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Como Dinamizar

a Comunhão
com Deus e Conseguir
Respostas Positivos
O ração
Como Dinamizar o Comunhão com Deus
e Conseguir Respostas Positivos de O ração

Todo cristão precisa orar! E Deus precisa de


nossas orações! Existem coisas que ele^feó
fará em resposta a nosgaj? orações, f^o entan­
to, a maioria dos cristãos
:■ não dedica tempo à orqçâo,
)>■ não obtêm rèspostas, l * "
■ não epcontra satisfação. %
POR Q'UÊ> §eria '
■ falta de'miptlvçíÇão? ; I
■ falta de-mpipep , f
■ falta de mter&èsp? t-'S m —adwffi
• falta derdisciglijha p ró p ria ? $ L d * j
Ou, q flS rfT s ib e ^ d o isso, e tsàfcájçie';
uma orientaçãõ segôra e coreÃwar, soí^S d-g

ff foi esci»ito> por, ’Qm %ristíão que-pjjpferíu o


k anonimato, mas que descodrwj úm.doaSeegre-
dos d o l sucesso ,na.%ela ^ a c^iç lo ^q tfè
». prevalece e que funciona. Neste*livro ele
«j1 reuniu princípioSr.textos,bíblicos e experièn-
cias que servirão para intensificar* a comu-
- nhão com o Senhor, dinamizar a vida devocio-
nal e satisfazer o coração daquele que anseia
por uma vida de oração melhor.

Cx. Postal 10 - 30.000 Venda Nova. MG


A ORAÇ Ã O
QUE FUNCIONA

Escrito por
um Cristão
D esconhecido

lAitora
Betãnia
Titulo do original inglês:
The Kneeling Christian
Copyright © 1971 by
Zondervan Publishing House
Grand Rapids, Michigan
Terceira edição, 1981
Tradução de Myrian Talitha Lins
Todos os direitos reservados pela
Editora Betânia S/C
Caixa Postal 10
30 000 Venda Nova, MG
Proibida a reprodução, total ou parcial
sem permissão, por escrito, dos editores.
Composto e impresso nas oficinas da
Editora Betânia
Rua Padre Pedro Pinto, 2435
Belo Horizonte (Venda Nova)
Printed in Brazil
índice

Introdução — P. J. Zondervan....................... 7
Prefácio.......................................................... 9
1. A Grande Necessidade de D eus..................... 11
2. Promessas Quase Incríveis............................. 19
3. “ Pede-me, e Eu Te Darei.” ............................. 29
4. Pedindo Sinais................................................. 42
5. O que é O ração?............................................. 55
6. Como Devo O rar?........................................... 67
7. É Preciso Agonizar?....................................... 80
8. Deus Sempre Responde às Orações?.............. 97
9. Respostas de Oraçãp........................................ 106
10. Como Deus Atende às Orações.........................112
11. Empecilhos à O ração ...................................... 121
12. Quem Pode O rar?............................................ 133
Introdução
Corria o ano de 1937. Eu fazia minha primeira
viagem como vendedor, ao longo da costa ocidental
dos Estados Unidos, representando a Editora Zonder-
van, e fui visitar um livreiro na cidade de Seattle.
Durante a palestra que mantive com aquele ho­
mem, ele me falou de um livro publicado na Inglater­
ra, de autor inglês, e que fora uma grande bênção
para ele. Era minha primeira informação acerca de
A Oração que Funciona, de escritor anônimo. O con­
teúdo dessa obra representara uma grande bênção
para aquele livreiro.
Por causa de meu interesse pela oração, não
demorou muito e eu me lançava à leitura dele. Percebi
logo que o autor escrevera em estilo simples, expres-
sando-se de forma concisa, mas eficiente, usando
ilustrações de fácil compreensão, que tornavam as
verdades ensinadas bem claras e simples de aplicar.
Pouco depois, a Editora Zondervan conseguiu dos
publicadores britânicos a permissão de distribuir A
Oração que Funciona à sua clientela, na América.
Mais tarde, devido à escassez de papel e material
tipográfico na Inglaterra, durante a Segunda Grande
Guerra, os editores ingleses tiveram que deixar esta
valiosa e preciosa obra esgotar-se.
Então, conseguimos os direitos para imprimir e
publicar este livro nos Estados Unidos. De 1945 para
cá, já fizemos e distribuímos vinte e quatro edições
dele (antes dessa data, não há registros do número de

7
impressões), com a circulação de mais de 100.000
exemplares encadernados, sendo que a edição em
brochura foi ainda maior.
Agora, é nosso privilégio colocar este clássico so­
bre a oração em accessível formato de bolso, esperan­
do alcançar um público ainda maior. Peço a Deus que
este volume se torne uma bênção para cada leitor,
como o foi para mim e milhares de outras pessoas por
todo o mundo.
P. J. Zondervan
Prefácio

Uma pessoa que viajava pela China, há alguns


anos, visitou um templo pagão em dia de grande
festividade. Havia ali muitos adoradores perante o
medonho ídolo encerrado no relicário sagrado. O
visitante notou que a maioria dos fiéis trazia consigo
pedacinhos de papel, onde estavam escritas ou im­
pressas suas petições. Enrolavam as preces em boli­
nhas de lama semi-endurecida, que atiravam ao ídolo.
Indagando a razão daquele estranho ritual, foi infor­
mado de que, se a lama se apegasse ao ídolo, a petição
seria atendida, com toda a certeza; mas se a bolinha
de lama caísse ao chão, a petição fora rejeitada pela
deidade.
É possível que sintamos vontade de rir diante de
uma forma tão singular de se testar a aceitabilidade
de uma oração. Mas também não é verdade que a
maioria dos cristãos que oram a um Deus vivo, sabem
muito pouco acerca da oração que prevalece? E, no
entanto, a oração é a chave que destranca a porta da
caixa-forte de Deus.
Este livro foi escrito em atenção a alguns pedidos,
porém, não sem certa hesitação. É distribuído com
muita oração.
E, que aquele Homem que disse que temos “o
dever de orar sempre e nunca esmorecer” , possa “en­
sinar-nos a orar” .

9
1

A Grande Necessidade de Deus


“ Deus espantou-se!” Ê uma idéia muito impres­
sionante. A própria audácia dessa afirmação deve cha­
mar a atenção de todo crente fervoroso, homem,
mulher ou criança. Um Deus que se espanta. E muito
mais abismados poderemos ficar quando constatar­
mos qual é a causa deste “espanto” divino. Podemos
achar que ela é, aparentemente, insignificante. Po­
rém, se estivermos dispostos a considerar o assunto
cuidadosamente, veremos que é questão da maior
importância para todo crente em nosso Senhor Jesus
Cristo. Nenhuma outra questão é tão relevante — tão
vital — para nosso bem-estar espiritual.
Deus “maravilhou-se de que não houvesse um
intercessor” (Is 59.16) — “ nada que se interpusesse"
— como diz um comentário de margem em outra
versão. Mas isto foi nos dias do passado, antes da
vinda do Senhor Jesus Cristo, “cheio de graça e de
verdade” ; antes do derramamento do Espírito Santo,
que “ nos assiste em nossas enfermidades", que “in­
tercede por nós” (Rm 8.26). Sim, e bem antes de
recebermos as maravilhosas promessas do Salvador,
com respeito à oração; antes de os homens saberem
muita coisa, que hoje sabem, sobre a oração; nos dias
em que os holocaustos pelos próprios pecados tinham
maior dimensão do que a intercessão em favor de
outros pecadores.
Ah. mas como deve ser enorme o espanto de Deus
hoje! Pois como são poucos os que, dentre nós, sabem
realmente o que significa a oração que prevalece. Todos

11
nós confessamos que cremos na oração; todavia,
quantos verdadeiramente creem no poder da oração?
Agora, antes de prosseguirmos, este escritor deseja
solicitar veementemente ao leitor que não leia apres­
sadamente o conteúdo destes capítulos, Muita coisa
— muita coisa mesmo — está na dependência da
maneira como cada leitor irá receber o que aqui vai
registrado. Pois tudo depende da oração.
Por que tantos crentes são derrotados freqüente-
mente? Porque oram muito pouco. Por que tantos
obreiros se desanimam e ficam desalentados tantas
vezes? Porque oram pouco.
Por que a maioria dos homens veem tão poucos
pecadores serem conduzidos “das trevas para a luz”
através de seu ministério? Porque oram muito pouco.
Por que nossas igrejas não estão abrasadas de
amor a Deus? Porque existe muito pouca oração ver­
dadeira.
O Senhor Jesus ainda é tão poderoso hoje, como
sempre o foi. E ainda está tão ansioso para que os
homens sejam salvos, como sempre o esteve. Seu braço
não está encolhido, para que não possa salvar; mas ele
não pode estendê-lo, a não ser que oremos mais — e
oremos de verdade.
Podemos estar certos de uma coisa — a causa de
todo fracasso é a falta de oração em segredo.
Se Deus se espantou nos dias de Isaías, não
devemos nos surpreender se, nos dias de sua carne, o
Senhor “maravilhou-se” . Ele se admirou da increduli­
dade de alguns — incredulidade que, aliás, impediu
que ele realizasse milagres nas cidades deles. (Mc 6.6.)
Mas devemos lembrar-nos de que aqueles que se
acharam culpados de incredulidade não viram beleza
alguma nele, para que o desejassem ou cressem nele.
Como então não será maior o seu espanto hoje, ao ver
entre nós, que realmente o amamos e adoramos, tão
poucos que “se despertem” , e te detenham” (Is 64.7).
Certamente não existe nada de tão espantoso como
um crente que não ora. Os dias atuais são momento-
sos e terríveis. Na verdade, existem muitas evidências

12
de que estes são os “últimos dias", nos quais Deus
prometeu derramar seu Espírito — o Espírito de
súplicas — sobre toda a carne (J1 2.28). Contudo, a
grande maioria dos cristãos professos mal sabe o que
seja “súplica"; e muitas de nossas igrejas não somente
não realizam reuniões de oração, mas também, sem
nenhum constrangimento, consideram tais reuniões
desnecessárias, e até as ridicularizam.
A Igreja da Inglaterra, reconhecendo a importân­
cia da adoração e da oração, determina que seus
ministros leiam orações na Igreja todos os dias, pela
maphã e à tarde.
Mas quando isto é feito, muitas vezes, não é para
uma igreja vazia? E não são estas orações, em muitos
casos, feitas apressadamente, num ritmo que não
conduz à adoração? E as orações do “Livro de Preces”
muitas vezes têm que ser bastante vagas e indefinidas.
E quanto àquelas igrejas que mantêm uma reu­
nião de oração semanal? Talvez “semimorta” seja o
termo mais indicado para defini-las. Spurgeon teve a
satisfação de poder dizer que dirigia uma reunião de
oração todas as segundas-feiras, à noite, “onde o
número de presentes raramente era inferior a mil ou
mil e duzentas pessoas” .
Irmãos, será que deixamos de crer na oração? Se
você ainda mantém sua reunião semanal de oração,
não é verdade que a grande maioria dos membros da
igreja nunca aparecem? É; e nem ao menos pensam
em comparecer. Por que este estado de coisas? De
quem é a culpa?
“É apenas uma reunião de oração” — quantas
vezes ouvimos essa declaração. Quantas das pessoas
que lêem estas palavras realmente apreciam uma
reunião de oração? Ela representa uma satisfação ou
um dever? Por favor, perdoem-me por fazer-lhes
tantas perguntas, e apontar essa falha lamentável de
nossas igrejas, uma falha que nos parece tão perigosa.
Não estamos aqui para criticar — e muito menos para
condenar. Qualquer um pode agir assim. Nosso mais
ardente desejo é levar os crentes a “deterem” a Deus,

13
como nunca o fizeram. Desejamos incentivar, encora­
jar, inspirar.
Nunca ocupamos posição mais elevada, como
quando estamos de joelhos.
Críticas? Quem se atreve a criticar a outrem?
Quando olhamos para trás, para o passado, e vemos
quanta falta de oração tem havido em nossa vida, as
palavras de crítica dirigida a outros morrem em
nossos lábios.
Mas cremos que chegou o momento em que preci­
samos soar os clarins e chamar os crentes e a Igreja —
chamar para a oração.
Ora, será que temos coragem de encarar a questão
da oração? Esta pergunta parece ligeiramente tola,
pois não é a oração um elemento presente em todas as
religiões? Porém, arriscamo-nos a pedir aos leitores
que examinem e encarem esta questão com mente
aberta. Será que realmente cremos que a oração seja
uma força? Ela é a maior força que há sobre a terra,
ou não? Será que ela realmente “ move a mao que mo­
ve o mundo” ?
Será que os mandamentos de Deus com relação à
oração referem-se a nós? As promessas divinas acerca
da oração ainda são válidas? E nós respondemos:
“ Sim, sim, sim” , à medida que vamos lendo cada
uma destas perguntas. Não nos atrevemos a dizer
“Não” a nenhuma delas. Porém...
Já ocorreu ao leitor que Deus nunca teria dado um
mandamento desnecessário ou optativo? Será que
realmente cremos que o Senhor nunca fez uma pro­
messa que não pudesse ou não desejasse cumprir? Os
três grandes mandamentos do Senhor para uma ação
definida foram:

Orai!
Fazei!
Ide!

Será que os estamos obedecendo? Quantas vezes a


ordem: “Fazei!” é repetida pelos pregadores da atua­

14
lidade! Chega-se até a pensar que foi o único manda­
mento que ele deu. Muito raramente é que nos recor­
dam de sua ordem: “Orai!” ou “Ide!” E no entanto,
se não obedecermos ao Orai! pouco ou nada nos
adiantará obedecer ao Fazei! ou ao Ide!
- Na verdade, será fácil demonstrar que toda a
nossa falta de sucesso e os fracassos na vida espiritual
e no serviço cristão são devidos à falta de oração ou à
deficiência dela. A menos que oremos acertadamente,
não podemos viver e servir corretamente. Isto pode
parecer, a princípio, uma afirmação exagerada, mas
quanto mais a examinarmos à luz do ensino bíblico a
respeito do assunto, mais convencidos ficaremos da
verdade desta afirmação.
Depois, quando começarmos uma vez mais a
estudar o que a Bíblia diz sobre este maravilhoso e
misterioso assunto, procuraremos ler algumas das
promessas do Senhor, como se nunca as tivéssemos
visto antes. Qual será o resultado disso?
Cerca de vinte anos atrás, este escritor estudava
num seminário teológico. Certo dia, cedo de manhã,
um colega,— que hoje é um dos mais proeminentes
missionários da Inglaterra — irrompeu no quarto,
tendo nas mãos uma Bíblia aberta. Embora estivesse
se preparando para a ordenação, ele ainda era, na­
quela época, um jovem recém-convertido.
Ele entrara para a universidade, completamente
desinteressado das coisas concernentes ao reino de
Deus. Popular, inteligente, atleta — já conquistara
um lugar no grupo dos melhores alunos, quando
Cristo pediu-lhe sua vida. Ele aceitou o Senhor Jesus
como seu Salvador pessoal, e tornou-se um zeloso
seguidor do Mestre. A Bíblia era, para ele, um livro
relativamente novo, e, por causa disso, estava sempre
fazendo novas “descobertas” . Naquele memorável dia
em que invadiu a tranqüilidade do meu quarto, ele
gritou empolgado — o rosto brilhante, animado por
um misto de alegria e surpresa: “Você acredita nisso
aqui? Será que isso é verdade mesmo?”

15
“Acredito em quê?” perguntei, olhando para a
Bíblia aberta com certo espanto.
“ Ora, nisto aqui...” e leu, num tom de voz ansioso
o texto de Mateus 21.21,22: “ Se tiverdes fé e não
duvidardes... tudo quanto pedirdes em oração, cren­
do, recebereis.” Você acredita nisso? Ê verdade mes-
? »>
“É” , respondi, sentindo-me surpreso com o entu­
siasmo dele; “é lógico que é verdade; é lógico que
creio nisso.”
Entretanto, pela minha mente passaram vários
pensamentos.
“ Bem, é uma promessa maravilhosa” , disse ele.
“Parece-me totalmente ilimitável. Por que não ora­
mos mais do que agimos?” E ele se afastou, deixan-
do-me a meditar. Eu nunca olhara aqueles versos
daquela maneira. E quando a porta se fechou às
costas daquele jovem e fervoroso seguidor do Mestre,
tive uma visão do Salvador, de seu amor e poder,
como nunca tivera antes. Tive uma visão de uma vida
de oração e, também, de um poder “ilimitável”, que,
como percebi, dependiam de apenas duas coisas: fé e
oração. E naquele momento senti-me vibrar de entu­
siasmo. Caí de joelhos, e ao inclinar a cabeça perante
o Senhor, que pensamentos me atravessavam a mente,
e que esperanças e aspirações inundaram-me a alma!
Deus me falava de modo extraordinário. Apresentava-
me uma grande chamada para interceder. Mas —
devo confessar — não atendi ao chamado.
Onde foi que falhei? A verdade é que orei um
pouco mais que anteriormente, mas nada pareceu
melhorar. Por quê? Seria porque não enxergara os
altos padrões de vida interior que o Salvador requer
daqueles que desejam obter sucesso na oração?
Ou seria porque não ajustara minha vida ao
“perfeito amor” , tão belamente descrito no capítulo
13 de 1 Coríntios?
Afinal de contas, a oração não é apenas pôr em
ação nosso intento de “orar” ? Como Davi, precisamos
clamar: “ Cria em mim, ó Deus, um coração puro” (SI

16
51), antes de podermos orar corretamente. E as
inspiradas palavras do apóstolo do amor precisam ser
observadas hoje como sempre: “Amados, se o coração
não nos acusar, temos confiança diante de Deus; e
(então) aquilo que pedimos, dele recebemos.” (1 Jo
3.21,22.)
“É verdade; creio nisso.” Realmente é uma pro­
messa ilimitada, e, no entanto, quão fracamente com­
preendemos isso e como é pouco o que pedimos a
Cristo. E o Senhor se “maravilha” com nossa incredu­
lidade. Mas se pudéssemos ler os Evangelhos pela
primeira vez, que livros extraordinários eles nos pare­
ceríam. Será que não devíamos nos “maravilhar” e
"espantar” ? E hoje transmito ao leitor este apelo.
Será que você irá atender a ele? Irá receber as vanta­
gens que decorrem da obediência a ele? Ou ele cairá
em ouvidos surdos, e você continuará a não orar?
Irmãos, despertemos! O diabo está vendando nos­
sos olhos. Está-se esforçando ao máximo para impedir
que examinemos esta questão da oração. Estas pági­
nas estão sendo escritas em atenção a um pedido
especial. Mas já se passaram muitos meses desde que
me veio este pedido. Todas as tentativas de iniciar o
livro estavam sendo frustradas, e mesmo agora esta­
mos consciçntes de uma certa relutância em fazê-lo.
Parece haver uma força misteriosa retendo a mão.
Será que compreendemos que não existe nada que o
diabo receie mais que a oração? Sua grande preocu­
pação é impedir-nos de orar. Ele gosta de ver que
“estamos até aqui” de serviço — desde que não
oremos. Ele não teme o fato de sermos fervorosos e
zelosos estudiosos da Bíblia, desde que oremos pouco.
Alguém já disse.com bastante sabedoria: “ Satanás se
ri de nosso zelo no serviço; zomba de nossa sabedoria,
ma treme quando oramos.” Tudo isso já é bem
conhecido de todos nós — mas, será que oramos de
verdade? Se não, então o fracasso deve acompanhar
nossos passos, mesmo que existam muitos sinais de
aparente sucesso.
Não nos esqueçamos de que a maior coisa que

17
podemos fazer para Deus ou para o homem é orar.
Pois conseguiremos realizar muito mais através da
oração do que de nosso trabalho. A oração é onipo­
tente; ela pode fazer qualquer coisa que Deus pode
fazer. Quando oramos, Deus opera! Toda a frutifica­
ção em serviço é resultado de oração — tanto do
obreiro, como daqueles que estão levantando mãos
santas em favor dele. Nós todos sabemos orar, mas
talvez muitos de nós precisem clamar como os discí­
pulos: “ Senhor, ensina-nos a orar!”

0 Senhor, através de quem chegamos a Deus


Tu que és a vida, a verdade e o caminho
Tu trilhaste o caminho da oração;
Senhor, ensina-nos a orar!

18
2

Promessas Quase Incríveis


“ Quando estivermos com Cristo na glória, con­
templando a história de nossa vida terminada” , vere­
mos que o traço mais decisivo dessa vida foi a au­
sência de oração.
Ficaremos pasmados ao ver que dedicamos tão
pouco tempo à verdadeira oração. Aí será nossa vez de
nos “maravilharmos” .
No último sermão do Senhor aos seus amados,
pouco antes da mais extraordinária de todas as ora­
ções, o Mestre várias vezes estendeu, por assim dizer,
o seu cetro de ouro, e perguntou-lhes: “Qual é o
pedido de vocês? Ele lhes será concedido, ainda que
seja todo o meu reino.”
Será que cremos nisso? Temos que crer, se é que
acreditamos na Bíblia. Leiamos outra vez, tranqüila-
mente e em meditação, uma das promessas do Se­
nhor, tantas vezes reiterada. Se nunca a houvéssemos
lido antes, iríamos arregalar os olhos, espantados,
pois estas promessas são quase incríveis. Mas é o
Senhor dos céus e da terra quem está falando, e está
falando no momento mais solene de sua vida — na
véspera de sua paixão e morte. É uma mensagem de
despedida. Agora escute:
“E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei,
a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me
pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.” (Jo
14.13,14.) Pode haver palavras mais claras e explícitas
que estas? Será que outra promessa pode ser maior ou

19
mais importante? Existe outra pessoa, em qualquer
lugar, em outra ocasião que tenha oferecido tanto?
Como aqueles discípulos devem ter ficado espan­
tados! Com certeza, mal podiam crer no que ouviam.
Mas a verdade é que esta promessa é feita também a
mim e a você.
E para que não houvesse nenhum engano da parte
deles, e não haja da nossa, o Senhor a repete alguns
momentos depois. E o Espírito Santo inspirou a João
para que registrasse essas palavras novamente: “Se
permanecerdes em mim e as minhas palavras perma­
necerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será
feito. Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito
fruto; e assim vos tornareis meus discípulos.” (Jo
15.7,8.)
Estas palavras são de tanta importância e têm
tamanha significação, que o Salvador do mundo não
se contenta com uma terceira enunciação delas. Ele
insta com os discípulos a que obedeçam seu manda­
mento de “pedir” . Aliás, ele lhes diz que uma das
evidências de que eles eram amigos dele seria justa­
mente a obediência aos seus mandamentos em tudo
(v. 14). E depois, uma vez mais, ele repete as instru­
ções. “ Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo
contrário, eu vos escolhi a vós outros, e vos designei
para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permane­
ça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu
nome, ele vos conceda.” (Jo 15.16.)
Pensaríamos que agora o Senhor havia deixado
bem claro que desejava que eles orassem e que preci­
sava das orações deles, e que, sem a oração, não iriam
realizar nada. Mas, para nossa grande surpresa, ele
volta novamente ao mesmo assunto, repetindo quase
que os mesmos termos.
“Naquele dia nada me perguntareis. Em verdade,
em verdade, vos digo, se pedirdes alguma cousa ao
Pai, ele vô-la concederá em meu nome. Até agora
nada tendes pedido em meu nome; pedi, e recebereis,
para que a vossa alegria seja completa.” (Jo 16.23,24.)
O Senhor nunca dera tanta ênfase a uma promes­

20
sa ou mandamento antes — nunca. Esta promessa
verdadeiramente maravilhosa é-nos dada seis vezes.
Por seis vezes, quase que num só fôlego, o Salvador
ordena que peçamos o que quisermos. Esta é a maior
— a mais maravilhosa — promessa já feita ao homem.
Contudo, a maioria das pessoas — e pessoas crentes
— praticamente a ignoram. Não é verdade?
A excepcional grandeza dessa promessa parece
arrebatar-nos. Entretanto, sabemos que ele “é pode­
roso para fazer infinitamente mais do que tudo quan­
to pedimos, ou pensamos” (Ef 3.20).
Então nosso bendito Mestre dá sua exortação
final, antes de ser preso, amarrado e chicoteado, antes
que seus maravilhosos lábios sejam silenciados na
cruz: “ Naquele dia pedireis em meu nome... Porque o
próprio Pai vos ama” (vv. 26,27). Muitas vezes gasta­
mos tempo meditando nas sete palavras da cruz, e
está certo que assim façamos. Mas será que já passa­
mos uma hora que seja meditando nestes sete convites
à oração, que nos são feitos pelo Salvador?
Hoje, ele está assentado em seu trono, na majes­
tade nas alturas, e nos estende o cetro de seu poder.
Será que tocaremos nele e lhe falaremos de nossos
anseios? Ele nos ordena que recorramos aos seus
tesouros. Está ansioso para conceder-nos nossos pedi­
dos “segundo as riquezas da sua glória” . Ele diz que
nossa força e produtividade dependem da oração. Ele
nos relembra que nossa própria alegria depende das
respostas que recebemos para nossas orações. (Jo
14.24.)
E, no entanto, permitimos que o diabo nos conven­
ça a negligenciar a oração. Ele nos faz crer que
podemos realizar mais por nossos próprios esforços,
do que com orações — realizar mais por meio da
comunicação com os homens do que pela intercessão
junto a Deus. É difícil compreender por que tão pouca
atenção é dada aos sete convites do Senhor — a estes
sete mandamentos e promessas. Como nos atrevemos
a trabalhar para Cristo sem passar muito tempo de
joelhos?

21
Recentemente, um fervoroso obreiro cristão — um
professor de escola dominical — escreveu-me dizen­
do: “ Nunca recebi uma só resposta de oração em toda a
minha vida.” Mas por quê? Será que Deus é mentiro­
so? Deus não merece crédito? Suas promessas não
valem nada? Será que ele não é sincero no que diz?
Sem dúvida existem muitos que estão lendo estas li­
nhas, e estão dizendo no coração o mesmo que disse a-
quele obreiro cristão. Payson tem razão — quando diz
— e tem base escriturística também: ‘‘Se quisermos
fazer muita coisa para Deus, temos que pedir muita
coisa a ele: precisamos ser homens de oração." Se
nossas orações não são respondidas — elas sempre são
respondidas, mas não necessariamente atendidas — o
erro deve estar totalmente em nós, e nunca em Deus.
Deus tem prazer em responder às nossas orações; e ele
nos deu sua palavra de que deseja respondê-las.
Colegas de trabalho na vinha, está bem claro que o
Mestre deseja que peçamos, que peçamos bastante.
Ele nos diz que, quando assim fazemos, glorificamos a
Deus. Nada está fora do alcance da oração, se não
estiver fora dos limites da vontade de Deus. e não
desejamos sair desses limites.
Não ousamos dizer que as palavras do Senhor não
são verdadeiras. Contudo, de uma forma ou de outra,
são poucos os crentes que parecem crer realmente
nelas. O que nos retém? O que está selando nossos
lábios? O que nos impede de utilizarmos ao máximo o
poder da oração? Será que duvidamos de seu amor?
Nunca! Ele deu sua vida por nós e para nós. Então
duvidamos do amor do Pai? Não. “O próprio Pai vos
ama", disse Cristo, quando instava com os discípulos
a que orassem.
Será que duvidamos do seu poder? Nem por um
momento. Não disse ele: “Toda a autoridade me foi
dada no céu e na terra. E eis que estou convosco todos
os dias” (Mt 28.18-20)? Será que duvidamos de sua
sabedoria? Ou desconfiamos das escolhas que faz por
nós? Nem por um momento. E, no entanto, tão pou­
cos de seus seguidores dão valor à oração. Natural­

22
mente, eles negariam isso — mas as ações falam mais
alto que as palavras. Será que temos medo de fazer
prova de Deus? Ele disse que poderiamos fazê-lo:
“Trazei todos os dízimos à casa do tesouro... e
provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não
vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós
bênção sem medida.” (Ml 3.10.) Sempre que Deus nos
fizer uma promessa, respondamos corajosamente co­
mo fez o apóstolo Paulo: “Creio em Deus” (At 27.25) e
confiemos em que ele cumprirá sua palavra.
Se ainda não somos homens de oração, comecemos
hoje a sê-lo. Não adiemos a decisão até uma época mais
conveniente. Deus quer que eu ore. O querido Salva­
dor quer que eu ore. Ele precisa de minhas orações.
Há muita coisa que depende da oração. Na verdade,
tudo depende dela. Como podemos atrever-nos a
deixar de orar?^Que cada um de nós, de joelhos, faça
esta pergunta: “ Se ninguém na terra orar pela salva­
ção dos pecadores com mais fervor ou maior freqüên-
cia do que eu, quantos se converterão a Deus, pela
oração?” ,
Será que passamos dez minutos por dia em ora­
ção? Será que a consideramos suficientemente impor­
tante para fazer isso?
Dez minutos diários, de joelhos, em oração —
quando o reino dos céus está ao nosso alcance, bas­
tando que peçamos.
Dez minutos? Parece uma parcela inadequada de
tempo, para passarmos buscando a Deus. (Is 64.7.)
E estamos realmente orando, quando o fazemos,
ou estamos simplesmente repetindo algumas frases
que se tornaram praticamente sem significado, en­
quanto nosso pensamento vagueia de um assunto para
outro?
Se Deus fosse responder às palavras que repetimos
de joelhos esta manhã, saberiamos reconhecer a res­
posta? Será que lembramos o que foi que pedimos?
Ele realmente responde. Já deu sua palavra a esse
respeito. Deus sempre responde às verdadeiras ora­
ções de fé.

