtido um isolamentodo mesmoa satisfatoriamente..Todavia, alguns pacientes


partir do líquido cefalorraquidiano (LCR) de podem exibir manifestaçõesúpicasde menin-
um caso de meningite43, sugere que o vírus gite asséptica,que também evolui semcompli-
tem a capacidade de atravessara barreira cações.
meningoencefálica.
Como não seconhecemcasosfataiscompro-
vadamente atribuíveis ao vírus Oropouche, Forma Febril "Clássica"
não se dispõe de dados sobre eventuaislesões
orgânicasprovocadaspelo agente. Os sintomasgeralmente se iniciam de forma
Experimentalmenteem hâmstersjovensino- súbita, após um período de incubação que
culadoscomo vírus Oropouche,observa-seum varia de quatro a oito dias. As manifestações
viscerotropismopredominantementehepático, iniciais consistemem febre, cefaléia,calafrios,
caracterizadopelo desenvolvimentode uma tonturas, dores musculares,artralgiase fotofo-
hepatite com necroseisoladade hepatócitosou bia. Dor retroorbitária e congestãoconjuntival
necrosefocal, com participaçãodas célulasde também podem estar presentes. Alguns
Kupffer, que apresentamhiperplasiareacional. pacientesapresentamnáuseas,que pode ser
Vale ressaltarque os animais invariavelmente acompanhadapor episódiosde vômitos. Não
sucumbem à infecção. Em camundongos raro os paáentes sãoacometidosde anorexia
recém-nascidos,o vírus apresentaum neuro- e insônia intensas.Algumas vezestossee cori-
tropismo. Com efeito, em cercade 24-48 h pi, za estãopresentes,emboraessasmanifestações
essesanimaisdesenvolvemencefalitefatal2. possamdecorrer de infecçõesintercorrentes.
Alguns pacientesreferem brevessensações de
queimadura ou de "ferroada" em váriaspartes
Quadro Clínico do corpo. Raramenteseobservaa presençade
exantema.Aume{;1todo fluxo menstruale pro-
Na grande maioria dos casosde febre por longamentoda suaduração foram reportados
Oropouche, a infecção se apresenta sob a por duas pacient~ que sofreraminfecçãoaá-
forma de um quadro febril agudo que evolui dental em laboratóri04o.O Quadro 68-3 mos-

Quadro 68-3. Freqüência das manifestações clínicas em casos de febre do Oropouche observados em Mojuí
dos Campos (MC) e Porto Franco (PF) em 1975 e 1988, respectivamente'

MOJuíDOSCAMPOS PORTO FRANCO


SINTOMAS/SINAIS %POS. %POS

Febre 97 100
Cefaléia 88 88
Calafrios 85 54
Mialgias 82 76
Artralgia 67 64
Tonturas 63 42
Fotofobia 66 58
Náuseas 26 24
Congestão conjuntival 22 NA
Vômitos 17 24
Diarréia 13 NA
Anorexia NA 14
Dor retroocular NA 14
Coriza 3 NA
Tosse 3 NA

* Sessenta e oito pacientes em MC e 50 em PF, todos comprovados em laboratório.


NA = não referido.

1001
1002 DOENÇAS CAUSADAS POR yíRUS

tra a freqüência das manifestações clínicas em 4 anos de idade, cuja infecção pelo vírus foi
pacientes observados nas epidemias de Mojuí comprovada sorologicamente18. Tais manifes-
dos Campos e de Porto Franco40;75. taçõespersistiramdurante aproximadamente
A febre pode ser alta, alcançando 39° a oito dias, e a criança recuperou-se,aparente-
40°C; eventualmente, ultrapassa 40°C. A cefa- mente semseqüelas.
léia apresenta localização frontal ou occipital, Os efeitosda febre por Oropouche na ges-
embora também possa ter caráter difuso; cos- tação ainda são praticamente desconhecidos.
tuma ser intensa, sendo às vezes dificil de ser Os únicos dados a esserespeito vêm de estu-
debelada pelo uso de analgésicos comuns. As dos realizadosem Manaus, referentes a nove
mialgias são generalizadas, porém mais acen- pacientes gestantes,duas das quais, que se
tuadas na nuca, ao longo da coluna vertebral e encontravam no segundo mês de gestação,
na região sacra; podem ser muito fortes, cau- vieram a abortarS .
sando grande desconforto :aos pacientes. A
artralgia usualmente é generalizada. Alguns
pacientes são acometidos de fortes tonturas MeningiteAsséptica
que, às vezes, chegam até a provocar quedas.
Quando presente, a dor epigástrica costuma De início, os pacientes exibem as manifesta-
ser branda. Não se observa icterícia, hepato- ções típicas do período agudo inicial. Após
megalia ou esplenomegalia; ocasionalmente, alguns dias de evolução,a cefaléiae as tontu-
constata-se a presença de linfonodos ingurgi- ras se intensificam, bem como, em alguns
tados nas regiões submaxilar e occipital, embo- doentes, surgem outras manifestaçõesneuro-
ra possa não estar relacionada com a viro- lógicas.Os pacientesprocuram, então, atendi-
se40.52.75. mento médico, o que usualmente ocorre na
O período agudo da doença dura, em segunda semana de doença. As principais
geral, de dois a cinco dias, ou até mesmo uma queixas referidas são febre, cefaléia occipital
semana, embora as mialgias possam persistir muito intensa e tonturas. Náusease vômitos
por três a cinco dias após ü,çiesaparecimento são reportados por cerca de um terço dos
da febre. Alguns pacientes referem um perío- enfermos. Alguns pacientes exibem letargia
do prolongado de astenia, que pode durar até moderada. Podem também encontrar dificul-
um mês. Certos enfermos queixam-se de cefa- dade para se manterem na posiçãoortostática.
léia persistente, que pode prolongar-se por Alguns pacientesreferem "visãodupla" (diplo-
várias semanas. pia). Comumente eles procuram evitar os
Cerca de 60% dos pacientes exibem uma ou movimentosda cabeça,pois estesprovocam a
mais crises de recorrência dos sintomas, exacerbaçãodas dores. Ao exame fisico, a
durante a primeira ou segunda semana subse- maioria dos pacientesapresentagrau variável
qüente ao desaparecimento das manifestações de rigidez da nuca, masnão se detectampare-
da fase aguda 18.40.44.75.
A recorrência caracteri- siasou paralisias.Em alguns pacientes,obser-
za-se pelo reaparecimento de todas as mani- va-sea presençade nistagmo.Apesarda gravi-
festaçõesda fase aguda, ou consiste apenas de dade do quadro neurológico, a recuperação
febre, astenia e tonturas. dos casos é completa, não se observando
Entre as manifestações raras, encontra-se o seqüelas.Nenhuma anormalidade foi encon-
exantema44. Observações efetuadas durante o trada no encefalogramade quatro pacientes43.
surto de Belém, em 1980, mostraram que
cerca de 5% dos casoscomprovados em labo-
ratório exibiam uma erupção cutânea. O
exantema surgia entre o terceiro e o sexto dia Mayaro
após o início da febre, desaparecendo em dois
a três dias; a erupção atingia principalmente o Duas epidemias causadaspelo vírus Mayaro
tórax, dorso, braços e pernas44.45.Outro acha- foram detectadasno Estadodo Pará:a primei-
do raro foi a presença de nistagmo, tremores ra em uma fazendasituada às margensdo rio
generalizados e sonolência em uma criança de Guamá, em 19557,e a outra na localidade de
ARBOVIROSES 1003

