Professional Documents
Culture Documents
O Realismo foi uma escola literária que combatia os ideais românticos. O surgimento ocorreu enquanto o mundo vivenciava o
nascimento do socialismo e da segunda Revolução Industrial.
A partir da segunda metade do século XX, as concepções estéticas que nortearam o ideário romântico começaram a perder
espaço. Uma nova tendência, baseada na trama psicológica e em personagens inspirados na realidade, toma conta da literatura
ocidental. Estava inaugurado o Realismo-Naturalismo.
O Realismo em Portugal teve como marco inicial a Questão Coimbrã (1865), quando se defrontam, de um lado, os
jovens estudantes de Coimbra, atentos às novas idéias que vinham da França, Inglaterra e Alemanha e, de outro, os velhos
românticos de Lisboa. (Antero de Quental X Feliciano Castilho)
No Brasil, essa passagem ocorre em 1881, com a publicação de Memória Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
(1839-1908), e de O Mulato, de Aluísio Azevedo (1857-1913). Enquanto o livro de Machado apresenta acentuado viés realista,
o de Aluísio é claramente naturalista.
Características do Realismo
O Realismo é uma denominação genérica de uma escola literária que abrange as seguintes tendências:
Romance realista – Narrativa voltada para a análise psicológica e que critica a sociedade a partir do comportamento de
determinados personagens, em geral, capitalistas. O romance realista tem caráter documental, sendo o retrato de uma época.
Romance naturalista - Marcada pela vigorosa análise social a partir de grupos humanos marginalizados, em que se
valoriza o coletivo. O naturalismo apresenta romances experimentais. Possui todas as características do Realismo , menos a
análise psicológica. Esta é substituída por variações deterministas que transformam os personagens em fantoches de destinos
pré-estabelecidos. Personagens patológicos. Para provar suas teses, os escritores naturalistas são obrigados muitas vezes a
apresentar protagonistas doentios, criminosos, bêbados, histéricos, maníacos.
Realismo em Portugal
Poesia realista - As publicações em poesia realista portuguesa dividem-se em vários tipos: algumas com foco na realidade e na
vida cotidiana de diversas camadas sociais (poesia do cotidiano); outras tem foco político, sendo uma poesia engajada, com
crítica social e um caráter revolucionário (poesia realista propriamente dita); outras tem foco nos questionamentos sobre vida,
morte e Deus (poesia metafísica).
Autores:
Antero de Quental: adotando uma postura oposta ao lirismo ultra-romântico, defende a missão social da poesia e apresenta em
sua obra uma busca filosófica da verdade através da própria experiência.
Cesário Verde: também se afasta do lirismo tradicional português, sobretudo pelo tratamento que dá a temas como cidade,
amor e mulher. Buscando espontaneidade, usa estilo que valoriza a linguagem concreta e o tom coloquial. "Poeta dos sentidos",
constrói imagens com muitas cores, formas e sons. Essa visão plástica do mundo antecipa a postura assumida por Fernando
Pessoa na pele de seu Heterônimo Alberto Caeiro.
Prosa realista - A prosa realista tem a mesma direção dos diferentes tipos de poesia, fazendo ataques à burguesia, ao clero, aos
falsos valores, ao governo, sendo dotada de uma preocupação com a moral real. São exemplos de artistas da época: Antero de
Quental, Teófilo Braga, Abel Botelho, Guerra Junqueira e Eça de Queirós.
Principal autor:
Eça de Queirós: admirador de Gustav Flaubert, Émile Zola e Honoré de Balzac, produz romances marcados pelo uso do
determinismo e do impressionismo para construir críticas (à burguesia e ao clero, por exemplo). Dono de um estilo direto e
contundente, é hábil na descrição de locais e comportamentos. O pessimismo, o humor e a ironia com que constrói personagens
são tipicamente realistas.
De acordo com Eça de Queirós, um dos mais importantes escritores lusos, “o Romantismo era apoteose do sentimento, o
Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos para nos
reconhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para condenar o que houver de mau em nossa
sociedade”.
Realismo no Brasil
O Realismo-Naturalismo brasileiro oferece amplo painel de uma época em que o país era monárquico, escravocrata,
patriarcalista e passava por profundas mudanças socioeconômicas e culturais.
Entre as principais características do Realismo brasileiro, influenciado pelo Determinismo de Taine e pelo Positivismo de
Augusto Comte, existem duas linhas:
Marcada por Machado de Assis, de análise das classes mais abastadas da sociedade carioca, com foco em temas políticos do
século XIX.
Com ênfase na análise comportamental dos seres humanos das camadas menos privilegiadas. Estabelece-se o
condicionamento do homem.