23
Veremos o que a Bíblia tem a dizer acerca disso,
em outro capítulo. Agora estamos tratando do tempo
que passamos em oração.
“Com que freqüência você ora?” foi a pergunta
feita a uma senhora crente. “Três vezes por dia, e o
dia todo” , foi sua pronta resposta. Mas quantas pes­
soas são assim? A oração é para mim um dever, ou um
privilégio; um prazer, uma verdadeira alegria, uma
necessidade?
Tenhamos uma nova visão de Cristo em toda a sua
glória e façamos um novo exame das “riquezas da sua
glória” , que ele coloca ao nosso dispor, e de todo o
poder que foi dado a ele. Depois, tenhamos uma nova
visão do mundo e sua necessidade. (E o mundo nunca
esteve tão necessitado quanto agora.)
Ora, o mais estranho não é que oremos tão pouco,
mas que ainda possamos nos erguer dos joelhos,
depois de compreender nossa grande necessidade, os
problemas de nossos lares e de nossos queridos, as
dificuldades e problemas do pastor e da Igreja, as
carências, de todos os tipos, de nossa comunidade e
país, dos pagãos, do mundo maometano. Todas essas
necessidades podem ser atendidas pelas riquezas de
Deus em Cristo Jesus. São Paulo não teve nenhuma
dúvida a esse respeito — nem nós a temos. “ E o meu
Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir
em Cristo Jesus cada uma de vossas necessidades.”
(Fp 4.19.) Mas, para participarmos de suas riquezas,
temos que orar, pois o mesmo Senhor é rico para com
todos os que o invocam (Rm 10.12).
Tão grande é a importância da oração, que Deus
já se antecipou a responder todas as desculpas ou
objeções que possamos apresentar.
Os homens falam de fraquezas ou enfermidades,
ou declaram não saber orar. Deus previu todas estas
dificuldades há muito tempo e inspirou o apóstolo
Paulo a dizer o seguinte: “Também o Espírito, seme­
lhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque
não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espí­
rito intercede por nós sobremaneira, com gemidos

24
inexprimíveis. E aquele que sonda os corações sabe
qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade
de Deus é que ele intercede pelos santos.” (Rm
8.26,27.)
Sim. Todas as provisões já foram feitas. Mas
somente o Espírito Santo pode nos “despertar” para
“determos” a Deus. E se quiséssemos nos render aos
impulsos do Espírito, com toda a certeza seguiriamos
o exemplo dos antigos apóstolos, que se “consagra­
ram" à oração (At 6.4).
Podemos estar certos de um fato — a influência
que qualquer pessoa exerce neste mundo poderá ser
avaliada apenas pelas suas orações — e nunca pela
eloqüência. zelo, ortodoxia ou energia. E eu vou mais
além, e afirmo que nenhum homem pode viver corre­
tamente se não orar corretamente.
Podemos trabalhar para Cristo, de manhã à noite;
podemos passar longas horas em estudo bíblico;
podemos ser fervorosos, fiéis, ortodoxos em nossa
pregação c no trato individual, mas nada disto será
verdadeiramente valioso a menos que oremos muito.
Estaremos apenas cheios de boas obras, mas não
“ frutificando em toda boa obra" (Cl 1.10). Ser defi­
ciente na oração implica em ser deficiente na obra de
Deus. Muita oração secreta resulta em muito poder
em público. Contudo, não é verdade que embora
nossa capacidade de organização seja quase perfeita,
nosso empenho na intercessão é quase nulo?
Os homens estão-se indagando por que o aviva-
mento tarda tanto. Existe somente um fator que pode
retardá-lo — a ausência de oração. Todos os aviva-
mentos da História resultaram de muita oração. Al­
guém pode, às vezes, desejar ouvir a voz de um
arcanjo, mas de que nos vale isto. se a voz do próprio
Cristo não nos impulsiona à oração? Parece quase
impertinência que um homem se ponha a clamar,
quando o Salvador já nos deu suas “ilimitadas”
promessas. Porém, sentimos que algo deve ser feito,
e cremos que o Espírito Santo está inspirando os
homens a relembrarem, a si próprios e a outros, das

25
palavras de Cristo e do seu poder. Nenhuma palavra
que eu diga pode comunicar a alguém a idéia do valor
da oração, da sua necessidade e onipotência.
Mas esta mensagem é entregue em oração para
que Deus Espírito Santo, possa convencer os crentes
do pecado de se negligenciar à oração, e venha a
impulsioná-los a se ajoelharem e clamarem a Deus,
dia e noite, numa intercessão fervorosa, confiante,
perseverante. O Senhor Jesus, que agora se encontra
nos lugares celestiais, chama-nos a dobrar os joelhos e
reivindicar as riquezas de sua graça.
Nenhum homem ousaria determinar para outro
o tempo em que este deveria passar em oração, nem
queremos sugerir que as pessoas façam votos de orar
tantos minutos ou horas por dia. Naturalmente, o
mandamento bíblico é “Orai sem cessar” . Isto, evi­
dentemente, refere-se a uma atitude de oração — uma
atitude que adotamos para nós mesmos.
Falamos aqui de momentos definidos de oração.
Você já marcou o tempo de duração de suas orações?
Cremos que a maioria dos leitores ficaria espantada e
perplexa, se fizesse isto.
Alguns anos atrás, este escritor defrontou-se com
essa questão. Sentiu que, para ele, o tempo mínimo
que deveria passar em oração era uma hora. Começou
a fazer um registro cuidadoso de suas orações. Algum
tempo depois, conheceu um obreiro que estava sendo
grandemente usado por Deus.
Indagando-lhe a que atribuía este sucesso, o ho­
mem replicou: “Bem, eu não podería passar sem duas
horas diárias de oração particular.”
Depois, cruzou meu caminho um missionário,
homem cheio do Espírito Santo, que me contou
humildemente das maravilhas que Deus estava ope­
rando através de seu ministério. (E durante toda a
conversa percebia-se que o Senhor recebia todo louvor
e toda a glória.) “Tenho necessidade, muitas vezes, de
passar até quatro horas por dia em oração”, explicou
o missionário.
E sabemos como o Grande Missionário passava

26
noites inteiras em oração. Por quê? Nosso bendito
Salvador não orou simplesmente para nos dar um
exemplo; ele nunca fazia nada apenas para dar um
exemplo. Orava porque precisava orar. Sendo Homem
perfeito, a oração era uma necessidade para ele.
Então, quanto mais nós, temos necessidade dela?
“Quatro horas por dia, em oração!” exclamou um
homem que dedica a vida ao trabalho de Deus como
médico missionário. “Quatro horas? Dêem-me dez
minutos, e para mim, basta!” Foi uma confissão
sincera e corajosa — apesar de triste. Contudo, se
alguns de nós fizerem confissões sinceras...
Bem, não foi por acaso que encontrei esses ho­
mens. Deus estava-me falando por meio deles. Era
apenas outro “chamado à oração” , proveniente do
“ Deus de paciência e consolação” (Rm 15.5), e depois
que a mensagem deles já calara fundo em meu
coração, veio-me às mãos, “ por acaso” — como se diz
por aí — um livro. Era O Homem que Orava, que de
forma simples e concisa narra a história de João Hyde,
ou o “ Hyde que ora” , como ficou conhecido. E, assim
como Deus enviou João Batista para preparar o
caminho do Senhor, na sua primeira vinda, assim
também, nestes últimos dias, enviou este João que ora,
para endireitar os caminhos dos homens, antes do seu
retorno. E quando lemos a maravilhosa biografia
dessa vida de oração, começamos a indagar: “ Será
que já orei alguma vez?”
Descobri que outras pessoas estavam fazendo a
mesma indagação. Uma senhora, que é conhecida
pela sua notável intercessão, escreveu-me nos seguin­
tes termos: “Quando acabei de ler esse livro, comecei
a pensar que eu nunca orara, em toda a minha vida.”
Mas, nesse ponto, temos que mudar de assunto.
Caiamos de joelhos perante Deus, e permitamos que o
Espírito Santo nos sonde completamente. Somos sin­
ceros? Desejamos realmente fazer a vontade de Deus?
Cremos realmente em suas promessas? Se assim for,
será que tais anseios não nos levarão a passar mais
tempo de joelhos perante o Senhor? Não faça o voto

27
de orar por determinado período de tempo, por dia.
Decida-se-a orar muito. A oração, para ter valor,
precisa ser espontânea, e não feita por constrangi­
mento.
Mas precisamos conservar em mente que a simples
resolução de passarmos mais tempo em oração, ou de
vencer o desinteresse de orar, não durará muito, se
não houver uma total e absoluta rendição ao Senhor
Jesus Cristo. Se ainda não demos este passo, precisa­
mos dá-lo agora, se é que desejamos ser homens de
oração.
Mas de uma coisa estou certo: Deus deseja que eu
ore, e que você ore. A questão é: estamos dispostos a
orar?
Bendito Salvador, derrama sobre nós a plenitude
do Espírito Santo, para que realmente possamos
tornar-nos cristãos ajoelhados.

Apresenta a Deus tuas carências


Numa oração rápida.
Ore sempre; ore sem desanimar.
Ore! Ore sem cessar.

28
3

“Pede-me, e Eu Te Darei.”
Deus quer que eu peça, que eu ore muito — pois
todo o nosso sucesso no trabalho espiritual depende
da oração.
Um pregador que ora pouco, poderá obter alguns
resultados cm seu labor, mas, se os obtém, é porque
outra pessoa, em algum lugar, está orando por ele. O
‘‘fruto” será de quem orar, e não de quem pregar.
Que surpresas não teremos, alguns de nós que somos
pregadores, naquele dia, em que o Senhor recompen­
sará a "cada um segundo a sua obra” ! “ Senhor, mas
esses aí são meus convertidos! Era eu quem dirigia
aquele ponto de pregação, onde tantas dessas pessoas
foram conduzidas ao aprisco.” Ah, sim — fui eu
quem pregou, apelou e persuadiu; mas, fui “eu”
quem orou?
Cada conversão que ocorre é resultado da opera­
ção do Espirito no coração de uma pessoa, em respos­
ta às orações de algum crente.
Ó Deus, concede que essa surpresa não seja nossa.
Senhor, ensina-nos a orar!
Tivemos a visão de Deus apelando, solicitando a
oração de seus filhos. Como estou encarando este
apelo? Será que posso dizer como Paulo: “Não sou
desobediente à visão celestial” ? Outra vez repetimos,
se houver algum arrependimento no céu, o maior
deles será o de havermos dedicado tão pouco tempo à
verdadeira intercessão, enquanto estávamos na Terra.

29
Pensemos na imensa amplitude da oração. “ Pede-
me, e eu te darei as nações por herança, e as extremi­
dades da terra por tua possessão.” (SI 2.8.) Contudo,
muitas pessoas não se dão ao trabalho de levar a
Deus, em oração, nem os pequenos detalhes de sua
vida. E, de dez crentes, nove nunca pensam em orar
pelos não-convertidos.
É de espantar o desinteresse dos cristãos pela
oração. Talvez isto se deva ao fato de nunca haverem
experimentado ou ouvido falar de verdadeiras respos­
tas de oração.
Neste capítulo, estamos nos dispondo a realizar o
impossível. E o que é isso? Desejamos levar ao coração
e consciência de cada leitor a realidade do poder da
oração. Nós nos aventuramos a qualificar isto de
"impossível” . Pois se os homens não creem, nem
agem simplesmente pelas promessas e mandamentos
do Senhor, como posso esperar que sejam persuadidos
por uma pobre exortação humana?
Mas, lembra-se de como o Senhor, falando aos
discípulos, pediu-lhes que cressem que ele estava no
Pai e o Pai nele? E depois acrescentou: “Crede ao
menos por causa das mesmas obras” (Jo 14.11). Foi
como se estivesse dizendo: “ Se minha pessoa, minha
vida santificada e minhas maravilhosas palavras, na­
da disso os leva a crer em mim, então contemplem
minhas obras. Certamente elas são suficiente para
compeli-los à fé. Creiam em mim, em razão do que
realizo.”
Depois, ele continuou, apresentando a promessa
de que se cressem, fariam maiores obras que aquelas.
E foi após esta palavra, que ele deu a primeira
daquelas seis promessas maravilhosas com respeito à
oração. Certamente, podemos inferir que estas “obras
maiores” serão resultado de oração.
Portanto, será que o discípulo pode seguir o
método do Mestre? Colega obreiro, se você não se
apropriar destas espantosas promessas do Senhor
relativas à oração, se não confiar nelas, será que não
pode crer pelo menos “por causa das obras”? Isto é,

30
por causa daquelas “obras maiores” que muitos estão
realizando hoje — ou antes, as obras que o Senhor
está realizando através deles e suas orações?
A que é que nos consagramos realmente? Qual é
nosso verdadeiro objetivo na vida? Certamente, nosso
maior desejo é sermos abundantemente produtivos no
serviço do Mestre. Não buscamos posição, nem proe-
minência, nem poder. Mas desejamos ser servos pro­
dutivos. Então, temos que orar muito. Deus pode
realizar maiores obras por meio de nossas orações do
que através de nossas pregações. A. J. Gordon disse:
“ Depois que oramos, podemos fazer mais que orar;
mas. enquanto não orarmos, não podemos fazer na­
da.” Se nós acreditássemos nisso!
Certa missionária estava desanimada por causa de
seu fracasso na obra e em sua vida particular. Era uma
missionária consagrada, mas, por alguma razão, não
havia conversões em seu posto de trabalho.
O Espírito Santo parecia dizer-lhe: “ Ore mais!”
Mas ela resistiu aos apelos do Espírito Santo durante
algum tempo. “ Por fim” , disse ela, “comecei a dedi­
car muito tempo à oração. Mas fi-lo com certo temor
de que meus colegas obreiros se queixassem de que eu
estava negligenciando o trabalho. Após algumas se­
manas, comecei a ver homens e mulheres aceitando a
Cristo como Salvador. Além disso, toda a comunidade
experimentou um grande despertamento, e o trabalho
de todos os outros missionários foi mais abençoado
que nunca. Deus realizou mais em seis meses, do que
eu conseguira em seis anos. E além disso” , concluiu
ela, "ninguém me acusou de negligenciar meu traba­
lho.” Outra missionária sentiu a mesma necessidade.
Passou a dedicar mais tempo à oração. Não recebeu
nenhuma oposição de fora, mas começou a recebê-la
de dentro. Mas ela perseverou, e, em dois anos, o
número de conversos batizados aumentou em seis
vezes.
Deus prometeu que iria derramar o “ Espírito de
graça e súplica sobre toda a carne” (J1 2.28). Quanto
deste Espírito de súplicas temos nós? Certamente,

31
precisamos obtê-lo a todo custo. Todavia, se não esti­
vermos dispostos a empregar tempo em “súplicas” ,
Deus terá que reter o seu Espírito, e seremos contados
entre aqueles que estão “resistindo ao Espírito” , e
talvez até “extinguindo” o Espírito. E o Senhor não
prometeu conceder o Espírito àqueles que lho pedis­
sem? (Lc 11.13.)
E não estão os próprios conversos do paganismo
a envergonhar-nos?
Alguns anos atrás, quando me encontrava na
índia, tive a grande satisfação de conhecer parte do
trabalho de Pandita Pamabai. Ela possuía uma esco-
la-internato, com cerca de 1500 moças indianas. Certo
dia, algumas daquelas moças procuraram uma das
missionárias, trazendo uma Bíblia aberta, e pergunta­
ram-lhe o que significava o texto de Lucas 12.49. “Eu
vim para lançar fogo sobre a terra e bem quisera que
já estivesse a arder.” A missionária tentou responder-
lhes com uma explicação meio evasiva, pois não tinha
muita certeza do que significavam aquelas palavras.
Mas as moças não ficaram satisfeitas e resolveram
orar,' pedindo este fogo. Depois que oraram — e
porque oraram — o fogo dos céus desceu sobre sua
alma. Foi-lhes concedido um verdadeiro Pentecostes
do alto. Não admira que houvessem continuado oran­
do.
Um grupo dessas moças sobre as quais Deus
derramara o Espírito de súplicas, chegou a uma casa
da missão, onde eu estava passando alguns dias.
“ Podemos ficar aqui neste povoado, e orar pela obra
aqui?” indagaram. O missionário não acolheu a idéia
com muito entusiasmo. Achava que elas deveríam
estar na escola, e não “perambulando” pela região.
Mas elas apenas pediram uma sala ou um celeiro onde
pudessem orar; e todos nós apreciamos as orações que
são feitas em nosso favor. Então, o pedido delas foi
atendido, e o bom homem sentou-se para jantar,
pensativamente. Depois de algumas horas, um pastor
indiano apareceu. Estava completamente quebranta-
do. Explicou, com lágrimas a escorrer-lhe pelo rosto,

32
que o Espírito de Deus o convencera de pecado, e que
se sentira compelido a vir até ali e confessar seu erro.
Pouco depois, apareceu outro crente, e mais outro, e
vários, todos sob convicção de pecado.
Foi um notável dia de bênçãos. Vários crentes
afastados foram restaurados à comunhão e à fé;
outros foram santificados e incrédulos foram conduzi­
dos ao aprisco de Deus — tudo porque algumas moci­
nhas estavam orando.
Deus não faz acepção de pessoas. Se alguém
estiver disposto a submeter-se às suas condições, ele,
de sua parte, certamente cumprirá suas promessas.
Será que nosso coração não “arde” , quando ouvimos
acerca do maravilhoso poder de Deus? E este poder é
nosso; basta-nos solicitá-lo. Sei que existem “condi­
ções” . Mas eu e você podemos cumpri-las em Cristo.
E aqueles que não tiveram o privilégio de servir a
Deus na índia ou em qualquer outra missão no exte­
rior. podem, assim mesmo, tomar parte na tarefa de
fazer descer sobre o mundo uma bênção semelhante.
Quando o avivamento de Gales encontrava-se no
ponto máximo, um missionário galês escreveu à sua
pátria pedindo ao povo que^orasse para que a índia
experimentasse um avivamento igual ao que eles
estavam experimentando. Então, aqueles mineiros de
carvão passaram a reunir-se todos os dias, na entrada
da mina, meia hora antes do alvorecer, a fim de orar
por aquele conterrâneo que se encontrava trabalhan­
do no estrangeiro. Algumas semanas depois, chegou a
alegre notícia: "A bênção veio.”
Não é maravilhoso saber que, pelas nossas ora­
ções, podemos trazer chuvas de bênçãos sobre a índia,
África ou China, com a mesma presteza que podemos
obter as poucas gotas de que precisamos para nosso
“ pedacinho de chão” ?
Muitos ainda se recordam das maravilhas que
Deus operou na Coréia, alguns anos atrás, inteira-
mente em resposta à oração. Alguns missionários
resolveram reunir-se para orar todos os dias, ao meio-
dia. Ao fim de um mês, um dos irmãos propôs que,

33
como nada houvesse acontecido, interrompessem as
reuniões de oração. “Cada um continue orando em
sua própria casa, da maneira que achar mais conve­
niente” , disse ele. Os outros, porém, protestaram
dizendo que, pelo contrário, deviam dedicar mais
tempo à oração, diariamente. E continuaram com esse
programa de oração por mais quatro meses. Então, de
repente, a bênção começou a ser derramada. Em toda
parte, os cultos das igrejas eram interrompidos por
pessoas quebrantadas que choravam e confessavam
seus pecados. Por fim, um poderoso avivamento bro­
tou entre eles. Em certo lugar, durante um culto
noturno de domingo, o principal homem da igreja
levantou-se e confessou que roubara 100 dólares, ao
administrar os bens de uma viúva. Imediatamente a
convicção de pecados dominou o ambiente. E aquele
culto somente veio a encerrar-se às duas horas da
manhã de segunda-feira. O maravilhoso poder de
Deus foi sentido como nunca o fora antes. E depois
que a igreja foi purificada, muitos pecadores encon­
traram a salvação.
Multidões se encaminhavam para as igrejas, leva­
das pela curiosidade. Alguns vinham para zombar,
mas o temor de Deus os dominava, e ficavam para
orar. Entre os “curiosos” estava o chefe de um bando,
líder de um grupo de ladrões. Ele foi convencido de
seus pecados e se converteu. Dirigiu-se ao juiz local, e
entregou-se à lei. “Você não tem acusador” , disse o
atônito magistrado, “contudo, você próprio se acusa.
Aqui na Coréia não existe uma lei que discipline um
caso como o seu.” E o mandou embora.
Um dos missionários declarou: “Valeu a pena
passarmos todos aqueles meses em oração, pois quan­
do Deus nos deu o Espírito Santo, ele realizou, em
meio dia, mais do que todos os missionários juntos
haviam realizado em meio ano.” Em menos de dois
meses, mais de 2000 incrédulos haviam se convertido.
O zelo ardente daqueles conversos tornou-se prover­
bial. Alguns deram tudo que possuíam para edificar
uma igreja, e depois choraram porque não tinham

34
nada mais para dar. Desnecessário é dizer que haviam
compreendido o poder da oração. Aqueles crentes
foram batizados com o “Espírito de súplicas” . Em
certa igreja, foi anunciado que realizariam uma reu­
nião de oração, todos os dias, às 4:30 da manhã. No
primeiro dia, compareceram 400 pessoas, chegando
bem antes da hora marcada — ansiosos que estavam
para orar! E nos outros dias, este número cresceu
rapidamente para 600. Em Seul, a freqüência média
na reunião de oração semanal era de 1.100.
Os não-crentes também apareciam, para ver o que
estava acontecendo. E exclamavam admirados: “O
Deus vivo está entre vocês!” Aqueles pobres incrédu­
los haviam enxergado o que muitos crentes não
conseguem ver. Cristo disse: “ Porque onde estiverem
dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio
deles.” (Mt 18.20.) O que foi possível acontecer na
Coréia, pode acontecer aqui também. Deus não faz
acepção de nações. Ele está ansioso para nos aben­
çoar, e derramar seu Espírito sobre nós.
Ora, se nós, que vivemos neste país considerado
cristão — realmente acreditássemos na oração, isto é,
nas preciosas promessas do Senhor, será que perderia­
mos as reuniões de oração? Se tivéssemos um interesse
genuíno pela situação de milhares de perdidos em
nossa terra e nas terras pagãs, será que reteríamos
nossas orações? Certamente\ não pensamos muito,
senão oraríamos mais. “ Pede-nie, e eu te darei” , diz o
Deus todo-poderoso, que é todo amor, e nós mal
damos atenção às suas palavras.
Na verdade, os conversos das terras idólatras
estão-nos envergonhando.. Em minhas viagens, che-
guei a Rawal Pindi, na índia. O que pensam que
aconteceu ali? Algumas jovens da escola de Pandita
Ramabai foram a um acampamento nesse lugar.
Pouco tempo antes disso, Pandita havia dito a elas:
“ Se houver alguma bênção para a índia, nós podemos
obtê-la. Peçamos a Deus que nos mostre o que deve­
mos fazer a fim de recebermos esta bênção.”
Enquanto lia a Bíblia, ela parou a meditar no

35
seguinte texto: “ ...determinou-lhes que... esperassem
a promessa do Pai... e recebereis poder ao descer
sobre vós o Espírito Santo” (At 1.4,8). “ Esperar! Ora,
nunca fizemos isso!” exclamou ela. “Já oramos, mas
nunca esperamos nenhuma bênção maior do que as
que já recebemos.” Ecomo oraram! Uma de suas reu­
niões durou seis horas. E que maravilhosa bênção
Deus derramou em resposta àquelas orações!
Enquanto algumas daquelas moças estavam em
Rawal Pindi, certa noite, uma missionária, ao olhar
para fora já perto de meia-noite, ficou surpresa ao ver
uma luz acesa na barraca de uma das moças, o que
era contrário às regras do acampamento. Foi até lá
para repreender a jovem, mas encontrou-a, a mais
nova delas — uma garota de 15 anos — ajoelhada no
cantinho mais remoto da tenda, segurando numa das
mãos uma vela de sebo, e na outra uma lista para
intercessão. Desta lista constavam 500 nomes —
quinhentas das 1500 alunas da escola de Pandita
Ramabai. E ela estava ali, durante todas aquelas
horas, apresentando todos os nomes perante Deus.
Não admira que a bênção de Deus fosse derramada
onde quer que aquelas moças apareciam, e sobre as
pessoas a favor de quem elas oravam!
O Pastor Ding Li Mei, da China, tem cerca de
1000 nomes de estudantes em sua lista de oração.
Centenas deles foram ganhos para Cristo através de
suas orações. E suas conversões são tão genuínas, que
muitos entraram para o ministério cristão.
Seria fácil narrar muitas outras admiráveis e inspi-
rativas histórias acerca da oração. Mas não há neces­
sidade de fazê-lo. Sei que Deus quer que eu ore. Sei
que ele quer que você também ore.
“Se há alguma bênção para nossa pátria, podemos
obtê-la.” Não — mais que isso. Se há alguma bênção
em Cristo, podemos obtê-la. “Bendito o Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado
com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celes­
tiais em Cristo.” (Fp 1.3.) Os “armazéns” de Deus
estão repletos de bênçãos. Somente a oração pode

36
destrancá-los. Ela é a chave, e a fé é a energia que gira
a chave, abre a porta e reivindica a bênção. Bem-aven­
turados os puros de coração, pois eles verão a Deus. E
vê-lo é orar corretamente.
Escute. Chegamos — eu e você — uma vez mais a
uma encruzilhada. Todos os fracassos passados, toda
a nossa ineficiência e insuficiência, a nossa falta de
frutos na obra, tudo isso pode ser reparado agora, de
uma vez por todas, se apenas dermos à oração o seu
lugar de direito. Faça isto hoje. Não espere uma
ocasião mais conveniente.
Tudo que vale a pena depende da decisão que
fazemos. Verdadeiramente Deus é maravilhoso. E um
dos fatos mais maravilhosos é que ele coloca tudo que
tem ao alcance da oração da fé. A oração confiante, de
um coração inteiramente purificado, nunca falha.
Deus nos deu sua palavra a esse respeito. Contudo,
.ainda mais surpreendente é o fato de que os crentes
não creem na palavra de Deus, oü~não a põem F
provm
Quando Cristo é “tudo em todos” — quando ele é
Senhor, Salvador e rei de todo o meu ser, então é ele
quem ora por mim. Nesse caso podemos, com verda­
de, alterar uma palavra de um versículo bem conhe­
cido, e dizer que o Senhor vive para fazer intercessão
por nós. Ah, se pudéssemos fazer o Senhor Jesus
“ maravilhar-se” não com a nossa incredulidade, mas
com a nossa fé! Quando o Senhor se maravilhar
novamente e disser a nosso respeito: “Em verdade vos
afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como esta”
(Mt 8.10), então realmente_a paralisia — a imobili­
dade — se transformará em poder.
O Senhor não veio justamente para lançar fogo
sobre nós? Será que já estamos “ardendo” ? Será que
ele não pode usar-nos como usou aquelas moças
simples da índia? Deus não faz acepção de pessoas.
Se pudéssemos dizer, humilde e sinceramente: “ Para
mim o viver é Cristo” (Fp 1.21), será que ele não
manifestaria seu poder em nós?
Algumas pessoas gostam de ler a biografia de

37
João Hyde. Realmente, a intercessão daquele homem
modificou muitas coisas. Alguns dos que o conhece­
ram relatam que se sentiam comovidos quando ele
orava. Eram tocados até o fundo da alma, quando o
escutavam clamar pelo nome de Jesus: “Jesus! Jesus!
Jesus!” e um batismo de amor e poder vinha sobre
todos.
Mas não era João Hyde, era o Espírito Santo de
Deus que aquele homem consagrado e cheio dele
fazia descer sobre todos os que o rodeavam. Será que
todos nós podemos nos tornar “homens que oram” ?
Você talvez diga: “Não! Ele possuía um dom especial
de intercessão.” Está bem — e como ele o obteve? No
início, ele era um crente comum, como qualquer um
de nós.
Você sabe que, humanamente falando, ele devia
esta vida de oração às orações de um amigo de seu
pai? Agora, entenda bem isto, pois é da maior impor­
tância e pode afetar profundamente toda a sua perso­
nalidade. Talvez eu deva contar a história toda, pois
muita coisa depende disto. Transcrevemos as palavras
do próprio João Hyde. Ele se achava a bordo de um
navio, em viagem para a índia, para onde se dirigia
como missionário. Ele conta: “Meu pai tinha um
amigo que desejara grandemente ser missionário no
estrangeiro, mas não pudera ir. Este amigo escreveu-
me uma carta aos cuidados do navio. Recebi-a
poucas horas depois de partirmos do porto de Nova
York. As palavras não eram muitas, mas o sentido
geral era o seguinte: “Não casarei de orar por você,
prezado João, enquanto não estiver cheio do Espírito
Santo.” Quando li aquilo, amassei a carta, irritado, e
atirei-a ao chão. Será que aquele amigo pensava que
eu não recebera o batismo do Espírito Santo, ou que
eu pensaria em ir para a índia sem esta capacitação
de poder? Eu estava indignado. Mas depois, o bom
senso prevaleceu, apanhei a carta e lia-a novamente.
Provavelmente eu necessitava de algo que ainda não
recebera. Fiquei a caminhar de um lado para outro,
no tombadilho, enquanto uma batalha se travava em

38
meu interior. Sentia-me incomodado. Eu gostava da­
quele homem; sabia que ele levava uma vida santa, e,
bem no fundo do meu coração, havia uma certeza de
que ele estava com a razão, que eu não estava
preparado para ser missionário. Isto durou uns dois
ou três dias, até que por fim já me sentia profunda­
mente infeliz... Afinal, numa espécie de desespero, pe­
di ao Senhor que me enchesse com seu Espírito, e, no
momento em que o fiz... comecei a ver como meu
interesse era egoístico.”
Mas^le não recebeu a bênção que buscava. Apor­
tou na índia, e foi com um colega missionário para
um culto ao ar-livre. “O missionário pregou” , relata
João Hyde; “e ele estava apresentando a Cristo como
aquele que verdadeiramente nos salva de todos os
pecados. Depois que terminou, um homem de aparên­
cia respeitável, falando em bom inglês, perguntou-lhe
se ele próprio fora salvo assim. A pergunta veio
diretamente ao meu coração. Se ele a tivesse dirigido a
mim, eu teria que confessar que Cristo não me salvara
completamente, pois sabia existir em meu coração um
pecado que ainda não fora afastado. Compreendi que
desonra aquilo representava para o nome de Cristo,
isto é, eu ter que confessar que pregava um Cristo que
não me libertava do pecado, embora eu estivesse pro­
clamando aos outros que ele era um Salvador perfeito.
Fui para o meu quarto, fechei a porta e disse ao
Senhor que, de duas coisas, uma teria que acontecer:
ou ele me dava a vitória sobre todos os pecados, e
principalmente sobre aquele que mais me assediava,
ou eu teria que retornar para a América e arranjar
outro tipo de trabalho. Dissç-lhe que não poderia
levantar-me para pregar o evangelho enquanto não
pudesse dar testemunho de seu poder em minha vida.
Compreendi que aquele pedido era justo, e o Senhor
assegurou-me de que ele era capaz, e estava desejoso
de libertar-me de todo o pecado. E ele me libertou.
Desde então, nunca duvidei disso.”
Foi então — e somente então — que Hyde se
tornou “ O homem que orava” . Somente com uma

39
rendição completa, um pecfido definido para sermos
libertos do poder do pecado em nossa vida, poderemos
ser homens de oração, de oração que prevalece.
Contudo, o ponto que desejo enfatizar é o que já
mencionei antes. Um homem relativamente desconhe­
cido ora por João Hyde, que também era um desco­
nhecido para o mundo, e, por suas orações, faz descer
tanta bênção sobre ele, que todos hoje o conhecem
como “o homem que orava” . Será que você disse em
seu coração, prezado leitor, alguns instantes atrás,
que nunca poderia ser como Hyde? Naturalmente
nem todos podem dedicar tanto tempo à oração. Por
razões físicas ou outras quaisquer, podemos ser impe­
didos de permanecer em oração durante longo tempo.
Mas todos nós podemos ter este espírito de oração. E
será que não podemos fazer pelos outros o que este
amigo anônimo fez por Hyde?
Será que não podemos orar para que outros
recebam esta bênção — como por exemplo, nosso
pastor? Ou um amigo? Nossa família? Que ministério
podemos ter, se apenas resolvermos entrar nele! Mas
para isso, temos que fazer a mesma consagração total
que fez João Hyde. Já fizemos isso? O fracasso na
oração é devido às falhas do coração. Somente os
puros de coração podem ver a Deus. E somente
aqueles que “de coração puro, invocam o Senhor”
podem pedir respostas para suas orações, com toda a
confiança.
Que avivamento não surgiría, que bênção podero­
sa não viria até nós, se todos que lêem estas linhas
clamassem agora pela plenitude do Espírito Santo!
Está vendo por que Deus deseja que oremos? Vê
por que tudo que vale a pena termos depende da
oração? Existem várias razões, mas uma se destaca
vividamente e com toda a clareza, depois que lemos
este capítulo. É a seguinte: se pedirmos a Deus algu­
ma coisa e ele não no-la conceder, o erro está em nós.
Toda oração não respondida é uma chamada clara a
uma sondagem do coração, para examinar e ver o que
está errado nele; pois a promessa de Deus é bastante

40
clara: “ Se me pedirdes alguma cousa em meu nome,
eu o farei.” (Jo 14.14.)
Verdadeiramente, todo aquele que ora, põe à
prova, não Deus, mas sua própria vida espiritual.

Que eu me aproxime de ti, Jesus,


Mais e mais perto, a cada dia.
Que eu descanse totalmente em ti, Jesus,
Sim; total e completamente.