Belterra, em 197848.Ao contrário dos quadros mento a partir de sangue,o que constitui um
febris pouco distintos observados no passado, raro evento nessetipo de arbovirose.O qua-
na epidemia de Belterra os pacientes apresen- dro clínico de ambosfoi de febre comicterícia.
taram uma tnade de sintomas bastante carac- Um dos pacientes procedia do interior
terística -febre, artralgia e exantema -, e as (Bujaru), tendo evoluído para óbito; o diag-
articulações das extremidades foram as mais nóstico clinicolaboratorial foi de leucemia.
afetadas48,50.Em 1991, verificou-se, a ocorrên- Quanto ao outro, residenteem Belém, evoluiu
cia de dois pequenos surtos dessa virose em de forma benigna, embora se tenha notado
Benevides-PA e Peixe-TO. Em Benevides, elevaçãodo nívelséricodastransaminasesglu-
foram registrados dois casos humanos com tâmico-pirúvica e oxaloacética, bem como
isolamento viral e nove sorologias positivas albuminúria. Não se observaram, contudo,
por MAC ELISA, indicativas de infecção sinaisde encefalite47. Aliás, essetipo de mani-
recente pelo vírus, afora 16 isolamentos a par- festação neurológica causada pelo referido
tir de lotes do mosquito Hg. (Hag.) janthinomys, vírus tem sido observadosomentenos Estados
o que corrobora o papel desse artrópode Unidos.
como vetor potenàal do vírus Mayaro72.Já em Quanto aosoutros dois, os vírus da encefa-
Peixe, obtiveram-se três isolamentos virais e 14 lite eqüina leste (EEL) e da encefaliteeqüina
sorologias indicativas de infecção recente pela oeste (EEO) têm sido responsabilizadospor
presença de IgM específica por MAC ELISA. várias epidemias de encefalite nos Estados
Vale ressaltar que os isolamentos virais em ter- Unidos, onde determinam quadros clínicos
ritório brasileiro, até então, tinham ocorrido severos,muitos, inclusive, com evoluçãopara
o óbito. Na Amazônia, porém, nenhum caso
exclusivamente no Estado do Pará (fravassos
humano de encefalitecausadapelos referidos
da Rosa e Vasconcelos, dados não-publicados,
agentesvirais foi diagnosticadoaté o presente.
1991). Anticorpos inibidores de hemaglutina-
A taxa de anticorpos para os dois vírus nos
ção para o referido vírus são encontrados em
residentesda AnÍ'à-zônia é inferior a 1%,exce-
pessoasde todas as localidades investigadas na
to na cidade de Cametá,no Estado do Pará,
Amazônia. A taxa global de indivíduos positi-
onde aproximadamente 25% dos adultos
vos é de 21%; porém, entre os índios de Pari- apresentaramanticorpospara o vírus EEL em
Cachoeira, Estado do Amazonas, ela se eleva a inquéritos sorológicosrealizados em 1954 e
62%. Macacos, aves e mosquitos do gênero 19598.Ainda nessacidade, 36% das crianças
Haemagogussão responsáveis, provavelmente, na faixa etária inferior a 9 anos tinham anti-
pela manutenção do vírus em natureza45. corpos para o mesmovírus em 1961.Anticor-
Ressalte-seque o Mayaro tem causado epide- pos para os vírus EEL e EEO são freqüente-
mias simultaneamente com o vírus da febre mente encontrados em aves silvestres da
amarela, já que ambos apresentam o mesmo Amazônia, e vários isolamentosde ambos os
ciclo principal de manutenção (Haemagogus- vírus já foram obtidos a partir das mesmase
macacos)55.69. de mosquitos76.É importante registrar que,
no casodo vírus EEL, há registro na Amazônia
brasileira de epizQotiasem eqüinos na região
de Bragança,Estadodo Pará,onde váriosóbi-
Arbovírus Responsáveis por Encefalite tos foram registrados9.
Finalmente,o vírus ROC, isolado em 1975,
o vírus da encefalite de Saint Louis (SLE) é na região do Vale do Ribeira, Estado de São
mantido enzooticamentepor avessilvestrese Paulo, tem sido associadocom epidemia de
mosquitos em diversas regiões da Amazô- encefalite naquele estado, com muitos casos
nia74.76.
Nas populaçõeshumanas, a taxa de evoluindo para o óbito. O período de incuba-
imunidade (anticorposinibidores da hemaglu- ção médio é de dez dias. A doença causada
tinação)varia de I a 5%74,e somenteem duas pelo ROC é caracterizadapor início abrupto
ocasiõeso vírus foi isolado de pessoas:em com febre elevada,cefaléia,prostração,mial-
1971 e 197847.De ambosse conseguiuo isola- gias generalizadase vômitos.Após esseperío-
1004 DOENÇAS CAUSADAS POR VIRUS

do prodrômico, instala-seo quadro neurológi- desseagente (Travassosda Rosa & Vascon-


