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 Redução da área de Habitação Efectiva

A recomendação nº 2/77 da Assembleia Municipal de Lisboa (AML), veio condicionar a


deliberação inicial da Câmara Municipal de Lisboa (CML), para os terrenos da antiga
feira popular – Proposta 395/CM/2015, relativa á hasta pública para a alienação da parcela
do terreno municipal. A recomendação nº 2/77 aplicou um critério mais rigoroso do que
estava anteriormente previsto para a área destinada ao uso habitacional, substituindo o
seguinte preceito: “ A superfície do pavimento destinada á habitação não poderá ser
inferior a 20% do total da superfície do pavimento” por “ A superfície do pavimento
destinada á habitação efectiva (ficando expressamente excluídas as instalações
residenciais especiais, instalações hoteleiras e afins), não poderá ser inferior a 25% do
total da superfície do pavimento acima do solo”.

A CML aceitou esta recomendação e procedeu a uma alteração da sua proposta inicial
(Proposta 469/CM/2018) uma vez que estes parâmetros não se encontravam preenchidos,
sendo que apenas 20% da área seria destinada a habitação, como resulta dos pontos
26º,27º e 28º da Petição inicial. A proposta é alterada de modo a ser compatível com o
critério acima exposto, no entanto analisando esta alteração verifica-se que para os
terrenos da antiga feira popular estão previstos 34.090.65 m2 de habitação para 143.712
m2 de superfície de pavimento acima do solo (para a parcela A e para os lotes B1 e B2
que correspondem aos terrenos da antiga feira popular), o que não preenche o mínimo de
25% de habitação efectiva, que apenas se verificaria no caso de estarem destinados a
habitação 35.928 m2, pelo que a condição imposta pela recomendação nº 2/77 da AML,
e aceite pela CML não se encontra preenchida.

Reunida a 17 de Maio de 2018, a CML, aprovou a abertura de um período de discussão


pública das orientações estratégicas para a operação integrada de entrecampos – Proposta
nº 419/2018. Na proposta referida afirma-se que a Operação Integrada de Entrecampos
pretende “…dar resposta às recomendações da Assembleia Municipal de Lisboa
(declaração nº 196/AML/2015 – Recomendação nº 2/77) «sobre a alienação do terreno
da antiga feira popular» …”. Todavia, este argumento acaba por não ser coerente com o
que é apresentado mais tarde para justificar o preenchimento pela OIE deste ponto.
Após esta reunião em resposta á continua violação da percentagem mínima de habitação
efetiva, é prosseguido um novo entendimento, afirmando-se que os termos e fundamentos
para a delimitação da unidade de execução e do loteamento municipal nº 4/2018, bem
como para a alienação em hasta pública dos lotes e parcelas de terreno que a integram,
não resultam da recomendação nº 2/77. Esta recomendação visava a hasta pública prevista
para 2015 que acabou por não se concretizar, portanto para a CML, a não alienação dos
terrenos teria determinado que os respetivos pressupostos ou condições fixadas ficassem
sem efeito, como tal para a realização de nova hasta pública teria de existir nova
pronúncia dos órgãos municipais competentes. Portanto as deliberações tomadas em 2018
substituíam e revogavam materialmente as deliberações de 2015/2016, este é também o
entendimento seguido nos pontos 30º a 41º da contestação.

Mais declaram que na nova Recomendação nº 026/03 (de 2018), sobre a Operação
integrada de Entrecampos, não se encontraria expresso que pelo menos 25% da superfície
do pavimento acima do solo teria de ser destinado a habitação efetiva.

Parece, portanto, haver uma certa desarmonia entre as duas ideias apresentadas, por um
lado afirma-se que o parecer nº 2/77 está a ser respeitado pela OIE e por outro refere-se
que o mesmo parecer já foi revogado por uma nova deliberação realizada em 2018, e que
só teve aplicabilidade na realização da hasta pública que não se concretizou em 2015. O
certo é que havendo nova recomendação (Recomendação nº 026/03) que tem origem
no Relatório da 1ª e da 3ª Comissões Permanentes sobre a Audição Pública sobre a
Operação Integrada de Entrecampos, e esta não referir uma percentagem mínima de 25%
para a área de habitação efetiva, não parece haver qualquer violação neste sentido pelo
Projeto.

Releva, no entanto, ainda o facto de na Proposta 419/2018 da Câmara Municipal de


Lisboa, referida anteriormente, se ter incluído áreas fora dos limites circunscritos á antiga
feira popular para preencher a condição imposta para a percentagem de área de habitação
efectiva, verificando-se uma anexação de parcelas das Avenidas 5 de Outubro e República
das Forças Armadas, que se encontram dentro da POLU (Polaridade Urbana, como resulta
do Processo 15/URB/2018 relativo à operação de loteamento de iniciativa municipal), de
modo a aumentar a edificabilidade do terreno. Não se pode no entanto, concluir que a
condição se mostra preenchida afirmando que o uso de habitação efetiva vai ser
assegurado fora da área em causa ( sendo a área em causa os terrenos que delimitados à
antiga Feira Popular), o que pode por em causa a violação de normas do regulamento do
PDM, comprometendo a existência de vícios no processo de loteamento, negociações e
operações consequentes, suscetíveis de impugnação.

Tudo isto coloca em causa o problema da distinção entre propriedade do município,


propriedade privada e dominialidade pública, entendendo-se que ruas, praças e caminhos
integram o domínio público municipal, surgindo a dúvida sobre se um bem afeto á função
pública pode ser tido em conta na edificabilidade de uma parcela a lotear, destinado á
alienação de terceiros.

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