41
4

Pedindo Sinais
“ Deus realmente responde às orações?” é uma
pergunta que frequentemente está nos lábios das
pessoas, e muitas vezes no fundo do coração também.
“ Será que a oração tem alguma serventia?” Por algu­
ma razão, não podemos deixar de orar; e até mesmo
os pagãos clamam a alguém ou a alguma coisa, que os
socorra em tempos de calamidades, perigos e proble­
mas.
E aqueles que creem na oração, mais cedo ou
mais tarde se defrontam com outra questão: “Será
certo pôr Deus à prova?” e além disso, outro pensa­
mento passa por nossa mente: “ Podemos atrever-nos
a pôr Deus à prova?” Pois quase não resta dúvida de
que o fracasso na oração, muitas vezes — ou sempre?
— decorre de falhas em nossa vida espiritual. Muitas
pessoas abrigam incredulidade no coração com res­
peito ao valor efetivo da oração; e, sem fé, a oração é
nula.
Pedir sinais? Pôr Deus à prova? Prouvera Deus
que pudéssemos persuadir os crentes a que assim
fizessem. Pois, que teste isto não seria de nossa
própria fé em Deus, e de nossa santidade de vida. A
oração é a pedra de toque da verdadeira santidade.
Deus pede que oremos; ele valoriza as nossas orações
e precisa delas. E se estas fracassam, temos que culpar
apenas a nós mesmos. Não queremos dizer com isto

42
que a oração eficaz sempre recebe aquilo que pede. A
Bíblia ensina que temos permissão de colocar Deus à
prova. O exemplo de Gideão, no Velho Testamento, é
suficiente para demonstrar que Deus respeita nossa
fé, mesmo quando ela é vacilante. Ele permite que o
provemos, mesmo depois de recebermos uma promes­
sa definida dele. Isto é de grande conforto para nós.
Gideão disse a Deus: “Se hás de livrar a Israel por
meu intermédio, como disseste, eis que porei uma
porção de lã na eira — se o orvalho estiver somente
nela... então conhecerei que hás de livrar a Israel por
meu intermédio, como disseste." Entretanto, embora
houvesse espremido a lã e retirado dela uma taça
cheia de água, aquilo não satisfez a Gideão. Ele se
atreveu a colocar Deus à prova uma segunda vez, e, na
noite seguinte, pediu-lhe que a lã ficasse seca, em vez
de molhada. “ E Deus assim o fez naquela noite.” (Jz
6.40.)
Foi muito maravilhoso que o Deus todo-poderoso
tivesse feito o que aquele homem hesitante lhe pedira.
Ficamos até boquiabertos, admirados, mal sabendo o
que nos espanta mais — se a coragem do homem ou a
condescendência de Deus. Naturalmente, existem
muitas outras lições nesta história, além da que está à
vista. Sem dúvida, Gideão pensou que a lã represen­
tava ele próprio, Gideão.
Se Deus realmente o enchesse com seu Santo
Espírito, a salvação estaria assegurada. Mas quando
torceu o pedaço de lã, começou a comparar-se com o
pano molhado. “Como sou diferente desta lã. Deus
promete libertação, mas não me sinto cheio do Espíri­
to Santo. Nenhum intluxo do Espírito parece ter
vindo sobre mim. Estou mesmo preparado para tão
grande feito?” Não! Mas ist©4ambém significa: “Não
eu, mas Deus! õ Deus, que a lã esteja seca — será que
ainda podes operar? Mesmo que eu não esteja cônscio
de nenhum poder sobrenatural, nem da plenitude da
bênção espiritual em meu interior; mesmo que esteja
me sentindo ressequido como esta lã, será que ainda
podes libertar a Israel pelo meu braço?” (Não admira

43
que ele tenha iniciado esta petição com as palavras:
“ Não se acenda contra mim a tua ira.” “E Deus
assim o fez naquela noite: pois só a lã estava seca, e
sobre a terra ao redor havia orvalho” (v. 40).
É verdade; esta história contém outras lições, além
da que aparece à primeira vista. E não será assim em
nosso caso também? O diabo nos afirma tantas vezes
que nossas orações não podem esperar uma resposta,
por causa da sequidão de nossa alma. As respostas de
oração, contudo, não dependem de nosso sentimento,
mas da integridade daquele que prometeu.
Não estamos insistindo em que esta atitude de
Gideão deva ser um curso de ação normal, para nós
ou qualquer outra pessoa. Ela parece revelar muita
hesitação por parte do crente, para acreditar em
Deus. Na verdade, parece revelar uma grande dúvida
com relação a Deus. E certamente Deus se entristece
quando demonstramos apenas uma fé parcial.
A melhor e mais elevada maneira de agir, e
também a mais segura, é “pedir com fé, não duvidan­
do” . Mas é muito reconfortante saber que Deus
permitiu que Gideão o pusesse à prova; e isso nos dá
um certo senso de segurança. Além disso, este não é o
único caso mencionado nas Escrituras. O mais sur­
preendente exemplo de um homem provando a Deus
ocorreu na Galiléia. O apóstolo Pedro pôs o Senhor à
prova: “ Se és tu, Senhor” , sendo que o Senhor já
havia dito: “ Sou eu.” “Se és tu, Senhor, manda-me ir
ter contigo, por sobre as águas.” E o Senhor disse:
“Vem!” E Pedro “andou por sobre as águas” . (Mt
14.28,29.) Mas essa “fé que prova” , e que Pedro
possuía, logo o abandonou. A “pequena fé” (v. 31)
muitas vezes se transforma em dúvida. Lembremo-nos
de que Cristo o recriminou não por ter querido ir ao
seu encontro. O Senhor não disse: “ Por que vieste?”
Mas sim: “ Por que duvidaste?”
No final das contas, pôr Deus à prova não é o
melhor método. Ele nos deu tantas promessas associa­
das à oração da fé, e tantas vezes provou seu poder e
desejo de responder às nossas petições, que devería-

44
mos, na verdade, hesitar antes de lhe pedirmos sinais
e maravilhas.
Mas alguém pode indagar: “Não é o próprio Deus
todo-poderoso que nos chama a prová-lo? Ele não
disse: “ Trazei todos os dízimos à casa do tesouro... e
provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não
vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós
bênção sem medida” (Ml 3.10)?
É; isto é verdade — Deus realmente diz: “Provai-
me nisto” . Mas na verdade somos nós os testados. Se
as janelas dos céus não se abrirem quando orarmos, e
esta bênção de plenitude transbordante não for derra­
mada, isto acontece porque não somos dizimistas.
Quando estamos de fato inteiramente rendidos a Deus
— quando trazemos todos os dízimos à casa do
tesouro — recebemos uma bênção tal, que não preci­
samos pôr Deus à prova. Trataremos desta questão,
quando examinarmos o problema da oração que não é
respondida.
Mas antes queremos que cada crente indague: “Já
provei minhas orações com toda a justiça?” Quanto
tempo faz que você orou fazendo um pedido definido?
As pessoas em geral oram pedindo “ uma bênção”
para certa pessoa ou reunião, ou para uma missão; e
certamente, eles recebem uma bênção, pois há outros
que também estão orando a Deus a respeito da mesma
questão. Pedimos alívio para uma dor ou cura de uma
enfermidade; e, acontece às vezes que pessoas que não
temem a Deus e em favor das quais ninguém parece
estar orando, são curadas, em alguns casos, de forma
miraculosa. E nós achamos que ficaríamos curados de
qualquer maneira, mesmo que ninguém estivesse oran­
do em nosso favor. Parece-me que há muitas pessoas
que não sabem indicar um castr em que receberam
uma resposta de oração realmente definida e conclu­
siva para sua vida. A maioria dos crentes não dá a
Deus a oportunidade de demonstrar seu prazer em
atender às petições de seus filhos, pois seus pedidos são
muito vagos e indefinidos. E se assim é, não devemos
nos supreender de que a oração seja, muitas vezes,

45
uma mera formalidade — uma repetição quase mecâ­
nica de certas frases, dia após dia; apenas um “exercí­
cio” , de alguns minutos, pela manhã e à noite.
E depois existe outro ponto. Você já passou pela
experiência de, durante a oração, receber um teste­
munho interior de que ela já foi respondida? Aqueles
que conhecem a vida particular dos homens de ora­
ção, muitas vezes, se admiram da certeza absoluta que
eles demonstram em certo momento, quando sua
oração é respondida, antes mesmo que estejam de
posse da bênção solicitada. Um desses guerreiros da
oração disse: “ Senti grande paz em minha alma. Tive
a certeza de que meu pedido fora atendido.” E depois
apenas agradeceu a Deus pela bênção, que, tinha
absoluta certeza, Deus já lhe concedera. E esta certeza
provou-se, mais tarde, plenamente fundada.
O próprio Senhor sempre tinha esta certeza e
devemos conservar em mente que, embora ele fosse
Deus, teve uma vida terrena, como um homem perfei­
to, que dependia inteiramente do Espírito Santo de
Deus.
Quando se postou perante o túmulo de Lázaro,
antes de chamá-lo de entre os mortos, disse: “ Pai,
graças te dou porque me ouviste. Aliás, eu sabia que
sempre me ouves." Então, por que ele agradeceu?
“ Por causa da multidão presente, para que creiam
que tu me enviaste.” (Jo 11.41,42.) Se Cristo habita
pela fé em nosso coração, se o Espírito Santo está
sussurrando em nós nossas petições, e oramos “no
Espírito Santo” , será que não devemos saber que o
Pai “nos ouve” ? E aqueles que estão perto de nós
começarão a reconhecer que também somos enviados
por Deus.
Homens e mulheres de oração agonizam diante de
Deus em oração por alguma bênção que sabem estar
de acordo com a vontade dele, por causa de algumas
promessas definidas encontradas nas páginas das
Escrituras. Oram durante horas e horas, ou mesmo
durante dias, quando, repentinamente, o Espírito San­
to lhes revela, de maneira clara e absoluta, que Deus

46
já lhes concedeu o que pediam; sentem-se confiantes
de que não precisam mais enviar petições a Deus
acerca daquela questão. É como se Deus houvesse
dito. com toda clareza: “Tua oração foi ouvida, e já
atendi ao desejo de teu coração.” E esta experiência
não é de apenas um homem, mas a maioria daqueles
que fazem da oração os fundamentos de sua vida
poderá dar testemunho do mesmo fato. Também não
é uma experiência única em suas vidas: ela ocorre
várias e várias vezes.
Depois, a oração deve ser seguida de ação. Deus
disse a Moisés o seguinte: “ Por que clamas a mim?
Dize aos filhos de Israel que marchem.” (ê x 14.15.)
Não nos surpreendemos ao ouvir que o Dr. Go-
forth, um missionário que Deus usou muito na China,
muitas vezes recebeu esta certeza de que suas petições
haviam sido concedidas. "Eu sabia que Deus respon­
dera. Recebera uma certeza definida de que ele
abriria o caminho.” Mas por que deveria alguém sur-
preender-se com isso? O Senhor Jesus disse: “Vós sois
meus amigos se fazeis o que eu vos mando. Já não vos
chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu
senhor; mas tenho-vos chamado amigos.” (Jo 15.14,
15.) Será tão surpreendente que o Senhor permita que
nós. seus amigos, conheçamos algo de seus planos e
objetivos?
Então surge a pergunta: será que a intenção de
Deus era que isto fosse experimentado apenas por uns
poucos santos escolhidos, ou ele deseja que todos os
crentes exercitem uma fé semelhante e tenham a
certeza de que suas orações foram respondidas?
Sabemos que ele não faz acepção de pessoas, e,
portanto, sabemos que qualquer crente verdadeiro
pode participar de sua mente e vontade. Somos seus
amigos se fizermos o que ele noS/Ordena. Uma dessas
coisas é orar. O Salvador pediu aos discípulos para
terem “fé em Deus” (a tradução literal seria ter “fé de
Deus”). Então, depois, podemos dizer a uma mon­
tanha: “ Ergue-te e lança-te no mar” , e, se crermos sem
duvidar, isso acontecerá. Depois então ele fez a pro­

47
messa: “ Por isso vos digo que tudo quanto em oração
pedirdes, crede que recebestes (isto é, no céu), e será
assim convosco (na terra).” (Mc 11.24.) Esta é exata­
mente a experiência de que estamos falando. É exata­
mente isto que os verdadeiros homens de oração
fazem. Tais coisas, naturalmente, acham-se acima da
compreensão dos incrédulos. Elas são surpreendentes
para os meio-crentes. O Senhor, porém, deseja'que os
homens saibam que somos seus discípulos, enviado
como ele o foi (Jo 17.18 e 20.21). E eles saberão disso
se nos amarmos uns aos outros (Jo 13.35). Mas existe
uma outra prova, a seguinte: se nós soubermos e se
eles virem que Deus nos “ouve” (Jo 11.42).
Alguns imediatamente se lembram da admirável
vida de Jorge Müller. Certa ocasião, quando estava
para viajar de Quebeque para Liverpool, ele orara
para que uma cadeira que mandara pedir em Nova
York chegasse antes do embarque no navio, e teve a
certeza de que Deus atendera seu pedido. Cerca de
meia hora antes do momento em que a chalupa
deveria levar os passageiros para o havio, os agentes o
informaram de que a cadeira não havia chegado, e
que não havia meios de ela chegar a tempo para
embarcar no grande vapor. Mas, a Sr.a Müller sofria
de fortes enjoos, e era muito importante que dispuses­
se daquela cadeira. Entretanto, nada convencia Jorge
Müller a comprar outra, numa das lojas das proximi­
dades. "Fizemos uma petição especial a nosso Pai
celeste para que se agradasse de consegui-la para nós,
e confiamos em que ele o fará” , foi a resposta dele, e
seguiu para bordo, absolutamente certo de que sua
confiança não fora mal aplicada e não falharia.
Poucos instantes antes de a chalupa partir, apareceu
um veículo de carga, e, bem no alto da carga, vinha a
cadeira da Sr.a Müller. Ela foi levada para a embar­
cação rapidamente, e entregue nas mãos do mesmo
homem que havia insistido com Jorge Müller para
comprar outra. Quando ele a deu ao Sr. Müller, este
não demonstrou nenhuma surpresa, mas, tranquila­
mente, retirou o chapéu e agradeceu ao Pai celestial.

48
Para este homem de Deus, esta resposta de oração não
constituía nenhum espanto, era uma coisa natural. E
não é possível que Deus tenha permitido que a cadeira
fosse retida até o último instante para ensinar uma
lição aos amigos de Jorge Müller — e a nós? Se não
tivesse havido aquele atraso, nunca teríamos ouvido
falar desse incidente.
Deus faz tudo o que pode nara convencer-nas a
orar e confiar, todavia somos tão lentos para agir. Ah,
quanto não perdemos por causa de nossa falta de fé e
oração! Ninguém pode ter uma comunhão real e
profunda com Deus, se não souber orar de forma a
receber as respostas de suas petições.LCtó>w«, cü « o
Se alguém tem alguma dúvida a respeito do fato
de que Deus deseja ser posto à prova, deve ler um livro
de Amy Carmichael: Nor Scrip. Nele, Amy conta
como “ provou ã Deus” varias e várias vezes. Tem-se a
impressão, ao ler o livro, de que não foi por mero
acaso que ela se sentiu induzida a agir assim. Na
certa, a mão de Deus estava em tudo. Por exemplo,
para livrar uma criança hindu de uma vida de vergo­
nha “religiosa” , era necessário pagar cerca de cem
rúpias. Será que ela estaria certa em fazer aquilo? Ela
poderia, com essa mesma quantia, ajudar muitas
meninas; será que ela deveria empregar todo aquele
dinheiro em uma só? Sentiu-se impelida a orar a Deus
para que ele lhe enviasse a quantia exata de cem
rúpias — nem mais e nem menos — se fosse de sua
vontade que o dinheiro fosse gasto daquela forma. E o
dinheiro veio — a quantia exata — e a pessoa que o
enviara explicou que se sentara para preencher o
cheque tendo em mente uma quantia fracionada, mas
depois fora impelida a arredondar para cem rúpias.
Isto aconteceu há mais de quinze anos, e, depois
disso, aquela missionária já pôs Deus à prova várias e
várias vezes, e ele nunca a decepcionou. Ela diz o
seguinte: “Nesses quinze anps, nem uma só conta
deixou de ser paga; e nunca dissemos a ninguém que
tínhamos necessidade de auxílio; e nunca passamos
falta de nada. Certa vez, apenas para provar que isso

49
poderia acontecer, caso fosse necessário, recebemos
$25 libras esterlinas por telegrama. As vezes, uma
pessoa surgia de repente, de entre a multidão reunida
numa estação de trem, e nos enfiava na mão um
presente em dinheiro, e desaparecia entre o povtv"
antes que pudéssemos identificá-la.”
Não é maravilhoso? Maravilhoso! O que o apósto­
lo João nos diz, falando por inspiração do Espírito
Santo? “ Eesta é a confiança que temos para com ele,
que, se pedirmos alguma cousa segundo a sua vonta­
de, ele nos ouve. E, se sabemos que ele nos ouve
quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que
obtemos os pedidos que lhe temos feito.” (1 Jo 5.14,
15.) Será que nós já exercitamos esta “confiança” ? E
se não, por que não?
Chamar isto de maravilhoso demonstra nossa falta
de fé. Para Deus, é um ato natural responder à
oração; um ato normal, não extraordinário. A verdade
é que — sejamos sinceros e francos — a verdade é que
muitos de nós não creem em Deus. Acho que devemos
ser honestos nesta questão. Se não amamos a Deus,
devemos orar, porque ele deseja que oremos e ordena
que o façamos. Se cremos em Deus, oraremos porque
não podemos deixar de fazê-lo; não podemos passar
sem ela. Amigo crente, você crê em Deus e confia nele
(Jo 3.16), mas será que já cresceu na vida cristã o
suficiente para acreditar nele, isto é, acreditar no que
ele fala e em tudo o que ele diz? Não parece blasfêmia
perguntar isto a um crente? Todavia, como são pou­
cos os crentes que acreditam em Deus! Que Deus nos
perdoe! Será que o leitor já percebeu que confiamos
na palavra de um amigo mais facilmente que na
palavra de Deus? E, no entanto, quando um homem
realmente acredita em Deus, que milagres da graça de
Deus opera nele e por ele! Nenhuma pessoa nesse
mundo foi mais honrada e admirada do que aquele
homem acerca do qual o Novo Testamento nos fala
três vezes: “Abraão creu em Deus” (Rm 4.3; G1 3.16;
Tg 2.23). Sim, “ Abraão creu em Deus, e isso lhe foi
imputado para justiça” (Rm 4.3). È, hoje em dia, há

50
crentes em todo o mundo que parecem competir uns
com os outros no sentido de honrar este homem.
Imploramos a cada crente em Jesus Cristo que nunca
descanse enquanto não puder dizer: “Ç.reio êm Deus”
(At 27.25).
Mas antes de deixarmos de lado esta questão de
provar a Deus, gostaríamos de acrescentar que ele
muitas vezes nos leva a ‘Í££ovádo”. Houve ocasiões em
que o Senhor colocou no coração de Amy Carmichael
pedir coisas para as quais não parecia haver necessi­
dade. Porém, ela se via compelida pelo Espírito Santo
a pedi-las. E não somente tais coisas lhe foram conce­
didas, mas também se mostraram ser uma bênção
inestimável. É verdade, Deus sabe de que coisas preci­
samos, quer as queiramos ou não, antes de pedirmos
(Mt 6.8). Deus disse: “De maneira alguma te deixa».
__rei,”
Muitas vezes, Amy teve a tentação de comentar
com outros a respeito de alguma necessidade especial.
Mas sempre lhe vinha a convicção interior, pela voz do
Senhor, que dizia: “ Eu sei, e isto basta!” E natural­
mente, Deus era glorificado. Durante os terríveis anos
da guerra, até mesmo os incrédulos costumavam
dizer: “_Q Deus deles os alimenta.” “Ê notório por
todo o país” , disse um não-crente, “que o Deus deles
ouve as orações.”
Ah, que glória Deus recebeu por causa da fé deles!
Por que não acreditamos em Deus? Por que não
aceitamos a palavra dele? Será que os crentes e não-
crentes podem dizer de nós: “Sabemos que suas
orações são respondidas” ? Missionários de todo o
mundo, escutem! (Ah, se estas palavras pudessem
entrar em todos os ouvidos e despertar os corações!) O
desejo mais ardente de Deus — de nosso amoroso
Salvador Jesus Cristo — é que cada um tenha a
mesma fé poderosa daquela devotada missionária de
que falamos.
O querido Pai celeste não deseja que nenhum de
seus filhos viva um só momento de aflição ou tenha
uma necessidade não atendida. Não importam as

51
proporções de nosso problema ou dificuldade; não
importa o número de nossos pedidos; se apenas o
“provarmos” da forma como ele nos orienta, nunca
teremos espaço para guardar as bênçãos que ele nos
dará (Ml 3.10).

Oh, que paz perdemos sempre


Oh, que dor no coração;
Só porque nós não levamos
Tudo a Deus, em oração

ou porque, quando o levamos, não acreditamos na sua


palavra. Por que é tão difícil confiar nele? Ele já nos
decepcionou? Ele já não disse várias e várias vezes que
nos concederá todos os pedidos feitos com coração pu­
ro, em seu nome? “ Pede-me” . “Orai!” “Provai-me
nisto!" A Bíblia está cheia de respostas de oração —
maravilhosas e miraculosas; e, no entanto, nossa fé
fracassa e desonramos a Deus, duvidando dele.

Se nossa fé fosse mais simples


Aceitaríamos a palavra de Deus
E nossa vida seria um dia ensolarado
Pelas bênçãos do Senhor.

Mas, para nossa £&ser simples e nosso corpo ‘!]u^


minpso.” , nossos olhos têm que ser bons (Mt 6.22).
Cristo deve ser o único Senhor de nossa vida. Não
podemos esperar estar livres He aflições, se estivermos
servindo a Deus_e a Mamom-(Mt 6.24,25). Nesse caso,
também, seremos conduzidos à vida vitoriosa. Quan­
do realmente apresentarmos nosso corpo “em sacri­
fício vixa santo e agradáv&L a Deus!’ (Rm 12.1),
quando apresentarmos nossos membros “para servi­
rem à justiça para santificação" (Rm 6.19), então ele
se apresentará a nós e nos encherá com a plenitude de
Deus (Ef 3.19).
Conservemos sempre em mente que a fé verdadei­
ra não apenas crê que Deus pode atender a oração,
mas que ele a atende. É possível que sejamos descuida­

52
dos na oração, mas não retarda o Senhor a sua pro­
messa” (2 Pe 3.9). Não é maravilhosa esta expressão?
Talvez a mais extraordinária prova de Deus de que
aquela missionária nos fala, seja a seguinte. Levantou-
se a questão de adquirirem uma casa de férias numa
das colinas próximas. Seria acertado fazê-lo? Somente
Deus poderia decidir. Fizeram-se muitas orações. Por
fim, fizeram a petição de que, se era da vontade de
Deus que a casa fosse comprada, que recebessem a
quantia exata de $100 libras esterlinas. A quantia
chegou imediatamente. Contudo, ainda hesitaram.
Dois meses depois, pediram a Deus que lhes desse o
mesmo sinal, revelando assim sua aprovação para a
aquisição da casa. No mesmo dia, outro cheque de
$100 libras chegou. Ainda assim, não quiseram dar
andamento ao negócio. Poucos dias depois, porém,
chegou outra oferta de exatamente $100 libras esterli­
nas, com a indicação de que se destinava à compra da
casa. Nosso coração não transborda de alegria ao
pensar como nosso maravilhoso Salvador é bondoso?
É Lucas, o médico, que nos diz que Deus é bom (Lc
6.35). O gmor é sempre bondoso (1 Co 13.4), e Deus é
amor. Pense nisto quando orar. Nosso Senhor é ‘‘bon­
doso’’. Isto nos ajudará em nossas intercessões. Ele é
tão paciente conosco, quando nossa fé vacila. “Como
é preciosa, ó Deus, a tua benignidade!” (SI 36.7.)
“ Porque a tua graça é melhor do que a vida.” (SI
63.3.)
Há, porém, o perigo de lermos acerca de uma fé
tão simples em oração, e dizermos: “Que maravilha!”
e nos esquecermos completamente que Deus deseja
que todos tenhamos esta mesma fé. Ele não tem
predileções por ninguém. Ele deseja que eu ore e que
você ore. Ele permite que aconteçam coisas como as
que descrevemos acima, e faz com que cheguem ao
nosso conhecimento, não para nos surpreender, mas
para que nos sintamos estimulados. As vezes, deseja­
mos que os crentes se esqueçam das regras criadas
pelos homens, e com as quais cercamos a oração.
Sejamos mais simples. Sejamos naturais. Aceitemos a

53
palavra de Deus. Lembremo-nos de que “se manifes­
tou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu
amor para com os homens” (Tt 3.4). Deus, por vezes,
conduz os homens a uma vida de oração. Outras
vezes, porém, ele tem que nos empurrar a ela.
E quando olhamos para trás e examinamos nossa
vida relativamente vazia de oração, que sensação de
gozo e admiração nos domina ao constatarmos a
bondade e “constância de Cristo” (2 Ts 3.5). Onde
estaríamos se não fosse pela bondade dele? Nós o
decepcionamos, mas — bendito seja o seu nome — ele
não nos decepciona, e nunca o fará. Duvidamos dele,
desconfiamos de seu amor, providência e orientação;
“desmaiamos pelo caminho” ; murmuramos por cau­
sa do caminho; e, no entanto, o tempo todo ele
está-nos abençoando e esperando para derramar so­
bre nós uma bênção tamanha que não tenhamos
espaço que possa contê-la.
A promessa de Cristo ainda é válida: “Se m£
pedirdes alguma cousa em_meu nome, eu o farei." (Jo
Errei-'
A oração muda tudo — e contudo somos cegos
E lentos em provar e ver
A ventura daqueles que confiam
Confiam plenamente em ti.

Mas, daqui por diante, creremos em Deus.

54
5

O que é Oração?
Certa vez, Moody falava a um grande grupo de
crianças, em Edinburgo, na Escócia. Para motivar os
ouvintes, iniciou a mensagem com uma pergunta: “O
que é orarão.?" — não esperando uma resposta, mas
pensando em dá-la ele mesmo.
Para surpresa sua, dezenas de mãozinhas se ergue­
ram por todo o salão. Pediu a um rapazinho que
respondesse, e a resposta veio prontamente, clara e
correta: “ Oração é a apresentação de nossas petições
a Deus. solicitando-lhe coisas que estejam de acordo
com sua vontade, em nome de Cristo, com a confissão
de nossos pecados, agradecendo e reconhecendo suas
misericórdias.’’ O comentário satisfeito de Moody foi:
“ Dê graças a Deus, meu rapaz, de haver nascido na
Escócia.” Mas isto se passou há muito tempo. Que
resposta recebería ele hoje? Quantas crianças em nos­
sos dias saberíam dar a definição de oração? Pense um
instante, e procure ver que resposta você daria.
O que queremos dizer com oração? Creio que a
grande maioria dos crentes respondería: “Orar é
pedir bênçãos a Deus.” Mas certamente orar não é
apenas conseguir que “ Deus nos preste alguns servi­
ços” , como já explicou alguém. É uma posição muito
mais elevada que simplesmente a de um mendigo
batendo à porta de um homem rico.
O vocábulo “oração" realmente significa “uma
palavra dirigida a alguém” , isto é, a Deus. Tudo que a

55
/
verdadeira oração almeja é o próprio Deus, pois, com
ele, recebemos tudo de que precisamos. Orar é “voltar
a alma para Deus” . Davi descreve-a como um ergui-
mento da alma viva para um Deus vivo. “A ti. Senhor.
elevo a minha alma." (SI 25.1.) Que bela descrição da
oração! Quando desejamos que o Senhor Jesus con­
temple nossa alma, também desejamos que a beleza
da santidade repouse sobre nós. Quando elevamos a
alma para Deus em oração, isto dá a ele a opor­
tunidade de fazer aquilo que deseja, em nós e co­
nosco. Isto significa nos colocarmos à disposição de­
le. Deus está sempre do nosso lado, mas nós nem
sempre estamos do seu lado. Quando o homem ora,
Deus tem oportunidade de operar. Um poeta disse:

A oração é o desejo sincero da alma


Expresso ou não,
O movimento de uma chama escondida
Que tremula no coração.

“A oração” , disse um velho místico judeu, “é o


momento em que os céus e a terra se beijam.”
A oração, então, não é absolutamente um método
de persuasão dirigido a Deus, para levá-lo a fazer o
que queremos. Não é um recurso para se procurar
dobrar a vontade de um Deus relutante. Ela não
modifica o propósito dele, embora possa liberar seu
poder. “Não devemos pensar na oração como uma
forma de vencer a relutância de Deus” , diz o Arce­
bispo Trench, “ mas como uma apropriação de sua
mais elevada boa-vontade.”
O propósito de Deus é sempre nosso bem maior.
Nem mesmo a oração feita na ignorância ou na ce­
gueira pode dissuadi-lo disto. Quando oramos persis­
tentemente por algo prejudicial, nossa força de vonta­
de pode realizar o desejo, mas nós sofremos por isso.
“Concedeu-lhes o que pediram” , diz o Salmista, “mas
fez definhar-lhes a alma.” (SI 106.15.) Eles próprios
atraíram para si aquele “definhar” . Foram “amaldi­
çoados com o peso de uma oração respondida”.

56
Na mente de algumas pessoas a oração é algo de
que se lança mão nas horas de emergência. Quando o
perigo ameaça, quando vêm as desgraças, quando
sofrem falta de alguma coisa, quando surgem as
dificuldades, então elas oram. Como aconteceu com
um mineiro de carvão, incrédulo, que começou a orar
desesperadamente quando o teto da mina começou a
desabar. Um velho crente que se achava por perto
observou: "Ah, nada como uns pedaços de carvão
para fazer um homem orar!"
Entretanto, orar não é meramente fazer pedidos a
Deus, embora isto seja um importante aspecto da
oração, quando nada, porque nos fala de nossa total
dependência dele. Mas ela é também comunhão com
Deus — um intercurso pessoal com o Senhor — uma
conversa com Deus, (e não apenas o ato de falar-lhe).
Ficamos conhecendo melhor as pessoas conversando
com elas. Conhecemos a Deus da mesma maneira. A
mais elevada conseqüência da oração não é ficarmos
livres do mal. nem obtermos aquilo que desejamos,
mas conhecermos a Deus. “ E a vida eterna é esta:
que te conheçam a ti, o único- Deus verdadeiro, e a
Jesus Cristo, a quem enviaste." (Jo 17.3.) Ê; a oração
nos revela mais de Deus, e essa é a grande descoberta
da alma. Os homens ainda clamam: “Ah! se eu
soubesse onde o poderia achar! então me chegaria ao
seu tribunal." (Jó 23.3.)
O cristão ajoelhado sempre o “acha” , e é achado
por ele. A visão celestial do Senhor Jesus cegou os
olhos de Saulo de Tarso, em sua queda, mas ele nos
conta, tempos depois, que, quando se encontrava
orando no templo, em Jerusalém, foi arrebatado e viu
a Jesus. "E vi aquele...” Foi então que Cristo lhe deu a
grande comissão de ir aos gentios. Uma visão é
sempre um precursor de uma vocação e de uma ida.
Foi assim com Isaías. “ Eu vi o Senhor assentado sobre
um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes
enchiam o templo." (Is 6.1.) Evidentemente, o profeta
achava-se orando no santuário, quando isto se deu.
Esta visão também foi um prelúdio de uma chamada

57
ao serviço: “ Ide...” Ora, não podemos receber uma
visão de Deus a menos que oremos. E onde não há
visão, as almas perecem.
Uma visão de Deus! O conhecido Frei Lourenço
disse: “ A oração é nada mais que um senso da
presença de Deus” — e isso é apenas a prática da
presença de Deus.
Um amigo de Horace Bushnell estava presente
certa vez quando esse homem de Deus orava. Sobre­
veio-lhe um maravilhoso senso da presença de Deus.
Ele disse: “Quando Horace Bushnell abaixava o rosto
entre as mãos, e orava, eu não estendería o braço no
escuro, com receio de tocar em Deus.” É possível que
o salmista tivesse experimentado a mesma sensação,
quando clamou: “ Somente em .Deus, ó minha alma,
espera silenciosa..” (SI 62.5.) Creio que grande parte
de nossos fracassos é devida ao fato de que não temos
examinado a seguinte pergunta: p que é oração? É
bom estar consciente de que sempre nos achamos na
presença de Deus. É melhor fitá-lo em adoração. Mas
melhor ainda é ter comunhão com ele, como um
amigo — e isso é oração.
A oração, em seu melhor e mais elevado aspecto,
revela uma alma sedenta de Deus..— e Deus somente.
A verdadeira oração brota dos lábios daqueles cujas
afeições estão concentradas nas coisas lá do alto. Que
homem de oração era Zinzendorff! Por quê? Porque
ele buscava antes o Doador que sua dádiva. Ele disse:
“Tenho apenas um grande anelo: ele e ele somente.”
Até mesmo Maomé expressa um pensamento seme­
lhante: Ele diz que há três níveis de oração. O mais
inferior é o da oração expressa pelos lábios. O segun­
do ocorre quando, por um esforço da vontade, conse­
guimos fixar o pensamento nas coisas divinas. O ter­
ceiro é aquele em que a alma tem dificuldade em
afastar-se de Deus. Naturalmente, sabemos que Deus
ordena que peçamos. E todos nós lhe obedecemos
nesse ponto; e podemos estar certos de que a oração
agrada a Deus e é o veículo para suprimento de nossas
necessidades. Mas o filho que só vai à presença de seu

58
pai quando necessita de um presente dele, é muito
estranho. E não desejamos todos nós alcançar um
estágio de oração que esteja acima do simples plano
da petição? Como se pode fazer isso?
Parece-me que são necessários apenas dois passos
— ou seria melhor dizermos dois pensamentos? Preci­
sa haver primeiramente uma compreensão da glória
de Deus, e depois da graça de Deus. As vezes canta­
mos aquele hino que diz:

Graça e glória-dgscem de ti v
Derrama, 6 derrama-as. Senhor, em mim.