co que se manifesta por alteraçõesda cons- celos,dados não-publicados,1991).
ciência,sinaismeníngeos,alteraçõesmotoras,
especialmentedistúrbiosda marchae do equi-
líbrio, alteraçõesde reflexos profundos, pre- DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
sençade reflexospatológicos,dislaliae convul-
sões,bem como alteraçõesno liquor (pleocito- Provas Específicas
se de até 3.500 células, com predomínio de
mononucleares,e proteinorraquia). A letalida- o diagnósticolaboratorial específicodas arbo-
de causadapelo ROC é elevada, e seqüelas virosestem capitalimportância,especialmente
devidas às alterações causadas pelo vírus durante a ocorrênciade epidemias,para moni-
podem chegara 20% dos casos.O ROC apre- torar a circulaçãode um dado vírus. No caso
senta como hospedeiros aves silvestres. do dengue, nas áreas sem transmissãoe com
Desconhecem-se os vetores.A doença foi mais presença do vetor (áreas receptivas),e nas
grave em criançase idosos26. áreas com transmissãoestabelecida,mas com
poucos casos,todos deverão ser confirmados
laboratorialmente. Em áreas com transmissão
Outras Arboviroses estabelecidacom muitos casos,onde o diagnós-
tico é eminentementecünicoe epidemiológico,
As demais arbovirosesque têm causadoaco- o laboratório tambémseimpõe, periodicamen-
metimento dos habitantesda Amazônia pro- te e em situaçõesespeciais,objetivandoa iden-
duzem quadros febris, mas não se descartaa tificação dos sorotipos circulantes. O mesmo
possibilidadede uma manifestaçãomaisgrave critério se aplica à febre amarela, febre do
em futuros episódios,haja vistaque mesmoos Oropouche e outras arbovirosesepidêmicas
arbovírus responsáveispor quadros neuroló- A confirmaçãodo diagnósticodas infecções
gicos ou hemorrágicos podem ocasionarqua- por arbovírus é feita com o isolamento do
dros clínicosmaisleves,como sí4çiromesfebris agente,testessorológicos,detecçãode genoma
indiferenciadasou mesmoinfecçõesinaparen- e antígenosvirais.
tesoDentre elas,mencione-sea infecçãocausa-
da pelo vírus Mucambo,classificadocomo sub-
tipo III do vírus da encefaliteeqüina venezue- Isolamento do Vírus
lana64;embora atéo presentenenhuma epide-
mia tenha sido atribuída a esseagente,estima- o vírus do dengue tem sido isolado de espéci-
se que 6% da população da Amazônia pos- mes de pacientes em sistemasvariados que vão
suam anticorpos inibidores da hemaglutina- do uso de culturas celulares, camundongos
çãopara o mesmo". Apresentamos,a seguir,a recém-nascidos até mosquitos vivos. O método
média de percentuaisde anticorposinibidores rotineiro para isolamento do vírus, no entan-
da hemaglutinação,ou neutralizantes,assina- to, é a inoculação do material suspeito em
ladosnos residentesda Amazônia,para alguns células de mosquitos AedesalbopictU5(C6/36),
desses arbovírus45: Mucambo (6%), Ilhéus que provê um método relativamente rápido,
(12%), Caraparu (5,3%), Murutucu (2,3%), sensívele econômico e que pode ser implanta-
Oriboca (1,7%), Guamá (0,7%), Catu (0,3%), do na maioria dos laboratórios6o.
Guaroa (8,1%),Tacaiuma(0,8%),Piry (11%)e Sangue ou soro humano, colhido preferen-
Candiru (0,6%). temente até o quinto dia de evolução da doen-
Ressalte-seque, para o vírus Catu, a preva- ça, é inoculado diretamente nas células, que
lência de anticorpos inibidores da hemagluti- são incubadas por 14 a 21 dias. Caso o pacien-
nação confirmados por neutralização, nas te evolua para o óbito, a tentativa de isolamen-
áreas dos municípios de Breves e Melgaço, to do vírus poderá ser feita a partir de frag-
ambos no Pará, situa-seem torno de 60%, o mentos do fígado, pulmões, baço e gânglios
que su~erea existênciade elevadatransmissão linfáticos. É necessário enfatizar a importância
ARBOVIROSES 1005

de preservaçãodos espécimescolhidos para invariavelmentefatal, ocorrendo cercade três


