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141
141.01 crítica
A lógica na arquitetura
Bruno Roberto Padovano
Cremos tenha sido o crítico de arte e ensaísta argentino Damián Bayón o 141.03 cinema
primeiro a escrever sobre as condições em que ocorreu a produção Coriolano, nosso
artística do Novo Mundo face à experiência milenar europeia (1). No Velho contemporâneo
Continente, em suas variadas regiões, a arquitetura, como as demais artes Shakespeare pelas
em geral, se desenvolveu num continuum onde, com muita precisão, a lentes de Ralph Fiennes
produção de bens se compartimenta em definidos períodos, cada qual com Slavoj Žižek
suas características locais singulares. Isso permite aos historiadores e 141.04 design
críticos distinguir com exatidão os artefatos daqui e dali; a sucessão de Cabeça, mãos e alma
eventos significativos, cuja cronologia e locus demarcam etapas de um Reflexões sobre design
caminho lentamente percorrido pelo homem sensível às coisas da estética. e artesanato na América
A eles, é fácil percorrer a seqüência dos estilos e das técnicas no Latina
universo europeu. Adélia Borges
Na América, ao contrário, como nos disse Bayón, em aula na Faculdade de 141.05 arte e cultura
Arquitetura e Urbanismo da USP, todos os gostos e estilos desaguaram O Ca’ d’Oro nas góticas
misturados de roldão na produção artística do mundo americano, cujos águas de Veneza
artífices ignoravam candidamente o que fosse antecedente ou conseqüente Adson Cristiano Bozzi
naquela barafunda de estilemas trazidos sem maiores explicações. Os Ramatis Lima
primeiros agentes culturais aqui arribados, tenham sido engenheiros 141.06 obra de
militares, ou arquitetos inseridos no corpo das ordens religiosas, ou arquiteto
mestres de risco reinóis avulsos, todos eles, com diferenciadas Hans Broos
informações ou experiências, trouxeram em suas bagagens as lições de seus Singularidades do
mestres e, outrossim, esmaecidas pela distância, as recomendações dos pensamento e da obra de
tratadistas do renascimento e do maneirismo enquanto guardavam em suas um mestre
saudades as aparências das antigas capelas, igrejas e mosteiros românicos Karine Daufenbach
de suas velhas aldeias rurais, de Braga, do Porto ou de Lisboa. E já
cerca de duzentos anos após Cabral, se alastrou pelo litoral canavieiro o 141.07
barroco introduzido no Reino pelos arquitetos e escultores italianos. The Old Story of a
Depois, ainda, com data marcada, encerrando o tempo colonial, chegou-nos ‘New’ Imperative
o neoclássico francês pelas providências do corpo diplomático da corte Sustainability and
fugida justamente de Napoleão, em 1808. Foi o estilo oficial do nosso Informal Housing within
Império. Architectural Discourse
Christine Taylor Klein
Essa a circunstância brasileira onde, no cenário edificatório anterior a 141.08
dom João VI, na maioria das ocasiões, uma manifestação estilística Urbanidade e a
qualquer, uma modinatura específica, um agenciamento ou um partido qualidade da cidade
arquitetônico determinado dificilmente poderão indicar sozinhos, sem o Douglas Aguiar
auxílio de documentos, a época de sua ocorrência ou mesmo situar uma
construção numa cronologia qualquer. Aquele mesmo citado rei, como
veremos, mal chegado ao Rio, por exemplo, inaugurou a igreja de Santa
Cruz dos Militares, magnífico exemplar maneirista calcado na Gesú de
Roma. Os estilos aqui chegaram verdadeiramente em tempo real de seu
percurso cronológico só a partir dos franceses da chamada Missão.
Vista da Igreja de Santa Cruz dos Militares, Rio de Janeiro RJ. Aquarela de
Richard Bates, século 19 [Wikimedia Commons]
Fazenda Pau d’Alho, São José do Barreiro SP; a meio caminho entre o Rio de
Janeiro e São Paulo, abrigou D. Pedro na viagem da Independência
Foto Victor Hugo Mori
Sobrados, Recife PE
Foto Victor Hugo Mori
2. Palácios e capelas
notas
NE
O presente texto foi apresentado em conferência no 1º Seminário Latinoamericano
Arquitetura e Documentação, organizado pela Universidade Federal de Minas
Gerais e pelo Centro de Documentación de Arquitectura Latino-americana –
Cedodal, ocorrido em Belo Horizonte, em 2008. Publicação original: LEMOS,
Carlos Alberto Cerqueira. Uma nova proposta de abordagem da história da
arquitetura brasileira. In CASTRIOTA, Leonardo. Arquitetura e documentação –
novas perspectivas para a história da arquitetura. São Paulo, Annablume/IEDS,
2011, p. 275-292. A edição das imagens é de Victor Hugo Mori, também autos das
fotos e desenhos.