E esse desejo é realmente sincero, embora alguém


possa indagar o que a glória de Deus tem a ver com a
oração.
Mas devemos lembrar-nos a quem estamos oran­
do. Existe muita lógica no velho poema:

Estais chegando perant.e^um Rei;


Grandes petições convosco trazei'.'"

’ Será que algum de nós já parou a fim de meditar a


respeito da imensa glória de Deus, ou para maravi­
lhar-se dele? Será que podemos compreender o pleno
significado da palavra ‘‘graça” ? Não são nossas ora­
ções, muitas vezes, improdutivas e fracas — e, por
vezes, até nem são orações — porque entramos apres­
sadamente na presença de Deus, sem pensar e sem
estar preparados, não compreendendo a majestade da
glória do Deus a quem estamo-nos apresentando, e
sem refletir nas imensas riquezas de sua glória em
Cristo Jesus, das quais desejamos receber? Precisamos
“pensar em Deus com magnificência".
Quero sugerir, então, que antes de apresentarmos
nossas petições perante Deus, paremos primeiramente
para meditar acerca de sua graça — pois ele nos
oferece ambas. Temos que elevar a alma a Deus.
Coloquemo-nos na presença de Deus, e dirijamos
nossa oração ao Rei dos reis, e Senhor dos senhores,

59
“o único que possui imortalidade, que habita em luz
inacessível... a ele honra e poder eterno” (1 Tm 6.16).
E depois então demos-lhe adoração e louvor, por
causa de sua excelsa glória. Consagração não é sufi­
ciente. Precisamos dar-lhe também adoração.
"Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos”,
clamam os serafins. “Toda a terra está cheia da sua
glória.” (Is 6.3.) “Glória a Deus nas maiores alturas” ,
clama a “ multidão da milícia celestial” .-E, no entan­
to, alguns de nós tentam entrar em comunhão com
Deus sem “tirar os sapatos” (Êx 3.5).

Os lábios clamam: “ Deus, sê misericordioso!”


E nunca dizem: “ Deus, seja louvado!”

Ó vinde e adoremos!

E podemos aproximar-nos de sua glória com toda


a coragem. O Senhor não orou pedindo que seus discí­
pulos pudessem contemplar sua glória? (Jo 17.24.) Por
quê? E por que “a terra está cheia da sua glória” ? O
telescópio revela sua infinita glória. O microscópio,
sua suprema glória. Mesmo a olho nu, podemos con­
templar sua glória surpreendente na paisagem, no
brilho do sol, no mar e no céu. O que significa tudo
isto? Estas coisas são apenas uma revelação parcial da
glória de Deus. Não foi um desejo de auto-exibição
que levou o Senhor a orar da seguinte maneira:
“Glorifica a teu Filho... Glorifica-me, ó Pai." (Jo
17.1,5.) O Senhor deseja que compreendamos sua
infinita fidelidade e poder ilimitado, para que possa­
mos nos aproximar dele com fé e confiança simples.
Ao falar da vinda de Cristo, o profeta declarou que
“a glória do Senhor se manifestará, e toda a carne a
verá” (Is 40.5). Precisamos, primeiro, ter uma visão
desta glória, mesmo que pequena, antes de podermos
orar de maneira acertada. E o Senhor nos diz: “Por­
tanto, vós orareis assim: Pai nosso que estás no céus,
santificado seja o teu nome.” Não há nada como
uma visão da glória de Deus para banir todo o temor e

60
dúvida. Antes de apresentarmos a ele nossas petições,
não seria melhor apresentar-lhe nossa adoração, como
fizeram alguns dos santos do passado? Algumas pes­
soas talvez não precisem dessa prática. Conta-se que
S. Francisco de Assis passava uma ou duas horas em
oração no alto do monte Averno, e a única palavra que
saia de seus lábios era: “ Deus! Deus!” que ele repetia
a intervalos. Ele começava com adoração — e muitas
vezes ficava só nisso.
Mas nós precisamos de algum tipo de auxílio para
entender a glória do Deus invisível, antes de podermos
louvá-lo e adorá-lo de maneira adequada. Como disse
William Law: "Quando começarmos a orar, digamos
expressões dos atributos de Deus que nos tornem mais
cônscios de sua grandeza e poder.”
Este ponto é de tanta importância, que nos arris­
camos a mencionar ao leitor algumas destas expres­
sões. Alguns iniciam suas orações erguendo os olhos
para os céus, e dizendo: "Glória seja ao Pai, ao Filho e
ao Espirito Santo." A oração: “ ô Senhor Deus santís­
simo. ó Senhor poderoso, ó santo e misericordioso
Salvador", muitas vezes basta para estabelecer um
clima de solene reverência, e um espírito de adoração
sobre a alma. O “Glória in Excelsis” , do culto da
santa comunhão, também é excelente para elevar a
íilma: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra...
Louvamos-te. bendizemos-te, adoramos-te, glorifica­
mos-te; damos-te graças por tua excelsa glória, ó
Senhor Deus, rei dos céus. Deus, o Pai todo-podero-
so." Quem de nós pode expressar, de todo coração,
um louvor assim, e ainda permanecer insensível, in­
consciente da presença e majestade do Senhor Deus
todo-poderoso? Uma estrofe de um hino pode servir
ao mesmo propósito.

Meu Deus. quão maravilhoso és!


Quão grandiosa é tua majestade!
Quão bela é tua misericórdia!
Nas profundezas da luz ardente!
Quão belo e maravilhoso

61
Deve ser o contemplar-te.
Tua infinita sabedoria, teu poder ilimitado
E tua grandiosa pureza!

E o seguinte leva-nos aos lugares celestiais!

Santo, santo, santo Deus onipotente!


Tuas obras louvam teu nome com fervor.

Precisamos proclamar e dizer muitas vezes: “A.


minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espirito
se alegromem..D.eus, meu Salvador," (Lc 1.46,47.) Será
que podemos ter o mesmo espírito que o salmista e
cantar: ‘‘Bendize, ó minha alma, ao Senhor. eJjidxujO-
que há em mim bendiga ao seu santo nome," (SI
103.1.) “Bendize, ó minha alma, ao Senhor! Senhor,
Deus meu, como tu és magnificente.” (SI 104.1.) Quan­
do aprenderemos que “ no seu templo tudo diz: Gló­
ria" (SI 29.9.)?
Este louvor, esta adoração a Deus, esta ação de
graças não somente nos colocam em espírito de
oração, mas de forma misteriosa fazem Deus operar
em nosso favor. Lembre-se das maravilhosas palavras:
"O que me oferece sacrifício de ações de praça, esse
me glorificará: e ao que prepara Q_s.eu caminho,
dar-lhe-ei que veia a salvação-de-Deiiv" (SI 50.23)? O
louvor e a adoração não somente abrem as portas do
céu para que nos cheguemos a Deus, mas também
"preparam o caminho” para que ele nos abençoe. O
apóstolo Paulo diz: "Regozijai-vos sempre” antes de
dizer: “ rOrai’■sem—cessar.” Portanto, nosso louvor.
assim como nossas orações, deve ser incessante.
No momento da ressurreição de Lázaro, a oração
de nosso Senhor iniciou-se com uma palavra de ação
de graças: " Pai, graças te dou porque me ouviste." (Jo
11.41.) Ele disse isto para que os que estavam perto
pudessem ouvir. Sim, e também para nós ouvirmos.
Talvez você esteja indagando por que devemos dar
graças a Deus principalmente pela sua grande glória,
quando nos ajoelhamos para orar; e por que devería-

62
mos meditar sobre Deus e contemplar sua glória.
Mas. não é ele o Rei da glória? Tudo o que ele faz é
glória. Sua santidade é “gloriosa” (Êx 15.11). Seu
nome é glorioso (Dt 28.58). Sua obra é “gloriosa” (SI
111.5). Seu poder é glorioso (Cl 1.11). Sua voz é
gloriosa (ls 30.30).

Todas as coisas belas e maravilhosas


Todas as criaturas, pequenas e grandes
Todas as coisas, sábias e majestosas,
O senhor criou a todas

para sua glória.

“ Porque dele e por meio dele e para ele são todas


as cousas. A ele, pois, a glória eternamente.” (Rm
11.36.) E este é o Deus que nos chama para irmos ao
seu encontro em oração. Ele é o nosso Deus, e tem
“dádivas para os homens” (SI 68.18). Ele diz que todo
aquele que é chamado pelo seu nome foi criado para
sua glória (ls 43.7). Sua Igreja deve ser gloriosa —
santa e sem mácula (Ef 5.27). Você já entendeu
plenamente que o Senhor Jesus deseja partilhar co­
nosco da glória que vemos nele. Esta é sua grande
dádiva para nós, os seus redimidos. Creia-me, quanto
mais da glória de Deus tivermos, menos buscaremos
as suas dádivas. Não é somente naquele dia, “quando
vier para ser glorificado nos seus santos” (1 Ts 1.10),
que haverá glória para nós, mas hoje mesmo, no
presente, ele deseja que sejamos participantes da sua
glória. Não foi o Senhor quem o disse? “Eu lhes tenho
transmitido a glória que me tens dado” , afirma ele.
(Jo 17.22.) Qual é o mandamento de Deus? “ Dispõe-
te. resplandece, porque vem a tua luz, e a glória do
Senhor nasce sobre ti.” E não apenas isto, mas tam­
bém: “ A sua glória se vê sobre ti” , disse o inspirado
profeta. (Is 60.1,2.)
Deus gostaria que o mundo dissesse de nós aquilo
que Pedro disse dos discípulos de antigamente: “So­
bre vós repousa o Espírito da glória de Deus.” (1 Pe

63
4.14.) Não seria isto uma resposta para muitas de
nossas orações? Poderiamos pedir coisa melhor? Co­
mo podemos obter esta glória? Como vamos refleti-la?
Somente como resultado da oração. É quando ora­
mos, que o Espírito Santo nos revela as coisas de
Cristo (Jo 16.15).
Quando Moisés orou: “ Rogo-te que me mostres a
tua glória” , ele não apenas viu uma parte dela, mas
também participou dessa glória, pois seu rosto brilhou
com grande luz (Êx 33.18 e 34.29). E quando nós,
também, contemplamos a “glória de Deus na face de
Cristo” (2 Co 4.6), não apenas temos um vislumbre
desta glória, mas também obtemos uma parte dela.
Ora, essa é a oração de mais elevado alcance. E
não existe outra forma de conseguir esta glória, para
que Deus seja glorificado em nós. (Is 60.21.)
Meditemos com freqüência sobre a glória de Cris­
to — contemplemos esta glória, e assim nós a refleti­
remos e a receberemos. Foi o que aconteceu com os
primeiros discípulos de Jesus. Eles exclamaram admi­
rados: “Contemplamos a sua glória!” Sim, mas o que
foi que se seguiu? Alguns pescadores simples, iletra-
dos, obscuros, andaram com Cristo durante algum
tempo, vendo a sua glória, e eis que eles próprios
passaram a possuir um pouco dessa glória. E então os
outros se maravilhavam e “reconheceram que haviam
eles estado com Jesus” . (At 4.13.)
Quando pudermos afirmar como o apóstolo João:
“Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho
Jesus Cristo” (1 Jo 1.3), o povo irá dizer o mesmo a
nosso respeito: “ Eles estiveram com Jesus.”
Quando elevamos a alma em oração ao Deus vivo,
adquirimos a beleza da santidade, tão certamente
quanto uma flor exposta à luz do sol adquire beleza.
O Senhor não foi transfigurado quando orava? Até a
“aparência” de nosso rosto se modificará, e teremos o
nosso monte da transfiguração, quando a oração
ocupar seu lugar de direito em nossa vida. E os
homens verão em nosso rosto “ o sinal exterior visível
de uma graça espiritual interior” . Nosso valor para

64
Deus e para o homem está na proporção direta da
extensão em que revelamos a sua glória para outros.
Já nos demoramos bastante a falar sobre a glória
daquele a quem oramos, e agora devemos falar de sua
graça.
.O que é oração? É um sinal de vida espiritual. É
mais provável encontrar vida em um homem morto,
que vida espiritual em uma alma que não ora. Nossa
espiritualidade eprodutividade na obra estão sempre
em proporção direta à consistência de nossas orações.
Portanto, se alguém afastou-se do caminho certo nesta
questão da oração, que hoje tome a seguinte decisão:
"Levantar-me-ei e irei ter com meu Pai e lhe direi.”
A estaàltura. largíiei minha caneta e, na primeira
folha que peguei para ler, vi as seguintes palavras: “A
razão de nosso fracasso é que vemos os homens antes
que a Deus. A Igreja Romana tremeu quando Marti-
nhq Lutero viu a Deus. O "grande despertamento”
começou quando Jonathan Edwards viu a Deus. O
mundo tornou-se a paróquia de um homem quando
João Wesley viu a Deus. Multidões foram salvas
quando Whitefield viu a Deus. Milhares de órfãos
foram alimentados quando Jorge Müller viu a Deus. E
ele é o mesmo "ontem, hoje e para sempre” .
Já é tempo de termos uma nova visão de Deus —
de Deus em toda a sua glória. Quem pode prever o
que irá acontecer quando a Igreja vir a Deus? Mas
não fiquemos a esperar uns pelos outros. Que cada
um por si, de rosto descoberto e coração imaculado,
possa obter uma visão da glória de Deus. "Bem-aven­
turados os limpos de coração porque verão a Deus.”
(Mt 5.8.) Nenhum dos missionários que tive a alegria
de conhecer impressionou-me mais que o Dr. Wilbur
Chapman. Ele escreveu a um amigo: “Aprendi várias
lições a respeito da oração. Em um de nossos pontos
de pregação, na Inglaterra, a freqüência era muito
pequena. Mas recebi um bilhete informando que um
missionário americano... iria orar para que Deus
abençoasse o trabalho. Ele era conhecido como “Hy-
de, o homem que ora” . Quase que instantaneamente a

65
maré mudou. O salão ficava lotado, e no primeiro
apelo que fiz, cinqüenta homens aceitaram a Cristo
como Salvador. Quando estávamos saindo, disse: “Sr.
Hyde, quero que ore por mim.” Ele veio ao meu
quarto, girou a chave na porta, caiu de joelhos e
passou cinco minutos ali, sem que uma só sílaba saísse
de seus lábios. Eu ouvia meu coração bater e o dele
também. Senti lágrimas ardentes escorrerem-me pelo
rosto. Reconhecí que me achava na presença de Deus.
Foi então que, com o rosto voltado para o alto e
lágrimas rolando de seus olhos, ele disse: “ O Deus!”
A seguir, ficou em silêncio por mais cinco minutos;
depois, quando compreendeu que já falava com
Deus... brotaram do fundo de seu coração petições
que eu nunca havia ouvido antes. Quando me ergui,
aprendera o que era a verdadeira oração. Cremos que
a oração é poderosa, e cremos nisso de uma forma
nunca experimentada antes.”
O Dr. Chapman costumava dizer: “Foi em certa
época, em que orei com João Hyde várias vezes, que
passei a entender o que era a verdadeira oração. Devo
a ele mais do que devo a qualquer outro homem, por
haver-me mostrado como deve ser nossa comunhão
com Deus, e o que significa uma vida consagrada.
Jesus Cristo tornou-se para mim um novo ideal, e tive
uma compreensão melhor da comunhão com ele; senti
o desejo de ser um verdadeiro homem de oração,
desejo esse que continua até hoje.”
E que Deus, o Espírito Santo, nos ensine o mesmo.

Ó vós que suspirais e desfaleceis


E lamentais vossa falta de poder
Ouvi este suave murmurar:
“ Será que nem por uma hora podíeis vigiar?”

Para o trabalho e para a bênção


Não há caminho fácil;
O poder para o serviço santo
É ter comunhão com Deus.

66
6

Como Devo Orar?


Como devo orar? Será que existe outra pergunta
mais importante para o crente? Como me aproximarei
do Rei da glória?
Quando lemos as promessas de Cristo concernen­
tes à oração, somos tentados a pensar que ele coloca
cm nossas mãos um poder demasiadamente grande —
a não ser que, na verdade, concluímos precipitada­
mente. lhe seja impossível operar de acordo com suas
promessas. Ele diz: “tudo quanto pedirdes’’ e “algu­
ma coisa", “qualquercoisa" — vos será feito.
Mas depois ele acrescenta uma expressão mais
restritiva. Diz que temos que pedir em seu nome. Esta
é a condição, e a única, embora, como relembraremos
mais tarde, ela seja por vezes apresentada em outros
termos.
Portanto, se pedirmos e não recebermos, só pode
ser porque não estamos preenchendo as condições. Se
somos verdadeiramente seus discípulos — se somos
.sinceros — faremos todo o possível e o impossível, se
preciso for, para descobrir o que significa pedirem seu
nome — e não ficaremos contentes enquanto não
preenchermos esta condição. Leiamos novamente essa
promessa para termos certeza absoluta do que ela diz:
“JELtudü quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a_
fim de qiut-Q-E.ai seja gTQH3jSãSõZjlP Sç^jthL
pedirdes alguma cousa em meu nome, eu o farei.” (Jo
147IXT3T) ’ ~~
67
Isso foi algo de novo, pois o Senhor assim o afir­
mou: “Até agora nada tendes pedido em meu nome” ,
mas agora “pedi, e recebereis para que a vossa alegria
seja completa.” (Jo 16.24.)
O Senhor repete esta simples condição cinco vezes:
“ Em meu nome” : Jo 14.13,14; 15.16; 16.23, 24, 26.
Evidentemente, existe algo de muito importante im­
plicado nessa questão. Isto é mais que uma condição
— é também uma promessa, um incentivo, pois os
mandamentos do Senhor também são sua capacita­
ção.
O que então significaria pedir em seu nome? Pre­
cisamos saber isso a todo custo, pois esse é o segredo
do poder na oração. Ê possível fazer-se um emprego
errado dessas palavras. O Senhor disse: “ Porque virão
muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e
enganarão a muitos.” (Mt 24.5.) Ele poderia ter dito
também: “ E muitos pensarão estar orando ao Pai, em
meu nome, quando realmente estão enganando a si
mesmos.”
Será que orar no nome dele significa apenas acres­
centar, no final da oração, a expressão: “Tudo isso te
peço no nome de Cristo” ?
Aparentemente, muitas pessoas pensam que é
assim. Mas você já ouviu — ou fez — orações cheias
de petições egoísticas que foram encerradas deste
modo: “Por amor de Cristo, amém” ?
Deus não poderia atender às orações que Tiago
condena em sua epístola apenas porque os que as
fazem terminam desta forma: “ Pedimos estas coisas
no nome do Senhor Jesus Cristo.” Aqueles cristãos
estavam pedindo “mal” (Tg 4.3). Uma oração errada
não fica automaticamente consertada pela adição de
uma expressão mística.
E uma oração correta não fracassa somente por­
que tais palavras foram omitidas. Não! Não se trata de
uma questão de palavras. O Senhor estava referindo-
se a fé e fatos, mais que a qualquer fórmula mágica. O
principal objetivo da oração é glorificar o Senhor
Jesus. Temos que pedir em nome de Cristo, “a fim de

68
que o Pai seja glorificado no Filho” (Jo 14.13). Escute!
Não devemos buscar riquezas ou saúde, prosperidade
ou sucesso, tranqiiilidade e conforto, espiritualidade e
poder no serviço simplesmente para nosso próprio
deleite, progresso pessoal ou popularidade, mas so­
mente por causa de Cristo — para sua glória. Verifi­
quemos três pontos dessa questão, para compreender­
mos melhor estas importantes palavras: “Em meu
nome."
(1) Existe um sentido em que algumas coisas são
feitas apenas “ por causa de Cristo” — por causa de
morte expiatória na cruz. Aqueles que não creem na
morte vicária de Cristo não podem orar “em seu
nome". Podem pronunciar estas palavras, mas elas
não terão nenhum efeito. Pois somos “justificados
pelo seu sangue” (Rm 5.9); e “temos redenção pelo
seu sangue" (Ef 1.7; Cl 1.14). Nos dias atuais, quando
o Unitarianismo, sob o rótulo de modernismo, invadiu
todas as seitas, é da maior importância que nos lem­
bremos do valor e da função do sangue derramado por
Cristo, senão a oração — ou o que assim chamamos
— se tornará uma ilusão e uma armadilha para nós.
Vamos ilustrar este ponto relatando uma expe­
riência que aconteceu a Moody, bem no início do seu
ministério. A esposa de um juiz não crente — homem
de grandes dotes intelectuais — suplicou a Moody que
falasse ao seu marido. Mas este hesitou um pouco em
discutir com tal homem, e disse isso a ele, com toda a
sinceridade. “ Mas", acrescentou, “se um dia se con­
verter, por favor, comunique-me!” O juiz riu cinica­
mente, e respondeu: “ Ah, pois não, se eu me converter
mandarei dizer-lhe imediatamente." E Moody seguiu
seu caminho, confiando apenas em suas orações. O
juiz converteu-se um ano depois. E cumpriu sua pro­
messa, informando a Moody como acontecera. Cer­
ta noite, quando minha esposa se encontrava em
uma reunião de oração, comecei a ficar muito in­
quieto e a sentir-me infeliz. Fui deitar-me antes
que ela voltasse. Mas não consegui dormir durante to­
da a noite. Na manhã seguinte, levantei-me bem cedo, e

69
disse a ela que eu não ia tomar o desjejum, e saí para o
escritório. Disse a meus auxiliares que poderiam tirar
o dia de folga, e tranquei-me no gabinete. Mas eu me
sentia cada vez mais deprimido. Por fim, caí de
joelhos e pedi a Deus que perdoasse meus pecados,
mas não queria dizer: “ Por amor a Cristo” , pois sendo
unitariano não cria no sacrifício expiatório de Cristo.
Em agonia de mente, continuei a orar. “ 0 Deus,
perdoa meus pecados” , mas a resposta não vinha.
Afinal, desesperado, clamei: “ 0 Deus, por amor a
Cristo, perdoa meus pecados.” Foi então que encon­
trei paz, imediatamente.”
Aquele juiz não teve acesso à presença de Deus
enquanto não o buscou em nome de Jesus Cristo.
Quando foi a Deus em nome de Cristo, foi logo
ouvido e perdoado. Sim, orar “em nome” do Senhor’ é
pedir bênçãos que nos são concedidas — ou foram
“compradas” — pelo sangue de Jesus. Temos “intre­
pidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de
Jesus” (Hb 10.19). Não existe outro meio de ali entrar­
mos.
Mas não é apenas isso que as palavras “em meu
nome” significam.
(2) A mais conhecida ilustração de ir a Deus “em
nome de Cristo” , é a da retirada de dinheiro de um
banco, por meio de um cheque. Posso sacar de meu
depósito apenas até o total de meu saldo. Em meu
próprio nome, não posso ir além disso. Não tenho
nenhum saldo no Banco da Inglaterra, e, portanto,
não posso retirar nada ali. Mas suponhamos que um
homem muito rico, que tem uma grande conta num
banco, me dê um cheque em branco, já assinado, e me
diga que posso preenchê-lo com a quantia que dese­
jar. Ele é meu amigo. O que farei? Vou retirar apenas
o que preciso para o momento, ou vou retirar o
máximo que puder? Certamente, não irei fazer nada
que venha magoar meu amigo, ou fazer-me perder sua
estima.
Bem, dizem-nos que o céu é nosso banco. Deus é o
Grande Banqueiro, pois “toda boa dádiva e todo dom

70
perfeito é lá do alto, descendo do Pai das luzes.” (Tg
1.17). Precisamos de um cheque com o qual retirare­
mos “dinheiro” deste tesouro ilimitado. O Senhor
Jesus nos dá um cheque em branco e diz: “Preencha-o,
com a quantia que desejar. Peça qualquer coisa, o que
quiser, e você o terá. Apresente este cheque em meu
nome, e seu pedido será atendido.” Deixe-me colocar
isto nas palavras de um conhecido evangelista: “Isto é
o que acontece quando vou ao banco dos céus —
quando me dirijo a Deus em oração. Não tenho nada
depositado ali; não tenho crédito, e se for em meu
próprio nome, não receberei absolutamente nada.
Mas Jesus tem crédito ilimitado no céu, e ele me
concedeu o privilégio de dirigir-me ao céu, com seu
nome, em meus cheques, e quando ajo assim, minhas
orações são atendidas, qualquer que seja o pedido.”
Então, orar em nome de Jesus é orar, não apoiado
em meu próprio crédito, mas no dele.
Isto é maravilhoso, e, num certo sentido, muito
verdadeiro.
Se este cheque fosse descontado de uma conta do
governo ou de uma empresa rica, nossa tendência
seria retirar o máximo permitido. Mas, lembremo-nos
de que estamos-nos dirigindo a um Pai amoroso, a
quem devemos tudo, a quem amamos de todo o
coração e a quem voltaremos repetidamente. Ao des­
contar nossos cheques no banco dos céus, nosso
objetivo principal é honrar e glorificar a ele. Deseja­
mos fazer apenas aquilo que for agradável aos seus
olhos. O desconto de alguns de nossos cheques — isto
é, a resposta de algumas petições — pode implicar em
desonra para o nome dele, e descrédito e desconforto
para nós. É verdade que seus recursos são ilimitados;
mas sua honra é vulnerável.
Contudo, a própria experiência torna desnecessá­
rios quaisquer argumentos. Prezado leitor, não é ver­
dade que nós — todos nós — muitas vezes tentamos
utilizar este método e fracassamos?
Quantos de nós se atrevem a dizer que nunca saem
do banco sem terem recebido aquilo que pediram,

71
embora, aparentemente, tenham feito o pedido “em
nome de Cristo” ? Onde falhamos? Será porque não
buscamos a vontade de Deus para nós? Não devemos
tentar ultrapassar a vontade dele.
Permitam-me narrar uma experiência pessoal que
nunca contei em público, e que provavelmente é bas­
tante singular. Ocorreu há mais de trinta anos, e
agora entendo por quê. Ela é uma ilustração maravi­
lhosa do que estamos procurando ensinar acerca da
oração.
Um amigo rico, pessoa extremamente ocupada,
desejava dar-me uma libra esterlina para auxiliar na
aquisição de certo objeto. Convidou-me a passar por
seu escritório, e, apressadamente, fez um cheque e
entregou-o a mim, com as seguintes palavras: “Não
vou cruzá-lo. Você pode fazer o favor de descontá-lo
no banco?” Chegando ao banco, olhei de relance para
meu nome escrito no cheque, sem me dar ao trabalho
de verificar a quantia, endossei-o, e estendi-o ao caixa.
“É uma quantia muito grande para ser descontada
aqui no guichê” , disse ele, fitando-me meio de lado.
"É” , respondí rindo, “ uma libra!” “Não” , replicou o
homem, “ o cheque é de 1000 libras.”
E era mesmo. Acostumado a fazer cheques de
quantias vultosas, aquele meu amigo realmente escre­
vera “ 1000” , ao invés de “uma” libra. Agora, qual era
minha verdadeira posição? O cheque fora mesmo
feito em nome dele. A assinatura era legal. Meu
endosso também estava correto. Não poderia eu pedir
as $1000 libras, se houvesse tal quantia em depósito?
O cheque fora feito livre e deliberadamente — embo­
ra às pressas — para mim; por que não poderia eu
pegar este presente? Por que não?
Por outro lado, tratava-se de um amigo — um
amigo generoso a quem eu devia muitos favores. Ele
revelara sua intenção para mim. Eu sabia qual fora
seu desejo e intenção.
Sua intenção fora dar-me apenas uma libra e nada
mais. Eu conhecia seu desejo, sua “mente” , e, imedia­
tamente, levei-lhe de volta o cheque excessivamente

72
generoso, e, no momento devido, recebi a quantia de
uma libra, que fora sua intenção dar-me. Se aquele
homem tivesse me dado um cheque em branco, o
resultado teria sido o mesmo. Ele teria esperado que
eu escrevesse nele uma libra, e minha palavra de
honra estaria em jogo, ao preencher o cheque. Preci­
samos fazer a aplicação? Deus tem uma intenção para
cada um de nós, e, a menos que procuremos conhecer
essa vontade, é provável que peçamos “ 1000” , quando
ele sabe que “ uma” será melhor para nós.
Em nossas orações, estamos nos dirigindo a um
amigo — um Pai amoroso. Devemos-lhe tudo. Ele nos
convida a irmos a ele sempre que quisermos, para
pedir-lhe aquilo de que precisamos. Seu saldo é
ilimitado.
Mas ele pede que nos lembremos de que devemos
pedir apenas as coisas que estejam de acordo com a
sua vontade — somente aquilo que venha trazer glória
ao seu nome. João diz: “ Se pedirmos alguma cousa
segundo a sua vontade, ele nos ouve.” (1 Jo 5.14.)
Então, nosso Amigo nos dá um cheque em branco, e
deixa que o preenchamos com “qualquer” coisa; mas
ele sabe que, se o amamos de verdade nunca preen­
cheremos aquele cheque com coisas que ele não deseja
conceder-nos, porque poderíam ser perniciosas para
nós.
Talvez, para a maioria das pessoas, o problema
esteja em outro ponto. Deus nos entrega um cheque
em branco e diz: “Peça uma libra” , e nós pedimos dez
centavos. Meu amigo teria ficado insultado se eu
houvesse agido assim. Será que pedimos o suficiente?
Temos coragem de pedir “segundo a sua riqueza em
glória” ?
O ponto que queremos enfatizar, então, é o se­
guinte: não podemos ter certeza de que estamos
orando em seu nome, a menos que procuremos saber
qual é sua vontade para nós.
(3) Mas, mesmo assim, ainda não esgotamos todo
o significado destas palavras: “em meu nome” . Todos
sabemos o que seja pedir algo “em nome” de outra

73
pessoa. Temos o cuidado de permitir que usem nosso
nome apenas às pessoas em quem confiamos, e que
sabemos não abusarão dessa confiança e não irão
trazer-nos descrédito. Geazi, o servo de Eliseu, em
quem este confiava, usou o nome do profeta desones­
tamente, quando foi atrás de Naamã. Em nome de
Eliseu ele obteve riquezas, mas também herdou uma
maldição por seu erro.
Um empregado de confiança, muitas vezes, usa o
nome do patrão, e trabalha ctím grandes somas de
dinheiro, como se fossem dele. Mas só pode fazer isto
enquanto for consisderado digno dessa confiança. E
ele usa o dinheiro em benefício de seu chefe, e nunca
em seu próprio benefício. Todo dinheiro que ganha­
mos pertence a nosso mestre, Cristo Jesus. Podemos
suplicar bênçãos a Deus, em seu nome, apenas se
empregarmos tudo que obtivermos para a glória dele.
Quando vou ao banco descontar um cheque feito
em meu nome, o encarregado deseja saber apenas se a
assinatura de seu cliente é verdadeira, e se eu sou
realmente a pessoa autorizada a recolher o numerário.
Ele não pede referências a meu respeito. Não tem
nenhum direito de inquirir acerca da minha pessoa, se
sou ou não merecedor de receber aquele dinheiro, ou
se podem confiar em mim para gastá-lo corretamente.
O mesmo não acontece com o Banco dos Céus. E este
ponto é de grande importância. Procuraremos exami­
nar sem pressa esta questão. Quando me dirijo ao
banco dos céus, no nome do Senhor Jesus, com um
cheque que deve ser descontado da conta ilimitada de
Cristo, Deus exige que eu seja merecedor daquilo que
recebo. Não “merecedor” no sentido em que mereço
ou faço jus a qualquer coisa de um Deus santo — mas
merecedor no sentido em que estou buscando aquela
dádiva não para minha própria glória ou interesse
próprio, mas para a glória do Senhor.
De outro modo, estou sujeito a pedir e não receber.
“Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para esban­
jardes em vossos prazeres.” (Tg 4.3.)
O grande Banqueiro celestial não descontará che­