tentativas de isolamento viral em temperatu- dias após a inoculação.O vírus também tem
ras baixas; para tanto podem ser usados,em sido isoladocom sucessoem uma variedadede
ordem decrescentede prioridade, nitrogênio diferentestipos de cultivoscelulares.
líquido, gelo seco,freezersa-70°C e a -20°C e Os vírus isoladossãoidentificadosusando-
gelo comum. O envio dasamostrasnasmelho- seanticorposmonoclonaisem testede imuno-
res condições e com a maior brevidade fluorescência indireta (IFI)66. Fluorescência
aumenta as chancesde se conseguir o isola- específicaé localizadano citoplasma.
mento do vírus. O emprego de mosquitos, tais como o
Seo vírus estápresenteno espécimeinocu- Toxorhynchites amboinensis, tem se mostrado
lado, ele pode ser detectado por vários méto- proficuo. Considerando-seque essesmosqui-
dos. O efeito citopático (CPE) pode ser usado tos não são hematófagos e, portanto, não
como um meio de detecçãodo vírus. O CPE representam perigo para a introdução do
pode aparecercedo (5 dias pi) ou tardiamen- vírus em áreasindenes,o seuuso tem se mos-
te, como 14dias ou mais. trado promissor,uma vez que todos os quatro
No casoda febre amarela, os mesmospro- sorotipos multiplicam-se muito bem em seus
cedimentosdevem ser utilizados. Em casode tecidos e, entre quatro e sete dias, pode-se
óbito, além do sangue,fragmentos do figado fazer o diagnóstico, utilizando a técnica IFI
devem ser obtidos e mantidos também sob com anticorpos monoclonais após squash
refrigeração, especialmenteem caixasde iso- (impressão)da cabeçado mosquito inoculado
por contendo gelo seco, ou em botijões crio- sobreuma lâmina.
biológicos contendo nitrogênio líquido, para
viabilizar a tentativa de isolamentode vírus.
Os sistemasmais usadospara a tentativa de
isolamentodo vírus amarílico incluem camun-
dongos recém-nascidose a cultura de célu- Histopatologia
las65.Os primeiros sãomuito sensíveisao vírus
amarílico e adoecemcerca de setedias após a A lesãocaracterísticada febre amarela ocorre
inoculação,vindo a morrer em poucosdias ou no figado ao nível dos hepatócitos.É a necro-
horas, com encefalite. se mediozonal. Essalesão se caracteriza por
Os cultivos celulares, recentemente, têm ocorrer no lóbulo hepático e, neste,preserva
sido utilizados com mais intensidade por ocu- os hepatócitospróximos da veia centrolobular
parem pequeno espaçono laboratório. Apre- e do espaçoporta, acometendo,por necrose
sentam boa sensibilidade. Atualmente, as difusa, os hepatócitos localizadosna porção
linhagens celularesprocedentesde célulasde média do lóbulo. Apesarde não ser patogno-
artrópodes têm mostrado sensibilidadeseme- mônica da doença,já que pode ser encontra-
lhante à dos camundongos. As células mais da em outras patologias,como hepatitesvirais,
usadaspara essefim têm sido o clone C6/36, malária etc., a necrosemediozonal estásem-
originário de Aedesalbopictus, e AP 61, de Ae. pre presentenos~casos de febre amarela, com
pseudoscutella1is,
bem como célulasVERO ori- maior ou menor intensidade em função do
gináriasde rim de macaco.O vírus determina, tempo da doençae gravidade do quadro. Na
cerca de três a cinco dias após a inoculação, necrosemediozonal,observam-sehepatócitos
efeito citopatogênico,caracterizadopor altera- difusamente necrosados,em fasesevolutivas
çõesmorfológicasdas mesmas. diferentes,uns com necrólisetotal e perda da
A inoculação de sangue suspeito colhido arquitetura celular e outros em necrosehiali-
durante a faseaguda via ic ou ip em camun- na (corpúsculos de Councilman). Há ainda
dongos ou hâmstersrecém-nascidosse consti- hepatócitosem esteatoseou degeneraçãolipí-
tui no melhor método para o isolamento do dica. Há alteraçõesdascélulasde Kupffer, que
vírus Oropouche e da maioria dos outros se encontram hipertrofiadas e com hiperpla-
arbovírus patogênicospara o homem. No caso sia. Há, inclusive, picnose dos núcleos das
do Oropouche, a infecção nessesanimais é célulasde Kupffer51.
1006 DOENÇAS CAUSADAS POR V[RUS

Sorologia doença.Suadetecçãoem uma amostrade soro


indica infecçãoativa ou recente, sejaprimária
É importante ressaltarque o paciente pode ou secundária,tanto no casodo dengue como
responder de forma distinta a uma infecção da febre amarela,e mesmo para outros arbo-
por dengue, dependendo se já teve ou não vírus, como Mayaro, Oropouçhe e Rocio,
contato comum dos outros tipos de Flavivirus, entre outros. A colheita da amostra para o
inclusiveatravésde vacinas(febre amarela). MAC ELISA deve ser feita, no entanto" não
Em uma primeira infecção(respostaprimá- antesdo quinto dia de doença29.
ria), a amostraobtida na faseaguda indicará a No caso dos vírus Oropouche, Mayaro e
ausência, ou baixa resposta, para todos os Rocio, e outros arbovírus patogênicospara o
sorotipos. Durante a fasede convalescença os homem, o diagnóstico sorológico pode ser
níveis de anticorpos para todos os sorotipos feito utilizando-sebasicamentedois testes:IH
permanecembaixos, ou auserit~s,com exce- e MAC ELISA. O IH se presta especialmente
ção do específicoque causoua infecção,que para observação de conversão sorológica
apresentaníveiselevados. quando se dispõe de duas amostrassorológi-
Em uma segundainfecção (respostasecun- cascolhidas (nas fasesaguda e convalescente)
dária), como resultado da imunidade cruzada com intervalo de pelo menos uma semana.A
previamente existente, já na fase aguda os comprovação,nessecaso,se dá pelo aumento
níveisde anticorpos de todos os quatro soroti- no título de anticorpos de pelo menos quatro
pos de dengue estarãoelevadose, na convales- vezes entre as amostras de soro. O MAC
cença,mostrarão níveis ainda maiores,o que ELISA, por sua vez, pode fornecer um diag-
dificulta em muito o diagnóstico sorológico nóstico presuntivo de infecção corrente ou
específico. atual com uma simplesamostra de soro, se a
Existem várias técnicaspara dosagemde mesma for obtida a partir do quinto dia de
anticorpos,sendousadasrotineiramente a ini- doença, ao detectar-seanticorpos específicos
bição da hemaglutinação(IH) e o ensaioimu- da classeIgM.
noenzimático para captura de. IgM (MAC
ELISA).
O IH é recomendadopara sorologiade roti- Detecção de Antígenos e Genoma
na63.65. Trata-sede um teste sensívele de fácil Virais
execução, requerendo equipamentos muito
simples.Representa,ainda hoje, o melhor teste Nos casos com evolução fatal, os métodos
para a sorologiabásicadosFlavivirus.Esseteste imuno-histoquímicos têm sido usados para
é ideal para estudossoroepidemiológicos,uma detecção de antígeno viral em amostras de
vez que os anticorpos IH persistempor um tecido, especialmentedos pulmões,baço,figa-
longo período de tempo. Os anticorposIH são do, linfonodos e macrófagos,no casodo den-
usualmente detectados,em casosde resposta gue, e do figado, na febre amarela19. Mais
primária, em torno do quinto ao sexto dias recentemente, métodos alternativos para
apóso início da febre no casodo dengue e da detecçãodo vírus do dengue e da febre ama-
febre amarela. Em casosde respostasecundá- rela têm sido relatados. Entre eles, estão a
ria, altos títulos de anticorpos IH podem ser hibridização in situ e a reação em cadeia de
precocementedetectados(dois a três após o polimerase(PCR).A PCR tem sido usadapara
início da febre),especialmenteno casodo den- amplificar fraçõesinfinitesimais do RNA viral
gue. nos casosem que há forte suspeitaclínica com
O MAC ELISA, por outro lado, é um teste resultadosnegativos.A identificaçãodo mate-
simples e rápido que também utiliza pouco rial genético amplificado é feita por meio da
equipamento sofisticado. Nos últimos anos, eletroforesepor PAGEou Western hiat.
tem sido amplamente usado. Em média, os É notório que, em faceà complexidadee do
anticorpos IgM detectados por essa técnica custo elevadodessastécnicas,seu uso na roti-
perduram por até 90 dias após o início da na não estárecomendado,a não ser nassitua-
ARBOVIROSES 1007

