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Fria
Introdução
Associada ao imperialismo desde sua origem, no século XIX, com a Guerra Fria adotou,
na forma do que veio a ser chamado de New Archaeology, uma abordagem positivista,
movimentos sociais, desde a Segunda Guerra Mundial, entravam, de forma decisiva, nas
lutas políticas, com o desenvolvimento das batalhas pelos direitos civis, das mulheres,
contra as guerras, pela diversidade sexual e cultural. Tudo isso resultaria na renovação
das Ciências Humanas, com a introdução da subjetividade e dos sujeitos sociais plurais,
1986, viria a assinalar uma virada na disciplina, agora preocupada com os interesses
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Professor Titular, Departamento de História (DH/IFCH/UNICAMP), Coordenador-Associado do Núcleo
de Estudos Estratégicos (NEE/UNICAMP), Universidade Estadual de Campinas.
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baseada no arqueólogo australiano Vere Gordon Childe, mas seus praticantes fugiam das
ditaduras em seus países, no exílio. Nos países sob jugo ditatorial, muitos desapareciam,
outros eram torturados ou presos, outros ainda forçados ao exílio. A Arqueologia só viria
Andrés Zarankin e eu, nós organizamos um volume sobre o tema, publicado, agora, em
INDICE
O caso brasileiro
século XIX, apenas depois da Segunda Guerra Mundial a Arqueologia tomaria rumos
direitos humanos. O país mergulhou num regime de repressão crescente, com a cassação
ditatorial explícita (1968), com a junta militar (1969), com exílio, detenção e assassinato
regime, cassam-se muito acadêmicos, com destaque para Paulo Duarte, com a
cargos e funções, herança pesada que marcaria o período de restauração das liberdades
civis em 1985. A liberdade permitiu que florescessem pesquisas e pontos de vista os mais
variados, mas a tutela dos herdeiros do regime militar, que passaram a se apresentar como
democratas, dificultou, no que foi possível, o estudo dos conflitos sociais pela
militar, continuou a contar com um óbice oculto: o papel político dos herdeiros do
regime, ainda importante em pleno século XXI (Funari 2002; 2003a). Neste contexto,
entende-se que pouco se pesquisou, até o momento, sobre o período ditatorial, o que, por
outro lado, permite esperar que, nos próximos anos, a pesquisa possa se desenvolver com
grandes contribuições. A Arqueologia brasileira insere-se, cada vez mais, nas discussões
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colaboração com o regime militar, podem voltar-se para tais temas com autonomia.
ainda existe uma forte resistência de arqueólogos e antropólogos físicos em trabalhar com
casos que estejam relacionados à violação dos direitos humanos. Da mesma forma, não
antropólogo ou arqueólogo forense nos quadros das instituições judiciais, como também
não há procura por parte destas instituições aos pesquisadores acadêmicos, seja no auxilio
com técnicas específicas ou no preparo das equipes de investigação para os casos que
exijam exumações.
embora ainda sejam mínimas, como ocorreu em 1992 através do Grupo Tortura Nunca
relevância social e política não pode ser subestimada. Do ponto de vista da História da
Ciência, o período militar constitui um imenso manancial a ser explorado, a partir de uma
uma ortodoxia, no sentido atribuído por Pierre Bourdieu à doxa, empirista e positivista.
particular a partir de uma abordagem social, tal como proposta por estudos clássicos
como Bruce G. Trigger (1990) e Thomas Patterson (2002; cf. Funari 2003c). Não se pode
bem estudar a repressão, sem um exame das condições que levaram a Arqueologia, em
nosso país, a abster-se do tema por tanto tempo e de maneira tão persistente.
todo o universo material da repressão, na forma tanto das prisões, campos de detenção
caso dos usos repressivos de automóveis – que serviam para seqüestrar pessoas – ou de
simples lenços. Quando Caetano Veloso cantava uma vida ‘sem lenço nem documento’,
lenço para assoar o nariz, com o documento que nos permite entrar no cinema, mas com
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poder, são obrigados a conviver com o contraditório, com a diversidade, valor maior
não pode ser desprezada, pois apenas o estudo da opressão permite garantir a liberdade e
entender como foi possível a barbárie (Funari 2003d). Esta é uma condição necessária,
ainda que não suficiente, para que a barbárie não volte a triunfar.
Agradecimentos
Referências
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857587011-4.
Funari, P.P.A. 2003c Resenha de “A social history of anthropology in the United States”,
Funari, P.P.A., Zarankin, A., Stovel, E. 2005 (eds) Global Archaeological Theory,
Janeiro, in Arqueologia Histórica em América del Sur, Los desafios del siglo XXI, P.P.A.
Patterson, T. 2002 A Social History of Anthropology in the United States. Nova Iorque,
Cambridge.