74
ques para nós, se nossos motivos não forem corretos.
Não é exatamente por isso que muitos fracassam na
oração? O nome de Cristo é a revelação de seu caráter.
Orar “em seu nome” é orar de acordo com seu
caráter, como representante enviado por ele; é orar
através do seu Espírito Santo, segundo a sua vontade;
é ter sua aprovação para o que pedimos, é buscar o
que ele busca; é pedir seu auxílio para fazer o que ele
próprio gostaria de fazer; e desejar aquilo não para
nossa própria glória, mas para sua glória somente.
Para orarmos em seu nome, devemos ter com ele
identidade de propósitos e interesses. O eu com seus
objetivos próprios e seus desejos deve ser totalmente
controlado pelo Espírito Santo de Deus, para que
nossa vontade esteja em perfeita harmonia com a von­
tade de Cristo.
Devemos ter a mesma atitude de Santo Agostinho
quando clamou: “ O Senhor, concede que eu possa
fazer tua vontade como se fosse a minha, para que
possas fazer minha vontade, como se fosse a tua.”
Filho de Deus, será que tudo isto está dando a
impressão de que é muito difícil orar “em seu nome” ?
Não era esta a intenção do Senhor. Ele não zomba de
nós. Falando do Espírito Santo, o Senhor afirmou: "o
Consolador... a quem o Pai enviará em meu nome” (Jo
14.26). Ora, nosso Salvador quer que sejamos dirigi­
dos pelo Espírito Santo para atuarmos em nome de
Cristo. “ Pois todos os que são guiados pelo Espírito de
Deus são filhos de Deus.” (Rm 8.14.) E somente os
filhos podem dizer: “ Pai Nosso.”
O Senhor disse o seguinte acerca de Saulo de
Tarso: “ ...porque este é para mim um instrumento
escolhido para levar o meu nome perante os gentios e
reis, bem como perante os filhos de Israel.” (At 9.15.)
Não para eles, mas “perante” eles. E o apóstolo Paulo
afirma: “ Pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em
mim” . Não podemos orar em nome de Cristo a menos
que levantemos este nome diante das pessoas. E isto
só é possível se permanecermos nele e sua palavra
permanecer em nós. Então a conclusão a que chega­

75
mos é a seguinte: se o coração não for reto, a oração
deve estar errada.
Cristo disse: “ Se permanecerdes em mim e as
minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que
quiserdes, e vos será feito.” (Jo 15.7.)
Estas três promessas são, na verdade, idênticas —
expressam o mesmo pensamento em palavras diferen­
tes. Vamos examiná-las.
Peçam qualquer coisa em meu nome e eu o farei.
(Jo 14.13,14.)
Peçam o que quiserem (se permanecerem em mim
e as minhas palavras permanecerem em vocês) e
será feito. (Jo 15.7.)
Peçam qualquer coisa segundo a sua vontade, e
receberão as petições. (1 Jo 5.14.)
E podemos resumir tudo com as palavras do
apóstolo João: “ E aquilo que pedimos, dele recebe­
mos, porque guardamos os seus mandamentos, e faze­
mos o que lhe é agradável.” (1 Jo 3.22.) Quando
fazemos o que ele nos ordena, ele faz aquilo que
pedimos. Ouça a Deus e ele ouvirá você. Assim, o
Senhor nos concede “procuração" para atuarmos em
seu reino, o reino dos céus, se apenas cumprirmos a
condição de permanecer nele.
Ah, que maravilha é isto! Com que prontidão e
ansiedade deveriamos procurar conhecer sua “men­
te", desejo e vontade. Como é surpreendente que/
alguém possa perder riqueza tão infinita apenas para'
buscar satisfazer seu ego. Sabemos que a vontade de
Deus é o melhor para nós; sabemos que ele deseja
abençoar-nos, e tornar-nos uma bênção; sabemos
que, se seguirmos nossa própria inclinação, certamen­
te seremos prejudicados e magoados, assim como
aqueles a quem amamos. Sabemos que afastar de sua
vontade, para nós, poderia significar verdadeiro de­
sastre. 0 filho de Deus, por que não confia nele plena
e completamente? Aqui estamos novamente face a
face com uma vida de santidade. Vemos com a maior
clareza que o chamado de nosso Salvador é simples­

76
mente um apelo à santidade. “Sede santos!” pois sem
santificação ninguém verá a Deus, e a oração não
pode ser eficaz.
Quando confessamos que nunca obtemos respos­
tas para nossas orações, estamos contestando não a
Deus, nem suas promessas, nem o poder da oração,
mas a nós próprios. Não existe maior teste de espiri­
tualidade que a oração. O homem que tenta orar
descobre a que distância de Deus se encontra.
A menos que vivamos a vida vitoriosa não pode­
mos realmente orar “em nome” de Cristo, e nossa
comunhão com Deus deve ser fraca, irregular e infru­
tífera.
E "em seu nome" deve ser também “segundo a
sua vontade” . Mas podemos conhecer sua vontade? Ê
certo que podemos. O apóstolo Paulo não apenas diz:
“'fende em vós o mesmo sentimento que houve tam­
bém em Cristo Jesus...” (Fp 2.5); mas também decla­
ra: “ Nós, porém, temos a mente de Cristo” (1 Co
2.16). Como, então, podemos chegar a conhecer a
vontade de Deus?
Lembremo-nos de que “ a intimidade do Senhor é
para os que o temem” (SI 25.14).
Em primeiro lugar, não esperemos que Deus nos
revele sua vontade, a menos que desejemos conhecer
esta vontade e tencionemos obedecê-la. O conheci­
mento da vontade de Deus e a sua observância estão
sempre juntos. Costumamos desejar conhecer a vonta­
de de Deus para depois resolver se a obedeceremos ou
não. Essa atitude é desastrosa. "Se alguém quiser fazer
a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se
ela é de Deus ou se eu falo por mim.” (Jo 7.17.)
A vontade de Deus é revelada em sua Palavra,
nas Escrituras Sagradas. O que ele promete em sua
Palavra, posso ter a certeza de que está em harmonia
com sua vontade.
Posso, por exemplo, pedir sabedoria com toda a
confiança, pois a Bíblia nos diz: “Se, porém, algum de
vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus... e ser-lhe-á
concedida.” (Tg 1.5.) Não podemos nos tornar pessoas

77
de oração, a menos que estudemos a Palavra de Deus
para saber qual é sua vontade para nós.
O Espírito Santo de Deus é nosso grande ajudador
na oração. Leiamos novamente estes maravilhosos
textos de Paulo: “Também o Espírito, semelhante­
mente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não
sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito
intercede por nós sobremaneira com gemidos inexpri­
míveis. E aquele que sonda os corações sabe qual é a
mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus
é que ele intercede pelos santos.” (Rm 8.26,27.)
Que palavras reconfortantes! Nosso desconheci­
mento e total desamparo na oração são na verdade
uma grande bênção quando lançados sobre o Espírito
Santo. Bendito seja o nome do Senhor! Não temos
nenhuma desculpa! Temos que orar e podemos orar.
Lembremos que o Pai celestial jurou dar o Espírito
Santo àqueles que o pedissem (Lc 11.13), e qualquer
outra "boa cousa também” (Mt 7.11).
Filho de Deus, você tem orado muitas vezes, e tem,
sem dúvida alguma, lamentado sua fraqueza e desin­
teresse pela oração. Mas você realmente já orou “em
nome” dele?
É para o caso de falharmos, ou não sabermos que
oração fazer ou de que modo orar, que o Espírito
Santo nos é prometido, como nosso ajudador na
oração.
Não vale a pena estar completamente e de todo o
coração rendidos a Cristo? O cristão meio-a-meio não
tem valor nem para Deus nem para os homens. Deus,
não pode usá-lo, e o homem muito menos, pois oi
considera um hipócrita. Se permitirmos um pecado
em nossa vida, anulamos imediatamente nosso gozo e a
capacidade de sermos usados para Deus, e nossa
oração perde todo o poder.
Amados, temos recebido uma nova visão da graça
e da glória do Senhor Jesus Cristo. Ele está esperando
querendo e para partilhar conosco tanto sua glória
como sua graça. Ele está desejoso de transformar-nos
cm vasos de bênçãos. Vamos adorá-lo em sinceridade

78
e verdade, e clamar ansiosamente: “Que farei, Se­
nhor?” (At 22.10.) E depois, na força do seu poder,
façamos o que ele nos disser.
O apóstolo Paulo enviou aquela pergunta aos
céus: “ Que farei?” E que resposta ele recebeu? Ouça,
ele nos conta, em seu conselho aos crentes de todas as
partes, o que isto significa para ele e o que deve
significar para nós também. "Revesti-vos... de ternos
afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de
mansidão, de longanimidade... acima de tudo isto,
porém, esteja o amor... Seja a paz de Cristo o árbitro
em vossos corações... Habite ricamente em vós a
palavra de Cristo... em toda sabedoria... E tudo o que
fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em
nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus
Pai." (Cl 3.12-17.) Somente quando fazemos tudo em
nome do Senhor é que ele fará tudo o que pedirmos
em seu nome.

79
7

É Preciso Agonizar?
A oração é avaliada não em termos de tempo,
mas de intensidade. Algumas pessoas devotadas, que
leem livros como “ O Homem que Orava” ficam
perguntando ansiosamente: ‘‘Será que tenho que orar
como ele?”
Estas pessoas ouvem falar de outros que ficam de
joelhos o dia inteiro e a noite inteira, recusando
alimentar-se, desdenhando o sono, apenas orando,
orando, orando. E essas pessoas indagam: “ Será que
temos que fazer o mesmo? Todos nós temos que
seguir este exemplo?” Devemos lembrar que estes
homens de oração não oram pelo relógio. Permane­
cem todo este tempo em oração, porque não conse­
guem orar menos.
Alguém pode pensar que, pelo que eu disse nos
capítulos anteriores, dei a entender que todos deve­
mos seguir o exemplo deles. Filho de Deus, não
permita que esse pensamento — ou temor — o
perturbe. Apenas disponha-se a fazer tudo aquilo que
o Senhor quiser que você faça — o que ele o inspira a
fazer. Pense nisto; ore a respeito do assunto. Nós
somos chamados pelo Senhor Jesus para orar ao Pai
celestial. As vezes, cantamos o hino: “ Ah, como ele
me ama!” E realmente nada pode medir esse amor.
A oração não nos é dada como um fardo que
temos de carregar, ou como uma tarefa cansativa que
temos de cumprir, mas deve constituir um gozo e

80
poder ilimitados. Ela nos é concedida para “acharmos
graça para socorro em ocasião oportuna” (Hb 4.16). E
toda hora é ocasião oportuna. “Orai” é um convite a
ser aceito, antes que um mandamento para ser obede­
cido. Quando uma criança vai a seu pai a fim de
pedir-lhe alguma coisa, isto é um fardo? Como o pai
ama o filho! E ele busca o seu supremo bem. Como ele
protege aquele pequenino de qualquer sofrimento e
dor! Nosso Pai celeste nos ama infinitamente mais que
qualquer pai terreno. Que Deus me perdoe, se alguma
de minhas palavras acerca de assunto tão precioso
quanto a oração feriu o coração e a consciência
daqueles que estão desejosos de conhecer melhor a
questão: “Vosso Pai celeste sabe” , disse o Senhor
Jesus; e se ele sabe, podemos confiar plenamente e
não temer nada.
Um professor pode repreender um aluno por não
ter feito as tarefas de casa, ou por haver-se atrasado
ou faltado demasiadamente, mas o pai amoroso, em
casa, tem conhecimento de tudo. Ele sabe do serviço
dedicado que o rapaz presta no lar, onde a doença ou
a pobreza colocam tantas ocupações em seu caminho.
Nosso querido e amoroso Pai celestial sabe tudo a nos­
so respeito. Ele vê tudo. Sabe que alguns de nós não
têm muito tempo livre e não podem entregar-se a
prolongados períodos de oração.
Para alguns de nós, Deus cria esta folga. Ele nos
faz deitar (SI 23.2) para obrigar-nos a olhar para cima.
E mesmo então, a fraqueza do organismo não permite
que tenhamos prolongados períodos de oração. Con­
tudo, duvido que nós, embora nossas desculpas pos­
sam ser plausíveis, pensemos bastante acerca de nos­
sas orações. Alguns de nós são obrigados a dedicar-se
muito à oração. Nosso trabalho exige isso. Ê possível
que sejamos considerados líderes espirituais; é possí­
vel que tenhamos o encargo espiritual de instruir
outros. Permita Deus que não pequemos contra o
Senhor deixando de orar por eles (1 Sm 12.23). Sim;
para alguns, orar é sua própria tarefa, quase sua
missão. Outros...

81
/
Possuem amigos que lhes causam sofrimento
Contudo, não buscaram nEle alento.

E tais pessoas não podem deixar de orar por esses


amigos. Se sentirmos o peso das almas no coração,
nunca iremos perguntar: “Quanto tempo devo orar?”
Mas sabemos muito bem das dificuldades que
cercam as orações de muitos. Diante de mim, enquan­
to escrevo, está uma pequena pilha de cartas. Todas
estão cheias de desculpas e protestos de amizade e
argumentos — isto é verdade. Mas teria sido por
causa disto que foram escritas? Não! Não! Absoluta­
mente! Em cada uma delas percebe-se um desejo
profundo de conhecer a vontade de Deus, e obedecer
ao seu chamado à oração, em meio aos inúmeros
clamores da vida.
Essas cartas falam de muitas pessoas que não
sabem afastar-se de outros para observarem momen­
tos de oração; de pessoas que dormem no mesmo
quarto; de mães atarefadas; de empregadas; de donas
de casa que mal conseguem dar conta das intermi­
náveis tarefas de lavar, cozinhar, costurar, limpar e
fazer compras e visitas; de operários que estão por
demais cansados para orar após a jornada de traba­
lho.
Filho de Deus, o Pai celestial sabe de tudo isso. Ele
não é um feitor. É nosso Pai. Se você não tem tempo
para orar, ou não tem oportunidade de orar a sós,
diga-lhe isto — e descobrirá que já está orando.
E para aqueles que parecem não conseguir um
lugar secreto e nem mesmo podem entrar em uma
igreja tranqüila por uns momentos, talvez possamos
apresentar o exemplo de Paulo. Já pensou o leitor que
ele estava na prisão quando escreveu a maioria das
preciosas orações que conhecemos? Imagine-o. Estava
acorrentado a um soldado romano, dia e noite, e
nunca era deixado a sós, nem por um momento.
Epafras esteve com ele parte do tempo, e “foi conta­
giado” pelo fervor em oração demonstrado por seu
mestre. É possíyel que Lucas tenha estado com ele

82
também. Que reuniões de oração devem ter sido
aquelas! Não havia a mínima possibilidade de orarem
em secreto. Não! Mas quanto devemos às orações
dessas mãos acorrentadas que se erguiam para o alto.
É possível que nunca possamos estar realmente a sós
— ou quando pudermos, talvez sejam raras as vezes
— mas nossas mãos não estão atadas em corrente,
nem nosso coração, e nem nossos lábios tampouco.
Podemos arranjar tempo para orar? Posso estar
enganado, mas creio firmemente que não é da vontade
de Deus que a maioria das pessoas — talvez que todas
as pessoas — passem tanto tempo em oração, a ponto
de prejudicar a saúde, por insuficiência de sono ou
alimentação. Para muitos é impossível — por causa de
debilidade física — permanecer longo tempo no espí­
rito de oração intensa.
A posição que tomamos parar orar é irrelevante.
Deus nos ouvirá quer oremos ajoelhados, de pé, assen­
tados, caminhando ou trabalhando.
Estou bem ciente de que alguns testificam que
Deus, às vezes, concede forças especiais àqueles que
sacrificam horas de repouso a fim de orar mais. Em
certa época, este escritor tentou levantar mais cedo,
pela manhã, para oração e comunhão com Deus.
Depois de algum tempo, percebeu que o trabalho
diário estava perdendo em intensidade e eficiência, e
também que tinha dificuldade em manter-se desperto,
nas primeiras horas da noite.
Mas será que oramos tanto quanto podemos orar?
Carrego comigo a tristeza de haver deixado passar os
anos da juventude e vigor, sem ter dado maior impor­
tância às primeiras horas da manhã.
Ora, o mandamento inspirado é bastante claro:
“ Orai sem cessar” (1 Ts 5.17). O Senhor disse que os
homens devem orar sempre e nunca esmorecer” —
“nunca desanimar” (Lc 18.1).
Naturalmente, isto não deve significar que temos
de estar sempre de joelhos. Estou convencido de que
Deus não deseja que negligenciemos nosso trabalho
a fim de orar. Mas é igualmente certo que trabalha­

83
mos melhor e mais, se dedicarmos mais tempo à
oração e menos tempo ao trabalho.
Temos que trabalhar bem. Não devemos ser “re-
missos” (Rm 12.11). O apóstolo Paulo diz: “Contudo,
vos exortamos, irmãos, a progredirdes cada vez mais,
e a... cuidar do que é vosso, e trabalhar com as
próprias mãos... de modo que vos porteis com digni­
dade... e de nada venhais e precisar.” (1 Ts 4.10-12.)
“ Se alguém não quer trabalhar, também, não coma.”
(2 Ts 3.10.)
Mas não existem inúmeras oportunidades, duran­
te o dia, de elevar “mãos santas” , ou, pelo menos,
corações santos — em oração ao Pai? Todas as
manhãs, quando abrimos os olhos para um novo dia,
aproveitamos a oportunidade de louvar e bendizer
nosso Redentor? Todos os dias são dia de Páscoa para
o crente. Podemos orar enquanto nos vestimos. Mas
sem um lembrete, muitas vezes nos esquecemos.
Pregue no canto do espelho um pedacinho de papel
com as palavras: “Orai sem cessar!” Experimente
fazer isto! Podemos orar quando passamos de um
trabalho para outro. Muitas vezes podemos orar até
durante o trabalho. A lavagem da roupa, a costura, o
cuidado dos filhos, a limpeza e o preparo dos alimen­
tos serão mais bem feitos por causa disso.
Não é verdade que as crianças, tanto as pequeni­
nas como as mais velhas, trabalham ou brincam
melhor quando há uma pessoa amada a observá-las?
E não será de grande auxílio lembrarmos que^o
Senhor Jesus Cristo está sempre conosco, a observar-
nos? E também a ajudar-nos? A própria certeza de
que seus olhos estão sobre nós, dá-nos consciência de
seu poder em nós.
Não crê o leitor que o apóstolo Paulo tinha em
mente este hábito de andar em oração, quando disse:
“ Perto está o Senhor” ? “Não andeis ansiosos de cousa
alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas diante de
Deus as vossas petições, pela oração e pela súplica,
com ações de graças.” (Fp 4.5,6.) Esta expressão “em
tudo” sugeire que, à medida que as coisas nos sobre­
vêm, a cada momento, deveremos naquele mesmo
instante e lugar fazer daquilo um objeto de oração e
louvor ao Senhor que está perto. Por que deveriamos
interpretar esta “proximidade” apenas como uma
referência à segunda vinda de Cristo?
Que maravilhoso pensamento! Nossa oração é di­
rigida a um Deus que está perto. Quando o Senhor
enviou os discípulos a trabalhar, ele disse: “ Eis que
estou convosco todos os dias!”
Sir Thomas Browne, o conhecido médico, enten­
deu isto. Ele fez um voto de “orar em todo lugar onde
a quietude fosse convidativa; em qualquer casa, estra­
da ou rua; e não deixar rua nesta cidade que não fosse
testemunha do fato de que não me esqueci de meu
Deus e Salvador; e nem cidade, nem paróquia que não
saiba o mesmo. E todas as vezes que passar por uma
igreja, aproveitar o ensejo para orar. Orar diariamen­
te, e em particular por meus pacientes, e por todos os
enfermos que estivessem aos cuidados de quem quer
que fosse. E dizer, ao entrar na casa de qualquer
enfermo: “ A paz e a misericórdia de Deus estejam
sobre esta casa.” Depois de cada sermão, orar pelo
pregador e pedir bênçãos para ele.”
Mas duvidamos que esta comunhão contínua com
o Senhor seja possível, sem que observemos períodos
definidos de oração — sejam eles breves ou longos. E
o que dizer destes períodos de oração? Já menciona­
mos antes que a oração é simples como o pedido de
uma criancinha que se dirige ao pai. E esta observação
não exigiría nenhuma explicação se não fosse pela
existência do maligno.
Não há dúvida de que o inimigo sempre se opõe
a uma aproximação nossa com Deus, em oração, e faz
tudo que pode para evitar a oração da fé. Seu princi­
pal método de impedir-nos é tentar fazer nossa mente
concentrar-se em nossas necessidades, para que não
se ocupe de Deus, o Pai amoroso a quem oramos. Ele
nos leva a pensar mais na dádiva do que no Doador. O
Espírito Santo nos inspira a orar por determinado
irmão. E nós dizemos: “ Õ Deus, abençoa este irmão!”

85
e paramos aí; nosso pensamento se desvia para o
irmão, seus problemas, dificuldades, esperanças, te­
mores, e lá se vai nossa oração.
Como o diabo dificulta a concentração do pensa­
mento em Deus! É por isso que insistimos com as
pessoas para que obtenham uma visão melhor da
glória de Deus, do seu poder e da presença divina,
antes de lhe apresentarem suas petições. Se não exis­
tisse o diabo, não haveria dificuldades na oração, mas
o principal objetivo do maligno é tornar impossíveis
nossas orações. Ê por isso também que a maioria das
pessoa têm dificuldade em compreender aqueles que
condenam o que costumam chamar de “vãs repeti­
ções” e “muito falar” em oração — citando as
palavras do Senhor no Sermão do Monte.
Um proeminente pastor de Londres afirmou re­
centemente: “ Deus não deseja que desperdicemos
nem o seu tempo, nem o nosso, com orações longas.
Temos que ter uma atitude mais prática em nosso
relacionamento com Deus, dizer-lhe claramente e de
maneira breve aquilo que desejamos, e deixar as
coisas assim.” Mas será que este amigo pensa que
orar é apenas colocar Deus a par de nossas necessi­
dades? Se isto é tudo que a oração representa, não
existe necessidade de orar — “ Deus, o vosso Pai, sabe
o de que tendes necessidade, antes que lho peçais” ,
disse o Senhor quando instou com os discípulos a que
orassem.
Sabemos perfeitamente que Cristo condenou algu­
mas “orações longas” (Mt 23.14). Mas eram orações
longas feitas com o objetivo de “justificar-se” , urrr^
pretexto para exibir-se (Lc 20.47). Prezado crente que
ora, creia-me, o Senhor condenará igualmente muitas
das “orações longas” que são feitas em algumas de
nossas reuniões de oração — orações que matam as
reuniões e são encerradas com um pedido a Deus para
que atenda “esses fracos sussurros” , ou “humilde
súplica” .
Mas ele nunca condena as orações longas que são
sinceras. Não nos esqueçamos de que o Senhor às

86
vezes passava longas noites em oração. Somos infor­
mados acerca de uma delas — não sabemos a fre-
qüência com que ele o fazia (Lc 6.12). Por vezes, ele se
levantava “ alta madrugada” e ia a um lugar solitário
a fim de orar (Mc 1.31). O Homem perfeito passou
mais tempo em oração do que nós passamos. Parece-
nos que devia ser fato indubitável para os santos de
Deus. de todas as épocas, que após noites em comu­
nhão com Deus, deveríam seguir-se dias de poder
diante dos homens.
E o Senhor também não encontrou desculpas para
não orar — como ele poderia ter feito, pensamos nós
em nossa ignorância. Ele poderia ter feito — por
causa da pressão constante de seu ministério e das
infinitas oportunidades de serviço. Após um de seus
dias mais cheios, numa ocasião em que sua populari­
dade estava no auge, quando todos buscavam sua
companhia e conselho, ele deu as costas a todos, e
retirou-se para um monte, a fim de orar (Mt 14.23).
A Bíblia nos diz que certa vez “Grandes multi­
dões afluíam para ouvi-lo e serem curadas de suas
enfermidades.” E depois vem a informação: “Ele,
porém, se retirava para lugares solitários, e orava.”
(Lc 5.15,16.) Por quê? Porque sabia que naquele
instante a oração seria mais poderosa que o serviço.
As vezes, dizemos que estamos ocupados demais
para orar. Mas o Senhor, quanto mais ocupado se
achava, mais ele orava. Houve ocasiões em que não
teve folga nem para comer (Mc 3.20); outras, ele não
teve tranqüilidade para o necessário sono e repouso
(Mc 6.31). No entanto, sempre achava tempo para
orar. E se o Senhor teve necessidade de orar freqüen-
temente, e por vezes durante muitas horas, será que
nós não temos necessidade disso?
Não estou escrevendo para persuadir as pessoas a
que concordem comigo; isto é de somenos importân­
cia. Queremos apenas saber a verdade. Spurgeon
disse certa vez: “Não é preciso que usemos de rodeios
com o Senhor, antes de dizermos claramente a ele
aquilo que almejamos. Nem é necessário que tentemos

87
usar linguagem refinada; mas peçamos a Deus as
coisas de que precisamos de maneira simples e dire­
ta... Acredito em orações práticas. Isto é, orações em
que apresentamos a Deus uma promessa que ele nos
deu em sua Palavra, e esperamos que seja cumprida,
com a mesma certeza com que esperamos receber
uma certa quantia em dinheiro quando vamos ao
banco descontar um cheque. Nao pensaríamos em ir
ao banco, e ficar a andar pelos guichês, conversando
com os caixas a respeito de tudo, menos do motivo que
nos levou ali, e depois regressar sem o dinheiro de que
precisávamos. Em vez disso, apresentamos ao caixa a
promessa de pagamento de determinada quantia ao
portador, e lhe dizemos como queremos o dinheiro;
conferimos as notas e depois saímos dali para atender
aos nossos interesses. Isto é uma ilustração do método
pelo qual deveriamos sacar suprimentos do Banco dos
céus!” Maravilhoso!
Mas...? Por favor, sejamos bem definidos em
nossas orações, e certamente deixemos de lado a elo-
qiiência — se é que temos alguma! Por favor, evitemos
“ conversas desnecessárias” , e cheguemos a Deus em
fé, esperando receber.
Mas será que o caixa me entregaria o dinheiro com
a mesma prontidão, se visse, ao meu lado, um bandi­
do forte, bem armado e de má catadura, em que
reconhecera um terrível criminoso, esperando para
arrebatar-me o dinheiro antes mesmo que minhas
mãos o segurassem? Será que ele não esperaria até
que o bandido se fosse? E isto não é um quadro
imaginário. A Bíblia ensina que, de uma fôrma ou
de outra. Satanás pode impedir nossas oralções e
atrasar a resposta. O apóstolo Pedro não me/nciona
aos cristãos coisas que podem “interromper” suas
orações? (1 Pe 3.7.) Nossas orações podem ser inter­
rompidas. “ A todos os que ouvem a palavra do reino,
e não a compreendem, vem o maligno e arrebata o que
lhes foi semeadtmo coração.” (Mt 13.19.)
As Escrituras nos dão um exemplo — provavel­
mente um entre muitos — de uma situação em que o

88
diabo reteve — atrasou — durante três semanas uma
resposta de oração. Mencionaremos isto apenas para
mostrar a necessidade da oração repetida, da perse­
verança em oração, e também para chamar a atenção
para o extraordinário poder que Satanás possui. Refe-
rimo-nos a Daniel 10.12,13: “Não temas, Daniel,
porque desde o primeiro dia, em que aplicaste o
coração a compreender e a humilhar-te perante o teu
Deus, foram ouvidas as tuas palavras; e por causa das
tuas palavras é que eu vim. Mas o príncipe do reino da
Pérsia me resistiu por vinte e um dias; porém, Miguel,
um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu
obtive vitória sobre os reis da Pérsia.”
Não podemos subestimar esta oposição satânica,
nem a sua interferência em nossas orações. Se o certo
fosse pedir a Deus apenas uma vez uma promessa, ou
bênção que cremos ser-nos necessária, estes capítulos
nunca teriam sido escritos. Será que não devemos
repetir nenhuma petição? Por exemplo, sei que Deus
não deseja a morte do pecador. Portanto, dirijo-me
abertamente a ele e lhe peço: “Senhor, salva meu
amigo!” Devo orar novamente pela conversão desse
amigo? Jorge Müller orou diariamente — e mais de
uma vez por dia — durante sessenta anos, pela con­
versão de um amigo seu. Mas que esclarecimentos a
Bíblia nos dá acerca de orações práticas? O Senhor
narrou duas parábolas para ensinar a persistência e a
perseverança na oração. Um homem foi à casa de um
amigo, à meia-noite, e pediu-lhe três pães, e recebeu o
quanto precisava, por causa de sua importunação —
ou persistência, isto é, seu “desacanhamento” , queé o
significado literal da palavra. (Lc 11.8.) A viúva que
importunou o juiz iníquo, com suas contínuas idas à
sua presença, conseguiu, por fim, a reparação solicita­
da. E o Senhor acrescenta: “Não fará Deus justiça aos
seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora
pareça demorado em defendê-los?” (Lc 18.7.)
E como o Senhor Jesus se agradou da pobre
mulher siro-fenícia que não queria aceitar suas recu­
sas e réplicas como a resposta final. Por causa de sua

89
contínua petição, ele disse: “ 0 mulher, grande é a tua
fé! Faça-se contigo como queres.” (Mt 15.28.) Nosso
querido Senhor, em sua agonia no Getsêmani, achou
necessário repetir sua oração. “Deixando-os nova­
mente, foi orar pela terceira vez, repetindo as mesmas
palavras.” (Mt 26.44.) E o apóstolo Paulo, também, o
apóstolo da oração, pediu a Deus várias vezes para
remover o espinho na carne./“ Por causa disso três
vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim.” (2 Co
12. 8. )
Nem sempre Deus pode atender às nossas orações
imediatamente. As vezes nào estamos preparados
para receber aquela dádiva. Por vezes ele nos diz:
“Não, a fim de dar-nos algo infinitamente melhor.
Lembremo-nos também da ocasião quando Pedro
estava na prisão. Se um filho seu estivesse injusta­
mente preso, esperando ser executado a qualquer mo­
mento, você conseguiría contentar-se em orar apenas
uma vez, fazer uma oração prática: “ 0 Deus, livra
meu filho!” ? Não é verdade que você se dedicaria à
oração com muito fervor?
Foi assim que a igreja orou por Pedro. “ Havia
oração incessante a Deus por parte da igreja a favor
dele.” (At 12.7.) Algumas versões estrangeiras dão “o-
raçao fervorosa”. O Dr. Torrey afirma que nenhuma
delas tem a mesma forçâ que a expressão grega. A
palavra empregada significa literalinente: “extensiva­
mente” . Ela descreve a alma num esforço de intenso e
fervoroso desejo. Orações intensas foram feitas em
favor do apóstolo Pedro. O mesmo vocábulo foi usado
pelo Senhor no Getsêmani: “ E, estando em agonia,
orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor
se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra.”
(Lc 22.44.)
Ah, havia intensidade e até agonia em sua oração.
Mas, e as nossas orações? Será que também somos
chamados a agonizar em oração? Muitos dos preza­
dos santos de Deus responderão: Não! Eles crêem que
tal agonia, em nós, seria demonstração de falta de fé.
Contudo, a maioria das experiências por que o Senhor