çõesdescritas.Ademais,sãolimitados os labo- 111. Por outro lado, encontram-se também


ratórios que possuem estrutura e know-how diminuídos os fatoresdependentesda vitami-
para desenvolvê-Ias. na K, ou fatores V, IX e X. Ademais,encon-
tram-se alterados os tempos de sangria, de
protrombina e tempo parcial de tromboplasti-
na, que estãoprolongados.
Provas Inespecíficas As transaminasesencontram-se aumenta-
das,especialmentea TGO. Podem ser encon-
Auxiliam o diagnóstico e orientam quanto à tradas em níveis elevadosas escóriasnitroge-
gravidade dos pacientes.Ademais, são extre- nadas, principalmente a uréia, porém não é
mamente importantes nas formas hemorrági- rara a observaçãode valoreselevadosda crea-
cas do dengue e nas formas graves da febre tinina. Não é comum haver aumento da bilir-
amarela, uma vez que servempara monitorar rubina e, quando ocorre, costumaserdiscreto
a evolução clínica do paciente e se prestam, e à custada fração direta, por dificuldade na
também, para o diagnósticodiferencial. excreção,e não por captaçãoou conjugação
As provas mais usadassão o hemograma, da fração indireta.
contagem de plaquetas,coagulograma,dosa- Sempre que disponível,o perfil eletroforé-
gem dos fatoresde coagulação,transaminases, tico das proteínas séricasdeve ser solicitado,
bilirrubina, uréia e creatinina, dosagem da pois pode indicar quanto da albumina sérica
albumina sérica, pesquisa de sangue oculto foi extravasada para o terceiro espaço na
nas fezese RX do tórax. FHD. A hipoalbuminemia é responsáveldire-
No hemograma, a série branca costuma ta pela hemoconcentração, já que a albumina
revelar leucopenia com neutropenia e linfoci- carreia água para o espaçointersticial, o que
tose nos primeiros dias de doença. Esse elevao hematócrito.
padrão tende a se inverter com a evoluçãodo Nas formas gravesda FHD que se acompa-
quadro clínico, especialmentequando seinsta- nham de hemoÍ'~agiasdo trato gastrointesti-
lam infecçõessecundáriasbacterianas.Assim, nal, é útil a pesquisade sangue oculto para
é comum a observaçãode casosem que há leu- avaliaçãoda gravidadeda hemorragia.
cocitosecom neutrofilia. A série vermelha, de Em muitos casosde FHD em que ocorre
um modo geral, encontra-se com valores derrame pleural, estãoindicados RX de tórax.
basaispreservados.Entretanto, na FHD com Esseexame estáparticularmente indicado em
perda de sanguedevida às hemorragias,o eri- criançascomdispnéiae cianose,bemcomo em
trograma pode sugerir anemia aguda. O adultos que apresentemdor torácica ou difi-
mesmo se aplica ao vírus amarílico. Um dos culdade respiratória. Muitas vezesesseexame
examesessenciaispara a FHD é o hematócri- pode salvar a vida do paciente, posto que é
to, que costuma apresentar-secom aumento comum a observaçãode grandes coleções
de pelo menos 20% em relação aos valores pleurais, e apenasa toracocenteseimediata é
normais, sendo indicativo de FHD nesses suficiente para aliviar a dor e permitir que o
casos,especialmentese acompanhadode pla- paciente possarespirar normalmente. Nesses
quetopenia. Na FHD, a trombocitopenia é casos,os RX deve~ ser feitos periodicamente,
constante,sendousadascomo critério de diag- de acordo com ti: evolução clínica, e sempre
nósticoclínico de FHD contagensde plaquetas que o bom sensodo médico assimo indicar.
com valores menores de 100.000e acompa- Na febre amarela, os exames inespecíficos
nhados de aumento do hematócrito em 20% sãoimportantes para avaliar a intensidadeda
ou mais!!!!. lesãohepáticae para prognosticarsobrea gra-
A prova do laço na FHD é em geral positi- vidade e evoluçãodo quadro. Os mais impor-
va, e muitas vezesé a única alteraçãoobserva- tantessãoo leucograma,coagulogramae pro-
da no coagulograma.No entanto, várias alte- vasde função hepáticae renal.
raçõespodem estar presentesno coagulogra- O leucograma quase sempre evolui com
ma: queda do fibrinogênio por consumo,bem leucopeniae linfocitose.É comum o encontro
como dos fatores VIII, IX e da antitrombina de contagem total de leucócitos abaixo de
1008 DOENÇAS CAUSADAS POR VfRUS

4.000 células/mm3de sangue. A queda mais toS/jnm3.Não seobservamatipiascelulares.Os