A riqueza literária do Realismo-Naturalismo no Brasil não se restringe à prosa de ficção. A dramaturgia também evolui e
consolida a comédia de costumes como um gênero maior – na obra de França Júnior e Artur Azevedo, por exemplo.
Autores brasileiros:
Aluísio de Azevedo - Escreveu alguns romances românticos, os quais chamou de “comerciais”, pois eram os que mais vendiam.
Mas suas maiores obras foram os romances naturalistas, como O mulato, Casa de pensão e O cortiço.
Machado de Assis - Merece atenção especial. Poeta, crítico, genial como contista e romancista, a obra machadiana estilhaça
os esquemas literários da época, aprofunda as experimentações com a linguagem, torna mais complexa a sondagem do drama
humano e demonstra preocupação inusitada com os elementos da própria narrativa (tempo, espaço, personagens etc. se
distanciam dos chavões da época). Principais romances Memórias póstumas de Brás Cubas (1881); Quincas Borba (1891);
Dom Casmurro (1899).
A obra de Machado de Assis pretende, em sua essência, analisar o espírito humano e refletir sobre os valores que não
pertencem apenas aos brasileiros, mas são patrimônio de todos os homens. E Machado o faz sem perder de vista a realidade
brasileira, antecipando-se ao Modernismo e criando um texto ácido, no qual a ironia e a paródia são extremamente refinadas.
Atividades
II fase: (Realista, mas de um realismo absolutamente singular, fora dos padrões europeus)
Os temas principais:
1 - O adultério: Motivo central de Dom Casmurro e de uma série de contos, além de ser motivo importante de
Memórias póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba.
2 - O parasitismo social: Reflexo de uma sociedade erigida sobre o trabalho do escravo. Parasitas são quase todos os
personagens de Machado, principalmente em Quincas Borba.
3 - A confusão entre a razão e a loucura: As fronteiras estabelecidas entre a razão e a insanidade são vagas e
incertas. No conto O alienista desenvolve-se uma ironia feroz contra as certezas cientificistas do século XIX.
4 - O egoísmo, a vaidade, o interesse: Sem estes elementos nada ocorreria nos romances e contos de Machado de
Assis. Os personagens movem-se por orgulho ou cobiça, e os que vivem por motivos mais nobres, em geral, são os
enganados, os vencidos.
5 - A impossibilidade de ação com grandeza: Se acompanharmos Brás Cubas, Bentinho e mesmo Rubião, veremos
apenas o inventário de mesquinharias e atitudes hipócritas que satisfazem a moral das aparências.
6 - A hipocrisia: Relaciona-se com aspecto do duplo comportamento humano. Intimamente, os seres possuem
determinadas facetas, ideias, sentimentos, mas, para satisfazer as exigências sociais, dissimulam, falsificam a sua
identidade. Trata-se de um universo de véus e máscaras. Há uma alma interior e uma alma exterior: este é o tema do
conto O espelho. Às vezes, a aparência e a verdade se confundem tanto que os indivíduos tomam uma pela outra:
Capitu aparenta trair, Bentinho a julga traidora.
7 - A ambiguidade feminina: As mulheres no regime patriarcalista, inferiorizadas socialmente, são impelidas a
aprender regras de dissimulação e de sedução, e se servem delas como armas. Muitas vezes, são elas que conduzem
os homens desencadeando crises e problemas. Sofia, Capitu, Virgília e dona Conceição - esta última do conto Missa
do galo - exemplificam este tipo de mulher.
8- O instinto e o subconsciente como móveis dos atos humanos.
Memórias póstumas de Brás Cubas (1881): narrada por um defunto, a obra apresenta a vida do anti-herói Brás
Cubas. Com alta carga irônica, Machado inova, inclusive, nos recursos gráficos. É um divisor de águas não só na
obra machadiana, mas na própria literatura brasileira.
Quincas Borba (1891): narra as desventuras do tolo Rubião, que chega a ser cômico em seu completo despreparo
para a vida. Machado também aproveita o romance para fazer críticas irônicas ao darwinismo.
Dom Casmurro (1899): obra de caráter ambíguo, com personagens complexos, a história é contada por um narrador
que, gradativamente, vai se revelando pouco confiável, o que só aprofunda ainda mais a insegurança e as dúvidas do
leitor. De maneira genial, Machado apresenta os limites e os paradoxos da linguagem por meio da própria linguagem.
Machado de Assis fundou a literatura brasileira enquanto entidade autônoma, desvinculada de um projeto nacional, e
exatamente por isso madura, aberta ao diálogo com os valores universais da humanidade.