90
passou devem ser vividas por nós. Fomos crucificados
,com Cristo, e ressuscitamos com ele. Não devemos
também labutar pelas almas?
Voltemos à experiência humana. Podemos deixar
de agonizar por um filho amado que está vivendo em
pecado? Duvido que algum crente possa ter um
grande peso pelas almas — uma paixão mesmo — e
não agonizar em oração.
Podemos deixar de clamar como João Knox: “ 0
Deus. dá-me a Escócia, ou eu morro” ? Nesse caso
também a Bíblia pode orientar-nos. Pois não houve
sofrimento de alma e agonia na oração de Moisés,
quando clamou: “Ora, o povo cometeu grande peca­
do, fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois,
perdoa-lhe o pecado, ou, se não, risca-me, peço-te, do
livro que escreveste.” (Êx 32.31,32.)
E não houve agonia de coração em Paulo quando
disse: “ Porque eu mesmo desejaria (outra versão diz
"pediria") ser anátema, separado de Cristo, por amor
de meus irmãos, meus compatriotas segundo a car­
ne." (Rm 9.3.)
Mas, seja como for. podemos estar perfeitamente
certos de que o Senhor, que chorou sobre Jerusalém e
que "tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas,
orações e súplicas” , não se entristecerá se nos vir
chorando pelos pecadores. Antes, é possível que seu
coração se alegre ao ver que agonizamos por causa do
mesmo pecado que o entristeceu. Na verdade, é
provável que o baixo número de conversões seja
devido justamente à falta de agonia em oração.
Somos informados de que “Sião, antes que lhe
viessem as dores, deu à luz seus filhos” . Não teria sido
justamente meditando nesta passagem que o apóstolo
Paulo escreveu aos Gálatas: “Meus filhos, por quem
de novo sofro as dores de parto, até ser Cristo formado
em vós” ? (G1 4.19.) E isto não se aplica verdadeira­
mente a filhos espirituais? Ah, como nosso coração às
vezes é frio! Como nos entristecemos pouco pelos
perdidos! E ainda nos atrevemos a criticar aqueles
que agonizam por causa deles. Que Deus tal não

91
permita! Não; realmente existe o que se chama lutar
em oração. Não porque Deus não esteja desejoso de
atender, mas por causa da oposição dos “dominado­
res deste mundo tenebroso” (Ef 6.12).
A palavra usada no sentido de “luta” em oração
significa “ combate” . Este combate não é travado
entre nós e Deus, pois qle está em harmonia com
nossos desejos. O combate é contra o maligno, embora
este já seja um inimigo derrotado (1 Jo 3.8). Ele deseja
frustrar nossas orações.
“ Porque a nossa luta não é contra o sangue e a
carne, e, sim, contra os principados e potestades,
contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra
as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.” (Ef
6.12.) Nós também nos encontramos nestas “regiões
celestes em Cristo” (Ef 1.3); e é somente em Cristo que
podemos obter a vitória. Nossa luta pode ser na esfera
do pensamento, para evitar que aceitemos as suges­
tões mentais de Satanás, e para mantermos nossos
pensamentos fixados em Cristo, o Salvador — isto é,
vigiando e orando (Ef 6.18), “vigiando em oração”.
Somos confortados pelo fato de que o “ Espírito,
semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza;
porque não sabemos orar como convém” (Rm 8.26).
Como ele nos assiste e nos ensina, se não pelo exemplo
e por preceitos? Como é que ele “ora” ? “O mesmo
Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos
inexprimíveis.” (Rm 8.26.) EntãcCo Espírito agoniza
em oração, como o Filho fez, no Getsêmani.
Se o Espírito ora em nós, será que não participa­
remos de seus “gemidos” ? E se nossa agonia em
oração enfraquece nosso corpo num certo momento,
será que os anjos não poderão vi/ fortalecer-nos, como
fizeram ao Senhor? (Lc 22.43'.) É possível que, talvez
como Neemias, choremos e lamentemos e jejuemos
perante Deus (Ne 1.4). “ Mas” , pergunta alguém,
“será que o arrependimento pelo pecado e o ardente
desejo pela salvação de outros não os induzirá a uma
agonia desnecessária, que pode desonrar a Deus?”
Será que isso não revela uma profunda falta de fé

92
nas promessas de Deus? Talvez sim. Mas não há
devida de que o apóstolo Paulo considerava a oração,
pelo menos em alguns casos, como sendo um conflito
(Rm 15.30). Escrevendo aos colossenses ele disse:
"Gostaria, pois, que saibais quão grande luta venho
mantendo por vós... por quantos não me viram face a
face; para que os seus corações sejam confortados”
(Cl 2.1.2). Sem dúvida alguma, ele se refere às suas
orações em favor deles.
Além disso, ele menciona Epafras como sendo um
homem que “se esforça sobremaneira, continuamen­
te. por vós, nas orações, para que vos conserveis
perfeitos e plenamente convictos em toda a vontade de
Deus" (Cl 4.12).
A palavra “esforça" tem o mesmo sentido que a
palavra “ agoniza” , o mesmo vocábulo empregado
para descrever Jesus em agonia, quando orava (Lc
22.44).
O apóstolo diz também que Epafras “lutou muito
por vós", isto é. em oração. E Paulo viu-o orando, ali
na prisão, e presenciou sua luta intensa, quando se
entregava a um esforço longo e infatigável em favor
dos colossenses. Como aquele soldado pretoriano, a
quem Paulo estava acorrentado, deve ter-se admirado
— e também deve ter ficado profundamente tocado —
ao ver aqueles homens entregues à oração. A agitação
deles, suas lágrimas, as súplicas fervorosas que faziam
erguendo mãos acorrentadas, devem ter constituído
uma revelação para ele. E o que ele pensaria de nossas
orações hoje?
Sem dúvida, Paulo falava de um hábito seu,
quando instou com os crentes de Éfeso e com outros a
“se colocarem” em “oração e súplica, orando em todo
o tempo no Espírito, e para isto vigiando com toda
perseverança e súplica por todos os santos, e também
por mim... embaixador em cadeias” (Ef 6.18-20).
Podemos estar certos de que isto era uma descrição de
sua própria forma de orar.
Então, a oração encontra obstáculos que podem
ser afastados pela persistência. É isto que algumas

93
pessoas querem dizer quando falam em orar até o fim.
Temos que lutar contra as maquinações de Satanás.
Pode ser o cansaço físico ou a dor, ou os insistentes
apelos de outros pensamentos, dúvidas ou ataques
diretos das hostes satânicas da maldade. Para nós,
como para o apóstolo Paulo, a oração é um “conflito” ,
uma “ luta” , pelo me^os em algumas ocasiões, que nos
impele a nos “despertarmos” e “determos" a Deus
(Is 64.6). Será que estaríamos errados em sugerir que
são muito poucas as pessoas que lutam em oração?
Nós lutamos? Mas nunca duvidemos do poder do
Senhor nem das riquezas de sua graça.
A autora do livro O Segredo de Uma Vida Feliz
relatou em um círculo de amigos, pouco antes de seu
falecimento, um incidente ocorrido com ela. Talvez eu
possa divulgá-lo aqui. Uma amiga que a visitava
ocasionalmente, permanecendo dois ou três dias com
ela, constituía sempre numa provação para ela,
num teste para seus nervos e paciência. Cada uma de
suas visitas requeria muito preparo em oração. Houve
uma ocasião em que esta “cristã problemática” ten­
cionava passar ali toda uma semana. Ela sentiu que
precisaria de nada menos que uma noite de oração
para fortalecer-se para aquela grande prova. Assim,
com um prato de biscoitos, retirou-se cedo para o seu
quarto a fim de passar a noite de joelhos perante
Deus, rogando-lhe que lhe conçedesse graça para
manter-se calma e tranqüila durante a visita iminente.
Mal se ajoelhara junto ao leito, quando por sua mente
passaram as palavras de Filipenses 4.19: “ E o meu
Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir
em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades.”
Seus temores se desvaneceram completamente. Ela
disse: “ Quando compreendí aquilo, agradecí a Deus e
o louvei por sua bondade. Depois, deitei-me e dormi a
noite toda. Minha hóspede chegou no dia seguinte, e
apreciei imensamente a visita dela.”
Ninguém pode estabelecer regras rígidas de ora­
ção, nem para si mesmo. Somente o Espírito Santo de
Deus pode orientar-nos, momento a momento. E aqui

94
devemos deixar a questão nestes termos. Deus é nosso
juiz e guia. Mas lembremo-nos de que a oração possui
muitas facetas. Como afirmou o Bispo Moule: “A
iiração pode ser feita sob as mais diversas e inumerá­
veis circunstâncias” . Muitas vezes

A oração tem o peso de um suspiro,


É o escorrer de uma lágrima,
Um rápido erguer dos olhos,
Quando ninguém, a não ser Deus, está perto.

Ela pode também ser apenas um ato no sentido de


tornar “conhecidas diante de Deus as vossas petições”
(Fp 4.6). Não devemos pensar que a oração tem que
ser sempre um conflito ou uma luta. Se assim fosse,
muitos de nós logo ficariam fisicamente exauridos ou
sofreriam um esgotamento nervoso, tendo morte pre­
matura.
E, para muitos, é impossível permanecer por longo
tempo em posição de oração. O Dr. Moule diz: “A
oração genuína e vitoriosa é feita continuamente, sem
o menor esforço físico ou perturbação. Muitas vezes é
na mais profunda quietude de alma e corpo que ela
tem seu maior alcance. Mas existe outro lado nesta
questão. A oração nunca deve ser indolentemente
fácil, por mais simples e confiante que seja. Ela deve
ser uma importante comunicação entre o homem e
Deus. E, portanto, muitas vezes... tem que ser consi­
derada como um verdadeiro labor, persistência, um
conflito, para ser oração de verdade.”
Ninguém pode fazer regras para os outros. Cada
um deve persuadir-se a orar, e o Espírito Santo nos
inspirará a todos, e orientará acerca do tempo que
devemos orar. E também devemos sempre estar tão
cheios de amor por Deus e nosso Salvador, que a
oração, em todo tempo e lugar, seja um gozo para nós,
assim como uni meio de graça.

Pastor divino, nosso anseio atende


Que neste dia, e a cada dia

95
A todos os teus seguidores concedas
O poder de vigiar e orar.

Dá-nos fé para suplicar


O espírito da graça intercessora
Para lutarmos até que vejamos teu rosto,
E conheçamos teu nome oculto.

/ '

96
8

Deus Sempre Responde


às Orações?
Chegamos a uma das mais importantes perguntas
que uma pessoa pode fazer. Muita coisa depende
dessa resposta. Não nos esquivemos a um confronto
justo e franco com esta questão. Deus sempre respon­
de às orações? Naturalmente, todos reconhecemos
que ele responde à oração — responde algumas ora­
ções, algumas vezes. Mas ele responde à oração
verdadeira. Algumas chamadas orações ele não res­
ponde, porque não as ouve! Quando seu povo se
rebelou, ele disse: “ Quando multiplicais as vossas
orações, não as ouço” (Is 1.15).
Mas o filho de Deus deve esperar resposta para
suas orações. É intenção de Deus que toda oração seja
respondida; e nem uma oração verdadeira deixa de
causar seu efeito no céu.
Todavia, aquela maravilhosa declaração de Paulo:
"Tudo é vosso, e vós de Cristo” (1 Co 3.22,23), parece
tão clara e tragicamente falsa para a maioria dos
crentes. Contudo, não deveria ser assim. Tudo é
nosso, mas muitos de nós não tomam posse de seus
bens. Os proprietários do monte Morgan, na Austrá­
lia, trabalharam arduamente no terreno durante anos,
conseguindo que aquele solo estéril produzisse apenas
o suficiente para levarem uma existência miserável,
sem saber que, sob seus pés, havia uma das maiores
minas de ouro do mundo. Ali estava uma riqueza
imensa, nunca sonhada, nunca imaginada. Era “de­
les” , todavia, não entraram na posse dela.

97
O crente, porém, conhece as riquezas de Deus em
glória, em Cristo Jesus, mas não parece saber como
poderá obtê-las.
O Senhor nos diz que elas estão lá para serem
solicitadas. Que ele nos dê a todos uma compreensão
certa das leis da oração. Quando dizemos que nenhu­
ma oração verdadeira fíca'seín resposta, não estamos
afirmando que Deus sempre nos concede aquilo que
pedimos. Já viu o leitor um pai que seja tão insensato
a ponto de agir assim com um filho? Não entregamos
a nosso filho um ferro incandescente, se ele nos pedir.
As pessoas ricas devem ser muito cautelosas e não
permtirem que seus filhos tenham muito dinheiro no
bolso.
Ora, se Deus nos desse tudo que pedimos, sería­
mos nós quem governaríamos o mundo, e não ele. E
certamente devemos confessar que não temos capaci­
dade para tal. Além do mais, é absolutamente impos­
sível que o mundo tenha mais de um governante.
A resposta de Deus para nossa oração pode ser
“ Sim” , ou “ Não” . E também pode ser “ Espere” , pois
é possível que ele esteja tencionando dar-nos uma
bênção muito maior do que imaginamos, uma respos­
ta que afetará outras pessoas além de nós.
As vezes, a resposta de Deus é “Não”. Mas isto
não significa necessariamente que exista pecado co­
nhecido e voluntário na vida da pessoa, embora possa
haver sinais de ignorância. Ele disse “Não” ao apósto­
lo Paulo algumas vezes (2 Co 8.91. Na maioria dos
casos, este Não é ocasionado por nossa ignorância ou
egoísmo ao fazer o pedido. “Porque não sabemos orar
como convém" (Riu 8.26). Foi esse o erro que cometeu
a mãe dos filhos de Zebedeu. Ela aproximou-se do
Senhor e o adorou. A seguir, apresentou seu pedido.
Prontamente, ele respondeu: “Não\sabeis o que pe­
dis.” (Mt 20.22.) Elias, que foi um grande homem de
oração, às vezes recebia um “Nãó” como resposta.
Mas será que, ao ser arrebatado para a glória numa
carruagem de fogo, ele lamentou a negativa de Deus
quando ele clamou: “0 Senhor, tira a minha vida” ?

98
A resposta de Deus, por vezes é “Espere” . E é
possível que ele atrase o envio da resposta porque não
estamos ainda preparados para receber a dádiva que
desejamos — como aconteceu com Jacó, em sua luta
com o anjo. Lembra-se da famosa oração de Santo
Agostinho: “O Deus, torna-me puro, mas não ago­
ra"? Será que nossas orações, por vezes, não são assim
também? Será que estamos sempre dispostos a "beber
o cálice” — a pagar o preço da oração respondida? E
há casos em que ele demora a responder para que
maior glória seja dada a ele.
Mas, as demoras de Deus não são negações. Não
sabemos por que ele às vezes demora na resposta e
outras vezes responde “antes que clamemos” (Is
65.24). Jorge Müller, um dos maiores homens de
oração de todos os tempos, teve que orar por um
período de mais de sessenta e três anos pela conversão
de um amigo. Quem saberia explicar isto? “A grande
questão é nunca desistir enquanto não receber a
resposta” , disse Müller. “Orei durante sessenta e três
anos e oito meses, pedindo a Deus a conversão de um
amigo. Ele ainda não ser converteu, mas se converte­
rá. Não pode ser de outra forma. Existe uma promessa
imutável de Jeová, e é nela que descanso.” Seria
aquela demora devido a um impedimento constante
por parte do diabo? (Dn 10.3.) Seria um forte e
prolongado esforço de Satanás para abalar ou abater
a fé de Müller? Pois mal falecera Müller e seu amigo
se converteu — antes mesmo de ele ser sepultado.
Sua oração foi atendida, embora a resposta hou­
vesse demorado tanto em chegar. Tantas das orações
de Jorge Müller foram atendidas, que não é de se
admirar que ele tenha exclamado certa vez: “Como é
„om, terno, cheio de graça e condescendente aquele
com quem temos de tratar! Sou apenas um pobre
homem, frágil e pecador, mas ele atendeu às minhas
orações dez mil vezes.”
Talvez alguém esteja indagando: “Como posso
saber se a resposta de Deus é “Não” ou “Espere” ?
Podemos estar certos de que ele não permitirá que

99
oremos sessenta e três anos para receber um “Não” . A
oração de Müller, tantas vezes repetida, estava basea­
da na certeza de que Deus “não deseja a morte do
pecador” ; “deseja que todos os homens sejam salvos”
(2 Tm 2.4).
Enquanto escrevo, o correio entrega-me uma ilus­
tração desta verdade. Veio-me uma carta de uma
pessoa que raramente me escreve, e que nem ao
menos sabe meu endereço — seu nome é conhecido de
todos os obreiros cristãos da Inglaterra. Uma pessoa
amada foi acometida de certa enfermidade. Será que
ele deveria continuar orando para que ela se curasse?
A resposta de Deus é “Não” ? Ou pode ser: “Continue
orando e espere” . Meu amigo escreve: “ Recebi uma
orientação divina clara com relação a esta pessoa...
que era da vontade de Deus que ela fosse levada... e
achei consolo na rendição e submissão à sua vontade.
Tenho muitos motivos para louvar a Deus!” Horas
depois, Deus levou aquele ente querido para estar
consigo em sua glória.
Mas, uma vez mais, instamos com os leitores para
que se apeguem a esta verdade: a verdadeira oração
nu,nca fica sem resposta.
Se examinássemos mais nossas orações, poderia­
mos orar com mais sabedoria. Isto pode parecer um
mero chavão. Mas estamos dizendo, porque alguns
crentes parecem pôr de lado o bom-senso e o raciocí­
nio, quando oram. Um pouco de retlexão nos mostra­
rá que Deus não pode atender "-algumas orações.
Durante a guerra, todas as nações oravam pedindo a
vitória. Contudo, é perfeitamente óbvio que nem todos
os países poderiam ser vitoriosos. Duas pessoas que
vivem juntas podem orar, uma pedindo chuva e outra
pedindo tempo bom. Deus não pode conceder ambas
as coisas, ao mesmo te
Mas a fidelidade nesta
questão da oração. T< imente
estas maravilhosas promessas do Senhor, e quase nos
maravilhamos com elas — com a amplitude de seu
objetivo, com a plenitude de seu intento, a dimensão

100
da expressão "Tudo aquilo". Muito bem! "Seja Deus
verdadeiro!" (Rm 3.4.) E ele sempre será “verda­
deiro".
Não pare para perguntar se Deus atendeu a todas
as minhas petições. Ele não atendeu. Se tivesse dito
"Sim" a algumas delas, isto teria significado maldi­
ção. ao invés de bênção. E se houvesse respondido a
outras, intéli/.mente, teria ocorrido uma impossibili­
dade espiritual — eu não era digno das dádivas que
buscava. Se Deus houvesse atendido a algumas de
minhas petições, eu teria abrigado orgulho espiritual e
auto-satisfação. Como estas coisas estão claras agora,
à luz do Espírito Santo de Deus!
Quando olhamos para trás e comparamos nossa
oração fervorosa e ardente com o serviço pobre e
indigno que realizamos, e a nossa falta de verdadeira
espiritualidade, é que enxergamos como era impossí­
vel para Deus conceder-nos todas as coisas que ele
gostaria de conceder-nos. Muitas vezes, era como
pedir a Deus que colocasse o oceano de seu amor
num coração do tamanho de um dedal. E, no entan­
to. Deus deseja abençoar-nos com todas as bênçãos
espirituais! Como o querido Salvador deve clamar
muitas vezes: "Quantas vezes quis eu... e vós não o
quisestes!" (Mt 23.37.) E o mais lamentável em tudo
isso é que muitas vezes pedimos e não recebemos por
causa de nosso demérito — e depois nos queixamos de
que Deus não responde às nossas orações. O Senhor
Jesus declarou que Deus nos concede o seu Espírito
Santo, — o qual nos ensina a orar — com a mesma
prontidão com que um pai terreno dá boas dádivas a
seus filhos. Mas nenhuma dádiva será “boa” se o filho
não estiver preparado para fazer uso dela. Deus nunca
nos dá algo que não podemos ou não queremos
utilizar para sua glória (e não estou-me referindo a
talentos, pois podemos malbaratá-los ou "enterrá-
los", mas aos dons espirituais).
Você já viu algum pai dar a um filho uma lâmina
de barbear, se este lhe pedir uma, na esperança
de que ele cresça e aprenda a usá-la bem? Não é

101
verdade que o pai diz ao filho: "Espere até que você
esteja mais velho, ou maior, ou mais sábio, ou mais
forte” ? Que nosso Pai celeste também nos diga “Es­
pere” . Mas, por causa de nossa ignorância e cegueira,
certamente, muitas vezes devemos dizer:
Por teu amor, recusa, Senhor
Aquilo que tu vires
Que minha fraqueza irá malbaratar.
Tenhamos certeza, também, de que Deus nunca
nos dará hoje a dádiva de amanhã. Não que ele não
deseja dar ou tenha carência de bênçãos. Seus recur­
sos são infinitos, e seus caminhos incontáveis. Foi logo
depois de haver ordenado aos discípulos que orassem,
que o Senhor fez sugestões quanto aos seus recursos.
“Observai as aves do céu... contudo vosso Pai celeste
as sustenta” (Mt 6.26). Como parece simples! Mas
você já pensou que nenhum milionário, em todo o
mundo, é suficientemente rico para alimentar todos os
pássaros do céu, mesmo que seja por um dia só?
Nosso Pai celestial as alimenta, todos os dias, e nem
por isso fica mais pobre. E não será que, com muito
mais certeza, ele alimentará, vestirá e cuidará de
você?
Ah, confiemos mais no poder da oração! Sabemos
que ele é “galardoador dos que o buscam” (Hb 11.6).
O óleo do Espírito Santo nunca cessará de fluir
enquanto houve recipientes vazips para recebê-lo. (1
Rs 4.6.) Sempre que a obra do Espírito Santo se
interromper, somos nós os culpados. Deus não pode
confiar a certos obreiros resultados definidos em seu
trabalho, pois ter iam orgulho e vangloria. Não! Não
afirmamos que Deus atende a todos os pedidos de
todos os crentes.
Como já vimos em um dos capítulos anteriores,
deve haver pureza de coração, demiotivos e de desejos,
se quisermos orar em seu nome) Deus é maior que
suas promessas, e muitas vezes/iios dá mais do que
pedimos ou merecemos — mas ele nem sempre age
assim. Então, se certa petição não é atendida, pode­

102
mos estar certos de que Deus está-nos chamando a
examinar o coração. Pois ele tomou a si atender todas
as petições que forem feitas em seu nome. Vamos
repetir suas palavras uma vez mais — nunca será
demais repeti-las muitas vezes — “E tudo quanto
pedirdes em seu nome, isso farei, a fim de que o Pai
seja glorificado no Filho. Se me pedirdes alguma coisa
em meu nome, eu o farei.” (Jo 14.13,14.)
Lembremo-nos de que era impossível para Cristo
fazer uma oração que não seja atendida. Ele era Deus
— conhecia a mente de Deus — ele tinha a mente do
Espírito Santo.
Ele disse certa vez: “Pai, se é possível...” , ajoe­
lhado no jardim do Getsêmani, em agonia, derraman­
do clamores e lágrimas; e ele foi “ouvido por causa da
sua piedade” (Hb 5.7). Certamente não foi a “ago­
nia” , mas o temor filial que obteve a resposta. Nossas
orações são atendidas não tanto porque sejam impor­
tantes, mas porque são petições de filhos.
Irmão, não sabemos entender plenamente aquela
cena de terríveis circunstâncias. Mas de uma coisa
sabemos — o Senhor nunca fez uma promessa que
não possa cumprir ou que não tenha intenção de
cumprir. O Espírito Santo intercede por nós (Rm 8.26)
e Deus não pode dizer-lhe “Não”. O Senhor Jesus faz
intercessão por nós (Hb 7.25), e Deus não pode
dizer-lhe “Não” . Suas orações valem por mil das
nossas, mas é ele quem nos manda orar.
“ Mas” , o leitor poderá dizer, “o apóstolo Paulo
não era cheio do Espírito Santo, e não disse que temos
a mente de Cristo? Contudo ele pediu a Deus, três
vezes, que removesse aquele espinho na carne —
porém, Deus respondeu-lhe claramente que não o
faria.”
É bastante singular, também, que a única petição
de Paulo em seu próprio favor, e que está registrada
nas Escrituras, tenha sido recusada. Entretanto, a
dificuldade é a seguinte: por que o apóstolo Paulo,
que tinha a mente de Cristo, pediu uma coisa que logo
descobriu ser contrária à vontade de Deus? Sem

103
dúvida, existem muitos crentes totalmente consagra­
dos a Deus lendo estas linhas, que devem estar
perplexos por não haver Deus lhes concedido coisas
que lhe pediram em oração.
Devemos lembrar-nos de que podemos ser cheios
do Espírito Santo e ainda assim cometer erros de
julgamento e vontade. Temos que lembrar também
que não somos cheios do Espírito Santo de uma vez
por todas. O maligno está sempre vigilante, pronto
para instilar-nos seus pensamentos, a fim de ferir a
Deus, através de nós. A qualquer momento podemos
tornar-nos desobedientes ou incrédulos, ou podemos
ser levados a ter algum pensamento ou cometer algum
ato contrário ao Espírito de amor.
Temos um espantoso exemplo disso na vida de
Pedro. Num certo momento, sob a influência do
Espírito Santo, ele clama: “Tu és o Cristo, o Filho do
Deus vivo.” E o Senhor se volta para ele com palavras
de alto elogio, e lhe diz: “Bem-aventurado és, Simão
Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to
revelou, mas meu Pai que está nos céus.” (Mt 16.16,
17.) Contudo, pouco depois, o diabo penetra em sua
mente, e o Senhor tem que dirigir-se a ele outra vez,
mas nos seguintes termos: “Arreda, Satanás!” (V. 23.)
Desta vez, Pedro falara em nome de Satanás. E
Satanás ainda deseja posSuir-nos.
São Paulo foi tentado a pensar que poderia fazer
um trabalho melhor para o Mestre amado se aquele
“espinho” fosse removido. Mas Deus sabia que Paulo
seria um homem melhor com o espinho do que sem
ele.
Não é reconfortante sabermos que podemos glori­
ficar melhor o nome de Deus sofrendo em alguma
situação que talvez consideremos como um entrave ou
uma desvantagem, do que sexo fator indesejado fosse
removido? “A minha graça te) basta, porque o poder
se aperfeiçoa na fraqueza.” (ft. Co 12.9.) Lembremo-
nos de que

104
Deus nada faz nem deixa que se faça
Que você próprio não faria,
Se pudesse ver o fim de tudo
Tão bem quanto ele vê.
O apóstolo Paulo não era infalível — tampouco o
eram Pedro e João; nem o é o Papa, nem qualquer
outro homem. Podemos fazer orações erradas — e as
fazemos. A mais elevada forma de oração não é: “Tua
vontade faze ó Deus, e não a minha” , mas “Minha
vontade, ó Deus, é a tua.” Aprendemos que não
devemos dizer: “Modifica a tua vontade” , mas, sim,
“ Seja feita a tua vontade.”
Permitam-me, em conclusão, dar o testemunho de
duas pessoas que descobriram que podiam confiar
plenamente em Deus.
H. M. Stanley, o grande explorador, escreveu:
“ Eu, por exemplo, não me atrevería a dizer que a
oração é ineficaz. Todas as vezes que orei com fervor
fui atendido. Sempre que orava pedindo orientação a
Deus, a fim de guiar meus seguidores com sabedoria,
por entre os perigos que os ameaçavam, um raio de
luz iluminava-me a mente confusa, e um caminho de
libertação era claramente indicado. Podemos saber
quando a oração foi atendida, pelo brilho de conten­
tamento que sobrevêm àquele que confiou sua causa a
Deus, quando o Senhor se ergue. Tenho provas,
satisfatórias para mim, de que as orações são respon­
didas.”
Perguntaram certa vez a Maria Slessor, cujas
experiências na África Ocidental têm emocionado a
todos nós, o que a oração significava para ela. Ao que
ela respondeu: “Minha vida tem sido uma longa e
diária lista de orações respondidas. Orações em favor
de saúde física, de repouso mental, de orientação
recebida de modo miraculoso, de erros e perigos que
foram desviados de mim, de oposições ao evangelho
que foram sobrepujadas, de alimentos que chegaram
exatamente na hora em que dele necessitava, de tudo
que se compõe a vida, e meu humilde serviço. Sei que
Deus atende às nossas orações. ”

105
9

Respostas de Oração
A mera natureza humana escolhería um título
mais pomposo para este capítulo. Notáveis respostas
de oração — Maravilhosas respostas — Admiráveis
respostas! Mas devemos permitir que Deus nos ensine
que é tão natural para ele responder às orações, como
é para nós o pedir. Como ele tem prazer em ouvir
nossas petições, e como gosta de respondê-las! Quan­
do ouvimos falar de uma pessoa rica que resolveu
distribuir alguns presentes entre os pobres, ou pagar
um déficit arrasador de alguma junta missionária,
exclamamos: “Que coisa boa é ter-se a possibilidade
de fazer uma coisa destas!” Bem, se é verdade que
Deus nos ama — e sabemos que é verdade — você não
acha que ele terá grande prazer em dar-nos aquilo que
pedimos? Portanto, devemos contar um ou dois exem­
plos de respostas de oração, para que tenhamos maior
incentivo para chegar ao trono da graça. Deus real­
mente salva as pessoas por quem oramos. Experimen­
te.
Conversando sobre este assunto com um homem
de oração algum tempo atrás, ele indagou-me de
repente: “Você conhece a igreja Tal?”
“ Conheço muito bem. Já estive lá várias vezes.”
“ Deixe-me contar-lhe algo que se passou quando
eu morava naquele lugar. Realizávamos uma reunião
de oração todos os domingos Cantes do culto das 8:00
horas. Certo dia, quando nos/erguíamos dos joelhos,

106
um dos presentes disse: “Pastor, gostaria que orassem
por meu filho. Ele já tem vinte e um anos, e há muito
tempo não vem à igreja.” O pastor respondeu: “Creio
que podemos ficar mais uns cinco minutos.” Todos se
ajoelharam novamente, e fizeram uma oração fervoro­
sa em favor do rapaz. Embora ninguém tivesse men­
cionado nada a ele, o moço compareceu ao culto
naquela mesma noite. Houve algo no sermão que
falou ao seu coração e o convenceu de pecado. Ele foi
ao altar quebrantado e aceitou a Jesus como Salva­
dor.”
Na segunda-feira, pela manhã, esse amigo, que
servia naquela paróquia, achava-se presente à reunião
semanal da diretoria. Disse ao ministro: “Aquela
conversão de ontem à noite constitui um desafio à
oração— um desafio de Deus. Vamos aceitá-lo?” “O
que quer dizer com isso?” indagou o pastor. “Bem” ,
respondeu o outro, “vamos procurar o pior homem
desta paróquia e orar por ele.” Por unanimidade,
concluíram que um certo homem lá era a pior pessoa
que conheciam. Então entraram num acordo de orar
pela conversão dele. Ao final daquela semana, quando
realizavam uma reunião de oração no sábado, no
salão da missão, e enquanto o nome daquele homem
era pronunciado por eles, a porta se abriu e aquela
pessoa entrou cambaleando, muito embriagado. Nun­
ca estivera naquele salão antes. E sem ao menos
pensar em retirar o chápéu da cabeça, caiu derreado
num dos bancos, perto da porta, e escondeu o rosto
entre as mãos. A reunião transformou-se num culto
evangelístico. Mesmo como estava — completamente
bêbedo — ele buscou o Senhor que o buscava. E
nunca mais voltou atrás em sua decisão. Hoje ele é um
dos melhores obreiros da região.
Por que não oramos pelos amigos não converti­
dos? É possível que não nos deem atenção, quando
instamos para que se convertam, mas não poderão
impedir-nos de orar por eles. Se dois ou três se unirem
em oração pela salvação da pior pessoa, verão o que
Deus fará. Fale com Deus, e depois confie nele. O

107
Senhor opera de forma maravilhosa, como também
realiza suas maravilhas de modos misteriosos.
Dan Crawford contou-nos recentemente que quan­
do regressava ao campo missionário após um período
de férias, tinha bastante pressa de chegar ali. Em
certo lugar, porém, precisavam atravessar um rio -que
estava cheio demais, e transbordando. Nenhum barco
tinha condições de fazê-lo. Então, ele e seu grupo
acamparam por perto, e começaram a orar. Um
incrédulo que os visse podería até zombar deles. Como
poderia Deus transportá-los para o outro lado do rio?
Mas enquanto oravam, uma imensa árvore que sem­
pre resistira à força daquela correnteza, começou a
balançar e caiu. Tombou atravessada de largo, cru-
zando-yáe um lado para outro. Como explicou o Sr.
Crawford: “ Os engenheiros celestes construíram uma
ponte flutuante para os servos de Deus.”
É possível que muitos jovens estejam lendo estas
experiências acerca da oração. Devemos lembrar-lhes
que Deus ouve as petições dos jovens — e das
mocinhas também. (Gn 21.17.) Por causa deles vamos
inserir a seguinte história, no desejo de que a oração
seja sua herança, isto é, sua própria forma de viver; e
que a oração respondida seja uma experiência cons­
tante para eles.
Algum tempo já, um rapazinho chinês de doze
anos, de nome Ma-Na-Si, que estudava num internato
missionário de Chefoo, foi passar as férias em casa.
Ele é filho de um pastor do interior.
Certo dia, quando se achava diante da porta de
sua casa, viu um homem que se aproximava a cavalo,
galopando. Esse homem, que era incrédulo e mostra­
va-se grandemente perturbado, nervosamente inda­
gou acerca do “homem de Jesus” , o pastor. O rapazi­
nho respondeuríhe que 0 pafnão estava em casa. O
pobre homem ficou muito trapstornado, e aprqssada-
mente explicou a cVusa de sija visita. Viera de uma
aldeia não crente, a alguns quilômetros dali, a fim de
buscar o “homem santo” para que expulsasse um
demônio da nora-4ejrm amigo seu^também incrédu-