intensa se observa por volta do quinto dia, níveisdastransaminasesglutâmico-oxalacética
quando é comum a detecçãode contagensde e glutâmico-pirúvica são encontrados dentro
1.500a 2.000 leucócitos.A contagemespecífi- dos limites normais, ou moderadamente
ca, em geral demonstrando linfocitose, pode, aumentados,porém sem excederem135 uni-
em alguns casos,principalmente na fase final dades/mlde soro. As contagensde plaquetas
da doença, mostrar leucocitose. usualmente estão nos seus limites normais
Nas formas grave e maligna, é comum o mas,ocasionalmente,podem estarligeiramen-
achado de trombocitopenia. As plaquetas te diminuídas. A velocidade de hemossedi-
apresentamcontagensbem reduzidas,poden- mentaçãoé normal, bem como asdosagensde
do ser menor do que 30.000trombócitos/mm3 uréia, creatinina e glicoseno sangue.O exame
de sangue.Alteraçõesdos fatores de coagula- de urina é normal4o.
ção,principalmente dos fatores 11,V, VII, IX, No LCR dos casosde meningite asséptica
X, XI e fibrinogênio, costumàm ocorrer. ' por Oropouche, observam-se pleocitose e
Outras alteraçõesque podem estar presentes aumento da concentraçãodas proteínas43.A
são o tempo de coagulaçãoe o tempo de pro- citometria revela de 7 a 310 células/mm3de
trombina, que se encontram prolongados. A LCR. Ao exame citológico,visualizam-setanto
retração do coágulo é deficiente na maioria células segmentadas como mononucleares;
dos casosgraves58. contudo, observa-sea predominância das pri-
Alterações das transaminasessão observa- meiras. Em um paciente,a contagemde célu-
das em quasetodos os pacientesamarílicos.A las no LCR caiu de 130 para 30 no intervalo
elevaçãodos níveis das transaminasesocorre de uma semana, e em outro, houve uma
em função da extensãoda necrosemediozo- queda de 70 para 10 células no intervalo de
nal. Sãocomuns taxasacima de 500 e mesmo três semanas.Em geral, as proteínas do LCR
de 4.000 unidades/mm3.Geralmente, a TGP mostramaumento moderado, embora em um
encontra-semais alterada do que a TGO. Os pacienteo teor das proteínastenha sido supe-
níveis plasmáticosde bilirrubina também se rior a 100 mg/ml de LCR. Os níveis de açúca-
encontram bastante alterados nas.,casoscom res mantêm-sedentro dos limites normais. O
evoluçãograve, o aumento sedeve, principal- encefalogramarevelou-senormal em quatro
mente, à fraçãodireta, refletindo a dificuldade pacientesexaminados43.
de excreçãoda bilirrubinajá conjugada.Taxas
acima de 10 mg/mm3 costumamser observa-
das em pacientesque desenvolvemas formas DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
graves da doença. A fosfatasealcalina encon-
tra-secomumentealterada com taxascercade É praticamente impossível diferenciar, combase
duas a quatro vezesacima dos valores nor- nasmanifestaçõesclínicas,asformas leves
mais. da febre amarela de outros casosfebris de
Nos rins, as principais alteraçõessãodecor- natureza infecciosa. Nas formas graves,
rentes da necrosetubular aguda e, como con- impõe-seo diagnósticodiferencial com outras
seqüência,sãoobservadaselevaçõesdos níveis febres hemorrágicas de etiologia viral, tais
plasmáticosde uréia e creatinina e, na urina, como as causadaspelosArenavirus(Machupo,Junin,
albuminúria. A uréia pode atingir taxasacima Guanarito e Sabiá)e Filovirus(Marburg,
de 200 mg/mm3.A creatinina pode chegara 5 Ebola),que devem serconsideradas,já que as
mg/mm3 ou a taxasmais elevadas. manifestaçõesclínicas são indistinguíveis do
Nas infecções por Oropouche, as provas quadro amarílico.
hematológicas revelam leucopenia associada A febre hemorrágicado dengue (FHD) aco-
com neutropenia, embora em certos casos mete principalmente crianças, ainda que no
possaocorrer leucocitosemoderada; a leuco- Rio de Janeiro e Ceará tenham sido notifica-
penia pode ser acentuada, chegando a ser dos muitos casos em adultos8O,90. Por outro
registradascontagensde apenas2.000leucóci- lado, a FHD é doençaeminentementeurbana.
ARBOVIROSES 1009

Não há icterícia nem comprometimento renal, febris clássicasde febre por Oropouche é a
e o aumento de TGO e TGP é moderado. malária. Efetivamente,em váriasepidemiasda
A malária, em alguns casoscursando com virose, a malária foi inicialmente suspeitada
icterícia e manifestaçõeshemorrágicas, pode como causadas mesmas;uma anamneseclíni-
dificultar o diagnósticoclínico. Entretanto, os ca minuciosa,aliada a elementosepidemioló-
exames de gota espessae esfregaço podem gicos,ajuda a estabelecerum diagnósticodife-
facilmente elucidar o diagnósticoetiológico. rencial, porém a certeza só é conseguida
A leptospirose apresentaalguma dificulda- mediantea demonstraçãode ausênciade plas-
de quando o paciente é egresso de áreas módio em esfregaçosde sangue.
rurais. No entanto, as intensasdores muscula-
res ao nível das panturrilhas é um achadoclí-
nico que pode valorizar o diagnóstico. Por
TRATAMENTO
outro lado, a icterícia na leptospiroseé mais
rubínica, enquanto na febre amarela é mais
verdínica. A presença de congestão intensa Específico
dos vasosconjuntivais é outro dado importan-
Não há tratamento específico para o dengue.
te na leptospiroseque, em geral, estáausente
O tratamento visa à manutenção do estado
na febre amarela. A história de contato com
geral do doente. As medidas, portanto, são de
roedores é dado epidemiológico importante.
suporte para manutenção das funções vitais.
Quanto aosexamesinespecíficos,o dado mais
Tanto no dengue clássico como no hemor-
importante na diferenciação são as taxas de
rágico, a febre alta deverá ser tratada com ace-
transaminasesque, na leptospirose,estãoligei-
taminofen ou dipirona, nas doses habituais,
ramente alteradas(duasa três vezesos valores
evitando-se os medicamentos que contenham
normais), enquanto na febre amarela esses
ácido acetilsalicílico e seus derivados, por sua
valores estão muito elevados.O encontro de
ação anticoagula~te e irritativa na mucosa gás-
leucopenia e linfocitose é outro dado impor-
trica, facilitando hemorragias, e pelos trans-
tante. Muito comum na febre amarela, está
ausente na leptospirose. No entanto, o diag- tornos que provo<;:a,m no equilíbrio ácido-bási-
nóstico definitivo é dado na leptospirose por co (acidose). Os mesmos medicamentos estão
aglutinaçãomicroscópicae ELISA. indicados para o combate às dores86.88.
As hepatites virais constituem sem dúvida, As complicações do dengue clássico, como
principalmente a hepatite B e a hepatite de as encefalites e outros distúrbios neurológicos,
Lábrea (associaçãodas hepatites B e D), os devem ser acompanhadas por especialistas. A
quadros que apresentam maior dificuldade terapêutica no dengue hemorrágico estávolta-
para serem diferenciados clinicamente da da para manutenção do equilíbrio hidroele-
febre amarela. O quadro clínico das formas trolítico do organismo. É necessário que o
fulminantes das hepatites pode ser indistin- paciente seja classificado, de acordo com a gra-
guível da doença amarílica, e só os exames vidade da doença, em graus I, 11, III ou IV e
específicos dos marcadores das hepatites que, nos hospitais de referência para o trata-
virais, especialmenteo encontro do antígeno mento do dengu~, existam um fluxograma e
de superficie do vírus da hepatite B (AgHBs), um esquema de tratamento previamente defi-
sãocapazesde diferenciá-Ios. nidos.
Com relaçãoao dengue, o diagnósticodife- A hidratação deve ser indicada sempre que
rencial deve ser feito, nas formas leves,com a o hematócrito estiver alterado; ressalte-se, no
malária, febre do Oropouche, rubéola, mono- entanto, que, como na FHD não há "perda"
nucleosee outras doençasfebris exantemáti- verdadeira de líquidos, a hidratação deve ser
cas,principalmente de origem viral. Nas for- monitorada com um rígido balanço hídrico.
masgraves,é importante excluir febre tifóide, Para hidratar, preferem-se os expansores plas-
septicemias,púrpuras trombocitopênicasetc. máticos, uma vez que tendem a carrear outros
Uma das principais patologiasa ser consi- líquidos por osmose para o espaço intravascu-
derada no diagnóstico diferencial das formas lar.
1010 DOENÇAS CAUSADAS PO~ V[RUS