1
Dentre outras obras deste autor, ver em especial: BAYÓN, Damián. Sociedad y
arquitectura colonial sudamericana. Barcelona, Gustavo Gili, 1974.
2
Depoimento de Pietro Maria Bardi a respeito da edição de L’arte del Brasile,
Arnaldo Mondadori Editore, Milano, 1982; publicação baseada na obra Arte no
Brasil distribuídaemfascículospelaEditoraAbrilcomtextos de José Roberto
TeixeiraLeite e Carlos A. C. Lemos.
3
Ver: SAIA, Luís. O alpendre nas capelas brasileiras. Revista do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, n. 3, Rio de Janeiro, 1939; LEMOS, Carlos A. C.
Capelas alpendradas de São Paulo. In LEMOS, Carlos A. C. Notas sobre a
arquitetura tradicional de São Paulo. 3. edição.São Paulo, FAU USP, 1992.
4
Sobre o assunto: LEMOS, Carlos A. C. Organização urbana e arquitetura em São
Paulo dos tempos coloniais. In: História da Cidade de São Paulo – a cidade
colonial. Volume 1.São Paulo, Paz eTerra, 2004, p. 145.
5
A respeito do alpendre domiciliar, ver : LEMOS, Carlos A. C. Casa paulista.São
Paulo, Edusp, 1999, p. 23 e 220.
6
Bratke contou-nos seus problemas no Amapá, inclusive da rejeição inicial por
parte dos operários de suas casas consideradas inabitáveis devido ao calor ali
reinante. Demorou muito para que chegasse a soluções satisfatórias. A respeito:
SEGAWA, Hugo; DOURADO, Guilherme Mazza. Oswaldo Arthur Bratke.São Paulo, Pro-
Editores, 1997.
7
FONSECA, Manuel da. Vida do venerável padre Belchior de Pontes, da Companhia de
Jesus da Província do Brasil. São Paulo, Melhoramentos, s.d.
8
LEMOS, Carlos A. C. Cozinhas, etc. 2. edição.São Paulo, Perspectiva, 1978, p.
153.
9
Vernossotrabalho citado nanota 4 e,também, otextofundamental “Subsídiospara
oestudo dainfluência dalegislação naordenação e naarquitetura dascidades
brasileiras”,teseparaobtenção decátedra naEscolaPolitécnica da USP,em 1966, de
autoria de Francisco de PaulaDias de Andrade.
10
A respeito da legislação republicana, ver: LEMOS, Carlos A. C. A República
ensina a morar (melhor).São Paulo, Hucitec, 1999.
11
LEMOS, Carlos A. C. No Brasil, a coexistência do maneirismo e do barroco até o
advento do neoclássico histórico. In: ÁVILA, Affonso. Barroco, teoria e
análise,São Paulo, Perspectiva, 1997, p. 233.
12
VAUTHIER, Louis Léger. Casas de Residência no Brasil. Revista do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, n. 7,Rio deJaneiro, 1943.
13
CARAM, André Luís Balsante. Pujol, concreto e arte.São Paulo,Banco do Brasil,
2001, p. 126.
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comentários
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Luiz Puech
um texto brilhante!
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Gilberto Belleza
Um ótimo texto do Professor Carlos Lemos sobre a história da
arquitetura brasileira
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Nivaldo Andrade
Texto muito interessante! Acho que há um erro nas imagens: Diamantina
fica em MG, a não ser que haja outra cidade homônima em SP.
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Licio Lobo
Muito legal..para quem se interessa pior arquitetura vale a pena ler.
Curtir · Responder · 3·6a
Tania Miotto
Uma verdadeira aula de arquitetura do Professor Lemos, onde tive o
prazer de conhecê-lo no frescor do alpendre da Capela de São Miguel
Arcanjo, por quem hoje os sinos dobram . Já dizia John Donne, “Nenhum
homem é uma ilha isolada...”. Há aqueles que são pontes neste
arquipélago brasileiro descrito.
Curtir · Responder · 3·6a
Andrea Ballan
Texto indispensável para todos, conhecer um pouco da História da
Arquitetura Brasileira nos faz mais patriotas. Parabéns Prof.Carlos
Lemos.
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