108
Io. Narrou a triste história da jovem, que estava
atacada por demônios, berrando, gritando palavrões,
arrancando os cabelos, arranhando o rosto, rasgando
as roupas, quebrando a mobília da casa, e atirando
longe pratos de comida. Falou acerca de um espírito
sacrílego, de impiedade imensa, e blasfêmias horrí­
veis, e de como tais explosões de maldade eram
acompanhadas de boca espumejante e grande exaus­
tão tísica e mental. “Mas meu pai não está em casa” ,
dizia o rapaz reiteradamente. Por fim, o homem
pareceu compreender. De repente, ele caiu de joelhos,
e estendendo as mãos em desespero suplicou: “Você
também é um “homem de Deus” . Será que não pode
vir comigo?”
Imagine só! Um rapazinho de doze anos! Mas
mesmo um adolescente, quando está completamente
rendido ao Salvador, não teme ser usado por ele.
Houve apenas um momento de surpresa, seguido por
um instante de hesitação, e depois o rapazinho colo­
cou-se inteiramente à disposição do Mestre. Como o
pequeno Samuel do passado, ele se dispôs a obedecer
a Deus em tudo. Considerou aquele apelo insistente
como sendo um chamado do Senhor. O desconhecido
saltou para a cela do animal, e, colocando o rapaz à
garupa, partiu a galope.
Ma-Na-Si começou a ponderar as circunstâncias.
Aceitara o apelo para ir expelir um demônio em nome
de Cristo Jesus. Mas, seria ele digno de ser usado por
Deus daquela forma? Seria seu coração puro e sua fé
forte? Enquanto galopavam estrada afora, começou a
sondar seu coração, à procura dos pecados de que não
se arrependera e não confessara. Depois pediu a
orientação de Deus quanto ao que deveria fazer e
como deveria agir, procurando relembrar passagens
bíblicas relativas à possessão demoníaca, para ver
como eram tratadas. Depois, simples e humildemente,
entregou-se ao Deus de poder e misericórdia, pedindo
seu auxílio, para a glória do Senhor Jesus Cristo. Ao
chegarem à casa, viram que algumas pessoas da
família estavam segurando a infeliz mulher numa

109
/
cama. Embora não lhe houvessem dito que um men­
sageiro fora em busca do pastor, logo que ouviu os
passos no quintal, ela gritou: “ Saiam do meu cami­
nho, depressa, para que eu possa fugir. Tenho que
fugir! Um homem de Jesus vem aí. Não poderei
suportá-lo. O nome dele é Ma-Na-Si.”
Ma-Na-Si entrou no aposento, e após cumprimen­
tá-los com uma inclinação de cabeça, ajoelhou-se e
começou a orar. A seguir, em nome de Jesus ressusci­
tado, glorifícado e onipotente, ele ordenou ao demô­
nio que saísse da mulher. Imediatamente, ela ficou
calma, embora prostrada de fraqueza. E, daquele dia
em diante, esteve sempre perfeitamente sadia. Mos­
trou-se grandemente surpresa, quando lhe disseram
que havia pronunciado o nome do rapazinho crente,
pois nunca ouvira nem lera aquele nome, já que toda a
povoação era composta de incrédulos. Mas aquele dia
constituiu realmente um “começo dos dias” para
aquelas pessoas, pois a partir daí a Palavra de Deus
teve livre curso ali, e passou a ser respeitada por eles.
Prezado leitor, não sei como esta narrativa o afeta,
mas quanto a miJm, -fico comovido até o fundo da
alma. Parece-me que a màjoria dos crentes conhece
tão pouco do poder de Deus - \ t ã o pouco de seu amor
irresistível e transbordante. Ah, que amor é o de
Deus! Todas as vezes que oramos, esse amor nos
envolve de uma forma toda especial.
Se realmente amássemos nosso bendito Salvador,
não procuraríamos manter comunhão mais freqüehte
com ele em oração? Não será justamente borque
oramos pouco, irmão, que criticamos tanto? Lembre­
mo-nos de que, assim como o Senhor Jesüs, nós
também não fomos enviados ao mundo para conde­
nar, nem julgar o mundo “mas para que o mundo
fosse salvo por ele” . (Jo 3.17.)
Alguma crítica, ou palavra impensada, fará com
que alguém se àjíroxime maus de Cristo? Será que esta
crítica levará aquelh que a expressa a ser mais^seme-
lhante a seu Mestre?Nponhamos de lado todo espírito
de crítica, de julgamento, de apontar o dedo, de

J10
depreciação dos outros ou de seu trabalho. Será que o
apóstolo Paulo não diria a todos nós “Tais fostes
alguns de vós; mas vós vos lavastes” (1 Co 6.11)?
Já percebeu onde queremos chegar? Todas as incli­
nações más e as falhas que desobrimos nos outros são
causadas pelo diabo. Ê a presença do maligno no
coração da pessoa que causa as palavras e atos que
estamos sempre tão prontos a condenar e exagerar. A
possessão demoníaca não é muito conhecida na Ingla­
terra, mas talvez aqui ela tome uma forma diferente.
Com certeza, nossos amigos e conhecidos, tão bondo­
sos e cordiais, muitas vezes podem estar amarrados e
amordaçados por alguns pecados constantes — “a
quem Satanás trazia presa há dezoito anos” .
Podemos suplicar-lhes, mas de nada adiantará.
Podemos adverti-los, mas será em vão. A cortesia e a
caridade — assim como nossos erros e falhas —
impedirão que nos imponhamos a eles, como fez
Ma-Na-Si, e expulsemos o espírito maligno. Mas, será
que já experimentamos orar — uma oração sempre
apoiada no amor, o qual “nunca falha” (1 Co 13.5)?
Deus atende às orações de velhos e crianças,
quando feita por um coração puro, uma vida santa e
uma fé simples. Deus atende às orações. Somos servos
fracos e falhos. E embora possamos ser sinceros,
oramos erradamente. Mas Deus que prometeu é fiel, e
ele nos guardará do perigo e suprirá todas as nossas
necessidades.

Poderei eu obter tudo que peço?


Deus sabe o que é melhor.
Ele é mais sábio que seus filhos.
Posso ficar descansado.

“Amados, se o coração não nos acusar, temos


confiança diante de Deus; e aquilo que pedimos, dele
recebemos, porque guardamos os seus mandamentos,
e fazemos diante dele o que lhe é agradável.” (1 Jo
3.21.22.)

111
10

Como Deus Atende às Orações


É totalmente impossível para o homem compreen­
der perfeitamente a Deus e sua maneira de lidar
conosco, “ ó profundidade da riqueza, tanto da sabe­
doria, como do conhecimento de Deus! Quão insondá-
veis são os seus juízos e quão inexcrutáveis os seus
caminhos!” (Rm 11.33.) É verdade, mas não precisa­
mos criar dificuldades onde não existe nenhuma. Se
Deus tem todo o poder e todo o conheciróento, certa­
mente que a oração não deve encontrar dificuldades,
embora, vez por oütrãf possamos sentir-nos perplexos
diante de certos fatos. NSp podemos descobrir o
método de Deus operar, mas sabemos algumas" coisas
acerca de sua maneira de responder às orações.
Porém, antes de seguirmos em frente, gostaria de
relembrar como conhecemos pouco acerca das ques­
tões mais comuns. Edison, cujo conhecimento era
bastante profundo, escreveu, em agosto de 1921, o
seguinte: ‘‘Não sabemos nem a milionésima parte Üç
um por cento de qualquer coisa. Não sabemos o\que é
a água. Não sabemos o que é a luz. Não sabemos p que
é a gravitação. Não sabemos o que nos capacita a
pôr-nos de pé e nos mantermos eretos. Não sabemos o
que é a eletricidade. Não sabemos o que é o calor. Não
sabemos nada acercado magnetismo. Possuímos uma
porção de hipóteses, mas não passam de hipóteses.”
Todavia, não permitimos que\nossa ignorância acerca
dessas coisas nos impeçam de utilizá-las. Não a b e ­
mos muita coisa acerca da oração, mas isto certamen-

112
te não nos impede de orar. Sabemos o que o Senhor
nos ensinou a respeito da oração. E sabemos que ele
enviou o Espírito Santo para nos ensinar todas as
coisas (Jo 16.26). Então, como Deus atende às ora­
ções?
Ele revela sua mente àqueles que oram. Seu
Espírito Santo coloca idéias novas no pensamento das
pessoas que oram. Estamos certos de que o diabo e
seus anjos estão bem ativos, instilando maus pensa­
mentos em nossa mente. Certamente, então, Deus e
seus santos anjos também podem dar-nos bons pensa­
mentos. Até mesmo os homens comuns, pobres e
fracos pecadores, podem colocar pensamentos bons
na mente de outrem. É o que tentamos fazer ao
publicarmos livros. Não paramos para pensar como é
maravilhoso que essas pequeninas formas pretas no
papel branco sirvam para inspirar e edificar as pes­
soas, ou então para deprimi-las e abatê-las, ou até
mesmo para convencê-las de pecado. Mas, para um
selvagem iletrado, isto é um milagre espantoso. Além
do mais, podemos muitas vezes ler o pensamento ou
desejo das pessoas por um olhar ou expressão facial.
Até mesmo a telepatia entre duas pessoas já é comum
hoje em dia. E Deus pode comunicar seu pensamento
a nós de muitas maneiras. Um notável exemplo disso
foi relatado por um pregador, no ano passado, em
Northfield. Há três ou quatro anos atrás, ele conheceu
o capitão de um baleeiro, que lhe narrou o seguinte
fato: I
“ Há vários anos, navegávamos pelas águas deser­
tas ao largo do Cabo Horn, à procura de baleias. Certo
dia, seguíamos na direção sul, indo de encontro a um
vento fortíssimo. Ficamos lutando a manhã toda,
tentando de um modo ou de outro, mas conseguindo
muito pouco progresso. Cerca de 11:00 da manhã,
achava-me no leme, quando me ocorreu o seguinte
pensamento: por que ficar forçando o barco contra
estas ondas? Provavelmente, a mesma quantidade de
baleias que há para o sul, há também para o norte.
Talvez fosse bom navegarmos com o vento, ao invés de

113
contra ele.” Ante esta idéia súbita, mudei o curso do
barco, e passei a dirigir-me para o norte. Uma hora
depois, ao meio-dia, o vigia que se achava no topo do
do mastro, gritou: “Botes à vista!” E pouco depois
chegávamos junto de quatro botes salva-vidas, nos
quais estavam quatorze marinheiros, únicos sobrevi­
ventes de um navio que se incendiara totalmente,
havia dez dias. Aqueles homens haviam estado à
deriva em seus botes desde então, orando desespera­
damente para que Deus lhes enviasse socorro; chega­
mos bem a tempo de salvá-los. Eles não teriam sobre­
vivido nem mais um dia.”
E depois o velho baleeiro acrescentou: “Não sei se
você acredita em religião ou não, mas eu sou crente. E
todos os dias pela manhã faço uma oração a Deus
para que me use no sentido de auxiliar alguém, e
estou certo de que naquele dia foi Deus quem colocou
em minha mente a idéia de mudar o curso do barco.
Aquela idéia salvou quatorze vidas.”
Deus tem muitas coisas a dizer-nos. Há muita
coisa que ele deseja colocar em nossa mente. Mas
estamos sempre tão ocupados em sua obra que não
paramos para ouvir sua Palavra. A oração concede a
Deus a oportunidade de falar-nos e revelar-nos sua
vontade. Que nossa atitude possa ser: “ Fala, Senhor,
que teu servo ouve!”
Deus responde nossas orações em favor de outras
pessoas, introduzindo novos pensamentos em suas
mentes. Em uma série de conferências acerca da vida
vitoriosa, este escritor, numa tarde, instou com os
ouvintes a que acertassem seus desentendimentos, se é
que desejavam realmente uma vida santa. Uma se­
nhora foi diretamente para casa, e após um período de
oração fervorosa, escreveu à irmã com quem não
falava havia vinte anos, por causa de uma briga. A
irmã morava numa localidade a cerca de quarenta e
oito quilômetros. Na manhã seguinte, aquela senhora
recebeu uma carta dessa irmã, pedindo perdão e
buscando uma reconciliação. As duas cartas haviam
se cruzado no caminho. Enquanto esta primeira irmã

114
estava orando pela outra, Deus estivera falando à
outra, colocando em sua mente o desejo de uma
reconciliação.
Alguém pode indagar: “ E por que Deus não colo­
cou este desejo no coração dela antes?” É possível que
ele tenha visto que não adiantaria esta irmã distante
escrever pedindo perdão, enquanto a outra não esti­
vesse também disposta a perdoar. Mas permanece o
fato de que quando oramos por outros, de uma forma
ou de outra, isto abre o caminho para que Deus
influencie aqueles por quem oramos. Deus precisa de
nossas orações, senão não pediria que orássemos.
Algum tempo atrás, no fim de uma reunião de
oração semanal, uma mulher crente pediu aos presen­
tes que orassem por seu marido incrédulo, que não
desejava nem aproximar-se de um salão de cultos. O
dirigente sugeriu que orássem ali mesmo, naquele
instante. Então, algumas orações fervorosas foram
feitas a Deus. Ora, aquele homem era muito dedicado
à esposa, e, por vezes, ia à igreja esperá-la à saída. E
foi o que aconteceu naquela noite, chegando ao salão,
quando a reunião ainda prosseguia. Deus colocou em
seu pensamento a idéia de entrar e esperar dentro da
igreja — coisa que nunca fizera antes. Sentou-se
numa cadeira perto da porta, e inclinou a cabeça,
ficando a escutar as orações fervorosas. Enquanto
caminhavam de volta para casa, perguntou à esposa:
“ Mulher, quem era o homem por quem estavam
orando hoje à noite?” “Ah” , replicou ela “é o marido
de uma de nossas obreiras.” “Tenho certeza de que
ele será salvo” , comentou ele. “ Deus tem que atender
orações assim.” Um pouco mais tarde, ele voltou a
perguntar: “ Quem era o homem por quem estavam
orando?” Ela respondeu nos mesmos termos de antes.
Quando foram deitar-se, ele não conseguiu dormir.
Achava-se sob profunda convicção de pecados. Des­
pertando a esposa, rogou-lhe que orasse por ele.
Este exemplo mostra claramente que, quando ora­
mos. Deus pode operar. Ele poderia ter inspirado
aquele homem para entrar na igreja em qualquer

115
outro dia. Mas se o tivesse feito, será que haveria
algum proveito nisso? Mas exatamente no dia em que
aquelas petições fervorosas e tocantes eram feitas em
favor dele, Deus viu que elas poderíam ter uma
influência poderosa sobre aquele pobre homem.
É quando oramos, que Deus pode nos auxiliar no
trabalho e fortalecer nossas decisões. Podemos res­
ponder a muitas de nossas próprias orações. Durante
um inverno muito rigoroso, um fazendeiro rico orou a
Deus em favor de um vizinho, para que Deus não o
deixasse morrer de fome. Certo dia, quando a família
encerrava suas orações, o filhinho dele disse: “ Papai,
acho que eu não importunaria a Deus com um
pedido destes!” “ Por que não?” indagou o pai. “ Por­
que seria fácil para o senhor mesmo cuidar para que
eles não morram de fome.” Não existe a mínima
dúvida de que, quando oramos por outros, também
devemos procurar ajudá-los.
Um jovem recém-convertido pediu ao pastor que
lhe desse algum trabalho para fazer. “Você tem um
amigo?” perguntou o pastor. “ Sim” , replicou o rapaz.
“ Ele é crente?” “Não; e mostra-se tão desinteressado
quanto eu era.” "Então, vá a ele e peça-lhe para
aceitar a Cristo como Salvador.” “ Ah, não” , respon­
deu o jovem, “eu nunca poderia fazer isso. Dê-me
qualquer trabalho, menos este.” “ Bem", disse o pas­
tor; “então prometa-me duas coisas: que você não
falará com ele acerca da condição de sua alma, e que
orará a Deus duas vezes por dia, em favor da conver­
são dele.” “ Perfeitamente, farei isto de bom grado” ,
respondeu o moço. Antes que se passassem duas sema­
nas, ele correu à casa do pastor: “Quero que medeso­
brigue da promessa. Tenho que falar ao meu amigo!”
suplicou ele. Depois que começara a orar, Deus lhe de­
ra forças para testemunhar. É essencial que tenhamos
comunhão com Deus antes de podermos ter comu­
nhão com nosso próximo. Creio firmemente que as
pessoas em geral raramente falam a outros acerca de
sua condição espiritual, porque intercedem pouco.
Este escritor nunca se esquece de como sua fé foi

116
fortalecida em oração, certa vez, quando tinha treze
anos, e pediu a Deus que o auxiliasse a conseguir vinte
novos contribuintes para certa missão no estrangeiro.
E exatamente vinte pessoas foram conseguidas antes
do cair da noite. A certeza de que Deus iria atender
aquela oração era um incentivo a um esforço dedica­
do. e deu-lhe coragem desusada para abordar as
pessoas.
Certo pastor da Inglaterra sugeriu aos seus mem­
bros que orassem diariamente pelo pior homem que
conhecessem, e depois fossem falar-lhe acerca de
Jesus. Apenas seis concordaram em fazer a experiên­
cia. Ao chegar em casa, o pastor começou a orar.
Depois, pensou: "Não posso deixar isto apenas a
cargo de minhas ovelhas. Tenho que fazê-lo eu mes­
mo. Não conheço pessoas ruins; terei que sair para
indagar." Aproximou-se de um homem com ar de
valentão, que encontrou na rua, e perguntou: “ Você é
o pior homem desse bairro?” “Não; não sou.” "Im­
portaria de dizer-me quem é ele?” “Não me importo.
Você o encontrará naquela rua, casa n.° 7.”
O pastor bateu à porta da casa 7 e entrou. "Estou
procurando o pior homem de minha paróquia. Disse­
ram-me que ele poderia ser o senhor.” “Quem lhe
disse isso? Traga-o aqui e lhe direi quem é o pior
homem.” “ Então, quem é pior do que o senhor?”
"Todo mundo o conhece. Mora na última casa,
naquela quadra. É o pior homem daqui.” O pastor
dirigiu-se à casa indicada e bateu à porta. Uma voz
irritada gritou: "Entre!”
Ali estava um casal. “ Espero que me desculpem,
mas sou o pastor da igreja ali adiante. Estou procu­
rando o pior homem das redondezas, porque tenho
algo a dizer-lhe. É você este homem?” O outro voltou-
se para a esposa e disse: “Mulher, conte a ele o que
lhe falei há cinco minutos.” “Não; conte você mes­
mo." “ O que estão dizendo?” indagou o pastor.
“ Bem. estou bebendo sem parar há três meses. Já tive
delirium tremens, e empenhei tudo que podia empe­
nhar dessa casa. Há cinco minutos atrás eu disse à

117
/minha esposa: “ Mulher, isso precisa terminar. Se isso
/ não parar, eu paro — vou afogar-me.” Foi quando o
/ senhor bateu à porta. É verdade, senhor; sou o pior
j homem do bairro. O que tem a dizer-me?” “ Estou
aqui para dizer-lhe que Jesus Cristo é o maior Salva­
dor, e que ele pode transformar o pior homem do
mundo num dos melhores. Ele fez isso comigo e fará
com você.” “O senhor crê que ele pode fazer isso
comigo?” “Tenho certeza que sim! Ajoelhe-se e peça-
lhe.”
E não somente aquele pobre bêbedo foi salvo de
seus pecados, como também hoje é um crente feliz,
que leva outros bêbedos ao Senhor Jesus Cristo.
Certamente, nenhum de nós tem dificuldade em
crer que Deus pode, em resposta à oração, curar
doentes, enviar chuva ou bom tempo, dispersar ne­
voeiros ou evitar calamidades.
Estamos lidando com um Deus cujo conhecimento
é infinito. Ele pode colocar na mente de um médico
uma orientação para receitar certo remédio, regime
alimentar ou um determinado tratamento. Todo co­
nhecimento médico vem de Deus. “ Ele conhece nossa
estrutura” — pois foi ele quem a criou. Ele a conhece
melhor que o mais sábio médico da Terra. Ele criou e
pode restaurar. Cremos que Deus deseja que utilize­
mos os conhecimentos médicos, mas cremos também
que ele, com seu maravilhoso conhecimento, pode
curar, e às vezes cura, sem a cooperação humana. E
Deus deve ter liberdade de operar a seu modo. Temos
uma acentuada tendência de limitar a atuação de
Deus ao método que aprovamos. O objetivo dele é
glorificar seu nome, respondendo às nossas orações.
Por vezes, ele vê que o nosso desejo é correto, mas
nossa petição é errada. O apóstolo Paulo pensava que
poderia trazer mais glória para o nome de Deus
somente se o espinho que havia em sua carne fosse
removido. Mas Deus sabia que ele seria melhor, e
faria melhor trabalho com o espinho, do que sem ele.
Portanto, Deus disse: Não! Não! Não! à sua petição, e
depois explicou por quê.

118
O mesmo aconteceu a Mônica que orou muitos
anos em favor de seu filho Agostinho, que era um
homem licencioso. Quando este revolveu abandonar o
lar e cruzar o mar em direção a Roma, a mãe orou
fervorosamente, e com desespero, para que Deus
mantivesse o filho junto dela, e sob sua influência.
Dirigiu-se a uma pequena igreja próxima da praia, a
fim de passar ali a noite, em oração, perto do lugar
onde o navio estava ancorado. Mas o dia nasceu, e ela
descobriu que o navio partira, enquanto ela orava.
Seu pedido fora recusado, mas seu verdadeiro desejo
fora atendido. Pois foi em Roma que Agostinho
conheceu Santo Ambrósio, que o conduziu a Cristo.
Como é confortador saber que Deus sabe o que é
melhor para nós!
Entretanto não devemos achar absurdo que Deus
permita que certas coisas dependam de nossas ora­
ções. Algumas pessoas dizem que, se Deus realmente
nos ama, ele nos dará o que é melhor para nós, quer
peçamos ou não. O Dr. Fosdick observou, com muito
acerto, que Deus já tomou a seu cargo muitas coisas.
Ele nos promete as estações de plantio e colheita.
Entretanto, o homem tem que preparar o solo, se­
mear, capinar e colher, para que Deus faça sua parte.
Deus nos dá o alimento e a bebida. Mas ele deixa a
nosso cargo pegar, comer e beber. Existem coisas que
Deus não pode, ou pelo menos não quer fazer sem a
nossa cooperação. Ele não pode fazer certas coisas
a menos que exercitemos nossa mente. Ele nunca ins­
creve suas verdades nos céus. As leis da ciência
sempre estiveram aí. Mas temos que pensar, experi­
mentar. pensar outra vez, se quisermos utilizar estas
leis para o nosso bem e para a glória de Deus.
Deus não pode realizar certas coisas a menos que
trabalhemos. Ele depositou o mármore nas colinas,
mas nunca construiu uma catedral. Encheu as monta­
nhas de minério de ferro, mas ele próprio nunca
fabrica uma agulha ou uma locomotiva. Ele deixa isso
a nosso encargo. Temos que trabalhar.
Então, se Deus deixou algumas coisas para o

119
homem realizar com seu trabalho e raciocínio, por
que não deixaria algumas também para realizarmos
com a oração? E foi o que ele fez. “ Pede e receberás.”
E existem bênçãos que Deus não nos dará a não ser
que peçamos. A oração é um dos três meios pelos
quais o homem coopera com Deus — o maior deles.
Os homens de poder são, sem exceção, homens de
oração. Deus derrama o Espírito Santo em plenitude
apenas sobre as pessoas de oração. É pela operação do
Espírito Santo que vêm as respostas de oração. Todo
crente tem o Espírito de Cristo habitando nele. Pois,
“se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é
dele”. Mas o homem que persiste em oração deve ser
cheio do Espírito de Cristo.
Uma missionária nos escreveu, recentemente, que
se dizia de João Hyde que ele nunca conversava com
um homem não convertido sem que este se conver­
tesse. Mas se Hyde falhasse na primeira tentativa, não
conseguindo tocar o coração da pessoa, voltava ao
quarto, e lutava em oração até descobrir o que havia
em si mesmo que o estava impedindo de ser usado por
Deus. Quando somos cheios do Espírito de Deus, não
podemos deixar de influenciar outros para irem ao
Senhor. Mas. para possuirmos poder entre os homens,
precisamos primeiramente ter poder com Deus.
Contudo, a pergunta que deve preocupar-nos mais
não é: “ Como Deus atende às orações?’” , mas, sim,
“ Será que oro realmente?” Que maravilhoso poder
Deus coloca ao nosso dispor! Será que pensamos que
vale a pena agarrar-nos a qualquer coisa que desagra­
da a Deus? Amigo, confie em Cristo completamente, e
verá que ele é totalmente fiel.

120
I

11

Empecilhos à Oração
Disse um poeta — e nós cantamos freqüentemente:

Que variados obstáculos encontramos


Para chegar ao trono da graça.

E, na verdade, eles são vários. Mas, nesse caso


também, muitos desses obstáculos são criados por nós
mesmos.
Deus quer que oremos. O diabo não quer, e faz
tudo no sentido de impedir-nos. Ele sabe que realiza­
mos mais através de orações do que de trabalho. Ele
preferiría que fizéssemos qualquer coisa, em vez de
orar.
Já mencionamos esta oposição de Satanás às nos­
sas orações.

Estes anjos que se opõem à nossa marcha


E ainda nos superam em forças,
São nossos inimigos secretos, implacáveis, incansáveis,
Inumeráveis, invisíveis.

Mas não precisamos temê-los, nem dar-lhes aten­


ção, se tivermos os olhos sempre voltados para o
Senhor. Os anjos santos são mais fortes que os anjos
caídos, e podemos deixar as hostes celestiais nos pro­
tegerem. Cremos que podemos creditar às hostes
malignas o fato de termos extravios de pensamento,

121
que destroem nossas orações. Mal nos ajoelhamos e
nos “lembramos” de algo que deveriamos ter feito, ou
de outra coisa de que devemos cuidar imediatamente.
Estes pensamentos procedem de fora, e certamen­
te são inspirados por espíritos malignos. O único
remédio para esta invasão de pensamento é fixar a
mente em Deus. Sem dúvida, o pior inimigo do
homem é ele mesmo. A oração é privilégio dos filhos
de Deus — e quem está vivendo como filho de Deus
deve orar.
Mas, a grande questão é: será que estou abrigan­
do inimigos em meu coração? Existem traidores em
meu coração? Deus não pode dar-nos suas melhores
bênçãos espirituais a não ser que preenchamos certas
condições: confiar, obedecer e trabalhar. Não é ver­
dade que muitas vezes pedimos os mais elevados dons
espirituais, sem pensarmos ao menos em satisfazer as
exigências necessárias? Não é verdade também que
muitas vezes solicitamos bênçãos que não estamos
preparados para receber? Teremos coragem de ser
honestos com nós mesmos, a sós, na presença de
Deus? .Será que podemos dizer sinceramente: “ Son­
da-me ó Deus, e vê...” ? Existe em mim qualquer coisa
que esteja impedindo a bênção de Deus para mim e
para outros, através de mim? Discutimos o “problema
da oração” , mas nós somos o problema que requer
discussão e dissecação. A oração não contém proble­
mas. Não existe nenhum problema nela, para o
coração que está ancorado em Cristo.
Não citaremos os textos bíblicos mais comuns que
mostram como a oração pode ser frustrada. Simples­
mente, desejamos que cada um tenha uma visão de
seu próprio coração. Nenhum pecado é pequeno
demais, que não possa por obstáculos à oração, e
talvez até transformá-la em pecado, se não estivermos
dispostos a renunciar a ele. Os muçulmanos da África
Ocidental têm um ditado que diz: “Se não houver
pureza, não pode haver oração; se não houver oração,
não se beberá da água dos céus.” Esta verdade é
claramente ensinada nas Escrituras, e é de admirar

122
que as pessoas queiram conservar ambos — o pecado
e a oração. No entanto, muitos agem assim. Mas até
Davi clamou: “ Se eu no coração contemplara a
vaidade, o Senhor não me teria ouvido.” (SI 66.18.)
E Isaías 59.2 diz: “Mas as vossas iniqüidades
fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos
pecados encobrem o seu rosto de vós.” Certamente,
todos concordamos em que é o pecado que existe em
nós, e não uma possível má-vontade da parte de Cristo
em atender às nossas orações, o que impede as
respostas. Em geral, é sempre um dos chamados
“ pequenos pecados” que prejudicam e maculam nos­
sa comunhão com Deus. Esses podem ser:
(1) Dúvida — a incredulidade é, possivelmente, o
maior empecilho à oração. O Senhor disse: que o
Espírito Santo convencería o mundo “do pecado,
porque não creem em mim” (Jo 16.9). Não somos do
mundo, contudo não existe bastante incredulidade em
muitos de nós? Escrevendo aos crentes em geral,
Tiago diz o seguinte: “ Peça-a, porém, com fé, em
nada duvidando; pois o que duvida... Não suponha
esse homem que alcançará do Senhor alguma cousa.”
(1.6,7.) Alguns de nós não têm, porque não pedem.
Outros, porque não creem. Achou o leitor estranho o
fato de falarmos em louvor e adoração antes de
entrarmos propriamente na questão da “petição” ?
Mas, certamente, se tivermos uma boa visão da glória
e majestade do Senhor e das maravilhas de sua graça e
amor, a incredulidade e a dúvida se desvanecerão,
como a neblina se desfaz ao nascer do sol. Não foi essa
exatamente a razão por que Abraão “não vacilou” e
“não duvidou da promessa de Deus, por incredulida­
de” . isto é, por ter dado a Deus a glória devida ao seu
nome, foi “plenamente convicto de que ele era pode­
roso para cumprir o que prometera” (Rm 4.20,21).
Conhecendo o que conhecemos acerca do maravilhoso
amor de Deus, não é de se admirar que ainda duvi­
demos?
(2) A seguir vem o nosso ego — a raiz de todo o
pecado. Como tendemos a ser egoístas, mesmo ao

123
praticar boas obras! Como hesitamos em largar mão
de qualquer coisa que o “ego” deseje. Contudo, sabe­
mos que a mão que já está cheia, não pode receber as
bênçãos de Cristo. Seria por isso que o Salvador, na
primeira oração que ensinou aos discípulos, mencio­
nou tudo na l.a pessoa do plural? “Pai nosso...
dá-nos... perdoa-nos... livra-nos...”
O orgulho é um empecilho à oração, pois ela é um
gesto de auto-humilhação. Como o orgulho deve ser
odioso para Deus! É ele quem nos dá todas as coisas
para desfrutarmos. “ Que tens tu que não tenhas rece­
bido?” pergunta o apóstolo Paulo em 1 Coríntios 4.7.
Certamente, não iremos permitir que o orgulho e sua
odiosa e terrível irmã, a inveja, destruam nossa comu­
nhão com Deus. O Senhor não pode fazer grandes
coisas que nos alegrem, se elas vão nos “subir à
cabeça” . Ah, como somos tolos, às vezes! Em algumas
situações, quando insistimos, Deus nos concede aqui­
lo que pedimos, às custas de nossa santidade. “Con­
cedeu-lhes o que pediram, mas fez definhar-lhes a
alma.” (SI 106.15.) O Deus, livra-nos disso! Livra-nos
do ego! Também existe a auto-afirmação, que ali­
mentamos ao criticar os outros. Que este pensamento
se grave a fogo em nossa memória — quanto mais
uma pessoa se aproxima da semelhança de Jesus
Cristo, menos ela julga os outros. Isso é um teste
infalível. Aqueles que estão sempre criticando os
outros, já se afastaram de Cristo. Podem ainda per­
tencer-lhe, mas perderam seu espírito de amor. Preza­
do leitor, se você tem uma natureza crítica, permita
que ela se volte para você e o analise, e não ao seu
próximo. Você fará uma aplicação ampla dela, e
nunca ficará sem uso. Será esta afirmação por demais
dura? Revelaria ela uma tendência de cometer o
pecado — pois que é pecado — que está condenando?
Tal seria se fosse dirigida a uma só pessoa. Mas o
objetivo dessa afirmação é atravessar uma armadura
que parece invulnerável. E qualquer pessoa que,
durante um mês, consiga impedir que sua língua
“roube” a reputação de outras pessoas, nunca deseja­

124
rá voltar à prática do “mexerico” . “O amor é paciente
e benigno” (1 Co 13.4). Será que agimos assim?
Estamos agindo assim?
E não somos melhores simplesmente por pintar­
mos os outros com cores mais carregadas. Mas, estra­
nhamente, aumentamos nosso gozo espiritual e nosso
testemunho vivo em favor de Cristo, quando nos recu­
samos a passar adiante informações negativas a res­
peito de outrem, ou nos abstemos de julgar a obra ou
os atos das pessoas. Pode ser difícil, a princípio, mas
logo nos trará imensa alegria. Ademais, essa atitude é
recompensada com o amor de todos que nos cercam.
É mais difícil manter silêncio em face das “heresias”
modernas. E não somos exortados a batalhar “dili­
gentemente pela fé que uma vez por todas foi entregue
aos santos” (Jd 3)? Em algumas situações devemos
falar — mas sempre em espírito de amor. “É prefe­
rível deixar viver o erro, que matar o amor.”
Mesmo em nossas orações particulares devemos
evitar citar erros dos outros. Creia-me, um espírito de
crítica, mas que qualquer outra coisa, destrói a nossa
santidade de vida, pois é um pecado quase “respeitá­
vel” , e nos apanha em suas malhas com grande
facilidade. Creio ser quase desnecessário acrescentar
que o crente cheio do Espírito de Cristo — ou seja,
cheio de amor — nunca falará a outros acerca das
práticas não cristãs que ele observa em seus amigos.
“ Ele foi muito rude comigo” ; ou “Ele é muito orgu­
lhoso” ; “ Não suporto aquele homem” , e observações
semelhantes certamente são maldosas, desnecessárias
e muitas vezes inverdadeiras.
O Senhor Jesus sofreu oposição de pecadores
contra si mesmo, mas nunca reclamou nem procurou
divulgar esses fatos. Por que deveriamos nós agir
assim? O ego deve ser destronado para que Cristo
possa reinar soberanamente. Não deve existir nenhum
ídolo em nosso coração. Lembra-se do que Deus falou
acerca de alguns líderes religiosos? “Estes homens
levantaram seus ídolos dentro em seu coração... acaso

125
permitirei que eles me interroguem?” (Ez 14.3.)
Quando nosso objetivo máximo é sempre a glória
de Deus, então o Senhor pode atènder nossas orações.
Nosso anseio deve ser pelo próprio Cristo, antes que
por suas dádivas. “ Agrada-te do Senhor, e ele satisfa­
rá aos desejos do teu coração.” (SI 37.4.)
“Amados, se o coração não nos acusar, temos
confiança diante de Deus; e aquilo que pedimos, dele
recebemos, porque guardamos os seus mandamentos,
e fazemos diante dele o que lhe é agradável.” (1 Jo
3.21,22.)
Hoje, como nos primeiros dias do cristianismo, é
verdade que os homens pedem, mas não recebem,
porque pedem mal, para gastarem em seus próprios
deleites — isto é, para si mesmos. (Tg 4.3.)
(3) A ausência de amor no coração talvez seja o
maior empecilho à oração. Um espírito de amor é
condição básica para uma oração confiante. Não
podemos agir erradamente para com o homem, e estar
certos perante Deus. O espírito de oração é essencial­
mente um espírito de amor. A intercessão nada mais é
que o amor em oração.