Tambémnão há tratamento específicopara endovenosa é a mais indicada. Nos casos


a febre amarela34.53.87.Estudosexperimentais moderados,podem serusadossupositóriosvia
têm sido realizadoscom váriasdrogas,e algu- reta!. A dosevaria de acordo com o caso,mas,
mas têm mostrado, in vitro,atividade contra o em média, 80 mg com o intervalo de oito
vírus amarílico. As mais promissorastêm sido horas entre as aplicaçõesgeralmente são sufi-
a ribavirina (I-B-D-ribofuranosil-I H-I ,2,4- cientes. Para tratar a agitação é preferível
thiazole-3-carboxamida), o derivado tiazofurin ministrar o diazepam,na dose inicial de 10 mg
(2-B -D-ribofuranosil triazole-4-carboxamida) EV e, de acordo com a resposta,ajustam-sea
e o interferon. A ribavirina tem-se mostrado dosee o horário de aplicação.Estadroga seda
eficaz in vitro mas, quando administrada em o paciente semalterar o nível de consciência.
macacos,não alterou os níveisde viremia nem No casoda febre amarela, as outras medi-
o curso da doença.O tiazofurin, um derivado das terapêuticas preconizadasestão voltadas
da ribavirina, protegeu um macacoinoculado para tratar as seguintescomplicações:
com o vírus da febre amari:la na dose de 825
mg/m2 de área corporal por dez dias33.
Estudosmais detalhadosse fazemnecessários InsuficiênciaHepática
para verificar a eficácia do tiazofurin. Igual-
mente promissor tem sido o uso de interferon É crucial o tratamento nas primeiras manifes-
tipos alfa e gama33. tações de descompensaçãohepática, como
Outros estudostêm demonstradoo impor- alteraçãodo tempo de protrombina e tempo
tante papel de hormônios polipeptídicos, da tromboplastina parcial. Considera-secomo
como insulina, glucagon, fatores de cresci- melhor marcador de disfunção hepática,
mento da pele e plaquetase algunsneuropep- quando o tempo de protrombina está duas
tídeos,na regulaçãoda regeneraçãohepática. vezesmaior do que o valor normal. A manu-
Esseshormônios atuam sinergicamente,facili- tenção de uma dieta adequadae a prevenção
tando a síntesede DNA in,vitro e estimulando de hipoglicemia com o uso de soluçõeshiper-
a divisãoda célula hepáticain vivo33.Seriapois tônicas de glicose estão recomendadas.
de interesse realizar estu<l,osexperimentais Especialcuidado deve sertomado na adminis-
com essassubstânciasno tratamento da FA tração do volume do soluto glicosado, espe-
Não existe tratamento específico para a cialmente na iminência de insuficiênciasrenal
febre do Oropouche. Por conseguinte,o trata- ou cardíaca.Atençãoespecialdeve ser dada à
mento da virose é meramente sintomático.O hipoperfusão e à oxigenação, pois podem
repouso é importante e deve ser mantido até agravara lesãohepatocitária.
algunsdias apóso desaparecimentodasmani-
festaçõesagudas iniciais, pois há suspeitasde
que as crises de recorrência sejam mais fre-
qüentes nos pacientesque reassumemcedo Insuficiência Cardíaca e Choque
suas atividades normais, particularmente se
elassãoextenuantes.A febre deve sercomba- Todos os pacientesque se encontram na fase
tida com o uso de aspirina, ou outros antitér- de intoxicação devem ter seu balanço hídrico
micos, enquanto para a cefaléia, mialgia e rigorosamente sobcontrole. O monitoramen-
artralgia prescrevem-seanalgésicoscomuns. to constantedessespacientesjustifica a trans-
Todavia, nos pacientescuja cefaléia não res- ferênàa dos mesmospara unidades de trata-
ponde favoravelmente,tem-sechegadoa utili- mento intensivo. A hipotensão, que é devida
zar derivadosda morfina. ao seqüestrode fluidos ou perdas excessivas,
Parao combateà febre e à cefaléia,o para- requer um tratamento cuidadoso, para que
cetamolé a droga maisindicada. Preconiza-se evite posteriormente uma hipervolemia, que
o uso de 500 mg a cadaintervalo de seishoras. pode ter repercussõesdanosas,principalmen-
O tratamento das náusease vômitos deve ser te na vigênciade insuficiênciacardíaca.O uso
feito com antieméticos,sendoa metocloprami- do cateterde Swan-Ganze o controle da pres-
da a droga de eleição.Nos casosgraves,a via são arterial permitem conhecer o volume de
ARBOVIROSES 1011

sanguecirculante, fluxo cardíacoe as diferen- fresco,para reposiçãodasperdas.Na vigência


ças de oxigênio entre os sanguesarterial e de sangramentosseveros,o uso de plasma
venoso,durante o tratamento com fluidos ou frescoou sanguetotal deve serimediatamente
com drogas vasoativas.A medida da pressão indicado.
venosa central também auxilia na orientação O uso de heparina e vitamina K tem sido
das medidas terapêuticas.São muito impor- defendido por alguns autores,mascombatido
tantesos dadosrelativos aossinaisvitais. Estes por outros. Ademais,parecenão ter açãonos
devem ser tomados a cada duas horas ou casosde necrosehepáticafulminante33.
menos,de acordo com a gravidade do caso.
Outros dados que são de grande ajuda
incluem as dosagensdos gasesarteriais e ele- Tratamento das Complicações
trólitos. A freqüência dos examesestáem fun- Bacterianas
ção da gravidade do caso.O uso de oxigênio
estáindicado na vigência de hipoxemia arte- A pneumonia bacteriana constitui uma das
rial e quando a diferença na relaçãode oxige- maisfreqüentescomplicaçõesque se seguemà
naçãoentre sanguearterial e venoso é muito infecção amarílica severa.O uso de antibióti-
grande. cos para o tratamento dessae de outras com-
plicaçõesde naturezabacterianadeve ter prio-
ridade.
InsuficiênciaRenal

o tratamento depende de a insuficiênciarenal


ser devida a um fluxo sangüíneobaixo (azoo- PROFILAXIA
temia pré-renal) ou ser decorrente de necrose
tubular aguda. No caso de azootemia pré- A imunizaçãocontra o dengue pode semdúvi-
renal conseqüentea um fluxo sangüíneorenal da converter-se,no futuro, em uma ferramen-
diminuído, estáindicado o uso de diuréticos, ta importante p~ra impedir a infecção ou
como a furosemida. Caso a insuficiência seja abortar uma epidemia. Atualmente estão
devida à necrosetubular aguda,a indicaçãode sendoavaliadasvacinasvivasatenuadascontra
diálise peritoneal ou hemodiáliseé o melhor os sorotiposdo dengue, e se estátrabalhando
caminho para se tentar fazer o controle da no desenvolvimentode uma vacina contra o
falência renal. dengue desenhadageneticamente.
A imunidade homóloga (aqueladetermina-
da pelo sorotipo que causoua infecção)é de
longa duração,enquantoa heterólogapropor-
Hemorragias ciona somenteproteção temporária e parcial,
contra os outros três tipos e infecçõessecundá-
Ainda que o estômagose constitua no sítio de rias ou seqüenciaissãopossíveisapósum curto
maior sangramento na febre amarela, pouca período de tempo, que varia de 2-6 meses88.
atenção foi dada à prevenção de hemorragia A amostraamatílica usadacomo vacinaé a
gastrointestinal. Monath (1987) preconiza o cepa 170, que é produzida em ovosembriona-
uso de infusão venosade cimetidina associada dos, sendo recomendadoseuuso a partir dos
à aspiraçãodo conteúdo estomacalpor sonda 6 mesesde idade. É uma vacinasegura,prati-
nasogástrica,como medida simplespara dimi- camente destituída de efeitos colaterais. No
nuir os riscosde sangramentos33. Brasil, a vacina 170 é produzida em frascos
Quanto ao tratamento da coagulopatia na liofilizados contendo 50 dosesapós reidrata-
febre amarela, ainda é matéria bastantecon- ção. A vacina é aplicada via subcutâneana
troversa. Há consensoapenas na origem, já dose de 0,5 ml. Recomenda-sea reaplicação
que todos concordam dever-se à queda dos da vacina decorridos 10 anosde sua primeira
níveis dos fatores de coagulação.Nos casosde dose,ainda que estudosrealizadosalgunsanos
sangramento, está indicado o uso de plasma tenham demonstrado a persistênciade anti-
1012 DOENÇAS CAUSADAS POR VIRUS

corpos neutralizantesem 82%(89 em 109)dos ocorrência das epizootias.Tal modelo perma-


vacinadoshá mais de 30 anos antes com uma nece por ser elaborado. Portanto, estudos
única dose,em áreaindene do vírus amarílico, sorológicos periódicos podem e devem ser
sugerindo que a imunidade provocada pela realizadospara avaliaçãodo risco de epidemia
vacina 17Dé muito boa38. em funçãodos episódiosde transmissãopassa-
Como o vetor urbano, Ae. aegypti,é criado dos, em cadaregião fitogeográfica.
pelo próprio homem, dentro e fora dos seus A proteção individual por meio da vacina-
lares,a profilaxia deve servoltada para a edu- ção é o único meio eficazconhecido,capazde
caçãoe, portanto, ao menos em teoria, muito prevenir a doença.Outras medidasde caráter
simples.O que seobserva,no entanto, é a difi- estritamenteindividual, como o uso de produ-
culdade em aplicar medidassimplese eficazes tos repelentes-especialmente nos membros
de educaçãosanitária.A falta de conhecimen- inferiores -durante o trabalho em zonasflo-
to dos hábitos do mosquito, sobretudo acerca restais (de mata), podem ter importância na
dos mecanismosde reprodlição, é um aspecto ausênciade vacinação,tendo-seem vistaque o
importante e deve ser lembrado constante- vetor Hg. janthinomyspica preferentemente
mente nas campanhaseducativas.O acúmulo essaspartes do corpo.
do lixo, a falta de esgotossanitários,a pobreza Para os demais arbovírus, as medidas indi-
e o uso de plantas aquáticasem casaconsti- viduais constituem as únicas possíveis,já que
tuem importantes co-fatoresque favorecema não se dispõem de vacinas,e o combate aos
reprodução do Ae. aegypti.Campanhaseduca- vetores pode ser oneroso (custo-beneficioele-
tivas devem ser veiculadasem todos os meios vado), ou mesmo não sejustificando, já que
de comunicaçãode massa,bem como nasesco- não levamà morte ou mesmonão se verificam
las. Somente assimserá possívelse pensar em casosgraves,exceto para o vírus Oropouche
controle e erradicaçãodo Ae. aegypti. quando devido à natureza aguda e explosiva
Os inseticidastêm sido usadospor décadas dasepidemias,o controle vetorial pode ajudar
como estratégia de controle do Ae. aegypti, a interromper o curso de uma epidemia.
sem, no entanto, conseguir êxito, a não ser
temporariamente ou como,medida paliativa
como objetivo de interrompér ou minimizar o
impacto de epidemias de dengue. Comu- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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comparativa das curvas virêmica e de infectivi-
densidadevolta aos níveis iniciais88.Essaação dade com as alteraçõesultra-estruturais. Hüéia
deveria,portanto, serparticularmente eficaze Médica,Belém, 1979; 1:7-12.
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