Ora melhor, quem ama melhor


A todas as coisas, grandes e pequenas,
Pois o grande Deus que nos ama,
A todas criou, e as ama.

Será que nos atrevemos a odiar ou não gostar


daqueles a quem Deus ama? E se o fizermos, será que
realmente possuímos o Espírito de Cristo? Temos que
encarar estes fatos elementares de nossa fé, se quiser­
mos que nossa oração não seja apenas mera formali­
dade. O Senhor diz: “Amai os vossos inimigos e orai
pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos
do vosso Pai celeste.” (Mt 5.44,45.)
Estamos propensos a achar que um grande núme­
ro de cristãos nunca examinou esta questão. Quando
ouvimos alguns obreiros cristãos — e alguns até bem

126
proeminentes — referirem-se aos que discordam de­
les, temos que supor, em amor, que nunca ouviram
este mandamento do Senhor.
Nossa vida diária neste mundo é a melhor prova de
nosso poder na oração. Deus acata minhas orações
não com base no espírito e no tom de voz que demons­
tro ao orar em público ou em particular, mas com o
espírito que demonstro em minha vida diária.
As pessõas de mau gênio só podem ser frias na
oração. Se não obedecermos ao mandamento do
Senhor de amarmos uns aos outros, nossas orações
são totalmente sem valor. Se temos um espírito de
ressentimento, orar é quase um desperdício de tempo.
E, no entanto, um proeminente líder de uma de nossas
catedrais, recentemente, teria dito que existem pes­
soas a quem nunca podemos perdoar. Se assim é,
esperamos que ele use uma versão abreviada do Pai
Nosso. Cristo ensinou-nos a dizer: “ Perdoa-nos...
assim como nós perdoamos,” E vai mais além. Ele
declara: “ Se, porém, não perdoardes aos homens, tão
pouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas.” (Mt
6.15.) Que possamos revelar sempre o Espírito de
Cristo, e não prejudicar o perdão de que tanto necessi­
tamos. Quantos de nossos leitores, que não têm a
menor intenção de perdoar seus inimigos, e nem
mesmo os amigos que os ofendem, recitariam o Pai
Nosso hoje?
Muitos crentes nunca deram uma dimensão corre­
ta à oração. Não por uma insinceridade consciente,
mas por falta de raciocínio. A culpa disso está com
aqueles que ensinam e pregam. Temos a tendência de
ensinar doutrinas, ao invés de atos. A maioria das
pessoas deseja fazer o que é certo, mas pensam antes
nas grandes coisas e não nas pequeninas falhas na
vida de amor.
O Senhor chega até a dizer que nem mesmo nossas
ofertas devem ser dadas a Deus se nos lembrarmos de
que nosso irmão “tem alguma cousa contra ti” (Mt
5.23). E se ele não aceita nossa oferta, seria provável
que atendesse nossas petições? Foi somente quando Jó

127
cessou de contender com seus inimigos (que a Bíblia
chama de “amigos”) que o Senhor “mudou... a sorte”
dele, e deu-lhe em dobro tudo que ele possuira antes
(Jó 42.10).
Como somos lentos — e como somos reticentes —
em entender que nosso modo de viver impede nossas
orações! E como relutamos em nos orientarmos pelas
leis do amor! Desejamos “ganhar almas” . E o Senhor
nos mostra uma forma de fazê-lo: não divulgar os
erros das pessoas. Temos que falar-lhes em particular,
e “ganhaste teu irmão” (Mt 18.15). A maioria das
pessoas tem magoado seus irmãos.
Até mesmo a vida no lar pode interromper nossa
comunhão. Veja o que Pedro diz acerca do assunto, e
como devemos viver no lar para que não se “inter­
rompam” nossas orações. (1 Pe 3.1-10.) Gostaríamos
de insistir com cada leitor para que peça a Deus para
sondar seu coração e mostrar-lhe onde há raiz de
amargura, com relação a qualquer pessoa. Todos
desejamos fazer o que é agradável a Deus. Seria de
imensa vantagem para nossa vida espiritual, se resol­
véssemos não voltar a orar, enquanto não fizéssemos
tudo ao nosso alcance para estabelecer paz e harmo­
nia entre nós e qualquer pessoa com quem possamos
ter desentendimentos. Enquanto nao fizermos isso,
no que depende de nós, nossas orações serão ape­
nas desperdício de fôlego. Sentimentos inamistosos
para com outras pessoas impedem que Deus nos
abençoe da maneira como ele deseja.
Uma vida de amor é condição essencial para a
oração confiante. Deus nos desafia hoje, novamente, a
nos tornarmos pessoas preparadas para receber suas
abundantes bênçãos. Muitos de nós terão que escolher
entre um coração amargurado e ressentido, ou as
ternas misericórdias e amor do Senhor Jesus Cristo.
Não é estranho que uma pessoa possa ficar indecisa
entre essas duas opções? Pois a amargura prejudica
mais à própria pessoa que a qualquer outro.
“E, quando estiverdes orando, se tendes alguma
cousa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai

128
celestial vos perdoe as vossas ofensas” (Mc 11.25). Foi
o que disse o bendito Mestre. Não devemos, então, ou
perdoar ou parar de orar? De que adiantará a uma
pessoa passar o dia todo orando se abrigar falta de
amor no coração, o que impede a verdadeira oração?
Como o diabo se ri de nós, por não enxergarmos esta
verdade!
Temos a mensagem de Deus de quem nem a elo-
qüência, nem os conhecimentos, nem a fé, nem a
liberalidade e nem mesmo a morte valem de nada
para o homem — entendam bem isto — não valem
nada, se o coração não estiver cheio de amor (1 Co 13).
“ Portanto, dá-nos amor.”
(4) Uma recusa em fazer nossa parte pode impedir
que Deus responda nossas orações. O amor gera
compaixão e trabalho, em face do pecado e sofrimento
humanos, tanto na pátria como no estrangeiro. Foi o
que sucedeu ao apóstolo Paulo, cujo coração “se
revoltava” dentro dele, ao contemplar a cidade cheia
de ídolos (At 17.16). Não podemos ser sinceros quan­
do oramos “Venha o teu reino” , mas não fazemos
tudo ao nosso alcance para a vinda deste reino —
com nossas ofertas, orações e serviço.
Não podemos estar sendo totalmente sinceros ao
orar pelos incrédulos a menos que estejamos dispostos
a dar uma palavra a alguém, escrever uma carta, ou
fazer qualquer coisa para alcançá-los com o evange­
lho. Antes de Moody realizar uma de suas grandes
campanhas, ele esteve presente em uma reunião de
oração, a fim de pedir as bênçãos de Deus sobre o
trabalho. Estavam ali também vários homens ricos.
Um deles começou a pedir que Deus enviasse fundos
suficientes para as despesas. Moody interrompeu-o
imediatamente. “Não precisamos incomodar a Deus
com esta questão” , disse ele tranqüilamente, “nós
mesmos podemos responder esta petição.”
(5) Orar somente em particular pode ser um em­
pecilho. Os filhos não devem ter contato com os pais
somente em separado. É importante pensar com que
freqüência o Senhor se refere à oração em grupo —

129
comunhão em oração. “ Se dois dentre vós, sobre a
terra, concordarem a respeito de qualquer cousa que
porventura pedirem, ser-lhes-á concedida... Porque
onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome,
ali estou no meio deles.” (Mt 18.19,20.)
Temos certeza de que a fraqueza espiritual de
muitas igrejas decorre do fato de suas reuniões de
oração serem fracas, ou de não existirem. As reuniões
matutinas e os cultos vespertinos não podem, nem
mesmo se realizados com toda a reverência e sem a
pressa que parece caracterizá-los freqüentemente, to­
mar o lugar de reuniões de oração mais elaboradas,
onde todos participem. Não podemos fazer de nossas
reuniões semanais um culto mais vivo e uma verdadei­
ra força espiritual?
(6) O louvor é tão importante quanto a oração.
Temos que entrar em suas portas com ações de graças
e em seu átrios com hinos, e dar-lhe graças e bendizer
seu nome. (SI 100.4). Em certa época de sua vida, João
Hyde sentiu-se inspirado a pedir a Deus quatro almas
por dia para o seu rebanho, por seu intermédio.
Quando nao atingia o número desejado, sentia o
coração pesado e dorido. Não conseguia comer nem
dormir. Então, orava a Deus pedindo-lhe que mos­
trasse qual fora o obstáculo. E em alguns casos, veio a
descobrir que fora a falta de louvor. Então ele confes­
sava este pecado, e pedia ao Senhor o espírito de
louvor. Ele dizia que, quando louvava a Deus, era
procurado por pessoas desejosas de obterem a salva­
ção. Não devemos depreender disso que nós também
devemos limitar a Deus apresentando-lhe números
definidos ou determinados métodos de trabalho; mas
temos que clamar: “ Glória ao Senhor! Glória a
Deus!” de coração, mente e alma.
Não é por acaso que tantas vezes recebemos a
ordem: “ Regozijai-vos no Senhor!” Deus não nos
quer ver infelizes; e nenhum de seus filhos tem
motivos para sê-lo. O apóstolo Paulo, o mais persegui­
do dos homens, era uma pessoa que cantava louvores.
Hinos brotavam de seus lábios na prisão e fora dela;

130
louvava ao Salvador dia e noite. Até mesmo a ordem
que ele apresenta em sua exortação é relevante:
“ Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo dai
graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo
Jesus para convosco.” (1 Ts 5.16-18.)
É a vontade de Deus. Mantenhamos em mente
este pensamento. Isto não é uma questão optativa.

REGOZIJAI. ORAI. DAI GRAÇAS.

De acordo com a vontade de Deus, esta é a ordem


dos fatos para nós. Nada agrada mais a Deus do que
nosso louvoi1 — e nada é de maior bênção para o
homem que ora, do que o louvor que ele dedica a
Deus. “ Agrada-te do Senhor, e ele satisfará aos
desejos do teu coração.” (SI 37.4.)
Certo missionário, que recebera notícias tristes de
casa, achava-se completamente arrasado. Orou, mas
aquela oração nada adiantou, no sentido de dissipar
as sombras de sua alma. Foi ver outro missionário,
naturalmente em busca de conforto. E ali, na parede,
viu um quadrinho com as palavras: “Experimente dar
graças!” E ele o fez; no mesmo instante, as sombras
se dissiparam, para nunca mais retornarem.
Será que louvamos ao Senhor o suficiente para que
nossas orações sejam respondidas? Se realmente con­
fiamos nele, sempre o louvaremos. Pois

Deus nada faz, nem deixa que se faça


Que você próprio não faria
Se pudesse ver o fim de tudo
Tão bem quanto ele vê.

Certa pessoa, que ouviu Lutero orando, disse:


“Deus bendito! Que espírito e que fé há em suas
expressões! Ele dirige a Deus suas petições com uma
reverência, como quem está na presença de Deus, mas
com a firmeza com que se dirigiría a seu pai ou a um
amigo.” Aquele filho de Deus não parecia preocupado
com o fato de que existem “empecilhos à oração” .

131
Depois do que dissemos, vemos que tudo pode ser
resumido num único ponto. Todos os empecilhos à
oração resultam de nossa ignorância sobre os ensinos
da Santa Palavra de Deus, a respeito da vida de
santidade que ele tencionava que todos os seus filhos
levassem, ou de uma relutância de nossa parte em nos
consagrarmos totalmente a ele.
Podemos verdadeiramente dizer a nosso Pai: “Tu­
do que tenho é teu” , e então ele poderá dizer-nos: “ E
tudo que é meu é teu.”

132
12

Quem Pode Orar?


Faz apenas dois séculos que seis alunos da Univer­
sidade de Oxford foram expulsos simplesmente por
se reunirem nos quartos uns dos outros, fora de hora,
a fim de orarem. Por causa disso, George Whitefield
escreveu ao vice-diretor nos seguintes termos: “É de se
esperar que, como alguns alunos foram expulsos pelo
fato de orarem fora de hora, fiquemos sabendo que
outros serão expulsos pelo emprego de palavrões, fora
de hora.” Hoje — graças a Deus! — nenhum homem,
em nenhuma terra pode ser impedido de orar. Qual­
quer pessoa pode orar — mas será que qualquer um
tem o direito de orar? Será que Deus ouve a todos?
Quem pode orar? Será a oração um privilégio —
um direito — de todos os homens? Nem todo mundo /
pode reivindicar a si o direito de aproximar-se ày
nosso rei terreno. Mas existem pessoas ou entidades
que gozam do privilégio de um acesso imediato ao
nosso soberano. O primeiro-ministro tem este privilé­
gio. A augusta câmara municipal da cidade de Lon­
dres pode, a qualquer hora que desejar, depor sua
petição aos pés do rei. Os embaixadores de quaisquer
potências estrangeiras podem fazer o mesmo. Tudo
que precisam fazer é apresentar-se na entrada do
palácio, e ninguém poderá interpor-se entre eles e o
monarca. Essas personalidades podem chegar imedia­
tamente à presença do rei, e apresentar-lhe suas peti­
ções. Mav nenhuma delas tem acesso mais fácil nem
recepçãc/ mais amorosa, que o filho do próprio rei.
Mas. quanto ao Rei dos reis — o Deus e Pai de

133
todos nós, quem pode entrar em sua presença? Quem
pode desfrutar tal privilégio — sim, quem tem este
direito — diante de Deus? Diz-se que até mesmo no
mais cético dos homens, a oração encontra-se quase à
superfície, apenas aguardando o momento de mani­
festar-se. E há muita verdade nisso. Será que ela tem o
direito de manifestar-se a qualquer hora? Em algu­
mas religiões, ela tem que esperar. Dentre os milhões
de indianos que vivem sob a escravidão do hinduísmo,
apenas os brâmanes podem orar. Um negociante rico
de qualquer outra casta, por exemplo, é obrigado a
pedir a um brâmane (que pode ser até um garoto) que
faça suas preces por ele.
Os maometanos não podem orar, a menos que
hajam decorado algumas frases em árabe, pois seu
“deus” somente ouve orações que são feitas na língua
que creem ser o idioma sagrado. Mas, glória a Deus!
Não existem quaisquer restrições de língua ou casta
entre nós e nosso Deus. Então, todo homem pode
orar?
Sim, responderá o leitor; qualquer pessoa pode.
Mas não é o que a Bíblia diz. Somente o filho de Deus
pode verdadeiramente orar a Deus. Somente os filhos
podem entrar em sua presença. É verdade — uma
gloriosa verdade — que qualquer pessoa pode clamar
por seu auxílio, perdão e misericórdia. Mas isso não é
realmente oração. Oração é mais que isso. Orar é
penetrar no “esconderijo do Altíssimo” e habitar “à
sombra do Onipotente” . (SI 91.1.) Orar é colocar Deus
a par de nossas necessidades e desejos, e estender a
mão da fé para receber suas dádivas. A oração é uma
decorrência da habitação do Espírito Santo em nós. É
comunhão com Deus. Ora, é quase impossível exigir
uma relação de comunhão entre um Rei e um rebelde.
Que comunhão pode haver entre as trevas e a luz?
(2 Co 6.14.) Por nós mesmos, não temos nenhum direi­
to de orar. Temos acesso a Deus apenas pela media­
ção do Senhor Jesus Cristo (Ef 3.18; 2.12).
A oração não é apenas o clamor de um homem que
se afoga — de um homem que está afundando no

134
redemoinho do pecado, e grita: “ Senhor, salva-me!
Estou perdido! Estou destruído! Redime-me, Senhor!
Salva-me!” Qualquer um pode fazer isso, e essa pe­
tição nunca é desatendida, e sua resposta nunca
tarda, quando feita em sinceridade. Mas isso não é
oração, na verdadeira acepção bíblica. Até mesmo os
leões, quando rugem à procura de sua presa, buscam
alimento de Deus; mas isso não é oração.
Sabemos que o Senhor disse: “Todo o que pede
recebe” (Mt 7.8). E ele o disse de fato. Mas a quem se
dirigia? Falava aos discípulos. (Mt 5.1,2.) Sim; a
oração é comunhão com Deus; a “vida” da alma,
como já disse alguém. E duvido muito que possamos
ter comunhão com ele, a menos que o Espírito Santo
habite em nosso coração, e tenhamos “recebido” o
Filho, tendo, portanto, o direito de sermos chamados
“filhos de Deus” (Jo 1.12).
A oração é prerrogativa dos filhos. Somente eles
podem reivindicar do Pai celestial as bênçãos que ele
tem preparado para aqueles que o amam. O Senhor
disse que, em oração, devemos dirigir-nos a Deus
como “ Pai nosso” . Certamente, apenas os filhos po­
dem empregar esse tratamento. Paulo diz: “E, porque
vós sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o
Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai.” (G1 4.6.)
Seria nisto que Deus estava pensando quando, falan­
do aos “consoladores” de Jó, lhes disse: “O meu servo
Jó orará por vós; porque dele aceitarei a intercessão”
(Jr 42.8)? Ao que parecia, a oração deles não seria
aceita. Mas logo que nos tornamos filhos de Deus,
precisamos entrar na “escola da oração” . “Ele está
orando” , disse o Senhor a respeito de um homem que
acabara de converter-se (At 9.11). Os convertidos não
apenas podem, mas devem orar — cada homem por si
mesmo, e, naturalmente, pelos outros também. Mas, a
menos que possamos verdadeiramente chamar Deus
de Pai, e enquanto não o pudermos, não temos
nenhum direito de ser tratados como filhos — “her­
deiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” — não
temos ol mínimo direito. Você acha essa condição

135
severa demais? Não; pelo contrário, é um fato natural.
Será que um “filho” não tem privilégios?
Mas não me interpretem mal. Isto não exclui
ninguém do reino dos céus. Qualquer pessoa, em
qualquer lugar pode clamar: “ 0 Deus, tem misericór­
dia de mim, pecador!” Qualquer homem que se
encontre fora do aprisco de Cristo, fora da família de
Deus, por pior que seja, ou por melhor que creia ser,
pode, neste mesmo instante, tornar-se filho de Deus,
enquanto lê estas linhas. Apenas um olhar para
Cristo, em fé, basta. “Olhai e vivei!” Deus não diz:
Vê — ele diz apenas: Olhe! Volte seu rosto para Deus!
Como foi que os gálatas se tornaram “filhos de
Deus” ? Pela fé em Cristo. “Pois todos vós sois filhos
de Deus mediante a fé em Cristo Jesus.” (G1 3.26.)
Cristo torna filho de Deus, pela adoção e pela graça,
qualquer homem que se voltar para ele em arrependi­
mento sincero e com fé. Mas ninguém tem nenhum
direito nem mesmo à providência divina, a menos que
seja filho de Deus. Não podemos dizer, com confiança
e certeza: “Nada me faltará” , a não ser que possamos
afirmar, com confiança e certeza: “O Senhor é meu
pastor.”
Um filho, porém, tem direito ao cuidado, amor,
proteção e provisão do pai. Ora, uma criança só pode
pertencer a certa família se nascer nela. Nós nos
tornamos filhos de Deus, nascendo “de novo” , nascen­
do “do alto” (Jo 3.5). Isto é, crendo no Senhor Jesus
Cristo (Jo 3.16).
Tendo dito isso à guisa de advertência e talvez
como uma explicação da razão por que algumas
pessoas fracassam completamente na oração, apressa-
mo-nos a acrescentar que Deus muitas vezes ouve e
atende as orações daqueles que não têm o direito
legítimo a ela — daqueles que não são seus “filhos” e
possivelmente até neguem que ele exista. Os Evange­
lhos nos falam de não poucos incrédulos que busca­
ram a Cristo pedindo-lhe cura de uma enfermidade,
e ele nunca despediu ninguém sem a bênção desejada
— nunca. Vinham como “mendigos” , e não como

136
/
“filhos” . E embora seja necessário que “primeiro...
se fartem os filhos”, esses outros receberam “miga­
lhas” , e, por vezes, mais que migalhas, dadas liberal­
mente.
E hoje também muitas vezes Deus ouve o clamor
dos incrédulos que lhe pedem bênçãos temporais. Um
exemplo disso, que conhecemos bem, poderá servir de
ilustração. Um amigo meu relatou-me que fora ateu
durante muitos anos. Embora incrédulo, cantava no
coro de certa igreja havia quarenta anos, pois gostava
muito de música. Seu velho pai adoeceu, alguns anos
atrás, sofrendo fortes dores. Os médicos nada podiam
fazer para aliviar seu sofrimento. Desesperado pe­
lo estado do pai, este corista incrédulo caiu de joe­
lhos e clamou: “0 Deus, se existe um Deus, mostra
teu poder, aliviando as dores de meu pai!” Deus ouviu
o clamor daquele homem e removeu as dores imedia­
tamente. O “ateu” louvou a Deus e correu ao pastor
para indagar acerca da salvação. Hoje ele é um
homem totalmente consagrado a Deus, dedicando
todo o seu tempo ao Salvador recém-encontrado. Sim;
Deus é superior às suas promessas, e está mais
disposto a atender nossa petição do que nós a orar­
mos.
Talvez a mais extraordinária de todas as “ora­
ções” dé um incrédulo seja a que está registrada no
livro de Carolyne Fry Christ Our Example (Cristo,
nosso exemplo). Embora possuísse beleza, riqueza,
posição e amigos, ela descobriu que nenhuma destas
coisas satisfazia realmente seus anseios, e, por fim,
em total desespero, clamou a Deus. Entretanto, sua
primeira oração foi de plena rebeldia e ódio para com
ele. Note-se bem: esta não é a oração de um “filho” .
“ 0 Deus, se tu és Deus, não te amo; não te quero,
não creio que exista felicidade em ti, mas do jeito que
me encontro estou infeliz também. Dá-me o que não
procuro; dá-me o que não quero. Se puderes, torna-
me feliz. Sou muito infeliz, assim como sou. Estou
cansada deste mundo; se existe alguma coisa melhor
do que isso, dá-me.”

137
Que “oração” ! Contudo, Deus a ouviu e atendeu.
Ele perdoou aquela alma errante, tornou-a imensa­
mente feliz e gloriosamente produtiva em sua obra.

Mesmo em peitos selvagens


Existem anseios, lutas, inclinações
Em direção a um bem que eles mesmos não entendem.
E suas fracas e desvalidas mãos
Tateando cegamente em trevas densas
Tocam a destra de Deus, na escuridão
E são erguidas e fortalecidas.

Modifiquemos então nossa pergunta um pouco, e


indaguemos; “ Quem tem direito de orar?” Somente
os filhos de Deus‘em quem habita o Espírito Santo.
Mas, mesmo nesse caso, devemos lembrar que nin­
guém pode aproximar-se do Pai celestial sem cons­
trangimento e com toda a confiança, a menos que es­
teja vivendo como deve viver um filho de Deus. Não
podemos esperar que um pai derrame seus favores
sobre um filho transviado. Somente um filho fiel,
santificado pode orar no Espírito e com entendimento
também (1 Co 14.15).
Mas, se somos filhos de Deus, nada pode impedir
nossas orações, a não ser o pecado. Nós, seus filhos,
temos o direito de acesso a Deus a qualquer momento,
em qualquer lugar. E ele entende qualquer forma de
oração. É possível que tenhamos o maravilhoso dom
da oratória, e saibamos derramar nossas palavras de
ações de graças, petição e louvor numa torrente
abundante, como o apóstolo Paulo, ou podemos ser
como o apóstolo João e ter uma comunhão mais
tranqüila e profunda, uma comunhão semelhante à
dos enamorados. Tanto um brilhante teólogo como
João Wesley, ou um humilde sapateiro como Guilher­
me Carey são recebidos no trono da graçarO\sfaíns
de qualquer pessoa no reino dos céus não depende de
nascimento, brilhantismo pessoal ou capacidade de
realização, mas, sim, de uma confiança humilde e
total no Filho de Deus.

138
Moody atribuiu todo o seu sucesso às orações de
uma obscura mulher inválida, quase desconhecida. E
é verdade que os santos inválidos da Inglaterra pode­
ríam suscitar um avivamento com grande rapidez,
com suas orações. Ah, se todos os que estão acamados
quisessem erguer suas orações!
Será que não erramos em supor que algumas pes­
soas possuem o “dom” da oração? Uma brilhante
aluna da Universidade de Cambridge perguntou-me
certa vez se uma vida de oração não seria um dom
possuído por apenas uns poucos. Ela levantava a
hipótese de que, assim como nem todas as pessoas são
dotadas musicalmente, assim também, não se espera
que todas saibam orar bem. Jorge Müller era excep­
cional, não porque tivesse o dom da oração, mas
porque orava. Aqueles que não sabem falar bem —
como Arão sabia, segundo declaração de Deus —
podem servir ao Senhor pela intercessão em particu­
lar, em favor daqueles que pregam a Palavra. Temos
que possuir grande fé, se quisermos ter poder perante
Deus. em oração, embora ele seja tão cheio de graça,
que, por vezes, opera a despeito de nossa falta de fé.
Henry Martin era um homem de oração, contudo
sua fé não equivalia às suas orações. Certa vez, ele
declarou que “esperaria antes ver um morto ressusci­
tar do que um brâmane converter-se a Cristo.” Tiago
diz: “ Não suponha esse homem que alcançará do
Senhor alguma cousa.” (1.7.) Ora, sucedeu que Henry
Martin morreu sem ver um brâmane aceitar a Cristo
como seu Salvador. Ele costumava dirigir-se, diaria­
mente, a um pagode abandonado para orar. Contudo,
não tinha fé para ver a conversão de um brâmane.
Algum tçmpo atrás, alguns brâmanes e maometanos,
vindos de todas as partes da índia, Birmânia e Ceilão,
agora todos irmãos em Cristo, reuniram neste mesmo
pagode e se ajoelharam. Outras pessoas haviam orado
com mais fé que Martin.
Quem pode orar? Nós podemos; mas será que ora­
mos? O Sennçr pode contemplar-nos com mais senti­
mento e ternura do que olhou os discípulos no mo­

139
mento em que disse as palavras seguintes, e dirigi-las
a nós: “Até agora nada tendes pedido em meu nome;
pedi, e recebereis, para que a vossa alegria seja
completa” (Jo 16.24)? Se o nosso Mestre precisava
orar para tornar poderosas as obras que realizava,
quanto mais nós? As vezes, ele orava com “forte
clamor e lágrimas” (Hb 5.7). Será que fazemos o
mesmo? Alguma vez já vertemos sequer uma lágrima
em oração? Faremos bem em clamar: “Vivifica-nos, e
invocaremos o teu nome” (SI 80.18).
Talvez a exortação de Paulo a Timóteo possa ser
dirigida a nós: “ Por esta razão, pois, te admoesto que
reavives o dom de Deus, que há em ti.” (2 Tm 1.6.)
Pois o Espírito Santo é nosso grande auxílio em
oração. Sozinhos, somos incapazes de expressar na
oração nossas verdadeiras carências. O Espírito Santo
faz isto por nós. Não sabemos pedir como devemos. O
Espírito Santo pede por nós. É possível que um
homem sem o auxílio dele peça algo que seja para o
mal. O Espírito passa tudo no crivo. Uma mão fraca e
trêmula não ousaria mover um grande peso. Será que
eu posso — eu não ouso — mover à mão que move o
Universo. Não! A não ser que o Espírito Santo tenha
controle sobre mim.
Sim, precisamos do auxílio divino na oração — e
nós o temos. Como toda a Trindade se compraz em
nossas orações! Deus, o Pai, ouve; o Espírito Santo
dita; o Filho eterno apresenta a petição — e ele
próprio intercede; e assim a resposta chega até nós.
Creia-me; a oração é o nosso mais alto privilégio,
nossa responsabilidade mais séria, o maior poder que
Deus colocou em nossas mãos. A verdadeira oração é
o mais nobre, o mais sublime, o mais estupendo ato
que qualquer criatura de Deus pode praticar.
Ela é, como declarou Coleridge, o mais elevado
tipo de energia que a natureza humana é capaz de
produzir. Orar de todo o coração eTbrças — é a
suprema, a maior realização do combatie do cristão
nesta terra.
“ SENHOR, ENSINA-NOS A ORAR!”

140

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